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SISTEMA DE PROTEÇÃO DE TRANSFORMADORES DE EXTRA-ALTA
TENSÃO UTILIZANDO RELÉS DIGITAIS
Matheus Galluzzi Malafaia
Projeto de Graduação apresentado ao Curso
de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Engenheiro.
Orientador: Oumar Diene
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2017
SISTEMA DE PROTEÇÃO DE TRANSFORMADORES DE EXTRA-ALTA
TENSÃO UTILIZANDO RELÉS DIGITAIS
Matheus Galluzzi Malafaia
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO
CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
ENGENHEIRO ELETRICISTA.
Examinado por:
Prof. Oumar Diene, D.Sc.
Prof. Sebastião Ércules Melo Oliveira, D.Sc.
Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D.
RIO DE JANEIRO, RJ � BRASIL
FEVEREIRO DE 2017
Galluzzi Malafaia, Matheus
Sistema de Proteção de Transformadores de Extra-
alta Tensão Utilizando Relés Digitais/Matheus Galluzzi
Malafaia. � Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica,
2017.
XVII, 94 p.: il.; 29, 7cm.
Orientador: Oumar Diene
Projeto de Graduação � UFRJ/ Escola Politécnica/
Curso de Engenharia Elétrica, 2017.
Referências Bibliográ�cas: p. 70 � 71.
1. Transformadores. 2. Proteção. 3. Controle e
Supervisão. I. Diene, Oumar. II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia
Elétrica. III. Título.
iii
Aos meus pais, inspiração
constante pela busca do bem e do
amor...
iv
Agradecimentos
Certamente não tenho como não começar os agradecimentos senão pela minha linda
família, dedicada e amorosa que me deu as condições e o suporte para chegar neste
momento tão importante de minha vida. Com vocês aprendi o que é o bem, por
vocês eu faço o bem. Amo vocês: Fernando de Paula Malafaia, Maria Clara Galluzzi
Malafaia e Cristiane Galluzzi Malafaia.
Aos meus avós: Vovô Malafaia, Vovó Nenete, Vó Nilza e Vô Darcy (que me
abençoa a todo instante) por sempre serem alicerces em minha vida acadêmica e
segunda casa nesta vida universitária.
Aos meus colegas de faculdade pela parceria, espírito de coletividade e respeito
que sempre foram demonstrados nesta universidade, em especial aos amigos que
organizaram nossos inesquecíveis churrascos e recepções de calouros.
Aos grandes amigos Marcus Vinicius Fernandes, Tarcísio Fagundes, Raphael Bar-
bosa, Paulo Shor e Gustavo Almeida por trilharem estes 6 anos ao meu lado como
irmãos que escolhemos em vida.
À minha grande e melhor amiga da faculdade, pessoa a quem devo boa parte
do meu crescimento pessoal e pro�ssional, que dividiu momentos bons e ruins nos
últimos anos e a quem tenho apreço imensurável: Mariana Rabelo.
Aos meus colegas de Iceboat Terrace (Caio, Luiz, Mario, Geraldo, Vini e Valdir),
em Toronto, que compartilharam a experiência mais incrível da minha vida e esti-
veram ao meu lado quando distante de minha família. E à CAPES que possibilitou
o intercâmbio e o meu enriquecimento pessoal e pro�ssional.
To my beloved brothers from ΦKΣ for teaching me the meaning of brotherhood,
in particular, Adonis Dina, Fred Henein and Ricardo Roiseman.
A todos os mestres que me lecionaram na UFRJ em especial ao meu orientador
Oumar Diene. Agradeço também aos meus colegas de trabalho Rodrigo Leonel,
Lincoln Lessa e Alexandre Vianna que me auxiliaram muito para a realização deste
trabalho.
E a essa força soberana que nos move que uns chamam de Deus, mas para não
haver con�itos, eu chamo de AMOR.
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.
SISTEMA DE PROTEÇÃO DE TRANSFORMADORES DE EXTRA-ALTA
TENSÃO UTILIZANDO RELÉS DIGITAIS
Matheus Galluzzi Malafaia
Fevereiro/2017
Orientador: Oumar Diene
Curso: Engenharia Elétrica
Apresenta-se, neste trabalho, resultados de um estudo detalhado sobre sistemas
de proteção, controle e supervisão aplicado à um transformador de alta tensão, com
referências às características dos equipamentos principais e auxiliares utilizados para
a implementação da proteção. As funções de proteção programadas nos relés digitais
são analisadas com detalhamento do funcionamento destes. Ao �nal, um estudo
de caso é descrito no contexto da aplicação destas funções em uma situação real,
explicitando-se, os procedimentos de análises necessários para que a programação
das proteções apresentadas possa ser corretamente implementada.
vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial ful�llment
of the requirements for the degree of Engineer.
PROTECTION SYSTEMS OF HIGH VOLTAGE TRANSFORMER THROUGH
DIGITAL RELAYS
Matheus Galluzzi Malafaia
February/2017
Advisor: Oumar Diene
Course: Electrical Engineering
In this work, a detailed study on protection, control and supervision systems
applied to a high voltage transformer is presented.
A brief study on the equipments used to implement this system is reported. We
will discuss the protection functions of digital relays, explaining minutely how they
operate. We will present, at the end, a real case that applies those functions, ex-
plaining the necessary analysis in order to correctly design the presented protection.
vii
Sumário
Lista de Figuras xi
Lista de Tabelas xiii
Lista de Abreviaturas xv
1 Introdução 1
1.1 Estrutura do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2 Transformadores 4
2.1 Princípios Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Aspectos Construtivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3 Estrutura Básica de Sistemas de Proteção, Supervisão e Controle 8
3.1 Transformador de Corrente (TC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3.1.1 Fator Térmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.1.2 Limite Térmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.1.3 Fator de Sobrecorrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2 Transformadores de Potencial (TP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2.1 Divisor Capacitivo de Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.3 Tabela ANSI - Códigos de Operação funções de proteção . . . . . . . 11
3.4 Dispositivos Eletrônicos Inteligentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.4.1 Unidade de Aquisição e Controle(UAC) . . . . . . . . . . . . . 12
3.4.2 Registrador Digital de Pertubações . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.4.3 Relé de Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.5 Equipamentos Auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.5.1 Relés Auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.5.1.1 Relé de Supervisão de Circuito (27) . . . . . . . . . . 15
3.5.1.2 Relé de Disparo (94) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.5.1.3 Relé de Bloqueio (86) . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.5.1.4 Relé de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.5.2 Blocos de Teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
viii
3.6 Interface Homem-Máquina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.7 Comunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4 Proteções Intrínsecas de um Transformador de Extra-Alta Tensão 21
4.1 Relé de Buchholz (63) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.2 Relé de Temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.3 Válvula de Alívio de Pressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4.4 Supervisor de Nível de Óleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5 Funções de Proteção em Relés Digitais para proteção de um Trans-
formador de Extra-Alta Tensão 26
5.1 Proteção Diferencial de Transformador 87TP . . . . . . . . . . . . . . 26
5.1.1 Corrente de Pick-up e Curva de Operação . . . . . . . . . . . 30
5.1.2 Corrente de inrush - Bloqueio por segundo harmônico . . . . . 33
5.1.3 Operação em Sobre-tensão (Sobre-excitação) - Bloqueio por
quinto harmônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5.1.4 Saturação do TC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.1.5 Lógica Geral da Proteção Diferencial . . . . . . . . . . . . . . 36
5.2 Proteção de Sobrecorrente do Transformador 50/51 . . . . . . . . . . 37
5.2.1 Corrente de pickup . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5.2.2 Curva de operação tempo x corrente . . . . . . . . . . . . . . 42
5.2.3 Tipos de proteção de sobrecorrente . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.2.4 Lógica Geral da Proteção de Sobrecorrente . . . . . . . . . . . 45
5.3 Proteção de Sobretensão (59) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
5.3.1 Proteção de Sobretensão de sequência zero (59N) . . . . . . . 46
5.3.1.1 Lógica Geral da Proteção de Sobretensão de sequên-
cia zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.4 Proteção Falha de Disjuntor (50BF) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.4.1 Lógica Geral da Proteção de Falha do Disjuntor . . . . . . . . 49
6 Ajuste da Proteção do Transformador TR03 - Barro Alto 51
6.1 Supervisão das Proteções Intrínsecas do TR03 . . . . . . . . . . . . . 51
6.2 Ajuste das Proteções no Relé P645 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
6.2.1 Ajuste da Proteção Diferencial (87) . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.2.1.1 Ajuste da Curva de Operação . . . . . . . . . . . . . 53
6.2.1.2 Bloqueio por segundo harmônico . . . . . . . . . . . 56
6.2.1.3 Bloqueio por quinto harmônico . . . . . . . . . . . . 56
6.2.1.4 Bloqueio por saturação do TC . . . . . . . . . . . . . 56
6.2.2 Ajuste da Proteção de Sobrecorrente (51) . . . . . . . . . . . . 56
6.2.2.1 Sobrecorrente do Lado de 69 kV . . . . . . . . . . . . 57
ix
6.2.2.2 Sobrecorrente do Lado de 230 kV . . . . . . . . . . . 59
6.2.2.3 Sobrecorrente Residual do lado de 230 kV . . . . . . 61
6.2.2.4 Sobrecorrente Residual do lado de 69 kV . . . . . . . 62
6.2.2.5 End Fault Protection . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.2.3 Ajuste da Proteção de Sobretensão de Sequência Zero (59N) . 65
6.2.4 Ajuste da Proteção de Falha do Disjuntor (50/62 BF) . . . . . 66
6.2.5 Sumário dos ajustes das proteções no relé P645 . . . . . . . . 66
7 Conclusões 68
Referências Bibliográ�cas 70
A Fundamentos Teóricos 72
A.1 Análise de Circuitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
A.1.1 Leis de Kirchho� . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
A.1.2 Fasores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
A.1.3 Componentes Simétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
A.2 Decomposição em Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
B Uni�lar dos Pátios 230 kV, 69 kV SE Barro Alto e Diagrama de
Impedâncias 79
C Supervisão das Proteções intrínsecas 83
D Dados de Placa do Transformador e Características dos Equipa-
mentos de Medição 87
D.1 Dados de placa dos Transformadores que compõem o TR03 . . . . . . 88
D.2 Características dos equipamentos de medição . . . . . . . . . . . . . . 89
E Tabela ANSI - Proteção 91
x
Lista de Figuras
2.1 Transformador Ideal [13] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Exemplo de Transformador de Alta Potência [23] . . . . . . . . . . . 6
3.1 Arranjo de Ligação DCP [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.2 IED da linha SIPROTEC 5 da SIEMENS [2] . . . . . . . . . . . . . . 12
3.3 Painel de Proteção instalado em rack 19 polegadas[3] . . . . . . . . . 14
3.4 Exemplo de Relé Auxiliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.5 Exemplo de bloco de teste do fabricante Secucontrol [4] . . . . . . . . 17
3.6 Exemplo de mala de teste do fabricante Omicron [5] . . . . . . . . . . 17
3.7 Imagem capturada software SAGE do uni�lar da subestação de Cam-
pos, Rio de Janeiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.8 Arquitetura de Comunicação em uma subestação utilizando IEC 61850. 20
4.1 Instalação do Relé de Buchholz. [6] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.2 Esquema de funcionamento Relé de Buchholz.[7] . . . . . . . . . . . . 22
4.3 Esquema de funcionamento Válvula de Pressão por Mola. [6] . . . . . 24
5.1 Princípio básico de funcionamento da proteção diferencial. [8] . . . . 27
5.2 Esquema do relé diferencial percentual eletro-mecânico. [6] . . . . . . 28
5.3 Curva de operação de um relé eletro-mecânico. [6] . . . . . . . . . . . 29
5.4 Curva de saturação de um transformador Toshiba instalado. [9] . . . 30
5.5 Curva Característica de Operação - Proteção Diferencial. [10] . . . . 32
5.6 Forma de onda da Corrende de inrush.[11] . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.7 Decaimento da Corrende de inrush.[11] . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.8 Lógica de Aquisição de sinais do campo e criação de variáveis internas 37
5.9 Lógica simpli�cada de atuação da proteção 87TP . . . . . . . . . . . 37
5.10 Relé de Sobrecorrente de Alavanca. [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.11 Êmbolo de óleo para temporização do Relé de Sobrecorrente de Ala-
vanca e respectiva curva tempo x atuação. [1] . . . . . . . . . . . . . 39
5.12 Relé de Sobrecorrente de Alavanca temporizado por um relé auxiliar
de tempo e respectiva curva tempo x atuação. [1] . . . . . . . . . . . 40
5.13 Relé de Sobrecorrente de Indução. [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
xi
5.14 Atuação do Relé de Sobrecorrente de Indução. [1] . . . . . . . . . . . 41
5.15 Curva de Atuação do Relé de Sobrecorrente de Indução. [1] . . . . . . 41
5.16 Curvas de Operação inversa do relé de sobrecorrente. [12] . . . . . . . 43
5.17 Exemplo de falta em zona morta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.18 Lógica simpli�cada de atuação da proteção 51 . . . . . . . . . . . . . 46
5.19 (a) Relé de proteção de sobretensão instantâneo; (b) Relé de proteção
de sobretensão de tempo inverso. [6] . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.20 Esquema da proteção 59N. [1] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.21 Lógica simpli�cada de atuação da proteção 59N . . . . . . . . . . . . 48
5.22 Lógica simpli�cada de atuação da proteção contra falha do disjuntor . 50
6.1 Curva Característica de Operação - Proteção Diferencial. [10] . . . . 53
6.2 Curva de atuação da proteção de sobrecorrente do lado de 69 kV . . . 58
6.3 Curva de atuação da proteção de sobrecorrente do lado de 230 kV . . 60
6.4 Coordenação das proteções de sobrecorrente de 69 kV e 230 kV . . . . 60
6.5 Curva de atuação da proteção de sobrecorrente residual do lado de
230 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
6.6 Curva de atuação da proteção de sobrecorrente residual do lado de
69 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.7 Coordenação das proteções de sobrecorrente residual de 69 kV e 230 kV 64
A.1 Exemplo da aplicação da lei dos nós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
A.2 Exemplo da aplicação da lei dos nós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
A.3 Decomposição de um sistema desequilibrado em seus componentes
simétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
D.1 Informações básicas dos trafos que compõem o TR03: ligação e po-
tência nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
D.2 Correntes nominais dos tapes e correntes máximas toleradas pelos
transformadores que compõem o TR03 . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
xii
Lista de Tabelas
5.1 Tabela típica com o teor harmônico da Corrende de inrush.[14] . . . . 34
5.2 Conteúdo Harmônico da operação de um banco de transformadores
15kVA com 150% de sobretensão.[14] . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.3 Tabela de coe�cientes de operação em função de sobrecorrente se-
gundo norma IEC 255-4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6.1 Correntes de Curto Circuito para o ajuste da proteção de sobrecor-
rente do lado de 69 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.2 Ajuste da proteção de sobrecorrente lado de 69 kV . . . . . . . . . . . 58
6.3 Correntes de Curto Circuito para o ajuste da proteção de sobrecor-
rente do lado de 230 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.4 Ajuste da proteção de sobrecorrente lado de 230 kV . . . . . . . . . . 60
6.5 Correntes de Curto-Circuito para o ajuste da proteção de sobrecor-
rente residual, lado de 230 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.6 Ajuste da proteção de sobrecorrente residual lado de 230 kV . . . . . 62
6.7 Correntes de Curto Circuito para o ajuste da proteção de sobrecor-
rente residual, lado de 69 kV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
6.8 Ajuste da proteção de sobrecorrente residual lado de 69 kV . . . . . . 63
6.9 Ajuste da proteção de sobrecorrente de zona morta . . . . . . . . . . 65
6.10 Tempo de operação dos equipamentos do sistema de proteção TR03 . 66
6.11 Tabela sumário com os ajustes da proteção diferencial . . . . . . . . . 66
6.12 Tabela sumário com os ajustes da proteção de sobrecorrente . . . . . 67
6.13 Tabela sumário com os ajustes da proteção de zona morta . . . . . . 67
6.14 Tabela sumário com os ajustes da proteção de sobretensão de sequên-
cia zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.15 Tabela sumário com os ajustes da proteção de falha do disjuntor . . . 67
A.1 Transformação Domínio do Tempo - Fasor . . . . . . . . . . . . . . . 75
D.1 Características do TC da Alta Tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
D.2 Características do TC da Baixa Tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
xiii
D.3 Características do TP de aterramento para sobretensão de sequência
zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
E.1 Tabela ANSI - Sistemas de Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
xiv
Lista de Abreviaturas
27 Número de Operação do Relé de Subtensão segundo tabela
ANSI, p. 11
50BF Número de Operação do Relé de Proteção Contra Falha do
Disjuntor segundo tabela ANSI, p. 44
50 Número de Operação do Relé de Sobrecorrente Instantâneo
segundo tabela ANSI, p. 34
51EFP Número de Operação do Relé de Proteção de Zona Morta se-
gundo tabela ANSI, p. 40
51N Número de Operação do Relé de Sobrecorrente Temporizado
de Neutro segundo tabela ANSI, p. 40
51R Número de Operação do Relé de Sobrecorrente Residual Tem-
porizado segundo tabela ANSI, p. 40
51 Número de Operação do Relé de Sobrecorrente Temporizado
segundo tabela ANSI, p. 34
59N Número de Operação do Relé de Sobretensão de Sequência Zero
segundo tabela ANSI, p. 42
59 Número de Operação do Relé de Sobretensão segundo tabela
ANSI, p. 42
63 Número de Operação do Relé de Buchholz segundo tabela
ANSI, p. 17
86 Número de Operação do Relé Auxiliar de Bloqueio segundo
tabela ANSI, p. 12
87 Número de Operação do Relé de Proteção Diferencial segundo
tabela ANSI, p. 23
xv
94 Número de Operação do Relé de Disparo segundo tabela ANSI,
p. 12
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas, p. 4
ANAFAS Software de Análise de Faltas Simultâneas, p. 49
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica, p. 9
ANSI American National Standards Institute, p. 7
BF Breaker Failure, p. 44
CEPEL Centro de Pesquisa em Engenharia Elétrica, p. 49
CNO Centro Nacional de Operação, p. 15
COR Centros de Operação Regional, p. 15
DCP Divisor Capacitivo de Potencial, p. 6
DT Dial de Tempo, p. 39
EFP End Fault Protection, p. 40
FS Fator de Sobrecorrente, p. 5
FT Fator Térmico, p. 5
GOOSE Generic Object Oriented Substation Event, p. 16
IEC International Electrotechnical Commission, p. 15
IED Intelligent Electronic Devices, p. 7
LT Linha de Transmissão, p. 53
MMS Manufacturing Message Speci�cation, p. 16
NAF Normalmente Aberto ou Fechado, p. 11
NA Normalmente Aberto, p. 11
NF Normalmente Fechado, p. 11
ONS Operador Nacional do Sistema, p. 1
RDP Registrador Digital de Pertubações, p. 9
xvi
RTC Relação de Transformação do Transformador de Corrente, p.
