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1 SEMPRE HÁ UMA CHANCE LUCIMARA BREVE DITADO PELOS ESPÍRITOS HERMES E LÚCIUS Agradecimentos Ao nosso Mestre, irmão e amigo Jesus, que com seu exemplo de Amor maior ilumina a todos os que de boa vontade, se dispõem a uma chance no caminho até o Pai. Aos amigos espirituais Hermes e Lucius, e também a muitos outros, que dedicaram pacientemente suas energias para a materialização desta obra. Ao Núcleo Assistencial “Doce Lar da Criança”, situado a Rua Marques de Abrantes, 60 - Belém - SP, pela doação da pintura mediúnica realizada em sessão pública, a qual nos serviu de capa para esta obra. E ao irmão, amigo e companheiro, o qual nesta experiência tenho a oportunidade de receber como esposo e que sem o seu apoio, cumplicidade de sentimentos, pensamentos e fé, não teria sido possível a minha dedicação nesta pequena parte que me coube, para a realização desta obra. Com muito amor e carinho a você Rogério, o meu muito obrigada! Lucimara Breve Prólogo Mal surgiam os primeiros raios de sol daquele novo dia e Antonio já se levantara para o trabalho e, naquele dia em especial, levantara-se ainda mais cedo do que era de seu costume, pois além dos cuidados com a Fazenda Primavera, seu patrão Sr. Antero o havia encarregado de supervisionar a colheita da Fazenda Vale Verde, que era de seu amigo e vizinho Sr. Valdomiro, ou como era conhecido na região, Miro. Este adoecera já há algum tempo e por isso ausentava-se com freqüência deixando a fazenda sem ter alguém capacitado para administrá-la, com isto muitos de seus empregados abandonaram o serviço partindo atrás de novas ofertas de empregos nas fazendas vizinhas, já que a procura por mão-de-obra aumentava muito na época da colheita e com isto o salário também. Porém esta atitude fez com que Miro tivesse sua colheita atrasada e como Paulo, seu filho de criação, também não se interessava pela fazenda, ele só pôde contar com a solidariedade do amigo Sr. Antero. Sr. Antero era um homem de meia idade, viúvo e assim como Miro, seus dois filhos mais velhos Fernando e Ricardo, também não se interessavam mais pela Fazenda Primavera desde que optaram por morar e estudar em São Paulo. Sua esperança era o filho temporão Marcelo, que nascera ali e estava agora com 10 anos. Contava também com Antonio, seu braço direito, moço honesto e trabalhador que há 6 anos era seu administrador. Chegara ali ainda menino

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    SEMPRE H UMA CHANCE

    LUCIMARA BREVE

    DITADO PELOS ESPRITOS HERMES E LCIUS

    Agradecimentos Ao nosso Mestre, irmo e amigo Jesus, que com seu exemplo de Amor maior ilumina a todos os que de boa vontade, se dispem a uma chance no caminho at o Pai. Aos amigos espirituais Hermes e Lucius, e tambm a muitos outros, que dedicaram pacientemente suas energias para a materializao desta obra. Ao Ncleo Assistencial Doce Lar da Criana, situado a Rua Marques de Abrantes, 60 - Belm - SP, pela doao da pintura medinica realizada em sesso pblica, a qual nos serviu de capa para esta obra. E ao irmo, amigo e companheiro, o qual nesta experincia tenho a oportunidade de receber como esposo e que sem o seu apoio, cumplicidade de sentimentos, pensamentos e f, no teria sido possvel a minha dedicao nesta pequena parte que me coube, para a realizao desta obra. Com muito amor e carinho a voc Rogrio, o meu muito obrigada!

    Lucimara Breve

    Prlogo Mal surgiam os primeiros raios de sol daquele novo dia e Antonio j se

    levantara para o trabalho e, naquele dia em especial, levantara-se ainda mais cedo do que era de seu costume, pois alm dos cuidados com a Fazenda Primavera, seu patro Sr. Antero o havia encarregado de supervisionar a colheita da Fazenda Vale Verde, que era de seu amigo e vizinho Sr. Valdomiro, ou como era conhecido na regio, Miro.

    Este adoecera j h algum tempo e por isso ausentava-se com freqncia deixando a fazenda sem ter algum capacitado para administr-la, com isto muitos de seus empregados abandonaram o servio partindo atrs de novas ofertas de empregos nas fazendas vizinhas, j que a procura por mo-de-obra aumentava muito na poca da colheita e com isto o salrio tambm. Porm esta atitude fez com que Miro tivesse sua colheita atrasada e como Paulo, seu filho de criao, tambm no se interessava pela fazenda, ele s pde contar com a solidariedade do amigo Sr. Antero.

    Sr. Antero era um homem de meia idade, vivo e assim como Miro, seus dois filhos mais velhos Fernando e Ricardo, tambm no se interessavam mais pela Fazenda Primavera desde que optaram por morar e estudar em So Paulo. Sua esperana era o filho temporo Marcelo, que nascera ali e estava agora com 10 anos.

    Contava tambm com Antonio, seu brao direito, moo honesto e trabalhador que h 6 anos era seu administrador. Chegara ali ainda menino

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    aos 13 anos, junto com o pai Sr. Juca, logo aps o falecimento de sua me. Menino estudioso, que gostava de acompanhar o pai no trabalho, isto fez com que aprendesse tudo sobre aquele lugar, e mesmo com a morte do pai quando tinha ainda 19 anos, no quis sair da fazenda. Rapaz pacato e caseiro, acostumado com a vida tranqila do lugar, aceitou logo a proposta feita por Sr. Antero para assumir o lugar do pai, ao invs de sair pelo mundo em busca de aventuras. Isto fez com que conquistasse ainda mais o apreo do patro, que desde ento o incentivava e apoiava nas ordens e na lida com os empregados. E hoje, aos 25 anos, Antonio era bem visto em toda a regio e j gozava de uma certa tranqilidade financeira. Assim, aps tomar as providncias necessrias na Fazenda Primavera, Antonio reuniu-se aos empregados que iriam com ele e partiram rumo Vale Verde para dar incio a mais um dia de trabalho. L chegando organizou e dividiu o servio que havia para ser feito, e passou a supervisionar os resultados do trabalho.

    Captulo 1

    Um ms se passara e Antonio todos os dias dividia seu tempo entre as

    duas fazendas. J estavam no final do trabalho daquele dia, quando ele resolveu permanecer na Vale Verde por mais algum tempo, j que ainda havia dois caminhes para serem carregados no galpo onde ficava depositada a colheita. Alm dele, mais quatro empregados da fazenda e dois ajudantes dos caminhes permaneceram para terminar o carregamento.

    Foi quando Antonio viu entrar no galpo uma bela jovem, de aproximadamente 15 anos, corpo bem feito, grandes olhos e longos cabelos cor de bano, a beleza da menina o deixou encantado. Ela aproximando-se de um dos empregados perguntou por seus pais, este respondeu apontando para os fundos do galpo onde um casal lacrava os caixotes para serem transportados.

    A menina tambm notou Antonio e percebeu que este no desviara seu olhar nem por um momento desde que ela entrara ali, porm sem lhe dirigir palavra alguma atravessou o galpo e foi at onde estavam seus pais.

    - Queria saber se ainda iro se demorar muito por aqui, pois j preparei o jantar e os esperava para que pudssemos jantar todos juntos.

    Nair ao responder, sorriu para a filha retribuindo o carinho que esta demonstrava com sua preocupao.

    - Ns no iremos nos demorar Joana, pode voltar para casa e nos esperar que logo estaremos l para o jantar.

    Joana dirigiu-se ento para a porta, porm no se conteve e antes de sair lanou um olhar na direo de Antonio. Quando seus olhos se encontraram, ambos sentiram-se corar e imediatamente desviaram seus olhares, ela apressou o passo desaparecendo em meio s rvores e ele, por sua vez, voltou sua ateno para o motorista que se despedia j com o caminho pronto para seguir viagem.

    Passaram-se alguns dias sem que eles se encontrassem novamente, mas Antonio no se esquecia daquela bela jovem, e foi com este pensamento que de repente teve sua ateno voltada para um dos empregados da Fazenda Vale Verde, que chegava a galope num animal procura de ajuda. Sr. Antonio, pelo amor de Deus nos acuda! O galpo est em chamas e

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    existem pessoas l dentro ainda! Antonio imediatamente tomou algumas providncias e correu para l. Justo neste dia deixara para ir at a Vale Verde somente depois do almoo, pois era dia de pagamento e achou melhor fazer isto tarde. Quando chegou ao galpo no havia muito para ser feito, o fogo j tomava conta de tudo e mesmo com os esforos dos empregados no conseguiram fazer com que este cedesse. Foi quando Antonio notou em meio a confuso, a menina aos prantos abraada a um rapaz que tambm chorava muito. Chamou um dos empregados e perguntou: - Quem so estes jovens? E por que choram deste modo? - A moa se chama Joana e o rapaz seu irmo Moacir, eles so filhos de Juvenal e Nair que, juntamente com o Biro, no conseguiram sair do galpo, estavam l nos fundos quando comeou o incndio. Imediatamente Antonio ordenou a algumas mulheres que estavam ali, para que os levassem at o casaro e que cuidassem deles por l, pois pareciam estar em estado de choque. Mal haviam retirado os dois de l, quando Antonio viu que Miro chegava em sua caminhonete, este tambm no se encontrava na fazenda pela manh, pois teve que retornar ao mdico por conta de sua presso alta e ficou desolado com o que viu. Antonio sabendo da gravidade do seu estado de sade, tratou de tir-lo de l o mais rpido possvel, antes que soubesse sobre o falecimento dos empregados no incndio. Porm durante o caminho at o casaro, Miro, que apesar da idade e dos problemas de sade, era um homem experiente e muito prtico, perguntou a Antonio: - E ento rapaz, quantos empregados estavam l dentro? Antonio no sabia como dizer, mas vendo o olhar firme que estava sobre ele no teve como fugir a resposta.

    - Trs. - E quem eram? Quais os nomes? - Juvenal, Nair e Biro, aquele rapaz que contratei h poucos dias para

    ajudar no carregamento. Miro ficou calado, olhos midos, pensamento distante, alisava seu longo

    bigode grisalho. O que faria agora? -pensava ele. Biro era moo ainda, mas no deixara famlia, com ele s havia um primo com quem viera de Minas Gerais procura de emprego. Juvenal e Nair porm deixavam trs filhos, o que seria deles agora?

    Chegando ao casaro, encontraram Joana e Moacir na sala onde Vilma tentava consol-los. Vilma era uma senhora de meia idade, sem famlia que h muitos anos trabalhava para Miro como cozinheira. Era tambm muito amiga da famlia de Joana e via na menina uma filha.

    Vendo-os chegar os jovens tentaram controlar o pranto diante do patro, e este mesmo abalado com o ocorrido foi direto ao assunto.

    - Lamento muito o que aconteceu com os pais de vocs, foi uma fatalidade! Sei que esto sofrendo muito e que sentem-se desamparados, porm quero que saibam que tomaremos todas as providncias necessrias e que todos os anos de trabalho de seus pais para mim sero reconhecidos e pagos. Enquanto isto vocs ficaro aqui em minha casa, at que tenham condies para resolverem o que querem fazer de suas vidas daqui para a

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    frente. Os dois concordaram e agradeceram ao patro pela ajuda. Miro, por sua

    vez, virou-se para Antonio, que fixava Joana com o olhar enternecido desde que entraram na sala, e pediu:

    - Por favor meu rapaz, mais uma vez preciso de sua ajuda. Gostaria que cuidasse dos preparativos do funeral, dou-lhe total liberdade de agir como achar melhor para que tudo seja resolvido o mais rpido possvel, pois no estou em condies de resolver nada.

