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Apelação Cível n. 2011.023255-3, da Capital Relator: Des. Joel Dias Figueira Júnior APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESPEJO. LOCAÇÃO PARA FINS NÃO RESIDENCIAIS. PRAZO PARA RETOMADA DO IMÓVEL NÃO SUSPENSO NO RECESSO FORENSE. PROPOSITURA DA DEMANDA APÓS TRINTA DIAS DO TERMO FINAL DA AVENÇA. DECADÊNCIA RECONHECIDA. O direito à retomada do imóvel em face do término do contrato de locação para fins não residenciais deve inexoravelmente ser exercido dentro do prazo decadencial de trinta dias após o seu termo final, sob pena de prorrogação presumida da avença, por prazo indeterminado, caso o locatário permaneça no imóvel sem oposição expressa do locador (art. 56, caput e parágrafo único, da Lei n. 8.245/1991). Referido prazo é puramente de direito material e, portanto, não é alcançado por resoluções dos Tribunais de Justiça que determinam a suspensão do expediente e dos prazos processuais em face de recesso forense. Assim, deixando o locador de notificar o locatário para desocupação do imóvel ou de ajuizar a respectiva ação de despejo no prazo legal acima aludido, deve ser reconhecida a decadência do direito em questão. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 2011.023255-3, da comarca da Capital (1ª Vara Cível), em que são apelantes e apelados El Mexicano Ltda. e Waldemira Seixas Ribeiro: ACORDAM, em Primeira Câmara de Direito Civil, por unanimidade, (a) conhecer do recurso interposto pelo Réu e dar-lhe provimento e (b) declarar prejudicado o recurso interposto pela Autora. Custas legais. RELATÓRIO Waldemira Seixas Ribeiro ajuizou ação de despejo contra El Mexicano Ltda., Jorge Martin Fiori, Jaqueline Stela Pereira, Porto Seguro Aluguel Cia. de Seguros Gerais e Brognoli Negócios Imobiliários pelos fatos e fundamentos jurídicos descritos na petição inicial de fls. 2-6, integrando este acórdão o relatório de fls.

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Apelação Cível n. 2011.023255-3, da CapitalRelator: Des. Joel Dias Figueira Júnior

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESPEJO. LOCAÇÃO PARAFINS NÃO RESIDENCIAIS. PRAZO PARA RETOMADA DOIMÓVEL NÃO SUSPENSO NO RECESSO FORENSE.PROPOSITURA DA DEMANDA APÓS TRINTA DIAS DOTERMO FINAL DA AVENÇA. DECADÊNCIA RECONHECIDA.

O direito à retomada do imóvel em face do término docontrato de locação para fins não residenciais deveinexoravelmente ser exercido dentro do prazo decadencial detrinta dias após o seu termo final, sob pena de prorrogaçãopresumida da avença, por prazo indeterminado, caso o locatáriopermaneça no imóvel sem oposição expressa do locador (art. 56,caput e parágrafo único, da Lei n. 8.245/1991).

Referido prazo é puramente de direito material e, portanto,não é alcançado por resoluções dos Tribunais de Justiça quedeterminam a suspensão do expediente e dos prazosprocessuais em face de recesso forense.

Assim, deixando o locador de notificar o locatário paradesocupação do imóvel ou de ajuizar a respectiva ação dedespejo no prazo legal acima aludido, deve ser reconhecida adecadência do direito em questão.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.2011.023255-3, da comarca da Capital (1ª Vara Cível), em que são apelantes eapelados El Mexicano Ltda. e Waldemira Seixas Ribeiro:

ACORDAM, em Primeira Câmara de Direito Civil, por unanimidade, (a)conhecer do recurso interposto pelo Réu e dar-lhe provimento e (b) declararprejudicado o recurso interposto pela Autora. Custas legais.

RELATÓRIO

Waldemira Seixas Ribeiro ajuizou ação de despejo contra El MexicanoLtda., Jorge Martin Fiori, Jaqueline Stela Pereira, Porto Seguro Aluguel Cia. deSeguros Gerais e Brognoli Negócios Imobiliários pelos fatos e fundamentos jurídicosdescritos na petição inicial de fls. 2-6, integrando este acórdão o relatório de fls.

