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SinopseAnne (Juliette Binoche), abastada mãe de dois filhos e jornalista de investigação para a revista “ELLE”, está a escrever um artigo sobre a prostituição entre as estudantes. Os seus encontros com duas jovens mulheres bastante independentes, Alicja (Joanna Kulig) e Charlotte (Anaïs Demoustier), revelam-se intensos e perturbadores, levando-a a questionar as suas convicções mais íntimas sobre dinheiro, família e sexo.

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Entrevista a Malgoska Szumowska (realizadora)

e Tine Byrckel (argumentista)Tine Byrckel, como decidiu escrever ELAS, este filme sobre prostituição estudantil?

Tine Byrckel: A ideia original partiu da produtora Marianne Slot com quem trabalho há bastante tempo. Os meios de comunicação social falam regularmente sobre estas jovens mulheres que se prostituem para poder completar os estudos. Este fenómeno social intrigou-a. O que significa isto para estas jovens mulheres? O que isto diz sobre a sociedade? A prostituição é a derradeira libertação das mulheres com estas a tomarem a posse do seu corpo, incluindo o direito a vendê-lo? Ou isto é uma submissão intolerável? Quisemos colocar estas questões sem fazer qualquer tipo de juízos de valor, algo que o cinema permite melhor do que qualquer outro meio.

Como decidiram escrever este argumento em conjunto?

Tine Byrckel: A Marianne e eu estávamos à procura de um realizador, masculino ou feminino, para trabalhar neste projecto. Conhecíamos o trabalho da Malgoska e ficámos

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completamente fascinadas por uma versão inicial do primeiro filme dela, “33 Scenes from Life’’. A Malgoska conheceu a Marianne antes de mim.

Malgoska Szumowska: Fiquei imediatamente com vontade de o fazer. Foi o início de uma colaboração próxima que durou três anos!

Tine Byrckel: A Malgoska é boa a filmar o retrato global em todos os seus ínfimos detalhes. Era assim que este filme tinha de ser feito para não se tornar moralizador, mas sim focando-se na responsabilidade e desejo de cada uma das protagonistas.

Como correu este processo de trabalho a quatro mãos?

Tine Byrckel: Antes de conhecer a Malgoska, tinha trabalhado na estrutura, juntando uma jornalista e várias raparigas. Houve também uma referência a “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf, na construção do argumento, com o dia na vida de uma mulher que está a pensar no jantar que tem de preparar. Aqui também há um jantar que está a ser preparado, mas é um jantar de negócios. O questionamento surge nos gestos e diálogos quotidianos em vez de ser expresso através de grandes parábolas. Depois, com a Malgoska em Varsóvia, escolhemos cerca de cem cenas que usei para escrever as primeiras versões do argumento.

Investigaram o universo da prostituição para se prepararem para a escrita de ELAS?

Tine Byrckel: Só fizemos a pesquisa de campo depois de escrever as primeiras versões do argumento. Em França, pedimos a Hélène de Crécy, uma excelente realizadora de documentários, para entrevistar raparigas na rua. Ela ficou tão fascinada pelas suas histórias que realizou um documentário, ‘‘Escort’’, também produzido pela Marianne Slot.

Malgoska Szumowska: Antes de começar a rodagem, quis conhecer algumas prostitutas jovens. Na Polónia, sei através dos jornais que muitas jovens estudantes são forçadas a dormir com os proprietários dos quartos onde vivem. O caso de uma jovem rapariga que era extremamente bonita e elegante causou-me bastante impressão. Desde o início da entrevista que ela só falava em sexo, daquilo que fazia e do que gostava de fazer...

Tiveram respostas que não estavam à espera?

Malgoska Szumowska: Para ser sincera, devo dizer que fiquei chocada. Chocada pelo facto de uma rapariga tão bonita e inteligente alcançar prazer por dormir com homens por dinheiro. E não se trata de algo para suprir necessidades vitais como comida e alojamento, mas também pelo prazer e para ter uma vida mais agradável. Na verdade, isto foi numa direcção bastante diferente da visão fantasiada que as pessoas têm da prostituição!