    - Pode ficar tranqilo que eu cuidarei de tudo! -respondeu Antonio prontamente, pois agora alm de ajudar ao amigo do patro, Antonio queria e muito ajudar Joana.

    Cada lgrima que via em seus olhos, fazia com que sentisse um aperto em seu corao.

    No, ele no poderia deix-la sofrer ainda mais tendo que resolver sobre o enterro - pensava ele. Alm do que, tudo aquilo poderia ser demorado e com certeza ela no agentaria o sofrimento. Olhando-a com carinho, Antonio saiu da sala e deixou a fazenda decidido a voltar para casa somente aps ter resolvido tudo o que fosse necessrio para o funeral dos pais de Joana.

    Assim Antonio passou toda a noite atrs dos documentos e de tudo o que foi preciso para poder liberar os corpos para o velrio. Com isto, vencido pelo cansao, perdeu a hora acordando somente quando j entardecia no dia seguinte, e por mais que se apressasse, no conseguiu chegar a tempo para acompanhar o enterro.

    Por isso resolveu procurar por Vilma na cozinha do casaro logo que chegou Vale Verde, precisava ter notcias de Joana.

    - Vilma como est Joana? - perguntou ele assim que entrou. - A menina t triste que s. O sinh precisava v, pass a noite toda chorando, e no desgrud dos caixo nem pra com. Nem mesmo o irmo mais vio que cheg de So Paulo conseguiu faz ela sa de l. S agora que o enterro acab que ela comeu um bocadinho e consegui faz ela discans.

    Antonio no se perdoava aps ouvir aquilo. Joana ali sozinha, sofrendo e ele dormindo. bem verdade que tentou ficar acordado, nem para sua casa queria ir, mas o Sr. Antero quase que o obrigou ao descanso e o sono acabou por venc-lo. Por isso no viera consol-la naquele momento.

    - E os irmos de Joana como esto? - tornou ele assim que se acalmou, no queria que Vilma percebesse seu interesse por Joana.

    - Ah, to bem! Moacir j tava mei quando Maurcio cheg, e depois do enterro eles ficaram proseando um pouco e agora tamm to durmindo. Eles so mais forte, j so home feito. Maurcio j havia sado de casa h quatro anos para trabalhar em So Paulo e pensava poder levar Moacir para morar com ele, to logo a colheita daquele ano chegasse ao fim. Somente Joana ficaria com os pais, j que era ainda muito jovem e estes nunca a deixariam ir para a cidade grande sem eles.

    - Quantos anos eles tm? - perguntou Antonio um tanto cuidadoso. - Num sei direito no, s sei que os dois so mai de idade, agora a Joana

    eu sei que tem 15 anos, porque ela eu conheci bebezinho quando cheg aqui com a famia.

    A estas palavras Antonio pensou. Ele no se enganara, no dia em que a viu no galpo logo percebeu que ela era muito jovem. Ele no devia mais

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    pensar nela, afinal o que uma garota to nova poderia querer com um homem 10 anos mais velho do que ela. De repente, ele foi tirado de seus pensamentos por uma voz doce e suave que vinha atrs de si.

    - Nossa, voc nem veio se despedir dos meus pais? -falou Joana num fio de voz por causa das lgrimas.

    Antonio virou-se e seu corao disparou, um suor gelado percorreu-lhe todo o corpo quando a viu parada ali na porta, e suas palavras tinham um tom doloroso.

    - No Joana, no isto! - respondeu ele rapidamente querendo explicar o que havia acontecido. - que passei a noite toda cuidando dos preparativos do enterro, e s quando o carro trouxe os corpos para c foi que eu pude ir para casa. Assim que cheguei fui avisar o Sr. Antero que tudo estava resolvido, e este me obrigou a descansar quando me viu chegando j com o sol alto, deu-me at o resto da semana de folga, s que a o sono me venceu e quando acordei j era tarde, no consegui chegar aqui a tempo de acompanhar o enterro.

    Joana sentiu que o moo era sincero e percebeu que no fazia sentido cobrar-lhe ainda mais de sua ateno.

    - Desculpe-me, voc j fez tanto por ns e eu estou aqui exigindo ainda mais sem ao menos lhe agradecer. Muito obrigada por tudo o que fez, bem que meus pais o admiravam, diziam que voc alm de trabalhador e honesto tinha um bom corao.

    Com estas palavras o corao de Antonio alegrou-se. Joana havia compreendido os motivos que o impediram de estar presente para o enterro de seus pais e ficou feliz por saber que os mesmos o apreciavam. Vilma interrompendo a conversa mandou Joana voltar para o quarto, pois precisava descansar. Ela porm respondeu: - No se preocupe Vilma, estou bem, j descansei um pouco e agora estou com fome. - T bem, ento v coloc a mesa proc e o sinh Antonio jant. - No se preocupe comigo, no quero dar trabalho -disse ele meio sem jeito. - Que isso sinh Antonio, aposto que nem deve de te se alimentado direito. - Bem isto verdade, desde o almoo de ontem que eu no fao uma boa refeio. - Ento sente a com a menina que eu v servi uma boa janta procis. - Vilma onde esto o Sr. Miro e meus irmos? - quis saber Joana. - O sinh Miro foi pra casa do fio em So Paulo logo depois do enterro, mand avis que sbado t di vorta. E seus irmos to discansando. Vilma serviu o jantar e Antonio, apesar da alegria que sentia por estar ali ao lado de Joana, achou melhor no falar muito, afinal o ambiente ainda era de muita tristeza e ela estava muito abatida com tudo que acontecera. Logo aps o jantar, Antonio despediu-se pedindo a Vilma que o chamasse caso precisassem de alguma coisa. Joana acompanhou-o at a porta e ao se despedir estendeu-lhe a mo macia e suave que trazia entrelaada uma a outra dizendo com um leve sorriso: - Boa-noite e mais uma vez muito obrigada pelo que fez por ns! - No h de qu, e pode contar com minha ajuda sempre que precisar de alguma coisa - respondeu ele segurando a mo de Joana.

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    Quando saiu de l Antonio estava radiante e nada mais lhe importava, nem mesmo a diferena de idade entre eles. Estava decidido - pensava ele. - A partir daquele momento tudo faria para que Joana fosse sua, no deixaria que nada viesse a interferir na sua dedicao para conquistar aquele anjo que lhe acendera o corao chamado Joana.

    Captulo 2

    Na manh seguinte Antonio no sabia o que fazer, Sr. Antero havia lhe

    dado folga, porm ele no era homem de ficar toa. Resolveu ento ir at a Fazenda Vale Verde, sabia que Miro no estava e que no iria se incomodar se ele fosse at l, para ajudar a arrumar a baguna que o incndio havia deixado.

    Quando chegou, encontrou alguns empregados no local vasculhando o que havia sobrado do galpo. Ao v-lo, logo se alegraram, pois no sabiam ao certo o que deviam fazer, Antonio ento comeou a dar as ordens e logo todos j estavam trabalhando. Ele nem percebeu o passar das horas e quando terminaram a limpeza j estava anoitecendo, mesmo assim, sentiu vontade de ver Joana, porm estava sujo e cansado, achou melhor ir para casa e deixar a visita para o dia seguinte.

    Porm, o que Antonio no sabia ao sair da fazenda, que Joana passara a tarde toda ali, bem pertinho dele vendo-o trabalhar. Esta resolveu ir at o local do acidente de seus pais, mas quando chegou ao galpo viu Antonio e os outros fazendo a limpeza, achou melhor ento sentar-se ali em meio as rvores do jardim e de l ficou observando e pensando no quanto era diferente aquele rapaz. Bonito, educado, gentil, e que todos admiravam, por um instante ela se viu enamorada por ele, e s com este pensamento sentiu-se corar. - Imagine! - disse ela a si mesma. - Se um rapaz cc 1 tantas qualidades iria se interessar logo por mim, uma pirralha como diz Moacir, que mal acabei de completar 15 anos. Antonio por certo procura por uma moa mais velha e at mesmo com alguma posse, j que estimado por todos na regio, com certeza muitos fazendeiros o aceitariam como genro com muito gosto. Com isto Joana sentiu-se muito s e desamparada, Antonio era mesmo um excelente rapaz e alm disto algo nele havia feito seu corao bater mais forte, porm ela foi obrigada a deixar seus pensamentos quando percebeu que os rapazes j saam do galpo, assim ela tambm resolveu ir embora, afinal no seria prudente que a vissem ali. No dia seguinte, Antonio apesar de acordado, decidiu ficar um pouco mais na cama, afinal ainda era muito cedo para uma visita. Aproveitou para fazer seus planos de futuro com Joana, pois acreditava que ela corresponderia ao seu amor e s este pensamento j o fazia sorrir, estava confiante de que a conquistaria. Mas ele sabia que deveria ser cuidadoso, afinal ela era apenas uma menina e estava muito sensivel e, apesar de estar apaixonado, no queria que ela se apegasse a ele s por carncia, muito menos que visse nele um pai ou irmo mais velho. Queria sim que todo o seu sentimento fosse correspondido em tamanho e intensidade. E assim ficou ainda algum tempo at que saiu para v-la. Chegando Vale Verde, encontrou Moacir e Maurcio na varanda do casaro, e achou melhor cumpriment-los. - Bom-dia! - Bom-dia! - responderam os dois ainda abatidos.

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    - Acho que voc no conhece meu irmo Maurcio? - disse Moacir virando-se para Antonio. - Conheo sim, s que faz alguns anos que no o vejo. Antonio conhecia Maurcio do tempo em que este ainda morava ali na fazenda e fazia as compras na vila, quase sempre encontrava-o na mercearia ou nos bares da regio. - Como vai Antonio? - tornou Maurcio. - Quero lhe agradecer por tudo o que fez pelos meus pais, Moacir me contou que foi voc quem providenciou tudo. - Ora, no tem de qu! Eu s fiz o que Miro teria feito se estivesse bem, j que foi ele quem pediu para que fosse feito o melhor, pois tinha muito carinho por seus pais. - , eu sei disto, desde que chegamos aqui ele sempre tem sido um bom patro e j agradeci a ele tambm. - E agora, j sabem o que vo fazer daqui para frente? - perguntou Antonio, um pouco preocupado, pensando na hiptese de Joana ir embora com os irmos. - E, eu e Moacir j conversamos sobre isto, e decidimos manter o que j estava combinado de ele ir para So Paulo comigo. Mas primeiro tenho que esperar pela volta de Miro amanh, pois queremos resolver com ele sobre o que fazer com Joana.

    - Como assim? - perguntou Antonio com o corao aos pulos. - Sabe como , Joana ainda muito nova e eu no tenho tempo nem

    dinheiro para cuidar dela l em So Paulo. Estou bem no meu emprego e j consegui uma vaga para o Moacir na fbrica, porm tudo o que ganho estou guardando para construir algo para ns, para depois poder lev-la para morar comigo. Hoje moro numa penso para rapazes, no tenho como cuidar dela agora.

    Antonio quase no conseguiu disfarar a alegria que sentiu ao ouvir estas palavras, foi quando Maurcio continuou:

    -Voc acredita que Miro concordaria em deix-la morando e trabalhando aqui na casa com Vilma, at que eu tenha condies para vir busc-la?

    - Penso que sim - respondeu Antonio mais aliviado. -Ele tem muito carinho por ela e se voc explicar a sua situao, com certeza ele entender. Mas ele disse que vai pagar pelos anos de trabalho de seus pais aqui na fazenda, e quem sabe talvez at uma indenizao pelo acidente.

    - Mesmo assim! - respondeu Maurcio com tristeza. -Com este dinheiro poderamos at comprar um terreno para construir nossa casa, porm logo ele acabaria. E ainda teramos o problema maior, que o de deix-la sozinha o dia todo e s vezes durante a noite tambm, j que costumo fazer horas extras ou s vezes sair e ir at algum bar para me distrair e relaxar um pouco.

