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SEMINÁRIO DE FILOSOFIA DIREITO E MORAL KANT E SPINOZA São José do Rio Pardo – 02 de maio de 2016

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Filosofia Kant e Spinoza

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SEMINÁRIO DE FILOSOFIA DIREITO E MORAL KANT E SPINOZA

São José do Rio Pardo – 02 de maio de 2016

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Seminário de Filosofia - Direito e Moral – Kant e Spinoza

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SUMÁRIO 1 IMMANUEL KANT ................................................................................................................. 5 2 MORAL EM KANT .................................................................................................................. 6 3 DIREITO EM KANT ................................................................................................................ 7 4 BARUCH SPINOZA ................................................................................................................. 13 5 MORAL EM SPINOZA ............................................................................................................ 14 6 DIREITO EM SPINOZA .......................................................................................................... 16

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Seminário de Filosofia - Direito e Moral – Kant e Spinoza

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IMMANUEL KANT

Immanuel Kant nasceu no ano de 1724 na Prússia Oriental (Alemanha) e faleceu no

ano de 1804 dois meses antes de completar 80 anos, Kant frequentou a

universidade de filosofia e matemática. Sua obra pode ser dividida em dois períodos:

pré critico e critico.

O período pré critico corresponde a filosofia dogmática, onde Kant realizava grandes

estudos nas áreas das ciência naturais e física de Newton. Em seus estudos,

explicava a origem e a evolução do sistema solar, e acreditava na vida em outros

planetas. Kant procurava mostrar que Deus existe, partindo da beleza e da ordem do

universo. E começa a mostrar interesse pelas questões filosóficas e pela critica a

faculdade do homem, somente em 1762.

O segundo período é denominado sono dogmático, é chamado assim pelos

impactos que os estudos da filosofia do homem causou em sua vida. Nesse período,

Kant afirma que todo conhecimento começa com uma experiência, mais esse

conhecimento não vem apenas da mesma, e dizia que a faculdade de conhecer tem

uma função ativa no processo do conhecimento e não representa as coisas como

são em si, mais como as coisas são pra nós mesmo, para cada pessoa de forma

individual. Assim Kant começa fundamentar algo muito importante estudado ate os

dias atuais, o dualismo e o fenômeno.

Kant explica o conhecimento da natureza tendo como base a sensibilidade, criando

o dualismo entre o nomenon (a coisa em si) e o fenomenon (modo como a realidade

modifica o homem). O conhecimento, então, ocorre com a interiorização do

fenomenon, por meio da sensibilidade. A organização do fenomenon ocorre pelas

formas a priori da sensibilidade, o espaço e o tempo, originando as chamadas

intuições. As intuições, então, advêm puramente da sensibilidade; não são

pensamentos, nem juízos.

Após a revolução francesa, Kant foi um pacifista convicto. Uma curiosidade é a

forma como Kant vivia, onde era extremamente pontual e regrada, diziam que as

pessoas que viviam perto dele, acertavam seus relógios quando ele passava por

suas janelas, sempre pontualmente as 16:30, Kant faleceu dois meses antes de

completar seus 80 anos.

Algumas de suas obras

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• História Universal da Natureza e Teoria do Céu (1755);

• Dissertação de 1770 Sobre a Forma e os Princípios do Mundo Sensível e do

Inteligível (1770);

• Fundamentação Metafísica dos Costumes (1785);

• Crítica da Razão Prática (1788);

Algumas frases e pensamentos

• “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.”

• “A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos

felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade.”

MORAL EM KANT

Moral trata-se de um conjunto de valores, normal e noções sobre o que é certo ou

errado, dentro de uma determinada sociedade, de uma cultura.

As práticas positivas de um código moral são importantes para que possamos viver

em sociedade, do contrário, teríamos uma situação de caos, de luta de todos contra

todos para o atendimento de nossas vontades.

Moral tem a ver com os valores que regem a ação humana enquanto inserida na

convivência social, tendo um caráter normativo.

A moral diz respeito a uma consciência coletiva e a valores que são construídos por

convenções, as quais são formuladas por uma consciência social, o que equivale

dizer que são regras sancionadas pela sociedade.

