serviÇo social: lutas e conquistas

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SERVIÇO SOCIAL: LUTAS E CONQUISTAS 1 Fábio Pereira Soares 2 Matheus Silva Lima Juliana Maria Batistuta Teixeira Vale 3 Maria Guilhermina Coelho De Pieri Resumo Este artigo tem por finalidade descrever, e analisar os processos pelo qual a profissão do Serviço Social passou, desde seus fundamentos na sociedade capitalista, até o século XX no auge de sua ascensão, onde a profissão não se resume ao simples assistencialismo, e passa a compor posições de emancipação do individuo, criação e execução de políticas públicas, onde se expressam sua demanda de trabalho nas questões sociais compostos pelo sistema capitalista tardio. Para esta breve análise foram utilizados como referencia diversas obras referente à profissão desde seu início até o século XX no mundo e no Brasil. Palavras-chave: Capitalismo; Serviço Social; Serviços Sociais; Questão Social. Abstract This article aims to describe and analyze the processes by which the profession of Social Work has grown from its roots in capitalist society, until the twentieth century at the peak of its ascent, where the profession is not restricted to simple welfare, and shall be composed of positions of individual emancipation, creation and implementation of public policies, where they express their demand for labor in social composed by the late capitalist system. For this brief analysis were used as reference several works on the 1 Texto elaborado a partir dos processos de reprodução sofridos pelo Serviço Social como requisito de avaliação para as disciplinas de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I e Métodos e Técnicas de Pesquisa. 2 Alunos do 2º Período do Curso de Serviço Social da Faculdade Católica de Uberlândia. 3 Professoras orientadoras da Faculdade Católica de Uberlândia.

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Este artigo tem por finalidade descrever, e analisar os processos pelo qual a profissão do Serviço Social passou, desde seus fundamentos na sociedade capitalista, até o século XX no auge de sua ascensão, onde a profissão não se resume ao simples assistencialismo, e passa a compor posições de emancipação do individuo, criação e execução de políticas públicas, onde se expressam sua demanda de trabalho nas questões sociais compostos pelo sistema capitalista tardio. Para esta breve análise foram utilizados como referencia diversas obras referente à profissão desde seu início até o século XX no mundo e no Brasil.

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SERVIÇO SOCIAL: LUTAS E CONQUISTAS1

Fábio Pereira Soares2

Matheus Silva LimaJuliana Maria Batistuta Teixeira Vale3

Maria Guilhermina Coelho De Pieri

Resumo

Este artigo tem por finalidade descrever, e analisar os processos pelo qual a profissão do Serviço Social passou, desde seus fundamentos na sociedade capitalista, até o século XX no auge de sua ascensão, onde a profissão não se resume ao simples assistencialismo, e passa a compor posições de emancipação do individuo, criação e execução de políticas públicas, onde se expressam sua demanda de trabalho nas questões sociais compostos pelo sistema capitalista tardio. Para esta breve análise foram utilizados como referencia diversas obras referente à profissão desde seu início até o século XX no mundo e no Brasil.

Palavras-chave: Capitalismo; Serviço Social; Serviços Sociais; Questão Social.

Abstract

This article aims to describe and analyze the processes by which the profession of Social Work has grown from its roots in capitalist society, until the twentieth century at the peak of its ascent, where the profession is not restricted to simple welfare, and shall be composed of positions of individual emancipation, creation and implementation of public policies, where they express their demand for labor in social composed by the late capitalist system. For this brief analysis were used as reference several works on the profession since its inception to the present day in the world and in Brazil.

Keywords: Capitalism; Social Work; Social Services; Social Question.

1. Introdução

O seguinte texto tentará resgatar no contexto histórico, as evoluções e progressos que

ocorreram com a profissão Serviço Social. Durante essa conjuntura a profissão alcançou sua

independência e empoderamento, na qual a questão social revelada pela luta de classes

estabelecida entre proletários e burgueses num dado momento de transição econômica do

sistema feudal para o que se tornaria posteriormente o sistema capitalista de produção,

momento esse de ascensão das cidades e da industrialização, o que provocaria a pauperização

de grande parte da sociedade, uma vez que os meios de produção ficaram retidos nas mãos

dos chamados burgueses, que eram poucos, se comparados à classe assalariada. A partir desse 1 Texto elaborado a partir dos processos de reprodução sofridos pelo Serviço Social como requisito de avaliação para as disciplinas de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I e Métodos e Técnicas de Pesquisa.2 Alunos do 2º Período do Curso de Serviço Social da Faculdade Católica de Uberlândia.3 Professoras orientadoras da Faculdade Católica de Uberlândia.