4
RTP Relação de Transformação do Transformador de Potencial, p.
6
SCADA Supervisory Control And Data Acquisition, p. 11
SIN Sistema Interligado Nacional, p. 1
SPCS Sistema de Proteção, Supervisão e Controle, p. 1
TC Transformador de Corrente, p. 4
TP Transformador de Potencial, p. 5
UAC Unidade de Aquisição e Controle, p. 7
trafo Transformador, p. 68
xvii
Capítulo 1
Introdução
O Sistema Interligado Nacional (SIN) brasileiro é considerado único no mundo inteiro
por conta de seu tamanho e complexidade gigantescos. O SIN do Brasil interliga
o norte ao sul, o leste ao oeste, possibilitando a troca de grandes quantidades de
energia entre as regiões, fazendo com que possamos aproveitar as peculiaridades
climáticas que in�uenciam nossa matriz energética majoritariamente hídrica.
A con�abilidade e a operabilidade do SIN torna-se possível devido à instalação de
sistemas de proteção, controle e supervisão (SPCS) nas subestações de transmissão
em todo o Brasil. Atualmente, esse sistema é composto por uma série de dispositivos
com alta capacidade de processamento que enviam informações em tempo real para
o agente responsável pela operação da subestação e para o Operador Nacional do
Sistema (ONS). Sendo assim, o SPCS possibilita que as manutenções necessárias dos
equipamentos de campo sejam feitos e que os engenheiros do ONS possam visualizar
a topologia da rede atualizada.
Outrossim, os SPCS possuem importante função no resguardo dos equipamentos
e na minimização do impacto para os usuários da rede elétrica quando da ocorrência
de algum defeito no sistema. Os dispositivos eletrônicos inteligentes são programa-
dos para proteger de maneira personalizada cada equipamento do sistema, atuando
na identi�cação de curto-circuitos monofásicos, bifásicos e trifásicos, e isolando o
elemento em falta do resto do sistema elétrico através da abertura de um ou mais
disjuntores. Os sistemas de proteção possuem uma engenharia extremamente so�s-
ticada, pois devem atuar com precisão e grande con�abilidade, necessitam de alta
coordenação para que haja seletividade, desligando o menor número de equipamen-
tos.
Os transformadores de potência são invariavelmente alvos dos sistemas de pro-
teção uma vez que este equipamento é essencial para o funcionamento do SIN. Os
transformadores são equipamentos utilizados para transferir energia, com baixíssima
perda, através de um circuito eletromagnético que permite que as tensões sejam
transformadas para níveis de transmissão e distribuição, reduzindo perdas e aumen-
1
tando a e�ciência do nosso sistema. O projeto de graduação `Transformadores de
Potência - Teoria e Aplicação' [15] destaca a importância dos transformadores de
potência, abordando conteúdos de relevância para o estudo completo deste equipa-
mento.
A proteção dos transformadores à nível de transmissão, ou seja, alta e extra-alta
tensão, é imprescindível, uma vez que são responsáveis diretos pelo abastecimento
elétrico de um grande número de usuários. Para padronizar a proteção dos transfor-
madores do sistema, o ONS mantém atualizado o relatório `Filoso�a das Proteções
dos Transformadores da Rede de Operação do ONS' [14] que de�ne a metodologia de
proteção de trafos no país levando em consideração as tecnologias mais recentes do
mercado, garantindo o aumento da continuidade no fornecimento de energia, além
da diminuição dos danos aos equipamentos vítimas de faltas.
Os relés inteligentes possuem função fundamental nos SPCS aplicados a trans-
formadores, pois este equipamento requer cuidados especiais tanto na manutenção,
quanto na operação. Por isso, a proteção dos transformadores se tornou foco de
estudo nas instituições de ensino em todo mundo. Dentre esses projetos, destaca-se
a dissertação de mestrado `Esquema Completo de Proteção Diferencial de Transfor-
madores para Testes em um Relé Digital'[16] que detalha a operação da proteção
diferencial de um transformador, os projetos de graduação `Estudo de caso na Au-
tomação, Proteção e Supervisão de uma Subestação de classe 69kV'[17], que relata
um caso de proteção aplicado à prática, e `Modernização da Proteção de Sistemas
Elétricos de Potência'[18], que trata dos benefícios e mudanças trazidas pela recente
modernização dos relés de proteção.
Este trabalho visa dar uma visão mais detalhada de um SPCS aplicado à proteção
dos transformadores de potência do sistema de transmissão. Para tal, abordaremos
todos os aspectos relativos à proteção de um transformador, desde as proteções ins-
taladas em seu construtivo, chamadas proteções intrínsecas, até as proteções feitas
pelos relés de proteção digitais. Estas funções de proteção programadas nos relés
de proteção são evoluções dos relés eletromecânicos e, por isso, serão esmiuçadas,
traçando um paralelo com a modernização desta tecnologia essencial para a con�a-
bilidade do nosso sistema de transmissão.
2
1.1 Estrutura do trabalho
Capítulo 1 - Introdução: Introduz o tema abordado no trabalho, apresentando
a motivação e o objetivo do mesmo.
Capítulo 2 - Transformadores: Faz uma breve revisão teórica sobre transfor-
madores, apresentando equações básicas e os aspectos construtivos do elemento que
é o alvo da proteção descrita no documento.
Capítulo 3 - Estrutura Básica de Sistemas de Proteção, Supervisão e
Controle: Apresenta a estrutura de um sistema de proteção moderno, citando os
elementos básicos como equipamentos, arquitetura, comunicação e supervisório.
Capítulo 4 - Proteções Instrínsecas de um Transformador de Extra-Alta
Tensão: Destrincha as proteções inerentes a manutenção e ao construtivo do
transformador destacando o funcionamento e o objetivo de cada uma destas
proteções.
Capítulo 5 - Funções de Proteção em Relés Digitais para proteção de um
Transformador de Extra-Alta Tensão: Analisa minuciosamente as diferentes
funções de proteção detalhando seu funcionamento e particularidades desde o ponto
de partida em relés eletromecânicos até a aplicação atual no relés multiprocessados.
Capítulo 6 - Ajuste da Proteção do Transformador TR03 - Barro Alto:
Um breve estudo de caso do ajuste das funções de proteção de um transformador
real instalado na subestação de Barro Alto.
Capítulo 7 - Conclusões: Analisa o trabalho desenvolvido, seu impacto acadêmico
e prático.
3
Capítulo 2
Transformadores
2.1 Princípios Básicos
Transformadores, comumente chamados de trafos, tem como principal objetivo a
transferência de energia através de um �uxo magnético comum a dois enrolamentos.
Para desempenhar esta função, o transformador é composto por um núcleo ferro-
magnético e duas bobinas condutoras enroladas a ele, o primário, que tem tensão
aplicada à seus terminais, e o secundário, que terá tensão induzida nos seus termi-
nais. O primário, quando houver aplicação de tensão variante no tempo (v1), gera
um �uxo magnético variante, Φ, dado por
v1 = N1dΦ
dt, (2.1)
sendo N1 o número de espiras da bobina do primário.
O �uxo magnético, por sua vez, passa pelo secundário que terá tensão induzida,
e2, de acordo com a equação
e2 = N2dΦ
dt, (2.2)
sendo N2 é o número de espiras da bobina do secundário. Desprezando-se as perdas
nos condutores das bobinas, podemos dizer que
e1 = v1 (2.3)
e
e2 = v2, (2.4)
sendo v2 a tensão nos terminais da bobina do secundário e e1 a força eletromotriz
induzida no enrolamento do primário. Dividindo-se a equação 2.1 pela equação 2.2
e supondo que não há perdas no enrolamento, obtém-se
4
v1v2
=N1
N2
, (2.5)
Como a relutância destes materiais ferromagnéticos é muito pequena, podemos
considerar que não haverá, também, perdas no núcleo e a potência de entrada será
a mesma potência da saída. Então
v1i1 = v2i2, (2.6)
sendo i1 a corrente que passa pela bobina do primário e i2 a corrente que passa pela
bobina do secundário. Substituindo-se os valores de tensão pelo número de espiras
de acordo com a equação 2.5, obtemos
i1i2
=N2
N1
. (2.7)
A �gura 2.1 ilustra o funcionamento de um transformador apresentando todas as
variáveis envolvidas nas equações expostas anteriormente. Tais equações norteiam
os princípios básicos do funcionamento dos transformadores para o caso ideal, que
facilmente pode-se aplicar aos transformadores de potência em altas tensões uma
vez que a perda é desprezível se comparado com a quantidade de energia que �ui
pelo trafo.
Figura 2.1: Transformador Ideal [13]
Pelas equações 2.7 e 2.5 observa-se a principal utilidade de um transformador: a
transformação de tensão e corrente de acordo com a relação de espiras do primário
e do secundário.
No sistema brasileiro, as transmissões feitas a partir das geradoras, geralmente
hidroelétricas distantes das cidades para as proximidades dos centros consumidores,
são realizadas em alta tensão. Esse método é utilizado com o objetivo de diminuir
5
a perda joule associada à passagem de corrente pelas linhas de transmissão. Sendo
assim um transformador elevador aumenta a tensão nas subestações das geradoras
para 138 kV, 230 kV, 500 kV e até 800 kV para transmissão em longas distân-
cias. Quando a transmissão chega mais perto do mercado consumidor essa tensão
abaixa-se através de um transformador abaixador para 69 kV, 34,5 kV ou 13,8 kV
dependendo da distância que ainda precisa ser percorrida até uma subestação de dis-
tribuição aonde a tensão é novamente reduzida para as tensões nominais utilizadas
em fábricas e residências.
2.2 Aspectos Construtivos
Além da teoria básica, é importante o entendimento de aspectos construtivos dos
transformadores para o seguimento deste trabalho, pois a proteção deste equipa-
mento visa exatamente garantir a integridade física do mesmo. Um trafo é basi-
camente composto pelo seu núcleo de material ferromagnético, pelas bobinas do
primário e secundário e pela carcaça externa, como ilustrado na �gura 2.2.
Figura 2.2: Exemplo de Transformador de Alta Potência [23]
O núcleo é formado por lâminas de materiais ferromagnéticos com a superfície
envernizada para reduzir a formação de correntes parasitas, melhorando o rendi-
6
mento do transformador. As bobinas do primário e do secundário são condutores,
geralmente alumínio ou cobre, isolados e enrolados ao redor do núcleo N1 e N2 vezes,
respectivamente. A carcaça externa tem como objetivos: isolar o núcleo e as bobinas
do meio externo, protegendo-os e prevenindo acidentes, servir de recipiente para o
líquido de refrigeração e auxiliar no transporte do transformador.
Devido a grande quantidade de energia transferida e as altas correntes que cir-
culam pelas bobinas, o transformador necessita de um sistemas de isolamento mais
robusto. Os materiais mais utilizados para o isolamento de transformadores de alta
potência são o papel e o óleo mineral. O primeiro é, geralmente, utilizado para re-
cobrir os condutores, evitando que ocorra curto entre eles. O segundo faz a isolação
entre as bobinas e a carcaça e entre as bobinas e o núcleo.
Além disso, o óleo mineral é considerado um elemento multifuncional, pois, além
de atuar como um dielétrico, ele realiza a refrigeração, por convecção, do transfor-
mador. O papel de refrigeração é tão importante quanto o de isolante uma vez que
o aquecimento do núcleo e das bobinas reduz a vida útil do equipamento e pode da-
ni�car o isolamento. O sistema de refrigeração de transformadores de alta potência
pode, ainda, contar com um sistema de ventilação forçada acionada manualmente
ou automaticamente de acordo com a temperatura do trafo.
No capítulo 4 serão apresentados métodos para supervisão do funcionamento do
transformador como relés de temperatura, pressão e nível de óleo essenciais para a
manutenção e o prolongamento da vida deste equipamento.
7
Capítulo 3
Estrutura Básica de Sistemas de
Proteção, Supervisão e Controle
Todo sistema de proteção, supervisão e controle em uma subestação tem uma es-
trutura básica que é comum a qualquer equipamento a ser protegido. Neste ponto
do trabalho iremos introduzir os equipamentos que fazem parte deste sistema dando
uma visão macro que servirá como alicerce para os capítulos seguintes.
3.1 Transformador de Corrente (TC)
Os transformadores de corrente são elementos essenciais para um sistema de pro-
teção. Por meio de sua relação de transformação (RTC), as altas correntes que
circulam pelo primário são reduzidas de maneira que possam ser aquisitadas pelos
relés de proteção. Essa relação de transformação é dada por
IpIs
= RTC, (3.1)
sendo Ip a corrente do primário, RTC a relação de transformação do TC e Is a
corrente do secundário.
De maneira geral, o TC abaixa a corrente nominal do primário para 5 A, valor
normalizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)[19], disponi-
bilizados em seu secundário para ser aquisitado pelo relé para detecção de faltas.
Além disso, o transformador de corrente ainda tem papel importante no isolamento
dos equipamentos do sistema de proteção.
Vale ressaltar que para a aplicação em proteção os TCs podem apresentar um
erro na sua exatidão, dada por
IpRTC
= Is − Ie, (3.2)
8
sendo Ip a corrente do primário, RTC a relação de transformação do TC, Is a corrente
do secundário e Ie o erro entre as medidas. Este erro relativo pode ser de 2, 5%, 5%
ou 10% e, apesar de parecer alto, não tem tanta relevância, pois para proteção de
equipamentos preocupa-se mais com a ordem de grandeza apresentada do que com
a exatidão da medida. O TC apresenta características que precisam ser observadas
para que sua exatidão seja mantida mesmo diante de faltas severas. O fator térmico,
limite térmico e fator de sobrecorrente são atributos provenientes de testes com o
equipamento e fornecidos pelo fabricante do TC para que a escolha possa ser feita
de maneira adequada. A seguir iremos fazer uma breve explanação sobre estes três
fatores citados.
3.1.1 Fator Térmico
O fator térmico (FT) de um TC é a relação entre a corrente máxima no primário
(Ipmax) que o equipamento suporta em regime permanente sem que seja dani�cado
e sua corrente nominal. Assim,
FT =IpmaxIp
. (3.3)
3.1.2 Limite Térmico
O limite térmico representa a corrente de curto-circuito máxima que o transformador
de corrente pode suportar durante um segundo com seu secundário em curto sem
que haja danos a sua isolação.
3.1.3 Fator de Sobrecorrente
O fator de sobrecorrente (FS) é a relação entre a máxima corrente de curto-circuito
(IpCC) que não afeta a classe de exatidão do TC e sua corrente nominal, isto é,
FS =IpCCIp
. (3.4)
Apesar deste valor poder ser variado conforme o construtivo do TC, aqui no
Brasil, o fator de sobrecorrente é um valor normalizado e deve sempre ser igual a 20
[19].
3.2 Transformadores de Potencial (TP)
Os transformadores de potencial (TP) atuam reduzindo a tensão a valores que pos-
sam ser fornecidos aos equipamentos de proteção. O valor da tensão no secundário
9
do TP é um valor normalizado em 115 V, segundo a ABNT [20], e é proporcional à
tensão no primário de acordo com a relação de transformação do transformador de
potencial (RTP), dada por
Vpfase−neutroVsfase−neutro
= RTP, (3.5)
sendo Vpfase−neutro a tensão fase-neutro do primário, Vsfase−neutro a tensão fase-neutro
do secundário e RTP a relação de transformação do transformador de potencial.
Assim como os TCs, os TPs também apresentam um erro associado à diferença da
tensão entre os terminais do primário e a tensão reduzida apresentada no secundário.
Os TPs utilizados em proteção têm erro de 1,2%, sendo este valor garantido caso
os equipamentos conectados em seu secundário tenham uma carga total inferior a
carga nominal relativa à sua classe de exatidão.
3.2.1 Divisor Capacitivo de Potencial
O Divisor Capacitivo de Potencial (DCP) é uma associação de dois ou mais capaci-
tores e um indutor com a �nalidade de reduzir tensões acima de 69 kV para 23 kV
que serão entregues aos terminais primários do TP. Esta redução torna-se necessária
pois para tensões muito elevadas o construtivo do TP tende a �car complexo devido
a classe de isolação que torna o transformador muito grande e pesado.
Na �gura 3.1 podemos ver o arranjo de ligação do DCP a ser conectado de
forma a reduzir a tensão da linha Elt para a tensão que será entregue aos terminais
primários do TP, Vth. A relação entre a tensão de linha e a tensão reduzida pelo
DCP é dada por
Vth =C1EltC1 + C2
. (3.6)
Figura 3.1: Arranjo de Ligação DCP [1]
10
Da equação 3.6, pode-se retirar a relação entre os capacitores C1 e C2. Além
disso, devemos ressaltar a importância do indutor conectado em série com o banco
de capacitores. Esse indutor é responsável por manter o ângulo de fase da tensão
Elt igual ao ângulo de fase da tensão entregue ao TP, Vth. Para que isso ocorra o
indutor é projetado de forma a ter magnitude tal que entre em ressonância com os
capacitores. Sendo assim,
L =1
ω2(C1 + C2). (3.7)
3.3 Tabela ANSI - Códigos de Operação funções de
proteção
Visando padronizar os códigos de operação dos sistemas de proteção a American
National Standards Institute (ANSI) criou uma tabela que designa um número de
operação para identi�car equipamentos e funções de proteção. Desta forma, enge-
nheiros eletricistas e operadores de todo mundo possuem um padrão que facilita a
intercomunicação e a operação das subestações. A tabela ANSI (E.1) pode ser vista
no apêndice E e seus códigos padronizados serão constantemente utilizado durante
este trabalho.
3.4 Dispositivos Eletrônicos Inteligentes
Dispositivos eletrônicos inteligentes, ou Intelligent Electronic Devices (IEDs) como
são mundialmente conhecidos, são equipamentos com grande capacidade de pro-
cessamento, programáveis e multi-funcionais. Aparelhos como estes são utilizados
para aquisitar diversas informações disponibilizadas pelos equipamentos de campo
da subestação de forma analógica ou de forma binária. No que tange ao sistema de
proteção, os IEDs são comumente utilizados para aquisição geral de dados de super-
visão e controle, chamadas Unidades de Aquisição e Controle (UAC), para confecção
de oscilogra�a e para a programação das funções de proteção, os relés de proteção
digital.
Na �gura 3.2 podemos ver um IED da linha SIPROTEC 5 da fabricante SI-
EMENS. Habitualmente os IEDs têm uma con�guração física, hardware, única e
recebem os �rmwares, isto é, o pacote de programas e funções que executará de
acordo com a �nalidade de sua implementação.
11
Figura 3.2: IED da linha SIPROTEC 5 da SIEMENS [2]
3.4.1 Unidade de Aquisição e Controle(UAC)
As UACs são responsáveis por receber boa quantidade das informações binárias
disponibilizadas pelos equipamentos como posição, aberto ou fechado, modo de ope-
ração local ou remoto, além de outras informações importantes para a supervisão
de um equipamento como alarme de falha interna e falha na alimentação.
