simulação de processos de construção naval para análise …

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Simulação de Processos de Construção Naval para Análise de Estratégias Alternativas de Edificação Marcos Thadeu Palmeira Baptista Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Luiz Felipe Assis Rio de Janeiro Março de 2013

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Simulação de Processos de Construção Naval para Análise de Estratégias Alternativas de

Edificação

Marcos Thadeu Palmeira Baptista

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Naval e Oceânica da Escola

Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Luiz Felipe Assis

Rio de Janeiro

Março de 2013

iii

SIMULAÇÃO DE PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO NAVAL PARA ANÁLISE DE

ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS DE EDIFICAÇÃO

Marcos Thadeu Palmeira Baptista

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO NAVAL E OCEÂNICO.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Luiz Felipe Assis, D.Sc

________________________________________________

Prof. Floriano Carlos Martins Pires Junior, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Claudio Luiz Baraúna Vieira, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO de 2013

iv

Baptista, Marcos Thadeu Palmeira

Simulação de Processos de Construção Naval para Análise

de Estratégias Alternativas de Edificação / Marcos Thadeu

Palmeira Baptista – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica,

2013.

IX, 52 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Luiz Felipe Assis

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Engenharia Naval e

Oceânica, 2013.

Referencias Bibliográficas: p. 44-46.

1.Simulação de Processos de Construção Naval. I. Assis,

Luiz Felipe II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Naval e Oceânica. III. Simulação de Processos de Construção

Naval para Análise de Estratégias Alternativas de Edificação.

v

Dedicatória

Primeiramente gostaria de dedicar meu trabalho a minha família, a base de tudo. Sem ela

não seria possível alcançar ou concluir esta etapa na minha vida.

Dedico também à minha namorada, Polyana Rodrigues, que soube compreender os

momentos em que não pude estar com ela, e pela força e motivação nesta penosa fase final.

Às amizades que foram feitas ao longo da faculdade, que tornaram possíveis, através de

longos debates e discussões, enriquecer meu conhecimento e engrandecer o olhar crítico

sobre todas as áreas navais.

Ao departamento de logística no qual eu pude desenvolver e aprimorar meus

conhecimentos na área, além de gentilmente ceder espaço e infraestrutura, além de

materiais de pesquisa que foram tomados como referência para o embasamento deste

artigo.

Ao meu orientador, Luiz Felipe, pelo auxílio prestado. Por todo tempo, atenção e paciência

dedicados.

A João Botelho da Cunha, cuja memória impulsionou os ventos necessários para a

conclusão deste trabalho.

vi

Agradecimentos

Agradeço aos professores Luiz Felipe Assis (Escola Politécnica/UFRJ) e Floriano C. M.

Pires Junior (COPPE/UFRJ e Escola Politécnica/UFRJ); responsáveis pelo LABSEN.

À equipe com que tive o prazer de trabalhar no LABSEN:

Clarice Trevisani (COPPE/UFRJ), responsável técnica de produção.

Edson Azevedo Ferreira Junior (COPPE/UFRJ), responsável técnico de manutenção.

Estagiários Roberto Moreira Freire (Escola Politécnica/UFRJ) e Bruno Pereira Portugal

(Escola Politécnica/UFRJ)

A Jean David Caprace (COPPE/UFRJ), pela instrução e contribuição para a conclusão

deste projeto.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo), pelo apoio financeiro.

vii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Naval e Oceânico.

Simulação de Processos de Construção Naval para Análise de Estratégias Alternativas de

Edificação

Marcos Thadeu Palmeira Baptista

Março/2013

Orientador: Luiz Felipe Assis

Curso: Engenharia Naval e Oceânica

Em estaleiros de construção naval os processos de montagem, pré-edificação e edificação

de blocos podem ser considerados críticos por sua complexidade de programação,

justificada pelo grande número de blocos de portes e conteúdos de trabalho diferentes.

Além das restrições técnicas, que exigem que determinadas sequencias de atividades sejam

respeitadas, o compartilhamento de recursos de movimentação é outro desafio para a gestão

de processos. O presente trabalho apresenta um modelo de simulação de eventos discretos

para facilitar a análise dos principais processos de construção naval e diferentes estratégias

de edificação (anel, camada e piramidal), avaliando-se a utilização de recursos e tempo de

produção, proporcionando uma ferramenta genérica de estudo do comportamento de

sistemas. É possível adequar o modelo a diferentes tipos de estaleiros, ou navios, bastando

apenas alterar a base de dados acessados. O estudo pretende mostrar o potencial da técnica

no suporte à tomada de decisões estratégicas, e no controle do desempenho de sistemas

produtivos.

Palavras-chave: Processos de Construção Naval, Tomada de Decisões Estratégicas,

Controle do Desempenho de Sistemas, Modelo de Simulação.

viii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

Naval Construcion Process Simulation for strategic decision of Edification

Marcos Thadeu Palmeira Baptista

March/2013

Advisor: Luiz Felipe Assis

Course: Naval Architecture

In shipbuilding assembly, pre-construction and building blocks processes can be considered

critical for its programming complexity, justified by the large number of blocks of sizes and

different working content. Besides the technical restrictions, which require that certain

sequences of activities are respected, resource sharing movement is another challenge for

process management. This paper presents a model of discrete event simulation to facilitate

the analysis of the main shipbuilding processes and different strategies of building (ring,

layer and pyramidal), evaluating the use of resources and production time, providing a

generic tool that allows study of the systems’ behavior. The model can be adapted to

different shipyards or ships by simply changing the database accessed. The study aims to

show the potential of the technique in the support of strategic decision making, and

controlling the performance of production systems.

Keywords: Naval Construction Processes, Strategic Decision Making, Control System

Performance, Simulation Model.

ix

Sumário 1. Introdução ....................................................................................................................... 1

1.1. Relevância do Estudo ............................................................................................... 1

1.2. Proposta de Trabalho ............................................................................................... 2 1.2.1. Processos Abordados ........................................................................................ 3 1.2.2. Estratégias de Edificação .................................................................................. 6

1.3. Limitações do Projeto .............................................................................................. 6 1.4. Organização do Trabalho ......................................................................................... 7

2. Metodologia .................................................................................................................... 9 2.1. Simulador QUEST ................................................................................................... 9

2.2. Formulação do Modelo .......................................................................................... 10 2.3. O Navio .................................................................................................................. 14

2.3.1. Divisão de Blocos e Super-Blocos ................................................................. 17 3. Desenvolvimento do Modelo de Simulação ................................................................. 20

3.1. Pátio de Aço ........................................................................................................... 21 3.2. Montagem de Blocos ............................................................................................. 23

3.3. Pintura e Jateamento .............................................................................................. 25

3.4. Pré-edificação ........................................................................................................ 26

3.5. Edificação .............................................................................................................. 28 3.6. Verificação e Validação do Modelo ...................................................................... 29

3.6.1. Número de Replicações ......................................................................................... 30 3.6.2. Aleatoriedade ......................................................................................................... 32 3.6.3. Utilização dos Transportes ..................................................................................... 33

4. Descrição dos cenários ................................................................................................. 36 5. Análise dos Resultados ................................................................................................. 40

5.1. Tempo de Construção ............................................................................................ 40 6. Conclusões e Sugestões para trabalhos futuros ............................................................ 42

7. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 44 8. Apêndices ..................................................................................................................... 47

8.1. Apêndice I .............................................................................................................. 47 8.2. Apêndice II ............................................................................................................ 51

1

1. Introdução

1.1. Relevância do Estudo

A aplicação e validação de diferentes estratégias construtivas constitui historicamente

grande dificuldade para os estaleiros de construção naval. A formação destas estratégias,

juntamente com a identificação de gargalos e elaboração de planos de construção

representam os maiores desafios atuais para o planejamento da produção de estaleiros em

funcionamento. Para auxiliar estas unidades de fabricação, a simulação de eventos discretos

pode ser grande aliada.

