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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE SER HUMANO: UM SER DE APRENDIZAGENS Por: LILIANE BARBOSA MESQUITA Orientador Prof. Ms. Marco A. Larosa Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

SER HUMANO:

UM SER DE APRENDIZAGENS

Por: LILIANE BARBOSA MESQUITA

Orientador

Prof. Ms. Marco A. Larosa

Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

SER HUMANO:

UM SER DE APRENDIZAGENS

Rio de Janeiro 2004

Apresentação de monografia à

Universidade Cândido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia.

Por: Liliane Barbosa Mesquita.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que me fortalece, me ilumina e que me dá discernimento para enfrentar aquilo que não entendo. Sem este rei dos céus e da terra, nada em minha vida, seria possível.

Agradeço também aqueles que tanto amo: ao dois grandes amores: meu pai e minha mãe, por tudo e por sempre, faltam palavras para tamanho agradecimento a eles. Também a família linda que eles formaram e que sempre esteve e está ao meu lado. Ao meu grande amor, marido e alma gêmea, Edgar pela compreensão, companheirismo, amor, paciência, preocupação e por tudo o que ele é. Eles são peças fundamentais em minha vida.

Às minhas colegas com as quais compartilhei risos e lágrimas, os momentos de ansiedade e dúvidas e que juntas superamos as dificuldades e os limites, crescendo juntas.

Agradeço aos meus professores que me guiaram durante o percurso e que dividiram e semearam um pouco de si em nós. As pessoas entrevistadas que doaram um pouco de si para o meu trabalho.

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DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado aos aprendizes e ensinantes

deste mundo, que conhecem ou desconhecem a força desta relação de descoberta. Mas, sobretudo, e principalmente que reconhecem a importante de ser um eterno aprendiz.

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RESUMO

“Neste momento (...) preciso de duas coisas: lucidez e

coragem. Lucidez para entender o que está vindo e coragem

para enfrentar o que não entendo”

Fiori

“Há horas em que o ideal e o real parecem tão distantes, em

que o desejo, o sonho e a luta diferenciam-se tanto das

possibilidades reais que chegamos a acreditar na

impossibilidade de aproximação.

Nestes, momentos, no entanto, é necessário lembrar de nossa

condição básica de seres humanos, utópicos por excelência,

mas conscientes da necessidade da luta, da necessidade de

quebrar a distância e de mostrar que é possível tornar o sonho

realidade!”

Damke

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RESUMO

Aprender é um condição humana, na vida não aprendemos só na

escola, mas também na escola da vida. Durante nossa caminhada temos

aprendizagens que nos marcam ao mesmo tempo em que nos constituiu,

formando o nosso Eu.

Este trabalho, então, busca mostrar os efeitos produzidos pela

aprendizagem no Ser Humano não só no campo educacional e a sua relação

direta com o afetivo, chamando os educadores a conhecerem/reconhecerem

que são eternos aprendizes para que possam perceber que este é um

processo contínuo que envolve muito mais que o cognitivo a fim de que

possam reavaliarem sua prática e sua vivência enquanto Ser Humano.

Além disto, este trabalho é um convite ao amor à conhecer, a

descoberta a perceber cada vez mais como um agente no processo eterno de

aprender e não como o detentor de toda sapiência, “o catedrático” do

conhecimento existente no mundo.

Retomar este amor, a que me refiro é implementar humanização - e o

mundo está carente disto - para que se refaçam os laços desatados pelo nó

da exploração e da desigualdade.

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METODOLOGIA

No desenvolvimento deste trabalho monográfico busco oferecer alguns

conceitos que permeiam as questões da aprendizagem, para que se possa

identificá-las em seu cotidiano. Sendo também um convite a uma educação

humanizadora, levando os indivíduos a perceberem-se como o ser central na

aprendizagem (o ponto de partida e chegada) no processo de aprendizagem.

A pesquisa será realizada com educadores e educandos da escola

onde atuo como Orientadora Educacional. Esta instituição de ensino da rede

privada, localizada na Baixada Fluminense, mais especificamente em Duque de

Caxias e possui cerca de 5000 alunos e 120 professores de Ensino Fundamental

e Médio. Sendo que para esta pesquisa terei como segmento o Ensino

Fundamental trabalhando como uma amostragem de 10% de educadores e

educando através discussões e conversas informais para que assim pudesse

estruturar este trabalho. As conversas permeavam a questão da importância e a

constância da aprendizagem em nossa vida.

O trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, à luz teórica,

citada no desenvolvimento desta presente monografia. Busquei assistir a filmes

que possam me auxiliar no desenvolvimento deste tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................10

CAPÍTULO 1 – APRENDER: UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL PARA O SER

HUMANO ..............................................................................................................12

CAPÍTULO 2 – MAIS QUE APRENDER CONHECER É VIDA ............................21

CAPÍTULO 3 – DO DESEJO DE CONHECER AO AMOR AO SABER................32

CAPÍTULO 4 – A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM.............................47

CONCLUSÃO .......................................................................................................54

BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................57

ANEXOS ...............................................................................................................60

ÍNDICE..................................................................................................................63

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................... 65

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INTRODUÇÃO

Estamos no Terceiro Milênio e isto não significou a plena evolução do

homem: descobre-se e alcança-se o espaço, mas não descobre-se a si

mesmo e nem ao próximo, pois cada um constitui um imenso e inigualável

espaço que é o ser.

Percebo que a escolha do tema desta monografia, como tudo na vida,

possui uma razão de ser - intrínseca e muitas vezes não visível e clara aos

sentidos externos -, relacionada com experiências vividas e percebidas ao

redor.

No dia 1 de Dezembro de 1981 às 2:30, Deus, o grande criador, me

matriculou na Escola da Vida. Com o tempo, fui percebendo que a cartilha da

vida é enorme e que nunca saberemos lê-la e decifrá-la completamente.

Este tema tocou-me pois, depois de alguns anos, eu percebi quão

grande é importante as experiências que as pessoas vivem e a grande força

que isto exerce direta ou indireta na forma de ver a vida, mesmo que por um

conhecimento empírico, mas uma experiência única e muito importante para

quem reconhece que se aprende na escola da vida.

Vale salientar, que “ninguém conhece tudo, assim como ninguém

desconhece tudo” não existe o detentor de todo o conhecimento e há sem um

“déficit”, ou seja, sempre há algo a ser descoberto a ser buscado. Há uma

grande necessidade do sempre desejar a desejar, a descobrir, a se conhecer

e viver. E assim, experimentar as forças que muitas vezes desconhecemos

que possuímos..

Este trabalho aborda no primeiro capítulo o conceito de aprendizagem,

tanto na visão do senso comum - como no campo mitológico - e na concepção

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de diversos autores como PIAGET e VYGOSTKY o que nos ajuda a conhecer

os diferentes significados que o termo obteve.

Após este breve histórico dos pensamentos sobre as questões que

permeiam a aprendizagem, no segundo capítulo relaciono a aprendizagem e a

vida como um elo eterno: enquanto há vida há aprendizagem e vice-versa,

pois não aprendemos só por um determinado tempo de nossas vidas e muito

menos ela se restringe as fronteiras da escola. A aprendizagem é uma

constante, através dela adquirimos conhecimentos para a escola da vida.

E isto é uma prova de que o ser humano seja o agente principal do

conhecimento e constitui o seu “EU” na relação de troca/ aprendizagem com o

Outro/ com a cultura/ com a família. Sem desvincular a grande importância

exercida pela afetividade – o que não pode ser esquecido na condição de

“ser” humano.

No terceiro capítulo, destaco os processos que envolvem a

aprendizagem, a importância da auto-estima e da confiança para a uma

melhor aprendizagem.

E a Psicopedagogia? A psicopedagogia que cuida da questão do não

aprender” e com um amplo caminho a ser discutido e descoberto. O quarto

capítulo busca mostrar a relação existente entre ela e as experiências que o

indivíduo tem estando diretamente ligada ao não aprender, tanto nas

questões relacionadas a família, sentimentos, entre outros.

Espero que este trabalho ajude a trazer um olhar diferenciado para o

ato do constante aprender. Hoje, com 22 anos, estou na Pós-Graduaçãp na

Escola da Vida, onde aprendi/o não só conhecimentos científicos, mas

também muitas coisas com as pessoas que convivo. Falta menos de um mês

para me tornar Psicopedagoga, mas falta uma eternidade para ser

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Psicopedagoga na Escola da Vida, ou pelo menos saber desvendar seus

mistérios. Nela não é possível ser perfeita.

E percebo que assim como na educação (escolar) há um longo caminho a

ser percorrido e que somos professores e alunos na vida uns dos outros,

ensinando e aprendendo. E que A VIDA É UMA GRANDE ESCOLA, por isto

nunca as questões estão findadas, há sempre o aprender e o descobrir na Escola

da Vida.

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CAPÍTULO I

Aprender: Uma Questão Fundamental Para o Ser Humano.

