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Fotos Shutterstock Viaje em paz Para que o sonho do intercâmbio não vire pesadelo, preparamos um dossiê para você não cair em ciladas SERVIÇO INTERCÂMBIO 2 6 Julho 2013 REVISTA DO IDEC Shutterstock/Montagem Idec

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SERVIÇO INTERCÂMBIO

26 • Julho 2013 • REVISTA DO IDEC

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possa ser facilmente resolvido, nem que estrague a viagem. Victoria teve alguns conflitos com a família que a hospedou. “Eles não me deixavam usar o celular, o computador e quase não permitiam que eu saísse de casa”, relembra a estudante, que viajou em 2011. Esse é um choque cultural comum, mas, como a interação com a escola e os estudantes locais é fundamental para o sucesso do programa, Victoria expôs seus problemas para a representante de área de seu programa de intercâmbio, que concordou em procurar uma nova família para ela. E a história teve um final feliz. “Com a segunda família, a experiência foi ótima. Nós viajamos juntos para outros estados, até”. Dois anos depois, Victoria ainda mantém contato tanto com a “sua” família americana quanto com os amigos que conheceu na terra do Tio Sam.

Já o consultor estratégico Bruno Padilha, 23 anos, de Campinas (SP) não teve a mesma sorte. Em 2010, ele foi apri-morar o seu inglês em Toronto, Canadá, mas, quando chegou lá, descobriu que a sua host family era filipina. “O inglês deles era quase incompreensível, e eles falavam com frequência na língua nativa, o que tornava a comunicação bastante compli-cada”, conta. O intercambista ainda teve problemas com a comida. “Eu nunca sabia o que estava comendo, pois nunca tinha visto nada parecido, e as explicações deles não ajudavam muito. No fim, começamos a nos comunicar por meio de bilhetes, mas passei aperto nos 40 dias em que fiquei na casa”, diz. Na época, Bruno tentou conversar com a dire-toria da escola, mas eles acharam que era exagero dele e não o ajudaram a procurar uma nova estadia.

A engenheira química ca- rioca Fernanda da Costa, 30 anos, também teve uma surpresa com a fa- mília que a hospedou

Apaulista Victoria Legnini tinha 16 anos quando arrumou as malas e foi estudar em Gwinner, uma

pequena cidade na Dakota do Norte (EUA). Ela optou por se hospedar em uma casa de família, mas poderia ter escolhido o campus da escola, uma residência estu-dantil, um albergue – enfim, escolha é o que não falta. Com o mercado cada vez mais competitivo e globalizado, pessoas de idades variadas têm investido no inter-câmbio cultural, como fez Victoria. Além do aprendizado de uma segunda língua, a experiência de viver em outro país estimula o amadurecimento e acaba com certos pre-conceitos. Além, claro, das novas amizades que são conquistadas.

Entrar em contato intenso com o idioma que se quer aperfeiçoar e conhecer culturas e pessoas de países diferentes é, inclusive, a ideia de base do intercâmbio cultural. Esse tipo de programa se popularizou após a Segunda Guerra Mundial com o objetivo de desenvolver a capacidade de liderança dos jovens e promover a compreensão e a paz entre as nações, por meio do estudo e de prestações de serviços à comunidade.

Desde então, a variedade de intercâmbios se multiplicou, e o Brasil se destaca nesse mercado mundial. Em 2012, 175.763 bra-sileiros fizeram cursos no exterior, segundo a Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais. A maioria dos jovens foi em busca de cursos de idiomas, mas parte desse número é de estudantes de high school (ensino médio), extensão universitá-ria, experiência de trabalho e au pair (pro-grama em que a pessoa estuda e trabalha como babá em casa de família).

PROBLEMAS CONTORNÁVEISFazer um intercâmbio exige que o

estudante seja flexível e aberto a novas experiências. Alguns probleminhas podem ocorrer, mas, geralmente, nada que não

Bruno Padilha teveproblemas com a família

que o hospedou no Canadá

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durante o curso intensivo de inglês que ela fez em Cambridge, nos Estados Unidos, no ano passado: a “mãe” era brasileira, mas ela só soube disso quando chegou lá. A novidade não foi muito bem recebida, afinal, o que um intercambista menos quer é falar português. “Mas, no fim das contas, não tive problema. Ela mora lá há muitos anos, a filha dela é americana, inclusive, e elas conversavam em inglês o tempo todo comigo”, conta.

Em alguns programas, principalmente nos que incluem cursos de idiomas, o aluno tem a opção de escolher acomo-dação entre apartamentos de estudantes ou casas de famílias. No geral, o pro-grama inclui um quarto e uma refeição por dia. Segundo o advogado do Idec Flavio Siqueira Junior, a agência contrata-da é obrigada a passar o maior número de informações possíveis. O direito à infor-mação, incluindo os riscos que o programa apresenta, está previsto nos artigos 6, III, e 31 do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Portanto, o aluno deve saber antes de embarcar a nacionalidade da família, a

localização da casa, a distância entre a hospedagem e a escola, entre outras coisas.