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momento começam os grandes antagonismos provocados pelo sistema capitalista,

desencadeando a questão social durante toda a trajetória desse sistema no mundo e no Brasil

até a década de 50 no século XX. Portanto o objetivo desse estudo é o de relatar a passagem

da caridade tradicional para a racionalização da atividade assistencial, que institui a prestação

de serviços sociais pelo Estado.

2. Questão Social e a sociedade Capitalista

A sociedade capitalista tem seu início na Inglaterra, entre os séculos XVI e XVII, com

a crise no regime feudal e a ascensão da burguesia que passa a ser detentora dos meios de

produção. “[...] os burgueses passam a controlar o mercado urbano, através de seus

monopólios. Os centros de poder se deslocam dos feudos para os burgos.” (MARTINELLI,

2003: 32)

Os burgueses, além de serem os donos de boa parte dos meios de produção, segundo

Martinelli (2003), também exerciam grande influência política e econômica, submetendo

pequenos produtores e artesãos ao seu poder. A legislação da época também ajudava a

impulsionar o movimento capitalista:

Na agricultura, onde o lucro já não provinha mais da terra, mas de seu uso comercial, os grandes proprietários estavam autorizados pela legislação promulgada pelo Parlamento Inglês e pela Casa Real, conduzida neste momento pela dinastia Tudor (1485-1603), a cercar suas propriedades e impedir a entrada dos camponeses que outrora tiravam seu sustento da terra. Na cidade, começavam a surgir as fábricas — fruto das novas invenções e do avanço técnico — com sua crescente demanda de trabalhadores. (MARTINELLI, 2003, p.33).

Os séculos XVII e XVIII foram de fundamental importância para a expansão do

capitalismo servindo ambos de cenário para grandes revoluções que transformariam a

sociedade capitalista, no século XVII a Revolução Inglesa e no século XVIII a Revolução

Francesa que teve grande importância política.

Mesmo com esses movimentos de transição para o capitalismo, esse sistema não tinha

ainda se fixado totalmente como regime prioritário, o que só veio a acontecer de fato com a

Revolução Industrial:

[...] que se iniciou na Inglaterra no final do século XVIII e que ao longo da primeira metade do século XIX se irradiou por toda Europa Ocidental e através dos fluxos migratórios atingiu também os Estados Unidos, não significa apenas o momento das grandes invenções que vieram a

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revolucionar as técnicas e o processo de produção. Significa o momento crucial de surgimento e ascensão do capitalismo industrial. (MARTINELLI, 2003, p.35-36).

O século XIX é marcado pela revolta dos trabalhadores que desiludidos das promessas

da Revolução Francesa, de melhorias nas condições de trabalho e maiores direitos a classe

trabalhadora. Agora buscam por si mesmos seus ideais.

Nesse momento os trabalhadores vão viver suas maiores incertezas e frustrações com

o surgimento da questão social.

Entende-se por questão social, aquilo que fundamenta as desigualdades sociais. Isso

significa que o surgimento da questão social se da desde o início da sociedade capitalista

quando os pequenos produtores são destituídos dos meios de produção pelo Estado e pela

burguesia. A acessão do capitalismo, retirou o homem da terra, lugar onde ele produzia e

tirava seu próprio sustento para sua sobrevivência, assim o homem tomado de suas terras e de

seu lugar de plantio, obrigado a se sujeitar as condições de trabalho que o próprio capital

exigia. Nascia as primeiras expressões da questão social surgiram, a fome, o desemprego, a

exploração da força de trabalho e condições de miséria entre a população.

