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SINAIS ENVOLVIDOS NA COMUNICAÇÃO DE AMERRHINUS YNCA SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) RODOLFO MOLINÁRIO DE SOUZA "Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal". Orientadora: Ana Maria Matoso Viana-Bailez CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ JULHO – 2006

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SINAIS ENVOLVIDOS NA COMUNICAÇÃO DE AMERRHINUS YNCA SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

RODOLFO MOLINÁRIO DE SOUZA

"Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal".

Orientadora: Ana Maria Matoso Viana-Bailez

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ JULHO – 2006

SINAIS ENVOLVIDOS NA COMUNICAÇÃO DE Amerrhinus ynca

SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

RODOLFO MOLINÁRIO DE SOUZA

"Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Vegetal".

Aprovada em 21 de julho de 2006

Comissão Examinadora:

_________________________________________________________________ Profa. Terezinha M. C. Della Lucia (D. Sc., Fitotecnia) – UFV

_________________________________________________________________ Prof. Omar Eduardo Bailez (D. Sc., Biologia do Comportamento) – UENF

_________________________________________________________________ Prof. Carlos Ruiz-Miranda (Ph.D., Comportamento Animal) – UENF

_________________________________________________________________ Profa. Ana Maria M. Viana-Bailez (D. Sc., Biologia do Comportamento) – UENF

Orientadora

ii

Dedico esta dissertação à minha mãe, Dona Cida, que dedicou sua vida à minha

formação; e ao meu irmão, Marcondes.

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado mais esta oportunidade

e por ter colocado em minha vida pessoas maravilhosas que contribuíram

imensamente para o meu sucesso.

À CAPES pelo fomento da bolsa e à Prefeitura de Quissamã, na pessoa

de Olavo Pimentel, que tornou possível nossas várias idas ao campo.

À UENF, ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias e ao

Laboratório de Entomologia e Fitopatologia, pelo uso de suas instalações e

equipamentos e pela oportunidade de realizar este trabalho.

Ao Laboratório de Ciência Ambientais da UENF, setor de Ecologia por ter

cedido os equipamentos para as análises acústicas.

A minha orientadora Profª. Ana Maria, pela paciência, carinho e amizade.

Aos professores Carlos Ruiz, Omar Bailez e Terezinha Della-Lucia por

aceitarem participar da banca e pelas críticas e correções que enriqueceram o

trabalho.

Ao grande parceiro e amigo Nilson pelos momentos de força e por ter

estado sempre ao meu lado, ajudando-me com as traduções, coletas, correções,

etc.

À Profa. Maria Luisa Lopes Alvarez pelas imagens feitas em microscopia

eletrônica na Universidade do Chile.

iv

A Thiago, Silvio e Alexandre por terem me ajudado nas coletas de campo

e atividades dentro do laboratório.

A Denise e Arli pelos momentos de descontração, carinho e amizade.

Aos colegas de laboratório, Gilson, Carol e Vinicius pelos momentos de

discussões os quais foram importantes para a execução deste trabalho.

À Camila que foi meu porto seguro durante todo o período em que fiquei

em Campos e que sempre me ouviu e acolheu nos momentos mais difíceis.

Aos colegas de Pós-graduação Marcinha, Eliane, Jathinder, Adriano,

Josimar e Laerciana pela amizade e convivência. Em especial a Jô e a Lala pelas

conversas, por estarem sempre dispostas a ajudar e pelo que fizeram por mim.

À Dona Rosa que sempre me tratou como um filho durante o tempo em

que fui seu inquilino.

À minha eterna amiga Nathalie por sempre ter estado ao meu lado e

sempre ter elevado meu astral.

E finalmente à minha mãe e ao meu irmão, sempre interessado e

prestativo, por acreditarem em mim, pelo carinho e amor. A toda minha família,

especialmente às minhas tias Lu e Bidu que sempre me acolheram com tanto

carinho.

v

SUMÁRIO

RESUMO ...............................................................................................................vii 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................... 4

2.1. A cultura do Coqueiro .................................................................................4

2.2. Broca-da-ráquis-foliar do coqueiro - Amerrhinus ynca................................5

2.3. Comportamento Reprodutivo......................................................................9

2.3.1. O Acasalamento ............................................................................9

2.3.2. A "guerra dos sexos" ...................................................................12

2.4. Comunicação química em insetos ............................................................14

2.4.1. Comunicação química em Curculionídeos ..................................15

2.5. Comunicação sonora em insetos..............................................................21

2.5.1. Produção de Som em Coleoptera ............................................24

3. TRABALHOS .................................................................................................... 31

DIMORFISMO SEXUAL DE Amerrhinus ynca SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE).......................................................................................... 31

COMPORTAMENTO DE CORTE E ACASALAMENTO DE Amerrhinus ynca SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)................................ 42

BIOENSAIOS COM ODORES DE COESPECÍFICOS E DA PLANTA HOSPEDEIRA DE Amerrhinus ynca SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE). ......................................................................................... 62

vi

ANATOMIA DO APARATO ESTRIDULATÓRIO, ANÁLISE DO SOM E PAPEL DA ESTRIDULAÇÃO NO COMPORTAMENTO DE CORTE E ACASALAMENTO. DE Amerrhinus ynca SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)82

4. RESUMOS E CONCLUSÕES......................................................................... 108

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 111

vii

RESUMO

SOUZA, RODOLFO MOLINÁRIO; Engenheiro Florestal, Msc.; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; Junho – 2006, Sinais envolvidos no comportamento de Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823 (Coleoptera: Curculionidae). Profª. Orientadora Ana Maria Matoso Viana-Bailez, Prfs. Conselheiros: Omar Eduardo Bailez e Carlos Miranda Ruiz.

Amerrhinus ynca é uma coleobroca cujas larvas se alimentam dos tecidos

internos da ráquis foliar do coqueiro. Até pouco tempo era considerada praga

secundária, mas devido à periodicidade e intensidade dos surtos tem atingido o

status de praga primária em algumas regiões. Pouco se conhece sobre sua

biologia, por isso este trabalho tem por objetivo: encontrar e descrever caracteres

morfológicos que permitam a distinção dos sexos; descrever a seqüência

comportamental associada à corte e acasalamento; identificar possíveis

semioquímicos envolvidos nas interações intra e interespecíficas; identificar e

descrever as estruturas associadas à estridulação bem como qualificar e

quantificar os parâmetros temporais e espectrais dos sons produzidos por A.

ynca. Adultos de A. ynca utilizados nos estudos foram coletados em um plantio

comercial de coco e levados para o laboratório. Após a confirmação dos sexos

procurou-se identificar, através de observações da morfologia externa,

caracteristicas distintas entre machos e fêmeas. O comprimento e a largura do

corpo foram medidos. O comportamento de corte e acasalamento foi analisado

viii

através de observação direta e por filmagem. Registraram-se a freqüência e a

duração dos principais atos comportamentais. Os bioensaios para verificar a

presença de semioquímicos foram feitos utilizando-se três tipos de olfatômetros,

nos quais os estímulos utilizados foram insetos coespecíficos e partes do

coqueiro. Os sons foram gravados com gravador digital e analisados com ajuda

do software Canary. Para se verificar o papel da estridulação no comportamento

de acasalamento foram realizadas observações de quatro tipos de casais (com ou

sem partes dos élitros). Foram encontrados três caracteres morfológicos distintos

e as fêmeas são maiores que os machos. Os acasalamentos ocorreram tanto em

fotofase quanto em escotofase. A monta iniciou-se aos 119 ± 75 min após os

casais terem sido colocados em observação. A corte e a cópula duraram em

média 3 ± 2,5 min e 51 ± 49 min, respectivamente. A produção de som durante a

corte, através da estridulação, é o evento mais freqüente entre os machos. As

fêmeas de A. ynca acasalaram múltiplas vezes e em geral com vários machos.

Após a primeira cópula, os machos apresentaram comportamento de guarda da

fêmea. Nos testes de atratividade de odores a maioria dos indivíduos não

respondeu aos estímulos testados em três tipos de olfatômetros. Machos e

fêmeas foram mais estimulados nos testes com partes vegetais. Verificou-se que

machos e fêmeas emitem sons por estridulação. Existem duas estruturas distintas

envolvidas na produção de som: a pars stridens e o plectrum. A pars stridens está

localizada na região ventral da extremidade posterior dos élitros direito e

esquerdo e o plectrum está localizado no sétimo esternito abdominal. O som

produzido pelos machos, por estridulação, durante o comportamento de corte, é

diferente daquele que produzem quando são perturbados. Observous-se, durante

a corte, que as fêmeas movimentam o abdômen de forma similar ao movimento

que os machos desempenham ao estridularem, mas só foi possível obter um

padrão espectral do som específico quando elas eram pertubadas. Tal som difere

daqueles produzido pelos machos. No tratamento: fêmeas que tiveram sua pars

stridens removida, a porcentagem de casais que acasalaram (montas e cópulas)

reduziu. Já os machos gastam mais tempo tentando cortejar as fêmeas, quando

suas partes stridens são retiradas.

ix

ABSTRACT

SOUZA, RODOLFO MOLINÁRIO; Forest Engineer, Msc.; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; June – 2006, Signs involved in behavior of Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823 (Coleoptera: Curculionidae). Advisor Ana Maria Matoso Viana-Bailez, Committee members: Omar Eduardo Bailez and Carlos Miranda Ruiz.

Amerrhinus ynca is a woodborer whose larvae feed on the internal tissues of the

leaf-stalk of coconut palm. Until recently it was considered a secondary pest, but

due to the periodicity and intensity of the attacks it has been reaching the status of

primary pest in some areas. The Amerrhinus ynca`s biology is very little known,

therefore this work has the following objectives: to find and to describe

morphological characters to differentiate the sexes; to describe the behavioral

sequence associated to the courtship and mating behaviors; to identify possible

semiochemicals involved in the intra and inter-specific interactions; to identify and

to describe the structures associated to stridulation; to analyze the temporary and

spectral parameters of the produced sounds, and to verify the role of stridulation

on the reproductive behavior. Adults of A. ynca used in the studies were collected

in a commercial plantation of coconut palms and taken to laboratory. After

confirmation of the sexes, different characters between males and females were

sought through observations of the external morphology. The length and the width

of the body were measured. Mating and courtship behaviors were monitored

x

through direct observation and filming. In both cases frequency and duration of

behavioral acts were registered. In order to verify the presence of semiochemicals,

bioassays were conducted by using three types of olfactometers in which the

stimuli were cospecifics and vegetable parts. The sounds were recorded by a

digital tape recorder and analyzed by the Canary software. To verify the role of

stridulation on the mating behavior, observations of four types of couples were

accomplished, couples with or without parts of the elytra. Three different

morphological characters were found, besides the females being larger than the

males. The matings happened in photophase as much as in scotophase. Mount

began at 119 ± 75 min later. The courtship and copulation lasted 3 ± 2,5 min and

51 ± 49 min average, respectively. The sound production during courtship, through

stridulation, was the most frequent event among the males. The females of A.

ynca mated multiple times and in general with several males. After the first

copulation the males guarded the females. In the three types of olfactometer, no

response to coespecifics tested as stimulus was observed. Males and females

were most stimulated when vegetable parts were tested in the olfactometers. It

was verified that males and females produce sounds by stridulation. There are two

different structures involved in the sound production: the pars stridens and the

plectrum. The pars stridens is located in the ventral area of the posterior extremity

of the right and left elytra, and the plectrum this located in the seventh abdominal

sternite. The stridulation of males during courtship behavior was different than that

produced when they were disturbed. Females presented movement similar to

stridulatory one during the courtship and they stridulated differently than males

when were disturbed. When females had their partes stridentes removed, the

percentage of couples that mated (mount and copulation) was reduced. Males

spent more time trying to court the females when their partes stridentes were

removed.

1

1. INTRODUÇÃO

O coqueiro constitui uma importante cultura para os trópicos, sendo

amplamente explorado devido aos seus múltiplos usos e finalidades e por ser

uma grande fonte geradora de divisas (Ferreira et al. 1997). Considerada a mais

importante das culturas perenes, é capaz de gerar um sistema auto-sustentável

de exploração (Cuenca 1997), fornecendo alimento para consumo in natura e

matéria-prima para o processamento agro-industrial (Mirizola-Filho 2002).

Para Mirizola-Filho (2002), a incidência de pragas e de doenças nos

coqueirais do Brasil constitui um problema limitante, respondendo sobremaneira

pelos baixos índices de produtividade e pelo aumento no custo de implantação.

Segundo o autor, a ação nociva das pragas pode ser observada desde a

implantação da cultura, ocasionando grande número de replantes, atraso no

desenvolvimento e, conseqüentemente, queda na produtividade. Nesta fase, é

intensa a ação das coleobrocas, cujas larvas se alimentam dos tecidos da planta

e afetam a produção, reduzindo-a drasticamente (Ferreira et al. 1997).

Dentre as coleobrocas, destaca-se a broca-da-ráquis foliar do coqueiro,

Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823 (Coleoptera: Curculionidae). Suas larvas se

alimentam dos tecidos internos da ráquis foliar, fazendo galerias longitudinais que

se estendem tanto em direção ao tronco, como em direção à extremidade da folha

causando o seu amarelamento e enfraquecimento (Ferreira et al. 1997). Segundo

Mirizola-Filho (2002), com o crescimento populacional do inseto, a ráquis quebra-

se facilmente sob a ação do vento, provocando atraso no desenvolvimento da

planta e conseqüente queda da produção. O autor menciona ainda que, até pouco

2

tempo A. ynca era considerada praga secundária, mas devido a altos índices de

infestação em coqueirais do Estado da Bahia, Sergipe, Espírito Santo e Rio de

Janeiro seu status, nessas regiões, tem se elevado ao de praga primária.

O controle efetivo de seus níveis populacionais utilizando-se produtos

químicos só é possível quando o inseto atinge o estádio adulto (Gomes 1992).

Entretanto, com o crescimento dos coqueiros torna-se difícil e oneroso combatê-

lo. O correto monitoramento desta praga permitiria, além do controle eficiente do

inseto, a redução do número de aplicações de inseticidas. Isto contribuiria para o

aumento dos rendimentos, melhora qualitativa dos frutos, e reduções na poluição

ambiental.

Visando desenvolver novas ferramentas capazes de auxiliar os

produtores rurais no controle dos níveis populacionais de insetos-praga, várias

técnicas de monitoramento ou até mesmo de controle massal, baseadas em

mecanismos de comunicação, têm sido propostas. Por exemplo, a utilização de

armadilhas iscadas com substâncias químicas atrativas (semioquímicos) tem se

constituído em uma alternativa valiosa no Manejo Integrado de Pragas (MIP),

podendo levar a uma redução significativa do uso de inseticidas convencionais

(Vilela & Mafra-Neto 2001). Além disso, até o presente, ainda não foi constatado

nenhum perigo dessas substâncias ao meio ambiente e o seu uso não tem

resultado na resistência de insetos, por serem substâncias que regulam

comportamentos essenciais à sobrevivência da praga (Ferreira & Zarbin 1998).

Outras tecnologias utilizando-se da comunicação acústica também têm sido

aplicadas como ferramenta para detectar as densidades populacionais de insetos-

alvo, principalmente as infestações de insetos que ficam escondidos, tais como os

escarabeídeos do gênero Phyllophaga (Zhang et al. 2003). Adultos de A. ynca em

suas relações intraespecíficas produzem um som, através da estridulação. A

investigação deste mecanismo sonoro pode abrir novos caminhos na busca por

técnicas possíveis de serem utilizadas no Manejo Integrado desta praga.

Portanto, o objetivo deste trabalho é, através do conhecimento do

comportamento reprodutivo de A. ynca, identificar e descrever componentes

comportamentais, químicos e acústicos, que possam ser manipulados e utilizados

em técnicas de controle comportamental que auxiliem os produtores de coco no

monitoramento e/ou redução dos níveis populacionais deste inseto-praga. Para

isso, como ponto de partida, pretende-se: (i) encontrar e descrever caracteres

3

morfológicos que permitam a distinção dos sexos no campo e em laboratório, e (ii)

descrever a seqüência comportamental associada aos comportamentos de corte

e acasalamento, elucidando o papel dos componentes acústicos e químicos

dentro do comportamento reprodutivo de A. ynca. Os próximos passos,

entretanto, serão: (iii) identificar possíveis semioquímicos envolvidos tanto nas

interações intraespecíficas quanto nas interações com seu hospedeiro e; (iv)

identificar e descrever as estruturas associadas à estridulação bem como

qualificar e quantificar os parâmetros temporais e espectrais dos sons produzidos

por A. ynca.

4

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. A cultura do Coqueiro O coqueiro (Cocus nucifera Linnaeus) é uma monocotiledônea

pertencente à família Palmae e à subfamília Cocoideae (Passos 1998b). É uma

espécie monotípica, arbórea, de caule ereto (do tipo estipe) e freqüentemente

sem ramificações e com folhas terminais (do tipo penada) (Mirizola-Filho 2002).

Esta palmeira, assim como toda monocotiledônea, não possui uma raiz principal,

mas um sistema radicular fasciculado, sendo as raízes primárias (mais grossas)

responsáveis pela sustentação e produzidas continuamente (Passos 1998a). O

fruto do coqueiro é do tipo drupa, constituído de uma epiderme, seguida por um

epicarpo, mesocarpo e endocarpo onde se localiza a semente (Mirizola-Filho

2002).

O coqueiro é considerado a “árvore da vida”, pois exerce papel importante

para a subsistência de populações das regiões tropicais quentes e úmidas do

globo (Ferreira et al. 1997). A cultura do coqueiro, graças à capacidade de gerar

um sistema auto-sustentável de exploração, pela geração de divisas e

fornecimento de alimento (fonte de proteínas e calorias), é considerada, segundo

Cuencas (1997), a mais importante das culturas perenes. Os frutos do coqueiro,

suas folhas, inflorescência, madeira etc. proporcionam a milhares de pequenos

proprietários alimentos, bebidas, combustíveis e abrigo (Mirizola-Filho 2002).

5

No Brasil, grande parte da produção nacional de coco, segundo Cuencas

(1997), se destina à fabricação de alimentos industrializados, que são

transportados da Região Nordeste até a Região Sul, para serem processados sob

a forma de sorvetes, doces, produtos à base de chocolate e iogurtes. Para

Mirizola-Filho (2002), o aumento da procura e do consumo do coco verde “in

natura”, tem sido responsável, nos últimos anos, pela expansão da cocoicultura

para os Estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, não só ao longo do

litoral, mas também no interior dessas regiões.

Vários são os fatores que limitam o desenvolvimento da cultura do

coqueiro no país. Segundo Passos (1998a), os fatores climáticos, tais como as

elevadas taxas de evapotranspiração associadas à irregularidade das chuvas na

região Nordeste; a elevada umidade relativa do ar no Norte; e as baixas

temperaturas e umidade atmosférica durante os meses de menor pluviometria no

Sudeste e Centro-Oeste, são os principais problemas enfrentados pelos

produtores destas regiões. Para Fontes et al. (1998), as características dos solos

da região do litoral nordestino, tais como: baixa fertilidade natural, excessiva

permeabilidade, baixos teores de matéria orgânica e pouca capacidade de

retenção de água, têm sido responsáveis por grandes perdas de produtividade.

Acrescenta-se ainda a este cenário a ação de pragas e doenças.

As injúrias causadas pelos insetos podem ser observadas desde a

implantação do coqueiral até o estabelecimento da planta adulta, quando é

intensa a ação nociva de larvas de coleobrocas (Ferreira et al. 1997). Por

exemplo, as larvas de Homalinotus coriaceus Gillenhal (Coleoptera:

Curculionidae) alimentam-se do pedúnculo floral e da bainha da folha do coqueiro,

impedindo a formação de frutos (Moura & Vilela 1998). Outras coleobrocas

importantes, segundo Ferreira et al. (1997), são: Rhinostomus barbirostris

Fabricius, 1775, Rhynchophorus palmarum Linnaeus, 1764 e Amerrhinus ynca

Salhberg, 1823, todas pertencentes à família Curculionidae.

2.2. Broca-da-ráquis-foliar do coqueiro - Amerrhinus ynca A broca-da-ráquis-foliar do coqueiro ou broca-do-pecíolo, Amerrhinus

ynca (Figura 1D), é um coleóptero originário do Brasil (Gomes 1992) e

6

pertencente à família Curculionidae. Segundo Ferreira et al. (1998), o adulto de A.

ynca é um gorgulho cujo comprimento varia de 14 a 22 mm, com um rostro que

pode chegar a seis milímetros nos maiores exemplares. Ainda segundo esses

autores, a coloração do corpo é tipicamente amarelada com pontos pretos

brilhantes e salientes, além de manchas escuras irregulares que se formam pela

variação na quantidade de escamas presentes nos élitros. De hábito diurno, o

adulto é encontrado com maior freqüência durante o verão e se alimentando da

inflorescência do coqueiro (Renard et al. 1987). Para a oviposição as fêmeas

fazem com o rostro pequenos orifícios no pecíolo foliar e em seguida introduzem

de três a quatro ovos, que são arredondados e de coloração esbranquiçada

(Figura 1A). As pupas (Figura 1C) se formam dentro das galerias construídas

pelas larvas (Figura 1B) ao longo do pecíolo, de onde emergem os adultos (Figura

1D) (Costa et al. 1973) após 20 dias de incubação (Bondar 1940).

Figura 1 – Fases do ciclo de vida de Amerrhinus ynca. (A) ovo, (B) larva de último ínstar, (C) pupa e (D) adulto se alimentando da inflorescência.

As larvas de A. ynca em seu último estágio chegam a atingir trinta

milímetros de comprimento e são ápodas e de coloração branca (Mirizola-Filho

7

2002). Elas se alimentam dos tecidos internos da ráquis foliar do coqueiro (Moura

& Vilela 1998), construindo galerias longitudinais que podem atingir oito

milímetros de diâmetro por 40 cm de comprimento (Ferreira et al. 1998), tanto em

direção ao tronco quanto em direção à extremidade da folha (Gomes 1992). Os

restos alimentares são expelidos pelo orifício de postura juntamente com a seiva

que exsuda da palmeira, o que caracteriza os danos iniciais da praga (Bondar

1940).

Esse inseto utiliza, além do coqueiro, outras plantas hospedeiras como a

carnaúba (Copernicia cerifera Martius), o dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.), o

licurizeiro (Syagrus coronata (Martius)), a macaubeira (Platymiscium duckei

Huber) e algumas palmeiras ornamentais como o pati (Syagrus botryophora

Martius) (Ferreira et al. 1997). Amerrhinus ynca já foi observado nos Estados de

Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, São

Paulo e Sergipe (Ferreira et al. 1998). Até há alguns anos este gorgulho era

considerado uma praga secundária (Mirizola-Filho, 2002), mas dada à

periodicidade e intensidade de ataque este quadro vem se revertendo em alguns

coqueirais do país, como os da região Norte Fluminense, onde esta coleobroca já

atingiu o status de praga primária.

Ao se alimentarem dos tecidos internos do pecíolo, as larvas causam o

amarelamento das folhas e, conseqüentemente, o enfraquecimento da ráquis que

se quebra facilmente com a ação dos ventos (Figura 2C) (Moura & Vilela 1998).

Segundo Gomes (1992), a perda de seiva bruta e elaborada da folha atinge

diretamente as funções fotossintéticas da planta, principalmente se há a queda

das folhas, o que repercute negativamente sobre a produtividade do coqueiro.