Diversos são os estaleiros europeus que reconhecem o potencial da técnica atualmente, tais

como Flensburger, Meyer Werft e Aker Ostsee, passando a utilizá-la para o estudo de

processos de construção naval complexos, atingindo feitos como redução dos tempos de

uso do dique e aumento da produtividade das estações de trabalho (Steinhauer et al., 2006).

No caso do estaleiro alemão Flensburger, utiliza-se a simulação de processos para, além do

planejamento de investimentos e concepção de processos, realizar a analise de variações no

plano de produção de blocos, e no planejamento das operações diárias do chão de fábrica.

Sendo assim, observa-se que o uso de um modelo de simulação propicia numerosas

aplicações para estaleiros em operação que possuem interesse de ampliar suas áreas de

produção, instalar novas oficinas ou tomar decisões sobre o arranjo físico geral do estaleiro

e o fluxo de materiais, tornando capaz o teste de diferentes sequências de produção e

verificação da capacidade e desempenho das áreas, linhas e estações de trabalho. É possível

avaliar o comportamento do sistema sob diferentes condições e níveis de incerteza (paradas

de equipamentos, interrupções no suprimento de matéria prima, etc.), permitindo o

estabelecimento de planos contingenciais.

A simulação apoia também os estaleiros que ainda se encontram em fase de planejamento e

implantação de operações em procedimentos para a montagem de blocos ou super-blocos

de diferentes tamanhos; quanto maior o custo de mudanças no sistema, ou de aplicação de

2

novos projetos, mais vantajosa se torna a simulação discreta para as organizações se

manterem competitivas (Banks, 1999). A carga de trabalho para diferentes tipos de navios e

os impactos da inclusão de processos como a adição de “outfitting” nas etapas de

montagem de blocos podem ser facilmente visualizadas com o modelo.

1.2. Proposta de Trabalho

O objetivo do trabalho foi desenvolver, através de uma ferramenta de simulação de eventos

discretos, um modelo computacional flexível capaz de simular processos industriais

característicos da Construção Naval, de acordo com as atividades do estaleiro na etapa

construtiva, com o intuito de analisar o impacto de diferentes estratégias de edificação para

o processo de Construção.

Uma análise detalhada sobre emprego de simulação na Construção Naval foi realizado por

Silva (2010), sendo a simulação usada para diferentes áreas, entre elas, a de edificação de

navios. Segundo a autora, a probabilidade de sucesso da simulação e atendimento das

expectativas pode ser aumentada a partir do conhecimento das suas aplicações específicas

ao tipo de estaleiro, e do processo construtivo a ser simulado (Silva, 2010). Para a obtenção

de um modelo de simulação de construção naval completo, é necessária a representação,

integração e análise de todos os processos envolvidos, criando uma modelagem fiel e

detalhada do sequenciamento de atividades presentes no estaleiro. Porém, a complexidade

dos processos e subprocessos responsáveis pela montagem de minúcias necessárias para a

fabricação do produto final inviabiliza a modelagem de todas as operações realizadas no

estaleiro. Como alternativa frequente, opta-se pela representação dos principais processos a

serem realizados pela fábrica, ainda que de forma simplificada. Shannon (1992) faz

referência à “regra de Pareto”, afirmando que possivelmente oitenta por cento (80%) do

comportamento do sistema pode ser representado por apenas vinte por cento (20%) dos

componentes do modelo. A maior dificuldade é identificar os componentes realmente vitais

para a simulação. A determinação de um nível apropriado de detalhes é uma decisão

importante, pois muitos detalhes dificultam e consomem tempo de modelagem. Os

modelos, ao invés de imitaram exatamente o sistema real, devem conter apenas os

elementos que contribuam para as questões em estudo. O nível de detalhes também pode

estar associado à precisão exigida dos resultados. Em um extremo, uma estação de trabalho

3

pode ser modelada como uma operação “caixa preta”, com entradas, saídas e tempos

definidos. Em outro extremo pode ser simulado o movimento detalhado de uma máquina,

correspondente a uma de suas operações.

Os principais processos construtivos do setor naval são citados como: Armazenamento e

Tratamento de chapas e perfis; Processamento do aço (corte e conformação); Fabricação de

estruturas (painéis e submontagens); Montagem e Pintura de blocos; Pré-edificação e

Edificação. As atividades de acabamento avançado são usualmente realizadas nas etapas de

montagem de blocos.

1.2.1. Processos Abordados

Para a simulação desenvolvida os processos de armazenamento de chapas, montagem de

blocos, jateamento (blasting), pintura, pré-edificação e edificação foram selecionados e

tiveram suas etapas simuladas em um mesmo modelo integrado, assim como os sistemas e

equipamentos de movimentação e pátio de aço para o estoque das chapas.

O armazenamento de chapas de aço na maioria dos estaleiros é realizado em áreas abertas

chamadas Pátio de aço (figura 1). O dimensionamento do pátio depende da necessidade da

produção e dos intervalos de fornecimento. A área destinada ao pátio deve ser suficiente

para que o fluxo de materiais ocorra de forma adequada, permitindo espaço para circulação

das peças. Os recursos envolvidos são guindastes, empilhadeiras motorizadas, pórticos e

pontes rolantes que posicionam as chapas nas pilhas (carregamento) e posteriormente,

entregam as chapas a uma esteira rolante ligada à linha de tratamento (descarregamento) ou

a áreas específicas caso o estaleiro não realize o tratamento em linha (tratamento químico).

Alguns estaleiros possuem calandras que realizam o desempeno de chapas antes da

entrarem no processo de tratamento.

4

Figura 1: Pátio de Aço

A montagem de blocos corresponde à soldagem de painéis e submontagens formando

estruturas maiores. O processo representa uma das etapas mais complexas e demoradas na

construção de embarcações, devido à enorme quantidade de peças e elementos estruturais

que são enviados pelas estações anteriores. Após a montagem é realizada a avaliação da

qualidade das soldagens, pelo estaleiro, sociedades classificadoras e armadores.

Alguns estaleiros incorporam o conceito de Tecnologia de Grupo e classificam seus

produtos de acordo com as características ou atributos semelhantes. Quanto maior a

padronização de produtos e processos, maior a economia de escala, e mais fácil torna-se a

aplicação de técnicas para balanceamento das estações de trabalho, e redução de estoques

(Lamb, 1988).

As semelhanças entre os blocos planos são mais facilmente identificadas. Devido a esse

fato, muitos estaleiros já operam suas estações de montagem de blocos planos em linha de

produção. Os blocos curvos (com complexidade maior de montagem), usualmente, são

montados em galpões e necessitam de instrumentos como pontaletes reguláveis para serem

posicionados. Na montagem de blocos é iniciado o acabamento avançado, ou a colocação

de acessórios, tubulações, e outros elementos.

Após o término da montagem e aprovação dos blocos, esses são transportados para a cabine

de jateamento e pintura, onde inicialmente recebem um processo de preparação de sua

5

superfície (jateamento por granalha de aço, por exemplo) para a retirada da possível

camada de ferrugem e para garantir uma boa aderência da tinta protetora (Storch, et

al,1995).

Em seguida, é realizada a limpeza de todo o bloco removendo a granalha existente em seu

interior. O bloco recebe duas camadas de uma tinta especial que evita corrosão por um

período longo de serviço, o tipo e marca da tinta pode ser especificado pelo armador. Após

a pintura, o bloco permanece na cabine para secagem. Um exemplo de estação de pintura e

cabine de jateamento é apresentado na figura 2.

