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SEMINÁRIO SOBRE O ENSINO E FORMAÇÃO EM JORNALISMO E COMUNICAÇÃO EM MOÇAMBIQUE MAPUTO, 17 E 18 DE MAIO DE 2001 RELATÓRIO FINAL ELABORADO PARA O PROJECTO DESENVOLVIMENTO DOS MEDIA EM MOÇAMBIQUE POR EDUARDO NAMBURETE E TOMAS VIEIRA MARIO MAPUTO, MAIO DE 2001

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SEMINÁRIO SOBRE O ENSINO E FORMAÇÃO

EM JORNALISMO E COMUNICAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

MAPUTO, 17 E 18 DE MAIO DE 2001

RELATÓRIO FINAL

ELABORADO PARA O PROJECTO DESENVOLVIMENTO DOS MEDIA EM MOÇAMBIQUE

POR EDUARDO NAMBURETE

E TOMAS VIEIRA MARIO

MAPUTO, MAIO DE 2001

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Prefácio O ensino do Jornalismo e da Comunicação Social em geral constitui ainda um terreno relativamente virgem em Moçambique e, de modo geral, em África. Razoes históricas, ligadas à colonização Portuguesa, explicam esse facto,no caso específico de Moçambique. Um primeiro grande esforço de criar condições para a formação acadêmica e técnico-profissional de jornalistas no País surge nos finais da década de 70, com cursos de superação de curta duração, beneficiando jornalistas já trabalhando nas redaccoes, mas com uma formação acadêmica de base muitas vezes abaixo de nove anos escolaridade. Da seqüência destes cursos, foi ganhando forma o projecto de uma Escola de Jornalismo, formalmente constituída, e sempre sob a dependência directa do Ministério da Informação, entretanto extinto em 1991. Ao longo de vários anos, e no meio de constrangimentos de diversa natureza, incluindo prolongadas indefinicoes em relação ao seu estatuto e programa curricular, finalmente aprovados pelo Ministério da Educação em 1990, a Escola de Jornalismo foi formando gerações de jornalistas, alguns dos quais hoje ocupando posições de proeminência nos diferentes jornais, estações de rádio e de televisão do País. Numa determinada altura, na década de 1980, a Escola de Jornalismo de Maputo procurou afirmar-se como comum aos cinco países africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste, tendo acolhido, com efeito, jornalistas provenientes de Angola, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e ainda Timor-Leste. Torna-se, assim, um imperativo de justiça referir que o País já vem acumulando, apesar de tudo, alguma experiência válida neste domínio, que um necessário esforço de reformulação curricular e reforço em equipamento e infra-estruturas da mesma Escola deverá ter em linha de conta. Outrossim, ao nível do ensino superior, o ensino do Jornalismo e da Comunicação Social é ainda de existência muito recente, tendo sido em 2001 que a Instituto Politécnico Superior e Universitário, uma instituição privada, graduou os primeiros licenciados deste curso. Por seu lado, na sua Faculdade de Educação em Nampula, a Universidade Católica de Moçambique instituiu, também recentemente, um curso de bacharelato em Comunicação, enquanto a Universidade Eduardo Mondlane, único estabelecimento superior público do País, encontra-se em fase adiantada de preparativos para a abertura da sua Escola de Comunicação e Artes. No seu conjunto, todas estas experiências vão certamente concorrer para o reforço de um sector de comunicação social moçambicano dinâmico e forte, e à altura das exigências da sua sociedade e da sua época, marcada por grandes avanços justamente na área das tecnologias de informação e comunicação. O Projecto de Desenvolvimento dos Media da UNESCO/PNUD sente-se honrado por ter podido participar numa série de reflexões com os diferentes sectores partes directa ou indirectamente interessados, sobre esta matéria e é com grande sentido de responsabilidade que formula votos de que este relatório ajude as entidades interessadas a formular estratégias adequadas para a

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educação e formação de profissionais de comunicação social que respondam às necessidades do mercado e do País. Cabe referir, finalmente, que as opiniões expressas neste documento não reflectem necessariamente posições oficiais da UNESCO. Maputo, Maio de 2001 Birgitte Jallov Tomás Vieira Mário Coordenadora Técnica Nacional Coordenador Nacional

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I - INTRODUÇÃO O Objectivo Imediato 7 do Projecto da UNESCO/PNUD de Desenvolvimento dos Media em Moçambique , determina a realização de um “Seminário Nacional sobre Política e Estratégia de Formação em Jornalismo em Moçambique”. Em cumprimento deste objectivo, realizou-se nos dias 17 e 18 de Maio de 2001, em Maputo, um seminário sob o título : “Ensino e Formação em Jornalismo e Comunicação em Moçambique”. Em consonância com os objectivos originalmente definidos pelo documento do projecto, a finalidade central do seminário era discutir e produzir recomendações sobre uma estratégia a longo prazo, sobretudo para o desenvolvimento de recursos humanos e técnicos no domínio do ensino e formação técnico-profissional de jornalistas no País, através de reformas curriculares, reestruturação e fortalecimento institucional das entidades de ensino e formação técnico-profissional neste domínio. Entre os requisitos indispensáveis para o alcance deste objectivo, inclui-se a discussão e formulação de políticas e planos para a formação e capacitação sistemática de educadores e formadores, desenvolvimento de currículos que sejam adequados a responder às necessidades da indústria dos media, à luz do novo cenário nacional, caracterizado pela diversidade, pluralismo e independência dos meios de comunicação social nacionais, bem como as correspondentes necessidades das mesmas instituições em termos de infra-estruturas e equipamento adequado. O seminário foi oficialmente aberto pelo Ministro da Educação, Dr. Alcido Ngwenha, que recebeu os cumprimentos de boas-vindas do Representante Residente-Adjunto do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Maputo, Dr. Svend Madsen. II - OBJECTIVO Este seminário tinha como principal objectivo focal, proceder a uma avaliação comparativa, o mais exaustiva possível, das necessidades da indústria dos media em recursos humanos com preparação acadêmica e profissional adequada por um lado e, por outro, a capacidade das instituições de formação em satisfazer essas mesmas necessidades do mercado, tomando como referencias de análise:

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1. Os programas curriculares; 2. O nível e áreas de formação e especialização dos professores e formadores técnicos; e 3. A capacidade e adequação das infra-estruturas e equipamentos disponíveis nos

diferentes estabelecimentos de ensino relevantes e centros de treino técnico-profissional.

Em acréscimo, e de forma concreta e prática, o seminário discutiu igualmente:

1. Diferentes modelos de ensino de jornalismo passíveis de adoção em Moçambique; 2. O novo papel da Escola de Jornalismo no presente contexto de pluralismo e

independência dos media; 3. A troca de sinergias entre as diferentes instituições de formação acadêmica e treino

profissional, dentro do País e na região, e 4. O papel dos parceiros de cooperação na formação em jornalismo. Ao longo de dois dias, as discussões em torno destes temas receberam contribuições de um grupo de cerca de sessenta participantes, constituído por directores editoriais, editores e gestores de diferentes órgãos de comunicação social, educadores e formadores em jornalismo e comunicação, e ainda representantes de instituições de formação convidados da região da SADC, alem de representantes de organismos governamentais de tutela, nomeadamente do Gabinete de Informação (Gabinfo).

III - METODOLOGIA O seminário foi organizado em quatro painés de temas específicos , uma sessão de discussões em grupo e uma sessão plenária final. O ponto central do seminário foi a apresentação das principais constatações e recomendações do “Estudo sobre o Ensino e Formação em Jornalismo e Comunicação”, encomendado a dois especialistas, pelo Projecto dos Media da UNESCO/PNUD em Dezembro de 2000. O estudo identifica as necessidades do sector da comunicação social em termos de recursos humanos adequadamente preparados para responder aos desafios de um jornalismo moderno e actuante, ao mesmo tempo que apresenta o nível de respostas oferecidas à indústria do sector

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pelas instituições de formação existentes no País. Três instituições de ensino e formação de jornalistas foram os principais alvos deste estudo, a saber:

- a Escola de Jornalismo; - o Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU) e - a Universidade Católica (Curso de Bacharelato em Comunicação na Faculdade

de Educação de Nampula) Este resumo foi apresentado por Eduardo Namburete, da Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, membro da equipa que efectuou o estudo, sob a chefia do Professor Matt Mogekwo, da Universidade de North West Mmanatho, África do Sul. As constatações do estudo foram a base para uma primeira sessão de discussões em torno do estado do ensino da comunicação e do jornalismo em Moçambique, oportunidade inicial para os participantes adiantarem linhas estratégicas para ações de reforma do sector. Particular ênfase foi imediatamente conferido à Escola de Jornalismo, potencialmente o principal formador de quadros técnicos editoriais para a indústria dos media em Moçambique. 1. PAINEIS TEMÁTICOS A este primeiro debate em plenária, seguiram discussões em torno de matérias mais específicas, através dos seguintes quatro painéis sucessivos: O primeiro painel temático, integrado por editores e directores editoriais de diferentes órgãos de comunicação social, debruçou-se sobre a problemática das necessidades das empresas jornalísticas vis-à-vis a formação oferecida pelas instituições de formação em comunicação. O segundo painel temático era liderado por acadêmicos não directamente envolvidos no ensino ou na prática de jornalismo, e destinava-se a colher uma avaliação crítica do estado do jornalismo em Moçambique sob uma perspectiva acadêmica. O terceiro painel contribui para o seminário, apresentando uma perspectiva regional da formação em jornalismo na África Austral – possibilidades e desafios. Finalmente, e já no segundo dia dos trabalhos do seminário, o quarto painel debruçou-se sobre um menu de modelos possíveis de ensino e treino profissional em jornalismo ao nível terciário.

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2. GRUPOS TEMÁTICOS As apresentações e discussões havidas até ao fim da manhã do segundo dia do seminário foram aprofundadas , em sessões mais restritas, de quatro grupos temáticos, que se concentraram, cada um, sobre os seguintes tópicos específicos:

1. Modelos possíveis de formação em jornalismo ao nível terciário; 2. Novo papel da Escola de Jornalismo e desenvolvimento curricular; 3. Sinergias e interligação entre as instituições de formação nacionais, regionais e a Escola

de Jornalismo; e 4. O papel dos parceiros de cooperação na formação em jornalismo.

Após as discussões em grupos de trabalho, seguiu-se na parte da tarde a apresentação das conclusões e propostas de recomendações, e subseqüente discussão em plenária, na parte final do seminário. IV – AVALIACAO GERAL DAS DISCUSSÕES No discurso inaugural do seminário, o Ministro da Educação referiu dois aspectos de fundo, directamente relacionados com a reunião e relevantes para os objectivos desta, nomeadamente ao transmitir oficialmente a informação de que “actualmente decorre um estudo para a transformação da Escola de Jornalismo em instituto superior de formação em comunicação social”, ao mesmo tempo que exprimia a expectativa de que do seminário “saiam subsídios importantes para ajudar o governo a definir as suas responsabilidades na formação de profissionais de comunicação social”. Esta abertura do governo veio estimular discussões abertas e em torno de questões muito concretas, que caracterizam o sector presentemente, inicialmente à luz do “Estudo sobre o Ensino e Formação em Jornalismo e Comunicação”, cujas principais constatações indicam o seguinte:

1. Nível fraco do jornalismo praticado no país; 2. Currículos das novas instituições de ensino e formação em jornalismo e comunicação

considerados inadequados, e que urge reformular;

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3. Falta de professores com formação acadêmica e técnico-profissional adequada e à altura das crescentes exigências da indústria do sector;

4. Infra-estruturas inadequadas e falta de equipamentos apropriados, bibliotecas e outras facilidades necessárias para a formação em jornalismo;

5. A Escola de Jornalismo, a maior e a mais antiga instituição de formação de jornalistas no país ,é inadequada, quer em termos do seu currículo e recursos humanos, nomeadamente docentes, quer em instalações e equipamento. Ela precisa de uma séria e urgente reestruturação;

6. A subordinação da Escola de Jornalismo ao Gabinete de Informação constitui um importante constrangimento para o seu desenvolvimento;

Destas constatações feitas pelo estudo os participantes focalizaram sobre os seguintes pontos em particular:

1. Reconheceram que a situação sombria apresentada pelo estudo sobre o estado do ensino de jornalismo é real mas que não devia ser entendida como correspondendo a uma situação excepcional de Moçambique, pois cenários semelhantes se apresentam em muitos países da África. O ponto central a ser considerado é como superar a presente preparação deficiente e decifitária de jornalistas no País;

2. Sublinharam a fraca preparação técnico-profissional dos alunos formados pela Escola de Jornalismo, devido a programas curriculares defasados da profissão;

3. Nota particular foi atribuída à inexistência de qualquer preparação dos alunos em conexão com as novas tecnologias de comunicação e informação ;

4. Vários cenários foram aventados, em termos de figurino possível para a Escola de Jornalismo, no sentido que lhe confira um mais adequado enquadramento institucional , maior e mais eficiente profissionalização dos seus alunos. A seguir enumeram-se os mais discutidos:

a) A sua tutelagem directa pelo Ministério da Educação, à semelhança dos

Institutos Técnico-Profissionais de nível médio (nomeadamente Industrial e Comercial);

b) A sua transformação em Instituto Politécnico Autônomo; c) A sua tutelagem pela, ou integração na Universidade Eduardo Mondlane

(Universidade pública).

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5. Destes figurinos possíveis, atraíram maior atenção dos participantes, os primeiros dois, por corresponderem ao modelo de Escola de Formação de Quadros Técnicos Médios, identificados pela indústria do sector como os mais ajustados à suas necessidades.

6. Sublinharam a necessidade das instituições de formação de jornalistas em geral e, em

particular, a Escola de Jornalismo, estabelecerem vínculos institucionais e sistemáticos com os gestores das empresas do sector, directores editoriais e editores, envolvendo-os de forma conseqüente nas discussões e definição dos programas curriculares e necessidades afins;

7. A aproximação entre a Escola de Jornalismo e o sector serviria também para criar maior

interesse nos estudantes pela profissão pois, segundo os participantes, o que acontece actualmente é que os graduados da Escola de Jornalismo não ingressam na carreira jornalística, servindo-se antes da Escola como trampolim para cursos universitários superiores diversos, situação que tende a perpetuar a escassez de jornalistas qualificados no país.

8. As novas instituições (privadas) de ensino e formação em comunicação e jornalismo

deverão igualmente conceber e dimensionar os respectivos programas curriculares tendo em linha de conta as reais necessidades da indústria da comunicação, com a qual deverão interagir de forma sistemática e conseqüente.

9. Em particular, os programas curriculares deverão procurar adequar-se o mais possível

às realidades sócio-culturais e também econômicas do País, de forma a produzirem profissionais de comunicação capazes de interpretar com a devida acutilancia e rigor a realidade circundante.

Em acréscimo, foram expostas as seguintes reflexões: Sobre a falta de interesse dos estudantes pela carreira de jornalismo foi sugerido que se tomasse em consideração a introdução de disciplinas ligadas à comunicação nas classes primárias para que seja dada aos estudantes oportunidade para se aperceberem da importância da comunicação social no desenvolvimento do país ainda nessa fase inicial da sua educação.

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Os participantes expressaram igualmente fortes dúvidas sobre o nível escolar exigido para ingresso na Escola de Jornalismo, neste momento fixado no décimo ano de escolaridade. Houve fortes tendências defendendo a elevação deste nível para o 12º ano de escolaridade. Os editores reclamaram com insistência por um sistema de formação dos alunos que fosse mais orientado para a profissionalização, através nomeadamente de uma maior exposição às redações dos órgãos de comunicação social, para um contacto mais directo com o seu futuro ambiente profissional e mercado de trabalho. O enquadramento institucional da Escola de Jornalismo foi um dos assuntos que suscitou vivos debates entre os participantes que consideraram que a actual estrutura de tutela constitui um grande ponto de fraqueza para o seu desenvolvimento. Sobre este aspecto os participantes recomendaram várias alternativas para a tutela mais efectiva da escola, como já referido anteriormente. Foi também levada à reflexão a intenção da transformação da Escola de Jornalismo em instituição de ensino superior, anunciada pelo Ministro da Educação durante o seu discurso de abertura. Um dos argumentos apresentados pela direção da Escola de Jornalismo para o projecto da transformação desta em instituto superior de formação em comunicação social refere que essa seria a estratégia adequada para a instituição poder beneficiar de apoios financeiros mais robustos, quer de dentro, quer de fora do País. A explicação foi acolhida com forte reserva pelos participantes ao seminário, que o consideraram insuficiente, como suporte de uma decisão de elevadas conseqüências estratégicas para o desenvolvimento do sector da comunicação social em Moçambique. Sobre esta questão os participantes produziram as seguintes sugestões:

1- Que a Escola de Jornalismo deveria continuar a leccionar a nível médio para satisfazer as necessidades do sector em termos de profissionais para a industria da comunicação;

2- Que a Escola de Jornalismo deveria evoluir no sentido de formar jornalistas a nível de bacharelato;

3- Que a Escola de Jornalismo deveria introduzir o diploma.

