sistema especialista para aplicaÇÃo de … · figura 7. vertedores parshall ..... 20 figura 8....

95
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS SISTEMA ESPECIALISTA PARA APLICAÇÃO DE COAGULANTE NO TRATAMENTO DE ÁGUA: IMPLEMENTAÇÃO EM TEMPO REAL RICARDO AUGUSTO MORAES ZAQUE Cuiabá - MT Março/2018

Upload: ngophuc

Post on 07-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS

SISTEMA ESPECIALISTA PARA APLICAÇÃO DE COAGULANTE NO

TRATAMENTO DE ÁGUA: IMPLEMENTAÇÃO EM TEMPO REAL

RICARDO AUGUSTO MORAES ZAQUE

Cuiabá - MT

Março/2018

RICARDO AUGUSTO MORAES ZAQUE

SISTEMA ESPECIALISTA PARA APLICAÇÃO DE COAGULANTE NO

TRATAMENTO DE ÁGUA: IMPLEMENTAÇÃO EM TEMPO REAL

Área de Concentração: Recursos Hídricos, Manejo e Conservação.

Linha de Pesquisa: Hidráulica e Saneamento.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Recursos Hídricos da Universidade

Federal de Mato Grosso para obtenção do título de

mestre em Recursos Hídricos.

Orientador: Welitom Ttatom Pereira da Silva

Cuiabá-MT

Março/2018

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

Z35s Zaque, Ricardo Augusto Moraes.

Sistema Especialista para aplicação de coagulante no tratamento de água: implementação em tempo real / Ricardo Augusto Moraes Zaque. -- 2018

94 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Welitom Ttatom Pereira da Silva. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos, Cuiabá, 2018.

Inclui bibliografia.

1. Controle de dosagem. 2. Sulfato de alumínio. 3. Arduino. 4. Inteligência Artificial. I. Título.

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente a DEUS, que me possibilitou a conclusão do curso e

esteve ao meu lado, conduzindo-me e fortalecendo-me nos, não raros, momentos de fraqueza.

Agradeço a minha família, sobretudo à minha mãe, meu pai e minha namorada, que me

incentivaram e compreenderam a minha ausência continuada. Sem o apoio familiar seria muito

difícil dedicar-me à pesquisa.

Ao professor Welitom Ttatom Pereira da Silva pela participação efetiva e orientação na

pesquisa, apontando caminhos e proporcionando condições adequadas ao desenvolvimento dos

trabalhos. Também agradeço pelo tratamento de amigo que sempre me ofereceu.

Aos professores Aldecy de Almeida Santos e Marco Antonio Almeida de Souza pela

contribuição crítica na etapa de consolidação da ideia e direcionamento de pesquisa.

Aos professores do PPGRH por contribuir com meu crescimento ao longo do curso.

Aos amigos e companheiros do PPGRH que se fizeram presentes durante o curso.

Aos funcionários da ESAN (Empresa de Saneamento de Nobres) pelo auxílio na

obtenção do conhecimento necessário ao desenvolvimento do trabalho.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo

auxílio financeiro que permitiu a realização da pesquisa vinculada ao Processo CNPq

420415/2016-5.

RESUMO

Na maioria dos municípios brasileiros, o serviço de abastecimento de água é proveniente de

mananciais superficiais, o que, naturalmente, implica em demandas de infraestrutura e recursos

humanos, especialmente, para o tratamento de água. Em um contexto de carências significativas

(infraestrutura e recursos humanos), metodologias auxiliares e/ou substitutas são de grande

valia. Este trabalho teve por objetivo desenvolver um Sistema Especialista (SE) para determinar

e aplicar a dose de coagulante, em tempo real, em uma Estação de Tratamento de Água (ETA).

Para isso, o SE foi desenvolvido, implementado e avaliado em um estudo de caso, que foi

escolhido a ETA da cidade de Nobres, no Estado de Mato Grosso. Como resultado foi obtido

um SE, denominado IAD-SA (Inteligência Artificial para Dosagem de Sulfato de Alumínio),

adequado (certificado pelo teste de Turing), capaz de determinar e aplicar a dose de coagulante

no tratamento de água. Como conclusão, o IAD-SA revelou-se capaz de contribuir com a

operação da ETA-Nobres e poderá contribuir com outras ETAs, tomando decisão e aplicando

a dose de coagulante necessária para o tratamento da água.

Palavras-chave: controle de dosagem, sulfato de alumínio, Arduino, inteligência artificial.

ABSTRACT

In most Brazilian municipalities, the water supply service comes from surface water sources,

which, of course, implies demands for infrastructure and human resources, especially for the

treatment of water. In a context of significant deficiencies (infrastructure and human resources)

ancillary methodologies and/or substitutes are of great value. This work aimed to develop an

Expert System (ES) to determine and apply the coagulant dose, in real time, in a Water

Treatment Plant (WTP). For this, the ES was developed, implemented and evaluated in a case

study, which was chosen the WTP of the city of Nobres, in the State of Mato Grosso. As a

result, an ES, called IAD-SA (Artificial Intelligence for Dosage of Aluminum Sulphate), was

obtained (certified by the Turing test), capable of determining and applying the dose of

coagulant in the treatment of water. As a conclusion, IAD-SA was able to contribute to the

operation of WTP-Nobres and could contribute with other WTPs, making a decision and

applying the dose of coagulant necessary for the treatment of water.

Keywords: dosage control, aluminum sulfate, Arduino, artificial intelligence.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 14

2. OBJETIVOS ................................................................................................................. 15

2.1. Objetivo geral ............................................................................................................... 15

2.2. Objetivos específicos .................................................................................................... 15

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 16

3.1. Tecnologias de tratamento de água ............................................................................... 16

3.2. Tecnologia de ciclo completo ....................................................................................... 17

3.3. Unidade de mistura rápida ............................................................................................ 17

3.3.1. Mistura rápida mecanizada ........................................................................................... 18

3.3.2. Mistura rápida hidráulica com malha de fios redondos ................................................ 18

3.3.3. Mistura rápida hidráulica em vertedor retangular ........................................................ 19

3.3.4. Mistura rápida hidráulica em vertedor Parshall ............................................................ 20

3.3.5. Mistura rápida hidráulica por meio de injetor .............................................................. 20

3.3.6. Mistura rápida com dispositivos especiais ................................................................... 21

3.4. Coagulação ................................................................................................................... 22

3.4.1. Fatores que influenciam a coagulação .......................................................................... 23

3.4.2. Coagulantes ................................................................................................................... 23

3.4.3. Mecanismos da coagulação .......................................................................................... 24

3.5. Técnicas de dosagem de coagulantes ........................................................................... 25

3.6. Teste de jarros ............................................................................................................... 27

3.7. Mineração de dados ...................................................................................................... 29

3.7.1. Árvore de decisão ......................................................................................................... 30

3.7.2. Regras de Produção ...................................................................................................... 30

3.7.3. Extração de Regras de Produção de uma Árvore de Decisão (AD) ............................. 31

3.7.4. Algoritmos de classificação .......................................................................................... 32

3.7.5. Avaliação da classificação (modelo de classificação) .................................................. 33

3.8. Sistemas Especialistas .................................................................................................. 34

3.8.1. Componentes dos Sistemas Especialistas ..................................................................... 35

3.8.2. Sistemas Especialistas e Especialistas Humanos .......................................................... 37

3.8.3. Avaliação de Sistemas Especialistas............................................................................. 38

3.9. Tecnologia open source ................................................................................................ 38

3.9.1. Arduino ......................................................................................................................... 39

3.10. Calibração de sensores .................................................................................................. 40

3.11. Modelo de Simulação ................................................................................................... 41

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 42

4.1. Tecnologias no tratamento de água e águas residuárias ............................................... 42

4.2. Sistemas Especialistas na dosagem de coagulantes ...................................................... 43

4.3. Sistemas Especialistas para outras aplicações .............................................................. 44

4.4. Tecnologias open source em Recursos Hídricos e Saneamento ................................... 47

5. ÁREA DE ESTUDO .................................................................................................... 52

6. METODOLOGIA ......................................................................................................... 54

6.1. Desenvolvimento do Sistema Especialista ................................................................... 55

6.1.1. Planejamento do Sistema Especialista .......................................................................... 55

6.1.2. Explicitação do conhecimento ...................................................................................... 55

6.1.3. Codificação do conhecimento ....................................................................................... 56

6.1.4. Avaliação e adequação do Sistema Especialista ........................................................... 56

6.2. Implementação do Sistema Especialista no tratamento de água................................... 57

6.3. Avaliação da qualidade do Sistema Especialista implementado .................................. 58

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 59

7.1. Desenvolvimento do Sistema Especialista ................................................................... 59

7.2. Implementação do Sistema Especialista no tratamento de água................................... 72

7.3. Avaliação da qualidade do Sistema Especialista implementado .................................. 80

8. CONCLUSÕES ............................................................................................................ 83

9. RECOMENDAÇÕES ................................................................................................... 84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 85

ANEXO 1 ............................................................................................................................ 90

ANEXO 2 ............................................................................................................................ 91

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Processos e operações de tratamento das principais ETAs ................................. 16

Figura 2. Tipos de hélices ................................................................................................... 18

Figura 3. Tipo de escoamento em função da hélice dos agitadores de fluxo axial ............. 18

Figura 4. Malhas de aço inoxidável chato .......................................................................... 19

Figura 5. Esquema de vertedor retangular .......................................................................... 19

Figura 6. Registros fotográficos de vertedor retangular ..................................................... 20

Figura 7. Vertedores Parshall ............................................................................................. 20

Figura 8. Mistura rápida em tubulação por meio de injetor e malha de fios redondos ...... 21

Figura 9. Misturadores estáticos ......................................................................................... 21

Figura 10. Misturador em linha ............................................................................................ 21

Figura 11. Difusores ............................................................................................................. 22

Figura 12. Tanques de preparação da solução de sulfato de alumínio ................................. 25

Figura 13. Dosador de nível constante sem recirculação ..................................................... 26

Figura 14. Dosador rotativo .................................................................................................. 26

Figura 15. Dosadores de nível constante com recirculação .................................................. 27

Figura 16. Aparelho padrão para o teste de jarros ................................................................ 28

Figura 17. Diagrama genérico para remoção de turbidez por sedimentação ........................ 29

Figura 18. Árvore de Decisão para jogar tênis ..................................................................... 30

Figura 19. Exemplos de Regras de Produção ....................................................................... 31

Figura 20. Regras de Produção extraídas da Árvore de Decisão .......................................... 32

Figura 21. Exemplo de uma Matriz de Confusão ................................................................. 33

Figura 22. Sistemas inteligentes ........................................................................................... 35

Figura 23. Arquitetura de um Sistema Especialista .............................................................. 36

Figura 24. Placas Arduino .................................................................................................... 39

Figura 25. Tela do software Arduino .................................................................................... 40

Figura 26. Sistema coletando dados ..................................................................................... 47

Figura 27. Hardware do Irrig-OH ......................................................................................... 49

Figura 28. Localização do Estudo de Caso ........................................................................... 52

Figura 29. Esquema da ETA-Nobres .................................................................................... 53

Figura 30. Fluxograma da metodologia ................................................................................ 54

Figura 31. Esquema de implementação do IAD-SA na ETA-Nobres .................................. 57

Figura 32. Parte do banco de dados ...................................................................................... 61

Figura 33. Dados convertidos ............................................................................................... 61

Figura 34. Parte da AD gerada pelo algoritmo J48 .............................................................. 62

Figura 35. Parte da AD gerada pelo algoritmo REP Tree .................................................... 62

Figura 36. Parte da AD gerada pelo algoritmo Random Tree .............................................. 63

Figura 37. Regras de Produção do algoritmo J48 ................................................................. 63

Figura 38. Matriz de Confusão do algoritmo Random Tree ................................................. 65

Figura 39. Matriz de Confusão do algoritmo J48 ................................................................. 66

Figura 40. Matriz de Confusão do algoritmo REPTree ........................................................ 67

Figura 41. Parte da base de conhecimento ............................................................................ 68

Figura 42. Interface de usuário do IAD-SA .......................................................................... 69

Figura 43. Interface de usuário com a resposta obtida ......................................................... 70

Figura 44. Tela de explicitação das regras de produção ....................................................... 70

Figura 45. Tela para inclusão de novas regras ...................................................................... 71

Figura 46. Questionário aplicado .......................................................................................... 72

Figura 47. Representação esquemática da USD-SA ............................................................. 73

Figura 48. Registro fotográfico da USD-SA ........................................................................ 73

Figura 49. Componentes eletrônicos do Módulo de Comunicação ...................................... 74

Figura 50. Módulo de Comunicação .................................................................................... 75

Figura 51. Peças do Coletor 01 ............................................................................................. 76

Figura 52. Tampas do Coletor .............................................................................................. 76

Figura 53. Coletor ................................................................................................................. 77

Figura 54. Esquema para calibração do sensor de turbidez .................................................. 77

Figura 55. Calibração do sensor de turbidez do Coletor 01 ................................................. 78

Figura 56. Calibração do sensor de turbidez do Coletor 02 ................................................. 79

Figura 57. Calibração dos sensores de pH ............................................................................ 79

Figura 58. Calibração da bomba ........................................................................................... 80

Figura 59. Arquivo ‘txt’ com dados gravados ...................................................................... 81

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Fatores que influenciam a coagulação ................................................................ 23

Tabela 2. Descrição dos coagulantes .................................................................................. 24

Tabela 3. Interpretação de valores da Estatística Kappa ..................................................... 34

Tabela 4. Exemplos de implementação da máquina de inferência ..................................... 37

Tabela 5. Comparação entre conhecimento especializado humano e artificial .................. 38

Tabela 6. Atividades da subetapa de planejamento do SE .................................................. 55

Tabela 7. Avaliação da viabilidade do SE .......................................................................... 59

Tabela 8. Variáveis de interesse .......................................................................................... 61

Tabela 9. Algoritmos avaliados ........................................................................................... 64

Tabela 10. Dados de entrada ................................................................................................. 69

Tabela 11. Resultado do questionário ................................................................................... 72

Tabela 12. Peças utilizadas para construção de cada coletor ................................................ 75

Tabela 13. Calibração do USD-SA ....................................................................................... 78

Tabela 14. Ensaios do USD-SA ............................................................................................ 81

LISTA DE SIGLAS

BC Base de Conhecimento

CC Ciclo Completo

C/F/S Coagulação/Floculação/Sedimentação

DESA Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental

DF Dupla Filtração

ETA Estação de Tratamento de Água

FDA Filtração Direta Ascendente

FDD Filtração Direta Descendente

FF Floto-Filtração

FiME Filtração em Múltiplas Etapas

GSM Sistema Global para Comunicações Móveis

IA Inteligência Artificial

IAD-SA Inteligência Artificial para Dosagem de Sulfato de Alumínio

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IQA Índice de Qualidade da Água

LABHID Laboratório de Hidráulica

LCD Display de Cristal Líquido

LED Diodo Emissor de Luz

mca Metros de coluna d’água

MD Mineração de Dados

mV MiliVolts

NCC Número de Classificações Corretas

NCI Número de Classificações Incorretas

NTC Número Total de Classificações

PCC Percentual de Classificações Corretas

PCI Percentual de Classificações Incorretas

pH Potencial Hidrogeniônico

PRC Portaria de Consolidação

RP Regras de Produção

SBC Sistema Baseado em Conhecimento

SE Sistema Especialista

SI Sistemas Inteligentes

SIG Sistema de Informação Geográfica

SMS Serviço de Mensagens Curtas

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

USD-SA Unidade de Simulação de Dosagem de Sulfato de Alumínio

uT Unidades de Turbidez

VB Visual Basic

VBA Visual Basic for Applications

WEKA Waikato Environment for Knowledge Analysis (software)

κ Estatística Kappa

Pr(a) Concordância observada

Pr(e) Concordância esperada ao acaso

14

1. INTRODUÇÃO

Em cerca de 56% dos municípios brasileiros, o serviço de abastecimento de água é

proveniente de mananciais superficiais, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2008). Assim, de modo geral, é necessário que a água passe por tratamentos

específicos para se enquadrar no padrão de potabilidade atualmente vigente no país, o qual é

regulamentado pela PRC nº 5, de 28 de setembro de 2017, Anexo XX.

No Brasil, de acordo com o IBGE (2008), cerca de 54% dos munícipios com tratamento

de água realizam o tratamento por ciclo completo, o qual envolve os processos de coagulação,

floculação, decantação, filtração e desinfecção. Esses processos, ocorrem em instalações

especificas para esta finalidade, denominadas de Estação de Tratamento de Água (ETA).

Na ETA, o processo de coagulação acontece em unidades de mistura rápida, onde as

partículas coloidais sofrem uma desestabilização química e são aglutinadas umas às outras,

facilitando a decantação e a sua remoção nos filtros (VIANNA, 2014).

Carências significativas de infraestrutura de saneamento e de adequada gestão dos

sistemas existentes ainda são evidentes no Brasil. Entre os fatores que possibilitam

compreender o motivo desse fato está a falta de atualização tecnológica e a falta de recursos

humanos, conforme Rebouças (1997), Tucci, Hespanhol e Cordeiro Netto (2000) e Nascimento

e Heller (2005).

Adicionalmente, o teste de jarros (fundamental para o sucesso do processo de

coagulação) é demorado e menos adaptável à mudança da qualidade de água bruta, em tempo

real, além disso, é dependente de mão de obra qualificada. Assim, quando ocorre um evento

não rotineiro, como chuvas intensas, trazendo alta turbidez, a qualidade da água tratada pode

ser inferior aos padrões de potabilidade. Como principal motivo destaca-se o método

convencional de operação (coleta de amostra, teste de jarros, aplicação de dosagem), sendo este

difícil de realizar em tempo real (WU; LO, 2008).

Dessa forma, vários sistemas eletrônicos de monitoramento da qualidade da água foram

desenvolvidos na última década para enfrentar esse problema (RANJBAR; ABDALLA, 2017).

Neste contexto, visando reduzir o tempo de resposta na determinação da dosagem de coagulante

e evitar a dependência de uma estrutura dispendiosa no tratamento de água, este trabalho

pretende desenvolver um Sistema Especialista para determinar e aplicar a dose de coagulante

em tempo real.

