seleção de crônicas do grupo a.t.u.n

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Seleção de Crônicas Grupo A.T.U.N

SUMÁRIO

A Aliança _____________________________________________ Amigos _______________________________________________ Casamento____________________________________________ Como as Mulheres Dominaram o Mundo____________________ Mãe é um Problema ____________________________________

Mineirinho Dando Má Notícia _____________________________

Mãe Executiva _________________________________________

O Lixo ________________________________________________

Estragou a televisão_____________________________________

Big supermercados _____________________________________

Vida a Dois ____________________________________________

Nunca Subestime Os Idosos ______________________________

Cachorro Velho ________________________________________

Doutorado em Estratégia ________________________________

Tupi _________________________________________________

Uma surpresa para Daphne ______________________________

Pai não entende nada ___________________________________

A descoberta __________________________________________

Conversa de mineiro____________________________________

O Rei dos Animais ______________________________________

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INTRODUÇÃO

Esta seleção de contos foi feita especialmente para aquelas pessoas que gostam de contar histórias.

Ao longo de alguns anos, o Grupo A.T.U.N veio selecionando as melhores Crônicas que contamos nos hospitais de Curitiba. Todas elas foram testadas e passaram no “risômetro” do nosso respeitável público.

Recomendamos sempre que antes de você contar a crônica, leia ela algumas vezes e treine um pouco. Geralmente são diálogos que ficam muito mais engraçados se vocês contarem em duplas.

Outra coisa que vale ressaltar é que algumas crônicas possuem um conteúdo um pouco mais “adulto”, portanto é importante perceber se a crônica é adequada ao momento e ao público.

E claro, aproveitem esse conteúdo e se divirtam!

Grupo A.T.U.N

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COMO UTILIZAR

Essa apostila foi feita no tamanho A5 para ficar mais fácil de carregar para qualquer lugar. Na hora de imprimir o arquivo é importante configurar para que as páginas saiam corretamente.

Colocamos também uma margem espelhada para que vocês possam encadernar ou arquivar sem perder parte da história. Como vocês perceberam, o sumário não esta numerado. A impressão de cada crônica pode ser independente, não sendo necessário imprimir a apostila inteira para utilização. Portanto deixamos a seu critério a numeração do sumário e a escolha das crônicas. Em crônicas que temos diálogos, diferenciamos os personagens através do destaque em negrito.

Se você tem alguma sugestão, elogio ou opnião, entre em contato conosco através do nosso blog: grupoatun.blogspot.com. A sua participação é muito importante.

Grupo A.T.U.N

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A Aliança - Luis Fernando Veríssimo

Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de nada grandioso, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.

Ele — Você não sabe o que me aconteceu! Ela — O quê? Ele — Uma coisa incrível. Ela — O quê? Ele — Contando ninguém acredita. Ela — Conta!

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Ele — Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada? Ela — Não. Ele — Olhe. E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança. Ela — O que aconteceu? E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo. Ela — Que coisa - diria a mulher, calmamente. Ele — Não é difícil de acreditar? Ela — Não. É perfeitamente possível. Ele — Pois é. Eu... Ela — SEU CRETINO! Ele — Meu bem... Ela — Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria. Ele — Mas, meu bem... Ela — Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!

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E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente: Ela — Que fim levou a sua aliança? E ele disse: Ele — Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei. Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam. Ela — O mais importante é que você não mentiu pra mim. E foi tratar do jantar.

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Amigos - Luis Fernando Veríssimo

Os dois eram grandes amigos. Amigos de infância. Amigos de adolescência. Amigos de primeiras aventuras. Amigos de se verem todos os dias. Até mais ou menos 25 anos. Aí, por uma destas coisas da vida - e como a vida tem coisas! - passaram muitos anos sem se ver. Até que um dia... Um dia se cruzaram na rua. Um ia numa direção, o outro na outra. Os dois se olharam, caminharam mais alguns passos e se viraram ao mesmo tempo, como se fosse coreografado. Tinham-se reconhecido. - Eu não acredito! - Não pode ser! Caíram um nos braços do outro. Foi um abraço demorado e emocionado. Deram-se tantos tapas nas costas quantos tinham sido os anos da separação. - Deixa eu te ver! - Estamos aí. - Mas você está careca! - Pois é. - E aquele bom cabelo? - Se foi... - Aquela Cabeleira. - Muito Gumex... - Fazia sucesso. - Pois é. - Era cabeleira pra derrubar suburbana.

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- Muitas sumcumbiram... - Puxa. Deixa eu ver atrás. Ele se virou para mostrar a careca atrás. O outro exclamou: - Completamente careca! - E você? - Espera aí. O cabelo está todo aqui. Um pouco grisalho, mas firme. - E essa barriga? - O que é que a gente vai fazer? - Boa vida... - Mais ou menos... - Uma senhora barriga. - Nem tanto. - Aposto que futebol, com essa barriga... - Nunca mais. - E você era bom, hein? Um bolão. - O que é isso. - Agora tá com bola na barriga. - Você também. - Barriga, eu? - Quase do tamanho da minha. - O que é isso? - Respeitável. - Quem te dera um corpo como o meu. - Mas eu estou com todo o cabelo. - Estou vendo umas entradas aí. - O seu só teve saída. Ele se dobra de rir com a própria piada. O outro muda de assunto.

