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1 / v 3 * H - \ ____\-> \WBm <*''. ASSIGNATURA ANNUAL Brazil 58000 PAGAMENTO ADIANTAUO publica-.sk nos dias 1 e 15 de Cada mez B»B<;BBEOB&H€0 BfiVOlAICHOftlSTrA Si--- v^... ASSIGNATURA AttNUAL Estrangeiro....".* 6$0Üu tt« M HMM^M WÍMÍ MMMSMÃ^fCf t ' ^^--> ^^0 \ ?-"'' P-UBLICÀ-SE NOS DIAS 1 E 15' BE' BACADA MEZ •:1 '. ¦»#t' - -'<*-*l .'*¦¦'•'..¦¦•¦. "t'f •"¦**¦' Toda a correspondência deve ser dirigida a F. A. XAVIER PINHEIRO. Rua do Regente n. 19, 2o andar.¦'-•¦..• AIIgbo VBBB Kfl-axil BBio ele Janeiro £'800 -— .Sialho 18 m 484 KXB-^üJBMBCrWBfi São agentes desta folha: Na cidade de Formosa (Estado de Goyaz), Sr Joaquim H. Pereira Dutra. No Pará, o Sr. José Maria da Silva Basto. Na Cachoeira (Estado da Bahia), o Sr. Francisco Xavier Vieira Gomes. Na cidade do Rio Grande do Sul, o Sr. capitão Paulino Pompilio de Araújo Pi- nheiro. Em S. Paulo, o Sr. G. da S. Batuira, rua Lavapés n. 20. * Em Santos (3. Paulo), o Sr. Benedicto José de Souza Júnior, rua da Constituição n. 117.' Em Campinas, o Sr. Silvino Ribeiro rua Trese de Maio n. 47. Em Campos, o Sr. Affonso Machado de Faria, rua do Rosário n. 42 A. ATTENC&O «a Btogaanos aos nossos assi- tgaaaaates 0atisiazeB*eBBB saaas assigBaataBB-as cobib a isiaioi- l»revielaele,aflflaa ele poelei*aaaos regaalaB-izar aaossa esci-ipta. Os elos Bastados Feelea*aelos poderão caaviar-Baos saaas ob*- elens eaaa vale-postal. As assignaturas deste periódico come- çam em qualquer dia, e terminam sempre a 31 Dezembro. AOS NOSSOS l-fãlTOUES Pee|neno transi orno. coiaio ha scaaaprc na iaaapB^ensa, faz cobbb efaae pela pB*ÍBaaeii-a vez, desde S annos de existência, saia o presente Baaaanero com algema atraso : peeliflaaos poi* i«to descaalpa, esperauelo e|ifle nunca mais tal saacceela. Assistência aos Necessitados Rendamos graças aos céus : a dou- trina regeneradora que tem por mis- são transformar a humanidade em uma única familia, ligada pelos mais estreitos laços de affecto, e que ha bem sete annos não cessamos de, sem descanço, propagar, começa a pro- duzir fructos dulçorosos 1 Ora, é por estes que se conhece a ar- vore productora : sejam pois, todos juizes si ella é boa ou má. Um destes fructos é a Assistência aos necessitados, instituição levantada pelo esforço de alguns spiritas, mas sustentada e mantida por quantos procuram oceasião de satisfazer aos impulsos da caridade. Quer isto dizer que, embora seus instituidores corno spiritas tivessem sido levados pelas injuneções de suas doutrinas, não pretenderam nem qui- zerara crear uma instituição que per- tenceess propriamente a este credo : com etTeito, a caridade, virtude su- blime, não se aninha somente nos co- rações de crentes ; egualtnente quem delia necessita, tanto pude ser ehris- tão, corno judeu, mahometano, ou atheu. A Assistência tem por fim auxiliar todos aquelles que uma sorte adversa curva ao duro peso da necessidade ; ella vae procurar os que, tendo as forças esgotadas pela edade ou pela enfermidade, desfallece á mingua de recursos; ella corre ao albergue das pobres viuvas, cujo trabalho mal re- tribuidoé insuíficiente para calmar a fome dos orphãosinhos que as cercam, e cujo coração ora se confrauge de'dor ora estala de desespero ao ver ós seus esforços incessantes, o seu trabalho sem tréguas, impotentes para aba- farem as queixas dos pobresinhos I Que será delles si as mãos amigas não os ampararem na triste estrada que regam com suas lagrimas,si cora- ções comp assi vos não se condoeretn de suas dores ? Famintos 1 Pobres coitados 1 Qual será a alma christã que po- dera esquecer o grande "preceito do Mestre a caridade abandonando aquelles que elle chamou seus predi- lectos, para os quaes, com os olhos erguidos a seu Pae, multiplicou os «i pães e os peixes ? Si o grande rabbi, cujo vulto paira sobre a humanidade, fez dessa vir- tude o preceito primário, e por assim dizer único, é que a caridade é a mais poderosa alavanca do progresso ge- ral, é o coroainento da grande evolu- ção social que se deve completar pela fraternidade, formando então todos os homens urna si*) familia. Pois bem, levantando os desfalle- cidos, auxiliando os esfomeados, co- brindo os nús, pretende á Ássitencia estar .só cumprindo o primeiro dever. Cada um de seus membros, trans- formando-se em mendigo voluntário, estende a mão ao proletária.ou ao abastado, e recolhe-a logo, escon- dendo, sem ver, o obolo da cari- dade ; muitas gottas firmam ura oceano : a dádiva pequena encontra seu multiplicador na boa vontade com tvique é offer.tad.al é que o obolo da viuva satisfaz tanto quanto as offeràndas da vaidade.' Más, si a mão se recolhe vasia, porque corações ainda não abran- dados aos suaveí sentimentos cari- dosos teimam em não vel-a, nem por isso fella se ocetílta '-despeitada : erguè.*se mais adeante -para , conti- nuarSa tarefa de mendigar, para os què-Wm fome.-, k Ef'o» fadario sem termo dos ínem- b ros idaAssistên cia. Quantos lançarem * os olhos" por estas linhas, si alguma vez na vida enfrentaram com a esquálida figura da necessidade, não deixarão, es- tamos certos, de concorrer pessoal- mente e por seus amigos para a obra meritoria de que se fez campeão a Assistência aos Necessitados. Ella está com suas muitas mãos estendidas. Que as recolha sem as poder fe- char 1 Beaia-llibiliielaelc pensai (Continuação) Eu continuo. - Ne.n nos escriptos de S. Paulo, de S. João ou de S. Jacques eu descubro algum vestígio' algum germen do poder papal. S.-Lucas, o historiador dos trabalhos apostólicos, guarda si- lencio sobre este ponto importante. Por ventura o si-lencio destes santos homens, cujos escriptos fazem .parte do çauon das* Escripturas divina- mente inspiradas, não parece tão las- timavel, tão impossível e tão indes- culpavel, no caso de que Pedro ti- vesse .sido Papa, como si Thiers, es- erevendo a historia de Bonaparte, ti- vesse omitlido seu titulo de Impera- rador ? Eu vejo um membro desta assem- bléa que apontando-me com o dedo, diz : « E' ura bispo scismatico que se insinuou entre mós sob uma falsa bandeira. » Não, não, meus Veneráveis Irmãos, eu não entrei nesta augusta assem- bléa como um ladrão, pela janella« mas sim pela porta como vós todos. Meu titulo bispo -"a isto me deu direito, assim corno minha conscien- cia chris,tã obriga-*rne a fallar e a dizer o que creio seá a verdade.^ O qne mais me admirou, e o que aliás pode-se demonstrar, foi o silen-* cio do próprio S. Pedro. Si este após- tolo tivesse sido o que proclamaes que elle foi, isto é, Vigário de Jesus Christo .sobre a terra, elle ao menos, -devia sabel-o. Si o sabia como nem uma vez procede como Papa ? Teria- podido fazer acto de Papado no dia do Pentecostes, quando pregou seu pri- meiro sermão, e elle não o fez ; no Concilio de Jerusalém, e elle nãom fez; em Aniiochia, e elle não o fez. Também acto de Papado elle não fez "nas duas Epístolas qne dirigiu á Egreja. Si Pedro fosse Pa-pa, meus Veneráveis Irmãos,, podeis imag-inar um tal,Papaí| æ/•* \ Resulta, pois, de tudo isto -que si quereis affirmar .que elle foi Papa, çlle mesmo não o sabia. Pei-g-unto agora a qualquer, que tenha cabeça para pensar e espirito para refiectir, si est-''s duas*:supposições são pos- siveis ? Digo,, portanto* qüd.-eaquanto vi- "-';:' 4 - *1ffiifà0tè-$i» pensou a ! Egreja que nella havia um Papa. Para afirmar o contrario, é preciso entregar ás Escripturas ás chammas, ou ignorai-as completamente. Mas ouço dizer de todos os lados : « Pois que ! Não esteve S. Pedro em Roma? Não foi crucificado com a ca- beca para baixo ? Não se conhece nesta cidade eterna os pontos em que elle ensinou, e os altares em que disse missa?» Que S. Pedro tivesse estado em Roma, meus Veneráveis Irmãos, isto repousa sobre a tra- dicção ; mas, quando mesmo tivesse sido bispo de Roma, como de sen epis- copado podeis concluir sua suprema- cia? Scaligero, um dos mais eruditos homens, não hesitou dizer que o epis- copado de S. Pedro e sua residência em Roma devem ser collocados entre a.s legendas ridículas. (Gritos repe- tidos : Fechae lhe a bocea, fechae-lhe a bocea; fazei-o descer desta cadeira.) ¦ Meus Veneráveis Irmãos, estou prompto a ine calar. Porém não vale mais, em uma assembléa como a nossa, examinar todas as cr.usas, assim como aconselha o Apóstolo, e não adm.it.tir sinão o que for bom ? Mas, Veneráveis amigos, temos um Dictador deante do qual todos de- vemos curvar a cabeça e nos calar, mesmo Sua Santidade Pio IX. Este Dictador é a Historia. A Historia não se assemelha a uma legenda que se pode deformar como o oleiro amassa o sen barro : asse me- lná-se ao diamante que grava not cristal palavras indeléveis. Até aqui somente nella tenho-me appoiado, e não encontro nenhum vestígio do Pa- pado nos tempos apostólicos : a falta cabe á Historia e não a mim. Quere- ri eis talvez pôr-me na posição de um homem aceusado de mentira ? Fazei-o si o poderdes. Ouço dizer á minha direita estas / # Á

