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1 RAQUEL MACHADO PEREIRA RODRIGUES SERVIÇO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DO (A) ASSISTENTE SOCIAL NO SESC/FORTALEZA E SUA ARTICULAÇÃO COM O PROJETO ÉTICO POLÍTICO Monografia submetida à aprovação Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará Faculdade Cearense FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação. Fortaleza-CE 2013

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Page 1: SERVIÇO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DO (A) ASSISTENTE SOCIAL ... · 2014-07-22 · 1.2 O SURGIMENTO DO TERCEIRO SETOR E O NOVO TRATO À QUESTÃO SOCIAL

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RAQUEL MACHADO PEREIRA RODRIGUES

SERVIÇO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DO (A) ASSISTENTE SOCIAL NO SESC/FORTALEZA E SUA ARTICULAÇÃO

COM O PROJETO ÉTICO POLÍTICO

Monografia submetida à aprovação Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará Faculdade Cearense – FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação.

Fortaleza-CE 2013

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RAQUEL MACHADO PEREIRA RODRIGUES

SERVIÇO SOCIAL NO TERCEIRO SETOR: UMA ANÁLISE DA PRÁTICA DO (A) ASSISTENTE SOCIAL NO SESC/FORTALEZA E SUA ARTICULAÇÃO

COM O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Profº Msº. Daniel Rogers De Souza Ferreira

(Orientador)

___________________________________________ Profª Msª Elizângela Nunes Assunção

___________________________________________

Profª Espª. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

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Dedico aos meus Pais e minha irmã Diana.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, que me deu o sopro de vida sem Ele não estaria aqui, que me deu e continua me dando forças e sustento para continuar essa longa caminhada de aprendizado.

Aos meus pais Edval Alves Pereira e Aldereis Machado Pereira que são minha base de existência e que me apoiaram em tudo desde o começo do curso, muito obrigada por terem acreditado em mim. À minha irmã Diana Machado, sempre contagiando a todos com sua alegria de viver. Obrigada pelo carinho e amor de toda minha família, sem vocês eu não seria nada.

Ao Ronaldo Rodrigues, meu marido, presente que Deus me deu. Obrigada meu amor por todo companheirismo, carinho e paciência que tanto você tem comigo. Amo você!

As minhas amigas maravilhosas de sala de aula, (Angélica Braga, Evilene Pessoa, Mayara Rodrigues, Marisa Albuquerque, Jamylly Maciel, Daiane Faustino, Carla Lúcia Mesquita, Danielle Soares, Eliane Avelino, Haline Almeida). Muito obrigada meninas pela amizade e companheirismo de vocês.

Em especial a Angélica, sempre muito atenciosa comigo, sendo muitas vezes minha confidente e conselheira. E a Eliane Avelino, minha irmã em Cristo e de Gileade, que pôde me passar muita maturidade espiritual.

Meu muito obrigado ao meu orientador Daniel Rogers, pela disponibilidade, pelo apoio e paciência durante a elaboração deste trabalho. As Assistentes Sociais do SESC que participaram desta pesquisa. A instituição SESC – Serviço Social do Comércio que autorizou entrevistar as profissionais de Serviço Social.

A banca examinadora, Elizângela Assunção Nunes e Talitta Cavalcante A. Vasconcelos. Meu muito obrigada por aceitaram a participarem deste momento tão importante na minha vida.

Enfim, obrigada a todos (família e amigos) que de alguma forma contribuíram direta e indiretamente durante a elaboração deste trabalho.

Obrigada a todos!

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“Pois a sabedoria entrará em seu coração, e o conhecimento será agradável à

sua alma”. Provérbios 2:10.

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RESUMO O presente estudo trata do exercício profissional do Assistente Social no “Terceiro Setor”, tendo como campo de pesquisa o SESC- Serviço Social do Comércio de Fortaleza, a fim de refletir e problematizar sua atuação nesse espaço sócio-ocupacional, articuladas ao projeto ético-político do Serviço Social, e quais os desafios enfrentados pelo Serviço Social nesta área. Cabe ressaltar que o SESC/FORTALEZA se insere na lógica do “Terceiro Setor”, devido às investidas neoliberais como estratégia do capital diante da conjuntura de reestruturação capitalista. No pós-1970, em função das crises do capital, a relação Estado e sociedade sofre profundas alterações acarretando consequências na vida econômica, política e social da sociedade. Momento em que há a desresponsabilização do Estado, ou seja, ocorre o deslocamento do trato da questão social do Estado para o “Terceiro Setor”. Essas transformações também ocasionam modificações para o Serviço Social, reconfigurando os espaços sócio-ocupacionais e requisitando novas formas de atuação para o Serviço Social. Essa pesquisa qualitativa, que proporciona analisar de forma mais ampla a realidade estudada, teve por base a atual conjuntura que caracteriza e amplia o “Terceiro Setor”. Neste sentido, o objetivo geral deste estudo foi analisar a articulação da atuação do Assistente Social no SESC/FORTALEZA inserido na lógica do “Terceiro Setor”, com o projeto ético-político profissional, considerando as determinações do projeto neoliberal na atualidade. Por objetivos específicos temos o seguinte: Analisar quais as principais demandas e atribuições das (os) Assistentes Sociais na instituição; Analisar quais as principais dificuldades enfrentadas pelo Serviço Social e Analisar como o projeto ético- político profissional vem sendo materializado no exercício das (os) Assistentes Sociais no SESC/FORTALEZA. Alguns resultados podem ser destacados: a) a sobrecarga de trabalho para as profissionais; b) falta de profissionais em alguns setores; c) As Assistentes Sociais buscam articular sua prática profissional com o projeto ético-político da profissão, apesar das dificuldades enfrentadas no cotidiano profissional. Palavras-chave: “Terceiro Setor”. Projeto Neoliberal. Prática profissional. Projeto ético-político

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ABSTRACT The present study deals with the professional practice of the social worker in "Third Sector", with the search field SESC-Commerce Social Service of Fortaleza, in order to reflect and discuss their performance in the socio-occupational, articulated the ethical- Political Social Services, and what the challenges faced by Social Services in this area. Note that the SESC / FORTRESS fits the logic of the "Third Sector", due to neoliberal invested as capital strategy on the conjuncture of capitalist restructuring. In the post-1970 due to the crises of capital, the relationship between the state and society undergoes profound changes resulting consequences in economic, social and political society. Moment there is a disengagement of the State, ie, the displacement tract of the social question of the state for the "Third Sector". These changes also cause changes to Social Work, reconfiguring spaces socio-occupational and ordering new ways of working for Social Services. This qualitative research provides a broader analysis of the reality studied, was based on the current situation that characterizes and extends the "Third Sector". In this sense, the aim of this study was to analyze the joint action of the Social Worker at SESC / FORTRESS inserted into the logic of the "Third Sector", with the ethical-political professional, considering the provisions of the neoliberal project today. Why we have the following specific objectives: Analyze what the main demands and duties of (the) Social Workers in the institution; analyze the main difficulties faced by Social Services and analyze how the ethical-political professional has been materialized in the exercise of (the) Social Workers at SESC / FORTRESS. Some results can be highlighted: a) the workload for professionals, b) lack of professionals in some sectors, c) Social workers seek to articulate their professional practice with the ethical-political project of the profession, despite the difficulties faced in everyday professional Keywords: "Third Sector". Neoliberal Project. Professional practice. Ethical-political project.

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LISTA DE SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira De Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CFESS- Conselho Federal de Serviço Social

CRESS- Conselho Regional de Serviço Social

ENESSO- Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente

LOAS- Lei Orgânica de Assistência Social

MEC- Ministério da Educação e Cultura

ONG´S – Organizações não- governamentais

OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo

SENAC- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI- Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESC- Serviço Social do Comércio

SESC/FORT- Serviço Social do Comércio de Fortaleza

SESI- Serviço Social da Indústria

TCLE – Termo de Consentimento Livre

TSI – Trabalho Social com Idosos

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................ 10

I. A REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA E A NOVA RELAÇÃO DO ESTADO COM A SOCIEDADE....................................................................................... 14 1.1 O ESTADO E A SOCIEDADE INSERIDOS NO PROJETO

NEOLIBERAL................................................................................................... 15

1.2 O SURGIMENTO DO TERCEIRO SETOR E O NOVO TRATO À

QUESTÃO SOCIAL......................................................................................... 27

II. O SERVIÇO SOCIAL E O PROJETO ÉTICO – POLÍTICO

PROFISSIONAL.............................................................................................. 35

2.1 UM RESGATE DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL NO

BRASIL............................................................................................................ .36

2.2 O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL...................................... 46

2.3 OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SERVIÇO SOCIAL DIANTE DA

ATUAL CONJUNTURA PARA MATERIALIZAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-

POLÍTICO........................................................................................................ 50

III. O SERVIÇO SOCIAL NO SESC/ FORTALEZA......................................... 56

3.1 O SESC: ORIGEM, TRAJETÓRIA E ATUALIDADE.................................. 56

3.2 ATRIBUIÇÕES E DEMANDAS DAS ASSISTENTES SOCIAIS NO

SESC/FORTALEZA......................................................................................... 60

3.3 AS DIFICULDADES VIVENCIADAS PELAS AS ASSISTENTES SOCIAIS

ENTREVISTADAS.......................................................................................... 65

3.4 A ARTICULAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL NA

ATUAÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS ENTREVISTADAS................................ 68

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 80

APÊNDICES.................................................................................................... 85

APÊNDICE N° I................................................................................................ 85

APÊNDICE N° II................................................................................................ 88

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INTRODUÇÃO

Nos fins da década de 1970, em função das muitas crises que o capital

vinha enfrentando, ocorrem profundas modificações entre o Estado e

sociedade, refletindo assim consequências na vida política, econômica e social

da sociedade.

É o momento em que o Estado vai se tornando, cada vez mais “enxuto”

no trato principalmente com a questão social, retirando boa parte de sua

responsabilidade e transferindo-a para o chamado “Terceiro Setor”.

O Terceiro Setor surgiu1 como uma nova forma de resposta, às

consequências da questão social, trazendo consigo uma lógica que exalta

ações voltadas ao voluntariado, à filantropia e principalmente a

responsabilidade social.

Diante disso há uma fragmentação, precarização e focalização nas

políticas sociais, seguida de uma descaracterização dos direitos sociais

conquistados pela a sociedade. (MONTAÑO, 2010)

Todas essas transformações ocorridas na sociedade também geram

profundas alterações para o Serviço Social, principalmente no diz que respeito

ao mercado profissional de trabalho, aonde seu maior empregador que é o

Estado, está se retraindo cada vez mais em relação ao atendimento às

necessidades das pessoas mais pauperizadas e excluídas. Diante desse

quadro há uma reconfiguração dos espaços sócio-ocupacionais do Serviço

Social exigindo novas formas de atuação para o Assistente Social.

Com o atual sistema em que estamos inseridos, que é regido pelo

projeto neoliberal, que vem causando o deterioramento da prestação dos

serviços sociais públicos, aonde há uma transferência de responsabilidade do

público para o privado, é que referencio a minha pesquisa na instituição

Serviço Social do Comércio – SESC, que está inserida dentro dessa lógica

neoliberal, sendo uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos

mantidos por empresários do comércio de bens e serviços, caracterizada como

uma instituição pública não estatal.

1“Estima-se que hoje, no Brasil, existam cerca de 400 mil organizações não governamentais (ONG´S) registradas e cerca de 4 mil fundações. Segundo dados da Receita Federal, em 1991 havia cerca de 220 mil entidades registradas como ‘sem fins lucrativos’ ” (MONTAÑO, 2010, p. 14)

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Diante desse cenário contemporâneo que o Serviço Social está inserido,

novas atuações são exigidas do assistente social e novos espaços sócio-

ocupacionais vão surgindo2, um deles é o Terceiro Setor que vem requisitando

cada vez mais o profissional do Serviço Social.

Então com isso, pensando na reestruturação produtiva ocorrida no

capital, seguido das novas formas de relações entre o Estado e sociedade civil

e o Serviço Social inserido todo nesse contexto é que chegamos ao objetivo

principal dessa pesquisa que é fazer uma análise da prática do assistente

social no terceiro setor, delimitando o campo de pesquisa na instituição Serviço

Social do Comércio – SESC/Fortaleza e fazendo uma articulação desta prática

do Assistente Social tendo em vista o projeto ético-político profissional.

O interesse pela temática surgiu como uma forma de entender como se

dá a atuação do Serviço Social no “Terceiro Setor”, este espaço que se mostra

tão contraditório aos Assistentes Sociais. Então a escolha do tema aparece

para mim, como um desafio de discutir a prática profissional em um dos

inúmeros espaços sócio-ocupacionais que vem requisitando o Serviço Social.

Por objetivos específicos foram delimitados o seguinte:

- Conhecer as principais demandas e atribuições postas no cotidiano

profissional dos Assistentes Sociais no SESC/Fortaleza, discutindo a

conjuntura neoliberal e expansão do “Terceiro setor”;

- Analisar quais os desafios da prática do Serviço Social no

SESC/Fortaleza;

- Analisar se o projeto ético-político profissional tem se efetivado durante

a prática do assistente social na instituição.

Diante da busca de uma maior apreensão da realidade, será utilizado o

método de pesquisa qualitativa que de acordo com Minayo:

Trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO, 2012, p.21).

2Segundo Santos (2007, p. 129), [...] em pesquisa recente sobre o mercado de trabalho do assistente social no Brasil, o Conselho Federal de Serviço Social apresentou que o setor estatal continua sendo o maior empregador de assistentes sociais (78%, 16%), mas há um crescimento nas organizações do chamado terceiro setor: cerca de 7% dos assistentes sociais apresentam inserção formal nesse espaço [...].

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Com a pesquisa qualitativa, podemos nos aprofundar cada vez mais no

mundo dos significados, das vivências dos sujeitos. Através da pesquisa

qualitativa, poderemos analisar de forma ampla a realidade da prática do

Serviço Social no Terceiro Setor, especificamente na instituição do

SESC/Fortaleza.

Para tanto, foram utilizados os seguintes procedimentos: Levantamento

bibliográfico e documental – foi realizada uma pesquisa e classificação de

bibliografias a respeito do assunto pesquisado, bem como consulta a

documentos e legislações, como o Código de Ética de 1993 e documentos

específicos do SESC/Fortaleza.

Foram realizadas entrevistas com as quatro Assistentes Sociais da

instituição, mediante roteiro semiestruturado3 com o objetivo de compreender a

prática profissional do Serviço Social no SESC/Fortaleza, dando ênfase as

demandas, atribuições e respostas profissionais dos assistentes sociais;

Organização e análise de dados obtidos para viabilizar a elaboração da

pesquisa e a redação do trabalho de conclusão de curso.

Na pesquisa de campo durante a coleta de dados, foi utilizada a

entrevista semiestruturada que de acordo com Minayo (2012) esse modo de

entrevista faz uma combinação de perguntas abertas e fechadas,

proporcionando ao entrevistado a possibilidade de discorrer sobre o tema

proposto com mais liberdade.

Durante o momento da entrevista foi tomado os devidos cuidados

éticos, bem como o direito de recusa do entrevistado a responder a perguntas

ou a interromper a entrevista a qualquer momento, evitando qualquer tipo de

constrangimento ao mesmo. Foi garantido também ao entrevistado o

anonimato durante a entrevista, para isso foi necessário um Termo de

Consentimento Livre (TCLE) 4.

O presente Trabalho de Conclusão de Curso é constituído de três

capítulos. No primeiro capítulo buscamos contextualizar o processo de

reestruturação produtiva do capitalismo pós- 1970, com o objetivo de estudar e

aprofundar o conhecimento sobre as transformações ocorridas na sociedade e

3 Ver Apêndiece I – As entrevistas foram realizadas no dia 28/03/2013 com quatro Assistentes

Sociais 4 Ver Apêndice II

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a reconfiguração do Estado diante dos ditames do projeto neoliberal, bem

como a nova relação deste com a sociedade civil, analisando o debate acerca

do surgimento e expansão do “Terceiro Setor” como uma estratégia do

neoliberalismo no enfrentamento às expressões da questão social.

No segundo capítulo analisamos a prática profissional do Assistente

Social na atualidade, para isso se fez necessário uma recuperação da trajetória

sócio-histórica do Serviço Social e a análise da importância e emergência da

profissão na sociedade capitalista. Também procuramos estudar sobre a

constituição, a função e os principais desafios enfrentados pelos (as)

Assistentes Sociais no que se refere a materialização do projeto ético-político

profissional, refletindo sobre a profissão na contemporaneidade, observando

quais os limites e possibilidades de atuação diante da atual conjuntura.

No terceiro capítulo fazemos a caracterização do SESC/Fortaleza,

ressaltando sua origem, trajetória e como esta instituição atua na atualidade,

fazemos também uma trajetória histórica do Serviço Social no Brasil, e por

último fizemos uma análise das entrevistas com as (os) Assistentes Sociais,

analisando as falas e fazendo as devidas discussões sobre a realidade

encontrada na instituição, procurando principalmente refletir sobre a relação do

exercício profissional e o projeto ético-político profissional no SESC/Fortaleza.

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I. A REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA E A NOVA RELAÇÃO DO ESTADO COM A SOCIEDADE.

O presente capítulo tem por objetivo estudar e aprofundar o

conhecimento sobre as mudanças societárias, e a reconfiguração do Estado e

sua nova relação com sociedade diante das imposições do projeto neoliberal, o

que nos proporciona uma reflexão sobre as transformações políticas,

econômicas e sociais da sociedade, acarretadas pelo processo de

desresponsabilização do Estado e a transferência dessa responsabilidade para

a sociedade civil, no tocante ao enfrentamento das expressões da questão

social.

O neoliberalismo é centrado nos ajustes econômicos, materializado na

apologia da privatização e da supremacia do mercado, na cultura anti-Estado,

na exaltação da sociedade civil e das classes subalternas à adesão a essa

lógica, desqualificando a política e a democracia.

A dinâmica da sociedade capitalista é permeada pelo surgimento de

crises que lhe impõe a necessidade de respostas e estratégias para sua

reconfiguração hegemônica. O “Terceiro Setor” situa-se como uma estratégia

capitalista e do projeto neoliberal de enfrentamento às expressões da questão

social, já que a intervenção do Estado torna-se cada vez mais minimizada ou

até mesmo totalmente ausente na área social.

Há a ocorrência de uma modalidade de parceria do privado com o

público, assim, consequentemente o “Terceiro Setor” surge como um dos frutos

dessa parceria, que pode ser caracterizado por instituições como ONG´S,

entidades filantrópicas e filantropia empresarial, como exemplo citamos o

Serviço Social do Comércio de Fortaleza/CE (SESC/FORT), que passa a atuar

na área social, que faz do conhecido Sistema “S”, que foi criado em meados da

década de 1940.

Ressaltando que durante o estudo, o termo “Terceiro Setor” será

empregado com aspas, não por acaso, pois segundo Montaño (2010, p.16) o

termo em questão é permeado por muitas contradições, sua origem diz

respeito a “visões segmentadoras, setorializadoras da realidade social” o que

não condiz com o nosso referencial teórico-metodológico, que será utilizado

para análise desse fenômeno que tem uma relação direta com a reestruturação

produtiva do capital, que se refere cada vez mais ao afastamento do Estado de

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suas responsabilidades no tocante as sequelas da questão social, assim, o

termo “Terceiro Setor” é considerado um conceito ideológico, que procura

encobrir e desarticular o real.

1.1 O ESTADO E A SOCIEDADE INSERIDOS NO PROJETO NEOLIBERAL

A sociedade e o Estado na lógica capitalista sofrem profundas

alterações ao longo dos anos por conta das várias crises do capital. Assim, é

necessário analisarmos os papéis da sociedade e do Estado e quais as

mudanças que ocorrem nesses espaços diante das crises do capitalismo,

avaliando também quais suas estratégias de enfrentamento especialmente

após a crise de 1970, em que o projeto neoliberal impõe novas características

e novas formas de relação entre o Estado e a sociedade.

A crise estrutural do capitalismo, que se espalhou pelo mundo a partir da

década de 1970 e particularmente nas décadas seguintes, deflagrou, no

entanto, alterações significativas nos campos social, econômico e político, tanto

nos países centrais quanto nos periféricos, provocando o rompimento do pacto

fordista keynesiano e a emergência de novas articulações entre economia e

sociedade. As respostas do capitalismo à própria crise articularam-se em torno

de um movimento de ajuste global, com políticas macroeconômicas voltadas a

um amplo processo de reordenamento em âmbito internacional. (SIMIONATO,

2006).

