seminário francisco de assis por anderson

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Feito para o seminário realizado em novembro de 2012. Em que buscamos publicizar a espiritualidade franciscana, a mística e e a ecopedagogia.

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Apresentação de Anderson F. Santos

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622. Confiou Deus a certos homens a missão

de revelarem a Sua lei?

“Indubitavelmente. Em todos os tempos

houve homens que tiveram essa missão.

São Espíritos superiores, que encarnam com

o fim de fazer progredir a Humanidade.”(O Livro dos Espíritos)

Page 4: Seminário francisco de assis por anderson

Versos tentando caminhar nas trilhas de São

Francisco

Irmão que viveste na úmbria

Acende estas palavras com a tua sombra

silenciosa companheira

Fazendo-nos amar os caminhos

Desconfia das pedras e ama os pássaros

Ensina tua alma amiga a gostar dos ventos

Vive profunda, indefesamente , a ciência

da esperança

Ela é fiel, e a mais lúcida de tuas irmãs

Ela vive a medida da desmedida

E ousa contemplar o segredo do tempo

Page 5: Seminário francisco de assis por anderson

Ensina a teus passos caminhar nos

sonhos

Quando vier a hora definitiva

Estarás mais próxima

Não temas a proximidade da morte

Guarda tua emoção como louvor à

grandeza da vida

Quando vês um pobre

Ele te julga... tu te julgas

DEUS te julga: é a hora da

misericórdia

Page 6: Seminário francisco de assis por anderson

A bondade, esta fecunda imensa existência na

qual a vida chega

a se abraçar com a morte...a fim de vencê-la

Só te inclines diante de DEUS

Ou diante de alguém que sofra

O resto é idolatria

Estamos na travessia

Sofre-te e alegra-te com a inquietação das

águas

Admira a beleza do mar e não sejas tonta em

pedir às vagas e espumas

a quietude de um porto

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Vives o tempo da coragem, a música do

risco

Teu sangue nas veias ignora o que seja a

imobilidade

E por isso vives

E essa é a mais fiel imagem do Infinito

e Ardente Cristal

O tempo assiste a luta entre o afeto e o

medo

O tempo te desafia clamando: abraça-me

ou adormece

Amar

Único verbo a mover-se sobre a ofuscante

certeza da eternidade

Page 8: Seminário francisco de assis por anderson

Irmão que um dia viveste na úmbria

senhor irmão aceso pelo amor

incandesce os nossos caminhos

mas tão profundamente, que possamos amar as

sombras

E sem ódio ou temor

ver as estrelas perdidas no deserto olhar do

lobo.

JOSÉ PAULO, primavera de 1981( Apud Leonardo

Boff, Ternura e vigor, vozes, 1982.)

Page 9: Seminário francisco de assis por anderson

O itinerário espiritual de Francisco também decorreu ao longo de 20 anos – entre os 25 e os 45, idade com que morreu em 3 de Outubro de 1226 – e desenvolveu-se num clima denso de interioridade, com bastantes retoques originais.

Page 10: Seminário francisco de assis por anderson

"A vida de Francisco Bernardone (o verdadeiro nome foi

Giovanni, mas o pai, rico mercador que freqüentemente

visitava a França, chamou o filho de "Francesco", isto é,

francês)" - di-lo G.D. Leoni (1) - "é bastante conhecida; nem tem muito interesse para a leitura dos "Fioretti". Todavia, eis as datas fundamentais: nasce em Assis (26 de setembro de 1182), na região italiana da Úmbria; passa a juventude na alegre companhia de amigos, até que uma doença o faz refletir sobre a fraqueza humana (1206): no mesmo ano outros sinais premonitores convertem definitivamente o jovem, que renuncia aos bens paternos e torna-se "esposo da obediência e da pobreza"; e se dedica à pobreza, à meditação, ao apostolado. Alguns companheiros o seguem (1209): Bernardo de Quintavalle, Pietro Cattani, Egídio de

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"A vida contemplativa o Santo substitui agora a

vida ativa: organiza a Ordem, manda os primeiros

missionários à França, Alemanha, Hungria, Espanha,

Tunísia, Marrocos (onde se imolam os primeiros mártires) e

ele mesmo embarca para o Oriente (1219-1220), indo

evangelizar o Egito e visitando a Palestina. VOlta à Itália,

reorganiza a Ordem regular, institui a Ordem Terceira

(1221), percorre a Península, pregando a humildade e a

austeridade num ambiente cada vez mais corrupto e agitado.

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"Mas o grande esforço das viagens e as rígidas penitências enfraquecem o corpo do Santo: começam o sofrimento e a glorificação terrena. Em 1224 recebe os Estigmas; um ano depois dita o "Cântico das Criaturas"; sofre com alegria, aconselha com piedade, morre serenamente, ao pôr do sol do

dia 4 de outubro de 1226, com quarenta e quatro anos."

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Para refletirmos a espiritualidade de São Francisco, se faz necessário buscarmos conhecer as suas qualidades humanas, aquela que, no processo de busca e de conversão para o Cristo, foram aprimoradas pela graça de Deus.

Francisco era homem de uma inteligência transformadora, realizadora, intuitiva, possuía um coração generoso, livre, delicado. No seu agir, prevalecia seu temperamento ativo, concreto, afetivo, sensível e poético. Tudo isto é o ser de Francisco tudo foi orientado e robustecido por uma ideia que tomou conta dele com força divina: voltar ao evangelho.

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A espiritualidade de Francisco, é portanto, um caminhar constante na identificação com Cristo.

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[Disse Jesus:] Deixai vir os pequeninos a mim e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele(Marcos 10:14-15).

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• INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

• I – Deixai Vir A Mim Os Pequeninos –JOÃO O Evangelista, Paris, 1863

• 18 – Disse o Cristo: “Deixai vir a mim os pequeninos”. Essas palavras, tão profundas na sua simplicidade, não fazem apenas um apelo às crianças, mas também às almas que gravitam nos círculos inferiores, onde a desgraça desconhece a esperança. Jesus chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os fracos,osescravos, os viciosos.

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• Ele nada podia ensinar à infância física, presa na matéria, sujeita ao jugo dos instintos, e ainda não integrada na ordem superior da razão e da vontade, que se exercem em torno dela e em seu benefício. Jesus queria que os homens se entregassem a ele com a confiança desses pequenos seres de passos vacilantes, cujo apelo lhe conquistaria o coração das mulheres, que são todas mães. Assim, ele submetia as almas à sua terna e misteriosa autoridade.

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• Ele foi à flama que espancou as trevas, o clarim matinal que tocou a alvorada. Foi o iniciador do Espiritismo, que deve, por sua vez, chamar a si, não as crianças, mas os homens de boa-vontade. A ação viril está iniciada; não se trata mais de crer instintivamente e obedecer de maneira mecânica: é necessário que o homem siga as leis inteligentes, que lhe revela a sua universalidade.

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(...)Nós vos mostraremos a correlação poderosa, que liga o que foi ao que é. Eu vos digo, em verdade: a manifestação espírita se eleva no horizonte, e eis aqui o seu enviado, que vai resplandecer como o sol sobre o cume dos montes.

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• UM ESPÍRITO PROTETOR

• Bordeaux, 1863

• 19 – Deixar vir a mim os pequeninos, pois tenho o alimento que fortifica os fracos. Deixai vir a mim os tímidos e os débeis, que necessitam de amparo e consolo. Deixai vir a mim os ignorantes, para que eu os ilumine. Deixai vir a mim todos os sofredores, a multidão dos aflitos e dos infelizes, e eu lhes darei o grande remédio para os males da vida, revelando-lhes o segredo da cura de suas feridas. Qual é, meus amigos, esse bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a todas as chagas do coração e as curas? É o amor, é a caridade! Se tiverdes esse fogo divino, o que havereis de temer? A todos os instantes de vossa vida direis: “Meu Pai, que se faça a tua vontade e não a minha! Se te apraz experimentar-me pela dor e pelas tribulações, bendito seja! Porque é para o meu bem, eu o sei, que a tua mão pesa sobre mim. Se te agrada, Senhor, apiedar-te de tua frágil criatura, dar-lhe ao coração as alegrias puras, bendito seja também! Mas faze que o amor divino não se amorteça na sua alma, e que incessantemente suba aos teus pés a sua prece de gratidão”.

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Esta identificação de Francisco com Cristo, é que estabelece sua comunhão com o mundo dos pobres, colocando se a serviço deles: “amava sempre os pobres e mostrava-se Pai de todos os mendigos” ( Tomás de Celano). Tinha grande predileção para com “os pequeninos” incluindo neste termo, todas as misérias do homem, tanto a do pobre como a do doente, do desiludido, do desventurado, do infeliz aos quais desejava levar, além dos cuidados materiais e do conforto físico, a grandeza do dom de Deus. Francisco entra no meio dos homens de tal maneira que nenhum homem, nem mesmo o mais insignificante, lhe passa despercebido.

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"Não amemos de palavra, nem de língua,

mas por obras e em verdade." - João. (I João, 3:18.)

Por normas de fraternidade pura e sincera, recomenda

a Palavra Divina: "Amai-vos uns a outros."

Não determina seleções.

Não exalta conveniências.

Não impõem condicionais.

Não desfavorece os infelizes.

Não menoscaba os fracos.

Não faz privilégios.

Não pede o afastamento dos maus.

Não desconsidera os filhos do lar alheio.

Não destaca a parentela consanguínea.

Não menospreza os adversários.

E o apóstolo acrescenta: "Não amemos de palavra,

mas através das obras, com todo o fervor do coração."

O Universo é o nosso domicílio.

A Humanidade é a nossa família.

Aproximemo-nos dos piores, para ajudar.

Aproximemo-nos dos melhores, para aprender.

Amarmo-nos, servindo uns aos outros, não de

boca, mas de coração, constitui para nós todos o

glorioso caminho de ascensão.

Emmanuel

(extraído do livro "Vinha de Luz"- Francisco Cândido Xavier)

AMAI-VOS

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Francisco, num movimento incessante, unifica tudo em Deus, vai de Deus aos homens e dos homens a Deus. Francisco de Assis amava todos os homens em Deus e cada homem por si mesmo e em si mesmo.

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622. Confiou Deus a certos homens a missão

de revelarem a Sua lei?

“Indubitavelmente. Em todos os tempos

houve homens que tiveram essa missão.

São Espíritos superiores, que encarnam com

o fim de fazer progredir a Humanidade.”(O Livro dos Espíritos)

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“Com Francisco voltou a primavera de Jesus Cristo ao mundo.”

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Os homens que se santificam inspirados no Cristo, são sempre atuais. Eles rompem os limites do tempo e se fazem contemporâneos de cada tempo e de cada homem que está em busca da espiritualidade.

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CARTA DA TERRAEstamos diante de um momento crítico na história da Terra,

numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.

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• A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva como uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

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Francisco mostra uma outra estrutura para lidar com o planeta, assentado não na disputa, mas na ternura, não nos holofotes, no orgulho, na tirania das opiniões fechadas, mas no coração.

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A alma inspirada em Francisco não se orienta em atropelar os outros, priorizar coisas e não pessoas, mas em aproximar corações.

Longe de ser poesia piegas é atitude radical, definitiva e unilateral.

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O sentido da vida humana não se orienta em criar riquezas, mas fraternidade. Assenta-se não no ter, mas no ser. E ser com os outros e não ser mais que os outros.

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A mística franciscana nos inspira a um caminho de interação cósmica com a realidade, pois faz-nos lembrar do que sempre fomos e sempre seremos - unos com toda a teia da Vida.

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"Todas as trevas do mundo não podem apagar uma vela acesa"

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Compaixão, não como palavras ditas mas como sentimento. Pois a Fraternidade é uma lei cósmica e não um mandamento.

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Perceber que o laço que une os homens, não são dogmas, imposições, bulas ou rituais. Há um elo real que une toda a Criação. Essa força que integra nossos átomos, que segura os universos, que nos permite existir, pensar, agir. Isso é real.

Unidos não só todos os homens, mas tudo que existe no universo inteiro. Essa fraternidade, essa interligação é real. Ocorre agora, já. inteiro em um grande conjunto.”

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É um elo de união tão universal e abrangente que nenhum homem ou partícula - dos homens aos animais, das folhas de grama aos átomos -pode ficar fora da sua luz.

Francisco tem essa percepção. Essa interconexão. Que nos une à todos.

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ECOLOGIA – de onde vem essa palavra e o que significa

Formada por duas palavras gregas, oikos que significa casa e logos ciência, ecologia é a parte da biologia que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente enquanto que os ecossistemas são os grupos de seres vivos que habitam determinada região e são separados em flora, fauna e microorganismos além dos fatores físicos que compõe o ambiente como a atmosfera, o solo e a água.

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ECOLOGIAJá na antiguidade, nos primeiros documentos

escritos, obra dos Sumérios (4.000 a.C.), constavamnormas jurídicas sobre irrigação de lavourasdispostas em forma de terraços , ou seja, ao quetudo indica “as primeiras leis da humanidade, fixadaspor escrito, são códigos que regulam o uso daágua”.Podemos perceber, com isto, que a preocupação

com a água, assim como muitos dos demaisaspectos da causa ambiental, não é ofício recentedo atual século. Mesmo que não utilizassem oconceito atual, já existiam sinais claros da práxis.Em linhas gerais, a história do ser humano é, emgrande parte, a história de sua relação com oambiente.

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ECOLOGIA

Equivale a um interesse global, uma questão de vida emorte da humanidade e de todo o sistema planetário.

O termo ecologia: cunhado pelo biólogo Ernst Haechelem 1866.

"O estudo da interdependência e da interação entre osorganismos vivos (animais e plantas) e o seu meioambiente (seres inorgânicos)".

Hoje: o conceito ultrapassa o horizonte dos seres vivose o exclusivo domínio da natureza.

Passa a representar "a relação, a interação e adialogação que todos os seres (vivos ou não) guardamentre si e com tudo o mais que existe", abarcandotambém nisso o universo humano, e o universoespiritual e o Cosmos.

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ECOLOGIA

Dom Pedro II, em 1861, ordena plantar a Floresta daTijuca para a garantia de água ao Rio

de Janeiro, que já sofria sérias ameaças dosdesflorestamentos das encostas dos morros.

14

Em 1869

o cientista alemão Ernst Haeckel, propõe a ciência“Ecologia” para os estudos das relações entre os

seres vivos e sua “casa”. Em 1872 é criado o primeiroparque nacional do mundo, o Yellowstone,

nos EUA. Em 1876, o brasileiro André Rebouças sugerea criação de parques nacionais na Ilha de

Bananal e em Sete Quedas, Brasil. J

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ECOLOGIA

Com o passar da história, o advento do cristianismo, coma revolução industrial e, mais

recentemente, com a oficialização do paradigmacartesiano-newtoniano, as relações em geral

sofreram profundas mudanças, onde os sinais ecológicose psicológicos, hoje, confirmam esta

realidade, tais como a depressão, solidão, perda desentido na vida, a violência e ganância

generalizada da humanidade e os problemas ecológicoscomplexos e sistêmicos como efeito estufa,

buracos na camada do ozônio e lixo nuclear. Estamosvivendo o momento talvez mais importante

da história do planeta e da civilização humana. Nóssomos quem escolhemos: aproveitar as ricas

oportunidades de crescimento pessoal e grupal ou ficarimerso na negatividade do pessimismo

apocalíptico.

Page 42: Seminário francisco de assis por anderson

Nos dias de hoje , estamos vivenciando o ponto – talvez –extremo da preocupação com a qualidade dos ecossistemas e da vida em geral, devendo-se ao fato de estarmos buscando superar o já esgotado paradigma newtoniano-cartesiano, um sistema, como salienta o psiquiatra

Stanislav Grof, que:

“criou uma imagem muito negativa do ser humano, apresentando-o como uma máquina biológica movida por impulsos instintivos de natureza bestial, e não reconhece, realmente, valores mais altos como consciência espiritual, sentimentos de amor, carência estética ou senso de justiça. Todos esses valores são vistos como derivados dos instintos de base ou de ajustes essencialmente estranhos à natureza humana. Esta imagem endossa o individualismo, a ênfase egoística, a competição e o princípio da “sobrevivência do mais forte” como tendências naturais e necessáriamente saudáveis.

Page 43: Seminário francisco de assis por anderson

A ciência materialista não foi capaz de reconhecer o valor e a importância vital da cooperação, da sinergia e das preocupações ecológicas, pois tornou-se cega por seu próprio modelo do mundo: unidades separadas que interagem mecanicamente.”

Page 44: Seminário francisco de assis por anderson

• Tese básica de uma visão ecológica da realidade: tudose relaciona com tudo em todas as direções.

A lesma desfalecida no chão com a galáxia maislongínqua, a flor do campo com o "big bang" há bilhõesde anos atrás, a consciência de um ser humano com asparticulas subatômicas mais elementares...

Diz Boff: "Para uma visão ecológica, tudo o que existe,co-existe. Tudo o que co-existe, pré-existe. E tudo o queco-existe e pré-existe subsiste através de uma teiainfindável de relações inclusivas”.

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Na interdependência de todosos seres, a ecologia redimensionatodas as hierarquias e nega odireito dos mais fortes. Todos osseres contam e possuem suarelativa autonomia; nada ésupérfluo ou marginal. Cada sercompõe um elo da imensa correntecósmica que, na perspectiva da fé,sai de Deus e a Deus retorna.Em suma, a ecologia se definecomo a ciência e a arte dasrelações e dos seres relacionados.

Page 46: Seminário francisco de assis por anderson

• Danos ao meio ambiente, como resultado daemissão excessiva de compostos químicosindustriais, dióxidos de enxofre e de carbono eoutros agentes poluentes:

a chuva ácida (destruidora da fauna e davegetação);

o efeito estufa ou aquecimento da atmosfera(favorecendo a elevação do nível do oceano quepoderá ocasionar num futuro bem próximotrágicas inundações);

a destruição da camada de ozônio (expondo osseres humanos a radiações ultravioletascancerígenas).

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O exorbitante crescimento da populaçãomundial é outro fator preocupante:

1950: 2,5 bilhões

1989: 5,2 bilhões

2000: 6,4 bilhões

A seguir no mesmo ritmo, terá o eco-sistematerrestre nas próximas gerações condições deabsorver tanta gente?

Nesse particular, um dilema: a ameaça viria dasuperpopulação ou do padrão exagerado deconsumo e de desperdício, especialmente dospaíses ricos?

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«O “eu” de Francisco foi irresistivelmente atraído e tomado pelo uno, feito (Francisco) totalmente uno com o Centro.

«Não restava nada. As estrelas tinham desaparecido, a noite fora submersa. O próprio Francisco tinha desaparecido. Somente restava um TU que tudo abrange acima e abaixo, adiante e atrás, à direita e à esquerda, dentro e fora. [...] Ao sentir-se no seio de Deus, nasceram a Francisco asas de tal envergadura, que abrangiam o mundo de lado a lado. ‘Meu Deus e meu Tudo’.» O Cântico é, pois, a resposta a uma luz que naquela noite o iluminou por dentro

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«Meu Deus e meu Tudo». E dá-nos uma sábia lição de que não é possível amar a Deus sem amar a sua obra.

«Desejando embora este feliz viandante deixar sem demora a terra, como lugar de peregrinação e desterro, sabia mesmo assim tirar não pouco proveito das coisas deste mundo. Em todas as criaturas ele cantava o Artífice; tudo o que nelas via o referia ao Criador. Exultava de alegria em todas as obras saídas da mão de Deus e, através desta visão letificante, remontava-se Àquele que é a causa e o princípio que lhes dá vida. [...] Pelas marcas impressas na natureza seguia ao encontro do amado. [...] Abraçava todos os seres criados com um amor e um entusiasmo jamais vistos e com eles falava acerca do Senhor, convidando-os a louvá-Lo. [...] Chamava irmãos a todos os animais, embora, entre todos, preferisse os mansos. Porque a Bondade, que é fonte de todas as coisas, já nesta vida se manifestava aos olhos do Santo claramente total em todas elas.»[43]

Page 50: Seminário francisco de assis por anderson

• . Isso significa que tudo na existência é visto a partir de um novo olhar

• onde o ser humano vai construindo a sua integralidade e a sua integração com

• tudo que o cerca.

Page 51: Seminário francisco de assis por anderson

Tudo que existe tem sua vibração apropriada. A conexão com os seres vivos ocorre quando o indivíduo começa a entrar na sintonia cósmica.

Page 52: Seminário francisco de assis por anderson

Francisco sente o mundo confraternizando com o Espírito.

“O Espírito dorme na pedra, sonha nas flores, sente nos animais e pensa no ser humano”. Ele é a grande força unificadora de toda a criação. Por isso, nós temos que intensificar esta concepção que nos leva a assumir o mundo não como objeto de nossa dominação, mas como irmão. O universo constitui um desbordamento dessa diversidade e dessa união. O mundo é assim complexo, diverso, uno, entrelaçado e interconectado

Page 53: Seminário francisco de assis por anderson

A assistência a todas pessoas, o convívio fraterno e bondoso, a amizade espontânea, o coração aberto, o hábito da reflexão elevada, da concentração mental e do estudo sereno, constante, sucessivo e dirigido para assuntos avançados e não-mundanos, desenvolve o

Corpo mental da consciência.”

Page 54: Seminário francisco de assis por anderson

• Viver a essa interação permite-nos entrar em sintonia com o universo, a partir do coração aberto, porque abraçamos a tudo como criaturas irmãs, criaturas de Deus numa sinfonia cósmica

Page 55: Seminário francisco de assis por anderson

Nós vivemos numa realidade, num mundo definido, por que não dizer, criado pelos nossos sentidos. Precisamos aceitar, além das vias científicas, a existência de outras vias de conhecimento, como a ampliação da consciência com a absorção de conteúdos inconscientes e a intuição. O Universo é um todo do qual nós percebemos somente uma face. Nós não podemos objetivar completamente os fenômenos, mas apenas falar do “mundo que o homem é capaz de conhecer”.

Page 56: Seminário francisco de assis por anderson

“A mente apenas vê uma fatia da realidade. Em certos estados podemos ter acessos ampliados à mundos desconhecidos e um porção de cores, gostos e cheiros que não vemos em estado comum."

Page 57: Seminário francisco de assis por anderson

“A iluminação ficou cada vez mais brilhante; o rumorejar, mais alto. Tive uma sensação de

vertigem e vi-me saindo do meu corpo, totalmente envolto num halo de luz... Senti o ponto de consciência que eu era ficar mais amplo, cercado por ondas de luz... Eu era então todo consciência, sem nenhum contorno, sem nenhuma idéia de acessório corpóreo, sem nenhum sentimento nem sensação vindo dos sentidos, imerso num mar de luz... Eu deixara de ser eu mesmo, ou para ser mais preciso, já não era aquilo que sabia ser, um pequeno ponto de percepção

confinado num corpo, mas era, em vez disto, um vasto círculo de consciência em que o corpo não passava de um ponto, banhado de luz e num estado de exaltação e de júbilo impossível de descrever.”

Gopi Krishna, yoque.

Page 58: Seminário francisco de assis por anderson

“Os guerreiros que deliberadamente atingem a consciência total são uma visão que deve ser preseciada. É nesse momento que queimam por dentro. O fogo interior os consome. E, em plena

consciência, eles se fundem às emanações da Águia e deslizam para a eternidade”. Juan Matus, xamã yaqui

Page 59: Seminário francisco de assis por anderson

• Francisco viveu a interação cósmica. Isso não pode ser algo apenas teórico, nó s precisamos viver esse processo cósmico, através de uma mudança de visão de mundo. A Fraternidade é uma realidade e atravessar o portal da luz significa mais do que conceituar sobre esses assuntos mais mergulhar fundo na vivência. Essa verdade precisa ser uma vivencia própria, íntima, pessoal.

Page 60: Seminário francisco de assis por anderson

É possível expandirmos a consciência numa vastidão tamanha em que nos dissolvemos e nos irradiamos de forma supralúcida por todo e em todo o Cosmos, sentindo a presença viva do

universo, num estado não-dual do ser, numa unidade indivisível, em direção ao absoluto?

Page 61: Seminário francisco de assis por anderson

Andorinhas -Marcus Viana

Amo os peixes e os bichos da água

Amo as aves e os bichos do céu

Amo as flores e os seres da Terra.

Tudo o que vive e se move nela.

Há sempre andorinhas por onde eu vou

Brincam no vento, nas asas do amor

Amo a vida em toda a extensão.

Há um São Francisco em meu coração.

As pessoas, as plantas e os animais

São canteiros do mesmo jardim

Querem a alegria, o amor e a paz

Ao beijo da vida todos dizem sim.

Page 62: Seminário francisco de assis por anderson

"Tua missão consiste somente na ação, nunca nos seus frutos; portanto, não deixes que o fruto da ação seja o teu motivo, nem te apegues à inação”

Bhagavagad Gita

Page 63: Seminário francisco de assis por anderson

• Francisco ensinou vivendo. Sua vida , sua entrega, foi plena, profunda , total.

Page 64: Seminário francisco de assis por anderson

Para Guitiérrez e Prado, existem “chaves de mediação que incidem com maior intensidade na vitalização dos processos educativos inerentes à Ecopedagogia Faz-se o caminho ao caminhar: se a pedagogia é um fazer, os caminhos que a ela conduzem são construídos e percorridos nesse fazer cotidiano e permanente;

Page 65: Seminário francisco de assis por anderson

Caminhar com sentido: “no processo de abertura de novos caminhos é essencial caminhar com sentido” ou seja, “o norte que nos guia nesse percurso não está num horizonte

próximo ou distante; nós é que temos que levar esse horizonte dentro de nós”.

Caminhar em atitude de aprendizagem: “estamos em atitude de aprendizagem quando estamos abertos, receptivos, em busca, à espreita, ou seja, quando agimos como sujeitos conscientes

do processo”; refere-se ao desenvolvimento de capacidades pessoais.

Page 66: Seminário francisco de assis por anderson

Caminhar em diálogo com o entorno: “Um diálogo franco, aberto, sincero, real e de

empatia obriga a fazer do caminhar um processo de intercâmbio ecomunicaçãointerativa com o entorno”.

Page 67: Seminário francisco de assis por anderson

"Caminhar recriando o mundo: “Ex-pressão é sinônimo de educação e, nesse sentido, é contrário a re-pressão, de-pressão, im-pressão, su-pressão, com-pressão. (...) O processo educativo será tanto mais rico e frutífero quantas mais possibilidades de expressão sejam facilitadas ao sujeito do processo”.

Page 68: Seminário francisco de assis por anderson

“Noite quente de 14 de outubro de 1991, 21:00h, aproximadamente. Após o jantar, fui para a sala de visitas

ouvir algumas músicas de minha preferência no intuito de relaxar. Coloquei um CD de músicas clássicas e relaxei. Passado algum tempo, notei que algumas consciências queriam me contatar. Expandi a mente e

deixei que a comunicação acontecesse. Perdi a sensibilidade do corpo temporariamente. Dois espíritos estavam me contatando. Pediram para que fosse ao quintal. Imediatamente levantei e caminhei para lá.

Ainda estava no físico. Pediram para que sentasse confortavelmente e respirasse profundamente. Assim o fiz. Enquanto respirava, notei que o céu estava estrelado. Uma leve brisa começou a soprar. Era refrescante.

Subitamente meu corpo começou a vibrar. Parecia um choque elétrico sem dor que percorria toda a coluna vertebral. A vibração se concentrou na aprte detrás da cabeça. A sensação era semelhante a algo me puxando

para fora. Vi meu corpo físico ficando e eu subindo. Meu psicossoma se ergueu à altura da casa.

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Mais uma vez senti uma vibração. Mas desta vez era diferente. Menos intensa, porém, mais aguda. Notei meu psicossoma ficando e eu subindo. Achei estranho, pois nunca havia vivenciado tal situação antes.

De repente, estava fora do planeta. Fazia parte de todo o cosmo. A sensação foi de um explendor magnífico. Via todo o espaço nitidamente. Avistei o So, do outro lado do planeta Terra. A Lua, parecia que podia toca-la com a

mão. No entanto, o mais incrível estava por acontecer. Minha mente deixou de estar focada em alguns pontos, mas ampliou-se por todo o universo. O próprio universo era o foco de minha mente. Sentia como se tudo

estivesse dentro de mim. Foi quando tive a sensação mais incrível. Percebia todas as formas de vida pulsando como se elas fizessem parte da minha existência. Passei a ser todos os seres ao mesmo tempo. Estou me referindo a todos os seres que habitam o universo tridimensional e não só habitantes do planeta Terra. Existi em toda parte ao mesmo tempo. Eu fui o próprio universo. A forte euforia tomou conta de mim. Tudo parecia eterno.

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Voltei ao corpo psicossomático e simultaneamente ao corpo físico. Dias pareciam ter se passado. No entanto, haviam decorrido somente alguns minutos. Ao retornar, meu corpo vibrava com intensidade, semelhante a alguém que está em estado febril. Fui normalizando até consegui relaxar

• totalmente. Esta experiência nunca mais será esquecida.”(Geraldo

• Medeiros Júnior em sua obra “Viagem Extrafísica”, em 1999)

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A Consciência planetária, o caminho franciscano: esta consciência faz nascer a necessidade de que “precisamos falar com a Terra, compreendê-la, experimentá-la. É necessário submergir nela, viver com ela, participar de seu futuro, ser parte integrante dela mesma”.

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O Sal da Terra

Beto Guedes

Anda!

Quero te dizer nenhum segredo

Falo nesse chão, da nossa casa

Vem que tá na hora de arrumar...

Tempo!

Quero viver mais duzentos anos

Quero não ferir meu semelhante

Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo

Prá banir do mundo a opressão

Para construir a vida nova

Vamos precisar de muito amor

A felicidade mora ao lado

E quem não é tolo pode ver...

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A paz na Terra, amor

O pé na terra

A paz na Terra, amor

O sal da...

Terra!

És o mais bonito dos planetas

Tão te maltratando por dinheiro

Tu que és a nave nossa irmã

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Canta!

Leva tua vida em harmonia

E nos alimenta com seus frutos

Tu que és do homem, a maçã...

Vamos precisar de todo mundo

Um mais um é sempre mais que dois

Prá melhor juntar as nossas forças

É só repartir melhor o pão

Recriar o paraíso agora

Para merecer quem vem depois...

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Deixa nascer, o amor

Deixa fluir, o amor

Deixa crescer, o amor

Deixa viver, o amor

O sal da terra

Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos

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O caminho franciscano: a interação mística levando auma ética ecológica

O caminho da sociedade se radica, em última

análise, no caminho da vivido por Francisco. Uma

nova visão de mundo, não mais antropocêntrica,

utilitarista e individualista, mas ecocêntrica,

profundamente caridosa, assistencial, empática,

respeitadora da alteridade e solidária, capaz de

conduzir ao equilíbrio a comunidade terrestre.

Tarefa primeira de uma ética espírita: fazer a

aliança destruída entre o ser humano e a

natureza e a aliança entre as pessoas e povos

para que sejam aliados dos outros em

fraternidade, justiça e solidariedade, abrindo-se

para a verdadeira paz.

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No Brasil, o principal teórico desta linha pedagógicaé o educador Moacir Gadotti , atual presidente do IPF– Instituto Paulo Freire (representante do movimentopela ecopedagogia), que em

sua obra “Pedagogia da Terra”, enumera, baseado noeducador Paulo Freire, onze princípios daEcopedagogia. São eles:

1. O Planeta como uma única comunidade;

2. A Terra como mãe, organismo vivo e em evolução;

3. Uma nova consciência que sabe o que ésustentável, apropriado, faz sentido para a nossa

existência;

4. A ternura para com esta casa. Nosso endereço é aTerra;

5. A justiça sociocósmica: a Terra é um grandepobre, o maior de todos os pobres;

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6. Uma pedagogia biófila (que promove a vida): envolver-se, comunicar-se, compartilhar,

problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se;

7. Uma concepção do conhecimento que admite só serintegral quando compartilhado;

8. O caminhar com sentido (vida cotidiana);

9. Uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva,não instrumental;

10. Novas atitudes: reeducar o olhar, o coração;

11. Cultura da sustentabilidade: ecoformação. Ampliarnosso ponto de vista.

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O caminho da mente: a ecologia mental

O universo se encontra não somente fora,

mas no interior de nós mesmos.

Agressões ao meio-ambiente: encontram

raízes profundas nas estruturas mentais, em

sua genealogia e ancestralidade.

A ecologia da mente intenta recuperar o

núcleo valorativo-emocional do ser humano

em face da natureza.

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São Francisco fundou um novo humanismo, uma

síntese feliz entre a ecologia exterior (cuidado para

com todos os seres) e a ecologia interior (ternura,

amor, compaixão e veneração). Ele que é novo, nós

somos velhos, mesmo tendo vivido mais de 800

anos antes de nós”

Page 81: Seminário francisco de assis por anderson

Ele redescobriu a humanidade pobre de Jesus encarnada nos mais pobres dos pobres que eram os hansenianos (leprosos) com quem foi viver. Inventou o presépio. Fundou uma ordem religiosa itinerante, pois os frades iam pelos caminhos evangelizando na língua vernácula do local e não em latim. Foi o primeiro a ganhar licença de celebrar a missa fora, no campo e nas praças, desde que houvesse a pedra d’ara (um pedaço de pedra contendo uma relíquia de santo). Mas, fundamentalmente, ficou memorável por seu amor cósmico. Depois de séculos em que o Cristianismo se encerrara nos conventos e se concentrara nas palavras sagradas, Francisco descobre Deus na natureza.

Page 82: Seminário francisco de assis por anderson

Até Francisco, o cristianismo vivia a dimensão vertical: todos são filhos e filhas de Deus. Com ele, começou a se viver a dimensão horizontal: se todos são filhos e filhas, então todos são irmãos e irmãs. Não apenas os humanos, mas cada ser da criação. Com enternecimento chamava com o doce nome de irmão ou irmã a estrela mais distante, o passarinho na rama, o sol, a lua e a lesma do caminho. Esta atitude é, hoje, considerada da maior relevância, pois encerra uma dimensão perdida em nossa cultura que se coloca por em cima da natureza, dominando-a e esquece que todos estamos juntos, ao pé um do outro e formamos a grande comunidade de vida. São Francisco fundou um novo humanismo, uma síntese feliz entre a ecologia exterior (cuidado para com todos os seres) e a ecologia interior (ternura, amor, compaixão e veneração). (Leonardo Boff)

)

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São Francisco representa um dos arquétipos da plena realização

humana. Esta é construída a partir de duas forças que constroem nossa identidade que é a dimensão de anima e a dimensão de animus. Com estes termos introduzidos por C. G. Jung , queremos expressar que cada pessoa, homem ou mulher, possui a dimensão de racionalidade, objetividade, de projeto, de determinação na superação de obstáculos, de vontade de ser e de poder (animus). Ao mesmo tempo, tanto no homem quanto na mulher há a dimensão do afeto, da subjetividade, do cuidado, da intuição e da espiritualidade (anima). Eu traduzo estas dimensões como a convivência e integração do vigor com a ternura. Francisco viveu esta integração em sua relação de grande amor com Clara de Assis, exemplo raro na história do cristianismo de como dois seres puros e evangélicos podiam se amar de verdade, sem perder o sentido maior de sua consagração a Deus.

Leonardo Boff

Page 84: Seminário francisco de assis por anderson

Em São Francisco, tudo é simples e direto. Não há nenhuma

sofisticação nem segundas intenções. Nele, aparece o ser humano em sua inocência original, perdida na história por mil interesses individualistas e pela fome de poder, pela busca de cargos e status social e de acumulação de riqueza. Ele mostrou que ser pobre voluntariamente é muito mais que não ter nada, mas a continuada vontade de dar, de mais uma vez dar e de se despojar de todo interesse para poder comungar diretamente com as coisas e as pessoas, sem mediações que se interponham a essa vontade de estar junto e de sentir o coração do outro. No fundo, o ser humano sonha com um mundo no qual reine tal inocência, onde todos possam se sentir filhos e filhas da alegria e não seres condenados a viver no vale de lágrimas.

Leonardo Boff

Page 85: Seminário francisco de assis por anderson

Francisco assumia tudo como vindo das mãos de Deus, pois se

sentia na palma da mão de Deus. Chamava a tudo de irmão e de irmã. Não apenas as coisas ridentes, mas também as sombrias e dolorosas. Chama as doenças de irmãs doenças. A própria morte é chamada de irmã morte. O curioso nele é que fazia das próprias fragilidades humanas e dos pecados caminhos para chegar a Deus pela via da humildade, da compaixão e da total entrega à misericórdia divina.

Leonardo Boff

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Procura desenvolver a capacidade deconvivência, de escuta da mensagem quetodos os seres lançam por sua presença,por sua relação no todo ambiental, comotambém a potencialidade de encantamentocom o universo em sua complexidade,majestade e grandeza.

". Leonardo Boff

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Há disputas por cargos e funções por parte de partidos e de

políticos. Ocorrem sempre negociações, carregadas de interesses e de muita vaidade. Neste contexto, se ouve citar um tópico da inspiradora oração de São Francisco pela paz “é dando que se recebe” para justificar a permuta de favores e de apoios onde também rola muito dinheiro. É uma manipulação torpe do espírito generoso e desinteressado de São Francisco. Mas desprezemos estes desvios e vejamos seu sentido verdadeiro.Há duas economias: a dos bens materiais e a dos bens espirituais. Elas seguem lógicas diferentes. Na economia dos bens materiais, quanto mais você dá bens, roupas, casas, terras e dinheiro, menos você tem. Se alguém dá sem prudência e esbanja perdulariamente acaba na pobreza.