Figura 2: estação de pintura e cabine de jateamentode blocos

A área de pré-edificação é destinada à montagem de grandes blocos ou anéis. O

equipamento de transferência do estaleiro normalmente limita o peso que os grandes blocos

e anéis possuem.

Os grandes blocos (ou super-blocos) são construídos na pré-edificação segundo uma ordem

previamente definida pelo departamento de projeto. Cada super-bloco é constituído por

uma quantidade específica de blocos e um tempo final de processo diferente por esse

motivo (Kim, et. al., 2002). Para que a pré-edificação de super-blocos atenda os prazos

estipulados é necessário que o processo de montagem dos blocos esteja operando em

sequenciamento e ritmo adequados.

A edificação corresponde ao último estágio de construção das embarcações. No início da

maioria dos projetos de navais, os setores de planejamento do estaleiro definem toda a

programação das atividades baseada nessa etapa. A estratégia de edificação incorpora e

comunica todo o planejamento da produção para uma embarcação específica, série de

contratos ou específico estaleiro (Lamb, 1994), interferindo nas sequências de pré-

edificação, montagem, e no dimensionamento de estruturas (peso).

6

1.2.2. Estratégias de Edificação

Os principais métodos de edificação podem ser divididos em: construção em camadas, em

anéis, ou em pirâmide. O método por camadas edifica primeiramente os blocos do fundo, e

em seguida os blocos de costado. A terceira camada é formada por blocos de convés e

segue formando as camadas restantes do navio. Na edificação em anéis, o navio é

construído em seções de fundo, costado e convés (Kim, et. al., 2002).

A edificação em pirâmide é aplicada de forma semelhante à edificação em camadas, depois

se assemelha à edificação por anéis. Após certo tempo de construção o método apresenta o

formato piramidal. A aprovação das soldas e os ajustes necessários tornam essa fase crítica

à construção do casco. As estratégias citadas podem ser vistas na figura 3.

Figura 3: Estratégias de Edificação: Anel, Camada e Pirâmide (Kim et. al, 2002)

Dentre as razões para o estudo de diferentes estratégias de edificação pode-se destacar o

planejamento adequado de operações táticas a partir de ordens de produção, fluxo de

materiais e programação da produção. Além disso, o estudo visa assegurar que os processos

irão respeitar as restrições e requesitos do estaleiro, do cliente final e do ambiente de

negócios. Esse estágio também é considerado crítico, pois, normalmente, o ciclo de

produção no berço de construção determina a capacidade de produção do estaleiro. A

atividade de soldagem de grandes blocos pode ser executada diretamente na carreira ou

dique, ou na área de pré-edificação onde estruturas gigantescas podem ser movimentadas

por pórticos ou empurradas por outros sistemas (macacos hidráulicos, por exemplo).

1.3. Limitações do Projeto

As simplificações realizadas na modelagem muitas vezes ocasionam erros, sendo uma

alternativa pesarosa para o modelo de simulação, apesar de frequentemente necessária. Os

7

possíveis erros gerados pelas simplificações podem ser avaliados na fase de validação

(Shannon, 1992). Alguns testes podem ser feitos para comparar esses indicadores com os

sistemas reais. Os indicadores de desempenho, obtidos após a simulação, podem mostrar a

razoabilidade do modelo.

A validação é a garantia de que o modelo atende aos objetivos da análise e a verificação é a

garantia de que o modelo possui o funcionamento lógico adequado (Balci, 2003). A

verificação do modelo procura responder se seu funcionamento está correto e de acordo

com as expectativas do modelador. Carson (2003) cita que essa fase pode ser realizada com

experimentações ou alterando-se as condições e dados do modelo. Os depuradores de erros,

fornecidos pelos simuladores atuais, podem ser usados, assim como ferramentas específicas

do próprio simulador e a animação. A revisão de profissionais experientes em simulação

também pode ser útil.

O fato de um modelo compilar, executar e produzir resultados, não garante que ele seja

válido para o estudo, ou que os resultados da simulação sejam representativos. Nesse

sentido, a validação pretende responder se os resultados gerados são característicos do

comportamento do sistema real, e se são confiáveis.

As dificuldades do estudo são relacionadas à modelagem dos estudos de caso; problemas

como a indisponibilidade de dados precisos de entrada restringiu a validação de alguns

resultados obtidos.

1.4. Organização do Trabalho

No primeiro capítulo é citada a relevância do estudo, a proposta de trabalho, limitações e

organização da dissertação. No capítulo 2 é apresentada a metodologia para o projeto de

simulação, com a ferramenta de simulação utilizada, a formulação do modelo e o produto a

ser obtido. No terceiro capítulo é caracterizado o desenvolvimento do modelo de

simulação; a programação e características das lógicas desenvolvidas para processo

abordado estão presentes neste capítulo, juntamente com a verificação e validação do

modelo desenvolvido. No quarto capítulo são apresentados os cenários simulados, com as

diferentes estratégias de edificação e sequencias de montagem para tal. No quinto capítulo

8

são realizadas as análises dos resultados obtidos, são aferidos as criações de gargalo e

tempo finais de construção. O sexto capítulo são realizadas as conclusões e propostas para

trabalhos futuros.

9

2. Metodologia

A infraestrutura computacional disponível no LABSEN (Laboratório de Simulação de

Processos para a Construção Naval) da COPPE/UFRJ foi utilizada para o desenvolvimento

do presente projeto, dando sequencia a trabalhos já realizados no LABSEN com intuito de

analisar, através de simulações discretas, as operações em estaleiros de construção naval. O

estudo da simulação processos industriais como ferramenta de apoio à gestão de estaleiros

(Silva, 2010) pode ser citado, assim como o estudo do uso da simulação computacional em

processos de montagem de blocos e pré-edificação de estaleiros (Martins, 2010) e o estudo

de arranjo para estaleiro especializado na construção de balsas fluviais (Porto, 2009).

O uso da simulação discreta para analises de operações de Construção Naval tem se

difundido na ultima década por todo o mundo, estabelecendo parcerias entre estaleiros e

universidades.

2.1. Simulador QUEST

Como recurso disponível pelo LABSEN e utilizado para a modelagem das estações de

trabalho, estrutura de produtos e processos necessários para a simulação de um estaleiro

hipotético, foi utilizado o sistema QUEST (Queuing Event Simulation Tool), desenvolvido

pelo grupo Dassault Systems, reconhecido internacionalmente como fornecedor de soluções

voltadas para o gerenciamento do ciclo de vida dos produtos (PLM).

Segundo o fabricante, o programa QUEST atende indústrias do setor: automotivo,

aeroespacial, de manufatura, eletro-eletrônico, bens de consumo e naval. Pode-se citar

como usuário do simulador o estaleiro Yantai Raffles Shipyard (YRS) Ltd. Localizado na

China, o estaleiro aumentou a produtividade e reduziu a taxa de HH (homens/ hora) a partir

de modelos de simulação desenvolvidos. A empresa Baxi Potterton líder do setor europeu

de equipamentos de aquecimento utiliza o simulador para avaliar configurações de

produção e arranjos (Silva, 2010).

10

Em seu trabalho, Silva (2010) compara e destaca as qualidades e características do sistema

QUEST, que o qualificam como um bom simulador para a Construção Naval, em relação a

outros sistemas utilizados.

O programa possui visualização tridimensional realista e fornece relatórios estatísticos

sobre filas, tempos de espera, utilizações, entidades no sistema, produção, etc. Gráficos

dinâmicos podem ser visualizados enquanto o modelo está sendo executado. Relatórios

podem ser gerados a partir de programação e vistas de áreas do modelo específicas podem

ser definidas.

Falhas, turnos de trabalho e processos de reparo são facilmente associados a múltiplas

máquinas. A associação de diferentes classes de operadores à diferentes processos é

simples, bem como a alteração de parâmetros dos elementos (velocidades, geometrias,

condições iniciais como níveis de estoque, por exemplo, produção máxima, etc.).

