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SERVIÇO SOCIAL _____________________________________________________ MATHEUS HENRIQUE ROSSATTO A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA AO IMIGRANTE NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL–PR _____________________________________________________ TOLEDO-PR 2017

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SERVIÇO SOCIAL _____________________________________________________

MATHEUS HENRIQUE ROSSATTO

A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A PROTE ÇÃO SOCIAL BÁSICA AO IMIGRANTE NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL–PR

_____________________________________________________

TOLEDO-PR 2017

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MATHEUS HENRIQUE ROSSATTO

A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A PROTE ÇÃO SOCIAL BÁSICA AO IMIGRANTE NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL–PR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Ms. Ester Taube Toretta

TOLEDO 2017

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MATHEUS HENRIQUE ROSSATTO

A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A PROTE ÇÃO SOCIAL BÁSICA AO IMIGRANTE NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL–PR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná–UNIOESTE, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Orientadora – Profa. Ms. Ester Taube Toretta

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

__________________________________________ Profa. Dra. Marli Renate Von Borstel Roesler

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

__________________________________________ Profa. Ms. Cristiane Carla Konno

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 15 de dezembro de 2017.

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AGRADECIMENTOS Agradeço aos Deuses por terem me guiado para este caminho de intermitente luta e conquista pelas liberdades humanas; Agradeço a minha família, em especial meus pais Valdecir e Juraci, que me deram primeiramente o direito a vida e toda a base material e familiar para que eu chegasse até aqui; Agradeço aos meus irmãos Julian e Kamile, sem eles não teria motivo para evoluir; Agradeço a minha companheira de vida Keila, que me da a luz necessária para seguir em frente; Agradeço aos meus amigos próximos, que são tantos e se misturam em meio ao cotidiano caos, que me salvam do tédio aos finais de semana; Agradeço ao nosso “grupo de apoio” conquistado em meio aos quatro anos, Karen e Emanuelle, companheiras profissionais que me trouxeram para além de experiências práticas e teóricas do cotidiano acadêmico, novas formas de ver o Serviço Social enquanto profissão; Agradeço minha professora orientadora do presente TCC, Ester, minha professora tutora do grupo PET Serviço Social, Marli e por ultimo mas não menos importante minha professora Cristiane, que me guiaram e me acompanharam durante o curso, trazendo perspectivas e possibilidades para o agir academico; Agradeço aos petianos por repassarem conhecimentos, perspectivas e a noção de espirito coletivo; Agradeço às minhas supervisoras do campo de estágio, Ana Paula, Maria Inês e Adernanda, que me proporcionaram a apreensão da pratica teórica sem igual, nunca deixando em haver dúvidas e respostas aos desafios da práxis; Agradeço à todos os docentes do Curso de Serviço Social que contribuíram para a minha formação profissional, repassando seus conhecimentos e também adquirindo conhecimentos com seus alunos. Agradeço a toda a equipe do CRAS CEU que também passaram seus conhecimentos e me fizeram gostar ainda mais da profissão, bem como da área de Assistência Social. Agradeço ao pessoal da van que me proporcionaram grandes conversas, risadas e conhecimentos de vida que vou levar sempre comigo. Agradeço aos entrevistados da presente pesquisa de campo, Assistentes Sociais e Imigrantes, que prontamente me atenderam e aceitaram responder ao questionário, enriquecendo o trabalho com todo o seus conhecimentos e experiências profissionais. Agradeço à turma de Serviço Social que me acompanhou no decorrer do curso, que através de debates, discussões, elogios e críticas contribuíram na minha formação profissional, vocês fazem parte de um dos momentos mais importantes da minha vida.

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Quando você for convidado pra subir no adro Da fundação casa de Jorge Amado Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos De ladrões mulatos e outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados E não importa se os olhos do mundo inteiro Possam estar por um momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje um batuque um batuque Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária Em dia de parada E a grandeza épica de um povo em formação Nos atrai, nos deslumbra e estimula Não importa nada: Nem o traço do sobrado Nem a lente do fantástico, Nem o disco de Paul Simon Ninguém, ninguém é cidadão Se você for a festa do pelô, e se você não for Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui [...] (Haiti – Caetano Veloso)

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ROSSATTO, Matheus Henrique. A Política Nacional de Assistência Social e a proteção social básica ao imigrante no município de Cascavel–PR. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná–campus Toledo, 2017.

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema “A Política Nacional de Assistência Social e a proteção social básica ao imigrante no município de Cascavel-PR”, sendo seu objetivo central analisar a proteção social na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) no atendimento ao público imigrante executada no município de Cascavel nos Centros de referência em Assistência Social- CRAS. Para tanto o problema a ser respondido é: Como a PNAS responde as demandas trazidas pelos imigrantes aos CRASs no município de Cascavel? De forma a atender os objetivos propostos e dar resposta ao problema levantado, houve a necessidade de compreender teoricamente a partir de pesquisa bibliográfica o contexto histórico dos fenômenos migratórios no Brasil contemporâneo, bem como os fatores que motivam as pessoas ao ato de migrar, e as consequências da vinda e permanência destes imigrantes no Brasil, conforme apresentado no primeiro capítulo. No segundo capítulo buscou-se elucidar as principais concepções sobre direitos humanos e direitos sociais, com vistas a compreender como estes se materializam enquanto dever do Estado por meio da Seguridade Social e da Assistência Social, tendo como foco a proteção social básica. Para além de compreender teoricamente o fenômeno da imigração atual no Oeste paranaense, se fez necessário um maior aprofundamento para com a realidade social vivenciada pelos imigrantes no Brasil. Assim, foi utilizada da metodologia de estudo de campo por meio de questionários com perguntas abertas e fechadas, com vistas a identificar as múltiplas expressões da questão social no universo do público imigrante no que diz respeito à condição de acesso aos serviços e bens públicos por meio da PNAS (2004). Dentre os sujeitos da presente pesquisa estão os profissionais Assistentes Sociais que realizam o atendimento nos CRASs e os usuários imigrantes que utilizam dos serviços da proteção social básica, seguindo os critérios de inclusão e amostra do universo pesquisado. Dado os pressupostos teóricos sobre a imigração e a proteção social, o terceiro capitulo traz uma análise da proteção social básica oferecida ao público imigrante, identificando e analisando as principais demandas trazidas por este público, e os desafios, limites e possibilidades da pratica profissional do Assistente Social nos CRASs do município de Cascavel-Paraná.

PALAVRAS-CHAVES: Assistência Social; Proteção Social; Imigrantes.

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LISTA DE SIGLAS

BPC Beneficio de Prestação Continuada CONARE Comitê Nacional para os Refugiados CNIg Conselho Nacional de Imigração CRAS Centros de Referência de Assistência Social FMI Fundo Monetário Internacional LOAS Lei Orgânica da Assistência Social ONU Organização das Nações Unidas PAIF Proteção de Atendimento Integral a Família PBF Programa Bolsa Família PLC Programa Leite das Crianças PNAS Política Nacional de Assistência Social SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SUAS Sistema Único de Assistência Social

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9

1 NOTAS INTRODUTORIAS SOBRE A IMIGRAÇÃO NA REALIDADE BRASILEIRA 11

1.1 HISTÓRIA DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS NO BRASIL ............................................. 13

1.2 CAPITALISMO, GLOBALIZAÇÃO E ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL: IMPACTOS NA IMIGRAÇÃO ........................................................................................................................... 18

1.3 EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL DE HOJE................................... 26

2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA BRASILEIRA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................................ 32

2.1 ESTADO SOCIAL E SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA ....................................... 39

2.2 DIREITOS SOCIAIS E CIDADANIA AO IMIGRANTE ................................................ 42

2.3 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTENCIA SOCIAL .................................................... 48

3 PROTEÇAO SOCIAL BÁSICA PARA O PÚBLICO IMIGRANTE .................................. 54

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................ 56

3.2 A PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA NO MUNÍCIPIO DE CASCAVEL ........................... 57

3.3 AS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL DO PÚBLICO IMIGRANTE: USUÁRIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNÍCIPIO DE CASCAVEL-PARANÁ. .......................................................................................................... 59

3.4 DESAFIOS DO PROFISSIONAL ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA NO ATENDIMENTO AO IMIGRANTE NO CRAS ............................... 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 76

REFERENCIAS ....................................................................................................................... 79

APÊNDICES ............................................................................................................................ 85

ANEXOS .................................................................................................................................. 94

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INTRODUÇÃO

No presente trabalho partimos da afirmação de que a Política Nacional Assistência

Social (PNAS) enquanto política pública deve incorporar todas as demandas da sociedade

brasileira garantindo o atendimento às necessidades básicas dos segmentos populacionais

vulnerabilizados pela pobreza e pela exclusão social, tornando-a direito de cidadania e de

responsabilidade política. Nesta perspectiva foi a partir da observação do cotidiano

profissional enquanto estagiário inserido no CRAS, que se demonstrou interesse pela presente

pesquisa, onde se verificou que as demandas profissionais trazidas pelos usuários imigrantes

aos atendimentos individuais não estavam sendo concretizadas em sua completude. Situação

que se deriva tanto das dificuldades no processo de comunicação quanto na compreensão dos

imigrantes frente aos serviços ali realizados. Pode-se notar a dificuldade no ato do

atendimento e do acesso a garantias básicas previstas na PNAS (2004) a todo cidadão

brasileiro, dentre eles os imigrantes. Muitos destes imigrantes vão até o CRAS e buscam

informações de como acessar os direitos básicos, em específico o auxílio alimentação,

oportunidades de emprego, entre outros tipos de ajuda.

O problema da presente pesquisa é norteada pela seguinte pergunta, “Como a Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) responde as demandas trazidas pelos imigrantes aos

CRASs no município de Cascavel?”. As respostas a este problema se organizaram nos

seguintes objetivos específicos, em que primeiramente buscou-se (1) compreender

teoricamente os fenômenos migratórios na contemporaneidade no Oeste paranaense; (2)

conhecer as legislações e condições de entrada, regulamentação e permanência destes

imigrantes no Brasil; (3) estudar a realidade social em torno à condição de vida do imigrante,

identificando as demandas trazidas no atendido do Serviço Social nos CRASs; (4) apresentar

as concepções, diretrizes, legislação da Política Nacional de Assistência Social no que tange a

proteção social básica ao público de imigrantes; e por fim (5) identificar os desafios da práxis

profissional do Assistente Social na execução da proteção social básica nos CRASs de

Cascavel, frente à condição do imigrante.

O presente trabalho utilizou-se da metodologia de levantamento bibliográfico sobre o

contexto histórico dos fenômenos migratórios no Brasil contemporâneo e bem como os

fatores que motivam as pessoas ao ato de migrar, as consequências da vinda e permanência

destes imigrantes no Brasil. Também foi utilizada a metodologia de pesquisa documental, com

vistas a elucidar as regulamentações, legislações e parametrizações e dentre outros tipos de

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documentos que embasam e constituem os registros de entrada e garantia da permanência do

público imigrante no Brasil. Para além de compreender teoricamente o fenômeno da

imigração atual no Oeste paranaense, se fez necessário um maior aprofundamento para com a

realidade social vivenciada pelos imigrantes no Brasil, onde se utilizou da metodologia de

estudo de campo, com vistas a identificar as múltiplas expressões da questão social do

universo dos sujeitos, no que diz respeito à condição de acesso aos serviços e bens públicos

por meio da PNAS (2004). Compreendendo que o profissional Assistente Social esta inserido

enquanto técnico de referencia da proteção social básica, tornou-se necessário identificar os

desafios a práxis profissional do Assistente Social na execução desta política social, frente a

condição do imigrante. Desta forma os seguintes capítulos foram organizados da seguinte

forma:

No primeiro capitulo buscou-se compreender teoricamente o contexto histórico dos

fenômenos migratórios Brasil, as principais causas dos fluxos migratórios na atualidade frente

aos processos estruturas desencadeados pela globalização e pela reestruturação produtiva no

capitalismo contemporâneo que resultam nas expressões da questão social vivenciadas pelos

imigrantes domiciliados no país. No segundo capitulo buscou-se descrever teoricamente de

que forma a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assimilada pelo sistema de

proteção social brasileira, esta que deve garantir ao cidadão imigrante uma condição

igualitária e universal de acesso aos direitos sociais, dentre eles o direito a Assistência Social.

No terceiro capitulo será apresentado os resultados da pesquisa de campo, realizada com

profissionais que trabalham nos CRASs e com usuários imigrantes. De forma a compreender

quais são e como é realizada a absorção das demandas sociais trazidas pelos imigrantes no

âmbito da proteção social básica, bem como compreender os diversos enfrentamentos, limites

e desafios postos ao campo profissional do CRAS e de que forma estas respostas se

materializam na instituição e no fazer profissional Assistente Social.

Desta forma, o estudo realizado trará contribuições para com as Políticas Públicas de

um modo geral, bem como para aperfeiçoar e melhor teorizar a PNAS (2004) e as demais

Políticas Sociais que atendem a público. Esta pesquisa poderá futuramente servir de

referencial teórico para qualificar as diversas formas e modalidades de políticas sociais

oferecidas pelo Estado e Sociedade Civil, assim como aperfeiçoar o tratamento ao tema

imigração em diversos espaços institucionais.

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1 NOTAS INTRODUTORIAS SOBRE A IMIGRAÇÃO NA REALIDAD E BRASILEIRA

Os movimentos migratórios na atualidade são objetos de estudo para diversos autores

das ciências sociais e remontam historicamente o desenvolvimento da humanidade. Na atual

sociedade estes são influenciados por condições estruturais do sistema de produção

capitalista. Diferentes linhas epistemológicas analisaram o fenômeno migratório entre as

populações de diversas nações e etnias. Atualmente a temática da migração1, além de ser

considerada como objeto de análise teórica, perpassa também o debate político, pois os

fenômenos desencadeados pela migração de pessoas entre regiões, países e continentes, tem

provocado forte impacto sobre os próprios migrantes, bem como para com o espaço de saída e

destino dos mesmos (PEQUITO, 2009). O contexto da imigração na realidade brasileira a ser

abordado neste trabalho de conclusão de curso, compreende que os processos migratórios não

se restringem somente aos deslocamentos físicos e geográficos de pessoas, mas explicitam

relações sociais, culturais, espaciais, econômicas e geográficas complexas que são precedidas

por histórias de vida, luta e de sobrevivência.

Assim, o ato de migrar (re) produz caracteres simbólicos e culturais para determinadas

populações que se absorvem e são absorvidas, donde são expressas vivências, costumes e

valores que são postos em choque. De acordo com Sayad (1998), a imigração é um “fato

social completo”, ou seja, na comunidade científica há certa concordância de que exista um

itinerário epistemológico para análise do imigrante, que consiste no cruzamento de várias

ciências sociais e serve como um ponto de encontro de inúmeras disciplinas.

A imigração é em primeiro lugar, um deslocamento de pessoas no espaço, e antes de mais nada no espaço físico; nisto, encontra-se relacionada prioritariamente, com as ciências que buscam conhecer a população e o espaço, ou seja, grosso modo, a demografia e a geografia, e principalmente porque esta, ao tratar da ocupação dos territórios e distribuição da população [...] Mas o espaço dos deslocamentos não é apenas físico, ele é também um espaço qualificado em muitos sentidos, socialmente economicamente, politicamente, culturalmente [...] (SAYAD, 1998, p.15).

São diversas as compreensões teóricas2 apresentadas sobre as pessoas que migram

entre países, mas frequentemente são diferenciadas e/ou diversificadas entre: emigrantes, 1 O termo migração vem do latim migratio, tendo como significado a passagem de um lugar para o outro, comumente relacionado ao cruzamento de uma fronteira, de uma unidade política ou administrativa por um período de tempo (PEQUITO, 2009). 2 Assim como afirma Pequito (2009, p. 29), outras características são observadas sobre a classificação do migrante, onde mais comumente tende-se “[...] a associar, por um lado, a natureza da deslocação observada (temporária ou definitiva) ou o objetivo das autoridades centrais ao autorizar (ou até incentivar) as referidas migrações [...]”.

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termo que advém do verbo emigrar (sair do país) e imigrantes do verbo imigrar (entrar no

país). Dentre as considerações apontadas por Pequito (2009), existem outras três

classificações para os imigrantes3: os irregulares, cidadãos de outro país que adentram outro

território sem autorização para tal; imigrantes laborais temporários, trabalhadores que se

deslocam de um Estado a outro com fins a trabalhar temporariamente; refugiados, aqueles que

residem fora de seu país e que não pode voltar devido à perseguição, por motivo de crença,

religião, nacionalidade ou que pertença a determinado grupo político; e imigrantes forçados

e/ou asilados, aqueles que saem do seu meio e migram para fugir de perseguições e/ou

conflitos de guerra.

Além disso, a migração é entendida como a mobilidade da força de trabalho,

estreitamente vinculada à criação, a expansão e articulação dos mercados de trabalho no país.

O crescimento econômico desigual no interior do capitalismo faz com que a população se

distribua seguindo a lógica de intensificação dos espaços econômicos, formando os

observatórios de mão-de-obra barata e abundante nas grandes cidades. Os fluxos migratórios

de pessoas geralmente comportam-se como os fluxos de qualquer mercadoria, mesmo que se

trate de uma mercadoria com características espaciais. Com o fenômeno da globalização4 no

mundo contemporâneo, este é considerado como aspecto impulsionador decisivo da migração

internacional, afetando diretamente os deslocamentos espaciais da população, reordenando os

espaços econômicos e produzindo desigualdades sociais (MARTINE, 2005).

Para a compreensão dos aspectos que impulsionam os fluxos de imigrantes entre

países, alguns pontos teóricos são levantados por Magalhães (2013). Segundo o autor, deve-se

ter uma compreensão para além dos efeitos econômicos mais urgentes e analisar as

transformações sociais que advém com o ingresso destas pessoas aos países de destino.

Compreendendo que posições estes imigrantes ocupam no circuito de produção e circulação

do capital e como são realizadas as políticas de desenvolvimento social e econômico das

regiões receptoras. É necessário, também, um olhar sobre a formação histórica da estrutura

3 Rocha-Trindade (1993, p. 31) apresenta que a “[...] diferença de designações [imigrantes e emigrantes], atribuídas afinal aos mesmos indivíduos, correspondem também diferentes estatutos sociais: o emigrante é um nacional ausente, com perda pouco significativa de direitos no país de onde provém e, talvez até, uma certa diminuição dos deveres e obrigações inerentes à sua qualidade de cidadão. Em contrapartida, como imigrante, é um estranho vindo de fora, encontrando uma sociedade que provavelmente desconhece e onde terá de inserir-se, sujeitando-se às leis que a administram.” 4 “Constitui-se como um jogo de relações, processos e estruturas de dominação e apropriação, integração e contradição, soberania e hegemonia, configurando uma totalidade em movimento, complexa e problemática. Trata-se de um universo múltiplo, uma sociedade desigual e contraditória, envolvendo economia, política, geografia, história, cultura, religião, língua, tradição, identidade, etnicismo, fundamentalismo, ideologia, utopia. Nesse horizonte, multiplicam-se as possibilidades e as formas do espaço e tempo, o contraponto, parte e todo, a dialética singular e universal” (IANNI, 1994, p. 154).

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social e da cultura da região de origem do imigrante, destacar, dentre outros elementos, de que

forma são inseridas na sociedade e na política. Neste sentido é compreender a visão dialética e

de totalidade que permeia as relações sociais e a reprodução social do imigrante no novo

território.

O processo migratório deve ser colocado em uma abordagem teórica macroeconômica.

Visto que possibilita sustentar que a migração ocorre devido à oferta e a demanda de trabalho.

Assim, não apenas o capital se desloca para deter vantagens acumulativas, mas populações em

torno da sobrevivência. Neste movimento se apresentam diferenças substanciais de renda,

oportunidades, salários e qualidade de vida. Esta situação faz com que os imigrantes que

vivem em regiões com oferta de trabalho abundante e com baixos salários migrem para países

com escassez de mão de obra e altos salários. Desta maneira reconhece-se que “[...] as

migrações são condicionadas por processos socioeconômicos e refletem a dinâmica estrutural

e espacial desses determinantes (macro) sociais [...]” (CAMPOS, 2015, p. 195). Ou ainda, que

o esgotamento de recursos ocasionado por um desigual desenvolvimento, torna-se um entrave

a permanência em um Estado nação.

1.1 HISTÓRIA DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS NO BRASIL

No Brasil, o período que data do século XVI ao XVII se refere ao processo de

estabelecimento do colonialismo, no qual havia uma forte articulação e consequente

influência de relações complexas entre a metrópole e as colônias. A colonização do Brasil,

que se deu no bojo da expansão e sedimentação do capitalismo em sua fase monopolista,

chega ao país juntamente com os colonizadores com a intenção de fornecer produtos aos

mercados e centros produtores mais importantes para o império de Portugal. O processo de

colonização e apropriação militar e econômica da terra pelos imigrantes europeus trouxe

consigo novas configurações sociais ainda desconhecidas pelos nativos, como as lavouras de

exploração, dando origem ao tráfego de escravos africanos.

[...] os portugueses no contexto da colonização, visando à apropriação militar e econômica da Terra, a implantação da grande lavoura de exploração [...] deu origem ao tráfego de escravos africanos, movimento migratório forçado que perdurou por três séculos (até 1850) e introduziu na colônia cerca de 4 milhões de cativos; esse movimento cunhou a sociedade

escravocrata que marca a sociedade brasileira deixando profundos e importantes traços em sua cultura posterior à Abolição, em 1888 (PATARRA, 2012, p. 8).

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Verifica-se na história que os primeiros imigrantes portugueses aqui estabelecidos

receberam do Rei de Portugal a concessão de exploração de terras, portanto, constituem-se

como os primeiros burgueses a explorar as riquezas brasileiras (MAZZEO, 1985).

[...] o modo de produção capitalista funda-se no jogo das forças produtivas liberadas com o declínio do feudalismo, a aceleração da acumulação originária, a reprodução ampliada do capital, o desenvolvimento intensivo e extensivo da produção, da distribuição, da troca e do consumo. As forças produtivas básicas, tais como o capital, a tecnologia, a força de trabalho, a divisão do trabalho social, o mercado e o planejamento, entre outras, entram em continua e ampla conjugação, desenvolvendo-se de forma intensiva e extensiva, ultrapassando fronteiras geográficas e históricas, regimes políticos e modos de vida, culturas e civilizações. Na medida em que se torna dominante, o modo capitalista de produção lança luz e sombra, formas e movimentos, cores e sons, sobre muito do que encontra pela frente (IANNI, 2001, p. 172).

A primeira fase do capitalismo brasileiro é atribuída ao mercantilismo, estas práticas

econômicas foram aplicadas juntamente com o desenvolvimento da maquinaria, o que

permitiu o engrandecimento dos horizontes do mercado, havendo a necessidade de ampliação

da produção de mercadorias. Para âmbito de análise, com a expansão mercantil e a descoberta

do novo mundo, as colônias portuguesas exerceram um papel fundamental no

desenvolvimento capitalista, constituindo-se como estimuladoras de concentração de capital.

Estas representaram para o capitalismo europeu um território fértil para o início de um

processo de reposição de capitais, objetivando dilatar suas condições de existência. Sendo a

escravidão5 o meio de operar as forças produtivas da época e sustentar a economia da colônia

(MAZZEO, 1985).

Entretanto, a escravidão no final do século XVIII constituiu-se como um paradoxo

para o capitalismo, pois, na medida em que se amplia e se dissemina este modo de produção,

fizeram-se necessárias formas de trabalho livres e assalariadas. Este trabalho que, sob a ótica

capitalista é enraizado no assalariamento das forças produtivas plenamente desenvolvidas, se

refletiu na grande indústria moderna e na expropriação do trabalhado, com os processos de

mais-valia do trabalho. Desta maneira a produção de ordem escravista instalada no Brasil tem

em sua gênese determinantes específicos pré-estabelecidos pelo processo de colonização, na

qual esta se apropriou das formas econômicas já existentes, modificando-as e em seguida

criando novas formas de exploração. Portanto, se trata de um “[...] capitalismo de extração

colonial e escravista que objetiva o mercado externo, grandes lucros e, fundamentalmente,

5 Notadamente na história Americana, a escravidão no Brasil colonial foi responsável pelo intenso fluxo de pessoas de origem do continente africano (MAZZEO, 1985).

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que utiliza a mais-valia que expropria do escravo para investir na produção agrária em geral

[...]” (MAZZEO, 1985, p. 11).

No cenário das relações sociais capitalistas, a migração decorre e é intensificada pelos

processos de crises estruturais do capital que influenciaram e influenciam diretamente ou

indiretamente os aspectos sociais, econômicos, culturais e de modos de vida em determinado

contexto histórico e fase do capitalismo. Desta maneira, trazendo a discussão para o contexto

brasileiro, o início da vinda de imigrantes ao Brasil remonta a época em que os imigrantes

europeus buscando oportunidades de expansão econômica trazem consigo elementos de sua

cultura para que seja miscigenada no território brasileiro, iniciando projetos de aculturamento

dos povos. Estes projetos foram forjados de um lado a partir de praticas de assimilação e de

outro discriminação, constituídas de aspectos da cultura brasileira, que permearam o processo

de industrialização e urbanização do país (PATARRA, 2012).