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GRUPO I DE ANEXOS:

PAINEL I PAINEL II PAINEL III PAINEL IV

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PAINEL I NECESSIDADES DAS EMPRESAS JORNALÍSTICAS VIS-À-VIS A FORMAÇÃO OFERECIDA

PELAS INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO EM COMUNICAÇÃO As necessidades das empresas jornalísticas versus formação oferecida pelas instituições de formação em comunicação foram discutidas numa sessão que teve um painel com a seguinte composição:

1- António Gumende, Presidente do “MediaCoop” e Editor Executivo da SARDC-Maputo;

2- Leandro Paul, Proprietário e Editor do semanário “Fim-de-Semana” 3- Leonel Matias, Director de Informação da Rádio Moçambique 4- Salomão Moyana, Editor do semanário “Savana” 5- Simão Anguilaze, Director de Informação da Televisão de Moçambique.

Leandro Paul sublinhou a necessidade dos jornalistas em formação na Escola de Jornalismo serem treinados no comando básico do uso do computador e manipulação da Internet. Estas matérias, apesar de incluídas nos programas curriculares da Escola de Jornalismo, não tem sido ministradas aos alunos, pois a escola não possui computadores. A falta de especialização no jornalismo nacional foi apontada como sendo também uma grande desvantagem no funcionamento dos órgãos de comunicação, tendo havido sugestões no sentido de a Escola de Jornalismo conceber igualmente módulos específicos de formação especializada de profissionais já “no terreno”. Leonel Matias abordou com particular ênfase a experiência da Rádio Moçambique no seu relacionamento com a Escola de Jornalismo, nomeadamente no que se refere a estágios de alunos daquela escola. Matias refere que, do contacto mantido com “dezenas de estudantes” da escola ao longo de anos, constata-lhes deficiências que denunciam um processo de recrutamento aleatório, falta de motivação e interesse pela profissão de jornalismo, e má preparação acadêmica de base. Relativamente à organização dos próprios períodos de estágios,

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Matias sugere que estes fossem mais alargados, iniciados com maior antecedência, ao contrário da pratica presente, em que ocorrem apenas no último semestre do curso. Simão Anguilaze, um dos jornalistas seniores nacionais com formação de base adquirida na Escola de Jornalismo, disse que, tal como ele,muitos outros jornalistas da Televisão de Moçambique tiveram a sua formação básica na mesma escola , e num outro contexto histórico e programa curricular. Presentemente, a sua experiência mostra que o sistema de estágios de três meses que os estudantes fazem na TVM é ineficaz , na medida em que eles começam o estágio praticamente sem qualquer domínio técnico da sua futura profissão. Segundo Anguilaze, existe grande desfazamento entre aquilo que os estagiários trazem da Escola e aquilo que espera que eles sejam capazes de demonstrar no local de trabalho. Resulta daí que nos períodos de estágio, já nos últimos meses do curso, ainda necessitem de aprender “as coisas mais elementares” da profissão. A importância da Escola de Jornalismo é, porém, destacada pelo editor do “Savana”, Salomão Moyana, que a considera importante na formação dos jornalistas em Moçambique.Moyana recorda porem que desde 1991 que são organizadas discussões públicas sobre o que a escola deve produzir, mas olhando para os resultados do estudo sobre o ensino e formação em jornalismo e comunicação nota-se que persistem os mesmos problemas de há dez, ou mais anos, atrás. Do conhecimento que tem de finalistas da escola, Moyana afirma que muitos deles terminam o curso sem saber escrever em Português correctamente. Moyana sublinhou ainda que seria de todo desejável que os estudantes da Escola de Jornalismo terminassem a sua formação com bom domínio do Inglês, pois isso facilitaria o seu aperfeiçoamento profissional futuro em cursos de especialização na região da África Austral. Relativamente ao anunciado projecto de transformação da Escola de Jornalismo em Instituto Superior, o editor do Savana acha que a escola devia se manter com o mesmo estatuto de ensino médio e deixar que as universidades se ocupem em formar a nível superior. O que a escola precisa, na opinião de Moyana, é de ser apetrechada com recursos financeiros, materiais e humanos capazes de lhe dar as condições necessárias para formar o tipo de jornalistas que o país precisa.

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PAINEL II

O ESTADO DO JORNALISMO EM MOÇAMBIQUE: UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA

SOB UMA PERSPECTIVA ACADÉMICA

Os debates em torno deste tema foram animados por um painel assim constituído:

1- António Carrasco, Director-Geral do Instituto de Comunicação Social (ICS); 2- Hilário Matusse,Secretário-Geral do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) 3- Firmino Mucavele, Director e docente da Faculdade de Economia da UEM. 4- Obede Baloi, Director e docente da Unidade de Formação e Investigação em

Ciências Sociais (UFICS) da UEM. Obede Baloi foi o orador principal, que fez uma avaliação crítica sob uma perspectiva académica do estado do jornalismo em Moçambique. A reflexão feita por Baloi baseia-se numa análise das informações jornalísticas veiculadas pela imprensa , avaliando as variáveis relacionadas com a fraqueza em termos de qualidade profissional no jornalismo. Segundo ele, a hipótese é fundamentalmente a fraca preparação básica (de especialidade) dos profissionais. Outro motivo que concorre para a fraca qualidade profissional do jornalismo está relacionado com a má formação acadêmica geral dos jornalistas. Citou o exemplo de uma peça jornalística veiculada pela Rádio Moçambique em 15 de Abril em que se dizia que “Cristãos e Católicos celebram a páscoa” e que no desenvolvimento da notícia não se fazia menção de quem celebra a páscoa. Para Baloi, o jornalista limitou-se a seus conhecimentos restritos para construir a notícia, e isto revela uma má formação em termos de conhecimentos gerais. A quase inexistência de um jornalismo de precisão entre os profissionais da comunicação em Moçambique e a questão do uso abusivo de fontes anónimas foi outro aspecto apontado na avaliação feita sobre o estado do jornalismo em Moçambique. Sobre este último o orador disse ser sintomático o problema do uso de fontes anónimas no jornalismo moçambicano, exemplificando com o artigo publicado na última página do semanário Domingo, na sua edição de 1 de Abril de 2001, sobre uma suposta detenção policial do filho do Presidente da República, Nhimpine Chissano, na África do Sul. De acordo com Baloi a compreensão dos factos expostos nesta notícia “ficou nublada pela pouca possibilidade de identificabilidade das fontes”. Outro

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problema que denuncia o problema das fontes no jornalismo Moçambicano é a recorrência à expressões como: “segundo fontes próximas a nós, segundo fontes fidedignas, segundo

soubemos de fontes ligadas a...” Essas expressões, segundo o orador, obscurecem e tornam frágil a fiabilidade da informação que se pretende passar. A ainda relativamente alta insipiência técnica do jornalismo moçambicano foi reconhecida pelo Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas, Hilário Matusse, que a relacionou com a má qualidade de formação geral dos jornalistas, e reconheceu que a questão de “fontes anônimas” pode ser conseqüência das dificuldades de acesso às fontes de informação, principalmente do Estado,o que resulta numa grande limitante para o exercício do jornalismo. Esta questão de acesso às fontes de informação foi, de resto, abordada como sendo uma manifestação, na área jornalística, de um problema ainda maior: a falta de uma cultura de informação, que atravessa toda a sociedade, desde a chamada classe política até à área acadêmica, onde o culto do secretismo é ainda demasiado forte. Outro painelista, António Carrasco, acrescenta aos problemas da fraca formação básica ou mesmo de conhecimentos gerais, as dificuldades financeiras com que se deparam os órgãos de comunicação, o que limita em grande medida a capacidade de trabalhos de maior investigação jornalística. Foi também anotado neste painel que o surgimento, no País, de um chamado “capitalismo selvagem” afectou também grandemente o “performance” do sector da comunicação social, nomeadamente no plano ético, com a publicação de artigos supostamente jornalísticos, e que são susceptíveis de incitar à violência política, em troca de valores monetários. Este facto foi visto como constituindo uma grande desvantagem para o crescimento e consagração de um jornalismo de qualidade e credível.

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PAINEL III

UMA PRESPECTIVA REGIONAL DE FORMAÇÃO EM JORNALISMO NA ÁFRICA AUSTRAL:

POSSIBILIDADES E DESAFIOS Para uma visão geral dos modelos, tendências e estratégias seguidas na região da África Austral na área de formação de jornalistas foi constituído um painel integrando especialistas quer da sub-componente de aperfeiçoamento técnico-profissional, quer da sub-componente acadêmica. Integraram o painel os seguintes convidados:

1- John Mukela, Director Executivo do NSJ Trust; 2- Hugh McCullum, investigador da SARDC, Harare 3- Keyan Tomasseli, da Universidade de Natal 4- Gil Lauricino, investigador e docente do ISRI, Maputo.

Os oradores pronunciaram-se sobretudo sobre a sua leitura do jornalismo e seu desenvolvimento na região, focalizando sobre os principais desafios que se colocam actualmente aos profissionais da área, nomeadamente : a relação conteúdo-nível técnico, numa visão de capacidade de pesquisa jornalística, bem como a incontornável questão do acesso e domínio das novas tecnologias de informação e comunicação. Segundo Hugh McCullum o problema da qualidade do jornalismo na África Austral não pode ser analisado somente sob o ponto de vista da insuficiência – em numero e em qualidade - de instituições de formação, mas sobretudo num grande défice de coordenação e troca de sinergias entre as capacidades existentes neste domínio. John Mukela, que dirige uma instituição regional de formação profissional sediada em Maputo desde 1993- o NSJ Trust - vê os problemas que Moçambique apresenta na área do jornalismo como sendo os mesmos que se encontram nos outros países da região. Para ele, a questão de fundo tem a ver com a política que os governos da região adoptam para este sector. Os governos mantêm agendas pouco conhecidas sobre vários assuntos que afectam o normal

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exercício da actividade jornalística. Para consubstanciar as suas afirmações, Mukela recorda que passados dez anos da Declaração de Windoek o que se pode constatar é que se está a regredir, quanto ao estabelecimento e fruição dos princípios da Liberdade de Imprensa, foco daquela declaração de Maio de 1991. Mukela chamou a atenção dos presentes para a situação que se vive hoje no Zimbabwe, em Angola e mesmo na própria Namíbia, em que os jornalistas são forçados a trabalhar dentro de parâmetros derrogativos, estabelecidos pelos respectivos governos para o exercício da profissão jornalística. Keyan Tomaselli, da Universidade do Natal, polemizou a questão sobre a melhor estratégia para a formação de jornalistas por via Universitária ou por via de Escolas Técnicas. Ele fez uma resenha sobre o resultado de uma pesquisa realizada na Universidade do Natal, em que os editores dos jornais, entrevistados para esse efeito, indicavam que preferiam jornalistas formados em Institutos Politécnicos aos provenientes de Faculdades, pois aqueles chegavam às redacções com conhecimentos práticos que lhes permitam investigar e escrever noticias jornalísticas assim que entrassem na redação. A esse respeito, Tomaselli disse ser da opinião de que a formação do jornalista deve, apesar disso, ter em atenção uma sólida preparação teórica, que o habilite a saber analisar diversos fenômenos sociais, políticos, econômicos ou culturais com segurança, já que esse é o primeiro passo para escrever historias cujo conteúdo é verdadeiramente informativo. Outro aspecto que Tomaselli colocou como uma grande deficiência no sector do jornalismo na região é a questão do equilíbrio do gênero, em que a representatividade da mulher é ainda muito baixa. Tomaselli deu como breve exemplo o facto de, havendo acidentes em minas na África do Sul, os jornais enviam, por regra, jornalistas homens para realizar a respectiva reportagem.O publico perde continuamente, pois certamente que um “olho” feminino haveria de “ver” o mesmo acidente numa perspectiva diferente, considera o acadêmico. Ele recomenda que o assunto género fosse abordado com maior destaque na formação do jornalista e aconselhou que os jornalistas do sexo masculino procurassem compartilhar as suas experiências com as colegas do sexo oposto e não isolá-las como acontece em várias redacções da região.

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PAINEL IV

MENU DE MODELOS POSSÍVEIS PARA UMA FORMAÇÃO EM JORNALISMO AO NÍVEL TERCEÁRIO

As diferentes propostas de modelo de cursos de formação de jornalistas ao nível terciário foram apresentadas por Marcelino Alves, Coordenador do Curso de Ciências de Comunicação no ISPU, num painel assim composto:

1- Pde. Arlindo Pinto, docente da Universidade Católica, Nampula 2- Armindo Chavana, Director de Programas, TVM 3- Delfina Mugabe, Sub-Chefe da Redação, “Notícias”

Marcelino Alves referiu a existência de uma multiplicidade de modelos , sendo que o mais importante é que esses modelos sejam adequados à realidade sócio-económica e cultural do País em causa, sem desmerecer o rigor científico. Segundo Alves, uma das principais dificuldades que se colocam para a elaboração de um modelo ideal para a formação em jornalismo em Moçambique, prende-se com o próprio mercado que, segundo ele, se caracteriza pela fraca oferta de emprego por parte das empresas jornalísticas e salários baixos que não aliciam os mais novos a procurar emprego ou formação neste sector. Outro factor negativo é que embora exista hoje um número razoável de jornalistas formados, muito poucos estão a praticar jornalismo por causa das condições salariais. Esta situação faz com que o sector continue a funcionar com jornalistas sem formação formal, reeditando-se desta forma o mesmo cenário de há dez anos atrás. Cria-se então o que ele chamou de um primeiro circuito fechado, em que por um lado tem-se jornalistas mal formados que só podem fazer mau jornalismo, e por outro lado não se pode ter um bom jornalismo sem que haja um desenvolvimento das empresas jornalísticas e estas por sua vez só se podem desenvolver se poderem contar com bons profissionais.

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V – PRINCIPAIS RECOMENDACÕES Das reflexões havidas durante as diferentes sessões e discussões em grupos de trabalho, foram sugeridas recomendações diversas, apresentadas e rebatidas na sessão plenária final, e cujo conteúdo a seguir se reproduz:

1. Que a Escola de Jornalismo seja transformada num Instituto Politécnico autônomo ou dependente do Ministério da Educação ou do Ministério Ensino Superior e Tecnologia ou transformada numa unidade autónoma de formação em jornalismo sob tutela de uma instituição de ensino superior, nomeadamente a UEM (Universidade Pública);

2. A Escola de Jornalismo dever desenvolver sinergias e maior integração com as outras

instituições do ensino de jornalismo e os órgãos de comunicação nacionais e também regionais;

3. A Escola de Jornalismo deve envolver as empresas jornalísticas e os profissionais do

sector, avaliando as suas necessidades reais, para serem reflectidas no processo de desenvolvimento curricular dos seus cursos.

4. Os doadores devem ser encorajados e mobilizados no sentido de conceder os apoios

necessários ao desenvolvimento da Escola de Jornalismo e outras instituições ligadas ao ensino e formação em jornalismo.

5. A Escola de Jornalismo deve ser apetrechada com recursos humanos e materiais

necessários para um ensino e formação sólidas de em jornalismo.