Essas informações binárias, conhecidas como pontos digitais, nada mais são que
cabos de cobre com tensão de 125 VCC que tem seu circuito fechado por um relé
auxiliar quando se deparam com alguma ocorrência. Desta forma, o circuito é fe-
chado e a UAC passa a receber corrente signi�cando o valor binário 1, ou ligado.
De forma semelhante, um relé auxiliar pode atuar abrindo um circuito relativo a
alguma informação, cortando a corrente que chegaria na unidade de aquisição que
passa a detectar um valor binário de desligado, ou seja, 0.
Além disso, estes IEDs também realizam o controle dos equipamentos de campo;
esses controles, para que possam ser executados, devem obedecer à lógica de inter-
travamento inerente ao arranjo da subestação. Assim, a lógica de intertravamento
é programada no IED que passa a veri�car, de acordo com as posições dos demais
equipamentos de manobra do vão, se há ou não a liberação para que um dado
equipamento seja manobrado.
Por vezes, as UACs também recebem informações analógicas como temperatura
do enrolamento, temperatura do óleo, tap do transformador, corrente e tensão do
vão protegido ou de algum vão vizinho. Essas informações chegam em uma faixa de
corrente na ordem de mA que pode variar de acordo com o protocolo de comunicação.
Todas essas informações são coletadas e dispostas ao operador por um programa
12
supervisório, que será abordado na seção 3.6, que realiza essa interface entre os IEDs
e o operador.
3.4.2 Registrador Digital de Pertubações
O Registrador Digital de Pertubações (RDP) é responsável por coletar os valores
de tensão e corrente, módulo e fase, durante qualquer falta criando um registro
completo sobre a ocorrência. A oscilogra�a, nome dado à este registro, é depois
analisada pela empresa que opera a subestação para que medidas de precaução
possam ser tomadas.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o ONS também podem
solicitar a oscilogra�a para análise caso a falta interrompa o abastecimento de uma
dada região. Essa análise tem o objetivo de veri�car se a interrupção poderia ter sido
evitada, o tempo de reestabelecimento do abastecimento e até mesmo a causa para
que possa ser julgada a aplicação ou não de uma multa na transmissora responsável
pela subestação na qual ocorreu a contingência.
3.4.3 Relé de Proteção
Os relés de proteção são os grandes responsáveis pela preservação dos equipamentos
da subestação. Com a capacidade de processamento que possuem, os relés de pro-
teção são capazes de aquisitar e analisar as informações de campo de acordo com
uma gama de funções programadas de acordo com o equipamento a ser protegido.
Sendo assim, apesar de serem idênticos no aspecto construtivo, um relé de proteção
de linha de transmissão e um relé de proteção de um transformador, por exemplo,
tem funções e algoritmos diferentes para poderem desempenhar a proteção completa
do equipamento.
Neste trabalho, iremos detalhar no capítulo 5 todas as funções de proteção reco-
mendadas pelo ONS para a proteção de um transformador de potência em extra-alta
tensão.
3.5 Equipamentos Auxiliares
O sistema de proteção tem como seu principal componente o relé de proteção, entre-
tanto, alguns equipamentos auxiliares são essenciais para a boa atuação e robustez
do projeto como mini-disjuntores, termostatos, blocos de testes e relés auxiliares.
Todos eles, inclusive os relés de proteção, são montados em um painel rack de 19
polegadas como o da �gura 3.3.
A alimentação de todos os equipamentos que compõem o sistema é normalizada
em 125 V contínuos e toda a conexão é devidamente organizada através de cabos de
13
Figura 3.3: Painel de Proteção instalado em rack 19 polegadas[3]
cobre com identi�cadores conectorizados através de bornes numerados, tudo para
que, em caso de falha, a manutenção possa ser facilitada.
Há a distribuição dos circuitos dos equipamentos entre mini-disjuntores para
a proteção dos mesmos e a instalação de um termostato ligado a uma resistência
visando manter a temperatura interna superior a externa, evitando o aparecimento
de umidade no interior do painel. Entre os elementos auxiliares, os relés auxiliares e
os blocos de teste serão abordados com maior profundidade por apresentarem uma
complexidade maior que os demais.
3.5.1 Relés Auxiliares
Os relés auxiliares são elementos de extrema importância e estão presentes, por
exemplo, tanto na atuação da proteção quanto para supervisionar circuitos. Em
um sistema de proteção de um transformador são centenas deles com características
diferentes para a execução de diversas funções.
14
Esses relés são totalmente mecânicos e sua atuação pode ocorrer caso a bobina
seja energizada atraindo o contato móvel, relés com contato normalmente aberto
(NA), ou caso a bobina deixe de receber corrente, liberando o contato, relés com
contato normalmente fechado (NF). Nos dias de hoje os relés auxiliares são reversí-
veis, ou seja, podem ser do tipo NA ou NF, sendo conhecidos como relés com contato
normalmente aberto ou fechado (NAF). Na �gura 3.4 podemos ver um exemplo de
relé auxiliar com a bobina (1) e os contatos (2) aparentes, além do esquema de
funcionamento de um relé auxiliar.
Figura 3.4: Exemplo de Relé Auxiliar
De acordo com a aplicação, a distância entre NF e NA pode ser maior ou menor
e a armadura em si pode ser mais leve ou mais robusta.
3.5.1.1 Relé de Supervisão de Circuito (27)
Esse relé auxiliar, número 27 da tabela ANSI (E.1), tem como principal função
monitorar a tensão ao �m de um circuito dentro do painel de proteção. Desta forma,
caso algum equipamento seja desconectado ou ocorra algum pequeno curto no painel
o relé rapidamente é desenergizado e seu contato NF abre-se. Esta abertura acarreta
em um sinal que é fornecido a um IED do sistema de proteção que irá publicar a
informação através do programa supervisório, SCADA, para que o operador possa
veri�car o alarme e realizar a manutenção.
Este tipo de relé é um dos mais simples e baratos do sistema uma vez que não
há a necessidade de que o mesmo seja rápido, como para os relés para a atuação de
uma proteção, ou robusto como relés para bloqueios de manobra.
15
3.5.1.2 Relé de Disparo (94)
O relé auxiliar de disparo, codi�cado com o número 94 na tabela ANSI, é um equipa-
mento essencial no sistema de proteção uma vez que este é o responsável por entregar
o sinal de trip ao disjuntor. Isso ocorre pois os circuitos internos de abertura dos
disjuntores demandam alta corrente o que desgastaria rapidamente as saídas digi-
tais do relé de proteção caso não houvesse nenhum intermediário para execução do
comando. Desta forma, o relé de disparo auxilia o relé de proteção interrompendo
a corrente do circuito de abertura salvaguardando o equipamento.
Por conta desta tarefa, o relé de disparo necessita de duas características difíceis
de conciliar: velocidade e robustez. Para ter velocidade, além de necessitar de
pequenas distâncias entre os contatos aberto e fechado a armadura precisa ser leve
para que seja atraída com maior velocidade. A leveza da armadura, no entanto,
faz com que o equipamento acabe tendo uma capacidade de interrupção de corrente
menor. Por isso, é muito comum se encontrar no mercado relés auxiliares para
circuitos de disparo com contatos lentos, mais robustos, e contatos rápidos. Ambos
são utilizados em conjuntos, associados em paralelo, fazendo com que a atuação seja
feita rapidamente pelo contato rápido e a interrupção da corrente seja dividida entre
os dois aumentando a capacidade de interrupção.
3.5.1.3 Relé de Bloqueio (86)
Relés de bloqueio, número 86 na tabela ANSI, são relés biestáveis, ou seja, relés que
possuem duas posições tendo funcionamento semelhante a um interruptor. As duas
posições são referentes a atração do contato móvel por duas bobinas diferentes, sendo
assim, quando a bobina 1 é energizada o contato é atraído por ela, igualmente ocorre
quando a bobina 2 recebe corrente e, consequentemente, a bobina 1 é desenergizada.
Este relé auxiliar tem a função de bloquear o fechamento manual do disjuntor
após a atuação de um disparo da proteção. Desta forma, o relé de bloqueio au-
menta a segurança e faz com que o operador seja obrigado a executar uma manobra
de desbloqueio do relé 86, através de botoeira ou interface grá�ca no SCADA, an-
tes de fechar o disjuntor propriamente dito, evitando equívocos e o religamento de
equipamentos antes da extinção do curto.
3.5.1.4 Relé de Potência
Os IEDs de um sistema de proteção são capazes de realizar manobras não emergenci-
ais nos equipamentos de campo como seccionadoras e disjuntores. Esses circuitos de
manobra, assim como descrito anteriormente para a abertura do disjuntor, deman-
dam uma corrente elevada quando acionados. Por este motivo, um relé com robustez
para altas correntes é instalado para acionar os circuitos de abertura e fechamento
16
dos equipamentos de maneira que a corrente não seja interrompida diretamente pelo
contato da saída binária do IED, preservando-o.
3.5.2 Blocos de Teste
Os blocos de teste, exempli�cado na �gura 3.5, são equipamentos essenciais para
a realização dos testes de conformidade da proteção programada. Eles dão acesso
às entradas de corrente e tensão dos relés de proteção sem que haja a necessidade
de remoção dos cabos provenientes dos equipamentos de medição da subestação.
Desta forma, os blocos de teste permitem a injeção de corrente e aplicação de tensão
simulando os TCs e TPs de campo através de uma mala de teste programável.
Figura 3.5: Exemplo de bloco de teste do fabricante Secucontrol [4]
A mala de teste (�gura 3.6) é um dispositivo capaz de simular diversos valores
de módulo e fase para as correntes e tensões de acordo com a programação feita pelo
engenheiro responsável pelo teste. Este equipamento torna possível testar diversas
situações de falta para con�rmar o bom funcionamento dos ajustes de proteção para
todas as funções de proteção utilizadas no projeto.
Figura 3.6: Exemplo de mala de teste do fabricante Omicron [5]
17
3.6 Interface Homem-Máquina
Como mencionado na seção 3.4, os IEDs são capazes de: coletar uma quantidade
enorme de dados de supervisão para a manutenção da subestação, realizar o controle
dos equipamentos condicionado a uma lógica de intertravamento e realizar a proteção
dos equipamentos da subestação. Então, todos esses dados precisam ser expostos
ao operador para que ele possa ter uma visão completa do que ocorre na subestação
realizando as rotinas de manutenção e reparo necessárias.
Essa interface entre os dados coletados pelos equipamentos e o operador na su-
bestação é feita através de um software SCADA (Supervisory Control and Data
Acquisition). Esse software é capaz de coletar na rede qualquer informação que seja
publicada na mesma em qualquer que seja o protocolo de comunicação da publica-
ção.
Depois da coleta, as informações são disponibilizadas gra�camente de acordo com
sua relevância pela plataforma. Tudo isso é possível através da programação de uma
base de dados que classi�ca os dados recebidos de acordo com a urgência fazendo
com que, por exemplo, alarmes sonoros sejam disparados quando uma proteção atua.
No Brasil a plataforma SCADA mais utilizada é o SAGE, Sistema Aberto de
Gestão de Energia, por conta de ser desenvolvido pela Eletrobras. O SAGE permite
que as informações sejam apresentadas através de telas interativas que dão a pos-
sibilidade, por exemplo, de desenhar o uni�lar da subestação, �gura 3.7, veri�car o
intertravamento e realizar o comando de abertura e fechamento de um equipamento
através do desenho do mesmo na tela.
Figura 3.7: Imagem capturada software SAGE do uni�lar da subestação de Campos,Rio de Janeiro.
O SAGE também apresenta um display de alarmes que armazena todas as ocor-
18
rências da subestação diferenciando-as por cor de acordo com a gravidade. Além
disso, o programa armazena dados de oscilogra�a e confecciona um registro deta-
lhado de eventos da subestação.
Outra função importantíssima do SCADA, incluindo o SAGE, é a comunicação
com centros de operação. Aqui no Brasil, os Centros de Operação Regional (COR)
e o Centro Nacional de Operação (CNO) do ONS necessitam das informações de
posição dos equipamentos para que os operadores saibam em tempo real qual a
topologia da rede. O ONS também recebe as informações mais relevantes como a
atuação de uma proteção para que o operador do COR e do CNO possam de�nir as
medidas a serem tomadas perante a contingência.
Além do SCADA, os IEDs também costumam apresentar interfaces grá�cas di-
gitais que pode apresentar diversas informações e até mesmo realizar comandos em
equipamentos da subestação. Entretanto, vale salientar que não é comum o operador
utilizar-se deste meio uma vez que tende a ser menos intuitivo e mais complexo.
3.7 Comunicação
Toda comunicação da subestação é feita através de switches que permitem o in-
tercâmbio de informação entre os IEDs e o supervisório. Essa comunicação é feita
através de protocolos que permitem a distinção e a coleta dos dados publicados na
rede.
Os protocolos sofreram grande avanço e modernização na última década cul-
minando na criação da Norma IEC 61850. A IEC 61850 foi desenvolvida com o
objetivo de uni�car os protocolos de comunicação permitindo a troca de dados entre
os dispositivos ligados à rede de maneira ininterrupta e bilateral. Anteriormente à
criação desta norma, cada fabricante tinha um protocolo de comunicação fazendo
com que as trocas de dados entre os dispositivos de diferentes origens tornassem-se
praticamente impossíveis e dependentes da tradução dos protocolos que gerava um
atraso na comunicação.
A Norma IEC 61850 utiliza mensagens baseadas no envio assíncrono de variá-
veis binárias relacionadas a eventos de proteção da subestação. Os sinais trafegam
entre os pontos da rede em alta velocidade e ainda há a utilização de um sistema
de retransmissão que faz com que a norma alcance um considerável grau de con�-
abilidade. Por conta das inovações da IEC 61850, a norma tornou-se praticamente
um requisito básico entre os dispositivos que compõe o sistema de proteção de uma
subestação sendo utilizada por todos os fabricantes de IEDs do mercado. A previsão
é de que aos poucos a norma tornar-se-á a "língua" o�cial das subestações em todo
mundo e, por conta de sua con�abilidade, até mesmo informações críticas como dis-
paro de abertura de disjuntores possa ser feito através da rede ao invés do uso de
19
contatos elétricos.
A comunicação, segundo a IEC 61850 [21], pode ser estabelecida de duas manei-
ras diferentes:
• GOOSE (Generic Object Oriented Substation Event) é a comunicação que se
dá entre os IEDs. Nessa comunicação, todas as informações são publicadas na
rede �cando disponíveis para qualquer dispositivo coletar. A coleta é progra-
mada no IED pelo endereçamento da informação, que, segundo a norma, terá
uma identi�cação única.
• MMS (Manufacturing Message Speci�cation) é a comunicação que ocorre
entre os IEDs e o SCADA. Diferentemente da mensagem GOOSE, as MMS
são informações com endereçamento pré-�xado ao supervisório que as recebe
de acordo com a programação da base de dados.
Na �gura 3.8 podemos ver um exemplo da arquitetura de comunicação usando
a Norma IEC 61850 em uma subestação.
Figura 3.8: Arquitetura de Comunicação em uma subestação utilizando IEC 61850.
20
Capítulo 4
Proteções Intrínsecas de um
Transformador de Extra-Alta Tensão
Transformadores de potência em extra-alta tensão são extremamente exigidos du-
rante seu funcionamento já que pelos seus terminais e bobinas há uma gigantesca
transferência de energia. Sendo assim, os trafos são produzidos com mecanismos
de proteção embutidos em seu construtivo que além de salvaguardar o equipamento
dão informações valiosas para supervisão e manutenção do mesmo.
Neste capítulo serão abordadas as proteções internas dos transformadores que
são essenciais para sua manutenção e proteção. As seções a seguir descreverão
o funcionamento e os objetivos dos principais dispositivos intrínsecos de proteção
como o relé de Buchholz, o relé de temperatura, a válvula de alívio de pressão e o
supervisor de nível de óleo.
4.1 Relé de Buchholz (63)
O relé de Buchholz, função número 63 da tabela ANSI, é um relé à gás que é capaz
de identi�car pequenas falhas no isolamento das bobinas ou falhas nas conexões
internas através do �uxo de óleo e de gás pelo mesmo. Este relé é instalado entre o
transformador e o tanque de óleo de modo que o �uxo de óleo entre os dois passe
por ele como pode ser visto na �gura 4.1.
O �uxo de óleo é algo natural do funcionamento do transformador e ocorre a
partir da dilatação e contração do material isolante devido às temperaturas internas
e externas. Entretanto, quando ocorre um arco elétrico interno há uma decomposição
do óleo de maneira lenta, em caso de defeitos menores, ou de maneira rápida, caso o
defeito seja mais agressivo. Ao decompor-se, o óleo gera gases que irão passar pelo
relé de buchholz interagindo com suas bóias. Na �gura 4.2 podemos ver em corte o
esquema de funcionamento deste relé.
21
Figura 4.1: Instalação do Relé de Buchholz. [6]
Figura 4.2: Esquema de funcionamento Relé de Buchholz.[7]
O relé contém duas bóias de tal maneira que a bóia B1 é sensível a liberação
de pequenas quantidades de gases provenientes de pequenos defeitos internos. A
bóia será pressionada contra os contatos elétricos fechando o circuito e emitindo um
22
alarme para o operador, alertando que o equipamento necessita de manutenção ou
está sobrecarregado.
A bóia B2 é menos sensível e só será deslocada para fechar o circuito que abre
o disjuntor caso uma grande quantidade de gases seja gerada. Essa quantidade
elevada de gás signi�ca uma vaporização grande do óleo proveniente de um arco
elétrico interno, tendo a necessidade de abertura do disjuntor prevenindo que o
defeito possa ocasionar danos mais severos como a queima do transformador e até
mesmo sua explosão.
Por ser um dispositivo acoplado ao transformador, o ajuste dos limites aceitá-
veis de circulação de gases tanto para o disparo do alarme quanto para a abertura
do disjuntor são estipulados pelo próprio fabricante a partir dos testes em fábrica
determinantes para o construtivo do relé à gás.
O relé de Buchholz realiza toda a operação de proteção, entretanto, a empresa
que for responsável pelo sistema de proteção deve aquisitar, através das entradas
digitais dos IEDs, os sinais binários de alarme e da operação para abertura do
disjuntor. Após aquisitado esse sinal é publicado na rede e será apresentado ao
operador através do SCADA da subestação para que o mesmo possa estar ciente da
ocorrência.
4.2 Relé de Temperatura
A supervisão da temperatura interna de um transformador também é essencial para
a manutenção e supervisão do mesmo. Esse monitoramento já foi feito de maneira
analógica com medidores à mercúrio líquido, por exemplo. Entretanto, os elementos
eletrônicos evoluíram e ganharam resistência a ambientes mais agressivos, como
as altas temperaturas do óleo do transformador, dando a possibilidade de fazer a
medida de temperatura através de sondas térmicas digitais imersas no óleo isolante.
