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Reverberações do tango em tempos e espaços Simone Luci Pereira Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de S.Paulo (PUC- SP). Pós-doutoranda em Música na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). [email protected]

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    Simone Luci PereiraDoutora em Cincias Sociais pela Pontifcia Universidade Catlica de S.Paulo (PUC-SP). Ps-doutoranda em Msica na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). [email protected]

  • ArtCultura, Uberlndia, v. 14, n. 25, p. 237-242, jul.-dez. 2012238

    Reverberaes do tango em tempos e espaosReverberations of tango in times and spaces

    Simone Luci Pereira

    VALENTE, Heloisa (org.). Donde estas, corazn?: o tango no Brasil, o tango do Brasil. So Paulo: ViaLettera, 2012.

    Tango, samba, bolero, msica sertaneja, etc. Argumentar sobre a relevncia e a pertinncia da noo de gnero musical na reflexo sobre a cano popular parece ser desnecessrio, dada a utilizao macia do termo por estudiosos de reas variadas que lidam com este tema. Sem dvida, quando se trata de estudar a indstria fonogrfica e o mercado musical, a noo de gnero musical parece basilar para orientar a reflexo sobre como etiquetas e categorizaes de estilos colaboram na formulao do consumo musical. No entanto, a prpria noo de gnero vem merecendo uma dis-cusso e - por que no? um redimensionamento. Isso porque observamos na atualidade uma reconfigurao cada vez maior das chamadas indstrias fonogrficas na tentativa de lidar com um mercado cada vez mais fluido, possibilitado pelas novas tecnologias de gravao, distribuio e consumo musical.1 Aliado a isso, relativiza-se a noo de gnero musical e seu po-der explicativo totalizador porque a apropriao das canes feitas pelos ouvintes muitas vezes borra estas fronteiras mercadolgicas e estilsticas. Lembrando as reflexes do musiclogo Rubn Lpez Cano2, a categorizao das msicas diversas em gneros, responde a uma necessidade de gene-ralizao prpria da cognio humana, mas que se articula s diferentes competncias musicais dos ouvintes, sua capacidade de produzir sentido quilo que escuta. Lpez Cano enfatiza ainda que a pertena a um gnero musical no algo inerente a cada cano, mas esta diviso se define pela lgica dos usos da msica, ou seja, tem a ver com contextos sociais, culturais e histricos em que ocorre o consumo musical.

    Assim, como pensar gneros musicais - que alcanaram evidncia em meados do sculo XX - na atualidade, em pleno sculo XXI? Gneros que apesar de construdos pela Histria e/ou pelas mdias como smbolos de culturas e identidades locais ou aliados ao um projeto de Estado-Nao (em alguns casos), se mostram cada vez mais modificados de sua forma original, incorporando elementos, destituindo outros, transformando-se. Mais do que isso, num momento em que se vem cada vez mais presentes as caractersticas de um processo de internacionalizao, globalizao, mundializao em que a efemeridade e um suposto aniquilamento dos localismos parecem ser predominantes como refletir sobre os processos de tradio seletiva (o que se deve conservar/esquecer) e suas articulaes com noes de pertencimento/identidade projetadas por estas canes?

    1 Em 2011 e 2012, o sucesso retumbante da grande mdia Ai se eu te pego, cantado por Michel Tel, parece atestar esta reali-dade: trata-se de um axemusic de Porto Seguro, um sertanejo universitrio, ou o que?.2 LPEZ CANO, Rubn. Tonos humanos y analisis musical: una asignatura pendiente. Ponencia presentada em el VII CONGRESO DE LA SOCIE-DAD DE ETNOMUSICOLO-GIA (SIBE) Voces e imgenes em la etnomusicologa actual. Museo Nacinal de Antropolo-gia. Madrid, 25 a 27 de junio de 2002. Disponvel em: . Acesso em 10 mar 2012.

    Bruno AzevedoRealce

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    asNo ser o caso de abandonarmos a noo de gnero musical, mas