6. A Escola de Jornalismo deve considerar a introdução do ensino à distância para profissionais em exercício.

CONSIDERACÕES FINAIS A complexidade dos temas discutidos, na perspectiva de produzir sugestões susceptíveis de levar à tomada de decisões, por parte do Governo, que ajudem a elevar a qualidade do jornalismo em Moçambique, bem como a interligação dos mesmos temas com todo o sistema –

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e situação presente – da educação no País, permitiram, por um lado, debates de reconhecida qualidade e profundidade, ao mesmo tempo que representaram um grande desafio para o alcance de soluções que fossem consensuais, de forma imediata. O interesse da indústria dos media em ser apetrechada com profissionais de sólida formação teórica e técnica, adequadamente preparados para interpretarem com segurança e necessária acutilancia profissional os fenômenos sociais, políticos, econômicos e culturais da sociedade, foi manifestado neste seminário, de forma clara e inequívoca, e, com insistência, o sector reivindicou para si papel preponderante na concepção de programas curriculares e na integração dos futuros profissionais de comunicação social no seu “habitat” laboral, ainda durante o processo da sua formação acadêmico-técnica. Foi particularmente notório um sentimento de frustração mais ou menos generalizado pelo estado e prestígio debilitado da Escola de Jornalismo, encarada pela indústria dos media como devendo ser a principal fornecedora de quadros médios, nível ajustado ao estádio actual do crescimento do mercado respectivo, que, apesar de relativamente vibrante em termos de diversidade, é ainda emergente em termos de poder económico. Discussões relativamente mais prolongadas verificaram-se na sessão plenária sobre o grau que a escola deve conferir aos seus graduados. Duas posições vincaram sobre este aspecto: A manutenção do nível médio que a Escola de Jornalismo vem conferindo aos seus graduados, ou a introdução do grau de bacharelato. Como ficou atrás registado, uma outra questão de destacada importância é a que se refere à actual tutela da escola, sob a qual seria difícil encontrar os necessários apoios (internos externos) já que a instituição se acha subordinada a uma estrutura governamental não vocacionada ao ensino ou à formação técnico-profissional, e que é, por sua vez, também tutelada por uma segunda: o Gabinete de Informação, por sua vez sob tutela do Gabinete do Primeiro-Ministro. Os participantes entenderam como inconclusivas as informações prestadas durante o seminário relativamente ao projecto de transformação da Escola de Jornalismo num instituto superior de formação em comunicação social. Na seqüência de diferentes solicitações de informação endereçadas pelos participantes à direção da Escola de Jornalismo, esta, na pessoa do Director,

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Dr. Tomás Jane, informou estar ainda em preparação um processo de consultas junto da industria dos media, e de outros especialistas e instituições relevantes, para colher os seus pareceres a respeito do aludido projecto. A este respeito, os participantes concluíram ser relevante endereçar as recomendações deste seminário ao Governo para que, em resposta ao apelo do Ministro da Educação lançado na sessão de abertura, elas possam “ajudar o governo a definir as suas responsabilidades na formação de profissionais de comunicação social”. Finalmente,os participantes, nacionais e estrangeiros, foram unânimes em sublinhar que o seminário foi uma ocasião privilegiada, em que, acadêmicos, profissionais de comunicação social e formadores, puderem encontrar-se para uma franca e aberta troca de idéias, não só sobre as estratégias mais adequadas para a formação de jornalistas aptos a trabalhar num contexto de diversidade e pluralismo, como ainda sobre o ambiente da indústria deste sector em geral, no País. Contribuições especiais foram recebidas de especialistas e acadêmicos experientes da região, que se ofereceram para partilhar com colegas moçambicanos as suas experiências particulares neste domínio, ainda numa fase comparativamente incipiente em Moçambique. A presença sistemática e contribuições da Direção da Escola de Jornalismo, nomeadamente através do respectivo director, Dr. Tomas Jane, dos coordenadores dos cursos de comunicação social do ISPU, Dr. Marcelino Alves, e da Faculdade de Educação da Universidade Católica em Nampula, Padre Arlindo Pinto, foram também de capital interesse, para uma melhor compreensão do contexto e programas curriculares destas instituições e, conseqüentemente, para o sucesso do seminário. Da região da SADC, foram de grande mérito, as contribuições recebidas de acadêmicos, investigadores e gestores de instituições de aperfeiçoamento profissional, nomeadamente de: Professor Keyan Tomaselli, Director do Centro de Estudos Culturais e de Media da Universidade de Natal (Durban), Dr. Hugh McCulum, investigador sênior do Centro de Investigação e Documentação da África Austral (SARDC), baseado em Harare, e John Mukela, Director Executivo do Centro de Formação de Jornalistas da África Austral (NSJ Trust), sediado em Maputo.

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O Projecto de Desenvolvimento dos Media da UNESCO/PNUD, teve a honra e o privilégio de organizar o seminário, cumprindo um Objectivo Imediato inscrito no conjunto das suas actividades. Este relatório constitui o produto final daquele mesmo Objectivo Imediato, inscrito no Documento do Projecto, da Fase I , que decorreu de Julho de 1998 a Junho de 2001.

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GRUPO II DE ANEXOS : COMUNICAÇÕES

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JORNALISMO EM MOCAMBIQUE HOJE:

UMA AVALIAÇÃO CRITICA NUMA PERSPECTIVA ACADÉMICA

Por José Jaime Macuane¹

E Obede Suarte Baloi²

Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais (UFICS) Universidade Eduardo Mondlane

Maputo, Maio de 2001

_____________________________________________________________

¹Cientista Político, Docente da UFICS /Universidade Eduardo Mondlane ²Sociólogo, Docente da UFICS/Universidade Eduardo Mondlane

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Knowledge will forever govern ignorance: And people who mean to be their own Governors, must arm themselves with power which knowledge gives.A popular Government, without popular information, or the means of acquiring it, is but a Prologue to Farce of Tragedy, or, perhaps, both.

James Madison 1 Uma das questões proeminentes das sociedades contemporâneas é como os cidadãos podem participar de forma consciente e sistemática nas decisões que afectam as suas vidas. O ponto fulcral neste aspecto é saber que condições existem para que o cidadão comum de facto possa ter elementos que o permitam fazer escolhas conscientes, e contribua de forma substancial na produção das decisões que o afectam directa e indirectamente. No caso dos sistemas democráticos, que pressupõem uma participação efectiva dos cidadãos, estudiosos como Luppia e McCubbins (1998) apontam para a existência do que chamam dilema democrático. Ou seja, ao mesmo tempo que se espera que os cidadãos tenham maior protagonismo na tomada de decisões, eles muitas vezes não podem faze-lo, seja por falta de conhecimento, seja por falta de informação. O argumento fundamental dos autores é o de que as pessoas tem falta de informação política2 e essa lacuna poderá fazer com que pessoas de “desígnios sinistros” enganem os mal informados. Porém, os mesmos autores argumentam que a democracia não precisa sucumbir a essas ameaças, uma vez que os cidadãos podem encontrar várias formas de contornar essa situação. Por exemplo, os cidadãos podem : a) basear as suas decisões em pouca informação; b)podem substituir a informação que não tem pelos conselhos de outros; c) confiar nos conselhos dos outros envolve um tradeoff, porque embora diminua os custos de adquirir informação (ou conhecimento), também introduz a possibilidade de decepção; e d)ironicamente, a informação em si, seja política ou de outra índole, não é escassa; o que escasseia são os recursos cognitivos3 que a pessoa usa para processar essa informação. Por exemplo, a informação aparece nos meios de comunicação, em amigos, em colegas, mas falta de tempo para processa-la.

1 ¹Esta é uma citação presente em Luppia e McCubbins(1998), que por sua vez citaram de outro autor. A despeito de ser uma citação em terceira mão, a sua adequação ao que pretendemos discutir aqui é inquestionável. 2 Evidentemente essa lacuna pode ser estendida a outras áreas da vida social que envolvem escolhas/decisões colectivas ou individuais 3 E evidentemente também recursos materiais.

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Ainda no âmbito da discussão sobre obtenção da informação/conhecimento pelo cidadão para a tomada de decisões conscientes, Lupia e Mcubbins indicam duas maneiras disponíveis ao indivïduo: através da experiência pessoal, onde experiências do passado servem de base para decisões futuras. A segunda é a partir do aprendizado pelos outros, onde os indivíduos substituem a experiência pessoal que lhes falta pela observação do passado dos outros. Em muitos sistemas políticos, apenas a segunda opção está disponível, no sentido de que as decisões são tomadas com base na experiência pessoal e dos outros. Ou seja: a decisão razoável implica aprender dos outros. Esses “outros” podem ser os lideres de opinião, os partidos, os eventos de campanhas (políticas ou publicitárias) e os meios de comunicação. Porém, ainda segundo os autores, aprender dos outros pode levar a três resultados possíveis: a) ao esclarecimento – quando a informação torna o indivíduo esclarecido e capaz de tomar decisões razoáveis; b)a decepção – quando a informação recebida reduz a capacidade de predizer de forma eficiente as conseqüências das ações; c) não aprender – quando a informação recebida não muda as crenças do indivíduo. Neste trabalho, o nosso foco será o papel da informação, os processos, actores e os meios que difundem a mesma, e permitem que os cidadãos possam adquiri-la, e desta forma participarem de forma consciente na tomada de decisões sobre assuntos que afectem a sua vida. A nossa principal questão é saber que papel a informação e/ou comunicação social tem no actual estágio do processo político em Moçambique, caracterizado pela pluridade política e de fontes de informação. Poder-se-á dizer que os meios de comunicação social e os profissionais da área tem contribuído párea a resolução do dilema democrático? Será que o jornalismo praticado em Moçambique neste contexto democrático tem contribuído para a formação de um cidadão informado, e que possa participar das decisões, de forma consciente? Estas e outras questões serão tratadas neste trabalho. Comunicação, meios de comunicação, informação, discurso e impacto social: uma breve reflexão.

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Nas definições genéricas 4 da comunicação , cinco factores são fundamentalmente características deste processo: a) a existência de um emissor; b) a existência de um recptor; c)a existência de um meio ou veículo; d) a existência de uma mensagem; e) a existência de um efeito. De acordo com essas definições, a comunicação seria então um processo pelo qual o emissor envia uma mensagem para um receptor, por meio de um veículo, que produz efeito. Há um certo consenso de que a mensagem de certa forma envolve a capacidade de o veículo poder influenciar na alteração do comportamento do receptor, e às vezes do emissor, em relação a muitos fenômenos fora dele mesmo. O que ocorre, portanto, no processo de comunicação, é a existência de signos e símbolos contendo significados, e que para servirem de elementos efectivos da comunicação devem ser compartilhados pelo emissor e pelo receptor. Dito de forma mais directa, dois indivíduos só se podem comunicar se cada se identificar com a situação do outro, explicitada pelos sinais e símbolos. Portanto, o processo de comunicação é essencialmente um processo de significados compartilhados (DCS). No que concerne à comunicação de massa, que é aquela que se dirige a um vasto público, através das técnicas de transmissão de som e imagem (televisão cinema, jornal, revistas, rádio, etc.) dois aspectos são fundamentais à análise do seu funcionamento. A primeira tem a ver com a instrumentação técnica, a sua organização e o conteúdo do material transmitido. A segunda é relativa às conseqüências sociais da comunicação de massa, nomeadamente o seu impacto na estrutura e processos sociais e seus efeitos psicológicos colectivos e individuais. Este aspecto é o principal foco das ciências sociais, e conseqüentemente também será o nosso, sem deixarmos de dialogar com aspectos técnicos do processo comunicativo, uma vez que acreditamos não serem os dois aspectos categorias estanques. Relativamente à abordagem das ciências sociais sobre a comunicação de massa, pode-se destacar três aspectos cruciais: A comunicação de massa como instituição social – aqui o foco do estudo é na sua organização, controle social, seu lugar e funções na estrutura social e sua relação com o poder político; As condições de eficácia das comunicações de massa – a análise neste aspecto gira em torno da selecção dos canais de comunicação, na natureza das mensagens, na auto-seleccao dos públicos, natureza da atenção prestada por esses públicos, e relações com a estrutura dos grupos em que se projecta a predisposição destes em relação à comunicação de massa; e A natureza e evidencia dos efeitos da comunicação de massa – onde se analisa o que a comunicação se massa produz nos indivíduos, e em que medida influi na mudança social ou na sua ausência. No âmbito dos pontos levantados acima, os meios de comunicação de massa estão intimamente ligados à informação, que vem a ser o meio pelo qual a comunicação de massa atinge os objectivos a ela inerentes. Portanto, a informação tem um sentido inerentemente teleológico, uma vez que ela existe em função de um objectivo: informar, tornar o indivíduo menos ignorante em relação a certos aspectos da realidade, ou simplesmente transmitir sentido. Por conseguinte, a informação como instrumento da comunicação só atinge o seu objectivo quando transmite algum sentido, uma vez que uma mensagem sem sentido não transmite informação, porque não reduz a incerteza ou ignorância do recptor (DCS).

4 Dicionário de Ciências Sociais

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A origem da informação é também um aspecto fundamental na comunicação, uma vez que a sua proveniência está intimamente ligada ao sentido que ela pretende transmitir. Neste quesito, pode-se distinguir as seguintes fontes de informação (DCS): Oficial, quando emana dos órgãos públicos; ou oficiosa quando nasce de grupos privados; Formal ou informal, conforme o uso de meios mais tradicionais (imprensa, radio, televisão, cinema, etc.); ou canais mais específicos (confidencias, boatos, etc.); Clandestina, quando se divulga infringindo uma proibição oficial; confidencial, quando se oferece condicionada à sua não divulgação ; e Oral, escrita, visual ou cifrada, conforme o canal que a transmite. A informação também pode ser analisada de acordo com a sua periodicidade, podendo ser classificada, de forma simplista, em quotidiana e não quotidiana. A informação quotidiana é a que mais nos interessa nesta análise, e as suas características são a publicidade, a actualidade, o interesse geral, a universalidade e a periodicidade. A informação quotidiana tem como objecto a satisfação de uma necessidade humana, qual seja, o direito fundamental à informação. Portanto, dependendo das fontes e das características temporais da informação, ela é susceptível de criar certos sentidos e gerar determinados efeitos. Assim, para Miguel (1999), ao analisar o papel dos media nos processos eleitorais, a mídia informativa é especialmente importante, já que ela se torna – de maneira directa ou indirecta – uma fonte essencial de fornecimento dos recursos cognitivos de que os eleitores dispõem antes de fazerem as suas escolhas. Assim, aquilo que os meios de informação veiculam ou deixam de veicular é significativo do ponto de vista da percepção da realidade social que está disponível para os consumidores. A criação de sentidos por parte da informação veiculada pelos meios de comunicação envolve também um processo selectivo, no qual alguns elementos concorrem, tais como os frames, o discurso, o comportamento dos jornalistas e questões de índole político-económica. Os frames são as formas narrativas dentro das quais a notícia é elaborada, e consistem em convenções do que pode ou não, ser dito, e tornam a compreensão das mensagens mais fácil, uma vez que se adequam à realidade social vigente (Gitlin, 1982; Wolfsfeld, 1993). As formas também influem no discurso veiculado pelos meios de comunicação, conferindo-lhes estrutura e influenciando os significados que transmitem às audiências externas. Neste âmbito, os meios de comunicação podem sedimentar relações sociais por meio de um discurso que universaliza projectos em torno de significantes vazios (Carvalho, 2000). Assim,significados como democracia, unidade nacional, liberdade de imprensa, podem ser veiculados de forma vaga e divorciada de um sentido que remeta à sua complexidade, isso para se ajustar a formas de narrativa predominantes em certos contextos sócio-políticos e até econômicos. No que tange ao discurso, Carvalho (2000, recorrendo a Guha, 1988), distingue três categorias amplas das estruturas narrativas: os discursos primário, secundário e terciário. Segundo a autora, o discurso primário é aquele que pretende ser neutro,indicativo e, sem excepção, procura ter um caráter oficial.A despeito das suas várias formas, o discurso primário é usado essencialmente na produção e circulação de informações contingentes às razoes do

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poder dominante. O discurso é organizado de forma desideologizante, como se este espelhasse um mundo natural e inocente. Por sua vez, o discurso secundário é mais subjectivo e, por ter comentários, é conseqüentemente polissêmico (encerra em si muitos sentidos). No discurso secundário, o narrador está fora do evento, explicando-o. Finalmente, o discurso terciário está mais ligado a proclamações oposicionistas, é distanciado dos eventos,mas estes são explorados como temas de terceira pessoa. Ainda segundo Carvalho, os três discursos são inseparáveis em discursos concretos.Enquanto o discurso primário produz uma ilusão de verdade que consolida um sistema de diferenças, o discurso secundário adopta uma lógica que reorganiza o discurso na forma de significantes vazios. Finalmente, o discurso terciário é constituído por termos oposicionistas de actores excluídos, que tem como objectivo transgredir o sistema discursivo primário de diferenças através da sua negação. No que tange a jornalistas, a principal questão que se coloca é como eles podem conseguir,ao mesmo tempo, conciliar a sua qualidade de porta-vozes credíveis da vida real (Zelizer, 1992) com a condição de cidadãos, e portanto com direito a opinião e transmissão de mensagens que criam sentidos que possam servir os seus interesses de actores sociais relevantes. Finalmente, no que tange à questões econômicas, Miguel (1999) afirma que o comportamento dos media em geral, e do jornalismo em particular, sobre influencias distintas, dentre elas as pressões do mercado, a estrutura de propriedade das empresas e a forma de produção industrial de notícia, alem da origem social e da socialização educacional e profissional comum dos jornalistas. Portanto, a produção de significados, a construção dos discursos, o processo de produção da informação e os constrangimentos que o mesmo sofre, o posicionamento dos jornalistas e os efeitos na sociedade dos meios de comunicação em Moçambique é o que pretendemos analisar neste trabalho. A questão fundamental é se o jornalismo praticado em Moçambique contribui ou não, para a resolução do dilema democrático, e na construção de significados sociais, ajudando na existência de cidadãos informados e que possam participar de forma efectiva no processo de tomada de decisões. A nosso ver, isso passa fundamentalmente por: um posicionamento crítico dos profissionais de comunicação em relação ao contexto em que se produz a informação; a capacidade de identificação dos significados ocultos nos discursos; e a coragem ética de assumir a adesão a certas estruturas narrativas,o que pressupõe um distanciamento de formas de manipulação, que podem gerar a decepção (definida acima) no cidadão; a coragem cívica de romper com as formas de narrativa que contribuam para a preponderância de significantes vazios que se divorciam da realidade objectiva e se eximem de discutir a complexidade da realidade social, bem como aquelas comprometidas com a sedimentação de significados e estruturas sociais excludentes.