Além disso, as galerias formadas pelas larvas de A. ynca se tornam uma porta de

entrada para patógenos, como o fungo Phyllachora torendiella, causador da lixa

do coqueiro, doença que promove o envelhecimento precoce das folhas (Moura e

Vilela 1998).

8

Figura 2 - Coqueiro atacado por Amerrhinus ynca. Em (A) restos alimentares e seiva que exsuda pelos orifícios de postura (em destaque). (B) orifícios por onde emergem os adultos (em destaque) e (C) queda e amarelamento das folhas atacadas por Amerrhinus ynca.

A incidência desse besouro em coqueirais pode comprometer mais de

50% das folhas de uma planta (Ferreira et al. 1998). Em 1987 foi relatado no

município de Una, Estado da Bahia, um forte ataque de A. ynca em um coqueiral

da variedade anão-amarelo (Renard et al. 1987). No município de Quissamã,

Norte do Estado do Rio de Janeiro, numa rápida visita a vários coqueirais, é

possível verificar em uma única planta, que a maioria das folhas foram atacadas

por esta coleobroca (observações de campo 2005). Além disso, o controle dos

níveis populacionais abaixo do nível de dano econômico é limitado pelo fato de as

larvas se encontrarem alojadas dentro do pecíolo (Gomes 1992), o que muitas

vezes eleva o custo do controle em áreas extensas da cultura. No entanto, o

controle cultural através da poda é o mais recomendado (Mirizola-Filho 2002;

Ferreira et al. 1998; Moura & Vilela 1998; Moura 1993; Ferreira 1987 e Bondar

1940). Por exemplo, em um estudo sobre a poda das folhas atacadas por A. ynca

no sul da Bahia, Moura (1993) constatou que, após um ano de controle, a técnica

conseguiu reduzir em 65% os níveis populacionais da praga. Moura e Vilela

(1998) recomendam ainda o controle preventivo e o biológico, sendo que neste

último se utiliza o díptero Paratheresia menezesi Townsend (Diptera: Tachinidae)

que parasita as larvas e as pupas de A. ynca. A pulverização com produtos

químicos também é recomenda por Moura e Vilela (1998), que ainda sugerem

aplicações localizadas de inseticidas através de injeções nos canais construídos

pelas larvas. A manipulação do comportamento através do uso de semioquímicos

ainda não é aplicada como técnica de manejo integrado desta praga, mas o uso

9

de feromônios associados a cairomônios tem sido feito para capturar adultos da

broca-do-olho-do-coqueiro, Rhynchophorus palmarum (Linneaus)

(Coleoptera:Curculionidae), apresentando bons resultados no campo (Navarro et

al. 2002).

2.3. Comportamento Reprodutivo

2.3.1. O Acasalamento Através do comportamento de acasalamento é possível compreender

atividades e eventos como a procura, identificação, atração, avaliação e por fim a

aceitação de parceiros para a reprodução (Lloyd 1979). O acasalamento,

portanto, pode ser dividido em etapas ou processos. A primeira etapa é o

reconhecimento do parceiro, seguida pela corte, cópula e pós-cópula. Dentro de

cada etapa pode ser usada uma série de atos esteriotipados.

Para o reconhecimento e localização do parceiro, os insetos podem

dispor de estímulos visuais, químicos e auditivos (Alcock 1998). Alguns estímulos

químicos envolvidos na localização de parceiros são os feromônios de agregação

e sexuais liberados principalmente por coleópteros e lepidópteros. Por exemplo, o

feromônio de agregação liberado por Rhynchophorus palmarum atrai machos e

fêmeas para o acasalamento (Moura & Vilela 2001).

A utilização de sinais acústicos para a localização e reconhecimento dos

parceiros é amplamente utilizada por insetos (Bailey 2003). Para este fim, é

importante que eles possam analisar as características estruturais destes sinais

tais como seu espectro e padrão de modulação de amplitude para determinar seu

conteúdo e sua localização (Pollak 2000). Entre os ortópteros, principalmente

aqueles da subordem Ensifera, os machos produzem um som espécie-específico

que pode ser: (i) utilizado pelas fêmeas para a localização de parceiros

potenciais, (ii) utilizado durante o comportamento de corte, (iii) na marcação de

território e (iv) para mediar interações agressivas entre machos (Mason 1996). Em

muitos sistemas de sinalização acústica de insetos é rara a produção de um canto

de chamamento pelas fêmeas, mas quando isso acontece freqüentemente está

associado a um dueto entre os sexos (Bailey 1991). Segundo Bailey (2003), este

10

dueto sonoro exerce, entre outras funções, o papel de reconhecimento de

coespecíficos para o acasalamento. Entre os insetos também podem ocorrer

duetos através de sinalização por bioluminescência, nos quais um dos sexos

responde às mudanças nos sinais luminosos do outro sexo (Bailey 2003).

Em relação aos estímulos visuais, os machos de borboletas são

geralmente o sexo mais ativo em procurar por oportunidades de acasalamento

(Kemp 2002). Segundo Ziemba & Rutowski (2000), borboletas que utilizam os

sinais visuais para localização de parceiros podem se comportar de duas

maneiras, em pouso, enquanto aguardam, ou em vôo, procurando ativamente por

oportunidades enquanto voam. Em espécies de Papilionoidea e Hesperioidea as

fêmeas utilizam a tática de pouso para localizar os machos para o acasalamento

e os machos geralmente localizam as fêmeas patrulhando (Scott 1974).

A corte consiste basicamente de uma sucessão de atos comportamentais

prévios ao acasalamento, efetuados na maioria dos casos pelos machos. Nesta

etapa, os insetos emitem e recebem uma sucessão de estímulos para os quais

são elaborados padrões apropriados de respostas (Viana & Vilela 1996). Exemplo

de estímulos envolvidos na corte podem ser movimentos, danças, estimulação

tátil, odores, vibração das asas e produção de sons. Em Drosophila montana

Stone, Griffen & Patter, 1942 (Diptera: Drosophilidae) por exemplo, os sons

produzidos pela vibração das asas dos machos são essenciais para estimular as

fêmeas ao acasalamento, e em certas circunstâncias estes sons de corte

influenciam a escolha de parceiros pelas fêmeas (Suvanto et al. 2000). Em muitos

gafanhotos, machos e fêmeas se comunicam acusticamente durante a corte,

sendo que os machos exibem uma série de sinais estridulatórios e as fêmeas

respondem a seus coespecíficos com estridulação similar, e complexa exibição

visual (Bailey 2003). Já em outros insetos, como em Dectes texanus texanus

LeConte, 1862 (Coleoptera: Cerambycidae), toque de antenas entre os sexos

estimulam os machos a montar nas fêmeas imediatamente após tocá-las (Crook

et al. 2004). No lepidóptero Phyllocnistis citrella Staiton, 1856 (Lepidoptera:

Gracillariidae), as fêmeas chamam a atenção do macho levantando as asas e

estendendo as antenas para trás do corpo enquanto o macho se movimenta

rapidamente em várias direções pulando e exibindo vigoroso movimento antenal

(Parra-Pedrazzoli et al. 2006). Em Bephratelloides pomorum (Fabricius, 1908)

(Hymenoptera: Eurytomidae), após a monta o macho expõem o edeago, toca a

11

fêmea com as antenas, curva a extremidade do abdome vibrando as asas e

antenas em movimentos rítmicos e então efetua a cópula (Pereira et al. 1998). A cópula, por sua vez, consiste na transferência direta de espermatóforo

para a espermateca da fêmea. Durante a cópula o macho pode transferir

substâncias que irão contribuir para a oviposição ou repressão da receptividade

pela fêmea. Neste ponto eles podem executar certos padrões motores de

comportamento, conhecidos como comportamento de corte copulatória, que

estimulam as fêmeas a permanecerem em cópula e pós-cópula, garantindo assim

que seus gametas sejam transferidos para a próxima geração (Eberhard 1991).

No besouro Tribolium castaneum (Herbst, 1797) (Coleoptera: Tenebrionidae),

Edvardsson & Arqnqvist (2000) verificaram que táticas apropriadas de

estimulação da fêmea durante a cópula pelos machos induzem as fêmeas a

ajudar a transportar o esperma do local de deposição de ejaculados para o local

de estocagem do esperma, aumentando o sucesso de paternidade pós-

acasalamento.

Já os comportamentos associados à pós-cópula consistem basicamente

em guardar a fêmea impedindo que ela copule com outros machos, seja através

da guarda da fêmea (permanecendo sobre o dorso da fêmea por longos períodos,

por exemplo) ou pela liberação de substâncias que irão inibir a aproximação de

outros machos. A esta fase também podem estar associados tanto

comportamentos esteriotipados, como a estimulação tátil e sinalização sonora,

quanto comportamentos passivos. No curculionídeo Cosmopolites sordidus

(Germar, 1824) (Coleoptera: Curculionidae), os machos na presença de outros

machos permanecem sobre o dorso da fêmea por um determinado período após

o acasalamento (Viana & Vilela 1996). Também no heteróptero Gerris lateralis

Schummel, 1832 (Heteroptera: Gerridae) os machos permanecem passivamente

sobre o dorso da fêmea por um longo período de tempo sem contato genital

(Arnqvist 1988) e em alguns casos, como em Gerris remigis Say, 1832, os

machos que guardam suas parceiras estridulam para reduzir as tentativas de

intromissão de outros machos (Wilcox & Stefano 1991). Já em outras espécies

desta família, os machos, após o término da cópula, descem da fêmea e

permanecem próximos a ela impedindo agressivamente que outros machos se

aproximem enquanto ela oviposita (Arnqvist 1997). Já os machos do coccinelídeo

Menochilus sexmaculatus (Fabricius, 1781) (Coleoptera: Coccinellidae), após a

12

cópula, permanecem alguns segundos sobre o dorso da fêmea girando e

lambendo seu élitro e pronoto, tornando-a, provavelmente, não atrativa a outros

machos (Maisin et al. 1997).

2.3.2. A "guerra dos sexos" O comportamento sexual é a chave para o entendimento da biologia das

espécies, sua origem e a maneira como elas vivem hoje. Além disso, a biologia

das espécies é fundamentada no seu sucesso sexual. Por exemplo, machos

aumentam seu sucesso reprodutivo acasalando com muitas parceiras em altas

taxas de acasalamento enquanto que aumentam seu sucesso reprodutivo

maximizando o número de ovos viáveis, embora um ou poucos acasalamentos

sejam suficientes (Arnqvist & Nilsson 2000).

Neste ponto atuam os custos de acasalamento, uma vez que a

reprodução sexual requer uma sincronização das atividades de dois organismos,

a qual gera um gasto de energia e tempo, além do fato de que os interesses dos

parceiros não são iguais (Daly 1978) criando um "conflito sexual". Isso quer dizer

que a interação entre machos e fêmeas freqüentemente não termina com a

cópula; os machos devem persuadir as fêmeas para que elas usem seu esperma

e não o de outros machos (Wiley 1997) e, por outro lado, as fêmeas podem fazer

escolhas crípticas variando seu investimento reprodutivo dependendo da

atratividade de seu parceiro (Edvardsson & Arqnqvist 2005). Dentro deste conflito,

o “gene egoísta” exerce papel fundamental desde o início da procura até o final da

fertilização, não produzindo nada sem um lucro reprodutivo líquido (Lloyd 1979).

Para Daly (1978), os custos caem principalmente sobre os machos, mas são

substanciais nas fêmeas e podem, também, variar de acordo com o sistema de

acasalamento e com o cuidado parental.

Para Arqnvist & Rowe (2002), a coevolução entre os sexos é reconhecida

como o processo central da evolução, com potencial para modelar várias

interações entre os sexos e seus gametas, bem como taxas de diversificação,

especiação e excitação. Dentro desta "competição armada", gerada pelas

interações coevolutivas, os sexos utilizam estratégias que aumentam o seu

sucesso reprodutivo variando o sucesso reprodutivo do outro sexo (Stockley

1997). A competição por esperma é uma destas estratégias utilizadas por machos

e afeta o sucesso reprodutivo das fêmeas. Carbone e Rivera (1998) definem a

13

competição por esperma como a competição que ocorre dentro da fêmea, entre o

esperma de dois ou mais machos pela fertilização dos ovos. Para Stockley

(1997), os machos podem adotar uma série de estratégias (como, por exemplo, o

prolongamento do acasalamento) para impedir que as fêmeas acasalem com

outros machos, evitando a competição por esperma e aumentando assim seu

sucesso reprodutivo. A guarda do parceiro através do prolongamento do

acasalamento é um fenômeno bem descrito em insetos (Arnqvist 1997),

entretanto, para que os machos evitem a competição por esperma e garantam

seu sucesso reprodutivo eles dispõem de tempo e energia que poderiam ser

utilizados para encontrar e acasalar com fêmeas adicionais (Harari et al. 2003).

Esta estratégia utilizada por machos para impedir ou suceder em competição por

esperma pode influenciar negativamente o sucesso reprodutivo das fêmeas,

reduzindo sua eficiência de forrageamento, sua fertilidade e as chances que elas

teriam de lucrar com os benefícios de múltiplos acasalamentos (Stockley 1997).

Dentro do contexto da competição por esperma, as fêmeas podem fazer

escolhas crípticas como uma possível estratégia para aumentar o seu sucesso

reprodutivo. Neste caso, segundo Wedell (1996), as fêmeas fazem uma escolha

pós-copulatória priorizando espermas de machos escolhidos para fertilização dos

ovos ou aumentando seu sucesso reprodutivo após acasalar com um macho

escolhido. Segundo Birkhead (1998) o termo críptico é utilizado porque tal

processo ocorre dentro do corpo da fêmea e não pode ser observado

diretamente, sendo que sua compreensão requer um entendimento de

mecanismos associados com a inseminação, armazenagem de esperma e

fertilização. Entretanto, o autor salienta que, apesar de existirem evidências

fisiológicas e estruturais presentes em fêmeas de muitos organismos (diferentes

locais de armazenagem de esperma, por exemplo) que possam sustentar a

hipótese da escolha críptica de fêmeas como um processo ligado à seleção

sexual, ainda não foi comprovada em nenhum organismo vantagem reprodutiva

para fêmeas.

14

2.4. Comunicação química em insetos A comunicação é um componente comportamental de extrema

importância para a adaptação dos animais, destacando-se por permitir a interação

entre as espécies. Lewis & Gower (1980) definem comunicação como a

transmissão de sinal ou sinais entre dois indivíduos, favorecendo a seleção tanto

da produção quanto da recepção do sinal ou sinais.

Ao longo da evolução, alguns seres vivos, diante da necessidade de

interagir com indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes,

desenvolveram uma comunicação química característica. Os sinais químicos,

envolvidos neste tipo de comunicação, são os responsáveis pela transmissão de

informações biologicamente importantes (Paiva & Pedrosa-Macedo 1985), o que

assegura a tais indivíduos oportunidades de sobrevivência e de preservação da

espécie.

A comunicação química estabelecida entre os organismos é feita com o

auxílio de substâncias voláteis, as quais são biossintetizadas e liberadas pelo

emissor e captado e assimilado pelo receptor que, por sua vez, pode sofrer uma

resposta imediata ou em longo prazo, promovendo alterações em seu

comportamento ou em sua fisiologia (Paiva & Pedrosa-Macedo, 1985). Aos sinais

químicos envolvidos na comunicação entre os seres vivos dá-se o nome de

semioquímicos.

Quando os compostos químicos são utilizados para mediar interações

entre indivíduos de espécies diferentes, atuando em dois ou mais níveis da cadeia

trófica, diz-se tratar de substâncias aleloquímicas (Vilela & Della Lucia 2001). De

acordo com os benefícios e prejuízos provocados por essas substâncias

químicas, os aleloquímicos podem ser classificados como cairomônios, alomônios

e sinomônios. Já os feromônios são compostos químicos que promovem uma

modificação no comportamento e na fisiologia de indivíduos receptores da mesma

espécie (Tegoni et al. 2004), ou seja, possuem uma ação intraespecífica.

Os insetos se comunicam basicamente através de substâncias químicas

e, segundo Vilela & Della Lucia (2001), os odores liberados por eles são

fundamentais para o bom desempenho de suas atividades durante toda a sua

existência, contribuindo para a localização e seleção do alimento e do parceiro

sexual, e para a orientação na busca por abrigo, presas e plantas hospedeiras.

15

No caso de insetos sociais, os odores contribuem para a organização das

atividades da colônia, especialmente os processos de defesa e de marcação de

território.

Os odores percebidos pelos insetos são moléculas orgânicas pequenas

geralmente hidrofóbicas e voláteis (Pelosi 1996) detectadas por sensilas

especializadas presentes nas antenas e ligadas a neurônios sensoriais (Tegoni et

al. 2004). Segundo Dickens & Mori (1989), a perfeita orientação dos insetos até

seus coespecíficos, seja para agregação ou acasalamento, depende da

sensitividade e especificidade de detectar e traduzir a mensagem feromonal.

Dessa forma, a presença de quiralidade e a composição precisa de uma mistura

feromonal são de extrema importância para a uma perfeita comunicação química

(Ferreira 2001).

Para Landolt & Phillips (1997), muitos insetos fitófagos utilizam as suas

plantas hospedeiras não somente para se alimentarem, mas também como sítio

de reprodução. Fisiologicamente, os compostos químicos adquiridos através do

consumo, absorção e inalação de materiais da planta hospedeira podem agir no

sistema endócrino do inseto, estimulando a liberação de hormônios responsáveis

por redimensionar os metabólitos das rotas primárias do seu metabolismo no

sentido da biossíntese de compostos feromonais (Tillman et al. 1999). Além disso,

a liberação e a recepção de feromônio também sofrem as influências dos

compostos liberados pela planta hospedeira, aumentando a produção e liberação

de feromônio e causando mudanças na percepção quantitativa do receptor

(Landolt & Phillips 1997). Tais compostos químicos podem, ainda, atuar como

sinergistas, aumentando a atração de insetos para as armadilhas iscadas com

feromônio no campo (Giblin-Davis et al. 1996), uma técnica de controle e

monitoramento utilizada no manejo integrado de pragas.

2.4.1. Comunicação química em Curculionídeos

De acordo com El-Sayed (2005), já foi identificada, em quase 40 famílias

da ordem Coleoptera, a presença de substâncias químicas mediando interações

intra e inter específicas. Dentro da família Curculionidae, 43 espécies distribuídas

em 20 gêneros apresentam algum tipo de atraente químico, sendo que a grande

maioria é representada por feromônios de agregação (El-Sayed 2005).

16

Na subfamília Curculioninae trabalhos de campo e laboratório já

evidenciaram a presença de feromônio de agregação produzido por machos em

três espécies do gênero Anthonomus (A. grandis Boheman, 1843; A. eugenni

Cano, 1894 e A. rubi (Herbst, 1795)) e uma espécie do gênero Curculio. Estudos

sobre o comportamento de acasalamento de A. grandis, o bicudo do algodoeiro,

revelaram que, logo após os adultos machos encontrarem sua planta hospedeira,

estes passam a liberar substâncias que são atrativas (Cross & Mitchell, 1966) a

seus coespecíficos (Hardee et al. 1969 e Tumlinson et al. 1971). Com isso, no

final dos anos 60, pesquisadores identificaram, isolaram e sintetizaram a partir de

machos do bicudo quatro compostos terpenóides, entre eles o grandisol

(Tumlinson et al. 1969), que ficaram conhecidos como grandlure, um feromônio

de agregação produzido por A. grandis. Segundo Eller et al. (1994), o feromônio

de agregação do gorgulho da pimenta, A. eugenii, é constituído por uma mistura

de seis compostos, sendo que três deles são comuns ao feromônio de agregação

produzido pelos machos de A. grandis. Já para o gorgulho da flor do morango,

Anthonomus rubi, o seu feromônio de agregação é constituído de três compostos,

sendo o grandisol comum à mistura feromonal do bicudo do algodoeiro (Innocenzi

et al. 2001). O feromônio de agregação produzido pelo gorgulho da noz, C. caryae

Horn, 1873, também pertencente à subfamília Curculioninae, é constituído pelos

mesmos compostos atrativos produzidos pelos machos de A. grandis, a diferença

está apenas na proporção dos compostos utilizados para promover uma resposta

eficiente nas fêmeas (Hedin et al. 1997).

Na subfamília Pissodinae, três espécies também produzem grandisol

como seu feromônio de agregação, além do seu aldeído correspondente

(grandisal). Booth et al. (1983) isolaram e identificaram, a partir do abdômen e

intestino posterior de machos de Pissodes strobi (Peck, 1817) e de P.

approximatus Hopkins, 1911, estes dois compostos como sendo componentes de

seus feromônios de agregação. Em 1984 foi demonstrado através de testes de

campo e laboratório que o gorgulho da casca do pinus e cedro, P. nemorensis

Germar, 1824, também utiliza o grandisol e grandisal como um feromônio de

agregação produzido por machos para atrair ambos os sexos (Phillips et al. 1984).

Outras substâncias atraentes são relatadas em outras espécies de Pissodes,

como lineatin para Pissodes gyllenhali (Sahlberg, 1834) e Pissodes pini

17

(Linnaeus, 1758) (Martikainen 2001) e α-pineno para Pissodes affinis Randall,

1838 e Pissodes fasciatus LeConte, 1876 (Miller & Heppner 1999).

Na subfamília Cryptorhynchinae, o gorgulho da ameixa, Conotrachelus

nenuphar (Herbst, 1797), teve seu feromônio de agregação isolado e sintetizado,

a partir de voláteis de machos, com o nome de ácido grandisóico que atrae

ambos os sexos (Eller & Bartelt 1996). Este feromônio de agregação sofre um

efeito sinergista muito forte quando na presença de voláteis liberados pela planta

hospedeira, como o benzaldeido (Piñero & Prokopy 2003). Na família

Curculionidae, vários são os exemplos de feromônios de agregação produzidos

por machos que sofrem um aprimoramento na presença de voláteis liberados

pelas suas plantas hospedeiras (Leskey & Prokopy 2001). Por exemplo, o

gorgulho do arroz, Sitophilus oryzae (Linnaeus, 1763), só libera seu feromônio de

agregação produzido por machos na presença de grãos de arroz, na ausência do

alimento não há liberação (Landolt & Phillips 1997).

Os gorgulhos do gênero Sitophilus, pertencentes à subfamília

Rhynchophorinae, são conhecidos como importantes pragas de grãos

armazenados. A primeira evidência de um feromônio de agregação produzido por

machos deste gênero foi registrada em 1981, por Phillips & Burkholder, para o

gorgulho do arroz Sitophilus oryzae (Philips & Burkholder 1981). Em seguida

demonstrou-se a presença em Sitophilus granarius (Linnaeus, 1758), o gorgulho

do celeiro (Faustini et al. 1982) e Sitophilus zeamais Motschulsky, 1855, o

gorgulho do milho (Walgenbach et al. 1983). Em 1984 foi identificado o composto

sitofilure como um feromônio de agregação produzido por machos de S. oryzae e

S. zeamais (Schmuff et al. 1984).

2.4.1.1. Semioquímicos produzidos por gorgulhos das Palmáceas

Dentro da subfamília Rhynchophorinae, encontram-se quatro gêneros de

pragas de importância econômica para a cultura de palmáceas nos trópicos, o

gênero Dynamis, Metamasius, Rhabdoscelus e Rhynchophorus, apesar de

algumas espécies também utilizarem outras plantas hospedeiras, para

alimentarem, ovipositarem e desenvolverem suas larvas. Os compostos

majoritários e minoritários do feromônio de agregação produzido por machos

desta subfamília, são constituídos principalmente por moléculas de 8, 9, ou 10

18

carbonos, ramificações de metil e álcoois secundários (Tabela 1) (Giblin-Davis et

al. 1996).