Trata-se na verdade de uma crise cíclica ou regular do capitalismo

caracterizada pelo excesso de produção sobre a demanda por bens de capital

e de consumo. Tal descompasso propicia queda brusca da produção com

consequências depressivas e recessivas tanto do ponto econômico como

social.

Ainda segundo Simionato (2006), como consequência da crise do

capitalismo a partir da década de 1970, podemos destacar dois movimentos

que são: a reestruturação produtiva, que se origina na reorganização do mundo

do trabalho e das forças produtivas em função dos impactos da Terceira

Revolução Industrial, e as modificações do papel do Estado que começa a ser

questionado sobre a função que estava exercendo, que era de regulador e

interventor o que não agradava o livre desenvolvimento das forças do mercado.

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A partir disso, geraram-se profundas alterações nas funções do Estado,

com “medidas de cunho administrativo, econômico e ideológico.”

No plano administrativo, as alterações exigiram orçamentos estatais equilibrados, redução dos gastos públicos e reforma tributária (com impostos voltados ao consumo e não à propriedade e ao lucro). No âmbito econômico,indicou-se a necessidade da ampliação de capitais excedentes no mercado mundial, com taxas de juros favoráveis à captação de capitais ociosos, da fixação cambial estável e alta em relação ao dólar e da abertura comercial. Já na esfera ideológica, impôs-se a ótica da iniciativa privada em todas as políticas sociais e reformas institucionais, reafirmando-se os direitos da propriedade individual e erodindo-se os modelos de proteção social construídos no âmbito do welfare state. (SIMIONATO, 2006, P. 05).

Assim há uma modificação do capitalismo, que passam por períodos de

crescimento e, também, por momentos de estagnação. Assim, na dinâmica do

capital, é possível observar a ocorrência de várias crises no decorrer de sua

história, assim, como Mota (2008) podemos afirmar que as crises econômicas

são inerentes ao desenvolvimento do capitalismo, e que diante de sua

expansão as crises tornam-se tendências presentes.

Segundo a autora “as crises expressam um desequilíbrio entre a

produção e o consumo, comprometendo a realização do capital” (MOTA, 2009,

p. 53), ou seja, quando a produção é maior do que o poder de compra da

sociedade, há um excesso de estoques, uma alta taxa de acumulação de

mercadorias afetando assim, a lógica capitalista.

Essas crises que estão longe de serem naturais geram muitas

consequências, como por exemplo, acúmulo de mercadorias, falências, queda

dos lucros, desemprego e um considerável empobrecimento da classe

trabalhadora, pois “não bastam produzir mercadorias, estas precisam ser

transformadas em dinheiro”. (MOTA, 2009, p. 53).

Assim, esses desequilíbrios econômicos provocam um caos na esfera

econômica, política e social. Importante destacar que as consequências das

crises são vivenciadas de formas diferenciadas pelos os trabalhadores e pelos

capitalistas, para estes as crises significam o poder de dominação ameaçado,

já para os trabalhadores é sinal de mais submissão intensificada.

“As crises são funcionais ao modo de produção capitalista, constituindo-

se num mecanismo que determina a restauração das condições de

acumulação, sempre em níveis mais complexos.” (NETTO E BRAZ apud

MOTA, 2009, p.54).

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Por isso, diante de todo esse cenário de crises que rondam o

capitalismo, se faz necessário um processo de reestruturação/restauração do

mesmo para que esta dominação burguesa venha continuar dominando. Como

esses colapsos são partes funcionais do capital, geram transformações nesse

modo de produção, e conforme acontecem determinam as condições dessa

reestruturação/restauração.

Isso significa que as crises não ocasionam, mecanicamente, colapso do capitalismo. Elas deflagram um período histórico de acirramento das contradições fundamentais do modo capitalista de produção que afeta sobremaneira o ambiente político e as relações de força entre as classes. Por ocasião das crises deflagra-se um processo no qual mudanças significativas ocorrem, sejam elas no interior da ordem, sejam em direção a um processo revolucionário, dependendo das condições objetivas e das forças sociais em confronto. (MOTA, 2009, p.54.)

Durante os anos que seguem o segundo pós-guerra5, o capitalismo

atravessou uma fase de expansão, onde o capitalismo monopolista toma o

lugar do capitalismo concorrencial, assim passou por profundas alterações na

sua ordem e dinâmica transformando a estrutura social, econômica e política

da sociedade. Neste momento nos deparamos com a constituição do Welfare

State que tem como base o fordismo e o keynesianismo6, a ampliação de

empregos e salários e de avanços tecnológicos.

O modelo de Estado do Welfare State ainda que atrelado a algumas

estratégias do capital, procurou proporcionar de certa forma a oferta de bens e

serviços de natureza pública e de reconhecimento dos chamados direitos

sociais e universais, dentro dos limites da burguesia. (SIMIONATTO, 2006).

Com a dinâmica do capital de crise e restauração, se fazia necessário

uma nova modalidade de intervenção do Estado, “tendo como principal papel

um instrumento de organização da economia, operando notadamente como um

administrador dos ciclos da crise” (NETTO, 2011, p.26).

Para Netto (2011), o capitalismo monopolista surge a partir da urgência

de alcançar primeiramente um objetivo principal, que era “o acréscimo dos

lucros capitalistas através do controle dos mercados”. Há a introdução de uma

5 Ressaltando que o SESC surge no Brasil no ano 1946. 6 Surge um novo modo de produção para o consumo em massa, que tem por base linhas de montagem a fim de se ter maior ganho e produtividade. Época em que gera expansão do capital e dos direitos sociais. Momento este considerado como “onda longa expansiva do capitalismo” (MANDEL, 2009, apud MOTA, p. 05).

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nova dinâmica na economia capitalista, como por exemplo, o aumento dos

preços das mercadorias produzidas, altas taxas de lucro e aumento dos custos

de venda.

Todos esses processos de mudanças vão até a década de 1970,

momento em que o mundo passa por profundas transformações societárias,

devido à necessidade de se encontrar respostas para a crise que se inicia,

após os novos processos vivenciados pelas mudanças ocorridas pelo

capitalismo monopolista, mudanças essas refletidas tanto no processo de

acumulação do capital e na sua gestão, como na vida da classe trabalhadora.

O capitalismo monopolista de Estado se instaura no Brasil no final do período

de Juscelino, que é marcada pela última fase da industrialização

Segundo Mota (2008) O Brasil nos anos 70 experimentou o crescimento

da sua economia, absorvendo, nos setores produtivos fundamentais, práticas

relativas à gestão da força de trabalho, que se assemelham àquelas dos países

desenvolvidos. Em contrapartida desse sistema, foi alargado o fosso entre o

trabalhador assalariado da grande empresa e os demais trabalhadores

pauperizados. Ainda segundo Mota (2008, p.44),

[...] é necessário reconhecer que, nos anos 80 emerge no cenário político brasileiro o a novo sindicalismo, cuja característica principal é a politização das demandas dos trabalhadores assalariados. Há, portanto, uma relação entre o crescimento dos setores produtivos de capital intensivo e a ampliação do movimento sindical.

A nova crise do capital ocasionou a perda de referenciais do fordismo-

keynesianismo e do Welfate State. O capitalismo passa por uma

reestruturação que busca uma nova definição de base econômica e ofensiva

ideopolítca, por meios dos ideais neoliberais, para a reconstrução da

hegemonia do capital.

Do paradigma fordista, assentado na capacidade do poder estatal enquanto promotor do desenvolvimento econômico e social, passou-se à política do reformismo, dominada pela “estratégia de acumulação”, que buscou articular de forma mais íntima e direta as relações entre Estado e mercado, submetendo as funções e papéis estatais às interdependências da lógica mercantil. (SIMIONATO, 2006, p. 05).

Entretanto, a partir 1973 quando o primeiro choque do petróleo gerou

uma crescente elevação do preço desse produto, decretada pelos países

integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP),

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passou-se a dizer que o modelo econômico keynesiano entra de fato em crise,

com base nas seguintes evidências: desaceleração do crescimento econômico,

desemprego, altas taxas de inflação, diminuição dos investimentos e problemas

na balança de pagamentos e na acumulação de capital.

De acordo com Behring e Boschetti (2008, p.116), “o que ocorreu em

1974-1975, na verdade, foi uma crise clássica da superprodução”, com isso o

desemprego passa a ser crescente e há queda de lucros, trazendo dificuldades

no que diz respeito à socialização da mais-valia gerando superacumulação e

superprodução.

Com isso surge uma reação por parte da burguesia, “quando o

capitalismo amargou uma crise orgânica de grande proporção”, (BRANCO,

2009, p. 290) neste período, a ideologia neoliberal contrária ao keynesianismo

começa a ganhar força nos pós Segunda Guerra Mundial tornando-se poder

dominante.

O objetivo dessa nova ideologia das classes dominantes era construir

uma organização coesa, eficiente e engajada na produção e disseminação de

uma teoria que fosse contrária ao marxismo e, principalmente ao

keynesianismo, gerando uma nova configuração ao capitalismo. Segundo

Branco (2009, p.293),

[...] o neoliberalismo emergiu como um projeto hegemônico das classes dominantes, conduzido pela sua fração rentista, por meio de governos conservadores; os casos clássicos foram Thatcher, na Inglaterra, e Reagan, nos Estados Unidos. Tempos depois, governos social-democratas europeus e até mesmo partidos comunistas do Leste europeu encarregaram-se de adotar políticas preconizadas pelos receituários neoliberais. Desta forma, a ideologia neoliberal ganhou o estatuto de pensamento único, pois não havia um país central sequer que não tivesse abraçado as teses do livre-mercado.

O projeto neoliberal, então, passa a ser a resposta para a reestruturação

produtiva diante dessa conjuntura, ou seja, de acordo com Duarte (2007) é a

concepção de um projeto que vem do capitalismo, que resultará em respostas

necessárias para essa reestruturação do capital, que acarretará em

consequências tanto para a realidade dos sujeitos quanto para as relações

sociais, alterando assim, o modo de organização da sociedade e do Estado.

Segundo Mota (2008, p.80),

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O projeto neoliberal [...] vem sendo socializado vias agências financeiras e de cooperação internacional, ultrapassando em larga medida os limites de um programa de ajuste econômico e afirmando-se como instrumento formador de uma racionalidade política, cultural e ética da ordem burguesa, expressa nos programas de desregulamentação dos mercados, abertura comercial e financeira, privatização do setor público e na redução do Estado.

A reestruturação capitalista buscou a expansão da acumulação e fez

com que as conquistas sociais perdessem força na relação capital e trabalho.

Com isso indicando um momento de revolução tecnológica e universal do

Estado, do próprio capital e da sociedade, o que gerou o aumento do

desemprego estrutural tornando-se uma nova forma de se obter lucro,

garantindo assim uma nova forma de acumulação do capital. Como afirma

Montaño (2010, p.16) a reestruturação capitalista é,

[...] flexibilização dos mercados nacional e internacional, das relações de trabalho, da produção, do investimento financeiro, do afastamento do Estado das suas responsabilidades sociais e da regulação social entre capital e trabalho, permanecendo, no entanto, instrumento de consolidação hegemônica do capital mediante seu papel central no processo de desregulamentação e (contra)-reforma estatal.

Os pressupostos neoliberais ganham espaço no momento em que se

observa a necessidade de inclusão dos países na lógica do capital

contemporâneo, e por isso, busca o ganho de maior lucro por meio da

articulação de dois fatores, que são: a reestruturação produtiva e a

mundialização do capital.

A reestruturação produtiva é caracterizada por revoluções tecnológicas e

organizacionais, “que confirmam a assertiva mandelina (reforçada por

Hudsson, 1999) da corrida tecnológica em busca do diferencial de

produtividade do trabalho, como fonte de superlucros.” (BERRING, 2008, p. 33

e 34).

Esta reestruturação tem como consequências, alta taxa de desemprego,

por causa do trabalho que é precarizado, pela desregulamentação de diretos

sociais conquistados e há a diminuição com gastos sociais.

A reestruturação produtiva sedenta por altos lucros abalam

profundamente as condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora,

gerando mudanças nas formas de organização política. Através desses

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processos nascem obstáculos na construção de uma consciência de classe

para si, gerando assim um enfraquecimento das possíveis resistências à

reestruturação produtiva.

[...] a reestruturação produtiva vem sendo conduzida em combinação com o ajuste neoliberal, o qual implica a desregulamentação de direitos, no corte dos gastos sociais, em deixar milhões de pessoas à sua própria sorte e “mérito” individuais – elemento que também desconstrói as identidades, jogando os indivíduos numa aleatória e violenta luta pela sobrevivência. Assinala-se, então, que o caráter da organização do trabalho na revolução tecnológica em curso é desagregador da solidariedade de classe e regressivo. (BEHRING, 2008, p.37.)

Como segundo fator a mundialização do capital7, afirma necessidade de

dissolução do Estado e do capital nacional, isso por que o Estado nacional

deve estar pronto para receber o capital estrangeiro. O capital torna-se mais

mundializado, por conta das multinacionais e oligopólios8, é necessário que

aconteça uma reforma nos Estados nacionais para que estes possam ser

atraentes, e que garantam a manutenção do sistema capitalista, gerando cada

vez mais altos lucros.

O Projeto neoliberal possui orientações e condições para integração de

um país na dinâmica do capitalismo na contemporaneidade por meio da

reestruturação produtiva e da mundialização, gerando adaptação, flexibilidade,

competitividade e atratividade para que se tenha uma rentabilidade do capital.

(BEHRING, 2009.)

A partir do final de 1970, o neoliberalismo começa a perceber alguns

“efeitos perigosos” do Welfare State, como a desmotivação dos trabalhadores,

baixa produtividade e excesso de demandas. Assim, “a conclusão liberal é

mais liberdade de mercado e menos Estado social”. (BEHRING, 2009, p.72),

diante dessa situação, surge um novo perfil de políticas econômicas e sociais e

7É uma nova etapa de desenvolvimento do capitalismo mundial, que surge a partir da década de 1980, pode ser caracterizada como sendo a da "mundialização do capital" (uma denominação precisa para o fenômeno da "globalização"). Na verdade, estamos diante de um novo regime de acumulação capitalista, um novo patamar do processo de internacionalização do capital, com características próprias e particulares se comparada com etapas anteriores do desenvolvimento capitalismo. (ALVES, 1999, p.01) 8Corresponde a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas.

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uma reconfiguração da relação do Estado9 com a sociedade civil, que podem

ser consideradas como estratégias do neoliberalismo para sua legitimação.

[...] uma das mudanças mais importantes refere-se ao acolhimento da ação reguladora do Estado na esfera social; mas isso não implica uma ruptura com o “Estado intervencionista”. A ideia de desregulamentação faz parte do próprio corpo ideológico do neoliberalismo, colocando e redefinindo papéis (do mercado, do Estado, do capital e do trabalho). (PASTORINI, 2010, p. 46)

Portanto, podemos afirmar que há uma contra-reforma das conquistas

alcançadas anteriormente, principalmente no que diz respeito aos direitos

sociais. O que acontece é um movimento regido pelos ditames do capital, que

tem a intenção de anular os direitos, sujeitos e políticas sociais, causando um

retrocesso social, na medida em que observamos as condições de vida da

classe trabalhadora e de seu engajamento político, assim é gerada uma

transformação tanto no mundo do trabalho como no mercado. (BEHRING,

2008).

[...] o eixo central do convencimento repousa em que há uma nova ordem á qual todos devem se integrar, e que é inevitável se adaptar ela. Estes são termos que compõe as justificativas do que estou caracterizando como um contra-reforma do Estado. O discurso prossegue afirmando que outros projetos fracassaram [...] uma espécie de satanização do Estado é central nesse argumento [...] como “prova” de que há apenas um caminho a seguir. (BEHRING, 2008, p, 70)

Surgem como características dessa nova conformação: a precarização

do trabalho, uma revolução tecnológica e uma nova organização de

acumulação e reprodução. Havendo também uma dominação e submissão dos

indivíduos ao capital, indivíduos estes cada vez mais destituídos de direitos.

Diante da crise e das estratégias neoliberais, há o surgimento de novas

formas de controle do capital em relação ao trabalho, com isso gerando uma

transformação moral, intelectual e cultural que faz parte da lógica capitalista,

que busca a todo custo favorecer a permanência da sua hegemonia. Para

universalizar sua ordem a burguesia viu que era necessário “formar uma

cultura geradora do consentimento de classes – isto é, constituidora de

hegemonia” (MOTA, 2008, p.47).

9 O Estado constitui-se num tipo privilegiado da organização dentro e a serviço da sociedade capitalista que o criou e o mantém. Não conseguindo pensar um sem outro. (MONTAÑO, 1999, p.49)

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Houve um corte significativo nos investimentos e gastos sociais,

causando uma reconfiguração e uma nova implementação das políticas

sociais10, tornando-as restritas, setorizadas e fragmentadas. Ocorre o

rompimento com os compromissos e consensos do pós-guerra, que permitiram

a expansão do Welfare State. “O desemprego de longa duração, a

precarização das relações de trabalho e a ampliação da oferta por empregos

temporários limitavam o acesso aos direitos derivados de empregos estáveis.”

(BEHRING, 2011, p. 133).

Como resultado da prevalência dos ideais do liberalismo surgiu um novo

modelo econômico, o monetarista, que substituiu o keynesianismo. Em

decorrência, a partir dos anos 1980, o neoliberalismo se firmou como um novo

paradigma e recuperou os velhos dogmas do liberalismo clássico, procurando

fazer uma verdadeira revolução na economia e nas relações entre capital-

trabalho.

Assim segundo Pereira (2010, p. 05 e 06):

Segundo esse novo paradigma - que teve como principais apoiadores a ex primeira ministra inglesa, Margareth Thacher, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Regan [...], a revolução conservadora então empreendida estaria baseada nas seguintes crenças: a) De que há uma mão invisível, ou um sistema natural, que rege a vida em sociedade e a conduz na direção da ordem e da justiça, sem precisar de ingerência do Estado. Mas, para isso os indivíduos devem ter a maior liberdade possível para buscar o seu bem-estar num mercado que também deverá ser livre para criar e colocar à disposição dos indivíduos maiores recursos; b) De que a desigualdade social é um resultado inevitável (e tolerável) da liberdade social e da iniciativa pessoal, constituindo-se, inclusive, em peça fundamental para distribuição eficiente de recursos porque proporciona incentivos necessários para obtê-la; c) De que a figura do empresário constitui o elemento essencial do processo econômico, na medida em que a sua função de assumir riscos e tomar iniciativas constitui o ponto de partida da ação do mercado e, consequentemente, da inovação, do empreendimento e do progresso; d) De que a interferência das instituições sobre a ação individual só faz fomentar o conflito de classes e reduzir os efeitos positivos das iniciativas individuais para o bem-estar geral.

Aqui no Brasil, os avanços dos direitos sociais já acontecem na época

em que no plano internacional, acontecia a reação da burguesia à crise do

capital de 1970. Conhecida a situação em que se encontrava o capital

internacional, à procura de restaurar suas taxas de crescimento, a burguesia

10

Para maior aprofundamento sobre política social, ver Behring, Elaine e Boschetti, Ivanete, Política Social: fundamentos e história.

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local logo tratou de tornar o Brasil um lugar atraente para investimentos de

capital estrangeiro.

No Brasil, a implementação da reforma do Estado, iniciada nos anos

1990, estabeleceu, prática e ideologicamente, a ideia de "Estado mínimo",

denominado "Estado social-liberal", revestida do enganoso discurso de que é

“social porque continuará a proteger os direitos sociais e a promover o

desenvolvimento econômico”,

A partir daí há uma desregulamentação dos direitos sociais garantidos

pela a Constituição de 1988, que passa a ser limitada, a fim de manter a

reprodução da ordem capitalista, com isso nota-se o surgimento de uma “nova

cultura produzida pela ordem burguesa internacional”. (SIMIONATTO, 2006, p.

3).

[...] seus pilares fundamentais centratram-se nos ajustes econômicos, materializados na apologia da privatização e da supremacia do mercado, na cultura anti-Estado, na conclamação da sociedade civil e das classes subalternizadas à adesão a essa lógica, desqualificando a política e a democracia. (idem, 2006, p.3)

A partir das novas configurações, em função da ofensiva do capital,

surge uma nova modalidade de ação capitalista, dada através da ação privada,

que é a imposição de uma atuação da sociedade civil, “a valorização da

sociedade civil emerge no ponto de confluência das críticas do Estado”

(FREIRE E CASTRO, 2010, p.78.). O conceito de sociedade civil vem se

tornando cada vez mais mistificador, ilusório, fragmentar e conservador.

