série dark riderʹs moto club - livro 01 wild - motoqueiro selvagem by elsa day
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Oqueseráqueelavaiescolher?Oamorouasegurança?Lilly Clarkfeld só quer ser uma estudante universitária comum. Em seussonhos,elaéumaenfermeira,temumafamília,esuavidaésegura.Issonãoépedirmuito.Masquandoelaé forçadaavoltarpara suacasade infânciaparacuidardesuamãedoente,tudomuda.LillytemumacidentedecarroeentãoélevadanomeiodanoitepelosDarkRiders.Poderia ter sido qualquerMoto Club,mas era o dele. O primeiro amor deLilly.AsherThomasestámaior,maisforteebemmaismaltratadopelavidadoqueLilly se lembrava,mas ele nunca se esqueceu dela. A paixão entre os doisaindaarde,maséestaavidacertaparaLilly?Seráqueelapodecolocarseussonhos de uma vida simples e calma de lado, trocando-os pelo amorexcitanteeperigosodeummotoqueirofora-da-lei?
CAPÍTULOUMNãoeraissooqueeudeveriaestarfazendo.
Dobreiacamisanovamente.Cuidadosamente.Ombroesquerdo.Ombrodireito.Vinconomeio.
Aindaassim,todasasvezessaíaerrado.Oqueaminhamãeteriadito?Eusei.Elanãoteriaditonada.Elateria
tomado a camisa das minhas mãos, dobrando-a ela mesma e depois acolocandosuavementenaminhamala.
Olheiparaacamisatortanovamente.Masamãenãoestavaaquiparadobrarminhascoisasparamim,nãoé?
Pegueiapeça,aamasseiemumabolaea jogounooutro ladodoquarto.Minhaspernascederamdebaixodemimeeucaínochão.
Nãoeraissooqueeudeveriaestarfazendo.Os catálogos das faculdades anunciavam pessoas felizes em suas
impressõesbrilhantes.Osestudantesnelassorriam.Elesiamparaasaulaseestudavam.Elesusavamroupasdamoda,eseformavamcomambosospaissorridentesnaaudiência.
Outras coisas não estavam nos catálogos, mas eu sabia que tambémeramatividadesqueosestudantesuniversitáriosdeveriamestar fazendo.Eles deviam ficar bêbados com cerveja barata. Eles deviam estarbagunçandoemfestas,seapaixonando,transando.Eudeviaestarfazendoisso.Certo?Nãoéissooquejovensnafaculdadefazem?
Eunempercebiqueestavachorandoatéqueeuproveiosalnaminhalíngua.Limpeimeurostocomomeuvelhomoletomsurrado.
Opapelaindaestavanaminhamesa.Nome:OliviaClarkfeldDatadeNascimento:19/02/1953Peso:...Eleveio comumcartão, assimcomo todasas suasoutras cartas.Este
tinha um ursinho na frente, com um balão em forma de coração e umsorriso.
Estoutemandandoumabraçodeurso!Eu não vi a ficha até que ela caiu do cartão. Do nada. Como se não
tivesseimportância.Prognóstico:...Osmédicosamandaramparacasa.Elespodiamoperar,maseraquase
inútil.Nadaeragarantido.Eramelhorelaficarcomafamília,elesdisseram.
Aproveitarseutempo.Orestinhoqueelaaindatinha.Então eu recebi este cartão. Com este ursinho. Mamãe não me disse
paravoltarparacasa,maselanãoprecisava.Eusabia.Então,aoinvésdeestudar,emvezdefestar,emvezdeentrarescondida
no quarto de um cara enquanto seus colegas dormiam, eu estava aqui.Dobrandocamisetas,denovoedenovo.Sozinha.
Fuiatéaminhamesaepegueiumporta-retratosOtopoestavacobertodepoeira,queeutireicomodedo.Háquantotempoeutinhaessafoto?
Estávamosnoparque.As floresdasárvorespesavamparabaixo,eeutentavaagarrarumbotão comumamão.Meupai estavavestindoaquelacamisa náutica que ele gostava tanto, sentado em umbanco demadeira.Seubraçoestavaemvoltadaminhamãe,eoventosopravaseuvestidodeverão, tanto que ela teve que segurá-lo para baixo com as mãos. Elespareciatãojovemali.
Euestavanaminhafasedemacacões,epareciaummenino.Meurostoestavacobertodemanchasdesujeira.Maseunãoeraaúnica.
Eleestavasegurandoaminhaoutramão.Atémesmonessaépocaelejáeramaisaltodoqueeu,puxandoas floresparabaixoemdireçãoaomeurosto.Depoisdeumlongoverão,osoltinhaclareadoseucabelo,deixandooloiroplatinadoquasebranco.
Eucoloqueioporta-retratosnacrescentepilhaderoupasdobradasqueseerguiamparaforadaminhamala.Asher.Comoseeuprecisassepensarsobre ele agora. Ele provavelmente se esqueceudemimhámuito tempoatrás.
CAPÍTULODOISFecheiamalacomforçaeaarrasteiparaforadomeudormitório.Elabatiaa cada passo enquanto eu descia pela antiga escadaria. Não haviaelevadores quando este edifício foi construído, por isso todos os anos asmalas de estudantes entrando e saindo tinham que ser arrastadas pelasescadas.
Eu já estava exausta quando cheguei no meu carro. O alarme soouquandomeaproximeieoporta-malasseabriuquandopareinasuafrente.Todavezqueelefaziaisso,meupequenosedanmefaziasorrir.
Obrigado,pai,porpelomenosisso.Aúnicacoisaqueocarronãofezpormimerarealmentecolocaramala
dentro de si. Eu a girei no ar para jogá-la no interior do porta-malas,arranhando a pintura um pouco. Que seja. Eu sabia que meu pai iriaconsertá-lo.Asuameninaprecisadirigirumcarrobom,nãoé?Ouentãooqueaspessoasvãodizer?
Meuspunhossefecharamantesdeeuentrarnocarro.Eurespireifundoeligueiaignição.Umaviagemdecarrodeoitohorasemeiaatéosul.Seráqueeuconseguia?
Desde que eu recebi a carta da minha mãe, minhas mãos nãoconseguiamparardetremer.Aperteiovolanteparafazê-lasparar.Sim.Eutinhaquefazerisso.
No começo, parecia que tudo estava indo bem. Eu deixei para trás asluzesdacidadegrandeelogoeuestavasozinha.Aestradaseestendiaporquilômetros de nada. Apenas árvores, paradas de descanso, algunscaminhoneiros,eeu.
Passei por sinais estranhos de restaurantes. Havia outdoors de neon,onde porcos felizesme convidavampara comer carne suína. Ou galinhassexycommeiascintaligaqueanunciavamporçõesbaratasdecoxasfritas.Eudirigiporelessemparar.
Se as coisas fossem diferentes, esta seria uma viagem de carro. Algoexcitante e divertido, e eu tiraria fotos engraçadas para publicar onlinedepois,citandoascoisasestranhasqueencontreinocaminhoatéaVirgínia.
Masestanãoeraumaviagemcomum.Euestavasozinha.Dirigindoparaircuidardaminhamãe.Minhamãequetinhacâncer.
Câncer.Mesmo depois deminhas aulas,mesmo depois de fazer as rondas na
enfermaria,mesmodepoisde ler todososestudosdecaso, issoaindame
incomodava.Mesufocava.Abaixei minha janela e deixei o ar fresco bater no meu rosto. Era
gostosodeixarmeucabelovoandonabrisa.Talvezporalgumashoraseunão tivesse que pensar em nada. Eu poderia deixar o zumbido suave domeupequenocarroseguromeconfortarnocaminhoparaVirgínia.
Depoisdeum tempo,nãoera tão ruim.Dirigirporum trecho retonaestradanãoeraexatamenteacoisamaisdifícildomundo.Oarficoumaispesado,maisúmidoenquantoeucontinueidirigindo.Logo,océuescureceueasluzesdaruaseacenderamaolongodaestrada.
Sómais algumashoras.Meusolhos ficarampesados, e quando eumedei pormim, havia algo de grande nomeio da estrada. Olhos brilhantespiscaramparamim,eeuleveialgunssegundosparaentenderoqueestavameolhando.
Umgambá.Umagrandegambámamãeetodaumaninhadadefilhotes.Elesestavamvidradosnafrentedosmeusfaróis,incapazesdesemover.
Eupuxeiovolanteparaadireita.Nãodeviaterdadoproblemaalgum,eudeveriaterapenascurvadoocarroaoredordelesecontinuadonomeucaminho. Mas os pneus derraparam. Talvez eu tivesse pulado amanutenção?
Eubaticontraaporta.Ocintodesegurançameapertoupoucoantesdeeubaterminhacabeçanoladodajanela.Nãofoiatéqueeucolidicomumdessesgrandespostesdeiluminaçãoqueoairbagexplodiunaminhacara.Sabe,elessãobemmaisdurosdoquevocêpoderiaesperardecamadasdetecidocheiosdear.
Quando eu acordei novamente, estava escuro como breu. Os gambástinhamidoembora,aluzdoposteestavaligandoeapagando,eomeucarroestava destruído. Era bobagem, mas eu tentei ligar o motor. Claro, nãoimportavaoquantoeutentasse,elenãofaziaumsomsequer.
Olheiemvoltaepercebiqueprovavelmentenãopoderiaterescolhidoum lugar pior para ficar presa. Não havia nada em ambos os lados daestradaporquilômetros.Nemmesmoaquelessinaisbobosderestaurantesvagabundos.Eutinhabatidonaúnicafontedeluz,entãoeuestavaquasenaescuridãocompleta.
Tentei ouvir o som de um carro, um caminhão, qualquer coisarealmente.Masnãohavianada.Nemsequerfaziasentidoesperarporumacarona,poisestavabemclaroqueninguémviria.
Depoisdeandarumpoucoporali,eumerecosteicontraomeucarro.Então tive uma ideia. E o meu telefone? Bati na minha cabeça, porque
pareciatãoóbvio.Comcertezahaviaumserviçodereboque24horasemalgumlugarporaqui.
Abriaportadocarroevasculheiaoredor,procurandoapequenatelaretangular.Masassimqueeuaachei,comeceiachorar.Ovidrodafrenteestavaquebrado,acapaamassada,enãoimportaquantasvezeseutentavaobotãodeligar,nãofuncionava.
Entãoeraisso,aminhaúltimatentativa.Minhasoutrasopçõeseramaesperançadequealguémmaispassasseporestaestradadesolada,ouqueomeucarromagicamenteligassedenovo.Francamente,asegundaopçãoeramaisprovável.
Eupuleiemcimadomeucapôemesentei.Eutrouxeminhaspernasatémeupeitoecomeceiasoluçar.Nãoerasópelocarro,oupelocelular,masportudo.Porcausadaminhamãe.Poreuterquevoltaraestelugarqueeutinhaabandonadohátantotempo.
CAPÍTULOTRÊSEunãoseiquandofoiqueeuadormeci.
Foi só quando um barulho alto me acordou que eu notei que tinhacochilado.Euerguiminhacabeça.Obarulhoficouaindamaisalto,vindonaminhadireção,umenormeestrondo.Seráqueeuestavaficandolouca?
Salteidomeucarroecorriparaoladodaestrada.Foiquandoeuvi.Nãoeraumcaminhãoouumcarro.Fosseoquefosse,haviaumatoneladadeles.As luzesvinhamnaminhadireção,dispostasemalgumtipode formação.Logo eles estavam perto o suficiente que eu podia sentir o estrondosacudindoaterrasobmeuspés.
Motocicletas?Era um enorme grupo de rapazes emmotos. Não apenas caras, mas
tambémgarotasquesesentavamemseuscolosouosabraçavamportrás.Asmeninasusavamquasenada,ealgumasvezeseupenseitervistomãosdeslizandoporbaixodetopsesaias.
Estesnãoeramcarasnormais.Seusbraçosmusculososecobertosportatuagens agarravam a alça das motos com força. Aqui e ali haviamcicatrizesprofundas.Merda,estesnãoeramotipodecarasqueeuqueriaencontrarsozinhanomeiodanoite.
Quando eles se aproximaram, eu recuei de volta para o meu carro,esperandoqueelesnãofossemmenotar.Assimqueasluzesbrilharamnaminhadireção,euconseguiveroscarasda frente.Os trêsdelesandavamladoalado,comtodososoutrosatrás.Suasmotoserammaiorestambém.Eunãosabiarealmentedizerqualeraadiferença,maselespareciammaispoderososdealgumaforma.
Aopassarempormim,umdoscarasdafrenteencontrouosmeusolhos.Seuolharpareciaperfuraraescuridão,emeafetoutantoqueeutivequesegurarminharespiração.Porqueeleestavaolhandoparamim?
Eu cruzeimeus dedos, esperando que este grupo passasse logo emedeixassemempaz.Masestenãoeraexatamenteomeudiadesorte.
O cara que me notou colocou a mão no ar. Ele fez algum tipo demovimentocomosdedosetodoocortejodemotoqueirosdesaceleraram.Eentãoascoisaspioraram.
Ele saiu do grupo, dirigindo até mim. Ele parou a moto a apenascentímetrosdomeucorpo,erguendoterraaodeslizarnalateraldaestrada.
Primeiro,nósapenasnosentreolhamos.Naescuridãoeumalpodiaverseurosto,masalgosobreelepareciafamiliar.E,novamente,aquelesolhos
penetrantesanalisarammeurostoecorpo.Oqueelequeriacomigo?"Suba",eledisse.Olhei para a moto. Era enorme. Eu não podia sequer imaginar como
subiremuma,muitomenoscomomontá-la.Semcontarqueconcordaremandarcomumbandodemotociclistastatuadoscomcertezaestarianalistadecoisasqueminhamãediriaparaeunãofazer.Pareciaotipodesituaçãoquevocêverianonoticiáriodanoite.