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CAPÍTULO I - APRENDER: UMA QUESTÃO FUNDAMENTAL

O homem ao longo do tempo, veio tendo determinadas angústias: de onde

viemos? O que é a morte? Por que sentimos? Como aprendemos? Percebe-se

então, que a aprendizagem também é uma das questões fundamentais para o ser

humano desde a Antigüidade.

Todas estas questões possibilitam ao homem a questionar os conceitos e

buscar novas descobertas o que o leva a aprender e o desenvolvimento de uma

curiosidade investigadora desde tempos mais remotos. Eis o questionamento: O

que é aprender?

1.1- DEFINIÇÃO DE APRENDIZAGEM

Para Fernandez (2001), aprender é apropriar-se da linguagem; é historiar-

se, recordar o passado para despertar ao futuro; é deixar-se surpreender-se pelo

já conhecido. Aprender é reconhecer-se, admitir-se. Crer e criar. Arriscar-se a

fazer sonhos textos visíveis e possíveis. De acordo com Oliveira (1995):

“Aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire

informações, habilidades, atitudes, valores etc. A partir de seu contato com

a realidade, meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se

diferencia dos fatores inatos (a capacidade de digestão), que já nasce com

o indivíduo e dos processos de maturação do organismo independentes

da informação do ambiente (a maturação sexual, por exemplo).”

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Se a aprendizagem for uma experiência bem sucedida, o aluno constrói

uma representação de si mesmo como alguém capaz de aprender. Se, ao

contrário, for experiência mal sucedida, o ato de aprender tenderá a ser uma

ameaça ao desinteresse, pois os aspectos emocionais interferem na

aprendizagem.

Para Visca (1991), a aprendizagem não está restrita à escola, pois não é

só na escola que se aprende. A aprendizagem opera na interação com as

instituições educativas mediadoras da sociedade, órgãos especializados para

transmitir os conhecimentos, atitudes e destrezes que a sociedade estima

necessária para a sobrevivência, capazes de manter uma relação equilibrada

entre a identidade e a mudança.

A aprendizagem é a apreensão instrumental da realidade. Percebe-se que

as dificuldades de aprendizagem estão diretamente relacionadas à carência de

“experiência de Aprendizagem Mediadora”, à qual acarreta fundamentalmente

performance cognitiva deficitária além de baixa modificabilidade cognitiva. Com

isso, o resultado da estimulação do ambiente que se expressa diante de uma

situação problema, sob forma de mudança de comportamento, é uma função da

experiência.

A aprendizagem como um processo no qual existe uma transmissão de

conhecimentos, feita por meio de um intermediário ensinante que ele chama de

ensino, entendido como sinal do conhecimento. O sujeito aprende na procura

ativa para compreender o mundo e resolver as interrogações que este mundo

provoca Ferrero (1985). Portanto a aprendizagem ocorre quando o

comportamento é modificado pelo resultado de uma experiência (ibid).

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1.2 – AS DIFERENTES PERCEPÇÕES SOBRE APRENDIZAGEM

A aprendizagem sempre despertou, assim como ainda desperta grande

curiosidade em relação aos processos que a envolvem, surgindo então diferentes

questionamentos, tornando-se uma das questões fundamentais.

O modo de responder as questões fundamentais do homem, diferem-se ao

longo dos tempos. Devido a cada contexto e a evolução da humanidade, em cada

época as questões foram obtendo um tipo de resposta dependendo do contexto

histórico em que estava inserido.

1.2.1 – ANTIGÜIDADE CLÁSSICA .

Na Antigüidade Clássica, antes dos filósofos, mais ou menos 1000 à 1500

A.C., o modo que o ser humano respondia a esta questão, como a todas as

outras era através da construção dos mitos, que eram histórias da tradição oral,

passada de pai para filho.

A aprendizagem ou o impulso dela era observada no mito da Caixa de

Pandora, que expressa o dito que não poderia ser aberta e quando isto ocorre

saem todas as desgraças do mundo, a última a sair foi a esperança, pois, no

mundo grego quem espera não faz. Este mito se relaciona com aprendizagem

por que para eles existe uma característica importante a punição da curiosidade.

Percebe-se que algo do senso comum lidava com a aprendizagem no mito.

O conhecimento era algo assustador, algo ameaçador, podemos observar

isto em outras histórias, mais de cunho religioso, como a de Adão e Eva, que

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“provaram” da árvore do conhecimento e foram expulsos do paraíso, tendo que

sobreviver de seu próprio suor e tendo assim como castigo não só a expulsão

mais também o trabalho e a dor.

Com os filósofos, a resposta ganha uma visão muito mais ampla e

diferenciada. Para Platão, o homem nasce com idéias que são permanentes e

perfeitas. As coisas conhecidas são imperfeitas e no confronto das idéias

perfeitas com as imperfeitas é que ocorre a aprendizagem, ou seja, o homem

nasce com uma estrutura ideativa, racional.

Já Aristóteles, que era discípulo de Platão, vai seguir um alinha de

pensamento diferente, para ele o ser humano aprende a partir das experiências,

o ser nasce com uma mente e esta é como uma folha em branco, sem

capacidade prévia, a aprendizagem se dá através da experiência acumulada.

Tempos depois, seguindo a linha dos filósofos, mais ou menos 1500 d.C.,

Descartes, herdeiro de Platão, inventou a frase: “Penso logo existo”1, ou seja, o

que nos define são nossas idéias, nascemos capazes de interpretar fatos, coisas.

A exemplo da Caixa de Pandora: pensar sobre a caixa faz dele um ser, por isso

ele é. Logo, a aprendizagem é interpretar o mundo, fazendo uso da razão, da

racionalidade, interpretar, refletir e aprender.

Saltando para a Idade Média, entendia-se aprender como fixar na memória

ou conhecer. Aprendia-se apenas recebendo informações do professor que

ditava regras, ou seja, o aluno era um mero receptor do conhecimento e não

interagia com o mesmo.

1 A tradução correta é : “Penso logo sou”

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O professor possui o status de dono do conhecimento explicava e o aluno

assimilava apenas ouvindo, copiando e decorando o que era exposto. Sem contar

que historicamente, a Igreja era a detentora do conhecimento e do poder da

época.

1.2.2 – COM A PSICOLOGIA

Dentro do campo da psicologia, tomemos duas concepções sobre a

aprendizagem: A Gestalt2 que é uma escola da teoria da aprendizagem

contemporânea na Alemanha e teve como fundadores: Max Wertheimer,

Wolfgang Kohler e Kurt Koffka.

Nesta concepção a aprendizagem é desenvolver insights - que é uma

conquista de quem aprende, é aquela sensação que invade o indivíduo quando

ele acha a solução de um problema, uma solução que uma pessoa aponta para

um campo problema, mas estes podem conter falhas - ou as leis da percepção -

são leis ou princípios que irão determinar a forma de como o indivíduo percebe os

objetos, as coisas em si, como organismos do nosso mundo perceptivo.

Logo, a aprendizagem ocorre através da percepção, pelo indivíduo, de um

todo global , ou seja, ela vê o indivíduo como um todo e estuda o estímulo, o

meio ambiental, a percepção e a sensação do movimento, ou seja o homem é

produto da interação do seu interior e dos estímulos do ambiente. (Pensamento

de Platão) O Behaviorismo que foi inspirado em Pavlov e teve como maior

expoente Skinner, acredita que aprender é condicionar estímulos e respostas,

2 Significa representação modelo, forma geral.

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onde o conhecimento só pode ser concluído através de perguntas, tarefas ou

problemas que se é capaz de resolver e é mensurado. O meio físico é que age

sobre o indivíduo, onde o homem é produto das condições ambientais, as quais

ele reage passivamente. (Pensamento Aristotélico).

Analisemos agora Jean Piaget, que teve sua obra difundida pelo mundo e

continua a inspirar, ainda hoje, diferentes trabalhos em áreas variadas. Este

psicólogo suíço estudou entre várias coisas, o desenvolvimento da inteligência,

do nascimento à maturidade do ser humano, analisando a evolução do raciocínio,

para ele o homem não tem comportamento inato como, também suas atitudes

são resultado dos condicionamentos.

O homem, na verdade, apresenta um comportamento construído por ele

próprio ao interagir como meio em que vive. Ele criou um modelo epsitemológico

com base na interação sujeito-objeto, onde o conhecimento está nesta interação,

ou seja depende da ação simultânea do sujeito e objeto um sobre o outro.

O homem aprende quando acontecem ações físicas ou mentais sobre

objetos que, provocando desequilíbrio, resultam em assimilação (processo

cognitivo de colocar, classificar novos elementos em esquemas existentes) ou,

acomodação (modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das

particularidades do objeto a ser assimilado) que depois em construção de

esquemas ou conhecimento, ou seja, assimila-se o estímulo e tenta-se acomoda-

lo e o equilíbrio (mecanismo condicionante do desenvolvimento, resultante do

processo de assimilação e acomodação) é alcançado,

O indivíduo constrói e reconstrói continuamente as estruturas, que o torna

mais apto ao equilíbrio, estas construções seguem um padrão denominado de

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estágios de desenvolvimento. Para ele o desenvolvimento processa a

aprendizagem.

