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Sentimentos Humanos: origem e sentidos
Fruição da Vida
Este capítulo abarca sentimentos, cuja etimologia remete a sensações agradáveis experimentadas pelo indivíduo, como que criadas no seu próprio âmago com capa-cidade de repercutir nas relações com o mundo e com as pessoas e transformá- las.
Frui
ção
da V
ida
Alegria
Estado de bem-estar difuso por todo o corpo, como se fosse uma espécie de vôo para fora, que se afigura como sendo um vôo de natureza espiritual, significando que a alma ficou livre de uma carga de preocupações: leve.
Provém do latim ALACER (alegre).
Com licença poética de Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,essa espécie ainda envergonhada.Aceito subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou tão feia que não possa me casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Curiosidade Fr
uiçã
o da
Vid
a
Oriunda do latim CUR que significa por quê.
Donde se formou, dentro do vernáculo, o adjetivo CURIOSUS, o que indaga sempre o porquê. A curiosidade foi considerada pelos romanos a alavanca do saber, uma espécie de motor da evolução da pessoa. Assim, pois, está sugerido que o conhecimento sempre advém de uma curiosidade, de uma interrogatividade.
O Bolo de Carlos Drummond de Andrade
Na mesa interminável comíamos o bolointerminável e de súbito o bolo nos comeu.Vimo-nos mastigados, deglutidos pela boca deesponja.No interior da massa não sabemos o que nosacontece mas lá fora o bolo interminávelna interminável mesa a que preside sente faltade nós gula saudosa.
Egotismo ou egoísmo
A etimologia dos sentimentos que compõe este grupo temáti-co remete a exacerbação do valor que alguns indivíduos
atribuem a si mesmos.
Pode-se dizer que, em vista dessa duplicidade de imbricações de sentido, a vaidade tende a ser, e efetivamente o consegue, a infinda e intérmina busca de preencher este vazio, seja no plano físico, através da valorização da aparência, seja no plano psíquico, mediante a contínua busca de aprovação e/ou admiração (que aparece como uma necessidade), que se dá como relativa, geralmente, a um certo brilho intelectual que a pessoa vaidosa tenciona alcançar.
VaidadeProvém do latim VANITATE. VANITAS-VANITATIS significa o vazio, tanto o vazio psicológico, quanto o vazio físico.
Egot
ism
o ou
ego
ísm
o
Confissão de Manuel Bandeira
Se não a vejo e o espírito a afigura,Cresce este meu desejo de hora em hora...Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...Abrir-lhe o incerto coração que chora,Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,Agora embravecida e mansa agora...
OrgulhoEg
otis
mo
ou e
goís
mo
Provém do céltico URGOLL.
Essa palavra entrou no português pelo frâncico “ORGULLI”, que significa excelência, magnificência. Muitas pessoas, pelo que possuem ou pensam possuir, se julgam detentoras das mais exímias qualidades, o que lhes enseja o sentimento de orgulho, de magnificência, em relação à existência dessas, que assumem como posses suas.
Com licença poética de Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,essa espécie ainda envergonhada.Aceito subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou tão feia que não possa me casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Insaciabilidade
Este grupo de sentimentos, no aspecto etimológico, tem em comum a idéia de que o indivíduo nunca fica satisfeito com aquilo que possui. Traduzem a neces-sidade de ir além das necessidades, para se prevenir do tempo de vacas magras.
São como uma sede que não sacia. Um traço interessante que os distingue é que podem ser tanto destrutivos como transformadores.
Atualmente designa comilão apenas. A gula se relaciona ao proibido, a violação da proibição. Por outro lado, a gula se associa à prevenção da fome com a atitude de fazer reservas calóricas no organismo. É um dos sete pecados capitais, precisamente no sentido de que o fiel, segundo o evangelho, deve ser contido. Neste sentido, a a gula representa a ausência temporária de fé, no momento em que o indivíduo exagera em comer para alem do sustento, por não crer que terá alimento novamente.. Associa-se à garganta, à goela. Gole significa aquilo que passa pela garganta e é o momento fracionário da gula.No império romano a gula era muito praticada, sendo que o imperador Vitélio ficou famoso por comer carne crua por falta de paciência de esperar que fosse cozida.
