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SIMULAÇÃO DA PERFORMANCE E OTIMIZAÇÃO DA CONFIGURAÇÃO DE UM VEÍCULO HÍBRIDO PROPELIDO A CÉLULA A COMBUSTÍVEL: TOYOTA MIRAI Raphael Kruczan Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Silvio Carlos Aníbal de Almeida Rio de Janeiro Janeiro de 2019

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SIMULAÇÃO DA PERFORMANCE E OTIMIZAÇÃO DA CONFIGURAÇÃO DE

UM VEÍCULO HÍBRIDO PROPELIDO A CÉLULA A COMBUSTÍVEL: TOYOTA

MIRAI

Raphael Kruczan

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Silvio Carlos Aníbal de Almeida

Rio de Janeiro

Janeiro de 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Mecânica Po.,1écn!Ca • COPPE

UFRJ

Departamento de Engenharia Mecânica

D EM/POLI/UFRJ Univl'fsidade t:=eder.1l

do Rio de Janeiro

Escola r'olitêcnica

SIMULAÇÃO DA PERFORMANCE E OTIMIZAÇÃO DA CONFIGURAÇÃO DE

UM VEÍCULO HÍBRIDO PROPELIDO A CÉLULA A COMBUSTÍVEL: TOYOTA

MIRAI

Raphael Kmezan

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Examinado por:

Prof Si]vio Carlos de Aníbal de Almeida, D.Se.

Prof. Daniel Onofre de Almeida Cruz, D. Se.

Prof. Juliana Ba� Loureiro, D.Se.

RIO DE JANEIRO, RJ-BRASIL

JANEIRO DE 2019

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Kruczan, Raphael

Simulação da performance e otimização da configuração

de um veículo híbrido propelido a célula a combustível: Toyota

Mirai/Raphael Kruczan – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola

Politécnica, 2019.

XIII, 91 p.: il.; 29,7 cm

Orientador: Silvio Carlos de Anibal de Almeida

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia Mecânica, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 88 – 91.

1. Veículos elétricos. 2. Célula a combustível. 3. Grau de

Hibridização. I. Almeida, Silvio Carlos Anibal. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia Mecânica. III. Título.

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Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, à minha família. Aos meus pais, Mario e Eva que me apoiaram

incondicionalmente nessa jornada e fizeram todo o esforço para que eu me concentrasse

exclusivamente aos estudos. Agradeço aos meus irmãos, Marcel e Alan, que são engenheiros

exemplares e referências para mim.

Agradeço aos professores da UFRJ com quem tive contato por todos os conhecimentos

compartilhados e pela dedicação ao ensino. Em especial ao Prof. Silvio Carlos pelos vastos

ensinamentos e pelo apoio como orientador deste projeto.

Agradeço aos meus diversos amigos que tornaram a minha jornada na graduação mais agradável

e os quais espero levar ao longo da minha vida. Em especial, Pedro Hawk, Felipe Vieira, Maria

Eduarda, Bruno Pitta, Maria Kovashikawa, Victor Ferreira, Sofia Euthymiou, Raphael Machado e

Pedro Henrique Cardoso que sempre me deram forças nos anos de graduação.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

SIMULAÇÃO DA PERFORMANCE E OTIMIZAÇÃO DA CONFIGURAÇÃO DE UM

VEÍCULO HÍBRIDO PROPELIDO A CÉLULA A COMBUSTÍVEL: TOYOTA MIRAI

Raphael Kruczan

Janeiro/2019

Orientador: Silvio Carlos de Anibal de Almeida

Curso: Engenharia Mecânica

O objetivo deste trabalho foi simular a performance de um veículo híbrido propelido a célula a

combustível. O veículo estudado foi o Toyota Mirai 2016/2017 e a simulação foi feita através

ferramenta computacional Advisor.

Numa primeira fase, os resultados da simulação foram comparados com os resultados disponíveis

pelo fabricante e pelas agências reguladoras. Os resultados obtidos (consumo de combustível,

tempo de aceleração, velocidade máxima) na simulação apresentaram desvios mínimos com

relação aos dados experimentais. Posteriormente, foram feitas alterações na configuração original

de forma a melhorar a sua performance e diminuir os custos de fabricação.

Dessa forma, foi estudado o impacto da variação do grau de hibridização na performance do

Toyota Mirai. Os resultados dessas simulações mostraram que é possível se obter uma diminuição

do consumo de combustível e reduções no tempo de aceleração devido ao aumento do grau de

hibridização do veículo.

Outro estudo realizado foi a alteração da bateria padrão do Toyota Mirai, de NiMH, para uma de

Li-ion, que são as baterias mais utilizadas nos novos veículos elétricos. Novamente, os resultados

das simulações apontaram ganhos de performance.

Por fim, foi realizada a análise econômica para avaliar os custos de produção, venda e operação

do veículo, tendo em vista as diferentes propostas apresentadas. Os resultados mostraram

expressiva redução de custos de produção combinada à diminuição das despesas com combustível,

se realizado o aumento do grau de hibridização proposto. Os resultados da alteração da bateria

para Li-ion também exibiram redução líquida de custos totais ao consumidor.

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Abstract of Undergraduate Project presented to DEM/UFRJ as a partial fulfilment of the

requirements to obtain the degree of Mechanical Engineer.

SIMULATION OF PERFORMANCE AND CONFIGURATION OPTIMIZATION TO A

HYBRID VEHICLE PROPELLED TO FUEL CELL: TOYOTA MIRAI MIRAI

Raphael Kruczan

January/2019

Advisor: Silvio Carlos de Anibal de Almeida

Course: Mechanical Engineering

The aim of this work was to simulate a hybrid vehicle propelled to fuel cell. The studied vehicle

was the Toyota Mirai 2016/2017 and the simulation was ran by the computional tool Advisor.

In the first phase, the simulation results were compared to the available results from the

manufacturer and the regulatory agencies. The simulation results (fuel consumption, acceleration

time and maximum speed) presented minimum deviations in relation to the experimental data.

Subsequently, changes were proposed to the original configuration in order to improve vehicles

performance and reduce its production costs.

Therefore, the impact of hybridization degree variation to Toyota Mirai performance was studied.

The simulation results showed that it is possible to achieve a decrease in fuel consumption and a

reduction in the acceleration time due to an increase in vehicle hybridization degree.

Another study was the replacement of the Toyota Mirai standard NiMH battery to Li-ion which

are most common batteries on new electric vehicles. Again, the simulation results pointed to

performance gains.

Finally, an economic analysis was developed to evaluate vehicles production, sales and operational

costs through the different proposals. The results have shown expressive production cost reduction

combined with fewer fuel expenses through the increase in the hybridization degree. The results

of the battery replacement to Li-ion also presented net reductions in total costs to consumers.

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Sumário

Lista de Figuras .............................................................................................................................. ix

Lista de Tabelas ............................................................................................................................. xi

Lista de Abreviaturas e Siglas....................................................................................................... xii

Lista de Símbolos ......................................................................................................................... xiii

1. Introdução ............................................................................................................................... 1

1.1. Objetivo ............................................................................................................................ 1

1.2. Metodologia ..................................................................................................................... 1

2. Conceitos fundamentais .......................................................................................................... 3

2.1. Veículos elétricos ............................................................................................................. 3

2.2. Veículos elétricos híbridos com célula a combustível (FCHEV) .................................... 4

2.3. Célula a combustível ........................................................................................................ 5

2.3.1. Tipos de células a combustível ................................................................................. 7

2.3.2. Operação da célula a combustível em FCHEVs ....................................................... 7

2.4. Baterias veiculares............................................................................................................ 9

2.4.1. Conceitos básicos .................................................................................................... 11

2.4.2. Tipos de baterias para veículos elétricos ................................................................ 13

2.5. Ciclos de condução......................................................................................................... 16

2.5.1. Ciclo UDDS ............................................................................................................ 17

2.5.2. Ciclo HWFET ......................................................................................................... 18

2.5.3. Ciclo Combinado .................................................................................................... 19

2.6. FASTSim ........................................................................................................................ 19

2.7. Advisor ........................................................................................................................... 20

2.7.1. Introdução ............................................................................................................... 20

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2.7.2. Interface .................................................................................................................. 20

3. Estudos de caso: Toyota Mirai .............................................................................................. 26

3.1. Descrição ........................................................................................................................ 26

3.2. Dados de entrada da simulação ...................................................................................... 29

3.2.1. Bateria ..................................................................................................................... 29

3.2.2. Célula a combustível ............................................................................................... 31

3.2.3. Estratégias de controle ............................................................................................ 31

3.2.4. Peso da carroceria ................................................................................................... 33

3.3. Resultados de validação ................................................................................................. 37

4. Proposta de novas configurações veiculares ......................................................................... 49

4.1. Estudo de hibridização ................................................................................................... 49

4.1.1. Limites de hibridização ........................................................................................... 50

4.1.2. Avaliação de performance ...................................................................................... 55

4.2. Estudo de alteração de bateria ........................................................................................ 64

5. Análise Econômica ............................................................................................................... 72

5.1. Condições de operação e vida útil .................................................................................. 72

5.2. Custos ............................................................................................................................. 74

5.3. Preço de mercado ........................................................................................................... 77

5.4. Influências do grau de hibridização ............................................................................... 79

5.5. Tipos de baterias............................................................................................................. 83

6. Conclusões ............................................................................................................................ 86

7. Bibliografia .......................................................................................................................... 88

Apêndice A – Dimensões e disposição do banco de baterias do Toyota Mirai ............................ 92

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ix

Lista de Figuras

Figura 2.1. Diagrama com fluxos de energia de um FCHEV [1]. .................................................. 5

Figura 2.2: Estrutura básica de uma célula a combustível [2] ........................................................ 6

Figura 2.3: Esquema para controle de operação da célula a combustível de um FCHEV. [1] ....... 8

Figura 2.4: Células, módulos e packs de baterias [6] ..................................................................... 9

Figura 2.5: Ilustração da célula eletroquímica [7] ........................................................................ 10

Figura 2.6: Curvas Ragone [15] .................................................................................................... 15

Figura 2.7: Ciclo UDDS [16] ........................................................................................................ 17

Figura 2.8: Ciclo FTP-75 [16] ...................................................................................................... 18

Figura 2.9: Ciclo HWFET [16] ..................................................................................................... 18

Figura 2.10: Interface inicial do Advisor ...................................................................................... 21

Figura 2.11. Segunda tela de interface do Advisor ....................................................................... 22

Figura 2.12. Tela de configuração do teste de aceleração no Advisor ......................................... 23

Figura 2.13. Tela de configuração do teste de capacidade de subida em rampa no Advisor ....... 24

Figura 2.14. Tela de resultados do Advisor .................................................................................. 25

Figura 3.1. Comparação entre potência máxima do banco de baterias, estipulada pelo Advisor, para

entradas de 6,5 e 18 Ah, respectivamente. .................................................................................... 30

Figura 3.2. Curva de eficiência da célula a combustível do modelo. ........................................... 32

Figura 3.3. Consumo de combustível em função da Potência de operação célula a combustível. 32

Figura 3.4. Interface do Advisor para as entradas do veículo. ...................................................... 35

Figura 3.5. Tela do Advisor para definição de condições iniciais de operação. ........................... 36

Figura 3.6. Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 1 ciclo HWFET. .......................... 38

Figura 3.7. Potência disponível (W) para o motor elétrico na simulação de 1 ciclo HWFET. .... 39

Figura 3.8. Funcionamento da célula combustível simulada em 1 ciclo HWFET. ...................... 40

Figura 3.9. Potência fornecida pela bateria (W) em 1 ciclo HWFET. .......................................... 41

Figura 3.10. Consumo de H2 em litros. ......................................................................................... 42

Figura 3.11. Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 1 ciclo UDDS. ........................... 43

Figura 3.12. Potência disponível (W) para o motor elétrico na simulação de 1 ciclo UDDS. ..... 44

Figura 3.13. Funcionamento da célula a combustível e da bateria simuladas em 1 ciclo UDDS. 45

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Figura 3.14: Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 30 ciclos HWFET. ..................... 46

Figura 3.15: Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 30 ciclos UDDS. ........................ 46

Figura 4.1. Aba do Advisor para teste de capacidade de subida em rampa. ................................. 52

Figura 4.2. Resultados para os testes de aceleração e capacidade de subida em rampa. .............. 54

Figura 4.3 Telas de saídas do Advisor para simulações de diferentes graus de hibridização diante

de 30 ciclos HWFET. .................................................................................................................... 58

Figura 4.4 Telas de saídas do Advisor para simulações de diferentes graus de hibridização diante

de 30 ciclos UDDS........................................................................................................................ 61

Figura 4.5. Curva de eficiência da célula a combustível para diferentes simulações. .................. 62

Figura 4.6. Telas de saída do Advisor para a simulação do Toyota Mirai com alteração para a

bateria de Li-ion. ........................................................................................................................... 65

Figura 4.7. Resultados do Advisor para eficiência dos tipos de bateria simulados. ..................... 66

Figura 4.8. Telas de saída do Advisor para a simulação do Toyota Mirai com grau de hibridização

de 70,0% e alteração para a bateria de Li-ion. .............................................................................. 68

Figura 4.9 Consumo de energia pela célula a combustível em kWh para diferentes configurações

veiculares. ..................................................................................................................................... 70

Figura 4.10. Tempo de aceleração de 0-60 mph em função do grau de hibridização e do tipo de

bateria. ........................................................................................................................................... 71

Figura 5.1. Decomposição do preço sugerido de venda por componente (%). ............................ 78

Figura 5.2. Estimativas de custos discriminados por componentes do Toyota Mirai. .................. 81

Figura 5.3. Custos resumidos do Toyota Mirai ao consumidor. ................................................... 82

Figura 5.4. Comparativo de custos para diferentes configurações de bateria e graus de hibridização.

....................................................................................................................................................... 84

Figura 5.5 Preço estimado de venda somado às despesas com combustível a valor presente em

função do grau de hibridização. .................................................................................................... 85

Figura A.1. Vista de topo do Toyota Mirai [29] ........................................................................... 93

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Lista de Tabelas

Tabela 2.1 Tipos de baterias utilizadas em amostra de veículos elétricos. ................................... 14

Tabela 3.1: Dados do Toyota Mirai. ............................................................................................. 27

Tabela 3.2. Configurações de entradas da bateria no Advisor ...................................................... 29

Tabela 3.3. Configurações de entradas modificadas da bateria no Advisor ................................. 30

Tabela 3.4. Entradas da simulação do Toyota Mirai no Advisor. ................................................. 34

Tabela 3.5. Condições iniciais de operação. ................................................................................. 36

Tabela 3.6. Dados de performance do Mirai disponibilizado pela Toyota ................................... 47

Tabela 3.7. Validação da simulação do Toyota Mirai. ................................................................. 48

Tabela 4.1. Dados de Entrada das simulações de grau de hibridização do Toyota Mirai. ........... 53

Tabela 4.2. Resultados dos testes de aceleração e capacidade de subida em rampa. ................... 55

Tabela 4.3. Resultados de performance das simulações de hibridização do Toyota Mirai. ......... 63

Tabela 4.4. Comparativo das simulações do Toyota Mirai para diferentes HDs e tipos de bateria.

