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Página - 20 REVISTAINSPIRAR • movimento & saúde Edição 40 - Volume11 - Número 4 - OUT/NOV/DEZ - 2016 SF-6D COMO UMA MEDIDA RÁPIDA DE QUALIDADE DE VIDA: UM ESTUDO DESCRITIVO NA ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE SF-6D quick as a measure of quality of life: a descriptive study on health primary care Dalvana Dutra Berwanger 1 , Lidiane Isabel Filippin 2 , Ricardo Pedrozo Saldanha 3 RESUMO Qualidade de Vida (QV) pode ser conceituada como a relação dos objetivos, expectativas, preocupações e padrões do indivíduo e a percepção dele frente a isso. Também é possível entendê-la como a posição na vida e no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive. O objetivo deste estudo é investigar a QV e dar visibilidade ao questionário SF-6D. Estudo de caráter transversal, de base domiciliar. A amostra foi consti- tuída por 211 indivíduos entre 40 a 50 anos, residentes em uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Foram coletados dados sociodemográficos, o nível de atividade física (Questionário Internacional de Atividade Física-IPAQ) e a QV (Short-form 6 dimensions-SF-6D). As dimensões que apresentaram maiores valores no SF-6D foram dor e vitalidade, seguidas por saúde mental, capacidade funcional, aspectos sociais e aspectos físicos e emocionais. Apesar da população da amostra apresentar fatores desfavoráveis a QV, como vulnerabilidade social e inatividade física, a média do SF-6D (SFindex – 0,85) foi relativamente boa. O instrumento serve para rastrear dados em relação à QV de indivíduos em ambientes como a atenção básica em saúde. Palavras-chave: atividade física, qualidade de vida, saúde. ABSTRACT Quality of life (QOL) can be regarded as a relationship of objectives, expectations, concerns and patterns of the individual and your perception, as well as their position in life and in the context of culture and value systems in which he lives. The ob- jective of this study is to investigate the QOL of a resident popu- lation in the metropolitan region of the city of Porto Alegre and give visibility to the questionnaire SF-6D. Transversal Character Study. The sample consisted of 211 individuals between 40 to 50 years old, residents in a town in the metropolitan region of the city of Porto Alegre. Social-demographic data were collected. The level of physical activity was measured by the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) and QOL was assessed by Short-form 6 dimensions (SF-6D). The dimensions presented greater values in the SF-6D were pain and vitality, followed by mental health, functional ability, social aspects and physical and emotional aspects. Despite he unfavorable factors present sample population the QV, as social vulnerability and physical inactivity, the average SF-6D (SFindex-0.85) was relatively good. The instrument serves to track data in relation to the QOL of individuals in environments such as basic health attention. Keywords: physical activity, quality of life, health. 1- Graduada em Educação Física pelo Centro Universitário La Salle de Canoas, RS, Brasil 2- Docente do PPG Saúde e Desenvolvimento Humano e Curso de Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário La Salle de Canoas, RS, Brasil 3- Docente do PPG Saúde e Desenvolvimento Humano e Curso de Graduação em Educação Física do Centro Universitário La Salle de Canoas, RS, Brasil AUTOR CORRESPONDENTE: Lidiane Isabel Filippin Unilasalle, Mestrado em Saúde e Desenvolvimento Humano Avenida Victor Barreto, 2288, prédio 8, sala 6, CEP: 92010 000. Canoas, RS. Email: lidiane.fi[email protected]

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REVISTAINSPIRAR • movimento & saúde movimento & saúde • REVISTAINSPIRAREdição 40 - Volume11 - Número 4 - OUT/NOV/DEZ - 2016

SF-6D COMO UMA MEDIDA RÁPIDA DE QUALIDADE DE VIDA: UM ESTUDO DESCRITIVO NA ATENÇÃO BÁSICA DE

SAÚDE

SF-6D quick as a measure of quality of life: a descriptive study on health primary care