Já Vygostky, atribui enorme importância à dimensão social, que fornece

instrumentos e símbolos que medeiam a relação do indivíduo com o mundo. A

aprendizagem é considerada assim, um aspecto necessário e fundamental para o

processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

Logo, o desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado

que realiza num determinado grupo social na interação com os outros, ou seja,

depende da interação do ser humano com o meio físico (exemplo da “meninas

lobas”).

O desenvolvimento está intimamente relacionado com o contexto social

histórico, em que está inserido e se processa de forma dinâmica e dialética,

através de rupturas e desequilíbrios provocados de contínuas reorganizações.

Nesta perspectiva é o aprendizado que possibilita e movimenta o processo

de desenvolvimento : “o aprender pressupõe uma natureza social específica e um

processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que

as cercam” (Vygostky, 1984, pág. 99).

A aprendizagem é um aspecto necessário e universal, uma espécie de

garantia do desenvolvimento das características psicológicas especificamente

humanas e culturalmente organizadas. Para ele se inicia antes de ingressar na

vida escolar, e a aprendizagem gera o desenvolvimento.

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Após esta visão sintética, com relação a visão de como acontece a

aprendizagem, fica claro que foi construída uma espécie de base, uma estrutura

com ramificações, com duas vertentes que se refletem até nossos dias atuais,

oscilando entre o já existente ou tabula rasa.

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CAPÍTULO II

Mais que Aprender: Conhecer é Vida

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CAPÍTULO II - MAIS QUE APRENDER: CONHECER É VIDA

Percebe-se que existem diversas formas de explicar os processos de

aprendizagem, onde a verdade absoluta não existe, devido ao fato de ela está

ainda no âmago das questões fundamentais como uma chama acessa em cada um

de nós: “ser aprendizes”, o que não impede novas descobertas.

Percebe-se que a cada nova descoberta o ser humano descobre-se também

a si mesmo seja na sua potencialidade como na sua pequenez frente ao universo

que está inserido e no universo de questionamentos a serem respondidos. É como

se estivéssemos vivendo para aprender ou aprendendo para viver

2.1 - APRENDE-SE DO NASCER AO MORRER

Não aprendemos só quando nascemos, muito pelo contrário aprendemos em

todos os momentos da vida, em cada obstáculo, em cada vitória. O ser humano é

impulsionado pela curiosidade a qual deve ser estimulada desde a infância. A

curiosidade é estimuladora e desafiadora que nos leva a descoberta.

Um exemplo claro da instalação desta curiosidade em nossa remota infância,

esta nas evoluções que a criança apresentada como: a descoberta do ser corpo, do

outro, mama, chora, rir, brinca, depois com o tempo senta, engatinha, anda e

começa a descobrir o espaço a sua volta.

A aprendizagem não está só no âmago das questões científicas, mas

também nas questões empíricas e intrínsecas do ser humano. Cada ser possui,

independente da escola ou da ciência, as suas aprendizagens que são percebidas

pela ótica de quem vivência a experiência.

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Aprendemos espontaneamente através da troca de experiência em nosso

dia-a-dia seja com a família, com a mídia, com outros adultos, assimilamos e

acomodamos novas informações sempre. Já na escola temos uma aprendizagem

mais sistemática, é um espaço como o da família: de aprender e de amar.

Segundo FALCÃO (1986) a aprendizagem é um fenômeno do dia-a-dia, que

ocorre deste o início de nossa vida. Aprender é uma mudança no comportamento.

O autor nos diz que aprendizagem como uma modificação relativamente duradoura

do comportamento, através de treino, experiência e observação (pág 20).

Para Piaget in FIALHO (2002:63) a aprendizagem é o movimento de um

saber fazer a um saber, o que não ocorre naturalmente, mas por uma abstração

reflexiva, processo pelo qual, o indivíduo pensa o processo que executa e constrói

algum tipo de teoria que justifique os resultados.

Para FEURESTEIN (1970) “a aprendizagem é fundamentalmente construída

na relação com o mediador humano, embora também se possa aprender

diretamente da interação com o estímulo. A qualidade da relação mediador (pais e

demais adultos) com o aprendiz é responsável direta pela capacidade de

aprendizagem e de flexibilidade a mudanças”.

De acordo com PICHON-RIVIÉRE (1982) in WEISS (1999), a aprendizagem

é a apreensão instrumental da realidade. Já PAÍN (1984) a aprendizagem se

caracteriza em um processo no qual existe a transmissão de conhecimentos,

realizado por um intermediário ensinante que é o ensino, entendido como sinal de

conhecimento. E o aprendiz deve construir e reconstruir pessoal e próprio. Logo, a

aprendizagem é um processo pessoal e gradual, depende do envolvimento, da

dedicação, do estado no qual se encontra cada indivíduo.

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“Aprender é ir do saber a apropriar-se de uma informação dada a partir da construção de conhecimentos; processo no qual intervêm inteligência e desejo” (FERNÁNDEZ, 2001:55).

Por muito tempo, imaginou-se que a aprendizagem era sinônimo de escola

da aprendizagem – jamais pretendo tirar a sua importância da escola na

aprendizagem – mas, é importante perceber que ela não é o fator primordial da

aprendizagem pois, aprendemos longe das barreiras da escola e antes mesmo de

chegarmos a ela. Nem sempre quem tira 10 na escola consegue tirar 10 na vida e

vice-versa. A aprendizagem não está restrita a escola, aprendemos sempre com

vários ensinantes:

“Para chegar a ‘eu aprendi’, preciso partir de ‘ele me ensinou’. Nosso idioma permite ver como a formulação ‘eu aprendi’ (a ele) é impossível. Se ele me ensina (a mim), eu não aprendo (a ele).

Entre o ensinante e o aprendente abre-se um campo de diferenças onde se situa o prazer de aprender. O ensinante entrega algo, mas para poder apropriar-se daquilo o aprendente necessita inventá-lo de novo. (...)

Ensinantes são os pais, os irmãos, os tios, os avós e demais integrantes da família, como também os professores, as professoras e os companheiros na escola.” (FERNÁNDEZ: 2001, 29).

2.2 – SER HUMANO: O AGENTE DO CONHECIMENTO

Percebe-se que desde o surgimento do mundo muitas descobertas foram

feitas, algumas revolucionaram o mundo outras têm o seu campo de importância

um pouco menor, mas é uma soma e possui sua importância no mundo.

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Apesar de tantas descobertas, invenções e uma chuva de informações de

vivido a redução das distâncias propiciadas pela tecnologia, é claro e evidente que

muitas descobertas estão para serem realizadas propiciando novas aprendizagens

estão para surgir e algumas verdades abaladas.

Nada disto seria possível se não fosse a um fator. Isto se deve ao ser

humano que é o agente do conhecimento, o centro da aprendizagem o ponto de

partida e chega de todo processo educativo (científico ou não).

Ao vivermos neste mundo informatizado onde as barreiras encontram-se

cada vez mais reduzidas. A cada momento surgem novas informações em um

tempo muito rápido. Precisamos de autonomia, precisamos acreditar em nós

mesmos, como pensar e aprender também fazem parte de uma escolha individual e

humana, quanto maior for o número de escolhas e decisões conscientes que

precisamos tomar, maior será necessidade de acreditar em nosso potencial.

Algumas forças ideológicas em distintas época procurou tolher do homem o

seu potencial criador e a percepção de seu poder de agente da história e muitas

metodologias buscavam mostrar que o homem desenvolvia um papel passivo na

história e na aprendizagem.

2.3 – A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM PARA A COSNTITUIÇÃO DO EU.

Nascer é fazer uma viagem com destino à vida. Ao nascer somos matriculados

nesta escola, onde aprendemos com tudo e com todos. A criança é matriculada na

escola da vida pelo poderoso de Deus e tem como seus primeiros professores –

geralmente – seus pais, que mais do que seus professores são seus colegas de

classe a qual chamamos de família.

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Os seus professores são responsáveis pelos primeiros ensinamentos no jardim

onde florescem nossas primeiras experiências, tentativas e vitórias. Como toda flor

que brota, a criança requer cuidados para desabrochar, para engatinhar, dar seus

primeiros passos. Seus pais, seus mestres começam a lhes ensinar as primeiras

lições de casa que serviram de referência por toda vida como o respeito, a

obediência, auto-estima, o amor (...)

Realmente, nascer é uma viagem onde várias pessoas atravessam e se

incluem em nosso caminho. Porém, há pessoas que nos acompanham e são as

responsáveis pelo nosso contato com o mundo e com a cultura a qual estamos

inseridos. Não existe a constituição do EU sem um NÓS, sem a existência do outro

que me constitui ao passo que se constitui, ou seja, crescemos e aprendemos

juntos.

Este “vir a ser humano” só é possibilitado quando existe o outro, o homem não

só não consegue viver só mas, também não sobrevive só. Este elemento chave,

estas pessoas que ajudam a constituir a nossa identidade é a nossa família – não

necessariamente a família nuclear.