Devemos sempre ter em mente que a moral, por ser fruto da consciência coletiva de

uma determinada sociedade e cultura, pode variar através da dinâmica dos tempos.

Considerar o próximo é um aspecto fundamental à moralidade. Dessa forma, uma

preocupação no debate sobre ética e moral se dá no sentido de evitar a violência em

todas as suas possíveis expressões. Porém, considerando que o código moral é

constituído pela cultura, a violência não é vista da mesma forma por todas as

culturas. Logo, a noção de violação, profanação e discriminação variam de uma

cultura para outra. Contudo, em todas se tem a noção do que é a violência.

Assim, tanto os valores como a idéia de virtude são fundamentais à vida ética e,

dessa forma, evitam a violência, o ato imoral ou antiético.

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Contudo, é importante lembrar que fins éticos requerem meios éticos, o que nos faz

deduzir que a expressão “todos os fins justificam os meios” não é válida quando se

busca ser virtuoso. Se em nosso código moral considerarmos roubo com algo

imoral, roubar seria um meio injustificável para se alcançar qualquer coisa, ainda

que isso fosse feito em nome de algum valor moral. Logo, ser virtuoso é estar em

conformidade com aquilo que se considera correto ou esperado; o que está de

acordo com a religião, a moral, a ética, etc.

A existência da moral não significa a presença de uma reflexão que discuta,

problematize e interprete o significado dos valores morais. Ao contrário disso, as

sociedades tendem a naturalizar seus valores morais ao longo das gerações, ocorre

uma aceitação generalizada.

DIREITO EM KANT O termo Direito provém da palavra latina “directum”, que significa reto, no sentido

retidão, o certo, o correto, o mais adequado. A definição nominal etimológica de

Direito é “qualidade daquilo que é regra”. Da antiguidade chega a famosa e sintética

definição de Celso: “Direito é a arte do bom e do eqüitativo”. Na Idade Média se tem

a definição concebida por Dante Alighieri: “Direito é a proporção real e pessoal de

homem para homem que, conservada, conserva a sociedade e que, destruída, a

destrói”. Numa perspectiva de Kant: ”Direito é o conjunto de condições, segundo as

quais, o arbítrio de cada um pode coexistir com o arbítrio dos outros de acordo com

uma lei geral de liberdade”.

Nessa linha de compreensão, o direito seria conceitualmente o que é mais

adequado para o indivíduo tendo presente que, vivendo em sociedade, tal direito

deve compreender fundamentalmente o interesse da coletividade. Daí surge a

grande discussão que se trava ao longo dos tempos, o que obriga que os conceitos

do certo ou errado, do direito e do não direito se adaptem às novas realidades

geográficas, religiosas, humanísticas e históricas, para descrever apenas algumas

questões que interferem na evolução e adequação do direito a ser aplicado.

Na verdade, o direito, na sua essência é um conceito em constante mutação, até

porque enraizado e conseqüente da própria condição humana, que necessita de

ajuste e adequação diuturnamente, seja com relação a seu habitat, aos critérios e

normas de convivência, bem como às novas realidades construídas pelos

grupamentos humanos e a própria evolução do conhecimento cientifico e

tecnológico.

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Desde a formação dos primeiros grupos gregários surgiu a necessidade dos

regramentos de convivência, mesmo que de forma esparsa e sem muitas

formalidades. Até na comunicação primária entre dois seres humanos não se deve

prescindir de uma informal padronização, objetivando uma convivência em moldes

relativamente civilizados e sem maiores embates. E aqui não se fala do que é certo

ou errado em sentido absoluto, porque conforme dito anteriormente, tais conceitos

são mutantes de acordo com os grupos humanos que se associam em

comunidades.

Na medida em que o contingente populacional de determinados grupos sociais

cresceu em número de habitantes, aglutinações de grupos ocorreram e, por

conseqüência, maior a necessidade de uma sistematização do direito, com o

objetivo de que houvesse compreensão coletiva daquilo que o grupo desejava para

si, mesmo que fosse por imposição de uma vontade individual, mas que aceita pelo

coletivo.