Este cenário imigratório se alterou somente no início do século XIX, com os processos

de imigração livre, que pertenceram a um projeto de colonização agrícola e povoamento da

terra incentivado pelo governo brasileiro da época, atraindo alemães e italianos para o sul.

Nas primeiras décadas do século XIX o movimento começou a se diversificar com as experiências de imigração livre dirigida também a não portugueses. Um projeto de colonização agrícola com objetivos de defesa e de povoamento da terra, com base na pequena propriedade policultura, atraiu alemães, italianos e outros estrangeiros para o Sul do país. Já em meados desse século imigrantes se dirigem à cafeicultura do Oeste Paulista; outra

forma canalizada para o trabalho em obras de infraestrutura urbana e na construção de caminhos e estradas (PATARRA, 2012, p. 8).

Com a abolição da escravatura no Brasil no final do século XIX, um novo cenário

migratório se inicia e é impulsionado, principalmente, pela cultura cafeeira que demandou

trabalhadores para o trabalho agrícola.

A abolição da escravidão proporcionou um novo cenário e trouxe consigo novos desafios; a grande expansão da produção cafeeira associada à falta de

um contingente satisfatório de trabalhadores no território nacional possibilitou a abertura do Brasil para a imigração. Um período de imigração em grande escala da Europa para a América, em especial para o Brasil, aconteceu entre 1870 e 1930. Nesse ínterim, estimativas indicam que 40 milhões de pessoas tenham migrado do Velho para o Novo Mundo (PATARRA, 2012, p. 8, grifo nosso).

Dentre os principais fluxos migratórios internos que ilustram a relação entre trabalho e

sobrevivência, o principal foi o fluxo de nordestinos que se inicia ao final do século XIX e é

influenciada por diferentes fatores sociais e culturais da região. Os grandes períodos de

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estiagem e seca obrigaram a população se retirar em busca de sobrevivência primeiramente na

Amazônia e posteriormente ao centro-sul, especificamente o estado de São Paulo

(COTINGUIBA, 2014). Em meados de 1930, em pleno governo Vargas, são publicadas as

primeiras medidas restritivas contra imigrantes estrangeiros, estas são reflexo da crise

econômica mundial de 1929, que repercutiu no Brasil sob o nome de “crise do café”. Assim,

reduziu-se o número de fluxos migratórios internacionais, e consequentemente houve um

aumento da demanda por força de trabalho, que foi suprida pelas migrações internas no país

(PATARRA, 2012, p. 8).

Com o início da segunda guerra mundial, os fluxos migratórios para o Brasil foram

praticamente interrompidos, onde até a metade do século XX a imigração continuou de forma

incipiente sem se notar um fluxo imigrante de maior expressão (PATARRA, 2012, p. 8). Só

foi haver um considerável numero de fluxos de imigrante para o Brasil após a década de 1970,

com o fim dos conflitos ocasionados pela Guerra Fria.

“[...] desenvolvimento de uma massa de refugiados e asilados, especialmente depois do colapso do bloco soviético, o aumento da mobilidade, com fluxo permanente e temporário de pessoas altamente qualificadas, e as questões de regulação e política de segurança articulada e fortalecida por blocos que também foram relevantes na era da migração no mundo moderno” (PATARRA, 2006, p. 13, grifo do autor).

A imigração de pessoas provenientes de países latino americanos para o Brasil

intensifica-se a partir da década de 1970, na qual se calcula que os números chegaram à cerca

de 150.000 imigrantes chilenos, 100.000 bolivianos, 60.000 paraguaios, seguidos por

argentinos, uruguaios e peruanos. Na década de 1980, este cenário se inverte, havendo um

crescente número de brasileiros emigrando para o exterior, sendo que os principais destinos

eram Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa, como Portugal, Espanha, Itália,

Alemanha, Reino Unido e Irlanda (PATARRA, 2012, p. 9; 2005 p. 26). “Neste mesmo período

passamos a observar novas tendências de imigração internacional no país, que passa a ser

receptor de coreanos, chineses bolivianos, paraguaios, chilenos, peruanos e africanos

procedentes de diferentes países” (PATARRA, 2012, p. 9). Este processo é observado no

conjunto da abertura do mercado brasileiro e da democracia, ou seja, a globalização

necessitou imprimir menos rigidez dos fluxos de capital, estimulando a mobilidade

econômica.

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O modelo conhecido como o Consenso de Washington[6], promovido agressivamente pela banca internacional e pelos representantes dos países desenvolvidos, reduziu significativamente a participação estatal na economia e a proteção da economia nacional; ao mesmo tempo, abriu as fronteiras para o fluxo de bens e serviços, assim como de capital. Com isso, a globalização, que vem se acelerando desde 1985, tem quitado muita relevância às fronteiras nacionais, pelo menos no que se refere ao trânsito de capital e de bens (MARTINE, 2005, p. 4).

Na década de 1980 o Paraguai servira como exemplo, tendo como fatores

impulsionadores de imigração para o Brasil, conforme afirma “[...] a construção da

hidroelétrica, a extensão urbana de imigração de brasileiros no Paraguai e a extensão do

contrabando e do narcotráfico consolidaram a configuração de uma área de conflitos, mas

também de estruturação do translado entre as populações dos dois países” (PATARRA, 2005,

p. 27). Neste sentido, podemos afirmar que “[...] a década de 80 é o marco inicial de um

movimento que ao longo dos anos vai atingir relevância demográfica, social e cultural para os

dois lados do fluxo – O Brasil como país receptor e os demais como localidades que perdem

população” (ARAÚJO, 2016, p. 389). Destes fluxos migratórios que se concretizaram a partir

da década de 1980, grande parte vem de países latino-americanos e caribenhos por meio de

fronteiras terrestres, dentre as principais fronteiras estão:

[...] a) a tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina (local tradicional de fluxo de pessoas e mercadorias), b) a fronteira Paraguai e Brasil no estado do Mato Grosso do Sul, em especial a região de Ponta Porã, c) as fronteiras entre Bolívia e Brasil no Mato Grosso (Cáceres) como no Mato Grosso do Sul (Corumbá), d) além de grandes “novidades” em estados da região norte como Acre (tríplice fronteira Peru-Bolívia-Brasil no eixo dos municípios brasileiros de Assis Brasil e Brasiléia) e Amazonas (tríplice fronteira entre Peru-Colômbia- Brasil, sendo o município de Tabatinga a parta de entrada dos fluxos) [...] (ARAÚJO, 2016, p. 389).

Um levantamento realizado juntamente com Ministério das Relações Exteriores,

consulados e embaixadas Brasileiras, demonstrou que o total de brasileiros registrados no

exterior era de 1.419.440 pessoas em 1996, elevando-se para 1.887.895 em 2000 e 2.041.098

em 2002, com ligeiro declínio em 2003, ano em que foram registrados 1.805.436 brasileiros

vivendo fora do país. O número de imigrantes vindo para o Brasil nas últimas décadas do

6 “Em 1989, reuniram-se, em Washington, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o governo norte-americano, economistas e políticos latino-americanos e caribenhos de orientação neoliberal, para elaborarem um receituário para as economias periféricas. Esse receituário ficou conhecido como o Consenso de Washington, e indica dez medidas que devem ser seguidas pelos países. São elas: ajuste fiscal, redução do tamanho do Estado, privatizações, abertura comercial, fim das restrições ao capital externo, abertura financeira, desregulamentação, reestruturação do sistema previdenciário, investimento em infraestrutura básica e fiscalização dos gastos públicos e fim das obras faraônicas” (BATISTA, et al, 1994 apud COUTO, 2010, p. 71).

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século “[...] atingiam um total de 912 mil em 1980, decrescendo para 767.781 (0,52% da

população total do país) em 1991, e 651.226 (0,38%) em 2000” (PATARRA, 2005, p. 26-28).

Ao se considerar os últimos 20 anos, a economia nacional passou por profundas

transformações, em meados da década de 1990 surgiu juntamente com o crescimento

econômico um governo com forte tendência neoliberal, adentrando o país no mercado

globalizado. Com políticas voltadas para o crescimento econômico e a inclusão social, em

meados de 2008 o mercado estava aquecido, e havia um alto poder de compra da população

permitindo que o impacto da crise fosse pouco sentido (FERNANDES, 2015).

Com o aumento da influência econômica e política do Brasil nas últimas décadas, este

tem sido um atrativo para imigrantes que buscam melhor qualidade de vida. Isto se representa

pelo aumento do número de imigrações para o Brasil e a diminuição de emigrantes brasileiros

para o estrangeiro, visto que houve a partir de 2002 uma melhor condição de trabalho e renda

no país. A partir de 2008 segundo dados de concessões de registros de entrada no país, os

principais fluxos imigratórios recentes foram originários da China totalizando 25.543, Haiti

sendo 20.892, Portugal com 21.788 e Itália com 16.209 (BOGUS; FABIANO, 2015). Diante

desta breve contextualização evidencia-se que o Estado brasileiro convive com o processo

migratório de longa data, considerado como um país de inserção de trabalhadores oriundos de

diversos países. Considera-se também que estes fluxos foram intensificados em períodos de

expansão e crise do capital, no qual houve uma flutuação sobre as demandas de mão de obra

para o mercado de trabalho nacional.

1.2 CAPITALISMO, GLOBALIZAÇÃO E ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL: IMPACTOS NA IMIGRAÇÃO

Com o predomínio do modo de produção capitalista e seu desenvolvimento intensivo e

extensivo no Brasil e no mundo, reproduziram-se implicações econômicas que resultaram em

crises estruturais, concentrando e centralizando o capital.

[...] o regime capitalista de produção é tanto um processo de produção das condições materiais da vida humana, quando um processo que se desenvolve sob-relações sociais – histórico-econômicas – de produção especificas. Em sua dinâmica produz e reproduz seus expoentes: suas condições materiais de existência, as relações sociais contraditórias e formas sociais através das quais se expressam. Existe, pois uma indissociável relação entre a produção dos bens materiais e a forma econômico-social em que é realizada, isto é, a totalidade das relações entre os homens em uma sociedade historicamente particular, regulada pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social [...] (IAMAMOTO, 2001, p. 11).

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Conforme afirma Ianni (1996), é no momento em que os mercados nacionais

ultrapassam as fronteiras físicas dos países que o capitalismo ganha novo fôlego com os

processos de globalização, criando e estabelecendo novas formas de consolidação deste

modelo de sociedade.

[...] Ao romper as fronteiras nacionais, atravessando regimes políticos, culturas e civilizações, tanto quanto mares e oceanos, ilhas, arquipélagos e continentes, as forças produtivas e as instituições que garantem as relações capitalistas de produção reterritorializam-se em outros lugares, em muitos dos quais simultaneamente, revelando-se ubíquas. [...] Produzem-se novas redes de articulações, por meio das quais se desenham os contornos e os movimentos, as condições e as possibilidades do capitalismo global (IANNI, 1996, p. 3).

Para melhor compreendermos os fluxos migratórios em escala global faz-se necessário

introduzirmos o conceito de globalização no âmbito do atual modo de produção capitalista no

século XXI, este processo que se dá como uma nova forma de organização da produção e

reprodução das relações sociais.

A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial. [...] envolvendo nações e nacionalidades, regimes políticos e projetos nacionais, grupos e classes sociais, economias e sociedades, culturas e civilizações. [...] como uma totalidade abrangente, complexa e contraditória (IANNI, 1996, p. 1).

Dado a realidade globalizada que se expande para além das fronteiras físicas, o capital

se modifica novamente de forma a suprir suas necessidades de produção, que em

contrapartida aumenta os níveis de expropriação dos trabalhadores. Ianni (2001) destaca

alguns aspectos que caracterizam o capitalismo no âmbito da globalização, agora de forma

progressiva e avassaladora, são:

[...] desde a acumulação originaria a concentração e centralização do capital, do desenvolvimento quantitativo e qualitativo das forças produtivas ao desenvolvimento e a modernização das relações de produção, da nova divisão internacional do trabalho e da produção a constituição do mercado mundial, influenciando ou articulando mercados nacionais e regionais, das formas singulares e particulares do capital ao capital em geral (IANNI, 2001, p. 180).

Assim, o modo de produção capitalista sofre uma nova metamorfose se apropriando

das formas de expropriação e concentração de capital que se encontra nos monopólios

industriais e bancários. Essa junção de capital converte-se na dominação da oligarquia

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financeira que tende a crescer com os lucros exorbitantes, empréstimos a juros muito elevados

que se expande criando novas formas de especulação e de domínio de terras. A soberania

desta oligarquia financeira espalha-se para todas as dimensões da vida social, impulsionando a

produção de mercadorias e os circuitos de troca nos mercados internos e externos. Este capital

concentrado tem como finalidade apenas aumentar os lucros de exportação de capital ao

estrangeiro, determinadamente para os países mais pobres, onde o capital é escasso, em que

existem salários baixos e o preço da terra e da matéria-prima são baratas (IAMAMOTO,

2010, p. 101-102).

A expansão monopolista provoca a fusão entre o capital industrial e bancário, dando origem ao domínio do capital financeiro. A concentração da produção e a expansão industrial transformam a competição em monopólio, dando origem a um gigantesco processo de socialização da produção – incluindo os inventos, o aperfeiçoamento técnico e mão-de-obra mais especializada – que se choca com a apropriação privada. Nesse processo de monopolização verifica-se uma ampla concentração e centralização bancaria. Pequenos bancos são absorvidos pelos grandes, passando a ser incluídos em seus grupos ou consórcios, e unidades antes independentes são subordinadas a um centro único, que funciona como um capitalista coletivo, congregando capitalistas antes dispersos. O sistema bancário mantém sua função de converter o capital monetário inativo em ativo, isto é, em capital que rende lucro ao reunir todo tipo de rendimento monetário a serviço da classe capitalista, inclusive os de pequenos proprietários e camadas dos trabalhadores. O capital bancário concentrado e centralizado passa a subordinar as operações comerciais e industriais de toda a sociedade (IAMAMOTO, 2010, p. 101).

O padrão fordista considerado como a maior expressão da forma de produzir do século

XX, se transforma e se complementa, integrando-se com novas formas de expropriação do

trabalhador e modernização dos processos de produção, assim, reorganiza social e

tecnicamente os processos e formas de trabalho.

[...] O fordismo, como padrão de organização do trabalho e produção, passa a combinar com ou a ser substituído pela flexibilização dos processos de trabalho e produção, um padrão bem mais sensível às novas exigências do mercado mundial, conjugando produtividade, capacidade de inovação e competitividade. [...] a nova divisão internacional do trabalho e a produção implica outras e novas formas de organização social e técnica do trabalho, de mobilização da força de trabalho, quando se combinam trabalhadores de distintas categorias e especialidades, de modo a se formar o trabalhador coletivo desterritorializado (IANNI, 1996, p. 3, grifo nosso).

Esta compreensão de que o capitalismo7 avança se adaptando e criando novas

7 Dentre os principais processos que modificam as relações produtivas esta o advento do “[...] padrão produtivo taylorista e fordista vem sendo crescentemente substituído ou alterado pelas formas produtivas flexibilizadas e

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oportunidades de expropriação do trabalho reaparece na análise de Antunes (2000), na qual o

autor afirma que atualmente o capitalismo encontra-se em um contexto crescente de crise

estrutural do capital, sendo ainda acentuado a sua lógica destrutiva de forma a tentar contê-la.

Em meados da década de 1970 após o período do pós-guerra, o modo de produção capitalista

abre espaço para uma nova base de acumulação, esta chamada de toyotismo, tendo novos

padrões de aumento de produtividade “flexíveis”.

Com o progresso da acumulação, o aumento da produtividade torna-se um de seus produtos e sua alavanca mais poderosa, operando-se uma mudança na composição técnica e de valor do capital. Reduz-se proporcionalmente o emprego da força viva de trabalho ante o emprego de meios de produção mais eficientes, impulsionando o aumento da produtividade e do trabalho social. A incorporação, por parte dos empresários capitalistas dos avanços técnicos e científicos no processo de produção possibilita aos trabalhadores, sob a órbita do capital, produzirem mais em menos tempo. Reduz-se o tempo de trabalho socialmente necessário à produção das mercadorias, ou seja, amplia-se simultaneamente o tempo de trabalho excedente ou mais-valia. Em termos da composição de valor, reduz-se relativamente o capital variável empregado na compra da força de trabalho, e aumenta-se o capital constante, empregado nos meios materiais de produção (IAMAMOTO, 2010, p. 156-157).

Dados estes processos desencadeados pelo desenvolvimento histórico do capitalismo,

de acordo com Iamamoto (2010), o capital dá início a uma fase imperialista no monopólio da

produção, que dentre seus traços essenciais estão:

[...] a concentração da produção e do capital em elevado grau, criando os monopólios que passam a desempenhar um papel decisivo na vida econômica, a fusão do capital bancário com o industrial, com domínio da oligarquia financeira, a exportação de capitais (distinta da exportação de mercadorias), que passa a assumir maior relevância, a presença de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que junto com as potências imperialistas, realizam uma repartição do mundo. O capital industrial não é a característica determinante dessa etapa do desenvolvimento capitalista, mas sim o capital financeiro e a vitalidade das grandes potências em suas aspirações de hegemonia (IAMAMOTO, 2010, p. 102).

Diante destes processos de desregulamentação, flexibilização, terceirização do

trabalho, tem-se a prevalência do capital sobre o trabalho, esta condição torna-se

imprescindível para a reprodução deste capital, igualmente, isto demonstra a diminuição do

trabalho vivo, este que pode ser precarizado, mas não extinguido (ANTUNES, 2000).

desregulamentadas, das quais a chamada acumulação flexível e o modelo japonês ou toyotismo são exemplos; [...] (ANTUNES, 2000, p. 35).

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Novos processos de trabalho emergem, onde o cronômetro e a produção em série e de massa são “substituídos” pela flexibilização da produção, pela “especialização flexível”, por novos padrões de busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado. [...] O toyotismo penetra, mescla-se ou mesmo substitui o padrão fordista dominante, em várias partes do capitalismo globalizado. Vivem-se formas transitórias de produção, cujos desdobramentos são também agudos, no que diz respeito aos direitos do trabalho. Estes são desregulamentados, flexibilizados, de modo a dotar o capital do instrumental necessário para adequar-se a sua nova fase. Direitos e conquistas históricas dos trabalhadores são substituídos e eliminados do mundo da produção (ANTUNES, 2006, p. 24).

Como consequência desta especialização flexível no âmbito da produção tornam-se

também flexíveis os direitos conquistados historicamente pelos trabalhadores, de modo a

ampliar o nível de exploração – e consequente lucro – do capital sobre o trabalho.

Outro ponto essencial do toyotismo é que, para a efetiva flexibilização do aparato produtivo, é também imprescindível a flexibilização dos trabalhadores. Direitos flexíveis, de modo a dispor desta força de trabalho em função direta das necessidades do mercado consumidor. O toyotismo estrutura-se a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliando-os através de horas extras, trabalhadores temporários ou subcontratação, dependendo das condições de mercado. O ponto de partida básico é um número reduzido de trabalhadores e a realização de horas extras [...] (ANTUNES, 2006, p. 36).

Neste sentido, a migração que se dá em curto prazo exerce o papel de uma válvula de

escape, aliviando a pressão no mercado de trabalho, assim, se aumenta a precarização e ao

mesmo tempo promove a substituição destes para novas bases de relações de trabalho

(MARTINE, 2005, p. 10 apud PELLEGRINO, 2003, p. 26-27).

A nova divisão internacional do trabalho significa [...] novo impulso ao desenvolvimento extensivo e intensivo do capitalismo no mundo, ocorre uma crescente e generalizada transformação das condições de vida e trabalho no mundo rural. O campo é industrializado e urbanizado, ao mesmo tempo em que se verifica uma crescente migração de indivíduos, famílias e grupos para os centros urbanos próximos e distantes, nacionais e estrangeiros (IANNI, 1996, p. 3).

A globalização age como um fator de estímulo à imigração, aumentando o fluxo de

informações a respeito dos padrões de vida e das oportunidades existentes ou imaginadas nos

países industrializados (PATARRA, 2006). “A mobilidade é a qualidade do que é móvel [...]”

(BARALDI, 2014, p. 18). A partir da concepção de mobilidade do trabalho8 no âmbito da

8O conceito de mobilidade do trabalho é entendido como “[...] a condição de exercício da sua «liberdade» de se deixar sujeitar ao capital, de se tornar a mercadoria cujo consumo criará o valor e assim produzirá o capital.”

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reestruturação produtiva9, o capitalismo precisa ter disponível a mobilidade do trabalhador,

para a produção do trabalhador flexível que tem de se dobrar às suas necessidades. Muitas

vezes são poucas as pessoas que tem liberdade móvel, pois são submetidas a controles de

fluxos de migração fronteiriços que as impedem de ir e vir de um país a outro. Todavia, o

capital financeiro e o comércio fluem livremente pelas fronteiras.

Na globalização, os capitais, a tecnologia e os bens circulam livremente, mas as pessoas não; se a governabilidade das migrações internacionais se restringe a acordos entre governos, como lidar com o decisivo papel de agentes econômicos, dos interesses de corporações e empresas inter ou transnacionais, as necessidades do mercado de trabalho dos países desenvolvidos, entre outras dimensões (PATARRA, 2005, p. 19).

Nestes controles regulatórios os Estados nacionais utilizam de critérios e prerrogativas

que atendam aos interesses nacionais, notadamente o mercado de trabalho e as identidades

nacionais construídas historicamente. Desta forma, os trabalhadores tornam-se objetos de uso

do grande capital, sem voz nas políticas migratórias (BARALDI, 2014).

A desregulamentação, iniciada na esfera financeira, invade paulatinamente o mercado de trabalho e todo o tecido social, na contra tendência das manifestações do crescimento lento e da superprodução endêmica, que persiste ao longo dos anos 90. A superprodução é sempre relativa e, longe de expressa um excedente absoluto de riqueza, é expressão de um regime de produção cujos fundamentos impõem limites à acumulação em razão dos mecanismos de distribuição da riqueza que lhe são próprios. Em outros termos, expresso o conflito entre produção e distribuição, apontado por Marx. O capital internacionalizado produz a concentração da riqueza, em um pólo social (que é, também, espacial) e, noutro, a polarização da pobre e da miséria, potenciando exponencialmente a lei geral da acumulação capitalista, em que sustenta a questão social (IAMAMOTO, 2010, p. 111, grifo do autor).

Portanto, para entendermos o fenômeno migratório em uma perspectiva de totalidade

Assim, “No seu aspecto positivo, a «liberdade» conduz à possibilidade do trabalhador escolher o seu trabalho e o local onde exercê-lo; no seu aspecto negativo, ela conduz às exigências do capital e ao seu poder de despedir em qualquer altura um trabalhador, que de transformar o seu trabalho, assim como as condições em que ele o exerce. Em ambos os casos, a força de trabalho deve ser móvel, isto é, capaz de manter os locais preparados pelo capital, quer tenham sido escolhidos, quer impostos; móvel, quer dizer apta para as deslocações e modificações do seu emprego, no limite, tão indiferente ao conteúdo do seu emprego como o capital o é de onde investe desde que o lucro extraído seja satisfatório” (GAUDEMAR, 1977, p. 190, grifo do autor). 9O processo de reestruturação produtiva emergiu a partir da década de 70, em função da grande crise do capitalismo e da derrocada do paradigma fordismo/taylorismo em meio ao processo de produção e acumulação industrial. A crise provocou profundas mudanças no mundo do trabalho, como o desemprego estrutural e condições precárias de trabalhadores. Como resposta o capital cria estes mecanismos de superação da crise, reorganizando seu sistema de dominação. Com a criação de novas estruturas produtivas surgem sucessivos processos de transformação nas empresas e indústrias, influenciadas por processos de desregulamentação e flexibilização do trabalho. Para maior aprofundamento sobre a temática ver Antunes (2006).

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histórica, é necessário o entendimento do fenômeno “[...] das migrações internacionais

recentes contextualizadas a partir de processos macroestruturais de reestruturação produtiva e

no contexto internacional da atual etapa da globalização, em suas múltiplas dimensões e

desdobramentos” (PATARRA, 2005, p. 23; 2006, p. 7). A autora cita duas categorias de

pensamento que são pontos chave de análise, que se situam nas mudanças advindas do

“processo de reestruturação produtiva” – o que implica na criação de novas modalidades de

mobilidade do capital – e da população em diferentes partes do mundo.

[...] depois do fim da guerra fria e da expansão da etapa de flexibilização de acumulação de capital, alinha os países desenvolvidos e em desenvolvimento, colocando em xeque as possibilidades daqueles que não pertencem ao banquete dos ricos, industrializados, desenvolvidos e felizes versus os pobres, sempre em desenvolvimento dificilmente completado, cuja dinâmica gerou os novos contornos da pobreza e exclusão, novos pequenos “oásis” internos de dinamismo econômico e novos limites para a ação de políticas de welfare state e de proteção social (PATARRA, 2006, p. 7, grifo do autor).