A sociedade civil é lugar de antagonismos e contradições, um espaço de

lutas entre as classes antagônicas; contudo vem sendo utilizada como meio de

burguesa desta sociedade ocorrendo uma caracterização da sociedade civil

como uma associação desestruturada e homogeneizada.

Assim, pode-se observar que muitas ações são delegadas à sociedade

civil, consagrando-se um discurso oficial acerca das qualidades do “Terceiro

Setor”, com incentivos a atividades voluntárias e filantrópicas, que visam

complementar as responsabilidades que os governos se recusam, ou apenas

assumem de forma parcial.

A sociedade civil passa a significar a esfera das condições voluntárias, dos espaços públicos dotados de autonomia e a auto-organização em relação ao Estado e ao mercado, de solidariedade social, do discurso, da ação comunicativa. Essas organizações

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visariam apenas processos de formação de identidade, produção de solidariedade e argumentação moral visando a constituição de uma esfera pública entre o mercado e o Estado. (DURIGUETTO, 2005, p.87 e 88)

A sociedade civil passa a significar a esfera das condições voluntárias,

dos espaços públicos dotados de autonomia e auto-organização em relação ao

Estado e ao mercado, de solidariedade social, do discurso, da ação

comunicativa. Essas organizações visariam apenas processos de formação de

identidade, produção de solidariedade e argumentação moral visando à

constituição de uma esfera pública entre o mercado e o Estado. “Uma

conjunção de fatos e mudanças fortes fez com que, na passagem do século

XX, para o século XXI o terreno das relações entre Estado ficasse bastante

congestionado” (NOGUEIRA, 2004, p.11).

Aqui no Brasil no ano de 1995, ressaltamos um exemplo significativo de

incentivo ao “Terceiro Setor”, que foi o Programa Comunidade Solidária11 que

foi criado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso e foi presidido pela a

primeira-dama Ruth Cardoso. O Programa tinha como uma das suas

características o incentivo a maior “participação” da sociedade civil, de práticas

voluntárias, gerando assim novas formas de parcerias entre o Estado e a essa

sociedade, onde juntos buscam “soluções” para enfrentar as desigualdades

sociais. Como afirma a Cardoso apud Ioschpe:

[...] Precisamos de ações diretas e pontuais visando corrigir distorções e desequilíbrios que se acumularam ao longo do tempo. Acredito que o fortalecimento da sociedade civil e de sua atuação no campo do desenvolvimento social é o caminho correto para que possamos superar essa herança pesada de injustiça e exclusão [...] de reconhecer que a ação do Terceiro Setor no enfrentamento de questões diagnosticadas pela própria sociedade nos oferece modelos de trabalho que representam modos mais eficazes de resolver problemas sociais.

Na lógica neoliberal se faz necessário que se incorpore a legitimação da

ação da sociedade civil a uma atuação que se refere à estratégia de

subordinação à lógica de reestruturação do capital. Diante disso podemos

observar que é dada uma centralidade à sociedade civil por meio de três

processos, segundo Amaral (2009, p. 61):

11Que assinou o Decreto n. 1.366 em 12 de janeiro de 1995, esse programa foi encerrado em dezembro de 2002, foi substituído pelo Programa Fome Zero.

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[...] o primeiro deles, as determinações e exigências do atual processo de acumulação do capitalista que expressa o movimento de reestruturação produtiva do capital; o segundo –articulado ao primeiro processo- as mudanças na relação Estado- Sociedade [..] e por último [...] à necessidade de adequar as estruturas burocráticas do Estado as exigências do atual estágio de desenvolvimento capitalista [...].

A proposta neoliberal centra na ideia de que é necessário que haja uma

limitação de intervenção do Estado, principalmente na esfera econômica,

afirmando que caso contrário, a “liberdade” dos indivíduos estaria ameaçada.

“Para os pensadores neoliberais só com a existência de um Estado mínimo é

que poderão ser protegidas tanto a igualdade de oportunidade quanto a

liberdade dos indivíduos”. (PASTORINI, 2010, p.47), ou seja, no

neoliberalismo o Estado tem duas funções:

[...] dessa forma, concluem que um governo legítimo tem duas únicas funções a desenvolver: prover uma estrutura para o mercado (assegurando ampla liberdade de movimento ao capital e às mercadorias) e oferecer serviços que o mercado não pode oferecer. (idem, 2010, p.47)

Diante disso, ainda surgem deslizes conceituais no que diz respeito à

democracia e a cidadania, sendo destorcidos na atual conclamação da

participação da sociedade civil. Segundo Freire e Castro (2010, p. 87 e 88) [...]

“democracia é sinônimo de soberania popular. [...] Cidadania não é dádiva, é

fruto de batalhas permanentes das classes trabalhadoras” [...].

A ideologia que cerca a sociedade civil, é regida pelo neoliberalismo,

que procura decretar uma certa “autonomia” a esta categoria com relação ao

Estado, com a intenção de neutralizar conflitos e garantir ao capital a

manutenção da hegemonia.

Assim segundo Dagnino (2004), em grande parte dos espaços abertos à

participação de setores da sociedade civil na discussão e formulação das

políticas públicas estes se defrontam mais com situações onde o que se espera

deles é muito mais assumir funções e responsabilidades restritas à

implementação e execução de políticas públicas, provendo serviços antes

considerados como deveres do Estado, do que compartilhar o poder de

decisão quanto à formulação dessas políticas.

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A deresponsabilização do Estado não é feita por se acreditar que a

classe trabalhadora será atendida melhor, ou para reduzir os gastos estatais,

mas sim para legitimar uma ação político-ideológica de descaracterização dos

direitos sociais e universais, responsabilizando e culpabilizando o indivíduo

pelas as mazelas da questão social, que são vivenciadas por causa das

desigualdades geradas pelo capitalismo.

Assim o Estado que era para ser democrático e provedor de direitos,

acaba sendo anulado, não levando em conta o espaço de lutas de classes,

para que o capital seja mantido e expandido, gerando segurança na

acumulação da classe dominante e garantindo somente “certo nível de

“conquistas” sociais”, segundo Montaño (2010, p.18).

Os serviços sociais agora passam a ser prestados por instituições

“públicas não estatais”, (DURIGETTO, 2005, p. 90) que passam a compor o

chamado “Terceiro Setor” que nada mais é do instrumentalizado pelo Estado e

pelo o próprio capital. Com isso a atuação da sociedade civil é determinada

pela lógica da solidariedade, voluntarismo e filantropia. Concordando com

Montaño (1999, p.72) afirmamos que,

É claro que deve haver uma crescente e ativa participação da sociedade civil, porém sem que isso signifique uma substituição da responsabilidade estatal (e do capital) com a “questão social”, sob os princípios de universalização, distributivismo e incondicionalidade das políticas sociais, consideradas como direitos de cidadania, o que configura a preservação de verdadeiras conquistas históricas obtidas pelas classes trabalhistas.

Assim, diante da responsabilização da sociedade civil, nota-se uma

nova forma de assistência para a classe trabalhadora há também, uma

diminuição dos direitos sociais por conta da privatização das respostas as

expressões da questão social.

1.2 O NOVO TRATO À QUESTÃO SOCIAL E O SURGIMENTO DO

“TERCEIRO SETOR”.

Podemos observar que o projeto neoliberal gera profundos impactos no

que diz respeito ao enfrentamento da questão social, pois há uma transferência

de responsabilidade, principalmente, por parte do Estado no que se refere às

políticas sociais, responsabilidade essa que vai para um setor que é o “público

não estatal”, assim torna-se necessário uma reflexão acerca da questão social

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e o novo “trato” que está sendo dado à mesma e discutir sobre o “Terceiro

Setor”, que é composto por várias organizações da sociedade civil, como

ONG’s, fundações dentre outras.

A questão social é tratada na ordem econômico-politica, no qual o

Estado burguês, oculta sua parcialidade clássica realizando sua própria política

social no enfrentamento às mazelas da questão social, procurando é claro,

sempre atender as exigências capitalistas, como forma de controle e de

preservação da força de trabalho.

O Estado passa a mediar interesses divergentes, parcializando e

fragmentando as sequelas da questão social, por meios de suas políticas

sociais caracterizadas pela seletividade, principalmente quanto à seleção dos

usuários, para terem seus direitos sociais atendidos.

Segunda afirma Netto (2011), a expressão da questão social surgiu a

partir da Revolução Industrial do século XVIII, momento do surgimento do

pauperismo da classe do proletariado no estágio concorrencial e industrial do

capitalismo. No século XIX a questão social passa a ser o termo utilizado pela

massa conservadora, onde há compreensão da relação capital e sociedade e

com isso a naturalização desta categoria na sociedade, enxergando a

necessidade de intervenção para que se mantenha a hegemonia da classe

burguesa. Para Iamamoto, (2012, p.27),

[...] a questão social é apreendida como conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se primeiramente, monopolizado apenas por uma parte da sociedade.

A questão social não pode ser separada do processo de acumulação do

capital e dos efeitos que esta gera para a classe trabalhadora e,

consequentemente, está indissociável das configurações da relação capital e

trabalho e acabam por determinar disputas entre os projetos antagônicos das

classes sociais.

Com a evolução e novas características da ordem capitalista e as

transformações contemporâneas, a questão social passa a ser considerada, de acordo

com o discurso hegemônico, como uma “nova questão social”, assim são necessárias

também novas respostas para que esta seja enfrentada, ou seja, respostas que

estejam mais adequadas à atual conjuntura. Segundo Pastorini (2010, p.25),

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Os defensores da “nova questão social” partem do pressuposto de que as mudanças ocorridas no mundo capitalista contemporâneo marcam uma ruptura com o período capitalista industrial e com a “questão social” que emergiu na primeira metade do século XIX, com o surgimento do pauperismo, na Europa Ocidental. Assim no processo inacabado de busca da novidade entram em cena os “novos sujeitos”, “novos usuários” que teriam “novas necessidades”. Essas novidades seriam produto das transformações da sociedade capitalista vividas, mundialmente, a partir dos meados dos anos 1970, que trazem consigo a necessidade de redefinir os modos de relação econômica e sociais.

Até 1830, segundo Robert Castel (1998), "questão social" era entendida

como pauperização. Não é lícito, no entanto, segundo o autor, reduzir a

"questão social", com a denominada pauperização, que já ocorria antes mesmo

do advento do capitalismo. O autor por meio de seu estudo sobre as

metamorfoses da questão social identifica já na Inglaterra do século XIV, a

existência de uma população pauperizada.

Contudo, o pauperismo encontrado na sociedade pré-capitalista não

ameaçava o poder vigente, tendo em vista que aquela sociedade dispunha de

mecanismos informais de proteção social para a manutenção do

“pertencimento” do indivíduo. Com o advento do capitalismo, a nova classe

proletária passa a não mais se conformar com estado de coisas em que estava

inserida, e gradativamente o proletariado pauperizado converte a pauperização

em “questão social”. (JÚNIOR, 2010). Assim, concordamos com o autor que

afirma:

[...] parece ser no mínimo contraditório o termo "nova questão social", uma vez que não houve superação do sistema capitalista, e nem mesmo há um novo sistema capitalista. As desigualdades sociais são cada vez mais flagrantes, mas continuam ser decorrências da luta de classes fundada na dicotomia capital e trabalho, em que aquele dita as regras por conta do seu poderio econômico. Deste modo, não há uma nova pobreza, há a pobreza com contornos particularizados devido ao contexto histórico atual, e não há um novo sistema econômico, há o mesmo sistema, cada vez mais contraditório e regido pela batuta de um pequeno grupo de pessoas cada vez mais ávido por lucros [...] (JÚNIOR, 2010. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/nova-questao-social-velha-

pobreza/49738/). Acesso em 30 de julho de 2013.

Esta ideia de que há uma “nova questão social” 12, as crises ocorridas no

capitalismo e a escassez de recursos, são as grandes desculpas colocadas no

12Ressaltando segundo Montaño (2010, p.187, grifos do autor), [...] a recorrente afirmação de que existiria hoje uma “nova questão social” tem, no fundo, o claro, porém implícito, objetivo de

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cenário atual do neoliberalismo, para justificar a transferência de

responsabilidade do Estado para a sociedade civil no trato as mazelas da

questão social. Para Montaño (2010, p.187) “este é o verdadeiro fenômeno

escondido por trás do que é chamado do “terceiro setor”.

Partindo do pressuposto de que vivemos numa sociedade capitalista que

está vivendo uma reordenação do capital e que a questão social se expressa

na contradição da relação entre as classes dominantes e as classes

trabalhadoras, notamos que na verdade, há uma alteração e agravamento nas

expressões da questão social, ou seja, o que há são “novas manifestações da

velha questão social” (MONTAÑO, 2010, p.187).

Lembrando que a partir dos anos de 1970, há uma crise do capital, onde

há o processo de reestruturação produtiva, gerando profundas transformações

na sociedade capitalista, principalmente para a classe trabalhadora que foi a

que mais sentiu com as mudanças decorrentes desta crise, que gerou o

agravamento do desemprego, precarização nas condições de trabalho,

regressão de direitos sociais entre outros.

Com isso há “novidades” nas expressões da questão social o que não

dizer que exista uma “nova questão social” 13, já que para existir uma nova

questão social, entende-se que seria necessário a superação, resolução da

“antiga”. (PASTORINI, 2010).

A apropriação de uma “nova questão social” nada mais é, do que uma

estratégia da classe dominante para a garantia da manutenção/ expansão da

ordem capitalista, ou seja, é uma justificativa que reforça a

desresponsabilização do Estado para com o trato às expressões da questão

social, integrando a sociedade civil neste processo como principal responsável

a estas respostas.

Essa exaltação do novo, referente à questão social, que aparece em

oposição ao antigo nos possibilita a não perceber e não capturar realmente os

elementos novos que estão surgindo e o que está se repetindo ao longo da

justificar um novo trato à “questão social”; assim, se há uma nova “questão social”, seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervenção nela, supostamente mais adequada às questões atuais. 13

Alguns autores realmente defendem que existe uma “nova questão social”, autores como Pierre Rosanvallon e Robert Castel.

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história, as mudanças que ocorrem com as transformações na sociedade.

(PASTORINI, 2010).

Assim, no processo inacabado de busca da novidade, entram em cena os “novos sujeitos”, “novos usuários” que teriam “novas necessidades”. Essas novidades seriam produto das transformações da sociedade capitalista vividas, mundialmente, a partir de meados dos anos de 1970, que trazem consigo a necessidade de redefinir os modos de regulação econômicos e sociais. (idem, 2010, p.25).

Diante desta situação, percebemos também que há um desmonte, uma

desconfiguração das políticas sociais, onde os direitos sociais não são

priorizados, onde há o “predomínio das políticas sociais focalizadas na pobreza

extrema, em detrimento das políticas sociais universais” (PEREIRA, 2010, p.

10).

O trato da questão social pelos setores dominantes são orientados pela

ideia de “integração social”, que na verdade, acabam naturalizando as

desigualdades sociais, e as políticas sociais perdem seu caráter de conquistas,

passando a ser vista como concessões do Estado e do capital, “reproduzindo

uma certa “ideologia do favor”, com características paternalistas e clientelistas

que são marcas do atendimento por parte do Estado, orientado pela filantropia

e benevolência. “A prestação de serviços não é definida como direito de

cidadania, e sim como uma dádiva ou uma concessão do Estado ou do capital”

(PASTORINI, 2010, p. 97)

No cerne dessa inversão, dois principais fatores podem ser arrolados. Um, é a disseminação progressiva da ideologia liberal de que os direitos sociais não são direitos genuínos porque a sua efetivação depende de condições materiais e financeiras difíceis de serem bancados pelo Estado. O outro é a efetiva prática dessa ideologia caracterizada pela abdicação do Estado de sua função de garantidor de direitos. (PEREIRA, 2010, p. 11)

Diante disso o enfrentamento da questão social no neoliberalismo tem

por base o individualismo, onde a sequela da questão social é tida como uma

responsabilidade do próprio indivíduo, ou seja, o indivíduo é culpabilizado pela

a situação de vulnerabilidade em que se encontra. Assim o projeto neoliberal,

tem como estratégia a criação de políticas sociais de cunho emergencial,

assistenciais, precarizadas e focalizadas.

Assim como as expressões da questão social passaram a ser

consideradas como problemas sociais, por conta da individualização

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estimulada pelo neoliberalismo, onde são considerados como problemas

privados, ocorre uma despolitização da ação do Estado.

O enfrentamento da questão social por parte do Estado passa a ter uma

parceria com setor privado, causando um fortalecimento e ampla participação

da sociedade civil, gerando uma privatização da coisa pública. Essas novas

organizações da sociedade são caracterizadas como “Terceiro Setor”, no qual

o Estado passa a estimular e se apropriar das ações filantrópicas, baseadas no

voluntariado e na responsabilidade social (MONTAÑO, 2010).

Segundo Landim apud Montaño (2010) O “Terceiro Setor” é de

procedência norte-americana, onde o associativismo e voluntarido fazem parte

de uma cultura política que se baseia no individualismo liberal. O “Terceiro

Setor”:

Surge como conceito cunhado, nos EUA, em 1978, por John D. Rockefeller III. Ao Brasil chega por intermédio de um funcionário da Fundação Roberto Marinho. O conceito de “terceiro setor” foi cunhado por intelectuais orgânicos do capital, e isso sinaliza clara ligação com os interesses de classes, nas transformações necessárias à alta burguesia. (MONTAÑO, 2010, p. 53).

As organizações que compõem o “Terceiro Setor” evidentemente não

são novas. Como exemplos tradicionais no Brasil, temos as Santas Casas de

Misericórdia, cuja primeira unidade aqui chegou junto com Dom João VI.

Temos as APAES (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais), de

expressiva presença no cenário nacional, e tantas outras Obras de caráter

social filantrópico que se espalham por esse Brasil. (COSTA, 2005).

O “Terceiro Setor” no Brasil apresentou crescimento ampliado14 no

Brasil a partir da década de 1990. Trata-se de um espaço que atende

demandas específicas de segmento sociais subalternizados e que surge como

“salvador da falência do Estado pela participação e responsabilização da

sociedade”. (SANTOS, 2007, p. 127).

14 Em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) noBrasil, voltadas, predominantemente, à religião (28,5%), associações patronais e profissionais(15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As áreas de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas governamentais) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6%). As Fasfil concentravam-se na região Sudeste (44,2%), Nordeste (22,9%) e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte (4,9%) e Centro-Oeste (6,5%). Disponível em: http://abong.org.br/ongs.php. Acesso em 30 de julho de 2013.

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O “Terceiro Setor” está diretamente conectado aos interesses e setores

do capital, como resultado da reestruturação capitalista firmado pelos ditames

do neoliberalismo. O “Terceiro Setor” surge como uma nova estratégia do

capital para atender as demandas que surgem, a partir das expressões

decorrentes da questão social. As respostas às necessidades sociais passam

agora, a depender do voluntário que ajuda o próximo e não um direito do

cidadão. Com isso, segundo Montaño (2010, p.53),

[...] é construído a partir de um recorte do social em esferas, o Estado (“primeiro setor”), o mercado (“segundo setor”) e a “sociedade civil” (“tercceiro setor”). Recorte este claramente neopositivista, estruturalista, funcionalista ou liberal, que isola e autonomiza a dinâmica de cada um deles, que, portanto, desistoriciza a realidade social. Como se o “político” pertencesse à esfera estatal, o “econômico” ao âmbito do mercado e o “social” remetesse apenas à sociedade civil, num conceito reducionista.

Assim, se pensarmos no “Terceiro Setor” como uma organização da

sociedade civil, estaremos desarticulando o fenômeno real a partir da

fragmentação e segmentação da realidade, ao se consolidar o recorte social

em esferas/ setores: Estado, mercado e sociedade civil. O que deve ser

considerado realmente ao pensarmos sobre o conceito de “Terceiro Setor”, é a

mudança no padrão de respostas às necessidades sociais, a partir, da

desresponsabilização do Estado que é do capitalismo e atua na colaboração

com a manutenção da hegemonia da ordem do capital, que responsabiliza e

culpabiliza o indivíduo pela situação que vive.

Com isso, a sociedade acaba perdendo sua característica de sujeito de

direitos sociais, já que esses direitos passam a ser assegurados de uma forma

focalizada e distante da concepção de direito social, que deveria ser garantido

pelo o Estado. Assim,

[...] efetivamente, para além das diferenças entre as diversas organizações, uma questão é real, e só pode ser determinada com certo nível de generalização: o conjunto de organizações e atividades que compreende o chamado “terceiro setor”, para além dos eventuais objetivos manifestos de algumas organizações ou da boa intenção que move o ator solidário e voluntário singular, termina por ser instrumentalizado pelo o Estado e pelo capital, no processo de reestruturação neoliberal, particularmente no que se refere à formulação e implementação de uma nova modalidade de trato à “questão social”, revertendo qualquer ganho histórico dos trabalhadores nos seus direitos de cidadania (MONTAÑO, 2010, p.19).

