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SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEK Presidente (A sessão tem início às 17H05) 1. Reinício da sessão Presidente. – Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, suspensa na quinta-feira, dia 11 de Novembro de 2010. 2. Aprovação da acta da sessão anterior: Ver Acta 3. Declarações da Presidência. Presidente. – Recebi com grande satisfação a notícia da libertação de prisão domiciliária de Aung San Suu Kyi, líder da oposição da Birmânia. A senhora Suu Kyi foi uma das primeiras vencedoras do Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu desde 1988. No entanto, há vinte anos não o pôde receber em pessoa. Gostaria de informá-los de que já enviei um convite à senhora Suu Kyi para visitar o Parlamento Europeu e para intervir em uma das nossas sessões plenárias. 25 de Novembro é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, instituído pelas Nações Unidas há 11 anos. Todos os dias, em todo o mundo, muitas mulheres são vítimas de violações, de humilhação e de violência doméstica. Uma atrocidade em particular, praticada em muitas regiões do mundo, é a circuncisão feminina das jovens. Calcula-se que 8 000 raparigas sejam vítimas desta prática diariamente. Para demonstrar a nossa solidariedade para com a campanha para deter este ritual bárbaro, encorajo-vos a todos a usar uma pétala de rosa hoje para simbolizar a nossa oposição a esta prática. Gostaria de salientar que o Parlamento Europeu tem mantido durante muitos anos os seus esforços para apelar a um cancelamento total da violência física e mental contra as mulheres. 4. Composição do Parlamento Presidente. – As autoridades espanholas competentes informaram-me da substituição do senhor deputado Ramón Jáuregui Atondo pela senhora deputada María Irigoyen Pérez, com efeitos a partir de 16 de Novembro de 2010. Gostaria de dar as boas-vindas à nossa nova deputada ao Parlamento Europeu e lembrar que, com base no n.º 2 do artigo 3.º do Regimento do Parlamento Europeu, enquanto os seus poderes não tiverem sido verificados ou não tiver havido decisão sobre uma eventual impugnação, a senhora deputada Irigoyen Pérez terá assento no Parlamento e nos respectivos órgãos no pleno gozo dos seus direitos, desde que tenha declarado previamente que não exerce quaisquer funções incompatíveis com o mandato de deputada ao Parlamento Europeu. 5. Composição dos grupos políticos Presidente. – Gostaria de informá-los de que o senhor deputado Claudiu Ciprian Tănăsescu aderiu ao Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, com efeitos a partir de 15 de Novembro de 2010. 1 Debates do Parlamento Europeu PT 22-11-2010

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Page 1: SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010...SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEK Presidente (A sessão tem início às 17H05) 1. Reinício da sessão Presidente

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010

PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEKPresidente

(A sessão tem início às 17H05)

1. Reinício da sessão

Presidente. – Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, suspensa na quinta-feira,dia 11 de Novembro de 2010.

2. Aprovação da acta da sessão anterior: Ver Acta

3. Declarações da Presidência.

Presidente. – Recebi com grande satisfação a notícia da libertação de prisão domiciliáriade Aung San Suu Kyi, líder da oposição da Birmânia. A senhora Suu Kyi foi uma dasprimeiras vencedoras do Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu desde 1988.No entanto, há vinte anos não o pôde receber em pessoa. Gostaria de informá-los de quejá enviei um convite à senhora Suu Kyi para visitar o Parlamento Europeu e para intervirem uma das nossas sessões plenárias.

25 de Novembro é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres,instituído pelas Nações Unidas há 11 anos. Todos os dias, em todo o mundo, muitasmulheres são vítimas de violações, de humilhação e de violência doméstica. Uma atrocidadeem particular, praticada em muitas regiões do mundo, é a circuncisão feminina das jovens.Calcula-se que 8 000 raparigas sejam vítimas desta prática diariamente. Para demonstrara nossa solidariedade para com a campanha para deter este ritual bárbaro, encorajo-vos atodos a usar uma pétala de rosa hoje para simbolizar a nossa oposição a esta prática.Gostaria de salientar que o Parlamento Europeu tem mantido durante muitos anos os seusesforços para apelar a um cancelamento total da violência física e mental contra as mulheres.

4. Composição do Parlamento

Presidente. – As autoridades espanholas competentes informaram-me da substituiçãodo senhor deputado Ramón Jáuregui Atondo pela senhora deputada María Irigoyen Pérez,com efeitos a partir de 16 de Novembro de 2010. Gostaria de dar as boas-vindas à nossanova deputada ao Parlamento Europeu e lembrar que, com base no n.º 2 do artigo 3.º doRegimento do Parlamento Europeu, enquanto os seus poderes não tiverem sido verificadosou não tiver havido decisão sobre uma eventual impugnação, a senhora deputada IrigoyenPérez terá assento no Parlamento e nos respectivos órgãos no pleno gozo dos seus direitos,desde que tenha declarado previamente que não exerce quaisquer funções incompatíveiscom o mandato de deputada ao Parlamento Europeu.

5. Composição dos grupos políticos

Presidente. – Gostaria de informá-los de que o senhor deputado Claudiu Ciprian Tănăsescuaderiu ao Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no ParlamentoEuropeu, com efeitos a partir de 15 de Novembro de 2010.

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Page 2: SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010...SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEK Presidente (A sessão tem início às 17H05) 1. Reinício da sessão Presidente

Gostaria igualmente de os informar de que o senhor deputado Pino Arlacchi aderiu aoGrupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, comefeitos a partir de 18 de Novembro de 2010.

6. Assinatura de actos adoptados em co-decisão

Presidente. – Comunico que assinarei na quarta-feira, com o Presidente do Conselho,14 actos legislativos adoptados de acordo com o processo legislativo ordinário nos termosdo artigo 74º do Regimento do Parlamento Europeu. Os títulos destes actos legislativosserão publicados na acta da sessão. Serão postos à vossa disposição e poderão examiná-losa qualquer momento.

7. Entrega de documentos: ver Acta

8. Declarações escritas caducadas: Ver Acta

9. Perguntas orais e declarações escritas (entrega): Ver Acta

10. Petições: ver acta

11. Transferências de dotações: ver Acta

12. Ordem dos trabalhos

Presidente. – O projecto definitivo da ordem do dia, elaborado pela Conferência dosPresidentes na sua reunião de quinta-feira, 18 de Novembro de 2010, nos termos do artigo137.º do Regimento, foi distribuído. Foram propostas as seguintes alterações:

Segunda-feira:

Os grupos políticos propõem que o debate do relatório do senhor deputado Berlinguersobre os aspectos do Direito civil, do Direito comercial, do Direito da família e do Direitointernacional privado no Plano de Acção de aplicação do Programa de Estocolmo sejaretirado da ordem do dia. Nesse caso, o relatório será sujeito a votação directa amanhã,terça-feira. O relatório permanecerá. Ocorrerá uma votação, mas sem debate. Repito: todosos grupos políticos concordaram com esta solução, e ela foi, por conseguinte, aceite.

(O Parlamento aprova o pedido)

Terça-feira:

Não foram propostas alterações.

Martin Schulz (S&D). – (DE) Senhor Presidente, na ordem do dia de terça-feira estãopresentes seis relatórios da senhora deputada Matera sobre a mobilização do Fundo Europeude Ajustamento à Globalização para os Países Baixos. A minha intervenção a este respeitodeve-se ao facto de discordar da forma como o senhor deputado Daul foi atacado a estepropósito na imprensa holandesa. Na Conferência dos Presidentes, o senhor deputadoDaul abordou a questão da possível exclusão destes relatórios à luz do debate orçamental,que tinha sido discutida pelos presidentes dos vários grupos. Gostaria de proferir doiscomentários a este respeito.

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Page 3: SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010...SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEK Presidente (A sessão tem início às 17H05) 1. Reinício da sessão Presidente

Em primeiro lugar, deveríamos manter estes relatórios na ordem do dia. Deveríamosigualmente votá-los e transferir esta verba do Fundo Europeu de Ajustamento à Globalizaçãopara os Países Baixos.

Contudo, em segundo lugar, o senhor deputado Daul apresentou esta sugestão através deum comentário na Conferência dos Presidentes. Se este comentário passa da Conferênciados Presidentes para o domínio público sem que o seu autor tenha sequer oportunidadede responder a perguntas e de o explicar, então, enquanto presidentes de grupos, temosde ponderar muito cuidadosamente o que podemos de facto dizer numa Conferência dosPresidentes. Esta é a primeira parte da questão.

A segunda parte refere-se ao facto de não ser o Parlamento Europeu a afirmar que está aser esbanjado dinheiro. É um elemento do Governo holandês – e não a sua totalidade –quem declara constantemente que está a ser esbanjado dinheiro na Europa e que, comotal, a Europa deveria receber menos fundos. Os relatórios Matera demonstram que, pelocontrário, as verbas deste orçamento estão a ser utilizadas com muita responsabilidade e– na minha opinião – para projectos muito importantes nos Países Baixos.Consequentemente, a aprovação destes relatórios demonstraria que as críticas proferidasnos Países Baixos a respeito deste orçamento não são justificadas.

(Aplausos)

Presidente. – Estou ciente da questão e tenho conhecimento do que surgiu na imprensaholandesa. Porém, gostaria de assegurar-vos que a votação da mobilização do FundoEuropeu de Ajustamento à Globalização para os Países Baixos decorrerá amanhã, comoprevisto. Nada mudou. A votação terá lugar amanhã.

Quarta-feira:

Recebi um pedido do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda NórdicaVerde sobre o debate da situação no Sara Ocidental, nomeadamente que a votação daspropostas de resolução a este respeito tivessem lugar nesta sessão, e não na sessão deDezembro, conforme previsto.

João Ferreira (GUE/NGL). - A situação no Saara Ocidental é suficientemente grave paraque este Parlamento adie uma tomada de posição sobre o assunto. Os factos sãoindesmentíveis e estão diante dos nossos olhos. Vimos as imagens de destruição dosacampamentos saarauis, sabemos que dessa destruição resultaram mortos, feridos, quemuitas pessoas continuam desaparecidas, sabemos que um deputado deste Parlamentofoi impedido de se deslocar aos acampamentos e foi expulso pelas autoridades marroquinas,sabemos que o mesmo tem acontecido com deputados de parlamentos nacionais, comjornalistas, com membros de organizações não governamentais, sabemos tudo isto e nãopodemos ignorá-lo.

Não tomar uma posição sobre isto, agora, constituiria uma incompreensível e inaceitávelatitude de complacência e mais, de cumplicidade, que em nada dignificaria esta Instituiçãoe os valores que diz defender. Apelo, por isso, a todas e a todos para que tomem a decisãosensata de apoiar a votação de uma resolução sobre este assunto nesta sessão plenária,votando favoravelmente esta proposta.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, considero os argumentosapresentados pelo Grupo GUE/NGL totalmente relevantes, importantes e necessários, peloque apoio esta posição.

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Martin Schulz, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, tenho de solicitar aatenção do senhor deputado Ferreira por um momento. Discutimos este temaaprofundadamente na Conferência dos Presidentes e durante os preparativos para aConferência . Em nome do meu grupo, gostaria de referir que estamos muito preocupadoscom a situação do Sara Ocidental. Se as imagens que vimos forem fidedignas, então estasituação terá de dar origem a um debate sério, mas igualmente, se necessário, aconsequências. No entanto, isso significa que temos de tomar as medidas adequadas. Essasmedidas incluem a discussão da situação esta semana. A nosso pedido, o Ministro dosNegócios Estrangeiros marroquino afirmou que está disposto a participar numa reuniãoda Comissão dos Assuntos Externos. Não tem de o fazer. O Ministro dos NegóciosEstrangeiros marroquino não tem de comparecer perante a Comissão dos Assuntos Externosdo Parlamento Europeu. A meu ver, deveríamos aproveitar o facto de estar disposto afazê-lo para, em primeiro lugar, o confrontar com as críticas feitas, e só depois adoptarmosuma resolução. Considero que se trata de um procedimento mais adequado, em vez deadoptarmos agora uma resolução e ouvirmos o que tem a dizer posteriormente. Adoptemosa resolução à luz das informações e das perguntas que teremos oportunidade de colocarao Ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino na Comissão dos Assuntos Externos.Pessoalmente, parece-me um procedimento mais adequado. Além disso, até esta tarde,existia um consenso a esse respeito entre todos os grupos.

Presidente. – O pedido foi apoiado pela maioria, pelo que, de acordo com a proposta dosenhor deputado Ferreira, a votação terá lugar esta semana.

(O Parlamento aprova o pedido)

Passo aos prazos: a votação terá lugar na quinta-feira. Os prazos são os seguintes: aspropostas de resolução terão de ser apresentadas até às 12H00 de amanhã, 23 de Novembro;as alterações e as propostas de resolução comum terão de ser apresentadas até às 12H00de quarta-feira, 24 de Novembro; as alterações a propostas de resolução comum – até às13H00 de quarta-feira, 24 de Novembro, ou seja, uma hora depois. Repito: a votação terálugar na quinta-feira.

Daniel Cohn-Bendit (Verts/ALE). – (FR) Senhor Presidente, tenho um pedido a fazeraos meus colegas deputados.

Existe uma situação de emergência no Tibete e preocupações quanto ao facto de a Chinapretender impor a língua chinesa no Tibete. Considero que se trata de uma questão quemerece um debate na sessão plenária com a presença da senhora Baronesa Ashton. Narealidade, é a política actualmente em vigor no Tibete que é problemática, muito para alémdesta situação de emergência.

Uma emergência? Muito bem. Se a maioria pretende abordar esta questão dessa perspectiva,não há problema. Por mim, e dado que a ordem do dia de Dezembro não está muitosobrecarregada, gostaria que travássemos um debate sobre este problema e sobre a políticada União Europeia quanto à China, com a presença da senhora Baronesa Ashton, e queaprovássemos uma resolução neste domínio. Penso que seria mais inteligente.

Presidente. – Muito obrigado, senhor deputado Cohn-Bendit. Esta proposta pode serefectuada igualmente na Conferência dos Presidentes. Enquanto presidente de um grupo,pode fazer essa proposta a qualquer momento, senhor deputado Cohn-Bendit. Obrigadopelo seu comentário.

Quinta-feira:

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Não foram propostas alterações.

(A ordem do dia é estabelecida)

13. Relatório anual 2009 do BCE - Desenvolvimentos mais recentes das taxas decâmbio internacionais (debate)

Presidente. – Segue-se, na ordem do dia, a discussão conjunta de:

– Relatório (A7-0314/2010) do deputado Balz, em nome da Comissão dos AssuntosEconómicos e Monetários, sobre o Relatório anual 2009 do BCE (2010/2078(INI)), e

– Declaração da Comissão: Desenvolvimentos mais recentes das taxas de câmbiointernacionais (2010/2914(RSP)).

Burkhard Balz, relator. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, acabamde nos pedir um pouco de silêncio. Talvez alguns colegas pudessem respeitar esse pedido.

Senhoras e Senhores Deputados, o meu relatório de hoje centra-se essencialmente nodesempenho do Banco Central Europeu em 2009 – ou seja, durante um período em queas medidas económicas, financeiras e, cada vez mais, políticas foram dominadassubstancialmente pela crise económica e financeira. A crise, que se iniciou como uma crisemeramente financeira, alastrou e afectou igualmente toda a economia real numa segundafase. A actividade económica decresceu a nível mundial, enquanto a diminuição das receitasfiscais e o aumento da despesa com a segurança social resultantes da crise levaram a maioresdéfices públicos. As medidas posteriores de estímulo à economia também contribuírampara o nível de endividamento. Como resultado desse aumento dos défices, os governosde toda a União Europeia aprovaram pacotes de austeridade amplos. Na minha opinião,esses pacotes eram necessários e, em alguns casos, já foram tardios. No entanto, limitarama capacidade de os governos tomarem medidas.

Apesar de a actividade económica ter começado a recuperar na segunda metade de 2009,a crise económica e financeira ameaçou então evoluir para uma crise de dívida públicanuma terceira fase em 2010. Na minha opinião, este perigo ainda não foi afastado.Recentemente, o caso da Irlanda recordou-nos claramente que o problema dosobreendividamento nos Estados-Membros está longe de ser resolvido e, por conseguinte,também concordo com o senhor Presidente Van Rompuy: o colapso do euro está fora dequestão. No entanto, esta é a situação actual. O meu relatório centra-se em 2009, umperíodo em que podemos dizer que o BCE reagiu devidamente – bem até, na realidade –aos problemas. As suas medidas demonstraram ter um sucesso amplo e evitaram o colapsode muitas instituições financeiras. Contudo, as instituições financeiras nem sempretransmitiram plenamente a liquidez à economia real, com o resultado de que o potencialde retoma destas medidas não pôde ser explorado na sua totalidade.

Como estas medidas envolveram iniciativas extraordinárias, agora é essencial que essasmedidas sejam abolidas meticulosamente e com um planeamento cuidadoso. Os problemasna Grécia e em outros países da área do euro podem ser, em parte, internos, mas revelaramoutros problemas fundamentais que existiam na União Económica e Monetária. Osprincípios do Pacto de Estabilidade e Crescimento foram violados. Actualmente estamosa viver as consequências, que incluem a situação da Irlanda. Essas violações têm agora deser eliminadas e têm de ser impedidas novas violações. O Pacto de Estabilidade e

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Crescimento tem de ser fortalecido e a União Económica e Monetária necessita de ummaior equilíbrio.

No passado, uma coordenação insuficiente de políticas económicas no seio da UniãoMonetária permitiu que surgissem desequilíbrios económicos consideráveis entre paísesda área do euro e deixaram essa zona sem um mecanismo pré-definido de gestão de crises.A área do euro terá de corrigir esses desequilíbrios se pretende impedir uma nova crise. Oprocesso de reforma estrutural – aliado à revisão do quadro de regulação da políticafinanceira – poderá, em última análise, fortalecer a área do euro. A questão da independênciado Banco Central Europeu será também um aspecto significativo da nova governaçãoeconómica, em particular no que diz respeito ao Comité Europeu do Risco Sistémico,estabelecido recentemente. Em resultado, o Parlamento continuará a levar muito a sérioo seu dever de avaliação do desempenho do BCE.

Estou plenamente convencido de que a União Europeia e a área do euro encontrarão umaforma de ultrapassar esta crise e de que dela poderão sair ainda mais fortalecidas. Noentanto, nos próximos meses teremos de retirar as devidas lições do que aconteceu. Trata-sede um grande desafio, mas até à data, na sua história, a União Europeia demonstrouconstantemente que se desenvolve melhor quando tem de superar desafios. Esta crisetambém representa, por conseguinte, uma oportunidade a explorar.

Em conclusão, gostaria de agradecer a todos os relatores sombra dos outros grupos pelasua colaboração extremamente agradável e construtiva neste relatório. Essa colaboraçãonão é um dado adquirido e merece um destaque particular neste caso.

Jean-Claude Trichet, Presidente do BCE. – (FR) Senhor Presidente, Senhor Deputado Balz,Senhoras e Senhores Deputados, tenho a honra de vos apresentar, nos termos do Tratado,o Relatório Anual de 2009 do Banco Central Europeu. Como o calendário foi, em certamedida, perturbado particularmente pelas eleições europeias, falei-vos em Março passadodo anterior relatório anual. Trata-se, com efeito, da segunda vez que me dirijo a esteParlamento este ano.

Em primeiro lugar, permitam-me exprimir o meu agrado pelo apoio manifestado uma vezmais na proposta de resolução do Parlamento Europeu em favor de audições regularesperante a Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários e, em termos mais gerais, emfavor da manutenção de relações próximas com o Banco Central Europeu. Valorizo aindamais este facto porque, este ano, o Parlamento Europeu demonstrou muitoconvincentemente a sua vontade e capacidade de assegurar o interesse primordial europeu,especialmente quanto ao pacote de supervisão financeira.

(DE) Gostaria de começar por apresentar-vos uma breve descrição geral das medidas depolítica monetária tomadas pelo Banco Central Europeu durante a crise económica efinanceira. Para além do período de crise, gostaria ainda de analisar os primeiros doze anosdo BCE. Por fim, gostaria de abordar os problemas mais prementes que nos esperam em2011.

(EN) Senhor Presidente, começaria por referir as medidas tomadas durante a crise.

2009 foi um ano muito problemático para a política monetária do BCE. Começou comuma grave recessão económica a nível mundial, na sequência do surgimento da crisefinanceira no Outono de 2008. Neste ambiente de pressões inflacionárias contidas,continuámos a nossa política de redução das nossas taxas directoras. No total, num períodode apenas sete meses – entre Outubro de 2008 e Maio de 2009 – baixámos a taxa de juro

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das operações principais de refinanciamento em 325 pontos base. Por conseguinte, a nossataxa de juro das operações principais de refinanciamento atingiu 1%.

Para que os agregados familiares e as empresas da área do euro beneficiassem destascondições de financiamento muito favoráveis, em 2009 continuámos – e ampliámos até– o nosso apoio reforçado ao crédito para os bancos da área do euro. Foi a nossa respostaaos mercados financeiros disfuncionais que tinham enfraquecido a capacidade de a políticamonetária influenciar a perspectiva de se obter uma estabilidade de preços meramenteatravés de decisões no domínio das taxas de juro. Entre estas medidas não-convencionais– como lhes costumávamos chamar –, a de maior destaque é a atribuição completa deprovisão de liquidez através das nossas operações de refinanciamento dos bancos da áreado euro com boas garantias e à taxa de juro das operações principais de refinanciamentoda altura para vários prazos muito superiores às operações semanais. Em 2009,prolongámos ainda os prazos da nossa operação de refinanciamento a mais longo prazoaté um ano. Foram, obviamente, decisões de extrema importância.

Como salientaram devidamente na vossa proposta de resolução sobre o Relatório anualdo BCE, este apoio reforçado ao crédito conseguiu evitar a possibilidade – se ocorressemmais pressões disfuncionais – de uma depressão ou de uma recessão muito mais profunda.Permitam-me destacar que todas as nossas medidas estavam em plena consonância como nosso mandato de consecução de estabilidade de preços a médio prazo para a totalidadeda área do euro. O facto de termos conseguido executar credivelmente o nosso mandatoreflecte-se no panorama mais favorável de inflação e nas expectativas de uma inflaçãoestável na área do euro.

No seguimento de algumas melhorias nas condições do mercado financeiro durante 2009,surgiram novas tensões de mercado em vários segmentos do mercado de obrigações daárea do euro. Como o bom funcionamento do mercado de obrigações é essencial para atransmissão das taxas de juro directoras do BCE, decidimos intervir nos mercados de títulosde dívida da área do euro com o objectivo de contribuir para uma transmissão mais normalda política monetária para a economia. Com este propósito, criámos o nosso Programados Mercados de Títulos de Dívida. Para que este programa não influencie a posição danossa política monetária, reabsorvemos toda a liquidez injectada.

Em suma, gostaria de salientar que todas as medidas não-convencionais que adoptámosdurante o período de graves pressões financeiras são de natureza temporária e foramconcebidas tendo em conta o seu abandono. Algumas das medidas não-convencionaisexecutadas em 2009 e em inícios de 2010 já foram eliminadas gradualmente face amelhorias nas condições de alguns mercados financeiros e perante a actual retoma naeconomia da área do euro.

Permitam-me partilhar, por um momento, algumas considerações sobre o historial doeuro. A meu ver, existem três elementos essenciais.

Em primeiro lugar, o BCE concretizou o esperado no âmbito do seu mandato do Tratado,nomeadamente, a estabilidade de preços. De facto, a inflação média na área do euro durantequase os últimos 12 anos manteve-se em 1,97%. Este aspecto reflecte plenamente a nossadefinição de estabilidade de preços, ou seja, o nosso objectivo de manter as taxas de inflaçãoanuais na área do euro abaixo dos 2% e perto dos 2% a médio prazo. Nesta vertente, osistema euro nos últimos 12 anos funcionou como uma âncora de estabilidade e deconfiança, assim como em períodos mais recentes, apesar do ambiente problemático criadopela crise financeira mundial.

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Em segundo lugar – reflectindo favoravelmente a credibilidade da política monetária doBCE – as expectativas de inflação permaneceram, como já referi, solidamente estáveis aníveis em consonância com a estabilidade de preços.

Em terceiro lugar, acreditamos que este sucesso se baseia na independência total do BCEface à influência política, no seu mandato principal de manter a estabilidade de preços ena sua comunicação transparente, em particular quanto à definição da estabilidade depreços. A estratégia monetária de dois pilares do BCE permite procedimentos direccionadospara o futuro e vocacionados para o médio prazo, apoiados por um quadro analítico sólido.Este quadro inclui uma análise exaustiva dos acontecimentos monetários e do crédito,tendo em conta a natureza monetária da inflação a médio e a longo prazo.

Consideramos que esta abordagem ampla proporciona um processo de tomada de decisõesfundamentado e consistente, mantendo-se estável sem se limitar à volatilidade a curtoprazo.

Quanto à dimensão externa do euro, direi apenas que a nossa moeda se estabeleceu a nívelinternacional. Em 2009, o euro representava cerca de 30% do stock de títulos de dívidainternacionais e do stock de reservas cambiais estrangeiras a nível mundial.

A propósito da dimensão externa do euro, direi uma palavra a respeito das actuais questõesda taxa de câmbio, que constituem domínios onde instaria a uma grande prudência.

Existem dois grandes temas. Um é a relação entre as grandes moedas convertíveis flutuantesdos países industrializados, como o dólar, o euro, o yen, a libra esterlina e o dólar canadiano.O valor destas divisas tem vindo a oscilar desde o colapso do sistema de Bretton Woodsno início da década de 1970. Tenho de destacar a forte convicção da comunidadeinternacional de que a volatilidade excessiva e os movimentos desregrados nas taxas decâmbio têm implicações negativas para a estabilidade económica e financeira.

Gostaria de afirmar que o BCE valoriza as recentes declarações das autoridadesnorte-americanas, nomeadamente do Secretário do Tesouro dos EUA e do Presidente daReserva Federal, reiterando que é do interesse dos Estados Unidos ter um dólar forte faceàs outras grandes moedas convertíveis. Partilho plenamente desta convicção. Um dólarcredível entre as grandes moedas das economias avançadas interessa aos Estados Unidos,à Europa e à comunidade internacional.

O segundo tema refere-se às moedas das economias de mercado emergentes que possuemum superavit de balança de transacções correntes e taxas de câmbio insuficientementeflexíveis. Quanto a esta questão, a comunidade internacional está de acordo – conformefoi reafirmado na Coreia do Sul na semana passada, assim como pela Comissão – queavançar para sistemas de taxas de câmbio mais determinados pelo mercado, reforçar aestabilidade das taxas de câmbio para reflectir elementos fundamentais subjacentes e evitara desvalorização competitiva de moedas é do interesse das economias emergentes em causae da comunidade internacional.

O BCE costumava afirmar que não era o momento para complacências. Este facto aplica-seagora mais do que nunca. Os desafios que nos aguardam são múltiplos. Todas as autoridadesrelevantes, assim como o sector privado, têm de assumir plenamente as suasresponsabilidades, incluindo os ramos executivos, os bancos centrais, as entidadesreguladoras e de supervisão, o sector privado e a indústria financeira. Em particular, a criseactual demonstrou claramente que a execução de reformas ambiciosas na governação

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económica é do interesse dos países da área do euro, bem como da área do euro no seutodo.

As propostas apresentadas pelo senhor Presidente Van Rompuy sobre a reforma dagovernação económica da UE, aprovadas pelo Conselho Europeu na reunião de Outubrode 2010, representam uma melhoria do actual quadro de supervisão ao nível da UE e sãoaparentemente, na generalidade, apropriadas para os países da UE que não pertencem àUnião Monetária. No entanto, no que respeita aos requisitos específicos da área do euro,na nossa opinião, não estão à altura do que consideramos necessário para garantir o melhorfuncionamento possível da economia de moeda única.

Estou convicto de que, nos próximos meses, o Parlamento Europeu auxiliará a Europa aconcretizar os avanços necessários na governação económica. Com o seu papel legislativode supervisão financeira e o CERS, o Parlamento demonstrou a sua determinação quandose trata de grandes questões.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para vos agradecer esse contributo e paramanifestar novamente a minha convicção de que a influência do Parlamento será decisivano debate da governação económica.

Outro desafio importante diz respeito à regulação financeira. Deveríamos tirar plenoproveito das lições da crise e manter o ímpeto de reforma financeira. Como defenderamna vossa proposta de resolução, a execução rápida do Acordo de Basileia III é extremamenteimportante. As propostas legislativas da Comissão sobre a venda a descoberto e osinstrumentos derivados do mercado de balcão são também indispensáveis para concedermaior transparência e resistência ao sistema financeiro.

Estamos perante um ano decisivo. 2011 será o ano da adopção do quadro de governaçãorevisto, de discussões aprofundadas do quadro de gestão de crises e, possivelmente, dolançamento do procedimento para uma alteração do Tratado. Temos de concretizar todasestas reformas, para garantir que a Europa na sua totalidade e a área do euro possam estarà altura de desafios futuros com uma maior capacidade e convicção.

2011 será ainda o primeiro ano de existência do Comité Europeu do Risco Sistémico. Talcomo insta a vossa proposta de resolução, estamos a fazer o nosso melhor para apoiar estenovo organismo. Entretanto, é claro, a total independência e o mandato principal do BCE,consagrados no Tratado de Maastricht, permanecem inalterados, como já tive oportunidadede salientar perante este Parlamento.

Continuaremos a cumprir o nosso mandato. É isso que nos exige o Tratado. Podem confiarque concretizaremos as expectativas dos nossos cidadãos.

Olli Rehn, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, começo por agradecer aorelator, senhor deputado Burkhard Balz, pelo relatório sólido e amplo sobre o Relatórioanual 2009 do BCE. A Comissão saúda o relatório, que reflecte devidamente as questõesprincipais. O relatório reconhece e louva o trabalho efectuado pelo BCE na gestão da crise.A Comissão partilha deste ponto de vista; o BCE, sob a liderança do Presidente Jean-ClaudeTrichet, geriu esta situação difícil com competência e determinação.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer a Jean-Claude Trichet pela excelentecolaboração e especialmente pelo seu papel determinante durante este período turbulento.O BCE foi, através do seu papel de supervisão e das suas medidas não-convencionais,

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decisivo na batalha para superar a crise, estabelecendo assim as bases para um crescimentosustentável e para a criação de empregos.

O vosso relatório salienta, apropriadamente, que a crise financeira denunciou a necessidadede uma supervisão económica reforçada na área do euro. A Comissão está de acordo comeste facto, que motivou a apresentação de várias propostas legislativas para reforçar agovernação económica na UE, especialmente na área do euro.

Adoptámos igualmente várias sugestões apresentadas no relatório Feio para fortalecer eampliar a governação económica na União. A Comissão dos Assuntos Económicos eMonetários recebeu as propostas da Comissão e trabalha actualmente no sentido de cumpriro prazo ambicioso de Junho do próximo ano, o que saúdo e agradeço.

Passo agora à segunda parte do debate, que se refere aos últimos acontecimentos na taxasde câmbio internacionais. É verdade que a volatilidade dos mercados cambiais aumentounas últimas semanas, com alterações significativas no valor das principais taxas de câmbiobilaterais.

O euro valorizou face ao dólar desde Junho deste ano devido a informações maisconsistentes sobre a economia da área do euro e à continuação da expansão da políticamonetária dos EUA. Contudo, mais recentemente, o euro enfraqueceu de forma ligeiraface à maioria das divisas, devido ao facto de preocupações crescentes quanto às finançaspúblicas dos Estados-Membros – acima de tudo a Irlanda – terem afectado o euro. Emtermos reais efectivos, o euro está actualmente perto da sua média de longo prazo, apósuma desvalorização geral este ano a partir de um nível sobrevalorizado em finais do anopassado. Em comparação com o início do ano, a desvalorização do euro em termos reaisefectivos resume-se a cerca de 7%.

No contexto de uma recuperação lenta nas economias avançadas e de grandes fluxos decapital para as economias emergentes, muitos países tentaram desvalorizar a sua moedaou, pelo menos, recorrer a uma não-valorização competitiva. Por conseguinte, é importanteque os líderes presentes na Cimeira do G20 em Seul na próxima semana se comprometammuito claramente e com empenho a abster-se de desvalorizações competitivas das suasmoedas.

A Cimeira do G20 concordou igualmente em continuar os esforços para reequilibrar ocrescimento mundial. Já se tinha chegado a acordo quanto à elaboração de linhas deorientação indicativas. É evidente que a flexibilidade das taxas de câmbio tem dedesempenhar um papel no reequilíbrio necessário para que as taxas de juro reflictam osfundamentos económicos, como salientou o senhor Presidente Trichet. A Comissãocontinuará a apoiar esta vertente importante do trabalho do G20, que será também umadas questões centrais da Presidência francesa do G20 no próximo ano.

Por fim, tenho de informá-los de um acontecimento importante na área do euro. Ontem,quando o Conselho ECOFIN recebeu o pedido de assistência financeira da UE por partedo Governo irlandês, os ministros concordaram com a Comissão e com o BCE que concederassistência à Irlanda salvaguardará a estabilidade financeira na Europa. O apoio financeiroda UE pode ser concedido através de um programa com uma condicionalidade políticarigorosa que está a ser actualmente negociado com as autoridades irlandesas pela Comissãoe pelo FMI, em contacto com o BCE. O programa resolverá os problemas orçamentais daeconomia irlandesa de forma decisiva e incluirá ainda um fundo para possíveis necessidadesfuturas de capital do sector bancário. De modo a resolver as pressões no sector bancário,

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será necessário um conjunto amplo de medidas, nomeadamente desalavancagem ereestruturações, para contribuir para a garantia de que o sistema bancário irlandêsdesempenhará o seu papel devidamente no funcionamento da economia em geral.

As discussões técnicas de um programa UE-FMI estão neste momento bem avançadas e asnegociações podem ser concluídas em finais de Novembro. Para além do financiamentoda UE e do FMI, posso informá-los de que o Reino Unido e a Suécia indicaram que estariamdispostos a contribuir para o programa através de empréstimos bilaterais, um facto quesaudamos.

Na generalidade, as decisões de ontem constituem uma medida decisiva para os esforçosconjuntos no sentido da estabilização da economia irlandesa e consequente salvaguardada estabilidade financeira na Europa.

Jean-Paul Gauzès, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhor Presidente, Senhor PresidenteTrichet, Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, sem dúvida que tambémgostaria de louvar o trabalho do BCE, e não repetirei o que disse o meu colega, senhordeputado Balz, ou o que consta da resolução. No pouco tempo de que disponho, gostariaapenas de afirmar que temos de ter em conta os nossos concidadãos.

Qual o motivo destas minhas afirmações hoje? Ontem à noite, em todos os canais detelevisão franceses, um futuro candidato presidencial deu nas vistas ao rasgar uma nota de10 euros que tinha fotocopiado e ampliado, demonstrando que, ao rasgar essa nota, estavaa rasgar a causa de todos os nossos males.

É claro que isso não é verdade. Necessitamos apenas de fazer um esforço, juntos, paracomunicar. O trabalho efectuado em termos de supervisão, organização e regulamentação,a que se referiu, Senhor Presidente, é excelente. Sabe que tem o apoio do Parlamento, talcomo afirmou. Contudo, temos uma tarefa real em mãos no que respeita aos nossosconcidadãos que não entendem as mensagens que estão a ser transmitidas.