....................................................................................................................................................... 69

Tabela 5.1. Hipóteses de condições de operação e vida útil adotadas .......................................... 74

Tabela 5.2. Hipóteses de custos .................................................................................................... 76

Tabela 5.3. Elaboração do preço sugerido de venda do Mirai a partir das hipóteses definidas. .. 77

Tabela 5.4. Elaboração de custos do Mirai ao consumidor final .................................................. 79

Tabela 5.5. Elaboração de custos do Toyota Mirai para diferentes graus de hibridização ........... 80

Tabela 5.6. Elaboração de custos do Mirai para diferentes configurações de bateria e graus de

hibridização. .................................................................................................................................. 83

Tabela A.1. Dimensões do módulo de bateria do Toyota Mirai ................................................... 92

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Lista de Abreviaturas e Siglas

Advisor ADvanced VehIcle SimulatOR

AFC Alkaline Fuel Cell

BEV Battery Electric Vehicle

DMFC Direct Methanol Fuel Cell

DOE Department of Energy

EPA Environmental Protection Agency

FASTSim Future Automotive Systems Technology Simulator

FCHEV Fuel Cell Hybrid Electric Vehicles

FCS Fuel Cell System

FTP Federal Test Procedure

GGE Galão de gasolina equivalente

HD Grau de Hibridização

HWFET Highway Fuel Economy Driving Schedule

Le Litros equivalente de gasolina

Li-ion Bateria de íon lítio

MCFC Molten Carbonate Fuel Cell

MPGe Milhas por galão equivalente de gasolina

NiMH Bateria de níquel hidreto metálico

NREL National Renewable Energy Laborator

SOFC Solid Oxide Fuel Cell

PAFC Phosphoric Acid Fuel Cell

PEM Proton Exchange Membrane Fuel Cell

PEMFC Proton Exchange Membrane Fuel Cell

PEVE Primearth EV Energy

PNGV Partnership for a New Generation of Vehicles

SOC Estado de carga da bateria

UDDS Urban Dynamometer Driving Schedule

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Lista de Símbolos

C Capacidade

d Taxa de desconto

Dm Distância média percorrida na vida média do veículo em milhas

D(t) Distância média percorrida no mês t em milhas

I Corrente

Mbateria Massa da bateria

MPGe𝐻𝑊𝐹𝐸𝑇 Consumo de combustível ciclo HWFET em MPGe

MPGe𝑈𝐷𝐷𝑆 Consumo de combustível ciclo UDDS em MPGe

MPGe𝑐𝑜𝑚𝑏 Consumo de combustível ciclo combinado em MPGe

N Número de anos no futuro

Pess,max Potência máxima do sistema de armazenamento de energia (bateria)

Pfcs,max Potência máxima da célula a combustível

Pm Potência específica mássica

Q Carga útil da bateria

Rano Redução da distância percorrida por ano em milhas

t Número de meses desde a compra do veículo

tútil Vida útil do veículo em anos

V Tensão

VF Valor futuro

VP Valor presente

Wm Energia específica mássica

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1. Introdução

1.1. Objetivo

Em um cenário em que a percepção pública e as novas regulações ambientais demandam a redução

da emissão de poluentes nas atividades humanas, novas alternativas aos veículos de motores a

combustão interna, os quais utilizam combustíveis fósseis, vem ganhando destaque. Nesse sentido,

o FCHEV se apresenta como uma alternativa de grande potencial para esse mercado futuro de

veículos devido às suas características de emissão zero de poluentes durante a direção, elevada

autonomia e ao abastecimento rápido do tanque de combustível.

No entanto, os FCHEVs ainda não têm alta penetrabilidade no mercado atual. Entre as principais

limitações, destacam-se o elevado custo de aquisição do veículo, se comparado aos motores a

combustão interna, o alto valor do combustível de hidrogênio em razão da escala reduzida de

consumo do mesmo e a consequente baixa infraestrutura de abastecimento. Nessa perspectiva, o

objetivo desse trabalho é a proposição de novas configurações veiculares aos FCHEVs, visando

uma potencial redução de custos totais de tais veículos aos consumidores da atualidade. As

modificações de configurações abordadas nesse trabalho serão relacionadas ao grau de

hibridização do veículo e ao tipo de bateria do mesmo. Ademais, a elaboração do estudo será

pautada no caso do Toyota Mirai. A partir de tais modificações, serão avaliados parâmetros de

performance do veículo e dadas estimativas de custos.

1.2. Metodologia

Para a simulação de replicação do Toyota Mirai e das novas propostas de configurações do mesmo,

será utilizada a ferramenta computacional Advisor, a qual é capaz de simular veículos de diferentes

tipos de sistemas de propulsão conforme uma ampla gama de parâmetros de entrada. À vista disso,

primeiramente, será apresentado o funcionamento básico do Advisor.

A partir do levantamento dos dados de entrada adequados, será realizada a simulação base do

Toyota Mirai no Advisor, sendo ela validada segundo os dados de performance disponibilizados

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pelo fabricante. Após a confirmação do modelo, serão propostas simulações para novas

configurações de graus de hibridização e tipo de bateria, mantendo-se constante a potencial total

fornecida pela célula a combustível e banco de baterias.

As configurações propostas e avaliadas pela ótica da performance serão submetidas à análise

econômica que engloba uma coleta de hipóteses e dados de custos, além das condições de operação

e vida útil do Toyota Mirai e de seus componentes.

Por fim, serão elaboradas as conclusões obtidas no presente trabalho, realizando uma avaliação

geral dos resultados alcançados. Ademais, serão discutidos possíveis estudos futuros

complementares a este trabalho.

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2. Conceitos fundamentais

2.1. Veículos elétricos

Veículos elétricos são definidos como sendo aqueles cujo deslocamento provém da ação de, no

mínimo, um motor elétrico.

Eles podem ser classificados em veículos elétricos a bateria (BEV) ou veículos elétricos híbridos.

Os veículos elétricos a bateria (BEV) possuem a bateria como fonte exclusiva de alimentação do

motor elétrico. Sendo assim, a energia elétrica é armazenada sob forma química na bateria para,

posteriormente, ser usada pelo motor. Necessita, portanto, de conexão física com a rede elétrica

para efetuar a recarga e o seu reabastecimento. Dessa forma, as principais desvantagens associadas

a esse tipo de veículo são a autonomia reduzida e o longo tempo de recarga.

Os veículos elétricos híbridos combinam duas fontes de potência. Atualmente, os principais grupos

assim classificados e diferenciados conforme a fonte de energia primária são:

a) veículo elétrico híbrido com motor a combustão interna;

b) veículo elétrico híbrido com célula a combustível.

Os veículos elétricos híbridos utilizam, ao menos, um combustível como fonte de energia primária.

Contudo, por ser um veículo elétrico, dispõe de, no mínimo, um motor elétrico para o seu

acionamento. Desta forma, a denominação híbrida é explicada pelo reabastecimento do carro ser

através de um combustível e, mesmo assim, ser associado à utilização de propulsão elétrica.

O cerne do presente trabalho está no veículo elétrico híbrido com célula a combustível, o qual será

discutido em maiores detalhes no item 2.2 a seguir.

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2.2. Veículos elétricos híbridos com célula a

combustível (FCHEV)

O veículo elétrico híbrido com célula a combustível (FCHEV), também comumente chamado de

veículo a célula a combustível, associa dois sistemas de propulsão: o sistema da célula a

combustível e o sistema de armazenamento de energia.

A necessidade da adição de um sistema de armazenamento de energia em um banco de baterias

aos veículos com célula a combustível é decorrente do comportamento dinâmico lento dessa

célula, conforme será explicado no item 2.3.2. Dessa forma, a célula a combustível necessita de

um sistema auxiliar capaz de suprir os transitórios de potências solicitados na operação, como, por

exemplo, a aceleração ou frenagem do veículo.

A associação do sistema de armazenamento de energia também traz outras vantagens ao veículo a

célula a combustível. Entre elas, destacam-se a redução do consumo de combustível devido a

capacidade do banco de baterias de armazenar energia recuperada a partir da frenagem

regenerativa. A combinação de dois sistemas de propulsão também possibilita a execução de uma

estratégia de gestão de energia em que a célula a combustível opere apenas em sua zona de alta

eficiência, conforme será explicado no item 2.3.2.

O veículo híbrido com célula a combustível (FCHEV) apresenta quatro fluxos de energia,

apontados na Figura 2.1, que são:

a) fluxo de energia direto da célula a combustível para o motor elétrico;

b) fluxo de energia da célula a combustível para o sistema de armazenamento de energia;

c) fluxo de energia regenerativa do motor elétrico para o sistema de armazenamento de

energia;

d) fluxo de energia do sistema de armazenamento de energia para o motor elétrico.

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Figura 2.1. Diagrama com fluxos de energia de um FCHEV [1].

2.3. Célula a combustível

A célula a combustível é o dispositivo que converte energia química diretamente em energia

elétrica. Esta conversão se dá através de reações eletroquímicas de oxidação do hidrogênio

diatômico e da redução de oxigênio, produzindo água como subproduto. A célula a combustível

também produz calor em decorrência das perdas – irreversibilidades – das reações eletroquímicas.

Uma célula a combustível é composta, basicamente, de dois eletrodos, um cátodo e um ânodo,

separados por um eletrólito que pode ser sólido ou líquido. A Figura 2.2 mostra o funcionamento

básico de uma célula a combustível.

No ânodo ocorre a cisão da molécula de hidrogênio e a liberação de íons H+ e elétrons. Os íons

H+ atravessam o eletrólito e alcançam o cátodo, onde se combinam com os elétrons e com o

oxigênio, assim formando vapor de água.

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Figura 2.2: Estrutura básica de uma célula a combustível [2]

A equação (2.1) apresenta as reações que ocorrem no ânodo e no cátodo de uma célula a

combustível

H2 → 2H+ + 2𝑒− 1

2𝑂2 + 2H+ + 2𝑒− → 𝐻2𝑂

(2.1)

Dessa forma, a reação global de uma célula a combustível é descrita na equação (2.2).

H2 +1

2𝑂2 → 𝐻2𝑂

(2.2)

Diferentemente da geração de energia elétrica em máquinas térmicas, as quais demandam etapas

intermediárias de conversão de energia, as células a combustível convertem diretamente energia

química em elétrica, sem haver combustão. Assim sendo, o processo de geração a partir da célula

a combustível é mais eficiente do que o realizado através de máquinas térmicas [2].

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7

2.3.1. Tipos de células a combustível

Existe uma grande variedade de tecnologias de células a combustível, as quais são classificadas de

acordo com o tipo de eletrólito empregado [3].

As principais categorias de células a combustível são:

a) célula PEM ou PEMCF (Proton Exchange Membrane Fuel Cell): Utiliza membrana

trocadora de prótons como eletrólito;

b) célula alcalina ou AFC (Alkaline Fuel Cell): Utiliza eletrólito alcalino;

c) célula de ácido fosfórico ou PAFC (Phosphoric Acid Fuel Cell): Utiliza eletrólito de

material cerâmico;

d) célula de óxido sólido ou SOFC (Solid Oxide Fuel Cell): Utiliza eletrólito de ácido

fosfórico;

e) célula de carbonatos fundidos ou MCFC (Molten Carbonate Fuel Cell): Utiliza sal fundido

para condução de íons, geralmente carbonatos de lítio-potássio ou carbonatos de lítio-

sódio;

f) célula de metanol direto ou DMFC (Direct Methanol Fuel Cell): Utiliza membrana

trocadora de prótons como eletrólito. Esse tipo de célula vale-se do metanol como

combustível e, dessa forma, seus elétrodos são construídos diferentemente das células

PEMFC.

Para a aplicações veiculares com zero emissão local de carbono, costuma-se utilizar as células

PEMFC, também chamadas de célula de eletrólito polimérico sólido. Isso deve-se às suas

características de baixo peso, alta densidade de potência, funcionamento em temperaturas baixas,

fabricação simples, longevidade e fáceis acionamento e desligamento.

A contaminação do catalisador com CO e o alto custo da membrana trocadora de prótons são as

principais limitações das PEMFC.

2.3.2. Operação da célula a combustível em FCHEVs

Pukrushpan [4] afirma que a resposta transiente da célula a combustível é lenta.

Da mesma forma, Wang e Nehrir [5] também afirmam que células a combustível não são capazes

de responder rapidamente à transitórios de potências. Isso deve-se, principalmente, às suas

características eletroquímicas e termodinâmicas. Além disso, a operação de células a combustível

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em transitórios de potências é considerada danosa às células a combustível, podendo encurtar a

vida útil desses dispositivos.

Dessa forma, é desejável que a operação das células a combustível em veículos se dê com potências

contínuas. Para tal, faz-se necessária a adição de um sistema de armazenamento de energia auxiliar

capaz de apresentar rápida resposta transiente.

Nesse sentido, a hibridização de veículos a célula a combustível é fundamental para que os mesmos

apresentem acelerações compatíveis aos requerimentos mínimos estabelecidos pela PNGV [37].

Em geral, baterias ou supercapacitores são as principais escolhas de fonte de potência secundária

para veículos a célula a combustível.

A estratégia de controle de FCHEVs deve priorizar as baterias ou os supercapacitores para o

fornecimento de potência em transitórios.

Além disso, Feroldi, Serra e Riera [1] constatam que a célula a combustível apresenta maior

eficiência de operação em potências intermediárias. Assim, é desejável a definição de uma

estratégia de controle em que a célula a combustível opere preferencialmente em sua zona de alta

eficiência.

Para tal, foi proposta [1] uma estratégia de controle em que o sistema de armazenamento de energia

fornecesse potência em baixos índices e a célula a combustível passasse a operar a partir de uma

potência mínima requerida.

A Figura 2.3 apresenta o esquema de operação da célula a combustível propostos no trabalho de

Feroldi.

Figura 2.3: Esquema para controle de operação da célula a combustível de um FCHEV. [1]

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2.4. Baterias veiculares

Uma bateria é um acumulador que transforma energia química em energia elétrica – e vice-versa

–, geralmente, por meio de uma reação de oxirredução. O polo negativo é denominado ânodo, no

qual ocorre a oxidação, enquanto o positivo é o cátodo, onde se dá a redução. Os elétrons correm

do ânodo para o cátodo, gerando energia elétrica.

Portanto, baterias são dispositivos capazes de armazenar e gerar energia elétrica mediante reações

eletroquímicas de oxidação, com a perda de elétrons, e de redução, pelo ganho de elétrons. Nessas

reações, a transferência dos elétrons ocorre no circuito elétrico externo, gerando corrente elétrica.

Quando a bateria é utilizada, isto é, durante a descarga, a energia química armazenada nos

elétrodos se transforma direta e espontaneamente em energia elétrica.

Fisicamente, a unidade básica de uma bateria é uma célula. As baterias são dispostas em módulos,

definidos por mais de uma célula de bateria, ou em “packs”, correspondentes à mais de um módulo.

Figura 2.4: Células, módulos e packs de baterias [6]

Cada célula eletroquímica é formada por dois elétrodos, de placas positiva e negativa, separados

fisicamente por material isolante elétrico, o qual é um condutor iônico (separador), e mergulhados

ou envolvidos por um eletrólito a servir de meio condutor.

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Figura 2.5: Ilustração da célula eletroquímica [7]

O elétrodo positivo, entendido como cátodo, é constituído pelo material ativo com maior potencial

de oxirredução (redox). Já o elétrodo negativo, ânodo, é constituído pelo material ativo com menor

potencial redox. O separador, geralmente, é um filme microporoso de fibra ou polímero, enquanto

o eletrólito pode ser líquido, sólido ou gasoso.

Durante o processo de descarga, a energia química armazenada nos elétrodos se transforma direta

e espontaneamente em energia elétrica através das reações de oxidação e redução dos materiais

ativos das placas. Segundo Nazri e Pistoia [8], durante o processo de carga, é necessário fornecer

energia elétrica para transformar os materiais gerados na descarga nos produtos

eletroquimicamente ativos originais.

O desempenho de uma bateria depende das características de fabricação de seus elementos. Os

parâmetros eletroquímicos mais utilizados para caracterizar uma célula ou bateria serão

apresentados a seguir.

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2.4.1. Conceitos básicos

2.4.1.1. Tensão

Representa o potencial ou a força eletromotriz de uma célula eletroquímica. É a diferença entre os

potenciais de oxidação e redução dos materiais ativos dos cátodos e ânodos.

A unidade de medida é volt (V).

2.4.1.2. Corrente

É definida como o movimento ordenado de partículas eletricamente carregadas (elétrons), ou

corrente elétrica, que uma célula eletroquímica pode aplicar sobre um circuito externo. É definida

como a quantidade de carga que atravessa o condutor por unidade de tempo.

A corrente está relacionada com a velocidade das reações de oxidação e redução dos materiais

ativos dos cátodos e ânodos, influenciada pelo separador e eletrólito, em regime permanente e

contínuo ou de pico, tendo curta duração.

A unidade de medida é o Coulomb por segundo, chamado de ampère (A).

2.4.1.3. Capacidade

É a quantidade total de corrente por unidade de tempo que uma célula ou bateria é capaz de

fornecer até atingir sua tensão final de descarga. É apresentada conforme a equação (2.3)

C = I. t (2.3)

Onde C e I são, respectivamente, a capacidade e a corrente, enquanto t corresponde ao tempo.

A unidade de medida é ampère-hora (Ah).