Dalvana Dutra Berwanger1, Lidiane Isabel Filippin2, Ricardo Pedrozo Saldanha3

RESUMOQualidade de Vida (QV) pode ser conceituada como a

relação dos objetivos, expectativas, preocupações e padrões do indivíduo e a percepção dele frente a isso. Também é possível entendê-la como a posição na vida e no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive. O objetivo deste estudo é investigar a QV e dar visibilidade ao questionário SF-6D. Estudo de caráter transversal, de base domiciliar. A amostra foi consti-tuída por 211 indivíduos entre 40 a 50 anos, residentes em uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Foram coletados dados sociodemográficos, o nível de atividade física (Questionário Internacional de Atividade Física-IPAQ) e a QV (Short-form 6 dimensions-SF-6D). As dimensões que apresentaram maiores valores no SF-6D foram dor e vitalidade, seguidas por saúde mental, capacidade funcional, aspectos sociais e aspectos físicos e emocionais. Apesar da população da amostra apresentar fatores desfavoráveis a QV, como vulnerabilidade social e inatividade física, a média do SF-6D (SFindex – 0,85) foi relativamente boa. O instrumento serve para rastrear dados em relação à QV de indivíduos em ambientes como a atenção básica em saúde.

Palavras-chave: atividade física, qualidade de vida, saúde.

ABSTRACTQuality of life (QOL) can be regarded as a relationship of

objectives, expectations, concerns and patterns of the individual and your perception, as well as their position in life and in the context of culture and value systems in which he lives. The ob-jective of this study is to investigate the QOL of a resident popu-lation in the metropolitan region of the city of Porto Alegre and give visibility to the questionnaire SF-6D. Transversal Character Study. The sample consisted of 211 individuals between 40 to 50 years old, residents in a town in the metropolitan region of the city of Porto Alegre. Social-demographic data were collected. The level of physical activity was measured by the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) and QOL was assessed by Short-form 6 dimensions (SF-6D). The dimensions presented greater values in the SF-6D were pain and vitality, followed by mental health, functional ability, social aspects and physical and emotional aspects. Despite he unfavorable factors present sample population the QV, as social vulnerability and physical inactivity, the average SF-6D (SFindex-0.85) was relatively good. The instrument serves to track data in relation to the QOL of individuals in environments such as basic health attention.

Keywords: physical activity, quality of life, health.

1- Graduada em Educação Física pelo Centro Universitário La Salle de Canoas, RS, Brasil2- Docente do PPG Saúde e Desenvolvimento Humano e Curso de Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário La Salle de Canoas, RS, Brasil3- Docente do PPG Saúde e Desenvolvimento Humano e Curso de Graduação em Educação Física do Centro Universitário La Salle de Canoas, RS, Brasil

AUTOR CORRESPONDENTE:

Lidiane Isabel FilippinUnilasalle, Mestrado em Saúde e Desenvolvimento HumanoAvenida Victor Barreto, 2288, prédio 8, sala 6, CEP: 92010 000. Canoas, RS.Email: [email protected]

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As condições de vida e saúde têm melhorado de forma contínua e sustentada. Tal melhoria se deve ao progresso político, econômico, social e ambiental, assim como aos avanços na saúde pública e na medicina1. Na América Latina, por exemplo, a ex-pectativa de vida cresceu de 50 anos, depois da II Guerra Mundial, para 67 anos, em 1990, e para 69 anos, em 19952. Na atualidade, segundo dados do IBGE, a expectativa de vida ao nascer no Brasil cresceu de 74,6 anos para 74,9 – de 2012 para 20133.

Evidências científicas têm mostrado os impactos da saúde para a qualidade de vida dos indivíduos. As condições de mor-bimortalidades comuns ou doenças que não eram reconhecidas, como o estresse e a depressão, apresentam relação inversamente proporcional com a qualidade de vida dos sujeitos. Da mesma forma, é notório que muitos componentes da vida social, como a satisfação no âmbito familiar e laboral, contribuem para uma vida com qualidade e são, também, fundamentais para que indivíduos alcancem um status elevado de saúde4-6.

