sessão anatomoclínica evolução do
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Sessão Anatomoclínica – Evolução do caso e revisão do diagnóstico final
Claudia Maria Costa de Oliveira
Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará HUWC/UFC/EBSEHR
Conduta inicial no internamento
MP • Pulsoterapia com Metilprednisolona 1000mg EV 3 dias
• 11/10/2019 a 13/10/2019
CF • Pulsoterapia com Ciclofosfamida
• 16/10/2019 (1200mg) e 16/11/2019 (800mg)
Pred • Prednisona 60 mg/dia desde internação até 18/11/2019
• Redução para 40mg/dia em 19/11/2019
Biópsia renal: 03/10/2019
Evolução pós-tratamento
Manteve diurese razoável (1000-
1500 ml) mas sem recuperação
funcional
Alta hospitalar 20/11/2019, sem
resposta à imunossupressão
Diálise em clínica satélite
Evolução pós-alta hospitalar
• 13/01/2020: retornou ao ambulatório de reumatologia para 3ª dose de CF
• Não foi realizada devido febre elevada há 15 dias (39-40ºC) internada
• 2º internamento HUWC: 13/01/2020 a 04/02/2020
• Queixa principal: febre e cansaço
• HDA: Paciente relata que há 1 mês vinha com adinamia, fadiga e dispneia aos moderados esforços. Há 15 dias passou a ter febre elevada, calafrios, hiporexia, náuseas, vômitos e diarreia. Coletado hemocultura na clínica de diálise em 02/01/20: S. aureus MRSA. Iniciado Tazocin e Vancomicina e retirado cateter jugular. Puncionado novo cateter em femoral esquerda.
Evolução no segundo internamento
• Eco transtorácico (14/01/20) sem vegetações. Derrame pericárdico minimo. FE = 71%. Disfunção diastólica I.
• Eco transesofágico (17/01/20): sem vegetações
• TCAR (24/01/2020): consolidação do lobo superior do pulmão D, acometimento linfonodal hilar e mediastinal, disseminação hematogênica miliar pulmonar difusa bilateral, sinais de tromboembolismo pulmonar agudo/subagudo não oclusivo, trombos parciais na veia braquicefálica e veia cava superior.
• Broncoscopia (28/01/20): BAAR +++. PCR tempo real: M tuberculosis detecção alta
• Iniciado RIPE (29/01/2020)
• 04/02/2020: Choque hemodinâmico: sepse? Escalonado ATB para Meropenem e Vancomicina, sem êxito, evoluindo a óbito.
13/01/20 Internamento
14/01/20 EcoTT
17/01/20 EcoTE
24/01/20 TCAR
28/01/20 Broncoscopia:
BAAR+++
29/01/20 Início RIPE
04/02/20 Óbito
Classificação das glomerulonefrites
Etio
logi
a
Mediada por imunocomplexos
Associada ao ANCA
Antimembrana basal glomerular
Glomerulopatia C3
Mediada por IGs monoclonais
Seve
rid
ade
Crescêntica
Necrotizante
Exsudativa
Proliferativa difusa
Membranoproliferativa
Proliferativa mesangial
Esclerosante
Cro
nic
idad
e
Glomeruloesclerose
Atrofia tubular
Fibrose intersticial
Esclerose vascular
IMF: presença de IGs
IMF: ausência de IGs e C ou pequena qte, distribuição segmentar MO: GN crescêntica e necrotizante
IMF: presença de C3, IGs mínima/ausente MO: padrão membranoproliferativo
Padrão de injúria das glomerulonefrites
Lesões crescênticas, necrotizantes ► GN ativa e severa Proliferativa difusa e exsudativa ► GN ativa Proliferativa Mesangial ► GN ativa, mais leve Membranoproliferativa ► GN aguda e crônica Esclerosante ► GN crônica, irreversível
Satoskar, A., & Nadasdy, T. (2017). Glomerular Diseases Associated with Crescentic Glomerulonephritis
Biópsia renal - IMF - Caso clínico
C3c +++
C1q traços
IgG +
IgM negativo
IgA +++
Kappa+++
Lambda ++
Fibrinogênio++
Envolvimento renal na AR
Alteração da função renal e anormalidades urinárias são detectadas em até 30% dos pacientes com AR ► envolvimento silencioso
Pode ser o resultado direto da doença per si e/ou complicação das drogas
Nenhuma doença renal é considerada manifestação específica da AR
Screening periódico e regular para envolvimento renal deve ser feito na AR
Nível de proteinúria, sedimento urinário ativo e sintomas clínicos não predizem a histologia renal na AR ► necessária biópsia renal
Envolvimento renal na AR
As manifestações renais em pacientes com AR mudaram, à medida que o
manuseio da AR melhorou, tornando-se menos prevalentes
Padrão anterior
Drogas nefrotóxicas: AINES, sais de ouro,
penicilamina, ciclosporina
Inflamação crônica, terapia ineficaz:
amiloidose
Manifestaçoes renais ligadas à doença primária
(GN mesangial)
Padrão atual
GN mesangial: IgM ou IgA
GM membranosa
Amiloidose
Rheum Dis Clin North Am 2010; 36: 405-426.