Eudeiumpassoparatrás,balançandoacabeça."Não,obrigada."Assimqueaspalavras saíramdaminhaboca, asmotocicletas aomeu
redor começaram a rugir. Pareciam um bando de leões tentando meintimidar.
"Suba",eledissedenovo.Suavozeramaisfortedestavez,esuasmãosseapertaramnoguidão.
Deimaisumpassoparatrás."Eu já chamei um caminhão de reboque", eu disse. "Então, obrigada,
maselesvãochegaraquiaqualquerminuto!"Amãodohomemdisparoue envolveuaminha cintura.Antesqueeu
percebesse,eu tinhasidoerguida.Elemepuxouparaamoto,meplantouatrásdeleesaiuantesqueeupudessetentardescer.
"Segure-se",disseeleeacelerou.Elenãotevequemedizerduasvezes.Aestradapassoupormimcomo
um borrão, a apenas alguns centímetros dos meus pés. Um borrão quequebrariameusossosseeucaísse.
Meu estômago se revirou. Eu jogueimeus braços ao redor da cinturadeleesegureifirme.Eunãoprecisavacairdeumamotoparapioraraindamaisasituação.
Agora que eu estava tão perto, notei algo que não tinha visto antes.Armas.Nemtodosastinham,mashaviaosuficienteparamefazerrepensarumafugaassimqueparassemparaumapausa.Ótimo,entãoeutinhasidosequestradaporumgrupodemotociclistasarmados.Maravilhoso.
Fecheiosolhose tenteinãopensarnisso.Talvez isso fosseumacoisaboa.Talvezelesrealmentefossembonssamaritanoscomcoraçõesdeouropordentro.Euriparamimmesma.Sim,etalvezeudevesseabrirminhasasasevoarparacasa.
Abaixodemim,agrandemotorugiuentreasminhaspernas.Pelofinotecido da minha calça, as vibrações erammelhores do que eu esperava.Corei,torcendoqueninguémestivesseprestandoatenção.
Euolheiparaomeumotoqueiro.Eradifícildever,maselenãoerafeio.Naverdade,erabematraente.
Seu cabelo loiro se despenteava no vento e as suas costas largasmeapoiavamsemesforço.Ele tinha sua jaquetaempurradaatéos cotovelos,exibindo os fortes músculos de seu antebraço enquanto agarrava osguidões.Amaneiracomoeleosseguravapareciaserumindíciodequeeleestavadeterminadoafazeralgumacoisa.Oque,eunãotinhacerteza.
Euencosteimeu rostoemsua jaquetade couro.O calorde seu corpoirradiavaparafora,enchendo-mecomoseucalor.Tãopertoassimdoseucorpo,eupodiaatémesmosentirseucheiro.Eraquenteealmiscarado,eumpoucofamiliar.Assimcomoaquelesolhos...
Quemeraessecara?Comotempo,mehabitueicomasensaçãodeestaremumamoto.Jánão
parecia mais tão assustador. Afinal de contas, eu estava montada atrásdessa cara bonito, envolvendo minhas pernas firmemente em torno dasdele.Issonãoeratãoruim,era?
Eutremiemerepreendi.Oqueeuestavapensando?Estesmotoqueiros(armados)mesequestraram,eeuestavapensandosobreoquãosexyeleseram?Certo.Deviaserosono.
Pelaprimeiravezemhorasalgomaisapareceunaestrada.Olheiparafrenteeviluzesbrilhandonadistância.Umaplacadeestradagrandedizia:
Encostamento,PróximaSaídaParecia ummilagre. Mesmo que eu não estivesse fazendo nada, meu
corpo estava dolorido. Encurvada e assustada atrás de um grandemotoqueironãoeraexatamenteaposiçãomaisconfortável.
Ocaraaoladodanossamotopôsamãonoar.Elefezummovimento,ecomeçouavirar.Quasecomoumbandodeleõesoulobos,todaabrigadade motoqueiros se moveu em conjunto. Eles invadiram a parada dedescanso, surpreendendo todo mundo que tinha parado ali no meio danoite.Eusentipenadoslojistas.
Nósdirigimossobasluzesbrilhantes,epelaprimeiravezeupudevertudoclaramente.Eunãoesperavaporisso,masamotodebaixodemimeralinda e impecável. Eu pensei que máquina seria nojenta, velha eenferrujada,maseraclaroquealguémaamavamuito.
Meumotoqueiro desligou seumotor, desceu damoto e a estacionou.Sem uma palavra, ele começou a caminhar em direção à loja deconveniência. Sem o seu corpo contra mim, me senti nua. Os olhos dosoutrosmotoqueirosestavamemmim.Cruzeiosbraçossobreopeito.
"Oque fazercomestacadela,hein?"umdelesdisse.Eleapontouparamim,sorrindocomosetivessefeitoumapiada.
"Euseioqueeufaria...""Largarelaaí.Éumpesomorto."Obarulho ficoumaisaltoquando todoogrupocomeçoua falarsobre
mim. Suas vozes se sobrepunham, argumentando sobre o meu futuro.Claro,eunãotinhadireitoaopinião.
Eupodiasentirseusolhossobreomeucorpo.Sejaláoquequisessemcomigo, não era algo bom. Eu queria fugir, ou desaparecer tão rápidoquantoeupodia.
Assim que meumotoqueiro saiu da loja de conveniência, a conversaparou.Elevinhacarregandoumacaixagigantedecerveja, ea jogouparaum dos outros motoqueiros. Eles gritaram animados e começaram adistribuiraslatas.
Eletinhaumaoutraemsuamãoeaestendeuparamim."Querumpouco?"Naverdade,euquaseestendiamãoparaagarrá-la,masentãonoteio
que estava fazendo. Eu ia beber commeu sequestrador? Balanceiminhacabeça.
"Aqui," ele disse, e empurrou alguma coisa na minha mão, forçandomeusdedosaseabrirem.Olheiparabaixoevioqueera.Umacaixadesucodemaçã.
Os homens em tornodenós começarama rir, apontandopara omeusuco. Eles provavelmente pensavam que eu era uma garotinha enjoada,commedo de beber a cerveja. Eu enfiei o canudo no pacote e chupei olíquido,minhasbochechaspegandofogo.
Quandoocarapertodemimterminousuacerveja,eleesmagoua lataemsuamãoeajogounochão.Eusempreouvifalarsobreisso,masnuncaviesteatonavidareal.
Eleseafastoudamoto,alongandoosbraços.Eentãotirousuajaqueta,puxandoacamisasobreacabeça.Osuorcobriasuapele,brilhandosobasluzes fluorescentes. Agora eu podia ver cada um de seus músculosondulandoenquantoelerolavaosombrosparatrás.
Os jeans escuros que ele usava ficavam baixos em seus quadris, e eufiqueisemfôlegoaoverorastrodepelosloirossumindoporbaixodoseucinto.Euolheiparaooutrolado,masdepoisespieinovamente.Issonãoeratudo,havia...cicatrizes?
"Nãotemostempoparaisso!"
Alguémveioatéomeumotoqueiro,gritando.Eleacenoucomamãonaminha direção, gritando tão alto que o seu cuspe saltou para o ar. Numpiscar de olhos, o meu cara passou de relaxado para 'modo luta'. Elesestavamumgrudadonacaradooutro.
"Nósvamosfazerisso!"eledisse."Ah,é,porquê?Porquenóstemosquevirjuntoparaopasseioquando
vocêsóquerfoderabocetadealgumacadela?"Elequeriaoquê?Meumotociclista fezumpunhoeopuxoupara trás.Poucoantesdele
soltarseusoco,umterceirorapazempurrouosdoisparalonge,separando-os. Ele ainda usava sua jaqueta. Era quase como a de todos os outros,excetopelapalavra"presidente"bordadanascostas.
"Joel,ficacalmo.Nãoétãoimportante",disseele."Vamos,vamosindo."Elessefastaram,masJoelficouencarandoomeucara.Elenãoparouaté
que montou na sua moto e foi embora. O presidente colocou a mão noombrodomeumotoqueiro.
"Nãosepreocupecomisso",disseele."Nãosepreocupecomisso,Mav?Olheparaojeitoqueelefalacomigo!"
Omeucaradisse."Elenãotemrespeito!"MavbalançouacabeçaeolhounadireçãoqueJoeltinhaido.Entãoele
seviroudevoltaparaomeucara."Vamos resolver isso e depois lidamos com Joel. Ok?" Quando omeu
caranãorespondeu,eleaprofundousuavoz."Wild?"Wild?Quetipodenomeeraesse?Meuestômagoseapertou.Oqueele
tinhafeitoparamereceressetipodeapelidodeumbandodecarascomoesse?Elenãopoderiaterumnomenormal,comoBill?
"Sim,sim,estábem",disseele.MavbateunascostasdeWilde seafastouemdireçãoàsuamotoeu
outrogrupodemotoqueiros.Wild voltou naminha direção,mas era bem claro que ele não estava
prestando atenção emmim. Seus olhos estavam enevoados, como se eleestivessepensandoemalgodistante,eseuslábiosformavamumacarranca.
Seus passos determinados pararam bem na frente de suamoto.Wildtirouumpanodobolsodetrásdacalçajeansecomeçoualimparasujeiraque havia começado a se acumular na sua estrutura bonita. Eu estavasentado na moto todo esse tempo, mas eu me levantei porque eu nãoqueriaficarnoseucaminho.
Foisóentãoqueelereparouemmim.Euestavatremendo,meusdentesbatendoporcausadovento.Otecidofinodaminhasaiasoprouemtorno
demim, ondulando como uma flor. Ela era bonita, mas não era a roupacertaparaandarcommotoqueiros.
Wild se levantou. Ele cortou a distância entre nós até que estava tãoperto que eu podia sentir o peso da sua sombra imponente. Todo essetemposentadanamotocomele,eunãotinhapercebidooquãoaltoeleera.Eleolhouparamimcomumaestranhamisturadeemoçõesemseusolhos.Donada,meucoraçãocomeçouaacelerar.
Sem uma palavra, Wild pegou sua jaqueta de couro e a jogou sobremeusombros.Elemefezcolocarmeusbraçosnasmangas,segurando-metãopertoqueeupodiasentirocalordeseucorpoemmim.
Quando ele finalmente fechou o zíper e se afastou, eu senti falta dasensaçãodesuaproximidade.Eraestranho,masmeucorpoqueriasentirseutoquenovamente.Emvezdisso,Wildsevoltouparaasuamoto,comoantes.
Fiquei ali na sua jaqueta, sentindo-me como uma criança. A peça eramuitogrande,easmangasbatiamnosmeusjoelhos.Aomesmotempo,eugostei.Tinhaocheirodele,eocalorqueeusentiaeraquasecomoseeleaindaestivessemesegurando.
Mavfezsuamotorugirefezummovimentocomamão.Deumasóvez,osmotoqueiroscomeçaramasemover.Elesmontaramnassuasmotoseligaramseusmotores,jogandogarrafasdecervejanochãoaoseuredor.
Wildlevantouacabeça.Devagarecomcalma,eleselevantouecolocouseupanodevoltanobolso.Comoseelefosseapenasdarumpasseio,Wildsubiunasuamotoealigou.
Olheiparaamotocicleta,querendosabercomosubirnela.Erasópular?Eracomoumabicicleta?Eunãotivetempoparaterminardepensarnisso,porqueWildmeagarroupelacinturaemepuxouparacimaoutravez.
"Segure-se",repetiuele.Essa foi aúltima coisaqueeuouvi antesdobramidodoventoeuma
dúzia de motores soando em meus ouvidos. WIld se moveu para a suaposição frontal e toda a gangue seguiu atrás de nós. Em pouco tempo,estávamosdevoltanaestradaenãohavianadaaoredoralémdoasfaltoeocéuescuro.
No começo, o ligeirobalançodamotome assustou. Eu tinhapensadoqueeuiacairefirmeiminhasmãosnacinturadeWild.Masagoraeuestavamais acostumada.Meus quadris semexiam debaixo demim, balançandocomoritmodaestrada.
Coloquei minha cabeça nas costas de Wild. Eu podia sentir seusmúsculossemovendosutilmentedebaixodemimenquantoeleconduzia.A
noiteestavatãofrescaesilenciosaqueosomdestegrupodemotoqueirossealastravaparalonge.
Minhaspálpebrasficarampesadas,elogoeucaínosono.Eunãopercebiatéqueeuacordeieminhavisãoestavaturva.Piscando,euolheiemvolta.
Algumacoisaestavaerrada.Wildestavavirandoamotonaestradaqueeutinhavistotodososdiasdaminhavidapor10anos.Issofoiosuficienteparamefazeracordar.
Oqueestávamosfazendoaqui?Depoisdemaisalgumasruas,elevirouàesquerda.Exatamenteondeeuteriaviradoseeuestivesseindo...
Meuestômagoseapertou.Porqueestávamosindoparaaminhacasa?Seráqueelesabiaquemeuera?Elesiamfazeralgumacoisaparaaminhamãe?
Euestavaprestes a começar a gritarquandoWildparouna frentedaminha casa de infância. Parecia surreal estar na frente desta antiga casanestasituação.Nãoeraexatamenteoretornoqueeutinhaimaginado.