Recursos como cinemática podem ser associados à geometria de máquinas e sistemas de

transporte. Esse artifício permite uma representação mais realista dos movimentos e do

funcionamento dos elementos como máquinas, por exemplo. O simulador importa arquivos

CAD em diversos formatos inclusive originados pelos programas Catia/Delmia V5

desenvolvidos pela Dassault. Arquivos externos como planilhas, documentos (no formato

“txt”), e originados em sistemas de gestão de recursos e programação da produção podem

ser importados.

Os arquivos contendo lógicas, modelos e geometrias de produtos e recursos são

armazenados em uma biblioteca e podem ser totalmente reutilizados.

2.2. Formulação do Modelo

Para o projeto elaborado foi desenvolvido um modelo integrado de processos estocásticos

para a simulação de um estaleiro hipotético, com sistema capaz de simular os processos de

armazenagem, montagem, jateamento, pintura, pré-edificação e edificação de blocos.

11

Para a simulação dos processos foi definida uma área de estoque de chapas de aço, tendo

como dimensões 140 m de largura e 120 m de comprimento. A área de montagem de

blocos foi dimensionada em 240 metros de comprimento por 140 m de largura. A área das

cabines de jateamento (blasting) apresenta 40 m de comprimento e 80 m de largura,

constituída de duas cabines, enquanto a área de pintura possui 40 m de comprimento por

140 m de largura, sendo constituída de quatro cabines. O espaço físico alocado para a pré-

edificação permite que o processo seja realizado para até doze super-blocos

simultaneamente. A planta modelada pode ser visualizada na próxima figura.

Figura 4: Esquema da planta modelada

No modelo, optou-se para que a montagem do bloco somente ocorresse somente se

houvesse disponibilidade de chapas de aço para a confecção de painéis responsáveis por

compor o bloco. Deste modo, o modelo aproxima-se mais da realidade.

As velocidades dos equipamentos de transporte usados, sendo eles carros hidráulicos,

pontes rolantes e pórticos, foram obtidas por fabricantes de equipamentos e, em todos os

cenários simulados, esses parâmetros foram representados por funções determinísticas.

12

A figura 5 mostra o fluxograma dos processos modelados. Os conjuntos de chapas de aço

são enviados para as áreas de montagem, em seguida os blocos são direcionados para as

cabines de pintura. Os blocos são deixados na área de pré-edificação, onde ocorre a

construção de super-blocos, respeitando os requisitos e sequencia de blocos para sua

obtenção. As estações de pré-edificação transferem os super-blocos para a área de

edificação até que seja construído o navio. Para o levantamento de informações tais como

tempo e pré-requisitos dos processos, foi necessário a escolha de um produto a ser

construído.

13

Figura 5: Fluxograma de processos do modelo

14

2.3. O Navio

Como parte do delineamento geral do problema, selecionou-se um tipo de embarcação e

definiu-se o mapeamento e classificação de seus elementos. Foi selecionado para a

simulação um Navio Gaseiro, ou Liquefied Natural Gas (LNG) Carrier, de 220 000m³, com

319 m de comprimento total, 303 m de comprimento entre perpendiculares. Somente a

parte prismática do navio (5 tanques, 218.95 m de comprimento, 22 000 tons) foi

considerada. A popa e a proa foram omitidas neste primeiro estudo. Outros tipos de navios

podem ser simulados, bastando apenas uma simples alteração de arquivos externos que são

acessados durante a execução do simulador.

A figura 6 mostra a embarcação representada. O objetivo da representação gráfica é

facilitar a visualização e permitir o planejamento para divisão da embarcação em

confecção. Seu corpo paralelo foi considerado dividido em oito anéis, seis destes contendo

anteparas transversais.

Figura 6: Representação da Embarcação

O LNG utilizado corresponde ao utilizado nos estudos realizados por Jean-David Caprace

em "Scantling multi-objective optimisation of a LNG carrier" e "Least Construction Cost of

FSO Offshore Structures and LNG Gas Carriers" . Em seus trabalhos houve a modelagem,

realizada no LABSEN, das seções de meia-nau e anteparas do LNG no software LBR-5.

Duas seções foram importadas do programa MARS2000 (software de verificação de

escantilhão baseado nas normas Bureau Veritas). A seção da embarcação pôde ser

caracterizada pelo seu casco duplo, 50 metros de boca, 36 metros de pontal e 40,5 m de

15

comprimento. A figura 8 (b) mostra a seção a meia-nau do modelo e a figura 8 (c) mostra o

cofferdan. Com base na simetria da estrutura, apenas metade da estrutura foi modelada.

A malha estrutural do modelo é mostrada na figura 7 (a), sendo composta de 41 painéis

reforçados (figura 7 (b)).

Figura 7: Malha Estrutural do LNG

16

Figura 8: Seções de meia-nau e Delineamento do LNG

17

2.3.1. Divisão de Blocos e Super-Blocos

A estratégia de divisão desenvolvida para a simulação considera 800 tons de capacidade de

içamento máximo pelo pórtico do estaleiro. O navio é, para tanto, dividido em 70 super-

blocos, e 174 blocos para o uso da estratégia de 800 tons, conforme demonstrada a figura 9

(Caprace, 2011).

No processo de fabricação, alguns recursos têm uma elevada taxa de utilização e uma

grande influência sobre todo o processo como, por exemplo, os recursos de transporte,

como o pórtico ou os carros hidráulicos. A estratégia de divisão dos blocos e super-blocos

terá um impacto sobre estes recursos, necessitando uma análise para a verificação de

gargalos no sistema.

Figura 9- Estratégia de Divisão de Blocos e Super-Blocos (Caprace, 2011).

Para a divisão, foi utilizado um módulo de avaliação do orçamento, desenvolvido por

Caprace (2010). O objetivo deste módulo é permitir a definição da quantidade de trabalho

em horas para diferentes processos de trabalho como soldagem, preparação e retrabalho. Os

resultados, gerados para cada bloco e super-bloco, são dados como o comprimento de

solda, a posição de soldagem (plana, vertical, sobrecarga e horizontal), o tipo de solda, o

processo de solda e a espessura da chapa.

18

A modelagem tridimensional auxilia na visualização da divisão (figura 10), permitindo o

levantamento das características mencionadas.

Figura 10: Seção modelada e dividida em grandes blocos

Em resumo, a embarcação foi dividida em 8 anéis, formados por 18 ou 23 superblocos

(correspondentes a anéis sem e com anteparas). Os superblocos foram constituídos de dois

a quatro blocos menores, dependendo da complexidade da região a qual o superbloco

pertence. No total, o navio é constituído de 70 superblocos, ou 174 blocos menores. A

correlação entre anéis, superblocos e blocos, assim como seus pesos e posicionamento

podem ser visualizadas no apêndice I.

Os arquivos externos ao simulador (e acessados por este) contêm as principais

características das peças (Apêndice II). Além dos atributos dos blocos e super-blocos, tais

como suas dimensões, os comprimentos e posições de solda (vertical, horizontal, sobre-

19

cabeça), o tipo de solda, complexidade de montagem, volume, peso e a quantidade de

elementos, os mesmos contém os tempos de processos de montagem, pré-edificação e

edificação já definidos. Para o cálculo, foi utilizado o método analítico, utilizando todas as

informações disponíveis sobre a peça (Caprace, 2011). Entretanto, por motivo de

confidencialidade, os coeficientes usados, provenientes de um estaleiro Europeu, não

puderam ser acessados para publicação.

As sequências de produção dos produtos também foram organizadas nestes arquivos,

podendo ser alterados ou substituídos permitindo a simulação de diferentes planos de

produção, tornando o modelo flexível para qualquer navio, estratégia de divisão e ordem de

produção.

Para o auxílio visual na ordenação da produção, foi realizada a representação gráfica

simplificada do posicionamento dos super-blocos (figura 11).

Figura 11: Representação Esquemática de Posicionamento de Blocos

Com estas informações, os dados de entrada do modelo foram definidos, assim como os

dados necessários para a elaboração de diferentes cenários para estudo de diferentes

estratégias de produção foram levantados.

20

3. Desenvolvimento do Modelo de Simulação

O modelo de simulação do projeto foi desenvolvido utilizando ferramentas próprias do

simulador QUEST, cuja interface manual simples permite a fácil criação e modificação de

elementos. Contudo, para a utilização de funções avançadas, a programação de lógicas mais

complexas é necessária, sendo desenvolvidas rotinas computacionais para melhor

representar o comportamento do sistema, aplicando o conhecimento na linguagem

computacional SCL (Simulation Control Language).

Para uma maior flexibilidade, prevendo possíveis alterações no chão da fábrica tais como

posicionamento ou quantidade de máquinas, permitindo assim a realização de testes de

ampliação de áreas de produção que facilitariam a tomada de decisões sobre o arranjo físico

geral do estaleiro e o fluxo de materiais, optou-se pelo desenvolvimento de todo o modelo

em linguagem computacional. Desta forma, as alterações como as exemplificadas podem

ocorrer com uma simples mudança de variáveis.

O arquivo principal do código possui, ao todo, 2025 linhas, sendo ainda necessários

diversos outros arquivos com a definição de rotinas e procedures com trechos de códigos

frequentemente utilizados pelo programa. Estima-se que, ao todo, foi necessária a criação

de mais de 5000 linhas de código computacional. Há ainda os arquivos externos que

possuem as características dos produtos fabricados (Apêndice II).

Sendo assim, é possível a montagem do modelo de simulação do estaleiro (figura 12) com

apenas um clique.

O código escrito em linguagem SCL é executado no início da simulação e verifica a lista de

tipos de blocos existentes, as propriedades de cada tipo de bloco, as propriedades de cada

super-bloco, a lista dos blocos que compõem cada super-bloco, a sequencia de blocos a

serem produzidos pelas estações de montagem, entre outros. O usuário deve fornecer a

programação de blocos baseada na necessidade da edificação.

21

Figura 12 - Modelo de Simulação

3.1. Pátio de Aço

A entrada de peças (inputs) para o pátio de aço se dá a partir de um elemento chamado

“fonte” (figura 13) que fornece as chapas de aço - necessárias para a confecção de

conjuntos de peças e componentes de cada bloco do navio. A taxa de fornecimento das

chapas foi definida pensando-se na chegada de um carregamento semanal, e com

quantidade de peças estimada de acordo com a capacidade de processamento anual de um

estaleiro semelhante ao modelado. Para essa capacidade, foi estimado o valor de 70000

toneladas por ano.

Figura 13: Fonte de Chapas

22

A fonte de peças é conectada de forma direta ao pátio de aço (figura 14), que é constituído

por três linhas de armazenagem, cada uma contendo um pórtico independente. O pórtico é

responsável pelo input e output de chapas na linha.

Cada linha é subdividida em áreas destinadas ao empilhamento de chapas. O número dessas

áreas depende das dimensões da própria linha e das chapas recebidas. Desta forma, o

modelo cria quantas áreas de armazenagem e empilhamento forem possíveis, considerando

o espaço disponível para armazenagem e dimensões do produto armazenado.

A chapa entregue será endereçada a linha e a área com menor número de elementos

abrigados. Para o comando de remoção de chapas, foi criada uma peça dummy. Quando

esta peça encontra-se em qualquer uma das linhas de armazenagem, o pórtico entende que é

necessária a retirada de uma chapa de aço. Se este estiver realizando algum transporte, o

mesmo realizará a remoção da chapa uma vez que tiver concluído sua atividade pendente.

A lógica implementada para a requisição de chapas de aço comunica a remoção da chapa

na linha que possui maior numero de elementos abrigados.

O transporte das chapas para a área de montagem ocorre pelo uso de uma esteira rolante.

Esta não possui restrição de capacidade de transporte de chapas, e sua velocidade foi obtida

de fabricantes.

Figura 14: Pátio de Aço

23

3.2. Montagem de Blocos

A sequência de montagem de blocos é onde se tem início a sequencia de produção do

estaleiro. Segundo Lamb (1994), a estratégia de edificação incorpora e comunica todo o

planejamento da produção para uma embarcação específica, série de contratos ou estaleiro

específico, ou seja, a consideração de uma estratégia de edificação é responsável pela

definição de uma sequencia de produção. Portanto, a sequência de montagem abordada

nesta etapa será diretamente afetada pela sequência de edificação, sendo alterada em cada

cenário desenvolvido, com intuito por simular cada estratégia de edificação.

Para o processo de montagem de blocos há a solicitação de um numero de chapas de aço

equivalente ao peso do bloco a ser construído, considerando uma perda de 5% no peso do

aço devido a desperdícios. O tempo do processo de montagem de cada bloco pôde ser

obtido pela consulta a um estaleiro em funcionamento.

Para a criação de blocos, foi criada uma fonte, capaz de criar blocos definidos no arquivo

externo, respeitando a sequencia e o tempo de operação descrito neste arquivo.

Para simular o efeito que a falta de chapas causaria na montagem, foi criada uma máquina

capaz de balancear a quantidade de chapas de aço disponíveis para a montagem e a

liberação do bloco montado para prosseguir para as seguintes etapas de construção. O

cálculo de peso de aço necessário para a obtenção do bloco é realizado e, caso haja

equivalência em peso de aço disponível em chapas, o bloco é liberado e as chapas de aço

são dirigidas a um dissipador (sink), eliminando do sistema as chapas já utilizadas.

Caso não haja número suficiente de chapas para a fabricação do bloco, haverá um atraso na

produção da estação de montagem, como exemplificado na figura 15.

24

Figura 15- Área de Montagem: Acúmulo de Blocos devido a falta de Chapas de Aço

O transporte dos blocos para a próxima etapa ocorre por meio de um carro hidráulico

(figura 16). Sua capacidade de carga é de apenas um bloco e sua velocidade foi obtida por

fabricantes de equipamentos. Como a movimentação de blocos depende da disponibilidade

deste elemento, o mesmo pode atrasar a produção. Portanto, houve a necessidade de

garantir que o mesmo não criaria um gargalo para o modelo.

Figura 16- Carro hidráulico realizando o carregamento de Bloco

25

3.3. Pintura e Jateamento

O bloco é, através do carro hidráulico, destinado a dois grupos de máquinas: Blasting

(jateamento) e Painting (Pintura). O grupo de jateamento é composto por duas máquinas,

enquanto o de pintura é composto por quatro (figura17). O sequenciamento de atividades

obriga o bloco a passar primeiramente no grupo de blasting, e posteriormente no grupo de

painting. O mesmo carro hidráulico faz a transferência de um grupo para o outro.

Figura 17- Cabines de Pintura e Jateamento

A lógica do modelo garante que o bloco será destinado a qualquer máquina livre que

componha o grupo ao qual o bloco está destinado.

Para o tempo de processos, as máquinas utilizam-se de uma lógica que garante a leitura de

arquivos externos, detentores das características do bloco (Apêndice II). Duas formas de

cálculo de tempo de processos foram programadas: por peso ou por área. Para o estudo

realizado, escolheu-se a utilização da lógica por peso.

As variáveis necessárias para o tempo de processo foram: o peso do bloco (em toneladas), o

número de trabalhadores na estação de trabalho e operacionalidade de cada trabalhador:

quantas toneladas de blocos têm seus procedimentos realizados por hora. Com informações

cedidas por estaleiro europeu em funcionamento, estimou-se apenas um operário por

26

máquina, capaz de realizar os processos em 0.2 ton/h. Assim, a máquina é capaz de calcular

o tempo de processo em cada bloco.