Biópsias renais na AR
1º registro de BR em AR na América Latina (3 períodos)
N=65 biópsias
Redução na frequência de BR
20% 40%
Biópsias renais na AR
Sem mudança na indicação da BR Mudança no padrão histológico
Estudos com biópsias renais na AR
Biópsias renais na AR
GN
mes
angi
al
• 20-40% das biópsias
• Proliferação de células mesangiais
• Depósitos mesangiais
• IgM: 33-78%
• IgA: 8-57%
• C3: 8-40%
• Padrão mais comum: hematúria e função renal normal
GN
mem
bra
no
sa
• 1/3 das biópsias renais
• Lesões podociárias e expansão mesangial
• Depósitos difusos subepiteliais de IgG
• Frequência aumentou entre 1980 -2010: uso de DMARDs
• Padrão mais comum: proteinúria e função renal normal
Am
iloid
ose
ren
al
• com introdução de terapias mais efetivas
• 19-37% dos casos
• Doença com mais longa duração
• Padrão mais comum: Sd Nefrótica e oerda de função renal
AR e Nefropatia IgA
AR tem propriedade única de induzir glicosilação anormal de Igs, principalmente IgG e IgA na sinóvia
Estimulação antigênica constante na mucosa epitelial da sinóvia, intestino e trato respiratório na AR produção de Acs monoclonais e policlonais
Identificação de Igs anormais e Descrição de casos de PHS na AR
International Journal of Nephrology and Kidney Failure. v4,n4
Associação de AR com discrasias plasmáticas descrita em modelos
animais e humanos
• A relação entre IgA, Fator reumatoide-IgA e doença renal em pacientes com AR não é clara.
• A afinidade da IgA pelo mesângio, pele e sinóvia pode explicar a apresentação clínica de AR com GN mesangial IgA.
• Estudo de correlação clínicopatológica em material de biópsia renal de 110 e 158 pacientes ► sugerem ser provável a GN mesangial relacionar-se diretamente com a AR (Helin et al., 1995; Nakano et al., 1998)
► ► ► GN mesangial seria uma manifestação extra-articular da AR?? ► ► ►
AR e Nefropatia IgA
É possível diferenciar Nefropatia por IgA primária e secundária?
• IgA1 deficiente em galactose (Gd-IgA1) glomerular é detectada na IgAN e PHS, mas não em outras glomerulopatias
• Gd-IgA1 está mais envolvida na deposição primária de IgA do que na deposição secundária
• KM55 mAb► detecta anticorpo monoclonal específico para Gd-IgA1
4 casos com IgAN ► AR, LES, Crohn e HVC
Imunohistoquímica com KM55 mAb ►positiva
AR, LES e Crohn ► Nefropatia IgA primária
AR
Nefropatia IgA crescêntica
• IgAN crescêntica é vista em 7% dos pacientes com nefropatia IgA primária
• Crescentes segmentares são relativamente comuns, mas podem não ser vistos por problema de amostragem (até 30% dos pacientes com IgAN podem ter crescentes)
• A presença de crescentes e proliferação endocapilar são fatores de risco histológicos para doença progressiva
Donadio et al. NEJM 2002; 347: 738. Shouno et al. Acta Pathol Jpn, 1993; 43:723
GN associada à infecção com IgA dominante
Cada vez mais reconhecida Idosos e diabéticos M:F ►3,9:1 Síndrome Nefrítica + Hipocomplementemia (30-70%) + IRA
Doença renal 4 semanas de infecção ativa Frequentemente associada com infecção por S. aureus
Apresentação principal: GN endocapilar proliferativa exsudativa difusa (53%) ou focal (28%) Outras apresentações: GNRP proliferativa mesangial (13%), GNRP membranoproliferativa
ou GNRP crescêntica.
