seguro e a responsabilidade do administrador

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[email protected] - Ideias< v <!!%<< l> Seguro e a responsahilidade do administrador MARCO AURELIO BICA· LHO DE ABREU CHAGAS* 0 C6digo Civil de 2002 ampliou significativamente 0 enfoque atinente a respon- dos administra- dores das sociedades. o exer- cicio de suas reza o artigo 1.011 do C6digo: o administrador da sociedade devera ter o cuidado e a dili- gencia que todo homem ativo e probo costuma empregar na de seus pr6prios neg6cios . E, ainda, os administra- dores respondem solidaria- mente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas (art. 1.016 do CC). Ja o C6digo Tributcirio, em seu artigo 135, determina · que a responsabilidade dos s6cios e administradores somente ocorrera quando demonstrados de forma ine- quivoca os elementos ligando tais pessoas aos fatos, ou melhor, o fato de os s6cios haverem agido com excesso de poderes ou a lei, contrato social ou estatutos. Isto quer dizer que, se o r . ,,.,,_... ' <'\ ;: 10\ ' I ft ., empresario ou administra- dor agir dentro da lei e do contrato social ou estatuto e, por circunstancias do mer- cado, a empresa da qual e s6cio ou administrador nao cumpra com suas tributarias, seus bens parti- culares nao respondem pela divida tributaria. Trata-se do caso de simples inadim- plencia de tributos, e nao de ou a lei. Logo, e nula a pretens{LO da Fazenda em apropriar-se do patrimonio particular de s6cios sem demonstrar que estes prati- caram a lei ou ao con- trato social de sociedade limi- tada. Neste sentido, a decisiio do STJ (lnformativo STJ n 9 353- 21 I 04 e 25 I 05). A Sumula 430 a.ssim se manifestou: "0 inadim- plemento da tributa- ria pela sociedade niio gera, por si s6, a responsabilidade salida- ria do s6cio-gerente." Na pratica se verifica que a Fazenda Publica no procedi- mento que redundara na exe- fiscal de tributos, no ins- tante da do debito na Divida Ativa ou quando da da inicial do processo executivo, e de praxe determinar a inclusiio dos s6cios ou administradores da empresa executada na con- dir;ao de co - obrigados . f Repita-se, nos expressos termos do caput do art. 135, segundo o jurista Kiyoshi Harada, somente tributarias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou com de lei, contrato social ou estatuto acarretam a responsabilidade pessoal do administrador, s6cio ou niio. E acrescenta o citado tributarista: "Ato prati- "E nula a pretensiio da Fazenda em apropriar-se do patrimonio de s6cios sem demonstrar que estes praticaram infrat;iio a lei ou ao contrato social" cado com excesso de poder sig- nifica qualquer ato praticado pelo administrador extrapo- lando suas nor- malmente definidas no con- trato social ou estatuto, de sorte que, nesse caso, infringe tambem a contra- tual ou estatutciria." Os administradores, como vista, sao os responsaveis pela gestao das sociedades com ou sem fins lucrativos e respondem por seus atos, no exercicio de suas atividades. E nesse aspecto convem transcrever aqui trechos bem elucidativos do artigo do pro- motor de da Promo- toria de e Entida- des de Interesse Social e Professor da Universidade Cat6lica de Brasilia dr. Jose Eduardo Saba Paes, intitu- lado "A da personalidade juridica e a responsabilidade dos admi- nistradores": "Quaisquer deles (admi- nistradores), sejam legais ou voluntarios, podem ser res- ponsabilizados pelos atos de gestao, responsabilidade esta que podera compreender os campos administrativo, penal ou civil." "A da per- sonalidade juridica e uma doutrina que visa desacredi- tar a personalidade juridica da entidade, isto e, niio consi- derar os efeitos da personifica- para atingir a responsabi- lidade dos s6cios, caso estes tenham agido com abuso de direito por meio da pessoa juridica de que fazem parte." Constata-se, por todo o exposto, que os administra- dores de uma empresa ou de uma entidade com ou sem fins lucrativos sao os respon- saveis pela boa gestao desses empreendimentos. De modo que, no exercicio de suas fun- na de adminis- trador, em face das responsa- bilidades assumidas, pode ver o seu patrimonio particu- lar ser comprometido, razao por que deve se acautelar res- guardando-o de eventuais riscos, inerentes a essas ati- vidades de gestao. Entendemos que a contra- de um seguro de respon- sabilidade civil de adminis- tradores, que se destina a para os dirigentes que tem o poder de gestao, "com cobertura para respon- sabilidades estatutarias, incluindo responsabilidade por dividas trabalhistas e tr:i- butarias", seria uma forma plausivel de minimizar esses riscos aqui assinalados. * Advogado tributarista, s6cio fundador do Cunha Pereira & Abreu Chagas - Advogados Associados e assessor juridico da Associa- Comercial e Eempresa- rial de Minas (ACMinas) Artigos para esta pagina pelo e-mail: legislacao@dia- riodocomercio.com. br ou de 'mllitipla incidencia' faz com que seus efeitos nao se pro- duzam, apenas, nos limites ter- ritoriais da entidade tributante, mas se estendam a outras uni- dades federadas". Densidade - Para o relator do processo, ministro Dias 'lbffoli, a questao apresenta densidade constitucional e extrapola os limites subjetivos das partes. "Com efeito, a materia concer- nente a do paga- mento do tributo por meio de decreto estadual niio e nova; tendo sido objeto de diversas decisoes de ambas as Thrmas desta Corte", disse o ministro, ao citar o RE 294543. Como niio ha precedente do Plenario, o ministro entendeu que o tema merece uma aruilis€ definitiva desta Corte, quando decidira se 0 caso e de altera¢q do momento da ocorrencia do fato juridico tributario (como decidiu o ac6rdiio contestado) ou se a do prazo recolhimento do ICMS integra a estrutura normativa do referidc tributo. "E mister ressaltar que tendo em vista a quantidade df causas similares em trfunite err todas as instancias da brasileira, o reconhecimento dE relevancia do tema constitucid nal aqui deduzido possibilitad ao Plenario deste Supremo Tri bunal julgar a materia sob egide do instituto da repercus sao geral, com todos os benefi cios dai decorrentes" 1 finalizou i relator. As sao di STF.