Para a criação de um modelo estocástico, é necessária a inclusão de uma variação no tempo

de processos. Neste sentido, o procedimento a ser seguido usualmente envolve o

levantamento de dados cedidos por sistemas semelhantes em funcionamento, com os quais

é realizado um teste de aderência de métodos de distribuição, podendo ser citadas, por

exemplo, as distribuições normal, triangular e uniforme. Para o modelo desenvolvido, foi

arbitrada a distribuição normal, com a média definida como o valor do tempo de processo,

e desvio padrão estimado em 5% da média do tempo de processo (Caprace, 2011). Segundo

Caprace, tais estimativas foram utilizadas seguindo recomendações e experiência de

gerentes de produção provenientes de estaleiro Europeu, não havendo medição real. Assim,

este valor deve ser considerado como uma aproximação necessária para o desenvolvimento

do modelo e utilizada devido à falta de outros dados disponíveis para estudo, tais como

tempo máximo e mínimo da operação, entre outros que poderiam ser utilizados.

3.4. Pré-edificação

A zona de pré-edificação é responsável por montar qualquer tipo de super-bloco de

qualquer tipo de navio. O bloco trazido novamente pelo carro hidráulico é descarregado

através do pórtico presente nesta estação (figura 18). A movimentação de peças depende da

disponibilidade do pórtico, que possui a função de, além descarregar os blocos que são

trazidos, apoiar as operações de pré-edificação e edificação. É necessário garantir que o uso

de um único pórtico não vá gerar um gargalo para o estaleiro. Sendo assim, foi necessária a

análise do nível de utilização deste pórtico (apresentada no tópico “Análise de

Resultados”).

Um vez descarregado o bloco, a estação de pré-edificação dá início imediato a montagem

do super-bloco correspondente. Para dar sequencia ao processo, a estação deve receber os

demais blocos responsáveis por compor o super-bloco. A sequencia de blocos para a pré-

edificação (montagem do super-bloco) deve ser respeitada. A estação é capaz de receber e

iniciar os procedimentos em até doze super-blocos simultaneamente.

27

Figura 18 - Área de Pré-Edificação de Blocos

A pré-edificação de blocos é composta pelos processos de preparação, soldagem e

retrabalho, cujos tempos para a conclusão são obtidos de arquivos externos. Para a

obtenção dos tempos de processo, foi necessária a utilização das características dos blocos

empregados, sendo empregado o método analítico dependente dos atributos das peças

(contidos nos arquivos externos e acessados pelo modelo (Apêndice II)), tais como:

dimensões e localização do bloco, o sentido da solda (transversal, horizontal ou vertical),

tipo de solda, comprimento e sequencia das soldas. Todas estas informações foram

utilizadas, para a obtenção do tempo de processo, no entanto, por questões de

confidencialidade, estes coeficientes não puderam ser acessados, provindo de um estaleiro

Europeu. A variável "número de operários" também foi inclusa, sendo utilizado 2

funcionários por processo.

Para a programação do processo, além do cálculo do tempo, foi necessária a programação

das peças necessárias para cada processo ocorrer. A lógica garante a criação de um

processo diferente para cada preparação, soldagem e retrabalho realizados, cada um com

28

seu tempo e pré-requisito de blocos necessários para o início do processo. Cada par de

blocos a serem unidos motivou a criação destes três processos. Ao todo 454 processos

foram criados.

Novamente foi arbitrada a distribuição normal, com normal definida com o tempo do

processo e desvio padrão de 5% da média do tempo do processo.

Uma vez que o super-bloco esteja concluído, ele pode ser movido para a área de edificação

pelo pórtico; o equipamento de transferência dos super-blocos normalmente restringe o

peso desses produtos.

3.5. Edificação

Vale lembrar novamente que a estratégia de edificação define o planejamento da produção,

comunicando todo o sequenciamento da produção para as outras etapas de construção. É,

portanto, nesta etapa que definiremos a estratégia de edificação, através da definição da

sequência de edificação, responsável por definir o sequenciamento da montagem, pré-

edificação e edificação de blocos. Este sequenciamento será alterado em cada cenário

desenvolvido, com intuito de simular as diferentes estratégias de edificação.

A edificação de super-blocos ocorre dentro do dique seco (figura 19) e, de forma

semelhante a pré-edificação, é formada pelos processos de preparação, soldagem e

retrabalho, sendo o tempo de cada processo calculado em função das propriedades de cada

produto trabalhado (super-blocos) contidas em arquivos externos ao modelo (Apêndice II).

A sequência dos processos de preparação, soldagem e retrabalho é repetida para cada

junção de super-blocos. Através de 508 processos programados, são definidos os super-

blocos necessários para o início de cada processo.

Os super-blocos que tiveram seus processos de pré-edificação concluídos são

imediatamente transportados para a área de edificação. Entretanto, com o uso de diferentes

sequencias de produção (necessária para a análise de diferentes estratégias de edificação),

um determinado super-bloco pode ser concluído antes de seu antecessor, necessário para

sua correta alocação. Neste caso, o super-bloco será alocado em sua área de destino, mesmo

29

sem o bloco anterior; no entanto, os processos neste bloco só terão início quando o bloco

antecessor chegar à área de edificação.

Figura 19 - Área de Edificação

No início da simulação é executado um procedimento que acessa todos os arquivos

externos (Apêndice II) e armazena as informações necessárias à produção, isto é, os dados

para a criação dos processos; seus tempos, pré-requisitos, componentes dos produtos e a

programação da produção. Esse artifício evita o acesso constante desses arquivos, o que

tornaria lenta a execução do modelo. A ordem de edificação dos super-blocos também deve

ser informada antes da execução do modelo.

3.6. Verificação e Validação do Modelo

Segundo Balci (2003), a verificação é a garantia de que o modelo possui o funcionamento

lógico adequado e a validação é a garantia de que o modelo atende aos objetivos da análise.

30

Para a verificação do modelo, utilizaram-se os depuradores de erro e ferramentas contidas

no próprio simulador. A lógica verificada pode ser compilada com sucesso e o modelo foi

capaz de cumprir a lógica inserida. A animação criada pelo simulador também pôde ser

usada como forma de verificação; ao criar uma sequencia de produção para o teste dos

processos efetuados pelo modelo, verificou-se que todas as etapas de construção simuladas

pelo estaleiro apresentaram características condizentes com a realidade, mantendo-se dentro

da lógica programada. Como a revisão de profissionais experientes em simulação também

pode contribuir para a verificação, o modelo contou com a colaboração e revisão

profissionais na área, cujas experiências anteriores contêm a formulação de simuladores de

construção naval. Em análise de razoabilidade do modelo, nenhuma discrepância foi

apontada, dentro das hipóteses e considerações realizadas.

Para a validação do modelo, é necessário observar se os resultados gerados são

característicos do comportamento do sistema real, e se são confiáveis. Caso os resultados

difiram demasiadamente do sistema real, uma calibragem pode ser necessária no modelo.

Uma dificuldade encontrada nesta etapa se deu pela indisponibilidade de dados para a

comparação de resultados. A falta de confiabilidade em alguns dados de entrada, e

impossibilidade de comparação dos dados obtidos com algum sistema real restringiu a

validação de alguns dos resultados a serem obtidos. Após a comparação, a ser realizada em

trabalho futuro, uma nova calibragem pode ser necessária, corrigindo o tempo de processos,

assim como, talvez, sua forma de distribuição. Recomenda-se que, com dados precisos, seja

realizado um teste de aderência para verificação da melhor forma de distribuição a ser

adotada.