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Vejamos como o jornalismo em Moçambique tem saído responder a esses desafios nestes primeiros anos de pluralidade política e de fontes de informação. O nosso foco será a análise de alguns jornais – Diário de Moçambique, Domingo, Savana, Notícias, Metical e Mediafax- de edições tomadas de forma aleatória, e assistência e auscultação de programas e noticiários das televisões e rádios existentes. Com base nestes meios de comunicação, tentaremos descortinar como o discurso e a construção de significados se processam. Os elementos de análise serão os tipos de discurso, como as fontes são usadas, e como são construídos significados em torno de questões importantes. De forma subsidiária, veremos como as condições existentes contribuem para o tipo de jornalismo praticado e quais os problemas e prováveis saídas. O Jornalismo em Moçambique hoje O momento de pluralidade política e de informação que existe em Moçambique hoje de certeza contribui significativamente para a melhoria da informação fornecida ao cidadão. Contudo, a despeito da possibilidade de escolha dos veículos e fontes de informação por parte do cidadão, algumas lacunas podem ser apontadas no que concerne ao papel social e político dos meios de comunicação no país. Vejamos como isso ocorre, tomando como base o discurso, a construção de significados, as fontes de informação e os canais pelos quais a informação é veiculada. Discurso No que toca ao discurso, nota-se uma segmentação, no seio dos meios de comunicação, na forma como a informação é apresentada. Isto é, a informação chega ao cidadão de forma fragmentada, uma vez que cada órgãos de informação tem a tendência de vocalizar o posicionamento de certos grupos sociais em detrimento de outros. Como exemplo, nota-se claramente uma recorrência a fontes e visões oficiais (um pendor ao discurso primário), mesclada com opiniões (discurso secundário), que reforçam o discurso dominante na representação da realidade por jornais com uma história mais ligada às instancias de poder. Para ilustrar isso, uma notícia veiculada na primeira página do jornal “Notïcias” de 2 de Maio de 2001, intitulada Começa o julgamento do “caso Montepuez”, inicia com a seguinte frase: “Começa esta manha o julgamento dos cabecilhas (grifo nosso) da manifestação sangrenta promovida pela Renamo-EU...” O mesmo processo ocorre nos jornais mais independentes, onde o discurso mescla a vocalização dos grupos excluídos das esferas do poder (oposicionistas) reforçado com uma carga opinativa. O exemplo disso são as matérias sobre o sector do caju e sobre a atuação da polícia na repressão aos freqüentadores de barracas, veiculadas pelo Jornal Savana em 27 de Abril. Portanto, há uma clara tendência à segmentação da representação da realidade nos meios de comunicação, uma vez as linhas editoriais de muitos órgãos de informação estarem consideravelmente enviesadas.O jornalismo praticado em Moçambique, tomando como exemplo o mundo político, ainda não conseguiu criar uma informação que de voz, de forma equilibrada, aos actores intervenientes no processo. Na verdade, o seu enviesamento nao pode ser visto como negativo, o que falta para o cidadão, a exemplo de meios de comunicação de alguns países, é saber de forma explicita qual é a linha editorial dos veículos de informação que ele usa. Portanto, neste ponto, a questão é essencialmente ética, uma vez que o cidadão deveria ter a possibilidade de saber quais são os objectivos da informação que ele consome, de forma a saber decifrar os significados ocultos nas mensagens que até ele chegam.

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Construção de Significados O Jonalismo moçambicano também tem sido presa fácil de discursos que ajudam a promover significantes vazios. Por exemplo, é recorrente a difusão de expressões como parceria inteligente, unidade nacional, agenda nacional, democracia, descentralização, sem a devida reflexão das implicações e das complexidades que essas categorias encerram. Ao aderir a discursos permeados por significantes vazios, o jornalismo moçambicano contribui, consciente ou inconscientemente, na sedimentação de estruturas sociais políticas e econômicas que, mesmo desfavoráveis ao cidadão, este não tem a capacidade de descobrir os seus reais significados e desta forma tentar promover a mudança social. A questão do uso das fontes O uso das fontes de informação é um problema presente no jornalismo moçambicano. É certo que em certos casos os meios de comunicação devem garantir o anonimato das fontes de informação, mas parece-nos haver um certo exagero em relação à invisibilidade ou possibilidade de identificação das fontes, principalmente quando se trata de um jornalismo mais investigativo.Mas A identificação das fontes de informação consumida é um elemento muito importante, porque dela deriva a possibilidade de o leitor analisar até que ponto a fonte é ou não é idônea. Um exemplo sintomático deste aspecto, ao qual o Domingo fez referencia na última página da sua edição de 1 de Abril de 2001, é uma suposta detenção de Nhimpine Chissano, filho do Presidente da República, Joaquim Chissano,na África do Sul. Sem entrar no mérito da questão, a compreensão dos factos expostos nesta notícia ficou turvada pela pouca possibilidade de identificabilidade das fontes. O problema não pára por aí; é recorrente na imprensa moçambicana a existência de expressões como : segundo fontes próximas do assunto...fontes fidedignas, segundo soubemos de fontes ligadas a esta questão...expressões essas que muitas vezes obscurecem e tornam frágil a fiabilidade da informação dada. Talvez com a batalha que os jornalistas começaram a travar, pela adoção de uma lei que permita maior acesso à informação junto de órgãos relevantes da Administração Pública, essa lacuna seja superada. Canais de Informação A questão dos canais de informação é fundamentalmente um problema de índole técnica e sócio-económica. É largamente sabido que os índices de alfabetização no país são baixos; isso limita sobremaneira o acesso à informação escrita por parte de muitos cidadãos. Some-se a isso o facto de outros meios, como a televisão, terem um alcance meramente urbano, num país que tem a maior parte da sua população a viver nas zonas rurais. O que sobra a essa maioria é a rádio, cujo acesso também é constrangido por questões de índole econômica. Por conseguinte, o acesso à informação no país continua difícil e, quando, excepcionalmente, se torna possível, é permeado de muitas limitações. Como exemplo, podemos ver a programação da televisão estatal, a TVM, na qual o país situado fora dos círculos urbanos é ainda pouco presente. Isto leva à existência de uma grande parte dos cidadãos (será que assim podem ser chamados, nessa situação?) sem acesso à informação. Como esperar que esses moçambicanos possam participar de forma efectiva na tomada de decisões sobre a vida do País?

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Reflexões finais Um dos poucos aspectos que pode levar à caracterização de Moçambique como um sistema democrático hoje em dia é a liberdade de imprensa. Há que louvar o protagonismo, e às vezes, coragem, dos jornalistas na construção de um regime político democrático. Em vários momentos, os jornalistas tomaram a vanguarda da critica social, em momentos que os intelectuais do mundo acadêmico, devido a seus compromissos e por várias razoes, furtaram-se a desempenhar o seu papel inerentemente crítico. Porém, o jornalismo em particular e a comunicação social em geral não estão livres de criticas. Acima, fizemos menção a alguns aspectos que atribulam a missão dos jornalistas, na sua qualidade de agentes que levam a informação aos cidadãos, de modo a poderem participar de forma consciente nas decisões tomadas na sociedade. Mas que causas estariam por detrás dessas lacunas e que soluções podem ser apontadas? A nosso ver, e sem nenhuma originalidade nesta constatação, os problemas são de dois tipos: O primeiro tem a ver com as condições econômicas da comunicação social, que impedem a criação de condições técnicas para a existência de uma comunicação social que possa chegar à maior parte dos cidadãos e desta forma possibilitar o acesso à informação por parte destes últimos. O segundo aspecto é inerentemente de formação do próprio jornalista, uma questão, aliás, apontada no “Estudo sobre o Jornalismo em Moçambique”, preparado pelo Professor Mogekwo (2000) para o Projecto dos Media da UNESCO/PNUD. No que toca fundamentalmente à formação, a principal lacuna que se nota não é apenas nos aspectos formais da própria função de jornalista (apontados no relatório acima referido), mas é também na formação que possa permitir ao jornalista possuir um instrumento crítico em relação à sua função. Com isto queremos dizer que não basta ao jornalista reproduzir os factos e fazer com que eles cheguem ao vasto público. Como agente de informação, que participa na criação de significados e com isso um dos impulsionadores da mudança social, o jornalista deve ter um instrumental acadêmico que lhe permita reflectir sobre os significados ocultos na informação que difunde, e tentar descobrir as intenções subjectivas que possam estar veladas. Isso não quer dizer que os jornalistas não sejam conscientes da existência dessas intenções subjectivas, o que falta é a explicação dessa percepção ao vasto público e dos objectivos que cada órgão da comunicação social ou jornalista quer atingir no processo de comunicação e produção de informação. Falta, por conseguinte, um jornalismo inerentemente auto-reflexivo, que possa reflectir continuamente sobre a sua função de informar e produzir significados; ao mesmo tempo ético, no sentido de que explicita os seus reais objectivos na arena social, política e econômica. Estas lacunas podem ser resolvidas com uma educação dos jornalistas que leve em conta uma formação técnico-profissional sólida, e em outras ciências que lhe forneçam um instrumental para a reflexão do jornalista como indivíduo integrante de uma estrutura social, e com um papel preponderante e específico na mesma. Só desta forma a comunicação social e os jornalistas deixarão de ser parte do dilema democrático, para se tornarem actores preponderantes na solução do mesmo, contribuindo para

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a existência de cidadãos informados e que possam participar activamente nas decisões da sociedade. Referencias bibliográficas. CARVALHO, Fátima L. (2000) “Continuidade e Inovação: conservadorismo e política da comunicação social no Brasil”, Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol 15/43, in WWW.scielo.br. DCS – Dicionário de Ciências Sociais (1987), Verbetes: comunicação, comunicação de massa, informação, informação quotidiana.Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas. GITLI, Todd (1980), The Whole World Is Watching: mass media in the making and unmaking of the new left.University of Califórnia Press. LUPIA, Arthur e McCUBBINS, Mathew (1980),The Democratic Dilemma: Can Citizens Leam What They Need to Konw? New York, Cambridge University Press. MIGUEL, Luís F. (1999): “Media e Eleições: a Campanha de 1998 na Rede Globo” . Dados, vol. 42/2 . In WWW.scielo.br. MOGWEKU, Matt e NAMBURETE, Eduardo (2000), Review of Journalism and Communication Education and Training in Mozambique. Report for UNESCO/UNDP Media Development Project, Maputo. SCHUDSON, Michael (1982): “Framing Political Conflict”. In Akiba Cohen & Gadi Wolfsfeld (eds). Framing Intifada, People and Media. Norwood, Ablex. ZELIZER, Barbie (19992), Covering the Body: the Kennedy assassination, the media and the

shaping of collective memory. The University of Chicago Press.

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Programa de Graduação para Estudos de Culturais e de Comunicação Social

Universidade de Natal, Durban

COLÓQUIO DE FORMAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO

Pesquisa de Comunicação

Prof. Keyan Tomaselli, Universidade de Natal

Pontos para uma possível Discussão

1. Jornalistas como Pesquisadores: Quais são as suas Necessidades de Formação?

O objectivo deste grupo é de considerar as habilidades de pesquisa que os repórteres precisam para o seu trabalho para irem para além da imitação das fontes oficiais sobre eventos para a investigação dos assuntos e o seus contextos. De entre os atributos comumente associados com o jornalismo é que este busca a verdade até onde for possível, e usa métodos empíricos para encontrar os factos. Os debates sobre o que esses dois conceitos significam são vastos. Mas alguém encontra muito pouco debate sobre esses tópicos acontecendo nos círculos de jornalismo. Isto limita o campo a um conjunto de procedimentos que falham para reflectir sobre os seus próprios métodos, particularmente os seus métodos de pesquisa. A pesquisa é sempre incluída nos manuais de jornalismo como um tipo de reflexão; tinha que ser mencionado, assim é incluído um capítulo. Tal capítulo vai, muito provavelmente, listar os lugares onde o repórter pode encontrar certos factos, e onde corroborá-los. Isto mostra a pesquisa como sendo um conjunto de práticas do tipo “pergunta e terás”, sem o qual o repórter não tem material para escrever a notícia. Aqueles jornalistas tidos como exemplos para os seus pupilos geralmente vão para além desses moldes de ‘apanhar factos’. O seu molde é do tipo ‘procura e encontrarás’. É duvidoso que as habilidades necessárias para desempenhar as mais difíceis tarefas que este modelo exige pode ser aprendido como um conjunto de simples dicas de caça de notícia. As habilidades de pesquisa são raramente aprendidas por tentativa e erro (pelo menos não idealmente). Elas requerem uma instrução adequada, supervisão, experiência e prática. Isto pode ser melhor oferecido ao nível terceário. Os jornalistas são ‘detectives’ (investigadores particulares). Eles usam habilidades forenses e procedimentos geralmente associados com a investigação criminal, contabilidade forense, etc. Não nos sentiríamos muito confiantes se um detective que investiga o arrombamento da sua casa ou roubo de carro não tivesse as ferramentas de investigação para fazer o trabalho. Parecemos satisfeitos a formar repórteres ‘bobby no destacamento’ que pode fazer um pouco mais que um ponto do dever e papelada. Talvez devêssemos considerar deixar o FBI treinar os nossos repórteres.

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A questão é que as habilidades investigativas e de pesquisa adequadas são tão importantes para o jornalismo quanto para os outros trabalhos ou profissões que tem que ‘descobrir’. Não é segredo que pessoas com habilidades de pesquisa estão sendo comprados pela indústria. Mais ainda, por alguma razão, as habilidades de pesquisa não são altamente valorizadas no campo do jornalismo. Os jornalistas tem muito em comum com os pesquisadores: 1. Os jornalistas são etnógrafos. Eles observam as pessoas ordinárias no seu contexto do

dia a dia, e fazem-lhes perguntas sobre as suas percepções. Os jornalistas usam métodos quantitativos de entrevistas encontrados em métodos etnográficos.

2. Os jornalistas examinam documentos. Eles usam os métodos de pesquisa tipicamente

encontrados na pesquisa histórica. 3. Os jornalistas analisam discurso. Eles examinam textos em contexto na mesma maneira

como os analistas do discurso descobrem o que diferentes textos vem a significar, e como. 4. Os jornalistas conduzem Estudos de Caso. Eles estudam acontecimentos e organizações

particulares como exemplos de assuntos e instituições mais amplos. 5. Os jornalistas são Pesquisadores-Acção. Eles (como em jornalismo público, reportagem

ambiental, etc.) objectivando a produção de conhecimento numa participação activa com aqueles que são afectados por esse conhecimento, e para propósito expresso de melhorar as suas condições sociais, educacionais e materiais.

O modismo na formação em jornalismo hoje é multi-habilidades. Infelizmente este termo lhe é dado uma inflecção técnica que não vai muito longe de aprender a usar os mais recentes pacotes informáticos e a tecnologia de computadores. O que o repórter traz para a máquina? Eles se tornam varinhas quente: espectaculares na trilha de corridas, mas muito limitados em outros lugares. Uma pessoa ‘multi-habilitada?’ mostra a flexibilidade e diversidade de diferentes capacidades enriquecendo um ao outro. Um repórter que capacidade de redacção maravilhosa, mas que tenha habilidades de pesquisa muito pobres pode apenas dizer muito pouco lindamente (tudo pão sem bife). É melhor ter um repórter a encontrar todo o bife, com sub-editores a dar o pão. Idealmente, queremos os dois, pão e bife. A pesquisa dá o bife de uma reportagem útil. Um estudante de jornalismo poderia fazer muito pior do que passar algum tempo a aprender a fazer pesquisa num ambiente académico conducente ao exercício. O estudante vai aprender como conduzir entrevistas de forma efectiva, como observar o comportamento social (e ter recursos para interpretar essas constatações), como interpretar um texto num contexto, como construir sentido do uso da linguagem quotidiana (discurso), e mais. Ninguém espera que os repórteres, correndo atrás dos prazos, possam dedicar o tempo que os pesquisadores académicos geralmente requerem. As habilidades em que os repórteres são tirados deveriam, como uma antecipação de um recurso de pesquisa mais amplo deste corpo de conhecimento, informar os seus próprios métodos de investigação apropriados Muitos repórteres saem dos programas de jornalismo com uma formação inadequada em pesquisa, e portanto encontram-se frustrados no campo. Eles estão sub-habilitados. Seria melhor se fossem ‘super-habilitados’. Fazer pesquisa num programa de pós graduação irá mais longe em

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levá-los a esse estágio de desenvolvimento. Quão melhor os jornalistas sul africanos se tornarão como resultado. Perguntas a considerar • Jornalistas como pesquisadores: quais são as suas necessidades de formação? • Que compreensão sobre a comunicação social, e pesquisa da comunicação, os jornalistas

precisam para entender o contexto mais amplo dentro do qual eles operam, e dentro do qual as suas actividades são avaliadas e analisadas?