Apesar do problema com a família, Bruno se diz satisfeito com o programa, uma vez que todo o resto foi satisfatório. “Esse foi apenas um detalhe inusitado e um pouco descon-fortável, mas aprendi a lidar com ele durante a estadia”, diz. Para o advogado do Idec, esse pode ser um dos motivos da ausência de reclamações contra agências de intercâmbios no Procon. “A pessoa volta feliz com a viagem, com as expe-riências, um pouco cansada também, e pode interpretar a superação desses problemas como parte do aprendizado do intercâmbio. Então deixa para lá”, aponta Siqueira. “Mas é importante que as pessoas registrem qualquer tipo de contra-tempo que surja durante a viagem, pois a prestação de servi-ços só irá melhorar quando os cidadãos começarem a brigar por melhorias”, ele acredita.

A recomendação é que o viajante insatisfeito entre em con-tato com a empresa assim que chegar ao Brasil, de preferência por e-mail, relatando o problema ocorrido para tentar um acordo. Se a empresa não responder ou não atender ao que a pessoa achar de direito, ela pode ir até o Procon e registrar a reclamação. Se mesmo assim, a empresa permanecer inerte, é importante o cliente saber que tem até cinco anos contados a partir da data de volta para entrar na Justiça.

CONTRATAR UMA AGÊNCIA OU VIAJAR POR CONTA PRÓPRIA?

Para evitar roubadas, o intercambista deve fazer uma pes-quisa detalhada sobre o destino e os cuidados a serem tomados. Por exemplo, a empresa pode e deve orientar o cliente em caso de perda de documentos, mas ela não é responsável por pro-videnciá-los novamente, de acordo com o advogado do Idec.

Foi com um descuido desses que o sonho da jornalista Letícia Alassë, 24 anos, do Rio de Janeiro (RJ), virou pesadelo. Em 2009, ela contratou o programa de uma agência de inter-câmbio e foi para Rutland, no estado americano de Vermont, para trabalhar. Mas, lá, perdeu o I-9 Form – formulário de imigração recebido no aeroporto. Sem o documento, ela não pôde tirar o “Social Security” – autorização de trabalho do país. “Durante um mês vivi na penúria, porque não pude trabalhar, e na dúvida se poderia voltar para o Brasil, porque não tinha autorização para sair do país”, conta. Ela passou um mês fazendo “bicos” ilegais para se manter e adquiriu dívidas que só foram saldadas quando finalmente conseguiu regularizar a situação.

Fernanda da Costa ficou na casa de uma brasileira nos Estados Unidos, mas só soube disso ao chegar lá

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Dicas úteisl Verifique se a agência é confiável. Faça pesquisas em sites de relaciona-

mentos, blogs de viajantes e fóruns sobre o tema e use os sites de busca da In-ternet para procurar pessoas que utilizaram os serviços e consultar reclamações;

l Prefira um programa de intercâmbio que disponha de representantes locais; eles podem ser úteis em caso de problemas durante a viagem.

l No momento da contratação dos serviços, exija o máximo de informações e saia de lá com todas as dúvidas esclarecidas. Peça todas as informações por escrito. Tudo o que o vendedor disser deve ser cumprido, mas, se estiver escrito em contrato, é mais fácil de se comprovar depois. E, por falar em contrato, leia-o com atenção antes de assinar.

l Guarde os folhetos promocionais dos serviços.

l Depois de assinar o contrato, acompanhe todos os procedimentos. Não deixe que a empresa resolva tudo sem lhe consultar. Ligue, mande e-mail, entre em contato para saber como está o andamento do processo e aproveite para tirar eventuais dívidas que surgirem. Confirme as datas e horários de voos, informações sobre as acomodações etc.

l Mesmo que a agência passe informações sobre documentos e tipos de vistos, confirme nos consulados.

l Não se esqueça de ver se o seu programa inclui seguro viagem. Não saia do Brasil sem ele. As seguradoras podem ajudar em diversas situações, desde extravios de bagagens até em casos de acidentes e problemas de saúde.

l Programe-se: pense na viagem com antecedência e faça uma poupança mensal para não passar perrengue lá fora nem voltar com dívidas.

Fontes: Rodrigo Macedo, presidente da FITTA Turismo; Flavio Siqueira, advogado do Idec; Suzana Martins, gerente de marketing da STB

Se mesmo com agências especializadas ninguém está imune aos problemas, para quem pretende estudar fora do país por conta própria, o cuidado deve ser redo-brado. Entre as vantagens está o fato de se gastar menos, além de ter mais liberdade para escolher o lugar, a acomodação e a escola. Mas a escolha deve ser feita com muito mais cautela. “Os problemas são muito mais difíceis de serem resolvidos na volta para o Brasil, principalmente se o fornecedor contratado for estrangeiro e não tiver representantes em nosso país, pois, nesse caso, o CDC não se aplica”, alerta Siqueira. “Pesquise muito e pro-cure pessoas confiáveis que pos-sam te dar indicações e refe- rências”, recomenda o advogado do Idec.

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