3.6.1. Número de Replicações

Os experimentos necessários para o estudo demandaram considerável volume de tempo

de análise e processamento computacional devido ao grande número de peças produzidas e

trabalhadas pelo modelo. Para reduzir esse tempo, especialistas pesquisam diferentes

técnicas que podem ser aplicadas dependendo do tipo de sistema. Segundo Shannon (1992),

um sistema dito terminativo possui eventos que cessam em algum ponto do tempo. Nesses

sistemas, normalmente são estudados períodos particulares.

31

Em seu estudo, Shannon (1998) afirma que, para que se possa alcançar a precisão

estatística sobre os resultados desejados, é importante que seja feito um estudo aprofundado

das características do sistema. Essas características poderão indicar o período que deve ser

simulado, o número de execuções (replicações), e a necessidade de remoção de tempos

onde o sistema apresenta comportamento transitório.

Sabemos que, para modelos estocásticos, quanto mais dados obtivermos maior será a

confiabilidade dos resultados. Entretanto, devido ao grande tempo tomado por simulação,

foi necessário o estudo para determinar o melhor número de replicações.

Sendo assim, com a primeira sequencia de produção já definida para a validação do

modelo, foi determinado o primeiro cenário a ser estudado. Com ele, foi realizado um teste

com um número arbitrado de execuções. Cada rodada foi interrompida após a construção da

embarcação. Foi definido ainda um tempo de aquecimento (“warm up”) para o sistema

permitindo a tomada das estatísticas no momento onde o sistema atingiu seu ritmo padrão

de produção. O resultado encontra-se na figura 20.

Figura 20: Estudo para determinação de Número de replicações

Podemos observar que, para 50 replicações, o tempo final do processo apresenta

pequena variação de média acumulada. Como este número de replicações foi considerado

viável para o tempo e capacidade de processamento computacional demandado, foi

escolhido 50 replicações para o estudo de cada cenário.

32

3.6.2. Aleatoriedade

Como forma de teste no modelo, foi verificada, em etapa anterior, a aleatoriedade deste.

Foi removida toda e qualquer distribuição estocástica, sendo utilizada apenas a forma

determinística para os processos empregados. Além de verificar a influência da variação do

tempo de cada processo sobre o tempo total do sistema, buscou-se, com isto, a validação do

modelo: Considerando o efeito não aleatório, o valor de tempo obtido para a conclusão dos

processos simulados deve ser coerente com o tempo esperado de construção total da

embarcação real, adquirido de um sistema semelhante em funcionamento, ou seja, o

estaleiro Europeu.

O resultado do modelo determinístico encontra-se na figura 21.

Figura 21- Modelo Determinístico

O tempo obtido do modelo determinístico nas 50 replicações foi constante,

aproximando-se do o tempo de construção total do navio real. Sendo assim, o tempo obtido

foi considerado coerente e o modelo considerado calibrado dentro das hipóteses

consideradas para este projeto.

Inserindo novamente as distribuições normais utilizadas nos processos, podemos

verificar a influência que estas têm no tempo final do modelo. O resultado obtido encontra-

se na figura 22.

33

Figura 22- Modelo Estocástico

Verificamos que as distribuições normais (com desvio padrão estabelecido em 5% de

sua normal) detém certa influência sobre o tempo final, fazendo-o variar aproximadamente

1%.

3.6.3. Utilização dos Transportes

Além do tempo total de construção, como saída do modelo podem ser geradas as taxas

de utilização de recursos como transportes, para verificar se estes apresentam gargalos para

o simulador.

Carro Hidráulico

Como dito anteriormente, o carro hidráulico é responsável por grande parte do transporte de

blocos no estaleiro. Como este só tem capacidade de carga para um bloco, é necessário

garantir que o mesmo não criará um gargalo para a produção. Uma ferramenta simples do

QUEST é capaz de gerar as informações sobre utilização do Carro Hidráulico ao longo do

modelo, como mostra a figura 23.

34

Figura 23- Utilização do Carro Hidráulico

Como observado, o carro hidráulico é utilizado em apenas 17.5% do tempo de simulação,

ficando ocioso na maior parte do tempo. Mesmo em seu período de maior utilização, o

mesmo não representa gargalo.

Pórtico de Pré-edificação e Edificação

Assim como o carro hidráulico, é necessário realizar um estudo quanto a utilização do

pórtico, pois o mesmo é o único responsável pelo apoio logístico das operações de pré-

edificação e edificação. Novamente, o QUEST é capaz de levantar os dados de utilização

do pórtico, exibidos na figura 24.

35

Figura 24- Utilização do Pórtico

De forma semelhante ao carro hidráulico, o pórtico não apresentou gargalo, sendo utilizado

apenas em aproximadamente 5% do tempo de execução do modelo.

Considerando o tempo total de simulação, os equipamentos de transporte são pouco

utilizados. Com intuito de verificar se, nos períodos de picos de utilização, haveria

demanda excessiva de blocos a serem transportados, foi feita a verificação visual do

modelo, observando indícios de tal atividade, como a formação de filas ou empilhamento

de blocos. Não sendo encontrado nenhum destes indícios, foi descartada a hipótese de

formação de gargalo devido a estes equipamentos.

36

4. Descrição dos cenários

No planejamento estratégico, os métodos de construção e sequências são definidos,

objetivando a otimização dos planos de produção para certas estações de trabalho. No caso

específico da estação de edificação, a atividade de soldagem de grandes blocos é

usualmente executada diretamente na carreira ou dique. Sabe-se que o ciclo de produção no

berço de construção determina a capacidade de produção do estaleiro. Desta forma, há no

estaleiro competitivo o desejo de otimizar a fase de edificação, aumentando sua produção.

Adicionalmente, a estratégia de edificação incorpora e comunica todo o planejamento da

produção para uma embarcação específica, série de contratos ou estaleiro específico (Lamb,

1994), interferindo nas sequencias de pré-edificação, montagem, e no dimensionamento de

estruturas (peso). A consideração de uma estratégia de edificação é responsável pela

definição de uma sequência de produção. Sendo assim, a sequencia de edificação adotada é

transmitida e altera diretamente também a fase de montagem e pré-edificação de blocos.

A atual etapa do projeto tem por objetivo a criação de diferentes cenários para a

realização de testes de estratégias de edificação, a fim de se obter o menor tempo de

produção possível.

A alteração necessária para a obtenção de diferentes cenários pôde ser realizada com

uma simples mudança na variável "Elements_sequence", contida nos arquivos externos

evidenciados no Apêndice II. Esta variável afeta a sequencia de montagem, e

subsequentemente a sequencia de pré-edificação e edificação, criando as diferentes

estratégias que se deseja simular.

Não foram consideradas variações no peso dos blocos, tendo sido estimados o peso

médio de 165 toneladas. Planeja-se considerar a variação no peso médio em estudo futuro.

Algumas variáveis foram fixadas aos dados de entrada do modelo como o arranjo físico,

as funções que representam os tempos dos processos e a velocidade dos sistemas de

transporte. No presente estudo foram alteradas a sequencia de produção, resultando em uma

37

diferente ordenação na montagem, jateamento e pintura de blocos, pré-edificação e

edificação dos super-blocos.

O primeiro cenário simulado foi desenvolvido para a verificação do modelo. Fixou-se,

inicialmente, uma sequencia de chegada de blocos na área de edificação. Definida esta

sequencia, a sequencia de produção de blocos e superblocos (ou seja, a sequência dos

processos de montagem e pré-edificação) foram obtidas, considerando-se a ordenação

necessária de chegada de blocos para o processo de edificação.

Diferentes sequências de montagem e pintura de blocos foram desenvolvidas em

cenários seguintes, com o intuito de simular os principais métodos e estratégias de

Edificação para Construção Naval.