Os grandes pensadores, dentre eles Rosseau, Platão, Montesquieu, Sócrates, Karl

Marx, Max Weber e tantos “filósofos e estudiosos” nas suas respectivas épocas,

traduziram bem a preocupação de que o ser humano poderia carregar em seu

âmago, um instinto egoístico que obrigaria as comunidades e os núcleos sociais

estabelecerem critérios de convivência, que inibissem a atuação individual em

detrimento dos direitos coletivos.

Importante destacar dois tipos de direito de uma forma geral: o direito natural e o

direito positivo. O primeiro se refere àquele direito que nasce com o próprio homem

independente de regramento quanto a sua utilização, enquanto o segundo,

denominado direito positivo, de uma forma singela pode ser chamado de direito

regrado, criado e escrito pelos homens, através de normativos e legislação que

indicam e individualizam as situações e preceitos a serem seguidos ou cumpridos.

Durante milênios da história humana, o direito compreendido como forma de

conduta, mesmo nas rudimentares culturas, serviu como anteparo de eventuais

litígios, que poderiam surgir não havendo um mínimo de padrão de conduta. As

regras e o direito no sentido amplo foram modificados, inclusive através da força

bruta, quando se impunham novos padrões aos vencidos, nas questões não

resolvidas de forma amigável.

As fontes do direito são fundamentais na construção do direito positivo: o direito

escrito e interpretado que rege as relações humanas na atualidade. As principais

fontes são as leis, os costumes, a doutrina e a jurisprudência dos tribunais. Sendo

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que o costume é caracterizado quando existe a reiteração de uma conduta na

convicção da mesma ser obrigatória, a doutrina é construída pelos estudiosos da

área jurídica quando da interpretação do direito, e a jurisprudência é o resultado de

decisões judiciais no mesmo sentido, que resultam em novos entendimentos e

compreensões do direito.

Cabe aqui uma ressalva porque nem sempre o direito chamado objetivo ou

constituído em normas, reflete a vontade de uma maioria populacional. Há que se

considerar quais os responsáveis pelas diretivas e imposição das normas a serem

aplicadas a todos. Temos situações de Estado formado de maneira teocrática, o que

resulta no estabelecimento de regras numa conjuntura que privilegia os entes

religiosos. Existem também as monarquias, os impérios e outros sistemas totalitários

de governo, que entendem que as leis que regem o direito daquelas sociedades

devem ser normas que atendam aos anseios desses sistemas mesmo com algum

prejuízo aos direitos individuais de seus cidadãos. Assim, mesmo que se

compreenda como desejável determinada estruturação de uma sociedade, onde

haja efetivo equilíbrio de forças entre o direito coletivo e o individual, é certo que

nem sempre assim ocorre.

Na atualidade, de forma imposta ou democrática, os parâmetros do direito para

determinada coletividade, desde mínimos grupamentos, tais como clubes e

condomínios, até os Municípios, Estados, Países, Organizações Internacionais, são

norteados por Leis, Convenções, Tratados ou outra forma de pactuação que se

ajusta para convivência.

Ressalte-se que a lei ou qualquer outro normativo, deve estar dentro de um contexto

hierárquico, isto porque é preciso que se compreenda que determinadas leis

superiores não podem subordinar-se a leis menores. Assim, no caso do Brasil, as

leis ou tratados internacionais não podem interferir na soberania do nosso país, o

que quer dizer que eles podem ser aplicados no Brasil, desde que atendidos os

critérios nacionais de incorporação do normativo internacional, e desde que não se

contraponha aos normativos brasileiros, em especial a nossa Constituição Federal.

Os principais normativos que regem o direito positivo ou escrito no Brasil são

Tratados, Convencionais Internacionais, Constituição Federal, Constituições

Estaduais, Leis Complementares, Leis Federais, Estaduais e Municipais, além

das Medidas Provisórias Federais, que possuem um caráter de excepcionalidade,

objetivando uma normatização emergencial.

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Enfim, o direito é aquilo que uma sociedade ou grupamento social compreende

como ideal de retidão e correto para a sua coletividade. A forma concreta de

estabelecer os parâmetros da convivência social se materializa no conjunto de leis e

normativos, respeitada a hierarquia das leis, exatamente para evitar que direitos de

maior abrangência não sejam suplantados por direitos e regramentos inferiores.