É no século XX que as conseqüências dessa desigualdade afetam com mais rigor os

trabalhadores. O sistema capitalista vivia agora momentos de tensão, momentos esses que

pareciam levar à sua autodestruição, já que as causas de todas as crises provinham do próprio

sistema, que cada vez mais era afetado com guerras e crises econômicas, resultando em

desemprego, pobreza e incerteza.

A sociedade capitalista estava à beira do colapso, com uma economia deteriorada e com um quadro social bastante preocupante, em que os índices de desemprego cresciam e o pauperismo se generalizava. [...] O final da terceira década do século XX foi marcado por uma crise econômica mundial muito mais densa e profunda do que todas as crises provocadas pela Grande Depressão. O desemprego atingia níveis alarmantes, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, porque não havia condições de absorção da mão-de-obra. A pobreza e todo o conjunto de problemas sociais a ela associados cresciam sensivelmente. (MARTINELLI, 2003, p.94).

O capitalismo conseguiu se restaurar, voltando-se, no dizer de Martinelli (2003) “para

uma nova faze, a monopolista, que se fortalecia com a aliança das classes dominantes e do

Estado”. Porém, esse movimento de crescimento não trouxe consigo a classe trabalhadora,

que sofria com as conseqüências desencadeadas pela questão social.

As classes dominantes além de se preocuparem com a expansão de seus negócios e de

acumular riqueza, precisavam também encontrar uma maneira de tratar a questão social.

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Era preciso encontrar novas formas de equacionamento da “questão social”. [...] As novas estratégias de atendimento à “questão social” precisavam, portanto, levar em conta essa nova organização societária, em que uma renovada correlação de forças: de um lado um combatitivo proletariado, de outro uma ofensiva classe dominante, ambos circundados por uma pauperizada e faminta massa de trabalhadores, já expulsos do mercado ou nele esperando adentrar. (MARTINELLI, 2003, p.95).

3. Serviços Sociais e Serviço Social

A criação dos serviços sociais acontece no século XX, diretamente ligados à sociedade

capitalista e a importante noção de cidadania que se expandia. No dizer de Iamamoto e

Carvalho (2000: 90) “a noção de igualdade de todos os homens perante a lei com direitos e

obrigações derivados de sua condição de participantes integrais da sociedade, ou seja, de

cidadãos”.

O Estado começa a assumir seu papel na sociedade no plano social, a principio com a

educação pública, diminuindo o espaço para ações liberais e assim vai assumindo a frente das

ações sociais.

As contradições da sociedade capitalista, que gera desigualdade, pregando igualdade e

liberdade para todos os cidadãos, faz com que se pense em uma sociedade mais justa, onde tal

igualdade de direitos possa se tornar realidade.

Nesse contexto então é que a construção dos serviços sociais é voltada principalmente

à classe assalariada que não tem acesso a todos os seus direitos devido aos baixos salários.

Ora, os serviços sociais são uma expressão concreta dos direitos sociais do cidadão, embora sejam efetivamente dirigidos àqueles que participam do produto social por intermédio de cessão de seu trabalho, já que não dispõe do capital nem da propriedade da terra. São serviços a que têm direito todos os membros da sociedade na qualidade de cidadãos, são serviços que vêm suprir as necessidades daqueles cujo rendimento é insuficiente para ter acesso ao padrão médio de vida do ‘cidadão’, são portanto, a esses efetivamente dirigidos e por eles consumidos predominantemente. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004, p. 91).

Esses direitos que são repassados aos cidadãos em forma de serviços, quando

necessários. São promovidos pelo Estado, que recebe parte de capital das empresas, dos

proprietários de terra, dos próprios trabalhadores, em fim, por toda a população. Essa riqueza

é repassada para o Estado em forma de taxas e impostos.

O Estado tem o dever então de devolver essa riqueza social coletada de toda a

população em forma de serviços sociais, e o faz. Porém leva um crédito que não lhe é seu por

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direito, e sim dos contribuintes, como se estivesse promovendo esses serviços por conta

própria.

Algumas empresas também cumprem o papel social, mas não com recursos próprios,

já que sua riqueza é gerada pela classe operária, mas são elas que levam o crédito também.