Nela percebemos que ao mesmo tempo que somos diferentes somos iguais,

pois temos nossas individualidades, nossas particularidades, as quais nos tornam

seres especiais e formam um mistério incrível: do ser diferente porém nem pior e

nem melhor que ninguém.

Nascer muito mais do que ingressar no mundo é perceber as necessidade do

outro e este aconchego desta carência e dependem é encontrado na família.

Quando somos matriculados na escola da vida nossos primeiros professores são

nossos pais que nos alimentam, nutrem nosso corpo, nossa alma. O nosso lar é a

nossa primeira escola.

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“A palavra educação significa mais que um curso de estudos num colégio. A educação começa com o bebê, nos braços da mãe. Enquanto a mãe está moldando e formando o caráter dos filhos, ela está os educando.” (HEALTH, in WHITE, 2001)

Do ponto de vista emocional sabemos como é fundamental parar a criança

sentir-se amada, querida e protegida e a receptividade que costuma encontrar no

grupo familiar contribuí bastante para que adquira segurança em suas primeiras

experiências e com isto ampliar seu horizonte social.

Amplos aspectos do lar, como calor humano, democracia, intelectualidade,

carinho, atritos, permissividade (ou restrição), punições, firmeza de disciplinas;

começam a ter um impacto maior em muitos aspectos do comportamento e do

desenvolvimento da criança. POLITY (2001) afirma que a família é um sistema

emocional que é mutável através dos tempos compreendendo algumas gerações

em seu percurso pelo ciclo vital.

“O grupo familiar desloca-se através do seu Ciclo Vital segundo padrões relacionais, que influenciam diretamente na relação com a aprendizagem e nas expectativas que o grupo familiar deposita nos membros mais novos. As crises, os grandes momentos da vida do grupo (casamentos, nascimentos, mortes, adolescência, entre outros) marcam especialmente o caminhar do sujeito por estes estágios, paralisando-o ou oferecendo condições para que ele atravesse este processo, como algo natural e saudável.” (POLITY, 2001, pág. 39)

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2.4- A IMPORTÂNCIA DA AUTO-ESTIMA NA APRENDIZAGEM

“Auto-estima é a disposição para experimentar a si mesmo como alguém

competente para lidar com os desafios básicos da vida e ser merecedor da

felicidade” ( Branden, N.) A auto-estima é uma poderosa necessidade humana, que

contribui de maneira essencial para o processo e nossa evolução na vida. A relação

entre auto-estima e aprendizagem é um assunto em evidência, pois a atenção à

auto-estima tem contribuído para transformar histórias de fracasso em histórias de

sucesso.

Para o Professor de Psicologia Lopes (2002) a auto-estima é o conjunto de

crenças que temos sobre nós mesmos e aceitamos como verdade, nossa

capacidade e o que podemos fazer. Nela está inclusa a confiança para pensarmos

e enfrentarmos os desafios da vida, nossa vontade de crescer e sermos felizes, a

integridade pessoal, a sensação de sermos merecedores, dignos, qualificados para

expressarmos nossas necessidades e desejos e desfrutarmos os resultados de

nossos esforços. Inclui também a forma como cuidamos de nós mesmos, de nossa

saúde e de nossos relacionamentos, como administramos nossa vida e superamos

as inibições, o comodismo, a alienação e como investimos em nosso crescimento

como pessoa.

De acordo com a Professora de Psicologia Haro (2002) a auto-estima é a

soma integrada de dois aspectos, que são os pilares básicos da auto-estima

saudável, ou melhor que representam sua essência que são: a auto eficiência e

auto-respeito.

- A auto-eficiência significa confiança no funcionamento de nossa mente, em

nossa capacidade de pensar, nos processos por meio dos quais refletimos,

escolhemos e decidimos. É a confiança em nossa capacidade de entender os

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fatos da realidade que estão dentro da nossa esfera de interesses e

necessidades. É uma autoconfiança cognitiva.

- Auto-respeito significa ter certeza de nossos valores; uma atitude afirmativa

diante de nosso direito de viver e ser feliz; a sensação de conforto ao reafirmar

de maneira apropriada os nossos pensamentos, as nossas vontades, as nossas

necessidades; o sentimento de que a alegria é nosso direito natural por termos

sido criados e existirmos no mundo. (IBID)

Você desenvolve a auto-estima não somente fazendo coisas boas, mas também fazendo bem as coisas. Reconheça e aceite os pontos em que você brilha e partilhe esse brilho com o universo. (Katafiasz)

O racionalismo, o realismo, a intuição, a criatividade, a independência, a

flexibilidade, a capacidade para enfrentar mudanças, a disponibilidade para admitir

e corrigir erros e a benevolência e cooperação (própria aceitação, sentimento de ser

amado e respeitado...) são fatores que se relacionam com a auto-estima saudável.

Existem comportamentos que demonstram uma auto-estima saudável, conforme

afirma CEETEB: interesse em entender coisas e fatos, avalia e identifica o que é

real sem se auto-enganar, criatividade em diversas situações, independência de

pensamento e ação, facilidade de admitir erros e corrigi-los, flexibilidade frente às

situações enxergando novos caminhos e opções de ação, procura entender e

colaborar com o outro evitando julgá-lo.

O ser humano necessita equilibra-se em sua vida as emoções, sentimentos,

o seu cotidiano. então devemos levar em conta quando lidamos com nossos

educandos os dois componentes essenciais da auto-estima como mencionei

anteriormente: auto-eficiência e o auto-respeito.

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“(...) Mas os seres humanos pensam: ´Posso confiar na minha cabeça? Sou competente para pensar? Sou adequado? Sou suficiente? Sou boa pessoa? Tenho integridade, isto é, há congruência entre os meus ideais e a minha vida prática? Sou merecedor de respeito amor, de sucesso, de felicidade?´ (...)” (Branden).

Muitos educadores desconhecem que os aspectos de amor e sustentação,

são fundamentais para que qualquer aprendizagem se realize. A inteligência se

constrói em um espaço relacional onde o sujeito, constitui-se inteligente em um

vínculo com os outros onde ética, estética e pensamento entrelaçam-se e

condicionam-se.

A auto-estima deve ser estimulada e desenvolvida pela família e pela escola.

Sendo assim, o professor deve propiciar o desenvolvimento da auto-estima. O

CETEB (2001) nos traz procedimentos e questionamentos que podem nos ajudar a

nortear a atuação do professor:

- Rever sua concepção de educação – como afirma Freire pensar a favor de

quem repensando seu discurso e analisando a coerência entre ele e a prática e

pensar a favor de quem e de que educo, contra que e contra quem educo,

para quem e que educo, por que e por quem educo, para que além e mostrar

o problema, buscar e instigar a busca por possíveis soluções. Pensar que tipo

de cidadão desejo formar, propiciar a revisão crítica dos conteúdos, o incentivo a

autonomia de ação e de pensamento.

- Desenvolver a própria auto-estima- primeiro o professor deve desenvolver sua

própria auto-estima para depois estimulá-la em seu aluno. Quando o professor

possui uma auto-estima bem desenvolvida compreenderá mais facilmente seu

aluno, confiando nele, acreditando no seu potencial em uma troca que favorece

a ambos. Porém quando professor possuidor de uma baixa auto-estima tende a

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ser intolerante, autoritário, desrespeitosos, valorizando mais aos erros do que

acertos.

- Acreditar que o aluno é potencialmente capaz - as crianças tendem a vivenciar

as expectativas do professor sejam elas positivas ou negativas. Quando o

professor acredita na capacidade de aprender, de fazer algo, quando o

professor transmitir confiança aos seus alunos, eles serão capazes de enfrentar

todos os obstáculos possuindo assim grande chance de êxito.

- Propiciar um ambiente estimulador em sala de aula – Ter na sala de aula um

local onde os alunos são levados a sério, tratando-os com justiça, onde cada um

seja incentivado a se auto-apreciarem e acolhidos com atenção, onde a

disciplina ocorrerá como resultado da compreensão de sua importância e do

conhecimento das conseqüência.

Segundo Branden (2000) o ser humano precisa da auto-estima que é

resultante de 2 fatos básicos e intrínsecos à nossa espécie:

1º Somos dependentes do uso apropriado de nossa consciência para

sobrevivermos e dominarmos o meio, ou seja, nossa vida e nosso bem-estar

dependem de nossa capacidade de pensar.

2º Isto citado acima, não é automático na regulamentação de sua atividade

que interfere num elemento crucial de escolha, portanto, de responsabilidade.

“São necessários processos de pensamento, processos de conexão racional, até mesmo para saber quando abandonar os esforços conscientes na solução de problemas e entregar a tarefa para o subconsciente, quando permitir que pare o pensamento consciente, quando dar uma atenção mais próxima a sentimentos ou à intuição (às percepções e integrações subconscientes).” (Branden).