    - Realmente no seria prudente deixar uma moa to nova sozinha durante tanto tempo, ainda mais num lugar estranho.

    - Foi o que pensamos, por isso resolvemos conversar com Miro. Pois se ela puder ficar aqui com Vilma, ns ficaremos muito mais tranqilos para podermos trabalhar.

    Neste instante, Joana apareceu na varanda e depois de cumprimentar Antonio com um lindo sorriso, quis saber sobre o que falavam. Foi Moacir quem respondeu a pergunta da irm, contando-lhe tudo o que haviam acabado de conversar com Antonio.

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    Ao final, Joana estava enfurecida. Como podiam estar ali resolvendo sobre sua vida sem ao menos consult-la!

    - O qu? - disse ela deixando extravasar toda a sua indignao. - Ento eu nem ao menos fui consultada sobre o que desejo fazer de minha vida, e vocs j decidiram tudo? Quem disse que eu quero ficar aqui na fazenda? Como sabem se eu tambm no quero ir para So Paulo?

    Ao ouvir estas palavras Antonio baixou a cabea e, naquele instante, todos os seus sonhos se transformaram num grande pesadelo.

    Maurcio ento, mediante as colocaes da irm tomou a palavra: - Em primeiro lugar quero deixar uma coisa bem clara, ninguem aqui

    decidiu coisa alguma sobre a sua vida sem consult-la, eu e Moacir s vamos fazer o que j havamos combinado h muito tempo. A nica coisa que mudou que antes voc iria ficar aqui com o papai e mame, e agora vai ficar com a Vilma, isto , se Miro concordar.

    E vendo as lgrimas nos olhos da irm, Maurcio continuou: - Vamos Joana, pare de agir como uma garota mimada! Sabemos muito

    bem que seu sonho de ir morar em So Paulo, poder estudar e se formar para ter uma vida diferente da que vem levando aqui, porm hoje no temos condies de fazer isto.

    - Mas Miro disse que vai pagar pelos anos de trabalho de nossos pais! - disse Joana j aos prantos.

    - Mesmo assim, voc no conhece aquele lugar. No sabe como as coisas so difceis por l e eu no posso desperdiar este dinheiro alugando uma casa e contratando algum para cuidar de voc.

    - No preciso que ningum cuide de mim, j sou bem grandinha para isto! - J que assim, ento por que no vai sozinha? Todos olharam admirados para Maurcio e ele com voz firme continuou:

    - Eu sei que no posso cuidar de voc como precisa, por isso no vou fazer a loucura de tir-la daqui. Mas se voc quiser fazer isto por conta prpria, no se preocupe, eu no vou impedi-la como fazia papai, que impunha a sua vontade e nos obrigava a obedec-lo, porm no conte com minha ajuda.

    Antonio estava atnito com as palavras de Maurcio. Como podia ele dizer aquelas coisas para Joana? Como podia deix-la ir embora sozinha?

    Joana por sua vez calou-se mediante ao que ouviu, sabia que o irmo estava certo e que nada do que dissera era mentira. Ela sabia que ele sempre fora muito sincero e prtico, e que jamais se meteria na vida de ningum, mesmo pensando de modo diferente de algum, ele nunca se opunha deciso que a pessoa tomasse. Sempre dizia que agia com as pessoas como queria que elas agissem com ele, que respeitassem suas decises, e que este fora o motivo pelo qual Maurcio havia deixado a fazenda j havia alguns anos, pois ele no admitia que o pai mandasse em sua vida e que lhe dissesse o que fazer.

    Maurcio ficou em silncio por alguns minutos depois concluiu: - Voc me conhece muito bem e sabe que acredito que todos devam ir

    atrs de seus sonhos, porm para realizarmos nossos sonhos no podemos exigir que os outros faam parte deles ou que colaborem para que eles aconteam. Todos podem ajudar, mas s se quiserem e se sentirem que tm condies para isto, e infelizmente hoje eu sei, que no tenho como ajud-la a realizar seu sonho.

    Todos continuaram calados pensando nas ltimas palavras de Maurcio,

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    que por sua vez, saiu da varanda e foi caminhar em meio ao jardim. Moacir tambm no demorou muito a sair, sabia que a irm precisava pensar em tudo o que acabara de ouvir.

    Antonio ficou ali sem saber como agir, j que Joana parecia nem notar sua presena, por isso resolveu deix-la, mas quando levantou-se do degrau em que estava sentado, sentiu que ela o segurava pelo brao.

    - No v, no gosto de ficar sozinha e preciso conversar com algum. - No sei se devo ficar - disse Antonio amargurado. -Talvez eu atrapalhe

    na sua deciso e no gostaria de fazer isto. - Do que voc est falando? Eu s quero conversar um pouco com voc, e isto com certeza no ir atrapalhar em minha deciso.

    Antonio calou-se e se deixou sentar novamente no degrau, sentia-se muito triste por saber que Joana desejava ir embora da fazenda. Isto ele no havia imaginado ter que fazer por ela, queria conquist-la e realizaria tudo o que pedisse, porm nunca pensou em sair daquele lugar, muito menos ir para So Paulo, um lugar que sobre ele no exercia nenhuma atrao.

    Mas vendo-a ali to perto, ele sentiu que no poderia desistir de seus sonhos sem ao menos tentar realiz-los, por isso deixou de lado os seus medos e decidiu contar-lhe o que se passava em seu corao.

    - Sabe Joana, hoje quando vim at aqui para v-la eu trazia o corao e a cabea cheios de sonhos, e presenciando tudo o que se passou aqui pensei que talvez no fosse o momento de falar sobre o assunto, mas no posso deix-la partir sem que saiba o que me vai na alma.

    Joana olhava-o sem entender o que se passava, at que Antonio pegou sua mo delicadamente e continuou:

    - Desde o dia em que a vi entrar no galpo, voc no me sai do pensamento. Eu estava decidido a esperar mais algum tempo para confessar-lhe o meu amor, pois sei que est passando por um momento difcil com a morte de seus pais, mas agora acho que ser bom resolvermos de uma vez este assunto, pois como voc vai decidir se fica ou no aqui na fazenda, quem sabe tambm resolve se fica ou no comigo?

    Estas palavras fizeram Joana corar enquanto pensava. Seria possvel o que estava acontecendo? Antonio estava se declarando e dizia querer que ela ficasse com ele. Seu corao batia to forte que seu peito chegava a doer, e neste instante todas as suas dvidas desapareceram, at parecia que o nico sonho que ela sempre tivera fora o de encontrar Antonio, apaixonarem-se e viverem felizes para sempre. Tudo mais perdera o sentido, deixara de existir, ou melhor, parecia nunca ter existido.

    Antonio olhava-a aguardando uma nica palavra como resposta, esta porm ficou no esquecimento, quando Joana entrelaando os braos em torno de seu pescoo, encostou sutilmente seus lbios nos dele beijando-o, deixando assim que ele a tomasse nos braos para um forte e quente abrao, fazendo com que ambos sentissem a fora do verdadeiro sim.

    Ao voltar para casa naquela noite, Antonio no cabia em si de alegria, pois Joana no s correspondera ao seu amor, como tambm no quisera mais falar sobre a idia de ir embora para So Paulo. Disse que um novo sonho comeava em sua vida e era somente nele que ela iria pensar a partir de agora.

    Ficou decidido que ela mesma pediria a Miro para ficar ali na fazenda trabalhando na casa com Vilma e que continuaria seus estudos na vila. Quanto

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    ao namoro, eles no contariam nada a ningum por enquanto, para evitar comentrios maldosos por causa do recente falecimento de seus pais.

    Assim, na manh seguinte bem cedo, quando Miro chegou fazenda j encontrou os trs reunidos sua espera.

    - Bom-dia, Sr. Miro! Ser que podemos conversar com o senhor? - disse Maurcio assim que este entrou na sala.

    - Claro, vamos nos sentar. Agora se o assunto for sobre o pagamento dos anos de trabalho de seus pais, no se preocupem, j fiz as contas e trouxe o dinheiro comigo para fazer o acerto.

    - No, Sr. Miro, no este o assunto, mesmo porque isto no est nos preocupando, sabemos que o senhor um homem honesto e que cumpre com sua palavra. O assunto que nos fez esperar pela sua volta outro, muito mais importante para ns.

    - Pois ento diga! Do qu se trata? Foi ento que Joana tomou a palavra, ela havia passado quase toda a

    noite pensando no que iria dizer aos irmos para justificar sua mudana de opinio, sem ter que falar sobre seu namoro com Antonio.

    - Eu e meus irmos queremos pedir a sua permisso, para que eu possa continuar aqui na fazenda. Eu poderia ajudar Vilma com os afazeres da casa e continuar meus estudos na vila como fazia at agora, e assim que Maurcio e Moacir tiverem condies viro me buscar para ficar com eles.

    Ambos ficaram surpresos com as palavras da irm. O que poderia ter acontecido para que ela se mostrasse to compreensiva com o assunto? Porm permaneceram calados para no provocarem uma nova discusso, mesmo porque, tudo o que Joana dissera era exatamente o que pensavam.

    - Tudo bem, ela pode ficar aqui - respondeu Miro. -Porm no sei por quanto tempo, pois como sabem, acabo de chegar de So Paulo e l resolvi colocar a Fazenda Vale Verde venda.

    Miro notando o olhar de surpresa de todos, continuou: - Eu no tenho mais sade para cuidar de tudo isto aqui. Paulo est

    formado, doutor e no se interessa por este lugar, e este acidente com os pais de vocs foi para mim a gota dgua. Vou vender a fazenda e viver o resto de meus dias sem ter com o que me preocupar, pois com o dinheiro que conseguir aqui e mais o aluguel das casas que possuo na vila, terei o suficiente para terminar meus dias com tranqilidade. S espero que antes disto vocs j tenham condies de vir busc-la.

    Terminada a conversa os trs saram deixando Miro ali na sala, onde permaneceu por mais algum tempo pensando em suas prprias palavras. Mesmo para ele era difcil acreditar que tivesse tomado tal deciso, j que amava demais aquela fazenda e considerava o lugar como sendo o paraso. Foi ali onde nasceu e viveu toda a sua vida ao lado do av paterno, a quem muito amava e de quem herdara a fazenda.

    Muitos at comentavam que ele nunca se casara porque amava mais a fazenda do que as mulheres com quem se relacionava, claro que nisto havia uma certa maldade das pessoas, j que todos da regio sabiam sobre a histria de que, na sua juventude, Miro havia sido noivo de uma moa chamada Olga, e j estavam com o casamento marcado quando esta veio a falecer de tuberculose. Desde ento ele nunca tivera um romance mais srio, que o levasse para o altar.

    Foi por este motivo tambm que adotou Paulo, filho de uma moa solteira

  • 11

    e sem famlia que trabalhava na fazenda, esta faleceu logo aps dar luz ao garoto. Miro, j com 40 anos e acostumado vida de solteiro, no tinha mais a inteno de se casar, ento resolveu ficar com o menino e assim ter algum para deixar como herdeiro.

    Maurcio e Moacir partiriam para So Paulo no comeo da tarde, mas no sem antes interrogarem Joana sobre a repentina mudana de comportamento que tivera sobre o fato de ter que permanecer na fazenda. Por isso aproveitaram o almoo para conversarem com a irm.

    - No h nada de estranho - disse ela com naturalidade. - S estive pensando sobre tudo o que Maurcio disse e percebi que ele

    tem razo. Estava agindo como uma garota mimada, pois sei que faro tudo o que puderem para virem me buscar o mais rpido possvel. E por certo eu tambm poderei ajudar, guardando o dinheiro que receber pelo meu trabalho aqui na casa.

    Assim, satisfeitos com a resposta e felizes por Joana ter compreendido a situao, os dois partiram levando na bagagem a esperana de muito em breve poderem voltar para busc-la.

