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SESQUITERPENOS DA ALGA LAURENCIA DENDROIDEA COM POTENCIAL ATIVIDADE ANTICOLINESTERÁSICA Karina Godarth Gonçalves 2017

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SESQUITERPENOS DA ALGA LAURENCIA DENDROIDEA COM POTENCIAL

ATIVIDADE ANTICOLINESTERÁSICA

Karina Godarth Gonçalves

2017

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

SESQUITERPENOS DA ALGA LAURENCIA DENDROIDEA COM POTENCIAL

ATIVIDADE ANTICOLINESTERÁSICA

Karina Godarth Gonçalves

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio de

Janeiro-Campus Macaé Professor Aloísio Teixeira, para

obtenção do grau de mestre em produtos bioativos e

biociências.

Orientador: Nelilma C. Romeiro

Co-orientador: Angélica R. Soares

Macaé

Setembro, 2017

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SESQUITERPENOS DA ALGA LAURENCIA DENDROIDEA COM POTENCIAL

ATIVIDADE ANTICOLINESTERÁSICA

Karina Godarth Gonçalves

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Produtos

Bioativos e Biociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Produtos Bioativos e Biociências.

Aprovada por:

Profª. Drª Michelle Frazão Muzitno

Profª. Drª Paula lvarez Abreu

Profº. Drº Leandro Louback da Silva

Macaé

Setembro, 2017

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Godarth, Karina

Sesquiterpenos da alga Laurencia dendroidea com potencial atividade

anticolinesterásica / Karina Godarth Gonçalves - Macaé: UFRJ/NUPEM, 2017.

xv, 129f.: il.; 31 cm.

Orientadora: Nelilma Correia Romeiro

Co-orientadora: Angélica Ribeiro Soares

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Programa de Pós-graduação em Produtos

Bioativos e Biociências, 2017.

Referências Bibliográficas: f. 122 - 129.

1. Modelagem molecular. 2. Produtos Naturais. 3. Alzheimer 4. Elatol 5.

Acetilcolinesterase I. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo em Ecologia e

Desenvolvimento Sócio-Ambiental de Macaé. II. Sesquiterpenos da alga Laurencia

dendroidea com potencial atividade anticolinesterásica

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“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o

opressor”

PAULO FREIRE

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me trazido experiências que me tornaram forte e

perseverante o suficiente para não desistir.

Ao Professor Doutor Robson Mattos, quem primeiramente me acolheu na nova

Universidade e posso dizer que me deu a oportunidade de continuar.

Aos professores da minha antiga universidade, Universidade Federal Fluminense, que

me forneceram boa parte da base acadêmica necessária para que eu chegasse até aqui.

À Professora Doutora Nelilma Correia Romeiro, minha orientadora e nossa mãe

científica, com quem tive a oportunidade de aprender sobre modelagem molecular e cujas

valiosas lições que não se restringiram ao campo da pesquisa, inspiram o tipo de professora e

pesquisadora que quero me tornar.

À minha co-orientadora Professora Doutora Angélica Ribeiro Soares por todo

aprendizado que me proporcionou.

Ao Professor Doutor Leandro Louback por todo conhecimento e parceria, além das

valiosas contribuições a este trabalho.

Às professoras Michelle Frazão Muzitano e Paula Alvarez Abreu pela dedicação e

valiosas contribuições a este trabalho durante as bancas de acompanhamento.

Aos colegas do LICC – Laboratório Integrado de Computação Científica e GPNOA -

Grupo de Pesquisa de Produtos Naturais com Organismos Aquáticos pelo acolhimento e toda

parceria.

À Aline Gomes e ao Roberto Sousa, técnicos do LIQ - Laboratório Integrado de Química,

por todo o auxílio e pelas calorosas discussões e momentos de descontração.

À Nathália Nocchi, por toda ajuda com o mundo dos Produtos Naturais Marinhos.

Às amigas Priscila Baltazar Gonçalves e Stella Schuenck Antunes, por todo o apoio e

amizade. Que esta amizade, nascida durante o curso de mestrado, possa perdurar por toda a

vida. Vocês são muito especiais.

Ao amigo Vítor Rabelo, exemplo parceria e companheirismo no ambiente de trabalho,

por mais colegas de trabalho assim no mundo.

À amiga Izabella Cristina por toda sua amizade e por cuidar do meu jardim todas as

vezes em que eu não podia.

Ao meu amigo Luís Barbosa por se preocupar, torcer e se sentir feliz com minhas

conquistas, por estar sempre presente mesmo mediante a distância.

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Às minhas irmãs, Layz Godarth Gonçalves e Lívia Godarth Gonçalves, pelo amor

sincero e despretensioso que me dedicam.

Ao Coletivo #VEM - Vida, Educação e Movimento, que através de todo seu trabalho

na busca por uma sociedade mais justa e igualitária faz de mim a cada dia uma pessoa melhor.

Aos meus alunos do #VEMproCursinho por me ensinarem a ser professora e pela

alegria que são capazes de me proporcionarem mesmo depois de um dia ruim.

À minha avó Tereza Godarth, que inspira o tipo de pessoa que desejo ser, e que do

céu, certamente está muito feliz e orgulhosa de mim. Quanta saudade...

Ao meu amor, que esteve presente nos momentos em que mais precisei e me incentiva

a sempre seguir em frente e nunca desistir.

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RESUMO

PRODUTOS NATURAIS MARINHOS COM POTENCIAL ATIVIDADE

ANTICOLINESTERÁSICA

Karina Godarth Gonçalves

Nelilma C. Romeiro e Angélica R. Soares

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em

Produtos Bioativos e Biociências - Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Ambiental de

Macaé - Nupem, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Campus Macaé

Professor Aloísio Teixeira, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Produtos Biativos e Biociências.

A doença de Alzheimer é uma enfermidade neurodegenerativa associada à idade, em

que, entre outras características fisiopatológicas, o portador possui níveis reduzidos do

neurotransmissor acetilcolina. Uma das vias de tratamento se dá com a inibição da enzima

AChE, que degrada esse neurotransmissor, aumentando assim a sua concentração. Através da

utilização da técnica de Quimiogenômica aplicada a um banco de dados de produtos naturais

marinhos, metabólitos secundários presentes em algas vermelhas do gênero Laurencia foram

apontados como potenciais inibidores de AChE. Neste trabalho, esses metabólitos foram

estudados através do docking molecular e ensaios de inibição enzimática. Dentre eles, o elatol

foi apontado com o mais promissor potencial anticolinesterásico. De forma a potencializar a

inibição observada experimentalmente e a afinidade de ligação pelo sítio da enzima observada

in silico, novos protótipos inibidores foram planejados a partir da adição de farmacóforos,

representados por aminas, à molécula do elatol e estudados através da modelagem molecular

quanto a propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas. As estruturas derivadas foram

divididas em quatro classes principais: aminas alifáticas, aminas cíclicas, arilaminas e

arilaminas substituídas. Os melhores resultados de docking, além de apresentarem

propriedades ADME-T favoráveis, mostraram alguns padrões interações a cada classe de

derivados com diversos resíduos importantes pertencentes ao sítio ativo da enzima. Dessa

forma, sugere-se a síntese dos derivados Tza 19 R, representante da classe das aminas

alifáticas, Tza 05 S, representante da classe das aminas cíclicas e Tzb 10 S, representante da

classe das arilaminas substituídas, de maneira a explorar o potencial das interações que foram

características de cada grupo.

Palavras chave: Alzheimer, Elatol, Acetilcolinesterase

Macaé,

Setembro de 2017

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ABSTRACT

PRODUTOS NATURAIS MARINHOS COM POTENCIAL ATIVIDADE

ANTICOLINESTERÁSICA

Karina Godarth Gonçalves

Nelilma C. Romeiro e Angélica R. Soares

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em

Produtos Bioativos e Biociências Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Ambiental de

Macaé - Nupem, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Produtos Biativos e Biociências.

Alzheimer’s disease is a neurodegenerative disease associated to age in which, among

other physiopathological characteristics, the patient presents reduced levels of the

neurotransmitter acetylcholine. One of the possible treatment paths uses AChE enzyme

inhibitors, which degrades this neurotransmitter, leading to an increase in acetylcholine levels

in the brain. By the utilization of chemogenomics techniques applied to a marine natural

products database, secondary metabolites present in red algae of the genus Laurencia have

been pointed out as potential AChE inhibitors. In this work, these metabolites were studied

with molecular docking and enzymatic inhibition assays. According to the obtained results the

most promising secondary metabolite in relation to AChE inhibition capacity was Elatol. In

order to potentiate the observed experimental inhibition and the in silico binding affinity to

the enzyme active site, new inhibitor prototypes were planned through the addition of

pharmacophores to the structure, represented by amines, of the elatol molecule and studied

through molecular modeling for pharmacodynamic and pharmacokinetic properties. The

derivative structures were divided into four major classes: aliphatic amines, cyclic amines,

arylamines and substituted arylamines. The best docking results, in addition to having

favorable ADME-T properties, showed some interaction patterns for each class of derivatives

with several important residues belonging to the active site of the enzyme. Thus, the synthesis

of derivatives Tza 19 R, representative of the aliphatic amine class, Tza 05 S, representative

of the cyclic amines class and Tzb 10 S, representative of the class of the substituted

arylamines, is suggested in order to exploit the potential of the interactions that were

characteristic of each group.

Key words: Alzheimer, Elatol, Acetilcholinesterase

Macaé,

Setembro de 2017

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 21

1.1 A Doença de Alzheimer ..................................................................................................... 21

1.1.1 Hipótese colinérgica................................................................................................... 21

1.1.2 Hipótese amiloide ...................................................................................................... 25

1.1.3 Hipótese tau ............................................................................................................... 27

1.1.4 Hipótese glutamatérgica............................................................................................. 28

1.2 O tratamento farmacológico disponível e seus alvos terapêuticos ..................................... 30

1.2.1 Ação dos Inibidores de AChE ......................................................................................... 31

1.2.2 Produtos de Origem Natural no Tratamento da DA ........................................................ 34

1.3 Produtos Naturais ............................................................................................................... 36

1.3.1 Produtos Naturais Marinhos ............................................................................................ 37

1.3.1.1 Metabólitos bioativos de Laurencia sp. ....................................................................... 41

1.4 Modelagem Molecular ....................................................................................................... 44

1.4.1 Docking Molecular ......................................................................................................... 44

1.4.2 Cálculo de Parâmetros Farmacocinéticos in silico .......................................................... 47

1.4.2.1 Regra dos 5 de Lipinski ................................................................................................ 48

1.4.2.2 Permeabilidade através da barreira hemato-encefálica ................................................ 49

1.4.2.3 Predição da Toxicidade in Silico .................................................................................. 50

2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 52

3. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 54

3.1 Objetivos específicos .......................................................................................................... 54

4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 55

Parte I: Estudos in silico da afinidade teórica entre metbólitos secundários de Laurencia e

AChE ........................................................................................................................................ 55

4.1Obtenção das estruturas das Proteínas-Alvo ....................................................................... 55

4.1.2 Validação do método: Redocking .................................................................................... 55

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4.1.3 Estudos de Docking Molecular ........................................................................................ 56

Parte II: Ensaios de cinética enzimática entre metbólitos secundários de Laurencia e AChE 57

4.2 Determinação da atividade anticolinesterásica de metabólitos secundários de Laurencia sp

.................................................................................................................................................. 57

Parte III: Obtenção do metbólito secundário mais ativo a partir de Laurencia dendroidea .... 59

4.3 Obtenção e Identificação do elatol ..................................................................................... 59

4.3.1 Coleta da Alga ................................................................................................................. 59

4.3.2 Processo de extração ........................................................................................................ 60

4.3.3 Fracionamento do Extrato Bruto ..................................................................................... 61

4.3.4 Purificação ...................................................................................................................... 62

4.3.5 Caracterização do elatol................................................................................................... 64

Parte IV: Proposição de derivados do metabólito secundário mais ativo e estudos in silico por

meio de docking e avaliação de parâmetros farmacocinéticos para realização de triagem

virtual ........................................................................................................................................ 64

4.4 Planejamento dos Derivados do Elatol ............................................................................... 64

4.4.1 Avaliação dos parâmetros farmacocinéticos ................................................................... 66

4.4.1.1 Regra dos 5 de Lipinski ................................................................................................ 66

4.4.1.2 Cálculo Teórico da Capacidade de Permeação da Barreira Hematoencefálica ............ 67

4.4.1.3 Predição da Toxicidade in silico ................................................................................... 67

4.4.2 Estudos de Docking Molecular........................................................................................ 69

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................................... 69

5.1 Estudos de docking molecular ............................................................................................ 69

5.1.1 Seleção das estruturas de AChE ...................................................................................... 69

5.1.2 Validação do método: Redocking ................................................................................... 73

5.1.3 Estudos de docking molecular dos Metabólitos secundários de Laurencia sp ................ 74

5.2 Ensaio de inibição enzimática da AChE pelos Metabólitos secundários de Laurencia sp. 81

5.3 Isolamento e identificação do Elatol .................................................................................. 86

5.3.1 Processo de extração ........................................................................................................ 86

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5.3.2 Fracionamento do extrato Bruto ...................................................................................... 87

5.3.3 Purificação ....................................................................................................................... 88

5.3.4 Caracterização do elatol................................................................................................... 89

5.4 Proposição de derivados do elatol ...................................................................................... 94

5.5 Cálculo Teórico da Capacidade de Permeação da Barreira Hematoencefálica ................ 100

5.6 Regra dos 5 de Lipinski .................................................................................................... 104

5.7 Predição da Toxicidade in Silico ...................................................................................... 105

5.8 Estudos de Docking Molecular dos Derivados do elatol .................................................. 107

5.8.1 Derivados alifáticos ....................................................................................................... 109

5.8.2 Derivados cíclicos.......................................................................................................... 111

5.8.3Derivados anilínicos ....................................................................................................... 115

6. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 122

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 123

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Esquema da transmissão colinérgica. Adaptado de HOGAN, 2009. ....................... 22

Figura 2: Ach ao fundo da cavidade de 20Å, onde se localiza o sítio catalítico da AChE.

Resíduos de aminoácidos que compõem os principais sítios de AChE humana em destaque.

(PDB id: 4EY7; Imagem gerada no programa Pymol)............................................................. 23

Figura 3: Mecanismo de hidrólise da acetilcolina. .................................................................. 24

Figura 4: Formação das placas -amilóides através da agregação oligomérica de fragmentos

A produzidos pela clivagem de APP através da via -secretase.Adaptada de PATTERSON

et al., 2008. ............................................................................................................................... 26

Figura 5: Processo de degeneração dos microtúbulos e formação dos emaranhados

neurofibrilares.Adaptado de: https://columbiasciencereview.com/2017/04/07/the-role-of-our-

immune-system-in-alzheimers/ ................................................................................................ 27

Figura 6: Ciclo glutamato-glutamina: (1) Glutamato mantido em vesículas em neurônios pré

sinápticos VGLUT1/2. (2) O glutamato liberado na fenda sináptica, ativando receptores

ionotrópicos e metabotrópicos. Os receptores NMDA se tornam totalmente ativos após a

ativação do receptor AMPA e despolarização da membrana pós-sináptica. (3) O glutamato é

removido da fenda sináptica por transportadores de glutamato GLT-1. (4) Dentro dos

astrócitos, o glutamato é convertido a glutamina pela glutamina sintase. (5) Glutaminase

converte a glutamina em glutamato nos terminais pré-sinápticos. Adaptado de REVETT et

al., 2013. ................................................................................................................................... 29

Figura 7: Exemplos de fármacos utilizados e/ou investigados para o tratamento de Alzheimer.

.................................................................................................................................................. 31

Figura 8: Donepezila e interações no sítio da AChE. (PDB id: 4EY7; Imagem gerada no

programa Pymol). ..................................................................................................................... 33

Figura 9: Galantamina e interações no sítio da AChE. (PDB id: 4EY7; Imagem gerada no

programa Pymol). ..................................................................................................................... 34

Figura 10: Estruturas derivadas de produtos naturais investigadas como potencias fármacos

anti-Alzheimer. ......................................................................................................................... 35

Figura 11: Substância de origem natural marinha candidata a fármaco para DA em estudos

pré-clínicos. .............................................................................................................................. 36

Figura 12: Fármaco narcótico, principal alcaloide presente no ópio, com alto poder

analgésico. ................................................................................................................................ 37

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Figura 13: Primeiro produto natural com atividade farmacológica, produzido sinteticamente.

.................................................................................................................................................. 37

Figura 14: Substâncias isoladas de Tectitethya crypta que marcaram o início dos estudos com

produtos marinhos. ................................................................................................................... 38

Figura 15: Fármacos aprovados com origem em produtos naturais marinhos. ....................... 39

Figura 16: Alga marinha vermelha, Laurencia sp. Disponível em

https://www.marineplantbook.com/marinebooklaurencia.htm ................................................ 41

Figura 17: Exemplos de metabólitos secundários encontrados nas algas do gênero Laurencia.

.................................................................................................................................................. 42

Figura 18: Esquema representativo das reações químicas descritas por Ellman et al. (1961).

.................................................................................................................................................. 57

Figura 19: Esquema mostrando as etapas de obtenção e identificação do Elatol. .................. 59

Figura 20: Localização geográfica do ponto de coleta da alga Laurencia dendroidea. .......... 60

Figura 21: A e B: Processo de liofilização da alga; C: Ultrassom; D: extração por maceração;

E: filtração; F: Evaporação de solventes sob pressão reduzida; G: Extrato bruto. ................... 61

Figura 22: Fracionamento do extrato bruto de Laurencia dendroidea por cromatografia em

coluna........................................................................................................................................ 62

Figura 23: Processo de purificação do elatol. Fracionamento da fração 1 , que contém o

elatol, em coluna aberta sob gel de sílica. ............................................................................... 63

Figura 24: Série de derivados semi-sintéticos do elatol planejados pela adição de grupos

farmacofóricos. ......................................................................................................................... 65

Figura 25: Análise retrossintética com exemplos de derivados do Elatol. .............................. 66

Figura 26: A: Sobreposição de estruturas cristalográficas de AChE humana. B: Sobreposição

dos principais resíduos do sítio ativo e subsítios. ..................................................................... 70

Figura 27: Área e volume molar dos ligantes co-cristalizados com a AChE e dos candidatos a

inibidores. ................................................................................................................................. 73

Figura 28: Sobreposição do ligante co-cristalizado com a AChE e melhor pose obtida por

redocking com a função de scoreChemPLP e raio de 15Å. .................................................... 74

Figura 29: Scores com a função CHEMPLP para a Acetilcolina, fármacos usados no

tratamento da DA e metabólitos secundários de Laurencia sp candidatos a inibidores de

AChE. ....................................................................................................................................... 75

Figura 30: Melhor pose do Obtusol obtida por docking e interações no sítio da AChE. ........ 78

Figura 31: Melhor pose do Dendroidiol obtida por docking e interações no sítio da AChE. 79

Figura 32: Melhor pose do Cartilagineol obtida por docking e interações no sítio da AChE. 79

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Figura 33: Melhor pose do (+)-elatol obtida por docking e interações no sítio da AChE. ...... 80

Figura 34: Melhor pose do (-)-elatol obtida por docking e interações no sítio da AChE........ 81

Figura 35: Inibição da atividade de AChE por metabólitos secundários de Laurencia sp. V0 é

a velocidade da reação hidrólise da acetiltiocolina pela AChE. Barras representam a média da

velocidade da atividade enzimática e traços representam o erro padrão. *** representam

P<0,001 quando comparado ao veículo pelo teste estatístico Anova de 1 via seguido do pós

teste de comparação múltipla de Bonferroni’s. ........................................................................ 82

Figura 36: Efeito do elatol sobre os parâmetros cinéticos da AChE. As velocidades iniciais

de reação (V) foram obtidas a partir de curvas de progressão em diferentes concentrações de

substrato e inibidor. As linhas sólidas são derivadas do modelo de inibição cinético de

Michaelis-Menten. .................................................................................................................... 83

Figura 37: Gráfico de Lineweaver-Burk para a inibição do elatol sobre a AChE. ................. 84

Figura 38: Cálculo do Ki do elatol para a AChE..................................................................... 85

Figura 39: Inibição da atividade de AChE pelo (+)-elatol. V0 é a velocidade da reação

hidrólise da acetiltiocolina pela AChE. Barras representam a média da velocidade da atividade

enzimática e traços representam o erro padrão. ........................................................................ 86

Figura 40: CCD dos extratos brutos de Laurencia dendroidea. Amostra padrão e amostras

AZ01 e AZ02 coletadas da praia Azeda - Búzios-RJ. Fase móvel – Hexano/Acetato de etila

8:2. Sistema revelador: ácido sulfúrico a 5% em etanol com posterior aquecimento. ............ 87

Figura 41: CCD das frações obtidas do extrato bruto de Laurencia dendroidea. Fase móvel:

A: Hexano/Diclorometano 7:3; B: Hexano/Diclorometano 3:7; C: Diclorometano 100%.