15

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Desenvolver e implementar um Sistema Especialista para determinar e aplicar a dose de

coagulante, em tempo real.

2.2. Objetivos específicos

Planejar, explicitar o conhecimento, codificar o conhecimento e avaliar o Sistema

Especialista;

Implementar o Sistema Especialista para operação em tempo real;

Avaliar a qualidade do Sistema Especialista implementado.

16

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na fundamentação teórica foram apresentados temas que subsidiarão o

desenvolvimento desta pesquisa.

3.1. Tecnologias de tratamento de água

Os riscos presentes nas águas das fontes de abastecimento são reduzidos pelas Estações

de Tratamento de Água (ETAs), por meio de uma combinação de processos e de operações de

tratamento (DI BERNARDO; PAZ, 2008).

Teoricamente, água de qualquer qualidade pode ser, do ponto de vista tecnológico,

transformada em água potável, contudo, os custos envolvidos e a confiabilidade na operação e

manutenção podem inviabilizar completamente o uso de determinado curso d’água como fonte

de abastecimento (DI BERNARDO; DANTAS, 2005). Na Figura 1 são apresentados os

processos e operações de tratamento das principais ETAs.

Figura 1. Processos e operações de tratamento das principais ETAs

Fonte: Di Bernardo e Dantas (2005)

Conforme Howe et al. (2012), raramente as ETAs contêm um único processo, em vez

disso, elas normalmente possuem uma série de processos. Às vezes, os processos somente são

17

efetivos quando usados em conjunto com outro, isto é, dois processos individualmente podem

ser inúteis, mas juntos podem ser efetivos.

De acordo com Cheremisinoff (2002), há uma variedade de tecnologias que são

aplicadas no tratamento da água. A combinação das tecnologias para aplicação no tratamento

de água depende do que se pretende alcançar em termos de qualidade final da água.

3.2. Tecnologia de ciclo completo

Segundo Di Bernardo e Paz (2008), indevidamente denominada tratamento

convencional, na tecnologia de ciclo completo, a água bruta é coagulada, normalmente, com

um sal de alumínio ou de ferro, onde acontece, predominantemente, formação de precipitados

do metal do coagulante, nos quais são aprisionadas as impurezas. A coagulação ocorre na

unidade de mistura rápida, a qual, dependendo da vazão a ser tratada, da variação da qualidade

da água bruta e, principalmente, das condições disponíveis para operação e manutenção, pode

ser hidráulica, mecanizada ou especial. Logo após, a água coagulada é agitada lentamente

durante o tempo necessário para que os flocos atinjam o tamanho e a massa específica

suficientes para que sejam removidos por sedimentação, por meio de decantadores, ou por

flotação, mediante flotadores. Em seguida, a água clarificada, produzida nos decantadores ou

flotadores, é destinada para unidades de filtração com escoamento descendente, as quais contêm

materiais granulares com granulometria apropriada, em geral areia ou antracito e areia.

Após a água ser filtrada, ocorre a desinfecção, fluoração, ajuste de pH, entre outros

processos e operações e a água é considerada própria para consumo humano, sendo distribuída

para a população. Algumas das fases apresentadas poderão ser eliminadas, temporária ou

definitivamente, de acordo com a qualidade da água a ser tratada e sua variação ao longo do

ano (VIANNA, 2014).

Na sequência, com base nos objetivos desse trabalho, os temas unidade de mistura

rápida e coagulação serão, brevemente, apresentados.

3.3. Unidade de mistura rápida

Em uma unidade de mistura rápida, a agitação pode ser realizada por dispositivos

mecânicos, hidráulicos ou especiais (DI BERNARDO; PAZ, 2008a). Segundo Vianna (2014),

dois tipos são mais utilizados no Brasil, o medidor Parshall e a queda d’água originária de

vertedouros, sendo também utilizados os difusores (ou malhas difusoras), porém com menor

frequência.

18

3.3.1. Mistura rápida mecanizada

Basicamente, a mistura rápida mecanizada é composta por uma câmara circular,

quadrada ou retangular em planta, na qual se encontra instalado um misturador mecânico de

eixo vertical com impulsores do tipo turbina. O escoamento que predomina no interior da

câmara pode ser radial ou axial, pois as condições de mistura dependem do tipo de agitador

(Figura 2). Quando as turbinas são de fluxo axial, elas podem ser de ação simples ou dupla,

dependendo do tipo de hélice do agitador (DI BERNARDO; PAZ, 2008a), conforme

apresentado na Figura 3.

Figura 2. Tipos de hélices

(a) Fluxo radial: turbina com paletas planas (b) Fluxo radial: turbina com paletas curvas

(c) Fluxo axial: turbina com paletas onduladas (d) Fluxo axial: turbina marítima

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

Figura 3. Tipo de escoamento em função da hélice dos agitadores de fluxo axial

(a) Ação simples (b) Ação dupla

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.3.2. Mistura rápida hidráulica com malha de fios redondos

De acordo com Di Bernardo e Paz (2008), para melhorar a mistura dos coagulantes após

o ressalto hidráulico em canais ou injetores, tem sido proposto o uso de malha, utilizando barras

19

de aço inoxidável redondo, fios de aço inoxidável ou de plástico. Também se pode usar a malha

para promover a mistura de polímeros ou para realizar a floculação. Na Figura 4 são

apresentadas unidades de mistura rápida que empregam malhas de aço inoxidável chato para

melhorar as condições da mistura rápida, localizadas à jusante do vertedor Parshall.

Figura 4. Malhas de aço inoxidável chato

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.3.3. Mistura rápida hidráulica em vertedor retangular

Nesta unidade de mistura rápida, o nível de água à montante se eleva até atingir uma

cota estabelecida, produzindo uma lâmina sobre o anteparo, compatível com a vazão

descarregada, ocorrendo uma queda de água, de forma que o vertedor retangular pode ser

utilizado como misturador rápido e como medidor de vazão (DI BERNARDO; PAZ, 2008). Na

Figura 5 é apresentado o esquema de vertedores retangulares e na Figura 6 registros

fotográficos.

Figura 5. Esquema de vertedor retangular

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

20

Figura 6. Registros fotográficos de vertedor retangular

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.3.4. Mistura rápida hidráulica em vertedor Parshall

A superfície livre de água sofre elevação brusca, sob distância curta, acompanhada de

instabilidade, com ondulações e entrada de ar do ambiente com consecutiva perda de energia

em forma de grande turbulência, suficiente para provocar a mistura rápida (DI BERNARDO;

PAZ, 2008a). Na Figura 7 são apresentados vertedores Parshall.

Figura 7. Vertedores Parshall

(a)Vertedor Parshall e divisão de vazão

(vista de montante)

(b) Vertedor Parshall

(vista de jusante)

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.3.5. Mistura rápida hidráulica por meio de injetor

Segundo Di Bernardo e Paz (2008a), existem dois tipos de arranjos utilizados para

injeção do coagulante em tubulações com água bruta. O primeiro, orifício executado na parede

da tubulação, usualmente utilizado em tubulações com diâmetro inferior a 300mm e o outro

tipo, tubo distribuidor, provido de orifícios, localizado no centro do duto, utilizado para

diâmetros maiores. Em ambos os casos, é necessário instalar uma grade de aço inoxidável

redondo, localizada após a zona de máxima deflexão, como é mostrado na Figura 8.

21

Figura 8. Mistura rápida em tubulação por meio de injetor e malha de fios redondos

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008a)

3.3.6. Mistura rápida com dispositivos especiais

Existem diversas formas de dispositivos especiais para realizar a mistura rápida. Na

Figura 9 são apresentados os misturados estáticos, projetados para produzir turbulência intensa

por meio de uma peça geométrica fixada dentro da tubulação. Na Figura 10 é apresentado o

misturador em linha, patenteado e utilizado geralmente na indústria, que entretanto, pode ser

usado nas ETAs para a mistura do coagulante na água. E, na Figura 11 são apresentados os

difusores, que são dispositivos inseridos em uma seção transversal de escoamento de água, com

a finalidade de distribuir o coagulante uniformemente (DI BERNARDO; PAZ, 2008).

Figura 9. Misturadores estáticos

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

Figura 10. Misturador em linha

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

22

Figura 11. Difusores

a) Difusor em tubulação

b) Difusor em canal

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.4. Coagulação

Para Vianna (2014), a coagulação é a desestabilização química das partículas, a qual é

efetuada em unidades de mistura rápida. Nesta fase, a água é tratada quimicamente, de modo

que as partículas coloidais são desestabilizadas e aglutinadas umas às outras, com a finalidade

da sedimentação ocorrer de forma mais rápida, favorecendo a decantação, e facilitando sua

remoção nos filtros.

A coagulação é um processo muito rápido realizado na unidade de mistura rápida, e é

resultado de dois fenômenos. O primeiro é fundamentalmente químico, compreende as reações

do coagulante com a água e na formação de espécies hidrolisadas com carga positiva, e depende

da concentração do metal e pH final da mistura. O segundo, é basicamente físico, e consiste no

transporte das espécies hidrolisadas para que haja contato com as impurezas presentes na água.

A coagulação depende substancialmente das características da água e das impurezas presentes,

23

conhecidas por meio de características como pH, alcalinidade, cor verdadeira, turbidez,

temperatura, potencial zeta, tamanho e distribuição de tamanhos das partículas em estado

coloidal e em suspensão, entre outros (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

De acordo com Howe et al. (2012), o processo de coagulação depende da fonte de água

e da natureza dos constituintes orgânicos suspensos, coloidais e dissolvidos. Além disso,

depende da adição de produtos químicos, tais como alumínio e sais de ferro e/ou polímeros

orgânicos.

3.4.1. Fatores que influenciam a coagulação

A seguir, na Tabela 1, são apresentados alguns fatores que influenciam a coagulação de

acordo com Libânio (2010) e Cangela (2014).

Tabela 1. Fatores que influenciam a coagulação Fator influente Descrição

Espécie do coagulante: - de alumínio;

- de ferro.

Quantidade de coagulante – está relacionada: - à turbidez e cor a serem removidas;

- ao teor bacteriológico.

Teor e tipo da cor e turbidez: - maior ou menor quantidade de colóides;

- substâncias coloridas dissolvidas;

- outros.

Concentração hidrogeniônica da água (pH): - há um pH ótimo de floculação, determinado

experimentalmente.

Tempo de misturas rápida e lenta: - rápida, para dispersão do coagulante (coagulação);

- lenta, para a formação de flocos (floculação).

Temperatura: - ocorre melhor em temperaturas mais altas, enquanto

em baixas temperaturas é de se esperar maior consumo

de coagulantes.

Agitação: - se pequena, diminui a formação de flocos;

- se muito violenta, os flocos são formados e depois

quebrados em partículas menores.

Fonte: Libânio (2010) e Cangela (2014)

3.4.2. Coagulantes

De acordo com Richter (2009), um coagulante é qualquer agente que produza a

coagulação, o qual normalmente é um produto químico. O sulfato de alumínio é o coagulante

mais utilizado no tratamento de água, porém pode ser conveniente o emprego do aluminato de

sódio em águas de baixa alcalinidade e muita cor. Entre os coagulantes férricos, o sulfato férrico

e o cloreto férrico são os mais utilizados. Na Tabela 2 é apresentado um resumo com condições

de aplicabilidade de coagulantes.

24

Tabela 2. Descrição dos coagulantes Coagulante Descrição e condições de aplicação

Sulfato de Alumínio Para resultar em uma coagulação satisfatória, deve haver alcalinidade suficiente

para reagir com o sulfato de alumínio e para manter um residual adequado na

água tratada. A solubilidade do sulfato de alumínio depende do pH, sendo mais

baixa em pH entre 5 e 7, dessa forma, é impraticável a coagulação com sulfato

de alumínio fora dessa faixa.

Aluminato de sódio As reações do aluminato de sódio são alcalinas e não ácidas, como no sulfato de

alumínio, deste modo, o aluminato tem a vantagem de fornecer no mesmo

produto tanto o coagulante como o alcalinizante. Dessa maneira, é,

particularmente, indicado para águas de baixa alcalinidade e cor muito elevada,

em que a dose de sulfato de alumínio necessária à coagulação iria diminuir o pH

a um valor fora de sua faixa de aplicação.

Coagulantes férricos Todos os coagulantes férricos, de modo geral, são eficientes em uma larga faixa

de pH que vai de 4 a 11, e são, singularmente, úteis para coagulação da cor a

baixos valores do pH, na remoção de ferro e manganês a altos valores do pH, e

para acelerar a formação de flocos no processo de abrandamento.

Coagulantes orgânicos Coagulantes orgânicos e/ou polímeros podem ser utilizados para auxiliar a

floculação ou como coagulantes primários. Quando empregado como coagulante

primário, o processo de coagulação se reduz à neutralização por carga, e a adição

de um polímero não influencia o pH nem a alcalinidade.

Fonte: Richter (2009)

3.4.3. Mecanismos da coagulação

Segundo Di Bernardo e Dantas (2005), a coagulação é considerada como o resultado

individual ou combinado da ação de quatro mecanismos distintos: compressão da dupla camada

elétrica; adsorção e neutralização; varredura; e, adsorção e formação de pontes.

No mecanismo da compressão da dupla camada elétrica, a desestabilização ocorre

devido a interações eletrostáticas, por meio da inserção de um íon de carga contrária. Com o

aumento no número de íons na camada difusa, o seu volume será reduzido para se manter

eletricamente neutra, ocorrendo a coagulação por compressão da dupla camada difusa.

Na adsorção e neutralização de carga, a desestabilização ocorre devido a interações entre

coagulante-colóide, coagulante-solvente e colóide-solvente. Este mecanismo é utilizado em

ETAs com filtração direta, onde as partículas desestabilizadas serão retidas no meio granular

dos filtros e não há necessidade de produzir flocos para posterior sedimentação.

O mecanismo de varredura é intensivamente utilizado nas ETAs em que a floculação e

a sedimentação antecedem a filtração rápida. Geralmente, os flocos obtidos na varredura são

maiores e sedimentam, ou flotam, mais facilmente que os flocos obtidos com a coagulação

realizada no mecanismo de adsorção e neutralização de cargas.

A adsorção e formação de compreende o uso de polímeros de grandes cadeias

moleculares, os quais servem de ponte entre a superfície, à qual estão aderidos, e outras

partículas.

25

Maiores informações sobre os mecanismos da coagulação podem ser encontradas no

trabalho de Di Bernardo e Dantas (2005).

3.5. Técnicas de dosagem de coagulantes

Os diferentes coagulantes possuem diferentes técnicas de dosagem. A seguir são

apresentadas as técnicas para o sulfato de alumínio, sendo este o coagulante mais utilizado no

tratamento de água, conforme Richter (2009).

Conforme Di Bernardo e Paz (2008), pode-se usar o produto comercial em pó com

auxílio de dosadores a seco, ou então, a partir do produto sólido, é preparada a solução de sulfato

de alumínio, com concentração de 10 a 200 g.L-1, em tanques de preparação. Os tanques devem

possuir cochos na parede frontal para disposição da quantidade prevista de sulfato de alumínio,

serem providos de agitadores rápidos e devem ter o revestimento interno com material resistente

à corrosão e que não transmita toxicidade à água a ser coagulada. Na Figura 12 é apresentado

esquema dos tanques de preparação.

Figura 12. Tanques de preparação da solução de sulfato de alumínio

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

26

A forma de dosar a solução de sulfato de alumínio vai depender das características da

casa de química, pois quando os tanques de preparação estão localizados em nível superior ao

do local da aplicação, podem ser empregados dosadores de nível constante sem recirculação ou

do tipo rotativo, ambos por gravidade (DI BERNARDO; PAZ, 2008), conforme as Figura 13 e

14, respectivamente.

Figura 13. Dosador de nível constante sem recirculação

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

Figura 14. Dosador rotativo

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

Já quando os tanques estão em nível inferior, podem ser utilizadas bombas dosadoras

que recalcam a solução diretamente ao local de aplicação, ou ainda, utilizar bombas centrífugas

27

que recalcam a solução para dosadores de nível constante, com recirculação para os tanques de

preparação (DI BERNARDO; PAZ, 2008b), como é mostrado na Figura 15.

Figura 15. Dosadores de nível constante com recirculação

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.6. Teste de jarros

Segundo Richter (2009), o teste de jarros é o método de avaliação do processo de

coagulação-floculação e seus efeitos nas fases seguintes do tratamento, decantação (ou flotação)

e filtração. A partir do uso adequado do aparelho de teste de jarros, pode-se obter diversas

informações, como a dosagem ótima de coagulante e outros reagentes, concentração (diluição)

ótima, intensidade e tempo de floculação, sequência de aplicação de reagente, entre outras, as

quais são informações importantes para o projeto de uma nova estação de tratamento, para

otimização ou ampliação de uma existente, e, também para operação de uma ETA.

Na Figura 16 é apresentado um aparelho que apresenta o padrão “Phips&Bird”, que, de

acordo com Richter (2009), deve ser dado preferência entre a diversidade de aparelhos

28

existentes, pois existem curvas de calibração de gradientes para a paleta, adequadamente

comprovadas por diversos pesquisadores.

Figura 16. Aparelho padrão para o teste de jarros

Fonte: Richter (2009)

Apesar da importância apresentada anteriormente, o teste de jarros possui algumas

premissas como a necessidade de infraestrutura laboratorial (aparelho de jar-test, vidrarias,

soluções, equipamentos para determinação de cor, turbidez, pH e alcalinidade) adequada e,

necessariamente, mão de obra qualificada para realização e interpretação dos resultados dos

ensaios. O que, raramente, está disponível para municípios de pequeno porte (NASCIMENTO;

HELLER, 2005).

Na Figura 17 é apresentado um diagrama genérico para remoção de turbidez por

sedimentação utilizando como coagulante o sulfato de alumínio. Conforme Di Bernardo e Paz

(2008), na Figura 17 são observadas duas regiões principais, a de coagulação por varredura e a

de neutralização de cargas. No mecanismo da varredura, as dosagens de sulfato de alumínio e

o pH são relativamente altos, apresentando excesso de precipitados de alumínio ou de ferro, o

que provoca o emaranhamento das impurezas entre eles. Na neutralização de cargas das

impurezas, a coagulação decorre do precipitado com carga positiva ou de espécies hidrolisadas

positivas, caracterizando-se por dosagem de coagulante e pH menores que os observados no

mecanismo de varredura.

