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SEGURANÇA AMBIENTAL GLOBAL: SERVIÇOS AMBIENTAIS E
INCLUSÃO SOCIAL NA RDS DO JUMA- AM
Leny Cristina Barata Souza Licenciada em Geografia - UFAM 2006
Mestranda do Programa de Pós Graduação e Sustentabilidade na Amazônia-PPG/CASA [email protected]
Ivani Ferreira de Faria
Professora do Departamento de Geografia- UFAM e Coordenadora do Grupo de Estudos Planejamento e Gestão do Território na Amazônia.
Resumo As Unidades de Conservação se constituem em espaços organizacionais. Essa abordagem
reconhece que na verdade existem sistemas sócio-ecológicos que são extremamente complexos
e imprevisíveis, nos quais os subsistemas ecológicos, sociais e econômicos estão fortemente
integrados e se influenciam mutuamente (Berkes e Folke,2000; Berkes, 2006). A Reserva de
Desenvolvimento Sustentável do Juma é pioneira a usar créditos de carbono como Serviço
Ambiental, tornando-se assim a primeira Unidade de Conservação do Brasil e das Américas a ser
certificada por desmatamento evitado. Nos últimos anos novas tendências se delineiam no
sentido de viabilizar a realização do capital natural através de um processo crescente de
mercantilização da natureza. Alguns de seus elementos estão em vias de serem transformados
em mercadorias fictícias e objetos de mercados reais, afetando intensamente a Amazônia
(Becker, 2001b). Este trabalho propõe uma reflexão acerca da implementação do REED (Redução
de Emissões por desmatamento e Degradação) na RDS do Juma que está sendo implantado pela
Fundação Amazonas Sustentável (FAS) em parceria com a Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (SDS) através do Centro Estadual de
Unidades de Conservação (CEUC) e do Centro Estadual de Mudanças Climáticas (CECLIMA). O
projeto objetiva conter o desmatamento e emissões de gases do efeito estufa em uma área sujeita
a grande pressão de uso da terra no Estado do Amazonas. Os recursos financeiros obtidos com o
projeto poderão permitir efetivar a implantação das medidas necessárias para o controle e
monitoramento do desmatamento dentro dos limites da RDS, reforçando o cumprimento das leis e
melhorando as condições da vida das comunidades locais.
Introdução
A Amazônia brasileira está sob pressão. Estima-se que 17% de sua cobertura florestal
original já foi perdida. De 2000 a 2007, mais de 150,000 km2 de florestas foram destruídos na
região, o que representa 3,7% de toda a área da Amazônia Legal Brasileira (INPE, 2008). Em
contrapartida a este cenário, no mesmo período, o Estado do Amazonas, maior Estado do Brasil
com mais de 1,5 milhões de km2 de área, perdeu somente 0,4% de suas florestas (INPE, 2008).
Historicamente, o Amazonas sempre apresentou as menores taxas de desmatamento em
comparação com os demais Estados da Amazônia, mantendo intacto atualmente cerca de 98% da
sua cobertura florestal original. Entretanto, nos últimos anos, o decréscimo da cobertura florestal e
a indisponibilidade de terras decorrentes do intenso desmatamento histórico nos outros Estados
da Amazônia Brasileira (Acre, Mato Grosso, Pará e Rondônia), vêm conduzindo a uma visível
tendência de migração para a região central da Amazônia, principalmente no Estado do
Amazonas. As crescentes taxas de expansão da agricultura e pecuária bovina fazem com que os
principais agentes do desmatamento voltem seus olhares para as grandes áreas de floresta (com
baixa densidade humana) do Estado do Amazonas. O cenário futuro é bastante claro: se
seguirmos a tendência histórica do restante da Amazônia, o Amazonas será rapidamente ocupado
por grandes pastagens e culturas agrícolas, resultando em milhões de hectares de florestas
desmatadas.
Os modelos mais avançados de simulação do desmatamento indicam que nas próximas
décadas, o Estado do Amazonas, poderá ter um rápido aumento das taxas de desmatamento. O
SimAmazonia I, modelo de desmatamento construído pelo Programa “Cenários para Amazônia” e
liderado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), pela Universidade Federal de
Minas Gerais e pelo Woods Hole Research Center (SOARES-FILHO et al., 2006), vem sendo
considerado como um dos modelos mais refinados para a região amazônica atualmente. Tal
modelo indica uma forte tendência de destruição no futuro próximo, que poderá resultar em
perdas de até 30% da cobertura florestal no Amazonas até o ano de 2050. Caso não haja
medidas e estratégias concretas de prevenção, o desmatamento no Amazonas poderia emitir
cerca de 3,5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera.