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ASSIGNATURA ANNUAL

Brazil 58000

PAGAMENTO ADIANTAUO

publica-.sk nos dias 1 e 15 deCada mez

B»B<;BBEOB&H€0 BfiVOlAICHOftlSTrA Si---v^...ASSIGNATURA AttNUAL

Estrangeiro ....".* 6$0Üu

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_¦ \ -"'' P-UBLICÀ-SE NOS DIAS 1 E 15' BE',» CADA MEZ •: 1 '.¦»# t' - -'<*-*l .'*¦¦'•'..¦¦•¦.

"t'f •" ¦**¦ '

Toda a correspondência deve ser dirigida a — F. A. XAVIER PINHEIRO. — Rua do Regente n. 19, 2o andar.¦'-•¦..•

AIIgbo VBBB Kfl-axil — BBio ele Janeiro — £'800 -— .Sialho — 18 m 484

KXB-^üJBMBCrWBfi

São agentes desta folha:

Na cidade de Formosa (Estado de Goyaz),• Sr Joaquim H. Pereira Dutra.

No Pará, o Sr. José Maria da Silva Basto.

Na Cachoeira (Estado da Bahia), o Sr.Francisco Xavier Vieira Gomes.

Na cidade do Rio Grande do Sul, o Sr.capitão Paulino Pompilio de Araújo Pi-nheiro.

Em S. Paulo, o Sr. G. da S. Batuira,rua Lavapés n. 20.*

Em Santos (3. Paulo), o Sr. BenedictoJosé de Souza Júnior, rua da Constituiçãon. 117.'

Em Campinas, o Sr. Silvino Ribeirorua Trese de Maio n. 47.

Em Campos, o Sr. Affonso Machado deFaria, rua do Rosário n. 42 A.

ATTENC&O«a

Btogaanos aos nossos assi-

tgaaaaates 0atisiazeB*eBBB saaas

assigBaataBB-as cobib a isiaioi-

l»revielaele,aflflaa ele poelei*aaaos

regaalaB-izar aaossa esci-ipta.

Os elos Bastados Feelea*aelos

poderão caaviar-Baos saaas ob*-

elens eaaa vale-postal.

As assignaturas deste periódico come-

çam em qualquer dia, e terminam semprea 31 Dezembro.

AOS NOSSOS l-fãlTOUES

Pee|neno transi orno. coiaio

ha scaaaprc na iaaapB^ensa, faz

cobbb efaae pela pB*ÍBaaeii-a vez,

desde S annos de existência,

saia o presente Baaaanero com

algema atraso : peeliflaaos poi*i«to descaalpa, esperauelo e|ifle

nunca mais tal saacceela.

Assistência aos Necessitados

Rendamos graças aos céus : a dou-trina regeneradora que tem por mis-são transformar a humanidade emuma única familia, ligada pelos maisestreitos laços de affecto, e que habem sete annos não cessamos de, semdescanço, propagar, jâ começa a pro-duzir fructos dulçorosos 1

Ora, é por estes que se conhece a ar-vore productora : sejam pois, todos

juizes si ella é boa ou má.Um destes fructos é a Assistência

aos necessitados, instituição levantadapelo esforço de alguns spiritas, massustentada e mantida por quantosprocuram oceasião de satisfazer aosimpulsos da caridade.

Quer isto dizer que, embora seusinstituidores corno spiritas tivessemsido levados pelas injuneções de suasdoutrinas, não pretenderam nem qui-zerara crear uma instituição que per-tenceess propriamente a este credo :com etTeito, a caridade, virtude su-blime, não se aninha somente nos co-rações de crentes ; egualtnente quemdelia necessita, tanto pude ser ehris-tão, corno judeu, mahometano, ouatheu.

A Assistência tem por fim auxiliartodos aquelles que uma sorte adversacurva ao duro peso da necessidade ;ella vae procurar os que, tendo já asforças esgotadas pela edade ou pelaenfermidade, desfallece á mingua derecursos; ella corre ao albergue daspobres viuvas, cujo trabalho mal re-tribuidoé insuíficiente para calmar afome dos orphãosinhos que as cercam,e cujo coração ora se confrauge de'dorora estala de desespero ao ver ós seusesforços incessantes, o seu trabalhosem tréguas, impotentes para aba-farem as queixas dos pobresinhos I

Que será delles si as mãos amigasnão os ampararem na triste estrada

que regam com suas lagrimas,si cora-ções comp assi vos não se condoeretn desuas dores ?

Famintos 1 Pobres coitados 1

Qual será a alma christã que po-dera esquecer o grande "preceito doMestre — a caridade — abandonandoaquelles que elle chamou seus predi-lectos, para os quaes, com os olhoserguidos a seu Pae, multiplicou os

«i

pães e os peixes ?Si o grande rabbi, cujo vulto paira

sobre a humanidade, fez dessa vir-tude o preceito primário, e por assimdizer único, é que a caridade é a mais

poderosa alavanca do progresso ge-ral, é o coroainento da grande evolu-

ção social que se deve completar pelafraternidade, formando então todos oshomens urna si*) familia.