Assim é que tais serviços nada mais são, na sua realidade substancial, do que uma forma transfigurada de parcela do valor criado pelos trabalhadores e apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, que é devolvido a toda a sociedade (em especial aos trabalhadores, que deles mais fazem uso) sob a forma transmatada de serviços sociais. [...] Porém, ao assumirem esta forma, aparecem como sendo doados ou fornecidos ao trabalhador pelo poder político diretamente ou pelo capital, como expressão da face humanitária do Estado ou da empresa privada. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004, p.92).

Para controlar a classe trabalhadora e também os serviços prestados à ela, é criado um

profissional encarregado dessas funções.

Surge então o Serviço Social, já com a identidade atribuída pela classe dominante,

com o objetivo de controlar a massa trabalhadora e divulgar a ideologia capitalista.

Assim, contribui como um dos mecanismos institucionais mobilizados pela burguesia e inserido no aparato burocrático do Estado, das empresas e outras entidades privadas, na criação de bases políticas que legitimem o exercício do poder de classe, contrapondo-se às iniciativas autônomas de organização e representação dos trabalhadores. Intervém, ainda, na criação de condições fornecedoras da reprodução da força de trabalho, através da mediação dos serviços sociais, previstos e regulados pela política social do Estado, que constituem o suporte material de uma ação de cunho ‘educativo’, exercido por esses agentes profissionais. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004, p.94).

Porém, o capitalismo é um movimento que vive em constante contradição. Com isso, o

Serviço Social deixa de ser apenas ferramenta de dominação pela classe dominante, para virar

uma importante arma de luta a favor dos direitos dos trabalhadores, que por sua vez, se souber

usá-la pode obter grandes conquistas sociais.

Isso não significa uma total inversão dos papeis, pois vai depender da relação entre

classe dominante e trabalhadores a operacionalização da atividade dessa profissão. Ela pode

ser utilizada tanto para mecanismo de repressão, quanto de libertação dos trabalhadores.

No desempenho de sua função intelectual, o Assistente Social, dependendo de sua opção política, pode configurar-se como mediador dos interesses do capital ou do trabalho, ambos presentes, em confronto, nas condições em que se efetiva a prática profissional. Pode tornar-se intelectual orgânico a serviço da burguesia ou das forças populares emergentes; pode orientar a sua atuação reforçando a legitimação da situação vigente ou reforçando um projeto político alternativo, apoiando e assessorando a organização dos trabalhadores, colocando-se a serviço de suas propostas e objetivos. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004, p. 95).

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Portanto, o caráter do profissional que exerce essa função é de fundamental importância na

aplicação da prática profissional nas relações sociais de trabalho entre classe dominante e

trabalhadores, determinando seu posicionamento ao capital ou indignando-se com as

condições de exploração vividas pelos trabalhadores. Por isso a importância de uma boa

formação política desse profissional.

4. O Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais

O processo de reconstrução do objeto de estudo faz um esforço para captar o

significado dessa profissão na sociedade capitalista, lembrando que o Serviço Social nasce em

meio aos conflitos existentes entre capital e trabalho, a profissão tornou-se a especialização do

trabalho que busca apreender as implicações sociais que conformam as condições desse

exercício profissional na sociedade atual.

[...] cabe afirmar que a reprodução das relações sociais não se restringe à reprodução da força viva de trabalho e dos meios objetivos de reprodução [...] refere-se à reprodução das forças produtivas e das relações de produção na sua globalidade, envolvendo, também, a reprodução da produção espiritual, isto é, das formas de consciência social: jurídicas, religiosas, artísticas ou filosóficas, através das quais se toma consciência das mudanças ocorridas nas condições materiais de produção. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004, p. 72)

O Serviço Social busca compreender a classe trabalhadora, intervindo diretamente nas

condições postas entre as lutas de classe, junto aos mecanismos que a sociedade possui e

reproduz, busca levar consciência aos trabalhadores a fim de manter uma sociedade justa e

igualitária. O que não faz deixar de responder os interesses do capital. Participa tanto dos

mecanismos de dominação e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da

resposta às necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora (Iamamoto, 2004).