Sistema revelador: ácido sulfúrico a 5% em etanol com posterior aquecimento. .................... 87

Figura 42: CCD das frações obtidas na purificação da fração contendo elatol (código

KG451). Fase móvel: Diclorometano 100%, sistema revelador: ácido sulfúrico a 5% em

etanol com posterior aquecimento. ........................................................................................... 88

Figura 43: CCD das frações KG6415 e KG6416 obtidas na purificação da fração KG451 e

comparação com um padrão previamente isolado. Fase móvel: Diclorometano 100%, sistema

revelador: ácido sulfúrico a 5% em etanol com posterior aquecimento. .................................. 89

Figura 44: Espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada. ......................... 90

Figura 45: Expansão do espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada de

4.15 ppm a 5.15 ppm. ............................................................................................................... 91

Figura 46: Expansão do espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada de

1.75 ppm a 2.65 ppm. ............................................................................................................... 91

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Figura 47: Expansão do espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada de

1.05 ppm a 1.70 ppm. ............................................................................................................... 92

Figura 48: Série de derivados do elatol planejados pela adição de grupos farmacofóricos. ... 94

Figura 49: Visão geral dos derivados obtidos través das substituições realizadas na estrutura

do elatol. ................................................................................................................................... 96

Figura 50: Área e volume molar dos inibidores e média da área e volume molar das classes

de candidatos a inibidores de AChE derivados do Elatol. ........................................................ 99

Figura 51: Média dos scores com a função CHEMPLP para a Acetilcolina, Elatol e as classes

de candidatos a inibidores de Acetilcolinesterase propostos. ................................................. 108

Figura 52: Scores com a função CHEMPLP para as aminas alifáticas candidatas a inibidores

de AChE. ................................................................................................................................ 109

Figura 53: Melhor pose do derivado Tza 19_R e interações no sítio da AChE. ................... 111

Figura 54: Scores com a função CHEMPLP para as aminas cíclicas candidatas a inibidores

de Acetilcolinesterase. ............................................................................................................ 112

Figura 55: Melhor pose do derivado Tza 05 R e interações no sítio da AChE. .................... 114

Figura 56: Melhor pose do derivado Tza 05 S e interações no sítio da AChE. ..................... 115

Figura 57: Scores com a função CHEMPLP para as arilaminas e arilaminas substituídas

candidatas a inibidores de AChE. ........................................................................................... 116

Figura 58: Melhor pose do derivado Tzb 13 R e interações no sítio da AChE. .................... 119

Figura 59: Melhor pose do derivado Tzb 13 S e interações no sítio da AChE...................... 120

Figura 60: Melhor pose do derivado Tzb 16 R e interações no sítio da AChE. .................... 120

Figura 61: Melhor pose do derivado Tzb 16 S e interações no sítio da AChE...................... 121

Figura 62: Melhor pose do derivado Tzb 10 S e interações no sítio da AChE...................... 121

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Modelos de predição de toxicidade pelo pkCSM (PIRES et al.,2015)................... 68

Quadro 2: Interações observadas entre ligantes e resíduos aminoácidos de AChE. ............... 76

Quadro 3: Interações desfavoráveis e/ou fora dos sítios observadas entre ligantes e resíduos

de aminoácidos de AChE. ........................................................................................................ 77

Quadro 4: Predição de toxicidade pkCSM e FAF-Drugs 4 .................................................. 105

Quadro 5: Interações observadas entre ligantes e resíduos de aminoácidos da AChE. ........ 110

Quadro 6: Interações observadas entre ligantes e resíduos de aminoácidos de AChE. ........ 113

Quadro 7: Interações observadas entre ligantes e AChE ...................................................... 117

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Gradiente de eluição para o fracionamento do extrato bruto de Laurencia

dendroidea utilizando filtração em coluna aberta sob gel de sílica. ......................................... 62

Tabela 2: Gradiente de eluição para a purificação da fração 1 do extrato bruto de Laurencia

dendroidea por cromatoragrafia em coluna aberta sob gel de sílica. ....................................... 63

Tabela 4: Cálculo do Desvio Médio Quadrático (RMSD) entre as estruturas de AChE

humanas. ................................................................................................................................... 70

Tabela 5: Área e volume molar dos ligantes co-cristalizados a enzima. ................................. 71

Tabela 6: Área e volume molar dos candidatos a inibidores de AChE. .................................. 72

Tabela 7: Redocking e desvio médio quadrático (RMSD). ..................................................... 74

Tabela 10: Rendimento da obtenção de extrato bruto de Laurencia dendroidea. ................... 86

Tabela 11: Massas e rendimentos do fracionamento do extrato bruto de Laurencia

dendroidea. ............................................................................................................................... 88

Tabela 12: Massas e rendimentos de frações obtidas após a purificação da amostra KG451. 89

Tabela 13: Dados de RMN 1H (500 MHz) em CDCl3 para a substância isolada comparados

com dados de RMN 1H (300 MHz) em CDCl3 obtidos para o (-)- elatol por (MACHADO et

al., 2011) e para o (+)-elatol (KONIG e WRIGHT, 1997). ...................................................... 93

Tabela 14: Área e Volume molar dos derivados de elatol. ...................................................... 97

Tabela 15: Parâmetros para predição da permeação através da BHE propostos por Clark. .. 100

Tabela 16: Fármacos usados no tratamento da DA submetidos aos parâmetros para predição

da permeação através da BHE propostos por Clark, 2003. .................................................... 102

Tabela 17: Predição de permeação através da BHE pelo pkCSM. ........................................ 103

Tabela 18: Parâmetros associados à regra dos 5 de Lipinski calculados a partir da plataforma

molinspiration. ........................................................................................................................ 104

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DA- Doença de Alzheimer

BHE – Barreira hematoencefálica

AChE – Acetilcolinesterase

Ach – Acetilcolina

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

ADMET - Absorção, Distribuição, Metabolismo, Excreção e Toxicidade

ASP- Área de superfície polar

SNC – Sistema Nervoso Central

PDB – Protein data bank

GLY – Glicina

ALA – Alanina

VAL – Valina

LEU – Leucina

ILE – Isoleucina

MET – Metionina

PRO – Prolina

PHE- Fenilalanina

TRP – Triptofano

SER – Serina

THR – Treonina

CYS – Cisteína

ASN – Asparagina

GLN – Glutamina

TYR – Tirosina

ASP – Aspartato

GLU – Glutamato

GLN - Glutamina

LYS – Lisina

ARG – Arginina

HIS – Histidina

PAS – Sítio Periférico Aniônico

CAS – Sítio Periférico Catalítico

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OH – Sítio Oxianiônico

iGluRs - Receptores glutamatérgicos ionotrópicos

mGluRs - Receptores glutamatérgicos metabotrópicos

AMPA - ácido-amino-3-hidroxi-5-metil isoxazol-4-propiônico

NMDA - N-metil-D-aspartato

KA – Cainato

GLT-1 - Transportador de glutamato

VGluT - Transportador vesicular de glutamato

BSA – Albumina Sérica Bovina

DTNB - Ácido Ditionitrobenzoico

RMN – Ressonância Magnética Nuclear

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21

1. INTRODUÇÃO

1.1 A Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer (DA) é uma enfermidade neurodegenerativa associada à idade

que resulta em deficiência progressiva e irreversível e é a principal causa de demência e

incapacitação em idosos (BAIS et al., 2016; GRAHAM et al., 2017). O sintoma inicial é a

perda da memória recente e evolui para dificuldades de atenção, desorientação no tempo e

espaço, transtornos de humor, distúrbios comportamentais que incluem agressividade e

irritabilidade, depressão e alucinações até a perda da lucidez. A evolução da doença ocorre

geralmente entre 8 e 12 anos a partir dos primeiros sintomas, quando atinge seu estágio final

(SERENIKI et al.,2008; SANABRIA-CASTRO et al.; 2107).

Dentre as evidências da origem e desenvolvimento da doença estão: a ocorrência de

deposição extracelular de fragmentos do peptídeo β-amiloide (A) formando placas senis ou

placas A, a formação de emaranhados neurofibrilares intracelulares a partir da proteína Tau

(), além da alteração nas concentrações de certos neurotransmissores como a acetilcolina e

glutamato que estão envolvidas no controle de atividades cerebrais relacionadas à atenção,

cognição, aprendizagem e memória (KUMAR et al., 2015; BAIS et al., 2016; GRAHAM et

al., 2017).

Embora muitos aspectos neuropatológicos e fisiopatológicos da DA já sejam

reconhecidos e entendidos, o mecanismo de desenvolvimento da doença é bastante complexo

e ainda não está claramente definido, havendo muitas lacunas que prejudicam sua

compreensão completa (SANABRIA-CASTRO et al.; 2017).

Essa falta de compreensão em relação ao processo patogênico pode ser a razão

provável para a não disponibilidade de um tratamento efetivo que impeça a progressão da

doença. A causa desta enfermidade está relacionada com múltiplos fatores e várias hipóteses

são apresentadas com base nesses vários fatores para explicar a DA, tais como a hipótese

colinérgica, glutamatérgica, -amilóide e tau (KUMAR et al., 2015; BAIS et al., 2016;

GRAHAM et al., 2017; SANABRIA-CASTRO et al.; 2107).

1.1.1 Hipótese colinérgica

A hipótese colinérgica sugere que a perda de neurônios colinérgicos e a diminuição

nos níveis do neurotransmissor acetilcolina (Ach) no cérebro contribuem para o aparecimento

da DA (ANAND e SINGH, 2013; BISHARA et al., 2015).

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22

A Ach é sintetizada no terminal pré-sináptico e, quando liberada no organismo tem um

curto tempo de meia-vida ao encontrar uma quantidade significativa da enzima

acetilcolinesterase (AChE) na fenda sináptica. Sua degradação produz acetato e colina, que

regressa ao terminal pré-sináptico para nova síntese do neurotransmissor (Figura 1) (SILMAN

e SUSSMAN, 2008).

Figura 1: Esquema da transmissão colinérgica. Adaptado de HOGAN, 2009.

A AChE é uma enzima da classe das hidrolases, reguladora da transmissão colinérgica

encontrada no sistema nervoso central. Composta por 537 resíduos de aminoácidos tem seu

sítio ativo em uma cavidade com cerca de 20 Å de profundidade e possui três principais

resíduos de aminoácidos envolvidos no processo de hidrólise do seu substrato, a chamada

tríade catalítica: histidina 447 (HIS447), Glutamato 334 (GLU334) e Serina 203 (SER203)

(Figura 1). Essa tríade reforça o caráter nucleofílico da serina, acentuando sua capacidade de

ataque ao substrato devido a forte interação pela ligação de hidrogênio entre a histidina e a

serina. Durante a hidrólise da acetilcolina forma-se um intermediário acil-AChE que é

estabilizado pelos resíduos de aminoácidos GLY121, GLY122 e ALA204, localizados na

cavidade oxianiônica (OH, do inglês “Oxyanion hole”), até que uma molécula de água

desloca o grupamento acila, regenerando a enzima e liberando acetato (ROMEIRO et. al,

2008; SILMAN e SUSSMAN, 2008).

O sítio catalítico aniônico (CAS, do inglês “Catalytic Anionic Site”), composto por

TRP86 e PHE338, tem um papel importante na delimitação do tamanho de substratos que

podem atingir o sítio ativo (SILMAN e SUSSMAN, 2008).

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23

No topo da enzima está localizado o sítio aniônico periférico (PAS, do inglês

“Peripheral Anionic Site”) composto pelos resíduos TYR72, ASP74, TYR124, TRP286, e

TYR341, onde ocorre a interação inicial com o neurotransmissor. A ligação de inibidores ao

PAS provoca uma alteração conformacional da AChE, bloqueando a entrada da Ach no sitio

ativo (ROMEIRO et. al, 2008; SILMAN e SUSSMAN, 2008).

A partir do PAS é possível penetrar até o fundo da cavidade e atingir o sítio ativo,

onde se localiza a tríade catalítica (CASTRO et. al, 2008; SILMAN e SUSSMAN, 2008).

Esta cavidade estreita e longa contém 14 resíduos aromáticos conservados, como, por

exemplo, TYR72, TRP86, TYR124, TRP286, PHE295, PHE338 e TYR341, que levam ao

sitio ativo (Figura 2) (HAREL et al., 1993).

Figura 2: Ach ao fundo da cavidade de 20Å, onde se localiza o sítio catalítico da AChE. Resíduos de

aminoácidos que compõem os principais sítios de AChE humana em destaque. (PDB id: 4EY7; Imagem gerada

no programa Pymol).

No mecanismo de hidrólise da Ach pela AChE, um resíduo de histidina catalítico atua

inicialmente como uma base, aumentando a nucleofilicidade de um resíduo de serina (Figura

3).

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24

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Figura 3: Mecanismo de hidrólise da acetilcolina.

Em seguida, o resíduo de serina ataca o carbono carbonílico da acetilcolina. A

histidina ácida protona o intermediário formado, liberando colina, um intermediário

tetraédrico que é estabilizado por ligações de hidrogênio, e serina acetilada. Uma molécula de

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25

água atua então como nucleófilo, atacando o grupo acetila da serina acetilada. O novo

intermediário formado é então atacado pela histidina que, ao tornar-se ácida, é atacada pelo

par de elétrons livre do átomo de oxigênio. Por fim, o átomo de oxigênio protonado libera

ácido acético e a serina é regenerada (JUNIOR et al., 2004; SILMAN e SUSSMAN, 2008).

De acordo com esta hipótese, uma diminuição na produção de Ach provoca um déficit

na transmissão colinérgica e, impedidos de realizar as sinapses, os neurônios atrofiam e

morrem. Dessa forma, o uso de substâncias que inibam a degradação da Ach pela AChE

poderia elevar os níveis de Ach dentro das sinapses e, assim, melhorar a neurotransmissão

colinérgica (BISHARA et al., 2015).

1.1.2 Hipótese amiloide

A hipótese da cascata amiloide sugere que o desenvolvimento de agregados de

fragmentos de peptídeos Aβ no cérebro formam placas senis que contribuem para o déficit na

transmissão colinérgica e a progressão da doença (Figura 4) (SELKOE, 2001; KUMAR et al.,

2015; GRAHAM et al., 2017).

A formação das placas senis se dá através de depósitos extracelulares esféricos,

compactos, compostos por fragmentos de uma pequena proteína chamada peptídeo Aβ. O

peptídeo Aβ é produzido a partir da proteína precursora APP (proteína transmembrana tipo I).

A APP pode ser processada por duas vias principais: Na via α-secretase a APP é clivada no

domínio Aβ resultando na liberação de um fragmento solúvel de APP (-sAPP) e um

fragmento C-terminal (C83) que posteriormente é clivado pela -secretase. Na via -secretase

a APP é clivada antes do domínio Aβ, liberando um fragmento solúvel de APP (-sAPP) e

um fragmento C-terminal amiloidogênico (C99) contendo o domínio Aque sofre uma

posterior transformação pela -secretase, liberando o peptídeo Aβ que tende a acumular em

agregados oligoméricos (Figura 4) (SELKOE, 2001; KUMAR et al., 2015; GRAHAM et al.,

2017).

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26

Figura 4: Formação das placas -amilóides através da agregação oligomérica de fragmentos A produzidos pela

clivagem de APP através da via -secretase.Adaptada de PATTERSON et al., 2008.

Segundo a hipótese, mutações genéticas em doentes de Alzheimer levam a uma maior

clivagem da APP através da via -secretase e a uma maior atividade da -secretase, elevando

a produção de Aβ, que em seguida se agregam espontaneamente em oligômeros solúveis e

fibrilas insolúveis (KUMAR et al., 2015; GRAHAM et al., 2017).

Em condições normais, o peptídeo Aβ é degradado por algumas enzimas e eliminado,

mas um desequilíbrio entre a sua produção e eliminação leva ao acúmulo de agregados dos

fragmentos desse peptídeo (KUMAR et al., 2015; SANABRIA-CASTRO et al.;2017).

Estudos mais recentes mostram que o aumento dos níveis de Aβ pode ser causado não apenas

pela produção elevada, mas também pela degradação diminuída (GRAHAM et al., 2017).

A hipótese da cascata amilóide gerou um forte interesse pela β- e γ-secretase como

potenciais alvos com a finalidade de reduzir a produção de Aβ. No entanto, a extrema

complexidade da produção de placas Aβ ainda limita o progresso do estudo que visa β- e γ-

secretase como potenciais alvos para o tratamento do doente de Alzheimer. Ensaios com

inibidores de β-secretase falharam devido à baixa biodisponibilidade oral e baixa penetração

na barreira hematoencefálica. Ademais, a segunda geração desses inibidores falhou em

ensaios clínicos de fase avançada ao apresentarem elevada toxicidade, assim como inibidores

planejados de -secretase. Mais recentemente, um potente inibidor de β-secretase de terceira

geração mostrou farmacocinética satisfatória e forneceu dados clínicos encorajadores para os

estudos que se encontram em andamento (GRAHAM et al., 2017).

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27

1.1.3 Hipótese tau

A hipótese de tau surge como um evento secundário induzido por ASANABRIA-

CASTRO et al.;2017). Segundo esta hipótese, os oligômeros A podem desencadear a

hiperfosforilação da proteína tau, originando novelos neurofibrilares (BISHARA et al., 2015;

KUMAR et al., 2015).

No metabolismo normal essa proteína promove a junção e estabilização dos

microtúbulos que por sua vez fornecem suporte para mudanças estruturais, transporte axonial

e crescimento neuronal SANABRIA-CASTRO et al.;2017). Porém, em doentes de

Alzheimer, a hiperfosforilação intracelular da proteína provoca a disjunção dos microtúbulos

axoniais, comprometendo a função microtubular e levando a disfunção neuronal e sináptica

(BISHARA et al., 2015; KUMAR et al., 2015).

A proteína hiperfosforilada apresenta agregação anormal com proteínas do

citoesqueleto e mostra uma menor interação com os microtúbulos, o que favorece um

aumento da proteína tau livre que leva a uma maior agregação e fibrilação da mesma, com o

consequente mau funcionamento do transporte axonial (Figura 5)SANABRIA-CASTRO et

al., 2017).

Figura 5: Processo de degeneração dos microtúbulos e formação dos emaranhados neurofibrilares.Adaptado de:

https://columbiasciencereview.com/2017/04/07/the-role-of-our-immune-system-in-alzheimers/

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28

1.1.4 Hipótese glutamatérgica

O glutamato é o aminoácido livre mais abundante no sistema nervoso central e é um

importante neurotransmissor excitatório, participando de diversas funções cerebrais, como

cognição, aprendizado e memória. Porém a excitação excessiva dos receptores

glutamatérgicos pode provocar a morte neuronal num processo denominado de

excitotoxicidade. Pesquisas recentes têm sugerido que este processo envolvendo os receptores

glutamatérgicos tipo N-methyl-D-aspartato (NMDA) estão envolvidos na fisiopatologia da

doença de Alzheimer (BISHARA et al., 2015; BAIS et al., 2016; GRAHAM et al., 2017).

Os receptores glutamatérgicos são divididos em dois grupos: os ionotrópicos (iGluRs)

e os metabotrópicos (mGluRs). Os iGluRs podem ser divididos em: N-metil-D-aspartato

(NMDA), ácido-amino-3-hidroxi-5-metil isoxazol-4-propiônico (AMPA) e cainato (KA).

Estes receptores formam canais iônicos localizados nas membranas neuronais que permeiam a

passagem de cátions específicos e cuja ativação promove a despolarização da membrana

sináptica, desencadeando uma resposta excitatória (PAOLETTI et al. 2013).

Quando a membrana pós-sináptica está em seu potencial de repouso, os canais NMDA

encontram-se bloqueados por um íon magnésio (Mg2+

) que impede o influxo de íons de cálcio

(Ca2+

) para o terminal pós-sináptico. Após a ligação simultânea da glicina e do (L)-glutamato,

agonistas endógenos e despolarização simultânea da membrana neuronal, acontece a abertura

do canal iônico com a liberação dos íons Mg2+

que o bloqueiam, possibilitando a passagem de

íons Na+ e Ca

2+ para o interior da célula e de íons K

+ para o seu exterior (BISHARA et al.et

al., 2015; BAIS et al.et al., 2016).

Um mecanismo de recaptação é responsável por remover o (L)-glutamato do espaço

sináptico. Após se ligar aos seus receptores, ele é captado por transportadores de alta

afinidade presentes nos astrócitos adjacentes à sinapse, evitando sua permanência no espaço

extracelular. No astrócito, ele é convertido em glutamina pela enzima glutamina sintase. Essas

moléculas de glutamina são então liberadas para o meio extracelular e levadas por

transportadores específicos para o terminal pré-sináptico, onde são reconvertidas a glutamato

pela enzima glutaminase. O ciclo glutamato-glutamina é então o principal mecanismo de

finalização da neurotransmissão glutamatérgica, exercendo um efeito neuroprotetor (Figura

6).

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Figura 6: Ciclo glutamato-glutamina: (1) Glutamato mantido em vesículas em neurônios pré sinápticos

VGLUT1/2. (2) O glutamato liberado na fenda sináptica, ativando receptores ionotrópicos e metabotrópicos. Os

receptores NMDA se tornam totalmente ativos após a ativação do receptor AMPA e despolarização da

membrana pós-sináptica. (3) O glutamato é removido da fenda sináptica por transportadores de glutamato GLT-

1. (4) Dentro dos astrócitos, o glutamato é convertido a glutamina pela glutamina sintase. (5) Glutaminase

converte a glutamina em glutamato nos terminais pré-sinápticos. Adaptado de REVETT et al., 2013.

O influxo de Ca2+

regula processos de proliferação, sobrevivência e morte celular.

Sendo assim, os neurônios possuem mecanismos homeostáticos que regulam as concentrações

extra e intracelulares deste íon. Uma ativação excessiva dos receptores NMDA, causada por

um excesso de (L)-glutamato, conduz a um aumento excessivo dos níveis de Ca2+

no meio

intracelular, causando morte celular neuronal por excitotoxicidade (BISHARA et al., 2015;

BAIS et al., 2016).

Alguns compostos desenvolvidos como antagonistas dos receptores NMDA atuam

como bloqueadores desse canal iônico. Um exemplo deste tipo de antagonista é a Memantina,

aprovada em 2002 pela Agência Europeia dos Medicamentos (EMEA) e em 2003 pela Food

and Drug Administration (FDA) para o tratamento da doença de Alzheimer moderada a

severa (BISHARA et al., 2015; BAIS et al., 2016; GRAHAM et al., 2017).

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30

1.2 O tratamento farmacológico disponível e seus alvos terapêuticos

A terapia atual da DA envolve inibidores de AChE e antagonistas de NMDA e tem

como base a hipótese colinérgica e glutamatérgica, respectivamente (SILVA et al., 2014). O

tratamento da DA envolve medicamentos que têm sido utilizados para preservar a cognição e

as habilidades funcionais do doente. Contudo, esses fármacos tendem a desacelerar a

progressão da doença proporcionando o alívio sintomático, mas não levam à cura definitiva

(KUMAR et al., 2015; GRAHAM et al., 2017).

Os inibidores de AChE são os principais fármacos aprovados para o tratamento da

DA. Sua ação se baseia no aumento da disponibilidade de Ach no espaço sináptico, através da

inibição das enzimas AChE e Butirilcolinesterase (BChE) (ANAND e SINGH, 2013).

Enquanto a atividade da AChE permanece inalterada, a atividade da BChE aumenta

progressivamente conforme a doença avança. Entretanto, embora a inibição de BChE

também possa ser considerada uma abordagem válida para restaurar a função colinérgica em

DA, seu papel na regulação da transmissão colinérgica em seres humanos ainda não é

totalmente compreendido e a AChE continua a ser o principal alvo da hipótese colinérgica.