19

Tabela 1 – Feromônio de agregação (FA) e componente minoritário (M) identificados a partir da aeração de voláteis liberados por machos de gorgulhos associados às palmáceas.

Gênero Rhynchophorus Dynamis Metamasius

Espécie bilineatus cruentatus ferrugineus palmarum phoenicis vulneratus borassi hemipterus

Distribuição Nova Guiné

América Norte Ásia Neotropical África Asia Neotropi

cal Neotropical

3-pentanol M 3-pentanona M (4S,2E)-6-metil-2-hepten-4-ol FA

(±)-2-metil-4-heptanol M

2-metil-4-heptanona M 2,3-epoxi-6-metil-4-heptanol M 2-metil-4-octanol M 2-metil-4-octanona M (3S,4S)-3-metil-4-octanol FA M (5S,4S)-5-metil-4-octanol FA 5-nonanol M (4S,5S)-4-metil-5-nonanol FA FA M FA FA FA 4-metil-5-nonanona M M M

Adaptado de Giblin-Davis et al. (1996).

20

A primeira evidência da produção de um composto químico de função

atrativa nesta subfamília foi demonstrada para o gorgulho das palmeiras

ornamentais, Rhabdoscelus obscurus (Boisduval, 1835) (Chang & Curtis 1972).

Este gorgulho produz um feromônio liberado pelos machos, e o composto

principal da mistura feromonal foi identificado como 2-metil-4-octanol, mas eles

também produzem (E2)-6-metil-2-heptan-4-ol (rincoforol) e 2-metil-4-heptanol

(Giblin-Davis et al. 2000).

O rincoforol é o composto principal da mistura feromonal produzida por

machos da broca-do-olho-do-coqueiro, Rhynchophorus palmarum (Jaffé et al.

1993). A presença deste feromônio de agregação foi demonstrada em 1991 em

trabalhos de campo e laboratório com machos vivos de R. palmarum (Rochat et

al. 1991) e logo em seguida a atividade do enantiômero S do composto 6-metil-2-

heptan-4-ol foi confirmada por Oehlschlager et al. (1992). Alguns compostos

liberados pelos tecidos danificados da planta hospedeira, como o acetato de etila

e o etanol, também exercem uma função de orientação nesses gorgulhos,

provavelmente a curtas distâncias, além de potencializar a atração do feromônio

de agregação (Jaffé et al. 1993).

A partir destes trabalhos tornaram-se intensos, durante a década de

noventa, os estudos com feromônios de agregação produzidos por machos dentro

do gênero Rhynchophorus (que causam sérios prejuízos às palmáceas). Em

1993, estudos de campo e laboratório demonstraram a presença de feromônio de

agregação em Rhynchophorus cruentatus (Fabricius, 1775), o gorgulho do palmito

(Weissling et al. 1993), Rhynchophorus phoenicis Fabricius 1801, o gorgulho da

palmeira africana (Gries et al. 1993), Rhynchophorus ferrugineus (Olivier, 1790), o

gorgulho vermelho e em Rhynchophorus vulneratus Panzer, 1798 (Hallett et al.

1993). O composto 5-metil-4-octanol (cruentol) (Weissling et al. 1994) e o 3-metil-

octan-4-ol (fonicol) foram identificados, através da extração de voláteis produzidos

por machos, como os componentes principais do feromônio de agregação de R.

cruentaus e R. phoenicis, respectivamente. Estes dois compostos possuem

quatro estereoisômeros, mas apenas o (4S,5S) – cruentol e o (3S,4S) – fonicol

são produzidos pelos machos e capazes de provocar uma resposta

comportamental (Perez et al. 1994). Outros estudos feitos utilizando-se

eletroantenograma revelaram a atividade do acetato de etila, propranato de etila,

propranato de isobutila, butirato de etila e isobutirato de etila (todos liberados pela

21

planta hospedeira) em machos e fêmeas de R. phoenicis, mas apenas o

proprianato de etila aumentou significativamente a captura deste gorgulho em

armadilhas iscadas com o feromônio no campo (Gries et al. 1994).

Para R. ferrugineus foram identificados os compostos 4-metil-5-nonanol

(ferruginol) e a sua cetona correspondente, 4-metil-5-nonanona, como sendo

constituintes do seu feromônio de agregação (Hallett et al. 1993). O ferruginol

também é o componente principal dos feromônios de agregação de R. vulneratus

(Hallett et al. 1993) e Rhynchophorus bilineatus Montrouzier, 1857 (Oehlschlager

et al. 1995), além de estar presente na mistura feromonal produzida por machos

de R. palmarum (Hallett et al. 1993).

Além disso, o ferruginol também é o componente principal do feromônio

de agregação de outras duas espécies de gorgulhos da subfamília

Rhynchophorinae, Dynamis borassai (Giblin-Davis et al. 1997) e Metamasius

hemipterus sericeus (Olivier, 1807) (Perez et al. 1997). O gorgulho da cana-de-

açúcar do oeste da Índia, M. hemipterus sericeus, que também utiliza palmáceas

como hospedeiro, produz além do ferruginol mais sete compostos macho-

específicos (Perez et al. 1997). Segundo Giblin-Davis et al. (1996) este gorgulho

pode representar uma forma mais primitiva do que outras espécies de

Rhynchophorus, uma vez que os machos produzem um grande número de

álcoois e cetonas em seu feromônio de agregação em contra partida com os

feromônios de agregação de espécies de Rhynchophorus, que produzem,

tipicamente, um ou dois compostos.

2.5. Comunicação sonora em insetos A comunicação, como visto anteriormente, é baseada na transmissão de

uma mensagem, através de sinais, por uma fonte emissora até um receptor.

Estes sinais podem ser químicos, visuais, táteis ou auditivos. Os sistemas de

comunicação que utilizam a audição como um canal para a transmissão e a

recepção de sinais acústicos têm como princípio a análise dos parâmetros

temporais e de freqüência destes sinais (Landa 2000). Segundo Bailey (1991),

estes sistemas possuem certas vantagens sobre outros processos de sinalização,

uma vez que não há a necessidade de condições do ambiente, como o vento para

22

a efetiva transferência de sinais, como ocorre com as trilhas de feromônio e, além

disso, eles podem ser utilizados por espécies diurnas e noturnas e agir muito

além das próprias dimensões do corpo.

Muitos sons e sinais produzidos por insetos são espécie-específicos e são

utilizados principalmente para a localização, reconhecimento e formação de pares

(Cokl & Virant-Doberlet 2003). Em alguns coleópteros, a função da produção de

sons, muitas vezes, está associada à liberação de feromônio, desempenhando

um papel mais complexo no comportamento de acasalamento (Michael &

Rudinsky 1972). Esta sinalização sonora também pode agir além do

comportamento intrasexual, sendo útil, por exemplo, em mecanismos de defesa

presentes em alguns coleópteros e heterópteros (Virant-Doberlet & Cokl 2004), na

localização de hospedeiros por insetos parasitas (Haynes & Yeargan 1999), no

cuidado parental como em Membracidae (Cocroft 1999), na marcação de território

como nas lagartas Depranidae (Yack et al. 2001) e na regulação de interações

sociais complexas como em algumas abelhas domésticas (Lewis et al. 2002).

Além disso, alguns insetos podem imitar o som de outros insetos, como as

largatas Maculinea (Lepidoptera: Lycaenidae) que imitam o som de algumas

formigas operárias do gênero Myrmica (Hymenoptera: Formicidae) (Devries et al.

1993). O som, enquanto sinalizador de uma informação, é representado pelas

suas características estruturais, tais como o seu espectro e padrão de modulação

de amplitude, o que vai permitir ao receptor analisar e localizar a mensagem

mesmo quando vários sinais chegam simultaneamente de diferentes fontes

(Pollack 2000). Segundo Machens et al. (2001), o reconhecimento do sinal não é

baseado exclusivamente na aceitação de padrões sonoros espécie-específicos

corretos, mas também envolve a atividade de rejeição de sinais que contêm

componentes fortes ou duvidosos, como aqueles que ocorrem entre as cigarras,

grilos e gafanhotos. Segundo Bailey (1991), os insetos podem apresentar, em seu sistema

auditivo, receptores localizados em diferentes partes do corpo que permitem a

percepção das variações físicas que ocorrem com a transmissão de sons. Dessa

forma, Bailey (1991) divide a produção de som em: (i) som de campo próximo, (ii)

som de origem aérea e (iii) som através do substrato. Vale ressaltar que, apesar

23

desta classificação, os insetos podem utilizar vários mecanismos para a produção

de sons e sinais dificultando uma classificação segura (Haskell 1974).

As vibrações de campo próximo são geradas pelo deslocamento de

partículas de ar ou água próximas da fonte emissora e são captadas por

receptores do tipo pêlos mecanoreceptores, mas este tipo de produção de som é

pouco comum em insetos (Bailey 1991). Já a comunicação originária do substrato

está relacionada com uma variedade de interações e exerce diversas funções

comportamentais (Virant-Doberlet & Cokl 2004). Tais sons são produzidos pelos

insetos através da fricção de partes de seu corpo e são transmitidos pelo solo ou

pelos materiais nos quais eles vivem, servindo, dessa forma, como substrato para

a transferência da energia sonora até o receptor da mensagem (Haskell 1974).

Para a produção de sons de origem aérea os insetos utilizam a cutícula como um

sistema de sinalização sonora, através da fricção, puxão e toques sobre sua

superfície dura, os quais permitirão que áreas percutidas ao redor da cutícula, ou

pela deformação causada pela contração dos músculos gerados pela cutícula

sozinha, vibrem com alguma liberdade ou deformação (Bailey 1991).

Para a recepção de um sinal acústico o inseto necessita de órgãos

mecanoreceptores apropriados (Hoy & Robert 1996). Estes órgãos são receptores

auditivos que respondem às oscilações do meio ao redor, sendo que cada

receptor consiste de um ou mais neurônios sensoriais, um grupo de células

acessórias e estruturas cuticulares do tipo sensilas e pêlos (Bailey 1991). As

sensilas campaniformes, localizadas próximas das juntas intersegmentais das

pernas do inseto, e os órgãos escolopidiais ou órgão subgenal, localizados na

tíbia de todas as seis pernas, são os melhores receptores para as vibrações

originárias do substrato (Virant-Doberlet & Cokl 2004). Já os órgãos cercais de

baratas, o órgão de Johnston de mosquitos e as arestas de drosófilas são bons

exemplos de receptores de sons de campo-próximo (Hoy & Robert 1996). Os

órgãos de Johnston, que se localizam na base da antena dos insetos, constituem

um mecanoreceptor mais complexo funcionando como um proprioreceptor e que

também pode ser utilizado, entre outras funções, para perceber os sons de

origem aérea (Bailey 1991).

Além disso, outras estruturas mais complexas também exercem a função

de receptores de sons como os ouvidos timpanais (Hoy & Robert 1996). Segundo

Forrest et al. (1997), estas estruturas possuem três características: (i) uma área

24

afinalada pela cutícula, conhecida como membrana timpânica; (ii) esta membrana

está associada a um saco de ar, formado por uma expansão do sistema traqueal;

e (iii) a tradução da vibração pela membrana dentro dos sinais neurais é realizada

pelas células sensóriais bipolar no órgão sensorial cordotonal.

A utilização de ouvidos timpanais é a maneira mais usual de detecção de

sons de origem aérea e evoluiu tanto em vertebrados quanto em várias ordens de

insetos como em Orthoptera, Lepidoptera, Mantodea, Hemiptera (Bailey 1991),

bem como em coleópteros das famílias Cicindelidae e Scarabaeidae (Hoy &

Robert 1996). Segundo Forrest et al. (1997), a função primária dos ouvidos de

insetos é perceber e localizar os sinais acústicos emitidos por seus coespecíficos

ou para detectar os sons gerados por seus predadores e presas.

2.5.1. Produção de Som em Coleoptera

A produção de som entre os coleópteros já foi verificada em várias

famílias (Carabidae, Hygrobiidae, Dytiscidae, Hydrophilidae, Silphidae, Lucanidae,

Trogidae, Acanthoceridae, Passalidae, Geotrupidae, Buprestidae, Anobiidae,

Tenebrionidae, Cerambycidae, Chrysomelidae, Attelabidae, Curculionidae,

Scolytidae, Scarabeidae e Bostrichidae) (Lobanov 2002). Nos coleópteros, os

mecanismos de estridulação evoluíram e se diversificaram entre as larvas, pupas

e adultos que podem utilizar várias partes do corpo como a cabeça, tórax,

abdômen, asas, pernas e o próprio élitro para produzir sons (Haskell 1974).

A estridulação, muito comum entre os besouros, pode ser definida como o

processo por meio do qual o som ou vibração é produzido pela fricção de duas

partes do corpo que se movem uma contra a outra (Cokl & Virant-Doberlet 2003).

Segundo Lobanov (2002), uma das superfícies de atrito se assemelha a uma

estrutura em forma de múltiplas cristas paralelas (tipo “lima” ou pars stridens) e a

outra se assemelha a um dentículo (“raspador” ou plectrum) e ambas se movem

uma em relação à outra para gerar um som.

Os órgãos estridulatórios de besouros podem estar localizados em

posições amplamente diferentes. Adultos de Lilioceris lilii (Scopoli, 1763)

(Coleptera: Chrysomelidae) produzem um trinado através de seu aparato

estridulatório localizado entre os élitros e o abdômen (Smith 2003). No gênero

Pelobius Hermanni (Coleoptera: Dytiscidae), a produção de um barulho

estridulatório se dá quando os sulcos paralelos (pars stridens) localizados

25

próximos da sutura marginal dos élitros são raspados contra o plectrum situado

na margem extrema do abdômen (Darwin 1871). Em machos do gênero

Laccobius Erichon, 1837 (Coleoptera: Hydrophilidae) a pars stridens está situada

no terceiro pleurito abdominal e possui uma estrutura eulamelada e o plectrum

está localizado no interior dos élitros (Pirisinu et al. 1988).

O aparato estridulatório de Eupsophulus castaneus Horn, 1870

(Coleoptera: Tenebrionidae) consiste em um plectrum, localizado na face interior

do fêmur posterior e uma pars stridens, localizada em uma placa lateral entre o

tergito e esternito do primeiro segmento abdominal (Slobodchikoff & Spangler

1979). Segundo Serrano et al. (2003), o mecanismo de estridulação em Oxychelia

tristis (Coleoptera: Carabidae) é produzido tanto por machos quanto por fêmeas

ao friccionarem a margem interna do fêmur (raspador ou plectrum) sobre a

epipleura elitral (lima ou pars stridens), sendo que os movimentos do abdômen

parecem funcionar com um modulador de amplitude e as características

temporais do som são fortemente diferentes entre os sexos, mas os espectros de

freqüência são similares. Os autores mencionam ainda que estas estruturas de

estridulação também são encontradas em outras espécies de Oxycheila, bem

como no grupo próximo Cheiloxya binotata longipennis Horn, 1891. Também no

gênero Heterocercus Fabricius, 1972 (Coleoptera: Heteroceridae) as raspadeiras

são localizadas no fêmur e a estridulação é produzida pela sua fricção sobre as

limas localizadas nas laterais do primeiro segmento abdominal (Darwin 1871). Em

alguns Cerambycidae a área de estridulação está situada na parte anterior do

mesonoto que fica coberto pelo pronoto e o som é produzido quando o protórax

se move em direção ao mesotórax, deslizando a margem posterior e afiada do

mesonoto contra a área de estridulação (Lobanov 2002).

Os órgãos estridulatórios também são amplamente distribuídos entre as

larvas de Coleoptera. Em algumas larvas de Melolonthinae, Rutelinae, Dynastinae

e Cetoninae, espinhos sobre a maxila são esfregados contra uma placa estriada

situada sobre a mandíbula e em larvas de Lucanidae, Passalidae e Geotrupidae,

uma série de sulcos (pars stridens) sobre a coxa das pernas medianas é

friccionada sobre os raspadores (plectrum) localizados sobre o trocânter das

pernas posteriores (Haskell 1974). O aparato de estridulação das larvas muitas

vezes não apresenta uma função muito clara, como nas larvas do passalídio,

Lucanu cervus, no qual os sons possivelmente direcionam as larvas para o

26

propósito de se manterem juntas ou para reivindicarem um espaço, sendo as

funções de defesa, proteção e orientação no substrato descartáveis (Sprecher

2003). Segundo Verdú & Galante (2001) algumas larvas de espécies do gênero

Pedaridium Harold (Coleoptera: Scarabaeidae) podem ser classificadas pela

presença ou ausência de áreas de estridulação na mandíbula e a presença deste

aparato de estridulação impediria o contato entre larvas, evitando o canibalismo

pela produção de um som de sinalização.

Na ordem Coleoptera, a emissão de sinais acústicos pode estar

relacionada tanto aos comportamentos de reprodução quanto aos de ataque e

ambos podem estar associados à liberação de feromônios. Por exemplo, o

escolitídio Dendroctonus pseudotsugae Hopkins, 1905 possui um comportamento

antiagregação no qual a ocorrência de estridulação e a liberação de feromônio

antiagregação exercem um papel importante, pois juntos criam uma zona

territorial, dentro da qual nenhum ataque é permitido e além da qual os ataques

são permitidos (Prenzel et al. 1999).

Dentro do contexto do comportamento reprodutivo, a estridulação pode

ser utilizada por outros escolitídeos do gênero Ips para estabelecer uma

comunicação no início da formação das câmaras nupciais, e este som geralmente

é produzido pelas fêmeas (López & Oliveira 2002). Os besouros platipodídios,

Platypus quercivorus (Murayama, 1925) (Coleoptera: Platypodidae) também

produzem vários sons pré-acasalamento. Segundo Ohya & Kinuura (2001), as

fêmeas de P. quercivorus produzem um “trinado de aproximação” para chamar a

atenção dos machos e em seguida produzem um zunido de pré-acasalmento que

induz os machos a empurrá-las para dentro da galeria onde vai ocorrer o

acasalamento; por fim os machos produzem um cricrido enquanto entram na

galeria (Figura 3).

27

Figura 3 - Três comportamentos seqüenciais de pré-acasalmento acompanhado de sons em Platypus quercivorus. (A) uma fêmea caminhando próximo ao buraco da galeria com um “trinado de aproximação”. (B) uma fêmea produzindo um zunido de pré-acasalamento o qual direciona um macho a ajudá-la a entrar na galeria. (C) um macho produzindo um cricrido na galeria com sua extremidade posterior permanecendo fora do buraco após a introdução da fêmea.

Em besouros do gênero Aphodius (Coleoptera: Scarabaeidae), são os

machos que cantam durante as interações macho-fêmea e a cópula só ocorre nos

intervalos entre um canto e outro (Kasper & Hirschberger 2005). Segundo

Breidbach (1986), o mecanismo de estridulação de Hylotrupes bajulus (Linnaeus,

1758) (Coleoptera: Cerambycidae) também está envolvido no comportamento de

acasalamento, exercendo um papel na estimulação tátil das fêmeas pelos machos

coespecíficos. Breidbach (1986) menciona ainda a participação da estridulação no

comportamento agressivo destes besouros. No tenebrionídio, Eupsophulus

castaneus, além da estridulação que pode estar envolvida no comportamento de

defesa, os machos desta espécie ainda produzem um som típico, ao baterem o

abdômen contra o substrato, e que possivelmente esteja envolvido de alguma

forma no comportamento de acasalamento (Slobodchikoff & Spangler 1979).

A produção de som em coleópteras também pode não estar associada a

nenhum destes comportamentos. Por exemplo, machos e fêmeas do cerambicídio

Dectes texanus texanus só estridulam quando são estressados (Crook et al.

28

2004). Isso também ocorre em P. quercivorus, que estridulam também

espontaneamente (Ohya & Kinuura 2001). Já em Odontotaenius disjunctus (Illiger,

1800) (Coleoptera: Passalidae), a estridulação por distúrbio possui capacidade

deterrente, favorecendo o ataque constante do predador, o corvo Corvus

brachyrhynchos Brehm, 1822 (Buchler et al. 1981).

2.5.1.1. Aparato estridulatório e produção de som em Curculionidae

A produção de sons em diversos Curculionidae se dá pelo método de

estridulação élitro-abdominal, descrito por Durmortier, em 1963, o qual consiste

na fricção do plectrum, presente no abdômen, sobre a pars stridens, localizada

nos élitros (Durmortier 1963). Este mecanismo pode ser encontrado em várias

espécies do gênero Conotrachelus (Gibson 1967), Pissodes (Harman & Kranzler

1969), Smicronyx (Hyder & Oseto 1989), Phrydiuchus (Wilson et al. 1993), entre

outros (Durmortier 1963).

Segundo Harman & Harman (1972), tanto o élitro direito quanto o

esquerdo de Pissodes strobi contêm a pars stridens, sendo que esta estrutura

difere, quanto ao número e espaçamento dos sulcos, entre machos e fêmeas. Os

autores também observaram diferenças nas raspadeiras, localizadas no sétimo

tergito abdominal, de machos e fêmeas, quanto ao número de dentes. A

estridulação em P. strobi e P. approximatus, para ambos os sexos, é composta de

chiados diplossilábicos de duas partes com duração de 50 e 80 ms e com

intervalo entre chiados variando de 5 a 25 ms; apenas as taxas de repetição de

chiados dos machos são mais rápidas do que as das fêmeas para ambas as

espécies (Harman & Kranzler 1969).

Gibson (1967) observou que a pars stridens de três espécies do gênero

Conotrachelus (C. naso LeConte, 1876; C. posticatus Boheman, 1837; e C.

carinifer Casey, 1892) está situada na borda do élitro esquerdo, prolongando-se

debaixo do direito; que os sulcos ou stridulitra são maiores nos machos do que

nas fêmeas, e que o comprimento e a largura da pars stridens e o seu número de

dentes são variáveis entre os sexos e entre as espécies. De acordo com suas

análises, Gibson observou que, nas três espécies de Conotrachelus, ambos os

sexos possuem plectra semelhantes, compostos de dois pares de tubérculos e

localizados no sexto tergito abdominal. Em C. naso e C. carinifer, a estridulação

29

dos machos difere daquela das fêmeas quanto ao tom (agudo e grave), mas

também foram observadas diferenças em velocidade e freqüência.

Para Hyder & Oseto (1989), o aparato estridulatório de Smicronyx fulvus

LeConte, 1876 e Smicronyx sordidus LeConte, 1876 é constituído pela pars

stridens localizada sob a superfície apical dos élitros com sulcos individuais,

formando um arco oblíquo em direção à margem sulural, e por dois plectra

localizados no sexto tergito abdominal. A análise do som, segundo o estudo dos

autores, revelou que machos das duas espécies produzem freqüências mais altas

do que as fêmeas coespecíficas, mas as freqüências entre esses machos são

diferentes. Os autores observaram também que o alcance da freqüência é

diferente entre os grupos e a distribuição das densidades de freqüências são

diferentes entre os sexos.

Em Phrydiuchus tau Warner, 1969 o plectrum é formado por estruturas

emparelhadas, dorso-laterais presentes no sétimo tergito abdominal e a pars

stridens é constituída de uma série de fendas descontínuas, transversais,

situadas ao longo da margem da sutura apical de cada élitro (Wilson et al. 1993).