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- Faz o quê? Vinte anos? - Vinte cinco. No mínimo. - Você mudou um bocado. - Você também. - Você acha? - Careca... - De novo a careca? Mais é fixação. - Desculpe, eu... - Esquece a minha careca. - Não sabia que você tinha complexo. - Não tenho complexo. Mas não precisa ficar falando só na careca. Estou falando nessa barriga indecente? Nessas rugas? - Que rugas? - Ora, que rugas? - Meu Deus, sua cara está que é um cotovelo. - Espera um pouquinho... - E essa barriga? Você não se cuida não? - Me cuido mais que você. - Eu faço ginástica meu caro. Corro todos os dias. Tenho uma saúde de cavalo. - É. Só falta a crina. eu ri - Pelo menos não tenho barriga de baiana. - E isso, o que é? - Não me cutuca. - Me diz. O que é? Enchimento? - Não me cutuca! - E esses óculos são para quê? Vista cansada? Eu não uso óculos. - É por isso que está vendo barriga aonde não tem. - Claro, claro. Vai ver você tem cabelo e eu é que não estou enxergando.

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- Cabelo outra vez! Mas isso já é obsessão. Eu, se fosse você, procurava um médico. - Vá você, que está precisando. Se bem que velhice não tem cura. - Quem é que é velho? - Ora, faça-me o favor... - Velho é você. - Você. - Você. - Você! - Ruína humana. - Ruína não. - Ruína! - Múmia! - Ah, é? Ah, é? - Cacareco! Ou será cacareca? - Saia da minha frente! Separaram-se, furiosos. Inimigos para o resto da vida.

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Casamento - Luis Fernando Veríssimo Minha esposa e eu temos o segredo pra fazer um casamento durar: Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida, e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras, e eu às quintas. Nós também dormimos em camas separadas. A dela é em Fortaleza e a minha em São Paulo. Eu levo minha esposa a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta. Perguntei a ela onde ela gostaria de ir ao nosso aniversário de casamento. "Em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!" ela disse. Então eu sugeri a cozinha. Nós sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras. Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma máquina de fazer pão, elétrica. Então ela disse: "Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar". Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica. Lembrem-se.... O casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a "Sra Certa". Só não sabia que o primeiro nome dela era "Sempre". Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la. Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha. Ela perguntou: "O que tem na TV?" E eu disse, "Poeira".

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No começo Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou. Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo tiveram mais descanso.

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Como as Mulheres Dominaram o Mundo - Luis Fernando

Veríssimo

Conversa entre pai e filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo. - Foi assim que tudo aconteceu, meu filho... Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, Empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo. - E aí, papai? - Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite", eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "O regime". - E vocês? Não perceberam nada? - Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior:

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Continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios. Essas coisas de homem. - Aí, veio o golpe mundial?!? - Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. Pobre Presidente... - Como era mesmo o nome dele? - William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci... Desculpe, filho, já faz tanto tempo... - Tudo bem, papai. Não tem importância. Continue... - Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona... - Pai, conta mais... - Bem filho... O resto você já sabe.

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- Instituíram o Robô "Troca-Pneu" como equipamento obrigatório de todos os carros... A Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho... E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês... - TPM??? - Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... E quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear... - Sinto um frio na barriga só de pensar, pai... - Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...

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Mãe é um Problema - Luis Fernando Veríssimo

Mãe: Alô?

Filha: Mãe? Posso deixar os meninos contigo hoje à noite?

Mãe: Vai sair?

Filha: Vou.

Mãe: Com quem?

Filha: Com um amigo.

Mãe: Não entendo porque você se separou do teu marido, um

homem tão bom...

Filha: Mãe! Eu não me separei dele! ELE que se separou de mim!

Mãe: É... você me perde o marido e agora fica saindo por aí com

qualquer um...

Filha: Eu não saio por aí com qualquer um. Posso deixar os

meninos?

Mãe: Eu nunca deixei vocês com a minha mãe, para sair com um

homem que não fosse teu pai!

Filha: Eu sei, mãe. Tem muita coisa que você fez que eu não faço!

Mãe: O que você tá querendo dizer?

Filha: Nada! Só quero saber se posso deixar os meninos.

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Mãe: Vai passar a noite com o outro? E se teu marido ficar

sabendo?

Filha: Meu EX-marido!! Não acho que vai ligar muito, não deve ter

dormido uma noite sozinho desde a separação!

Mãe: Então você vai dormir com o vagabundo!

Filha: Não é um vagabundo!!!

Mãe: Um homem que fica saindo com uma divorciada com filhos só

pode ser um vagabundo, um aproveitador!

Filha: Não vou discutir, mãe. Deixo os meninos ou não?

Mãe: Coitados... com uma mãe assim...

Filha: Assim como?

Mãe: Irresponsável! Inconseqüente! Por isso teu marido te deixou!

Filha: CHEGA!!!

Mãe: Ainda por cima grita comigo! Aposto que com o vagabundo

que tá saindo contigo você não grita.

Filha: Agora tá preocupada com o vagabundo?

Mãe: Eu não disse que era vagabundo!? Percebi de cara!

Filha: Tchau!!

Mãe: Espera, não desliga! A que horas vai trazer os meninos?

Filha: Não vou. Não vou levar os meninos,também agora não vou

mais sair!

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Mãe: Não vai sair? Vai ficar em casa? E você acha o que, que o

príncipe encantado vai bater na tua porta?Uma mulher na tua

idade, com dois filhos, pensa que é fácil encontrar marido? Se deixar

passar mais dois anos, aí sim que vai ficar sozinha a vida toda!

Depois não vai dizer que não avisei! Eu acho um absurdo, na tua

idade você ainda precisar que EU te empurre para sair!

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Mineirinho Dando Má Notícia –

Caseiro: Alô, Sô Carlos? Aqui é o Uóshito, casêro do sítio.

Patrão: Pois não Seu Washington. Que posso fazer pelo senhor? Houve algum problema?

Caseiro: Ah, eu só to ligano para visa pro sinhô qui o seu papagaio morreu.

Patrão: Meu papagaio? Morreu? Aquele que ganhou o concurso?

Caseiro: Êle mermo.

Patrão: Puxa! Que desgraça! Gastei uma pequena fortuna com aquele bicho! Mas... ele morreu de que?

Caseiro: Dicumê carbe istragada.