No entanto, em geral, ensaios de inibição de BChE costumam ser realizados em paralelo com

os estudos de inibição de AChE, a fim de definir a seletividade dos compostos em estudo

(SILVA et al., 2014).

A Tacrina, inibidor reversível de curta duração de AChE e BChE, foi o primeiro

medicamento utilizado em pacientes com DA. Porém, seu uso foi descontinuado devido ao

elevado risco de hepatotoxicidade. Atualmente, estão disponíveis para a terapia da DA a

Rivastigmina, Donepezila e Galantamina, fármacos pertencentes à segunda geração de

inibidores (Figura 7) (ANAND e SINGH, 2013; BISHARA et al., 2015; BAIS et al., 2016).

Além dos inibidores de AChEi, a terapia da DA também envolve o uso da Memantina

, antagonista do receptor de NMDA que atua como bloqueador do canal (Figura 7)

(GRAHAM et al., 2017).

Cada um desses fármacos já foi aprovado e estão disponíveis em formulações

genéricas, sendo a Memantina o mais recente. Atualmente tem-se ainda o riluzol, que é um

inibidor da liberação de glutamato e da sinalização pós-sináptica do receptor de glutamato que

se encontra em ensaios clínicos de Fase II em pacientes com DA leve (GRAHAM et al.,

2017).

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31

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Figura 7: Exemplos de fármacos utilizados e/ou investigados para o tratamento de Alzheimer.

A segurança e a eficácia desses medicamentos em longo prazo ainda não são

inteiramente conhecidas e não há nenhuma evidência de modificação dos processos

patológicos. Dessa forma, eles têm atuado apenas como terapia paliativa, de forma a diminuir

a progressão dos sintomas cognitivos da DA e reduzir os problemas comportamentais

relacionados à doença em algumas pessoas (GRAHAM et al., 2017).

1.2.1 Ação dos Inibidores de AChE

Os inibidores de AChE podem atuar por um mecanismo competitivo com a Ach

interagindo com a tríade catalítica da enzima localizada no CAS, por um mecanismo não-

competitivo, ligando-se aos resíduos do PAS, ou podem interagir com ambos os subsítios,

sendo então considerados inibidores duais de AChE (FRANCIS et al., 1999; ANAND e

SINGH, 2013).

Estudos afirmam que, nos cérebros de pacientes com DA, a AChE encontra-se co-

localizada com o Aβ, sendo capaz de acelerar a agregação dos fragmentos de Aβ às fibras

amiloides. Como consequência, inibidores que sejam capazes de interagir com o CAS e o

PAS poderiam ter uma atividade dual, reduzindo o déficit cognitivo ao impedir a hidrólise do

substrato da enzima devido à interação com o CAS e retardando a formação das placas A

devido à interação com o PAS (ALVAREZ et al., 1995; CASTRO e MARTINEZ, 2001;

ANAND e SINGH, 2013; SILVA et al., 2014).

Donepezila Galantamina Rivastigmina

Memantina (5) Tacrina (4) Riluzol (6)

(1) (2) (3)

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32

Foi postulado que classes de ligantes capazes de interagir com o CAS e o PAS são

mais potentes em comparação com aqueles que interagem somente com o CAS. Assim, uma

das estratégias adotadas para a obtenção de tais substâncias é através da fusão de duas

moléculas ativas em apenas um composto, conectadas por grupos espaçadores de tamanhos

adequados. Dessa forma, as moléculas são capazes de interagir com os dois sítios desejados.

Baseado nessas hipóteses, vários pesquisadores têm desenvolvido novos candidatos a

inibidores de AChE duais como estratégia para uma terapia mais eficiente da DA (PANG et

al., 1996; CARLIER et al., 1999; BOLOGNESI et al., 2005; BELLUTI et al., 2009; JIA et

al., 2009; MARTINS et al., 2011; SAMADI et al., 2011; FANG et al., 2014; KORABECNY

et al., 2014).

A Rivastigmina é um inibidor pseudo-irreversível de AChE e BChE de duração

intermediária. A vantagem desta inibição simultânea está relacionada ao fato de que a BChE,

enzima presente na corrente sanguínea que também hidrolisa a Ach, tem sua concentração

aumentada nas fases mais avançadas da doença (BISHARA et al., 2015 BAIS et al., 2016).

A Donepezila é um medicamento sintético classificado como um inibidor não

competitivo e reversível de longa duração, que interage com o PAS e também com o CAS

principalmente através de interações aromáticas, mas sem interagir com a tríade catalítica.

Alguns estudos destacam a interação envolvendo os resíduos de aminoácidos TRP 86 e TRP

286 com as subunidades benzilpiperidina e indol da Donepezila, respectivamente, através de

interações do tipo empilhamento pi (ANAND e SINGH, 2013; BISHARA et al., 2015; BAIS

et al., 2016) (Figura 8).

Segundo o mecanismo de ação proposto, o efeito da Donepezila pode diminuir à

medida a doença evolui e menos neurônios colinérgicos permanecem funcionalmente intactos

(ANAND e SINGH, 2013; BISHARA et al., 2015; BAIS et al., 2016).

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33

Figura 8: Donepezila e interações no sítio da AChE. (PDB id: 4EY7; Imagem gerada no programa Pymol).

A Galantamina é um alcaloide encontrado em plantas da família Amarillydaceae e é

um inibidor competitivo e reversível que apresenta um mecanismo dual de inibição da AChE

e modulação alostérica de receptores nicotínicos da acetilcolina, sendo considerada menos

tóxica que a Tacrina porém menos potente também (CHEUNG et al., 2012; ANAND e

SINGH, 2013; BISHARA et al., 2015) (Figura 9).

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34

Figura 9: Galantamina e interações no sítio da AChE. (PDB id: 4EY7; Imagem gerada no programa Pymol).

Atualmente, a busca por novos inibidores de AChE com maior afinidade e menor risco

de efeitos adversos tem se concentrado em derivados de produtos naturais com propriedades

duais, ou seja, capazes de interagir com a CAS e o PAS ou multi-alvos, atingindo assim mais

do que uma característica fisiopatológica da DA com um único composto (SILVA et al.;

2014).

1.2.2 Produtos de Origem Natural no Tratamento da DA

Atualmente, existe um considerável número de pesquisas que visam a descoberta de

novos produtos de origem natural com potencial neuroprotetor ou anti-colinesterásico que

possam ter menos efeitos adversos em comparação com fármacos sintéticos (CHOI et al.,

2015 ; OLASEHINDE et al., 2017).

Na história da medicina tradicional chinesa, muitas ervas foram descobertas e

empregadas para tratar demências e, nas últimas décadas, uma série de substâncias foram

isolados dessas ervas e têm sido testados contra DA. Entre essas substâncias destacam-se

flavonóides, alcalóides, fenilpropanóides, triterpenoides e polissacarídeos, entre outros

(HOUGHTON et al., 2006; GAO et al., 2013). Exemplos desse tipo de substâncias são a

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35

huperazina A, huperazina B, berberina e seus derivados semissintéticos (Figura 10) (SILVA

et al., 2014).

H

ONH

NH2

H

OH

N

NH

H

O

O

O

N+

O

Figura 10: Estruturas derivadas de produtos naturais investigadas como potencias fármacos anti-Alzheimer.

A huperazina A e a huperazina B são sesquiterpenos alcalóides isolados da Huperzia

serrata, utilizados há séculos pela medicina chinesa no tratamento da demência, febre e

inflamação. Estudos relatam que a huperazina A é capaz de desempenhar um efeito

neuroprotetor, enquanto que a huperazina B possui atividade anticolinesterásica com uma

maior biodisponibilidade oral, seletividade e potência quando comparadas a Tacrina e

Donepezila. Apesar de estarem sendo investigados como um possível tratamento para DA,

ainda não existem estudos suficientes que comprovem suas ações como fármacos anti-

Alzheimer. Entretanto, atualmente essas substâncias têm sido estudadas como compostos líder

para o desenvolvimento de novos AChEi. Um exemplo disso é o estudo com estruturas

híbridas de Tacrina-Huperzina A (ZHANG et al., 2000; FENG et al., 2005; HE et al., 2007;

LI et al., 2007; SILVA et al., 2014).

A berberina é um alcalóide isoquinolínico presente nas raízes, rizomas e cascas do

caule de um grande número de plantas. Estudos indicam uma atividade dual anti-Alzheimer,

na qual essa substância atua não só como um AChEi mas também como agente neuroprotetor,

diminuindo a excitotoxicidade induzida pela ativação excessiva dos receptores NMDA.

Porém, cabe ressaltar que ainda não existem evidências clínicas dessa ação em seres humanos

(SILVA et al., 2014; LIANG et al., 2017).

A própria Galantamina, fármaco aprovado para o tratamento da DA como

anticolinesterásico, é um alcaloide encontrado em plantas da família Amarillydaceae

(ANAND e SINGH, 2013).

huperazina A (7) huperazina B (8) berberina (9)

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36

A briostatina (Figura 11), isolado do extrato de Bugulaneritina, é uma molécula de

origem marinha com potencial terapêutico como fármaco anti-Alzheimer. Estudos pré-

clínicos recentes mostram que ela foi capaz de restaurar o déficit cognitivo, e reduzir o

acúmulo de fragmentos -amiloides e hiperfosforilação de proteína de tau (RUSSO et al.,

2015).

H

H

H

H

OO

H

H

H

O

O

H

OH

H

HO

O

OH

H

H

O

H

HOH

O

H

OO

O

HOH

H

O

O

briostatina (10)

Figura 11: Substância de origem natural marinha candidata a fármaco para DA em estudos pré-clínicos.

Estudos concentrados na atividade farmacológica de produtos naturais marinhos em

alvos terapêuticos da DA têm incluído macroalgas marinhas, principalmente pardas e

vermelhas (CHOI et al., 2015; RUSSO et al., 2015).

1.3 Produtos Naturais

Os produtos naturais são historicamente a fonte de muitos medicamentos e ainda hoje

representam um importante grupo para a identificação de novas estruturas químicas. A

maioria dos fármacos em uso clínico é de origem natural ou foram desenvolvidos a partir de

produtos naturais (DIAS et al.; 2012; ATANASOV et al., 2015; NEWMAN e CRAGG, 2016;

PATRIDGE et al; 2016; BERLINCK et al; 2017).

Em 1817, Friedrich Sertürner isolou pela primeira vez a Morfina a partir do ópio

obtido de Papaver somniferum (Figura 12), desencadeando assim o estudo de outras ervas

medicinais, usadas até então forma empírica, cujas substâncias presentes eram representadas

principalmente por alcalóides (SERTURNER, 1817 apud ATANASOV et al., 2015).

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37

H

O

OH

N

H

H

OH

Figura 12: Fármaco narcótico, principal alcaloide presente no ópio, com alto poder analgésico.

Posteriormente, os esforços se concentraram na elucidação dos mecanismos de

obtenção dessas substâncias presentes nos produtos naturais por meio da síntese química, a

fim de permitir a produção em maior escala, com qualidade e baixo custo. O Ácido salicílico

foi então o primeiro produto natural produzido sinteticamente em 1853 (Figura 13), no

entanto, para estruturas complexas com múltiplos centros quirais, por exemplo, a síntese total

é ainda, muito difícil e muitas vezes economicamente inviável, exigindo ainda maiores

avanços tecnológicos para serem aplicados com sucesso (ATANASOV et al., 2015).

Atualmente a biotecnologia se apresenta como uma opção com potencial futuro para produção

em maior escala nestes casos (PEREIRA e COSTA-LOTUFO, 2012; SCOTTI et al.; 2012;

ATANASOV et al., 2015; DE OLIVEIRA et al.; 2015).

OH

OOH

Figura 13: Primeiro produto natural com atividade farmacológica, produzido sinteticamente.

1.3.1 Produtos Naturais Marinhos

Em 1951, Bergmann e Feeney isolaram a Espongouridina e a Espongotimidina a partir

de Tectitethya crypta, uma esponja marinha encontrada no mar do Caribe (BERGMANN e

FEENEY, 1951) (Figura 14). Essas substâncias serviram como modelos estruturais para o

desenvolvimento de análogos sintéticos usados no tratamento de tumores e doenças virais,

dando início à utilização de uma nova classe de fármacos para o tratamento dessas

enfermidades (NEWMAN e CRAGG; 2006).

Morfina (10)

Ácido Salicílico (12)

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38

O

NH

O N

O

OH

OH

OH

H

H

H

O

NH

O N

O

OH

OH

OH

H

H

Figura 14: Substâncias isoladas de Tectitethya crypta que marcaram o início dos estudos com produtos

marinhos.

O primeiro produto natural marinho aprovado como fármaco foi a Ziconotida, em

dezembro de 2004 pelo FDA, com efeito anestésico, sendo indicado para dores crônicas de

pacientes com câncer ou AIDS (DIAS et al, 2012; NEWMAN e CRAGG, 2013; RUSSO et

al., 2015) (Figura 15). Esta substância foi isolada como um constituinte do veneno de Conus

magus, um molusco que usa essa toxina para imobilizar os seus predadores e presas. É

Considerado mais potente que a morfina e possui a vantagem de não ser narcótico (POPE e

DEER, 2013; WEBSTER 2015).

Entre outros exemplos está a Trabectedina isolada da ascídia Ecteinascidia turbinata,

um organismo invertebrado de aspecto esponjoso que vive grudado a rochas, que foi aprovada

como fármaco para o tratamento de câncer em 2007 (Figura 15). Atualmente, a Trabectedina

é produzida em semissíntese para atender a indústria farmacêutica (CUEVAS e

FRANCESCH; 2009; NEWMAN e CRAGG, 2013; RUSSO et al., 2015).

Espongouridina (13) Espongotimidina (14)

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39

O

NH

O

NH

SS

O

NHO

NH

O NH

O

NH

O

NH

S

S

O

NH

SS O

NH

O

NH

O

NH

ONH

ONH

NH2

NH2

NH2

ONH

O

NH

ONH

ONH

OH

OH

NH

O

NHO

NHO

NH O

NH

O

NH

ONH

O OH

NHNH

NH2

S

OH

OOH

ONH2NH2

OH

NH

NH

NH2

NH2

H

HH

H

H

HH H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

Ziconotida (15)

HSNH

OOH

O ON

OH

OOH

N

OO

O

OH

HH

H

Trabectedina (16)

Figura 15: Fármacos aprovados com origem em produtos naturais marinhos.

Alguns estudos recentes relatam, ainda, moléculas bioativas isoladas de organismos

marinhos com atividades neuroprotetoras através da inibição do estresse oxidativo induzido

por A no cérebro do paciente de DA (CHOI et al., 2015 ; RUSSO et al., 2015;

OLASEHINDE et al., 2017).

Apesar do potencial dos ambientes marinhos como fontes de novas substâncias

bioativas, somente em meados da década de 1970 os estudos de organismos marinhos foram

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sistematicamente iniciados. Entre 1977 e 1987, cerca de 2.500 novos metabólitos foram

descobertos a partir de uma grande variedade de filos e espécies (PINTO et al., 2002). Ainda

hoje substâncias novas provenientes desse ambiente continuam a ser descritas, demonstrando

que o meio marinho é uma rica fonte de compostos bioativos, muitos pertencentes a classes

químicas nunca antes observadas e inexistentes em fontes terrestres (NEWMAN e CRAGG,

2013; NEWMAN e CRAGG, 2016).

O ambiente marinho apresenta uma maior diversidade de espécies que o ambiente

terrestre, o que tem como consequência a maior diversidade de estruturas químicas

(MACHADO et al., 2010). A especificidade desses ambientes produz compostos

estruturalmente únicos (NEWMAN e CRAGG, 2004). Representando 75% do planeta Terra,

o ambiente marinho tem se apresentado como uma rica fonte de produtos naturais

estruturalmente novos com efeitos anticâncer, anti-inflamatórios, analgésicos,

imunomoduladores, neuroprotetores, dentre outros. Por isso, tem sido cada vez mais

explorado como fonte de novas substâncias bioativas (NEWMAN e CRAGG, 2004;

NEWMAN e CRAGG, 2013; NEWMAN e CRAGG, 2016).

Atualmente, uma série de produtos naturais marinhos e seus derivados têm sido

submetidos a ensaios clínicos ou atingiram o estágio pré-clínico avançado (NEWMAN e

CRAGG, 2016). Apesar da perspectiva promissora, o uso desses compostos é muitas vezes

limitado pela sua complexidade química e pela dificuldade de obtenção em larga escala. Mas

hoje o trabalho com produtos naturais marinhos têm sido facilitado pelos avanços

tecnológicos nos processos de obtenção, purificação e caracterização. Além disso, a síntese

química e o desenvolvimento da biotecnologia têm sido grandes aliadas nesse processo. A

expansão do uso de técnicas de bioinformática também facilitou o trabalho com substâncias

de origem natural, de modo a permitir triagens preliminares e o planejamento de estruturas

derivadas desses produtos. Dessa forma, recursos naturais marinhos têm sido muito

explorados de modo a se obter ou planejar um candidato a fármaco (NEWMAN e CRAGG,

2004; ATANASOV et al., 2015; HARVEY et al., 2015; SUMNER et al.; 2015).

Em geral, esses compostos bioativos se apresentam como metabólitos secundários, que

são substâncias que não estão envolvidas com as funções vitais do organismo marinho. As

atividades identificadas para esses metabólitos secundários no organismo produtor mostram

que eles interagem biologicamente com outros organismos do meio em que estão inseridos,

apresentando atividades de defesa como ação anti-herbivoria, anti-incrustante e alelopática

(OLIVEIRA et al., 2015). Muitos metabólitos secundários representam matérias-primas

importantes para a produção de inúmeros medicamentos (NEWMAN e CRAGG, 2016).

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Nesse contexto, as macroalgas são conhecidas como grandes produtoras de

metabólitos secundários no ambiente marinho. A maior variedade pode ser encontrada em

Rhodophyta algas marinhas vermelhas, onde as classes de compostos são representadas

principalmente por compostos halogenados (MACHADO et al., 2010).

1.3.1.1 Metabólitos bioativos de Laurencia sp.

Entre as algas marinhas vermelhas, espécies do gênero Laurencia (Figura 16) têm sido

apontadas como fonte de novos metabólitos secundários. Produzindo uma grande variedade

de terpenóides complexos e acetogeninas, representam o gênero mais quimicamente

complexo do mundo (PEREIRA et al., 2003). Atualmente, elas estão entre as mais estudadas,

sendo conhecidas pela produção de metabólitos secundários halogenados, como os

sesquiterpenos com esqueleto chamigreno, representando o maior grupo de metabolitos

secundários isolados de espécies do gênero Laurencia. Como exemplo podemos citar o

obtusol, dendroidiol, cartilagineol e elatol, entre outros (Figura 17) (DE OLIVEIRA et al.,

2015; HARIZANI et al., 2016).

Para o gênero Laurencia são aceitas 146 espécies taxonômicas diferentes e estima-se

que cerca de 700 compostos de estrutura química inédita já foram identificados (MACHADO

et al., 2014; HARIZANI et al.; 2016)

Presente em regiões de mares tropicais, subtropicais e temperados de todo o mundo

(HARIZANI et al.; 2016), este gênero é representado por 30 espécies no Brasil sendo L.

catarinenses, L. oliveirana e L. translucida consideradas endêmicas (MACHADO et al.,

2010) .

Figura 16: Alga marinha vermelha, Laurencia sp. Disponível em

https://www.marineplantbook.com/marinebooklaurencia.htm

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42

Br

OH

Br

Cl

Br

OH

OH

Cl

Br

OH

Cl

Br

(+)-obtusol (17) (-)-dendroidiol (18) (-)-cartilagineol (19)

(+)-elatol (20) (-)-elatol (21)

Figura 17: Exemplos de metabólitos secundários encontrados nas algas do gênero Laurencia.

Diversas funções naturais já foram descritas para estes metabólitos isolados de

Laurencia sp e muitos estudos mostram que eles podem atuar como agentes anti-incrustantes

e anti-herbivorismo, indicando que possuem múltiplas funções ecológicas e que são parte do

sistema de defesa e do processo adaptativo da alga (TEIXEIRA e PEREIRA, 1999; KÖNIG e

WRIGHT; 1997; PEREIRA et al., 2003; MACHADO et al, 2010; HARIZANI et al., 2016).

Estas importantes funções ecológicas, são capazes de perturbar eficientemente sistemas

fisiológicos vitais de outros organismos, em particular, aqueles ligados ao movimento,

respiração e circulação (RUSSO et al., 2015). Dessa forma, podem representar um indicativo

de aplicabilidade biotecnológica, devido à possibilidade de atuação em outros organismos

(MACHADO et al.,2010).

Vários desses metabólitos de Laurencia e seus derivados semissintéticos apresentaram

atividades farmacológicas diversas (MACHADO et al., 2011; DESOTI et al., 2012; LANG et

al., 2012; DE OLIVEIRA et al., 2015; HARIZANI et al., 2016). Já foram descritas

atividades antileishmania, antibacteriana e potencial larvicida contra o Aedes aegypti para o (-

)- elatol e obtusol (MACHADO et al., 2014; SALVADOR-NETO et al., 2016; DÍAZ-

MARRERO et al., 2012; DA SILVA MACHADO et al., 2011). Estudos apontaram também

OH

Cl

Br

OH

Cl

Br

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43

atividade citotóxica para o cartilagineol (WESSELS et al., 2000). Mas, embora as atividades

sejam diversas, um grande número de pesquisas com esses metabólitos se concentram na

busca por novas substâncias anticâncer (MACHADO et al., 2010).

Foi demonstrado que a maioria das moléculas encontradas em algas do gênero

Laurencia que apresentam atividade possuem halogênios em sua estrutura, sendo o átomo de

bromo o mais comum. Isso sugere que a atividade dessas moléculas pode estar relacionada

com a presença desses elementos (MACHADO et al., 2010).

Dentre os metabólitos secundários de Laurencia pertencentes à classe dos

sesquiterpenos halogenados citados vale ressaltar o elatol (3S,4R,6R)-4-Bromo-8-cloro-5,5,9-

trimetil-1-metilenespiro[5.5]undec-8-en-3-ol) (Figura 17), que é considerado hoje um dos

seus principais metabólitos secundários com potencial econômico devido às suas

características e atividades relatadas (LORBEER et al., 2013; DE OLIVEIRA et al.; 2015;

HARIZANI et al., 2016).

