seguridade social e saúde do trabalhador: uma reflexão ... · a possibilidade de uma efetiva...

12
1 VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/ USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 UNESP- Franca/SP. Seguridade Social e Saúde do Trabalhador: uma reflexão necessária Francisco Antonio de Castro Lacaz 1 Resumo Trata-se da reflexão sobre o resgate da proposta de Seguridade Social inscrita na Constituição Federal de 1988, numa perspectiva da garantia de Direitos Sociais a partir de uma agenda do que deve ser considerado inegociável pelo movimento social de esquerda, em contraposição às políticas de caráter neoliberal e não universais. Para tal apontam-se os desafios e entraves do ponto de vista demográfico, orçamentário-fiscal e políticos a serem enfrentados e propõe-se como estratégia para enfrentar a ausência do debate social sobre a questão visando uma real mobilização social sobre a mesma, que o movimento sindical em aliança com os demais setores e forças sociais da sociedade civil organizada assumam a tarefa de elaboração de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para recolocar a Seguridade Social, de fato, como um Direito Social, na medida em que vem sendo usurpado pela lógica das políticas neoliberais que se mostram cada vez mais excludentes no Brasil contemporâneo, particularmente no que se refere ao Sistema Único de Saúde. Abstract This is a reflection about the rescue of the Social Security proposal written in the 1988 Federal Constitution, in a perspective of guaranteeing Social Rights from an agenda of what must be considered under no negotiation by the left social movements, in contrast to the non-universal and of neoliberal character policies. Thus, the challenges and barriers from a demographic, fiscal budgetary and political point of view are pointed out in order to be faced and also a strategy to face the absence of a social debate about the issue aiming at achieving a real social mobilization from it. That the union movement allied to the other sectors and the organized civil social forces assume the task of elaborating a Law Project of Popular Initiative to definitely put Social Security back as a Social Right, since it has been usurped by the logic of neoliberal policies, which are more and more exclusionary in the contemporary Brazil, particularly in relation to the Unified Health System. A reflexão proposta no título deste texto será aqui tratada sob dois ângulos de análise. O primeiro, da Seguridade Social como uma política de Estado que deve permitir o acesso aos direitos à saúde, à previdência social (e assistência social); conforme prevê a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 194, sendo bom aqui relembrar o que diz: A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social.”. O segundo, o da necessidade de uma ampla e efetiva articulação da saúde, através do Sistema Único de Saúde com a previdência social, através do Sistema Único 1 . Professor Associado da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Departamento de Medicina Preventiva.

Upload: dinhlien

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

Seguridade Social e Saúde do Trabalhador: uma reflexão necessária

Francisco Antonio de Castro Lacaz 1

Resumo

Trata-se da reflexão sobre o resgate da proposta de Seguridade Social inscrita

na Constituição Federal de 1988, numa perspectiva da garantia de Direitos

Sociais a partir de uma agenda do que deve ser considerado inegociável pelo

movimento social de esquerda, em contraposição às políticas de caráter

neoliberal e não universais. Para tal apontam-se os desafios e entraves do

ponto de vista demográfico, orçamentário-fiscal e políticos a serem

enfrentados e propõe-se como estratégia para enfrentar a ausência do debate

social sobre a questão visando uma real mobilização social sobre a mesma,

que o movimento sindical em aliança com os demais setores e forças sociais

da sociedade civil organizada assumam a tarefa de elaboração de um Projeto

de Lei de Iniciativa Popular para recolocar a Seguridade Social, de fato, como

um Direito Social, na medida em que vem sendo usurpado pela lógica das

políticas neoliberais que se mostram cada vez mais excludentes no Brasil

contemporâneo, particularmente no que se refere ao Sistema Único de Saúde.

Abstract

This is a reflection about the rescue of the Social Security proposal written in

the 1988 Federal Constitution, in a perspective of guaranteeing Social Rights

from an agenda of what must be considered under no negotiation by the left

social movements, in contrast to the non-universal and of neoliberal character

policies. Thus, the challenges and barriers from a demographic, fiscal

budgetary and political point of view are pointed out in order to be faced and

also a strategy to face the absence of a social debate about the issue aiming at

achieving a real social mobilization from it. That the union movement allied

to the other sectors and the organized civil social forces assume the task of

elaborating a Law Project of Popular Initiative to definitely put Social

Security back as a Social Right, since it has been usurped by the logic of

neoliberal policies, which are more and more exclusionary in the

contemporary Brazil, particularly in relation to the Unified Health System.