Diante da diversidade de questões e litígios a serem enfrentados pelo homem

contemporâneo, fruto da criação ao longo da história, e mais recentemente em razão

dos grandes avanços do conhecimento, tornou-se necessário uma abordagem do

direito de forma mais especializada. Assim, temos diversas vertentes de

aplicabilidade do direito, com suas especificidades. Apenas para enumerar algumas

vertentes, podem citar: Direito Civil, Direito do Trabalho, Direito de Família, Direito

Penal, Direito Marítimo, Direito Tributário, Direito Imobiliário, Direito do Consumidor.

Somente no Brasil temos mais de 20 ramos ou especializações do direito, com a

forte tendência de que as áreas se multipliquem, requerendo ainda mais

profissionais capacitados para atender os novos nichos de demanda. Estes

profissionais não são apenas o Advogado, o Juiz, o Promotor, mas também

profissionais técnicos (contadores, biólogos, peritos...) que auxiliem os agentes

jurídicos a dirimirem com maior exatidão e justiça os conflitos sociais

Direito no Pensamento de Kant Kant chega ao direito através da moral, com essa distinção ele está preocupado em

fazer uma distinção entre liberdade de coação, para preservar o espaço do

indivíduo, no sentido de que só o indivíduo pode impor a ele uma regra moral.

É indiscutível a contribuição da filosofia do Iluminismo de Immanuel Kant para a

formulação e reconhecimento dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana.

No campo da Filosofia estão inseridas as mais conhecidas obras de Kant, a tríade

de críticas ("Crítica da razão pura", "Crítica da razão prática" e "Crítica do juízo"),

onde o autor estabelece as bases de seu pensamento filosófico. As contribuições do

filósofo de Koenigsberg para o Direito foram apresentadas em uma primeira parte de

sua "Metafísica dos costumes", publicada em 1797 sob o título de "Doutrina do

Direito".

Kant é um autor conhecido não só pela densidade de seu pensamento filosófico,

mas também pelas dificuldades e obscuridades próprias do seu estilo. Dificuldades

que o próprio autor reconhecia, como o fez no prefácio da segunda edição de sua

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"Crítica da razão pura", publicada em 1787. Como assevera o autor, para o estudo

da metafísica "é preciso renunciar a ser entendido por todos e até à linguagem

popular. Há necessidade, pelo contrário, de se apegar à precisão da linguagem da

escola (porque a escola também tem a sua linguagem), mesmo com o risco de ser

acusado de pedante".

Na concepção de Kant, o Direito baseia-se em dois princípios, que podemos tomar,

para usar uma terminologia introduzida em outro lugar, como o princípio de

avaliação e o princípio de execução das ações conformes ao direito. O primeiro está

formulado da seguinte maneira: "Toda ação é direita se ela, ou a liberdade do

arbítrio segundo a sua máxima, pode coexistir com a liberdade de todos segundo

uma lei universal". Kant dá a esse princípio o nome de "princípio universal do

Direito", presumivelmente por que:

- estipula um critério para a aplicação do predicado "direito", servindo assim de

fundamento para todos os juízos particulares com que avaliamos a conformidade de

nossas ações ao Direito; e também por que:

- é um princípio fundamental tanto para o Direito privado quanto para o Direito

público, que são as duas partes em que se divide o Direito.

No que concerne ao "princípio universal do Direito", a dificuldade está na base para

a definição do predicado "direito". Kant baseia-a em três afirmações prévias sobre o

conceito do Direito (que Kant caracteriza, aliás, como um conceito moral "na medida

em que ele se refere a uma obrigação a ele correspondente"). Tais são:

1) o Direito se aplica às ações externas de um indivíduo, na medida em que elas

afetam as ações de outros indivíduos;

2) o Direito concerne às ações externas na medida em que elas envolvem uma

relação entre o arbítrio de um com o arbítrio dos demais;

3) o Direito considera unicamente a forma dessa relação e sua compatibilidade com

leis universais.