Todos os dias, as parangonas da imprensa referem soluções cada vez mais pessimistas esituações improváveis, e posso informá-los de que na sexta-feira, quando me encontreicom o meu eleitorado, contactei com quase 100 a 150 pessoas. Todas me fizeram a mesmapergunta: o que vai acontecer ao euro? O receio sentido pelos nossos concidadãos estádesajustado com as medidas tomadas, e bem tomadas, pelo Banco Central Europeu.

George Sabin Cutaş, em nome do Grupo S&D. – (RO) Senhor Presidente, em primeirolugar, gostaria de agradecer ao relator, senhor deputado Balz, pela sua colaboração. Saúdoigualmente o facto de o Banco Central Europeu ter recebido o estatuto de instituição daUE no seguimento da entrada em vigor do Tratado de Lisboa.

Em segundo lugar, gostaria de salientar que existem disparidades macroeconómicasconsideráveis entre as economias da área do euro, que salientam a necessidade de umamaior harmonização das políticas económicas e monetárias. O Pacto de Estabilidade eCrescimento não constitui um instrumento adequado à resolução dos actuais desequilíbrioseconómicos. Uma solução para este impasse poderia ser a emissão de títulos de dívidapública ao nível da UE. Este mecanismo de solidariedade concederia um financiamentoestável aos Estados-Membros em dificuldades, tornaria a supervisão orçamental mais eficaze melhoraria significativamente a liquidez. A moeda única deveria ser adjuvada por umacontenção orçamental e por uma dívida conjunta a longo prazo.

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O comportamento irresponsável dos operadores financeiros ajudou a desencadear a criseeconómica e financeira. Além disso, os recentes ataques especulativos contra determinadosEstados-Membros dificultaram-lhes a obtenção de crédito nos mercados financeirosinternacionais, afectando consequentemente a estabilidade de quase toda a área do euro.Por conseguinte, considero que é necessário um mecanismo permanente para proteger aárea do euro contra ataques especulativos. É o dever da Comissão Europeia supervisionara actividade das agências de notação de risco actuais e conceber uma estrutura para umaagência de notação de risco ao nível da UE.

Devemos também ter presente que as medidas de austeridade adoptadas pelos governosnacionais podem reduzir significativamente as probabilidades de uma retoma da economiaeuropeia. É por esse motivo que é necessário um modelo de governação económica aonível da UE que combine a consolidação orçamental com a criação de novos empregos.

A Comissão tem igualmente de propor objectivos específicos para reduzir as diferençasde competitividade entre as economias da UE e, por fim, avançar com os investimentosna energia “verde”.

Sylvie Goulard, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário,em primeiro lugar também gostaria de felicitar o nosso relator, que considero ter delineadoa questão muito claramente.

No seu relatório, destaca as inovações proporcionadas pelo Tratado de Lisboa, e gostariamuito de lhe agradecer, Senhor Presidente Trichet, por ter recordado mais uma vez hojea quem parece não estar ciente desse facto – incluindo até quem o assinou e ratificou – queo Tratado de Lisboa inclui uma grande inovação: vamos ter a capacidade de debaterpublicamente, neste Parlamento, a reforma do Pacto de Estabilidade.

A Comissão, sob a liderança do senhor Comissário Rehn, elaborou um conjunto depropostas bem encaminhadas e bastante corajosas, especialmente ao instar a umfortalecimento da disciplina através da consideração dos desequilíbrios macroeconómicosmencionados pelo senhor deputado Balz no seu relatório. Além disso, Senhor PresidenteTrichet, por vezes o senhor refere-se a "avanços", ou seja, a medidas concretas de progressonesta governação.

Concordo plenamente com as afirmações do senhor deputado Gauzès; quando contactamoscom o nosso eleitorado, quase duvidamos da total relevância das propostas apresentadaspela Comissão em Setembro, e pensamos se não deveríamos ter em conta a crise actualpara permitir a maior progresso possível. Gostaria de salientar que quem concebeu o euronunca pensou que nos limitaríamos a coordenar políticas económicas a longo prazo. Oplano era uma união política, nomeadamente a capacidade de tomar decisões sobre asupervisão do Parlamento.

Pessoalmente, o que considero bastante impressionante, quando falo com os cidadãos, éo facto de termos, em última análise, condutores – os Estados-Membros – que estão,simultaneamente, ao volante e na berma a servirem de polícias. É essencialmente assimque funciona o sistema actual; ou seja, somos, ao mesmo tempo, o condutor, a pessoa quepassa multas e a pessoa que deve fiscalizar os outros automóveis. Não creio que exista umúnico país com um sistema de tráfego semelhante. Gostaríamos, por conseguinte, deaumentar um pouco o custo das multas e desenvolveremos esforços nesse sentido. Obrigadapor nos ter recordado que já o fizemos na prática quanto à reforma da supervisão financeira,no interesse geral da Europa.

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Sven Giegold, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, em primeiro lugargostaria de agradecer, em nome do meu grupo, ao senhor deputado Balz pelo espírito decolaboração que permeou as nossas deliberações. Pudemos contribuir com várias sugestõespara tornar este relatório ainda mais equilibrado. O período de 2009-2010 foi caracterizadopor medidas extraordinárias por parte do Banco Central Europeu, e face a estesacontecimentos económicos extraordinários, gostaria de agradecer uma vez mais ao senhorPresidente Trichet por tomar essas medidas, em particular porque nem sempre foram bemrecebidas na nossa própria instituição.

Verificámos durante este período que o Pacto de Estabilidade e Crescimento é inadequado.Em seu lugar, necessitamos de uma coordenação eficaz de políticas económicas quecontemple a dívida pública e a dívida privada, e que corrija os desequilíbrios económicosdos países com défices e dos países com superavits. Quanto aos preços, para além dospreços ao consumidor, temos de nos concentrar nos preços imobiliários, no seudesenvolvimento especulativo e na criação de bolhas.

Acima de tudo – como exortamos constantemente – necessitamos de uma vez por todasde um quadro para a concorrência fiscal na União Europeia. É inaceitável que existamprogramas de austeridade enormes no lado da despesa enquanto os países continuam amanter uma concorrência fiscal desregrada no lado das receitas.

Em particular, é inaceitável – e impossível de explicar aos nossos cidadãos – que numasituação como a actual estejamos a resgatar os bancos da Irlanda, mas simultaneamentenão garantamos a correcção da sua taxa de imposto escandalosamente baixa sobre associedades, actualmente de 12,5%, para a habitual taxa europeia de 25%. É uma questãoque temos de debater com seriedade.

Gostaria igualmente de solicitar ao senhor Presidente Trichet que comente dois aspectosdo relatório: a questão da transparência, referida no número 21, e a questão das garantias,referida no número 39. Ainda não comentou estas questões. Em nome de todos os relatorese relatores sombra, agradeceria se comentasse especificamente estes aspectos.

Kay Swinburne, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de felicitaro senhor deputado Balz pelo seu relatório. No entanto, num momento em que o euroenfrenta novas crises quotidianamente e em que é consensual que serão necessárias novasformas de governação e novas regras para a sua sobrevivência, é difícil ao BCE abordarquestões globais externas.

Porém, esse pode ser exactamente o problema. Até agora, a maioria dos grandesintervenientes a nível global conseguiu aliar-se na procura de soluções para os problemasda crise financeira mundial. A coordenação no âmbito da reforma reguladora dos serviçosfinanceiros, em particular em domínios como os instrumentos derivados, foi inaudita.Contudo, quando as moedas nacionais são defendidas em detrimento dos bancosmultinacionais, incorre-se em sérios riscos de a coordenação multilateral fracassar.

Se o BCE procurar proteger o seu euro acima de tudo, a Reserva Federal norte-americanao seu dólar, e a China o seu yuan, acabaremos todos por perder.

Desde a sua criação, o BCE cumpriu a difícil tarefa de equilibrar diferentes culturas e métodosde política monetária. Espero que, mesmo sob intensas pressões internas, possa utilizar asua experiência nestes domínios para fortalecer a cooperação para além da UE a um nívelmundial.

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PRESIDÊNCIA: Silvana KOCH-MEHRINVice-Presidente

Jürgen Klute, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhora Presidente, em primeiro lugargostaria de manifestar o meu sincero agradecimento ao senhor deputado Balz por umacooperação tão construtiva. Só posso destacar o facto de, apesar de termos originalmenteposições diferentes, o nosso trabalho conjunto ter sido uma experiência positiva.

Muitas pessoas pensaram – e gostaria de destacar novamente este facto – que a crise naárea do euro tinha acabado. A Irlanda demonstra que isso não aconteceu. Tal como antes,a Europa está a oferecer-se voluntariamente aos mercados financeiros. Os Estados-Membrosda UE ainda têm de oferecer as suas obrigações do Tesouro no bazar dos mercadosfinanceiros e de tentar ganhar a confiança dos especuladores ao adoptar pacotes deausteridade suicidas. No fim-de-semana, voltámos a verificar qual é o resultado. Desta feitanão foram os gregos, que supostamente nos tentavam enganar a todos, mas a Irlanda – omelhor aluno – que foi forçada a recorrer ao fundo de resgate europeu para salvar o seusistema bancário – um sistema que há muito era apresentado como um bom exemplo dedesregulamentação.

Entretanto, o sector financeiro já planeia a capitulação de Portugal à medida que as suastaxas de juro continuam a aumentar. O Banco Central Europeu tem de partilhar aresponsabilidade por esta situação dramática. Não utilizou, e continua a não utilizar,euro-obrigações como uma alternativa civilizada a esta abordagem de casino. Enquantometade da Europa recupera da crise, o BCE testemunha passivamente a queda progressivada outra parte na pobreza e na incerteza. Os cortes gerais desastrosos efectuados naseconomias nacionais podem agradar aos gigantes europeus do investimento e da banca,mas em nada contribuem para o auxílio da Irlanda ou da União Monetária e do BCE.

Por favor, senhor Presidente Trichet, não preste atenção ao ABC financeiro simplificadoda senhora Merkel. Se quer salvar a União Económica e Monetária, não deixe os fundos doTesouro europeus em suspenso. Emita euro-obrigações antes que os especuladoresreclamem a sua próxima vítima.

(O orador aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento “cartão azul”, nos termos don.º 8 do artigo 149.º)

Hans-Peter Martin (NI). – (DE) Senhora Presidente, gostaria de perguntar ao senhordeputado Klute como se pode conciliar a sua proposta de fundos do Tesouro a nível europeue de euro-obrigações com a atitude do Tribunal Constitucional Federal alemão peranteestas questões, e que resultado esperaria da apresentação dessa medida ao TribunalConstitucional Federal alemão em Karlsruhe.

Jürgen Klute (GUE/NGL). – (DE) Senhora Presidente, admito que é difícil avaliar essefacto. Não posso dar uma resposta directa neste momento. Sem dúvida que se trata de umasituação difícil, mas penso que a situação já evoluiu tanto que é possível uma alteração deposição. Lamento, mas não posso dar uma resposta directa a essa pergunta.

John Bufton, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhora Presidente, li o relatório da Comissãodos Assuntos Económicos e Monetários sobre o Relatório anual do Banco Central Europeucom grande interesse. O relatório reconhece que as enormes discrepâncias entreEstados-Membros da área do euro contribuíram para os problemas que estamos a viver.O relatório refere o facto de “estas disparidades colocarem consideráveis dificuldades a

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uma política monetária adequada na área do euro” e reitera que “a crise financeira em algunspaíses da área do euro constitui um sério problema para a área do euro no seu conjunto”,reflectindo esta “disfunção da área do euro”.

Tenho dificuldades em ver o sentido de se instar a uma maior coordenação de políticaseconómicas no seio da área do euro. A reacção automática foi aumentar a governaçãoeconómica, mas foram as limitações da uniformização aplicada que conduziram certosEstados-Membros a uma crise financeira, a par de motivos externos ainda fora do nossocontrolo. Talvez o sistema não permita a elasticidade económica e a autodeterminaçãonecessárias à resolução eficaz de problemas idiossincráticos, como as taxas de inflação,por parte dos governos.

O relatório destaca esta questão, salientando que a crise, assim como os resgates e os pacotesde incentivos subsequentes “conduziram à adopção de medidas de austeridade de longoalcance que (...) limitam consideravelmente a capacidade dos governos para agirem”.

Um argumento é o de que não se pode ter uma moeda única sem uma maior homogenizaçãopara anular as diferenças entre Estados-Membros e entre níveis de riqueza. Contudo,qualquer pessoa realista sabe que isso não sucederá. É contrário à natureza humana, quelogicamente deveria destacar-se em qualquer democracia, por menos propícia que fosse.

Estará a área do euro pronta para receber a Estónia em Janeiro? Tenho dúvidas quanto àdeclaração de que “a adopção do euro pela Estónia mostra o estatuto desta moeda”,sugerindo que esse estatuto “encorajará outros Estados-Membros a procurar a adesão àárea do euro”.

O apego ideológico ao euro levará a problemas monetários em tempos de retoma e derecessão. Uma moeda única só funciona num ambiente federal coeso. Se era esta a verdadeiraintenção da Comissão, então talvez tenha posto a carroça à frente dos bois.

Apesar de o Reino Unido não pertencer à área do euro, sofremos os efeitos de contribuirpara resgates e através da intrincada economia no seio da União, não vale a pena esperarpelo momento do “eu bem vos avisei”. Esse momento já passou.

Hans-Peter Martin (NI). – (DE) Senhora Presidente, seria bom se este relatório do senhordeputado Balz pudesse ser apresentado sujeito a uma reserva, no domínio das memórias.Penso que poderíamos aprender muito mais se apresentasse o capítulo sobre os anos2008-2009 do seu ponto de vista, Senhor Presidente Trichet. Na ausência desseconhecimento, estamos aqui a trabalhar um pouco às cegas, e não há qualquer razão paraacreditar que existam muitas circunstâncias externas de que não estejamos cientes nestemomento. Não obstante, o senhor afirmou que as medidas de financiamento a longo prazoforam prolongadas uma vez mais. Talvez seja um aspecto positivo. A História demonstraráse foi mesmo uma boa ideia. Nem sempre temos de apontar o dedo imediatamente a AlanGreenspan.

Tenho apenas uma preocupação, de que os nossos cidadãos simplesmente não estejam aser informados da utilização que está a ser dada a este apoio à liquidez, e com a falta detransparência quanto à forma como os irlandeses estão a ser – na opinião de muitas pessoas– empurrados para esta situação. Sabemos que a Irlanda já recebeu 130 mil milhões deeuros, dos quais 35 mil milhões foram atribuídos à filial de uma empresa alemã – aHyporealestate. Por que razão está a ser exercida tanta pressão neste momento? Por quemotivo não estamos em condições de afirmar quais são os verdadeiros credores dos bancosirlandeses? É o meu seguro de vida da Allianz? São, de facto, os bancos alemães, como tem

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sido defendido? Se é esse o caso, não estaremos a manter aqui a discussão errada? Sendoassim, deveríamos ter a honestidade de dizer aos nossos cidadãos que são esses bancos queestamos de facto a resgatar, que pode ser o seu próprio dinheiro que foi mal investido naIrlanda, num mundo bancário edificado em falsos alicerces. Este facto, é claro, suscita aindaa questão de se os bancos irlandeses serão mesmo todos essenciais para o sistema. Porquenão temos a coragem de aceitar que um ou outro poderão sucumbir? Uma solução do tipoLehman Brothers não pode ser sempre a resposta adequada. É necessário que os riscossejam distribuídos equitativamente, pois uma grande percentagem dos ganhos anterioresfoi sem dúvida para o sector privado.

Ildikó Gáll-Pelcz (PPE). – (HU) Senhora Presidente, em primeiro lugar gostaria de felicitaro relator pelo esplêndido trabalho efectuado. Como é principalmente através do ParlamentoEuropeu que o Banco Central Europeu presta contas aos cidadãos europeus, muito meagrada a participação do senhor Presidente Trichet nesta sessão plenária, assim como ofacto de participar regularmente em discussões de política monetária com a Comissão dosAssuntos Económicos e Monetários.

A economia financeira é, na sua natureza, global. Também a crise é global. É exactamentepor este motivo que as soluções para a crise têm igualmente de ser globais. Não podemosignorar o facto de os problemas económicos e financeiros dos Estados-Membros aindaafectarem o euro em todas as suas vertentes. Concordo mais uma vez com o relator.Infelizmente, a UEM não cumpriu ou não responsabilizou os Estados-Membros pelocumprimento de todos os princípios do Pacto de Estabilidade e Crescimento. É por essarazão que falamos de crescimento da dívida pública, e é por isso que testemunhamos agorauma nova fase da crise, que é uma crise de endividamento público.

Acredito que as questões quanto à independência do BCE e à sua responsabilidade natomada de decisões serão resolvidas de forma tranquilizadora e que assim, a par doprograma de reforma destinado a criar uma união económica de sucesso, se contribuirápara o fortalecimento da União Europeia e da área do euro. Tenho a certeza de que somoscapazes de aprender com a crise e com os nossos erros, e de que a crise nos traráoportunidades.

Robert Goebbels (S&D). – (FR) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,o euro encontra-se numa situação problemática, mas que moeda convertível não está nessasituação, após a crise sistémica gerada pela finança desregrada?

A dívida pública é um problema grave. Porém, o aumento dos défices públicos resulta doresgate público de bancos privados. Além disso, a economia necessita de ser revitalizada.A crise financeira alastrou rapidamente à economia real, conduzindo a uma recessãoacentuada e a desemprego.

Aparentemente, o mundo da finança desregrada não aprendeu com a crise. Os sobreviventesde Wall Street e da City de Londres estão a especular nos mercados cambiais e a venderswaps de risco de incumprimento (CDS) a descoberto que nem sequer possuem. As taxasde juro dos empréstimos aos Estados que se suspeita poderem entrar em incumprimentosão aumentadas através da imposição indirecta de políticas de austeridade, o que dificultaainda mais a sua recuperação.

A solidariedade europeia está a ser demonstrada com dificuldade e em pouca medida. Oresgate da Grécia significa, acima de tudo, o resgate dos bancos franceses e alemães quedetêm carteiras de títulos significativas de dívida grega. O apoio concedido à Irlanda é,

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sobretudo, um resgate dos bancos britânicos e alemães que sofreriam fortemente se osbancos irlandeses sucumbissem.

O facto de o valor do euro permanecer volátil não é um sinal de que a moeda única estejafraca. É um reflexo da tensão nos mercados, especialmente face a uma guerra de divisasentre os norte-americanos e os chineses.

Desde o início do ano, a China já não contrai empréstimos em dólares, mas vende-os. Asituação orçamental nos Estados Unidos está pior do que na Europa. Para além de déficespúblicos federais, existem défices privados enormes. Dos 50 Estados da União americana,48 têm défice orçamental.

O senhor Presidente Van Rompuy falou da luta pela sobrevivência do euro. Está enganado.O euro, esse símbolo de estabilidade de que o senhor Presidente Trichet acabou de falar,sobreviverá ao senhor Presidente Van Rompuy, porque a União e a sua estrutura de apoio,o Eurogrupo, são a unidade económica mais importante do mundo. Apesar de problemasreais, a que a Europa está a responder com hesitações permanentes, deverá destacar-se que,ao nível mundial, os 27 são os maiores exportadores de produtos, os maiores importadoresde produtos, e os maiores exportadores de serviços.

Temos o mercado interno mais solvente do mundo. Além disso, as empresas europeiasexportam o dobro para o mercado interno do que exportam para os mercados mundiais.A União é o principal destino dos investimentos directos de países terceiros. As empresasda União detêm as maiores percentagens de investimento a nível mundial.

Com 500 milhões de cidadãos, ou 7% da população mundial, a União gera 30% do produtobruto mundial. Os Estados Unidos geram 25%, o Japão 8% e a China 8% do produtomundial.

A nossa União Europeia, que fornece igualmente 55% do apoio ao desenvolvimentomundial, poderia ter mais influência se os nossos líderes tivessem um pouco mais decoragem política e se utilizassem o poder da Europa.

Terminarei referindo apenas que tem de ser imposto um quadro rígido e transparente àfinança internacional. Temos de desenvolver esforços conjuntos para superar os nossosproblemas.

Sophia in 't Veld (ALDE). – (EN) Senhora Presidente, como destacou o nosso colega,senhor deputado Gauzès, algumas pessoas odeiam o euro; vêem-no como a origem detodos os males e vibram com a possibilidade de um colapso da área do euro. Mas essaspessoas estão enganadas e vivem no passado. Os problemas actuais não são causados peloeuro; pelo contrário, o euro protege-nos de outros ainda piores. Precisamos da moedaúnica, mas necessitamos igualmente de uma governação adequada da área do euro; umacooperação genérica com base na unanimidade já não constitui uma opção.

Caros Colegas, estamos num navio com um grande rombo; neste momento ou nadamosou nos afogamos. Mas os governos nacionais ainda parecem considerar que basta criaremtask forces e grupos de trabalho, e falarem da possibilidade de procurar uma cooperaçãomais estreita. As boas notícias são que aparentemente estão a tomar medidas mais decisivase rápidas no caso da Irlanda, pois uma acção célere é necessária e muito bem-vinda. Nãose trata apenas da salvação de países individuais: trata-se da credibilidade da área do euro.É o mundo a testar-nos.

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Estamos dispostos e temos a capacidade de tomar medidas? A confiança do mundo na áreado euro é essencial para a estabilidade da nossa moeda; o dinheiro que temos no bolsodepende da confiança que os outros têm em nós. Assim, insto os políticos nacionais aporem de parte as medidas populistas, ou a deixarem de rasgar notas de euro em público,e a assumirem, em vez disso, que a nossa moeda comum é da sua responsabilidade e lhespertence.

Por fim, farei um comentário a propósito das medidas de austeridade. Foram muitocriticadas, e algumas pessoas afirmaram até que prejudicariam a economia. É evidente quetemos de avançar com cautela, mas estas medidas são necessárias para o saneamento dasfinanças públicas a longo prazo e constituem igualmente um sinal de solidariedade entreos países da área do euro. Penso que não deveríamos falar apenas do lado da despesa, mastambém do lado das receitas, pois também aí são há muito necessárias reformas – domercado laboral, das pensões ou da segurança social.

Peter van Dalen (ECR). – (NL) Senhora Presidente, o Banco Central Europeu nunca viveuum ano tão agitado como 2009 desde que o euro foi lançado. A resolução da crise implicouum grande esforço, que ainda se mantém. Considero que deveríamos ter uma abordagemmelhor e mais forte para a resolução da crise. A criação de um fundo de emergência europeunão é uma solução estrutural. Ainda temos enormes dívidas que países como a Grécia oua Irlanda nunca serão capazes de pagar. O que de facto resulta, no entanto, é uma disciplinaorçamental rígida e as respectivas sanções automáticas. Felizmente, o relatório do senhordeputado Balz é muito claro quanto a esse ponto. O Conselho deveria assumir a mesmaabordagem na adaptação do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Serão necessários cortesorçamentais para ultrapassarmos a crise. A maioria deste Parlamento deveria igualmenteaplicar esse princípio ao orçamento europeu. A aceitação de um aumento orçamental de2,9% já constitui uma cedência bastante ampla. Nenhum cidadão compreenderá que oParlamento solicite ainda mais e maiores cedências. Portanto, não o façam!

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Senhora Presidente, Senhor Presidente Trichet, segundo aacta das negociações entre os ministros das Finanças da área do euro do início de Setembrodeste ano, publicada pela agência noticiosa Reuters, o senhor terá afirmado que, se soubesseque a Eslováquia não concordaria com a prestação de assistência financeira voluntária aoGoverno grego, nunca teria concordado com a entrada da Eslováquia na área do euro. Oprojecto em questão tinha o objectivo de proteger grandes instituições financeiras de perdasconsideráveis decorrentes da incapacidade de a Grécia pagar as suas dívidas e, tanto quantome recordo, designou-o explicitamente como uma manifestação de solidariedade voluntária.

Talvez, Senhor Presidente Trichet, no seu trabalho quotidiano que envolve milhares demilhões de euros não se tenha apercebido de que o valor monetário que recebe por mêspelas suas funções chegaria para cobrir os gastos mensais de quase 100 famílias no meupaís.

Senhor Presidente Trichet, se realmente considera que estas famílias que vivem com 600a 700 euros por mês, ou os pensionistas que vivem com 300 euros por mês, deveriamreduzir o seu consumo diário de alimentos apenas para que os seus colegas dos bancos edos fundos financeiros possam manter os seus lucros, pagar prémios elevados e consumirainda maiores quantidades de caviar, então faça o favor de não lhe chamar solidariedade.

Sei que a situação na Europa é muito complexa, mas a Eslováquia não é, decididamente,um país que o senhor esteja em posição de criticar.

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Elisa Ferreira (S&D). - A intervenção na Irlanda prova sobretudo que a União Europeiadeveria ter avançado com uma solução comum para os bancos europeus, sobretudo paraos grandes bancos, antes quase de ter tratado de qualquer outro assunto. Na prática, hojediscutimos abertamente a falência dos Estados e ainda não temos uma proposta clara desolução para os bancos europeus.

A intervenção na Grécia, e sobretudo a sua evolução, provam que a Europa necessita desoluções europeias e que a solução que está encontrada é sobretudo uma solução de ajudabilateral, que sujeita cada país ao julgamento dos seus parceiros com critérios que não sãoclaros, nem estáveis. Neste contexto, o Banco Central Europeu tem tido uma posição deâncora, preenchendo alguns dos vazios, nomeadamente em relação à vulnerabilidade dadívida soberana, mas não nos enganemos, não podemos continuar assim no médio prazo.

Por isso, as minhas três questões são as seguintes, Senhor Governador do Banco Central:em primeiro lugar, qual é a posição do Banco Central relativamente a um figurino estávelpara a construção de um sistema verdadeiro de solidariedade e entre os Estados-Membrosno que diz respeito à dívida soberana? Nós precisamos disso e é bom que não recusemosolhar para a realidade. Em segundo lugar, quais foram as divergências, se é que é possívelsabermos, que levaram o Banco Central Europeu a não subscrever a totalidade dasrecomendações do relatório da Task Force liderada por Van Rompuy? E, em terceiro lugar,o Banco Central Europeu considera que a União Europeia pode sobreviver com as crescentesdivergências de crescimento de que sofrem os Estados-Membros e sem nenhum instrumentocomum que reponha alguma convergência nessas estratégias de crescimento?

Seán Kelly (PPE). – (GA) Senhora Presidente, enquanto deputado pela Irlanda, não possoafirmar que esteja muito orgulhoso do que acontece actualmente no meu país. Contudo,estou certo de que a maioria dos nossos cidadãos deseja tomar as medidas necessárias paracorrigir esta situação.

(EN) Para corrigir a situação da Irlanda são necessárias duas medidas. Em primeiro lugar,infelizmente, temos de recorrer ao apoio do BCE e do FMI a curto prazo. Em segundo lugar,o que é mais importante, a arquitectura supervisora das autoridades na Europa necessitade funcionar com eficácia para que a relação íntima entre bancos duvidosos, reguladoresdesatentos e governos fracos não volte a acontecer no futuro. Por fim, gostaria de pedir àspessoas que não insistam em referir o imposto às sociedades, porque se trata de uma questãode subsidiariedade, porque outros países da UE detêm taxas semelhantes e porque ocontrário iria exacerbar uma situação muito difícil que se vive na Irlanda neste momento.

(GA) Sei que os cidadãos da Irlanda estão desejosos que a situação progrida e melhore aseu tempo.

Proinsias De Rossa (S&D). – (EN) Senhora Presidente, o senhor Comissário Rehn e osenhor Presidente Trichet forneceram-nos aqui hoje mais informação do que o Governoirlandês, que nos enganou e mentiu durante meses. Este governo esteve mais preocupadoem defender o seu legado histórico do que em defender o futuro da subsistência dos seuscidadãos, assim como da Irlanda e da moeda da Europa.

O meu apelo desta noite ao senhor Comissário Rehn e ao senhor Presidente Trichet é paraque o calendário para o apoio e as metas para os défices e a dívida tenham em conta osobjectivos sociais da Europa, assim como a necessidade de garantir que a capacidade decrescimento económico e de criação de empregos por parte da Irlanda não seja prejudicada.

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Pode confirmar igualmente que está plenamente ciente de que aumentar o imposto de12,5% sobre as sociedades na Irlanda não constitui uma solução para a crise da Irlanda,nem para a actual crise europeia, mas que poderá, na realidade, criar uma devastação aonível económico e do emprego na Irlanda?

Olle Schmidt (ALDE). – (SV) Senhora Presidente, gostaria de agradecer ao senhorPresidente Trichet e ao senhor Comissário Rehn pelo seu excelente trabalho nesta épocaconturbada. Tenho uma pergunta muito específica para ambos. No meu país, que nãopertence à área do euro, está actualmente em curso uma discussão nos seguintes moldes:“Está demonstrado exactamente o que afirmámos quando votámos contra o euro em 2001.Está demonstrado que tínhamos razão – o euro não pode funcionar”.

Trata-se, evidentemente, de uma afirmação errónea. Por conseguinte, colocarei umapergunta a ambos. Considero que se trata de uma questão essencial e de umaresponsabilidade essencial que ambos expliquem o motivo de a Europa e a área do euroterem chegado a esta situação difícil. É devido a problemas da área do euro e da moedaúnica? Ou é por termos vários políticos de países específicos, nomeadamente de paísescomo a Irlanda, Portugal, Espanha e Grécia, que na realidade não cumpriram as suasfunções? É necessário que nos dêem esta explicação. Caso contrário, nunca o conseguireiexplicar no meu país.

Joe Higgins (GUE/NGL). – (EN) Senhora Presidente, gostaria de fazer uma pergunta aosenhor Presidente Trichet. Enquanto Presidente do Banco Central Europeu, por que motivocapitulou totalmente, a par da Comissão Europeia, perante os especuladores e predadoresvários dos mercados financeiros internacionais? Permitiu que criassem uma situação depânico nos mercados por causa da crise irlandesa – um pânico destinado a levá-los a intervirpara garantir aos detentores de obrigações os milhares de milhões que tinham apostadoem maus créditos. Como o ameaçaram de que atacariam Portugal e Espanha de seguida,o senhor e o Comissário Rehn capitularam totalmente perante uma ditadura de mercadonão eleita, anónima e não responsabilizável.

Posso pedir-lhe que justifique isto? Os especuladores privados e os titulares de obrigaçõesarriscam dezenas de milhares de milhões em negócios privados com promotoresimobiliários privados e banqueiros privados na Irlanda para obterem lucros privados, equando o negócio corre mal, auxiliam o patético Governo da Irlanda a imputar os custosdestes negócios arriscados aos trabalhadores, aos pensionistas e aos pobres. Agora enviaramo FMI na qualidade de força de intervenção do capitalismo neoliberal para obrigar oscidadãos irlandeses a pagar.

Do ponto de vista moral, e em todas as outras vertentes, não deveriam pagar e têm deresistir a este ataque desastroso aos seus serviços, nível de vida e democracia.

Gerard Batten (EFD). – (EN) Senhora Presidente, o meu círculo eleitoral de Londres nãopode simplesmente pagar as 288 libras calculadas por agregado familiar como parte doseu contributo para os sete mil milhões que constituem o resgate da Irlanda. Os irlandesessão os autores da sua própria desgraça: o seu governo geriu mal a economia e estimulouum boom de construção imobiliária desfasado da realidade. Mas o pior de tudo foi teremaderido à moeda única europeia.

A primeira medida para resolverem os seus problemas é abandonarem o euro; em vezdisso, a Irlanda decidiu sujeitar-se à governação financeira da União Europeia. Quantomais tempo levar a abandonar o euro, piores serão as consequências da sua saída. O mesmo

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se aplica, evidentemente, a Portugal, à Itália, a Espanha e à Grécia, assim como a outrospaíses, sem dúvida. A única medida sensata que o anterior governo trabalhista – de queninguém lamenta a partida – tomou foi manter o Reino Unido fora do euro. Uma medidasensata que o governo de coligação pode tomar é parar de desperdiçar dinheiro que nuncaterá retorno.

Mairead McGuinness (PPE). – (EN) Senhora Presidente, o senhor deputado Batten temrazão. O Governo irlandês geriu muito mal o nosso país e entristece-nos muito, enquantocidadãos irlandeses, sermos mencionados neste Parlamento nestas circunstâncias específicas.Mas estamos numa situação em que necessitamos de solidariedade. Talvez o senhordeputado Batten não compreenda essa palavra, ou o facto de a Irlanda precisar tanto deInglaterra como Inglaterra precisa da Irlanda e da sua economia.

Estamos todos muito interligados: não esqueçamos esse facto.

Posso fazer algumas perguntas? Porque nestes momentos emocionais, são necessáriascabeças frias e informações claras.

Onde estão hoje os testes de esforço dos bancos, quando os bancos irlandeses parecemestar totalmente esforçados para além dos limites?

Em segundo lugar, há uma questão a que o BCE tem de responder sobre o seu mandato.Creio que foi sugerido nos comentários iniciais, porque existem relações intrincadas entretodos os bancos. Os bancos alemães e franceses e de outros países que investiram nosbancos irlandeses têm de ponderar o que fizeram e os seus motivos.

Por fim, existe neste momento instabilidade política na Irlanda. É lamentável, mas sãonecessárias eleições gerais.

Liisa Jaakonsaari (S&D). – (FI) Senhora Presidente, Robert Schuman, fundador da UE,afirmou que a União Europeia se desenvolveria através de uma sucessão de crises, e essedesenvolvimento pode muito bem ser agora rápido, porque não nos faltam crises. Estefacto constitui um enorme desafio para o sistema político da União Europeia e dosEstados-Membros.

Há que referir que os problemas da Irlanda são em parte devidos ao facto de esse país terum governo fraco. O sistema político deve agora ter cuidado para que a emenda não sejapior que o soneto. Por exemplo, o representante do Grupo dos Verdes/Aliança LivreEuropeia referiu aqui que o imposto sobre o rendimento de sociedades na Irlanda deveriaser aumentado para o nível europeu, mas isso pode constituir o golpe de misericórdia paraa Irlanda, para o seu crescimento e emprego. A ideia é recuperar o dinheiro, sob a formade crescimento e emprego para a Irlanda, e não castigar o país. Necessitamos de ajudar aIrlanda, não de a castigar.

Wolf Klinz (ALDE). – (DE) Senhora Presidente, Senhor Presidente Trichet, todos sabemosque a função principal do Banco Central Europeu é garantir a estabilidade monetária, eque a melhor forma de atingir este objectivo é através da independência política. Sempreo apoiámos neste domínio.

As crises dos últimos dois anos demonstraram que tem ainda outra função – garantir aestabilidade dos mercados financeiros e do sistema financeiro. Também quanto a essafunção, o seu desempenho foi muito profissional e convincente. No entanto, nesse processo,teve de aceitar ser vinculado aos governos em questão. Ou seja, não conseguiu tomarmedidas com total independência política neste âmbito; teve de colaborar com os governos.

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Gostaria de saber exactamente como pretende gerir este papel no futuro, em primeirolugar, para manter a sua independência e, em segundo, para continuar a desempenhar estafunção devidamente sem que os governos explorem esta oportunidade para subverter asua independência.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL). - Agravam-se os desequilíbrios e as divergências entre aseconomias da zona euro, apesar de todas as promessas e de todas as propostas, e a questãoque se coloca é esta: não acham que era tempo de rever as políticas, não vêem que estar ainsistir, com países de economias tão débeis, no cumprimento rigoroso de critériosirracionais do Pacto de Estabilidade está a conduzir a maiores assimetrias, desigualdades,desemprego e pobreza?