• Pesquisa da comunicação: que pesquisa sobre a comunicação social precisa de ser

desenvolvida? • Porque é tão pouco o valor acoplado à pesquisa na redacção da notícia pelos gestores dos

media? • Juniorisação: porquê não juntar-se com os veteranos numa relação de acompanhamento? • Como criar ambientes nos quais os jornalistas podem reflectir sobre as suas próprias

metodologias e assunções sobre a prática profissional? • Se a prática de jornalismo envolve descobrir, porquê o descobrir (pesquisa) não é uma parte

intrínseca do ensino em jornalismo? • O pessoal também precisa de ser ensinados como manobrar dentro das instituições. • A noção de diversidade precisam ser examinada criticamente: mesmo dentro do actual quadro

de referência da comunicação social é feito pouco esforço para encontrar diferenças internas para este quadro. Como desenvolver maneiras de fazer isto?

• Como envolver a maioria dos media (radio) mais intrinsecamente nas discussões? A maioria

dos jornalistas presentes no colóquio era da imprensa escrita (minoria). • É preciso distinguir entre ‘formação técnica’ e ‘educação’ que ensina o pensamento crítico,

resolução de problemas desde os primeiros princípios e estratégias de pensamento. (Os meus agradecimentos a Marc Caldwell, Universidade do Natal, por me ajudar a compilar

estes pontos. Outros surgiram do próprio colóquio.)

2. Que compreensão sobre os Meios de Comunicação e Pesquisa da Comunicação os

jornalistas necessitam para entender o contexto amplo em que eles operam, e dentro do qual as suas

actividades são avaliadas e analisadas? A alegada resposta da imprensa de “escândalo e ridículo” (p46) para o relatório SAHRC é possivelmente sintomático da insegurança desta instituição com relação à liberdade de imprensa e ameaças de regulação e possivelmente censura. É necessário para todas as partes ao debate discutir os assuntos em termos de:

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a) Como é que os estudos da comunicação, comunicação e jornalismo e comunicação de massas são ensinados e aplicados via projectos de pesquisa nas instituições terceárias?

b) Como e se a pesquisa de comunicação e jornalismo tem impacto na indústria especificamente

em termos de sensibilidade de género e raça? c) Géneros de reportagens, linguagem, estilos e práticas; e d) Como é que os leitores e as audiências descodificam as mensagens dos meios de

comunicação em relação as suas próprias práticas sociais, percepções raciais e culturais, e em termos dos seus quadros de referência específicos?

3. Que Pesquisa sobre Os Meios de Comunicação precisa ser levada a cabo?

A investigação da SAHRC sobre o racismo nos meios de comunicação tem destacado alguns problemas sérios na maneira como as pesquisas sobre políticas, monitoração e orientadas para a academia em geral abordam as suas tarefas. Muitos desses tem a ver com esses pesquisadores: a) própria falta de experiência nos meios de comunicação profissionais; b) entendimento ou caso contrário das metodologias de pesquisa genuínas; c) entendimento do relacionamento entre a teoria e a prática; d) falta de habilidade para escrever e apresentar uma pesquisa que seja afirmativamente útil em: i) restruturação e transformação dos meios de comunicação; ii) no qual os sujeitos são capazes de se reconhecerem e descobrirem soluções; iii) desenvolver métodos de pesquisa participatórios; iv) desenvolver metodologias de pesquisa acordadas relacionadas com: 1) pesquisa de monitoração; 2) análise de recepção; 3) como relacionar AMPS (demografia da audiência e leitores) com a análise da

monitoração e recepção, talvez incorporando base de dados GIS. e) falta de conhecimento sobre pesquisas disponíveis e úteis publicadas. Na p. 49, as Faultlines do SAHRC tentam desviar aqueles críticos que recomendaram maiores análises das próprias indústrias, com uma frase de que “ter cavado nos detalhes da indústria da notícia, propriedade, representação da raça e do género teria sido uma tarefa gigantesca ... havia a preocupação de que a comissão estaria indo bisbilhotar nas redacções ...”. Obter tais informações não requer “bisbilhotar” menos de tudo pela SAHRC e os seus ‘pesquisadores independentes’. A informação já estava disponível na forma de revisão e divulgada nas seguintes fontes: i) o estudo patrocinado pela UNESCO e conduzido pelo CMS sobre Recursos Humanos

e a Comunicação Social contem uma análise agregada de raça e género das 17 maiores empresas de comunicação social da África do Sul. As empresas de comunicação social participantes cooperaram prontamente com o CMS em fornecer

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dados pessoais estratificados por raça, género, posição, vencimento e outros. Não foi, nem é necessária nenhuma bisbilhotice.

ii) uma análise detalhada e discussões sobre a propriedade pós apartheid, a entrega do

poder aos negros e a mudança das lealdades foram publicadas por uma variedade de autores. O anual de Robin McGregory, Quem Possui Quem, e o banco de dados sobre propriedade da Businessmap que é actualizado continuamente e a JSE capitalização do mercado com relação às companhias cujo poder passou para os negros. Porquê estes dados publicados e facilmente acessíveis não foram acessados? Como popularizar estudos académicos sobre este tópico?

iii) Numerosos estudos tem sido feitos e publicado em todo o mundo sobre

procedimentos das redacções, gestão e controlo. Como é que este trabalho pode ser tornado útil para a indústria?

Keyan Tomaselli Professor e Director Programa de pós Graduação em Estudos Culturais e de Comunicação Universidade de Natal Durban 4041 Fax: +27-31-260-1519 Tel: 2602505 E-mail: [email protected] 31 de Outubro de 2000

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ALCANÇANDO NECESSIDADES COMUNS

INVESTIGANDO A FORMAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL NUMA ÁFRICA DO SUL PÓS APARTHEID

Por Ruth-Teer Tomaselli e

Estudantes do Centro de Estudos Culturais e da Comunicação

Centro de Estudos Culturais e da Comunicação Universidade de Natal

Durban

1996

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Termos de Referência Este relatório apresenta duas áreas de interesse principais: • Uma avaliação dos processos de selecção, recrutamento e formação da indústria da mídia

impressa e electrónica; e • • Uma investigação sobre a natureza da interacção entre instituições terceárias e os maiores

empregadores da imprensa escrita e electrónica, nível educacional e de formação de ingresso dos trabalhadores.

O Relatório foi encomendado pelo Independent Newspaper media group. Foi desenvolvido pelo Centro de Estudos Culturais e de comunicação da Universidade do Natal, Durban, e levado a cabo por cinco estudantes de mestrado, como parte do seu trabalho curricular do programa de pesquisa. O relatório foi supervisionado pela Dra. Ruth Teer-Tomaselli, docente sénior do Centro. Levantado em resposta à crise enfrentada pelo Jornalismo da África do Sul, indicada pelo declínio rápido do calibre do nível de entrada dos jornalistas, o projecto envolveria um exame da inter-relação entre os empregados pela primeira vez, os decisores dentro das instituições de comunicação e os provedores do ensino terciário em comunicação. O projecto de pesquisa era para investigar as disparidades – se existir alguma – entre as habilidades e competências ensinadas nas respectivas facilidades de ensino em comunicação e quais são as exigidas pelas instituições de comunicação. Sendo o objectivo final trabalhar em direcção a criação de um diálogo entre as instituições de comunicação e as facilidades educacionais de modo a: Discutir assuntos de preocupação comum Possivelmente re-estruturar os mecanismos de formação e recrutamento e de apoio

para os trabalhadores do nível de recém admitidos. O relatório sobre a indústria da mídia impressa e electrónica irá contribuir para um relatório compreensivo mais amplo sobre a formação e o ensino. Prevê-se que agindo sobre as recomendações e opiniões dos profissionais da comunicação social, as instituições de formação vão adaptar a sua abordagem filosófica e o conteúdo dos planos das disciplinas dos seus cursos do nível terceário às necessidades da profissão da comunicação social, em imprensa escrita, radio e televisão. Metodologia: A estratégia de pesquisa tomou a forma de entrevistas cara a cara onde os entrevistados foram feitos perguntas elaboradas num questionário estruturado, assim como foram dados oportunidades para falarem das suas preocupações e foram dadas opiniões. Foram dados diferentes questionários aos profissionais da comunicação social e aos provedores da comunicação social. A limitação do relatório é porque concentrou-se nas instituições de Gauteng e Pretória, embora outras instituições foram também pesquisadas. O âmbito desta pesquisa foi Gauteng e Pretória e as entrevistas foram realizadas entre 15 e 26 de julho de 1996.

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A amplitude dos tópicos coberto em cada entrevista investigou: • as preferências dos respondentes sobre o tipo, qualidade e adequação do ensino da

comunicação conteporâneo a nível terceário; • a selecção, avaliação e recrutamento de potenciais jornalistas iniciantes; • a questão da acção afrimativa, ou acção correctiva; e • a formação em serviço, supervisão e apoio aos novos recrutas e empregados existentes.

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Ensino Terceário Contemporâneo: Universidades versus Politécnicas

Antecedentes ... Na sua investigação do ensino da comunicação social na Europa, French e Richards (1994) identificaram um vazio percebido entre o ensino terceário e o mundo de trabalho no qual as necessidades do sector da comunicação social não estão a ser satisfeitas pela orientação crítica para a mídia proeminente nos currícula da universidade. A julgar pelas informações recolhidas para este relatório o mesmo pode ser dito sobre a África do Sul. A reclamação mais frequente expressa pelos profissionais da comunicação social entrevistados na SABC e com a imprensa escrita foi de que ensino universitário não fornecia jornalistas com conhecimentos práticos que eles necessitam no local de trabalho. As politécnica entretanto, foram no todo acreditadas por fornecer jornalistas com as habilidades necessárias. A razão para esta divisão nítida é que no passado as politécnicas e as universidades jogavam papeis diferentes. O papel das politécnicas era de fornecer formação técnica prática enquanto que o das universidades era de fornecer um ensino mais amplo. Historicamente, uma abordagem tecnicista para o ensino da comunicação era mais evidente, uma abordagem que era encorajada pelos empregadores da imprensa escrita e da radiodifusão porque ela facilitava pessoal não crítico que processava as habilidades técnicas necessárias e um conhecimento da comunicação social de um paradigma fundamentalmente descritivo. As universidades, por outro lado, poderiam se dividir em três grupos - universidades de língua inglesa e afrikaans, universidades historicamente negras (HBUs). As universidades afrikaans encorajaram a abordagem mecanicista para o ensino da comunicação e formularam os seus cursos de tal maneira para formar os estudantes a projectarem uma imagem positiva da África do Sul, quer a nível interno quer no exterior. As universidades de língua inglesa encorajavam os seus estudantes a seguirem uma perspectiva mais crítica. As universidades historicamente negras, muitas das quais sem nenhuma crítica adoptaram os planos de disciplinas da UNISA como o principal dos seus currícula, situavam-se entre as duas anteriores. Hoje, os diplomados das politécnicas e os graduados das universidades competem pelos mesmos empregos, num momento em que as universidades e as politécnicas estão a repensar as suas abordagens para o ensino da comunicação de modo a torná-las relevantes para a nova política de dispensation. As instituições terceárias estão a enfrentar um aumento de dificuldades financeiras que resultam na pressão para a queda das componentes críticas e teóricas do ensino da comunicação e jornalismo a favor das habilidades de comunicação directamente aplicáveis que o mercado requer. Este cenário aplica-se particularmente para as universidades. Num cenário político e económico em mudanças, a significância da formação terceária em comunicação tem se tornado um assunto importante. Enquanto alguns gostariam de usar as qualificações educacionais como um critério para impedir os previamente desvantajados de ganhar posições de autoridades e poder, outros vêem o ensino como um meio de acelerar a transformação da sociedade sul africana. A falta de formação é actualmente acusada pelo fraco nível do jornalismo na África do Sul, mas o assunto pode ser muito mais complexo que uma simples formação inadequada. Contudo, o ensino e formação ao nível terceário continua uma

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parte importante do problema relacionado com a qualidade do jornalismo contemporâneo na África do Sul. É por esta razão que é importante documentar as visões e opiniões das pessoas envolvidas na própria indústria dos jornais. O que os respondentes nos disseram ... Da informação recolhida no processo de pesquisa está aparente que as politécnicas são preferidas porque satisfazem os requisitos imediatos quer da imprensa escrita quer da SABC. O pessoal sénior das redacções espera que o os jornalistas do nível de iniciante sejam capazes de se encaixar no ambiente da notícia e serem capazes de desempenhar as suas obrigações quase que imediatamente. O director da Escola Independente de Jornalismo afirmou que a qualidade do ensino terceário da comunicação na África do Sul era no geral “deplorável”. Isto era especialmente verdadeiro do grupo Universidade Vista e as ex-univeridades da terra natal. Haviam excepções tais como a Pentech e Rhodes, mas mesmo essas instituições poderiam melhorar a qualidade e a efectividade do ensino da comunicação que elas oferecem aos estudantes. O gestor de Recursos Humanos do grupo independente disse que preferia os estudantes da politécnica a estudantes da universidade porque mesmo os jornalistas iniciantes da Rhodes, que ela manteve que era “suposto ser o bastião do ensino da comunicação”, eram incapazes de soletrar, escrever à mão e na verdade não sabiam onde encaixar na redacção. De acordo com este respondente, disse que “as capacidades das politécnicas muitas vezes habilitam os graduados das politécnicas a conseguirem bons empregos que os graduados das universidades”. O mentor primário para os jornalistas de nível inicial no The Star vem da América onde ela diz que os recém graduados em comunicação social podem ir directamente das suas respectivas instituições terceárias para a redacção. Infelizmente, ela disse, este não é o caso da África do Sul onde o defeito primário é que as instituições terceárias de comunicação não ensinam as mais básicas habilidades tais como dactilografar e a habilidade de escrever artigos competentes em inglês. Na visão da respondente, a nossa comunidade de ensino parece focalizar sobre o ensino da teoria em detrimento dos elementos práticos do jornalismo, que ela acredita ser uma arte a ser aprendida através da experiência. Esta situação é mais exacerbada pela herança das instituições de ensino e departamentos separados para as diferentes raças o que resultou em um segmento da sociedade sul africana a receber um ensino inadequado. O Editor-Adjunto do novo jornal de Domingo, The Sunday Independent, disse que não está particularmente incomodado com a qualidade do ensino da comunicação neste país, a sua preocupação é principalmente com a efectividade. Assim como a maioria dos outros respondentes ele disse que o principal problema enfrentados pelos jornais neste período do tipo de programas de acção afirmativa é que muitos dos jornalistas do nível de iniciante fala o inglês como segunda língua. Isto causa, obviamente, uma grande consternação no seio dos editores e editores-adjuntos dos jornais de língua inglesa que requerem e exigem capacidades excelentes da língua inglesa. O Chefe Executivo do The Star levantou uma questão interessante sobre este assunto: ele questiona se as instituições de ensino em comunicação estão a fornecer jornalistas ao sector da comunicação ou simplesmente estudantes com uma “inclinação para a profissão”. Ele

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acredita que na África do Sul contemporânea alguém com um grau ou diploma em jornalismo pode não ser a pessoa certa para uma posição em particular dentro da redacção, às vezes é melhor empregar alguém com um ensino geral que seja capaz de pensar criticamente e que possa ser ensinado o básico do jornalismo pelo próprio jornal. Politécnica ... Os estudantes da politécnica são exigidos que tenham um certificado sénior para se qualificarem à admissão. Os estudantes da universidade tem isenção, contudo, são feitas algumas excepções baseado nos princípios da acção afirmativa. Devido ao número limite de ingresso na politécnicas, o seu processo de selecção é de longe mais minucioso. Consequentemente, é sugerido que as universidade tem de longe um maior índice de desistências. Os cursos da politécnica tem de longe maior componente prática com o enfoque apenas em torno do jornalismo e assuntos relacionados com jornalismo. As universidades tem uma abordagem mais ampla com uma forte ênfase teórica e pouco ou nenhum elemento prático. As politécnicas mostraram um envolvimento com o sector mais activo. Foram feitas observações complementares appros do Departamento de Jornalismo na Politécnica de Natal que foi no geral considerada ser inteiramente o papel de uma instituição de formação muito adequadamente. Os critérios de selecção são elevados o que significa que apenas os estudantes mais capazes e motivados são aceites nos cursos. Neste ambiente estimulante, e num curso que coloca muita ênfase na prática e no tipo de formação experimental. Universidades ... A Universidade de North-West, situada na terra natal de Bophuthatswana, que historicamente não era requerida que fornece a mesma qualidade de ensino exigida pelas velhas universidades, quase exclusivamente ‘brancas’. Com as mudanças a terem lugar na África do Sul (circa 1990) esta situação foi exacerbada pelo facto de que muitas pessoas anteriormente desavantajadas exigiam um ensino terceário para o qual eles não estavam adequadamente preparadas a receber (devido principalmente às políticas de ensino completamente inepto e aos departamentos do governo do apartheid). Isto, juntamente com a corrupção e ineficiência dessas universidades sem recursos, tem resultado numa qualificação educacional que não conforma com os padrões exigidos pelo mundo profissional. Sujeito a este tipo de contexto, mesmo os estudantes com recursos e mais dedicados teria dificuldades em atingir os padrões exigidos pelo mundo profissional. A pesar disso, existem algumas excepções à regra e que essas universidades certamente poderiam fornecer mesmo aos jornais mais prestigiados excelentes jornalistas de nível de iniciante. Vale apenas anotar no entanto, que a pesar das tentativas das politécnicas em atingir os requisitos da SABC, continuam a abundar as críticas sobre o nível do jornalismo no geral. O Chefe da Divisão da Rádio do Grupo SABC, assim como a maioria dos outros respondentes, indicaram a preferência pelos estudantes das politécnicas, mas continuou a reclamar que do nível corporativo do jornalismo tem falta de profundidade, e anotou que os assuntos são vistos de maneira superficial. Como consequência, todos os jornalistas do nível de iniciantes são