    J anoitecia quando Antonio foi Vale Verde para ver Joana. Entrou pelos fundos e foi para a cozinha, sabia que ela deveria estar com Vilma preparando o jantar. Vendo-o, Joana fez-lhe um sinal para que sasse, pois Vilma estava de costas e no o vira chegar, Antonio ento voltou sobre os mesmos passos e esperou por ela no pomar.

    - Que bom que tenha entendido meu sinal. Precisava conversar com voc a ss.

    Antonio, aps um leve beijo, aguardava ansioso pelas notcias. Joana ento contou-lhe tudo o que haviam conversado com Miro, e deixou bem claro ao finalizar:

    - Sabemos que a qualquer momento Miro poder vender a fazenda, e sendo assim, pode ser que muito em breve no possamos mais estar juntos!

    Ele no teria chance de ser feliz - pensou Antonio. -Pois s algumas horas haviam se passado desde que comeara o seu sonho de amor com Joana e mais uma vez surgia a possibilidade de v-la partir. Porm, depois de alguns minutos, Antonio tomou coragem e disse:

    - No, isto no vai acontecer! Vamos esperar mais algum tempo e caso a fazenda seja vendida logo, falaremos com seus irmos e nos casaremos, isto , se voc quiser. Joana assustou-se com as palavras de Antonio, estava apaixonada por ele e muito feliz por ter ficado ali para poder desfrutar daquele sentimento, o qual sabia ser correspondido, mas um casamento assim to rpido? Ela era muito nova ainda para tomar uma deciso destas. De repente lembrou-se do seu desejo de ter uma vida diferente daquela que levava ali na fazenda, pensou na oportunidade que nunca mais teria se viesse a se casar, pois sabia que Antonio no era homem que trocasse o certo pelo duvidoso, ele no deixaria um bom emprego como o que tinha para tentar a sorte num lugar estranho. Mas s a idia de deix-lo fez com que ela sentisse um forte tremor, seu corao estava to oprimido que teve uma leve vertigem. Ento abraou Antonio e mesmo sem saber ao certo o porqu, respondeu: - Est bem, caso-me com voc se a fazenda for vendida! Antonio abraou-a com paixo, estava feliz com a resposta de Joana, porm, sabia que ela acabava de abrir mo de parte de seus sonhos e

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    juventude, se este casamento viesse a acontecer em breve. Agora sentia-se ainda mais responsvel em faz-la feliz, mas algo dentro dele lhe dizia que conseguiria isto. J era bem tarde quando Antonio voltou para sua casa, pois Joana lhe pediu para que jantasse com ela. Com isto Miro vendo-o ali na fazenda chamou-o para conversar e as horas foram passando sem que ele percebesse, mas valera a pena, seu corao agora parecia estar mais calmo j que tudo ficara acertado entre ele e Joana.

    Captulo 3

    Trs meses se passaram e eles continuavam o namoro, agora porm, Miro j estava a par do compromisso e ficara feliz por saber que Joana estava em boas mos. Pois apesar do fato ocorrido com seus pais ter sido um acidente, Miro sentia-se responsvel pela menina, e como seus irmos estavam bem em So Paulo, faltava somente encaminh-la e isto parecia que j havia acontecido.

    Foi assim que num domingo tarde, Sr. Antero mandou chamar Antonio, este achou muito estranho, pois dificilmente era procurado pelo patro nos dias de folga, por isso mesmo tratou de atender prontamente ao chamado. Sr. Antero tambm sabia do compromisso entre os dois e achou melhor contar logo a Antonio o que ficara sabendo.

    -Boa-tarde, Sr. Antero. Mandou me chamar? - disse Antonio com leve toque de preocupao na voz.

    - Mandei sim - respondeu Sr. Antero. - Mas sente-se, precisamos conversar.

    Antonio estava que era s curiosidade, porm sentou-se e aguardou que o patro desse incio conversa.

    - Pedi que viesse aqui porque acabei de chegar da vila e passei na Vale Verde para ver meu amigo Miro, que nestes ltimos dias no andou passando muito bem. E tive uma surpresa quando l cheguei, encontrei o Coronel Bianor de visita pela fazenda, e pelo que pude apurar da conversa entre eles parece que o Coronel est com a fazenda praticamente comprada.

    Sobre Antonio parecia ter-se formado uma nuvem escura. Justo aquele sujeito comprando a fazenda de Miro, ele no poderia ter recebido notcia pior. De repente lembrou-se que Joana estava l na fazenda e, de sobressalto, levantou-se, Sr. Antero que parecia ler seus pensamentos foi logo tranqilizando-o:

    - Fique calmo, Joana est aqui em casa, trouxe-a comigo, pois quando vi o Coronel na fazenda, logo imaginei que voc no gostaria que ele visse Joana. No se preocupe, ela estava no lago e fui eu quem a mandou chamar para que viesse at em casa comigo, ele no conheceu sua namorada.

    Antonio sentou-se e num suspiro aliviado disse: - Muito obrigado pelo que fez, Sr. Antero, realmente no gostaria que ele

    colocasse seus olhos sobre Joana. - Sei muito bem sobre o que voc est falando e foi por isso que lhe

    chamei com tanta urgncia. Pois o Coronel comprando a Vale Verde, se voc realmente quiser deixar Joana longe dele ter que resolver logo o que vai fazer, pois penso que voc no ter muito tempo para isto.

    - O senhor est com a razo, tenho que resolver isto o mais rpido

  • 13

    possvel, porm no vejo como afastar Joana da fazenda antes de nos casarmos e se o Coronel for comprar a fazenda, com certeza ir muitas outras vezes at l para conversar com Miro.

    - Deixe isto por minha conta. Vou conversar com Miro e pedir que me empreste a menina por algum tempo a pretexto de ajudar a cuidar de Marcelo que no est muito bem com esta gripe forte que o derrubou, e logo depois ficaremos com ela aqui para que possam juntos tratar dos preparativos do casamento, afinal teremos muito a fazer e precisaremos que ela decida como vai querer que tudo seja feito. E comearemos pela casa nova, fao questo, ser meu presente, afinal logo a famlia aumentar e com certeza isto far com que ela fique ainda mais feliz, pois toda noiva quer ter uma bela casa e enfeit-la.

    Antonio estava sem palavras, sabia do apreo que Sr. Antero tinha por ele, mas da a fazer uma casa nova e maior para ele ali na fazenda ia uma longa distncia.

    Vendo-o calado, Sr. Antero tornou: - Ento o que me diz? Aceita meu presente ou j tinha outros planos para

    o futuro? - No, Sr. Antero, no tinha nada em mente alm de casar-me com

    Joana e continuar meu trabalho aqui na fazenda. Agora quanto ao seu presente no sei se devo aceitar. - Como no? Acha que deixaria Joana morar naquela casa velha em que voc mora? Sei que voc cuida bem da casa, mas muito antiga e pequena demais para um jovem casal, com certeza logo faltar espao para os pirralhos que viro.

    Antonio percebeu que no adiantaria tentar recusar a oferta e agradeceu ao patro com o corao repleto de gratido por tudo o que este vinha fazendo por ele desde que seu pai falecera. Ficou combinado que Antonio conversaria com Joana enquanto Sr. Antero iria at a fazenda Vale Verde pedir a Miro para deix-la ficar por uns tempos em sua casa, e assim j traria alguns de seus pertences.

    Assim que Sr. Antero saiu, Antonio procurou por Joana que passeava com Marcelo no jardim. Vendo-o, levou o menino para dentro, onde deveria tomar seu lanche e descansar, pois de fato a gripe o havia deixado muito abatido. No demorou muito para que ela voltasse e, notando uma certa contrariedade no rosto de Antonio, quis logo saber o motivo.

    - E ento o que est acontecendo? - Nada de grave, s precisamos conversar sobre ns dois e resolvermos o

    que vamos fazer daqui para frente. - Do que voc est falando? - Sr. Antero chamou-me logo que vocs chegaram para me contar que a

    Fazenda Vale Verde est praticamente vendida. Joana baixou o olhar. Ento aqueles homens que vira chegando com Miro

    eram os compradores da fazenda. - Mas no se preocupe! - continuou ele dizendo. - J conversei com Sr.

    Antero e agora s depende da sua resposta para podermos comear os preparativos para nosso casamento.

    - Como assim? Antonio ento contou-lhe o que havia conversado com o patro. Esta,

    porm, no entendendo o motivo de tanta pressa disse:

  • 14

    - Sabe Antonio, durante estes meses eu estive pensando sobre o assunto e acho que no precisamos nos apressar, pois mesmo que a fazenda seja vendida, ainda existe a possibilidade de eu poder continuar a trabalhar para o novo proprietrio. Miro com certeza dar boas referncias a meu respeito e pelo menos por mais algum tempo terei meu emprego garantido, afinal o novo proprietrio precisar de alguns dias para se mudar e poder contratar outras empregadas, caso no goste de meu servio. Voc no concorda comigo? Antonio percebendo a resistncia de Joana no viu outra forma de convenc-la sem que tivesse que contar o verdadeiro motivo de sua pressa. - Sabe o que , Joana - comeou ele um tanto contrariado. - E que provavelmente o comprador da fazenda ser o Coronel Bianor, e eu no gostaria que voc estivesse por l se isto realmente vier a acontecer. - E eu posso saber por que este tal Coronel Bianor to perigoso? - brincou ela sem saber dos sentimentos que borbulhavam no peito de Antonio. - No brinque com o que voc no conhece - falou ele irritado. Joana sabia que Antonio estava escondendo algo dela e parecia no querer falar sobre o assunto, mas ela estava decidida a saber de tudo, j que disso dependia sua deciso de se casar ou no com ele. - Pois bem, ento me diga o motivo de tanta pressa? Do que que voc tem medo? - Est bem, ento voc quer saber meus motivos? -disse ele sem medir as palavras. - No quero voc perto deste homem, se que se pode dizer que ele o seja, porque ele no presta, no respeita mulher alguma que passe na frente de seus olhos. E porque eu nunca fiquei sabendo que ele fizesse algo de bom, sempre que escuto seu nome porque alguma coisa ruim aconteceu, parece que por onde passa s deixa desordem, s sabe criar confuso. Joana percebeu que Antonio estava alterado, porm deixou que continuasse. - Para mim ele nunca fez nada, pelo contrrio toda vez que o encontro na vila, vem me fazer propostas de emprego, quer que eu v trabalhar para ele de qualquer maneira, mas pelas histrias que j ouvi a seu respeito, posso te garantir Joana que se depender de mim nunca ficarei no mesmo pedao de cho onde ele estiver. - Est bem! - tornou ela. - Acalme-se nunca o vi assim to nervoso. E realmente era a primeira vez que Joana via Antonio daquele jeito, a respirao ficara difcil, o rosto corado e as feies um pouco contorcidas, suas mos suavam. O que Joana no sabia porm que isto sempre acontecia com Antonio quando o assunto era o Coronel Bianor. Ficaram algum tempo em silncio e Antonio conseguiu acalmar-se, Joana por sua vez pensava no que deveria fazer. A idia de ir para So Paulo morar com os irmos estava esquecida, nestes meses de namoro com Antonio viu seu amor por ele crescer de tal maneira que no conseguiria ficar longe dele. Porm um casamento assim to depressa ainda a deixava assustada, sabia das responsabilidades que teria que assumir se aceitasse o pedido de casamento, entendia que estaria abrindo mo de sua juventude e de muitos de seus sonhos. Olhando para Antonio ao seu lado de cabea baixa, pensou: - Por que justo este infeliz veio comprar a fazenda? S para tirar-lhes a paz. Tudo estava indo to bem entre eles. Por um momento chegou a sentir raiva desse tal Coronel Bianor, mesmo sem conhec-lo. Isto fez com que tivesse um forte arrepio. Realmente ele no devia ser boa coisa, pois s de