A reflexão proposta no título deste texto será aqui tratada sob dois ângulos de

análise.

O primeiro, da Seguridade Social como uma política de Estado que deve

permitir o acesso aos direitos à saúde, à previdência social (e assistência social);

conforme prevê a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 194, sendo bom aqui

relembrar o que diz: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações

de iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos

relativos à saúde, à previdência social e à assistência social.”.

O segundo, o da necessidade de uma ampla e efetiva articulação da saúde,

através do Sistema Único de Saúde com a previdência social, através do Sistema Único

1 . Professor Associado da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

Departamento de Medicina Preventiva.

2

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

de Previdência Social (SUPS), na perspectiva de uma Política Nacional de Saúde do

Trabalhador inclusiva e universal.

E, nessa perspectiva, busca-se adotar uma posição verdadeiramente de esquerda,

ou seja, “... mostrar como a política é, em seu fundamento, a decisão a respeito do que

será visto como inegociável.”, como defende SAFATLI (2012, p. 15, itálicos no

original) Neste sentido, entende-se que a política não é apenas “... a arte da negociação

e do consenso, mas a afirmação taxativa daquilo que não estamos dispostos a colocar

na balança. O que falta hoje à esquerda é mostrar o que, segundo seu ponto de vista, é

inegociável.” (SAFATLI, 2102, pp. 15-16).

E, como se trata da temática dos direitos sociais, da sua universalidade e da

desigualdade ao seu acesso, advoga-se, aqui, ao contrário dos neoliberais, que “O

problema de desigualdade só pode ser realmente minorado por meio da

institucionalização de políticas que encontram no Estado seu agente.” (SAFATLI,

2012, p. 23, grifo nosso).

E, diante do que se assiste nos dias de hoje, deve-se resgatar a idéia de que “O

Estado é a única instituição que garante o estabelecimento de processos gerais capazes

de submeter toda a extensão da sociedade.” (SAFATLI, V., 2012, p. 23).

Considerando a vaga neoliberal, após mais de 30 anos de seu discurso e prática é

pertinente afirmar que: “... dinâmicas de redistribuição e de luta contra fraturas sociais

não se realizam sem a força de intervenção do Estado.” (SAFATLI, 2012, p. 24, grifos

nossos).

A possibilidade de uma efetiva Política de Seguridade Social: entraves e desafios

No que se refere a este primeiro ângulo de análise é necessário, para uma

avaliação do contexto da crise permanente do Sistema Único de Previdência Social

(SUPS) no Brasil, partir de sua dinâmica demográfica, econômica, financeira e

institucional. Neste sentido, entre 1945-1997, conforme apontam alguns autores, houve

“... um momento privilegiado para a consolidação de um sistema público de provisão

social no Brasil.” (ANDRADE, 1999, p. 151). Tal momento vai de 1950 a 1980,

quando a sociedade brasileira viveu profundas e importantes alterações estruturais.

Para reflexão, considera-se aqui que a Previdência Social sustenta-se sobre três

pilares: desenvolvimento econômico; dinâmica demográfica e dimensão político-

institucional e que foi justamente durante aquele momento histórico que os três pilares

3

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

aproximaram-se, numa espécie de círculo virtuoso, configurando um contexto positivo

para a evolução de uma política inclusiva de Previdência Social.

O comportamento dos três pilares tem características que interessa aqui discutir.

Em primeiro lugar, quanto ao pilar econômico e levando em conta aquele

momento, com exceção da década de 1950, este contribuiu de forma pouco relevante

quanto à perspectiva da transferência, para o SUPS, de parcela dos elevados níveis de

crescimento econômico que o Brasil viveu até o final dos anos 1970 de cerca de 7% ao

ano, o que não ocorreu em função da política antidemocrática e anti-social coloca em

prática pela Ditadura Militar. Tal transferência poder-se-ia ter dado pela “...

incorporação da produtividade no pólo trabalho, sobretudo do segmento urbano-

industrial naquele período.” (ANDRADE, 1999, p. 151). Nos anos 1980 e 1990, as

chamadas “décadas perdidas”, a queda do crescimento econômico acompanhou a

diminuição de avanços na Previdência Social, inclusive com aumento das alíquotas de

contribuição dos trabalhadores e perda de direitos.