Não pensam que é tempo de dar alguma atenção à sustentabilidade social? Por exemplo,o que se passa em Portugal, onde esta semana os trabalhadores vão realizar uma greve geralde protesto contra políticas ditas de austeridade, que são cortes de salários, que são cortesde investimento e que vão provocar uma recessão ainda mais grave. Não pensam que étempo de mudar de políticas e de dar toda a prioridade à sustentabilidade social, de criarmecanismos de solidariedade, designadamente...

(A Presidente retira a palavra à oradora)

Olli Rehn, Membro da Comissão. – (FI) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,em primeiro lugar, gostaria de vos agradecer por um debate muito responsável.

A senhora deputada Jaakonsaari afirmou que a União Europeia sempre se desenvolveuatravés de uma sucessão de crises. Em grande medida é verdade, e aplica-se à situaçãoactual, a curto prazo, em que temos de servir de bombeiros e apagar os fogos que agoralavram e ameaçam a estabilidade financeira da Europa. Neste momento, estamos adesenvolver esforços principalmente na Irlanda para salvaguardar a estabilidade daeconomia europeia. Simultaneamente, estamos a tentar edificar uma arquitectura europeiaa longo prazo que fortaleça de facto a união económica e reforce a união monetária, quejá é sólida, através de uma união económica robusta e genuína, o que, por outras palavras,significa a execução do objectivo original da União Económica e Monetária.

Ambas as tarefas são importantes, e não podemos descurar nenhuma. Temos de serpermanentemente como bombeiros, apagando incêndios florestais, e ao mesmo tempotemos de edificar uma nova arquitectura europeia para uma melhor regulação dos mercadosfinanceiros e para aperfeiçoarmos o funcionamento da união económica.

A Irlanda enfrenta dificuldades. A senhora deputada Jaakonsaari estará ciente de que temosum provérbio da Finlândia que, em traços gerais, significa “Ajuda o homem quando eleestá em apuros, e não quando não está”: o mesmo se aplica às mulheres, evidentemente.Neste momento é muito importante mantermos a cabeça fria e tentarmos apoiar a Irlandaenquanto enfrenta dificuldades. Esse apoio não visa apenas a Irlanda, mas igualmente aestabilidade económica europeia, para impedirmos que as primeiras manifestações deretoma sejam prejudicadas por esta situação. É muito importante permitirmos o crescimentosustentável da economia europeia e sermos mais capazes de garantir o emprego. É esta aquestão essencial: crescimento sustentável da economia europeia, e emprego.

(EN) Gostaria de agradecer-vos pelo conteúdo do debate, e concordo de facto com o senhordeputado Gauzès em que temos de explicar melhor os motivos das nossas medidas e detranquilizar os nossos cidadãos. Vivemos uma época difícil e confusa. Os cidadãos sãopropensos à inquietude e estão frequentemente mal informados, pelo que todos temos de

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contribuir para a comunicação adequada dos problemas. Neste aspecto, o ParlamentoEuropeu e todos os seus deputados, enquanto representantes dos cidadãos, têm um papelessencial a desempenhar.

Não se trata de encontrar alguém para culpar: trata-se de reforçar a estrutura europeia queprotegeu os cidadãos europeus de consequências muito piores. Quaisquer argumentos dedesconstrução do projecto europeu são irresponsáveis. Todos os Estados-Membros estariamnuma situação muito pior sem a União Europeia e sem o seu escudo protector. O euro ée continua a ser a pedra basilar da União Europeia; não é apenas um instrumento monetáriotécnico, constitui de facto o projecto político nuclear da União Europeia. Por conseguinte,é sem dúvida essencial que façamos o nosso melhor, o nosso máximo, para proteger ereforçar esta estrutura europeia.

Gostaria de concluir referindo que a senhora deputada Goulard mencionou um aspectoimportante quando citou o objectivo original dos criadores da União Económica eMonetária: obter uma dimensão política muito forte, ou seja, uma união política. O senhorPresidente Trichet está em melhor posição para o testemunhar do que eu porque lá estevepresente, mas estou de acordo, e é por isso que, no nosso pacote legislativo que é agora davossa responsabilidade e do Conselho, pretendemos apoiar a forte união monetária atravésda criação de uma união económica genuína e forte. A meu ver, chegou finalmente omomento de dar vida ao “E” da UEM, e é essa a verdadeira essência do pacote legislativosobre o reforço da governação económica.

Membro da Comissão. – (em resposta ao deputado De Rossa, que tinha intervindo sem microfone.)(EN) Senhora Presidente, como estarão bem cientes, estou disposto a reunir-me com osdeputados irlandeses ao Parlamento Europeu para discutir questões relativas à Irlanda, mas– por mais importante e difícil que seja a situação da Irlanda neste momento – este debateé sobre o BCE e o relatório do Parlamento sobre o BCE.

Foram colocadas tantas perguntas sobre a Irlanda durante esta discussão que não é possívelresponder a todas. Como já referi, estou disposto a reunir-me com os deputados irlandesesao Parlamento Europeu e espero poder reunir-me com todos vós amanhã para discutirmosesta questão mais pormenorizadamente.

Jean-Claude Trichet, Presidente do BCE. – (FR) Em primeiro lugar, permitam-me afirmarque as perguntas aqui colocadas são extremamente pertinentes e abrangem com grandepormenor todas as questões que são actualmente relevantes.

(EN) Responderei simultaneamente aos senhores deputados ao Parlamento, pois muitasdas vossas questões são coincidentes.

Em primeiro lugar, gostaria de reafirmar que somos responsáveis pelo “M” da UEM, a uniãomonetária. Temos sentimentos quanto ao “E”, a união económica, mas somos responsáveispelo “M” e fomos instruídos pelos cidadãos da Europa e pelos parlamentos que votaram oTratado de Maastricht para obter uma estabilidade de preços. É esse o nosso mandato.Somos independentes de modo a obter uma estabilidade de preços para 330 milhõesconcidadãos.

Como expliquei há momentos, obtivemos a estabilidade de preços em consonância coma nossa definição, que vem no seguimento da melhor definição do mundo, e permitam-mereferir que a nossa definição de estabilidade de preços é agora aparentemente a referênciapara análises comparativas a nível mundial. Mantivemos a estabilidade de preços durante

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os quase 12 anos do euro e, segundo todas as informações de que dispomos, temos acapacidade de a prolongar durante os próximos dez anos.

Assim, pretendo ser muito claro, porque – como referiu o senhor Comissário Olli Rehn –muitas das perguntas que tenho para responder referem-se à união económica, que fazparte da UEM, evidentemente, mas não somos responsáveis pela união económica. Temosas nossas ideias; temos as nossas recomendações; temos os nossos diagnósticos e análises,e voltarei a esse assunto, é claro.

O meu segundo grande comentário é: estamos a passar pela pior crise a nível mundialdesde a Segunda Guerra Mundial. Se não tivéssemos – tanto os bancos centrais, incluindoo BCE, como os governos – reagido com rapidez e ousadia, teríamos passado pela piorcrise desde a Primeira Guerra Mundial, e não desde a Segunda Guerra Mundial, porqueteríamos uma grande depressão económica, e este facto – de termos evitado uma grandedepressão a nível mundial – levou a uma mobilização de governos e de parlamentos.

Na nossa própria análise, o risco dos contribuintes mobilizado para ajudar a evitar umadepressão grave é aproximadamente igual em ambos os lados do Atlântico em termos dePIB, aproximadamente 27% do PIB. Não foi, evidentemente, utilizado em termos de despesa,e ainda menos em termos de perdas, mas ainda assim foi um esforço enorme. Caso contrário,teríamos tido uma crise grave. É claro que isso significa que a finança mundial e a economiamundial estão extremamente frágeis, e temos de encontrar formas de evitar esta fragilidadea nível mundial.

Mas não se trata de uma crise europeia. Trata-se das repercussões na Europa, na governaçãoeuropeia, de uma crise mundial, e está a ocorrer exactamente o mesmo tipo de ponderaçãoe de reflexão sobre o que fazer nos EUA ou no Japão, para referir apenas duas outraseconomias avançadas. Também elas enfrentam problemas da maior gravidade e gostariaque não transformássemos uma reflexão legítima sobre como melhor gerir as principaiseconomias avançadas numa crítica ao euro que, como já referi, cumpriu plenamente asexpectativas.

Permitam-me referir igualmente que, quando observo a situação financeira e orçamental,a situação orçamental das maiores economias avançadas, posso afirmar que a Europa comoum todo e a área do euro em particular estão em melhor situação – como referiu o senhordeputado Goebbels – do que o Japão ou os EUA em termos de défice financeiro público.Teremos provavelmente algo na ordem dos 6%, até um pouco menos, de posição orçamentalconsolidada no próximo ano, quando será aproximadamente 10% ou mais nas duas outrasgrandes economias avançadas.

Refiro-o para que tenhamos uma ideia da ordem de magnitude. Com efeito, o que existeé um mau comportamento por parte de vários países que estão a criar problemas no seupróprio país e que estão a gerar uma instabilidade financeira. Não é o euro que está emcausa; é a instabilidade financeira originada pelo mau comportamento de políticasorçamentais, evidentemente, a par da interacção permanente com os mercados, vistotratarem-se de economias de mercado. Mais uma vez, o nosso diagnóstico é essencialmenteque a irregularidade no funcionamento da Europa deveu-se a má governação, a mágovernação da união económica.

Infelizmente, posso afirmar que este facto não é surpreendente, porque o Pacto deEstabilidade e Crescimento foi criticado erradamente por alguns intervenientes desde oinício. Devo recordar-lhes que eu próprio dei conta ao Parlamento do nosso esforço devido

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a alguns grandes países quererem dissolver o Pacto, ou pelo menos enfraquecê-loconsideravelmente. Lamento referir que se tratava dos grandes países pertencentes à áreado euro, e que as pequenas e médias nações estavam a resistir a esta tendência. Isto ocorreuem 2004 e 2005. Lembrar-se-ão de que se tratou de um combate feroz, porque chegouao Tribunal de Justiça, e a Comissão – e tenho de louvar a Comissão – tomou medidaslúcidas, de maior lucidez nesse momento do que o Conselho, e demos o nosso pleno apoioà Comissão. Por conseguinte, devo recordá-los de todos estes factos.

Têm-me perguntado várias vezes o que pretendemos exactamente nesta fase. Devo dizerque já explicitámos, quando a Comissão avançou a sua proposta, que não a considerávamossuficiente.

Tendo em conta o que apercebemos e o que vemos do funcionamento da Europa comoum todo, dos 27 e dos 16 (17 em breve), considerámos que a primeira proposta da Comissãoera demasiado fraca em termos de automatismo e em termos de rigor da governação noque respeita à supervisão orçamental e aos indicadores de competitividade, os desequilíbrios.

Assim, dado que o estado actual da proposta do Conselho enfraquece ainda mais a propostada Comissão, podemos apenas dizer-vos, Senhores Deputados, que estamos seguros deestar à altura das exigências desta situação, e essas exigências são a necessidade de umasupervisão muito forte e de uma governação muito forte.

Em 2005, em nome do Conselho de Governadores, afirmei que não estávamos de modoalgum satisfeitos com a posição do Conselho nesse momento e com o que tinha sido aceite.

Não pretendo alongar-me porque teremos várias ocasiões para estar em contacto com oParlamento. Tomei, evidentemente, nota do que referiu a senhora deputada Goulard quantoaos esforços árduos do Parlamento, a par do Conselho e da Comissão, para estabelecer aposição final da Europa. Contudo, mais uma vez, a nossa mensagem é muito clara a esserespeito.

Permitam-me abordar por um momento o tema da comunicação. Temos, sem dúvida, demelhorar permanentemente a nossa comunicação. Tentamos fazê-lo. Direi apenas que,quanto à nossa comunicação, estamos a conceder uma definição clara de estabilidade depreços que permite a todos avaliarem o que estamos a fazer, permanentemente, em temporeal.

Gostaria de referir igualmente que fomos o primeiro grande banco central a introduzir asconferências de imprensa logo após o final do Conselho de Governadores. Fomos osprimeiros a publicar uma declaração introdutória que constitui o nosso diagnóstico dasituação. Deste modo, tentamos ser o mais responsáveis possível em termos decomunicação.

A única informação que não publicamos é a posição individual dos vários membros doConselho de Governadores. Consideramos muito importante, para a instituição emissorada moeda de 16 Estados que se uniram na Europa, mas que se mantêm Estados soberanos,que seja o Conselho de Governadores no seu todo a entidade pertinente em termos dasnossas decisões.

Foram abordadas várias questões importantes. Mencionarei apenas o comentário de quesomos responsáveis pelo “M”, na medida em que o “E” é da responsabilidade dos governose da Comissão – neste domínio temos de considerar sempre o “E” como qualquer bancocentral independente: se a política orçamental for sólida e razoável, o esforço da política

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monetária para obter a estabilidade de preços será ligeiro. Se tivermos uma má políticaorçamental, estaremos a sobrecarregar as decisões que têm de ser tomadas no banco central.

Diria que o mesmo se passa connosco em termos de interacção com os governos, massomos fortemente independentes e o facto de termos sido compelidos a adoptar váriasmedidas não-convencionais, como já expliquei, destinou-se a permitir-nos transmitir osnossos impulsos de política monetária o melhor possível em circunstâncias em que osmercados não estavam a funcionar devidamente e, por conseguinte, as decisões quetomámos quanto a taxas de juro não foram transmitidas correctamente para a economiana sua globalidade.

É esta a essência das medidas não-convencionais – ajudar a repor um funcionamento maisnormal dos canais de transmissão de política monetária, e nós estabelecemos muitoclaramente a distinção (que repeti recentemente num dos nossos colóquios em queparticipou Ben Bernanke) entre medidas convencionais, o que realmente conta no domínioda política monetária, e medidas não-convencionais, destinadas à transmissão de políticamonetária.

Em seguida, permitam-me dizer que também tomei nota da questão importante...

(FR) Quanto à pergunta do senhor deputado Gauzès, que creio ter sido repetida por outros,há uma tendência, em alguns canais de comunicação, para considerar a Europa um bodeexpiatório. Se tudo corre mal, a culpa é da Europa. Sabemos que não é verdade, e oParlamento Europeu sabe-o, evidentemente, melhor do que ninguém.

Existe também uma tendência para dizer que se nem tudo vai bem, a culpa é da Comissãoou do Banco Central Europeu ou, melhor ainda, do euro. É o fenómeno clássico do bodeexpiatório. O euro é uma moeda que manteve extremamente bem a sua estabilidade internae externa. Além disso, ainda não referi que esse facto é o mais extraordinário de todos ossucessos que um banco central obteve entre os países fundadores do euro nos últimos 50anos – guardei isso para o fim. Considero que temos uma moeda que é, de facto, sólida, esólida em termos históricos igualmente. Assim, é preciso ter cuidado com o fenómeno dobode expiatório.

Devo dizer que todos temos de desenvolver esforços consideráveis em termos decomunicação, mas também endereço esse recado ao Banco Central Europeu e ao sistemado euro como um todo; ou seja, a todos os bancos centrais nacionais que pertencem à áreado euro. Além disso, afirmaria que é sem dúvida um problema enfrentado pelos 27 e, porconseguinte, um problema da União Europeia na sua totalidade.

(Aplausos)

Presidente. – Muito obrigada pela sua resposta pormenorizada, Senhor Presidente Trichet.Penso que neste momento é necessária uma resposta mais pormenorizada do que é normalneste Parlamento.

Burkhard Balz, relator. – (DE) Senhora Presidente, também eu gostaria de manifestar omeu agradecimento ao senhor Presidente Trichet, ao senhor Comissário Rehn e, acima detudo, a todos os deputados deste Parlamento, por um debate tão aberto e amplo. Foiextremamente objectivo, apesar de, no final, os nossos colegas da Irlanda terem por vezesdeixado transparecer as suas emoções – o que é muito compreensível.

No pouco tempo de que disponho, gostaria de referir três questões. A primeira é aindependência do Banco Central Europeu. Considero que foi apropriado e essencial os

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Chefes de Estado e de Governo – sob a liderança geral de Helmut Kohl, um distinto cidadãoda Europa e, na altura, o Chanceler alemão – terem defendido a independência do BCE. OBanco Central Europeu é o guardião do euro. Penso que o euro manteve a sua estabilidadenestes últimos meses da crise precisamente por, em última instância, termos um BCE nestesmoldes. Pedir-lhe-ia consequentemente, Senhor Presidente Trichet, que continuasse adesempenhar as suas funções com o máximo de independência possível nos próximosmeses. Se as pessoas lhe manifestam as suas opiniões, pode sem dúvida ouvi-las; mas, emúltima análise, o Presidente e o Conselho de Administração do BCE têm de salvaguardar asua independência.

Em segundo lugar, temos de ser mais abertos perante os cidadãos da União Europeia.Trata-se uma questão importante. Acima de tudo, não devemos dar-lhes sempre informaçãona linguagem de Bruxelas, que já nos valeu algumas críticas, mas de uma forma que sejagenuinamente entendida pelos destinatários da nossa mensagem – os cidadãos da Europa.A meu ver, trata-se de uma questão importante.

Por fim, o senhor Presidente Trichet referiu o Acordo Basileia III. Este é outro aspecto quegostaria sem dúvida de destacar. Desejamos executar rapidamente Basileia III. Porém, sódesejo executar Basileia III rapidamente se todos ao nível do G20 o fizeremsimultaneamente. Não podemos permitir que a Europa assuma a dianteira uma vez maise seja a única pioneira, em grande detrimento da nossa competitividade internacional. Porconseguinte, defenderia que a Europa deve aplicá-lo juntamente com os seus parceirosmundiais, ou então considerar alternativas.

Presidente. – Está encerrada a discussão conjunta.

A votação terá lugar amanhã.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Elena Băsescu (PPE), por escrito. – (RO) Também eu gostaria de felicitar o senhor deputadoBalz por todos os seus esforços na elaboração deste relatório. Os pacotes de austeridadepropostos para ultrapassar a crise não deveriam resultar em medidas que possam pôr emrisco a retoma económica. Considero que é necessário atingir um equilíbrio entre o processode consolidação económica e a protecção dos investimentos através de emprego e de umdesenvolvimento sustentável. A lição resultante da adesão ao euro por Estados-Membrosmal preparados tem de nos levar a ponderar seriamente a criação de prazos realistas nofuturo. No cenário actual, um atraso de um ou dois anos pode ser aceitável. O alargamentotem de continuar, com a condição do respeito dos critérios de Maastricht. Neste domínio,estou convicta de que a adesão ao euro não deve ser vista como uma solução monetária,mas como parte de uma estratégia política ampla a médio prazo.

Edward Scicluna (S&D), por escrito. – (EN) Saúdo e apoio este relatório. No entanto,devemos ter presente que, quando terminar toda a discussão da consolidação orçamental,da regulação e da governação macroeconómica, teremos de examinar o seu efeito naactividade económica – que é o argumento principal de qualquer discussão. A realidade éque necessitamos de uma regulação boa e eficaz, assim como de melhor governaçãoeconómica, para que as pequenas e médias empresas, que são o grande motor docrescimento económico, se desenvolvam e cresçam. A triste realidade é que estas empresassofreram grandemente nos últimos dois anos. Em resultado, atingimos níveis elevados ecrescentes de desemprego. A política do BCE de injectar milhares de milhões de euros paracontribuir para o resgate de bancos endividados foi correcta, mas muitos bancos tornaram-se

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demasiado dependentes da liquidez do BCE. Assim, agora temos uma situação em que osbancos que concediam créditos demasiado prontamente nos anos do boom estão a recusarconceder créditos a pequenas empresas. Se esta situação continuar, não obteremos ocrescimento necessário à redução dos défices orçamentais e dos níveis de endividamentodos governos. O desemprego aumentará e o nosso desempenho económico estagnará.Temos de proceder com sensatez se não desejamos desiludir novamente os cidadãos daEuropa.

14. Sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado e duração da obrigaçãode respeitar uma taxa normal mínima (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A7-0325/2010) do deputado Casa,em nome da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, sobre a proposta dedirectiva do Conselho que altera a Directiva 2006/112/CE relativa ao sistema comum doimposto sobre o valor acrescentado, no que se refere à duração da obrigação de respeitaruma taxa normal mínima [COM(2010)0331 – C7-0173/2010 – 2010/0179(CNS)].

David Casa, relator. – (MT) Senhora Presidente, em primeiro lugar, gostaria de chamara atenção deste Parlamento para o facto de estar a decorrer neste momento uma votaçãoimportante na Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, pelo que terei de desculpara ausência de muitos dos deputados que não estarão aqui presentes, pois estamos atrasadose o processo de votação começou há pouco.

Como a senhora Presidente afirmou, com razão, este relatório que elaborei é extremamenteimportante porque se refere ao sistema de IVA que pretendemos alterar. Ora, como todossabem, as negociações para alterar o sistema permanente de IVA já decorrem há bastantetempo, mas não foram obtidos avanços significativos. O sistema transitório em uso desde1993 tem sido prolongado continuamente, e todos sabemos que esta situação não ésustentável e que é necessário encontrarmos uma solução mais duradoura.

O actual sistema transitório não está a gerar os resultados pretendidos no que diz respeitoao mercado interno. Este sistema diminui a eficácia das empresas e limita ainda a suaeficiência transfronteiras. É igualmente preocupante que este sistema dê origem a formascomplexas de fraude, como a “fraude carrossel”, que discutimos recentemente nesteParlamento. Estes tipos de fraude têm um impacto negativo grave nos rendimentos dosEstados-Membros. A solução com que nos deparamos não é fácil, e a solução certa sópoderá ser adoptada após um debate aprofundado e longos períodos de consulta.

Todos estamos cientes do compromisso assumido recentemente pela Comissão de, a curtoprazo, elaborar um Livro Verde para estimular a discussão desta matéria. O relatório a meucargo insta a Comissão a garantir que o processo será eficiente e que faremos tudo o queestiver ao nosso alcance para assegurar que, em primeiro lugar, o novo sistema melhoraráa eficácia do mercado interno; em segundo lugar, que este novo sistema reduzirá os encargossobre o sector empresarial; e em terceiro lugar, que combaterá a fraude da forma maiseficaz possível.

Este relatório, que, como sabemos, já foi aprovado pela Comissão dos Assuntos Económicose Monetários, insta igualmente a Comissão a garantir que as propostas concretas serãodivulgadas até 2013. Permitam-me destacar este último ponto: não estou a propor quedeveriam ter um sistema que esteja adoptado e em vigor até 2013. Afirmo que as propostastêm de ser divulgadas até 2013.

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O que desejaria, no entanto, e creio que manifesto a opinião dos deputados a esteParlamento, é que o novo sistema estivesse em funcionamento antes do final destalegislatura, para que o actual sistema transitório não tivesse de ser prolongado novamente.Apesar de irmos aprovar o prolongamento do novo sistema, esperamos que sejam tomadasprontamente medidas concretas que reflictam estas novas propostas.

Gostaria de agradecer aos meus colegas, especialmente aos relatores-sombra, por esterelatório, e antevejo discussões mais acesas sobre este tema, que originarão uma soluçãorápida.

PRESIDÊNCIA: Alejo VIDAL-QUADRASVice-Presidente

Algirdas Šemeta, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecerao Parlamento Europeu e, em particular, ao senhor deputado David Casa pelo seu relatórioconstrutivo e célere sobre a proposta da Comissão de prolongar por cinco anos as actuaisnormas sobre a taxa normal mínima de IVA. Esta proposta é simples e não é controversa.

Um parecer rápido do Parlamento Europeu sobre a proposta da Comissão permitirá aoConselho adoptar a proposta antes do final do ano – mesmo a tempo, antes de o sistemaactual expirar. A proposta já foi, na realidade, discutida no grupo de trabalho do Conselho.Não surgiu qualquer obstáculo a uma provação rápida.

Como referiu o senhor deputado David Casa, a proposta da Comissão proporcionará asegurança jurídica necessária às empresas e permitirá uma maior avaliação do níveladequado da taxa normal mínima de IVA ao nível da UE.

A Comissão iniciará muito em breve um debate amplo sobre o futuro do IVA, a fim deavaliar e resolver as numerosas limitações do sistema de IVA da UE, nomeadamente a suacomplexidade, o nível elevado de encargos administrativos para as empresas e a fraude.

Antes do final do ano, proporei aos meus colegas Comissários a publicação de um LivroVerde sobre a avaliação do sistema actual e as orientações preferíveis para o futuro. Aguardoansiosamente as reacções sobre assuntos como as formas de atingir um sistema de IVAmais simples, mais sólido e moderno, e sobre como reduzir os custos de cobrança e decumprimento para as empresas, em particular PME, limitando simultaneamente a fraudee concedendo flexibilidade aos Estados-Membros. Com base nos resultados obtidos, emfinais de 2011, a Comissão definirá a sua política futura no domínio do IVA numaComunicação sobre a orientação a seguir.

As alterações apresentadas demonstram claramente o interesse do Parlamento em participarnesta discussão sobre a estratégia futura do IVA. Saúdo este sinal de interesse e esperomanter um debate proveitoso convosco sobre esta questão importante numa fase posterior.No entanto, considero que estas alterações ultrapassam o âmbito da proposta em discussãohoje, que se limita ao prolongamento do período de aplicação da taxa normal mínima.Além disso, algumas das alterações invalidam um debate que deveríamos ter com base noLivro Verde. O mesmo se aplica, em particular, à alteração que solicita à Comissão queapresente uma proposta sobre as normas definitivas de taxa de IVA até 2013.

Neste momento, a Comissão não pode vincular-se a uma data para apresentar uma propostasobre taxas de IVA. Não pode prever o resultado do processo de consulta, cujo âmbitoabrangerá outros aspectos além das taxas de IVA. Espero que este processo de consulta

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nos dê uma ideia clara das prioridades para o futuro do IVA. O planeamento da Comissãopara futuras propostas legislativas dependerá, por conseguinte, em grande medida doresultado deste processo de consulta.

Sari Essayah, em nome do Grupo PPE. – (FI) Senhor Presidente, a proposta da Comissãocentra-se em permitir que o sistema actual se mantenha em funcionamento até 2015 enuma tentativa de limitar os extremos da taxa de imposto a 10%. Trata-se de algo de muitoimportante porque, caso contrário, a concorrência entre Estados-Membros pode serdistorcida em determinados sectores.

A noção de que a Comissão iniciará em breve um amplo programa de consulta paraestabelecer um novo sistema de imposto sobre o valor acrescentado é central a este relatórioparlamentar. Na minha opinião, as alterações que os senhores deputados apresentaramsão, ao contrário do ponto de vista do senhor Comissário, extremamente importantes,uma vez que, mesmo nesta fase, desejamos estabelecer a orientação esperada para estenovo sistema de IVA. No futuro, necessitaremos de ser capazes de aliviar os encargosadministrativos associados ao IVA e de facilitar ao máximo que as pequenas e médiasempresas, em particular, apresentem relatórios, combatendo ao mesmo tempo com eficáciaas fraudes relacionadas com o IVA.

A economia pública em muitos países europeus está actualmente numa situação caótica,e uma solução proposta seria começar a aumentar as taxas de IVA. Porém, isso em nadaauxiliará os países onde é comum a fuga ao pagamento do IVA. Gostaria agora de me referirao relatório do senhor deputado Casa aqui aprovado anteriormente. Centrava-se, emparticular, em formas de combater a fraude no domínio do IVA relacionada com bens eserviços propensos a este tipo de crime. Espero que a Comissão comece de facto a tomarmedidas a este respeito no futuro.

George Sabin Cutaş, em nome do Grupo S&D. – (RO) Senhor Presidente, como é referidona proposta de directiva do Conselho, a taxa mínima de IVA ajudou a manter o sistemaem funcionamento a um nível aceitável.

Considero que deveríamos ponderar um quadro regulamentar comum que incluísse asconclusões decorrentes da situação de desequilíbrios orçamentais destacada pela crisefinanceira. É necessária uma nova estratégia europeia de IVA, concentrada na redução daburocracia e dos obstáculos fiscais que prejudicam as empresas, especialmente as pequenase médias empresas. Temos igualmente de considerar a necessidade de impedir e de combatera fraude. No entanto, até que esta estratégia esteja concluída, penso que a decisão deprolongar as disposições transitórias sobre a taxa mínima de IVA até 31 de Dezembro de2015 se destina a tranquilizar a comunidade empresarial, a impedir desequilíbrios estruturaisna União Europeia e a encorajar a harmonização da legislação fiscal.

Gostaria de sublinhar, enquanto não é apresentado o Livro Verde da Comissão sobre arevisão do sistema de IVA, a existência de uma tendência por parte de alguns governos queenfrentam uma recessão para aumentarem a taxa de IVA até 24%-25%, como sucedeu naRoménia e na Hungria. O compromisso relativo de manter a taxa máxima de IVA numlimite máximo de 10% acima de 15% foi, até agora, respeitado. Contudo, considero quenecessitamos de uma proibição total neste domínio para impedir quaisquer violações dolimite dos 25%. Não esqueçamos que, para além destas estatísticas, estamos a falar decidadãos comuns cujo nível de vida está a ser progressivamente afectado pelas políticas deausteridade e pela tributação excessiva.

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Termino referindo que a tributação excessiva não serve de remédio a uma economiaenferma. Serve apenas para prolongar o sofrimento.

Olle Schmidt, em nome do Grupo ALDE. – (SV) Senhor Presidente, Senhor Comissário,gostaria de agradecer muito ao relator. Por princípio, acredito que devemos evitar controlaro consumo através das taxas de IVA. Porém, desde que as excepções e as taxas de IVAreduzidas não interferissem claramente com o mercado livre, escolhemos, até hoje, aceitardiferenças entre Estados-Membros da UE. No entanto, como sabem, o Professor Montirefere no seu relatório sobre o mercado único que as actuais diferenças podem afectá-lonegativamente. Por conseguinte, é importante que instemos à criação de um sistemadefinitivo de taxas de IVA e que salientemos claramente que uma revisão da Directivarelativa ao IVA deverá nortear-se pela estratégia do mercado único e não por interessesespecíficos de países individuais.

É igualmente importante, como afirma o senhor Comissário, que nos concentremos naredução dos encargos administrativos, na eliminação de barreiras fiscais e na melhoria doambiente empresarial, em particular para as pequenas e médias empresas, garantindosimultaneamente que criamos um sistema robusto contra a fraude.

Os impostos são, evidentemente, uma questão muito nacional e em que a autodeterminaçãodos países é essencial. Simultaneamente, é importante ter presente que um mercado internocom um bom funcionamento exige, provavelmente, uma cooperação mais intensa e maisestreita, incluindo no domínio da tributação, do que a que temos neste momento.Consequentemente, espero que a Comissão – e o senhor Comissário – tenha a coragem deresolver estas questões nas suas próximas propostas, e que essas propostas tomem comoponto de partida um mercado interno com um bom funcionamento, apesar da oposiçãonacional. As questões difíceis em épocas difíceis exigem uma análise pormenorizada.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Senhor Presidente, na proposta apresentada, a Comissãosugere a aplicação de uma taxa normal mínima de IVA de 15% durante mais 5 anos até2015. Apesar de compreender o argumento da Comissão de desejar, através desta directiva,proporcionar segurança jurídica às empresas, considero que a análise do IVA requer algumtrabalho muito intensivo. Na minha opinião, isso deve-se ao facto de o que se passa commuitas empresas e o grande número de ocorrências de perda de receitas fiscais no comérciotransfronteiriço demonstrarem que o sistema de IVA da Europa está muito mal organizado.

Não se trata apenas de um problema da taxa em si; é um problema das normas aplicadasno mercado nacional e no comércio internacional, que muitas vezes permite ofuncionamento legítimo destes esquemas fraudulentos. Por conseguinte, gostaria de utilizara minha intervenção para instar à revisão de todo o sistema de IVA, pois considero queseria do interesse das nossas economias e das nossas empresas. A meu ver, o prazo de 2013é muito realista e deveríamos resolver este problema através da organização das normas,não das taxas.

Andrew Henry William Brons (NI). – (EN) Senhor Presidente, os impostos são, quandomuito, um mal necessário e deveriam reflectir sempre necessidades de despesa. A taxa deum imposto que é estabelecida antes do apuramento das necessidades de despesa é oprimeiro passo para se retirar dinheiro às pessoas e só depois decidir onde o gastar. É oprimeiro passo para o esbanjamento.

A harmonização das taxas de IVA para uma taxa normal e uma taxa reduzida comuns,proposta pela Comissão em 1993, retiraria ainda mais poder aos Estados-Membros. A

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tributação é uma das características que definem um Estado soberano. Será ainda maisuma medida no sentido de a União Europeia se tornar o Estado soberano, e osEstados-Membros apenas seus apêndices sem quaisquer poderes. O combate à fraude e aredução dos encargos das PME são pretextos. A harmonização do IVA destina-se àcentralização e à consolidação do poder da UE.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) Senhor Presidente, o objectivo da nova estratégia de IVAdeve ser a redução dos encargos administrativos, a eliminação de obstáculos fiscais e amelhoria do ambiente empresarial, especialmente para as PME. Existe um claro nível dedesequilíbrio no domínio do desenvolvimento do mercado interno. Assim, as empresaseuropeias encontram-se em desvantagem. Além disso, o sistema de IVA, na forma em queé actualmente concebido e executado pelos Estados-Membros, tem fraquezas que os autoresde fraudes exploram em seu proveito.

Gostaria de instar a Comissão a apresentar os resultados das suas análises. Deverá igualmenteorganizar consultas sobre a nova estratégia de IVA com todas as partes interessadas. Nestedomínio, terão de ser abordados aspectos comuns, como taxas reduzidas de IVA, isençõesao regime, a opção de se estabelecer uma taxa máxima e, não menos importante, o localde tributação de transacções intracomunitárias.

Algirdas Šemeta, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradeceros comentários e as opiniões manifestadas durante este debate. Congratulo-me por verque o Parlamento Europeu e a Comissão concordam quanto à necessidade de repensar oactual sistema de IVA.

Como referi nos meus comentários iniciais, saúdo o espírito das alterações relativas aofuturo do IVA. Não obstante, a Comissão considera que esta proposta técnica só diz respeitoao prolongamento periódico do nível mínimo da taxa normal de IVA.

O resultado das consultas sobre a nova estratégia de IVA é apenas mencionado a fim dejustificar o motivo de ser prematuro estabelecer um nível permanente de taxa normal. Nãoexiste, por isso, a necessidade de referir, nesta fase, os objectivos e o quadro da novaestratégia de IVA neste contexto.

Repito igualmente que a Comissão não se pode vincular hoje a uma data para a futuraproposta legislativa sobre taxas. Necessitaremos primeiro de debater o futuro do IVA, oque nos proporcionará uma ideia clara das prioridades da Comissão. O resultado destaconsulta orientará o planeamento da Comissão para a futura proposta legislativa.

Estamos a finalizar o nosso trabalho sobre o Livro Verde e, nas próximas semanas,apresentaremos as verdadeiras questões para debate a todos os envolvidos: o público emgeral, os deputados ao Parlamento Europeu, as partes interessadas e os Estados-Membros.As questões que serão abordadas tratam claramente temas que foram referidos durante odebate de hoje.

Aguardo com expectativa debates proveitosos nos próximos meses a fim de que a Comissãopossa, no futuro, desenvolver uma estratégia de IVA muito melhor.

David Casa, relator. – (MT) Senhor Presidente, estou de facto satisfeito por o senhorComissário ter entendido que estamos a instar à célere preparação de um Livro Verde afim de estimular um debate mais aprofundado das propostas da Comissão. Como referiramos meus colegas deputados neste Parlamento, temos de libertar rapidamente o sistema detodos os tipos de fraude e de auxiliar ao máximo o sector empresarial a eliminar os

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obstáculos criados pelo sistema actual. Desejamos igualmente obter um mercado internomais eficaz.