Pois bem, levantando os desfalle-cidos, auxiliando os esfomeados, co-

brindo os nús, pretende á Ássitenciaestar .só cumprindo o primeiro dever.

Cada um de seus membros, trans-formando-se em mendigo voluntário,estende a mão ao proletária.ou aoabastado, e recolhe-a logo, escon-dendo, sem ver, o obolo da cari-dade ; muitas gottas firmam uraoceano : a dádiva pequena encontraseu multiplicador na boa vontadecom tvique é offer.tad.al — é que o oboloda viuva satisfaz tanto quanto asofferàndas da vaidade.'

Más, si a mão se recolhe vasia,

porque corações ainda não abran-

dados aos suaveí sentimentos cari-dosos teimam em não vel-a, nem porisso fella se ocetílta '-despeitada :erguè.*se mais adeante -para , conti-nuarSa tarefa de mendigar, para os

què-Wm fome. -, kEf'o» fadario sem termo dos ínem-

b ros idaAssistên cia.Quantos lançarem

* os olhos" por

estas linhas, si alguma vez na vida

já enfrentaram com a esquálida figurada necessidade, não deixarão, es-tamos certos, de concorrer pessoal-mente e por seus amigos para a obrameritoria de que se fez campeão aAssistência aos Necessitados.

Ella está com suas muitas mãosestendidas.

Que as recolha sem as poder fe-char 1

Beaia-llibiliielaelc pensai

(Continuação)

Eu continuo. -Ne.n nos escriptos de S. Paulo, de

S. João ou de S. Jacques eu descubroalgum vestígio' algum germen dopoder papal. S.-Lucas, o historiadordos trabalhos apostólicos, guarda si-lencio sobre este ponto importante.Por ventura o si-lencio destes santoshomens, cujos escriptos fazem .partedo çauon das* Escripturas divina-mente inspiradas, não parece tão las-timavel, tão impossível e tão indes-culpavel, no caso de que Pedro ti-vesse .sido Papa, como si Thiers, es-erevendo a historia de Bonaparte, ti-vesse omitlido seu titulo de Impera-rador ?

Eu vejo um membro desta assem-bléa que apontando-me com o dedo,diz : « E' ura bispo scismatico que seinsinuou entre mós sob uma falsabandeira. »

Não, não, meus Veneráveis Irmãos,eu não entrei nesta augusta assem-bléa como um ladrão, pela janella«mas sim pela porta como vós todos.

Meu titulo dò bispo -"a isto me deudireito, assim corno minha conscien-cia chris,tã obriga-*rne a fallar e adizer o que creio seá a verdade. ^

O qne mais me admirou, e o quealiás pode-se demonstrar, foi o silen-*cio do próprio S. Pedro. Si este após-tolo tivesse sido o que proclamaesque elle foi, isto é, Vigário de JesusChristo .sobre a terra, elle ao menos,

-devia sabel-o. Si o sabia como nemuma só vez procede como Papa ? Teria-podido fazer acto de Papado no dia doPentecostes, quando pregou seu pri-meiro sermão, e elle não o fez ; noConcilio de Jerusalém, e elle nãomfez; em Aniiochia, e elle não o fez.Também acto de Papado elle não fez"nas duas Epístolas qne dirigiu áEgreja. Si Pedro fosse Pa-pa, meusVeneráveis Irmãos,, podeis imag-inarum tal,Papaí| /•* \

Resulta, pois, de tudo isto -que siquereis affirmar .que elle foi Papa,çlle mesmo não o sabia. Pei-g-untoagora a qualquer, que tenha cabeçapara pensar e espirito para refiectir,si est-''s duas*:supposições são pos-siveis ?

Digo,, portanto* qüd.-eaquanto vi-"- ';:' 4 - *1ffiifà0tè-$i» pensou a !

Egreja que nella havia um Papa.Para afirmar o contrario, é precisoentregar ás Escripturas ás chammas,ou ignorai-as completamente.

Mas ouço dizer de todos os lados :« Pois que ! Não esteve S. Pedro emRoma? Não foi crucificado com a ca-beca para baixo ? Não se conhecenesta cidade eterna os pontos em queelle ensinou, e os altares em quedisse missa?» Que S. Pedro tivesseestado em Roma, meus VeneráveisIrmãos, isto repousa sobre a tra-dicção ; mas, quando mesmo tivessesido bispo de Roma, como de sen epis-copado podeis concluir sua suprema-cia? Scaligero, um dos mais eruditoshomens, não hesitou dizer que o epis-copado de S. Pedro e sua residênciaem Roma devem ser collocados entrea.s legendas ridículas. (Gritos repe-tidos : Fechae lhe a bocea, fechae-lhe abocea; fazei-o descer desta cadeira.) ¦

Meus Veneráveis Irmãos, estouprompto a ine calar. Porém não valemais, em uma assembléa como anossa, examinar todas as cr.usas,assim como aconselha o Apóstolo, enão adm.it.tir sinão o que for bom ?Mas, Veneráveis amigos, temos umDictador deante do qual todos de-vemos curvar a cabeça e nos calar,mesmo Sua Santidade Pio IX. EsteDictador é a Historia.

A Historia não se assemelha a umalegenda que se pode deformar como ooleiro amassa o sen barro : asse me-lná-se ao diamante que grava notcristal palavras indeléveis. Até aquisomente nella tenho-me appoiado, enão encontro nenhum vestígio do Pa-pado nos tempos apostólicos : a faltacabe á Historia e não a mim. Quere-ri eis talvez pôr-me na posição de umhomem aceusado de mentira ? Fazei-osi o poderdes.

Ouço dizer á minha direita estas

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é* n&

% IlEV-tm.M-l-IftOR. — i$9*t> — .Hullio — IN

palavras : « Tu és Pedro, e sobre estapedra edificaréi minha egreja.» (Mat.XVI, 18)

Responderei mais tarde a esta ob-jeção, meus Yeneraveis Irmãos, ínasantes desejo vos apresentar o resul-tado de minhas pesquizas históricas.

Não encontrando nos tempos após-tolicos nenhum vestígio do Papado,disse a mini mesmo : talvez nos An-naes da Egreja encontre o que pro-curo.

Pois bem, digo-o francamente, pro-curei o Papa nos quatro primeirosséculos, e não pude encontral-o.

Espero que nenhum dentre vósporá em duvida a grande autoridadedo santo bispo de Hippona, o grandee bendito Santo Agostinho. Este pie-doso doutor, honra e gloria da EgrejaCatholica, foi secretario do Conciliode Meliva. Nos decretos desta vene-ra\el assembléa encontram-se estassignificativas palavras : «Todo aquel-le que appellar para os bispos do ou-tro lado do mar não será admittidoá communhão por nenhum dos bisposd'África.»

Logo os bispos d'África reconhe-ciam tão pouco o.s bispos de Roma,que puniam com a excommunhãoaquelles que recorressem á sua arl>i-

tragein.Estes mesmos bispos, por oceasião

do sexto Concilio de Carthago, quefoi celebrado no tempo de Aureliano,bispo desta cidade escreveram a Ce-lestino, bispo de Roma, advertindo-ode que não mais acolhesse as queixasdos bispos ou dos sacerdotes d?Africa;a não enviar mais á África Legadosou Delegados ; e èxhortaram-uo anão introduzir o orgulho humano naEgreja.

Que o patriarcha de Roma tem,desde os primeiros tempos ensaiadoreunir toda a autoridade, é um factoevidente também que elíe não pos-s.dià a supremacia qüe lhe attribuemos ultramontanos. Si a tivesse pos-suido, os bispos d'Africa e SantoAgostinho entre elles, teriam ousadoprohibir que se appellásse para seutribunal supremo ?