Observe-se que nos anos 2000 ocorre uma retomada do crescimento econômico

com certa distribuição de renda e diminuição da pobreza, mas sem que houvesse uma

diminuição das desigualdades sociais, a partir das políticas focais que foram sendo

colocadas em prática sob FHC e Lula (SOARES, 2005; VIANNA, 2009).

Já o pilar demográfico foi o componente estrutural que teve a maior contribuição

positiva à possibilidade de um SUPS, transformando-se, na carência do componente

econômico, na “reserva humana” que, desde cedo, isto é, a partir dos dez anos de idade,

já compõe a força de trabalho nas grandes cidades brasileiras (ANDRADE, 1999).

No que se refere ao pilar político-institucional, é aquele que exige maior

complexidade de análise, podendo-se afirmar que a constituição de um fundo público de

Previdência Social no Brasil no final dos anos 1960, foi o principal motivo da sua

politização no âmbito das políticas sociais (ANDRADE, 1999), o que foi abortado pelo

Golpe Militar de 1964.

A partir da década de 1980 o pilar econômico e o pilar demográfico começam a

apresentar novos padrões. O produto interno bruto (PIB) de 1980 a 1995 passa a crescer

a taxas em torno de 2,7% ao ano, muito aquém dos 7% do período 1950-80. Durante o

governo FHC (1995-2002), cresce cerca de 2,3% ao ano e durante o governo Lula,

(2003-2010), cerca de 3,8%.

Por outro lado, o comportamento do pilar demográfico mostra alterações

importantes, na medida em que população crescia a taxas médias de 2,8% ao ano entre

4

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

1950-80 e passa a crescer a taxas médias de 1,8% de 1981-96, enquanto que nos anos

2000 passa a cerca de 1,2%, sendo que, agora, cada vez mais aumenta a população de

idosos no país.

Ocorre que, a alteração observada nos dois pilares tem reflexos sobre o pilar

institucional em função de crescentes demandas sociais, que se ampliam após a

Constituição Federal de 1988, quando o acesso aos direitos sociais previstos na

Constituição “Cidadã” é encarado, pelo viés neoliberal, como um “choque de despesas”

sobre o sistema previdenciário. E, impasses são criados: já que a Previdência Social “...

após esgotar as reservas financeiras potenciais herdadas do período pré-unificação

(1966), vê esgotar-se, desde 1980 a sua segunda grande reserva, que foi o crescimento

do capital populacional.” (ANDRADE, 1999, p. 152, itálico no original). Assim, a

“reserva” populacional, nos dias que correm, chegou à idade de usufruir dos benefícios

e é necessário buscar saídas! A saída mais favorável aos interesses dos usuários da

Previdência Social seria o crescimento econômico acompanhado pelo aumento do

emprego de qualidade e da renda (ANDRADE, 1999).

Ocorre que a equação acima está “desequilibrada”: atualmente, observa-se, após

o auge da crise econômica capitalista de 2008, um aumento no número de empregos

formais, apesar de que são empregos de baixa qualidade e com salários também baixos.

Por outro lado, a política de aumento real do salário mínimo adotada nos últimos

cinco anos contribuiu para aumentar o mercado interno, o que teria permitido que o país

atravessasse a crise com menores sobressaltos do que os países da Europa e os Estados

Unidos. Com isso, de certa forma, estaria havendo um caminhar no sentido mais

favorável aos assalariados que são beneficiários do Regime Geral da Previdência Social

pública.

Se olhado do lado do contingente de funcionários públicos federais que hoje

somariam cerca de um milhão de mil trabalhadores, há um caminhar no sentido inverso,

ou seja, sob a alegação de que há um déficit que se acumula há vários anos no sistema

de previdência que cobre esta parcela de trabalhadores, foi aprovada, sob o governo

Dilma, em 2012, lei que privatiza a Previdência Social destes servidores, os quais para

garantir sua aposentadoria integral, agora terão que se valer da chamada previdência

complementar, gerida por seguradoras ligadas a bancos e financeiras. O mesmo ocorreu

com a assistência médica dirigida aos funcionários das Universidades federais desde o

final do ano de 2011, quando o Estado passa a financiar sua adesão aos convênios e

planos de saúde privados.