Não discutimos hoje as soluções necessárias. O que pedimos à Comissão é que apresenterapidamente propostas, de modo a fomentar as devidas discussões do novo sistema,permitindo-nos assim aperfeiçoar o mais depressa possível o sistema actual. Compreendoque o objectivo deste relatório seja, na verdade, prolongar o calendário. Contudo, gostariade chamar a atenção da Comissão para o facto de estarmos muito empenhados em quenos apresente as suas propostas assim que possível, pois permitir-nos-á partilhar tambémas nossas ideias e, por fim, garantir um sistema mais justo para todos.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã às 11H30.

Declarações escritas (Artigo 149.º)

Franz Obermayr (NI), por escrito. – (DE) Para a maioria dos Estados-Membros da UE epaíses terceiros com mercados inter-relacionados internacionalmente, o IVA (ou o impostosobre vendas) é uma das principais fontes de financiamento do Estado. O imposto sobrevendas é, por conseguinte, pelo menos tão importante quanto os impostos directos. Amanutenção de uma taxa normal mínima de 15% nos próximos 5 anos beneficiará aconcorrência no mercado interno e proporcionará segurança jurídica às empresas. Quantoàs taxas reduzidas de IVA na UE, no caso de taxas reduzidas de IVA em certos serviços,nomeadamente reparações, cabeleireiros e empresas do sector da cosmética, a Comissãodeve igualmente ter o cuidado de evitar distorções de concorrência. Essas formas debenefício fiscal têm um efeito negativo sobre as pequenas empresas austríacas, por exemplo,que podem não conseguir resistir à concorrência dos prestadores de serviços da Eslováquiaou da Hungria. A solução é a seguinte: dizer SIM às subvenções destinadas às PME, incluindoatravés do imposto sobre vendas, MAS evitando distorções de concorrência entre osEstados-Membros.

15. Auxílio urgente ao Haiti (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre o auxílio urgenteao Haiti.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, a Comissão estáseriamente preocupada com o agravamento da situação de cólera no Haiti.

O número de vítimas mortais entre os casos hospitalizados aumenta significativamentede dia para dia. O número de pessoas hospitalizadas atinge mais de 20 000. No final dasemana passada, já tinham morrido mais de 1 100 pessoas. Contudo, teme-se que estesvalores estejam muito subestimados. A taxa de mortalidade é muito elevada e demonstraque as pessoas chegam demasiado tarde aos centros de saúde.

O tratamento da cólera é simples, mas o acesso rápido ao tratamento é essencial paralimitar o número de vítimas mortais. O tratamento dos doentes de cólera requer igualmenterecursos humanos consideráveis. O sistema público de saúde do Haiti está neste momentogravemente sobrecarregado, apesar do apoio substancial da comunidade internacional.

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A organização Médicos sem Fronteiras, um dos intervenientes mais activos no domínioda medicina, exorta a que todos os grupos e agências presentes no Haiti redobrem adimensão e a rapidez dos seus esforços.

Todo o país está agora afectado. A epidemia está a alastrar a um ritmo alarmante na capital,Port-au-Prince. Bairros de lata como Cité Soleil estão particularmente expostos ao contágiodevido a muito más condições de higiene e a um acesso muito limitado a água nãocontaminada.

Estamos a concentrar-nos na salvação de vidas através do tratamento célere das pessoasafectadas, do aumento do acesso a água não contaminada, da promoção de comportamentosmais higiénicos e do apoio à vigilância epidemiológica, a fim de apurar onde e como estáa evoluir a epidemia.

A Comissão redobrou a sua presença humanitária através de competências médicaspertinentes e mobilizou fundos – 12 milhões de euros – para apoiar os parceiros presentesno Haiti.

O mecanismo europeu de protecção civil foi igualmente activado através do Centro deInformação e Vigilância da Comissão Europeia e já co-financiou o transporte da ajuda emgéneros concedida pela França.

Acabou de ser efectuada outra oferta da Áustria. Deverá ser destacada uma equipa deprotecção civil e de apoio técnico da UE com peritos dos Estados-Membros no início dapróxima semana. Foram destacados peritos do Centro Europeu de Prevenção e Controlodas Doenças pela DG SANCO para avaliar a melhor forma de reforçar a vigilânciaepidemiológica no Haiti, e está a ser considerada mais cooperação.

Após os incidentes recentes de instabilidade civil nas cidades de Cabo Haitiano ePort-au-Prince, estamos a acompanhar de perto a situação de segurança dos nossos parceirose das agências relevantes da ONU, em particular na antecipação das eleições presidenciaisde 28 de Novembro.

A Comissão esteve em contacto com a Secretária-Geral Adjunta da ONU para os AssuntosHumanitários e a Ajuda de Emergência, a Baronesa Amos. Apoiamos plenamente aimportância que a Secretária-Geral Adjunta da ONU atribui a que os trabalhadoreshumanitários nacionais e internacionais possam prosseguir as actividades de salvamentode vidas sem perturbações.

Tendo em conta a deterioração grave e rápida da situação de cólera, são urgentementenecessários mais contributos para colmatar as falhas nos domínios da saúde, água,saneamento, higiene e logística. As prioridades incluem pessoal médico e outrosfuncionários especializados em questões de água, saneamento e higiene, assim comoequipamento médico, camas e dispositivos e pastilhas de purificação de água. A Comissãomantém, por conseguinte, contactos com a Presidência belga e com os Estados-Membrospara encorajar mais apoio da UE ao Haiti neste momento muito crítico e difícil. O apoioda UE pode ser canalizado através do Mecanismo de Protecção Civil da UE.

Os incansáveis esforços dos trabalhadores humanitários internacionais e do Haiti paraenfrentarem os problemas actuais no terreno são louváveis, mas é evidente que a própriaescala desta crise exige ainda mais bens e recursos. Estamos, por isso, a desenvolver nestemomento esforços para aumentar a nossa resposta de emergência em conjunto com os

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nossos parceiros, mas aguardam-nos decerto momentos difíceis, devido à rapidez comque evolui esta situação.

A solidariedade continuada da comunidade internacional para com os cidadãos do Haitipermanece indispensável. Insto-vos, por conseguinte, a fazerem o máximo possível pararedobrar o apoio dos Estados-Membros, a fim de evitar uma catástrofe humanitária degrandes dimensões.

Michèle Striffler, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhor Presidente, Senhora ComissáriaDamanaki, Senhoras e Senhores Deputados, a epidemia de cólera já provocou mais de1 200 vítimas mortais e já infectou mais de 52 000 pessoas. Assim, apesar da forte presençade organizações internacionais no Haiti, a situação está a deteriorar-se quotidianamente,e a epidemia pode infectar cerca de 400 000 pessoas nos próximos meses.

Fico muito satisfeita, evidentemente, por terem sido disponibilizados 12 milhões de eurospela Comissão Europeia, e apoio a senhora Comissária Georgieva no seu apelo aosEstados-Membros para fornecerem ajuda em géneros, para que a água possa ser purificada,e equipamentos. O fornecimento de água potável e de instalações sanitárias é a única formade reduzir o número de pessoas infectadas.

Uma das medidas prioritárias é tranquilizar os cidadãos assustados por esta doença, que éinaudita no país. A comunicação com as populações é essencial para facultar informaçõessobre a doença e a sua prevenção, assim como para impedir a disseminação de violênciainterna, em particular tendo em conta que o país está em pleno processo eleitoral.

Esta nova crise salientou uma vez mais a incapacidade de as autoridades do Haiti e o sistemade saúde a enfrentarem. O país foi vítima de numerosos desastres nos últimos anos. Oterramoto no Haiti demonstrou a incompetência quase total das autoridades locais. Apóso terramoto, existia uma vontade política genuína de reconstruir o Haiti de forma diferente,e houve muitas promessas de donativos. Quase um ano depois, a reconstrução mal começoue os intervenientes no desenvolvimento estão pessimistas. A Comissão Europeia tem deser uma força motriz do processo de reconstrução, a fim de que o Haiti possa finalmenteemergir deste caos.

Corina Creţu, em nome do Grupo S&D. – (RO) Senhor Presidente, saúdo uma vez mais aceleridade da intervenção humanitária da União Europeia. Contudo, considero que osnossos esforços nesse país têm de concentrar-se na construção de uma estrutura públicaoperacional mínima, num momento em que o Estado do Haiti é apenas uma fachada. Nãocumpre deveres básicos como a organização de campos de refugiados, a manutenção daordem e o fornecimento de condições de higiene e de água potável. Esta vulnerabilidadepermitiu a rápida disseminação da doença e a morte de mais de 1 200 pessoas.

O Haiti necessita de um Estado que possa fazer algo pelos seus pobres. Três em cada quatrohaitianos vivem com menos de 2 dólares por dia. Mais de 1,5 milhões de cidadãos vivemem campos de refugiados, constituindo uma grave ameaça para a saúde pública e asegurança.

Considero que a fraqueza do Estado do Haiti constitui, neste momento, o principal factorde risco. A sua falta de autoridade significa que o descontentamento da população está aser direccionado para as forças da ONU. De facto, as ONG arriscam-se a já não conseguircumprir a sua missão. Consequentemente, as eleições de 28 de Novembro são essenciaise não podem ser adiadas, apesar de apelos de algumas instâncias.

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Charles Goerens, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhor Presidente, é evidente queexistem factores coincidentes que fomentaram o alastramento da cólera no Haiti. Não setrata decerto de uma resposta, mas é uma explicação. A resposta a esta catástrofe tem deser dupla.

Neste momento, os trabalhadores humanitários no terreno confirmaram-nos que sãonecessários sabão, substâncias para tornar a água potável e uma educação sanitáriaadequada. Na situação actual, estão a ser efectuados igualmente preparativos para o longoprazo. Num país em que tudo ainda está por fazer ou refazer, a reconstrução é necessáriadepois do terramoto e tem de ser concedida prioridade à edificação de uma infra-estruturaconcebida para melhorar a higiene individual e colectiva.

Espero que, oito meses após a conferência de Nova Iorque sobre a reconstrução do Haiti,já não seja possível referir a falta de fundos como justificação para os poucos avançosregistados até à data, dado que todos os oradores concordaram que a fase humanitária teráde continuar ainda por muitos meses. Será igualmente necessário identificar sem grandesrodeios os responsáveis pela progressão lenta desta situação.

Franziska Keller, em nome do Grupo Verts/ALE. – (EN) Senhor Presidente, presenciamosno Haiti uma das maiores operações de ajuda humanitária de sempre. Temos de ganhar ocombate contra esta catástrofe e efectuar uma gestão que obtenha resultados e ajude oshaitianos a construir o seu futuro.

Além de ser uma catástrofe individual para milhões de pessoas, um fracasso seria igualmenteprejudicial para o esforço da comunidade internacional e para a capacidade de realizar umesforço conjunto de ajuda humanitária. Considero que temos de contribuir com toda anossa experiência, com as lições que aprendemos no Haiti e noutros locais e com recursosfinanceiros suficientes. Por conseguinte, saúdo o anúncio da Comissão de que irá concedermais 12 milhões de euros para o combate à cólera.

Temos de zelar por que este apoio chegue imediatamente ao Haiti, na sua totalidade e nãoapenas em parte, e de apoiar as iniciativas capazes de o tornar eficaz. Do mesmo modo,não podemos descurar os esforços de reconstrução na sequência do terramoto, porquesem eles não será possível combater a doença.

Tenho duas perguntas para a Comissão. Em primeiro lugar, gostaria de saber se o montanteatribuído – o dinheiro que foi prometido – chegou ao destino, se foi pago e absorvido. Emsegundo lugar, gostaria de saber o que pensam de adiar as eleições, pois este tema estánovamente na ordem do dia.

A revolução do Haiti nunca conseguiu figurar nos livros de História. Esperemos que aépoca difícil que se vive actualmente no Haiti figure nos livros de História como o pontode partida para a preparação de um futuro melhor para todos os haitianos. Espero que sepossa mencionar ainda que a UE desempenhou um papel muito positivo nesta situação.

James Nicholson, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, há dois mesesco-presidi à delegação ACP-UE que se deslocou ao Haiti, provavelmente uma das maiorese mais emocionantes experiências da minha vida. Em primeiro lugar, existem no paíspessoas extremamente dedicadas ao trabalho de ajuda aos haitianos e, em segundo lugar,o povo haitiano é muito orgulhoso, o que devemos reconhecer desde o início deste debate.

Porém, o Presidente e o Primeiro-Ministro disseram-nos que os haitianos tinham muitasorte por terem um bom saneamento e por não terem doenças – e o mais triste neste

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momento é o facto de terem sido atingidos pela doença. Não se trata de uma doença muitodifícil de curar. No entanto, é preciso lá ir para ver as condições que os trabalhadoreshumanitários enfrentam e, quando falamos de serviços de saúde, lamento, SenhorPresidente, mas o Haiti não possui serviços de saúde como nós os conhecemos: estãodependentes dos Médicos sem Fronteiras, da Cruz Vermelha britânica e de muitas outrasorganizações de todo o mundo.

Quanto às eleições, é verdade que o Haiti não necessita de eleições neste momento. Contudo,até os haitianos terem um Presidente e um Primeiro-Ministro que os possam liderar, nãoterão qualquer hipótese de progresso. Gostaria de louvar – porque lá estive e o testemunheiem pessoa – os homens e mulheres brilhantes do Gabinete da Comissão Europeia que, emcircunstâncias terríveis, tentam manter uma presença europeia em Port-au-Prince, e querealizaram um trabalho magnífico.

Marie-Christine Vergiat, em nome do Grupo GUE/NGL. – (FR) Senhor Presidente, emprimeiro lugar gostaria de agradecer a todos os meus colegas deputados, especialmente àConferência dos Presidentes, por terem aceitado este debate sobre o Haiti, proposto pelomeu grupo. Tratava-se de uma emergência.

Em Janeiro passado, depois do terramoto, a comunidade internacional mobilizou-sefortemente em apoio do Haiti. Porém, aparentemente existia uma discrepância, para nãodizer um fosso, entre as promessas efectuadas e a ajuda que de facto chegou ao terreno.Em Março passado, a senhora Baronesa Ashton assumiu um compromisso, em nome daUnião Europeia, de conceder um apoio de 1,235 mil milhões de euros para a construçãode um futuro melhor para os cidadãos do Haiti.

Senhora Comissária, desde Julho passado, as ONG e, em particular os MSF, têm alertadoe dado conta das condições de vida patogénicas mantidas por centenas de milhares depessoas. A situação pouco mudou desde então, mas as pessoas estão surpreendidas coma rápida disseminação da epidemia de cólera, e a comunidade internacional está novamentea começar a sentir pena. Já ocorreram mais de mil mortes e o número de pessoas afectadasaumenta constantemente, apesar de os especialistas afirmarem que as medidas destinadasa impedir que a doença seja fatal são relativamente simples. No entanto, os trabalhadoresdo sector da saúde têm pouca formação sobre esta doença e há dificuldade em fazer chegarprodutos médicos básicos aos locais onde são necessários.

Nestas circunstâncias, como podemos ser incapazes de compreender a ocorrência demotins? A população do Haiti sente-se impotente. É difícil que continue a ter confiança nacomunidade internacional. As minhas perguntas serão, por conseguinte, simples, SenhoraComissária:

Onde está exactamente toda a ajuda que a União Europeia prometeu ao Haiti? – e não merefiro apenas à ajuda humanitária.

Se tivesse chegado mais cedo, considera que esta tragédia subsequente poderia ter sidoevitada?

Como se explica que, uma vez mais, as conferências internacionais tenham resultadoapenas em promessas por cumprir?

Por que motivo os esforços do Presidente Préval para transformar a MINUSTAH em apoiopara a reconstrução não estão a obter qualquer resposta?

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Por fim, a população do Haiti deseja que ocorram eleições, mas em que condições ocorrerãoe que tipo de apoio será concedido pela União Europeia?

PRESIDÊNCIA: Stavros LAMBRINIDISVice-Presidente

Licia Ronzulli (PPE). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, apesarde todos os avisos sobre os riscos de descurarmos o futuro do Haiti após o terramoto deJaneiro, as notícias dos últimos dias parecem demonstrar que a ilha foi abandonada pelacomunidade internacional no momento mais decisivo – o da reconstrução.

De facto, a cólera, algo que poucos cidadãos do Haiti conhecem e que acabou por obterum carácter místico, religioso, está agora a disseminar-se. As forças de manutenção de pazdas Nações Unidas foram acusadas de serem responsáveis pela disseminação deste contágio.Bastou um soldado nepalês destacado na ilha ser infectado para centenas de pessoas,mulheres e crianças, cercarem o quartel-general da força de paz. Os trabalhadoreshumanitários também se sentiram ameaçados e muitos estão a abandonar o país.

A tensão é extremamente elevada e muitos dos escombros causados pelo violento terramotode 12 de Janeiro permanecem nas ruas e nas praças das cidades. Ouvimos dizer que nãoexiste água suficiente e que assim não é possível que os cidadãos se lavem e se protejamdo contágio.

O vibrião está a disseminar-se com rapidez e o número de mortos aumentaexponencialmente. Já foram apresentados valores, mas quero repeti-los: até à data, existem1 130 vítimas mortais, e o número de internamentos hospitalares aumentou para mais de18 000 num único mês. No entanto, existem milhares de outros cidadãos que registamsintomas da infecção quotidianamente.

A comunidade internacional não pode protelar mais. Tem de ser encontrada uma soluçãoimediatamente, caso contrário a continuação deste contágio permanecerá para sempre nanossa consciência.

Michael Cashman (S&D). – (EN) Senhor Presidente, gostaria de começar por felicitar asenhora Comissária Georgieva pelo trabalho de coordenação eficaz que efectuou e pelasdiscussões que mantém com a senhora Baronesa Amos nas Nações Unidas.

Neste momento, a via mais fácil e mais barata para este Parlamento é a da crítica. Gostariaque fôssemos positivos e que exercêssemos pressão onde ela é necessária. Dirijo-me a todosos deputados a este Parlamento. Temos de pressionar os nossos Estados-Membros afornecerem mais ajuda, e mais ajuda em géneros. Se consultarem a lista de países, verãoque se trata de países – nomeadamente Espanha, Irlanda, Itália, França, Áustria, Hungria– actualmente em situação económica grave, mas que têm de ir mais longe. Por isso, instocada um de nós a contactar o seu Governo e a pedir-lhe que se empenhe. Se existem dúvidassobre se esse apoio está a chegar ao seu destino, criemos então a capacidade de o fazerchegar ao seu destino.

Por fim, gostaria de agradecer à senhora Comissária e de a felicitar pela atribuição de mais12 milhões de euros. A grande tragédia foi o terramoto. Uma tragédia ainda maior é, nestemomento, a epidemia de cólera.

Niccolò Rinaldi (ALDE). – (IT) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras eSenhores Deputados, primeiro, o epicentro de um terramoto horrível localizou-se

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exactamente na região mais pobre e pior governada do hemisfério americano; agora surgea cólera no país que recebe um dos mais elevados montantes de ajuda internacional percapita. Que contradição! Não se trata apenas de uma combinação terrível de azares: noHaiti, nas ruas apinhadas de crianças e nas tendas apertadas no meio de lixeiras, ninguémsabe por onde começar.

A classe política local tende a ser gananciosa e a concentrar-se em jogos de poder, em vezde assumir o controlo dos esforços de reconstrução, e a máquina burocrática, dizimadapelo terramoto, tem uma cultura administrativa fraca, tendo chegado até, na maioria doscasos, a obstruir a distribuição de ajuda. Estão presentes muitas organizações internacionais,frequentemente mal geridas, que na realidade foram incapazes de proteger a população.

Em visita ao país com a delegação do Parlamento Europeu, em Junho, testemunhei umaconcentração de campos abandonados, de escombros que não tinham sido removidos ede lixo que já indiciava claramente a gravidade que a situação poderia atingir. Agora chegoua cólera.

A Comissão e a Direcção-Geral ECHO para a ajuda humanitária e a protecção civil até aomomento cumpriram as suas obrigações, mas têm agora de redobrar os seus esforços.Considero que, para além de medidas fortes de recuperação, o Haiti necessita de uma maiorprotecção ao nível político internacional.

Nirj Deva (ECR). – (EN) Senhor Presidente, esta é uma verdadeira tragédia. Quando acatástrofe aconteceu, em Janeiro do ano passado, a comunidade internacional deslocou-seao Haiti com grande pompa. Vieram helicópteros militares para içar blocos pesados deedifícios que tinham ruído. Agora desapareceram todos. Partiram de repente. Esses pedaçosde edifícios estão a bloquear estradas e a cortar acessos, e a rede rodoviária está interrompida.A senhora Comissária Georgieva tem desenvolvido grandes esforços para coordenar asactividades.

O que motivou esta situação? Por que razão desapareceram de repente todas aquelas pessoasque se tinham deslocado prontamente ao Haiti em Janeiro – incluindo a senhora Secretáriade Estado dos EUA, Hillary Clinton? Qual o motivo de se estar agora a solicitar à ONU quedesapareça? Quando solicitarão à UE que desapareça? É ridículo. Necessitamos que acomunidade internacional regresse ao nível em que estava a trabalhar no Haiti e de permitirque os cidadãos comuns do Haiti sejam despolitizados dos disparates que correm na capital.

Anna Záborská (PPE). – (SK) Senhor Presidente, Senhora Comissária, gostaria deagradecer-lhes pelo relatório que nos apresentaram sobre a situação actual no Haiti. Osurto de outra epidemia já seria de esperar no Haiti. Desde o início do ano, e desde oterramoto, temos desenvolvido grandes esforços, mas os trabalhos não têm progredidotão rapidamente como esperávamos. Já referimos muitas vezes a situação que se vivia noHaiti antes do terramoto.

Sem dúvida que nos teria sido útil se o Haiti fosse um Estado funcional, mas não é, nemserá num futuro próximo. Há muito a fazer. Neste momento são necessárias medidasurgentes, pois corremos o risco de mais epidemias e violência.

Senhora Comissária, existe uma necessidade concreta de reunir os melhores peritos nodomínio da saúde em Bruxelas e de elaborar um plano estratégico para o Haiti. A situaçãotem de ser resolvida nos domínios da segurança, da economia e, em especial, da saúde.

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Kriton Arsenis (S&D). – (EL) Senhora Comissária, gostaria igualmente de começar porlhe agradecer o trabalho excepcional realizado no caso do Haiti e por tudo o que fez noPaquistão. Sabemos que estará presente em todas as emergências.

Trata-se, de facto, de uma enorme catástrofe. Falamos de mais de 1 000 mortos e de 15 000doentes, e os números continuam a aumentar. As necessidades são imensas, e percebemosque o dinheiro à sua disposição não é suficiente. Torna-se cada vez mais evidente quenecessitamos efectivamente de novos instrumentos financeiros; talvez o mais óbvio sejaum imposto sobre transacções. Precisamos de outros mecanismos de financiamento quepossam apoiar os nossos esforços para enfrentar crescentes necessidades humanitárias.

Deveríamos considerar igualmente o que podemos fazer para impedir que a transmissãode doenças por funcionários das Nações Unidas volte a acontecer.

Bastiaan Belder (EFD). – (NL) Senhor Presidente, esta tarde recebi as informações maisrecentes de uma agência humanitária holandesa que mantém presença no Haiti há muitosanos, e que confirmam o cenário macabro, mas realista, descrito pela Comissão. Entretanto,esta agência comunicou-me que confia na Europa, em particular, para ser um dos principaisdoadores. O que espera então esta agência que façamos? Bem, apesar de ter sido prometidoum montante avultado na conferência internacional de doadores, apenas uma fracção foientregue. Agora a ONU solicitou mais fundos, mas uma grande parte do dinheiro prometidoainda não foi entregue. Espero, por conseguinte, que a União Europeia assuma a dianteirana garantia de que o dinheiro chegará ao destino, pois a situação no Haiti é angustiante.As prioridades são, evidentemente, a prevenção e a água potável. Espero que a UniãoEuropeia tenha a iniciativa de garantir um bom fornecimento de água no Haiti. Sãoparticularmente importantes peritos, a escavação de poços de água, água potável e cuidadosmédicos. Todos estes elementos são escassos. Apelo aos Países Baixos, mas igualmente àsinstituições europeias, para irem imediatamente em socorro do Haiti nesta grave emergência.

Ricardo Cortés Lastra (S&D). – (ES) Senhor Presidente, Senhora Comissária Damanaki,em primeiro lugar gostaria de felicitar a Comissão pelos esforços levados a cabo no Haiti.

Contudo, a situação exige uma resposta urgente e muito mais forte. Necessitamos de muitosrecursos e de um maior empenho internacional, apesar das dificuldades envolvidas namobilização de fundos no actual contexto económico. Não é aceitável que estejamdisponíveis fundos para alguns problemas, mas não para esta situação humanitária.

Temos um conjunto de prioridades humanitárias e de saúde: informar a população acercade uma doença específica, obter tendas, melhorar o saneamento em todas as regiões eprovidenciar o acesso a água potável. Todas estas tarefas são urgentes e necessitamos deum maior esforço por parte da Comissão e de todos os Estados-Membros.

Hannu Takkula (ALDE). – (FI) Senhor Presidente, gostaria de agradecer à senhoraComissária Georgieva pelo trabalho desenvolvido pela Comissão. É extremamenteimportante que a União Europeia desempenhe um papel muito forte e visível no Haiti.Porém, estão em causa seres humanos, como nós. Também somos responsáveis por eles,pois foram vítimas de uma catástrofe inaudita: primeiro um terramoto, agora uma epidemiade cólera.

É importante que, quando enviamos dinheiro e ajuda para o Haiti, esse apoio cheguerapidamente ao destino. Muitas organizações humanitárias cristãs têm efectuado um bomtrabalhado nesse local e aparentemente possuem canais eficazes para fazer chegarprontamente a ajuda a quem dela necessita. Neste aspecto, espero que a Comissão possa

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recorrer às organizações humanitárias e cristãs reconhecidas que levam a cabo um trabalhotão positivo no Haiti. Desse modo, será possível fazer chegar a ajuda ao destino e obter omelhor resultado possível.

Kristalina Georgieva, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, agradeço-vos atodos pelo empenho e pela discussão de um tema que, infelizmente, nos vai acompanhardurante bastante tempo. Não se trata de uma crise fácil de resolver.

Obtivemos algumas estimativas da evolução do problema nos próximos meses – incluindodos nossos próprios peritos – e concordo plenamente com as afirmações de que é necessárioutilizar as competências do Centro Europeu para o Controlo de Catástrofes no Haiti. Asestimativas são de que entre meio milhão e 720 000 pessoas serão infectadas antes de estesurto terminar.

A estimativa da Organização Pan-Americana de Saúde de 400 000 pessoas é um poucoinferior, mas da mesma ordem de grandeza. Consequentemente, teremos de nos mobilizar.Concordo com todos os que mencionaram a mobilização imediata e a necessidade de ajudaneste preciso momento.

Permitam-me abordar quatro questões. A primeira é sobre a melhor forma de ajudarmos.Estamos num momento em que temos de destacar verdadeiras organizações parceiras ede lhes conceder imediatamente os recursos para agirem. Podemos ainda ter de instar osEstados-Membros a concederem ajuda em géneros. Desde quinta-feira, quando me dirigiaos Estados-Membros, foi-nos oferecido algum apoio, mas é necessário mais, em termosde profissionais de saúde, pastilhas de purificação de água e apoio para uma campanha deconsciencialização, porque – como referiram muitos deputados – existe um mauentendimento generalizado desta doença e das melhores formas de tratamento. Emresultado, as pessoas morrem desnecessariamente por terem medo de se dirigir aos centrosde tratamento: têm medo de apanhar a doença em vez de serem curadas.

Em segundo lugar, vários deputados referiram o montante prometido e o que está a sucederna reconstrução do Haiti. O compromisso da Comissão foi honrado. A Comissãocomprometeu-se com 460 milhões de euros e está a cumprir o calendário anunciado, e aAlta Representante/Vice-Presidente da Comissão, senhora Baronesa Ashton, a par dosenhor Comissário Piebalgs, está prestes a inventariar com os Estados-Membros a nossasituação quanto ao dinheiro prometido. Posso garantir-vos que esta questão vai ser levadamuito a sério, pois a reputação da comunidade internacional está em jogo neste momentodifícil.

Porém – e esta é a minha terceira questão, de grande importância – existe um limite paraa capacidade de absorção de recursos por parte do Haiti, que creio ter referido a alguns devós. Quando fui pela primeira vez ao Haiti, pensei que, por pior que tivesse sido a catástrofe,não era esse o maior problema do país. O maior problema do Haiti foram as muitas décadasde falta de desenvolvimento e a ausência de um Estado funcional, o que, entre outrosaspectos, significa igualmente a ausência de um serviço de saúde funcional.

Vi pessoas em filas para o médico nos campos de refugiados, não porque estivessem doentes,mas porque nunca tinham ido a um médico na vida e queriam tirar partido deste serviçode saúde aí prestado.

Esta ausência total das competências e capacidades de um Estado funcional gera problemasque estão a agravar a epidemia. Ainda não conseguimos obter autorização da parte dogoverno para a eliminação de cadáveres – indispensável, evidentemente, para conter a

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epidemia – e para remover latrinas a fim de melhorar o saneamento. Por conseguinte,nunca é demais destacar a importância de percebermos que os problemas do Haiti não sãofáceis de resolver, porque no seu centro estão décadas de falta de desenvolvimento e aausência de um Estado funcional.

Foi feita uma pergunta a respeito das eleições e sobre se deveriam ser realizadas. Asautoridades do Haiti preferem manter o calendário. É-me difícil dar uma resposta. Aindanão fui ao Haiti, mas considero que o cancelamento ou o adiamento das eleições podemacabar por desestabilizar uma situação muito difícil. Pode advir alguma vantagem darealização das eleições, mas, como já referi, tudo isto se baseia no que ouvi, não no que vi.

A minha quarta questão diz respeito ao empenho. A Comissão foi instada a envolver-sedirectamente: estamos e continuaremos a estar empenhados. A senhora Baronesa Ashtonestará muito provavelmente no Haiti amanhã, e eu tenciono lá ir também, pois nestemomento é importante a mobilização, a boa coordenação e, sinceramente, dar algumaesperança aos cidadãos haitianos, assim como aos nossos funcionários. Os nossos própriosrepresentantes estão a debater-se com uma situação muito difícil: estão em locais onde osprofissionais de saúde do Haiti se assustam com a epidemia e abandonam o terreno,deixando-os com um aumento exponencial de casos em mãos.

O mais importante agora é mantermos uma presença calma e tentarmos seguir o rumoque dê mais esperança aos cidadãos. Um senhor deputado mencionou a determinação dopovo haitiano. É de facto determinado, e merece toda a nossa ajuda neste momento tãodifícil.

Presidente. – Está encerrado o debate.

16. Plano a longo prazo para a unidade populacional de biqueirão do golfo da Biscaiae para as pescarias que exploram essa unidade populacional - Plano a longo prazopara a unidade populacional ocidental de carapau e as pescarias que exploram essaunidade populacional - Proibição da sobrepesca de selecção e restrições à pesca dasolha-das-pedras e do pregado no mar Báltico, nos seus estreitos (Belts) e no Øresund- Utilização na aquicultura de espécies exóticas e de espécies ausentes localmente(debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta dos seguintes relatórios:

– (A7-0299/2010) da deputada Izaskun Bilbao Barandica, em nome da Comissão dasPescas, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho queestabelece um plano a longo prazo para a unidade populacional de biqueirão do golfo daBiscaia e para as pescarias que exploram essa unidade populacional [COM(2009)0399 -C7-0157/2009 - 2009/0112(COD)],

– (A7-0296/2010) do deputado Pat the Cope Gallagher, em nome da Comissão das Pescas,sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que estabeleceum plano plurianual relativo à unidade populacional ocidental de carapau e às pescariasque exploram essa unidade populacional [COM(2009)0189 - C7-0010/2009 -2009/0057(COD)],

– (A7-0295/2010) do deputado Marek Józef Gróbarczyk, em nome da Comissão dasPescas, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que alterao Regulamento (CE) n.º 2187/2005 do Conselho, no respeitante à proibição da sobrepesca

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de selecção e às restrições à pesca da solha-das-pedras e do pregado no mar Báltico, nosseus estreitos (Belts) e no Øresund [COM(2010)0325 - C7-0156/2010 - 2010/0175(COD)],e

– (A7-0184/2010) do deputado João Ferreira, em nome da Comissão das Pescas, sobre aproposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que altera o Regulamento(CE) n.º 708/2007 relativo à utilização na aquicultura de espécies exóticas e de espéciesausentes localmente [COM(2010)0393 - 2009/0153(COD)].

Izaskun Bilbao Barandica , relatora. – (ES) Senhor Presidente, em primeiro lugar gostariade mencionar, agradecer e felicitar o sector da pesca costeira do golfo da Biscaia pelo seucomportamento responsável.

Senhora Comissária, este sector necessita urgentemente deste plano para atingir o seuobjectivo, nomeadamente, manter uma actividade lucrativa sem pôr em causa o futuro dazona de pesca. Para esse efeito será necessário manter a unidade populacional de biqueirãodo Golfo da Biscaia a um nível que permita uma exploração sustentável em termoseconómicos, ambientais e sociais. Este processo será muito mais eficaz se calcularmos osrendimentos da pesca com base em pareceres científicos, em vez de permitirmos quecálculos de TAC (Total Admissível de Capturas) se tornem objecto de negociações políticasobscuras.

As normas de exploração têm, por conseguinte, de ser tratadas neste plano, o que significaque as quotas de pesca têm de ser estabelecidas com base nos cálculos de unidadespopulacionais obtidos a partir de pareceres científicos.

Senhora Comissária, esta iniciativa foi apresentada pela Comissão em Julho de 2009.Iniciámos trabalhos em Setembro. Estabelecemos um processo de trabalho com a totalidadedos sectores de Espanha e de França, representados por organizações de pescadores,institutos científicos e o Conselho Consultivo Regional para as Águas Ocidentais Sul.Seguindo este método, trabalhámos numa proposta conjunta que reuniu amplo apoio noParlamento.

Após a obtenção de um nível elevado de consenso e com consciência da iminente entradaem vigor do Tratado de Lisboa – e da incerteza em torno de como seria aplicado em casosjá abertos –, em 30 de Novembro realizámos uma votação indicativa na Comissão dasPescas. Esta abordagem aberta e inclusiva colidiu com uma atitude muito diferente porparte do Conselho e da Comissão.

Em primeiro lugar, descobrimos no decurso do nosso trabalho que estava a ser preparadoum regulamento de controlo que afectaria este relatório, apesar de só recebermosinformações limitadas a esse respeito. Este facto deixou-nos na incerteza, de uma formaque poderia facilmente ter sido evitada. No seguimento da votação na Comissão das Pescas,durante a Presidência espanhola, negociei a iniciativa com o Conselho. Decidimos organizarum trílogo, mas, para nossa surpresa, no próprio dia da reunião a Presidência espanholainformou-nos inesperadamente de que, a pedido do Governo francês, o Governo espanholtinha decidido adiar a questão, pois tinha dúvidas quanto à sua base jurídica. Após mesesde trabalho, estávamos num impasse. A Presidência espanhola não tinha obtido um acordonem a possibilidade de um trílogo.

Perguntei à nova Presidência se estava disposta a continuar as negociações. Pediram-mepara não ser impaciente, para não ter pressa. Face à total indisponibilidade por parte doConselho para avançar, realizámos uma nova votação, aconselhados pelo serviço jurídico.