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Tine Byrckel: Conhecemos jovens mulheres que eram muito mais orgulhosas e descontraídas do que imaginámos. Muito distantes dos relatos que são vendidas pelos meios de comunicação social, as histórias impressionantes de jovens mulheres que sofreram abusos. Não quisemos falar sobre tráfico, chulos ou drogas. Quisemos falar sobre jovens mulheres que escolhem prostituir-se, com o objectivo afirmado de subir na pirâmide social. É muito mais perturbador. Há a questão do objecto, da mulher como um objecto sexual, mas é muito mais do que isso. (…) As jovens mulheres que conhecemos queriam tudo e queriam-no imediatamente. Elas foram apanhadas numa espécie de febre materialista.

Malgoska Szumowska: Outra surpresa foi conhecer uma rapariga que mal tinha 20 anos e sabia mais sobre sexo do que muitas outras mulheres com 30 e muitos anos. Começámos a perceber que o filme não seria apenas sobre os aspectos sociais, mas que o tema seria muito mais abrangente. Quisemos falar sobre a intimidade das mulheres.

Uma característica dominante do filme é estabelecer um paralelismo entre o trabalho da jornalista, uma mulher que tem uma posição elevada na sociedade, e as estudantes que se prostituem...

Malgoska Szumowska: Completamente. Nós fazemos todo o tipo de coisas por dinheiro. Aquilo que a jornalista faz

na sua vida pessoal é aceitar uma série de cedências, coisas de que não gosta. Além do seu trabalho, ela passa o dia a preparar uma refeição para o patrão do marido. Ela não expressa as suas frustrações e opiniões ao marido. Como realizadora, eu própria tenho de fazer determinadas coisas que considero desagradáveis. Porque será o sexo assim tão diferente? As pessoas fazem por vezes enormes cedências. Podemos comparar isto à prostituição?

Tine Byrckel: A personagem da jornalista, que tem dificuldades em manter a sua própria distância, faz com que os espectadores percebam o seu próprio prazer voyeurístico. Não podemos – espero – manter a nossa consciência politicamente correcta totalmente intacta e dizer a nós próprios “Que terrível que isto é”.

Como tiveram a ideia de oferecer o papel da jornalista a Juliette Binoche?

Malgoska Szumowska: Pensei na Juliette de imediato. A sua interpretação em “Nada a Esconder”, de Michael Haneke, impressionou-me tanto que não conseguia imaginar qualquer outra actriz para ELAS. Enviámos-lhe o guião e assim que nos encontrámos, percebi que iria funcionar. O tema interessou-lhe e partilhamos a mesma abordagem perante as coisas. Assim que ela disse sim, entregou-se totalmente ao filme. Ela confiou em mim e sempre me

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apoiou, até nos meus momentos de dúvida. Foi um encontro excepcional: a Juliette ajudou-me a tornar-me a realizadora deste filme.

E quanto a Anaïs Demoustier e Joanna Kulig?

Malgoska Szumowska: Estávamos à procura de actrizes jovens que tivessem a energia e vivacidade que eu tinha naquela idade. Vi a Anaïs em ‘‘Sois Sage’’ (de Juliette Garcias). Fiquei convencida pela sua força e talento e ainda estou. Quanto à Joanna, reconheci-me por completo nela. Apaixonada, faladora e exuberante, ela queria tanto participar em ELAS que me mentiu quando lhe perguntei se sabia falar francês. Quando percebi que isso era mentira, achei que ela tinha sido muito insolente. E no fim do filme, ela fala francês!

O trabalho com as actrizes influenciou a escrita do filme?

Malgoska Szumowska: Foi muito mais do que uma influência. Pelo caminho, diria que elas carregaram o filme. Após cada dia de rodagem, consoante o que tinha sido dito e feito, eu alterava as cenas que iríamos filmar no dia seguinte. As actrizes inspirararam novas ideias em mim e eu chegava todas as manhãs com alterações que resultavam do trabalho delas. Diria que ELAS é uma entidade feminina feita por todas as mulheres que nele trabalharam em conjunto de uma forma muito próxima.

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os custos”... Mas esta noção já não tem o seu lugar num mundo em que tudo tem um preço, é contado e medido. Aquilo que talvez devessemos considerar é que a ideia de feminilidade, que roça o sagrado, não é sustentada pelas mulheres. E é aqui que penso que a imagem da prostituta sofredora constitui o último bastião inconsciente contra a abordagem totalmente calculista. (…) Mas o problema não é das prostitutas – é da sociedade como um todo. Se queremos manter o sagrado, vamos fazê-lo! Mas dando a toda a gente o acesso a uma educação melhor. Se não queremos fornecer os recursos, vamos parar de julgar a prostituição. Algumas pessoas, devido à sua posição social, não precisam de se prostituir para ter aquilo que querem. Uma certa hipocrisia burguesa ainda floresce nas feministas e nas outras pessoas.