As sondas medem constantemente a temperatura do óleo e enviam este dado a
um IED programado para analisá-lo. Esta análise pode acionar diferentes estágios de
ventilação forçada, visando resfriar o equipamento, ou até mesmo abrir o disjuntor
caso a temperatura esteja ultrapassando um valor máximo designado pelo fabricante
do transformador.
Os monitores de temperatura também são capazes de estipular a temperatura do
enrolamento com base em modelos matemáticos que utilizam a temperatura do óleo
e seu gradiente. A informação obtida para a temperatura do enrolamento também
é analisada e, assim como a temperatura do óleo, pode resultar no acionamento de
ventilação forçada ou na abertura do disjuntor para preservação do equipamento,
caso o limite estabelecido pelo fabricante seja ultrapassado.
De forma semelhante ao que ocorre com relé de Buchholz, o relé de tempera-
23
tura também disponibiliza os contatos elétricos que vão acionar o mecanismo de
resfriamento ou abrir o disjuntor, estes contatos são conectados ao relé de proteção
referente à este transformador que por sua vez irá disponibilizar esta informação
ao operador através do SCADA. Além disso, o monitor de temperatura também
disponibiliza de maneira analógica o valor medido da temperatura do óleo e do en-
rolamento. Essa medida analógica é entregue ao relé de proteção que, por sua vez,
disponibiliza este dado ao operador, via SCADA. Desta forma, medidas de precaução
como o acionamento de mecanismos de resfriamento podem ser tomadas.
4.3 Válvula de Alívio de Pressão
Sobrepressões em transformadores podem pôr em risco o próprio equipamento, por
conta de estufamento do tanque de óleo, os equipamentos ao redor e a vida humana,
caso a pressão leve à explosão do transformador. Por isso, dispositivos para o alí-
vio da pressão gerada pelo funcionamento rotineiro ou curtos-circuitos internos são
projetados junto ao construtivo do transformador.
Estes dispositivos são projetados de forma que se a pressão ultrapassar um certo
limite abre-se uma pequena fresta na qual há a liberação da pressão interna até
que a mesma seja normalizada e a fresta é novamente fechada. Um dos dispositivos
clássicos que mostram a atuação da válvula de alívio é a válvula de pressão por mola
como pode ser visto na �gura 4.3.
Figura 4.3: Esquema de funcionamento Válvula de Pressão por Mola. [6]
Quando a pressão interna for su�ciente para vencer a força da mola, a tampa
será deslocada abrindo um orifício no qual a pressão será aliviada até que sua força
seja menor que a da mola e a tampa volta a se acomodar vedando o recipiente.
O deslocamento da tampa é responsável por conectar contatos elétricos que serão
levados até o relé de proteção do trafo por meio elétrico acionando uma sinalização
de alarme que é apresentado ao operador via SCADA.
24
4.4 Supervisor de Nível de Óleo
Instalado no reservatório de óleo, o supervisor de nível de óleo é capaz de sinalizar
quando o óleo está abaixo do nível tolerável ou desligar o disjuntor quando o nível
de óleo estiver crítico, podendo prejudicar o funcionamento do transformador e até
mesmo dani�cá-lo.
O funcionamento do dispositivo é simples e consiste em uma bóia que �utua sobre
o óleo e conecta dois contatos quando o nível de óleo chega à um patamar alarmante
e outros dois contatos diferentes quando o nível abaixa a um valor crítico. Com
estas duas atuações distintas, o operador é capaz de intervir de maneira preventiva
quando o alarme de nível de óleo é disparada realizando a manutenção sem que haja
desligamento não planejado do equipamento. Entretanto, o supervisor de nível de
óleo também é capaz de salvaguardar o equipamento de maneira automática caso
um estado crítico seja alcançado.
Similarmente aos demais dispositivos de proteção intrínseca, os contatos disponi-
bilizados pelo supervisor de nível de óleo são levados aos equipamentos de proteção
que, por sua vez, disponibilizam ao operador através do SCADA da subestação.
25
Capítulo 5
Funções de Proteção em Relés
Digitais para proteção de um
Transformador de Extra-Alta Tensão
Os relés digitais microprocessados são resultado de uma extensa evolução dos siste-
mas de proteção com o objetivo de garantir uma continuidade no fornecimento de
energia resultando em um sistema mais robusto e e�ciente.
Essa evolução foi possível com o avanço na tecnologia dos microprocessadores e
fez com que os fornecedores desenvolvessem dispositivos eletrônicos inteligentes, In-
telligent Electronic Devices (IED), com grande capacidade de processamento. Agora,
os IEDs são capazes de processar sinais, analisá-los e julgá-los tomando decisões de
acordo com uma série de funções lógicas de proteção que são programáveis e ajus-
táveis de acordo com as especi�cações do projeto.
Desta forma, aonde, antigamente, haveria a necessidade da instalação de um relé
eletro-mecânico para cada função de proteção, hoje, é inteiramente feita por somente
um equipamento que trouxe um re�namento maior ao sistema.
Neste capítulo trataremos das funções de proteção requeridas pelo ONS para
um transformador de extra-alta tensão. Mostraremos a evolução da tecnologia de
proteção evidenciando os avanços e diferenças entre o ponto de partida com os relés
eletro-mecânicos até a so�sticação trazida pelos relés digitais.
5.1 Proteção Diferencial de Transformador 87TP
A proteção diferencial, correspondente ao número 87 da tabela ANSI das funções
de proteção, é largamente utilizada nas �loso�as de proteção de forma a evitar
condições de funcionamento anormais e a dani�cação de diversos equipamentos.
No caso dos transformadores de potência, a proteção diferencial irá salvaguardar o
26
equipamento contra falhas internas comuns como, por exemplo, curto-circuito entre
espiras e descargas parciais entre enrolamentos ou entre enrolamento e carcaça.
A lógica utilizada nesta função de proteção é a aplicação da lei de Kirchho� no
nó do equipamento, ou seja, a soma das correntes em um determinado nó deve ser
zero. Na �gura 5.1 vemos este conceito aplicado a um equipamento qualquer, que
no nosso caso, seria um transformador. Se considerarmos o transformador um nó,
a corrente do primário, em pu, deve ser igual à corrente do secundário, também em
pu.
Figura 5.1: Princípio básico de funcionamento da proteção diferencial. [8]
Desta maneira, o relé digital irá aquisitar as correntes provenientes do TC tanto
da alta (I1) quanto da baixa tensão (I2) e internamente irá realizar a soma destes
valores resultando em uma corrente diferencial (Idiff ). Notemos que, desta ma-
neira, o equipamento é realmente protegido contra faltas internas uma vez que se a
falta acontecer em uma área externa, os dois TCs serão sensibilizados e a corrente
diferencial seguirá nula.
Mesmo com a corrente diferencial, entretanto, diversas situações podem resultar
em uma corrente Idiff sem que haja de fato uma falta interna. Exemplos de situações
e eventos que podem determinar a detecção de uma corrente diferencial são: corrente
de magnetização na energização, corrente de magnetização para regime permanente,
corrente de magnetização para atuação sobre-excitado, erros relativos aos TCs e
erros de saturação dos TCs.
Para minimizar a chance de atuação sob as circunstâncias apresentadas, foi criado
o relé diferencial percentual. Este relé quando concebido, inicialmente em sua forma
mecânica, consistia em duas bobinas, uma chamada bobina de restrição e outra de
bobina de operação. Assim, a corrente que passa pela bobina de restrição atua
gerando um torque contrário ao torque criado pela bobina de operação limitando a
operação da proteção. Essa atuação das bobinas sob o eixo que de fato dispara o
contato de operação (trip) depende da razão do efeito das molas que são acopladas a
cada uma das bobinas (restrição e operação). O esquema simpli�cado deste arranjo
27
mecânico pode ser visto na �gura 5.2:
Figura 5.2: Esquema do relé diferencial percentual eletro-mecânico. [6]
Na bobina de restrição há a ação de uma corrente dada por
Irest =I1 + I2
2, (5.1)
a corrente na bobina de operação, ou seja, aquela irá exercer um torque para que
haja o trip, é igual a corrente diferencial, isto é
Idiff = Iop = I1 − I2. (5.2)
No limiar do estado de equilíbrio, a resultante dos torques no relé diferencial
eletro-mecânico (τ87) é zero e, portanto, os torques provenientes da bobina de ope-
ração e da bobina de restrição serão iguais. Assim,
τ87 = τop − τrest, (5.3)
como τ87 = 0, obtém-se
τop = τrest, (5.4)
Em que
τop = K1(I1 − I2)2 (5.5)
e
τrest = K2
(∣∣∣∣I1 + I22
∣∣∣∣)2
. (5.6)
28
Então, teremos
K1(I1 − I2)2 = K2
(∣∣∣∣I1 + I22
∣∣∣∣)2
∴ (5.7)
(I1 − I2) =
√K2
K1
(∣∣∣∣I1 + I22
∣∣∣∣) . (5.8)
Podemos observar uma relação linear (y = ax) entre os torques, onde
y = (I1 − I2), (5.9)
x =
(∣∣∣∣I1 + I22
∣∣∣∣) (5.10)
e
a =
√K2
K1
, (5.11)
sendo I1 a corrente aquisitada do TC de alta, I2 corrente aquisitada do TC de baixa,
K1 uma constante correspondente, dentre outras parcelas, a área e raio da bobina de
operação, K2 outra constante correspondente a alguns componentes onde destaca-se
a área e raio da bobina de restrição e o efeito da mola de restrição.
Um estudo de seletividade é feito pela engenharia do projeto levando-se em
consideração características do transfomador protegido e dos TCs de medição. A
partir deste estudo, o construtivo do relé, portanto K1 e K2, é desenvolvido e o
declive (a) é estipulado. Desta forma, a zona de atuação do relé era restringido,
como pode ser visto na �gura 5.3:
Figura 5.3: Curva de operação de um relé eletro-mecânico. [6]
Com o advento dos relés digitais, o relé diferencial passou a ter a atuação mais
29
re�nada e precisa, com algoritmos de percepção para saturação dos TCs, detecção
de nível de harmônico e uma curva de operação com mais ajustes. Algumas das
soluções e algoritmos para a atuação correta da proteção 87 serão apresentados a
seguir.
5.1.1 Corrente de Pick-up e Curva de Operação
A corrente de pick-up (Ipickup) é o limiar no qual a corrente diferencial ainda é
considerada tolerável. Esta tolerância é um valor estipulado levando-se em conta os
seguintes fatores:
• A corrente de magnetização do transformador em regime perma-
nente é um valor que deve ser cedido pelo fabricante e obtido através de en-
saios com o trafo. Geralmente, a curva de saturação do transformador, como
exempli�cado na �gura 5.4, é fornecida possibilitando a extração do valor da
corrente de magnetização em regime permanente.
Figura 5.4: Curva de saturação de um transformador Toshiba instalado. [9]
Podemos observar na �gura 5.4 que, para uma capacidade de regulação
de 105%, por exemplo, teríamos uma corrente de magnetização em regime
permanente de aproximadamente 0,4%.
• Os erros de mismatch dos transformadores de corrente é uma particu-
laridade que precisa ser levada em consideração. O descasamento das infor-
mações disponibilizados pelos TCs da proteção é gerado devido às diferenças
30
entre suas relações de transformação e deve ser ajustado na proteção 87. O
valor de δmismatch, erro por missmatch, é dado por
δmismatch =(IprimAT
RTCAT)− (
IprimBT
RTCBT)
(IprimATRTCAT
)+(IprimBTRTCBT
)
2
, (5.12)
sendo IPrimAT a corrente no primário do TC de alta tensão, IPrimBT a cor-
rente no primário do TC de baixa tensão, RTCAT a relação de transformação
utilizada no TC de alta tensão, RTCBT a relação de transformação utilizada
no TC de baixa tensão.
Em alguns casos, os transformadores de corrente tem mais de uma disponi-
bilidade de tap, portanto, o erro devido a mismatch é calculado para cada
combinação de tap e, assim, os taps são escolhidos com a �nalidade de reduzir
este erro.
• A classe de exatidão dos transformadores de corrente é outra propri-
edade a ser considerada para a tolerância da atuação da proteção diferencial.
Os TCs de proteção têm um erro relativo que varia de 2,5% a 10% e a classe
de exatidão é uma informação fornecida pelo fabricante. O erro deve ser iden-
ti�cado e considerado uma vez que é responsável por uma parte considerável
da tolerância (Ipickup).
Para se estipular a corrente de pick-up, os erros encontrados em cada um dos
itens acima são somados resultando em um valor de tolerância. O Ipickup é um
valor máximo tolerável no qual a proteção não atuará exatamente por constatar
ser uma corrente diferencial pequena e, provavelmente, proveniente de algum dos
erros citados acima. Como pode ser observado, saber das propriedades do trans-
formador protegido e as características dos equipamentos envolvidos nas medidas é
extremamente importante para que este valor seja estipulado corretamente.
Além do ajuste para a Ipickup, os relés digitais apresentam uma curva de operação
que emula a atuação dos relés diferenciais percentuais eletro-mecânicos. Cada fabri-
cante tem seu algoritmo para o cálculo da corrente de restrição (Irest) e tratamento
da corrente diferencial (Idiff ) calculada. Como em capítulos futuros iremos fazer um
estudo de caso para um relé da Alstom, utilizaremos os algoritmos de tratamento
dos sinais desta fabricante.
A corrente de restrição, em relés Alstom, é dada por
Irest =
∑nj=1 Iaj
n, (5.13)
sendo j um número inteiro relativo ao número n de TCs aquisitados para uma
31
mesma fase, geralmente igual a 2, um para o lado de alta tensão e outro para o lado
de baixa tensão. A corrente diferencial, assim como visto na equação 5.2, nos relés
Alstom também é dada por
Idiff = |I1| − |I2|. (5.14)
A fabricante fornece a curva de operação ajustável da �gura 5.5. Iremos fazer
uma análise de cada um dos trechos da curva evidenciando suas �nalidades.
Figura 5.5: Curva Característica de Operação - Proteção Diferencial. [10]
Ao analisar a �gura 5.5 percebe-se que a curva de operação é uma função, assim
como nos relés eletro-mecânicos, entre a corrente diferencial e a corrente de restrição.
O ponto inicial para a área de atuação (trpping range) é a corrente de pick-up,
apresentada na seção 5.1.1.
A interseção 1 é encontrada a partir do encontro da reta formada pela Ipickupcom o declive 1. A corrente de restrição (Irest) encontrada nessa interseção é um
valor no qual faltas externas não saturaram os TCs por componente DC.
O declive 1 (K1) tem como objetivo criar uma área de estabilização; porque
correntes maiores que a corrente nominal aumentam em valor absoluto os erros dos
transformadores de corrente. Além disso, esta inclinação previne a atuação indevida
no momento da atuação de um comutador e, também, modela as alterações por
saturação por componente DC que um TC pode sofrer.
A interseção 2 deve ser ajustada para valores de corrente na qual a falta ex-
terna não satura o TC. O valor de corrente que satura o TC é disponibilizado pelo
32
fabricante do mesmo, e um valor abaixo deste deve ser selecionado.
O segundo declive (K2) adiciona uma área de estabilidade para correntes altas de
curto circuito que saturaram o TC. A saturação do TC gera distorções na corrente
do secundário que é aquisitada pelos relés de proteção, acarretando em um cálculo
de corrente diferencial equivocada.
Note que a atuação da proteção diferencial deve se dar somente na presença
de falhas internas, como já mencionado, o que não signi�ca que o equipamento
�cará desprotegido. Para correntes altas a proteção de sobrecorrente deve atuar e
salvaguardar o transformador.
5.1.2 Corrente de inrush - Bloqueio por segundo harmônico
A corrente de inrush tem origem no momento em que a polaridade e magnitude do
�uxo magnético residual estão em descompasso com a polaridade e a magnitude do
�uxo imposto pela alimentação nos terminais do transformador de potência.
Um caso clássico da ocorrência desta corrente é no momento de energização
do transformador. Entretanto, ela pode ocorrer também em caso de tensão de
restabelecimento e no momento de energização de um transformador em paralelo.
Uma atenção especial a este tipo de corrente deve ser dada uma vez que valo-
res típicos de corrente de magnetização durante a energização de um transformador
de potência podem alcançar valores superiores à 20 vezes a nominal do trafo e,
assim, pode facilmente ser confundido com uma falta interna e fazer atuar o relé
diferencial. Anteriormente, os relés diferenciais eletromecânicos eram desligados no
momento da energização o que deixava o equipamento exposto. Com a moderni-
zação e a utilização de relés digitais e microprocessadores, é possível reconhecer e
evitar a atuação indevida do relé 87 através da decomposição da corrente em seus
componentes harmônicos.
Na �gura 5.6 podemos ver, gra�camente, o comportamento da corrente de mag-
netização em um transformador durante a energização. Podemos observar a de-
formação na forma de onda senoidal e os picos de valores instântaneos de corrente
muito maiores que o valor nominal:
Este comportamento irá decaindo de acordo com a constante de tempo (L/R) do
circuito em que o transformador está inserido até que a corrente de inrush alcance
seu valor nominal em regime permanente.
Ao se decompor a corrente de inrush em suas componentes harmônicas observa-
se que esta corrente é carregada de componentes harmônicos de segunda ordem,
como pode ser visto na tabela 5.1 com valores típicos. A componente de segunda
ordem pode atingir valores superiores a 60% dependendo da classe de potência do
transformador e do nível de tensão do transformador.
33
Figura 5.6: Forma de onda da Corrende de inrush.[11]
Figura 5.7: Decaimento da Corrende de inrush.[11]
Tabela 5.1: Tabela típica com o teor harmônico da Corrende de inrush.[14]Corrente de Inrush
Harmônica % em relação à fundamentalSegunda Harmônica 63%Terceira Harmônica 26.8%Quarta Harmônica 5.1%Quinta Harmônica 4.1%Sexta Harmônica 3.7%Sétima Harmônica 2.4%
Ao se utilizar de métodos computacionais para a decomposição da corrente em sé-
rie de Fourier, os relés digitais são capazes de bloquear a atuação da proteção quando
deparado com um certo nível de componente de segundo harmônico, ajustável de
34
acordo com a classe e nível de tensão do transformador. O ONS e os fabricantes
de relés indicam valores em torno de 20% como limite de porcentagem em relação à
fundamental da segunda harmônica para que haja o bloqueio da proteção.
5.1.3 Operação em Sobre-tensão (Sobre-excitação) - Blo-
queio por quinto harmônico
O �uxo de magnetização (Φ) no núcleo de um transformador é dada por
Φ =V
4, 44nf(5.15)
sendo V a tensão aplicada e f a frequência do sistema. Assim, níveis elevados de
sobretensão e ou sub-frequência causam uma elevação do �uxo magnético podendo
acarretar na saturação do núcleo do transformador.
A operação sobre-excitada gera uma série de perturbações como o aumento da
temperatura e da corrente de excitação, além de ampli�car níveis de ruído e vibra-
ção. Na prática, recomenda-se que o transformador não seja utilizado em condições
severas de sobre-excitação a �m de evitar a diminuição da vida útil do equipamento
e, até, danos instantâneos.