IMF► C3 mais forte do que IgA (céu estrelado); Kappa ≥ Lambda ME ► mais frequente depósito subepitelial eletrón denso (humps)
GN associada à infecção com IgA dominante
Sítios de infecção
• Trato respiratório superior
• Pulmão
• Pele, dentes, mucosa oral
• Trato urinário
• Ossos
Tuberculose e Nefropatia por IgA
• IgA ► diagnóstico patológico mais frequente de GN associada à Tb (poucos casos)
• Diagnóstico de IgAN-Tb é difícil ► sintomas inespecíficos e insidiosos
• Tb com hematúria e PTN ► investigar IgAN
• Detecção do DNA do M. tuberculosis e avaliação do “Early Secreted Antigen Target of 6 Kda” (ESAT-6) na biópsia renal ► grande potencial diagnóstico
Diagnóstico precoce e terapia da Tb pode reduzir o risco de exacerbar a infecção quando ISS é usada para tratar IgAN
ESAT-6
ESAT-6 ► proteína secretada pelo M. tuberculosis
Importante fator de virulência do bacilo ► modula a resposta imune inata e adaptativa
Liga-se diretamente aos receptores Toll-like, inibindo a transdução do sinal ► impede o
reconhecimento de antígenos e ativação da imunidade inata
Inativação do ESAT-6 ► a redução dramática da virulência do M. tuberculosis
ESAT-6 interage com proteínas do hospedeiro como a laminina na superfície basolateral
dos pneumócitos ► lise das células ► disseminação do M. tuberculosis no pulmão
Resposta imune à infecção micobacteriana é primariamente mediada por células.
O papel da resposta humoral tem sido demonstrado
►Anticorpos IgA contra Ag micobacteriano A-60 no soro de pts com Tb
► Imunocomplexos contendo IgA e antigenos micobacterianos
Respiration 1996; 63: 292-7; JASN 2000; 11: 2395-2403
Tuberculose e Nefropatia por IgA
Tb ativa associa-se com níveis séricos de IgA
Deposição dos imunocomplexos pode ativar a via alternativa do complemento e a via das lectinas
Nefropatia IgA
Tuberculose e Nefropatia por IgA
Tuberculose e Nefropatia por IgA
Tuberculose e Nefropatia por IgA
GN combinada com uma história de Tb
PPD reator forte
Hipergamaglobulinemia
Diagnóstico patológico de nefropatia IgA
Detecção do DNA da M. tuberculosis na biópsia
Tuberculose e Nefropatia por IgA
►Muitos pacientes não recebem diagnóstico de Tb-IgAN e são diagnosticados como IgAN primária
► Biópsia renal é importante para o diagnóstico preciso de Tb-IgAN
Tuberculose e GN crescêntica Tb
e G
NR
P
GNRP na tuberculose é uma entidade rara, com somente 3 relatos de caso na literatura
Ocorre em pacientes com Tb miliar e injúria renal avançada, requerendo diálise
Biópsia renal ► GN proliferativa endocapilar com crescentes e depósitos de imunocomplexos
Recuperação renal completa é possível com a terapia precoce antiTb,
evitando a necessidade de imunossupressores e citotóxicos.
Tb e GN crescêntica tem sido descrita: rifampicina, GN paucimune associada ao ANCA, GN por imunocomplexos e doença anti-MBG
Overlaping: IgAN e Vasculite paucimune em AR
• 35 casos de AR com vasculite ANCA relacionada na literatura
• Vasculite ocorre após tempo prolongado de AR (10,5 anos)
• GN focal e segmental típica (predomínio de PAM)
• FR positivo em 50% dos casos, no diagnóstico da vasculite
• Predomínio de positividade MPO-ANCA (p-ANCA)
• Pode ser ANCA negativo
• Predisposição para autoimunidade relacionada ao HLA ou uso de anti-TNFalfa.
• Poucos relatos de overlaping
P-ANCA tem sido detectado em 40% AR
Associa-se com: o Doença severa e de
longa duração o Nefropatia o resposta inflamatória
Sem relação com vasculite
na AR
Cronicidade
• Alterações crônicas geralmente irreversíveis
• Extensão do dano crônico ► importante para diagnóstico primário, manuseio e prognóstico da GN
• Glomérulos: glomeruloesclerose
focal ou global (0-3) • Interstício: Fibrose intersticial e
Atrofia tubular (0-3) • Vasos: Arterioesclerose e
Arterioloesclerose hialina (0-1)
Glomerular: 40% esclerose
Vascular: espessamento fibroso moderado
Intersticio: atrofia tubular focal (20%)
Escore: 5
Diagnóstico final
• Nefropatia IgA crescêntica primária em paciente com AR
• Nefropatia IgA crescêntica secundária à AR
• Nefropatia IgA (primária ou secundária) em paciente com AR e Tb disseminada
Diferenciação entre IgAN primária e secundária em pacientes com Artrite Reumatoide é difícil
Obrigada
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