Osmotoqueiros cercaram a nossa casa. O ruído era o suficiente paraacordartodomundonobairro,masninguémacendeusuasluzesouabriusuasportas.Elessabiamcomoevitarproblemas.
Bem,todomundo,excetopelaminhamãe.Aluznacozinhaseacendeu,e,emseguida,aportadafrenteseabriu.Elaestavaalidecamisolarosadebabados,olhandoparaacena.
"Mãe!"Eugritei.Eupuleidamotoecorriparaela.Lágrimasescorriampelomeurosto
enquantoeuaseguravaemmeusbraços.Elapareciatãofrágil.Tãomenordoqueamãequememandouparaafaculdadecomlágrimasnosolhos.
Eu só tinha ummomento para ser emocional antes da racionalidadetomar conta. Era o meio da noite e um grupo de motoqueiros armadosestava ao redor da minha casa. Não era exatamente o melhor momentoparaummomentotocante.
"Entre!"Eudisse,ebatiaportaatrásdenós.Eutranqueiaportaeapagueialuz,esperandoelesiremembora."Lily,vocênãomedissequeestavavindo!""Claro que eu estava vindo! Você está doente", eu disse. A palavra
doenteficoupresanaminhagarganta.Elaestavamaisdoque'doente'."Eunãopodiadeixardevir."
Finalmente,euouviobarulhodasmotos.Osomficoumaisfraco,atéseperdernadistância.
"Massevocêprecisavadeumacaronaparacasa,eupoderiatervindopegarvocê.Vocêdeviatermeavisado!"
Virei-meparaaminhamãe.Elaestavabrincando?"Vocêachaqueeleseramaminhacarona?Eufuisequestradaporuma
gangue de motoqueiros. Eu não sei por que eles me pegaram, ou comosabiamondeeumorava..."
Minhamãeolhouparamimcompenaemseurosto."Oquê?"Eugritei."Vocênãosabia,nãoé,bebê?"elaperguntou.Suavozerasuave."Nãosabiaoquê?""FoioAsherqueatrouxe!"
CAPÍTULOQUATROAsher.
Eraestranhoestardevoltanomeuantigoquarto.Pareciaumacápsuladotempo.Tudoestavadamesmaformaqueeudeixeinaqueledia.Bem,namaiorparte.Eutinhaquasecertezaquehaviaalgumaspilhasderoupasnochãoquetinhamsidolimpaspelaminhamãe.
Eu cai sobre a pequena cama. Ela ainda estava cheia dos meusbrinquedos.Eupegueiumcoelhinhodepelúciaquetinhaomelhor lugar,bem ao lado domeu travesseiro, para que eu pudesse abraçá-lo à noite.Meu primeiro animal de pelúcia, o que os meus pais me deram quandocriança.Opobrezinhotinhaapenasumolho,emetadedasuaorelhadireitatinhasidomastigada.
Meus olhos correram pelo quarto. Quanto tempo tinha passado? Seisanos?
Na minha estante vi meus troféus da feira de ciências da escolasecundária. Eu ganhava um todo ano,mesmo que não gostasse tanto deciências.Aoladodeles,euviosanuários.
Deiumpuloepegueium,folheandoaspáginasfuriosamente.Procureientretodasasfotosdepessoasqueeuconheciaquandopequena
Examineiosnomesatéqueeufinalmenteoencontrei.AsherThomas.Meusolhossesuavizaramenquantoeuolhavaparaafoto.Éramostão
pequenos naquela época. Seu rosto ainda estavamacio e redondo, e seucabelo tinha aquele corte bobo de tigela. Ele só podia se dar ao luxo decortarseucabeloemcasa,masninguémtinhacoragemdetirarsarrodeleporisso.
Asher sorria para a câmera, mas ele não se parecia em nada com asoutras crianças. Seu sorriso era desafiador. Como se ele estivessedesafiandoofotógrafoafazeralgumacoisa.Oquê?Brigar?
Olhei para aquele jovem sorriso e o comparei com o homem quemepegouemeplantouemsuamotocicleta.Era realmenteele?Eu tenteimeconvencerdequeeramcompletamentediferentes.
Masentãopenseinos seusolhos.Mesmonaquelaépoca, eleseramosmesmosazuispenetrantes.Eraimpossívelnegar.
Rolei de costas, segurando o anuário no meu peito. Fechei os olhos.Faziamuitotempoqueeunãopensavasobreessascoisas.
Ele foi meu primeiro beijo. Asher me chamou até a parte de trás daescolaprimáriaumdia.Elemepediuparafecharosolhos,eeuofiz.
Apróximacoisaqueeusentieramseuslábiosquenteseúmidoscontraos meus. Foi apenas por um instante. Meus olhos se abriram e eu oempurrei.
"Oquevocêestáfazendo!"Eugritei."Euvoucontarprosprofessores!"Ashermeempurrouparatrás."Vá em frente! Foi nojento mesmo!" ele gritou e saiu correndo, me
deixandosozinha.Lembro-medetocarodedoaoslábios,tentandorecapturarasensação.
Claro,eunãodissenadaaosprofessores.Emesmoqueeledissessequeeranojento,Ashermeencontrounaquelemesmolugartodososdiasapartirdeentão.
Éramos dois alunos novinhos se encontrando para beijar. É evidentequeanossaescolaprecisavadeumamelhorsegurança.
Naquelaépoca,todomundomediziaqueAshereraumgarotomau."Por que você semistura com ele?" eles perguntavam. "Você temum
futurobrilhantepelafrente."Era fácil ignorá-los. O que as crianças do ensino fundamental sabiam
sobreofuturo?No ensino médio, Asher começou a me comprar um refrigerante no
almoço.Eunãopediqueofizesse.Eusóentreinorefeitórioumdiaehaviauma lata de refrigerante de gengibre bem no meio do espaço onde eunormalmentemesentava.
Elenuncadissenadasobreisso,mastododiaeleestavalá.Minhalataderefrigerante.Lembro-medebeberolíquidocomosefosseacoisamaisdeliciosa que eu já tinha experimentado. Enquanto todo mundo estavaocupado bebendo refrigerantes de cola e laranja, eu tinha o meu degengibresecreto.
As pessoas achavam que ele era um delinquente, mas Asher erainteligente.Elesnãopodiamnegarisso,porqueseustestesocolocaramnoprogramadesuperdotados.Tenhocertezadequeelesoteriamexpulsado,sepudessem.
Nós fizemos os cursos avançados juntos, mas os professores faziamquestãodequenãopudéssemosnossentarumaoladodooutro.Porisso,passamossemestressorrindoumparaooutrodeladosopostosdasaladeaula.
Eusabiaquandoelecomeçouapuberdade.Osprimeirosbrotosdasuabarbaarranhavamomeurostoquandoeleesmagavaaminhabocacomoslábios.Noensinomédio,seusbeijosduravammaisdoqueuminstanteeelenãodiziamaisqueeramnojentos.
"Transecomigo",disseeleumdia.Eu me afastei dele. Nós tinha apenas começado a ter aulas sobre
educação sexual, e eu nem sequer sabia exatamente o que aquilo era. Oprofessorsónosmostravafotosestranhasdonossointeriorediziaqueeraalgoparaadultos.EunãoentendiaporqueAsherpareciasabertantosobreoassunto.
"Não",eudisse."Vamoslá",disseele."Eufaçovocêgozar."Maispalavrasestranhas.Oqueissosignificava?"Não!"Eugritei.Havialágrimasnosmeusolhos.Osorriusumiudoslábiosde
Ashereeleolhouparalongedemim."Ok,então",disseele."Euvouesperarporvocê."Eentãonósnosmudamos.Euassistiaminhavidainteiraficandoparatráspelajanelatraseirado
carrodomeupai.Eununcamaisvoltei.Atéagora.Não havia rede social naquela época. Nós não tínhamos telefones
celulares,tabletsouqualquerumadessascoisas.EntãoAsherficounomeupassado, como todo o resto. Seu nome era apenas uma memória. Amemóriadoprimeiroamordeumamenina.
Abracei meus joelhos, tentando ignorar o sentimento que essaspalavras traziam.Primeiroamor.Oqueascriançassabiamsobreoamor,dequalquermaneira?
Eueraumapessoadiferenteantes.Eunãoeramaisotipodegarotaqueseapaixonavaporumcaradoladoruimdacidade.Haviacentenasdecarasricosebemsucedidosnaescola.
Masaindaassim,cadavezqueelesmetocavam,eupensavaemAsher.Quandoessescarasricoscomseusbelosapartamentostiravamasminhasroupas, eu sempre acabava dizendo não. Eu não conseguia ir até o fim.Porque...
Eufecheimeusolhos,enterrandomeurostonapilhagigantedeanimaisdepelúcia.Eusabiaaresposta,masnãoqueriapensarnisso.
Porcausadele.O que aconteceu com Asher? Não fazia sentido para mim, que ele
tivesse crescido assim. O que o fez ficar dessa forma? Tão áspero, tãogrande,tão...sexy.
Ele sempre foi umpouco "meninomau",mas eu achava que era umafase. Eu nunca teria imaginado que ele se juntaria a uma gangue de
motoqueiros. Eu não tinha certeza do que mais eles faziam. O que issosignificava?Quegostavamdeandardemotojuntos?
Océutinhacomeçadoaclarearquandoeupareide folhearoanuário.Quandoeu fecheimeusolhos e coloqueiminha cabeça contra opequenotravesseiro cheio de babados brancos, apenas uma palavra veio àminhamente.
Asher.
CAPÍTULOCINCO"Vejamquemacordou,"disseaminhamãe."Olá,dorminhoca!"Euresmungueiaodescerasescadasvelhaserangendo.Meusolhosmal
estavamabertos,maseupodiasentirocheirodealgoflutuandoemminhadireção.Meuestômagoroncou.
"Escuteisso!Parecequeháumursonacasa.""Haha,mãe,muitoengraçado."Quandoeuchegueinamesadocafé,eunãopodiaacreditarnosmeus
olhos.Presunto,ovos,bacon,aveia,panquecas,frutas,café!Amesaestavarepletadecomida.Elarealmentefezosuficienteparaalimentarumurso.
Eu vi minha mãe arrumando coisas em torno da cozinha. Seu velhoavental estava desgastado nas bordas, e eu podia ver onde ela o tinharemendadocomlinhasdeoutracor.Elaabriuatorneir,limpandoastigelaseutensíliosquetinhausado.
Tudopareciatãofamiliarquemelevouumtempoparaperceberoqueestavaerrado.
"Mãe,vocênãodeviaestarfazendoisso!"Eudisse.Melevanteietenteitiraraesponjadela.
"Euvimaquiparacuidardevocê",eudisse. "Nãoparavocêsecansarcuidandodemim!"
Elacolocouasmãosnosquadriseolhoudiretamenteparamim."Eu sou sua mãe", disse ela. "Você vai me deixar cuidar de você um
pouco. Só desta vez. Comoquando você era pequena. E nós éramos umafamília..."
Nofinal,suavozfoisumindo.Lágrimasapareceramnasbordasdeseusolhoseelatentouenxugá-las.Fuiatéelaeaabracei.
"Estábem,mãe.Sódestavez."Suaslágrimaseramquenteseencharcavamomeupijama.Pareciaque
algopesadoestavasentadonomeupeito.Eubeijeisuatesta."Vamos mãe", eu disse. A minha própria voz tremia agora. "Vamos
comer,ok?"Nósnos sentamose, aprincípio, comemosemsilêncio.Maseradifícil
nãome sentir um poucomais feliz com toda essa deliciosa comida paracomer.
"Mãe,issoéótimo!"Enfieiumgarfocheiodeovosnaminhaboca.Elameolhouesorriuum
pouco."É?"elaperguntou.
"Vocêsabemuitobemqueeuteriaqueimadoacozinhatodatentandofazeressascoisas."
Elanãopodedeixarderir.Foibomvê-laassim,seucorpotremendoeseus olhos se enrugando nos cantos enquanto ela dava suas antigasgargalhadas.Acomoçãosacudiuamesa.
Depoisdeumtempo,elacomeçouacomer.Ficamosalisentadasjuntas,felizesapenasemcolocarcomidaemnossasbocas.Mamãecomeçoucomasprimeirasperguntas.
"Comoforamsuasaulas?"Elaperguntou."Boas.""Vocêaindaquerserumaenfermeira?Vocênãotemquefazer issosó
porcausademim,vocêsabe.""Sim,mãe",eudisse,pelamilionésimavez."Eusei.""Evocêestavacomendo?Secuidandoparanãoficardoentedofriolá?
Fezbonsamigos?""Sim,mãe!"Eumesentimal.Eunãoqueriaserassim,maseramsempreasmesmas
perguntas,nãoimportaquandoouporquenósconversamos.Perguntasdemãe.Faziapartedeumprogramadetreinamento,oualgoassim?
Continuamoscomendosemconversar.Osúnicossonseramdosgarfosraspandoospratoseosprimeirospássaroscantandonoardamanhã.Eunãoqueriafalarsobreisso,masaindahaviaalgonaminhamente.
"VocêdissequeocarananoitepassadaeraAsher?""Sim.""Eeleépartedeumaganguedemotoqueiros?""Sim,osDarkRiders",disseela.Suavozeratensa,eseusolhosnãoencontravamosmeus."Oqueissosignificaexatamente?""Ora, eu não sei, Lilly! Por que você não vai perguntar a eles?" Ela
retrucou.Depoisdeummomento,minhamãerespiroufundo."Elescuidamdenósporaqui.""Como?"Euperguntei."Elessecertificamdequenãosurjamproblemas.""Problemas?"Minhamãenãorespondeu."Queproblemas,mãe?"Ela olhou para seu prato e continuou empurrando tiras crocantes de
baconnasuaboca.Pelojeitoqueelaestavaevitandoasminhasperguntas,eusabiaquehaviamaisaserdito.Maseunãoiaconseguirrespostasaqui.