Confesso entretanto que o patriarchade Roma oecupava o primeiro lugar.Uma das leis de Justiniano diz : « Or-denamos que o santo Papa da velhaRoma seja o primeiro dos bispo.-,, eque Sua Altesa o Arcebispo de Cons-tantinonla, esta nova Roma, seja osegundo.»

— Inclinae-vos pois perante a su-

premacia do Papa— dir-me-eis vós.Não vos apresseis tanto em assim

concluir, Meus Yeneraveis Irmãos,

porque a lei de Justiniano tem portitulo : Da ordem das leispatriarchaes.A classe é uma cousa, o poder da ju-risdicção é outra.

Por exemplo, si em Florença sereunisse uma assembléa composta detodos os bispos do reino, o primeirologar seria naturalmente dado aoPrimado de Florença, da mesma sorte

que entre os Orientaes seria dado ao

patriarcha de Constantinppla, e naInglaterra ao Arcebispo de Canter-bury. Mas nem um nem outro poderiase vangloriar de sua posição puraexercer unia jurisdicção sobre seuscoliegas.

A importância dos bispos de Romanão depende de um poder divino, massim da importância da cidade em queelles tem sua sede. Monsenhor Darboynão é superior em dignidade ao Arco-bispo de Avinhão, mas entretantoParis dá-lhe uma consideração queelle não teria, si. em logar de terseu palácio nas margens do Sena,qivesse-o nas do Rhodano. E o que éverdade na hierarchia religiosa o étambém em matérias civis e políticasO Prefeito de Florença mais não é

quo umPrefeito como o de Pisa, mas

civil e politicamente elle tem maiorimportância.

Disse eu já, que desde os primeirosséculos aspirava o Patriarcha deRoma ao governo universal da Egreja.Desgraçadamente a isto quasi attm-giu ; mas foi illudido em suas preten-cOes, porque Theodosio II fez uma, lei,pela qual declarou que o Patriarchade Constantinopla a mesma autori-dade tinha, que o de Roma.

Os Padres do Concilio de Ctfnlce-donia collocain us bispos da antiga eda nova Roma na mesma categoriaem todas as cousas e mesmo nas cou-sas ecclesiastieas. (Canon

'28).

0 sexto Concilio de Carthago oro-hibiu que qualquer bispo tomasse otitulo de Príncipe dos bispos ou debispo soberano.

Quanto a titulo de Bispo Universalque os Papas se arrog'arain maistarde, S. Gregorio 1 (Gregorio oGrande), pensando que seus sueces-sores jamais teriam a idéa de touial-0,escreveu o que segue :

<( Nenhum de meus predecessoresconsentiu em carregar este titulo pro-fatio porque, si um Patriarcha searroga o titulo de Universal, o dePatriarcha soffre com isso um descre-dito ; resguardem-se, pois, os chris-tãos de se darem uni titulo que a seusirmãos traz descrédito. »

Foi a seu eollega de Constantinppla,que pretendia se fazer Primaz daEgreja, que ,S. Gregorio escreveuisto.

ü Papa Pelagio 11 dá a João, bispode Constantinopla, que aspirava sc.\-Soberano Pontífice, o titulo de ímpioe de 'profano.

Estas autoridades — e eu poderiacitar cem outras — não provarão comtão evidente luz, como a do sol aomeio dia, que só muito mais tarde éque foram os primeiros bispos deRoma considerados Bispos Unive^aese Chefes da Egreja ?

Por outro lado, quem não sabe quedepois de 325, anuo-durante o qualteve logar o primeiro Concilio ecu-menico de Constantinopla, entre 11ÜDbispos que assistiram aos seis primei-ros Concilies geraes, só houve 19 doOccidente '!

Quem, portanto, ignora que os Con-cilios eram convocados pelos impera-dores, sem que disso informassem aobispo de Roma, e muitas vezes con-trariamente a sua vontade ? Quemignora que foi Osius, bispo de Cor-dova quem presidiu o primeiro Con-cilio de Nicéa, e que dedigiu os.seusCânones ? O mesmo Osius, presidindomais tarde o Concilio de Sardica,delle excluiu o Legado de Júlio I,bispo de Roma.

Mais não direi, meus YeneraveisIrmãos, nesta ordem de idéas ; chegoagora ao grande argumento a que fizallusão anteriormente, e que serviupara estabelecer á Primazia do bispode Roma. Por a pedra sobre a qualestá edilicada a Santa Egreja, euteu-deis que

'é sobre o apóstolo Pedro.Si isto fosse verdade, terminada es-taria a discussão. Mas nossos prede-cessores — e certamente elles deviamconhecer a questão — não são denossas opiniões.

(Continua)

órgão da Federação'Spirita Brazileiraserão tantos quantos em suas forçasestejam.

r-Kovo age.ste

0 nosso dedicado confrade JoaquimH. Pereira Dutra é o agente destafolha na cidade de Formosa em Goyaz.O interesse que elle toma pela causa

que propagamos garante-nos que seusesforços em tornar ali conhecido o

E' a elle, pois, que tem de se di-.igir o.s nossos confrades da Formosa

para tudo o que se referir ao Refor'mudar.

"65 sv^-yâ-i .."-ia..!» cs.sBiãia.Ba

Transcrevemos do nosso eollegaConstância de Buenos Ayres a seguin-te, noticia : « Tradusirnas da PátriaItaliana numero 305 o trecho quesegue : O Spiritimo na Asntria. — OSpiritismo tem tomado t.al incrementona Bohemia e na Gallicia qne o go-verno acreditou seropportuno intervire, prender todos quantos se occnpamdesta extranha arte (sic).

u Em Ticui foram presos um medico,dons negociantes, diversos mocos esois mulheres.

« Pouco havia um destes spiritastinha posto em sustos toda a popa-lação.

«. Parte dos habitantes fugiram da• cidade, não quizerain voltar, sem que

o bispo benzesse as casas dos de que.segundo diziam os supersticiosos, ha-viam-se apoderado o.s espirites.»

Até aqui o eollega ; quanto a nóssó diremos que, do qne precede, de-duzem-se duas cousas : que o Spiri-tismo toma incremento de dia em diaem todas as partes, e que a ignoran-cia e o fanatismo são os únicos quese oppõem ao seu progresso.

.^«lalso eerlo

Refere o Dr. Victor dAuzon na Ee-vue des Sciences Psychologiques, illus-tré, o seguinte facto passado com umasua cliente : O Sr. Mass, chefe apo-sentado da gendarineria, pediu ao Sr.Bernard G. a quantia de 400 fraucosemprestados, a qual passado algumtempo fui restituidá a este, que pornão ter na oceasião o titulo, passouum recibo ficando de restituir depoiso titulo. Ambos, porém, morreramsem que a restituição fosse feita.Então a viuva do Sr. Bernard Gr.,encontrando nos papeis do marido otitulo de divida do Sr. Mass exigiuda viuva deste a respectiva quantia.Mme. Mass aíürmou que a divida ti-nha sido paga e proinetteu apresentaro recibo que tinha em casa. Eutre-tauto por mais que o procurasse nãoachava ; neste Ínterim sonliou umanoute com sen marido que lhe dizia oseguinte : « Fica tranquilla ; procurao recibo na segunda gaveta da com-moda, pois está em minha carteira,que cahiu por traz desta gaveta. »A's duas hoi»as da madrugada Mine.Mass acordou, conservando perfeitalembrança do sonho ; e, não uodendomais dormir, foi para us aposentos desua filha esperar que fosse dia. Asduas foram então ao logar indicadoonde encontraram* a carteira com orecibo, cuja exhibieão libertou Mme.Mass de novo pagamento

O Dr. Auzoii diz que este facto podenão ser uma real apparição do es-pirito do Sr. Mas-;, porém um pheno-meno de autosuggestão durante osonho. Ora, bem que esta hypotheseseja menos natural do que a primeirapode-se admittil-a, ficando assim pro-vado que lia no homem qualquercousa capaz de irradiar-se, em dadascircumstancias, e receber de fora im-pressões que não são attingidas peloeorpo que dorme.