Este filme mudou-vos?

Malgoska Szumowska: De todos os meus filmes, este é aquele que mais me transformou, embora todos eles tenham alterado alguma coisa na minha vida. ELAS levou-me a partilhar a intimidade das mulheres, a reflectir acerca da sua solidão. De certa maneira, este filme fez com que me tornasse uma mulher!

Uma vez terminada a rodagem, a montagem foi uma etapa decisiva?

Malgoska Szumowska: A montagem é uma etapa crucial nos meus filmes, devido à maneira como trabalho. Fiz vários documentários antes de passar para a ficção e mantenho o hábito de dar enorme importância à montagem no processo criativo. O importante para mim é a precisão nas mais pequenas emoções transmitida por gestos muitas vezes espontâneos. Aquilo que quero passar é, acima de tudo, a intimidade.

Consideram-se feministas?

Malgoska Szumowska: Considero-me uma feminista de nascença. Sou por natureza uma mulher forte e independente que sempre trabalhou sem pensar se estava a desempenhar um trabalho de homem ou de mulher. (…) É provável que ELAS não agrade a alguns homens, porque mostra-lhes uma ideia deles próprios de que eles não gostam. É possível que os homens saibam que, através da prostituição, exploram as mulheres, mas talvez nunca lhes tenha ocorrido a ideia de que eles próprios possam ser explorados. Se este é um filme feminista, isso não foi a minha intenção inicial pois não sou uma militante feminista.

Tine Byrckel: Penso que o lado “feminino” implica uma noção de gratuitidade para o mundo. “Dar sem contar

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Malgoska Szumowska declaração da realizadoraÉ um facto que jovens estudantes femininas recorrem à prostituição para pagar os seus estudos. Na comunicação social, o assunto é tratado, por um lado, com desaprovação moral e, por outro, com uma curiosidade voyeurística. O sexo vende em todas as suas formas. Nas páginas das mesmas revistas, há anúncios a inúmeros objectos de desejo consumista.

Mulheres como objectos sexuais. E reportagens cheias de considerações triviais e moralistas, indignadas, porém fascinadas, pelas mulheres que usam o sexo para conseguir estes objectos através da venda dos seus corpos.

Quisemos tratar o tema da prostituição estudantil através da troca de perspectivas das mulheres. Uma jornalista, uma daquelas mulheres parisienses que se encontram numa situação material invejável, questiona duas estudantes. Duas raparigas que anseiam por escalar a pirâmide social e que financiam os seus estudos através da prostituição. Os clientes destas raparigas são muitas vezes os maridos daquelas mulheres. A investigação irá mudar totalmente a perspectiva da jornalista em relação aos seus próprios desejos.

Quisemos explorar estes desejos de ambos os lados, sem os julgar.

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biografiaMalgoska Szumowska nasceu a 26 de Março de 1973 em Cracóvia (Polónia). Formou-se na Escola de Cinema de Lodz e também estudou História de Arte. A sua primeira curta-metragem, “Silence”, recebeu diversos prémios internacionais. “Ascension”, a segunda curta, foi apresentada na secção Cinefoundation do Festival de Cannes 1999.É também autora e produtora de vários documentários. Aos 25 anos estreou-se nas longas-metragens, com “A Happy Man”. Esta valeu-lhe um prémio especial no Festival de Salónica, assim como uma nomeação para Melhor Realizador em Sundance. Na altura, a “Variety” integrou-a numa lista dos dez melhores jovens cineastas europeus.A segunda longa-metragem, “Stranger”, foi apresentada em Sundance e na secção Panorama do Festival de Berlim. Em 2005, Szumowska começou a trabalhar com a Zentropa como produtora e realizadora.Em 2008, “33 Scenes from Life”, o seu terceiro filme, recebeu o Leopardo de Prata no Festival de Locarno. Foi também premiado pela Academia de Cinema da Polónia. “ELAS” é a sua quarta longa-metragem e o seu projecto de filme foi apresentado na secção L’Atelier do Festival de Cannes 2009.Actualmente encontra-se a preparar uma nova longa-metragem, com o título “Murder of Priest Adam”.

filmografia2008 33 SCENES FROM LIFE Prémio Especial do Júri – Festival de Locarno

2004 STRANGER Selecção Oficial – Festival de Sundance

2000 HAPPY MAN

1999 THE SILENCE (curta)

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Qual foi a sua reacção inicial ao ler o argumento de ELAS?