  • 15

    pensar nele ela j havia se sentido mal. Talvez Antonio estivesse certo, seria melhor que ela nem o conhecesse. Vendo Antonio se levantar, segurou-o pelo brao e perguntou: - E ento, est mais calmo? Sente-se melhor? - Sim, est tudo bem. E voc j resolveu o que fazer de nossas vidas? - falou ele com tom de melancolia na voz. - Penso que sim, porm quero que prometa que vai me ajudar ainda mais, pois no me sinto preparada para tal atitude. Estas palavras caram em Antonio como um balde de gelo. O que Joana teria decidido? Com o olhar de menina que era, Joana prosseguiu: - Preciso que me ajude e que tenha pacincia comigo, pois penso que no saberei me comportar como a Sra. Joana de Campos, esposa do Sr. Antonio de Campos. Com estas palavras Antonio deixou que as lgrimas viessem. Ela havia conseguido deix-lo to inseguro, que sua resposta realmente o surpreendera. Abraou-a com fora, tendo desta vez a certeza de que no correria mais o risco de perd-la. Os trs meses que antecederam ao casamento, passaram-se to depressa que Joana nem teve tempo de questionar sua deciso. Morando na casa do Sr .Antero, dividia seu tempo com os servios domsticos e a fiscalizao da construo da casa que este lhes dera de presente. Tudo estava sendo feito a seu gosto, esta fora a ordem do patro aos empregados da obra, tudo o que ela quisesse deveria ser feito. Isto s veio confirmar seus pensamentos em relao a esta unio com Antonio, alm do amor que sentiam um pelo outro, sabia que este poderia lhe dar uma vida tranqila, uma casa em ordem, bem mobiliada e quem sabe em breve filhos. Mais uma vez teve certeza de ter feito a escolha certa em aceitar trocar seu sonho de cidade grande pelo sonho de um amor feliz. No dia do casamento a alegria reinava naquela fazenda. Todos os empregados estavam reunidos para a cerimnia, o churrasco sendo preparado, a casa pronta e arrumada com todos os desejos de Joana atendidos e, claro, seu vestido de noiva, lindo como o traje de uma rainha, presente que Miro fizera questo de dar a ela. Antonio na realidade s precisou dispor do dinheiro para a moblia da casa, pois Maurcio e Moacir tambm quiseram colaborar pagando a festa, j que o dinheiro que haviam recebido de Miro pelos anos de trabalho de seus pais estava sendo guardado para quando viessem buscar a irm, e como isto no seria mais preciso, resolveram us-lo para sua festa de casamento. Tudo correu conforme os planos dos noivos, e ao entardecer despediram-se de todos partindo para a viagem de lua-de-mel pelo litoral de So Paulo. Joana ao atravessar a cidade pensava feliz, estava casada com o homem a quem amava e junto dele passava agora pela cidade onde um dia quisera morar, hoje porm contentava-se s em conhec-la. Como para todos, os anos para eles tambm pareceram voar e, de repente, Joana j trazia nos braos seu primeiro filho, Daniel, acabavam de completar um ano de casados e receberam de presente um lindo menino. A vida porm reservava-lhes muitas outras surpresas, um ano depois nascia Srgio, quando este completara 2 anos chegou Pedro e aps um ano e meio foi a vez de Renato.

  • 16

    E, Sr. Antero estava certo quando ofereceu uma casa maior para os noivos, pena ele ter falecido pouco depois do nascimento de Renato. Antonio ficou arrasado, sentia-se como se mais uma vez ficasse rfo, pois o carinho que tinha pelo patro sem dvida podia ser comparado ao que sentia pelo pai, a quem muito amava. E sabia que este sentimento era recproco, pois alm de tudo o que fizera por ele nestes anos todos em que trabalhava ali, via sua alegria quando este brincava com as crianas, as quais ele mesmo ensinava a cham-lo de vov.

    Com a morte do Sr. Antero, outro fato entristeceu por demais Antonio, que sem o pai, os irmos decidiram que Marcelo deveria deixar a fazenda para morar e estudar em So Paulo, pois ainda era muito jovem para ficar ali sozinho, j que completara 16 anos h poucos meses. Marcelo no teve como desobedecer aos irmos mais velhos do que ele, porm conseguiu que prometessem deixar Antonio responsvel pelo lugar at que ele mesmo tivesse condies de voltar e cuidar da fazenda.

    Trs anos depois Moacir tambm veio a falecer num acidente na fbrica em que trabalhava com o irmo j h alguns anos. Com isto Maurcio recebeu uma indenizao pelo acidente e com o dinheiro conseguiu terminar sua casa para casar-se com Ana, uma professora de famlia simples, mas que possua uma ampla viso das coisas e da vida.

    Este casamento deixou Joana muito contente, pois estava preocupada com o irmo que j comeava a passar da idade de se casar para a poca. Foi por isso que o apoiou totalmente, quando este veio perguntar-lhe se poderia usar o dinheiro da indenizao para benefcio prprio e trouxe Ana consigo. Logo que a conheceu, Joana simpatizou-se muito com ela e percebeu que seria difcil Maurcio encontrar outra moa como aquela, to parecida com ele no modo de pensar, j que ambos compartilhavam do mesmo princpio de respeito s necessidades pessoais de cada um, coisa muito rara naquele tempo.

    Joana tambm passara por uma crise nestes quase 10 anos de casamento. Desde que tivera Renato nunca mais engravidara, alguns diziam que era pelo fato de ela ter tido muitos filhos com pouco espao de tempo entre eles. O mdico porm afirmava que ela no apresentava nenhum problema de sade por causa disto e que se no engravidava novamente, era porque no estava no momento, pois a natureza sbia e se fosse para ela ter mais filhos isto aconteceria na hora certa. Porm, isto fazia com que s vezes andasse triste pela casa, sabendo que Antonio sempre sonhara com uma menina, a cada ano que passava, via a possibilidade de dar esta alegria ao marido, a quem ainda amava como no dia de seu casamento, ficar ainda mais distante. Antonio por sua vez amava muito a esposa e aos filhos que ela lhe dera, e jamais fizera qualquer comentrio sobre o fato de Joana no engravidar novamente, pois sabia que esta se culpava por isto. Assim o tempo foi passando e Antonio com todo o seu amor ajudou Joana a superar esta fase, e tambm a cada dia os filhos exigiam mais de sua ateno, fazendo com que viesse a se acostumar com o fato de ser a nica mulher da casa, ou como eles diziam, a rainha do lar e seus mosqueteiros. Em todos estes anos Joana nunca se arrependera da escolha que havia feito de se casar com Antonio, porm s vezes se lembrava de seu sonho de sair da fazenda e morar em So Paulo. Apesar do que todos diziam na regio e de ela saber que era uma mulher feliz por tudo o que tinha, um bom marido,

  • 17

    uma tima casa, filhos saudveis e inteligentes, no conseguia deixar de pensar nisto algumas vezes. Foi assim, que ao ver Daniel completar seu 14 aniversrio, Joana viu surgir uma nova oportunidade para tambm realizar este sonho, isto fez com que novamente a chama deste desejo se acendesse em seu corao e ela decidiu, desta vez, investir nele. Foi por isto que naquele dia logo aps o almoo, ela sentou-se com Antonio na sala para conversarem antes que este voltasse ao trabalho. - O que faremos com Daniel agora que completou 14 anos? Ele precisa de uma escola melhor do que a que temos aqui na vila!

    Joana dizia isto j sabendo a resposta, pois sabia que Antonio desejava dar aos filhos um estudo melhor e a possibilidade de se formarem. Por isso, ele sempre tivera em mente a idia de coloc-los em um bom colgio em So Paulo, aps atingirem mais idade.

    - , eu sei disto! S que ainda no pensei direito sobre o assunto, vou esperar at o final da colheita, pois estou muito ocupado por estes dias e depois resolveremos o que fazer. Mesmo porque, ainda temos trs meses at o final do ano para decidirmos sobre isto.

    - Tudo bem, mas espero que no esquea o que eu j lhe disse. No quero que Daniel fique sozinho em outra cidade, se resolvermos mand-lo para o colgio que voc quer, todos ns tambm nos mudaremos, afinal logo Srgio tambm ter idade para freqentar a mesma escola e no muito tempo depois Pedro e Renato tambm.

    Antonio saiu sem responder. Sabia do que ela falava, sempre que ele tocava no assunto de mandar o menino para um colgio interno, ela era contra. Dizia que jamais ficaria longe dos filhos, pois no precisavam fazer este sacrifcio, j que tinham condies para deixar a fazenda e montar algo prprio em So Paulo e assim ficarem perto dos meninos. Afinal, durante todos estes anos como administrador, Antonio sempre tivera um bom salrio e depois da morte de Sr. Antero, alm do salrio, recebia tambm uma porcentagem sobre a colheita. Marcelo achou que ele merecia, j que ficara sozinho como responsvel pela fazenda. Porm, achou melhor parar de pensar nisto no momento, havia muito trabalho para ser feito e quem sabe o que poderia acontecer at o final daquele ano, disse para si mesmo.

    Captulo 4

    Dois meses se passaram e chegou o dia em que Antonio deveria prestar

    contas sobre a colheita daquele ano. Sendo assim, viajou para So Paulo onde encontraria seu patro e amigo Marcelo, que desde que atingira a maioridade ficara responsvel pela Fazenda Primavera como era de sua vontade. Este aguardava-o em seu escritrio, formado em direito desde os 23 e hoje, aos 25 anos, tendo uma boa condio financeira para investir em seus estudos e depois em sua profisso, apesar da pouca idade e de pouco tempo de formado, este j contava com um nmero significativo de clientes e era bem visto entre os colegas de profisso.

    Antonio chegou ao escritrio j perto do meio dia, sendo assim Marcelo o convidou para almoarem juntos e durante o almoo conversariam sobre os negcios.

    J no restaurante, Antonio colocou-o a par de todos os detalhes sobre o que vinha acontecendo na fazenda e sobre a colheita daquele ano. Marcelo

  • 18

    porm parecia um pouco distante, desanimado. Antonio percebeu isto e tendo liberdade para tal perguntou:

    - Marcelo o que se passa com voc? Desde que chegamos eu estou lhe contando tudo sobre a fazenda, mas parece que voc nem me escuta! Voc est com algum problema?

    Meio sem jeito Marcelo parecia no saber por onde comear o assunto, no queria magoar Antonio mas sabia ser isto impossvel quando lhe contasse sobre a venda da fazenda. Ento com todo cuidado comeou dizendo:

    - Antonio voc me conhece praticamente desde que nasci, no ? - Sim, verdade. - Voc sabe que jamais eu tomaria qualquer atitude que pudesse lhe

    magoar ou prejudicar? - Claro que sei, confio em voc e sei que um rapaz de boa vontade e

    honesto, mas sobre o que que estamos falando afinal de contas? - quis saber Antonio j tenso com a conversa.

    - que tenho que lhe dar uma notcia e no sei como comear. - Ento v direto ao assunto, pois este rodeio todo que est me fazendo

    mal. - Pois bem, o fato que meus irmo resolveram vender a fazenda! Ns

    recebemos uma tima oferta e eu no tive como me opor ao negcio. Como voc sabe, eles nunca se interessaram pelo lugar e no se incomodavam em deix-la por minha conta, mas diante desta proposta, gostando ou no, eles tambm so donos assim como eu, e no posso atrapalhar a vida deles, pois com este dinheiro eles pretendem ampliar a empresa que montaram juntos j h alguns anos.

    Antonio estava atordoado com a noticia, no conseguia entender como tiveram coragem de fazer aquilo, sabiam que o pai sempre sonhara que um deles cuidasse daquele lugar.