O Brasil ocupa o quarto lugar entre os maiores emissores de gases causadores de efeito
estufa, sendo que ¾ dessas emissões provém da destruição das matas, e em particular a
Amazônia.
Se o ritmo das emissões de gases do efeito estufa não for reduzido significativamente será
impossível evitar o agravamento de conseqüências ambientais negativas já observadas
atualmente pelas alterações climáticas, como por exemplo, o derretimento das geleiras,
inundações de cidades costeiras e tempestades mais intensas.
Informações Gerais sobre a RDS do Juma
A RDS do Juma tem uma área de 589.611,28 hectares situada no município de Novo
Aripuanã, região sudeste do Estado do Amazonas (mapa 01). A Reserva é delineada pelo rio
Mariepaua no lado oeste, que também é limite entre os municípios de Novo Aripuanã e Manicoré,
no lado sul pelas áreas de domínio Federal (100 Km ao norte da rodovia Transamazônica – BR
230); na parte leste pela margem esquerda do rio Acari e no extremo norte é limitada pelo rio
Madeira. A Reserva é cortada no sentido norte sul pela rodovia estadual AM- 174 que liga os
municípios de Novo Aripuanã e Apuí.
A RDS foi criada em 03 de julho de 2006, com a assinatura do Decreto nª 26.010. Sua
implantação seguirá as regras do Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC), bem
como as regras estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Possui 26 comunidades no seu interior e 17 no seu entorno que utilizam os recursos naturais do
interior da Reserva.
O Seminário de Avaliação e Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação,
Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira,
realizada na cidade de Macapá em 1999, indicou uma área, denominada polígono BX 049
localizada na bacia do rio Aripuanã, como de extrema importância para a conservação da
biodiversidade (Capobianco, et AL, 2001; MMA, 2002). Com base nessa avaliação a SDS realizou
uma expedição de campo a região do rio Aripuanã no município de Novo Aripuanã com intenção
de avaliar o potencial da área para a criação de uma Unidade de Conservação. Essa expedição
foi realizada no período de 16 a 26 de abril de 2005 e contou com a participação de técnicos da
SDS, do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), Conservação Internacional (CI),
Instituto de Terras do Amazonas (ITEAM), Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA) e
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Foram coletados dados de fauna, flora, socioeconômicos, caracterização da paisagem,
mapeamento dos sítios arqueológicos e do uso dos recursos naturais. O estudo recomendou a
criação de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável no município de Novo Aripuanã.
Em julho de 2005, a SDS realizou uma reunião na Câmara Municipal de Novo Aripuanã
para discutir a proposta de criação da referida unidade. No ano seguinte foram realizadas as
consultas públicas. No dia 15 de março pela manhã foi realizada a Consulta Pública na sede da
comunidade do Tucunaré. A proposta foi aceita pelos participantes. Nessa consulta foi definido o
nome da unidade. Havia várias opções como Jacaré, Macaquinho, Bom Futuro, Vida Nova.
Depois de muita discussão optou-se pelo nome de Juma, que é um dos afluentes do rio Aripuanã.
Na tarde do dia 15foi realizada a Consulta Pública na sede do município de Novo Aripuanã, na
qual os participantes aprovaram a criação da RDS do Juma e em 03 de julho de 2006 foi
assinado o Decreto nª 26.010 que criou a RDS do Juma.
O Processo de Mercantilização da Natureza
A medida que os processos clássicos associados com o modo de produção capitalista e as
suas relações de produção e de circulação, em forma intermitente e oscilante deslocam-se entre
si, acoplando-se não linearmente com os novos sentidos e tendências difusas das configurações
políticas mundiais do território Estado- Nação, as estruturas das teorias econômicas e políticas,
em todos os espectros e matrizes ideológicas mostram-se frágeis, sem capacidade previsível para
o enfrentamento e deslindamento dessa nova conformação mundial.
As redes econômicas desencadeiam uma nova redivisão planetária do mercado de
trabalho, em particular da matriz científica com a questão ambiental assumindo uma relevância
mundial que transcende, e na maioria das vezes, se sobrepõe aos interesses e aos projetos
nacionais em âmbitos local,regional e nacional.
Soja, reafirma esta reflexão:
O capitalismo luta perpetuamente, portanto para criar uma paisagem social e física a sua própria imagem e indispensável para as suas necessidades em determinado ponto do tempo, simplesmente para com igual certeza minar, desintegrar e até destruir essa paisagem num tempo posterior do tempo. As contradições internas do capitalismo expressam-se através da formação e reformação irrequietas das paisagens geográficas. (SOJA,1990,p. 208).