29

Figura 17. Diagrama genérico para remoção de turbidez por sedimentação

Fonte: Di Bernardo e Paz (2008)

3.7. Mineração de dados

Segundo Rezende (2005), a descoberta de conhecimento nas bases de dados é uma área

de pesquisa que está se expandindo rapidamente, e que tem seu desenvolvimento dirigido ao

benefício de necessidades práticas, sociais e econômicas, entre outras. O motivo para esse

crescimento refere-se, principalmente, à existência de uma robusta tecnologia para coleta,

armazenamento e gerenciamento de grande quantidade de dados. Estes dados podem possuir

informações valiosas, como tendências e padrões que poderiam ser utilizados para melhorar a

tomada de decisões nos negócios, e muitas outras aplicações. Dessa forma, como geralmente

as bases de dados abrangem uma grande quantidade de dados, tornou-se necessário desenvolver

processos de análise automática, como o processo de Mineração de Dados (MD).

Simplificando, a MD diz respeito à extração do conhecimento a partir de uma grande

quantidade de dados (HAN; KAMBER, 2006).

30

3.7.1. Árvore de decisão

Conforme Artero (2009), grande parte de conhecimento pode ser representado mais

facilmente se for adotada uma estrutura que reproduz o conceito de hierarquia, sendo a estrutura

de árvore a que melhor representa este conceito. Também, possui como vantagem a existência

de várias técnicas de busca que operam em árvores, obtendo sucesso em diversas aplicações.

Entretanto, apresenta as seguintes desvantagens: possibilidade de um mesmo conceito ser

representado por árvores diferentes; dificuldade em interpretar árvores muito grandes;

dificuldade de alteração (inserir e remover dados) e representação de conhecimento não-

hierárquico (ARTERO, 2009).

Segundo Han e Kamber (2006) e Rezende (2005), a Árvore de Decisão (AD) é uma

estrutura de árvore semelhante a um fluxograma, onde o nó mais alto é o nó raiz, cada nó de

decisão é um teste sobre algum atributo, cada ramo representa um resultado do teste e cada nó

folha ou nó terminal contém um rótulo de classe. Na Figura 18 é apresentado um exemplo de

árvore de decisão para jogar tênis.

Figura 18. Árvore de Decisão para jogar tênis

(1) Nó raiz; (2) ramo; (3) nó de decisão; (4) nó folha.

Fonte: Artero (2009)

3.7.2. Regras de Produção

Regras de Produção é o modelo de representação de conhecimento mais utilizado na

prática por causa da sua simplicidade. Este modelo é recomendado quando o conhecimento é

muito difuso, composto de muitos fatos ou ações independentes, como é o caso da medicina

(ARTERO, 2009).

As vantagens mais importantes são as seguintes: a modularidade, pois as regras podem

ser consideradas independentes, facilitando o acréscimo, a alteração e a exclusão de novas

31

regras ao conjunto; a naturalidade, pois o modelo segue um conjunto de regras para tomar as

decisões, consistindo em uma forma natural de pensar na solução de problemas; e, a

uniformidade, pois as regras são escritas sempre com o mesmo padrão, permitindo que pessoas

não-familiarizadas possam analisar o conhecimento armazenado. As principais desvantagens

são as seguintes: a opacidade, devido à dificuldade para analisar a totalidade do conhecimento

armazenado e os fluxos de processamento; e, a ineficiência, pois é necessário se combinar um

grande número de regras (ARTERO, 2009).

Para Han e Kamber (2006), uma boa maneira de representar informações ou fragmentos

de conhecimento é por meio das Regras de Produção (RP). Quando a representação de um

conhecimento é baseado em RP, é utilizado, para classificação, um conjunto de RP na seguinte

forma: SE condição ENTÃO conclusão. Exemplos de RP são apresentados na Figura 19.

Figura 19. Exemplos de Regras de Produção

Regra 1: SE mamífero E

voa

ENTÃO morcego

Regra 2: SE mamífero E

não tem pelos

ENTÃO baleia Fonte: Adaptado de Artero (2009)

3.7.3. Extração de Regras de Produção de uma Árvore de Decisão (AD)

As AD são métodos populares de representação de conhecimento por ser fácil o

entendimento de como elas funcionam e por serem conhecidas pela sua precisão, entretanto,

podem se tornar grandes e difíceis de interpretar. Assim, as RP (SE-ENTÃO) podem ser mais

fáceis de serem compreendidas por pessoas não acostumadas do que uma AD muito grande

(HAN; KAMBER, 2006).

Para Rezende (2005), os resultados utilizando indução de RP, para uma vasta gama de

aplicações, não tem sido consistentemente melhores que aqueles obtidos com AD, sendo pouco

provável que seja desenvolvido um indutor de RP com desempenho e velocidade equivalentes

a um indutor de AD.

Conforme Han e Kamber (2006), para extrair RP de uma AD, é criada uma RP para

cada caminho da raiz até o nó da folha. A AD da Figura 16 é convertida em RP do tipo SE-

ENTÃO, rastreando o caminho do nó raiz, para cada nó, até o nó folha, conforme apresentado

na Figura 20.

32

Figura 20. Regras de Produção extraídas da Árvore de Decisão

Regra 1: SE tempo = sol E

umidade ≤ 77,5

ENTÃO jogar tênis = sim

Regra 2: SE tempo = sol E

umidade > 77,5

ENTÃO jogar tênis = não

Regra 3: SE tempo = nublado

ENTÃO jogar tênis = sim

Regra 4: SE tempo = chuva E

vento = não

ENTÃO jogar tênis = sim

Regra 5: SE tempo = chuva E

vento = sim

ENTÃO jogar tênis = não Fonte: Adaptado de Artero (2009)

3.7.4. Algoritmos de classificação

De acordo com Kaur e Singh (2016), a classificação é uma técnica de Mineração de

Dados (MD) utilizada, principalmente, para tarefas de predição, sendo usada para classificar

dados em classes pré-definidas (representação de conhecimento). A técnica de classificação

possui diferentes classificadores, tais como, Árvore de Decisão (AD), Regras de Produção (RP),

funções, entre outros. Na sequência, são apresentados, de maneira breve, os algoritmos J48,

REP Tree e Random Tree. Estes algoritmos foram importantes para a realização deste estudo,

pois se assumiu como premissa que a abordagem clássica, a abordagem lógica ou a abordagem

aleatória poderia classificar de forma adequada a variável de interesse (dosagem de coagulante).

Segundo Artero (2009), o algoritmo J48 é um dos algoritmos mais conhecidos e

utilizados para a construção de AD. Conforme Ali et al. (2012), Ross Quilan em 1993

desenvolveu o algoritmo C4.5, o qual é utilizado para gerar uma AD. O algoritmo J48 é uma

implementação Open Source na ferramenta WEKA da versão C4.5, sendo o J48, um algoritmo

padrão para criação de AD. Conforme Ingolikar e Gedam (2016), o J48 calcula o ganho de

informação para todos os testes possíveis em que o conjunto de dados pode ser dividido e

seleciona o teste que resultou no maior valor, sendo repetido esse processo para cada novo nó

até atingir um nó folha. De acordo com Kaur e Singh (2016), é a implementação Java do

algoritmo C4.5, no qual o ganho de informação, normalizado, é usado para critérios de divisão.

Mais detalhes podem ser encontrados nos trabalhos de Rezende (2005) e Artero (2009).

33

Segundo Barros (2013), o algoritmo Reduced Error Pruning ou REP Tree foi proposto

por Quinlan (1987). Conforme Devasena (2014), o algoritmo utiliza a lógica da árvore de

regressão e gera múltiplas árvores em iterações alteradas. Em seguida, seleciona a melhor de

todas as árvores geradas. O REP Tree constrói a AD usando variância e ganho de informação,

além disso, poda a árvore usando como critério a redução do erro. O REP Tree, conforme

Ingolikar e Gedam (2016), é um algoritmo rápido que cria uma árvore de decisão/regressão

utilizando como critério para selecionar o atributo a ser testado no nó o ganho e a variância de

informação. Maiores informações sobre o algoritmo REP Tree podem ser obtidas no trabalho

de Quinlan (1987).

De acordo com Kalmegh (2015), o algoritmo Random Tree foi introduzido por Leo

Breiman e Adele Cutler. O Random Tree é um algoritmo no qual se produz um conjunto

aleatório de dados para construção de uma AD. Segundo Ingolikar e Gedam (2016), o Random

Tree cria uma árvore a partir de k atributos escolhidos aleatoriamente em cada nó. Conforme

Kalmegh (2015), em uma AD padrão, como a obtida pelo J48, cada nó é dividido utilizando a

melhor combinação entre todas as variáveis. Já em uma AD aleatória, fundamento do Random

Tree, cada nó é dividido utilizando o melhor subconjunto entre as classes escolhidas

aleatoriamente. No trabalho de Jagannathan, Pillaipakkamnatt e Wright (2009) são encontrados

mais detalhes acerca desse algoritmo.

3.7.5. Avaliação da classificação (modelo de classificação)

Rezende (2005) recomenda o uso da Matriz de Confusão (MC) e Estatística Kappa como

indicadores para avaliação da classificação ou modelo de classificação.

A MC apresenta a quantidade de classificações corretas e a quantidade de classificações

incorretas, sendo informações de grande importância para avaliação do ajuste ou não do

algoritmo de classificação (TAVARES; BOZZA; KONO, 2007). Na Figura 21 é apresentada

uma MC típica.

Figura 21. Exemplo de uma Matriz de Confusão a b c d e classified as

12 0 0 3 0 | a = eleito

1 0 0 2 0 | b = media

0 0 0 4 0 | c = naoeleito

1 0 0 100 0 | d = suplente

0 0 0 0 0 | e = naoinformado

classificados corretamente

classificados incorretamente

Fonte: Adaptado de Tavares, Bozza e Kono (2007)

34

Os percentuais das classificações corretas e incorretas são dados pelas Equações 1 e 2.

PCC = NCC

NTC × 100 Eq. 1

PCI = NCI

NTC × 100 Eq. 2

Na qual: PCC é o percentual de classificações corretas; NCC é o número de

classificações corretas; NTC é o número total de classificações; PCI é o percentual de

classificações incorretas; e, NCI é o número de classificações incorretas.

A Estatística Kappa, conforme Landis e Koch (1977) é um índice que mede a associação

utilizada para descrever e testar o grau de concordância (confiabilidade e precisão) do modelo

de classificação, conforme Tabela 3. A Estatística Kappa é calculada pela Equação 3.

κ = Pr(𝑎) − Pr (𝑒)

1 − Pr (𝑒) Eq. 3

Na qual: κ é a Estatística Kappa; Pr(a) é a concordância observada; e, Pr(e) é a

concordância esperada ao acaso.

Tabela 3. Interpretação de valores da Estatística Kappa

Estatística Kappa (κ) Força de concordância

< 0,00 Nenhuma concordância

0,00 – 0,20 Leve concordância

0,21 – 0,40 Concordância regular

0,41 – 0,60 Concordância moderada

0,61 – 0,80 Concordância substancial

0,81 – 1,00 Concordância quase perfeita Fonte: Landis e Koch (1977)

3.8. Sistemas Especialistas

Segundo Artero (2009), o Sistema Especialista (SE), uma das mais importantes áreas da

Inteligência Artificial (IA), consiste em um sistema computacional determinado a representar

o conhecimento, de um ou mais especialistas humanos, sobre um domínio bastante específico.

O SE, utilizando como referência a base de conhecimento, procura soluções para problemas

que, geralmente, requerem grande volume de conhecimento especializado.

35

Segundo Rezende (2005), é importante diferenciar os SEs dos Sistemas Baseados em

Conhecimento (SBC), visto que, de maneira geral, os SBCs são capazes de solucionar

problemas usando conhecimento específico sobre o domínio da aplicação, enquanto os SEs são

SBCs que resolvem problemas ordinariamente resolvidos por um especialista humano. Nos

SEs, o conhecimento a ser manipulado é restrito a um domínio específico e conta com um alto

grau de especialização. Na Figura 22 é apresentado o SE no contexto dos Sistemas Inteligentes

(SI). Para Schwabe e Carvalho (1987), todos os SEs, virtualmente, são sistemas baseados em

conhecimento.

Figura 22. Sistemas inteligentes

SI: Sistemas Inteligentes; SBC: Sistema Baseado em Conhecimento; SE: Sistema Especialista.

Fonte: Rezende (2005)

3.8.1. Componentes dos Sistemas Especialistas

Algum tipo de inteligência e conhecimentos de alguma área sempre está embutida nos

códigos de todos os sistemas de computador, e dessa forma, são capazes de apoiar a resolução

de problemas em áreas bem especificas. Mas, muitos não podem ser considerados SE, pois um

SE é caracterizado por uma completa separação entre os métodos de solução do problema e o

conhecimento codificado. Em outras palavras, o SE é um programa executável que busca em

um arquivo, a parte, o conhecimento sobre o seu domínio, assim, a base de conhecimento pode

ser totalmente alterada e, apesar disso, o programa ainda irá funcionar normalmente, utilizando

o conhecimento da nova base (ARTERO, 2009). Na Figura 23 é apresentada a arquitetura de

um SE. A seguir são apresentados, de forma breve, os componentes de um SE (base de

conhecimento, interface de aquisição, interface de usuário e máquina de inferência).

36

Figura 23. Arquitetura de um Sistema Especialista

Fonte: Artero (2009)

A base de conhecimento (BC) é o componente responsável pelo armazenamento do

conhecimento, o qual utiliza algum modelo de representação do conhecimento tal como, Lógica

Matemática, RP, Redes Semânticas, Quadros e Roteiros ou AD (ARTERO, 2009).

Schwabe e Carvalho (1987) definem a BC como o conhecimento representado em um

programa particular. Segundo estes autores, a representação do conhecimento refere-se à

estrutura formalizada e ao conjunto de operações que envolve a descrição, relacionamento e

procedimento de um determinado domínio. Conforme Artero (2009), a representação por RP é

o modelo mais utilizado, devido a duas de suas características, a modularidade e a

uniformidade. A primeira permite grande facilidade para adicionar novas regras, pois cada regra

define um pequeno e independente pedaço do conhecimento e também facilita a alteração e

exclusão de regras incorretas da BC. Já a segunda, a uniformidade, permite que pessoas não

acostumadas com o sistema consigam entender o conteúdo do conhecimento armazenado nas

regras, pois todas as regras utilizam o mesmo padrão de representação.

A BC pode ter informações de várias fontes, como livros, estudos de casos, relatórios,

dados empíricos, processos de aprendizagem de máquina e a experiência de especialistas.

Entretanto, atualmente a tendência é, por meio da implementação de métodos de aprendizado

de máquina, incorporar módulos para realizarem a aquisição automática de conhecimento

(ARTERO, 2009).

A interface de aquisição é o componente do SE que permite ao especialista definir e

manipular as regras, por isso deve apoiar a construção inicial da base de conhecimento e

também permitir que sejam feitas atualizações, sendo correções de regras existentes ou adição

de regras novas para tratar de novos conhecimentos sobre o mesmo domínio (ARTERO, 2009).

37

Responsável pela interação entre usuário e sistema, a componente interface de usuário,

deve ser sempre muito eficiente e amigável, pois em qualquer sistema computacional, ela (a

interface de usuário) é sempre responsável pelo grau de satisfação do usuário com o sistema.

Por meio dela, o usuário utiliza o conhecimento armazenado na BC para obter as respostas às

suas perguntas e também explicações relacionadas às linhas de raciocínio que o sistema usa

para obter uma conclusão (ARTERO, 2009).

De acordo com Artero (2009), máquina de inferência é a parte responsável pelo

processamento das perguntas do usuário, processamento dos fatos armazenados na BC e pela

obtenção das conclusões e explicações que serão concedidas ao usuário. A partir de fatos,

suposições e conhecimento que foram estabelecidos na BC, novos conhecimentos são gerados

pelos processos de inferência. Desta maneira, a máquina de inferência torna uma situação dada

(estado inicial) em uma situação desejada (estado final), utilizando um conjunto de operadores.

Então, o processo para resolver os problemas se resume em encontrar a sequência de operadores

que levam do estado inicial até o estado final.

A máquina de inferência pode trabalhar deterministicamente ou probabilisticamente. No

primeiro caso, suas regras trabalham de forma exata, fornecendo uma resposta única e bem

definida a um problema. Enquanto no segundo caso, deve-se considerar o peso das variáveis

envolvidas para ser capaz de fornecer respostas que tenham certa possibilidade de ocorrer, o

que é comum em várias aplicações (ARTERO, 2009). Na Tabela 4 é apresentado um exemplo

de cada caso.

Tabela 4. Exemplos de implementação da máquina de inferência

Método Regras de Produção

Determinístico Se um átomo tem dois elétrons Então é um átomo de Hélio

Probabilístico Em janeiro a probabilidade de chuva é 0.8 Fonte: Artero (2009)

3.8.2. Sistemas Especialistas e Especialistas Humanos

As características dos SEs e especialistas humanos são criticamente diversas, embora

ambos possam desempenhar tarefas idênticas em alguns casos. Apesar dos SEs terem algumas

vantagens evidentes, eles não poderão substituir os especialistas humanos em todas as

situações, por causa de algumas limitações inerentes (SCHWABE; CARVALHO, 1987). Na

Tabela 5 é mostrada uma comparação entre SEs e especialistas humanos.

38

Tabela 5. Comparação entre conhecimento especializado humano e artificial

Conhecimento Humano Conhecimento Artificial

Perecível Permanente

Difícil de transferir Fácil de transferir

Difícil de documentar Fácil de documentar

Imprevisível Consistente

Caro Razoável

Discriminatória Imparcial

Individualizada Social

Criativa Sem inspiração

Adaptável Inflexível

Enfoque amplo Enfoque restrito

Baseado em senso comum Técnico Fonte: Schwabe e Carvalho (1987)

Os seres humanos, especialistas ou não, detêm o conhecimento advindo do senso

comum, que se constitui em um largo espectro de conhecimento sobre o mundo, reunido durante

toda a sua vida e que está presente em todas as suas decisões. Dessa forma, devido à imensa

quantidade de senso comum, fatos de domínio público que todos sabem, torna-se difícil

desenvolver um SE (SCHWABE; CARVALHO, 1987).