2.4.1.4. Carga útil

A carga útil de uma bateria, ou célula, é a carga máxima que ela pode fornecer a partir do estado

considerado até ser totalmente descarregada, sem que ocorra recarga ou balanceamento. A unidade

de medida é ampère-hora (Ah).

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2.4.1.5. Energia específica mássica

É a quantidade de energia elétrica que uma célula ou bateria pode armazenar, normalizada em

termos de massa. A unidade de medida é watts-hora por quilo (Wh/kg).

A equação (2.4) apresenta a formulação da energia específica mássica:

Wm =V x C

M𝑏𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎 (2.4)

Onde Wm é a energia específica mássica, V corresponde à tensão e M𝑏𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎 refere-se à massa da

bateria.

2.4.1.6. Potência específica mássica

Reflete a capacidade de a bateria fornecer altas taxas de corrente, em regime permanente e contínuo

ou de pico, tendo curta duração.

Para comparar diferentes tecnologias de baterias, utiliza-se o valor de potência normalizado em

massa. A unidade de medida é W/kg.

A potência específica mássica é apresentada na equação (2.5)

Pm =V x I

M𝑏𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎 (2.5)

Onde Pm é a potência específica mássica, V corresponde à tensão, I indica a corrente e M𝑏𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎

refere-se à massa da bateria.

2.4.1.7. Ciclos de vida

É o número de ciclos de carga e descarga que a bateria pode realizar até que sua capacidade se

reduza ao valor percentual limite, especificado por tecnologia, em relação ao valor nominal.

2.4.1.8. Estado de carga (SOC)

O estado de carga (SOC) é um indicador da quantidade de bateria utilizável restante. É muito

utilizado em veículos elétricos.

O estado de carga adimensional se refere à razão entre a carga útil e a capacidade da bateria,

possuindo valores limitados entre 0 (0%) e 1 (100%) e é representado pela equação (2.6):

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SOC = (1 −Q

C)

0 ≤ SOC ≤ 1

(2.6)

Onde C é a capacidade da bateria e Q corresponde à carga útil da bateria em determinado tempo

de interesse.

Em veículos elétricos híbridos, podem ser definidas estratégias de controle que limitem o estado

de carga da bateria à uma faixa de operação específica.

Dessa forma, o estado de carga mínimo (SOC𝑚𝑖𝑛) é o limite inferior em que a descarga da bateria

é interrompida; já o estado de carga máximo (SOC𝑚𝑎𝑥) é o limite superior em que a recarga da

bateria é interrompida.

2.4.1.9. Modo de operação

A “National Renewable Energy Laboratory” (NREL) [9] estabelece dois modos de operação para

baterias de veículos híbridos elétricos: “Charge depleting” e “charge sustaining”.

O modo “charge depleting” refere-se à maneira de operação em que a bateria descarrega

continuamente, até o estado de carga mínimo (SOC𝑚𝑖𝑛) definido na estratégia de controle.

O modo “charge sustaining” refere-se à maneira de operação em que o estado de carga (SOC) da

bateria pode flutuar, mas é mantido acima do estado de carga mínimo (SOC𝑚𝑖𝑛). Dessa forma, no

“charge sustaining”, a bateria sempre deve ser capaz de, sozinha, fornecer carga suficiente para

um evento de aceleração de 0-60mph, antes de atingir o estado de carga mínimo (SOC𝑚𝑖𝑛) definido

[10].

2.4.2. Tipos de baterias para veículos elétricos

Ostensivos esforços e investimentos têm sido realizados internacionalmente visando o avanço

tecnológico das baterias de veículos elétricos. O governo americano, através do Departamento de

Energia (DOE), vem investindo cerca de $2 bilhões de dólares para acelerar a produção e o

desenvolvimento de baterias e veículos elétricos [11]. A comissão europeia, organizações na

Europa e o Ministério de Economia japonês também vêm, continuamente, dando suporte para

pesquisa e o desenvolvimento de baterias veiculares [12].

Rosolem et al. [13] apresentam os principais desafios tecnológicos das baterias de veículos

elétricos como sendo:

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a) alta confiabilidade;

b) alto desempenho (ciclos de vida e profundidade de descarga);

c) alta densidade energética (Wh/kg e Wh/l);

d) ampla faixa de temperatura de operação;

e) tempo de recarga reduzido;

f) vida útil elevada;

g) peso e volume reduzidos;

h) custo razoável;

i) segurança;

j) não agressividade ao meio ambiente.

Segundo Young et al. [12], as baterias de Li-ion e NiMH correspondem às principais tecnologias

de baterias para veículos elétricos no mercado atual. No entanto, está ocorrendo um crescimento

da utilização de baterias de Li-ion em veículos elétricos.

A Tabela 2.1 apresenta os tipos de baterias, distinguidos pela composição química, utilizados em

uma amostra de veículos elétricos atuais. Destaca-se a adoção de baterias de Li-ion em modelos

recentes de veículos elétricos.

Tabela 2.1 Tipos de baterias utilizadas em amostra de veículos elétricos.

Fabricante País de origem Modelo Tipo de Bateria

BMW Alemanha I3 Li-ion

Daimler Alemanha C350e, S 550e Li-ion

Ford Estados Unidos Fusion, C-MAX Hybrid, Focus

Electric

Li-ion

GM Estados Unidos Chevy-Volt, Bolt EV Li-ion

Honda Japão Clarity Fuel Cell, Accord Li-ion

Mitsubishi Japão I-MiEV Li-ion

Nissan Japão Leaf Li-ion

Tesla Estados Unidos Model S Li-ion

Toyota Japão Mirai, Prius NiMH

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2.4.2.1. Baterias de níquel metal hidreto

As baterias de níquel metal hidreto estão no mercado desde 1992 [7]. Atualmente, o maior cliente

das baterias de NiMH para veículos elétricos é a Toyota [14]. Nesse contexto, existem apenas duas

empresas fabricantes desse tipo de bateria para automóveis, repartindo um mercado estimado em

US$ 1,4 bilhão entre a Panasonic, por meio de sua joint-venture com a Toyota (Primearth EV

Energy – PEVE), e a Cobasys, que foi incorporada pela Bosch.

O custo de aquisição inferior e a tecnologia mais consolidada são as principais vantagens das

baterias de NiMH em relação às de Li-ion [14]. No entanto, tais baterias têm como limitação o fato

de não poderem ser descarregadas por completo, prejudicando sua aplicação em veículos elétricos

puros.

A reação global de uma bateria de NiMH é apresentada na equação (2.7)

MH + NiOOH ↔ M + Ni(OH)2 (2.7)

2.4.2.2. Baterias de lítio-íon

A Figura 2.6 apresenta as faixas de Potência Específica Mássica (W/kg) e de Energia Específica

Mássica (Wh/kg), ou, simplificadamente, Densidade de Potência e Densidade Energética para

vários tipos e tecnologias de baterias.

Figura 2.6: Curvas Ragone [15]

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Como pode ser observado na Figura 2.6, as baterias à base de lítio apresentam maiores níveis de

potência e energia por unidade de massa, uma vez que o lítio é um elemento pequeno, leve e de

alto potencial redox [13].

Essas características são atrativas à utilização da tecnologia como fonte de energia para veículos

elétricos e híbridos, além do aspecto de baixo impacto ambiental de seus materiais constituintes.

As reações químicas básicas ocorridas durante a carga e descarga das baterias de lítio-íon são

apresentadas na equação (2.8).

6C + LiM𝑥O4 ↔ LiC6 + 2M𝑋𝑂2 (2.8)

As baterias de lítio possuem grande variedade, de acordo com sua composição química,

apresentando diferenças em relação à densidade de energia, tensão nominal, vida útil e segurança.

As composições químicas mais comuns são lítio-cobalto (LiCoO 2), lítio-manganês (LiMn2O 4)

e lítio-ferro-fosfato (LiFePO 4).

2.5. Ciclos de condução

O ciclo de condução é um padrão de acelerações, velocidades e frenagens em determinado

intervalo de tempo. Sendo assim, tais ciclos são fundamentais para a avaliação de testes

automotivos de consumo de combustível e emissão de poluentes.

Nos Estados Unidos, os ciclos de condução mais adotados são definidos pela U.S. Environmental

Protection Agency (EPA). A EPA é a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, criada

em 1970. É responsável por promover a evolução de regulamentações ambientais e também pela

aplicação de multas, sanções e outras medidas. Além disso, a EPA desenvolve nos campos de

pesquisa e educação uma ampla variedade de programas voluntários para prevenção da poluição e

esforços de conservação de energia.

Os principais ciclos de condução determinados pela EPA são o Urban Dynamometer Driving

Schedule (UDDS) e o Federal Higway Schedule (HWFET). No entanto, as estimativas de consumo

de combustível e emissão de poluentes são expressas em relação à combinação ponderada dos dois

ciclos, usualmente chamado de ciclo combinado.

No Brasil, a NBR 6601 estabelece o ciclo de condução para trânsito urbano e a NBR 7024 constitui

o ciclo de condução para trânsito rodoviário.

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O ciclo urbano definido pela NBR 6601 é equivalente ao ciclo FTP-75 (Federal Test Procedure),

estabelecido pela EPA; já o ciclo rodoviário definido pela NBR 7024 equivale ao ciclo HWFET

da EPA.

2.5.1. Ciclo UDDS

O ciclo UDDS (Urban Dynamometer Driving Schedule), também conhecido como "the city test"

é um ciclo de condução definido pela EPA e representa condições de direção de veículos leves na

cidade.

O ciclo UDDS simula um percurso de 12,07 km com paradas frequentes. A velocidade máxima

do percurso é igual a 91,25 km/h, enquanto a velocidade média equivale a 31,5 km/h.

A Figura 2.7 apresenta os padrões de acelerações e velocidades do ciclo UDDS.

Figura 2.7: Ciclo UDDS [16]

A NBR 6601 estabelece o ciclo de condução equivalente ao FTP-75 (Federal Test Procedure)

como ciclo urbano padrão no Brasil. O FTP-75 é uma variante do ciclo UDDS, correspondente ao

ciclo UDDS acrescido de 505 segundos iniciais de outro ciclo UDDS. A Figura 2.8 apresenta os

padrões de acelerações e velocidades do ciclo FTP-75.

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Figura 2.8: Ciclo FTP-75 [16]

2.5.2. Ciclo HWFET

O ciclo HWFET (Highway Fuel Economy Driving Schedule) é um ciclo de condução definido pela

EPA e representa as condições de direção de veículos leves em rodovias com limite de velocidade

de 60 mph (95,6 km/h).

O ciclo HWFET simula um percurso com duração de 765 segundos e distância percorrida de 16,45

km. A velocidade média é de 77,7 km/h.

A Figura 2.9 apresenta os padrões de acelerações e velocidades do ciclo HWFET.

Figura 2.9: Ciclo HWFET [16]

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2.5.3. Ciclo Combinado

Em grande parte da literatura, o resultado dos testes de performance da EPA é divulgado conforme

a combinação ponderada dos ciclos UDDS e HWFET. Essa combinação também é chamada de

ciclo combinado e incorpora os ciclos UDDS e HWFET na ponderação de 55% e 45%

respectivamente.

A unidade de consumo de combustível adotada pela EPA é de milhas por galão de gasolina

equivalente (MPGe). A adoção de tal medida, a qual tem como objetivo comparar o consumo de

combustível de veículos híbridos e elétricos com o de veículos convencionais, vem se tornando

recorrente em dados de performance dos veículos. O cálculo de consumo de combustível do ciclo

combinado em MPGe deriva das informações dos ciclos UDDS e HWFET conforme a equação

(2.9).

MPGe𝑐𝑜𝑚𝑏 =1

0,55MPGe𝑈𝐷𝐷𝑆

+0,45

MPGe𝐻𝑊𝐹𝐸𝑇

(2.9)

Onde MPGe𝑐𝑜𝑚𝑏 equivale ao consumo de combustível ciclo combinado em MPGe, MPGe𝑈𝐷𝐷𝑆 ao

consumo de combustível ciclo UDDS em MPGe e MPGe𝐻𝑊𝐹𝐸𝑇 ao consumo de combustível ciclo

HWFET em MPGe.

2.6. FASTSim

O FASTSim é uma ferramenta computacional de análise de sistemas automotivos desenvolvida

pelo Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL) com o apoio do Departamento de

Energia americano (DOE) [17].

O FASTSim incorpora uma ampla base de dados de veículos de diferentes sistemas a propulsão.

Atualmente, a sua versão padrão programada em Excel conta com dados de entrada de mais de 20

veículos. O acesso à ferramenta computacional é gratuito e a versão mais recente é datada de 2018.

O FASTSim apresenta uma rápida e simples abordagem de simulação ao usuário. Dessa maneira,

a ferramenta possibilita a estimativa de diversos parâmetros veiculares, tais como eficiência,

performance, custos e vida útil da bateria – todos a partir da manipulação de dados de entrada dos

veículos disponíveis. Sendo assim, é também uma grande fonte comparativa dos veículos presentes

no mercado.

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2.7. Advisor

2.7.1. Introdução

O Advisor é uma ferramenta avançada de simulação de veículos desenvolvida pelo Laboratório

Nacional de Energia Renovável (NREL), tendo sido publicamente lançado em 1998.

Posteriormente, em 2003, o software foi descontinuado [18].

Mesmo após ser interrompido, o Advisor ainda é recorrentemente utilizado em pesquisas. Estima-

se que dois terços dos usuários do Advisor são membros da indústria automotiva e o terço restante

é composto por estudantes e pesquisadores de universidades. A atualidade do software deve-se à

flexibilidade para modelagem de veículos, a opcionalidade de definições de estratégias de controle

e a facilidade para alterações. O Advisor foi modelado para uso conjunto ao Matlab e ao Simulink.

Dentre as vantagens do Advisor, destacam-se:

a) o acesso gratuito e possível offline;

b) viabilidade de simulação de veículos à célula a combustível;

c) flexibilidade na construção de modelos;

d) interface gráfica amigável;

e) prevê simulações com ciclos de condução da EPA;

f) suporta análise de sistemas lineares e não lineares.

2.7.2. Interface

O Advisor possui três telas principais de interface com o usuário. A Figura 2.10 mostra a primeira

tela, onde o usuário configura os dados do modelo do veículo a ser simulado.

No topo da tela, nas abas “Load file” e “Drivetrain Config”, são realizadas as configurações do

sistema de propulsão do modelo. Nessa etapa, o usuário pode escolher um modelo padrão para o

sistema de propulsão definido ou carregar um modelo de veículo da própria base de dados do

Advisor. Apesar de haver uma série de modelos de veículos comerciais disponíveis no software,

esses estão desatualizados por conta da descontinuidade do Advisor em 2003.

Posteriormente, em “Vehicle” estão listados diversos tipos de carroceria padrões.

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Figura 2.10: Interface inicial do Advisor

Na parte central da interface inicial do Advisor é onde o usuário define as configurações dos

componentes fundamentais do veículo. Uma breve explicação dos principais campos é explicada

a seguir:

a) “Vehicle”: escolha de um padrão de carroceria;

b) “Fuel Converter”: em caso de veículo híbrido ou convencional, é definida a fonte primária

de potência. Sendo assim, o usuário tem a opção da escolha do motor ciclo otto, motor

ciclo diesel ou célula a combustível. No lado direito, é definida a potência máxima e a

eficiência máxima do sistema;

c) “Energy Storage”: em caso de veículo com sistema de armazenamento de energia, é

definido o tipo de bateria do modelo. No lado direito, é estipulado como entrada o número

de módulos da bateria. Assim, o software gera automaticamente a voltagem nominal e a

massa do banco de baterias resultante dos parâmetros do modelo;

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d) “Motor”: em caso de veículo elétrico, são especificadas as características do motor elétrico.

Ao lado, determina-se o pico de eficiência do motor elétrico.

A parte inferior da tela, em “Variable List”, assume grande importância. É nela onde o usuário

estipula a maior quantidade de variáveis do modelo. Ao arrastar a lista “Variables”, é possível

editar variáveis específicas de cada componente dos veículos. Dessa forma, o software se torna

bastante flexível para a configuração de modelos de veículos atuais.

A Figura 2.11 mostra a segunda tela de interface do Advisor. É nela onde o usuário estabelece as

condições de teste que o modelo será submetido. O primeiro quadrado, na parte superior da tela, é

onde define-se o ciclo de condução e o número de vezes que esse será repetido para a simulação.