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Na economia dos bens espirituais, ao contrario, quanto mais

dá, mais recebe, quanto mais entrega, mais tem. Quer dizer, quanto mais dá amor, dedicação e acolhida (bens espirituais) mais ganha como pessoa e mais sobe no conceito dos outros. Os bens espirituais são como o amor: ao se dividirem, se multiplicam. Ou como o fogo: ao se espalharem, aumentam.Compreendemos este paradoxo se atentarmos para a estrutura de base do ser humano. Ele é um ser de relações ilimitadas. Quanto mais se relaciona, vale dizer, sai de si em direção do outro, do diferente, da natureza e até de Deus, quer dizer, quanto mais dá acolhida e amor mais se enriquece, mais se orna de valores, mais cresce e irradia como pessoa.

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Portanto, é “dando que se recebe”. Muitas vezes se recebe

muito mais do que se dá. Não é esta a experiência atestada por tantos e tantas que dão tempo, dedicação e bens na ajuda aos flagelados da hecatombe socioambiental ocorrida nas cidades serranas do Rio de Janeiro, no triste mês de fevereiro, quando centenas morreram e milhares ficaram desabrigados? Este “dar” desinteressado produz um efeito espiritual espantoso que é sentir-se mais humanizado e enriquecido. Torna-se gente de bem, tão necessária hoje.Quando alguém de posses, dá de seus bens materiais dentro da lógica da economia dos bens espirituais para apoiar aos que tudo perderam e ajudá-los a refazer a vida e a casa, experimenta a satisfação interior de estar junto de quem precisa e pode testemunhar o que São Paulo dizia:”maior felicidade é dar que receber”(At 20,35). Esse que não é pobre, se sente espiritualmente rico.(Leonardo Boff)

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Vigora, portanto, uma circulação entre o dar e o receber, uma

verdadeira reciprocidade. Ela representa, num sentido maior, a própria lógica do universo como não se cansam de enfatizar biólogos e astrofísicos. Tudo, galáxias, estrelas, planetas, seres inorgânicos e orgânicos, até as partículas elementares, tudo se estrutura numa rede intrincadíssima de inter-retro-relações de todos com todos. Todos co-existem, inter-existem, se ajudam mutuamente, dão e recebem reciprocamente o que precisam para existir e co-evoluir dentro de um sutil equilíbrio dinâmico.Nosso drama é que não aprendemos nada da natureza. Tiramos tudo da Terra e não lhe devolvemos nada nem tempo para descansar e se regenerar. Só recebemos e nada damos. Esta falta de reciprocidade levou a Terra ao desequilíbrio atual.Portanto, urge incorporar, de forma vigorosa, a economia dos bens espirituais à economia dos bens materiais. Só assim restabeleceremos a reciprocidade do dar e do receber. Haveria menos opulência nas mãos de poucos e os muitos pobres sairiam da carência e poderiam sentar-se à mesa comendo e bebendo do fruto de seu trabalho. (Leonardo Boff)

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Tem mais sentido partilhar do que acumular, reforçar o bem

viver de todos do que buscar avaramente o bem particular. Que levamos da Terra? Apenas bens do capital espiritual. O capital material fica para trás.O importante mesmo é dar, dar e mais uma vez dar. Só assim se recebe. E se comprova a verdade franciscana segundo a qual ”é dando que recebe” ininterruptamente amor, reconhecimento e perdão. Fora disso, tudo é negócio e feira de vaidades.Leonardo Boff

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CÂNTICO DAS CRIATURAS

Altíssimo, onipotente e bom Deus,

Teus são o louvor, a glória, a honra

e toda benção.

Só a Ti, Altíssimo, são devidos,

e homem algum é digno

de Te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor,

com todas as Tuas criaturas.

Especialmente o irmão Sol,

que clareia o dia

e com sua luz nos ilumina.

Ele é belo e radiante,

com grande esplendor

de Ti, Altíssimo é a imagem.

Page 93: Seminário francisco de assis por anderson

Louvado sejas meu senhor,

pela irmã Lua e as Estrelas,

que no céu formastes claras,

preciosas e belas.

Louvado sejas meu Senhor,

pelo irmão Vento,

pelo ar ou neblina,

ou sereno e de todo tempo

pelo qual as Tuas criaturas dais

sustento.

Louvado sejas meu Senhor,

pela irmã Água,

que é muito útil e humilde

e preciosa e casta.

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Louvado sejas meu Senhor,

pelo irmão Fogo,

pelo qual iluminas a noite,

e ele é belo e jucundo

e vigoroso e forte.

Louvado sejas meu Senhor,

pela nossa irmã a mãe Terra,

que nos sustenta e nos governa,

e produz frutos diversos,

e coloridas flores e ervas.

Louvado sejas meu Senhor,

pelos que perdoam por teu amor

e suportam enfermidades e tribulações.

Page 95: Seminário francisco de assis por anderson

Bem aventurados os que sustentam a paz,

que por Ti, Altíssimo serão coroados.

Louvado sejas meu Senhor,

pela nossa irmã a morte corporal,

da qual homem algum pode escapar.

Louvai e bendizei ao meu Senhor,

e dai lhes graças

e serví-O com grande humildade.