3.8.3. Avaliação de Sistemas Especialistas

Conforme Artero (2009), um teste clássico para determinar se uma máquina tem

inteligência ao nível humano é o teste de Turing. Nesse teste, dois seres humanos, A e B, e um

computador C, são colocados em um ambiente de maneira que não se comuniquem. O humano

A é um interrogador com o objetivo de descobrir, por meio das respostas de B e C, qual deles

é o computador. Se A não conseguir determinar, com no mínimo 50% de precisão, qual dos

dois, B ou C, é o humano, e este resultado é confirmado por outras pessoas no papel de A e B,

então o computador passou pelo teste de Turing. Dessa forma, pode-se concluir que a máquina

simula a inteligência humana.

3.9. Tecnologia open source

Open source é um termo usado para caracterizar tecnologias que podem ser usadas,

alteradas e compartilhadas gratuitamente, em forma modificada ou não modificada, por

qualquer pessoa (OPENSOURCE, 2017).

39

3.9.1. Arduino

O Arduino é uma plataforma eletrônica open source com hardware e software fáceis de

usar. O Arduino é capaz de ler entradas, tais como luz em um sensor, dedo em um botão ou

uma mensagem do Twitter, e transformar essas entradas em saídas, acendendo um LED (Diodo

Emissor de Luz), ativando um motor ou publicando algo online. A placa é informada sobre o

que fazer a partir de um conjunto de instruções enviadas para o microcontrolador na placa

(ARDUINO, 2017).

Para McRoberts (2011), o Arduino é um pequeno computador que pode ser programado

para processar entradas e saídas entre o dispositivo e os componentes externos conectados a

ele. O Arduino é denominado de plataforma de computação física ou embarcada, isto é, um

sistema que por meio de hardware e software pode interagir com o ambiente.

Utilizado por professores e alunos para construir equipamentos científicos de baixo

custo, para provar princípios de química e física ou para iniciar com programação robótica, o

Arduino tem sido usado em milhares de projetos e aplicações diferentes, desde objetos comuns

até instrumentos científicos complexos (ARDUINO, 2017). Na Figura 24 são mostradas duas

das várias placas Arduino disponíveis, Arduino Uno e Arduino Mega, que se diferenciam pela

quantidade de portas que possuem. O primeiro possui 14 portas digitais e 6 portas analógicas,

já o segundo, possui 54 portas digitais e 16 portas analógicas.

Figura 24. Placas Arduino

(a) Arduino Uno (b) Arduino Mega

Fonte: Elaboração própria

Na Figura 25 é mostrado a tela do software Arduino onde os programas são

implementados. No Arduino é utilizado a linguagem de programação C++.

40

Figura 25. Tela do software Arduino

Fonte: Elaboração própria

3.10. Calibração de sensores

Silva, Zaque e Silva (2016), realizaram calibração de sensores de pressão a partir do

registro de valores de mH2O de um manômetro convencional e tensão em volts do sensor de

pressão em estudo. Dessa forma, foram realizadas uma sequência de leituras para registro dos

dados. E, em seguida, utilizada a técnica de Regressão Linear para correlacionar linearmente a

pressão do manômetro e a tensão do sensor de pressão), sendo obtida uma curva de calibração

e sua respectiva função.

Rosa; Silva e Silva (2017) realizaram a calibração de um sensor de pressão utilizando

um manômetro com leitura de 0 a 30 mca. O sensor foi instalado em uma tubulação de 40mm

de PVC de uma bancada, a qual possui uma válvula no início e uma no final da tubulação para

controlar as pressões. Também foi instalada na mesma tubulação o manômetro com capacidade

de leitura de até 30mca. Dessa forma, foram registrados os valores de tensão do sensor de

pressão para diferentes faixas de pressão lidas no manômetro. Em seguida, foi realizada uma

correlação linear entre a série de leituras do manômetro e a série de leituras do sensor, e assim,

obtido o gráfico e a equação desta correlação.

41

3.11. Modelo de Simulação

Segundo Giles, Evett e Liu (1996), de um modo geral, os modelos hidráulicos poder ser

reais ou distorcidos. Os modelos reais apresentam todas as características significativas do

protótipo, reproduzidas em escala (geometricamente semelhante), satisfazendo às restrições do

projeto (semelhança cinética).

De acordo com Azevedo, Porto e Filho (2002), os modelos são uma representação do

mundo real. A partir de um conjunto de informações de entrada, os modelos fornecem a resposta

de um sistema, permitindo ao decisor analisar os efeitos de diversos cenários de um sistema

existente ou de um sistema em projeto.

42

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Na revisão bibliográfica são tratados os temas de Sistemas Especialistas (SE) e

tecnologias na área de recursos hídricos e saneamento.

4.1. Tecnologias no tratamento de água e águas residuárias

Pinto et al. (1997) realizaram a automação de uma ETA, na qual é controlada a

dosagem ótima de coagulante, alcalinizante, cloro e flúor de forma automática. Também, possui

rotinas de alarme que desligam a captação de água bruta e a estação de tratamento em casos de

anormalidade em qualquer parâmetro. A estação é supervisionada 24 horas por dia, por um

Centro de Controle Operacional, para agilizar qualquer ação necessária.

Gonçalves, Maeda e Taqueda (1974), com o objetivo de proporcionar maior

eficiência e menor uso de mão-de-obra especializada, realizaram a automatização do sistema

de comando de lavagem de filtros da ETA Theodoro Augusto Ramos, localizada no distrito de

Santo Amaro, município de São Paulo. As ações dos operadores foram substituídas por relés,

válvulas solenoides e chaves fim de curso, itens que fazem parte da mesa de comando

automática. Dessa forma, a ação do operador passou a ser somente apertar o botão que iniciará

a lavagem do filtro.

Dubey et al. (2017) fizeram uma análise sobre o desenvolvimento de controles de

automação em ETAs, centrando nas questões técnicas do sistema de controle de automação que

podem auxiliar no avanço da indústria de automação em relação ao nível de gerenciamento e

eficácia do processo. Como conclusão, Dubey et al. (2017) relatam que as decisões de rotina

do operador são menos críticas com a automação, porém são necessárias a manutenção de rotina

eficaz e a disponibilidade de pessoal capacitado para emergências operacionais.

Maia et al. (2013) descrevem um projeto de uma planta de tratamento de águas

residuárias utilizando flotação e coagulação, com o objetivo de propor um sistema alternativo

de baixo custo para tratamento de água residuária para reutilizar no uso geral. Para este trabalho,

foram levados em consideração os seguintes fatores: as características da efluente bruto; o custo

de implantação, manutenção e operação; manuseio e confiabilidade dos equipamentos;

flexibilidade operacional; e, disposição final do lodo. Como resultado, foi elaborada uma planta

automatizada para controle do efluente bruto, resultando no final do processo em um efluente

tratado no nível de uso geral.

43

4.2. Sistemas Especialistas na dosagem de coagulantes

Para Zhang e Luo (2004), o processo de coagulação envolve muitos fenômenos físicos

e químicos complexos, sendo um dos estágios mais importantes na Estação de Tratamento de

Água (ETA). Esses autores, consideram ainda, que a dosagem de coagulante não está

linearmente correlacionada com as características das águas brutas, como turbidez,

condutividade, pH, temperatura, outros. Assim, é difícil ou mesmo impossível de controlar

satisfatoriamente a reação de coagulação, pelos métodos convencionais. Dessa forma, foi

desenvolvido um SE com base em modelos de rede neural e de Regras de Produção (RP), para

determinar a dosagem química ideal do coagulante no tratamento de água. Os resultados

mostraram que o SE, efetivamente, controla o processo de coagulação e a dosagem de

coagulação é menor do que a utilizada no método convencional.

Segundo Wu e Lo (2008), a coagulação é um componente importante do tratamento de

água, de forma que determinar a melhor dosagem de coagulante é vital, visto que a dosagem

inadequada resultará em não conformidade de qualidade de água. Habitualmente, são utilizados

para determinar a melhor dose de coagulante os testes de jarros e a própria experiência dos

operadores. Entretanto, os testes de jarros são demorados e menos adaptáveis às mudanças na

qualidade da água bruta em tempo real. Assim, quando ocorre uma condição incomum, como

uma chuva forte, a qual traz alta turbidez para a fonte de água, a qualidade da água tratada pode

ser inferior aos padrões de potabilidade, devido ao método convencional de operação, que torna

difícil de ajustar, em tempo real, a dosagem adequada. Assim, Wu e Lo (2008) desenvolveram

duas ferramentas de simulação, uma utilizando Redes Neurais Artificiais e outra Sistema de

Inferência Neuro-Fuzzy Adaptativo, para modelar a dosagem de policloreto de alumínio das

águas superficiais do norte de Taiwan. As ferramentas permitiram obter uma dosagem em

tempo real mais facilmente. O modelo do Sistema de Inferência Neuro-Fuzzy Adaptativo foi

melhor que o de Redes Neurais Artificiais para previsões de dosagem do coagulante policloreto

de alumínio.

Conforme Santos et al. (2017), em uma ETA, a coagulação é um dos processos mais

importantes, que é utilizado para desestabilizar as impurezas contidas na água para possibilitar

a floculação. Atualmente, para determinar a melhor dosagem de coagulante, algumas técnicas

têm sido empregadas, como métodos de inteligência artificial, como Redes Neurais Artificiais,

Fuzzy e SE, as quais permitem combinações técnicas para auxiliar os operadores e engenheiros

no processo de tratamento de água. Dessa forma, Santos et al. (2017) desenvolveram um

sistema baseado em Rede Neural Artificial para prever a dosagem de coagulante ideal em uma

44

ETA. O sistema foi implementado, simultaneamente, em dois locais de uma ETA do Estado de

São Paulo, apresentando como resultado, o fato de que o sistema proposto pode reduzir os

custos de matéria-prima na ETA.

4.3. Sistemas Especialistas para outras aplicações

Conforme Nasiri et al. (2007), as políticas de gestão da qualidade da água são questões

amplas e complexas, as quais se referem a propostas para prevenir, controlar ou tratar problemas

ambientais relacionados à qualidade da água. Existem diferentes usos da água e muitos

parâmetros de decisão com vários níveis de tomadores de decisão envolvidos. Também, existem

muitas estratégias e tecnologias disponíveis para aplicar no gerenciamento da qualidade da

água. Assim, são necessários decisores para selecionar o melhor plano possível para cada

problema específico. Dessa forma, foi proposto o conceito de Índice de Qualidade da Água

(IQA) para facilitar a avaliação de políticas de qualidade da água. Para obtenção do IQA houve

a necessidade de criar uma metodologia para estruturar e identificar informações relevantes

para o problema e também para ajudar os usuários a tomar uma decisão. Neste sentido, Nasiri

et al. (2007) desenvolveram um SE com suporte de decisão de múltiplos atributos, que

disponibiliza conhecimento especializado para que inexperientes possam utilizá-lo para

calcular o IQA e fornecer um esboço para a priorização de planos alternativos com base na

quantidade de melhorias do IQA. O SE proposto se mostrou aplicável e útil por meio da

investigação da qualidade da água, de um estudo de caso, na bacia do rio Tha Chin, na Tailândia.

Hatzikos et al. (2007) apresentaram um SE que monitora a qualidade da água do mar e

a poluição no norte da Grécia por meio de uma rede de sensores chamada Andromeda. O SE

monitora os dados coletados pelos sensores das estações de monitoramento locais sobre o nível

atual de adequação da água para diversos usos aquáticos, como natação e piscicultura. Este SE

tem como objetivo ajudar as autoridades no processo de tomada de decisão no combate contra

a poluição do meio aquático, o qual é vital para a saúde pública e a economia do norte da Grécia.

Utilizando Lógica Fuzzy, o SE sinaliza alertas quando determina que certos parâmetros

ambientais excederam os limites de poluição especificados pelas autoridades ou por

pesquisadores.

De acordo com Seflek e Çarman (2010), na Turquia, o desenvolvimento econômico

depende da agricultura, devendo ser aumentado o rendimento na produção agrícola para

melhorar a economia. Um fator muito importante para aumentar o rendimento é a irrigação.

Diferentes tipos de bombas são utilizados de acordo com as condições do sistema para irrigação

45

de áreas agrícolas, sendo muito difícil encontrar um especialista no momento e local desejado

para selecionar a bomba correta. Seflek e Çarman (2010) desenvolveram um SE utilizando

como base de dados as informações obtidas de bombas comumente usadas na Turquia. Levando

em consideração a área de irrigação, métodos de irrigação, recursos hídricos, clima,

propriedades do solo, padrão de cultivo e características do poço, foram determinadas a vazão

e a altura manométrica total e, o SE seleciona a bomba mais adequada com o menor consumo

especifico de energia.

Ooshaksaraie et al. (2012) desenvolveram um SE, o RP3CA, o qual é usado para mitigar

a poluição das águas pluviais durante atividades de construção no canteiro de obras. O RP3CA

foi elaborado utilizando o Microsoft Visual Basic (VB) 6 que pode ser usado com o SIG

(Sistema de Informação Geográfica). Para adquirir os conhecimentos e experiência, foram

usadas tabelas e árvores de decisão. O SE foi desenvolvido como um consultor de

gerenciamento de água pluviais para que os usuários possam controlar as atividades de

construção. No desenvolvimento do RP3CA, foi verificado que o estabelecimento da base de

conhecimento é a tarefa mais importante, difícil e demorada de se realizar.

Com o objetivo de prevenir e reduzir a poluição da água, promover o uso sustentável,

proteger o meio ambiente e melhorar a condição dos ecossistemas aquáticos, Angulo et al.

(2012) desenvolveram um sistema de suporte à decisão. Este sistema foi baseado na aplicação

de técnicas de Lógica Fuzzy e destinou-se a auxiliar o gerenciamento de registros de diferentes

redes de monitoramento da qualidade da água. O SE utilizou variáveis físico-químicas

registradas em tempo real. O SE foi considerado apto a obter indicadores de alterações da

qualidade da água, os quais podem ser associados a descargas urbanas ou poluição agrícola

difusa. O sistema analisou resultados de variáveis físico-químicas da rede de monitoramento

oficial, fornecendo informações sobre eventos específicos ou processos contínuos, que

dificilmente são detectados por amostragem discreta.

Um SE baseado no conhecimento, o Stormwater Management Control Expert System

(SMCES), foi desenvolvido por Al-Ani et al. (2012), utilizando o ambiente do Microsoft Visual

Basic 6, com o objetivo de gerenciamento das águas pluviais na Malásia. Os resultados obtidos

foram comparados com o especialista humano (engenheiro local), sendo provado que o SMCES

se comporta como um especialista humano. O SMCES pode economizar tempo e recursos

financeiros, uma vez que não há consultor continuamente disponível e que cada nova

consultoria requer alocação de recursos financeiros. Os usuários finais do sistema são

engenheiros, consultores, contratados e tomadores de decisão.

46

Rosa et al. (2014) desenvolveram um SE, o EXPERT-AU1, para operação de sistema

de abastecimento urbano de água. O SE tem o objetivo de auxiliar operadores de sistema de

abastecimento de água em suas atividades de tomada de decisão. Em especial, o SE auxilia na

definição do tempo de funcionamento de um conjunto de motor-bombas, ou seja, quais bombas

ligar e por quanto tempo as mesmas devem permanecer ligadas. O modelo pode ser aprimorado

e aplicado em situações reais, após a realização de adaptações e calibração do modelo.

Capella et al. (2014) contribuíram para o desenvolvimento e implantação de uma rede

de sensores, sem fio, para o monitoramento contínuo, em tempo real, da concentração de

nitratos em um rio no leste da Espanha, por meio do desenvolvimento de um SE para melhorar

os recursos de operação. A otimização dos tempos em que as medições devem ser realizadas e

enviadas, a frequência de amostragem, as preferências do usuário e os recursos da aplicação

são recursos disponibilizados pelo SE. Como resultado, foi verificado, experimentalmente, que

tanto o SE quanto o software inteiro funcionam corretamente, tornando o sistema altamente

adequado para a automação completa de muitos sistemas de análise química, que exigem uma

confiabilidade absoluta das medições.

Após a descoberta da poluição na bacia hidrográfica, na qual estão instalados poços de

captação de água potável do aquífero Ljubljansko polje, principal fonte de água da capital da

Eslovênia, Janža (2015) desenvolveu um sistema de apoio à decisão para o gerenciamento de

águas subterrâneas. O sistema é baseado em uma rede de monitoramento e na integração de

técnicas de modelagem numérica com conhecimento especializado. A integração das atividades

incluiu a constatação de poluição nas águas subterrâneas, a simulação de propagação da

poluição e a tomada de decisão. Essa integração em um sistema comum oferece uma base para

o gerenciamento pró-ativo de recursos hídricos. O sistema, com uma interface amigável,

possibilitou aos gerentes de água que utilizem ferramentas de modelagem e acessem de maneira

rápida as informações para mitigar a poluição das águas subterrâneas, contribuindo

significativamente para um abastecimento mais seguro de água potável.

A previsão de consumo de água em curto prazo (dia seguinte) é necessária para obter

eficiência operacional em um sistema de abastecimento de água. Dessa forma, Silva, Campos

e Santos (2016) desenvolveram um modelo matemático de previsão de consumo diário de água

da cidade de Nobres, Estado de Mato Grosso, Brasil. Foram aplicadas as seguintes técnicas de

modelagem matemática: a Regressão Linear, as Séries de Fourier e o SE. O modelo

desenvolvido apresentou um bom ajuste, pois os resultados indicaram um erro médio percentual

47

inferior a 10%. Os autores concluíram que o modelo desenvolvido pode ser utilizado para o

planejamento operacional do sistema de abastecimento de água estudado.

4.4. Tecnologias open source em Recursos Hídricos e Saneamento

Souza et al. (2012) utilizaram a Plataforma Arduino como ferramenta de

monitoramento, por possuir baixo custo e fácil aplicabilidade, para avaliação da qualidade das

águas do Delta do Parnaíba, situado entre os estados brasileiros do Maranhão e do Piauí. As

variáveis monitoradas incluíram medições dos níveis de pH e temperatura. O monitoramento

foi realizado por três meses, sendo registrado dados relevantes da qualidade do ambiente

aquático, visando auxiliar na prevenção de um possível desequilíbrio ecológico local. Com o

monitoramento foi verificado que em determinado período o pH se tornava ácido, dessa forma,

Souza et al. (2012) pretendem realizar pesquisas mais profundas para avaliar o impacto real

dessa acidez e evitar impactos ambientais negativos.