Patrão: Carne estragada? Quem fez essa maldade? Quem deu carne para ele?

Caseiro: Ninguém. Ele cumeu a carne dum dos cavalo morto.

Patrão: Cavalo morto? Que cavalo morto, seu Washington?

Caseiro: Aqueles puro-sangue qui o sinhô tinha! Eles morrero de tanto puxa carroça dágua!

Patrão: Ta louco? Que carroça d’água?

Caseiro: Praapagá o incêndio!

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Patrão: Mas que incêndio, meu Deus?

Caseiro: Na sua casa... uma vela caiu, ai pego fogo nascurtina!

Patrão: Caramba, mas aí tem luz elétrica! Que vela era essa?

Caseiro: Do velório!

Patrão: De quem?

Caseiro: Da sua mãe! Ela pareceu aqui sem avisa e eu dei um tiro nela pensando que fosse ladrão!

Patrão: Meu Deus, que tragédia (começa a chorar)

Caseiro: Peraí sô Carlos, o sinhô num vai chora por causa dum papagai, vai???

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Mãe Executiva - Luis Fernando Veríssimo

Mãe: Acampar? De jeito nenhum! Você só tem 7 anos.

Filho: Tenho 15, mãe!

Mãe: Mas já?! Não é possível! Tem certeza?

Filho: Absoluta. È que nos meus últimos aniversários você estava trabalhando e esqueceu de ir.

Mãe: Esqueci, não. É que caíram em dia de semana. Se tivessem feito como eu sugeri...

Filho: Você sugeriu que mudassem o dia do meu aniversário para o primeiro domingo de maio.

Mãe: Exato. Domingo eu nunca trabalho.

Filho: papai contou que vocês se casaram num domingo e você trabalhou durante a cerimônia.

Mãe: Eu só assinei uns documentos enquanto o padre falava. Ele nem percebeu.

Filho: E em vez do vovô... Você entrou na igreja de braço dado com o contador!

Mãe: Claro! O balanço da firma era para o dia seguinte!

Filho: E a lua-de-mel...

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Mãe: Ta. Eu não fui. Mas mandei o boy do escritório me representando. Seu pai no começo resistiu, mas acabou aceitando.

Filho: E quando eu nasci? Qual é a desculpa?

Mãe: Desculpa por quê? Você nasceu como qualquer criança.

Filho: Nasci numa mesa de reuniões!

Mãe: Era numa reunião de diretoria! Não podia sair assim, só porque a bolsa estourou. E você devia se orgulhar! Foi o presidente de uma grande multinacional que fez teu parto.

Filho: Já sei. E a secretária cortou meu cordão umbilical com o clipe. Não brinca. Fiquei traumatizado.

Mãe: Eu fiquei. Você nasceu em cima de uma papelada importante. Quase perdi o emprego...

Filho: E quando você foi me pegar na escola pela primeira vez? A vergonha que eu passei...

Mãe: Eu só estava com medo de não te reconhecer... Não te via fazia um tempinho...

Filho: Tive que segurar um cartaz, que nem parente desconhecido em aeroporto, escrito ” Eu sou o Thiago “.

Mãe: Thiago? Foi esse o nome que eu te dei?

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Filho: Que a moça do cartório me deu! Quando completei 8 anos e consegui ir sozinho a um tabelião. Fiquei sem nome durante oito anos! Oito anos sendo chamado de pssit!!

Mãe: Pssit? Até que não é feio!

Filho: Tudo por causa dessa porcaria do teu trabalho! Faz uma coisa. Pra provar que você quer mudar, vem acampar comigo.

Mãe: Porque nós não acampamos lá no meu escritório? Do lado do fax tem um espação. E umas samambaias artificiais. Posso contratar algum estagiário para ficar coaxando pra gente.

Filho: Pára de brincar. Larga tudo e vem comigo.

Mãe: Bom, se você ta insistindo tanto, eu.... Então tá. Eu... Tudo bem, eu vou.

Filho: Jura? Ótimo! Você vai adorar!

Mãe: Ah, difícil pensar em programa melhor. Aquelas árvores, aqueles macacos guinchando, aquelas aranhas bacanas.

Filho: Então está tudo certo.

Mãe: Só preciso saber assim, de um detalhe. A respeito do mato. Uma besteira.

Filho: O quê? Se no mato tem mosquito? Se tem cobra?

Mãe: Não. Se no mato tem tomada.

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O Lixo - Luis Fernando Veríssimo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

Ele: Bom dia...

Ela: Bom dia.

Ele: A senhora é do 610.

Ela: E o senhor do 612.

Ele: É

Ela: Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

Ele: Pois é...

Ela: Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto seu lixo...

Ele: O meu o quê?

Ela: O seu lixo

Ele: Ah...

Ela: Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...

Ele: Na verdade sou só eu.

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Ela: Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.

Ele: É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...

Ela: Entendo.

Ele: A senhora também...

Ela: me chame de você.

Ele: Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...

Ela: É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...

Ele: A senhora... Você não tem família?

Ela: Tenho mais não aqui.

Ele: No Espírito Santo.

Ela: Como é que você sabe?

Ele: Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

Ela: É. Mamãe escreve todas as semanas.

Ele: Ela é professora?

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Ela: Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?

Ele: Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.

Ela: O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

Ele: Pois é...

Ela: No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.

Ele: É.

Ela: Más notícias?

Ele: Meu pai. Morreu.

Ela: Sinto muito.

Ele: Ele já estava bem velhinho. Lá no sul. Há tempos não nos víamos.

Ela: Foi por isso que você recomeçou a fumar?

Ele: Como é que você sabe?

Ela: De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

Ele: É verdade. Mas consegui parar outra vez.

Ela: Eu, graças a Deus, nunca fumei.

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Ele: Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimidos no seu lixo...

Ela: Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.

Ele: Você brigou com o namorado, certo?

Ela: Isso você também descobriu no lixo?

Ele: Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois muito lenço de papel.

Ela: É chorei bastante, mas já passou.

Ele: Mas hoje ainda tem uns lencinhos...

Ela: É que estou com um pouco de coriza.

Ele: Ah.

Ela: Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

Ele: É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

Ela: Namorada?

Ele: Não.

Ela: Mas há uns dias tinha uma fotografia de uma mulher no seu lixo. Até bonitinha.

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Ele: Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

Ela: Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.

Ele: Você já está analisando meu lixo!

Ela: Não posso negar que o seu lixo me interessou.

Ele: Engraçado. Quando analisei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.

Ela: Não! Você viu meus poemas?

Ele: Vi e gostei muito.

Ela: Mas são muito ruins!

Ele: Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

Ela: Se eu soubesse que você ia ler...

Ele: Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

Ela: Acho que não. Lixo é domínio público.

Ele: Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

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Ela: Bom aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que....

Ele: Ontem, no seu lixo...

Ela: O quê?

Ele: Me enganei, ou eram cascas de camarão?

Ela: Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

Ele: Eu adoro camarão.

Ela: Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...

Ele: Jantar juntos?

Ela: É

Ele: Não quero dar trabalho.

Ela: Trabalho nenhum.

Ele: Vai sujar a sua cozinha?

Ela: Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

Ele: No seu lixo ou no meu?

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Estragou a televisão - Luis Fernando Veríssimo

Ele: Iiiih...

Ela: E agora?

Ele: Vamos ter que conversar.

Ela: Vamos ter que o quê?

Ele: Conversar. É quando um fala com o outro.

Ela: Fala o quê?

Ele: Qualquer coisa. Bobagem.

Ela: Perder tempo com bobagem?

Ele: E a televisão, o que é?

Ela: Sim, mas aí é a bobagem dos outros. A gente só assiste. Um falar com o outro, assim, ao vivo... Sei não...

Ele: Vamos ter que improvisar nossa própria bobagem.

Ela: Então começa você.

Ele: Gostei do seu cabelo assim.

Ela: Ele está assim há meses, Eduardo. Você é que não tinha...

Ele: Geraldo.

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Ela: Hein?

Ele: Geraldo. Meu nome não é Eduardo, é Geraldo.

Ela: Desde quando?

Ele: Desde o batismo.

Ela: Espera um pouquinho. O homem com quem eu casei se chamava Eduardo.

Ele: Eu me chamo Geraldo, Maria Ester.

Ela: Geraldo Maria Ester?!

Ele: Não, só Geraldo. Maria Ester é o seu nome.

Ela: Não é não.

Ele: Como, não é não?

Ela: Meu nome é Valdusa.

Ele: Você enlouqueceu, Maria Ester?

Ela: Pelo amor de Deus, Eduardo...

Ele: Geraldo.

Ela: Pelo amor de Deus, meu nome sempre foi Valdusa. Dusinha, você não se lembra?

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Ele: Eu nunca conheci nenhuma Valdusa. Como é que eu posso estar casado com uma mulher que eu nunca... Espera. Valdusa. Não era a mulher do, do... Um de bigode...

Ela: Eduardo.

Ele: Eduardo!

Ela: Exatamente. Eduardo. Você.

Ele: Meu nome é Geraldo, Maria Ester.

Ela: Valdusa. E, pensando bem, que fim levou o seu bigode?

Ele: Eu nunca usei bigode!

Ela: Você é que está querendo me enlouquecer, Eduardo.

Ele: Calma. Vamos com calma.

Ela: Se isso for alguma brincadeira sua...

Ele: Um de nós está maluco. Isso é certo.

Ela: Vamos recapitular. Quando foi que casamos?

Ele: Foi no dia, no dia...

Ela: Arrá! Tá aí. Você sempre esqueceu o dia do nosso casamento... Prova de que você é o Eduardo e a maluca não sou eu.

Ele: E o bigode? Como é que você explica o bigode?

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Ela: Fácil. Você raspou.

Ele: Eu nunca tive bigode, Maria Ester!

Ela: Valdusa!

Ele: Tá bom. Calma. Vamos tentar ser racionais. Digamos que o seu nome seja mesmo Valdusa. Você conhece alguma Maria Ester?

Ela: Deixa eu pensar. Maria Ester... Nós não tivemos uma vizinha chamada Maria Ester?

Ele: A única vizinha de que eu me lembro é a tal de Valdusa.

Ela: Maria Ester. Claro. Agora me lembrei. E o nome do marido dela era... Jesus!

Ele: O marido se chamava Jesus?

Ela: Não. O marido se chamava Geraldo.

Ele: Geraldo...

Ela: É.

Ele: Era eu. Ainda sou eu.

Ela: Parece...

Ele: Como foi que isso aconteceu?

Ela: As casas geminadas, lembra?

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Ele: A rotina de todos os dias...

Ela: Marido chega em casa cansado, marido e mulher mal se olham...

Ele: Um dia marido cansado erra de porta, mulher nem nota...

Ela: Há quanto tempo vocês se mudaram daqui?

Ele: Nós nunca nos mudamos. Você e o Eduardo é que se mudaram.

Ela: Eu e o Eduardo, não. A Maria Ester e o Eduardo.

Ele: É mesmo...

Ela: Será que eles já se deram conta?

Ele: Só se a televisão deles também quebrou.

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Big supermercados -

Depois que me aposentei, minha mulher insiste que eu a acompanhe quando vai fazer compras no supermercado. Infelizmente, como a maioria dos homens, eu acho que fazer compras é chato e tenho que ficar inventando formas de passar o tempo. E a minha mulher é igual à maioria das mulheres: fica horas fazendo compras. Mas como não gosto de contrariá-la, a acompanho neste suplício que é ir aos supermercados.

Mas depois desta carta que ela recebeu, acho que finalmente não a acompanharei mais aos supermercados.