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Como já foi dito anteriormente, o neoliberalismo defende que há uma

“nova questão social” isso para justificar a participação mínima do Estado no

trato às expressões da questão social, alegando de que é necessário a

participação do “Terceiro Setor” para que se possa enfrentar essas “novas

necessidades socais”.

. Três mecanismos passam a ser utilizados para o enfrentamento da

questão social, o Estado, o mercado e filantropia, e o “Terceiro Setor” vem

como uma estratégia do neoliberalismo, assim, surgindo políticas sociais

privatizadas, focalizadas, setorializadas, fragmentadas e descentralizadas

(BEHRING, 2008).

Os sujeitos sociais passam a ser responsáveis pelo o suprimento das

suas necessidades sociais, gerando o grupo daqueles que podem pagar e

aqueles que não podem, criando demandas para o setor empresarial,

aumentando seus lucros.

Com as novas configurações do capitalismo para garantir cada vez mais

altas taxas de lucro, através da flexibilização das relações de trabalho e da

privatização dos setores públicos, acabam negando os princípios universalistas

e de proteção social.

Assim, há uma regressão dos direitos e transformação das políticas

sociais em ações imediatas, de curto prazo que muitas vezes acabam deixando

os indivíduos dependentes destas políticas, que são submetidas à lógica do

capital. Como ressalta Montaño (2010, p.169) “[...] as políticas sociais

promovidas pelo “terceiro setor”, tendem à multifragmentação do trato da

questão social.”.

Podemos concluir, portanto, que o “Terceiro Setor” como sendo efeito da

reestruturação produtiva do capital, sendo um fenômeno real e interligado com

os interesses do neoliberalismo como meio utilizado pelo Estado para atender

as expressões da questão social, que é vista na verdade como uma “nova

modalidade de questão social” (MONTAÑO, 2010, p.187), tendo como

justificativa princípios políticos-ideológicos pautados no neoliberalismo, que

defende o Estado mínimo para o social e um Estado máximo para o

capitalismo.

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A partir desta compreensão é necessário analisarmos a atuação destas

instituições do “Terceiro Setor”, assim buscaremos analisar o SES/FORT, que

busca atualmente atender as necessidades sociais da classe dos comerciários

e dependentes, dentro desta lógica do “Terceiro Setor”.

II. O SERVIÇO SOCIAL E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Por conta das novas configurações capitalistas, as formas de

enfrentamento das expressões da questão social e do surgimento do “Terceiro

Setor”, exigências e demandas são postas ao Serviço Social. Nesta conjuntura,

o Assistente Social vem sendo cada vez mais chamado a atuar nos espaços

sócio-ocupacionais ligados aos “Terceiro Setor” 15.

Assim, se faz necessário compreendermos e refletirmos sobre o Serviço

Social hoje e como se tem dado o processo de atuação profissional do

Assistente Social diante da atual conjuntura.

Neste sentido, é necessário que busquemos uma recuperação da

trajetória sócio-histórica da profissão, com o objetivo de entender o significado

social do Serviço Social na sociedade capitalista, apreender como esta

profissão surgiu, analisando as configurações impostas pelo capitalismo aos

Assistentes Sociais.

O Movimento de Reconceituação que emergiu em 1965, traz uma

renovação na prática do Serviço Social assim, se faz necessário analisarmos

este movimento e seus rebatimentos para o exercício profissional. Movimento

esse que veio para questionar o “Serviço Social tradicional”, que era pautado

“em práticas empiristas, paliativas e burocratizas, sendo regidas por uma ética

liberal-burguesa”. (NETTO, 2005).

Destacamos também neste momento de reconceituação, a necessidade

da mudança do compromisso profissional, com o projeto ético-político, que se

caracteriza como um “guia” para a profissão, a fim de se ter uma avanço e um

caráter crítico na atuação dos Assistentes Sociais. Assim, discutiremos também

15Resaltando que o “Terceiro Setor” surge como um processo funcional do padrão de respostas às expressões da questão social, propiciado dentro de uma estratégia do neoliberalismo e da reestruturação do capital.

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neste capítulo sobre este projeto profissional para que possamos analisar o

Serviço Social na contemporaneidade.

2.1 UM RESGATE HISTÓRICO DA EMERGÊNCIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

Para que possamos entender a profissão de Serviço Social é necessário

entender que esta se encontra inserida no desenvolvimento das relações de

produto da ordem capitalista, pois esta lógica do capital é que articula e

reorganiza as funções do Estado determinando as relações entre as classes

sociais. Assim é no contexto do desenvolvimento do capitalismo e da expansão

da classe do proletariado que surge a profissão de Serviço Social

Ou seja, a profissão tem sua emergência a partir do desenvolvimento

industrial, o qual se encontra ligada à expansão do capitalismo monopolista,

onde há uma ampliação da acumulação das riquezas em detrimento da

produção coletiva, gerando com isso o aumento das desigualdades e conflitos

sociais entre a classe burguesa e o proletariado.

Segundo Iamamoto e Carvalho (2009, p. 125) o Serviço Social,

[...] esteve diretamente ligado à questão social nas décadas de 1920 e 1930. Assim as protoformas do Serviço Social, se dão com o agravamento da questão social, pelo desenvolvimento do capitalismo, que levou a alienação do trabalho e se estabeleceu claramente o antagonismo entre burguesia e proletariado [...].

A implantação do Serviço Social dá-se no decorrer desse processo

histórico, surgido da iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se

manifestam, principalmente, por intermédio de igreja católica, originando uma

demanda que necessita manter a ordem vigente: as diversas frações de classe

e em seguida as classes dominantes, sendo que a pressão do proletariado

permanece como pano de fundo a partir do qual diferentes atores sociais

mobilizam políticas diferenciadas. Sendo estas políticas que demarcarão os

limites dentro dos quais irá surgir e atuar o Serviço Social (a caridade e a

repressão).

Entretanto, com uma organização ativa da classe operária na luta contra

os abusos e formas de exploração, a burguesia percebe a necessidade de uma

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maior estratégia de controle dessa mobilização social, ou seja, são necessários

mecanismos de regulação, manipulação e prevenção que garantam a

reprodução da ordem capitalista e, por isso, há uma diversificação dos

mecanismos de intervenção para que possibilite a expansão e defesa do

capital.

A exploração abusiva que o operariado é submetido – afetando sua capacidade vital – e luta defensiva que o operariado desenvolve aparecerão para o restante da sociedade burguesa [...] como uma ameaça a seus valores, “moral, a religião e a ordem pública”. Impõe-se, a partir desse momento, a necessidade do controle social da exploração da Força de Trabalho. A compra e venda dessa mercadoria especial deve sair da pura esfera mercantil pela imposição, através do Estado, de uma regulamentação jurídica no mercado de trabalho. (CARVALHO, 1980, p. 44).

Assim, a classe dominante vê a necessidade da criação de uma

estratégia para conter essa mobilização social, estratégia essa que envolve a

criação de mecanismos de regulação, manipulação e prevenção para garantir a

manutenção da ordem capitalista, diante deste cenário o Serviço Social chega

como agente profissional mediador de interesses de classes burguesas.

Assim, notamos que o Serviço Social se insere como profissão na

sociedade com uma tendência predominante de “reforço dos mecanismos do

poder econômico, político e ideológico, no sentido de subordinar a população

trabalhadora às diretrizes das classes dominantes” (IAMAMOTO E

CARVALHO, 2009, p. 96, grifos dos autores).

A emergência da profissão de Serviço Social está intimamente

conectada a um momento histórico de exigências e lutas da classe

trabalhadora por direitos, mas também pautado numa acrítica de entender e

agir na sociedade.

[...] as expressões de protestos e os progressos na organização de classe do proletariado – com a influência das ideias socialistas, naqueles anos potenciadas pelo êxito da experiência russa de 1917- exigiram que o Estado (e nele, a aliança de classes dominantes), como pilar da hegemonia, articulasse formas de ação para responder às demandas de uma realidade social nova. (CASTRO, 2006, p.35).

Assim, segundo Netto (1996), a profissão do Serviço Social tem como

ponto de partida a relação com as formas e ações filantrópicas e assistenciais,

que acabam se tornando importantes mecanismos de garantia da hegemonia,

desenvolvidos na sociedade burguesa.

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No pensamento conservador há uma natureza ídeo-político e teórico-

cultural, colocando novas configurações de intervenção, como o caráter da

caridade, de forma a organizar a assistência e o Serviço Social. Com isso,

podemos afirmar que o Serviço Social emerge como uma atividade que

baseada em doutrinas conservadoras da sociedade capitalista.

A ação profissional do Assistente Social poderia ter sido utilizada, como

um meio para diminuir as diferenças e injustiças sociais, mas o que aconteceu

na verdade, foi uma contradição dessa ação do Serviço Social, pois houve um

reforço das doutrinas da classe burguesa, como ressalta Castro (2006, p. 45)

“enquadrando-as no âmbito da legislação burguesa”.

A segunda metade dos anos de 1960 marca, na maioria dos países em que o Serviço Social já se institucionalizara como profissão, uma conjuntura de profunda erosão das suas práticas tradicionais [...]. No século passado, a transição da década de 1960 para 1970 foi, de fato, assinalada em todos os quadrantes por uma forte crítica ao que se pode, sumariamente, designar como “Serviço Social tradicional” [...] (NETTO, 1996, p. 06).

O autor também afirma que a profissionalização é realizada a partir do

deslocamento das agências em que o Serviço Social atua para “atividades

exteriores da lógica do mercado” (NETTO, 2011, p. 68, grifos do autor), ou

seja, concretizando essa ruptura com o modelo conservador. Esse

deslocamento acontece a partir do momento em que se tem o significado social

do profissional de Serviço Social, que agora passa a intervir diretamente na

relação contraditória entre capital e trabalho, reconhecendo a questão social

como questão política, momento de gênese da profissão, como afirma

Iamamoto e Carvalho (2011, p.77) “a questão social se torna a base de

justificação desse tipo de profissional especializado”.

É neste contexto que o Assistente Social se insere na relação de

assalariamento e passa a ter sentindo na reprodução das relações sociais na

sociedade burguesa, ocupando um espaço sócio-ocupacional. É a partir deste

momento, que o Serviço Social se constitui como uma profissão inserida na

divisão social e técnica do trabalho, onde tem que vender sua força de trabalho

para sobreviver, ou seja, “é a transformação de sua força de trabalho em

mercadoria e de seu trabalho em atividade subordinada à classe capitalista”

(IAMAMOTO E CARVALHO, 2011, p. 85).

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Entretanto, o Serviço Social se modifica de acordo com as

transformações que vão ocorrendo na sociedade, já que essas alterações

geram novas exigências na sua atuação profissional, como por exemplo, a

conscientização da classe operária em que uma nova intervenção passa a ser

necessária com o objetivo de garantir a manutenção da ordem hegemônica.

Assim, segundo Netto (2011), não é na continuidade da atuação do

profissional de Serviço Social que se dá a sua profissionalização, mas sim com

a ruptura, ou seja, com os deslocamentos dos agentes dessa profissão para

um determinado espaço na divisão sociotécnica do trabalho. Ressaltando que

a emergência do Serviço Social não se deu pela criação dos espaços sócio-

ocupacionais, e sim a existência destes levam a formação da profissão.

Portanto, a emergência do Serviço Social como profissão está

diretamente inserida no desenvolvimento do capitalismo monopolista, estando

principalmente associada às mazelas que ordem capitalista gera na sociedade,

ou seja, o Assistente Social está conectado às expressões da questão social e

a organização da classe operária.

O espaço pertencente ao Serviço Social é determinado pelo processo de

ordem do monopólio, a atuação do Assistente Social terá como base o

enfrentamento da questão social tendo como principal instrumento de trabalho

as políticas sociais. Assim, podemos afirmar que a execução das políticas

sociais se torna a constituição do mercado de trabalho para o Serviço Social.

As condições propícias à profissionalização do Serviço Social decorrem

de sua institucionalização e legitimação como um dos meios mobilizados pelo

Estado, pela classe dominante com o aparato também da Igreja Católica, na

perspectiva do enfrentamento da questão social. Pode-se afirmar que a

profissão de Serviço Social está delimitada em uma contradição antagônica

com relação às respostas sociais. Como afirma Iamamoto e Carvalho (2009,

p.112-113). [...] “O Assistente Social é chamado a constituir-se como agente

institucional de “linha de frente” nas relações entre a instituição e a população”.

O caminho da profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o processo pelo qual seus agentes – ainda que desenvolvendo uma auto-representação e um discurso centrados na autonomia dos seus valores e da sua vontade – se inserem em atividades interventivas cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são determinados para além do seu controle [...]. Trata-se justamente do espaço que se engendra na sociedade burguesa quando o monopólio se consolida, no conflituoso processo [...] em que se gestam as condições histórico

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sociais para que, na divisão social (e técnica) do trabalho, constitua-se um espaço em que se possam mover práticas profissionais como as do assistente social. (NETTO, 2011, p. 71-73).

Além disso, para compreender a emergência profissional do Serviço

Social, também é necessário entender o papel da Igreja Católica na gênese da

profissão, “[...] os elementos que mais colaboram para o surgimento do Serviço

Social têm origem na Ação Católica, [...] que propugna, com visão messiânica,

a recristianização da sociedade através do projeto de reforma social”.

(CASTRO, 2006, p.47)

No começo da década de 1930, a Igreja Católica, não concordando com

os ideais liberais e do comunismo, procura criar uma ação doutrinária

qualificada e organizada com o objetivo de se fortalecer perante o Estado.

Ao mesmo tempo em que as condições de exploração da classe

trabalhadora produzem e aumentam as desigualdades entre as classes,

gerando significativas mobilizações por partes dos operários, que estavam em

busca de melhores condições de vida, lutando por direitos sociais, trabalhistas

e outros. Com isso observa-se a necessidade de um posicionamento da classe

dominante e consequentemente do Estado e da Igreja diante da questão social.

De acordo com Iamamoto (1992, p. 18), “para a Igreja, a “questão

social”, antes de ser econômico-político é uma questão moral e religiosa”. A

Igreja e os grupos sociais devem atuar junto às mazelas questão social por

meio da recristianização da sociedade.

Diante deste cenário as classes dominantes, o Estado e a Igreja

Católica sentiram a necessidade de se posicionarem frente às novas

exigências sociais da classe operária, procurando direcionar essas lutas

populares através de aparentes concessões, para que de alguma forma

tivessem maior “controle” sobre a situação.

Ressaltando que este momento histórico dita uma determinada forma de

pensar e agir na sociedade, não buscando apenas uma sociedade baseada

em princípios cristãos e sim também baseada nos interesses das classes

dominantes no que diz respeito ao afastamento do proletariado das influências

socialistas, a partir da substituição do liberalismo pelo comunitarismo cristão.

Assim, a Igreja deixa as desavenças com o capitalismo de lado e passa a vê-lo

como aliado na luta contra o socialismo.

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O Serviço Social vem então, como uma alternativa para as atividades de

caráter social para a Igreja Católica onde a intervenção ideológica na vida da

sociedade, tem como base ações caritativas e assistencialistas, através de

atividades educativas, curativas e preventivas. Com isso a proteção social é

individualizada, dessa forma descaracterizando o caráter de classe e as

contradições entre a relação da classe dominante e a classe operária.

Assim, segundo Iamamoto e Carvalho (2009, p. 167 e 168).

O elemento humano e a base organizacional que viabilizarão o surgimento do Serviço Social se constituirão da mescla entre as antigas Obras Sociais [...] e os novos movimentos de apostolado social, especialmente aqueles destinados a intervir junto ao proletariado, ambos englobados dentro de uma estrutura do Movimento Laico, impulsionado e controlado pela hierarquia.

No ano de 1932, foi criado o Centro de Estudo e Ação Social em São

Paulo – o CEAS incentivado e sob controle da hierarquia, sendo considerado

um marco da organização do Serviço Social no Brasil. A aparece como

condensação da necessidade sentida por setores da Ação Social e da Ação

Católica. Assim, o Serviço Social no Brasil é fruto da Ação Social da igreja, que

segue as diretrizes papais para a Reforma Social, formando o Laicato.

Com isso, a partir da década de 1950, o Serviço Social começa a

reconhecer a necessidade de revisão teórico-metodológica de sua ação

profissional, levando em consideração as particularidades da realidade

brasileira. Observou-se uma debilidade teórico-metodológica no que diz

respeito à compreensão da realidade, das relações sociais e na resolução dos

problemas, bem como a emergência de novas demandas à profissão e de

novos espaços sócio-ocupacionais.

Por isso, diante de um cenário de questionamentos e críticas ao Serviço

Social tradicional, onde é discutido os métodos de ação na realidade, se torna

indispensável a busca de uma nova visão profissional. Com uma revisão crítica

de sua intervenção na sociedade, para que sejam dadas as respostas

necessárias às novas exigências que estavam surgindo na dinâmica da

realidade, a partir deste momento é constituído as condições favoráveis para o

Movimento de Reconceituação. Segundo Iamamoto (2012, p. 207, grifos da

autora) esse movimento:

[...] perfilou-se, desde o seu nascedouro, como um movimento de denúncia – de autocrítica e de questionamentos societários – que tinha como contraface um processo seletivo de busca da construção

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de um novo Serviço Social latino-americano, saturado de historicidade, que apostasse na criação de novas formas de sociabilidade a partir do próprio protagonismo dos sujeitos coletivos.

Mesmo com o presente caráter conservador imbutido na emergência do

Serviço Social, a partir de 1965, há uma relação de ruptura com esse

conservadorismo que pode ser denominado como Movimento de

Reconceituação16, “constituindo um marco inarredável e incontornável da

história do Serviço Social” (NETTO, 2005. p.06).

Deste modo, o Movimento de Reconceituação é caracterizado pelo

momento da crítica ao tradicionalismo, sendo o momento em que surgem

novas perspectivas profissionais para o Serviço Social, tanto no que diz

respeito à formação, como no exercício profissional e na organização da

categoria dos Assistentes Sociais, assim podemos afirmar que neste momento

a profissão passa por um processo de redimensionamento. Como afirma Netto

(2005, p.08) “[...] o quadro conjuntural balizado por 1968 constituía, em si

mesmo, o cenário adequado para fomentar a contestação de práticas

profissionais como as do Serviço Social tradicional”.

O Movimento de Reconceituação17 do Serviço Social na América Latina

significou o momento de revisão crítica da profissão, representando

questionamentos sobre quais suas reais finalidades, seus fundamentos, no que

diz respeito aos seus compromissos ético e político, sobre suas formas de

intervenção e a sua formação profissional. (IAMAMOTO, 2012). Assim. Este

movimento buscou construir um Serviço Social pautado em teorias e métodos

condizentes com a própria história do país, ou seja, procurando não basear

mais sua prática profissional em realidades sociais alheias. Como podemos

notar:

[...] Neste marco, assistentes sociais inquietos e dispostos à renovação indagaram-se sobre o papel da profissão em face de expressões concretamente situadas da “questão social”, sobre a adequação dos procedimentos profissionais tradicionais em face das nossas realidades regionais e nacionais, sobre a eficácia das ações profissionais, sobre a pertinência de seus fundamentos

16 O marco inicial da Reconceituação foi o “Seminário Regional Latino-Americano de Serviço Social”, realizado em maio de 1965 em Porto Alegre, com a presença de 45 participantes do Brasil, Uruguai e Argentina. (NETTO, 1996, p. 09). 17 Ressaltando documentos de grande importância durante esse processo de reconceituação da profissão que foram gestados durante encontros de Assistente Sociais, que foram: Documento de Araxá, em Minas Gerais no ano de 1967(reuniu 38 Assistente Sociais), de Teresópolis em 1970 (com 33 Assistentes Sociais) e Sumaré, em 1978 (com 25 pessoas).

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pretensamente teóricos e sobre o relacionamento da profissão com os novos protagonistas que surgiam na cena político-social. (NETTO, 2005, p. 09).

Ressaltando que neste momento histórico, é demonstrado uma nova

forma de ver e interferir na realidade social, momento em que a tradição

marxista18 começa a se aproximar, a ganhar espaço na profissão de Serviço

Social trazendo à tona novas formas de compreensões à respeito da sociedade

e das relações sociais. Assim, o Movimento de Reconceituação se dá a partir

de novas influências ideológicas e filosóficas que seguem as transformações

societárias, em que se buscaram novas formulações teóricas e práticas,

através de críticas ao Serviço Social tradicional. (NETTO, 2005).

