simone queiroz - perse.com.br · no imponente empresarial da avenida agamenon magalhães, jr...
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Coliseum – volume 3
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Simone Queiroz
Volume 3
Recife – PE 2012
Simone Queiroz
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Coliseum – volume 3
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Um
Tami sabia que tirando o dia de Finados (2 de
novembro) o cemitério de Santo Amaro, cujo nome verdadeiro
é Senhor Bom Jesus da Redenção, que estava bastante
movimentado, era um lugar de silêncio, muito sofrimento e paz.
Ele fora construído no dia 1º de março de 1851, construído para
enterrar pessoas vitimadas pelo surto da febre amarela, e que
não podiam ser sepultadas em igrejas, como era o costume da
época.
Tami caminhou na pista entre os suntuosos túmulos
artisticamente esculpidos. O céu mesmo nublado passava uma
imagem de paz. No centro havia à capela para onde ela estava
indo.
Quando entrou inspirou, lembrando há exatos 11 anos
atrás, onde estivera ali com sua família para velar o corpo de
sua mãe. Fez o sinal da cruz, indo sentar num dos bancos.
Mesmo não sendo uma religiosa fervorosa, acreditava em Deus
e no amor que Ele tinha por todos.
A capela era um monumento em estilo gótico, de cruz
grega, fechada por uma só abobada, de uma belíssima e
arrojada construção.
- Mãe, estou aqui! – sussurrava por encontrar-se só. –
Ainda sinto muito a sua falta. Principalmente falta de seus
conselhos... Neste momento me encontro tão perdida... Tentei
ajudar, mas acabei prejudicando as pessoas e agora de mãos
atadas não sei o que fazer. Ajuda-me, mãe. Por favor!
- Tami. – chamou alguém por trás dela.
Tami gelou, dando um pulo de susto.
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- Bia?! – protestou com a mão sobre o peito. – Quer me
matar de susto em plena igreja do cemitério?
- Um lugar bem apropriado. – brincou Bia, não se
sentindo a vontade por está lá, sentando ao lado dela.
- Como me achou?
- Não tem como fugir de mim, esqueceu? – sorriu
ficando séria em seguida. – Faz 11 anos hoje.
- É... Parece até que foi ontem. – espremeu os lábios. –
Mas, o que quer? Veio rezar também?
- Não... Como você está? – cheia de compaixão Bia a
olhou.
- Não sei ainda... – suspirou com tristeza, fitando-a com
os olhos marejados. – Bia, estou perdida. O que devo fazer?
- Esta pergunta é muito séria para qualquer pessoa,
exceto você, responder... Só vim aqui para dizer que vou com
você para onde for preciso. – falou com sinceridade.
- Obrigada. – Tami sorriu, passando a mão pelos olhos,
emocionada.
- Vamos sair daqui! – pediu Bia, apontando a saída.
- Vamos!
As duas saíram da capela.
- Tom me contou sobre o rolo com Beto. – avisou Bia,
descendo as escadarias da capela. – Por que ficou guardando
esta bronca só para você?
- Duda poderia não entender e Jr muito menos. Você
sabe como ele defende Nadja a unhas e dentes... Não quero
entrar num bate-boca com ele por causa dela. Não vou destruir
o que há de bonito entre mim e Jr por isto.
- E o que pretende fazer? – caminhava ao lado dela.
- A única coisa que posso fazer é visitar Beto e
conversar.
- Que loucura, Tami! Por quê?
- Não posso deixar que ele pense que o entreguei... Isto
me atormenta dia e noite. Ele precisa saber que não fui a
culpada. – dizia desesperada.
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- Calma! – pôs o braço sobre o ombro dela.
- Não dá para ter calma. Estou uma pilha. – baixou a
cabeça. – Ainda mais com este golpe que deram em Jr. Ele está
na pior e como se não bastasse isso, Zé avisou que Gustavo
quer ajudá-lo. Infelizmente Jr vai ter que se sujeitar aos pedidos
do pai, para salvar a Coliseum. Meu Deus, Bia! É muita coisa!