A mobilidade do capital e sua presença na sociedade contemporânea se inscreve sob a
lógica de um rizoma, através do “emprego de relações de forças sociais e microssociais, de
deslocamento de poder, de avanços e de recuos de uma formação social ou de atitudes coletivas
de aceleração desenfreada” (Guattari, 1981, p.192). Esse novo capital expande-se como uma
potência criativa, não só de modo financeiro-econômico, mas como uma tecitura política, social e
técnica mais ampla, identificada como um Capitalismo Mundial Integrado.
A questão ambiental está na base do processo de globalização impulsionado pela revolução de
ciência e tecnologia, foi quando a tecnologia dos satélites permitiu ao homem olhar a Terra a partir
do cosmos, que tomou consciência da unidade do planeta como um bem comum cujo uso deve
repousar numa responsabilidade comum. Colocou-se então o desafio ecológico como dupla
questão, a da sobrevivência da humanidade e de valorização do capital natural, e a Amazônia
tornou-se um símbolo desse desafio.
Simultaneamente, um novo modo de produzir gerado com a revolução na Ciência e
Tecnologia e com base no conhecimento e na informação, redefine a natureza, as relações
sociedade-natureza, bem como a divisão territorial do trabalho. Os países centrais, detentores da
Ciência e Tecnologia, tendem a se independer da base de recursos naturais utilizando menor
volume de matérias primas e de energia. Por outro lado, atribuem valor aos elementos da
natureza num outro patamar condicionado ao uso de novas tecnologias; em outras palavras,
valorizam a natureza como capital de realização atual ou futura, pressionando os países
periféricos- detentores dos maiores estoques de natureza- a implantar grandes reservas de capital
natural em seus territórios como reservas de valor, assim controlando o uso do capital natural para
o futuro. (Becker,2009,p.89)
O mercado do “ar” surgiu intimamente relacionado à busca de nova matriz energética.
Baseia-se no seqüestro de carbono (manutenção do carbono pela vegetação e seu instrumento
principal foi o Protocolo de Quioto (1997). A comercialização de carbono em nível global foi a
forma proposta para as indústrias de países centrais compensarem suas emissões maciças de
CO², devido à combustão do carvão e de derivados do petróleo que provocam o efeito estufa,
fazendo isso por meio de investimentos na preservação ou replantio de florestas em países
periféricos para absorção de dióxido de carbono. Originou-se, então o mercado de carbono, não
sem grandes conflitos entre os países centrais e periféricos quanto à imposição de regras para a
redução de emissões consideradas pelos periféricos como inaceitáveis por tolher seu
desenvolvimento, e quanto a contabilização das emissões e a inserção ou não das florestas em
pé nesse processo.
Segundo Becker após a década de 1990, de relativa calmaria, retornaram conflitos
intensos acompanhando o processo de mercantilização da natureza, incidindo com violência na
Amazônia. Não mais conflitos inerentes à expansão da fronteira agropecuária comandada pelo
Estado brasileiro com vistas à unificação do mercado doméstico. Trata-se agora de conflitos
gerados no contexto de mercados globais comandados por grandes corporações e bancos que se
reorientam da preservação a produção. Se as tradings globais e os fazendeiros nacionais
expandiram a produção de modo a tornar o Brasil grande exportador de soja e carne,
respectivamente, às custas da destruição da floresta e da expulsão de produtores familiares, o
sistema financeiro orientou-se para o novo mercado da natureza, gerando novas mercadorias
fictícias.
Serviços Ambientais da Floresta Amazônica
Embora possam variar em suas concepções, os estudos da economia relacionados ao
meio ambiente tem como preocupação o desafio de atribuir valor e preço aos elementos da
natureza visando o pagamento por sua conservação.
Segundo a conceituação teórica sobre os serviços ambientais existem duas principais
linhas de pensamentos e metodologias da economia do meio ambiente e de valoração dos
serviços ambientais: a economia ambiental e a economia ecológica (Romeiro,1999,2001; Mattos
et al, 2008).
Na economia ambiental pressupõe que os recursos naturais e serviços ambientais são
valorados como bens transacionáveis no mercado, o controle de sua escassez traduzindo na
elevação dos preços. Como os mecanismos de mercado falham na valoração direta de recursos
naturais e serviços ambientais que são bens públicos não transnacionais em mercado, a
economia ambiental utiliza três ferramentas metodológicas para valorá-los:
a) Disposição a pagar a medida que a escassez ambiental aumenta;
b) A atribuição de “direitos de propriedade”sobre tais recursos e serviços confiando que
seus proprietários os troquem por idôneos;
c) O princípio do “poluidor pagador1”, uma proposta polêmica para muitos envolvendo o
direito de poluir
Na economia ecológica os estudiosos entendem a economia como um subsistema aberto
do sistema maior, o sistema Terra, finito, material fechado embora aberto à energia solar que
impõe restrições absolutas a sua expansão. Para essa corrente de pensamento, o caminho para a
sustentabilidade está na lógica econômica cíclica com novos estilos de vida e consumo,
reconhecendo a questão central que deriva da divisão social do trabalho e das relações
capitalistas de produção.