Isolado pela primeira vez em 1974 por Sims e colaboradores (SIMS et al., 1974), o

elatol teve a síntese total descrita por White e colaboradores (WHITE et al., 2008). Foram

descritas para esse metabólito, atividades tripanocida (VEIGA-SANTOS et al., 2010;

SAEIDNIA et al., 2013; DESOTI et al., 2012), antileishmania (SANTOS et al., 2010;

MACHADO et al., 2011) e antitumoral (MACHADO et al., 2010), entre outras (LANG et al.,

2012; CAMPOS et al., 2012). Este metabólito está presente em diversas espécies do gênero

Laurencia e em algumas como seu componente majoritário (SIMS et al., 1974; LANG et al.,

2012). Em L. dendroidea a população da Praia Azeda, localizada em Búzios, e a população de

Biscaia localizada no município de Angra dos Reis, ambas no estado do Rio de Janeiro foi

possível observar o sesquiterpeno elatol como o metabólito majoritário (DA SILVA

MACHADO et al., 2016).

LANG e colaboradores planejaram e sintetizaram pela primeira vez derivados do

elatol e isobtusol, pela substituição da hidroxila por outros grupos funcionais, de maneira a

potencializar a ação desses metabólitos como antitumorais. Foram investigados os efeitos

citotóxicos in vitro de seis derivados semissintéticos, cujos resultados sugeriram que

modificações estruturais pela substituição da hidroxila podem ser uma boa estratégia para

intensificar a atividade desses compostos, reduzir a toxicidade e produzir estruturas de

polaridade diferente (EPIFÂNEO et al., 2009; LANG et al., 2012).

Recentemente, através da aplicação da técnica de Quimiogenômica a um banco de

dados de metabólitos de Laurencia, o Seaweed Metabolite Database (SWMDB) (DAVIS e

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VASANTHI, 2011), alguns metabólitos secundários de Laurencia sp. foram apontados como

potenciais inibidores da AChE, dentre eles obtusol, dendroidiol, cartilagineol e elatol, (dados

não publicados) abrindo novas perspectivas para o planejamento de potenciais AChEis de

origem marinha.

1.4 Modelagem Molecular

O processo de desenvolvimento (P&D) de um novo fármaco é bastante longo, porém

o planejamento de fármacos auxiliado por computador pode reduzir o tempo e o custo do

processo de Pesquisa e Desenvolvimento de novos agentes terapêuticos. A modelagem

molecular consiste na utilização dessas técnicas computacionais que possibilitam a construção

e manipulação de protótipos candidatos a fármacos, tornando-se importante na descoberta de

novos fármacos (PINTO et al; 2002; EPIFÂNEO et al.; 2009; HARVEY et al.,2015).

Na química medicinal moderna, estudos de modelagem molecular com as

biomacromoléculas-alvo podem auxiliar na proposição de novos derivados funcionais e

análogos sintéticos. Nesse contexto, a modelagem molecular tem sido aplicada à descoberta

de novos ligantes de alvos terapêuticos reconhecidos como, por exemplo, a partir de triagem

virtual (KROEMER, 2007).

Essa metodologia tem sido utilizada com sucesso na descoberta de ligantes e de

fármacos, inclusive inibidores de AChE, através da investigação dos mecanismos de interação

com alvos terapêuticos e da relação estrutura-atividade (SAR, do inglês “Structure-Activity

Relationship”) (MORRIS et. al., 2013).

Para prosseguir no processo de P&D, devem-se considerar ainda, parâmetros

farmacocinéticos como absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicológicos

(ADME-T) a fim de eliminar candidatos com propriedades druglikeness desfavoráveis, ou

seja, com maiores probabilidades de serem descartados nos estudos de fase clínica (WANG et

al., 2015).

Diante disso, esses estudos podem guiar a síntese de novas moléculas, minimizando o

conjunto de compostos a serem testados.

1.4.1 Docking Molecular

Técnicas computacionais de triagem virtual são aplicadas na seleção de estruturas que

podem ser ativas em um determinado alvo biológico (GIULIATTI, 2013).

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45

Denomina-se “Triagem Virtual” os estudos baseados na estrutura tridimensional de

alvos biológicos SBVS, do inglês - Structure-Based Virtual Screening ou baseados na

estrutura tridimensional de ligantes LBVS, do inglês - Ligand-Based Virtual Screening, que

têm como base o docking molecular aplicado a um banco de dados de estruturas moleculares

tridimensionais selecionadas (ligantes) tendo como alvo um determinado receptor molecular

(KROEMER, 2007; ANDRICOPULO et al., 2008; ANDRICOPULO et al., 2009).

Métodos de docking receptor-ligante são métodos computacionais utilizados para a

identificação do modo de ligação de moléculas candidatas a fármacos, no sítio ativo de

proteínas consideradas como alvos moleculares para o tratamento de determinadas doenças

(MAGALHÃES et al., 2006)

Durante o processo de docking, a posição ideal e a orientação do ligante são

determinadas usando um algoritmo de busca e uma função de score que classifica as soluções

geradas. Os algoritmos de busca investigam um determinado número de conformações de

ligantes, explorando todos os graus de liberdade da estrutura, de modo a encontrar o mínimo

de energia global e as funções de score avaliam a qualidade das poses de docking,

distinguindo os modos de ligação entre ligante e receptor observados experimentalmente de

todas as outras poses exploradas pelo algoritmo de busca. Atualmente, existem diferentes

funções de score e diferentes metodologias de busca (GUEDES, 2016).

Os algoritmos de busca devem ser capazes de apresentar diferentes configurações e

orientações das moléculas envolvidas em um curto espaço de tempo e podem ser divididos em

algoritmos de docking rígido ou algoritmos de docking flexíveis. No docking rígido, tanto o

ligante quanto o receptor têm estruturas rígidas. Estes métodos têm menor custo

computacional, mas não permitem que o ligante e o receptor se adaptem à ligação. No

docking flexível a flexibilidade do ligante e/ou receptor é considerada, porém o custo

computacional é maior (GIULIATTI, 2013).

Os primeiros programas de docking consideravam rígidos receptor e ligante, incluindo

apenas os graus de liberdade translacionais e rotacionais do ligante. Hoje, a maioria dos

programas incluem graus de liberdade conformacionais para ligantes e alguns estudos

consideram, ainda, a inclusão de flexibilidade parcial do receptor para alguns resíduos da

cadeia lateral selecionados (MAGALHÃES et al., 2006).

Os métodos de busca utilizados nos algoritmos de docking podem ser classificados

como métodos de busca sistemática, métodos de busca determinística e métodos randômicos.

Na busca sistemática, todos os graus de liberdade do ligante são explorados de maneira

combinatória durante a busca. Métodos determinísticos produzem uma mesma saída para o

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46

mesmo dado de entrada. Já os métodos randômicos produzem diferentes saídas para um dado

de entrada (MAGALHÃES et al., 2006).

As funções de score devem ser capazes de discriminar as diferentes interações entre

ligantes e receptores, avaliando e classificando os modos de ligação propostos. Podem ser

divididas em métodos baseados no campo de força, empíricos e semi-empíricos e com base no

conhecimento (GIULIATTI, 2013).

Métodos baseados no campo de força consideram interações intermoleculares

descritas por termos clássicos da mecânica molecular. Métodos empíricos e semi-empíricos se

baseiam no ajuste teórico de equações (regressão linear) que reproduzem dados

experimentais. Já os métodos baseados no conhecimento utilizam dados estatísticos dos

potenciais de pares atômicos de interação, os quais são derivados de conjuntos de dados

provenientes de complexos cristalográficos entre ligantes e proteínas (MAGALHÃES et al.,

2006).

AutoDock Vina (TROTT; OLSON, 2010), Glide (FRIESNER et al., 2004, 2006) e

GOLD (JONES et al., 1997) são exemplos de ferramentas de docking disponíveis bastante

utilizadas pela comunidade científica. Análises comparativas para avaliar o desempenho de

alguns dos programas de docking mais usados para a predição do modo de ligação de

complexos proteína-ligante destacam o GOLD por sua alta taxa de sucesso (HARTSHORN et

al., 2007; LI et al., 2014).

O GOLD (Genetic Optimization for Ligand Docking) usa um algoritmo genético

baseado em métodos randômicos que busca soluções através de um “encaixe” que propaga

múltiplas cópias de modelos flexíveis do ligante no sítio de ligação do receptor,

recombinando segmentos de cópias aleatoriamente até se gerar um conjunto convergente de

estruturas (GIULIATTI, 2013). O algoritmo genético do GOLD permite a inclusão de

flexibilidade parcial no receptor através de bibliotecas de rotâmeros, que são valores

preferenciais dos ângulos das cadeias laterais de resíduos de aminoácidos, determinando a

estrutura do receptor mais favorável para certa conformação do ligante (MAGALHÃES et al.,

2006).

Inicialmente, o GOLD contava com apenas uma função de score, porém atualmente é

possível escolher entre quatro funções de score. Em todos os casos se obtém uma pontuação

admensional que classifica o quanto uma pose é adequada (LIEBESCHUETZ et al., 2012).

Goldscore é a única função para a versão 5.0 e anteriores. Tem como base a mecânica

molecular e foi otimizada para predição de poses de ligação, sendo composta por quatro

termos que consideram energias de ligações de hidrogênio intramoleculares do ligante e entre

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o complexo proteína-ligante, interações de Van der Waals entre o complexo proteína-ligante e

tensão intramolecular do ligante (VERDONK et al., 2003).

Chemscore é uma função de score empírica parametrizada a partir de 82 complexos de

afinidade de ligação conhecida. A função Chemscore estima a variação de energia livre total

para a ligação entre o ligante e a proteína incorporando termos para ligação de hidrogênio,

interações com metal, interações lipofílicas, perda de entropia conformacional do ligante após

a ligação, termos para energia interna, um termo que penaliza a flexibilidade excessiva e um

termo de colisão proteína-ligante (ELDRIDGE, et al., 1997; VERDONK et al., 2003).

ChemPLP trata os contatos neutros e repulsivos a partir de um potencial linear por

partes (PLP). Este potencial é composto por uma parte atrativa e outra repulsiva para contatos

neutros e apenas uma parte repulsiva para contatos anticomplementares (doador-doador,

doador de metal e aceitador-aceitador). O ChemPLP usa a função Chemscore para termos de

ligação de hidrogênio e para energia interna (LIEBESCHUETZ et al., 2012).

Em um estudo de Liebeschuetz e colaboradores, o desempenho de todas as quatro

funções de score do GOLD foi avaliado quanto à predição de poses e triagem virtual. A

função melhor executada tanto para a predição de pose quanto para a triagem virtual foi a

função de score ChemPLP (LIEBESCHUETZ et al., 2012).

1.4.2 Cálculo de Parâmetros Farmacocinéticos in silico

A farmacocinética estuda a velocidade e a extensão com que os fármacos são

absorvidos, distribuídos, biotransformados e excretados do organismo. Para produzir um

efeito em seu alvo, o fármaco precisa ser absorvido e, a seguir, distribuído para o seu alvo

antes de ser metabolizado e excretado. Esses são princípios básicos de farmacocinética e irão

afetar a quantidade de fármaco livre que finalmente irá alcançar o sítio-alvo, ou seja, a sua

biodisponibilidade, definida como a fração do fármaco que consegue ligar-se ao seu receptor

específico e produzir o efeito farmacológico desejado (BATCELOR et al, 2015; O’HARA et

al 2015).

O metabolismo de um fármaco pode resultar em metabólitos ativos ou inativos,

podendo trazer efeitos tóxicos. Os metabólitos ativos também podem exercer um efeito

farmacológico sobre os receptores-alvo ou, algumas vezes, em outros receptores, levando a

reações adversas (BATCELOR et al, 2015; O’HARA et al 2015).

Os fármacos afetam então o corpo humano podendo resultar na inibição do receptor,

ativação ou bloqueio de uma via de sinal, e o corpo humano dispõe do medicamento através

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da absorção, distribuição, metabolismo e excreção (ADME). Estes dois processos são

simultâneos e levam a função farmacológica desejada ou a efeitos secundários indesejáveis

(GOLAN, 2009).

Indicadores físico-químicos têm sido cada vez mais usados durante os primeiros

estágios da P&D de fármacos por fornecerem um conjunto de dados que se relacionam com as

principais propriedades que afetam as funções biológicas (TOROPOV et al.; 2014). Através

de parâmetros físico-químicos, é possível construir modelos de predição para propriedades,

como a absorção intestinal, metabolismo e transporte através de membranas, além de modelos

para predição de toxicidade que governam fatores que irão influenciar na drogabilidade de

compostos químicos (WANG et al, 2015).

A má drogabilidade envolve, por exemplo, insolubilidade em solução aquosa, não

permeação através da membrana para que seja possível chegar à concentração necessária no

sítio terapêutico desejado, tempo de eliminação do organismo muito longo, ou ainda a

presença de muitos sítios metabolicamente instáveis. Esses fatores comprometem a eficácia e

a segurança do fármaco (GOLAN, 2009).

O papel dos estudos in silico no desenvolvimento de fármacos tem se expandido,

reduzindo o número de substâncias a serem testadas e, consequentemente, o tempo e o custo

do processo de P&D, bem como o número de testes em animais, devido à avaliação precoce

da drogabilidade de uma estrutura (TOROPOV et al, 2014; WANG et al, 2015).

1.4.2.1 Regra dos 5 de Lipinski

Uma das primeiras aplicações de propriedades físico-químicas na descoberta e

desenvolvimento de medicamentos foi a avaliação da propriedade druglikeness através da

regra dos 5 de Lipinski que baseou-se na observação de propriedades físico-químicas de

medicamentos administrados por via oral. Essa regra é utilizada para selecionar compostos

suscetíveis à biodisponibilidade oral baseada em quatro preceitos simples relacionados com as

propriedades físico-químicas observadas em 90% dos medicamentos oralmente ativos que

tenham atingido o estudo clínico de fase II (LIPINSKI, 2004): Massa molecular ≤500;

logaritmo do coeficiente de partição (logP) ≤ 5; Número de aceptores de ligação de

hidrogênio ≤ 10 e Doadores de ligação de hidrogênio ≤ 5.

De acordo com o que foi preconizado por Lipinski, um composto possui uma boa

biodisponibilidade oral se não infringir mais que 1 das regras propostas.

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1.4.2.2 Permeabilidade através da barreira hemato-encefálica

A barreira hemato-encefálica (BHE) é a camada de células endoteliais microvasculares

que separa o sistema nervoso central da corrente sanguínea. Para a maioria de fármacos que

visam alvos do sistema nervoso central é necessário uma alta penetração. A BHE apresenta

um impedimento altamente eficaz, e estima-se que ela impeça a absorção de mais de 98% dos

fármacos potenciais neuroterapêuticos (PARDRIDGE, 2012; KUMAR et al, 2013).

Os compostos podem permear pela BHE por difusão passiva ou catalisados por meio

de uma variedade de sistemas de transporte que levam esses compostos para o cérebro ou para

fora do cérebro, por transporte ativo (PARDRIDGE, 2012; KUMAR et al, 2013).

Um conjunto de regras foi sugerido como um modelo preditivo proposto por Clark (CLARK,

2003). Essas regras surgiram a partir de dados de estudos in vivo e in vitro para permeação da

BHE e orientam estudos in silico sobre as propriedades moleculares que favorecem a

permeação no cérebro: a) Soma do número de átomos de nitrogênio e oxigênio (N + O) igual

a 5 ou mais; b) logBB maior que zero: Se ClogP – (N + O) é maior que zero, o logBB é

positivo; c) A área da superfície polar (ASP) menor que 90 Å2 ; d) A massa molar deve ser

menor que 450 g; e) O logD deve estar em uma faixa entre 1 e 3.

A soma de átomos de nitrogênio e oxigênio em uma molécula indica uma medida da

capacidade da molécula realizar ligações de hidrogênio. Compostos com alta capacidade de

realizar ligações de hidrogênio tendem a não permear as membranas facilmente.

O logBB é um parâmetro amplamente utilizado para avaliar a penetração através da

BHE. Trata-se de uma medida experimental obtida a partir de dados in vivo (LIPINSKI,

2004). É definido como o logaritmo da razão entre as concentrações de um composto no

cérebro e no sangue (logBB = log [cérebro] / [sangue]). O ClogP é o logaritmo do coeficiente

de partição octanol-água e P é a razão entre a concentração do composto em octanol e água.

A área da superfície polar é definida como a soma de superfícies de átomos polares,

normalmente nitrogênios e oxigênios. Ou seja, é a medida da capacidade da molécula realizar

ligações de hidrogênio e é calculada pela soma das contribuições de oxigênios e nitrogênios

para a área da superfície molecular. Compostos altamente polares não permeiam as

membranas facilmente, dessa forma, o aumento da capacidade de ligação ao hidrogênio leva à

redução da permeação através da BHE.

Para um composto com um ou mais centros ionizáveis, a qualquer dado pH, haverá

uma mistura de espécies presentes na solução. Por analogia com logP, logD é o logaritmo do

coeficiente de distribuição de um composto. D é a razão entre a soma das concentrações de

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todas as espécies do composto em octanol e a soma das concentrações de todas as espécies da

substância em água. Para as substâncias neutros, logD é igual ao logP.

A partir de um estudo comparativo com fámacos que não atravessam a membrana

hemato-encefálica (-SNC), fármacos que atingem o sistema nervoso central (+SNC) tendem a

serem mais lipofílicos, mais rígidos, têm menos doadores de ligações de hidrogênio, menos

cargas formais (em particular, cargas negativas), e ASP inferior a 90 A2. Mas é importante

observar que, em geral, a precisão da predição de moléculas + SNC é maior que a predição de

moléculas -SCN (CLARK, 2003).

Esses resultados foram confrontados com resultados para permeação da barreira

hemato-encefálica obtidos através do servidor on-line pkCSM, disponível em

http://bleoberis.bioc.cam.ac.uk/pkcsm/prediction. O servidor conta com 30 preditores

divididos em cinco classes principais: absorção (sete preditores), distribuição (quatro

preditores), metabolismo (sete preditores), excreção (dois preditores) e toxicidade (dez

preditores) (PIRES et al.,2015).

O modelo preditivo para permeação através da barreira hematoencefálica disponível

no servidor encontra-se dentro da classe de “distribuição” e foi construído com 320

compostos cujos valores de logBB são conhecidos experimentalmente e a predição é realizada

em termos de valores para o logBB. Se o log BB é maior que 0,3 o composto é capaz de

travessar a barreira hematoencefálica facilmente. Se o logBB for menor que -1, então o

composto não é capaz de permear a barreira hematoencefálica (PIRES et al., 2015).

1.4.2.3 Predição da Toxicidade in Silico

Estudos de toxicidade in vitro, são utilizados para prever as vias do metabolismo em

humanos. O uso de conjuntos de células in vitro expressando as principais enzimas

metabolizadoras humanas pode ajudar a prever a produção de metabólitos e avaliar sua

resposta tóxica ou não. O metabolismo normal dos fármacos pode gerar metabolitos que

possuem reatividade química intrínseca com moléculas endógenas e, portanto, têm o potencial

de alterar a função biológica e iniciar reações adversas ao fármaco (PARK et al.; 2011).

São considerados de grande importância para avaliação sobre a resposta tóxica,

estudos sobre a mutagenicidade e carcinogenicidade, hepatotoxicidade e a cardiotoxicidade

(TOROPOV et al.; 2014). O teste de AMES é um método amplamente utilizado para avaliar o

potencial mutagênico de compostos utilizando bactérias. Uma substância classificada como

um mutágeno bacteriano pode ser um carcinógeno em mamíferos, ou seja, um teste positivo

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indica que o composto é mutagênico e, portanto, pode atuar como carcinogênico (XU et

al.,2012).

A Hepatotoxicidade está relacionada com acontecimentos patológicos ou fisiológicos

no fígado associado com uma interrupção nas funcionalidades normais (ALOMAR, 2014).

A inibição dos canais de potássio, chamados de hERG (do inglês, “human ether-a-go-

go gene”) leva ao desenvolvimento de arritmias ventriculares fatais. A inibição dos canais de

hERG já resultou na retirada de muitas substâncias do mercado farmacêutico. Dessa forma a

identificação de potenciais bloqueadores de hERG é uma importante etapa de avaliação da

cardiotoxicidade de um composto (VANDENBERG, et al., 2012).

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2. JUSTIFICATIVA

A doença de Alzheimer (DA) é uma das doenças neurodegenerativas mais comuns e

representa atualmente mais de 80% dos casos de demência em pessoas idosas em todo o

mundo. São 5 milhões de idosos com a doença e 200 mil pessoas com menos de 65 anos.

(KUMAR et al., 2015). Segundo a Academia Brasileira de Neurologia (ABN), o doente

demora cerca de três anos para descobrir a enfermidade, devido ao fato de que os sintomas da

doença quase sempre são interpretados como consequências do envelhecimento. Feito o

diagnóstico, o tempo médio de sobrevida varia de 8 a 10 anos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos anos 60

a expectativa de vida aumentou para 52,6 anos. O aumento das campanhas de vacinação, as

melhorias no saneamento básico, nas condições de moradia, educação e socialização,

contribuíram para isso. Em 2010, época do último Censo do IBGE, esse número subiu para

73,8 anos e, para 2030, a projeção é que a expectativa de vida seja de 78,5.

A associação internacional sobre a doença de Alzheimer ( ADI, do inglês Alzheimer's

Disease International ) estimou que o número de pessoas com a doença pode dobrar em 20

anos e revela que, após os 65 anos de idade, a chance de desenvolver a doença duplica a cada

5 anos. Espera-se que, até 2050, ocorram quase um milhão de novos casos de DA por ano no

mundo (KUMAR et al., 2015).

Com o aumento da expectativa de vida e consequentemente do número de idosos,

torna-se nítida a necessidade da busca por novos tratamentos mais eficazes para a doença de

Alzheimer. Nesse cenário, nossa pesquisa pode trazer uma grande contribuição para o

envelhecimento saudável da população ao tentar estratégias de tratamento envolvendo a

inibição da enzima AChE. Esta via de tratamento visa retardar o declínio cognitivo e

proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e sua família, para que ele possa

envelhecer com saúde e, principalmente, autonomia (KUMAR et al., 2015).