- Me desculpe Duda, mas a família dela é complicada
demais. – concluiu Bia.
- Ela deve estar pirando... O irmão preso e a Coliseum a
um passo da falência.
- Eh! – suspirou com pesar. – E ela não pára em casa
para conversarmos... Eu entendo que Isabel está precisando
muito dela.
- É... Nem comigo ela tem mais tempo para falar. Antes
tínhamos o trânsito para conversarmos no carro, só que agora
ela morando com os pais, nem isto. É terrível!... Mas, prefiro
assim, por enquanto, pois não sei nem o que dizer a ela.
- Nem eu, Tami. Nem eu. – lastimou-se Bia. – Só sei
que para mim ela é uma irmã e eu faria também o que ela
precisasse para ajudá-la.
- Também.
No imponente empresarial da Avenida Agamenon
Magalhães, Jr estacionou seu carro na rua. Ao sair olhou para o
prédio, sentindo-se pequeno, um nada diante dele e era assim
que estaria diante de seu pai em poucos minutos e aquilo o
incomodava. Havia prometido a si mesmo nunca mais contar
com a ajuda dele, todavia lá estava. Não por si, mas pelos que
dependiam da Coliseum para tirar seu sustento, pois se fosse
por si mesmo pedia a concordata preventiva, pagaria a todos e
depois tentaria algo, qualquer coisa menos pedir ajuda a seu pai.
Logo que a secretária de Gustavo o viu esboçou um
sorriso de condolência.
- Sinto muito pelo doutor Roberto.
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Jr fez apenas uma mesura de agradecimento. Ainda
mais esta.
- Doutor Gustavo o espera. – avisou.
- Obrigado.
Jr nunca gostara destes títulos de “doutor”, afinal de
contas para ser doutor era preciso ter ao menos doutorado. A
maioria de médicos nem doutor era... Quanto mais... Pensava
isto, para tentar distrair sua mente, entretanto ao abrir a porta do
escritório de seu pai sentiu-se um derrotado, um cordeiro indo
ao matadouro.
Gustavo estava ao telefone, indicando a cadeira para Jr
sentar-se.
- Certo... Tudo bem... – dizia ao telefone. – Poderíamos
almoçar juntos, marque com minha secretária... Igualmente.
Jr sentou, pondo sua pasta de couro no colo e as mãos
sobre esta.
- Desculpe. – pediu Gustavo com simpatia, logo que
desligou o telefone.
- Pelo o quê? – Jr decidiu não fingir simpatia.
- Por tê-lo feito esperar...
- Sem cerimônias, Gustavo... O que quer em troca?
- Em troca? – franziu a testa.
- É preciso que me ajoelhe e suplique para que fale logo
o que tem a falar e me deixe ir? – Jr não viu nenhuma atitude
por parte dele continuando. – Zé disse que queria me fazer uma
proposta. Então, aqui estou. Qual é a proposta?
- Ele é a única pessoa que você pelo apelido. –
observou Gustavo, ignorando as palavras do filho.
- Ele é o pai que não tive. – foi duro.
- Sei que não fui um bom pai para você e...
- Falando assim o senhor me lembrou um sábio
provérbio árabe que diz: “A árvore quando está sendo cortada,
observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira”. –
falou com escárnio, voltando ao seu tom de poucos amigos. –
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Então quer, por favor, parar com este floreio todo, pois tenho
muito que fazer.
- Como pedir um empréstimo aos bancos ou declarar
concordata? – ironizou Gustavo, zombando da pré-falência do
filho.
- Agora sim, estou na frente do Gustavo que conheço. –
Jr falou com sarcasmo. – Qual é sua proposta?
- Quero que aceite minha parte desta empresa.
- O que?! – espantou-se Jr. – Que conversa é esta?