<*r.3pt» fl*er,se vera nica

Recebemos a carta seguinte, a quedamos publicidade com o respectivorelatório, esperando dos estudiosos,solicitando mesmo, que sobre taes as-suraptos façam também suas investi-gações. Com isto, seguirão o exem-pio da illustre redacção da RevistaEspirita de Barcelona, que sobre aprimeira, questão já emittiti seu juízo,e pediu o dos investigadores. Eis acarta :

« Peço, Sr. rédactor, o ^obséquiode inserir em sua folha o relatóriojunto, (pie o grupo Perseverançadeterminou enviar ao Centro Spi-iita. A tardança, porém, das re-uniões deste fa'„t com que os estudosdo alludjdo grupo só possam chegara más horas no conhecimento geral.Mas, como se tratam de questões que atodos interessam, supponho que, sub-mettendo-as por intermédio de suafolha ao estudo dos confrades, antesdeste ser feito pelo Centro, terei pre-parado materiaes para que elle possamelhor firmar juizo.—João Pinto.»

Sr. Presidente e mais membros doCentro Spirita do Brazil, o grupoPerseverança de que entre vós sou orepresentante, deliberou, em sessãode 7 do correu;;}, enviar-vos o resul-tado de seus trabalhos até hoje.

Assim fazendo, elle pretende sub-metter ao vosso criterioso estudo osfactos novos que se desenrolaramante seus olhos, para que os rectifi-q.ueis,ou os confirmeis, levando-osneste ultimo caso ao conhecimento detodos os grupos por intermédio deseus respectivos delegados.

Tem-se dado apenas quatro traba-lhos. sendo tres provocados e umvindo espontaneamente em oceasião,cuja ordem do dia marcada haviasido a continuação de um trabalhoque, sem se saber, já estava termi-nado.

Ema uma das sessões era que se deuo primeiro trabalho, referia um in-feliz espirito as melhores condiçõesem que se acha, quando, arguidosobre o estado de uma de suas vic-tiinas,outr'ora o algoz, disse que este,espirito desprendido também, mas es-pirito arrependido, tanto se penali-sara das suas condições que, per-doando, muito por elle implorara ;foi desde então que elle, como quese sentindo satisfeito de lhe fazerpesar sua mão vingativa, tinha re-formado seus sentimentos e achava* seem condições divesas.

Um dos membros do grupo fezentão sentir aos companheiros, quesi era verdade que, mais do que daprece de estranhos, dependia a ino-dificação dos sentimentos do espiritodo perdão de sua victima, como re-soltava da observação commum dostrabalhos dos grupos, cnntudo nãotinha ainda esta lei tido a saneçãode um espirito superior; entretantodevêramos por ella nos guiar paranestes trabalhos provocar antes detudo o perdão da victima. A instruc-ção final que o grupo recebeu foi aseguinte :

« E' uma lei admirável da miseri-cordia desse Deus de amor, que vossafraca intelligencia não pode conceber,mas que vosso coração pode sentir.—:que, logo que n'um <ij a rece o airre-pendim.ento, e**e sentimento produzuo outro a saciedade da vingança,CÒmo bem observas tes uo caso que

V

aerora estudástes. »

I Luiz.

BlBWamMAOOtt — t*t?í# — JhIIio — flí* a

»

Na sessão de 16 de Abril, na horade receber-se instrucções sobre o tra-balho a fazer, tivemos a seguintecommunicação :

« Caríssimos irmãos, podeis consi-derar concluído o vosso primeiro tra-balho que foi, como bem o compre-hendestes, mais um trabalho de ob-ser vação do que de acção.

Por hoje reclamo o concurso devossa assistência para ura infeliz quese debate' em angustias affl.icti.vas>Si as circurnstancias que precederame acompanharam sen fim entre vós,e as que se deram e deviam seguirdepois, fossem bem meditadas, mesmosomente sob sua face apparente, paratodos seria uma lição proveitosa ;para todos os que, enleiados nos in-teresses e gozos materiaes, não selembram de que inesperadamente,como ao rico do Evangelho, propostopor Jesus, podem do meio da abnn-dancia, pedir-lhes sua alma, que aapresentarão indigente, nua, e quiçámanchada do lodo da matéria per-ante seu Deus e seu juiz. »

Em vista desta instrucção, espe-ramos na hora respectiva o trabalhoannunciado.

Manifestou-se um espirito era per-turbação, que, havia bem pouco,tinha se desprendido em conseqüênciade um accidente inesuerado.

Depois de ura longo e vivo dialogo,com o fim de convencer o espiritode suas actuaes condições, terminoueste pelo seguinte modo :

«Ter-me-ia enganado! ?... nunca...mas então, meu Deus, onde estou quenada reconheço : sombras, percep-ções tão perturbadas que dilücil-mente posso ajuntar minhas idéas ecomprehénder bem o que agora sinto Imas eu vos agradeço, ali vias fces-rae...e muito ; eu nada vejo, ó verdade,mas sinto uma calma suave em com-paração do soffrimento que me tor-turava ainda ha pouco. Eu sinto umadormecimento me invadir; deixae-meentregar a este repouso, embora passa-geiro. Eu vos agradeço, é a vós quedevo talvez... que, ao despertar depois,tenha mais lucidez para julgar minhaposição. Adeus.»

OsCAll.

fllllliDr. A. Bezerra de Menezes

A CASA 11 AL AS$0!BRBBSAS>A

ROMANCE DE COSTUMES SERTANEJOS

(Continuação)Acabada a explicação sobre o exú, o Sr.

Patrício volveu á historia começada ; mascomo já o sol se tinha posto e e a lua co-meçava a pratear os cabeços dos morros,disse-me o bom do homem : vou armaraqui minha rede, que deitados conversa-remos melhor.

Estendidos na deliciosa cama do sertão,eu era todo ouvidos.

— Passaram os 15 dias concedidos aoTenente-coronel para resolver-se fazer ofilho casar com a moça que deshonrara.

O velho pae desta já" estava em ameias portodo aqueile tempo, pedindo a Deus quefallasse ao coração de seu duro prirno, paraque não lhe fosse preciso chegar ao extre-mo, que lhe repugnava mais que a morte-

Nada, porém, demoveu o coração doTenente-coronel e o dia fatal chegou, emque o desolado pae recebesse curta do pri-mo, dando-lhe satisfação.

Sem dizer palavra sobre o que promedi-tava, tomou uma garrucha, montou emum cavallo e dirigiu-se á casa do pae domoço que o arrastara ao precipício.

AÍi cln-gndo, entrou sem perguntar quemestava de vigia, e encontrando o dono dacasa sentado a mesa fumando um ca-chimbo, dirigiu-lhe a palavra.

Vim receber sua resposta, meu primo,visto que não a quiz mandar a minhacasa.

E' este adormecimento ern que vaeentrar o espirito, depois de horrorosaperturbação, para vir-lhe então maiscompleta lucidez, o facto novo e des-conhecido pelos membros do grupo,que elles submettem a vossa apre-ciação.

Havia no Rio de Janeiro, ha bempouco tempo, um infeliz que, sentadodia e noite á janella de sua casa, es-perava da caridade publica subsistemcia para si e para sua familia. O quehavia originado tão precária condi-ção era uma paralysia que o punha árnercè dos outros para o cumprimentodas mais vitaes urgências do organis-mo. Mais triste ainda era sua posi-ção, porque a moléstia só lhe deixavaproduzir sons inarticulados : não fal-iava. Este homem, porém, havia oc-cupado uma posição social, que re-lativamente não era Ínfima.

Este conjuneto de circumstan-cias merecia de nossa parte estudoacurado.