Duas categorias de sons são relatadas para Curculionidae, bem como

para outros artrópodes, segundo Alexander (1967): a estridulação por distúrbio e

a estridulação de corte. A primeira está relacionada ao som produzido por ambos

os sexos em resposta às interações interespecíficas e intraespecíficas,

associadas aos comportamentos de defesa e alarme. Já a estridulação de corte é

utilizada na comunicação intraespecífica, relacionada com os comportamentos de

acasalamento.

Em P. tau foi observada a presença destes dois tipos de som, sendo que

a estridulação de corte consiste em dois pulsos curtos a intervalos de 40 ms

separados por aproximadamente 500 ms e os sons de distúrbio, também de pulso

duplo, são repetidos de forma irregular (Wilson et al. 1993). Em S. fulvus e S.

sordidus, a produção de som também está relacionada ao comportamento de

corte, sendo que o segundo plectrum é usado para produzir sons antes e durante

a cópula (Hyder & Oseto 1989). Em C. nenuphar, Manpe & Neuzig (1966)

observaram que gorgulhos adultos de ambos os sexos podem atrair o sexo

oposto pela estridulação, entretanto, a cópula nesta espécie aconteceu muitas

vezes sem ser precedida pela estridulação. Em outras espécies do gênero, não

foi observada nem registrada a produção de som quando os gorgulhos não eram

30

induzidos a isto (Gibson 1967), o que pode caracterizar neste gênero uma

estridulação por distúrbio. Segundo Harman & Kranzler (1969), diferenças nas

taxas de chiado entre os sexos de Pissode strobi e P. aproximatus podem ser

uma característica sexo-específica utilizada dentro do comportamento de

acasalamento.

31

3. TRABALHOS

DIMORFISMO SEXUAL DE AMERRHINUS YNCA SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

RESUMO

Amerrhinus ynca é um coleóptero da família Curculionidea, originário do Brasil.

Este inseto é encontrado danificando a ráquis foliar de coqueiros. Este trabalho foi

realizado para estabelecer um método de sexagem de adultos de Amerrhinus

ynca que permita a realização de estudos comportamentais. Adultos de A. ynca

capturados em um plantio comercial de coco foram levados para o laboratório e

com base em características citadas na literatura para sexar outros

Curculionidaes, formaram-se casais que foram observados até a ocorrência de

cópulas. Em seguida, machos e fêmeas (n=60) foram sacrificados e sob lupa

estereoscópica (40 X) observou-se a sua morfologia externa e com um

paquímetro digital mediu-se o comprimento e a largura corporal. Foram

encontradas três características morfológicas distintas entre os sexos de adultos

de A. ynca: (i) os dois primeiros esternitos abdominais nas fêmeas apresentam

um formato convexo enquanto nos machos os mesmos esternitos são

ligeiramente côncavos, (ii) a margem posterior do 5o esternito nas fêmeas

32

apresenta um entalhe mediano, enquanto nos machos é totalmente arredondada

e (iii) o oitavo tergito abdominal nas fêmeas é recoberto pelo sétimo e, nos

machos, é visível. Médias de comprimento e largura do corpo foram maiores nas

fêmeas que nos machos.

ABSTRACT

Sexual dimorphism of the Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823 (Coleoptera: Curculionidae)

Amerrhinus ynca is a beetle of the family Curculionidae, native of Brazil. This

insect damages the petiole of coconut trees. The aim of this work is to determine a

sexing method of A. ynca adult to be usede in behavioral studies. Adult insects of

A. ynca captured in a commercial plantation of coconut were taken to the

laboratory, individualized and fed. One hundred and twenty adults of A. ynca were

observed (60 couples) and the sexual identity of the insects was obtained by

observing the characteristics mentioned in the literature for sexing Homalinotus

coriaceus (Coleoptera; Curculionidae), and confirmed by observing the courtship.

The search for external morphological characters was accomplished under

magnifying stereoscopic microscope (40 X). The the distance between the

extremities: from the head to the posterior part of the elytra was used to measure

body length, for the width, the largest distance among the sides of the body. Three

morphological characters can be used to differentiate sexes of adults of A. ynca in

the field and in the laboratory: (i) the configuration of the 1st and of the 2nd

abdominal sternite, (ii) the shape of the posterior margin of the 5th sternite and (iii)

the design and the shape of the last abdominal tergite. The length and width

averages differed statistically for both sexes, being the females larger than the

males.

33

INTRODUÇÃO A broca-do-pecíolo ou broca-da-ráquis-foliar do coqueiro, Amerrhinus

ynca Sahlberg 1823, é um coleóptero Curculionidea, originário do Brasil (Gomes,

1992). As populações deste inseto são encontradas danificando a ráquis foliar de

coqueiros adultos (Ferreira et al. 1998) e também podem ser encontradas

atacando os talos foliares do licurizeiro (Bondar 1940).

O adulto de A. ynca é uma broca de coloração amarela a esbranquiçada

(Moura & Vilela 1998), com manchas pretas espalhadas pelo corpo (Gomes

1992), cujo comprimento varia de 14 mm a 22 mm de comprimento, além de um

rostro que pode variar de 4 mm, nos menores exemplares, até 6 mm, nos maiores

(Ferreira et al. 1998). É um besouro de hábitos diurnos que pode ser observado

alimentando-se das flores masculinas do coqueiro (Moura & Vilela, 1998).

Em algumas fases dos estudos de biologia, comportamento e ecologia,

faz-se necessário a determinação dos sexos de insetos adultos (Duan et al.

1999), como, por exemplo, em estudos de comportamento que envolvam

respostas a sinais químicos (feromônios), nos quais há a necessidade de

determinar a natureza do feromônio e as diferenças sazonais entre machos e

fêmeas (Innocenzi et al. 2002).

Pouco se conhece sobre a biologia de A. ynca (Mirizola-Filho 2002),

portanto, visando desenvolver estudos sobre sua biologia, ecologia e

comportamento, este trabalho pretende descrever diferenças morfológicas que

sejam distintas entre os sexos e que sirvam na diferenciação sexual durante as

atividades de campo e laboratório.

MATERIAIS E MÉTODOS Insetos adultos de A. ynca foram coletados no município de Quissamã,

Estado do Rio de Janeiro, no período de março a setembro de 2004. Os insetos

coletados foram mortos em solução de álcool 70%, em laboratório.

Os estudos foram realizados no Laboratório de Entomologia e

Fitopatologia do Centro de Ciência e Tecnologia Agropecuária da Universidade

34

Estadual do Norte Fluminense, Rio de Janeiro. Adultos de A. ynca coletados no

campo foram acondicionados dentro de gaiolas de acrílico (30 X 30 X 30 cm) com

dieta artificial de cana-de-açúcar. Assim que se formava um casal, possíveis

machos e fêmeas foram separados em recipientes diferentes até a confirmação

dos sexos. Esta, por sua vez, foi feita da seguinte maneira: após separar 60

individuos de cada sexo, os possíveis machos e fêmeas tiveram seus sexos

confirmados ao se observar a presença ou ausência do oitavo tergito abdominal,

conforme característica utilizada para diferenciar outros Curculionidae (Sarro et al.

2004).

A avaliação das características morfológicas externas foi realizada sob

lupa estereoscópica com capacidade de aumento de até 40 vezes. Procuraram-se

características que servissem na diferenciação dos sexos dos indivíduos dessa

espécie, tais como o tamanho do corpo, sua coloração, o comprimento do rostro e

da cabeça, a forma das antenas e das pernas, e variações nos segmentos

torácicos e abdominais (Duan et al. 1999). Para a medida do comprimento,

considerou-se a distância entre a extremidade anterior da cabeça e a posterior

dos élitros, e para a largura, a maior distância entre os lados do corpo (Anjos

1992) (Figura 1). As medidas de comprimento e largura dos insetos foram

coletadas com o auxilio de um paquímetro digital e os dados submetidos à análise

de variância (ANOVA).

Figura 1 – Esquema mostrando como foram obtidas as medidas corporais de Amerrhinus ynca.

35

RESULTADOS Três caracteres morfológicos podem ser utilizados para diferenciar os

sexos de adultos de A. ynca no campo e no laboratório: (i) a conformação do 1o e

do 2o esternitos abdominais, (ii) a forma da margem posterior do 5o esternito e (iii)

a disposição e forma do último tergito abdominal.

Adultos de A. ynca apresentam, na parte ventral, cinco esternitos

abdominais visíveis. Os dois primeiros não apresentam mobilidade e são maiores

que os demais. Entretanto, nas fêmeas deste gorgulho, os dois primeiros

esternitos abdominais apresentam um formato convexo enquanto nos machos os

mesmos esternitos são de ligeiramente côncavos a planos (Figura 2).

Figura 2 - Esquema da vista lateral do abdômen de ambos os sexos de Amerrhinus ynca, mostrando a diferença anatômica existente entre os dois primeiros segmentos abdominais.

Constatou-se que a margem da extremidade posterior do 5o esternito das

fêmeas de A. ynca apresenta um entalhe mediano, enquanto nos machos esta

característica não foi observada, ou seja, neles a extremidade se apresenta de

forma totalmente arredondada (Figura 3).

36

Figura 3 – Esquema da vista ventral do final do abdômen de ambos os sexos de Amerrhinus ynca, mostrando a diferença existente na margem posterior do quinto esternito.

A terceira característica observada se encontra na parte dorsal do

abdômen (Figura 4). Observou-se que em fêmeas adultas de A. ynca o oitavo

tergito abdominal é recoberto pelo sétimo, ao passo que nos machos o oitavo

tergito é visível. Sarro et al. (2004), ao estudarem a morfologia da broca do

pedúnculo floral do coqueiro, Homalinotus coriaceus (Gyllenhal, 1836), obtiveram

os mesmos resultados, e suas observações serviram de base no momento de se

decidir entre os sexos dos adultos de A. ynca. Além disso, o oitavo tergito dos

machos de A. ynca é mais curto do que o sétimo tergito. Observou-se ainda que a

extremidade final do abdômen, formada pelo oitavo tergito nos machos e pelo

pigídio nas fêmeas, também apresenta diferenças, sendo que nas fêmeas esta

extremidade é mais afinalada quando comparada com a dos machos (Figura 4).

37

Figura 4 – Esquema da vista doral do abdômen, mostrando a diferença entre machos e fêmeas de Amerrhinus ynca quanto à disposição dos tergitos abdominais.

As médias do comprimento e largura do corpo de adultos de A. ynca, bem

como as suas amplitudes, encontram-se na tabela 1. As médias de comprimento

e largura diferem estatisticamente para ambos os sexos, sendo as fêmeas

maiores que os machos. Entretanto, as medidas corporais não podem ser

utilizadas para separar os adultos, uma vez que as amplitudes se sobrepõem,

tanto em relação à largura, quanto em relação ao comprimento do corpo.

Tabela 1 – Morfometria corporal de adultos, machos e fêmeas, de Amerrhinus ynca.

Adultos Comprimento do corpo1 (amplitude) (mm)

largura do corpo2 (amplitude) (mm)

Número de exemplares

Macho 17,49 ± 0,20a (13,44 - 20,14) 7,29 ± 0,73a (5,33 - 8,43) 60

Fêmea 18,70 ± 0,12b (16,35 - 20,85) 8,00 ± 0,41b (6,76 - 8,74) 60 1, 2, Médias dos comprimentos e larguras seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não

diferem entre si (ANOVA; P = 0,05).

38

DISCUSSÃO A diferença morfológica entre os dois primeiros esternitos abdominais de

machos e fêmeas de A. ynca também foi observada no gênero Conotrachelus

(Coleoptera: Curculionidae) nas espécies C. nenuphar (Herbst, 1797) (Thomson

1932), C. neomexicanus Fall, 1913 (Bodenham et al. 1976) e C. schoofi Papp,

1978 (Tedders & Payne 1986). Já para a tribo Molytini (Coleoptera:

Curculionidae), Craw (1999) também observou diferenças sexuais na margem do

quinto esternito abdominal, que é menor e mais transversal nos machos e maior,

mais comprido e mais arredondado, nas fêmeas. Em fêmeas de Ganglionus

mitigatus Franz, 2001 (Coleoptera: Curculionidae), Franz & O’Brien (2001)

observaram que a margem posterior do oitavo esternito abdominal é que é

distintamente emarginada.

O recobrimento do oitavo tergito abdominal em fêmeas parece ser uma

característica comum entre alguns besouros da família Curculionidae, tendo sido

relatada em C. neomexicanus Fall, (Bodenham et al. 1976), Phrydiuchus tau

Warner, 1969 (Wilson et al. 1993) e Pissodes strobi (Peck, 1817) (Harman &

Harman 1972).

Estudos sobre a morfometria corporal de adultos de Conotrachelus

schoofi, desenvolvidos por Tedders & Payne (1986) mostraram que as fêmeas

são em média ligeiramente maiores que os machos e que as variações no

tamanho do corpo se sobrepõem, tornando-se uma característica distintiva não

confiável. Já para H. coriaceus, Sarro et al. (2004) não encontraram diferenças

corporais entre os adultos (machos e fêmeas) trazidos do campo. Os autores

observaram apenas diferenças na largura do corpo de indivíduos vindos do

campo em relação àqueles criados em laboratório.

Não foram encontradas, para A. ynca, diferenças na coloração nem na

forma das pernas e antenas. Duan et al. (1999), após examinarem centenas de

adultos de Anthonomus pomorum Linneaus, 1758 (Coleoptera: Curculionidae),

também não observaram diferenças discriminatórias entre machos e fêmeas em

relação a cor e morfologia das pernas e antenas. Para Anthonomus rubi (Herbst,

1795), Innocenzi et al. (2002) observaram algumas vezes diferenças entre os

sexos pela posição das antenas e pela curvatura das tíbias, mas concluíram que

a diferença intra-sexual destas características não permite uma discriminação

39

confiável. Já em Mauritinus seferi Bondar, 1960 (Coleoptera: Curculionidae),

Barbosa & Valente (2003) observaram que machos adultos deste gorgulho

apresentam no centro distal da face interna da protíbia uma franja de longas setas

castanho-amareladas, que é ausente nas fêmeas e que serve, portanto, como

característica discriminatória dos sexos. Existem outras diferenças morfológicas

associadas ao aparato responsável pela produção de som em A. ynca que serão

tratadas com maiores detalhes no quarto trabalho desta dissertação.

RESUMOS E CONCLUSÕES Este trabalho foi realizado com o objetivo de estabelecer um método de

sexagem de adultos de Amerrhinus ynca que permita a realização de estudo

sobre sua biologia, ecologia e comportamento. Para isso, adultos de A. ynca

capturados em um plantio comercial de coco foram levados para o laboratório e,

após observação de casais em cópula, possíveis machos e fêmeas foram

separados e a confirmação de sua identidade sexual se deu ao observar a

presença ou ausência do oitavo tergito abdominal. em cópula. Em seguida,

machos e fêmeas (n=60) foram sacrificados e a sua morfologia externa foi

observada sob lupa estereoscópica com aumento de até 40 vezes e com um

paquímetro digital foram medidos o comprimento e a largura corporal. Foram

encontradas três características morfológicas distintas entre os sexos de adultos

de A. ynca: (i) os dois primeiros esternitos abdominais nas fêmeas apresentam

um formato convexo enquanto que nos machos os mesmos esternitos são

ligeiramente côncavos, (ii) a margem posterior do 5o esternito nas fêmeas

apresenta um entalhe mediano, enquanto que nos machos é totalmente

arredondada e (iii) o oitavo tergito abdominal nas fêmeas é recoberto pelo sétimo

e, nos machos, é visível. Médias de comprimento e largura do corpo foram

maiores nas fêmeas que nos machos.

Portanto, os sexos dos adultos de A. ynca podem ser facilmente

diferenciados pela verificação da morfologia dos dois primeiros esternitos

abdominais, forma da margem posterior do quinto esternito, tamanho e forma do

penúltimo tergito abdominal. Dentre estes, os dois primeiros caracteres são os

mais adequados por apresentarem confiabilidade e praticidade, não provocando

40

danos nem alterando o comportamento dos insetos durante a verificação das

características. As medidas morfométricas desses coleópteros, por sua vez, não

servem para a diferenciação dos sexos, uma vez que suas amplitudes se

sobrepõem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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42

COMPORTAMENTO DE CORTE E ACASALAMENTO DE AMERRHINUS YNCA SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

RESUMO

A chave para se entender a biologia de uma espécie é conhecer o seu

comportamento reprodutivo. Assim é possível identificar e manipular pontos

vulneráveis dentro deste processo os quais permitirão que medidas de controle e

monitoramento sejam desenvolvidas com o propósito de reduzir a ação de

organismos competidores, como os insetos-praga. Amerrhinus ynca é um

curculionídio de importância econômica para algumas regiões do Brasil, e pouco

se conhece sobre sua biologia, por isso o objetivo deste trabalho foi investigar e

descrever seu comportamento de corte e acasalamento. Casais de A. ynca foram

observados de forma direta e através de filmagem. Registrou-se a freqüência dos

atos comportamentais envolvidos no comportamento de acasalamento e a

duração da cópula, corte e pós-cópula. Acasalamentos ocorreram tanto em

fotofase quanto em escotofase. Os machos iniciaram a monta 119 ± 75 min após

a formação dos grupos, permanecendo em corte durante 3 ± 2,5 min. A cópula

durou 51 ± 49 min. Os atos mais freqüentes dos machos durante a pré-cópula

foram a estridulação e a estimulação do corpo da fêmea com as pernas

anteriores. Durante a cópula o ato mais observado foi a estimulação do protórax

da fêmea com o primeiro par de pernas e a raspagem com o rostro no pronoto

das fêmeas. As fêmeas de A. ynca acasalaram múltiplas vezes e em geral com

vários machos. Após a primeira cópula os machos apresentaram comportamento

43

de guarda da fêmea, permanecendo sobre seu dorso por períodos que variaram

de 40 min a 33 horas. A. ynca é uma espécie poliândrica que apresenta uma

seqüência comportamental de pré-cópula e cópula similar à de outras espécies da

família Curculionidae. Os machos permanecem sobre o dorso da fêmea evitando

que elas sejam copuladas por outros machos.

ABSTRACT

Courtship and mating behavior of the Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823 (Coleoptera: Curculionidae)

Understanding the biology of species and knowing their sexual behavior

one can identify and manipulate vulnerable points that make possible controling

and monitoring in order to reduce the action of competitor organisms, as the

insect-pests. The objective of this work was to investigate and describe the

behavioral acts involved in the precopulation, copulation and poscopulation as well

as the system mating of this insect. Couples of A. ynca were analyzed through

direct observation and images were also obtained by filming. In both cases

frequency and duration of acts involved in mating behavior were registered. Mating

happened under photophase as well as under scotophase. The males began

mounting the females 119 ± 75 min after the formation of the couples and they

stayed courting them during 3 ± 2,5 min. The copulation lasted 51 ± 49 min. Most

frequent behavior acts among the males during the precopulation were stridulation

and stimulation of the female's body with the front legs. During copulation the most

observed behavioral act was stimulation of the protorax of the female with the first

pair of legs and the scratching of the pronotum of the female with the rostrum. The

females of A. ynca mated multiple times and in general with several males. After

the first copulation the males presented guarding behavior of the female, staying

on its back for periods that varied from 40 min to 33 h probably to avoid the sperm

competition. A. ynca is a polyandrous species that presented a behavioral

sequence of precopulation and copulation similar to those of other curculionidae

species.

44

INTRODUÇÃO A chave para se entender a biologia de uma espécie é conhecer o seu

comportamento reprodutivo. Assim é possível identificar e manipular pontos

vulneráveis dentro deste processo os quais permitirão que medidas de controle e

monitoramento sejam desenvolvidas com o propósito de reduzir a ação de

organismos competidores (Lloyd 1979), como os insetos-praga. Por exemplo, os

estudos sobre o comportamento de acasalamento são fundamentais para o

desenvolvimento de técnicas de atração e esterilização utilizadas para reduzir

níveis de infestação de insetos-praga (Wojcik 1969).

Associados ao comportamento de acasalamento, principalmente durante

o processo de corte, estão a emissão e a recepção de sucessivos estímulos que

irão gerar no receptor um padrão elaborado e apropriado de respostas (Viana &

Vilela 1996). Todo este processo é moldado e controlado pela relação de custos e

benefícios intimamente ligada à competição intra e intersexual (Daly 1978) e que

varia de acordo com o sistema de acasalamento (Suzuki et al. 2005). Por

exemplo, fêmeas de muitas espécies de animais geralmente acasalam com vários

machos (Olsson et al. 1994). A poliandria provavelmente evoluiu porque os

benefícios de múltiplos acasalamentos em fêmeas poliândricas excedem os

custos ou porque os machos manipulam a interação no sentido de seu sucesso

reprodutivo (Campbell 2005).

As interações entre machos e fêmeas geralmente não terminam com a

cópula (Wiley 1997). Neste ponto, tem-se o conflito sexual que ocorre quando

características que aumentam o sucesso reprodutivo de um dos sexos levam à

redução no sucesso do outro sexo (Stockley 1997). Assim, fêmeas podem se

beneficiar de diversas maneiras pela discriminação entre machos potenciais,

antes, durante e depois do acasalamento (Wedell 1996). Os machos devem

"persuadir" as fêmeas para que elas usem o seu esperma melhor do que o de

qualquer outro macho (Wiley 1997).

Estudos sobre a biologia e o comportamento reprodutivo em

Curculionidae já foram realizados em diversas espécies, como Anthonomus

grandis Boheman, 1843 (Bartlett et al. 1968), Conotrachelus nenuphar (Herbst,

1797) (Johnson & Hays 1969), Sitophilus zeamais Motschulsky, 1855

(Walgenbach & Burkholder 1987), Cosmopolites sordidus (Germar,1824) (Viana &

45

Vilela 1996), Gonipterus scutellatus Gyllenhal, 1833 (Carbone & Rivera 1998),

Pissodes strobi (Peck) (Lewis et al. 2002), Sitophilus oryzae Lineaus (Campbell

2005) e Homalinotus coriaceus (Gyllenhal, 1836) (Duarte et al. 2002). Em

Amerrhinus ynca é a primeira vez que se estuda o comportamento de corte e

acasalamento, por isso o objetivo deste trabalho foi investigar e descrever os atos

comportamentais envolvidos na pré-cópula, cópula e pós-cópula deste inseto.

MATERIAIS E MÉTODOS Adultos de Amerrhinus ynca coletados num plantio comercial de coco

localizado no município de Quissamã, RJ, foram transportados para o Laboratório

de Entomologia e Fitopatologia do Centro de Ciências e Tecnologias

Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense. No laboratório, os

insetos foram separados por sexo e mantidos até a realização dos experimentos

em caixas de acrílico (30 x 30 cm) com alimento (cana-de-açúcar). Os insetos

foram mantidos a 25 ± 2 °C, fotoperíodo de (12:12h) luz-escuro, com escotofase

iniciada às 20 horas. O comportamento de acasalamento foi analisado através de

observações diretas e por imagens obtidas através de filmagem.

As imagens utilizadas na observação do comportamento de acasalamento

foram obtidas com a filmagem focal contínua dos insetos, utilizando-se micro-

câmeras monocromáticas com luz infravermelha, para filmar durante escotofase.

