A região semiárida brasileira é uma das mais ricas do mundo em diversidades de animais e vegetais, mesmo com a carência de água tão necessária para a sobrevivência humana, o semiárido também nos revela personalidades que apesar das dificuldades sempre nos presenteiam com um sorriso bonito no rosto. São pessoas como Seu João Bezerra de Lima de 87 anos e Dona Maria Cândida do Nascimento de 73 anos de idade, casados há 57 anos, moram desde 1953 na comunidade Quexada, região semiárida localizada em Assunção do Piauí. Lá também vivem mais cinco famílias agricultoras, Seu João é bastante conhecido na região pelo seu jeito engraçado de contar histórias, suas vivências de juventude e a luta para sobreviver na região semiárida são suas preferidas e são essas histórias que vamos conhecer.

A história do casal inicia após o falecimento da primeira esposa de Seu João, algum tempo depois ele começa a se interessar pela jovem bonita dos cabelos compridos, porém por ser viúvo e pai de três filhos Dona Maria não quis se envolver. Seu João conta que foi difícil conquistar a morena, mas não desistiu porque gostava dela de verdade e depois de muita conversa Dona Maria cedeu aos seus encantos “eu era viúvo e ela mocinha nova, procurei casar com ela, mas ela dizia: vixe eu vou lá aproveitar 'subeiço' da morte, aí eu ia chorar... mas logo depois ela

cedeu e se casou comigo”, conta aos risos.

Além dos três filhos que Seu João já tinha do primeiro casamento, Dona Maria ainda teve mais 15 filhos e com mais duas crianças que o casal pegou para criar a família estava numerosa do jeito que Seu João queria, o agricultor diz que hoje sua maior felicidade é ver a casa cheia de crianças, netos e bisnetos. Porém na vida do casal nem tudo foi somente alegria, ao longo dos anos quatro dos seus 15 filhos apresentaram uma deficiência nos membros inferiores. Seu João conta que os médicos não souberam especificar qual era o problema e nem a cura, de acordo com ele os filhos nasceram normais, mas depois dos quinze anos começaram a apresentar os sintomas, “são dois meninos e duas meninas que não andam mais, eles ainda brocaram as roças mais nós, aí apresentaram essa doença no

joelho, levamos eles no doutor, mas foi mesmo que nada, o doutor fez tudo, mas não teve jeito”, conta o

Piauí

Ano 4 | nº 70 | Janeiro|2010

Assunção do Piauí- PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Seu João e Dona MariaHistória de amor e dedicação no sertão do Piauí.

1

Seu João e Dona Maria sentados na cisterna calçadão conquistada através do Programa Uma Terra e Duas Águas.

Alguns dos filhos, netos e bisnetos do casal.

agricultor. Dos quatro filhos que apresentam a deficiência, três vivem com eles e um casou e constituiu família.

O casal também tem uma propriedade em uma comunidade chamada Brejinho onde passam o período de estiagem, ela fica mais próxima de Assunção e tem água e energia elétrica. Seu João conta que no verão as famílias que moravam naquela região todos os dias tinham que buscar água na comunidade Brejinho no lombo de um jumento “quando era tempo de fazer a destoca da roça, cada pai de família tinha um rapazinho para pegar água no lombo do jumento para beber e cozinhar a semana todinha, mas a água também só dava para isso, tomar banho só no sábado, hoje rapaz tá muito é bom, toma banho todo dia duas vezes”, comenta.

Nessa época Seu João conta que algumas famílias construíam suas casas debaixo das rochas, eles levantavam as paredes e as pedras serviam de teto, sua família também morava nessas construções, “nessa época não tinha casa e a gente se arranjava em umas locas, nas pedras mesmo, eram tempos brabos e a gente se virava como podia”. Hoje Seu João e Dona Maria se orgulham do que construíram, eles contam que suas casas e seus terrenos foram todos conquistados com o dinheiro da venda do feijão. A família também planta milho e cria algumas ovelhas, bode e galinhas, agora com as cisternas Seu João diz que não vão mais precisar ficar indo e vindo da comunidade no verão para fugir da falta d'água.

A comunidade Quexada foi beneficiada com os Programas Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), que

trabalha na construção de cisternas para guardar a água das chuvas para que no período mais seco do ano às famílias da região semiárida possam ter acesso à água para o consumo humano e para a produção de alimento. Para Seu João a melhor coisa que aconteceu para comunidade, “agora todo mundo tem água, tá bom de mais, tem água para beber, para os animais e até tomar banho tá mais fácil, antes a Maria dizia assim: vai se banhar João tu tá fedendo, hoje ela não tem mais desculpas para não cheirar o Seu Velho aqui”, brinca o agricultor.

Dona Maria e Seu João ainda nos revelam o segredo para se viver um casamento feliz e duradouro. Para ela a paciência é a principal ferramenta, Seu João concorda, mas acrescenta “o respeito também é importante e com certeza não vamos esquecer o amor; o amor á família, à terra, à tudo, porque tudo feito com amor é mais

gostoso”, brinca o agricultor.

2

Vestígios das moradas construídas debaixo das rochas na região de Assunção do Piauí.

Boletim Informativo

do Programa Uma Terra

e Duas Águas Piauí

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

Apoio:

www.asabrasil.org.br

Três dos filhos do casal que apresentaram deficiências depois dos 15 anos.

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO