semanario_angolense_464

44
www.semanario-angolense.com SÁBADO 05 DE MAIO DE 2012 ROUBO DE VIATURAS VICTÓRIA PEREIRA, «VICE» DO SINPROF Cuidado com elas! «Há sindicatos que são marionetas dos patrões» QUEM É QUE VAI SUBSTITUIR O GEN. ARMANDO DA CRUZ? Kangamba estará já fora da corrida A sua saída do GP de Benguela é cada vez mais tida como certa, por razões de saúde. Alguns candidatos já terão atirado o barro à parede a ver se cola. Entre eles, estará o «nosso» Bento Kangamba. Mas, boa parte da sociedade benguelense, tida como muito «fina», não o quer por lá. Na calha, estão outros dois nomes: Ângelo Viegas e Agostinho Felizardo, qual deles o mais forte. Entre eles sairá o «fezadeiro» ou ainda teremos alguma surpresa? Kz 250,00 EDIÇÃO 464 · ANO VII [email protected] DIRECTOR SALAS NETO CHARME EFEMÉRIDE «Chivas» disserta no SA Bin Laden morreu há um ano Páginas 10-11 Página 33 TEMPO máx min SÁB 30°C 20°C DOM 30°C 19°C SEG 30°C 20°C TER 30°C 20°C QUA 30°C 18°C QUI 30°C 19°C SEX 26°C 22°C Corrupção nas fronteiras facilita imigração ilegal Um fenómeno muito complicado

Upload: joao-ubisse-nguenha

Post on 09-Aug-2015

145 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: semanario_angolense_464

www.semanario-angolense.com SÁBADO  •  05 de Maio de 2012

ROUBO DE VIATURAS VICTÓRIA PEREIRA, «VICE» DO SINPROF

Cuidadocom elas!

«Há sindicatos que sãomarionetas dos patrões»

QUEM É QUE VAI SUBSTITUIR O GEN. ARMANDO DA CRUZ?

Kangamba estará já fora da corrida

A sua saída do GP de Benguela é cada vez mais tida como certa, por razões de saúde. Alguns candidatos já terão atirado o barro à parede a ver se cola. Entre eles, estará o «nosso»

Bento Kangamba. Mas, boa parte da sociedade benguelense, tida como muito «fina», não o quer por lá. Na calha, estão outros dois nomes: Ângelo Viegas e Agostinho Felizardo, qual deles

o mais forte. Entre eles sairá o «fezadeiro» ou ainda teremos alguma surpresa?

Kz 250,00EDIÇÃO 464 · ANO VII

[email protected]

DIRECTOR

SALAS NETO

CHARME

EFEMÉRIDE

«Chivas»dissertano SA

Bin Ladenmorreuhá um ano

• Páginas 10-11

• Página 33

TEMPO máx min

SÁB 30°C 20°C

DOM 30°C 19°C

SEG 30°C 20°C

TER 30°C 20°C

QUA 30°C 18°C

QUI 30°C 19°C

SEX 26°C 22°C

Corrupção nas fronteirasfacilita imigração ilegal

Um fenómeno muito complicado

Page 2: semanario_angolense_464

2 Sábado, 05 de Maio de 2012.

em Foco

Director: Salas Neto Editores — Editor Chefe: Ilídio Manuel; Política: Jorge Eurico; Economia: Nelson Talapaxi Samuel

Sociedade: Pascoal Mukuna; Desporto: Paulo Possas; Cultura: Salas Neto; Grande Repórter: joaquim AlvesRedacção: Rui Albino, Baldino Miranda, Adriano de Sousa, Teresa Dias, Romão Brandão, e Edgar Nimi

Colaboradores Permanentes: Sousa Jamba, Kanzala Filho, Kajim-Bangala, António Venâncio,Celso Malavoloneke, Tazuary Nkeita, Makiadi, Inocência Mata, e António dos Santos «Kidá»

Correspondentes: Nelson Sul D’Angola (Benguela) e Laurentino Martins (Namibe).Paginação e Design: Sónia Júnior (Chefe), Patrick Ferreira, Carlos Inácio e Annety Silva Fotografia: Nunes Ambriz e Virgílio Pinto

Impressão: Lito Tipo Secretária de Redacção: Manuela da Conceição

Adminstracção: Marta PisaterraPublicidade e Marketing: Oswaldo Graça

António Feliciano de Castilho n.o 119 A • LuandaRegistro MCS337/B/03 Contribuinte n.o 0.168.147.00-9Propriedade: Media Investe, SA. República de Angola

Direcção: [email protected]; Edição: ediçã[email protected];Política: [email protected]; Economia: [email protected];Sociedade: [email protected]; Cultura: [email protected];

Desporto: desporto@@semanario-angolense.com; Redacção: [email protected];Administracção e Vendas: [email protected];

Publicidade e Marketing: [email protected]; sítio: www.semanario-angolense.com

As opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.

Mesmo dez anos de-pois de o país teralcançado já a pazefectiva, o exército

de desempregados, sobretudoentreacamadajovem,nãopáradecrescer.Nãosesabeaocertoquantos desempregados temos,visto que as estatísticas sãoescassas, senão mesmo inexis-tentes, em relação ao númerodepessoas sememprego fixo eregularmenteremunerado.

Mas, o nível de desempregopode ser avaliado pelo elevadonúmerodecandidatosquepro-curam arranjar uma ocupaçãoséria, quer na função pública,quer nas empresas privadas.Ou,numoutroângulodeaná-lise,pela imensamoledegenteque se dedica ao exercício docomércio informal, devido àinexistência de uma ocupaçãofixa.

Ocasomaisrecentedacres-cente procura de emprego estárelacionado com o concursopúblico promovidohá dias pe-los Ministérios da Educação,Administração Pública e Se-gurança Social e das Finanças,para o provimento de mil, se-tecentase10(1710)vagasparaprofessores; um número bas-tanteirrisórioparasatisfazeràsinúmeras solicitações dos can-didatos, sobretudopara os queprocuramoprimeiroemprego.

Defacto,1710lugaresconsti-tuemumagotanooceanonummar de inúmeras necessidadesde emprego, que estão muitolonge de satisfazer as cerca detrintamil(30000)pessoasque,comoseestima,candidatar-se-iamaopreenchimentodosrefe-ridospostos.

Édadoadquiridoquea falta

de empregos tem sido um dosproblemasquemaisaf ligemosangolanos,sobretudoosjovens,mesmoaquelesquetêmaposta-dona sua formação académicaeprofissional,que começam jáasentiroseufuturoameaçado,devido à pouca oferta de em-pregos.

Os receios de um futuro in-certonoseiodacamada jovemganham maior consistênciaquando o próprio presente seapresentasombrio,poismuitosdessesjovens,recém-formados,têm sido confrontados com afaltadeexperiênciaparaconse-guirem o seu primeiro empre-

go.Acarênciaéde tal sorteque

muitos são os jovens que, noâmagododesespero, deixaramde se preocupar como tipo deempregos, soldos, regalias oumordomias que as empresasnacionais ou estrangeiras pos-sam lhes oferecer. Para eles, omais importante é conseguirumemprego, de preferência noEstado, já que este continuaa ser a entidade que ainda vaidando alguma estabilidade aosseusempregados.

Sabe-sehojequeaspromes-sasdeummilhãodepostosdetrabalhoestarãomuitolongedeserrealizadas,porqueimpossí-veisde se concretizarnumho-rizontetemporalde4anos,so-bretudonumpaíssaídodeumalongaedesgastanteguerra,queesventroutodooseutecidohu-mano,socialeeconómicoatéàcontundência.

Com efeito, a guerra não sóesventrou e desarticulou todasas infra-estruturas económicasesociais,comotambémforçoua deslocação de várias massaspopulacionais do campo paraas cidades, onde se dedicam,sobretudo ao comércio infor-mal,vindonapráticaaengros-sar o vasto exército de desem-pregados.

Mais do que fazer promes-sas com fins, provavelmente,eleitoralistas,opartidonopo-der e o governo que sustentadevem encarar, com serieda-de e humildade, os problemasdo desemprego que af ligem opaís, procurando encontrar asmelhores soluções com o con-curso de todas as forças vivasdasociedade,incluindoospar-tidos da oposição e os contra-poderes.

Promessas por honrarQUi

aBR26

SeX

aBR27

aBR

SÁB

28

aBR

doM

29

JUN

SeG

30

Mai

TeR

01

Mai

QUa

02

Mai

QUi

034º PODEROMundoassinalaem3deMaio,DiaInternacional

daLiberdadedeImprensa.EmAngola,oactocentralteve lugar na cidade deN’Dalatando, província doKwanza-Norte,numaactividadeemqueestevepre-sente a ministra da Comunicação Social, CarolinaCerqueira.

SAMAKUVA NA IRLANDA Depois de ter estado emWashington, no

âmbito do seu périplo por alguns países, opresidentedaUNITAvisitouaRepúblicadaIrlanda, onde teve contactos com membrosdoGovernoedoParlamentodessepaíseuro-peuemembrosdasociedadecivil.

PELA ESTABILIDADE Trabalhadores de todo omundomarcha-

ramnesseprimeirodeMaio emapelo à es-tabilidade.Emuníssono,aforçatrabalhistade todomundo procura incessantemente aestabilidade não só da remuneração, mastambémdoemprego.

GUINEENSES NA GÂMBIA UmadelegaçãodaGuiné-Bissau,compostade

cercade20elementos,entremilitaresepolíticos,reúne-senaGâmbia, para encontraruma solu-çãoparaa crisenaquelepaís,membrodosPA-LOPedaCPLP,provocadapelogolpedeEstadode12deAbrilpassado.

INTER INVICTOOInterclube,únicorepresentanteangolanoain-

daemprovanascompetiçõesafricanas,venceunoseuestádio,oAlAmaldeOtbadoSudão,por4-1,em jogoreferenteàprimeiramãodosoitavosdefinaldeapuramentoàfasedegruposdaTaçadaConfederaçãoAfricanadeFutebol.

ATAQUE A MANIFElementosàpaisanaecomosrostoscobertos

comcapuz,dispersaram,nestesábado,28,umaconcentração de jovens, que pretendiammar-charemdirecçãoàviladeCacuaco,localidademaisde10quilómetrosanortedeLuanda.

MINEIRO EM FESTA O director geral da SociedadeMineira de

Catoca(SMC),GangaJúnior,afirmouque,noquadrodoseuprogramaestratégico,aempre-sa projecta explorar, nos próximos anos, dia-mantes naRepúblicaDemocrática doCongoenaZâmbia.

PRS EM MARCHA OPartidodeRenovaçãoSocial(PRS)anun-

cioupara29a31deMaiode2012,arealizaçãodo seu terceirocongressoordinário. Jánaes-teiradaspróximaseleições,aorganizaçãoiráaproveitar o conclavepara traçar a sua estra-tégiaeleitoral.

Os receios de um futuro incerto no seio da camada jo-vem ganham maior consistência, quan-do o próprio pre-sente se apresenta sombrio, pois mui-tos desses jovens, recém-formados, têm sido confronta-dos com a falta de experiência para conseguirem o seu primeiro emprego.

Page 3: semanario_angolense_464

em Foco

Sábado, 05 de Maio de 2012. 3

Este ano, o 3 de Maiotem como lema «NovasVozes: A liberdade dosmeios de comunicação

ajuda a transformar as socieda-des».

OSindicatodosJornalistasAn-golanos considera que o lema es-colhido pelo sistema das NaçõesUnidas para assinalar em 2012 oDia Internacional da Liberdadede Imprensa corresponde perfei-tamenteaomomentoquevivemosemAngola.

Dez anos depois das armas seterem calado, o país continua aviver um momento de grandestransformaçõesemtodaasuapai-sagemsocio-política.Hojemaisdoquenuncaossuperioresinteressesnacionais exigem o desenvolvi-mentoeoestabelecimentodeumacomunicação social mais livre,mais independente e mais plura-listaquepermitaatodososango-lanosdeCabindaaoCuneneteremacessoaumainformaçãocredívelediversificada.

Só com esta oferta em termosquantitativos e qualitativos, ondese inclui o crescente papel da in-formação produzida na Internete pelas redes sociais, estará a co-municação social em condiçõesde ajudar a sociedade angolana aprosseguircommaiorvelocidade,coerência, transparência e justiçao caminho das transformaçõespositivasquesevêmoperandonopaís.

Tendo em conta a inaceitávelexistência do monopólio estatalquesemantémsobreaactividadeda radiodifusão com coberturanacional,apardeoutrasdificulda-desquesecolocamaosurgimentode novas rádios independentes, arealidademediáticaangolanatemestadoaevoluirde formacontra-ditóriaenemsempreconsentâneacom o seu papel de alavanca dastransformaçõessociais.

Ofactodopaís,cercade37anosdepoisdesetertornadoindepen-dente,sópossuiratéhojeumjor-naldiárioquetemaparticularida-dedeserpropriedadedoGoverno,traduz bem a decepcionante rea-lidade que se vive emAngola dopontodevistadaefectivaliberda-dedacomunicaçãosocial,confor-meelaéencaradapelaDeclaraçãodeWindhoekde1991,queestánaorigemda comemoração do 3 de

Maio.Estajornadade2012consagra-

daaLiberdadedeImprensaocorremeses depois das Nações Unidasteremdado início aoprocessodeaprovação e implementação doprimeiro plano de acção sobrea segurança dos jornalistas e decombateàimpunidadedoscrimespraticados contra os profissionaisdaimprensa.

EmAngola,oSJAconstataquenosúltimosmesesenasequência

dasmanifestaçõesdosjovensedepartidospolíticosquetêmocorri-do,asegurançadosjornalistasnoexercíciodasuaactividadeprofis-sional tem vindo a deteriorar-se,havendoinclusiveagressõesfísicasperpetrados por pessoas encapu-çadas e cuja identidade a Polícia,autoridadecompetentepelaordempública,nuncachegouarevelar.

Ainda emmatéria de seguran-çamasnumaoutraperspectiva,oSJAnãopodedeixarde lamentar

profundamente as circunstânciasemqueocorreuoacidentedeavia-çãocomhelicópterodasFAAquevitimou o “cameramen” da TPA,Feliciano Mágico, numa alturaemqueaindanãosabemuitobemqualseráasortedosjornalistasSa-muelLussaty,SérgioBravoeAle-xandreCose.

Na ausência até ao momentodosresultadosdequalquerinqué-rito feito para apurar as respon-sabilidades pelo sucedido, o SJA

aproveita a oportunidade paramanifestar todo o apoio moral elegal aos jornalistas da TPA víti-mas deste acidente e às suas res-pectivasfamílias.

Em causa está a reparação detodos os danos e perdas que so-freram,ondese incluemas justasindemnizaçõesaquetêmdireitoequetêmdeservistasnumcontex-to legalmais adequado, caso nãohajaentendimentocomaentidadepatronal, como já aconteceu emcircunstânciasidênticas.

Emcausaedeumaformamaisabrangente está igualmente a ga-rantia de melhores condições detrabalho e de segurança, o quenem sempre se tem verificado,para os jornalistas exercerem asua actividade em determinadasmissõesquelhessãoatribuídasdeformaaevitarem-seriscosdesne-cessários.

OSJAsaúda,porfim,atodososjornalistas e aos seus órgãos peloesforço que têm desenvolvido nocumprimentodassuastarefas.

Luanda, 3 de Maio de 2012

A Secretária GeralLuísa Rogério

Declaração do SJA sobre o «3 de Maio»

«Liberdade dos meios de comunicaçãoajuda a transformar as sociedades»

Page 4: semanario_angolense_464

em Foco

4 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Ilídio Manuel

Rui Alves Machado, um dos advogadoscontratadospelogeneralKundiPaihamaparaodefendernocontenciosodaGesti-grupo,serátambémadvogadodoempre-

sárioportuguêsAntónioFerreira.Emboranapráticaestejaadefenderapenasosin-

teressesdogovernanteangolano,RuiMachadoserádetentor de duas procurações forenses de ambaspartes desavindasnesse casoqueopõePaihama aFerreira.

Num documento, a que o Semanário Angolen-seteveacesso,constaqueantesdeterestabelecidoacordocomPaihama,jáRuiMachadoestavaprofis-sionalmenteengajado,apartirdeFevereirode2011,num outro compromisso com António Ferreira.[videfac-simile].

Háreferênciasquemesmodepoisdeo«vernizterestalado»entreosdoisaccionistas,RuiMachado,aoinvésderenunciaraprocuraçãoquelhetinhasidopassadapeloempresárioportuguês,teráoptadoporsecolocaraoladodogeneralKundiPaihama.

Fontes do Semanário Angolense disseram estasemanaqueocausídicodeorigemportuguesa«se-quersedignouainformaroseuclientesobreasuamudança de postura ou, melhor, acerca da «mu-dançadecamisola»,continuandoinclusiveatrocarcorrespondênciacomoseuconstituinte».«Aúltimafoitrocadaem13deAbrildesteano»,adicionaram.

Asrelaçõesentreambasaspartessãoaindaates-tadaspelofactodeestaremacorrerdoisprocessosjudiciaisnoTribunalSupremoenaSaladoCiviledo Administrativo do Tribunal Provincial de Lu-anda,nosquaisRuiMachadoterásidoconstituídoadvogadoporAntónioFerreira.

Corremtambéminformações,segundoasquais,RuiMachado estará a sonegar importantes infor-maçõesaoseuconstituinte,depoisdeeleterpartici-padonumareunião,duranteaqualterásidoaltera-doopactosocialdaGESTIGRUPO,supostamenteàmargemdalei.

«EmMarço deste ano, ele participou numa as-sembleia-geral (AG) do grupo empresarial, tendoinclusivesecretariadoareunião,masnãofezchegaraoseuclienteoconteúdoeaactadessaAG.FoiapartirdessaalturaqueFerreiraficouasaberqueoRuijáestavaaoseuserviço,massimdoseuoponen-teKundiPaihama», revelaramas fontesdeste jor-nal,quepediramoanonimato,porrazõesóbvias.

Comenta-se que, em jeito de gratificação pelostrabalhos prestados, RuiMachado terá sido agra-ciadocomumcargodeadministradordaGESTI-GRUPO,alémdeumoutrodeadvogadonomesmogrupoempresarial.

AGESTIGRUPOéumasociedadeanónima,quetemcomoaccionistasprincipaisKundiPaihamaeAntónioFerreira,com37,5%dasacçõescada,tendocomoprincipalactivoa«QuintaRosaLinda».

Paihama,quenãoterápostoumúnicotostãonasociedade,temvindoacusarFerreiradepráticafur-toeapropriaçãoilícitadedinheiros,umaacusaçãoqueoseuoponenterefutacategoricamente,denun-ciando inclusive alterações aopacto social da em-presa,àmargemdalei.■

Causídico não terá renunciado a procuração forense

Rui Machado estará a defender Kundi Paihama e António Ferreira no mesmo processo judicial?

Page 5: semanario_angolense_464

em Foco

Sábado, 05 de Maio de 2012. 5

Confrontado com o as-sunto na quinta-feira,03, Rui Machado en-viou-nososeguintee-

mail,emrespostaaumquestio-nárioquelhehaviasidoenviadonavespera:

«Desdeoanode2009queoes-critórioque representopassouaassessorarjuridicamenteasocie-dade comercial de direito ango-lanodenominada “Gesti-Grupo,SA”(emqueéaccionistaderefe-rênciaoSr.generalKundiPaiha-ma,edaqual fazparte tambémo cidadão português AntónioManueldaCostaFerreira,contraoqualfoirecentementeapresen-tadaumaqueixacrimepordes-viodefundos,novalorapuradoatéaomomento,devinteecincomilhõesdedólaresnorte-ameri-canos,queforamilicitamentere-tiradosdeempresasangolanas).

Para além da Gesti-Grupo,assessoro também as suas par-ticipadas, de entre as quais sedestaca a sociedade comercialdedireitoangolanodenominada“Plurijogos,SA”.

Aproveito para informar quetambémassessorojuridicamenteumadasmaisilustresfigurasan-golanas, o cidadão e empresárioKundiPaihama, factoquemuitonos honra e prestigia, uma vezque se trata de uma pessoa porqueeuestoucertoqueamaioriadosangolanostemamaiorcon-sideração,estimaerespeito.

Represento e representei aGesti-Grupoeassuasparticipa-dase,por inerênciade funções,naturalmente também os seusadministradores.Daíquetenha,por diversas vezes, represen-tado o Presidente do ConselhodeAdministração, ou, oAdmi-nistradorÚnico,das sociedadesreferidas,queatéaoanode2011foiocidadãoportuguêsAntónioManueldaCostaFerreira.

Por isso, nunca representeio Sr. AntónioManuel da CostaFerreiraemnenhumassuntodoseuforopessoal.Daíqueasins-truçõesquerecebianoâmbitodeuma relação advogado – clienteeramsempredosrepresentantesdasempresasatrásreferidas,queeu assessorava e que me remu-neravam.Nunca o cidadãoAn-tónioManuel daCostaFerreirame transmitiu instruções ouinformaçõespessoais,nempro-cedeuàliquidaçãodequaisquerhonorários, uma vez quenuncalhepresteiqualquerserviçoatí-tulopessoal.

Julgopor issoqueoSemaná-rioAngolensedeveestarafazerconfusãoentremimeosilustres

advogadosHenriqueAbecasis eÁlvaroRoquete,umavezquesãoestes meus colegas portuguesesque,essessim,tantoquantojul-go saber, representam em tudoe para tudo, o cidadãoAntónioManueldaCostaFerreira.Maispossoinformar,atítulodeexem-plo,queenquantorepresentantejurídicodaGesti-Grupo,tivedi-versas reuniões comos advoga-dosdasociedadeportuguesadeadvogadosHAAR,nasquaismefoitransmitidopelopróprioDr.ÁlvaroRoquete,queoSr.Antó-nioManueldaCostaFerreiralhehavia concedidoplenospoderesparatratardetodososassuntosqueestepossuinaGesti-Grupo.

No fim do ano de 2010 e iní-ciosdoanode2011,representeiaPlurijogos e todos os seus admi-nistradores, em dois processosjudiciais intentados pelo Sr. JoséEduardo Marques Fernandes,cidadão que alega ser tambémaccionistadaPlurijogos.Umdosprocessosestásuspenso,e,nose-gundo, a sentença foi favorável àPlurijogoseaosseusadministra-doresde então, entreosquais seincluía o Sr.AntónioManuel daCostaFerreira.Curiosoéconsta-tarmoscomoéfácilhaverpesso-asquemudamdeopiniãomuitorapidamente, dizendo hoje umacoisa quando no passado disse-ram outra totalmente diferente.Por exemplo, o Sr. AntónioMa-nueldaCostaFerreiradiziaatéhánãomuitotempoatrás,queoSr.JoséEduardoMarquesFernandesnunca tinha sido accionista daPlurijogos.Agora,epeloquelinacomunicaçãosocial,parecequejáachaquefoi.

A terminar recordoqueoes-critório de advogados HAAR,dos ilustres juristas HenriqueAbecasis e Álvaro Roquete, setem dirigido à assessoria jurí-dica das empresas em causa,apresentando-se sempre comoilustres representantes do Sr.António Manuel da Costa Fer-reira, também conhecido porAntónio Ferreira, cidadão quetanto quanto julgo saber, nãovem a Angola há mais de doisanos.

Por último, lamento que umJornal como o Semanário An-golense entenda que a minhahonraevidapessoaleprofissio-nalsãomotivodenotícia,eporissoaceitepublicarnotíciasquealémde injuriosase falsas,vêmnasequênciadenotíciasefactostornadospúblicos,emqueeu,aísim, de facto exerço omandatode advogado, mas em que nãosouparte».■

Advogado reage às acusações

Page 6: semanario_angolense_464

em Foco

6 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Antigo activista da Omungaassassinado friamente a tiro

O jovem Júlio SantosKussema, ex-voluntá-rio facilitador da ofi-cinadeinformáticada

ONGOmungaentre2007e2009,foimortalmentebaleadocomtrêstiros na cabeça no passado dia24deAbril deste ano, nomuni-cípiodaCatumbela,provínciadeBenguela,porhomensaindanãoidentificados,noticiouoClub-K

Tudoteráacontecidoporvoltadas22horasdessedia,quandoojovem se encontrava a trabalharno seu pequeno empreendimen-toefoisurpreendidoporhomensarmados,queentramnasualojaedispararamcontraele,atingindo-omortalmente.

Os criminosos puseram-se emfuga. Entretanto, a polícia local jágarantiuqueinvestigaráocaso.

JúlioSantosKussema,nascidoa8deMaiode1990noLobito,eraum jovem licenciado em GestãodeEmpresasdesde2009pelopóloUniversidade Lusíada de Angolanessa cidade portuária e residianoBairrodaLuz.

Entretanto, a Omunga fez sairum comunicado, assinado peloseulíder,JoséPatrocínio,noqualsedizbastantechocadacomoin-fausto,aomesmotempoquedes-cartaapossibilidadedoassassina-toteralgumaligaçãocomofactodavítimajátertrabalhadoparaaassociação, solicitando à PolíciaNacionalparaquedescubraosau-toresdocrime,parasubmeterem-seaocastigoqueseimpõe.

Nanota,aproveitaoensejoparaendereçar à família enlutada assuascondolênciaspelaperda.■

EstáacircularnaInternetumanotaaavisaraoscidadãosparaquetenhamcuidadoemrelaçãoaumanovatácti-caadoptadapelosbandidosparaseapoderamdosbensalheios.Nocasoatéseriam«bandidas»,umavezquetem

avercomsenhoras.Éverdade:afazerfénaaludidanota,hámu-lheresqueseestãoaespecializartambémnorouboaviaturasàmãoarmada.

«Serveapresenteparavosdivulgarumasituaçãoquetemocor-ridoemLuanda,daqualeventualmentemuitosdenósjátomamosconhecimento,outrosnemporisso.Assimsendo,compartilhoainformaçãoquemechegouporfonteidónea,seguraefidedigna:

Háumgrupode três senhorasquesimulamqueoseucarroestáavariadoeocidadãopreocupado,páraocarroparaajudareelaspegamemarmas(AKM’s)efazemoassalto»,começapordizeranota.

Ajuntando,oseuautorgarantequejáforamfeitosdiversosas-saltosporviadestanovatáctica,revelandoaindaquejásecon-seguiuidentificarumdoscarrosusadosporestasmeliantes,umHiundayAccentdecorbordeau.

Oautordanotaavisaaoscidadãosparaqueestejamatentos,evitando parar diante de uma situação daquelas (mulheres su-postamente a precisaremde ajuda) se não conheceremo carroouaspessoas.«Sequiseremajudar,avisemaesquadradapolíciamaispróximadaárea.Aoshomensemespecial,queseiquepordiversosmotivosgostamdeajudaras senhoras,principalmenteemAngola,nãoofaçam.Tenhamcuidado!»,concluianota.Estãoavisados.■

Roubo de viaturas

Eleições na Ordem dos Advogados de Angola (OAA)

Cuidado com elas!

CandidatopelalistaB,oadvogadolusoangolanoMiguel Faria de Bastos foi copiosamente bati-do pelo concorrente da lista A,HermenegildoCachimbombo,passandooúltimoa serdesde

dopassadodia26onovobastonáriodaOrdemdosAdvo-gadosdeAngola(OAA),emsubstituiçãodojuristaInglêsPinto.

Deacordocomcontagemdosvotos,alistaAnãoven-ceu apenas as eleições ao Conselho Nacional da OAA,comotambémaoConselhoProvincialdeLuanda,tendoobtidoresultadosclaramenteconvincentes:nacorridaaopostodebastonário,Cachimbomboobteve226votoscon-tra38doseuoponente,enquantonadisputaaoConselhoProvincial de Luanda conseguiu 214 votos contra 44 deFariadeBastos.

Mestre em ciências jurídico-civis, pela Faculdade deDireitodaUniversidadeAgostinhoNeto,Cachimbombo

éigualmenteprofessor,sendosóciodoescritórioCKAd-vogados.

«OeleitoradovotouemHermenegildoCachimbombo,vistoqueocandidatoda listaAeraquemmaisgarantiaofereciaaoscolegas,emrelaçãoàdefesadosseusinteres-sesdeclasse»revelouumcausídicochamadoacomentaroveredictodasurnas.Visivelmentesatisfeito,considerouqueashipótesesdeFariadeBastosvenceropleitoeram«bastantediminutas,porquesemprefoivistocommuitasreservaspeloscolegas».

Nãosetemconhecimentoseocandidatoderrotadovaiimpugnaro resultadodasurnas, sabendo-se entretanto,queMiguelFariadeBastosaindanãofelicitouovencedor.

DalistaB,àexcepçãodocandidatoderrotado,aúnicafiguracomalgumavisibilidadefoioadvogadoManuelPinheiroMo-reira,queéigualmenteumpolíticocomligaçõesaoPartidodaNovaDemocracia,deQuintinoMoreira.

Cachimbombo «varre» Miguel Faria de Bastos nas urnas

Page 7: semanario_angolense_464
Page 8: semanario_angolense_464

Capa

Ilídio Manuel e Nelson Sul D’Angola (*)

O estado de saúde doaindagovernadorpro-vincial de Benguelacontinua envolto em

mistério,quasetrêsmesesdepoisde Armando da Cruz Neto tersaído das Acácias Rubras. Nestesábado faz precisamente 82 diasdesdequeopolítico,queéigual-mente 1.º secretário do MPLAemBenguela,está foradas terrasdeOmbaka,ouseja,mais15diasparaalémdadataprevistaparaoseuregressoaoposto.

Em Fevereiro deste ano, re-corde-se,oGovernodeBengueladeraaconhecerqueogovernadoririaausentar-sedaprovíncia,porum «períodode 45 dias, em tra-tamento médico no exterior dopaís».

Quandofoidivulgada,anotíciacausoualgumasurpresa,vistoqueerapelaprimeiravezqueoExecu-tivolocalanunciavapublicamenteasaídadogovernadorprovincial,por razões de saúde, embora emalgunscírculos restritos já circu-lassemháalgumtempoas infor-maçõesacercadaprecariedadedoestado de saúde de Armando daCruzNeto.

Constamesmoquegrandepar-tedassaídasdogovernadorparaoestrangeirotinhaavercomoseuestado de saúde, comentando-seinclusive que ele padece, de unsanosaestaparte,deumadoençaséria;umanotíciaque,entretanto,nunca foi oficialmente confirma-daoudesmentida.

Verdade oumentira, o facto éque, devido ao agravamento doseu estadode saúde, o ainda go-vernador de Benguela havia so-licitado, num encontro mantidoantes com o Chefe de Estado, a

suaexoneraçãodessecargo,assimcomo o de primeiro secretárioprovincial do MPLA, como no-ticiara a seu tempo o SemanárioAngolensedeboafonte.

Este jornal afirmava na alturaque a decisão de se afastar dosreferidoscargosteráresultadodepressões familiares e de aconse-lhamentosporpartedosmédicosque assistem o político e antigocomandantemilitar.

Noentanto,volvidosquasetrêsmeses,aausênciadeinformaçõesacercadoestadode saúdedo in-quilinodopaláciocor-de-rosatemestadonaorigem,porumlado,deumasériedeespeculaçõesacercada sua iminente substituição, e,poroutro,dashabituais lutas in-testinaispelasuasubstituição.

Daíqueonossoconfrade«An-golense» tivesse feito referênciasna sua edição n.º 670, de 13 deAbril último, que a substituiçãodeArmandodaCruzNetoestavapara breve, avançando inclusivenomes de eventuais substitutos,avultando a figura do deputadodo MPLA e empresário BentoKangamba.Onome do «patrão»doKabuscorpdoPalanca,nãoeraapenas apontado para Benguela,dum lado, mas também, doutro,para render eventulmente o ac-tualgovernadordoMoxico, JoãoErnestodosSantos«Liberdade».

Ojornaldiziaque«éintençãodealgunsmilitantesdopartidonopodernacapitaldopaísparaqueBentoKangambasejacontempla-do com um cargo no executivo,dada a sua alegada entrega e de-dicação ao partido governante»,consubstanciadanofactodoape-lidado«empresáriodajuventude»ser «um indivíduo das massas,que vive de perto os problemasdascomunidades,principalmentedajuventude».

Eventual substituição de Armando da Cruz Neto, por razões de saúde

Sociedade benguelense contra«hipótese» Bento Kangamba

Também já apontado como um dos possíveis sucessores de Armando da Cruz Neto no cargo de governador provincial de Benguela, o nome de Bento Kangamba tem sido alvo de contestação em terras de Ombaka. Embora se lhe reconheçam méritos em matéria de mobilização de massas (e pouco mais que isso), em alguns círculos locais ligados ao próprio MPLA diz-se que o co-

nhecido «empresário da juventude» não tem capacidade técnica suficiente para governar uma província tão complexa como Benguela. Posto isto, ou seja, com BK aparentemente fora da corrida, continuam em cena dois outros nomes já aventados igualmente como

hipotéticos candidatos à eventual substituição do quase demissionário governador provincial: Agostinho Felizardo, vice-governador local para o sector Económico, e Ângelo Viegas, vice-ministro do Interior para a Ordem Interna

8 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 9: semanario_angolense_464

Capa

Sábado, 05 de Maio de 2012. 9

EmBenguela,algunspo-líticos ouvidos esta se-mana pelo SemanárioAngolense «chumbam»

desde já a ideiadeumaeventualnomeação de Bento Kangambaparao cargodegovernadorpro-vincial, por, segundo eles, o de-putado do «maioritário» e «em-presário da juventude» não tercompetênciatécnicaparasesairacontentonumcargocomoeleva-dograudedificuldadecomoodegovernadorprovíncia,maisaindanuma região emqueos seusha-bitantes são muito exigentes emtermos de qualificações virparatanto.

«Umacoisaédesenvolveracti-vidades filantrópicas e promoverespectáculos músico-culturais,outra coisa, bemdiferente, é go-vernarumaprovínciacomcarac-terísticasmuitopróprias,comoéocasodeBenguela»,afirmaMar-colinoKapingãla,militantedaju-ventudedoMPLA.

Nãonegaaenormecapacidadedemobilizaçãoeopoderdepene-traçãodeBentoKangambajuntodascamadasmaisdesfavorecidas,

maséliminarmentecontraapos-sibilidade desse deputado e diri-gente desportivo vir a se ocupardagovernaçãodeBenguela.

«Ninguém pode tirar oméri-to do trabalho que ele tem feitoem prol do nosso partido, masemminha opinião é desaconse-

lhávelnomeá-loparagovernadorprovincial de Benguela, porque,paraalémdelenãoterexperiên-ciagovernativa,seráumagrandeperdaparaopartidoaíaondeeletemsidomuitomaisútil»,subli-nhou.

Umoutromembrodobraçoju-venildoMPLA,quefalounacon-diçãodenãoser identificado,re-velouqueBentoKangamba«nãoépessoaidealparaBenguela,pornãoestaràalturadosactuaisde-safiosexigidosparaumaboago-vernação».

Na óptica do jurista ViriatoNelson, uma provável nomeaçãodeKangambatrariaprejuízosin-calculáveisàgovernaçãoeaopró-priopartidonopoder,porque«doponto de vista político, oMPLAnãoteráganhoscomassuasprá-ticas de oferecer dinheiro, vistoqueenquantogestorpublicoseráobrigadoacumprirasnormasdecondutaqueosgovernantesestãoobrigadosarespeitar».

Para alguns, só a capacidade mobilizadora é insuficiente

As alegadas razões do veto

ComBentoKangambaforadacorrida,sobramdoisnomesque,eventualmente,poderãosu-cederArmandodaCruzNeto,nomeadamen-teAgostinhoEstêvãoFelizardo eÂngelode

ViegasTavares.Ambos sãonaturaisdeBenguela,mas,peloque foi

possívelapurar,asinclinaçõesestarãoarecairsobreafi-guradoprimeiro.Dopontodevistaacadémico,Agosti-nhoFelizardoestámelhorpreparadoemrelaçãoaBentoKangamba(masnamesmaposiçãoqueÂngeloViegas);temumalicenciaturaemEconomia,estandoafrequen-tarummestrado emGestão eAdministraçãoPúblicanumadasfaculdadeslocais.

Aoníveldoaparelhogovernativo,paraalémdeacu-mular uma longa experiência como vice-governadorparaosectorEconómicodesdeoconsuladodeDumildeRangel,jáchegouadesempenharcargosdeadministra-dormunicipaldeBenguela;dedirectordoGabineteTéc-nicoededirectordoGabinetedeEstudosePlaneamentoEstratégicosdogovernodeBenguela;exerceuaindaasfunçõesdecoordenadoradjuntodacomissãodeinstala-çãodoPAB–ProjectodeÁguasdeBenguela;foicoorde-nadorlocaldoFNUAP–FundodasNaçõesUnidasparaadePopulação;coordenadordoPDHI–ProgramadeDesenvolvimentoHumano Integrado; coordenadordaunidadetécnicadoPRAC-ProgramadeReabilitação

ComunitáriaedeReconstruçãoNacionalecoordenadorlocaldoPAR–ProgramadeApoioaReconstrução.

Temaseudesfavorofactodenãoconseguirestabele-cerumaboaempatiacomasmassas,algoquepodeserdeterminantenestafasedo«campeonato»,emque,nofundo,aliadaàcompetênciatécnica(oseuforte),umaboaligaçãocomoscidadãosaseueventualmandonãopode ser completamente descurada, por razões eleito-rais,claro.

Em relação a Ângelo Viegas, diz-se também que acompetênciatécnicaeumaboaformaçãoacadémicase-rãoospontosmaisfortesdoseucurrículo.Noentanto,paraos«analistas»benguelenses,eletemaseudesfavor,naeventualcompetiçãocomAgostinhoFelizardo,ofac-todeteraindadeperderparteconsideráveldoseutempoadeterminarqueméquementreopessoaldogovernolocalparaconseguircolocaraspessoasnolugarcerto,algoquejánãoaconteceriacomoseu«concorrente».

Deresto,tendoemcontaosanosquejálevadecasa,AgostinhoFelizardoconhecemelhorosquadrosdoexe-cutivolocaleaprópriaprovínciaemsi,peloque,seforeleoescolhido,estaráproibidodefalhar,talcomoespe-ramasvozesqueodefendemcomoeventualsucessordeArmandodaCruzNeto.

(*)EmBenguela

Agostinho Felizardo e Ângelo Viegas na «pole-position»

A corrida agora será apenas a dois?

Page 10: semanario_angolense_464

Política

Kim Alves

AbelChivukuvuku,presidentedamaisnova formaçãopolí-ticadopaís,aConvergênciaAmpladeSalvaçãodeAngola-ColigaçãoEleitoral(CASA-CE),visitou,nestaquinta-feira,03 deMaio, a redacçãodo SemanárioAngolense.A visita

dopolítico,quese faziaacompanharpelo seuconselheiroespecial,ojornalistaeadvogadoWilliamTonet,visousaudarosprofissionaisdoSA,porocasiãodoDiaMundialdaLiberdadedeImprensa,queentãoseassinalava.

Descontraído,semprotocolosemuitobem-disposto,AbelChivuku-vuku,quechegouporvoltadastrezehoras,umbocadodepoisdahoramarcada,começoupor,simpaticamente,saudarosjornalistasedemaisprofissionaisdoSAqueencontrou.Depoisdoabraçodapraxeaodi-rectordojornal,ojornalistaSalasNeto,ouviubrevesexplicaçõesdestesobreofuncionamentodojornal.

Deseguida,nasaladaredacção,rodeadopelospresentes,AbelChi-vukuvukutrocou,comosjornalistas,diversospontosdevistasobreaCASA-CE,aseleiçõeseopaís.Sobreaparticipaçãodasuacoligaçãonaseleiçõesgeraisdesteano,dissequenospróximosdiasoConselhoDeliberativoNacional(ComitéCentral)vaireunirpara,entrediversosassuntos,definirquemvaiserocabeça-de-listapelocírculonacionaletambémsevaidecidirsobrequemserãooscabeças-de-listaporcadaprovíncia. Vai, igualmente, ser definida a equipa que trabalhará noaprofundamentodoprogramadegovernoeestabelecerasmodalidadesdediscussãodoprojectodaCASA-CEantesdaaprovaçãofinal.

«Paratal,nósvamosfazerumasériedeconferênciasnacionais,pro-vavelmentecinco,seconseguirmosemtermosdetempo:naprimeira,vamos explicar aos cidadãos comuns,políticos, académicos eoutros,qualavisãopolítico-institucionaldaCASAemrelaçãoaopaís,quetipode regime, que arrumação, qual o sistema de governo, que reformasinstitucionaisvamosadoptar,etc,etc.»,referiu.

Continuandoasuaexplicação,dissequeasegundaconferênciaserásobreavisãoeconómicadaCASA,quesistema,quemodalidade,queregras,queprincípios,opapeldoEstadoedosectorprivado,entreou-tros;aterceiravaiapresentaravisãosocialdaCASA;aquartaseráso-breaspolíticasdedefesa,ordempúblicaesegurançaeaúltimasobreapolíticaexterna.Éassimquesevaisubdividiroseuprogramadogo-vernonessascincoáreas,queserãodiscutidaspeloscidadãosecaberáàequipaaescolheracoordenaçãodaasdiscussõesàvoltadoassunto.

orenquanto,revelouopolítico,vai-sepassarimediatamenteparaainauguraçãodassedesnasdezoitoprovíncias,emboranãoaconteçamemsimultâneo.Paraestesábado,05deMaio,seráinauguradaasededoHuambo,seguindo-seCabinda,Kwanza-Norte,Kwanza-Sul,Bengue-la,HuilaeMalanje,naprimeirafase,edepoisseguir-se-ãoasoutras.

Abel Chivukuvuku dá «palestra» no SA

«A CASA-CE é indubitavelmente o fenómeno político

do momento»Assim afirmou o líder da novel coligação partidá-

ria, numa animada conversa com jornalistas do Se-manário Angolense, durante uma visita de cortesia que o político efectuou na quinta-feira à redacção desta publicação, por ocasião do Dia da Liberdade

de Imprensa. Ele explicou como está a «sua» CASA, perspectivas e objectivos, falou das eleições gerais e reafirmou que vai fazer a diferença, além de ter apresentado as cinco áreas chave do seu programa de governo, que será levado à discussão pública em

conferências a serem realizadas brevemente

10 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 11: semanario_angolense_464

Política

Sábado, 05 de Maio de 2012. 11

«Asestruturasestãomontadas,osresponsáveisjáexistem(atéjáexistiamantesmesmodaCASAserformalizada).Portanto,vaisersóumexercícioformaldeaberturaeestamosaconseguirestruturardemaneirarazoável.«NoHuambo,pelomenos,emtermosdeinsta-lações,depoisdoMPLA,somosnós,nãoháhipótese.Tambémemtermoseleitoraisvaiserassim»,enfatizou,atiçandoasagacidadedosjornalistasquequestionaramseestáconvictoemsuplantaraUNITAaliondeelatemsidomaisforte.

Comoperspectivaseleitorais,segundoele,aCASA-CEestabeleceutrêsobjectivos.«Oprimeiro foiodemexer comas águasdapolíticanacional apresentandoum fenómenonovo,criarumchoque,trazerânimonovo,daresperançaàspessoas,darfé,paraqueelastenhamopçãoemrelaçãoaospartidostradicionais,umacoisanovaquenãosejaumpar-tidocomoosoutroselançarumdesafioaospartidostradicionaisparaperceberemqueodomíniodapolíticaangolananãotemqueserexclusivodaquelespartidosquefizeramalutadelibertação,pois,ouajustam-seàrealidadeouficamultrapassados.Esteprimeiroobjectivojáfoiatingidoporqueconseguimosmexercomopanoramapolíticoque,nestemomento,jánãoéamesmacoisa»,enfatizou.Opolíticodissequeosegundoobjectivotemduasvertentes:vertenteracionalevertenterealista.«Navertenteracional,nósentendemosqueaCASApodeaspiraracontribuirparaummelhorequilíbriodavidapolíticanacional;nãosepodepermitirquevolteahavermais70,80ou90porcentos;issonãoébomnemparaumademocraciasaudável,nemparaumagovernaçãosaudável.Com70ou80porcentos,osgovernostornam-searrogantes,tornam-seinsensíveisenãoouvem;tornam-seautistas.Quandohájuízosemqueopartidonopodertem52porcento,aoposiçãotemquarentaetal,assimjáháequilíbrioemelhorgovernação,opartidonopoderassim,temqueassumir:ougovernabemoudemite-se.Nestesentido,nósqueremosfazerdaCASAasegundaforçapolíticanacionaldeformarelevantejánestaseleições.Estaéanossavi-sãoracional»,realçouChivukuvukucitandoumditado:«émelhorestarpreparadoparaumacoisaquenãoacontece,doquenãoestarpreparadoparaumacoisaqueacontece,quesignificaqueanaturezahumanaéimprevisíveleosprocessospolíticostambémsãoimprevisíveis.

«Assim, aCASA-CE, na vertenteb realista, estará preparada caso o país surpreenda;imaginemqueoMPLApercaeaCASAganha.SenãoestivermospreparadosvamospediraoMPLAparagovernarmaisseismeses,atéquenosorganizemos?Temosdeestarprepara-dosdopontodevistamental,deprogramaedopontodevistadaabordagemdosrecursoshumanosnaturais»,considerou.

Paraele,oterceiroobjectivoédecorrentedaanáliseracional.«ÉaCASAaestabelecer-sena‘pole-position’:podenãoganharem2012,mastemqueficarnecessariamentena‘pole-position’paraasautárquicasde2014enaseleiçõesgeraisde2017inevitavelmentechegaraopoder»,afirmou.

Aconversacontinuouamenaporlargosminutosenvolvendodiversosassuntos,comoodailegalidadedapresidentedaComissãoNacionalEleitoral(CNE)eoutros,maseradiadefechodojornaletevequeacabar,porsugestãododirectordapublicação,que,abrincar,disseaChivukuvukuquetinhachegadoahoradeparar,senãoaindaoacusavamde«sabo-tar»apresenteediçãodojornal.Entrerisadasporestatirada,pôs-seentãoumpontofinalàsessão,queatéestavamuitoboa.P’rapróximahaverámuitomaistempo.Desdequenãosejanum«diadefecho»,éclaro...Seguiram-seasdespedidas.«Atéoutrodia».Osvisitantesforam-seeamaltaregressouaotrabalho.■

Page 12: semanario_angolense_464

dossié

Baldino Miranda

Nosúltimosanos,opaístem registado umagrandeafluênciadees-trangeiros,quesedes-

locamdos seuspaísesdeorigemparaoterritórioangolanocomointuitodeprocurarmelhorescon-diçõesdevida.Elesvãodeportu-gueses a marfinenses, passandopor brasileiros, chineses, vietna-mitas, cubanos, congoleses, ma-lianos, senegaleses, gambianos,tchadianos, guineenses (Bissau eConacri),eghanenses,entre«tan-tos outros», enfim, meio-mundoquervirouestávindop’raaqui.

O fenómeno intensificou-sedesdequeopaísalcançouapaz,em Fevereiro de 2002. Porém, ocalar das armas e o suposto de-senvolvimento e crescimentoeconómicodeAngola,quesevaialardeando pelo mundo, fê-lotornar-senumaatracçãoparaboapartedosimigrantesdeváriospa-ísesdomundo.

Os estrangeiros que, a todocusto,procurampenetrarnoter-ritórioangolano,fazem-nodevá-riasformaseemdiversospontoslimítrofes com países vizinhos,comoaNamíbia,Zâmbia,Repú-blica Democrática do Congo eCongoBrazzaville.

Deacordocomfontesafectasadiversospontosfronteiriços,indi-víduosvindosdepaísesafricanos,sobretudo da República Demo-crática doCongo, atravessamdeforma ilegal as fronteiras, rumoàszonasdeexploraçãodiamantí-ferae/ouprincipaiscentrosurba-nos,comincidênciaparaLuanda.Esta situação, segundoasautori-dadeslocais,épreocupanteparaasegurançanacional.

No princípio deste ano, maisde cinquenta cidadãos oriundosde Cabo-Verde, Costa do Mar-fim, República Democrática doCongo,Guiné-Bissau,MauritâniaeGabãoforamdetidospelaPolí-cia Nacional, quando tentavamviolar as fronteiras nacionais apartir de vários pontos do país.Geralmente,duasatrêsvezespormês são detectadas situações se-melhantes.Algunscasossãodes-cobertos pela Polícia, que tomaas medidas correspondentes,

mas outros, quiçá, muitos delespassam despercebidos e, assim,milhares de indivíduos, maiori-tariamente com intenções duvi-dosas,acabamporinstalar-seemAngola,promovendoaanarquiaeocaoseconómico.

Práticas ilícitas

Nesse sentido, observadoreslocais afirmam que a apetênciados estrangeiros em imigraremde forma ilegal para Angola éestimuladapela facilidadede re-alizarem actividades comerciaise outras ilegais, como tráfico dedrogas, branqueamento de di-nheiros,etc.

Especialistasemmatériadere-lações internacionais defendemqueasautoridadesangolanasde-vem tomar providências a nívelinterno para descobrir se existeou não pessoas, dentro do terri-tório, que facilitam a entrada detaisimigrantes.Ospotenciaisfo-mentadores desta prática dentro

do território nacional devem serpunidosde acordo coma lei.OsinterlocutoressãodeopiniãoqueoEstado angolano deve usar to-dososmeiosaoseualcanceparagarantirasegurançadoseuterri-tórioedefendera sua soberania.Nos últimos meses, centenas decidadãos estrangeiros que entra-ram de forma ilícita para o paístêmsidorepatriados.

Dados da Polícia Nacional,apresentados à imprensa, dãoconta que a corporação está aenvidar esforços no sentido deneutralizartalpráticaapartirdospontosdevazãoidentificados,fa-zendoumtrabalhodediplomaciacomospaísescorrespondentes.

Segundoosdados,aPolíciaan-golana terá mostrado uma certapreocupação com as fragilidadesnas zonas fronteiriçasmarítimasdopaís.Asdificuldadesdeaces-so a algumas localidades, assimcomo a deficiente comunicaçãotornam as fronteiras marítimascada vezmais vulneráveis às in-fracções.Afugaaofiscoeocon-

trabandosãoasacçõesdelituosasmais frequentes nos limites geo-gráficosdeAngola.

Noperíodoentre2006e2009,aPolíciaFiscal angolanaapreen-deumaisde31milhõesdedóla-res e mais de 200 quilogramasde drogas diversas.O facto de aimigraçãoilegalestaradarazoàtendência de tráficode seres hu-manosemAngolaéoutrapreocu-paçãodas autoridades nacionais.Essasituaçãoestáasercontroladapelas forças da ordem especiali-zadas em investigação criminal.AszonasNorteeLestedeAngolalimitadas pelos dois Congos sãoas mais vulneráveis às invasõesestrangeiras.

Corrupção

Deacordocomfontes ligadasàs zonas fronteiriças doMoxico,Cunene e Cabinda, alguns fun-cionários afectos aos serviços demigraçãotêmestadoacontribuir,nãonosentidodebanirtalfenó-

meno,masnosentidodeopiora-rem.

Destemodo,osimigrantesche-gamacorromperosfuncionárioseagentesfronteiriçoscomvaloresquevãodos300aos1000dólarespor cada imigrante que nuncatenhaentradoantesnopaísede300a600paraosquejáestiveramporcá.

«Oproblemadaimigraçãoile-galnuncavaiacabarporque issotambém é um negócio de altosdirigentes do governo angolano.Muitos dos imigrantes ilegaispassam pelas fronteiras do nos-sopaíscomgrandesnegóciosdedirigentes e, deste modo, nuncasão interpelados e passam comose fossemangolanosde origem»,denunciouumanossafonteafectaaopostofronteiriçodoMoxico.

Continuando,disseque «mui-tos passam porque conseguemcorromper os agentes fronteiri-çose,principalmente,osgrandeschefes.Éumnegócioque sócir-culaentreeles»,denunciouofun-cionário.■

O fenómeno da imigração ilegal em Angola

Há agentes corruptos que facilitama entrada irregular de estrangeiros

12 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 13: semanario_angolense_464

dossié

Sábado, 05 de Maio de 2012. 13

A desestabilização económica, a proliferação dos conflitose das guerras, o terrorismo, osmovimentosmarcadosporquestõesétnico-religiosas,aurbanizaçãoacelerada,abuscadenovascondiçõesdevidanospaísescentraisoudesenvol-

vidos,afugaaodesempregoeassituaçõesdecriseeconómicaportra-balhadoresdaEuropa,parapaísesemdesenvolvimento(comoéocasodePortugalcomAngola),assuntosligadosaonarcotráfico,àviolênciaeaocrimeorganizado,movimentosvinculadosaosgrandesprojectosdeconstruçãocivileoutrosserviçosgerais,ascatástrofesnaturaisesi-tuaçõesambientais,comoocasodoúltimotsunaminoJapão,têmsidoalgunsdesafiosparaalgunspaíseseprincipalmenteparaacomunidadeinternacional.

As restrições em políticas migratórias, as migrações clandestinas,osrefugiadossãograndesepicentrosdamobilidadehumanaqueestãocentradasnaspolíticasmigratóriasangolanas.Asrígidasleisdaimigra-çãoestabelecidasporalgunspaísesreceptoresestimulamaemigraçãoirregular,levandopessoas,principalmentedepaísesvizinhoscomoéocasoRDC-Angola,aefectuaremaimigraçãonãoautorizada.Estesimi-grantesirregulares,queporsuavezvivemnumacondiçãodeextremavulnerabilidade,estãosujeitosàextorsão,aosabusoseaexploraçãoporpartedeempregadores,agentesdemigraçãoeàcorrupção.Pormedodeseremdescobertoseexpulsos,elesnemsequerutilizamosserviçoseassistênciaaquetêmdireitocomosereshumanos,emboracontribuamcomoseutrabalhoparaoenriquecimentodospaísesparaondeemi-gram.

De acordo comasNaçõesUnidas, a restriçãodaspolíticasmigra-tóriasincentivouaformaçãodeorganizaçõesdestinadasafavoreceraentrada,legalouilegal,deimigrantesnospaísesmaiscobiçados,desen-volvendoumverdadeirotráficodepessoas.

Édeenfatizarqueasmáfiasexploramascondiçõesdramáticasdevidaqueassolamaspopulaçõesdospaísesmaispobres.Estesproble-masnãodependemsódaPolicianaprotecçãodasfronteiras,mastam-bémnacriaçãodepolíticaspúblicasquevisemasuperaçãodascausasdofenómeno.Nestasenda,hágrandevulnerabilidadeeconómicaeso-cialporpartedospaísesdosul,quesãoosmaisvitimados.

Projecçõesdemográficasavançavamcifraspara2015deumapopu-laçãomundialvariandoentreummínimode7,1milmilhõesparaummáximode 7,8milmilhões, prevendo um crescimento populacionalmaiornasregiõesmenosdesenvolvidas.■

A situação é preocupante

Para Armando João,jurista e docenteuniversitário, preli-minarmente, a imi-

gração é o acto de se estabe-leceremumpaísestrangeiro.«Considera-se como imigra-çãoomovimentodeentrada,com ânimo permanente outemporário e com a intençãode trabalho e/ou residência,depessoasoupopulações, deumpaísparaoutro.Aimigra-ção,emgeral,ocorrepor ini-ciativapessoal, pela buscademelhorescondiçõesdevidaedetrabalhoporpartedosqueimigram»,disse.

Apósestabrevenoção,oju-ristareferiu:«Importaexplicarqueaimigraçãoilegal,ouimi-graçãoclandestina,refere-seàimigraçãoparaalémdasfron-teirasnacionaiscomaviolaçãodasleisdeimigraçãodopaísdedestino. Segundo essa defini-ção,umimigranteemsituaçãoilegal é tanto um estrangeiroque atravessou ilegalmenteumafronteirapolíticainterna-cional, sejapor terra,águaouar,quantoumestrangeiroquetenhaentradolegalmentenumpaís, mas permaneceu por láapósovencimentodovisto».

Continuando: «Uma vezviolada a regra, quebra-se osprincípiosenormasdodireitointernacional que estabelecea modalidade de imigraçãosem ser por via tortuosa. Napolítica, a imigração ilegalpodeimplicarváriasquestõessociais, como na economia,bem-estar social, educação,cuidados de saúde, escravi-dão, a prostituição, crimina-lidade, protecções legais, osdireitos de voto, os serviçospúblicosedireitoshumanos».

Em sua opinião, uma dasrazõesparaaimigraçãoilegalé a de escapar a uma guerracivil ou repressão no país deorigem,comoperseguiçãore-ligiosa, assédiomoral, opres-são,genocídioouditadura.

«Aimigraçãoilegaltornou-seumproblemacrónicoparaAngola.Odireito internacio-nal, em particular, por meioderesoluçõesdaOrganizaçãodas Nações Unidas, procura,cada vezmais, dar atenção aessa tão importante questão,tanto garantindo os direitosdos estados nacionais comodos imigrantes. Neste caso,tratando com maior rigor

aqueles que sofrem os seusefeitos.Porém,aindahágran-deslacunas»,considerou.

«O caso propriamente deAngola tem duas vertentes: aprimeiratemavercomfacili-dadedesetransporasfrontei-rasquesãovastasecompoucoaparatohumanoparadarcon-tadela;eemsegundo lugar,éum dos lugares desse mundoem crise em que se encontraemprego e possibilidade deganhar economicamente peloseuníveldedesenvolvimentoeprojecção»,esclareceu.

Aconcluir,disse:«Épossí-vel concluir que Angola pre-

cisa da imigração legal, masesta precisa sermelhor regu-lamentada. Há necessidadedeseencontrarumequilíbrioentre os dois posicionamen-tos dominantes: o primeiroé a defesa da segurança dosseus povos, procurando ca-pacitarospontos fronteiriçosnacionaiscontraaimigração;osegundo,éodeumaAngo-la livre, comaberturaparcialou total das fronteiras, paraacolhercalorosamenteosimi-grantes vindos dos mais di-versospaíseslegalmente,pro-curando proporcionar-lhesumavidadigna».■

Segundo o jurista Armando João

Um problema crónico

Page 14: semanario_angolense_464

dossié

De acordo como porta-vozdoServiçodeEmi-gração e Estrangeiros(SME), Milagre Tchi-

tunda,aquestãodaimigraçãoile-galemAngolaéumfenómenodegestãobastantedifícil.Mas,ape-sardetodososproblemasquesevive,«asituaçãoestácontrolada».

«Tem sido muito difícil geriro fenómeno da imigração ilegalemAngolaporqueos imigrantesquerem penetrar no territórioangolanoatodocusto.Temoses-tadoarealizaremtodasaszonasfronteiriças campanhas contra aimigração ilegal, mas, podemosassegurarqueasituaçãoestácon-trolada»,informou.

Deacordocomoporta-vozdoSME,medidas têmsido tomadasem todos os sentidos, principal-mentenazonanortedopaísondemuitos estrangeiros, por via deembarcações de pescadores an-golanos,procuraminfiltrar-senoconjunto para de maneira maisfácilentrarem.

«No âmbito das operaçõesfeitas no norte do país e não só,desde Janeiro do presente ano,jáexpulsamosmaisdecincomilimigrantes ilegais.Fazer lembrarque continuamos a trabalhar nosentidomelhorasituação»,disse.

Em relação à alegada corrup-ção de alguns agentes fronteiri-ços, Milagre Tchitunda afirmouque os que têm sido apanhadossãopunidosemfunçãodosactosque cometem. «Quem continuarcom as mesmas práticas, terá omesmofim»,advertiu.■

Milagre Tchitunda, porta-

voz do SME

«É um fenómeno

difícil»

Numa perspectiva global, a imigra-çãoilegaléumfenómenotãoanti-go comooprópriohomem.Aliás,elanãoexistesemohomem.Tanto

équeohomemprimitivoquandoconstatavaqueaterraquelhedavaosmeiosnecessáriospara o sustento próprio e dos seus já estavaexaurida,procuravaemoutras regiõesnovoscamposdeabastecimento.