A análise dos fenômenos migratórios internacionais advém de uma relação entrelaçada

e causal entre migrações internacionais, muitas vezes influenciadas por guerras de

ordenamento global e da barbárie provocada pela globalização do modo de produção

capitalista. Os fluxos migratórios na atualidade são influenciados principalmente sob a

liderança dos Estados Unidos com o objetivo de buscar a desmobilização dos trabalhadores,

criando ilhas capitalistas de produtividade e rentabilidade, contrapostas a desertos

econômicos. Onde existe uma relação para com a exploração de mão de obra barata com fins

a dar lucro ao grande capital (PATARRA, 2006). Assim, é possível concluir que os fenômenos

migratórios tem em sua gênese um atrativo em potencial que, todavia, revela-se como uma

condição precária de trabalho e vida. Ao mesmo tempo o motivo da imigração pode ser o

usufruto de serviços socais como saúde e educação, pois em alguns lugares de destino podem

ter mais acesso. Pois, segundo relatos dos próprios imigrantes “[...] o país é atrativo pelo

estilo de vida de algumas cidades brasileiras, pela exuberância do país e pela perspectiva de

viver em um Brasil em ascensão. Entretanto os problemas quotidianos são muitos e dificultam

a permanência dos estrangeiros em terras brasileiras” (BOGUS; FABIANO, 2015, p. 138).

Numa outra perspectiva de abordagem histórica e ampla dos movimentos migratórios

internacionais, Cohen (1999) insere o conceito “diáspora”, que em seu significado de acepção

grega da palavra significava migração e colonização. Assim, o autor propõe a discussão sobre

o fenômeno migratório no contexto da globalização alguns aspectos relevantes.

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[...] mudanças rápidas e densas no mundo econômico e sua relação com sub-setores (comunicação, transporte, divisão internacional do trabalho, corporações internacionais, comércio liberal e fluxos de capital), que se vinculam às formas de migração internacional pelas relações de permanência, temporariedade e cidadania; o desenvolvimento das “ cidades globais”, que, em consequência, altera as transações, interações e a concentração de determinados segmentos do mundo econômico em determinadas cidades; o cosmopolitismo e o localismo; a criação e promoção

de culturas locais ampliadas como cultura cosmopolita; e, por fim, a

desterritorialização da identidade social, como desafio à hegemonia do Estado-nação, transformando o antigo focus de submissão e fidelidade em favor da sobreposição, permeabilidade e formas múltiplas de identificação (COHEN, 1999 apud PATARRA, 2006, p. 12, grifo do autor).

Assim, dentre os principais aspectos da globalização, destacam-se:

[...] o crescente predomínio dos processos financeiros e econômicos globais sobre os nacionais e locais. A generalização do livre comércio, o crescimento no número e tamanho de empresas transnacionais que funcionam como sistemas de produção integrados e a mobilidade de capitais são, de fato, aspectos destacados da realidade atual (MARTINE, 2005, p. 4).

Na perspectiva utilizada por Simmons (1987), o autor considera que as regulações

sobre os processos de migrações internas e internacionais estão intrinsecamente ligadas à

questão da reprodução temporal e espacial do trabalho na sociedade capitalista, ou seja, cada

regime de acumulação corresponde a um regime demográfico a ele relacionado.

Considerando a transição do fordismo para a acumulação flexível e suas dimensões mais significativas, o autor conclui que os padrões de migração contemporânea refletem duas dimensões do regime capitalista corrente: sua instabilidade e a nova estrutura de oportunidades econômicas que emerge com a acumulação flexível. Nesse contexto, a migração é: descentralizada, temporária, circular, responsiva, de riscos calculados, geradora de conflitos, global e regulada (PATARRA, 2006, p. 10 apud SIMMONS, 1987).

Diante do exposto, as condições macro societárias de uma economia majoritariamente

capitalista promove ganhos na forma de organizar e circular o econômico, cujas nações

economicamente fragilizadas possuem suas finanças mais expostas a todo tipo de exploração.

Já o trabalho, enquanto mercadoria deve ser expropriada ao máximo de rentabilidade, nesta

realidade o imigrante em condições precárias, onde é um alto atrativo ao processo de

apropriação para o capital.

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1.3 EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL DE HOJE

De acordo com Iamamoto (2010), com a incorporação do padrão de produção

capitalista baseado na acumulação flexível e a demanda de novas tecnologias e ciências ao

ambiente produtivo, acelera-se a produtividade do trabalho, acirrando a concorrência entre os

próprios trabalhadores, esta última que interfere diretamente nas regulações de salários. Deste

modo, cresce o que nas palavras da autora seriam os trabalhadores supérfluos10, sendo fruto

desta nova contradição determinada.

Esta estrutura impulsiona o crescimento de massas de trabalhadores pauperizados11,

condenados a pobreza, a marginalização e a exclusão social, privados de bens de consumo e

sobrevivendo apenas com os mínimos sociais. Situação que se expressa conforme a lei de

acumulação geral capitalista, pois, quanto maior é o crescimento da riqueza social cooptada

pelo capital maior será à força de trabalho disponível, sendo que o contingente de

trabalhadores sempre crescerá mais do que a necessidade de emprego em vistas da

valorização do grande capital. A concepção de trabalhador livre12é aqui utilizada como aquele

trabalhador que é privado das condições de seu trabalho, dotado apenas da capacidade de

realizar seu trabalho, assumindo assim uma determinação social que é o trabalho assalariado,

tendo a seu dispor apenas as condições necessárias objetivas para a sua sobrevivência

(IAMAMOTO, 2010).

10 “Dentre essa superpopulação relativa encontram-se os segmentos intermitentes, sujeitos as oscilações cíclicas e eventuais de absorção e repulsa do trabalho nos centros industriais: a superpopulação latente na agricultura, fruto da redução da demanda da força de trabalho decorrente do seu processo de industrialização, não acompanhada de igual capacidade de absorção dos trabalhadores nos polos urbano-industriais. Nessa categoria inclui-se, também, aquela parcela estagnada de trabalhadores ativos com ocupações irregulares e eventuais: os precarizados, temporários, com máximo de tempo de serviço e mínimo de salário, sobrevivendo abaixo do nível médio da classe trabalhadora. Esse quadro é complementado com o crescimento do pauperismo, segmento formado por contingentes populacionais miseráveis aptos ao trabalho, mas desempregados, crianças e adolescentes, segmentos indigentes incapacitados para o trabalho cuja sobrevivência dependente da renda de todas as classes, e, em maior medida, do conjunto dos trabalhadores” (IAMAMOTO, 2001, p. 15). 11De acordo com a autora este segmento é “[...] formado por contingentes populacionais miseráveis aptos ao trabalho, mas desempregados, crianças e adolescentes e segmentos indigentes incapacitados para o trabalho (idosos, vítimas de acidentes, doentes etc.) cuja sobrevivência depende da renda de todas as classes, e, em maior medida, do conjunto dos trabalhadores” (IAMAMOTO, 2010, p. 158). 12Conforme Iamamoto (2010, p. 159) a concepção de trabalhador livre é uma condição histórica em que o trabalhador no âmbito do capitalismo monopolista seria condicionado a ser “[...] Pobre, enquanto inteiramente necessitado, excluído de toda a riqueza objetiva, dotado de mera capacidade de trabalho e aleijado das condições necessárias a sua realização objetiva na criação de seus meios de sobrevivência. Como a capacidade de trabalho, é mera potência; o individuo só pode realizá-la se encontra lugar no mercado de trabalho, quando demandado pelos empresários capitalistas. Assim, a obtenção dos meios de vida depende de um conjunto de mediações que são sociais, passando pelo intercambio de mercadorias, cujo controle é inteiramente alheio aos indivíduos produtores”.

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[...] o regime capitalista de produção é tanto um processo de produção das condições materiais da vida humana, quando um processo que se desenvolve sob-relações sociais – histórico-econômicas – de produção especificas. Em sua dinâmica produz e reproduz seus expoentes: suas condições materiais de existência, as relações sociais contraditórias e formas sociais através das quais se expressam. Existe pois uma indissociável relação entre a produção dos bens materiais e a forma econômico-social em que é realizada, isto é, a totalidade das relações entre os homens em uma sociedade historicamente particular, regulada pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social [...] (IAMAMOTO, 2001, p. 11).

Deste modo, reconhecem-se os fatores de disparidade de concentração da riqueza

social e consequente renda entre as classes que detém o capital – donos dos meios de

produção – e as classes que apenas sobrevivem com a venda de sua força de trabalho, insere-

se na discussão que tange a desigualdade social e é reflexo das expressões da denominada

questão social.

[...] a questão social enquanto parte constitutiva das relações sociais capitalistas, é apreendida como expressão ampliada das desigualdades sociais: o anverso do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social. [...] Requer, no seu enfrentamento a prevalência da coletividade dos trabalhadores, o chamamento à responsabilidade do Estado e a afirmação de políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses das grandes maiorias, condensando um processo histórico de lutas pela democratização da economia, da política, da cultura na construção da esfera pública. (IAMAMOTO, 2001, p. 10-11, grifo do autor).

Igualmente,

A questão social expressa, portanto, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa “luta aberta e surda pela cidadania” (IANNI, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos [...] (IAMAMOTO, 2010, p. 160, grifo do autor).

As migrações no século XXI ganham visibilidade tornando-se uma expressão social da

divisão do trabalho e seus impactos territoriais, pois cada vez mais se tem um papel crucial no

cotidiano social, nos mercados de trabalho, nas sociedades de chegada e de partida, nos fluxos

financeiros e na mobilidade da força de trabalho (SASSEN, 1998). De acordo com Patarra

(2005, p. 25) estariam na raiz da questão social13 do movimento migratório internacional de e

13 A questão social esta enraizada e é fruto da contradição entre capital e trabalho, tendo sua especificidade no modo de produção capitalista. Assim como afirmam Iamamoto e Carvalho (1983, p. 77) “[...] A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no

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para o Brasil o estancamento do processo de desenvolvimento econômico, bem como o

excedente de mão-de-obra crescente no país, que refletem na situação de pobreza vivenciada

pelos imigrantes.

O fenômeno das migrações tende a provocar, numa primeira fase, consequências negativas, como sejam a separação das famílias, o desenraizamento comunitário, a deslocação de potencial humano (com prejuízo para os países de origem) e tensões sociais (nos países de acolhimento) por dificuldades de integração económico-social dos migrantes (PEQUITO, 2009, p. 29).

Nesta discussão os trabalhadores acabam por ser excluídos do processo produtivo e

acabam por ser marginalizados e postos em uma condição de produção e reprodução da

subalternidade e da pobreza.

[...] a abordagem da exclusão, configura-se como uma forma de pertencimento, de inserção na vida social. Trata-se de uma inclusão que se faz pela exclusão, de uma modalidade de inserção que se define paradoxalmente pela não participação e pelo mínimo usufruto da riqueza socialmente construída. É uma exclusão integrativa como assinala Martins. Para ele estamos diante de um processo que se atualiza e alcança grupos crescentes “nos países pobres, nas regiões pobres dos países ricos, mas também nos espaços ricos dos países pobres” [...] (MARTINS, 2002 apud YAZBECK, 2004, p. 34, grifo do autor).

A exclusão social se torna visível com os traços de violência ocasionados pela pobreza

que abate a população subalternizada, expressando o quanto a sociedade pode tolerar a

pobreza, banalizá-la e naturalizá-la. Outrossim, as expressões da questão social são limitações

que se expressam entre os trabalhadores como: desemprego, empregos precários, privação de

condições mínimas de saúde e moradia, alimentação insuficiente, entre outros (YAZBECK,

2004).

Pobreza, exclusão e subalternidade configuram-se, pois como indicadores de uma forma de inserção na vida social, de uma condição de classe e de outras condições reiteradoras da desigualdade (como gênero, etnia, procedência etc.), expressando as relações vigentes na sociedade. São produtos dessas relações, que produzem e reproduzem a desigualdade no plano social, político, econômico e cultural, definindo para os pobres um lugar na sociedade. Um lugar onde são desqualificados por suas crenças, seu modo de expressar-se seu comportamento social, sinais de “qualidades negativas” e indesejáveis que lhes são conferidas por sua procedência de classe, por sua condição social. Este lugar tem contornos ligados à própria trama social que gera a desigualdade e que se expressa não apenas em circunstâncias econômicas, sociais e políticas, mas também nos valores culturais das classes subalternas e de seus interlocutores na vida social (YAZBECK, 2004, p. 34-35).

cenário político da sociedade, [...] É a manifestação, no cotidiano da vida social da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão”.

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Reitera-se a exclusão social, visto que os imigrantes passam a se somar a uma

população nativa imensa e também desassistida, desprotegida, que concorre entre critérios de

inclusão ao acesso as políticas sociais. A condição de recém chegado provoca certas

discriminações sociais em diversos níveis, pois, são vistos como competidores de empregos,

inflacionadores dos custos dos serviços sociais e de infra estrutura nos lugares de destino

(MARTINE, 2005, p. 18). Para Martine (2005) outros aspectos são destacados na dificuldade

de inclusão social de imigrantes em qualquer país, entre eles estão:

[...] os problemas de adaptação, discriminação e até maltrato de migrantes, não há dúvida de que essas situações existem frequentemente [...]. Os migrantes sofrem discriminação social e racial, são tratados como cidadãos de segunda classe, são perseguidos e maltratados por xenófobos. Eles geralmente têm problemas de comunicação e adaptação, sofrem perda de identidade e de referencial afetivo – o que leva frequentemente ao estresse psicológico. Nos dias de hoje, porém, o desenvolvimento das comunicações permite maior vinculação entre os migrantes e os lugares de origem (MARTINE, 2005, p. 06).

Estas relações sociais determinadas pelo modo de produção vigente redirecionam as

necessidades humanas e força de todos a se inserirem na lógica de mercado global, isto se

expressa nos fluxos migratórios de forma a criar grupos populacionais em condições sub-

humanas de sobrevivência e trabalho (LANZA et al, 2017). Assim como afirma Araújo

(2016), há uma ausência do Estado brasileiro, que se compromete apenas com a

documentação legal destes imigrantes no território, porém, não dando condições de vida digna

e de permanência. Assim, se sobressaem sociedades civis de cunho religioso, que

minimamente garantem a permanência destes imigrantes, mas estes acabam dependendo

quase que exclusivamente delas para a sobrevivência.

[...] O que se vê nas regiões de fronteira é que após o primeiro contato com as estruturas administrativas do Estado brasileiro, via Policia Federal, em busca de regularização de seu status jurídico, os indivíduos não encontram de fato alguma estrutura para o primeiro processo de inserção em território brasileiro. Não há locais que garantam para estas pessoas um primeiro abrigo, ou habitação, não há uma estrutura que preveja a alimentação destes fluxos populacionais, e muito menos algum suporte para a busca de alguma ocupação remunerada (ARAUJO, 2016, p. 392).

Trazendo esta discussão para o âmbito regional, neste caso o oeste do Paraná. O Brasil

é considerado como o maior exportador de frango do mundo, e o Paraná é um estado de

grande produção agrícola e agropecuária, assim, esta região movimenta um grande mercado

de trabalho, com índices maiores em complexos industriais agropecuários e frigoríficos. De

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acordo com uma pesquisa realizada no município de Cascavel, Martins et al, (2014) afirmam

que:

Em Cascavel, mais de 500 haitianos foram empregados nos últimos três anos pelas duas cooperativas locais: a Coopavel e a Globo Aves. Eles vieram substituir o trabalhador nacional, que já não se submete ao trabalho estafante nos frigoríficos. Falta mão de obra no setor. Para contornar o problema, os empresários recorriam aos trabalhadores dos municípios vizinhos, o que implicava uma elevação dos custos com transporte e moradia (MARTINS et al, 2014, p. 6).

Dentro desta realidade local, os imigrantes haitianos tornam-se a maior expressão dos

fluxos migratórios vindo de outros países, devido ao grande número de pessoas com

nacionalidade haitiana residente no município de Cascavel. Estes vêm a substituir aqueles que

não querem trabalhar por baixos salários, que demandem longos trajetos para o trabalho, e/ou

em jornadas de trabalho superiores há 8 horas, muitas vezes em horários noturnos, sendo

muito exaustivo.

[...] podemos afirmar que o perfil médio do haitiano empregado na indústria da alimentação de Cascavel é o perfil do adulto, do sexo masculino, com ensino médio completo, registro em carteira de trabalho, renda mensal em torno de R$ 1.000,00 e jornadas de trabalho superiores há 8 horas diárias. A maioria está insatisfeita com a remuneração recebida. Induzidos por coiotes – e tendo uma ideia distorcida do país – eles imaginavam salários mais elevados no Brasil (MARTINS et al, 2014, p. 6).

Outros dados levantados sobre a situação laboral do imigrante em São Paulo

demonstram que o setor de serviços e comércio está empregando boa parte destes

trabalhadores.

[...] no mês de dezembro de 2015 mostram que vagas para a construção civil desapareceram, restando somente aquelas do setor de serviços, como frentista, camareira, serviço doméstico, serviços gerais, caseiro, lavador de carro, etc. [...] o agravante é que, em tempos de recessão econômica, o mercado de trabalho se torna mais seletivo e menos atrativo em temos salariais, pois o valor da remuneração também diminui, como por exemplo, no caso de vagas para trabalhar na secretaria de uma rede atacadista, havia a exigência de sexo, no caso ser mulher, e falar inglês, além do português. Para esta função, o salário líquido era de R$ 1.000,00 reais (SILVA, 2016, p. 217).

Estes exemplos são ilustrações da realidade social vivida pelos imigrantes, visto que

não encontrando trabalho ou serviço no âmbito formal, muitos deles partem para outras

estratégias de sobrevivência no âmbito informal. Esta situação se repercute principalmente

pela dificuldade de adaptação dos imigrantes ao mercado de trabalho, exigindo muitas vezes

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qualificação superior ao nível médio, valendo lembrar o fator linguístico que vem a contribuir

com esta forma de exclusão (SILVA, 2016).

Outra forma de exclusão social evidente vem a partir dos estigmas e preconceitos

orquestrados pelos cidadãos nativos, que muitas vezes reforçam a xenofobia e o racismo

contra os imigrantes aqui chegados. É o que confirma novamente os dados coletados pela

pesquisa, postos em uma relação de subalternidade, tanto em relação com nativos, quanto em

relação a outros imigrantes.

Um terço dos haitianos declarou sofrer alguma forma de preconceito pelo fato de serem negros. Supomos que o percentual seja maior, pois muitos temem sofrer represálias, especialmente nos locais de trabalho, em razão de declarações que possam comprometê-los. A situação econômica explica apenas uma parte do problema. Nos ciclos de crescimento e oferta abundante de trabalho, a resistência social diminui e os governos adotam políticas para atrair os migrantes. Nos períodos recessivos, a resiliência aumenta e surgem conflitos associados à concorrência pelos postos de trabalho (MARTINS et al, 2014, p. 7).

Dado a realidade vivenciada pelos imigrantes haitianos, estes buscam emigrar dentro

do país, em busca não só de acesso ao trabalho, mas de educação, saúde e novas experiências

profissionais. Isto possibilita a chegada de muitos a grandes centros industriais, onde se tem

promessa varias vagas de trabalho e qualidade de vida, porém, não encontrando continuam a

procurar, movidos pelas poucas informações que tem (SILVA, 2016).

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2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E CIDAD ANIA BRASILEIRA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Neste capítulo será proposto o debate acerca dos direitos sociais a serem garantidos

pelo Estado de direito aos cidadãos brasileiros, sob a ótica da Declaração14 Universal dos

Direitos Humanos15 de 1948, que corresponde a uma garantia de diretos “sem fronteiras”. A

discussão sobre os direitos aos imigrantes ainda é recente e feita de forma incipiente, onde se

busca referência nos direitos humanos para a discussão de políticas migratórias, que sejam

para além do controle dos fluxos de entrada e saída. Desta maneira os direitos garantidos aos

imigrantes muitas vezes se assemelham a benefícios concedidos pelo Estado, de forma

seletiva e restrita (BARALDI, 2014). “[...] A cidadania, hoje sob pressão expansiva pelos

migrantes, é uma prática de liberdade e de busca por igualdade e dignidade, muita mais do

que um status formal de um pertencimento [...]” (BARALDI, 2014, p. 73).

A partir destas considerações entende-se que esta Declaração16 focaliza os elementos

mais básicos do ser humano, que se dividem em duas categorias17: os direitos civis e políticos,

sendo estes conquistas ocorridas nos séculos XVIII e XIX, e dizem respeito aos cidadãos que

tem controle sobre suas próprias vidas, que operam em um “sentido negativo”, ou seja, que

declaram o indivíduo a ser impedido de fazer algo. Os direitos sociais, econômicos e culturais

que se constituem desde o século XIX, mas ganham evidência no século XX, são aqueles que

promovem a capacidade das pessoas se sustentarem por si mesmos, estes operam em um

“sentido positivo”, ou seja, que declaram o direito de um indivíduo possuir ou desfrutar de

algo. Sob esta ótica cabe ao Estado18 proteger os direitos positivos, de forma a melhorar a

14 Quanto utilizarmos o termo Declaração no presente trabalho estaremos nos referindo a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. 15Esta Declaração “[...] é um corpo de instrumentos e normas consuetudinárias que, embora acordada entre países, rege muito mais as relações entre os Estados e seus povos do que entre um país e outro. Ou seja, os países pactuaram, no âmbito internacional, um comportamento a ser adotado no plano nacional. A maneira como o Estado trata seus cidadãos passa a ser uma questão de direito internacional, bem como nacional” (POOLE, et al, 2007, p. 91). Vale lembrar que esta teve apenas status de recomendação aos países que dela pactuaram e subscreveram (TRINDADE, 2011). 16 “[...] Essa Declaração, espelhando o conflito ideológico dos Estados subscritores, tentou encetar uma conciliação normativa entre os direitos civis e políticos, oriundos da Declaração francesa de 1789, com os direitos econômicos, sociais e culturais postulados pelos trabalhadores, que haviam sido acolhidos na Constituição mexicana, de 1917, na Declaração Russa, de 1918 e na Constituição de Weimar, de 1919” (TRINDADE, 2011, p.20, grifo do autor). 17 Conforme Couto (2010, p. 34) estes direitos podem ser também classificados por gerações, pois são “[...] direitos estabelecidos em determinados períodos, sob determinações culturais, sociais, políticas e econômicas e referem-se ao homem concreto, aquele que vive em determinada sociedade”, sendo os direitos civis e políticas referentes à primeira geração, os direitos sociais de segunda geração e os direito ao desenvolvimento da paz, do meio ambiente e da autodeterminação dos povos de terceira geração (COUTO, 2010, p. 36). 18 “Do ponto de vista sociológico, o Estado configura-se como espécie de sociedade. A mais complexa e perfeita das sociedades é a política. A sociedade política é o Estado, que tem por objetivo ou finalidade o bem comum [...]” (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 79).

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vida do indivíduo e proteger os direitos negativos de forma a evitar a interferência de outros

na vida do indivíduo (POOLE et al, 2007, p. 94).

Diante do exposto, a Declaração19 corresponde a “um ideal comum” que fundamenta

os princípios fundamentais que dão base para o respeito e a dignidade humana, tanto por

atores privados – o individuo ou cidadão – quanto por entidades públicas – neste caso o

Estado ou Instituições Públicas.

A lei dos direitos humanos regula ambos os atores através do Estado: o ator público diretamente e o ator privado indiretamente. Isso porque se pode interpretar o Estado, autoridade soberana, como responsável final não só por suas próprias ações, mas também pelas ações daqueles sob sua jurisdição. Por exemplo, se uma escola particular fornece educação de forma discriminatória e o Estado nada faz quanto a isso, então o Estado é discutivelmente responsável segundo a lei internacional dos direitos humanos (POOLE et al, 2007, p. 95).

A Declaração nos dias de hoje é um movimento mundial em uma perspectiva

universal, em que não bastam apenas algumas nações afirmarem um acordo em a efetiva

realização e/ou que tratem dos direitos de uma maneira particular e individualista, mas em

uma escala global que todos tendem a cumprir. Devido à força desta Declaração

principalmente para com a ênfase sobre os direitos20 de forma simples, estes acabaram por

tornarem-se instrumentos para contemplar direitos a serem garantidos pelos Estados nacionais

(POOLE et al, 2007). Assim, “[...] agrega-se valor à validade dos direitos humanos como

fenômeno genuinamente universal. Ele “é aceito” nos países que são complacentes; e é

remodelado para refletir as lutas por direitos humanos de culturas e regiões diferentes”

(POOLE et al, 2007, p. 101).

No que tange ao conteúdo desta Declaração, nos concentraremos no Art. 25 que se

constitui como o direito social básico, que elenca elementos essenciais da vida e garantias

necessárias para assegurar os indivíduos que por alguma razão não conseguem se sustentar

sozinhos (POOLE et al, 2007, p. 149).

19 Cabe reafirmar que “A evolução histórica dos direitos humanos está adstrita à luta da humanidade pela afirmação da dignidade da pessoa humana. Essa luta encontrou fundamento respectivamente no campo religioso, filosófico e científico. A conclusão é que o alicerce dos direitos humanos é a dignidade da pessoa humana. O desafio dos direitos humanos é a sua conscientização, o meio mais eficaz da sua plena realização” (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 55). 20 Segundo Couto (2010, p. 37) “Os direitos, enquanto constitutivos de um patamar de sociabilidade, têm jogado papel importante na sociedade contemporânea, que, ao discuti-los, coloca em xeque as formas de relação que são estabelecidas, tornando tenso o movimento por vê-los reconhecidos em lei, protegidos pelo Estado e, mais do que isso, explicitados na vida dos sujeitos concretos.”

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1.Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2.A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social (ONU, 2017, s.p).