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CAPÍTULO III

Do Desejo De Conhecer Ao Amor Ao Saber

“Com freqüência, sentimentos negativos originam-se de críticas sofridas há muito tempo. É como se tivéssemos

sido hipnotizados para aceitar nossas inexistentes limitações”. Peter Kline

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CAPÍTULO III - DO DESEJO DE CONHECER AO AMOR AO SABER

3.1 – PROCESSOS QUE ENVOLVEM A APRENDIZAGEM

“São necessários processos de pensamento, processos de conexão racional, até mesmo para saber quando abandonar os esforços conscientes na solução de problemas e entregar a tarefa para o subconsciente, quando permitir que pare o pensamento consciente, quando dar uma atenção mais próxima a sentimentos ou à intuição (às percepções e integrações subconscientes).” (Branden)

Pensar, aprender é uma necessidade humana sempre há algo novo a

aprender, como sempre ouvimos dizer “ninguém conhece tudo”, como também

ninguém desconhece tudo.

A nossa mente funciona um pouco diferente de nossos órgãos como cita

Branden (2000, pág. 43) “a mente não injeta conhecimento da mesma forma que o

coração bombeia sangue, quando conforme necessário”. O pensar não é

automático temos uma escolha, podemos enfocar mais ou menos nossa

consciência, ou seja, podemos escolher por exemplo se o assunto for política não

se preocupar, buscar ampliar os conhecimentos sobre o assunto ou até mesmo,

de certa forma, evitá-lo”.

É importante que o professor tenha consciência de que a criança traz

consigo a bagagem natural cultural e também traz todas as referências

afetivas. Torna-se indispensável que se analise e reflita sobre a necessidade

de que se conheça a realidade de cada criança que estiver em situação de

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aprendiz. Como educadores certamente essa reflexão contribuirá positiva ou

negativamente para o desenvolvimento dos nossos educandos.

O impedimento ou dificuldade em aprender não está atrelado somente

aos fatores orgânicos. O estado emocional determina e permeia todo o tipo

de relação, sendo esta uma proposta educacional formal ou não.

No processo de ensino existem vários aspectos que interferem na

concretização da aprendizagem. Nestes aspectos podem se referir a

aspectos externos como um método que seja inadequado naquele momento

ou problemas intrínsecos.

Por muito tempo culpou-se unicamente o aluno por apresentar

dificuldades de aprendizagem, contribuindo diretamente para o fracasso

escolar. Para Fernández (2001), o problema de aprendizagem, quando se

instala, deixa o sujeito sem palavras para relatar seu drama.

Os transtornos de aprendizagem em relação a outros padecimentos

psíquicos, apresentam uma particular especificidade. Eles têm certo caráter

de urgência, pois quando se trata de crianças, se a inteligência está ferida,

pode ocorrer que os efeitos dessa dor sejam permanentes.

Tal urgência também se relaciona ao que nossa sociedade reclama

cada vez mais, o êxito profissional, associando-o de modo lamentável à

realização da pessoa como tal.

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E na escola, na universidade e na atividade de trabalho, no espaço

público onde se “põe à prova” a capacidade intelectual das pessoas.

Paín (2000) chama de problemas de aprendizagem a todos os

distúrbios psicopedagógicos que interferem diretamente na aprendizagem.

Considera que para fazer o diagnóstico de um problema de aprendizagem

devem ser investigados os seguintes aspectos:

- Fatores orgânicos e constitucionais.

- Fatores específicos, localizados principalmente na área perceptivo-

motora (visão, audição, coordenação motora).

- Fatores ambientais, representados pelo lar, pela escola e pela

comunidades como um todo.

- Fatores psicógenos, que compreendem os fatores emocionais e

intelectuais.

Estes fatores podem atrapalham o desenvolvimento de uma boa

aprendizagem dificultando a vida escolar do aluno, podendo assim nascer no

aluno sensações como de “incapacidade”, revolta, tristeza por conseguinte

sua auto-estima diminuir, passando a considerar-se um fracassado.

Por isso é importante que o professor estimule em seus alunos a sua

auto-estima para que esta não atrapalhe o seu processo. Segundo Branden

(1998) uma pessoa com alta auto-estima percebe as “derrotas” como algo

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exterior a ele e logo busca a vitória. Outra com baixo auto-estima identifica-

se com a sua própria “derrota” e logo julga-se fracassado.

3.2 - A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DA CONFIANÇA

Segundo o dicionário Aurélio, afetividade é a qualidade ou caráter de

afetivo. Afeto está relacionado com: afeição, amizade, amor. Ela

compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as emoções e as

paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar sentimentos e

emoções. A afetividade é que determina a atitude geral da pessoa diante de

qualquer experiência vivenciada.

Dessa forma, afetividade é que confere o modo de relação do

indivíduo à vida e será através da tonalidade de ânimo que a pessoa

perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente a afetividade

exerce profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a conduta do

indivíduo.

Pode-se pensar na afetividade como o tônus energético capaz de

impulsionar o indivíduo para a vida. A afetividade colore com matizes

variáveis todo relacionamento do sujeito com o objeto, faz com que os fatos

sejam percebidos desta ou daquela maneira e que despertem este ou aquele

sentimento.

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Os afetos expressam todas as nuances do desejo, do prazer e da dor

e todas estas nuances permeiam nossa experiência sensível, sob forma

daquilo que chamamos sentimentos vitais, humor e emoções.

Segundo LEONARDO BOFF (2001: 139) “devemos cuidar do outro

porque o rosto do outro torna impossível a indiferença”. Já HENRY WALLON

considera que a afetividade é componente permanente da ação, e se deve

entender como emocional também um estado de serenidade.

Na psicogenética de HENRY WALLON, a dimensão afetiva ocupa

lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do

conhecimento. A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das

dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais

arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser

afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto,

no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente

misturadas, com o predomínio da primeira.

Todos nós em algum momento de nossa vida nos sentimos exilados,

expulsos deste mundo no qual não há lugar para nossos desejos mais

profundos de amor, de liberdade, de compreensão, de afeto e paz. A

afetividade nos aproxima da liberdade para moldar nossa vida, eleva a

nossa auto-estima, nos faz sentir capazes e impulsiona para seguirmos em

frente. Segundo a autora ELLEN WHITE (1951:30) o AMOR é a base, é o

fundamento da verdadeira educação.

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Uma das áreas da pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento é a

formação da ligação afetiva. A formação das primeiras relações entre a mãe

e o bebê, protótipos de todas as relações sociais futuras, tem sido objeto de

interesse há muito tempo, especialmente por parte de psicanalistas e

behavioristas. Quando se diz que esta é uma área da pesquisa recente, está

se referindo à novidade do enfoque que se tornou proeminente nos últimos

anos, no estudo das relações mãe – bebê.

Essa relação entre mãe – bebê inicia-se desde o ventre materno, onde

acontece manifestações de carinho, alegria e aceitação que são percebidas

pela criança. Para que essa criança tenha um bom desenvolvimento não

poderá haver ausência de afetividade. Abandono, maus tratos e até mesmo

indiferença poderão acarretar conseqüências desastrosas, comprometendo

a sua aprendizagem.

Segundo MELAINE KLEIN (1952; 64), os bebês com três semanas de

vida apenas, interrompiam a sucção para olhar o rosto da mãe, ou com

talvez duas semanas mais respondiam à voz e sorriso da mãe com uma

mudança de expressão facial.

WALLON ressalta que em poucas semanas, em função das respostas

do meio humano, os movimentos impulsivos se tornam movimentos

expressivos. A partir daí, até o final do primeiro ano, o principal tipo de

relação que o bebê manterá com o ambiente será de natureza afetiva: é o

período emocional, fase mais arcaica da vida humana. Ao longo do seu

curso, mesmo aquilo que interessa à relação, e por conseguinte à atividade

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cognitiva, como os estímulos auditivos e visuais, despertam, nas relações

exploratórias, mais respostas afetivas: alegria, surpresa, medo. Daí a

afirmação Walloniana de que a inteligência não se dissociou ainda da

afetividade, cuja conseqüência inevitável é que, neste momento, estimular a

primeira equivale a nutrir a segunda. O bebê, que trava com a mãe aquilo

que AJURIAGUERRA (1992;92), chamou de “diálogo tônico”, depende de

toques, carícias, contatos visuais, da voz em seus aspectos mais

elementares: melodia, ritmo, altura, modulação. Aos seis meses a presença

humana é o mais poderoso estimulante; o interesse pelas coisas é um

derivado.

O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o

desenvolvimento intelectual. Ele pode acelerar ou diminuir o ritmo de

desenvolvimento intelectual. Ele pode determinar sobre qual conteúdo a

atividade intelectual se concentrará. Na teoria de PIAGET, o

desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes:

um cognitivo e outro afetivo. Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o

desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos,

tendências, valores e emoções em geral. Piaget aponta que há aspectos do

afeto que se desenvolvem. O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os

sentimentos subjetivos (amor, raiva, depressão) e aspectos expressivos

(sorriso, gritos, lágrimas). Na sua visão, o afeto se desenvolve no mesmo

sentido que a cognição ou inteligência. E é responsável pela ativação da

atividade intelectual.