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Nesta segunda votação foram rejeitadas três alterações que tinham sido aprovadas navotação indicativa e que eram determinantes para o sector.

A primeira diz respeito às taxas de exploração e propõe 0,4 como uma taxa mais adequada.

A segunda alteração refere-se à inclusão de isco vivo no TAC. Seria um erro contabilizá-locomo parte da quota pescada.

Por fim, a terceira alteração refere-se à revisão das capturas.

Se o Comité Científico não consegue apresentar um cálculo da biomassa actual por nãopossuir dados suficientes, o sector não pode ser penalizado com uma redução de 25% deTAC em relação ao ano anterior. A Comissão já tinha considerado ser mais adequada, nestecaso, uma redução de 10% de TAC, nunca inferior a 7 000 toneladas. Quanto àscompetências desta instituição, foram consistentemente ignoradas pelo Conselho e pelaComissão. O facto de, no preciso momento em que debatemos esta iniciativa, termosinformações não oficiais indicando que o Conselho solicitou a sua anulação indiciaclaramente a atitude do Conselho.

É verdade? Pergunto-lhe, Senhora Comissária. Porquê? O que pretende? Gostaria de obteruma resposta hoje. Gostaria igualmente que a Presidência belga me informasse da razãopara ter pedido a anulação desta iniciativa. Gostaria de obter algumas respostas clarasnestes domínios. Estamos a desenvolver este trabalho há 14 meses, e o resultado é apenasconfusão.

As medidas do Conselho e da Comissão prejudicam a credibilidade das instituições europeiasjunto de um sector que está farto destes procedimentos e que necessita de soluções.

Reforcem a vossa credibilidade neste sector! Ou, pelo menos, recuperem a vossacredibilidade perdida desde Setembro de 2009!

O Parlamento está determinado a exercer os poderes de co-decisão conferidos pelo Tratadode Lisboa. Têm de os respeitar. A vossa conduta não se adequa a uma liderança do séculoXXI. Os nossos princípios orientadores são a transparência e a participação. Por favor,adoptem estes princípios. É assim que o projecto europeu tem de avançar.

Pat the Cope Gallagher, relator. – (GA) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhorase Senhores Deputados, em primeiro lugar gostaria de agradecer a todas as pessoas que meauxiliaram na preparação deste relatório importante sobre o carapau: os relatores-sombra,o secretariado da Comissão das Pescas, o CCR Pelágico, o consultor político do meu grupoe o consultor do meu próprio gabinete. Gostaria ainda de agradecer à Comissão e aoConselho pela sua ajuda e pelo seu apoio. A colaboração e a discussão, assim como ocontributo de ideias de todas estas pessoas, possibilitaram que vos apresentasse hoje esterelatório – e espero que ele possa ser aceite na sua generalidade.

(EN) O carapau constitui uma das unidades populacionais mais importantes para o sectordas pescas na Europa. Esta proposta baseia-se no plano de execução acordado pela ComissãoEuropeia e pela Cimeira Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentávelem 2002.

Nessa Cimeira, a Comissão concordou manter ou repor as unidades populacionais a níveisque possam produzir o rendimento máximo sustentável. A subsequente proposta efectuadapela Comissão Europeia foi redigida em estreita colaboração com o Conselho ConsultivoRegional (CCR) Pelágico, que tinha apresentado originalmente esta proposta. Desde 1997,

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foram realizadas avaliações trienais da produção de ovos de carapau. Os dados recolhidosforam insuficientes para permitir que os cientistas realizassem uma avaliação completa dasaúde da unidade populacional.

O plano de gestão proposto procura colmatar estes problemas através do estabelecimentode uma fórmula para as embarcações de pesca do carapau, conhecida como regra decontrolo das capturas. Esta regra cria um mecanismo para calcular um limite anual dedesembarques permitidos de carapau recolhido na zona definida. O plano destinava-se aentrar em funcionamento em finais de 2009, mas foi atrasado devido à adopção do Tratadode Lisboa.

É evidente que respeito os direitos do Conselho de estabelecimento e repartição depossibilidades de pesca. Reuni-me com os representantes da Presidência belga antes daaprovação do meu relatório na Comissão das Pescas. Sugeriram uma proposta queconcederia um determinado nível de flexibilidade ao Conselho em termos da quantidadetotal possível de retirar no estabelecimento dos TAC. Considero que esta proposta daPresidência belga, subsequentemente adoptada pela Comissão das Pescas, protege o direitoexclusivo do Conselho ao abrigo dos Tratados de estabelecimento e repartição daspossibilidades de pesca.

Gostaria de discutir as alterações propostas pelos grupos políticos PPE, S&D e GUE/NGLquanto à Zona 8C – ou seja, o golfo da Biscaia. Gostaria de informar o Parlamento de que,enquanto relator, apoio a alteração apresentada pelos socialistas, mas não posso aceitar asalterações dos grupos PPE e GUE/NGL. Passo a enumerar as minhas razões.

Os pareceres científicos são claros. Esta unidade populacional abrange toda a zonageográfica. Se o Parlamento aprovar a proposta dos grupos PPE e GUE/NGL, no sentidode criar duas zonas independentes e identificadas para uma unidade populacional, invalidaráo plano de gestão. Se o concretizássemos, estaríamos a estabelecer um precedente muitoperigoso e muito grave para futuros planos de gestão do carapau. Não podemos aceitar adivisão de uma única unidade populacional de pesca.

Quem apoiar estas propostas terá as suas razões pessoais e as dos seus Estados-Membros,mas trata-se de uma política comum de pesca e temos de respeitar esse princípio.Compreendo que os nossos colegas espanhóis ou portugueses possam estar preocupados,e incluí as suas preocupações na Alteração 7 do projecto de relatório. É aí referido que esteplano será executado tendo em conta as frotas artesanais e os direitos históricos.

Em conclusão, esta alteração é aceitável para o Conselho e para o CCR Pelágico, e tem emconta as opiniões manifestadas pelos colegas espanhóis e portugueses. Deixemos a propostacomo está.

Marek Józef Gróbarczyk, relator. – (PL) Senhor Presidente, gostaria de iniciar a minhaintervenção manifestando o meu sincero agradecimento a todas as pessoas que contribuírampara a preparação deste relatório: à Comissão Europeia, a todos os relatores-sombra e atodos os membros da Comissão das Pescas pelo seu apoio na redacção deste relatório.Obtivemos um acordo total, pois o relatório foi aprovado por unanimidade na Comissãodas Pescas do Parlamento Europeu. Uma vez mais, gostaria de manifestar o meu sinceroagradecimento.

O relatório, que se destina a regulamentar a pesca de peixes chatos no mar Báltico e a detera prática de devoluções mantendo o modelo de gestão de pescas conhecido como totaladmissível de capturas (TAC), indica que este sistema funciona devidamente e tem uma

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aplicação prática para determinadas espécies de peixe. Por isso, deverá ser realçada aimportância da adição do artigo 15.º-A ao Regulamento (CE) n.º 2187/2005. As espéciesde peixes capturadas podem ter um valor de mercado reduzido ou podem ser imprópriaspara consumo humano. Há que salientar que esta disposição permite que se retire de bordosolhas-das-pedras vivas que tenham sido capturadas e que não tenham valor de mercadono período em que as restrições de protecção estão em vigor. Este artigo permitirá, porconseguinte, a exploração sustentável dos recursos aquáticos vivos.

O plano de acção adoptado com base no meu relatório tem de eliminar devoluções no marBáltico, nomeadamente através da aplicação, onde apropriado, de uma interdição total dasdevoluções nas pescas no Báltico. Esta medida terá de resultar numa gestão mais sustentávele mais eficiente dos recursos marinhos. Não se justifica uma interdição total de devoluçõesno caso da solha-das-pedras ou de outros peixes chatos, pois terá um impacto negativonas suas unidades populacionais. Tendo em conta a necessidade de manter as pescas estáveise previsíveis e de explorar as unidades populacionais dentro dos limites estabelecidos,manifesto a minha preocupação face à possibilidade de a interdição das devoluções serusada para legalizar a pesca em larga escala de bacalhau subdimensionado no Báltico.Devido à falta de dados científicos fiáveis que possam servir de base à avaliação das capturasacessórias na pesca industrial, é essencial iniciar imediatamente a documentação dascapturas, juntamente com um controlo total dos navios envolvidos nessas actividades depesca. É imperativo que ocorra um controlo total dos produtos da pesca industrial aquandodo desembarque, caso contrário a política de protecção das unidades populacionais doBáltico seria irrealista e o plano de gestão do bacalhau a longo prazo seria inútil.

A União Europeia tem de tomar imediatamente medidas ao abrigo da PCP, com vista aresolver a questão da pesca industrial no Báltico, tendo em conta que, do ponto de vistaambiental, essa pesca prejudica o ecossistema do Báltico, em particular por este mar tersido classificado como “Zona Marítima Particularmente Sensível” pelo Comité de Protecçãodo Meio Marinho da OMI, o que, por conseguinte, coloca o Báltico entre os ecossistemasmarinhos mais valiosos e sensíveis do mundo. Considerando que diversas espécies depeixes estão a adaptar-se às alterações climáticas no Báltico, o que significa que as suasnormas de desova e de migração estão igualmente a mudar, deveria proceder-se à revisãodas zonas de protecção marinha no Báltico e à elaboração de um plano de gestão a longoprazo das espécies de peixes chatos neste domínio. Devido à falta de dados fidedignos eactualizados que possam servir de base à decisão de manter certas zonas do mar Bálticodesprotegidas, as alterações em curso deveriam ser contempladas e deveria ocorrer umarevisão das zonas protegidas.

João Ferreira, relator . − Senhor Presidente, senhora Comissária, caros colegas, aintrodução de espécies exóticas constitui um dos principais elementos de perturbação dosecossistemas e uma das principais causas de perda da biodiversidade a nível mundial.

Conforme é reconhecido pela própria Comissão, uma parte significativa da introdução deespécie exóticas nas águas costeiras e interiores da Europa deve-se às práticas aquícolas ede povoamento. A alteração, proposta pela Comissão, ao Regulamento relativo à utilizaçãona aquicultura de espécies exóticas e de espécies ausentes localmente, fundamenta-se nosresultados de um projecto de investigação que reuniu diversas Instituições europeias, oprojecto Impasse, uma acção concertada sobre impactos ambientais de espécies exóticasna aquicultura.

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Este projecto propõe uma definição operacional de instalação aquícola fechada, maisdetalhada e exigente face à actual. De acordo com esta definição e segundo as conclusõesdo projecto, o grau de risco associado às espécies exóticas pode ser bastante reduzido,inclusive até um nível aceitável, se as possibilidades de fuga dos organismos-alvo e não-alvodurante o transporte forem eliminadas e se forem definidos protocolos claros nas instalaçõesreceptoras.

Em face dos resultados deste projecto, a Comissão propõe aliviar os operadores deformalidades administrativas desnecessárias, propondo dispensar do procedimento delicença as introduções e translocações para instalações aquícolas fechadas. Importa aquisublinhar que se o processo de avaliação do risco assenta em análises científicas e técnicas,já a decisão sobre a aceitabilidade do risco é objecto de uma decisão política. Assim,entendemos que a facilitação do processo de introdução de espécies exóticas na aquiculturadeverá ter como contrapartida uma definição o mais rigorosa possível dos requisitos a quedeverão obedecer as instalações aquícolas fechadas, de acordo com os resultados do projectoImpasse.

Deverá ainda ser estabelecida a necessidade de fiscalização das instalações, de modo aassegurar que todos os requisitos técnicos propostos pelos especialistas sejam efectivamentetidos em conta e respeitados durante o funcionamento das instalações. O mesmo se aplicaquanto aos cuidados a ter no transporte de espécies-alvo e não-alvo para as instalações ea partir das instalações. Estas foram as principais preocupações que presidiram à elaboraçãodo relatório e das alterações propostas face à proposta inicial da Comissão.

Permitam-me uma consideração adicional: o desenvolvimento sustentável da aquiculturaexige um forte apoio à investigação científica e ao desenvolvimento tecnológico na áreado cultivo de espécies autóctones, permitindo uma diversificação da produção e da ofertaalimentar e uma elevação da sua qualidade e garantindo igualmente uma maior segurançaambiental.

A presente iniciativa legislativa deveria, por isso, ser acompanhada de um forte estímuloneste domínio. Há que explorar as potencialidades da aquicultura, mas há também queultrapassar de forma ambientalmente sustentável as suas limitações. Entre outros aspectos,será importante proceder a uma reorientação do Programa-Quadro de Investigação, deforma a permitir uma adequada cobertura desta importante área de investigação.

Resta-me agradecer a colaboração de todos os relatores-sombra, com os quais foi possívelfazer um trabalho profícuo, assim como aos serviços da Comissão e ao Conselho, quer àPresidência espanhola, quer agora também à Presidência belga, pelo trabalho quedesenvolvemos ao longo destes meses.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de fazer algunscomentários a respeito do plano a longo prazo relativo ao biqueirão, mas antes de maisgostaria de agradecer à relatora, senhora deputada Bilbao, e a todos os membros daComissão das Pescas pelo seu trabalho nesta proposta. Gostaria de declarar à senhoradeputada Bilbao que ocorreu, de facto, um atraso na aprovação desta proposta, mais foievidente que a Comissão fez o máximo possível para desfazer este impasse.

A unidade populacional de biqueirão no golfo da Biscaia corria o risco de entrar em ruptura,pelo que a pesca foi proibida em 2005. Foi retomada em Janeiro de 2010, apenas cincoanos depois. Em Julho passado, cientistas confirmaram que a unidade populacional estavaem segurança, acima dos limites preocupantes. Este facto permitiu-me propor um TAC

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acima das 15 000 toneladas, actualmente em vigor. O TAC segue as regras de captura doplano, e congratulo-me por ver que esta proposta já contribui para a gestão adequada daunidade populacional.

A longa proibição causou claramente prejuízos financeiros graves a quem dependia destetipo de pesca. Temos de impedir que esta situação volte a ocorrer. A única forma é atravésde uma exploração da unidade populacional em consonância com o rendimento máximosustentável e mantendo um baixo risco de encerramento da pesca. A nossa propostademonstra que é exequível, mantendo simultaneamente a sustentabilidade do sector. Sepretendemos evitar novas proibições, então temos de manter uma taxa de exploração de30%.

Gostaria de agradecer à Comissão das Pescas pelo seu apoio à substância do documento eà delegação de poderes na Comissão. Posso apoiar estas alterações. Posso também apoiaras alterações relacionadas com o alinhamento da proposta com o novo regulamento decontrolo, em vigor desde Janeiro de 2010.

Porém, existe uma excepção. Diz respeito à redução do prazo para notificação de entradanum porto de quatro horas para uma hora. Esta alteração altera a regra das quatro horasque figura no novo regulamento de controlo. Sabem que este novo regulamento de controloestá em vigor desde o início do ano. Não concordo que o alteremos passado tão poucotempo, em particular porque o próprio regulamento de controlo permite que osEstados-Membros costeiros apliquem excepções específicas quando se justifique. Temosentão esta margem de manobra. Não é efectivamente necessário alterar este regulamentode controlo passado tão pouco tempo, mas, como é evidente, a decisão é vossa.

Abordarei agora o segundo relatório, o plano plurianual para o carapau. Permitam-mereferir que o senhor deputado Gallagher, enquanto relator, e todos os membros da Comissãodas Pescas efectuaram um trabalho excelente nesta proposta, e gostaria de vos agradecerpelo vosso árduo esforço e pela vossa abordagem construtiva.

O carapau ocidental é de longe a mais importante das três unidades populacionais emáguas da UE. Esta unidade populacional estabilizou actualmente a um bom nível, o quesignifica que o TAC para 2011 permanece quase inalterado. A decisão anual do TAC destaunidade populacional, baseada em pareceres científicos recentes, não corresponde ao nossoobjectivo de uma gestão vinculativa, previsível e de longo prazo. Por conseguinte, valorizoeste plano, como outros planos a longo prazo, porque desejo pôr termo à negociação anualsobre o que pode ser pescado. O sector das pescas merece que lhe demos mais planeamentoe estabilidade, acordando planos de longo prazo.

O vosso apoio geral, tanto da substância do documento como da delegação de poderes,demonstra que partilhamos o mesmo objectivo. Posso apoiar as vossas alterações e aquelasrelacionadas com o alinhamento da proposta com o novo regulamento de controlo, emvigor desde Janeiro de 2010. Para além disso, o plano em si não deveria fixar áreas TAC,permitindo que sejam adaptadas nas decisões anuais TAC decorrentes de parecerescientíficos pertinentes.

Contudo, uma das alterações não segue o rumo certo, nomeadamente a vossa aceitaçãodo compromisso da Presidência do Conselho de cerca de 5 000 toneladas. O valor de 5 000toneladas não tem qualquer fundamento científico. Como foi decidido? Porque não 6 000ou 7 000? Ter a liberdade de subir e descer os níveis adequados de TAC numa estratégiade longo prazo não me parece uma estratégia sólida.

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Concentrar-me-ei agora no terceiro relatório sobre as medidas técnicas para o Báltico.Gostaria de aproveitar para agradecer ao relator, senhor deputado Gróbarczyk, pelo seutrabalho muito positivo no relatório, que foi aprovado por unanimidade. Uma vez mais,agradeço à Comissão das Pescas pelo seu pleno apoio. Com esta proposta, estamos agarantir uma continuidade jurídica no domínio da nossa política relativa à sobrepesca, quefoi aplicada ao mar Báltico no ano passado, assim como às restrições de pesca para algumasespécies.

Abordarei em seguida o último relatório: sobre a utilização na aquicultura de espéciesausentes localmente. Gostaria de agradecer ao relator, senhor deputado Ferreira, pelo seutrabalho, e a todos os membros da Comissão das Pescas.

Como sabem, a Comissão está empenhada em promover o desenvolvimento sustentávelda aquicultura na UE através de uma nova estratégia de aquicultura. Este processo implicaum nível elevado de protecção ambiental, assim como o estabelecimento de condiçõesque facilitem as operações de aquicultura. Temos de seguir esta via. A alteração doregulamento sobre a introdução de espécies ausentes localmente em instalações aquícolasfechadas irá decerto facilitar as actividades de aquicultura, ao eliminar encargosadministrativos desnecessários, enquanto garante, simultaneamente, a protecção adequadados habitats aquáticos. Podemos fazer mais ainda, é evidente, pelo que saúdo a propostado senhor deputado Ferreira para redobrarmos os nossos esforços de investigação sobreaquicultura. Faremos o nosso melhor através do nosso orçamento e da reforma da PCP.

Congratulo-me por as discussões na Comissão das Pescas terem resultado numa melhordefinição de “instalação aquícola fechada”.

Gostaria de sublinhar que a proposta inicial foi adoptada pela Comissão um mês antes daentrada em vigor do Tratado de Lisboa, pelo que tivemos aqui um problema. A Comissãodas Pescas apresentou alterações destinadas a alinhar o regulamento de base com as novasdisposições de comitologia do Tratado de Lisboa. Considerámos oportuno realizar estealinhamento conforme proposto pelo Parlamento. Por outro lado, era necessário modificara nossa proposta formalmente de modo a aduzir alterações substanciais, o que resultouno atraso em causa.

Em conclusão, agradeço uma vez mais a todos os relatores da Comissão das Pescas pelosseus relatórios e pelo seu trabalho nestas questões pertinentes.

Carmen Fraga Estévez, em nome do Grupo PPE. – (ES) Senhor Presidente, agradeço muitoaos autores dos relatórios pelo seu excelente trabalho. Gostaria de concentrar-me nosplanos de gestão, apesar de não ir debater aspectos substanciais, pois já foram destacadospelos relatores. Em vez disso, referirei os problemas institucionais consideráveis que estãoa gerar, e que têm de ser resolvidos.

Depois de mais de um ano de negociações com o Conselho, o Parlamento decidiu, muitoresponsavelmente, realizar uma primeira leitura dos relatórios com o objectivo de exercerpressão para ultrapassar o impasse actual, que afecta estas duas propostas e todas as outrasque nos serão apresentadas no futuro próximo.

O Parlamento está disposto a encontrar uma solução de compromisso com o Conselho ecom a Comissão, mas a condição essencial para isso é o Conselho reconhecer e aceitar queo cerne dos planos de gestão a longo prazo tem de se enquadrar no procedimento legislativoordinário, ou seja, na base jurídica do n.º 2 do artigo 43.º do Tratado.

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É incompreensível que antes do Tratado de Lisboa, quando o Conselho tinha competênciaexclusiva também em matéria de TAC e de quotas, se solicitasse o parecer consultivo doParlamento, enquanto agora o Conselho reclama exclusividade nestes domínios, apesarde, segundo todos os pareceres jurídicos, o n.º 3 do artigo 43.º ter de ser interpretadorestritivamente.

Insto, por conseguinte, a senhora Comissária a ter em atenção a posição do Parlamento,mesmo que algumas propostas – e considero que a pergunta da senhora deputada Bilbaoa este respeito não foi respondida – sejam retiradas e substituídas por novos textos. Casocontrário, seremos forçados a recorrer ao Tribunal de Justiça e a bloquear futuros planosa longo prazo, o que deve ser evitado, pois trata-se de um instrumento essencial para agestão das pescas.

Kriton Arsenis, em nome do Grupo S&D. – (EL) Senhor Presidente, os textos em discussãohoje contêm muitos pormenores técnicos. Porém, há uma mensagem clara subjacente: oParlamento Europeu insta as outras instituições, a Comissão e o Conselho, a prestarematenção aos dados científicos sempre que tomarem decisões no domínio da pesca e daforma como pescamos.

Não podemos negociar seguindo orientações políticas quando decidimos como pescarcada espécie de peixe. O Conselho e o Parlamento não podem negociar questões que têmde ser julgadas com base em dados científicos seguindo orientações políticas. É apenascom base em dados científicos que podemos estabelecer os excedentes nos nossos marese o que podemos pescar sem ocorrer um impacto irreversível na vida marinha e nas pescas.

Estamos perante a política comum das pescas revista. O que solicitamos nestes relatóriosé que tomem medidas ousadas quando revirem a política comum das pescas, ao garantirque as decisões destinadas a salvaguardar um futuro viável para os nossos mares e para aspescas são tomadas com base em dados científicos.

Carl Haglund, em nome do Grupo ALDE. – (SV) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, concentrar-me-ei no relatório sobre a pesca do biqueirão no golfo da Biscaiae na opinião do nosso grupo quanto a esta matéria. Trata-se de uma questão extremamenteimportante e constitui um exemplo de como devemos abordar questões delicadas nodomínio das pescas. É importante ter presente que as pescas de que estamos a falar entraramem ruptura em 2005 devido à sobrepesca.

Agora que a pesca é permitida novamente, é efectuada com base no princípio da precaução,como deve ser. É a única opção de longo prazo e sustentável, e coincide com a opinião domeu grupo. A verdade é que o sector da pesca talvez espere maiores quantidades de peixeno início, mas a longo prazo é melhor seguirmos esta nossa opção. O nosso grupo consideraque este procedimento é o adequado a este tipo de questão, hoje e doravante.

Isabella Lövin, em nome do Grupo Verts/ALE. – (SV) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o Tratado de Lisboa alterou os poderes do Parlamento no domínio da políticadas pescas. Os planos de gestão que votaremos amanhã serão o primeiro teste aodesempenho dessas responsabilidades pelo Parlamento. Considero que, em geral,enfrentámos bem este desafio, mas não estivemos isentos de falsos alarmes. Existe semprea tentação de os decisores comprometerem as orientações científicas devido a umaconsideração imponderada pelo sector das pescas. Além disso, as pessoas têm memóriacurta. Apesar de a pesca do biqueirão no golfo da Biscaia ter entrado em ruptura no anorecente de 2005 e de o sector das pescas ter cancelado totalmente a pesca, ainda existem

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incentivos financeiros mesquinhos que põem em causa a sustentabilidade a longo prazodas unidades populacionais. Porém, a prudência venceu os jogos de azar na Comissão dasPescas.

Não é difícil contar peixes, é como contar árvores. A diferença reside no facto de os peixesse movimentarem e não estarem à vista. Foi esta a piada de um dos principais biólogosmarinhos do mundo, Willy Kristensen, no filme The End of the Line sobre o esgotamentodas unidades populacionais de peixe nos oceanos. Referia-se ao facto de existir um elevadograu de incerteza no cálculo de unidades populacionais. É importante ter presente estefacto, tendo em conta que a UE e o mundo decidiram obter o rendimento máximosustentável (RMS) para todas as espécies de peixes com valor comercial em cerca de cincoanos.

Gostaria de salientar que é totalmente impossível obter o RMS para todas as espécies depeixe simultaneamente em todo o mundo. Necessitamos, por conseguinte, de margens desegurança. Os ecossistemas têm de ser considerados na sua totalidade e os RMS têm de serconsiderados um limite máximo, não um objectivo. Espero que este facto seja tido emconsideração na próxima política das pescas e respeitado nos planos de gestão, noParlamento e no Conselho. Necessitamos de pôr em prática rapidamente planos de gestãoa longo prazo para todos os ecossistemas marinhos da Europa. Por fim, gostaria de referirque concordo totalmente com o relator, senhor deputado Gallagher, quando afirma quedividir uma quota de uma única unidade populacional de carapaus contraria totalmenteos pareceres científicos.

Andrew Henry William Brons (NI). – (EN) Senhor Presidente, os problemas referidosneste debate não são específicos à região em causa. Existem igualmente problemas queafectam as embarcações do Mar do Norte.

Reuni-me com os pescadores de Whitby em Yorkshire na sexta-feira. Estão preocupadoscom problemas que provavelmente inviabilizarão a actividade das embarcações subsistentesna frota britânica. A ameaça imediata é a proposta de uma redução no número de dias emque podem pescar, de 135 dias possivelmente para 90. Perguntei aos operadores dosarrastões que redução poderiam suportar sem terem de abandonar a actividade, ao que meresponderam que qualquer redução teria esse efeito.

A política de obrigar os arrastões a proceder à devolução dos peixes mortos ou moribundospara evitar desembarcar peixes de dimensões inferiores às regulamentares ou que excedamas quotas de espécies é perfeitamente monstruosa. Todas as capturas que não sobreviverãodevem ser desembarcadas. A devolução não é conservação, é desperdício. A maximizaçãodo valor dos desembarques (high grading) constitui uma resposta ao sistema injusto dequotas. Se reformarem o sistema, este fenómeno desaparecerá. As quotas sãocomercializadas no mercado aberto e são alvo de especulação por parte dos ricos epoderosos. Este facto aumenta o preço das quotas, que são atribuídas aos pescadores porvalores exorbitantes. A especulação tem de ser totalmente erradicada.

Paulo Rangel (PPE). - Senhor Presidente, Senhora Comissária, caros Colegas, a propósitodo Relatório Gallagher e, nomeadamente, do plano plurianual de gestão da unidadepopulacional do carapau, é fundamental defender aqui a emenda que vem propor o PPE eque, particularmente, foi feita pela mão da Deputada Patrão Neves, tendo em vista os trêsobjectivos do Livro Verde e da reforma da Política Comum das Pescas: o objectivo ambiental,que está perfeitamente respeitado no relatório, e os objectivos económicos e sociais, sejao da rentabilidade económica seja o do sustento digno para os profissionais.

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Nessa linha, é muito importante que façamos uma distinção: quando falamos do carapauocidental é importante distinguir entre a zona VIII C, a zona envolvente do Cantábrico queestá essencialmente orientada para a pesca artesanal e que sustenta um conjunto importantede populações em Portugal, em Espanha e em França em particular, e a zona mais a norte,nomeadamente a zona para a pesca industrial, a qual está, portanto, essencialmente pensadapara uma rentabilização económica. Justamente por isso é que se impõe fazer uma emendaneste relatório, para que fique harmonizado, não apenas com os objectivos fundamentaisdo Livro Verde para a Política Comum da Pesca ou para a reforma da Política Comum dasPescas, mas também com as recomendações que o Conselho apresentou no regulamentodos TAC para 2011, no qual o carapau da zona VIII C do CIEM é essencialmente consideradopara a pesca artesanal, enquanto que o norte, nesta zona ocidental, está essencialmentevoltado para a pesca industrial. Só fazendo esta aproximação, que olha à especificidade eà vocação de cada zona de vivência do carapau ocidental, é que se pode verdadeiramenteproteger todas as finalidades da Política Comum da Pesca.

Josefa Andrés Barea (S&D). – (ES) Senhor Presidente, Senhora Comissária, as minhasfelicitações aos quatro relatores. Também eu me vou debruçar sobre a questão dos planosde gestão para as unidades de biqueirão e de carapau.

A proposta sobre a exploração das unidades populacionais de biqueirão que, inicialmente,ia ser uma proposta sobre a exploração sustentável do biqueirão revelou-se complexa eestá actualmente bloqueada no Conselho. Este é o sector que tem sofrido mais danos.Estamos num impasse porque a situação não foi desbloqueada por não terem sido tomadasdecisões no Conselho e também na Comissão.

Gostaria de salientar a posição da delegação socialista espanhola, que tem apoiado aspretensões unânimes do sector ao longo deste processo, fundamentando-se – e repitofundamentando-se - em relatórios científicos e no conselho consultivo regional. É estatambém a posição mantida em relação às novas questões levantadas pela reforma da políticacomum das pescas, a realizar proximamente.

Perante este impasse, solicitamos à Senhora Comissária que, caso necessário, retire aproposta, tome em consideração a posição do Parlamento, e apresente uma nova proposta.

No que se refere ao carapau, o senhor deputado Gallagher descreveu em linhas gerais váriasquestões com as quais também concordo, tais como a introdução de programas plurianuais,os totais admissíveis de captura e as recomendações científicas. Propôs também umaalteração que o Grupo Socialista considera significativa e que os socialistas espanhóistambém consideram significativa, na medida em que Espanha tem um sector tradicionalde pesca do carapau, que é consumido fresco no próprio dia em que é capturado. O nãoreconhecimento deste sector traduzir-se-á em prejuízos socioeconómicos e irá certamenteenfraquecer as perspectivas de uma melhor gestão.

Por esta razão, cremos que o senhor deputado Gallagher devia ter tomado em consideraçãoa nossa proposta, diferenciando o caso da pesca costeira.

Britta Reimers (ALDE). – (DE) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras eSenhores Deputados, os meus agradecimentos aos relatores. Atendendo ao elevado níveldas importações de peixe e produtos da pesca da UE, é essencial mantermos e apoiarmosos nossos pescadores locais, bem como o sector interno da aquicultura. Necessitamosurgentemente de adoptar métodos de captura melhores, a fim de assegurar a subsistênciaa longo prazo dos nossos mares e dos nossos pescadores.

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É também essencial permitirmos que a aquicultura continue a expandir-se. Necessitamosurgentemente de uma recolha mais eficaz de dados e de trabalhos de investigação maisaprofundados, uma vez que só quando soubermos o que se está realmente a passarpoderemos tomar as decisões certas para o futuro.

A nossa falta de êxito em conjugar a economia com a ecologia - que, afinal, não são tãodiferentes como se pensa - deve-se frequentemente ao excesso de burocracia e à falta deconhecimentos.

PRESIDÊNCIA: LIBOR ROUČEKVice-presidente

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE). – (ES) Senhor Presidente, relativamente ao debatesobre o biqueirão, gostaria igualmente de salientar a sua importância e também o facto dese tratar de um ponto de viragem, não só para o sector e para o tema do biqueirão emparticular, mas também para as relações entre a Comissão, o Parlamento e o Conselho.

Neste aspecto, gostaria ainda de dizer muito claramente que o Grupo dos Verdes/AliançaLivre Europeia apoia as propostas da Comissão no sentido de se adoptar uma perspectivamais caracterizada pela precaução.

Fundamentalmente, apoiamos as propostas no que respeita a três pontos: o primeiro é aregra de controlo das capturas que, tal como a Comissão, consideramos que não deve sersuperior a 0,3; o segundo tem a ver com os totais admissíveis de captura (TAC) que, a nossover, devem ter em conta o isco vivo; o último ponto é a redução dos TAC, que deve ser depelo menos 25%, quando necessário.

Apoiámos a Comissão quanto a estes três assuntos, e penso que isto é razoável, precisamenteporque o que pretendemos é agir, por uma vez, como médicos holísticos que curam, e nãocomo médicos forenses que simplesmente certificam o óbito. Creio que é importantetornarmos esta mensagem bem clara e penso que temos aqui uma boa oportunidade deagir correctamente.

Werner Kuhn (PPE). – (DE) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras e SenhoresDeputados, o meu contributo prende-se com o regulamento do Parlamento Europeu e doConselho relativo à proibição da sobrepesca de selecção e às restrições à pesca dasolha-das-pedras e do pregado no mar Báltico, nos seus estreitos (Belts) e no Øresund. Oque nos preocupa aqui não é simplesmente a alteração de um regulamento, mas duasespécies muito importantes e excelentes de peixe utilizadas na alimentação, de quenecessitamos urgentemente na Europa para o nosso mercado interno. Mais uma vez, énítido que os cientistas e o sector devem trabalhar em conjunto com vista a assegurar quea sua experiência - especialmente nos domínios das devoluções ao mar e da gestão dasunidades populacionais, e também no que respeita ao destino das capturas acessórias - sejaconsiderada e avaliada sensatamente. Sabemos quais são todas as opções que temos emmatéria de imposição de restrições neste domínio; o senhor deputado Gróbarczyk expô-lasde uma maneira excelente. É essencial que o artigo 15.º-A seja incluído no regulamento.Todos ouviram porquê - o relator, uma vez mais, explicou-o muito claramente. O nossoobjectivo comum é reduzir ao mínimo as capturas acessórias e as devoluções ao mar, e nacomissão conseguimo-lo.

No entanto, no caso de algumas espécies de peixes - entre as quais se incluem a solha e opregado -, acontece que os juvenis e os espécimes de tamanho insuficiente podem ser

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devolvidos ao mar se tiverem sido recolhidos a bordo juntamente com as capturas. Étambém essencial, naturalmente, trabalhar com artes de pesca de qualidade excelente,pescar selectivamente e respeitar os períodos de defeso. Estas duas espécies de peixes estãoconstantemente a mudar os seus locais de procriação, pelo que as zonas de pesca tambémdevem ser claramente definidas, sendo igualmente necessário descrever com precisão osperíodos e os locais de procriação.

Os parâmetros de comercialização não devem ser revistos em sentido descendente, demodo que a única possibilidade que reste seja fazer farinha de peixe com esses recursosexcelentes. Não é esse o nosso objectivo. Queremos servir o mercado, e foi por essa razãoque alterámos o regulamento desta forma.

Ulrike Rodust (S&D). – (DE) Senhor Presidente, Senhora Comissária Damanaki,congratulo-me com o facto de esta semana podermos adoptar quatro importantesregulamentos sobre a política comum das pescas e termos conseguido chegar a acordoentre nós - e também com o Conselho e a Comissão - no que respeita aos relatórios sobrea aquicultura e as medidas técnicas para o mar Báltico.

Infelizmente, o mesmo não se pode dizer dos dois regulamentos sobre os planos de gestãoa longo prazo. A fórmula correcta para a gestão das unidades populacionais da sardinhasempre foi objecto de muita discussão na comissão. Penso que o texto apresentado aoplenário parece bastante bom e congratulo-me com o facto de o Grupo do Partido PopularEuropeu (Democratas-Cristãos) ter, ao que parece, compreendido isso, pois não apresentoumais alterações. Presumo que irão votar a favor amanhã.