Quandoterminamosdecomer,eu leveiospratos.Elaestavaprestesaselevantareparalavaralouça,maseucoloqueiminhamãonoseuombro.
"Deixequeeulimpo,mãe."Elaficousentadaecomeçouacantarolarumamúsicaenquantoeuabria
a torneira. Os únicos sons eram a água correndo na pia e sua voz altacomeçandoacantarnamesadasaladejantar.
Quandoeu termineieuabrioarmárioderemédios.Anosatrás,elesóteria Tylenol e Benadryl. Agora, havia fileiras e fileiras de frascos deremédioscomonomedeminhamãeimpressoneles.
Euospegueiecomeceiaorganizá-los.Esteseramparaamanhã.Esteseramparaanoite.Segunda,terça,quarta...
Aspílulaspequenasecoloridassepareciademaiscomdocesparaoseuusoreal.Talvezfossemelhorpensarnelasdessaforma.Elaseramdoces.Éissoaí.
Peguei os comprimidos para aquelamanhã e as trouxe para aminhamãecomumcopodeágua.
"Obrigada",disseela.Elaolhouparaapequenapilhadiantedela."Comoummontedejujubas,hein?"
Eucuideidealgumasoutrascoisasantesdemevestir.Haviapilhasdecartas,contasmédicaseoutrascoisasqueelatinhadeixadosemcuidadosemcasa.Eujogueiforaumaorquídeavelhaquedeviatersecadohámeses.Eucomprariaumanovamaistarde.
Quandoeuestavavestida,medirigiparaaporta."Euvousair!"Eudisse."Voltoembreve."A calçada do lado de fora da casa daminhamãe tinha se desgastado
desdeaúltimavezemqueeuandeisobreela.Euchuteialgumaspedrasdomeucaminho,tentandomanterminhamentedespreocupada.Eramaisfácilpensarapenasnaminhalistadecompras.Ovos.Chantili.
Masquandoummotorroncouatrásdemim,eusabiaquenãoiaparaosupermercado.Eumevireieláestavaele.Asher.Eleestavasozinhodestavez,maspareciaquenãotinhadormidoanoitetoda.
Ashermeagarrou,mepuxandoparaamotoatrásdele."Ei!"Eugritei."Mesolta!"Batimeuspunhoscontrasuascostas,masmeusesforçosforaminúteis.
Ashercontinuoudirigindo,semolharparatrás.Foisóquandoeuviaenormepanterapairandosobrenósquepercebi
paraonde ele estavame levando.Amascotedanossa velha escola aindaestavalá,protegendoaquadradeesportesabandonada.
Umpoucomais abaixo da rua estava a nova escola. Ela fazia a nossaparecer ainda mais triste em comparação. O antigo edifício pareciaestranhocomapinturadescascandodasparedes.Graffiti cobriaa frente,simplesmarcasinformandoquaispessoastinhamestadoali.
Ashernãoparouatéqueelechegouaumaárvore.Anossaárvore.Elaaindaestavalá,etinhacrescidodesdeaúltimavezqueavi.
Eledesligouomotoreeupuleidamoto.Eumeafasteidele,meusolhosgrudadosnosseus,atéqueeuestavaencostadanacascaásperadaárvore.IssosóAshermefezseguir.
Cadaumdeseuspassoseralento,comoseeleestivessetramandocadacentímetro de seus movimentos. Eu tive tempo de correr. Eu podia tercorrido.Maseunãofiznada.
Ocorpodeleestavaapenasalgunscentímetrosdomeu.Eleolhouparamim, trazendo seu rosto tãopertoque eupodia sentir sua respiraçãonaminhapele. Apenas umpoucomais e nossos lábios se tocariam.Nósnosbeijaríamos.Nósiríamos...
Seus olhos encararam os meus, me observando. Parecia quase umdesafio.
"O que você quer?" Eu consegui dizer. Eu empurrei Asher, mas seucorponãosemoveu.
"Váembora.""Oquê?""Eu quero que você va embora. Saia daqui", disse Asher. "Nós vamos
cuidar de suamãe, então você pode voltar para o seu futuro brilhante efeliz."
Euo empurrei denovo, pressionando todoomeu corpo contrao seupeito.
"Meufuturobrilhante?"Eugritei."Oquediaboshádeerradocomvocê?Oqueaconteceu?Vocêeratãointeligente.Tãodoce."
Eurespireiecontinueiagritar."Masagoravocêestáemumagangue?Enãosó isso,masvocêévice-
presidente?Oqueissoquerdizer?Porquevocêestácomessagente?""Essagente?"eledisse."Essagente?"A mandíbula de Asher ficou tensa e ele agarrou os meus pulsos,
pressionando-oscontraaárvore,mesegurando."Essagenteéaminhafamília!"elegritou."Nemtodospodemsercomo
você, Lilly. Nem todo mundo pode ir para o norte para uma faculdadechiqueepagapelospais."
Eumedebatiparasoltarseuaperto.Oqueelesabiasobreoquetinhaacontecidocomigo?Quedireitotinhaelededizeralgumacoisa?
"Eueraapenasumgarotodoladoruimdacidade,lembra?Oquevocêlargousemdizeradeus."
Sentiumapertonomeupeito.Eradifícilrespirar.Foiquandonoteiaslágrimasnosolhosdele,teimosamenteserecusandoacair.
"Algunsanosdepoisquevocêfoiembora,aminhamãemorreu.Euvimparacasaumdiadepoisdaescolaeacozinhaestavacheiadesangue.Ospoliciaisolharamemvoltaporunsminutosenãoencontraramnada.Elesmedisseram'Desculpe,garoto,'efecharamocaso.Eunãotinhaninguém.Dinheiroalgum.Quandofiqueidevendooaluguel,eunãotinhasequerumlugarparaviver."
Asherlevantousuacamisacomumamão."Vocêviuessascicatrizes?"Eleapontouparaapeleirregularqueeutinhavistoantes.Agora,naluz
dodia,eupodiaveracarnelevantada.Euqueriapassarmeusdedossobreasmarcasefazê-lassumir.
"Vocêsabedoqueelassão?"Eubalanceiminhacabeça."Venda de drogas. De vez em quando eu encontrava um viciado com
umafaca.Outalvezalguémqueachavaqueeuestavameentrometendonoseuterritório.MasosDarkRidesmeacolheram.Elesmederamumlugarparaficar.Umtrabalho.Elesmetrataramcomoseeufossefamília."
Asher fez uma pausa e olhou direto nos meus olhos. Uma lágrimacomeçouaescorrerpelasuabochecha.
"Elesnuncamedecepcionaram.Nuncamedeixaram..."Eu tirei minha mão das suas. Foi fácil, pois o seu aperto tinha se
afrouxado nos meus pulsos. Toquei seu rosto suavemente e limpei alágrima.
Asheragarrouaminhamão,pressionando-acomforçacontraseurosto.Suabarbapor fazerarranhouminhapalma.Ocalordasuapelenaminhaqueimavaatravésdemim.Elemepressionoucontraaárvore,eeupodiasentiracascaásperacontraasminhascostas.
No início, ele foi gentil. Os dedos de Asher traçaram os meus lábioslentamente. Ele passou para omeu pescoço, explorando cada clavícula eplantandobeijossuavesnomeuombro.
Então as mãos de Asher entraram debaixo da minha camisa. Elearrastou seus dedos sobre aminha barriga, até chegar ao tecido domeusutiã.
Prendiarespiração.Deveríamosestarfazendoisso?Empúblico?Atrásdeumaantigaescola?
Minhamentedissequenão,masmeucoraçãoestavadisparado.Pareciaquetudoemmimqueriaqueelecontinuasse.Sómaisumpouquinho.
Asherempurrouminhacamisaparaqueelepudessemever,efoiaíqueeledeixoudesergentil.Elepuxouosbojosdomeusutiãparabaixo.Meusseios se soltaram e o choque de serem expostos fez meus mamilosendurecerem.
Sua bocame consumiu. Seus lábios quentes semoviamdomeu peitoparaaminhabocaeparaomeupescoço.Ashermemordiscavaenquantoofazia,marcasescurasflorescendonaminhapele.
Meucorpopareciaestarpegandofogo.Euqueriamaisdele,maisdoseutoque,seugosto.Euopuxeiparamaispertoepodiasentirsuadurezasepressionandocontramim.
Asherarrastouasmãospelasminhaspernasedebaixodaminhasaia.Eleencontrouolimitedaminhacalcinhaeapuxou.Comasduasmãos,elecomeçouadeslizarotecidoparaforadoseucaminho.
Eentãoeleparou.Asher seafastoudemim,dandoumpassopara trás comosenemele
entendesseoquetinhaacontecido.Longedoseutoqueintenso,euestavacomfrio.
Meusseiosestavamexpostoseminhasaiaestavaerguidaatéosmeusquadris.Eupareciaumameninaquetinhasidousadaejogadaforaporummotoqueiro.Eraissooqueeuera?
Ashersentounasuamotoeolhouparamim."Váembora",disseele."Vocênãoquerestaraqui,eninguémquervocê
aqui.Entãosuma!"
CAPÍTULOSEIS"Mas..."
AminhavozseperdeusoborugidodomotorpoderosodeAsher.Elesevirouefoiembora,deixandoumanuvemdepoeiranoseurastro.
Eufiqueiláparada,assistindo.Apoeirabaixoueelesetransformouemnada mais do que um ponto se movendo rapidamente no horizonte. Euestavasozinha.
Minhaspernascederameeucaínaterra,começandoasoluçar."Maseunãoqueriairembora!"Eugritei.Minhavozecoouportrásda
velhaescola."Eunãoqueriadeixá-lo!"Eu não tive escolha. O que eu deveria fazer? Eu não tinha sequer
completado12ainda.Euestavaindoparaasuacasa.Mesmoqueeleestivessedooutrolado
da cidade e a minha mãe se recusasse a me levar, eu tinha posto meussapatoseidoparaaporta.Foiquandomeupaimeagarrou.
ElenuncagostoudeAsher,achandoqueeleeraumamáinfluência.SeuapelidoparaAshereraomeu"amigodafavela".
Meu pai me trancou no carro, e foi isso. Não importava o quanto eugritasse, ele não me deixava sair. Até mesmo agora, eu não entendo oporquê.
Choreitodoocaminhoatéoaeroporto.Asaeromoçasqueriamsaberoquehaviadeerradoenquantoeuolhavaparaforadasjanelasdoaviãocomlágrimasrolandopelomeurostovermelho.Meupaiasdispensou,dizendoquenãoeranada.
"Asher,"eusussurrei.Eusabiaqueelenãoestavaporperto,maseuprecisavadizerisso."Eununcaquistedeixarparatrás."
CAPÍTULOSETESeráqueeudeviamesmoirembora?
AspalavrasdeAsherecoavamnaminhamenteenquantoeurolavaparaláeparacánaminhapequenacamadeinfância.Elenãomequeriaaqui.Eudeviairembora.
Eupegueiumursodepelúciarosaeoaperteicontraomeupeito.Seráque a menina que possuía esse ursinho teria imaginado esse futuro?Acreditoquenão.
O que eu quero para mim naquela época? Eu queria ser uma fadaquandoeucrescesse.Infelizmente,issonãodeucerto.
Minha mente se voltou para apenas alguns dias atrás, quando euarrumei minhas malas e desisti de tudo. A faculdade. Minha bolsa deestudos.
Faziasentidonomomento.Mesmoqueelanãotivessemepedidoparavir, eu queria cuidar daminhamãe.Mas será que ela precisavademim?Seriamelhordeixá-lacomeles?
Euodiavaaideia.Pareciaegoísta,comoseeusóquisessefugir.Este não era omeuplano, de qualquermaneira. Eudeveriame casar
comumcaraqueeuconhecessenoúltimoanodafaculdade.Euconseguiriaum emprego e construiria uma carreira por um tempo. Então teríamosfilhoseeuseriaumadona-de-casa.Euparticipariadeclubescomasoutrasmães,marcandopasseiosparaascrianças.Edepois...
Euolhiparaoteto.Erarealmenteissooqueeuqueria?Umaluzseacendeunocorredoreportadomeuquartoseabriu.Depois
de todos esses anos, a minha mãe ainda não tinha passado WD-40 nasdobradiças.
"Vocêestábem,bebê?"Minhamãepassouacabeçapelafrestaemeespioualinacama,coberta
com os meus velhos bichinhos de pelúcia, e entrou correndo para meabraçar.Meurostodescansounoseucolo.
"Oquefoi?"elaqueriasaber.Suamãoacariciavadelicadamenteaminhabochecha.Jásentimeurosto
ficando quente e minha visão borrando. Eu respirei fundo e segurei ochoro.
"Eudeveriaestaraqui,mãe?""Oquevocêquerdizer,amor?"
"Eu quero dizer, será que eu deveria estar aqui? Vocême quer aqui?PorqueAsherdisse..."
Assimqueeudisseonomedele,aslágrimascomeçaram.Eusoluçavanacamisoladaminhamãe,chorandotantoquedeviaserimpossívelentenderoqueeudizia.Eupareciatercincoanosdenovo,chorandoporumjoelhoarranhado.