Na mesma região, em “initial conditions”, determinam-se as condições iniciais do veículo para o

teste. Entre elas, destacam-se a temperatura ambiente, temperatura do motor ou célula a

combustível e SOC inicial da bateria.

Figura 2.11. Segunda tela de interface do Advisor

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Posteriormente, no retângulo amarelo, o usuário pode selecionar as opções de teste de aceleração

e teste de capacidade de subida em rampa (“gradeability”). Para a configuração de cada teste é

aberta uma tela anexa.

A Figura 2.12 mostra a tela de configuração do teste de aceleração. Como é possível observar, o

usuário possui diversas opções para o teste de aceleração, a exemplo da desativação de um dos

sistemas de potência, da adição de determinado peso extra ao veículo e da definição do intervalo

de variação de velocidades.

Figura 2.12. Tela de configuração do teste de aceleração no Advisor

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A Figura 2.13 mostra a tela de configuração do teste de capacidade de subida em rampa. A opção

mais comum para o teste é a qual o usuário estabelece a velocidade e a duração do percurso. Nesse

caso, o software gera o resultado da máxima inclinação que o modelo consegue manter nessas

condições. Além disso, há a possibilidade de desativar a bateria para a simulação. A adição de uma

massa extra também é prevista.

Figura 2.13. Tela de configuração do teste de capacidade de subida em rampa no Advisor

A Figura 2.14 mostra a última tela referente aos resultados da simulação do modelo no Advisor.

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Figura 2.14. Tela de resultados do Advisor

No primeiro retângulo superior da região de “Results Figure”, o usuário configura as exibições

dos gráficos apresentados conforme julgar adequado. No presente trabalho, para manter a

uniformidade, as configurações dos quatro gráficos de telas de saídas para as simulações realizadas

foram mantidas as mesmas. O padrão adotado é de acordo ao mostrado na Figura 2.14 e explicado

a seguir:

a) primeiro gráfico: velocidade, em mph, por tempo, em segundos;

b) segundo gráfico: estado de carga da bateria por tempo, em segundos;

c) terceiro gráfico: taxa de consumo de combustível, em g/s, por tempo, em segundos;

d) quarto gráfico: distância, em metros, por tempo, em segundos.

Além da visualização dos gráficos, o segundo retângulo amarelo apresenta o consumo de

combustível do modelo em MPGe durante o percurso. O terceiro retângulo, de cor verde, é o

resultado da simulação referente à emissão de poluentes. O último retângulo, na cor amarela,

apresenta os resultados dos testes de aceleração e a capacidade de subida em rampa. Caso o teste

não tenha sido selecionado, o software apresenta “n/a” como resultado.

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3. Estudos de caso: Toyota Mirai

3.1. Descrição

Em 2014, a Toyota lançou seu primeiro modelo de FCHEV destinado à produção em larga escala.

Ao modelo foi atribuído o nome Mirai, cujo significado, na língua japonesa, é “futuro”. Em 2017,

o sedã médio abastecido à hidrogênio atingiu um total acumulado de 5.300 vendas, registradas

desde período inicial de vendas.

O Toyota Mirai destaca-se pela zero emissão local de carbono, elevada autonomia de 502 km,

segundo a EPA, e pelo baixo tempo de abastecimento do tanque de hidrogênio, se comparado aos

veículos elétricos puros (BEV), sendo de, aproximadamente, 5 minutos.

O modelo Toyota Mirai 2016/2017 foi escolhido para o estudo de caso desse presente trabalho

devido a extensa literatura disponível desse FCHEV.

O processo de levantamento de especificações do veículo desenvolveu-se em três etapas:

a) levantamento de dados do veículo em catálogos disponíveis da Toyota [36];

b) obtenção de especificações adicionais da bateria no catálogo da fornecedora Primearth

EV Energy – PEVE [35]. Como explicado no item 2.4.2.1, a PEVE é a parceira

responsável pela produção de baterias dos veículos híbridos da Toyota;

c) levantamento de especificações adicionais do Toyota Mirai no banco de dados do

software FASTSim.

A Tabela 3.1 é o resultado dos dados coletados nas três etapas de pesquisa, discriminados conforme

a fonte de cada especificação.

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Tabela 3.1: Dados do Toyota Mirai.

Especificação Valor Fonte

Veículo

Coeficiente de arrasto 0,29 Toyota

Altura do centro de gravidade do veículo 0,53 m FASTSim

Fração de peso no eixo de tração 0,59 FASTSim

Distância entre eixos 2,78 m Toyota

Peso do veículo sem carga/Tara 1850 kg Toyota

Peso da carga 136kg FASTSim

Tração Dianteira Toyota

Célula a

combustível

Tipo PEMFC Toyota

Potência máxima 114 kW Toyota

Potência específica 2 kW/kg Toyota

Peso do empilhamento de células a

combustível 56 kg Toyota

Tempo para que a célula a combustível atinja

potência máxima 5 s FASTSim

Peso do tanque de hidrogênio 87,5 kg Toyota

Tempo de abastecimento 300 s Toyota

Capacidade do tanque de hidrogênio 5 kg de H2 Toyota

Pressão normal de operação do tanque de

hidrogênio 70 Mpa Toyota

Transmissão Massa do sistema de transmissão 114 kg FASTsim

Eficiência de transmissão 0,98 FASTSim

Pneus

Raio 0,33 m FASTSim

Momento de inércia 0,82 kg·m² FASTSim

Coeficiente de rolamento 0,0076 FASTSim

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Bateria

Tipo Niquel-hidreto

metálico Toyota

Número de módulos de bateria 34 Toyota

Voltagem por módulo 7,2 V Toyota

Voltagem nominal do banco de baterias 244,8 V Toyota

Capacidade 6,5 Ah Toyota

Potência por módulo 1,35 Kw PEVE

Peso do módulo de bateria 1,04 kg PEVE

Potência específica 1,30 kW/kg PEVE

Densidade de energia 0,046 kWh/kg PEVE

Motor elétrico Potência 113 kW Toyota

Eficiência do motor 0,95 FASTsim

Parâmetros

de Controle

SOC mínimo 0,4 FASTSim

SOC máximo 0,8 FASTSim

Performance

Consumo de Combustível (Estimativa EPA

para ciclo combinado) 67 MPGe Toyota

Velocidade Máxima 111 mph Toyota

Aceleração de 0-60 mph 9,0 s Toyota

Aceleração de 0-100 km/h 9,6 s Toyota

Autonomia (Estimativa EPA) 312 Toyota

As especificações levantadas do Toyota Mirai serão ajustadas conforme as limitações do Advisor

e associadas às hipóteses elaboradas no item 3.2, a fim de definir os dados de entrada da simulação

de validação do veículo no software. Posteriormente, no capítulo 4, serão propostas as alterações

de determinados parâmetros de entrada, tais como a potência máxima da célula a combustível e o

tipo de bateria, visando potenciais otimizações ao modelo base.

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3.2. Dados de entrada da simulação

Os dados de entrada na simulação do modelo do Toyota Mirai no Advisor foram definidos a partir

das especificações levantadas no item 3.1, diante de certos ajustes às limitações do software. Além

disso, foi necessária a elaboração de hipóteses para parâmetros de entrada do Advisor, os quais

não estão disponíveis na literatura de pesquisa da Tabela 3.4.

Dessa forma, as limitações do software e as hipóteses assumidas serão apresentadas de acordo com

as seguintes classificações: Bateria, célula a combustível, parâmetros de controle, carroceria.

3.2.1. Bateria

A principal limitação do Advisor observada para a simulação do Toyota Mirai é a impossibilidade

de entrada direta de potência específica e voltagem nominal no modelo. Ou seja, o software

estabelece uma configuração padrão, tanto para a definição de potência específica quanto da

voltagem nominal, em razão dos outros parâmetros de entrada da bateria.

Dessa forma, a Tabela 3.2 apresenta voltagem nominal, potência específica e, consequentemente,

a potência máxima do banco de baterias definidas pelo Advisor para as entradas de capacidade,

número de módulos e peso por módulos coletadas no item 3.1.

Tabela 3.2. Configurações de entradas da bateria no Advisor.

Capacidade Número de

módulos

Peso por

módulo

Voltagem

Nominal*

Potência

específica*

Potência

banco de

baterias*

Entrada

original 6,5 Ah 34 1,04 kg 262V 0,47 kW/kg 16,5 kW

*Parâmetros do modelo definidos indiretamente pelo padrão do Advisor.

Como é possível observar, a potência específica padrão definida pelo software para o modelo do

Toyota Mirai é cerca de 64% inferior à potência específica de 1,30 kW/kg estabelecida pela

fornecedora Primearth EV Energy – PEVE. Dessa forma, a solução observada para a convergência

entre a potência máxima do banco de baterias simulado e os dados experimentais foi o aumento

do valor de entrada da capacidade da bateria de NiMH, a mostrar na Tabela 3.3.

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Tabela 3.3. Configurações de entradas modificadas da bateria no Advisor.

Capacidade Número de

módulos

Peso por

módulo

Voltagem

Nominal*

Potência

específica*

Potência

banco de

baterias*

Entrada

original 18 Ah 34 1,04 kg 262V 1,30 kW/kg 45,9 kW

*Parâmetros do modelo definidos indiretamente pelo padrão do Advisor.

Diante da limitação do software, avaliou-se que o aumento do valor de entrada da capacidade da

bateria para 18 Ah era a solução adequada, visando que o modelo apresentasse convergência em

relação à potência do banco de baterias de 45,9 kW inferidas para o Toyota Mirai. Se diferente

disso, a simulação apresentaria resultados significativamente divergentes aos dados experimentais

estabelecidos para o Toyota Mirai.

A Figura 3.1 (a) apresenta a potência do banco de baterias, estipulada pelo Advisor, para valores

de entrada de 6,5 Ah e 34 módulos. Nota-se que a potência máxima dessa configuração é de 16,5

kW. A Figura 3.1 (b) apresenta a potência do banco de baterias, estipulada pelo Advisor, para

valores de entrada de 18 Ah e 34 módulos. Nota-se que a potência máxima dessa configuração

converge para os 45,9 kW inferidos pelas especificações do Toyota Mirai.

(a) (b)

Figura 3.1. Comparação entre potência máxima do banco de baterias, estipulada pelo Advisor,

para entradas de 6,5 e 18 Ah, respectivamente.

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3.2.2. Célula a combustível

A DOE [19] estabelece que o alvo de eficiência máxima de células a combustível PEMFC para

veículos de transporte deve variar de 60% a 65%, entre 2015 e 2020. Por se tratar de um veículo

modelo 2016/2017, a eficiência máxima da célula a combustível assumida para a simulação do

Toyota Mirai foi de 62%.

3.2.3. Estratégias de controle

São três as principais estratégias de controle a serem definidas para a simulação de um FCHEV,

além dos SOC máximo e mínimo, no Advisor.

A primeira delas refere-se ao modo de operação da bateria. Conforme explicado no item 2.4.1.9,

são dois os modos de operação da bateria: “charge depleting” e “charge sustaining”. Segundo

Ahluwalia, Wang e Rousseau [20], a bateria de um FCHEV deve operar no modo “charge

sustaining”. Nesse modo, o estado de carga (SOC) da bateria é mantido suficientemente acima do

estado de carga mínimo (SOC𝑚𝑖𝑛) para que a bateria sempre seja capaz de fornecer autonomamente

carga suficiente aos eventos de aceleração. Assim sendo, essa é a estratégia adequada para os

FCHEVs, uma vez que células a combustível não são capazes de responder rapidamente à

transitórios de potências.

A segunda estratégia trata da operação da célula a combustível. Como apresentado no item 2.3.2,

a célula a combustível apresenta maior eficiência de operação em potências intermediárias. Sendo

assim, quando o veículo opera na faixa de baixa potência, o motor elétrico deve ser acionado pela

bateria, de forma a obter um melhor rendimento.

Ao modelar a célula a combustível do modelo do Toyota Mirai no Advisor, observou-se que a

célula apresenta baixa eficiência de operação para potências abaixo de 15 kW. A Figura 3.2 mostra

a curva de eficiência da célula a combustível do modelo dada pelo Advisor.

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Figura 3.2. Curva de eficiência da célula a combustível do modelo.

A Figura 3.3 apresenta o gráfico do consumo de combustível da célula a combustível do modelo

conforme a potência de operação. Nota-se o aumento do consumo de combustível por kWh

fornecido ao motor elétrico para baixas potências de operação.

Figura 3.3. Consumo de combustível em função da Potência de operação célula a combustível.

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Em razão do aumento de rendimento, a potência mínima requerida para que a célula a combustível

do modelo seja acionada foi estabelecida em 15 kW. Para tal estratégia de controle, em potências

abaixo de 15 kW o motor elétrico deve ser acionado exclusivamente pela bateria.

A terceira e última estratégia de controle refere-se à taxa de incremento de potência da célula a

combustível (Maximum FCS rise rate power). Trata-se da limitação da célula a combustível de

responder a transitórios de potências.

Conforme apresentado no item 3.1, a célula a combustível do Toyota Mirai demora 5 segundos

para atingir a potência máxima de 114 kW. Isso resulta em uma taxa de incremento de potência da

célula a combustível (Maximum FCS rise rate power) de 22,8 kW/s. Dessa forma, caso a taxa

requerida exceda 22,8 kW/s, a bateria é acionada para a resposta transiente.

3.2.4. Peso da carroceria

No item 3.1 foi realizado o levantamento do peso dos componentes do veículo e o do mesmo sem

carga. Dessa maneira, assumiu-se o peso da carroceria como sendo de 1383 kg. Tal valor, quando

somado ao peso dos componentes, igualava-se ao do veículo sem carga.

A Tabela 3.4 sumariza os dados de entrada para a simulação do Toyota Mirai realizada no Advisor.

Trata-se do agrupamento das especificações levantadas do Toyota Mirai, coletados no item 3.1, e

das hipóteses adotadas no decorrer do presente item. Nota-se que os parâmetros que não

apresentam códigos de entrada no Advisor são referentes aos dados de entrada direta na tela de

interface do software.

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Tabela 3.4. Entradas da simulação do Toyota Mirai no Advisor.

Códigos do Advisor Especificação Valor

Veículo

veh_CD Coeficiente de arrasto 0,29

veh_glider_mass Peso da carroceria 1383 kg

veh_cg_height Altura do centro de gravidade do veículo 0,53 m

veh_front_wt_frac Fração de peso no eixo de tração 0,59

veh_wheelbase Distância entre eixos 2,78 m

Peso do veículo sem carga/Tara 1850 kg

veh_cargo_mass Peso da carga 136 kg

veh_mass Peso do veículo com carga 1986 kg

Tração Dianteira

Célula a

combustível

- Tipo Eletrólito de

polimero sólido

fc_max_pwr Potência máxima 114 kW

- Potência específica 2,0 kW/kg

- Peso do empilhamento de células a

combustível 56 kg

- Peso do tanque de hidrogênio 88 kg

- Capacidade do tanque de hidrogênio 5 kg de H2

fc_mass Massa do sistema da célula a

combustível 150 kg

Transmissão tx_mass Massa do sistema de transmissão 114 kg

tx_eff_scale Eficiência de transmissão 0,98

Pneus

wh_radius Raio 0,33 m

wh_inertia Momento de inércia 0,82 kg.m²

wh_1st_rrc Coeficiente de rolamento 0,0076

Bateria

- Tipo PEMFC

ess_module_num Número de módulos de bateria 34

ess_max_ah_cap Capacidade 18 Ah

ess_module_mass Peso do módulo de bateria 1 kg

Motor

elétrico

- Potência 113 kW

- Eficiência do motor 0,95

Parâmetros

de Controle

cs_lo_soc SOC mínimo 0,4

cs_hi_soc SOC máximo 0,8

cs_max_pwr_rise_rate Taxa de incremento de potência da

célula a combustível 22,8 kW/s

cs_charge_deplete_bool 1=> Modo "charge deplete"

0=> Modo "charge sustaining" 0

cs_min_pwr Mínima potência requerida para a célula

a combustível 15 kW

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35

A Figura 3.4 mostra a tela de interface do Advisor para as entradas do veículo. Observa-se que

certos parâmetros, como a potência e a eficiência do motor elétrico, devem ser configurados

diretamente nos campos da tela de interface com o usuário.

Figura 3.4. Interface do Advisor para as entradas do veículo.