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exigidos a receber formação, independentemente se eles vem duma politécnica ou duma universidade. Enquanto as politécnica dão aos estudantes conhecimentos técnicos e capacidades práticas, contudo elas são culpadas por não fornecer aos seus estudantes um ensino mais amplo que possa habilitá-los a serem mais críticos e analíticos nas suas empresas jornalísticas. Elas introduziram recentemente o grau de Btech e deveria começar a abordar as deficiências. Por outro lado as universidade ainda não mudaram as suas mentes para se conformar com o novo meio social o qual parece exigir delas a formar para o sector, elas continuam a negligenciar as habilidades práticas. A solução talvez resida em as instituições terceárias encontrarem uma maneira de integrar a teoria com a prática. Por enfatizar de mais as habilidades práticas as instituições de comunicação social correm o risco de perder de vista a importância de um ensino mais amplo que pode equipar os jornalistas com capacidades críticas que facilitariam as suas tarefas tais como entrevistas e reportagem. Enquanto é necessário evitar-se atar a técnica, todavia, é a profundidade da análise, da qualidade do conteúdo dos programas e a redacção através dos quais a comunicação social será por último julgada, por isso é necessário pessoas com uma educação mais ampla. É portanto recomendado que os órgãos de comunicação social tais como a SABC repensem esta ênfase sobre as capacidades práticas a negligenciar as capacidades críticas e analíticas. As necessidade imediatas da SABC versus as necessidades a longo prazo A SABC tem um problema imediato nomeadamente de que o espectáculo tem que ir para o ar agora e suavemente, e para isso acontecer a escolha natural é o jornalista tecnicamente competente, do tipo que a politécnica produz. Parece que ao aplicar o alto prémio nas capacidades práticas a SABC está a focalizar na satisfação das suas necessidades imediatas enquanto que as suas necessidades a longo prazo são colocadas no fogo de trás. O valor da crítica aumenta assim que os jornalistas vão subindo nas suas carreiras. Este sentimento é expresso pelo Prof. Roelofse que disse: Os requisitos que a comunicação social tem independentemente das habilidades e

resultados imediatos são estúpidos porque você cultiva uma classe média de gestores que não podem gerir e não podem pensar… olha para a SABC … está ineficaz.

Este comentário mostra a divergência de opiniões entre as universidades e a SABC com relação a o que é necessário e poderia talvez explicar o porque há a percepção de que o padrão do jornalismo no país é baixo. Futuras direcções As instalações educacionais estudadas interagiam com as instituições de comunicação bastante regularmente – quer formalmente ou informalmente. Porém onde os conteúdos dos cursos da politécnica são baseados nesta interacção, as universidades indicaram que as sugestões dadas pelos profissionais da comunicação social não seriam necessariamente dadas atenção. Portanto, existe a necessidade de mais comunicação entre os órgãos de comunicação e as instituições terceárias, particularmente as universidades.

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A experiência é um critério essencial para o emprego, mas só pode ser ganha sendo empregado. As politécnicas tem resolvido em grande parte este problema através da inclusão dos estágios nos seus programas como parte do curso. Porém, na sua concentração na prática, faltam-lhes as capacidades críticas e um ensino mais amplo – igualmente necessários para o emprego. Este é um dos problemas enfrentados pelos jornalistas do nível de iniciantes não apenas na África do Sul mas em todo o mundo: “para se tornar um jornalista tens que ter experiência e para teres experiência tens que ser jornalista”. As politécnicas tentam ultrapassar este obstáculo exigindo que os seus estudantes adquiram experiência de trabalho em órgãos de comunicação como a SABC, as universidades por outro lado tem ainda que incorporar esta experiência de trabalho como parte do seu currículo.

CORRELACIONANDO DESIQUILÍBRIOS ATRAVÉS DA ACÇÃO AFIRMATIVA A acção afirmativa, às vezes referenciado como ‘acção correctiva’, está sendo implementada no jornalismo e cursos de comunicação social nas instituições terceárias, em termos de requisitos para o nível de ingresso e aumento de admissões de estudantes. As políticas da acção afirmativa estão também a ser implementadas na selecção, recrutamento, e processo de formação dos trabalhadores do nível de iniciantes em ambos órgãos de imprensa escrita e electrónicos, de acordo com as políticas definidas nessas instituições que estipula os alvos e as agendas de tempo restrito. A acção afirmativa objectiva dar oportunidades de ensino e de emprego àqueles que tem sido historicamente desavantajados nessas áreas. As pressões políticas actuais e os programas de responsabilidade social no seio do sector da comunicação social tem feito a correcção da representação demográfica nas suas redacções uma prioridade, resultando num aumento em grandes números de novos recrutas dos grupos antigamente desavantajados. No futuro do sector da comunicação social é de vital importância manter uma igualdade entre o género e a raça em todos os níveis de pessoal para assegurar a contínua viabilidade e sustentabilidade do jornal, rádio ou estação de televisão. Tem sido argumentado que esta demografia diversa do pessoal irá assegurar com que nenhuma atitude dominante influencie a programação ou os conteúdos dos jornais. Foi expressa uma preocupação, particularmente pela gestão dos órgãos de comunicação impressos, de que o governo pós apartheid poderia implementar o sistema de quotas para as empresas, obrigando-as a atingir um grupo de pessoas alvo da acção afirmativa dentro dos próximos cinco ou dez anos, se as empresas não reconhecerem a necessidade da acção afirmativa no recrutamento e selecção dos trabalhadores do nível de iniciantes. O desafio reside na herança de um sistema educacional horrivelmente diferenciado que tinha sido objectivado a que a maioria da população sul africana fosse sub-preparada para assumir papeis profissionais sem intervenção adicional. Estudantes do ensino terceário insuficientemente formados tornam-se trabalhadores de nível de iniciantes insuficientemente formados nas empresas de comunicação. Isto por sua vez incita a necessidade de ensino em capacidades básica e suplementares através de uma formação interna e apoio subsequente trabalhando na redacção através de um programa de supervisão constante.

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Na SABC .. A composição actual do pessoal da SABC não é inteiramente representativa da população da África do Sul, quer racialmente quer com relação ao género. Numa tentativa de re-abordar esses desequilíbrios, a direcção da SABC estabeleceu quotas oficiais de indicações relativas à correcção afirmativa. De modo a fazer provisões para as indicações da acção correctiva para a SABC, foram oferecidos pacotes de aposentadoria antecipada para o pessoal existente que desejasse deixar a corporação. O director de Recursos humanos do Grupo disse que esta era uma decisão positiva, considerando várias discrepâncias ideológicas que foram aparentes entre certos funcionários velhos e novos. Uma boa percentagem (o número exacto é desconhecido) dos funcionários aceitaram voluntariamente os pacotes de aposentadoria, e as suas posições vagas foram preenchidas de acordo com as quotas da acção correctiva. A SABC estabeleceu quotas raciais específicas para a composição do pessoal, e o objectivo é que até o fina de Dezembro de 1997, todo o pessoal da SABC seja 50% negros e 50% brancos. Foi enfatizado que isto deveria ser ampliado em toda a corporação, desde as posições seniores de gestão até os funcionários de escalão mais baixo. O alvo oficial relacionado com o género, para o qual ambos brancos e negros se qualificam, estipulou-se que até Dezembro de 2000, a composição do pessoal da SABC seja de 60% homens e 40% mulheres. A equipa de pesquisa foi informada que o rácio do género para as novas indicações na SABC permanece nos 5:1. Em outras palavras, apenas depois de cinco mulheres empregadas pela SABC, um homem se qualifica para um emprego. A direcção manteve que em muitos casos adere a estas regulações, e apenas em casos extremos alguém interfere com o rácio estipulado. Cada departamento dentro da SABC presta contas ao chefe dos Recursos Humanos por cada nova indicação feita, de modo a assegurar que não ocorra nenhum desvio das quotas da acção correctiva. Mais ainda, em caso de um homem branco ser empregado por um departamento em particular, o chefe do departamento é obrigado a submeter um relatório detalhando as razões como isto era julgado necessário (considerando a urgência de atingir os alvos da acção correctiva) para empregar um homem branco. A satisfação das quotas da acção correctiva acima mencionada tem ramificações directas para o recrutamento de novos empregados, com relação específica às qualificações académica, embora foi repetidamente acentuado que o candidato para uma posição específica mais superiormente qualificado para deva ser indicado. Jornais Independentes Na altura da pesquisa, o grupo dos Jornais Independentes estavam em processo de formulação de uma política de acção afirmativa acordada através de consultas com os sindicatos de jornalistas. Esta política irá aderir aos alvos acordados que serão atingidos proactivamente durante um certo período de tempo restrito. De acordo com a política da acção afirmativa dos Jornais Independentes, o candidato negro menos habilitado será contratado no lugar de um candidato branco adequadamente capacitado

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para a posição, com o candidato branco a ser contratado apenas como último recurso. Esta política tem por objectivo dar, aos potenciais candidatos negros no nível que não seja de gestão, oportunidades de progredir nos níveis do pessoal de gestão através da formação interna. O The Business Day, que não é parte do grupo dos Jornais Independentes, adere à sua própria política de acção afirmativa que consiste em não ter grupos de pessoas alvo ou restrições de tempo, mas suporta-se pela regra de que se há uma oportunidade de contratar um trabalhador negro capacitado, então esse trabalhador será preferencialmente contratado. As políticas da acção afirmativa tem dificuldades em tratar dos níveis seniores de gestão num jornal. Muitos candidatos da acção afirmativa actuais não estão capacitados ou tem experiência suficiente para editar títulos de um jornal dentro do grupo dos Jornais Independentes. Portanto, o grupo está a tentar abordar o problema do pessoal sénior de gestão através do envio de potencial pessoal de gestão, todos eles são candidatos da acção afirmativa, para cursos de gestão em jornalismo americanos para prepará-los a editar um título. Muitas políticas da acção afirmativa no sector da imprensa escrita aborda a questão do género, principalmente em termos de emprego de mulheres negras. As mulheres brancas não são cobertas em muitas políticas da acção afirmativa das empresas, como elas são excluídas sob a orientação racial dessas políticas. Dificuldades com a implementação da Acção Afirmativa ... Muitos empregados negros não concordam com o sistema de quotas da acção afirmativa uma vez que eles se ressentem pela opinião que é criada de que eles foram contratados para satisfazer um rácio de cor desejado para o perfil demográfico dos órgãos de comunicação. Eles preferiam provar por si próprios potenciais trabalhadores de nível de iniciantes. Porém, quando muitos dos candidatos negros contratados não tem habilidades, é muitas vezes difícil para eles satisfazer o seu potencial sem um formação interna extensiva. Sendo a acção afirmativa uma boa intenção, que é para desenvolver, formar e melhorar as capacidades dos historicamente desavantajados, é ofuscada pelos problemas que o sistema de quotas obrigatório vai causar. Esses problemas vão se manifestar nas empresas de comunicação, quando os candidatos negros são empregados em posições que requerem capacidades mas eles tem falta dessas capacidades para desempenhar as exigências dessa posição. O emprego de candidatos negros sem habilidades para o cumprimento das quotas da acção afirmativa não apenas irá ofuscar os colegas com habilidades no local de trabalho, mas vai reduzir a qualidade e produtividade das empresas de comunicação. Com a pressão da Acção Afirmativa nos jornais, estão a ser recrutados trabalhadores do nível de iniciante, que não tem essas capacidades pre-requeridas. Isto dá a acção afirmativa uma imagem insatisfatória. Devido a procura pelos trabalhadores negros no sector dos jornais para alcançar os alvos da acção afirmativa, os trabalhadores negros do nível de iniciantes tendem a mudar frequentemente de emprego de acordo com qual o jornal oferece melhores posições em termos salariais.

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Recomendações para futura acção ... O sector da imprensa escrita deve manter a igualdade racial e do género de todos os níveis de pessoal de modo a que nem único grupo de atitudes dominantes prevalecentes irão influenciar um jornal, assegurando a sua futura estabilidade. As empresas jornalísticas devem reconhecer a necessidade da acção afirmativa em termos da sua própria interpretação, permitindo-se a preencher as suas próprias quotas dentro dos tempos acordados. Os jornais devem indicar ao governo pós apartheid que eles reconheceram esta necessidade e estão trabalhando no sentido de satisfazer os seus desafios nos seus processos de selecção. Com relação a acção afirmativa, as empresas de comunicação social deveria evitar empregar candidatos sem capacidades e mal formados em nome de satisfazer as quotas da acção afirmativa. Os candidatos deveria ser no mínimo potencialmente capacitados e candidatos viáveis para os postos da acção afirmativa. As empresas de comunicação precisam de abordar a contínua mudança de emprego dos negros nos níveis de trabalhadores iniciantes, tornando as suas posições nas empresas mais seguras em termos de salário, formação e desenvolvimento da carreira. Um fórum do sector deveria colocar a difícil pergunta de oferecer salários mais altos aos candidatos da acção afirmativa das outras redacções para alcançar os seus próprios alvos na agenda das suas discussões mútuas. Uma pergunta adicional para uma discussão mútua é o problema da aplicação da política da acção afirmativa para o pessoal do nível de gestão médio e alto, para assegurar que haja candidatos da acção afirmativa capacitados e experientes trabalhando nesses níveis altos. Preparar os funcionários negros para essas posições importantes, deve se levar a cabo formação intensiva no exterior. Isto é melhor realizado sob a cobertura do sector do que numa base de competição. Com a acção afirmativa relacionada com o género, deve ser feita uma provisão dentro de todas as políticas das empresas para o emprego de mulheres brancas, uma vez que elas são excluídas da maioria das políticas orientadas para a raça. Deve haver mais consideração pelo género dentro das políticas da acção afirmativa das empresas jornalísticas, independentemente da cor.

FORMAÇÃO INTERNA, AVALIAÇÃO E APOIO DOS JORNALISTAS INICIANTES A formação é um pré-requisito para todos os jornalistas iniciantes, independentemente da sua educação anterior. A pesquisa indicou que embora as politécnicas e universidades sejam mais focalizadas, os seus currícula continua não sendo específicos o suficientes para alcançar as exigências do sector. O sector da comunicação não pode esperar que os jornalistas iniciantes atinjam todos os requisitos dos órgãos de comunicação de imediato: um forte conhecimento teórico e capacidades críticas, um amplo conhecimento das especificações do jornalismo e um grasp firme de todas as habilidades exigidas. Por esta razão pode ser deduzido que dentro do contexto sul africano, a formação dos jornalistas é de extrema importância se os órgãos de comunicação estão para jogar um papel efectivo no desenvolvimento nacional.

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A contenção económica e o ensino pobre fornecido às comunidades negras durante a era do apartheid resultou na falta de capacidades básicas e o conhecimento necessário na profissão de jornalismo. Para eliminar as defazagens é necessária uma formação extensiva e mesmo os profissionais de comunicação reclamam que eles não estão seguros que o investimento será compensado. Ironicamente, muitas escolas de jornais tais como a Escola de Jornalismo dos Jornais Independentes estavam em funcionamento antes da queda do apartheid e era constituída por estudantes brancos que não tinham falta de educação nem eram economicamente reprimidos. Contudo, o problema continua que esses cursos são predominantemente suplementares – substituindo o conhecimento já existente. Isto leva a entender que o que as instituições terceárias ensinam não está alcançando as necessidades do sector. É necessário que se estabeleça um diálogo para que as instituições educacionais possam se adaptar, pelo menos em parte, às necessidades do sector economizando assim muito tempo e dinheiro. O estabelecimento de instituições de formação não tem sido sempre uma noção percebida positivamente como alguns, dentro da profissão de jornais, não vêem a necessidade desses tipos de escolas de formação. Os críticos colocam mais importância na formação e experiência prática que os jornalistas recebem enquanto trabalham dentro das redacções. A seguir é a apresentação de várias opiniões e ideas sobre este assunto: Que formação está disponível? • SANET que é baseado primeiramente no Mail and Guardian, é um trust de ensino

comprometido com a formação de jornalistas de origens deavantajadas. De centenas de candidatos que eles recebem, apenas trinta são admitidos. A colocação é geralmente cerca de noventa e cinco por cento. Esses jornalistas não são formados para serem recrutados especificamente pelo Mail and Guardian embora alguns jornalistas sejam recrutados através do programa. Em termos de formação de novos funcionários, foi dito que presentemente o Mail and Guardian está se afastando da formação em direcção ao estágio. Os estágios duram doze meses com a possibilidade de três meses no exterior. Isto funciona em sintonia com o programa de supervisão, onde o estudante lhe é indicado um mentor que lhes orienta ao longo do ano.