Um estudo similar foi desenvolvido por Faustine et al. (2014). Um protótipo de um

sistema para monitoramento da qualidade da água em Lake Victoria Basin, importante

ecossistema na Região da África Oriental, foi desenvolvido. O sistema é constituído por um

microcontrolador Arduino, sensores de qualidade da água e um módulo de conexão sem fio.

Ele detecta, em tempo real, a temperatura da água, o oxigênio dissolvido, o pH e a

condutividade elétrica enviando a informação para um portal baseado na web e para plataforma

de telefonia móvel. Faustine et al. (2014) mostraram, como resultados experimentais, que o

sistema pode ser utilizado para operar em ambiente real, fornecendo informações relevantes e

oportunas para facilitar a tomada rápida de decisão, para garantir o melhor controle e proteção

dos recursos hídricos. Na Figura 26 é mostrado o sistema coletando dados.

Figura 26. Sistema coletando dados

Fonte: Faustine et al. (2014)

48

Kelley et al. (2014) projetaram e construíram um turbidímetro acessível, baseado na

Plataforma Arduino, e o avaliaram comparando-o com um turbidímetro comercial portátil. Os

resultados indicaram que o turbidímetro detecta turbidez com alcance e precisão bastante

comparáveis aos de um dispositivo comercial portátil de custo muito maior.

Para ter informações em tempo real sobre a quantidade de água consumida, Grosskopf

e Pykosz (2016) desenvolveram um protótipo automatizado visando monitorar o consumo de

água pelos usuários. Foram ligados sensores de fluxo de água (vazão) e temperatura a um

microcontrolador Arduino, o qual se comunica com a internet e envia os dados coletados para

um banco de dados. O protótipo apresentou uma porcentagem de acerto de 95,5%. Conforme

Grosskopf e Pykosz (2016), a viabilidade desse projeto pode tornar muito mais ágil e

automática a leitura, pelas empresas de saneamento, dos volumes consumidos pelos usuários,

proporcionando um maior controle dos volumes gastos e dos desperdícios.

Devi, Varshney e Sethi (2016) desenvolveram um sistema automático, para fins

domésticos, que monitora e regula os fatores agrícolas baseado na plataforma Arduino, o qual

é programado para detectar a umidade e pH no solo e realizar ações necessárias para equilibrá-

lo. As leituras da umidade do solo e de pH são coletadas por sensores e enviadas para o

microcontrolador Arduino, o qual é programado para regar as plantas quando a umidade do solo

estiver abaixo do valor padrão e aplicar cal hidratada para tornar neutro o pH do solo. Os autores

concluíram que o sistema automático desenvolvido atendeu o objetivo e recomendam, como

aprimoramento, o envio de SMS (Serviço de Mensagens Curtas) para o número de celular do

usuário usando uma conexão Ethernet / Wi-Fi através da Internet.

Com o objetivo de criar um sistema de irrigação inteligente para casa de vegetação,

Ferreira et al. (2016) utilizaram um microcontrolador Arduino e outros componentes

eletrônicos para o controle automático de válvulas solenoides, que controlam a irrigação do

cultivo, a partir dos dados de leitura de umidade do solo. O sistema foi capaz de acionar e

desativar as válvulas no momento adequado, conforme a condição de ajuste programado,

comprovando a sua eficácia, viabilidade e aplicabilidade.

Com base na tecnologia Arduino, Masseroni et al. (2016) desenvolveram o Irrig-OH,

um dispositivo para permitir o monitoramento contínuo do potencial de água do solo na zona

de raiz para suportar o agendamento de irrigação na escala de campo. O dispositivo possui dois

tipos de sensores, um para medir o potencial de água do solo e outro para medir a temperatura

do solo. O disposto possui uma estrutura flexível que pode ser adaptada para hospedar

diferentes tipos de sensores. Os resultados obtidos, utilizando o dispositivo Irrig-OH, gerindo a

49

irrigação em um pomar de pessegueiros, permitiu um aumento significativo na eficiência do

uso da água, mostrando uma economia de água de quase 50%, sem causar redução para a

quantidade e qualidade da produção. Na Figura 27 é apresentado o hardware do Irrig-OH.

Figura 27. Hardware do Irrig-OH

Fonte: Masseroni et al (2016)

Visando desenvolver um método alternativo de análise de vazão hídrica, Luz et al.

(2016) utilizaram um microcontrolador Arduino e um sensor de fluxo, ambos de custo

acessível, para medir vazão em canais abertos e o comparou com dois métodos

convencionalmente utilizados, o método direto e o vertedor triangular. Após análise das vazões

obtidas pelos três métodos, foi observado uma correlação entre o método alternativo e os

métodos convencionais. Assim, o método alternativo se mostrou eficiente e confiável, sendo

viável o aperfeiçoamento estrutural deste equipamento, pois ele apresenta precisão, baixo custo,

facilidade de obtenção dos equipamentos e de programação.

Para estabelecer uma rede de monitoramento hidrológico nos trópicos úmidos e secos

de Guanacaste, na Costa Rica, Hund, Johnson e Keddie (2016) desenvolveram um registrador

de dados baseado na Plataforma Arduino, o Ecohydro Logger, que é conectado a um sensor

combinado de profundidade de água, temperatura e condutividade. Em cada estação de

monitoramento este sistema foi implantado para medir esses parâmetros em intervalos de dez

minutos. O Ecohydro Logger apresentou custos totais de U$ 100, significativamente, menos

oneroso que os dataloggers convencionais. Além disso, os sistemas de aquisição de dados

50

baseados na plataforma Arduino, possuem natureza acessível, extensível e de código aberto,

apresentando um grande potencial de integração em sócio-hidrologia, podendo capacitar os

cidadãos locais para contribuir para ampliar o conhecimento sobre recursos hídricos em suas

comunidades.

Para Ranjbar e Abdalla (2017), a industrialização e a economia estão crescendo

rapidamente e o tempo é o recurso disponível mais escasso no mundo de hoje, tornando o

método tradicional de teste de qualidade da água não mais aplicável. Dessa forma, vários

sistemas eletrônicos de monitoramento da qualidade da água foram desenvolvidos na última

década para enfrentar esse problema. Ranjbar e Abdalla (2017) desenvolveram um sistema de

monitoramento da qualidade da água de baixo custo, automático, remoto, portátil e em tempo

real, o qual é constituído pelas seguintes partes: um microcontrolador Arduino; sensores para

medir a temperatura da água, nível de pH, turbidez e nível da água; módulo GSM (Sistema

Global para Comunicações Móveis) para enviar SMS (Serviço de Mensagens Curtas) para o

telefone móvel do usuário; tela LCD (Display de Cristal Líquido); e, sistema de alarme. Caso

seja detectado, por qualquer sensor, alguma característica de qualidade da água anormal, o

sistema de alarme acenderá um LED (Diodo Emissor de Luz) vermelho para esse parâmetro e

um aviso sonoro será emitido, simultaneamente e, será enviado um SMS ao usuário relatando

a anormalidade. O sistema desenvolvido foi testado em diferentes condições, com solução de

água com diferentes impurezas e em diferentes períodos de tempo. Os autores concluíram que

todos os objetivos foram alcançados.

Kawade et al. (2017) apresentaram uma proposta de um sistema para solucionar o

problema das flutuações do nível de cloro nos sistemas de abastecimento de água potável,

baseado em sensores, sem fio, de pH, ultrassônico e de turbidez. Se ocorre alteração no valor

do pH e turbidez, ou seja, se o valor aumentar ou reduzir drasticamente, o sistema receberá um

sinal e verificará o nível da água no reservatório, então determinará a quantidade de água

presente e a quantidade de cloro a adicionar e, em seguida, o cloro será adicionado. Quando há

uma alta flutuação do nível de cloro e aumento do valor de turbidez, o módulo GSM (Sistema

Global para Comunicações Móveis) será usado para enviar mensagem para o operador do

sistema. Também, será emitido um sinal sonoro e uma luz LED para detectar quando existe

fluxo de cloro na água.

Um sistema de irrigação de plantas totalmente automatizado, baseado na plataforma

Arduino, foi desenvolvido por Kumar e Shimi (2017). Este sistema usa painéis solares para

fornecer energia ao sistema durante o dia. Durante a noite, o sistema funciona com baterias que

51

foram carregadas pela energia solar durante o dia. Para detectar o nível de umidade do solo são

utilizados sensores e quando o teor de umidade do solo se encontra abaixo de um limite para

uma planta, a bomba será acionada e a planta será irrigada. A bomba é desligada,

automaticamente, quando o valor desejado de umidade for atingido. O sistema desenvolvido

mede diferentes condições ambientais, como temperatura atmosférica, umidade relativa,

temperatura do solo, entre outras e vem se mostrando simples e rentável em relação a maioria

dos outros sistemas comerciais.

52

5. ÁREA DE ESTUDO

A escolha da área de estudo, neste caso município de Nobres/MT (Figura 28),

considerou os pontos apresentados por PMSS (2008): (1) problemas comuns na área de

saneamento de municípios de pequeno porte, situação na qual se enquadram 97%

(BRASIL, 2007) dos municípios do Estado de Mato Grosso; (2) relativa homogeneidade, em

termos de limitações técnicas e econômicas, também enfrentadas por estes municípios; (3)

incapacidade, da maioria dos municípios do Estado de Mato Grosso, de prestar, regular e

controlar satisfatoriamente o serviço de saneamento básico. Além disso, o interesse por parte

da concessionária do serviço de abastecimento de água do município de Nobres/MT favoreceu

a escolha do município e o desenvolvimento da pesquisa.

Figura 28. Localização do Estudo de Caso

Fonte: Elaboração própria

O município de Nobres/MT possui uma população estimada de 15.002 habitantes

(IBGE, 2010), distribuídos em uma área de 3.904,42 km². A economia local é impulsionada

pelos setores de indústria de cimento e calcário; pecuária, sistema de cria, recria, corte e leiteira;

agricultura; comércio; culturas perenes e ecoturismo (PMSS, 2008).

53

Na cidade de Nobres/MT, o serviço de abastecimento de água atende 76,30% da

população total do município, sendo considerado razoavelmente adequado, embora necessite

de ajustes para que se possa cumprir com a sua função social (PMSS, 2008).

Em Nobres/MT a captação é feita em balsa flutuante no Rio Nobres e aduzida à ETA

onde são realizados os processos de coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção.

A rede de distribuição atende toda a cidade, que possui uma população urbana estimada em

12.454 habitantes, conforme IBGE (2010).

O serviço de abastecimento de água é prestado pela Empresa de Saneamento de Nobres

(ESAN). A ETA-Nobres possui dois módulos (ETA I e ETA II) de tratamento de água para

suprir a demanda da cidade, sendo o módulo I de alvenaria e o módulo II de estrutura metálica.

A água bruta é aduzida até a calha Parshall, com garganta de 22,90cm, e distribui 16L.s-1 para

o módulo I (ETA I) e 34L.s-1 para o módulo II (ETA II). Cada módulo possui um floculador

hidráulico de fluxo vertical com chicanas, dois decantadores de fluxo laminar, quatro filtros de

fluxo descendentes com antracito, areia e pedregulho. E uma única câmara de contato para os

dois módulos.

A água bruta aduzida à ETA-Nobres apresentou valores de turbidez entre 0,62 uT e

1129 uT e valores de pH entre 6,5 e 7,7. Após o tratamento, a água tratada a ser distribuída para

a população, apresentou valores de turbidez entre 0 uT e 3,08 uT e de pH entre 5,8 e 7,3.

Atualmente, a operação da ETA-Nobres ocorre de forma manual pelo operador

realizando as seguintes ações: (1) coleta de amostras de água ao longo do tratamento; (2) análise

dos parâmetros físico-químicos (turbidez, cor, pH e cloro residual livre); (3) determinação da

dosagem de sulfato de alumínio (teste de jarros ou experiência); (4) aplicação da dose do

coagulante (controle do rotâmetro instalado na tubulação de recalque da bomba dosadora); e,

(5) dosagem de cloro na câmara de contato. O esquema da ETA-Nobres é apresentado na

Figura 29.

Figura 29. Esquema da ETA-Nobres

Fonte: Elaboração própria

54

6. METODOLOGIA

Para se alcançar os propósitos desejados neste estudo, os procedimentos metodológicos

foram divididos em três etapas principais: (1) desenvolvimento do Sistema Especialista; (2)

implementação do Sistema Especialista no tratamento de água; e, (3) avaliação da qualidade do

Sistema Especialista. Na Figura 30 é apresentado um fluxograma com a ordem da execução das

etapas propostas. A seguir são apresentadas as etapas para o cumprimento desta pesquisa.

Figura 30. Fluxograma da metodologia

Fonte: Elaboração própria

55

6.1. Desenvolvimento do Sistema Especialista

O desenvolvimento do Sistema Especialista (SE) para dosagem de coagulante no

tratamento de água foi realizado em subetapas, conforme recomendações de Giarratano e Riley

(2004), que incluem: (1) planejamento do SE; (2) explicitação do conhecimento; (3) codificação

do conhecimento; e, (4) avaliação e adequação do SE.

6.1.1. Planejamento do Sistema Especialista

O propósito do estágio de planejamento é o de produzir um plano formal para o

desenvolvimento do SE. Na Tabela 6 são apresentadas as atividades realizadas nesta subetapa,

bem como os seus respectivos objetivos, segundo as recomendações de Giarratano e Riley

(2004).

Tabela 6. Atividades da subetapa de planejamento do SE

Atividade Objetivo

Avaliação da viabilidade Determinação se a abordagem do SE é adequada.

Gerenciamento dos recursos Avaliação dos recursos humanos, tempo, recursos

financeiros, software e hardware necessários.

Layout funcional preliminar Definição do que o sistema deve alcançar pela

especificação das funções do sistema. Especificar o

propósito do sistema. Fonte: Adaptado de Giarratano e Riley (2004)

6.1.2. Explicitação do conhecimento

A explicitação do conhecimento refere-se ao processo de aquisição do conhecimento

necessário para solução do problema (domínio do conhecimento). Para isso foram realizadas as

seguintes atividades: levantamento de dados; tabulação de dados; obtenção do conhecimento;

e avaliação do conhecimento.

Para o levantamento de dados, foram realizadas visitas técnicas periódicas junto à ETA

de estudo (ETA-Nobres), onde foi feito o acompanhamento do processo de tratamento de água

para a obtenção de dados de forma satisfatória. Também, dados operacionais, em especial,

características de qualidade e quantidade de água bruta e tratada e de dosagem de coagulante,

foram coletados. Os dados operacionais coletados referem-se a um período de um ano, o que

permitiu o estudo em período chuvoso, de transição e seco.

Na atividade de tabulação de dados, as informações levantadas de turbidez (uT), pH,

dosagem de sulfato (mg.L-1) e chuva 24h, foram tabulados no formato adequado com auxílio

56

de uma planilha eletrônica (MS Excel) para posterior processamento em software de Mineração

de Dados (MD).

A próxima atividade, obtenção do conhecimento, foi realizada a partir dos dados

tabulados e da utilização do software de MD WEKA (Waikato Environment for Knowledge

Analysis). Na atividade de obtenção do conhecimento, foi obtido o domínio de conhecimento

necessário para desenvolvimento do SE. Como modelo de representação de conhecimento, foi

adotado o de Regras de Produção (RP), uma vez que este é o modelo comumente utilizado e

apresenta vantagens de modularidade e uniformidade, conforme Artero (2009). Como método

de MD foram utilizados três algoritmos de classificação, sendo eles: J48; REP Tree; e Random

Tree. As justificativas para escolhas desses três algoritmos incluem: J48 um algoritmo clássico

para geração de Árvores de Decisão (AD); REP Tree um algoritmo que gera AD a partir de

relações lógicas entre variáveis; e, um algoritmo que gera AD a partir de relações aleatórias

entre variáveis, o Random Tree. Assim, foi esperado que alguma dessas abordagens (clássica,

lógica, aleatória) seria ideal para este estudo de caso.

Para a atividade de avaliação do conhecimento, foram utilizadas a Estatística Kappa e a

Matriz de Confusão (MC) como indicadores de precisão para selecionar o conhecimento

relevante. Ainda, foi considerado como conhecimento adequado aquele que apresenta a força

de concordância quase perfeita (Estatística Kappa 0,81 ≤ κ ≤ 1,00), conforme Landis e Koch

(1977). O algoritmo selecionado teve sua AD convertida em RP, conforme Han e Kamber

(2006).

6.1.3. Codificação do conhecimento

Para codificação do conhecimento, foi utilizado um microcomputador Intel Core i7-

4810MQ 2.80GHz, com 16GB de memória RAM em Plataforma Windows 10, utilizando a

planilha eletrônica MS Excel (desenvolvimento de macros, utilização de formulários e outros

recursos). Como justificativa apresenta-se o fato de a planilha eletrônica MS Excel ser

amplamente conhecida e utilizada, o que facilita a replicação e adequação para outros casos.

Nesta subetapa, as Regras de Produção foram extraídas da Árvore de Decisão.

6.1.4. Avaliação e adequação do Sistema Especialista

Segundo recomendações de Artero (2009), para avaliação e adequação do SE, foi

utilizado o teste de Turing, sendo este teste clássico para verificar se uma máquina possui

inteligência ao nível humano. O teste foi realizado com dois humanos, um funcionário (A) e

57

um funcionário (B), e uma máquina, o SE (C), de forma que não haja comunicação entre eles

(A, B e C). Foi realizado um questionário por A para descobrir qual dos dois, B ou C, é a

máquina (SE). Se A não conseguir determinar, com no mínimo 50% de precisão, qual dos dois,

B ou C, é o humano, então a máquina (SE) passou pelo teste de Turing.

6.2. Implementação do Sistema Especialista no tratamento de água

Nesta etapa, devido à limitação da empresa operadora da ETA-Nobres (tempo e recursos

financeiros), fez-se a opção pela implementação do SE em uma unidade que simulou a dosagem

de coagulante, denominada Unidade de Simulação de Dosagem de Sulfato de Alumínio (USD-

SA). Assim, a USD-SA foi desenvolvida a partir da tentativa de reprodução do esquema de

instalação apresentado na Figura 31.