    Percebendo o que Antonio pensava, Marcelo foi logo dizendo: - Sei que difcil para voc aceitar nossa deciso, mas quero que entenda

    o motivo pelo qual concordei com isto. A oferta que tivemos foi muito boa e isto far com que ampliando a empresa, alm de aumentarem os lucros, estaro tambm criando novos empregos e ajudando a melhorar a vida de muita gente. E mesmo na fazenda nada vai mudar, este foi outro motivo que me levou a concordar com a venda, pois o novo proprietrio fez questo de especificar em contrato que ficar com todos os empregados que quiserem permanecer na fazenda.

    - E pode-se saber quem esta alma to generosa? -perguntou Antonio com ironia.

    - A Fazenda Primavera agora pertence ao Coronel Bia nor, nosso vizinho da Fazenda Vale Verde.

    Antonio empalidecera, faltava-lhe o ar e o corao disparou, quase chegou a desfalecer. Marcelo correu em sua ajuda fazendo com que abrissem a janela do lugar e lhe trouxessem um copo dgua. Depois de algum tempo, Antonio estava melhor, mas no acreditava que aquilo fosse verdade, no compreendia porque aquele homem cruzava novamente seu caminho. Agora sim ficara arrasado, alm da tristeza pela venda da fazenda, ainda pior fora saber quem era seu novo dono.

    Vendo que ele estava melhor, disse Marcelo: - Antonio, voc sabia que isto poderia acontecer um dia, mesmo com todo

  • 19

    amor que sinto pela fazenda no posso prejudicar meus irmos e nem a mim mesmo, pois tenho planos para a utilizao deste dinheiro e no posso negar que ele tenha chegado em boa hora. Quanto a voc, sei que continuar to bem como at aqui, pois o Coronel Bianor deixou bem claro que sua vontade t-lo como seu brao direito, pois tambm pretende lhe dar o comando das outras fazendas que possui. Disse ainda, que sempre o desejou ter como seu administrador, j que sua boa reputao era conhecida por toda regio, e foi muito claro ao afirmar que voc quem nunca quis deixar a nossa fazenda. Por isto, sei que tenho muito a lhe agradecer, voc provou que realmente um grande amigo.

    - J que voc pensa assim, quero pedir-lhe um favor. - Claro, o que quiser! - Quero que faa o acerto de meus anos de trabalho na fazenda. Vou-me

    embora de l o mais rpido possvel. - Mas por qu? No h necessidade disto. - Eu sei muito bem sobre o que falo, e minha deciso est tomada. uma

    pena no ter ficado sabendo de nada antes, assim eu j teria tomado alguma providncia para poder deixar a fazenda, porm se realmente tem por mim alguma estima como diz ter, faa-me este favor, sim?

    - Est bem, se o que voc deseja, mas quero que me deixe ajud-lo. Quando decidir o que vai fazer e para onde vai, quero que me procure, est certo? Afinal ainda somos amigos, no somos?

    Antonio sentiu o carinho com que Marcelo dizia isto e viu que em seus olhos algumas lgrimas lutavam para no carem, sabia que ele era um bom rapaz e s um motivo muito forte e importante para ele faria com que abrisse mo de sua parte na fazenda. Quem sabe, ele lhe contaria seus motivos algum dia. Com o corao mais tranqilo, Antonio estendeu a mo para Marcelo e disse: - Tudo bem, sei que posso contar com voc, amigo. E saiba que voc tambm poder contar sempre comigo e com minha amizade.

    E assim antes de se despedirem naquela tarde, j haviam combinado o que fariam, Marcelo pagaria a Antonio no dia em que recebesse a parcela restante pela venda da fazenda. Isto aconteceria nos prximos dias, assim que o Coronel se mudasse para l, assumindo de vez sua nova propriedade. Antonio, por sua vez, pediu a Marcelo que o deixasse falar com o Coronel Bianor. Sentia que ele mesmo precisava fazer isto, afinal, antes para no ceder s propostas de trabalho do Coronel, ele alegava amizade e respeito ao Sr. Antero e sua famlia. Agora, porm, teria que pensar numa forma de recusar o emprego sem se indispor com ele, pois no queria que este viesse a saber o verdadeiro motivo de suas recusas, j que a averso que Antonio sentia em relao a ele, parecia no ter fundamento, pois o Coronel nunca fizera nada que o prejudicasse, porm Antonio no conseguia fugir deste sentimento e estava decidido a continuar respeitando o que seu corao lhe dizia.

    Ao chegar em casa naquele dia, Joana logo notou a contrariedade do marido e assim que o viu um pouco mais descansado da viagem perguntou:

    - O que aconteceu l em So Paulo? Desde que voc chegou, est calado, pensativo.

    - que estou tentando colocar as idias em ordem, porm a dor que ainda sinto torna mais difcil a tarefa de decidir o qu, e como fazer as coisas.

    - Do qu voc est falando?

  • 20

    - Marcelo me contou hoje que a fazenda foi vendida. E pior que isto que foi vendida para o Coronel Bianor e ele quer que todos os empregados continuem aqui. Principalmente eu, pelo que disse a Marcelo.

    Joana admirou-se com a notcia, porm quase no conseguiu esconder a alegria que surgiu em seu corao. Lembrou-se da reao de Antonio quando o Coronel havia comprado a Vale Verde e de muitas coisas que ficara sabendo sobre aquele homem, que ainda hoje no conhecia pessoalmente - pensou ela -, que mesmo de uma maneira estranha, mais uma vez ele a ajudava a realizar seus sonhos, pois sabia que o marido jamais concordaria em trabalhar sob suas ordens, porm ela procurou esconder o que sentia vendo que Antonio ainda estava muito aborrecido com o fato. - E ento o que faremos? - quis saber ela. - Vamos embora para So Paulo assim que o Coronel Bianor se mudar para c. Vou conversar com ele e explicarei que j havamos decidido irmos embora por causa dos estudos das crianas. Marcelo se colocou disposio para nos ajudar, s preciso avis-lo sobre o que queremos fazer. Joana nem quis saber os detalhes, acabava de ouvir o que mais queria. E a partir daquele momento passou a se dedicar somente aos preparativos da mudana, j que Antonio fora bem claro quanto sua vontade de sair de l to logo o Coronel chegasse. Dois dias depois, a mudana do Coronel chegava fazenda, este porm s chegou em sua nova propriedade no final da tarde. Antonio passara o dia ansioso e trmulo, no sabia explicar se o que sentia era pelo fato de ter decidido ir embora da fazenda, ou pela conversa que teria com o Coronel. Coronel Bianor o recebeu na sala, com satisfao estampada no rosto. - Ento Antonio, veio dar as boas-vindas ao seu novo patro? - Isto tambm Coronel, espero que seja muito feliz aqui tanto quanto Sr. Antero e sua famlia foram, mas o assunto que me traz aqui outro. Bianor percebeu o embarao de Antonio, e sentindo algo de errado logo mudou seu tom de voz. - Ento diga homem a que veio? Antonio tremia tanto que quase desistiu mediante a brusca mudana do Coronel no seu modo de trat-lo, porm aquela atitude s vinha confirmar os comentrios sobre como ele tratava seus empregados, por isso Antonio juntou todas as suas foras e continuou: - Bem Coronel, eu estava esperando por sua chegada para lhe entregar a administrao da Fazenda Primavera e avis-lo que parto daqui dentro de dois dias. J conversei com Marcelo e ele far o acerto pelos meus anos de trabalho. Bianor ardia de raiva. Mas como podia ser aquilo? -pensou ele. - Mal havia chegado em sua nova propriedade e j encontrava problema. No queria que Antonio fosse embora, pelo contrrio, quando comprou a fazenda acreditava ter garantido tambm sua presena ali, pois sabia o quanto ele gostava daquele lugar.

    Por isso j havia planejado tudo, pois sabendo ser Antonio um homem honesto e competente, deixaria para ele a administrao de todas as suas fazendas, e com isso pensava poder desfrutar sua viuvez, j que tendo pouco mais de 40 anos e morando longe dos filhos, sabia que tendo-o como administrador poderia viajar e se divertir sem tomar prejuzo.

    Antonio sem querer dar tempo para que o Coronel pudesse inquiri-lo foi

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    logo justificando-se: - Sabe Coronel, Daniel meu filho mais velho acaba de completar 14 anos e

    necessita de uma formao escolar de melhor qualidade do que a que temos aqui na vila. Por isso eu e Joana j havamos decidido irmos embora logo que terminasse a colheita, pois assim teremos tempo para nos instalarmos e providenciarmos o colgio mais adequado, no s para ele mas tambm para meus outros filhos.

    - Mas se j era uma deciso tomada, por que no comunicou Marcelo antes da venda da fazenda? Voc sabe muito bem o quanto eu aprecio seu trabalho, e talvez se eu tivesse sabido disto antes no teria pago mais pela fazenda do que ela realmente vale.

    - Bem o senhor me desculpe se lhe dei algum prejuzo, mas eu no podia ter me adiantado a isto j que no estava sabendo nada sobre a venda da fazenda. Por isso resolvi esperar para conversar com Marcelo quando fosse a So Paulo para prestar contas sobre a colheita deste ano e a sim comunicar-lhe minha deciso.

    O Coronel no ficou satisfeito com a resposta, porm resolveu mudar de ttica.

    - Sabe Antonio, sempre soube de seu valor como administrador e contava com a sua ajuda para cuidar de minhas fazendas. Como sabe, sou sozinho para cuidar de tudo, por isso eu tinha em mente dobrar-lhe o salrio to logo chegasse aqui e lhe desse as primeiras ordens em relao ao que deveria ser feito nas demais fazendas, pois esta tenho certeza estar totalmente em ordem. Antonio ficou boquiaberto com a proposta. Sempre ganhara muito bem e isto em dobro faria com que logo realizasse seu sonho de comprar sua prpria fazenda. Bianor, perspicaz como era, viu o brilho nos olhos de Antonio e continuou: - Alm do mais voc pode fazer como eu penso em fazer com meus filhos, colocar o menino num bom colgio interno e busc-lo nas frias para matar as saudades. Antonio calou-se alguns segundos, no sabia o que responder pois a oferta do Coronel o havia impressionado, porm seu corao continuava apertado, ento respondeu: - Bem Coronel, vou conversar com Joana sobre sua oferta, mas acho difcil que ela concorde em mudarmos nossos planos, sendo assim, ficamos combinado que caso ela no aceite, amanh quando Marcelo vier aqui faremos o acerto de minhas contas. Despediram-se e Antonio saiu com a cabea borbulhando com o ocorrido, O Coronel, por sua vez, ficou satisfeito e acreditava ter solucionado seu problema. Quando Antonio chegou em casa, Joana o aguardava ansiosa, conhecia a fama do Coronel e sabia que Antonio tinha dificuldade para lidar com aquele tipo de gente. - E ento? Tudo certo? Quando partimos? - perguntou Joana de uma s vez sem ao menos dar-lhe tempo para sentar-se. - Calma mulher, mal cheguei e voc j me enche de perguntas! Joana percebeu que Antonio no estava bem, resolveu calar-se e esperar at que ele falasse. - Bem Joana - tornou ele pouco depois - , conversei com ele, porm este me fez uma tima proposta de trabalho na qual no posso deixar de pensar

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    com calma. - O qu? Ento no vamos embora? - disse ela com a voz um pouco alterada. - Eu no disse isto! Disse que pensaria no assunto, afinal no todo dia que o patro resolve dobrar o salrio de um empregado. - Mas e nossos filhos? Que salrio valer sacrificar os estudos deles? Ns j havamos tomado nossa deciso, e sempre foi seu desejo poder oferecer para eles um bom estudo, e agora voc muda de idia por causa de dinheiro?

    Joana usava o trunfo que tinha sobre o marido, mas no simplesmente pelo fato de querer ir embora para So Paulo, estava realmente decepcionada com a atitude de Antonio.

    - No Joana, eu ainda no aceitei a oferta do Coronel, disse que iramos pensar sobre o assunto. E ele at deu a idia de colocarmos Daniel num colgio interno, assim como ele far com seus filhos, e nas frias ns o buscaramos para ficar conosco.

