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SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO, MERCADO E QUALIDADE DA CARNE DE SUÍNOS 8 e 9 de maio de 2002 Florianópolis – SC – Brasil ANAIS

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SEMINÁRIO INTERNACIONALSOBRE PRODUÇÃO,

MERCADO E QUALIDADE DACARNE DE SUÍNOS

8 e 9 de maio de 2002

Florianópolis – SC – Brasil

ANAIS

Seminário Internacional sobreProdução, Mercado e Qualidade da

Carne de Suínos

8 e 9 de maio de 2002

Florianópolis – SC – Brasil

Anais

Exemplares desta publicação podem ser solicitados a:

Gessulli AgribusinessPraça Sergipe, 154Porto Feliz – SPCep 18540–000 BrasilTel.: 0** 55 15 262 3133Fax: 0** 55 15 262 3919e-mail:[email protected]://www.avesiu.com.br

Embrapa Suínos e AvesBr 153, Km 110Caixa Postal 2189.700-000 – Concórdia, SCe-mail: [email protected]://www.cnpsa.embrapa.br

Tiragem: 600 exemplares

Coordenação Editorial: 1

Tânia Maria Biavatti Celant

Editoração Eletrônica:Simone Colombo

Colaboraram neste documento:Paulo R.S. da SilveiraIrene Z.P. CameraViviane Zanella

Seminário Internacional sobre Produção, Mercado e Qualidadeda Carne de Suínos – AVESUI. (2002: Florianópolis, SC.).Anais do Seminário Internacional sobre Produção, Mercado

e Qualidade da Carne de Suínos – AVESUI, 8 e 9 de maio de2002. – Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2002.

72 p.; 29 cm.

1.Suíno - carne - qualidade - congresso. 2.Suíno - carne -mercado - congresso. 3.Suíno - carne - mercado - congresso.I. Título.

CDD 664.906

c© EMBRAPA – 2002

1As palestras foram formatadas diretamente dos originais enviadas eletronicamente pelos autores.

Seminário Internacional sobre Produção, Mercado e Qualidade da Carne de Suínos8 e 9 de maio de 2002 — Florianópolis – SC – Brasil

ORGANIZAÇÃO

PATROCÍNIO MASTER

CO-PROMOÇÃO

Suínos e Aves

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Seminário Internacional sobre Produção, Mercado e Qualidade da Carne de Suínos8 e 9 de maio de 2002 — Florianópolis – SC – Brasil

PROGRAMA

08/05 (Quarta-feira)

08h00-09h00 – Inscrições e Abertura

09h00-10h00 – Problemática daqualidade da carne suína no século21 para países em desenvolvimentoDr. Carlos Buxadé Carbó – Espanha

10h00-11h00 – Rastreabilidade dacarne suína – Avanço TecnológicoGuy Prall -– Inglaterra

11h00–12h00 Qualidade e segurançano processamento de carne desuínosWilliam Bertoloni – Brasil

12h00-14h00 Intervalo para almoço

14h00–15h00 Estratégias e tendên-cias da produção da carne suínabrasileiraDr. Jurandi Machado – Brasil

15h00–16h00 Tendências e caracterí-sticas do mercado da comunidadeeuropéia

Dr. Carlos Buxadé Carbó – Espanha

09/05 (Quinta-feira)

09h00–10h00 Viabilidade técni-ca/econômica e sustentabilidadeambiental da produção de suínosDr. Paulo Armando de Oliveira – Brasil

10h00-11h00 Prevenção de Micoplas-mas em Granjas SuínasDr. Harry Snelson – EUA

11h00–12h00 Importância da qualida-de de grãos na produção de suínosDr. Gustavo J. M. M. de Lima – Brasil

13h00-14h00 Intervalo para almoço

14h00–15h00 Aspectos genéticos domelhoramento para vitalidade dosleitões e para as característicasreprodutivasDr. Egbert Knol – Holanda

15h00–16h00 Homeopatia na suino-cultura - suínos 100% naturaisDra. Erlete Vuaden – Brasil

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SUMÁRIO

Rastreabilidade da carne suína - Avanços tecnológicosGuy Prall . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

Qualidade e segurança no processamento de carne de suínosWilliam Bertoloni . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Estratégias e tendência para as carnes de frango e suína - visão tendencialpara 2005-2010Jurandi Machado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Sustentabilidade Ambiental da SuinoculturaPaulo Armando V. de Oliveira, Maria Luisa A. Nunes . . . . . . . . . . . . . 22

Mycoplasma hyopneumoniae - epidemiology and controlHarry Snelson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Importância da qualidade de grãos na produção de suínosGustavo J. M. M. de Lima, Osny Waltrick de Souza . . . . . . . . . . . . . . . 45

Selection for reproduction and piglet survivalEgbert F. Knol, Arjan Neerhof . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Homeopatia: uma alternativa na suinoculturaErlete Rosalina Vuaden . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

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RASTREABILIDADE DA CARNE SUÍNA - AVANÇOSTECNOLÓGICOS

Guy Prall

Sygen plc, 2929 7th Street, Berkeley, CA 94710, USA.

Resumo

A segurança alimentar e a imagem da marca são as duas forças atrás dointeresse na rastreabilidade da carne suína. Um sistema de rastreabilidadecontém elementos de identificação de animais e localidade, um banco de dadoscentral e um processo de verificação. Este ensaio revisa as vantagens edesvantagens dos diferentes sistemas de identificação, avanços tecnológicosrecentes e sua utilização nas diferentes etapas da cadeia da carne suína.Conclui-se que, embora não exista ainda uma tecnologia padronizada pararastrear um animal desde o nascimento até o produto final nas prateleiras dossupermercados, a utilização de DNA como sistema de verificação de qualquersistema de rastreabilidade oferece um mecanismo único de controle de qualidadepara sustentar uma forte imagem de marca.

Introdução

Rastrear produtos a base de carne suína envolve alguns desafios únicos. Primeiro,o suíno é “formado” em múltiplas granjas, que utilizam insumos tais como genéticas,rações e vacinas oriundas de múltiplas fontes. Então, no abate, a carcaça éespostejada e as diferentes partes enviadas a múltiplos varejistas em peças inteiras,ou em produtos misturados.

O interesse de um governo na rastreabilidade provém, tipicamente, do desejo deassegurar que a indústria animal de seu país seja protegida de efeitos devastadores dedoenças, tais como, Febre Aftosa, ou de tranqüilizar os clientes de mercados internose externos de que o alimento é seguro para a compra e consumo e que foi produzidoem sistemas que atendem ao bem-estar animal.

Uma empresa comercial, por seu lado, está interessada na rastreabilidade poroutras razões. Primeiro, pelo desejo de controlar e assegurar a qualidade e o valordos seus produtos. Um sistema de rastreabilidade dá a uma empresa a confiança dedivulgar informações sobre a origem dos seus produtos - Carne Orgânica, AberdeenAngus são dois exemplos de carne. Segundo, um sistema de rastreabilidade ajudauma empresa a se proteger em casos de reclamações quanto à qualidade do produto:ela pode, rapidamente, verificar de onde veio o produto e corrigir o problema.

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Exemplo de marca que agrega valor Exemplo de problema de qualidade de produto

Fábrica de Hambúrguerfechada“ Recall ” chega a 12 mil toneladas21 de Agosto de 1997WASHINGTON – Um frigorífico de bovinos noestado de Nebraska foi fechado e 12 miltoneladas de hamburger...

É cada vez mais freqüente que os grandes frigoríficos exijam que os suínos sejamproduzidos em processos definidos e controlados, validado por auditoria terceirizada.As exigências podem incluir, por exemplo, um sistema definido de produção (ex..:fêmeas fora de gaiolas), um sistema definido de alimentação (ex.: ração isenta defarinha de carne e osso), ou genética definida (ex.: uso de machos Duroc). Estasdefinições habilitam o frigorífico a elaborar programas de marketing que agreguemvalor à carne suína.

As perguntas que os sistemas de rastreabilidade objetivam responder sãogeralmente do tipo “Quem é você?” e “De onde você vem?” Tais sistemas incluem:

• Um método para identificação individual ou grupo de animais;

• Um método para identificação de sítios de produção;

• Uma espécie de passaporte que acompanha o animal ou grupo;

• Um banco de dados que registra identidades, locações, eventos e datas.

Entretanto, para que um sistema de rastreabilidade permaneça confiável, devetambém estar amparado por sistemas de verificação designados para responder àsperguntas “Você é quem diz ser?” e “Você vem de onde diz vir?”

Não há, ainda, padrões estabelecidos ou definidos, nacional ou internacionalmen-te. Há vários sistemas competitivos, porém, nenhum deles oferece uma soluçãocompleta. O diagrama abaixo ilustra como os diferentes sistemas de identificaçãopodem funcionar numa rastreabilidade totalmente funcional, e com sistema deverificação. O propósito deste ensaio é revisar os sistemas disponíveis.

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Discussão

Sistemas de identificação que podem ser facilmente lidos visual-mente - Sistemas tradicionais

Os sistemas que são usados com suínos incluem brincos plásticos numerados etatuagens que podem facilmente ser lidas por um ser humano. Os únicos avançostecnológicos nesta área estão no domínio do fluxo de informações para bancos dedados centrais via Internet. As principais vantagens dos sistemas de identificação queusam brincos e tatuagens são de que os seres humanos podem facilmente lê-los, epor eles serem relativamente baratos. As principais desvantagens incluem tatuagensque se tornam ilegíveis, brincos que caem, a perda da cadeia de identidade quando osuíno recebe um brinco novo, leitura errada de brinco e, no abate, os brincos precisamser retirados para assegurar que não entrem na cadeia alimentar humana. Ocorre, éclaro, perda total da identidade individual do suíno, uma vez que o brinco é removido.

Sistemas que podem ser lidos em tempo real - Sistemas eletrôni-cos de identificação

Os brincos plásticos numerados que contêm um transponder embutido represen-tam um avanço tecnológico significativo. A leitura e o registro da identidade podemser automatizados - identificação mais rápida e mais precisa. Além disso, tais brincosnas orelhas dos suínos podem se comunicar aos transponders eletrônicos presos aogancho no abatedouro. Desta forma, eles transferem informações vitais dos suínospara as suas carcaças e componentes subseqüentes. Gerações futuras de brincoseletrônicos também terão outras características úteis, tais como captura automatizada

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de dados por sistema sem fio a qualquer momento e transferência de identidade, coma localização determinada por GPS (Global Positioning Satellite).

O custo de sistemas eletrônicos de identificação provavelmente será reduzidoainda mais no futuro próximo, e a sua funcionalidade, tudo indica, incluirá dados demonitoramento biológico, além da identidade - temperatura do animal, por exemplo.

As principais desvantagens incluem brincos que caem e a possível perda dacadeia de identidade quando o suíno recebe um brinco novo. Uso de transponderseletrônicos subcutâneos evitam, em parte, o problema de perda de brincos, e oproblema de migração dos transponders está resolvido, mas o risco da entradado transponder na cadeia alimentar tem limitado a popularização desta tecnologia.Em alguns países, os transponders estão sendo colocados em cápsulas que sãointroduzidos nos estômagos de ruminantes. No entanto, assim como outros brincos,transponders precisam ser removidos para assegurar que não entrem na cadeiaalimentar humana. Há, portanto, total perda da identidade individual do suíno, uma vezque o brinco é retirado se o abatedouro que o recebe não possui tecnologia apropriadade transferência e captura de dados.

Sistemas biométricos de identificação

Um dos sistemas biométricos é a imagem da retina. Esta tecnologia é baseadana descoberta de que a configuração de vasos sangüíneos na retina é única paracada animal e também muito estável durante sua vida. Um outro e similar sistemabiométrico, o “escaneamento” da íris, é baseado na descoberta de que os desenhosda íris também são únicos para cada indivíduo e estáveis no tempo - embora aindaesteja incerto em qual idade o desenho da íris se estabiliza em suínos. Empresascomerciais estão desenvolvendo sistemas interativos e totalmente eletrônicos. Emeventos significativos na vida de um suíno (nascimento, e a qualquer momento que oanimal muda de locação ou propriedade e abate) o olho é “escaneado” e sua imagem,juntamente com o tempo e a data e locação precisa conforme determinada pelo GPS,são eletronicamente transmitidos ao banco de dados central.

Uma imagem da retina Um "escaneamento" da íris

As vantagens de usar as características únicas do olho são muitas. Não existerisco de que o animal perca esta identidade única. O olho é totalmente biodegradávele pode entrar na cadeia alimentar humana. É impossível ocorrer uma fraude -o suíno sempre vai estar onde o seu olho estiver. A imagem da retina ofereceoutras vantagens potenciais, já que o estado dos vasos sangüíneos da retina pode

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proporcionar identificadores fisiológicos. Embora em suínos isso possa ser umavantagem (detecção precoce de gestação, por exemplo), o uso desta tecnologia,no ser humano, está sendo debatido, já que os consumidores podem, finalmente,decidir se tais informações adicionais podem ou não ser uma invasão inaceitável deprivacidade.

O principal desafio com o uso de uma medida biométrica associada ao olho éa dificuldade de uma rápida captura de uma imagem nítida: exigem-se diversossegundos para estabilizar o animal por tempo suficiente que permita a captura deuma imagem utilizável. Além disso, como no caso dos brincos, o animal perde suaidentidade ao morrer quando os olhos são separados da carcaça.

Passaportes, brincos, tatuagens, transponders, medidas biométricas e códigos debarras são todas tecnologias que objetivam permitir que a movimentação de um animale dos seus produtos seja rastreada durante o seu percurso na cadeia da carne suína.Os sistemas que requerem análises laboratoriais, no entanto, podem ser usados comoum sistema de verificação. Eles servem para checar se o sistema de rastreabilidadeestá funcionando ou se as garantias de qualidade são verdadeiras.

Sistemas que exigem análises laboratoriais

Os sistemas de isótopos estáveis e vacinações de peptídeos sintéticos são doismétodos interessantes para rastrear um produto biológico de volta a sua origem, masé improvável que sejam usados na indústria suinícola. O potencial para o erro humanoé alto (assegurar que os peptídeos corretos ou isótopos estáveis são administrados),e haveria uma percepção negativa dos consumidores com respeito às vacinaçõesdesnecessárias ou de alimentar os suínos com isótopos.

A análise de DNA, no entanto, oferece uma oportunidade concreta para umsistema de identificação e rastreabilidade. Assim como as informações biométricas, oDNA já é único para cada suíno, não pode ser perdida, é totalmente biodegradávele pode entrar na cadeia alimentar humana. Possui uma grande vantagem sobreinformações biométricas na qual ele acompanha a carne até o consumidor final. Éum meio de identificação não-invasivo à prova de fraude. Já existem vários sistemascomerciais em operação que utilizam esta tecnologia com carne bovina. A avaliaçãode DNA serve como uma verificação da confiabilidade do sistema de rastreabilidade -respondendo à pergunta “Você é quem diz ser?”

Exemplo de leitura de DNA para 12 diferentes marcadores de micro satélites

A principal desvantagem de um sistema de DNA é o seu custo e o desafio emler a identidade de um animal em tempo real. Há também o risco de um errohumano durante a coleta e armazenamento de amostras. Estatística e freqüência

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de amostragem ajudam a trazer os custos de um sistema de verificação de DNA aníveis razoáveis.

Os testes de DNA já estão sendo usados na suinocultura para ajudar clientes averificarem que seus fornecedores estão entregando o que é preciso para os seusprodutos de valor agregado. No Reino Unido e no Japão, a tecnologia PICmarqTM

assegura que os fornecedores atendam às especificações dos clientes para suínosdo tipo Javali, Duroc ou Berkshire. Nos Estados Unidos, duas organizações usama tecnologia PICmarqTM para controlar importações ilegais de espécies exóticas desuínos e assegurar a pureza racial do Hampshire. Testes adicionais de DNA emvários países são usados para verificar a presença de genes específicos relacionadosà qualidade de carne que agregam valor ao produto, inclusive para o mercado deexportação. A PIC já desenvolveu uma tecnologia própria para o uso de DNA naverificação em um sistema de rastreabilidade de carne suína.

Conclusões e organização futura

Embora sistemas de rastreabilidade já estejam operando na indústria de carnebovina, ainda permanece incerto qual será a tecnologia ou sistema de rastreabilidadepara suínos. Cuidados devem ser tomados na montagem de um sistema, nãoapenas para manter custos baixos, mas também para proporcionar as respostas quea indústria deseja. Por exemplo, com suínos, pode não ser necessário conheceridentidades individuais, já que grupos de suínos podem ser identificados. Entidadesgovernamentais continuarão tentando introduzir esquemas de rastreabilidade voltadosàs questões associadas com a biosegurança do país, segurança alimentar e obem-estar animal. Empresas privadas estarão mais preocupadas com os sistemasde rastreabilidade que agregam valor aos seus produtos ou que os protejam em casode questões relacionadas à qualidade do produto.

Tecnologias disponíveis continuarão sendo desenvolvidas e os seus custoscontinuarão a cair.

O custo da produção de carne suína está diminuindo em proporção ao valor totalde produtos vendidos - em forma crescente, mais valor está sendo agregado à carnesuína a partir do momento em que o animal sai da granja. Fortes marcas comerciaisestão sendo cada vez mais aplicadas a estes novos produtos. Uma imagem de marca,ou até empresas inteiras, podem ser destruídas por um só simples “recall” de produtoou a descoberta pelos consumidores que as afirmações de marketing no rótulo daembalagem não correspondem com a verdade. A utilização de DNA como sistema deverificação de qualquer sistema de rastreabilidade oferece um mecanismo único decontrole de qualidade para sustentar uma forte imagem de marca.

Agradecimentos

- Drs. Ronald Klont, Scott Newman e Todd Wilken, colegas da PIC EUA, pelavaliosa ajuda com as informações e edição deste documento.

- Optibrand Ltd., pelas imagens de retina e vídeos.- Srta. Ana Lucia Marcon, da Agroceres PIC, pela ajuda na tradução.

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QUALIDADE E SEGURANÇA NO PROCESSAMENTO DECARNE DE SUÍNOS

William Bertoloni

ITAL / UNICAMPe-mail:[email protected]

home:igspot.ig.com.br/bt.william

1 Introdução

Engana-se quem pensa que a sociedade consome aquilo que o mercado oferece.Na verdade o caminho é inverso, ou seja, é o consumidor quem determina aquilo quequer comprar e o mercado necessita se adequar a essa demanda.

A qualidade, para o consumidor atual não é mais um diferencial e sim umaobrigação. O mercado até está disposto a pagar mais por essa qualidade, mas olivre comércio e equilíbrio entre a oferta e a demanda geralmente definem o preçofinal ao consumidor.

O que o consumidor procura é praticidade e nesse sentido, o mercado tem queoferecer a conveniência necessária a esse consumidor.

Portanto, o mercado necessita se adequar às exigências do consumidor moderno,que busca produtos de alta qualidade e maior valor agregado, assim como produtosde maior conveniência, mais práticos, saudáveis, seguros e de rápido preparo.

2 Influência da qualidade de carne suína no processa-mento

As características da carne suína como: textura, suculência, cor, sabor earoma podem ser influenciadas pelas mudanças bioquímicas que ocorrem durantea conversão do músculo em carne. Importantes características de qualidadetais como: capacidade de emulsificação, propriedades de ligação da água àsproteínas sarcoplasmáticas e miofibrilares, mecanismos de oxi-redução de pigmentose rendimento do processamento podem ser afetadas por essas mudanças.

Desta forma a qualidade e segurança no processamento da carne suína vãodepender muito da qualidade da matéria-prima utilizada no processamento, por outrolado a qualidade da carne suína é dependente de uma interação entre fatoresambientais e genéticos.

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2.1 Estresse e qualidade de carne

O estresse resulta do medo de situações desconhecidas enquanto os animais sãoconduzidos fora do seu ambiente natural (granja). Assim, por exemplo, o contatocom animais de granjas diferentes, pessoas desconhecidas ou quando são expostosa um tratamento inadequado, barulho, etc (GRANDIN & SMITH,1999). Emoçõesfacilmente disparam a conhecida síndrome do medo acompanhada pela rápida eintensiva liberação de catecolaminas. Estes são hormônios sintetizados na medulaadrenal, cujo principal efeito é a estimulação e suprimento de energia pela quebrade carboidratos e gorduras (WARRIS et al., 1998a, 1998b). Outros indicadoressangüíneos como creatinina fosfoquinase e lactato também sofrem alterações emseus níveis basais durante condições estressantes porem estão mais associados àscondições de estresse físico (fadiga muscular) diferentemente do cortisol que é umaresposta ao estresse psicológico (medo) ao qual o animal foi submetido.

Portanto, o “bem estar” dos suínos e suas interações devem ser consideradoscomo um todo, desde a sua produção na granja até o abate no frigorífico envolvendoaspectos éticos, econômicos e ambientais (WARRIS & BRAUN 2000; BRAUN, 2000).

Embora os aspectos éticos e ambientais relacionados ao “bem estar” sejam desuma importância; do ponto de vista industrial os aspectos econômicos são os querecebem o maior enfoque. Dentre estes pode-se citar:

• Suínos abatidos nos EUA, Espanha e Grã-Bretanha apresentam 1 a 4% deescoriações severas na pele, devido ao sistema de transporte, manejo pré-abate(desembarque, descanso, sistema de coleta) e sistema de insensibilizaçãoinadequados (WARRIS, 1996; GISPERT et al., 2000).

• Suínos insensibilizados com sistemas elétricos inadequados apresentaram altastaxas de fraturas ósseas e salpicamento da carne (ANIL et al., 1997; FAUCITANOet al., 1998).

• Suínos que recebem manejo pré-abate inadequado no frigorífico apresentamperdas de até 1,4% do peso corpóreo em um período de 24h anterior ao abate(RAJ, 2000).

• O Canadá perde em torno de 1,5 milhões de kg de carne suína por ano devidoao transporte e manejo pré-abate inadequados (MURRAY, 2000).

• A misturas de suínos de diferentes grupos sociais no manejo pré-abate, naGrã-Bretanha, proporciona a desqualificação de 5 a 7% de carcaças (RAJ,2000).

• Nos USA 2% das carcaças apresentam hematomas devido ao transporte emanejo pré-abate inadequados (RAJ, 2000).

• Durante o transporte podem ocorrer perdas de 0,2% de peso vivo/ hora e estevalor pode chegar até 2% do peso vivo durante uma viagem de 6 horas em umclima quente (RAJ, 2000).

• O transporte representa de 0,1 a 1% da mortalidade dos suínos dentro dospaíses europeus (RAJ, 2000).

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Portanto, como visto acima, o estresse animal pode proporcionar perdas dequalidade extremamente significativas. Na tentativa de minimizar estas perdas ascondições de transporte, manejo pré-abate, instalações e equipamentos devem serconstantemente otimizados (MACHADO, 2000).

2.2 Genética e qualidade de carne

Pesquisas indicam que as propriedades físico-químicas da carne são modera-damente herdáveis. Diante desse fato, deve-se realizar um melhoramento genéticobuscando animais que apresentem boas características qualitativas e quantitativas deforma harmônica.

O desenvolvimento das anomalias PSE / DFD na carne suína são fruto de umainteração entre o genótipo e o ambiente, portanto os procedimentos de embarque,transporte, desembarque, coleta e abate por si constituem em fatores estressantesmuito fortes para os animais.

A presença dos genes Halotano e Rendimento Napole associados ao estresse nossuínos intensificam ainda mais a influência da composição genética do animal duranteo abate e os instantes que o precedem (RÜBENSAN, 2000).

Suínos portadores do gene Halotano (NN ou Nn) quando submetidos a condiçõesestressantes durante o manejo pré-abate e abate apresentam modificações bioquí-micas consideráveis como: elevação dos níveis sangüíneos de lactado, creatininafosfoquinase, amônia, diminuição das reservas de glicogênio, aumento da perda porexsudação e reflectância muscular interna (GUSTAVSSON et al., 1992; KLONT et al.,1995; WARRIS et al., 1998; SMET et al., 1998; STOIER et al., 1999).

São crescentes os problemas relacionados ao aumento do número de suínosfacilmente excitáveis durante o manejo pré-abate e abate nos USA e outros países.Estas linhagens genéticas geralmente são fruto de uma alta seleção genética paramaior rendimento na porcentagem de carne magra e menor espessura de toucinho.

Observações em vários abatedouros nos USA, Canadá e Alemanha, indicam queestes animais possuem comportamentos característicos tais como: alta reatividade aotoque, extremo instinto gregário, constante retorno na fila durante o manejo pré-abatee alta aversão ao CO2 (GRANDIN, 1992; JONGMAN et al., 1999).

O gene de Rendimento Napole associado às “carnes ácidas” oriundos da raçaHampshire provoca uma diminuição do rendimento tecnológico de produtos curadoscozidos na ordem de 56% em comparação com carnes suínas normais (GARIÉPYet al., 2000), está também associado ao potencial glicolítico e afeta a capacidadede retenção de água dos músculos ricos em fibras brancas, causando perda porexsudação de 4 a 6% durante o resfriamento e cozimento (RÜBENSAN, 2000).

Portanto, o melhoramento genético de suínos deve ser harmônico visando a melhorrelação custo-benefício entre as características quantitativas e qualitativas.

2.3 Fatores ambientais e qualidade de carne

O “bem estar” animal durante o manejo pré-abate é atribuído ao período que vaidesde a última refeição do suíno até o abate, englobando várias fontes de perdaseconômicas como: mortalidade no transporte e área de espera, perdas de peso, carnePSE / DFD, contaminações microbianas, escoriações, ferimentos e fraturas devido ao

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excesso de lotação e mistura de animais de diferentes grupos sociais (GREGORY,1996; MURRAY, 2000; FAUCITANO, 2000; CHEVILLON, 2000).

Algumas etapas do manejo pré-abate no frigorífico como: tempo de espera oudescanso, taxa de lotação, jejum, aspersão de água, manutenção da temperatura eumidade ambiental, sistema de coleta e contenção dos animais e nível de atividadefísica até o sistema de insensibilização estão intimamente associadas à qualidade dacarne suína e devem ser analisadas em conjunto quando aspectos de qualidade esegurança da carne são considerados (PETERSEN,1997; BROWN,1998).

O benefício de dar aos suínos um tempo de descanso adequado entre o transportee o abate pode ser perdido se os animais forem submetidos ao manuseio errôneo econdições estressantes na área de espera nos corredores e baias. Irregularidades natextura e cor do piso, presença de correntes de ar, iluminação deficiente e utilizaçãode “ponteiras” elétricas em excesso, também podem influenciar (GRADIN, 1997;FAUCITANO, 2000).

Melhorias promovidas por modernos sistemas de insensibilização como: baixataxa de salpicamento e fraturas ósseas, podem ser totalmente perdidas quando osanimais são submetidos a um sistema de coleta deficiente.

Um resumo geral das principais recomendações para o manejo pré-abate desuínos preconizadas pela comunidade científica, pode ser visualizado a seguir:

• A alimentação deve ser retirada 12 horas antes do abate, com um períodomínimo de 6 horas entre a última refeição e o transporte (GISPERT et al., 2000).

• Os animais devem ser retirados das baias minimizando a mistura de diferentesgrupos sociais.

• A densidade utilizada durante o transporte deve ser de 0.40 a 0.45 m2 / 100kg(WARRIS 1996).

• Os animais devem ser submetidos a um período de descanso de 2 a 4 horas emdensidade de 0.55 a 0.67 m2 / 100kg antes do abate (WARRIS 1996; van derWAL, 1997).

• Os corredores da área de espera no frigorífico devem ser largos (quatro animaispor linha), com cantos arredondados e bem iluminados (FAUCITANO, 2000).

• As baias de espera devem estar dispostas em linhas longas, por exemplo,espinha de peixe (FAUCITANO, 2000).

• As porteiras e paredes das baias de espera devem ser de construção sólida(GRADIN, 1997b).

• O piso deve ser antiderrapante (GRADIN, 1997a).

• A utilização de porteiras internas transversais no sistema de coleta é recomen-dada, mantendo grupos de 10 a 15 animais sem mistura (CHRISTENSEN &BARTON GADE, 1997).

• Quando a mistura de animais de grupos sociais deferentes for inevitávelno frigorífico, deve-se fazê-la misturando grupos pequenos e dando espaçosuficiente (WARRIS, 1996; GUISE, 1989).

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• A temperatura e umidade da área de descanso devem estar em torno de 15-18oCe 59-65% UR, na tentativa de limitar o estresse físico. Extremos de temperaturae umidade podem ser evitados com o controle da ventilação e aspersão de água(WEEDDING, 1993). Como vantagens da aspersão de água na baia de esperatem-se:

– Diminuição do esforço cardiovascular;

– Comportamento menos agressivo;

– Diminuição da contaminação microbiana;

– Diminuição da impedância elétrica da pele, quando o sistema de insensibi-lização elétrico é utilizado.

• Manter o nível de ruído no frigorífico (máquinas, vocalizações de suínos, pessoase mangueiras de pressão) abaixo de 100 db.

• O fluxo de animais da baia de espera até o equipamento de insensibilização deveser rápido e contínuo (< 3 minutos).

• Os corredores do sistema de coleta devem ser adequados e possuir barrassuperiores, evitando a atividade de monta (van der WAL, 1999; FAUCITANO,2000).

• Evitar a utilização de corredores simples ou duplos no sistema de coleta paraequipamentos de insensibilização gasosa. Neste caso o sistema dinamarquês,onde 15 animais são movimentados para o equipamento de insensibilizaçãopor meio de porteiras automáticas, sendo progressivamente reduzido a gruposmenores é o mais adequado (CHRISTENSEN & BARTON GADE, 1997;BARTON GADE & CHRISTENSEN, 1999).

3 Segurança durante o processamento da carne suína

Pesquisas de mercado sugerem que os temores em relação ao consumo dealimentos cárneos são as maiores ameaças ao consumo de carnes em paísesdesenvolvidos, uma vez que os movimentos vegetarianos e “alternativas de carne”tiveram pouco impacto nos consumidores.

A transparência da informação disponível ao público e o nível de confiança dopublico nas autoridades são fatores importantes na redução de crises alimentaresprovocadas por intoxicações. A independência das autoridades, que controlam asegurança de alimentos, em relação aos interesses dos produtores, é necessária paraevitar conflitos de interesse (TARRANT, 2001).

A preocupação com a segurança de alimentos, respaldada pelas crescentesestatísticas sobre dados epidemiológicos da população, é tão intensa atualmente queforçou a administração Clinton (USA) a introduzir um sistema de aviso-antecipadocompreendendo o monitoramento de doenças de origem alimentar, melhorias nosmétodos de avaliação de risco, novos métodos de pesquisa de patógenos, melhoriasna inspeção e melhor educação. Esses desenvolvimentos colocaram a segurança dosalimentos no topo da agenda política de vários países. A união européia atualmente

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tem como principal objetivo à segurança dos alimentos, colocando a responsabilidadepela produção segura dos alimentos nos produtores e distribuidores (TARRANT, 2001).

Existem boas razões para se acreditar que a segurança alimentar continuará notopo da agenda de pesquisa no futuro que se pode prever, por exemplo:

• Novos agentes e patógenos continuam a emergir, contornando os controles desegurança existentes e atingindo os consumidores.

• Melhorias constantes no monitoramento e relato das doenças de origemalimentar, o que inevitavelmente leva à percepção pública que a incidência deintoxicações alimentares está aumentando.

• Também, à medida que os estilos e padrões de vida mudam e crescem, osconsumidores cada vez mais demandarão e esperarão mais da indústria, etambém se tornarão mais litigiosos nas devoluções, se suas expectativas sobresegurança dos alimentos não forem satisfatoriamente preenchidas.

3.1 Utilização de sistemas preventivos no processamento dealimentos

Sistemas preventivos de segurança alimentar como o HACCP são consideradospela Organização Mundial de Comércio, Organização Mundial de Saúde e CodexAlimentarius como a maneira mais efetiva de controlar perigos de diferentes origensdurante o processamento de alimentos.

Este sistema é baseado na ciência para a identificação e minimização dos perigosfísicos, microbiológicos e/ou químicos que possam estar associados com a manufaturaou com as operações de serviço de alimentação. Quando estruturado com base nospré-requisitos de Boas Práticas de Manufatura (GMP) e Procedimentos Padrões deHigiene Operacional (PPHO), o HACCP é uma estratégia efetiva para a segurança dosalimentos e se constitui no método de escolha tanto do governo como das indústriasatualmente (DELAZARI, I. 2001).

Planos genéricos de HACCP para plantas de abate e processamento têmsido descritos por vários pesquisadores, entretanto, não fornecem os detalhesrequeridos para a implementação de um programa HACCP em abatedouros eindústrias individuais, devido à diversidade de operações entre as diferentes plantasprocessadoras. Desta forma o programa HACCP deve ser adequado e ajustado paracada planta.

Os planos correntes de HACCP são geralmente baseados nos melhores conhe-cimentos científicos possíveis, porém mais pesquisas são necessárias para conduzirmelhorias na higiene dos abates, na descontaminação das carcaças, no controle depatógenos emergentes e melhorias no sistema (GREGORY, 1996).

A implantação do sistema HACCP pode trazer uma série de benefícios como:

• Conceito de equipe multidisciplinar, facilitando a tomada de decisões.

• Atendimento as exigências do Mercado Internacional.

• Atendimento a Legislação Nacional (Brasil).

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• Melhorias dos programas GMP e PPHO.

• Maior confiança nos resultados obtidos no processamento.

• Melhoramento contínuo do processo.

• Melhoria no nível dos operadores relacionados ao processamento.

• Melhor relacionamento entre subordinados e chefia.

• Melhor credibilidade de clientes e consumidores.

O sucesso do sistema HACCP em uma planta processadora de carnes dependemuito do cumprimento de determinados pré-requisitos como: as Boas Práticas deManufatura (GMP) e os Padrões Operacionais de Higiene (PPHO). O estabelecimentode um bom banco de dados das condições de processamento, também é de vitalimportância para o bom funcionamento do programa, assim como o constanteaprimoramento dos limites críticos utilizados nas tomadas de decisões da equipemultidisciplinar que compõem o programa.

As boas práticas de manufatura, conjunto de princípios de regras para a corretamanipulação de alimentos, considerando desde as matérias-primas até o produto final,com o objetivo de garantir a integridade e inocuidade do alimento, são pré-requisitosfundamentais para se cumprir as especificações de qualidade e inspecionar asmatérias-primas os produtos finais, produtos auxiliares e embalagens.

A implantação do sistema GMP pode trazer uma série de benefícios como:

• Obtenção de produtos de melhor qualidade e mais seguros.

• Diminuição da incidência de reclamações dos consumidores.

• Ambiente de trabalho mais organizado e uniforme.

• Atendimento aos requisitos de legislação nacional e internacional (acordos decomércio internacional).

• Atendimento aos pré-requisitos para a implantação do HACCP.

• Novas concepções do processo produtivo e conservação do meio ambiente.

• Ações mais planejadas e lógicas.

• Economia de custos operacionais em gastos com o controle de qualidade doproduto acabado.

• Instrumento na prevenção de patógenos emergentes.

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3.2 Patógenos emergentes

Sem dúvida alguma, a maior ameaça à segurança alimentar é a emergência denovos patógenos, sendo que atualmente a prioridade mais alta é sua identificaçãoe controle. Por definição sistemas HACCP não podem administrar patógenosemergentes desconhecidos. Em decorrência, conhecimentos baseados em pesquisassão necessários para detectá-los, identificá-los e desenvolver novas tecnologias deprevenção. Nenhuma lista de patógenos pode ser considerada completa para serusada na identificação de perigos (o primeiro passo na avaliação de riscos) devido àpermanente ameaça de emergência de novos patógenos (TARRANT, 2001).

Na natureza e nos alimentos, os patógenos são submetidos a uma variadagama de fatores injuriantes e, para sobreviver, devem ser capazes de desenvolvermecanismos que possibilitem a manutenção de sua viabilidade e capacidade demultiplicação. Fatores como: temperaturas extremas, acidificação, desidratação,uso de conservadores, atmosferas modificadas, são alguns exemplos de barreirasou obstáculos injuriantes ou letais. Sabe-se que os patógenos respondem aestes estímulos desenvolvendo processos de defesa, que, em conjunto recebem adenominação de mecanismos de homeostasia (LEITÃO, 2001).

Há um debate muito grande sobre quais fatores favorecem a emergência depatógenos, por exemplo:

• Mudanças na genética dos animais.

• Uso de sistemas intensivos de produção animal desrespeitando o bem estar “tipofábrica” (STEVENSON, 2000).

• Mudança de hábito dos consumidores e novas tecnologias de alimentos.

• Capacidade dos microrganismos se adaptarem a novas condições ambientais.

Dentre os fatores citados acima parece ser consenso entre a comunidade científicaque a capacidade de adaptação a novas condições ambientais (homeostasia) é oprincipal fator de emergência.

Portanto, novos métodos rápidos custo-efetivos para a detecção de microrga-nismos, principalmente patógenos, são urgentemente necessários para respaldar aefetiva implementação de sistemas de segurança alimentares baseados em conceitospreventivos como, por exemplo, o HACCP (TARRANT, 2001).

4 Conclusões

• A cor e aspectos associados à capacidade de retenção de água são ascaracterísticas mais importantes em relação à qualidade da carne suína, pois25% de toda a carne suína norte americana possui defeitos de qualidade emrelação à cor e capacidade de retenção de água (KAUFFMAN, 1997).

• Os efeitos do estresse de médio e curto prazo devido ao embarque, transporte,desembarque, manejo pré-abate, instalações e sistemas de insensibilização naqualidade da carne é um tópico muito importante para a indústria suinícola

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(MILLER, 2001), pois influência importantes características tecnológicas como:capacidade de emulsificação, textura, sabor e porcentagem de rendimentodurante o processamento de produtos.

• Existe a necessidade de redução da freqüência genética populacional de genesassociados ao estresse (Halotano e Rendimento Napole) e a realização de ummelhoramento genético levando em consideração características quantitativas equalitativas de forma equilibrada, na tentativa de garantir a qualidade da carnesuína.

• O desenvolvimento de novos equipamentos on-line para a determinação daqualidade da carne suína na linha de abate é de vital importância. Desta maneirapoderemos bonificar as carcaças tanto por quantidade como por qualidade eintensificar a pressão genética para a redução de genes associados ao estresse.

• A segurança alimentar de produtos cárneos deve ser garantida com a utilizaçãode sistemas de qualidade baseados em conceitos preventivos, como o HACCP.

• O desenvolvimento de novos sistemas de diagnóstico rápido de microorganis-mos é necessário para respaldar e efetivar a implementação de sistemas desegurança alimentares baseados no HACCP (TARRANT, 2001).

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ESTRATÉGIAS E TENDÊNCIA PARA AS CARNES DEFRANGO E SUÍNA - VISÃO TENDENCIAL PARA

2005-2010

Jurandi Machado

Icepa Brasil

A construção de cenários futuros para as carnes de suíno e de frangos tempor objetivo apontar tendências dos mercados, identificar novos produtos e serviços,propiciar informações que permitam aos atores decidir investimentos.

Não obstante as limitações e as dificuldades para realizar prognósticos de médioe longo prazo no Brasil e os riscos que tal procedimento implica, definiu-se comohorizonte de projeção o período 2005-2010.

O cenário tendencial para cada um dos produtos foi construído por especialistasdo Instituto Cepa/SC, incorporando as contribuições de outros técnicos, especialistasno assunto e empreendedores, recolhidas em diversos encontros e discussõespromovidos especialmente para esta finalidade.

As projeções quantitativas da demanda, respectivamente para os próximos cincoe dez anos, foram realizadas com base nos coeficientes de elasticidade-rendadas despesas alimentares com cada produto, calculados por Hofmann (2000)1,nas hipóteses de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), nas projeções dapopulação do Brasil para o período, nas perspectivas de crescimento das exportaçõese importações. Na medida do possível, procurou-se levar em conta também asmudanças de hábitos de consumo alimentar da população brasileira.

Tomando-se por base as estimativas do Instituto Cepa/SC, projeta-se um cresci-mento real do PIB brasileiro de 3,0% a.a. para o período 2000-2005 e de 4% a.a. parao período 2006-2010.

Com base em projeções do IBGE e na evolução da população no período1991-2000, estima-se para a população brasileira um crescimento de 1,4% a.a. noperíodo 2000-2005 e de 1,2% a.a. no período 2006-2010. Com isso, trabalhou-secom um crescimento da renda per cápita brasileira de 1,58% a.a. para o período2000-2005 e de 2,77% a.a. para o período 2006-2010.

A demanda por alimentos é influenciada pelos preços2, pela mudança de hábitosalimentares, pela capacidade de exportação, pela entrada de produtos importadose, finalmente, pelo crescimento da população e pelas variações na renda dosconsumidores.

No que tange à renda, estudos mostram que, para a maioria dos bens e serviçosproduzidos por uma economia, um acréscimo na renda dos consumidores leva a umaumento do consumo. Dentre os produtos alimentares, os enlatados e conservas, acarne bovina de primeira e a carne suína apresentam as variações mais positivas naquantidade demandada face a um aumento da renda dos consumidores.

1HOFMANN, Rodolfo. Elasticidades-renda das despesas com alimentos em regiões metropolitanasdo Brasil em 1995-1996. Informações Econômicas, SP, v.30, n.2, fev.2000.

2Neste estudo não foi considerada a eventual ocorrência de variação dos preços dos produtos.

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Na identificação das perspectivas também foram consideradas as principaisdeterminantes externas da demanda. A internacionalização dos mercados, aconstituição do Mercosul, a criação da Alca, seus riscos e oportunidades, a políticaagrícola americana e européia e um provável cenário macro-econômico mundial foramas principais variáveis analisadas, com vistas a identificar potencialidades de mercadoexterno.

A avaliação das determinantes externas da demanda indica a continuidade dasdificuldades, seja em relação aos subsídios, seja devido a novas e velhas barreirasnão tarifárias. As questões sociais, como baixos salários e a degradação ambientalestarão presentes nas negociações. Em razão disso, a ampliação das exportaçõesestarão mais condicionadas ao grau de competência dos exportadores e a capacidadede formatarem associações estratégicas, no comércio, na industrialização e na vendadireta aos consumidores dos países de destino.

As exigências dos consumidores se alteram ao longo do tempo em função demudanças nos hábitos e costumes, na qualidade real ou percebida dos produtose nos valores culturais disseminados na sociedade. Para os produtos alimentares,as mudanças de exigências dos consumidores vêm alterando profundamente acomposição e o perfil da demanda.

Para os próximos anos, espera-se um grande crescimento na demanda poralimentos produzidos exclusivamente com insumos orgânicos, por alimentos prontos,semipreparados ou de rápido preparo, pelos chamados alimentos funcionais oualicamentos3, pela alimentação fora de casa e por produtos cujas característicasestejam fortemente vinculadas com atributos do território de origem.

Frangos

O consumo de carne de frango in natura apresenta, no Brasil, um coeficienteelasticidade-renda de 0,155 (frango inteiro), um dos mais baixos entre as carnes. Comisto e, caso se confirmem as previsões de crescimento do PIB feitas neste documento,projeta-se um aumento do consumo interno em 8,55% no primeiro qüinquênio dadécada, totalizando 5,19 milhões de toneladas em 2005 e de 8,82% no segundoquinquênio, alcançando 5,65 milhões de toneladas em 2010.

Em razão do forte crescimento do consumo de alimentos preparados e consumidosfora do domicílio, deverão crescer as oportunidades para venda de produtosdiferenciados e/ou típicos. A tendência indica também que a comercializaçãode frangos inteiros nas grandes empresas perderá importância na pauta geral deseus produtos, em benefício da comercialização do produto espostejado, pratossemiprontos ou prontos para consumo, em que a taxa de valor agregado é maior.Em função disto, a projeção feita acima deverá ser maior.

Caso os consumidores, principalmente europeus, prossigam na substituição decarne bovina por carnes brancas e não surjam, por parte dos países ricos, medidasde proteção às importações ou novas barreiras à entrada de produtos procedentes

3Alicamentos: neologismo derivado da junção das palavras alimentos com medicamentos. Vemsendo muito empregado para designar os alimentos funcionais, isto é, os alimentos cujascaracterísticas nutricionais desempenham funções na recuperação ou manutenção da saúde, comoos alimentos dietéticos, os suplementos minerais e vitamínicos e os alimentos fitoterápicos. Outrotermo às vezes empregado como sinônimo de alicamentos é o de alimentos nutracêuticos.

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dos países em desenvolvimento, as exportações brasileiras poderão passar dos atuais16% para até 25% da produção.

Embora o crescimento do mercado por produtos mais saudáveis se desenhe comouma oportunidade para os pequenos produtores, a grande empresa também deveráentrar mais agressivamente neste mercado, com estratégias de “descomoditização”dos produtos para fazer frente ao aumento da demanda por produtos naturais.

O crescimento das exigências dos consumidores quanto à preservação ambiental,o bem-estar dos animais e a garantia de sua saúde determinarão mudanças nossistemas de manejo, nas instalações e no arraçoamento das aves4. Agricultoresfamiliares e pequenos empreendimentos poderão se beneficiar desta situação,colocando no mercado produtos diferenciados e de alto valor agregado.

As oportunidades para pequenos produtores na produção integrada e intensivade frangos deverá continuar limitada, haja vista a continuidade do processo deconcentração da produção.

Tabela 1 — Oferta e demanda brasileiras de Frangos - 2000,2005 e 2010 – mil t

FRANGOS 2000 2005 2010Produção 5700 6952 7768Consumo 4784 5193 5651Exportação 916 1759 2117

FONTE: Instituto Cepa/SC.

Suínos

A demanda brasileira de carne suína apresenta coeficiente elasticidade-renda de0,443 e é uma das mais elevadas entre as carnes. Com base no crescimento do PIBpara a década, projeta-se para o ano 2005 - um crescimento ordem de 11,07% sobreos níveis atuais, alcançando 2,196 milhões de toneladas. De 2006 a 2010, estima-seum aumento de 13,3% na demanda, totalizando 2,488 milhões toneladas em 2010.

A exemplo da tendência para a demanda de carne de aves, estima-se que asexportações brasileiras de carne suína, principalmente para o mercado europeu e oasiático, deverão passar dos atuais 4,8% para 18,4% da produção em 2005. Devemcontribuir para tal a melhoria dos controles sanitários, a melhoria da qualidade dosprodutos e também a maior experiência dos exportadores no comércio internacional.

Dado o processo de concentração da produção e as limitações estruturais,sobretudo da agricultura catarinense, os investimentos para expansão da atividadetenderão a concentrar-se no Centro-Oeste, que apresenta maior competitividade naprodução de grãos e possibilita, assim, a obtenção de rações a custos menores.

O tamanho das unidades de produção certamente estará muito condicionadopela crescente pressão sobre o impacto ambiental da atividade e pela pressão daconcorrência da produção do Centro-Oeste. Além da concentração da produção,há uma tendência para que os produtores se especializem segundo distintas fases

4Na União Européia, por exemplo, 2008 é a data-limite para a aplicação de padrões mais severosrelativos ao bem-estar dos animais na avicultura (Acordo de Berlin).

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da criação, visando a economias de escala. Estas especializações dizem respeito,sobretudo, a produtores de leitões e a terminadores.

O aumento do tamanho das unidades de produção será favorecido pelos avançostecnológicos (em especial, na área genética: inseminação artificial, transferência deembriões, sexagem de sêmen, etc.), que devem permitir produtividades de até 30leitões/porca/ano. Estima-se que o número médio de terminados por produtor poderápassar dos atuais 19,7 por ano para cerca de 26 por ano em 2010.

Estas tecnologias levarão a um sensível aumento da produção. Ao mesmo tempo,vão exigir um maior preparo técnico e gerencial dos suinocultores e um bom aporte decapital humano e financeiro. Como estarão mais ao alcance de grandes produtorese empresários, apressarão o processo de concentração, excluindo boa parte dospequenos e médios suinocultores de base familiar.

A par da crescente importância dos contratos de integração na produção suinícola,outras oportunidades de mercado estão surgindo para alimentos que incorporemvalores do saber fazer e atributos do território. Podem ser aproveitadas por pequenosprodutores desde que reunidos em empreendimentos associativos para obter escalade viabilidade e facilitar o acesso ao mercado.

A crescente procura por produtos orgânicos, por sua vez, também deve estimularo surgimento de uma suinocultura menos poluidora, de qualidade reconhecida e maisbem remunerada.

Estima-se que o mercado de produtos típicos e de carne orgânica possarepresentar, para os produtores catarinenses, o escoamento de 3,2 milhões a 3,5milhões de cabeças anuais de suínos.

Tabela 2 — Oferta e demanda de Suínos - Brasil, 2000,2005 e 2010 – (mil t)

SUÍNOS 2000 2005 2010Produção 2077 2692 3226Consumo 1977 2196 2488Exportação 100 496 738

FONTE: Instituto Cepa/SC.

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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA SUINOCULTURA

Paulo Armando V. de Oliveira1 Maria Luisa A. Nunes2

1Engo. Agrícola, M.Sc, Ph.D, Pesquisador Embrapa Suínos e Aves,CP 21, 89.700-000, Concórdia - SC,Email: [email protected]

2Zootecnista, Pós-Graduanda, Engo. Sanitária e AmbientalUFSC/Embrapa Suínos e Aves

1 Introdução

A atual expansão da suinocultura tem como principal característica a concentraçãode animais por área, visando atender o consumo interno e externo de carne, produtose derivados. Observa-se, como conseqüência, generalizada poluição hídrica (altacarga orgânica e presença de coliformes fecais) proveniente dos dejetos, que somadaaos problemas de resíduos domésticos e industriais, tem causado sérios problemasambientais, como a destruição dos recursos naturais renováveis, especialmente água.

O impacto ambiental causado pelo manejo inadequado dos dejetos líquidos desuínos tem causado severos danos ao meio ambiente. Para a sobrevivência daszonas de produção intensiva de suínos, é preciso encontrar sistemas alternativosde produção que reduzam a emissão de odores, os gases nocivos e os riscos depoluição dos mananciais de água superficiais e subterrâneas por nitratos e do arpelas emissões de NH3. Além disso, devem solucionar os problemas de custose dificuldades de armazenamento, de transporte, de tratamento e de utilizaçãoagronômica dos dejetos líquidos.

Vários resultados, de pesquisa e observações a campo, têm demonstrado quegrande parte dos sistemas de manejo e tratamentos de dejetos em uso atualmenteno Brasil, embora reduzam o potencial poluidor não permitem que o resíduo finalseja lançado diretamente nos cursos d’água. Algumas alternativas de manejo etratamento de dejetos, visando a substituição dos sistemas convencionais, estão emfase de implantação como a criação intensiva de suínos em cama sobreposta tambémchamado de “Deep Bedding” e sistemas de compostagem de dejetos.

Além dos aspectos ambientais, os processos adotados para o tratamento dosdejetos devem proporcionar agregação de valor ao resíduo final, para torná-lo autosustentável economicamente, através da valorização agronômica do resíduo comofertilizante, a produção comercial de adubo orgânico ou a geração de energia (térmicaou elétrica).

O grande desafio dos produtores de suínos, atualmente, é a exigência dasustentabilidade ambiental das regiões de produção intensiva, pois de um lado existea pressão pela concentração de animais em pequenas áreas de produção, e peloaumento da produtividade e, do outro, que esse aumento não afete o meio ambiente.

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2 Desenvolvimento da Suinocultura no Oeste Catari-nense

A região oeste catarinense, através do modelo de desenvolvimento agropecuárioe agroindustrial, com base na pequena propriedade agrícola familiar, integradadiretamente a indústria, construiu, em apenas algumas décadas, uma história deriqueza e demarcou seu espaço no cenário econômico nacional.

o sistema integrado de produção, inicialmente implantado na Avicultura na décadade 60, foi intensificado na década de 70, quando passou a ser adotado tambémpara a criação de suínos. O sistema integrado de produção consiste na parceria daindústria com o produtor, sendo a primeira fornecedora dos animais, dos insumos,da assistência técnica e a coletora da produção e o segundo o responsável pelaconstrução das instalações produtoras e pelo fornecimento da mão de obra paraprodução. O sistema de parceria caracteriza-se pelo forte aporte de capital econtrole do mercado, pela indústria, e da mão de obra familiar para a produção.Pode-se afirmar que o sistema integrado de produção foi o marco do “modelo” dedesenvolvimento rural da região, modelo este que posteriormente veio a ser adotadoem outras regiões e estados (Guivant, 1999; Silva, 2000).

Os avanços alcançados por este modelo nas propriedades rurais e agroindustriaisaté 1980, ocorreram sem qualquer preocupação com os problemas ambientais.Não poderia ser diferente, pois o Brasil defendeu na Conferência de Estocolmo de1972, sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, patrocinada pelas NaçõesUnidas, a tese que a proteção do meio ambiente seria objetivo secundário e nãoprioritário dos países em desenvolvimento. A palavra de ordem na ocasião era que“poluição=progresso” (Silva, 2000). Até então, o modelo de desenvolvimento rural daregião baseava-se na exploração dos recursos naturais, considerados infinitos pelasagroindústrias e produtores, e na intensa exploração de mão de obra barata, boa parteoriunda do meio rural.

O desenvolvimento a qualquer custo, sem preocupações ambientais e com apreservação, levou ao desequilíbrio do ecossistema regional. Torna-se importantedestacar que o desenvolvimento atingido até os anos 80, tanto agropecuário comoagroindustrial, teve a participação efetiva do Estado, através da liberação de recursossubsidiados e assistência técnica e extensão rural participativa e gratuita (Silva, 2000).

A partir dos anos 80, e com intensificação nos anos 90, diversos fatoresconjunturais e estruturais tanto e nível nacional como internacional emergiram,provocando uma crise social e econômica. Isto forçou ainda mais a exploração dosrecursos naturais, com agravamento da situação ambiental da região. Consciente daquestão ambiental, espelhada na poluição das águas pelos efluentes industriais e pordejetos de suínos e, devido a pressões da sociedade e dos órgãos financiadores, asagroindústrias evoluíram para a implantação e melhoria dos processos de tratamentode efluentes em suas plantas industriais, porém transferindo para os suinocultoresa responsabilidade sobre os problemas ambientais causados nas propriedades pelaprodução de suínos (Silva, 2000).

Basicamente, as agroindústrias que operam na região, passaram a ocupar olugar de “ponto de passagem” (Guivant & Miranda, 1999; Guivant, 1999), tantopara dar legitimidade à questão ambiental, quanto para gerar consenso sobre assoluções propostas em termos de um recurso técnico. Elas adotaram a política de

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que os integrados deveriam executar, em suas unidades produtivas, esterqueiras ebioesterqueiras, que passaram a ser identificadas como controle ambiental. Inclusivejulgava-se que o problema estaria eliminado.

O Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais emMicrobacias Hidrográficas, no Estado de Santa Catarina - Projeto Microbacias/BIRD I,foi assinado em 1991 entre o Governo do Estado de Santa Catarina, com oaval da União e a participação do Banco Internacional para a Reconstrução eDesenvolvimento (BIRD). Sua execução foi concluída em julho de 1999 (oito anosde duração) e pode ser considerado como o marco referencial em planejamento ruralintegrado no estado.

O “Programa de Expansão da Suinocultura e Tratamento e Aproveitamento dosDejetos” contempla a melhoria do ambiente e da qualidade de vida do suinocultor.A operacionalização deste programa foi iniciada em março de 1994, com prazo dequatro anos para a conclusão. Aqui tem-se como destaque a Melhoria Ambiental e aQualidade de Vida, através de ações para reduzir a poluição causada pelos dejetosde suínos, agregando-lhe valor, principalmente no uso como fertilizante. Porém, facea algumas distorções de objetivos durante a execução do plano, seus resultadosforam mais significativos na expansão da suinocultura, do que no tratamento eaproveitamento dos dejetos (Silva, 2000). As ações voltadas aos tratamentosde dejetos resumiram-se na construção de esterqueiras e bioesterqueiras, muitasvezes mal dimensionadas e sem comprovação de serem essas tecnologias as maisadequadas e eficientes para resolver os problemas de poluição.

A exploração excessiva dos recursos naturais culminou com a degradaçãoambiental acentuada e, em consequência, com a crise social e econômica, limitandoo crescimento e comprometendo a continuidade do “modelo de desenvolvimento” daregião.

Importante ressaltar a conscientização do sistema de integração e das Cooperati-vas sobre as falhas do sistema, e os problemas ambientais que devem ser resolvidospara garantir a sustentabilidade ambiental da região. O sistema desenvolveu-sefundado na racionalidade econômica e necessita de realimentação e inter-relação daracionalidade ambiental e da racionalidade social.

Há consciência também de que o ambiente é um sistema complexo, interrela-cionado com modernidade e desenvolvimento, sociedade e natureza. Portanto, asquestões ambientais também são complexas e precisam ser avaliadas, através deequipes multidisciplinares, com participação efetiva da sociedade. O plantel de suínosno Estado de Santa Catarina tem sido estimado em 400 animais /km2 (4 suínos/ha)(Silva, 2000). Este número é baixo quando comparado a região da Bretanha, naFrança (33 suínos/ha) (Sevrin-Reyssac et al., 1995) e pelo balanço de nutrientesdejetos/planta/solo que pode variar de 30 a 52 suínos/ha (Dourmad et al., 1997)(Konzen et al., 1998). Se analisarmos estes números podemos aumentar o numerode suínos/ha em SC sem com isso causar danos ao meio ambiente, desde que osdejetos sejam manejados adequadamente, utilizados integramente na agricultura enão lançados nos cursos d’água.

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3 Sistema Convencional de Produção de Suínos

Os sistemas convencionais de produção de suínos, atualmente, são caracterizadospor edificações totalmente constituídas de piso de concreto ripado total ou parcial,paredes compactas, uso de forro, baias que dividem os animais em pequenos grupos.O recolhimento de dejetos é feito internamente através de canais cobertos por barras eem alguns casos com o uso de lâmina d’água ou externamente, com armazenamentoem esterqueiras ou lagoas ou tratamento de dejetos, com separação física de sólidoe líquido e lagoas em série.

Todos estes sistemas exigem que os dejetos que não forem utilizados comofertilizante (excedentes) sejam tratados. O tratamento dos dejetos líquidos reagrupaum conjunto de ações de transformação por diferentes meios (físico-químico ebiológico) com a finalidade de modificar sua composição química e consistênciafísica. A modificação da composição química do substrato tratado é realizado pelaeliminação ou transformação de certos elementos (N_orgânico transformado emN_amoniacal) e a modificação da consistência física que na prática consiste emaumentar a concentração em elementos nutritivos (N,P,K) em uma ou outra fase dotratamentos. Em termos de tratamento de dejetos o importante é dispor de uma largagama de soluções técnicas, devido a sua complexidade físico-química, a diversidadede situações existentes e da situação técnico-econômica em função dos diferentessistemas de produção de suínos existentes.

As principais preocupações em relação ao Meio Ambiente devido ao manejoinadequado dos dejetos de suínos é representada na Figura 1. Os resíduos dasuinocultura, na maior parte dos casos, serão usados como fertilizante agrícolagerando um risco grande de poluição ambiental devido principalmente a infiltraçãodo nitrogênio no solo e o escorrimento superficial do fósforo.

Odores Amônia(NH3)Patógenos

Emissão pelo solo:Óxido Nitroso (N2O)Metano (CH4)

Escoamento:Carga orgânicaPatógenosFosfatos

LixiviaçãoNitrato

CobreZinco

Figura 1 — Principais problemas a serem resolvidos no manejo dos dejetos líquidosde suínos.

Em acompanhamento realizado a campo durante 6 meses, em granja produtora desuínos de ciclo completo, com 350 matrizes (em torno de 3.100 suínos em produção)com produção diária de 29,41 m3 de dejetos, Oliveira et al (1995) determinaram a

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eficiência do uso de sistemas de lagoas (5 lagoas no total) no tratamento dos dejetos(Tabela 2). As características físicas do sistema estudado encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 — Características físicas das lagoas usados em sistema de tratamentodos dejetos de suíno

Parâmetro Lagoa 1 Lagoa 2 Lagoa 3 Lagoa 4 Lagoa 5Volume (m3) 770 450 187 187 450Área (m2) 300 202 135 135 404Profundidade Média (m) 3,4 2,2 1,0 1,0 1,0Profundidade Máxima (m) 4,0 4,0 2,0 2,0 1,5Tempo detenção (dias) 26 16 7 7 16

Fonte: Oliveira et al., 1995.

Embora a eficiência do sistema promova uma redução de praticamente 95% doselementos físico-químicos estudados (Tabela 2), pode-se observar que nas últimaslagoas facultativas aparecem valores de nitrito e de nitrato indicando a ocorrência danitrificação, não havendo tempo e nem condições para que ocorresse a denitrificaçãodo N. O resíduo final da última lagoa não pode ser lançado em cursos d’água poisseus valores estão acima dos permitidos pela legislação ambiental vigente. Pode-seobservar, que o tempo total de residência observado para as lagoas foi de 70 dias eque este tempo não foi suficiente para diminuir a carga orgânica e mineral gerada pelosistema de produção de suínos.

Tabela 2 — Valores médios dos efluentes do sistema de lagoas usados para otratamento dos dejetos de suíno

Parâmetro Entrada Peneira Lagoa 1 Lagoa 2 Lagoa 3 Lagoa 4 Lagoa 5PH 6,10 6,30 7,28 7,73 7,77 7,80 7,61DBO5 mg/L 5980 2930 2114 1330 1120 996 860DQO mg/L 15840 7960 5920 3990 3168 2990 2755P total mg/L 8,4 7,2 6,3 5,9 5,3 4,8 3,8N total mg/L 938 810 766 513 397 263 127N-NO2 mg/L - - - 3,7 3,3 3,2 3,8N-NO3 mg/L - - - 206 93 191 90Sólidos totais mg/L 23330 16265 8945 4985 3705 3960 3755Sólidos suspensão mg/L 11510 6118 - 900 690 380 315

Fonte: Oliveira et al., 1995.

A combinação de sistemas de separação de fases com processos biológicos detratamento foi estudado por Costa et al. (1997), com o objetivo de valorizar o usodos dejetos, facilitar o manejo e reduzir os custos de armazenagem, tratamento etransporte. O pré-tratamento, com uso de separadores (peneiras ou decantadores)para a separação de fase dos dejetos líquido, aumenta a concentração de nutrientespor volume na fase sólida viabilizando o uso como fertilizante orgânico, reduz oscustos de tratamento da fase líquida, e a distribuição. Dentre os processos biológicosde tratamento em uso, o destaque no Brasil é para a utilização de lagoas naturaispela facilidade de operação e baixos custos, embora apresente como desvantagensa exigência de grandes áreas para o manejo dos dejetos de suínos, tempos longos

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de detenção e baixa eficiência em remoção de nutrientes e emissões gases de efeitoestufa.

A combinação de diferentes processos ligados em série foi desenvolvido pelaEMBRAPA/UFSC e os resultados foram publicados por Costa et al. (1997), osistema apresenta boa eficiência de remoção de poluentes, além de valorizar o usoagronômico dos mesmos a custos razoáveis (Tabela 3).

Tabela 3 — Eficiência (%) de remoção de um sistema de tratamento composto pordecantador de palhetas, lagoa anaeróbias (1 e 2), lagoa facultativa e deaguapé

Unidade PH ST SF SV DBO5 Nt Pt CFAfluente 7,0 16.668 6.489 10.179 10.417 2.164 610 5,7×109

Decantador - 40 38 41 25 16 38 33Lag. Anaeróbia-1 - 52 36 62 79 23 67 99Lag. Anaeróbia-2 - 23 12 35 57 21 40 99Lag. Facultativa - 41 39 43 47 59 35 93Lag. Aguapé - 41 45 33 51 50 46 79Efluente 7,8 1 332 734 598 209 180 26 2,7×103

Final (%) 92 87 94 98 92 96 99,9Onde: ST-sólidos totais, SF-fixos e SV-voláteis; DBO5-demanda bioquímica de oxigênio, Nt-nitrogênio e Pt-fósforo total, todos expressos em mg/L. CF - taxa de coliformes fecais, em NMP/100ml.Fonte: Costa et al. (1997)

Embora a eficiência de remoção de poluentes seja considerada boa (Tabela 3),a falta de um balanço de massa e a avaliação da ocorrência ou não das fases denitificação-denitrificação, sugerem que boa parte dos poluentes tenha ficado retidonas lagoas em função da decantação natural que ocorre ou tenha sido volatilizada naforma de gases. Nos estudos desenvolvidos, pela ausência de balanço de massa,torna-se difícil saber o destino final do Nitrogênio, se foi perdido por volatilização paraa atmosfera na forma de NH3/N2O ou se permaneceu retido na lagoa.

O que espera-se do tratamento de dejetos é a transformação e a eliminaçãodo N_amoniacal, que representa em torno de 70% no dejeto líquido, em N2 (gásnão poluente) porém para que este processo ocorra é necessário desenvolvimentoda denitrificação, ou seja a transformação do nitrato em N2. Nos processos detratamento com o uso de lagoas, com aeração mecânica, ocorre a fase de nitrificaçãodo N, gerando como produto final o nitrato (N-NO3) e um volume razoável dedejeto fortemente mineralizado na forma de NH4. Este N se não for aproveitadoimediatamente após sua distribuição na lavoura pelas plantas pode ser lixiviado pelachuva para as camadas mais profundas do solo podendo entrar em contato com olençol freático (Oliveira, 1993).

Deve-se considerar que o tratamento dos dejetos de suínos só se justificaquando houver uma produção de elementos fertilizantes (excedentes) maior que asnecessidades das culturas ou quando o excedente gerado possa causar uma situaçãode risco de poluição dos mananciais de água, do ar ou da desagradável presença deodores.

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Atualmente o sistema de criação de suínos dominante, nas fases de crescimento eterminação é do tipo ripado total ou ripado parcial (81%) sendo os dejetos manejadosinternamente sob o piso ripado ou externamente em canaletas abertas. Todosestes sistemas de produção exigem a utilização de esterqueiras ou de lagoas parao armazenamento e tratamento dos dejetos líquidos. O volume total de dejetosproduzidos (dejetos líquidos produzido pelos animais + perda de água nos bebedouros+ água utilizada na limpeza) requer grandes estruturas para seu armazenamento(os órgãos de fiscalização ambiental preconizam um tempo mínimo de 120 dias deretenção), áreas com culturas suficientes para o aproveitamento agronômico dessesresíduos, e também, a disponibilidade de maquinas e equipamentos especiais para omanejo de líquidos pelos produtores.

4 Sistema de Criação de Suínos em Cama Sobreposta

A produção de suínos em sistemas Deep Bedding (Cama Sobreposta) constitui-seem alternativa aos sistemas convencionais de produção. Neste sistema, os dejetoslíquidos são misturados a um substrato sólido (maravalha, palha, casca de arroz,bagaço de cana) dentro das edificações e são submetidos a um processo decompostagem e estabilização “in situ” com a presença dos animais (Oliveira, 1999).Este sistema de produção teve sua origem na China em Hong Kong (Lo, 1992). NaEuropa, esta tecnologia de produção de suínos em camas sobrepostas começou a serestudada no final da década de 80 (Nicks et al., 1995). O sistema de criação sobreleito (Deep bedding) formado por maravalha foi introduzido no Brasil em 1993 pelaEmbrapa - Suínos e Aves com os pesquisadores Oliveira, P.A.V. e Sobestiansky, J.(1992), através de experimento que comparou a produção de suínos em três sistemasde produção (cama de maravalha; cama de palha; piso compacto) nas fases decrescimento e terminação (Embrapa/CNPSA, 1994).

Estudos realizados por Oliveira (1999) demonstraram que o desempenho zootéc-nico de suínos criados sobre cama de maravalha quando comparado a sistemas depiso ripado (total ou parcial) não obtiveram diferenças significativas, sendo o pesomédio dos animais ligeiramente superior no sistema de criação de suínos sobre camas(Tabela 4). Não houve diferença para o consumo de alimento, conversão alimentar,ganho de peso e a taxa de músculo, bem como para o rendimento de carcaça e aespessura de gordura nos animais criados em cama de maravalha e piso ripado.

Em estudo conduzido por Corrêa (1998), na Embrapa Suínos e Aves, sobre oganho de peso de suínos criados em cama sobreposta em diferentes épocas estãona Tabela 5. Nesta Tabela, pode-se observar o ganho de peso dos suínos criados emdiferentes tipo de piso usado como cama sobreposta. Observa-se que houve efeitoda estação do ano para o ganho de peso e efeito de tratamento quando consideradodentro de época. Estes dados revelam uma tendência para menor ganho de peso nosanimais criados sobre piso de concreto a medida que a temperatura do ambientediminui (inverno) e maior ganho na época quente (verão) quando comparado aosistema de cama sobreposta (Corrêa, 1998).

A Tabela 6 mostra o resultado de observações a campo do desempenho de animaiscriados em sistema de cama sobreposta nas regiões de Marau, no Rio Grandedo Sul e Chapecó, em Santa Catarina. Os dados de conversão alimentar obtidos

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Tabela 4 — Comparação da performance zootécnica, da taxa de músculo e dorendimento de carcaça dos animais criados sobre o piso ripado ousobre cama de maravalha

Resultados médios Média do Ano 1 Média do Ano 2Ripado Cama Ripado Cama

Peso Inicial (kg) 29,8±1,2 30,5±1,4 31,5±1,7 31,6±1,4Peso final (kg) 99,9±7,5 102,3±7,9 95,6±12,6 95,8±10,3Consumo Ração (kg) 189,7 191,8 187,3 184,2Ganho de Peso (g/dia) 779 794 712 715Converção Alimentar 2,71 2,67 2,91 2,87Taxa de Músculo (%) 60,3±2,4 60,9±1,8 58,7±3,5 60,5±1,6Peso carcaça quente (kg) 81,7±5,6 82,7±7,7 78,1±10,2 77,8±8,4Rendimento carcaça (%) 81,9±2,7 81,8±2,6 82,3±1,2 82,8±1,0

Fonte: Oliveira, 1999.

Tabela 5 — Médias de ganho de peso (kg) de suínos criados comdiferentes resíduos utilizados como cama sobreposta deacordo com tratamento e época do ano

Épocas do AnoTipos de Piso Outono Inverno Primavera Verão MédiaMaravalha 69,3aA 63,0cA 65,3bB 64,6cA 65,5A

Serragem 69,5aA 62,5cA 66,9bA 60,1cC 64,7A

Sabugo de milho 67,5aB 61,2cB 66,5bA 59,4cC 63,6A

Casca de arroz 67,8aB 62,0cA 66,4bA 61,0cB 64,3A

Piso de concreto 68,8aA 60,1cB 66,5bA 65,1cA 65,1A

Obs.: Médias seguidas por letras minúscula na linha e maiúscula na colunadiferem significativamente pelo teste de Tukey (P<0,05).

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indicam a necessidade de alterações no manejo dos animais, principalmente durantea fase inicial de crescimento. A maior movimentação dos suínos durante as primeirassemanas de alojamento, em função de baixa densidade, acarreta em maior gasto deenergia contribuindo para uma maior conversão alimentar.

Tabela 6 — Desempenho animal observado em granjas produtoras de suínos em sistema decama sobreposta

Região Tipo de Cama Estação Peso médio de Peso Médio ao Ganho de peso Conversãodo ano entrada (Kg) abate (Kg) diário (Kg) alimentar

Marau Serragem Outono 24,79 106,6 0,871 2,920Marau Serragem Inverno 33,95 114,7 0,927 2,849Marau Serragem Verão 28,00 108,36 0,873 2,919Marau Casca de Arroz Outono 23,33 111,58 0,882 2,882Marau Casca de Arroz Inverno 23,12 115,78 0,827 2,995Marau Casca de Arroz Inverno 25,13 117,06 0,828 3,133Marau Casca de Arroz Inverno 23,04 108,35 0,768 3,089Marau Casca de Arroz Verão 22,70 112,12 0,745 3,047Marau Casca de Arroz Verão 23,08 112,89 0,754 3,022Marau Casca de Arroz Inverno 38,91 124,30 1,041 2,819Marau Casca de Arroz Verão 20,00 111,91 0,981 2,771Chapecó Maravalha Verão 18,73 105,06 0,918 2,579

Fonte: Relatório Agroindústria, 2002.

Na avaliação de lesões Pulmonares e de Renite Atrófica, a nível de frigorífico, nãofoi encontrada diferença entre os animais criados nos sistemas estudados (Corrêa,1998 e Oliveira, 1999). Os resultados de avaliação de lesões de ulcera observadasno abatedouro mostraram maior formação de hiperqueratose nos animais criados empiso ripado quando comparado ao sistema de cama. Em média 70% dos animaiscriados sobre cama apresentaram uma mucosa normal (lisa de coloração branca),enquanto que somente 30% dos animais criados em piso ripado apresentaram umamucosa com tais características (Oliveira, 1999).

As bactérias naturalmente presentes nos dejetos degradam a matéria orgânicacontida na cama através de reações aeróbias acompanhadas da produção decalor. Estudo desenvolvido por Oliveira (1998) demonstrou que no processo decompostagem desenvolvido nas camas a água contida nos dejetos é praticamentetoda eliminada na forma de vapor (Tabela 7). Esta eliminação corresponde a 5,7 kgd’água por suíno e por dia, enquanto que a quantidade de água ingerida ou geradano sistema é em torno de 6,2 kg por suíno por dia. Entretanto, no sistema de criaçãoconvencional em piso ripado a totalidade da água ingerida ou gerada no sistema ficaretida na fossa interna de dejetos ou nas esterqueiras.

A comparação do Nitrogênio retido na cama e nos dejetos líquidos mostrou quesomente 20 à 40% do N_excretado pelos suínos se encontra retido na cama, enquantoque no piso ripado 70 à 75% do N se encontra retido nos dejetos líquidos, divididoem N_orgânico e N_amoniacal, respectivamente 30–40% e 70–60% (Oliveira et al.,2000). A diferença entre os dois sistemas é em função da emissão significativa de N2

(40–60%) para o caso das criações sobre cama de maravalha. Independentementedo sistema de criação em torno de 20% do N contido nos dejetos é eliminado na formade gás NH3 e N2O (Tabela 8). Para o caso do sistema de cama, as emissões de NH3 e

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Tabela 7 — Balanço geral d’água, observado ou estimado, em função dos sistemas decriação de suínos em piso ripado ou sobre cama de maravalha (L d’água/suíno)

Balanço água Piso Ripado (SPR) Sistema Cama (SPC)(L/suíno) Observado Estimado Observado EstimadoConsumo total de água 423,7 - 446,4 -Água ingerida via ração 22,8 - 23,0 -Água prod. Metabólica (Suíno) - 54,2 - 54,5Água prod. Metabólica (Cama) - - - 23,4Água retida no corpo do animal - 37,6 - 38,6Água armazenada sist. (SPR/SPC) 203,6A 195,9A 14,6B 13,4B

Água contida nos dejetos - 200,1 - 210,5Produção de vapor d’água (Suíno) - 273,5 - 268,8Água evaporada no ambiente - 4,1 - 247,2Água evaporada do sistema 278A - 516B -

(A,B) Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente (P<0,05).

N2O são sensivelmente semelhantes. Porém, para o caso do piso ripado as emissõesda NH3 são dominantes (Robin et al., 1999). O fósforo excretado pelos suínos seencontra totalmente armazenado nos dejetos líquidos para o caso de sistemas compiso ripado. Enquanto no sistema de cama de maravalha 58% do fósforo excretadopelos animais é retido na camada superficial com 15 cm de profundidade da cama(Kermarrec, 1999).

Tabela 8 — Comparação do balanço de nitrogênio nossistemas de criação de suínos sobre o pisoripado ou sobre cama de maravalha, por 100unidade de N que entra no sistema, via raçãoou água

Resultados Experimento 1 Experimento 2Globais Ripado Cama Ripado CamaRetido no Suíno 35 36 33 34Dejeto / Composto 48 12 45 26NH3 12 5 13 7N2O < 1 7 < 1 6N2 4 40 8 27

A produção de calor nos sistemas de cama sobreposta deve ser um fatorconsiderado na adaptação de edificações destinadas a este tipo de criação de suínos.Oliveira (1999) observou que a produção total de calor em sistemas de criação desuínos em cama sobreposta com maravalha é praticamente constante, gerando 300W/suíno dia. Isso significa que para cada animal em produção neste sistema, temosa produção de calor equivalente a dois animais. As necessidades de ventilaçãoe de isolamento das edificações dependem das produções de calor e de vapord’água geradas no sistema. A produção especifica de calor gerado pela cama é

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pouco conhecida e sua importância é fundamental para a determinação da taxade ventilação, otimização da evaporação d’água e do processo de compostagem(Oliveira, 1999). Determinou-se experimentalmente o fluxo de calor gerado somentepelo processo de compostagem para a cama de maravalha (Qcama) que pode serestimado, para suínos entre 30 e 100 kg, pela seguinte equação: Qcama=2,026 × m -60,75; m= massa do suíno (kg) (Oliveira 1999). Este fluxo de calor pode variar de 80a 120 W/suíno em função do peso vivo do animal.

5 Sistema de Compostagem de Dejetos

A compostagem dos resíduos da suinocultura é uma prática que vem crescendoentre os criadores de suínos na Europa. Esta técnica foi desenvolvida principalmentepara a agricultura biológica para evitar ou suprimir o uso de fertilizantes minerais.Atualmente ela vem sendo cada vez mais empregada pelos suinocultores localizadosem zonas geográficas cujas águas estão fortemente poluídas por nitrato (Mazé et al.1999) e por determinação da legislação torna-se impossível a ampliação de novascriações. A compostagem é um processo de oxidação biológica aeróbia e controladada matéria orgânica, produzindo CO2, calor e um resíduo estabilizado denominadode composto. Para o caso de dejetos de suínos pode-se utilizar o que denominamosde plataforma de compostagem que é uma versão acelerada do processo natural dedegradação de produtos orgânicos dando condições favoráveis ao desenvolvimentode microorganismos para degradar a matéria orgânica presente nos dejetos. Estudosconduzidos por Lau (1992) e Mazé et al. (1999) demostraram a viabilidade do usode sistemas de compostagem para o tratamento dos dejetos líquidos de suínos.Resultado obtido em sistema de compostagem com ar forçado estudado por Mazéet al. (1999), para o tratamento dos dejetos de suínos, concluiu que é possível atingiruma absorção de 8 ton de dejetos líquidos para cada ton da mistura de maravalha epalha.