Cara Sra. Souza, Durante os últimos seis meses, seu marido tem causado grandes transtornos em nossa loja. Não podemos mais tolerar seu comportamento e portanto somos obrigados a proibir sua entrada. Nossas queixas contra seu marido estão listadas abaixo e documentadas através de nossas câmeras do circuito interno.

1. 15/Junho: Pegou 24 caixas de preservativos e colocou-as nos carrinhos de compra de outros consumidores enquanto não prestavam atenção. 2.. 02/Julho: Acertou TODOS os alarmes da seção de relógios para tocarem a intervalos de 5 minutos. 3. 07/Julho: Fez uma trilha de molho de tomate pelo chão da loja indo até o banheiro feminino. 4. 19/Julho: Dirigiu-se a uma funcionária e disse em tom oficial:

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'Código 3 na seção de Utilidades Domésticas. Dirija-se imediatamente para lá'. Isto fez com que a funcionaria abandonasse seu posto e fosse repreendida pelo gerente, o que resultou em um grave incidente com o sindicato dos empregados. 5. 14/Agosto: Moveu o aviso de 'Cuidado, Piso Molhado' para a seção de carpetes. 6. 15/Agosto: Disse para as crianças que acompanhavam os clientes que elas poderiam brincar nas barracas da seção de camping se trouxessem travesseiros e cobertores da seção de cama, mesa e banho. 7. 23/Agosto: Quando um funcionário perguntou se ele precisava de alguma ajuda, ele começou a chorar e gritar: 'Porque vocês não me deixam em paz?' O resgate foi chamado. 8. 04/Setembro: Usou uma de nossas câmeras de segurança como espelho para tirar tatu do nariz. 9. 10/Setembro: Enquanto examinava armas no departamento de caça, perguntava insistentemente à atendente onde ficavam os anti-depressivos.. 10. 03/Outubro: Movia-se pela loja de forma suspeita, enquanto cantarolava alto o tema do filme Missão Impossível. 11. 06/Outubro: No departamento automotivo, ficou imitando o gestual da Madonna usando diferentes tamanhos de funis.12. 18/Outubro: Escondeu-se atrás de um rack de roupas e quando as pessoas procuravam algum artigo, gritava: Você me achou, você me achou! 13. 21/Outubro: Cada vez que era dado algum aviso no sistema de som da loja, colocou-se em posição fetal e gritava: Ah não, aquelas vozes de novo!

E por fim:

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14. 23/Outubro: Foi a um dos provadores, fechou a porta, esperou um momento e então gritou: Ei, não tem papel higiênico aqui? Uma de nossas atendentes desmaiou.

Estaremos sempre abertos a recebê-la, porém solicitamos que nos próximos casos seu marido não a acompanhe.

Att.

Big Supermercados

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Vida a Dois - Luis Fernando Veríssimo

Homem: (Entra em casa)

Mulher: - Oi!

Homem: - Oi!

Mulher: - Trabalhou Muito?

Homem: - Sim.

Mulher: - Tá cansado?

Homem: - Um pouco.

Mulher: - Toma um banho!

Homem: - Vou sim... preciso........(Banho.)

Mulher: - Ué... vai sair?

Homem: - Vou dar uma volta.

Mulher: - Sozinho?

Homem: - É... sozinho.

Mulher: - Vai aonde?

Homem: - Por aí.

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Mulher: - Sozinho?

Homem: - É.

Mulher: - Certeza?

Homem: - Sim.

Mulher: - Quer que eu vá com você?

Homem: - Não... pode deixar... prefiro ir sozinho.

Mulher: - Vai sozinho andar pela cidade?

Homem: - É.

Mulher: - De carro?

Homem: - Sim.

Mulher: - Tem gasolina?

Homem: - Sim... coloquei.

Mulher: - Vai demorar?

Homem: - Não... coisa de uma hora.

Mulher: - Vai a algum lugar específico?

Homem: - Não... só rodar por aí.

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Mulher: - Não prefere ir a pé?

Homem: - Não... vou de carro.

Mulher: - Traz um sorvete prá mim!

Homem: - Trago... que sabor?

Mulher: - Manga.

Homem: - Ok... na volta eu passo e compro.

Mulher: - Na volta?

Homem: - Sim... senão derrete.

Mulher: - Passa lá, compra e deixa aqui.

Homem: - Não... melhor não! Na volta... é rápido!

Mulher: - Ahhhhh!

Homem: - Quando eu voltar eu tomo com você!

Mulher: - Mas você não gosta de manga!

Homem: - Eu compro outro... de outro sabor.

Mulher: - Aí fica caro... traz de cupuaçu!

Homem: - Eu não gosto também.

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Mulher: - Traz de chocolate... nós dois gostamos.

Homem: - Ok! Beijo... volto logo...

Mulher: - Ei!

Homem: - O que?

Mulher: - Chocolate não... Flocos...

Homem: - Não gosto de flocos!

Mulher: - Então traz de manga prá mim e o que quiser prá você.

Homem: - Foi o que sugeri desde o começo!

Mulher: - Você está sendo irônico?

Homem: - Não... tô não! Vou indo.

Mulher: - Vem aqui me dar um beijo de despedida!

Homem: - Querida! Eu volto logo... depois.

Mulher: - Depois não... quero agora!

Homem: - Tá bom! (Beijo.)

Mulher: - Vai com o seu ou com o meu carro?

Homem: - Com o meu.

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Mulher: - Vai com o meu... tem cd player... o seu não!

Homem: - Não vou ouvir música... vou espairecer...

Mulher: - Tá precisando?

Homem: - Não sei... vou ver quando sair!

Mulher: - Demora não!

Homem: - É rápido... (Abre a porta de casa.)

Mulher: - Ei!

Homem: - Que foi agora?

Mulher: - Nossa!!! Que grosso! Vai embora!

Homem: - Calma... estou tentando sair e não consigo!