Estas micro-câmeras foram acopladas a um computador para digitalizar as

imagens e seu funcionamento foi gerenciado através do programa de

monitoramento de imagens “Geovision GV 600”. Foram observados cinco casais

mantidos juntos dentro de uma caixa, cujas paredes inferiores foram constituídas

de vidro (30 X 20 X 10 cm), e as paredes superiores de isopor (25 cm de altura

com uma inclinação de 45º) com uma tampa de vidro (30 X 20 cm) (Figura 1). Os

insetos foram identificados com tinta à base de água no ventre e no dorso e

filmados continuamente durante 36 horas. As imagens foram analisadas

utilizando-se o programa Windows Media Player© v. 10.0 em um computador

Windows XP©. Durante as análises foram observados os atos envolvidos no

comportamento de acasalamento e algumas variavés associadas às interações

entre os indivíduos (Tabela 1).

46

Figura 1 – Esquema da arena utilizada para filmar os casais de Amerrhinus ynca.

A observação direta do comportamento de corte e acasalamento de A.

ynca foi realizada com 30 casais, mantidos em caixas Gerbox® (10 x 10 x 5 cm)

durante 5 horas. Durante este período foram registrados os atos comportamentais

associados ao processo de acasalamento. Os insetos foram observados em seis

módulos com cinco casais por observação, durante três dias. As observações

foram feitas em sala climatizada com temperatura de 25º C, alternando manhã e

tarde. Os atos comportamentais (Tabela 1) foram anotados em planilhas

confeccionadas para este fim, nas quais foi registrada a frequência de cada ato

comportamental, além do início e fim da corte, cópula e pós-cópula.

Foi elaborado um etograma dos atos comportamentais envolvidos no

processo de acasalamento, e apresentada a freqüência de cada ato em 30 casais

observados. Optou-se pela observação direta porque através das imagens foi

impossível determinar o momento exato do início e término da cópula, pois,

dependendo da posição da fêmea na arena de filmagem, não era possível

quantificar alguns atos comportamentais.

47

Tabela 1 – Descrição dos atos comportamentais e variáveis envolvidas no comportamento de acasalamento de Amerrhinus ynca.

Ato comportamental Descrição

Monta normal O macho sobe na fêmea tocando a cabeça e o pronoto com as antenas.

Monta em giro O macho sobe na fêmea tocando a parte final do abdômen com as antenas.

Antenação Movimento intenso das antenas.

Estridulação Produção de som ao friccionar os élitros contra o abdômen.

Estimular o protórax da fêmea com as pernas anteriores

O macho esfrega, utilizando um espinho localizado na tíbia das pernas anteriores, as laterais do protórax da fêmea.

Estimular o abdômen da fêmea com as pernas medianas e posteriores.

O macho esfrega as laterais do abdômen da fêmea utilizando as pernas medianas e posteriores para estimulá-la.

Tentativas de cópula O macho expõe a genitália para tentar penetrar a fêmea.

Raspar com o rostro. O macho raspa o rostro sobre o pronoto da fêmea em movimentos de vai-e-vem.

Variáveis Descrição

Tempo de disponibilidade da fêmea

Tempo desde o momento em que um macho desce do dorso da fêmea até o momento em que outro ou o mesmo macho inicia uma nova monta.

Monta de pós-cópula Tempo que o macho permanece sobre o dorso da fêmea, após a primeira cópula, até a sua descida.

Latência Tempo desde o ínicio das observações até o início da monta do macho sobre o dorso da fêmea.

Duração da corte Tempo desde o início da monta até o início da cópula.

Duração da cópula Tempo desde o início da penteração até a retirada do edeago do macho.

Duração da pós-cópula Tempo desde o fim da cópula até o momento em que o macho desce da fêmea ou inicia uma nova seqüência comportamental de corte.

RESULTADOS

Os acasalamentos de Amerrhinus ynca ocorreram tanto em fotofase

quanto em escotofase. Dos 30 casais, 90 % iniciaram o acasalamento e foram

bem sucedidos. Os machos iniciaram a monta 119,19 ± 75,91 min após o inicio

48

das observações e permaneceram 2,67 ± 2,59 min cortejando as fêmeas até

iniciarem a cópula, que teve uma duração de 50,98 ± 49,45 min (Tabela 2).

Tabela 2 – Média e amplitude dos tempos de início da monta, duração da corte e da cópula em Amerrhinus ynca

Média ± desvp (min) Amplitude (min)

Latência 119,19 ± 75,91 10,00 – 288,00

Duração da corte 2,67 ± 2,59 0,50 – 11,00

Duração da cópula 50,98 ± 49,45 4,00 – 163,00 Após a cópula, 81% dos machos permaneceram em cima das fêmeas,

8% abandonaram a fêmea e não acasalaram novamente e 11% se afastaram da

fêmea, mas voltaram a acasalar novamente. Daqueles que permaneceram em

cima da fêmea após a primeira cópula, 36 % chegaram a copular mais uma vez,

36% copularam mais duas vezes, 5% copularam mais quatro vezes e 23% não

copularam novamente, apesar de terem sido observados novos cortejos (Figura

2).

49

36%

36%

5%

23%

copularam 1 vez copularam 2 vezescopularam 4 vezes não copularam

Figura 2 – Porcentagem de casais que copularam (uma, duas e quatro vezes) e que não copularam, dos 22 machos que permaneceram sobre a fêmea após a primeira cópula.

Das observações obtidas indiretamente, através de imagens de vídeos,

verficou-se que os machos de A. ynca permaneceram sobre as fêmeas. 8,81 ±

9,30 horas, sendo que o menor tempo foi de 37,2 min e o maior de 33,7 horas

(Figura 3). Este valor maior corresponde à fêmea 04 que não trocou de parceiro,

até o final das observações o macho ainda permanecia em cima dela. Durante

este período, os machos chegaram a uma média de 2,07 ± 1,43 cópulas.

50

05

10152025303540

primeiro segundo terceiro quarto quintoAcasalamentos

Tem

po d

e pe

rman

ênci

a (h

oras

)

fêmea 01 fêmea 02 fêmea 03 fêmea 04 fêmea 05

Figura 3 – Tempo de permanência dos machos de Amerrhinus ynca sobre o dorso das fêmeas após a primeira cópula.

Quatro das cinco fêmeas de A. ynca trocaram de parceiro mais de uma

vez ou voltaram a ser montadas pelo mesmo macho mais de uma vez (Tabela 3).

O tempo médio que a fêmea ficou disponível a uma nova monta variou entre 0,27

e 14,77 horas (Tabela 4).

Tabela 3 – Quantidade de vezes que as fêmeas de Amerrhinus ynca trocaram de parceiros e quantas vezes ela voltou a ser montada pelo mesmo macho. A letra X representa os parceiros e a quantidade de monta

MACHO FÊMEA 1 2 3 4 5

TOTAL DE MONTAS

1 X X X 3 2 X X X X 4 3 X X 2 4 X 1 5 X X X X X 5

51

Tabela 4 – Tempo de disponibilidade das fêmeas de Amerrhinus ynca para um novo acasalamento

Tempo de predisposição (horas)

Fêmea 1a a 2a monta 2a a 3a monta 3a a 4a monta 4a a 5a monta

1 1,83 0,85 - - 2 0,07 1,89 - - 3 14,77 - - - 4 - - - - 5 0,27 0,06 1,25 1,65 A seqüência dos atos comportamentais envolvidos na pré-cópula, cópula,

e pós-cópula está representada no etograma da figura 4. Assim que o macho

encontra a fêmea, ele a toca com as antenas e com os tarsos das pernas

anteriores. Este primeiro contato pode se dar por qualquer lado do corpo da

fêmea, mas a monta ocorre em maior frequência pelas laterais. Há duas

possibilidades de monta, uma em que o macho sobe na fêmea tocando sua

cabeça com o rostro e as antenas, e outra em giro, na qual o macho monta no

sentido contrário a cabeça da fêmea tocando primeiro o final do abdômen. Logo

após e independentemente do tipo de abordagem, o macho dá início à corte,

durante o qual ele desenvolve vários atos comportamentais não sucessivos como

a produção de som ao friccionar os élitros contra o abdômen; estimular as laterais

do protórax da fêmea com as pernas anteriores e as laterais do abdômen com as

pernas medianas e posteriores, usando um espinho localizado na extremidade

final da tíbia; expor sua genitália e fazer de uma a várias tentativas de cópula.

Algumas fêmeas são receptivas e aceitam a monta e a corte passivamente, mas

outras se movem erguendo o corpo enquanto caminham. Quando isso ocorre, os

machos seguram as fêmeas com suas pernas medianas e posteriores, ao mesmo

tempo em que estridulam e esfregam as laterais do protórax da fêmea com as

pernas anteriores tentando penetrá-las com seu edeago.

Durante a cópula os machos seguram as fêmeas com os três pares de

pernas, flexionando seu abdômen de forma rítmica. Durante este período outros

atos comportamentais podem se exibidos pelos machos, como raspar o rostro no

pronoto da fêmea e estimular as laterais do protórax e do abdômen da fêmea. Os

52

dois últimos atos comportamentais ocorrem frequentemente após a introdução da

genitália do macho, mas podem ocorrer em espaços de tempo maiores ou

associados com o ato de raspar o rostro sobre o pronoto da fêmea. Este ato, por

sua vez, pode ocorrer de uma a três vezes, em uma seqüência de três a cinco

raspadas por vez, durante o período de copulação.

Assim que o macho finaliza a cópula ele pode novamente estridular e

esfregar as pernas anteriores nas laterais do protórax da fêmea, possivelmente

sinalizando o final da cópula. Alguns machos descem em seguida da fêmea e

outros permanecem sobre seu dorso por um longo período.

Figura 4 – Etograma dos atos comportamentais envolvidos na monta, pré-

cópula, cópula e no final da cópula dos machos de Amerrhinus ynca. Os valores indicados na figura representam a freqüência com que os atos ocorreram nos 30 casais.

Os atos comportamentais que os machos mais desempenharam durante

o processo de cortejamento foram a estridulação, o ato de estimular a fêmea com

53

as pernas anteriores, seguidos da exposição da genitália e a tentativa de cópula

e, por fim, a estimulação do abdômen com as pernas medianas e posteriores

(Figura 5). Entretanto, houve uma grande variação na freqüência com que estes

atos ocorreram entre os 30 casais observados.

Durante a cópula, o ato comportamental mais observado foi o

comportamento de estimular as laterais do protórax da fêmea com as pernas

anteriores, seguido da estimulação das laterais do abdômen com as pernas

posteriores e do comportamento de raspar o rostro sobre o pronoto das fêmeas

(Figura 6). A freqüência destes atos comportamentais também variou entre os

casais observados.

45%

23%

15%

17%

Estridulação Estimular o prótorax

Estimular o abdômen Tentativas de cópula

Figura 5 – Porcentagem dos atos comportamentais desempenhados por machos de Amerrhinus ynca e que mais ocorrem durante a corte.

54

3%

71%

26%

Raspar com o rostro Estimular o protórax Estimular o abdômen

Figura 6 – Porcentagem dos atos comportamentais desempenhados por machos de Amerrhinus ynca e durante a cópula.

DISCUSSÃO Amerrhinus ynca apresentou uma grande amplitude quanto à duração da

cópula. Essa variação corrobora o observado em outros Curculionidaes como

Sitophilus zeamais (Walgenbach & Burkholder 1987); Sitophilus granarius

Linneaus, 1758 (Wojcik 1969); Homalinotus coriaceus (Gyllenhal, 1836) (Duarte et

al. 2002); Cosmopolites sordidus (Viana & Vilela 1996) e Anthonomus grandis

(Bartlett et al. 1968). Esta grande variação na duração da cópula em A. ynca

possivelmente está relacionada com a heterogeneidade dos indivíduos, uma vez

que estes foram coletados no campo sem se conhecer as idades nem seu estado

fisiológico e de maturação.

Os comportamentos de pré-cópula exibidos por A. ynca são similares aos

observados em outros gêneros da família Curculionidae. Em S. granarius (Wojcik

1969) e S. zeamais (Walgenbach & Burkholder 1987) os machos abordam as

fêmeas a partir de qualquer posição e, em contato, eles a montam imediatamente.

Carbone & Rivera (1998) observaram que, durante a tentativa de cópula, os

machos de Gonipterus scutellatus (Coleoptera: Curculionidae) estimulam as

55

laterais do tórax da fêmea com as pernas anteriores expondo sua genitália.

Entretanto, Cortero et al. (2004) observaram que machos de Trichobaris

championi Barber (Coleoptera: Curculionidae), após o contato frontal ou lateral,

mudam rapidamente de posição para ter contato por trás e então sobem na fêmea

segurando-a com as pernas anteriores e posteriores ao mesmo tempo em que

esfregam com as pernas medianas as laterais do abdômen da fêmea.

Durante a cópula o posicionamento dos machos de S. granarius é similar

àquele de machos de A. ynca e eles também raspam o rostro sobre o pronoto das

fêmeas (Wojcik 1969). Em S. zeamais o comportamento dos machos é similar aos

descritos anteriormente (Walgenbach & Burkholder 1987). Entretanto, no

curculionídeo, Rhynchophorus cruentatus (Fabricius, 1775) (Coleoptera:

Curculionidae), o fato de raspar a fêmea utilizando a ponta distal do pronoto foi

observado em machos desta espécie como um ato que antecede a monta, e ao

invés de raparem o pronoto eles rapam o élitro da fêmea (Vanderbilt et al. 1998).

Os autores argumentam que este comportamento pode ser utilizado para

apaziguar a fêmea ou para discriminar entre os hidrocarbonetos cuticulares

heteroespecíficos liberados pela cutícula da fêmea.

Os movimentos rítmicos do abdômen dos machos de A. ynca durante a

cópula também foram observados por Walgenbach & Burkholder (1987) em S.

zeamais. Segundo os autores este movimento pode estar associado à

transferência de espermatóforos para a espermateca da fêmea.

Os machos de A. ynca, logo após iniciarem a cópula e durante a cópula,

executam atos comportamentais similares aos observados durante a corte

(estimulação do protórax e do abdômen utilizando os três pares de pernas).

Segundo Rodriguez & Eberhad (1994) este tipo de comportamento, conhecido

como corte copulatória, é comum e provavelmente está associado ao sucesso

reprodutivo dos machos, uma vez que eles, através destes atos, estimulam as

fêmeas a usarem seu esperma de preferência àquele de outros machos para a

fertilização dos ovos. Em Tribolium castaneum (Herbst, 1797) (Coleoptera:

Tenebrionidae) machos com mais atividade de corte copulatória conseguem

maior sucesso de paternidade enquanto acasalam com fêmeas já acasaladas

(Edvardsson & Arnqvist 2005).

As fêmeas de A. ynca são altamente poliândricas, e podem copular com

outro parceiro imediatamente após uma cópula. A ocorrência de acasalamentos

56

múltiplos e de poliandria também foi observada em outros Curculionidaes. Em S.

zeamais (Walgenbach & Burkholder 1987) e Conotrachelus nenuphar

(Coleoptera: Curculionidae) (Johnson & Hays 1969), as fêmeas foram observadas

acasalando várias vezes com o mesmo macho e com machos diferentes.

Campbell (2005) verificou que, apesar de múltiplos acasalamentos serem

freqüentemente algo custoso para várias fêmeas, em S. oryzae elas lucram com

os benefícios de múltiplos acasalamentos, por aumentarem o tempo de

oviposição. Duarte et al. (2002) também observaram múltiplos acasalamentos em

fêmeas de H. coriaceus. Segundo Arnqvist & Nilsson (2000), a ocorrência de

múltiplos acasalamentos afeta o sucesso reprodutivo das fêmeas, seja pelo ato

em si (estimulando a produção de ovos), pela presença de esperma (estimulando

a produção de ovos e aumentando a fertilidade) ou por substâncias acessórias

que são transferidas juntamente com a ejaculação tornando-as férteis. Entretanto,

múltiplos acasalamentos também podem atuar negativamente no sucesso

reprodutivo e a manutenção evolutiva deste sistema está associada ao equilíbrio

entre os custos e os benefícios de múltiplos acasalamentos para as fêmeas

(Arnqvist 1989). Segundo Birkhead (1998), quando uma fêmea é inseminada por

mais de um macho, o resultado de paternidade pode ser conseqüência da

combinação de qualquer um dos seguintes processos: competição por esperma,

aborto diferencial ou escolha críptica de fêmeas.

O prolongamento do acasalamento, através da permanência do macho

sobre o dorso da fêmea pode ser conseqüência de uma disputa inter ou intra-

sexual ligada à seleção sexual. Carbone & Rivera (1998) observaram que os

machos de G. scutellatus permanecem sobre a fêmea por um tempo muito longo,

que pode variar de 42 minutos a 55 horas. Este comportamento também foi

observado em H. coriaceus (Duarte et al. 2002), C. sordidus (Viana e Vilela 1996),

R. cruentatus (Vanderbilt et al. 1998), Ectopis ferrugalis Broun, 1881 (Coleoptera:

Curculionidae) (Hutcheson 1991), S. granarius (Wojcik 1969) e Diaprepes

abbreviatus (Linneaus, 1758) (Coleoptera: Curculionidae) (Harari et al. 2003).

Este comportamento pós-copulatório poderia ser justificado pela tentativa

do macho de prevenir novas cópulas da fêmea com machos competidores antes

de ovipositar, prevenindo ou reduzindo o risco de competição por esperma, ou

mesmo permitiria ao macho preencher a espermateca com esperma (Carbone &

Rivera 1998). Segundo Viana & Vilela (1996), os machos de C. sordidus guardam

57

as fêmeas após a cópula em resposta à presença de competidores, uma vez que

a freqüência com que os machos permanecem sobre as fêmeas, quando na

presença de outros machos, era maior do que quando os machos estavam

sozinhos. Em A. ynca, não se fez esta comparação, mas foi possível observar que

tanto machos isolados quanto na presença de outros machos exibem este tipo de

comportamento. Entretanto, deve-se fazer novos testes para procurar

compreender este tipo de comportamento com observações de campo e

laboratório. Esse comportamento pós-cópula, exibido pelos machos, segundo

Arnqvist (1989) pode ser prejudicial à fêmea, aumentando seu gasto com tempo e

energia e reduzindo, por exemplo, sua eficiência de forrageamento. Para Arnqvist

(1988), a manutenção desse tipo de comportamento ao longo da evolução

provavelmente esteve associada a um benefício contrabalanceado, uma vez que

os machos, enquanto guardam as fêmeas, gastam tempo e energia que poderiam

ser usados para encontrar e acasalar com outras fêmeas. Em D. abbreviatus,

Harari et al. (2003) verificaram que os machos enquanto guardam as fêmeas,

prolongando o acasalamento, incorrem em custos de oportunidade, acasalando

com um número reduzido de fêmeas, mas eles fertilizam aproximadamente 75%

dos ovos e reduzem suas chances de um novo acasalamento.

A produção de som através da estridulação também foi observada

fazendo parte do comportamento de corte de alguns Curculionidae. Em

Phrydiuchus tau Warner, 1969 (Coleoptera: Curculionidae), Wilson et al. (1993)

observaram que os machos estridulam ao se aproximarem das fêmeas e, durante

a pré-cópula, voltam a estridular enquanto acariciam a cabeça da fêmea com os

tarsos das pernas anteriores. Os autores não observaram estridulação de corte

nas fêmeas. Em A. ynca, durante as observações do comportamento de

acasalamento, também não seu ouviu qualquer emissão de som por parte das

fêmeas, entretanto, foram observados movimentos do abdômen da fêmea (similar

ao produzido por machos ao friccionarem o élitro contra o abdômen) antes da

monta e durante o cortejamento do macho. Provavelmente estes movimentos de

abdômen estejam associados à produção de um som não audível. Segundo

Hyder & Oseto (1989), em Smicronyx fulvus LeConte, 1876 e Smicronyx sordidus

LeConte, 1876 (ambos Coleoptera: Curculionidae) a estridulação de corte

produzida por machos pode estar associada à atração da fêmea e a estridulação

de corte da fêmea provoca uma resposta para o acasalamento. Em Euscepes

58

postfasciatus (Fairmaire, 1849) (Coleoptera: Curculionidae) a produção de som

pelos machos parece ser um passo da seqüência comportamental que levará à

cópula, e as fêmeas respondem a este sinal permanecendo estacionárias

(Yasuda & Tokuzato 1999).

RESUMOS E CONCLUSÕES A chave para se entender a biologia de uma espécie é conhecer o seu

comportamento reprodutivo. Assim é possível identificar e manipular pontos

vulneráveis dentro deste processo os quais permitirão que medidas de controle e

monitoramento sejam desenvolvidas com o propósito de reduzir a ação de

organismos competidores, como os insetos-praga.

Amerrhinus ynca é um curculionídio de importância econômica para

algumas regiões do país, e pouco se conhece de sua biologia, por isso o objetivo

deste trabalho foi investigar e descrever seu comportamento de corte e

acasalamento. Para isso, casais de A. ynca foram observados de forma direta,

quantificando-se a freqüência de atos comportamentais e variáveis temporais

como a duração da cópula, pré-cópula e pós-cópula, também foram observados

através de filmagem, a qual permitiu avaliar as interações entre os indíviduos.

A partir dos resultdos verificou-se que: os acasalamentos ocorreram tanto

em fotofase quanto em escotofase; os machos iniciaram a monta 119 ± 75 min

após a formação dos grupos, permanecendo em corte durante 3 ± 2,5 min; a

cópula durou 51 ± 49 min; os atos mais freqüentes dos machos durante a pré-

cópula foram a estridulação e a estimulação do corpo da fêmea com as pernas

anteriores; durante a cópula o ato mais observado foi a estimulação do protórax

da fêmea com o primeiro par de pernas e a raspagem com o rostro no pronoto

das fêmeas; as fêmeas acasalaram múltiplas vezes e em geral com vários

machos e após a primeira cópula os machos apresentaram comportamento de

guarda da fêmea, permanecendo sobre seu dorso por períodos que variaram de

40 min a 33 h.

Amerrhinus ynca apresentou, portanto, uma seqüência comportamental

de pré-cópula, cópula e pós-cópula similar àquela de outras espécies da família

Curculionidae. As fêmeas acasalam com mais de um macho, e várias vezes com

59

o mesmo macho, caracterizando um sistema poliândrico de acasalamento. Os

machos produzem um som durante a fase de pré-cópula e cópula e permanecem

sobre a fêmea por períodos longos.

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62

BIOENSAIOS COM ODORES DE COESPECÍFICOS E DA PLANTA HOSPEDEIRA DE AMERRHINUS YNCA SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA:

CURCULIONIDAE).

RESUMO

A comunicação é de extrema importância para a adaptação dos animais,

destacando-se por permitir a interação entre as espécies. Aos sinais químicos

envolvidos na comunicação entre os seres vivos dá-se o nome de semioquímicos. Este trabalho foi realizado com a finalidade de se verificar a existência de

semioquímicos atraentes, que atuem nas interações intra e interespecíficas de

Amerrhinus ynca. Os bioensaios foram feitos utilizando-se três tipos de

olfatômetros: um olfatômetro em Y conectado a um fluxo de ar e outros dois

olfatômetros tipo arena com dupla escolha sem fluxo de ar. As fontes de estímulo

utilizadas foram: (i) machos de A. ynca, (ii) fêmeas de A. ynca, (iii) cana-de-

açúcar, (iv) inflorescência jovem de coqueiro (v) partes do coco e (vi)

combinações de alguns deles. Foram realizados testes até se obter a resposta de

20 insetos, nos três tipos de olfatômetros; não se repetiram os insetos em testes

com um mesmo estímulo. Os insetos machos e fêmeas, testados individualmente

ou em grupo não reponderam aos estímulos em nenhum dos oltatômetros

utilizados. A cana-de-açúcar foi o único estímulo que provocou uma atividade

maior dos insetos nos olfatômetros, mas as respostas a odores não foram

significativas. Ambos os sexos também responderam mais ao estímulo e ao

controle quando se utilizou a inflorescência como estímulo nos três tipos de

63

olfatômetro. As combinações que mais estimularam a locomoção foram a cana-

de-açúcar + machos e inflorescência + machos.