- Tenho exatos 63% desta empresa e não quero deixá-
los na mão de outros.
- De outros? E Roberto? – preocupou-se Jr, sorrindo
depois. – Ah! Ele está preso. Por isto não serve mais para
você... Realmente está para surgir um pai mais solidário.
- Não me venha com seus sarcasmos agora, Jr! –
repreendeu-o. – Você quer ou não ajudar a sua maldita
academia a sair da lama.
- Está querendo dizer que se eu aceitar esta sua
maluquice, vai me ajudar? – Jr olhou-o, desconfiado. – O que o
senhor ganha com isto? Qual é a carta que tem na manga?
- Nenhuma.
- A mim o senhor não engana... Roberto já sabe disto? –
analisava-o.
- Ainda não, mas vai saber.
- Ele não vai ficar muito feliz com isto... – sorria com
Jr, decepcionado com a falta de lealdade do pai. – Passou estes
anos todos lambendo o chão para você passar e agora é
compensado com um enorme pé na bunda. Isto é bem justo de
sua parte!
- É pegar ou largar. – Gustavo fitou-o, sério.
- Preciso pensar bastante a respeito... Afinal, caridade
nunca foi seu forte. – avisou, levantando-se para sair, virando-
se subitamente. – Por que eu?
- É meu filho. – achou aquela resposta mais coerente.
- Desde quando se lembrou disto?
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- Zé vai levar os papéis para que assine. – deu o assunto
por encerrado.
- Eu ainda não aceitei. E não vou aceitar até que me
diga o verdadeiro motivo desta proposta. – apoiou-se sobre a
mesa dele.
- Quer saber mesmo? Eu conto!
Jr sentou-se, curioso.
- Vão tirar tudo de Beto e não quero vê-los com nossa
empresa nas mãos dele. – respondeu.
- E o que preciso fazer depois de assinar esta papelada
toda? – estava desconfiado.
- Assumir.
- Assumir?!
- Isto mesmo. Assumir o que deveria ter feito desde o
início, quando inventou esta história de academia.
- Logo vi que tinha algo por trás de toda esta
“bondade”. – Jr sentou-se novamente, preocupado com o que
ouvira.
- Após assinar os papéis passarei uma quantia muito
generosa para sua conta, que servirá para arcar com os gastos da
Coliseum. E ainda poderá tirar umas boas férias... Quando
voltar vai assumir a presidência da empresa. Esta é uma das
cláusulas do contrato.
- E a Coliseum?
- Deixe-a nas mãos de seu contador e Duda, por
enquanto, pois também tenho uma proposta muito boa para
fazê-la. – dizia cheio de si.
- Deixe-a fora disto! – irritou-se Jr, por encontrar-se
encurralado.
- É uma proposta irrecusável. Não acha? – sorriu,
irritando-o mais.
- Nunca quisemos trabalhar para o senhor. Sabe disto. –
lembrou Jr, impaciente.
- Vocês não têm mais escolha. – falou com um
semblante vitorioso.
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- Sabe muito bem que quando assumir, eu posso vender
isto tudo e aplicar na Coliseum. Não sabe? – Jr mudou a tática.
- Nunca faria isto com sua mãe. – rebateu. Eles sabiam
que aquela empresa antes de ser dada a Gustavo fora dos avós
de Isabel, entretanto graças aos conhecimentos dele crescera e
atualmente era uma grande potência.
Jr espremeu os olhos, aborrecido, pois ele estava certo.
- Sei que dará se possível seu sangue para preservá-la.
- Não pode fazer isto. – Jr balançou a cabeça com
tristeza.
- Já fiz... Basta assinar os papéis, que Zé irá mostrá-lo.
– encostou-se ao encosto da cadeira. - Agora pode ir, pois
preciso fazer umas ligações.
Jr sentindo-se humilhado, pois não podia fazer nada
além de obedecê-lo. Entrou no carro, indignado. Gustavo
ganhara finalmente. Como pude deixar isto ocorrer? Droga!