Mulher: - Porque quer ir sozinho? Vai encontrar alguém?

Homem: - O que quer dizer?

Mulher: - Nada... nada não!

Homem: - Vem cá... acha que estou te traindo?

Mulher: - Não... claro que não... mas sabe como é?

Homem: - Como é o quê?

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Mulher: - Homens!

Homem: - Generalizando ou falando de mim?

Mulher: - Generalizando.

Homem: - Então não é meu caso... sabe que eu não faria isso!

Mulher: - Tá bom... então vai.

Homem: - Vou.

Mulher: - Ei!

Homem: - Que foi, caralho?

Mulher: - Leva o celular, estúpido!

Homem: - Prá quê? Prá você ficar me ligando?

Mulher: - Não... caso aconteça algo, estará com celular.

Homem: - Não... pode deixar...

Mulher: - Olha... desculpa pela desconfiança... estou com saudade... só isso!

Homem: - Ok meu amor... Desculpe-me se fui grosso. Tá... eu te amo!

Mulher: - Eu também!.... Posso futricar no seu celular?

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Homem: - Prá quê?

Mulher: - Sei lá! Joguinho!

Homem: - Você quer meu celular prá jogar?

Mulher: - É.

Homem: - Tem certeza?

Mulher: - Sim.

Homem: - Liga o computador... lá tem um monte de joguinhos!

Mulher: - Não sei mexer naquela lata velha!

Homem: - Lata velha? Comprei prá a gente mês passado!

Mulher: - Tá... ok... então leva o celular senão eu vou futricar...

Homem: - Pode mexer então... não tem nada lá mesmo...

Mulher: - É?

Homem: - É.

Mulher: - Então onde está?

Homem: - O quê?

Mulher: - O que deveria estar no celular mas não está...

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Homem: - Como!?

Mulher: - Nada! Esquece!

Homem: - Tá nervosa?

Mulher: - Não... tô não...

Homem: - Então vou!

Mulher: - Ei!

Homem: - Que ééééééé?

Mulher: - Não quero mais sorvete não!

Homem: - Ah é?

Mulher: - É!

Homem: - Então eu também não vou sair mais não!

Mulher: - Ah é?

Homem: - É.

Mulher: - Oba! Vai ficar comigo?

Homem: - Não vou não... cansei... vou dormir!

Mulher: - Prefere dormir do que ficar comigo?

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Homem: Não... vou dormir, só isso!

Mulher: Está nervoso?

Homem: Claro, porra!!!

Mulher: Por que você não vai dar uma Volta para espairecer?

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Nunca Subestime Os Idosos

Uma velhinha foi ao supermercado e colocou a ração de gato mais cara no carrinho.

A moça da caixa disse: - Me desculpe, mas nós não podemos vender a ração de gatos sem provas de que a senhora realmente tem gatos. Muitos idosos compram ração de gatos para comer, e a gerência quer provas de que a senhora esteja realmente comprando a ração para o seu gato. A velhinha foi para casa, pegou o gato e o levou ao supermercado e eles venderam-lhe a ração para gato. No dia seguinte, a velhinha foi ao supermercado novamente e comprou 12 dos mais caros biscoitos para cachorro. A caixa, novamente, pediu provas de que ela realmente tinha um cachorro, explicando que os idosos costumavam comer comida de cachorro... Frustrada, ela foi para casa e voltou com seu cachorro, e pôde levar os biscoitos. No outro dia, a velhinha voltou ao mercado trazendo uma caixa com um buraco na tampa e pediu para a moça colocar o dedo no buraco. A moça da caixa disse:

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- Não! Pode ter uma cobra aí dentro!!! A velhinha lhe assegurou que não tinha cobra de estimação, e que não havia nada na caixa que pudesse mordê-la...

Então a moça da caixa enfiou o dedo no buraco, tirou, cheirou e disse: -Hummmmmmm..mas isto é merda!!! A velhinha então sorriu de orelha a orelha, e confirmou: é merda mesmo! - Agora, minha querida, eu posso comprar três rolos de papel higiênico??

Cachorro Velho

Uma velha senhora foi para um safari na África e levou seu velho vira-lata com ela.

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Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido. Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço. O cachorro velho pensa: -'Oh, oh! Estou mesmo enrascado! Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador.... Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto:

- Cara, este leopardo estava delicioso! Será que há outros por aí? Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueira na direção das árvores. - Caramba! Pensa o leopardo. - Essa foi por pouco! O velho vira-lata quase me pega! Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido leopardo algum...

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E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa: -Aí tem coisa! O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e faz um acordo com o leopardo. O jovem leopardo fica furioso por ter sido feito de bobo, e diz:

-Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado! Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:

- E agora, o que é que eu posso fazer ? Mas, em vez de correr (sabe que suas pernas doloridas não o levariam longe...) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz : - Cadê o bendito daquele macaco? Tô morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e não chega nunca! ' Moral da história: não mexa com cachorro velho... idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga. Sabedoria só vem com idade e experiência.

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Doutorado em Estratégia -

Zezão parou o caminhão na frente da loja do turco Kaled e falou:

- Seu Kaled, tem aqui um caminhão de arroz sem nota pela metade do preço, o senhor aceita?

- Claro que Kaled aceita - e vira-se para o filho.

- Kaledinho, vai bra esquina e se abarecer fiscal vem corendo avisar babai.

Começam a descarregar e, no meio, aparece Kaledinho:

- Babai!... Fiscal vem vindo.

- Bára tudo e volta caregar - grita Kaled.

Chega o fiscal.

- Venda grande não é seu Kaled?

- Ôh ôh, melhor venda do ano que Kaled feiz...

- E isso aí tem nota?

- Ainda num tem nota borquê Kaled está esberando carega bra ver quanto mercadoria cabe na caminhon... daí, Kaled tira nota.