AtéaprópriaBíbliadizqueemfacedoscam-poscultivadosporAbraãoeLotsereminsufi-cientesparaosustentodassuasfamílias,opri-meiropropôsqueambosemigrassemàprocuradeterrasmaisubertosas(Genesis13:6e9).

AinvasãodaEuropapelashordasbárbarasfoi na realidade um movimento migratório,pois estes povos deixavam as suas terras deorigem,esgotadaseinsuficientesparagarantirasobrevivência,paraprocurarnovoscampos.Tudoissodemonstraqueohomemsempresepreocupou emevitarosmaioresflagelosqueafligem a humanidade, a fome e a insegu-rança. E, ontem como hoje, omundo aspiraalcançarapazentreoshomenseasseguraropãonecessárioparaosustentodetodos.ÉdacompetênciaexclusivadecadaEstadolegislarsobreadmissãoeexpulsãodeestrangeirosemseuterritório.

Os Estados americanos reunidos em1928,emHavana,porocasiãoda6.ªConferên-ciaInternacionalAmericana,assinaramumaconvençãosobreacondiçãodosEstrangeirosquesegueaorientaçãoadoptadapeloInstitu-todeDireitoInternacional.Comefeito,oseuartigoestatuique«osEstadostêmodireitode

estabelecer,pormeiode leis,ascondiçõesdeentradaeresidênciadosestrangeirosnosseusterritórios».Masissonãoéumpreceitorígido,absoluto.OEstadonãopode,porquestãodehumanidade e de respeito à pessoa humana,recusaroingressoemseuterritóriodeindiví-duosque,perseguidosemsuaterradeorigemoudomicílio,lhepedeasilo.

IssomesmoreconheceuaDeclaraçãoUni-versal dos Direitos do Homem, firmada em10 deDezembro de 1948, pelasNaçõesUni-das.Nestedocumento,conformeoartigotre-ze, foi reconhecido pelos Estados signatáriosque«todohomemtemdireitoà liberdadedelocomoçãoe residênciadentrodas fronteirasdecadaEstado.Todohomemtemodireitodedeixarqualquerpaís, inclusiveopróprio, eaesteregressar».

Enquantooartigo14estipulaque«todoho-mem,vítimadeperseguição,temodireitodeprocuraregozarasiloemoutrospaíses».

Entretanto, a doutrina não é uniforme arespeitodestainterrogação:seráqueoEstadotemodeverdereceberourecusaremseusolocidadãos nacionais dos demais membros dacomunidadeinternacional?

Se uns sustentam que, em decorrência doprincípiodasoberania,oEstadoélivredead-mitirounãoosestrangeirosqueprocuramoseuterritório,outrosseguemprincípiosopos-tos, baseados na norma da interdependênciaquedeveexistirentreosdiversosestados.

Detodasposiçõesapresentadasemrelaçãoàadmissãodeestrangeiros,fica-senumapo-siçãosuigeneris,poisésustentadoqueoEs-

tado não pode, salvo as restrições oriundasde seu inalienáveldireitodedefesae conser-vação, impedir a entradade estrangeiros emseuterritório.Essasrestriçõesdizemrespeitoaoschamadosindesejáveis,istoé,aquelesquepormotivosdesaúdeoumesmossociaisnãopodementrarnopaís.

Admitindo em seu território os estrangei-ros,oestadotemodeverdedar-lhesumtrata-mentocondigno,apesardepoderexercerso-breelesodireitodevigilância, consequênciadirectadoseudireitodedefesaeconservação.Issomesmo reconheceu a convenção deHa-vana,jácitada,queafirmou:«Osestrangeirosestãosujeitos,tantoquantoosnacionais,àju-risdiçãoeleislocais,observadasaslimitaçõesestipuladasnasconvençõesetratados»,comotambémqueos«Estadosdevemconcederaosestrangeirosdomiciliadosoudepassagememseu território todas as garantias individuaisqueconcedemaosseusprópriosnacionaiseogozodosdireitoscivisessenciais,semprejuízonoqueconcerneaosestrangeiros,dasprescri-ções legais relativos à extensão e modalida-desdosditosdireitosegarantias».Váriassãoas restriçõesqueosEstadosadoptamnoqueconcerneàadmissãodeestrangeirosemseusterritórios. Uns cobram taxas de admissão,outrosfixamcotasdeemigraçãoequasetodosexigemaapresentaçãodepassaportes.Asrefe-ridasexigênciasencontramamparonoartigo1.ºdaconvençãodeHavana,de1928:«OsEs-tadostêmoDireitodeestabelecer,pormeiodeleis,ascondiçõesdeentradaeresidênciadosestrangeirosemseusterritórios».■

As convenções internacionaisversus o direito de cada Estado

14 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 15: semanario_angolense_464

entrevista

Sábado, 05 de Maio de 2012. 15

Jorge EuricoeNunesAmbriz(fotos)

Na sua primeira entre-vista ao SemanárioAngolense, numa al-turaemqueseacabava

decomemoraro1.ºdeMaio,DiaInternacionaldosTrabalhadores,o vice-presidente do SindicatoNacional de Professores (SIN-PROF) fala do actual estágio dosindicalismonopaíse,pelomeio,não se coíbe de dar algumas (eboas)palmadasaonossosistemade ensino. Na passada, ManuelFonsecadeVictóriaPereirareve-laquesersindicalistaemAngolaéum«bicod’obra»,a julgarpelaperseguiçãodequeserãovítimasos membros de algumas agre-miações sindicais, que, depoisdaaberturadopaísaomultipar-tidarismoeàdemocracia,setêmprestadoadefenderosdireitosla-boraisdosseusassociados.Dissemais:hásindicatosquesãofanto-chesaoserviçodopatronato.Porissomesmo,consideraque«alutacontinua»!

Semanário Angolense - Tem saudades da «emulação socia-lista» dos tempos de partido único?

Manuel de Victória Pereira (MVP) - Não guardo propriamen-te saudades, embora confesse que ia motivado para o trabalho vo-luntário e tenha uma vez sido no-meado como «destacado», guar-dando zelosamente o diploma, que não tinha qualquer recompensa material. É que, na altura (anos 70 e 80), ainda tinha fé na mudança, dentro do «sistema», daquilo que já vinha ficando para mim fla-grantemente errado, aguentando as carências da época. Todos des-contámos para aqueles sindicatos do «mono». A consciência evoluiu em função da realidade.

SA - Que ganhos foram regis-tados de lá para cá na vida sindi-cal nacional?

MVP -Antes de mais, o quadro legal sofreu uma relativa aber-

tura e nasceu um sindicalismo independente, que rompeu com o

mono-sindicalismo amarrado ao Governo. Houve algumas conquis-

tas remuneratórias graças às lutas trabalhistas, como a do SINPROF. As políticas de Estado começaram a ser alvo da visão crítica dos sin-dicatos e, ali onde as liberdades são violadas, porque continuam a ser, pelo menos algumas forças reagem.

SA- O sindicalista de hoje ainda pensa e age como o de 1974/5 ou registou-se uma evolução?

MVP-As atitudes não são iguais: há os quadros novos e os cabouquei-ros da organização independente, com uma mentalidade e uma linha de trabalho fiéis aos trabalhadores. Mas, nas organizações e dirigentes herdados da 1.ª República ainda

Manuel de Victória Pereira, vice-presidente do SINPROF, ao SA

«O sindicalismo independente acabou com o monosindicalismo

mas a luta ainda continua»

As três centrais sindicais ou estão frouxas ou sempre o foram. Os sindicatos de ramos têm os seus altos e baixos, mas distin-guem-se os que mantêm acesa a chama da luta e a disponibi-lidade de serviços para a massa filiada, contribuindo para o tratamento dos «dossiers» aos vários níveis, fazendo palmo a palmo as suas conquistas. Mas, em quase todas as organiza-ções que têm estruturas de base, encontramos gente válida e alguma saúde combativa

Page 16: semanario_angolense_464

entrevista

16 Sábado, 05 de Maio de 2012.

impera muito o seguidismo relativo ao partido-governante e a sua acção controladora que só favorece os empregadores, estatais ou privados. Tiro, entretanto, o meu chapéu às comissões sindicais das empresas que, indepen-dentemente das federações e centrais a que estão filiadas, agem com coragem, autonomia e capacidade nas acções de luta e negociação. Em contrapartida, siglas novas apresentaram-se como organizações alternativas, mas imitam o tempo do «mono» ou só servem de anticorpos para o empregador contrapor aos sindicatos independentes.

SA - Como define a época actual, do ponto de vista sindical?MVP -Contraditória. As três centrais sindicais ou estão frouxas ou

sempre o foram. Os sindicatos de ramos têm os seus altos e baixos, mas distinguem-se os que mantêm acesa a chama da luta e a disponibilida-

de de serviços para a massa filiada, contribuindo para o tratamento dos «dossiers» aos vários níveis, fazendo palmo a palmo as suas conquistas. Mas, em quase todas as organizações que têm estruturas de base, encon-tramos gente válida e alguma saúde combativa.

SA - Temos no país sindicatos coerentes e sindicatos independen-tes?

MVP -Felizmente sim. No projecto e na luta do SINPROF eu acredito, apesar das tentativas de o desvirtuar e infiltrar. No meu modesto pensar, admiro muito o que o Sindicato de Jornalistas de Angola (SJA) fez pelos interesses da classe e sobretudo pela defesa da Liberdade de Imprensa e de Expressão dos cidadãos, fazendo com que se chumbassem projectos ditatoriais. Os marítimos do SIMA foram o exemplo de maior valentia e resistência e se o que conquistaram foi pouco, a luta continua.

SA - A nossa sociedade reconhece a coerência destes sindicatos?MVP –Há pais e encarregados de educação que vêem na nossa luta a

defesa do ensino de qualidade, das boas condições nas escolas, do maior suporte orçamental para a Educação - pelo menos 20% - e não apenas o fantasma da greve. Há funcionários de outros ramos, que, não conse-guindo ou vedados pela lei a fazerem uma luta igual, nos encorajam. Sa-bem que a luta dos professores vai levando indirectamente a uma mexida nos seus salários. A sociedade civil tem no SINPROF um sindicato de referência e vai expressando a sua solidariedade, quer por organizações, quer por individualidades. Creio que o mesmo acontece em relação aos sindicatos supracitados.

SA - Quais são, hoje, os grandes problemas do nosso sindicalismo? MVP – Entre outros, a capitulação de alguns dirigentes, aqueles

que são «tachistas», oportunistas, sem nenhuma liderança positiva nem espírito solidário. Há ainda pseudo-sindicatos de ramos fundados e dirigidos por gente alheia às profissões supostamente representadas por eles. Acrescentemos a isso as limitações, legisladas algumas, outras «contra legem», às liberdades universais. É que há poderes centrais e lo-cais alérgicos ao sindicalismo livre. Depois, mesmo naqueles sindicatos que se safam, a saúde financeira bem podia ser melhor, se o emprega-dor respeitasse o disposto na Lei Sindical e no Decreto Conjunto 72/91, que regula o pagamento livre e voluntário de quotas mediante desconto directo. A resistência à sua aplicação na maioria das províncias visa estrangular o sindicalismo independente, mas ainda não conseguiu acabar com ele. Creio também que não basta a honra e o prestígio de um sindicato. Há que melhorar a organização de membros e estruturas em todos os escalões. ■

SA - Quais são os sindicatos que mais se têm destacado na defesa dos direitos dos seus associados?

MVP - Os que já citei e, por exemplo, o SINPES, dos docentes universitários.

SA – Disse que há sindicatos que são marionetas. Quais são?

MVP –Bruxo (risos)! Obvia-mente os do tempo do «mono» que não se remodelaram demo-craticamente e parasitam no poder, de quem são caixa de res-sonância. Depois ainda criaram mais uns de inseminação artifi-cial para servir de tampão ao sin-dicalismo combativo. No nosso ramo nem sei dizer bem as siglas.

SA - A luta do sindicato dos marinheiros pelos direitos dos

trabalhadores da Angonave foi inglória?

MVP – Não! Desnudou uma falência fraudulenta, revelou ao mundo a desumanidade do regi-me e conquistou algumas das re-compensas exigidas. O que falta, cabe aos marítimos definir, mas toda a nossa solidariedade será pouca.

SA – Confirma os rumores que dão conta de uma pretensa perseguição a sindicalistas no país? Quer contar um episódio?

MVP-Houve cartas ameaça-doras, infiltração de bufos, dis-persão de uma marcha sob ame-aça de canos de espingarda.

SA - Numa escala de zero a dez, que nota daria ao desem-penho dos nossos sindicatos?

MVP-É tão arbitrário! Arris-caria sete para os independentes. Prefiro não comentar muito so-bre os outros, já que alguns deles talvez ficassem mesmo abaixo de zero.

SA - Como está o processo de julgamento dos professores na Huila?

MVP -Primeiro, a audiência foi «remarcada» para 18 de Abril, mas, por diligências da defesa, o caso subiu à instância superior.

SA – A relação do SINPROF com o Ministério da Educação está melhor ou pior?

MVP -Parece melhor no man-dato do novo titular, que será mais acessível, mais tolerante e com poder autocrítico. Vamos ver os resultados. ■

De passagem pelo «Caso Angonave»

«A luta do SIMA não foi inglória»

Há pais e encarregados de educação que vêem na nossa luta a defesa do ensino de qualidade, das boas condições nas esco-las, do maior suporte orçamental para a Educação - pelo menos 20% - e não ape-

nas o fantasma da greve. Há funcionários de outros ramos, que, não conseguindo ou vedados pela lei a fazerem uma luta igual, nos encorajam. Sabem que a luta

dos professores vai levando indirectamen-te a uma mexida nos seus salários

Page 17: semanario_angolense_464

entrevista

Sábado, 05 de Maio de 2012. 17

SA - Como está o nosso ensi-no?

MVP -Fraco em qualidade: o quadro geral é de pobreza de conhecimentos dos alunos, inde-pendentemente dos programas. Faltam condições de ensino e aprendizagem, desde as mais ge-rais e básicas até aos laboratórios e bibliotecas, mesmo no ensino que se diz especializado.

SA- O que lhe apraz dizer sobre a «monodocência»?

MVP -Veio assim a despropó-sito, pelo menos antes de se pre-pararem os professores primários, geralmente carentes de oportu-nidades de superação. É que um curriculum mais avançado e mais alargado aumenta as exigências. Fomos contra, não por simples es-pírito de contradição, mas porque ouvimos os filiados e especialmen-te os professores primários. Se isso copia o modelo de algum país que teve algum êxito com isso, não se levou em conta, porém, a realida-de angolana em termos específicos. O SINPROF apela aos professores para lerem mais e se superarem, mas não apoia a medida da ex-tensão pura e simples da «mono-docência» da quarta para a sexta classe, ainda mais com a respon-sabilidade estatal de formar bons professores não sendo cabalmente exercida pelo Ministério da Edu-cação.

SA- Que modelo de ensino é o ideal para a nossa realidade?

MVP - Não posso estabelecer parâmetros, pois seria desonesto. Acredito num amplo debate en-tre o Ministério da Educação e os outros actores: técnicos seniores, professores de todos os níveis, es-tudantes, pais e outros parceiros. Se a avaliação da reforma vem aí, é mais uma oportunidade para repensar o nosso ensino, fazer es-tudos sérios, actuais e realistas, buscando a melhoria substancial.

SA - Como é que os estudantes saem hoje da universidade?

MVP-Alguns bem preparados, outros muito mal. Isto depende de cada estudante e da instituição que frequentou.

SA- O facto de termos univer-sidades em todo país é bom?

MFVP-Mais vagas no ensino superior não chegam. Democra-tizar as oportunidades será bom, senão enganarmos as pessoas com um ensino medíocre catalogado de superior. Há municípios rurais de Angola onde o ensino superior abriu depois de encerrarem o mé-dio. O curso de Química abriu sem laboratórios, parece que inte-ressa agradar a quem quer o ca-nudo, para comprar a juventude, que afinal não vai ter boa forma-ção.

SA - O canudo que se adquire na universidade é mais um títu-lo de nobreza ou comprovativo de um saber técnico?

MVP - Devia ser o comprova-tivo de um saber técnico que ser-visse o progresso e a sociedade, dando ao diplomado vantagens de emprego e remuneração, claro. E aí são precisos também técnicos básicos e médios, havendo justiça salarial e oportunidades diversas. Canudo para fazer vaidade é uma tara ou snobismo barato, enquan-to continuamos a confiar traba-lhos substanciais a expatriados sem qualquer restrição. Angola merece melhor do que isto. ■

Sobre a criação de universidades por todo o país

«Há municípios onde o ‘Superior’ abriu após se encerrar o ‘Médio’»

O canudo devia ser o comprovativo de um saber técnico que servisse o progresso e a sociedade, dando ao diplomado vanta-gens de emprego e remuneração, claro. E aí são precisos tam-bém técnicos básicos e médios, havendo justiça salarial e opor-tunidades diversas. Canudo para fazer vaidade é uma tara ou snobismo barato, enquanto continuamos a confiar trabalhos substanciais a expatriados sem qualquer restrição. Angola me-rece melhor do que isto

Nome:ManuelFonsecadeVictóriaPereira.Naturalidade:Namibe.Data de nascimento:26deAgostode1958.Profissão:Professor.Estado Civil:Casado.Descendência: Trêsfilhoseumneto.Trabalho sindical:16anos.Formação:4.ºanodoISCED-Linguística

/Português.Prato favorito:Kibeba(Choco,óleodepal-

maemandioca).Hobbies: Leitura e música (toca violão e

harmónica).

Bilhete de Identidade

Page 18: semanario_angolense_464

Crónica

Justino Pinto de Andrade

1. Pelomodo como conduzia minha vida, a sociedadeconhece-me mais pela in-tervenção social que faço,

oucomopolítico.Poressarazão,serãopoucososqueconseguirãover-me como o cidadão simplesqueeutambémsou.

2.Pordetrásdoactivistasocialedohomempolítico,estáaindaaminhaoutraface,aoutradimen-sãodavidaqueeumuitoprezo:ohomemdecarneeossocomoosoutros.

3.Eutenhoaperfeitadimensãoda dor, emociono-me e deleito-mecomasingelezaeabelezadavida,seirireseiobservar,aprecioaboamúsicaesigoapaixonadooritmodadança.Gostodeacom-panhar um bom jogo ou outraqualquercompetiçãodesportiva,enãoconsigoconteraslágrimasquando o sofrimento da minhaalma se sobrepõe à forçadami-nharazão.Sobretudo,eunãote-nhovergonhade chorarquandopercoumBomAmigo.

4.Apreciomuitoaminhacon-dição de ser humano normal,talcomoamaioriadevocêsquemeouvemouquemelêem.Paramim,apolíticaeoactivismoso-cial têm um forte sentido ético,masnãosãotudonavida.Apolí-ticaeoactivismosocialsãoape-nas e tão-somente uma simplesconsequência do firme compro-missoqueassumicomahistória.Soufiel aosmeusafectos, epro-curodiariamenteapurartodososmeussentidos.

5. Ausentei-me do país porpoucos dias e recebi, comoumaautêntica pedrada, a notícia damortedeumAmigodeumavida,numaamizadequecomeçámosaconstruir ainda na nossa infân-cia. Morreu o meu Amigo JoãoBaptistaCirilodeSá–sim,oJoãoSádoBairroIndígena!

6. Pelo que consegui apreen-deraolongodavida,sãopoucasasamizadesqueseconstroemnainfânciaequenãoperduram.Namaioriadasvezes,essasamizadessãoperenes.

7. A minha amizade com oJoãoSávenceuasturbulênciasdavida, sobrepôs-se às intempériesdetodootipoqueforamocorren-

do, transformou numa simplesmigalha a grandeza do tempo –venceuo tempo e a distância.Anossa amizade foi se edificandoa partir da estaca zero, quandoainda éramos simples cidadãossembensnemtítulos,semcargosnemfunções,quandoaamizadeassentavanapurezadosentimen-to. Estudámos juntos, duranteumanolectivo,noColégio28deMaio,oColégiodaDonaBerta.

8.OJoãoSáfeztodaainstru-ção primária no Colégio 28 deMaio. Eu frequentei-o durantea preparação para o Exame deAdmissão ao ensino secundá-rio,eapenasnoperíododatardeporque, no período da manha,estudava na escola pública – naEscola83.

9. O João Sá entrou precocepara o Liceu Salvador Correia,comcercade9ou10anosdeida-de.Eueraumpoucomaisvelhoqueelee,porisso,assumiinstin-tivamenteamissãodeoproteger.

10.RecordosempreoepisódiodanossaprimeiraaulanoLiceu:oJoãoSáasairacorrereacho-rardaauladeMatemática.Ficoucommedodoaspectoduro,doarcarrancudo, e da voz sonora doprofessordeMatemática, oGlú-Glú.

11. Ao vê-lo sair da sala e achorar no corredor, eu tambémsaí, para o acalmar... Disse-lhequeoprofessornãofaziamal,queagorajánãoeracomonoColégio

28 de Maio, onde o tratamentoera personalizado. Ali éramostratados familiarmente, como sefôssemosfilhosdosprofessorese,sobretudo, filhos daDona Bertaque era como se fosse amãe detodosnós.

12.Eláfomosnósestudandoefazendooquetodososjovensfa-zem:fomos,emconjunto,desco-brindoossegredoseosprazeresda vida. Crescemos unidos. Láfomosalargandoonossocírculodeamizades:oGigieoTilúMen-donça,oManuelJorge,oJucaRo-mero (amigo de infância e vizi-nhonoBairroIndígena),oJaimeFaria, o Nandito Pacheco, o ZéVan-Dúnem, o Fernando Graça(o“Capim”),oRaulNetoFernan-des, o Elisiário Vieira Lopes, oCarlitosAlonsoBastos,oToniFi-lipe,oSérgioAzevedoBraz.Tan-tos amigos e tantas amizades…Pelomeulado,fuitambémfazen-dooutrascoisascomo,porexem-plo,política,comalgunsdessesecomoutros…Nãomearrependonadadoquefiz.Talvezatépudes-seterfeitomaisemelhor.

13. Estudávamos nos bares,tomando cafés e cariocas, paranão dormir. Nos períodos queexigiammaiorconcentração, es-tudávamosemcasa,ounaminhaounadoJoãoSá.AcasadoJoãoSá tinha um caramanchão ondeestudávamosmaisàvontade.

14.Talcomoeu,oJoãoperdeuo pai muito cedo. Recordo-me

deteracompanhadoosseusder-radeirosdiasdevida.QuandooVelhoSáadoeceu,revezámo-nosparaqueeletivessesemprealgu-macompanhiaaoseulado.

15.Eu, em casada família Sá,eratratadocomoumfilho.Eraomelhor amigo do João Sá. Era oseu companheiro do dia-a-dia edetodososdias–éramoscomosefôssemosirmãos.Talvezporisso,instintivamente, a suafilhamaisnova, que foi minha aluna naUniversidade, me trata hoje porTio–oqueeuapreciobastante.

16.No último ano do Liceu, oJoãodeixouporfazeralgumasdis-ciplinase,porisso,nãoentrouco-migo para a Universidade. Nesseano,entreieu,oManuelJorge(quefoi para Direito, em Coimbra),o Nandito Pacheco (que foi paraAgronomia, no Huambo), o Sér-gioBraz (paraMedicina).OGigijáláestava,maisadiantado,assimcomooElisiárioeoRaulNeto.OJoãoSáeoJucaRomeroentraramnoanoseguinte–foramtambémpara Medicina, por isso, forammeuscaloiros.OToniFilipe,nos-soamigoecolegadeLiceu,naturaldeNdalatando,morreunesseano,electrocutado. Sentimos muito asuamorte,poisnemtevetempodeviverajuventude.

17. Quando regressei do Tar-rafal, o João Sá já ia adiantadonoCursoeeumudeiderumo.OJoão tornou-se médico, militar efezcarreiranessaduplacondição.

AtingiuapatentedeGeneral.Ser-viuaPátriacomdedicaçãoecominteligência–oquenãolhefaltava.

18. Uma das maiores satisfa-çõesquetivefoiser,pordiversasvezes, visto, medicado e curadopelomeuAmigoJoãoSá.Graçasaeledeixeideterconstantescri-sesdepaludismo.

19. Quando a sua filha caçu-la entroupara aUniversidade,omeuAmigoJoãoSátelefonou-meparame pedir conselho sobre orumoadaraosestudosdafilha.Senti, então, muito profunda-menteoprazerdanossa longaesincera amizade.Percebi amen-sagemqueelequeriapassaràfi-lha:AquiestáoTioTininho,comquempodescontarparaavida!...O João já estava, então,debilita-dopeladoençaqueoacometeraequejáoimpediadetrabalhar.Eraapassagemdeumtestemunho–otestemunhodaAmizade.

20.Sintodificuldadeempros-seguir o meu relato, pela forteemoção de ter perdido um dosmeus mais queridos Amigos.Agradeçoavossaindulgênciaporterem acompanhado este meurelato,queépessoal,queavocêspoderánãodizernadamas que,paramim,dizmuito.

21.Foiestaaformamaissim-ples, amais singela que encon-treiparahomenagearoJoãoSá,um irmão de uma vida. O Dr.Cirilo, como era, seguramente,maisconhecido.■

O João Sá – meu amigo

18 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 19: semanario_angolense_464

Crónica

Sábado, 05 de Maio de 2012. 19

Por muitas razões, so-mos pessoas de indo-lentes costumes, den-tre os quais a mania

denãofixarmos os horários dosnossoscompromissos.Eolhaquenãosãopoucososcompromissosqueassumimoshojeemdia.Porexemplo,alguémqueprojectaumalmoço,distrai-se:«às17horastábom?», indaga, sabendo no fun-do,deantemão,queestasnãosãohoras cristãs.Amanhãpodesviràminhacasa,masnãoseiseesta-reiàhoramarcada.Umsuíçoqueouvisse isso, e soubesse traduzirà letraasnossas eternasdúvidasexistenciais, reagiria certamentecompinosdesatisfação,porficarasaberquehámaisumlugarnoPlanetaondeospontuaisrelógiosdoseupaísteriamumaserventiadosdiabos.Eulimito-meaenco-lherosombros. Istoquandonãoépior.

Há o caso em que, com umasemana de antecedência, é mar-cadooalmoço,«evêlásenãoteesqueces».Essaclássicaadvertên-cia pode significarmuita coisa enada.Primeiro,porqueaeventu-

alidadede se falhar fazpartedoavisoparaacomparênciaaocom-promisso.Existetambémoindo-lente anfitrião. Sente satisfaçãoemselarumcompromissosemsecomprometer.Chega-seàcasadoindolente e a situação é de totalindolência: elenãosabequaléocompromissoqueassumiuenemfazamínimaideiadoquedispõepara oferecer ou sequer com oquecontanostockdoseuecono-matoparareceberosamigos.

Adquirimos dos portugue-sesumoutro tipode indolência,não menos indolente: nunca te-mos certeza de que há certezas.Amanhãamãefazanoseébomestarmostodos láparaapagarasvelasecortarobolo.Émesmo,amãeédodia…(oindolentetocaa coçar a cabeça), pode ser queno próximo ano o aniversáriodelacalhenumdiamais folgadoparamim,aítalvezeutenhatem-po,mas,entretanto,vouverse…apareço. Essa duplicação da in-dolêncianãoésuficiente,porém,paragarantirapresençadofilhonoaniversáriodamãe.Éprecisoaguardar para se ter certeza de

quevaimesmoaparecer.Depois há o «ver para crer»,

como São Tomé. O Chefe quemarca a reunião e dá umas pal-madas nas costas do convocado:«vêlásenãoteatrasas».Comin-dolênciasdessetipo,logoàparti-da,hajafé:que,aliás,éoquemui-ta falta faz ao meu primo. E aoindolente domeu sobrinho.Afi-nal,seiquetambémnãoescapo.

Noutrodia,omeuprimomar-coucomigo,masnãoapareceuàhoracombinada,istoé,mandou-mebugiar. Indignei-meepegueino telefone, mas não tive cora-gem de marcar o número. Por-que achei, no final das contas,queeraumprémioindevidoquereceberia de mim mesmo. Maistarde,quandoestavaaverojogoentreo1.ºdeAgostoeoPetrodeLuanda, láestavaele,noecrãdaTV,aassistiraograndetrumuno,acompanhadodeumamoçamui-to bonita. Apeteceu-me, então,zuniratéláparalhezurzirumaspoucaseboas.

Os leitores certamente sabemaquela situação com a qual omeuamigo,oescritorConceição

Cristóvão, se diverte bastante:«Ngedele ku bata diá Nzuá, ngamusangeuatundu».Amimtam-bém jámeaconteceu.Fui à casado indolente do Carlos, que meassegurou,pelocelular,queesta-vaemcasa,masnãooencontrei.Osfinlandeseseosjaponesesquenos arranjem uma nova geraçãode celulares «chico-espertos»,que permitam detectar a tempoehoraasmentirasdetelemóveis.Sereioprimeirocomprador,juro.Enãoquerosóumdestesdetec-tores dementiras.Quero vários.Paracadasuspeitodementir,um.

O prefeito de Nova Iorque ti-nha um compromisso marcadoemManhattancomumadelega-ção inglesa e, optando pelome-tro,saiu-sebem.Osinglesescomamaniadapontualidade,relaxa-ram e foram provar primeiro ofamosohamburguerda«MacDo-nald»ederammancada.Nahoradocompromisso,otáxiencravounotrânsito.

Oh, que nada, tio, eu com omeu«Boeing»,primeiro,jáimpo-nhorespeitoaoscabolas;depois,como ficam em dúvida sobre

quem está no volante, pensamlogo que sou um «mangas». To-pas? Sim, topo,maismesmo as-simnãocumpreshorários.Indo-lente…

Se ser um dos raros seres hu-manosna faceda terra a terumdestes fosse sinónimo de pontu-alidade nos compromissos, óp-timo.Porém, temosexperiênciasquemostramocontrário.

Émais fácil agoramarcarumcompromisso na casca da rolhadoquenocascourbano.Mesmoassim,oindolentedomeusobri-nho, repito, gosta porque gostade marcar encontros na baixa:aliás, todososseusactosdiáriostêmcomopanode fundoaBaíadeLuanda.«Praquêvaisdecar-ro,senãohávaganemparaumStarlet, quanto mais para o teu«Jipão» vindo directamente daGeneral Motors em Chicago?»,indaguei.Oquê?!Otioachaquepoupei, passei mal e o diabo-a-quatro, só para ter a minha«bomba», para abandonar todoesse sacrifício na poeira da mi-nhagaragemnomuceque?Otioémesmocaduco.

Os nossos indolentes costumes

Page 20: semanario_angolense_464

Crónica

Fernão Mateus «Fulas» (*)

Um,dois,três.Sãopas-sos quemarco no ce-náriodomeupasseio.Mas,emvezdosertão,

omeupasseioinsistenaavenida.Agoraentristeceuao reconheceraquelehomem.

Não!NãosetratadoKotaSebada música de Eduardo Paim.Aquele ainda teve a sorte de a«damalhebazar»,quandoavidapiorou.Aquioseuxará,onossokotaSeba,teveoazardesecasarcom umamulher que lhe jurouamor eterno: na felicidade e nadesgraça.Ecomelaosproblemasdossetefilhosdafamília.

Mesmo na desgraça, atraves-sandoafasequeobrigaanosali-viarmos de todos, porque nadatemos, nem para sustento pró-prio, amulher estava sempre aoladodoseuesposo.Paradisfarçarapressãoquesentiadafamília,ohomem até decorou «AgostinhoNeto», o nosso saudoso poeta:«Não sou/ nunca fui/ renuncio-me/atingiozero».EadonaAn-tonica lhe respondia: «Renúnciaimpossível». Contrariando-lhecomotítulodomesmopoemadeManguxi.

O seu filho «caçula», o rapazqueestáaestudarbem,omiúdodequemokotaSebaesperaam-paronavelhice,foiatropelado!Ohomemestavacansadoemolha-dodesuor.Traziaoseupequenoàscostas.Vinhadohospitalonderecebera os primeiros socorros.Aoverasombraquecobriaaque-le banco da avenida DeolindaRodrigues, sentou-se, colocandocuidadosamente o filho no seucolo. Por sorte, omiúdo apenashavia deslocado a perna. Já nãotinha dinheiro para apanhar otáxidevoltaàcasa.Oquetinhagastou-onaurgênciadechegaràescola do garoto, aonde aconte-ceraoacidente.Nemtevetempopara avisar a esposa, que se en-contravaavendernomercado.

Dadão, de seu nome, atraves-savaaestrada,alino«LargodasEscolas», quando voltava paracasa.Ocandongueiroapressado,derrubou-o no eixo da via.Nãoqueriasuportaroengarrafamen-

toprovocadopeloagentedetrân-sito,queparouoscarrosparaqueosmeninosdaescolaestrangeiraatravessassemnahoradasaída.

Sentado naquele banco daavenida, o kota Seba não sabiase amaldiçoava o candongueiro,queatéfugiu,ouseamaldiçoavaoagentedetrânsito:«Commaisdeseteescolasali,porissoéquechamam«LargodasEscolas»,sóforam meter polícia de trânsitona escola dos estrangeiros e dosfilhos dos muatas! E os nossosfilhos?Nósatésomosamaioria.Osnossosfilhospodemmorrer?!Até passadeira bonita, e quebramolascomreflectores,aquelaes-cola tem!E tudocompradocomo dinheiro do Estado». Depoistanto cogitar, ainda sentado nobanco da avenida, o kota Sebaolhoupara si, para a sua condi-ção de pobreza, para a sua ori-gem,paraasuafamília,edepoisperguntou-se:«Masquemsoueuafinal?».

Perdeu o emprego, porque najuventude foi recrutado para adefesadopaís.Hojeconcluiqueforam os melhores anos da suavida.Conheceuquasetodooseupaís. «AfinalAngola é grande!»,gabava-se.Opoderda fardada-

va-lhe a dignidade e o prestígiode combatente pela liberdade.Era visível o orgulho que sen-tia como soldado da Pátria. Noseiofamiliar,estesentimentolhecausoualgunsdissabores. «Mas,kota Seba, você falhou. Entãoa kilumda de fora lhe traz emcasa?!»,perguntouovizinho,in-dignadocomasuamaneiraarro-jadaatenderàssuasamantes.«Eusouantigocombatente.Combatipor este país, pá! Eu sou chefe,estão ame proibir?!». Amulhersurpreendeu-oquandocortejavaumaamigaemsuaprópriacasa.

Com mágoa, viu a desmobi-lização do serviçomilitar levar-lhe o orgulhode combatente daPátria.Ainda tentou voltar paraasuaantigaempresa,masaguer-ra havia destruído a fábrica. Aidade avançada impediu-o deencontrarumoutroemprego.Hádezanosque,semêxitos,andaàsvoltasparaadquirirapensãodereformadoExercito.Éosacrifí-ciodasuaesposa,adonaAntoni-ca,zungueira,quegarante,razo-avelmente,osustentoparaolar.

A casa que estava a construirno terreno que herdou da suamãe, para melhor acomodar aextensa família, foi destruída.

Disseram-lhesqueazonaerare-servafundiáriadoEstado.Foramtransladados para outro sítio,mas não beneficiaramde outrascasas. Ficaram alojados em ten-das. Meses depois, receberamalgum material para auto-cons-trução.Depoisde tantasperipé-cias,umoutroproblema surgiu:a nova área, também é reservafundiária!Tinhamquesertrans-feridosparanãosesabeaonde.

A utopia de que «Omais im-portanteéresolverosproblemasdo povo», fez com que o KotaSeba madrugasse na nova cida-dedo «Kilamba».Era aprofeciadeAgostinhoNeto, o Fundadorda Nação, que ele imaginou es-tarprestea seconcretizar.«Nãoimportavam os anos de sofri-mento.AgoraéavezdoPovo!»,garantiacomconvicção,quandopersuadiaosfilhosmaisvelhosase candidatarempara a compra,a crédito, das novas casas. Masopreço exageradode cada casa,eaformadepagamento,decapi-taram,comamaiorcrueldade,osonhodacasaprópria.«Eraape-nas uma utopia saudoso Poeta»,concluiucomamargura.

Oorgulhodeserangolanodonosso cidadão foi posto outra

vez em prova, e quase desabou,quando tentou empregar o seuprimeirofilho,acabadodesefor-mar.O rapaz ficou desemprega-dopormuitotempo.Estavaclaroque era preciso a recomendaçãodealguém;algumesquema.Masquempoderiafazertalpedido?

Ojovemtevequesecontentarcomopostodemotorista,numaempresa dos petróleos.Mas queempresa? Era uma firma fantas-ma! Aquelas criadas na caladada noite, para operarem no diaseguinte. Os trabalhadores nãoconheciam e nem tinham con-tacto com os seus responsáveis.Os atrasos salariais eram cons-tantes,eacomissãosindicalnãotinhacomquemnegociarasitu-ação.

«Papa,tenhofome.Vamospracasa»,eraoDadão,seufilho,quelhechamavaàrealidade,alisen-tadosnobancodaavenida.Vol-touacolocar-lheàscostase,comasforçasrevigoradas,partiram.

Ainda assim, com todos essesproblemas existenciais, o kotaSeba continua fiel à sua linhapolítica. Ele é militante activodoseu«Partido».Eemdefesadasua opção, já enfrentou muitosdebatesnoseubairro:«Estesnãosentiramakitota.Estãoavircomideiasdessetempo!».

Mas, às vezes, o kota fica areflectir sobre o que os seus vi-zinhos lhedizem,e temdiaquelhesdárazão:«Emdemocraciaénormal ser simpatizantesdeumpartido político. Mas ama-se,acimadetudo,acamisoladaPá-tria,enãoacamisolapartidária.Todosnósdevemos lutarparaodesenvolvimentodopaís.Somosum só povo e uma sóNação.Opartidopolíticoquemelhorpro-gramadegovernaçãoapresentaré aquele que deve ser escolhidopelo povo para governar. Poristoéquehojeganhaumeama-nhãganhaoutro.Nãoseperdeaeleiçãoporqueosmilitantesdei-xaram de pertencer a um certopartido. Perde-se porque o pro-gramadegovernação falhou,ouospolíticosforamdesonestosemrelação às suas promessas elei-torais. Os cidadãos, porque têmacima de tudo os interesses danação comoprioridade, dirigemoseuvoto,agora,paraquemga-ranta,comseriedadeeespíritodetrabalho,oseudesenvolvimentoe o bem-estar dos seus habitan-tes».

(*) Escritor e docente

Passeio vadio (4)

Kota Sebas não melhorou…

20 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 21: semanario_angolense_464

Sábado, 05 de Maio de 2012. 21

Na nova ordem mundial, a palavra-chave é flexibilidade

Em março, o governo de Mianmar – uma junta militar paranóica, há tempos des-tituída e isolada, que atua num enclave fortificado no meio da selva – anunciou que permitiria eleições locais genuinamente livres pela primeira vez em mais de 20 anos. Em abril, os generais mantiveram a palavra, a oposição obteve uma grande vi-tória e os governos ocidentais rapidamente começaram a agir para afrouxar as sanções comerciais contra o país.O que inspirou essa radical mudança de posição? Mianmar está emergindo do gelo para garantir alternativas. O país quer diminuir sua crescente dependência da China. A exemplo de um número crescente de países desenvolvidos e em desenvolvi-mento, Mianmar reconhece a urgente ne-cessidade de firmar laços mais abrangentes de comércio e na área de segurança. Entramos em algo que gosto de chamar de mundo “G-Zero”: um mundo no qual ne-nhuma nação sozinha (nem mesmo os EUA) ou aliança de governos (certamente não o G-7 ou o G-20) possui uma musculatura política e ecônomia capaz de ditar a agenda internacional. Nesta nova ordem mundial descentralizada, crescimento não basta. Um país também tem de ter resiliência — o poder de variar, ou, em inglês, de “pivot”.Que países estão melhor posicionados para variar nessa emergente nova ordem mundial?O Brasil, que recentemente superou o Reino Unido como a sexta maior economia do mundo, tem várias vantagens promis-sioras. Com uma classe média de mais de 100 milhões de pessoas, abriga o maior mercado consumidor da América Latina. Seu governo, liderado por um partido de esquerda, estabeleceu um consenso nacional em favor do mercado — e políti-cas econômicas amigáveis ao investidor. Apesar de as grandes reservas de petróleo em águas profundas, descobertas em 2007, provavelmente garantirem que o país se tornará líder na exportação de energia, sua economia é bem diversificada.Mas há outro fator crucial que fortalece a resiliência do Brasil: seu governo e suas principais empresas desenvolveram fortes laços com vários parceiros robustos. Por 80 anos, o Brasil olhou primeiro para os EUA. Durante a década passada, porém, suas importações da China cresceram 12 vezes e

as exportações saltaram 18 vezes. No início de 2009, o comércio com a China superou o comércio com os EUA, ajudando o país a navegar a recente desaceleração americana sem grandes problemas.A discussão da integração da Turquia na União Europeia não está levando a lugar algum, mas Ancara está ativamente expan-dindo sua influência internacional. A entra-da na Organização do Tratado do Atlân-tico Norte deu voz à Turquia na Europa e influência em Washington. É um mercado emergente que ganha importância, com renda per capita que é quase o dobro da da China e quatro vezes a da Índia. Muitos no mundo árabe olham para a Turquia como um Estado muçulmano moderno e dinâmi-co. Adicione a isso sua posição no meio da Europa, Ásia, Oriente Médio e da ex-União

Soviética, e a Turquia é um modelo de um importante Estado pivô moderno.A África se tornou um continente que tem essa agilidade. Entre 2000 e 2010, seu produto interno bruto real cresceu 4,7% ao ano, e os africanos agora gastam mais em produtos e serviços que os indianos, uma população de porte semelhante. Investi-mentos diretos estrangeiros na África mais que quintuplicaram desde 2000.Durante anos, os Estados Africanos desca-pitalizados tinham de voltar-se quase que exclusivamente para o Fundo Monetário In-ternacional, o Banco Mundial e governos do Ocidente em busca de ajuda financeira. Em muitos casos, aceitaram ajuda do Ocidente com profunda relutância, porque ela fre-quentemente vinha atrelada a exigências de reformas democráricas e mais abertura

para investimentos ocidentais. Mas, só em 2010, o comércio da China com a África cresceu mais de 43%, de acordo com dados oficiais chineses, e o país substituiu os EUA como maior parceiro comercial da África. A África pode agora esperar que multina-cionais e companhias estatais de países de-senvolvidos e em desenvolvimento briguem para ter acesso aos consumidores africa-nos, assim como termos mais favoráveis de investimento. Esta não é a história de uma derrota do Ocidente para a China, porque ambos continuarão lucrando na África. Os vencedores aqui são todos os novos resi-lientes governos africanos.A Ásia abriga vários Estados pivôs. A Indo-nésia, com a quarta maior população mun-dial, goza de um ambiente político estável, com crescimento sólido e uma economia bem diversificada. Seus laços comerciais são bem balanceados entre a China, os EUA, o Japão e Cingapura — e devem continuar assim. O Vietnã recebe a maior parte de sua ajuda do Japão, suas armas da Rússia e seu maquinário (e turistas) da China, e seu principal mercado exportador são os EUA.A pequena Cingapura prova que o tamanho de um país não limita suas alternativas internacionais. A ilha que é uma cidade-Estado localiza-se estrategicamente na embocadura do vital Estreito de Malaca. Seu PIB per capita está entre os mais altos do mundo. O desemprego ronda na faixa dos 2%. O governo de Cingapura tem tra-balhado para conciliar a cultura oriental e as práticas de negócios ocidentais, e o país é agora o quarto maior centro financeiro o mundo, atrás de Londres, Nova York e Hong Kong. Muitas empresas estrangeiras interessadas em estabelecer negócios na Ásia buscam uma base que permita que tenham acesso a todas as fortes economias da região sem uma concentração excessiva em nenhuma delas, e Cingapura tem esse perfil.Encravado entre a Rússia e a China, o Ca-zaquistão já está lucrando com sua posição de Estado capaz de variar. Ele tem uma das economias que crescem mais rapidamente no mundo, graças principalmente às expor-tações em larga escala de petróleo, metais e grãos, que ajudam a garantir que o país não dependa tão fortemente do comércio com a Rússia, seu vizinho na ex-União Sovi-

Não há mais uma superpotência que possa ditar a agenda global, escreve Ian Bremmer. Cada país deve cortejar vários parceiros

EMILIANO PONZI

Page 22: semanario_angolense_464

The Wall Street Journal

ética, ou da China. Almaty, a maior cidade do país, tornou-se um importante centro financeiro regional. Apesar de o Cazaquistão integrar a Or-ganização de Cooperação de Xangai (em inglês, “Shanghai Cooperation Organization”), um pacto de segurança que in-clui Rússia e China, seu maior parceiro comercial é a União Europeia.Nem todos os Estados nessa categoria são mercados emer-gentes. O Canadá permanece vulnerável à desaceleração dos Unidos Unidos, apesar de hoje não ser mais tão vulne-rável como costumava ser — e não está tão exposto quanto o México. As exportações do Canadá para países que não os EUA saltaram de 18% em 2005 para mais de 25% apenas qua-tro anos depois, e o Canadá agora tem cerca de 40% das suas importações vindas de outros países que não os EUA.Além disso, a economia do Canadá é bem diversificada. Como o México, o país expor-ta grande volume de petróleo. Mas também produz uma quantidade substancial de gás natural, máquinas indus-triais, autopeças e madeira e vende esses produtos para vários mercados consumi-dores diferentes. A principal fonte de moeda estrangeira do México vem da venda de petróleo, turismo e das remessas dos mexicanos que vivem no exterior. Em todos os três casos, a vasta maioria dos recursos vem dos EUA. O fato é que sua economia está estreitamente ligada à saúde do seu gigante vizinho.Nos próximos anos, esqueça os tão discutidos grupos ar-tificais como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os chamados “Next 11” , o rol de potenciais usinas de força que inclui a Turquia e a Coreia do Sul, mas também barris de pólvora políticos como o Paquistão, a Nigéria e o Irã.No nosso mundo emergente G-Zero, sem um único poder capaz de determinar a agen-da, os vencedores e os per-dedores da próxima geração serão determinados não pela rubrica do momento mas por como e com qual frequência eles serão capazes de atuar como pivôs.Mr. Bremmer é presidente da Eurasia Group, empresa de pesquisa e consultoria em ris-co político global. Seu artigo é adaptado do seu novo livro “Every Nation for Itself: Win-ners and Losers in a G-Zero World”, (em tradução livre, “Cada Nação por Conta Pró-pria: Vencedores e Perdedores em um Mundo G-Zero”).

Ken ParksThe Wall Street Journal, de Buenos Aires

A atitude da Argentina de na-cionalizar sua maior petrolífera está aumentando os temores dos investidores sobre as políticas econômicas do país e pressio-nando ainda mais o valor de sua moeda.A preocupação com o direciona-mento econômico adotado pelo governo da Argentina aumentou a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo — determinado principalmente por empresas que fazem transações complexas nos mercados de ações e títulos de dívida para poder conseguir dólares — para o maior nível dos últimos anos. Essa cotação do dólar, chamada de “blue-chip swap”, caiu em 18 de abril, dois dias depois do comu-nicado governamental, para 5,69 pesos argentinos por dólar, 29% abaixo do câmbio oficial. Foi a maior diferença desde novembro de 2008, auge da crise financeira.O catalisador mais recente surgiu quando a presidente Cristina Kir-chner disse que seu governo iria nacionalizar uma fatia majoritá-ria da YPF SA. A diferença entre as duas taxas de câmbio já vinha aumentando desde que a presi-dente implementou uma série de controles cambiais e restrições às importações, após sua reeleição

em outubro.O blue-chip swap envolve a com-pra de dívida soberana argentina ou ações locais de companhias listadas nos Estados Unidos, e a subsequente troca desses papéis no exterior por dólares. A blue-chip swap é a taxa de câmbio implicita nessas transações.A cotação menor do peso no para-lelo reflete as expectativas de que a Argentina será forçada a reduzir o câmbio oficial mais rapidamente para impedir a fuga de capitais e favorecer os exportadores. “É um termômetro do sentimento de risco. Ele reflete a demanda por dólares e a confiança menor na moeda local”, disse Siobhan Mor-den, diretor de estratégia latino-americana da Jefferies & Co. O acionista controlador da YPF, a petrolífera espanhola Repsol YPF, prometeu lutar na justiça contra a expropriação. O governo espanhol ameaçou impor sanções comerciais.A estatização também alimentou dúvidas sobre a capacidade da Argentina de atrair os bilhões de dólares em investimentos neces-sários para desenvolver as vastas jazidas de petróleo e gás natural do país.O dólar no câmbio paralelo estava a 5,47 pesos, 24% menor que o câmbio oficial de 4,41525 pesos. Os mercados argentinos fecharam segunda-feira e ontem. Embora a diferença tenha dimi-

nuído recentemente, a tendência continua intacta para uma taxa blue-chip swap maior, disse Morden.Empresas e indivíduos ricos sedentos por dólares tornaram a taxa blue-chip swap uma maneira de obter divisas americanas para poder pagar fornecedores no exterior ou tirar dinheiro do país. É uma maneira legal de driblar as restrições cambiais.O estrategista de renda fixa Boris Segura, da Nomura Securities, calcula que as transações com blue-chip swaps respondem por de 10% a 15% do mercado cambial argentino. “Por si só não é uma fonte im-portante para se obter dólares”, disse Segura. “Esse é o problema. Como é uma janela relativamente pequena, isso aumenta a volatili-dade do blue-chip swap.”Segura disse que, durante outras ondas de volatilidade no mercado — como a eleição de Kirchner ou a briga dela com o setor agrícola em 2008 —, a cotação paralela subia mas depois voltava ao nível de antes da crise, depois de algumas semanas.Até agora, não há sinais de con-vergência das taxas, disse ele.O abismo entre o câmbio blue-chip e a cotação à vista é fruto das políticas econômicas de Kirchner, que têm priorizado o crescimento às custas do controle da inflação, que economistas do setor privado

dizem estar atualmente entre 20% e 25% por ano. Por meio de sua intervenção quase diária no mercado cambial, o banco central do país conseguiu que o peso caísse 2,5% em relação ao dólar este ano. A depreciação gradual do peso, juntamente com a infla-ção alta, acabou fortalecendo o peso em relação ao dólar quando o valor é ajustado para a inflação, prejudicando as exportações da indústria local.Se os argentinos são sensíveis às flutuações da taxa blue-chip swap, as autoridades do país também o são. Elas monitoram a taxa por causa de sua importância como indicador do sentimento do mercado.Operadores dizem que a agência nacional de fundos de pensão Anses, que é o maior investidor institucional da Argentina com mais de 200 bilhões de pesos em ativos sob sua gestão, vende periodicamente dívida em dólar no mercado local para reduzir o hiato entre as taxas de câmbio oficial e blue-ship.Representantes da Anses e do Ministério da Economia não responderam a emails pedindo comentários. “Nós a acompanha-mos, mas é um mercado peque-no”, disse um porta-voz do banco central em referência à taxa blue-chip swap.(Colaboraram Taos Turner e Prabha Natarajan.)

Taxas de câmbio mostram tensão quanto à Argentina

22 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 23: semanario_angolense_464

The Wall Street Journal

Sábado, 05 de Maio de 2012. 23

James R. Hagerty e Kate Linebaugh The Wall Street JournalApesar de uma recessão na Europa e de um crescimento mais fraco na China, algumas grandes empresas industriais dos Estados Unidos estão divulgando resultados surpreendentemente fortes para o primeiro trimestre e expressando otimismo quanto ao resto do ano, em grande parte porque estão indo bem no mercado doméstico.A recuperação da manufatura americana é tida como uma peça fundamental para a economia mundial voltar a crescer por-que, entre outras coisas, o setor pode aumentar suas compras de matérias-primas de outros países e, ao gerar empregos, aumentar o poder de consumo de importados nos EUA. Como muitas dessas em-presas são multinacionais, lucros mais polpudos podem estimular investimentos em outros países além dos EUA.A julgar pelos recentes resultados, “estamos para ter um bom ano”, disse o novo diretor-presidente da 3M Co., Inge Thulin, depois que a companhia divulgou uma alta de 4% no lucro do primeiro trimes-tre em relação a um ano antes, superando previsões de analistas. A 3M também aumentou suas previsões de lucro. Os resultados da companhia foram em geral fracos na Europa e na Ásia, mas ela vendeu mais adesivos e outros materiais para fabricantes de carros, aviões e equipamentos de energia nos EUA.A Caterpillar Inc. anunciou alta de 29% no lucro do primeiro trimes-tre, para um recorde de US$ 1,59 bilhão, com fortes vendas de ma-quinário de construção nos EUA e contínua demanda por equipa-mento de mineração ao redor do mundo, o que compensou vendas mais fracas na Europa, na China e no Brasil.Entre outras grandes indústrias que divulgaram resultados esta semana, a United Technologies Corp. notou uma recuperação nas vendas de equipamentos de ar-condicionado residencial nos EUA. Mesmo a fabricante de equipamentos de defesa Northrop Grumman Corp., cujo lucro caiu 4,5%, aumentou a previsão de lucro anual.Essas grandes empresas indus-triais têm linhas de produtos amplas que dão uma boa ideia sobre os mais recentes saltos da economia mundial.“Muitas das surpresas positivas de lucros está na manufatura”, disse o economista Ed Yardeni. Ele acrescentou que as expecta-tivas estavam baixas demais, em parte por causa de receios quanto à recessão europeia e à alta do petróleo. A economia americana

“está mais firme este ano”, mesmo que não esteja a todo vapor, disse ele, e isso tem ajudado muitas empresas a continuar expandindo vendas e lucros.“O setor manufatureiro dos EUA continua bem robusto”, disse Da-vid Meline, diretor financeiro da 3M. O crescimento caiu em relação a um ano atrás, quando os EUA ainda estavam emergindo de uma profunda recessão, mas a produ-ção industrial subiu a uma taxa anualizada de 5,4% no primeiro trimestre.Mesmo assim, as previsões mais otimistas das empresas se apoiam bastante na esperança de que a economia europeia vai começar a se recuperar este ano e que o crescimento da China voltará a acelerar. Nada disso é certeza.A grande questão para este ano, disse Barry Knapp, diretor de estratégia de ações americanas da Barclays Capital, é se a China vai recuperar o ritmo de crescimento. Quanto à economia europeia, ela deve continuar fraca em 2013, disse Yardeni.A economia da China deve crescer

8,4% este ano, abaixo da faixa de 9% a 10% de anos recentes, segun-do a IHS Global Insight, uma firma americana de previsões.Embora o crescimento da China continue relativamente alto, a demanda por alguns produtos, tais como equipamentos de cons-trução e elevadores, caiu de um ano para cá. A IHS Global prevê crescimento econômico de 2,2% nos EUA este ano, e contração de 0,2% na Europa.A vasta maioria das empresas incluídas no índice S&P 500 que já divulgaram balanços até agora superou previsões de analistas. Mas muitos analistas baixaram suas previsões durante o trimes-tre, o que tornou mais fácil para as empresas exceder as expectativas.Apesar da alta nos lucros, em-presas industriais continuam cautelosas para contratar nos EUA, e têm usado sua força de tra-balho atual para produzir mais. A 3M afirmou que 616 empregados no país aceitaram um programa de aposentadoria voluntária em dezembro, reduzindo a equipe no país para cerca de 33.000 pessoas.

Thulin, o diretor-presidente, disse que a 3M está mantendo os custos sob rígido controle mas começan-do a aumentar investimentos em certas áreas, entre elas a produ-ção de tanques para transporte de gás natural nos EUA e de supri-mentos de saúde na China e na América Latina.Na United Technologies, que faz os elevadores Otis e as turbinas de avião Pratt & Whitney, entre outras coisas, os resultados do primeiro trimestre foram ajuda-dos por uma melhora inesperada nas vendas de ar-condicionado residencial na América do Norte em fins de março, em parte por causa do inverno mais ameno no hemisfério norte este ano.A Eaton Corp., uma fabricante de equipamento elétrico e hidráu-lico, está se beneficiando de um aumento na demanda americana por caminhões, maquinário de construção e agrícola, equipa-mento de petróleo e gás e jatos da Boeing Co. — produtos que usam componentes da Eaton. A compa-nhia também prevê uma recupe-ração em construções de imóveis

comerciais e industriais.“Ainda achamos que a recupera-ção nos EUA é bem frágil”, disse o diretor-presidente da Eaton, Alexander Cutler, ao The Wall Street Journal. Os consumidores continuam cautelosos, inibidos por pesado endividamento. Cutler tinha esperanças de que a Europa fosse se recuperar no terceiro trimestre. Mas agora ele acha que isso é mais provável no quarto tri-mestre, que é quando ele acredita que a Ásia voltará a ter crescimen-to mais forte.No que depender de uma de suas clientes, a Boeing, a situação deve continuar positiva para a Eaton. A fabricante de aviões divulgou lucro de US$ 923 milhões no primeiro trimestre, 58% maior do que um ano antes. A Honeywell International Inc., que faz turbocompressores para automóveis e equipamento para jatos, informou na semana pas-sada que resultados mais fortes na América do Norte ajudaram a elevar os lucros e levaram a uma previsão mais alta para o ano todo.“Apesar de uma contínua fra-queza no mercado imobiliário e desemprego relativamente alto, a economia dos EUA têm sido surpreendentemente resistente”, disse ao WSJ o diretor financeiro David Anderson.A GE, por sua vez, afirmou sexta-feira que o lucro operacional subiu apesar de margens menores em suas empresas industriais. “A demanda de infraestrutura está saudável, em geral, e os EUA estão melhores”, disse o diretor-presi-dente Jeff Immelt a investidores. “Estamos observando a Europa com cuidado.”(Colaboraram Bob Tita e Tess Stynes.)