ABSTRACT

Bioassays with cospecfics and host plants odor of Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823 (Coleoptera: Curculionidae)

Communication has extreme importance to the adaptation of animals; it allows the

interaction among species. Chemical signs involved in the communication among

alive beings are named semiochemical. This work was accomplished with the

purpose of verifying the existence of attractive semiochemicals that act in the intra

and interespecific interactions of Amerrhinus ynca. The bioassays were conducted

using three types of olfactometers, an olfactometer in "Y" connected to a flow of air

and two other arena olfactometers with double choice chambers but without air

flow. The sources of stimuli were: (i) males of A. ynca, (ii) females of A. ynca, (iii)

sugar cane, (iv) young inflorescence, (v) fruit and (vi) combinations of some of

them. Not all the stimuli were tested in the three types of olfactometers. Tests

were accomplished until obtaining the behavioral response of 20 insects, in the

three types of olfactometers. The same insects were never reused with a same

stimulus. When both males and females were tested together or separated,

insects did not give any responses, staying still in the three types of olfactometers.

The sugar cane, used in the bioassays in the olfactometers type I and type II, was

the stimulus that provoked the highest activity of insects, but failed to present a

choice for this stimulus. Both sexes also responded to the stimulus and to the

control mostly when inflorescence was used in the three types of olfactometers.

The combinations of stimuli that mostly stimulated males and females of A. ynca

were sugar cane + males, and inflorescence + males. The data presented here

were not sufficient to confirm the presence of chemical medators of interactions

intraspecific due to the high percentile of non-response. The results with vegetable

tissues (sugar cane, inflorescence and fruit) evidenced the greatest stimulation,

suggesting a possible attractiveness to volatiles liberated by the host plant.

64

INTRODUÇÃO

A comunicação é um dos componentes comportamentais de grande

importância para a adaptação dos animais, por permitir a interação entre as

espécies. Lewis & Gower (1980) definem comunicação como a transmissão de

sinal ou sinais entre dois indivíduos, favorecendo a seleção tanto da produção

quanto da recepção do sinal ou sinais. Aos sinais químicos envolvidos na

comunicação entre os seres vivos dá-se o nome de semioquímicos, os quais são

responsáveis pela transmissão de informações biologicamente importantes que

asseguram a tais indivíduos oportunidades de sobrevivência e de preservação da

espécie (Paiva & Pedrosa-Macedo, 1985).

Em curculionídeos, a presença de sinais químicos envolvidos na

comunicação, sua identificação e isolamento, foram bastante estudados em

diversas espécies como em Anthonomus eugenii Cano (Eller et al. 1994), Curculio

caryae Horn, 1873 (Hedin et al., 1997), Pissodes strobi (Peck, 1817) (Booth et al.

1983), Conotrachelus nenuphar (Herbst, 1797) (Eller & Bartelt, 1996), Sitophilus

granarius Linneaus, 1758 (Phillips et al. 1987), Rhynchophorus palmarum

Linnaeus, 1764 (Jaffé et al. 1993), entre outros. A utilização de armadilhas

iscadas com feromônio e cairomônio, como técnica de monitoramento e controle

dos níveis populacionais de algumas destas espécies, tem demonstrado

resultados satisfatórios e essas armadilhas já são empregadas em campo com

sucesso.

Em Amerrhinus ynca, o uso de semioquímicos em armadilhas de captura

permitiria monitorá-lo na cultura, possibilitando, além de seu controle mais

eficiente, a redução no número de aplicações de inseticidas, contribuindo assim

para a melhoria na rentabilidade do produtor e para a redução da poluição

ambiental. Dentro deste contexto, este trabalho foi realizado com a finalidade de

verificar a existência de semioquímicos que atuem nas interações intra e

interespecíficas de A. ynca.

65

MATERIAIS E MÉTODOS

Adultos de A. ynca coletados num plantio comercial de coco localizado no

município de Quissamã, RJ, nos meses de outubro de 2005 a janeiro de 2006,

foram levados ao Laboratório de Entomologia e Fitopatologia do Centro de

Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte

Fluminense. No laboratório, os insetos foram separados por sexo e mantidos até

a realização dos experimentos em caixas de acrílico (30 x 30 cm) com alimento

(cana-de-açúcar). Os insetos foram mantidos a 25 ± 2 °C, e fotoperíodo de

12:12h.

Para se verificar a presença de sinais químicos envolvidos no

comportamento de A. ynca, foram utilizados três tipos de olfatômetro:

I) Olfatômetro em "Y" olfatômetro de duas vias similar ao utilizado em testes

olfativos com outros curculionídeos (Weissling et al. 1994; Ruiz-Montiel et al.

2003; Tafoya et al. 2003). O olfatômetro foi constituído de um tubo de vidro em “Y”

de 1,5 cm de diâmetro, possuía um braço principal de 20 cm de comprimento e

dois braços laterais de 15 cm. O arraste de odores no olfatômetro foi provocado

por um compressor. Um filtro de carvão ativado foi responsável pela purificação

do ar que entrava no sistema. Do filtro o ar era conduzido até o lavador de gases

(1.000 ml) contendo 500 ml de água destilada onde, por meio do borbulhamento,

o ar era novamente purificado e umedecido. O fluxo de ar utilizado nos testes foi

regulado, com ajuda de um fluxômetro, em 30 ml/s. As extremidades dos braços

secundários do olfatômetro foram conectadas a câmaras de vidro (2l) contendo o

estímulo olfativo ou ar puro como controle (Figura 1).

66

Figura 1 - Esquema do olfatômetro de duas vias, modelo em “Y”, (Esq.). Foto do dispositivo olfatométrico (dir.).

II) Olfatômetro tipo arena constituído por duas câmaras-testes contendo o

estímulo ou o ar puro como controle, interligadas à câmara principal e sem fluxo

de ar. Cada câmara-teste era constituída por duas caixas Gerbox (10 X 10 X 5

cm) coladas e ligadas à câmara principal por braços de borracha transparente (6

cm de comprimento por 2 cm de diâmetro). Quando o estímulo utilizado foi inseto

(macho ou fêmea ou os dois juntos) foi colocada no meio das duas caixas uma

tela de filó, para impedir que os insetos entrassem na câmara principal. A câmara

principal era constituída por um copo de plástico transparente invertido com oito

cm de comprimento X dois cm de espessura com maior diâmetro igual a 10,5 cm

e menor diâmetro igual a sete cm (Figura 2).

III) Olfatômetro de câmara múltipla constituído por um recipiente de vidro (30

X 15 X 15 cm) dividido em três partes (câmaras) de 10 cm de comprimento cada

uma. As divisórias eram de plástico duro de cor amarela, coladas à parede de

vidro. Cada parede de plástico tinha uma abertura na parte mediana superior de

3,5 cm de comprimento X 1,5 cm de altura, por onde os insetos passavam. Os

insetos eram colocados no meio da câmara central e os estímulos ou controle nas

câmaras laterais. O recipiente era tampado por uma tampa de vidro e não havia

fluxo de ar (Figura 3).

67

Figura 2 – Esquema do olfatômetro tipo II.

Figura 3 – Esquema do olfatômetro tipo III. Estímulos: as fontes de estímulo utilizadas foram: 1- machos de A. ynca,

2- fêmeas de A. ynca, 3- cana-de-açúcar, 4- inflorescência jovem do coqueiro e 5

- pedaços de coco. As combinações de estímulos, as quantidades e o tipo de

olfatômetro utilizados são descritos na Tabela 1. As inflorescências, frutos e cana-

de-açúcar utilizados como estímulo olfativo foram coletados um dia antes da

realização dos bioensaios e transportadas em caixa térmica até o laboratório.

68

Para reduzir a deterioração do material vegetal, este foi mantido em geladeira a

10 ± 2 ºC e umidade relativa 80 ± 5% e retirados 30 minutos antes do início dos

testes. A cana-de-açúcar utilizada foi deixada fermentando por 24, 48 e 72 horas

antes de cada teste. Os insetos utilizados nos testes com estímulos vegetais

tiveram sua fonte de alimento retirada 24 horas antes dos bioensaios.

Tabela 1 – Fonte, quantidade de estímulo e tipo de olfatômetro utilizados nos teste de atração de Amerrhinus ynca.

Fonte de Estímulo Quantidade do Estímulo Tipo de

Olfatômetro

Inflorescência 80 g I, II e III

Fruto 200 g I

Machos 10 machos de A. ynca I, II e III

Fêmeas 10 fêmeas de A. ynca I, II e III

Machos + Fêmeas 20 indivíduos de cada sexo I e II

Machos + Inflorescência 20 machos + 80 g de inflorescência

I e III

Cana-de-açúcar 80 g I e III Os bioensaios com utilização do olfatômetro tipo I foram realizados em três

períodos do dia (a partir das 08h00min, 14h00min e 20h00min horas) com

exceção daqueles em que se utilizou cana-de-açúcar como estímulo, os quais

foram iniciados às 19:00 horas. Os demais bioensaios com utilização dos

olfatômetro II e III tiveram início às 8:00 horas. A cada 30 minutos antes do início

de cada bioensaio, com os três tipos de olfatômetros, 20 gorgulhos de cada sexo

eram transferidos para a sala de testes mantida a 26 ± 2ºC, 75 ± 5% UR e 250-

300 lux (correspondente à luz ambiente com lâmpadas fluorescentes). A cada

cinco insetos testados invertia-se a posição das câmaras-testes.

No olfatômetro tipo I (em "Y"), após a colocação da fonte de odor nas

câmaras de vidro, o compressor de ar era ligado. Com a estabilização do fluxo de

ar (30 ml/s), um inseto era liberado no braço principal do olfatômetro. Foi

considerada resposta quando os insetos alcançavam o final de um dos braços

69

secundários. A escolha e o tempo de teste foram registrados. O tempo máximo de

duração dos testes, baseado em experimentos similares com outros

curculionídeos (Rhynchophorus cruentatus (Fabricius, 1775), (Weissling et al.

1994) e Scyphophorus acupuncatatus Gyllenhal (Ruiz-Montiel et al. 2003)) foi

estabelecido em 5 minutos.

Com os olfatômetros tipo II e III o tempo máximo foi de 30 minutos e os

insetos eram colocados no centro da câmara principal, um por vez. A cada cinco

insetos testados a posição das câmaras-testes foi invertida.

No olfatômetro tipo III para os testes com insetos como fonte de estímulo,

estes eram colocados dentro de uma caixa Gerbox (10 X 10 X 5cm) tampada com

tecido de filó, a qual era colocada em uma das câmaras laterais. Este

procedimento evitou que os insetos circulassem pelo olfatômetro.

Foram realizados testes até se obter a resposta de 20 insetos, nos três

tipos de olfatômetros, e não se repetiram os insetos em testes com um mesmo

estímulo. Após cada sessão de testes, todo o material foi colocado em solução

Extran® por duas horas, depois lavado em água corrente, para se evitar qualquer

resíduo de odor.

Verificou-se em teste preliminar de tendenciosidade que os insetos são

foto trópicos. Para minimizar este efeito, nos testes feitos durante a fotofase com

o olfatômetro tipo I, foi colocada uma lâmpada de 40 Watts em frente à bifurcação

do olfatômetro a uma distância de 50 cm. Nos demais olfatômetros os testes

foram realizados dentro do túnel de vento, o que impedia a penetração direta da

luz.

RESULTADOS

a) Olfatômetro em "Y"

Através dos testes realizados com o olfatômetro em Y não foi possível

verificar atração de nenhum dos estímulos testados. Os insetos não responderam

aos odores dos próprios insetos. Tanto odores de machos quanto de fêmeas,

separadamente (Figura 4 e 5) ou colocados juntos (Figura 6), não provocaram o

comportamento de caminhamento no olfatômetro. Quando o estímulo foi macho, o

70

período da noite foi o que apresentou maior percentual de não resposta tanto de

machos quanto de fêmeas (70% de insetos não responderam). Entretanto,

machos e fêmeas caminharam mais no olfatômetro em direção ao estímulo (15%

para ambos os sexos) e ao controle (25% para machos e 40% para fêmeas) no

período da tarde (Figura 4).

Figura 4 – Respostas de caminhamento de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y" utilizando-se machos como fonte de estímulo em diferentes períodos do dia.

Os testes utilizando-se fêmeas como estímulo também apresentaram um

alto percentual de não-respostas nos diferentes períodos do dia, tanto para

machos (50% para o período da manhã e 65% para tarde e noite) quanto para

fêmeas (70%, 65% e 75%, respectivamente) (Figura 5).

71

Figura 5 – Respostas de caminhamento de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y" utilizando-se fêmeas como fonte de estímulo em diferentes períodos do dia.

Figura 6 – Respostas de caminhamento de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y" utilizando-se como fonte de estímulo machos e fêmeas juntos.

72

Já nos testes com cana-de-açúcar, houve maior atividade dos insetos

dentro do olfatômetro. A porcentagem de insetos (machos e fêmea) que

responderam ao controle foi maior do que nos demais tratamentos. O estímulo

que atraiu um número maior de insetos foi cana-de-açúcar com 24 horas de

fermentação (Figura 7).

Figura 7 – Respostas de caminhamento de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y" utilizando-se diferentes estágios de fermentação da cana-de-açúcar como estímulo.

Quando se testou a inflorescência em diferentes períodos do dia o

percentual de não resposta também foi o maior (Figura 8). As fêmeas

responderam mais durante a noite e os machos à tarde.

73

Figura 8 – Respostas de caminhamento de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y", utilizando-se inflorescência como estímulo em diferentes períodos do dia.

Quando a fonte de estímulo foi inflorescência, mais machos

movimentaram mais, porém em direção ao controle (Figura 9). As fêmeas,

entretanto, foram pouco estimuladas e o percentual de não-resposta foi maior

para os três períodos do dia em relação aos demais (Figura 9).

Figura 9 – Respostas de caminhamento de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y" utilizando-se como estímulo inflorescência + machos.

74

Os testes com fruto maduro foram feitos apenas em um período do dia

(manhã) e ambos os sexos foram estimulados a responderem seja positivamente

(estímulo) ou negativamente (controle) na presença desta fonte de estímulo

(Figura 10).

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

Macho Fêmea

Res

post

a (%

)

Controle Estímulo Sem resposta

Figura 10 – Resposta de machos e fêmeas de Amerrhinus ynca em olfatômetro em "Y" utilizando-se como estímulo fruto maduro.

b) Olfatômetro tipo arena

No modelo de olfatômetro tipo II também não foi possível verificar atração

de nenhum dos estímulos testados. Os insetos não responderam aos odores dos

insetos, tanto machos quanto fêmeas, separados ou colocados juntos, não

provocaram o comportamento de caminhamento no olfatômetro, sendo que 70%

das fêmeas e 60% dos machos não responderam a estes estímulos (Figura 11).

Os insetos também não responderam ao estímulo inflorescência do coqueiro.

Quando houve uma resposta, a maioria dos insetos preferiu o controle: 35% dos

machos e 30 % das fêmeas (Figura 11).

75

Figura 11 – Respostas de adultos de Amerrhinus ynca aos testes em olfatômetro tipo arena aos diferentes tipos de estímulos. Acima, respostas de fêmeas e, abaixo, respostas de machos.

c) Olfatômetro de câmara múltipla

Nos testes com o olfatômetro tipo III novamente se constatou o mesmo

comportamento. Os insetos não responderam aos odores de machos ou fêmeas

coespecíficos (Figura 12).

Apesar de 45% dos insetos não terem dado nenhum tipo de resposta,

machos e fêmeas mostraram um pouco mais de atividade quando se utilizou

76

inflorescência e cana-de-açúcar como estímulo (Figura 12). A inflorescência atraiu

35% de machos e 30% de fêmeas e o controle 20% e 25%, respectivamente.

(Figura 12). Quando se usou cana-de-açúcar, 45% dos machos responderam

positivamente ao estímulo, 20% ao controle e 35% não responderam. Nas fêmeas

o percentual de resposta ao estímulo foi de 40%, contra 45% de não resposta e

15% de resposta ao controle (Figura 12).

Figura 12 – Respostas de adultos de Amerrhinus ynca aos testes em

olfatômetro de câmara múltipla com diferentes estímulos. Acima, respostas de machos e, abaixo, respostas de fêmeas.

77

DISCUSSÃO

Neste trabalho foram utilizados três tipos de dispositivos olfatométricos na

tentativa de se verificar a presença de alguma substância química mediadora de

interações dentro da espécie (feromônio sexual ou de agregação) ou entre

espécies, principalmente voláteis liberados pela planta hospedeira (cairomônios).

Entretanto, os dados aqui obtidos não foram suficientes para confirmar a

presença de substâncias químicas mediadoras de interações interespecíficas. O

baixo percentual de resposta demonstra que os dispositivos olfatométricos

utilizados não foram capazes de evidenciar algum tipo de resposta olfativa desta

espécie. Vários fatores podem ter contribuído, como a metodologia utilizada, as

condições físicas do ambiente de teste, como fluxo de ar, luminosidade,

temperatura e umidade relativa, que podem não ter sido bem ajustadas às

necessidades da espécie. Ou, talvez, esses insetos utilizem outros mecanismos

associados à sinalização acústica e/ou visual em sua comunicação.

De fato, nos dispositivos olfatométricos II e III, o percentual de

estimulação (respostas positivas + negativas) foi maior quando os sexos foram

utilizados como fonte de estímulo do que nos bioensaios com o olfatômetro tipo I.

Possivelmente isto ocorreu por causa da produção de som que pode ter atraído

seus coespecíficos mais do que uma possível substância química, ou ambos

agem em sinergismo. Outros testes devem ser feitos excluindo-se este sinal

acústico em ambos os sexos.

Leskey & Prokopy (2001) verificaram após colarem o élitro das fêmeas de

C. nenuphar, eliminando a produção de som, que este não influenciou na

atratividade de possíveis fontes de odores. Entretanto, no cerambicídeo Dectes

texanus texanus, Crook et al. (2004), ao estudarem seu comportamento de

acasalamento, verificaram que o feromônio sexual (material lipossolúvel), liberado

pelas fêmeas e presente na sua cutícula, provavelmente não atua em distâncias

maiores do que poucos centímetros, sendo que outros estímulos, visuais ou

acústicos, são utilizados para a localização dos parceiros. Alguns homópteros

movem-se entre as plantas e utilizam a comunicação através de vibrações para

encontrar seus coespecíficos, entretanto, em certos casos, a comunicação

química através de feromônio exerce uma função de atração à longa distância

78

(Cokl & Virant-Doberlet, 2003). Já em algumas mariposas é comum a utilização

de um sistema de sinalização acústica em associação com a liberação de

feromônios para atração de coespecíficos (Conner 1999).

Os odores das partes vegetais (cana-de-açúcar, inflorescência e fruto)

provocaram uma maior atividade dos insetos, sugerindo um possível efeito sobre

sua locomoção, apesar da cana-de-açúcar e do fruto maduro não serem fontes

naturais de alimento para adultos de A. ynca. Compostos voláteis liberados pela

planta hospedeira e que exercem atratividade já foram documentados em várias

espécies de curculionídeos. Segundo Gunawardena et al. (1998), ambos os sexos

de Rhynchophorus ferrugineus são atraídos por compostos liberados pelos

tecidos de sua planta hospedeira. Alguns desses, liberados pelos tecidos

danificados da planta hospedeira de R. palmarum, como o acetato de etil e o

etanol, também exercem uma função de orientação nesses gorgulhos,

provavelmente a curtas distâncias, além de potencializar a atração do feromônio

de agregação (Jaffé et al. 1993). Em Anthonomus grandis, α-pineno, limoneno, β-

cariofileno e alguns sesquiterpenos presentes nos botões florais e nas folhas do

algodão, atraem, segundo Minyard et al. (1969), os gorgulhos em uma mistura

complexa. Em C. nenuphar, Butkewich & Prokopy (1993) sugerem que tais

gorgulhos são capazes de detectar a grandes distâncias os odores liberados por

vários frutos de suas plantas hospedeiras e que estes estímulos químicos podem

ser utilizados em armadilhas para monitorar sua atividade em pomares.

Possivelmente voláteis liberados pelas flores masculinas (provavelmente

presentes na cana-de-açúcar e no fruto maduro do coqueiro) possam exercer em

adultos de A. ynca atração até o sítio de alimentação. Outros testes devem ser

realizados tentando se eliminar possíveis interferências físicas do ambiente e

procurando se obter maior suporte na biologia, ecologia e comportamento de A.

ynca, na tentativa de desvendar a presença de substâncias voláteis atrativas

liberadas pela planta hospedeira.

RESUMOS E CONCLUSÕES A comunicação é de extrema importância para a adaptação dos animais,

destacando-se por permitir a interação entre as espécies e dentro da espécie.

79

Este trabalho foi realizado com a finalidade de se verificar, através de testes em

laboratório, a existência de substâncias químicas liberadas por coespecíficos e

pela planta hospedeira que atraem adultos de A. ynca.

Os bioensaios foram feitos utilizando-se três tipos de olfatômetros: um

olfatômetro em Y conectado a um fluxo de ar e outros dois olfatômetros tipo arena

com dupla escolha sem fluxo de ar. As fontes de estímulo utilizadas foram: (i)

machos de A. ynca, (ii) fêmeas de A. ynca, (iii) cana-de-açúcar, (iv) inflorescência

jovem de coqueiro (v) partes do coco e (vi) combinações de alguns deles. Foram

realizados testes até se obter a resposta de 20 insetos, nos três tipos de

olfatômetros; não se repetiram os insetos em testes com um mesmo estímulo.

Através desse trabalho foi possível verificar que: os insetos machos e

fêmeas, testados individualmente ou em grupo, não responderam aos estímulos

em nenhum dos olfatômetros utilizados; a cana-de-açúcar foi o único estimulo que

provocou uma atividade maior dos insetos nos olfatômetros, mas as respostas a

odores não foram significativas; ambos os sexos também responderam mais ao

estímulo e ao controle quando se utilizou a inflorescência como estímulo nos três

tipos de olfatômetro e; as combinações que mais estimularam a locomoção foram

a cana-de-açúcar + machos e inflorescência + machos.

Portanto, neste trabalho foram utilizados três tipos de dispositivos

olfatométricos na tentativa de evidenciar possíveis odores de coespecíficos e de

tecidos vegetais que promovessem alguma resposta comportamental em A. ynca.

Entretanto, os dados aqui apresentados não foram suficientes para confirmar a

presença de substâncias químicas mediadoras de interações intra-especificas

devido ao alto percentual de não-resposta. Já os resultados com partes vegetais

(cana-de-açúcar, inflorescência e fruto) estimularam uma maior locomoção dos

insetos, sugerindo uma possível atratividade a voláteis liberados pela planta

hospedeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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82

ANATOMIA DO APARATO ESTRIDULATÓRIO, ANÁLISE DO SOM E PAPEL DA ESTRIDULAÇÃO NO COMPORTAMENTO DE CORTE E ACASALAMENTO.