5

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

De certa forma, pode-se dizer que em 2012, no governo Dilma, houve a contra-

reforma na Previdência Social dos servidores públicos, o que se assemelha às contra-

reformas do governo Fernando Henrique Cardoso de 1998, com a aprovação da Emenda

Constitucional 20 e do governo Lula de 2003 com a aprovação de Emenda

Constitucional 41 (GRANEMANN, 2006). Frise-se que após a aprovação da Emenda

Constitucional 20/98 o Seguro de Acidentes do Trabalho (Sat), antes de caráter estatal,

passou a ser passível de exploração concorrente pela iniciativa privada. (LACAZ, 2002)

O que se observa é que para justificar todas essas contra-reformas é sempre

usado o velho argumento neoliberal de que o desequilíbrio orçamentário é um

componente que faz parte dos regimes de repartição públicos e, em contraposição, o

equilíbrio é a característica principal dos sistemas privados de capitalização, o que está

abrindo vasto espaço para um rearranjo estrutural do sistema de provisão social no

Brasil (ANDRADE, 1999).

Assim, para além do simplismo de se procurar combinar sistemas públicos que

restringem direitos e sistemas privados complementares, impõe-se o debate de que é

preciso haver uma reestruturação do financiamento da Seguridade Social que alie

arrecadação baseada na folha salarial, mecanismos de capitalização com controle social

e, ao mesmo tempo, a taxação sobre o faturamento e o lucro das empresas para que

exista uma base efetiva de custeio das despesas da Seguridade Social. É preciso, pois,

transitar dos simples ajustes às reais transformações estruturais da Seguridade

ultrapassando a aceitação natural de que meras oscilações na conjuntura econômica

justificam o desmonte e a desestruturação de medidas que podem levar à proposição de

um verdadeiro Estado de Bem Estar Social no Brasil (ANDRADE, 1999; VIANA,

1999).

Quando se fala em Estado de Bem Estar Social é importante assinalar que tal

política transita no sentido contrário do que propõe o neoliberalismo que é a marca do

papel do Estado em países como o Brasil de hoje, apesar de “juras” em contrário. Na

verdade, o pano de fundo da perda de conquistas sociais é sustentado pela plataforma

neoliberal patrocinada pelas agências internacionais como o Fundo Monetário

Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento e

representa a aplicação das idéias na “Nova Direita”, cujos postulados foram formulados

por um grupo de acadêmicos ainda nos anos de 1940, com claros objetivos políticos.

Tratava-se de uma “... espécie de franco-maçonaria (...), altamente dedicada e

organizada (...) [cujo] propósito era combater o keynesianismo e o solidarismo

6

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

reinantes e preparar as bases de um novo tipo de capitalismo, duro e livre de regras

para o futuro.” (ANDERSON, 1995, p. 10).

A propósito é importante apontar aqui que a prática hoje consagrada da chamada

Participação em Lucros e Resultados (PLR), não passa de uma verdadeira armadilha, na

qual embarcou o movimento sindical, porque caminha no sentido contrário dessa

proposta, na medida em que se trata de uma espécie de abono salarial que não é

incorporado ao salário efetivo e sobre cujo montante não incide a arrecadação para a

Previdência Social e nem do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS),

tratando-se de uma verdadeira renúncia fiscal.

Do ponto de vista do ataque às políticas sociais, a “plataforma neoliberal”

sustenta-se em alguns princípios como destaca Laurell (1995):

retração do papel do Estado;

privatização do financiamento e da produção de serviços e bens públicos,

levando ao pagamento de tais serviços e bens;

focalização das políticas sociais nos grupos excluídos;

descentralização executiva sem o respectivo poder de financiamento e

operacional.