O Serviço Social trabalha a fim de atender as expressões da sociedade, essa

demandada pela questão social presente nas relações sociais. De modo a buscar intervenções

junto à sociedade civil, poderes públicos e interesses privados, como mecanismo de atuação

pelas políticas públicas desenvolvidas com caráter de atender essa demanda, que se reproduz

na relação entre capital e trabalho.

O trabalho do Assistente Social se alia aos poderes públicos, os mesmos desenvolvem

juntas as políticas publicas que atendem a demanda da sociedade, o profissional tem por dever

levar conhecimento e alcance da população a direitos, seu modo de ver e de atuar envolve

diretamente na vida cotidiana como, organizador e construtor das relações sociais.

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[...] tem o papel de dar-lhes homogeneidade e consciência de sua função, isto é, de contribuir na luta pela direção social e cultural dessas classes na sociedade. Trata-se do “organizador, dirigente e técnico” que coloca sua capacidade a serviço da criação de condições favoráveis à organização da própria classe a que se encontra vinculado. (IAMAMOTO, 2004, p. 87)

A profissão conquistou seu espaço em meio às relações sociais, com luta e tomada de

consciência da população levou a profissionalização do assistencialismo a uma esfera

profissional, com grande poder de atuação, com estas condições o Serviço Social busca em

sua base hegemônica conquistar espaços junto com a sociedade para se fazer profissional da

própria sociedade.

5. O surgimento do Serviço Social na Europa e nos Estados Unidos (linha psicanalítica x sociológica)

O tratamento da questão social na Europa e nos Estados Unidos tomou caminhos

diferentes, constituindo assim práticas operacionais e metodologias de seus Assistentes

Sociais distintas em ambos os lugares.

Nos Estados Unidos, dava-se mais ênfase ao tratamento do indivíduo como sendo base

das relações sociais, uma vez que tratado o caráter de cada pessoa, o coletivo como um todo já

estaria normatizado nos padrões definidos pela sociedade americana. Assim:

A ‘questão social’, nesse enfoque, era vista de forma bastante reducionista, como manifestação de problemas individuais, passíveis de controle através de uma prática social cada vez mais nitidamente concebida como uma atividade reformadora do caráter. Assim, nos Estados unidos enfatizou-se muito a busca de conhecimentos científicos, especialmente no contexto da Psicologia, da Psicanálise, da Medicina e até mesmo do Direito. A ênfase na abordagem individual e a apreensão do Serviço Social como atividade reformadora do caráter demandavam segurança na utilização de teorias, conhecimentos e conceitos produzidos naquelas áreas. (MARTINELLI, 2003, p. 114-115).

Enquanto isso na Europa, entendia-se que não cabia ao indivíduo se adequar a

sociedade, e sim a sociedade deveria se adequar ao indivíduo. Diferente da linha psicanalítica

do Estados Unidos, a visão sociológica da Europa entendia que mais importante que tratar

fatos isolados em cada indivíduo, era tratar a causa dessa problemática na sociedade. Portanto

na Europa:

[...] as lideranças das Sociedades de Organização da Caridade que, em vez de agir sobre os indivíduos para mantê-los ajustados à sociedade, era preciso agir sobre esta, para que não se desestabilizasse com as pressões por eles exercidas. Mais importante do que controlar conflitos os desajustes

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individuais era obter clareza na compreensão da estrutura da sociedade e dos problemas que nela ocorriam, ou sobre ela incidiam. Fazia-se necessário buscar teorias, conhecimentos e conceitos que, superando o limite do aparente e do individual, permitisse a penetração no contexto social e a apreensão dos problemas em suas manifestações mais amplas. Para tanto, as Sociedades de Organização da Caridade européias trataram de buscar reforço nas ciências sociais, notadamente na Sociologia, na Economia, e depois na Pesquisa Social. (MARTINELLI, 2003, p. 115).

O caminho seguido pela linha sociológica do Serviço Social na Europa também sofria

grandes influências do Positivismo de Auguste Comte (1798-1857) e da Igreja Católica, o que

determinava em sua prática uma posição de maior conservadorismo.