Neste momento de renovação, o Serviço Social procurou articular a

reorganização das bases tradicionais com novas tendências do pensamento

profissional contemporâneo, buscando instaurar legitimação da prática do

Serviço Social, por meio das respostas às demandas sociais, da

sistematização destas e de uma “validação teórica”. (NETTO, 2011, p. 131).

Netto (2005, p. 11-12), elenca pelo menos quatro conquistas que se

integraram no Serviço Social latino-americano: A articulação de uma nova

concepção de unidade latino-americana, uma unidade construída

autonomamente, sem as tutelas confessionais ou imperialistas. Há uma

interação profissional que busca fundamentar uma articulação profissional que

responda às problemáticas comuns da América Latina; A importância da

dimensão política da ação profissional, que é indispensável para qualquer

intervenção social; A aproximação crítica com discussões das ciências sociais,

“abrindo-se a novos influxos e sintonizando-se com tendências diversificadas

do pensamento social então contemporâneo”; O estabelecimento do pluralismo

profissional, ou seja, outros procedimentos que buscam a legitimação e

concepções sobre a natureza das práticas do Serviço Social.

Segundo o autor a principal conquista da Reconceituação foi “a recusa

do profissional de Serviço Social de situar-se como um agente técnico

puramente executivo”. Neste momento são valorizadas atividades de

planejamento com intervenção macrossocial, abrindo as portas para inserção

18 [...] É na passagem dos anos cinquenta aos sessenta que a inspiração marxista começa a rebater, expressiva e visivelmente, na elaboração intelectual de pensadores e investigadores sem vinculação partidária. [...] (NETTO, 2011, p. 108 – 109)

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da pesquisa e investigação na área do Serviço Social como importante

requisito para a atuação profissional.

O Movimento de Reconceituação também trouxe à tona a denúncia da

neutralidade político- ideológico (tão presente no Serviço Social tradicional), da

restrição dos efeitos de suas ações presas em intervenções em espaços

microssociais e a falta do amadurecimento teórico profissional. Com isso, os

Assistentes Sociais passaram a tomar para si o desafio e a responsabilidade

de contribuir na organização, capacitação e conscientização dos vários

segmentos de trabalhadores. Além disso, como afirma Faleiros (2005), o

movimento de reconceituação traz uma questão importante que diz respeito a

elaboração de uma nova forma de intervir na realidade, em que se deu a

necessária importância com relação à dialética teoria/prática.

Iamamoto (1992, p. 37) afirma a necessidade de “ruptura com a herança

conservadora”, sendo necessário lutar a fim de se alcançar novas bases de

legitimidade da ação profissional, no qual o Assistente Social precisa

reconhecer as contradições sociais no seu exercício, pautando sua prática

profissional nas demandas e interesses da classe trabalhadora. Ou seja,

reconhecer que sua atuação, principalmente como um agente que implementa

e não somente executa políticas sociais, encontra-se inserida na correlação de

forças, para isso a autora afirma que é necessário para o Assistente Social:

Aprofundar a compreensão das implicações políticas de sua prática profissional, reconhecendo-a como polarizada pelas lutas de classes. Em outros termos, o profissional é mobilizado na implementação de políticas sociais que trazem no seu bojo interesses divergentes e antagônicos que o exercício profissional, contraditoriamente, reproduz já que tende a ser cooptado por uma das forças em confronto. (IAMAMOTO, 1992, p. 37, grifos da autora).

Assim, é preciso que o Assistente Social faça uma escolha teórica-

prática para que sua atuação seja orientada por um projeto de sociedade, os

quais Guerra (2007, p. 9) caracteriza como “projetos coletivos conservadores

ou progressistas”. Ainda segundo a autora, ser orientada por um projeto

progressista constitui a opção profissional por estratégias de ação que se opõe

ao ideário neoliberal a fim de se enfrentar a realidade.

Ou seja, se faz necessário um “aprofundamento teórico rigoroso e uma

prática renovada” (IAMAMOTO, 1992, p. 37), que necessariamente precisa

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estar com o seu caráter político definido, para superar qualquer artimanha –

como o voluntarismo, a burocratização da prática profissional, as tendências

empíricas e o desconhecimento da realidade- e unificação à atuação

profissional, bem como ter um posicionamento crítico para que dessa forma

sua atuação seja firmada no momento histórico, ao invés de reproduzir práticas

individuais e desconectadas da realidade.

A partir do que foi exposto até agora, podemos afirmar que o Serviço

Social em sua trajetória carrega momentos de renovação, o que contribui para

o redimensionamento da profissão e também da atuação, embora ainda

coexistam posturas conservadoras até hoje. Vale ressaltar que as

transformações políticas, econômicas e sociais da sociedade repercutem

diretamente na prática profissional do Assistente Social e com isso estabelece

a necessidade de revisão e renovação do compromisso ético-político, diante da

exigência de novas competências na intervenção profissional.

Por isso é necessário que o Assistente Social tenha domínio da

legislação da profissão, pois de acordo com o Código de Ética é preciso que

suas atividades sejam realizadas com eficiência e responsabilidade. Para tanto

é indispensável refletirmos sobre o projeto ético-político profissional, sua

constituição, sua função atual na profissão e os principais desafios enfrentados

pela categoria para a materialização e fortalecimento deste projeto,

principalmente na contemporaneidade.

É notável que o Movimento de Reconceituação, nas décadas de 1960 e

1970, foi um momento de amadurecimento e reflexão da teoria crítica, em que

se buscou levar em consideração o compromisso com os valores da

democracia, liberdade, cidadania e garantia de direitos, Netto (2005, p. 18)

afirma que a “existência deste “Serviço Social crítico” [...] implementa o

chamado projeto ético-político”.

De acordo com Faleiros (2005), o Código de Ética e a Lei que

regulamenta a profissão foram instrumentos importantes e necessários para

que se firmasse a perspectiva de transformação social e do projeto ético-

político profissional que está fundamentado a partir do Movimento de

Reconceituação do Serviço Social.

O Código de 1993 assinala uma etapa de amadurecimento do processo de renovação da ética profissional, marcando a consolidação das conquistas afirmadas no Código de 1986: a ruptura

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com o conservadorismo ético-moral e a superação da concepção ética tradicional, abstrata e a-histórica. Além disso, ele supera as fragilidades teóricas do Código anterior sem romper com a linha de continuidade política que os unifica; dessa forma, amplia a concepção ética marxista para além da sua configuração de classe, fornecendo as bases para uma compreensão ontológico-social da realidade. A devida compreensão teórico-metodológica também permite explicitar as mediações necessárias entre a ética, os valores e a intervenção profissional; entre o projeto profissional e o projeto societário ao qual ela se conecta em dado momento histórico. (BARROCO, 2004, p. 186).

Além do processo de reconceituação da profissão a partir da década de

1980, com a redemocratização do país e com as transformações societárias,

estão postas as condições favoráveis para o debate e a construção do projeto

ético-político profissional, a partir de um perfil crítico e transformador da

profissão.

2.2 O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Segundo Netto (1999), a construção do novo projeto profissional, inicia-

se durante a transição da década de 1970 a 1980, caracterizando um momento

muito importante para o Serviço Social no Brasil, importante pelo fato de que,

nesse período o conservadorismo tão presente na profissão, começa a ser

criticado gerando com isso a necessidade de um novo projeto profissional,

projeto esse denominado de projeto ético-político. O projeto ético-político

conquistou sua hegemonia tanto teoricamente como metodologicamente no

Serviço Social brasileiro a partir da década de 1990.

Ainda segundo o autor, o processo de consolidação do projeto

profissional de ruptura é permeado por três momentos, o primeiro retrata o

período e as condições de sua emergência, o segundo se traduz na maturidade

intelectual e teórica da profissão dentro do espaço estritamente acadêmico e o

terceiro momento começa por volta de 1982-83, onde esse projeto de ruptura

espraiou-se paras as diferentes instâncias da vida profissional, ainda com

alguns equívocos, principalmente com relação à ética profissional.

O projeto de profissão é compreendido aqui como um processo de

ruptura com o conservadorismo, deitando raízes na configuração de um no

ethos profissional, trazendo um amadurecimento teórico, acadêmico, político e

ético. Segundo Abramides (2007, p. 37 e 38):

O projeto profissional como processo de ruptura e sua direção sociopolítico se assenta no quadro conjuntural do país a partir: a) das lutas sociais contra a ditadura militar e pela retomada da democracia

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e seus rebatimentos na esfera da vida social em meados dos anos 1970 até o final dos anos 1990; b) da implantação do neoliberalismo em 1989 com Collor de Mello e que ganha fôlego e consolidação nos dois mandatos de FHC [...] e de sua continuidade no governo Lula [...]; c) na forma de a categoria profissional posicionar-se na luta contra o neoliberalismo em defesa do projeto profissional voltado aos interesses imediatos e históricos da classe que vive do seu trabalho.

O projeto ético-político profissional é resultado de um movimento

histórico e social que se encontra conectado com uma direção social de

renúncia ao conservadorismo da ordem hegemônica, a partir de uma

aproximação com a classe trabalhadora.

“A luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo profissional, criou o quadro necessário para romper com o quase monopólio do conservadorismo no Serviço Social: no processo da derrota da ditadura se inscreveu a primeira condição – a condição política – para a constituição de um novo projeto profissional.” (NETTO, 1999, p. 10).

Notamos pela a primeira vez, que no interior do corpo profissional,

começam a repercutir os projetos societários, diferentes daqueles que

atendiam aos interesses das classes dominantes, ou seja, “o projeto ético-

político do Serviço Social brasileiro está vinculado a um projeto de

transformação da sociedade”, firmando seu compromisso com a classe

trabalhadora. (TEXEIRA, 2011, p. 189). Segundo Netto apud Teixeira (2011, p.

190), nosso projeto ético-político é bem claro e explicito quanto aos seus

compromissos:

Tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central – a liberdade historicamente concebida, como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero.

Vemos que o novo projeto profissional articula em si mesmo uma

imagem ideal da profissão, os valores que a legitimam, sua função social e

seus objetivos, conhecimentos teóricos, saberes interventivos, normas, práticas

e etc. Trata-se de um projeto que também é um processo, em contínuo

desdobramento. (Netto, 1999).

O Projeto ético-político profissional segundo Netto (1999) tem algumas

dimensões, como a dimensão política que é enunciada, quanto ao

posicionamento do projeto a favor da equidade e da justiça social, na

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perspectiva da universalização do acesso a bens e serviços, no diz respeito às

políticas e programas sociais; ampliação e a consolidação da cidadania, como

garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras.

Numa dimensão profissional, o projeto traz de novo o compromisso com

a competência, que se dá com o aperfeiçoamento intelectual constante do

assistente social, dano ênfase numa formação acadêmica de qualidade. Em

especial, o projeto prioriza uma nova relação com os seus usuários, tendo

como componente elementar o compromisso com a qualidade dos serviços

prestados à população.

O projeto profissional integra valores, escolhas teóricas, ideológicas,

políticas, éticas e normatizações que determinam os direitos e deveres

profissionais; e é a expressão de ruptura da profissão com o tradicionalismo e o

conservadorismo do projeto societário. (KOIKE, 2009)

Os valores e princípios do atual projeto profissional remetem a um novo

modo de operar na profissão, o que pressupõe a crítica sobre as condições e

relações do seu exercício profissional, assim segundo Guerra (2007, p.27):

Assim, fica claro ao profissional que não basta se indignar contra a moral burguesa, não basta o senso moral. É necessário que se desenvolva a consciência moral, que se apropria da ética como reflexão crítica sobre a moral para se estabelecer quais as escolhas e ações táticas e estratégias que nos permitam organizar ações e sujeitos históricos para intervir no processo de democratização da sociedade, visando uma sociedade mais justa e equitativa, o que passa pela defesa da vida humana.

De acordo com Teixeira e Braz (2009, p. 190- 191), o projeto ético-

político do Serviço Social constituído por quatro componentes: A explicitação

de princípios e valores ético-políticos; A base teórico-metodológica; A crítica à

ordem hegemônica do capitalismo e as lutas e posicionamentos políticos da

categoria profissional e sua aliança com setores progressistas da sociedade.

Ainda de acordo com os autores Teixeira e Braz (2009, p. 190 – 191), o

projeto envolve alguns elementos para sua materialização e sua visibilidade a

partir da: Produção de conhecimentos: no que se refere à sistematização da

prática profissional; Dimensão jurídico-política: o projeto em questão é formado

e materializado por leis que fornecem e compõem a base para a profissão e

são resultados de lutas da categoria profissional e da classe trabalhadora e;

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Organização político- organizativa da profissão: que envolve fóruns, entidades

associações e organizações sindicais.

O projeto ético-político está em constante processo de formação no

cotidiano, pois é necessário que o Assistente Social traduza este projeto no

processo de formação e exercício profissional, através da relação com a classe

trabalhadora para fortalecê-lo. Logo, é desafio para o Assistente Social tornar

esse projeto um norte concretizado para sua atuação profissional, pois é

necessário que este articule as dimensões normativas, acadêmicas e

organizativas com a realidade em que se insere o cotidiano do exercício

profissional, principalmente na luta contra o conservadorismo na atualidade.

[...] aqueles assistentes sociais que atuam segundo um projeto

profissional crítico tem muito mais possibilidades de alcançar a clareza

Segundo Guerra (2007), o projeto profissional é um elemento de unidade

entre teoria e prática. Sem isso, a atuação profissional realidade carece de uma

unidade, de elementos que possam homogeneizar determinados elementos da

cultura e determinadas posturas profissionais conscientemente adotadas,

diferenciando-as das ações sociais, voluntárias ou não. O projeto profissional

crítico é um elemento necessário para que uma atividade se converta em

práxis.

Outro desafio é que o projeto ético-político do Serviço Social por ter

caráter transformador de ruptura com a ordem burguesa entra em conflito com

os ideais neoliberais, já que este projeto torna-se uma ameaça à ordem

hegemônica capitalista, por defender e lutar pela garantia de direitos sociais,

conforme afirma Teixeira e Braz (2009, p. 13),

[...] por escolhas historicamente definidas pelo Serviço Social brasileiro, condicionadas por determinantes histórico- concretos mais abrangentes – colidem (são mesmo antagônicas em sua essência), com os pilares fundamentais que sustentam a ordem do capital.

Segundo Brites e Sales (2007), Com o amadurecimento teórico- político

da categoria, conquistados nos últimos anos e posicionamento a favor com a

democracia, equidade e a cidadania, aprovou-se um novo projeto profissional,

em 1996, comprometido com os seguintes princípios: rigoroso trato teórico,

histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social; Adoção de

uma teoria social crítica, que possibilitando a apreensão da totalidade social em

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suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade; superação

da fragmentação de conteúdos curriculares; garantia das dimensões

investigativas, interventiva e ética como princípios formativos articulados e

interdisciplinariedade no projeto de formação profissional e exercício do

pluralismo no campo democrático.

A elaboração de um novo Código de Ética e a proposta de revisão curricular, operadas ainda na primeira metade da década de 1990, são exemplos emblemáticos da organização da categoria profissional, cuja finalidade estava em promover a superação da ética marxista tradicional e seus pressupostos básicos. (SILVA, 2009, p. 111).

A partir da reestruturação capitalista e as novas imposições da ordem

hegemônica para a sociedade civil e a responsabilização do “Terceiro Setor”

como estratégia neoliberal a responder as expressões da questão social,

pressupõe-se que essa nova conjuntura gera novas demandas e imensos

desafios para atuação e para a materialização do projeto ético-político da

profissão. Segundo Silva (2009, p.113), “Com o avanço do neoliberalismo e o

recuo (fragilização) do movimento socialdemocrático, os profissionais de

Serviço Social estão, cada vez mais, incisivos na defesa do processo de

democratização da vida social e do Estado.”

Se antes, na década de 1980, havia as condições políticas e

econômicas favoráveis ao movimento dos trabalhadores contra a exploração e

opressão capitalista, hoje os desafios políticos provocados pelas mudanças

radicais na economia e na política exigem não só a continuidade, mas também

o aprofundamento da luta pela democracia na vida social brasileira.

Conclui-se então que o projeto ético-político, apesar de encontrar

embates que tentam enfraquecê-lo, é um marco importante na trajetória

profissional, é a afirmação de outra forma de entender a sociedade e a

profissão, bem como delimitar uma ação profissional qualificada e crítica,

pautada em princípios éticos e políticos.

2.3 OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SERVIÇO SOCIAL DIANTE DA

ATUAL CONJUTURA PARA MATERIALIZAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-

POLÍTICO

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Depois de termos realizado uma análise da conjuntura pós-1970, a

contextualização histórica da emergência do Serviço Social e a reflexão acerca

do projeto ético-político profissional, buscaremos refletir e analisar o Serviço

Social na contemporaneidade, as implicações da reestruturação capitalista na

profissão, as novas demandas, bem como os limites e possibilidades da

atuação profissional do Assistente Social hoje.

Diante das transformações sócio-históricas nas relações entre o Estado

e a sociedade, onde a economia se encontra em grande recessão e totalmente

submissa ao capital, notamos o agravamento das expressões da questão

social, como aumento da pobreza; aumento do desemprego e subemprego;

das desigualdades sociais e econômicas e a perda de direitos e conquistas

sociais, o que ocasiona um redimensionamento da profissão e dos espaços

sócio-ocupacionais no sentido de intervir melhor na realidade, onde o cenário é

marcado pelo deslocamento da “satisfação de necessidades da esfera pública

para a privada” (IAMAMOTO, 2009. p.359)

As transformações ocorridas nos países capitalistas nos últimos trinta

anos, vindas da crise estrutural do capitalismo, traz profundas modificações no

mundo do trabalho (como o desemprego estrutural, a tecnologia, flexibilidade,

terceirização) e particularmente no Serviço Social, a partir da orientação

neoliberal há um redimensionamento das políticas sociais, onde estas sofrem

profundas alterações nas suas orientações e funcionalidade, passam pelo

processo de privatização e focalização. (MONTAÑO, 1997).

Ocorre um processo de refilantropização social, com uma forte tendência

de privatização das respostas dadas as expressões da questão social,

respostas estas que são pautadas por um caráter de solidariedade e

voluntarismo nas ações, assim é gerado uma parceria entre o público e o

privado surgindo com isso o “Terceiro Setor”, onde a sociedade civil é cada vez

mais responsabilizada por buscar suprir suas próprias necessidades sociais.

Esse processo gera importantes significados e repercussões para a

prática do Serviço Social, pois ao mesmo tempo em que se mantém os

espaços de execução e implementação de políticas sociais, novos espaços de

atuação profissional surgem, como por exemplo, na área dos recursos

humanos, formulação e gestão de políticas sociais e principalmente a atuação

do Assistente Social no “Terceiro Setor”.

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Assim, há uma diversificação nos espaços sócio-ocupacionais, os quais

se constituem como produto histórico das lutas entre as classes pela

hegemonia e pelo modo político das respostas profissionais. Ou seja, as

demandas profissionais não estão pré-estabelecidas, elas mudam de acordo

com a realidade social em que estão inseridas, gerando assim ações

profissionais potenciais ao Assistente Social. Como afirma Iamamoto (2012,

p.150, grifos da autora).

[...] a prática profissional não tem o poder miraculoso de revelar-se a si mesma. Ela adquire inteligibilidade e sentido na história da sociedade da qual é parte e expressão. Assim, desvendar a prática profissional cotidiana supõe inseri-la no quadro das relações sociais fundamentais da sociedade, ou seja, entendê-la no jogo tenso das relações entre as classes sociais, suas frações e das relações desta com o Estado brasileiro.

A diversificação gera novas demandas, habilidades, competências e

atribuições para o Assistente Social, como por exemplo: análise de orçamentos

e planejamento, elaboração, execução, avaliação e gestão de projetos,

programas e outros. Com isso é necessário que o profissional de Serviço

Social, ultrapasse demandas de caráter imediatistas, sendo um profissional

com capacidade segundo Iamamoto (2012) de propor e negociar com a

instituição empregadora projetos de atuação a fim de ampliar suas

possibilidades de intervenção, com o intuito de responder muito mais que

demandas meramente institucionais, sobretudo atender as necessidades que

venham dos usuários. Algumas competências são exigidas dos Assistentes

Sociais na atualidade, segundo Duarte (2010, p.5):

[...] qualificação, competência, criatividade, dinamismo e flexibilidade, palavras carregadas de utilidade e significado em uma conjuntura de crise mundial do capital. [...] também se inserem exigências direcionadas para a leitura e análise dos orçamentos públicos, para identificação de alvos e metas, bem como para recursos disponíveis, visando à captação de recursos e ao planejamento e execução de ações e projetos.