Por padrão e/ou nível de vida entende-se a capacidade de suprir suas necessidades

básicas, de forma a assegurar a saúde, sendo ela primordial para a manutenção da vida e o

bem-estar enquanto uma segurança social, principalmente para os desempregados e os

incapacitados e/ou inválidos para o trabalho (POOLE et al, 2007). De acordo com Marx

(2010, p. 48-49) “[...] os assim chamados direitos humanos [...] nada mais são do que os

direitos do membro da sociedade burguesa, isto é, do homem egoísta, do homem separado do

homem e da comunidade [...]”, em outras palavras, é a aplicação prática do direito humano à

liberdade equivale ao direito humano a propriedade privada.

Direitos humanos, em concepção dialética, devem considerar estas duas contribuições. O ser humano não é senão um ser social, com as complexas dimensões explicitadas por Marx. Direitos não são senão resultado de lutas sociais concretas. Assim, apenas o ser humano é portador de direitos. Apenas ele, em relação com outros, com a natureza, com a sociedade e em cada conjuntura histórica, os prevê, reconhece e efetiva, quando e onde possível, e como resultado de conflitos de interesses diversos (RUIZ, 2011, p. 79).

Dado os pressupostos até aqui enunciados, compactuamos com Ruiz (2011, p. 77) na

reflexão de que os direitos humanos, para além de garantir as mínimas condições de

sobrevivência dos indivíduos, estes servem como instrumento de denúncia que fomenta a

mobilização popular pela conquista de direitos sociais, apontando para a construção de uma

nova sociabilidade que supere as desigualdades sociais impostas pelo capitalismo. Neste

sentido Junior e Oliveira (2009) ao tratarem de direitos humanos trazem uma diferenciação

que concerne com lógica que o Estado se atribui dos princípios desta Declaração. Cabe

diferenciar o conceito de direitos humanos estabelecidos pela Declaração de 1949, dos

direitos fundamentais21 reconhecidos pelo Estado. No sentido lato direitos humanos22 são

21 Segundo Junior e Oliveira (2009, p. 26) os direitos fundamentais são “[...] aqueles reconhecidos pelo Estado, na norma fundamental, e vigentes num sistema jurídico concreto, sendo limitados no tempo e no espaço. [...] são aqueles consagrados na norma fundamental e que dizem respeito aos preceitos fundamentais, basilares para que o homem viva em sociedade.”

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“[...] aqueles válidos para todos os povos, em todas as épocas, se constituindo daquelas

cláusulas mínimas que o homem deve possuir em face da sociedade em que está inserido”

(JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 26).

Assim, é construído o conceito de cidadania23, onde este revela a forma com que os

Estados nacionais apreendem-se dos princípios e fundamentos da Declaração e baseiam-se

nela para criar suas Constituições garantindo-os enquanto Lei os direitos relativos aos

cidadãos. Assim,

[...] o não reconhecimento destes direitos revela a natureza excludente de processos sociais, numa associação quase atomizada entre privação de direitos e níveis de degradação das formas de vida da população trabalhadora. Em geral, tal argumento é referendado na maioria dos estudos que tomam o conceito de exclusão/inclusão, como explicativa da desigualdade social (GOMES, 2011, p. 94).

Trazendo a base da discussão dos direitos humanos modernos para o Brasil, veremos

que a construção dos direitos fundamentais a partir dos denominados direitos sociais

“universais” é tardia, datada especificamente após o término do período ditatorial – de 1964 a

1985 – em que o Estado era governado por militares.

[...] remete diretamente ao terrorismo de Estado no final do século XX relacionado a questão da ditadura militar, que dizimou projetos societários e encarcerou centenas de vidas (dos sujeitos de distintos projetos societário que lutavam por um país democrático) nos duros e longos 21 anos em que vigorou. Vale lembrar que o tema da violação de direitos humanos foi um dos pontos mais importantes da agenda política no período de transição para a democracia em diferentes países da América Latina (FREIRE, 2011, p. 153).

Com o término do período ditatorial derivado de lutas sociais articuladas por

diferentes frentes e movimentos trabalhistas, houve em 1988 a promulgação de uma nova

Constituição Federal Brasileira, sendo considerada como Constituição Cidadã devido aos

memoráveis avanços na garantia de direitos ao povo. Esta inseriu “[...] no sistema jurídico

pátrio a proteção dos direitos humanos, constituindo-se a Carta Política mais avançada em

22 Cabe destacar que os pressupostos basilares dos direitos humanos são advindos do direito natural, este que concerne “[...] O núcleo básico dos direitos humanos é algo absoluto. São direitos universais, imutáveis e que surgem da própria natureza humana [...]” (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 26). 23 Segundo a ótica de constituição de direitos de Marshall “[...] o conceito de cidadania, em sua fase madura, comporta: as liberdades individuais, expressas pelos direitos civis – direito de ir e vir, de imprensa, de fé, de propriedade –, institucionalizados pelos tribunais de justiça; os direitos políticos – de votar e ser votado e à livre organização política sindical e partidária, ou seja, de participar do poder políticos – por meio do parlamento e do governo, bem como dos partidos e sindicatos; e os direitos sociais, caracterizados como o acesso a um mínimo de bem-estar econômico e de segurança, com vistas a levar a vida de um ser civilizado [...]” (BEHRING, 2009, p. 102).

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matéria de direitos fundamentais na histórica constitucional do país” (JUNIOR; OLIVEIRA,

2009, p. 158). Em seu Art. 1º desta Constituição, que proclama o país enquanto República

Federativa do Brasil constituída como Estado Democrático de Direito24 tem-se dentre os

principais fundamentos, que são: a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os

valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; e o pluralismo político (BRASIL, 2017a, s.p).

Assim, percebe-se a proximidade que se queria chegar aos princípios e valores constituídos na

Declaração Universal dos Direitos Humanos, trazendo notadamente em seu Art. 5º que “[...]

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]” (BRASIL, 2017a, s.p). Neste sentido

percebemos que

[...] cada direito declarado abre campo para a declaração de outros, seja como complemento, seja como efeito, seja como recurso de legitimação. Isso significa que uma declaração de direitos civis abre campo para a busca e conquista de direitos sociais (condições de vida e trabalho, educação, saúde, cultura, lazer, etc.) que podem trazer como consequência a luta pela igualdade efetiva e, portanto, começando pelo direito à redistribuição da renda, pode chegar à luta contra a propriedade privada dos meios sociais de produção (CHAUÍ, 2006, p. 112 apud FREIRE, 2011, p. 159).

No que tange a garantia25 destes direitos e/ou a efetiva realização dos mesmos, o

Estado deve se assegurar de mecanismos que imprimam para além do status legal e

meramente declaratórias de valores, que assegurem a finalidade de proteger estes direitos. Ou

seja, “[...] direitos e garantias individuais têm conceitos diferentes. Direitos são as disposições

declaratórias, ao passo que garantias são os elementos assecuratórios – sistema de defesa –

sistema de proteção [...]” (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 161, grifo do autor).

24 De acordo com Junior e Oliveira (2009, p. 105, 113-116) podemos afirmar que com a Constituição de 1988, o Estado brasileiro pode ser denominado de Estado Democrático e Social de Direito, que corresponde a um modelo que “[...] procura conciliar os direitos individuais, que perdem o cunho burguês e egocêntrico de sua origem, com o bem-estar social. Esse modelo de Estado adota um sistema que se pauta pelo equilíbrio entre os interesses do Estado e a garantia da liberdade individual do cidadão. Nesse sistema, o Estado encontra-se a serviço do indivíduo e da sociedade”. De acordo com Bobbio (1992 apud VIEIRA, 2009, p. 21) é no “[...] Estado de Direito que o ponto de vista do príncipe se transforma em ponto de vista do cidadão [...]”. 25 Neste sentido, ocorre a juridificação de direitos, ou o reforço do controle do Estado, assim como afirma Couto (2010, p. 55) “[...] concorre à ideia de que o direito, como arma jurídica, consolida-se na sociedade na ótica liberal. Ou seja, é enunciado marcado pelo individualismo, onde é o individuo portador de direitos, não um grupo, ou um povo. É ele, individualmente, que pode acionar o sistema jurídico para cobrança desses direitos”.

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Diante do exposto, aqui será apresentado o que concerne ao âmbito dos “direitos

sociais”26 a proteção social sendo, o foco do presente trabalho demonstrar como esta

concepção de cidadania é garantida pelo Estado. Assim,

Os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portando, direitos que se ligam ao direito da igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade (SILVA, 2001, p. 289-290 apud JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 213).

Igualmente, os direitos sociais em voga no Brasil contemporâneo foram

regulamentados pela Carta Magna de 1988, são considerados como direitos indispensáveis

para o exercício da cidadania, como já anuncia o Art. 6º da Constituição Federal de 198827.

No texto constitucional de 1988 os direitos sociais encontram-se separados e organizados no

Capitulo VIII que diz respeito à Ordem Social, que se dividem em: seguridade social;

educação, cultura e desporto; ciência e tecnologia; comunicação social; meio ambiente;

família, criança, adolescente e idoso; e por ultimo índios (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p.

213). Sendo assim, obtivemos grandes avanços no âmbito dos direitos sociais, principalmente

no que diz respeito ao Estado garantir condições dignas de sobrevivência.

Os direitos sociais têm como essência a igualdade e a liberdade, garantindo aos cidadãos condições dignas para a sua sobrevivência, sendo imprescindíveis para o exercício da cidadania, pois disponibilizam meios materiais e condições fáticas que permitam a efetiva fruição das liberdades fundamentais. Em função disso, são indispensáveis para impor limites e obrigações ao Poder Público, protegendo o indivíduo contra a ingerência do Estado (ZANETTI, 2013, p. 1).

É a partir do usufruto dos direitos sociais que se exerce a cidadania, não apenas como

direito político instituído por meio do voto, mas como a participação de forma ampla,

exercendo os direitos civis, sociais, econômicos, culturais, entre outros. Ou seja, “[...] A

cidadania, [...] representa o exercício dos direitos. Segundo a tese Arendtiana a cidadania é o

26 “Os direitos sociais são fundamentados pela ideia de igualdade, uma vez que decorrem do reconhecimento das desigualdades sociais gestadas na sociedade capitalista. Representam, na visão de Bobbio (1992), poderes, pois são entendidos como direitos de créditos do individuo em relação à coletividade. Expressam-se pelo direito à educação, à saúde, ao trabalho, à assistência e à previdência” (BOBBIO, 1992 apud COUTO, 2010, p. 48). 27 Conforme o Art. 6º são direitos sociais, garantir o acesso “[...] a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 2017a, s.p).”

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direito a ter direitos. No pensamento de Hannah Arendt, cidadania é a consciência que o

indivíduo tem do direito a ter direitos” (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 213). Desta maneira,

o exercício democrático28 está intrinsecamente ligado à concepção de cidadania, conforme o

parágrafo único do Art. 1º da Constituição Federal de 1988 “Todo o poder emana do povo,

que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta

Constituição” (BRASIL, 2017a, s.p). Desta forma, a democracia ocorre a partir da garantia

dos direitos sociais, quando o cidadão exerce o poder a ele atribuído e participa das decisões

políticas no Estado29.

Cidadania implica sentimento comunitário, processos de inclusão de uma população, um conjunto de direitos civis, políticos e econômicos e significa também, inevitavelmente, a exclusão do outro. Todo cidadão é membro de uma comunidade, como quer que esta se organize, e esse pertencimento, que é fonte de obrigações, permite-lhe também reivindicar direitos, buscar alterar as relações no interior da comunidade, tentar redefinir seus princípios, sua identidade simbólica, redistribuir bens comunitários. A essência da cidadania, se pudéssemos defini-la, residiria precisamente nesse caráter público, impessoal, nesse meio neutro no qual se confrontam, nos limites de uma comunidade, situações sociais, aspirações, desejos e interesses conflitantes. Há, certamente, na história, comunidades sem cidadania, mas só há cidadania efetiva no seio de uma comunidade concreta, que pode ser definida de diferentes maneiras, mas que é sempre um espaço privilegiado para ação coletiva e para a construção de projetos para o futuro (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 247).

Desta maneira, tratou-se até aqui de descrever o que são os direitos humanos e como

estes influenciaram a introdução dos direitos sociais na Constituição Federal brasileira de

1988, tidos como direitos fundamentais para o exercício da cidadania. Os direitos sociais

enquanto garantias sociais providas pelo Estado adentram a discussão dos sistemas de

proteção social formulados e parametrizados por este, de forma a proteger a dignidade

humana e cidadania dos indivíduos enquanto nação. Portanto, conforme exposta a condição

que condiz o status cidadão é de ter direitos e usufruí-los de forma com que haja uma

participação para além de política no Estado, de forma com que estes sejam representados e

28“Um Estado democrático é aquele que considera o conflito legitimo. Não só trabalha politicamente os diversos interesses e necessidades particulares existentes na sociedade, como procura institui-los em direitos universais reconhecidos formalmente. Os indivíduos e grupos organizam-se em associações, movimentos sociais, sindicatos e partidos, constituindo um contra poder social que limita o poder do Estado. Uma sociedade democrática não cessa de trabalhar suas divisões e diferenças internas, e está sempre aberta à ampliação dos direitos existentes e à criação de novos direitos (CHAUÍ, 1995 apud VIEIRA, 2009, p. 40, grifos do autor).” 29“Os direitos e as obrigações de cidadania existem, portanto, quando o Estado valida as normas de cidadania e adota medidas para implementá-las. Nesta visão, os processos de cidadania – lutas por poder entre grupos e classes – não são necessariamente direitos de cidadania, mas constituem variáveis independentes para a sua formação. Em outras palavras, tais processos seriam partes constitutivas da teoria, mas não do conceito definidor de cidadania” (VIEIRA, 2001, p. 36).

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possam se representar.

2.1 ESTADO SOCIAL E SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA Diante do exposto com a promulgação da Constituição Federal de 1988, se constrói

sistemas de proteção social no Brasil, como um dos requisitos do Estado social30, baseado em

outros sistemas já implantados no mundo, como forma de garantir o acesso aos direitos

sociais para os cidadãos. Assim, se constitui “[...] a proposta de Estado social, implementador

de políticas sociais baseadas em princípios dos direitos sociais universais, igualitários e

solidários, que teve expressão nos pós-guerras mundiais e foi percussor do chamado Estado

de bem-estar social (Welfare State)” (COUTO, 2010, p. 52, grifo do autor).

As políticas sociais e a formatação de padrões de proteção social são desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – em geral setorializadas e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social no capitalismo, cujo fundamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho (BEHRING, 2009, p. 51).

A concepção de Estado social ganha corpo a partir das ideias de Keynes31, cujo foi

mandatário da doutrina Keynesiana e/ou do Keynisianismo, que entendia que como a

“necessária a intervenção do Estado através de um planejamento, para que as condições de

acumulação capitalista sejam restabelecidas [...]” (COUTO, 2010, p. 65).

Se no Estado de direito a conformação dos direitos individuais é formulada por um sistema jurídico capaz de assegurar pela cobrança seu exercício, no Estado social a resposta vem em forma de políticas sociais, que se caracterizam por ser “aquelas modernas funções do Estado capitalista – imbricado à sociedade – de produzir, instituir e distribuir os bens e serviços sociais” (PEREIRA, 1998, p. 60 apud COUTO, 2010, p. 60, grifo do autor).

Desta maneira é constituída a concepção de Estado de bem-estar social ou Welfare

State·, que ganha peculiaridades geopolíticas nos diversos países onde é implantado, onde se

combinam políticas sociais estatais com privadas, com programas sociais sob a lógica de

seguro social, que se reverte em políticas sociais para os contribuintes (COUTO, 2010, p. 65).

De acordo com Behring (2009) os seguros surgem como uma lógica ampliada e mais

30 “O Estado social vai ser criado quando da necessidade de responder diretamente às necessidades substanciais das classes trabalhadores, em vista da integração social, surgindo, assim as bases concretas para a formulação de direitos sociais” (COUTO, 2010, p. 60). 31“[...] O Estado, com o keynesianismo, tornou-se produtor e regulador, o que não significava o abandono do capitalismo ou a defesa da socialização dos meios de produção. Keynes defendeu a liberdade individual e a economia liberal conservadora da época” (BEHRING, 2009, p.84).

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securitária do que seria o Estado de bem-estar social, com novas influencias trazidas pelo

Plano Beveridge32 e outras tomadas por países individualmente na implementação destes

sistemas. Assim,

[...] foram iniciados timidamente sob a óptica privada e destinados a reduzidas categorias profissionais no final do século XIX e se espalharam no inicio do século XX, mas não tinham caráter universal nem recebiam a designação de Welfare State. Para esse autor, o que marca a emergência do Welfare State é justamente a superação da óptica securitária e a incorporação de um conceito ampliado de seguridade social com o Plano Beveridge na Inglaterra, que provocou mudanças significativas no âmbito dos seguros sociais até então dominantes (BEHRING, 2009, p. 93).

Influenciada por estes sistemas de seguro social democratas principalmente no que se

refere à universalização e padronização dos direitos sociais, se constituiu mecanismos que

incidiram na criação do modelo de Seguridade Social Brasileira. O artigo 194 da Constituição

Federal de 1988 estabelece “[...] a seguridade social compreende um conjunto integrado de

ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar direitos

relativos à saúde, à previdência e à assistência social [...]” (BRASIL, 2017a, s.p). De acordo

com Couto (2010, p. 159) a política de seguridade social no Brasil traz como concepção:

[...] um sistema de proteção integral do cidadão, protegendo-o quando no exercício da sua vida laboral, na falta dela, na velhice e nos diferentes imprevistos que a vida lhe apresentar, tendo para a cobertura ações contributivas para com a política previdenciária e ações não contributivas para com a política de saúde e de assistência social (COUTO, 2010, p. 159).

A seguridade social é considerada uma das principais garantias relativas à cidadania

com a promulgação da Constituição Federal de 1988, de acordo com o art. 194, parágrafo

único, “[...] é dever do Poder Público organizar a seguridade social [...]” (BRASIL, 2017),

dando um sentido amplo aos direitos sociais e inserindo a responsabilidade do Estado frente à

construção de Políticas Públicas.

Todavia o modelo originário não se consolidou na particularidade brasileira e o Estado

social de preceitos universais tem sua proteção realizada sob as lógicas do estado mínimo

neoliberal, conforme Behring (2009) vivenciamos nos dias de hoje um contexto de contra-

reforma onde há uma obstacularização e redirecionamento em efetivar as conquistas de 1988.

32De acordo com a autora “[...] o Plano Beveridge consistiu em fazer uma fusão das medidas esparsa já existentes, ampliar e consolidar os vários planos de seguro social, padronizar os benefícios e incluir novos benefícios como seguro acidente de trabalho, abono familiar ou salário-família, seguro-desemprego e outros seis auxílios sociais: auxilia-funeral, auxílio-maternidade, abono nupcial, benefícios para esposas abandonadas, assistência às donas de casa enfermas e auxilio-treinamento para os que trabalhavam por conta própria (BEHRING, 2009, p. 95).

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No Brasil, do ponto de vista da reforma democrática anunciada na Constituição Federal de 1988, em alguns aspectos embebida da estratégia social-democrata e do espirito welfariano – em especial no capitulo da ordem social –, pode-se falar de uma contra-reforma em curso entre nós, solapando a possibilidade politica, ainda que limitada, de reformas mais profundas no país, que muito possivelmente poderiam ultrapassar os próprios limites da social-democracia, realizando tarefas democrático-burguesas inacabadas em combinação com outras de natureza socialista [...] (BEHRING, 2009, p. 150, grifos do autor).

Este modelo de Seguridade Social que é tencionado a cumprir direitos sociais,

estabelecendo um sistema de proteção social, não atinge a completude das necessidades

sociais do povo brasileiro, havendo assim uma contradição entre a universalização de direitos

diante da hegemonia de políticas públicas neoliberais.

Assim, a tendência geral tem sido a de restrição e redução de direitos, sob o argumento da crise fiscal do Estado, transformando as políticas sociais [...] em ações pontuais e compensatórias direcionadas para os efeitos mais perversos da crise. As possibilidades preventivas e até eventualmente redistributivas tornam-se mais limitadas, prevalecendo o já referido timoneio articulado do ideário neoliberal para as politicas sociais, qual seja: a privatização, a focalização e a descentralização [...] (BEHRING, 2009, p. 156, grifos do autor).

A estratégia dos governos neoliberais no Brasil é principalmente o combate da

inflação via recessão econômica e esta é a desculpa utilizada nos discursos de forma a

escamotear a verdadeira intenção que é o fim do Estado social enquanto regulador de políticas

econômicas com um viés social. Tanto no decorrer da década de 1990 como nos dias atuais

viu-se a renúncia do Estado como agente econômico, derivando em privatizações de empresas

multinacionais estatais, contribuindo severamente para a diminuição do setor público. Desta

forma é que se rebate sobre os trabalhadores as expressões da questão social, como forma de

desemprego e a piora no aumento da condição de vulnerabilidade da população pobre

(SOARES, 2001). Visto que o Estado não tem estrutura necessária para dar garantia de

trabalho e emprego para a sobrevivência da população, o foco das políticas públicas fica a

cargo dos serviços sócio assistenciais, tendo sido criado no Brasil programas de transferência

de renda que compõem o Sistema Público Brasileiro de Proteção Social.

Na impossibilidade de garantir direito ao trabalho – quer pelas condições que assume o trabalho no capitalismo, quer pelo nível de desemprego estrutural no qual nos encontramos, ou ainda, pela orientação da política econômica posta em prática no país – o Estado amplia seu campo de atuação na medida em que também assume os aptos. Ou seja, em tempos de crise, os pobres

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sobre os quais incide a assistência social são: os miseráveis, desempregados, desqualificados para o trabalho, além dos tradicionalmente considerados inaptos para as tarefas laborais (SITCOVSKY, 2008, p. 156-157 apud GOMES, 2011, p. 104)

Diante das lutas das classes trabalhadoras para a conquista de direitos frente ao ideário

neoliberal33, cabe lembrar a forma com que é mascarado e equivocado o tratamento dado pelo

Estado às expressões da questão social, visto que basta garantir o “status” de cidadania para

que esta seja apagada. Da mesma maneira, estas formas reificadas de direitos sociais alteram

profundamente a capacidade de organização política dos trabalhadores, criando um

conformismo sobre aquilo que esta posto (GOMES, 2011, p. 102).

O que está posto na agenda contemporânea (e mais largamente, no horizonte sociocultural) são outras formas de conceituar e tratar a questão social, através de uma nova reforma social e moral conduzida pela burguesia. As tendências em curso chegam ao extremo de imaginar que é bastante ter políticas sociais para suprimir a “questão social”, ou como querem outros, que é suficiente que o Estado reconheça o direito de homens e mulheres de classes subalternizadas a atenderem suas necessidades sociais, transformando-os em cidadãos, para que também a questão social seja solucionada (MOTA, 2008, p. 50 apud GOMES, 2011, p. 102).

Desta maneira reforça-se a desresponsabilização do Estado diante da garantia dos

direitos sociais, visto que as diretrizes postas pelos governos neoliberais coloca o Estado

contra os indivíduos, como se estes fossem os únicos responsáveis pela sua sobrevivência. O

Brasil se coloca em um quadro de grande complexidade no que diz respeito a garantia de

direitos sociais, visto que a noção de direitos sociais acaba perdendo a importância diante da

não conscientização dos trabalhadores.

2.2 DIREITOS SOCIAIS E CIDADANIA AO IMIGRANTE No que tange a discussão da garantia de direitos sociais ao público imigrante verifica-

se que para além do sistema jurídico formal que contempla o cidadão enquanto pessoa de

direitos é visto que esta não se efetiva na prática, dado as inúmeras dificuldades de

assimilação e integração dos imigrantes ao sistema de garantia de direitos sociais. Portanto,

compreendemos que por diferentes razões o público imigrante fica exposto as

33 “A máxima defendida pelos liberais em relação às políticas sociais é a de que, como é preciso conservar a disposição para competição na sociedade, toda tutela gerada pelo Estado é desmanteladora do espírito empreendedor tão necessário ao desenvolvimento do capitalismo. Essa ideia foi retomada nos anos 1970, quando os ideais da teoria neoliberal ganharam espaço e se afirmaram como alternativa na ótica societária” (COUTO, 2010, p. 63).

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vulnerabilidades e riscos sociais, este é um público aparte determinado pela situação jurídico-

formal na comunidade que este é inserido.

Hoje também há uma tensão que conduz ao tema da exclusão e da diferenciação operacionalizadas pela própria cidadania nacional jurídico-formal com relação aos cidadãos não reconhecidos como tais. Os migrantes praticam a cidadania quotidianamente e, por diversas formas, reivindicam o seu reconhecimento frente aos Estados Nacionais. Os Estados Democráticos de Direito ocidentais apresentam-se fraturados e deslegitimados em sua tarefa de garantir os direitos subjetivos, ao manter esta diferenciação entre cidadãos regulares e irregulares dentro do mesmo território (BARALDI, 2014, p. 78).

No Brasil a regulamentação da vinda ou da chegada dos imigrantes é uma atribuição

de três ministérios: da Justiça, das Relações Exteriores e do Trabalho e Emprego. O controle

dos estrangeiros após sua entrada em território nacional e a aplicação da política de imigração

fica a cargo do Ministério da Justiça. Foi criado por meio da Lei 6.815 de 19 de agosto de

1980 – esta que orienta a política migratória em âmbito federal – o Conselho Nacional de

Imigração (CNIg)34, órgão colegiado tripartite, ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, e

composto por representantes governamentais de vários outros ministérios, órgão de classe e

sociedade brasileira para progresso da ciência (SBPC), onde também tem assento no

Conselho, como observador, representação da sociedade civil (PATARRA, 2006, p. 87).