Bateu com as mãos fechadas no volante.
- Espere aí. – falou, quando algo viera a sua mente. E
ele? Se eu vou assumir os 63% deles e Beto já tem o restante. O
que ele ganha com isto?
Jr preferiu não pensar a respeito, já que tinha muito
com o que se preocupar. Precisava sair desta fria o quanto
antes. Iria procurar novamente todos os seus contatos com a
ajuda de Lipe, antes de assinar sua “sentença de morte”, a sua
não, a da Coliseum.
Duda estava em seu computador entrando em contato
com investidores e amigos, quando Jr chegou.
- E aí? – ergueu a cabeça.
- Ele fez o que sabe melhor: manipular. – respondeu
indo até sua mesa.
- O que ele propôs? – quis saber Lipe, sentando numa
das duas cadeiras de frente para mesa de Jr.
- Quer passar a empresa para meu nome, em troca nos
ajuda. – disse desanimado.
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- Crápula! – xingou Duda, lembrando-se. – E Beto?
- Gustavo vai deixá-lo apenas com os 23% que o
pertence, já que os sócios possuem os outros 14%.
- Se ferrou! – Duda sacudiu a cabeça. – Fez tudo pelo
pai e agora já era.
- O que disse a ele? – preocupou-se Lipe.
- Não tenho escolha, Luís. Pelo bem da Coliseum
preciso aceitar.
- E quando vai fazer isto? – Duda o olhou.
- O quanto antes, pois as contas já estão chegando. – Jr
achou mais prudente, para aquele momento não mencionar a
cláusula dita por Gustavo sobre ir trabalhar lá. – Não temos
outro caminho a tomar.
- Sinto muito, cara. – disse Lipe, compadecido.
- A culpa não foi sua, amigo. Sei que assim como eu,
você faria de tudo pela Coliseum. – Jr falou convicto.
- Isto é verdade. – Lipe levantou-se, voltando para sua
mesa.
- Ainda acho que já vi aquele Maciel antes. – dizia
Duda só para Jr ouvir.
- No mínimo o viu na televisão. – cético menosprezou o
comentário. – Ou confundiu com alguém.
- Não é isto... Tenho certeza que já o vi, Jr.
- Eduarda, não tenho tempo para os seus devaneios,
temos uma academia para salvar.
- Ás vezes você fica bem parecido com papai. – falou
de propósito, antes de levantar.
- Desculpa. – pediu Jr, amansando a voz. – Como
mamãe está?
- Arrasada. Ela disse que só vai ficar bem quando Zé
conseguir o Habbeas corpus para Beto. Mas, como pegaram ele
com passagens para o exterior e passaporte falsos, está sendo
difícil conseguir.
- Zé consegue. – garantiu Jr.
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- Se Deus quiser. – almejou Duda, indo sentar-se em
sua cadeira.
Jr os olhou trabalhando sentindo uma tristeza profunda.
Aquele lá era seu lugar, onde gostava de ficar.
Tami estava em seu consultório aproveitando a falta de
um dos pacientes para estudar, pois a prova do mestrado seria
na próxima sexta-feira. Após horas estudando, resolveu dar uma
volta pela academia.
Viu João, que já deslocara a clavícula, malhando braço.
Estranhando a quantidade de peso que ele levantava, ficou
preocupada ao ver que nenhum instrutor o intervinha, decidiu ir
até ele.
- Oi, João! – sorriu Tami.
- Oi. – respondeu concentrado em seu exercício,
fazendo um esforço visível.
- Espere! – pediu Tami, segurando o braço dele.
- Ai! – gemeu João, afastando-o dela.
- O que foi? – estranhou Tami. – Deixe-me ver.
- Não tem nada para ver. – garantiu levantando-se da
máquina.
- Claro que tem, João! – aumentou a voz.