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BARUCH SPINOZA

Baruch Spinoza ou Espinosa, ou Espinoza (1632-1677) nasceu em Amsterdã,

Holanda. Era de uma família tradicional judia, de origem portuguesa. Sua família

emigrou porque os judeus estavam sendo perseguidos. Seu pai era um comerciante

bem sucedido e abastado. Spinoza gostava de estudar e ficava na sinagoga. Era um

dos melhores alunos. Aprendeu a Bíblia Sagrada e o Talmund. Então foi para uma

escola particular, onde conheceu o latim. Pôde então ter um estudo mais

abrangente. Leu sobre a identificação de Deus com o universo, sobre a associação

da matéria com o corpo de Deus. Interessou-se muito pela filosofia moderna, como

Bacon, Hobbes e Descartes. Então foi acusado de heresia, por se mostrar irredutível

em suas opiniões. Posteriormente viria a se tornar um dos maiores pensadores

racionalistas do século XVII, no interior da Filosofia Moderna.

Spinoza fez uma análise histórica da Bíblia, colocando-a como fruto de seu tempo.

Critica os dogmas rígidos e rituais sem sentido nem poder, bem como o luxo e a

ostentação da Igreja. Deus para Spinoza é o único motivo da existência de todas as

coisas. Deus é a substância única e nenhuma outra realidade existe fora de Deus.

Ele é a fonte única e dele surgem todos os outros elementos. Deus existe em si e foi

gerado por si, para existir ele não necessita de nenhuma outra realidade. A essência

de Deus pressupõe a sua existência. A substância divina é infinita e não é limitada

por nenhuma outra, ela é a causa de todas as coisas existentes, que por

conseqüência são manifestações de Deus.

Por suas opiniões, um homem tentou matá-lo com um punhal. Escapou graças à sua

agilidade. Ofereceram uma pensão para ele manter fidelidade à sinagoga e Spinoza

recusou. Foi então excomungado, em 1656. Amaldiçoaram-no em ritual. Depois

disso, viajou pela Holanda. Os judeus não falavam com Spinoza, mas os cristãos

sim. Apesar disso, não se converteu ao cristianismo. Seus familiares quiseram

deserdá-lo. Lutou pela herança do pai e ganhou a causa. Mas recusou a recebê-la,

só queria fazer valer seus direitos.

Era meio frágil, pois seus pais eram tuberculosos. Viveu uma vida modesta, frugal e

sem grandes luxos. Sustentava-se com algumas doações e com o dinheiro de

polidor e cortador de lentes ópticas. Mantinha uma relação com amigos e

admiradores, e discutia suas idéias, Baruch Spinoza partiu aos quarenta e quatro

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anos, no dia 21 de fevereiro de 1677, em conseqüência de uma tuberculose, na

cidade de Haia.

Suas principais obras são: a Ethica (publicada postumamente em Amsterdam em

1677), que constituiu precisamente o seu pensamento filosófico; o Tractatus

theologivo-politicus (publicado anônimo em Hamburgo em 1670), que contém a sua

filosofia religiosa e política.

MORAL EM SPINOZA

Um realista sustenta que, pelo menos, algumas coisas são boas ou más,

independentemente do que desejamos ou acreditar ser o caso. Spinoza, em

numerosas passagens de Ética e obras anteriores, nega que existam tais qualidades

morais. Sua rejeição do realismo moral é amarrado com sua rejeição de explicações

teleológicas da natureza, pois ele vê a atribuição de qualidades como a bondade ou

perfeição como um erro que se baseia na falsa crença de que a natureza foi

projetado por Deus com a humanidade em mente. Espinosa explica: “Depois de os

homens se convencerem de que tudo o que acontece, acontece, por sua conta, eles

tinham que julgar que o que é mais importante em cada coisa é o que é mais útil

para ele... Por isso, eles tiveram que formar essas noções, pelo qual ele explicou as

coisas naturais: bem, o mal, a ordem, confusão, quente, frio, beleza, feiura. Esta

família de conceitos, que inclui conceitos morais e estéticos, juntamente com

conceitos de qualidades sensíveis. Spinoza detém a ser produzido pela imaginação

e não pela razão. Por isso, os conceitos, através da qual as pessoas comuns estão

acostumadas a explicar a natureza... não indicam a natureza de qualquer coisa,

somente a constituição da imaginação.

