separação de ácido salicílico, acetilsalicílico e aspirina por cromatografia em camada delgada
TRANSCRIPT
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – COORDENAÇÃO DE ENSINO PROFISSIONAL
LABORATÓRIO DE QUÍMICA ORGÂNICA
CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA
- SEPARAÇÃO DE ÁCIDO SALICÍLICO E
ÁCIDO ACETILSALICÍLICO -
Professor: Rodrigo Verly
Turma: QUI3A – T2
ALUNOS: Maria Luiza Andrade Aquino e Mariana Gabriela de Oliveira
Belo Horizonte
16 de março de 2011
I. Introdução
A cromatografia é um método físico-químico de separação e análise fundamentado na
migração diferencial dos componentes de uma mistura, em decorrência das interações
existentes entre eles e as fases móvel e estacionária, que estão em contato íntimo. A
cromatografia pode ser classificada de acordo com a forma física do sistema: cromatografia
em coluna e cromatografia planar. A segunda se subdivide em cromatografia em papel (CP)
e cromatografia em coluna delgada (CCD).
A cromatografia em camada delgada (CCD) é comumente utilizada em análises químicas,
pois é uma técnica de fácil execução, resultados rapidamente obtidos e de baixo custo, para
estabelecer se dois compostos são idênticos, verificar a pureza de um composto, determinar
o número de componentes em uma mistura, determinar o solvente apropriado para
separação em uma coluna cromatográfica, monitorar a separação de uma mistura em uma
coluna cromatográfica ou acompanhar o progresso de uma reação. Tal técnica baseia-se na
migração de determinadas substâncias sobre uma camada delgada de adsorvente retida
sobre uma superfície plana (placa de vidro ou folha de plástico), as cromatoplacas. Em
relação à CP, a CCD apresenta maior sensibilidade, grande rapidez, pois a fase móvel desta
(o adsorvente) é mais porosa garantindo melhor eluição, garante maior nitidez, pois permite
a utilização de reveladores (corrosivos ao papel) para o cromatograma. Dentre os
adsorventes mais utilizados encontra-se a sílica – ácido salicílico amorfo (SiO2) – altamente
porosa e, quando for propositalmente desativada com vapor de água, retém água suficiente
para que as separações ocorram por um mecanismo semelhante à cromatografia em papel
(COLLINS, BRAGA, BONATO, 2006).
Tal técnica é rotineiramente empregada, também, em análises farmacêuticas, para
determinar a composição e separar determinadas substâncias presentes nos fármacos.
A Aspirina, um dos medicamentos mais famosos à base de ácido acetilsalicílico, foi o
primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia. Já no século V a.C, Hipócrates se
referiu a um pó ácido obtido da casca do salgueiro (Salix Alba) que possuía propriedades
analgésicas e antitérmicas e, em 50 a.C, Caius Plinius Secundus lista muitos usos
terapêuticos das folhas do salgueiro. Em 1763, Edward Stone
faz a primeira descrição do efeito antipirético da casca do salgueiro. Em 1822 são
descobertos os efeitos nocivos do ópio, remédio, até então, mais utilizado contra a febre,
impulsionando, assim, os estudos relacionados ao princípio ativo presente na casca do
salgueiro. Em 1828, J. Buchner isolou cristais de salicin e, em 1838, Raffaele Piria separou
o salicin num acúcar (glucose) e em salicilaldeído, convertendo este, então, ao ácido
salicílico. Em 1853, Charles Gerhardt descobriu a estrutura química do ácido salicílico.
Reagindo este ácido com cloreto de acetila ele sintetizou o ácido acetilsalicílico, pela
primeira vez na humanidade. Em 1860, H. Kolbe consegue sintetizar o ác. salicílico, partindo
do fenol (surgindo a síntese de Kolbe). Em 1897, Felix Hoffmann sintetiza o ácido
acetilsalicílico (AAS), simplificando o método de Gerhardt, e em 1898, o laboratório
alemão Bayer testa a nova droga com 50 pacientes - todos disseram que ela era
extremamente eficaz – e consegue a patente do ácido acetilsalicílico, comercializado com o
nome Aspirina. Tornando-se o primeiro remédio lançado na forma de tabletes, em 1900.
Sendo assim, esta prática tem como objetivo analisar a composição do analgésico aspirina
separando seus constituintes por meio da CCD e determinar, qualitativamente, a pureza dos
ácidos salicílico e acetilsalicílico utilizados (síntese e P.A.).
II. Materiais e Reagentes
- Placas de vidro
- Carrinho para cromatoplacas
- Balança semi-analítica
- Bastão de vidro
- Estufa
- Grau e pistilo
- Espátula
- Béqueres: 100 mL, 250 mL
- Cuba cromatográfica
- Provetas: 10 mL, 50 mL, 100 mL
- Capilar
- 70 mL de hexano
- 25 mL de acetato de etila
- 5 mL de ácido acético
- 13 g de sílica gel 60 (VETEC) para CCD
- 32 mL de água
- Acetona
- Iodo
- Ácido acetilsalicílico (síntese)
- Ácido acetilsalicílico P.A.