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Em vários livros PIAGET descreveu cuidadosamente o

desenvolvimento afetivo e cognitivo do nascimento até a vida adulta,

centrando-se na infância. Com capacidades afetivas e cognitivas expandidas

através da contínua construção, as crianças tornam-se capazes de investir

afeto e ter sentimento validados nelas mesmas.

Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a

motivação ou interesse da criança para aprender.

O afeto é o princípio norteador da auto-estima. Após desenvolvido o

vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina, como “meio”

para conseguir o autocontrole da criança e seu bem estar, são conquistas

significativas.

Os pais podem criar um ambiente mais estimulante e feliz para seus

filhos. Portanto, quanto mais amadas forem as crianças, mais seguras serão.

Atendendo as necessidades afetivas de seus filhos, desde cedo, eles

se tornarão mais satisfeitos consigo mesmos e com os outros, e terão

facilidades e disposição para aprender.

A afetividade se faz extremamente importante na escola. Segundo

MARCHAND (1985;19) descreve os “pares” mestre-aluno como a relação

autoritária, a relação puramente técnica e a relação afetiva. Ele descreve o

mestre aberto aos sentimentos do aluno que não lhe impõe um modelo.

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O autor se refere às situações de “falsa igualdade” entre professor e

aluno; admitindo a existência da desigualdade – o “saber” do mestre, o peso

de sua experiência já vivida – indica que isto não obriga a formação de uma

relação autoritária, exatamente porque há espaço para a afetividade e para

a disposição de ouvir o aluno e deixar que este faça opções pessoais.

Toda educação supõe a presença de dois seres bem concretos: o que

dá e o que recebe. É preciso não esquecer que o aluno pode-se achar

“situado” não somente em relação a seu mestre, mas, também, em relação a

outras pessoas que podem ser, por exemplo, seu irmão, seu pai, sua mãe ou

o colega preferido que formam com ele, outros tantos “pares” capazes de

influenciar o par educativo e orientá-lo de maneira diferente.

O conteúdo da psicologia afetiva da criança é, freqüentemente,

resultado da posição sentimental do mestre: o autoritário provocará o temor

inibitório no aluno; o que procura se fazer amar provocará na criança

reações de complacência; aquele que se mostra maldoso despertará

sentimentos e atitudes de oposição que levarão a uma educação contrária à

desejada.

A instrução dada por um mestre apresenta aspectos emotivos e

afetivos que lhes conferem um efeito original e pessoal, variando, por outro

lado, com cada uma das crianças que a recebe.

Um mestre tem mais poder do que um livro. A pedagogia esquece,

assim, um elemento importante, nascido desta presença recíproca: a

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qualidade do diálogo que se estabelece entre educador e educando na

presença concreta de dois seres colocados em uma dada situação, e que

cria entre eles um liame peculiar, ou os separa por obstáculos quase

intransponíveis.

A educação supõe, assim, desde o primeiro contato com uma

determinada criança, o aparecimento do “par afetivo”, cuja harmonia ou

desacordo leva todo o ensino para os numerosos (des)caminhos possíveis.

Os educadores necessitam de cuidarem de sua vida mental, pois o

seu ofício muitas vezes altera a sua afetividade. Muitos professores falam

que seus alunos tem “grave” problema emocional, porém o uso de

metodologia inadequada, a falta de recursos didáticos, as condições

insatisfatórias de trabalhar com alunos que tem problemas emocionais

graves de desajuste familiar são problemas são colocados sobre os alunos o

peso de um fracasso que muitas vezes é do professor.

Algumas crianças enfrentam sérias dificuldades em seu

desenvolvimento cognitivo emocional, que muitas vezes não é fácil abstrair e

generalizar, e com isso sofrem de inúmeros medos e problemas de

relacionamento com crianças e adultos.

Mesmo reconhecendo a importância dos fatores emocionais e afetivos

na aprendizagem a escola tem a capacidade de resolver dificuldades. O

papel da escola é propiciar aquisição e reformulação dos conhecimentos

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elaborados. A interação professor aluno passa a levar a construção de

conhecimento.

É muito importante a motivação em fazer com que o aluno reconheça,

de que conhecer algo irá satisfazer suas necessidades atuais ou futuras. O

bom professor procura fazer com que o processo de aprendizagem seja

motivador em si mesmo. As crianças devem ser levadas a colocar toda sua

energia para enfrentar o desafio intelectual que a escola lhes coloca.

O prazer vem, assim, da própria aprendizagem do sentimento de

competência pessoal, da segurança de ser hábil para resolver problemas, e

que seja sempre feito sobre conteúdo significativo como: o que vai ser

estudado, por que razão e com quais finalidades.

Segundo JEAN PIAGET (1992;20) é incontestável que o afeto

desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem

afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação, e,

conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não

haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na

constituição da inteligência, mas não é suficiente.

Pode-se considerar de duas maneiras diferentes as relações entre

afetividade e inteligência. A verdadeira essência da inteligência é a

formação progressiva das estruturas operacionais e pré-operacionais. Na

relação entre inteligência e afeto, podemos postular que o afeto faz parte ou

pode causar a formação de estruturas cognitivas.

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O psicólogo francês HENRY WALLON acha que a emoção é a fonte

do conhecimento. Um estudioso de WALLON, MALRIEUX, chega até a dizer

que a estimativa de distância, ou a percepção de distância, é devida ao

desejo de alcançar objetos distantes, e não à própria distância dos objetos.

Paulo Freire auxilia nessa reflexão, quando afirma:

“ E o que dizer, mas sobretudo que esperar de mim,

se, como professor, não me acho tomado por este outro saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura de querer bem, a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano.” (1996:159)

Pode-se ainda ressaltar a afetividade como importante elo na relação

professor-aluno, através da fala de Piaget.

“ Quando se trata de analisar o domínio dos afetos,

nada parece haver de muito misterioso: a afetividade é comumente interpretada como uma energia, portanto como algo que impulsiona as ações. Vale dizer que existe algum interesse, algum móvel que motiva a ação. O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa despertar por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações.” (1992:65)

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Outro aspecto importante é a questão da confiança. A palavra confiança

significa o ato de dar crédito a alguém ou a alguma coisa. Muito se houve falar da

importância da afetividade na educação, mas pouco se vê destacar o grande

papel que a confiança desempenha.

Confiar na própria mente, por conseguinte em nós mesmos, na nossa

capacidade de pensar, compreender e de aprender quando nos deparamos com

obstáculos a nossa tendência é perseverarmos o que nos ajuda a persistir e nos

encaminha a uma proporção maior ao sucesso.

Todavia, quando não temos confiança em nós mesmo desconfiamos do

outro (que convivemos, com quem aprendemos) e a tendência ao nos depararmos

com as barreiras que a vida nos oferece para o nosso crescimento é desistir, é

abdicar de crescer no confronto cotidiano para alcançarmos o sucesso. Logo,

fracassamos mais do que temos êxito, reforçando em nós uma auto-avaliação

negativa que nos deprime e cada vez mais eximi em nós a nossa auto-confiança,

ou seja, a nossa auto-estima.

Confiar em si é buscar metas desafiadoras e inovadoras e na busca de

objetivos mais desafiadores aumentando nossa auto-estima. Na baixa auto-estima

tendemos a estagnar nos conformando em satisfazer-se com o já conhecido e não

exigente por que este exige menos de nós. Na escola isto será crucial e essencial

tanto para o professor como para o aluno.

A primeira e principal tarefa da educação é transmitir confiança. Nenhuma

criança nasce confiante ou desconfiada, isto ela aprende e faz parte de todas as

experiências por que passa, um bom exemplo disto é quando a criança começa a

dar seus primeiros passos precisa confiar em si no ambiente e no outro para

conseguir atingir a meta, ou até mesmo andar de bicicleta.

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Sem confiança, com baixa auto-imagem e auto-estima, não pode confiar

em si mesma e pode desenvolve-se com mais dificuldade. Educar é ser coerente,

consistente é ser claro. No mundo grego, já se discutia esta questão da confiança

com o Mito de Eros (Amor) e Psiquê (alma)3

Uma relação de confiança entre professor e aluno faz com que a

aprendizagem flua melhor. É como se o aluno mesmo que não saiba aonde vai

chegar precisa confiar que o professor lhe fará um bem. E cabe ao professor

infundir esta confiança no aluno que precisa estar disposto a confiar. Seria como

se o centro do coração do aluno fosse atraído para o centro do coração do

professor, e com o tempo esta confiança depositada no Outro se transmute na

confiança em si mesmo. O aluno chega à verdade sozinho, mas ao mesmo tempo

conduzido.

Este tema foi título de um capítulo de um livro chamado “A Clara e a Gema”

de Paulo Ronca, onde o autor a importância de desenvolve e estimular uma

relação de confiança afinal “Quem não arisca não educa”.