Além de fornecer contas etiológicas destinadas a explicar por que as pessoas

cometem o erro de tratar qualidades morais como objetivo, Spinoza desenvolve dois

argumentos distintos para o seu antirrealismo. Seu primeiro argumento antirrealismo

é que se as qualidades morais como mau ou imperfeição foram objetivas, então

seria concebível que a Natureza às vezes falha ou pecados, e produz coisas

imperfeitas. Mas isso é inconcebível: essa possiblidade supõe que existe uma meta

ou padrão que a natureza tem ficado aquém, ainda não existe tal meta ou padrão: “A

razão pela qual ... Deus, ou a natureza, atos e a razão por que ela existe são uma e

a mesma. Tal como existe por causa de nenhum efeito, actua também por causa do

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sem fim. Novamente, assim como em sua discussão anterior, a negação da

objetividade das qualidades morais de Espinosa é baseada em sua rejeição da

teleologia natural. A rejeição da teleologia natural, por sua vez, baseia-se em seu

monismo substância e necessitarismo: “todas as coisas seguem a partir da

necessidade da natureza divina e, portanto, ... o que parece imoral, terrível, injusta e

desonrosa, decorre do fato de que [concebemos] as próprias coisas de uma maneira

que é desordenada, mutilados e confuso.

Vale a pena mencionar um segundo argumento que vem logo depois, mas parece

ter motivações muito diferentes: Na medida em que o bem e o mal estão em causa,

eles também indicam nada de positivo nas coisas, consideradas em sim mesmas..

Para uma e a mesma coisa pode, ao mesmo tempo, ser bom e ruim, e também

indiferente. Por exemplo, a música é boa para quem é surdo”. Se qualidades morais

eram objetivo, então nada poderia ter qualidades morais contrárias a um e ao

mesmo tempo, com relação a diferentes observadores. Portanto, as qualidades

morais não são objetivas, no sentido de que “indicam nada de positivo nas coisas,

considerados em sim mesmo”. Este argumento é muito diferente do que o anterior.

O primeiro argumento destaca a incoerência, a priori, que estaria envolvido na

própria ideia de qualidades morais objetivas, enquanto a segunda é baseada na

premissa empírica de que pessoas diferentes podem julgar uma coisa para ter

qualidades morais contrárias. É um antepassado do argumento da discordância

muitas vezes usados para defender o relativismo moral.

Apesar do fato de que Espinosa rejeita o realismo moral, ele não defende a

eliminação da linguagem moral. Para ver o porquê, considere uma vantagem que o

realista moral parece ter mais de antirrealismo de Spinoza. O realista moral, como

Spinoza vê-lo, afirma que nos casos de julgamento moral, que primeiro reconhecer

que algo é bom (por exemplo), e, em seguida, isso resulta em nossa formando um

desejo para essa coisa. Embora Spinoza rejeita esta conta do julgamento moral,

uma das suas vantagens é que ela nos permite distinguir entre o que é desejável e o

que é verdadeiramente desejável. Desde que muitas vezes acontece que uma

pessoa quer alguma coisa, apesar do fato de que ele sbe que é indesejável; a

imagem do realista moral nos dá uma maneira de fazer isso distinguindo a alegação

verdadeira de que essa pessoa deseja cometer suicídio a partir da falsa afirmativa

que é bom/desejável para esta pessoa a cometer suicídio.

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Spinoza concorda que precisamos desta distinção, mas sustenta que nosso

julgamentos sobre o que é realmente bom para nós é baseado em uma ideia do

homem que formamos como um modelo da natureza humana. Para assegurar a

distinção entre o que uma pessoa deseja e o que é verdadeiramente desejável,

então, Spinoza quer preservar nossa conversa comum do bem e do mal, com

ressalva de que tal conversa só se refere à relação entre nós e um modelo

idealizado. Assim Spinoza escreve: “Eu vou entender por boa o que sabemos com

certeza é um meio pelo qual podemos aproximar cada vez mais perto o modelo da

natureza humana que definir antes de nós mesmos. Pelo qual, o que certamente

sabem nos impedem de tornar-se como que o modelo”. Uma vez que o modelo é

uma idealização, o julgamento que algo é bom ou mau não envolve qualquer

compromisso com objetivos qualidades, independentes da mente de bondade ou

maldade. No entanto, ter um modelo deste tipo é útil, uma vez que nos permite fazer

julgamentos sobre o que vai ser bom ou ruim para nós como algo distinto do que nós

atualmente acontecem a desejar.