Temos, porém, um problema muito mais grave no que diz respeito ao Conselho.Contrariamente ao que aconselharam os seus próprios juristas, a maioria dosEstados-Membros recusa-se a aceitar o direito de co-decisão do Parlamento Europeu, numaaltura em que já lá vai mais de um ano desde que entrou em vigor o Tratado de Lisboa!Considero isto escandaloso. Por conseguinte, sugeri à presidente da nossa comissão quese escrevesse uma carta conjunta aos ministros europeus das Pescas.

Dar-me-ia grande prazer se conseguíssemos chegar a acordo nos próximo dias, de modoa que, todos juntos, possamos demonstrar a grande determinação do Parlamento. Nãovamos permitir que o Conselho nos ignore tão facilmente.

Ian Hudghton (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, apoio a posição assumida pelosenhor deputado Gallagher no seu relatório e irei votar em função disso amanhã, quandofor o momento de o fazer.

O princípio do planeamento plurianual é um princípio sensato se permitir que os pescadores- e também o sector da transformação - consigam planear com antecedência suficiente.Mas, de um modo geral, há alguns aspectos muito negativos da gestão da pesca na UE quesubsistem, como bem sabem. Estou firmemente convencido de que deviam ser os própriospaíses pesqueiros - aqueles que têm direitos de acesso a zonas específicas do mar - a tomaras decisões sobre a conservação e gestão das unidades populacionais.

Vários oradores voltaram a referir o escândalo das devoluções ao mar. Existe, na Escócia,uma consciência crescente de que as devoluções são um resultado directo dos regulamentosda UE e, em particular, do plano de recuperação do bacalhau. Espero que a SenhoraComissária tome nota disto e adopte medidas no sentido de resolver o problema que é oescândalo das devoluções, que seria possível evitar alterando alguns dos regulamentosimpraticáveis actualmente em vigor.

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Gabriel Mato Adrover (PPE). – (ES) Senhor Presidente, na minha intervenção, vouconcentrar-me em dois relatórios cujo procedimento e cujos resultados finais são umexemplo daquilo que se deve fazer e do que não se deve fazer. Refiro-me ao plano para aunidade populacional de biqueirão e à utilização de espécies exóticas na aquicultura.

No que respeita ao biqueirão, um exemplo daquilo que não se deve fazer, trata-se de umassunto que tem vindo a ser discutido há mais de um ano e que, infelizmente, se converteunum debate sobre os poderes que o Tratado de Lisboa confere ao Parlamento e sobre abase jurídica da proposta da Comissão, em vez de um debate sobre aquilo que é melhorpara os pescadores, para as indústrias e para a pesca. Tem sido um debate longo e fútil,cuja vítima é o sector, que tem observado o desenrolar dos acontecimentos com grandeespanto enquanto nós nos perdemos em discussões, sem que o plano de gestão há muitoesperado avance e havendo o perigo de esse plano nunca vir a concretizar-se.

As pessoas que trabalham no sector do biqueirão têm-se queixado, justificadamente, dosobstáculos administrativos com que esse plano se tem deparado, quando ele é tãoimportante para evitar mais interrupções das actividades nesta pescaria.

Creio sinceramente que, neste contexto de incerteza, a Comissão devia procurar enviarum sinal positivo ao sector hoje, no Parlamento.

Pelo contrário, no que respeita à utilização de espécies exóticas, o acordo a que o Parlamentochegou em primeira leitura representa um bom compromisso. A Comissão, o Conselhoe o Parlamento conseguiram chegar a um acordo rapidamente e sem grandes divergênciasquanto a aspectos jurídicos ou a factos.

O acordo não só estabelece uma definição rigorosa de instalações aquícolas fechadas, comotambém consegue uma maior clareza jurídica para as empresas do sector e, sobretudo,elimina uma parte da burocracia de que os Europeus estão fartos.

Estou convencido de que os processos administrativos têm de ser reduzidos ao mínimoessencial. Os Europeus têm de enfrentar formalidades burocráticas excessivas, que dificultamextremamente o arranque ou o funcionamento de qualquer actividade. Por conseguinte,relatórios como os de hoje, que eliminam procedimentos administrativos, não só são umaboa notícia para o sector da aquicultura como deviam também ser uma característicaconstante da forma como funcionamos.

Antolín Sánchez Presedo (S&D). – (ES) Senhor Presidente, SenhoraComissária Damanaki, vou concentrar-me nos relatórios Gróbarczyk e Ferreira. Gostariade felicitar os relatores por terem conseguido obter acordos com o Conselho, em primeiraleitura, no que respeita à revisão de dois regulamentos que visam adaptar a política comumda pesca ao Tratado de Lisboa e realçar o empenhamento da União Europeia na gestãosustentável da pesca e na conservação da biodiversidade.

A proibição da sobrepesca de selecção e as restrições à pesca de solha-das-pedras e pregadono mar Báltico são medidas essenciais para uma gestão eficaz e adequada dos recursos. Éapropriado que sejam incorporadas a título permanente no regulamento sobre as medidastécnicas aplicáveis àquelas águas. Esta abordagem poderia ser alargada a todas as outraságuas da UE e fazer parte da política destinada a proibir as devoluções ao mar a incluir napróxima reforma da política comum das pescas.

É também essencial que a União Europeia actualize a definição e as condições defuncionamento das instalações aquícolas fechadas, considere a forma como irá publicar a

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lista dessas instalações e estabeleça, em conformidade com o Tratado de Lisboa, osprocedimentos para o desenvolvimento ou aplicação das normas destinadas a evitar apoluição resultante dessas actividades que seja susceptível de pôr em risco ou afectar osnossos ecossistemas.

Alain Cadec (PPE) . – (FR) Senhor Presidente, Senhora Comissária, Senhoras e SenhoresDeputados, em primeiro lugar, gostaria de felicitar os nossos colegas, a senhoradeputada Bilbao e os senhores deputados Gallagher, Gróbarczyk e Ferreira, pelos seusrelatórios.

Gostaria de expressar a minha satisfação pelo facto de o Parlamento ter concluído a suaprimeira leitura sobre os dois planos a longo prazo para o biqueirão e o carapau.Efectivamente, com a adopção do Tratado de Lisboa, o Parlamento passou a ter poderesde co-decisão no que respeita a estas matérias.

Relativamente à unidade populacional do biqueirão, regozijo-me com o texto adoptadona Comissão das Pescas, que visa a gestão a longo prazo de uma espécie muito explorada.Este plano permitirá que sejam adoptadas medidas de gestão conjunta pelos principaispaíses pesqueiros.

O isco vivo será contabilizado nas quotas, o que permitirá verificar da forma mais justa asquantidades capturadas. Além disso, saúdo as medidas de supervisão e controlo destapescaria. O sistema de controlo dos navios tem de ser absolutamente idêntico nos váriosEstados-Membros que exploram esta unidade populacional.

Gostaria de felicitar o senhor deputado Gallagher pelo seu relatório. Sei que o iremosadoptar amanhã - vai permitir explorar o carapau de uma forma sustentável em termossocioeconómicos e ambientais. Este plano propõe um novo método de decisãorelativamente aos totais admissíveis de captura e permitirá assegurar a sustentabilidadedesta unidade populacional a longo prazo. Gostaria igualmente de vos recordar aimportância do princípio da estabilidade relativa, um princípio que me é especialmentecaro.

Os relatores salientam a necessidade de resolver o problema das devoluções ao mar, umaposição que só podemos saudar. Contudo, tal como os meus colegas, considero lamentávelque o Conselho esteja a contestar o novo poder de co-decisão do Parlamento no que respeitaaos planos de gestão a longo prazo. Creio que é necessário resolver esta questão da basejurídica, pois está a atrasar a execução dos planos, que é essencial para a conservação dosrecursos e para a pesca sustentável em termos ambientais.

Devemos igualmente definir, de uma vez por todas, as noções de pesca não industrial eindustrial. Isso assegurará que a reforma da política comum das pescas seja empreendidacom base em fundamentos sólidos e firmes. É isto, também, que sugere o relatório dosenhor deputado Gróbarczyk, a quem agradeço a qualidade do seu trabalho. Além disso,a proibição total das devoluções ao mar não é realista, como sabemos. Espero que aComissão Europeia apoie o sector, que está a introduzir artes de pesca selectivas e a garantira pesca sustentável em termos económicos e ambientais.

Guido Milana (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores, um minuto não étempo suficiente para falar de quatro relatórios. Por conseguinte, felicito os outros trêsrelatores, mas apenas irei comentar o relatório do senhor deputado Ferreira.

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A adesão aos princípios da biodiversidade tem de ser um aspecto fulcral das acções que aUnião Europeia empreende no domínio da pesca e da aquicultura. A alteração decompromisso é fruto do bom trabalho realizado pelo senhor deputado Ferreira, quecompreendeu claramente estas preocupações.

Ao procurarmos formas de melhorar as normas relativas à piscicultura, não devemos terideias preconcebidas, e temos de ser rigorosos no controlo e aplicação de regulamentostão precisos quanto possível, a fim de evitar o risco de alterarmos o equilíbrio ambiental.

Desta forma, o maior apoio à produção biológica é uma decisão que é tomada para bemdo interesse geral e que engloba a protecção da biodiversidade. Esta é, na verdade, a melhormaneira de optimizar a produção de espécies nativas.

Senhora Comissária, espero que esta nova medida relativa à aquicultura possa ser incluída,no âmbito da reforma da política comum das pescas, num regulamento simplificado. Issofacilitará grandemente as coisas, e espero que a existência de um único regulamento relativoà aquicultura torne os procedimentos no seu conjunto ainda mais simples.

Jarosław Leszek Wałęsa (PPE). – (PL) Senhor Presidente, gostaria de começar poragradecer ao senhor deputado Gróbarczyk a sua ajuda. Congratulo-me sinceramente pelofacto de ter sido possível incluir no relatório um ponto muito importante, pedindo àComissão para preparar um plano de gestão abrangente para a solha nas águas do marBáltico.

Gostaria de aproveitar a oportunidade para chamar a atenção da Senhora Comissária parao facto de as autoridades polacas estarem a propor há muitos anos a adopção de um sistemade gestão abrangente para a unidade populacional de peixes chatos do mar Báltico, semterem conseguido obter quaisquer resultados palpáveis da Comissão Europeia.

É necessário preparar um sistema uniforme para a gestão de peixes chatos, onde quer queexistam. Trata-se de uma espécie com grande importância económica para os pescadoresdo Báltico, incluindo os da Polónia, razão pela qual merecem maior atenção por parte dasinstituições europeias responsáveis pela pesca do que aquela que têm recebido até agora.

Brian Crowley (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecer aos relatoresos seus relatórios, em particular, ao senhor deputado Gallagher. Há duas coisas quesobressaem imediatamente ao ouvir o debate que aqui tem estado a decorrer. A primeiraé que todo o conceito de se criar uma oportunidade de permitir a divisão dos TAC numapescaria é extremamente irresponsável. Devemos opor-nos vigorosamente a isso.

Em segundo lugar, relativamente à questão das devoluções, talvez tenha chegado o momentode se considerar a possibilidade de criar um mercado paralelo para essas devoluções. Trata-sede capturas acessórias das operações de pesca normais e, em vez de serem devolvidas aomar, porque não permitir que sejam desembarcadas de modo a custear as despesas dacaptura - não ao preço do mercado, mas ao custo de captura? Poderia ser uma maneira desubstituir os milhares de toneladas de peixe que é importado do Extremo Oriente e deoutros locais a fim de satisfazer a procura de outros mercados da União Europeia.

Trata-se de uma situação que pode trazer benefícios para todos. Pode reduzir a quantidadede devoluções e também assegurar que os pescadores não devolvam ao mar um produtovalioso.

Nick Griffin (NI). – (EN) Senhor Presidente, é positivo que a UE esteja a tentar preservaras unidades populacionais em risco de extinção, mas antes de haver demasiada

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autocongratulação quanto a estas propostas, não devemos esquecer que tem havido muitasnormas europeias relativas à pesca que têm sido um fracasso tremendo. A pesca nas águasnacionais da Grã-Bretanha no âmbito das políticas de pesca europeias quase levou à extinçãodos recursos. A verdade é que o melhor é deixar a protecção das unidades populacionaisentregue aos pescadores nacionais e aos especialistas em ciências do mar dos governosnacionais e não a burocratas da UE.

O conselho dos homens que trabalham naquilo que resta das frotas de pesca britânicas ésimples: acabem com os sistemas de quotas, que conduzem às devoluções e à sobrepescade selecção e substituam-nos por limites de capturas baseados no peso, de modo a quetodo o peixe capturado seja desembarcado para consumo humano ou para transformaçãoem alimentos para animais ou para a piscicultura. Temos de substituir o sistema de quotasabertamente negociáveis, impedindo desse modo que os operadores financeiros, ossupermercados e os indivíduos super-ricos especulem com os meios de subsistência dospescadores. As quotas, qualquer que seja o seu tipo e quaisquer que sejam as águas a quese aplicam, devem pertencer aos pescadores dos portos com ligações tradicionais a essaságuas e apenas devem poder ser negociadas entre pescadores que tenham o direito depescar devido às suas ligações pessoais, familiares e comunitárias.

Seán Kelly (PPE). – (GA) Senhor Presidente, não sou uma autoridade nesta matéria, masconsiderando que venho de um país insular, sei que a pesca é muito importante para ascomunidades costeiras de toda a Irlanda.

(EN) O meu prezado colega irlandês, Pat the Cope Gallagher, que é uma autoridade nestamatéria não só na Irlanda mas mais além, focou alguns pontos muito pertinentes quandofalou do disparate que é existirem quotas partilhadas para duas zonas distintas de uma sóunidade populacional. O meu grupo, o Grupo PPE, tem uma opinião diferente. Por outrolado, o que o senhor deputado Gallagher disse parece ser lógico, já que o carapau é umaespécie migratória. Por conseguinte, gostaria que a Senhora Comissária respondesse a esteponto, em particular - não uma resposta pessoal, mas sim uma resposta baseada em provascientíficas. Concordo também com os colegas no que respeita às devoluções, e gostariatambém que desenvolvêssemos muito mais a aquicultura...

(GA) porque a procura de peixe irá aumentar cada vez mais no futuro, e espero que todasas espécies de peixes estejam disponíveis para todas as pessoas.

Gerard Batten (EFD). – (EN) Senhor Presidente, tenho estado recentemente a tentarcalcular qual é o custo da política comum das pescas para a economia britânica. A melhorestimativa só de capturas perdidas é de pelo menos 3,6 mil milhões de libras por ano; ocusto acrescido das facturas de alimentos é de aproximadamente 4,7 mil milhões de libraspor ano; o custo dos subsídios, do desemprego, dos recursos desperdiçados, da burocracia,etc., é de cerca de 2,8 mil milhões de libras por ano. Isto representa um total anual superiora 11,1 mil milhões de libras.

O sector das pescas foi devastado, tendo-se perdido mais de 97 000 postos de trabalhodesde 1973 no sector das pescas e nos sectores que dele dependem. Os custos económicose humanos indirectos são incalculáveis; o impacto ecológico da política comum das pescasé catastrófico. Todos os anos são lançados no mar do Norte mais de 880 000 peixes mortos.A solução para a Grã-Bretanha é, evidentemente, abandonar a União Europeia, assumirnovamente o controlo das nossas águas territoriais e devolver a sanidade a um sector daspescas nacional revitalizado.

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Ricardo Cortés Lastra (S&D). – (ES) Senhor Presidente, Senhora Comissária, a pescado biqueirão na baía da Biscaia foi suspensa em 2005 devido ao mau estado da unidadepopulacional. A finalidade do plano proposto é garantir uma exploração sustentávelestabelecendo quotas com base em critérios científicos. Este plano conta com o apoio dosector, que necessita de estabilidade. Peço à Comissão que retire esta proposta e tome emconsideração a iniciativa do Parlamento.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecera todos os deputados deste Parlamento os seus contributos. O debate foi na verdade muitointeressante.

Em primeiro lugar, gostaria de responder às observações da senhora deputada Fraga, emnome do Grupo PPE e de outros deputados, sobre os problemas institucionais queenfrentamos actualmente, referindo o nosso novo enquadramento institucional nos termosdo Tratado de Lisboa. Tenho de admitir que a aplicação do Tratado de Lisboa criou umanova era, e gostaríamos de nos adaptar a essa nova era. Quero dizer de uma forma muitoclara que a Comissão compreende e apoia a ideia do Parlamento de se pronunciar sobre aexploração: o papel da gestão a longo prazo.

Consideramos que os Tratados são muito claros quando se referem a esta questão. É estaa nossa posição mas, como sabem, há a reacção do Conselho. Alguns Estados-Membrosreagiram muito vigorosamente, mas também há uma reacção geral a esta abordagem.Temos de encontrar uma solução para isto, caso contrário não poderemos ir para a frentecom a aplicação de planos de gestão a longo prazo, e decerto compreendem que os planosde gestão a longo prazo são o nosso futuro. Não podemos avançar com uma nova políticaditada por uma óptica de curto prazo e por todos os acordos políticos a que estamoshabituados.

Por isso, temos de encontrar uma solução para desbloquear a situação. Estou a pensar emresolver o problema mediante uma reunião trilateral. Vou propor ao Parlamento e aoConselho que nos reunamos para tentar encontrar, pelo menos, uma solução decompromisso, de que necessitamos o mais rapidamente possível, porque esta situação nãopode continuar.

Os planos de gestão a longo prazo estão todos bloqueados neste momento, e tenho algumaspropostas sobre novos planos de gestão, que são muito importantes para o salmão, porexemplo, e para as espécies pelágicas. Trata-se de planos de gestão a longo prazo muitoimportantes. Estão prontos e estamos à espera de encontrar uma solução institucional paraestes problemas muito sensíveis.

Relativamente aos contributos dos outros grupos, gostaria de saudar as intervenções dossenhores deputados Arsenis e Haglund e da senhora deputada Lövin, em nome dosrespectivos grupos, e de dizer que concordo que aquilo de que necessitamos é de planosde gestão a longo prazo e de pareceres científicos.

Compreendo, e quero ser muito clara quanto às exigências dos nossos pescadores e aosproblemas do nosso sector da pesca. Mas gostaria de vos dizer que estamos agora a discutirum exemplo muito claro da situação. O plano para o biqueirão e o facto de termos sidoobrigados a encerrar estas pescarias durante alguns anos demonstram claramente que nãopodemos avançar ignorando pareceres científicos fundamentados.

Compreendo os problemas e temos de encontrar uma síntese e uma solução. A minhaideia - e este será um dos temas principais da nossa reforma da política comum das pescas

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- é que continuemos a ter em conta os pareceres científicos e procuremos também encontraruma solução no caso de esses pareceres não serem suficientemente claros e não possuirmosdados suficientes para formar uma opinião clara.

Gostaria igualmente de dizer que o relatório do senhor deputado Gróbarczyk é muitoimportante e que as medidas técnicas destinadas a impedir a sobrepesca de selecção sãomuito importantes para a nossa política. Quero ainda sublinhar que necessitamos de umapolítica para a solha-das-pedras e para os peixes chatos, tal como já referimos. Tencionamosapresentar uma política sobre essa matéria.

Necessitamos de uma política muito corajosa no que respeita às devoluções ao mar, umassunto que muitos dos presentes mencionaram. Não creio que nos possamos dar ao luxode atirar peixes de novo para o mar, quando esses peixes são tão valiosos. Não podemoscontinuar a dar-nos a esse luxo. Talvez tenha sido uma solução quando havia abundânciade peixes nas nossas águas, mas agora temos problemas reais. Não podemos devolver peixeao mar.

Por conseguinte, temos de encontrar uma solução para este problema, e saúdo propostascomo a de compensar os pescadores pelo custo da captura no caso de capturas acessórias.Podemos encontrar soluções, mas aquilo que temos de fazer através da nossa reforma dapolítica comum das pescas é avançar em direcção ao objectivo de eliminar as devoluçõesao mar. É evidente que não podemos esquecer todas as medidas técnicas necessárias paraesse efeito, mas é nessa direcção que temos de avançar.

Uma última observação sobre os problemas da aquicultura. Temos de reduzir os encargosque representam obstáculos à aquicultura. Concordo com isso. Estou de acordo com orelator e com o senhor deputado Milana, bem como outros oradores que falaram sobre oassunto.

O que posso dizer é que estamos a tentar conseguir isso no âmbito da reforma da PCP.Gostaria também de reafirmar que vamos aumentar a investigação científica sobre asespécies aquícolas, porque é realmente necessário avançarmos para a produção em massade produtos aquícolas se quisermos que a aquicultura seja uma alternativa ao nosso sectorda pesca.

Izaskun Bilbao Barandica, relatora. – (ES) Senhor Presidente, Senhora Comissária, emprimeiro lugar, teria apreciado uma resposta clara da sua parte dizendo se é sua intençãoceder aos desejos do Conselho, uma vez que reconhece - facto com o qual me congratulo- os problemas que existem quanto à aceitação dos poderes que o Tratado de Lisboa confereao Parlamento.

A Comissão das Pescas votou uma segunda vez e não pediu à Senhora Comissária pararetirar a proposta. O que estamos a pedir à Senhora Comissária é que nos dê uma respostae nos diga se vai ceder aos desejos do Conselho.

O sector necessita de um plano. O sector tem sido responsável e trabalhou durante maisde dois anos com institutos científicos e com a Comissão para formular e estabelecer aregra de exploração contida na proposta. Trata-se de um sector responsável, que estáencerrado há cinco anos, e não esqueçamos que foi o próprio sector que pediu esseencerramento. No ano anterior ao encerramento, conseguiu pescar 7 000 toneladas e,todos os dias, estabelecia e fixava a quota que podia ser pescada, a fim de tornar essa quotamais lucrativa. Em seguida, decidiu unilateralmente notificar a Comissão de que ia suspendera pesca por ter atingido o limite fixado.

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É este o sector que temos. É um sector que já nos pediu mais de uma vez para tomarmosuma decisão e sermos transparentes, e um sector que, a meu ver, trabalhou de uma formaresponsável e rigorosa para conseguir este plano muito necessário.

Adoptar este plano significa afastarmo-nos de decisões políticas obscuras sobre quotas etotais admissíveis de captura, cuja fundamentação muitas vezes se desconhece. Vivemoshá muitos anos com este tipo de falta de transparência. O século XXI não é o século da nãotransparência e não é isso que os cidadãos europeus merecem, e também não é isso quemerece um sector que já demonstrou ser responsável.

Felizmente, o mais recente relatório do AZTI (Instituto Científico Basco) e o estudo Juvenademonstraram-nos que as unidades populacionais de biqueirão serão muito maiores nopróximo ano. Gostaria, no entanto, de uma resposta mais clara, Senhora Comissária.

Pat the Cope Gallagher, relator. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecer à SenhoraComissária e aos colegas os seus contributos, bem como aos relatores-sombra, aosecretariado da Comissão das Pescas, ao Conselho, à Comissão, ao assessor político domeu grupo e, também, ao meu próprio assessor.

Tanto quanto entendi, a nível técnico, o Conselho está dividido no que respeita à questãode saber se a regra de controlo da exploração deverá ser decidida exclusivamente peloConselho. Ao que parece, os 27 também não discutiram ainda todo o dossiê e, em particular,esta questão. Espero que o bom senso prevaleça.

Quanto à dificuldade da Senhora Comissária em relação à questão das +/-5 000 toneladas,gostaria de lhe dizer, Senhora Comissária, que se tratou de uma solução pragmática. Estamosa discutir este dossiê há mais de um ano e foi uma maneira de avançarmos. Penso que, porvezes, temos de ser pragmáticos para superar uma determinada dificuldade.

Gostaria de dizer aos membros do Grupo S&D que não existe ambiguidade absolutamentenenhuma quanto à minha posição em relação à sua alteração. Irei sem dúvida recomendarque se apoie essa alteração. Quanto à proposta do Grupo PPE, diria que esse grupo devereflectir sobre o assunto. Tive o maior cuidado em incluir as suas preocupações na alteração7, que se ocupa da baía da Biscaia. A alteração ocupa-se da pesca artesanal e dos direitoshistóricos.

É necessário que todas as pessoas que derem o seu apoio a este assunto não se esqueçamde que iremos ter muito mais relatórios no Parlamento. Se apoiarem agora uma coisa queestá errada, é muito possível que, por uma questão de coerência, venham a ter de apoiarqualquer coisa errada no futuro. Em termos científicos, é inteiramente errado dividir-seum TAC, e não se trata apenas da minha opinião pessoal. Se o fizermos agora, é mutopossível que tenhamos de o fazer no futuro numa pescaria de uma única unidadepopulacional. Os planos plurianuais são vitais para permitir que o sector faça planos parao futuro. Esperemos que, amanhã, o bom senso prevaleça e que possamos apresentar umrelatório que possamos defender.

Marek Józef Gróbarczyk, relator. – (PL) Senhor Presidente, gostaria, mais uma vez, deexpressar os meus agradecimentos muito sinceros a todos os relatores-sombra,especialmente os que estão presentes - a senhora deputada Ulrike Rodust, os senhoresdeputados Kuhn e Ferreira, e também aos senhores deputados Kuhn e Alain Cadec, pelassuas palavras amáveis sobre o tema do meu relatório. Muito obrigado.

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Também eu espero que o relatório funcione como uma continuação de soluções aceitese, sobretudo, como o início do trabalho sobre a regionalização. A regionalização é o nossoobjectivo e é aquilo por que estamos a lutar no âmbito da política comum das pescas. Éisso que determinará o êxito da futura política comum das pescas na prática.

João Ferreira, relator . − Senhor Presidente, queria agradecer os comentários que fizeramao meu relatório e queria usar este tempo de palavra para tecer algumas consideraçõesquanto ao plano multianual do carapau e à proposta de alteração que apresentei, em nomedo GUE/NGL, ao relatório do colega Gallagher.

O objectivo desta emenda, que a emenda 7 do relator não assegura plenamente, é deixarclaras as especificidades que existem das diferentes frotas e deixar claro que estasespecificidades e o destino final do pescado devem ser aspectos a ter em conta na definiçãodos TAC. A pequena pesca costeira e artesanal tem especificidades distintas da pescaindustrial de natureza económica e social, mas não só. Quando se trata de estabelecerlimites ao esforço de pesca, a pesca que tem como objectivo o abastecimento público depescado às populações para consumo em fresco não deve ser tratada da mesma forma doque a pesca industrial, que tem por finalidade a transformação do pescado.

No que respeita às diferentes frotas e à questão técnica que foi colocada, também não estoude acordo com a posição do relator. Estamos a falar efectivamente de um mesmo stock,de um mesmo manancial, mas trata-se de um manancial que, como foi aqui referido, evoluiem zonas de pesca distintas: a pesca costeira e artesanal opera preferencialmente numadeterminada zona de pesca, a pesca industrial noutra. Estamos, portanto, a falar de áreasbem delimitadas e parece-nos compatível, mais do que isso, parece-nos necessário a umagestão racional do stock que a definição dos TACS seja ajustada a cada uma destas diferenteszonas de pesca. Isto porque, como também foi aqui assinalado, uma gestão racional dosstocks deve ter em conta os aspectos naturalmente de ordem ambiental e biológica, mastambém os aspectos de ordem económica e social. Portanto, não deve ser tratado da mesmaforma aquilo que é efectivamente diferente.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã (terça-feira, 23 de Novembro de 2010).

Declarações escritas (artigo 149.º do Regimento)

Robert Dušek (S&D), por escrito. – (CS) O relatório sobre a proibição da sobrepesca deselecção e as restrições à pesca da solha-das-pedras e do pregado no mar Báltico, nos seusestreitos (Belts) e no Øresund preconiza a introdução de novas disposições nos regulamentossobre a pesca nas zonas em questão. O mar Báltico tem o estatuto de "zona marítimaparticularmente sensível" e é um dos ecossistemas mais valiosos, mas também maissensíveis, do nosso planeta. Por esta razão, concordo com o relator em que é essencialacabar com a pesca industrial - e não apenas nesta zona. Só através da pesca equilibradaem termos económicos e ambientais, utilizando os métodos de pesca correctos, poderemosajudar a preservar a pesca e manter a actual diversidade de espécies de peixes a um nívelsustentável para as gerações futuras. Devido às alterações climáticas, tem havido deslocaçõesde peixes em grande escala no mar Báltico, pelo que é necessário rever regularmente a zonamarítima. Insto, portanto, a Comissão a fazê-lo a intervalos regulares. É também essencialque as empresas de pesca sejam incentivadas, através de legislação, a utilizarem o melhorequipamento actualmente disponível em termos de selectividade, evitando desse modocapturar quantidades tão grandes de peixes sem o tamanho mínimo e peixes para além

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das espécies-alvo, ou capturas acessórias. O Parlamento Europeu deve insistir em que istoseja incluído na reforma proposta para a política comum das pescas a realizar em 2011,que irei promover com urgência.

17. Informações relativas a medicamentos sujeitos a receita médica (códigocomunitário relativo aos medicamentos para uso humano) - Informações relativasa medicamentos sujeitos a receita médica (procedimentos comunitários deautorização e de fiscalização de medicamentos) (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta dos seguintes relatórios:

– A7-0290/2010, do deputado Christofer Fjellner, em nome da Comissão do Ambiente,da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, sobre a proposta de directiva do ParlamentoEuropeu e do Conselho que altera, no que diz respeito à informação ao público em geralsobre medicamentos sujeitos a receita médica, a Directiva 2001/83/CE que estabelece umcódigo comunitário relativo aos medicamentos para uso humano

(COM(2008)0663 – C6-0516/2008 – 2008/0256(COD));

– A7-0289/2010, do deputado Christofer Fjellner, em nome da Comissão do Ambiente,da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, sobre a proposta de regulamento do ParlamentoEuropeu e do Conselho que altera, no que diz respeito à informação ao público em geralsobre medicamentos para uso humano sujeitos a receita médica, o Regulamento (CE) n.º726/2004 que estabelece procedimentos comunitários de autorização e de fiscalização demedicamentos para uso humano e veterinário e que institui uma Agência Europeia deMedicamentos (COM(2008)0662 – C6-0517/2008 – 2008/0255(COD)).

Christofer Fjellner, relator. – (SV) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, estamos finalmente no plenário a debater a nova legislação relativaà informação sobre medicamentos. O que vamos debater é a parte final daquilo que algumaspessoas estão a denominar a questão mais controversa do pacote relativo aos medicamentos,nomeadamente, a informação sobre medicamentos. Admito que, ainda há um ano, nãoteria provavelmente acreditado que algum dia viríamos a plenário juntos com um grau tãoelevado de acordo como aquele que, todavia, conseguimos alcançar aqui no Parlamento.O facto de isso estar a acontecer deve-se em grande medida aos meus relatores-sombra.Foram as suas propostas construtivas e o facto de estarem dispostos a aceitar compromissosque nos ajudaram a chegar a um acordo e que irão, esperamos, ajudar-nos a adoptar esterelatório com um apoio considerável no plenário.

Não se trata apenas de uma questão de estar disposto a aceitar compromissos. Penso queé talvez ainda mais importante termos compreendido que aqui no Parlamento queremosas mesmas coisas e estamos dispostos a trabalhar por elas. A primeira é que, acima de tudo,queremos que os doentes da Europa disponham de informação melhor e mais acessívelsobre os medicamentos. A segunda é que nenhum de nós deseja a publicidade demedicamentos sujeitos a receita médica, e a terceira é que a informação que chega aosdoentes e é difundida pelas empresas tem de ser verificada e aprovada pelas autoridadescompetentes. São estes os princípios que todos aceitam e que nos permitiram chegar aacordo mais facilmente. No entanto, foi também por isso que nos sentimos de certa maneiraobrigados a reformular a proposta da Comissão.

Gostaria de salientar cinco pontos em que nos concentrámos ao reformular a propostalegislativa inicial da Comissão. A primeira é que tentámos mudar a perspectiva da legislação

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- de uma óptica baseada no direito das empresas farmacêuticas de difundirem informaçãopara uma outra baseada no direito dos doentes a terem acesso à informação, do qual decorrea obrigação de as empresas publicarem e disponibilizarem essa informação. Em segundolugar, procurámos restringir todas as excepções que existiam, de modo a evitar eventuaisomissões susceptíveis de permitir a publicidade - uma coisa que nenhum de nós deseja.Em terceiro lugar, garantimos que a informação sobre os medicamentos proveniente dasempresas seja verificada e fiável, o que implica que, num momento qualquer do processo,passasse por uma autoridade no domínio dos produtos farmacêuticos. A quarta coisa quefizemos foi assegurar que nenhuma informação proveniente das empresas farmacêuticasfosse recebida pelos doentes ou pelo público em geral sem que a tivessem solicitadoprimeiramente. Ninguém deve jamais receber informação não solicitada sobremedicamentos. Por conseguinte, rejeitámos todos os chamados "canais de informaçãodirecta pelo fornecedor", tais como os anúncios na rádio, na televisão e nos jornais. Oúltimo ponto que quero focar é que as empresas são apenas um dos elos da cadeia deinformação. Os serviços de saúde e a sociedade de muitos países de toda a Europa têm deassumir uma quota-parte muito maior de responsabilidade do que a que assumemactualmente.

Há pontos sobre os quais não estamos de acordo. Relativamente a este aspecto, gostariasimplesmente de fazer uma pergunta aos meus colegas e pedir-lhes que aceitemefectivamente a excepção relacionada com a informação que os médicos dão aos doentesque estejam a tratar; por outras palavras, a informação fornecida nessas circunstâncias nãodeve estar sujeita aos mesmos controlos do que a outra. Tenho um exemplo específico quepoderá constituir um problema se essa excepção não for aceite; um médico na Suécia, porexemplo, não poderia dar um folheto em inglês a um doente que não compreendesse suecopelo facto de esse folheto nunca poder ser aprovado na Suécia, já que o inglês não é umalíngua oficial nesse país.

Vou concluir dirigindo-me ao Conselho, que, infelizmente, não está presente - o que émuito revelador neste contexto. Lamento a ausência do Conselho. Queria realmente tomarnota das opiniões e argumentos do Conselho, a fim de facilitar o debate, mas até agoratenho deparado praticamente com uma recusa categórica. Tem sido difícil dar ouvidos aquem não presta qualquer informação.

Conseguimos chegar a acordo sobre este assunto. Estou certo de que o Conselho, se começara discutir este assunto em pormenor, também deparará mais ou menos com as mesmascondições para chegar a um acordo que nós conseguimos criar aqui no Parlamento. Noentanto, o Conselho não deve tentar racionar a informação para poupar dinheiro. Nãoqueremos que isso aconteça. Não cremos que seja de modo algum mais fácil lidar comdoentes mais mal informados, nem que seja mais barato negar informação. Insto o Conselhoa assumir a direcção de modo a que, juntos, consigamos assegurar que a Europa recebamelhor informação sobre os medicamentos para bem dos doentes.

John Dalli, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, durante a minha audiçãoenquanto Comissário indigitado, deixei claro que atribuo uma grande importância àinformação aos doentes. Os doentes interessam-se em grande medida pela sua saúde ebem-estar. Actualmente, no entanto, a informação sobre medicamentos que está disponívelna Europa é muito diversa; poder-se-ia inclusivamente dizer muito injusta.

Os doentes obtêm informação relevante em função da língua, das competênciasinformacionais e, muitas vezes até, em função da classe social e das redes de trabalho. Para

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uma Europa que se esforça por vencer as desigualdades de hoje no domínio da saúde, istonão é sustentável. Por conseguinte, a principal ambição da proposta inicial da Comissãocontinua a estar justificada, e saúdo o Parlamento e, em particular, o vosso relator, senhordeputado Fjellner, por ter apresentado esta importante proposta.