    de estarmos atentos sua fluidez, sua caracterstica aberta, apropriada e reapropriada em diferentes momentos e contextos. No fio desta reflexo, muito bem vindo o livro organizado por Heloisa Valente, Donde ests, corazn?: o tango no Brasil, o tango do Brasil, que trata de historicizar este gnero musical, em suas transformaes e em suas diferentes escutas. A bem organizada coletnea de artigos fruto do trabalho de pesquisa encabeado por Valente, coordenadora do MusiMid (Centro de Estudos em Msica e Mdia)3, que tem se dedicado nos ltimos anos a pesquisar e refletir sobre gneros musicais miditicos estabelecidos, que tiveram seu aparecimento e xito entre as dcadas de 1920 e 1960. Estas canes das mdias, como bem intitula e define a pesquisadora, assim so chamadas por estarem intrinsecamente ligadas aos suportes, meios, tecnologias, linguagens e pos-sibilidades scio-culturais advindas com os meios de comunicao sonoros e audiovisuais. Aliado a isso, os trabalhos do grupo vm enfatizando as caractersticas de nomadismo e movncia - conceitos apropriados da reflexo sobre oralidade do estudioso da cultura Paul Zumthor4 - assumidas por estes gneros, que tornam possveis sua sobrevivncia e reverberao em outros tempos e lugares, em latitudes diversas.

    J no Prefcio, o musiclogo chileno Juan Pablo Gonzlez atenta para o ttulo do livro que evoca um tango no e do Brasil (algo que ex-plicitado nos demais captulos) e sua ausncia/presena na atualidade. O autor lembra que na dcada de 1950, o tango perde a cena para uma onda de mexicanizao ou caribeanizao que nos atravessa e desponta em boleros, cha-cha-chas e mambos, fazendo com que o prprio gnero portenho enfatizasse o elemento danante. Donde ests, corazn? acentua a necessidade de compreendermos os silncios da histria, a dinmica entre lembrana e esquecimento a qual o tango nos remete.

    A pergunta que o leitor talvez se coloque na leitura do livro seja: afinal, o que define o tango? Numa msica to modificada, guardando elementos, destituindo outros, em tempo/espaos diferentes, o que torna possvel sua nomeao, reconhecimento, identificao? No captulo escrito pela organizadora do volume, so elencados os vrios tipos de tango, seu nomadismo e suas diferentes definies, sendo um gnero musical complexo onde se imbricam dana, cano e msica instrumental. Fruto de uma extensa pesquisa fonogrfica, Valente nos mostra os processo de territorializao e movncia do tango no Brasil. Se no final do sculo XIX e incio do XX, o tango por aqui confundido com maxixes, habaneras dentre outros estilos - o que j foi detidamente analisado e conceituado pelo etnomusiclogo Carlos Sandroni5 - este tango maroto d lugar a um tango sentimental a partir de 1917, com Carlos Gardel, ganhando uma iden-tidade mais nitidamente portenha. A autora se detm tambm no estudo das diferentes performances gravadas das mesmas canes na Argentina e no Brasil, analisando aspectos vocais, impostaes, formas de cantar, articulaes fonticas, especialista que na questo da voz nas canes das mdias.6 De resto, o captulo surge ainda como inspirao metodolgica para muitos tra-balhos que queiram estudar as canes miditicas, tanto por enfocar os usos da voz quanto, mais amplamente, por detalhar os percalos da pesquisa das performances mediatizadas materializadas em suportes musicais.

    Alguns dos captulos seguintes tero como base analisar compara-tivamente o tango no Brasil e do Brasil em suas diversas vertentes: letras,

    3 Atualmente vinculado ao Dep-to de Msica da ECA (Escola de Comunicao e Artes) da Universidade de S. Paulo. 4 ZUMTHOR, Paul. Introduo poesia oral. So Paulo: Hucitec, 1997. 5 SANDRONI, Carlos. Feitio decente: transformaes do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Zahar/UFRJ, 2001.6 VALENTE, Heloisa. As vozes da cano na mdia. So Paulo: Vialettera/Fapesp, 2003.

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    arranjos, cena musical e condies de trabalho dos msicos. Leandro Quin-trio, violonista e bacharel em Msica, faz uma anlise das performances e arranjos musicais dos tangos gravados no Brasil, salientando mais uma vez a impreciso que a denominao do gnero musical vivia na virada do sculo XIX para o XX, onde o tango visto como estilo/gnero brasileiro, prximo ao maxixe. O autor faz aqui o importante trabalho de transcrio das partituras dos tangos gravados no Brasil, atentando para as proximi-dades/diferenciaes com aqueles gravados nas margens do Rio da Prata.