- Não pode! diz o fiscal. A nota fiscal tem de ser emitida antes de carregar!

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- Ah!.... Antão bára tudo, que Kaled non qué brobrema com receita!...

- Volta, volta, descarega tudo caminhón e guarda toda mercadoria lá dentro do loja!...

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Tupi

Mulher na rua com cachorro preso por uma coleira.

― Vamos lá, Tupi. Faz o teu xixi que eu quero voltar para casa...

Como é, Tupi? Ai, minha Santa Paciência, padroeira das

empregadas. Eu tinha que trabalhar em apartamento com

cachorro... Como é, Tupi, já fez? Não fez nada... Eu estou perdendo

a minha novela, Tupi. A hora do xixi tem que ser logo esta? Passa o

dia em casa sem fazer nada. Chega a hora da novela, é "Leva Tupi

pra fazer o pipizinho dele..." Pipizinho. Faz, Tupi, qual é o problema?

É inibição, é? Eu não olho. É fácil fazer xixi, Tupi. É só levantar a

perninha. Mas não, como você é diferente. Tem que ficar meia hora

pensando, antes. Faço ou não faço? Pipi or not pipi? Tupi, você não

é um filósofo. Você é um cachorro! Faz, Tupi! Já fez? Não fez. É

contra mim, eu sei. Quando a novela tiver acabado, aí você faz.

Vamos lá, Tupi. Pelo amor de Deus. Pelo Brasil, Tupi. Pelo Fernando

Henrique. Pela paz mundial e a irmandade entre as nações. Pela sua

mãe! Fez? Não fez. Olha aqui, Tupi, está ficando tarde. Daqui a

pouco podem até nos assaltar aqui na rua. Vão levar você. "Passe o

cachorro." E aí, o que eu digo em casa? "Levaram o Tupi." "Ele já

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tinha feito o pipizinho dele?" Fez, de susto. Bem feito. Como é Tupi?

A minha novela, Tupi... Tupi? Isso, agora. Coragem. Muito bem,

Tupi! Fez na minha perna, não faz mal. Santa Paciência, padroeira

das empregadas, dai-me forças. Vamos para casa, Tupi, que o

Antônio Fagundes está nos esperando.

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Uma surpresa para Daphne -

Daphne mal podia acreditar nos seus ouvidos. Ou no seu ouvido esquerdo, pois era neste que chegava a voz de Peter Vest-Pocket, através do fone. - Daphne, você está aí? Sou eu, Peter. Quando finalmente conseguiu se refazer da surpresa, a pequena e vivaz Daphne - era assim que a legenda da sua foto como debutante no "Tattler" a descrevera, anos atrás - esforçou-se para controlar a voz. - Você quer dizer o sujo, tratante, traidor, nojento, desprovido de qualquer decência ou caráter, estúpido e desprezível Peter Vest-Pocket? - Esse mesmo. É bom saber que você ainda me ama. - Seu, seu... - Tente porco. - Porco! - Foi por isso que eu deixei você, Daphne. Você sempre faz o que eu mando. Era como viver com um perdigueiro. Agora acalme-se. - Porco imundo! - Está bem. Agora acalme-se. Pergunte por que é que eu estou

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telefonando pra você depois de dois anos. - Não me interessa. E foram dois anos, duas semanas e três dias. - Eu preciso de você, Daphne. - Peter... - Preciso mesmo. Eu sei que fui um calhorda, mas não sou orgulhoso. Peço perdão. - Oh! Peter. Não brinque comigo... - Daphne, você se lembra daquela semana em Taormina? - Se me lembro. - Do jasmineiro no pátio do hotel? Das azeitonas com vinho branco à tardinha no café da praça? - Peter, eu estou começando a chorar. - E daquela vez em que fomos nadar nus, ao luar, e veio um guarda muito sério pedir nossos documentos, e depois os três começamos a rir e o guarda acabou tirando a roupa também? - Não. Isso eu não me lembro. - Bom. Deve ter sido em outra ocasião. E a pensão em Rapallo, Daphne.

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- A pensão! O velho do acordeão que só tocava "Torna a Sorriento" e "Tea for Two". - E a festa de aniversário em que nós entramos por engano e eu acabei fazendo a minha imitação do Maurice Chevalier com laringite. - Ah, Peter... - Lembra o pimentão recheado da "signora" Lumbago, na pensão? - Posso sentir o gosto agora. - Qual era mesmo o ingrediente secreto que ela usava, e que só nos revelou depois que nós ameaçamos contar para o seu marido do caso dela com o garçom? - Era... Deixa ver. Era manjericão. - Você tem certeza? - Tenho. Ah, Peter, Peter... Não consigo ficar braba com você. - Ótimo Daphne. Precisamos nos ver. Tchau. - Tchau?! TCHAU?! Você disse que precisava de mim, Peter! - Precisava. Eu estou fazendo aquele pimentão recheado para uma amiga e não me lembrava do ingrediente secreto. Você me ajudou muito, Daphne, e...

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- Seu animal! Seu jumento insensível! Seu filho... - Daphne, eu já pedi desculpas. Você quer que eu me humilhe?

Pai não entende nada -

- Um biquíni novo? - É, pai. - Você comprou um ano passado! - Não serve mais pai. Eu cresci. - Como não serve mais? No ano passado você tinha 14 anos, esse ano você tem 15. Não cresceu tanto assim. - Não serve, pai. - Está bem, está bem. Toma o dinheiro compra um biquíni maior. - Maior não, pai. Menor. Aquele pai, também, não entendia nada.