281-282, contido na sentença recorrida.Regularmente citados, os Réus ofereceram respostas em forma de

contestação (fls. 43-47, 72-79, 134-140 e 215-227).Sentenciando, a Magistrada (a) reconheceu a ilegitimidade passiva dos

réus Jorge Martin Fiori, Jaqueline Stela Pereira, Porto Seguro Aluguel Cia. deSeguros Gerais e Brognoli Negócios Imobiliários e, em relação a eles, declarouextinto o processo sem resolução do mérito e (b) julgou procedente o pedidoformulado em face de El Mexicano Ltda. para rescindir o contrato de locação firmadoentre as partes, com a consequente decretação do despejo (fls. 281-286).

Inconformado, o réu El Mexicano Ltda. interpôs recurso de apelaçãoalegando, preliminarmente, a ocorrência de cerceamento de defesa e, no mérito,sustentou a decadência do direito à denúncia vazia e a ausência da sua notificaçãoprévia, além de pleitear o ressarcimento dos valores despendidos com o pagamentodo ponto comercial (fls. 290-301).

O apelo foi recebido apenas no efeito devolutivo (fl. 306).Também a Autora interpôs recurso de apelação objetivando, em síntese,

a decretação do despejo com fulcro no art. 56 da Lei n. 8.245/1991 e não por falta depagamento dos aluguéis e demais encargos - tal como constou na sentença recorrida-, a exclusão da sua condenação a arcar com o ônus da sucumbência e, ainda, oreconhecimento da legitimidade passiva dos demais Demandados (fls. 313-324).

O réu El Mexicano Ltda. informou a interposição de agravo deinstrumento contra a decisão que recebeu o seu apelo apenas no efeito devolutivo(fls. 335-351).

Foi juntada aos autos cópia da decisão que concedeu a antecipação datutela recursal ao agravo acima mencionado, a fim de conferir efeito suspensivo aoapelo interposto por El Mexicano Ltda. (fls. 353-356).

Contrarrazões pela Autora às fls. 359-368.O apelo interposto pela Autora também foi recebido apenas no efeito

devolutivo (fl. 369).Contrarrazões pela ré Porto Seguro Aluguel Cia. de Seguros Gerais às

fls. 372-374.A Autora desistiu da demanda em face de Brognoli Negócios Imobiliários

e de Porto Seguro Aluguel Cia. de Seguros Gerais (fl. 378), o que foi homologado à fl.379.

Foi noticiado o desprovimento do agravo de instrumento interposto porEl Mexicano Ltda. e a cassação do efeito suspensivo nele conferido (fl. 384).

VOTO

Trata-se de apelações cíveis interpostas contra a sentença que, depoisde reconhecer a ilegitimidade passiva de alguns dos demandados e extinguir oprocesso sem resolução do mérito em relação a eles, julgou procedente o pedidoformulado em face do locatário para rescindir o contrato de locação firmado entre aspartes, com a consequente decretação do despejo.

Da análise dos arrazoados da Autora, verifica-se que o pedidodesalijatório fulcra-se exclusivamente na sua intenção de retomar o imóvel - locadopara fins não residenciais - após findo o prazo da locação, em consonância com aprevisão contida no art. 56, caput, da Lei n. 8.245/1991.

Aliás, é justamente esse um dos pontos atacados pela Demandante emseu apelo, tendo em vista que na parte dispositiva da sentença constaequivocadamente a decretação do despejo com base no art. 9º, III, da Lei deLocações, hipótese esta que trata da rescisão da avença por falta de pagamento dosaluguéis e demais encargos, o que não é o caso vertente.

Entretanto, o direito à retomada do imóvel na forma acima mencionadadeve inexoravelmente ser exercido dentro do prazo decadencial de trinta dias após otérmino do período da locação, sob pena de prorrogação presumida da avença, porprazo indeterminado, caso o locatário permaneça no imóvel sem oposição expressado locador (art. 56, parágrafo único, da Lei de Locações).

In casu, a locação foi ajustada pelo prazo de 24 meses, com início em 1ºde dezembro de 2006 e término, portanto, em 30 de novembro de 2008, conformecláusula II do contrato de fls. 9-14. Nessa toada, deveria a Demandante pleitear aretomada do bem locado até o dia 30 de dezembro de 2006.