Os desdobramentos desta falácia são:

a despolitização do tema da Seguridade Social como projeto de uma política de

Bem estar Social;

a “morte natural” da proposta de Seguridade Social diante da globalização,

reestruturação produtiva e desnacionalização de capitais;

a admissão da mútua exclusão na organização/financiamento da Seguridade

Social das formas de repartição versus capitalização e da gestão pública

versus privada (ANDRADE, 1999; VIANA, 1999) .

No que se refere ao trabalho e ao emprego, nos dias que correm a globalização e

a reestruturação produtiva apresentam como tendência a incômoda companhia do

desemprego, da precarização do trabalho, flexibilização dos direitos e das relações de

trabalho (ANTUNES, 1995, 2007) e a possibilidade cada vez maior de intensificação

produtiva trazida pela tecnologia micro-eletrônica e robótica permitirá um

desenvolvimento produtivo, mas que não ocasionará um aumento de empregos e de

postos de trabalho (VIANA, 1999; MARKOFF, 2012).

7

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

É marca destes tempos o ideário de produzir ‘mais com menos’, ou seja, menor

contingente, menor estoque, menor tempo, menor custo. Para tanto, são implantadas

formas de gestão e organização do trabalho enxutas/flexíveis, incrementadas pelas

tecnologias computacionais de alta velocidade, que gera, dentre outros efeitos, a

intensificação e maior densidade de trabalho (FERREIRA, 2001).

Assim, toda a falácia existente sobre a necessidade de revisão dos limites de

idade para aposentadoria, o que não se justifica dada a entrada muito precoce da

população trabalhadora brasileira no mercado de trabalho; o aumento da contribuição

dos contribuintes da ativa e o desconto previdenciário de aposentados é uma verdadeira

“cortina de fumaça” que esconde a causa real da crise da Seguridade Social, isto é, o

desemprego estrutural relacionado às novas formas produtivas de acumulação

capitalista a que, no caso brasileiro, agrega-se o componente da transição demográfica

que hoje vivido pela população brasileira.

A perspectiva de uma real Política Nacional de Saúde do Trabalhador (PNST)

envolvendo o Sistema Único de Saúde e o Sistema Único de Previdência Social

No que se refere ao segundo ângulo da temática apontada no título do texto, ou

seja, a existência de uma PNST que articule o SUS e o SUPS, deve-se apontar que

diante da plataforma neoliberal, não cabe simplesmente propor que o custeio da

Seguridade Social seja composto pela complementaridade entre a forma de repartição

em que os trabalhadores da ativa contribuem hoje para custear os benefícios pagos aos

aposentados e pensionistas e de capitalização em que se constitui um fundo de reservas

ao longo do tempo para o custeio de benefícios futuros (ANDRADE, 1999).

Haveria que existir, ademais, uma taxação variável das empresas mediante a

criação de uma tarifação relacionada ao grau de risco acidentário de seus ambientes e

processos de trabalho, como acorria com a Lei acidentária 5.317/67. Nesta lei que

tratava do custeio e dos benefícios derivados das lesões provocadas por acidentes e

doenças do trabalho, eram previstas duas tarifas: uma constituída de 11 taxas que

variavam de 0,5 a 8,75% da folha de salário, para as empresas que optassem pela

contribuição sem o encargo do pagamento do salário nos primeiros 15 dias de

afastamento após a ocorrência do acidente ou doença do trabalho registrado. A outra

constituída também de 11 taxas, variáveis de 0,4 a 7% da folha salarial para as empresas

que assumissem o pagamento do salário nos 15 primeiros dias de afastamento em

8

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

conseqüência das lesões provocadas por acidente ou doença do trabalho (POSSAS,

1981). Esta forma de tarifação substituiria a hoje exígua taxação das empresas que varia

de 0,5, 2 e 3% da folha salarial, dependendo do grau de risco que apresenta de

“produzir” acidentes e doenças do trabalho, o que é balizado pelo chamado Nexo

Técnico Previdenciário. Desnecessário dizer que o investimento continuado, por parte

das empresas, em medidas de prevenção de acidentes e doenças do trabalho seria

acompanhado de uma diminuição do nível da tarifa por elas pago, como estímulo à

adoção de tais medidas.

A isso deve ser aliada a taxação do faturamento e do lucro das empresas,

considerando o valor agregado na produção de bens, para que a taxação apenas da folha

salarial não penalize mais as empresas mão de obra intensivas em relação àquelas que

são capital intensivo e, por isso, mais automatizadas e altamente informatizadas.