Estudos conduzidos na região da Finistère na França com o uso de compostagempara o tratamento de dejetos de suínos, utilizando-se de maravalha e palha,demonstrou a viabilidade do sistema para tratar 6.000 m3/ano de dejetos. Em estaçõesautomatizadas é possível tratar para cada ton. de maravalha ou palha 15 m3 dedejetos liquidos obtendo-se 4 ton de composto estabilizado com relação C/N <20 euma redução da metade do nitrogênio (Dorffer, 1998). Em sistemas de compostagemcom o uso de palha em unidades de tratamento com área de 620 m2, desenvolvidopela Station Pilote Multi-Déchets Organiques (4 VAULX, 1999), foi demonstrado serpossível tratar 1.000 m3 de dejetos por ano com uma quantidade incorporada de 12 m3

de dejetos por ton de palha, obtendo-se de 250 a 300 ton de composto orgânico.

6 Uso dos dejetos como Fertilizante Orgânico

O destino final dos dejetos de suínos é seu aproveitamento como fertilizanteorgânico em lavouras, pastagens, pomares e reflorestamentos. Porém, sua viabilidadeeconômica é dependente da concentração de nutrientes existentes nos resíduos.

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Os resíduos dos sistemas de produção sobre piso ripado apresentam uma con-centração de nutrientes muito baixa (dejeto muito líquido), praticamente inviabilizandoeconomicamente seu uso como adubo orgânico (Chiuchetta, 2000). Um outro fatora ser considerado é o uso de dejetos para a melhoria de matéria orgânica emsolos pobres. Estudos realizados, têm demonstrado que o uso contínuo de dejetoslíquidos de suínos em solos não traz aumento significativo da concentração de matériaorgânica.

Em contrapartida, os resíduos de sistemas de produção sobre camas de maravalhaapresentam uma concentração muito maior de nutrientes quando comparados aossistemas de produção de suínos sobre pisos ripados e uma relação C/N entre 18 e25, viabilizando seu uso como fertilizante orgânico e facilitando sua distribuição nalavoura. Na Tabela 9, observa-se os resultados de estudo conduzido por Oliveira(1992) analisando a concentração de MS (matéria seca), N (nitrogênio), F (fósforo) eK (potássio), em sistema de criação de suínos em cama sobreposta de maravalha oupalha, após cada ciclo de crescimento e terminação durante um ano de criação sobrea mesma cama.

Na Tabela 10, podemos observar o resultado comparativo dos resíduos finais dediferentes sistemas de produção de suínos, na França e no Brasil. Na França foramusados os dados publicados pelo ITP e o INRA e no Brasil dados publicados pelaEMBRAPA Suínos e Aves (Oliveira et al. 1994; Oliveira, 1999; Texier, 1997.). Nocaso de sistemas de produção existente no Brasil, pode-se observar a alta diluiçãodos dejetos em função do desperdício e do excesso de água usada para a limpezadas baias o que compromete seu uso como fertilizante orgânico. Entretanto, podemosobservar que na França a concentração de nutrientes é mais elevada e isso se deve aouso de piso ripado total nas baias, não necessitando de lavagem e limpeza freqüente,e ao uso de bebedouros com menor perdas d’água. Observa-se que houve umacúmulo de nutrientes nas camas com os sucessivos lotes de suínos durante umperíodo de um ano de criação sobre as mesmas camas. Estes resultados demonstrama viabilidade do uso das camas como fertilizante orgânico e sua viabilidade econômicaquando comparada aos sistemas convencionais de produção de suínos, onde existeum excesso de água provocando uma elevada diluição dos dejetos.

Em trabalho desenvolvido por Nunes, 2002, estimou-se o peso específico docomposto obtido da criação em Cama Sobreposta de 4 lotes de suínos, em fase decrescimento - terminação. Os valores encontrados foram de 252 Kg /m3 e 301 Kg /m3,para casca de arroz e maravalha, respectivamente.

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Tabela 9 — Resultado observados de análises do acúmulo de nu-trientes gerados nos sistema de cama sobreposta demaravalha ou palha, em sistema de crescimento eterminação de suínos durante 4 lotes sucessivos por umperíodo de 1 ano

Maravalha Lote 1 Lote 2 Lote 3 Lote 4MS (%) 57,1 42,2 37,7 43,4N (kg/ton) 4,6 5,1 6,6 8,8P (kg/ton) 2,1 3,6 4,9 7,2K (kg/ton) 3,8 5,1 7,8 11,7Palha Lote 1 Lote 2 Lote 3 Lote 4MS (%) 57,2 56,4 36,3 48,7N (kg/ton) 9,4 14,2 8,9 12,2P (kg/ton) 2,5 7,4 6,1 7,6K (kg/ton) 15,1 19,6 11,1 17,6

Tabela 10 — Resultado observados de analises de resíduos gerados emdiferentes sistemas de produção de suínos, convencional eem cama sobreposta de maravalha

Dejetos Líquidos (Bruto) Kg/ ton ou /m 3

Piso ripado (parcial ou total) % MS Ntot P2O5 K2OTerminação (IPT, 1993) 9,3 9,6 4,0 6,4Terminação, sem perda H2O (INRA, 1999) 14,5 9,0 6,0 8,5Terminação (EMBRAPA,1997) 1,6 2,2 0,6 0,9Cama Maravalha (1 ano de uso)Terminação (ITP, 1996) 41,6 13,1 17,7 25Terminação (INRA, 1999) 38,8 7,9 11,8 14,5Terminação (EMBRAPA, 1994) 43,4 8,7 7,2 11,7

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7 Conclusão

Os dejetos devem ser usados integralmente na agricultura como fertilizante orgâ-nico, procurando-se concentrar os nutrientes nos dejetos evitando-se o desperdíciod’água nos sistemas de produção. Os dejetos líquidos excedentes nas propriedadesdevem ser tratados adequadamente, usando-se o resíduo final para a limpeza dosdejetos evitando o seu lançamento nos cursos d’água.

O uso de compostagem para o tratamento de dejetos de suínos vem sendo umaalternativa empregada principalmente em regiões de produção intensiva de suínos,gerando um composto orgânico estabilizado que pode ser utilizado como fertilizanteorgânico.

Estudos desenvolvidos por diversos pesquisadores demonstraram a viabilidadedo uso de cama sobreposta para a produção de suínos com resultados dedesempenho zootécnico semelhante aos sistema convencional e em alguns casoscom desempenho melhor.

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MYCOPLASMA HYOPNEUMONIAE - EPIDEMIOLOGYAND CONTROL

Harry Snelson

DVM Manager, Swine TechnicalServices Pork Industry Team – SPAH

Introduction

Respiratory disease is an economically devastating syndrome affecting swineproduction worldwide. Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyo) is a key pathogeninvolved with enzootic pneumonia (EP) and the Porcine Respiratory Disease Complex(PRDC). Enzootic pneumonia is composed of M. hyo and secondary bacteria such asPasteurella multocida, Streptococcus suis, Haemophilus parasuis, and Actinobacilluspleuropneumoniae. Recently, the term PRDC has been adopted to describe the severerespiratory disease that develops as a result of the combination of viral and bacterialpathogens. The most common components of PRDC include M. hyo, swine influenzavirus (SIV), and porcine reproductive and respiratory syndrome virus (PRRSV) and thesubsequent secondary bacteria.

Exposure to M. hyo is prevalent worldwide with an incidence approaching 100%of herds in some surveys.1,2 As many as 80% of the pigs surveyed at slaughteror diagnostic labs have evidence (lesions or CF antibodies) of prior exposure toM. hyo.1,3,4 Infection results in decreased growth rates and poor feed conversions.Additional studies have found reductions in growth rates (between 8 and 85 kg bodyweight) of up to 15.9% in pigs infected during lactation and 12.7% reduction between50 and 85 kg body weight. They also observed a concurrent 13.8% decline in feedefficiency.5

Clinical signs

Mycoplasma hyopneumoniae infection alone results in a chronic, non-productivecough. It is a disease with high morbidity, low mortality, and minimal effect on growthperformance. Enzootic pneumonia and PRDC, however, are much more clinicallysevere diseases resulting in decreased daily gains and feed efficiencies, anorexia,unthriftiness, fever, cough, and dyspnea in 18 - 20 week old pigs. It has been estimatedthat PRDC affects 10 million pigs annually in the US costing producers millions ofdollars in treatment and lost performance.6

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Pathogenesis

M. hyo attaches to the mucosal surface of the cilia lining the respiratory tract,resulting in the destruction of these cilia and the loss of the mucociliary defensesystem. The function of these cilia is to expel particles from the respiratory tractand serves as an initial physical defensive barrier. Loss of the mucociliary apparatusallows for increased colonization by secondary bacteria such as Pasteurella multocida.The mycoplasma organism also interacts with the immune cells of the respiratorytract resulting in the release of proinflammatory cytokines, such as tumor necrosisfactor (TNF) and interleukins, and activation of lymphocytes. This interaction actuallyminimizes the immune system’s ability to effectively respond to the infection.

Direct contact with respiratory tract secretions appears to be the most commonmode of transmission. Airborne transmission has also been proposed.7,8 The diseasebecomes established in a herd and is maintained via sow to pig or pig to pigtransmission. M. hyopneumoniae has a relatively long incubation period (10 - 16days or longer)9 and is exacerbated by stressors such as increased stocking density,inadequate ventilation, and exposure to other pathogens. These factors contributeto the emergence of clinical signs in the grow-finish period although actual infectionfrequently occurs in suckling pigs or the late nursery.

Diagnosis

Gross lesions observed in the lungs of infected pigs consist of purple to gray areasof consolidation located in the ventral portions of the cranial and middle lobes, theaccessory lobes, and the cranial portion of the caudal lobes of the lungs.6 Microscopiclesions include the accumulation of neutrophils around the airways and alveoli. As thedisease progresses, the perivascular cuffing becomes more pronounced. Secondarybacterial infections and management factors such as overcrowding and poor ventilationinfluence the severity of these lesions.

The most common serologic tests used to diagnose MPS include indirecthemagglutination (IHA), complement fixation (CF), and ELISA. An indirect ELISA,called Tween 20, and a blocking ELISA have been developed . It has been shown thatthe Tween 20 detects infection earlier, but the blocking ELISA has less cross-reactivitywith other mycoplasmas.10 Tween 20 OD readings peak approximately 5 - 7 weekspost-infection and can last for at least 52 weeks.11 M. hyopneumoniae is very difficultto isolate and identify rendering diagnosis by culture not feasible.

Attempts are often made to diagnose M. hyo infection using data collected atslaughter. However, studies have shown little or no correlation between slaughterlesions and the severity of mycoplasma pneumonia or effect on average daily gain.12,13

In many cases, mycoplasma lesions resulting from early infection have resolved andare not obvious at slaughter. Therefore, the impact of M. hyo infection may beunderestimated if relying solely on slaughter analysis. However, Amilton et al., in astudy to be presented at IPVS in Ames, Iowa, have shown that evaluating lung lesionscan be a valuable tool to monitor the incidence of pneumonia at slaughter.

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Treatment

Various antibiotics have been evaluated for their effectiveness in treatment and/orcontrol of mycoplasmal infections. Tetracyclines have been shown to have variableimpact on M. hyopneumoniae infections. Although, tetracyclines do not preventinfection and lesions tend to develop following cessation of therapy,14 one studyindicates that repeated administration of oxytetracyclines during lactation and earlynursery phases may reduce M. hyo-induced pneumonia in older pigs.15 Also, allisolates examined in a recent study demonstrated MICs ≤ 0.5 µg/ml for tetracyclines.16

A recent study in Japan, however, showed increasing resistance to chlortetracyclines.17

Tylosin was reported to reduce the severity of the disease when injected at adose of 10 mg/kg daily starting the day before exposure and continuing for 3 dayspost-infection.18 However, other studies (Ross, unpublished - 1981; and Ross andSkelly, unpublished - 1982) have failed to show significant impact on the incidenceor severity of the disease and elevated MICs. Tilmicosin, a semisynthetic macrolide,has been shown to have MICs ≤ 8 µg/ml.16

Results have been variable following administration of lincomycin. There isevidence that 200 g/ton fed for 3 weeks reduces the incidence and severity of diseaseand results in improved performance.19 Feeding continuously at 500 g/ton, however,did not prevent transmission to susceptible in-contact pigs in an unpublished studyconducted by Dr. Richard Ross at Iowa State University.

Tiamulin, although not approved for the treatment or control of M. hyopneumoniaein the US, has been shown to have some effect on the disease when administeredin feed (200 ppm for 10 days or 30 ppm continuously), 20,21,22 water (0.006%),23

and parenterally (15 mg/kg for 3 days).24 A subsequent study, however, was unableto detect a beneficial effect when administered in the drinking water at 60, 120, or180 ppm for 10 days.25 In vitro resistance to tiamulin, SDZ PMD 296, tylosin andoxytetracycline has also been reported.26

Susceptibility to the aminoglycosides (gentamycin, apramycin and spectinomycin)varied but most isolates demonstrated MICs ≤ 4 µg/ml in a recent study.16 Multiplequinolones have also been reported to be effective against M. hyopneumoniae in vitro.27,28,29,30,31,32 They are not approved for use in swine in the US and thus I have noexperience with their use. Obviously, due to their lack of a cell wall, all mycoplasmaisolates are resistant to the β-lactams ampicillin, penicillin and ceftiofur that function byinhibition of bacterial cell wall synthesis.

Control

Due to the relative refractoriness of mycoplasma to many of the commonly usedantibiotics and the severity of secondary bacterial complexes, it is usually moreeffective to attempt to control the disease rather than treat it. Effective controlmeasures are multifactorial involving management factors to minimize exposure andpredisposing stressors and maximizing immunity. Numerous management factors havebeen suggested, such as proper stocking density, adequate ventilation, decreased agespread, and all-in, all-out production flow, to minimize the effects of exposure.

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Vaccines have also been developed to minimize the clinical effects of exposureto mycoplasma and provide some protection against development of lung lesions. Ithas been shown that M. hyo vaccines stimulate the production of M. hyo-specific IgGand IgA antibodies following challenge and decrease production of proinflammatorycytokines, in particular, TNF. Therefore, even though vaccination does not preventcolonization or infection, it appears to minimize the inflammatory effects followinginfection.33 This reduction in cytokine production may also contribute to the finding thatvaccination against M. hyo reduced the potentiation of PRRSV-induced pneumonia byM. hyo.34

Two factors appear to be critical when determining the proper timing of M. hyovaccination, maternal antibody and PRRS status. Maternal antibodies appear to besomewhat protective for the young pig, but also appear to inhibit the formation of anactive immune response.35 It is important to determine the maternal antibody levelspresent prior to vaccination. Also, the timing of exposure to PRRS virus appears toimpact the effectiveness of M. hyo vaccination. It has been shown that exposure toPRRS virus during or following M. hyo vaccination decreases the efficacy of the M. hyovaccine.34 Therefore, if PRRS virus is present in a herd, M. hyo vaccination should becompleted prior to PRRS virus exposure.

It is also important to realize that serum antibodies produced by M. hyo vaccinationare slow to develop. Titers may not be measurable for at least 2 weeks following thesecond vaccination. Unchallenged pigs may become seronegative within 4 - 6 weeksafter vaccination. Studies have shown, however, that there is no correlation betweenthe level of serum antibodies and protection. Vaccinated pigs that are subsequentlychallenged develop a strong anamnestic response resulting in significantly higher titersthan vaccination alone.36

There have been a number of studies recently evaluating the efficacy of one-dosevaccination protocols compared to two doses. It has been shown that, in well-controlledlaboratory or production systems, one dose can be as effective as two doses. Thechoice of one dose vs. two must be made based on a number of factors. One dosemay work well 1)where the incidence of mycoplasma is low, 2)in all-in all-out by siteproduction systems, 3) in the absence of other PRDC pathogens (particularly PRRSor SIV), 4)where there is a narrow age spread on the farm, and 5)in the presenceof low maternal antibodies. However, many systems will experience better efficacyusing a two-dose regimen. Two-dose protocols 1) allow for better timing relative tovariable maternal antibodies, 2)give each animal a second chance to mount an immuneresponse, 3)provide better protection in continuous and commingled flows as well asall-in all-out buildings on continuous flow sites, and 4)tend to be more effective inthe face of increased disease pressure from secondary pathogens, PRRS, or SIV.Consultation with a veterinarian familiar with the production system and local diseasechallenges should be performed prior to selecting a one or two dose protocol.

Conclusion

In conclusion, respiratory disease is a costly health concern in most swineproducing areas worldwide. Mycoplasma hyopneumoniae is a major contributorand predisposing factor in many of these cases. Exposure results in establishing

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secondary bacterial infections important in PRDC and Enzootic pneumonia and hasbeen associated with the potentiation of PRRS-induced pneumonia. The clinical signs,lesions, and production losses associated with M. hyo infection are further exacerbatedby inadequate management practices. Although, treatment with some antibioticsappears to be beneficial, it is expensive and often ineffective. Modern commercialvaccines offer a reliable level of control and are more economical than antibiotictreatment. Vaccination against M. hyo has been shown to decrease the incidence oflung lesions, improve production performance, and may decrease the effects of PRRSinfection.

References

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IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DE GRÃOS NAPRODUÇÃO DE SUÍNOS

Gustavo J. M. M. de Lima1 Osny Waltrick de Souza2

1EngoAgro, Ph.D., Embrapa Suínos e [email protected]

2EngoAgro, M.Sc., Perdigão Agroindustrial S. [email protected]

Introdução

A alimentação dos suínos tem como principais ingredientes o milho e a soja,devido ao percentual que são utilizados nas rações. Muito se tem discutido sobre aqualidade dos grãos e a tendência é que prestemos mais atenção, pois vários fatoresconjunturais vem contribuindo nesta direção.

Os grãos estão deixando de ser comercializados como “commodities”, em grandeslotes, sem características diferenciadas, para se tornarem ingredientes especiaiscom características desejadas pelos processadores e produtores de rações. Grãosgeneticamente modificados, grãos orgânicos, grãos de alto valor nutricional e atémesmo grãos comuns, sem apresentarem a inserção de genes estranhos, apresentamimportâncias distintas e podem definir o direcionamento das relações comerciais,como a grande demanda por exportação de milho brasileiro durante o ano de 2001.

Fala-se muito em certificação de produtos. Atua-se pouco no controle dosprocessos e no uso de normas de produção. O emprego das Boas Práticas deveser perseguida nos vários elos das cadeias produtivas. Para que a alta qualidade dosgrãos contribua para a redução do custo de produção de suínos, alguns conceitosdevem ser bem compreendidos. Como o milho é o principal grão para a produçãode suínos, especial ênfase será dada a ele. Entretanto, seu exemplo se estende aosoutros grãos empregados na produção de rações.

Variabilidade na composição química do milho

Para os nutricionistas a caracterização do grão deve ser feita com base nos seusatributos nutricionais. Resta uma pergunta: existe grande variabilidade na composiçãoem nutrientes do milho que permita o nutricionista utilizar uma média estática doconteúdo em nutrientes nas matrizes de composição química durante a formulaçãoda ração?

Através de análises de conglomerados, Lima et al. (2000) classificaram 57amostras de milho em quatro grupos distintos, baseados em alguns parâmetrosnutricionais analisados. Este tipo de classificação poderia ser utilizado para otimizar ouso do milho nas formulações de rações (Tabela 1).

A seguir, são apresentadas algumas informações sobre a composição emnutrientes do milho com o intuito de provar ao leitor que o milho se constitui em nomegenérico que congrega uma série de ingredientes distintos.

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Tabela 1 — Classificação do milho de acordo com o seu teor de extrato etéreo,proteína bruta, fibra bruta e lisina, em base de matéria seca. (Limaet al., 2000).