GulaProvém do latim GULA. Guloso significava beberrão e comilão.
Insa
ciab
ilida
de
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Insa
ciab
ilida
de
Sendo que AMBI significa dar voltas, assim como também algo com dupla face, uma real e outra imaginária. Ambição era decisão de ir a um determinado lugar por crer que neste lugar almejado haveria crescimento. Por detrás da ambição há uma eterna dúvida. Pergunta-se o ambicioso: ao dar volta para encontrar o lugar bom realmente o encontrarei? A ambição em si, por sua vez, também tem duas faces. Uma da eterna insatisfação e outra da expansão, de riquezas materiais e espirituais.
AmbiçãoProveniente do latim AMBITIONE.
Elegia de Mario Quintana
Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas...Uma velhinha sozinha numa gare.Um sapato preto perdido do seu par: símbolo da mais absoluta viuvez.As recordações das solteironas.Essas gravatas de um mau gosto tocante que nos dão as velhas tias.As velhas tias.Um novo parente que se descobre.A palavra “quincúncio”.Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias.Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta.Este poema, este pobre poema sem fim...
Essa palavra entrou no português pelo espanhol primitivo “Ganar”, que significa lucrar, fazer uma viagem interproviciana e expandir as relações e lucros, representa expedições que buscam outras formas de lucro e novos vínculos de amizade. A ganância nasce, pois, da previsão de que as relações atuais e presentes não são eternas e poderão se transformar em algo oposto ou muito diferente do que são. A gana impele, pois, o sujeito a abandonar o seu lugar em busca de lucro e de futuro melhor.
Ganância
Provém do céltico.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Insa
ciab
ilida
de
Tem a mesma raiz de pulsão, repulsa, impulso. A compulsão se traduz como um forte impulso, com idéia de associação a outras pessoas, de companheirismo. É como se o indivíduo se sentisse fortemente seduzido a algo que ele julga que o faz membro do coletivo, sem a perda da liberdade. Na contemporaneidade assumiu um sentido mais negativo e patológico, relacionada a comportamentos repetitivos e incontroláveis.
CompulsãoProveniente do latim, COMPULSIONE, onde o radical PELLO significa força para frente e o prefixo COM tem o sentido de fazer novas relações humanas.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Insa
ciab
ilida
de
Dificuldade de relação com o mundo
O grupo de sentimentos que integra este capítulo tem como marca, na sua própria origem etimológica, a idéia de obstáculos emocionais que prejudicam a plena fruição das relações
de quem os vivencia.
Vergonha
Do latim VERECUNDIA; proveniente do verbo VEREOR (temer, não ousar).
Liga-se à vontade de não fraudar ou frustrar as expectativas das pessoas de seu grupo de convivência ou de seus amigos mais diletos. Configura-se, pois, como um temor respeitoso e afetuoso. Tem, ainda, uma difusão social ampla, o que a torna como que conseqüência de um temor de reprovação moral, de caráter repressivo.
Dona Doida de Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grossocom trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.Quando se pôde abrir as janelas,as poças tremiam com os últimos pingos.Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,com sombrinha infantil e coxas à mostra.Meus filhos me repudiaram envergonhados,meu marido ficou triste até a morte,eu fiquei doida no encalço.Só melhoro quando chove.
Difi
culd
ade
de r
elaç
ão c
om o
mun
do
TimidezProveniente do verbo latino TIMEO, temer, hesitar.
Trata-se de um sentimento de insegurança genérica em relação ao mundo, não especificando propriamente uma classe ou categoria de objetos, como se fora um temor cristalizado no âmago da pessoa.É um temor que, afinal de contas, não paralisa as relações (mas as prejudica), ao contrário do medo, temor paralisante.
E é num arroubo em que a alma desfaleceDe sonhá-la prendada e casta e clara,Que eu, em minha miséria, absorto a aguardo...