O Advisor também possui uma tela para a definição das condições iniciais de operação, a qual foi

desenvolvida prevendo a utilização de um motor de combustão interna. Essa tela foi adaptada para

a hipótese do propulsor ser uma célula a combustível. Foram consideradas as condições iniciais de

temperatura de 25º C e o estado de carga inicial da bateria no nível de 80%, conforme mostrado

na Tabela 3.5.

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Tabela 3.5. Condições iniciais de operação.

Código do Advisor Condições de entrada Valor

Ambiental amb_tmp Temperatura Ambiente (°C) 25

air_cp Calor específico do ar (J/kg/K) 1009

Célula de

combustível

fc_c_init_tmp Temperatura da Célula a Combustível (°C) 25

fc_i_init_tmp Temperatura da Célula a Combustível: Interna (°C) 25

fc_x_init_tmp Temperatura da Célula a Combustível: Externa (°C) 25

fc_h_init_tmp Temperatura da Carcaça (°C) 25

Bateria ess_mod_init_tmp Temperatura do Módulo da Bateria (°C) 25

Controle mc_init_tmp Temperatura do controlador (°C) 25

ess_init_soc Estado de carga inicial da bateria 80%

A Figura 3.5 apresenta a etapa de simulação do Advisor que solicita ao usuário a introdução das

condições iniciais de operação do veículo.

Figura 3.5. Tela do Advisor para definição de condições iniciais de operação.

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3.3. Resultados de validação

O presente item tem como objetivo avaliar os resultados da simulação do Toyota Mirai diante das

entradas definidas na Tabela 3.4 e compará-los aos dados de performance experimentais

disponibilizados pela Toyota e a EPA.

Primeiramente, foram avaliadas as saídas do Advisor para as simulações de um ciclo HWFET e

um ciclo UDDS, devido à maior facilidade de interpretação dos gráficos nestas configurações.

No entanto, observou-se que a simulação de um ciclo HWFET ou UDDS não é o indicativo

adequado do consumo de combustível médio. Isso porque, para distâncias curtas, o estado de carga

(SOC) inicial da bateria apresenta grande influência no consumo de combustível.

Na configuração de SOC inicial alto, parte significativa do fornecimento de potência inicial deriva

apenas da descarga da bateria, reduzindo o consumo de combustível em um primeiro momento.

Por outro lado, o aumento do consumo de combustível é notável na configuração de SOC inicial

baixo, uma vez que a célula a combustível logo deve ser acionada para a recarga da bateria.

Dessa forma, observou-se que, com o aumento do número de ciclos, o impacto do SOC inicial da

bateria no consumo de combustível foi diluído. Posteriormente, foram realizadas simulações de 30

ciclos HWFET e 30 ciclos UDDS para avaliação do consumo de combustível médio do modelo

simulado.

A Figura 3.6 apresenta a tela principal de saída do Advisor referente à simulação do Toyota Mirai

modelo 2016/2017, sob as condições de 1 ciclo HWFET e SOC inicial configurado em 80%. Nota-

se que o modelo simulado não apresenta emissões de poluentes locais, conforme especificado pelo

fabricante.

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Figura 3.6. Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 1 ciclo HWFET.

A Figura 3.7 mostra a potência resultante disponível ao motor elétrico do veículo simulado.

Observa-se que a demanda de potência é de grande variabilidade e, até os 300 segundos, a potência

mínima de 15 kW – para o acionamento da célula a combustível – não é consistentemente

ultrapassada. Os valores negativos no gráfico são referentes à frenagem regenerativa.

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Figura 3.7. Potência disponível (W) para o motor elétrico na simulação de 1 ciclo HWFET.

A Figura 3.8 ilustra o desempenho da célula a combustível simulada em 1 ciclo HWFET. A Figura

3.8 (a) mostra a potência fornecida pela célula a combustível durante o percurso e destaca o

acionamento da célula a combustível continuamente no intervalo de 300 a cerca de 750 segundos.

A Figura 3.8 (b) apresenta a eficiência da célula a combustível. Os pontos em vermelho

correspondem à faixa de operação da célula a combustível. Dessa maneira, observa-se que o

funcionamento da célula a combustível do modelo está operando na faixa de rendimento máximo,

conforme vislumbrado na estratégia de controle.

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40

(a) (b)

Figura 3.8. Funcionamento da célula combustível simulada em 1 ciclo HWFET.

A Figura 3.9 apresenta a potência fornecida pela bateria ao longo de 1 ciclo HWFET. Identifica-

se que, conforme estabelecido na estratégia de controle, a bateria é acionada para responder aos

transitórios de potências devido à sua resposta rápida. A partir de 300 segundos, os valores

negativos são referentes à recarga da bateria e provenientes de fluxos de energia da célula a

combustível e da frenagem regenerativa.

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Figura 3.9. Potência fornecida pela bateria (W) em 1 ciclo HWFET.

A Figura 3.10 apresenta a quantidade de H2 em litros consumida em 1 ciclo HWFET. Pode-se

observar que o consumo de combustível ocorre apenas quando a célula a combustível está acionada

e fornecendo potência.

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Figura 3.10. Consumo de H2 em litros.

Em continuidade à análise, foram avaliados os resultados da simulação do Toyota Mirai para 1

ciclo UDDS. A Figura 3.11 mostra a tela de saída dessa simulação. Nota-se que o consumo de

combustível para 1 ciclo UDDS é baixo, uma vez que, nesse curto percurso, a descarga da bateria

é responsável por grande parte do fornecimento de potência para o motor elétrico.

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Figura 3.11. Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 1 ciclo UDDS.

A Figura 3.12 mostra a potência disponível ao motor elétrico na simulação de 1 ciclo UDDS.

Observa-se que na simulação de 1 ciclo UDDS as demandas de potência do motor apresentam um

perfil mais variável do que os apresentados na Figura 3.7, a qual é referente à simulação para ciclos

HWFET. Esse comportamento deriva dos números de acelerações e desacelerações esperados no

percurso urbano, os quais são maiores quando comparados ao do percurso em rodovias.

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Figura 3.12. Potência disponível (W) para o motor elétrico na simulação de 1 ciclo UDDS.

A Figura 3.13 ilustra o funcionamento da célula a combustível e da bateria simuladas em 1 ciclo

HWFET. A Figura 3.13 (a) mostra a potência fornecida pela célula a combustível durante o

percurso. Nota-se que o acionamento da célula a combustível limita-se a curtos intervalos de

tempo, se comparados ao observado no ciclo HWFET. Isso ocorre em razão da ausência de

continuidade de potência requerida acima de 15 kW. Dessa forma, a estratégia de controle

estabelecida no item 3.2.3 privilegia o acionamento da bateria tanto para baixas potências, quanto

para os transitórios de acelerações. A Figura 3.13 (b) ilustra a potência fornecida pela bateria ao

longo do percurso.

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(a) (b)

Figura 3.13. Funcionamento da célula a combustível e da bateria simuladas em 1 ciclo UDDS.

Posteriormente, foram realizadas simulações de 30 ciclos HWFET (495,2 km) e de 30 ciclos

UDDS (359,7 km) visando a avaliação dos resultados de performance do modelo simulado. Como

explicado anteriormente no presente item, o aumento do percurso é necessário para maior precisão

na análise do consumo médio de combustível. Sendo assim, o objetivo dessa etapa é a validação

do modelo simulado

A Figura 3.14 apresenta os resultados da simulação do Toyota Mirai no Advisor, de acordo com

as entradas estabelecidas no item 3.2, para 30 ciclos HWFET. Os resultados das simulações serão

resumidos e comentados mais adiante.

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Figura 3.14: Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 30 ciclos HWFET.

A Figura 3.15 mostra o resultado da simulação do Toyota Mirai para 30 ciclos UDDS.

Figura 3.15: Tela de saída da simulação do Toyota Mirai para 30 ciclos UDDS.

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A Tabela 3.6 agrega os dados de performance disponibilizados para o Toyota Mirai modelo

2016/2017 já apresentados no item 3.1 e servirá como base para a validação do modelo simulado

no Advisor. A maior parte dos dados de performance do Toyota Mirai, assim como os resultados

da simulação, são disponibilizados no padrão de medidas da EPA. Dessa forma, a Tabela 3.6 é

estruturada pelos dados divulgados pela EPA e suas respectivas conversões para as unidades de

medidas do Sistema Internacional.

Tabela 3.6. Dados de performance do Mirai disponibilizado pela Toyota.

Item Valor

Consumo de Combustível - EPA MPGE (Le/100 km) 67 (3,5)

Velocidade máxima km/h (mph) 111 (178,6)

Aceleração de 0-60 mph em segundos (0-95,6 km/h) 9,0

Aceleração de 0-62 mph em segundos (0-99,8 km/h) 9,6

Autonomia milhas (km) 312 (502,1)

A Tabela 3.7 compara os resultados de performance, gerados na simulação do Advisor para 30

ciclos HWFET e 30 ciclos UDDS, retratados, respectivamente, nas Figura 3.14 e Figura 3.15, em

relação aos dados disponibilizados pelo fabricante e apresentados na Tabela 3.6.

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Tabela 3.7. Validação da simulação do Toyota Mirai.

Resultado da

Simulação

Dados do

Fabricante/Testes Diferença (%)

Consumo de Combustível - UDDS

MPGE (Le/100 km) 54,8 (4,29) - -

Consumo de Combustível -

HWFET MPGE (Le/100 km) 70,6 (3,33) - -

Consumo de Combustível -

Combinado MPGE (Le/100 km) 60,9 (3,86) 67 (3,51) -9,0% (+9.9%)

Autonomia milhas (km) 310,5 (499,7) 312 (502,1) -0,5%

Velocidade máxima mph (km/h) 97,6 (157,1) 111 (178,6) -12,1%

Aceleração de 0-62 mph em

segundos (0-95,6 km/h) 8,8 9,0 -2,2%

Aceleração de 0-62 mph em

segundos (0-99,8 km/h) 9,4 9,6 -2,1%

Observa-se que o consumo estimado de combustível e os tempos de aceleração obtidos na

simulação apresentam discrepâncias abaixo de 10% em relação aos dados experimentais

disponibilizados pela Toyota. A principal divergência entre os dados simulados e as especificações

do fabricante encontra-se na velocidade máxima do veículo. Esta, sendo de 97,6 mph quando

resultante da simulação, é cerca de 12,1% abaixo do proposto pelo fabricante.

Ainda assim, avaliou-se que os desvios entre dados simulados e experimentais estão dentro de

limites razoáveis de simulações veiculares. Diante dessa observação, o modelo base do Toyota

Mirai foi validado. A partir dessa validação, torna-se possível a proposição de novos

aperfeiçoamentos em etapas posteriores.

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49

4. Proposta de novas configurações veiculares

4.1. Estudo de hibridização

Conforme visto no item 2.1, os veículos à célula a combustível, em geral, são híbridos, ou seja,

contam com um sistema de armazenamento de energia em um banco de baterias, além do sistema

da célula a combustível.

Dessa forma, Feroldi et al. [21] constatam que, em um sistema híbrido, a potência requerida para

tração e para os componentes auxiliares do veículo é fornecida em parte pelo sistema da célula a

combustível, parte pelo sistema de armazenamento de energia, de acordo com a estratégia de

controle de energia definida.

A proporção da máxima potência total fornecida por cada subsistema é definida pelo grau de

hibridização (HD).

Feroldi et al. [1] propõem o grau de hibridização de um FCHEV como a relação entre a potência

máxima do sistema de armazenamento de energia e a potência máxima da célula a combustível,

conforme mostra a equação (4.1).

HD = Pess,max

Pfcs,max + Pess,max x 100 [%] (4.1)

A partir da equação (4.1), infere-se que o grau de hibridização de 100% indica um veículo apenas

com banco de baterias, isto é, sem célula a combustível; em contrapartida, 0% indica um veículo

a célula a combustível puro, sem banco de baterias.

As funções do sistema de armazenamento de energia em um FCHEV são:

a) fornecimento de potência em transitórios (acelerações), reduzindo o tempo de resposta

transiente do veículo;

b) fornecimento de potência complementar a célula a combustível durante ciclos de condução;

c) armazenamento de energia recuperada a partir da frenagem regenerativa;

d) fornecimento de energia para sistemas auxiliares do veículo, como o sistema de ar

condicionado, freio elétrico, entre outros;

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50

e) possibilita a execução de uma estratégia de gestão de energia em que a célula a combustível

é apenas acionada em potências intermediárias e correspondentes à sua zona de alta

eficiência.

Dessa maneira, as vantagens dos FCHEVs da hibridização são:

a) redução do consumo de combustível devido à recuperação de energia a partir da frenagem

regenerativa. Essa vantagem se destaca nos ciclos UDDS em que há maior frequência de

frenagem em relação aos ciclos HWFET;

b) aumento da eficiência de operação da célula a combustível e consequente redução de

consumo de combustível, devido à uma estratégia de controle de energia adequada;

c) redução dos custos de produção em razão da necessidade de menor empilhamento das

unidades de células a combustível. Isso deve-se à potência suplementar da bateria para

atender a potência máxima de projeto requerida pelo motor elétrico;

d) redução do tempo de aceleração. Conforme explicado no item 2.3.2, a resposta transiente

do sistema a célula a combustível é relativamente lenta, enquanto a resposta transiente das

baterias e dos supercapacitores é rápida.

A partir dos benefícios da hibridização apresentados e sob a ótica da variação do grau de

hibridização, será realizado o estudo da performance do Toyota Mirai. O objetivo é avaliar

possíveis otimizações do FCHEV simulado.

A avaliação do grau de hibridização requer que a soma das potências dos subsistemas da célula a

combustível e do banco de baterias se mantenha constante. Ou seja, o aumento da potência máxima

da célula a combustível implica na redução equivalente da potência máxima do banco de baterias,

e vice-versa. Se assim não fosse, a capacidade de fornecimento de potência máxima ao motor

elétrico e aos sistemas auxiliares seria alterada e, consequentemente, as simulações realizadas não

seriam correspondentes ao modelo base do Toyota Mirai.

4.1.1. Limites de hibridização

Em 1993, o governo Clinton criou uma iniciativa denominada “Partnership for a New Generation

Vehicles” (PNGV). Tratava-se de uma parceria entre as três maiores corporações nacionais de

automóveis.

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51

A PNGV [37] estabelece que os requisitos básicos de performance de um veículo médio devem

ser:

a) para uma velocidade constante de 55 mph (88,5 km/h), o veículo deve ser capaz de subir

aclives com inclinação de 6,5% durante 20 minutos;

b) aceleração de 0 a 60 mph (96,6km/h) em 12 segundos;

c) velocidade máxima de 85 mph (136,8km/h).

Além dos requisitos básicos de veículos médios determinados pela PNGV, são adicionadas outras

limitações à um FCHEV em que a bateria opera no modo “charge sustaining”. Segundo

Ahluwalia, Wang e Rousseau [20], a célula a combustível de um FCHEV deve, sozinha, ser capaz

de atender às potências contínuas requeridas e esperadas. Isso inclui a manutenção do veículo

operando a 55 mph (88,5 km/h) em uma inclinação de 6,5 % por 20 minutos. Dessa forma, garante-

se que a célula a combustível seja capaz de manter a bateria em um SOC acima do mínimo

estabelecido, conforme previsto no modo “charge sustaining”.

Antes do início da simulação de diferentes graus de hibridização aplicados ao modelo base do

Toyota Mirai, simulado no item 3.3, faz-se necessária a determinação dos limites de hibridização.

Dessa forma, a obtenção dos limites inferior e superior de hibridização se deu pela observação de

testes de capacidade de subida em rampa e testes de acelerações, ambos para diferentes

configurações de hibridizações do modelo base do Toyota Mirai.

A variação do grau de hibridização em relação à simulação base envolve apenas a variação das

potências da célula a combustível e da bateria. Nota-se, no entanto, que, conforme apresentado

anteriormente, a potência máxima de fornecimento da soma dos subsistemas é mantida constante.

Como a potência específica da célula a combustível é maior do que a potência específica da bateria

do modelo, a massa do veículo é alterada com a variação do grau de hibridização. Entretanto, todos

os outros dados de entrada do modelo são mantidos constantes.

A Figura 4.1 mostra a aba do Advisor para a simulação do teste de capacidade subida em rampa

do veículo. O teste proposto ocorre de forma que, na velocidade constante de 55 mph e durante

1200 segundos, o software gere a máxima inclinação que o sistema da célula a combustível é capaz

de manter o veículo.