O pensamento conservador, associado ao forte vínculo com a Igreja Católica, que foi tornando-se presença dominante no Serviço Social europeu, trouxe para a prática social, ainda com maior ênfase, a dimensão do controle, da repressão e do ajustamento aos padrões estabelecidos pela sociedade burguesa constituída. (MARTINELLI, 2003, p. 116).

Não obstante dessa ideologia de repressão, o Serviço Social americano também

exerciam semelhante poder de controle da classe trabalhadora, porém em alguns momentos de

maneira mais mascarada.

[...] a proposta americana de prática insistia em se fazer presente, infiltrando-se nas ações desenvolvidas pelos agentes sociais. Assim, não obstante se ampliassem os limites da abordagem para a dimensão grupal, ou o alcance dos objetivos para a administração dos conflitos sociais, a marca da função repressiva e de controle da prática social ali estava, ora de forma clara, ora mais veladamente, porém sempre determinando os rumos da ação profissional. (MARTINELLI, 2003, p. 116-117).

6. Precursores e Pioneiros do Serviço Social

6.1- Juan Luiz Vivés

Juan Luiz Vivés nasceu no dia 06 de março de 1492 na cidade de Valencia, filho de

uma família nobre, mas sem muitos recursos financeiros, Juan era católico, estudou em uma

faculdade fundada pelo Papa Alexandre VI, e Frei Ferdinando, muito inteligente, tomava

partido com seu mestre contra as novas tendências humanista.

Em 1509 mudou para Paris, para terminar seus estudos de: letras, filosofia, ciências

naturais e direito, e em 1521 mudou para cidade de Bruges, onde se casou, viveu e morreu

sendo enterrado ao lado da sua esposa.

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Vivés tornou-se um grande filosofo, lecionou em diversas faculdades, mas sua opinião

era contrária de vários pedagogos na época, esses, porém diziam que o acesso aos estudos não

era para toda a população, porque pensavam que pessoas más poderiam usar os saberes para

fazer algo de ruim aos outros, Vivés dizia que uma boa educação deve começar cedo, o

professor deve ser amigo do seu aluno, as punições devem ser poucas, e o professor deve

aceitar que os alunos atravessam períodos que trabalhem bem e outros quando o rendimento é

deficiente.

De 1525 á 1526 Vivés escreveu sua obra mais conhecida “De Subvencione Pauperum”

(Da Assistência aos Pobres), que apresentava a primeira teoria leiga sobre assistência publica,

não é fácil ler a obra de Vivés, esta obra não foi muito bem aceita a igreja, pelos magistrados

de Bruges, nem pela nobreza da época, porque o livro registrava a laicização ou a

municipalização da assistente, isto era contrario a doutrina deixada pelo pobre de Assis.

Sua obra não era fácil de ser lida na época, Vivés apesar de ser da época da

Cristandade, bastante conhecedor das doutrinas da igreja, propôs questões que só seriam

colocadas em pratica cinco séculos á frente, por isso grande parte da população na época não

entendia o que ele queria falar em sua obra.

Na sua obra Vivés apresenta duas partes, em uma fala da assistência prestada por

particulares, e na segunda a qual hoje se coloca em pratica, fala da responsabilização do

governo diante destas situações miseráveis destas pessoas.

A contribuição de Vivés a profissão, se deu pelo despertar da consciência de pessoas

que perceberam que a caridade deve ser dever de quem tem para fazer, sendo que esta teoria

só foi colocada em prática séculos mais tarde.

6.2- São Vicente de Paula

São Vicente de Paula nasceu no dia 24 de abril de 1581, na aldeia de Pooy próximo Dax

ao sul da França, filho terceiro do casal Jean Depaul e Bertrade Demoras, família de

agricultores onde todos ajudavam nas atividades do campo.

São Vicente na sua infância e no começo de sua adolescência se mostrou muito apegado

aos livros, o que despertou em seus pais o interesse de investir nos estudos do filho e em 1595

decidirá mandá-lo para o colégio de Dax onde cursou os estudos básicos.

Para seguir carreira sarcedotal fez os estudos teológicos na universidade de Tolusa, e em

23 de setembro de 1600 foi ordenado sacerdote. Continuou com os estudos e recebeu o titulo

de Doutor em teologia.