    Joana desesperou-se, alm de tentar seduzir Antonio com o dinheiro, ele tambm lhe dera a soluo para que os filhos estudassem sem que eles precisassem sair da fazenda, porm ela no desistiria.

    - Voc sabe muito bem que jamais farei isto, onde j se viu ficarmos longe de Daniel! E logo teremos que mandar os outros, nunca nos acostumaremos a ficar longe deles. Alm do mais no precisamos disto, ele sim precisou mandar os filhos para longe para que no soubessem que tipo de homem o pai deles!

    Antonio olhou-a admirado, pois jamais comentara em casa o que ficava sabendo a respeito do Coronel. O que ser que ela sabia? E como sabia?

    Percebendo as indagaes do marido, Joana justificou- - Eu sei que voc no gosta de falar a respeito do Coronel, porm mesmo

    sem conhec-lo eu fiquei sabendo de certas coisas sobre ele. - Do que que voc est falando? - perguntou ele sem ser diretivo, queria

    saber o qu e at onde Joana sabia. Joana pensou por alguns minutos, e mesmo imaginando que Antonio no

    desconhecia mais esta histria do Coronel, decidiu falar ao marido tudo o que sabia, apesar de sentir-se mal por ser este um assunto to delicado.

    - Bem, quando sua esposa Vernica morreu, ele at que tentou abafar o acontecido, mas Carlos, o empregado que o ajudou a socorr-la espalhou pela vila o que viu e eu acabei ouvindo alguns comentrios.

    - Ouviu o qu? - insistiu ele. - Que a morte de Vernica no foi um acidente. Ela se suicidou dias depois de ter encontrado o Coronel com a prpria irm dentro de sua casa! Joana calou-se por alguns instantes, mas vendo sobre ela o olhar firme do marido que esperava pelo final da histria, prosseguiu: - Dizem que ela sabia dos seus casos com as empregadas e com outras mulheres da vila, mas fazia vista grossa. Porm no suportou mais tal situao quando viu os dois juntos e obrigou Slvia, de apenas 15 anos, a lhe contar tudo. Ficou sabendo que esta era obrigada a se deitar com ele j h algum tempo, e que este a ameaava caso ela no se calasse. Dizia que a expulsaria de casa e a difamaria pela regio, dizendo que ela havia se entregado a um de seus empregados em sua casa, onde ele a havia recebido como filha depois da morte de seu pai. Durante algum tempo, ambos permaneceram pensando no drama que a vida de Vernica havia sido at ali, e em todas as dificuldades pelas quais ela

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    havia passado. Primeiro, a morte do pai, a quem ela era muito apegada, depois todos os problemas que teve durante a gravidez de Lucas, seu segundo filho, que quase morreu e tirou-lhe a vida tambm. Um marido canalha que ela fingia no saber o que ele fazia, e por ltimo, ver a irm totalmente desequilibrada pelo que vinha passando e pela dor de v-la sofrendo quando da descoberta, tanto que logo aps a morte de Vernica, Slvia teve que ser internada em um manicmio. Assim pouco depois Joana retomou o assunto concluindo: - Foi por isto que ele se mudou para So Paulo com os filhos, onde sua irm cuida das crianas. E pelo que voc me contou, ele s espera que os filhos tenham idade suficiente de irem para o colgio interno para ele poder voltar definitivamente para c. Penso que ele acredite que depois de alguns anos ningum mais se lembrar do que aconteceu com Vernica. Antonio, de cabea baixa, ao final destas palavras teve certeza que a esposa sabia sobre o que falava e no pde deixar de se lembrar daquele dia, j que ele fora um dos primeiros a saber do ocorrido. Estava saindo do hospital onde havia ido para buscar soro antiofdico para deixar no estoque da fazenda, quando viu na recepo Carlos todo trmulo e nervoso. Resolveu saber se o rapaz precisava de ajuda, pois o conhecia e sabia que alm de muito jovem, tinha apenas 17 anos, era sozinho na regio. Carlos, meio que em estado de choque, quando o viu, agarrou-lhe pelo brao e o levou at um canto da sala onde contou o ocorrido.

    Estava no pomar colhendo algumas frutas para o lanche da patroa, que Vilma, a cozinheira, havia mandado, quando viu um rastro de sangue no cho, levantou um pouco os olhos e viu Dona Vernica cada sobre as ervas que ela cultivava com a faca ainda no peito. Saiu gritando por socorro e encontrou o Coronel na soleira da cozinha, este no deixou que ele avisasse a mais ningum, foi com ele at o local em que estava Vernica, colocou-a no carro e foram para o hospital. No caminho, o Coronel ordenou a Carlos que se algum lhe perguntasse algo, ele deveria dizer que fora um acidente, que Dona Vernica estava plantando suas ervas e deve ter passado mal, j que ainda no estava totalmente recuperada do parto de Lucas, por isso ela deve ter cado sobre a faca.

    - Mas acidente como? - dizia Carlos para Antonio. - eu vi que ela tinha vrias perfuraes no peito, parecia querer tirar o prprio corao fora!

    Antonio lembrou-se, que diante da gravidade do assunto, fez Carlos prometer que no diria aquilo a mais ningum, explicando-lhe que isto poderia prejudicar tanto a ele como ao Coronel. Alm de fazer com que a famlia e as crianas viessem a sofrer ainda mais. Porm quando deixou o hospital, ele no tinha certeza se poderia confiar no rapaz. S alguns dias depois quando ficou sabendo que Carlos voltara para sua cidade no interior da Bahia, imaginou que o Coronel deveria ter pago muito bem pelo silncio do rapaz. Porm, depois de tudo o que Joana lhe contara, percebeu que o Coronel no havia conseguido o que queria, esconder mais uma de suas tristes histrias.

    Diante dos fatos, Antonio foi at onde Joana estava sentada aguardando que ele falasse, sentou-se ao seu lado. e abraando-a disse: - Em primeiro lugar quero que me desculpe, pois voc est certa em no querer ficar longe dos meninos. E sabendo de tudo isto, no podemos por dinheiro algum continuar aqui, pois isto no nos faria muito diferente do Coronel.

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    Joana sorriu, sentia-se feliz e aliviada. E agora sabia que no era porque havia conseguido que o marido mantivesse a deciso de irem embora para So Paulo, mas porque algo dentro dela lhe dizia que no seria bom ficar ali junto do Coronel. Na manh seguinte, Antonio esperava ansioso pela chegada de Marcelo, havia decidido confirmar sua partida ao Coronel na presena do amigo. Esperava com isto no ter que prolongar o assunto, evitando assim que surgisse um clima hostil entre eles. Marcelo quando chegou assustou-se ao v-lo na porteira da fazenda sua espera. - Aconteceu alguma coisa, Antonio? - No, est tudo bem. Mas preciso conversar com voc antes de falarmos com o Coronel. - Pode falar, o que se passa? Em poucas palavras Antonio contou-lhe a conversa que tivera com o Coronel, e sobre a proposta que este lhe fizera. Porm, ao confirmar sua deciso de ir embora com a famlia para o amigo, achou melhor omitir sua conversa com Joana e os fatos ocorridos com Vernica, pois acreditava que Marcelo no soubesse nada sobre as histrias do Coronel. Alegou ter aproveitado a venda da fazenda e o fato de no simpatizar muito com o Coronel, para poder cuidar das necessidades de estudo do filho. Marcelo, porm, estava a par de algumas destas histrias e conhecendo Antonio como conhecia, sabendo ser ele um homem de moral, desde o dia em que lhe deu a notcia sobre a venda da fazenda, j imaginava os verdadeiros motivos que o levariam a deixar o lugar. - Est certo - disse Marcelo. - Ento vamos at l para encerrarmos este assunto o mais breve possvel. Chegando na casa, foram recebidos pelo Coronel na sala onde este tomava seu caf da manh e os convidou para que o acompanhassem. Sentaram-se e Antonio, meio sem jeito, tomou o caf enquanto rezava para que pudesse sair logo de l. Assim que terminaram, dirigiram-se para o escritrio onde o Coronel faria o pagamento para Marcelo, este porm adiantou-se a falar antes de receber o dinheiro:

    - Bem Coronel, primeiro gostaria de lhe pedir que descontasse deste valor os anos de trabalho que devo ao meu amigo Antonio, j lhe trouxe todos os clculos prontos para facilitar o acerto. E entregou para o Coronel o papel com o valor devido a Antonio.

    OCoronel arregalou os olhos e num solavanco levantou-se e disse, j aos gritos:

    - Mas como? Ento voc no est aqui no cumprimento de seu dever? Eu pensei que estivesse acompanhando o visitante at a minha presena j como meu administrador!

    Antonio trmulo respondeu: - No senhor, vim at aqui com Marcelo para receber meus direitos, como

    j havamos conversado ontem. - Mas eu lhe fiz uma proposta irrecusvel e contava com sua permanncia

    aqui na fazenda! - Sua proposta muito boa, sem dvida, mas como lhe disse ontem,

    Joana no abre mo de estar perto dos filhos e eu j havia concordado de que partiramos assim que o senhor chegasse. Ela jamais me perdoaria se eu no

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    cumprisse o prometido, alm do mais eu sei que tambm no conseguirei ficar longe de meus filhos.

    Marcelo quieto em sua poltrona s observava o desgosto estampar-se no rosto do Coronel.

    - Mas Antonio, isto burrice, onde j se viu deixar que sua mulher comande a casa e resolva o que deve ser feito. Quem deveria decidir e dar a palavra final sobre isto voc, o homem da casa!

    Meio a contragosto, Antonio respondeu, e desta vez, j no fazia questo de esconder seu sentimento em relao ao Coronel:

    - O senhor est certo Coronel, quem d a palavra final l em casa o homem da casa, eu. Por isso mesmo que Joana est me fazendo cumprir o que eu j havia decidido, que era irmos embora daqui porque ela sempre soube que eu nunca quis trabalhar para o senhor.

    Mediante tal afirmao, Marcelo tratou de interferir, pois percebeu que para o Coronel chegar do desgosto ira levava apenas alguns segundos. - Bem, vamos terminar logo com isto, pois deixei negcios pendentes em So Paulo, que no posso deixar de resolver ainda hoje. Totalmente irado, o Coronel pegou o papel sobre sua mesa e mesmo sem conferir retirou do montante pertencente a Marcelo a quantia devida para Antonio e pagou aos dois. E logo aps, com poucas palavras de despedidas, ambos deixaram a casa sem ao menos olharem para trs. No caminho at a porteira, Antonio aproveitou para agradecer ao amigo: - Marcelo, muito obrigado pela colaborao e pelo bom senso em interferir no momento certo. Este, compreendendo mais do que nunca a deciso de Antonio, pois vira como o Coronel se transformara ao ser contrariado respondeu: - No precisa agradecer! Porm meu amigo, espero que tenha tomado a deciso certa, pois se um dia voc se arrepender, j sabe que por aqui no encontrar mais boa acolhida, pois me parece que voc acabou de ganhar um inimigo, daqueles que no esquecem e nem perdoam. Antonio sentiu um aperto no corao, um n na garganta, como se h muito tempo evitasse que isto acontecesse, mas agora o fato j estava consumado e s lhe restava mesmo fazer sua nova opo de vida dar certo, j que ali ele no queria, e agora sabia que no poderia mais ficar.

    Captulo 5

    Dois dias se passaram desde a conversa com o Coronel, e Antonio j estava de mudana para So Paulo. Marcelo emprestara uma de suas casas de aluguel, que estava desocupada, para que ele ficasse com a famlia at que comprasse a sua prpria casa.

    Joana no cabia em si de alegria, arrumou pessoalmente toda a mudana e Antonio s teve que tratar do transporte de seus pertences e da famlia. Tudo pronto para a partida, quando Vilma chegou.