O conceito de Qualidade de Vida (QV) é interpretado de diversas formas, por diferentes autores6,7. Esta imprecisão no conceito pode ser explicada por razões pelas quais interferem este construto. No entanto, há um consenso o qual define QV como a relação dos objetivos, expectativas, padrões e preocupações do indivíduo e a percepção dele frente a isso, como também, sua posição na vida e no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive. Acredita-se que são três as principais dimensões abordadas neste conceito, são elas: saúde mental, desempenho físico e social. Auquier8 a qualifica como um conceito subjetivo, ou seja, dotado de um senso comum modificável de um indivíduo ao outro. Martin9 sugere que QV seja definida em termos da ex-tensão entre expectativas individuais e a realidade no qual se vive, ficando implícito que o conceito de QV além de subjetivo como mencionado anteriormente, também seja multidimensional e que inclui elementos de avaliação tanto positivos como negativos.

A partir do entendimento do conceito de QV é possível refletir sobre estratégias para melhorar a vida de cidadãos e da sociedade. Dessa forma, o entendimento e melhora da QV na saúde pública, especialmente na Atenção Básica de Saúde (ABS), a qual busca prevenção e promoção da saúde dos indivíduos, é fundamental para o combate de morbidades diretamente ligadas aos hábitos de vida em geral. Por isso, torna-se necessário métodos avaliativos da QV que sejam de fácil acesso, baixo custo, rápidos e validados para a população alvo10.

Atualmente tem-se buscado desenvolver instrumentos que avaliem bem-estar e qualidade de vida11,12. Entre os ins-trumentos mais conhecidos estão: o EuroQol-5D (EQ-5D), o Quality of WellBeing (QWB), o Health Utilities Index (HUI) e o 36-Item Short Form Health Survey (SF-36)13,14,15,16, sendo estes os mais utilizados e com alta confiabilidade e reprodutibilidade nos resultados. Porém existe a necessidade de um instrumento acessível, rápido, barato e de fácil compreensão em indivíduos atendidos na ABS.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo é investigar a QV através de um instrumento acessível, rápido e de baixo custo em uma população residente na região metropolitana de Porto Alegre.

MÉTODOSDelineamento e participantes Estudo de caráter transversal. A amostra foi constituída por 211 indivíduos entre 40 a 50 anos, residentes em uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre. O processo de amostragem na comunidade foi condu-zido em múltiplos estágios. As unidades amostrais primárias foram os 51 setores censitários da zona urbana do município, dos quais 20% foram sorteados randomicamente, totalizando 11 setores censitários. Nos setores sorteados, a amostragem consecutiva será realizada em 40% da população alvo, ou seja, indivíduos com idade entre 40 e 50 anos, com intuito de uni-formizar o tamanho amostral em cada setor censitário. Foram excluídos: indivíduos com enfermidade em situação terminal e doenças psiquiátricas. A coleta de dados ocorreu no período de agosto de 2014 a dezembro de 2015. Por duas duplas de pesquisadores devidamente treinados.Medidas Dados sociodemográficos: sexo, idade, estado civil, cor da pele, escolaridade e anos de estudo, renda familiar. Nível de atividade física: o nível de atividade física foi mensu-rado pelo questionário internacional de atividade física (IPAQ)17 versão curta. Esta versão é composta por sete questões abertas e seus dados permitem estimar o tempo despendido, por sema-na, em diferentes dimensões de atividade física (caminhadas e esforços físicos de intensidades moderada e vigorosa) e de inatividade física (tempo despendido sentado). A partir dos re-sultados obtidos no questionário, os indivíduos são classificados como ativos, insuficientemente ativos e sedentários. Qualidade de vida (QV): a qualidade de vida foi ava-liada pelo questionário SF-6D18, traduzido e validado para o Brasil em 2011, com base nos itens do questionário SF-36. O SF-6D avalia seis dimensões: capacidade funcional (graduado em seis níveis), aspectos físicos e emocionais (graduado em quatro níveis), aspectos sociais (graduado em cinco níveis), dor (graduado em seis níveis), saúde mental (graduado em cinco níveis) e vitalidade (graduado em cinco níveis). O escore do SF-6D, que varia da 0 a 1, representa a força da preferência de um indivíduo por um determinado estado de saúde, numa escala em que zero é igual ao pior estado de saúde e 1 significa o melhor estado de saúde. O índice de precisão da escala foi testada (Alpha de Cronbach) e o resultado foi satisfatório ( = 0,73). Os referidos questionários foram aplicados individu-almente. O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário La Salle sob nº: CAAE 48779015.8.0000.5307. O estudo mantém a confidencialidade dos dados relativos à identidade dos sujeitos, respeitando as condições estabelecidas na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a assinatura do termo de consenti-mento livre e esclarecido por todos os participantes da pesquisa. Procedimentos Estatísticos: Para responder ao objetivo do estudo foram realizadas análises das estatísticas descritivas gerais (média) e de compara-ção das médias. Para tanto, foi utilizado o programa estatístico SPSS 22.0.