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Em 16 de junho de 1737 São Vicente de Paulo foi canonizado, e visto pela igreja como o

pai da caridade, este titulo foi dado a São Vivente pela sua trajetória sacerdotal, prestando

serviços a população, Ele fundou criarias, abrigos para as crianças que os pais rejeitaram,

socorro aos mendigos.

São Vicente de Paulo conseguia ter um olhar para o indivíduo de maneira a promove-lo,

como com os mendigos, eles eram separados em: pobres impotentes, eram pessoas que não

tinham condições de subsistência; pobres válidos, podiam trabalhar e sua situação era revista

a cada dois anos e os pobres capazes, tinham capacidade de trabalhar, eram encaminhados a

empregos, mas se voltassem a mendigar eram presos por vagabundagem, segundo o que

estava na lei dos pobres.

Desenvolvia trabalhos também com as crianças, ensinava as meninas a atividade

domesticas e aos garotos os trabalhos manuais.

Uma grande contribuição para o Serviço Social, São Vicente realizava o assistencialismo,

pregado pela igreja com o apoio das damas de caridade, mas Ele conseguia levar o individuo a

sua independência.

7. Serviço Social no Brasil            

O surgimento do Serviço Social no Brasil teve como marco um movimento social da

Igreja Católica que objetivava recristianizar a sociedade, motivada pelo crescimento da

industrialização e das populações das áreas urbanas, surgindo daí a necessidade de controlar a

massa operária. Neste momento, o Estado absorve parte das reivindicações populares, que

demandavam condições de reprodução: alimentação, moradia, saúde, ampliando as bases do

reconhecimento da cidadania social, através de uma legislação social e salarial. Essa atitude

visava principalmente o interesse do Estado e das classes dominantes de atrelar as classes

subalternas ao Estado, facilitando sua manipulação e dominação, IAMAMOTO (2004).

              Partindo do objetivo de obter um controle ainda mais amplo, o Estado passa a intervir

não somente na regulação do mercado, através de política salarial e sindical, como também no

estabelecimento e controle de uma prática assistencial.

         Nesse processo histórico, a partir da década de 30, quando a cidade do Rio de Janeiro,

momento em que esta era Distrito Federal, possuía um grande número de habitantes resultante

do êxodo rural, a carência de emprego resultante da desestruturação da agricultura, fez com

que a crescente migração fosse inevitável somatizada à acelerada industrialização urbana que

demandava mão-de-obra excedente.

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Assim, a partir destes fatores: escassez de emprego no campo e crescimento da oferta

de emprego na cidade se caracterizou um panorama que resultou na chegada numerosa de

migrantes para a cidade.

Em um contexto de transição da economia brasileira, quando esta passava de agrário-

exportadora para industrial, ocorreu à construção de algumas indústrias, que demandavam

mão-de-obra e investimento em obras de infra-estrutura, tais como: abertura de estradas,

suprimento de energia e etc., sendo o êxodo rural fator constituinte na viabilização do

atendimento desta oferta por mão-de-obra, que embora abundante, necessitava ser

disciplinada para o trabalho.

Visando atingir esse objetivo disciplinador, o Estado lançou estratégias tanto

institucionais, quanto ideológicos, sendo o Serviço Social e o Assistente Social agente de

suma importância nesse processo.

 O Estado assume paulatinamente uma organização corporativa, canalizando para sua órbita os interesses divergentes que emergem das contradições entre as diferentes frações dominantes e as reivindicações dos setores populares, para em nome da harmonia social e desenvolvimento, da colaboração entre as classes, repolitizá-las e discipliná-las, no sentido de se transformar num poderoso instrumento de expansão e acumulação capitalista (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004, p.151).