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52

Figura 4.1. Aba do Advisor para teste de capacidade de subida em rampa.

O teste de aceleração é realizado assumindo o funcionamento da célula a combustível e da bateria

e resulta no tempo mínimo de aceleração de 0-60 mph do modelo simulado.

A Tabela 4.1 apresenta os dados de entrada para as simulações realizadas de diferentes graus de

hibridização. Nela, destaca-se que a potência máxima da célula a combustível somada à potência

máxima da bateria de NiMH é constante em todas as configurações de graus de hibridização.

Ademais, é possível observar que o aumento do grau de hibridização resulta no aumento da massa

do veículo, uma vez que a potência específica da bateria de NiMH é menor que a da célula a

combustível.

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53

Tabela 4.1. Dados de Entrada das simulações de grau de hibridização do Toyota Mirai.

Grau de

hibridização

Potência

máxima da

célula a

combustível

Potência

máxima da

bateria de

NiMH

Módulos

de

bateria

Massa do

banco de

baterias

Massa do

empilhamento

de célula a

combustível

Massa do

veículo

com

carga

18,7% 130 kW 29,9 kW 22 23 kg 64 kg 1982 kg

19,3% 129 kW 30,9 kW 23 24 kg 63 kg 1982 kg

28,7% 114 kW 45,9 kW 34 35 kg 56 kg 1986 kg

40,0% 96 kW 63,9 kW 47 49 kg 47 kg 1991 kg

50,0% 80 kW 79,9 kW 59 61 kg 39 kg 1995 kg

60,0% 64 kW 95,9 kW 71 74 kg 31 kg 2000 kg

70,0% 48 kW 111,9 kW 83 86 kg 24 kg 2005 kg

70,6% 47 kW 112,9 kW 84 87 kg 23 kg 2005 kg

Os resultados dos testes de aceleração e capacidade de subida em rampa para diferentes graus de

hibridização simulados são apresentados na Figura 4.2.

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54

Figura 4.2. Resultados para os testes de aceleração e capacidade de subida em rampa.

Os resultados dos testes de aceleração e capacidade de subida em rampa para diferentes graus de

hibridização do Toyota Mirai são resumidos e apresentados na Tabela 4.2. Os resultados indicam

que a diminuição do grau de hibridização implica no aumento do tempo de aceleração. Por outro

lado, o aumento do grau de hibridização reduz a inclinação máxima em que a célula a combustível

é capaz de sustentar, durante 20 minutos e de maneira autônoma, o veículo a 55 mph.

(a) Simulação Hibridização 18,7% (b) Simulação Hibridização 19,3%

(c) Simulação Base (HD = 28,7%) (d) Simulação Hibridização 40,0%

(e) Simulação Hibridização 50,0% (f) Simulação Hibridização 60,0%

(g) Simulação Hibridização 70,0% (h) Simulação Hibridização 70,6%

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Tabela 4.2. Resultados dos testes de aceleração e capacidade de subida em rampa.

Hibridização 18,7% 19,3% 28,7% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 70,6%

Máxima inclinação

sustentada apenas

pelo FCS a 55 mph

por 20 minutos

12,9% 13,5% 17,8% 15,0% 12,4% 9,5% 6,6% 6,4%

Aceleração do

veículo de 0 a 60 mph

com fornecimento de

potência pelo FCS e

banco de baterias

12,4 s 11,8 s 8,8 s 7,9 s 7,6 s 7,6 s 7,6 s 7,6 s

Dessa forma, a identificação do limite inferior do grau de hibridização é estabelecida pelo tempo

de aceleração abaixo da restrição; já o limite superior é definido pela máxima inclinação que a

célula a combustível, autonomamente, é capaz de manter o veículo.

Assim, o limite inferior foi assumido como sendo de 19,3%, uma vez que a próxima possibilidade

de redução do grau de hibridização implicaria em um tempo de aceleração acima da restrição

proposta. Por outro lado, o limite superior do grau de hibridização foi definido em 70,0%, posto

que, a partir de 70,6%, a inclinação máxima que o sistema da célula a combustível é capaz de

sustentar difere em 6,5% para menos da restrição estabelecida.

4.1.2. Avaliação de performance

Simulações foram efetuadas a partir da variação do grau de hibridização do modelo atual, visando

avaliar possíveis otimizações ao Toyota Mirai. Dessa maneira, os graus de hibridização

apresentados em 4.1.1 e dentro dos limites estabelecidos serviram como base para as simulações

de 30 ciclos HWFET e 30 ciclos UDDS.

Os resultados para as simulações de diferentes graus de hibridização diante de 30 ciclos HWFET

são apresentados na Figura 4.3; as performances obtidas serão resumidas e comentadas mais

adiante. Já a Figura 4.4 mostra as telas de saída do Advisor para os graus de hibridização

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determinados diante de 30 ciclos UDDS. Em ambas as figuras é possível observar o aumento do

tempo de operação da célula a combustível com o aumento do grau de hibridização. Isso decorre,

em grande parte, da redução da potência mínima de operação da célula a combustível.

Foi observado que, com a redução de sua potência máxima, a distribuição da zona de alta eficiência

da célula a combustível se deslocava para potências inferiores. Dessa forma, avaliou-se que era

adequada a redução gradual da potência mínima de operação da célula a combustível até 10 kW,

em caso de o grau de hibridização ser de 70,0%. A Figura 4.5 ilustra a variação da curva de

eficiência da célula a combustível com o aumento do grau de hibridização.

Os resultados de performance obtidos serão resumidos e comentados mais adiante.

(a) Hibridização de 19,3%

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(b) Hibridização de 40,0%

(c) Hibridização de 50,0%

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(e) Hibridização de 70,0%

Figura 4.3 Telas de saídas do Advisor para simulações de diferentes graus de hibridização diante

de 30 ciclos HWFET.

(d) Hibridização de 60,0%

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(a) Hibridização de 19,3%

(b) Hibridização de 40,0%

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(c) Hibridização de 50,0%

(d) Hibridização de 60,0%

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(e) Hibridização de 70,0%

Figura 4.4 Telas de saídas do Advisor para simulações de diferentes graus de hibridização diante

de 30 ciclos UDDS.

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(a) Simulação base, de HD equivalente à 28,7%, para 30 ciclos UDDS.

(b) Simulação com HD equivalente à 70,0% para 30 ciclos UDDS

Figura 4.5. Curva de eficiência da célula a combustível para diferentes simulações.

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A Tabela 4.3 sumariza os resultados das simulações de diferentes graus de hibridização dentro dos

limites estabelecidos em 4.1.1 para 30 ciclos HWFET e 30 ciclos UDDS. Os resultados gerados

pelo Advisor indicam uma redução do consumo de combustível e, também, do tempo de aceleração

conforme o aumento do grau de hibridização. A velocidade máxima apresenta pequenas variações

e, em todos os casos, é mantida significativamente acima do proposto pela PNGV.

Tabela 4.3. Resultados de performance das simulações de hibridização do Toyota Mirai.

Grau de hibridização 19,3% 28,7% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

Consumo de Combustível -

UDDS (MPGE) 51,6 54,8 54,6 56,4 57,4 58,5

Consumo de Combustível -

HWFET (MPGE) 67,1 70,6 72,5 73,2 75,0 77,0

Consumo de Combustível -

Combinado (MPGE) 57,6 60,9 61,4 62,9 64,2 65,6

Velocidade máxima (mph) 98,1 97,6 97,5 97,5 97,4 97,4

Aceleração de 0-60 mph (s) 11,8 8,8 7,9 7,6 7,6 7,6

Aceleração de 0-62 mph (s) 12,7 9,4 8,4 8,0 8,0 8,0

Dessa forma, o estudo proposto avalia que há ganhos consistentes de performance com o aumento

do grau de hibridização (HD) do Toyota Mirai, até o limite superior de 70,0%. Em comparação à

simulação base, cujo HD é de 28,7%, há uma economia estimada em 7,6% no consumo de

combustível no ciclo combinado. Ademais, obteve-se uma redução de 1,4 segundos – cerca de

13,6% – no tempo de aceleração de 0-62 mph. No item 5.4 será avaliado se essa otimização

também ocasiona benefícios financeiros.

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64

4.2. Estudo de alteração de bateria

Como introduzido em 2.4, as baterias de Li-ion vêm se destacando pela rápida inserção no mercado

de veículos elétricos. Nesse cenário, o Toyota Mirai se configura como um dos principais veículos

híbridos que ainda utilizam a bateria de NiMH. Esse tópico tem como objetivo a avaliação da

performance do Toyota Mirai em vista da mudança de sua bateria de NiMH para uma equivalente

de Li-ion. Tais análises serão feitas conforme as configurações de simulação base, cujo grau de

hibridização (HD) é de 28,7%, e também com o HD determinado em 70,0%, referente à proposta

de otimização explicada em 4.1.2.

As simulações de alteração consistiram na manutenção da capacidade da bateria, característica de

18 Ah e peso do módulo de 1,04 kg. No entanto, a potência específica da bateria de Li-ion,

configurada no Advisor para tais especificações, é de 1,8 kW/kg, isto é, cerca de 0,5 kW/kg maior

do que a potência específica da bateria de NiMH. Assim sendo, fez-se necessária a redução do

número de módulos para que, em cada simulação, a potência máxima do banco de baterias se

mantivesse constante. Posto isto, o objetivo do presente item é avaliar o impacto da mudança do

tipo de bateria, mantendo-se a potência máxima fornecida e o grau de hibridização constantes.

Dessa forma, na alteração do tipo de bateria da simulação base, de NiMH para Li-ion, o número

de módulos de bateria foi reduzido para 25, buscando equivalência com a potência máxima de 45,9

kW do banco de baterias de NiMH. Consequentemente, houve uma redução de 9 kg do veículo

simulado.

O resultado da simulação base diante de 30 ciclos HWFET e 30 ciclos UDDS é apresentado na

Figura 4.6

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65

(a) 30 ciclos HWFET

(b) 30 ciclos UDDS

Figura 4.6. Telas de saída do Advisor para a simulação do Toyota Mirai com alteração para a

bateria de Li-ion.

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A alteração para a bateria de Li-ion proporciona ganhos significativos de economia de

combustível, como é possível observar na Figura 4.7. De fato, a bateria de Li-ion simulada

apresenta maior eficiência quando comparada à bateria de NiMH.

(a) Eficiência da bateria de NiMH na simulação base para 30 ciclos UDDS.

(b) Eficiência da bateria de Li-ion na simulação base para 30 ciclos UDDS.

Figura 4.7. Resultados do Advisor para eficiência dos tipos de bateria simulados.

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67

Posteriormente, foram efetuadas simulações de alteração do tipo de bateria para o modelo

configurado com grau de hibridização de 70,0%. A mesma metodologia foi aplicada, tendo como

único diferencial a potência máxima do banco de baterias do modelo, sendo, neste caso, de 111,9

kW, conforme mostra a Tabela 4.1. Assim, foram necessários 60 módulos de bateria de Li-ion para

atingir a mesma potência máxima dos 83 módulos de bateria de NiMH, conforme proposto na

simulação de grau de hibridização de 70,0% do Toyota Mirai. Os resultados dessas simulações

para 30 ciclos HWFET e 30 ciclos UDDS são mostrados na Figura 4.8.

(a) 30 ciclos HWFET.

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(b) 30 ciclos UDDS.

Figura 4.8. Telas de saída do Advisor para a simulação do Toyota Mirai com grau de

hibridização de 70,0% e alteração para a bateria de Li-ion.

A Tabela 4.4 sumariza os resultados do estudo da alteração do tipo de bateria no Toyota Mirai.

Em ambos os graus de hibridização propostos, é possível a observação de ganhos expressivos em

economia de combustível e na redução do tempo de aceleração do veículo a partir da mudança

para a bateria de Li-ion. A redução do consumo de combustível chega a ser de 7,1% quando o grau

de hibridização é de 28,7%; já a redução do tempo de aceleração fica em cerca de 20% quando o

grau de hibridização é de 70,0%. Cabe destacar que a potência máxima atingida pelo banco de

baterias de Li-ion diverge marginalmente dos correspondentes. Isso ocorre devido à limitação de

flexibilidade do software, o qual define a potência específica da bateria indiretamente a partir das

entradas do número de módulos e capacidade.

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Tabela 4.4. Comparativo das simulações do Toyota Mirai para diferentes HDs e tipos de bateria.

HD=28,7% HD=70,0%

34 módulos

de bateria de

NiMH

25 módulos

de bateria de

Li-ion

83 módulos

de bateria de

NiMH

60 módulos

de bateria de

Li-ion

Potência Máxima da

Bateria (kW) 45,9 46,7 111,9 112,1

Voltagem Nominal 262 267 639 640

Peso do veículo com carga

(kg) 1986 1977 2005 1981

Consumo de Combustível -

UDDS (MPGE) 54,8 59,1 58,5 63

Consumo de Combustível -

HWFET (MPGE) 70,6 74,9 77,0 78,7

Consumo de Combustível -

Combinado (MPGE) 60,9 65,3 65,6 69,2

Velocidade máxima (mph) 97,6 97,6 97,4 96,7

Aceleração de 0-60 mph (s) 8,8 8,5 7,6 6,1

Aceleração de 0-62 mph (s) 9,4 9,0 8,0 6,4

Os resultados do presente item corroboram para a otimização do veículo através da troca do tipo

de bateria para Li-ion, assim como os resultados em 4.1.2 apontam para um ganho de performance

com o aumento do grau de hibridização até seu limite superior. No entanto, sabe-se que uma das

principais desvantagens da bateria de Li-Ion em relação às de NiMH é o custo inicial do banco de

baterias. Para tal, é necessária a avaliação econômica das mudanças propostas, a fim de que as

otimizações levantadas impliquem em um impacto positivo ao consumidor final.

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70

A Figura 4.9 e a Figura 4.10 ilustram os principais resultados do capítulo. A Figura 4.9 mostra a

redução do consumo de combustível, em kWh/100km, com o aumento do grau de hibridização,

bem como a partir da alteração da bateria para Li-ion. Já a Figura 4.10 apresenta os resultados das

simulações que indicam uma redução do tempo de aceleração do veículo de 0-60 mph (0-95,6

km/h) para as mesmas propostas de mudanças de configurações. A linha azul da figura mostra o

efeito do aumento do grau de hibridização no tempo de aceleração do modelo simulado, utilizando-

se da bateria padrão de NiMH. Os pontos verdes representam o tempo de aceleração mediante

alteração da bateria para Li-ion e sob as configurações de grau de hibridização base (HD sendo de

28,7%) e 70,0%.

Figura 4.9 Consumo de energia pela célula a combustível em kWh para diferentes configurações

veiculares.

40,6

31,2

36,4

38,2

29,7

34,4

38,4

28,9

34,1

37,1

28,6

33,3

36,5

27,9

32,6

35,8

27,2

31,933,2

26,6

30,3

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

UDDS HWFET Ciclo combinado

Hibridização de 19,3% Simulação base (HD=28,7%)

Hibridização de 40,0% Hibridização de 50,0%

Hibridização de 60,0% Hibridização de 70,0%

Hibridização de 70,0% com bateria de Li-Ion

kW

h/1

00

km

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71

Figura 4.10. Tempo de aceleração de 0-60 mph em função do grau de hibridização e do tipo de

bateria.

Em comparação à simulação base do Toyota Mirai, a simulação que combinou as propostas de

grau de hibridização de 70,0% e a utilização da bateria de Li-ion apresentou uma redução no

consumo de combustível de cerca de 12% associada à uma redução de 2,7 segundos no tempo de

aceleração de 0-60 mph.

Dessa forma, avalia-se que os resultados desse capítulo tenham sido expressivos. Conforme

detalhado, ambas as propostas – de aumento do grau de hibridização e da mudança do tipo de

bateria – geraram reduções significativas do consumo de combustível e também dos tempos de

aceleração do modelo simulado. Sendo assim, conclui-se que as propostas de configuração do grau

de hibridização do Toyota Mirai em 70,0% e a alteração do seu banco de baterias para Li-ion

apresentam elevado potencial de melhoria de performance ao veículo atual.