Produtos Naturais apresentam uma ampla variedade de grupos farmacofóricos e

variação estereoquímica, e têm sido historicamente a fonte de muitos medicamentos ( DIAS et

al.; 2012;; ATANASOV et al., 2015; NEWMAN e CRAGG, 2016; PATRIDGE et al; 2016;

BERLINCK et al; 2017). Nesse sentido, o ambiente marinho ganha destaque por representar

70% do planeta e apresentar uma maior diversidade de espécies que o ambiente terrestre,

levando, consequentemente, à presença de maior variedade de estruturas químicas. Muitas

substâncias já identificadas, presentes em organismos marinhos possuem estruturas químicas

nunca encontradas anteriormente em organismos naturais terrestres. Estudos recentes

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demonstraram o potencial dessas substâncias na descoberta de novos fármacos e hoje muitas

delas constituem-se em modelos para o desenvolvimento de medicamentos sintéticos

modernos (NEWMAN e CRAGG, 2016).

Porém, o processo de desenvolvimento de um novo fármaco desde a descoberta do

protótipo e seu alvo molecular é bastante longo e possui um elevado custo (PINTO et al .,

2002; EPIFÂNEO et al., 2009; HARVEY et al., 2015). Na química medicinal moderna,

estudos de modelagem molecular com as biomacromoléculas-alvo podem auxiliar na busca

por novos fármacos de origem natural bem como na proposição de derivados funcionais e

análogos sintéticos. A modelagem molecular tem sido aplicada à descoberta de novos

ligantes de alvos terapêuticos reconhecidos como, por exemplo, a partir de uma triagem

virtual por docking em um banco de dados de estruturas moleculares tridimensionais

selecionadas (ligantes) tendo como alvo um determinado receptor molecular (KROEMER,

2007).

O papel dos estudos in silico no desenvolvimento de fármacos tem se expandido,

reduzindo o número de substâncias a serem testadas e, consequentemente, o tempo e o custo

do processo de PeD, bem como o número de testes em animais, devido à avaliação precoce da

drogabilidade de uma estrutura (TOROPOV et al., 2014; WANG et al., 2015).

Neste trabalho, a busca por novas substâncias de origem marinha através do estudo

computacional pode fornecer importantes informações para o desenvolvimento de

anticolinesterásicos aplicados ao tratamento da DA. É nesse cenário que o elatol, uma

substância isolada de Laurencia, se apresenta como candidato promissor a inibidor de AChE.

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3. OBJETIVOS

O objetivo geral desse trabalho foi avaliar, in silico e in vitro, a atividade inibitória de

metabólitos secundários de Laurencia sp em AChE, isolar e caracterizar o metabólito mais

ativo e, propor potenciais inibidores de AChE derivados do mesmo.

3.1 Objetivos específicos

Avaliar a capacidade inibitória de quatro metabólitos secundários de Laurencia sp

(obtusol, dendroidiol, cartilagineol e elatol) para AChE;

Obter e caracterizar o metabólito secundário mais ativo a partir de Laurencia

dendroidea;

Propor derivados do metabólito secundário mais ativo por meio da adição de

farmacóforos;

Identificar, dentre os derivados propostos, os candidatos a inibidores de AChE

promissores;

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4. MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho se divide em quatro principais partes. A primeira parte envolve o

estudo in silico da afinidade teórica por meio de docking molecular entre metabólitos

secundários de Laurencia dendroidea e AChE. A segunda parte do trabalho traz ensaios de

cinética enzimática entre metabólitos secundários de Laurencia dendroidea e AChE avaliados

no estudo in silico. Uma terceira parte compreende a obtenção do metabólito secundário mais

ativo a partir de Laurencia dendroidea. Por fim, a quarta parte deste trabalho propõe então

derivados do metabólito mais ativo por meio da adição de farmacóforos e estudos in silico por

meio de triagem virtual para eleger o candidato a inibidor mais promissor.

Parte I: Estudos in silico da afinidade teórica entre metbólitos secundários

de Laurencia e AChE

4.1Obtenção das estruturas das Proteínas-Alvo

Estruturas cristalográficas da AChE de organismos humanos (Códigos PDB: 4EY5,

4EY6, 4EY7 (CHEUNG et al.; 2012), 4M0E, 4MOF (CHEUNG et al.; 2013) foram obtidas

no banco de dados PDB (do inglês, Protein Data Bank ) (http://www.rcsb.org/pdb/)

(BERMAN et al., 2006). As estruturas foram obtidas no formato PDB e a escolha da enzima

a ser utilizada em nossos estudos foi feita com base nos seguintes critérios: Resolução até 2,5

Å, com presença de ligantes, cadeia polipeptídica mais completa possível e ausência de

mutações.

A sobreposição das proteínas e o cálculo do desvio médio quadrático (RMSD - do

inglês, Root Mean Square Deviation) para verificação da correspondência entre as mesmas foi

realizada com o programa Discovery Studio 2016.

O cálculo da área e volume molar dos ligantes co-cristalizados foi realizado com o

programa Spartan’08 e os valores foram utilizados como último critério por meio da

comparação com a área e volume dos ligantes estudados.

4.1.2 Validação do método: Redocking

Para validação da metodologia de docking utilizada e escolha da função de score e raio

adequados, realizou-se um redocking entre a proteína e o ligante donepezila co-cristalizado

junto à mesma, utilizando-se as funções de score Goldscore, Chemscore e ChemPLP no

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programa GOLD versão 4.1.2. Variou-se o raio a partir do átomo de referência escolhido em

10Å, 15 Å e 20 Å.

O átomo de oxigênio no 1557 do resíduo de aminoácido Ser203 foi utilizado como

átomo de referência na definição da região de ligação tanto para o redocking quanto para o

docking molecular com a enzima AChE de H. sapiens (Código no PDB:4EY7) (CHEUNG et

al.; 2012).

Com o Discovery Studio 2016 realizou-se a sobreposição entre as poses obtidas por

redocking e a pose do ligante co-cristalizado a enzima, de modo a calcular o desvio médio

quadrático e verificar qual função de score e o raio fornecem o resultado mais semelhante.

4.1.3 Estudos de Docking Molecular

As estruturas do obtusol, dendroidiol, cartilagineol, elatol e derivados foram

construídas no programa Spartan’08.

Nos estudos de docking molecular para a análise de possíveis modos de ligação e a

investigação das interações atômicas predominantes neste processo, foi utilizado o programa

GOLD versão 4.1.2 (VERDONK et al., 2003) com as moléculas construídas na etapa anterior

e a estrutura da AChE de H. sapiens obtida no PDB (Código: 4EY7 ) (CHEUNG et al.; 2012).

Os estudos iniciais de docking foram realizados com a acetilcolina, galantamina,

donepezila, obtusol, dendroidiol, cartilaginiol e elatol. Posteriormente, foram estudadas as

séries propostas de estruturas derivadas do metabólito considerado mais promissor após os

estudos in silico e in vitro.

A princípio, o docking foi realizado com a proteína rígida e, posteriormente, utilizando

a biblioteca de rotâmeros das cadeias laterais de Tyr72, Tyr124 e Trp 86 disponíveis no

programa GOLD.

As visualizações e análises dos resultados foram feitas nos programas Pymol 0.99 para

Windows (DELANO, 2002), PDB SUM (DE BEER, 2013) e Discovery Studio 2016

(BIOVIA, 2016).

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Parte II: Ensaios de cinética enzimática entre metbólitos secundários de

Laurencia e AChE

4.2 Determinação da atividade anticolinesterásica de metabólitos

secundários de Laurencia sp

Os ensaios enzimáticos com a AChE foram realizados conforme metodologia descrita

por Ellman (ELLMAN et al., 1961), o qual se baseia na taxa de produção de tiocolina a

medida que a acetiltiocolina é hidrolisada pela enzima (1). A tiocolina produzida reage com

Ácido Ditionitrobenzoico (DTNB) produzindo um composto colorido (2) detectável em um

espectrofotômetro UV/Visível 412 nm (Figura 18).

S

O

N+

O-

O

+ SH

N+

SH

N+ +

S

SHOOC

O2N

COOH

NO2

S

HOOC

O2NS

N+ + S

-

COOH

N

O

OS

COOH

N

O-

O-

+

AchE

DTNB

Composto colorido

Acetiltiocolina Acetato Tiocolina

Tiocolina

(1)

(2)

Figura 18: Esquema representativo das reações químicas descritas por Ellman et al. (1961).

Em geral, faz-se inicialmente uma triagem preliminar com algumas concentrações pré-

definidas para as substâncias que se deseja testar. Aquelas que mostrarem uma inibição

significativa são direcionadas para estudos mais detalhados variando-se as concentrações do

inibidor e do substrato da enzima e objetivando a determinação de Ki.

Neste estudo utilizou-se a enzima AChE de Electrophorus electricus

(Sigma_Aldrich) a 0,25 U/mL em tampão de fosfato de sódio 0,1 M e pH 7,0 com Albumina

Sérica Bovina (BSA) 1%; solução 3 mM de Ácido Ditionitrobenzoico (DTNB) em tampão

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fosfato, pH 7,0 e como substrato iodeto de acetiltiocolina 75 mM em tampão de fosfato 0,1 M

e pH 7,0. Preparou-se uma solução-mãe de obtusol, dendroidiol, cartilaginiol e elatol à

concentração de 10 mM em metanol.

Realizou-se uma triagem inicial das substâncias acima mencionadas a uma

concentração de 300 µM. Adicionou-se a placa de poços 7,5 µL da solução-mãe 10 nM de

cada substância separadamente, 222,5 µL do tampão de fosfato de sódio 0,1M e pH 7,0, 10

µL da solução da enzima, 5 µL da solução contendo o substrato e 5 µl da solução de DTNB.

Para o controle adicionou-se aos poços 10 µL da solução da enzima, 5 µL da solução

contendo o substrato, 5 µl da solução de DTNB e 230 µl tampão de fosfato de sódio 0,1M e

pH 7,0. Para o veículo adicionou-se aos poços 7,5 l de metanol, 10 µL da solução da enzima,

5 µL da solução contendo o substrato, 5 µl da solução de DTNB e 222,5 µl de tampão de

fosfato de sódio 0,1M e pH 7,0 .

Em seguida, estudos mais detalhados para a obtenção de ki foram realizados para a

substância que apresentou maior atividade. O experimento foi repetido variando-se então as

concentrações do inibidor e do substrato. A solução-mãe da substância mais ativa foi então

diluída na placa de poços para as concentrações de 30 µM, 100 µM e 300 µM e a solução

contendo o substrato nas concentrações de 1500 µM; 500 µM; 166,66 µM; 55,55 µM e 18,52

µM.

O período de incubação foi de 30 minutos e a absorbância foi monitorada a 412 nm em

espectrofotômetro SPECTRAmax 190-Molecular Devices. A absorbância foi lida a cada 1

minuto por um tempo total de 10 minutos.

Todos os ensaios foram realizados em triplicata e a análise dos resultados para

determinação do tipo de inibição e da constante de dissociação do inibidor (Ki) foi realizada

no programa GraphPad Prism versão 5.0.

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59

Parte III: Obtenção do metbólito secundário mais ativo a partir de

Laurencia dendroidea

4.3 Obtenção e Identificação do elatol

A obtenção e a identificação do elatol foram realizadas conforme metodologia geral

descrita na Figura 19.

Figura 19: Esquema mostrando as etapas de obtenção e identificação do Elatol.

4.3.1 Coleta da Alga

As amostras coletadas neste estudo pertencem à população de Laurencia dendroidea

que ocorre nas praias Azeda e Azedinha, localizadas no município de Armação dos Búzios, na

zona tropical do continente sul-americano, no estado do Rio de Janeiro, Brasil (Figura 20). O

município possui 27.560 habitantes que vivem principalmente do turismo e da pesca, numa

área de aproximadamente 70 Km², caracterizando-se pelo clima tropical com temperatura

média anual de 25ºC. As chuvas ocorrem de novembro a março, enquanto que de abril a

setembro é o período de estiagem. Os espécimes de Laurencia dendroidea foram coletados

na faixa superior da região entre-marés entre agosto de 2015 e janeiro de 2016, através de

técnicas de mergulho livre. Os espécimes coletados foram separados em duas amostras

distintas e receberam os códigos AZ01 e AZ02.

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60

Figura 20: Localização geográfica do ponto de coleta da alga Laurencia dendroidea.

4.3.2 Processo de extração

A amostra de Laurencia dendroidea coletada foi triada e separada de impurezas

como areia e pequenos crustáceos. Depois de ser distribuída em bandejas, foi congelada a

uma temperatura de – 20 ºC e então liofilizada por 24 horas.

Após a liofilização, a alga seca foi triturada e transferida para um erlenmayer, onde

foi submetida ao processo de extração por maceração com a adição de uma mistura de acetato

de etila:metanol 1:1 obedecendo a uma proporção de 4 mL de solvente para cada 1 grama de

alga seca. Após 48 horas, a mistura foi filtrada e o filtrado evaporado sob pressão reduzida.

Esse processo de extração foi repetido por 4 vezes (Figura 21).

Após a evaporação do solvente, obteve-se um material oleoso de coloração verde

escuro. Os perfis destes extratos foram avaliados por cromatografia em camada delgada

(CCD) utilizando-se como sistema revelador luz ultravioleta (UV) a 254 nm e 365 nm,

seguido de uma solução de ácido sulfúrico a 5% em etanol e posterior aquecimento (Figura

22).

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61

Figura 21: A e B: Processo de liofilização da alga; C: Ultrassom; D: extração por maceração; E: filtração; F:

Evaporação de solventes sob pressão reduzida; G: Extrato bruto.

4.3.3 Fracionamento do Extrato Bruto

Inicialmente foram homogenizados 26 gramas de sílica gel ultra pura (60-200 m)

Silicycle em n-hexano. A mistura foi introduzida em uma coluna de vidro (ø = 3,5 cm)

acoplada a um kitassato e conectada a um sistema de vácuo. De 1,5 a 2,0 gramas de extrato

bruto foram misturadas a uma pequena quantidade de sílica gel ultra pura (60-200 m)

Silicycle. A amostra impregnada com sílica foi cuidadosamente adicionada ao topo da coluna

com o auxílio de uma espátula (Figura 22). A coluna foi eluída conforme o gradiente descrito

na Tabela 1.

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62

Figura 22: Fracionamento do extrato bruto de Laurencia dendroidea por cromatografia em coluna.

Tabela 1: Gradiente de eluição para o fracionamento do extrato bruto de Laurencia

dendroidea utilizando filtração em coluna aberta sob gel de sílica.

Fase Móvel Volume (mL) Frações Volume recolhido (mL)

Hexano 100% 180 0 180

Hexano : Acetato de etila 9:1 180 1 180

Hexano : Acetato de etila 7:3 180 2 180

Acetato de etila : Metanol 1:1 90 3 180

Metanol 100% 90

Após evaporação do solvente sob pressão reduzida, o perfil das frações foi avaliado

por CCD utilizando-se como sistema revelador luz ultravioleta (UV) a 254 nm e 365 nm e

solução de ácido sulfúrico a 5% em etanol seguida de aquecimento.

Após a análise dos resultados, a fração 1 obtida foi submetida a novos processos de

purificação.

4.3.4 Purificação

A fração 1 foi submetida a um novo processo de separação por cromatografia em

coluna aberta (Figura 23). Homogeneizou-se 18 gramas de sílica gel ultra pura (60-200 m)

Silicycle em n-hexano. A mistura foi introduzida em uma coluna de vidro (ø = 1,5 cm). Cerca

de 1,00 grama da fração 1 foi misturado a uma pequena quantidade de sílica gel ultra pura

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(60-200 m) Silicycle. A amostra impregnada com sílica foi cuidadosamente adicionada ao

topo da coluna com o auxílio de uma espátula. A coluna foi eluída conforme o gradiente

descrito na Tabela 2. As frações 1 a 15 foram coletadas em intervalos de 20 mL e as frações

16 a 18 foram coletadas a cada 50 mL.

Figura 23: Processo de purificação do elatol. Fracionamento da fração 1 , que contém o elatol, em coluna aberta

sob gel de sílica.

Tabela 2: Gradiente de eluição para a purificação da fração 1 do extrato bruto de Laurencia

dendroidea por cromatoragrafia em coluna aberta sob gel de sílica.

Fase Móvel Volume (mL) Frações Volume recolhido (mL)

Hexano/ Acetato de etila 100:0 80 1-4 20

Hexano / Acetato de etila 99:1 120 5-10 20

Hexano / Acetato de etila 98:2 100 11-15 20

Hexano / Acetato de etila 95:5 50 16 50

Hexano / Acetato de etila 90:10 50 17 50

Acetato de etila/Metanol 50:50 50 18 50

Os perfis das frações foram avaliados por CCD utilizando-se como sistema revelador

luz ultavioleta (UV) a 254 nm e 365 nm e solução de ácido sulfúrico a 5% em etanol seguida

de aquecimento. Após a análise do perfil, frações semelhantes foram reunidas.

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64

4.3.5 Caracterização do elatol

A elucidação estrutural do elatol foi realizada utilizando espectroscopia de

Ressonância Nuclear Magnética (RMN) em aparelho de marca e modelo Varian VNMNR

com intensidades de campo magnético de 4,7 Tesla a 500 MHz no Laboratório Multiusuário

de RMN da Universidade Federal Fluminense - UFF (LaReMN). As amostras foram

preparadas utilizando-se clorofórmio deuterado (CDCl3). As análises e edições dos espectros

foram realizadas no programa MestReNova v6.0.2-5475.

A medida da rotação específica para identificar o enatiômero isolado foi realizada no

Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Feral do rio de Janeiro – IPPN -

UFRJ, em polarímetro Jasco P200. As amostras foram diluídas em metanol para concentração

de 2,6 mg/mL.

Parte IV: Proposição de derivados do metabólito secundário mais ativo e

estudos in silico por meio de docking e avaliação de parâmetros

farmacocinéticos para realização de triagem virtual

4.4 Planejamento dos Derivados do Elatol

Os derivados do elatol foram propostos com base na adição de grupos funcionais

com potencial farmacofórico, em substituição ao grupamento hidroxila da molécula (Figura

24) e todas as estruturas moleculares foram otimizadas através do método semi-empírico AM

1 (Austin Model 1 ou Modelo Austin 1). A série 1 envolve a introdução de aminas alifáticas,

a série 2 envolve a introdução de aminas cíclicas não-aromáticas e a série 3 envolve a

introdução de aminas aromáticas, com diversos padrões de substituição.

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65

Figura 24: Série de derivados semi-sintéticos do elatol planejados pela adição de grupos farmacofóricos.

A predição dos estados de protonação em pH fisiológico das séries de derivados

semissintéticos do elatol propostas foi realizada com o auxílio do programa MarvinView da

ChemAxon, versão 6.2.1 (http://www.chemaxon.com).

A síntese dos derivados que mostrarem maior desempenho durante a triagem virtual

por docking molecular poderá ser realizada conforme a figura 25.

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66

Figura 25: Análise retrossintética com exemplos de derivados do Elatol.

O mecanismo proposto envolve inicialmente a substituição da hidroxila por um

grupamento tosil, de forma a torná-la um melhor grupo de saída. Em seguida, através de

reações de substituição nucleofílica seria possível introduzir os farmacóforos desejados.

Dependendo do tipo de substituição nucleofílica, se de primeira ordem ou de segunda

ordem, poderemos ter uma inversão de configuração no momento da substituição do grupo

tosil pelos farmacóforos propostos. Dessa forma há a possibilidade de obtenção de diferentes

enantiômeros ou ainda de uma mistura racêmica, fazendo-se necessário, dessa forma, o estudo

teórico de ambos.

4.4.1 Avaliação dos parâmetros farmacocinéticos

4.4.1.1 Regra dos 5 de Lipinski

A biodisponibilidade oral teórica foi avaliada através da regra dos 5 do Lipinski a

partir de parâmetros calculados na plataforma online Molinspiration disponível em

http://www.molinspiration.com/. Essa plataforma calcula cada parâmetro que compõe a regra

e fornece o número de violações da mesma.

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67

4.4.1.2 Cálculo Teórico da Capacidade de Permeação da Barreira

Hematoencefálica

Os parâmetros envolvidos na regra estabelecida por Clark e colaboradores para

predizer a capacidade molecular de permeação da barreira hematoencefálica (CLARK et al.,

2003), foram calculados no módulo MarvinSketch da ChemAxon, versão 6.2.1

(http://www.chemaxon.com).

Esses resultados foram confrontados com resultados para permeação da barreira

hemato-encefálica obtidos através do servidor on-line pkCSM

(http://biosig.unimelb.edu.au/pkcsm/).

4.4.1.3 Predição da Toxicidade in silico

Para a predição da toxicidade quanto a mutagenicidade e carcinogenicidade através do

teste AMES, cardiotoxicidade através da inibição dos canais de Herg e hepatotoxicidade,

utilizou-se servidor on-line pkCSM, disponível em http://structure.bioc.cam.ac.uk/pkcsm.

Esse servidor é uma ferramenta bastante utilizada para a predição da toxicidade de candidatos

a fármacos, ele utiliza assinaturas baseadas em gráficos para desenvolver modelos preditivos

das principais propriedades ADME-T. Com livre acesso, não retém nenhuma informação

enviada e fornece uma plataforma integrada capaz de avaliar de forma rápida propriedades

farmacocinéticas e de toxicidade de candidatos a fármacos (PIRES et al., 2015) (Quadro 01).

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68

Quadro 1: Modelos de predição de toxicidade pelo pkCSM (PIRES et al.,2015).

Preditor Base de dados do modelo de predição Resultados

Teste de AMES

Este modelo preditivo foi construído a

partir dos resultados de mais de 8.000

compostos testados quanto a sua

mutagenicidade.

Ele prevê se um dado composto

é susceptível de ser Ames

positivo e, portanto,

mutagênico. Em caso

afirmativo o modelo reporta

SIM, e em caso negativo, NÃO.

Inibição de

hERG I e II

Estes indicadores foram construídos

usando um banco de dados de

informações de inibição de hERG I e II

para 368 e 806 compostos,

respectivamente.

O preditor irá determinar se um

determinado composto é

susceptível de ser um inibidor

de hERG I/II, e reportará como

resposta SIM ou NÃO.

hepatotoxicidade

Este preditor foi construído usando

efeitos adversos no fígado observado em

humanos, associados a 531 compostos.

Ele prevê se um dado composto

é susceptível de ser associado

com a interrupção de uma

funcionalidade normal no

fígado. E como resultado irá

reportar SIM ou NÃO.