  O Serviço Social enquanto profissão situa-se no processo de reprodução das relações sociais,

como atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e na difusão da ideologia

da classe dominante sob a classe trabalhadora

No delinear desse processo, durante o período da ditadura do Estado Novo

(1937/1945) foram criadas instituições de assistência social no Brasil, dentre elas, o CNSS

(Conselho Nacional de Serviço Social), criado em 1938, tendo como objetivo centralizar e

organizar as obras assistenciais públicas e privadas, utilizando-se como mecanismo de

clientelismo político e de manipulação de verbas e subvenções públicas e a LBA (Legião

Brasileira de Assistência), criada em 1942, organizada em conseqüência do engajamento do

país na Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de prover as necessidades das famílias,

cujos chefes haviam sido mobilizados para a guerra.

Tal conjuntura favorece sua criação, uma vez que ocorreu significativa queda do poder

aquisitivo do proletariado e da pequena burguesia urbana, ainda que dispondo de técnicos

capacitados para a função, o comando da LBA esteve entregue as Damas de Caridade,

caracterizando o aspecto filantrópico, de ações clientelistas, conforme os interesses dos

governos atuantes.

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Neste sentido, as instituições sociais e assistenciais, a partir da década de 30, tornam-

se instrumentos de controle social e político dos setores dominados e de manutenção do

sistema de produção tanto por seus efeitos econômicos, quanto pela absorção dos conflitos

sociais e das relações sociais vigentes.

A partir do período seguinte de 1946 a 1964 temos um panorama que não constou de

mudanças significativas no campo das instituições de assistência, pois o Estado deu

continuidade ao controle nas relações existentes e mesmos no que se refere às demandas

sociais, buscava-se focalizar o trabalho nas disputas eleitorais, quando apontamos as seguintes

instituições:

Fundação Leão XIII: Criada em 1946 pelo governo federal a partir do objetivo de

atuar especificamente juntos aos moradores de favelas, concentrados nos grandes centros

urbanos. Provem da articulação entre Estado e a hierarquia católica.

SESI (Serviço Social da Indústria): Criado em 1946, no pós-guerra visando estudar,

planejar e executar medidas que contribuam para o bem-estar do trabalhador na indústria.

Nesse período (Estado Novo) o empresariado, em prol de interesses próprios, se insere na

política de controle social. No entanto, o investimento do empresariado nesta ação é mínimo

no que tange a responsabilidade do Estado, que provem com recursos públicos as políticas

sociais voltados para os trabalhadores.

Segundo Iamamoto(2004), neste momento também se observa a existência de

importantes modificações no pensamento social da Igreja Católica. O II Congresso Brasileiro

de Direito Social (1946) aparece como marco da consolidação de novas posições da Ação

Social Católica, quando então não se tratará mais de submeter o Estado laico e a sociedade

burguesa ao direito natural e ao milenarismo de uma ordem transcendental e totalitária.

Nos anos 50 a partir da modernização do aparelho do Estado, no governo do

Presidente Juscelino Kubitschek, as instituições de assistência são instrumentos de veiculação

de políticas sociais com aspectos claramente assistencialistas e a partir da mudança do regime

político no ano de 1964, em conseqüência da ditadura militar, os recursos para as instituições

são reduzidos conforme a ideologia vigente de “fazer crescer o bolo e somente depois

repartir”(grifo nosso). No entanto apesar do contexto de crescimento econômico a classe

trabalhadora seguia em um processo de empobrecimento exorbitante.

8. Conclusão

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Page 13: SERVIÇO SOCIAL: LUTAS E CONQUISTAS

Com este artigo foram abordados as passagens e processos pelo qual a profissão

Serviço Social percorreu, depois de lutas e conquistas, conseguindo diante da realidade se

profissionalizar, e com intervenções na questão social demandadas pela sociedade ampliou-se

seu campo de atuação, abandonando o assistencialismo, e partindo para uma maior

sistematização da pratica profissional. A profissão que teve início na Inglaterra, entre os

séculos XVI e XVII, se adequou à realidade do Brasil e do mundo, fez história conquistou seu

espaço em diversos campos de atuação, propiciando um grande ganho profissional e social.

Referências

CARVALHO, R; IAMAMOTO, M. L. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: Esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez, 2004.

MARTINELLI, M. L. Serviço Social: Identidade e Alienação. São Paulo: Cortez, 2003.

VIEIRA, B.O. Serviço Social: Precursores e Pioneiros. Rio de Janeiro: Agir, 1984.

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