No segundo cenário, objetivou-se a simulação de edificação pelo método de camadas.

Nele, todo o fundo do navio é edificado, somente depois havendo a verticalização da

embarcação. Em seguida ao fundo, ocorre a edificação de blocos de costado, chegando à

terceira camada, que é formada por blocos de convés (figura 25). Para isso, definiu-se uma

sequencia na montagem de blocos que focasse tal método de edificação.

Figura 25- Edificação por Camadas

O terceiro cenário foi desenvolvido para testar o método de edificação por anéis. Na

edificação em anéis, o navio é construído em seções de fundo, costado e convés (Kim, et.

al., 2002). O cenário 3 segue a ordenação de anéis da ré para a vante da embarcação (figura

26). No cenário quatro, a edificação por anéis inicia-se pela meia-nau, havendo alternância

na edificação de anéis; primeiramente a ré, posteriormente a vante do navio já edificado.

38

Figura 26- Edificação por Anéis

O cenário cinco objetiva a edificação do navio pelo método de pirâmide; posicionando-

se um primeiro bloco do fundo do navio, a construção progride a partir deste bloco inicial,

posicionando-se os blocos mais próximos da quilha e depois os mais altos, como ilustrado

na figura 27.

Figura 27 – Edificação Piramidal

39

Assim, concluem-se as definições dos cenários desenvolvidos para o estudo do

sequenciamento estratégico, sendo resumidos na figura abaixo.

Figura 28 – Cenários Analisados

40

5. Análise dos Resultados

5.1. Tempo de Construção

O modelo foi executado 50 vezes por cenário e, para cada rodada, foi levantado o tempo

total de construção do navio. Foi feita a média aritmética simples para a obtenção da média

de tempo de construção do navio por cenário. O resultado pode ser observado na figura 29.

Figura 29 - Tempo de construção dos navios

No modelo, o maior tempo médio para a construção do navio ocorreu para o cenário II,

sendo de 164.62 dias (ou 5.487 meses). Com a mudança de cenários através da variação de

sequencias de produção, pode-se chegar ao menor tempo de 164.14 dias, ou 5.471 meses.

Observa-se, nesta fase final de coleta de resultado, pequena sensibilidade no modelo para

diferentes estratégias de edificação.

Uma das formas de melhora da modelagem é pela associação de análise de sensibilidade,

autocalibração e calibração manual, avaliando os resultados, comparando-os com dados

produzidos por sistemas reais (Shannon, 1992). A validação pretende responder se os

resultados gerados são característicos do comportamento do sistema real, e se são

41

confiáveis. Entretanto, uma limitação do estudo desenvolvido se refere a indisponibilidade

destes dados, restringindo a validação de alguns resultados obtidos.

Para trabalhos futuros, com dados obtidos de estaleiros reais, pretende-se realizar a

validação de resultados, realizando, se necessária, a calibração do sistema, e repetindo o

experimento.

Outras análises poderiam ser realizadas, resultando em uma variação maior de tempos de

obtenção do produto final, com alterações maiores na característica dos produtos entre

cenários simulados. Uma possibilidade seria a redefinição do tamanho dos blocos menores

que deixam a zona de montagem, aumentando ou reduzindo seu peso médio. Para avaliar

uma nova divisão de blocos seria necessária apenas a alteração dos arquivos externos que

contém as propriedades dos produtos e sequencias de produção (Apêndice II). As

velocidades dos sistemas de movimentação também deveriam ser adequadas ao transporte

de blocos com diferentes pesos.

A pré-edificação do navio em anéis também é possível através do modelo simulado.

Novamente, a alteração dos arquivos contendo as propriedades dos produtos e sequencias

de produção seria necessária, assim como o estudo da movimentação dos anéis deveria ser

realizado, adequando a velocidade e capacidade de içamento do pórtico responsável pelo

transporte entre as áreas de pré-edificação e edificação.

Outra análise que pode ser feita se refere a colocação de acessórios (“outfitting”), podendo

ser realizado na fase de pré-edificação, por exemplo, resultando no aumento do tempo

deste processo, ou na fase de montagem de blocos, permitindo uma redução do tempo de

pré-edificação e edificação. Todavia possíveis riscos de retrabalho devido à deformação de

estruturas sendo essas mais pesadas e maiores devem ser estudados. Cabe ao estaleiro

avaliar os pontos positivos e negativos relacionados às estratégias de construção da melhor

forma possível e utilizando as ferramentas adequadas. A simulação é uma das técnicas que

auxilia esse tipo de tomada de decisões apresentando indicadores de desempenho do

sistema sob diferentes cenários e circunstâncias.

42

6. Conclusões e Sugestões para trabalhos futuros

A simulação demonstrou-se uma ferramenta útil para avaliar problemas de programação

na produção em estaleiros de construção naval. Os resultados finais indicam que conclusões

relevantes podem ser alcançadas e que a ferramenta de simulação pode ser aplicada com

sucesso na construção naval brasileira.

O modelo desenvolvido demonstra o potencial da ferramenta de simulação, tanto em

relação à visualização do produto, como em relação à capacidade de geração de

informações e realização de análises, sendo voltados para estaleiros em fase de projeto e

planejamento que estão definindo seus equipamentos e arranjo físico das estações e áreas

de trabalho.

O estudo revela que a simulação tem como característica o suporte a análise de custo-

benefício sobre a aquisição de equipamentos, e implementação de diferentes estratégias de

construção, fluxo de materiais, entre outros. Além disso, outra vantagem que deve ser

destacada se refere aos modelos que podem ser reaproveitados pelos estaleiros, uma vez

que estes já estejam em funcionamento. Dessa maneira, os modelos servem como

ferramenta de controle das operações e validação de planos de produção.

Os modelos apresentados são flexíveis e permitem a caracterização de diferentes

produtos, recursos e processos a partir da leitura de arquivos externos, que podem ser

facilmente alterados.

Todo o modelo foi desenvolvido através da criação de um extenso código

computacional, bastando um clique no programa para a criação de todo o modelo de

simulação. A alteração de características no estaleiro, como o numero de máquinas e

trabalhadores ou diferentes localização de áreas de processos pode ser feita com a simples

mudança de variáveis do programa desenvolvido.

43

A modelagem das regras operacionais e edição de lógicas computacionais foram as

etapas mais críticas do estudo devido a complexidade de desdobramentos que são

visualizados apenas após a execução do modelo.

Em mercados cada vez mais competitivos a simulação pode ser uma alternativa

importante para a gestão dos estaleiros brasileiros. No setor naval, o uso da simulação como

acelerador do processo de aprendizagem é pouco abordado na literatura técnica, contudo, o

tema apresenta grande potencial de desenvolvimento conhecendo-se as dificuldades com a

capacitação de mão de obra especializada.

Como desenvolvimento futuro, pretende-se criar parcerias maiores entre o laboratório e

estaleiros. Desta forma, a troca de informação entre as partes poderá capacitar a calibração

e validação do modelo desenvolvido e outros que vierem a ser produzidos, através da

comparação com o sistema real.

Adicionalmente, está em estudo uma alternativa para construção de modelos com

representação de grande numero de peças, a fim de agilizar o processo de simulação. A

ampliação do modelo também está em desenvolvimento, integrando etapas como

processamento e tratamento do aço. O acréscimo de uma nova área de trabalho, onde

ocorrerá a fabricação e estocagem do outfitting também está sendo estudada.

44

7. Referências Bibliográficas

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47

8. Apêndices

8.1. Apêndice I

Correlação entre anéis, super-blocos e blocos, além de seus posicionamentos e pesos.

48

49

50

51

8.2. Apêndice II

Arquivos externos cujos acessos permitem a caracterização de diferentes produtos,

recursos e processos, além do sequencia de produção destes produtos.

52