Também foi utilizado o FAF-Drugs4 (do inglês “Free ADME-Tox Filtering Tool”),

disponível em http://mobyle.rpbs.univ-paris-diderot.fr/cgi-bin/portal.py?form=FAF-

Drugs4#forms::FAFDrugs4. Com base em relatos da literatura e análise estrutural de

fármacos aprovados, este programa auxilia na predição de uma resposta tóxica de moléculas

através de uma análise do número de ocorrências de uma dada subestrutura, considerada

toxicofórica, no mesmo composto e o classifica em três possíveis grupos (LAGORCE et al.,

2008):

a) Compostos aceitos: Compostos sem alertas estruturais e que satisfazem o filtro

físico-químico selecionado ou definido pelo usuário.

b) Compostos Intermediários: Compostos que incorporam alertas estruturais de baixo

risco com várias ocorrências abaixo do limite.

c) Compostos Rejeitados: Compostos que não passam o filtro físico-químico

selecionado ou definido pelo usuário e que incluem um alerta estrutural de alto risco e / ou

excedem o limite de ocorrência de alertas estruturais de baixo risco.

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O FAF-Drugs4 é um programa construído com o objetivo de filtrar bibliotecas de

compostos candidatos a fármacos nas etapas iniciais dos estudos de modelagem molecular.

Essa ferramenta pode realizar a predição de algumas propriedades do ADME-Tox, auxiliando

na seleção de “hits”. Ele emprega filtros pré-definidos, mas possibilita também que usuários

selecionem seus próprios parâmetros de filtragem (LAGORCE et al., 2008).

4.4.2 Estudos de Docking Molecular

Nos estudos de docking molecular para a análise de possíveis modos de ligação e a

investigação das interações atômicas predominantes neste processo, foi utilizado o programa

GOLD versão 4.1.2 (VERDONK et al., 2003) com as estruturas derivadas do elatol

construídas na etapa anterior e a estrutura da AChE de H. sapiens obtida no PDB (Código:

4EY7 ) (CHEUNG et al.; 2012).

Foi realizado o docking flexível, utilizando-se a biblioteca de rotâmeros das cadeias

laterais de Tyr72, Tyr124 e Trp 86 disponíveis no programa GOLD.

As visualizações e análises dos resultados foram feitas nos programas Pymol 0.99 para

Windows (DELANO, 2002), PDB SUM (DE BEER, 2013) e Discovery Studio 2016

(BIOVIA, 2016).

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Estudos de docking molecular

5.1.1 Seleção das estruturas de AChE

De mais de 100 estruturas de AChE depositadas no PDB, somente 14 são de

organismos humanos. Destas, 7 têm Resolução entre 2,0 e 2,5 Å. Destas, 5 foram

selecionadas de acordo os critérios adotados conforme descrito no item 4.1.

Com a sobreposição das estruturas no programa Pymol (Figura 26), pode-se verificar a

correspondência entre as mesmas, não havendo nenhuma distorção significativa nas

conformações das cadeias laterais dos resíduos do sítio ativo das enzimas e dos resíduos que

formam o “gorge channel”. Dessa forma, em uma primeira análise, as 5 estruturas proteicas

são consideradas aptas para a triagem virtual com os ligantes propostos.

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70

Figura 26: A: Sobreposição de estruturas cristalográficas de AChE humana. B: Sobreposição dos principais

resíduos do sítio ativo e subsítios.

A correspondência entre as estruturas também pode ser verificada através do cálculo

do desvio médio quadrático (RMSD), que fornece um valor numérico que indica o grau de

semelhança entre as estruturas sobrepostas (Tabela 4). Quanto menor esse valor, maior a

semelhança entre as estruturas alinhadas.

Tabela 3: Cálculo do Desvio Médio Quadrático (RMSD) entre as estruturas de AChE

humanas.

Desvio médio quadrático (RMSD)

PDB - id 4EY5 4EY7 4EY6 4MOE 4MOF

4EY5 - 0,128 0,197 0,211 0, 196

4EY7 0,128 - 0,166 0,216 0,179

4EY6 0,197 0,166 - 0,248 0,182

4MOE 0,211 0,216 0,248 - 0,288

4MOF 0, 196 0,179 0,182 0,288 -

Para selecionar a estrutura cristalográfica a ser utilizada em nossos estudos adotou-se

como critério final a maior proximidade entre os valores calculados de área e volume molar

dos ligantes co-cristalizados e dos candidatos a inibidores (Tabelas 5 e 6) (Figura 27).

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71

Tabela 4: Área e volume molar dos ligantes co-cristalizados a enzima.

Proteína

PDB-Id Ligante Estrutura

Área

(Å2)

Volume

Molar(Å3)

4EY5 Huperazina A

H

ONH

NH2

258,95 252,32

4EY6 Galantamina H

OH

NCH3

O

O CH3

299,92 297,20

4EY7 Donepezila

CH3

O

O

CH3O

N

426,38 412,23

4MOF Territrem B O

O

O

OH

OH

O

O

O

O

489,12 507,36

4MOE Diidrotanshinona O

O

O

296,93 291,93

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Tabela 5: Área e volume molar dos candidatos a inibidores de AChE.

Candidato a

inibidor Estrutura Área (Å

2) Volume Molar(Å

3)

(-)-elatol

OH

Cl

Br

286,79 287,80

(+)-elatol

OH

Cl

Br

287,22 287,95

cartilaginiol

Br

OH

Cl

Br

309,67 311,02

dendroidiol

Br

OH

OH

Cl

297,85 300,35

obtusol

Br

OH

Br

Cl

307,12 310,84

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Figura 27: Área e volume molar dos ligantes co-cristalizados com a AChE e dos candidatos a inibidores.

A área e volume molar de alguns dos ligantes propostos ultrapassaram a área e volume

molar dos ligantes de 4EY5, 4EY6 e 4MOE. Além disso, os valores obtidos para os ligantes

propostos mostraram-se bastante inferiores aos do ligante de 4MOF. Dessa forma, percebe-se

que a estrutura de código 4EY7 é a mais adequada para os nossos estudos, considerando ainda

a proposição de derivados com a inserção de grupos que irão elevar a área e o volume.

5.1.2 Validação do método: Redocking

A sobreposição entre as poses obtidas por redocking e a pose do ligante co-

cristalizado com o Pymol 0.99 para Windows (Figura 28) mostra conformações e orientações

bastante semelhantes.

0

100

200

300

400

500

600

Áre

a(A

2)

e V

olu

me M

ola

r (A

3)

Ligantes

Área (Å2)

Volume (Å3)

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74

Figura 28: Sobreposição do ligante co-cristalizado com a AChE e melhor pose obtida por redocking com a

função de scoreChemPLP e raio de 15Å.

O cáculo do desvio médio quadrático (RMSD) realizado com Discovery Studio

2016 (Tabela 7) é capaz de fornecer um valor numérico para esse grau de semelhança que

será maior quanto menor for o valor obtido, facilitando a comparação dos resultados. Nesse

estudo, o menor valor de RMSD foi obtido na função de score ChemPLP com um raio de 15Å

ou 20Å a partir do átomo de referência.

Dessa forma, escolheu-se a função de score ChemPLP com raio de 15 Å para

realizar o docking molecular entre a AChE e os candidatos a inibidores inibidores.

Tabela 6: Redocking e desvio médio quadrático (RMSD).

REDOCKING – função ChemPLP

Raio 10Å 15 Å 20 Å

RMSD 0,7 0,5 0,5

5.1.3 Estudos de docking molecular dos Metabólitos secundários de

Laurencia sp

Uma análise preliminar dos resultados de docking molecular entre a AChE humana, o

seu substrato, fármacos usados no tratamento da DA e metabólitos secundários de Laurencia

sp, mostra valores de score maiores para a Donepezila e Galantamina. Porém de acordo com

esses valores a afinidade pela enzima é menor para o seu substrato quando comparada as

moléculas candidatas a inibidores de AChE.

Ao compararmos os candidatos a inibidores (Figura 29), notamos uma maior afinidade

teórica entre o elatol e a enzima enquanto que a menor afinidade teórica foi observada para o

obtusol.

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75

Figura 29: Scores com a função CHEMPLP para a Acetilcolina, fármacos usados no tratamento da DA e

metabólitos secundários de Laurencia sp candidatos a inibidores de AChE.

O quadro 2 demonstra o resultado do estudo detalhado dos ligantes e a enzima, e as

possíveis interações que podem estar contribuindo para a afinidade teórica obtida por docking

molecular.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

Score

Ligantes

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76

Quadro 2: Interações observadas entre ligantes e resíduos aminoácidos de AChE.

Ligantes

Interações entre Ligantes e AchE Interações

com resíduos da tríade catalítica

LH LH

fraca pi-alquil pi-sigma Empilhamento pi Cátion-pi Van der Waals Resíduos envolvidos Interação

Fármacos

Donepezila 1 1 3 1 5 7 Não Realiza

Galantamina 2 4 3 5

SER203 Ligação de Hidrogênio

SER203 fraca ligação de H

HIS447 fraca ligação de H

Substrato Acetilcolina 2 1 3 4 HIS447 fraca ligação de H

Candidato a inibidor

obtusol

10

3 HIS447 Pi-Alquil

dendroidiol

8

5 HIS447 Pi-Alquil

cartilagineol

12 1

4 HIS447 Pi-Alquil

(+)-elatol 12 5 HIS447 Pi-Alquil

(-)-elatol 12 6 HIS447 Pi-Alquil

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77

Os itens 1.4 e 1.5.1 apresentam detalhes sobre as interações observadas entre a AChE

e o seu substrato e entre a AChE e os fármacos Donepezila e Galantamina.

Quadro 3: Interações desfavoráveis e/ou fora dos sítios observadas entre ligantes e resíduos

de aminoácidos de AChE.

Ligantes Interações Desfavoráveis Interações fora do CAS, PAS e OH

Resíduos

envolvidos Tipo

Resíduos e átomos

envolvidos Tipo

Candidato

a inibidor

obtusol GLY118 Impedimento estérico PHE 297 – Cl18

TYR337- Br22

Pi-alquil

Pi-alquil

dendroidiol --- --- PHE 297 – Cl16

TYR337- C32

Pi-alquil

Pi-alquil

cartilagineol --- --- PHE 297 – Br39

TYR337- C30

Pi-alquil

Pi-alquil

(+)-elatol --- --- ---- ---

(-)-elatol --- --- --- ---

As moléculas de obtusol, dendroidiol, cartilagineol e elatol apresentam interações

envolvendo sistemas pi, do tipo pi-alquil, com resíduos do CAS e do PAS. Interações deste

tipo são relatadas como relevantes para o papel funcional e estrutural de proteínas (RIBAS, et

al., 2002). Ademais, apesar de apresentarem uma menor magnitude em comparação com

interações de caráter eletrostático como as ligações de hidrogênio e cátion-pi, apresentadas

tanto pelo substrato da enzima quanto pelos fármacos da terceira geração estudados,

apresentam-se em maior número, explorando a possibilidade de interações do tipo

hidrofóbicas com resíduos do PAS no “gorge channel” e diminuindo a probabilidade do

substrato chegar ao sítio ativo da proteína, já que o processo de hidrólise ocorre no fundo da

cavidade. Adicionalmente, a interação com resíduos aromáticos do PAS pode impedir a

ligação primária da Ach, essencial para que ela possa atingir o sítio ativo.

Além disso, todos apresentam ao menos uma dessas interações do tipo pi-alquil com

HIS 447, que compõe a tríade catalítica e é responsável por elevar a nucleofilicidade da serina

catalítica (SER203) pelo substrato.

Porém algumas diferenças podem ser observadas na forma como esses metabólitos

interagem com a enzima. O obtusol, dendroidiol e cartilagineol apresentam interações com

resíduos que não pertencem ao PAS, CAS ou OH. São duas interações do tipo pi-alquil com

PHE 297 e TYR 337.

No caso do obtusol (figura 30) as duas interações envolvem seus átomos de halogênio

e sistemas pi desses resíduos. A notável afinidade observada em diversos estudos entre

átomos de halogênio, principalmente cloro, e anéis aromáticos (MATTER et al., 2009) pode

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78

estar contribuindo para a afinidade desta ligação em detrimento de interações com resíduos do

CAS, PAS e OH importantes no reconhecimento molecular e processo de hidrólise do

substrato da enzima. Além disso, observam-se interações desfavoráveis ocasionadas por

impedimento estérico entre o Obtusol e o resíduo de GLY118 pertencente ao OH.

Figura 30: Melhor pose do Obtusol obtida por docking e interações no sítio da AChE.

Para o dendroidiol (Figura 31) e cartilagineol (Figura 32), apenas a interação com PHE

297 ocorre através de seus átomos de halogênios, sendo cloro e bromo, respectivamente. A

interação com TYR 337 acontece através de átomos de carbono e o sistema pi do anel,

possuindo uma menor magnitude.

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79

Figura 31: Melhor pose do Dendroidiol obtida por docking e interações no sítio da AChE.

Figura 32: Melhor pose do Cartilagineol obtida por docking e interações no sítio da AChE.

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80

No caso do elatol (Figuras 33 e 34), os átomos de Cloro e Bromo presentes na sua

estrutura também apresentaram interações com sistemas pi do tipo pi-alquil, porém com

resíduos do CAS e do PAS. A afinidade do cloro por anéis aromáticos já mencionada

anteriormente, pode estar contribuindo fortemente para a afinidade da ligação no

reconhecimento molecular (MATTER et al.; 2009).

Figura 33: Melhor pose do (+)-elatol obtida por docking e interações no sítio da AChE.

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81

Figura 34: Melhor pose do (-)-elatol obtida por docking e interações no sítio da AChE.

Tendo em vista os valores de score obtidos com o docking molecular e a análise das

interações observadas entre esses ligantes e a enzima AChE, consideramos que o Obtusol

pode ter sua atividade inibitória prejudicada devido as interações desfavoráveis com OH e as

interações envolvendo seus átomos de halogênio e sistemas pi fora do CAS e PAS. Podemos

ainda, considerar o elatol o candidato a inibidor mais promissor, enquanto que o Dendroidiol

e o Cartilagineol ocupariam posições intermediárias em relação à possível inibição da AChE.

5.2 Ensaio de inibição enzimática da AChE pelos Metabólitos secundários

de Laurencia sp.

Para avaliar experimentalmente a capacidade inibitória dos metabólitos secundários de

Laurencia sp estudados, fez-se inicialmente uma triagem preliminar em uma concentração de

300 µM com obtusol, dendroidiol, cartilagineol, (-)-elatol. Os metabólitos secundários de

Laurencia dendroidea utilizados neste estudo foram cedidos pelo Grupo de Produtos Naturais

de Organismos Aquáticos (GPNOA).

O gráfico abaixo (Figura 35) mostra a taxa de formação de produto da reação de

hidrólise entre a AChE e a Acetiltiocolina por unidade de tempo, sem a presença dos

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82

candidatos a inibidores e na presença dos candidatos a inibidores. Nota-se que o obtusol não

exerceu efeitos significativos sobre a atividade da enzima, enquanto que dendroidiol,

cartilagineol e elatol foram capazes de exercer alguma atividade inibitória frente a enzima.

É importante notar que esses resultados concordam com a predição anterior obtida

durante a avaliação in silico por meio de docking molecular, onde a afinidade entre ligante e

enzima foi maior para o elatol, sendo o obtusol apontado como o candidato de menor

afinidade de ligação.

Contr

ole

MeO

H 3

% M)

Riv

astig

min

a (1

00

cartila

gineo

l

dendro

idio

l

elat

ol

obtuso

l0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Metabólitos secundários de Laurencia

(300 M)

****** *** ***

V0

(nm

ol.

min

-1)

Figura 35: Inibição da atividade de AChE por metabólitos secundários de Laurencia sp. V0 é a velocidade da

reação hidrólise da acetiltiocolina pela AChE. Barras representam a média da velocidade da atividade enzimática

e traços representam o erro padrão. *** representam P<0,001 quando comparado ao veículo pelo teste estatístico

Anova de 1 via seguido do pós teste de comparação múltipla de Bonferroni’s.

A fim de elucidar o mecanismo de inibição da AChE pelo elatol, estudos mais

aprofundados foram realizados. Para a realização destes estudos variam-se as concentrações

do inibidor e do substrato, e os dados plotados como velocidades iniciais de reação versus

concentração de acetiltiocolina, são ajustados por regressão não linear com a equação de

Michaelis-Menten (Figura 36).

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83

0 200 400 6000.0

0.5

1.0

1.5Veículo

Elatol - 30 M

Elatol - 100 MElatol - 300 M

[Acetiltiocolina] (M)

V0 (

nm

ol.m

in-1

)

Figura 36: Efeito do elatol sobre os parâmetros cinéticos da AChE. As velocidades iniciais de reação (V)

foram obtidas a partir de curvas de progressão em diferentes concentrações de substrato e inibidor. As linhas

sólidas são derivadas do modelo de inibição cinético de Michaelis-Menten.

O gráfico de Michaelis-Menten (Figura 36) mostra a velocidade inicial da reação em

função da concentração do substrato da enzima, na presença do elatol a diferentes

concentrações. É possível identificar uma diminuição na velocidade máxima da reação

conforme maiores concentrações de elatol são adicionadas ao meio.

A curva da figura 37 representa a linearização do gráfico da figura 36 e mostra que as

retas obtidas nas reações sem inibidor e com inibidor sofrem intersecção em uma região

distinta tanto do eixo das abscissas quanto do eixo das ordenadas, representado por

1/[Acetiltiocolina] e 1/V respectivamente, indicando a variação tanto de Vmáximo quanto de

Km na presença do inibidor. Km é constante de Michaelis e Menten e é numericamente igual

à concentração de substrato que determina a metade da velocidade máxima da reação, é

característico da enzima e de seu substrato e indica o grau de afinidade da enzima pelo

Substrato (WILSON e WALKER, 2010).

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84

-0.02 0.00 0.02 0.04 0.06

5

10

15

Elatol - 300 MElatol - 100 MElatol - 30 MVeículo

1/[Acetiltiocolina] M

1/V

x

(nm

ol.

min

-1)

Figura 37: Gráfico de Lineweaver-Burk para a inibição do elatol sobre a AChE.

Este padrão de interação entre a enzima e o inibidor, em que tanto a velocidade

máxima da reação quanto a afinidade da enzima pelo seu substrato são alterados, aponta para

um mecanismo inibitório misto quando a reta que representa a reação enzimática sem o

inibidor e as retas que representam a reação enzimática na presença do inibidor se interceptam

(WILSON e WALKER, 2010).

O valor de Ki pode ser determinado então, através de um terceiro gráfico de

1/Vmáximo versus a concentração do inibidor, em que o intercepto no eixo das abscissas,

representado por [elatol] fornece o valor da constante de inibição (–Ki) (Figura 38).

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85

Figura 38: Cálculo do Ki do elatol para a AChE.

Dessa forma, o teste espectrofotométrico de Ellman sugere a ocorrência de inibição da

enzima pelo elatol com um Ki de 300,5 micromolar por um mecanismo de inibição mista.

É sabido que o Ki de fármacos como a Donepezila é da ordem de nanomolar

(CECILIA RODRIGUES SIMOES et al.,2014), todavia, espera-se ser possível o aumento

dessa afinidade experimental encontrada em virtude da adição de grupos farmacofóricos.

Tendo em vista o melhor potencial inibitório do elatol frente aos outros metabólitos

secundários de Laurencia sp. apontado pelos estudos de modelagem computacional e

posteriormente confirmado através do teste de inibição enzimática e o fato de encontrarmos o

elatol como componente majoritário em diferentes populações de Laurencia dendroidea da

região dos lagos no litoral do estado do Rio de Janeiro, decidiu-se por dar continuidade aos

estudos com esse metabólito de forma a tentar potencializar a sua atividade. Dessa forma, foi

proposto que se funcionalizássemos a molécula do elatol com grupos farmacofóricos

poderíamos elevar a capacidade inibitória do mesmo através do aumento número de

interações com a AChE e, consequentemente, da afinidade.

Conforme descrito no item 5.3.4, estudos de caracterização do elatol por meio de

medidas de rotação específica mostraram que o metabólito isolado a partir de Laurencia

dendroidea no presente trabalho tratava-se do enantiômero (+)-elatol. Enquanto que a amostra

cedida para os testes de inibição enzimática realizados durante a triagem junto a outros

metabólitos secundários de Laurencia revelou ser o enantiômero (-)-elatol.

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86

Dessa forma, uma nova triagem foi realizada de modo a verificar se haveria diferenças

na atividade inibitória dos enantiômeros. Conforme mostra a figura 39, testes preliminares

sugerem que, diferentemente do (-)-elatol, o (+)-elatol não apresenta capacidade inibitória

frente a enzim AChE.

Contr

ole

MeO

H 30 100

300

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

(+)-elatol (M)

V0

(nm

ol.

min

-1)

Figura 39: Inibição da atividade de AChE pelo (+)-elatol. V0 é a velocidade da reação hidrólise da

acetiltiocolina pela AChE. Barras representam a média da velocidade da atividade enzimática e traços

representam o erro padrão.

5.3 Isolamento e identificação do Elatol

5.3.1 Processo de extração

Com o processo de extração descrito no item 4.3.2 obteve-se as seguintes massas e

rendimentos para o extrato bruto de Laurencia dendroidea, conforme mostra a Tabela 10.

Tabela 7: Rendimento da obtenção de extrato bruto de Laurencia dendroidea.

*AZ01 **AZ02

Massa de alga seca 112,05 g 215,14 g

Massa do extrato 6,40 g 9,22 g

Rendimento = 5,71% 4,29%

*Coleta 01; **Coleta 02.

A análise do perfil dos extratos por CCD em comparação a um padrão previamente

obtido e caracterizado pelo grupo GPNOA, mostra a coloração roxa predominante que sugere

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87

a presença de sesquiterpenos halogenados de Laurencia sp, como o elatol, de forma

majoritária nos extratos (Figura 40).

Figura 40: CCD dos extratos brutos de Laurencia dendroidea. Amostra padrão e amostras AZ01 e AZ02

coletadas da praia Azeda - Búzios-RJ. Fase móvel – Hexano/Acetato de etila 8:2. Sistema revelador: ácido

sulfúrico a 5% em etanol com posterior aquecimento.

5.3.2 Fracionamento do extrato Bruto

O fracionamento do extrato bruto descrito no item 4.3.3 originou quatro frações com

diferentes perfis (Figura 41). A CCD sugere a presença de elatol na fração 1, obtida em

hexano/acetato de etila 9:1, devido a coloração roxa característica da presença de

sesquiterpenos halogenados.