DIREITO EM SPINOZA

Em Spinoza, o conceito de direito natural se vincula à existência de Deus, enquanto

uma potência eterna e infinita, qual seja a substância absolutamente infinita que a

tudo determina. Daí, se reflete uma concepção de direito natural na qualidade jus

sive potentia.

Ainda se toma de Spinoza a assertiva de que “por direito e instituição natural

entendo unicamente as regras da natureza de cada indivíduo, regras segundo as

quais concebemos qualquer ser como naturalmente determinado a existir e a agir de

uma certa maneira” [ESPINOSA, 2003, p. 234]

Nessa configuração, Spinoza expressa uma coincidência nos conceitos de direito,

poder e potência, contrapondo-se à visão contratualista de Hobbes e de Rousseau,

expressando a Supremacia do direito natural em fase a ordem moral–jurídica.

Interessante ressaltar, que em Spinoza a democracia não seria obrigatoriamente o

melhor regime, pelo contrário, se apresenta como um contrassenso, ligando a

singularidade dos povos à singularidade dos homens.

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Em última análise, se são boas as instituições, não é sobre o medo infundido, por

exemplo, pela coerção que repousa a obediência às leis do Estado ou sobre o fato

de que o governo não causa indignação. Esse mecanismo é apenas subsidiário. É

principalmente da participação da multitude no exercício do poder e da utilidade das

leis da cidade que acaba por derivar a obediência.

Numa construção única na história da filosofia, a democracia spinozana emerge

assim simultaneamente como a forma de organização espontânea da sociedade, por

um processo puramente afetivo, como o regime inteiramente absoluto e como o

critério ou parâmetro de perfeição dos demais regimes.

Dessa formação espontânea, pode surgir a falsa impressão de que o caos possa se

instalar no Estado civil. Mas, isso não ocorre, como ROCHA [2011, p 91-92] assim

conclui:

“De acordo com nossa pesquisa, afirmamos com Spinoza que cada um existe em

virtude do direito supremo da natureza e, conseqüentemente, é em virtude deste,

que cada um faz o que segue a necessidade de sua natureza. Quando qualquer um

julga o que lhe é bom ou mau, atendendo a utilidade que melhor lhe convém,

quando este se vinga ou se esforça para conservar o que ama e destruir aquilo que

tem ódio, faz em virtude do supremo direito da natureza. Contudo, os homens não

vivem só sob a direção da razão, mas estão naturalmente sujeitos às paixões e, por

isso são inconstantes, mutáveis e muitas vezes arrastados em sentido contrário.”

O homem, segundo Spinoza, é dotado tanto de direito quanto de poder sobre a

natureza, que podem sofrer multiplicação se “duas pessoas concordam entre si e

unem as suas forças, terão mais poder conjuntamente e, consequentemente, um

direito superior sobre a Natureza que cada uma delas não possui sozinha e, quanto

mais numerosos forem os homens que tenham posto suas forças em comum, mais

direito terão eles todos” [ESPINOSA, 1983, p. 310].

Essa extensão de direito e de poder, se justifica pelo fato de que “todos os homens

temem a solidão, porque nenhum deles na solidão tem força para se defender e

obter as coisas necessárias à vida, daí resulta que os homens têm, do estado civil,

um desejo natural e que não pode dar-se que tal estado seja nunca inteiramente

dissolvido” [ESPINOSA, 1983, p. 321].