Datando de pouco o seu falleci-mento, designámos entretanto a evo-cação deste espirito para um denossos dias de trabalho, esperandoque o director espiritual de nossostrabalhos esclarecer-nos-ia sobre apossibilidade ou não desta manifesta-ção.

No dia marcado, a instrucção ini-ciai sobre a ordem do dia versou emjüdiciosas considerações sobre o or-g-ulho, origem de todos os erros evicios, e sobre suas possíveis conse-quencias.

O espirito manifestou-se ; e, comsorpresa nossa, nem sò a sua lucidezera completa, como ainda elle tinhaclara videncia de uma serie de exis-tencias anteriores, o que sobremodo omartyrisava.

Ora, si uma perturbação pouco de-morada e o conhecimento de passadasexistências são por assim dizer oprêmio, o galardão de espíritos quese elevaram, não era de suppor quepodesse ser o quinhão de ura infelizextraordinariamente soffredor. Entre-tanto assim foi, e aquillo que para osoutros é prêmio, para este foi o iustru-mento de supplicio.

Já lh'a ilei e não me aborreça mais comisto, que não estou para atural-o!

Sr., pepi ultima voz lhe peço que repareo mal que me fez seu filho,"que não meobrigue a fazer justiça por minhas mãos !

Canalha! Fora daqui já, ou mando-tecorrer por meus escravos.

Womperum-se os diques, e o pobre paeem desespero por não poder salvar a honra,e por se ver ainda em cima ultrajado, pu-xou pela garrucha e fez fogo.

Levantou-se um barulho infernal na casado Tenente-coronel, correndo ao logar doassassinato a mulher, o íilho e os escravos.

Vingança ! bradou a chorosa esposa, vin-gança contra este malvado assassino !

Malvado ! minha senhora, protestou ohomem sem descorar. Tivesse a senhoraensinado sou li lho a respeitar o honraalheia; tivesse seu marido sabido cumprirseu dever, ensinando-lho a reparar a faltaque cometteu. e nem haveria aqui um as-sassiuo, nem a senhora sentiria as doresque iho vão pela alma, nem seu maridoseria agora um desgraçado e dar coutas aDeus da dureza de sen coração.

Eu sou um assassino, porque matei; masnão sou malvado, porque matei para lavarminha honra conspurcada.

Quer vingar-se? Eu aqui estou.Mande seu íilho, tão dextro em abusar

de innocentes crianças, vingar o pae, quelho deu razão.

Mande-o, que bom precisa elle recebero prêmio de suas proesas.

E que duvida! disse o moço avançandofora de si.

E que duvida, que hei do vingar meupae, lavando sangue eom sangue !

Si não o faço já é porque respeito estecorpo ainda quente; mas por elle juro quesua morte, será vingada !

Pois meu peralta é quando quizer; por-que eü tenho contas a ajustar com suamercê, e para isso dispenso a arma, bastao meu chicote.

Hei de cortar-lhe esta cava atè deixal-a

Por nos parecer novo e excepcio-uai o facto, submettemol-o ao vossojuizo.

(Continua)

A médium K<]ufc>ag»iu tuaItalSa

(Continuação )

Desta vez é o Sr. Giovanni Hoff-mann, illustradò secretario da Aca-demia Internacional de estudos spi-riticos e magnéticos, da qual é órgãoa Luz, ({nem dá conta de uma sessão,celebrada com sua assistência e coma de mais oito pessoas, comprehen-dida a médium Eusapia, na qual pro-duziram-se : levantamentos de umarrieza pesadíssima e fortes pancadassobre a taboa da mesma, typtologiaintelligente, movimentos automáticosde moveis em vários sentidos, mate-rialisação da mão de John King etangibilidade da mesma, sons de ins-trumeutos collocados long*e dos expe-rimentadores, etc, etc.

Tres phenomenos, porém, distinetosentre si e de importância psicho phy-sica são especialmente descriptos.

O primeiro consistiu em tirar o espi-rito de J. King, servindo-se das duasmãos materiallsadas, do biaçi deuraa das pessoas assistentes, a Baro-neza Gr., uma pulseira que tinha umfecho de segredo bem complicado eque só ella dizia conhecer, collo-caudo-a em alguns segundos no pulsode um outro assistente, o Dr. M.

Seguiu-se logo pelo mesmo myste-rioso processo o gyro de ahnéis quecomeçaram a enfiar-se ora era um oraera outro assistente.

Cré o Sr. Hoff mann que este phe-noiueho acha-exphcação ein duas hy-potheses : ou o espirito, por trans-missão de pensamento, se apossou dosegredo do fecho da pulseira, ou ope-rando uma elaboração pbysico-chi-mica desatomisou reduzindo a partesimpalpaveis o objecto em questão, epor inverso processo o reatomisou nopulso do Dr. M.

I

como a devem ter os miseráveis de suaclasse.

De minha filha, desgraçado, ninguémha de escarnecer, e quando se fallar dcsua deshonra, iálla,-se-ha de minha vin-gança

Ponham este homem daqui para fora,bradou a mulher do morto. Eu sinto nüoser homem para ensinar, agora mesmo,esto canalha!

O homem não respondeu, porque com-nrehendeu ajusta, rázãòijuè tinha aquellamulher para se entregarão desespero.

Vendo que ninguém se movia para en-xotal-o, sahiu a passos lentos, tomou ocav*allo preso a porta e seguiu para casa.

— li' por estas o outras, Sr. Leopoldo,quo nós somos chamados bárbaros, assas-sinos e náo sei que mais.

Si o homem civilisaclo não faz o mesmotanto peior para elle. 13' que considera ahonra uma carga posada.

Nós náo matamos por futeis motivos,porque sabemos (pie elevemos amar onosso similhante e respeitar a creatura deDeus,

Nó.-, pprém, que prosamos a honra maisdo que a vida, temo.- por lei (pie a dos-honra só se lava com sangue.

Quando o Sr. souber que so deu umcrime destes nos sertões, pódé dizer: foium homem oilendido no (pie mais presana vida que cumpriu o que pnra elle é omaior dever.

E creia que em cem vezes errará duasou tros.

Cada povo com seu uso, cada roca comseu fuso, diz o adagio.

O nosso uso é este ; o si é mau, si ébárbaro, é, pelo menos, nobre c justificadodiante da dignidade humana.

E é tambem uma base da moralidade,porque é poderosa repressão para os ab-usos.

Si Dous ameaça com o inferno o povonulo, (pie muito" é quo um povo incultosirva-se de meio análogo ?

(Continua)

E diz desatomisou por ter-se recor-dado de idêntico phenomeno presen-ciado em outra sessão, que consistiuera transformar-se em nevoa muitofmbtil a água contida em uma baciade crystal, a qual, levada ao alto pormãos invisíveis, foi violentamentedespejada sobre a cabeça dos expe-rimentadores.

O phenomeno consistiu na mate-rialisação dos espíritos de duas filhasda referida Baroneza, ha pouco tempodesencarnadas, unia já mocinha eoutra ainda menina, os quaes, á vistade todos, aproximam-se da mãe, pro-digalisain-lhe caricias, enxugam-lheas lagrimas, e Analisaram a visita,deixando em suas mãos uraa ma-deixa de cabellos que foram reconhe-cidos pela Baroneza serem da filhamais pequena.

Os cabellos da médium comparadoscom estes apresentavam completa dis-similhança.

Para estes effeitos prestaram flui-dos dous dos assistentes, que cahiramem torpor cataleptico, pois J. King,no intuito de descançar Eusapia emsessões que se prolongam e podemser-lhe prejudiciaes, muitas vezes seserve de algum dos circumstantes,fazendo-o adormecer perto delia.