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Page 1: SEGURO E A RESPONSABILIDADE DO ADMINISTRADOR

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Ideias< v <!!%<< • l>

Seguro e a responsahilidade do administrador MARCO AURELIO BICA· LHO DE ABREU CHAGAS*

0 C6digo Civil de 2002 ampliou significativamente 0 enfoque atinente a respon­sabiliza~ao dos administra­dores das sociedades. o exer­cicio de suas fun~oes, reza o artigo 1.011 do C6digo: o administrador da sociedade devera ter o cuidado e a dili­gencia que todo homem ativo e probo costuma empregar na administra~ao de seus pr6prios neg6cios.

E, ainda, os administra­dores respondem solidaria­mente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas fun~oes (art. 1.016 do CC).

Ja o C6digo Tributcirio, em seu artigo 135, determina · que a responsabilidade dos s6cios e administradores somente ocorrera quando demonstrados de forma ine­quivoca os elementos ligando tais pessoas aos fatos, ou melhor, o fato de os s6cios haverem agido com excesso de poderes ou infra~ao a lei, contrato social ou estatutos.

Isto quer dizer que, se o

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empresario ou administra­dor agir dentro da lei e do contrato social ou estatuto e, por circunstancias do mer­cado, a empresa da qual e s6cio ou administrador nao cumpra com suas obriga~oes tributarias, seus bens parti­culares nao respondem pela divida tributaria. Trata-se do caso de simples inadim­plencia de tributos, e nao de sonega~ao ou infra~ao a lei.

Logo, e nula a pretens{LO da Fazenda em apropriar-se do patrimonio particular de s6cios sem demonstrar que estes prati­caram infra~iio a lei ou ao con­trato social de sociedade limi­tada. Neste sentido, a decisiio do STJ (lnformativo STJ n9 353-21 I 04 e 25 I 05). A Sumula 430 a.ssim se manifestou: "0 inadim­plemento da obriga~iio tributa­ria pela sociedade niio gera, por si s6, a responsabilidade salida­ria do s6cio-gerente."