As massas e rendimentos obtidos neste fracionamento encontram-se na Tabela 11.

Figura 41: CCD das frações obtidas do extrato bruto de Laurencia dendroidea. Fase móvel: A:

Hexano/Diclorometano 7:3; B: Hexano/Diclorometano 3:7; C: Diclorometano 100%. Sistema revelador: ácido

sulfúrico a 5% em etanol com posterior aquecimento.

Tabela 8: Massas e rendimentos do fracionamento do extrato bruto de Laurencia dendroidea.

Padrão AZ01 AZ02

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88

Fração Código massa (mg) Rendimento (%)

0 KG450 22,10 1,10

1 KG451 887,40 44,37

2 KG452 418,30 24,07

3 KG453 606,1 30,31

5.3.3 Purificação

A fração 01 (Código KG451 - Tabela 11) foi submetida a um novo processo de

separação por cromatografia em coluna visando à purificação do elatol, conforme descrito no

item 4.3.4. O perfil das novas frações obtidas foi analisado por CCD (Figura 42) e frações

semelhantes foram reunidas. Massas e rendimentos das frações obtidas são apresentados na

tabela 12.

Figura 42: CCD das frações obtidas na purificação da fração contendo elatol (código KG451). Fase móvel:

Diclorometano 100%, sistema revelador: ácido sulfúrico a 5% em etanol com posterior aquecimento.

Tabela 9: Massas e rendimentos de frações obtidas após a purificação da amostra KG451.

Fração Código massa (mg) Rendimento (%)

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89

3 KG64A 2,9 0.33

4

11 KG6411 44,5 5,01

12

KG64C 21,8 2,46 13

14

15 KG6415 71,45 8,05

16 KG6416 438,3 49,39

17 KG6417 145,8 16,43

18 KG6418 128,9 14,52

A análise por CCD das frações KG6515 e KG6516 obtidas após a purificação da

amostra KG451 em comparação do perfil com um padrão previamente isolado e caracterizado

pelo Grupo de Produtos Naturais de Organismos Aquáticos (GPNOA) confirma a presença do

elatol (Figura 43).

Figura 43: CCD das frações KG6415 e KG6416 obtidas na purificação da fração KG451 e comparação com um

padrão previamente isolado. Fase móvel: Diclorometano 100%, sistema revelador: ácido sulfúrico a 5% em

etanol com posterior aquecimento.

5.3.4 Caracterização do elatol

A análise inicial do espectro de RMN 1H (Figuras 44-47) indicou a presença de dois

sinais em δH 5,13 e δH 4,80 (simpletos largos), característicos de hidrogênios olefínicos; dois

sinais característicos da presença de heteroátomos em δH 4,61 (d, JHH 2,95 Hz) e δH 4,15 (dd,

JHH 2,99; 6,38 Hz) e três singletos característicos de grupos metílicos em δH 1,70; δH 1,08 e

δH 1,07 ppm.

KG6416 Padrão KG6415

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90

O espectro apresenta mais oito sinais característicos de hidrogênios ligados a carbonos

metilênicos em δH 1,63 (m) e δH 1, 81(m); δH 1,84 (m) e δH 1,96 (dd, JHH 3,79; 14,08); δH

2,58 (m) e δH 2,37 (d, JHH 17,54); δH 2,63 (m) e δH 2,51 (dd, JHH 2,69; 14,54), que

correspondem aos hidrogênios nas posições axiais e equatoriais ligados aos carbonos 1, 2,5 e

8 respecivamente.

Figura 44: Espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada.

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91

Figura 45: Expansão do espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada de 4.15 ppm a 5.15

ppm.

Figura 46: Expansão do espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada de 1.75 ppm a 2.65

ppm.

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92

Figura 47: Expansão do espectro de RMN 1H (500 MHz, CDCl3) da substância isolada de 1.05 ppm a 1.70

ppm.

Os resultados obtidos apresentaram grande semelhança com os dados disponíveis na

literatura para o chamigrano elatol, conforme apresentado na Tabela 13. A numeração do

esqueleto chamigrano foi feita baseada nos dados de Konig e Wright (1997).

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93

Tabela 10: Dados de RMN 1H (500 MHz) em CDCl3 para a substância isolada comparados

com dados de RMN 1H (300 MHz) em CDCl3 obtidos para o (-)- elatol por (MACHADO et

al., 2011) e para o (+)-elatol (KONIG e WRIGHT, 1997).

Br

OH

Cl

910

11 7

8

6

12

13

1

2 34

514

15

C H

(-)-elatol

(Machado, et al. 2011)

(+)-elatol

(Konig e Wright, 1997) Substância isolada

δH (multiplicidade; J/Hz) δH (multiplicidade; J/Hz) δH (multiplicidade; J/Hz)

1 ax

eq

1,62 (ddd 13,4; 12,5; 7,6)

1,82 (ddd 13,4; 4,1; 2,1)

1,62 (m)

1,82 (m)

1,63 (m)

1,81 (m)

2 ax

eq

1,81 (ddd 14,8; 12,5;2,1)

1,96 (ddd 14,8; 7,6; 4,1)

1,82 (m)

1,96 (m)

1,84 (m)

1,96 (dd 3,79; 14,08)

5 ax

eq

2,59 (dl 16,1)

2,37 (dl 16,1)

2,19 (dl 17,5)

2,08 (dl 17,5)

2,58 (m)

2,37 (d 17,54)

8 ax

eq

2,63 (dd 14,4; 3,0)

2,51 (dd 14,4; 3,0)

2,49 (dd 14,4; 2,8)

2,19 (dm 14,4)

2,63 (m)

2,51 (dd 2,69; 14,54)

9 eq 4,14 (ql 3,0) 4,14 (m) 4,15 (dd 2,99; 6,38)

10 ax 4,60 (d 3,0) 4,61 (d 2,9) 4,61 (d 2,95)

12 1,08 (s) 1,06 (s) 1,07 (s)

13 1,07 (s) 1,07 (s) 1,08 (s)

14 syn

anti

5,12 (sl)

4,79 (sl)

5,12 (sl)

4,79 (sl)

5,13 (sl)

4,80 (sl)

15 1,70 (sl) 1,70 (sl) 1,70 (sl)

OH 2,19 (sl) 2,19 (sl) -----

A medida polarimétrica para o elatol obtido no presente trabalho, a partir de Laurencia

dendroidea da população da Praia Azeda em Búzios- RJ, revelou a presença do enantiômero

(+)-elatol com []D= +83,77 (MeOH; c 0.26) semelhante ao descrito na literatura por

Vairappan e colaboradores, 2003 com []D= +75,30 (MeOH; c 0.40) .

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94

Enquanto que a amostra de código BIS24-29(1), isolada e caracterizada previamente

pelo Grupo de Produtos Naturais de Organismos Aquáticos (GPNOA) a partir de Laurencia

dendroidea da população de Biscaia em Angra dos Reis-RJ e cedida para os testes de inibição

enzimática com AChE apresentou []D= -81,26 (MeOH; c 0.081), revelando tratar-se então

do enantiômero (-)-elatol.

5.4 Proposição de derivados do elatol

As séries de derivados do elatol foram planejadas a partir da adição de 19

substituintes, divididos entre aminas cíclicas, alifáticas e arilaminas substituídas ou não, em

substituição à hidroxila (Figuras 48, 49).

Figura 48: Série de derivados do elatol planejados pela adição de grupos farmacofóricos.

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95

Derivados alifáticos

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NHCH3

Tz 01 (22)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

CH3

Tz 02 (23)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

CH3

Tz 19 (24)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

CH3CH3

Tz 03 (25)

Derivados cíclicos

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

N

Tz 04 (26)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

N

NH

Tz 05 (27)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

N

N

CH3

Tz 06 (28)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

N

O

Tz 07 (29)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

N

S

Tz 08 (30)

Derivados anilínicos

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Tz 09 (31)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Br

Tz 10 (32)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Br

Tz 11 (33)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Br

Tz 12 (34)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Cl

Tz 13 (35)

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96

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Cl

Tz 14 (36)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

Cl

Tz 15 (37)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

F

Tz 16 (38)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

F

Tz 17 (39)

CH3

Br

CH3 CH2

Cl

CH3

NH

F

Tz 18 (40)

Figura 49: Visão geral dos derivados obtidos través das substituições realizadas na estrutura do elatol.

É importante destacar que todos os estudos foram realizados considerando-se o

estado protonado e não protonado de cada derivado, além da variação estereoquímica

totalizando, dessa forma, 84 estruturas a serem avaliadas in silico quanto à possíveis

interações com a AChE, por docking molecular e análise das propriedades ADME-T.

O estado protonado recebeu a adição da letra “A” à sua nomenclatura e o estado não

protonado recebeu a adição da letra “B” à sua nomenclatura. As letras “R” e “S” foram

também acrescidas à nomenclatura conforme a configuração do átomo de carbono número 9

de cada derivado.

Da mesma forma que no item 5.1.1, foi feito um estudo comparativo da área e

volume molar entre os ligantes co-cristalizados com as enzimas AChE humanas obtidas no

PDB e os derivados de elatol planejados. Os resultados deste estudo comparativo mantêm o

modelo 4EY7 como o mais adequado para a análise dos possíveis modos de ligação por meio

de docking molecular dos derivados planejados a partir do elatol (Tabela 14; Figura 50).

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97

Tabela 11: Área e Volume molar dos derivados de elatol.

Candidato a

inibidor

Fórmula

Molecular

Estereoquímica

do carbono 9

Área (Å2) Volume Molar(Å

3)

Aminas Alifáticas

Tza01 C16H26BrClN R 314,57 314,01

S 310,54 313,76

Tzb01 C16H25BrClN R 313,33 311,58

S 310,29 311,28

Tza02 C17H28BrClN R 335,42 332,73

S 331,51 332,50

Tzb02 C17H27BrClN R 334,08 330,30

S 331,43 330,04

Tza19 C18H30BrClN

R 355,46 351,05

S 351,55 350,82

Tzb19 C18H30BrClN

R 353,87 348,74

S 351,47 348,36

Tza03 C18H30BrClN R 349,97 350,32

S 345,91 350,13

Tzb03 C18H29BrClN R 349,49 348,11

S 346,47 347,84

Aminas Cíclicas

Tza04 C20H32BrClN R 365,10 374,63

S 356,01 373,24

Tzb04 C20H31BrClN R 365,16 372,62

S 357,49 371,21

Tza05 C19H31BrClN2 R 364,70 370,02

S 356,76 368,42

Tzb05 C19H30BrClN2 R 361,33 369,16

S 352,15 367,82

Tzc05 C19H31BrClN2 R 361,08 367,11

S 353,24 365,73

Tzd05 C19H32BrClN2 R 364,82 371,87

S 355,46 370,40

Tza06 C20H33BrClN2 R 381,53 388,73

S 372,38 387,41

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98

Tzb06 C20H32BrClN2 R 384,25 389,54

S 376,38 387,98

Tzc06 C20H33BrClN2 R 381,38 386,64

S 373,57 385,20

Tzd06 C20H34BrClN2 R 384,48 391,46

S 375,13 390,00

Tzb07 C19H29BrClNO R 357,42 364,07

S 349,59 362,65

Tza07 C19H30BrClNO R 357,47 366,06

S 348,31 364,75

Tza08 C19H30BrClNS R 364,64 374,51

S 355,70 373,04

Tzb08 C19H29BrClNS R 365,68 372,80

S 358,11 371,23

Arilaminas

Tzb09 C21H27BrClN R 385,66 383,52

S 373,40 377,05

Tza09 C21H28BrClN R 375,59 379,81

S 371,53 379,51

Arilaminas substituídas

Tzb10 C21H26Br2ClN R 385,32 394,07

S 390,44 394,61

Tza10 C21H27Br2ClN R 384,04 396,15

S 384,82 396,88

Tzb11 C21H26Br2ClN R 390,51 394,68

S 390,14 394,38

Tza11 C21H27Br2ClN R 390,76 396,9

S 391,33 397,36

Tzb12 C21H26Br2ClN R 390,27 394,37

S 390,31 394,38

Tza12 C21H27Br2ClN R 390,79 396,89

S 391,35 397,35

Tzb13 C21H26BrCl2N R 382,53 389,92

S 386,34 390,10

Tza13 C21H27BrCl2N R 384,5 392,20

S 384,28 392,34

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99

Tzb14 C21H26BrCl2N R 383,95 389,71

S 388,52 390,34

Tza14 C21H27BrCl2N R 390,62 393,03

S 386,45 392,70

Tzb15 C21H26BrCl2N R 385,42 389,79

S 388,65 390,34

Tza15 C21H27BrCl2N R 385,96 392,24

S 386,49 392,70

Tzb16 C21H26BrClFN R 373,82 381,43

S 384,38 385,91

Tza16 C21H27BrClFN R 376,78 384,04

S 375,88 384,56

Tzb17 C21H26BrClFN R 376,39 381,38

S 383,71 385,70

Tza17 C21H27BrClFN R 377,02 383,92

S 377,41 384,36

Tzb18 C21H26BrClFN R 376,25 381,39

S 379,50 381,96

Tza18 C21H27BrClFN R 376,97 383,92

S 377,50 384,37

Figura 50: Área e volume molar dos inibidores e média da área e volume molar das classes de candidatos a

inibidores de AChE derivados do Elatol.

0

100

200

300

400

500

600

Áre

a e

Volu

me

Mola

r

Ligantes

Área (Å2)

Volume (Å3)

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100

A partir do gráfico acima é fácil perceber que a estrutura de código 4EY7 é aquela co-

cristalizada com o ligante que mais se assemelha, em termos de área e volume molar ocupado,

aos ligantes planejados a partir do elatol, corroborando a decisão de utilizá-la nos estudos de

docking molecular.

5.5 Cálculo Teórico da Capacidade de Permeação da Barreira

Hematoencefálica

A aplicação do modelo preditivo para permeação da BHE proposto por Clark, mostrou

infrações de até 2 das regras propostas (CLARK, 2003) (Tabela 15).

Tabela 12: Parâmetros para predição da permeação através da BHE propostos por Clark.

Candidato a Inibidor CLogP LogD

(1-3)

(N+O)

≤ 5

CLogP - (N+O)

> 0

ASP ≤ 80 (A2) MM

< 450 R S

elatol 3,28 3,85* 1 2,28 18,94 17,68 333,69

Tza01 1,13 2,17 1 0,13 14,34 10,98 347,74

Tzb01 4,36 2,17 1 3,36 11,59 9,27 346,73

Tza02 1,50 2,50 1 0,50 14,10 10,77 361,77

Tzb02 4,72 2,50 1 3,72 11,28 8,74 360,76

Tza19 2,05 2,90 1 1,05 14,11 10,77 375.79

Tzb19 5,28 2,90 1 4,28 10,93 8,75 374.79

Tza03 1,93 2,88 1 0,93 13,75 10,47 375,79

Tzb03 5,16 2,88 1 4,16 11,14 8,55 374,79

Tza04 2,13 3,64 1 1,13 5,88 5,85 401,83

Tzb04 5,53 3,64 1 4,53 1,65 1,34 400,82

Tza05 1,00 2,41 2 -1,00 18,87 18,49 402,82

Tzb05 4,22 2,41 2 2,22 18,27 18,24 401,81

Tzc05 0,82 2,41 2 -1,18 14,27 14,01 402,82

Tzd05 -2,41 2,41 2 -4,41 23,65 23,53 403,83

Tza06 1,1 3,52 2 -0,9 8,28 8,24 416,85

Tzb06 4,51 3,52 2 2,51 8,76 8,37 416,84

Tzc06 1,1 3,52 2 -0,9 4,17 3,84 416,85

Tzd06 - 2,30 3,52 2 -4,30 13,51 13,38 417,85

Tza07 1,13 4,33 2 -0,87 13,71 13,66 403,80

Tzb07 4,53 4,33 2 2,53 9,47 9,20 402,80

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101

Tza08 1,63 3,98 1 0,63 5,84 5,81 419,87

Tzb08 5,04 3,98 1 4,04 1,59 1,18 418,86

Tza09 3,84 5,83 1 2,84 13,95 10,72 409,81

Tzb09 5,53 5,83 1 4,53 10,36 8,43 408,80

Tza10 4,62 6,61 1 3,62 13,74 9,79 488,71

Tzb10 6,61 6,61 1 5,61 9,40 7,01 487,70

Tza11 4,62 6,61 1 3,62 14,40 10,70 488,71

Tzb11 6,61 6,61 1 5,61 11,36 8,31 487,70

Tza12 4,62 6,61 1 3,62 14,41 10,71 488,71

Tzb12 6,61 6,61 1 5,61 10,55 8,27 487,70

Candidato a Inibidor CLogP LogD

(1-3)

(N+O)

≤ 5

CLogP - (N+O)

> 0

ASP ≤ 80 (A2) MM

< 450 R S

Tza13 4,47 6,46 1 3,47 13,08 9,32 444,26

Tzb13 6,46 6,46 1 5,46 10,53 7,26 443,25

Tza14 4,47 6,46 1 3,47 13,94 10,70 444,26

Tzb14 6,46 6,46 1 5,46 10,63 8,37 443,25

Tza15 4,47 6,46 1 3,47 14,40 10,69 444,26

Tzb15 6,46 6,46 1 5,46 10,59 8,37 443,25

Tza16 3,96 5,95 1 2,96 13,96 10,11 427,80

Tzb16 5,95 5,95 1 4,95 10,74 7,59 426,79

Tza17 3,96 5,95 1 2,96 14,36 10,66 427,80

Tzb17 5,95 5,95 1 4,95 10,54 7,84 426,79

Tza18 3,96 5,95 1 2,96 14,39 10,66 427,80

Tzb18 5,95 5,95 1 4,95 10,62 8,41 426,79

*Em vermelho = valores que infringem as regras de Clark, 2003.

Submetendo alguns dos fármacos de terceira geração utilizados no tratamento da DA

às mesmas regras de Clark, observamos que os mesmos também infringem ao menos uma das

regras propostas. Porém, sabe-se que tais fármacos são capazes de permear a BHE uma vez

que têm seu alvo, a enzima AChE, no sistema nervoso central (Tabela 16).

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102

Tabela 13: Fármacos usados no tratamento da DA submetidos aos parâmetros para predição

da permeação através da BHE propostos por Clark, 2003.

Fármaco CLogP LogD

(1-3)

CLogP - (N+O)

> 0

(N+O)

≤ 5 ASP ≤ 80 (A

2)

MM

< 450

Donepezila 1,05 2,96 - 2,95 4 35,67 380,51

Galantamina -2,40 - 0,52 -6,4 4 38,87 288,37

*Em vermelho = valores que infringem as regras de Clark, 2003.

Dessa forma, devemos atentar para o fato de que os conjuntos de dados disponíveis

para predição de permeabilidade da BHE são limitados e vêm a partir de uma variedade de

fontes que podem não ser suficientes para fins de modelagem dos parâmetros relacionados

(KUMAR et al., 2013). Vale lembrar também que o modelo possui uma precisão maior para

predição de moléculas + SNC do para moléculas –SNC (CLARK, 2003).

Segundo o pkCSM todos os candidatos a fármacos têm o logBB ≥ 0,3 e teriam,

portanto, uma boa permeação através da BHE. Já os fármacos Donepezila e Galantamina,

com valores inferiores a 0,3 e superiores a -1, teriam uma permeabilidade intermediária

(Tebela 17).

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103

Tabela 14: Predição de permeação através da BHE pelo pkCSM.

Inibidores/

Candidatos AChEi Log BB ≥ 0,3

Inibidores/

Candidatos AChEi Log BB ≥ 0,3

elatol 0,189 Tza10 0,571

Tza01 0,585 Tzb10 0,539

Tzb01 0,571 Tza11 0,571

Tza02 0,615 Tzb11 0,539

Tzb02 0,601 Tza12 0,571

Tza19 0,649 Tzb12 0,539

Tzb19 0,635 Tza13 0,574

Tza03 0,619 Tzb13 0,542

Tzb03 0,605 Tza14 0,574

Tza04 0,812 Tzb14 0,542

Tzb04 0,703 Tza15 0,574

Tza05 0,41 Tzb15 0,542

Tzb05 0,734 Tza16 0,602

Tza06 0,883 Tzb16 0,57

Tzb06 0,774 Tza17 0,602

Tza07 0,736 Tzb17 0,57

Tzb07 0,628 Tza18 0,602

Tza08 0,847 Tzb18 0,57

Tzb08 0,739 Donepezila 0,218

Tza09 0,61 Galantamina 0,26

Tzb09 0,579

É importante considerar que todos os modelos construídos até agora se baseiam na

suposição de que a maioria dos fármacos é transportado através de difusão passiva. Assim,

para maior eficácia, os modelos de permeação no cérebro terão de explicar o papel dos

sistemas de transporte e de efluxo ativo, à medida que mais dados sobre estes se tornem

disponíveis (WANG et al., 2015).

Dessa forma, nenhum dos ligantes foi descartado do estudo por todos apresentarem

potencial para permear a barreira hematoencefálica.

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104

5.6 Regra dos 5 de Lipinski

De acordo com o servidor utilizado, todas as moléculas possuem uma boa

biodisponibilidade oral teórica, segundo a regra dos 5 de Lipinski, uma vez que não violaram

mais que 1 das regras propostas (tabela 18).

Tabela 15: Parâmetros associados à regra dos 5 de Lipinski calculados a partir da plataforma

molinspiration.