O terceiro phenomeno consistiu naescripta directa que a médium Eusa-pia produz de uraa maneira até agoraainda não obtida, pois não só a es-cripta se faz com lápis da côr que sedeseja, como dá-se até a materialisa-ção do próprio instrumento graphico,de que se serve o espirito para escre-ver, á vista de qualquer numero depessoas, e era plena claridade, o queé caso novo era phenomeno de mate-rialisação.

Basta que a médium pouse a mãosobre a folha do papel, para que seveja quasi repeutiuamente apparecercaracteres traçados com a singulari-dade de não apparecerem taes ca-racteres na face de cima mas no versoda folha.

Para obter a materialisação da sub-stancia graphica a médium embru-lha a mão em ura pedaço de panno,que a cobre toda como uma luva ; ac-cusa sentir perto das extremidadestactis corao o perpassar de ligeira efresca corrente de ar, a qual, passandopor diversos graus de rarefação, tomaa consistência de corpo solido entre aultima phalange dos dedos polegar,indicador e médio ; declara final-mente estar feita a materialisação epara provar calca cora a mão sobre asubstancia fltiidicamente combinadaa fim de tornar os caracteres maisprofundamente notáveis ; e, si acon-tece (pie a ponta do mysterioso lápisse despedaça, o faz com estrepito muidistineto do que podia produzir que-brando-se, mas como se fosse o deuma penna de aço ; sacudindo depoisa médium de dentro da mão cobertaa ponta ou fragmento do lápis riui-d ico.

IjKHMSMCnsaiâãlo Caatello Branco

E eis-me a escrever para ser lido.Eu qne nunca escrevera para o pu-

blico, timido, receioso de que k ca-rencia de talento e loquacidadeamena enriasse pela garrulice desa-taviada e iucoherente. E' que tra-ta-se do mais estranho caso psycho-lógico, caso tão digns de profundameditação qne lendo quanto sobre talacontecimento se tem escripto, aindanão vi que se discuta a verdadeiracausa do phenomeno pasmoso, o sui-cidio de Camiilo Castello Branco, rijoespirito de trocista.

Entretanto, a causa, descreveu-a

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4 BREEODtMAIUOR — 189© — .fiallio — 1»

o Sr. Valentim Magalhães sem apre- Icial-a, na transcripção da. carta de iCamillo ao visconde de Benalcanfor |em que são caío,^ os últimos termos :« Adeus, Ricardo. A cbimica sub-terranea espera minh'alma. Vou mi-neralisar-me ». Neste breve mais lu-minoso período está a explicação uacausa primordial do grande desastre ;o eminente e loquacissimo roraan-cista não cria na ineorruptibilidaded'alma elle pertencia ao numero dos

que aceitam a doutrina de que aalma é o effeito do organismo 1 Porisso não deve admirar o modo coraque terminou aquella robustíssimaintelligencia, repositório de varia-dissimos conhecimentos : elle cura-priu seu dever, porque, todo o ma-terialista deve suicidar-se depois depropagar o extermínio da humaui-dade.

E não pareça isto uma ironia : ahumanidade soffre, desde que co-meça a aspirar a vida directamentepelos pulmões, até que estes setornam inactivos, nullos.

Pois bem, si o homem nada aspira,nada espera além túmulo, si de seusraciocínios infere, que o túmulo éo termo de todo seu ser, que vau-tagem ha em viver soffrendo ?

Porque, é incontestável que todaa creatura ama.

Ora, não se pôde admittir que haja

quem ame e não soffra, sendo o amorum attributo tão violento, tão im-petuoso que só temporariamente podesatisfazer-se. Assim, pois, nós soffre-mos, sempre que precisamos passardo objectivo ao subjectivo.

E é tão incomprehensivel estapropriedade da alma que tudo quese nos offerece com summa facili-dade não constitue felicidade e pazdo espirito ; a alma quer a lucta, aalma ama a lucta e a lucta é soffri-mento.

\_~-- Osoffrimentoé, portanto, um attri-buto da própria alma ; é o embtaedos paixões que vence e que avencem. Assim, o milionário e o pro-letario soffrem igualmente, e disto seevidencia que a vida é uma successãode soffri mentos, que os gosos momen-taneos não conpensam ; portanto, re-pito ainda meu aphorismo.

O melhor que um materialista podefazer é suicidar-se, depois de propagaro extermínio da humanidade.

Si Camillo, segundo os ensinamen-tos de nosso mestre, veiu puriiicar-sea bem de seu progresso, elle com-metteu o maior dos erros, cortandoo fio de uma existência de expia-ção ; retrogradou.

Si veiu cumprir uma missão, siessa missão era a de castigar os atra-zados, os que o vulgo denomina —miseráveis —, ainda coinmetteu erro,pondo termo a essa tarefa, que nãosoube levar por diante.

Mas, admittindo ainda duvida narealidade de nossa doutrina, duvida

que pretendem os materialistas, ex-

plicando a seu modo os phenomenospsychologicos, Camillo dirigia aorientação humana, a contento detodas a*s intelligencias e, portanto,seu suicídio foi o desastre.do athletaque succumbe, do roble que tomba,porque elle era o roble altánosò,um athleta das reformas que a hu-manidade julga necessárias.

No momento em que a orientaçãohumana propeude para o altruismo,em que a paz é a aspiração dospovos, em que ps dirigentes em-pénham seus esforços em evitar asguerras, apesar das susceptibilidndesdos dirigidos ; no momento em queos ambiciosos procuram negociar evi-¦feando hecatombes; emfim, quandotodos pretendem que é dever sagradoprolongar a vida individual, a vidado homem e até a vida do irracional,custa a conceber que se suicide umlaomem de rija tempera, como fosse

Camillo Castello Branco, a não serque elle nada esperasse de alemtúmulo, porque, sendo osta a únicaexistência compara sons soffrimen-tos com a ventura apparente dasoutras creaturas, ventura ou antessoffrimentos mais supportaveis ; nãosabe dominar, resignado, seus tor-mentos, lança mão da arma suicida,e desapparece voluntariamente dacoinmunhão humana, onde era devi-damente estimado.

Li algures que o homem semcrença é um desgraçado, e Camilloera um homem sem crença. E haainda quem combata as doutrinas es-piritualistas ; as doutrinas que com-batem a soberba, a avareza, o or-gulho, a ira 7 as doutrinas que en-sinam a humildade, a resignação e aesperança de justa recompensa?

E ha ainda quem apode os sectáriosdo spiritismo., porque elles prendemem amplexo intimo a methaphysicacom as sciencias physicas, de modoque.satisfazem a razão mais exigente!

Li mas o que é lastimável é que,no intuito de evitar apodos, ha in-telligentes sectários do spiritismo,que, tímidos receiam francamentedefender suas convicções.

Entretauto nossa missão é ensinara resignação, e isto é bom.

Antônio Luzes.

3'bèbsu esiaaola. !

A' Assistência aos NecessitadosQuem di aos pobres empresta a Dous.

Castro Ai.vks.

O branco veu de nevoa vem descendo,Descendo sobre a ilor emmurchecida,E as pétalas doridas arrancadas,Estendem-se na terra resequida.

Mas, ali! si o gelo queima a flor humilde,Si a rola morre, á escassez de ninho; . .Que não padece a criancinha louva,Sem pão, sem veste, sem íim só carinho?

Oh ! caridade I santa irmã celeste !Sob teu manto calido, amparaDas lutadas do sul as pobres aves,Luz protectora que ao infeliz aclara!

TJma esmola lançae de vossos cofres;Uma esmola de luz, de pão, de amor! ITudo mitiga da desgraça a fome;Tudo engrandece aos olhos do Senhor !!

Vinde vós todos corações amigos,Aos pobres miseráveis soccorrer.Ob ! por Deus vos pedimos, não deixemosDe frio a, criancinha esmorecer!...