Juliette Binoche: Notei imediatamente a inteligência no desenvolvimento do tema, uma abordagem que era ao mesmo tempo corajosa e não excessivamente simplificada. O argumento trata o complexo tema da prostituição estudantil. O filme não acusa ninguém, mas questiona-nos. Dá-nos uma percepção das pérfidas mudanças na nossa sociedade que influenciam a nossa maneira de ser e pensar. De facto, não é fácil estudar quando se tem dificuldades financeiras. A prostituição paga bem, não consome muito tempo, permite um certo conforto financeiro e faz com que as pessoas se sintam integradas na sociedade de consumo. Estamos habituados a publicidade nas ruas e revistas em que raparigas praticamente impúberes surgem rodeadas por luxos em poses provocadores que roçam o pornográfico. Com o tempo, esta publicidade leva-nos a pensar que juventude, luxo e sexo são uma mistura bastante boa e não um caso assim tão grave. Ter um emprego temporário torna-se mais degradante do que fazer amor por dinheiro.

Como correu o seu primeiro encontro com Malgoska?

Juliette Binoche: Slawomir Idziak, o director de fotografia de Kieslowski em “Três Cores: Azul”, tinha-me dito que a Malgoska

Entrevista comJuliette Binoche

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era uma das mais dotadas cineastas polacas da sua geração. Gostei do argumento, como tal fiquei ansiosa por conhecê-la. Ela foi intrigante, divertida e quase cautelosa. A primeira vez que nos vimos, ela disse que as coisas nunca iriam funcionar entre nós as duas, porque tínhamos ambas personalidades demasiado fortes!

Então, as relações foram difíceis entre vós?

Juliette Binoche: Pelo contrário! Existiu uma compreensão e respeito mútuos logo desde o início. Senti que havia algo dela no filme que precisava de se revelar perante o mundo. Foi um nascimento artístico, emocional e intelectual.

Este filme tem uma estrutura bastante incomum. Ao interpretar o papel de uma jornalista que escreve um artigo sobre estas jovens mulheres, não se tornou o alter ego da Malgoska?

Juliette Binoche: O filme não é realmente sobre ela, mas sobre as questões que ela coloca. O que é uma mulher? O que é a sua sexualidade? O que é o amor? O que é o medo dela? O que são os juízos de valor dela? Prostituição? Prazer? Juventude? O que a excita? Como é estar casada? Sentir vergonha? Como é estar presa? Chocada? Ser mãe? Jornalista? A realizadora explora todas estas questões através da minha personagem. Eu torno-me a sua cúmplice, a sua inspiração, o seu co-piloto, a sua irmã, a sua pesquisadora, a sua escultura quando as circunstâncias são as ideais.

Como a actriz francesa com mais prémios internacionais, está numa altura da sua carreira em que deseja correr mais riscos?

Juliette Binoche: Assumir riscos intoxica-me, estimula-me, desorienta-me. É necessário correr riscos para evitar descansar sobre os louros conquistados e de modo a abrirmo-nos a experiências novas e relevantes.

Parece surpreendida, chocada e divertida pelas respostas das raparigas às questões da jornalista...

Juliette Binoche: Na rodagem, existe, obviamente, uma qualidade de escuta que é inerente à própria rodagem. Como é possível não nos deixarmos fascinar, intrigar, horrorizar e invejar pela aparente liberdade da juventude, desta escolha de estilo de vida, durante algum tempo? É a questão integral da consciência que prende a sua atenção durante estas entrevistas. Podemos ver estas raparigas como monstros, mas também como pequenas raparigas assustadas. A solidão destas jovens estudantes e desta mãe não estão por vezes assim tão distantes.

Também se sente uma proximidade crescente entre a jornalista e as duas raparigas. Isso também existiu entre as trêz actrizes?

Juliette Binoche: Sim, mas de uma forma diferente. A Anaïs é uma estrela em ascensão no cinema francês, tem um ouvido e uma sensibilidade notáveis. Aquilo que a Joanna

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transmite é, acima de tudo, o seu desejo de liberdade, um lado selvagem que pode exprimir-se a qualquer momento. Sentimos que ela coloca toda a sua vida em risco quando representa. Temos ambas uma coisa em comum: gostamos de rir às gargalhadas.