INTRODUÇÃO

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A fim de comparar as médias das dimensões, verificou--se inicialmente a normalidade da distribuição da amostra (Kolmogorov-Smirnov). O resultado do teste apresentou não aderência à normalidade em todos os fatores (p<0,05). Neste sentido, foi possível utilizar estatística paramétrica no estudo. A partir do teste de Mauchly, foi possível verificar que a homogeneidade da variância dos sujeitos investigados foi rejeitada (p < 0,01). Com isto, conduziu-se um teste Wilcoxon com o intuito de verificar a diferença estatística entre as médias

RESULTADOS Foram analisados um total de 211 indivíduos como mencionado anteriormente, dos quais 75,4% (159/211) eram do sexo feminino, 82% (173/211) eram caucasianos e 71,3% (124/211) eram casados. As informações sociodemográficas e sobre o nível de atividade física estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição da amostra, conforme variáveis de controle. (n= 211)

encontradas.

dados apresentados em proporções*dados apesentadis em média desvio padrão

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Tabela 2 – Comparação das médias das dimensões do SF-6D (n=211)

Na tabela 2 estão apresentados os resultados das comparações das médias ponderadas entre os fatores . Na grande maioria foi demonstrada haver diferença significativa (p < 0,05) entre as médias, exceto entre três grupos de comparações (SFPhys – SFMental; SFRole – SFSocial; SFPain – SFVital) (p > 0,05). Assim, conforme o índice de utilidade para as dimensões do

SF-6D, os fatores de QV que mais se destacam nos sujeitos investigados são: (1º) SFPain (-0,42) e SFVital (-0,26); (2º) SFMental (-0,25) e SFPhys (-0,24); (3º) SFSocial (-0,10) e SFRole (-0,13) e, finalmente o escore final de QV dos partici-pantes obteve uma média de 0,85 (SFindex=0,85).

*p>0,05

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Tabela 3 – Análise de relacionamento dos indivíduos insuficientemente ativos, avaliados pelo IPAQ, e suas respostas respectivas para cada domínio do questionário SF-6D.

Baseados nos resultados da tabela 3, é possível obser-var que os indivíduos insuficientemente ativos, avaliados pelo IPAQ, apresentam alta prevalência de escores baixos (ruins) nos domínios capacidade funcional (SFPhys), vitalidade (SFvital) e aspectos sociais (SFRole e SFSocial).

DISCUSSÃO A QV pode ser conceituada como um sinônimo de saúde, satisfação pessoal, condições e estilo de vida apropriados, variáveis ligada a renda e outros aspectos de vida19. Grande parte desses domínios estão interligados podendo impactar diferentes dimensões da vida do indivíduo. Neste estudo foi demonstrado que os domínios dor e vitalidade apresentaram maior destaque para redução na QV na população. Essas duas dimensões podem ser consideradas indissociáveis, ou seja, apresentam correlação positiva e impac-tam diretamente uma na outra, isso pode ser observado quando analisamos os resultados das médias da tabela 2 e na diferença estatística para p>0,05. Estudos já tem demonstrado associação entre dor crônica e redução na qualidade de vida. Garcia et al20