    Susana Ramos Ventura, por sua vez, como pesquisadora na rea de Literatura, analisa as letras das canes argentinas gravadas no Brasil entre 1910 e 1940, refletindo sobre as leituras (tradues e criaes de letras inditas) operadas por aqui. Segundo a autora, o que prevalece a predomi-nncia da primeira pessoa e de um eu lrico masculino, com letras urbanas que se remetem ao rural como local idlico, perdido e ligado ao passado, enfatizando a matriz do Romantismo esboado nestas oposies campo/cidade, passado/presente, guardando ainda relaes com as canes de amigo ibricas, com um eu lrico feminino, mas escrita por homens. Ao analisar a famosa cano La Cumparsita, vemos que a verso brasileira de Emanuel Snos centrada na figura de uma mulher, dando-lhe o sentido de comparsa, ou seja, parceira de atitudes reprovveis. Ao evocar o tom do prazer trazido pela presena da mulher adorada e venerada e da presena de desejo ardente, a autora lembra que, em realidade, o texto de Emanuel Snos uma criao original, o que remete ao contexto es-pecfico da recepo do tango no Brasil, uma vez que o grupo de pessoas que se organizou em torno da produo-adaptao-criao esteve sinto-nizado com os gostos do pblico e tambm com a imagem de dissipao e sensualidade, ligada pelo pblico brasileiro do gnero. Salientando o quanto o tango composto em verso brasileira apresenta caractersticas muito pe-culiares, o texto de Susana Ventura aponta para uma questo importante para estudiosos das msicas latinoamericanas: as relaes estreitas, mas tambm dissonantes em vrios aspectos entre a Amrica lusoparlante e hispanohablante, algo que aparece nas letras analisadas e que merece ser cada vez mais pesquisado em seus mltiplos prismas.

    Ambos historiadores, Ricardo Santhiago e Sergio Estephan fecham a edio. Este ltimo contempla - para aquecer ainda mais a discusso sobre um tango no e do Brasil - uma anlise da msica para violo na Amrica do Sul da virada do sculo XIX para o XX, a partir da obra do violonista paulistano Amrico Jacomino, o Canhoto, e suas incurses pelo tango argentino como compositor e intrprete, enfatizando aspectos tcnicos do estilo bem como a peculiaridade da trajetria deste artista pelo fato de ter gravado e composto tangos argentinos. Ao refletir sobre a aproximao do tango argentino e brasileiro, Estephan discorre sobre a mesma questo j tratada por outros autores da mesma coletnea, que a impreciso que muitas vezes cercava a designao das canes como tango ou maxixe na virada do sculo XIX e incio do XX no Brasil. Citando o etnomusiclogo Alberto Ikeda, assevera que a designao tango brasileiro servia como um nome al ternativo ao maxixe, devido ao preconceito reinante em relao a esta dana/ritmo/gnero. Alm do mais, tanto o tango brasileiro quanto o argentino surgiram na virada do sculo XIX para o XX, como expresses das camadas populares, sendo por isso discriminados e at proibidos . Termina seu artigo lembrando um outro ponto de aproximao entre os

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    astangos dos dois pases, que foi a ligao de ambos com outras atividades

    artsticas, como o cinema mudo, o circo e o teatro de revista. J Ricardo Santhiago faz um interessante trabalho de pesquisa sobre

    a cena tangueira em So Paulo na atualidade, tendo se utilizado da meto-dologia de histria oral com os msicos argentinos que vivem por aqui. Analisa condies de trabalho dos artistas, existncia de escolas, lugares de encontro, utopias, enfocando desde artistas mais apegados tradio, como os que promovem fuses, mixagens com outros ritmos e estilos musicais. Salienta o quanto as migraes foram um reconhecimento dos sujeitos em outros lugares, pases, num jogo em que identidade e alteridade se conflituam e se alimentam mutuamente, no de maneira harmoniosa, mas certamente rica para estudarmos as formas de pertencimento na contemporaneidade, onde a noo de identidade deve ser encarada como algo produzido numa teia de relaes em que entram disputas por poder e hegemonias, contenes, resistncias, negociaes, produes de sentido, apropriaes do passado e de luta simblica pela construo da memria coletiva, entre outros aspectos.

    Por fim, detenho-me no ensaio de Ramon Pelinski, que abre a colet-nea o maior texto do livro. O autor concentra sua anlise no tango e suas andanas e ecos pelo mundo inteiro como metfora da globalizao e do nomadismo global, apoiado no estudioso da cultura Homi Bhabha.7 Faz uma pequena definio do conceito de nomadismo, comparando autores diversos que o utilizam, como M. Maffesolli, F. Guatari e G. Deleuze e P. Zumthor. de se lamentar que esta conceituao no seja aprofundada por Pelinski (ao que o autor justifica j ter trabalhado a fundo tudo isso em outros de seus textos), pois seria uma valiosa contribuio para o debate sobre as msicas da era global em que vivemos, caracterizada pelas dis-poras culturais, migraes, e informaes audiovisuais, digitais, miditicas que circulam incessantemente.