Figura 31. Esquema de implementação do IAD-SA na ETA-Nobres

Fonte: Elaboração própria

O Coletor 01 e o Coletor 02 obtêm dados de pH e turbidez e transmitem para o Módulo

de Comunicação, que transmite para o Sistema Especialista aqui denominado IAD-SA

(Inteligência Artificial para Dosagem de Sulfato de Alumínio), o qual determina a dosagem de

sulfato de alumínio e envia para o Módulo de Comunicação, que aplica a dose do coagulante.

Os coletores 01 e 02, bem como a forma de transmissão de dados e comandos foram

desenvolvidos em plataforma Arduino, tendo como justificativa dessa adoção os reduzidos

custos de aquisição de materiais e facilidade de replicação e adequação a outros casos.

Para calibração dos sensores de turbidez foi realizada a regressão dos valores de tensão

de saída dos sensores com amostras de turbidez conhecida. Para produzir as amostras com

turbidez conhecida foi adicionada à água bentonita (marca Bentonorth), sendo essa solução

58

(bentonita + água) analisada por turbidimetro de bancada (HANNA HI 93703). Da mesma

forma, para calibração dos sensores de pH foi realizada a regressão dos valores de tensão de

saída dos sensores com valores de pH das soluções de calibração (pH = 4,0; pH = 7,0; e pH =

10,0). Para analisar o pH da amostra foi utilizado um pH de bancada (HACH Sension+ PH1).

Para calibração da bomba dosadora de sulfato de alumínio foi realizado um ajuste de reta

correlacionando a dosagem mínima e máxima de coagulante com os valores de tensão de saída

(PWM – Modulação por Largura de Pulso) do Arduino.

Neste trabalho não foi considerado a característica cor, uma vez que foi desenvolvido

um SE que reproduz a operação realizada na ETA-Nobres. Nesta ETA, os operadores

determinam a dosagem a partir dos valores de turbidez e pH da água bruta e tratada, e da

ocorrência de chuva nas últimas 24h. Esta informação foi obtida por meio de entrevista

realizada com operadores e engenheiro de operação.

6.3. Avaliação da qualidade do Sistema Especialista implementado

Para esta etapa, foi realizada uma análise comparativa entre a situação real (ETA-Nobres

com operadores humanos) e a situação simulada (USD-SA com a operação do SE

desenvolvido).

A situação simulada representa o SE desenvolvido em operação, coletando as

informações de pH e turbidez da água bruta e da tratada, determinando a dosagem do coagulante

e realizando a sua aplicação. Por não ser possível implementar o SE desenvolvido na ETA-

Nobres, a implementação foi realizada em escala de bancada (USD-SA) no Laboratório de

Hidráulica (LABHID), do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA), da

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Mais especificamente, uma dada condição de água bruta e tratada foi fornecida para

situação real e para a situação simulada, e seus resultados (pH da água bruta e tratada; turbidez

da água bruta e tratada; e, dosagem de sulfato de alumínio) foram comparados.

Como indicador de qualidade do ajuste entre a situação real e a situação simulada

adotou-se o erro médio percentual absoluto (MAPE), sendo considerado como adequado

valores de MAPE inferiores a 10%, conforme Silva et al. (2008) e Silva, Campos e Santos

(2016). A justificativa para a utilização deste indicador refere-se a três pontos principais: (1)

trata-se de um indicador de fácil compreensão, ideal para entendimento na operação de ETAs;

(2) amplamente utilizado em pesquisas envolvendo sistemas de abastecimento de água; e, (3)

não dá importância a escala de grandeza de variáveis estudadas.

59

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir são apresentados e discutidos os resultados obtidos pelo desenvolvimento das

etapas apresentadas na metodologia.

7.1. Desenvolvimento do Sistema Especialista

Os resultados e discussão do desenvolvimento do Sistema Especialista (SE) são

apresentados na sequência.

Como resultados da subetapa planejamento do SE, têm-se inicialmente, para a atividade

de avaliação da viabilidade, a verificação dos fatores e retornos sugeridos por Giarratano e Riley

(2004). Os motivos que levaram ao desenvolvimento do SE referem-se ao fato de que todos os

retornos propostos por Giarratano e Riley (2004) foram favoráveis ao desenvolvimento do SE,

como é mostrado na Tabela 7.

Tabela 7. Avaliação da viabilidade do SE

Item Fator (1) Retorno (2) Avaliação (3)

1 O problema pode ser solucionado eficientemente por

programação convencional?

Não Não

2 O domínio do problema é bem definido? Sim Sim

3 Existe a necessidade e interesse por um SE? Sim Sim

4 Existe(m) especialista(s) humano(s) disposto(s) a

cooperar?

Sim Sim

5 O(s) especialista(s) consegue(m) transmitir seu

conhecimento?

Sim Sim

6 A solução do problema envolve principalmente

heurística e incerteza?

Sim Sim

(1) fatores sugeridos por Giarratano e Riley (2004); (2) retorno esperado para que a abordagem do SE fosse viável; (3) retorno encontrado após a avaliação da viabilidade do desenvolvimento do SE.

Fonte: Adaptado de Giarratano e Riley (2004)

A resposta do item 1 é negativa, já que não existe um algoritmo eficiente para a solução

do problema, conforme Giarratano e Riley (2004). Para o item 2, a resposta é positiva, pois

tem-se como verdadeira a premissa de que o operador, devido a sua experiência, tem domínio

sobre o problema, definição de dosagem de coagulante a partir da turbidez e pH, da água bruta

e tratada, e da ocorrência de chuva nas últimas 24h. Assim, trata-se de um domínio bem

definido, o que é um ponto favorável ao desenvolvimento de um SE, segundo Giarratano e

Riley (2004). Quanto ao item 3, um SE para determinar a dosagem ideal do coagulante é

necessário e interessante para a ETA-Nobres, pois irá reduzir o desperdício de água causado

60

pela dosagem incorreta de coagulante. Também, é um tema de interesse do grupo de pesquisa

no qual este trabalho é vinculado. O item 4 apresenta resposta positiva, pois a ETA-Nobres

disponibilizou o banco de dados de operação da ETA, sendo este o especialista a contribuir com

o desenvolvimento do SE. Em relação ao item 5, a resposta também é positiva, pois o banco de

dados fornecido pela ETA-Nobres consegue transmitir o conhecimento dos especialistas, uma

vez que técnicas de Mineração de Dados (MD) conseguem obter o conhecimento a partir de

banco de dados. A resposta do item 6 é positiva, pois a dosagem de coagulante pode ser

determinada com base em observação (experiência do operador), a qual envolve heurística e

incerteza.

A atividade de gerenciamento dos recursos foi realizada por meio do levantamento dos

recursos de informática (software e hardware), dos recursos humanos e dos recursos financeiros

para o desenvolvimento do SE. O resultado indicou que os recursos disponíveis são suficientes

para o desenvolvimento deste SE segundo análise comparativa com os trabalhos de Zhang e

Luo (2004), Wu e Lo (2008) e Santos et al. (2017).

A atividade de layout funcional preliminar deve definir o que o sistema irá alcançar

mediante a especificação das funções do sistema. Foi realizada uma análise criteriosa dos

objetivos do SE para definir as funções do sistema, seguindo sugestão de Giarratano e Riley

(2004). O resultado indicou que, ao se considerar o objetivo desta atividade, dosar e aplicar

coagulante no tratamento de água, o layout deve ser focado no atendimento a este objetivo.

Para a subetapa explicitação do conhecimento, a realização das atividades previstas

apresentou os resultados descritos a seguir.

Na atividade de levantamento de dados, foram realizadas visitas técnicas na ETA-

Nobres, onde foram obtidas planilhas diárias do ano de 2012 com os dados de turbidez, pH,

dosagem de sulfato de alumínio, ocorrência de chuva, entre outros. Além disso, informações

acerca de detalhes da ETA-Nobres (projeto executivo, vazões de projeto e atual, fluxogramas,

outros) foram obtidos. A planilha de anotações dos dados utilizada pelos operadores da ETA-

Nobres encontra-se no Anexo 1.

A atividade de tabulação, organização e digitalização de dados, resultou em uma

planilha eletrônica (MS Excel) com sete colunas e 8760 linhas, totalizando 61.320 dados. Na

Figura 32 é apresentado o banco de dados inserido em planilha eletrônica (MS Excel). E, na

Tabela 8 são apresentados as variáveis de interesse, suas unidades e respectivas faixas de

valores (limites inferiores e superiores).

61

Figura 32. Parte do banco de dados

Fonte: Elaboração própria

Tabela 8. Variáveis de interesse

Variável Unidade Possíveis respostas

Turbidez da água bruta uT 0,62 até 1129

Turbidez da água tratada uT 0 até 3,08

Dosagem de sulfato de alumínio mg.L-1 10, 11, 12, ... , 41

Ocorrência de chuva últimas 24h adimensional Sim (S) ou Não (N)

pH da água bruta adimensional 6,5 até 7,7

pH da água tratada adimensional 5,8 até 7,3 Fonte: Elaboração própria

O banco de dados, Figura 33, foi convertido em formato adequado ao processamento no

software de MD Weka. Na Figura 31 é mostrado uma parte dos dados convertidos.

Figura 33. Dados convertidos

Fonte: Elaboração própria

Na Figura 33, as colunas representam, respectivamente, da esquerda para a direita,

turbidez da água bruta (uT), turbidez da água tratada (uT), pH da água bruta, pH da água tratada,

dosagem de sulfato de alumínio (mg.L-1), ocorrência de chuva nas últimas 24h, e, estado da

ETA (ligada ou desligada).

62

A atividade de obtenção do conhecimento foi realizada a partir do processamento do

banco de dados convertidos (Figura 33) no software de MD Weka. Foram geradas três Árvores

de Decisão (AD) para selecionar a melhor. Foram utilizados os algoritmos J48, REP Tree e

Random Tree. O atributo classe selecionado como atributo de saída foi a variável dosagem de

sulfato de alumínio. Nas Figuras 34, 35 e 36 são apresentadas parte das ADs obtidas pela

aplicação dos algoritmos J48, REP Tree e Random Tree, respectivamente.

Na Figura 34, a linha 1 representa a primeira decisão a ser tomada. No caso, se a ETA

estiver desligada, ou seja, se a ETA for igual a X (simbologia “ETA = X”), então, o algoritmo

retorna que a dosagem de sulfato de alumínio foi de 0 mg.L-1 (simbologia “: 0”). Na linha 2, se

a ETA estiver ligada, ou seja, se a ETA for igual a O (simbologia “ETA = O”), o algoritmo não

apresenta retorno, e sim dá continuidade ao conhecimento (simbologia “ | ”). Na sequência, da

linha 3 até a linha 6, o algoritmo dá continuidade ao conhecimento. Na linha 7 foi apresentado

um retorno (simbologia “: 17”), indicando que a dose de sulfato de alumínio a ser aplicada foi

de 17 mg.L-1. Por analogia, estes comentários são válidos para as demais linhas e para os demais

algoritmos.

Figura 34. Parte da AD gerada pelo algoritmo J48 1 ETA = X: 0 (2494.0)

2 ETA = O

3 | TB <= 7.94

4 | | TB <= 3.67

5 | | | TT <= 0.79

6 | | | | pHT <= 6.8

7 | | | | | pHB <= 7.1: 17 (5.0)

8 | | | | | pHB > 7.1: 20 (3.0)

...

782 | | | | | | | pHT > 7.1: 10 (2.0/1.0)

ETA: Estação de Tratamento de Água; X: ETA desligada; O: ETA ligada; TB: Turbidez bruta; TT: Turbidez

tratada; pHT: pH da água tratada; pHB: pH da água bruta.

Fonte: Elaboração própria

Figura 35. Parte da AD gerada pelo algoritmo REP Tree 1 TB < 0.31 : 0 (1663/0) [831/0]

2 TB >= 0.31

3 | TB < 7.92

4 | | TB < 3.65

5 | | | TT < 0.8

6 | | | | TB < 2.57

7 | | | | | Chu = S

8 | | | | | | pHT < 7.05 : 10 (11/5) [6/2]

...

308 | | | | | | pHT >= 6.7 : 32 (11/4) [8/5]

ETA: Estação de Tratamento de Água; X: ETA desligada; O: ETA ligada; TB: Turbidez bruta; TT: Turbidez

tratada; pHT: pH da água tratada; pHB: pH da água bruta.

Fonte: Elaboração própria

63

Figura 36. Parte da AD gerada pelo algoritmo Random Tree 1 TB < 0.31 : 0 (2494/0)

2 TB >= 0.31

3 | pHT < 6.95

4 | | TB < 23.95

5 | | | TB < 4.63

6 | | | | TT < 0.39

7 | | | | | Chu = S

8 | | | | | | pHT < 6.85

9 | | | | | | | pHB < 7.15

10 | | | | | | | | TB < 4 : 17 (6/0)

...

2794 | | | | | | | | | | TT >= 1.42 : 32 (2/0)

ETA: Estação de Tratamento de Água; X: ETA desligada; O: ETA ligada; TB: Turbidez bruta; TT: Turbidez

tratada; pHT: pH da água tratada; pHB: pH da água bruta.

Fonte: Elaboração própria

Afim de exemplificação da explicitação de um conhecimento obtido, duas RP extraídas

da AD gerada pelo algoritmo J48 são apresentadas na Figura 37.

Figura 37. Regras de Produção do algoritmo J48

Regra 1:

SE ETA = O E

TB ≤ 7,94 E

TB ≤ 3,67 uT E

TT ≤ 0,79 E

pHT ≤ 6,8 uT E

pHB ≤ 7,1

ENTÃO Dosagem = 17 mg/L

Regra 2:

SE ETA = O E

TB ≤ 7,94 uT E

TB ≤ 3,67 uT E

TT ≤ 0,79 E

pHT ≤ 6,8 uT E

pHB > 7,1

ENTÃO Dosagem = 20 mg/L

ETA: Estação de Tratamento de Água;

O: ETA ligada; TB: Turbidez bruta;

TT: Turbidez tratada; pHT: pH da água

tratada; pHB: pH da água bruta.

Fonte: Elaboração própria

Na atividade de avaliação do conhecimento foram encontrados os resultados da

Estatística Kappa (κ) e da Matriz de Confusão (MC). Na Tabela 9 são apresentados os

resultados da Estatística Kappa (κ) e percentuais de classificações corretas e incorretas obtidos

de cada algoritmo.

64

De acordo com a Tabela 9, os algoritmos J48 e Random Tree apresentaram Estatística

Kappa (κ), de concordância quase perfeita (0,81 ≤ κ ≤ 1,00). Foram analisadas as classificações

corretas e observou-se melhor ajuste do algoritmo Random Tree, com PCC (Percentual de

Classificações Corretas) de 99,2%, enquanto o J48 com 91,4%. Dessa forma, o Random Tree,

de acordo com os indicadores Estatística Kappa e PCC, foi o algoritmo selecionado para

obtenção da base de conhecimento.

Conforme Kalmegh (2015), o algoritmo Random Tree produz um conjunto aleatório de

dados para a construção de uma Árvore de Decisão. Assim, pode-se concluir que o banco de

dados utilizado para o desenvolvimento do Sistema Especialista deste trabalho não apresenta

uma lógica definida e possui uma presença marcante da heurística e incerteza, confirmando o

resultado da subetapa planejamento do SE.

Tabela 9. Algoritmos avaliados

Indicador de ajuste J48 REP Tree Random Tree

Classificações corretas(1) 6006 (91,4%) 5539 (84,3%) 6520 (99,2%)

Classificações incorretas(2) 564 (8,6%) 1031 (15,7%) 50 (0,8%)

Estatística Kappa (κ) 0,89 0,79 0,99

Número total de classificações(3) 6570 6570 6570 (1) Coincidência da resposta do especialista humano com a resposta do modelo de classificação; (2) Não coincidência

da resposta do especialista humano com a resposta do modelo de classificação; (3) Quantidade de dados

classificados.

Fonte: Elaboração própria

Nas Figuras 38, 39 e 40 são apresentadas as MC dos algoritmos Random Tree, J48 e

REPTree, respectivamente. A MC (Figura 38) possui 32 valores de dosagem de coagulante,

consequentemente, tem-se uma MC 32x32. Nas linhas são apresentados os dados de

treinamento observados, classificados pelos especialistas humanos e nas colunas os dados de

treinamento classificados pelo algoritmo Random Tree. Dessa forma, a coincidência da resposta

do especialista humano com a resposta do modelo de classificação é dada pelos elementos da

diagonal da MC. Assim, a quantidade de dados de treinamento classificados corretamente pelo

modelo de classificação é representada pelo somatório dos elementos da diagonal da MC, de

modo que os demais foram classificados incorretamente. Por exemplo, na linha 8, em que a

dosagem de sulfato é de 16 mg.L-1, foram analisados pelos especialistas 32 casos, representado

pela somatória de todos os elementos desta linha. Destes, 31 foram classificados corretamente,

pois estão na diagonal, e 1 foi classificado incorretamente, pois está fora da diagonal, sendo

confundido com a dosagem de 15 mg.L-1. Estes comentários são válidos para as demais linhas

e colunas, desta MC e das demais MCs (Figuras 39 e 40).

65

Figura 38. Matriz de Confusão do algoritmo Random Tree

Fonte: Elaboração própria

66

Figura 39. Matriz de Confusão do algoritmo J48

Fonte: Elaboração própria

67

Figura 40. Matriz de Confusão do algoritmo REPTree

Fonte: Elaboração própria

68

O desenvolvimento da base de conhecimento resultou em 1.397 regras de produção. Na

Figura 41 é apresentada uma parte da base de conhecimento.

Figura 41. Parte da base de conhecimento

Regra 1:

SE TB < 0,31

ENTÃO Dosagem = 0 mg/L

Regra 2:

SE TB >= 0,31 E

pHT < 6,95 E

TB < 23,95 E

TB < 4,63 E

TT < 0,39 E

Chu = S E

pHT < 6,85 E

pHB < 7,15 E

TB < 4

ENTÃO Dosagem = 17 mg/L

ETA: Estação de Tratamento de Água;

O: ETA ligada; TB: Turbidez bruta;

TT: Turbidez tratada; pHT: pH da água

tratada; pHB: pH da água bruta. Fonte: Elaboração própria

Naturalmente, para a subetapa explicitação do conhecimento fez-se uso de 75% do

banco de dados (Figura 32) e o restante (25%) foram utilizados para avaliação e adequação do

SE.