João sentou-se noutra máquina para malhar coxa. Tami
de propósito segurou no mesmo lugar, fazendo-o gemer
novamente.
- Preciso examinar isto agora! – avisou séria.
- Isto não foi nada. – disse fitando-a.
- Levante a manga. – mandou.
- Não posso parar agora. Pode ser no intervalo?
- João.
- Droga! – contrariado obedeceu-a.
Tami arregalou os olhos ao examinar e perceber o
bíceps dele lesionado e mesmo assim ele malhava.
- O que pretende com isto? Você não pode malhar.
- É claro que posso. Eu pago! – falou com grosseria.
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- Eu sei que paga, mas não pode malhar por um tempo.
- Não pode me impedir. – disse afastando-se, indo até
outra máquina.
- Já para meu consultório, João! – mandou Tami.
- Não pode me obrigar. – avisou preparando a máquina.
Tami sentiu seu sangue ferver de raiva diante da
teimosia dele, pois realmente não poderia obrigá-lo a obedecê-
la.
- Desde que horas está aqui? – Tami mudou a tática.
- Das 14 horas... – começou a se exercitar na máquina.
Tami olhou para o relógio, arregalando os olhos.
- Mais de três horas! – espantou-se ao concluir os
cálculos.
- Acho... Que sim. – malhava.
- Todos os dias?
- É claro! – João achou aquilo óbvio.
- Se não me engano vai fazer vestibular este ano... Qual
é o tempo que estuda?
- Por que todo este questionário? – aborreceu-se a
fitando. – Eu só quero malhar!
- Algum problema, garoto? – aproximou-se Marcelo.
- Marcelo, acho melhor você voltar para seus exercícios
e nos deixar conversar. – garantiu Tami.
- O garoto não quer conversar. – foi na defesa de João,
enquanto ele malhava. – Se quisesse teria ido a outro lugar...
Continue assim, garoto! – bateu de leve nas costas dele. –
Estamos em busca do corpo perfeito e é isto que vamos
conseguir.
- Que conselho! – Tami sacudiu a cabeça com
sarcasmo. – Era realmente o que eu poderia esperar de alguém
assim como você. – finalizou saindo.
- O que quis dizer com isto? – Marcelo segurou o braço
dela.
- Por quê? Não conseguiu entender o que eu quis dizer?
– perguntou com ironia, fazendo-o soltá-la com grosseria.
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- Doutora, se não tivéssemos aqui...
- Nada iria acontecer. – completou já cansada daquele
bate-papo. – Agora preciso ir.
Ele apenas olhou-a afastar-se.
Tami voltou ao seu consultório, preocupada com João,
pois mesmo lesionado continuava malhando em excesso. Esta
compulsão assustou-a. Ao procurar a ficha médica dele
percebeu o quanto ele era magro e em pouco tempo conseguira
ganhar muita massa muscular.
- Droga! – jogou a ficha dele sobre sua mesa. Ele deve
está ingerindo alguma espécie de esteróide anabólico. Preciso
descobrir! Esses adolescentes!
Para a felicidade dos amigos e parentes de Beto, ele
poderia ficar livre aguardando o julgamento.
No fim daquela semana Duda saiu mais cedo da
academia, pois tivera uma terrível dor de cabeça. Ela estava em
seu antigo quarto, na casa de seus pais, deitada de costas para a
cama fitando o teto, tentando pôr seus pensamentos em ordem,
quando ouve batida à sua porta.
- Hugo? – sorriu ao vê-lo.
- Oi. – entrou, indo até ela.
- Que cara é esta? – Duda sentou.
- Vou voltar a lutar.
- O quê?! – espantou-se. – Mas, você não disse que...
- Foi. – sentou ao lado dela. – Mas, fui desafiado e o
dinheiro do prêmio é bom.
- Hugo, você não precisa fazer ist...
- Mas, eu quero, Duda... – segurou na mão dela. – Sei o
quanto a situação está difícil para vocês e com esta luta posso
ajudá-los de alguma forma.