Grupo 1Variável Média N Valor mínimo Valor máximo Desvio padrão

(%) (%) (%) (%)Extrato etéreo 3,632 21 3,042 4,381 0,073Proteína bruta 8,077 21 7,326 8,909 0,080Fibra bruta 2,941 21 2,132 3,679 0,092Lisina 0,236 21 0,198 0,290 0,004

Grupo 2Variável Média N Valor mínimo Valor máximo Desvio padrão

(%) (%) (%) (%)Extrato etéreo 2,267 3 2,049 2,438 0,115Proteína bruta 8,195 3 7,406 8,895 0,432Fibra bruta 3,233 3 3,057 3,534 0,151Lisina 0,273 3 0,265 0,277 0,004

Grupo 3Variável Média N Valor mínimo Valor máximo Desvio padrão

(%) (%) (%) (%)Extrato etéreo 4,317 7 3,953 4,966 0,146Proteína bruta 10,115 7 9,659 10,498 0,105Fibra bruta 2,276 7 1,626 3,391 0,206Lisina 0,256 7 0,226 0,286 0,008

Grupo 4Variável Média N Valor mínimo Valor máximo Desvio padrão

(%) (%) (%) (%)Extrato etéreo 3,834 26 3,396 4,592 0,068Proteína bruta 9,028 26 8,234 9,771 0,093Fibra bruta 2,078 26 1,568 2,611 0,059Lisina 0,244 26 0,207 0,301 0,045

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Composição química do milho

São escassas as informações publicadas sobre a composição química do milhobrasileiro baseada em um número representativo de amostras. A Tabela daEmbrapa (1991), ainda é a fonte de dados com maior detalhamento nas informações,especialmente quanto a número de amostras e desvios. Na Tabela 2 é apresentada acomposição química e o valor energético médio do milho analisado no Laboratóriode Análises Físico Químicas, da Embrapa Suínos e Aves, no período de 1979 a1997. Esta tabela apresenta estimativas de variabilidade que requerem discussão.Por exemplo, os teores de óleo no milho variaram de 1,41% a 6,09%, com média de3,67%. Esses resultados demonstram a existência de milho com alto teor de óleosendo utilizado no preparo das rações de suínos, muito embora, não houvesse umacaracterização genética definida para esta característica. Pensou-se, por vários anos,em possíveis erros analíticos, mas evidências serão apresentadas mais adiante quecomprovam a existência de milho de alto teor de óleo no nosso meio. Uma constataçãodisto pode ser verificada na mesma Tabela 2. Através da realização de 28 balançosde energia com suínos ao longo dos anos, verificou-se que a energia metabolizáveldo milho variou de 2952 a 3937 kcal/kg, com média de 3421 kcal/kg.

Fatores que intervém na qualidade do milho

Entre o plantio e a conversão do milho em produtos animais existem diversospontos de controle que permitem a melhoria da qualidade desse grão. Dois aspectosimportantes devem ser ressaltados. O primeiro está vinculado ao surgimento de novoscultivares ou novas características e, o segundo, aos fatores não genéticos que influemna qualidade do milho. Novos híbridos e variedades são colocados anualmenteno mercado mundial, quer por ação de seleção convencional em melhoramentogenético, quer pela introdução de tecnologias de biologia molecular, gerando materiaisgeneticamente modificados. Muitas vezes, o avanço obtido tem como objetivo atingirapenas o consumo humano direto sem haver a preocupação com o seu uso em raçõespara animais. Isso tem acontecido nas empresas produtoras de sementes com várioscereais e oleaginosas, como por exemplo o trigo, a soja, a cevada e o milho.

O mercado de milho, em geral valoriza pouco a qualidade, pois o pagamentodiferenciado, premiando este atributo, é pouco significativo. O que está à venda éa quantidade de milho e não a qualidade (presença de certas características). Poroutro lado, valorizar diferentemente o milho de alta qualidade nutritiva, implica emdiminuir a vantagem competitiva desse milho em relação ao milho comum. Por isso,quando se atribui um preço maior ao milho de alta qualidade genética, o programade minimização de custos de rações, diminuirá a vantagem que esse milho tinha emrelação ao comum, podendo até desaparecer e, consequentemente, buscar o uso dequalquer tipo de milho.

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Fatores ambientais que afetam a qualidade do milho

A expressão fenótipo = genótipo + ambiente + interação genótipo x ambiente+ erro explica, em síntese, toda a variabilidade encontrada nas característicasobservadas no milho e outros grãos.

Os efeitos do ambiente sobre a qualidade nutricional dos grãos tem sido estudados.Baier et al. (2000) observaram a influência do ambiente sobre os teores de proteínabruta e óleo em diferentes genótipos de triticale plantados em cinco locais, nos estadosdo Rio Grande do Sul (4 locais) e Santa Catarina (1 local), nos anos de 1998 e 1999.A Tabela 3 apresenta os resultados desta pesquisa, na qual os autores concluíramque o ambiente (anos e locais), mais do que os genótipos, afetaram a produtividadee concentração de nutrientes nos grãos. Uma informação adicional, foi que aconcentração de nutrientes relacionou-se negativamente com a produtividade. Istoé, aumentando a produtividade, reduziu-se a concentração de nutrientes nos grãos.Este fato merece reflexão cuidadosa para identificar, caracterizar e, possivelmente,corrigir os fatores do ambiente que interferem na expressão da produção.

As informações obtidas com outros grãos podem ser extrapoladas para o milho. NaTabela 4 são apresentados os resultados de um estudo (Lima et al., 2000) conduzidocom amostras de híbridos comerciais de milho coletadas em diferentes propriedadesdo Rio Grande do Sul, que produziam suínos e milho, na safra 1998/1999. Em geral,os teores de proteína bruta apresentaram alta variabilidade podendo ter sofrido umefeito do nível de adubação nitrogenada entre outras fontes de variação. Entretantoessa magnitude de variabilidade (coeficiente de variação de 4,96 a 20,05%) não serepetiu quando se considerou os amino ácidos lisina (coeficiente de variação de 0 a3,70%) e metionina (coeficiente de variação de 0 a 6,43%). Esses resultados sugeremque pode ter havido um aumento do conteúdo em nitrogênio não protéico configurandoaumento no conteúdo de proteína bruta sem aumentar os níveis de amino ácidos.

No estudo do Lima et al. (2000), o coeficiente de variação do teor de óleo dasamostras dos híbridos estudados chegou a 14,68%. Observou-se que há diferençasmarcantes entre os híbridos quanto ao teor de óleo nos grãos e que as variaçõesdentro de cada híbrido devem ser melhor estudadas com intuito de se separar osefeitos genéticos dos efeitos ambientais.

A colheita tardia com objetivo de reduzir a umidade do grão traz como conseqüên-cia o aumento do ataque de insetos nos grãos e também a possibilidade de maiorcontaminação com micotoxinas.

Partidas de milho com densidade variável entre 60 e 72 kg/hl foram investigadospor Baidoo et al. (1991), com relação a densidade, a análises proximais e a energiametabolizável em aves. Na Tabela 5 são apresentados os valores de composiçãodos grãos de milho com suas densidades e o valor de energia metabolizável.Relações lineares positivas e significativas foram obtidas entre a densidade e energiametabolizável verdadeira (EMVn) apresentando coeficiente de correlação de 0,85. Aequação para a estimativa em kcal/g de MS é: EMVn = 1,452 + 0,566 (densidade).

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Tabela 2 — Médias de composição química e valor energético do milho analisado noLaboratório de Análises Físico Químicas da Embrapa Suínos e Aves noperíodo de 1979 a 1997. Valores expressos em base natural. (Lima, 2000,dados em fase de publicação).

Parâmetro N Média Mediana Moda Mínimo Máximo Desvio ErroPadrão Padrão

Matéria seca, % 489 87.68 87.64 86.34 82.69 91.97 1.75 0.08Proteína bruta, % 637 8.49 8.39 8.34 6.43 10.99 0.81 0.03Extrato etéreo, % 356 3.67 3.66 3.49 1.41 6.09 0.87 0.05Cinza, % 305 1.15 1.16 1.04 0.24 2.00 0.31 0.02Fibra bruta, % 362 2.25 2.15 2.13 1.10 3.48 0.43 0.02Ca, % 273 0.04 0.03 0.05 0.01 1.05 0.08 0.00P, % 281 0.26 0.25 0.23 0.11 0.88 0.07 0.00Mg, % 23 0.10 0.10 0.10 0.08 0.12 0.01 0.00K, % 10 0.35 0.35 0.30 0.30 0.41 0.03 0.01Na, % 3 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00Cu, mg/kg 47 4.65 3.66 1.73 0.91 19.39 3.72 0.54Fe, mg/kg 43 58.67 48.51 34.30 22.48 182.30 32.19 4.91Mn, mg/kg 44 7.34 6.93 1.10 1.10 20.00 3.27 0.49Zn, mg/kg 47 27.39 21.75 21.45 13.93 151.88 20.21 2.95F, mg/kg 1 0.01 0.01 0.01 0.01 0.01 - -Ác. Aspártico, % 94 0.54 0.55 0.50 0.43 0.70 0.06 0.01Ác. Glutâmico, % 94 1.54 1.54 1.40 0.95 2.13 0.29 0.03Alanina, % 95 0.63 0.61 0.55 0.48 0.78 0.08 0.01Arginina, % 92 0.37 0.36 0.31 0.27 0.55 0.07 0.01Cistina, % 75 0.28 0.27 0.26 0.18 0.37 0.04 0.01Fenilalanina, % 90 0.40 0.38 0.34 0.24 0.56 0.07 0.01Fenilalanina + tirosina, % 92 0.66 0.65 0.68 0.40 0.96 0.13 0.01Glicina, % 88 0.32 0.31 0.31 0.25 0.40 0.03 0.00Glicina + serina, % 93 0.71 0.72 0.76 0.57 0.85 0.07 0.01Histidina, % 88 0.24 0.24 0.24 0.18 0.40 0.05 0.01Isoleucina, % 93 0.28 0.27 0.26 0.17 0.37 0.05 0.01Leucina, % 93 1.00 1.00 1.20 0.72 1.32 0.15 0.02Lisina, % 95 0.24 0.24 0.24 0.19 0.31 0.03 0.00Metionina, % 74 0.21 0.20 0.18 0.14 0.27 0.04 0.00Metionina + cistina, % 75 0.48 0.48 0.45 0.32 0.62 0.08 0.01Prolina, % 93 0.81 0.78 0.70 0.54 1.13 0.13 0.01Serina, % 92 0.39 0.39 0.38 0.30 0.48 0.04 0.00Tirosina, % 91 0.27 0.26 0.20 0.16 0.43 0.07 0.01Treonina, % 92 0.27 0.27 0.30 0.22 0.33 0.03 0.00Triptofano, % 119 0.05 0.06 0.03 0.02 0.14 0.02 0.00Valina, % 92 0.37 0.36 0.36 0.23 0.49 0.07 0.01Energia, kcal/kgBruta 347 3944 3950 3950 3430 4427 113 6Digestível, suínos 28 3472 3506 3548 3211 3567 94 20Metabolizável, suínos 28 3421 3425 3392 2952 3937 217 41Metabolizável, aves 23 3229 3203 3045 3045 3407 113 24Metabolizável verdadeira, 5 3639 3656 3656 3440 3820 135 60aves

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Tabela 3 — Médias dos teores de proteína bruta, óleo, rendimento de grãos, pesode hectolitro (PH) e peso de mil grãos (PMG) do triticale, produzidosnas safras de 1998 e 1999, em Chapecó, SC, e em Selbach, PassoFundo, Sananduva e Vacaria, RS. (Baier et al., 2000).

Fonte de Proteína bruta, Rendimento, PH, PMG,variação % Óleo, % kg/ha kg hL−1 gAno

1998 12,4 A 1,40 A 3.695 B 67 B 37 B1999 12,1 B 0,99 B 4.489 A 72 A 40 A

LocalChapecó 14,0 A 1,08 C 4.479 A 66 E 37 CSelbach 12,3 B 1,22 A 3.454 C 69 C 37 CPasso Fundo 11,9 C 1,26 A 3.684 B 69 D 37 BCSananduva 11,7 D 1,22 A 4.410 A 73 A 39 ABVacaria 11,5 D 1,16 B 4.434 A 72 B 41 A

A,B,C,D Letras distintas, na mesma coluna, para cada fonte de variação, indicam diferença entremédias (P<0,05).

Fatores genéticos que afetam a qualidade do milho

Devido aos prejuízos causados pela ação de insetos e fungos na qualidade domilho, os melhoristas vegetais procuraram orientar suas pesquisas para a seleçãocom vistas a melhorar as características de sanidade das plantas, dando-lhe melhorempalhamento e preferindo os grãos duros e semi-duros aos grãos moles. Emboraessas características são úteis à alimentação animal, não são as únicas que deveriampreocupar o melhorista vegetal. Há uma lacuna de entendimento nesse campo. Doponto de vista de processamento para rações, o milho duro gastará mais energia namoagem e dificultará a uniformidade na granulometria da ração. Além disso, pode-seinferir que as enzimas digestivas do animal deverão ser em maior concentração paradigerir os grãos de característica vítrea presente nos grãos duros.

As características nutricionais dos grãos são desejáveis pelos produtores deanimais, além daquelas já citadas. Outros atributos também tem interesse como adigestibilidade dos nutrientes no grão e que não vinham sendo buscadas.

Recentemente, uma maior ênfase tem sido dada à seleção visando a qualidadenutricional do milho. O desenvolvimento do milho QPM (quality protein maize) edo milho alto óleo, são alguns exemplos de investidas nesta área. Este último vematraindo a demanda dos produtores de aves e suínos pela grande redução do custode produção que ele proporciona.

Milho alto óleo

Os híbridos de milho amarelo com alto nível de óleo vem sendo estudados hádécadas por melhoristas americanos, mas ganharam destaque apenas nos últimosanos. Esses materiais são importantes para a moderna indústria de alimentos para

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Tabela 4 — Híbrido comercial, número de amostras analisadas (N), média, valormínimo e máximo, desvio padrão e coeficiente de variação (CV) obtidospara proteína bruta, óleo, lisina e metionina. Dados expressos em basede matéria seca. (Lima et al., 2000).

Híbrido N Média, Valor mínimo, Valor máximo, Desvio padrão, CV,Comercial % % % % %

Proteína brutaAG122 19 8,66 6,84 11,95 1,37 15,76AG5011 4 8,36 7,78 8,86 0,44 5,30AG9014 4 9,93 7,48 12,33 1,98 19,97C505 5 9,64 8,90 10,14 0,48 4,96C901 5 8,30 7,47 9,31 0,70 8,39P3063 4 8,64 6,92 10,98 1,73 20,05Premium 4 9,31 7,51 10,96 1,42 15,28Veloz 4 8,13 6,83 9,42 1,18 14,53

ÓleoAG122 19 3,80 2,45 4,42 0,56 14,68AG5011 4 4,22 4,14 4,32 0,07 1,77AG9014 4 4,61 4,48 4,70 0,09 2,06C505 5 4,03 3,04 4,32 0,55 13,77C901 5 3,54 2,77 4,00 0,50 14,24P3063 4 3,99 3,84 4,17 0,15 3,73Premium 4 3,86 3,33 4,16 0,37 9,56Veloz 4 3,93 3,64 4,23 0,28 7,19

LisinaAG122 19 0,27 0,25 0,28 0,01 2,86AG5011 4 0,27 0,27 0,27 0 0AG9014 4 0,27 0,26 0,28 0,01 3,02C505 5 0,27 0,26 0,28 0,01 3,70C901 5 0,27 0,26 0,28 0,01 3,08P3063 4 0,27 0,27 0,28 0,01 1,83Premium 4 0,27 0,26 0,27 0,01 2,18Veloz 4 0,26 0,26 0,27 0,01 1,90

MetioninaAG122 19 0,29 0,28 0,31 0,01 3,34AG5011 4 0,29 0,28 0,30 0,01 2,82AG9014 4 0,28 0,27 0,29 0,01 3,39C505 5 0,29 0,27 0,31 0,02 6,35C901 5 0,28 0,26 0,30 0,02 6,43P3063 4 0,28 0,27 0,29 0,01 4,12Premium 4 0,29 0,26 0,30 0,02 6,08Veloz 4 0,29 0,28 0,30 0,01 2,82

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Tabela 5 — Energia metabolizável com aves (EMVn) de lotes de milho de váriasdensidades (PH).

PH, Danificados, Proteína Óleo, Fibra Cinza, Amido, EMVnkg hL−1 % bruta, % bruta, % % %72 0,0 10,7 3,9 2,3 1,3 73,1 396271 0,3 9,8 4,3 2,3 1,4 71,5 395268 0,2 10,1 4,5 2,9 1,9 69,2 390062 0,2 11,2 4,0 3,0 1,8 66,9 388360 1.0 12,2 3,9 3,2 1,9 65,5 3681

Baidoo et al. (1991).

animais porque contém mais energia do que o milho comum. De acordo com Dale(1994), uma avaliação de 29 amostras de milho variando de 2,9 a 13,1% de extratoetéreo e ajustados para 86% de MS, mostrou que a EM daqueles de maior teor deóleo é de 3850. A equação de predição da EM é: EMV (kcal/kg) = 3203 + 53 (%óleo),com R2 = 0,81. Com isso, vê-se claramente a vantagem para a formulação de rações,principalmente para frangos de corte, em aumentar-se o teor de óleo do milho.

Não resta dúvida que a melhoria da qualidade genética do milho representa, persi, um aumento da competitividade da indústria animal. Isso pode ser comprovadocom o trabalho de Bartov e Barzur (1995), que demonstraram que o milho alto óleopara frangos de corte apresenta maior teor de óleo e amino ácidos com incremento naenergia metabolizável de 6,4% do que a do milho comum. Também Adeola e Bajjalieh(1997), observaram genótipos de milho alto óleo com até 132% mais óleo e 8% maisenergia metabolizável do que o milho convencional para suínos em crescimento.

A seleção para aumento de óleo no milho tem ocorrido com concomitante aumentode proteína bruta devido ao aumento do tamanho do embrião. Esse incremento é daordem de 1,3% quando o conteúdo de óleo é elevado em 3,5% (U.S. Feed GrainsCouncil, 2000).

O maior enfoque em cultivares de valor nutricional agregado traz consigovantagens diferenciais na qualidade do milho que asseguram maior lucratividade aossetores de produção vegetal e animal. Na safra 1999, os produtores norte americanosde milho alto óleo receberam prêmios da ordem de US$5,91 a US$9,84/tonelada demilho alto óleo produzido, dependendo do teor de óleo nos grãos (U.S. Feed GrainsCouncil, 2000). Comparando-se dois hipotéticos produtores que apresentam a mesmaprodutividade de 6 toneladas de milho/ha ou 60 sacas/ha, o produtor de milho alto óleoteria um aumento de lucratividade de US$35,46 a US$59,04.

Segundo Engelke (1997), o milho alto óleo proporcionou maior valor agregado porbushel, em relação ao milho convencional, o qual variou de US$ 0,38 a US$0,77para dietas de perus ou poedeiras. Com suínos em crescimento, a redução docusto das rações chegou a 1 centavo de US$/kg (Adeola e Bajjalieh, 1997). Alémdisso, os produtores de aves e suínos tem ganhos extras referentes: (a) à reduçãono transporte e armazenamento com grãos, uma vez que é necessário uma menorquantidade de grãos por unidade de produção; (b) à melhora na eficiência alimentardos suínos, devido ao menor incremento calórico produzido pelo óleo; e (c) à reduçãoda poeira na fábrica de rações e nas instalações com animais, reduzindo as perdas

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de ingredientes e incidência de doenças respiratórias. Um aspecto importante douso de milho alto óleo é que ele promove uma maior produção de energia e proteínapor ha sem necessidade de aumento dos níveis de adubação. Essa característica édesejável não só do ponto de vista social, pois abre maiores oportunidades para ospequenos produtores, como também na visão ambiental, já que é necessário umamenor área para produzir a mesma quantidade de nutrientes, quando comparado aosgrãos tradicionais.