Na pratica se verifica que a Fazenda Publica no procedi­mento que redundara na exe­cu~iio fiscal de tributos, no ins­tante da inscri~iio do debito na Divida Ativa ou quando da elabora~iio da peti~iio inicial do processo executivo, e de praxe determinar a inclusiio dos s6cios ou administradores da empresa executada na con­dir;ao de co-obrigados.

f

Repita-se, nos expressos termos do caput do art. 135, segundo o jurista Kiyoshi Harada, somente obriga~oes tributarias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou com infra~ao de lei, contrato social ou estatuto acarretam a responsabilidade pessoal do administrador, s6cio ou niio. E acrescenta o citado tributarista: "Ato prati-

"E nula a pretensiio da Fazenda em apropriar-se do

patrimonio de s6cios sem demonstrar que

estes praticaram infrat;iio a lei ou ao

contrato social"

cado com excesso de poder sig­nifica qualquer ato praticado pelo administrador extrapo­lando suas atribui~oes, nor­malmente definidas no con­trato social ou estatuto, de sorte que, nesse caso, infringe tambem a disposi~iio contra­tual ou estatutciria."

Os administradores, como vista, sao os responsaveis

pela gestao das sociedades com ou sem fins lucrativos e respondem por seus atos, no exercicio de suas atividades. E nesse aspecto convem transcrever aqui trechos bem elucidativos do artigo do pro­motor de Justi~a da Promo­toria de Funda~oes e Entida­des de Interesse Social e Professor da Universidade Cat6lica de Brasilia dr. Jose Eduardo Saba Paes, intitu­lado "A desconsidera~ao da personalidade juridica e a responsabilidade dos admi­nistradores":

"Quaisquer deles ( admi­nistradores), sejam legais ou voluntarios, podem ser res­ponsabilizados pelos atos de gestao, responsabilidade esta que podera compreender os campos administrativo, penal ou civil."

"A desconsidera~iio da per­sonalidade juridica e uma doutrina que visa desacredi­tar a personalidade juridica da entidade, isto e, niio consi­derar os efeitos da personifica­~iio para atingir a responsabi­lidade dos s6cios, caso estes tenham agido com abuso de direito por meio da pessoa juridica de que fazem parte."

Constata-se, por todo o exposto, que os administra­dores de uma empresa ou de

uma entidade com ou sem fins lucrativos sao os respon­saveis pela boa gestao desses empreendimentos. De modo que, no exercicio de suas fun­~oes na condi~ao de adminis­trador, em face das responsa­bilidades assumidas, pode ver o seu patrimonio particu­lar ser comprometido, razao por que deve se acautelar res­guardando-o de eventuais riscos, inerentes a essas ati­vidades de gestao.

Entendemos que a contra­ta~iio de um seguro de respon­sabilidade civil de adminis­tradores, que se destina a prote~iio para os dirigentes que tem o poder de gestao, "com cobertura para respon­sabilidades estatutarias, incluindo responsabilidade por dividas trabalhistas e tr:i­butarias", seria uma forma plausivel de minimizar esses riscos aqui assinalados.

* Advogado tributarista, s6cio fundador do Cunha Pereira & Abreu Chagas -Advogados Associados e assessor juridico da Associa­~ao Comercial e Eempresa­rial de Minas (ACMinas)

Artigos para esta pagina pelo e-mail: legislacao@dia­riodocomercio.com. br

ou de 'mllitipla incidencia' faz com que seus efeitos nao se pro­duzam, apenas, nos limites ter­ritoriais da entidade tributante, mas se estendam a outras uni­dades federadas".

Densidade - Para o relator do processo, ministro Dias 'lbffoli, a questao apresenta densidade constitucional e extrapola os limites subjetivos das partes. "Com efeito, a materia concer­nente a antecipa~iio do paga­mento do tributo por meio de decreto estadual niio e nova; tendo sido objeto de diversas decisoes de ambas as Thrmas desta Corte", disse o ministro, ao citar o RE 294543.

Como niio ha precedente do Plenario, o ministro entendeu que o tema merece uma aruilis€ definitiva desta Corte, quando decidira se 0 caso e de altera¢q do momento da ocorrencia do fato juridico tributario (como decidiu o ac6rdiio contestado) ou se a antecipa~iio do prazo d£ recolhimento do ICMS integra a estrutura normativa do referidc tributo.

"E mister ressaltar que tendo em vista a quantidade df causas similares em trfunite err todas as instancias da Justi~E brasileira, o reconhecimento dE relevancia do tema constitucid nal aqui deduzido possibilitad ao Plenario deste Supremo Tri bunal julgar a materia sob ~ egide do instituto da repercus sao geral, com todos os benefi cios dai decorrentes"1 finalizou i relator. As informa~oes sao di STF.