O trabalho da Malgoska sobre a intimidade é bastante abrangente, sobretudo em determinadas cenas. A sua própria intimidade sofreu em resultado disso?

Juliette Binoche: Não. Vou tão longe quanto possível com o meu coração, o meu suor, a minha força de vontade, a minha intuição e apenas me sinto bem se tiver a sensação de um trabalho bem feito, uma jornada interior. Mesmo se nem sempre pareça estar no meu melhor num filme, não me arrependo disso, porque cada filmagem é necessária e conta uma história. Os acontecimentos de um dia podem dar-nos muitas faces diferentes.

Em ELAS, a ideia da prostituição é estendida até ao toda da sociedade...

Juliette Binoche: Ninguém é poupado. Cabe a cada um de nós reflectir sobre isso. O filme não faz juízos de valor, mas faz soar o alarme. A ideia da Malgoska é que o público seja excitado por aquilo que vê para que seja apanhado em flagrante como fazendo parte de um sistema. Cabe a cada um de nós ver por si próprio e investigar por si próprio.

É inevitável usar a palavra “feminismo” para descrever ELAS?

Juliette Binoche: Falar sobre mulheres, o feminino e intimidade não é ser feminista. Para mim, a palavra “feminismo” é inadequada, mas consigo perceber que algumas pessoas a utilizem, porque se trata de um tema que pode fazê-las sentir-se desconfortáveis. Ver uma jovem estudante a vender o seu corpo por dinheiro não é trivial. O assunto é tabu.

filmografia seleccionada2010 CERTIFIED COPY de Abbas Kiarostami Melhor Actriz – Festival de Cannes2008 SUMMER HOURS de Olivier Assayas PARIS de Cédric Klapisch2007 DISENGAGEMENT de Amos Gitaï FLIGHT OF THE RED BALOON de Haou Hsiao Hsien2006 BREAKING AND ENTERING de Anthony Minghella2005 MARY de Abel Ferrara HIDDEN de Michaël Haneke2003 IN MY COUNTRY de John BOORMAN2000 CHOCOLATE de Lasse Hallstrôm Nomeada para Melhor Actriz – Oscar CODE UNKNOWN de Michael Haneke1999 THE WIDOW OF SAINT-PIERRE de Patrice Leconte Nomeada para Melhor Actriz – Cesar

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1998 ALICE AND MARTIN de André Téchiné THE CHILDREN OF THE CENTURY de Diane Kurys1996 THE ENGLISH PATIENT de Anthony Minghella Melhor Actriz Secundária – Oscar Melhor Actriz – Festival de Berlim1995 THE HORSEMAN ON THE ROOF de Jean-Paul Rappeneau1993 THREE COLORS – BLUE de Krzysztof Kieslowski Melhor Actriz – Cesar Melhor Actriz – Festival de Veneza1992 DAMAGE de Louis Malle1991 THE LOVERS ON THE BRIDGE de Léos Carax1988 THE UNBEARABLE LIGHTNESS OF BEING de Philip Kaufman1986 BAD BLOOD de Léos Carax1985 RENDEZ-VOUS de André Téchiné FAMILY LIFE de Jacques Doillon HAIL MARY de Jean-Luc Godard

Anaïs Demoustier (Charlotte)2011 THE LAST WINTER de John Shank SNOWS OF KILIMANDJARO de Robert Guediguian2010 LIVING ON LOVE ALONE de Isabelle Czajka Nomeada para Actriz Mais Promissora – Cesar

ELSEWHERE de Frédéric Pelle DEAR PRUDENCE de Rebecca Zlotowski SWEET EVIL de Olivier Coussemacq2009 GROWN UPS de Anne Novion Nomeada para Actriz Mais Promissora – Cesar BE GOOD de Juliette Garcias2008 THE BEAUTIFUL PERSON de Christophe Honoré GIVE ME YOUR HANDS de Pascal-Alex Vincent2006 L’ANNEE SUIVANTE de Isabelle Czajka2003 THE TIME OF THE WOLF de Michael Haneke