A saturação do núcleo decorrente da sobre-excitação altera o comportamento
da corrente que passa a não ter mais linearidade alguma em relação a variação
do �uxo. Nota-se, então, distorções que aumentam a corrente diferencial podendo
fazer com que esta seja interpretada como uma falta interna pelo relé 87 fazendo-o
atuar. Entretanto, mesmo que não indicado, a operação sobre-excitada pode ser,
por vezes, uma necessidade momentânea do sistema; assim, o desligamento do trafo
nestas circunstâncias torna-se um equívoco.
Nas correntes distorcidas pela operação sobre-excitada observou-se uma elevada
porcentagem de componentes de terceira e quinta ordem em relação a fundamental.
Então, de maneira semelhante com o apresentado na seção 5.1.2, esta corrente é
decomposta computacionalmente em sua série de Fourier para que a operação sobre-
excitada possa ser identi�cada de acordo com o teor de suas harmônicas e a proteção
diferencial não seja equivocadamente disparada. Na tabela 5.2 podemos observar
valores típicos dos harmônicos ímpares da decomposição da corrente de operação
em um trafo em regime de sobre-excitação.
O relé analisa a decomposição da corrente e bloqueia a atuação da proteção
diferencial ao encontrar uma parcela alta de componente de quinto harmônico, ou
seja, um valor superior a um limite, entre 25% e 35%, segundo recomendações do
ONS para transformadores de alta potência.
35
Tabela 5.2: Conteúdo Harmônico da operação de um banco de transformadores15kVA com 150% de sobretensão.[14]
Harmônica Magnitude Porcentagem da FundamentalFundamental 22.5 100%Terceira Harmônica 11.1 49.2%Quinta Harmônica 4.9 21.7%Sétima Harmônica 1.8 8.1%
5.1.4 Saturação do TC
A ocorrência de um curto externo ao transformador não deve disparar a proteção
diferencial já que ambos os TCs serão sensibilizados e a corrente diferencial Idiffseguirá com valor nulo.
Entretanto, altos níveis de corrente podem ocasionar a saturação de um ou dos
dois TCs envolvidos na proteção do equipamento. Esta saturação ocasionará um
transiente no TC e a corrente disponibilizada pelo secundário à proteção será dis-
torcida e terá altas quantidades de harmônicos e, principalmente, harmônicos de
segunda ordem. Sendo assim, a saturação do TC acarreta no aparecimento de uma
corrente diferencial que não representa falta interna ao equipamento e, por isso, a
atuação da proteção 87 deve ser prevenida.
Para efetuar o bloqueio da atuação da proteção, a corrente de operação é de-
composta em seus componentes harmônicos que serão analisados e a prevenção da
operação ocorre quando o relé se depara com altos níveis de componentes de segunda
ordem, de modo similar ao apresentado na seção 5.1.2. O valor ajustado é o mesmo
utilizado para o bloqueio devido a corrente de magnetização prevenindo a atuação
indevida para ambos os casos.
5.1.5 Lógica Geral da Proteção Diferencial
Podemos, agora, apresentar a lógica resumida para a operação da proteção diferen-
cial (87TP) em transformadores utilizando-se a curva de operação da �gura 5.5 e os
bloqueios por componentes harmônicos apresentados nas sub-seções anteriores.
Primeiramente, o relé irá aquisitar dos TCs de proteção as correntes dos lados de
baixa e alta tensão do transformador de potência protegido. A partir desta aquisição
o IED irá tratar os sinais recebidos e gerar variáveis internas inerentes à proteção.
No caso da proteção diferencial em um relé Alstom, as variáveis criadas serão Idiff ,
segundo a equação (5.14), e Irest, (5.13). Na �gura 5.8 temos exempli�cada esta
aquisição e tratamento de dados.
As variáveis criadas são constantemente atualizadas de acordo com os novos
valores provenientes da aquisição e são analisadas ininterruptamente de acordo com
as sub-funções da proteção. Para que haja essa análise, as variáveis são plotadas
36
Figura 5.8: Lógica de Aquisição de sinais do campo e criação de variáveis internas
no grá�co de operação e são julgadas de acordo com a porcentagem do teor de
seus componentes harmônicos, que são previamente calculados e comparados com a
tolerância. Sendo assim, um valor de corrente diferencial calculado dentro da zona
de operação (tripping range) sem que haja algum bloqueio por harmônico resulta
no disparo da proteção e o disjuntor é aberto. Caso algum bloqueio seja constado a
proteção não atua, já que o valor deve ser proveniente de um dos casos supracitados.
A lógica simpli�cada para a operação da proteção diferencial pode ser vista na
�gura 5.9.
Figura 5.9: Lógica simpli�cada de atuação da proteção 87TP
5.2 Proteção de Sobrecorrente do Transformador
50/51
A proteção de sobrecorrente protege o transformador contra faltas externas, o que
complementa as proteções inerentes à corrente neste equipamento uma vez que a
37
proteção diferencial tem como objetivo extinguir falhas internas. Para realizar a
proteção, o relé de sobrecorrente atua aquisitando e analisando correntes condicio-
nando a operação à identi�cação de uma corrente mais elevada que uma tolerância
estipulada previamente.
Entretanto, a operação desta proteção necessita de uma so�sticação maior para
que o curto circuito seja extinto o mais próximo possível da falta, evitando, desta
forma, que mais de um elemento da subestação seja desenergizado simultaneamente
sem necessidade. Para que este tipo de coordenação fosse possível foram criados
dois tipos de relés eletromecânicos: relé de sobrecorrente instantâneo, número de
operação ANSI 50, e relé de sobrecorrente temporizado, número 51.
O relé de sobrecorrente eletromecânico funciona por atração eletromagnética ou
por indução eletromagnética e a operação destes deu origem ao que encontramos
hoje nos relés digitais.
• Relé de Sobrecorrente Eletromecânico por Atração: Seu funciona-
mento baseia-se na atração da alavanca que resultará na operação da proteção.
Essa atração ocorre a partir da força magnética resultante da corrente que cir-
cula na espira deste relé atraindo a alavanca para o contato conforme pode ser
visto na �gura 5.10. Da teoria de circuitos magnéticos, sabemos que
fmm = NI, (5.16)
sendo fmm a força magnetomotriz, dada em ampére espira, I a corrente que
circula na espira e N o número de espiras.
Quando uma fmm é aplicada em um circuito magnético, também haverá a
circulação de �uxo magnético. O �uxo magnético irá gerar força magnética
proporcional ao seu quadrado, atraindo a alavanca, assim, podemos dizer que
(Φ)2 α Fmagntica. (5.17)
A atuação desse relé é dita como instantânea e ocorre assim que a corrente
ultrapassa um valor limite (pick-up). A partir do ajuste dessa corrente limítrofe
a mola, que cria uma força de resistência à força magnética, é determinada a
�m de somente permitir a atuação da proteção quando a corrente ultrapassar
o valor ajustado.
Entretanto, há a necessidade da coordenação das proteções de sobrecorrente
para que o curto seja extinto o mais próximo possível da falta o que levou à
confecção de relés com elemento que criasse uma temporização para a atuação
desta proteção. O relé de alavanca utiliza dois elementos de temporização
38
Figura 5.10: Relé de Sobrecorrente de Alavanca. [1]
distintos, um êmbolo de óleo é utilizado agindo no retardo da atuação, variando
linearmente, como visto na �gura 5.11 dependendo da corrente e do tempo em
que esta corrente circula pelas espiras do relé 51. A força magnética gerada pela
corrente aquisitada pelo relé comprime o óleo até que os contatos �nalmente
encostam e a proteção de sobrecorrente atua de forma temporizada. Caso a
falta seja extinta antes, os contatos não são fechados e a operação não ocorre.
Figura 5.11: Êmbolo de óleo para temporização do Relé de Sobrecorrente de Ala-vanca e respectiva curva tempo x atuação. [1]
Outra forma de temporizar o relé de alavanca é acoplando um relé auxiliar
de tempo que inibe a atuação por um certo tempo estipulado como pode ser
visto na �gura 5.12. Desta forma, caso o curto seja extinto anteriormente ao
tempo de liberação do relé temporizado não haverá mais corrente nas espiras
e, assim, não haverá mais força magnética e o relé de sobrecorrente não atuará.
De maneira oposta, caso o curto não seja isolado por nenhuma outra proteção,
o relé opera instantâneamente assim que o tempo se encerrar.
• Relé de Sobrecorrente Eletromecânico por Indução: Tem um funcio-
39
Figura 5.12: Relé de Sobrecorrente de Alavanca temporizado por um relé auxiliarde tempo e respectiva curva tempo x atuação. [1]
namento baseado na variação do �uxo magnético de maneira semelhante ao
que ocorre em um motor de indução. O �uxo da parte imóvel do relé varia e,
segundo a lei de Lenz, induz correntes no disco (parte móvel do relé). Essas
correntes induzidas geram um �uxo defasado do �uxo da parte imóvel e, assim
como ocorre em motores, há um torque resultante que rotaciona este disco,
como exempli�cado na �gura 5.13.
Figura 5.13: Relé de Sobrecorrente de Indução. [1]
As características do relé como raio do disco e peso, por exemplo, são dimen-
sionadas de maneira que a rotação ocorra a partir de uma corrente limítrofe
(corrente de pick-up). Uma vantagem deste tipo de relé é a possibilidade de
descartar o uso de outro dispositivo temporizador uma vez que para temporizar
sua atuação e coordenar a proteção basta que o contato móvel seja posicionado
originalmente em um lugar mais afastado do contato �xo. Desta forma, caso o
curto seja interrompido durante o processo de rotação do disco, o mesmo para
de rotacionar e não há atuação da proteção (5.14).
De maneira similar com a curva de atuação tempo x corrente do relé de so-
brecorrente de atração magnética temporizado por êmbolo de óleo, o relé de
40
Figura 5.14: Atuação do Relé de Sobrecorrente de Indução. [1]
sobrecorrente de indução terá uma curva de atuação quase linear dependente
somente da distância entre o contato móvel e o �xo. A curva de atuação pode
ser vista na �gura 5.15.
Figura 5.15: Curva de Atuação do Relé de Sobrecorrente de Indução. [1]
A modernização dos relés de sobrecorrente eletromecânicos para os relés digitais
trouxeram uma in�nidade de facilidades e melhorias principalmente para a coorde-
nação das proteções. A seguir apresentaremos as principais características para a
parametrização do relé de sobrecorrente digital.
5.2.1 Corrente de pickup
A corrente a ser ajustada como máximo tolerável em um transformador de potência
deve levar em conta a corrente nominal do transformador (Inom), considerando uma
margem para operação entre 40% e 50% acima deste valor, e o valor de corrente de
curto circuito (Iccmin) mínimo do circuito protegido. Sendo assim, a inequação,
41
1, 5Inom ≤ Ipick−up ≤Iccmin1, 5
, (5.18)
é facilmente encontrada nas literaturas sobre o tema.
O ONS determina que a corrente de operação deve ser ajustada entre 1,4 e 2,0
vezes o valor da corrente nominal do transformador a plena carga e com todas as
fases de refrigeração em operação [14].
Vale ressaltar que, apesar de não ser comum, o mecanismo para que não haja
atuação indevida quando da energização do transformador de potência da subseção
5.1.2 pode ser utilizado. O bloqueio geralmente não é necessário pois os valores de
corrente de magnetização geralmente são menores que os valores de curto circuito e
acabam por não in�uenciar o valor da corrente de pick-up.
Além disso, a importância de um estudo de curto-circuito da subestação, com-
pleto e atualizado, deve ser destacado nesta seção uma vez que somente com uma
boa análise de defeito da rede o ajuste é feito com exatidão.
5.2.2 Curva de operação tempo x corrente
Conforme comentado anteriormente, a proteção de sobrecorrente pode atuar tanto
de maneira instantânea como de maneira temporizada, com a �nalidade de extinguir
o curto-circuito, mas desligando-se somente o equipamento mais próximo ao mesmo.
Então, a atuação do relé de sobrecorrente temporizado digital também responde
a uma reta que relaciona tempo e corrente de maneira semelhante à atuação do
relé de sobrecorrente de indução. Entretanto, enquanto no relé eletromecânico a
curva depende de seus elementos físicos sujeitos a erros e desgaste comprometendo
a coordenação da proteção, os relés digitais respondem a uma curva que não irá se
alterar após ser �xada e programada de acordo com as necessidades de coordenação
do projeto.
Os parâmetros dessa curva são normalizados com o objetivo de facilitar a coor-
denação das proteções nas subestações e a reta tem a seguinte equação:
top(I) = T
(K
(I/Ipickup)α − 1
)− L, (5.19)
sendo top o tempo de operação do relé em função da corrente aquisitada, I a corrente
que circula pelo circuito primário, Ipickup a corrente de operação ajustada no relé, T
tempo de operação ajustável do relé, K, α e L são constantes de�nidas de acordo
com o tipo de curva selecionada.
No Brasil as curvas variam de acordo com a norma IEC 255-4, cujos valores estão
listados na tabela 5.3.
O parâmetro T é ajustável no relé, por vezes é também denominado dial de
42
Tabela 5.3: Tabela de coe�cientes de operação em função de sobrecorrente segundonorma IEC 255-4
Tipo de Curva K α LInversa 0,14 0,02 0Muito Inversa 13,5 1 0Extremamente Inversa 80 2 0
tempo (DT), e atua deslocando a curva de operação tempo x corrente de acordo
com o estudo de coordenação do projeto.
As curvas de operação inversa, muito inversa e extremamente inversa para um
mesmo dial de tempo estão plotadas na �gura 5.16:
Figura 5.16: Curvas de Operação inversa do relé de sobrecorrente. [12]
A escolha da curva é proveniente do estudo de seletividade e coordenação do
projeto. Entretanto, geralmente, a curva extremamente inversa é utilizada em locais
no qual o curto circuito é mais agressivo atingindo correntes muito altas e a curva
inversa é utilizada em subestações cujas correntes de curto são mais brandas. Deve-
se destacar que, após a determinação da curva de operação, as demais proteções de
sobrecorrente temporizada da subestação devem manter o mesmo padrão, ou seja,
utilizar o mesmo tipo escolhido para manter a coordenação da proteção.
Além da temporização respeitando uma das curvas normalizadas, há também a
atuação de forma instantânea com retardo. Isso signi�ca uma curva de operação
constante onde qualquer corrente acima do valor da corrente de operação irá ter
43
o mesmo valor de tempo de operação. A característica da atuação com retardo é
similar à operação do relé eletromecânico com relé auxiliar de tempo acoplado e
pode ser viso na �gura 5.16.
5.2.3 Tipos de proteção de sobrecorrente
A proteção de sobrecorrente, como vista nas seções anteriores, é aplicada por nível
de tensão, ou seja, um ajuste para alta tensão e outro para baixa tensão que irá abrir
os respectivos disjuntores quando detectada a falta. Entretanto, para uma completa
proteção do transformador, ainda há a necessidade de se aplicar outros dois tipos
essenciais de proteção de sobrecorrente:
• As proteções de sobrecorrente de neutro (51N) e sobrecorrente resi-dual (51R) são capazes de detectar desequilíbrios da rede que não são su�ci-
entes para sensibilizar a proteção de fase, como curtos monofásicos. As faltas
são detectadas por esta proteção porque ela analisa a corrente que passa pelo
neutro da conexão em estrela, normalmente nula em sistemas equilibrados.
A diferença entre 51N e 51R é a metodologia na qual a proteção aquisita a
corrente de neutro, enquanto a proteção 51N analisa a corrente proveniente
de um TC instalado no neutro do transformador aterrado, a proteção 51R faz
essa análise de maneira computacional com a soma da corrente das três fases
resultando em uma corrente de neutro calculada.
A corrente de operação da proteção 51N ou 51R, segundo o ONS, deve ser
ajustada entre 10% e 20% da corrente nominal do transformador.
0.1Inom ≤ Ipick−up ≤ 0.2Inom (5.20)
• A Proteção de Zona Morta (51EFP), também conhecida como End Fault
Protection (EFP), é uma proteção que visa isolar curtos circuitos em trechos
do sistema onde não há uma proteção designada. Por exemplo, na �gura 5.17
a falta ocorre numa região entre o disjuntor e o TC. Neste cenário, como foi
mencionado na seção 5.1 , a proteção diferencial não irá atuar uma vez que a
falta não é interna ao transformador. Entretanto, a proteção de sobrecorrente
do trafo ou a proteção de barras da subestação irá detectar o problema abrindo
o disjuntor da imagem, o que não será o su�ciente para isolar o curto, pois
o mesmo, no caso de um transformador será alimentado pelo outro lado do
trafo, alta ou baixa tensão.
Sendo assim, a proteção de zona morta irá detectar que a falta segue sendo
alimentada mesmo após a abertura do disjuntor mais próximo ao curto e fará a
44
Figura 5.17: Exemplo de falta em zona morta
abertura do disjuntor associado ao outro lado da proteção deste transformador,
eliminando �nalmente o curto circuito.
A proteção de zona morta também protege contra sobrecorrente e também
tem um tempo de operação (time-pickup) no qual ela opera de acordo com o
estudo de coordenação da proteção.
O exemplo acima elucida apenas a atuação para um arranjo especí�co de po-
sicionamento de disjuntor, transformador de corrente e arranjo geral da subes-
tação. Para cada arranjo haverá uma maneira diferente de atuar já que pode
haver a necessidade de abertura de mais de um disjuntor adjacente (arranjo
em anel, por exemplo). Sendo assim, cada projeto terá um estudo detalhado
para a atuação da proteção de zona morta.
5.2.4 Lógica Geral da Proteção de Sobrecorrente
Como conclusão da seção, iremos apresentar uma lógica geral da atuação da proteção
de sobrecorrente em transformadores. O relé digital irá aquisitar as correntes de fase
e de neutro dos TCs associados ao transformador e irá compará-las com o limite
máximo ajustado (Ipickup). Caso esse limite seja ultrapassado, o relé irá analisar
o valor registrado junto à curva de operação ajustada, associando um determinado
tempo de operação (top) no qual haverá a atuação da proteção caso a corrente persista
em continuar acima do limite ajustado.
Como mencionado anteriormente, os tempos de operação são coordenados de
acordo com um estudo de curto circuito visando a interrupção do menor número
de componentes possíveis e a extinção do curto com a abertura do disjuntor mais
próximo.
A lógica geral, simpli�cada, da proteção de sobrecorrente das fases de um trans-
formador pode ser vista na �gura 5.18.
45
Figura 5.18: Lógica simpli�cada de atuação da proteção 51
5.3 Proteção de Sobretensão (59)
A proteção de sobretensão correspondente ao código 59 da tabela ANSI, não é co-
mumente aplicada diretamente em transformadores de potência. Isso ocorre pois
os TPs, em geral, são instalados nas barras e nas linhas e, assim, não há transfor-
madores de potencial dedicados especialmente aos transformadores. Sendo assim,
a proteção de sobretensão, quando aplicada, torna-se uma proteção redundante a
sobretensão da barra já que compartilha a medição do mesmo TP.