Assinale-se, pois, que não se tem notícia de que houve nesse período anotificação do Apelado para a desocupação do imóvel, pois a Locadora preferiudiretamente o ajuizamento de ação de despejo para tal finalidade.

No entanto, segundo se infere do registro contido no verso da fl. 2, apresente demanda foi proposta em 7 de janeiro de 2009, ou seja, após decorrido oprazo decadencial do direito em questão.

É cediço, outrossim, que a Resolução n. 37/2008-TJ suspendeu oexpediente e os prazo processuais do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarinano período entre 20 de dezembro de 2008 e 6 de janeiro de 2009, inclusive.Entrementes, o prazo ora em discussão - previsto no art. 56, parágrafo único, da Leide Locações - é de direito material, motivo pelo qual não deve ser alcançado pelaaludida norma editada por esta Corte.

A esse respeito, assevera Waldir de Arruda Miranda Carneiro tratar-sede "prazo que corre normalmente durante as férias forenses. Como esse prazo é dedireito material, ainda a ação de despejo não tivesse curso durante as férias, tal prazocorreria normalmente" (Anotações à Lei do Inquilinato. São Paulo: Revista dosTribunais, 2000. p. 435).

No mesmo sentido, também Gildo dos Santos, citando o acórdãoprolatado pela 1ª Câmara do 2º Tribunal de Alçada Cível de São Paulo no julgamentoda Apelação n 263.208, em 16 de abril de 1990, sob a relatoria de Souza Aranha,afirma que "o prazo que o locador tem para, findo o contrato, ajuizar ação de despejo,sem notificar o locatário, é de direito material e não se suspende pela superveniênciade férias forenses" (Locação e despejo. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,2004. p. 409.

Não obstante, a fim de evitar o perecimento do seu direito, poderia aLocadora ter ajuizado o presente feito mesmo durante o período de recesso do Poder

Judiciário catarinense, em regime de plantão, porém não o fez.Desse modo, deve ser reconhecida a decadência do direito à retomada

do imóvel com base no art. no art. 56, caput, da Lei de Locações.Importa mencionar, de outra banda, ser possível a denúncia vazia do

contrato mediante notificação por escrito para desocupação do imóvel no prazo detrinta dias, conforme os termos do art. 57 da Lei n. 8.245/1991. Assim, após tomadatal providência, poderá a Locadora pleitear a rescisão do contrato de locação semprecisar declinar o motivo da sua pretensão. Todavia, nesse caso, a notificação devepreceder ao ajuizamento da ação de despejo - até mesmo por se tratar de umdocumento indispensável para a propositura de demandas desse jaez -, razão pelaqual a ordem desalijatória não pode agora ser decretada com base nassupervenientes notificações de fls. 329-330 e 331-332.

Diante do exposto, dá-se provimento ao recurso interposto pelo réu ElMexicano Ltda. a fim de reconhecer a decadência do direito reclamado e, com fulcrono art. 269, IV, do Código de Processo Civil, resolve-se o mérito da lide.

Por conseguinte, declara-se prejudicado o apelo de fls. 313-324.Deverá a Demandante arcar com as despesas processuais e com os

honorários advocatícios, arbitrados em R$ 4.000,00, sem prejuízo do ônussucumbencial já fixado em primeira instância em face do reconhecimento dailegitimidade passiva ad causam de alguns dos demandados.

DECISÃO

Nos termos do voto do Relator, decidiu a Primeira Câmara de DireitoCivil, por unanimidade, (a) conhecer do recurso interposto pelo Réu e dar-lheprovimento a fim de reconhecer a decadência do direito à retomada do imóvel combase no art. no art. 56, caput, da Lei de Locações e (b) declarar prejudicada a análisedo recurso interposto pela Autora.

Presidiu o julgamento, realizado no dia 28 de junho de 2011, oExcelentíssimo Senhor Desembargador Carlos Prudêncio, com voto, e dele participoua Excelentíssima Senhora Desembargadora Substituta Denise Volpato.

Florianópolis, 6 de julho de 2011.

Joel Dias Figueira JúniorRELATOR