sim 117 o que revelam as cartas?

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ROUSSEAU: As cartas de amor começam sem saber o que se vai dizer e terminam sem se saber o que se disse

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Page 1: Sim 117 O que revelam as cartas?

SIM 117 VICENTE CECIM

O que revelam as cartas?

As cartas de amor começam sem saber o que se vai dizer

e terminam sem se saber o que se disse

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

As Cartas revelam a vida oculta, subterrânea, dos sentimentos de pessoas que o

mundo só conhece de fama e por aquilo que elas publicamente revelam.

E são de todos os tipos, sobre todos os assuntos, e é incontável o número de

cartas de pessoas celebres que foram preservadas – mas as Cartas de Amor são as

mais reveladoras. E predominantes. E é surpreendente o ardor de cartas saídas de

corações e mentes que todo mundo acha que são apenas analíticas, racionais e frias.

Por exemplo, esta que Sigmund Freud, criador da Psicanálise, escreveu a sua

noiva e futura esposa Martha Bernays:

Não desejo senão o que tu desejas para nós dois porque me dou conta da

insignificância de outros desejos comparados com o desejo que se sejam minha. Estou

Page 2: Sim 117 O que revelam as cartas?

alquebrado e muito triste só de pensar que tenho que me conformar em te escrever em

vez de beijar teus doces lábios.

Stendhal, um dos mais importantes escritores francês do século XIX, após viver

muitos amores e observar outros tantos, achou que já sabia o bastante para escrever o

livro Do Amor, em pretendeu a mais abrangente compreensão desse sempre

perturbador sentimento humano, quando se trata de amores entre o Yin & o Yang – ou

entre o feminino & o masculino, se preferirem. Mas são elas, as próprias cartas de

amor, que nos dizem tudo. Como

Por exemplo: estas cartas de amor insatisfeito e de amor satisfeito, de

Napoleão a sua mulher Josefina – conhecida em toda a Europa por sua infidelidade - e

de Marx a sua mulher Jenny.

Carta de Napoleão Bonaparte a Josefina

Já não te amo: ao contrário, detesto-te. És uma desgraçada, verdadeiramente perversa, verdadeiramente tola, uma verdadeira Cinderela. Nunca me escreves; não amas o teu marido; sabes quanto prazer tuas cartas dão a ele e ainda assim não podes sequer escrever-lhe meia dúzia de linhas, rabiscadas apressadamente. Que fazes o dia todo, Madame? Que negócio é assim tão importante que te rouba o tempo para escrever ao teu devotado amante? Que afeição abala e põe de lado o amor, o terno e constante amor que lhe prometeste? Quem será esse maravilhoso novo amante que te ocupa todos os momentos, tiraniza seus dias e te impede de dedicar qualquer atenção ao teu esposo? Cuidado, Josefina: alguma bela noite as portas se abrirão e eu surgirei. Na verdade, meu amor, estou preocupado por não receber notícias tuas; escreve-me neste instante quatro páginas plenas daquelas palavras agradáveis que me enchem o coração de emoção e alegria. Espero poder em breve segurar-te em meus braços e cobrir-te com um milhão de beijos, candentes como o sol do Equador. Bonaparte

Karl Marx a sua mulher Jenny von Westphalen

Meu amor, enquanto nos separa um espaço, estou convencido de que o tempo é para o meu amor como o sol e a chuva são para uma planta: fazem crescer. Basta você ir, meu amor por você apresenta-se a mim como ele realmente é: gigantesco; e nele se concentra toda minha energia espiritual e toda a força dos meus sentidos... Tu vais sorrir meu amor, e te perguntarás por que eu caí na retórica. Mas se eu pudesse pressionar contra o meu coração o seu, puro e delicado, guardaria em silêncio e não deixaria escapar nem uma só palavra. Karl

E o que dizer das inconsoladas cartas a amores que já não poderão lê-las, como esta de Yoko a Lennon, 27 anos após sua morte.

Carta de Yoko Ono a John Lennon

Page 3: Sim 117 O que revelam as cartas?

Sinto saudades, John. 27 anos se passaram e ainda desejo poder voltar no tempo até aquele verão de 1980. Lembro-me de tudo – dividindo nosso café da manhã, caminhando juntos no parque em um dia bonito, e ver sua mão pegando a minha – que me garantia que não deveria me preocupar com nada, porque nossa vida era boa. Não tinha ideia de que a vida estava a ponto de me ensinar a lição mais dura de todas. Aprendi a intensa dor de perder um ser amado de repente, sem aviso prévio, e sem ter o tempo para um último abraço e a oportunidade de dizer “Te amo” uma última vez. A dor e o choque de perder você tão de repente estão comigo a cada momento de cada dia. Quando toquei o lado de John na nossa cama na noite de 8 de dezembro de 1980, percebi que ainda estava quente. Este dia em que se comemora a morte de John, tornou-se cada vez mais importante para muitas pessoas ao redor do mundo como um dia para lembrar a sua mensagem de Paz e Amor e fazer o que cada um de nós podemos fazer para curar este planeta que nos acolhe. Pensem em Paz. Atuem em paz. Compartilhem a Paz. John trabalhou para ela toda a sua vida. Ele costumava dizer: “Sem problemas, somente soluções”. Lembrem-se, estamos todos juntos. Podemos fazê-lo, devemos. Eu te amo! Yoko Ono Lennon.

EPORQUENÃO?