Setor industrial dá sinais de recuperação nos EUA

Page 24: semanario_angolense_464

The Wall Street Journal

Tecnologia e vocêWalter S. Mossberg

Durante anos, quem queria fazer backup de seus arquivos on-line, guardando-os em servidores remotos na “nuvem” da internet, precisava enviá-los para a sua conta do Gmail, ou para o pouco usado Google Docs, um conjunto de aplicativos de produtividade on-line, mesmo que quisesse apenas armazenar e não editar nesses sites.Agora, a Google entrou formal-mente no setor de armazenamen-to e sincronização de arquivos na nuvem, apresentando o serviço Google Drive, que vai competir com produtos como o Dropbox e outros, oferecendo preços mais baixos e outros recursos. É compa-tível com diversos sistemas opera-cionais, navegadores e dispositi-vos móveis, incluindo os das rivais da Google, Apple e Microsoft. Há aplicativos para Windows, Ma-cintosh e dispositivos móveis que “sincronizam” os arquivos com o Google Drive, ou seja, atualizam-nos automaticamente por uma versão compatível.Tenho testado o Google Drive, lan-çado na terça-feira, e estou gos-tando. Ele incorpora os recursos de edição e criação de arquivos do Google Docs, substituindo este serviço (quaisquer documentos guardados no Google Docs são transferidos para o Google Drive). Em meus testes, feitos em um Mac, um PC da Lenovo, um novo iPad e o mais recente tablet da Samsung com sistema operacional Android, o Google Drive funcionou bem e rapidamente, e a maioria dos recursos teve o desempenho prometido. No lançamento, há versões para PCs com Windows, Macs e dispositivos com Android. Está prevista para breve a versão para iPhone e iPad.O Google Drive, disponível em drive.google.com e com opção em português, oferece 5 gigabytes de armazenamento gratuito, ou seja, mais que os 2 GB grátis do popular serviço Dropbox, e o mesmo que outro serviço de armazenamento e sincronização na nuvem de que eu gosto, o SugarSync. É espa-ço suficiente para milhares de arquivos de tamanho usual, como documentos, fotos e músicas.Se você quiser mais espaço de armazenamento, os preços são muito menores que os do Dropbox e do SugarSync. Por exemplo, 100 GB no Google Drive custam US$ 4,99 por mês — e US$ 14,99 mensais no SugarSync e US$ 19,99 no Dropbox. O Google Drive vai oferecer capacidades colossais de armazenamento, em vários níveis, até chegar a 16 terabytes. (Um te-rabyte é aproximadamente 1.000

GB). E se você comprar espaço no Google Drive, sua cota no Gmail sobe para 25 GB.Mas uma das maiores rivais da Google não está de braços cruza-dos. A Microsoft está expandindo tanto os recursos como a capa-cidade do SkyDrive, seu pouco conhecido serviço de backup na nuvem. O produto começou como um “armário” on-line grátis, com capacidade fixa (25 GB), visando sobretudo aos usuários da versão enxuta do Microsoft Office, basea-da na nuvem, embora haja versões como um aplicativo para o iPhone e para smartphones com Windo-ws Phone. O serviço dá de graça ainda mais espaço que o Google: 7 GB, embora já seja menos do que oferecia antes gratuitamente. Também está cobrando menos que a Google. Pode-se acrescentar 100 GB por US$ 50 por ano. E os usuá-rios da versão antiga podem man-ter sua cota gratuita de 25 GB. A

empresa também está oferecendo aplicativos de sincronização para Windows e Mac. Não tive oportu-nidade de testar essa nova versão do SkyDrive para esta coluna.O Google Drive foi concebido como uma evolução do Google Docs. An-tes se podia postar um arquivo no Google Docs usando o navegador da web; mas para o Google Drive a empresa está fornecendo aplicati-vos gratuitos para Mac e Windows que, tal como Dropbox, fazem isso por você. Eles criam pastas especiais que se sincronizam com seus documen-tos guardados na nuvem e com a versão do produto para a web. Assim, você pode arrastar um arquivo para essas pastas locais no seu computador, e esse arquivo será enviado para a sua conta na nuvem; em seguida, aparecerá rapidamente na versão para a rede do Google Drive, nas pastas do Google Drive em seus outros

computadores, e nos aplicativos do Google Drive para iPhone, iPad e dispositivos com Android. Esses aplicativos locais atualizam, ou sincronizam, seus arquivos com as atualizações que você fizer a partir de qualquer máquina.Uma grande diferença entre o Dro-pbox e o Google Drive é que neste é possível editar ou criar arquivos, e não apenas guardar e visualizar. Isso porque o Google Drive inclui a suíte de aplicativos básicos que compõem o Google Docs, como processador de texto, planilha e programa para apresentações. Mas há um porém. Se o seu docu-mento armazenado está em algum formato do Microsoft Office, você só poderá visualizá-lo. Para editá-lo, é preciso clicar em um coman-do que converte o arquivo para os formatos do próprio Google, ou escolher uma configuração que converte os arquivos do Microsoft Office no momento do upload. Mas

esse recurso só funciona quando se faz upload a partir do site.O Google Drive também não tem alguns recursos do SugarSync de que eu gosto. Este não exige que você coloque os arquivos em uma pasta especial; ele sincroniza as pastas que você já utiliza no seu PC ou Mac. E ao contrário do SugarSync, o Google Drive não permite que você envie arquivos por e-mail diretamente para seu “armário” na nuvem.O Google Drive permite comparti-lhar arquivos e pastas e colaborar com outras pessoas. Também permite enviar arquivos por e-mail como anexos. As pessoas com quem você compartilha arquivos podem receber diferentes permis-sões: para visualizar, comentar, ou editar os arquivos. Também dá para manter os arquivos privados. Como a Google já se meteu em confusão por causa da privacidade das informações dos usuários, al-gumas pessoas podem relutar em confiar seus arquivos ao Google Drive. Mas a empresa insiste que, apesar de processar e armazenar os arquivos, nenhum ser huma-no pode vê-los e, pelo menos no momento, os arquivos não são usados para direcionar anúncios aos usuários. A empresa observa que nenhum arquivo pode ser colocado no Google Drive a menos que o usuário deseje.O serviço teve ótimo desempenho para pesquisar arquivos, até mes-mo para encontrar palavras den-tro de documentos digitalizados ou em PDF. A Google afirma que pode encontrar imagens quando você pesquisa por palavras que as descrevem, como “ponte” ou “montanha”, mesmo que essas palavras não apareçam no nome da foto. Mas constatei que isso funciona sobretudo com fotos de lugares ou pessoas famosas que a Google coletou mediante seu produto Google Goggles. O Google Drive não conseguiu encontrar imagens com nomes genéricos em quase nenhuma das minhas fotos pessoais, mesmo nas que incluí-am montanhas ou outros temas comuns. O Google Drive funcionou bem nos meus testes com vídeos. Ele converte quase todos os formatos comuns de vídeo em um formato que se pode reproduzir dentro do próprio site. Esse processo pode levar algum tempo. E embora o Google Drive possa armazenar músicas, não é possível tocar as faixas diretamente no site.Posso recomendar o Google Drive para quem procura armazena-mento na nuvem, com a vanta-gem extra da edição integrada, a preços mais baixos. Mas o novo SkyDrive da Microsoft também merece ser provado.

Google vai às nuvens para armazenagem e edição

24 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 25: semanario_angolense_464

opinião

Sábado, 05 de Maio de 2012. 25

Ir ou ficar?Depois do poder,ir ou ficar? Pensando nestaquestão, lembrei-me de umacontecimento dos anos 90

quando,comojornalista,estavaatentarentenderoconflitocongo-lês. EmBruxelas (omelhor localparaseentenderaentãoguerranoCongo), um antigo ministro doregimedeMobutusimpatizou-secomigo.Acertomomento,elele-vou-meparaumpequeno«tour»pelacapitalbelga,afimdeverascasasdeantigosmembrosdogo-verno de Mobutu – Ngengo WaNdondo,LundaBululu,PayiPayi,etc. Fiquei altamente impressio-nado.Mesmoassim,eledisse-meque não tinha visto nada; haviacongoleses,insistiu,quepossuemverdadeirasmansões.Vamosvol-tar a estemeu amigo um poucomaistarde.

Deveriadizer,então,queami-nha resposta à questão colocadanoprincípiodotextoéficar.De-poisdopoder,osgovernantesouas elites ligadas ao poder deve-riamficar.Com isto não estou adizerqueaselitesougovernantesnão devam ter ligações fortes eextensivasnoexterior;antespelocontrário.Nomundoemquevi-vemos,os líderestêmqueestarapar das grandes movimentaçõese incitativas lá fora e identificarcomoéqueelaspodembeneficiaraterramãe.Aglobalização–esterelaxamentodasfronteirasecon-tracçãodotempo–éumagrandeoportunidade para as elites afri-canas. Mas este aproveitamentosó será bem feito se houver umaestratégiabemclarasobreanatu-rezadagovernação.Quetiposdelíderes, afinal, queremos? Gesto-res ou visionários? Ou será, tal-vez,quequeiramosumamisturadosdois?

Em todo o caso, temos váriosdesafioseaboaliderança,aideal,éàquelaque,nodevidotempo,édada a oportunidade de utilizartodos os recursos ao seu alcancepara superar os seus problemas.Neste caso, os governantes nãodevemdeixaropaís–esperamosdeles memórias escritas sobre asuapassagempelopoder;e,tam-bém, das conclusões que terãotidodestaexperiência.

Umaexperiênciado«day-after»notávelmuitopertodenóséada

Zâmbia, país daminha infância.Nestemomento,umdosfilhosdoantigopresidentezambianoandafugido porque esteve envolvidoem operações que, suspeita-se,nãoforamtransparentes.Masistonãoénormal.Emgeral,oslídereszambianos ficam no país depoisdedeixaropoderedefendem-senostribunais.Comtodasassuasfalhas, muitos zambianos aindaacreditamnoseusistemajudicial.NaZâmbia,sempre,quesetentouenveredar pelo ajuste de contas,os casos acabaram invariavel-mentenasbarrasdostribunais.

Não será que os antigos líde-rescongoleses,oscolegasdomeuamigo,ter-se-ãoinstaladonaBél-gica, porque,nãoobstante teremestadonopoderpormaisdetrêsdécadas, não tinham ajudado naconstrução de instituições comum assento sólido e justo? NaZâmbia, houve, por exemplo, ocaso do presidente Mwanawa-sa, que, depois de ser nomeadosucessor de Chiluba, começoua vasculhar minuciosamente asactividades do seu antecessor.Os zambianos passaram a saberde todas as infracções de Chilu-ba. Neste momento, há dois in-quéritos na Zâmbia sobre certastransacçõesefectuadasduranteoconsulado do Presidente RupiahBanda.

Na Zâmbia, existe um verda-deirodebatesobreotipodelide-rança que é melhor para o país.

Uma palavra que é permanente-menteusadanosdebatesé«deli-ver»quepodesertraduzidocomo«dar à luz» ou «concretizar». Ogoverno deMichael Sata está nopoderhámesesmasnamídiavá-rias entidades já estão a questio-nar-seseaequipaestáa«concre-tizar»aspromessasdoprogramaeleitoral.Dentrode três anos, oszambianosirãoàsurnasparadara sua opinião sobre o governodeSata.Suspeitoquemuitosdosmembros da equipa de Sata nãotêm tempo de ir procurar apar-tamentosoucasasemLondres.Amelhorestratégiaparaelesvaiserproduzir para serem reeleitos e,talvez, depois de doismandatos,acumularalgoquelhesirápermi-tir,porexemplo,terumafazenda.

NaZâmbia,iraogovernoparase fazer riquezas fáceis estáa sercadavezmaisdifícil.Équemuitagente está atenta ao processo degovernação. Ir para fora impli-ca ter fundos substanciais por lápara sustentar um nível de vidaelevado. Uma antiga figura go-vernamental já não vai quererconduzir táxis. Fazer-se fortunana África para viver-se bem noexterior jánãoé fácil.Depoisdapartida de Chiluba, os detalhesdas contas bancárias de gentepróxima a si chegaram a públi-co.Osgovernosbritânicosebel-gaqueriamqueestefosseocaso.NaGrã-Bretanha,hápelomenosdois governantes na cadeia por

terem desviado milhões de fun-dos estatais para oOcidente.Hávárias formasemqueasrelaçõeseconómicas entre a África e oOcidente favorecem este último.MasoqueestamosaveréquenoOcidente vários sectores não go-vernamentais (os ditos non-stateactors)passaramatermuitointe-ressenosprocessosdegovernaçãoemÁfrica.Estamosaquiperanteumaespéciede«cosmopolitismo»segundoateoriadoescritorgha-nense Kwame Anthony Appiah,que faz com que os cidadãos domundosintamquetêmobrigaçõesparacomosoutros.Porexemplo,umamultinacionalocidentalquepoluiumpaísdoTerceiroMundocomleisfracasdeveserdenuncia-daporpráticadevandalismoam-biental. Nos Estados Unidos, háoForeignCorruptPractisesAct,emqueempresáriosamericanosaliderarempresasemoutraspartesdomundo estão obrigados a ob-servar as mesmas normas éticasquenoseupaís.

Oslíderesafricanos,depoisdopoder,devemmesmoficarnater-ramãe.Omeuamigocongolêseos seus colegas ajudaram no en-fraquecimentodoCongo,porque,emparte,tinhamaBélgicacomolocalpredilectoderefúgio.HojeaBélgica jánãoéopaís idealparaquempretendearrumarasmalase correr logo para a Europa no«day after». Pelo menos dois lí-derescongolesesestãoemHaiaa

serjulgadosporcrimescometidosemÁfrica.Há quem argumente,nãosemalgumarazão,queoseu-ropeus ou os ocidentais não têmqualquer forçamoral para julgaros africanos – considerando opassado em que o Ocidente foiexplorando, sistematicamente, ocontinente africano. Isto faz-melembraroqueoactualpresidentezambiano,MichaelSata,dissede-poisdetersidoapoiadopelofale-cidoFrederickChiluba:«Imaginequeasuaviaturafoiroubadaeti-vestesasortedeencontrá-lanumcantinho. De repente, no meiodaquelanoite,apareceumconhe-cido ladrão que se oferece paraajudar-teaempurraraviaturaatéàsuacasa.Estaéumaajudamuitobem-vinda.Claro que no dia se-guinteterásquemudaroportãoeasgradesdasjanelasmasoladrãoter-te-áajudadoatrazeraviaturaàcasa».

Finalmente, voltemos ao meuamigo congolês na Bélgica. De-pois, sentados ao lado da pisci-nadasuacasa,ele lamentouquequando promovia churrascos aoladodelaosvizinhosqueriamsa-berdequecarnesetratava.Omeuamigosentiaque,nãoobstanteasuagigantescacontabancária,osseusvizinhosnãoorespeitavam.Ele disse-me que, mesmo emtermos de formação académica,ele estava muito acima dos seusvizinhos belgas que conduziamviaturasdeocasião,enquantoeletiravaoplásticodoseuMercedes.Estemeuamigo,notei,voltouaogovernocongolês.Esperoqueeleestejaaajudaroseupaísacons-truir instituições fortíssimas, aerguer uma cultura de prestaçãodecontasetransparência,eapro-moverumaculturadegovernaçãoquevalorizeadiversidade.Seelefizeristo,poderávivercomorgu-lho no seu país – e poderá fazerchurrascosdetodotipodecarnes.

(*)Textoadaptadodacomuni-caçãoapresentadaa3deMaiode2012 na conferência sob o tema«O Dia Seguinte dos Dirigentese Governantes», promovida pelaFundação Agostinho Neto, en-quadrada nas actividades come-morativas dos 90 anos do nasci-mentodoprimeiropresidentedeAngola.

Ir ou ficar? (*)

Page 26: semanario_angolense_464

opinião

Depoisdeumsilênciodesemanas, por não sa-beroquedizerquandoo país se confrontava

com urgências de outra ordem,diferente das ideias que eu pu-desseparaaquitrazer,volto.Maspara exorcizar a inquietação deumaperda–quemeparecedeverserextensivaatodososqueadmi-rampolíticosdeexcepção.

PorqueMiguel Portas era umpolíticodeexcepção.

Permita-me, pois, caro leitor,que eu seja hoje muito autocen-trada e que fale das minhas de-solações. Como muitas pessoas,eu também ainda não conseguirealizar(nosentidode«interiori-zar»)ofatídicoacontecimentododia24deAbrilquefoiamortedoeurodeputado português MiguelPortas:creiodurantemuitosdias,fiqueiemestadodechoque–euemeiomundodesterectângulodapenínsula ibérica: pela surpresadoinesperadodesfechodadoen-ça, embora se soubesse – toda agentesabia–queeleestavadoente(asdoençasdeveriamdaràquelesqueficam tempopara sehabitu-aremà ideiadamorte);eporseraquela pessoa, Miguel Portas.Desolada e nem todas as home-nagensme fizerammenos triste.Tenhodeexorcizaressador,evouexperimentar a estratégia da suaexposição,falandodela…

Para além da dor dos afectosfamiliaresedeamigospróximos,impossivelmente comparável,uma comoção geral se apoderoudaqueles que o conheciam comocompanheirodemuitaslutas,co-legas de partido ou apenas cida-dãos, como eu, que acompanha-ramoseupercurso,admiravamoseutrabalhopolítico,outiveramaventuradepartilhar,pormínimoquefosse,umtempodecumplici-dade.Ouqueadmiravamopolí-ticoverticalehonesto–comooshátãopoucoshojeemdia.Todos,«da direita mais conservadora àesquerdarevolucionária»,quefoiaexpressãomaisusadaparades-crever a transversalidade das vi-dasqueMiguelPortastocou.Issonota-se (ou notou-se) no amploespectropolíticodosseusamigos,nas filas de pessoas, no velório,

quequeriamdespedir-sedele,nacomoçãodosdeputadosnoParla-mentoportuguêsenoParlamen-toeuropeu,nashomenagensquese multiplica(ra)m pelo seu paísfora.Poucospolíticos–não,pou-cas pessoas – angariariam umatãograndeunanimidadedeafec-tos:MiguelPortas era realmenteadmiradopor todos,mesmoporaqueles que dele discordavamradicalmente.Enãoéporqueelemorreu.

Morreucedodemais,comtan-toaindaparadaraPortugal,comtantoporfazer…Tinha53anosenãovenceuo cancrodepulmão.Faria 54 anos no passado dia 01de Maio e sobre isso disse umaveznumaentrevista, em tom jo-coso,queoseudestinoestavatra-çado:tinhadeserdeEsquerda.

Eera.DeumaEsquerdagenu-ína, dessa Esquerda que nos fa-zemcontinuaraacreditarqueháalternativas.Nãovoufalardele–existemmuitas notas biográficasnainternet.MasdeledireiquefoiumdosmentoresdarenovaçãodaEsquerda portuguesa para quema política apenas era ummeio –ummeioparamudaroestadodecoisas, ainda que o seu percursová do PCP (que abandonou em

1991) à Política XXI e ao BlocodeEsquerda,queajudouafundarem 1999, juntamente com Fran-ciscoLouçã (PSR), JoãoSemedo,FernandoRosaseLuísFazendas,políticos de pequenas formaçõesdeEsquerda.

Acumpriroseusegundoman-dato como eurodeputado, Mi-guelPortaserahoje,paramim,omelhor político português. Sim,issomesmoque leram:omelhorpolíticoportuguês.Várias carac-terizaçõessefizeramdele,porémquatro me parecem muito ade-quadas:MarceloRibeirodeSousadissequeeleeraum«forçatran-quila»,PedroSantanaLopesqueera “um revolucionário doce”,RogérioMoreiraqueeraum«op-timista inveterado» e seu irmão,PauloPortas,queeraum«sonha-dor absolutamente incorrigível».Seria tudo isso, mas sobretudoera uma pessoa com uma capa-cidadeextraordináriadesebaterporaquiloemqueacreditava.Eoqueacreditavapassavapeladefesadosmaisdesfavorecidostantonoseupaísquantoemqualquerpar-te domundo (porquehá aqueles«intelectuais de Esquerda» – da«Esquerda caviar»?! – que o sãoapenasnoseupaís: fora,aceitam

benesses de poderes que no seupaís considerariam corruptos,musculados,insensíveis,tudoquetoda a retórica hipócrita dessascaracterizações encerra– conhe-çoalguns,sobretudoacadémicosde uma Esquerda para consumointerno!).Eraumhomemdecau-sas e essas eram tanto as expul-sões dos emigrantes do Sul quechegamàEuropatantoasprisõesilegais daCIA emGuantánamo;tanto o excessivo privilégio dospolíticos (eurodeputados inclusi-ve),numaEuropaemcrise,quan-to o apoio dos governos à bancaemprejuízodoEstadosocial;tan-toa(s)primavera(s)magrebina(s)ou árabe(s) quanto os direitosdopovo palestiniano.Enãoeraapenas de dizer que apoiava, ialá:estevenaFaixadeGaza,noIé-men,noLíbano(experiênciaquetransporta para «No Labirinto»,de(2006)…

Economista e jornalista, nãoeraapenasumpolítico, era tam-bémuminvestigador, levadoporessasuaforçaemconhecerosou-tros,respeitarhistóriaseculturasdiferentes: por ele conhecemos,através de séries documentais,certaÁsia, em «Mardas Índias»(2000), e as culturas mediterrâ-

nicasem«Périplo»(2004)–comversãoemlivro.

Eseduassemanasdepoisdessefatídicodia24deAbrilfalodestepolítico, num país que hoje nãodá muitos motivos para se cele-brarapolíticaeseusagentes,quediariamente nos bombardeiamcommás práticas e pior ética, éparaquenão sepenseque todosos políticos são iguais, ideia quemuito se ouve e que parece ga-nhar fundamento no quotidianodoscidadãosfaceàpolíticaeaosbastidores dessa actividade tãovilipendiada emdiscursospopu-listas.

Gostavadeletambémporseriamuito e dava gargalhadasmuitoaltas – acho que rir é bom e eugosto deme rir – e alto, porquêconterorisooutentardominá-lo?

Um dia escrevi-lhe um email–porcausadeumdebatenatele-visão, durante uma campanha àseleições ao Parlamento europeu.Queria dizer-lhe o que pensavada sua prestaçãonaquele debate eoquepodiaser feitoemrelaçãooassuntoquefoitratado.Paraminhasurpresarespondeu-meagradecen-doassugestõesealargando-senassuas ideias sobreoassunto.E issoeraalguémque,comosepodeima-ginar,teriamuitopoucotempo…

Na Biblioteca do Palácio Gal-veias,emLisboa,ondeoseucorpoesteve em câmara ardente, umafrase sua «ilustrava» o homemque ali jazia inerte: «As atitudestêm de servir para algomais doqueconquistarvotosoujustificarpassados.Têmdeajudarainven-tarumfuturoemqueaspessoaspossamcrescernãoemfunçãodoquetêmmasdoquepodemser.Eissodependedevocês».

Miguel Portas, o político que,segundo testemunho de seu fi-lho,aprendera«agostarmaisdaspessoas do que dasmassas», eraumdesseshomensquenosfazemacreditar na boa fé dos políti-cos, uma daquelas pessoas sobreas quais muitas vezes dizemosaquelas frases tão banais, masem determinados momentos tãofortes e que significam tão pro-fundamente: se houvesse muitoshomens como ele, omundo cer-tamenteseriamelhor.■

Recordando um político de excepção: Miguel PortasGente que não soube fazer outra coisa se não da política uma carreira, é gente que jamais perceberá porque

é que a política é necessária a outros e não apenas a eles próprios. - Miguel Portas

Inocência [email protected]

26 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 27: semanario_angolense_464

opinião

Sábado, 05 de Maio de 2012. 27

Há muito que vivo amatutar sobre a «lu-sofonia». Na verdade,desde que descobri

quepenso.E,nessas«matutadas»,adentrei o campo da psicolin-guística e a conclusão é só uma:Angola não é um país lusófono.Nem os outros países de línguaportuguesa deveriam aceitar serchamados de «lusófonos», foradaconotaçãodesimplesfiguradeestilo. A «excepção» ficamesmosóporconta-exclusivaenatural-mente-dePortugal:oúnicopaísrealmentelusófono.

Afinal,derivadado latim,«lu-sofonia»éacomposiçãode«luso»(referente a Portugal; o mesmoque lusitano, lusíada;portanto,omesmoqueportuguês) e de «fo-nia» (vozou,neste caso, língua).Isso quer dizer que «lusofonia»,nosentidolato,querdizerlínguadePortugal.LínguadePortugal,paramim,éa línguaportuguesafaladaemPortugal.

Notempodocolono,faziasen-tidoconsiderar«línguadePortu-gal»aquelaqueerafaladanoster-ritórios subjugados, mesmo comtodosossotaquesqueadquirisse,jáque ela erauma imposiçãododominador. Era imperativo usá-la de acordo com as regras doimperador.Tantoassimeraqueoportuguês que naquele tempo sedesviavadanormativaestabeleci-daporPortugal,erachamado,emAngola,de«pretuguês».

Podeatédeduzir-sequeo«pre-tuguês» tantopoderia sero falardosnativosquenãoseassimilavaaojeitoportuguêsdefalar-querdizer,quenão«afinavam»nama-neiradefalar-quantoousodascorruptelas pelos próprios por-tugueses. Então, o «pretuguês»eraouniversoondesecruzavama línguadocolonizadoreas lín-guasdoscolonizados–asnossaslínguasnacionais, as línguas an-golanas.

Numa ilação talvez mais pre-tensiosa do que preponderante,posso afirmar que aquele «pre-tuguês»foioprecursordoactual«muangolês»-alínguaportugue-sapopulardosangolanos,comto-

das as suas variedades regionais,sejaosotaquecantadodosulanocomo o arrastado indolente donortense.Umaformaqueencon-tramaior liberdadedeser–edeser linguisticamente valorizadoe absorvido – como advento danossaindependência.

O regime colonial não leva-va em consideração a influênciadas línguas nativas no léxico dalíngua portuguesa falada pelospovos locais. Quando raras ve-zesissoacontecia,ostermosmaisusados eram justamente aquelesque desconsideravam a pessoa ereforçavam o cariz pejorativo edescriminatório dos colonos emrelação aos nativos, como a «ca-tinga».

Lusofoniahoje

O actual conceito diz que lu-sofonia é o conjunto dos países

de língua portuguesa. E não seesquecedeincluiratéosex-terri-tórios de colónia lusitana locali-zadosnaÍndia(Goa)enaChina(Macau), onde o português estáconfinado à umapequenapopu-lação,maioritariamentecompos-tapor«maisvelhos»ehomensdenegócios.

Entende-se que a lusofonia,antesdemaisnada,relega-nosaolusismo ou lusitanismo, à línguade Camões – a fala portuguesaprópriadePortugal–contribuin-do,paraasuadefinição,ossota-ques,amorfologia,aortografiaeos demais aspectos concernentesàlinguística.

Então,falaroficialmenteopor-tuguês não se configura comocondição imperativa na denomi-nação de lusofonia, sem que asnuances linguísticas culturais, emaispropriamenteasregrasaca-dêmicas de fala e de escrita, se

insiramoficialmentenocontextolusitano.

As peculiaridades da línguaportuguesa falada na banda - àsemelhança do que acontece noBrasil (onde já é uma realida-de legitimada) e segue omesmosentido em Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, São ToméePríncipe eTimorLeste - longedo padrão europeu, constitui-ram «outra língua portuguesa»,numavertenteangolana.Então,amalta temquasenadaaver comCamões.Nãoéporquefalopor-tuguês que aminha língua é deCamões!OportuguêsédeNzin-gaMbandi,Mandume,Ekuikui...

Se não tomarmos consciênciadisso, ninguém o fará por nós;vamos continuar amentir a nósmesmos que somos independen-tese soberanos,quandoparaes-crevermos a língua que falamosteremosdeesperarqueas regras

venhamdePortugal.Econtinua-remosdandovidaaessatalluso-foniaemdetrimentodequalquerquesejaa«bantofonia»queresidananossalinguaportuguesaeque,porissomesmo,fazdelaANOS-SALÍNGUAPORTUGUESA.

Nós temos o dever moral,cívico e patriótico de reconhe-cer isso. O reconhecimento daexistência dessa vertente, dessalíngua portuguesa angolana, oreconhecimento do seu dina-mismo e da sua abrangência, eo reconhecimento da indepen-dência do seu desenvolvimentoé o princípio da revogação doconceitocorrentedelusofonia.Éa «deslusofonização» – umpro-cessoqueamoralidade, comoopontoevidentedequalquerlín-gua, já se encarregade executarnaturalmente,tantoaquinaban-da, como em outros quadrantesfalantesdoportuguês.

Angola não é um país lusófono (1)

Page 28: semanario_angolense_464

opinião

António dos Santos «Kidá» (*)

Há dias atrás, desloquei-me ao Banco de Ur-gênciadoHospital Jo-sinaMache,emsocor-

ro de ummeu familiar que teveuma crise na calada da noite, equerequeriaumaobservaçãomé-dicaimediata.Postoslá,pudemostestemunhar quão difícil conti-nua a ser o atendimento às cen-tenasdecidadãosqueaíacorremembuscadetratamentomédico.

Nolapsoquelápermanecemos(foram longas horas), pudemosnotar,combastantepreocupação,quemuito ainda há por se fazerpara«humanizar»oatendimentodospacientes que ali se dirigem,conforme atesta o slogan em le-trasbemvisíveisexpostonobal-cãodeatendimentodessaunida-dehospitalar.

Creio que «humanizar» umcidadão num hospital envolveum conjunto de procedimentosque vão desde a recepção pron-ta e imediata do paciente à suaobservação médica aceitável,medicação adequada (depois dediagnosticado),passandoporumacompanhamento,atençãoecui-dados personalizados. Numa sópalavra, é ter-se muita sensibili-dade para com o próximo. Semsenegligenciarosaspectos logís-ticosedeacomodaçãodosconci-dadãos.Emuitomais.

Contudo, e apesar do esforço

hercúleoempreendidopelasequi-pas médicas ali destacadas, embusca da necessária «humaniza-ção»queapregoa,osectordasaú-de ainda está longe de atingi-la,umavezquearealidadecontrastamuitocomaquiloqueéenuncia-docomointenção.Pensomesmoque este objectivo só deverá seralcançadoalongoprazo.

Na unidade hospitalar emquestão,faltammacaseatécamasparaacomodarospacientes(mui-tossão«acomodados»nosoalho,numverdadeiroatentadoàsaúdepública).Deutambémparanotarqueocorpoclínicoéinsuficienteparaademanda,apesardoseues-forçoquasesobre-humano.

Háqueseaceleraraconstruçãodemuitosmais postos e centrosmédicosnaperiferiaeapetrechá-los commeios humanos e equi-pamentos suficientes para se di-

minuiroafluxodepacientesaoshospitais, aos quaismuitos deleschegamjáquaseemfaseterminal.

Amoldurahumanaquepernoi-taaorelentoemacompanhamen-toaos seus familiares internados(àsemelhançadoqueaconteceemquase todososgrandeshospitaisdeLuanda)ébastanteimpressio-nante,porquechocante.Selevás-semosessa realidadeà superfíciede uma tela pictórica, poderiaaludir-se que estamos diante deuma obra inspirada na correnteartísticasurrealista,mas,naver-dade,ésimplesmenteumcenárioquenemmesmoaartedramáticaconseguesuperar.

Eocorodolentedosfamiliares,quemesmo defronte da unidadehospitalar choram amargamen-tepelamortedosentesqueridos,completa o trágico cenário doque se registanoquotidianodas

nossasprincipaisunidadeshospi-talares.