"Asherdissequeelenãomequeraqui,equeeunãodeveriaestaraqui.Ninguémmequeraqui...Talvezsejaumaboaideia.Eudeviairembora.Eledissequeogrupocuidariadevocê.Quepodemprotegê-la,mantê-laseguro.Oqueeupossofazer?Euvouvoltarparaaescola,certo?Vouvoltarparaaescolaeganharmuitodinheiroeentãoeuvouvoltar.Edepois..."
Minhavozsumiu.Minhamãenãointerrompeuminhasdivagações.Elasófezcarinhonaminhacabeça,esperandoqueeumeacalmasseparafalar.
"Você sabe, quando seu pai foi embora, eu não conseguia aceitar.Embora tudo estivesse tão ruim, eunãoqueria que ele fosse embora. Euqueriaquetudoficassedojeitoqueera.Daformacomoeutinhaplanejado.Eu pensei que eu estava perdendo tudo. Minha casa perfeita no norte.Minhafamíliaperfeita.Tudo.Masolheparamimagora.Mesmodoente,euestoumaisfelizdoqueeuestavacomtodasessascoisas."
Minhamãeseabaixouebeijoumeurosto.Eutinhafinalmenteparadodechorar,deixandosuavozmeacalmar.
"Talvezvocêtenhaquepensarumpoucomaissobreoqueéquevocêrealmentequer",disseela.
Eulimpeimeusolhosefungueiumpouco.Virei-meparaaminhamãe."Vocênãopodesimplesmentemedizerseeudeveriaficarounão?"Minhamãesorriueacariciouminhacabeçanovamente."Não."Ela gentilmente tirou minha cabeça do seu colo e se levantou,
caminhandoparaaportadoquarto."Vocêmesmatemquedecidirisso",disseela,apagandoaluzaosair.Eufiqueilánoescuro,olhandoparaonada.Euestavacansadademais
para chorardenovo, ou atémesmoparapensar emqualquer coisa.Meucorpodoía,maseunãoconseguiadormir.
Depoisdeumtempo,eusaídacama.Vestiumacamisaecalçajeansepegueiminhaschavesantesdesairpelaporta.Eraomeiodanoite,maseusabia exatamente onde eu estava indo. O único lugar que se podia ir emumacidadecomoesta,aestahora.
CAPÍTULOOITOTodos os jovens na cidade conheciam o The Stables. Era o único bar, oúnicolugarnacidadetodaemquenãopodíamosir.Claro,elenemmesmoabriaatébemdepoisdanossahoradedormir.Masagoraeunãotinhamaistoquederecolher.
Fui até a porta de entrada e fiz uma pausa perant o grande sinal deneon.Euestavaprestesaentrarquandoumhomemcomumamulhernoseubraçotropeçarampormim.Ocheirodefumaçaeoazedodoálcoolemseus hálitos me atingiram quando a porta se abriu, fazendo meus olhoslacrimejarem.
Ohomemeamulhercontinuaramsearrastando,malconseguindonãocairnacalçada.Euaindapodiaouvi-loscantandoerindobemdepoisdassuasformasdesapareceremnaescuridão.
Eu respirei fundo, agarrei amaçaneta da porta, e a abri. Eu esperavaquetodosolhassemparamim,apontandoerindo,masninguémofez.Aluzeramuito fraca e amaioria das pessoas no bar estavammuito ocupadascomseusprópriosproblemasparasepreocuparcomigo.
Haviaumassentolivrenafrentedobartender,entãofoialiqueeumesentei.
"Ummojito, por favor? Verifique se a hortelã e suco estão realmentefrescos..."
Minhas palavrasmorreram quando vi o olhar no rosto do barman. Osorriso de escárnio se formando no seu rosto não era exatamenteanimador.
"Umacerveja,porfavor.Obrigada."Obarmantrouxeumagarrafadeumamarcalocal,aabriueabateuno
balcãoàminhafrente.Serviçoagradável.Euengoliacervejaaquosa,deixandoosaborlevementedocedemilho
cobriraminhalíngua.Nãoeraamelhor,ecomcertezanãoeraummojito,masdariaprogasto.
Eu já estava chegando no fundo da garrafa quando dois rapazes seaproximaramese sentaramaomeu lado.Eles sorriramumparaooutro,engolindosuascervejasempoucosgoles.Eutenteinãoprestaratenção.
"Umavodcacranberryparaasenhoritaaqui,"umdoscarasdisse."Ah,não",eudisse."Estoubem,realmente.""Não,nósinsistimos",disseooutrocara."Umamoçabonitacomovocê
nãodeveriaestarbebendosozinhaemumbar."
Quando o barman empurrou a bebida naminha direção, eu a peguei.Forçandoumsorriso,levanteiocoponadireçãodosrapazes.
"Obrigada",eudisse."Saúde."Torcendo para a nossa interação acabar ali mesmo, eu comecei a
saborearocoqueteldoce."EusouJim",disseumdeles.Ooutrocaraveiodoladodele."Eeusou
Will.""Lilly,"eudisseecontinueibebericandoodrinque.Aparentemente, isso foi o suficiente para eles quererem iniciar uma
conversa.Essebarnãoestavasendotãodivertidoquantoeuimaginavaqueseriaquandoeueracriança.
"Cara,"Willdisse."Eessesmotoqueirosandandoporaquiessesdias?""Sim, no outro dia eles estavam dirigindo por aí no meio da noite,
fazendoumbarulhão.Nãoé?"Jimdisse."Mmm."Esteeraoúltimaassuntoquemeinteressavanomomento."Queméqueelespensamquesão?"Jimdisse."Reis?""Expulsandopessoasdacidade",disseWill."Elesdevemacharquesão
oschefes.""Especialmenteaquelecara,Wild."MeusolhosvoaramparaJim.Eleeradaminhaidadeeusavaumboné
desbotadadesol.Quandonotoumeuinteresse,elecontinuou."Eununcaovisorrindo",disseele."Sim,eleandaporaícomosefosseopoderoso",disseWill."Euaposto
queeuconseguiriaderrubá-lo."Eu terminei minha bebida e bati com o copo na mesa, chocando-os.
Talvezfosseacerveja,ouavodca,ouaexaustão,maseunãomeimportava.Eu não ia ficar sentada ali enquanto eles falavam besteiras sobre Asher.Mesmo que eu mesma não tivesse muita certeza de como eu me sentiasobreelenomomento.
"Você não sabe nada sobre ele, ou toda amerda que ele passou", eudisse.Virei-mepara encará-los. "Evocê certamentenãoquer chamar suaatenção."
"Quemévocê,avadiadele?"Willgritou."Nãoéassimquesedevefalarcomumadama."Olhei para cima e lá estavaAsher.Omotoqueiro estava bematrás de
mim,suasmãossobreosmeusombros."Porra, é o WIld!" exclamou Jim. Ele pulou do seu assento e saiu
correndoparaforadobar,deixandoWillparatrás.
"Então você disse que me derrubava em uma luta, é? Querexperimentar?"
AshersemoveuatéWill.Ocaramenorseencolheuquandoooutroseaproximou, mesmo que estivesse tentando parecer corajoso. Will deu oprimeirosoco,masAshersimplesmenteobloqueoucomsuamão.
"Tentenovamente",disseele.Willrangiuosdentes.Destavez,eupodiavê-lojogandotodooseupeso
por trás do soco,mas seu punho só deu um baque surdo no peitoral deAsher.Omotoqueironãotinhasequertentadoevitá-lo.
"Ok,agoraéaminhavez."O soco de Asher atingiu Will na testa. Ele caiu no chão do bar
instantaneamente.Numpiscardeolhos,eleestavainconsciente."Nãosepreocupe,elevaificarbememalgumashoras",disseAsher.Ele
pegouminhamãonasua."Vamos."Ashermepuxoupara fora.Comosempre,suamotoestavaesperando.
Elepulounelae,pelaprimeiravez,eusubidebomgrado.Eupasseimeusbraços em torno da sua cintura, apertando-o bem firme. Eu não meimportavaparaondeestávamosindo.
O vento passava pormim enquanto dirigíamos. Ele uivava nosmeusouvidos e empurrava contra o meu corpo. Mas eu não estava mais commedo.
Andardemotoeramuitodiferentedeumcarro.Eunão tinhaapenasque ver omundo passar pormim. Eu não estava segura naminha bolhaclimatizadacommeump4,esperandoapenasparachegaraomeudestino.
Não,euestavaemcontatocomtudo.Ovento.Obalançosuavedamotosobre cada solavanco na calçada. O som dos grilos cantando na noite. Ocheirodefogoqueimandoemalgumlugarnosarbustos.
Namoto,eunãoconseguiapensaremnada.Nãosobreonossopassado,nem sobre o que ia acontecer, nem mesmo o que estava acontecendocomigoagora.Eusópodiasentir.
Eraapenasaestrada.Asher.Eeu.
CAPÍTULONOVENós paramos em uma colina. Asher desligou omotor e me trouxe até aborda.Elenãodissenada,sógesticulouparaqueeusentasseaoseuladonagramamolhada.
No começo eu me perguntava por que estávamos aqui. Talvez elequisessebrigarcomigonovamente.Talvezelefossemedizermaisumavezparamemandar,queelemesalvou,masnãoqueriamaisveraminhacara.Mordiolábioparanãochorar.
Eentãoeleapontou.Umaluzrosadasearrastavaaolongodohorizonte.Elatocavatudocom
seus tons claros.Conformea luz foi ficandomais forte,umamarelo-claroapareceue fezanossapequenacidadebrilhar.Finalmente,osolamareloâmbarespiouporcimada terra.Tudooquea luz tocavaeracobertoporouro.
AmãodeAsherseapoderoudaminha.Nosilênciodamanhã,issoeratudooqueeuconseguiapensar.Otoquedasuapelenaminha.
"Asher, eu..." Fiz uma pausa. As palavras eram difíceis de dizer. "Eujamaisquisdeixarvocêparatrás."
Asher se virou para mim. A luz do sol quente cobria o seu rosto,deixando as linhas de sua mandíbula e ossos da bochecha ainda maispronunciadosdoqueonormal.
Eu abriminhamão. Eu queria levantá-la e tocar seu rosto, esfregar apalmasobresuabarba,masnãoofiz.Euaperteimeusdedosemumpunhoemeafasteidele.Eunãomereciaisso,nãoé?
A próxima coisa que eu senti foram os braços de Asher sobre meusombros. Elemepuxoude volta atémepressionar contra o seu peito. Euolheiparaeleeseusolhosazuisgrudaramnosmeus.
Eu analisei seu rosto. Em algum lugar ali estava o menino que euconhecia.Omeninoquemedavarefrigerantedegengibretodososdiasnaescola.Agora,aquelejovemestavamisturadonomeiodeWild.Estehomemgrande,muscular,poderoso,queestavadificultandoaminharespiração.
Asherinclinoumeuqueixoparacima.Meucoraçãobatiafortenomeupeito.Nós ficamosparados ali porummomento, nossos rostos tãopertoqueestavamquasesetocando.EentãoAsherpressionouseuslábioscontraosmeus.
Estaremseusbraçoseracomoseeuestivessenamotonovamente.Eunãoestavamaispreocupadacomopassado,ouoquefaríamosno futuro.
Tudooqueimportavaeramseuslábiosnosmeus.NossobeijoseaprofundoueAsherexplorouaminhabocacomalíngua.
Elamergulhou,seempurrandocominsistênciapelosmeuslábios.Eujámesentiaficandoviciadanoseugosto
Quando os dedos de Asher roçaram sob a barra daminha camisa, eucongelei.Euaperteiminhasmãoscontraopeitodele,tentandoempurrá-lo.
"Eupenseiquevocêquisessequeeufosseembora",eudisse.OsombrosdeAshercaíram.Oolhar ferozdesapareceudeseusolhos,
sendosubstituídoporumdetristeza."Me desculpe", disse ele. "É só... Você se foi por seis anos. Eu fiquei
pensandoemvocêporseisanose,donada,vocêsimplesmentereapareceu.Noladodaestrada.Evocênemsequerselembravademim."
Eu nunca tinha pensado nisso dessa forma. Meu coração se apertou,doloridodentrodemim.
"Maseu lembreidevocê.Assimqueeuvivocê lá, fingindoqueestavatudo bem, eu sabia", disse ele. "Eu não deveria ter ficado tão bravo.Tínhamosapenas14anos.Oquediabosvocêdeviaterfeito,fugido?"
"Então..."Eucomecei,masAshermeinterrompeu."Então,não,"disseAsher,dandoumbeijosuavenomeunariz."Eunão
queroquevocêváembora."Eu joguei meus braços em volta do seu pescoço, deixando minhas
lágrimas caírem na sua pele. Ele não tentou enxugá-las. Suas mãossimplesmentecomeçaramavagarpelomeucorpo.
Suaspalmasseguraramosmeusseios.Elepegoumeusmamilosentreosdedoseosapertou,fazendocomqueeumecontorcessesobele.Quandoele sentiu omeu gemido quente contra o seu pescoço,meumeninomausorriu.
AoutramãodeAsherseabaixou.Elenemsequerprecisouolharparabaixopara desabotoarminha calça jeans. Prendi a respiração e fechei osolhos.
Seusdedoserampacientesenquantopassavamporbaixodofinotecidoda minha calcinha até descansarem entre as minhas pernas. Ele não semoveu. Havia apenas a sensação dos seus dedos lá, descansando contramim,meprovocando.
Euempurreimeusquadris,tentandofazê-loentrar.Asherriu."Comoestamosimpacientes,"elesorriu.Finalmente,seusdedossemoveram.Elesdeslizarameesfregaramaté
quetodoomeucorpoformigavadeantecipação.EstendiamãoparaocintodeAsher,massuamãoagarroumeupulso.