DE AMERRHINUS YNCA SAHLBERG, 1823 (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

RESUMO Os insetos que utilizam a comunicação acústica nas relações interindividuais

podem produzir suas emissões sonoras através de distintos meios, a estridulação

é o mais difundido. Em Curculionidae a estridulação se dá através da fricção do

plectrum do abdômen com a pars stridens localizada nos élitros. Este trabalho

descreve a morfologia do aparato estridulatório de Amerrhinus ynca, analisa as

suas emissões sonoras e investiga o papel da estridulação no seu

comportamento de corte. Os sons foram gravados com gravador digital e

analisados com ajuda do software Canary. Para verificar o papel da estridulação

no comportamento de acasalamento de A. ynca foram realizados quatro

tratamentos: (i) casais não manipulados, (ii) casais em que ambos os sexos

tiveram parte de seus élitros direito e esquerdo removidos, (iii) casais nos quais

apenas o macho teve parte de seus élitros removidos e (iv) casais nos quais

apenas as fêmeas tiveram seus élitros direito e esquerdo removidos. A parte dos

élitros que foi removida corresponde ao local onde se encontram as partes

stridentes. Os casais foram observados durante cinco horas. Foram analisadas a

freqüência de monta e cópula, a freqüência dos atos comportamentais, a duração

do período de latência, pré-cópula, cópula e pós-cópula. A pars stridens de A.

83

ynca está localizada na região ventral da extremidade posterior dos élitros direito

e esquerdo. Nos machos ela é constituída de fileiras de cristas de altura e

espaçamentos variáveis. Nas fêmeas as cristas são menos acentuadas e estão

distribuídas de forma irregular. Machos e fêmeas apresentaram dois plectra

localizados no sétimo esternito abdominal, debaixo de cada pars stridens.

Verificou-se que machos e fêmeas emitem sons por estridulação. Os machos

estridularam durante o comportamento de corte. As fêmeas também

apresentaram movimento similar ao estridulatório, mas um espectro específico

não foi registrado. Os machos apresentaram estridulações quando foram

perturbados através de pressões nas laterais do abdômen. A característica

temporal e espectral destes sons foi distinta da observada durante a corte. As

fêmeas também estridularam quando perturbadas e o espectro de emissão do

som foi diferente do observado nos machos. Nos tratamentos nos quais as

fêmeas tiveram sua pars stridens removida a porcentagem de casais que

acasalaram (montas e cópulas) reduziu. Já os machos gastaram mais tempo

tentando cortejar as fêmeas, quando sua pars stridens foi retirada. Evidenciou-se

a existência de aparato estridulatório em A.ynca, morfologicamente diferente nos

dois sexos. Nos machos foi possível diferenciar dois tipos de sons, uma

estridulação associada possivelmente a encontros com outros machos e uma

estridulação de corte. A remoção da par stridens interfere no acasalamento

aumentando o número de montas e reduzindo o número de cópula, além de

alterar a duração da pré-cópula, cópula e pós-cópula.

ABSTRACT

Anatomy of the stridulatory apparatus, analysis of the sound and role of stridulation in courtship and mating behavior of Amerrhinus ynca Sahlberg, 1823

(Coleoptera: Curculionidae)

Insects that use the acoustic communication in the inter-specific relationships can

produce their sound emissions through different means. Stridulation is the most

spread one. In Curculionidae stridulation happens through the friction of the

84

plectrum of the abdomen with the pars stridens located in the elytra. This work

describes the morphology of the stridulatory apparatus of Amerrhinus ynca; it

analyzes the sound emissions and investigates the role of stridulation in courtship

behavior. The sounds were recorded with digital tape recorder and analyzed by

means of the Canary software. In order to verify the role of stridulation on the

mating behavior of A. ynca, four treatments were accomplished: (i) manipulated

couples, (ii) couples in which both sexes had part of their right and left elytra

removed, (iii) couples in which only the male had part of its elytra removed (iv)

couples in which only the female had part of its elytra removed. The part of the

elytra that was removed corresponded to the place of pars stridens location. The

couples were observed for five hours. The frequency of mount and copulation; the

frequency of the behavioral acts; the duration of the latency period, pre-copulation,

copulation and post-copulation, were analyzed. The pars stridens of A. ynca is

located in the ventral area of the posterior extremity of the right and left elytra. In

males it is constituted of arrays of ridges of variable height and spacing. In the

females, the ridges are less prominent and are distributed in an irregular way.

Males and females presented two plectra located in the seventh abdominal

sternite, under each pars stridens. It was verified that males and females emit

sounds by stridulation. Males stridulated during the courtship behavior. Females

also presented a movement similar to the stridulatory one, but a specific spectrum

was not registered. Males presented stridulation when they were disturbed by

pressures on the lateral parts of the abdomen. The temporary and spectral

characteristic of these sounds was different from that observed during courtship.

Females also stridulated when they were disturbed and the spectrum of sound

emission was different from that observed in males. In the treatments in which

females had their partes stridentes removed the percentage of couples that

coupled (mount and copulation) was reduced. Males spent more time and energy

trying to court the females, when their partes stridentes were removed. It was

evidenced the existence of stridulatory apparatus in A. ynca, morphologically

different in both sexes. In males it was possible to differentiate two types of

sounds, a disturbance stridulation and a courtship stridulation. The removal of the

pars stridens interferes in the mating behavior by increasing the number of mounts

and reducing the number of copulation, besides altering the duration of the pre-

copulation, copulation and post-copulation.

85

INTRODUÇÃO A comunicação é baseada na transmissão de uma mensagem, através de

sinais, de uma fonte emissora até um receptor. Estes sinais podem ser químicos,

visuais, táteis ou auditivos. Os sistemas de comunicação que utilizam o canal

acústico para a transmissão e recepção de sinais, têm como princípio a análise

dos parâmetros temporais e de freqüência destes sinais (Landa 2000).

Muitos sons e sinais produzidos por insetos são espécie - específicos e

utilizados principalmente para a localização, reconhecimento e formação de pares

(Cokl & Virant-Doberlet, 2003). O som, enquanto sinalizador de uma informação,

é representado pelas suas características estruturais, tais como o seu espectro e

padrão de modulação de amplitude, o que vai permitir ao receptor analisar e

localizar a mensagem mesmo quando vários sinais chegam simultaneamente de

diferentes fontes (Pollack 2000).

A estridulação, comum entre os besouros, pode ser definida como o

processo por meio do qual o som ou vibração é produzido pela fricção de duas

partes do corpo que se movem uma contra a outra (Cokl & Virant-Doberlet 2003).

Em Curculionidae a produção de som se dá pelo método de estridulação élitro-

abdominal, descrita por Durmortier, em 1963, e que consiste na fricção do

plectrum presente no abdômen sobre a pars stridens localizada nos élitros

(Durmortier 1963). Este mecanismo pode ser encontrado em várias espécies do

gênero Conotrachelus (Gibson 1967), Pissodes (Harman & Kranzler 1969),

Smicronyx (Hyder & Oseto 1989), Phrydiuchus (Wilson et al. 1993), entre outros

(Durmortier 1963).

A produção de som através da estridulação pode estar associada tanto a

interações inter e intra-específicas quanto a interações intra-sexuais. Segundo

Haskell (1974), para as duas primeiras interações, ambos os sexos produzem

uma estridulação específica e envolvida primariamente no comportamento de

defesa e alarme, que pode ser denominada estridulação de distúrbio. Já a

estridulação de corte é utilizada na comunicação intra-sexual, relacionada com os

comportamentos de corte e acasalamento.

O objetivo deste trabalho foi descrever a anatomia das estruturas

associadas à produção de som, analisar o som produzido e investigar o seu papel

no comportamento de acasalamento de Amerrhinus ynca.

86

MATERIAIS E MÉTODOS Os insetos foram coletados em coqueirais comerciais no município de

Quissamã, localizado na região Norte do Estado do Rio de Janeiro, e

transportados para o Laboratório de Entomologia e Fitopatologia. No laboratório,

os insetos foram mantidos dentro de potes de vidros (capacidade 3.250 ml) com

tampas teladas contendo fragmentos de cana-de-açúcar como alimento. A criação

foi mantida em sala com temperatura de 25 ± 2 °C e fotoperíodo de (12:12h) luz-

escuro.

Anatomia do aparato estridulatório - Para descrever a anatomia do aparato

estridulatório de A. ynca foram feitas observações em microscópio eletrônico e em

lupa estereoscópica com aumento de 40 vezes. A presença da pars stridens nos

élitros direito e esquerdo e do plectrum no abdômen de machos e fêmeas foi

confirmada pelas observações sob lupa estereoscópica utilizando-se cinco

indivíduos de cada sexo.

O detalhamento da estrutura localizada nos élitros direito e esquerdo de

ambos os sexos foi feito sob microscopia eletrônica de alta resolução. Para tal fim

se utilizou um indivíduo de cada sexo, o qual teve seus élitros retirados e

mantidos em dessecador por 48 horas, e submetidos a uma fina aplicação de

ouro. Já as observações do plectrum nos tergitos do abdômen foram feitas

diretamente com o uso de lupa estereoscópica. Tanto nas observações em

microscopia eletrônica quanto naquelas com lupa estereoscópica foram utilizados

insetos que morreram logo após o acondicionamento no laboratório.

Análise do som produzido - Uma imagem de vídeo, produzida em uma câmera

digital Sony® capaz de sincronizar som e imagem, foi utilizada para verificar de

que forma os insetos produziam o som. Nessa observação, um único indivíduo

macho foi perturbado, pressionando-se as laterais de seu abdômen com o polegar

e o dedo indicador, o tempo suficiente para que se conseguissem várias imagens

de sua estridulação.

Posteriormente foram registrados os sons de distúrbio produzidos por

machos e fêmeas e o de corte produzido pelos machos durante o processo de

87

acasalamento. O som foi gravado utilizando-se um gravador digital Sony® MZ-

R70 e um microfone condensador Sennheiser (MM6/K6P).

A estridulação de distúrbio foi registrada ao se pressionar a lateral do

abdômen de sete indivíduos de cada sexo (n=7) selecionados aleatoriamente da

população vinda do campo. Cada registro individual durou 60 segundos. Já a

estridulação de corte produzida por machos de A. ynca durante o acasalamento

foi gravada a partir de sete casais (n=7) mantidos individualizados dentro de

caixas Gerbox® (10X10X5 cm). A gravação teve início assim que o macho

entrava em contato com a fêmea. Caso ocorresse a monta, a gravação

continuava até o início da cópula, caso contrário era interrompida até uma nova

tentativa de monta. Os sons de corte e de distúrbio foram gravados nos finais de

semana para se evitar ao máximo a interferência de sons externos, uma vez que

não havia dentro da Universidade uma sala acusticamente apropriada.

No Laboratório de Ciências Ambientais, setor de bioacústica da

Universidade Estadual do Norte Fluminense, as gravações foram digitalizadas em

um computador Mac Os9, utilizando-se o software de pesquisa bioacústica Canary

(versão 1.2). A digitalização foi feita a uma taxa amostral de 44100 Hz e

transferida em formato de 16 bits por amostra. O gravador utilizado na

digitalização foi o mesmo utilizado nas gravações, garantindo-se assim igualdade

de velocidade e reprodução entre coleta e processamento de sons. Após a

digitalização dos sons gravados (14 sons de distúrbio e sete de corte) seus

respectivos oscilogramas e espectrogramas foram criados utilizando-se o Canary

(Figuras 1 e 2).

As análises das variáveis acústicas (Tabela 1) foram feitas da seguinte

maneira: para os sons produzidos por machos (distúrbio e corte) foram escolhidos

aleatoriamente, e sempre que possível, cinco cantos dentro do intervalo de tempo

total da gravação (para o som de distúrbio o tempo total de gravação foi de 60

segundos). Foram analisados o primeiro pulso destes cinco cantos e, sempre que

possível, mais cinco pulsos escolhidos aleatoriamente. Nem sempre foi possível

selecionar cinco pulsos, porque alguns cantos eram compostos por três ou quatro

pulsos e em alguns casos havia menos de cinco cantos por tempo de gravação.

A grande dificuldade encontrada no momento de analisar os sons

produzidos pelas fêmeas foi o fato de que elas estridulam praticamente dentro da

faixa de ruído ambiental (± 2 kHz). Assim, ao se construir o espectrograma das

88

sete gravações feitas para as fêmeas, foi muito difícil separar o que era ruído do

que era estridulação. Apenas em duas fêmeas foi possível fazer nitidamente esta

distinção e proceder às análises. Dessa forma, foram analisados 35 pulsos

consecutivos dentro do intervalo de 60 segundos para cada uma das duas

gravações.

As variáveis temporais e espectrais dos sons produzidos por machos e

fêmeas foram medidas a partir de gráficos do espectrograma (Resolução de

freqüência = 86,13 Hz, Resolução de tempo = 1,45 ms e FFT Size = 512 pts).

Tabela 1 – Definições das variáveis acústicas medidas para as estridulações de corte (macho) e distúrbio (macho e fêmea) de Amerrhinus ynca.

Variáveis Definição Sexo analisado

Duração do pulso (ms) Tempo total de duração do pulso. Macho e fêmea

Duração total do canto (s) Tempo total do canto, medido a partir do início do primeiro pulso até o final do último pulso.

Macho

Duração interpulso (ms) Tempo de duração entre dois pulsos consecutivos.

Macho e fêmea

Freqüência máxima (kHz) Maior freqüência do pulso. Macho e fêmea

Freqüência mínima (kHz) Menor freqüência do pulso (padronizada em 1kHz).

Macho e fêmea

Intensidade média (dB) Intensidade média na porção selecionada do espectrograma.

Macho e fêmea

Taxa de repetição do canto Freqüência de cantos por unidade de tempo. Macho

Quantidade de pulsos Quantidade de pulsos do canto. Macho

Quantidade de cantos Quantidade de cantos presentes no tempo total de gravação. Macho

A comparação dos parâmetros dos sons de distúrbio e de corte

produzidos pelos machos foi feita utilizando-se 7 cantos e cinco pulsos por canto

(excluindo-se o primeiro pulso), totalizando 35 pulsos por indivíduo. Já para se

comparar o primeiro pulso com os demais foram utilizados os primeiros pulsos de

cada canto mais cinco pulsos distintos do primeiro, escolhidos aleatoriamente,

totalizando cinco pulsos por indivíduo para cada tipo de pulso (primeiro e demais

89

pulsos). Para comparar a estridulação de distúrbio de machos e de fêmeas, foram

selecionados aleatoriamente dois machos. Destes, 25 pulsos foram escolhidos

aleatoriamente entre os cinco cantos dos dois machos para se comparar os

parâmetros espectrais (freqüência máxima e intensidade média) e temporais

(duração do pulso).

As comparações dos dados observados foram feitas através da análise

de variância utilizando-se o software de análise estatística Statistica v. 7.0.

Papel do som no acasalamento - Para se verificar o papel da estridulação no

comportamento de acasalamento de A. ynca foram realizados quatro tratamentos:

(i) casais não manipulados, (ii) casais em que ambos os sexos tiveram parte de

seus élitros direito e esquerdo removida, (iii) casais dos quais apenas o macho

teve parte de seus élitros removida e (iv) casais dos quais apenas as fêmeas

tiveram seus élitros direito e esquerdo removidos. A parte dos élitros que foi

removida correspondia ao local onde se encontra a pars stridens.

Os casais, mantidos individualizados dentro de caixas Gerbox® (10 x 10 x

5 cm) foram observados durante cinco horas. Cada tratamento foi dividido em seis

módulos com cinco casais por tempo de observação (n=30). Eles foram

observados em sala climatizada (temperatura de 25º C) e durante a fotofase,

alternando manhã e tarde.

As variáveis registradas neste experimento foram: a freqüência de monta

e cópula, a freqüência dos atos comportamentais, a duração do período de

latência, pré-cópula, cópula e pós-cópula (Tabela 2). Sendo que, para a

freqüência de monta se considerou toda a monta ocorrida durante as cinco horas

de observação e para a freqüência de cópula, o número de cópulas que

ocorreram desde o início da primeira monta até a descida do macho do dorso da

fêmea. Para os dados de freqüência dos atos comportamentais foram

considerados nas análises aqueles que mais ocorreram durante a primeira pré-

cópula (Tabela 2).

Como os machos precisam se fixar na fêmea, agarrando com as pernas

posteriores as laterais de seu abdômen, o efeito mecânico da retirada de parte

dos élitros pode interferir nos resultados, impedindo-se a permanência dos

machos sobre o dorso das fêmeas e dificultando o acasalamento. Por isso, um

novo tratamento foi realizado colando-se os élitros das fêmeas no abdômen,

90

utilizando-se corretivo líquido a base d’água, e impedindo-se que elas

produzissem algum tipo de som. Neste caso foram utilizados 30 casais, nos quais

foi analisado se houve ou não monta, durante as cinco horas de observação.

As comparações entre os tratamentos foram feitas através do software de

análise estatística Statistica© v.7.0, utilizando-se a análise de variância.

Tabela 2 – Descrição dos atos comportamentais de Amerrhinus ynca e das variáveis utilizados nas comparações entre os tratamentos.

Variáveis Descrição

Freqüência de monta Todas as montas que ocorreram durante as cinco horas de observações.

Freqüência de cópula

Todas as cópulas que ocorreram durante todo o primeiro tempo em que os machos permaneceram sobre o dorso das fêmeas, ou seja, desde o momento da primeira monta até o momento em que os machos descem do dorso da fêmea.

Freqüência dos atos comportamentais

Todos os atos comportamentais que ocorreram durante a primeira pré-cópula.

Latência Tempo decorrido desde o início das observações até o início da monta.

Duração da pré-cópula Tempo decorrido desde a monta até o início da cópula.

Duração da cópula Período que os machos permanecem com seu edeago introduzido dentro da genitália da fêmea.

Duração da pós-cópula Tempo decorrido desde a retirada do edeago da genitália da fêmea até a descida do macho de seu dorso.

Ato Comportamental Descrição

Estridulação Produção de som pela fricção dos élitros contra o abdômen.

Estimular o protórax Esfregar o espinho localizado nas tíbias das pernas anteriores do macho nas laterais do protórax da fêmea.

Estimular o abdômen Esfregar o espinho localizado na tíbia das pernas posteriores do macho nas laterais do abdômen da fêmea.

Tentativas de cópula O macho expõe a genitália e faz tentativas de cópula.

91

RESULTADOS

Anatomia do aparato estridulatório - O aparato estridulatório de A. ynca

consiste de uma lixa ou pars stridens e de um raspador ou plectrum. A pars

stridens está localizada na região ventral na extremidade posterior dos élitros sob

a superfície de cada vértice (Figura 3).

Figura 3 – Posição da pars stridents na superfície interna dos élitros direito e esquerdo de ambos os sexos.

Nos machos a pars stridens de A. ynca é constituída de fileiras de cristas

principais distribuídas de tal forma que ela adquire a configuração de uma gota

que se prolonga quase que perpendicular ao eixo longitudinal do corpo do inseto

(Figura 4A-B). As cristas principais aumentam em altura das bordas para o centro,

formando uma região mediana mais elevada (Figura 4C). Entre essas cristas são

observadas elevações perpendiculares que formam pequenas cristas

secundárias. Os espaços entre as cristas principais formam sulcos que são mais

largos próximos da base da pars stridens e se tornam mais estreitos à medida

que se aproximam de seu ápice, onde é possível observar uma região distinta

designada Zona A (Figura 5A). Nesta região os espaços entre as cristas são bem

menores, quase unindo uma crista à outra. Uma outra região distinta, designada

92

Zona B, também foi observada margeando a lateral direita da pars stridens. Esta

região é formada por pequenas escamas e sua largura aumenta da base para o

ápice da pars stridens (Figura 5B).

Figura 4 – Vista ventral da pars stridens dos élitros esquerdo (A) e direito (B) de machos de Amerrhinus ynca. (C) Detalhe da região basal da gota, mostrando as cristas primárias, secundárias e sulco.

93

Figura 5 – Vista da pars stridens (PS) do élitro direito de machos de Amerrhinus ynca mostrando as duas regiões distintas (Zona A e B).

Nas fêmeas de A. ynca a pars stridens é constituída de fileiras de cristas,

mas estas estão distribuídas de forma irregular, são similares em altura e

apresentam sulcos de largura homogênea (Figura 6B). Na pars stridens das

fêmeas não foram observadas cristas secundárias.

Figura 6 – Vista ventral dos élitros direitos de macho (A) e fêmea (B), mostrando

as diferenças estruturais na pars stridens de Amerrhinus ynca.

94

Tanto os machos quanto as fêmeas de A. ynca apresentam dois plectra,

eqüidistantes, localizados na margem anterior do sétimo esternito abdominal,

abaixo da pars stridens dos élitros esquerdo e direito (Figura 7A). Os plectra são

constituídos por dentes esclerotizadas que se prolongam lateralmente (Figura

7B). Sob a superficie do sétimo tergito abdominal é possível verificar a presença

de pontuações que são mais evidentes nos machos do que nas fêmeas (Figura

7A). Estas pontuações também são esclerotizadas, mas não foi observado se

elas atuam na produção de som.

Figura 7 - Desenho esquemático do abdômen de macho e fêmea de Amerrhinus ynca. (A) vista ventral mostrando os dois dentes plectrais e as pontuações sobre o penúltimo tergito abdominal do macho e no pigídio da fêmea. (B) vista lateral mostrando o prolongamento dorsolateral do dente plectral.

Análise da produção do som - Através da imagem de vídeo foi possível

observar que a produção de som em machos de A. ynca coincide com a fricção

do plectrum contra a pars stridens, sendo que o som é produzido ao se

movimentar o abdômen em um golpe para frente e outra para trás (Figura 8).

95

Figura 8 – Seqüência mostrando os movimentos abdominais para frente (A) e para trás (B) envolvidos na produção de som por machos de Amerrhinus ynca. Os números indicam a posição inicial (1), intermediária (2) e final (3), das duas seqüências. O movimento completo inicia-se em A1 e termina em B3.

Constatou-se que machos de A. ynca produzem dois tipos de som, um de

distúrbio e outro de corte. A unidade básica destes sons foi designada de pulso, e

o conjunto de pulsos, canto (Figura 9). Já para as fêmeas só foram registrados o

som de distúrbio, o qual é formado por apenas um pulso a intervalos irregulares

(Figura 11).

Nos machos, a quantidade de pulsos por canto não é fixa, podendo variar

de seis a quinze para a estridulação de distúrbio (média= 9,7 ± 2,2) e de três a

treze para a estridulação de corte (média= 8,8 ± 2,5). A quantidade de

pulsos/canto não diferiu estatisticamente entre os dois tipos de estridulação

(Tabela 4). Já a taxa média de repetição dos cantos foi de 0,26 ± 0,07

cantos/segundo para a estridulação de distúrbio e de 1,11 ± 0,98 cantos/segundo

para a estridulação de corte, o que foi significativamente diferente (F(1, 12)=5,1603,

p=0,04231) (Tabela 4).

96

Figura 9 - Oscilograma mostrando a forma das ondas dos cantos de estridulação de distúrbio (A) e de corte (B) produzidos por machos de Amerrhinus ynca.

Tabela 4 – Pulsos por canto e taxa de repetição dos cantos de machos de Amerrhinus ynca.

Pulsos/canto (n=35) Cantos/segundo (n=7)

Estridulação Média1 ± sd amplitude Média2 ± sd* Amplitude

Distúrbio 9,7 ± 2,2 6,0 – 15,0 0,26 ± 0,07* 0,13 – 0,33

Corte 8,8 ± 2,5 3,0 – 13,0 1,11 ± 0,98* 0,30 – 3,03 * Diferença significativa (ANOVA P < 0,001).