A construção de políticas públicas no que diz respeito ao imigrante no Brasil fica a

cargo do Conselho Nacional de Imigração (CNIg)35, órgão que pertence ao Ministério do

Trabalho e foi criado a partir do Lei 8.615/80 que institui o Estatuto do Estrangeiro com o

intuito de definir ações e estratégias para o aprimoramento da Política Migratória Brasileira.

A definição de ações governamentais que administrem os fluxos de estrangeiros e a fixação

destes na sociedade brasileira corresponde ao papel do Departamento de Estrangeiros do

Ministério da Justiça36 enquanto formulador de ações governamentais com vistas a direcionar

34 O “[...] CNIg por meio de 49 resoluções orienta a política imigratória que, neste momento, privilegia a imigração sob o ponto de vista da assimilação da tecnologia, investimento de capital estrangeiro, reunião familiar, atividades de assistência, trabalho especializado e desenvolvimento científico, acadêmico e cultural” (PATARRA, 2005, p. 31 apud BARRETO, 2001). 35 Dentre os objetivos do CNIg estão “[...] I – Formular objetivos para a elaboração da política de imigração; II – Coordenar e orientar as atividades de imigração; III – Promover estudos de problemas relativos a imigração; IV – Levantar periodicamente as necessidades de mão-de-obra estrangeira qualificada; V – Estabelecer normas de seleção de imigrantes; VI – Definir as dúvidas e solucionar os casos omissos, no que diz respeito a imigrantes; VII – Opinar sobre a alteração da legislação relativa à imigração; VIII – Elaborar o seu Regimento Interno que deverá ser submetido a aprovação do Ministério do Estado do Trabalho [...]” (Regimento Interno do CNIg) 36“[...] Sua atuação enquanto formulador de ações governamentais baseia-se em princípios, expressos em documentos do órgão e no discurso de seus agentes, que tentam direcionar a “Política Migratória” brasileira para a preservação dos direitos humanos e para uma inserção harmoniosa destas populações no seio da sociedade brasileira [...]” (SEIXAS, p. 387-388).

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a política migratória para a preservação dos direitos humanos. Outra instituição de destaque

que faz parte da política imigratória é o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE),

vinculado ao Ministério da Justiça que tem por finalidade a condução da política nacional

sobre refugiados. Desta forma destaca-se o papel fundamental das Constituições de garantir os

direitos fundamentais aos imigrantes.

[...] as Constituições surgiram para ser uma alternativa à violência, hoje, mais do que nunca, cumprem o papel de conciliar posições liberais, que defendem o indivíduo diante da ação do Estado, bem como posições que defendem a inclusão de massas maiores da população no mundo dos direitos. Desse confronto do individual e do coletivo são negociadas as novas leis que regerão nossas vidas, inclusive na área migratório (SPRANDEL, 2006, p. 101).

Neste sentido, para o imigrante adquirir o status de cidadão brasileiro deve-se adquirir

status de nacionalidade brasileira, visto que para este público em específico pode se dar de

forma “derivada”, por intermédio de naturalização (JUNIOR; OLIVEIRA, 2009, p. 84). De

acordo com Art. 12 da Constituição Federal, são brasileiros e/ou adquirem nacionalidade

brasileira também: “[...] os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República

Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que

requeiram a nacionalidade brasileira [...]” (BRASIL, 2017a).

De acordo com o relatório final criado pela ONU37 na Conferencia Internacional sobre

População e Desenvolvimento, realizada em 1994 no Cairo, apresenta no capitulo X de seu

Programa de Ação, a questão das migrações internacionais, são considerados três tipos de

migrantes internacionais38: documentados, não documentados e refugiado-asilados. Silva

(2016) traz a discussão da imigração haitiana recente para o Brasil, estes que não foram

37 “O relatório final, dava-se ênfase às questões relacionadas à saúde reprodutiva e seus desdobramentos temáticos; no entanto, a questão das migrações internacionais geraram sempre fortes tensões entre os representantes dos países de origem e os dos países receptores, em grande parte identificados com movimentos internacionais de países pobres para países ricos. Nesse capítulo, o relatório reflete essas tensões, caracterizando-se por ambivalências, contradições e inexequibilidades. Apesar disso, constitui-se, como todos os relatórios das conferências da ONU, num referencial básico para discussões de ações e políticas no plano internacional, bem como norteador de financiamentos para pesquisa e, muitas vezes, ação” (PATARRA, 2005, p. 30). 38“Quanto aos migrantes com documentação, os governos dos países recebedores devem considerar a possibilidade de lhes conceder, bem como aos membros de suas famílias, um tratamento regular igual ao concedido aos seus próprios nacionais, no que diz respeito aos direitos humanos básicos. Quanto aos migrantes não documentados, recomenda se a implementação de ações que visem: reduzir seu número; evitar exploração e proteger seus direitos humanos básicos; prevenir o tráfego internacional com migrantes; e protegê-los contra o racismo, o etnocentrismo e a xenofobia. Finalmente, o documento apela aos governos para que tomem medidas apropriadas para resolver conflitos, promovendo a paz e a reconciliação; que tenham respeito pelos direitos humanos e independência individual, assim como pela integridade territorial e a soberania dos Estados; e que aumentem seu apoio às atividades internacionais destinadas a proteger e a apoiar refugiados e migrantes. Os refugiados devem beneficiar-se do acesso a alojamento adequado, educação, contando com serviços de saúde” (PATARRA, 2005, p. 30).

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condicionados ao status de refugiados, mas foi concedido visto humanitário39, em razão das

catástrofes que acometeram o Haiti em 2010. Como afirma Sassen (2006) às políticas

públicas de migrações internacionais estão pautadas em estatutos de legalização e proteção

jurídica a estrangeiros, concedendo direitos restritos. Pois esta garantia de direitos depende do

“[...] processo de assimilação dos imigrantes na sociedade receptora, no controle dessa

população. Esse contingente somente passará a ter direitos à medida que se “integrar”, se

“assimilar” à sociedade de destino.” (SASSEN, 2006, p. 93).

É considerado um expressivo avanço no que diz respeito às políticas públicas voltadas

para a população migrante, o anteprojeto de Lei de Migrações e Promoção dos Direitos dos

Migrantes no Brasil, criado pela Comissão de Especialistas instituída pelo Ministério da

Justiça por meio da Portaria nº 2.162/2013, por trazer uma proposta de mudança de paradigma

na política Migratória brasileira. Conforme consta no anteprojeto o “imigrante não será mais

tratado como uma questão de segurança nacional e sim como tema de direitos humanos”

(BASTOS, 2015, p. 203). Poderão ser destacados como possíveis benefícios:

[...] a redução do tráfico internacional de pessoas, a redução da criminalização de imigrantes que poderão se inserir regularmente no mercado de trabalho local, o aumento das trocas interculturais e de conhecimentos entre nacionais e imigrantes, o atendimento da demanda nacional na busca por mão-de-obra em setores nos quais os profissionais locais estão escassos, o aumento das contribuições tributárias na medida em que esses imigrantes estarão ativos e legalizados no mercado de trabalho local, a diminuição da vulnerabilidade desses imigrantes diante de terceiros interessados em explorar seu trabalho ou para a realização de atos ilícitos, e ainda o alívio de tensões sociais nos países de origem do imigrante [...] (BASTOS, 2015, p. 201).

O anteprojeto de Lei acima descrito ganha corpo no Congresso Nacional e torna-se o

projeto de Lei nº 288/2013 tendo como autoria o Senador Aloysio Nunes Ferreira e enviado

para a Câmara dos Deputados para ser revisado em 04 de agosto de 2015 (BRASIL, 2017b).

Com a chegada do projeto de Lei a Câmara de Deputados foi criada comissões especiais para

o proferimento do mesmo pelos Deputados Federais, onde finalmente se concluí a redação

final retornando para o Senado Federal como Projeto de Lei 2.516 em 6 de dezembro de 2016

(BRASIL, 2017d) Considerada como um avanço ao trato do Estado brasileiro às pessoas

migrantes, no ano de 2017 foi sancionada por meio do Presidente da República a Lei 13.445,

de 24 de maio de 2017, considerada como a nova Lei da migração, esta entrará em vigor 180

39 Silva (2016, p. 223) apresenta algumas ambiguidades e limites quanto ao visto humanitário aos imigrantes haitianos, pois, muitos entram sem o visto e na maioria das vezes são obrigados a esperar até três anos de permanência no país para consegui-lo.

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dias após sua promulgação e substituir a Lei 6.815/80 que confere ao Estatuto do Estrangeiro

(BRASIL, 2017c). Traz como um dos principais avanços “[...] o reconhecimento do migrante,

independente de sua nacionalidade, como um sujeito de direitos, e promove o combate a

xenofobia e a não discriminação como princípios da política migratória brasileira” (DELFIN,

2017, s.p).

No que diz respeito aos direitos sociais a nova Lei do migrante40 atualizará as

concepções de direitos humanos para a população migrante trazendo em seu Art. 3º princípios

e diretrizes para que haja um acesso mais humanitário às garantias sociais oferecidas pelo

Estado brasileiro. Da mesma maneira no Art. 4º da Lei 13.445 de 2017 prevê a garantia “[...]

no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”. Assiste-se, portanto, o

papel influenciador da ONU para com os Estados Nacionais em criar políticas sociais e

atualizar os regulamentos para o público imigrante de forma a inseri-los no país com

dignidade e cidadania.

[...] difícil e conflitivo papel dos Estados Nacionais e das políticas sociais em relação aos processos internacionais e internos de distribuição da população no espaço – cada vez mais desigual e excludente. Há que se tomar em conta as tensões entre os níveis de ação internacional, nacional e local. É de fundamental importância considerar que os movimentos migratórios internacionais constituem a contrapartida da reestruturação territorial planetária – que, por sua vez, está intrinsecamente relacionada à reestruturação econômico produtiva em escala global (PATARRA, 2005, p. 24).

40Dentre os princípios e diretrizes que foram atualizados com a nova Lei do migrante estão “I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos; II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação; III - não criminalização da migração; IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional; V - promoção de entrada regular e de regularização documental; VI - acolhida humanitária; VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil; VIII - garantia do direito à reunião familiar; IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares; X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas; XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social; XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante; XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e promoção da participação cidadã do migrante; XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas; XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante; XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço; XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante; XVIII - observância ao disposto em tratado; XIX - proteção ao brasileiro no exterior; XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de todas as pessoas; XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; e XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas” (BRASIL, 2017, s.p).

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Desta forma conforme (re) afirma a nova Lei do migrante é necessária uma atenção

voltada para as imigrantes provindas das políticas públicas no que diz respeito às garantias

básicas e/ou mínimas para a sobrevivência, visto que é “[...] o desenvolvimento e o

enriquecimento integral de um povo ou de uma nação está intrinsecamente relacionada à

implementação de políticas adequadas e abrangentes a ponto de alcançar igualmente a

população migrante quanto os nativos (LUSSI, 2015, p. 4 apud OIM, 2013). Pois, conforme

Ianni (1996) com os fenômenos causados pela globalização as fronteiras físicas acabaram

deixando de ser os limites para o trato da cidadania41, inserindo a discussão no âmbito de uma

cidadania global. Onde o Brasil enquanto signatário da Declaração de Direitos Humanos,

deve dar as condições necessárias para esta população usufruir de seus direitos fundamentais.

[...] Assim como a cidadania tem sido tuteladas, regulada ou administrada, também a soberania nacional passa a ser crescentemente tutelada, regulada ou administrada. Se, por um lado, o Estado-nação é levado a limitar e orientar os espaços de cidadania, por outro, as estruturas globais de poder são levadas a limitar e orientar os espaços de soberania nacional. [...] o exercício da própria cidadania, em âmbito local, nacional, regional e mundial, tem sido delimitado ou agilizado pelo jogo das forças que preponderam em escala global (IANNI, 1996, p. 4).

A globalização produz um declínio na identidade territorial e na significação de uma

cidadania com base na nacionalidade, assim o conceito de cidadania global é

[...] fundada na solidariedade, na diversidade, na democracia e nos direitos humanos, em escala planetária. Com raízes locais e consciência global, as organizações transnacionais da sociedade civil emergem no cenário internacional como novos atores políticos, atuando, em nome do interesse público e da cidadania mundial, no sentido de construir uma esfera pública transnacional fertilizada pelos valores da democracia cosmopolita (VIEIRA, 2001, p. 253).

Na legislação ainda em vigor de acordo com a Lei 6.815 de 1980 em seu Artigo 95

prevê que “o estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos

brasileiros”. Igualmente, na nova Lei do Migrante em seu Art. 4º estabelece que uma das

garantias que devem ser asseguradas pelo Estado brasileiro é o “[...] acesso a serviços

públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem

discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória [...]”.

41 Concebendo que a cidadania é uma construção histórica podemos afirmar que “A cidadania clássica, baseada na nacionalidade, sempre excluiu os não-cidadãos dos direitos da cidadania, constituindo fator de desigualdade em relação aos estrangeiros. Na democracia contemporânea, não é mais possível negar aos estrangeiros os direitos de plena cidadania, mantendo a discriminação de que tradicionalmente são vítimas [...]” (VIEIRA, 2001, p. 240).

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No que tange a Assistência Social na especificidade do tratamento dado ao público de

imigrantes, a PNAS (2004) não dá a atenção necessária para este público, visto que traz uma

concepção universal de atendimento para todos os usuários que dela acessam. A grande

demanda de serviços vinda de usuários imigrantes não é efetivamente confortada, tendo

muitas vezes dificuldades no acesso aos mesmos devido à dificuldade de atendimento

especializado por parte dos profissionais, quanto do entendimento dos serviços realizados

nestes locais por parte do público imigrante. É um desafio tanto para os profissionais que

realizam a política, quanto para a própria política no sentido de se adaptar as novas demandas

e expressões da questão social postas pela sociedade. Vale notar, contudo, que eles não

querem ser meros objetos de políticas assistencialistas, mas reivindicam a participação no

debate de políticas públicas que os incorpore enquanto cidadãos, embora tal participação seja

sempre limitada enquanto não lhes for concedida a cidadania política, mediante o exercício do

direito ao voto (SILVA, 2016, p. 223). Visto que os estrangeiros aqui residentes no Brasil são

excluídos socialmente, principalmente de informações que são restritas a eles, estes

imigrantes passam a utilizar da PNAS (2004), porém, de forma restritiva.

[...] a chegada de imigrantes pobres nas fronteiras incomoda aos governos nacionais, estaduais e municipais, que veem suas políticas públicas questionadas, porque elas não incluem imigrantes em situação de vulnerabilidade. O mesmo incomodo é perceptível em setores da sociedade local que veem nesta “invasão” de “refugiados” uma possível ameaça a seus empregos, à sua “tranquilidade” e à saúde pública (SILVA, 2016, p. 207).

Assim, a garantia e usufruto de direitos sociais, oferecidos ao público imigrante pelo

Estado brasileiro, entendido aqui como um direito de cidadania, bem como o acesso aos

serviços e benefícios no que tange a PNAS (2004) no âmbito da proteção social básica

acabam por ser restritos. Muitas vezes esta situação é derivada das parametrizações da política

preparada apenas para a população nativa, desta maneira deriva-se generalizações quanto ao

tratamento dos cidadãos, por fim não atendendo as demandas da população imigrante de

maneira integral.

2.3 POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTENCIA SOCIAL

Conforme já exposto as políticas públicas que estruturam a Seguridade Social

brasileira são constituídas pelo tripé de Assistência Social, Saúde e Previdência Social. Estas

se articulam de forma intersetorializada para assegurar a proteção social com fins à garantia

dos direitos sociais à população brasileira conforme previsto na Constituição Federal de 1988.

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Neste trabalho a ênfase recai para a PNAS (2004), visto sua relevância no atendimento

socioassistencial ao imigrante no município de Cascavel, bem como pelo recorte da presente

pesquisa que compreende ao universo dos direitos relativos a Assistência Social.

Compreendendo o contexto histórico em que se construiu o serviço da Assistência

Social no Brasil, de maneira clientelista e assistencialista42, bem como de caráter benevolente

e solidário, vê-se a conquista do direito enquanto Política Social. Conforme Art. 203 da

Constituição Federal, “[...] A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar,

independente de contribuição à seguridade social [...]” (BRASIL, 2017a, s.p). Segundo Couto

(2010) alguns autores afirmam que houve um redirecionamento da Assistência Social43, onde

a partir do texto da Constituição, esta se transformou em lei ordinária que regulamentou a

relação entre o Estado e a sociedade na ótica do atendimento as necessidades sociais da

população. Foi promulgada a Lei nº 8.742/93 que dispõe sobre a Lei Orgânica da Assistência

Social (LOAS), onde houve uma maior organização da estruturação da Assistência Social no

país. Conforme afirma o Art. 4º a Assistência Social tem por princípios

I. supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências da rentabilidade econômica; II. Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III. respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV. igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V. divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão; (BRASIL, 2017g, s.p).

Outrossim, o campo da Assistência Social enquanto política pública de Seguridade

Social se caracteriza conforme Pereira (1996, p. 29) “[...] como um tipo particular de política

social [...]”.

42“Seu caráter assistencialista traduz-se pela ajuda aos necessitados, pela ação compensatória, por uma política de conveniências eleitorais e pelo clientelismo. Expande-se na esteira do favor pessoal, combinando uma atenção reduzida com a necessidade de reconhecimento por parte do receptor da ajuda que está sendo prestada. Desloca a ação para o campo privado, o interesse pessoal, exacerbando a lógica de que o caráter é o da concessão e da benesse [...]” (COUTO, 2010, p. 165). 43“[...] a introdução do conceito de seguridade social, articulando as políticas de previdência, saúde e assistência social, e dos direitos a elas vinculados, a exemplo da ampliação da cobertura previdenciária aos trabalhadores rurais, agora no valor de um salário mínimo e do Beneficio de Prestação Continuada (BPC) para idosos e pessoas com deficiência. [...] mostra a difícil travessia do deserto da assistência social para se elevar a condição de política pública de seguridade, na perspectiva de superar suas características do território do clientelismo, do aleatório e do improviso” (BEHRING, 2009, p. 144)

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a) genérica na atenção e específica nos destinatários, ao contrário das demais políticas socioeconômicas setoriais, que são genéricas nos destinatários e especializadas na atenção; b) particularista, porque voltada prioritariamente para o atendimento das necessidades básicas; c) desmercadorizável, porque não se guia pela lógica do mercado e não exige contrapartida financeira de seus demandantes; d) universalizante, porque, ao incluir segmentos sociais excluídos do circuito de políticas, serviços e direitos, reforça o conteúdo universal de várias políticas sócio-econômicas setoriais (PEREIRA, 1996, p. 29).

Esta política social pública encontra-se em construção, entretanto, tem como marco a

Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004, que posteriormente instituiu o

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em 2005. A PNAS (2004) apresenta as

diretrizes para efetivação da assistência social como um direito de todos os cidadãos e

responsabilidade do Estado, materializando as diretrizes da LOAS (1993). Da mesma

maneira, vem a contribuir com o provimento das necessidades sociais básicas, trazendo a

concepção de proteção social para a população em suas diversas complexidades como um

direito do cidadão e um dever do Estado. Neste sentido, foi a partir da busca de respostas a

estes e outros desafios que a PNAS (2004) foi criada com o objetivo principal de incorporar

as demandas da sociedade brasileira e garantir o atendimento às necessidades básicas dos

segmentos populacionais vulnerabilizados pela pobreza e pela exclusão social, tornando-a

direito de cidadania e responsabilidade política.

Esta política social tende a alcançar as necessidades da sociedade brasileira junto à

responsabilidade política, evidenciando as suas diretrizes na efetivação da assistência social

como direito de cidadania e de responsabilidade do Estado. Dentre suas funções de acordo

com a PNAS (2004) esta o de:

a) Inserção: inclusão dos destinatários nas políticas sociais básicas proporcionando-lhes o acesso a bens, serviços e direitos usufruídos pelos demais segmentos da população; b) Prevenção: criar apoios nas situações circunstanciais de vulnerabilidade, evitando que o cidadão resvale o patamar de renda alcançado ou perca o acesso que já possui aos bens e serviços, mantendo-o incluído no sistema social a despeito de estar acima da linha de Pobreza; c) Promoção: promover a cidadania, eliminando relações clientelistas que não se pautam por direitos e que submetem, fragmentam e desorganizam os destinatários, e d) Proteção: atenção às populações excluídas e vulneráveis socialmente, operacionalizadas por meio de ações de redistribuição de renda direta e indireta; (COUTO, 2006, p. 32).

A Assistência Social se organiza em dois tipos de proteção: a proteção social básica

“que visa prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de

potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários”; e a

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proteção social especial que tem como objetivo principal “contribuir para a reconstrução de

vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e

aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de

violação de direitos” (BRASIL, 2017h). “A proteção social básica tem como objetivo prevenir

situações de risco [...]” (BRASIL, 2017h, p. 32). Isto posto, observa-se que os usuários dessa

política normalmente são pessoas e grupos que segundo a PNAS (2004), encontram-se em

situações de risco e vulnerabilidade social, ou seja, as,

[...] famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social (BRASIL, 2017h, p. 33).

A delimitação do público a que se destina a Proteção Social Básica caracteriza-se dois

grupos que estariam em situação de vulnerabilidade social44: aqueles que estão em condições

precárias ou privados de renda e sem acesso aos serviços públicos, e aqueles que cujas

características sociais e culturais são desvalorizadas ou discriminadas negativamente. Dentre

os serviços que são considerados da proteção básica, está o de “[...] prestar serviços,

programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias e de

indivíduos, conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada. [...]”

(BRASIL, 2017h, p. 34). Outro elemento que funda a forma de organização da PNAS (2004)

é a noção de territorialização45, que consiste na criação de diagnósticos territoriais com base

em parâmetros estabelecidos que determinam onde serão implantados unidades de referência

de Assistência Social.

De acordo a LOAS (1993) a Assistência Social é oferecida por uma diversidade de

serviços socioassistenciais que são concretizados por uma rede de instituições públicas e

privadas. No âmbito da proteção social básica estes serviços são ofertados de maneira 44 Para efeito do uso deste conceito, conforme a NOB/SUAS, “[...] a construção do conceito de vulnerabilidade social fundamenta-se na PNAS/2004, que define o público alvo da Assistência Social [...]” (BRASIL, 2017h). 45

“A territorialização aparece como elemento articulador do sistema, visa assim construir uma oferta capilar de serviços baseados na lógica da proximidade do cidadão e localizar os serviços nos territórios com maior incidência de vulnerabilidades e riscos sociais para a população. Pensar o território como campo das expressões da questão social que demandam por Assistência Social, é colocar densidade política para as áreas mais vulneráveis das cidades e metrópoles, uma vez que o trabalho articulado da Assistência Social deverá dar visibilidade às demandas na constante interlocução com toda a cidade, recompondo a disputa pela riqueza socialmente produzida. É nesse sentido, que tem coerência a constituição de programas por território [...]” (COUTO, 2006, p. 34).

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territorializada pelos Centros de Referencia de Assistência Social (CRAS), que são

localizados em áreas de maiores índices de vulnerabilidade e risco social. Dentre os serviços

socioassistenciais presentes no CRAS, esta a Proteção de Atendimento Integral a Família

(PAIF) que compreende em ações integradas e complementares, de modo a qualificar,

incentivar e melhorar os benefícios e os serviços. Assim o PAIF:

Consiste na oferta de ações e serviços socioassistenciais de prestação continuada, por meio do trabalho social com famílias em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de prevenir o rompimento dos vínculos familiares e a violência no âmbito de suas relações, garantindo o direito à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2017g, s.p).

Constitui-se também como um serviço ofertado nos CRASs, o Serviço de Convivência

e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que também faz parte da proteção social básica e é

característico por oferecer serviços que proporcionam convivência, a socialização e o

acolhimento, “[...] por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o

fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (BRASIL, 2017h, p. 38). Além destes

serviços são considerados como parte da proteção social básica, os benefícios eventuais que

visam dar “[...] provisões suplementares e provisórias que integram organicamente as

garantias do SUAS (2005)” (BRASIL, 2017g, s.p). Os benefícios eventuais se dividem em

duas modalidades direcionadas a públicos específicos: Benefício de Prestação Continuada

(BPC) e os benefícios eventuais. De acordo com a resolução nº 036, de 02 de junho de 2014

do Conselho Municipal de Assistência Social, são benefícios eventuais ofertados pelo CRAS

respectivamente Auxilio Alimentação, Auxilio Natalidade e Auxilio documentação civil

(CASCAVEL, 2017, s.p). Dentre outros programas que se inter-relacionam com a Proteção

Social Básica e são disponíveis o acesso pelo CRAS, esta o Programa Bolsa Família (PBF)46,

criado pelo Governo Federal em 2003e o Programa Leite das Crianças (PLC)47, criado pelo

Governo do Estado do Paraná.