Na subetapa de codificação do conhecimento, as componentes interface de aquisição

(Figura 42), base de conhecimento (Figura 41), máquina de inferência (VBA em ambiente MS

Excel) e interface de usuário (Figura 42) foram integradas em uma planilha eletrônica (MS

Excel), conforme Figura 42. Esta integração (sistema especialista) foi denominada IAD-SA

(Inteligência Artificial para Dosagem de Sulfato de Alumínio).

O processamento do IAD-SA, se resume na comparação dos valores de entrada com o

conhecimento armazenado (regras de produção) e, por fim, retorna como resultado a dosagem

do sulfato de alumínio que deve ser aplicada na ETA.

69

Figura 42. Interface de usuário do IAD-SA

Fonte: Elaboração própria

Para utilização do IAD-SA, faz-se necessário entrar com os dados de ocorrência de

chuva nas últimas 24 horas e os dados do Coletor 01 (turbidez e pH da água bruta) e do

Coletor 02 (turbidez e pH da água tratada). Ao acionar a opção ‘Executar’ é obtida a resposta

da dosagem de sulfato de alumínio que deve ser aplicada na ETA-Nobres. Acionando a opção

‘Explicação’ é exibida uma nova tela com a explicação da regra de produção ativada. A opção

‘Especialista’ permite a adição de novas regras de produção, a qual é feita por meio de uma

planilha de trabalho auxiliar do Excel.

Com a finalidade de demonstração da aplicação IAD-SA, foram inseridos dados de

entrada conforme é mostrado na Tabela 10. A dosagem de sulfato de alumínio obtida foi de

10 mg.L-1. Na Figura 43 é mostrado a interface de usuário com a resposta obtida.

Tabela 10. Dados de entrada

Variável de entrada Dados de entrada

Ocorrência de chuva 24 horas N

Turbidez da água bruta 2,83

pH da água bruta 7,3

Turbidez da água tratada 1,17

pH da água tratada 7,2 Fonte: Elaboração própria

70

Figura 43. Interface de usuário com a resposta obtida

Fonte: Elaboração própria

Ao acionar a opção ‘Explicação’ é exibida uma nova tela com a explicação da regra de

produção 888 utilizada para determinar a dosagem de sulfato de alumínio, conforme Figura 44.

Figura 44. Tela de explicitação das regras de produção

Fonte: Elaboração própria

71

Na Figura 45 é apresentada a planilha de trabalho auxiliar do Excel exibida, após

ativação da opção ‘Especialista’, para a inclusão de novas regras de produção. Para retornar à

tela inicial (interface de usuário), deve-se ativar a opção ‘IAD-SA’.

Figura 45. Tela para inclusão de novas regras

Fonte: Elaboração própria

Para avaliação e adequação do SE, foi utilizado o teste de Turing, conforme descrito na

metodologia. Então, foram selecionados aleatoriamente 100 casos, entre os 25% dos dados não

utilizados para o desenvolvimento do SE, sendo estes aplicados no IAD-SA. O número de

unidades amostrais (n = 100) foi definido a partir da premissa de que 10 funcionários da ETA-

Nobres poderiam responder ao teste de Turing e de que cada operador poderia analisar 10 casos

(número razoável, uma vez que não demandaria tempo excessivo do funcionário, sendo algo

viável de realizar).

Desses casos, o IAD-SA conseguiu acerto de 95 deles, ou seja, obteve a dosagem de

coagulante exatamente igual a dosagem contida na planilha de controle diário da ETA, não

sendo possível diferenciar o especialista humano do IAD-SA. Dessa forma, pode-se considerar

que o IAD-SA passou no teste de Turing (especialista A não conseguiu determinar, com no

mínimo 50% de precisão, qual é o especialista humano).

Os outros 5 casos, em que a dosagem obtida pelo IAD-SA foi diferente da dosagem da

planilha de controle diário da ETA, foram adaptados em forma de questionário e aplicado em

7 funcionários (operadores e engenheiro) da ETA-Nobres, os quais são envolvidos,

diretamente, com o processo de dosagem de coagulante. Na Figura 46 é apresentado o

questionário elaborado, sendo a coluna ‘Resposta 1’ correspondente às anotações da planilha

de controle diário da ETA e a coluna ‘Resposta 2’ à resposta do IAD-SA. Naturalmente, essa

informação foi ocultada dos funcionários. Foi solicitado aos funcionários da ETA-Nobres

72

circular qual das respostas era de um operador da ETA. Todos os questionários aplicados

encontram-se no Anexo 2.

Figura 46. Questionário aplicado

Fonte: Elaboração própria

Na Tabela 11 é apresentado o resultado do questionário, onde é observado que das 35

questões feitas aos funcionários, apenas em 11 foram identificados corretamente o humano.

Assim, houve um acerto de, aproximadamente, 32% dos casos, ou seja, não foi possível

identificar o humano com 50% de precisão. Dessa forma, conclui-se que o IAD-SA possui

inteligência ao nível humano, segundo o teste de Turing.

Tabela 11. Resultado do questionário

Item Quantidade de respostas circuladas

Resposta 1 Resposta 2

a) 7 0

b) 2 5

c) 0 7

d) 0 7

e) 2 5 Fonte: Elaboração própria

7.2. Implementação do Sistema Especialista no tratamento de água

Para implementação do SE (IAD-SA) no tratamento de água, foi desenvolvida uma

Unidade de Simulação de Dosagem de Sulfato de Alumínio (USD-SA), em escala de bancada.

73

A USD-SA foi construída e instalada no Laboratório de Hidráulica (LABHID), do

Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA), da Universidade Federal de Mato

Grosso (UFMT).

O Coletor 01 e o Coletor 02 são as subunidades que contêm os sensores de pH e turbidez

que ficam em contato com a água bruta e tratada, respectivamente. O Módulo de Comunicação

é a subunidade responsável por receber as informações dos coletores e transmitir para o IAD-

SA. Também, o Módulo de Comunicação é responsável por receber o valor da dosagem

determinada pelo IAD-SA e a implementar junto à bomba dosadora (modificação de rotação

do conjunto motor-bomba). Na Figura 47 é mostrada uma representação esquemática da USD-

SA, e na Figura 48 um registro fotográfico da USD-SA.

Figura 47. Representação esquemática da USD-SA

Fonte: Elaboração própria

Figura 48. Registro fotográfico da USD-SA

Fonte: Elaboração própria

Para construção do Módulo de Comunicação, foram utilizados os seguintes

componentes: um Arduino Pro Micro; um TIP122; um diodo; um conector Jack P4 2,1mm

74

fêmea; dois sensores de turbidez; dois sensores de pH; dois cap PVC 100mm de esgoto; e, 20cm

de tubo PVC 100mm de esgoto. Os componentes foram fixados em uma placa fenolite 7x9cm.

Para realizar a ligação entre os componentes foram utilizados jumpers. Na Figura 49 são

mostrados os componentes que foram utilizados. A placa fenolite 7x9cm e respectivos

componentes foram fixados em uma placa de acrílico.

Figura 49. Componentes eletrônicos do Módulo de Comunicação

(a) Arduino Pro Micro (b) TIP122 (c) Conector Jack P4

2,1mm fêmea (d) Diodo

(e) Placa fenolite 7x9cm (f) Jumpers (d) Sensor de turbidez (e) Sensor de pH

Fonte: Elaboração própria

Os sensores de turbidez e pH possuem módulos que permitem sua comunicação com o

microcontrolador Arduino. O módulo do sensor de turbidez também foi fixado na placa de

acrílico. Já o módulo do sensor de pH foi fixado em um cap PVC 100mm de esgoto. A placa

de acrílico foi inserida no interior de um tubo PVC 100mm de esgoto. Após isto, este tubo foi

fechado com dois caps, um inferior e outro superior. O cap superior com aberturas para conexão

com sensores de pH e turbidez No cap inferior foi inserida uma abertura para possibilitar a

passagem do cabo que conecta o Arduino Pro Micro ao computador e do conector Jack P4

2,1mm fëmea a uma fonte 12V. Também, foram instalados três parafusos no cap inferir para

serem utilizados como suporte do Módulo de Comunicação. Na Figura 50 é apresentado o

Módulo de Comunicação.

75

Figura 50. Módulo de Comunicação

Fonte: Elaboração própria

Cada coletor foi construído utilizando as peças relacionadas na Tabela 12. E, na

Figura 51 é mostrado o registro fotográfico das peças.

Tabela 12. Peças utilizadas para construção de cada coletor

Item Peça

1 4cm de tubo PVC soldável 25mm

2 adaptador PVC soldável curto com bolsa e rosca 25x3/4”

3 luva PVC roscável 3/4”

4 nípel PVC roscável 3/4”

5 anéis de borracha 3/4”

6 cap PVC 100mm de esgoto

7 luva PVC roscável 1/2”

8 nípel PVC roscável 1/2”

9 anéis de borracha 1/2”

10 12cm de tubo PVC 100mm de esgoto

11 sensor de turbidez

12 sensor de pH

13 joelho 90° interno 3/4″ em polietileno com ponta do tipo espigão

14 cap PVC roscável 1/2” Fonte: Elaboração própria

76

Figura 51. Peças do Coletor 01

Fonte: Elaboração própria

Em um cap de PVC 100mm de esgoto, utilizado como tampa inferior, foram feitas duas

aberturas, uma para entrada da água e outra para a saída, conforme mostra a Figura 52(a). A

água entrava pelo orifício de menor cota e saía pelo orifício de maior cota. No outro cap de

PVC 100mm de esgoto, utilizado como tampa superior, foram feitas duas aberturas para

permitir a passagem dos sensores, de acordo com a Figura 52(b). O Coletor 02 foi construído

da mesma maneira. Na Figura 53 é apresentado um esquema do coletor e seu registro

fotográfico.

Figura 52. Tampas do Coletor

(a) Tampa inferior (b) Tampa superior

Fonte: Elaboração própria

77

Figura 53. Coletor

Fonte: Elaboração própria

A calibração dos sensores de turbidez foi realizada no esquema apresentado na

Figura 54. A amostra de turbidez conhecida foi inserida em um recipiente e bombeada para os

coletores 01 e 02 nos quais estavam instalados os sensores de turbidez. Os sensores de turbidez

foram calibrados utilizando 17 amostras de turbidez conhecida.

Figura 54. Esquema para calibração do sensor de turbidez

(a) Representação esquemática (b) Registro fotográfico

Fonte: Elaboração própria

Na Tabela 13 são mostrados os resultados obtidos para as 17 amostras utilizadas para a

calibração dos sensores de turbidez.

78

Tabela 13. Calibração do USD-SA

Ensaio Amostra (uT) Sensor do Coletor 01 (mV) Sensor do Coletor 02 (mV)

1 0,10 1944,613 2255,331

2 3,39 1939,926 2236,656

3 4,99 1936,657 2233,228

4 6,15 1935,341 2230,617

5 7,32 1933,216 2227,365

6 11,21 1929,658 2220,679

7 15,06 1922,388 2212,216

8 21,55 1917,331 2204,184

9 36,39 1901,39 2190,517

10 84,00 1852,384 2113,479

11 132,00 1800,471 2035,138

12 243,00 1679,767 1834,761

13 326,00 1604,864 1718,787

14 426,00 1449,592 1523,545

15 579,00 1357,314 1373,382

16 603,00 1287,597 1293,015

17 771,00 1186,497 1149,083 Fonte: Elaboração própria

Após obtenção dos dados foi feita uma regressão. Com a finalidade de obter o melhor

ajuste foram feitas duas regressões, uma utilizando as amostras com menor faixa de turbidez

(amostras de 0,10uT a 15,06uT) e outra com maior faixa de turbidez (amostras de 15,06uT a

771,00uT). Os dois sensores de turbidez (um para cada coletor) foram calibrados, apresentando

coeficientes de determinação (R²) aceitáveis. Nas Figura 55 e 56 são apresentados os gráficos

obtidos, bem como as equações e os coeficientes de determinação do sensor de turbidez

utilizado no Coletor 01 e Coletor 02, respectivamente.

Figura 55. Calibração do sensor de turbidez do Coletor 01

(a) Maior faixa de turbidez (b) Menor faixa de turbidez

Fonte: Elaboração própria

Tu = -0,9761T + 1887,9

R² = 0,9929

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000 1200 1400 1600 1800 2000

Turb

idez

, T

u (

uT

)

Tensão de saída do sensor, T (Milivolts)

Tu = -0,689T + 1339,8

R² = 0,9900

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1920 1925 1930 1935 1940 1945 1950

Turb

idez

, T

u (

uT

)

Tensão de saída do sensor, T (Milivolts)

79

Figura 56. Calibração do sensor de turbidez do Coletor 02

(a) Maior faixa de turbidez (b) Menor faixa de turbidez

Fonte: Elaboração própria

Os dois sensores de pH (um para cada coletor) foram calibrados, apresentando

coeficientes de determinação (R²) aceitáveis. Na Figura 57 são apresentados os gráficos obtidos,

bem como as equações e os coeficientes de determinação de cada sensor de pH.

Figura 57. Calibração dos sensores de pH

(a) Coletor 01 (b) Coletor 02

Fonte: Elaboração própria

Para a calibração da bomba dosadora de sulfato de alumínio, aqui simulada por uma

bomba de 12 volts e 2 amperes, adotaram-se dois pontos como referência, o primeiro refere-se

à mínima dosagem (10mg.L-1) e o segundo, à máxima dosagem (41mg.L-1).

Dessa forma, foi utilizada no Arduino a saída PWM (Modulação por Largura de Pulso),

a qual se comporta como uma saída analógica, ou seja, pode operar no intervalo entre 0 e 5

Volts. Foi realizada um ajuste de reta utilizando como variável independente os valores de

Tu = -0,6686T + 1488,5

R² = 0,9918

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000 1500 2000 2500

Turb

idez

, T

u (

uT

)

Tensão de saída do sensor, T (Milivolts)

Tu = -0,3527T + 793,82

R² = 0,9255

0

2

4

6

8

10

12

14

16

2210 2220 2230 2240 2250 2260

Turb

idez

, T

u (

uT

)

Tensão de saída do sensor, T (Milivolts)

pH = -0,6588T2 - 1,9624T + 18,111

R² = 1,00

2

4

6

8

10

12

2,2 2,4 2,6 2,8 3 3,2 3,4

pH

Tensão de saída do sensor, T (Volts)

pH = -0,3679T2 - 3,1106T + 20,211

R² = 1,00

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

2,4 2,6 2,8 3 3,2 3,4 3,6 3,8

pH

Tensão de saída do sensor, T (Volts)

80

concentração do coagulante e como variável dependente os valores PWM. Os valores PWM

variam de 0 equivalente a 0 Volts a 255 equivalente a 5 Volts. Na Figura 58 é apresentado o

gráfico obtido, bem como a equação da reta.

Figura 58. Calibração da bomba

Fonte: Elaboração própria

O IAD-SA foi implementado na USD-SA e teve observado o seu funcionamento. A

USD-SA funcionou corretamente.

7.3. Avaliação da qualidade do Sistema Especialista implementado

O IAD-SA tem sua operação, em tempo real, iniciada acionando a opção ‘Conectar’ e a

opção ‘Bomba’ na interface do IAD-SA, mostrado na Figura 42.

O IAD-SA faz várias leituras de pH e turbidez por aproximadamente 10 segundos, e

calcula a média. A partir desta média, o IAD-SA determina a dose de sulfato de alumínio a ser

aplicada no tratamento da água e altera a rotação da bomba dosadora a fim de atender a dosagem

determinada. Os dados apresentados no IAD-SA são registrados a cada 5 segundos em um

arquivo, do tipo ‘txt’, por mês, ou seja, a cada mês é criado um novo arquivo ‘txt’ para registrar

os dados. Essas configurações podem ser facilmente modificadas para atendimento a

necessidades de campo. Na Figura 59 é mostrado o arquivo ‘txt’ com os dados gravados.

PWM = 7,1935C - 39,935

0

50

100

150

200

250

300

0 10 20 30 40 50

PW

M

Concentração do coagulante, C (mg.L-1)

81

Figura 59. Arquivo ‘txt’ com dados gravados

Fonte: Elaboração própria

Na USD-SA foram realizados dois ensaios, no primeiro foi utilizada a mesma amostra

no Coletor 01 e Coletor 02, a qual possuía pH 8,45 e turbidez 0,82uT (condição de água bruta

e tratada 1). No segundo ensaio, foi utilizado no Coletor 01 uma amostra com pH 8,84 e turbidez

677,00uT (condição da água bruta 2) para simular a água bruta, no período chuvoso) e no

Coletor 02 a mesma amostra do primeiro ensaio, pH 8,45 e turbidez 0,82uT (condição de água

tratada 2), para simular a água tratada.

Os sensores sofreram oscilação, não se estabilizando completamente. Na Tabela 14 são

apresentados os valores e MAPE obtidos nos ensaios.

Tabela 14. Ensaios do USD-SA

Ensaio Situação pHB(3) TB(4)

(uT)

pHT(5) TT(6)

(uT)

Q(7)

(mL.s-1)

SA(8)

(mg.L-1)

MAPE

(%)

1 Real(1)(d1) 7,34 3,92 7,03 0,17 - 10 54,55

Simulada(2) 7,45 3,65 6,44 2,48 10,41 22

2 Real(1)(d2) 7,36 14,30 7,03 0,17 - 15 40,00

Simulada(2) 7,30 7,05 6,88 1,45 12,32 25

3 Real(1)(d3) 7,43 64,70 7,03 0,17 - 25 25,00

Simulada(2) 7,06 12,13 6,55 2,85 9,13 20

4 Real(1)(d4) 6,96 263,00 6,86 0,17 - 32 6,67

Simulada(2) 7,13 153,97 6,83 0,55 15,51 30

5 Real(1)(d5) 7,09 813,00 6,86 0,17 - 32 28,00

Simulada(2) 6,94 572,05 6,47 0,12 12,32 25 (1) ETA-Nobres com operadores humanos; (2) USD-SA com IAD-SA; (3) pH da água bruta; (4) turbidez da água

bruta; (5) pH da água tratada; (6) turbidez da água tratada; (7) vazão da bomba dosadora; (8) dosagem de sulfato de

alumínio; (d1) dia 09/06/2012, 19 horas; (d2) dia 28/03/2012, 9 horas; (d3) dia 22/06/2012, 19 horas; (d4) dia

13/11/2012, 20 horas; (d5) dia 13/11/2012, 13 horas.