Assim, com o aumento de arrecadação do SAT deve vir acompanhado da

incorporação de anplos setores de trabalhadores que hoje o SAT não cobre tais como:

enpregadas domésticas; autônomos, servidores civis da União, Estados e municípios.

Frise-se que em tempos neoliberais esta taxação é considerada descabida e uma

ingerência na lógica de acumulação, o mesmo acontece com a proposta de taxação do

faturamento e do lucro, a partir do valor agregado da produção, em contraposição à

taxação somente da folha de salários, o que penaliza as empresas de mão-de-obra

intensivas em relação àquelas empresas capital intensivas, altamente automatizadas e

informatizadas.

Além disso, é ainda pertinente apontar para a necessidade de que dentro da

Seguridade Social o SUPS transforme-se efetivamente em uma seguradora pública

privilegiando as ações de prevenção e promoção da saúde, atuando sobre os

determinantes dos acidentes e doenças do trabalho, ao invés de atuar após a ocorrência

dos sinistros e danos (RIBEIRO; LACAZ, 1985).

Neste sentido, a política de desenvolvimento econômico e industrial colocada

em prática desde meados dos anos 1990 e tornada mais evidente a partir do Programa de

Aceleração do Crescimento (Pac) a partir de 2008, contradiz a perspectiva de dar

prioridade ao trabalho saudável e emancipador da criatividade e das potencialidades

humanas, conforme propõe como seu objetivo central do campo Saúde do Trabalhador

(LAURELL e NORIEGA, 1989; LACAZ, 2007).

Na contradição entre o modelo de desenvolvimento econômico industrial hoje

adotado e as políticas sociais, apareceram várias realidades candentes que expressam a

9

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

reação dos trabalhadores e essa situação: reação dos trabalhadores da Construção Civil

quanto às suas más condições de trabalho e aos acidentes de trabalho fatais o que levou

a greves em Jirau, nos canteiros de obras do estádio do Maracanã e do Mineirão. Fato

marcante nesta realidade foi a ambigüidade e o atraso com que se observou a

participação das centrais sindicais neste processo, fruto de um processo de cooptação

engendrado no governo Lula que arrefecer sobremaneira a capacidade de luta destas

instâncias, particularmente da Central Única dos Trabalhadores..

A propósito, frise-se que foi aprovada recentemente a Política Nacional de

Saúde e Segurança do Trabalhador (PNSST), tornada lei pelo Decreto 7.602/2011,

publicado no DOU de 08.11.2011. Frise-se que tal iniciativa é fruto de pressões dos

profissionais e representantes da sociedade civil desde a década de 1990 e deveria ser

uma resposta do Estado à fragmentação e inconsistência das ações públicas na área. No

entanto, uma avaliação mais detida do Decreto mostra sua limitação e timidez, pois ao

invés de propor uma integração e articulação das ações interministeriais,

particularmente da Saúde, do Trabalho e da Previdência Social, praticamente reafirma

as atribuições vigentes dos diferentes Ministérios, sem qualquer avanço propositivo.

(BRASIL, 2011).

No que se refere ao tema aqui tratado da relação entre Seguridade Social e

Política Nacional de saúde do Trabalhador, dentre as várias inconsistências da PNSST

prevista no Decreto 7602/11 observa-se sua omissão no tocante ao fornecimento e

disponibilização dos dados e informações epidemiológicas dos bancos de Benefícios da

Previdência até hoje tratados como segredo fiscal pela Previdência Social. No corpo do

texto ainda se lê a manutenção da queda de braço entre Ministério do Trabalho e

Emprego e Ministério da Saúde no tocante às ações de Vigilância dos processos de

trabalho, com claro favorecimento do setor Trabalho neste aspecto: “VI - Cabe ao

Ministério do Trabalho e Emprego: a) formular e propor as diretrizes da inspeção do

trabalho, bem como supervisionar e coordenar a execução das atividades relacionadas

com a inspeção dos ambientes de trabalho e respectivas condições de trabalho;...”