investigou a influência da dor crônica no prejuízo da atividade laboral de pacientes atendidos no Serviço de Dor Crônica do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão. Os autores concluíram que os indivíduos relatavam piora da dor quando realizavam suas atividades laborais e o domínio que mais contribuiu para baixos valores no questionário SF-36, foi aquele relacionado a limitações físicas no desempenho das atividades diárias e de trabalho, reduzindo a vitalidade e qualidade de vida dos participantes. Roizenblatt et al.21 realizou um estudo de base popu-lacional na cidade de São Paulo com indivíduos adultos com o objetivo de estimar a prevalência de dor crônica e outros aspectos relacionados à QV. Os autores detectaram que 27% da população referiam presença de dor musculo esquelética, bem como fatores de vulnerabilidade socioeconômica, sedentarismo, má qualidade do sono, ansiedade, sintomas de depressão e, consequentemente, baixa qualidade de vida. Os autores relacio-nam estes altos índices da redução da QV ao sedentarismo, que motiva comportamentos com perdas nas relações e atividades sociais, como consequência declínio no humor e em suas ati-

tudes frente à saúde, tanto mental quanto física. Conforme mencionado anteriormente, a QV é influen-ciada por diversos fatores, a atividade física é um dos fatores que interfere na saúde global da população. Nesta população, percebe-se que a maioria dos participantes são insuficientemente ativos (63,9% - 133/211), isto é, não praticam atividade física de forma regular, afetando consequentemente a capacidade fun-cional e vitalidade, como demonstrado na tabela 3. Fernandes22 conceitua capacidade funcional como a habilidade do indivíduo em executar tarefas físicas, integrar-se socialmente e preservar suas atividades mentais ou mesmo seu potencial em realizar suas atividades de vida diária proporcionando assim QV. Ele também afirma que além das co-morbidades, sedentarismo, hábitos de vida não saudáveis como a alimentação inadequada, tabagismo e uso de drogas, tem sido associado à redução de desempenho físico e assim declínio na QV. Os dados encontrados na popu-lação além de demonstrarem, baixos níveis de atividade física, também relatam que aproximadamente 21% da população é fumante e que 38,4% fazem consumo de álcool. Campos22 em seu estudo afirma que o tabagismo é responsável por grande impacto na QV em distintas dimensões analisadas, além de ser fator de risco para diversas doenças. É possível relacionar os achados nesta amostra para valores altos em relação a dimensões da QV com o encontrado na literatura, em que falta de atividade física associada a uso de cigarro pode afetar o declínio de QV e comprometer a saúde do indivíduo, acarretando a perda de capacidade funcional22. Para um instrumento ser útil para determinado serviço de saúde é necessário avaliar a sua reprodutibilidade e confiabi-lidade. Para avaliar a reprodutibilidade do questionário SF-6D, com base nas dimensões do SF-36, um estudo transversal foi realizado em 201118, em pacientes portadores de artrite reuma-toide, atendidos no ambulatório de reumatologia da Universi-dade Federal de São Paulo. Esse estudo contou 200 pacientes com idade média de 49 anos, sendo 78% deles pertencentes ao sexo feminino e aproximadamente 6 anos de escolaridade. Os pesao estudo de Campolina et al.18, como baixa escolaridade e maior prevalência de mulheres adultas. No entanto, o presente estudo foi conduzido em indivíduos vivendo na comunidade, sem diagnóstico de doença pré-estabelecido, demonstrando a reprodutibilidade do instrumento em diferentes populações.

dados apresentados em proporçãoa - sua saúde dificulta um MUITO para você tomar banho ou vestir; b - você tem se sentido com muita energia nun-ca; c - você esteve limitado no seu tipo de trabalho ou outras atividades como consequência de sua saúde física e realizou menos tarefas do que você gostaria como consequência de algum problema emocional; d - sua saúde física ou problemas emocionais interferiram com suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc) todo o tempo; e - você teve dor, e a dor interferiu extremamente com o seu trabalho normal (incluindo tanto o trabalho fora de casa e dentro de casa; f - você tem se sentido uma pessoa muito nervosa ou desanimada e abatida em uma todo o tempo.