Silagem de milho úmido para suínos

No Brasil, o grande volume de milho é armazenado a granel e a meio ambiente,para que isto seja possível é necessário secar para 13% de umidade e limpar para umpercentual de matéria estranha nunca superior a 1%. Para execução destes trabalhossão necessários equipamentos e infra-estrutura de alto valor financeiro o que onera ocusto final deste cereal.

A armazenagem em propriedades rurais, em paióis ou similares, tem sidoresponsável por perdas da ordem de 30% do volume estocado, sem avaliar aí aqualidade final deste produto, que em muitos casos pode torná-lo inviável para oconsumo humano e animal, devido ao baixo valor nutricional ou à contaminação porsubstâncias tóxicas.

Para superar estes obstáculos, surgiu a silagem de milho úmido, que nada maisé do que a armazenagem de grãos sob atmosfera modificada, ou seja, o produtoé armazenado na ausência de oxigênio, não permitindo o ataque de pássaros,roedores, ácaros e insetos. Ainda mais, minimizando o desenvolvimento de fungose bactérias patogênicas, consequentemente diminuindo a presença das micotoxinas.O desenvolvimento de bactérias homofermentativas acontece neste processo e éaltamente desejável para a produção de ácido láctico e diminuição do pH da massaensilvada.

O processo de silagem para ruminantes já é largamente difundido em nosso meio,porém a silagem do grão de milho úmido para suínos está apenas começando.

Este procedimento é muito simples, mas requer atenção e cuidados porque envolvefases muito distintas, quais sejam:

• Análise do solo

• Escolha do híbrido de milho

• Época de plantio

• Colheita

• Moagem

• Inoculação

• Compactação da massa

• Fechamento do silo

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• Abertura do silo

• Retirada da silagem

• Mistura da ração

• Arrazoamento dos animais.

Este processo de silagem de grão úmido requer rapidez e precisão, desde alavoura até o arrazoamento dos animais. O milho colhido deve ser triturado no mesmodia e o silo deve ser fechado no menor espaço de tempo possível. O tempo dearmazenamento do milho úmido entre a colheita e a ensinarem nunca deve ultrapassaras 10 horas, sob pena de começar um processo de fermentação aeróbia (bactériasheterofermentativas e fungos) ainda fora do silo, o que é altamente indesejável. Istocausa escurecimento da silagem e diminui a digestibilidade, podendo até ser rejeitadapelos animais ou se ingerida pode causar sérios distúrbios, tanto ao aparelho digestivocomo reprodutivo dos suínos, podendo ocasionar até morte.

Análise do solo

Seja na pequena, na média ou na grande propriedade todo o processo de produçãode suínos começa com uma coleta e análise do solo.

Porque analisar o solo?A análise do solo fornece as informações necessárias para a implantação da

cultura do milho. De posse da análise do solo, então o agricultor pode formular equantificar o adubo a ser aplicado em cada área ou talhão. O número de amostras é deacordo com as variações da área, sempre que variar o tipo de solo, uma nova amostradeve ser coletada. Solos ácidos não produzem milho, portanto antes da adubação,sempre que necessário, vem a calagem.

Escolha do híbrido de milho

De acordo com as exigências dos suínos, já existem híbridos que se destacam peloconteúdo de proteínas (amino ácidos essenciais) e níveis de energia. A produtividadeainda é e continuará sendo fator determinante nesta seleção. A adaptação à cadaregião e o ciclo da cultura também devem ser observados, não só para atender aprodutividade, mas também a sanidade do grão, pois a qualidade do grão de milho ea ausência de toxinas desempenham um grande papel na criação de suínos.

Época de plantio

Cada sementeira deve recomendar qual é a melhor época para cada um dos seusmateriais, restando aos técnicos e agricultores seguirem as especificações para cadaum deles. Ninguém melhor que o criador do híbrido para recomendar a sua utilização.Além da época de plantio, as sementeiras devem recomendar também os níveis

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nutricionais requeridos para cada híbrido, assim como outros assuntos correlatosde tal forma que se possa conseguir a melhor produtividade com a excelência emqualidade. O suinocultor que produz o milho para silagem pode escolher o híbrido,pois ele produz e consome o mesmo milho e durante a armazenagem pode guardar aindividualidade, podendo ser armazenado até por híbrido separadamente.

A colheita do milho para silagem de grão úmido

A colheita pode ser manual ou mecânica. O milho deve ser retirado da lavourao mais cedo possível, ou seja quando este atingir a maturação fisiológica. Paradeterminar o ponto ideal de colheita é usado o teor de umidade do grão comoreferência, qual seja, entre 28 e 40%. Nesta faixa de umidade as perdas na lavouraainda são pequenas e o percentual de grãos ardidos também. “É PROIBIDO ENSILARGRÃO DE MILHO ARDIDO”. Quanto menor o teor de grãos ardidos, melhor é aqualidade da silagem. Nunca colher as espigas que estão no chão por vários dias, poisestas além de ardidas contém uma grande contaminação fúngica e consequentementemicotoxinas, principalmente aquelas oriundas de fusarium. É bastante recomendávelfazer análise de micotoxinas antes da colheita para ajudar na tomada de decisãoda ensilagem ou não. A catação após a colheita deve acompanhar a colheitadeira,sendo feita impreterivelmente no mesmo dia, não deixando para o dia seguinteporque as espigas de milho em contato com o solo se umedecem e são rapidamentecontaminadas por fungos do solo o que pode comprometer a qualidade do produtofinal. A colheita do milho grão para silagem ocorre em torno de 30 dias antes do queseria a colheita do milho grão para o armazenamento com 13% de umidade. Istolibera o campo para as próximas atividades e garante a qualidade da matéria primapara compor as rações.

Moagem de grãos de milho úmido

O milho úmido não pode ser ensilado na forma de grão inteiro, pois guardariamuitos espaços vazios entre os grãos, chamados espaços intersticiais ou intergranu-lares, e estes espaços podem esconder uma quantidade de oxigênio suficiente parao desenvolvimento de fungos que por certo tornariam a massa de grãos escura e atédeteriorada.

Para diminuir os espaços vazios entre as partículas e para aumentar a açãodas bactérias acidófilas é que se recomenda a moagem do grão. Por outro lado aabsorção dos nutrientes oriundos da silagem que são fornecidos aos suínos dependediretamente do tamanho da partícula, se muito grande (maior que 1000 micra dediâmetro geométrico médio) ocorre uma considerável perda pelas fezes. Quandomuito pequena (menor que 300 micra de diâmetro geométrico médio) não temosestudos em silagem, mas sabe-se que para milho seco causa ulcerações nas paredesdo aparelho digestivo dos suínos.

Os moedores podem ser de rolos ou de martelos. Os mais usados nas pequenaspropriedades são os de martelos porque atendem estas propriedades com a eficiência

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necessária para satisfazer a granulometria adequada em todas as fases dos suínos.Os animais jovens requerem granulometria menor que animais adultos.

Inoculação

Naturalmente os grãos de milho já vêm da lavoura com uma carga microbianacapaz de causar uma fermentação, mas isto não significa que todos estesmicroorganismos são benéficos e que estão na quantidade certa para promoveruma fermentação láctica, que é a desejada. Portanto a inoculação com bactériashomofermentatitvas, tais como: Lactobacillus plantarum, Streptococcus faecium,Pedicoccus acidilactici, etc., acelera o processo fermentativo, reduz o pH maisrapidamente, diminui perdas, aumenta a vida útil da silagem depois de expostaao oxigênio e mantém a ração fria por mais tempo, ou seja, a ração pronta deveser consumida num período nunca superior a 24 horas, sob pena de deterioração,conforme demonstrado no Tabela 6 através da elevação de temperatura (oC) que podeser usada como indicador de qualidade. A ração de silagem inoculada tem maiorestabilidade entre a mistura e o arraçoamento.

Tabela 6 — Evolução da temperatura (oC) de uma raçãofeita com silagem, inoculada, ensacada earmazenada a meio ambiente.

HORAData 8:00 12:00 16:00 20:0030/Mar/99 22 22 22 2231/Mar/99 23 23 25 2801/Abr/99 35 44 50 5302/Abr/99 47 46

Fonte: Perdigão Agroindustrial S.A., 1999.

A silagem mal feita pode permitir o desenvolvimento de bactérias anaeróbicaspatogênicas como o gênero Clostridium e se houver a presença de oxigênio podehaver o aparecimento de fungos que podem produzir toxinas. Quanto mais rápida fora diminuição do pH, melhor será a qualidade final da silagem, pois o pH em torno 4,0também ajuda a controlar estes microorganismos.

Uma silagem sem inoculante requer no mínimo 28 dias para abertura do silo, aopasso que uma silagem inoculada pode ser aberta em 8 dias e com a nova geraçãode inoculantes específicos para grãos úmidos, este período pode cair para 3 dias,conforme Tabela 7 onde mostra a evolução da temperatura em um processo desilagem inoculada. Quanto menos tempo a silagem permanecer aquecida, menoressão as perdas e assim que a temperatura da silagem voltar ao nível da temperaturaambiente esta já pode ser servida aos animais. A inoculação pode ser feita na águade rehidratação ou separadamente diluída em água e pulverizada sobre a massa acada camada de 10 cm de grãos de milho moído, quanto melhor for a distribuição doinoculante, melhor será a qualidade da silagem.

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Tabela 7 — Evolução da temperatura (oC)da massa de grãos de milhoúmido triturados, inoculados eensilados.

HORAData 8:00 12:00 16:00 20:0020/Mar/99 28 29 31 3121/Mar/99 32 31 31 3222/Mar/99 30 30 31 3123/Mar/99 30 30 30 -

Fonte: Perdigão Agroindustrial S.A., 1999.

Compactação da massa

A compactação da massa de milho úmido triturado tem por finalidade a diminuiçãodos espaços vazios e por conseqüência a redução da taxa de oxigênio, que por suavez vai diminuir a possibilidade de desenvolvimento de microorganismos aeróbicos.

A taxa de compactação é diretamente proporcional ao teor de umidade da massa,quanto maior a quantidade de água maior e melhor será a compactação, desde querespeitados os limites superiores de aproximadamente 40%. A adição de água limpa,não clorada, pode ser um artifício muito útil para regular o teor de umidade, uma vezque da lavoura podem vir grãos ou cargas de grãos com os mais diversos teores deumidade e para formular uma ração, seja com silagem ou com milho seco, o teorde umidade é de relevante importância, pois a água pode desbalancear uma raçãose estiver fora do padrão especificado. A adição de água em excesso comprometea silagem e pode danificar o silo. A falta de água, menos que 28%, dificulta acompactação e permite o desenvolvimento de fungos durante o início do processode silagem. A quantidade de água interfere diretamente no processo fermentativo,baixo teor de água causa fermentações indesejáveis, podendo até condenar a silagempara uso nas rações de suínos. O excesso de água prejudica o desenvolvimento dasbactérias homofermentativas, mas principalmente vai dificultar a mistura com os outrosingredientes no fabrico da ração, devido a agregação da silagem formando bolas.

Por último a compactação diminui o volume da massa e consequentementeaumenta a densidade, fazendo com que se armazene mais produto num mesmovolume, portanto a compactação deve ser considerada ainda na fase do projeto dosilo, pois este item altera a quantidade de produto estocado na unidade de volume.

Fechamento do silo

O ato da colheita mistura os grãos sadios com os grãos eventualmente contamina-dos por fungos, a colheita caracteriza - se como uma semeadura de microorganismos(patogênicos e benéficos) nos grãos, conhecendo - se a capacidade multiplicativadestes seres quanto antes terminar o processo de silagem melhor é a qualidade doproduto ensilado, porque enquanto existir oxigênio presente na massa os fungos tempredominância sobre as bactérias homofermentatitvas e isto diminui a digestibilidade,

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consome açúcares e pode aumentar o nível de micotoxinas. A inoculação é de grandevalia neste momento, o maior número de bactérias lácticas ajuda na concorrência comos fungos e as bactérias patogênicas.

Os fungos atacam os grãos quebrados no processo da colheita e transporte.Ainda antes da moagem os fungos já podem causar danos que podem ser notadosfacilmente através da elevação na temperatura da massa na carroceria do caminhão,na moega ou monte. Esta elevação de temperatura é devida a predominância defungos, que neste momento são estimulados a produzir muita micotoxina devido aosestresses a que estão sendo submetidos. Oito a dez horas após a colheita do milhoúmido já são suficientes para apresentar elevações de temperatura significativa.

O fechamento de um silo não precisa ser diário. Este pode ser enchido em váriosdias, desde que evite ficar mais de dez horas sem receber produto novo, de tal formaque proteja a camada de produto que antes estava exposta ao ar.

Durante o enchimento de um silo deve se trabalhar o maior número de horas pordia até o seu fechamento. Para passar de um dia para outro, colher milho o suficientepara triturar na mesma noite, não deixando milho colhido de um dia para triturarno dia seguinte. Quando terminar o volume a ser moído no dia, faz - se a últimacompactação, inocula e cobre - se com a lona. No dia seguinte, retira a lona, inoculanovamente e continua a operação como no dia anterior e assim se faz até o final dosilo, daí conclui - se que é possível encher o silo em vários dias. Na abertura do silopoderão aparecer algumas faixas escuras nestes intervalos, os quais informam queaqueles pontos permaneceram em contato com o oxigênio por mais tempo do quedeveriam, pois os fungos tiveram oportunidade para causar mudanças na coloração .Esta mudança generalizada caracteriza uma silagem de baixa qualidade, quanto maisescura, menor é a digestibilidade. Se o milho aquecer ainda em grãos e depois formoído vai produzir uma silagem escura (cinza ou marrom podendo chegar a preto).

A silagem caracteriza - se pelo fechamento hermético de todos os lados de talforma que esta não tenha contato com o ar ou a água de maneira alguma. Portantoassim que completado o volume planejado uma lona bem esticada deve ser colocadana superfície e então cobrir com 10 cm de areia, terra ou similar para manter a lonaaderida a massa ensilada durante todo o período de estocagem. As paredes lateraisna maioria das vezes, não requerem a colocação de lona, a não ser os silos muitonovos que ainda permitem a reação do cimento com os ácidos da silagem danificandoa parede do silo e deteriorando uma pequena camada de silagem próxima da parededevido a elevação do pH daquela porção.

Os detalhes construtivos do silo são muito importantes. As divisões, tantolongitudinais como transversais, devem estar de acordo com a capacidade de colheita,moagem e transporte para evitar pontos de estrangulamento.

O piso e as paredes devem ter a resistência suficiente para receber a compactaçãodos grãos moídos e com alta umidade. Um silo não deve ser enchido nos primeirostrinta dias após a sua construção, sob pena de afetar sua estrutura causar rachadurase até derrubar paredes. O reboco reforça as paredes e aumenta a resistência dosilo como um todo. A cobertura do silo é de vital importância, principalmente nosdias de chuva ou muito úmidos. A ausência de cobertura permite a formação delama de silagem com terra o que causa mau cheiro e permite o desenvolvimento demicroorganismos indesejáveis muito próximo da boca do silo. O silo sem cobertura,semelhante ao utilizado para bovinos, vem sendo usado, mas de forma alguma atende

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aos requisitos mínimos das exigências dos monogástricos. Os suínos são maisexigentes que os bovinos no tocante a qualidade da silagem. E a silagem de grãoúmido é muito mais perecível que a silagem de milho planta inteira.

Abertura do silo

Respeitado o período mínimo para o processo fermentativo, 28 dias sem inocular e8 dias inoculado, então o silo pode ser aberto, evitando pancadas para não desagregara silagem. Uma vez aberto o silo observar a temperatura, a qual deve estar próximada ambiente, se ainda estiver quente é sinal de que a fermentação ainda não secompletou e não deve ser administrada aos animais, sob pena de causar distúrbiosentéricos.

Na abertura, a coloração da silagem deve ser amarela, variando de tonalidade deacordo com o híbrido de milho usado e esta cor deve permanecer até o término dosilo.

No segundo dia após a abertura do silo já podem ser coletadas amostras paraanálises bromatológicas e de micotoxinas. A Tabela 8 mostra o resultado das análisesquímicas, pH, granulometria e valores de digestibilidade na base de matéria natural,assim como foi obtido no silo.

O cheiro é característico e agradável, predominando o sabor ácido. Odoresestranhos indicam silagem deteriorada ou em putrefação. Qualquer entrada de arou água causa apodrecimento seguido de mau cheiro, facilmente detectado. Estespontos tem cor e sabor diferentes que podem e devem ser separados visualmente enunca servidos aos animais. Os suínos possuem uma grande quantidade de papilasgustativas que lhes permitem identificar sabores estranhos nas rações, quando istoacontece eles podem rejeitar parte ou toda a ração, dependendo da fase do animal.

Retirada da silagem

A silagem quando exposta ao ar se torna um produto perecível devido ao alto teorde água livre em contato com seus componentes. Portanto depois de aberto o silo, oconsumo tem que ser contínuo, ou seja uma camada mínima de 10 cm tem que serconsumida diariamente. Por segurança uma projeto não deve usar a camada mínima,mas sim uma camada maior como margem de segurança, camada esta que varia deacordo com a flutuação do consumo do referido projeto de tal forma que nunca venhaa ser menor que a mínima.

O corte da silagem é sempre feito de cima para baixo na vertical diminuindo asuperfície exposta ao ar e evitando pancadas no silo. Após o corte a frente detrabalho deve ser protegida com um antifúngico na forma de pulverização e emseguida recolocar a lona protegendo a frente de trabalho de animais e adversidadesclimáticas.

Para transportar a silagem os equipamentos devem ser de materiais nãocorrosíveis, pois a silagem é ácida (pH = 4,0).

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Tabela 8 — Composição química, coeficiente de digestibilidade aparente da matériaseca e proteína bruta, valores de energia obtidos com suínos, pH etamanho das partículas de duas silagens de grão de milho.

Parâmetro Silagem A, Silagem B,matéria natural Matéria natural

Matéria seca, % 62,53 64,05Proteína bruta, % 5,31 6,26Extrato etéreo, % 2,65 2,72Fibra bruta, % 1,66 1,70Cinza, % 0,78 0,89Cálcio, % 0,003 0,010Fósforo total, % 0,16 0,17Cobre, mg/kg 3,83 5,27Ferro, mg/kg 28,93 41,82Manganês, mg/kg 2,94 7,00Zinco, mg/kg 23,60 22,80Triptofano, % 0,03 0,04Lisina, % 0,17 0,19Treonina, % 0,17 0,21Serina, % 0,23 0,31Cisteína, % 0,18 0,20Valina, % 0,24 0,29Metionina, % 0,16 0,19Coeficiente de digestibilidade aparente da MS, % 88,42 ± 1,08 89,05 ± 1,09Energia digestível suínos, kcal/kg 2545 ± 50 2641 ± 54Energia metabolizável suínos, kcal/kg 2457 ± 64 2556 ± 74Diâmetro geométrico médio, mm 1236 954pH ao início do ensaio de metabolismo 3,99 4,00pH ao final do ensaio de metabolismo 3,98 4,00

Fonte: Lima et al. (1998).

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Mistura da ração

Primeiramente, A RAÇÃO TEM QUE SER MISTURADA TODOS OS DIAS, poisa silagem tem alto teor de umidade o que a caracteriza como um produto perecível,não é passível de armazenagem a meio ambiente na presença de oxigênio por maisde 24 horas. A silagem uma vez exposta ao oxigênio, mesmo sem ser misturadaaos outros ingredientes, ela tende a deterioração. A melhor recomendação é cortar asilagem, fazer a mistura e o mais rápido possível servir aos animais, isto garante umaalimentação de alta qualidade e com palatabilidade. Os animais preferem a raçãofresca. O dimensionamento do silo deve ser feito de acordo com este consumo diário.