Outra diferença constatada foi que a duração do pulso (F(1, 316)=6,1592,

p=0,01) e a intensidade média (F(1, 316)=17,658, p=0,001) são maiores na

estridulação de distúrbio, enquanto que o alcance máximo da freqüência (F(1,

316)=74,652, p=0,00000), em média, foi maior na estridulação de corte (Tabela 5 e

Figura 10). A duração do intervalo entre pulsos não difere entre os dois tipos de

estridulação.

97

Tabela 5 – Parâmetros temporais e espectrais das emissões de som de machos de Amerrhinus ynca em situação de distúrbio e de corte.

Parâmetros temporais Parâmetros espectrais

Tipo de estridulação

Duração do pulso (ms)1

Duração do interpulso

(ms)1

Freqüência máxima*

(kHz)1

Intensidade média* (dB)1

Distúrbio 24,84 ± 7,74* 56,65 ± 25,26 11,71 ± 2,84* -40,58 ± 11,84*Corte 23,45 ± 3,38* 51,20 ± 16,76 13,73 ± 2,36* -43,78 ± 5,04* * Diferença significativa (P<0,01 - ANOVA).

Um intervalo entre o primeiro e o segundo pulso foi maior do que os

demais intervalos entre pulsos (Figura 10). Na estridulação de distúrbio o primeiro

pulso apresenta todas as variáveis distintas dos demais pulsos (Tabela 6). Sendo

que para a estridulação de corte apenas a duração do pulso não foi diferente

(Tabela 6).

Figura 10 – Oscilograma e espectrograma do canto de estridulação de distúrbio (A) e corte (B) de machos de Amerrhinus ynca.

98

Tabela 6 – Média dos parâmetros temporais e espectrais do primeiro pulso e interpulso em relação aos demais pulsos e interpulsos, para a estridulação de corte e de distúrbio em machos de Amerrhinus ynca.

Tipo de pulso/interpulso Tipo de estridulação Parâmetros

Primeiro Demais

Duração do pulso (ms) 36,34 ± 11,83* 24,36 ± 5,67*

Duração interpulso (ms) 151,56 ± 64,27* 59,42 ± 23,30*

Freqüência máxima (kHz) 8,71 ± 4,26* 11,69 ± 2,84* Distúrbio

Intensidade média (dB) -45,68 ± 4,80* -41,41 ± 6,93*

Duração do pulso (ms) 25,93 ± 7,17 NS 23,67 ± 3,35 NS

Duração do interpulso (ms) 96,93 ± 46,83* 50,21 ± 21,13*

Freqüência máxima (kHz) 11,74 ± 2,99* 13,63 ± 2,30* Corte

Intensidade média (dB) -48,26 ± 4,65* -44,58 ± 5,10* * Diferença significativa (P< 0,001, ANOVA).

Para as fêmeas de A. ynca só foi possível descrever o som de distúrbio

produzido por duas fêmeas. Para as duas fêmeas analisadas apenas a

intensidade média não diferiu significativamente (Tabela 7).

Tabela 7 – Média ± desvio padrão dos parâmetros temporais e espectrais do canto produzido pela estridulação de distúrbio de fêmeas de Amerrhinus ynca.

Média1 ± desvio padrão

Parâmetros Fêmea 01 Fêmea 02

Duração do pulso (ms) 39,4 ± 7,8* 83,3 ± 11,7*

Intervalo entre cantos (s) 0,8 ± 0,7 * 0,6 ± 0,3*

Freqüência máxima (kHz) 7,8 ± 3,5* 5,6 ± 4,0*

Intensidade média (dB) -42,3 ± 2,3 -41,7 ± 3,1 * Diferença significativa (P<0,05 – ANOVA).

99

Figura 11 – Oscilograma e espectrograma da estridulação de distúrbio de fêmeas de Amerrhinus ynca.

Os parâmetros temporais e espectrais da estridulação de distúrbio

produzida pelos machos de A. ynca diferem significativamente daqueles

produzidos pelas fêmeas. O único parâmetro que não difere significativamente é a

intensidade média (Tabela 8). A média da taxa de repetição dos cantos nas

fêmeas foi maior do que a dos machos (Tabela 8). Assim, as fêmeas produzem

um som de freqüência mais baixa com pulsos que duram mais em uma taxa de

repetição maior.

Tabela 8 – Diferenças entre a estridulação de distúrbio de machos e fêmeas (N=50).

Macho Fêmea Pulsos por canto 3 a 15 1 Taxa de repetição do canto 0,33 cantos/segundo 1,33 cantos/segundo

Duração do pulso (ms) 27,40 ± 9,19a 63,64 ± 24,24b

Freqüência máxima (kHz) 12,07 ± 2,17a 6,89 ± 3,89b

Intensidade média (dB) -42,87 ± 8,91a -42,49 ± 2,85a *Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si (P<0,000-ANOVA)

100

Papel do som no acasalamento - Houve redução no número de casais que

copularam quando a pars stridens dos machos foi removida. Entretanto, quando a

pars stridens das fêmeas foi removida tanto o número de montas quanto os de

cópulas sofreram reduções (Figura 12). O mesmo ocorreu quando as partes

stridentes de ambos os sexos foram removidas. Já quando os élitros das fêmeas

foram colados, apenas 43% dos machos chegaram a montar pelo menos uma

vez.

Figura 13 – Quantidade de casais que montaram e copularam pelo menos uma vez (n=30).

As freqüências de monta (F3,116=3,2579, p=0,024) e de cópula

(F3,116=9,2087, p=0,000) foram significativamente diferentes para os quatro

tratamentos (Figura 14).

O período de latência e a duração do cortejo nos casais não manipulados

diferiram dos demias tratamentos. A duração da cópula foi maior (F3, 110=8,0667,

p=0,00007) e o tempo de guarda das fêmeas também foi maior (F3, 107=5,1276,

p=,002) (Figura 15D) nos casais não manipulados.

101

Quanto aos atos comportamentais envolvidos no comportamento de pré-

cópula (estridulação1, tentativa e esfregar com as pernas anteriores e

posteriores), não houve diferença significativa entre os tratamentos. Entretanto, as

médias de freqüência destes atos comportamentais foram maiores no tratamento

3 do que nos demais tratamentos (Figura 14).

Figura 14 – Freqüência média dos atos comportamentais envolvidos no comportamento de pré-cópula dos machos de Amerrhinus ynca para os quatro tratamentos.

DISCUSSÃO

Aparato estridulatório - Como em outros curculionídeos, a pars stridens de A.

ynca também se localiza na superfície interna dos élitros. Harman & Harman

(1972), ao estudarem o aparato estridulatório de Pissodes strobi (Peck, 1817)

(Coleoptera: Curculionidae), observaram que tanto o élitro direito quanto o

esquerdo de ambos os sexos contém a pars stridens e que esta estrutura está

1 Os movimentos do abdômen dos machos nos tratamentos 2 e 3 foram considerados como estridulatórios, apesar de os machos não terem produzido som.

102

localizada em sua superfície interna, próxima à sutura apical do vértice, junto com

outras áreas distintas que a circundam. Em Smicronyx fulvus LeConte, 1876 e

Smicronyx sordidus LeConte, 1876, Hyder & Oseto (1989) também descreveram

a localização da pars stridens de ambas as espécies como sendo sob a superfície

de cada ápice elitral. O mesmo também ocorre em Phrydiuchus tau Warner , 1969

(Coleoptera: Curculionidae) (Wilson et al. 1993). Já em quatro espécies do gênero

Conotrachelus (C. naso LeConte, 1876; C. posticatus Boheman, 1837; C. carinifer

Casey, 1892; e C. nenuphar (Herbst, 1797)), a pars stridens está localizada na

borda do élitro esquerdo, estendendo-se sob o direito, e freqüentemente pode

ocorrer nos machos uma pars stridens menor, sobre a borda do élitro direito

(Gibson 1967).

Diferenças entre a pars stridens de machos e de fêmeas com relação ao

espaçamento e à altura das cristas também foram observadas em outros

curculionídeos. Hyder & Oseto (1989) observaram diferenças na altura das cristas

de machos e fêmeas de ambas as espécies do gênero Smicronyx, sendo que nos

machos as cristas são mais altas do que nas fêmeas. Gibson (1967) observou

que em C. posticatus a pars stridens dos machos varia quanto à altura e ao

espaçamento das cristas, enquanto nas fêmeas esta variação é aparentemente

uniforme. O autor menciona ainda que a variação em altura e espaçamento das

cristas da pars stridens dos machos aumenta a partir da porção anterior para a

posterior. Hyder & Oseto (1989) mencionam uma área mediana da pars stridens

formada pela variação na altura das cristas nas duas espécies do gênero

Smicronyx, que ficou caracterizada como a região ótima de produção de som. A

mesma variação em altura mencionada por estes autores ocorre na pars stridens

dos machos de Amerrhinus ynca, criando uma região central onde as cristas são

mais altas. Provavelmente esta região central também esteja ligada à produção

ótima de som em A. ynca.

Em curculionídeos o plectrum pode estar localizado no sexto ou no sétimo

tergito abdominal. Assim como em machos e fêmeas de A. ynca o plectrum de

Phrydiuchus tau está localizado, segundo Wilson et al. (1993), na margem

anterior do sétimo tergito abdominal e consiste de duas estruturas pareadas que

se estendem lateralmente. O plectrum de ambos os sexos de P. strobi também

está localizado no sétimo tergito abdominal, entretanto, segundo Harman &

Harman (1972), o plectrum nesta espécie consiste de duas fileiras de dentes, uma

103

em cada lado do tergito, sendo que o número de dentes por fileiras varia entre os

sexos. Já para S. fulvus e S. sordidus, existem dois plectra, um localizado no

sexto tergito abdominal e outro situado na margem anterior do sétimo tergito

abdominal de ambos os sexos (Hyder & Oseto 1989). Nas espécies do gênero

Conotrachelus estudado por Gibson (1967), o plectrum está localizado em uma

porção mediana do sexto tergito abdominal e é constituído de pares de

tubérculos. Segundo esse autor, C. naso, C. posticatus e C. carinifer possuem

dois pares de tubérculos e o plectrum de machos e fêmeas são similares, ao

passo que em C. nenuphar o plectrum do macho é constituído de apenas um par

de tubérculos e as fêmeas são desprovidas desta estrutura estridulatória.

Produção de som - A produção de som em A. ynca se dá pela fricção do

plectrum localizado no sétimo tergito abdominal contra a pars stridens do élitro,

através de dois movimentos abdominais: um golpe para frente e outro para trás.

Em P. tau (Wilson et al. 1993) e em Conotrachelus sp. (Gibson 1967), cada dois

pulsos produzidos pela estridulação são resultados de um golpe para frente e

outro para trás. Isto pode ser verdadeiro para A. ynca, se o número de pulsos por

canto for sempre um número par, a não ser que o último pulso produzido seja de

intensidade e freqüência abaixo da faixa de ruído e não tenha sido detectado

neste estudo.

A presença de dois sons distintos também foi observada por Wilson et. al

(1993) em machos de P. tau. Gibson (1967) ao estudar a produção de som em

Conotrachelus só faz menção à estridulação de distúrbio produzida por C. naso,

C. carinifer e C. posticatus. Mas, segundo o autor, as estridulações individuais

produzidas por estas três espécies variam fortemente quanto à velocidade e à

freqüência do som. Hyder & Oseto (1989) também encontraram grande

variabilidade no alcance de freqüência nas estridulações produzidas por machos

de Smicronyx sordidus e Smicronyx fulvus. Segundo os autores, esta variação

está associada à anatomia do aparato estridulatório, principalmente à variação

estrutural da pars stridens. Outras espécies de coleópteros, como o besouro

Aphodius ater (Degeer, 1774) (Coleoptera: Scarabaeidae), também exibem uma

alta variabilidade individual ao estridular (Hirschberger, 2001).

Diferenças entre o som produzido por machos e fêmeas também foram

observadas dentro dos curculionídeos. Em S. sordidus e S. fulvus os machos

104

produzem sons com alcance de freqüência mais alta do que o das fêmeas (Hyder

& Oseto 1989). Em P. strobi e P. approximatus Hopkins, 1911, além do alcance

de freqüência, a taxa de repetição do canto também variou entre os sexos, sendo

mais rápida nos machos do que nas fêmeas (Harman & Kranzler, 1969). Entre os

sexos de C. naso e C. posticatus, Gibson (1967) observou diferenças quanto à

tonalidade dos pulsos produzidos por machos e fêmeas.

Portanto, este trabalho corrobora os demais estudos da comunicação

acústica em coleópteros evidenciando que os dois sexos de A. ynca produzem

sons. Estes sons são diferentes e são produzidos por aparatos estridulatórios

morfologicamente distintos, sendo que os machos possuem um aparato com

maior capacidade de produção de som que o das fêmeas. Nos machos foi

possível diferenciar dois tipos de sons, uma estridulação de distúrbio associada a

encontros ou disputas com outros machos e uma estridulação de corte que foi

registrada durante o acasalamento.

Papel da estridulação no comportamento de corte e acasalamento - A

remoção da pars stridens de machos e fêmeas de A. ynca afetou o

comportamento de corte e acasalamento. Através dos resultados é possível

perceber que nos tratamentos em que as fêmeas tiveram sua pars stridens

removida a porcentagem de casais que acasalaram (montas e cópulas) reduziu.

Mesmo quando as fêmeas tiveram seus élitros colados no abdômen a

porcentagem de acasalamentos (montas) também sofreu redução. Provavelmente

as fêmeas utilizam uma estridulação específica para sinalizar ao macho que

aceitam sua corte e, conseqüentemente, a cópula. Entretanto, outros sinais

liberados pelas fêmeas, como odores, também podem servir como sinalizadores e

agir sinergisticamente com os sinais acústicos. Segundo Haskell (1974), em um

padrão de comportamento de corte no qual o inseto utiliza a sinalização sonora

para estimulação e discriminação específica, outros estímulos (visuais, olfativos e

táteis) também são utilizados, mais como uma regra do que como uma exceção.

Os machos, por sua vez, gastam mais tempo tentando cortejar as fêmeas,

quando sua pars stridens é retirada. Entretanto, a ausência de som não os

impede de copular, mesmo porque outros atos comportamentais podem ser

utilizados no cortejamento, como esfregar as pernas anteriores e posteriores nas

laterais do corpo da fêmea. De qualquer forma, o fato de a fêmea não ouvir os

105

sons produzidos pelos machos faz com que eles gastem mais tempo na pré-

cópula e menos tempo em cópula e pós-cópula.

RESUMOS E CONCLUSÕES Os insetos que utilizam a comunicação acústica nas relações

interindividuais podem produzir suas emissões sonoras através de distintos

meios, a estridulação é o mais difundido. Em Curculionidae a estridulação se dá

através da fricção do plectrum do abdômen com a pars stridens localizada nos

élitros. Este trabalho descreveu a morfologia do aparato estridulatório de

Amerrhinus ynca, analisou as suas emissões sonoras e investigou o papel da

estridulação no seu comportamento de corte.

Os sons foram gravados com gravador digital e analisados com ajuda do

software Canary. Para verificar o papel da estridulação no comportamento de

acasalamento de A. ynca foram realizados quatro tratamentos: (i) casais não

manipulados, (ii) casais em que ambos os sexos tiveram parte de seus élitros

direito e esquerdo removidos, (iii) casais nos quais apenas o macho teve parte de

seus élitros removidos e (iv) casais nos quais apenas as fêmeas tiveram seus

élitros direito e esquerdo removidos. A parte dos élitros que foi removida

corresponde ao local onde se encontram as pars stridens. Os casais foram

observados durante cinco horas. Analisou-se a freqüência de monta e cópula, a

freqüência dos atos comportamentais, a duração do período de latência, pré-

cópula, cópula e pós-cópula.

A pars stridens de A. ynca está localizada na região ventral da

extremidade posterior dos élitros direito e esquerdo. Nos machos ela é constituída

de fileiras de cristas de altura e espaçamentos variáveis. Nas fêmeas as cristas

são menos acentuadas e estão distribuídas de forma irregular. Machos e fêmeas

apresentaram dois plectra localizados no sétimo esternito abdominal, debaixo de

cada pars stridens. Verificou-se que machos e fêmeas emitem sons por

estridulação e que os machos estridulam durante o comportamento de corte e

quando são pertudados através de pressões nas laterais do abdômen. A

característica temporal e espectral destes sons foi distinta. As fêmeas também

apresentaram movimento similar ao estridulatório durante o acasalamento, mas

106

um espectro específico não foi registrado, apenas foi possível analisar o som

produzido quando as fêmeas eram pertubadas e o espectro de emissão do som

foi diferente do observado nos machos. Evidenciou-se a existência de aparato

estridulatório em A.ynca, morfologicamente diferente nos dois sexos. Nos machos

foi possível diferenciar dois tipos de sons, uma estridulação associada

possivelmente a encontros com outros machos e uma estridulação de corte.

Nos tratamentos nos quais as fêmeas tiveram sua pars stridens removida

a porcentagem de casais que acasalaram (montas e cópulas) reduziu. Já os

machos gastaram mais tempo tentando cortejar as fêmeas, quando sua pars

stridens foi retirada. A remoção da par stridens interfere no acasalamento,

aumentando o número de montas e reduzindo o número de cópula, além de

alterar a duração da pré-cópula, cópula e pós-cópula.

Este trabalho corrobora, portanto, os demais estudos da comunicação

acústica em coleópteros, evidenciando que os dois sexos de A. ynca produzem

sons e apresentam aparatos estridulatórios morfologicamente distintos. Nos

machos foi possível diferenciar dois tipos de sons, uma estridulação de distúrbio

associada a encontros ou disputas com outros machos e uma estridulação de

corte que foi registrada durante o acasalamento.

A remoção da pars stridens interfere no acasalamento, aumentando o

número de montas e reduzindo o número de cópulas, além de alterar a duração

da pré-cópula, cópula e pós-cópula.

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108

4. RESUMOS E CONCLUSÕES

Amerrhinus ynca é uma coleobroca cujas larvas se alimentam dos tecidos

internos da ráquis foliar do coqueiro. Até pouco tempo era considerada praga

secundária, mas devido à periodicidade e intensidade dos surtos tem atingido o

status de praga primária em algumas regiões. Pouco se conhece de sua biologia,

por isso este trabalho teve por objetivo: encontrar e descrever caracteres

morfológicos que diferenciem os sexos; descrever a seqüência comportamental

associada à corte e ao acasalamento; identificar possíveis semioquímicos

envolvidos nas interações intra e interespecíficas; identificar e descrever as

estruturas associadas à estridulação; analisar os parâmetros temporais e

espectrais dos sons produzidos e verificar o seu papel no comportamento

reprodutivo.

Os adultos de A. ynca utilizados nos estudos foram coletados em um

plantio comercial de coco e levados para o laboratório. Após a confirmação dos

sexos procurou-se identificar, através de observações da morfologia externa,

caracteres distintos entre machos e fêmeas. O comprimento e a largura do corpo

foram medidos. O comportamento de acasalamento e corte foi analisado através

de observação direta e por filmagem. Registraram-se em ambos os casos a

freqüência e a duração dos atos comportamentais. Os bioensaios para verificar a

presença de semioquímicos foram feitos utilizando-se três tipos de olfatômetros,

nos quais se utilizou como estímulo insetos coespecíficos e partes do coqueiro.

Os sons foram gravados com gravador digital e analisados com ajuda do software

Canary. Para verificar o papel da estridulação no comportamento de

109

acasalamento foram realizadas observações de quatro tipos de casais (com ou

sem partes dos élitros).

Foram encontrados três caracteres morfológicos distintos; as fêmeas são

maiores que os machos. Os acasalamentos ocorreram tanto em fotofase quanto

em escotofase. A monta iniciou-se aos 119 ± 75 min após os casais terem sido

colocados em observação. A corte e a cópula duraram em média 3 ± 2,5 min e 51

± 49 min, respectivamente. A produção de som durante a corte, através da

estridulação, é o evento mais freqüente entre os machos. As fêmeas de A. ynca

acasalaram múltiplas vezes e em geral com vários machos. Após a primeira

cópula os machos apresentaram comportamento de guarda da fêmea.

Nos testes de atratividade de odores, a maioria dos indivíduos não

responderam aos estímulos testados em três tipos de olfatômetros. Machos e

fêmeas foram mais estimulados quando se testaram partes vegetais.

Verificou-se que machos e fêmeas emitem sons por estridulação através

da fricção de duas estruturas: a pars stridens e o plectrum. A pars stridens está

localizada na região ventral da extremidade posterior dos élitros direito e

esquerdo e o plectrum está localizado no sétimo esternito abdominal de ambos os

sexos. O som produzido pelos machos, por estridulação, durante o

comportamento de corte, é diferente daquele que produzem quando são

perturbados. Observous-se, durante a corte, que as fêmeas movimentam o

abdômen de forma similar ao movimento que os machos desempenham ao

estridularem. Elas também estridulam quando são perturbadas, mas o som

produzido difere daquele dos machos.

No tratamento: fêmeas que tiveram sua pars stridens removida, a

porcentagem de casais que acasalaram (montas e cópulas) reduziu. Já os

machos gastam mais tempo e energia tentando cortejar as fêmeas, quando sua

pars stridens é retirada.

Assim pode-se concluir que:

- existem diferenças morfológicas entre machos e fêmeas que podem ser

utilizadas com segurança para diferenciá-los no campo e no laboratório sem que

haja a necessidade de feri-los.

- os acasalamentos ocorreram tanto em fotofase quanto em escotofase e

os machos durante a pré-copula estridulam e estimulam as fêmeas com as

110

pernas anteriores, e durante a cópula a estimulação do protórax e do abdômen da

fêmea com o primeiro par de pernas e a raspagem do pronoto da fêmea com o

rostro foram os atos comportamentai mais frequentes. As fêmeas de A. ynca

acasalaram múltiplas vezes e em geral com vários machos e estes apresentaram

o comportamento de guarda da fêmea, permanecendo sobre seu dorso por

longos períodos.

- não foi possível verificar a atratividade de machos e fêmeas aos odores

testados no três tipos de dispositivos olfatométricos, ou seja, os dados aqui

apresentados não foram suficientes para confirmar a presença de substâncias

químicas mediadoras de interações intraespecificas e interespecíficas devido ao

alto percentual de não resposta.

- são duas as estruturas associadas à produção de som nesta espécie: a

pars stridens e o plectrum. A primeira estrutura está localizada na região ventral

da extremidade posterior dos élitros direito e esquerdo. Nos machos elas são

constituídas de fileiras de cristas de altura e espaçamentos variáveis. Nas fêmeas

as cristas são menos acentuadas e estão distribuídas de forma irregular. Machos

e fêmeas apresentaram dois plectra localizados no sétimo esternito abdominal,

debaixo de cada pars stridens.

- machos e fêmeas emitem sons por estridulação. Os machos

estridularam durante o comportamento de corte. As fêmeas também

apresentaram movimento similar ao estridulatório, mas um espectro específico

não foi registrado. Os machos apresentaram estridulações quando foram

perturbados através de pressões nas laterais do abdômen. A característica

temporal e espectral destes sons foi distinta da observada durante a corte. As

fêmeas também estridularam quando perturbadas e o espectro de emissão do

som foi diferente do observado nos machos.

- nos tratamentos nos quais as fêmeas tiveram sua pars stridens removida

a porcentagem de casais que acasalaram (montas e cópulas) reduziu. Já os

machos gastam mais tempo tentando cortejar as fêmeas, quando sua pars

stridens é retirada.

111

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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