Para o SUS ficou a tímida atribuição e posição de “fortalecimento das ações de

vigilância” como se pode ler no item específico que se refere ao que cabe ao Ministério

da Saúde: “a) fomentar a estruturação da atenção integral à saúde dos trabalhadores,

envolvendo a promoção de ambientes e processos de trabalho saudáveis, o

fortalecimento da vigilância de ambientes, processos e agravos relacionados ao

trabalho, a assistência integral à saúde dos trabalhadores, reabilitação física e

10

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

psicossocial e a adequação e ampliação da capacidade institucional;..”, aspectos estes

que continuam sendo atribuição da Previdência Social.

Claro está que esta mera reafirmação dos papéis de cada um dos ministérios

afetos à problemática da Seguridade Social em sua interface com a Saúde do

Trabalhador está longe de constituir-se numa verdadeira PNST, que deveria articular e

integrar as ações do SUS e do SUPS, numa perspectiva que demonstre de fato, o grau

de comprometimento que o Estado brasileiro pretende assumir no enfrentamento dos

interesses do Capital nesta área extremamente sensível que é a sua intervenção para

além de uma mera regulação das relações Capital-Trabalho naquilo que interfere

diretamente na saúde e no bem estar dos trabalhadores nos processos, locais e condições

de trabalho, ou seja, no âmago da exploração capitalista.

Diante do que foi colocado, é importante chamar a atenção para alguns engodos

e armadilhas nos quais “embarcou” o movimento sindical nos últimos anos e que

incidem diretamente sobre a Seguridade Social e a PNST: a PLR; a administração dos

chamados “fundos de pensão” que nada mais são do que a apropriação do que produz o

trabalho, por setores cooptados do movimento sindical com os interesses do capital

financeiro e especulativo (GRANEMANN, 2006), ao que soma a tentativa das Centrais

sindicais brasileiras, em 1999, de em articulação com setores empresariais gerirem

mútuas que administrariam o Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT), quando se

propôs o Projeto de Lei 325/99, com apoio do Ministério da Previdência Social, o qual

tinha como base a premissa de que era necessário privatizar o SAT para superar a

ineficácia do SUS, tanto no que se refere à assistência médica ao acidentado ou portador

de doença profissional ou do trabalho, como à vigilância e controle de ambientes e

condições de trabalho nocivos à saúde, o que, frise-se, não foi resolvido pelo Decreto

7.602/2011 que trata da PNSST. Saliente-se que o PL 3254/99 estava baseado na

Emenda Constitucional 20/98, quando esta estabelece que lei ordinária devera

disciplinar “... a cobertura do acidente de trabalho, a ser atendida concorrentemente

pelo Regime Geral de Previdência Social e pelo setor privado. Diante desta

possibilidade, a iniciativa privada poderá atuar “concorrendo” com a previdência

pública visando apropriar-se de um montante que atingia no início de 2000 cerca de R$

4 bilhões, que era a estimativa de arrecadação anual do SAT (LACAZ, 2002).

Assim, partindo destas constatações, o que se poderia propor em termos de

encaminhamentos ao VIII Seminário de Saúde do Trabalhador de Franca é a perspectiva

de resgate da ação política de esquerda no sentido de discutir o que é inegociável nesta

11

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

área. Neste sentido, trata-se de defender a elaboração, resgatando o Fórum Nacional de

Defesa da Seguridade Social Pública, de num Projeto de Lei (PL) de Iniciativa Popular

de uma verdadeira PNST, envolvendo a participação do Grupo de Estudos

Interministerial de Saúde do Trabalhador (Geisat), visando a assegurar que o Seguro de

Acidente do Trabalho no Brasil, de caráter público, incorpore assistência e vigilância,

de maneira a integrar os Ministérios da Saúde, Trabalho e Emprego e Previdência Social

na perspectiva da promoção, prevenção e recuperação da saúde com controle social.

Tal iniciativa permitiria o engajamento da sociedade numa ampla mobilização

dos seus vários setores populares interessados numa lei que incorpore as aspirações das

classes trabalhadoras em relação a um importante Direito Social que foi previsto na

Constituição Federal de 1988, ou seja, a Seguridade Social articulando as relações entre

o Trabalho, a Saúde e a Previdência Social e cuja atuação política seria coroada pela

votação e aprovação do PL no Congresso Nacional, concretizando um Direito que vem

sendo usurpado pela lógica neoliberal que se mostra cada vez mais excludente no

Brasil!