"Eunãopossofazerissosevocênãosejuntaraoclube",disseele."OsDark Riders são a minha vida." Eu puxei minha mão para longe dele,agarrando-acontraomeupeito."Aperguntaé:vocêestáprontaparaisso,ounão?"
CAPÍTULODEZEunãoconseguiresponder.
EuaindafiqueipensandonaperguntabemdepoisdeAshermetrazerpara casa e eu ter desabado na cama. Eu me sentia estúpida, pensandosobre o mesmo problema de novo e de novo. Ele já não tinha dito quequeriaqueeufosseembora?Masoproblemaagoraera,seráqueeuqueriaficar?Avidaaqui,nãoseriatãoruim,seria?
Minhamenteestavaumabagunça,masomeucorponãoseimportava.Adormeci com os mesmos pensamentos correndo pela minha cabeça.Imagens e cenários surgiram na minha mente. Eu vi Asher sendoderrubadopor uma chuvade balas atiradas por uma equipe de policiais.Minhamãesequestradaporumaganguerivalemantidacomorefémporuma quantia de dinheiro que nós não tínhamos. Eu até mesmo me viamordaçadaejogadanapartetraseiradeumavan,ameaçadademorteseeunãorevelassesegredosdoclube.
Quandoeuacordei,estavacobertadesuor.Ossonhostinhamrealmenteme abalado. E se eles acabassem se tornando reais? Eu balancei minhacabeça. De jeito nenhum. Eles se pareciam demais com o tipo de tramaexagerada de algum programa de TV ruim da máfia ou algo assim. FoiquandoeupercebiqueeurealmentenãotinhaideiadoqueosDarkRidersrealmente faziam. Bem, a única maneira de mudar isso era perguntar eaprender.
CAPÍTULOONZENodiaseguinte,nocafédamanhã,eunãodesperdiceitempo.Euserviumpratodecomidaparaaminhamãe,enchendoasuacanecacomcháverdequente.Aoladodadela,euenchiaminhacomcafépreto.Euiaprecisardacafeína.
"Mãe?"Eucomecei."Sim?""VocêsabeondeéasededosDarkRiders?"Ela abaixou o garfo e olhou para mim. Os cantos da sua boca se
inclinaramparabaixo."Porquê?"elaperguntou."Paraquevocêquersaberisso?"Euolheiparaomeuprato,mexendocomoguardanapo."Euprecisodescobriralgumacoisa.Éimportante.""Você não vai se envolver com isso. Você não é esse tipo de garota",
disseela.Vocênãoéessetipodegarota.Quantasvezeseu játinhaouvidoisso?
Eulargueimeugarfosobreopratodeporcelana."Sevocênãomedisser,euvouterquedescobrirsozinha",euretruquei.
"Vocênãopodemaismemanterafastadadetudooqueacharperigoso."Minhamãemeolhoudeperto.Haviamágoaeconfusãoemseusolhos.
Euseiqueelaestavaapenastentandocuidardemim,maseunãoeramaisumbebê.Eunãoqueriamachucá-la,masoquemaiseupoderiafazer?
"Tudo bem", disse ela finalmente. "Eu vou te dizer.Mas tente não semeteremproblemas,estábem?"
Anoteisuasinstruçõesemumpedaçodeguardanapo.Eunãoprecisava,porque a cidade era tão pequena, mas eu estava tão nervosa que tinhamedodeesquecertudooqueelamedisse.
Assimquesaí,minhamãeficounaporta.Elaacenou,eolhoemmimatéeusairdevista.Eumesentimal.UmaboameninanãoiriaatrásdolocaldeencontrodeumMotoClub.Maseunãotinhacertezasequeriaqueoutraspessoascontinuassemmevendocomoa"boazinha".
Quandoeuvi o lugar, parecia exatamente comoeu imaginava.O localcostumava ser umamansão. Eu não tenho ideia de quanto tempo atrás,porqueo lugar jáeraabandonadoquandoéramoscrianças. ImagineiquequandoosDarkRidersvieramparaacidadeseinstalar,elesconsertaramolugar.Bem,maisoumenos.
Amadeiravelharangeuquandoeupiseinavaranda.Euinspireifundouma última vez e bati na porta. Ninguém respondeu. Esperei. Batinovamente.Nada.
Foisóquandoeujáestavabatendonaportacomambosospunhosqueaportaseabriu.Euquasecaíparadentro.
O cheiro de cerveja e fumaça de cigarro bateram no meu rosto. Nointerior,amúsicaestavatocandotãoaltoqueacasapareciabalançar.Alémdisso,diversaspessoasestavamfalando,gritandoerindoacimadamúsica.Nãoédeseadmirarqueninguémmeouviunaporta.
O cara que me atendeu olhou para mim. Ele era enorme. Sua barbavermelha encaracolada cobria um grande rosto redondoque não pareciaamigávelouhostil.Apenasbêbado.
"Olhesó,oquetemosaqui?"disseele,meolhandodecimaabaixocomum sorriso. "Você não é bem o tipo que normalmente escolhemos, masquemsomosnóspararecusarumaoferta?"
"EstouaquiparafalarcomoWild",eudisse.Arisadadocaraveiobemdofundodoseubarrigão."Ei, pessoal, essa garota diz que quer ver o WIld!" ele gritou. Risos
vieramdedentrodacasa.Gargalhando,elesevirouparamimnovamente."Wild?Desculpe,moça,masdessematonão sai cachorro", disse ele e
fechouaporta.Batinovamente,destavezcomtodaaminhaforça.Quandoocaraabriu
aporta,elepareciasurpresoaomeverlánovamente."EudissequeeuquerofalarcomoWild."Obarbudomeolhoudecimaabaixonovamente.Eunãoarredeiopé.
Elecoçouabarbaumpoucoe,emseguida,jogouasmãosnoar."Tudobem",disseele."Oquevocêquiser,moça."Ograndalhãoseinclinouparatrásegritou."Wild!Temumagarotaaquidizendoqueelaquerfalarcomvocê!"Ele foi alto o suficiente para machucar meus ouvidos, mas eu fiquei
grataporelenãosimplesmentebateraportanaminhacaranovamente."Obrigada",eudisse."Claro",disseele."Sóesperoquevocêsaibacomquemestáfalando."O
motoqueiro saiu andando para dentro de casa aomesmo tempo em queAsher desceu as escadas. Seus passos eram pesados, e balançavam astábuasdaescada.Quandoelemeviunaporta,seusolhossearregalaram.
"O que diabos você está fazendo aqui?" ele disse. "Eu pensei que quetinhatomadoasuadecisãoontem,quandonãomerespondeu."
Mordio lábioeolheiprofundamentenosseusolhos.Cerreiospunhosaomeuladoerespireifundo.Euconsigofazerisso.
"Melevecomvocê",eudisse."Oquê?""Melevecomvocê.Seja láoqueforquevocêfaçacomesteclube,me
levecomvocê.Euquerosaberdetudo."Nocomeço,Ashersópodiaolharparamim.Elelevantouasobrancelha
e passou a mão pelo cabelo loiro. Em seguida, um pequeno sorrisoapareceu nos seus lábios, crescendo quando ele percebeu que eu nãoestavabrincando."Tudobem",disseele."Ok.Vamosfazerisso.Vamos!"
"Agora?""Sim,agora!"
CAPÍTULODOZEEu nunca tinha visto tantos homens se movendo tão rapidamente. Nãodemoroumaisdoque30minutosdepoisdeAsherfalarcomMavparatodomundovestirsuasjaquetas,pegarsuasarmasemontarnassuasmotos.
Antesdepartimos,Ashermeexplicouoqueestavaacontecendo."Nósvamosescoltaralgunscaminhões.Àsvezeselestêmproblemasna
autovia.Estamosláparacertificardequeissonãoaconteça."Problemas? Que tipo de problemas? Quem iria querer incomodar
caminhoneiros? Estávamos na rua e acelerando antes que eu pudesseperguntar.Obarulhoeramuitoaltoparaeleouviraminhavoz.
Quando saímos da cidade e pegamos a estrada, omesmo sentimentotomoucontademimcomoantes.EuestavacomeçandoaentenderporqueAshergostavatantodeandardemoto.Todaaminhavida,eusempretivemedodemotocicletas.Pareciatãoassustador.
E era assustador. A qualquer momento nós podíamos cair, deslizar,bater.Efimdahistória.
Masali,sentadaatrásdeAsher,eunãomepreocupavacomisso.Tudooque eu conseguia pensar era que isso era.... certo. Bom. Era só quandodescíamosdamotoqueeutinhaproblemas.
Na distância, dois grandes caminhões apareceram. Avistando-os, Mavfezummovimentoetodoogrupoacelerou.Nãodemoroumuitoparaquenóschegássemosatéeles.
Os caminhoneiros buzinaram em reconhecimento e nos deram um"joinha" com o polegar quando nos viram. O grupo de motociclistas sedividiuemquatro.Cadagrupoficoudeumladodeumcaminhão,cercando-oscompletamentecomumabrigadademotos.
Queestranho.Estespareciamsercaminhõescomuns.Aslateraisdasuacargatinhamimagensdefrangoselegumes,entãoeuachavaqueestavamapenas transportandoalimentos.Masporqueumcaminhãodealimentosprecisavadoqueequivaliabasicamenteaumaescoltaarmada?
O som de fogos de artifício estourou nomeu ouvido. Ergui a cabeça,olhandoparaocéu,masnãovinada.
Houvemaisdoisestrondos.Destavezeuolheiparatrás,efoiquandoeuosvi.Umgrupoderapazesemmotocicletasestavavindoemnossadireção.Ao se aproximarem, eupodia ver o que estava causandoo ruído.Armas.Elesestavamatirandoemnós.
Merda.
Outro "boom" e o motociclista ao nosso lado caiu. Sua motocicletaderrapou por nós, disparando faíscas vermelhas quentes enquanto seraspavaaolongodochão.Ocaminhãopassouporcimadela,esmagando-aatéquasenadarestardamáquina.
Omotoqueiro tevesorteelenãoestarmaisnela.Ele tinharolado foradamoto,deslizandoemsuajaquetadecouronaoutradireção.Aindabem!
Sentialgopassandopertodomeuouvidoe,emseguida,ouviaexplosão.Eu gritei.Me agarrei aoAsher atéquemeusdedos ficarambrancos.Meucorpo todo tremia, e eu queria pular da moto. Por que alguém estavaatirandoemnós?
Umtiroatingiuochãobempróximoaosnossospés,eAsherdesviou.Amoto parecia que ia cair. Estávamos quase horizontais, e se eu quisesseestenderaminhamão,teriatocadooasfalto.
Eunãopodiacontrolaraminharespiração.Pareciaqueeuestavacomfalta de ar, e eu tinha quase certeza de que tudo nomeu estômago logodecorariaarodovia.Meurostoestavamolhadodelágrimas.Porqueéqueeuacheiqueissofosseserumaboaideia?
Os estrondos começaram a vir um após o outro, e eu percebi que osoutros caras não eram os únicos atirando. Os Dark Riders estavam comsuas armas para fora, apontando-as para trás e disparando na distância.Ótimo,agoraeuestavanomeiodeumtiroteio.
Umcaradooutrogrupodemotociclistasacelerou.Eleseguiunanossatraseiraechegoupertoosuficienteparaqueeupudesseveropatchemsuajaqueta.TarantulasMotoClub.
Asher tentou despistá-lo, mas ele continuou nos seguindo. Logo eleestavabemaonossolado,pertoosuficienteparameolharnosolhos.
No momento seguinte, seu braço estendeu a mão. Ele agarrou meucabelo e me puxou na sua direção. Eu quase caí da moto de Asher, mesegurandoporpouco.
Asher se virou e olhou para o motoqueiro. Eu nunca tinha visto eleassim.Suasnarinassealargarameasveiasdoseupescoçosetensionaramcontrasuapele.Elesoltouumrugidoguturalesocouooutrobemnomeiodacara.
OTarantulagritouecaiudamoto.Comooutromotociclistadeitadonaestrada,Asherpuxousuaarma.Eledisparounapernadocara,eumapoçadesanguese formouaoredordoTarantulaenquantoele secontorcianochão.
Euqueriagritar,masosommorreunaminhagargantaquandieuolheipara Asher. Que tipo de homem era ele? Teoricamente, eu sabia que ele
provavelmente iria atirar em alguém. Ele carregava uma arma, afinal decontas.
Maseradiferenterealmentever issoempessoa.Eradiferenteouviraexplosãoe vero sanguedealguém.Mesmose ele tivesse acabadodemeatacar.
Ainda assim, uma parte demim que eu quase não queria reconhecerestavafeliz.Ashermeprotegeu.Enquantoeuestivessecomele,euestariasegura.
Asher voltou seus guidões e acelerou tão rapidamente que suamotopulousobreumaroda.Agarrei-oaindamaisfirmemente,commedodequeiríamos cair para trás e então morrer esmagados pelo resto do grupo.Voltamos para duas rodas e aceleramos à frente de todos os outros,deixando-osparatrás.
AvelocidadedamotosódiminuiuquandoAsherdirigiuatéumalojadebrinquedos. Eunão entendia por que estávamos lá,masAsher agarrou aminhamãoecorreuparadentrodoprédio.
Corremos por exibições de cartas de baralho, bonecas e blocos deconstrução.Nossospésfaziambarulhonochão,atéqueAsherempurrouaporta"ApenasparaFuncionários"emepuxouescadaacima.Foiquandoeufinalmenteentendi.