Assim sendo, a PNAS (2004) orienta a parametrização do SUAS, para um viés de

garantia de direitos, onde se incorpora novas conceituações e concepções, mas também reitera

46 De acordo com a Lei 10.836/2004 é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que visa melhorar as condições de vida das famílias em situação de pobreza e extrema pobreza do Brasil (BRASIL, 2017i). 47 O Programa Leite das Crianças instituído no âmbito do estado do Paraná“[...] tem por objetivo auxiliar o combate à desnutrição infantil, por meio da distribuição gratuita e diária de um litro de leite às crianças de 06 a 36 meses, pertencentes a famílias cuja renda per capita não ultrapassa meio salário mínimo regional, além do fomento à agricultura familiar, proporcionando geração de emprego e renda, a busca pela qualidade do produto pela remuneração equivalente, a inovação dos meios de produção e a fixação do homem no campo” (PARANÁ, 2017, s.p).

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o papel histórico da Assistência Social na cultura da sociedade brasileira.

[...] embora a concepção da assistência social porte uma dimensão de “provisão social”, que tem por base a noção de direito social, a mesma é plasnada no contexto de uma sociedade que historicamente vinculou o campo dos direitos sociais à versão de compensação àqueles que, pelo trabalho, eram merecedores de ser atendidos socialmente. Sendo assim, o campo dos direitos, na sociedade brasileira, é marcado por um processo contraditório, próprio da relação acumulação de capital versus distribuição de renda. Ou seja, o que está em jogo para que sejam efetivados os direitos sociais é a possibilidade, ou não, nos parâmetros dessa sociedade, da ampliação de investimentos de capitais em áreas não-lucrativas [...] (COUTO, 2010, p. 168)

Assim, a proteção social básica deve prover os direitos sociais relativos a

sobrevivência dos cidadãos por meio de uma rede socioassistencial intersetorializada, que tem

como principal porta de entrada os CRASs. Neste sentido cabe ao poder público, bem como

ao Estado e os municípios criar estratégias de forma a melhor implanta-la de acordo com as

vulnerabilidades e riscos sociais de cada território tendo por base a LOAS (1993), a PNAS

(2004) e o SUAS (2005).

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3 PROTEÇAO SOCIAL BÁSICA PARA O PÚBLICO IMIGRANTE

A presente pesquisa teve como um dos principais objetivos compreender teoricamente

a partir de levantamento bibliográfico o contexto histórico dos fenômenos migratórios no

Brasil contemporâneo e bem como os fatores que motivam as pessoas ao ato de migrar, bem

como as consequências da vinda e permanência destes imigrantes no Brasil. De acordo com

Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é aquela desenvolvida com base em material já elaborado,

sendo os livros suas fontes por excelência. Uma das principais vantagens deste tipo de

pesquisa é o fato de “[...] permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos

muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2002, p. 45).

Também foi utilizada a metodologia de pesquisa documental, com vistas a elucidar as

regulamentações, legislações e parametrizações e dentre outros tipos de documentos que

embasam e constituem os registros de entrada, permanência e garantia da permanência do

público imigrante no Brasil. Fez-se necessário também elucidar as principais concepções

sobre direitos humanos e direitos sociais, e como estes se materializam enquanto dever do

Estado por meio da Seguridade Social e da Assistência Social, tendo como foco a proteção

social básica. Pois, tratando-se de um serviço público de proteção social, verifica-se que não

houve nenhuma pesquisa realizada até o momento para com estes documentos, no que tange

um acompanhamento familiar para com estes imigrantes, mesmo durante o visto provisório.

Assim, como objetivo geral a ser alcançado, esta pesquisa propôs-se a analisar a proteção

social na PNAS (2004) no atendimento ao público imigrante executada no município de

Cascavel nos Centros de referência em Assistência Social- CRAS.

Para além de compreender teoricamente o fenômeno da imigração atual no Oeste

paranaense, se fez necessário um maior aprofundamento para com a realidade social

vivenciada pelos imigrantes no Brasil, onde se utilizou da metodologia de estudo de campo,

com vistas a identificar as múltiplas expressões da questão social no universo deste público no

que diz respeito à condição de acesso aos serviços e bens públicos por meio da PNAS (2004).

Compreendendo que o profissional Assistente Social esta inserido enquanto técnico de

referencia da proteção social básica, tornou-se necessário identificar os desafios a práxis

profissional do Assistente Social na execução desta política social, frente a condição do

imigrante. Diante do exposto enquanto problema para a presente pesquisa, buscou-se

responder “Como a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) responde as demandas

trazidas pelos imigrantes aos CRASs no município de Cascavel?”.

Neste sentido abaixo serão apresentados os sujeitos da presente pesquisa que compõe

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tanto os profissionais que realizam o atendimento nos CRASs, quanto os usuários imigrantes

que utilizam dos serviços da proteção social básica, conforme critérios de inclusão e amostra

do universo pesquisado. Entre os critérios utilizados para a escolha dos profissionais

entrevistados estão: ter vinculo empregatício a pelo menos um ano no âmbito da proteção

social básica e que tenham atendido e realizado intervenções profissionais para com o público

de usuários imigrantes no CRAS. As falas dos profissionais entrevistados serão apresentadas

pela letra P e o numero correspondente a ordem de entrevistados pesquisados, por exemplo,

(P1). Como público de usuários da Assistência Social a serem pesquisados, dentre os critérios

de inclusão para a pesquisa estão: necessariamente deveriam ser pessoas imigrantes, com a

faixa etária de idade de 18 a 60 anos, que falassem e compreendessem razoavelmente o

português e que já tivessem sido atendidos e/ou realizado cadastro nos CRASs do município

de Cascavel. As falas dos entrevistados imigrantes estarão transcritas com a identificação da

letra E, e o numero correspondente à ordem de entrevistados pesquisados, por exemplo, (E1).

De acordo com GIL (2002) este tipo de pesquisa é realizado por meio de observação

direta das atividades do grupo e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e

interpretações no que ocorre no grupo. As formas de coletas de dados foram feitas a partir de

questionários com perguntas abertas e fechadas conforme apresentado nos APÊNDICES I e

II, sendo este um instrumento que proporciona maior liberdade para o entrevistado para

respondê-lo. Buscou-se por intermédio desta pesquisa de campo compreender de que forma se

da o trabalho cotidiano do profissional Assistente Social na intervenção profissional com

especificidade ao público de imigrantes. Como também as formas de atendimento no CRAS

disponíveis ao público imigrante, os principais motivos que os levaram até o CRAS, bem

como as principais expressões da questão social que estes vivenciam no município de

Cascavel.

No que diz respeito ao tipo de abordagem de dados, foi realizado abordagem

qualitativa de pesquisa, pois proporciona uma melhor aproximação empírica da

fundamentação teórica do tema em questão. De acordo Gil (2002) o processo de análise dos

dados envolve diversos procedimentos: codificação das respostas, tabulação dos dados e

cálculos estatísticos. Juntamente com a análise dos dados, também foi realizada interpretação

dos mesmos, que consiste, fundamentalmente, em estabelecer a ligação entre os resultados

obtidos com outros já conhecidos, quer sejam derivados de teorias, quer sejam de estudos

realizados anteriormente (GIL, 2002). De acordo com Minayo (2009), a pesquisa qualitativa

é dívida em três etapas, sendo fase exploratória, trabalho de campo e análise e tratamento do

material. Na fase exploratória consiste na produção inicial do projeto e de todos os

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procedimentos necessários para o trabalho de campo. Logo após o trabalho de campo é “levar

para a prática empírica a construção teórica elaborada na primeira etapa” (MINAYO, 2009).

Sendo a última etapa, a ordenação, classificação e análise dos dados, seguindo procedimento

para valorizar, compreender, interpretar os dados empíricos, articulando-os com a teoria que

fundamenta o projeto. Conforme Minayo (2009) analisar os dados significa ir além do

descrito, fazendo uma decomposição dos dados e buscando as relações entre as partes que

foram decompostas. Dentre os procedimentos metodológicos para a análise de conteúdo a

autora destaca: categorização, inferência, descrição e interpretação. Assim, estaremos a

realizar categorizações a partir de vários critérios: semânticos, sintáticos, léxicos e

expressivos.

Cabe destacar que durante o processo de construção do presente trabalho, não se

aprestou riscos aparentemente, devido ao fato de que os questionamentos foram aplicados e

abordaram perguntas sobre o cotidiano social dos imigrantes e o cotidiano profissional dos

Assistentes Sociais. A pesquisa foi realizada de acordo com os princípios e diretrizes do

Código de Ética Profissional do/a Assistente Social, sendo que os participantes da pesquisa

estão cientes do seu envolvimento na pesquisa através do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) apresentado ao entrevistado. No que tange coleta de dados, para a

realização da presente pesquisa foram considerados os princípios do Código de Ética

Profissional do/a Assistente Social, onde o sigilo do pesquisador protegerá os sujeitos da

pesquisa em todas as informações de seu conhecimento. Neste sentido primeiramente será

apresentado à identificação do campo em que foi realizada a pesquisa, bem como os sujeitos

da pesquisa que compõe tanto os profissionais que realizam o atendimento nos CRASs,

quanto os usuários imigrantes que utilizam dos serviços da proteção social básica e na

sequencia os eixos de analise que visam responder os objetivos e hipóteses deste TCC.

Quanto aos eixos ficou definido: As expressões da questão social do imigrante de cascavel

usuário/beneficiário da politica de assistência social; e Desafios profissionais do assistente

social frente à proteção social básica no atendimento ao imigrante inserido no município de

Cascavel - Paraná.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA Os profissionais pesquisados são Assistentes Sociais, que estão inseridos como

técnicos de referencia no âmbito da Proteção Social Básica e trabalhando nos CRASs do

munícipio de Cascavel. Foram entrevistados na pesquisa de campo cinco Assistentes Sociais,

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verifica-se que conforme a amostra e critérios de inclusão deveriam ter sido entrevistados 8

(oito) profissionais, porém não alcançamos este contingente devido a dificuldade apresentada

de que poucos profissionais declararam terem feito atendimentos ao público de usuários

imigrantes no ano de 2017 conforme definido nos critérios de inclusão. Verificou-se com a

pesquisa de campo que o público de imigrantes atendidos pelo CRAS é em sua maioria

mulheres, com a faixa etária de idade entre 20 a 50 anos. Constatou-se que foi um fator

dificultador em ralação a realização das entrevistas, a falta de compreensão do português

pelos usuários imigrantes, pois, muitos dos imigrantes que estão inseridos no CRAS têm

domínio apenas do idioma nativo e/ou de outros como o francês ou o inglês. Assim, este fator

demandou tempo e dedicação para não perder a compreensão dos elementos por eles

apresentados. No âmbito da pesquisa de campo foram entrevistadas sete pessoas imigrantes,

com faixa etária de idade entre 19 a 47 anos, sendo quatro mulheres e três homens. Todos os

entrevistados declaram ter como seu país de origem o Haiti e todos afirmaram compreender

os idiomas Francês, Crioulo, Espanhol e o Português. Como a meta era de atingir o numero de

oito entrevistados, verifica-se novamente que a maioria dos imigrantes cadastrados nos

CRASs e procurados para a entrevista não compreendiam e/ou não falavam o português,

impossibilitando a realização das entrevistas. Este processo de conhecimento é tanto teórico,

documental quanto narrativo das vivencias, portanto um desvelar possível no campo da

pesquisa acadêmica. Na sequencia cabe apresentar o campo socioassistencial que acolhe e

presta serviços sociais no eixo da política em questão, o que também se fará através de uma

breve caracterização.

3.2 A PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA NO MUNÍCIPIO DE CASCAVEL

Segundo a tipificação nacional dos serviços socioassistenciais regulamentados pela

LOAS e objetivamente pelo SUAS (2005), fica a cargo do Estado e dos respectivos

municípios executar os serviços e serem responsáveis pela rede socioassistencial48.

Resgatando a história da implantação da PNAS (2004) no município de Cascavel, podemos

compreender que o direito social a Assistência Social conforme prevê a Constituição Federal

de 1988 no caput da Seguridade Social foi uma construção longa e coletiva. Conforme

pesquisa realizada por Michalseszen (2007) amplas foram as discussões realizadas desde a

48 “A rede socioassistencial é um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade que ofertam e operam benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a articulação dentre todas estas unidades de provisão de proteção social sob a hierarquia básica e especial e ainda por níveis de complexidade” (BRASIL, 2017h).

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criação da então Secretaria de Ação Social, passando por diversas reordenamentos,

reestruturações tais como: a criação de Leis que instituiu o Conselho Municipal de Assistência

Social (CMAS), o Fundo Municipal de Assistência Social, ampliou-se a participação com a

realização de Conferencias de Assistência Social, bem como a mudança de nomenclatura da

Secretaria, Secretaria de Ação Social para Secretaria Municipal de Assistência Social

(SEASO). Com a criação do PNAS em 2004 a SEASO foi reorganizada novamente desta vez

por áreas de proteção social, conforme estabelece o SUAS (2005).

Ao que remete a pesquisa de campo verifica-se que os CRASs do município foram

ordenados de acordo com os parâmetros estabelecidos pela PNAS (2004) e as diretrizes

estabelecidas pelo SUAS (2005) de forma descentralizada e territorializada

(MICHALSESZEN, 2007). O CRAS é o equipamento estatal de base territorial49, localizado

em áreas de vulnerabilidade social, que referencia as famílias no seu território de abrangência,

constituindo-se na principal porta de entrada da política de assistência social. O CRAS tem

como público alvo famílias em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, do

precário acesso aos serviços públicos, da fragilização de vínculos de pertencimento e

sociabilidade e/ou qualquer outra situação suscetível ao risco social.

Perante as diretrizes da PNAS (2004), os serviços socioassistenciais no âmbito da

proteção social básica, estão disponíveis nos CRASs do município, que estão localizados em

territórios, com o intuito de evitar atendimentos segmentados e descontextualizados das

situações de vulnerabilidade social e risco social (BRASIL, 2017h). A rede da proteção social

básica do município de Cascavel atualmente é composta por sete unidades de CRAS,

distribuídos pelos trinta bairros do munícipio. As unidades e suas determinadas nomenclaturas

são: CRAS CEU, CRAS CANCELLI, CRAS PERIOLO, CRAS XIV DE NOVEMBRO,

CRAS INTERLAGOS, CRAS CENTRAL e CRAS CASCAVEL VELHO (CASCAVEL,

2017a). Dentre estes a presente pesquisa abordou 3 CRAS que declararam ter atendimentos

regulares ao público de imigrantes, outros CRASs são apenas articuladores que encaminham

os imigrantes para a rede socioassistencial.

Desta maneira os dados recolhidos pela pesquisa de campo serão apresentados estarão

dispostos no próximo capitulo, onde a analise de dados se constitui de dois eixos: 3.1 As 49

Conforme a NOB/SUAS (2005) os CRASs devem ser instalados em território com maior concentração de famílias com renda per capta mensal de até ½ salário mínimo, considerando que estas são mais desprovidas de serviços evidenciando a necessidade de uma maior atenção do Estado. Os serviços e a gestão realizam-se sob a orientação do Órgão Gestor Municipal de Assistência Social com o mapeamento e a organização da rede socioassistencial, que promove a inserção das famílias nos serviços prestados na proteção social básica (BRASIL, 2017h).

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expressões da questão social para com o publico de imigrantes e 3.2 Desafios do profissional

Assistente Social no atendimento ao imigrante no CRAS.

3.3 AS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL DO PÚBLICO IMIGRANTE: USUÁRIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNÍCIPIO DE CASCAVEL-PARANÁ.

Dentre o público de imigrantes entrevistados todos declararam ter vindo para o Brasil

em busca de uma vida melhor, de mais oportunidades de emprego, muitas vezes influenciados

por conhecidos e familiares que já teriam se estabelecido no Brasil. Este desejo de imigrar

para o Brasil se justifica devido aos últimos o país ter tido um alto crescimento econômico

paralelo a uma alta taxa de inclusão social, tornando o Brasil um país atrativo e receptivo para

os imigrantes que aqui se instalam (FERNANDES, 2015). É perceptível pelas falas dos

entrevistados verificar que os imigrantes recém-chegados recebem um tratamento

diferenciado dos demais brasileiros no que diz respeito à inclusão no trabalho, onde estes

desconhecendo totalmente a sociedade em que estão se inserindo, se sujeitam as leis

brasileiras e ao mercado de trabalho nacional.

Verifica-se com os dados da pesquisa que todos os entrevistados afirmaram ter

familiares no Haiti e que de alguma forma os ajudam enviando quantias em dinheiro. Este

seria o principal motivo da migração para o Brasil, basicamente trabalhar e com o usufruto do

trabalho ajudar os familiares que ficaram. O que foi muito recorrente e ilustrado na pesquisa é

de que há laços de solidariedade criados por grupos de famílias imigrantes que estão no

Brasil, isto se exemplifica na forma com que estes estão organizados no município, na divisão

de moradias, na busca por auxílios alimentares, no compartilhamento de informações sobre a

comunidade, entre outros. Neste sentido é possível afirmar que com a globalização das

informações e dos mercados em nível global a migração ocorre devido à oferta e a demanda

de trabalho, onde os imigrantes esperam ganhar mais pelo trabalho em regiões onde se

mostram ter maiores oportunidades e/ou maior qualidade de vida.

[...] ajuntei dinheiro, ajuntei, e todo mundo vem pra Brasil, pra conseguir uma vida melhor, e falei ai no, eu ou também, se todo mundo vai la no Brasil eu vou, se tem uma vida melhor, eu posso conseguir, se não tem também eu vou la, como sei eu vou ver, ou se vai a vou ver, eu vou, ai eu consegui meu dinheiro, despues eu vim aqui no Brasil, quando cheguei aqui, vim morar três meses, não consegui nada, um tempinho assim [...] (E6).

Na rota da sobrevivência deixam o registros de perdas, rompimentos e histórias de

vida, na qual acabam por deixar suas famílias e migrarem para o Brasil com o objetivo de

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conquistar melhor qualidade de vida para eles próprios e para seus familiares que

permaneceram. Alegaram ter o desejo de trazê-los para o Brasil, mas devido à dificuldade

dada pela distancia e pelo alto valor do transporte dos mesmos até aqui, muitos desejam

trabalhar e guardar dinheiro para um dia traze-los. Isto se verifica no perfil dos entrevistados

quando analisamos o estado civil dos mesmos, três entrevistados afirmaram estar atualmente

casados, pois conseguiram trazer a família para o Brasil, enquanto outros quatro estão

solteiros e/ou separados, devido a terem deixado seus parceiros/as no Haiti. Quando

perguntados se estariam inseridos na comunidade em que estão atualmente domiciliados,

todos os entrevistadas expuseram ser religiosos, que participam e/ou frequentam alguma

Igreja no município de Cascavel. Nota-se que três dos entrevistados declararam participar da

Igreja Quadrangular, dois não informaram qual costumam frequentar e um disse participar da

Igreja Católica. Esta afirmação de participarem de um culto religioso com frequência

demonstra a condição de socialização e apoio mutuo que encontram nestas Instituições, bem

como a necessidade em afirmar seu caráter cristão.

Devido a variadas catástrofes que ocorreram no Haiti, estas trouxeram ao país muitas

consequências tanto sociais quanto econômicas. Conforme tratado no capitulo 1.3 do presente

trabalho sob o ponto de vista da ordem capitalista perduram formas de marginalização

institucionalizadas nos países periféricos e subdesenvolvidos, concretizando um processo de

exclusão social que acaba por privar muitas pessoas dos bens básicos para a sua sobrevivência

(YAZBECK, 2004). Esta forma de exclusão social se confirma quando analisamos o tempo de

estudos dos entrevistados, dentre estes apenas um afirmou ter feito ensino superior lá no Haiti,

outros quatro relataram não terem terminado o ensino médio e enquanto, outros dois disseram

terem terminado os estudos, porém não fizeram o ensino superior. O único entrevistado

imigrante que referiu ter feito curso superior no Haiti, relata que estava sendo voluntário nos

atendimentos ao público imigrante no CRAS de forma a contribuir para com os atendimentos

realizados pelos profissionais. Ou seja, mesmo quando há escolaridade entre os imigrantes,

não há processos de ascensão e integração para o trabalho, visto que a estes são relegados a

atividades laborais operacionais, sendo os maiores contratantes empresas da agroindústria.

Todos os entrevistados descreveram estar no Brasil há pelo menos dois e no máximo

cinco anos. Quando foi perguntado se pretenderiam permanecer por mais tempo em

Cascavel–Paraná, todos disseram não saber quanto tempo permaneceriam, mas todos

desejavam ficar. A instabilidade financeira é uma constante, onde a precarização das

condições do trabalho e sobrevivência determina onde podem estar pela condição de acesso à

renda. Verifica-se nas falas dos entrevistados o desejo de permanecer no Brasil até conseguir

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um padrão de qualidade de vida melhor, mesmo estando privados de oportunidades de

trabalho e renda, aqui esta “melhor” do que de onde vieram.

[...] não sabe, só Deus [...] não sei, porque meu marido fica antes, depois meu marido me faz eu chego aqui, eu fico com meu marido, porque meu marido ta muito rumo outro lugar, eu também me acostumei que ele gostou de Cascavel [...](E2). [...] tenho projeto, e vai precisar de tempo e permanecer, o futuro pertence de Deus, e não tem como sair daqui de um dia pro outro, tenho que realizar meus projetos e pra ficar aqui [...] (E3).

Quando perguntados sobre o que trabalhavam em seu país de origem, muitos

descreveram trabalhar na informalidade, fazendo “bicos” e empregos temporários, apenas

dois entrevistados afirmaram não terem trabalhado enquanto moravam no Haiti.

[...] fui fazendo negócio, eu compra e vende e daí foi dinheiro perdi, [...] fui lá na republica dominicana, quando cheguei na republica dominicana, fui trabalhar em construção primeiro, despues, fui deixar a construção e consegui trabalho de jardineiro, de cortar grama, mato, lá no com dono de arrenclar de fabricante de republica dominicana, demorei um tempo trabalhando em republica dominicana, [...] tudo tava difícil pra mim, tava difícil, despues consegui um emprego em trabalha aqui na construcion despues acabo e tudo vem ai, e deixei um pouco pra lá é tudo difícil, aqui no Brasil um pouco melhor, muito melhor, muito, muito melhor, lá no Haiti não tem emprego e não consigo, aqui no Brasil se não tem emprego as vezes consigo um amigo que consegui apoio, como sei, ai tem alguma coisa ajuda [...](E6).

Diante da realidade registrada pela fala dos entrevistados que viviam no Haiti,

verifica-se que lá havia pouca oferta de trabalho, muitas das vezes precário e de baixos

salários que os incentivaram a imigrar. Confirma-se a hipótese de que a migração alivia o

mercado de trabalho do país de origem, porém se aumenta substancialmente a precarização e

a flexibilidade das condições de trabalho no país de destino (MARTINE, 2005). Quando estes

imigrantes chegam ao Brasil encontram uma realidade diferenciada, onde o mercado de

trabalho esta estruturado, porém as ofertas de trabalho são muitas vezes de trabalho

subcontratado, precário, temporário e informal. Assim, estes muitas vezes não tendo feito

registro em Carteira de Trabalho acabam sendo privados de muitas das garantias referentes

aos direitos trabalhistas, como 13º salário, seguro-desemprego, auxilio alimentação, entre

outros. Desta forma evidencia-se novamente a exclusão social agora no país receptor, onde

muitos destes imigrantes são acometidos pelas violências ocasionadas pela pobreza, de forma

que as expressões da questão social se evidenciam como limitações no usufruto de bens

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sociais e se expressam nas condições mínimas de sobrevivência dos trabalhados (YAZBECK,

2004). A concepção de mobilidade do trabalho remete exatamente a esta realidade, onde o

trabalhador torna-se flexível integrando ao mercado de trabalho de forma a se sujeitar às

necessidades do capital (BARALDI, 2014). Dado a disparidade de renda e a condição de

trabalhador assalariado, estes tem a seu dispor apenas as condições necessárias para a sua

sobrevivência (IAMAMOTO, 2010). Visto que estes imigrantes entrevistados estão inseridos

no mercado de trabalho de forma restritiva, verifica-se na analise dos dados que muitos estão

atualmente desempregados e acabam trabalhando poucas vezes durante o mês, de forma que

vão em busca de ajuda de pessoas e instituições para conseguir sobreviver. Ressalta-se

novamente que o imigrante no momento em que adquire nacionalidade brasileira, torna-se

legalmente cidadão brasileiro e de acordo com a Lei 6.815/80 tem o direito de usufruir de

todos os direitos sociais relativos às garantias fundamentais do Estado brasileiro, que consiste

ao acesso a serviços públicos de saúde, assistência social e previdência social conforme

retratado no segundo capítulo do trabalho aqui apresentado.

Assim, percebe-se nas falas dos entrevistados que foram em busca do CRAS, que

muitos foram primeiramente em busca de algum emprego que estivesse sendo divulgado. Isso

se torna uma dificuldade na medida em que os imigrantes, não tendo acesso ao mercado de

trabalho, acabam ficando muito tempo na condição de desempregados e/ou trabalhando

informalmente de forma temporária em condições precárias e insalubres. Evidenciou-se que

através de relatos há um alto nível de preocupação e angustia para a obtenção do emprego,

conforme apresentado no primeiro capítulo do presente trabalho é uma condição de

permanência no país.