A proteção de sobretensão de sequência zero, no entanto, é comumente encon-
trada em sistemas de proteção de transformadores de alta tensão. Esta proteção de
sobretensão avalia situações de desequilíbrio e faltas para terra que serão detalhados
mais adiante.
No que tange a operação, o relé de sobretensão pode operar instantaneamente ou
temporizadamente de maneira idêntica à operação da proteção de sobrecorrente vista
na seção 5.2. Logo, o construtivo dos relés eletromecânicos destinados à proteção de
sobrecorrente e à proteção de sobretensão também são idênticos como pode ser visto
na �gura 5.19 que exempli�ca o relé de sobretensão eletromecânico instantâneo (a)
e temporizado de tempo inverso (b).
5.3.1 Proteção de Sobretensão de sequência zero (59N)
A proteção de sobretensão de sequencia zero é a encontrada com maior facilidade
aplicada a transformadores. Esta proteção é realizada sobre o terciário dos transfor-
madores de potência, geralmente ligados em delta e conectados à um transformador
de aterramento. O TP de aterramento, por sua vez, tem conexão em estrela-delta
aberto em paralelo com um relé 59N. O Esquema de conexão para a aquisição das
tensões para a proteção de sobretensão de sequencia zero pode ser visto na �gura
5.20.
Essa proteção consiste na aquisição e análise das tensões medidas no terciário
disponibilizadas ao relé de proteção pelo trafo de aterramento de maneira que
Vmn = Va + Vb + Vc, (5.21)
46
Figura 5.19: (a) Relé de proteção de sobretensão instantâneo; (b) Relé de proteçãode sobretensão de tempo inverso. [6]
Figura 5.20: Esquema da proteção 59N. [1]
sendo Vmn a tensão registrada pelo relé 59, Va, Vb e Vc as tensões de fase do trans-
formador de aterramento conectado ao terciário do transformador de potência.
Em um sistema equilibrado, Vmn é nulo já que a soma fasorial das tensões de
fase se anulam. No entanto, na presença de uma falta ou de um desequilíbrio nas
correntes, haverá a indução de uma tensão de sequencia zero que, no caso de uma
falta à terra, pode chegar a 3Vnom. Sendo assim, a tensão é ajustada para algum
valor abaixo de 3Vnom para que a falta seja detectada.
O próprio relatório de �loso�a de proteção de transformadores do ONS diz que
não é usual a prática de qualquer tipo de proteção de sobretensão em transformado-
47
res salvo casos especiais apontados pelo Operador Nacional do Sistema. Entretanto,
vale destacar que essa proteção por vezes é utilizada como alarme para auxiliar na
supervisão da subestação.
5.3.1.1 Lógica Geral da Proteção de Sobretensão de sequência zero
Concluindo esta seção, iremos resumir a lógica de operação da proteção de sobreten-
são de sequência zero, pois é a única proteção relacionada à tensão solicitada pelo
ONS para transformadores.
O relé registra a tensão Vmn, proveniente do transformador de aterramento, e
compara com o valor ajustado como máximo tolerável. Caso ultrapasse este valor, o
relé dispara a proteção que pode abrir o disjuntor ou somente servir de alarme para
o operador uma vez que outras proteções de sobretensão devem atuar anteriormente
ao 59N.
Na �gura 5.21 observa-se a lógica para a operação da proteção de sobretensão
de sequencia zero.
Figura 5.21: Lógica simpli�cada de atuação da proteção 59N
5.4 Proteção Falha de Disjuntor (50BF)
No advento da atuação de uma proteção na subestação ocorrem dois disparos dife-
rentes de sinais por parte do relé de proteção. O primeiro que inicia toda cadeia de
trip que dispara o contato do disjuntor e realiza a abertura do mesmo. E o segundo
sinal para a unidade responsável pela proteção de falha deste mesmo disjuntor.
Essa unidade de proteção atua analisando tanto o contato que indica a posição
do disjuntor quanto a corrente que passa pelo mesmo com a �nalidade de certi�car-
se que a proteção atuou com sucesso, ou seja, que o disjuntor abriu e o equipamento
está protegido da falta. Para tanto, a unidade de proteção realiza duas contagens
de tempo aguardando a identi�cação da interrupção da corrente do disjuntor e/ou a
recepção do contato referente a posição de "aberto" do disjuntor. Após o primeiro
período de tempo, Tretrip, há uma nova tentativa de abertura do disjuntor por meio
de uma cadeia de trip independente, conhecido como retrip. Desta forma, caso haja
algum problema na saída digital do IED ou em algum relé auxiliar da cadeia de
48
operação convencional da proteção, através do retrip o sinal �nalmente chegará ao
disjuntor, efetuando sua abertura.
Entretanto, se mesmo após a tentativa de abertura do retrip não seja detectada
a abertura do disjuntor dentro do segundo período de tempo, TBF , a unidade de
proteção declara a falha do disjuntor e irá efetuar o disparo para a abertura de
todos os disjuntores adjacentes ao disjuntor em falha para que o equipamento possa
ser isolado e o curto extinto. A abertura dos outros disjuntores geralmente signi�ca a
desenergização de outros equipamentos acarretando interrupções no abastecimento,
por isso, a proteção de falha do disjuntor é considerada a proteção mais agressiva
que pode ocorrer em uma subestação, desta forma, a robustez, a manutenção e a
supervisão dos equipamentos de proteção e do disjuntor devem minimizar ao máximo
a chance da atuação desta proteção.
Em geral os tempos de atuação Tretrip e TBF são designados da seguinte maneira:
Tretrip = Tprot + Taux + Tdj, (5.22)
TBF = Tretrip + Tdj, (5.23)
sendo Tretrip o tempo para que seja efetuado o retrip, Tprot o tempo para que haja
a atuação da proteção inicial, Taux o tempo de atuação do relé auxiliar do circuito
de disparo, Tdj o tempo para a abertura do disjuntor e TBF o tempo para que sejam
acionados os disjuntores adjacentes e declarada a falha do disjuntor alvo.
5.4.1 Lógica Geral da Proteção de Falha do Disjuntor
Em suma, a proteção contra falha do disjuntor veri�ca se a proteção foi bem su-
cedida na tentativa de abrir o disjuntor e isolar uma falta. Em caso de insucesso,
a proteção tenta novamente abrir o disjuntor associado ao vão após Tretrips. Se
a falha ocorrer novamente depois de TBF s, o relé opera realizando a abertura dos
disjuntores adjacentes. A lógica desta proteção pode ser vista na �gura 5.22.
49
Figura 5.22: Lógica simpli�cada de atuação da proteção contra falha do disjuntor
50
Capítulo 6
Ajuste da Proteção do
Transformador TR03 - Barro Alto
Com o objetivo de mostrar a teoria dos sistemas de proteção aplicados a um sis-
tema real, este trabalho irá apresentar o ajuste e o sistema de proteção real de um
transformador na Subestação Barro Alto, operada por Furnas, que �ca na cidade de
Goianésia, estado de Goiás. O transformador, denominado de TR03 pelo sistema de
operação da subestação, é composto por um banco de transformadores monofásicos
com relação de transformação 230 kV/ 69 kV / 13,8 kV, fabricação Toshiba, conec-
tado em estrela-estrela-delta aberto e potência de 16,667 MVA por trafo no regime
de resfriamento a óleo, ar natural e ar forçado com dois estágios, conhecido como
ONAF2.
A Subestação Barro Alto está arranjada em barra-dupla quatro chaves em ambos
os pátios, 230 kV e 69 kV. Tal arranjo dispões de quatro seccionadoras e um disjuntor
para executar as manobras de manutenção e proteção do equipamento. Os uni�lares
dos pátios de 230 kV e 69 kV da subestação Barro Alto podem ser vistos no Apêndice
B.
Para a proteção do TR03 foram utilizados IEDs de fabricação Alstom e Siemens,
seguindo o Submódulo 2.6 do ONS [22] que determina os requisitos mínimos para
sistemas de proteção e telecomunicações. Assim, foram utilizados dois relés de pro-
teção P645 da Alstom para haver redundância do sistema, um 7KE85, registrador
de pertubações da SIEMENS além de duas UACs, C246, de fabricação Alstom para
realizar controle e supervisão dos equipamentos associados ao vão do TR03.
6.1 Supervisão das Proteções Intrínsecas do TR03
O TR03 possui uma série de proteções intrínsecas para que haja manutenção e super-
visão de aspectos construtivos do banco de transformadores. Dentre estas proteções
51
destacam-se as proteções citadas no capítulo 4: o relé de Buchholz, temperatura do
óleo e do enrolamento, válvula de alívio de pressão e nível de óleo.
As proteções são acionadas pelo próprio IED do transformador que abre o dis-
juntor em caso de qualquer uma das faltas citadas. Entretanto, contatos elétricos
que sinalizam o disparo destas proteções foram encaminhados para as UACs que os
enviam ao SAGE, para serem exibidos ao operador. Os contatos que são disponi-
bilizados pelo IED do TR03 e um exemplo de conexão com uma entrada digital da
UAC podem ser vistos no Apêndice C.
6.2 Ajuste das Proteções no Relé P645
O sistema de proteção do TR03 foi projetado para atender ao submódulo 2.6 do
ONS [22]. Sendo assim, as proteções citadas no capítulo 5 foram todas programadas
nos relés da Alstom, o P645.
Para que o ajuste seja feito de maneira correta é necessário que sejam fornecidos
os dados de placa tanto dos equipamentos de medição quanto dos transformadores
que compõem o TR03. Esses dados podem ser visto no Apêndice D.
Outra informação importante para nossa análise é a corrente nominal do trans-
formador. Uma vez que o banco TR03 possui comutação automática, variando,
assim, a corrente, deve-se utilizar o cenário no qual a corrente nominal é a mais
alta, no caso, o tap de menor tensão. O cliente informou que o regime de resfria-
mento seria o ONAF2, ou seja, resfriamento à óleo, ar natural e ar forçado com dois
estágios fazendo com que o transformador possa chegar à 16.667 kVA de potência.
Através da �gura D.2, vemos que a corrente nominal para o tap 33 no enrolamento
de alta tensão à potência de 16.667 kVA é 147,7 A. Para se obter a corrente nominal
no secundário basta utilizar a equação 2.7 e a equação 2.5. Sendo assim,
I1I2
=V2V1, (6.1)
sendo V1 a tensão na alta do menor tape, neste caso 195,5 kV, V2 a tensão na média
que no TR03 é 69 kV e I1 corrente no primário que é igual à 147,7 A. Com estes
valores temos
I2 = 418.49 A. (6.2)
Além dos valores de corrente nominal, como mencionado no decorrer do capítulo
5, o estudo de curto circuito é parte bastante importante no projeto. Este estudo foi
realizado através do software ANAFAS (Análise de Faltas Simultâneas) desenvolvido
pelo CEPEL (Centro de Pesquisa em Engenharia Elétrica) que é vinculado à Eletro-
bras, empresa pública brasileira do setor de energia. A topologia de rede, fornecida
pelo ONS e vista no apêndice B, é inserida neste programa que é capaz de simular
52
diferentes tipos de faltas em vários pontos da rede a �m de ter um panorama geral
do comportamento em regime permanente das correntes na subestação. Devido a
complexidade do estudo, que poderia produzir um trabalho dedicado somente à ele,
e a sigilosidade dos documentos do projeto iremos nos ater à utilizar os resultados
relevantes aos ajustes das proteções.
6.2.1 Ajuste da Proteção Diferencial (87)
Com o conhecimento da classe de exatidão e da relação de transformação dos TCs,
além das características do transformador como a curva de saturação, é possível
ajustar a curva de atuação da proteção diferencial, apresentada na �gura 6.1, e seus
bloqueios de acordo com as características vistas nas subseções 5.1.1, 5.1.2, 5.1.3 e
5.1.4.
Figura 6.1: Curva Característica de Operação - Proteção Diferencial. [10]
6.2.1.1 Ajuste da Curva de Operação
• Determinação da Ipick−up:
Conforme mencionado na subseção 5.1.1, a corrente de pick-up é um valor
superior a soma das contribuições da corrente de magnetização do transfor-
mador em regime permanente, dos erros de mismatch dos TCs e o erro relativo
à classe de exatidão dos TCs.
53
A corrente de magnetização em regime permanente é retirada da curva de
saturação do transformador Toshiba disponibilizada pelo fabricante e exposta
nesse trabalho na �gura 5.4. A tensão de 110% da tensão nominal foi utilizada
como caso extremo resultando em uma corrente de magnetização em regime
permanente, retirado da �gura 5.4, de aproximadamente 0,5% do valor nomi-
nal. Não há a necessidade de um valor exato, pois a Ipick−up é estipulada como
um valor superior à soma de outras contribuições e a corrente de magnetização
é a menor delas.
O erro de mismatch dos TCs é calculado utilizando-se a equação 5.12. Nesta
equação precisamos saber o valor das seguintes variáveis: IPrimAT , a corrente
no primário do TC de alta tensão, IPrimBT , a corrente no primário do TC
de baixa tensão, RTCAT , a relação de transformação utilizada no TC de alta
tensão, RTCBT , a relação de transformação utilizada no TC de baixa tensão.
A corrente do primário do TC de alta tensão é
I1 = IPrimAT = 147, 7 A, (6.3)
e a corrente do primário do TC de baixa tensão
I2 = IPrimBT = 418, 49 A. (6.4)
Segundo as informações do Apêndice D as relações de transformação são as
seguintes:
RTC230 = 500/5 A, (6.5)
RTC69 = 1500/5 A, (6.6)
substituindo esses valores na equação 5.12 teremos o seguinte resultado:
δmismatch = 5, 71%. (6.7)
Por �m, devemos levar em conta o erro relativo à classe de exatidão dos TCs
que também foi fornecido nas tabelas D.1 e D.2. Como cada um dos TCs
possui um erro máximo de 10%, podemos ter, em um pior caso, um erro de
20% na medida.
Desta forma, a corrente de pick-up é ajustada para o seguinte valor:
54
Ipickup ≥ 5, 71% + 20% + 0, 5%, (6.8)
Ipickup ≥ 26, 21%, (6.9)
O valor escolhido deve ser maior, porém próximo para que não haja uma folga
muito grande em relação às parcelas acima que representam uma tolerância ao
erro dos equipamentos de medição e às condições de operação convencionais
do transformador. No projeto da proteção do TR03, a corrente de pick-up,
Ipickup, foi ajustada para 30% do valor da corrente nominal, ou seja, 0,3 pu.
• Determinação do Declive 1 (K1):
O declive 1 (K1), observado na �gura 6.1, visa considerar os efeitos da satu-
ração causados por curto-circuitos externos de valores médios e foi ajustado
para 30%, valor sugerido pelo ONS [14] e também pela fabricante do P645, a
Alstom [10]. Sendo assim a reta terá a seguinte equação:
Idiff = 0, 3Irest. (6.10)
O ponto da interseção entre a reta da corrente de pick-up e a reta de inclinação
K1, chamada de interseção 1 na �gura 6.1, pode ser determinada da seguinte
maneira:
Ipickup = 0, 3Irest, (6.11)
sabendo que Ipickup = 0,3 pu, temos:
Irest = 1 pu, (6.12)
e a interseção 1 acontece no ponto (Idiff = 0, 3 , Irest = 1) do grá�co apresen-
tado na �gura 6.1.
• Determinação da Interseção 2 e do Declive 2 (K2):
A interseção 2 da curva de atuação da �gura 6.1 deve ser ajustada para um
valor inferior à da menor corrente de falta externa que possa provocar saturação
nos TC. Segundo o estudo de curto circuito, a menor corrente de falta que
provoca saturação ocorre no TC de baixa tensão e será:
Icc = 3474 A. (6.13)
55
O valor descrito na equação 6.13 é equivalente à 8,3 I2, corrente nominal do
lado de 69 kV. Assim, valores abaixo de 8,3 I2 podem ser escolhidos. Vale notar
que esse valor na alta pode ser facilmente achado fazendo 8,3 I1. Seguindo a
recomendação do ONS [14], o valor escolhido foi 3,5 Inominal.
A inclinação K2, vide �gura 6.1, visa evitar a operação mediante o forte efeito
da saturação dos TCs que correntes de falta externas elevadas possam provo-
car. O ONS [14] recomenda valores superiores a 50% e, seguindo o valor típico
apontado pela Alstom, K2 foi ajustado em 80% [10] de inclinação.
6.2.1.2 Bloqueio por segundo harmônico
Como desenvolvido na seção 5.1.2, as componentes de segunda ordem da corrente de
inrush podem chegar a 60%. Segundo o ONS [14], valores de componente harmônico
de segunda ordem acima de um mínimo estipulado entre 15% e 20% caracterizam
a corrente de inrush e o bloqueio deve ser efetuado. O valor escolhido é 20%, o
recomendado pela Alstom [10] como valor base para que o bloqueio seja efetuado.
6.2.1.3 Bloqueio por quinto harmônico
De acordo com 5.1.3, a operação sobre-excitada acarreta em altos índices de com-
ponentes harmônicos de terceira e quinta ordem. O ONS [14] prevê o bloqueio da
operação para valores de componente de quinto harmônico superiores à um limite
que deve ser estipulado entre 25% e 35% da fundamental. A fabricante [10] do relé
indica utilizar como base o valor de 35%, sendo assim, o bloqueio foi ajustado para
este valor.
6.2.1.4 Bloqueio por saturação do TC
A saturação do TC utiliza o mesmo bloqueio utilizado para a corrente de inrush.
Desta forma, o ajuste é o mesmo, 20%, e visa evitar a atuação da proteção de
maneira indevida quando o TC entrar em saturação conforme explicado na seção
5.1.4.
6.2.2 Ajuste da Proteção de Sobrecorrente (51)
A proteção de sobrecorrente foi implantada conforme as seções 5.2.1, 5.2.2 e 5.2.3
para detectar faltas de corrente elevada nos enrolamentos de alta tensão do trans-
formador (230 kV), de média tensão (69 kV), além da implantação para detecção de
sobrecorrentes nos neutros, da alta tensão e da baixa tensão através de sobrecorrente
residual, e a implementação do end fault protection.
56
As correntes de curto circuitos apresentadas para os ajustes abaixo são prove-
nientes do estudo de curto circuito da subestação. É importante ressaltar que o
projeto baseou-se nas condições para ajuste e coordenação do ONS [14] e que os
ajustes das proteções de sobrecorrente dos demais vãos da subestação foram forne-
cidos para que o estudo de coordenação pudesse ser realizada. Assim como o estudo
de curto circuito, o estudo da coordenação é de grande complexidade e de caráter
sigiloso, desta forma, iremos nos ater aos seus resultados e citar brevemente como a
coordenação de cada uma das proteções foi realizada.