Todavia, estou plenamente convicto – como também salientei na minha audição – de quetemos de abordar este dossiê da perspectiva do doente. Temos de perguntar de queinformação precisam os doentes, e não que informação o sector farmacêutico desejafacultar. Temos de assegurar que não derivamos para a publicidade directamente dirigidaaos consumidores, que não é, evidentemente, o que os doentes pretendem.

Mais uma vez, saúdo o Parlamento por adoptar justamente esta posição, o que permitiráà Comissão aceitar muitas das alterações fundamentais do Parlamento quandoapresentarmos as nossas propostas modificadas. Isto diz particularmente respeito àobrigação de publicar informação, à questão de saber que informação é abrangida, aoscanais de distribuição de informação e aos mecanismos de controlo.

Em primeiro lugar, apoio a alteração que indica que ao sector deve caber a obrigação - enão apenas o direito - de disponibilizar determinadas informações sobre os medicamentos.É uma alteração muito importante.

Em segundo lugar, relativamente à informação que é publicada, concordo, em geral, quea informação não deve incluir comparações entre medicamentos, porque esta prática podeser entendida como promoção. Obviamente, esta informação é extremamente relevantepara os doentes e para os profissionais da saúde mas, devido ao risco de potencial máutilização para fins promocionais, é necessário criar-se um quadro rigoroso. Estamos acooperar com os Estados-Membros na elaboração desse quadro no domínio da avaliaçãode tecnologias da saúde.

Partilho também a opinião de que as propostas devem dizer respeito à informaçãodisponibilizada pelo sector, e não por terceiros, nomeadamente jornalistas e cientistas.Todavia, sabemos que existe uma zona pouco definida que permite abusos. Por conseguinte,sou de opinião que as partes devem estar obrigadas a declarar se receberam benefíciosfinanceiros ou de outra natureza por parte da indústria.

Em terceiro lugar, no respeitante aos canais de informação, concordo em parte com asalterações do Parlamento Europeu. Todavia, nem todas as pessoas usam a Internet; devemosevitar consolidar desigualdades, excluindo quem não utiliza ferramentas de comunicaçãodigital para aceder à informação sobre medicamentos. Considero, por conseguinte, que osector deveria poder elaborar material impresso por sua iniciativa e não apenas a pedido.Esta informação poderia ser utilizada a pedido pelo público ou através dos profissionaisde cuidados de saúde.

Em quarto lugar, sobre o controlo da informação, concordo que a informação que aindanão foi aprovada no processo de autorização de introdução no mercado deve serpré-aprovada pelas autoridades competentes por uma questão de princípio. Todavia, pensoque a Europa deve estar particularmente atenta às preocupações constitucionais levantadaspor alguns Estados-Membros no respeitante à compatibilidade entre o controlo prévio ea liberdade de expressão. Estes Estados-Membros deveriam poder proceder a um controloex-post, independentemente de já aplicarem esse tipo de controlo.

Algumas das alterações do Parlamento dizem respeito à informação proveniente de outrasfontes que não as do sector. Neste contexto, permitam-me salientar que concordo

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plenamente com a ambição política de inscrever as propostas sobre a informação procedenteda indústria nos medicamentos, que hoje debatemos, numa agenda mais alargada eabrangente sobre a informação aos doentes. Existem, efectivamente, outras fontes muitoimportantes que têm de ser exploradas ao máximo, mas não é nas propostas que devemser abordadas.

É já obrigação da Comissão elaborar um relatório sobre a legibilidade do folhetoinformativo. Por conseguinte, qualquer modificação relativa a esta questão seria prematura.Também não é viável introduzir, para cada estudo clínico mencionado na síntese doRelatório Público Europeu de Avaliação, uma ligação para a base de dados Eurydice sobreensaios clínicos. Uma ligação geral entre bases de dados será suficiente.

A síntese pública do relatório de avaliação não deve ser anexada à autorização europeiade comercialização, na medida em que já está disponível ao público no sítio Web da EMA.Reconheço que, paralelamente à informação facultada pelo sector, existe já um conjuntode bases de dados europeias e nacionais e de portais que facultam informação sobremedicamentos. Só não estão é interligados entre eles. Proponho que se utilize o futuroportal Web europeu sobre medicamentos, recentemente criado pela directiva relativa àfarmacovigilância, como um ponto central de acesso à informação.

Neste contexto, reconheço plenamente a necessidade de uma informação mais vasta sobredoenças e a sua prevenção. Os doentes estão interessados em todas as diferentes opçõesde tratamento, e não apenas em receber informação sobre medicamentos. Todavia, estaquestão não pode ser abordada através das presentes propostas, que incidem sobre osmedicamentos. No entanto, a Comissão está bem colocada para servir de central europeiade informação. Penso que o nosso papel é o de ligar outros fornecedores de informaçãofiáveis, como os Estados-Membros ou as organizações de doentes. A acção europeia podeacrescentar valor, e muitos instrumentos de informação, como o portal de saúde da UE,estão já em funcionamento.

Senhoras e Senhores Deputados, não ficarão surpreendidos por a Comissão, depois deuma reflexão cuidada, não estar em condições de aceitar algumas das alterações. O direitodos cidadãos de apresentar queixas, por exemplo, é um princípio fundamental da UniãoEuropeia. Não é adequado nem necessário reafirmá-lo. O nível de sanções deve serdeterminado a nível nacional e não a nível legislativo europeu. Foi já distribuída aoParlamento a lista com a posição da Comissão sobre todas as alterações apresentadas.

Concluo agradecendo, mais uma vez, ao Parlamento e ao senhor deputado Fjellner e aosrelatores-sombra a sua importante contribuição. Espero que a votação desta semana ajudea reforçar o acesso dos doentes à informação e a convencer o Conselho da necessidade deencetar uma discussão profunda das propostas.

António Fernando Correia De Campos, relator de parecer da Comissão da Indústria, doComércio Externo, da Investigação e da Energia . − Caro Presidente, caros Colegas, SenhorComissário Dalli, o doente deve ter o direito de conhecer o máximo possível sobre a suadoença e sobre os medicamentos disponíveis para a tratar. Mas como distinguir informaçãode publicidade? Onde e como colher informação objectiva e descomprometida? Existemdiferentes interpretações dos textos em vigor, pelo que é necessário harmonizá-los,reforçando a soberania do cidadão. A informação tem que ser fiável, validada pelasautoridades, independente, acessível e orientada para um público médio não especializado.Pretende-se criar uma cidadania mais esclarecida e responsável por parte do utilizadorfinal. O prazo dado à Agência Europeia para aprovação tácita deve ser alargado de 60 para

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120 dias. A exigência de fundamentação de indeferimento reforça o contraditório e equilibrao resultado final. A EMEA tem um papel essencial como fonte privilegiada de informaçãoobjectiva. Gostaria de terminar saudando o relator Fjellner pelo trabalho desenvolvido econgratular-me com o facto de ter acolhido a quase totalidade das propostas que apresenteina Comissão do Mercado Interno enquanto relator de parecer.

Cristian Silviu Buşoi, relator de parecer da Comissão do Mercado Interno e da Protecção dosConsumidores. – (EN) Senhor Presidente, desejo felicitar o relator e os outros colegas quecontribuíram para este dossiê. Desejo felicitar também o Senhor Comissário Dalli. Pensoque alcançámos um bom resultado, e agora o relatório está muito mais orientado para osdoentes do que a proposta inicial.

Actualmente, os doentes tendem cada vez mais a procurar informação relacionada com asaúde para poderem estar activamente envolvidos nas decisões respeitantes à sua saúde.Os doentes também tendem a procurar informação em linha. Esta informação não é fácilde controlar na Internet, mas mais cedo ou mais tarde teremos de abordar este problema,que não desaparecerá se nada fizermos, porque é demasiado complexo.

Defendo, por conseguinte, a imposição de regras estritas para o registo e controlo daspáginas Web e a elaboração de uma lista acessível de páginas Web registadas para que osdoentes possam certificar-se da fiabilidade das fontes. São igualmente necessáriassalvaguardas, e o relatório propicia-as, nomeadamente ao limitar a informação que podeser disponibilizada à informação que é aprovada pelas autoridades competentes.

Para tal, a Comissão do Mercado Interno e da Protecção dos Consumidores adoptou umconjunto de alterações que abrangem a publicidade, concentrando-se em substituir o termo"difundir" por "tornar acessível" no contexto de informação sem fins promocionais, emconformidade com o princípio da procura activa da informação ("pull principle"), segundoo qual os doentes têm acesso à informação quando dela necessitam.

Horst Schnellhardt, em nome do Grupo PPE. – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, quando se pensa no debate desta proposta da Comissãodurante a última legislatura – desde uma total rejeição até ao regozijo por todas as coisasboas que nos aguardavam –, devo dizer que estou muito entusiasmado com o que foi aquiapresentado. Devemos, pois, os nossos agradecimentos sinceros ao relator e aosrelatores-sombra por terem conseguido reunir este largo espectro de opiniões numa posiçãocoerente. Penso que as palavras-chave aqui são "orientado para o doente". Isto significaque não divagámos mas, antes, perguntámos o que é que os doentes necessitam. Pensoque é positivo ter estabelecido que os doentes podem obter informação através de várioscanais, e não de um único. Desejo reiterar, no entanto, que o médico deve continuar a sero ponto de contacto fiável para o doente e deve ter, inegavelmente, influência nas decisões.Estamos a garantir que assim seja através da proibição da publicidade e assegurando quea informação que os doentes recebem seja verificada e aprovada por uma autoridade. Istosignifica, em primeiro lugar, que a informação se baseia em factos científicos, ou seja, queé fiável para os doentes.

Evidentemente, nem todas as pessoas podem encontrar esta informação na Internet. É porisso que dispomos de vários canais, e penso que a informação se encontra muito difundida,pelo que não precisamos de nos preocupar com este aspecto. Espero apenas que o Conselhotenha agora, finalmente, a coragem de abordar esta questão. Reveste-se de uma enormeimportância; é preciso agir rapidamente. Os nossos doentes estão à espera da nossa acção.Teremos então feito um bom trabalho.

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Gilles Pargneaux, em nome do Grupo S&D. – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, neste início do século XXI, os doentes necessitam, emparticular, de informação adequada para que possam estar plenamente envolvidos nodecurso do tratamento, saber onde encontrar tratamento, decidir qual o melhor tratamentocom os profissionais de saúde e seguir à letra o tratamento previsto.

Actualmente, os doentes exigem informação independente, comparável e que dê respostaàs necessidades individuais. Lamentavelmente, as propostas de revisão da directivaapresentadas pela Comissão Europeia não conseguiram responder correctamente àsnecessidades manifestadas pelos cidadãos europeus. Estas propostas abriram a porta a umapromoção directa das empresas farmacêuticas, o que consideramos ser um dislate emtermos de dar resposta às necessidades reais dos doentes.

Esta operação não tem qualquer interesse, nem para os cidadãos nem os Estados-Membros.Pelo contrário, implica mais burocracia, custos acrescidos e riscos para os doentes.

Foi por estas razões que apresentámos, inicialmente, uma proposta para rejeitar estestextos, convidando dessa forma a Comissão a rever as suas propostas. Esta abordagem,que foi também adoptada pelo senhor deputado Schlyter do Grupo dos Verdes/AliançaLivre Europeia, permitiu ao nosso relator, senhor deputado Fjellner – a quem felicito–, realizar uma revisão substancial das propostas da Comissão.

Ao mesmo tempo, apresentámos cerca de 60 alterações com o objectivo de protegermelhor a saúde dos nossos cidadãos e de facilitar o acesso dos doentes a informaçãoindependente, comparável e adaptada às necessidades individuais. A adopção destasalterações pela Comissão do Ambiente permitiu colocar mais ênfase nos direitos dosdoentes à informação, em vez de ser uma opção da indústria farmacêutica facultarinformação.

Dadas as alterações de compromisso alcançadas, e dadas as mudanças positivas feitas àsubstância do texto nos últimos meses, decidimos retirar a nossa proposta de rejeição dostextos. O projecto de relatório, tal como foi alterado, conseguiu contrabalançar as propostasiniciais da Comissão.

Todavia, continuaremos a opor-nos a que os profissionais de saúde sejam utilizados paradistribuir aos doentes brochuras e informação fornecida pelas empresas farmacêuticassem qualquer controlo por parte das autoridades sanitárias. De igual modo, opomo-nos àautorização de campanhas industriais, em especial campanhas de informação, relativas avacinas.

A informação não deve dada livremente pelas empresas farmacêuticas. A experiênciademonstra que devemos estar muito vigilantes – e o que aconteceu com os medicamentosMediador revela, efectivamente, até que ponto devemos estar atentos – e que devemosassegurar-nos de que conseguimos um equilíbrio, como tentámos fazer com o projectode relatório.

Antonyia Parvanova, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhor Presidente, em nome dorelator-sombra do meu grupo, desejo felicitar o senhor deputado Fjellner pelo excelentetrabalho realizado.

O Grupo ALDE saúda o relatório, que estabelece finalmente um quadro claro em matériade informação a doentes sobre medicamentos. Os doentes necessitam de ser objectivamenteinformados e tem de existir uma barreira clara entre informação e publicidade. Por

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conseguinte, deve haver uma regulamentação estrita sobre informação sobre medicamentossujeitos a receita médica.

Foi também dedicada uma atenção especial aos novos meios de comunicação social –principalmente as páginas Web da Internet –, definindo salvaguardas claras, desenvolvendomecanismos para o acompanhamento de conteúdos e assegurando disposições específicaspara um cumprimento adequado.

Desejo também fazer uma observação pessoal relativa aos materiais fornecidos aosprofissionais de saúde para distribuição aos doentes. Não há qualquer razão objectiva paraexcluir esses materiais, em especial quando sabemos que os médicos são a fonte mais fiávelde informação para os doentes.

Por conseguinte, irei, pessoalmente, votar contra a alteração 88 e espero que a coerênciapaute a nossa posição na votação, para que este relatório contribua para melhorarsubstancialmente a proposta da Comissão.

Miroslav Ouzký, em nome do Grupo ECR. – (CS) Senhor Presidente, desejo começar porenfatizar que este é um dos relatórios a que dou o meu pleno apoio. Durante toda a minhacarreira advoguei por que todos os cidadãos se responsabilizem pela sua saúde, o que sópode acontecer se as pessoas estiverem bem informadas.

Como o senhor deputado Horst Schnellhardt já aqui referiu, temos preconizado desde aúltima legislatura que devem registar-se progressos sobre esta posição. Estes debates eternossobre o facto de sermos incapazes de distinguir entre publicidade e informação parecem-meridículos, se me permitem a expressão. Todos sabemos distinguir entre informação solicitadae informação que nos é imposta. Devemos abrir a porta a toda a informação que é solicitada.Não devemos esquecer que vivemos num mundo globalizado, e não obriguemos os cidadãoseuropeus a procurar informação em páginas Web norte-americanas.

PRESIDÊNCIA: ROBERTA ANGELILLIVice-presidente

Jiří Maštálka, em nome do Grupo GUE/NGL. – (CS) Senhora Presidente, à semelhança dosenhor deputado Ouzký, também eu dediquei a minha carreira profissional como médicoà questão de saber qual a melhor forma de informar os meus doentes. Todavia, é habitualiniciar a intervenção felicitando o bom trabalho do relator, e gostaria de o fazer, emboracom uma crítica menor que referirei mais adiante.

Quando começámos a negociar esta proposta, deparámo-nos com dois problemas nasequência da eleição da nova Comissão. Em primeiro lugar, a questão foi transferida paraum novo Comissário e, segundo, deparámo-nos com o problema de decidir se deveríamosprosseguir o trabalho iniciado ou descartar o documento existente e começar de novo.

À semelhança da maioria dos senhores deputados e do Senhor Comissário Dalli, concordeique a proposta original da Comissão não era uma boa proposta, porque não abordava asnecessidades dos doentes e dos consumidores. Não quisemos, por conseguinte, perdertempo trabalhando conjuntamente no antigo documento. Concordámos em rejeitar acampanha comercial montada pelas empresas farmacêuticas. Excluímos a imprensa escritacomo um canal de comunicação e acordámos que os doentes têm o direito de conhecer aproveniência da informação, e que as empresas são responsáveis por toda a informaçãoque difundem.

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Surpreende-me bastante que o senhor deputado Fjellner volte a apresentar ao plenáriouma alteração que rejeitámos em comissão e que constituiria um retrocesso, contrária àredacção alterada da proposta. A aprovar-se tal alteração, teria dificuldades em votar afavor de um documento que, de uma forma geral, é um bom documento.

Anna Rosbach, em nome do Grupo EFD. – (DA) Senhora Presidente, Senhor Comissário,partilho com o relator a ideia de que a questão principal deve ser a segurança dos doentese que deve facultar-se informação aos doentes. Os doentes, os enfermeiros e os médicosdevem ter acesso à melhor informação possível sobre um determinado medicamento. Osmédicos com quem falo preconizam a disponibilização de mais informação imparcialsobre medicamentos, tanto para eles como para os doentes e outros profissionais. Queremtambém que as descrições dos preparados sejam normalizadas, dado que utilizampredominantemente a Internet para procurar informação sobre os efeitos dosmedicamentos. Comparam as substâncias activas do mesmo medicamento procedente dediferentes empresas a nível nacional e internacional. Por conseguinte, é muitíssimoimportante que as empresas farmacêuticas entendam a sua responsabilidade e a importânciade a informação que disponibilizam ser factual e tecnicamente correcta e não ser feita emforma de publicidade. Sabemos que as empresas farmacêuticas têm de vender os seusprodutos, mas a responsabilidade aumenta, efectivamente, a confiança dos consumidoresnum medicamento.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhora Presidente, o bem-estar dos doentes é um aspectofundamental do tema que nos ocupa. Para se protegerem, as empresas farmacêuticasincluem geralmente poucos efeitos secundários nos folhetos informativos, o que,evidentemente, complica muito as coisas. Os doentes, confundidos, tendem a alterar adosagem por iniciativa própria ou a suspender a toma do medicamento.

Além disso, a enchente de informação disponível na Internet, algumas vezes fiável, outrasnão, aumenta em grande medida a confusão e a incerteza. A existência de páginas Webcertificadas constitui um passo na direcção certa, não sendo no entanto suficiente. Outraprioridade é tornar a informação compreensível até para quem não tem conhecimentosmédicos nem farmacêuticos. Os folhetos informativos não devem conter erros e devemser legíveis. A letra deve ser aumentada, pensando em particular nos idosos.

Deploro afirmar que há países terceiros que estão a lucrar com o nível elevado de protecçãoexistente no sector farmacêutico europeu. Encontram-se disponíveis tanto medicamentosoriginais como falsificados, em grandes quantidades, nos bazares turcos. Por conseguinte,temos também de impor obrigações a esses países terceiros para se pôr termodefinitivamente a este mercado negro.

Salvatore Tatarella (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,a directiva que estamos a debater visa harmonizar o conteúdo e a qualidade da informaçãofarmacêutica acessível a todos os cidadãos da União. Salienta o direito à publicidade, masreitera acima de tudo o direito dos doentes à informação. Devemos propiciar a todos oscidadãos europeus a mesma oportunidade de acesso à informação sobre medicamentos.

O principal objectivo da presente directiva é o de tornar os doentes europeus maisinformados para poderem lidar de forma mais consciente com os fármacos. Todos nós, eem especial a indústria farmacêutica, devemos ter o mesmo objectivo, o de facultarinformação correcta e útil e, ao mesmo tempo, disponível a todos os cidadãos sem distinção.

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Penso que a directiva inclui dois aspectos particularmente importantes. Em primeiro lugar,os cidadãos devem ter a oportunidade, através de informação fiável, a utilizar correctamenteos medicamentos, para terem um efeito mais benéfico na saúde, ao mesmo tempo que osriscos associados a uma má utilização devem ser minimizados. Em segundo lugar, umainformação fiável e eficaz pode aumentar a consciencialização dos doentes para o pesodos custos farmacêuticos na despesa pública.

De todas as formas, devemos estar muito atentos e ser muito rigorosos relativamente acertos aspectos. Refiro-me, principalmente, ao perigo de a informação sobre medicamentosse transformar em publicidade disfarçada. Devemos evitar o risco de informaçãoalegadamente científica ocultar uma intenção muito menos nobre, a de influenciar osdoentes e levá-los a comprar um determinado medicamento. É, por conseguinte, crucialdispor de instrumentos eficazes para controlar a informação, em especial aquela que osdoentes podem obter através da Internet.

Em conclusão, espero, pois, que a comissão preveja meios de controlar a informação deforma a garantir a sua fiabilidade. Este controlo deve ser confiado a organizaçõesindependentes para dar mais garantias de imparcialidade.

Karin Kadenbach (S&D). – (DE) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, na sua intervenção, o Senhor Comissário Dalli afirmou que devemoscentrar-nos nos doentes. Muito embora a proposta original da Comissão tendesse a colocaro mercado no centro da questão, conseguimos agora – através de um vasto conjunto dealterações que foram aprovadas por uma larga maioria – colocar as pessoas no centro,tendo assim em consideração as palavras do Senhor Comissário Dalli.

A necessidade de assegurar o direito do doente a informação de qualidade que não tenhacarácter promocional sobre os benefícios e os riscos dos medicamentos sujeitos a receitamédica era urgente. Esta regulamentação é necessária. Venho do mundo da publicidade –desenvolvi a minha actividade profissional no domínio da publicidade e das relaçõespúblicas – e sei que a publicidade tem um objectivo: o de vender. Todavia, a nossa funçãoé a de facultar informação. Penso que o presente relatório e as respectivas alterações têmem consideração a nossa responsabilidade de facultar informação.

Senhor Comissário, dado que os custos dos medicamentos representam uma grandepercentagem das despesas de saúde, insto-o a trabalhar para garantir que os doentes estejambem informados e a continuar a prosseguir e a centrar-se nas suas iniciativas, na prevençãoe na promoção da saúde. Juntos, seremos bem sucedidos.

Marina Yannakoudakis (ECR). – (EN) Senhora Presidente, quantas vezes nosinterrogamos sobre os efeitos secundários dos medicamentos que tomamos? Quantasvezes desejamos ter mais informação sobre fármacos e doenças? O presente relatórioaborda estas questões e a necessidade do público de ter informação.

Era importante mudar a perspectiva das propostas originais do Conselho, tal como a tónicasobre o direito dos doentes a ter acesso a informação, em oposição à possibilidade de asempresas farmacêuticas facultarem informação, o que se conseguiu através de uma proibiçãosobre a publicidade directa aos consumidores de medicamentos sujeitos a receita médica.

Além disso, uma questão importante era reconhecer a autoridade nacional competente eos profissionais de saúde como a principal fonte de informação. Também o conseguimos.

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A directiva relativa à informação aos doentes envia uma mensagem inequívoca sobre osdireitos dos doentes.

Felicito o relator por abordar um dossiê difícil e conseguir uma directiva abrangente que,espero, tenha o apoio de todos nós.

Radvilė Morkūnaitė-Mikulėnienė (PPE). – (LT) Senhora Presidente, na União Europeia,defendemos o princípio da consciencialização do consumidor, no caso vertente do doente,e preconizamos que os cidadãos assumam parte da responsabilidade pela sua própriasaúde. Todavia, o nosso dever enquanto políticos é o de proteger os doentes de informaçãoincorrecta e enganosa. É o que estamos a fazer aqui hoje.

No que diz respeito ao acesso do público à informação sobre fármacos, a situação parecevariar no interior da União Europeia. A distinção entre informação e publicidade torna-semenos clara. Por conseguinte, apoio a posição do Parlamento que preconiza uma definiçãomais clara de informação e publicidade. É importante que os doentes obtenham informaçãofiável e objectiva na sua língua materna, que esta seja redigida para um público que não éespecialista e que seja compreensível e de fácil acesso, tendo presente as necessidadesparticulares dos consumidores. Temos de proteger tanto os doentes como os médicos dapublicidade encoberta, porque a sua relação durante o processo de tratamento se revestede uma importância particular.

Vivemos numa era em que as fronteiras estão a desaparecer e a informação se movelivremente, tal como nós. Por conseguinte, devemos aplicar algumas salvaguardas paraassegurar o bem-estar dos doentes europeus. Felicito, por isso, o relator pelo excelentetrabalho realizado e espero que fiquemos todos mais saudáveis e tenhamos um melhoracesso à informação.

Milan Cabrnoch (ECR). – (CS) Senhora Presidente, a directiva sobre medicamentos nãosofreu qualquer alteração significativa durante praticamente dez anos, pelo que a revisãodesta directiva já devia ter sido feita há muito. Dou o meu pleno apoio a que os doentessejam cabalmente informados e que sejam colocados em pé de igualdade com os médicos,partilhando decisões e assumindo a sua parte de responsabilidade por essas decisões.

A acessibilidade da informação desempenhará sem dúvida um papel fundamental nestamudança. Essa informação inclui informação sobre medicamentos, nomeadamente osmediamentos sujeitos a receita médica. Os doentes devem ter acesso a informação sobreum fármaco, e não exclusivamente por escrito, mas também em formato electrónico.Devem ter acesso a informação que seja independente, objectiva, abrangente, verdadeirae acessível numa forma e numa linguagem inteligíveis. Desejo agradecer ao relator o bomtrabalho que realizou. Dou o meu apoio a esta proposta.

Anja Weisgerber (PPE). – (DE) Senhora Presidente, desejo agradecer ao relator, senhordeputado Christofer Fjellner, e aos relatores-sombra. Em condições difíceis, e contra ventose marés, alcançou-se efectivamente um resultado muito bom com este relatório. A propostada Comissão foi substancialmente melhorada. Mantém-se uma proibição estrita dapublicidade: não haverá informação na rádio, televisão nem em revistas; os doentes têm,antes, de procurar activamente a informação. Baseio a minha posição na convicção de queos doentes são pessoas responsáveis. Pretendem estar informados, e quero ajudá-los afazê-lo. Por conseguinte, também quero que os doentes sejam os destinatários dainformação. Gostaria de me centrar em dois aspectos fundamentais. Afirmei em termosprecisos – inclusive na Comissão do Mercado Interno e da Protecção dos Consumidores e

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na Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar – que queria verportais sobre saúde na Internet e informação similar na imprensa escrita. Os nossos cidadãosprocuram muitas vezes informação na Internet, onde encontram frequentementeinformação escassa e não controlada. Devemos, por conseguinte, contrariar esta tendênciaapresentando uma alternativa: informação controlada. A vigilância farmacológica foi umprimeiro êxito, com a adopção de portais de segurança de medicamentos que incluíam osfolhetos informativos e informação sobre medicamentos. Todavia, gostaria de ir maislonge, Senhor Comissário, e gostaria de ter visto portais abrangentes na Internet quefacultassem também informação sobre doenças e prevenção. Se bem o entendi, o SenhorComissário também o defende, em princípio, mas talvez não o tenha afirmado em relaçãoa este dossiê. Gostaria que o Senhor Comissário fizesse uma declaração clara sobre o seuapoio a esta medida. Considero que esta é uma questão muitíssimo importante.

Françoise Grossetête (PPE) . – (FR) Senhora Presidente, desejo felicitar o nosso relator,senhor deputado Fjellner, pelo excelente trabalho que desenvolveu ao longo de váriosmeses sobre estes dois relatórios. Digo-o em particular porque esperámos anos por estetexto. Os mais antigos deputados ao PE estarão recordados de que, quando a legislaçãofarmacêutica estava a ser revista, queríamos abordar a questão de ensinar os doentesaspectos sobre medicamentos e tratamentos, mas, lamentavelmente, isso levaria a algumaconfusão entre informação e publicidade.

Actualmente, não deve permitir-se que a informação seja publicidade disfarçada e, comefeito, a tónica nestes relatórios não está colocada no direito das empresas de divulgarinformação mas no direito dos doentes a ter acesso à mesma. O raciocínio é, porconseguinte, completamente diferente, e é por esta razão que os doentes constituem aprioridade. Além disso, dizemos "não" à informação não solicitada, uma atitude que reduziráos canais de distribuição e, assim, os riscos de publicidade.

Os próprios doentes procurarão a informação que pretendem, que não lhes será imposta,através da rádio ou da televisão, de jornais ou revistas. É isso efectivamente que a distingueda publicidade. Algumas informações terão, por conseguinte de ser autorizadas previamente.Esta autorização prévia deve ser realizada pelas autoridades nacionais, e deve permitir acriação de páginas Web especializadas e objectivas, bem como a utilização de materialimpresso específico, como explicou o Senhor Comissário Dalli.

Todas as condições estão, por conseguinte, reunidas para assegurar uma informação dequalidade, informação objectiva, informação que os doentes aguardam há muito. É poresta razão que o Conselho deve assumir as suas responsabilidades e aceitar essa publicidade,porque não podemos permitir que nas páginas Web esteja disponível qualquer tipo deinformação. Esperámos dez anos: dez anos para que o Conselho tomasse a uma decisão.

Alajos Mészáros (PPE). – (HU) Senhora Presidente, o senhor deputado Fjellner merecetambém os nossos agradecimentos por este relatório, porque há muito que precisávamosde uma proposta que garantisse aos doentes mais e melhor informação sobre medicamentossujeitos a receita médica que lhes são prescritos e que eles tomam. A informação dequalidade é muito importante e contribui para melhores condições de saúde. Quando osdoentes estão adequadamente informados, têm mais probabilidades de seguir o tratamentonecessário e compreenderão melhor as decisões relacionadas com o tratamento.

Não precisamos apenas de harmonizar a regulamentação europeia. Temos também deassegurar uma melhoria da saúde pública através da prestação de informação correcta. Asempresas farmacêuticas também desempenham aqui um importante papel. Todavia, temos

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também de assegurar que não há um consumo excessivo de medicamentos comoconsequência de uma promoção comercial.

Existem actualmente numerosos problemas com a prestação de informação sobremedicamentos nos Estados-Membros da UE. Nalguns Estados-Membros, os doentes têmdificuldades em aceder inclusivamente à informação mais básica sobre medicamentossujeitos a receita médica. Isto causa sérias desigualdades a nível dos cuidados de saúde naUnião. Além da informação disponível na Internet, é preciso prestar também orientaçãoatravés dos canais tradicionais. Todavia, o nosso objectivo não é assegurar o direito dasempresas farmacêuticas a facultar informação, mas dar aos doentes a oportunidade deobter informação. Temos de distinguir entre informação e publicidade. Em meu entender,a comunicação entre doentes e médicos é também importante, dado que a principal fontede informação para o doente deve ser o médico que prescreve o medicamento. Outroscanais de informação devem apenas servir para complementar a informação do médico.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Senhora Presidente, saúdo o trabalho do relator sobreos regulamentos para melhorar o acesso e a qualidade da informação sobre medicamentospara os doentes europeus. Como médica, posso afirmar que a informação contida nosfolhetos informativos dos medicamentos é fiável e inteligível para os médicos. No entanto,deve também ser escrita de forma a que os leigos também a entendam. Todavia, queremostambém pôr termo a publicidade enganosa na Internet que incentiva as pessoas a comprarfármacos que não só não curam, como podem até ser prejudiciais para os doentes. Não é,no entanto, fácil regulamentar os conteúdos Web num ambiente digital globalizado.Gostaria de voltar a enfatizar que a solução passa por implementar, o mais brevementepossível, a proposta para introduzir marcas de fiabilidade para páginas Web seguras. Sóassim será possível assegurar conteúdos fiáveis relativos a medicamentos na Internet,independentemente do local em que está baseado o operador da página Web. Este planofoi também incluído no meu relatório sobre a confiança dos consumidores no ambientedigital.

Mario Pirillo (S&D). – (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, o relatório em debate reveste-se de extrema importância, na medida em quepermitirá a harmonização da legislação europeia relativa ao acesso à informação sobremedicamentos e, principalmente, porque assegurará que os doentes obtenham maisinformação sobre os medicamentos sujeitos a receita médica.

A disponibilização desta informação em páginas Web deve ser transparente e independente.Para o garantir, toda a informação deve ser examinada pelas autoridades competentesnacionais ou europeias, para evitar que se torne publicidade disfarçada a medicamentos,porventura através da acção de empresas produtoras.

Por último, solicito que seja também dispensada a mesma atenção à informação contidanas brochuras dos medicamentos sujeitos a receita médica. A este respeito, preferiria quefossem os médicos ou os farmacêuticos a facultar informação pormenorizada aos doentes,para assegurar a total compreensão da administração do medicamento.

Oreste Rossi (EFD). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,consideramos que o regulamento é positivo, dado que visa proporcionar um quadrolegislativo harmonizado relativamente a informação não promocional sobre medicamentossujeitos a receita médica que as empresas farmacêuticas podem divulgar ao público,mantendo inalterada a proibição da publicidade.

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A proposta salienta a diferença entre publicidade e informação. A prestação de informaçãobaseia-se nos princípios de investigação activa. Os médicos devem continuar a ser a principalfonte de informação sobre medicamentos. Devem manter-se outras fontes, que são vistascomo complementares e que incluem revistas e jornais.

No centro está o direito dos doentes à informação, com a participação activa de organizaçõesque representam os cidadãos, em particular os doentes. Demos o nosso voto favorável.

Mairead McGuinness (PPE). – (EN) Senhora Presidente, todos nós gostaríamos de veros doentes utilizar a informação existente que lhes é disponibilizada. Temos de sensibilizaros cidadãos para a utilização da informação actualmente disponível.

Apoio os colegas que aqui afirmam que não se deve fazer publicidade a medicamentos, edevemos dizer às empresas envolvidas que divulgar informação de qualidade aosconsumidores é a melhor forma de fazer publicidade, porque quando um medicamentodá resposta às necessidades dos cidadãos, isso constitui uma mensagem clara de que seráutilizado onde for necessário. Naturalmente, os médicos devem divulgar informação médicae científica aos seus doentes, o que nem sempre acontece da melhor forma possível.

Por último, precisamos também de ser claros sobre a forma como os medicamentos sãoatribuídos aos cidadãos de diferentes grupos etários. São hoje prescritos sem seremsubmetidos a qualquer revisão durante um ano. Isto é muito perigoso, e é necessário quehaja uma avaliação muito mais rigorosa e regular sobre a forma como os doentes sãotratados. Caso contrário, surgirão problemas médicos.

John Dalli, Membro da Comissão . – (EN) É, sem dúvida, gratificante presenciar umempenhamento tão grande e positivo sobre um dossiê tão importante e ver o consensogeral que existe sobre a confiança que foi colocada nos princípios e conceitos básicos quedevem pautar esta proposta.

Como afirmei anteriormente, foi muito importante mudar a orientação da proposta originalpara uma proposta orientada para os doentes baseada na perspectiva dos doentes.

Acompanhei de muito perto o debate no Parlamento. Falei com muitos dos senhoresdeputados para saber o que estava a ser debatido, e penso que o que temos – como afirmeinas minhas observações iniciais – é um documento muito positivo que deve servir de basepara o nosso futuro trabalho até alcançarmos um acordo final.

Gostaria de tecer algumas breves observações ao que foi aqui dito. Em relação aos controlosex-ante realizados pela EMA, mencionados pelo senhor deputado Correia, penso que 120dias seria um pouco excessivo e, efectivamente, o que proporemos situar-se-á em tornodos 60 dias.

A Internet é uma tarefa gigantesca, e controlar páginas Web que contêm informaçãodestinadas aos doentes é vital – mas todos percebemos que é um trabalho difícil. Os aspectossuscitados pelo senhor deputado Buşoi e pela senhora deputada Grossetête relativos àsregras estritas sobre a Internet são muito importantes, e deveríamos desenvolver estasquestões.