11,8

8,8

7,97,6 7,6 7,6

8,5

6,1

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

11,0

12,0

19,3% 28,7% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

Bateria de NiMH

Bateria de Li-Ion

Grau de hibridização

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72

5. Análise Econômica

Esse capítulo visa realizar uma análise econômica ampla do Toyota Mirai e das propostas de novas

configurações abordadas no capítulo 4. Dessa forma, a priori, discutem-se as condições de

operação do veículo. Em seguida, serão levantados dados e hipóteses de custos dos componentes

do Toyota Mirai. Após essas duas etapas, serão elaborados os custos de produção, venda e

operação do veículo. Os resultados serão validados de acordo com o preço do Toyota Mirai no

mercado. Finalmente, nos últimos itens será avaliado, de uma perspectiva econômica, o benefício

das modificações do veículo no que tange ao grau de hibridização e ao tipo de bateria. É importante

ressaltar que a análise econômica realizada nesse capítulo é referente ao mercado americano

devido à extensa literatura disponível.

5.1. Condições de operação e vida útil

As condições de operação do veículo não são uniformes entre consumidores. Além disso, veículos

de mesmo modelo e diante das mesmas condições de operação podem apresentar vidas úteis

diferentes, conforme lote de fabricação, entre outros fatores. Dessa forma, o presente item irá

definir hipóteses para as condições de operação e vida útil dos componentes do Toyota Mirai de

acordo com valores médios estimados.

Primeiramente, foi definida a distância média anual percorrida pelo veículo. A base de dados do

FASTSim estima que o condutor americano percorre uma distância média de 12.375 milhas por

ano, aproximadamente 19.924 km, quando o veículo atinge o tempo de meia vida. Além disso, o

software também estima a redução da distância percorrida por ano em 546 milhas,

aproximadamente 879 km. Ou seja, para que um veículo tenha Y anos de vida útil, a distância

média percorrida no ano Y/2 é de 12.375 milhas. A cada ano anterior a Y/2 são acrescidas 546

milhas à distância média percorrida; o inverso ocorre para cada ano posterior a Y/2.

Tais hipóteses de distância média percorrida serão mantidas após a definição da vida útil do

veículo. Dessa maneira, a equação (5.1) foi elaborada para a obtenção da distância média

percorrida em um mês. A formulação proposta será recorrentemente utilizada nas etapas

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73

posteriores, a fim de obter as estimativas de despesas de combustível ao longo da vida útil do

veículo.

D(t) = (tútil

2−

t

12) x (

Rano

12) + (

Dm

12) (5.1)

Onde t é o número de meses desde a compra do veículo; D(t) é a distância média percorrida no

mês t em milhas; tútil é a vida útil do veículo am anos; Rano é a redução da distância percorrida

por ano em milhas; e Dm é a distância média percorrida na vida média do veículo em milhas.

A única variável ainda não definida da equação é a vida útil do Toyota Mirai. Como o veículo

começou a ser produzido em 2013, não foi possível a obtenção de dados empíricos que indiquem

sua vida útil. No entanto, como será abordado no item 5.3, estima-se que, atualmente, a célula a

combustível seja o componente mais caro do veículo. Dessa forma, avaliou-se que a vida útil do

mesmo deve ser equivalente à vida útil da célula a combustível, tendo em vista que uma troca

futura da célula a combustível custaria mais do que o próprio valor do carro depreciado. Além

disso, com o avanço da tecnologia, as células a combustível futuras podem não ser compatíveis

com o modelo do Toyota Mirai 2016/2017.

A Toyota estabelece a garantia do sistema da célula a combustível do Toyota Mirai por 8 anos ou

100.000 milhas, que, convertidas, representam 160.934 km. No entanto, a empresa não

disponibiliza a estimativa da vida útil da célula a combustível PEMFC, tampouco o FASTSim.

Dessa forma, foi necessária a elaboração da hipótese da vida útil baseada em outras fontes da

literatura. A DOE [22] estabelece que a meta de expectativa de vida das células a combustível de

um FCHEV deve ser de 150.000 milhas, aproximadamente 241.402 km, até o ano de 2020. No

mesmo estudo é divulgado que a célula a combustível de FCHEVs com maior vida útil até 2015

apresentou durabilidade de 5.600 horas, que corresponderiam à cerca de 168.000 milhas (~270.370

km). Dessa maneira, a expectativa de vida da célula a combustível do Mirai foi assumida em

150.000 milhas no presente trabalho.

Sendo assim, faz-se imprescindível a utilização da Equação (5.1), a qual relaciona a vida útil do

veículo, seja ela em anos ou meses, e a distância percorrida. A partir do processo interativo, obtém-

se que a vida útil estimada do veículo é de 145 meses, isto é, 12,08 anos. Dessa forma, nota-se que

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vida útil esperada para o Toyota Mirai se encontra abaixo da vida útil de um veículo convencional,

a qual está estimada em 15 anos, conforme a base de dados do FASTSim.

Por fim, a expectativa de vida da bateria de NiMH do Toyota Mirai é estimada em 159.250 milhas

(256.288 km) pela base de dados do FASTSim. Sendo assim, assumiu-se essa hipótese para o

presente trabalho. Nota-se que tal expectativa de vida da bateria de NiMH está acima da vida útil

estimada do veículo, a qual foi apresentada anteriormente.

A Tabela 5.1 resume as hipóteses de condições de operações e vida útil elaborada nesse item. Essas

hipóteses serão utilizadas para cálculos posteriores ao longo desse capítulo.

Tabela 5.1. Hipóteses de condições de operação e vida útil adotadas.

Especificação Hipóteses

Vida útil da célula a combustível (km) 241.402

Vida útil da bateria (km) 256.288

Vida útil do veículo (km) 241.402

Vida útil do veículo (anos) 12,08

Distância média percorrida por ano (km) 19.916

Redução da distância percorrida por ano (km) 879,0

5.2. Custos

O estudo de custos do Toyota Mirai foi desmembrado em levantamento de custos de produção dos

componentes do veículo, despesas de combustíveis ao consumidor e hipóteses financeiras de

margens ao longo da cadeia produtiva, impostos de venda e taxa de desconto. Todos os custos

foram definidos conforme os dados mais recentes encontrados e são avaliados em dólares

americanos.

O objetivo da análise econômica é comparar diferentes configurações veiculares. Sendo assim,

avaliou-se que os custos das manutenções periódicas e aleatórias teriam efeito comparativo

marginal ao estudo de diferentes configurações. Dessa forma, a análise não englobará tais custos.

Além disso, conforme explicado no item 5.1, as expectativas de vida da célula a combustível e da

bateria estimadas são maiores ou iguais à vida útil do veículo, isto é, durante a vida útil do veículo

não há a expectativa de troca da célula a combustível ou da bateria.

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75

Para o levantamento de custos, os componentes do veículo foram discriminados em motor elétrico,

célula a combustível, tanque de hidrogênio, banco de baterias e carroceria do veículo, além de

componentes extras.

Segundo a base de dados do FASTSim, a estimativa de custo do Toyota Mirai, descontando motor

elétrico, bateria, célula a combustível e tanque de combustível, é de $17.014,00. O FASTSim

também estabelece que o custo da célula a combustível do FCHEV é de 170,00 $/kW. O tanque

de hidrogênio é avaliado em 16,00 $/kWh pela base de dados do software. Por fim, o FASTSim

esmiúça o custo do motor elétrico em um valor fixo de $425,00 mais um acréscimo variável de

21,70 $/kW.

Koshhan et al. [23] afirmam que o custo do banco de baterias deve ser dividido em custos fixos,

os quais são independentes ao tamanho da bateria, e custos variáveis de acordo com o kWh da

bateria. Os autores estimam que os custos fixos de uma bateria para veículos elétricos híbridos

correspondem a $405,00; entretanto, o custo variável da bateria de NiMH do Mirai é estimado em

145,00 $/kW, segundo o FASTSim. Baseado na pesquisa realizada pela “Bloomberg New Energy

Finance” no ano de 2017 [24], o preço variável dos bancos de baterias de Li-ion para veículos

elétricos é, em média, 209 $/kWh.

A margem bruta do fabricante foi assumida em 10,0%, conforme o intervalo de margem de

fabricantes de veículo híbridos elétricos definido por Koshhan et al. [23]. Segundo os autores, a

margem de vendas do revendedor varia de 5,0 a 15,0%. Para o presente estudo, a margem do

revendedor será definida posteriormente e dentro do intervalo estabelecido, afim de que a

validação das hipóteses de custos do veículo se iguale ao preço de venda do mesmo no varejo. Os

impostos sobre vendas do Toyota Mirai nos Estados Unidos foram assumidos em 7,8%, de acordo

com a base do FASTSim. Não foi realizada nenhuma hipótese de custos logísticos, uma vez que o

consumidor final paga um valor extra pelo frete do Toyota Mirai [25].

A DOE divulga periodicamente o preço médio de combustíveis alternativos nos postos de

abastecimento americanos; os valores divulgados já incluem impostos. No relatório de julho de

2018 [26], o preço médio do hidrogênio nos postos de abastecimento foi de 15,82 $/GGE (15,53

$/kg de hidrogênio). Para evitar fazer inferências futuras sobre o preço de hidrogênio nos postos,

assumiu-se que o preço do combustível se mantém constante ao longo da vida útil do veículo.

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Julgou-se importante trazer as despesas futuras de combustível para um valor presente, pois, com

o decorrer do tempo, o dinheiro perde valor em razão da inflação. Nesse sentido, Zhang [27]

introduz o cálculo para a conversão do valor futuro em valor presente como segue na equação:

VP =𝑉𝐹

(1 + 𝑑)𝑛 (5.2)

Onde VP é o valor presente; VF corresponde ao valor futuro; d é a taxa de desconto; e n é o número

de anos no futuro.

Dessa forma, a definição da taxa de desconto é fundamental para a obtenção dos pagamentos

futuros em valor presente. O percentual de desconto é estabelecido como a taxa de juros sem risco

em que o investidor é remunerado. Como a vida útil do veículo é de longo prazo, superior à 10

anos, a taxa de desconto assumida como hipótese foi de 3,20%, valor referente à taxa de

remuneração do título do tesouro americano para o tempo de 10 anos [28].

A Tabela 5.2 resume as hipóteses de custos elaboradas nesse item. Posteriormente, no item 5.3,

essas hipóteses serão validadas em relação ao preço de venda do Toyota Mirai aos consumidores.

Tabela 5.2. Hipóteses de custos.

Especificação Hipóteses

Preço do veículo sem a bateria, o motor e o tanque de hidrogênio $ 17.014,00

Custo da célula combustível $ 170,00 por kWh

Custo do tanque de hidrogênio $16,00 por kWh

Custo fixo do motor elétrico $ 425,00

Custo variável do motor elétrico $ 21,70 por kWh

Custo fixo da bateria (NiMH e Li-ion) $ 405,00

Custo variável da bateria de NiMH $ 145,00 por kWh

Custo variável da bateria de Li-ion $ 209,00 por kWh

Margem bruta do fabricante 10,0%

Margem de vendas do revendedor A ser definida entre 5,0 a 15,0%

Impostos sobre venda 7,8%

Preço do combustível hidrogênio $ 15,82 por GGE

Preço do combustível hidrogênio $ 15,53 por kg

Taxa de desconto 3,20%

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77

5.3. Preço de mercado

Conforme explicado no item 5.2, a Toyota não disponibiliza os custos do Mirai discriminados por

componentes. Dessa forma, a validação das hipóteses de custos de produção e venda do veículo,

levantadas no item 5.2, foi realizada a partir da comparação entre preço de venda do Toyota Mirai

modelo 2016/2017 no mercado e o preço de venda construído a partir das hipóteses de custos

assumidas. Em 2017, segundo divulgação da Toyota [25], o preço de venda – descontando o frete

– do Mirai nos Estados Unidos era de $57.500.

A Tabela 5.3 mostra a elaboração do preço sugerido de vendas do Toyota Mirai conforme os

parâmetros do veículo dados pelo fabricante e as hipóteses de custos definidas no item 5.2. A

margem de vendas do revendedor foi assumida em 13,8%, permanecendo dentro do intervalo de

5,0 a 15,0% constatado por Kochhan et al. [23], para a convergência entre preço de venda

elaborado e o preço de venda do Mirai no mercado americano.

Tabela 5.3. Elaboração do preço sugerido de venda do Mirai a partir das hipóteses definidas.

Especificação Valor Variáveis do

veículo Valor Final

Preço do veículo sem bateria, motor e

tanque de combustível $17.014,00 - $17.014,00

Custo do tanque de hidrogênio ($/kWh) $16,00 168,5 kWh $2.696,00

Custo fixo do motor elétrico $425,00 - $425,00

Custo variável do motor elétrico

($/kW) $21,70 113 kW $2.452,10

Custo da célula a combustível ($/kW) $170,00 114 kW $19.380,00

Custo fixo da bateria $405,00 - $405,00

Custo variável da bateria ($/kWh) $145,00 1,59 kWh $230,72

Custo de produção do veículo - - $42.602,82

Margem do fabricante 10,0% - $4.260,28

Margem de vendas do revendedor 13.8% $6,476.41

Impostos sobre vendas 7.8% - $4,160.48

Preço sugerido de venda - - $57,500.00

Preço de mercado do Toyota Mirai - - $57,500.00

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Em razão da convergência entre o preço sugerido de vendas, a partir das hipóteses de custos

elaboradas, e o preço de mercado do Toyota Mirai, avaliou-se que as conjecturas de custos para

cada componente descrito são estimativas suficientemente adequadas. Dessa forma, a Figura 5.1

mostra a decomposição estimada do preço de venda do Toyota Mirai no mercado americano.

Destaca-se a informação de que a célula a combustível representa mais de um terço do valor de

venda do veículo. De fato, esse é um indicativo da potencial redução dos custos, se feita a

modificação do grau de hibridização do veículo.

Figura 5.1. Decomposição do preço sugerido de venda por componente (%).

Além do preço de venda, a análise de custos do veículo também deve incorporar os custos de

operação do mesmo. Conforme explicado no item 5.2, a estimativa da vida útil da bateria e da

célula a combustível são iguais ou superiores à vida útil do veículo. Além disso, observou-se que

os custos das manutenções periódicas e aleatórias apresentam efeito comparativo marginal ao

29,6%

4,7%

5,0%

33,7%

1,1%

7,4%

11,3%

7,2%

Preço do véiculo sem bateria,

motor e tanque de combustível

Custo do tanque de hidrogênio

Custo do motor elétrico

Custo da célula combustível

Custo da bateria

Margem do fabricante

Margem de vendas do

revendedor

Impostos sobre vendas

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presente trabalho. Dessa forma, os custos de operação avaliados se resumem às despesas com os

combustíveis.

Sendo assim, as hipóteses elaboradas nos itens 5.1 e 5.2 foram utilizadas para a avaliação da soma

dos valores presentes das despesas mensais de combustível ao longo da vida útil do veículo. Os

resultados para os dados de consumo de combustível disponibilizados pelo fabricante de 67 MPGe

são apresentados na Tabela 5.4.

Tabela 5.4. Elaboração de custos do Mirai ao consumidor final

Preço sugerido para o consumidor final $57.500,00

Valor presente das despesas com combustível $29.696,94

Custo total do veículo para o consumidor final* $87.196,94 * Excluindo despesas com manutenções.

O valor presente das despesas com combustível ao longo da vida útil do veículo é bastante

significativo nas despesas totais do mesmo. Dessa maneira, há a confirmação da relevância do

consumo de combustível do veículo para a análise econômica do Toyota Mirai.

5.4. Influências do grau de hibridização

Após a elaboração e validação de custos do Toyota Mirai, foi realizada a avaliação dos custos para

diferentes configurações de graus de hibridização, anteriormente estudados no item 4.1. Dessa

forma, repetiu-se o processo de ajuste das hipóteses de custos de acordo com os parâmetros do

veículo para diferentes graus de hibridização, visando obter resultados estimados de custos de

produção e preço de venda sugerido, bem como o valor presente das despesas com combustíveis

para cada configuração.

Em relação aos custos de produção do veículo, a alteração do grau de hibridização resulta apenas

em variações dos custos variáveis da bateria de NiMH e dos custos da célula a combustível. Os

percentuais de margens do fabricante e do revendedor são mantidos constantes para as diferentes

configurações de graus de hibridização, logo, o preço de venda sugerido é impactado diretamente

pelas mudanças dos custos de produção. Por fim, o valor presente de combustível do veículo varia

de acordo com o consumo de cada configuração, conforme visto na Tabela 4.3.