Candidatos

AchEi

PM

≤500

miLogP

≤ 5

Aceptores de ligação

de hidrogênio

≤ 10

Doadores de ligação

de hidrogênio ≤ 5

Violações à

regra

elatol 333.70 4.41 1 1 0

Tza01 347.75 1.81 1 2 0

Tzb01 346,74 4,83 1 1 0

Tza02 361.77 2.19 1 2 0

Tzb02 360,77 5,2 1 1 1

Tza19 375,79 2,69 1 2 0

Tzb19 374,79 5,71 1 1 1

Tza03 375.80 2.55 1 2 0

Tzb03 374,79 5,5 1 1 1

Tza04 401.84 2.82 1 1 0

Tzb04 400,83 5,98 1 0 1

Tza05 402.83 1.70 2 2 0

Tzb05 401,82 4,37 2 1 0

Tzc05 402,83 1,21 2 2 0

Tzd05 403,84 1,41 2 3 0

Tza06 416.86 1.80 2 1 0

Tzb06 415,85 4,96 2 0 0

Tzd06 417,86 1,51 2 2 0

Tza07 402.80 4.92 2 0 0

Tzb07 403,81 1,76 2 1 0

Tza08 419.88 2.30 1 1 0

Tzb08 418,87 5,46 1 0 1

Tza09 408.81 7.19 1 1 1

Tzb09 409,82 3,51 1 2 0

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105

Tza10 487.71 7.95 1 1 1

Tzb10 488,71 4,27 1 2 0

Tza11 487.71 7.98 1 1 1

Tzb11 488,71 4,29 1 2 0

Tza12 487.71 8.00 1 1 1

Tzb12 488,71 4,32 1 2 0

Tza13 443.26 7.82 1 1 1

Tzb13 444,26 4,14 1 2 0

Tza14 443.26 7.82 1 1 1

Tzb14 444,26 4,16 1 2 0

Tza15 443.26 7.87 1 1 1

Tzb15 444,26 4,19 1 2 0

Tza16 426.80 7.31 1 1 1

Tzb16 427,81 3,62 1 2 0

Tza17 426.80 7.33 1 1 1

Tzb17 427,81 3,65 1 2 0

Tza18 426.80 7.35 1 1 1

Tzb18 427,81 6,68 1 2 0

5.7 Predição da Toxicidade in Silico

São considerados de grande importância para avaliação sobre a resposta tóxica,

estudos sobre a mutagenicidade e carcinogenicidade, hepatotoxicidade e a cardiotoxicidade.

Para a predição da toxicidade dos ligantes planejados a utilizou-se novamente o servidor

online pkCSM. No quadro 3 podemos visualizar a resposta tóxica teórica com base nos

potenciais riscos citados. Além disso, encontram-se também os resultados da predição de

resposta tóxica com base em alertas estruturais calculados com o FAF-Drugs 4.

Quadro 4: Predição de toxicidade pkCSM e FAF-Drugs 4

Candidatos AchEi Teste AMES Inibidor de hERG

Hepatotoxicidade Alertas estruturais

I II

elatol negativo não não negativo Intermediário

Tza01 negativo não não negativo Intermediário

Tzb01 negativo não não negativo Intermediário

Tza02 negativo não não negativo Intermediário

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106

Tzb02 negativo não não negativo Intermediário

Tza19 negativo não não negativo Intermediário

Tzb19 negativo não não negativo Intermediário

Tza03 negativo não não negativo Intermediário

Tzb03 negativo não não negativo Intermediário

Tza04 negativo não não negativo Intermediário

Tzb04 negativo não não positivo Intermediário

Tza05 negativo não não positivo Intermediário

Tzb05 negativo não não positivo Intermediário

Tza06 negativo não não positivo Intermediário

Tzb06 negativo não não positivo Intermediário

Tza07 negativo não não positivo Intermediário

Tzb07 negativo não não negativo Intermediário

Tza08 negativo não não negativo Intermediário

Tzb08 negativo não não negativo Intermediário

Tza09 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb09 negativo não não negativo Intermediário

Tza10 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb10 negativo não não negativo Intermediário

Tza11 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb11 negativo não não negativo Intermediário

Tza12 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb12 negativo não não negativo Intermediário

Tza13 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb13 negativo não não negativo Intermediário

Tza14 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb14 negativo não não negativo Intermediário

Tza15 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb15 negativo não não negativo Intermediário

Tza16 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb16 negativo não não negativo Intermediário

Tza17 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb17 negativo não não negativo Intermediário

Tza18 negativo não sim negativo Intermediário

Tzb18 negativo não não negativo Intermediário

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107

De acordo com o pkCSM, os derivados piperidínicos não protonados (Tzb 04 R e Tzb

04 S), apresentaram um resultado positivo para o teste de hepatotoxicidade. Como em pH

fisiológico a concentração do derivado piperidínico não protonado é próxima de 1%,

conforme veremos no item 5.6.1.2, decidiu-se por prosseguir os estudos mantendo os

derivados Tza 04 R e Tza 04 S, em nossa biblioteca de candidatos a inibidores.

Já os derivados piperazínicos (Tza 05 R, Tza 05 S, Tzb 05 R, Tzb 05 S, Tza 06 R, Tza

06 S, Tzb 06 R e Tzb 06 S) são considerados hapatotóxicos, independentemente do estado de

protonação. O derivado morfolínico (Tza 07 R e S), apesar de ter sido considerado

hepatotóxico apenas na sua versão protonada, esta representa 36% da sua concentração em pH

fisiológico.

Dentre os derivados anilínicos, todos os protonados foram considerados inibidores de

hERG II. Conforme veremos adiante no item 5.6.1.3, anilinas protonadas têm uma

concentração próxima de zero em pH fisiológico e por este motivo decidiu-se manter os

derivados anilínicos no estudo.

Ao submeter os candidatos a inibidores a análise no FAF-Drugs 4, a classificação

baseada em alertas estruturais considera os ligantes da nossa biblioteca como intermediários.

Em concordância com a orientação dos desenvolvedores dessa ferramenta, decidiu-se por fim

prosseguir os estudos com todos os ligantes propostos, incluindo os derivados piperazínicos e

morfolínicos. E, de acordo com os resultados de docking molecular, propor, caso mostrem

relevância, modificações estruturais de forma a otimizar suas características druglikeness.

5.8 Estudos de Docking Molecular dos Derivados do elatol

Uma análise preliminar dos resultados de docking molecular entre a AChE humana, o

seu substrato, fármacos usados no tratamento da DA, o elatol e seus derivados propostos,

mostra que os valores de score continuam sendo maiores para a Donepezila, porém o valor de

score da Galantamina encontra-se entre os valores obtidos para o elatol e seus derivados da

classe das aminas alifáticas. Observamos também um score maior quando comparamos o

elatol e o neurotransmissor acetilcolina e ainda um score crescente conforme variamos a

classe dos substituintes da hidroxila do elatol, sugerindo que melhores resultados podem ser

encontrados quando o substituinte for uma arilamina substituída (Figura 51).

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108

Figura 51: Média dos scores com a função CHEMPLP para a Acetilcolina, Elatol e as classes de candidatos a

inibidores de Acetilcolinesterase propostos.

A avaliação do docking molecular mostra, como era esperado, que a substituição da

hidroxila por diferentes aminas eleva não só os valores de scores, como também eleva e

diversifica os tipos de interações observadas.

Para derivados alifáticos e cíclicos, foi predominante o aparecimento de interações

cátion-pi com o resíduo Trp86 e interações do tipo carga atrativa com o resíduo Glu202, até

mesmo devido ao estado de protonação predominante nessas classes como será visto adiante.

Muitos ligantes estabeleceram também fracas ligações de hidrogênio com a His447 ou

Glu202.

Já dentre os derivados anilínicos foram predominantes as interações do tipo

empilhamento pi com o resíduo de aminoácido Trp86 e para os derivados anilínicos

substituídos em orto observou-se também ligações de halogênio com o resíduo Glu202.

A seguir, um estudo detalhado entre os ligantes e a enzima mostra as possíveis

interações que podem estar contribuindo para os valores de afinidade teórica (representados

pelos valores de score) observados. Dessa forma, o modo de interação de cada classe gerada

por diferentes padrões de substituição será analisado separadamente.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 S

core

Ligantes

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109

5.8.1 Derivados alifáticos

Dentre os derivados pertencentes ao grupo das aminas alifáticas, de acordo com o

programa Marvin view, é predominante a concentração da espécie protonada em pH

fisiológico, sendo a concentração da espécie não protonada inferior a 1% em todos os casos.

Dessa forma, neste grupo, analisaremos abaixo as interações entre a enzima e o ligante na sua

versão protonada.

Neste grupo, o derivado Tza19 R se destaca com um score mais elevado e também

com as interações mais interessantes quando realizamos a inspeção visual das soluções do

docking (Figura 52; Quadro 4).

Figura 52: Scores com a função CHEMPLP para as aminas alifáticas candidatas a inibidores de AChE.

56

58

60

62

64

66

68

70

72

74

76

Tza19 R Tza03 S Tza19 S Tza03 R Tza02 R Tza02 S Tza01 R Tza01 S

Sco

re

Derivados

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110

Quadro 5: Interações observadas entre ligantes e resíduos de aminoácidos da AChE.

Derivados

Interações entre Ligantes e AChE Interações com resíduos da

tríade catalítica

Fraca lig. de

Hidrogênio pi-

alquil pi-

sigma Cátion-

pi carga

atrativa

Van

der

Waals Resíduo Interação

Tza01 R 1 14 2 1 5 HIS447 Pi-Alquil

HIS447 fraca ligação de H

Tza01 S 14 2 5 HIS447 Pi-Alquil

Tza02 R 1 15 2 1 4 HIS447 Pi-Alquil

HIS447 fraca ligação de H

Tza02 S 13 1 1 6 HIS447 Pi-Alquil

Tza03 R 11 2 1 5 HIS447 Pi-Alquil

Tza03 S 13 1 2 6 HIS447 Pi-Alquil

Tza19 R 1 16 2 1 5 HIS447 fraca ligação de H

HIS447 Pi-Alquil

Tza19 S 15 1 Não realiza

O Derivado Tza 19 R apresenta duas interações com um resíduo da tríade catalítica da

enzima: uma fraca ligação de hidrogênio com o átomo de oxigênio de HIS447 e uma

interação do tipo pi-alquil com HIS447 através do seu átomo de bromo. Além disso, o seu

átomo de nitrogênio protonado realiza duas interações cátion-pi com TRP86 e uma interação

carga-atrativa com GLU202, ambos pertencentes ao CAS. O derivado realiza ainda outras

interações do tipo pi-alquil com resíduos do CAS e também do PAS (Figura 53).

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111

Figura 53: Melhor pose do derivado Tza 19_R e interações no sítio da AChE.

5.8.2 Derivados cíclicos

Os efeitos do estado de protonação em pH fisiológico para cada derivado pertencente

ao grupo das aminas cíclicas também foram estudados com o programa Marvin view. No

caso da piperidina (derivados Tz 04 R e S) é predominante a concentração da espécie

protonada, sendo a concentração da espécie não protonada em torno de 1%. Os derivados

formados pela adição do anel piperazínico em substituição à hidroxila (derivados Tz 05 R e S)

apresentaram, predominantemente, em pH fisiológico, apenas o átomo de nitrogênio

periférico da piperazina protonado, semelhantemente ao derivado piperidínico.

Os derivados formados pela adição de metil piperazina (derivados Tz 06 R e S)

apresentaram, predominantemente, em pH fisiológico, o átomo de nitrogênio ligado à metila

protonado e o átomo de nitrogênio periférico na sua forma neutra.

Para a morfolina (derivado Tz 07 R e S) o átomo de nitrogênio encontra-se,

predominantemente, na sua forma não protonada, enquanto que para a tiomorfolina (derivado

Tz 08 R e S) o mesmo apresenta-se sob sua forma protonada.

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112

A Figura 54 mostra os valores de score referentes ao estudo dos derivados de acordo

com o estado de protonação predominante predito em pH fisiológico. Ademais, as principais

interações atômicas observadas estão descritas no quadro 5.

Dentro do grupo das aminas cíclicas o derivado TZa05 S apresentou um score mais

elevado e as interações mais interessantes foram observadas tanto para o derivado TZa 05 R

quanto para TZa 05 S.

Figura 54: Scores com a função CHEMPLP para as aminas cíclicas candidatas a inibidores de

Acetilcolinesterase.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Tza05 S Tzb07 S Tza04 S Tza08 S Tza06 S Tza04 R Tza05 R Tza08 R Tza06 R Tzb07 R

Sco

re

Derivados

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113

Quadro 6: Interações observadas entre ligantes e resíduos de aminoácidos de AChE.

Derivados

Interações entre Ligantes e AChE Interações com resíduos da tríade

catalítica

ponte

salina fraca lig. de

hidrogênio pi-enxofre pi-alquil pi-sigma cátion-pi carga atrativa Van der Waals Resíduos envolvidos Interação

Tza04 R 12 2 6 HIS447 Pi-Alquil

HIS447 Pi-Alquil

Tza04 S

14 2 6 HIS447 Pi-Alquil

Tza05 R 1 1 9 1 5 HIS447 Pi-Alquil

Tza05 S

1 14 2 1 5 HIS447 Fraca ligação de H

HIS447 Pi-Alquil

Tza06 R

1 10 1 5 Não Realiza

Tza06 S

2 13 5 HIS447 Pi-Alquil

Tza07 R 2 14 1 5 HIS447 Fraca ligação de H

HIS447 Pi-Alquil

HIS447 Pi-Alquil

Tza07 S

1 18 6 HIS447 fraca ligação de H

HIS447 Pi-Alquil

HIS447 Pi-Alquil

Tza08 R 12 1 2 6 HIS447 Pi-Alquil

Tza08 S 1 12 2 6 HIS447 Pi-Alquil

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114

O derivado Tza 05 S apresenta duas interações com HIS 447: uma fraca ligação de

hidrogênio e uma pi-alquil. Além disso, esse derivado faz uma interação do tipo carga atrativa

com GLU202 e duas interações cátion pi com TRP86, além de manter interações do tipo pi-

alquil com outros resíduos do PAS e CAS (Figura 55).

Na análise do derivado Tza 05 R, foram observadas uma interação cátion pi com

TRP 86 e uma fraca ligação de hidrogênio com HIS447. Porém, este derivado realiza uma

ponte salina com GLU202, que é uma combinação de duas interações: ligação de hidrogênio e

interações de carga atrativa. Conforme os demais derivados, também mantém interações do

tipo pi-alquil com outros resíduos do PAS e CAS (Figura 56).

Figura 55: Melhor pose do derivado Tza 05 R e interações no sítio da AChE.

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115

Figura 56: Melhor pose do derivado Tza 05 S e interações no sítio da AChE.

5.8.3Derivados anilínicos

O próximo grupo a ser analisado compreende substituições da hidroxila por um anel

anilínico e anéis anilínicos substituídos por átomos de bromo, cloro e flúor nas posições orto,

meta e para. O anel anilínico costuma ser estabilizado por ressonância devido ao

deslocamento do par de elétrons livre do nitrogênio. Na anilina protonada não mais haverá par

de elétrons livres no átomo de nitrogênio e, desta forma, não será possível a estabilização por

ressonância. Em concordância com isso e, de acordo com a predição do programa Marvin

view, é predominante a concentração da espécie não protonada em pH fisiológico, sendo a

concentração da espécie protonada próxima a 0% para todos os casos. Dessa forma, neste

grupo, analisaremos abaixo as interações entre a enzima e o ligante na sua versão não

protonada.

Dentro desta classe destacaram-se os ligantes Tzb 10 S, Tzb13 R e Tzb16 R com

interações mais diversificadas que os demais, sendo o derivado Tz13 S aquele que apresentou

o maior valor de score (Figura 57). As interações atômicas predominantes observadas neste

estudo estão destacadas no quadro 6.

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116

Figura 57: Scores com a função CHEMPLP para as arilaminas e arilaminas substituídas candidatas a inibidores

de AChE.

70

72

74

76

78

80

82

84

86

Score

Derivados

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117

Quadro 7: Interações observadas entre ligantes e AChE

Derivados

Interações entre Ligantes e AchE Interações com resíduos da tríade catalítica

fraca lig. de hidrogênio

ligação de halogênio

pi-sigma pi-alquil Empilhamento pi Van der Waals Resíduo e átomos envolvidos Interação

Tzb09 R 1 11 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil Tzb09 S 11 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil Tzb10 R 11 2 7 Não Realiza

TZb10 S 1 16 2 5

HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

HIS447 - Ligante:Br51 Pi-Alquil

TZb11 R 16 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

TZb11 S 17 2 5 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb12 R 14 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb12 S 15 2 5 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb13 R 1 14 2 5 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb13 S 1

16 2 6

HIS447:HD2 - Ligante:Cl50 Fraca ligação de H

HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

HIS447 - Ligante:Cl50 Pi-Alquil

Tzb14 R 17 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb14 S 15 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb15 R 15 2 7 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb15 S 12 2 7 Não Realiza

Tzb16 R 2 13 2 5 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb16 S 1 10 2 5 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb17 R 13 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb17 S 13 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb18 R 13 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

Tzb18 S 14 2 6 HIS447 - Ligante:Br34 Pi-Alquil

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118

Todos os ligantes da classe anilínica, com substituintes ou não, diferentemente das

classes anteriores, apresentaram interações do tipo empilhamento-pi entre o anel anilínico e o

resíduo de aminoácido TRP86 (Figuras 58-62). Essas interações são consideradas fortes

(ZHOU et al., 2012) e podem ter uma maior magnitude quando substituintes são adicionados

ao anel (SINNOKROT e SHERRILL, 2004). A atratividade dessas interações é aumentada

quando os átomos de hidrogênio do anel tornam-se mais ácidos, o que segundo Bissantz e

colaboradores, ocorre quando introduzimos substituintes fortemente eletrofílicos nas posições

orto ou para (BISSANTZ et al., 2010). Os substituintes eletroretiradores devem reduzir a

carga pi-negativa da nuvem eletrônica acima do centro do anel e levar à diminuição da

repulsão eletrostática e, consequentemente, a maior atração por outros sistemas pi

(SINNOKROT e SHERRILL, 2004).

Além das interações por empilhamento –pi, os derivados Tzb 10 S, Tzb 13 R e Tzb16

R, ambos com o anel anilínico substituído na posição orto por átomos de Bromo, Cloro e

Flúor, respectivamente, destacaram-se realizando ligações de halogênio com o resíduo de

aminoácido GLU202. O conceito de ligação de halogênio contribui para a especificidade no

reconhecimento de uma grande classe de compostos halogenados. Trata-se de um tipo de

interação eletrostática, decorrente da formação de uma região eletropositiva na superfície do

átomo de halogênio, que servirá como um ácido de Lewis atraindo uma variedade de bases de

Lewis. É considerado um tipo de interação forte, de modo análogo a uma ligação de

hidrogênio (ZHOU et al., 2012; SCHOLFIELD et al.; 2013).

A introdução de átomos de halogênio em compostos líder pode modular propriedades

farmacocinéticas e é uma estratégia de otimização desses compostos, influenciando a

permeabilidade através de membranas e a distribuição nos tecidos (MATTER et al.; 2009).

Derivados de Donepezila, por exemplo, contendo átomos de flúor como substituinte do

sistema indol já foram sintetizados e testados (ANAND e SINGH, 2013).

Tem sido demonstrado experimentalmente que os átomos de cloro e bromo em

compostos orgânicos podem contribuir favoravelmente para a afinidade de ligação no

reconhecimento molecular. Já átomos de flúor em moléculas orgânicas têm sido investigados

devido aos seus efeitos no ganho de afinidade nas interações proteína-ligante em bolsas

hidrofóbicas (BISSANTZ et al, 2010). Porém, ainda é muito pouco conhecida a natureza

dessas interações com resíduos aromáticos de áreas hidrofóbicas de proteínas e a sua

contribuição para as afinidades de ligação (MATTER et al.; 2009).

Os derivados propostos Tzb 10 S, Tzb 13 R e Tzb16 R também apresentaram

interações com o resíduo HIS447 da tríade catalítica e variadas interações de caráter

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119

hidrofóbico do tipo pi-alquil com diversos resíduos do CAS e PAS. Tzb 13 S e Tzb16 S

apresentaram essas mesmas interações, porém, ao invés das ligações de halogênio,

apresentam fracas ligações de hidrogênio. Dentre estes, podemos destacar Tzb13 S, que

realiza três interações com HIS447, sendo uma delas uma fraca ligação de hidrogênio.

Finalmente, o derivado Tzb16 S destaca-se por ser o único ligante a interagir com GLY121,

resíduo de aminoácido pertencente ao sítio oxianiônico.

Figura 58: Melhor pose do derivado Tzb 13 R e interações no sítio da AChE.

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120

Figura 59: Melhor pose do derivado Tzb 13 S e interações no sítio da AChE.

Figura 60: Melhor pose do derivado Tzb 16 R e interações no sítio da AChE.

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121

Figura 61: Melhor pose do derivado Tzb 16 S e interações no sítio da AChE.

Figura 62: Melhor pose do derivado Tzb 10 S e interações no sítio da AChE.

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122

6. CONCLUSÃO

Dentre os metabólitos secundários de Laurencia sp. estudados, o elatol apresentou

maior potencial de inibição da AChE segundo a avaliação in silico por meio do docking

molecular e segundo a avaliação da atividade enzimática por meio do teste

espectrofotométrico de Ellman.

Estudos de rotação específica do elatol revelaram que o metabólito obtido no

presente trabalho a partir de Laurencia dendroidea da população da praia Azeda, localizada

em Búzios-RJ, tratava-se do enantiômero (+)-elatol e o metabólito cedido para os testes

enzimáticos proveniente da população de Biscaia localizada no município de Angra dos Reis-

RJ, tratava-se do enantiômero (-)-elatol. Uma avaliação preliminar da atividade enzimática

por meio do teste espectrofotométrico de Ellman para o (+)-elatol sugeriu que este

enantiômero não teria atividade inibitória em AChE.

Foram sugeridos então, 84 AChEi derivados da molécula de elatol. Os melhores

resultados de docking mostraram interações relevantes, como carga-atrativa, cátion-pi, pontes

salinas, empilhamento pi e ligações de halogênio, além de interações pi-alquil com diversos

resíduos pertencentes ao CAS e PAS, sugerindo que as estruturas planejadas a partir do elatol

poderiam representar novos inibidores duais da AChE, mais potentes que o metabólito de

origem.

O estudo teórico também indicou que todos os candidatos a AChEi possuem boa

permeação através da BHE e outras propriedades ADME-T favoráveis.

Dessa forma, sugerimos a síntese de um derivado de cada classe proposta, de maneira

a explorar o potencial das interações que foram características de cada grupo.

Sugere-se então a síntese do derivado Tza 19 R, representante da classe das aminas

alifáticas, que apresentou interações carga-atrativa com GLU202, cátion-pi com TRP86 e

fraca ligação de hidrogênio com HIS447. Tza 05 S, representante da classe das aminas

cíclicas, realizando duas interações com HIS447: uma fraca ligação de hidrogênio e uma pi

alquil, além de uma ligação carga atrativa com GLU202 e duas interações cátion-pi com

TRP86. Finalmente, sugere-se Tzb 10 S, da classe dos derivados anilínicos, por ter

apresentado potenciais interações por empilhamento-pi com TRP86 e ligações de halogênio

com GLU202.

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123

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