A mistura da ração com silagem pode ser feita manualmente, quando em pequenasquantidades e no misturador vertical ou horizontal, quando em grandes quantidades.Um misturador nunca deve trabalhar com menos que 20% (vinte por cento) da suacapacidade máxima, sob pena de comprometer a qualidade da mistura.

A avaliação da mistura só pode ser feita por técnicos especializados e baseada naanálise bromatológica dos ingredientes, com um número mínimo de três repetições.Quanto menor for a variação entre cada repetição, melhor é a qualidade da mistura.

Arraçoamento dos animais

O arraçoamento depende diretamente da fase em que se encontra o suíno. Cadafase exige uma formulação de ração específica, pois as exigências nutricionais variamde muitas formas, principalmente devido ao tamanho do animal e a finalidade a queele se destina. A silagem pode ser servida em todas as fases e tamanhos dos suínos,bastando para isto que se faça uma formulação adequada para cada fase, levando emconsideração as características específicas da silagem.

Da maior importância neste processo é a qualidade dos ingredientes, não somenteda silagem, mas também dos outros componentes da ração. Sempre que necessárioe possível recomenda - se uma análise bromatológica destes outros ingredientes etambém da ração pronta para se certificar de todo o processo.

Durante o arraçoamento o tratador ou técnico pode observar o comportamento dosanimais e então avaliar se existe algum comportamento diferente entre eles. A raçãocom silagem não pode ser servida em excesso, pois se sobrar no cocho esta deteriorae os animais vão rejeitá-la. Portanto entre uma tratada e outra os animais tem queconsumir toda a ração servida , porém não pode faltar, pois a falta também é prejudiciale é um dos principais fatores que contribuem para diminuição da uniformidade do lotee consequentemente diminui a tipificação de carcaça.

Literatura citada

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SELECTION FOR REPRODUCTION AND PIGLETSURVIVAL

Egbert F. Knol1 Arjan Neerhof2

1Geneticist, Ph.D., IPG, Institute for Pig Genetics,PB 43 6640 AA Beuningen, the Netherlands; [email protected]

2Geneticist, M.Sc., TOPIGS International, PB 86 5268 ZH, Helvoirt, the Netherlands;[email protected]

1 Introduction

Selection for litter size in the pig is possible. The review of Haley et al. (1988) canbe regarded as the end of the discussion. Over time genetic parameters have beencalculated for different lines and different parities (e.g. Irgang et al., 1994), all refiningthe idea that selection for litter size is possible. Selection for litter size is not withoutproblems, however. One of the best examples is the classic selection experiment inNebraska (Johnson et al, 1999), where 14 generations of selection to increase littersize were performed, mostly on an index of ovulations and prenatal survival. Thisresulted in a sizeable response in number of ovulations, in an interesting and significantincrease in number of live born piglets per litter and in a (non significant) decreasein number weaned per piglet, indicating a concomitant increase in mortality. If thisexperiment is exemplary for selection programs of breeding companies then litter sizewill increase, but problems in piglet mortality also and the net result might be negative.

An important explaining factor for the net zero result in the selection experiment isthe negative genetic correlation between litter size and piglet survival. E.g. Hanenberget al. (2001) found positive genetic correlations between litter size and numberstillborn and negative correlations between litter size and mothering ability, resultsbeing consistent over parities.

In this article we would like to give an update on current research resultsand possible approaches to realise a substantial and sustainable genetic trend inreproduction.

2 Definitions and complications

Important genotypes for reproduction are the genotype of the sow, of the boar, ofthe piglet and of the nurse sow. Genetic analysis of litter size is mostly done using thegenotype of the sow, but the genotype of the service sire is known to be important. Astillborn piglet is a piglet found ’dead and wet behind the sow’, but it is rarely known ifit died before, during or after the real expulsion process. A piglet might well be aliveat birth, but crushed within a few minutes and consequently be addressed as stillborn.In Brazil the percentage of stillborn piglets appears to be lower than in other countries,probably due to the labour situation. Crossfostering is a non-random process; smalland/or weak and/or heavy and/or strong piglets are crossfostered in order to maximise

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the average survival of the piglet. A sow with a high mortality record might haveproduced low quality piglets or might have received low quality piglets or might have alow mothering ability.

In this article we will use vitality (%) for the survival quality of a piglet, motheringability (%) for the potential of a sow to raise piglets, farrowing survival (%) as thecomplement of stillbirth, and similarly preweaning survival (%) as the complement ofpreweaning mortality. Finally, piglet survival is the survival probability of a piglet fromlate gestation to weaning and is thus the mathematical product of farrowing survivaland preweaning survival. Farrowing survival is the percentage of fully formed foetusesthat survive the farrowing process.

3 Birth weight and combined selection for litter sizeand birth weight

The relation between birth weight and survival has been studied and reported bymany authors (e.g. Fireman and Siewerdt, 1997). There is a fair agreement thatsurvival chances of a piglet drop quite dramatically below 1.00 kg, with an exceptionof piglets born from Chinese sows. Figure 1 is just an example and taken from ourown work (Knol, 2001). It is almost impossible not to come to the conclusion thatpiglet survival will benefit from a genetic increase in birth weight. Or in other words,this very strong, clear and often repeated phenotypic relation between birth weight andsurvival must result in a similar genetic relation. This will make a selection strategy forincreased litter size and, simultaneously, increased birth weight necessary.

Birth weight is heritable and should be modelled with a direct/maternal model.In such a model most of the genetic variation by far stems from the maternal effect(Roehe, 1999), indicating that the sow is responsible for the weight of the piglets andthat the service sire, the father of the piglets is quite irrelevant for the size of the piglets.

We derived genetic para-meters for a number of reproduction traits, which werefound consistent with literature values. Then we simulated a 9 year 50%/50% selectionstrategy (strat. 1) on litter size and birth weight (Knol, 2001) and found a zero expectedtrend for litter size, a zero trend for survival (!), and a 300 g increase in birth weight(Table 1), and concluded that selection for birth weight will not increase survival, butwill counteract the selection for litter size.

4 Genetic variation in survival traits

Piglet survival is a difficult trait to analyse because of the binary nature of the trait.There are only two options, a piglet is alive at weaning or it is dead. A piglet can havegood genes for survival but be crushed by accident by the sow, or, another, piglet canhave bad genes, but can be saved by a loving caretaker. Therefore large numbersof observations and good statistical models are necessary for a proper analysis atindividual piglet level. After applying these models, genetic variation in survival traitsappears to exist, with low heritabilities, but interesting genetic variation, indicating thatselection for increased survival is a realistic possibility.

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Figure 1 — Phenotypic relation between birth weight and pigletsurvival.

Problems arising from the binary nature of piglet survival are smaller when analysedat the litter level, heritability of survival is then around 0.05 (see e.g. review ofRothschild and Bidanel, 1999).

Other proof of the heritability of survival traits can be found in Siewerdt andCardellino (1996), Grandinson et al. (2000) and Lund et al. (2000).

5 Combined selection for litter size and survival

Currently the TOPIGS data set on piglet survival consists of some 600.000observations on individually weighed and crossfostered piglets and is analysed witha direct/foster sow model, which results in breeding values for vitality for the pigletsand breeding values for mothering ability for the sows. Since both breeding valuesare estimated simultaneously they are corrected for one another, taking care of thenon random nature of crossfostering (a gilt with an excellent udder might receive alot of small and weak piglets and wean most of them. If some of the piglets die thebreeding value of the gilt for mothering ability will drop, unless the quality of the pigletis accounted for).

In Figure 2 a large group of piglets is divided into a high and a low group on the basisof their pedigree breeding value for survival. The genetic high group of piglets survivedsignificantly better than the low group at almost every birth weight. Interestingly thereis some evidence that selection for increased survival will lead to fewer very heavypiglets, therefore increasing uniformity.

This decrease in variation in birth weight can be found also in a frequency decreaseof very heavy placentas in sows carrying piglets of a high genetic merit.

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Figure 2 — Phenotypic relations between birth weight and pigletsurvival for a genetic high survival and a genetic lowsurvival group of piglets.

Back to the primary question of substantial and sustainable genetic trend. Aselection strategy was simulated for an index based on litter size and survival (seeTable 1). This strategy (strat. 2) will result in a moderate increase in total born per litter,a decrease in number stillborn, a decrease in preweaning mortality and in a sizeableincrease in number weaned per litter. Birth weight will decrease, but uniformity in birthweight will increase.

6 Some challenge in finishing traits

Leenhouwers (2001) studied the biological aspects of genetic differences in pigletsurvival and found increased stomach and intestinal weights in piglets with a highgenetic merit for survival. We ourselves (Knol, 2001) found indications of increasedfeed intake, increased gain and somewhat increased lipid deposition during finishingwhen selecting for increased survival, which would fit the increased stomach findingsvery well.

More indications of a relation between increased survival and higher fatness canbe found in literature (e.g. Mersmann et al., 1984; McKay, 1993; Kerr and Cameron,1995). This would be a second challenge, after the increased litter size discussion, inrealising a substantial and sustainable genetic trend in reproduction.

Leenhouwers (2001) found, as the most striking difference between high and lowgenetic merit animals, a highly significant difference in cortisol in piglets of 112 daysof gestation. Differences in cortisol are known to affect lung maturation and glycogensynthesis, both important for early survival.

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Table 1 — Current production level in the Netherlands,expected level following selection for littersize and birth weight (Strat. 1) and fol-lowing selection for litter size and survival(Strat. 2).

Current Strat. 1 Strat.22001 2010 2010

Total number born 12.20 12.26 12.80Live born 11.30 11.22 12.11Stillborn 0.90 1.04 0.69% preweaning mortality 12.90 12.78 10.98Piglet survival 80.3 79.8 84.2Weaned per litter 9.80 9.79 10.78Birth weight 1.45 1.74 1.39Variation in birth weight 280 310 268Litter weight 17.7 21.3 17.8

Understanding the mechanism and knowing the genetic parameters simulation ofselection on a balanced index revealed good possibilities of a simultaneous geneticimprovement of finishing traits and piglet survival.

7 Current use of molecular genetics

Worldwide, a huge effort in time and money is put into understanding the animalgenome. Techniques and hypotheses from this work are also tested in the field ofpig reproduction. Two interesting approaches in this field come from the group whoperformed the 14-generation selection experiment in Nebraska. Their first approachwas to test 6 candidate genes in the field of reproduction (Linville et al., 2001) and theirsecond to perform a marker scan for reproduction traits (Cassady et al. 2001), bothusing the high/low selection line animals. Both approaches did not yield evidence thata few simple genes might explain a substantial part of the variation in reproduction.Reversibly, two candidate genes with a high expectation for reproduction, ESR andPRLR, have been studied in great detail (van Rens, 2001). It was concluded that ESRis probably not the causative mutation, but a marker for litter size and that PRLR isprobably a major gene for ovulation rate than for litter size.

“. . . Further more, results of the present thesis are an example of marker alleleshaving positive and negative effects at the same time, making it difficult to use themarker for selection. The favorable PRLR allele for litter size for example, appears tobe the unfavorable allele for age at first estrus and litter average of teat number of thepiglets. This problem seems to be a biological reality animal scientist will have to livewith. It clearly demonstrates the importance of physiological research parallel to andcoherent with the search for QTLs and markers for any trait. ” (van Rens, 2001)

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Molecular genetics will, in the future, result in genetic improvements, but the limitingfactor at present might be our insufficient understanding of the reproductive processes,making it difficult to search for the proper candidate genes. For now we have to settlefor a marker approach with the tedious work of establishing the marker-trait relationsfor each population and repeating this analysis every now and then.

8 Summary and conclusions

Reproduction traits are heritable, even piglet vitality and mothering ability. Geneticprogress can be made for each trait. The challenge lies in the unfavourable geneticcorrelations, among which litter size and piglet survival and piglet survival and finishingtraits. Quantitative genetics using a properly designed index will realise substantial andsustainable genetic trend.

In the future molecular genetics will help to increase this trend. Current findings inmolecular genetics and probably our current understanding of the interactions betweentraits are not sufficient to expect large steps from molecular genetics within the next fewyears.

We expect, for the coming 10 years, a sound genetic trend of a quarter pigletweaned per sow per year, with lower mortality and stronger piglets if quantitativeselection is practised on an index of litter size and piglet survival.

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HOMEOPATIA: UMA ALTERNATIVA NASUINOCULTURA

Erlete Rosalina Vuaden

Médica veterinária – aluna do curso de homeopatia na FACIS – IBEHEe-mail: [email protected]

Uma especialidade da medicina humana desenvolvida no século XVIII pelo MédicoAlemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann (10/04/1755 - Meissen), a homeopatiatem como base uma filosofia vitalista através do qual todo ser vivo possui uma energiaque o mantém vivo, a energia vital.

Método científico para tratamento e prevenção de doenças agudas e crônicas ondea cura acontece pôr meio de medicamentos que estimulam o organismo em seufuncionamento intrínseco, a homeopatia fortalece os mecanismos de defesa naturaise propõe uma cura de dentro para fora, já que o medicamento homeopático contémuma dose infinitesimal da própria doença. O semelhante cura o semelhante.

O nascimento da homeopatia se deu quando Hahnemann ficou indignado com ofato do médico escocês Willian Cullen atribuir a eficiência terapêutica da droga quinaao seu efeito tônico sobre o estômago dos pacientes acometidos de malária. Nãoconcordando com essa hipótese resolveu fazer experiências ingerindo vários diascerta quantidade de quina. Para sua surpresa passou a apresentar uma série desintomas típicos de malária. Ao suspender o uso da ’droga’ sua saúde voltava anormalidade. Deveria haver, portanto, uma identidade entre doença e a droga ingerida.“Num homem sadio dá os sintomas da doença”. Este resultado vem confirmar a leidos semelhantes que já era um adágio hipocrático (Hipócrates - considerado o pai damedicina) similia similibus curanter. O medicamento homeopático deve ser único peloseu princípio de similitude, ele deve cobrir a totalidade dos sintomas apresentados pelodoente, em caso de dois ou mais medicamentos em uso simultâneo, fica impossíveldeterminar, cientificamente, qual foi responsável pela cura. Entretanto, na prática, nemsempre é possível encontrar o simillimum.

A homeopatia na medicina veterinária é praticada de forma muito semelhante àaplicada na humana. Em ambos os casos ela é uma opção de tratamento que poderesolver o parece insolúvel. Ela pode fazer muito pelos suínos, pois não trata apenasdoentes leves ou crônicos, como também aqueles considerados graves e agudos.Enfim, qualquer doente curável pode ser tratado com homeopatia.

A cura vai depender do estágio em que se encontra a doença. Se sua manifestaçãoé recente, a resposta à homeopatia será mais rápida e vice versa. “Em um caso agudode crise inflamatória, por exemplo, a ação homeopática é instantânea e dependetotalmente do estímulo. Já os quadros crônicos demoram mais para serem tratadose apesar de surpreender curando doenças que os veterinários alopatas avaliaremincuráveis, devemos lembrar que a homeopatia não faz milagres e nem descarta apossibilidade de outras intervenções terapêuticas.

Os medicamentos homeopáticos atuam reequilibrando a energia vital dos seresvivos, ou seja, a energia responsável pela manutenção da vida e da harmonia dasfunções fisiológicas do organismo.

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A granja de suínos é tratado como um todo (genio epidemis). Sua estrutura enatureza são analisados. Não são tratados as doenças e sim os suínos doentes, oque resulta em medicamento par cada granja e não um medicamento, pôr exemplo,para a encefalite estreptocócica.

Durante o tratamento homeopático pode haver intensificação passageira dossintomas ou aparecimento de reações naturais de defesa. Estas reações devem seracompanhadas pelo veterinário que saberá se elas são reações de melhoria ou não.

Nem sempre é possível identificar o medicamento e potências corretas em poucasconsultas (visitas). Este é um trabalho de estudo e observação mesmo porque ossuínos não reclamam de dor em algum órgão específico.

Outra função da homeopatia é a de prevenir o aparecimento de doenças (reduzira predisposição à doenças), ela é capaz de restabelecer o equilíbrio antes quesujam lesões em órgãos e tecidos, valorizando os sintomas mentais e sensoriais(comportamento), que são os primeiros a surgir. O suíno só adoece quando suaenergia vital está em desequilíbrio energético para depois se refletir nas sensaçõesdos tecidos (exceção de traumatismos físicos).

Com certeza a homeopatia pode ajudar muito a suinocultura, mas cabe ao criadorfazer sua escolha do tratamento, já que o suíno não sabe reclamar de dor e nemescolher o tratamento que prefere.

Homeopatia na Granja Querência

Tudo começou com a confirmação da cura de funcionários da granja Querênciapelo tratamento da homeopatia (doentes que vinham sendo tratadas pôr muito tempoe com pouca resposta, consultando um médico homeopata e se tratando conformesua orientação foram rapidamente curados).

Em primeiro lugar começamos com ajuda de veterinários homeopatas de grandesanimais, em seguida comecei minha especialização e assim foi introduzida em 10 deabril de 2001 a homeopatia na Granja Querência, foram retirados todos os antibióticose promotores de crescimento.

A granja sempre teve todos os controles sorológicos realizados semestralmentee/ou anualmente, e para nossa confiança todos com resultados negativos.

No início começamos com medicamentos homeopáticos (produzidos pelo labo-ratório homeopático veterinário flora e fauna) para controlar o “strees do desmame”,facilitador de parto, diarréia de maternidade, doenças respiratórias, endo e ectopara-sitas, descargas vulvares.

Usando estes medicamentos, a granja começou a mostrar as doenças que nelarealmente existiam (muitas enfermidades subclínicas estavam sendo mascaradasdevido ao uso contínuo de antibióticos ou mesmo promotores de crescimento).

A primeira doença que apareceu clinicamennte foi Erisipela mostrando todasintomatologia e sendo confirmada com seu isolamento (crescimento em laboratório).Neste caso recorremos com tratamento de auto-nosódios (medicamento homeopáticopreparado a partir de produtos patológicos provenientes de animais). Como era umadoença crônica existente na granja foi tratada num período de 07 meses. Hoje osproblemas reprodutivos foram resolvidas, principalmente os “micro - abortos”.

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Outra enfermidade que nos surpreendeu foi o aparecimento de salmonelose nasfases de crescimento e engorda que foi controlada com o uso de seu auto-nosódios.

O nosso grande desafio era o controle da meningite estreptocócica que hoje é umadas nossas maiores satisfações no uso da homeopatia na suinocultura “Querência".As respostas foram muito rápidas para controle desta enfermidade.

A granja tinha problema muito sério com rinite atrófica (grau 03), isso com usocontínuo de antibióticos e vacinação de matrizes e leitões. Depois do tratamentohomeopático realizado durante 06 meses, estamos com grau 01.

Obtivemos ótimos resultados nos tratamentos para descargas vulvaresna gestação como nos corrimentos pós-partos.

A tranqüilidade que hoje temos na maternidade usando o medicamentos ho-meopáticos no momento do parto é satisfatória. Os partos acontecem normalmente(não trabalhamos mais com indução) em casos de partos distócicos usamos o método“plus” da homeopatia, e as respostas são sempre positivas.

Conhecendo melhor nossas matrizes e assim usando sue medicamento “o seusemelhante” teremos muita harmonia e equilíbrio nelas, por isso tudo fica fácil nomanejo da maternidade.

O controle das diarréias do plantel foi uns dos primeiros resultados positivos quealcançamos com a homeopatia.

Hoje estamos com os suínos da granja Querência com bom equilíbrio de sanidadee isso faz com continuamos cada vez mais confiantes aos tratamentos da homeopatiae faremos uso desta para o início da produção de carne orgânica.

Referências Bibliográficas

FONTES, O. L. Farmácia Homeopática. 1ed. 2001.HAHNEMANN, S. Organon da arte de curar. 2ed. bras. 1995. Ribeiro, A. RepertórioHomeopático. 2ed. 2000.LATHOUD, J. A. Matéria Médica Homeopática. Editora Organon, 2001.

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