NoBancodeUrgênciado«Jo-sina Machel», tive o ensejo deobservar que os casos que maistêm fustigado a população serãoahipertensão(quedãonosderra-mes cerebrais), os traumatismosdecorrentes dos acidentes rodo-viários (ocorridos sobretudo àsmadrugadas e aos fim de sema-na–motivadospelosexcessosdevelocidadeeaingestãodebebidasalcoólicas) e os de malária, quecontinua a comandar o rankingdaspatologias que ali são acudi-daseque,apesardetodooesforçojáempreendidopelasautoridadesdo país no seu combate, pareceimbatível,continuandoadizimarcadavezmaiscidadãos.

Istoobrigaa tomadademedi-dasmais enérgicas por parte doexecutivo para combate-la mais

eficazmente, visando a sua erra-dicaçãodeumavezportodasdonossoterritórionacional.Paratal,serámesmonecessáriohaverumenorme investimento no sector,tendo emconta as infra-estrutu-ras (restaurando as existentes eedificando outras) apetrechá-lascom equipamento e logística su-ficientes e dar, sobretudo, umaatençãomuitoespecialaosrecur-soshumanos,fundamentalmenteaosseusprofissionaisque,porve-zes, sómais não fazempor faltademateriaisetambémdeincen-tivos.

Nessas condições, os técnicosdesaúdeacabampordenotar(porvezes inconscientemente) quefuncionam com relativa «negli-gência»,dandoaentenderàsocie-dadeque,sedependessesomentedeles, ou seja, caso tivessem osmeios de trabalho devidamenteassegurados,oquadroclínicoac-tualseriamuitodiferente.

Nessa perspectiva, há entãotodaanecessidade (coma sirenedeurgênciaemalerta)desemu-dar o quadro para a introduçãode melhorias substanciais nosserviçoshospitalares.Aí então, a«deontologia» dos profissionaisdasaúdedequeosenfermoseosseusfamiliarestantoapelamdelesseria«reposta».Ecertamentenãoteriammãos amedir em relaçãoa um tratamentomais condignoe «humanizante» dos pacientes.E émuito importante que assimvenhaaser.Paraobemdoscida-dãos. Em substância, vale dizerquecomasaúde,definitivamente,nãosedevebrincar!

(*)ArtistaPlásticoeSociólogo

Com a saúde não se brinca!

28 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 29: semanario_angolense_464

Sociedade

Sábado, 05 de Maio de 2012. 29

Edgar Nimi

Depois de muita recla-mação por parte dasempregadas domésti-cassobreasuacarteira

profissional, finalmente o Gabi-nete Jurídico do Ministério daAdministraçãoPública,Empregoe Segurança Social (MAPESS),criou o projeto sobre o diplomadotrabalhodoméstico.

Oprojeto foiapresentadopelodiretor do Gabinete Jurídico damesma instituição, JesusMaiato,àmargemdosemináriosobre«OTrabalhoDomésticoàLuzdoDi-reitoComparado»,emquesetra-çouoobjetivoprincipaldoproje-to,quesebaseianasuaexecuçãoparaamanutençãodonúmerodepostos de trabalho criados nestesegmento, bem como o fomentodaformaçãoprofissionalespecífi-cadostrabalhadoresdomésticos.

Hojeemdia,otrabalhodomés-ticojáconstituiumpapelimpor-tantenoquetocaaocrescimentoda participação das mulheresno mercado de trabalho, tudoporqueacadadiaquepassa, sãomuitas as pessoas que, na faltadeempregooude formaçãoaca-démica,preferemenveredarparaestaprática.

JesusMaiato definiu o traba-lhador doméstico como sendoaquele pelo qual uma pessoa éobrigada, mediante retribuição,aprestar serviçosaoutrem,comcarácter regular, sob a direção eautoridade deste, para satisfaçãodas necessidades próprias ou es-pecíficasdeumagregadofamiliarou equiparado e dos respectivosmembros.

Odocumentoapresentado,pre-vêaspetosdemaiorrelevocomoaregulamentaçãoconjunta-relaçãojurídicalaboraleproteçãosocial,introdução da caderneta do tra-balhador doméstico, formaliza-çãodocontratodetrabalhoega-rantiadodireitoàproteçãosocialobrigatória.

O vice-ministro do MAPESS,Sebastião Lukinda, afirmou queos trabalhadoresdomésticos têmdireito ao trabalho digno, talcomo outras funcionalidades la-borais.Umavezque,nosúltimostempos, esta actividade tem sidomuito desvalorizada, necessitaurgentementedeterumaregula-mentação.

O governante recordou aindaa ConvençãoNº 189 daOrgani-zação Internacional do Trabalho(OIT), que se refere aos direitosfundamentais no trabalho comoobrigaçãode respeitar,promovere tornar real os princípios e di-reitos fundamentaisno trabalho,noquedizrespeitoaliberdadedeassociação enegociação coletiva,eliminação do trabalho forçado,abolição do trabalho infantil eeliminaçãodadiscriminação.

Sebastião Lukinda explicouainda que, para haver igualdadede tratamento do trabalho do-mésticoénecessárioquesetenhaem conta o horário normal de-trabalho, remuneração de horasextras, os períodos de descansosemanal,diárioefériasanuaispa-gas.Porfimovice-ministroape-louatodososempregadoresparatratarem com dignidade as do-mésticas,umavezquesãoaspes-soasquecontrolamasresidênciasnaausênciadosproprietários.

As domésticas dizem que comumcontratoesendotratadascomoprofissionais tal como nas outrasáreas,haverámaiorrespeitoevalo-

rizaçãoporpartedasociedadeemgeraleatémesmodosseuspatrões.

MariaMateus, empregada do-méstica,dissequejáestánahorade sedarmais valor ao trabalhoque elas exercem: «acho que jáestámaisdoquenahoradenosdarem importância porque nóstambém fazemos muito paraajudaropaís.Oqueseriadessesgrandes chefes, como deputadoseministros,quesão,comassuasmulheres,muitoocupados,senósnãoexistíssemos?Porissodevemolhartambémpornós!»

Segundo algumas profissio-nais domésticas, agastadas pelosmaustratosquerecebem,ofactodemuitas delas não saberem lere escrever,nãoquerdizerque sedeve desvalorizar uma profissãoconsideradanobre.

«As pessoas têm que nos darvalor,nóstemosqueterumacar-teira profissional para nos olha-remcommaisdignidade,nemto-dasdomésticassãoanalfabetastalcomodizem,temmuitagentequeestuda,masporfaltadeemprego,avidalevaparaestescaminhos,»afirmouJoanaAugusto.

OSemanárioAngolensecons-tatou que a sociedade em geralmostra-se sensibilizada com ocaso e decidida a ajudar as do-mésticas a conquistarem o seupróprio espaço no mercado detrabalhonacional.

«As domésticas aos poucosestão a afirmar-se. O que deve-mos deixar de ter é o complexode inferioridade que as pessoastêm sobre as coisas, não é umaengenheira mas é de tamanhaimportânciaparatodosnós,con-cordoquemereçamoestatutodeprofissionaisparaobteremmaiorconsideraçãoporpartedetodos»,afirmouDomingas de Carvalho,docenteuniversitária.

Quantoa formação, foi expli-cado que, actualmente, é difícilencontrar uma doméstica anal-fabeta porque todas começarama enveredar pela formação. É ocasodeAnaCelestequetrabalhacomo doméstica há cinco anos,mas conseguiu terminar o ensi-nomédio e estánestemomentoa fazeroensinosuperior,comosalárioquerecebedasuaativida-delaboral.

«Comeceiafazerestestrabalhosdedomésticaporqueosmeuspaisnãotinhamdinheiroparapagarosmeusestudos,felizmenteconseguivencer todas dificuldades porqueomeuobjetivosemprefoiapostarnoseguimentodosmeusestudos,porissoestouagoranafaculdade»,contouasenhora.

OdocumentoapresentadopeloMAPESS explica que o empre-gador deve tratar o trabalhadordoméstico com respeito e digni-dade, proporcionar condições detrabalhofavoráveisquegarantamasegurançaesaúdenotrabalho,bemcomocumprircomasobri-gaçõeslegais.

Nestemomentooprojetoestáaindaaseranalisadoediscutidoentre os parceiros sociais paraque, posteriormente, seja apro-vado. O seu conteúdo contem-pladireitos como serpagocomregularidade, receber o saláriojusto e adequado ao trabalhoprestado, exercer a actividadeprofissionalemadequadascon-dições de higiene e segurança,bem como garantir os direitoslaboraisprevistosnalei.■

Trabalho doméstico dignificado com respaldo legal

Page 30: semanario_angolense_464

Sociedade

Telma Dias

O porta-voz do Sindica-dodosTécnicosdeEn-fermagem de Luanda(SINTENFL), António

Kileba,foiespancado,nestaquar-ta-feira, 02, por mais de cincoindivíduos desconhecidos, que,simulandoumabriga,derepentecomeçaram a esbofeteá-lo, semqualquerrazão,soubeoSemaná-rioAngolensedefontessindicais.

Aindaemconsequênciadagre-ve,doisprofissionais,daMaterni-dade Augusto Ngangula, foramdetidos na tarde de quarta-feira,02, por suposta agressão a umapaciente. Trata-se de FranciscadeCarvalhoeAlexandreAguiar,queaindaseencontramencarce-radasnadivisãodoSambizanga,naesquadradoBairroOperário.

António Kileba desmentiu aacusaçãofeitapelaPolíciaNacio-nal aos seus profissionais, afir-mandoque«nãohouveagressõesfísicasnempsicológicasporpartedos enfermeiros, tudo isso nãopassadeumpretextodospolíciasqueseencontravamnohospital.»

O SINTENFL tentou nego-ciar com a polícia a libertaçãodas enfermeiras supostas agres-soras, mas o sindicato sentiu-sechantageadopelo factode a cor-poração condicionar a soltura àapresentação de um documentoquecertifiquealegalizaçãodessaorganização sindical e da acta,assinadaporFranciscaTrindade,pelo sindicato, e por Jesuíno Sil-va,segundosecretáriodocomitéprovincialdoMPLAdeLuanda.

OSINTENFLeaDirecçãoPro-vincialdaSaúdedeLuandasubs-creveram acordos nos dias 5 e 9deJaneiro,comprazode60dias,depois do que, o governo pediuaosprofissionaismais45.Trans-corrido esse período o Sindicatoconcedeumaissetedias,mas,nãohouve,porpartedasautoridades,preocupação em honrar as suasobrigações.

Sem temor a ameaças

O nosso interlocutor defendeque,emalgumasáreasondenãohámédico,deacordocomacar-reira,nomeadamentenosbancosdeurgência,naspediatrias, salasde partos, onde hámuito traba-lho,dever-se-ia atribuirumsub-sídiode40%paraostécnicosmé-dios e 60%para os auxiliares deenfermagem,poisesses foramosacordosqueadiretoradoHospi-talGeraldeLuanda,IsabelMas-socolo, assinou como entidadepatronal.

Quanto às ameaças proferidaspeloGovernoProvincialdeLuan-da, o porta-voz do Sindicato de-clarouquenãoasteme,porque«osindicato é realmente legal. Essaatitude (do governador provin-

cial)sóvempôrumpontodein-terrogação pelo cargo que ocupaaníveldaprovínciadeLuanda»,apontou.

O dirigente sindical acrescen-touqueessaéumaversãocontra-riada por umadisposição da LeiSindical de 1992, que estabelece,no Artigo 10º «As AssociaçõesSindicais, que adquirem perso-nalidadejurídicapeloregistodosseus estatutos no Ministério daJustiça».

Informou que os sindicalistaspor eles contactados faziam-seacompanhar da respectiva certi-dãoderegisto,naqualselêadatada escritura, o livro e as folhas.AntónioKilebadisseestar-sepe-ranteduasentidadesfalsas.

«Seria bom que o Ministé-rio da Justiça, de acordo com assuas normas de funcionamento,pautasseporumoutrométodoe

nãofazerumapublicaçãoqueeleconfirmaqueestamoslegais,querdizerqueestamosdiantededuasentidadesfalsas»,asseverou.

«Injustiça da Justiça?»

Otambémsecretário-geralad-juntodoSINTENFLafirmouqueforamdois comunicados aman-charobomnomedosindicato,jáum veio do Governo ProvincialdeLuandaeooutrodoMinisté-riodaJustiça,contradizendoqueosindicatoéilegalequenãopodedecretarumagreve.

«Não se pode fugir aos acordos, dizendo que somos ilegais,umavezquehácertidãoquecom-provaanossa legalização,que seencontranamesadogovernador.Logo, essa informação não temsegurança,pensoquedeveriasus-

tentarmaisainformaçãodele,emvez de especular a informação»,aconselhouosindicalista.

Paraele,oMinistériodaJusti-ça,aodizerqueasuaorganizaçãonãocumpriucomospressupostoslegais, de acordo com a Lei Sin-dical, nos artigos 10º, 13º e 14º,são essesmesmos artigos que secumpriu. Apontou que, imedia-tamente, entende-se que está adesautorizarasuaprópriaassina-turacomodelegadoprovincialdeJustiçaaníveldeLuanda.

Eleacreditaque foimá«influ-ênciadogoverno»,porqueosdiri-gentes têmconhecimentodequeosestatutosdosindicatoestão ládepositados, por isso, reiterou,nadatêmatemer.Declarouqueagrevevaimanter-se«atéqueogo-vernosedefinaemcumprircomaquiloqueforamasnegociações.

Pelo que se sabe a greve cor-

Greve de enfermeiros em Luanda

Porta-voz de sindicato espancado por desconhecidos

O SINTENFL e a Direcção Provincial da Saúde de Luanda subscreveram acordos nos dias 5 e 9 de Janeiro, com prazo de 60 dias, depois do que, o governo pediu aos profissionais mais 45. Transcorrido esse período o Sindicato concedeu mais sete dias, mas, não houve, por parte das autoridades, preocupação em honrar as suas obrigações. A greve corresponde somente aos centros

de saúde de Luanda, mas por solidariedade, alguns hospitais de nível nacional na província aderiram à paralisação, porque as questões que Luanda levanta, em termos de necessidades básicas, são extensivos aos profissionais de todo o país.

30 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 31: semanario_angolense_464

Sociedade

Sábado, 05 de Maio de 2012. 31

responde somente aos centros de saúdedeLuanda,masporsolidariedade,algunshospitais de nível nacional na provínciaaderiramàparalisação,porqueasquestõesqueLuandalevanta,emtermosdenecessi-dadesbásicas,sãoextensivosatodoopaís.

Lei protege os grevistas

Questionadosobreasameaçasdogover-nador,segundoasquais,agrevepoderápe-rigaroempregodosprotagonistas,respon-deuqueapróprialeiprotege-osouseja,aoabrigodalei,nenhumsindicalistapodesertransferidooususpensodassuasatividadesenquantoestiveraexercerassuasativida-deslaboraisnaempresa.«Apesardequejácomeçámosadarcontadequealiberdadesindicalnãoéexercidaaníveldopaís»,la-mentou.

Enquantoisso,ochefederepartiçãodaSaúde do município do Cazenga, DoutorZolaMesso,estáafazerdetençõespreven-tivasearasgarpanfletosdegreve.Segundooporta-vozdo sindicato,naposiçãodele,NzolaMessodeveriamandatarseussubor-dinadosenãoeleprópriofazeroquetemfeito.

«Enquantoeleforchefe,vaicomplicar,masseforlíder,vai-secolocarnoseulugar»assegurou,acrescentandoqueonívelsala-rialquepedemde50milKwanzaséparaquementrehojeetenhanível.

Éasegundagreveesteano,tendoapri-meira ocorrido no dia 4 de Janeiro, masdepois suspensa,devidoa acordosassina-

dosentreaDirecçãoProvincialdaSaúdeeo sindicato, entretantonãohonradospelopatronato, o quemotivou a actual parali-sação.

A nossa reportagem visitou o CentroMédicodoSindicato,ondedeparoucarta-zescomdizeres«ESTAMOSEMGREVE».SituaçãodiferenteregistámosnaMaterni-dadeAugustoNgangula,ondedoiscomu-nicados coexistem na mesma vitrina. Deumlado,odosindicatoconvocaaretoma-dadagreveedooutro,doGovernodeLu-anda,emqueameaçaosenfermeiros.Tudooresto,era«segredodeEstado.»

Comoção de médica

Julieta Alberto, médica interna geral,do referido estabelecimento, explicou queestãoparalisadasasáreasdeenfermagem,mas,nestemomentoatendemtambémme-dicina,apesardequesóparaalgunscasosdeemergência.Pelomenosnaquarta-feira,2,odiaemqueoSAsedeslocouàmaterni-dade,foramatendidasmaisde15crianças.

Comovidacomasituação,adoutoraJu-lieta,comomãe,dissesentir-semuitomalcoma situação,umavezqueopaísemsicarece de quadros, de enfermeiros e pro-fissionaisnoutrasáreas.Paraela,osaláriodignonãodeviaserumapreocupaçãoaní-veldeLuanda,oudopaís.

«Realmente,étristeoqueestáaaconte-cer,poisnestahistóriatoda,quemsofresãoosnossosfilhos»,lamuriou,acrescentandoque já trabalhouno centroda Sambadu-

rantecincoanoscomomédica,tendojálávividoumagreve.

Por seu lado, Conceição Cassua, enfer-meira domesmo centro, há dez anos, es-clareceuque,jánasegunda-feira,30,vol-taramparacasamaisde80pacientes,nãoabrindoexceçãoemnenhumdos sectoresemgreve.Masjánaquarta-feira,oconsul-tóriomédicoesteveatender.

«Tenhoduasfilhasdoentes,masdevidoàsituaçãoquenosaflige,nãoconseguiantesiraumdoscentrosfazeraconsulta,ehojelevei uma delas, um sobrinho e a minhairmã»,contou.

Mesmocomofracoatendimentonalgu-masáreasocentroaindaregistaadesão,ospacientesvãosurgindo,mas,infelizmente,estãoareceberumnúmeromuitoreduzi-do,comopacientesquechegamcomvómi-tos,febresaltaseoutrosmaisgravesqueobancodeurgênciarecebe.

Casosetratedepacientescomumaspetofísicoqueaindapossasuportaralgunsdias,sãoencaminhadosouomédicomanda-osdevoltaparacasa,mascomalgumasreco-mendaçõesoureceitamédica.

«Como mãe, também sinto ao ver asoutrasmães voltarem com bebés ao colo,aflitos,mas,poroutro lado,nãopodemosretroceder na nossa decisão, por se tratarde várias promessas não cumpridas. Porexemplo,senósresolvermososproblemasdos pacientes, quem irá resolver os nos-sos?»,questionou-seanossainterlocutora,

Acrescentouquetambémprecisademe-lhorarasuaqualidadedevida,paraassimpoderdarumavidadignaàsuafamília.

O nível de salário naquele centro, se-gundoasprofissionais, ainda éprecário enãoésuficiente,principalmenteparaquemtemdepercorrermuitosquilómetros.Pelomenos,aenfermeiraConceiçãoCassuanãocitoutodasasreivindicações,mastambémnão tevereceiodedizeraoSAosmíseros35milKwanzasqueauferemmensalmente.

Page 32: semanario_angolense_464

internacional

«O dia da morte de Bin Laden foi o mais importante da minha presidência»

Segundo o Presidente dos EUA

O presidente america-no, Barack Obama,afirmou que a mortede Osama Bin Laden

háumanofoiodiamaisimpor-tantedesuapresidência,emumaentrevista divulgada na quarta-feira pelo canal NBC e que foiconcedidanasaladaCasaBrancaondeObamaeoutrasautoridadesacompanharam a operação con-traolíderdaAl-Qaeda.

Plano frustrado: Bin Ladenqueria reformar «marca»Al-Qa-eda,dizautordelivro

Obama, que na terça-feira fezumavisitasurpresaaoAfeganis-tão, concedeu na semana passa-daumaentrevistaaocanalNBCdedicada ao ataque quematou olíder da Al-Qaeda no Paquistão,umamissãoquesemprefoicerca-dapelomaiorsegredo.«Deviaseruma operação muito discreta»,afirmou Obama em declaraçõesquedevemserdivulgadasnanoi-te de quarta-feira e que tiveramalguns trechos postados no sitedocanal.

O presidente enfatizou que«apenas um punhado de mem-bros da equipa da Casa Brancaestava a par damissão» e ele sófaloua respeitocomsuamulher,Michelle,quandoaoperaçãoter-minou.

Obama explicou que tomoua decisão sozinho, depois deconsultar os membros maispróximos de sua equipa, princi-palmente o vice-presidente JoeBiden, a secretária de EstadoHillary Clinton, o secretário deDefesanaocasião,RobertGates,e o chefe do Estado-Maior con-juntoMichaelMullen.

«Decidicorrerorisco.Arazãopela qual tomei a decisão de en-viar os (comandos da marinha)Sealsparatentarcapturarouma-tar Bin Laden em vez de outrasopçõeséquetinhatotalconfiançaneles», declarou. As autoridadestinham50%decertezadequeBinLaden estaria em um complexonacidadedeAbbottabad,noPa-quistão.

Hillary e o chefe da CIA naépoca,LeonPanetta,inclinaram-se por um ataque de comandos,mas Gates preferia um bombar-deio. Após o ataque, e antes de

anunciaroêxitodaoperaçãoaosamericanos, Obama telefonoupara Michelle, segundo a NBC.«Disse a ela que certamente nãojantariaporquetinhaduasoutrêscoisas para fazer naquela noite»,contouopresidente.

Em meio a um ano eleitoralemque tentaa reeleição,Obamatentacapitalizarnovamenteaseufavor a repercussão positiva quetevejuntoàopiniãopúblicaano-tíciadamortedoinimigopúbliconúmero1dosEstadosUnidosnoanopassado.

Nodiscursoquefeznavéspe-ra, durante sua visita surpresa

ao Afeganistão, Obama decla-rouqueoobjectivodederrotara Al-Qaeda e impedir que elavolte está agora ao alcance. Eletambém fez umnovo apelo aosmilitantes do grupo islâmicoTaliban para que rompam coma rede terrorista, responsávelpelosataquesdo11deSetembrocontraosEUAem2001,epediuavanços nas negociações de re-conciliação.

«Emcoordenaçãocomogover-no afegão, minha administraçãomantevenegociaçõesdirectascomoTaliban», disseObama emdis-curso na Base Aérea de Bagram.

«Dissemos claramente que elespodem fazer parte do futuro seromperemcomaAl-Qaedaeade-riremàsleisafegãs.Muitosmem-brosindicaraminteressenarecon-ciliação».«Ocaminhoparaapazestáprontoparaeles.Aquelesqueserecusaremapercorrê-loenfren-tarãoasforçasdesegurançaafegãsauxiliadaspelosEUAepornossosaliados.»

Mas,alémdossoldados,Oba-ma tentou dirigir-se principal-menteaseuscompatriotasquase11anosdepoisdainvasãopelosEUAdoAfeganistão em decor-rência do 11 de Setembro e da

posterior derrubada do regimetaleban,queapoiavaaAl-Qaedaeseulíder.

«Reconheço que muitos ame-ricanos estão fartos da guerra.Como presidente, nada é maispungente do que assinar umacarta a uma família (de soldadomorto)eolharnosolhosdeumacriançaquecrescerásemmãeousempai»,disse.«Nãodeixareiosamericanos em perigo nem umdia além do absolutamente ne-cessárioparanossasegurançana-cional.Masdevemoscolocarfimaessaguerradeformaresponsá-vel»,completou.■

DIVULGAÇÃO/Casa Branca Presidente Barack Obama e Hillary Clinton observam com atenção imagem da operação que culminou na morte de Osama bin Laden

32 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 33: semanario_angolense_464

internacional

Sábado, 05 de Maio de 2012. 33

Avaliada emUS$ 1mi-lhão,mansãochamavaaatençãoembairrodeclassemédianacidade

paquistanesadeAbbottabad.Ocomplexoondeo líderdaAl-

Qaeda,OsamabinLaden,estavaes-condidoantesdesuamortechama-vaa atençãoNumbairrode classemédianacidadedeAbbottabad.Amansão, localizada em um impo-nentemorro e rodeada pormurosdeconcretocomaramefarpadonotopo,foiavaliadaemUS$1milhão.

Nolocalnãohaviatelefonenemacessoàinternet,eosmoradoreseram tãopreocupados coma se-gurançaquequeimavamolixoenãoocolocavamparacolectanaruacomoosseusvizinhos.

Em depoimentos ao jornalamericano «The New York Ti-mes», moradores da região semostraram surpresos com a no-tícia de que a vizinhança escon-dia o terrorista mais procuradodomundo.JibranKhan,23anos,dissepensarqueacasaeradeal-guma pessoa rica. «Um amigomedissequeunshomensaltosebarbudosmoravamaliapósteremdeixado Peshawar por causa dealgumabriga»,afirmou.

Algunsmoradores disseram aoNYT que sabiam que algo estava«errado»quandoouviramhelicóp-terossobrevoandoolocalnanoitedoataque.«Nãopareciamaerona-vesdoExércitopaquistanês»,disseumhomemquemorapertodafor-taleza. «Um helicóptero voou tãobaixoquepareciaqueiapousarnoterraçodaminhacasa».

Apósoataquedasforçasame-ricanas quematou Bin Laden, oExército do Paquistão bloqueou

as ruas ao redor do local e bar-rouaentradadejornalistas.Fotosmostraram que a janelas erampintadas - algo comum entre fa-mílias religiosas que procuramevitarqueasmulheressejamob-servadas.

Bin Laden era procurado pelogovernoamericanohaviamaisdeumadécada.De acordo comau-toridadesamericanas, a«virada»aconteceuháquatroanos,quan-do as agências de inteligênciaidentificaramumfielmensageirodeOsama.Opseudónimoealgu-masinformaçõessobreohomemqueseriausadopelochefedaAl-Qaedaparamantercontactocomomundoforamdadosporprisio-neiros do centro de detenção deGuantánamo,emCuba.

Forammais dois anos até queasautoridadesamericanasdesco-brissemaregiãoemqueomensa-geiroactuava.EmAgostodoanopassado,asagênciasdeinteligên-ciachegaramàfortalezaconstruí-daemAbbottabad,umacidadedemédioportelocalizadaacercadeumahoradeIslamabad.

Apropriedadeeratãoseguraetãograndequeautoridadesame-ricanasduvidaramqueelativessesidoconstruídaparaesconderumsimplesmensageiro.Numminu-cioso trabalho de inteligência,agentesdaCIAanalisaram fotosdesatélitesediferentesrelatóriosnatentativadedeterminarquempoderia estar vivendo no local.Em Setembro, a CIA considerouqueapossibilidadedeBinLaderestaralieragrande.

Outros meses de trabalho deinteligênciaseseguiriamatéque,em14deMarço,opresidentedos

Estados Unidos, Barack Obama,realizouaprimeiradecincoreu-niões sobre segurança nacionalque aconteceriam nas próximasseissemanasparadiscutiraope-ração.

A última delas aconteceu namanhãde sexta-feira (29) e con-tou com a presença de ThomasDonilon, conselheiro de segu-rançanacional,JohnO.Brennan,conselheirodecontraterrorismo,e outros assessores próximos dolíder.AntesdevisitaroAlabamapara observar danos causadospor tornados, Obama assinou aordem formal que autorizou aoperaçãonolocalondeogovernoacreditavaqueserviadeesconde-rijoparaBinLaden.

Nodomingo(1),umapequenaequipa demilitares e agentes deinteligência americanos saíramdehelicópterosparaoataquecon-traoprédiofortificado.Autorida-desdosEUA fornecerampoucosdetalhes sobre a operação, masdisseram que um tiroteio come-çouequeBinLadententouresis-tir.OlíderdaAl-Qaedafoimortocomumtironocérebro,deacor-do com o governo. Outros trêshomens-incluindoumdosfilhosdeBinLaden-eumamulherqueteriasidousadacomoescudohu-manotambémmorreram.

Autoridades americanas dis-seram que um dos helicópteroscaiu durante amissão por causadeumafalhamecânica,masquenenhum americano ficou ferido.Eram15h50(horáriolocal)quan-do Obama recebeu a notícia dequeBinLadenhaviasidoidentifi-cado.Segundoogoverno,ocorpofoi«enterradonomar».■

A «fortaleza» onde Bin Laden estava escondido

AP MEMBROS do partido paquistanês Jamiat Ulema-e-Islam seguram cartaz do líder da Al-Qaeda Osama bin Laden, morto há um ano, durante protesto em sua homenagem em Quetta

O centrode combate ao terrorismodoexércitonorte-americano publicou quinta-feira alguns dos docu-mentosqueBinLadentinhanoseuúltimoesconderi-jo,emAbbottabad,Paquistão,apreendidosoperação

secretaemquefoimortoemMaiodoanopassado.Trata-sededocumentosdecomunicaçãointernaentreoslí-

deresdaAl-Qaedaetambémdecorrespondênciatrocadacomlíderesdeoutrosgruposligadosàorganizaçãoterrorista,comoolíderdasmilíciasAl-ShababdaSomália,MukhtarAbual-Zu-bayr,ouolíderdacéluladaAl-QaedanoIémen,AbuBasir.

Nas «Cartas de Abbottabad», como as designa o centro decombateao terrorismo, estãoexpostasalgumas frustraçõesdeBinLadenenquantolíderdaAl-Qaeda,quedizterplanospararecuperaraconfiançadosmuçulmanos.

«Planeioemitirumcomunicadoadizerqueestamosainiciarumanovafaseparacorrigir[oserros]cometidos.Comissopo-deremos recuperar, seDeusquiser, a confiançadeumgrandesegmentodaquelesquedeixaramdeconfiarnosjihadistas»,es-creveuBinLadenem2010.

Estanovafase,pretendidaporOsamabinLaden,passavaporvoltaraatacaralvosnorte-americanos,jáqueolíderestavapre-ocupadocomosefeitosdosmuitosataquescomvítimasmuçul-manaseinocentesrealizadosporgruposassociadosàAl-Qaeda.