O autor pensou em uma pedagogia que fosse capaz de ultrapassar as

barreiras da insensibilidade que vem crescendo ao nosso redor e invade até

mesmo as escolas. Trazendo a tona a possibilidade de desenvolver sua

percepção e sensibilidade, para a construção de um homem que não se afasta da

cidadania, da honradez dos sentimentos mais belos dos humanos que pode ser

aprendido e estimulado no âmbito escolar. “Quem confia, confia na honra da outra

pessoa. Quem confia, estimula e espera que esta pessoa possa honrar o

combinado. Quem confia, ensina” (82)

3 Em anexo.

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CAPÍTULO III

UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE O ATO DE APRENDER.

“As crianças podem aprender quase tudo se estiverem dançando, experimentando, tocando, ouvindo, vendo e

sentindo a informação” Jean Houstons

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CAPÍTULO III - UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE O ATO DE

APRENDER.

As Ensinanças da Dúvida Tive um chão (mas já faz tempo)

Todo feito de certezas Tão duras como lajedos.

Agora ( o tempo é que fez)

Tenho um caminho de barro Umedecido de dúvidas

Mas nele (devagar vou) me crescer funda certeza

de que vale a pena o amor. (Thiago de Mello in Parolin)

Primeiramente, gostaria de ressaltar que a psicopedagogia nasceu da

necessidade de se entender as crianças que apresentavam dificuldades de

aprendizagem. Segundo PAROLIN (2002) seu objeto de estudo é o processo de

aprendizagem, tendo em vista o aprendente e os diferentes modos que ele

aprende, com as relações que ele estabelece em seu contato familiar e com seus

ensinates.

Ela tem como enfoque não só o ato de aprender, mas é principalmente o

“não aprender”. Sabendo que o homem está integrado em um contexto sócio-

afetivo. O psicopedagogo deve observar e participar de um fenômeno educacional,

partindo da compreensão dos diferentes relacionamentos estabelecidos pelo

aprendiz e de suas múltiplas facetas.

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Assim a psicopedagogia poderia considerar o ser humano como uma unidade de complexidade, ou seja, como um ser pluridimensional com uma dimensão racional afetiva/desiderativa e uma dimensão relacional, esta última implicando um aspecto contextual e um aspecto interpessoal. Este ser seria sujeito da construção do conhecimento de sua própria autonomia e, ao mesmo tempo, determinado pelas dimensões racional, desiderativa e relacional que o constituem” (Silva)

Esta área de atuação também permite aos profissionais a análise do

processo de aprendizagem do ponto de vista do sujeito que aprende e da

instituição que ensina, no que tange a seu decurso normal ou com

dificuldades.

Contribuir para a facilitação do processo da aprendizagem e auxiliar no

que diz respeito a qualquer dificuldade em relação ao rendimento escolar,

também é do âmbito da psicopedagogia, bem como de educadores em geral.

O processo de construção do conhecimento se dá em base sólida de acordo

com a afetividade que se tem perante o objeto de estudo e o desconhecido,

pressupondo-se que todo desconhecido é novo e o novo tem que associar-se ao já

aprendido, modificando-o e aumentando. “(...) Barreiras existem para todos, mas

alguns requerem ajuda e apoio para seu enfrentamento e superação, o que não nos

autoriza a rotulá-los como alunos ‘com defeito’”. (Carvalho)

Podemos perceber claramente a relação entre a aprendizagem e a

psicopedagogia já que esta estuda não só o ato de aprender e ensinar, mas

também, o “não aprender” não só considerando os aspectos externos mas também

os intrínsecos, estes aspectos são vistos como um conjunto, logo a psicopedagogia

visa estudar a construção da aprendizagem em toda sua complexidade de seus

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múltiplos fatores envolvidos no processo, integrando outros campos do saber para

que melhor compreenda o processo humano de aprender, cuidando e trabalhando

do mundo psíquico individual e/ou grupal e os processos educativos.

Conforme (Fernández,1991:47) na psicopedagogia observamos e

aprendemos que para aprender necessitamos do ensinante e do aprendente e um

vínculo entre ambos. Assim podemos dizer que o ser humano para aprender põem

em jogo: seu organismo individual herdado; seu corpo construído especularmente;

sua inteligência autoconstruída interacionalmente e a arquitetura do desejo que é

sempre do desejo de Outro.

A psicopedagogia busca metodologias para ajudar a atender as crianças que

possuem dificuldades de aprendizagem promovendo de várias formas o

desaparecimento do sintoma. Possui uma visão diagnóstica dos problemas de

aprendizagem escolar, propondo uma visão abrangente para procurar saídas para

responder às queixas escolares, analisando-a e a percebendo-a em diferentes

Aprendente Ensinante

Organismo

Corpo

Inteligência Desejo

Organismo

Inteligência Desejo

Corpo

Aprendizado

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perspectivas como: a da sociedade, da escola e a do aluno, considerando ainda

vários aspectos importantes: que o indivíduo é um ser histórico, biológico, social e

desejante... E somente efetua a aprendizagem quando consegue utilizar isto em

sua vida.

Para Scoz (1992) a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e

suas dificuldades numa ação profissional, deve englobar vários campos do

conhecimento integrando-o e sintetizando-o.

Ela cada vez mais tem se voltado para uma ação preventiva, ou seja, ao

invés de trabalhar os efeitos ataca diretamente as causas que podem ser dentre

outras, advindas de sua família ou de uma inadequada pedagogia da instituição que

ele se encontra. Algumas vezes ouvimos algumas frases depreciativas e pensamos

o que elas podem causar na vida de uma criança.

O psicopedagogo deve levar em consideração as marcas que estão no

interior do aprendente e isto requer um processo de investigação. Logo, o

psicopedagogo, antes de tudo, é um pesquisador que busca hipóteses, analisa-as,

busca alternativas para que seu trabalho obtenha bons resultados. Seu objeto de

estudo é o processo de aprendizagem e algo interessante que gostaria de ressaltar

é que ele não é estudado somente na vertente do aprender, mas também o seu

reverso o “não aprender”.

Seu objeto de estudo é o ser humano que não é um ser estagnado, mas sim

mutável, pois estamos sempre em processo de transformação, aprendendo e nos

desenvolvendo sempre. O ser humano é o ser das possibilidades em um vasto

sentido.

De acordo com Fernández (2001), dependendo de cada situação, pois cada

caso é um caso, no trabalho do psicopedagogo será possível optar como

tratamento:

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- Tratamento individual e familiar psicopedagógico;

- Grupo de tratamento psicopedagógico de crianças;

- Grupo de orientação paralelo de mães;

- Oficinas de arte, arte-terapia, recreação com objetivos terapêuticos, etc.

- Entrevistas familiares psicopedagógicas e etc...

Para o psicopedagogo o processo de intervenção deve ser antes de tudo um

processo de parceria junto ao professor, possibilitando uma aprendizagem muito

importante e enriquecedora, principalmente quando o professor é pesquisador que

contribui com diferentes olhares para a mesma questão.

Freire (1991, in Mendes, 94) afirma que através da fala do educador, no

ensinar, no intervir, no devolver e no caminhar, que se expressa o seu desejo de

ensinar, que ele lê e compreende, também, através de seu olhar. A criança que não

é olhada não pode sentir o desejo de aprender, porque não sente o desejo do

professor em ensinar. O desejo de um tem que ser o desejo do Outro.

O psicopedagogo deve levar em consideração a importância da auto-estima

na aprendizagem, pois se o aluno convive em um ambiente onde só ouve “elogios”

negativos, como ele manterá sua auto-estima suficientemente alta para aprender?

Aumentar a auto-estima é mais do que eliminar os elementos negativos;

requer um nível mais alto de consciência a respeito de como a pessoa funciona.

Requer responsabilidade pessoal e integridade maiores. Requer responsabilidade

pessoal e integridade maiores, a disposição de atravessar o medo e confrontar

conflitos e realidades incompatíveis. Exige que se aprenda a enfrentar e dominar,

em vez de afastar-se e evitar.

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Em suma, percebo que no campo da psicopedagogia a um longo caminho a

ser desbravado e descoberto. Há muito trabalho para este profissional, devido ao

fato de ser uma profissão relativamente nova e com um vasto campo de

indivíduos a serem trabalhados e ajudados. Assim, como no campo

institucional existem vários profissionais necessitando de um trabalho.

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CONCLUSÃO

A pedagogia esteve por muito tempo centrada mais nos métodos de ensino

do que nos métodos de aprendizagem, como se fosse algo único. Hoje, vem

buscando fixar sua atenção na aprendizagem, ou seja, no ponto de vista do aluno.

Esse fato marca uma mudança radical na pedagogia,

O objetivo final da educação é a aprendizagem e é a partir dela que se avalia

o aluno, o professor e o sistema. O que importa é que os alunos aprendam. Nessa

perspectiva, o bom professor não é o que ensina muitas coisas, mas sim aquele

que consegue que seus alunos aprendam efetivamente aquilo que ensina.