Osegundoandareraumgrandeespaçoaberto.Eleprovavelmentetinhasido um armazém no passado, mas agora o espaço parecia um bunker.Haviaummontedecamasemumladodasala,alimentossecoseáguanooutro.
Armas estavam penduradas nas paredes com munição em caixasfechadas.Asjanelasestavamcompletamentebloqueadas,eaúnicamaneirade ver enxergar o exterior era pormio de uma grande TV conectada àscâmerasemtodaalojadebrinquedos.
Eumesentiacomosetivesseacabadodeentrarnomeiodeumfilmedeação.Meucoraçãoaindaestavaacelerado,eeuaindamesentiacomoseeudevesseestarcorrendoatéalgumlugar,qualquerlugar.
"Lilly!"Asherdisse."Vocêestábem?"Elemeesmagoucontraseupeitoral.Meusseiossepressionaramcontra
seusmúsculosduroseeumedeixeiserengolidapeloseutamanho.Quandoelefinalmenteseafastou,euassenti.
"Euestoubem",eudisse."Maisou..."Minhas palavras foram cortadas pelos seus lábios nos meus. Talvez
fosse por isso que ele me protegeu. Talvez fosse a adrenalina. Mas poralgumarazão,eunãomecontive.
Beijei Asher de volta com mais vontade do que nunca antes. Euempurreisuajaquetadecourodeseusombroseelacaiunochão.Pareciaum frenesi. Nossas bocas continuavam a se encontrar enquantoarrancávamosaroupaumdooutro.
Meus dedos não conseguiam desabotoar a camisa dele rápido osuficiente.Asherarasgou,arrebentandoosbotõesealargandonochão.Eulevantei meus braços para que ele pudesse tirar minha blusa, e abaixeiminhacalçajeans.
Comcadapeçaderoupaamenos,maisdasnossaspelessetocavam.Eunão podia acreditar como ele era quente, firme, a pele sedosa commúsculosfortesporbaixo.Tudoestavaacontecendotãorapidamente,maseuqueriaquefosseaindamaisrápido.
Nóscaímossobreumadascamase,finalmente,estávamosambosnus.Asherpairavasobremim,seusmúsculosdosombrostensosenquantoelese segurava sobre omeu corpo. Ele parecia sem fôlego enquanto olhavaparaomeucorponu.
"Vocênãosabequantasvezeseusonheiemvervocêassim",disseele.Seu beijo atacou meus lábios novamente, mas depois desapareceu.
Asher explorou meu corpo com a boca, puxando e beliscando os meusseios. Ele desceu pelo meu estômago e lentamente começou a lamberminhascoxas.
Asherfezumapausaquandoabriuminhaspernas.Tenhoquasecertezaqueeuoouvisuspirar.
"Sim",disseele."Exatamentecomoeuimaginava."Eentãosuabocaestavasobremim.Nãoeraummovimentocalmoou
suave. A língua de Asher me devorou. Mesmo quando eu joguei meusquadrisparacima,elenãoparou.
Eu podia sentir sua boca quente emmim, fazendo todo omeu corpotremer.Ondasde calor enchiammeu corpo e empouco tempoeu estavaderretendosobseutoque.Quandoeugemi,jogandominhacabeçaparatrásetremendotoda,Ashersegurouminhasmãos.Eleentrelaçouosdedosnosmeusenãoparoudemelamberebeijaratéqueeugriteioseunome.
"Asher!"Depoiseleficoudejoelhosentreasminhaspernas.Ashertirouocintoe
empurrousuascalças,deixandoseupaulivre.Rapidamente,eledesenrolouumpreservativoejogouoinvólucrovazionochão.
Ashersepressionoucontramim,inclinando-sesobreaminhaabertura.Tudooqueeuqueriaeraqueeledeslizasselogoparadentro.Apenasumapenetração.
"Sabe, a última vez que eu perguntei se você queria fazer isso, vocêdissequenão,"disseAsher."Apostoquevocêjádeixoumuitoscarasfelizespordizersim."
Mordiolábioemeafasteidele.Demorouumpoucoantesdafichacair."Vocênãofezissoainda,nãoé?"Asherseabaixousobremim,trazendoseuslábiospertodomeuouvido.
Elesepressionoumaisfirmementeentreasminhaspernas,meesfregandocomelemesmo.Foiquaseosuficienteparamedeixarlouca.
"Vocêquerqueeucontinue?"Elesussurrou."Eunãovou,amenosquevocêpeça."
Suavozassumiuumrosnadobaixo."Peça."Meucorpogritavaporele.CadanervinhoqueriaAsherdentrodemim,
maseunãoconseguiadizeraspalavras.Minhasbochechasqueimavam.Porqueeutinhaquedizerisso?
Euquasenãoacreditavaqueeleofaria,masAsherrecuou.Eleseenfioudentrode suas calças e sentou-se ao ladoda cama. Ele segurou a cabeçaentreasmãosesuspirou.
"Sabe",disseele."Vocêrealmentenãofacilitaascoisasparaumcara."Apróximacoisaqueouvimosfoioprofundogrunhidodemotocicletas.
Asher correu para o sistema de vigilância, e viu que quatro Dsrk Riderstinhamestacionado.
Elesnãopareciamestarmuitobem.Estavamencharcadosdesuoresujeira.Pareciaquetinhamacabadode
sairdeumazonadeguerra...oquenãodeixavadeserverdade.Oimportanteeraqueelesestavamvivos.Trêsdelespareciabem,com
exceçãodealguns cortes e arranhões,masoquartomotoqueiro?Eraummilagrequeeleaindaestavamontadonasuamotocicleta,eassimqueelespararam,elecaiunoasfalto.
Nós nos apressamos para vestir nossas roupas e Asher voou pelasescadas.Euassisti todoseles levantandoocaraeotrazendoparadentro.Nãofoiatéqueodeitaramsobreumadascamasqueeufiqueicaraacaracomarealidadedasituação.
"Rich?"disseAsher.Ele não respondeu.Rich continuou a gemer sobre o colchão fino. Sua
pernaesquerdaeobraçodireitoestavamsangrando, eaúnica coisaqueimpedia o fluxo era uma bandana doMoto Club. Se ele não fosse para opronto-socorro,iriamorrer.
OlheiparaRich.Eleprovavelmentenãoeraoúniconessacondição.Asuapele jáestava ficandopálidaecobertadesuor.Quanto tempo levaria
paraqueAsherseencontrassenamesmasituação?Oueu?Eu então me dei um tapa mental. Duh, eu podia ajudar. Eu só tinha
algunsanosdeaprendizagemnoprogramadeenfermagem,masRichnãotinhaquemorreraqui.
Enroleiasmangaseempurreiosmotoqueiros."Alguémmetragaalgumtipodevara,umatesoura,eumapeçagrandee
longadepano",eudisse.Oscarashesitaram,meolhandode formaestranha.Nósnãotínhamos
tempoparaisso."Vocêsvãoficarenrolando,debatendosedevemounãofazeroqueeu
pedi,enquantoseuamigosangraatéamortenestacama?"Issofoiosuficienteparaquesaíssemandando.OpulsodeRichestava
acelerado.Eleestavacomfaltadear,esuapeleestavafriaeúmida.Seeleperdessemuitomaissangue,iriaentraremchoque.Virei-meparaAsher.
"Vocêstêmgaze?"Euperguntei.Seurostonãotinhaexpressão."Gaze,algodão,umkitdeprimeirossocorros?""Não.Semprequeficamosmachucado,nóssimplesmentelidamoscom
isso",disseele."Vocêtêmarmasosuficienteaquiparaumarsenal,masnãotemumkit
de primeiros socorros?" Eu gritei. "Não é possível curar uma artériacortadasócommacheza!"
Os outros motoqueiros voltaram. Eles me trouxeram uma tesouracomum,umacamisetaextraealgunsgravetosládefora.Euolheiparaosmateriaisesuspirei.Istodefinitivamentenãoeraumhospital.
Eupegueiatesouraecorteiumpedaçodaminhacamisa.Pelomenoseutinhacertezadequeelaestavalimpaobastante.CorteiapernadacalçadeRicheasuamangaatéqueeupudesseverpelelimpa,eentãopressioneiopedaço da minha camisa contra a ferida. Em poucos segundos, o panoestavacompletamenteencharcadodesangue.
Ok, hora da etapa dois. Eu cortei a camiseta extra em longas tiras,rasgando-aparaagilizaroprocesso.Amarreiotecidoemumnóacimadasduas feridas, usando o que restava das roupas deRich para preencher otorniquete.Eleiaprecisardisso.Opróximopassoiadoer.
Enroleiomaterialemtornodaferidamaisalgumasvezes,repetindoospassosnaminhacabeçaantesdeseguiremfrente.Eurespireifundo.Seeufizesseissoerrado,elepoderiaperderummembro.
Euateiotecidodacamisaemambasasextremidadesdogravetoemeprepareiparavirar.Éestranho,elesnuncalhedizemcomoédifícilpararo
fluxodesangueemumcorpohumano.Euuseitodaaminhaforça,tentandotorcerasvarasatéqueosanguedeRichparoudecairnacama.Quandoeufinalmenteconsegui,desabeinochão.Euestavaexausta.
"Ele precisa demais tratamento", eu disse. "Mas deve ficar bem, pelomenosporenquanto."
"Obrigado",umdosmotoqueirosdisse.Ergui a cabeça e sorri fracamente,masmesmo isso não duroumuito
tempo.Elesforaminterrompidospelosomdeumwalkie-talkie.Avozvinhaquebradapeloalto-falante,mastodosnóssabíamosquem
estavafalando.Mav."Voltemparacáagora!"elegritou.Os outros caras se apressaram pelas escadas assim que ouviram a
ordemdopresidente,masAsherpermaneceu.Elechegoupertodemimepassouseusdedossobreomeurosto.
"Fiquesegura",disseele.O beijo que Asher me deu foi rápido, mas queimou os meus lábios.
Antesqueeupudessedizerqualquer coisa, ele tinha idoembora.Tudooquemesobroueraamemóriadoseucheiroalmiscaradoeogostodosseuslábios.
Olhei para as imagens das câmeras enquanto os Dark Riders saíamcantandopneu,umanuvemdefumaçaficandoparatrás.SeriaessaaúltimaimagemememóriadeAsherqueeuteria?
CAPÍTULOTREZEHoras devem ter passado. Eu assisti o sol se por, suas cores âmbar sederretendonohorizonte.Estavamuitoquietoaqui.SóeueRich,comsuarespiraçãoirregular,oúnicosomqueeupodiaouvir.
AcadahoraquepassavaeualternavaentreolharparaateladevídeoeverificarossinaisvitaisdeRich.Quandoasestrelasapareceramnocéu,eleestavaestáveleeucadavezmaisansiosa.
Quantomaistempoelesiamdemorar?Eu queria pegar o walkie-talkie e gritar. E então Asher voltaria. Nós
iríamosembora,paraumlugarsegurolongedaqui.UmlugarsemarmaseMotoClubes.
Sim,claro.As horas pareciam se estender impossivelmente. Cada vez que eu
olhavaparaorelógio,apenasalgunsminutostinhamsepassado,masparamimaindapareciaumaeternidade.Minhacabeçacomeçouapesar,caindoparaomeupeito.Cainosonosemsequerperceber.
Acordeicomosomdevozesmasculinas.Elessubiramasescadas,suasbotas pesadas anunciando sua chegada. Demorou um pouco antes daminhamenteacordartotalmente.
Os carasestavamdevolta.E seelesestavamdevolta, isso significavaqueAsher...
Assimqueeuovi,eupulei.Eucorri,mejogandonoseupeito.Oimpactofoi tão fortequedoeu,maseuestavafelizdemaisportocá-loesaberqueeleestavavivo.
Ashermepegou,mebalançandoemumcírculo.Seuabraçoera firme,meapertando.Eusentialívio,rodeadapelosseusbraçosfortes.
"Lilly".Foisóquandoelemecolocounochãoqueeupercebioestadoemque
eleestava.Asherestavasujo,maseuesperavaisso.Oqueeunãoesperavaera o que pareciam sermarcas de faca em suas coxas. Seu corpo estavamachucadoesurrado,comoseeletivessevoltadodeumaboabriga.Pelomenosnãohaviaferidasdearmas.
Quandoelepercebeuomeuolhar,Ashermedeuummeiosorrisotriste."Vocêqueriasaberoquefazemos",disseele."Éisso."
CAPÍTULOQUATORZEEu devia ter dormido nos braços de Asher. Quase não havia espaço napequenacamadobrável,masdemosumjeitodenosapertarmosjuntos.Elecaiu no sono quase que nomesmomomento emque sua cabeça tocou otravesseiro,comoumacriança.
Masissonãofuncionouparamim.Cadasombrapareciaesconderumaameaça.Eudavapuloscomcadarangidodastábuasdoassoalho,ecenasdaperseguiçãodemotoqueirosserepetiamportrásdasminhaspálpebras.
Namanhã seguinte, eu estava exausta. Eu estava prestes a entrar emcolapso,mas tão tensa que eu não conseguia dormir. Era terrível. Eu sóqueriadescansar.
Asheracordoucomumsorrisonorosto.Elebocejouemepuxouparamaispertodele.