BinLadenqueriavoltara fazerumgrandeataqueterroristanosEstadosUnidos,que lembrasseo11deSetembro.OsseusprincipaisalvoseramoPresidenteObamaeogeneralDavidPe-traeus.OlíderdaAl-Qaedaachavaque,comamortedeObamaecom(oactualvice)JoeBidencomoPresidente,osEstadosUni-dosmergulhariamnumaprofundacrise.

Parajá,foramdivulgadas175páginas(emárabe,197natra-duçãoparainglês)deumtotaldemaisdeseismil,de17cartaserascunhosescritosdeSetembrode2006aAbrilde2011.

Osdocumentosestavamguardadosnodiscorígidodocom-putadordeBinLaden,emcartõesdememóriaeempensUSBeestãoagoradisponíveisnositedocentrodecombateaoterroris-modosEUA.■

Líder da Al-Qaeda queria voltar a atacar os EUA

Divulgadas cartas que ele escreveu nos

seus últimos anos

Page 34: semanario_angolense_464

Por: Makiadi

34 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Mulheres estacionam melhor que os homens

Tédio provoca sedução no trabalho

Frutos vermelhos retardam o declínio cerebral

Afinal de contas, há alguma coisa naconduçãoemqueasmulheressuperamclaramente os homens: o estaciona-mento.Umestudo feito recentemente

noReinoUnidoveiodemonstrarqueasmulheressãonitidamentemelhoresqueoshomensaesta-cionarviaturas.

Oestudoconcluiqueasmulheresdemoramre-almenteumpoucomaisaestacionarasviaturas,masnofinalosseuscarros ficammaisbemali-nhadosnasvagasparaestacionamento.

Segundoa estação televisivaTVI,que retomaesteassunto abordado pela BBC, foram observados 2,5milcondutores,em700parquesdeestacionamentonaGrã-Bretanha.O resultadoapontaparao factodeasmulheresseremmaislentasaestacionar,masemcon-trapartidaoshomens(apesardedemonstraremmaiorhabilidadeemaiorsegurança)sãomenospacientes.

Enquanto somente 25% dos homens alinhamdevidamente as viaturas nos espaços escolhidosparaestacionamento,essenúmerosobepara53%nocasodasmulheres.

Um estudo sociológico feito numauniversidade inglesa demonstraque,noshomens,umamaior insa-tisfação profissional está associada

a ummaior grau de sedução das colegas detrabalho.

O estudo sobre personalidade, satisfaçãoprofissional e sedução no local de trabalho,feito por Adrian Banks (da Universidade deSurrey),incluiuentrevistasa201pessoascomidadesentre21e68anos.

Aprincipal conclusãodá contaqueosho-mens profissionalmente insatisfeitos são osmaisgalanteadoresenquantodecorreohoráriodetrabalho.Oquesepassaéqueapresentambaixoníveldeinteligênciaemocionale,simul-taneamente, têmdificuldade em controlar osprópriossentimentos.Daíanãoencontraremolimiteparaaseduçãovaiumpequenopasso.

EcomoseránoslocaisdetrabalhoemAn-gola?Certamenteteríamosresultadosumpou-codiferentes,nãoachaoleitor?

Um estudo recentemente publicado dácontaqueaingestãodefrutosverme-lhos(morango,cerejaemirtilo,dentreoutras)conduzaoretardardoproces-

sodedeclíniomentalnasmulheres.A agência France Press divulga a notícia,

adiantando que se trata de frutas ricas em fla-vonoides.Aspropriedades antioxidantes e anti-inflamatóriasdasfrutasvermelhastêmumpapelbenéficonodeclínio cognitivo associado ao au-mentodaidade.

O estudo foi realizado no período de 1995 a2001,comaparticipaçãodemaisde16milmu-lheresamericanas.

Portanto, cá fica o conselho: em qual-queridade,convémingerirfrutosvermelhos,queauxiliamasfunçõescerebrais.

Curiosidades

Mulher nua multada por falta de capacete

Um motociclista foimultado por amu-lherquetransporta-va consigo circular

sem capacete. Isso nada teriade anormal, se a mulher nãoestivessecompletamentenua.

DeacordocomaRedeGlo-bo, este caso insólito ocorreuna cidade de Constanta, naRoménia. O motociclista foi

interceptadoporumagentedapolícia,quechamouàatençãoparaofactodeamulherviajarsem capacete (como se vê nafoto).

Depoisdeamulhercolocarocapacetenacabeça,oagen-te da polícia deixou o casalprosseguirasuamarcha,semse importar como factode amulherestarnua.

=> Em todo omundo, sãodetectadosporanoàvoltade500miltremoresdeterra

=> Boa parte dos batonstem na escama de peixe umdosseusingredientes

=>Osegundohomemmaispequeno do mundo foi GulMohammed (1987-1997, nafoto), de Nova Deli (Índia),que media 57 centímetros epesava17quilogramas

=> O ser humano nascecom 300 ossos, mas quan-

do atinge a idade adulta temsomente 206 ossos – porquevários dos ossos anterioresse juntam para formar ossosmaiores

=>Assementesdeabóboraeramusadascomfinsmedici-nais pelos índios americanos(e ainda o são até hoje, emÁfrica,AméricaeÁsia)

=>Aguerramais curtadahistória mundial ocorreu em1896,entreZanzibareaIngla-terra – o Zanzibar rendeu-seemapenas38minutos

=> Estima-se que no finaldo ano 2000 havia 142,6miltoneladas de ouro emminas,emtodoomundo

=> Há caracóis que vivememramosdeárvores

=>Hápolvosquecomemosprópriosbraçosquandoestãodiantedeumasituaçãoaflitiva

=>Damesmaformacomohátalherocidentalbanhadoemouro,há tambémpauzi-nhos chineses que contêmouro

Page 35: semanario_angolense_464
Page 36: semanario_angolense_464

economia

Taxas de câmbio*

Salário mínimo de USD 300,00

AConfederação Sindical de trabalhadores angolanos (UNTA-CS), por meio do seu secretário-geral, Manuel Antonio Viage,defendeumsaláriomínimodepelomenos30milkwanzas (300dólares)«porqueumacestaalimentarbásicacustaacimade25milkwanzas,eéelaqueservedereferênciaparaseaferiropoderdecompradosaláriomínimo».DisseoresponsáveldaUNTA-CSementrevistaaoJornaldeAngola.Oqueelenãodisseéqualéovalordosaláriomínimohoje.

Dry Gin Special made in Angola

Redução na importação de «frango»

Matadouro de 20 milhões USD

«Aulas» de OGE, em Benguela

AempresaRosaOuro,fabricantedebebidasespirituosas,acabadeinaugurarumaunidadefabrilnoPoloIndustrialdaCatumbela,comapenasumalinhadeenchimento,ondevaiproduziramarcaDryGinSpecial (em garrafas de 75 centilitros). A fábrica, embora tenha sidoinauguradapelaadministradoraminicipal,AlicePascoal,édeiniciativaprivada,criou23empregosdirectos(20paraangolanose3paraestran-geiros)efazpartedoprogramadedesenvolvimentodazonaindustrialdaCatumbela.Àbemdaeconomianacional!

Estãoemconstrução240navesavícolasnoKwanza-NorteeMa-lanje.AtéAgostocomeçamafuncionarasprimeirasnascomunasdoCota,CambunzeeQuizenga,emMalanje.Cadanavetemcapacidadedeproduçãode5.000aveseassuasincubadorasvãoprduzir2milhõesdeovospormês.Comaconclusãodoprojectoopaíspassaadispôrdetodaacapacidadequeprecisaparaproduzircarnedeaveseovosereduziraimportaçãodessesprodutos.PalavrasdosecretáriodeEstadoparaaAgricultura,JoséAmaroTati,emvisitaaMalanje,nasemanapassada.

BenguelajádeuasuapartidaemvoltadoOrçamentoGeraldoEstadoparaopróximoano.OGovernoprovincialacabadepro-movererealizarumsemináriosobreaelaboraçãodoOGEenqua-dradonoSistemaIntegradoINGFE)edirigidoaosgestoreseexecu-toresdeunidadesorçamentadaseórgãosdependentesdogovernodaprovíncia.A acção serviupara fazerumexercíciodidáctico epedagógicodecomoeleborarumorçamentonosistemaintegradodegestão.Osunidadesorçamentaisdevemcomeçarjáaprepararoorçamentopara2013.

OprojectodaCooperativadosCriadoresdoCentroeSuldeAn-gola(CCCSA)daconstruçãodeummatadouroindustrialquein-cluiaformaçãodequadrosempecuáriaestáorçadoem20milhõesdedólaresejáfoiremetidoaoBancodeDesenvolvimentodeAngo-la(BDA),aguardandopelofinanciamentoaqualquermomento.AinformaçãoédeÁlvaroFernandes,director-geraldaCCCSA,quereune criadores gado de Benguele, Kwanza-Sul, Huíla, Namibe,CuneneeKuando-Kubango.NoaniversariodaCCCSA,nasemanapassada,umleilãodaCooperativaarrecadou200mildólarescomavendade130cabeçasdegadobovinoealgunscaprinosesuinos.

No$$o Kumbú

36 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Somente13empresaspú-blicasapresentaramore-latóriodoexercícioeco-nómica 2011, consoante

a revelação feitanapassada sextafeira, 27deAbril, pelopresiden-tedoInstitutodeApoioaoSectorEmpresarialPúblico (ISEP),Hen-daInglês.

Onumerodeempesasquenãocumpriram com a obrigação deapresentar as contas, de acordocomosdadosfornecidosporHen-da Inglês,é bastante expressivo:das 132 instituições públicas empleno funcionamento, apenas 82forneceramosrelatóriosdepresta-çãodecontas referentesaosexer-cícioseconómicosde2009a2010.

No exercício económico de2009 só 43 empresas prestaramcontas o que representava apenas52%do universo empresarial pú-blicodaqueleano. Jáem2010,34instituiçõespúblicasderamentra-da dos relatórios de prestação decontasnoISEP.

Quanto a qualidade dos docu-mentos, o presidente da Institutoinformou que em 2009 apenas10%das empresas obteve qualifi-caçãorazoável,enquantoem2010onúmerosubiupara12,5%.

OresponsáveldoISEPdeuaco-nheceuqueentreasempresasnãoestãoincluídasassubsidiárias,as-sociadaseasparticipadas.

Oprazolegaldeentregadosre-latórios de contas que expressamasituaçãoeconómicaefinanceiradas empresas públicas terminounodia15deAbrilestandoprevistaaapresentaçãodessesdocumentosàsociedadenodia30deMaio.

HendaInglêsdisseque«opra-zodeapresentaçãodecontasestáexpresso no limite que a Lei dasEmpresasPúblicasestabeleceparaa apresentação dos relatórios econtas das empresas públicas aoInstituto».

O incumprimento de apre-sentação do relatório e contas decada exercício económico pelasempresaspúblicasquebeneficiamdeapoiofinanceirodoEstadoim-plica a suspensão imediata de tal

apoio que, em geral, se destina afazer face as despesas de investi-mentoseoperacionais.

O presidente do ISEP revelouque foram detectadas insufici-ências que consistem na falta deevidênciadeaprovaçãodosdocu-mentosdeprestaçãodecontasporparte da gerência ou administra-çãoeaausênciadeapreciaçãodoConselhoFiscal.

Entre 13 únicas empresas pú-blicasquederamentradadosseusrelatórios de prestação de contasreferentesa2011,figuramasEdi-ções Novembro, Angop, TAAG,Zona Económica Especial, Cen-traldeCompraseaSociedadedeDesenvolvimento do Pólo Agro-IndustrialdeCapanda.■

Instituto de Apoio ao Sector Empresarial Público

Empresas pública sonegam contasDe de total de 132 companhias públicas, só 83 apresentaram os relatórios

das contas referentes a 2009/2010.

Uma carta de crédito estruturada peloStandardBankdeAngolafoiconside-rada comoumadasmelhores opera-çõescomerciaisde2011pelaprestigia-

darevista«GlobalTradeReview»umadasmaisconceituadasdomundoemmatériadefinancia-mentodocomérciointernacional.

A operação que foi realizada para uma em-presa de construção de direito angolano, emNovembrode2011, foi aprimeira cartade cré-ditodenominadaemyuanchinês,comumvalorequivalentea3,1milhõesdedólares,parafacili-taraimportaçãodeviaturaspesadas.

Estaoperação,relativaàcartadecréditodoStan-dardBankdeAngolaparaaempresadeconstruçãoangolanaHuafeng–ConstruçõeseEngenharia.

Duarte Pedreira, Director do FinanciamentodeComérciodoStandardBankdeAngola,afir-mouqueacartadecréditoabrenovoshorizontesàsrelaçõescomerciaisentreosdoispaíseseper-miteumamaiorproximidadeentre importado-reseexportadoresdeambosaspartes.

«A inovação desta operação permitiu-nosreafirmar o nível de sofisticação e perícia doStandard Bank de Angola» e, também, o seualtocompromissonoserviçoaosclientes.Estaé a primeira de uma série de iniciativas quetêm por objectivo reforçar os elos comerciasentre estes dois parceiros estratégicos, disseDuartePedreira.

«Estamos muito satisfeitos por termos sidopremiados pelo nosso trabalho numa área tãoimportante para a prossecução do crescimentoeconómico deÁfrica em geral e deAngola emparticular»,prosseguiuogestorbancário.

Duarte Pereira considerou ser aquela «umaprovadanossaperícianoâmbitodanegociaçãode operaçõesnosmais diversos sectores e regi-ões, comvista a solucionar asnecessidadesdosnossos clientes».OStandartBank,presente emAngoladesde2005comoescritórioderepresen-tação,recebeuem2009licençaparaoperarcomobancouniversal epossui apenas cinco agênciasmasmantemocompomissodeexpantir-se.■

Operação «premiada»

Crédito do Standard Bank Angola é prestigiado

Page 37: semanario_angolense_464

economia

Sábado, 05 de Maio de 2012. 37

O Instituto Nacionalde Apoio às Micro,Pequenas e MédiasEmpresas (INAPEM)

deu inicio ao processo de certi-ficaçãodeempresasnoplanodoprograma «Angola Investe», dedesenvolvimentodessesector.Aclassificaçãoéfeitaemfunçãodovolumedefaturaçãodecadaem-presatendoemcontatambémonímerodeempregados.

Desse modo tem a classifi-cação de micro empresa todaaquela que tem faturamento de250mildólarescontandocom10trabalhadores.Aspequenas em-presas são aquelas que faturamde250mila3milhõesdedolarescontandocomoconcursode10a 100 funcionários. E, por fim,é considerada média empresaaquela que tem uma faturaçãoentre 3 a 10milhões de dólarescomumnúmerodeempregadosde200pessoas.

O processo de certificação deempresas,conformeapalavradoPresidente do Conselho de Ad-ministração(PCA)doINAPEM,AntónioAssis,prevêumconjun-

to de incentivos para facilitar oambiente de negócios e ajudaras MPME’a desenvolverem-se,geraremempregosemaisrendi-mentos.

Os incentivos incluem a for-mação, facilidade de acesso aofinanciamento com taxas de ju-rosbonificadasnãosuperioresa2% além do apoio institucional.

SegundooPCAdoINAPEMfoicriado o Fundo Público de Ga-rantia Nacional onde as empre-sas de direito angolano podemrecorrere juntodosseusbancosbeneficiarem de financiamentosparaosseusprojectos.

António Assis anunciou acriação em breve do Fundo deCapital deRisco para protecçãodaspequenasemédiasempresas.

Para a certificação de umaempresa, alémde preencher umformulário fornecido pelo INA-PEM,énecessárioapresentarumtermode responsabilidade,umacópiadoestatutooupactosocial,copiadocartãodecontribuinte,cópiadoalvará,umadeclaraçãoinformando o numero de fun-cionários que a empresa tem,comprovativo do pagamento deimposto sobre o rendimento detrabalhoeumacertidãonarrati-vacompravandoaregularizaçãodasituaçãofiscal.■

O presidentedeBolívia,EvoMorales,naterçafeirapassada,coman-dou a nacionalização

da empresa Transportadora deEletricidade S.A., gerida pelaempresa Rede Elétrica Inter-nacional, filial do Grupo RedeElétrica,daEspanha,eordenouasuaocupaçãopelasForçasAr-madas.

«Opresentedecreto supremotemporobjetivonacionalizar afavor da Empresa Nacional deEletrificação(ENDE),represen-tante do Estado Plurinacional,o pacote acionário emmãos dasociedade Rede Elétrica Inter-nacionalnaEmpresaTranspor-tadoradeEletricidade»,afirmouMoralesnaocasião.

A medida ocorreu duas se-manasdepoisqueogovernodaArgentina, país aliado da Bo-lívia, apresentou ao Congressoum plano para expropriar 51%das ações da petrolífera YPFda também espanhola Repsol,como reação ao baixo nível deinvestimentosdacompanhiadaparteibérica.

«Como justa homenagem atodoopovobolivianoquetemlu-tadopelarecuperaçãodosseusre-cursosnaturais,pelarecuperaçãodosserviçosbásicos,nacionaliza-mosatransmissoradeeletricida-deemnomedopovoboliviano»,disse o presidente biliviuano, nacapitaldopaís,LaPaz.

A Red Eléctrica possui umaparticipação indireta de 99,94%na Transportadora de Electrici-dad (TDE), que administramaisde1,9mil quilômetrosde linhasdetransmissãodeenergianopaís.

Morales afirmou que a TDE,criada em 1997 durante a pri-

vatização do setor elétrico e queestá sobcontroledaRedEléctri-cadesde2002,investiuapenas81milhõesdedólaresnosúltimos16anos.

Omandatário boliviano já ti-nhanacionalizadoo setordehi-drocarbonetos em 1 de maio de2006. Depois da nacionalizaçãodos hidrocarbonetos bolivianoseapósárduasnegociações,10pe-trolíoferasestrangeiras,entreelasaRepsol-YPF(quecontrolava27%dasreservasgasíferasbolivianas),alcançaramacordoscomogover-noMoralessobreasnovascondi-çõesparaoperarnaBolívia.■

INAPEM realiza certificação

Seguindo o exemplo da Argentina

Definidas o que são micro pequenas ou médias empresas

Bolívia nacionaliza filial da espanhola Red Eléctrica

A empresaIMEXTrade,derotomoldagemefabricantedasmarcasHipo(tanquesetubos,pvp/polietileno)eSmar-tflex (colchões), investiu cincomilhões de dólares emnovas instalações,numterrenode7hectarescomseis

edifícios,queforaminauguradasnapassadasextafeira,emViana.Estaapostavaipermitiramaximizaçãodoprocessodetransfor-maçãoearmazenamentodeestoques,aaquisiçãoeinstalaçãodemáquinaseequipamentoscomtecnologiadeponta,bemcomoase-lecçãodematéria-primacomcertificaçãodequalidadenaorigem.

Nomercadoha10anos,aIMEXTradeinvestiutambémnosrecursoshumanos, tendo sido recrutados vários técnicos alta-mentequalificadoseoptimizadoos serviços técnicosdeassis-tênciapós-venda.Aempresaintegrahoje129trabalhadoreslo-caise12expatriados.

Paraodirector-geralda empresa,RamziEl-Houchaimi, «Oníveldeexigênciadoconsumidorangolanoécadavezmaioreissoreflete-seemtodosossectoreseconómicos.AIMEXTradepretendeacompanharestaevoluçãodomercado,portantoesteinvestimentonamodernizaçãotornou-seindispensável».

Aqualidadedosprodutosfabricadoseocrescimentodomer-cado,juntamentecomaentradadenovosplayersnosector,moti-varamaIMEXainvestirnamodernizaçãodasuaestruturapro-dutiva,deformaaposicionar-secomoumaempresacompetitivaeatentaàsnecessidadesdosseusclientes.Apardasnovasinstala-ções,aempresalançaumanovalinhadetubosemPVCeHDPE,dediferentestamanhoseparaasmaisdiversasaplicações.

«Actuamosnestemercadohá10anos.Estatransformaçãoéresultado do nosso crescimento, não havia outro caminho.Omercadoevolui,aconcorrênciacresce,osconsumidoresaumen-tamassuasexpectativaseexigênciaseasempresastêmquesa-beriraoencontrodetodaessaevolução,casocontráriocorremoriscodeseperder»,concluiodirector.■

IMEX Trade em novas instalações na Viana

Fábrica de tanques e colchões investe 5 milhões de dólares

Page 38: semanario_angolense_464

economia

38 Sábado, 05 de Maio de 2012.

N. Talapaxi S.

Nas últimas semanas,emqueosassuntosquedominaram o sectoreconómicocentraram-

seprincipalmentenareflexãoemtornodaDiaNacionaldoTraba-lhadorMineiroeposteriormenteem torno do Dia Internacionaldo Trabalhador, foi importanteobservarcommaiorpormenorasiniciativas tanto estatais quantoprivadasqueestãoemcursoparacolher maior aproveito dos bensqueosubsolodopaísoferece.

A ocasião afigurou-se oportu-natantoparafazersaberumpou-comais sobre as potencialidadesmineiras quanto para constatarquehánecessidadedeseinvestirmassivamentenosectornamedi-daemque,atravesdoseudesen-volvimento,vislumbra-seumpa-noramadeindustrializaçãocapazdeditarareduçãodadependênciaqueopaístemdopetróleo.

A mineração «é uma activi-dade de tecnologia de ponta, deintensidadecapital,dedurezadetrabalho e de muitas perspecti-vas», tal como disse o ministrode Geologia, Minas e Indústria,Joaquim Davi. A evolução dessesector,assentenasregrasditadaspeloEstadoatravésdonovoCó-digo Mineiro, independente dascontestações que tenha, apontapara um renascer de outros sec-toresadjacentes,amédioelongoprazosecriaumnumeropromis-sorde empregosondeo ciclodosistemaprodutivaedaeconomiademercadosefecham,tendoemcontaquemaisempregadospres-supõe mais consumidores paratodasasáreasdavidaeconómica.

Fosfato no Zaire

AValeFértilLda,umaempresadedireitoangolano,anunciounasemanapassada,quevai investirem breve um montante de umbilhão de dólares na construçãode uma fábrica de exploração etransformação de fosfato, na ba-cia de Lucunga, na província doZaire.Destevalor,60milhõessãoparaaexploraçãodofosfatoe940milhõesdestinam-seainstalaçãodafábricadetransformaçãodestemineiroemamoníacoenacons-

truçãodeumporto-marespecífi-coparaotransportedeinertes.

Estudosdeprospecçãoquede-vemserconcluidosatéofimdesteano apontam a existência de re-servasmínimasavaliadasem180milhõesdetoneladasdomineiro,factor considerado economica-mente viável para a execução doplano, segundo disse a Angop,Victor Amorim Guerra, repre-sentantedaempresaquedetemoprojecto.

Entreosbenefíciosquepodemser obtidos com a exploração dofosfato, e que podem dinamizaras intenções de investimentosnacionais e estrangeiros naque-la regiãodoNortedopaís, estãoo fabricodepastadedentes,de-tergentes,bebidasnãoalcoólicas,suplementos vitamínicos e raçãoanimal.

Quandoafabricaestiverdefini-ficamenteinstalada,numproces-so que deve ser demédio prazo,cercade7milempregosdirectose indirectospoderão ser criados.Isto por que, Victor Guerra, daValeFértilLda,garantiuque700postos de trabalho directo serãoestabelecidosna fábricade fosfa-to.

Noentanto,comotodagrandeindústria, o impacto da imple-

mentaçãodessafábricaserácapazde gerarmilhares de outros em-pregos ligados a empresas con-tratadas,nasáreasdeconstrução,transporteseoutrosserviçosquepodem incluir hotéis, restauran-tes,farmáciasepostosdeabaste-cimentodecombustíveis.

Ouro e ferro

Na área de prospecção deCa-teruca, integrada no projectoCassinga Norte, na Huíla, a So-ciedadeAngolana deExploraçãode Recursos Mineiros (AEMR)descobriu uma reserva de ferroestimada em400milhões de to-neladas. O director adjunto daempresa,HenriquesTiagoSimão,disse que a prospecção deve ter-minar ainda esse ano e a com-panhia espera identificar outrasáreascomreservasconsideráveis.Aprincípioacompanhiadeveex-trair4,2milhõesdetoneladasdomineirodaquelesubsolo.

AAEMR,quetemhoje527em-pregados (angolanos e estrangei-ros) programou investir um bi-lhão227milhõesdedólares,paraaprimeirafasedeprospecçãoini-ciada em2010.A exportaçãovaimovimentar também os Cami-nhos-de-FerrodeMocâmedesea

província doNamibe vai faturardeacordocomasuaparticipaçãono proceso do negócio: será noportosecodoSacomarqueserãoarmazenadososprodutos.

Todavia, o projecto mineiro-siderúrgicodeCassingaeCassa-la Quitungo não visa somente aHuila.IncluioNamibeeKwanza-Norteeestávoltadonãosomentepara o ferro, mas também à ex-ploraçãodemanganês.

Aolongodopróximoanoestáprevisto começarem os traba-lhos de prospecção e exploraçãodeourona regiãodeMpopo,naprovíncia da Huíla, segundo adirecçãoda SociedadedeMetaisPreciosos de Angola (SOMEPA)que sustenta o seuplanonos re-sultadosdeestudosdeviabilidadetécnico-económica.

Sabe-se,pelaSOMEPA,queasreservasdeouroquecontemplamo projecto estão estimadas emcercade10 toneladaseatéagorajá foram investidos aproximada-mente10milhõesdedólares.Masesses dados podem sofrer altera-çõessetiveremconsideraçãoqueostrabalhosdesondagemnaszo-nasauríferasaindanãofinalizou.

Há que se atender também ofacto de que não está consuma-daaanáliseeprocessamentodos

resultados das amostras envia-dasalaboraáoriosnoexteriordopaís, assim como falta concluira preparação da base de dadosda jazida - chamada 40-A - si-tuada nessa região huilana, issobaseando-se na informações daSOMEPA. A própria Sociedadede Metais Preciosos de Angola,fezsaber,atravesdasuadirectora,Djanira Santos, queos trabalhosde prospecção geológica do pro-jecto estão concentrados nessazona(a40-A)porserajazidaso-breaqualsepossuimaiorquan-tidade de informações, desde daépocacolonial.

No conjunto das acções que aSOMEPAvaiempreender,háain-da a prospecção de novas zonasauríferas naquela região do país,aelaboraçãodeumestudodeim-pacto ambiental e a construção,montagem e instalação de umaplantaparaoestudodasproprie-dadesdoouro.

Mas o desafio só começou

O que está sendo feito nessesprojectos que acabamos de ver ésóopontodepartidadeumalon-ga«epopeia»,aindanãoéofumodachamadoprogressomaspode-seconsiderarquesejaacontruçãodachaminé.Otraçadodefinitivodo mapa geológico do país vaipermitir cavar mais fundo nosproveitos.

Depoisdeumperíododesigni-ficativa paralização, desde o ano2008atéapoucotempo,osectormineiropassaporumanovaeta-pa, que antevêmelhores resulta-dos.OCódigoMineiroeoPlanoNacional de Geologia, são doisinstrumentos fundamentais quepodem impulcionarnamudançadaimagemdosector.

Emborasejamplanoshátodaaprobabilidadedesetornaremrea-lidade,acreditandonoquedisseosecretáriodeEstadodaGeologiae Minas, Mankenda Ambroise,quandoafirmourecentementees-taremcriadasascondiçõespropí-ciasparaqueosectormineirodeAngola entre na verdadeira fasederelançamentoedediversifica-çãodaprodução,comimpactonoaumentodearrecadaçãoderecei-tasfiscais.■

Muito além dos diamantes

Industrialização brota da terraOs projectos em curso para a exploração em breve de mineiros como o ouro, o fosfato e o ferro, entre outros, mostram

que o país, além de ter mais do que os diamantes no subsolo, pode bem alavancar a sua indústria a partir do sector da mineração e deixar de depender inteiramente do petróleo.

Page 39: semanario_angolense_464

economia

Sábado, 05 de Maio de 2012. 39

«Subsidiária» do LR, de Israel

Internacionalização

Vale Fértil dos mesmos criadores do Aldeia Nova

RDC e Zâmbia na mira do Catoca

Emborasejadedireitoangolano,oValeFértil,aempresaquevaiinvestirumbilhãodedolaresnaexploraçãodefosfatonaprovín-

ciadoZaire,éumacompanhialigadaaoGrupoLR,fundadoem1985emIsrael.OGrupoLRcentra-senodesenvolvimento,implementação,gestãoemanutençãodeprojectos de média e grande escala emtodoomundo,especialmenteemÁfrica,empregando actualmentemais de 3.000colaboradores. Hoje é líder económicoem Israel e está presente emAngola hámaisdedezoito anos,nos sectores agrí-cola,construção,defesaesegurança,tele-comunicações,investimentosegestãodeprojectospúblicoseprivados.

UmadasmaisvisíveisactividadesemterritórioangolanodoGrupoLRfoiare-conversãodabacialeiteiradoWacoKun-go, uma das primeiras grandes apostasno desenvolvimento de Angola, em Fe-vereirode2002,apósaconquistadapaz.

O projecto ilustrou o novo ambientesócio-económico do complexo agro-pe-cuário concebido com base na coopera-ção bilateral entre Israel e Angola, en-gajandoogrupoLReoGoverno, numinvestimentoinicialde70milhõesdedó-laresquevisouelaboraroprojectoAldeiaNova. O projecto contemplava desde aprodução agro-pecuária à industrializa-ção. A instalação de pequenas fábricaspara a transformação da produção dosagricultoreseoescoamentodosprodutosparaosgrandescentrosdeconsumo fa-ziampartedoprojecto.

Cercade 600 famílias estavamenvol-vidas na agricultura e 800 em activida-des agro-industriais, noquadrodopro-jecto AldeiaNova,mais concretamente,naproduçãode lacticínios (leite, queijo,manteiga,carneeseusderivados),nasre-giõesdeWakuKungo,comumatécnicade produção à semelhança dos Kibutz,emIsrael.■

A perspectiva que se insere numprograma de desenvolvimentoestratégicodaSociedadeparaospróximos 10 anos, foi revelado

pelo director geral da empresa,Ganga Jú-nior.