Participar do desenvolvimento físico, emocional e educacional do educando

é um privilégio. Ver o sorriso nos lábios de uma criança após cada vitória

alcançada, é uma realização para o educador.

Para que haja aprendizagem é preciso haver estímulo. Se uma criança se

sente rejeitada, discriminada e carente de afeto, sua aprendizagem será

prejudicada.

Acredito que a aprendizagem dos alunos será favorecida por diversos

fatores, dos quais eu destaco: a presença da afetividade em sala de aula.

Cabe a cada escola, a cada educador olhar para o seu educando como um

ser único, com sentimentos, esperança e a consciência que cada ser humano,

merece respeito.

É importante que na escola se tenha noção da real importância da troca,

para que a aprendizagem seja um processo interativo entre quem ensina e quem

aprende, onde, o sujeito da ação seja Nós e não eu e você . As pessoas envolvidas

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neste processo ensino aprendizagem: educador e educando precisam comunicar

suas idéias, não havendo mais espaço para o monólogo, mas sim para o diálogo, a

troca é um fator primordial. Onde finda-se a visão do professor: “o detentor de

todos os saberes”, para que floresça a oportunidade dos momentos de troca, para

que ele e seu educando cresçam.

Na medida que isto ocorre ele estará desenvolvendo seu papel enquanto

educador do novo século, que busca aprender a conhecer, perceber e interagir com

o outro, conduzindo o seu educando a aprender a aprender e que percebe-se como

um eterno aprendiz, pois ninguém conhece assim como ninguém desconhece tudo.

Encontramos aprendizagem em todas as ocasiões de nossa vida de maneira

significativa, e ela ocorre de formas múltiplas em diferentes instancias. Aprendemos

ao interagir e não só por meios formais. Nascemos para aprender e aprenderemos

a morrer.

A aprendizagem é uma mudança no comportamento resultante de uma

experiência que desenvolve a percepção, atenção, a memória e a imaginação,

nascemos com uma capacidade imensa de aprender, que não deve ser estagnada ,

mas sim, ampliada durante toda nossa vida.

É de suma importância que ocorra a participação de dois aspectos neste

processo: a atribuição de significados (idéias e conceitos que tem sobre o mundo,

que é socialmente construído, ocorre de fora para dentro) e sentido (valor e

importância que atribuído a quem aprende, ocorre de dentro para fora).

Com o rompimento com o velho paradigma, não estaremos estigmatizando

nossos educando ao “não aprender” e ao fracasso escolar, pois é necessário um

vinculo entre aprendizagem informal (onde ele correlaciona significados e sentidos

do seu dia-a-dia) e aprendizagem formal (onde na maioria das vezes e em diversas

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situações lhe é tolhido esta liberdade, pois , geralmente espera respostas e

pensamentos homogêneos.

Aprender é conquistar autonomia em um mundo bombardeado de idéias,

propostas, o que aprendemos nos dá segurança de sermos homens cultos.

Devemos aprender a ver o mundo com seu próprio entender, para que possamos

caminhar segundo aquilo que conhecemos e que escolhemos. A aprendizagem

também tem o sentido de habilidade de pesquisa, no sentido de sermos homens

questionadores, buscar o novo ver além das linhas, compreender as entrelinhas,

sem subestimar ao outro.

E por fim, aprender é um evento notável de uma reconstrução permanente,

aprender não é incorporar mecanicamente, não é reproduzir. O conhecimento nos é

transmitido, mas precisa ser reelaborado e ser incorporado por nós, só assim gera

autonomia e liberdade.

Aprendemos conceitos e valores passados e, nós educadores, os

repassamos e que o novo sempre está batendo as portas e que a aprendizagem

não é estática, mas dinâmica. Devemos repassar e não ensinar a reproduzir,

tolhendo a arte humana de aprender a aprender e a reconstruir.

Em suma, devemos não somente aprender, mas sim objetivar a

transformação para que possamos aprender a interagir com o mundo e com os

outros e sempre quebrando paradigmas e nos questionando. Esta pesquisa jamais

poderá cessar as questões deste tema, até por que tudo é aprendizagem que

começa por um simples: por que?

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ANEXOS

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ANEXO 1

Um dos Anjos mais conhecidos entre as lendas da humanidade é Eros ou

Cupido. Eros está ligada Psiquê (a Alma), que em sua lenda nos traz a imagem da

união do amor e nossa alma.

As duas irmãs de Psiquê se casaram, no entanto, sendo ainda mais bela

que elas, além de extremamente graciosa, não conseguia um marido para si, pois

todos temiam tamanha beleza. Desorientados, os pais de Psiquê buscaram ajuda

através dos oráculos, que os instruiu a vestirem Psiquê com as roupas destinadas

a seu casamento e deixá-la no alto de um rochedo, onde um monstro horrível viria

buscá-la.

Mesmo sentindo-se pesarosos pelo destino da filha, seus pais seguiram

as intrusões recebidas. Exausta, Psiquê adormeceu. Quando acordou, se viu num

maravilhoso castelo de ouro e mármore. Maravilhada com a visão, percebeu que

ali tudo era mágico... as portas se abriam para ela, vozes sussurravam sobre tudo

o que ela precisava saber.

Quando chegou a noite, deitada em seus aposentos, percebeu ao seu

lado a presença de alguém que só poderia ser o seu esposo predestinado pelo

oráculo. Ele a advertiu de que lhe seria o melhor dos maridos, mas que elas

jamais poderia vê-lo, pois isso significaria perdê-lo para sempre.

Psiquê concordou. E assim foram seus dias, ela tinha tudo que desejava,

era feliz, muito feliz, porque seu marido lhe trazia uma sensação do mais profundo

amor e lhe era extremamente carinhoso.

Com o passar do tempo, porém, ela começou a sentir saudades de seus

pais e pediu permissão ao marido para ir visitá-los. Ele relutou, os oráculos

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advertiam de que esta viagem traria péssimas conseqüências, mas ela implorou,

suplicou... até que ele cedeu.

E da mesma forma que a havia trazido para o palácio, levou-a à casa de

seus pais. Psiquê foi recebida com muita alegria e levou muitos presentes para

todos. Mas suas irmãs ao vê-la tão bem, se encheram de inveja e começaram a

crivá-la de perguntas a respeito de seu marido.

Ao saberem que até então ela nunca o tinha visto, convenceram-na de

fazê-lo; evidentemente que as intenções delas eram apenas de prejudicar Psiquê,

já que ela havia feito uma promessa a ele.

Ao voltar para sua casa, a curiosidade tomou conta de seu coração. Tão

logo veio a noite, ela esperou que ele adormecesse e assim acendeu uma vela

para poder vê-lo.

No entanto, ao se deparar com tão linda figura, ela se perdeu em sonhos e

ficou ali, embevecida, admirando-o. E esqueceu-se da vela que tinha nas mãos.

Um pingo de cera caiu sobre o peito de Eros, seu marido oculto, fazendo-o

acordar com a dor.

Sentido com a quebra da promessa da esposa, partiu, fazendo cumprir a sentença

do oráculo. Abandonada por Eros, o Amor, sentindo-se só e infeliz, Psiquê, a

Alma, passou a vagar pelo mundo.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ..............................................................................................02

AGRADECIMENTO ..............................................................................................03

DEDICATÓRIA .....................................................................................................04

EPÍGRAFE............................................................................................................05

RESUMO ..............................................................................................................06

METODOLOGIA ...................................................................................................07

SUMÁRIO .............................................................................................................09

INTRODUÇÃO......................................................................................................10

CAPÍTULO I – Aprender: uma Questão Fundamental ..........................................12

1.1 – Definição de Aprendizagem .........................................................................13

1.2 – As Diferentes Percepções sobre a Aprendizagem.......................................15

1.2.1- Antiguidade Clássica........................................................................15

1.2.2 – Com a Psicologia............................................................................17

CAPÍTULO II – Mais que Aprender:Conhecer é Vida ...........................................21

2.1 – Aprende-se do Nascer ao Morrer.................................................................22

2.2 – Ser Humano: O Agente do Conhecimento...................................................24

2.3 – A Importância da Aprendizagem para a Constituição do EU .......................25

2.4 - A Importância da Auto-Estima na Aprendizagem .........................................28

CAPÍTULO III – Do Desejo de Conhecer ao Amor ao Saber ................................32

3.1 – Processos que Envolvem a Aprendizagem..................................................33

3.2 – A Importância da Afetividade e da Confiança ..............................................36

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CAPÍTULO IV – Um Olhar Psicopedagógica sobre o ato de aprender .................47

CONCLUSÃO .......................................................................................................54

BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................57

ANEXOS ............................................................................................................... 60

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - PROJETO A VEZ

DO MESTRE

Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

ENTRE OS PROFISSIONAIS NÃO DOCENTES NO PROCESSO

EDUCACIONAL.

Autor: Aline Lima Rangel de Araújo

Data da entrega:_________________________

Avaliado por:______________________________ Conceito:__________

Avaliado por: _____________________________ Conceito:__________

Avaliado por: _____________________________ Conceito:__________

Conceito Final:____________________________