[...] a gente imigrante, aqui no Brasil, precisa mais, trabalha porque eu sou estangeiro, entendeu? Haitiano fica todo dia procurando todo dia, no CRAS empresa, a gente fala não tem vaga, quando a brasileiro chego, tem pra brasileiro, não tem pra haitiano, porque, porque nós precisamos, a brasileiro fica tem vaga de emprego e nós não, porque nós é estrangeiro[...] (E2).

Outra principal demanda trazida pelos entrevistados foi a busca de ajuda por meio da

concessão do Auxilio Alimentação no CRAS, onde percebeu-se a partir dos dados coletados

que por falta de entendimento dos parâmetros e condicionalidades do benefício, estes usuários

acabam por buscar este auxilio mensamente. A falta de informação sobre os serviços da

Assistência Social é perceptível nas falas de todos os entrevistados, assim muitas vezes

acabam por serem privados do acesso a outros serviços do CRAS como a inserção,

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encaminhamento e acompanhamento familiar no âmbito da proteção social básica e especial e

também na rede socioassistencial, conforme apresentado no segundo capitulo.

[...] amigo me explico que aqui no CRAS ajuda uma pessoa com a cesta, se possibilita pra pague água e luz e aluguel se possibilita [...](E1).

[...] eu vim aqui né, eu vim aqui pra ajuda e pra comida [...](E4).

Dentre outras dificuldades apresentadas pelos usuários esta o pagamento de aluguel

que muitas vezes compromete a renda destes imigrantes, destarte outra principal demanda

trazida pelos entrevistados é o Programa Minha Casa Minha Vida. Este é um dos programas

sociais do Governo Federal que podem ser acessados por meio do Cadastro Único feito no

CRAS, dois dos entrevistados mencionaram estar a procura para a inscrição no programa. É

considerado um programa de difícil acesso, viso que há um descompromisso das políticas

públicas quanto ao incentivo e facilidade de acesso deste para o público de imigrantes. Visto

que o Estado e o capital veem os imigrantes apenas como mão de obra barata e substitutiva da

mão de obra brasileira.

[...] eu tava fazendo um, como fala isso em português, mas pra ver se conseguia uma casinha pra morar, tudo bem para mim, melhor, melhor presente que me vai conseguir no Brasil, vai me sentir bem e agradecer no CRAS que eu conseguir essa casinha, ai eu fui lá fazer, como fala isso é, Cadastro Único, já faz Cadastro Único la no CRAS e tem que me vai dar um papelzinho por um mês e meio vai dar um papel pra agilizar pra fazer, se conseguir uma casa nova [...] (E6).

Conforme os dados coletados nas entrevistas, na maioria das falas dos entrevistados

quando perguntados quem teria lhes indicado o CRAS, todos declararam ter tido indicação de

amigos e vizinhos, onde antes não sabiam nem da existência do CRAS e nem da função do

mesmo. Percebe-se que o direito a informação conforme esta presente nos princípios e

diretrizes da LOAS (1993), prevê a “[...] divulgação ampla dos benefícios, serviços,

programas e projetos assistenciais [...]” (BRASIL, 2017g, s.p). Verifica-se com a analise dos

dados que este público de alguma forma esta sendo privado de seu direito a informação

conforme apresentado no segundo capitulo, dificultando o acesso do mesmo enquanto cidadão

brasileiro de usufruir desta política social, visto que muitos tiveram desencontros e ficaram a

perambular em torno de alguma ajuda concreta. Podemos afirmar que apenas por insistência

localizaram informações relativas ao CRAS, todavia muitas vezes a resposta dos profissionais

é negativa, visto os critérios burocráticos que regem a PNAS (2004) reificam e restringem o

acesso do direito estes imigrantes.

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[...] lá no Cras eu fui tava na rua, procurando serviço quando cheguei aqui no Brasil, eu fui falei com uma senhora maior, uma senhora maior, que sempre eu pegava lotação como das outras vezes, e quando esperar no ponto de lotação, eu perguntar a ela, ta trabalhando? Ela falou que si, que ta trabalhando como parque verde lá no centro, eu por favor, aonde você trabalha, você viu alguma pessoa nesse tempo, eu não fala português, eu fala machucado, eu falei si tem alguma vaga, si tem algum que ta trabalhando, me ajuda, consegui alguma vaga, porque, não to trabalhando to aqui no Brasil, e se pode me ajuda e estoi falando com gente ai na rua, todas as pessoa, eu falando que me ajuda consegui um emprego aqui nesse tempo, ai ela fala assim, ai não, vou ver la, porque sempre eu vi você por ai pela rua e ai eu vou fala, e daí, la no centro perto de rodoviária, você conhece rodoviária, eu falo que sim, conhece, tem um catarauto que ta lá isso se chama prefeitura, vai lá, vê se pode ajuda você lá, lá é pra ajuda pessoa, vai lá ver se ajuda, um dia quando cheguei perguntei aonde, e uma pessoa me firmei e entrou quando eu entrei, tem uma mulher que tava sentada, e me faz quantas pergunta, onde mora, eu expliquei onde moro, tudo certinho, ela me deu um papelzinho, e ela falou que vai lá, no santa cruz atrás de estádio, e chega e pergunta por CRAS, verdadelamente eu fui lá um dia e perguntei, e tem só eu perguntei e falei a é aqui, primeiro perguntei, uma escolinha que tinha de criança, era aqui non mais para lá, eu fui lá, e perguntei quando eu cheguei e entrei entreguei o papelzinho, por isso conhece lo CRAS [...] (E6).

Quando perguntado aos entrevistados se outros imigrantes também conheciam os

serviços do CRAS, foi unânime a resposta de que poucos conhecem, visto que muitos foram

informados dos serviços do CRAS através de familiares, conhecidos, amigos e vizinhos

conforme já exposto.

[...] não, algum pessoa que conhece CRAS, não é todo, alguma pessoa, não muito, la no CRAS se foi pouco imigrante, tem varias pessoas que não sabem que tem CRAS, não sabe aquilo que CRAS, e o que se chama CRAS. Que foi la pessoa, tem alguma que explica, que foi mais um, mais ou menos, dois, três, quatro pessoas que foi, que sabem, pouco pessoas que sabem [...] (E6)

Quanto aos outros serviços realizados pelo CRAS como o PAIF ou o SCFV dentre

todos os entrevistados, nenhum declarou ter participado de alguma atividade ou serviço

oferecido pelo mesmo. Percebe-se a falta de criação de estratégias do órgão gestor da PNAS

(2004) no município, bem como capacitação às equipes de referencia em receber e inserir os

mesmos, tanto nos serviços oferecidos pelo próprio CRAS enquanto proteção social básica

como também na proteção social especial e outros encaminhamentos para a rede

socioassistencial do município. Pode-se afirmar que a cobertura da rede socioassistencial

pouco atinge a estes imigrantes no âmbito da proteção social básica, dado que a política se da

na realidade social de forma fragmentada e pontual, apenas estabelecendo provisões sociais

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como o auxilio alimentação.

No cras eu não participei não, alguma atividade, eu fui lá no CRAS primeilamente quando fui participar de Cesta só, eu participa as vezes na Cesta [...] (E6).

Uma das principais dificuldades relatadas pelos imigrantes atendidos pelo CRAS é a

comunicação, visto que muitos não falam e não compreendem a língua portuguesa brasileira.

Ao serem perguntados se teriam dificuldade de comunicação quanto ao acesso dos serviços no

CRAS, muitos relataram ter alguma dificuldade de entender os serviços devido a não

compreensão do idioma. Neste sentido registrou-se o papel da mediação da comunicação

entre eles por outros familiares e também por tradutores voluntários de outras instituições, o

que abre a preocupação profissional enquanto autonomia do usuário, bem como no sigilo

profissional durante os atendimentos individuais. Um exemplo que ilustra esta situação, é que

nos atendimentos “individuais” realizados para com o público de usuárias imigrantes

mulheres, estas aparentam não ter voz na presença de algum conhecido, familiar ou tradutor

durante o atendimento, o que dificulta o processo de comunicação entre profissional e usuário.

[...] senti mais ou menos porque o português é muito difícil, e a gente quer ver muito forte pra falar, a genti precisa [...] (E2) [...] entende mais ou menos o português, si , pode faze alguma pergunta normal, entende um pouco português [...] no, no tem dificuldade, porque já fui no CRAS eu entendi quando fala comigo, eu entendi mas quase tudo quando fala comigo, eu entendi mais ou menos quase tudo (E6)

Dentre as perguntas sobre os serviços de Assistência Social, uma destas era referente

as diferenças e/ou semelhanças entre os serviços ofertados aos moradores Cascavelenses

quanto aos ofertados ao público de imigrantes. Verifica-se na fala do entrevistado (E6) que há

uma diferença no atendimento no que diz respeito às perguntas realizadas aos imigrantes,

visto que não atendem as especificidades culturais dos imigrantes, onde muitos acabam não

entendendo e/ou não conseguindo responder. Mesmo não atendendo as especificidades de

todos os imigrantes, declararam que os serviços prestados ao cidadão brasileiro e ao imigrante

são os mesmos.

[...] sim, eu vi um pouco diferente, né, como pode foi diferente, é, as pessoas que moram aqui, os nossos imigrantes, quando chegam la, as vezes falam um pouco difícil, quando chegam lá imigrantes no CRAS, muito difícil as vezes, tem bastante pergunta que as vezes a pessoa não consegue responde, a pessoa não consegue também, e porque si no a pessoa, tem pessoa que não fala português, tem bastante perguntas mais ou menos se vai fazer, não o

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que fazer sozinho, é um caso como, fala por falar, as vezes a pessoa não fala português, e são imigrante, tem pergunta porque não pode conseguir responde, se tem pergunta pode fazer três, quatro, se vai ajudar, ajudar, se não, não. Só as vezes quando, chega lá, tem perguntas, que só vale, tem pergunta que tem que ser com as pessoas mesmo que moravam aqui, que são brasileiro, que se fala sim pra mim, não tem problema, se é que pode, pode, né? E daí um pouco difícil agora, as vezes um pouco ta melhor quinta feira pra nossos imigrantes, depois outros dias pra pessoa que mora aqui no Brasil [...] (E6).

Outro entrevistado afirmou não saber se há alguma diferença no tratamento das

pessoas nascidas brasileiras quanto as pessoas imigrantes.

[...] na verdade não sei se tem uma diferença, mas o que eu sei, não sei que posso dizer, não sei se tem uma diferença, [...], e é isso que eu sei, não sei se tem uma diferença, dos brasileiros e dos haitianos [...] (E3).

Dentre os entrevistados apenas duas pessoas apresentaram uma maior compreensão do

que seria direito social a Assistência Social, visto que os demais teriam uma compreensão

fragmentada e equivocada, muitas vezes entendo o CRAS apenas como instituição de ajuda,

de maneira assistencialista. Neste sentido podemos verificar na analise dos dados obtidos, que

é perceptível identificar na fala dos entrevistados a concepção de cidadania, tida como o

acesso universal a todos os direitos sociais previstos na Constituição Federal de 1988, bem

como dos direitos humanos previstos na Declaração de 1948.

[...] sim, considero como um, um direito, mas e como é, pra todos os seres humanos, e assim todos os países, e acho que eu considero como um direito [...](E3); [...] é direito, tem gente que fala que não é direito, porque tem a gente que mais precisa, pra nós, porque viu é verdade, eu tenho filho, tenho casa aluguel, só meu marido que ta trabalha paga um pouco dinheiro que não faz nada pra nós [...] até todo mundo ta trabalho, consegui trabalho se vai melhorar os planos e a Assistente Social fala que não ta bom porque a gente precisa todo dia, precisa comida, precisa compra roupa, precisa fralda, precisa pagar aluguel, tudo, tudo pra haitiano, aqui no Brasil (E2).

Enquanto outros entrevistados informaram não saber ou desconhecer que a Assistência

Social é um direito social no Brasil, por diversas vezes relacionaram-na a uma “ajuda” ou

“beneficio” que deve ser dada pelo governo brasileiro. O caráter histórico da Assistência

Social no Brasil conforme já apresentado tem um viés assistencialista, de forma com que o

Estado deve ser benevolente e promova ajuda humanitária. Constata-se com a analise dos

dados obtidos que este ainda é um entendimento presente tanto na visão da população

imigrante sobre os serviços ali realizados.

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[...] eu siempre agradecido a cras porque cras me ajuda bastante me ajuda muito e siempre a gente chega e a pessoa sempre, me senti bem, conversa comigo, já que pode, pode, se não pode tudo bem pra mim. [...] sim, entende direito, sim, já me escuto tudo, é um direito pra pedir alguma ajuda, alguma coisa que pode ajudar [...](E6).

Conforme já exposto é possível afirmar a partir dos dados obtidos que os imigrantes

entrevistados vão até o CRAS primeiramente em busca de emprego, esta compreensão se

reafirma no momento em que expressam sua opinião sobre os serviços e benefícios sociais

oferecidos pelo CRAS, pois entendem que o CRAS deveria oferecer mais vagas de emprego

e/ou ajuda-los a conseguir algum emprego. Esta situação a compreensão da PNAS (2004)

enquanto direito social universal, em que o trabalho é um condicionante para o não acesso a

estes direitos.

[...] beneficio eu precise, eu precise de um serviço, uno serviço, eu tenho mãe e pai Haiti, uma pessoa não pode ajuda eu pra ajuda ela também, eu tenho um serviço e eu recebi um direito pra mandar lá, por exemplo, você não tem dinheiro pra ajuda eu todos os meses pra mandar lá, não tem, e então se você precise ajuda eu num serviço, verdade [...] um serviço [...](E1). [...] eu acho muito importante especialmente aqueles que estão chegando, e ajuda eles, que não tem trabalho e rende que não falar português e quando você vê a dificuldade da comunicação, e também aceita o serviço, não é qualquer serviço que vai receber, se você não fala português, eu acho que ajuda bastante, principalmente nas cestas básicas, família que vem aqui, mães solteiras também, os pais que na tão trabalhando e ajuda bastante [...](E3).

No Brasil verifica-se no âmbito das políticas públicas, que faltam formas que possam

assimilar e incluir estes imigrantes no mercado de trabalho, pois muitos destes têm

experiência e qualificação profissional, mas acabam por ficar de fora do circuito do trabalho.

Conforme já prevê a nova lei do migrante em seus princípios e diretrizes deve-se haver a “[...]

inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas [....]”

(BRASIL, 2017c, s.p).

No momento em que foram perguntados sobre a PNAS (2004) percebe-se que todos os

entrevistados desconheciam a concepção de politica publica, um dos entrevistados relacionou-

a enquanto politica partidária e outro enquanto ao profissional Assistente Social. Esta situação

denota que os imigrantes não apenas não tem conhecimento sobre a PNAS (2004) no Brasil,

mas também enquanto aos direitos sociais competidos a eles, dentre eles a Assistência Social.

Assim, verifica-se que estes são reféns de uma cidadania inconclusa em seus países de origem

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que refletem a não compreensão dos mesmos sobre o que compreende a cidadania brasileira,

conforme apresentada teoricamente no segundo capitulo.

[...] eu não me meta com política porque, nem em Haiti também [...] (E1)

Ao analisar a fala de um dos entrevistados sobre sua compreensão enquanto aos

atendimentos realizados no CRAS, este citou o que poderia melhorar dentre princípios e

regras para o acesso aos serviços, como também das formas de visita domiciliar e

atendimentos individuais realizados pelos profissionais do CRAS ao público imigrante.

Ressaltou que deve se ter um tratamento diferenciado para com o este público de forma que

estes possam compreender a concepção da Assistência Social enquanto direito social.

[...] política, não sei muito não, mas é como dizer das formas que eles, que os princípios e as regras que você precisa pra ter acesso e serviços, acho as vezes que tem que fazer novas regras pra facilitar mais pessoas e também visitar a casa das pessoas pra ver se precisa mesmo, talvez tem pessoas que vai la e não precisa, e outros precisam e não tem acesso a esse benefícios e acho que tem que ser uma consciência profissional nos serviços pra dar ajuda pra quem precisa de ajuda mesmo [...] (E3)

Desta maneira compreendemos que o entrevistado esta fazendo uma reflexão sobre as

condicionalidades para concessão do auxilio alimentação, de forma que no entendimento

deste, o profissional deve melhor investigar a situação socioeconômica do usuário para

identificar se realmente este necessita do beneficio. Quando perguntados sobre outras

instituições em que procuravam ajuda, um dos entrevistados relatou conhecer Instituições que

fornecem ajuda e auxilio para o publico de imigrantes no Brasil.

[...] eu conheço a Karitas, e a policia federal que ajuda nos documentos, e o RE que é o registro nacional do estrangeiro, e acho que esses e também tem na paróquia do São Cristovão que uma entidade ali que ajuda os haitianos e imigrantes, e acho que só estes três que eu conheço, não sei se tem mais, mas eu conheço estes três [...] (E2).

Desta maneira vê-se o papel do terceiro setor enquanto provedor de serviços sociais

para com a sobrevivência do publico imigrante e que ao mesmo tempo ocupa o papel do

Estado enquanto provedor de politicas públicas, que possam contemplar as demandas trazidas

por este público.

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3.4 DESAFIOS DO PROFISSIONAL ASSISTENTE SOCIAL FRENTE À PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA NO ATENDIMENTO AO IMIGRANTE NO CRAS

Buscou-se por intermédio desta pesquisa de campo compreender de que forma se da o

trabalho cotidiano do profissional Assistente Social na intervenção profissional com

especificidade ao público de imigrantes. Como também as formas de atendimento no CRAS

disponíveis ao público imigrante, os principais motivos que os levaram até o CRAS, bem

como as principais expressões da questão social que estes vivenciam no município de

Cascavel. Em uma das perguntas o processo de comunicação também foi abordado com os

profissionais na relação com o publico de imigrantes, se durante este processo inferira de

forma negativa nos atendimentos. Todos os profissionais afirmaram ser uma dificuldade

imposta nos atendimento e intervenções individuais na medida em que se é necessário à

construção de estratégias para o atendimento a este público.

[...] principalmente com as mulheres, né, que elas não possuem acesso a escolaridade, elas geralmente falam apenas a língua do Haiti, né, então elas não falam, fica mais difícil, né, o nosso atendimento fica restrito a apenas fornecer o vale alimentação, né, é difícil de orientar as usuárias para que acessem outros serviços da rede, é que elas consigam compartilhar de seus problemas (P1).

Conforme relata o profissional muitas vezes dentre os atendimentos é o homem que

tem maior compreensão do idioma, percebe-se que muitas vezes as mulheres acabam tendo

menos tempo de estudo quando não privadas de estudar. Em contraposição, um dos

profissionais entrevistados relatou não ter dificuldades para com a comunicação com os

usuários, mas relata não ter tempo hábil disponível para atendê-los de forma concreto, visto

que segundo ele este pública demandaria mais tempo para o atendimento. Percebe-se que

mediante as dificuldades de comunicação postas no cotidiano profissional para com os

usuários imigrantes, o Assistente Social tem autonomia, mesmo que relativa, na condução de

sua intervenção profissional e que esta disposta na singularidade da relação com os usuários,

imprimindo assim uma intencionalidade a pratica profissional.

eu acredito que não, se a gente assim, conforme, sempre que eu to atendendo eles aqui [...], é só você disponibilizar confiança pra eles, o olhar e deixar eles a vontade, porque assim, conforme você vai perguntando, conforme você vai explicando o que lês vêem, o que eles vem em busca, o que eles entendem, você consegue entender, e a gente também, eu entendo que a gente consegue transmitir, só que assim, você não pode apurar eles, você tem que deixar eles a vontade, e não se importar com o tempo, o fator tempo é muito essencial, então eu acredito que eu consigo comunicação com eles,

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até posso dizer assim pra você [...] essa fala ai da comunicação, eu acho que não tem, o que teria dificuldade assim, a gente teria que ter tempo, parar e disponibilizar tempo e deixar eles a vontade e falar que eu to aqui pra conversar com você e eu não tenho pressa, eu quero te ouvir, e quero que você compreenda o que eu quero te passar e eu quero compreender a ansiedade, o que que eles vieram em busca (P2).

Um dos profissionais entrevistados relatou utilizar de técnicas de tradução nos

atendimentos, muitas vezes chamando algum familiar ou conhecido do usuário que possa

traduzir as falas durante o atendimento estabelecendo uma comunicação, e no caso de não

haver alguém para acompanhar o usuário, a comunicação é realizada por meio de um

programa de Tradução do Google onde as falas são traduzidas e o processo de comunicação

acaba sendo facilitado por meio desta técnica. Neste sentido ressalta-se novamente a

singularidade e intencionalidade que cada profissional tem para com a intervenção

profissional aos usuários, onde se preserva atitude criativa, critica e interventiva no âmbito da

proteção social básica.

[...] é uma dificuldade que a gente tem, é óbvio né, porque assim, os atendimentos que a gente faz aqui, ou a pessoa vem acompanhada de alguém, a gente pede pra vir acompanhada de alguém que fala minimamente, [...] eu peço pra vir alguém junto, e se não tem ninguém pra vir, a gente já fez atendimentos inteirinhos pelo Google, eu digito no computador, a pessoa lê e fala sim ou não, e assim vai indo, a gente se comunica mas que é muito mais difícil é [...] (P4).

Outro profissional entrevistado relatou que por mais que haja um processo de

comunicação facilitado por meio de algum tradutor ou programa de tradução, este

atendimento acaba por ser fragmentado, não conseguindo atender a demanda trazida pelos

usuários imigrantes de forma concreta.

[...] interfere bastante, tanto que as vezes a gente tenta fazer o atendimento individual, mas por conta da conversa a gente não consegue, ai eles tem que chamar um representante deles lá, pra vir conversar com a gente, daí fica meio que limitado as perguntas, né, a gente não consegue conversar muito com eles, tentar saber a demanda que eles trazem pra nós, porque assim, a principio eu tenho atendido pessoas para auxilio alimentação, eu atendi nesse um ano e pouco que eu to aqui, eu atendi uma única vez pro kit natalidade, mas não foi nenhuma demanda deles, isso fui eu que observei e eu que né, falei desse beneficio no CRAS, mas a maioria é auxilio alimentação e a gente não consegue conversar mais com a família por conta da fala [...] (P5).

Os profissionais quando perguntados sobre a expectativa dos usuários imigrantes

atendidos pelo CRAS, todos afirmaram haver certo equivoco no que diz respeito à

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compreensão destes usuários para com os serviços socioassistenciais realizados no local. Isto

se apresenta como uma dificuldade no trabalho realizado pelos profissionais na medida em

que muitos destes usuários não compreendem os objetivos e princípios da PNAS (2004) e não

conseguem participar dos serviços da rede. Novamente verifica-se a percepção do CRAS

enquanto lugar de ajuda e/ou de busca de oportunidades de trabalho e renda.

[...] muitas vezes eles vem pedir emprego, eles acham que a gente vai arrumar emprego pra eles, ai eles pedem o emprego, pedem a cesta básica, pedem dinheiro, já chegaram a pedir dinheiro, então eu acredito que eles nos vêem como portadores de emprego [...] (P5).

Outra dificuldade que pode ser notada na fala dos profissionais é o critério de renda

disposto na PNAS (2004), que se torna um problema dado que muitos destes imigrantes têm

algum tipo de renda no Brasil, porém este valor aqui acumulado é enviado em sua grande

parte para os países de origem dos imigrantes. Consequentemente estes imigrantes acabam

passando por severas necessidades aqui no Brasil com o objetivo de enviar dinheiro para

familiares e amigos que estão no exterior. Assim, os profissionais enquanto mediadores das

benefícios e serviços parametrizados pela PNAS (2004), por falta de uma diretriz especifica

para com os imigrantes, acabam por não conceder o auxilio alimentação, mesmo que estes

apresentem dificuldades de sobrevivência e subsistência.

[...] ao meu ver eles não tem conhecimento claro do que é a política de assistência social, eles vieram para o Brasil, com o entendimento de que eles teriam direito todo mês de um auxilio alimentação, né, então eles vem no CRAS eles querem o auxilio alimentação, por outro lado, eles vivem de situações de renda mínima, e o que eles trabalham e o que eles recebem eles enviam para o país de origem, e aqui então eles vivem com tão pouco dinheiro que eles necessitam desse auxilio alimentação, então é por isso que eles procuram o CRAS, geralmente é um membro da família que possui renda que não seria perfil para o auxilio alimentação, mas pela condição que eles vivem aqui, sem a renda, enviando, ajudando a família eles necessitam do beneficio, é por isso que eles nos procuram (P1).

Outras dificuldades apontadas pelos profissionais que trabalham na proteção social

básica são a falta de compreensão dos usuários imigrantes da PNAS (2004) no que diz

respeito a condicionalidades e algumas parametrizações que acabam por limitar o acesso

destes aos serviços socioassistenciais. Isso se confirma juntamente com outra dificuldade

apontada que é a diferenciação cultural no que diz respeito à composição familiar, pois muitas

vezes o conceito de família conforme apresentado na PNAS (2004) não confere a este público

em especifico.

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[...] eles tem uma cultura muito diferente, né, então assim, é, por exemplo, a gente avalia aqui, que é família todo mundo que mora na casa, né, por exemplo a pessoa vem para o auxilio alimentar, a gente tem uma resolução que a gente segue, pra conceder ou não o auxilio alimentar, ai quando a pessoa vem e ela mora com mais três pessoas, a gente quer levar em consideração que essas pessoas são família, e as vezes não, não tem vinculo nenhum com essa família, com essas outras pessoas, e daí assim, a você trás a documentação deles pra gente inserir no cadastro, mas como ele vai fornecer se eles só coabitam no mesmo lugar, eles não são família, é uma cultura diferente da nossa, geralmente moram com pai, avô e tal, mas são família, e eles não, eles moram em quatro, cinco pessoas na mesma casa, se conhecem assim, mas um nem sabe a renda do outro, e este tipo de coisa, eu também considero uma dificuldade (P4).