Ressaltando que de acordo com Mota e Amaral (1998, p. 25), que as

demandas sociais e necessidades sociais não são sinônimos, já que as

demandas são “requisições técnico-operativas, que através do mercado de

trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes”, os quais

demandam, segundo as autoras necessidades políticas, culturais, econômicas

e sociais.

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Assim as necessidades sociais se tornam fonte de demanda da atuação

profissional do Assistente Social, assim a principal tarefa posta para o Serviço

social na atual conjuntura é a de identificar o conjunto das necessidades

(políticas, sociais, materiais e culturais).

Para que o Assistente social não fique preso ao imediatismo e tenha

uma ampla visão da sua atuação, ele deve buscar ultrapassar alguns limites,

que dentre outros, podem ser caracterizados como: a condição assalariada em

que se encontra inserido esse profissional; pelas exigências e competências

específicas das instituições empregadoras; pela jornada de trabalho; pelo

intenso processo de descentralização, focalização e precarização das políticas

sociais públicas e pelo processo de privatização de serviços sociais.

Outro enorme desafio que o Assistente Social enfrenta é ter a

capacidade de compreensão crítica da realidade, a partir da dinâmica da

totalidade/particularidade/singularidade que atravessam o cotidiano do

exercício profissional do Assistente Social, com o intuito de requalificar o seu

fazer profissional, com o objetivo de este encontrar respostas profissionais

criativas, ou seja:

[...] decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. [...] exige uma ruptura com a atividade burocrática e rotineira, que reduz o trabalho do assistente social a mero emprego. [...]. (IAMAMOTO, 2012, p. 20- 21, grifos da autora)

Vale ressaltar que Iamamoto (2012) coloca que é na realidade que as

possibilidades estão postas e o profissional deve se apropriar desta e

desenvolver alternativas de atuação, pois munido da real compreensão da

realidade evita o modo fatalista de ver e entender o processo histórico, como

se a realidade tivesse com seus limites constituídos, sem qualquer

possibilidade de modificação.

O que se concretizará a partir do momento em que estas alternativas

são transformadas em projetos de ação, que de acordo com Couto (2009) por

meio desse projeto se terá estabelecido o que poderá ser oferecido ao seu

espaço sócio-ocupacional para atender as demandas da instituição e traçar

estratégias de atuação profissional. Por isso, a autora afirma que a formulação

deste projeto deve ter os seguintes elementos: 1 – Identificação, delimitação e

justificativa do objeto de ação que é o momento em que determinará as

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prioridades para responder as demandas colocadas; 2 – Definição de objetivos,

ou seja, esclarecer o que se pretende alcançar através de sua intervenção

profissional; 3 – Identificação de metas, momento de formular os resultados

esperados a partir das atividades desenvolvidas; 4 - Demarcar os recursos que

serão necessários para a execução do projeto e por último o registro de todo

processo de formulação, execução e avaliação deste projeto no intuito de gerar

novos elementos para novos projetos.

Assim, o projeto de trabalho se torna instrumento fundamental para a

compreensão e consolidação da atuação profissional, bem como do projeto

ético-político profissional, pois parâmetros serão estabelecidos e assumidos.

Outro desafio que é posto ao Assistente Social na contemporaneidade

encontra-se inserida nas relações entre projeto ético-político e o estatuto

assalariado, já que o Serviço Social está presente no processo de

mercantilização, que vende sua força de trabalho para as instituições

empregadoras, que precisam dessa força especializada de atuação. Por isso:

Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o assistente social como um ser prático-social dotado de liberdade e teleologia, capaz de buscar projeções e implementá-las vida social; e a condição de trabalhador assalariado, cuja ações são submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos indivíduos singulares, os quais são socialmente forjados a subornar-se, ainda que coletivamente possam rebelar-se. (IAMAMOTO, 2009, p. 348).

Ainda segundo a autora, ressalta- se que essa densa relação pode ser

traduzida com a capacidade de realizar projetos e implementá-las na vida

social, na precarização de trabalho, na instabilidade, na polivalência e na

descaracterização da sua atuação como profissional assalariado que se

encontra submetida ao poder dos empregadores. Como podemos notar na

afirmação de Iamamoto (2002, p. 24, grifos da autora):

A condição assalariada envolve necessariamente a incorporação de parâmetros institucionais que trabalhistas que regulam as relações de trabalho consubstanciadas no contrato de trabalho, estabelecem condições em que este trabalho se realiza em termos de intensidade, jornada, salário, controle do trabalho e de sua produtividade, metas a serem cumpridas, assim como prevê a particularização de funções e atribuições decorrentes de normatização institucional que regula a realização do trabalho coletivo no âmbito dos organismos empregadores, públicos e privados.

Além disso, há um processo de descaracterização profissional nas

instituições (públicas, privadas e do “Terceiro Setor”) a partir do momento que o

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Assistente Social passa a ocupar cargos com diferentes nomenclaturas, como

técnico social e coordenador, o que gera um conflito com as competências

profissionais do profissional de Serviço Social com as competências destes

cargos ocupados, ou seja, uma confusão de cargos ou funções com a

profissão. Assim, de acordo com Duarte (2010, p. 71):

Tal consideração é relevante para o Assistente Social, uma vez que sua consciência enquanto profissional qualifica seu trabalho. Delimita suas atribuições e competências; por outro lado, o cargo se constitui como mera denominação que pouco explica sobre sua atuação profissional.

Assim o Assistente Social se depara com um dos maiores desafios da

profissão, segundo Iamamoto (2002), que é a efetiva materialização do projeto

ético-político profissional no seu espaço sócio-ocupacional, como forma de

apropriação a ampliação dos espaços ocupacionais reforçando a identidade

profissional. Portanto, é fundamental que o profissional se identifique como

Assistente Social e se faça ser reconhecido como tal dentro do seu ambiente

de trabalho.

Logo, isso significa tornar o projeto ético-político profissional como um

norte para a atuação do Assistente Social, assim como consolidá-lo e

implementá-lo. Para isso, é preciso que este profissional busque reconhecer as

condições sócio-históricas que estão presente na prática profissional e, a partir

disso traçar possibilidades para a materialização deste projeto no seu cotidiano

profissional. Ressaltando que para essa atuação ser qualificada, o Assistente

Social deve ter um perfil crítico, criativo, que formule reformula propostas de

ação e que seja propositivo. Importante também lembrar que a prática

profissional do Assistente Social traz consigo implicações políticas, por conta

do vínculo com um projeto de classe, ou seja, a natureza da ação profissional

tem caráter político-ideológico.

Como já foi afirmado anteriormente, sabemos que com a reestruturação

produtiva do capital, tem-se um redimensionamento da profissão devido à

inserção do Serviço Social em novos espaços sócio-ocupacionais, como o

“Terceiro Setor”, por exemplo, onde se observa diversas contradições e limites

de atuação do Assistente Social.

Porém, isso não pode se tornar um empecilho para que este profissional

tenha de fato, o compromisso com o projeto ético-político, procurando

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realmente materializá-lo no seu exercício profissional, pois este projeto tem

todas as referências necessárias técnicas, teorias, éticas e políticas para

subsidiar a prática profissional de um Assistente Social crítico que almeja

romper com ações baseadas no tradicionalismo.

Por isso, buscaremos analisar o exercício profissional do Assistente

Social no SESC/FORT e sua articulação com o projeto ético-político, levando

em consideração debate acerca do “Terceiro Setor” e a atual conjuntura

neoliberal que estamos inseridos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa com

as Assistentes Sociais da instituição e por meio das entrevistas serão

sistematizadas os aspectos que giram em torno do objetivo geral deste estudo.

III: O SERVIÇO SOCIAL NO SESC/FORTALEZA

Neste capítulo buscaremos primeiramente discutir sobre a instituição em

que estão inseridas as (os) Assistentes Sociais entrevistadas, o SESC –

Serviço Social do Comércio ressaltando como surgiu, o seu contexto histórico,

a sua trajetória e como esta instituição atua hoje na sociedade. Isso se torna

relevante para que possamos conhecer e entender qual a realidade em que

atuam as (os) Assistentes Sociais entrevistadas.

Em seguida, iremos nos ater especificamente sobre o Serviço Social na

instituição, iremos conhecer e analisar quais as atribuições e demandas postas

as (os) Assistentes Sociais, analisando também quais os principais desafios

que as mesmas (os) enfrentam no seu cotidiano profissional.

E por último iremos fazer uma análise da materialização do projeto ético-

político com a atuação do (a) Assistente Social no SESC/ Fortaleza, buscando

discutir como esse projeto tem sido articulado nas ações das profissionais de

Serviço Social.

3.1 O SESC: ORIGEM, TRAJETÓRIA E ATUALIDADE.

O Brasil também sofreu alterações e transições econômicas, políticas e

sociais, após o ano de 1946 e a partir da implementação do Estado Novo, o

Brasil se encontrava em uma nova época, devido principalmente à

democratização do país. Desenvolvia-se a industrialização e a urbanização,

multiplicavam-se os movimentos sindicais pela garantia dos direitos

trabalhistas. Alguns segmentos da sociedade buscam ocupar um novo espaço

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renovado, o espaço da liberdade assim cria-se um novo momento para a

política social e econômica brasileira e a questão social passa a ser enfrentada

de forma diferenciada, deixando de ser um caso de polícia. Assim, há um

aprofundamento do modelo corporativista no Brasil.

No período citado a política econômica se encontrava voltada para o

incentivo das indústrias básicas e expansão desse setor, além disso, há uma

participação ativa da burguesia industrial nas ações do Estado. Nessa mesma

época, observa-se um crescimento do proletariado urbano, que surge como

segmento que pressiona o Estado para uma nova dimensão política,

econômica e social no país, que contribuiu para a queda do antigo regime, para

a expansão do mercado urbano e com a legitimação das garantias sociais.

Logo, com esse crescimento, é necessário que a classe dominante

controle esse segmento a fim de conseguir a consolidação da ordem

econômica, principalmente, do crescimento das indústrias.

O novo regime busca, então, busca implementar uma nova forma de

gestão da economia e do âmbito social, que procura criar um vínculo com o

proletariado para legitimar a ação burguesa incorporando na ação estatal as

exigências da classe dos proletariados. Tais direitos garantidos por serem uma

estratégia da classe dominante, de acordo com Iamamoto (2011), podem ser

tidos como “ficção” subordinando o trabalho ao capitalismo.

[...] mais que um pacto de classes, trata-se no essencial de readaptar-se os mecanismos de exploração econômica e dominação política às necessidades do aprofundamento capitalista, [...] representam a reafirmação da dominação do capital e nunca seu contrário. (idem, 2011, p 251, grifos da autora).

O fato é que seria inaceitável uma grande mobilização da classe

operária, pois isso seria uma ameaça à ordem econômica. E por outro lado não

se poderia extinguir essa mobilização para que, como afirma autora, não haja

novos caminhos para uma possível alternativa hegemônica.

Com isso, os representantes do empresariado brasileiro perceberam que

a nova conjuntura estabelecida novos processos a serem utilizados dentro da

relação capital e trabalho. Para tanto, foi aprovada a Carta da Paz Social, que

deu forma à prestação de serviços mantidos pelos empresários, há uma

redefinição na relação do trabalho e à criação do conhecido “Sistema S”, a

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partir dos de 1940, as quais fazem parte o Serviço Social do Comércio (SESC)

criado no ano de 1946, Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI) criado no ano de 1942 e do Serviço Nacional

de Aprendizagem Comercial (SENAC) também criado em 1946, todos

buscavam o desenvolvimento social. Foram criados a partir do Decreto Lei 9.

853, que logo em seu 1° artigo explicava a finalidade da instituição: “planejar e

executar [...] medidas que contribuam para o bem- estar e a melhoria do

padrão de vida dos comerciários e de suas famílias [...]”.

De acordo com César (2008), a criação destas instituições,

caracterizadas como complexos assistenciais, se deu a partir da nova dinâmica

capitalista, com a formação de uma economia–social para atender as

necessidades da atividade do capital e se ter um posicionamento diante das

sequelas da questão social.

Assim, o SESC foi criado com o objetivo de atender às necessidades

sociais urgentes dos trabalhadores dos comércios, procurando enfrentar seus

problemas, reduzir ou aliviar suas maiores dificuldades e criar condições de

seu progresso. Deste modo, busca prestar serviços que possuem um caráter

sócio-educativo nas áreas da saúde, cultura, educação e lazer.

Hoje o SESC está presente em todos os estados brasileiros, atuando

nas capitanias brasileiras e em algumas cidades, sendo uma das formas de

inserção privada da população em benefícios por meio de seus serviços

prestados. É uma instituição, além de âmbito nacional, é de direito privado, ou

seja, não tem por responsabilidade a execução e gerenciamento de políticas

públicas.

O SESC é mantido pela contribuição social caracterizada pelo caráter

compulsório incidente sobre a folha de pagamento de empresas dos Serviços

de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, ou seja, os recursos financeiros do

SESC é resultado da contribuição compulsória do setor de comércio e

prestação de serviços.

Logo, o que temos é uma forma de financiamento das ações no

tratamento da questão social sendo repassada ao comerciário. Ou seja, temos

um caráter contributivo implementado pela classe do patronato, há uma

repressão e a utilização de uma política conservadora. (CÉSAR, 2008).

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No Ceará o SESC funciona desde 1948, através de programas e

projetos de saúde, educação, assistência, alimentação, cultura, lazer, turismo,

desenvolvimento físico e esportivo. Atualmente são seis Unidades

Operacionais – duas em Fortaleza (Unidades Centro e Fortaleza) e quatro no

Interior do Estado (Crato, Juazeiro do Norte, Iguatu e Sobral).

Ainda em Fortaleza, dispõe de espaço dedicado à cultura – Sesc Senac

Iracema – e um para a educação – Escola Educar SESC. Em Caucaia, está

localizada a Colônia Ecológica Sesc, na praia de Iparana, que oferece

hospedagem e várias opções de lazer, além de desenvolver ações de proteção

ao meio-ambiente.Também no Interior do Estado, a instituição conta com seis

centros educacionais, onde é desenvolvido o Programa Sesc Ler: Aracati,

Crateús, Ibiapina, Itapipoca, Quixeramobim e São Gonçalo do Amarante.

O SESC tem como missão contribuir na construção por uma sociedade

mais justa, na melhoria pela qualidade de vida do trabalhador do setor de

comércio, bens e serviços e turismos, principalmente aqueles de baixa renda,

através de serviços subsidiados e de excelência. (Disponível em:

http://www.sesc-ce.com.br/index.php/missao.html). Acesso em 15 de maio de 2013.

O SESC possui uma estrutura descentralizada e autônoma, tanto para a

gestão como para a criação e execução de seus projetos e atividades, que são

orientadas pelas diretrizes propostas pelo Departamento Nacional e aprovadas

pelos Conselhos Nacionais do SESC.

O Conselho Nacional do SESC tem estrutura tripartite, composto pelo

Conselho Regional, pelo Diretor Geral do Departamento e de representações

das Federações Nacionais de Comércio de Bens e Serviços. Cada

administração Regional possui seu conselho formado por membros eleitos

pelos sindicatos patronais do comércio de bens e prestação de serviços.

Dentre os serviços prestados pelo SESC temos: Educação – que busca

levar o trabalhador do comércio de bens e serviços e seus familiares a uma

melhor qualidade de vida. A instituição promove um conjunto de ações

direcionadas para a criança, o adolescente e o adulto, todas voltadas para a

formação de pessoas cidadãs, dotadas de senso crítico, autônomas, solidárias,

conscientes de seu papel como agentes das mudanças de que o País precisa

fundada em valores éticos.

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Saúde – o foco principal do SESC nessa área é a medicina preventiva

proporcionando informações que estimulem a criação de hábitos voltados para

a prevenção e preservação da saúde. Odontologia e Nutrição são outros

campos em que o SESC atua.

Na área Cultura – busca estimular a preservação, a difusão e o

desenvolvimento do conhecimento através de práticas educativo-cultural,

algumas atividades envolvidas são: apresentações artísticas e o uso da

biblioteca. Lazer – tem como objetivo o desenvolvimento social e pessoal de

seus usuários, aproveitando-se do seu tempo livre por meios de atividades

recreativas e de entretenimento. Assistência - através do Trabalho com

Grupos, Ação Comunitária e da Assistência Especializada busca contribuir para

a valorização dos usuários.

Foi possível notar que as práticas adotadas pela a instituição

caracterizam-se na contemporaneidade como uma das expressões de

transferência de responsabilidade do Estado para a sociedade, através da

chamada responsabilidade social, a partir de como se deu a origem do SESC,

sua missão, seu usuários atendidos, seus princípios e atuação.

Ou seja, é possível concluir que o SESC, na atualidade, caracteriza-se

como uma instituição que se encontra dentro da lógica neoliberal, de

manutenção do capital, de instituições não governamentais sem fins lucrativos,

a partir da responsabilização de um segmento específico da sociedade – os

comerciários – para responder suas necessidades sociais.

3.2 ATRIBUIÇÕES E DEMANDAS DAS ASSISTENTES SOCIAIS NO

SESC/FORT

As Assistentes Sociais19 do SESC/FORT estão lotadas na Programação

Social da instituição, mais especificamente no serviço de Assistência. O

programa de Assistência, que é um dos serviços oferecidos pela instituição é

onde se situam as Assistentes Sociais, esse Programa é divido em três setores

que são estes: O Trabalho Idoso com Idosos (TSI), Mesa Brasil e Ação

19Ressaltamos que os nomes utilizados das Assistentes Sociais no decorrer do trabalho são nomes fictícios.

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Comunitária. Das 04 Assistentes Sociais entrevistas20, duas atuam no setor do

Trabalho Social com Idosos (TSI), sendo que uma mais especificamente no

projeto Cidadania Ativa, que é um setor parelelo dentro do TSI, uma trabalha

no setor Mesa Brasil e a outra no setor Ação comunitária. Primeiramente é

preciso fazer uma breve caracterização dos setores citados em que as

Assistentes Sociais atuam.

Trabalho Social com Idosos (TSI) – Desde o ano 1983 vem sendo

desenvolvido onde atua através de ações voltadas para os interesses e

características dos idosos atendidos, trabalhando a pessoa idosa em sua

integralidade por meio do desenvolvimento de ações e projetos que atendem às

diversas dimensões do envelhecimento, seguindo às diretrizes relações

intergeracionais, gerontologia como tema transversal, protagonismo do idoso e

envelhecimento ativo, que são voltadas para o exercício da cidadania,

enfrentamento da exclusão social na velhice e fortalecimento da pessoa idosa

enquanto agente de transformação social, desempenhando papel social

representativo na família e na sociedade.

O TSI trabalha com três áreas de atuação, são estas: Grupo de

Convivência, Escola Aberta da Terceira Idade e o Trabalho Intergeracional.

Estas áreas de atuação são norteadas pelas linhas de trabalho: Promoção da

Saúde do Idoso, Protagonismo e Autonomia da Pessoa Idosa, Direitos Sociais

e Cidadania, Memórias e Histórias de vida, Expressões artístico- culturais,

Intergeracionalidade e Espiritualidade.

Dentro do TSI, tem um setor paralelo que é o Projeto Cidadania Ativa

que trabalha com o protagonismo na velhice e visa promover a cidadania e a

participação da pessoa idosa, incentivando a reivindicação de seus direitos e a

execução de projetos para melhorar a qualidade de vida nas comunidades

onde vivem. O Projeto é desenvolvido em cinco comunidades de Fortaleza que

são: Bom Jardim, Monte Castelo, Henrique Jorge, Papicu e Joaquim Távora.

As Assistentes Sociais lotadas no setor Trabalho Social com Idosos tem

como atribuições e demandas a supervisão, a coordenação e avaliação das

ações e projetos, avaliação dos resultados e a formulação de estratégias, bem

20No SESC/ Fortaleza tem aproximadamente 10 Assistentes Sociais, só foram entrevistadas 04 por conta do tempo e para não ficar com excesso de informações.