    - Joana fia, vim me despedi e desej procis toda felicidade do mundo - e abraou-a com carinho, depois continuou: - Prometa que vai tom muito cuidado e que nunca mais vai bot os ps aqui na fazenda.

    Joana estranhou e muito as ltimas palavras de Vilma e quis saber por que ela estava dizendo aquilo. Vilma olhando para Antonio, que estava no caminho arrumando a mudana disse:

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    - Sabe fia, depois que Antonio saiu l de casa no dia que acert suas conta, o Coron explodiu de raiva. Grit, praguej e fic a diz um monte de disgracera. Disse que Antonio tinha disprezado sua oferta e a ele tamm! Que onde j se viu um empregadinho que num tinha nem onde ca morto, recus uma oferta to generosa como a dele. Quem ele pensava que era? - disse tamm que se Antonio achava que ele era bobo di acredit na histria da escola dos menino, ele tava muito enganado. Fal que Antonio sempre se ach o bom, que pensa s mei que ele, mais que aquilo num ia fic assim no, Antonio tava muito enganado se pensava que ele ia deix seu desaforo pra l. Depois saiu chamando por Tio aos berro, encontr com ele no jardim e ficaram conversando, e quando Tio saiu, o Coron entr em casa todo sorridente, como se num tivesse acontecido nada.

    O corao de Joana disparou, ela sabia que o Coronel era um homem vingativo, e j ficara sabendo de vrias de suas histrias sobre isto. Porm, j estavam de partida e nestes dois dias que ficaram ali nada aconteceu, ento procurou se acalmar e tranqilizar Vilma tambm. - Ora Vilma, deixe de besteira. J estamos indo embora e no vai nos acontecer nada. - Espero que sim, mais tome cuidado minha fia. E desvie seus caminhos de tudo que diss respeito ao Coron Bianor, que este corao de preta via no se ingana, ali tem coisa e das muito ruim. As palavras de Vilma impressionaram Joana, porm ela estava decidida a no deixar que nada atrapalhasse sua alegria. Depois de muito anos ela estava realizando seu sonho de ir para So Paulo e isto era real, e no os pressentimentos de Vilma. Mesmo porque - pensou ela. - Vilma poderia estar exagerando na preocupao at mesmo por causa da idade e por t-la como uma filha. Aps as despedidas de alguns companheiros da fazenda e da promessa de Vilma ir visit-la em So Paulo, to logo estivessem instalados, o caminho partiu com a mudana. Antonio seguiu viagem junto com Vado, dono do caminho e seu amigo. Joana e as crianas seguiam num carro de aluguel, que ele havia contratado por ser mais seguro e confortvel, apesar de haver sobrado lugar no caminho, j que estavam levando pouca coisa da antiga casa, pois resolveram que comprariam quase tudo novo para esta nova vida que comeavam. Haviam percorrido poucos quilmetros quando Antonio sentiu-se mal e pediu a Vado que encostasse o caminho. O carro parou logo atrs e Joana foi ao socorro do marido, este sempre passava mal nas viagens. Depois de passar algum tempo tomando ar, Antonio melhorou, mas resolveu seguir viagem no carro junto com a famlia, pois o caminho dava muitos solavancos e havia um cheiro muito forte de combustvel. Vado no se incomodou, pegou o endereo da casa e disse que eles poderiam ir na frente j que o caminho demoraria mais para chegar. Ele conhecia bem So Paulo, pois fazia o transporte de vrias colheitas para l e encontraria a casa sem problemas. Antonio ficou aliviado com as palavras do amigo, queria mesmo chegar o quanto antes na cidade, alm do mais, confiava nele e sabia que suas coisas estavam em boas mos e s fora no caminho para lhe fazer companhia.

    Entraram todos no carro e partiram, estavam to ansiosos por chegarem que no quiseram parar nem para almoar, preferiram deixar isto para quando

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    j estivessem em So Paulo. Algumas horas depois Joana descia do carro radiante, estava em So

    Paulo e mal podia crer no que seus olhos viam. As crianas contentes mas um pouco assustadas com as diferenas entre a fazenda e a cidade. Ela era maior do que todos pensavam e havia muito mais gente e carros do que haviam visto nestes anos todos morando na fazenda.

    A casa ficava no bairro da Luz, era uma casa simples mas com pouco tempo de uso. Tinha dois quartos grandes, duas salas, cozinha e banheiro, alm de um pequeno quintal com jardim nos fundos. Estava timo - pensou Joana - mesmo porque seria por pouco tempo, s at comprarem sua prpria casa.

    Resolveram almoar num restaurante a algumas quadras da casa, de onde seria possvel ver quando o caminho chegasse. Poderia se dizer que aquele almoo fora um banquete, Antonio e Joana fizeram questo de comemorar a chegada a So Paulo com tudo o que tinham direito, boa comida, sobremesa, caf e licor. Findo o almoo, resolveram esperar pela chegada do caminho na casa, pois j se passavam das 14:00 horas e este no demoraria a chegar. Abriram toda a casa e ficaram fazendo planos de como seria a vida nova em So Paulo.

    Porm, uma hora e meia se passara e Antonio j estava preocupado com a demora do amigo, resolveu ento telefonar para Marcelo, pois no sabia onde poderia procurar pelo caminho caso estivesse quebrado na estrada. E assim, meia hora depois, Marcelo chegou e nada do caminho ainda.

    - Bem Antonio, vamos levar Joana e as crianas para minha casa, pois pela demora realmente deve ter havido algum problema e no adianta deix-los aqui sem terem o que fazer. Eu vou colocar um bilhete na porta, para avis-lo que aguarde aqui at a nossa volta. Antonio, apesar de constrangido em ter que deixar a famlia na casa de Marcelo, viu que no teria outra opo e concordou. Marcelo era solteiro e morava numa bela casa no bairro dos Jardins. Com ele morava ainda sua empregada Edna, a qual encarregou de ajudar Joana com as crianas at que voltassem. - Bom, vamos at a oficina mecnica de um amigo meu, ele deve saber como podemos localizar o caminho em algum posto ou mecnico na beira da estrada - disse Marcelo. Antonio acompanhou-o e conseguiram o telefone de um posto quase na metade do caminho entre as duas cidades. Marcelo telefonou e conseguiu falar com o gerente: - Voc saberia me informar se h a no posto algum caminho quebrado? - No - respondeu o rapaz. - Estou terminando meu horrio de trabalho e durante todo o dia nenhum caminho ficou parado aqui no estacionamento com problemas. - Voc saberia me informar se passou por a um caminho azul trazendo uma mudana para So Paulo? - Olha moo, por aqui ele no parou. E no sei se ajuda muito, mas... - Mas o qu? - perguntou Marcelo. - E que houve um acidente grave com um caminho a poucos quilmetros daqui. O caminho tombou na ribanceira e incendiou-se, e parece que o motorista no conseguiu sair a tempo. Marcelo empalideceu. E agora o que fazer? - pensou ele. - Agradeceu pela

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    informao e desligou. Antonio a seu lado percebeu que algo estava errado, mas esperou que Marcelo falasse. Este relatou a informao que recebera e sem dar tempo para que Antonio pudesse pensar no acontecido, pegou-o pelo brao e saiu rumo ao posto policial mais prximo. L chegando tiveram a confirmao de suas suspeitas. O acidente acontecera pouco depois que Antonio trocara o caminho pelo carro, e no perceberam nada porque Vado disse no ser necessrio esper-lo, ento, o motorista do carro partiu e logo se distanciou. - O caminho tombou na ribanceira e incendiou-se muito rpido, no houve tempo para o motorista sair. No entendo como aconteceu. Ele deve ter dormido ao volante afirmou o policial ao contar os detalhes do acidente.

    - Isto no, senhor policial - disse Antonio. - Ele estava muito bem e acordado quando samos - Antonio ento contou o ocorrido ao policial que por sua vez concluiu:

    - Bem se foi como voc disse, ento no sei o que houve, pois no local do acidente h uma curva perigosa e nenhum motorista consciente se arriscaria a correr ali. Muito menos com um caminho mal conservado, e que provavelmente j estivesse com problema de vazamento de combustvel, para incendiar assim to depressa.

    - Isto pode ser, pois alm dos solavancos, outro motivo que me fez passar mal foi exatamente um cheiro muito forte de combustvel. Comentei sobre isto com Vado, ele porm disse que era eu quem no estava acostumado com aquele cheiro, mas me garantiu que havia mandado fazer uma reviso completa no caminho para aquela viagem, pois alm da mudana havia um outro servio para a volta e ele no se arriscaria a ficar na estrada com o caminho carregado.

    Mediante estas afirmaes, o policial disse no saber ento como tudo acontecera. Despediram-se, e os dois saram rumo casa de Marcelo. Antonio estava desolado, no se importava com a mudana, duro foi saber que perdera o amigo. Marcelo tentava anim-lo, mas este estava intrigado com as palavras do policial, como um acidente daquelas propores, j que o amigo lhe garantira estar com o caminho em ordem para viajar?

    Quando chegaram na casa, encontraram as crianas dormindo. Joana e Edna na sala estavam apreensivas, pois com a informao obtida com o rapaz do posto nem se lembraram de avis-las e, mesmo no posto policial, tambm no o fizeram. Joana vendo o abatimento de Antonio logo percebeu que algo de muito grave havia acontecido. Foi Marcelo quem lhes contou em detalhes o ocorrido.

    Joana abraava o marido e tentava anim-lo: - Vamos Antonio, reaja, no deixe que esta fatalidade estrague nossa vinda para So Paulo, vamos comprar tudo que perdemos e comear vida nova. Sei que sente a perda de seu amigo, mas foi um acidente, poderia ter acontecido a qualquer um. Ao dizer estas palavras um tremor percorreu-lhe o corpo e ela lembrou-se de que Antonio deveria estar ali no caminho, ao mesmo tempo, as palavras de Vilma vieram-lhe a cabea. Porm, ela tratou de mudar de pensamentos, afinal fora um acidente e talvez Vado tenha tido um mal-estar, um desmaio ou mesmo dormido ao volante como disse o policial. Logo aps tomarem um lanche, Marcelo acomodou o casal no quarto de hspedes e deixou Edna encarregada de cuidar das crianas na manh

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    seguinte, pois os dois precisavam descansar e Antonio estava muito abatido. Isto porm foi impossvel, Antonio dormiu mal a noite toda e logo aos primeiros clares do dia j estava na cozinha ajudando Edna com o caf da manh. E pelo visto nenhum deles conseguiu se demorar na cama, j que pouco tempo depois Joana e Marcelo juntaram-se a eles. Edna nem teve tempo de servir a mesa da sala de jantar, sentaram-se ali mesmo e sem muito assunto fizeram seu desjejum. Depois Marcelo levou Antonio at o escritrio da casa, pois queria conversar com o amigo. - Antonio, penso que pelo momento vocs devam ficar aqui em minha casa, j que s tem agora os documentos e algumas peas de roupa. No seria prudente gastar seu dinheiro para mobiliar a casa que lhe emprestei, j que logo comprar a sua. O melhor que tem a fazer procurar uma casa de seu gosto e j mobili-la adequadamente, assim no jogar dinheiro fora comprando coisas que talvez depois no lhe sero teis. Antonio, totalmente constrangido, respondeu: - De forma alguma Marcelo! J fez muito por ns, e j o atrapalhamos demais, no podemos invadir sua casa e priv-lo de sua liberdade. Marcelo sorriu e no se importando com o que ele havia dito continuou: - Bem, ento ficamos assim, voc e Joana continuam no quarto de hspedes e as crianas aqui no escritrio, tenho certeza que Edna ficar contente em ajudar Joana com as crianas. Tambm vou marcar para amanh uma visita nossa imobiliria de um cliente meu, resolvi alguns problemas para ele e sei que este ter o maior prazer em lhe a