• A Escola de Jornalismo dos Jornais Independentes (INSJ) dirigida por Chris Van Gass

também oferece uma entrada para um emprego jornalístico. É agora inteiramente negra e aceita um número limitado de pessoas que devem se inscrever. Esta escola é tratada com mais detalhes abaixo.

• O Instituto para o Avanço do Jornalismo (IAJ) dirigido por Alister Sparks é apoiada

principalmente por Jornais Independentes. A IAJ, que foi fundada maioritariamente por interesses estrangeiros, foi também desenvolvida no interesse de promover talentos jornalísticos de pessoas anteriormente desavantajados.

• A SABC também realiza programas de formação pelos quais os jornalistas iniciantes

passam, mas como eles ainda não tem uma escola de cadetes igual aquelas mencionadas acima, embora essa escola tem sido pensada. O Gerente de Formação de Desenvolvimento da SABC diz que a escola deveria ser bem sucedida outros radialistas serão convidados a participar.

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Quem faz a formação? Dentro dos programas de apoio de supervisão, a formação é feita por um membro sénior do pessoal como o Editor de Notícia. Dentro do emprego que exige habilidades específicas tais como reportagem desportiva, sub-edição ou jornalismo gráfico a formação é feita por uma pessoa responsável por essa área específica. Isto consome tempo e representa um investimento significante por parte da instituição. Nenhum curso de formação ensina essas habilidades. Dentro das escolas de cadetes existem formadores internos permanentes assim como pessoas que são trazidas de fora. No programa SANET de 1995, William Bango da Africa Information Afrique (AIA) do Zimbabwe era o convidado especial. Outros instrutores incluíam Hugh Lewin do IAJ e o redactor de especialidade John Perlman do Weekend Star. O The Star tem um grupo de dois formadores internos e ocasionalmente trazem pessoas do Instituto Pointer da Florida. A formação na SABC é feita pela recente estabelecida divisão de formação chefiada por Manana Makanya. Os tutores para a prevista escola de radiodifusão serão seleccionados de lugares como o Instituto do Avanço do Jornalismo, a BBC e instituições na Holanda e Noruega. Dentro do campo da reportagem desportiva, os sindicatos desportivos estão respondendo à necessidade de fornecer informações desportivas de base para os jornalistas negros com as quais poderão não ser familiares. Durante a Copa do Mundo o Sindicato de Rugby deu formação. O conselho da United Cricket também está planificando um programa de formação. JORNAIS INDEPENDENTES A Escola de Cadetes dos Jornais Independentes funciona como uma facilidade de formação interna primária para os trabalhadores de comunicação do nível de iniciantes e serve como um processo de identificar e desenvolver as atitudes jornalísticas dos trabalhadores iniciantes dentro dos jornais, maioritariamente negros. Desde o seu começo, a escola de cadete tem principalmente preparado para o melhoramento das habilidades básicas dos candidatos da acção afirmativa, perfazendo a maioria recém recrutados trabalhadores do nível de iniciantes. O fraco padrão de formação em jornalismo nas instituições terceárias sul africanas, devido aos currícula inadequados, tem resultado em a maioria dos trabalhadores iniciantes estarem mal preparados para trabalharem de imediato nas redacções por causa da proficiência inaceitável no inglês e falta de habilidades básicas. A escola de cadetes tem que rectificar esta situação através da disponibilização de um curso de transição, educando os recém recrutados no básico do jornalismo. Mesmo com o nível de iniciantes de graduados da politécnica ou da universidade, as suas habilidades e conhecimentos são muitas vezes insuficientes para permitir-lhes a trabalhar directo nas redacções. As escolas de cadetes também se fundam no conhecimento académico e prático ganho nas instituições terceárias, servindo como um processo vital de transição do seu ensino terceário à experiência prática. O objectivo da escola de cadete é facilitar uma transição sem esforço de uma formação experimental limitada ou inexistente para ser habilitado a trabalhar com sucesso. Isto é alcançado ao longo de seis meses, através da aquisição de todas as habilidades básicas do jornalismo pelos trabalhadores do nível de iniciante e a oportunidade de trabalhar num ambiente de redacção.

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O processo de selecção para esta formação envolve os seguintes passos: • todos os trabalhadores iniciantes passam por um teste de avaliação de computador

para avaliar as capacidades cognitivas individuais, habilidade de trabalhar e se relacionar com outros colegas;

• os trabalhadores iniciantes devem submeter algum trabalho escrito; e • possivelmente passam por uma avaliação psicológica. A maioria dos candidatos tem vindo, desde 1986, de comunidades historicamente desavantajados, sendo 90% dos inscritos neste curso negros. A escolas de cadetes servem como um meio de identificar possíveis atitudes jornalísticas dos trabalhadores iniciantes negros e depois desenvolvê-las dentro do contexto de uma empresa de jornais. Somente os trabalhadores iniciantes, que precisam de formação e mostram algum potencial, irão para a escola de cadete. Contrariamente, nem todos os trabalhadores iniciantes com pós graduação são isentos da escola. Os que tem falta de habilidades básicas em jornalismo, descritos abaixo, são exigidos a passar por esta formação. Os objectivos da escola ... Os objectivos da escola é que durante um período de seis meses, os trabalhadores iniciantes irão adquirir as seguintes habilidades de jornalismo, incluindo: • habilidades de escrever notícia; • habilidades da língua inglesa básica; • estenografia de 120 palavras por minuto; • lei de imprensa e lei geral da comunicação; • subbing básico e habilidades de diagramação; • recolha de informação; • ética e assuntos de jornalismo; e • técnicas de entrevistas. Ao completar a escola de cadete, os jornalistas cadetes geralmente trabalham como estagiários no jornal. Com os mecanismos de apoio correctos, alguns são contratados a tempo inteiro, e vão para todos os níveis das estruturas organizacionais dos jornais dentro do grupo dos Jornais Independentes. É previsto que assim que as escolas de cadetes tiverem formado os novos repórteres juniores, serão abordados os níveis seguintes do pessoal, os níveis médio e sénior de gestão e os editores.

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Alguns editores foram de opinião de que a escola de cadete é suficiente em preparar um trabalhador iniciante para o trabalho como jornalista na redacção. Um candidato com o grau de bacharel não tem o conhecimento ou experiência para trabalhar imediatamente na redacção, assim a escola de cadete oferece um bom mecanismo de preenchimento do vão e dá ao trabalhador as habilidades necessárias para se tornar um jornalista bem sucedido. Os iniciantes graduados da universidade não possuem as habilidades básicas ensinadas na escola de cadete. A escola baseia-se no conhecimento ganho na universidade ensinando trabalhadores como trabalhar em jornalismo através de escrever para um contexto específico e leitores alvo. O editor do The Star foi de opinião de que a Escola de Jornalismo dos Jornais Independentes joga um papel em afinar o caracter dos futuros jornalistas dos Jornais Independentes. Comparando o período passado na escola de cadete ao período que os médicos e dentistas passam nos programas de estágios, ele sugeriu que os indivíduos vão para a universidade e politécnicas para adquirirem as ferramentas da vocação jornalística, mas continua a necessidade de ter que apreender como usar essas ferramentas no local de trabalho: “haverá sempre a necessidade de estágio”. Porém, o curriculum do curso sugere que a escola de cadetes era para ensinar as habilidades que não eram ensinadas nas várias politécnicas e universidades. Essas habilidades incluem competência no inglês básico, digitação, estenografia e outras habilidades essenciais. O chefe da escola de cadetes disse que o contexto sul africano, portanto, ensino de comunicação suplementar, será a forma dominante de formação interna por um longo período por vir. O Editor Adjunto do The Sunday Independent concordou, dizendo que a escola de cadete era “inteiramente desenhada para enfocar os defeitos de pessoas que tendem a entrar no negócio da comunicação”, e que o curso “baseia-se no conhecimento existente. É desenhado para preencher os vazios que impedem essas pessoas de serem jornalistas completos”. Defeitos da Escola de Cadete ... As escolas de cadetes eram também vistas tendo um número de defeitos, particularmente: • O curso de cadetes concentra muito nas tecnicalidades do jornalismo, particularmente

estenografia e lei de imprensa • Há necessidade de ter mais ênfase na arte de investigar e redigir uma notícia. • A duração do curso de cadete devia ser reduzido de seis meses. • O conhecimento ganho nos cursos de cadete é muitas vezes incompleto e não fornece

subsídios a um trabalhador inciante para a redacção. • Dentro do estábulo Independente não existe um mecanismo formal de avaliação dos

jornalistas. A tarefa é realizada subjectivamente pelos sub-editores e mentores sem um critério específico. O sistema de avaliação anterior, que tem sido visto como um fracasso, foi inventado por um grupo de consultores de gestão que acreditavam que muita ênfase deveria ser colocada nos resultados como existiam no desempenho. Esta noção foi resistida uma vez que a direcção do The Star era de opinião de que a redacção não deveria ser tratada como uma “fábrica”. Os principais meios de avaliar os

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jornalistas iniciantes são agora os mentores que dão apoio e conselhos a esses novatos.

• Alguns cadetes que completaram o curso dizem que foi uma perda de tempo e que o

conhecimento ganho não acrescentou ao seu conhecimento académico das universidades e politécnicas. Um mentor notou que os trabalhadores iniciantes tendem a aprender mais trabalhando mais praticamente na redacção através do programa de supervisão, onde o apoio está disponível para o seu próprio desenvolvimento assim que eles trabalham.

Oportunidade de formação Adicional nos Jornais independentes ... Para além da escola de cadete, existem outros cursos internos conduzidos pelo departamento de Recursos Humanos no The Star, como parte da estratégia de desenvolvimento dos recursos humanos. Os cursos são agendados de acordo com o número de novos empregados indicados. São eles: • cursos de gestão; • cursos de secretariado; • curso de habilidades de negociação; e • cursos de gestão de tempo. A estratégia de desenvolvimento de recursos humanos funciona através do seguinte processo para agendar esses cursos: • os gestores seleccionam os empregados que eles consideram como tendo potencial. • esses empregados potenciais passam por um processo de selecção e são encaixados

em diferente categorias de acordo com as suas necessidades particulares. • a planificação da carreira individual é feita com os empregados em cada categoria. • o departamento de recursos humanos ajuda cada empregado a planificar as sua

necessidades individuais de formação. • Alocar os empregados a um curso particular de acordo com as suas necessidades de

formação. • Formação em Desenvolvimento de Recursos Humanos (gestão, negócios, habilidades

de linguagem e pessoas). De acordo com o coordenador do curso, os empregados envolvidos neste processo de estratégia assumem uma responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento e tem uma iniciativa proactiva em ganhar habilidade e melhorar o seu potencial como jornalistas de sucesso. É intenção da estratégia de desenvolvimento de recursos humanos no The Star

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precisar certificar que todos os níveis do pessoal são inteiramente alfabetizados em matéria de computadores, permitindo a utilização da nova tecnologia de computadores. Formação em Jornalismo Financeiro ... No The Business Report, os trabalhadores iniciantes não são necessariamente enviados a escola de cadetes, mas preferiria passar por uma formação interna informal. The Business Day e as Escolas de Negócio estabelecidas tem, em conjunto, feito cursos de meio dia espalhados por um período de seis semanas, que cobrem o básico do jornalismo financeiro, como reportagem financeira e leitura de balancetes. As instituições financeiras, por exemplo a Nedcor e o Banco de Reserva, realizam seminários de formação para os trabalhadores do The Business Day, dando-lhes uma oportunidade para serem expostos ao mundo de negócios. Esses seminários cobrem: • tributação; • companhias na bolsa de valores; • fusão e aquisições; • inflação; • taxas bancárias; e • o que as companhias ocultam nos seus balancetes. Esses seminários foram julgados a melhor maneira de os jornalistas iniciantes compreenderem esses assuntos financeiros, uma vez que eles são explicados por especialistas, que podem relacionar como esses assuntos operam dentro de um quadro financeiro mais amplo. Isto dá aos novos recrutas a chance de ganhar um conhecimento compreensivo do mundo financeiro e as suas tendências actuais. Os seminários de negócios para os jornalistas são desenhados para suplementar o conhecimento financeiro ganho nas instituições terceárias como a Universidade de Rhodes. O conteúdo e a estrutura do curso de seis semanas é decidido por professores da Escola de Negócio em concordância com o Business Day. Acompanhamento e Apoio ... Os mecanismos de apoio à formação são necessários para os graduados da escola de cadete dos Jornais Independentes. Isto ocorre através de um processo de acompanhamento contínuo. O mentor funciona como o mecanismo de orientação e de apoio para os novos recrutas inexperientes assim que eles começam a aplicar as habilidades aprendidas, nas redacções e na reportagem no campo. Este processo toma a forma de ‘workshops’ de acompanhamento, onde o mentor pode avaliar e melhorar continuamente as habilidades adquiridas, enquanto os repórteres trabalham nas redacções. O objectivo do mentor é de rectificar possíveis erros que os repórteres inexperientes pode cometer quando investigam uma possível história, e ajudá-los em todos os aspectos de trabalhar

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como jornalistas, desde o melhoramento das qualidades pessoais para torná-los jornalistas bem sucedidos. TIMES MEDIA LIMITADA A Times Media Limitada em geral, tem favorecido a abordagem de acompanhamento como sendo mais beneficente para os jornalistas iniciantes que um curso de formação interna. Este tipo de abordagem estabelece um relacionamento que permite ao jornalista iniciante sentir pertencente da redacção. O aspecto negativo deste tipo de abordagem é que se torna problemático quando se emprega um indivíduo que não teve o benefício do ensino universitário ou da politécnica. Foi expressa a opinião de que não era responsabilidade da Times Media formar jornalistas no básico do jornalismo, isso era função das instituições de ensino sul africanas. Não devia se esperar que os mentores ou jornalistas seniores ensinem as capacidades básicas do jornalismo, a sua função é desenvolver as habilidades que um jornalistas inexperiente já foi ensinado. A SABC E A FORMAÇÃO Sendo um serviço público de radiodifusão e a única emissora nacional, a SABC está muito consciente do papel que joga no desenvolvimento do jornalismo neste país. Embora não haja uma definição precisa do serviço público de radiodifusão, é geralmente entendido que de entre muitos dos seus papéis, ela deveria servir como um instrumento de desenvolvimento social e cultural, que educa, informa e entretém a sua audiência. A SABC tenta cumprir com esses papeis de desenvolvimento e educação através da assistência da “estrutura de apoio profissional” tal como o seu departamento de formação. A SABC coloca uma alta prioridade na formação. O Chefe Executivo do Grupo SABC, Sr. Zwelakhe Sisulo, expressou “preocupação sobre o desenvolvimento a longo prazo dos jornalistas”. Mais ainda, foi reportado que foi feita uma exigência pela SAUJ para que a SABC “concentrasse na formação” (Mail & Guardian, August 2-8, B7:1996). A Necessidade de Formação Interna ... A formação forma a espinha dorsal de qualquer organização especializada, e no caso

da SABC, a imagem da radiodifusão pública numa sociedade multifacetada só pode ser melhorada atrvés de uma estrutura de apoio profissional.