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como o acompanhamento, planejamento e execução das atividades dos grupos

(como o Grupo de Trabalho Intergeracional) de ações comunitárias e outras

atividades que surgirem para o Serviço Social. Podemos observar outras

demandas e atribuições das Assistentes Sociais no TSI, na fala de uma das

entrevistadas:

No dia-a-dia a gente trabalha também com atendimentos direto ao público onde aparecem diferentes demandas, principalmente aquelas pessoas que veem em busca dos projetos da instituição, fazemos também encaminhamentos, se necessário. Para que as pessoas tenham acesso aos Projetos do programa tem que passar inicialmente pela a gente, onde nós fazemos uma entrevista social, para saber um pouco sobre a questão socioeconômica da família [...] a partir desse estudo social nós temos mais ou menos o perfil do usuário, daí nós o direcionamos para os projetos que existem na instituição de acordo com as suas necessidades O nosso trabalho é sócio-educativo, trabalhamos muito com os grupos, o que não nos impede de atender demandas mais individuais. (MARIANA).

Outra área de atuação que o Assistente Social está presente é no setor

Ação Comunitária, que é uma Ação voltada para promover o desenvolvimento

social, econômico e cultural das comunidades, incentivando sua participação e

a integração, através da atuação do SESC com as comunidades e do

estabelecimento de parcerias com outras instituições. É realizado

periodicamente reuniões para a formação de núcleos comunitários, encontros,

campanhas, orientações em grupo, palestras, seminários, feiras, exposições,

dentre outros.

Os projetos realizados pela Ação Comunitária são ações permanentes

e/ou sistemáticas que o SESC desenvolve em comunidades que apresentam

indicadores de vulnerabilidade social e/ou situações de risco elevadas. Alguns

projetos são: SESC ações dialógicas, SESC formação, Comerciários em Ação

SESC, Ações de Cidadania SESC e outros. No setor Ação Comunitária há

apenas uma Assistente Social.

As atribuições e demandas para a Assistente Social no setor Ação

Comunitária, não se diferem tanto das Assistentes Sociais que trabalham do

setor Trabalho Social com Idosos – TSI. É realizado atendimento direto,

segundo relatos da entrevistada muitas vezes chega um usuário apenas

querendo conhecer quais os projetos da instituição, quando a pessoa não

chega com uma demanda “específica”, é atendida pela Assistente Social do

Setor Ação Comunitária, outras atribuições segundo a entrevistada são:

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Aqui no SESC e também nas comunidades eu faço atendimentos com os usuários dos projetos que fazem parte da Ação Comunitária, realizo palestras, oficinas, prestando informações relacionadas à assistência, benefícios sociais e outros assuntos que vão surgindo de acordo com as necessidades dos usuários dos projetos. (CAMILA)

Outra área de atuação do Serviço Social é no setor Mesa Brasil que atua

desde 2001 é uma Rede Nacional de Solidariedade que atua na área de

Segurança Alimentar e Nutricional, através da doação de alimentos a entidades

sociais que atendem a pessoas em situação de insegurança alimentar e

vulnerabilidade social. Desenvolve também ações educativas voltadas para o

consumo consciente dos alimentos e resgate da cidadania. O Programa tem na

parceria com doadores, entidades sociais e voluntários sua base de

sustentação é uma iniciativa que dissemina a cultura da responsabilidade

compartilhada para a garantia do direito humano à alimentação.

O programa Mesa Brasil não se limita apenas ao ato de doar alimentos,

também é desenvolvido ações de combate ao desperdício e ações educativas

nas entidades sociais e nas empresas doadoras, procurando abordar temas

variados, tanto na parte mais relacionada a nutrição que são: Manipulação dos

alimentos, Noções básicas de alimentos, Aproveitamento integral dos

alimentos, como também temas mais relacionados ao Social quais sejam:

Segurança Alimentar e Nutricional e Direito Humano a alimentação, Estatuto do

Idoso, Estatuto da Criança e Adolescente, Lei Orgânica da Assistência Social,

Educação Ambiental- coleta seletiva, Ação voluntária e Geração de renda.

Alguns princípios norteadores do programa são: Segurança alimentar e

nutricional Ações educativas, objetivando autonomia das entidades sociais;

Construção e manutenção de parcerias; Difusão de conhecimentos e

promoções da cidadania. No programa Mesa Brasil trabalham três Assistente

Sociais.

No setor Mesa Brasil as atribuições e demandas das Assistentes

Sociais, estão mais relacionadas às entidades sociais, assim o Serviço Social

neste setor realiza o trabalho de visitas técnicas de cadastro e monitoramento

nessas entidades porque para que elas possam fazer parte do programa é

necessário que esta mande um oficio para o SESC, especificamente para o

setor Mesa Brasil e assim é agendado a realização da visita tanto do Serviço

Social como da nutrição onde cada um avalia o que lhe é pertinente, no caso

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do Serviço Social é avaliado por exemplo, a questão documental da entidade e

a relevância do trabalho social que a mesma realiza após esse processo é

elaborado um parecer social.

Outras atribuições das Assistentes Sociais são a supervisão de estágio,

as atividades sócio-educativas e o trabalho de geração de renda, como ressalta

uma das Assistentes Sociais entrevistada:

Nós fazemos atividades sócio-educativas porque como o Mesa é um programa de segurança alimentar e nutricional onde realizamos doação de alimentos, temos todo um trabalho sócio-educativo pra que a nossa atuação não se limite apenas ao ato de doação em si e sim também proporcionar a auto-sustentabilidade e autonomia das entidades sociais. [...] Não posso esquecer da supervisão de estágio que é muito enriquecedor pra nós, [...] é muito interessante a troca de experiências, as contribuições que elas trazem pra nós. (LAURA).

Assim, podemos relacionar com o que está posto na Resolução do

CFESS 533 de 19 de setembro de 2008, que considera:

Que a atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese na relação teoria e prática, na articulação entre pesquisa e intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico-prático, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais das esferas públicas e privadas, com vistas à formação profissional, conhecimento da realidade institucional, problematização teórico-metodológica.

Tendo em vista as áreas que foram citadas em que se encontram a

atuação profissional das Assistentes Sociais na instituição, as atribuições e

demandas profissionais do Serviço Social podem ser sintetizadas e

comparadas com a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8662/1993) que

determina as atribuições e competências profissionais e com o Código de Ética

de 1993:

a) Coordenação e supervisão de grupos, planejamento, execução e

avaliação. Acompanhamento e coordenação dos grupos (avaliar

resultados e formular estratégias). Podemos relacionar com o que está

previsto na Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8662/1993 em

seu Art. 4° inciso II - Elaboração, Implementação, Execução e Avaliação

de programas e Art. 5° incisos I, II - Planejar, organizar, elaborar,

coordenar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas,

programas, projetos e planos. Relacionamos também com o que está

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posto do Código de Ética de 1993, que diz no seu Art. 2 alínea “c”-

Participação na formulação e implementação de programas sociais, e no

seu Art. 8° alínea “a” - Programar, administrar, executar e repassar

serviços sociais assegurados na instituição.

b) Entrevista Social com os usuários e encaminhamentos para os projetos

da instituição e Elaboração de estudo socioeconômico. Condiz com a Lei

de Regulamentação da Profissão, no seu Art. 4° inciso XI – Realizar

estudos socioeconômicos, e com o Código de Ética no seu Art. 8 alínea

“d” – empenhar-se na viabilização de direitos sociais dos usuários

através dos programas e políticas sociais.

c) Prestar orientações quanto a direitos e benefícios e ministrar palestras e

oficinas. Art. 4° incisos III e IV da Lei de Regulamentação da Profissão –

Orientação Social, e no Código de Ética de 1993 no seu Art. 5° alíneas

“b” e “c”- Garantir a plena informação e democratizar as informações e

acesso aos programas disponíveis.

d) Supervisão de Estágio - está em sintonia com o que está no Art. 5°inciso

VI da Lei de Regulamentação da Profissão – Treinamento, avaliação e

supervisão direta de estagiários de Serviço Social.

3.3 AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELAS AS ASSISTENTES

SOCIAIS NO SESC/FORT

No que se refere às principais problemas e dificuldades enfrentadas no

cotidiano profissional foram levantadas algumas questões que são relevantes

para serem analisadas neste trabalho.

Notamos que durante a fala das entrevistadas foi recorrente a questão

das dificuldades estruturais da instituição, ou seja, falta um espaço adequado

para que as Assistentes Sociais trabalhem com qualidade, comprometendo até

mesmo a privacidade do atendimento com os usuários. Isso traz dificuldades

na concretização da atuação profissional que precisa buscar articular e

negociar espaço para realizar suas atividades. Podemos observar isso nas

falas de algumas entrevistadas:

Uma das minhas dificuldades aqui no SESC é não ter uma sala adequada pra eu poder trabalhar, porque na sala onde eu fico além de ser pequena ainda divido ela com outros profissionais, que não

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são nem da área do Serviço Social, então muitas vezes quando preciso fazer um atendimento com o usuário onde precise de certa privacidade fica difícil, muitas vezes tenho que sair atrás de uma sala vazia na instituição pra poder atender a certas demandas. (CAMILA) [...] A sala onde fico é muito pequena temos um espaço muito reduzido, muita bagunça, é quente e tem muito barulho porque dividimos essa sala com outro setor, enfim toda essa questão estrutural atrapalha um pouco nosso trabalho aqui na instituição. (MARCELA).

Diante dessas falas notamos que essa situação não está de acordo com

o que está previsto na Resolução n° 495/2006 do Cfess que dispõe das

condições éticas e técnicas do exercício profissional do Assistente Social, que

resolve no seu Art. 2° alínea “b” e “c” o seguinte:

Art. 2° O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaço suficiente, para abordagens individuais ou coletivas, conforme as características dos serviços prestados, e deve possuir e garantir as seguintes características físicas: b - recursos que garantam a privacidade do usuário naquilo que for revelado durante o processo de intervenção profissional c - ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas.

Outra dificuldade encontrada na atuação das Assistentes Sociais na

instituição foi a sobrecarga de trabalho, identificamos que seria necessário a

contratação de mais Assistentes Sociais na instituição, principalmente no setor

Ação Comunitária, onde atua apenas uma profissional de Serviço Social que

fica sobrecarregada de várias demandas como por exemplo, de fazer

atendimentos direto ao público, como de acompanhar, executar, monitorar os

projetos, ministrar palestras, ações sócioeducativas e outras ações que estão

sob sua responsabilidade.

Logo podemos identificar um acúmulo de funções e atividades para esta

profissional, caracterizando sem dúvidas o excesso de trabalho e um

trabalhador polivalente, o que acaba “precarizando as condições de trabalho e

qualidade do serviço, criando o “tarefismo” profissional” (MONTAÑO, 2012, p.

255) que é decorrente da lógica capitalista de fragmentação e redução de

trabalhadores, tornando- os “trabalhadores multifuncionais”, conforme afirma

Duarte (2007 p.32-33).

[...] o capital utiliza-se de um conjunto de alterações que flexibilizam as relações e as condições de trabalho, essencialmente com a precarização (do emprego e remuneração), terceirização, polivalência [...], redução drástica de postos de trabalho e direitos trabalhistas,

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assim como com a fragmentação da organização política dos trabalhadores.

Conforme caracterização de Iamamoto (2002) percebe uma

intensificação do trabalho do Assistente que é fruto da dinâmica atual do

mundo do trabalho, como destaca a autora:

Os Assistentes Sociais passam a sofrer os efeitos da intensificação do trabalho, da polivalência, da redução dos programas sociais e benefícios, da focalização de programas, das existências de requalificação da força de trabalho. (idem, p. 41, grifos da autora).

Assim, é um desafio profissional ultrapassar esse limite, tendo como

orientação o projeto ético-político para traçar estratégias de atuação e, dessa

forma melhor atender as necessidades de seus usuários. Ainda dialogando

com Iamamoto (2002, p.41), o desafio é o Assistente Social ultrapassar a

perplexidade e apropriar-se dos novos espaços profissionais, orientando a

atuação segundo os princípios éticos – políticos da profissão

Uma outra dificuldade relatada pelas profissionais, é justamente uma

consequência da sobrecarga de trabalho que elas enfrentam, que é não ter

tempo para fazer uma avaliação e um planejamento de maior qualidade das

suas atividades, por conta da correria que enfrentam e das demandas

“urgentes” que surgem, como podemos observar nas falas das profissionais,

“[...] muitas vezes por conta do excesso de trabalho fica difícil a gente

parar até mesmo pra se avaliar, porque a correria é tão grande”. (MARCELA).

“[...] Um ponto negativo é a dificuldade muitas vezes de colocar em prática o

que foi planejado e avaliar o que a gente faz, por conta das demandas assim

de última hora [...]” (CAMILA).

Olha o planejamento até que temos, fazemos algumas reuniões e saímos até com uma programação curta do que podemos fazer no mês, mas de repente aparece uma demanda urgente, como por exemplo,uma doação que precisa ser distribuída logo e aí nós paramos tudo que estamos fazendo e vamos atrás de mobilizar as instituições pra receber, e aí com isso o que a gente tinha planejado muitas vezes fica meio que de lado por um tempo e tal, e a avaliação que ainda fazemos é quando estamos supervisionando os projetos de intervenção das estagiárias, no momento é a única forma de avaliação que ainda dá dando tempo de fazer. (LAURA).

Logo, percebe-se que o SESC/FORT por ser uma instituição de grande

porte e tendo em vista sua missão (que é prestar serviços de qualidade e

excelência para a vida dos trabalhadores do comércio) e as demandas para o

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Serviço Social, é necessário um maior número de Assistentes Sociais na

instituição, tendo em vista a quantidade programas/ projetos desenvolvidos e

as demandas levantadas para as profissionais do Serviço Social, para que

assim haja a garantia de respostas profissionais com uma melhor qualidade e o

fortalecimento da ação profissional do Serviço Social.

3.4 A ARTICULAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL NA

ATUAÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS ENTEVISTADAS

É necessário que analisemos como se dá a inserção do projeto ético-

político profissional no cotidiano do Assistente Social no SESC/FORT, com isso

foram realizadas algumas questões às profissionais para que fosse possível

analisar essa relação, para isso foram sistematizados os seguintes tópicos: a) a

visão das Assistentes Sociais sobre a profissão na contemporaneidade; b) a

participação em eventos da profissão, e c) as contribuições do Código de Ética

no cotidiano profissional.

a) A visão das Assistentes Sociais sobre a profissão na contemporaneidade

foram colocados os seguintes pontos:

1) Visão que hoje o Serviço Social já conseguiu avançar na desmistificação de

que a profissão é baseada na caridade;

2) Que atualmente a profissão de Serviço Social cresceu e vem crescendo,

conseguindo conquistar seus espaços mas que ainda falta conquistar muitas

outras coisas.

3) Que hoje o Serviço Social tem um vasto campo de possibilidades, com a

ampliação dos espaços sócio-ocupacionais mas que, o profissional vive em

uma tensão no que diz respeito aos interesses entre usuário e instituição.

4) Visão de uma profissão precarizada, estando numa situação preocupante,

principalmente por conta da ampliação do ensino à distância, pois acredita que

nestes cursos há uma inadequação na formação profissional do Assistente

Social e também preocupa a questão da carga horária da profissão21, que em

muitos espaços a Lei das 30 horas não é obedecida.

21

As Assistentes Sociais hoje no SESC/FORT trabalham 30 horas semanais, 06 horas diárias.

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Assim, percebemos que as profissionais entendem que a profissão ao

longo dos anos vem crescendo, que tem conseguido conquistar novos espaços

nos campos de atuação, apesar de demonstrarem que ainda há muito a ser

expandido.

No que diz respeito a tensão que o profissional de Serviço Social

enfrenta entre os interesses do usuários e os da instituição, segundo Montaño

(2006) isso não significa dizer que ele possua um papel de “mediador” entre

essas classes, o fato de o Assistente Social está inserido no contexto das

contradições e conflitos entre as classes, faz deste um profissional político (não

partidário) no sentido de ser um participante dessa conflituosa relação entre as

classes, onde esse profissional tem que ter o compromisso ético-político

através da defesa do trabalho emancipado do capital sem nenhuma forma de

exploração, que defenda os direitos sociais, trabalhistas e políticos que foram

conquistados historicamente pela as classes trabalhadoras. Ainda segundo

Montaño (2006, p.05).

Isso significa o comprometimento do assistente social em centrar sua ação profissional nesses valores, o que supõe um claro corpo ético-político (Código de Ética) que oriente e controle o exercício profissional a partir dos consensos criados pelos coletivos profissionais e da articulação com outros atores institucionais e sociais, objetivando reforçar seu papel na correlação de forças.

Notamos também que existe uma preocupação no que se refere à

formação dos cursos de Serviço Social à distância22, vemos que há uma

mercantilização e uma precarização do ensino, tendo em vista que o Serviço

Social é uma profissão que trabalha com uma realidade social dinâmica e

complexa e que precisa ser apurada a partir da apreensão da totalidade.

Essa situação de ensino à distância atinge diretamente a identidade do

Serviço Social, já que não há como formar profissionais críticos e competentes,

trazendo profundas alterações no perfil da formação profissional, já que não há

um adequado acompanhamento de sua trajetória acadêmica e de seus

estágios durante a graduação.

Para tanto, nota-se “a necessidade da garantia de qualidade para o

Ensino à Distância, o que exige ser o mesmo pautado pelas Diretrizes

Curriculares que orientam a formação profissional dos Assistentes Sociais”.

(CFESS, ABEPSS E ENESSO, 2006, p.03) 22

A aprovação pelo MEC dos cursos à distância para assistentes sociais sofreu imediato repúdio das

entidades profissionais – o conjunto CFESS/Cress, a Abepss e a Enesso.

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b) Participação e/ou acompanhamento em eventos da profissão

Quando questionadas sobre o assunto, as Assistentes Sociais

colocaram que sempre procuram ficar atentas aos últimos acontecimentos e

aos assuntos que envolvem o Serviço Social, e quando possível participam de

forma ativa de seminários, palestras, conferências, fóruns e outros eventos,

inclusive publicando e apresentando trabalhos e fazem cursos de capacitação,

atualização que muitas vezes são até financiados pela a instituição. Como

podemos destacar em algumas falas das entrevistadas:

[...] eu procuro sempre tá publicando alguma coisa, apresentando trabalhos em seminários e palestras, faço também muitos cursos assim de atualização de assuntos que envolvem o Serviço Social, o SESC tem uma política de investir na qualificação profissional ele custeia alguns cursos pra gente, nós precisamos estar em constante atualização, até porque trabalhamos com a realidade e ela é dinâmica, então nós temos que tá sempre acompanhando as transformações que ocorrem na sociedade, não podemos parar no tempo temos que saber o que tá rolando na profissão. (LAURA) [...] assim indo pra seminários, conferências essas coisas tô sem tempo de ir, mas, procuro acompanhar estudando principalmente assuntos relacionados às políticas dos idosos, me aprofundando sobre essa questão que é a área que eu tô no momento, acesso frequentemente o site do CFESS também. (MARIANA). [...] eu confesso que no momento eu venho acompanhando e estudando mais os assuntos relacionados a área que eu tô atuando, que são assuntos sobre os idosos. (MARCELA).

Assim, notamos que as Assistentes Sociais possuem uma preocupação

sem estarem em constante capacitação, mas em algumas falas notamos certa

debilidade quanto à participação em debates no que diz respeito a matéria do

Serviço Social em geral, o que precisa ser repensado já que é necessário que

o profissional não esteja apenas envolvido em matérias pontuais da sua

atuação mas sim, que busque a reflexão sobre a profissão na

contemporaneidade.

Assim segundo Maia e Barbiani (2003, p.03) “O conhecimento vai se

enredando na ação que passa a ser ressignificada e a produzir novas leituras e

novas redes de significação e conhecimento”. Além do que no Código de Ética

do Serviço Social, no art. 2° que constitui os direitos e responsabilidades gerais

do Assistente Social, há um direcionamento como direito profissional para o

aprimoramento de forma contínua.

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71

c) Contribuição do Código de ética no cotidiano profissional

Notamos que as Assistentes Sociais buscam desenvolver uma atuação

pautada no conhecimento do Código de Ética e na Lei de Regulamentação

profissional primeiramente no momento em que buscam garantir o acesso aos

serviços prestados pelo SESC/FORT e atender as necessidades dos usuários,

conforme o artigo quinto do Código de ética que se refere aos deveres do

Assistente Social com os usuários.

Além disso, a busca de se ter conhecimento dos programas e missão da

instituição (conforme artigo sétimo do Código de Ética que esclarece sobre os

direitos do Assistente Social na instituição), bem como de legislações sociais a

fim de ampliar seu trabalho e melhor responder as demandas dos usuários.

Destacamos também, como foi falado anteriormente no interesse das

Assistentes Sociais em estarem em constante processo de capacitação para

contribuir na formação crítica e seguir na atuação como base o projeto ético-

político profissional; como afirma Duarte (2007, p. 124 e 125) “há a

necessidade latente de capacitação continuada na profissão de Serviço Social

o que contribui para uma direção social coerente com o projeto ético-político

profissional”.