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A descoberta -

― Papai! ― Meu filho. Dá um abraço. Há quanto tempo... ― Quando foi que o senhor chegou? ― Agora há pouco. A empregada abriu a porta. Quando soube que eu era seu pai mandou entrar, me serviu cafezinho. Aliás, essa empregada, não sei não. ― Por quê? ― Você, um rapaz solteiro, num apartamento sozinho, com uma empregada assim... ― Ela só vem durante o dia. Quase não nos encontramos. ― Você parece ótimo, meu filho. ― Estou muito bem. ― Esperei encontrar você bem mais magro... ― Não, estou muito bem. E a mamãe, o pessoal lá em casa? ― Tudo bem. Sua mãe lhe mandou cuecas e goiabada. ― Ótimo. Mas por que o senhor não me avisou que vinha?

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― Quis fazer uma surpresa. ― E fez mesmo. Nunca que eu esperava ver o senhor aqui. ― Pois até parece que esperava. Este apartamento bem arrumado, livros por toda parte... Eu pensei que fosse entrar aqui tropeçando em mulheres. ― O que é isso, papai... ― É, num tapete de seios e nádegas. Do jeito, que está, até parece que você passa todo o tempo estudando. Aposto que, atrás dos livros, tem mulher. Hein? Hein? ― Ora, papai... ― Aquela estante ali é, na verdade, uma porta secreta para o teu harém particular. A gente aperta uma lombada e aparece a Rose di Primo. É ou não é? Onde é que elas estão? ― Quem papai? ― As mulheres, rapaz, as mulheres. ― Aqui não tem mulher, papai. Quer dizer, a esta hora não. ― Ah, então elas têm hora para chegar? Daqui a pouco chega o turno da noite, é isso? Sim, porque pelas suas cartas eu entendi que era mulher dia e noite, sem parar. Horário integral .

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― Não, não. Para falar a verdade... ― Não tem uma bebida aí para o seu velho? Quero estar preparado para quando elas chegarem. ― Papai, o senhor não está falando sério. ― Como não? Eu não estou pagando por tudo isto, pelo apartamento, pelas suas roupas, pelas boates, pelos presentes para as suas mulheres, pela aparelhagem de som, por tudo? Quero aproveitar um pouco também, ora. Pensando bem, eu ainda não vi a tal aparelhagem de som que você falou na sua carta. A não ser que esteja disfarçada atrás de outra estante de livros. ― Papai... ― E a minha bebida? ― Bebida. Pois é. Acho que só tem guaraná. ― O quê? O bar deste apartamento foi estocado ― e muito bem estocado, segundo as suas cartas ― com o meu dinheiro, rapaz. Aliás, também não vi bar nenhum por aqui. Onde está o uísque estrangeiro? ― Papai, as minhas cartas... ― Não se preocupe. Sua mãe não viu nenhuma. Não foi fácil, mas consegui esconder todas dela. Por falar nisso, ela mandou reclamar que você não escreve nunca.

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― Eu exagerei um pouco nas minhas cartas. ― Como, exagerou? ― O dinheiro que eu mandava pedir para comprar presentes para as mulheres... ― Sim? ― Era para comprar livros de estudo, para mim. ― Meu filho. Não! ― Era, papai. Menti nas minhas cartas. ― E o dinheiro para as noitadas em boates? ― Gastei em material de pesquisa. ― Meu Deus. Você quer dizer que o dinheiro que eu tenho mandado todos os meses, muitas vezes com sacrifício... Está indo todo para a Universidade e para material didático... Não acredito. Você não faria isso com seu pai. ― Papai... ― E pensar que eu mostrava suas cartas para os amigos, com orgulho... Aquela que você mandou dizendo que ia sair com a Sandra Brea e precisava de... ― O dinheiro foi para comprar um livro estrangeiro.

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― E aquele aborto que você precisava pagar com urgência? ― Nunca houve aborto nenhum. Tudo mentira. ― Meu filho, que decepção... ― Papai... Papai, você está bem? Papai! Dona Zulmira, venha ligeiro! ― Que foi? ― Traga um copo d’água, rápido. ― Pode ser um refrigerante, meu filho. ― Um guaraná, rápido! ― Mas não tem guaraná. ― NEM GUARANÁ?! ― Calma, papai. Traga a água, dona Zulmira. ― E essa bruxa velha que você tem em casa, meu filho. Pelo menos uma empregada bonitinha você podia ter... ― Aqui está a água, doutor. ― Obrigado.

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― Olhe, o senhor não precisa se preocupar com este seu filho, doutor. Cuido dele como se fosse um filho. Ele é um santo! ― Aahnn... ― Obrigado, Dona Zulmira. Pode ir. ― Meu filho, e a aparelhagem de som? O dinheiro que eu mandei para a aparelhagem de som acoplada com o sistema de luz indireta e pisca-pisca? ― Foi para comprar um microscópio, papai. ― AAHNNN!

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Conversa de mineiro –

- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo? - Sei dizer não senhor: não tomo café. - Você é dono do café, não sabe dizer? - Ninguém tem reclamado dele não senhor. - Então me dá café com leite, pão e manteiga. - Café com leite só se for sem leite. - Não tem leite? - Hoje, não senhor. - Por que hoje não? - Porque hoje o leiteiro não veio. - Ontem ele veio? - Ontem não. - Quando é que ele vem? - Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.

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- Mas ali fora está escrito "Leiteria"! - Ah, isso está, sim senhor. - Quando é que tem leite? - Quando o leiteiro vem. - Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê? - O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada? - Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade? - Sei dizer não senhor: eu não sou daqui. - E há quanto tempo o senhor mora aqui? - Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos. - Já dava para saber como vai indo a situação, não acha? - Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem. - Para que Partido? - Para todos os Partidos, parece.

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- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui. - Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida... - E o Prefeito? - Que é que tem o Prefeito? - Que tal o Prefeito daqui? - O Prefeito? É tal e qual eles falam dele. - Que é que falam dele? - Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito. - Você, certamente, já tem candidato. - Quem, eu? Estou esperando as plataformas. - Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa? - Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...

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O Rei dos Animais - Millôr Fernandes

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!".

Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?". Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no

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passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou. Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".