Por esta corrente de pensamento, o caminho para a sustentabilidade está na lógica
econômica cíclica com novos estilos de vida e consumo, reconhecendo a questão central que
deriva da divisão social do trabalho e das relações capitalistas de produção.
O Projeto REED na RDS do Juma objetiva conter o desmatamento e suas respectivas
emissões de gases do efeito em uma área sujeita à grande pressão de uso da terra no Estado do
Amazonas. Sua implementação faz parte de uma ampla estratégia planejada e iniciada em 2003
pelo Governo do Estado do Amazonas para contenção do desmatamento e promoção do
desenvolvimento sustentável, baseado na valorização dos serviços ambientais prestados pelas
suas florestas (Braga e Viana e tal.2003; Amazonas 2003). Está dentro do contexto de uma
economia ambiental, dentro da ótica do “poluidor pagador”.
O projeto se caracteriza pela criação e implementação de uma Unidade de Conservação
que seria praticamente desmatada em um cenário de manutenção das práticas correntes. A sua
criação e implementação efetiva só foi possível graças à perspectiva de efetivação de um
mecanismo financeiro para geração de créditos de carbono oriundos da redução de emissões de
desmatamento, que vem sendo planejado pelo governo.
Os recursos a serem angariados permitiram ao governo e seus parceiros efetivarem a
implementação de todas as medidas necessárias para o controle e monitoramento do
desmatamento dentro dos limites do projeto, estabelecendo um caráter financeiro auto sustentável
para a conservação, além de reforçar o cumprimento das leis e ao mesmo tempo deve buscar
promover a melhoria nas condições de vida das comunidades locais.
1 Poluidor- pagador – cobra por usos outorgáveis,ie, que utilizam e/ou que alterem a quantidade dos recursos hídricos (Lei 9433/1997, do Sistema Nacional de Recursos Hidrícos-SNRH); “protetor- “recebedor”- cobra benefícios usufruídos de serviços ambientais proporcionados por uma Unidade de Conservação. O beneficiário paga os serviços ambientais aos gestores ou proprietários de Áreas Protegidas , realizando uma contrapartida visando o fluxo de contínuo e a melhoria do serviço de mandado (Lei 9985/2000 do Sistema Nacional de Unidades de Conservação- SNUC)
A implementação das atividades do projeto proposto resultará até 2050 na contenção do
desmatamento de cerca de 329.483 hectares de floresta tropical, que corresponderia à emissão
de 189.767.027,9 toneladas de CO² para a atmosfera que ocorreriam no cenário de linha de base
esperado para a área onde foi criado a RDS do Juma.
A geração de benefícios sociais e ambientais na área do projeto fundamentalmente
precisa fazer parte da estratégia de conservação da região e da geração de benefícios climáticos
e de biodiversidade. È imprescindível que o pagamento pelos serviços ambientais na RDS do
Juma promova melhoria da qualidade de vida para as 26 comunidades que moram no seu interior,
pois a sustentabilidade social deve sempre vir na frente, por se destacar como a própria finalidade
do desenvolvimento.
Um dos desafios das políticas públicas diz respeito justamente à necessidade de
territorializar a sustentabilidade ambiental e social do desenvolvimento “o pensar global, mas atuar
localmente” e ao mesmo tempo, dar sustentabilidade ao desenvolvimento do território, ou seja
fazer com que as atividades produtivas contribuam efetivamente para o aperfeiçoamento das
condições de vida da população e protejam o patrimônio biogenético a ser transmitido as
gerações futuras.
Os créditos de carbono pertencem a FAS (Fundação Amazonas Sustentável), como
resultado da gestão de serviços ambientais, um direito legalmente transferido a FAZ através da
Lei nª 3135 e do Decreto nª 27.600, através desse decreto o Governo do Estado do Amazonas
doa para a FAS um montante de 20 milhões, sendo autorizado a participar com o propósito de
encaminhar as ações necessárias para atingir os objetivos institucionais, sob as provisões do Art.6
da Lei Referida.
A Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas
(SDS) coordena a criação de e o estabelecimento de Unidades de Conservação (CEUC) em
parceria com o Centro Estadual de Mudanças Climáticas (CECLIMA).