    O autor narra as circunstncias histricas da difuso do tango diasprico na Europa em particular (mas tambm no Oriente Mdio e Japo), assinalando os elementos que entram em sua composio em cada lugar, bem como trata de algumas de suas relaes estruturais internas em relao ao seu entorno sociocultural, de maneira a compreender sua dinmica local/global. Segundo Pelinski, a dispora tangueira se deu em trs tempos: na Blle Epoque; nos loucos anos 20, perodo entreguerras; e no final da dcada de 1970. Chama ateno para o fato de o tango ter se desenvolvido em centros urbanos (Buenos Aires, Tquio, Istambul, Paris, Barcelona), o que atesta sua caracterstica de msica urbana, com todos os hibridismos que esta noo contem. Trata ainda, ao mostrar o tango fora da regio platina, o quanto esta msica alcanou sucesso e difuso, entre outros motivos, porque das danas vindas da Amrica era a mais desafri-canizada e europia. Isso deixa entrever o forte aspecto de exotismo com que era visto o tango. Exotismo aliado a um erotismo, uma vez que a dana era o elemento mais difundido, com a proliferao de escolas de dana de salo e transformao do tango em dana de competio. Mas, importante frisar, como nos lembra Pelinski, que este erotismo/exotismo sofreu um processo de desetnizao, domesticao e esterilizao, transformado a dana em algo mais contido, menos vulgar, disciplinada. Isso nos faz lembrar das consideraes do antroplogo David Le Breton8, ao tratar do corpo na cultura ocidental moderna e as tentativas do indivduo de do-

    7 BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. 8 LE BRETON, David. Antro-pologia do corpo e modernidade. Petrpolis: Vozes, 2011.

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    minar o corpo, as emoes, o eu corporal atravs de um autocontrole de si que passa por um profundo desprezo do corpo; num predomnio da racionalidade tcnica, parece que nos afastamos cada vez mais de nossos corpos (a velha dualidade cartesiana), concebendo-o como uma matria imperfeita, corrigvel, devendo ser disciplinada.

    Ainda sobre a questo do exotismo a que o autor se refere, importante lembrar o quanto os processos de internacionalizao musical - lembrar da world music9 - no esto destitudos de jogos de poder, hegemonia, em que o direito a ter identidade parece pertencer apenas aos grupos culturais hegemnicos, cabendo ao Outro, o diferente, o subalterno (lembrando a definio importante e politizada de alguns crticos Ps-Coloniais), a de-finio de extico. Como diz Josep Mart, um olhar retrospectivo sobre a recepo do tango no Extremo Oriente nos sugere a ideia de um exotismo fractal que une simbolicamente os trs portos de Buenos Aires, Yokohama e Xangai como trs ns de uma rede de exotismo tangueiro: o exotismo inautntico do tango chins se espelha no exo tismo duplamente inautntico do tango sino-japons; ambos, por sua vez, se espelham no tango portenho, cujo exotismo inveno europia.

    Tratando das configuraes recentes que o tango vem tomando, Pelinski cita o tango eletrnico, realizado por grupos como Gotan Project e outros como uma sombra sonora de Buenos Aires no no-lugar da msica eletrnica. Concordando em parte com o autor, mas ao mesmo tempo questionando sua viso pouco empolgada sobre este fenmeno eletrnico atual, podemos argumentar que, neste renascer eletrnico, h a volta do corpo como elemento valorizado na apreciao do tango por jovens em varias partes do mundo. Erotismos latentes em sentimentos universais que se expressam diferentemente em variadas latitudes como mediadores de afetos.

    O que vemos na contemporaneidade, so as canes miditicas in-corporando elementos, deixando outros, aderindo tendncia e lgica do capital e a outras lgicas culturais, refletindo as apropriaes sempre presentes na dinmica do campo cultural e esttico. O que Pelinski nos sugere, ao final de seu artigo - e com o que concordamos - o quanto o tango traz tona o direito de se re-significar para alm de suas fronteiras originais portenhas, numa apropriao descontextualizada, no dizer do autor, mas que revela outras escutas possveis, com possibilidades infinitas.

    A escuta miditica de canes parece assumir o papel de possibilitar o conhecimento do distante, do diferente, o que no est isento de conflitos, preconceitos, ideologias, mas que, de alguma forma, colabora neste pro-cesso de jogo e confronto de imaginrios a que a globalizao nos desafia.

    Resenha recebido em maio de 2012. Aprovada em junho de 2012.

    9 MART, Josep. Transcultura-cin, globalizacin y msicas de hoy. Revista Transcultural de Msica - Transcultural Music Re-view, n. 84, 2004, p. 50. Dispon-vel em . Acesso em 05 jun 2009.