Ressalta que o Código de Ética de 1993 caracteriza os princípios

fundamentais da profissão, dispõe sobre direitos e deveres profissionais, bem

como explicita os parâmetros éticos nas relações com os usuários, outros

profissionais e empregadores. Além disso tem por base a liberdade,

democracia, cidadania, justiça e igualdade social (CFESS, 1993). Portanto de

acordo com Barroco (2008, p. 205):

[...] o Código trata de dimensões prático-operativa, tendo por eixo a defesa e a universalização dos direitos sociais e de mecanismos democráticos de regulação. [...] aponta as determinações da competência ético-político profissional: ela não depende somente de uma vontade política e da adesão de valores, mas a capacidade de torná-los concretos, donde sua identificação como unidade entre as dimensões ética, política, intelectual e prática, na direção da prestação de serviços sociais.

A partir disso, percebemos que todas as Assistentes Sociais

compreendem que o Código de Ética do Serviço Social é o balizador, o norte

das suas ações, sendo uma forma de respaldar e estruturar a ação profissional

e, assim fortalecer a sua atuação, bem como os seus usuários.

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O Código de Ética é primordial pra nossa profissão, é realmente o nosso norte se a gente não tiver baseada nele fica difícil ter uma atuação de qualidade, ele contribui de forma direita na minha prática profissional. (MARCELA). O nosso Código de Ética é tudo pra mim minha atuação, é o norte até mesmo pra gente brigar pelos os nossos direitos enquanto Assistentes Sociais, ele é um instrumento pra garantia desses diretos. (LAURA). O Código de Ética é fundamental na minha prática, sem estar baseada nele não é possível ter uma atuação de qualidade, ele contribui de todas as formas possíveis, nos dando todo suporte necessário pra nossas ações no cotidiano. (MARIANA)

Logo, vemos que as profissionais reconhecem a necessidade de estar

sempre em contato com o Código de Ética Profissional. Diante disso, podemos

comparar as falas com o que afirma Brites e Sales (2007, p. 68):

O Código de Ética [...] deve nortear a prática profissional diante das situações concretas, com seus limites e possibilidades... Ele é um recurso fundamental para a prática cotidiana, especialmente porque os valores nele contidos são históricos e criados a partir das necessidades, interesses e experiências culturais dos sujeitos, que, muitas vezes, expressam contradições, conflitos, etc.

Quando as Assistentes Sociais foram indagadas sobre como se

apropriam dos princípios que norteiam o Código de Ética, surgiram os

seguintes elementos: busca por uma emancipação dos usuários, por uma

sociedade mais justa, como fala a Assistente Social Laura “[...] fazendo com

que os usuários busquem seus direitos, se apropriando de fato deles, procuro

sempre viabilizar seus direitos, o seu bem-estar [...]”, a Assistente Social

Marcela “procuro em apropriar no sentido de contribuir na protagonização dos

sujeitos, [...] trabalhando sua autonomia na busca por uma nova sociedade”, e

a Assistente Social Mariana “Procuro me apropriar na busca pela a justiça

social, pela equidade e direitos pra todos [...] buscando tornar os usuários

protagonistas de sua própria história [...]”.

Com isso já conseguimos fazer uma relação das falas das profissionais

com o que podemos considerar a base fundante do nosso Projeto Ético-político

Profissional que é “[...] a opção por um projeto profissional vinculado ao

processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação,

exploração de classe, etnia e gênero [...]”. (CFESS MANIFESTA, 2011, p. 01).

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Percebemos que as Assistentes Sociais da instituição fizeram a escolha

ética e política que prima pela defesa dos direitos da população usuária na

instituição, por isso destaco o que está previsto na Lei de Regulamentação da

Profissão no seu art. 4° que atribui as competências do Assistente Social, no

inciso v- orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no

sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na

defesa de seus direitos, vemos que as profissionais buscam esse objetivo.

Ainda com as falas citadas podemos destacar a consonância com alguns

princípios fundamentais do nosso Código de Ética (CFESS, 1993, p. 24 e 25)

I. Reconhecimento da liberdade como valor éticocentral e das demandas políticas a ela inerentes -autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; III. Ampliação e consolidação da cidadania, consideradatarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

Foi possível observar também a articulação da prática profissional das

Assistentes Sociais com a dimensão jurídico-política, ou seja, a sua articulação

com as legislações sociais, as quais as que mais se destacaram foram: O

Estatuto dos Idosos, a Política Nacional do Idoso, O Estatuto da Criança e

Adolescente – ECA, o Código de Ética e a Lei de Regulamentação da

Profissão. Como podemos em uma das falas:

É indispensável essa articulação com as legislações sociais na nossa prática, utilizo muito o Estatuto do Idoso, a Constituição de 1988, o próprio Código de Ética e outras legislações, temos que ter o mínimo de domínio porque acredito que essa é umas das formas de valorizarmos e diferenciarmos nossa prática. (MARCELA).

Outro elemento observado na atuação das Assistentes Sociais do

SESC/FORT que é importante citar é sobre o trabalho interdisciplinar que é

muito presente no cotidiano profissional delas, como vemos em uma das

Assistentes Sociais do Programa Mesa Brasil:

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[...] nós do Serviço Social trabalhamos muito em conjunto com a Nutrição, principalmente na hora das visitas que fazemos nas entidades, onde cada área faz um parecer, um relatório, separado é claro, mas se um dos relatórios for desfavorável há o respeito da outra área. Por isso é essencial saber trabalhar com outras pessoas de diferentes áreas, tendo o respeito porque se não o trabalho não flui. (LAURA)

Assim, podemos notar que é dada a devida importância a

interdisciplinaridade, que é uma prática incentivada pelo o Código de Ética no

capítulo III, artigo 10, alínea d, no qual a participação em equipe

interdisciplinares é apresentada como um dever profissional a ser cumprido

sempre que se apresentarem possibilidades. Assim segundo Barroco e Terra

(2012, p.193):

A prática interdisciplinar é fundamental no atendimento do usuário, quando a instituição, entidade, unidade e outros contar com uma equipe de profissionais diversificada. [...] Além do mais há que se considerar a crescente inserção do assistente social em espaços sócio-ocupacionais que exigem a atuação com profissionais de outras áreas, requerendo uma intervenção interdisciplinar com competência técnica, teórico-metodológica e ético-política.

Diante do que exposto, observa-se que as Assistentes Sociais possuem

a conscientização de que o Código de Ética e a Lei de Regulamentação da

Profissão do Serviço Social são pilares que orientam a profissão, ou seja,

“representa uma defesa da profissão na sociedade e um guia para a formação

acadêmico-profissional” (IAMAMOTO, 2002, p. 22). E que no momento em que

as Assistentes Sociais se apropriam destes mecanismos em sua prática

cotidiana estão também materializando o projeto ético-político profissional.

Portanto, a partir desta pesquisa foi possível identificar que as

Assistentes Sociais do SESC/FORT buscam materializar o projeto ético-político

profissional, apesar de algumas dificuldades que enfrentam durante sua

atuação, como, por exemplo, falta de tempo de avaliar as suas atividades, falta

de estrutura física, muitas apenas acompanham assuntos que estão

relacionados à sua atuação no momento, e não o que está acontecendo de

uma forma geral no Serviço Social.

Mas de uma forma geral, sobressaem os fatores que contribuem para a

materialização do projeto profissional de Serviço, o que é indispensável para a

prática do Serviço Social, pois segundo Guerra (2007) um projeto profissional

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constitui um guia para a ação, posto que estabelece finalidades ou resultados

ideais para o exercício profissional e as formas de concretizá-lo.

Assim, podemos afirmar que aquelas Assistentes Sociais, que atuam

segundo um projeto profissional crítico têm muito mais possibilidades de

alcançar a clareza de seus compromissos éticos e políticos, já que o projeto

possui uma dimensão crítico-reflexiva. Isso permite-lhes escolher com

responsabilidade suas estratégias e táticas, sabendo que o que fazem

encontra-se dentro dos limites dados pela sua condição de trabalhador

assalariado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da década de 1970, o mundo vivencia uma reestruturação do

capital em função da crise capitalista que gerou um conjunto de especificidades

e alterações dentro das sociedades em que seus ditames eram advindos deste

modo de produção. Ressalta-se que as crises são partes constitutivas do

capitalismo, as quais, de acordo com Duarte (2011, p.93), são características

“das contradições e de seu movimento real, sendo ineliminável” no mundo do

capital.

Nesse contexto, o capitalismo contemporâneo gera um conjunto de

transformações – caracterizadas como estratégias de enfrentamento da crise-

particularmente na relação Estado e sociedade, no qual destacamos a

transferência de responsabilidade do público para o privado, alterando a

configuração das políticas sociais.

De acordo com Mota e Amaral (1998), as mudanças na forma de

organização social e de produção geravam um redimensionamento da

intervenção do Estado que se materializam em medidas de ajustes e reformas

institucionais, por meio da privatização e da supressão dos direitos sociais.

O cenário que se desenha no Brasil, principalmente após 1990, é

caracterizado pela focalização, precarização e privatização das políticas

sociais, a partir dos mecanismos de refilantropização e mercantilização destas,

com uma interferência direita da sociedade civil no enfrentamento das mazelas

da questão social por meio do “Terceiro Setor”, o que traz repercussões no

campo dos direitos sociais, no universo das profissões e no cotidiano da vida

dos usuários.

O “Terceiro Setor” é um fenômeno contemporâneo, polêmico e marcado

pela não distinção à sociedade civil, cujo último fim é enfraquecer a

centralidade das lutas de classes e desarticular os elementos reais destas lutas

sociais, colocando a sociedade civil como homogênea (como se fosse

constituída por um mesmo projeto de sociedade). E apoiando-se em novas

estratégias de enfrentamento da questão social que são pautadas na auto-

ajuda, no voluntariado, na solidariedade e na responsabilidade social.

Entretanto, toda esta lógica é funcional à ideologia neoliberal, uma vez que se

adéqua as necessidades de reordenamento capitalista.

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Em razão desta conjuntura de novas configurações capitalistas, com

novas formas de enfrentamento das expressões da questão social, como

destaque para o “Terceiro Setor” , é exigido do Assistente Social uma

“refuncionalização de procedimentos operacionais, que também determinam

um rearranjo de competências técnicas e políticas” (MOTA E AMARAL, 1998,

p. 25); ou seja, novas exigências e demandas se colocam para o Serviço

Social. Logo, o Assistente Social passa a ser cada vez mais requisitado nos

espaços sócio-ocupacionais, inclusive do “Terceiro Setor”, no qual destacamos

neste estudo o SESC/FORT.

Como já foi observado, o Serviço Social intervém na tensão entre o

capital e trabalho, dentro do processo de enfrentamento da questão social;

logo, a profissão se encontra inserida na tensão entre os diferentes projetos

societários, já que estes incidem na dinâmica dos espaços sócio-institucionais,

nos projetos profissionais, nas condições de trabalho e na atuação profissional.

Portanto, os novos desafios e possibilidades de atuação profissional

perpassam as demandas profissionais, o espaço sócio-ocupacional, as

condições e relações de trabalho e que incidem sobre as redefinições de

intervenção profissional.

Com isso, essa pesquisa possibilitou a análise e problematização do

cotidiano profissional das Assistentes Sociais, das demandas para o Serviço

Social, assim como os limites e possibilidades profissionais e por último no que

diz respeito à articulação entre o projeto ético-político e a atuação profissional

do Assistente Social no SESC/FORT. Diante disso, chegamos a algumas

conclusões e resultados:

Primeiramente, refere-se às demandas e atribuições das Assistentes

Sociais na instituição, que se encontram em sintonia com o que está previsto

no Código de Ética do Serviço Social de 1993 e com a Lei de Regulamentação

da Profissão (Lei 8662/1993), como por exemplo, umas das atribuições das

Assistentes Sociais é prestar orientações quanto a direitos e benefícios,

ministrar palestras e oficinas, o que está relacionado ao que está posto no

Código de Ética de 1993 art. 5° alínea “b” e “c” que diz que o Assistente Social

deve garantir a plena informação e democratizar as informações e acesso aos

programas disponíveis.

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Além disso, foi possível perceber a importância que as Assistentes

Sociais da instituição dão ao estágio supervisionado, como um de aprendizado

e reflexão sobre o cotidiano profissional, se caracterizando como uma

oportunidade de se realizar a síntese da relação teoria e prática , bem como a

oportunidade de capacitação constante do Assistente Social, já que se tem

uma contínua troca de saberes entre as profissionais e os estagiários.

Em segundo lugar, foi possível identificar alguns limites, ou seja,

desafios que são vivenciados pelas as Assistentes Sociais da instituição, são

estes: a) a sobrecarga de trabalho, gerando um acúmulo de função e

atividades causando a precarização do trabalho; b) não há “tempo” e/ou não é

dado prioridade para avaliar as atividades que realiza, justamente por conta do

excesso de trabalho, algumas profissionais muitas vezes não conseguem

colocar em prática o que planejam por conta de demandas “urgentes” que

surgem; c) Falta de profissionais do Serviço Social; d) há uma falta de estrutura

física para realizar atendimentos (principalmente quando se trata de

atendimentos individuais, não há privacidade) e atividades com os usuários, ou

seja, notamos que não há condições éticas e técnicas para atuação das

profissionais de Serviço Social;

Ainda como desafios, a fim de ampliar o Serviço Social na instituição e

buscar romper com os limites observados, observam-se: a necessidade de

traçar estratégias articuladas com o projeto ético-político para melhor

responder as demandas para o Serviço Social, a realização de capacitações

continuadas e a articulação e mobilização a fim de se expandir o quadro de

pessoal de Serviço Social.

E como último aspecto conclui-se que as Assistentes Sociais articulam o

projeto ético-político com suas respostas profissionais com as mais diferentes

demandas postas pela instituição e pelos usuários, assim destacamos: a

articulação com a dimensão jurídica- política que é materializado pelas leis que

compõe a base para a profissão, como o Código de Ética do Serviço Social de

1993, a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8662/1993, o Estatuto do

Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA ; o entendimento da

necessidade de estarem em constante processo de capacitação, sinalizando

que se preocupam em ter uma formação contínua com vistas a prestar um

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melhor serviços aos seus usuários e por último, observa-se que as Assistentes

Sociais teem um posicionamento favorável a equidade e a justiça social.

Assim, acredita-se que é importante sempre buscar reafirmar o projeto

ético-político, a qual expressa a ruptura com o conservadorismo do projeto

hegemônico, para enfrentar os pressupostos neoliberais por meio de

comprometimento profissional, bem como na necessidade de articulação e

organização das dimensões – política, ética e técnico-operativa – do exercício

profissional a fim de construir coletivamente alternativas e alianças

profissionais para se buscar cada vez mais o fortalecimento do Serviço Social

no SESC/FORT.

Pois, de acordo com Mota (2003, p. 14) o Serviço Social está vinculado

com as práticas de atendimento das necessidades sociais e para que isso

ocorra é necessário “intervir qualificadamente nos mecanismos de

enfrentamento e superação das desigualdades sociais no país. É preciso ousar

intelectualmente e politicamente com os meios de que dispomos”.

Vale ressaltar que este trabalho não buscou julgar a ação da instituição

SESC/FORT ou mesmo das profissionais que participaram da pesquisa, mas

sim refletir e buscar apreender as determinações sócio-históricas, esclarecer

limites e buscar limites e buscar pensar em uma atuação profissional que tenha

como balizador o projeto ético-político profissional.

Logo, este trabalho não busca terminar com as discussões que

envolvem a atuação do Assistente Social no “Terceiro Setor”, particularmente

no SESC/FORT, e nem esgota possíveis reflexões sobre este assunto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICES

APÊNDICE I

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. PERFIL

1. IDADE:

2. TEMPO DE FORMAÇÃO (ANO QUE SE FORMOU):

3. INSTITUIÇÃO DE FORMAÇÃO:

4. FORMAÇÃO CONTINUADA (PÓS- GRADUAÇÃO- ESPECIALIZAÇÃO, MESTRADO, DOUTORADO, PÓS-DOUTADO E ETC.).

2. ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA INSTITUIÇÃO SESC/FOT.

5. HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA NO SESC/FORT COMO ASSISTENTE SOCIAL?

6. QUAL UNIDADE TRABALHA?

7. COMO FOI O PROCESSO DE SELEÇÃO E CONTRATAÇÃO NA INSTITUIÇÃO?

8. QUAL SUA CARGA HORÁRIA DE TRABALHO SEMANAL?

9. QUAIS OS PROJETOS, PROGRAMAS E AÇÕES QUE VOCÊ DESENVOLVE DURANTE SUA ATUAÇÃO NA INSTITUIÇÃO?

10. O QUE VOCÊ NO SEU COTIDIANO PROFISSIONAL? FALE SOBRE SUA ROTINA DE TRABALHO.

11. QUAIS AS PRINCIPAIS DEMANDAS PARA O SERVIÇO SOCIAL, QUE A INSTITUIÇÃO REQUISITA?

12. QUEM SÃO OS USUÁRIOS ATENDIDOS NO SEU COTIDIANO PROFISSIONAL? FALE SOBRE O PERFIL DELES E QUAIS AS SUAS PRINCIPAIS DEMANDAS.

13. HÁ UM PROCESSO DE AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO SERVIÇO SOCIAL? SE SIM, COMO É RELIZADO?

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14. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES ENFRENTADAS NO SEU COTIDIANO PROFISSIONAL?

15. VOCÊ PODERIA CITAR DOIS PONTOS POSITIVOS E DOIS NEGATIVOS (SE TIVER) DO SEU EXERCÍCIO PROFISSIONAL NO SESC/FORT?

3. A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO SESC/FORT E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO.

16. COMO VOCÊ VÊ A PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL HOJE?

17. VOCÊ TEM PARTICIPADO OU ACOMPANHADO OS EVENTOS DA PROFISSÃO, TEM ACOMPANHADO AS DISCUSSÕES ATUAIS QUE ENVOLVEM O SERVIÇO SOCIAL? SE SIM, COMO VEM SENDO ESSE PROCESSO DE ACOMPANHAMENTO.

18. (Temos o Código de Ética Profissional de 1993, que coloca os princípios fundamentais da profissão, e dispõe sobre os direitos e deveres profissionais, bem como parâmetros éticos nas relações com os usuários, outros profissionais, com instituições empregadoras e outros.) COMO VOCÊ SE APROPRIA DESSES PRINCÍPIOS E PARÂMETROS NA SUA ATUAÇÃO PROFISSIONAL?

19. EM SUA OPINIÃO QUAL A IMPORTÂNCIA DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DE 1993, E COMO ELE TEM CONTRIBUÍDO NO DECORRER DO SEU COTIDIANO PROFISSIONAL?

20. VOCÊ BUSCA ARTICULAR SUA ATUAÇÃO COM OUTRAS LEGISLAÇÕES SOCIAIS? SE SIM, QUAIS? QUAL A NECESSIDADE DESSA ARTICULAÇÃO?

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APÊNDICE II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “Uma análise da prática do Assistente Social no Serviço Social do Comércio – SESC/FORT e sua articulação com o projeto ético-político” sob a responsabilidade da pesquisadora Raquel Machado Pereira Rodrigues, aluna do curso Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC e sob a orientação do Professor Daniel Rogers de Souza Ferreira.

O objetivo desta pesquisa é de problematizar a atuação profissional, à luz do projeto ético-político dos Assistentes Sociais no SESC/FORT. A partir desta pesquisa, buscaremos elucidar as principais demandas postas ao Serviço Social na instituição, levando em conta a conjuntura neoliberal e a expansão do “Terceiro Setor”, procurando destacar a prática dos assistentes socais do SESC/FORT e a articulação com o projeto ético-político profissional.

Assim gostaria de consultá-lo (a) sobre o interesse e disponibilidade de cooperar com a pesquisa. Você receberá todos os esclarecimentos necessários antes, durante e após a finalização da pesquisa, e lhe asseguro que se nome não será divulgado, sendo mantido o mais rigoroso sigilo das informações obtidas. Os dados provenientes de sua participação na pesquisa ficarão sob a guarda da pesquisadora responsável.

A coleta de dados será realizada por meio de uma entrevista gravada com roteiro estruturado. Sua participação é voluntária e livre de qualquer remuneração e beneficio você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento, não acarretando qualquer prejuízo a sua pessoa.

Para maiores informações ou dúvidas, você poderá entrar em contato com a pesquisadora pelo telefone: 85174325 ou pelo e-mail: [email protected].

_____________________________ ____________________________

Assinatura do (a) participante Assinatura do (a) pesquisador

Fortaleza,____de____________de____

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