– Ron Morobe (Formação e Desenvolvimento 1996:1) A “estrutura de apoio profissional” a qual o Chefe de Formação da SABC se refere é o departamento de Formação e Desenvolvimento na SABC. Foi criado em 1993. Emboara a direcção da SABC é inflexível que a crescente interacção entre o sector e as instituições educacionais é necessária, foi explicado a equipa de pesquisa que “tu não podes deixar a sua formação”. Um editor sénior de televisão forneceu uma distinção entre ensino e formação, dizendo que ensino é o que se adquire nas instituições educacionais, ao passo que os programas de

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formação interna oferecem formação. Ele definiu formação como “a constante preparação das capacidades”, adicionando que formação é certamente uma “actividade repetitiva”. A radiodifusão é um ambiente que muda constantemente, e para operar os equipamento da nova geração são exigidas habilidades específicas em computador. Por essa razão as habilidades em tecnologia são ensinadas automaticamente aos novos empregados na SABC, e é, portanto, desnecessário as instituições educacionais duplicarem essas capacidades. É evidente que o conhecimento tecnológico é vital para a indústria da radiodifusão, daí a necessidade de se oferecer cursos de formação para manter os trabalhadores actualizados. Desde o período em que esta pesquisa foi realizada, os planos de introdução da escola de cadetes na SABC tinha atingido um estágio avançado. O Chefe da Formação disse a equipa de pesquisa que os mecanismos exactos da escola de cadete ainda não tinha sido decididos, a SABC está agora no “estágio de orçamentação, e iss está sendo discutido no momento”. A estrutura do departamento de formação interna da SABC ... O departamento de formação interna e desenvolvimento da SABC existe há apenas dois anos e meio. A formação está dividida em duas divisões, a divisão de formação em televisão e a divisão de formação em rádio. Em Agosto de 1993, quando o departamento de formação foi inicialmente aberto, foram trazidos formadores estrangeiros da Canadian Broadcasting Corporation e da Australian Broadcasting Corporation para oferecerem vários cursos na SABC. A SABC enviou jornalistas para formação nessas instituições e também convida formadores dessas instituições para realizar cursos internos na África do Sul. O departamento de formação estabeleceu relações muito próximas com as seguintes instituições: • Australian Broadcasting Corporation • British broadcasting Corporation • Canadian broadcasting Corporation • Associação de Radiodifusão da Commonwealth • Instituto para o Avanço do Jornalismo • Fundação Thompson Como é que a formação interna funciona A divisão de formação em rádio oferece uma variedade de cursos cobrindo uma grande gama de tópicos tais como radiojornalismo básico, técnicas de entrevistas, reportagem especializada (por exemplo reportagem económica) produção de som e desenho da produção. A formação dentro da divisão de rádio é feita somente sob solicitação. São realizados encontros regulares entre os formadores em rádio e os gestores que apontam as áreas de necessidades. Depois o departamento de formação formula os cursos para satisfazer essas necessidades. Quando novos jornalistas são recrutados na divisão de notícias da rádio, eles são colocados num curso de radiojornalismo básico que serve como para introduzi-los às habilidades da redacção tais como redacção de reportagens, entrevistas e peças. As habilidades técnicas são enfatizadas através de uma introdução ao estúdio de notícia e formação no uso das maquinas e

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equipamentos usados na produção da notícia. O curso é orientado para a prática e envolve enviar jornalistas para os estúdios de rádio onde eles podem receber a experiência em primeira mão. Os cursos de formação são oferecidos para ambos empregados novos e pessoal já existente que necessita adquirir um curso de ‘actualização’ na sua área específica. O ensino terceário não isenta os novos empregados de participarem nesses cursos de formação, e quer tenha um grau de licenciatura ou diploma da politécnica, ela/ele tem que participar no curso de formação. A intenção da formação em radiodifusão é para para “todos os funcionários iniciantes participarem nesses cursos”. A insuficiência de fundos é uma óbvia desvantagem para o departamento de formação, uma vez que isso limita a quantidade de cursos de formação a oferecer, o que resulta na priorização das áreas em que a formação é essencial. De acordo com o gestor sénior de formação, neste momento o curso é praticamente básico e em nenhum lugar perto de onde eles gostariam que estivesse. Ele prevê a formulação de um programa de formação estruturado formal e compulsório para os novos jornalistas com uma avaliação restrita e retorno sobre o desempenho. Pretende-se que esta formação acrescente sobre o conhecimento que os jornalistas adquiriram nas suas instituições terceárias. Várias cursos de formação estão em oferta na SABC com a divisão de formação em televisão, incluindo: • Noticiário de Televisão e Formação em Assuntos Correntes • Formação em Produção de Televisão • Formação em Apresentação de Rádio e Televisão • Noticiário de Rádio e Formação em Assuntos Correntes • Operações: Formação em Rádio e Televisão • Formação Técnica Crescimento da Capacidade: Formação de Formadores Os funcionários que são seleccionados para serem formadores todos tiveram uma ampla experiência no área. Disse um dos gestores de formação sénior: “nós tentamos e formamos os nossos melhores como formadores”. Além disso, esses jornalistas teriam “segurado muitos dos problemas ou áreas chave dentro de uma situação de trabalho”. Dos vinte e quatro formadores que foram inicialmente formados, a maioria deles saíram e “foram para outros empregos, não querem mais serem formadores ou foram transferidos para outros lugares” Apenas três desses formadores continuam activamente envolvidos na formação. O pequeno número de formadores disponíveis no departamento de noticiário de televisão é uma óbvia preocupação, já que isto limita a quantidade de cursos de formação a oferecer em um momento, e os formadores tornam-se sobrecarregados. Como resultado de ter sido deixado com poucos formadores, é assumido que o sistema inteiro está em processo, necessita de uma reavaliação. É necessária uma soma significante de dinheiro e tempo para aumentar o número de formadores, e aliciar os formadores a permanecer na SABC.

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Preocupações Expressas pelos Gestores da Formação Os gestores de formação na SABC expressaram várias preocupações cruciais, e no momento da pesquisa, os seguintes problemas foram identificados como sendo altamente problemáticos e necessitando um atenção imediata. Avaliação dos Formandos Actualmente, o departamento de formação não faz nenhuma provisão para a avaliação dos formandos. Para a formação em jornalismo radiofónico e televisivo não são feitos testes ou exames, uma vez que “os testes neste tipo de formação são desmoralizantes”. A uma pergunta sobre se existe um sistema onde os formadores podem fornecer comentários para o progresso dos formandos, foi dito que os formadores não são permitidos a fazer observações sobre o progresso dos formandos. A posição da SABC é de que a responsabilidade do departamento de formação é formar, e se se tornar óbvio que o formando, uma vez operando na sua capacidade total, não é do padrão desejado, o problema cai sobre a gestão desse departamento em particular. Sobre isto, a gestão da formação reclamou que isto “não é nosso trabalho”. Dentro do departamento de formação, existia uma insatisfação com este assunto, com alguns dos formadores a preferirem um programa de formação “muito estruturado” com uma “avaliação estrita”. Foi questionada a viabilidade de conduzir programas de formação que não fazem provisão para a avaliação dos formandos. A falta de avaliação não é apenas evidente dentro do departamento de formação, mas dentro da SABC como um todo, uma vez que não existe um sistema formal de avaliação. Ambos os formadores de televisão e rádio achavam que era responsabilidade dos chefes directos avaliar o desempenho do seu pessoal. O director de formação em rádio explicou que uma vez que eram os chefes directos que solicitaram a formação em primeiro lugar, eles tem a obrigação de ver se eles usam as habilidades que eles adquiriram. Porém muitas vezes isto não acontece. O chefes directos foram duramente criticados pela sua relutância e incapacidade de assumir a responsabilidade para ver que as suas habilidades melhoraram, acompanhando o seu progresso e fornecendo mecanismos de apoio. De acordo com um formador sénior de televisão: “as pessoas voltam ao ambiente de trabalho e os chefes directos não acompanham e nem analisam o trabalho que eles estão a desenvolver – não existe nenhum sistema de avaliação”. Independentemente, a divisão de rádio concordou dizendo que os jornalistas que saem da formação não recebem apoio quando voltam para a sua divisão: “nós ensinamos as pessoas novas habilidades mas eles não são permitidos a pensar criativamente, não são permitidos a experimentar novas maneiras”. Falta de apoio do Chefe Directo Foi expressa a visão de que era fútil a SABC a formar jornalistas e depois não fornecer-lhes um apoio suficiente quando eles voltam para a redacção. Para garantir que os jornalistas estão a usar as habilidades que apreenderam, são necessários mecanismos de apoio nas redacções, é igualmente importante que as redacções forneçam um espaço para os jornalistas experimentarem as habilidades e abordagens recentemente descobertas. Muitas vezes os

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chefes directos insistiram que os jornalistas viram-se para “a maneira de fazer as coisas tentando e experimentando” o que se tem tornado rotina e cansativo. Formação como um Bode expiatório para a Demissão Um outro problemas enfrentado pelo departamento de formação é que muitas vezes a formação é usada como um mecanismo disciplinar para o pessoal que demonstra um fraco desempenho. Os funcionários que estão empregados na SABC por mais de dez anos são enviados para a formação antes de serem demitidos. Em casos desses, de acordo com os formadores a desculpa para a demissão seria que “o departamento de formação diz que és inútil”. Dois exemplos do que está a acontecer agora foram dados à equipa de pesquisa. O primeiro exemplo é de um apresentador que não tem um bom desempenho no ar, por essa razão o departamento de formação foi “chamada para fazer uma avaliação”. Embora os responsáveis de formação não encontraram nenhum problema em oferecer uma avaliação, eles se recusaram a assinar o relatório da avaliação, “porque depois o departamento de formação é usado como bode expiatório para a direcção demitir o pessoal”. O segundo exemplo foi de um operador de camera que trabalha na SABC há dez anos, e porque ele é “absolutamente inútil”, foi enviado para o departamento de formação. Na formação, era evidente que este funcionário em particular simplesmente não estava interessado, e assim o seu chefe foi contactado. A resposta do chefe foi “mantenha-o aí porque é parte dos procedimentos disciplinares”. Uma vez mais foi enfatizado que o departamento de formação não é para ser usado como uma medida disciplinar. Jornalistas abandonando a formação Um outro problema enfrentado pelo departamento de formação foi que alguns jornalistas participando nos cursos de formação abandonaram antes de completarem tais cursos. Embora os chefes directos são os que recomendam os seus jornalistas para fazerem essas formações, eles (os jornalistas) eram livres para abandonarem mesmo se fosse para o seu interesse completar o curso. Se eles (jornalistas) sentem que estão a desenvolver suficientemente um bom trabalho, é difícil enfiar-lhes goela abaixo a formação. Uma ou duas vezes temos sentido que as pessoas precisam de formação ... mas se a pessoa diz e na verdade escreve-te que ele sente que é bom o suficiente, não existe nada que possas fazer ... Tamanho da SABC O tamanho da empresa cria um outro problema que o do departamento de formação. A empresa tem mais de 5000 funcionários a tempo inteiro e um número de funcionários a tempo parcial/freelancers, tornado difícil a coordenação da formação para todos eles: “existem várias pessoas dentro da SABC tornando a coordenação muito difícil, mesmo quando tens uma política ela pode ser sabotada pelo caminho”. Muitos dos funcionários a tempo parcial e freelancers não passaram por uma formação. Eles entram, fazem as coisas e saem”.

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O Orçamento de Formação e Financiamento O orçamento proposto para o departamento de formação e desenvolvimento para 1997 actualmente se situa em R27 000 000 (vinte e sete milhões de randes), embora fosse sentido que muito menos seria aprovado. O curso de formação ao qual certo número de membros da equipa de pesquisa foram permitidos a observar foi o curso de “Contos” para a produção de notícia televisiva. Este curso é realizado para os jornalistas de televisão recém admitidos, numa média de oito jornalistas, todos eles vindos de escritórios regionais da SABC. A duração dos cursos é de duas semanas, durante tal período a acomodação foi totalmente paga pela SABC. A direcção da formação disse a equipa de pesquisa que todo o custo deste curso sozinho é de R100 000 (cem mil rands). Um obstáculo adicional com o qual o departamento de formação se confronta é o dos 5000 (cinco mil) funcionários a tempo inteiro na SABC. Ron Morobe reclamou que “a maior parte do nossa balança salarial vai para os funcionários a tempo parcial e esses são os que não passam pela formação”. Isto tem resultado em implicações óbvias para o departamento de formação, incluindo o facto de que enquanto o orçamento da formação está sendo cortado, a SABC está gastando a maior parte da balança salarial com pessoas que nem sequer passam pela formação. O Roubo do Pessoal A autonomia da SABC em termos de radiodifusão está a ser seriamente desafiada com o surgimento de emissoras privados, que tem uma vantagem imediata sobre a SABC em termos financeiros. Há uma “procura massiva por pessoas formadas no sector da radiodifusão emergente”, e na opinião de um editor sénior de televisão, a SABC vai se tornar numa fonte para as novas emissoras. Isto é motivo de grande preocupação dentro da SABC, de acordo com todos os entrevistados na SABC, “o nosso melhor pessoal está a ser roubado”. As emissoras privadas estão automaticamente em melhor condição financeira que a SABC, que, como uma emissora de serviço público, simplesmente não pode conseguir atingir os salários que o seu pessoal está sendo oferecido. Foi reclamado que as novas emissoras “querem surgir e já a trabalhar, e não pode perder tempo para formar pessoas, dai que os especialistas formados estão sendo pescados”. Todas as melhores pessoas estão a ser roubadas, o que coloca um grande peso na SABC em geral, uma vez que outros funcionários serão exigidos a “preencher o vazio”. Nessas circunstâncias, a SABC se tornaria “densamente dependente das instituições terceárias”. A Percepção do Padrão do Ensino Terceário de Jornalismo A percepção expressa no departamento de formação foi de que as politécnicas se aproxima mais do que eles fazem no local de trabalho e consequenctemente os diplomados das politécnicas eram mais familiares com as práticas da redacção. Sentiu-se também pelo pessoal de formação que os graduados da universidade, embora com falta de habilidades práticas estavam mais ensaiados na filosofia do jornalismo. No cômputo global, os formadores expressaram satisfação com a qualidade dos jornalistas iniciados que entram na empresa vindo

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das instituições terceárias. Havia o sentimento de que o que as politécnicas ensinavam era adequado. Os graduados da universidade tem uma margem distinta sobre os estudantes da politécnica em termos de entender o básico da reportagem e contar a estória e, embora os jornalistas formados pela universidade vem com pouco conhecimento prático, “não havia muito para ensinar e eles rapidamente se enquadrara”. Mesmo assim, o que eles ensinam no curso de jornalismo básico tem que ser aprendido no trabalho – “ensina-lhes o que eles tem que fazer no dia a dia”. Uma vez que a SABC estava constantemente a actualizar os seus equipamentos, era impossível para as instituições educacionais acompanhar os avanços tecnológicos por causa dos altos custos envolvidos e como resultado fazia sentido formar jornalistas na empresa. Sentia-se que ao nível técnico, tais instituições não poderiam oferecer um ensino de alta qualidade pelo facto de que a SABC estava constantemente a actualizar os seus equipamentos e por causa disso os equipamentos que as instituições eram obsoletos. Uma reclamação significante sobre os jornalistas iniciantes é que eles vem com falta de habilidades básicas de redacção. “Existe uma maneira específica de escrever para televisão e rádio. É diferente do que provavelmente é actualmente ensinado (nas instituições terceárias).” Um número de formadores dentro da SABC compartilham a visão de que talvez existam muitas instituições no país oferecendo cursos de jornalismo (de radiodifusão). Havia a preocupação de que as instituições terceárias estavam se tornando comerciais e estavam a oferecer cursos de jornalismo como uma disciplina simplesmente com um meio de gerar mais dinheiro. O número de instituições privadas a abrir são para ambos de particular preocupação. Outra crítica feita contra as instituições terceárias foi que muitos dos académicos que ensinavam jornalismo nessas instituições tinham um experiência prática de trabalhar na redacção limitada ou mesmo nenhuma. O número de pessoas que actualmente ensinam jornalismo são na maioria dos casos pessoas que não tiveram essa experiência ... são pessoas que sentaram na universidade, leram um número de livros e estão agora sentados em frente dizendo assim é que (o jornalismo) deve ser feito. E depois quando você entra no mundo real descobre que é uma coisa totalmente diferente. Relacionamento com as instituições terceárias O departamento de formação tem relações com um número de politécnicas. Os que eles tem trabalhado mais são a Politécnica de Northern Transvaal e a Peninsula Politécnica. Nunca foi feita uma ligação formal com universidades, embora professores da Universidade de Rhodes visitam a SABC muitas vezes. Muito poucas outras instituições se consultam com o departamento de formação numa base informal. O relacionamento do departamento de formação com as politécnicas vem na forma de estágios. Os estudantes vem para a SABC para o seu estágio primeiro passam pela formação no departamento de formação antes de começarem o trabalho na redacção. De acordo com o formador interno em rádio, o relacionamento do departamento de formação com as politécnicas eram benéficas porque permitiam que o departamento soubesse o que esperar dos jornalistas que entram e portanto usar essa informação para desenhar cursos de formação especificamente para eles. Foi acordado, porém, que devera ser estabelecido um relacionamento mais próximo

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que permitiriam a SABC interferir directamente no currículo das politécnicas e que poderia eventualmente conduzir para a SABC e as politécnicas estabelecerem cursos de formação conjuntos. Um problema que o pessoal de formação da SABC encontraram com as instituições terceárias era de que eles as vezes se encontram num fogo cruzado entre académicos que não se entendiam, tornando difíceis as relações entre a SABC e as instituições terceárias: Temos tentado falar com um número de pessoas nas instituições educacionais mas depois entramos neste tipo de coisas em que o professor fulano não fala com este e este diz, oh Deus uma politécnica. E depois ficamos cansados, porque depois qual é o ponto?