- Não, Hugo. – Duda baixou a cabeça.
- O que foi? – preocupou-se a olhando.
- Jr teve que assinar o contrato... Acabou! – olhou-o,
com tristeza.
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- Como assim?
- Papai venceu... Jr precisou se vender para salvar a
Coliseum. – resumiu Duda triste, principalmente pelo irmão. –
Ele vai nos deixar.
- Mas...? – ficou confuso.
- E tem mais, por enquanto meu pai vai assumir a
Coliseum, pois como sua empresa comprou as dívidas da
academia, nós agora pertencemos a ele... Pelo menos até Jr
assumir a presidência.
- Minha nossa! – Hugo ficou estarrecido.
- É... Ele conseguiu. Nós perdemos! – baixou a cabeça
segurando as lágrimas.
- Não tem mais como...?
- Não. O contrato foi minuciosamente elaborado. Não
tem brechas. Foi Zé quem disse... Agora é só esperar o tiro de
misericórdia.
- E seu irmão?
- Está na pior. – sem mais se conter caiu num pranto.
Hugo abraçou-a.
Tami ao largar e saber que Beto já estava solto, foi ao
apartamento dele no bairro Engenho do Meio.
- O que quer aqui? – questionou logo que abriu a porta.
- Conversar. – respondeu receosa.
- É muita cara de pau sua aparecer aqui. – saiu da
frente, para que ela passasse.
Tami entrou fechando a porta, enquanto ele sem muito
entusiasmo sentou no sofá, olhando-a.
- Qual é seu próximo golpe contra mim?
- Você sabe muito bem que eu nunca o entregaria.
- Sei? – aborreceu-se. – Sabe o que eu sei? Que
“coincidentemente” quando me encontrou aqui vieram me
pegar. Acha que sou idiota, Tami?
- Não. Claro que não acho isto! – sentou ao lado dele.
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- Todos me traíram. Não sei como pude confiar em
você. É tão vingativa quanto Nadja. – olhou-a com nojo.
- Você tem todo o direito de ficar assim, mas mesmo
parecendo que o trai... Não o fiz... Sei que não confia em mim
agora, assim como na história das fotos do celular...
- Que foi onde tudo começou. – lembrou irritado. – Isto
é tudo culpa sua, Tamires!
- O quê? Ah, agora você exagerou! Quem traiu a esposa
não fui eu, assim como não tentei dopá-la, ou fazer outras
milhares de coisas ilícitas...
- Veio aqui pra que, hein?
- Nem sei mais o que vim fazer aqui. – Tami levantou-
se, mudou de idéia virando-se para ele, desabafando. – Na
verdade eu sei... Vim aqui me desculpar por algo que não fiz.
Não o entreguei, quer acredite ou não... Eu nunca faria isto com
você, por mais raiva que tivesse. Não por sua causa, pois você
bem merece passar por tudo isto, mas porque amo seu irmão,
tenho Duda como uma irmã e também pelos seus filhos, que
não merecem passar por todo este sofrimento, causado por um
pai egoísta e uma mãe vingativa... Tenho pena de todos vocês!
– disse com desprezo, indo até a porta.
- Não pode sair assim depois de tudo isto que disse! –
esbravejou Beto, tomando a frente dela.
- Não piore ainda mais sua vida, Beto. Saia da minha
frente! – mandou com autoridade.
- Você mudou. – Beto acalmou-se.
- Não tenho mais medo de você, Roberto. Foi isto que
mudou. Agora me deixe passar! – encarou-o.
- Deixar você foi uma das maiores besteiras que fiz. –
saiu da frente dela.
- Ser deixada por você foi a chance que a vida me deu
para voltar a ser feliz. – com a mão na maçaneta, o olhou.
- Fomos felizes. – pôs a mão na porta, se aproximando
dela.
- Por um curto intervalo de tempo.