Joanna Kulig (Alicja)2011 THE WOMAN IN THE FIFTH de Pawel Pawlikowski2010 REMEMBRANCE de Anna Justice2010 LOS NUMEROS de Ryszard Zatorski2009 MARATON TANCA de Magdalena Lazarkiewicz 1 000 000 $ de Janusz Kondratiuk I LOVE YOU SO MUCH de Maciej Bochniak2008 JANOSIK: A TRUE STORY de Agnieszka Holland

e Kasia Adamik2006 WEDNESDAY, THURSDAY MORNING de

Grzegorz Pacek

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Notas da Crítica“Como ensaio sobre os papéis das mulheres na sociedade e o desejo feminino integeracional, o filme coloca muitas questões que não têm respostas fáceis. É tentador chamar a ELAS uma espécie de filme sobre sexo para intelectuais, mas é mais sobre pensar e sobre sexo (e pensar sobre sexo), revelando-se muito mais provável que, no final, estimule mais conversas incómodas e enfáticas do que o divertimento.”

LA Times - Mark Olsen

“Um dos pontos mais fortes de ELAS é o seu desejo autênticoem falar sobre a vida confortável mas insuficiente de Anne. A um certo nível, somos todos prostitutas? É uma questão simples, mas o filme de Szumowska permite a Binoche dominar sem falso glamour e sem reduzir as circunstâncias da vida de Anne a um cliché. O filme tem ainda a coragem de, nas suas convicções, levar o público a uma conclusão verdadeiramente em aberto, permitindo-nos chegar a uma ou duas conclusões através das nossas próprias cabeças.”

Chicago Tribune – Michael Phillips

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ElencoAnne JULIETTE BInOChE

Charlotte AnAïS DEMOUSTIEr

Alicja JOAnnA KULIg

Patrick LOUIS-DO DE LEnCQUESAIng

Mãe de Alicja KrySTynA JAnDA

Cliente sádico AnDrzEJ ChyrA

Saïd ALI MArhyAr

Pai de Anne JEAn-MArIE BInOChE

Florent FrAnçOIS CIvIL

Stéphane PABLO BEUgnET

Mãe de Charlotte vALÉrIE DrÉvILLE

Pai de Charlotte JEAn-LOUIS COULLOCh

Thomas ArThUr MOnCIA

Charles SCALI DELPEyrAT

Colette LAUrEnCE rAgOn

Marido de Colette ALAIn LIBOLT

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ProduçãoProduzido por MALgOSKA SzUMOwSKA

Argumento TInE ByrCKEL, MALgOrzATA SzUMOwSKA

Produção MArIAnnE SLOT

Director de fotografia MIChAL EngLErT

Montagem FrAnçOISE TOUrMEn, JACEK DrOSIO

Som AnDrÉ rIgAUT

Produtor executivo OLIvIEr gUErBOIS

1º Assistente de realização nICOLAS CAMBOIS

Casting AUrÉLIE gUIChArD

Guarda-roupa KATArzynA LEwInSKA

Direcção artística PAULInE BOUrDOn

Produção MArIAnnE SLOT

Co-produtores AgnIESzKA KUrzyDLO, BETTInA BrOKEMPEr,

BEATA ryCzKOwSKA, rEInhOLD ELSChOT, DAnIEL BLUM,

MALgOSKA SzUMOwSKA, PETEr AALAEK JEnSEn, PETEr gArDE

Produzido por SLOT MAChInE

Em co-produção com zEnTrOPA InTErnATIOnAL POLAnD,

zEnTrOPA InTErnATIOnAL KöLn, CAnAL + POLAnD,

zDF ShOT SzUMOwSKI, LIBErATOr PrODUCTIOnS.

Com o apoio de InSITITUTO DO CInEMA POLACO,

AgnIESzKA ODOrOwICz, FILMSTIFTUng nrw, MIChAEL

SChMID-OSPACh, CLAUDIA DrOSTE-DESELAErS, MArTInA

hOrBACh, DEUTSChEr FILMFörDErFOnDS, ChrISTInE BErg,

COnSTAnzE hELLMICh, PrOgrAMA MEDIA DA UnIãO

EUrOPEIA, PrOCIrEP, AngOA-AgICOA.

Com a participação de hAUT ET COUrT DISTrIBUTIOn,

MEMEnTO FILMS InTErnATIOnAL, POTEMKInE E AgnèS B.

DvD, KInO SwIAT.

Em associação com COFInOvA 7, ArTE/COFInOvA 6,

LA SOFICA SOFICInÉMA 6

França, Polónia, Alemanha | 96’ | 2011 | HD | 2.35 | Françês

Distribuído por Alambique