6.2.2.1 Sobrecorrente do Lado de 69 kV
Segundo o ONS [14], o ajuste de sobrecorrente do lado de 69 kV necessita atender
às seguintes condições:
1. A Corrente de pick-up deve ser ajustada entre 1,4 e 2,0 I2;
2. A Corrente de pick-up deve ser tal que o menor valor de curto bifásico no
�nal (98%) das linhas de transmissão (LTs) que partem do lado de 69 kV seja
su�ciente para disparar a proteção;
3. A proteção deve operar depois das unidades de proteção de sobrecorrente das
LTs que partem do lado de 69 kV nos curtos trifásicos na saída da linhas (2%);
A tabela 6.1 é composta por dados provenientes do estudo de curto-circuito da
subestação, essenciais para o ajuste da proteção de sobrecorrente do lado de 69 kV
do TR03.
Tabela 6.1: Correntes de Curto Circuito para o ajuste da proteção de sobrecorrentedo lado de 69 kV
Icc Mínimo Curto Bifásico 98% LTs 69 kV 253.4 AIcc Trifásico Barra 230 kV 220.9 AIcc Trifásico Barra 69 kV 2579.6 A
A partir da tabela 6.1 observa-se que não é possível atender a condição 2, pois
a corrente nominal do lado de 69 kV, I2 = 418,49 A, é maior que a menor corrente
de curto circuito bifásico em uma das LTs. Desta forma, para ajustar a corrente de
pick-up basta atender a condição 1. O valor estipulado dentro da faixa recomendada
pelo ONS foi de 1,55 I2 para que o transformador tenha uma margem de operação
à 150% de sobrecarga. A corrente de operação, vista pelo relé após transformação
pelo TC será
Ipickup =1, 55I2RTC69
= 2, 162 A. (6.14)
57
Os dados dos ajustes de proteção de sobrecorrente dos vãos vizinhos mostrou
que a curva utilizada pelas demais proteções de sobrecorrente da subestação é a
muito inversa, por este motivo esta curva foi a selecionada não só para a proteção
de sobrecorrente do lado de 69 kV, como também para as demais proteções de
sobrecorrente com o objetivo de facilitar a coordenação das proteções.
O dial de tempo, outro parâmetro que auxilia para a coordenação da proteção de
sobrecorrente, é selecionado por método empírico para poder atender às condições
de coordenação do ONS [14], no caso, a condição 3. O ONS exige, ainda, que a
diferença entre uma atuação de proteção e outra seja de pelo menos 300 ms.
Por �m, a tabela 6.2 fornece os dados dos ajustes para a proteção de sobrecorrente
do lado de 69 kV e a �gura 6.2 fornece o grá�co de atuação da proteção.
Tabela 6.2: Ajuste da proteção de sobrecorrente lado de 69 kVCurva IEC utilizada Muito Inversa
Ipickup 2,162 ADial de Tempo 0,033
Figura 6.2: Curva de atuação da proteção de sobrecorrente do lado de 69 kV
58
6.2.2.2 Sobrecorrente do Lado de 230 kV
As condições do ONS [14] para o ajuste da proteção de sobrecorrente do lado de 230
kV são:
1. A Corrente de pick-up deve ser ajustada entre 1,4 e 2,0 I1;
2. A Corrente de pick-up deve ser tal que o menor valor de curto bifásico no �nal
(98%) das linhas de transmissão (LTs) que partem do lado de 230 kV seja
su�ciente para disparar a proteção;
3. A Corrente de pick-up deve ser tal que o curto circuito bifásico no barramento
do lado de 69 kV seja su�ciente para disparar a proteção;
4. A proteção deve operar depois da unidade de proteção de sobrecorrente do
lado de 69 kV para o curto trifásico no barramento de 69 kV;
Do estudo de curto-circuito da subestação, temos:
Tabela 6.3: Correntes de Curto Circuito para o ajuste da proteção de sobrecorrentedo lado de 230 kV
Icc Mínimo Curto Bifásico 98% LTs 230 kV 25,8 AIcc Bifásico Barra 69 kV 773,9 AIcc Trifásico Barra 230 kV 66,3 AIcc Trifásico Barra 69 kV 669,4 A
Analisando-se as informações da tabela 6.3, percebemos que a condição 2 não
conseguirá ser atendida uma vez que o valor mínimo do curto bifásico ao �nal das
LTs que partem do lado de 230 kV é menor que a corrente nominal da alta tensão, I1= 147,7 A. No entanto, as condições 1 e 3 são satisfeitas em conjunto para qualquer
valor dentro da faixa recomendada. O valor escolhido para a corrente de pick-up
foi 1,7 I1 que oferece margem para operação de sobrecarga, portanto, a corrente de
operação será
Ipickup =1, 7I1RTC230
= 2, 510 A, (6.15)
Assim como para o lado de 69 kV, a curva escolhida foi a muito inversa e o dial de
tempo ajustado de maneira empírica para coordenação com as demais proteções de
sobrecorrente, inclusive a de 69 kV, resultando no ajuste de proteção de sobrecorrente
apresentado na tabela 6.4:
Na �gura 6.3 podemos ver o comportamento da curva de operação da proteção de
sobrecorrente do lado de 230 kV e na �gura 6.4 a coordenação entre a sobrecorrente
de 69 kV e a de 230 kV, mostrando que não há sobreposição entre as proteções e
que a condição 4 foi obedecida.
59
Tabela 6.4: Ajuste da proteção de sobrecorrente lado de 230 kVCurva IEC utilizada Muito Inversa
Ipickup 2,510 ADial de Tempo 0,201
Figura 6.3: Curva de atuação da proteção de sobrecorrente do lado de 230 kV
Figura 6.4: Coordenação das proteções de sobrecorrente de 69 kV e 230 kV
60
6.2.2.3 Sobrecorrente Residual do lado de 230 kV
O ONS [14] estabelece as seguintes condições para o ajuste da proteção residual:
1. A Corrente de pick-up deve ser ajustada entre 0,1 e 0,2 I1;
2. A Corrente de pick-up deve ser tal que o menor valor de curto bifásico e
monofásico no �nal (98%) das linhas de transmissão (LTs) que partem do lado
de 230 kV seja su�ciente para disparar a proteção;
3. A Corrente de pick-up deve ser tal que o curto-circuito monofásico no barra-
mento do lado de 69 kV seja su�ciente para disparar a proteção;
4. A proteção deve operar depois da unidade de proteção de sobrecorrente resi-
dual do lado de 69 kV para o curto monofásico ou bifásico no barramento de
69 kV.
As seguintes informações são relevantes para o ajuste da proteção de sobrecor-
rente residual:
Tabela 6.5: Correntes de Curto-Circuito para o ajuste da proteção de sobrecorrenteresidual, lado de 230 kV
Icc Mínimo Curto Bifásico 98% LTs 230 kV 30,5 AIcc Mínimo Curto Monofásico 98% LTs 230 kV 33,9 A
Icc Monofásico Barra 69 kV 729,0 AIcc Monofásico Barra 230 kV 120,2 AIcc Bifásico Barra 230 kV 57,3 A
Observa-se através da tabela 6.5 que qualquer valor arbitrário dentro da faixa
recomendada pelo ONS na condição 1 irá, também, atender às condições 2 e 3, pois
I1 = 147,7 A. Portanto, a corrente de pick-up foi ajustada para 0,2 I1, assim, a
corrente lida pelo relé será
Ipickup =0, 2I1RTC230
= 0, 500 A, (6.16)
A curva IEC escolhida para esta proteção foi a muito inversa para seguir o pa-
drão da subestação e facilitar a coordenação. Além disso, utilizando-se os ajustes
fornecidos das demais proteções de sobrecorrente residual, o dial de tempo foi empi-
ricamente ajustado de forma a haver coordenação das proteções. Como resultado,
podemos ver a curva de atuação da proteção de sobrecorrente residual do lado de
230 kV com o ajuste da tabela 6.6 na �gura 6.5:
61
Tabela 6.6: Ajuste da proteção de sobrecorrente residual lado de 230 kVCurva IEC utilizada Muito Inversa
Ipickup 0,500 ADial de Tempo 1,207
Figura 6.5: Curva de atuação da proteção de sobrecorrente residual do lado de 230kV
6.2.2.4 Sobrecorrente Residual do lado de 69 kV
As condições do ONS [14] para o ajuste dessa proteção são as seguintes:
1. A Corrente de pick-up deve ser ajustada entre 0,1 e 0,2 I2;
2. A Corrente de pick-up deve ser tal que o menor valor de curto bifásico e
monofásico no �nal (98%) das linhas de transmissão (LTs) que partem do lado
de 69 kV seja su�ciente para disparar a proteção;
3. A proteção deve operar depois das unidades de proteção de sobrecorrente das
LTs que partem do lado de 69 kV nos curtos monofásicos ou bifásicos na saída
das linhas (2%);
As correntes de curto circuito da tabela 6.7 foram retiradas do estudo de curto
circuito da subestação e são essenciais para realizar o ajuste da proteção de sobre-
corrente residual do lado de 69 kV. Através destes valores nota-se que ao se atender a
condição 1, sabendo-se que I2 = 418,49 A, a condição 2 é automaticamente satisfeita.
62
Tabela 6.7: Correntes de Curto Circuito para o ajuste da proteção de sobrecorrenteresidual, lado de 69 kV
Icc Mínimo Curto Bifásico 98% LTs 69 kV 815,3 AIcc Mínimo Curto Monofásico 98% LTs 230 kV 719,9 A
Icc Monofásico Barra 230 kV 217,3 AIcc Monofásico Barra 69 kV 2612,3 AIcc Bifásico Barra 69 kV 2231,4 A
Sendo assim, o valor escolhido para a corrente de operação foi 0,1 I2 e o valor
que será aquisitado pelo relé será
Ipickup =0, 1I2RTC69
= 0, 400 A, (6.17)
De maneira semelhante com os casos anteriores, a curva e a coordenação foi
realizada de maneira empírica analisando-se os ajustes das demais proteções de
sobrecorrente residual do lado de 69 kV. Na tabela 6.8 podemos ver o ajuste da
curva IEC muito inversa resultando na �gura 6.6. Além disso, a coordenação das
proteções de sobrecorrente do lado de 69 kV e do lado de 230 kV pode ser vista na
�gura 6.7.
Tabela 6.8: Ajuste da proteção de sobrecorrente residual lado de 69 kVCurva IEC utilizada Muito Inversa
Ipickup 0,400 ADial de Tempo 1,185
63
Figura 6.6: Curva de atuação da proteção de sobrecorrente residual do lado de 69kV
Figura 6.7: Coordenação das proteções de sobrecorrente residual de 69 kV e 230 kV
6.2.2.5 End Fault Protection
O arranjo da subestação Barro Alto, barra dupla quatro chaves, e o posicionamento
dos TCs utilizados pela proteção possibilitam a ocorrência da falta em uma zona
64
morta, isto é, um trecho onde não há uma proteção designada, de maneira seme-
lhante ao ilustrado na �gura 5.17.
Sendo assim, o sistema de proteção deve ajustar a End Fault Protection tanto
para a zona de 230 kV quanto para a de 69 kV. Esta proteção atua com tempo
de�nido, ou seja, independente do nível do curto circuito ela terá o mesmo atraso
para atuar, diferindo, assim, das proteções com curva associada.
Esta proteção deve ser ajustada para o menor [14] valor de corrente de curto
circuito de cada uma das barras. Além disso, uma margem de segurança é conven-
cionalmente adotada e, neste caso, escolheu-se um valor de 20% para esta margem.
Na tabela 6.9 vemos as correntes de curto-circuito mínimas para as barras de 230
kV e 69 kV que serão usadas para o ajuste da proteção.
Tabela 6.9: Ajuste da proteção de sobrecorrente de zona mortaIccmin Barra 69 kV 2579,6 AIccmin Barra 230 kV 66,3 A
Portanto, adotando-se a margem de segurança de 20% teremos as seguintes cor-
rentes de operação lidas pelo relé:
IEFP69 =2579, 6
RTC69
(1− 0, 2) = 6, 87 A, (6.18)
IEFP230 =66, 3
RTC230
(1− 0, 2) = 0, 53 A. (6.19)
O tempo de�nido para a atuação da proteção, oriunda da coordenação com a
proteção de barras é de 500 ms tanto para 230 kV quanto para 69 kV.
6.2.3 Ajuste da Proteção de Sobretensão de Sequência Zero
(59N)
A ligação do transformador, com o terciário em delta aberto ocorre de maneira
proposital para que possa ser feita a proteção de sobretensão de sequência zero.
Como exposto na seção 5.3, o controle e a proteção contra sobretensão são vinculados
às barras e às linhas de transmissão e, por isso, neste projeto, a proteção 59N
aciona um alarme para o operador, mas não gera nenhum disparo para abertura dos
disjuntores associados ao TR03.
De acordo com a teoria desenvolvida na seção 5.3.1, a proteção 59N deve ser ajus-
tada para qualquer valor abaixo de 3 Vnom. Como o transformador de aterramento
é de 13,8 kV / 120 V, conforme tabela D.3, teremos que:
Vpickup ≤ 3 (120) V, (6.20)
65
A tensão selecionada foi 100 V que é abaixo da tensão nominal do transformador
de aterramento. Além disso, o tempo de operação foi ajustado para 3s, no qual o
desequilíbrio precisará permanecer para que o alarme seja disparado.
6.2.4 Ajuste da Proteção de Falha do Disjuntor (50/62 BF)
O ajuste da proteção de falha do disjuntor depende unicamente do tempo que qual-
quer uma das proteções ajustadas anteriormente demora para abrir o disjuntor como
visto na seção 5.4. Na tabela 6.10 são apresentados os tempos de atuação de cada
um dos componentes envolvidos no disparo de uma proteção do TR03.
Tabela 6.10: Tempo de operação dos equipamentos do sistema de proteção TR03Tempo de atuação do relé de proteção 3 msTempo de atuação do relé auxiliar 3,5 msTempo para abertura do disjuntor 40 ms
Então, de acordo com as equações 5.22 e 5.23 teremos:
Tretrip ≥ 46, 5ms, (6.21)
TBF ≥ 86, 5ms. (6.22)
Sendo assim, o valor ajustado para que seja realizada uma nova tentativa de
abertura do disjuntor, Tretrip, foi de 60 ms. Para que seja declarada a falha do dis-
juntor e o envio do comando de abertura para os disjuntores vizinhos foi estipulado
TBF igual a 120 ms.
6.2.5 Sumário dos ajustes das proteções no relé P645
Nesta seção iremos apresentar de maneira resumida, nas tabelas 6.11, 6.12, 6.13,
6.14 e 6.15, os ajustes realizados nas seções 6.2.1, 6.2.2, 6.2.3 e 6.2.4.
Tabela 6.11: Tabela sumário com os ajustes da proteção diferencialIpickup 0.3 InominalInteseção 1 (Idiff = 0, 3 , Irest = 1)K1 30%Interseção 2 3,5 InominalK2 80%
66
Tabela 6.12: Tabela sumário com os ajustes da proteção de sobrecorrenteProteção 51 Curva IEC utilizada Ipickup Dial de TempoSobrecorrente lado de 230 kV Muito Inversa 2,510 A 0,201Sobrecorrente lado de 69 kV Muito Inversa 2,162 A 0,033Sobrecorrente residual lado de 230 kV Muito Inversa 0,500 A 1,207Sobrecorrente residual lado de 69 kV Muito Inversa 0,400 A 1,185
Tabela 6.13: Tabela sumário com os ajustes da proteção de zona mortaProteção de Zona Morta Tempo de Operação IpickupProteção de Zona Morta lado de 230 kV 50 ms 0,53 AProteção de Zona Morta lado de 69 kV 50 ms 6,87 A
Tabela 6.14: Tabela sumário com os ajustes da proteção de sobretensão de sequênciazero
Tensão de Pick-up Vpickup = 100 VTempo de Operação 3 s
Tabela 6.15: Tabela sumário com os ajustes da proteção de falha do disjuntorTempo para Operação do Retrip Tretrip = 60 msTempo para Operação da Falha do Disjuntor Tretrip = 120 ms
67
Capítulo 7
Conclusões
Este projeto teve como principal objetivo dar uma abordagem atualizada e completa
no estudo de sistemas de proteção, supervisão e controle aplicado a transformadores
de potência. Essa área em sistemas elétricos de potência evolui constantemente,
permitindo que, nos dias de hoje, os SPCS sejam sistemas de automação so�stica-
dos e altamente con�áveis, reduzindo erros de operação a níveis próximos a zero e
aumentando a longevidade dos equipamentos protegidos.
Neste cenário, o trabalho evidencia de maneira conceitual toda a teoria por
trás da programação do relé digital, muitas vezes negligenciada por conta do fácil
manuseio das interfaces grá�cas disponibilizadas pelos fabricantes para o ajuste das
proteções. Além disso, o projeto apresenta um caráter singular por conta do nível de
detalhamento acrescentado pelo estudo de caso exposto, permitindo correlacionar a
aplicação prática e a teoria de proteção de transformadores.
Ademais, vale ressaltar, a di�culdade em encontrar bibliogra�as atualizadas sobre
o tema, uma vez que os relés utilizados atualmente no mercado possuem funções
desenvolvidas e implantadas a menos de uma década. Por exemplo, a utilização do
protocolo IEC 61850 na comunicação entre os relés teve sua implantação difundida ao
�m da década passada e hoje consolida-se como maior facilitador de inovações. Por
conta de sua con�abilidade estuda-se utilizar a rede de comunicação para realização
de operações vitais como operação de uma proteção, extinguindo a utilização de
cabeamento elétrico.
Para �nalizar, o trabalho aprofunda-se no ramo da proteção do SPCS e à apli-
cação a um determinado equipamento, no caso, um transformador. Desta forma, a
intenção é incentivar trabalhos futuros desenvolvendo um aprofundamento na área
de controle dos equipamentos de uma subestação ou no campo de supervisão dos
equipamentos e interface homem-máquina. Estimula-se, também, estudos detalha-
dos sobre a proteção de outros equipamentos como linhas de transmissão, reatores
e bancos de capacitores implantados através de IEDs. Outrossim, projetos sobre a
implantação de SPCS com larga utilização da norma IEC 61850 acrescentariam no
68
que tange à difusão desta tecnologia de vanguarda.
69
Referências Bibliográ�cas
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- UFSC, 2005.
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sado em 02/02/2017.
[3] �Imagem painel rack 19 polegadas�. https://goo.gl/6gDJuk, . Acessado em
03/01/2017.
[4] �Imagem de bloco de teste�. https://goo.gl/EhP7aJ, . Acessado em
18/01/2017.
[5] �Imagem de Mala de Teste fabricante Omicron�. https://goo.gl/6Em1Qd, .
Acessado em 18/01/2017.
[6] KINDERMANN, G. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência, v. 2. LabPlan
- UFSC, 2005.
[7] �Imagem Esquema de Funcionamento Relé Buchholz - Original�. https://goo.
gl/YiuyXJ, . Acessado em 20/01/2017.