"Olhesóquemacordoucedoestamanhã."eledisse.Elecolocouamãonaminhacabeça,acariciandomeuscabelos.Mesmo
comocorteemsuabochecha,elepareciafelizporestaracordado."Meleveparacasa",eudisse.OsorrisosumiudorostodeAsher."Eunãoposso",disseele."OsTarantulasachamquevocêéaminhaold
lady.Elesviriamatrásdevocê.""Suaoldlady?""Bem",elehesitou."Quasecomominhaesposa.""Oh."Corei, torcendo para que ninguém visse. Sua esposa? Eu nem sabia
direitoquemeueraparaAsher.Qualeraanossarelaçãoexatamente?Um casal? Um motoqueiro e uma garota curiosa demais para o seu
própriobem?Asher se levantou e colocou suas roupas. Todos os Dark Riders que
podiam,comeramalgumasbarrasdecereaisenergéticasnocaféesaíramcom suasmotos. Deposi que todomundo se foi, o espaço aberto pareciaenorme.Erasóeueosmotoqueirosqueestavammuitoferidosparadirigir.
Eu tentei ser útil. Ataduras precisavam ser trocadas. Sinais vitaisprecisavam ser monitorados. Eu fiz tudo o que podia para me manterocupadaeevitarqueminhamentedivagasse.
Nos momentos de silêncio, imagens obscuras passavam pela minhamente.EuviAshercaídonabeiradaestrada, suamotoemchamaseseucorpo quebrado. Eu vi a casa da minha mãe cercada por Tarantulas
procurandopormimeaameaçandoparaquemeentregasse.Eradifícilnãopensarqueasminhaspreocupaçõesnãoestavammuitolongedesetornarrealidade.
Apenas alguns dias atrás, eu estava na faculdade estudando parametornar uma enfermeira. E então eu fui sequestrada por motoqueiros,reencontreiAsher,efiqueinomeiodeumtiroteio.Passeiamãonorosto.Comoaminhavidatinhasetransformadoemumdramadeumdiaparaooutro?
Quando os Dark Riders voltaram, foi a mesma cena que na noiteanterior. Sangue, cortes e contusões. Eu já não tinhamais panos limpos,entãotudooquepodiafazereralavarasferidas.
Ashermepuxoudeladoquandoeutinhaterminado."Lilly..."Ele olhou ao redor, lembrando-se de que estávamos em um quarto
cheio dos seus irmãos.Nãohavia privacidade ali. Então ele pegouminhamãoemearrastouescadaabaixo.
A lojadebrinquedosparecia estranhanomeiodanoite.Aspequenasbonecas cor-de-rosa não eram tão alegres sem luzes fluorescentesbrilhandosobreelas.Semmúsicaoucrianças,estelugarpareciasombrio.
Asherme trouxe atéumespaçopequeno. Parecia que tinha sidoumasala de descanso dos empregados em algummomento, apenas grande osuficiente para ter uma pia e uma cafeteira. Nós nos apertamos noaposento.
"Eu estive pensando sobre nossas mães", disse Asher. "Elaprovavelmenteestariamemandandoirparacasaagora.Antesdemorrer,minha mãe me dizia para tomar jeito, sabe? Ela queria que eu meesforçassemais",Asher fezumapausae riu. "Atéelapensavaqueeueraumdelinquente.Masquandoelasefoi,ninguémmaisseimportava.Eupediajuda,masninguémmedavaatenção.Elesapenasse lembravamdemimcomo o bagunceiro. Algumas noites eu ficava com tanta que eu ia atérestaurantessópara ficar lá fora,sentindoocheirodacomida",disseele."Issonãoéengraçado?"
Eubalanceiacabeça,passandoamãonoseurosto.Emalgumlugarsobtodaaquelabarbaporfazereinúmerosmúsculos,euviAsheramolecendo.Seusolhosbrilhavamcomaumidade.
"Asher,me desculpe, eu não sabia disso naquela época.Nós teríamostrazidovocêparaca-..."
"Não,euseiqueseupaiteriamedeixadomorrerdefome,Lilly",disseAsher.Adurezaretornouàsuaposturaporummomento."Masasuamãe,
quando ela voltou para a cidade, ela veio ver se eu estava bem.Provavelmentequeriaverseeuestavamemetendoemmaisproblemas.Éclaroqueeuestava."Eledeuum leve sorriso triste. "Eentão,quandoelaficoudoente,eutivequecuidardela.Compreiseusmantimentoseoutrascoisas.Sóisso."
Asherfezumapausa.Eleolhouparalongedemimemexeunosbolsos.Euqueriadizeralgo,maseunãotinhaaspalavras.Eusabiaqueeletinhafeito muito mais do que apenas comprar seus mantimentos. 'Obrigada'pareciamuitopoucoparaeudizeragora.
"Dequalquerforma,nãoéporissoqueeutrouxevocêaqui",continuouAsher.
Eletiroualgodobolso.Asherpegouminhamãoecolocoualgonomeudedo.Umanel.
Meucoraçãoacelerounomeupeito.Nãopodiaser.Nãoaqui,nãoagora!Aindaassim,algodentrodemimesperavaqueoqueeuestavapensandofossereal.
"Éclaroquenãocabe!"Asherriu.Ele tentou colocá-lo em dedo após dedo, até que o anel finalmente
escorregouparaomeudedomindinho.Apequenafaixadouradabrilhouàluz fraca. Ela tinha duas mãos segurando um coração coroado em suaspalmas.
"Euiatedar issonaquelaépoca",disseAsher."Bem,queriatedarumdaqueles pirulitos com açúcar explosivo primeiro,mas eu achei que issofossemelhor.Euqueriaquevocêselembrassedecomoeumesentia."
Olhei para o anel, trazendo a minha mão mais perto do meu rosto.ImagineiAsher fazendobicos aqui e ali sópara conseguirpagarpor estacoisinha.Esseerao tipodecoisaque jovens loucos faziam.Masseráqueissosignificavaalgumacoisaagora?
"Obrigada",eudisse."Élindo."O olhar que eleme deu queimava. Os olhos de Asherme diziam que
havia algo mais a ser dito, mas seus lábios estavam fechadoshermeticamente.
"Você não tem que usar, se não quiser", disse ele. "Era seu, então eupenseiemdá-loparavocê."
Ashersaiuandandoantesqueeutivessetempodedizerqualqueroutracoisa.Elemedeixousozinhanopequenoespaço,suaspalavraspairandonoar.
Quandoeusubiasescadas,Asheragiucomosenadativesseacontecido.Eleriucomosoutrosmotoqueiros,nemmesmoolhandonaminhadireção.
Eutorcioanelnomeudedo,emeucoraçãodoeu.
CAPÍTULOQUINZENodiaseguinte,omesmociclorecomeçou.Oscarassaíram,armasnamãoe prontos para lutar. Eu tendia os feridos e tentava não deixar ossentimentosnomeucoraçãomeatrapalharem.
Foi difícil, porque a cadamomentoo anel nomeudedomindinhomelembravadetudo.Elepesavanaminhamão,epareciatilintarcontratudooqueeutocava.
Mas era apenas o presente de um menino do ensino fundamental,certo?Issoeratudo.
Aomeio-dia, eumordisquei umabarra de cereais também.Nãohaviamaisnadaaserfeito,entãoeusimplesmenteespereianoitecair.Depoisosmotoqueirosvoltariam,dormiríamoseamanhãcomeçariatudodenovo.
Porquantotempoeuficariapresaaqui?Um barulho me acordou do meu tédio. No início, eu achava que eu
estavaimaginandocoisas,mas,emseguida,obarulhoficoumaisalto.Ouvigritosnoprédio.
Merda.SeráqueosTarantulasnosencontraram?Eu corri para trás de um grande recipiente de armazenamento,
tentando me esconder. Quando o ruído chegou mais perto, todos osmúsculos do meu corpo ficaram tensos. Eu estava pronta para saircorrendo.
"Asher!Eutedevoumacerveja!"Mav?OsDarkRiderssubiamasescadas.Elespareciamestartãosujose
machucadoscomosempre,masdestavezestavamsorrindo."Vamos dar o fora daqui", disseMav. "Estou cansado de comer essas
barrasodiatodo."Nósíamosembora?"Lilly?"Ashergritou.Eusaídetrásdaunidadedearmazenamento,omeurostoqueimando.
EunãopodiaacreditarqueacheiqueeleseramosTarantulas."Hum,oquevocêestavafazendoaí?""Oh,nada!Sóorganizarumascoisas..,vocêsabe..."Minhavozsumiueeuempurreiumamechadecabeloatrásdaminha
orelha. Eunem sei porque eu estava envergonhada.Todomundoestavamuitoanimadoparaprestaratençãoemmim.
Eles pegaram seus pertences e desceram as escadas. Os Dark Ridersestavamcompressaparasair.
MavdeuumtapanoombrodeAsher."Vejovocêláfora,Wild."Elesorriuefoiatrásdosoutros.Nósficamos
sozinhos,oarmazémumabagunçadesordenada."Oqueestáacontecendo?"Euperguntei."Acabou",disseAsher.Elefoiatrásdemimecirculouseusbraçosemvoltadomeucorpo."Estátudoacabado.DemosumjeitonosTarantulasevocêestásegura."OcorpodeAsherestavaapertadocontraomeu.Seusuorpingousobre
minhapele, cobrindo-mecomo seu cheiro.Eraestranho,maseunãomeimportava.Erabomdemaissenti-lopressionadocontramimassim.
Seusbraçospassaramporbaixodosmeusseios,apertando-oscontraomeupeito.Asher abaixou a cabeça, aninhado seu rostonadobradomeupescoço.Euoqueriatantoqueeumalpodiarespirar.
"Entãoissosignificaqueeupossoirparacasa?"Perguntei.AvirilhadeAsherseempurroucontraaminhabunda.Mesmoatravés
de seu jeans, eu podia senti-lo. Sua dureza me cutucou e ele me deupequenosbeijoslentosnopescoço.
"Sevocêquiser",disseele.Suarespiraçãoeraquenteefaziacócegasnaminhapele.QuandoAsher
pegouminhaorelhanaboca,umfluxodecalortomoucontadomeucorpo.Foidomeupescoçoatéolocalentreasminhaspernas.
Oqueeuqueria?"Lilly", Asher começou, "Eu não podia dizer nada antes de tudo isso
acabar,mas..."Suaspalavraspararam.Asherinclinouacabeçaparaoladoerespirou
fundo. Ele cheirou o ar. Uma lufada de ar estranho soprou através doarmazém.
Eemseguida,houveumaexplosão.O chão tremeu. Não era preciso dizer nada, nós dois sabíamos o que
estavaacontecendo.Alojadebrinquedosestavaemchamas.Ofogocomeçouasubirpelasparedesantesquepudéssemosdarsequer
um passo. A fumaça se enrolava em torno de nós, sufocando nossospulmõesecegandonossosolhos.Minhamenteestavaumabagunça.Oquedevíamos fazer? Parar, cair no chão e rolar. Não era isso o que eles nosensinaramnaescola?
"Lily!"Ashergritou.Elemeagarrouemepegounocolo,mecarregandoatravésda lojade
brinquedos em chamas. O fogo era ainda pior no andar de baixo, onde
brinquedosinfantisderretiamempilhasgigantesdeplástico.Afumaçaeranocivo,equeimavaaminhagarganta.
Corremos em direção à saída, mas estava bloqueada. Uma parede defogo estava no nosso caminho, como se tivesse sido posta ládeliberadamente.
Sabe,quandoalguémfazalgoquevocênuncaesperavadeles,otempopareceparar.EuviAshercolocandosuajaquetadecouroemtornodemimemcâmeralenta.Elecurvouocorpoaoredordomeuedeualgunspassosparatrás.
Por alguns segundos, tudo o que eu podia ver eram Asher e o fogo.Quandoelesaltou,estávamoscercados.Tudoestavaincrivelmentequente.Dealgumaforma,otempoparouevilínguasdefogolambendoocorpodeAsher.
E então estávamos lá fora. O ar frio bateu na nossa pele e o tempoacelerou novamente. Nós caímos para fora da loja de brinquedos e noconcreto.Eletinhamesmacabadodesaltaratravésdeumaparededefogo?Pormim?
"Asher!"Virei-me e segurei seu rosto nas minhas mãos, procurando
queimaduras.Elesorriu."Nãosepreocupe.Nãofoinada",disseele.Nósnãotivemosmuitotempoparaummomentoromântico.Assimque
osoutrosmotoqueirosviramqueeleestavaseguro,caírammatandosobreele.
"Aculpaésua!"Joelgritou.EleveioatéAsher,seuspassospesados."Senão fossepelasuaobsessãocomessacadela,nadadisto teriaacontecido!Nós nunca teríamos vinda para cá e a loja de brinquedos não estariaqueimandonochão!"
Issofoitudooquebastouparaosoutroscomeçaremagritartambém."Sim",berrououtrocara. "Vocêsabeoquedeveacontecerparaelase
tornarumaverdadeiraoldlady."Alguém me agarrou. Braços peludos me seguraram enquanto lábios
commau hálito e cheiro de cerveja velha invadiam a minha boca. Meusgritosforamabafadospelobeijonojento.
"Elaéminha!"EuestavaapenasmeiocientedogritodeAsher.Seuprimeirosoco foi
natestadocara.Elecaiuaosmeuspés,suacabeçasangrando.Opróximo soconãoeradeAsher,masde Joel. Ele se jogou, tentando
acertarAshernoestômago,maseleseesquivoudogolpe.Sóquelogohavia
tanta gente se aglomerando em torno dele que era impossível evitá-lostodos.
Foiquandoeuouvio tiro.Osomeramaisaltodoquequalqueroutracoisa,ecoandoatravésdoar.Todaalutaparou.Ninguémsabiaquemtinhaatirado.
Entãoeuovi.Ashercaindonochão.Efoiquandotudoficouescuro.
CONTINUA