Fonte: Elaboração própria

82

De acordo com os resultados, foi observado que os sensores não apresentaram valores

de turbidez adequados. Isto mostra que os sensores podem necessitar de uma calibração mais

precisa. Assim, recomenda-se um estudo mais detalhado para investigar a causa de tal

inadequação. Essa inadequação resultou em uma dosagem errônea do sulfato de alumínio.

A partir dos valores do MAPE obtidos nos ensaios realizados, encontrou-se um valor

médio para o MAPE de 30,84%. O IAD-SA foi, então, considerado não adequado, pois

apresentou valor médio do MAPE superior a 10%, conforme Silva et al (2008) e Silva, Campos

e Santos (2016).

Entretanto, o IAD-SA foi capaz de determinar a dosagem de sulfato de alumínio e alterar

a rotação da bomba para obter a vazão necessária corresponde a concentração do coagulante a

ser aplicado no tratamento de água.

Após os ensaios foi observado que o IAD-SA está, em tempo real, apto de obter os

valores de pH e turbidez da água e aplicar o coagulante no tratamento de água.

83

8. CONCLUSÕES

De modo geral, o IAD-SA (Inteligência Artificial para Dosagem de Sulfato de

Alumínio) desenvolvido neste trabalho contribuiu com a operação da ETA-Nobres e poderá

contribuir com outras ETAs, tomando decisão e aplicando a dose de coagulante necessária para

o tratamento da água.

Um Sistema Especialista, denominado IAD-SA para determinar a dosagem de sulfato

de alumínio a ser aplicado no tratamento de água, em tempo real, foi desenvolvido. O IAD-SA

foi considerado satisfatório, conforme o teste de Turing realizado.

O IAD-SA foi implementado na USD-SA (Unidade de Simulação de Dosagem de

Sulfato de Alumínio) e foi capaz de determinar a dosagem de sulfato de alumínio e alterar a

rotação da bomba dosadora para dosar adequadamente o coagulante, em tempo real.

Foram realizados ensaios para avaliação do IAD-SA na operação da USD-SA, sendo

considerado não adequado, uma vez que se encontrou um valor médio de MAPE (Erro Médio

Percentual Absoluto) superior a 10%. Isto ocorreu devido aos sensores de turbidez que

apresentaram valores inadequados.

84

9. RECOMENDAÇÕES

As recomendações para que trabalhos futuros prosperem estão apresentadas a seguir.

Realizar uma calibração mais sensível dos sensores de pH e turbidez;

Desenvolver recipientes mais práticos para os coletores e para o módulo de

comunicação;

Desenvolver um Sistema Especialista capaz de determinar a dosagem ótima de

coagulante a ser aplicado no tratamento de água utilizando outras técnicas de

inteligência artificial (Redes Neurais Artificiais, Lógica Fuzzy, outros);

Implementar a aplicação, em tempo real, de outros produtos necessários para o

tratamento da água, por exemplo, outros coagulantes, auxiliares de coagulação e

agente de desinfecção (cloro);

Implementar o Sistema Especialista desenvolvido na ETA-Nobres;

85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AL-ANI, I. A. R.; SIDEK, L. M.; DESA, M. N. M.; BASRI, N. E. A. Knowledge-based Expert

System for Stormwater Management in Malaysia. Journal of Environmental Science and

Technology, v. 5, n. 5, p. 381-388, 2012.

ALI, J.; KHAN, R.; AHMAD, N.; MAQSOOD, I.. Random Forests and Decision Trees. IJCSI

International Journal of Computer Science Issues, v. 9, n. 5, p. 272-278, 2012.

ANGULO, C.; CABESTANY, J.; RODRÍGUEZ, P.; BATLLE, M.; GONZÁLEZ, A.;

CAMPOS, S. Fuzzy expert system for the detection of episodes of poor water quality through

continuous measurement. Expert Systems with Applications, n. 39, p. 1011–1020, 2012.

ARDUINO. Disponivel em: https://www.arduino.cc/. Acesso em: 14 jul. 2017.

ARTERO, A. O. Inteligência Artificial: Teórica e Prática. 1ª. ed. São Paulo: Livraria da Física,

2009.

AZEVEDO, L. G.T., PORTO, R. L. L.; FILHO, K. Z. Técnicas quantitativas para o

gerenciamento de recursos hídricos. In: PORTO, R. L. L., Porto Alegre: Ed. UFRGS/ABRH,

p. 165-227, 2002.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estratégicos - SPI. Relatório de Avaliação do Plano Plurianual 2004-2007:

exercício 2007 - ano base 2006, Brasília, 2007.

CANGELA, G. L. C. Tratamento de água para consumo humano em comunidades rurais com

utilização de moringa oleifera e desinfecção solar, Dissertação (Dissertação em Recursos

Hídricos e Saneamento Ambiental) – IPH/UFRGS. Porto Alegre, p. 153, 2014.

CAPELLA, J. V.; BONASTRE, A.; ORS, R.; PERIS, M. A step forward in the in-line river

monitoring of nitrate by means of a wireless sensor network. Sensors and Actuators B:

Chemical, v. 195, p. 396–403, 2014.

CHEREMISINOFF, N. P. Handbook of water and wastewater treatment technologies.

Boston: Butterworth-Heinemann, 2002.

DEVASENA, L. Comparative Analysis of Random Forest, REP Tree and J48 Classifiers for

Credit Risk Prediction. International Journal of Computer Applications, p. 30-36, 2014.

DEVI, S. ; VARSHNEY, G.; SETHI, A. Automatic Soil Management System for Household

Purposes. Indian Journal of Science and Technology, v. 9, n. 39, p. 1-6, october 2016.

DI BERNARDO, L.; DANTAS, A. D. B. Métodos e Técnicas de Tratamento de Água. 2ª.

ed. São Carlos: RIMA, v. I, 2005.

DI BERNARDO, L.; PAZ, L. P. S. Seleção de Tecnologias de Tratamento de Água. São

Carlos: LDIBE, v. I, 2008.

86

DI BERNARDO, L.; PAZ, L. P. S. Seleção de Tecnologias de Tratamento de Água. São

Carlos: LDIBE, v. II, 2008.

DUBEY, S.; AGARWAL, M.; GUPTA, A. B.; DOHARE, R. K.; UPADHYAYA, S.

Automation and control of water treatment plant for defluoridation. International Journal of

Advanced Technology and Engineering Exploration, v. 4, n. 26, p. 6-11, 2017.

FAUSTINE, A.; MVUMA, A. N.; MONGI, H. J.; GABRIEL, M. C.; TENGE, A. J.; KUCEL,

S. B. Wireless Sensor Networks for Water Quality Monitoring and Control within Lake Victoria

Basin: Prototype Development. Wireless Sensor Network, v. 6, n. 12, p. 281-290, 2014.

FERREIRA, B. O.; OKABE, A. M. S.; SILVA, A. J. C.; ALMEIDA, J. F. S.; CHASE, O. A.

Irrigação automatizada com plataforma Arduino em casa de vegetação na universidade federal

rural da amazônia. Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, Foz do

Iguaçu, 2016.

GIARRATANO, J. C.; RILEY, G. D. Expert system: principles and programming. 4ª. ed.

[S.l.]: Course Technology, 2004.

GILES, R. V.; EVETT, J. B.; LIU, C. Mecânica dos Fluidos e Hidráulica. 2ª. ed. São Paulo:

Makron Books, 1996.

GONÇALVES, A. C.; MAEDA, J.; TAQUEDA, J. Automatização das mesas de comando de

lavagem dos filtros. Revista DAE, v. 34, n. 96, p. 63-75, 1974.

GROSSKOPF, P.; PYKOSZ, L. C. Monitoramento do consumo de água utilizando ferramenta

open source. 1º Congresso Nacional de Inovação e Tecnologia, São Bento do Sul, 2016.

HAN, J.; KAMBER, M. Data Mining: Concepts and Techniques. 2ª. ed. San Francisco:

Elsevier, 2006.

HATZIKOS, E. V.; BASSILIADES, N.; ASMANIS, L.; VLAHAVAS, I. Monitoring water

quality through a telematic sensor network and a fuzzy expert system. Expert Systems, v. 24,

n. 3, p. 143-161, 2007.

HOWE, K. J.; HAND, D. W.; CRITTENDEN, J. C.; TRUSSELL, R. R.; TCHOBANOGLOUS,

G. Principles of Water Treatment. Hoboken: John Wiley & Sons, 2012.

HUND, S. V.; JOHNSON, M. S.; KEDDIE, T. Developing a Hydrologic Monitoring Network

in Data-Scarce Regions Using Open-Source Arduino Dataloggers. Agricultural &

Environmental Letters, v. 1, n. 1, 2016.

IBGE, Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008. Disponivel em: <https://sidra.ibge.

gov.br/tabela/1364#resultado>. Acesso em: 08 ago. 2017.

IBGE, Censo Demográfico, 2010. Disponivel em: <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1505#resul

tado>. Acesso em: 08 ago. 2017.

INGOLIKAR, R. A.; GEDAM, S. R. Star Classification using tree based data mining

Techniques. IOSR Journal of Computer Engineering, v. 7, p. 30-36, 2016.

87

JAGANNATHAN, G.; PILLAIPAKKAMNATT, K.; WRIGHT, R. N. A Practical

Differentially Private Random Decision Tree Classifier, 2009 IEEE International Conference

on Data Mining Workshops, p.114-121, 2009.

JANžA, M. A decision support system for emergency response to groundwater resource

pollution in an urban area (Ljubljana, Slovenia). Environment and Earth Science, n. 73, p.

3763–3774, 2015.

KALMEGH, S. Analysis of WEKA Data Mining Algorithm REPTree, Simple Cart and

RandomTree for Classification of Indian News. International Journal of Innovative Science,

Engineering & Technology, v. 2, n. 2, p. 438-446, 2015.

KAUR, P.; SINGH, W. Implementation of student SGPA Prediction System(SSPS) using

optimal selection of classification algorithm. Proceedings of the International Conference

on Inventive Computation Technologies (ICICT), Coimbatore, v. 2, p. 1-8, 2016.

KAWADE, N.; MULLA, S.; MAHALE, G.; MAHAPURE, R. Intrusion Detection and

Identification in Water Distribution Network. International Research Journal of

Engineering and Technology, v. 4, n. 4, p. 27-30, abril 2017.

KELLEY, C. D.; KROLICK, A.; BRUNNER, L.; BURKLUND, A.; KAHN, D.; BALL, W. P.;

WEBER-SHIRK, M. An Affordable Open-Source Turbidimeter. Sensors, v. 14, n. 4, p. 7142-

7155, 2014.

KUMAR, N.; SHIMI S. L;. Smart Farming System for Indian Farmers using Arduino based

Technology. International Journal of Advance Research, Ideas and Innovations in

Technology, v. 3, n. 1, p. 105-110, 2017.

LANDIS, J. R.; KOCH, G. G. The Measurement of Observer Agreement for Categorical Data.

Biometrics, v. 33, n. 1, p. 159-174, 1977.

LIBÂNIO, M. Fundamentos de Qualidade e Tratamento de Água. 3ª. ed. Campinas, São

Paulo: Editora Átomo, 2010.

LUZ, A. M. M.; ANDRADE, A. F.; AMARAL, P. A. A.; PEREIRA, S.; VIEIRA, E. O. Análise

de vazão hídrica em canal aberto comparando métodos convencionais com método alternativo.

Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, Foz do Iguaçu, 10, n. 2, 2016.

MAIA, A. A.; SILVA, D. A.; LIMA, D. E. S.; LIMA, W. J. F. Automação para tratamento de

água por floculação e flotação. Revista de Controle e Automação, v. 1, n. 1, 2013.

MASSERONI, D.; FACCHI, A.; DEPOLI, E. V.; RENGA, F. M.; GANDOLFI, C. Irrig-oh: an

open-hardware device for soil water potential monitoring and irrigation management.

Irrigation and Drainage, v. 65, n. 5, p. 750–761, 2016.

MCROBERTS, M. Arduino Básico. São Paulo: Novatec, 2011.

NASCIMENTO, N. O.; HELLER, L. Ciência, tecnologia e inovação na interface entre as áreas

de recursos hídricos e saneamento. Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, v. 10,

n. 1, p. 36-48, 2005.

88

NASIRI, F.; MAQSOOD, I.; HUANG, G.; FULLER, N. Water quality index: A fuzzy river-

pollution decision support expert system. ASCE - Journal of Water Resources Planning and

Management, v. 133, n. 2, p. 95-105, 2007.

OOSHAKSARAIE, L.; BASRI, N. E. A.; BAKAR, A. A.; MAULUD, K. N. A. RP³CA: An

expert system applied in stormwater management plan for construction sites in Malaysia.

Expert Systems with Applications, n. 39, p. 3692–3701, 2012.

OPENSOURCE. Disponivel em: <www.opensource.org>. Acesso em: 14 jul. 2017.

PINTO, O. E.; CHERBAKIAN, E. H.; INOUE, M. M.; SILVA, G. F. Automação de estação

de tratamento de água. 19º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental,

p. 1134-1145, 1997.

PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DO SETOR SANEAMENTO. Municipalização dos

Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário no Estado de Mato

Grosso: Diagnóstico, Lições e Perspectivas. Relatório técnico, 2008.

PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DO SETOR SANEAMENTO. Municipalização dos

Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário no Estado de Mato

Grosso: Diagnóstico, Lições e Perspectivas. Relatório técnico, v. LXVIII – Nobres, 2008.

QUINLAN, J. R. Simplifying decision trees. International journal of man-machine studies,

v. 27, n. 3, p. 221-234, 1987.

RANJBAR, R.; ABDALLA, A. H. Low-cost, Real-Time, Autonomous Water Quality Testing

and Notification System. International Journal of Computer Science and Network

Security, v. 17, n. 5, p. 277-282, maio 2017.

REBOUÇAS, A.C. Água na região Nordeste: desperdício e escassez. Estudos Avançados, São

Paulo, v.11, n.29, p.127-154, 1997.

REZENDE, S. O. Sistemas Inteligentes: Fundamentos e Aplicações. Barueri: Manole, 2005.

RICHTER, C. A. Água: métodos e tecnologia de tratamento. São Paulo: Blucher, 2009.

ROSA, D. M. S.; FUJIMURA, J. M.; MENDES, G. S.; SILVA, W. T. P. Sistema Especialista

para operação de elevatória em abastecimento de água urbana. X Encontro Nacional de Águas

Urbanas, São Paulo, 2014. 1-4.

ROSA, D. M. S.; SILVA, S. C. B.; SILVA, W. T. P. Dispositivo alternativo para

monitoramento de pressão em sistema de abastecimento de água. 29º Congresso

ABES/FENASAN, São Paulo, 2017, v. 1. p. 1-1.

SANTOS, F. C. R.; LIBRANTZ, A. F. H.; DIAS, C. G.; RODRIGUES, S. G.. Intelligent system

for improving dosage control. Acta Scientiarum. Technology, v. 39, n. 1, p. 33-38, 2017.

SCHWABE, D.; CARVALHO, R. L. D. Engenharia de Conhecimento e Sistemas

Especialistas. Rio de Janeiro: KAPELUSZ, 1987.

89

SEFLEK, A. Y.; ÇARMAN, K. A design of an expert system for selecting pumps used in

agricultural irrigation. Mathematical and Computational Applications, v. 15, n. 1, p. 108-

116, 2010.

SILVA, D. V., SERRA, C. M. V., SANTOS, A. C. O., MELO, A. C. S. Análise de demanda

em uma Companhia de água mineral da região metropolitana de Belém utilizando modelos de

série temporal de Holt-Winters. XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção,

Rio de Janeiro, 2008.

SILVA, W. T. P.; CAMPOS, M. M.; SANTOS, A. A. Previsão de consumo diário de água:

estudo de caso de Nobres (Brasil). Ingeniería del agua, v. 20, n. 2, p. 73-85, abril 2016.

SILVA, S. C. B.; ZAQUE, R. A. M.; SILVA, W.T.P. Protótipo para monitoramento de pressão

em sistemas hidráulicos. III Simpósio sobre Sistemas Sustentáveis, Porto Alegre, 2016.

SOUZA, J. J. I.; NASCIMENTO, L. B. P.; SANTOS FILHO, P. R.; SOUSA, M. S.;

NASCIMENTO, F. C. C.. Sistema de Monitoramento do pH e Temperatura por meio de

Tecnologias Livres para a Proteção dos Corpos d'Água do Delta do Parnaíba. Encontro

Regional de Computação dos Estados Ceará, Maranhão e Piauí, São Luís, 2012.

TAVARES, C.; BOZZA, D.; KONO, F. Descoberta de conhecimento aplicado a dados

eleitorais. Gestão & Conhecimento, v. 5, n. 1, p. 54-94, 2007.

TUCCI, C. E. M., HESPANHOL, I., CORDEIRO NETTO, O. M. Cenários da Gestão da Água

no Brasil: Uma Contribuição para a "Visão Mundial da Água", Revista Brasileira de Recursos

Hídricos, v. 5, n. 3, pp. 31-43, 2000.

VIANNA, M. R. Hidráulica Aplicada às Estações de Tratamento de Água. 5ª ed. Nova

Lima: Imprimatur, 2014.

WU, G. D.; LO, S. L. Predicting real-time coagulant dosage in water treatment by artificial

neural networks and adaptive network-based fuzzy inference system. Engineering

Applications of Artificial Intelligence, v. 21, n. 8, p. 1189-1195, 2008.

ZHANG, H.; LUO, D. Application of an expert system using neural network to control the

coagulant dosing in water treatment plant. Journal of Control Theory and Applications, v.

2, n. 1, p. 89-92, 2004.

90

ANEXO 1

91

ANEXO 2

92

93

94