Referências

ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. [pp. 9-23] In: SADER, E. & GENTILI. P.

(orgs.) Pós-Neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro:

Paz e Terra, 1995.

ANDRADE, EG. (Des)Equilíbrio da Previdência Social Brasileira 1945-1997

(componentes econômico, demográfico e institucional). Tese de Doutorado em

Economia. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar. Faculdade

de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1999.

[mimeo].

ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do

mundo do trabalho. São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

ANTUNES, R. Dimensões da precarização estrutural do trabalho. [pp. 13-22]. In:

Druck, G. & Franco, T. (orgs.) A perda da razão social do trabalho: terceirização e

precarização. São Paulo: Boitempo, 2007.

BRASIL. Presidência da República (2011) Decreto 7.602/2011. Dispõe sobre a Política

Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador. Diário Oficial da União. Edição de

08/11/2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-

2014/2011/Decreto/D7602.htm

FERREIRA, LL. A intensificação do trabalho ou é proibido vacilar. [pp. 268-280] In

DUARTE, F (org.) Ergonomia e Projeto na Indústria. de Processo Contínuo. Rio de

Janeiro: Editora Lucerna – COPPE, 2001.

12

VIII Seminário de Saúde do Trabalhador (em continuidade ao VII Seminário de Saúde do

Trabalhador de Franca) e VI Seminário “O Trabalho em Debate”. UNESP/

USP/STICF/CNTI/UFSC, 25 a 27 de setembro de 2012 – UNESP- Franca/SP.

GRANEMANN, S. Para uma interpretação marxista da ‘previdência privada’. Tese

de Doutorado em Serviço Social. Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. [mimeo].

LACAZ, FAC. Considerações sobre a Seguridade Social e Seguro de Acidentes do

Trabalho (SAT) de caráter público, socialmente justo e sustentáveis. 2002. [mimeo]

9 pp.

LACAZ, FAC. O campo Saúde do Trabalhador: resgatando conhecimentos e práticas

sobre as relações trabalho-saúde. Cadernos de Saúde Pública, 23 (4): 757-766, 2007.

LAURELL, AC. Avançando em direção ao passado: a política social do neoliberalismo.

[pp. 151-178] In: Laurell. A.C. (org.) Estado e políticas sociais no neoliberalismo.

São Paulo: Cortez, 1995.

LAURELL, AC & NORIEGA, M. O estudo do processo de trabalho: análise crítica de

quatro propostas metodológicas. [pp. 61-98] In: LAURELL, AC & NORIEGA, M.

Processo de produção e saúde. Trabalho e desgaste operário. São Paulo: HUCITEC.,

1989..

MARKOFF, J. Novas tecnologias reacendem o debate . The New York Times. Textos

selecionados para FOLHA DE SÃO PAULO. Edição de 27/08/2012. pp. 1-2.

POSSAS, CA. Saúde e Trabalho: a crise da Previdência Social. Rio de Janeiro: Graal,

1981.

RIBEIRO, HP & LACAZ, FAC. (orgs.) De que adoecem e morrem os trabalhadores.

São Paulo: Imprensa Oficial do Estado/Diesat, 1985.

SAFATLI, V. A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três Estrelas,

2012.

SOARES, LT. O Público e o Privado na Análise da Questão Social Brasileira. [pp. 57-

82]. In: HEIMANN, LS, IBANHES, LC E BARBOZA, R (orgs.) O Público e o

Privado na Saúde. São Paulo: Hucitec: OPAS: IDRC, 2005.

VIANA, MLTW. As armas secretas que abateram a Seguridade Social. [pp. 91-114].

In: LESBAUPIN, I, (org.) O desmonte da nação: balanço do governo FHC. Petrópolis,

RJ: Vozes, 1999.

VIANA, MLTW. O culpado é o mordomo? Constrangimentos outros (que não do

modelo econômico) à seguridade social. [pp. 66-83] In LOBATO, LVC & FLEURY, S.

(orgs.) Seguridade Social, Cidadania e Saúde. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de

Estudos de Saúde (Cebes), 2009.