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A Tabela 5.5 a seguir apresenta a elaboração de custos discriminados por componentes do Mirai

para as diferentes configurações de graus de hibridização, já simuladas no item 4.1. Nota-se que

os componentes que alteram as estimativas de produção do veículo se resumem aos custos da

bateria e da célula a combustível.

Tabela 5.5. Elaboração de custos do Toyota Mirai para diferentes graus de hibridização

Especificação Dados do

Fabricante

HD

19,3%

HD

28,7%

HD

40,0%

HD

50,0%

HD

60,0%

HD

70,0%

Preço do veículo

sem bateria, motor e

tanque de

combustível (USD)

$17,014

Custo do tanque de

hidrogênio $2,696

Custo base do motor

elétrico $425

Custo variável do

motor elétrico $2,452

Custo base da

bateria de NiMH $405

Custo variável da

bateria de NiMH $231 $167 $247 $341 $428 $515 $602

Custo da célula a

combustível $19,380 $21,930 $19,380 $16,320 $13,600 $10,880 $8,160

Custos de produção $42,603 $45,089 $42,619 $39,653 $37,020 $34,387 $31,754

Margem do

fabricante $4,260 $4,509 $4,262 $3,965 $3,702 $3,439 $3,175

Margem de vendas

do revendedor $6,476 $6,854 $6,479 $6,028 $5,628 $5,227 $4,827

Impostos sobre

vendas $4,160 $4,403 $4,162 $3,872 $3,615 $3,358 $3,101

Preço de venda

sugerido $57,500 $60,855 $57,522 $53,519 $49,965 $46,411 $42,858

Valor presente das

despesas com

combustível

$29,697 $34,552 $32,652 $32,393 $31,635 $31,003 $30,335

Custo total do

veículo para o

consumidor final*

$87,197 $95,407 $90,174 $85,912 $81,600 $77,414 $73,193

* Excluindo despesas com manutenções

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81

Como explicado no item 4.1, o aumento do grau de hibridização implica no aumento da potência

máxima da bateria, assim como a redução da potência da célula a combustível. Ou seja, o aumento

do grau de hibridização resulta na redução dos custos da célula a combustível e no aumento dos

custos com o banco de baterias de NiMH.

No entanto, a elevação das despesas com o incremento de potência do banco de baterias é muito

inferior à diminuição de custos a partir da redução equivalente da potência da célula a combustível.

Dessa forma, o aumento do grau de hibridização resulta na redução líquida dos custos de produção

do veículo, como é possível observar na Figura 5.2.

Figura 5.2. Estimativas de custos discriminados por componentes do Toyota Mirai.

A Figura 5.3 resume os resultados dos custos para o consumidor apresentados nesse item em vista

dos diferentes graus de hibridização simulados, assim como dos dados do fabricante. O ganho com

o aumento da hibridização é expressivo, segundo a análise econômica.

$0

$10.000

$20.000

$30.000

$40.000

$50.000

$60.000

$70.000

$80.000

$90.000

$100.000

Dados do

Fabricante

Hibridização de

19,3%

Simulação base

(HD=28,7%)

Hibridização de

40,0%

Hibridização de

50,0%

Hibridização de

60,0%

Hibridização de

70,0%

Valor presente das despesas com combustível Impostos sobre vendas

Margem de vendas do revendedor Margem do fabricante

Custo da célula combustível Custo da bateria de NiMH

Custo do motor elétrico Custo do tanque de hidrogênio

Preço do véiculo sem bateria, motor e tanque de combustível

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82

O aumento do grau de hibridização dos atuais 28,7% até os 70,0%, estipulados como limite

superior, apresentam um potencial de redução de mais de 25% do preço de venda sugerido do

Mirai. Em suma, a diminuição do preço de venda seria de mais de 14.500,00 dólares.

Figura 5.3. Custos resumidos do Toyota Mirai ao consumidor.

Como o consumo de combustível no ciclo combinado dado pelo fabricante foi menor do que a

simulação base realizada, o valor presente das despesas de combustível é menor do que no grau de

hibridização máximo de 70,0%. No entanto, essa divergência não representa a tendência observada

nas simulações de redução do consumo de combustível pelo aumento do grau de hibridização.

Dessa maneira, avalia-se que o resultado das despesas de combustível da simulação base do Toyota

Mirai devam ser utilizados para efeitos comparativos. A partir dessa consideração, conclui-se que

também há potencial redução do valor presente das despesas de combustível com o aumento do

grau de hibridização. Em caso de alteração do HD para 70,0% em relação ao projeto base, a

redução do valor estaria em cerca de 7,0 %.

$42.603$45.089

$42.619$39.653

$37.020$34.387

$31.754

$14.897$15.767

$14.903

$13.866

$12.945

$12.024

$11.104

$29.697

$34.552$32.652 $32.393 $31.635 $31.003 $30.335

$0, 00

$10.000, 00

$20.000, 00

$30.000, 00

$40.000, 00

$50.000, 00

$60.000, 00

$70.000, 00

$0

$10.000

$20.000

$30.000

$40.000

$50.000

$60.000

$70.000

Dados dofabricante

HD = 19,3% HD=28,7% HD = 40,0% HD = 50,0% HD = 60,0% HD = 70,0%

Margens e impostos

Custos de produção

Valor presente das despesas com combustível

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83

5.5. Tipos de baterias

A segunda mudança de configuração do FCHEV avaliada no item 4.2 tratava-se da substituição

da bateria de NiMH para uma de Li-ion. Os resultados do item 4.2 apontaram para um ganho de

performance; no entanto, sabe-se que, atualmente, os bancos de baterias de Li-ion são mais caros

do que os equivalentes de NiMH. Conforme apresentado na Tabela 5.2, o custo variável de

produção do banco de baterias de Li-ion por kWh é estimado em 209,00 dólares, enquanto o preço

por kWh das baterias de NiMH é estimado em 145,00 dólares. Dessa forma, a análise econômica

da alteração do tipo de bateria é fundamental para identificar os possíveis benefícios da proposta.

Sendo assim, a Tabela 5.6 apresenta a elaboração de custos do Mirai para as configurações de

baterias de NiMH e Li-ion em relação a dois graus de hibridização: 28,7%, correspondente aos

dados base do Mirai, e 70,0%, referente à proposta de aumento de hibridização.

Tabela 5.6. Elaboração de custos do Mirai para diferentes configurações de bateria e graus de

hibridização.

Especificação

HD=28,7% HD=70,0%

Dados do

Fabricante

Bateria

NiMH

Bateria

Li-ion

Bateria

NiMH

Bateria

Li-ion

Preço do veículo sem bateria,

motor e tanque de combustível

(USD)

$17,014 $17,014

Custo do tanque de hidrogênio $2,696 $2,696

Custo base do motor elétrico $425 $425

Custo variável do motor elétrico $2,452 $2,452

Custo base da bateria $405 $405

Custo variável da bateria $231 $247 $363 $602 $869

Custo da célula a combustível $19,380 $8,160

Custos de produção $42,603 $42,619 $42,735 $31,754 $32,022

Margem do fabricante $4,260 $4,262 $4,273 $3,175 $3,202

Margem de vendas do revendedor $6,476 $6,479 $6,496 $4,827 $4,868

Impostos sobre vendas $4,160 $4,162 $4,173 $3,101 $3,127

Preço de venda sugerido $57,500 $57,522 $57,678 $42,858 $43,219

Valor presente das despesas com

combustível $29,697 $32,652 $30,471 $30,335 $28,747

Custo total do veículo para o

consumidor final* $87,197 $90,174 $88,149 $73,193 $71,966 * Excluindo despesas com manutenções

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84

A Figura 5.4 resume os principais custos ao consumidor final elaborados na Tabela 5.6.

Diferentemente da proposta de aumento de grau de hibridização, a qual apresenta benefícios

econômicos, tanto na redução do preço de venda estimado do veículo, quanto no valor presente de

despesas de combustíveis, a mudança do tipo de bateria apresenta ganhos monetários apenas na

análise de longo prazo de uso do veículo. Estima-se que a mudança do banco de baterias de NiMH

para Li-ion possa gerar um aumento de até 361,00 dólares no preço de venda do veículo ao

consumidor (soma dos custos de produção, margens e impostos), quando na situação de grau de

hibridização de 70,0%. No entanto, para a vida útil do veículo, avalia-se que o potencial de redução

de despesas com combustível seja de até 5,2%, ou 1588,00 dólares, na mesma situação.

Dessa forma, apesar do consumidor precisar investir um capital inicial maior para comprar um

FCHEV com bateria de Li-ion, quantifica-se que o resultado financeiro líquido é positivo ao longo

do tempo, uma vez comprovado o menor consumo de combustível do veículo diante dessa

configuração.

Figura 5.4. Comparativo de custos para diferentes configurações de bateria e graus de

hibridização.

$42.603 $42.619 $42.735

$31.754 $32.022

$14.897 $14.903 $14.943

$11.104 $11.197

$29.697

$32.652$30.471 $30.335

$28.747

$0, 00

$10.000, 00

$20.000, 00

$30.000, 00

$40.000, 00

$50.000, 00

$60.000, 00

$0

$10.000

$20.000

$30.000

$40.000

$50.000

$60.000

Dados dofabricante (bateria

de NiMH)

Simulação basecom bateria de

NiMH

Bateria de Li-Ion Bateria de NiMH Bateria de Li-Ion

Custos de produção

Margens e impostos

Valor presente das despesas com

combustível

HD=28,7%HD=70,0%

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85

A Figura 5.5 apresenta a variação dos custos totais do veículo ao consumidor em dólares, excluindo

as manutenções periódicas, em relação ao aumento do grau de hibridização e o tipo de bateria. A

linha em azul mostra o impacto da variação do grau de hibridização no modelo do Toyota Mirai,

simulado na soma dos custos de aquisição do veículo e das despesas com combustíveis. Os pontos

em verde apresentam a soma dos mesmos custos para a modificação da bateria de NiMH para Li-

ion nas configurações de grau de hibridização simulados.

Figura 5.5 Preço estimado de venda somado às despesas com combustível a valor presente em

função do grau de hibridização.

Em comparação ao modelo base de simulação do Toyota Mirai, os resultados apontaram que a

combinação entre o grau de hibridização até 70,0% e a alteração do banco de baterias para Li-ion

reduziriam os custos ao consumidor final em 18,208 dólares.

Sendo assim, identifica-se que há um elevado potencial de redução de custos com as propostas

tratadas no presente trabalho.

$95.407

$90.174

$85.912

$81.600

$77.414

$73.193

$88.149

$71.966

$70.000

$75.000

$80.000

$85.000

$90.000

$95.000

$100.000

19,3% 28,7% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

Bateria de NiMH

Bateria de Li-Ion

Grau de hibridização

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6. Conclusões

O objetivo deste trabalho foi a avaliação do impacto de novas configurações veiculares na

performance e na análise econômica de um FCHEV. Dessa forma, primeiramente, foi apresentada

a ferramenta computacional Advisor, capaz de simular veículos de diferentes tipos de sistemas de

propulsão a partir de uma ampla gama de parâmetros de entrada.

Em continuidade, definiu-se o Toyota Mirai como modelo base de FCHEV a ser estudado. Foram

coletadas as especificações do veículo nas diferentes fontes de literatura. Tais especificações foram

moldadas conforme as limitações do software e associadas às estratégias de controle elaboradas.

Dessa maneira, obtiveram-se os dados de entrada do modelo base, visando reproduzir o

funcionamento do Toyota Mirai 2016/2017.

Os resultados da simulação do modelo base no Advisor apresentaram desvios mínimos em relação

aos dados experimentais de performance. Sendo assim, a simulação foi validada.

Posteriormente, foi proposto o estudo do impacto da variação do grau de hibridização na

performance do Toyota Mirai. Esse estudo iniciou-se pela determinação dos limites do grau de

hibridização, conforme os requerimentos básicos da PNGV, e ajustados a um FCHEV. O resultado

estabeleceu o intervalo recomendado do grau de hibridização como sendo de 19,3% a 70,0%.

Em seguida, foram realizadas simulações que modificaram o grau de hibridização do modelo base

do Toyota Mirai, tendo em vista o intervalo estabelecido. Os resultados indicaram ganhos de

performance expressivos com o aumento do grau de hibridização até o limite superior de 70,0%.

Entre eles, destacaram-se as reduções de consumo de combustível e de tempo de aceleração em

relação à simulação base.

A segunda proposta de alteração de configuração veicular foi a do banco de baterias, substituindo

o de NiMH, padrão do Toyota Mirai, pelo banco de baterias equivalente de Li-ion, com mesma

potência máxima e kWh total. Tal modificação foi simulada para dois graus de hibridização:

28,7%, referente ao modelo base do Toyota Mirai, e 70,0%, referente à proposta anterior.

Novamente, os resultados das simulações indicaram melhoria de performance a partir da

modificação da bateria para Li-ion. Além disso, para as mesmas configurações de bateria de Li-

ion, a simulação com grau de hibridização de 70,0% apresentou menor consumo de combustível e

menor tempo de aceleração, se comparados aos valores obtidos com grau de hibridização base.

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Avaliou-se, então, que a configuração do grau de hibridização do Toyota Mirai em 70,0% e a

alteração do seu banco de baterias para Li-ion apresentaram elevado potencial de melhoria na

performance do veículo. Assim sendo, restava analisar se tais modificações também se traduziriam

em vantagens econômicas.

Nessa perspectiva, foi realizada uma análise econômica extensa, iniciada com o levantamento de

hipóteses de condições de operação e vida útil do veículo e de seus componentes. Em seguida,

foram elaboradas as estimativas de custos dos componentes do Toyota Mirai discriminados.

As aferições de custos foram avaliadas como adequadas após serem validadas em relação ao preço

de venda do Toyota Mirai no mercado americano em 2017.

Dessa maneira, prosseguiu-se para a avaliação dos custos do veículo ao consumidor final em

diferentes configurações de graus de hibridização e do tipo de bateria.

Os resultados apontaram para uma combinação de redução significativa dos custos de produção e

diminuição de despesas com combustível a partir do aumento do grau de hibridização do veículo.

A redução estimada do preço de venda em cerca de 25%, equivalente a 14.500 dólares, com o

aumento do grau de hibridização da configuração base até 70,0%, evidencia a magnitude da

diferença de custos por kW de potência entre as baterias e a célula a combustível.

Na formulação dos custos das propostas de alteração do banco de baterias, obteve-se como

resultado inicial o aumento dos custos de produção; entretanto, essa defasagem é superada pela

redução das despesas com combustíveis ao longo da vida útil do veículo.

Dessa forma, concluiu-se que os resultados obtidos neste trabalho indicam ganhos econômicos e

de performance, se realizados o aumento do grau de hibridização do Toyota Mirai até 70,0% e a

alteração do seu banco de baterias para Li-ion.

Finalmente, a partir do presente trabalho, é possível sugerir a abordagem de novos tópicos de

estudos que contribuam para as análises desenvolvidas. Um posterior aprofundamento poderia se

basear no presente trabalho, a fim de estimar a intensidade necessária das reduções de custos

envolvidas na produção e operação do Toyota Mirai, objetivando torná-lo competitivo

financeiramente no atual mercado de veículos médios. A abordagem deveria incluir as propostas

de modificações levantadas no presente trabalho.

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Apêndice A – Dimensões e disposição do banco

de baterias do Toyota Mirai

As dimensões do módulo de bateria de NiMH utilizadas no Toyota Mirai são disponibilizadas pela

fornecedora Primearth EV Energy – PEVE [35]. A Tabela A.1 apresenta as dimensões de um

módulo de bateria do veiculo especificadas pela PEVE.

Tabela A.1. Dimensões do módulo de bateria do Toyota Mirai.

Dessa forma, infere-se que volume de um módulo de bateria de NiMH do Toyota Mirai é de cerca

de 0,592 litros. Como o banco de baterias do Toyota Mirai é composto de 34 módulos, o volume

do banco de baterias estimado é de cerca de 20,132 litros.

O banco de baterias do Toyota Mirai dispõe-se na parte traseira do veículo, conforme mostrado na

Figura A.1.

Dimensões externas Valor (mm)

Comprimento 285,0

Largura 19,6

Altura 106,0

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Figura A.1. Vista de topo ilustrativa do Toyota Mirai [29]