- Ácido salicílico P.A. (NUCLEAR)
- Aspirina® (Bayer)
III. Metodologia e resultados
A separação do ácido acetilsalicílico e do ácido salicílico, através da técnica de
cromatografia em camada delgada, exigiu que se preparasse as cromatoplacas (fase
estacionária) e as soluções de aspirina, ácido acetilsalicílico (síntese e P.A.) e ácido
salicílico.
As cromatoplacas foram preparadas utilizando uma camada de 0,25mm de espessura de
uma mistura de sílica em gel e água. Mediu-se 13g de sílica na balança semi-analítica num
béquer de 250mL e adicionou-se água até que se tornasse uma mistura homogênea e
pastosa o bastante. As placas de vidro foram limpas com acetona e encaixadas no carrinho
para cromatoplacas. Distribuiu-se, então, a mistura nas placas de vidro uniformemente com
o auxílio do carrinho para cromatoplacas. Em seguida, elas foram retiradas e secadas em
estufa.
A aspirina foi cominuida no grau, com o pistilo, obtendo-se um pó fino. Esse pó foi diluído
em acetona dentro de um béquer de 100mL. Os ácidos acetilsalicílico, síntese e P.A., e
salicílico, por já se apresentarem em forma de pó, apenas foram diluídos em acetona nos
béqueres adequados.
Na cromatoplaca pronta, foi marcado 1,5 cm da extremidade inferior e 1,0 cm da
extremidade superior da placa, contando apenas a área em que a sílica foi aderida, que
representam, respectivamente o volume limite de eluente adicionado à cuba cromatográfica
e a altura limite de eluição.
Na extremidade inferior demarcada da placa, com o auxílio do capilar, aplicou-se a solução
de aspirina, a de ácido acetilsalicílico síntese, a de ácido acetilsalicílico P.A. e a de ácido
salicílico P.A., nessa ordem, mantendo uma distância de mais ou menos 1,0 cm entre a
mancha de cada solução.
Na cuba cromatográfica, adicionou-se 15 mL do eluente (preparado com 70mL de hexano,
25mL de acetato de etila, e 5 mL de ácido acético - 100 mL para uso coletivo), quantidade
suficiente para correr a placa. É necessário que dentro da cuba tenha um papel poroso
umedecido com o próprio eluente.
Então, introduziu-se a cromatoplaca, cuidadosamente, na cuba cromatográfica, onde a
superfície do eluente estava acima da sílica em gel, mas abaixo da amostra. Assim,
observou-se a eluição até a fase móvel alcançar a demarcação da extremidade superior da
cromatoplaca e esta foi retirada logo em seguida.
Como a amostra não absorve cor, foi necessário utilizar um revelador: iodo. Após a
evaporação do eluente da cromatoplaca, esta foi introduzida no recipiente contendo iodo em
pó e, após 5 minutos de revelação, a cromatoplaca foi retirada e marcou-se as manchas
deixadas pelas substâncias, que ficaram amareladas graças ao iodo, porém, a cor logo
desapareceu.
Mediu-se, então, a distância percorrida por cada substância componente de cada solução.
Na aspirina houve a separação de duas substâncias, enquanto os ácidos acetilsalicílico,
síntese e P.A., e o salicílico somente foram arrastados pelo eluente, sendo o último mais
arrastado que os primeiros.
Figura 01. Cromatograma das separações e avaliação do grau de pureza dos ácidos salicílico e
acetilsalicílico.
IV.Discussão e conclusão
A prática partiu do princípio de segregação das substâncias das amostras, a partir da
diferença de interações estabelecidas entre elas e as fases móvel e estacionária. A fase
móvel utilizada possuía baixa polaridade, já que era composta, majoritariamente, por hexano
(70%) e a fase estacionária era polar, constituída por sílica gel, desativada com vapor de
água.
Fez-se necessário também que, dentro da cuba cromatográfica fosse colocado papel
poroso. Esse papel rapidamente se umedeceu com o eluente fazendo com que a fase móvel
saturasse o meio e, consequentemente, corresse com maior facilidade até o ponto
demarcado, sem que se evapore antes ou fosse vencida pela força da gravidade, atuante no
sentido contrário à eluição. Tal medida foi tomada para que o resultado final não se
alterasse.
Após o desenvolvimento do cromatograma e secagem das placas deve-se revela-las. A
etapa da revelação consiste em tornar visíveis as substâncias incolores presentes na
amostra. Para compostos orgânicos, geralmente, expõe-se a cromatoplaca a vapores de
iodo, revelando-se sob a forma de manchas marrom, tanto mais escuras quanto maior o
tempo de exposição e a concentração da amostra. A formação desses complexos é
1. Aspirina (AAS)
2. Ácido acetilsalicílico (síntese)
3. Ácido acetilsalicílico P.A.
4. Ácido salicílico P.A.
reversível (muitas vezes rapidamente), sendo essa a maior vantagem do método já que o
iodo pode ser eliminado posteriormente, na maioria dos casos, através do aquecimento da
placa. Isto é possível porque o iodo se une apenas fisicamente com as substâncias
saturadas, em sua maioria.