De envolta com o perfume das florinhasA luz de nossa esmola chegaráAos olhos do Senhor compadecido:Recompensa feliz encontrará!

M. L.

Pre-sgaiiritisano

Muito antes de se falar em Spiri-tismo, como hoje, e até mesmo de sefazerem as experiências das mesasfalantes, nosso povo contava aosserões da noite, factos bem averi-guados de apparições de espiritos.

Parece que o Supremo Regedor doUniverso predispunha os ânimos paraa nova era, em que seriam dados áterra os phensmenos surprehenden-tes, que são do rol da sciencia spirita.

Aquillo era o bruxolear da luz, quejá illumina nosso horizonte e quemuito breve ha de innundar, milhõesde vezes mais que a do sol, toda asuperfície do nosso planeta, sem itf-terrupção pela cadencial successãodos dias e das noites.

11 Lux eterna lucebit.,,Quem escreve estas linhas creou-se

em meio do povo sertanejo até a edadede desoito annos, e guarda daqüellestempos e logares a mais yiva me-moria, qual não pode conservar defactos ulteriores.

Julgando, pois, que tem alguminteresse, quando não seja para ossábios, ao menos para os curiosos, ahistoria daqüelles factos, que assom-bravara os simplices habitantes dossertões, aproveita-se destas colum-nas, que lhe são generosamente fran-

queadas, para dar conhecimento aosseus leitores desses specimens, quea Egreja aceita e re.pelle, obede-cendo a evidencia dos factos e guian-do-se por preconceitos, sinão por malentendida pretenção de possuir aplena verdade dentro do circulo deseus conhecimentos.

« Fora do que sabe e ensina, nãoha nem poderá haver senão erro, erroe somente erro »

Prepare-se, pois, o paciente leitor,para ouvir contos phantasticos,porémreaes, que são, ou pelo menos eramem meu tempo, assumpto muito apre-ciado das palestras familiares, quesão o passa-tempo do sertão, desde ahora, cheia de poéticos encantos, emque o sino do pobre campanário sôalanguidamente, couvidando os fieis ásaudação angélica : Ave Maria, atéque a familia se reuna para resar o— Terço — depois do qual a ceia e orepouso.

Sob a epigraphe deste, virão outrosartigos, cora o fim indicado, todosvasados no molde despretencioso dasnarrações populares : mas com apretenção de servirem de repertóriodas tradicçoes de gerações, que foramdesta vida, cora a crença inabalávelde que os mortos communicam com osvivos.

Hoje, não seria isso admirável ;porque os que tudo pretendem ex-plicar, diriam : que os ventos le-varam para os mattos as idéas dosloucos ou possessos spiritas.

Naquelles tempos, porém, era quetaes idéas nem suspeitadas eram, noscentros civilisados, os factos, quevão servir de objecto deste mingoadotrabalho, não podem deixar de pro-vocar a attenção e a curiosidade.

Venha ao prelo o primeiro conto.Foi na povoação de Santa Cruz

ribeira do Trahiri, provincia do RioGrande do Norte, hoje Estado da Con-federação.

Quanto ao anno, falha a memória ;mas não passa de 1838.

D. Clara, filha de uma prima irmãdo autor desta narrativa, tinha sidocreada por uma tia materna, que fal-leceu, deixando-a com 12 a 14 annos.

D. Clara voltou á casa paterna,guardando no peito o amor que vo-tava á sua mãe de creação.

Já tinham decorrido 2 annos de-pois da morte desta, sem que deliarestasse senão a lembrança e as sau-dades, especialmente da parte damenina, conhecida na familia porCaluca.

Os pães desta moravam no po-voado, e costumavam, como todos oshabitantes do logar, reunir-se emfamilia, todas as tardes, debaixo defrondosa arvore do quintal ou cha-cara, para gosarem o fresco, naquelleclima abrasador.

Tinha chegado de visita, vindodos sertões do Ceará, um irmão deCaluca, moço incrédulo, desabusadoe valente como quem mais.

N'uma das tardes, em que a fa-milia se achava no terreiro atrazda casa, á hora do crepúsculo, quasinoite, Caluca foi á sala da casa,vasia de gente, e quando lá chegou,atordoou a família com um gritoangustioso, que revelava muito medoou grande desgraça.

Todos, a um tempo, ergueram-se e*correram para onde os chamavaaquelle grito ; mas não chegaram áporta da casa, que a menina, comouma setta, veio-lhes ao encontro.

Não se lhe podia mais, por serescuro, notar a decomposição da

face, porém notou-se que. traziaambas as mãos nos olhos, correndoe gritando, como louca.

O tio agarrou-a com pulso deaço, que o tinha, e, separando-a desi, que ella se lhe agarrava comoas serpentes de Laocoonte, pergun-tou-lhe : o que fazia assim.

E' Titia (a finada) que estava lána sala e que me chamou por ace-nos, respondeu a pobre menina.

O moço, que, já dissemos, nãoacreditava em almas, julgou louca asobrinha, tal qual corno ainda hojeos chamados espiritos fortes julgamos spiritas, que acreditam nesse pen-duricalho do homem, matéria e sómatéria para elles.

Affligiu-se, pois, cora o caso e, paraconvencer a sobrinha de que era il-lusão o que a transtornava, tirou-lhe,á força, as mãos dos olhos, dizendo-lhe : vê, não viste, nem podias verTitia, que acabou e nada mais é.

A menina abriu os olhos ; mas in-continenti e por um movimento brus-co, arrancou as mãos das do tio,e levando-as novamente aos olhos,bradou em convulsão : lá está ella,lá está ella, vestida de branco e fa-zendo-me signaes com a mão.

Toda a gente do povoado, comosóe acontecer nos logarejos, teveprompta noticia do estupendo caso,

i e em parte por curiosidade (não merefiro ás mulheres), e em parte porprestar seus serviços á familia emtranses, correu á casa, que ficou cheiaa regorgitar.

Durante a noite, ninguém dormiu,inclusive o padre capellão, homemsanto e venerado de seu povo, quegastou inutilmente todos os Psalmose água benta.

Quantas vezes o tio da menina ar-rancava-lhe dos olhos as mãos, efazia olhar, para lhe provar, quetudo era iliusão ; ella .apontava paraum ponto da sala, bradando : lá estáella, lá está ella, fazendo-me signaescom a mão.

Ao romper do dia, desappareceu avisão, e Caluca pôde abrir os olhos,sem mais nada vêr ; porém ficouextremamente nervosa e nem pôdedormir nem mesmo tomar alimento.

Entretanto falava, raciocinava,lembrava-se de tudo, mostrando queestava no pleno uso de suas facul-dades mentaes ; o que punha emcompleto desconcerto o moço, JoséRodrigues, que não podia mais ex-plicar o facto por loucura.

Na noite seguinte, repetiu-se ascena, e na outra o mesmo como dan-tes, de modo que a menina estavaquasi desfallecida, por não dormir,nem comer.

A' vista disto, José Rodriguestransigiu com suas idéas e levou oterceiro ou quarto dia a animar asobrinha para perguntar á alma :o que queria.

Caluca tremia ao pensamento defalar á tia morta ; mas, chegada anoite e dada a appariçãr^tão instante-mente foi compellida|felo tio, que atinha entre os braçooy pelo capellãoe por toda a gente alli reunida, quefez a pergunta.

Ninguém ouviu a resposta ; masa menina publicou-a dizendo : que atia pediu uma missa â Senhora daConceição ou das Dores.

E com isto desappareceu a visãopor toda a noite, indo de manhãmuito cedo, todo o povo ouvir amissa, no fim da qual Caluca gritou :ahi vem ella, ahi vem ella ; maslogo abriu os olhos e disse : deu-meum beijo na fronte.

Todos sentiram um cheiro agrada-billissirao e nunca mais se deu a ap-paricão. * A. B.

I Typographia do Refobmadok.