[8] Siprotec 5 - Transformer Di�erential Protection, 06.2016 ed. Siemens, 2016.
[9] TOSHIBA. �Relatório de Ensaios�. Agosto 2016.
[10] Technical Manual - Transformer Protection IED - P64x, 06 ed. Alstom, 2014.
[11] BLACKBURN, J. L., DOMIN, T. D. Protective Relaying - Principles and
Applications. CRC Press, 2006.
[12] MARDEGAN, C. �Dispositivos de Proteção - Parte 1�, O Setor Elétrico, Março
2010.
[13] FITZGERALD, A. E. Máquinas Elétricas. Bookman, 2006.
[14] ONS. Filoso�as das Proteções dos Transformadores da Rede de Operação do
ONS. Relatório técnico, ONS, 2012.
70
[15] NOGUEIRA, D. D. S., ALVES, D. P. Transformadores de Potência - Teoria e
Aplicação. Projeto de graduação, Universidade Federal do Rio de Janeiro
- UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2009.
[16] BERNARDES, A. P. Esquema Completo de Proteção de Transformadores para
Testes em Relé Digital. Dissertação de mestrado, Escola de Engenharia
de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil, 2006.
[17] MARTINS, D. L. Estudo de Caso na Automação, Proteção e Supervisão de uma
Subestação de Classe 69kV. Projeto de graduação, Escola de Engenharia
de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil, 2012.
[18] GOES, A. R. G. Modernização da Proteção de Sistemas Elétricos de Potência.
Projeto de graduação, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2013.
[19] �Regulamenta as características de desempenho dos TCs�. https://
www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=329301. Acessado em
02/02/2017.
[20] �Regulamenta as características de desempenho dos TPs�. https:
//www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=40021. Acessado em
02/02/2017.
[21] �Norma que de�ni a comunicação MMS e GOOSE�. https://www.
abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=356254. Acessado em
02/02/2017.
[22] ONS. Procedimentos de Rede - Submódulo 2.6 - Requisitos Mínimos para Sis-
temas de Proteção e de Telecomunicações. Relatório técnico, ONS, 2011.
[23] TOSHIBA. �Imagem Aspectos Construtivos�. https://goo.gl/kYhWKw. Aces-
sado em 20/01/2017.
[24] ALEXANDER, C., SADIKU, M. Fundamentos de Circuitos Elétricos. Mc
Graw Hill, 2009.
[25] GRAINGER, J., STEVENSON, W. Power Systems Analysis. Mc Graw Hill,
1994.
71
Apêndice A
Fundamentos Teóricos
A.1 Análise de Circuitos
As proteções dos equipamentos atuam fazendo uma análise sobre as correntes e
tensões sobre eles. Para esta análise torna-se necessário o conhecimento de análise
de circuitos como as leis de Kirchho�, Fasores e decomposição em componentes
simétricas.
A.1.1 Leis de Kirchho�
As leis de Kirchho� oferecem uma metodologia sistemática para resolução de circui-
tos elétricos. A partir de suas duas leis, a lei dos nós e a lei das malhas, torna-se
possível gerar um sistema de equações que conseguem determinar todas as variáveis
de um circuito.
Para um maior entendimento das leis de Kirchho� é necessário que façamos
algumas de�nições:
Nó ⇒ Ponto no circuito onde conectam-se os elementos.
Ramo ou Braço ⇒ Trecho do circuito entre dois nós consecutivos.
Malha ⇒ Trecho do circuito que forma uma trajetória fechada.
• Lei dos Nós:
Em um circuito elétrico, a soma algébrica das correntes Ii em qualquer nó é
igual a zero. Pode-se escrever que
n∑i=1
Ii = 0. (A.1)
Para que não haja confusões há uma convenção considerando as correntes que
entram em um nó como positivas e as correntes que saem dele negativas. Desta
72
forma temos que
n∑i=1
Iichegam =m∑j=1
Iisaem. (A.2)
Para exempli�car a utilização da lei das corrente, observe que na �gura A.1
no nó A entra a corrente I1 e saem as correntes I2 e I3. Portanto
I1 = I2 + I3. (A.3)
Figura A.1: Exemplo da aplicação da lei dos nós
• Lei das Malhas:
Em um circuito elétrico, a soma algébrica das tensões Vi ao longo de uma
malha fechada é igual a zero. Desta forma, temos que
n∑i=1
Vi = 0 (A.4)
Deve-se tomar cuidado especial com a polarização dos elementos e das fontes
de tensão para que os termos da soma tenham seu sinal adequadamente dispos-
tos. As fontes têm suas polaridades pré-determinadas, enquanto os elementos
passivos registram a queda de tensão a partir do terminal no qual a corrente
entra como pode ser visto na �gura A.2.
Com este exemplo simples, ilustrado na �gura A.2, temos que a tensão imposta
pela fonte de tensão, V, é igual a queda de tensão no resistor. Sendo assim:
V = (I1 − I3)R1 (A.5)
Com a utilização da lei dos nós da equação A.3 podemos determinar que:
73
Figura A.2: Exemplo da aplicação da lei dos nós
V = I2R1 (A.6)
Condizente com a lei de Ohm que poderia facilmente ser aplicado a este exem-
plo.
A.1.2 Fasores
Os fasores são uma ferramenta matemática largamente utilizada pela engenharia
para a representação de sinais senoidais. Considere o sinal senoidal
x(t) = A cos(ωt+ θ), (A.7)
sendo A a amplitude da função cosseno de frequência angular ω e fase θ. A fase é
um argumento em graus ou radianos que denota a posição da função em relação a
uma referência que pode ser arbitrariamente escolhida. Por ser um sinal periódico,
o cosseno se repete ao longo da variável independente, no caso, o tempo t, com
periodicidade
T =2π
ω. (A.8)
Sendo a identidade de Euler [24], dada por
Aej(ωt+θ) = A(cos(ωt+ θ) + j sin(ωt+ θ)), (A.9)
esta ferramenta permite a separação dos termos constantes, magnitude e fase, do
termo dependente do tempo uma vez que
Aej(ωt+θ) = A(ejωtejθ). (A.10)
74
Portanto, segundo Euler, também podemos representar o sinal senoidal como
x(t) = A cos(ωt+ θ) = Re{Aej(ωt+θ)}. (A.11)
Grande parte das aplicações de engenharia elétrica avalia somente as respostas
em regime permanente, ou seja, sem a necessidade de considerar o valor instantâ-
neo da oscilação de um sinal senoidal para seus equacionamentos. No entanto, a
defasagem angular relativa entre sinais e suas magnitudes são sempre requeridas
para qualquer que seja a solução. Sendo assim, o chamado domínio da frequên-
cia é largamente utilizado e a forma abreviada Aejθ é usada simpli�cando diversas
análises.
Em suma, as tensões e as correntes senoidais de um circuito elétrico sob regime
permanente podem ser representadas tanto no domínio do tempo quanto no domínio
da frequência. A tabela A.1 apresenta as duas representações e suas relações.
Tabela A.1: Transformação Domínio do Tempo - FasorRepresentação no domínio do tempo Representação fasorialv(t) = Vmax cos(ωt+ θ) Vmaxe
jθ = Vmax∠θi(t) = Imax cos(ωt+ α) Imaxe
jα = Imax∠α
A.1.3 Componentes Simétricos
Sistemas trifásicos consistem no uso de três fontes senoidais de energia, chamadas
fases, defasadas em 120 graus e com mesma magnitude. O sistema é considerado
equilibrado ou balanceado quando está alimentando cargas iguais em cada fase e
as fontes estão funcionando de maneira correta, mantendo a fase e a magnitude
constantes.
No entanto, diversas situações podem desequilibrar o sistema como a assime-
tria das cargas alimentadas pelas fases e faltas assimétricas. Para analisar estes
desequilíbrios faz-se o uso da ferramenta desenvolvida por Fortescue [25] chamada
componentes simétricos. Os componentes simétricos decompõem o sistema dese-
quilibrado de n fasores em n sistemas de fasores equilibrados. No caso do sistema
trifásico, o sistema é decomposto em três sistemas equilibrados representados na
�gura A.3.
Componentes de Sequência Positiva ⇒ Consiste em três fasores de magnitude
igual e defasados em 120 graus com a mesma sequência de fase, ou seja, mesma
sequência de conexão entre as fases do sistema original.
Componentes de Sequência Negativa⇒ Consiste em três fasores de magnitude
igual e defasados em 120 graus, porém com a sequência de fase inversa à original.
Componentes de Sequência Zero ⇒ Consiste em três fasores com mesma
75
magnitude, mas em fase entre si, ou seja, defasados em 0 graus entre si.
Figura A.3: Decomposição de um sistema desequilibrado em seus componentes si-métricos
Ao dividir um problema complexo de um sistema desequilibrado nesses três sis-
temas equilibrados, os componentes simétricos facilitam sua análise e solução. Isto
ocorre pois o equacionamento dos sistemas balanceados é de menor complexidade
analítica e basta juntá-los após resolvê-los separadamente para encontrar a solução
do sistema original.
Normalmente, utiliza-se a notação V (1)A para denotar a componente positiva de
uma grandeza, no caso a tensão da fase A, V (2)A para a componente negativa e V (0)
A
para a componente se sequência zero. Assim,
VA = V(1)A + V
(2)A + V
(0)A (A.12)
De maneira similar ocorre para as fases B e C. No entanto, sabemos que nos
componentes simétricos as componentes são iguais em magnitude e defasadas em
120 graus de acordo com a sequência de fase, como pode ser visto na �gura A.3.
Assim, podemos expressar as tensões VB e VC em função das componentes de VA.
Portanto,
VB = a2V(1)A + aV
(2)A + V
(0)A , (A.13)
e
VC = aV(1)A + a2V
(2)A + V
(0)A , (A.14)
sendo a = 1∠120, o operador que representa a defasagem angular entre os fasores.
Ao analisar as equações A.12, A.13 e A.14 percebemos que pode-se desenvolver,
matricialmente, um operador que executa a decomposição em componentes simétri-
cos de um sistema trifásico, dado por
76
A =
1 1 1
1 a2 a
1 a a2
. (A.15)
Assim, matricialmente, podemos realizar a operação de decomposição em com-
ponentes simétricos das três fases da seguinte maneira VA
VB
VC
=
1 1 1
1 a2 a
1 a a2
V
(0)A
V(1)A
V(2)A
= A
V(0)A
V(1)A
V(2)A
. (A.16)
Com as ferramentas apresentadas torna-se possível fazer a análise de circuitos
que são essenciais para realizar a proteção de um equipamento, uma vez que as
proteções consistem em analisar as correntes e tensões em magnitude, fase e seus
componentes simétricos para julgar se há ocorrência ou não de uma falta.
A.2 Decomposição em Série de Fourier
Um sinal periódico, x(t), com período T pode ser representado usando-se uma soma
in�nita de senos e cossenos, a série de Fourier, dada por
x(t) =a02
+∞∑k=1
[ak cos(ωkt) + bk sin(ωkt)] , (A.17)
sendo a0, ak e bk (k ∈ Z , k > 0) constantes chamadas de Coe�cientes de Fourier e
ω = 2πT.
Os Coe�cientes de Fourier representam os pesos que cada parcela de seno e
cosseno de ordem k, chamadas de harmônicas de ordem k, representa na série e são
determinadas a partir das seguintes fórmulas:
a0 =2
T
∫ T
0
x(t)dt, (A.18)
ak =2
T
∫ T
0
x(t) cos(ωkt)dt (A.19)
e
bk =2
T
∫ T
0
x(t) sin(ωkt)dt. (A.20)
A série de Fourier possui diversas propriedades. Destaca-se por conta da aplica-
ção em nosso trabalho, o fato das funções pares só terem termos cosseno e funções
77
ímpares só terem termos seno.
Nos sistema de proteção, os sinais de tensão e corrente aquisitados são funções
cossenoidais e, por isso, sua série de Fourier contém somente termos cosseno. Em ge-
ral, os sinais recebidos pelos relés podem apresentar pequenas ou grandes distorções
por diversos motivos; assim, a análise das harmônicas provenientes da decomposição
em série de Fourier torna-se importante e sua aplicação aos sistemas de proteção é
apresentada na seção 5.1. Nesta seção, é tratada a proteção diferencial que possui
bloqueios para sua atuação dependendo dos pesos de certas harmônicas em relação
à fundamental.
78
Apêndice B
Uni�lar dos Pátios 230 kV, 69 kV SE
Barro Alto e Diagrama de
Impedâncias
Os diagramas a seguir chamam-se Uni�lares, neles podemos ver todos os vãos pre-
sentes na subestação Barro Alto, inclusive o vão do TR03 (área hachurada). O
arranjo, como se pode observar, é chamado de barra-dupla quatro chaves contendo
quatro seccionadoras e um disjuntor por vão com o objetivo de realizar a manobra
para manutenção e a proteção. Podemos, também, ver, as linhas, transformadores
e demais equipamentos da subestação.
79
80
81
Localização da SE Barro Alto no Sistema Interligado Nacional
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Apêndice C
Supervisão das Proteções intrínsecas
As proteções intrínsecas de um transformador agem de maneira independente, en-
tretanto os contatos de sua ação são disponibilizados e aquisitados pela unidade de
aquisição e controle conforme os desenhos a seguir.
83
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86
Apêndice D
Dados de Placa do Transformador e
Características dos Equipamentos de
Medição
Para que a proteção possa ser devidamente ajustada há a necessidade de serem
apresentadas as informações dos componentes da proteção e do próprio elemento
protegido. Os dados do transformador protegido podem ser vistos nas �guras a
seguir.
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D.1 Dados de placa dos Transformadores que com-
põem o TR03
Para o transformador é importante saber a potência, a ligação e os tapes que o
comutador pode alcançar juntamente com o impacto da comutação na corrente.
Figura D.1: Informações básicas dos trafos que compõem o TR03: ligação e potêncianominal
88
Figura D.2: Correntes nominais dos tapes e correntes máximas toleradas pelos trans-formadores que compõem o TR03
D.2 Características dos equipamentos de medição
Para os equipamentos de medição é importante saber a relação de transformação,
o erro da classe de exatidão e o fator térmico. Conforme mencionado, o fator de
sobrecorrente no Brasil é normalizado em 20.
Tabela D.1: Características do TC da Alta TensãoRTC (500/5) AErro 10%FT 1,58FS 20
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Tabela D.2: Características do TC da Baixa TensãoRTC (1500/5) AErro 10%FT 1,0FS 20
Tabela D.3: Características do TP de aterramento para sobretensão de sequênciazero
Tensão Máxima Regime Permanente 15 kVRTP 13,8 kV / 120 V
Tensão Suportável em 1 min 34 kVTensão Suportável 60 µ s 110 kV
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Apêndice E
Tabela ANSI - Proteção
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Tabela E.1: Tabela ANSI - Sistemas de ProteçãoNúmero ANSI Denominação1 Elemento Principal2 Função de Partida ou Fechamento Temporizado3 Função de Veri�cação ou Interbloqueio4 Contator Principal5 Dispositivo de Interrupção6 Disjuntor de Partida7 Disjuntor de Anodo8 Dispositivo de Desconexão de Energia de Controle9 Dispositivo de Reversão10 Chave de Sequência das Unidades12 Dispositivo de Sobrevelocidade13 Dispositivo de Rotação Síncrona14 Dispositivo de Subvelocidade15 Dispositivo de Ajuste ou Comparação de Velocidade ou Frequência17 Chave de Derivação ou Descarga18 Dispositivo de Aceleração ou Desaceleração19 Contator de Transição Partida-Marcha20 Vávula Operada Elétricamente21 Relé de Distância22 Disjuntor Equalizador23 Dispositivo de Controle de Temperatura24 Relé de Sobre-excitação ou Voltz por Hertz25 Relé de Veri�cação de Sincronismo26 Dispositivo Térmico do Equipamento27 Relé de Subtensão27-0 Relé de Subtensão na Alimentação Auxiliar29 Contator de Isolamento30 Relé Anunciador de Alarme31 Dispositivo de Excitação32 Relé Direcional de Potência33 Chave de Posicionamento34 Chave de Sequência Operada por Motor35 Dispositivo para Operação das Escovas ou Curto-circuitar anéis Coletores36 Dispositivo de Polaridade37 Proteção de Motor: Relé de Subcorrente ou Subpotência38 Dispositivo de Proteção de Mancal40 Relé de Perda de Excitação
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Número ANSI Denominação41 Disjuntor ou Chave de Campo42 Disjuntor ou Chave de Operação Normal43 Dispositivo de Transferênia Manual44 Relé de Sequência de Partida46 Relé de Proteção de Sequência Negativa47 Relé de Sequência de Fase de Tensão48 Relé de Sequência Incompleta de Partida49 Relé de Proteção Térmica50 Relé de Sobrecorrente Instatâneo50N Relé de Sobrecorrente Instatâneo de Neutro50BF Relé de Proteção de Falha do Disjuntor51 Relé de Sobrecorrente Temporizado51N Relé de Sobrecorrente Temporizado de Neutro51R Relé de Sobrecorrente Residual51EFP Relé de Proteção de Zona Morta52 Disjuntor de Corrente Alternada53 Relé para Excitatriz ou Gerador CC54 Disjuntor para Corrente Contínua, Alta Velocidade55 Relé de Fator de Potência56 Relé de Aplicação de Campo57 Dispositivo de Aterramento58 Relé de Falha de Reti�cação59 Relé de Sobretensão59N Relé de Sobretensão de Terra (ou Sobretensão de Sequência Zero)60 Relé de Balanço de Tensão61 Relé de Balanço de Corrente62 Relé de Interrupção ou Abertura Temporizada63 Relé de Buchholz64 Relé de Proteção de Terra65 Regulador de Velocidade66 Proteção de Motor: Supervisão do Número de Partidas67 Relé Direcional de Sobrecorrente68 Relé de Bloqueio pro Oscilação de Potência69 Dispositivo de Controle Permissivo70 Reostato Eletricamente Operado71 Dispositivo de Detecção de Nível72 Disjuntor de Corrente Contínua73 Contator de Resistência de Carga74 Função de Alarme75 Mecanismo de Mudança de Posição76 Relé de Sobrecorrente CC77 Transmissor de Impulsos78 Relé de Medição de Ângulo de Fase/ Proteção Contra Falta de Sincronismo79 Relé de Religamento AC
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Número ANSI Denominação81 Relé de Sub ou Sobrefrequência82 Relé de Religamento DC83 Relé de Seleção/ Transferência Automática84 Mecanismo de Operação85 Relé Receptor de Sinal de Telecomunicação86 Relé Auxiliar de Bloqueio87B Proteção Diferencial - Barra87TP Proteção Diferencial - Transformador87G Proteção Diferencial - Gerador87L Proteção Diferencial - Linha88 Motor Auxiliar ou Motor Gerador89 Chave Seccionadora90 Dispositivo de Regulação91 Relé Direcional de Tensão92 Relé Direcional de Tensão e Potência93 Contator de Variação de Campo94 Relé de Desligamento
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