Oresponsávelquefalavaàmediaapro-pósitododiadomineiro, assinalado a 27deAbrilúltimo,referiuporoutrolado,queoprogramacontemplatambémaexpansãoparaoutrasprovínciasdopaís.

«Estamos a trabalhar neste sentidojá de algum tempo a esta parte, e aquimesmo no limite entre a Lunda-Nortee Lunda-Sul, a 30 quilómetros a norte,temos um outro projecto, a concessãodoLuemba,onderealizamosjábastantetrabalho de investigação geológico-mi-neira»,adiantou.

Nesta empreitada, avançou o respon-sável, foi descoberto umkimberlito novo,também denominado «kimberlito doChiuso»,ondejáexistemcálculosdereser-va,estudodeviabilidadeenestemomentoencontra-sena fasede elaboraçãodepro-jectodeimplantaçãodamina.

«Emmeadosdoanode2014devemosterumaminanovanaqualaSMCpar-ticiparácom51%doseucapitalsocialeseráoresponsávelpelagestãodasopera-ções epela conduçãode todonegocio»,revelou.

Oestudogeológicoqueestáaserdesen-volvido a uma profundidade de 350 me-tros,apontaparaumareservanaordemde30milhõesdequilates.

Nestemomento,aSMCestáadesenvol-ver estudos de investigação geológico-mi-neiro nas sete outras concessões nas pro-víncias daLunda-Norte, doKuanza-Sul e

Bié,cujoprogramajáestáemcurso.«No Kuanza-Sul estamos a trabalhar

noVulegeeGango,localidadesquefazempartedabaciadorioKuanza,ondejáexis-te alguma informação geológica e há defacto ocorrências de diamantes. Algunstrabalhos de investigação geofísica aéreae terrestre também foram já efectuados eapontamparaelevadospotenciaisdekim-berlitos»,garantiu.

GangaJúniorreferiuquenoanopassado,aSMCcontribuiucommaisde170milhõese600mildólares,paraoscofresdoEstado,resultantesdopagamentodeimpostosdaactividadedeexploraçãodediamantes.

Relativamente à produção da empresano primeiro trimestre deste ano, o gestordisse,quemanteve-seacapacidadedepro-duçãoigualaoperíodoanterior,comumaproduçãomédiamensalnaordemdequi-nhentose50milquilates.

Quantoaosprogramassociaisdaempre-sa direccionados às comunidades, referiuestaremaconcluirnegociaçõesparacons-truçãodeumbairro socialnaLundaSul,paraostrabalhadores.

CatocaéamaiorempresadeexploraçãodediamantesdeAngolaeoquartomaiorkimberlitodomundoequetemcomoac-cionistas aEndiama (Angola), abrasileiraOdebrecht,aisraelitaDaumontyFinanceeaAlrosadaFederaçãoRussa.■

A Sociedade Mineira de Catoca, (SMC), empresa que explora o quarto maior kimberlito do mundo, poderá internacionalizar as suas actividades nos próximos anos e explorar diamantes na República Democrática do Congo e na Zâmbia.

Page 40: semanario_angolense_464

Cultura

Assim,aescritoraMariaCelestina Fernandesirápresentearopúbli-co mais jovem com a

obra de poesia-juvenil intitulada«Sonhando». Com 39 páginas, olivroémaisumfrutodacolecção«Pitanga»etemumatiragemini-cialdemilexemplares.

Aautora,quecontabiliza sua20ªpublicação,sendo15dogé-nero infanto-juvenil, dois ro-mances, dois de poesia e umade crónicas, tem participaçãoem colectâneas nacionais e es-trangeiras. Foi distinguida pelaFundação Nacional do LivroInfantile JuvenildoBrasilcoma Menção Altamente Reco-mendável pela obra «A Árvoredos Gingongos»; vencedora doprémio Jardim do Livro-2010 enomeada para o prémio SuecoAstridLindgrenem2010e2011.

De igual modo, será lançadauma obra de cunho académicocientífico denominada «Liçõesde Direito Processual Civil I»,um livro de autoria da juristaNéliaDanielDias.

A autoria, que foi regente dadisciplina de direito processualcivilnafaculdadedeDireitodaUniversidade Católica de An-gola, justifica a publicação da

obra, «devido à falta de biblio-grafianacionalaesterespeito».

O livrocomportacincocapí-tulos, com abordagens do pro-cessocivilemgeral,dosproces-sos processuais, plano geral doprocessodeclarativo,asfasesdoprocesso civil declarativo e dosprincípiosdeprocessocivil.

Commais de duzentas pági-nas,aobratemumatiragemdemil exemplares, estando a suaediçãoacargodaUEA.

PósgraduadaemDireitodeCo-municação pela faculdade deDi-reitodaUniversidadedeCoimbra,eemDireitodePetróleoeGás,aautorapossuiograudemestreem

Direito civil. NéliaDanielDias étambém autora do livro a «Res-ponsabilidadeCivil do Juiz», edi-tadoemPortugalem2004;Ares-ponsabilidade Civil Subjectiva eHipótesesPráticasdeTeoriaGeraldoDireitoCivil, ambos editados,em2008,pelaUEA.É igualmen-te professora universitária desde

2007, formadora da Ordem dosAdvogadosAngolanoseautoradediversosartigosjurídicospublica-dosdesde2006emrevistasnacio-naiseestrangeiras.

«VéudoVento»-Hai-Kais&Sonetos-seráaterceiraobrali-teráriaaserlançada,daautoriadeDavidCapelenguela.

Livro tem165páginas. «Éumlivro estruturalmente complexo,composto de duas coreografias,sendo ambas produtos da buscatenaz entre dunas do deserto doNamibe e as arenas fluviais doCunene, passando pelasmapun-dasdaHuila, semesquecera in-tensidade rupestre doTchitundo–hulu»,lê-senaobra.

«Seis invulgares painéis comoa hábil talvez de uma fábula nãoconsumida,encerrandoestetítuloque indubitavelmente implicaumacréscimoàmaisdensapoéticadamodernidade angolana, onde umespessoenraizamentocultural,nasendadapropostaOhandanjiana,éingredientefestivo…»,refereLo-pitoFeijó,aoprefaciarolivro..

Jornalistadeprofissão,DavidCapelenguela é autor de váriasobras poéticas, como a AcordaNua,VozesAmbíguas,RugirdoCrivo e O Enigma daWelwits-chia,PlantaSede.■

Três novas obras em vias de lançamento na UEA

Três novas obras literárias serão brevemente lançadas pela União dos Escritores Angolanos (UEA, segundo apurou este jornal junto daquela instituição. O lançamento enquadra-se no âmbito de um vasto trabalho de promoção da literatura e do livro,

que envolve também palestras, conferências e tertúlias.

Kim Alves

O escritorangolanoMoicheleKatonhelançounopassado sábado, 28,noCentroCulturalAgostinhoNeto, emCatete, a suamais re-centeobraliterária«EstóriaseCrónicasEn-

trançadas».Olançamentodolivro,osextodoautor,enquadrou-se

nasjornadascomemorativasdoDiaMundialdoLivroedosDireitosdeAutor,econtoucomapresençadealgu-maspersonalidadesligadasàsForçasArmadas,amantesdaliteraturaepúblicoemgeral.

MoicheleKatonheéopseudónimoliteráriodeMoisésAntónio, umoficial superior das ForçasArmadasAn-golanasqueselançoulançounomundodaliteraturaháseisanos.

Comaapresentaçãodoseunovolivro,oescritortem

estadoacumprircomumdesafioporsilançado:apro-duçãodeumaobraliteráriaporano.

Apesardepossuirumaproduçãoprofícua, ele reco-nhece,comextremahumildadequenãoéaindaumes-critor,mas«simumaprendizdeescritor».

«EstóriaseCrónicasEntrançadas»éumlivrodeficçãonarrativa,comalgunsfactosreaisàmistura,comportandoduaspartesprincipais,subdivididasemváriosassuntos.Aprimeiraparte,ou«OmnipotênciadoDestino»,apresentaoresultadodeumtrabalhoaturado,masnãoacabadodeinvestigação,pesquisaeestudodoshábitosecostumesdospovosquehabitavam,eaindahabitam,aregiãodeBulutu(BomJesus),nasentranhasdeIcolo-e-Bengo.

Nestapartedolivroencontra-se,deformaresumida,aaldeiacaracterística,avidaeaobradospovos,asactivi-dadesdesenvolvidasparaasuasobrevivênciaeahistóriadeumafamíliaquesedestacaentreasdemais.

A segunda parte apresenta um conjunto de estó-rias e crónicas que, para além de retratarem coisascaricatas, evocam o amor e apelam à luta contra aambiçãodesmedida,aoresgatedosvaloresmoraisecívicos,taiscomoamodéstia,orespeitoeoamoraopróximo.

«Wawénvula,quefazbemefazmal,quetrazalegriaàcriançadaefazesqueceraescassez»,lê-senolivro.

O escritor já publicou, «Prevenção Contra MinasTerrestres»,em2007,dedicadaaoflagelodasminasemAngola;«GritosSurdoseOutros»,umlivrodepoesia,em2008;«TransparênciaI»,em2009,umestudosobreauditoriamilitar;«ÀLuzdoContraste»,tambémpoe-sia,em2010;«DicionárioMilitar»,livrorecomendadoparaosdiversosníveisde ensino e aosmais variadosramosdeactividade,em2011e,porfim,em2012,lan-çou«EstóriaseCrónicasEntrançadas».■

«Estórias e Crónicas Entrançadas»

Escritor Moichele Katonhe lança mais uma obra

40 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 41: semanario_angolense_464
Page 42: semanario_angolense_464

desporto

Paulo Possas

Depois de em Fevereirodeste ano as PalancasNegrasteremfalhadoojogodaDataFIFAcon-

traaGuinéEquatorial,adirecçãodaFederaçãoAngolanadeFutebolfez todas as diligências para queelas possam realizar, ainda estemês, trêsdesafiosamistosos (doiscom a Nigéria – em substituiçãodoSudão-eumcomaMacedó-nia, afimobteremníveis compe-titivos que as permitam encararsemreceioosjogosoficiaiscomoUgandaeLibéria,paraaselimina-tóriasdoCANde2013eMundialde2014,respectivamente.

OpresidentedaFederaçãoAn-golana de Futebol, Pedro Neto,tinha acertado com o selecciona-dor sudanês,MohamedAbdallah«Mazda»,queosjogosserealizas-sementreosdias15e13,primeiroemLuanda edepois emCartum,mas, infelizmente, já se sabe queeles já não se concretizarão, de-vendo ser a Nigéria surgir comoalternativa.

O treinador sudanês esteveem Luanda integrado da delega-çãodoALAmalqueveiojogareperdeu(4-1)comoInterclube.Osdetalhes negociados para ambososjogoshaviamsidolevadosporaqueletreinadorparaosapresen-

tar à sua federação, que já decli-nouaproposta.

Se o jogo contra o Sudão seconcretizasse a 23, as PalancasNegras seguiriam directamentepara Lisboa onde devem, aindaassim,defrontaraMacedónianodia29,jáquea26aselecçãodes-sepaístemumamistosomarca-docomPortugal.

OstermosparaarealizaçãodojogoparticularcomaMecedóniaforam tratados pelo vice-presi-dente da FAF para as selecçõesnacionais, José Luís Prata, pri-meiro em Londres e depois emPortugal.

AntesdoscontactoscomaMa-cedónia,aFAFaventavaahipótesedas Palancas jogarem comoKo-

weit,noCairo(Egipto),masopaísárabedeclinouessapossibilidade.

AsPalancasNegrastêmosseusprimeirosjogosoficiaisa1e8deJunho, contraUganda, emLuan-da, e depois contra a Libéria, emMonróvia,respectivamente.

Por enquanto, resta apenas es-perar-sepelaconvocatóriadapré-selecção a ser feita hoje (sábado)

pelotécnicoRomeuFilemon,quepretendemuita juventude e carasnovas,parasedesfazerdos«maisvelhos»,comoprometeu.

Na última selecção que o ex-selecionador Lito Vidigal deu aver ao país, os jogadores abaixodos 30 anos eram:Miguel (Petrode Luanda, 21 anos) Vungudica(PreuberdaAlemanha,22),Djal-maCampos(FCPorto,25),Min-go Bile (1.º de Agosto, 25), DanyMassunguna (1.º de Agosto, 26),Hugo (Kabuscorp, 26), ManuchoBarros(Interclube,27),Wilson(1ºdeAgosto,28),MarcoAirosa(AelLimassol doChipre, 28),Galiano(Nacional,28),NandoRafael (FCAusburgdaAlemanha,28),Zwela(AtrimicadaGrécia,29)eManu-choGonçalves(Valladolid,28).

Jánacasados30,estavam:Gil-berto(LiersedaBélgica,30),Jaime(Progresso,30),Osório(Caála,31),Dedé(AelLimassoldoChipre,31),AndréMakanga(Koweit,34),Kali(1.ºdeAgosto,34),CarlosFernan-des(semclube,33),Amaro(1.ºdeAgosto,33),LoveKabungula(Pe-trodeLuanda,33)eFlávio(LiersedaBélgica,33anos).

SegundoRomeuFilemon,dessegrupo da antiga geração, apenassairão três jogadores,noque seráamaior «revolução» jáhavidanofutebol angolano, que pode fazercorrermuitatinta.■

A soberbavitóriade4a1queoInterclubeimpôsno«22deJunho»aoAlAmaldoSudão,napri-meira-mãoda última eliminatória de acesso àfasedegrupodaTaçadaConfederaçãoébas-

tantegalvanizadora,masnãoéaindamotivobastanteparasecantarvitóriaemrelaçãoàqualificação.

EsteavisofoidadologoaseguiraojogodeLuanda,noEstádio22deJunho,querpeloprópriotreinadordosPolí-cias,BernardinoPedroto,querpelopresidentedaFAF,Pe-droNeto,quenomêspassadoquase«caiudeborco»aoveroLiboloasereliminadodaLigadoscampeões,aoperderpor3a0emLagos,contraosnigerianosdoSunshineStar,depoisde emCalulo a turmadeZecaAmaral ter ganhoporiguais4-1.

«Nadaestáseguro,porquetemosoexemplodoLibolo.Maséumavantagemconfortávelquenospermiteencararasegundamãocomalgumatranquilidade.Onossoadver-sáriovaiprocurarnoseuterreno,comoseupúblico, in-

verteressadesvantagem.OAlAmalcomplicoubastanteanossamissão.Vamosprocurarnasegundamãofazerumjogoidênticoaesteeterumaposturaigual»,disseotécnicoportuguês.

OfactodeBernardinoPedrototerditoaindaqueestavadespreocupadocomumeventualjogodebastidoresdoAlAmaldoSudão,nãoésuficienteparaevitarossobressal-tosnaturaisentreosseusjogadores,apósoeexemplodoLibolo.

OpresidentedaFAF,PedroNeto,advertiuqueaequipaangolanadevetermuitasprecauçõesnodesafio:«Oresul-tadoésuficientementealargadoparairmosjogaràvonta-de,mascomosediz,emÁfricanãoháresultadosfeitos,porisso,nasegunda-mãotemosdeircommuitascautelas».

«TemosdeaprendercomoserrosdosoutroseseoLibo-lonãoconseguiuseguraroresultadoparamaugáudiodeAngola,vamosverseoIntersegura»,acrescentou.

OpresidentedaComissãodeGestãodoInterclube,Al-

ves Simões, percebeu o aviso e tratou de dizer: «Vamosparalácomaliçãobemestudadaparatentarmosvenceronossoadversárionocômputodasduasmãos».■

Palancas fazem três «amistosos»antes do jogo contra o Uganda

Inter esmaga (4-1) AL Amal mas atenção à sorte do Libolo

Taça da Confederação

42 Sábado, 05 de Maio de 2012.

Page 43: semanario_angolense_464

desporto

Sábado, 05 de Maio de 2012. 43

Mil e quinhentos polícias mobilizadospara o jogo entre Petro e o Kabuscorp

O jogoentreoPetrodeLu-anda(donodacasa)eoKabuscorp do Palanca,para a décima jornada

doGirabola,marcadoparaestedo-mingo,noEstádio11deNovembro,está a ser considerado como o de«alto risco», não tanto pelos luga-resqueocupam–porqueoPetroestálonge,muitolongemesmo,doseuadversáriodaronda–,masporaquiloqueseconhecedosconfron-tosentresosadeptosdeambososlados.

No ano passado, por exemplo,sete adeptos do Kabuscorp foramdetidospelaPolíciaNacionalede-pois julgados sumariamente, porteremprotagonizadodistúrbiosnaviapública,aofimdodesafioentreasduasformações,terminadonumempate a dois golos, em jogo quecontavaparaa29.ª jornadadoGi-rabolade2011.

Já antes, para a 14.ª jornada,houverauma«maka»porcausadaactuaçãodoárbitroRomualdoBal-tazar.Elesancionou,aos14minu-tos, um fora-de-jogo «inexistente»aocentralBastos,queviuocartãoamareloporterintroduzidoabolanabalizadeHugo.

O assistente Inácio Cândidolevantou a bandeira e RomualdoBaltazarsancionou,quandoojogoestava ainda a 0-0, mas a equipapalanquinaviriaaganharportrêsa zero, uma vitória em que o ter-

ceiro golo do Kabuscorp tambémresultou de um canto duvidoso,poisatédasimagenstelevisivasfoipossível ver que o último a tocarnabolaforaumjogadordaturmadoPalanca.Istomotivouconfusãoentreosadeptosdasduasequipas.

Ajulgaremtudoisto,opresiden-tedoKabuscorp,BentoKangambaque deu apenas mais este jogo dedomingo ao técnico russo Viktor-

Bondarenkopara vencer, sobpenade -emcasodederrota - serafas-tado, esteve a suplicar aos adeptosdoclubeparaquetenhamumaboaconduta,tantoemrelaçãoaosadep-tosdoPetrodeLuanda,comoaoseuprópriotreinador,queestásobfortepressãopelassuasopçõestácticasti-dascomofalhadasatéaomomento.

Apolícianacional,emfacedisso,vaimontar um esquema de segu-

rançareforçado,afimdeprevenireventuaisdistúrbiosouconfrontosentreasduasclaques.

Um alto oficial do ComandoProvincial de Luanda, OrlandoBernardo, disse na terça-feira quea Polícia Nacional tudo fará paraevitar tais actos antes eduranteoreferidojogo,quersejadentro,foraouarredoresdoEstádio11deNo-vembro.

«OComandoProvincial,preca-vendo-se,estáacriarcondiçõesporformasaquenestejogonãoaconte-çamosmesmosincidentesquetêmestadoafazermoradanosjogosdefutebol»,disse.

«Vamos efectuar um patrulha-mento intensivo em todosos aces-sosdoestádio,comvistaaimpediraentradadeobjectoscontundentes,comogarrafas,bastões,facas,pedraseoutros,assimcomobebidasalcoó-licas.Aproveitoaquiparafazerumveementeapeloaosadeptosdasduasequipasparaquemostremumbomcomportamentocívico,parabemdonossodesporto»,sublinhouooficial.Sabe-sequeforammobilizadoscer-cade1500agentesparaoassegura-mentodestejogo,odemaiorcartazdaronda,adécima.

Osoutros jogosda jornadasão:Libolo x Nacional de Benguela;Santos FC x Bravos do Maquis,Sporting de Cabinda x Recreati-vodaCaála,BenficadeLuandax1.ºdeAgosto,ASAxProgressodoSambizanga, Sagrada EsperançaxInterclubeeAcadémicadoSoyoxAtléticodoNamibe.

Àentradadadécimajornadaes-tão nos cinco primeiros lugares oLibolo,com22pontos,1ºdeAgosto(20),PetrodeLuanda(20),ASA(18)eProgresso(15).Olíderdosmelho-resmarcadoreséYano,doProgres-sodoSambizanga, com8golos jáfacturados.■

A antiga basquetebolista Manuela de Oliveiratornou-se, sábado, na terceira mulher a as-sumiradirecçãoexecutivadeumclubedes-portivo angolano, o Atlético Sport Aviação

(ASA), depois deAna LeiteNogueira, no Sporting doBié,eTchizédosSantos,noBenficadeLuanda.

Únicacandidataaocargo,ManuelOliveiraseriacon-firmadanopleitoeleitoralrealizadosábado,substituin-doassimZecaVenâncio,evaidirigiroclubeaté2016.

Elaobtevecom19votosafavoretrêsabstenções,se-gundo os resultados da votação, tendo considerado achegadaaopostocomoumaapostapessoal.

«ÉumdesafioqueossóciosdoASAaguardamcomexpectativa. Vamos tentar implementar o programaduranteoprimeiroquadriénio.Esperocontar tambémcomossóciosepatrocinadoresparamaterializaronossoprogramadeacção»,disseanovapresidentedoclubedoaeroporto.

Manuela de Oliveira convenceu os sócios do clube

comumprogramadeacçãoemqueconstampromessasdeviramodernizarassuasinfra-estruturasedeofereceroutradinâmicaàsáreasadministrativaefinanceiradaagremiação.

NestesdesafiosvaicontarcomJorgeCampos,Adria-noAgostinho, JoãoBenedito, FernandoCalado eDja-milaVioletaCassoma, que estão nas vice-presidênciasdadirecção, coadjuvadosporNatérciaLourençoLoba,confirmadacomosecretária-geral.

António Sobrinho, António Fortunato, Belmiro Ci-prianoeJoãoMonteirosãoosvogaisdedirecçãodoclu-beaviador.JoaquimFerreiraéopresidentedoConselhoFiscal,ÁlvaroVigário,ovice-presidentedesseórgão,eAntóniadeOliveiraavogal.

RuiCarreira éopresidentedamesadaAssembleia-geral,aopassoqueCarlosCláverYobaeLuísEduardodosSantosocupamasvice-presidências.ParasecretáriodamesadaAssembleia-geralfoieleitoSimãoDavid,en-quantoAdãoSebastiãoofoicomovogal.■

Manuela Oliveira no ASA

A terceira mulher a dirigir um clube

Page 44: semanario_angolense_464

Sábado, 05 de Maio de 2012. 44Sábado, 05 de Maio de 2012. 44Sábado, 05 de Maio de 2012. 44

Depoisdetersidoapeadoda presidência da comissãoeleitoraldoASA,um«amar-gurado» Alvarito ressurgiriacom ameaças pouco simpá-ticas contra o clube aviador.Paraquemnãosabe,oantigoSGdaFAFparticipouactiva-mente no grupo radical quelevou uma merecida surrano pleito da última semana,numscorede19votosafavorcontra apenas 3 abstenções,vendoesfumar-se a suapre-tensão de dirigir o clube naqualidade de vice-presidenteexecutivo. Feitas as averi-guações, verificou-se que ohomemnãoconstavadalistadevotantesporrazõesvergo-nhosas:hámaisde5anosquenão paga quotas ao clube, oque,desdejá,lheretiraqual-querdireitodereclamarsejaoquefor.Queroquê?.■

A «novela» jurídica emqueoministroKundiPaiha-maseenvolveu,porcontadareivindicação de 25milhõesde dólares supostamente«açambarcados»porumseuantigosócionumnegóciodejogosdeazar,temmuitoqueselhediga.Alémde,seope-dissemqueofizesse,nãotercomo justificar aonde teriaido buscar tanto dinheiro,o político vê-se agora con-frontado com a relutânciado antigo «compadre», que,porseulado,dizque,ahaverreivindicação de dinheiros,quem temdeo fazer é ele enãooministro,aoqualacusade lhe ursupar direitos seusna sociedade, comprejuízosavultadosparasi.Nãosesabejáaquemajustiçadarárazão,mas que oministro sempreficamalnafoto,laistofica!■

Não se sabe bem dondetêmestadoapartiras«ordenssuperiores»para semolestarossindicalistasenvolvidosnagrevedosenfermeirosdeLu-anda,masasresponsabilida-dessempretêmdeserassaca-dasàsautoridades,porseremasmaisinteressadasnaques-tão,naperspectivadesediluiro movimento reivindicativodessesprofissionaisdasaúde.Váriossindicalistastêmsofri-dopressõessérias,queatéjátiveram porrada pelo meio,aver seos fazemdesistirdasualuta,mas,aocontráriodoquesepodiapensar,está-sealevaraqueelesextrememassuasposições,oquepodere-dundarnumcaosemtermosdeassistênciamédicaemLu-anda.Eaondeficaodiálogo,queéomelhorcaminhoaserseguido?■

ManuelaOliveira

PitraNeto

Bento Bento

Tão logo tomou conhe-cimento das irregularidadesque se vinham registandona ENCIB, onde, na sema-napassada,os trabalhadoresdesencadearam uma curtagreve,oGPLpôs-seimediata-menteemcampo,mandandoconstituir uma comissão deinquérito,afimdeaveriguaroquesepassavacomasuabur-galeira,cujasreceitas,aoinvésde cobrirem os salários dascentenas de trabalhadores,estariamaservirosinteressesde uns tantos xico-espertosenlameados nas negociatasdos inertes. Émuita «fruta»em jogo, segundo fontes co-nhecedoras do negócio, en-volvendosomasqueatingemlargosmilharesdedólarespormês.Haviaquesepôrordemnocirco.EéistooqueBBestáatentarfazer.Bem..■

A antiga basquetebolis-ta internacional Manuela«Manu» Oliveira, apesar dese confrontar com algumasresistênciasnoiníciodopro-cesso, acabou por ser con-firmada como presidente dedirecção do Atlético SportAviação(ASA),convertendo-se assim na terceira mulheraassumira lideraçãodeumclubedesportivoemAngola,seguindoaspeugadasdeAnaLeite,noSportingdoBié,edeTchizédosSantos,noBenfi-cadeLuanda.Ela,queeraacandidata isolada ao cargo,não teve nenhuma oposiçãodeclaradanodiadavotação.Noseuprojectode«governo»doASA,constaareabilitaçãodoclubeemváriosdomínios,demodosadevolver-lheapu-jança a que a agremiação jáhabituara.Força,«Manu»!■

Desdequeopaíssetornouindependente– e já vão aci-made35anos,semprehouveuma classe de trabalhadoresque eramanifestamentedis-criminada,umavezquenãotinha os mesmos direitoslaborais que as outras. Esta-mosafalardostrabalhadoresdomésticos,que,paraalémdesofrerem, em regra, injúriasdospatrões,ganhamumani-nhariaequasenuncabenefi-ciamdefériasanuais.Emais:são despedidos em face doshumoresdequemosempre-ga, sem qualquer espécie decompensação,sendoimpedi-dos«legalmente»dereclamar.Graças a Deus, o seu sofri-mentoestaráprestesatermi-nar,nasequênciadalegislaçãoespecíficaqueoMAPESS jácolocou à consideração doExecutivo.Finalmente....■

AugustoSilva

KundiPaihama Anónimos

Os governantes da Comunida-deEconómicadosEstadosdaÁfrica Ocidental (CEDEAO),reunidosemDacar,denuncia-

rama«atitudedesafiadora»dajuntami-litarquetomouopodernaGuiné-Bissau,equerecusouaceitaroregressoaopaís,eaocargo,doPresidenteinterinodepostoRaimundoPereira.

Na segunda cimeira extraordinária emoitodiasparadiscutirascrisesdaGuiné-BissauedoMali,oslíderesdaÁfricaOci-dental lamentaram que, depois da juntamilitar emBissau ter aparentemente con-cordado com as suas condições para pôrfimàinstabilidadenopaís,«asituaçãonãoestejaaevoluirdeformapositiva».

A26deAbril,aCEDEAOdeuumpra-zode 72horas para a devoluçãodo go-verno às autoridades civis, aprovando oenviodeumaforçade600militaresparasubstituirumcontingenteangolanoesu-pervisionaratransiçãodopoder.Diasde-pois,perantea«ambiguidade»dosrevol-tosos,ospaísesvizinhosavançaramcom«penalizações diplomáticas, económicasefinanceiras»contraaGuiné-Bissau.

Estaterça-feiraocomandomilitaremBissau fez saber que aceitava «todas as

exigências»daCEDEAO,nomeadamenteadiminuiçãodoprazodedoisanosparaummáximode12mesesatéàrealizaçãodeeleiçõesdemocráticas,masrejeitavaoregresso de Raimundo Pereira – detidonogolpeeposteriormentelibertadoeexi-

ladonaCostadoMarfim–paracumprirfunçõesdePresidenteinterino.

«Esta atitude provocatória vai obri-gar-nos a tomarmedidas suplementaresparagarantirqueasnossasdecisõessãorespeitadas e implementadas», avisou o

PresidentedaCostadoMarfim,AlassaneOuattara.«Aregiãonãovaitolerarode-safioperpétuodosmilitaresguineenses,queaoarrepiodetodasasregrasconsti-tucionais insistem em impor a sua von-tadeaopovo»,reforçouosecretário-geraldaCEDEAO,DésiréKadréOuédraogo.

Aumentandoapressão sobreos líderesdarevoltaguineense,BruxelasanunciouaaprovaçãodeumpacotedesançõescontraseisresponsáveispelogolpedeEstadode12deAbril,eexigiuo«regressoimediatoàor-demconstitucional».

Emcomunicado,aUniãoEuropeiadissequemedidascomoocongelamentodebenseaproibiçãodeentradanoterritórioeuro-peu serão implementadas «contra as seispessoas que ameaçam a paz, segurança einstabilidadedaGuiné-Bissau»ecujosno-messerãodivulgadosnapróximasemana.

Entretanto,oministériodaDefesadePortugal confirmou a informação avan-çadapela rádioRenascençadequeumaterceira fragata foi reforçar a Força deIntervenção Rápida accionada para oeventualresgateetransportedecidadãosnacionaisdaGuiné-Bissau.■

In Público»

Bruxelas aprovou sanções contra responsáveis pelo golpe de Estado na Guiné Bissau

Líderes africanos prometem medidas suplementares

REUNIDOS Em Dacar, líderes da CEDEAO lamentaram evolução negativa da situa-ção em Bissau (AFP/Seyllou)