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quisadores relatam que em populações com baixa escolaridade o questionário SF-6D é de grande valia, pois apresenta uma linguagem de fácil compreensão sem comprometer os resultados e minimizando os possíveis vieses do estudo. Em nosso estudo, a população apresentou características sociais semelhantes Campos23 afirma que mulheres em idade reprodutiva apresen-tam altos índices de angustia, estresse, ansiedade, distúrbios do sono. Além do acúmulo de atividades e funções, também existem as diferenças biológicas e o aumento da expectativa de vida das mulheres, gerando assim a determinação do estado de saúde, da autonomia e da independência ligada a QV no decorrer do envelhecimento. Também é possível relacionar QV à escolaridade e à renda dos indivíduos segundo este e outros autores6,14,23,25, os quais relatam que a condição de vida, como educação, influencia o bem-estar tanto quanto a saúde. Alguns autores têm tentado entender a relação entre os níveis adequados de atividade física e a qualidade de vida. Um estudo realizado em 201224 correlacionou à prática regular de atividade física e a QV dos indivíduos. Os autores conclu-íram que indivíduos com níveis econômicos mais favorecidos apresentavam nível insuficiente de atividade física em relação aqueles com menor poder aquisitivo. Os autores observaram que esses indivíduos, mantinham práticas como caminhar ou andar de bicicleta para fazer compras ou ir trabalhar e mesmo essa prática não tendo como finalidade o prazer, mantinha-os fisicamente ativos. É possível afirmar que o estilo de vida e o comportamento dos indivíduos e grupos sociais é um fenômeno complexo e influenciado por aspectos como ambiente físico e situação socioeconômica, refletindo assim nos hábitos de vida de uma comunidade. Outro estudo transversal realizado em 201426, com o objetivo de comparar resultados para instrumentos que avaliam a qualidade de vida em pacientes diabéticos, apresentaram acha-dos em que a dimensão mais prejudicada nessa população foi em relação à capacidade funcional. Os pesquisadores afirmam que um dos principais fatos que acometem esses indivíduos são as complicações associadas à doença, prejudicando tanto o funcionamento do corpo quanto a possibilidade de realização das atividades cotidianas. Estudos27,28,29 que buscaram inserir atividade física como uma forma de intervenção em distintas populações, tais como pacientes diabéticos, com incontinência urinária e pós-operatório, puderam observar que a partir da prática regular de atividade física, perda de peso em ambos os participantes, obtiveram uma melhora na saúde musculoes-quelética, nas atividades de vida diária, aumento na capacidade funcional e também na saúde mental. Dessa forma, é aceitável afirmar que a prática de atividade física aumenta a qualidade de vida em todas as dimensões, reduzindo assim riscos de patolo-gias e proporcionando longevidade. Entretanto, indivíduos com a presença de dor, como apresentado nos resultados do presente estudo, são suscetíveis a ter diminuição na prática de atividade física, apresentando assim redução no condicionamento muscu-lar e o impacto da dor muscular em atividades diárias, fazendo com que, além de terem redução do desempenho funcional, estes pacientes apresentam também perda em outras dimensões de QV30.

Por fim, podemos concluir que apesar da população do presente estudo apresentar fatores desfavoráveis associados à QV, como fumo, inatividade física e vulnerabilidade social, obteve-se um valor relativamente bom (SFindex = 0,85) no SF--6D e que esse questionário serve como forma de rastreamento de QV de indivíduos em ambientes como a atenção básica em saúde, pois além de ser de fácil compreensão, ele também é um instrumento rápido e com reprodutibilidade e confiabilidade comprovada. A partir de dados como os obtidos pelo SF-6D é possível pensar em programas de educação e prevenção em saúde na atenção básica de comunidades como a da amostra focando na melhoria da QV desses indivíduos e proporcionando ações para melhores hábitos de vida na população, favorecendo assim o envelhecimento saudável.

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