Da lavra do próprio Spinoza, no bojo de carta escrita a Jarig Jelles, datada em 2 de

junho de 1674, se toma a expressão de sua diferenciação:

Tu me perguntas qual é a diferença entre a concepção política de Hobbes e a

minha. Respondo-te: a diferença consiste em que mantenho sempre o direito natural

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e que considero que o magistrado supremo, em qualquer cidade, só tem direitos

sobre os súditos na medida em que seu poder seja superior ao deles; coisa que

sempre ocorre no estado natural. [ESPINOSA, 1983, p. 390]

Entretanto, não se pode entender a imposição do direito natural sobre o Estado civil

reclamada por Spinoza, se antes não pressentir o conceito espinoziano do homem,

segundo o qual as paixões e emoções são elementos próprios da natureza humana

aos quais os homens estão submetidos [ESPINOSA, 1983, p. 210-221; 225-272].

Nessa dependência, cada qual deseja que os outros vivam consoante a sua própria

compleição, aprovem o que ele próprio aprova, e rejeitem o que ele próprio rejeita.

Donde resulta que, querendo todos ser os primeiros, surjam conflitos entre eles,

procurem esmagar-se uns aos outros e que o vencedor se glorifique mais por ter

triunfado do seu rival que por haver obtido qualquer vantagem para si mesmo.

[ESPINOSA, 1983, p. 306]

No estado de natureza, isto é, antes da organização política, os homens se

encontravam em uma guerra perpétua, em uma luta de todos contra todos. É o

próprio egoísmo que impede os homens a se unirem, a se acordarem entre si numa

espécie de pacto social, pelo qual prometem renunciar a toda violência, auxiliando-

se mutuamente. No entanto, não basta o pacto apenas: precisa o homem do arrimo

da força para sustentar-se. De fato, mesmo depois do pacto social, os homens não

cessam de ser, mais ou menos, irracionais e, portanto, quando lhes fosse cômodo e

tivessem a força, violariam, sem mais, o pacto. Nem há quem possa opor-se a eles,

a não ser uma força superior, porquanto o direito sem a força não tem eficácia.

Então os componentes devem confiar a um poder central a força de que dispõem,

dando-lhe a incumbência e o modo de proteger os direitos de cada um. Só então o

estado é verdadeiramente constituído. Entretanto, o estado, o governo, o soberano

podem fazer tudo o que querem: para isso têm o poder e, portanto, o direito, e se

acham eles ainda no estado de pura natureza, do qual os súditos saíram.

O estado, porém, não é dominador supremo, porquanto não é o fim supremo do

homem. Seu fim supremo é conhecer a Deus por meio da razão e agir de

conformidade, de sorte que será a razão a norma suprema da vida humana. O papel

do estado é auxiliar na consecução racional de Deus. Portanto, se o estado se

mantivesse na violência e irracionalidade primitivas, pondo obstáculos ao

desenvolvimento racional da sociedade, os súditos - quando mais racionais e, logo,

mais poderosos do que ele - rebelar-se-ão necessariamente contra ele, e o estado

cairá fatalmente. Faltando-lhe a força, faltar-lhe-á também o direito. E de suas ruínas

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Seminário de Filosofia - Direito e Moral – Kant e Spinoza

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deverá surgir um estado mais conforme à razão. E, assim, Spinoza deduz do estado

naturalista o estado racional.

O outro grande instituto irracional a serviço da racionalidade é, segundo Spinoza, a

religião, que representaria um sucedâneo da filosofia para o vulgo. O conteúdo da

religião positiva, revelada, é racional; mas é a forma que seria absolutamente

irracional, pois o conhecimento filosófico de Deus decairia em uma revelação mítica;

a ação racional, que deveria derivar do conhecimento racional com a mesma

necessidade pela qual a luz emana do sol, decairia no mandamento divino

heterônomo, a saber, a religião positiva, revelada, representaria sensivelmente,

simbolicamente, de um modo apto para a mentalidade popular, as verdades

racionais, filosóficas acerca de Deus e do homem; tais verdades podem aproveitar

ao bem desse último, quando encarnadas nos dogmas. Por conseguinte, o que vale

nos dogmas não seria a sua formulação exterior, e sim o conteúdo moral; nem se

deveria procurar neles sentidos metafísicos arcanos, porque o escopo dos dogmas é

essencialmente prático a saber: induzir à submissão a Deus e ao amor ao próximo,

na unificação final de tudo e de todos em Deus.

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