Observando o cromatograma, na figura 01, é possível concluir que o ácido acetilsalicílico
apresentou maior afinidade com a fase estacionária (polar) e o ácido salicílico maio
afinidade com a fase móvel, apolar. Apesar de o segundo ser mais polar que o primeiro, de
acordo com a comparação entre as estruturas moleculares de ambos ácidos, representadas
na figura 02, a maior afinidade do ácido acetilsalicílico (teoricamente, menos polar) com a
sílica pode ser decorrente das interações intermoleculares estabelecidas entre ambos, já
que tal ácido possui quatro átomos de oxigênio disponíveis para fazer ligações de
hidrogênio com as moléculas da sílica desativada, enquanto o ácido salicílico (teoricamente,
mais polar) possui apenas três. Outro fator que deve ser considerado é o tamanho da
molécula. O ácido salicílico, por possuir massa molecular consideravelmente inferior à do
ácido acetilsalicílico, pode ser mais facilmente arrastado pela fase móvel.
(a) (b)
Figura 02. Fórmula estrutural dos ácidos salicílico (a) e acetilsalicílico (b).
Desta forma, o ácido salicílico correu mais na placa (eluiu em conjunto com a fase móvel,
pouco polar), apresentando um Rf maior que o do ácido acetilsalicílico, sendo o primeiro
igual a 0,68 e o segundo igual a 0,27.
Observando o cromatograma, percebe-se que o ácido acetilsalicilico síntese apresentou
apenas um Rf e igual ao do ácido acetilsalicilico P.A. Assim, pode-se afirmar que o ácido
sintetizado não apresenta impurezas e ambos correspondem exatamente à mesma
substância, visto que ambos Rf são iguais a 0,27.
A aspirina é obtida através da reação entre o ácido salicílico (a) e o anidrido acético (b), sob
ação do catalisador H2SO4, que produz o ácido acetilsalicílico (AAS), que é a aspirina, e o
ácido acético (c), conforme a equação esquematizada na figura 03.
Figura 03. Reação de produção do ácido acetilsalicílico.
A aspirina utilizada na prática estava com o prazo de validade expirado. Isso ficou evidente
na análise do cromatograma já que houve a separação de duas substâncias, sendo que
uma possuía o Rf igual ao do ácido salicílico e a outra o Rf igual ao do ácido acetilsalicílico,
este ultimo em maior quantidade; confirmando o fato de ter ocorrido decomposição de uma
pequena parte do ácido acetilsalicílico em ácido salicílico.
Na fase móvel, o ácido acético (5%) foi utilizado para que o íon fenólico não interferisse na
eluição, agindo na formação de caldas. Essa interferência não foi observada, visto que o
ácido acético forneceu H+ ao meio em quantidade suficiente para ocorresse deslocamento
do equilíbrio para a esquerda, no sentido de formação do fenol.
Figura 04. Ionização do fenol.
Dessa forma, é possível concluir que a aspirina analisada estava em processo de
decomposição já que encontrou-se em sua composição ácido acetilsalicílico e parte de
ácido salicílico, um de seus substratos; os reagentes analisados, síntese e P.A., possuíam
alto grau de pureza, visto que apresentaram apenas um Rf, cada, indicando apenas uma
substância presente e o ácido acético foi eficiente no deslocamento do equilíbrio na reação
de ionização do fenol, já que não foi observada formação de calda.
V. Referências bibliográficas
COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Fundamentos de Cromatografia. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.
Aspirina – ácido acetilsalicílico. Bayer. Disponível em: <http://www.aspirina.com.br/>. Acesso em: 07 abr. 2011.
A incrível história da droga maravilha. Revista eletrônica do Departamento de Química. Florianópolis, SC: QMCWEB: Ano 4. Disponível em: <http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/aspirina.html>. Acesso em: 07 abr. 2011.
DEGANI, A. L. G.; CASS, Q. B.; VIEIRA, P. C. Cromatografia – um breve ensaio. Química Nova na Escola, São Paulo, nº 7, p. 21-26, mai. 1998. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/atual.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2011
Lino, F. M. A. Relatório Técnico de Síntese do Ácido Acetilsalicílico sob Radiação se Microondas Química - Farmacêutica Medicinal. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Farmácia. Góias, 2010. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/37442520/relatorio-tecnico-de-sintese-do-acido-acetilsalicilico>. Acesso em: 07 abr. 2011.
FRANCHETTI, S. M. M.; MARCONATO, J. C. Experimentos de Química Orgânica. Depto de Bioquímica e Microbiologia – IB – UNESP. Rio Claro-SP, 2010. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/ib/bioquimica/apostilaqo.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2011.
MOURA, M. C. O; FLACH, A.; COSTA, L. A. M. A. da. Cromatografia em Camada Delgada na pesquisa de Biodiesel: Despertando para o ensino de Química. Núcleo de Pesquisas Energéticas (NUPENERG) - Universidade Federal de Roraima - Departamento de Química. Roraima, 2002. Disponível em: <http://sec.sbq.org.br/cdrom/31ra/resumos/T1326-1.pdf>. Acesso em: 07 abr. 2011.