Mas ela chega, e toda me pareceTão acima de mim... tão linda e rara...Que hesito, balbucio e me acobardo
Confissão de Manuel Bandeira
Se não a vejo e o espírito a afigura,Cresce este meu desejo de hora em hora...Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...Abrir-lhe o incerto coração que chora,Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,Agora embravecida e mansa agora...
Difi
culd
ade
de r
elaç
ão c
om o
mun
do
ConstrangimentoD
ificu
lllld
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dere
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o co
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mun
do
Proveniente do verbo latino CONSTRINGO, CONSTRINXI, CONSTRICTUM, CONSTRINGERE, equivale a apertar, estrangular.
É formado pelo verbo STRINGO, STRINXI, STRICTUM, STRINGERE ( apertar) e pelo prefixo COM que, neste caso, é intensivo (e extensivo) de sentido. De CONSTRICTUM provem contrição que equivale ao arrependimento, a um aperto na alma. Constrangimento, também, denota um aperto na alma, uma paralisia interior que bloqueia a naturalidade
Elegia de Mario Quintana
Há coisas que a gente não sabe nunca o que fazer com elas...Uma velhinha sozinha numa gare.Um sapato preto perdido do seu par: símbolo da mais absoluta viuvez.As recordações das solteironas.Essas gravatas de um mau gosto tocante que nos dão as velhas tias.As velhas tias.Um novo parente que se descobre.A palavra “quincúncio”.Esses pensamentos que nos chegam de súbito nas ocasiões mais impróprias.Um cachorro anônimo que resolve ir seguindo a gente pela madrugada na cidade deserta.Este poema, este pobre poema sem fim...
Afastamento do outro
Os sentimentos que compõem este bloco temático, na perspectiva da origem das palavras, se assemelham por serem despertados como con-seqüência de relações e vínculos de afetividade pré-estabelecidos. Ou
seja, estes são sentimentos que só podem existir, enquanto tais, a partir de uma relação intersubjetiva. A idéia de afastamento pressupõe, pois,
um encontro anterior.
Rançoso (que tem ranço) passou a significar, ulteriormente, nauseabundo e insípido. O rancor, assim como o ranço, é conservado no corpo e, deste modo, gera um elemento tendente à putrefação que, fica dentro da pessoa, desconfortando-a a tal ponto que cria nessa pessoa ímpetos de vingança (é como se fosse uma mágoa antiga que apodreceu no corpo). Conforme Catulo, em vários poemas da última fase.
Afa
stam
ento
do
outr
oRancor
Do latim tardio RANCORE (decorrente de “RANCIDU”), rançoso.
Confissão de Manuel Bandeira
Se não a vejo e o espírito a afigura,Cresce este meu desejo de hora em hora...Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...Abrir-lhe o incerto coração que chora,Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,Agora embravecida e mansa agora...
Este capítulo congrega um grupo de sentimentos cuja etimologia remete aos impulsos de destruição do outro. São sentimentos que expressam a vontade de anular a existência alheia,
seja real ou metaforicamente
Ímpetos de supressão da existência
MALIGNITATE é falta absoluta do amor que, tem por isso, um enorme potencial destrutivo. No português contemporâneo, a palavra malignidade guarda intacta a idéia da destrutividade como se originou, enquanto a palavra maldade, que tem a mesma origem mas é desprovida do sufixo IGNOS, é, às vezes, é usada para designar sentimentos e atitudes não necessariamente destrutivos, apenas com potencial ofensivo. A medicina, por exemplo, expressa, a malignidade propriamente dita em seu vocabulário. Porém, na linguagem coloquial é preciso, por meio do contexto, identificar se a maldade dita é maligna ou superficial
Maldade Provém do latim MALIGNITATE, formada pela raiz MALUM (ausência
de amor tornada real) + sufixo IGNOS (que reforça a essência presente
na raiz e denota algo com uma lógica muito própria).
Ímpe
tos
de s
upre
ssão
da
exis
tênc
ia
Uma vez, quando eu era menina, choveu grossocom trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.Quando se pôde abrir as janelas,as poças tremiam com os últimos pingos.Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,com sombrinha infantil e coxas à mostra.Meus filhos me repudiaram envergonhados,meu marido ficou triste até a morte,eu fiquei doida no encalço.Só melhoro quando chove.