O CEUC é o responsável pela criação de mais de 20 Unidades de Conservação nos
últimos cinco anos, aumentando em mais de 10 milhões de hectares a área estadual do
Amazonas sob regime de UCs, trabalhando em conjunto com as comunidades locais,
organizações e atores chaves na implementação destas áreas.
Plano de Gestão da RDS do Juma
A criação de Unidades de Conservação está prevista no art.225, 1ª,III da Constituição
Federal. Esse dispositivo constitucional foi regulamentado pela Lei nª 9.985 de 18 de julho de
2000 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O Estado do
Amazonas através da Lei Complementar nª 5 de junho de 2007 istituiu o Sistema Estadual de
Unidades de Conservação (CEUC). Em seu artigo 21 descreve a finalidade da categoria Reserva
de Desenvolvimento Sustentável:
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável- RDS é uma área natural que abriga
comunidades tradicionais, cuja existência se baseia em sistemas sustentáveis de utilização dos
recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptadas às condições ecológicas
locais, e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da
diversidade biológica.
A RDS tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e melhoria dos modos e da qualidade de vida e manejo dos recursos naturais pelas comunidades tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o saber e as técnicas de manejo do meio ambiente, desenvolvido por essas populações (AMAZONAS, 2007).
Em seu artigo 33 determina que as unidades de conservação devem dispor de um Plano
de Gestão que equivale ao Plano de Manejo relatado na Lei do SNUC. O Plano de Gestão é
definido como:
Documento Técnico e Gerencial, fundamentado nos objetivos da unidade de conservação, que estabelece o seu zoneamento, as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação da estrutura física necessárias à gestão da unidade (AMAZONAS, 2007).
Nos dias doze a dezessete de março do corrente ano em Novo Aripuanã foi realizada a
Consulta Pública do Plano de Gestão da RDS e a Reunião do Conselho Deliberativo Gestor, na
qual foi aprovado o Plano. A Consulta foi realizada nos dias 12,13 e 14, com a presença de 230
pessoas diárias, entre comunitários da RDS, representantes da sociedade civil e Entidades
Governamentais, bem como moradores do município de Novo Aripuanã (Foto 1).
Foto 1: Reunião Consulta Pública Fonte: SEUC (2010).
O plano de Gestão foi consolidado com a participação de setenta por cento dos
conselheiros, que de acordo com a metodologia proposta, todas as alterações feitas durante a
Consulta Pública foram acrescentadas e apresentadas durante a Reunião do Conselho Gestor,
sendo que o mesmo tendo poder deliberativo acrescentou ou suprimiu alguns pontos, por
entenderem o que de fato é melhor para a Reserva para os próximos cinco anos, dentro da
legislação vigente (Foto 02).
Foto 2: Reunião do Conselho Gestor. Fonte: SEUC (2010).
Durante a Consulta e Reunião do Conselho Gestor percebeu-se através das mais diversas
intervenções as angústias, permeadas de muitas dúvidas e desconfianças seja com a SDS
(Secretaria de Desenvolvimento Sustentável) representada pelo CEUC (Centro Estadual de
Unidades de Conservação) ou a FAS (Fundação Amazonas Sustentável) co-gestora da Reserva,
responsável pela implementação do REED, projeto que os comunitários não conhecem na integra,
falta ainda muita informação, com o nosso trabalho pretendemos saber se esse projeto, que é de
milhões pode promover inclusão social na RDS do Juma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão ambiental e os termos a ela inerentes, configurou-se e consolidou-se com as
grandes transformações introduzidas pelo processo de globalização econômica do planeta
fundamentado na revolução cientifico- tecnológico que gerou um novo modo de produzir baseado
na informação e no conhecimento, afetando não só as relações econômicas como as sociais e de
poder (Castells,1999). Alterou também o significado de natureza e seus elementos que foram
incorporados na escala ampliada da mercantilização. (Becker,2001,2005).
Precisamos desmistificar “O mito da Natureza Intocada”, pois o homem e a natureza
precisam se contextualizar dentro de um pensamento sistêmico, estabelecendo segundo Capra
uma teia de interação para consolidação de diversas relações podendo ser harmônicas ou
desarmônicas, não precisando chegar necessariamente a um consenso, podendo o contraditório
ser posto para as devidas reflexões.
O desenvolvimento da Amazônia deve ser de forma sustentável, conservando os recursos
para as gerações futuras para que saibamos de forma correta como valorar e valorizar, pois
sabemos que eles são finitos e que , portanto precisam de uma parceria harmoniosa entre o
homem e o espaço geográfico ocupado.
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