Dentre outros aspectos no que tange as dificuldades encontradas pelos profissionais na

realização dos atendimentos aos imigrantes, é no que se refere à composição familiar e a

diferença cultural apresentada pelos profissionais. Desta maneira notam-se outras

consequências relativas a outros serviços da rede socioassistencial, pois conforme afirmam os

profissionais entrevistados as principais e únicas demandas providenciadas são os auxílios

emergenciais e benefícios oferecidos e concedidos pelo CRAS. No âmbito dos serviços

oferecidos na proteção social estes usuários imigrantes acabam sendo privados de outros

serviços da rede de proteção social, onde poderiam ter ser sido encaminhados. Estes serviços

referem-se tanto ao âmbito da proteção social especial, quanto a outros encaminhamentos que

vão para além da Assistência Social, como as unidades de saúde, instituições que dem. auxilio

jurídico, entre outros.

[...] a gente não consegue fazer um fortalecimento de vínculos, a gente não consegue encaminhar esta família talvez pra algum grupo, não consegue, porque a gente não consegue atender uma família, a gente só atende individual, então as vezes a gente não sabe o que fazer, se ta acontecendo alguma violação de direitos, alguma situação de violência, alguma negligencia com aquela família, com as crianças, que muitas vezes vem crianças, a mãe vem gestante, né, as vezes a mãe já vem com uma demanda de depressão, muitas vezes a gente não consegue conversar direito com elas (P5).

Uma das profissionais relatou ter dificuldades em atender a demanda trazida pelo

usuário no momento do atendimento, pois, muitas vezes estes vêm com maiores expectativas,

muitas vezes em busca de emprego, auxilio moradia, entre outros e o CRAS enquanto

instituição não comporta o atendimento de todas estas necessidades.

[...] não tem onde ficar, nós não temos serviços de moradia, de nada, que a gente possa oferecer pra eles, e essa falta de oportunidades de emprego, é

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uma das maiores assim, que eu observo nos atendimentos, a gente não tem muito o que fazer com eles, né (P5).

Percebe-se também que para além das demandas trazidas pelo público imigrante, o

trabalho realizado pelo profissional Assistente Social também acaba por ser prejudicado, pois

as parametrizações e regulamentações da PNAS (2004) tornam-se um limite para a atuação

profissional, visto que atende da mesma maneira todos os usuários, restringindo assim as

especificidades dos usuários imigrantes.

[...] a gente tem tratado só o povo brasileiro, né, na nossa questão brasileira, mas essa população imigrante cada dia aumenta mais, e quase não tem políticas para eles, políticas de acesso para eles, eu acredito que a gente precisa melhorar as nossas leis, as nossas políticas para que eles possam acessar também, porque MINHA CASA MINHA VIDA eles não podem, pela questão de documentação, e tudo mais, aqui é um negocio meio limitado, então eu acredito que melhorar primeiro ali pra depois a gente pensar em outras redes de acesso, né (P5).

Diante das limitações postas pela PNAS (2004) verifica-se com as entrevistas que um

dos profissionais vê a falta de recursos financeiros como principal dificuldade para o

atendimento das demandas trazidas pelo público de imigrantes. Dado que programas de

inclusão produtiva anteriormente existentes para acesso no CRAS, agora deixaram de existir

por falta de investimento público. Investimento público que é tencionado por uma série de

fatores econômicos e políticas que se vinculam ao ajuste fiscal dos governos frente a atual

crise econômica, onde a Politica Nacional de Assistência Social não se efetiva em sua

plenitude. Estas situações que se vinculam a falta de recursos para a realização das atividades

afetam diretamente o exercício profissional, posto que é na materialidade do cotidiano, na

relação singular que se tem com o usuário é que o Assistente Social atuara enquanto mediador

de políticas sociais

[...] eu acho que ta muito, muito difícil, a parte de recursos não tem o que oferecer, que nem eu disse pra você agora pouco, aquele a programa do governo, PRONATEC, que uma vez tinha, então, você trabalhava mais, você tinha um direcionamento, e hoje não tem, hoje não tem recurso, não tem serviço, não existe essa demanda reprimida, porque eles nem vem, quando existia, tinha uma lista de demanda reprimida, porque, eles ficavam esperando, ele vinham, eles enfrentavam a ansiedade, pra fazer tal coisa, então eles tinha que ir lá, eles tinham trabalho, e você ia chamando, só que hoje a gente não tem o que oferecer [...](P2).

Todos os profissionais entrevistados afirmaram que os benefícios e serviços oferecidos

pelo CRAS no município de Cascave–Paraná para o publico de imigrantes são os mesmos

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oferecidos aos brasileiros, pois se considera que o imigrante enquanto cidadão de direitos da

mesma forma que todos os outros. Nota-se com a resposta dos profissionais relativas à

pergunta sobre a percepção quanto às dificuldades encontradas relativas à implantação da

PNAS (2004) para o público de imigrantes que se faz necessário um olhar mais atento a este

público, de modo que o CRAS possa atender as especificidades presentes nas demandas

trazidas por este público.

eu acredito que a proteção social básica deveria articular estratégias para que os usuários imigrantes haitianos tenham acessibilidade nos serviços ofertados pelo CRAS tendo em vista pela diretriz lá do SUAS, que é a equidade, eles já tem uma condição, é, a questão do preconceito, por falar outra língua, por ser de outra nacionalidade, por ter uma série de questões culturais, eu acredito que deveria sim, ser articulado planos, programas e projetos para que a população tenha mais acesso às outra políticas para os outros serviço da rede também (P1).

Quanto à pergunta sobre a percepção dos profissionais quanto aos serviços

socioassistenciais da proteção social básica no que tange o atendimento ao público de

imigrantes, percebe-se que na concepção dos profissionais a proximidade com as famílias dos

imigrantes estando o CRAS inserido no território contribui de forma significativa com o

reconhecimento das demandas advindas aos profissionais. Porém nota-se que o serviço

prestado pelos profissionais ainda não atinge a essa unidade, pois conforme a concepção da

PNAS (2004) quanto a matricialidade familiar não se aplica devido aos vários arranjos

familiares.

[...] estar trabalhando na proteção social básica, a gente consegue ter mais, estar mais próximo das famílias, porque a gente faz visita domiciliar, é uma das atribuições aqui do CRAS, então estando perto das famílias, das pessoas de nacionalidade haitiana, a gente consegue identificar fatores de risco, é, vulnerabilidades, a gente consegue, é, repassar isso pra gestão e também a gente consegue orientar eles de acordo com o que a gente consegue, como a gente consegue se comunicar com eles, se a gente não consegue se comunicar com eles ai fica mais difícil, né, a gente identificam os problemas, porque a proteção social básica esta mais próxima das famílias, com o acompanhamento do PAIF e tal (P1).

Dois dos profissionais entrevistados destacaram o papel do SCFV para o

fortalecimento de vínculos familiares e comunitários para o público imigrante, como uma

estratégia de inclusão social que promova oportunidades de um modo geral para a inserção

destes na comunidade.

[...] mas a gente esta a anos luz, pra eles vai demorar muito ainda, por

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exemplo, nós, o CRAS mesmo, o que a gente tem pra ofertar estes serviços, não tem nada especifico pra eles, né, assim ó, não é sobre fazer cursos, não é nada disse, mas eu digo assim, alguma coisa que facilitasse essa comunicação, que eles pudessem frequentar, que fortalecesse eles enquanto a nossa população, alguma coisa nesse sentido, ta, então, acho que a gente deve avançar, eu acredito que a gente vai avançar, que eles tão acessando, né, isso também é novidade, mas também vai demorar para eles serem totalmente incluídos (P4).

olha, essa questão de fortalecer os vínculos, é, trazer uma oportunidade pra eles, porque se eles saírem do país deles pra vir pra ca, é pra procurar uma oportunidade, né, eles estavam procurando essa oportunidade e a gente ta aqui fechando as portas, porque não tem, não tem o que a gente oferecer pra eles (P5).

Houve certa divergência de opiniões sobre a garantia do acesso destes usuários

imigrantes aos serviços da Assistência Social oferecidos pelo CRAS, pois um dos

profissionais afirmou que os imigrantes têm as mesmas oportunidades de acessar a todos os

serviços disponibilizados pelo CRAS que um usuário brasileiro, em contraposição outro

profissional afirmou que os mesmos não conseguem garantir e muito menos acessar a estes

direitos previstos na PNAS (2004).

[...] sendo imigrante ou não, o atendimento eu acho que é o mesmo para imigrante, ou não, então as dificuldades que eles, enfrentam são as mesmas que os brasileiros, tirando a parte da língua, da cultura, assim, que não é uma dificuldade que o serviço apresenta, né, é uma coisa que é natural deles, como nós que formos pra outro pais, a gente vai enfrentar essas barreiras como idioma, coisas diferentes e tudo mais (P4).

Conforme os profissionais entrevistados, a maioria destes imigrantes vem até o CRAS

por demanda espontânea, muitas vezes por indicação de familiares e conhecidos, apenas dois

dos entrevistados relataram ter recebido encaminhamentos via referencia de unidades de

saúde. Verifica-se novamente a falta e/ou dificuldade de inclusão e/ou encaminhamentos

destes usuários imigrantes aos serviços da rede intersetorial de Assistência Social, pois de

acordo com exposto pelos profissionais, esta ação não depende apenas deles, mas da visão e

do empenho de outros profissionais de outros serviços, que articulara de forma a referenciar e

contra referenciar as demandas postas por este público aos serviços.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do presente trabalho teve como tema e principal objetivo de analisar

teoricamente a proteção social básica na PNAS (2004) enquanto política pública de

Seguridade Social executada nos CRASs, no que diz respeito à especificidade no

atendimento/tratamento ao público de imigrantes no Município de Cascavel. Buscou-se

demonstrar a partir da pesquisa de campo como é realizada a absorção das demandas sociais

trazidas por estes imigrantes no âmbito dos atendimentos a este público. Bem como

compreender de que forma se realiza o fazer profissional do Assistente Social no CRAS e

quais são os desafios postos na perspectiva da conquista efetiva de direitos sociais e cidadania

nas intervenções profissionais para com o público de imigrantes.

Enquanto hipótese do presente trabalho se compreende que é necessária termos uma

atenção voltada para as imigrantes, visto que muitos vão até o CRAS em busca de auxílios

emergenciais, considerados benefícios eventuais. Nessa perspectiva parte-se do pressuposto

de que o atendimento realizado aos imigrantes haitianos no município de Cascavel não consta

de uma condição diferenciada na operacionalização da proteção social básica para promover a

sua condição social. Ou seja, capaz de envolver as diversas esferas para o convívio social

(cultural, econômico, educacional, social) e atendendo assim as necessidades básicas para

bem-estar. Tem-se ainda como hipótese que os profissionais assistentes sociais encontram

limites e desafios para intervenção qualificada a este público de imigrantes.

Verificou-se diante da hipótese do presente trabalho que a realização dos atendimentos

aos usuários imigrantes fica prejudicada, diante da compreensão dos profissionais de que na

falta de parametrizações advindas da PNAS (2004) não há uma preocupação em atende-los

concretamente, dado as diferentes especificidades que se apresentam nas demandas. Assim,

como não há algo especifico para o perfil destes usuários, estes também não se enquadram em

condicionalidades e programas de acordo com as diretrizes e parâmetros pré-definidos. Isto

torna-se uma dificuldade profissional na medida em que estes imigrantes ao apenas serem

atendidos na demanda imediata, ou seja, na concessão do beneficio emergencial do auxilio

alimentação acabam por ser privados de outros serviços da rede socioassistencial. Neste

sentido, verificou-se que alguns dos profissionais entrevistados utilizam técnicas e estratégias,

mesmo que paliativas de forma a tentar superar estas dificuldades encontradas na intervenção

profissional para com os usuários imigrantes.

A partir dos dados apresentados podemos concluir que no âmbito do trabalho

profissional do Assistente Social a dificuldade na comunicação é um dos principais entraves

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na realização dos serviços e encaminhamentos, onde se verifica a necessidade de permanente

capacitação para o atendimento deste publico. Isso se confirma juntamente com outra

dificuldade apontada que é a diferenciação cultural no que diz respeito à composição familiar,

pois muitas vezes a concepção de família e matricialidade familiar conforme apresentado na

PNAS (2004) não se aplica a este público em especifico dado a diversidade de arranjos

familiares que estes imigrantes compõem, onde muitas vezes apenas co-habitam na mesma

moradia. Assim, muitas vezes dependera da visão e do empenho dos profissionais durante o

atendimento, que poderão articular de forma a referenciar e contra referenciar dando uma

resposta mais concreta as demandas postas aos serviços. Diante do exposto, podemos afirmar

que a compreensão e concepção da proteção social básica de acordo com a PNAS (2004) não

se efetiva no fazer profissional cotidiano, visto que esta muito mais próxima de ações sociais,

imediatas e fragmentadas.

Diante do conjunto de necessidades e particularidades da condição do imigrante e da

compreensão de Proteção Social no âmbito da Seguridade Social conclui-se também que as

politicas públicas devem se articular para que esta se realize, o que não acontece, são

invisíveis no conjunto da política social. No que tange atividade laboral, uma das expectativa

do imigrantes para com a política de assistência, evidenciou-se que no momento não há um

programa que contemple o trabalho, fizeram uso do PRONATEC, mas no momento não são

contemplados. Excluídos deste circuito acabam vivenciando as mazelas da “questão social” e

as incertezas que instigaram sua imigração.

Diante da falta de compreensão dos imigrantes e do acesso a informações sobre a

PNAS (2004), podemos concluir que o direito a Assistência Social acaba não sendo

concretizado para este publico, visto por eles como uma espécie de ajuda. No que tange a

situação socioeconômica dos imigrantes entrevistados, vê-se que na falta de trabalho e renda,

estes imigrantes se unem em grupos, onde estabelecem laços de solidariedade, de forma a

dividir moradias, na busca por ajuda e/ou auxílios alimentares, no compartilhamento de

informações sobre a comunidade, entre outros. Compreendem que aqui no Brasil a condição

de vida esta melhor que em seu país de origem, mesmo não tendo perspectivas de trabalho

e/ou projetos de vida concretos, as oportunidades de sobrevivência são maiores.

Para a realização da pesquisa teórica utilizou-se da metodologia bibliográfica e

documental, bem como para a pesquisa de campo foram utilizados como instrumento de

coleta de dados questionários com perguntas abertas e fechadas. Com os dados coletados

propor-se uma analise de abordagem interpretativa qualitativa de pesquisa realizada

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juntamente com interpretação. Dentre os fatores que dificultaram a realização da presente

pesquisa estão, o não alcance do numero de profissionais entrevistados conforme o projeto,

devido poucos profissionais terem declarado ter realizado atendimentos ao público de

usuários imigrantes no ano de 2017, outra dificuldade é quanto à busca por usuários

imigrantes, visto que a maioria dos imigrantes cadastrados nos CRASs e procurados para a

entrevista não compreendiam e/ou não falavam o português, impossibilitando a realização das

entrevistas. O presente estudo realizado trouxe contribuições para com as formas de

implantação e as lacunas da PNAS (2004) no atendimento aos imigrantes; bem como trouxe

indicativos para o aperfeiçoamento desta política no âmbito dos CRASs do município de

Cascavel. Este trabalho poderá futuramente servir para qualificar o debate em torno a política

de assistência, principalmente no que tange a relação entre programas e público alvo; também

poderá contribuir para novos estudos que tenham por objetivo o debate em torno a imigração

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APÊNDICES

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APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Título do Projeto: A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNC IA SOCIAL E A

PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA AO IMIGRANTE NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL –

PR

Pesquisadores:

Ester Taube Toretta

Telefone (45) 99930-0852 Matheus Henrique Rossatto

Telefone (45) 99809-6568

Convidamos o (a) Assistente Social ______________________________________, a

participar de nossa pesquisa que tem por objetivo analisar a proteção social na política de

assistência no atendimento ao público de imigrantes executada no município de Cascavel nas

unidades de referência – CRAS. Nessa perspectiva parte-se do pressuposto de que o

atendimento realizado aos imigrantes deve ser realizado em sua completude, envolvendo as

diversas esferas que envolvem o convívio social (cultural, econômico, social) e atendendo

assim as necessidades básicas para bem-estar destes cidadãos. Para isso será realizado o

seguinte tratamento a sua pessoa, que consiste em responder um questionário com algumas

questões com perguntas abertas e fechadas referentes a PNAS (2004) e a sua

operacionalização no CRAS. A entrevista será gravada, com agendamento prévio e poderá

ocorrer no CRAS e/ou em algum local que seja público. Durante a execução do projeto

desejamos com as informações disponibilizadas não gerar riscos, custos e desconfortos ao

participante. Para fins de notificação do acontecimento e/ou recebimento de informações

necessárias, o pesquisador poderá ser contatado através dos telefone: (45) 9 9935-7458.

Através desta pesquisa poderá futuramente servir de referencial teórico para qualificar as

diversas formas e modalidades de políticas sociais oferecidas pelo Estado e Sociedade Civil,

assim como aperfeiçoar o tratamento ao tema imigração em diversos espaços institucionais.

Sua identidade não será divulgada e seus dados serão tratados de maneira sigilosa, sendo

utilizados apenas fins científicos. Você também não pagará nem receberá para participar do

estudo. Além disso, você poderá cancelar sua participação na pesquisa a qualquer momento.

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No caso de dúvidas ou da necessidade de relatar algum acontecimento, você pode contatar os

pesquisadores pelos telefones mencionados acima ou o Comitê de Ética pelo número (45)

3220-3092. Este documento será assinado em duas vias, sendo uma delas entregue ao sujeito

da pesquisa.

Declaro estar ciente do exposto e desejo participar da pesquisa. __________________________ ____________________________ Ester Taube Toretta Matheus Henrique Rossatto Nome Sujeito Pesquisa: _________________________________________ Nós, ESTER TAUBE TORETTA e MATHEUS HENRIQUE ROSSATTO , declaramos que fornecemos todas as informações do projeto ao participante e/ou responsável. Toledo, ______ de _____________ de 2017.

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APÊNDICE II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Título do Projeto: A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNC IA SOCIAL E A

PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA AO IMIGRANTE NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL–

PR

Pesquisadores:

Ester Taube Toretta

Telefone (45) 9 9930-0852 Matheus Henrique Rossatto

Telefone (45) 9 9809-6568

Convidamos o (a) Sr (a) ______________________________________, a participar de

nossa pesquisa que tem por objetivo analisar a proteção social na política nacional de

assistência social no atendimento ao público de imigrantes executada no município de

Cascavel nas unidades de referência – CRAS. Nessa perspectiva parte-se do pressuposto de

que o atendimento realizado aos imigrantes deve ser realizado em sua completude,

envolvendo as diversas esferas que envolvem o convívio social (cultural, econômico, social) e

atendendo assim as necessidades básicas para bem-estar destes cidadãos. Para isso será

realizado o seguinte tratamento a sua pessoa, que consiste em responder um questionário com

algumas questões com perguntas abertas e fechadas referentes a PNAS (2004) e a sua

operacionalização no CRAS. A entrevista será gravada, com agendamento prévio e poderá

ocorrer no CRAS e/ou em algum local que seja público. Durante a execução do projeto

desejamos com as informações disponibilizadas não gerar riscos, custos e desconfortos ao

participante. Para fins de notificação do acontecimento e/ou recebimento de informações

necessárias, o pesquisador poderá ser contatado através dos telefone: (45) 9 9935-7458.

Através desta pesquisa poderá futuramente servir de referencial teórico para qualificar as

diversas formas e modalidades de políticas sociais oferecidas pelo Estado e Sociedade Civil,

assim como aperfeiçoar o tratamento ao tema imigração em diversos espaços institucionais.

Sua identidade não será divulgada e seus dados serão tratados de maneira sigilosa, sendo

utilizados apenas fins científicos. Você também não pagará nem receberá para participar do

estudo. Além disso, você poderá cancelar sua participação na pesquisa a qualquer momento.

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No caso de dúvidas ou da necessidade de relatar algum acontecimento, você pode contatar os

pesquisadores pelos telefones mencionados acima ou o Comitê de Ética pelo número (45)

3220-3092. Este documento será assinado em duas vias, sendo uma delas entregue ao sujeito

da pesquisa.

Declaro estar ciente do exposto e desejo participar da pesquisa. __________________________ ____________________________ Ester Taube Toretta Matheus Henrique Rossatto Nome Sujeito Pesquisa: _________________________________________ Nós, ESTER TAUBE TORETTA e MATHEUS HENRIQUE ROSSATTO , declaramos que fornecemos todas as informações do projeto ao participante e/ou responsável. Toledo, ______ de _____________ de 2017.

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APÊNDICE III

FORMULÁRIO DE ENTREVISTA PARA IMIGRANTES CADASTRADO S NOS

CRAS’s DE CASCAVEL – PR

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

Curso: Serviço Social – Unioeste campus Toledo

Professor(a) orientador(a) de tcc: Ester Taube Toretta

Acadêmico (a): Matheus Henrique Rossatto

Objetivo geral da pesquisa: Analisar a proteção social na Política Nacional de

Assistência Social (PNAS) no atendimento ao público imigrante executada no

município de Cascavel nos Centros de referência em Assistência Social- CRAS

Sujeitos da pesquisa: Imigrantes cadastrados no banco de dados dos CRASs, no âmbito

da proteção social básica de Cascavel – PR que tenham entre 18 e 60 anos, e que

entendam o português brasileiro.

Local da entrevista: Unidades de referência CRAS de Cascavel – PR.

1. Qual é a sua idade, estado civil e nível de escolaridade?

2. Diante de sua compreensão do idioma português-brasileiro, o seu processo de

comunicação com os demais tem dificultado o acesso a informações sobre os serviços

prestados no CRAS e o que é considerado como seus direito na Política de Assistência

Social?

3. Já este inserido na comunidade em que mora atualmente?

4. Qual a sua ultima ocupação no seu país de origem, onde era domiciliado antes de vir

morar no Brasil?

5. Você esta a quanto tempo na cidade, pretende permanecer e porque veio a Cascavel?

6. Quem te indicou o CRAS?

7. Você já participou de alguma atividade ofertada/realizada pelo CRAS?

8. Quais são os principias motivos que levaram você até o CRAS?

9. Qual a sua opinião sobre os serviços e benefícios sociais oferecidos pelo CRAS?

Respondem as suas necessidades e a de sua família?

10. Qual a sua percepção em relação aos serviços de assistência social prestados no

CRAS?

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11. Os serviços de Assistência Social ofertados aos moradores Cascavelenses são

semelhantes aos ofertados aos imigrantes?

12. O que você conhece sobre a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) no

Brasil?

13. Dentre outros imigrantes que você conhece, eles conhecem os serviços fornecidos pelo

CRAS?

14. Quais outras Instituições você recorre a procurar algum tipo de ajuda e/ou assistência

para você?

Estou ciente dos objetivos da pesquisa e da inclusão dos dados fornecidos no Trabalho de

Conclusão de Curso, do Acadêmico Matheus Henrique Rossatto.

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APÊNDICE IV

FORMULÁRIO DE ENTREVISTA PARA ASSISTENTES SOCIAIS

INSERIDOS NAS UNIDADES DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA CRAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

Curso: Serviço Social – Unioeste campus Toledo

Professor(a) orientador(a) de tcc: Ester Taube Toretta

Acadêmico (a): Matheus Henrique Rossatto

Objetivo geral da pesquisa: Analisar a proteção social na política de assistência no

atendimento ao público de imigrantes executada no município de Cascavel nas

unidades de referência – CRAS

Sujeitos da pesquisa: profissionais Assistentes Sociais que trabalhem na proteção

social básica na unidades de referência CRAS do município de Cascavel – PR.

Local da entrevista: Unidades de referência CRAS de Cascavel – PR.

1. Você acredita que o processo de comunicação interfere no atendimento ao imigrante?

2. Quais as principais dificuldades enfrentadas para com o atendimento a população de

imigrantes?

3. Quais as principais demandas profissionais aos Assistentes Sociais advindas da

população imigrante?

4. Quais são os principais serviços oferecidos pela proteção social básica que a

população imigrante pode usufruir?

5. Quanto a PNAS (2004), em sua opinião quais as principais dificuldades de

implementá-la no que diz respeito as especificidades da população imigrante?

6. Qual é a expectativa dos imigrantes sobre o CRAS quanto aos serviços ali realizados?

7. Em sua maioria o público imigrante é encaminhado pela rede e/ou por demanda

espontânea?

8. Qual é sua percepção quanto a proteção social básica de cada espaço socioassistencial

e o fazer profissional no que diz respeito a população imigrante?

9. Frente ao contingencionamento de investimentos públicos e a demanda reprimida qual

a sua compreensão frente ao direito do imigrante?

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Estou ciente dos objetivos da pesquisa e da inclusão dos dados fornecidos no Trabalho de

Conclusão de Curso, do Acadêmico Matheus Henrique Rossatto.

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ANEXOS

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