Relaciona-se com a palavra CRÚ que designa o alimento, a carne, que sangra. Crueldade, por sua origem, significa o derramamento de sangue e adquiriu o sentido de gosto pelo derramamento de sangue. Crueldade , portanto, está ligada ao gosto pelo sofrimento alheio. Atente-se que há em várias religiões sacrifícios cruentos (com sangue) e não cruentos (sem sangue) em geral com animais irracionais. Podemos inferir que a crueldade, em sua perspectiva do gosto por ver outro sofrer ou morrer, é um desejo primitivo do homem, que no decorrer da evolução civilizatória, o transforma num tabu e, por isso, o sublima com elaborações simbólicas.
Crueldade Provém do latim CRUDOR que significa sangue, de onde
deriva CRUENTO que quer dizer com sangue
Ímpe
tos
de s
upre
ssão
da
exis
tênc
ia
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos.Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha, com sombrinha infantil e coxas à mostra.Meus filhos me repudiaram envergonhados,meu marido ficou triste até a morte,eu fiquei doida no encalço.Só melhoro quando chove.A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,com sombrinha infantil e coxas à mostra.Meus filhos
Provavelmente deriva do verbo TERO (esfolar, atritar), de onde deriva a palavra tristeza também. Tirano é aquele sujeito que “esfola” a população e que cria atrito com o povo. É alguém que impõe, pela força bruta, um poder sem legitimidade alguma. Como seu poder tem na imposição o fundamento, o tirano precisa se proteger da reação popular contra ele. Curiosamente a palavra latina TIRA significa muralha e o tirano se cerca de muralhas. Arquíloco conta a história do tirano de Halicarnasso, que não correspondia ao perfil dos tiranos no sentido que se atribui.
Tirania Provém do latim TIRANOS, literalmente aquele que
usurpa o poder
Ímpe
tos
de s
upre
ssão
da
exis
tênc
ia
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos.Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha, com sombrinha infantil e coxas à mostra.Meus filhos me repudiaram envergonhados,
Susceptibilidade, vulnerabilidade
Este capítulo traz um grupo de sentimentos, cuja raiz etimológica sugere fragilidades emo-cionais experimentadas pelo indivíduo como se fossem cicatrizes de lesões e machucados
espirituais ou emocionais a gerar sensações, inclusive corporais, muito desagradáveis.
Susc
eptib
ilida
de, v
ulne
rabi
lidad
e
Trata-se, portanto, a partir desse significado, de uma avaliação da realidade como desfavorável, deprimente. É de lembrar que KHÔLIA também significa bile; A existência deste significado também outorga à melancolia a atribuição, ou acepção, de uma marca física, orgânica, Sugere intensa interdependência entre o físico e o psíquico. Atente-se para o movimento romântico.
Melancolia Deriva do grego MELAGKHOLÍA, onde MELAG que quer
dizer negro, a que se junta ao termo grego o substantivo
KHÔLIA, humor com sentido de estado de espírito (difuso
como um líquido).
Confissão de Manuel Bandeira
Se não a vejo e o espírito a afigura,Cresce este meu desejo de hora em hora...Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...Abrir-lhe o incerto coração que chora,Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,Agora embravecida e mansa agora...
Este capítulo se compõe de sentimentos cuja etimologia aponta para reações emo-cionais intensas e violentas contra situações postas, sejam elas do círculo de relações próximas ou distantes. Estes sentimentos geralmente apresentam um movimento de
fora para dentro, ou seja, são provocados a partir de estímulos externos.
Inconformismos
Daí o seu significado contemporâneo de um estado incontrolável de ira contra algo ou alguém. É um sentimento que se atribui exclusivamente às pessoas
Raiva Provém do latim vulgar RABIA, que quer dizer Hidrofobia,
doença infecciosa e letal transmitida principalmente aos
seres humanos por cachorros cujos sintomas remetem a
acessos de fúria.
Inco
nfor
mis
mos
Se não a vejo e o espírito a afigura,Cresce este meu desejo de hora em hora...Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.
Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...Abrir-lhe o incerto coração que chora,Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,Agora embravecida e mansa agora...