A relação crucial que o médico deve continuar a manter com o doente é também muitoimportante, como afirmou a senhora deputada Schnellhardt e também, à sua maneira, ossenhores deputados Pargneaux e Parvanova.

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Concordo que os médicos não devem ser instrumentalizados pela indústria farmacêutica,mas, por outro lado, um médico deve ser um bom canal de divulgação de informação.Devemos assegurar que a informação nas mãos dos médicos, como afirmou a senhoradeputada Rosbach, deve também ser objectiva.

A minha última observação diz respeito ao portal abrangente sobre doenças, que foimencionado pela senhora deputada Weisgerber. Devo dizer que, no caso dos medicamentos,isto já está contemplado na legislação sobre vigilância farmacológica proposta pelaComissão. É muito mais difícil no caso das doenças. Dispomos já de um portal sobredoenças raras, mas no caso de um espectro geral de doenças, começámos e estamos a tentarabordar esta questão. Todavia, está a revelar-se um exercício muito complexo e, comoentenderão, muitíssimo vasto.

Desejo agradecer ao Parlamento o trabalho desenvolvido sobre este dossiê. Desejo agradeceruma vez mais ao relator e aos relatores-sombra o trabalho que realizaram, e espero, comodisse, que, finalmente, tenhamos um documento que sirva de base ao nosso futuro trabalho.

Posição da Comissão sobre as alterações apresentadas pelo Parlamento:

(COM(2008)0663 – C6-0156/2008 – 2008/0256(COD))

Alterações:

Aceites na totalidade: 1, 3, 4, 10, 11, 12, 22, 26, 35, 39, 40, 42, 56, 60, 63, 64, 65, 67e 69

Aceites em princípio: 9, 13, 14, 16, 19, 20, 21, 23, 27, 32, 34, 36, 37, 41, 46, 48, 50,52, 58, 62, 66, 72, 74, 75, 76, 77 e 78.

Aceites sujeitas a reformulação: 5, 6, 7, 8, 15, 24, 25, 28, 33, 44, 49, 53, 59 e 70.

Aceites em parte: 2, 29, 31, 43, 54, 55, 61 e 79.

NÃO aceites: 17, 18, 30, 38, 45, 47, 51, 57, 68, 71 e 73

(COM(2008)0662 – C6-0517/2008 – 2008/0255(COD))

Alterações:

Aceites: 2 e 7

Aceites em princípio: 6

Aceites sujeitas a reformulação: 1

Aceites em parte: 9, 10 e 12

NÃO aceites: 3, 4, 5, 8 e 11

Christofer Fjellner, relator. – (SV) Senhora Presidente, congratulo-me por a Comissãoter começado por apontar precisamente o facto de, actualmente, o acesso à informaçãosobre os medicamentos variar enormemente em toda a Europa, pois nós lutámosarduamente para assegurar que toda a população disponha de um bom acesso e que esseacesso seja harmonizando. Ao mesmo tempo, apresentei um pedido da minha autoria nosentido de a informação não poder ser pior ou mais escassa em nenhum país em particular.Sei que este ponto suscitou a preocupação de muitas pessoas em alguns países, inclusivena Suécia, onde, durante bastante tempo, tivemos um sistema denominado Fass. Vou agora

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dirigir-me directamente a essas pessoas e dizer-lhes que a forma como o Parlamento votounão significa apenas que é possível manter o Fass, mas também que é possível a outrospaíses introduzirem sistemas similares.

Em outros aspectos, claro que, actualmente, as normas na Europa são bastante estranhasna medida em que todos podem dizer o que quiserem sobre medicamentos sujeitos a receitamédica, excepto aqueles que fabricam esses medicamentos, por outras palavras, aquelesque deveriam saber mais sobre eles. Fico, portanto, satisfeito por termos estipulado queestas entidades não só têm o direito, mas têm efectivamente o dever de divulgar algumasinformações básicas. Têm de dar o seu contributo, pois, ao fim e ao cabo, são eles quedetêm uma enorme quantidade de informações.

Ao Senhor Comissário gostaria apenas de dizer que estou muito satisfeito por ver que elee eu concordamos em todos os pontos que são fundamentais para mim neste trabalho.Estou convicto de que a Comissão e o Parlamento estão agora de acordo. Este facto colocauma pressão considerável sobre o Conselho no sentido de se debruçar sobre este assuntode uma forma construtiva e de prosseguir o trabalho sobre ele. Para ser honesto, mesmoem relação aos pontos da proposta sobre os quais a Comissão declarou que tem objecções,continuo a achar que a essência do que queremos alcançar é muito semelhante, por exemplo,no que se refere ao material impresso e à possibilidade de ajudar os países que têm problemasconstitucionais, incluindo a Suécia, solucionando-os na proposta.

Por último, queria apenas dirigir-me aos deputados que consideram que não deveríamoscontemplar uma excepção para os médicos e para as informações que os médicos devemprestar. Pessoalmente, acho que um médico que vê um ensaio clínico publicado por umaempresa deve ter o direito de o dar a conhecer a um paciente, se considerar que asinformações contidas são relevantes, ou que um médico que se depara com um folhetoinformativo numa língua que não seja a língua oficial desse Estado-Membro deve ter odireito de imprimir essas informações e dá-las a um paciente. Nesse caso, porém, temosde votar no sentido de o próprio médico poder decidir e não no sentido de a presentedirectiva regulamentar o que os médicos vão dar aos pacientes. A responsabilidade é sempredos médicos e não devemos regulamentá-la.

Presidente. – Está encerrado o debate conjunto.

A votação terá lugar na quarta-feira, 24 de Novembro de 2010.

Declarações escritas (artigo 149.º)

John Attard-Montalto (S&D), por escrito. – (EN) A informação sobre produtos deconsumo tornou-se essencial. A informação sobre medicamentos é particularmente sensível.Uma distinção importante, que deve ser feita, é entre informação e publicidade. OParlamento Europeu, ao debater o presente relatório, faz salvaguardas no que se refere aosmedicamentos. Um exemplo é o material impresso ter de ser submetido à Agência Europeiade Medicamentos (EMA), para análise, 90 dias antes do envio aos consumidores. Umelemento importante que não está a ser abordado é a informação sobre os preços. Duranteesta legislatura, insisti no preço elevado dos medicamentos em Malta, por comparaçãocom os mesmos medicamentos em outros países da União Europeia. A diferença de preço,além de não ser mínima, é inconcebível. O custo de alguns medicamentos em Malta é odobro, ou até mais, do custo na Europa. Quando apresentei perguntas à Comissão sobreeste tema, sempre me foi indicado que este era um problema para o governo nacional.Estou firmemente convencido de que a EMA não deve apenas actuar como uma protecção

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para os consumidores relativamente à informação sobre medicamentos, mas que, quandoos consumidores estão a ser descaradamente onerados com o preço destes, e os governosnacionais são incapazes de resolver o problema, a EMA deve ter a capacidade de intervire abordar a questão.

Slavi Binev (NI), por escrito. – (EN) Congratulo-me com as disposições que, no relatórioreferente à informação sobre os medicamentos, dão ênfase ao direito dos consumidores aserem informados. A esse respeito, gostaria de chamar a atenção para a consulta públicaem linha, lançada pela CE, sobre a futura revisão da directiva relativa aos produtos dotabaco. Esta é, sem dúvida, uma iniciativa louvável e merece o meu apoio.

Mas eu gostaria de ver a posição do Parlamento e do Conselho, pois, dado que mefamiliarizei com as propostas, defino algumas como sendo extremistas, pouco razoáveise, em certa medida, estou até surpreso com a sua inclusão para serem debatidas. Refiro-mea algumas das opções propostas, como é o caso da introdução da embalagem simplificada,uniforme e sem marca, a proibição da exposição dos produtos para venda e a proibiçãodo uso de aditivos na produção de produtos do tabaco.

Creio que, ao elaborar novos regulamentos, a realidade deve ser considerada. As proibiçõesextremas e as medidas regulamentares restritivas sobre o tabaco devem ser tratadas comcautela. Trata-se de um problema crescente e eu não gostaria que este sinal passasse semdiscussão. A Comissão elabora a sua proposta, mas o que nos propõe nem sempre é omelhor para todos os Estados-Membros. Neste caso, é obrigatório um debate!

Siiri Oviir (ALDE), por escrito. – (ET) Penso ser muito positivo que, em resultado dapresente proposta, a directiva e o regulamento dêem ênfase aos pacientes em detrimentodos fabricantes de medicamentos. É extremamente importante aumentar aconsciencialização dos pacientes em relação aos medicamentos prescritos a fim de evitaro consumo excessivo destes em resultado da prevalência de critérios comerciais.Infelizmente, em muitos Estados-Membros, tornou-se norma as empresas farmacêuticasfazerem um forte lóbi, oferecendo uma série de benefícios que têm certamente influêncianas decisões dos médicos. É desnecessário dizer que os interesses empresariais nem semprecorrespondem aos interesses dos pacientes, e é por isso que é necessário alterar a Directiva2001/83/CE e o Regulamento (CE) n.º 726/2004, de modo a criar um quadro claro parao fornecimento de informação sobre medicamentos sujeitos a receita médica. Umenquadramento claro ajudaria a promover o uso racional de medicamentos e seria dointeresse dos doentes. Sem dúvida que esta abordagem deve conter uma distinção maisclara entre publicidade e informação, embora a publicidade directa de medicamentos aosconsumidores vá continuar a ser proibida no âmbito das propostas em questão.

Daciana Octavia Sârbu (S&D), por escrito. – (EN) A Comissão do Ambiente, da SaúdePública e da Segurança Alimentar trouxe algumas melhorias importantes à proposta daComissão a qual, na sua forma original, não teria evitado todas as formas de publicidadede medicamentos directamente aos pacientes. Os medicamentos sujeitos a receita médicanão são como os produtos de consumo corrente. Devem ser fornecidas por especialistasclínicos e não comercializados como carros ou cosméticos. Saúdo, pois, que seja mantidaa proibição imposta à publicidade junto do público em geral a medicamentos sujeitos areceita médica, seja na rádio, na televisão ou na imprensa. Os profissionais de saúdecontinuam a ser a fonte mais fiável de informações sobre medicamentos. Nesta perspectiva,não posso apoiar a alteração do relator, que permitiria aos profissionais de saúde distribuirmaterial adicional, não aprovado, das empresas farmacêuticas directamente aos pacientes.

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Tal representaria um claro ensejo para fazer publicidade, algo que queremos evitar e queseria incoerente com a nossa posição contra a publicidade directa aos pacientes. Éespecialmente inadequado, pois o material directamente proveniente da empresafarmacêutica teria, aos olhos do paciente, a legitimidade conferida pelo médico que odistribuísse. De um modo geral, o relatório representa melhorias para os pacientes emcomparação com a proposta da Comissão, e não devemos prejudicar essas melhorias,permitindo que as empresas farmacêuticas façam publicidade directamente aos pacientesno consultório do médico.

18. Restrição do uso de determinadas substâncias perigosas em equipamentoseléctricos e electrónicos (reformulação) (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A7-0196/2010) da deputada Evans,em nome da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, sobre aproposta de directiva do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à restrição do uso dedeterminadas substâncias perigosas em equipamentos eléctricos e electrónicos(reformulação) [COM(2008)0809 - C6-0471/2008 - 2008/0240(COD)].

Jill Evans, relatora. – (EN) Senhora Presidente, em primeiro lugar, gostaria de agradecera todos os meus colegas que tornaram possível este acordo em primeira leitura - em especial,naturalmente, a todos os relatores-sombra, à Comissão e às Presidências espanhola e belga,bem como à Comissão do Ambiente e ao pessoal e assistentes do grupo. Conseguimoschegar a um acordo após um trabalho árduo, mas construtivo, incluindo algunscompromissos bastante difíceis.

Para colocar este debate no seu contexto adequado, mais de 9 milhões de toneladas deequipamentos eléctricos e electrónicos são vendidas anualmente na União Europeia. Amaioria destes equipamentos são grandes electrodomésticos e equipamentos informáticose de telecomunicações. Como este mercado continua a crescer, este sector tornou-setambém aquele que tem o fluxo de resíduos em mais rápido crescimento na UE,estimando-se que atinja a imensidade de 12,3 milhões de toneladas em 2020. Trata-se deum fluxo de resíduos muito complexo, que inclui várias substâncias perigosas.

A hierarquia dos resíduos faz com que a prevenção de resíduos se torne a primeiraprioridade, o que implica a substituição de substâncias perigosas em produtos que nãopermitem a reciclagem ou constituem um risco para a saúde e o ambiente, quandosubmetidos a tratamento de resíduos. A Comissão estima que a actual Directiva RSP(restrição do uso de substâncias perigosas) levou a uma redução de 100 000 toneladas decertos metais pesados e impediu dois grupos de retardadores de chama bromados de iremparar ao fluxo de resíduos e, potencialmente, entrarem no ambiente. A Directiva RSPestabeleceu um padrão global, mas era necessária uma maior clareza, pelo que tivemosuma grande responsabilidade com esta reformulação para podermos garantir que eraaprovado um texto legislativo mais claro e mais ambicioso.

Creio que conseguimos melhorar em vários aspectos a actual directiva. Esta tem agora umametodologia clara, com critérios para decidir sobre novas restrições, complementares eindependentes do sistema REACH. O seu âmbito foi alargado de forma a incluir todos osequipamentos eléctricos e electrónicos no prazo de oito anos, a menos que sejaespecificamente excluído. Haverá uma revisão de exclusões adicionais no prazo de trêsanos, juntamente com um exame de três ftalatos e um retardador de chama bromadoidentificado como prioritário. Isenções temporárias podem ser concedidas com base em

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claros critérios e prazos de candidatura. Os nanomateriais serão analisados especificamenteem futuras revisões das restrições.

Dadas as minhas ambições para este relatório, os senhores deputados não ficarãosurpreendidos por eu não estar totalmente satisfeita com o resultado final. A Directiva RSPfoi concebida para abordar os problemas específicos de um fluxo específico de resíduos,e penso que, ao adicionar novas restrições, perdemos uma oportunidade para a fazeravançar substancialmente. Mesmo assim, conseguimos manter a sua identidade e reforçámosa proposta da Comissão de várias formas.

Relativamente aos quadros de correspondência, o meu grupo apoia a intenção de tornareste ponto obrigatório para os Estados-Membros, mas esta é uma problemática transversalque afecta toda a legislação europeia e não pode ser resolvida apenas neste dossiê. Paraajudar a encontrar uma solução, propus, na alteração 105, que adoptássemos umadeclaração solicitando à Comissão um relatório sobre a prática actual dos Estados-Membrosem termos da disponibilização de quadros de correspondência e de como isso afecta otrabalho da Comissão, em vez de insistirmos em quadros de correspondência obrigatórios.Teremos assim uma ideia mais clara para o debate futuro.

Em resumo, conseguimos reforçar uma proposta bastante vaga e pouco ambiciosa, etorná-la uma nova RSP, que permitirá atingir, agora e no futuro próximo, um elevado nívelde protecção da saúde humana e do meio ambiente.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, o Comissário JanezPotočnik, responsável por esta pasta, está aqui comigo, mas infelizmente tem de permanecerem silêncio devido a um problema com a garganta. Eu sei que ele trabalha neste dossiê hámuito tempo, por isso vou fazer todos os possíveis para ser a sua voz.

Estamos no limiar de um acordo em primeira leitura sobre a reformulação da directivarelativa à restrição do uso de determinadas substâncias perigosas em equipamentos eléctricose electrónicos - o acordo RSP. Não teríamos chegado a este ponto se não fosse o trabalhoárduo do Parlamento Europeu neste importante dossiê. Gostaria de agradecer à relatora,Jill Evans, e de a felicitar, assim como à Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e daSegurança Alimentar, pelo excelente trabalho realizado em relação a esta proposta.

A RSP tem sido uma peça legislativa muito bem sucedida, desde a sua adopção em 2003,tendo evitado que milhares de toneladas de substâncias proibidas fossem deitadas fora e,potencialmente, libertadas no ambiente. Trouxe importantes mudanças à concepção deprodutos electrónicos na União Europeia e no mundo. Outros países, incluindo os grandesparceiros comerciais da UE, seguiram o exemplo da UE e criaram legislação similar.

Utilizamos uma quantidade enorme e crescente de equipamentos electrónicos, que contêmuma grande quantidade de elementos em metal. Um computador, por exemplo, contémmais de 60 matérias-primas. Em média, cada cidadão europeu produz 25 kg de lixoelectrónico por ano. Esta lei vai garantir que os produtos electrónicos sejam libertados deuma série de substâncias perigosas, fazendo com que se torne mais fácil reciclar este grandefluxo de resíduos. Portanto, esta legislação também ajuda a tornar a UE mais eficiente emtermos de recursos, em sintonia com a nossa Estratégia Europa 2020.

No entanto, tanto este sector como os Estados-Membros invocaram o risco de a aplicaçãoe a execução da directiva serem inadequadas ou ineficientes. O status quo é insuficiente,não só em termos de protecção do ambiente, mas também em termos de criação decondições de concorrência equitativas na UE. Portanto, é importante que esta lei seja

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clarificada e simplificada. Para a Comissão, o principal é assegurar o alinhamento com oREACH, mas os verdadeiros benefícios ambientais só surgem quando uma lei é devidamentetransposta e aplicada a nível nacional. Espero que a introdução, nesta lei, das definiçõescomuns e das ferramentas de avaliação do novo quadro legislativo para a comercializaçãode produtos, vá melhorar significativamente este ponto.

Além disso, a "ambição ambiental" da directiva é reforçada através do alargamento dacobertura de produtos, primeiramente a duas novas categorias - dispositivos médicos einstrumentos de monitorização e controlo - e, dentro de oito anos, a todos os produtoselectrónicos. Posteriores alargamentos do âmbito de aplicação desta directiva irão aumentarainda mais os benefícios ambientais, mas os operadores económicos deverão, naturalmente,dispor de tempo suficiente para se adaptarem, além de que todas as mudanças de âmbitodevem ser baseadas em informações sólidas. Nesta perspectiva, a Comissão irá analisar asalterações de âmbito relativamente à legislação vigente e que ainda não tenham sido sujeitasa avaliações de impacto. Assim sendo, a Comissão gostaria de esclarecer a questão, fazendoduas declarações.

Em primeiro lugar, sobre o âmbito: a Comissão interpreta que do artigo 2.º, n.º 1-A, decorreque durante o período de transição de oito anos, os Estados-Membros são obrigados apermitir que os equipamentos eléctricos e electrónicos que estavam fora do âmbito daDirectiva 2002/95/CE, mas que seriam abrangidos pela nova directiva, continuem a serdisponibilizados no seu mercado.

Em segundo lugar, sobre a revisão nos termos do artigo 19.º, a Comissão pretende realizar,o mais tardar três anos após a entrada em vigor da presente directiva, uma avaliação deimpacto incidindo sobre as mudanças no âmbito. Esta revisão pode ter como resultado aapresentação de uma proposta legislativa pela Comissão, em conformidade com o seudireito de iniciativa legislativa consignado nos tratados.

Gostaríamos igualmente de declarar o seguinte no que diz respeito aos nanomateriais.Verificamos que o trabalho com vista a uma definição comum de nanomateriais ainda estáem curso no seio da Comissão. No futuro próximo, temos a intenção de adoptar umarecomendação sobre uma definição comum para todos os sectores legislativos. A Comissãoconsidera que o disposto na RSP cobre diferentes formas, incluindo as nanoformas, desubstâncias que são actualmente proibidas, e daquelas que, no futuro, estarão sujeitas auma revisão prioritária ao abrigo da RSP.

Por último, a Comissão também lamenta a falta de apoio à disposição, incluída na propostada Comissão, que tornava obrigatório o estabelecimento de quadros de correspondência.A Comissão aceitou a substituição da disposição obrigatória por um considerando aincentivar os Estados-Membros a seguirem esta prática de modo a facilitar um acordo emprimeira leitura, mas refere que tal não deve ser visto como um precedente. Vamos continuara trabalhar com os co-legisladores, num esforço para encontrar uma solução para estaquestão transversal às instituições.

A Comissão pode aceitar o pacote de compromisso, numa perspectiva de se chegar, emprimeira leitura, a um acordo sobre a presente directiva. Gostaria de incentivar o Parlamentoa adoptar a mesma posição.

Bogusław Sonik , em nome do Grupo PPE. – (PL) Senhora Presidente, para começar, gostariade endereçar os meus sinceros agradecimentos à relatora, senhora deputada Evans, peloseu excelente trabalho na elaboração do relatório. Sem o seu empenho e determinação,

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teria sido impossível conseguir um compromisso, em primeira leitura, entre os grupospolíticos e as instituições. A directiva RPS pertence aos actos legislativos que colocam omeio ambiente e o desenvolvimento sustentável em pé de igualdade com o movimentoininterrupto de mercadorias. Os seus esforços no domínio da protecção do ambientelevaram, até à data, a uma espectacular colocação de limites aos metais pesados no fluxode resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos e ao surgimento de inovaçõestecnológicas.

A nossa prioridade durante o trabalho de revisão da directiva RSP foi no sentido de elevaros padrões de segurança para equipamentos eléctricos e aparelhos electrónicos em vendana União Europeia. As novas regras exigirão que todos os fabricantes de equipamentoseléctricos e electrónicos utilizem substâncias que foram testadas e que são seguras para asaúde e o meio ambiente. O "âmbito aberto" da directiva terá uma influência positiva naharmonização do mercado interno comum e na circulação de mercadorias, e dará tambémsegurança jurídica aos empresários europeus.

Creio que este compromisso negociado é um bom compromisso e que é benéfico emtermos de protecção ambiental e de eliminação das substâncias tóxicas existentes emequipamentos e seus resíduos. Por outro lado, a directiva RSP reformulada concede àindústria e aos empresários o tempo necessário para a introdução das alterações e arealização das adaptações necessárias. A metodologia proposta para a determinação dassubstâncias destinadas a revisão prioritária é baseada no REACH, e também traz coerênciajurídica e homogeneidade à legislação da União Europeia.

Jo Leinen, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhora Presidente, espero que o nossoComissário recupere a voz, pois precisamos dela na conferência sobre o clima, em Cancún.Fiquei bastante surpreendido por a Senhora Comissária Damanaki ter aqui vindo falarsobre a revisão da directiva relativa às substâncias perigosas, depois de também nos terestado a falar sobre a revisão das pescas; obrigado por ter falado em nome do seu colega.

O Parlamento não tem tudo o que queria. O anexo III foi suprimido, o que lamentamos.No entanto, continuaremos atentos a estas substâncias e quando a revisão ocorrer, dentrode três anos, vão ter de regressar a esta Assembleia com as vossas avaliações de impacto ecomprovar os problemas existentes individualmente em cada substância. Temos tambémum número considerável de isenções, de modo que o que temos se assemelha a um queijosuíço. Precisamos também de verificar as lacunas e deficiências que existem no que dizrespeito a saúde humana e ao meio ambiente. Direi simplesmente que os painéis solaresforam altamente controversos. Pela nossa parte, pretendemos manter o cádmio fora domeio ambiente, mas estes painéis trazem 100 000 toneladas de cádmio para o ambiente.Trata-se de algo a que teremos de estar particularmente atentos.

Congratulo-me por a Comissão ter feito algumas concessões nas suas quatro declarações,por isso, para já, aceitamos os progressos feitos em 2010 e daqui a três anosencontrar-nos-emos novamente para a revisão. Naturalmente, também eu desejo agradeceraos relatores e relatores-sombra.

Holger Krahmer, em nome do Grupo ALDE. – (DE) Senhora Presidente, Senhor Comissário,com esta directiva, temos diante de nós um texto legislativo que surgiu com uma rapidezsurpreendente. Estou muito surpreendido por termos conseguido chegar já a umcompromisso que eu e o meu grupo – sublinho-o expressamente - consideramos aceitável.

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Em última análise, este diploma teve uma passagem bastante conturbada pelo Parlamento.Alargámos o seu âmbito, mas restringimo-lo de novo logo a seguir. Aliás, tentámos declararcertas substâncias como altamente perigosas; talvez devêssemos perguntar a nós própriosse esta legislação é realmente o fórum adequado para este debate. Pessoalmente, não acheiuma boa ideia incluir o PVC e os nanomateriais numa directiva sobre "substâncias perigosas".Daí parecer-me sensato que, no compromisso, já não seja esse o caso.

O orador anterior disse-o mesmo agora, mas é realmente notável que estejamos aqui apreocupar-nos tanto com cada grama de substâncias poluentes, para, depois, sermos porvezes bastante irracionais nos nossos debates. Aparentemente, há indústrias na Europa aque estamos a dar autonomia por motivos políticos. Parece ser este o caso em relação àsempresas do sector das energias renováveis. O facto de as isentarmos instantaneamentedo âmbito de aplicação desta legislação, dizendo que temos de suportar a poluição ambientala bem da protecção do clima e dos nossos objectivos na área das energias renováveis, éalgo de incompreensível. Uma coisa não liga com a outra.

Só espero que não façamos o mesmo no caso do lixo electrónico - a decisão também estáiminente -, pois tal seria ainda mais incompreensível.

Julie Girling, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhora Presidente, gostaria de acrescentaros meus agradecimentos à relatora e à sua equipa. Depois de negociações muito longas,temos um acordo que o meu grupo pode subscrever.

Gostaria, contudo, de aproveitar esta oportunidade para mencionar alguns aspectos. Estareformulação foi concebida para melhorar a situação. Creio que, por definição, é isso quese espera de uma reformulação. Pretendeu-se simplificar os requisitos e as exigênciasrelativamente aos fabricantes. Olhando para o resultado, parece-me ser, de muitas formas,um passo à frente e dois atrás. Congratulo-me com a eliminação do anexo III, queefectivamente tinha criado uma lista negra para muitas substâncias, mas lamento aincapacidade de se chegar a acordo sobre a disponibilidade como critério. Este ponto foilargamente discutido.

Em segundo lugar, pretendeu-se criar segurança jurídica. Aqui, tenho de mencionar aabertura do âmbito neste ponto. Logo desde o início, afirmei que iria gerar incerteza e,pura e simplesmente, dar origem a novas exigências de isenções e excepções. Pareceu-meque, no mínimo, precisávamos de uma avaliação do impacto total por parte da Comissãoantes de darmos o nosso acordo. Não mudei de ideias, mas admito que a minha posiçãoperdeu. Os mecanismos de controlo que agora estão a ser inscritos na regulamentaçãoirão, creio eu, dar origem a uma série de desafios, e saúdo o compromisso da Comissão deestar atenta a este ponto depois da sua inclusão. Mas, na minha opinião, teria sido melhortê-lo feito antes. Pergunto a mim própria como será que esta abertura do âmbito contribuiu,realmente, para a segurança e a clareza jurídicas.

Por último, gostaria também de mencionar o perigo real do excesso de regulamentação.Ao votar a reformulação do RSP, estamos, de facto, a dar continuidade a uma dupla via deregulamentação e aprovação da UE para substâncias químicas perigosas. Temos osregulamentos REACH em vigor, e a sua execução está, como ouvimos recentemente nacomissão, a evoluir satisfatoriamente. Em algum momento próximo, vamos ter de enfrentaro problema e deixar que o regime REACH lidere, como era pretendido. Aguardo comexpectativa que a Comissão se debruce sobre este ponto.

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Sabine Wils, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhora Presidente, gostaria de começarpor agradecer à relatora, que fez um bom trabalho e salvaguardou o que foi possível faceà grande resistência por parte do Conselho e da maioria no Parlamento. Um resultadomuito bem sucedido da nova versão é o âmbito aberto. Esta abordagem é exemplar e ficosatisfeita por termos conseguido chegar a acordo sobre ela. A parte negativa é o facto dea lista de seis substâncias que já estavam proibidas não ter sido alargada de modo a incluirsubstâncias como os retardadores de chama bromados e clorados, os ftalatos e o PVC.Embora haja provas suficientes dos riscos para a saúde que estas substâncias representam,estas não serão proibidas em 2011, quando a nova versão entrar em vigor.

Alguns dos principais fabricantes de equipamentos electrónicos têm vindo a colocar nomercado produtos, como telemóveis, televisores e computadores portáteis, que não contêmestes poluentes, fazendo-o de forma voluntária há vários anos e sem grande aumento decustos. Deixámos passar uma grande oportunidade para tornar o crescimento da indústriaeléctrica e electrónica um pouco mais amiga do ambiente.

Os principais fabricantes mostram-nos o caminho a seguir. Mas, em vez de apoiar estesfabricantes com boas iniciativas, a UE deixa-se ficar para trás no tempo. Serão os maispobres que vão sofrer em resultado destas práticas. Não esqueçamos que, todos os anos,despejamos milhões de toneladas de resíduos eléctricos e electrónicos tóxicos em cimadeles. Os pobres não têm dinheiro para pagar aos lóbistas da União Europeia.

Oreste Rossi, em nome do Grupo EFD. – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, opusemo-nos à proposta de directiva em comissão, devido à relatora termudado radicalmente a proposta da Comissão, tendo, de forma restritiva, expandido oseu âmbito, proposto a eliminação gradual de mais 33 substâncias no anexo III, incluindobromados e clorados retardadores de chama, assim como PVC e seus aditivos; ter limitadoo âmbito das isenções e o tempo necessário para o seu ajustamento e introduzidoregulamentação restritiva para os nanomateriais.

Tivesse esta Assembleia votado a favor de tal decisão, que não é apoiada por evidênciacientífica suficiente, esta teria causado danos muito graves para a economia, com sériasrepercussões no desemprego.

Felizmente, graças a uma série de trílogos nos quais participei como relator-sombra, foialcançado um compromisso mais do que satisfatório, com a garantia de se realizar umaauditoria e uma eventual revisão no prazo de três anos.

Outro assunto complexo foi a definição pormenorizada dos nanomateriais, que foi suspensaenquanto se aguarda uma proposta da Comissão. O texto, decorrente dos trílogos, pôdeser apoiado e aprovado.

Anja Weisgerber (PPE). – (DE) Senhora Presidente, os nossos sinceros agradecimentosà relatora. A directiva relativa aos equipamentos eléctricos e electrónicos tem um temaaltamente controverso. Houve grandes diferenças de opinião sobre vários aspectos. Fico,portanto, bastante satisfeita por o acordo ter sido alcançado e por aquilo que considerocomo o bom resultado das negociações em trílogo.

Gostaria, especificamente, de reiterar dois pontos. Um deles é a questão do âmbito. Queequipamento deve a directiva abranger realmente? Há um aspecto que não podemosesquecer: originalmente, o texto destinava-se a abranger electrodomésticos - por outraspalavras, os aparelhos de uso doméstico habitualmente lacados a branco. O âmbito abertoinclui agora grande quantidade de novos grupos de produtos, o que também permitira

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abranger as tecnologias para energias renováveis. É preciso salientar que esta directiva,tinha, na verdade, um objectivo bastante diferente. Naturalmente que é preciso aplicarnormas muito mais rigorosas de protecção no caso de electrodomésticos do que no casode tecnologias em que os equipamentos são desinstalados, reciclados, etc., por pessoalespecializado.

Foi nesta perspectiva que defendi a isenção das energias renováveis. Não era a favor doalargamento do âmbito de aplicação, mas, depois, apercebi-me de que a maioria estava aseguir nesse sentido. Creio que teria sido contraproducente incluir as energias renováveisna presente directiva. Teria como resultado uma desvantagem competitiva e creio, portanto,que é a decisão certa.

Gostaria ainda de dizer algumas palavras sobre o anexo III: eu teria tido reservas sobre ainclusão de mais 37 substâncias com carácter prioritário, dado não haver justificação realcom base em motivos de saúde para uma futura proibição destas. No meu entender seriauma medida geradora de pânico, e é por isso que considero correcta a decisão tomada eestou igualmente satisfeita com o resultado obtido.

Kathleen Van Brempt (S&D). – (NL) Senhora Presidente, permita-me começar porfelicitar a relatora. A senhora deputada Evans tem uma determinação impressionante,graças à qual chegamos hoje a um compromisso que o Grupo da Aliança Progressista deSocialistas e Democratas no Parlamento Europeu (o Grupo S&D) pode subscrever. Digo"pode subscrever" porque uma série de melhorias significativas foram feitas na presentelegislação, que é de enorme importância. Estas melhorias dizem respeito ao alargamentodos domínios de aplicação aberta, embora tivéssemos preferido que estes fossemintroduzidos mais rapidamente. Outro resultado dessas melhorias é o facto de ainda termosuma directiva separada e independente - independente do REACH -, obviamente com anecessária coordenação entre os dois casos. Em terceiro lugar – e, pessoalmente, consideroeste ponto muito importante -, graças a estas melhorias, temos uma boa metodologia,negociada com dificuldade pelo Parlamento, que deve garantir que as substâncias sejamnovamente revistas para que possamos ver quais podem ser os seus possíveis efeitos. Alémdo mais, há uma série de substâncias (HBCDD) - vou ter de olhar para o meu papel - dasquais as mais usadas e mais controversas são os retardadores de chama bromados e trêsftalatos importantes, que devem ser abordadas com carácter prioritário. Naturalmente,também se está a actuar em relação aos nanomateriais. Teríamos querido ir muito maislonge, mas estamos satisfeitos por a Comissão ir, não obstante, emitir uma declaração.Isso é muito importante. Se teríamos querido ir mais longe? Sim, claro, estamos descontentescom alguns aspectos. Obviamente que o nosso grupo teria gostado que algumas substânciasadicionais fossem proibidas, que a revisão acontecesse mais rapidamente e que houvessemenos isenções. Quanto a este último aspecto, preciso realmente de retomar os painéissolares por um momento. O Grupo S&D foi o único grupo que se opôs até ao fim à ideiatotalmente equivocada de que os painéis solares deveriam ser mantidos fora do âmbito.Um lóbi especial surgiu em torno desta questão, e de modo completamente injustificado,acho eu, pois vai-se permitir que o cádmio, uma substância proibida desde 2003, permaneçaem circulação durante, pelo menos, mais dez anos. Acho uma ideia particularmente infeliz,sobretudo para um sector que deveria, sem dúvida, assumir a liderança nesta matéria. Noentanto, o Grupo S&D terá o prazer de apoiar este compromisso. Só espero que o GrupoEuropa da Liberdade e da Democracia não tenha o dossiê errado à frente, pois não os vimuito envolvidos nos trílogos.

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Horst Schnellhardt (PPE). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,a reformulação da directiva deve ajudar a melhorar a protecção do consumidor e tambémdo meio ambiente. Creio que o conseguimos porque estabelecemos um quadro realista,que é baseado nos riscos reais para os consumidores e para o ambiente e que oferece àsempresas a segurança jurídica para investimentos e inovações. Isso é muito importantepara as pequenas e médias empresas que realizam investigação em áreas específicas. Éreconfortante saber que fomos capazes de definir orientações adequadas aos riscos emrelação a este importante tema e, a este respeito, gostaria também de agradecer à relatorae aos relatores-sombra.

Ouvimos vários oradores expressarem o seu descontentamento por os painéis solares nãoterem sido incluídos. Minhas Senhoras e meus Senhores, não estamos a falar aqui de cádmio,mas sim de telureto de cádmio. As questões em jogo são a inovação e o investimento. Defacto, precisamos de considerar estas questões separadamente. Os dispositivos em questãonão são aparelhos eléctricos, mas sim equipamentos para a produção de electricidade. Estaé uma enorme diferença. Não podemos adoptar uma abordagem de colocar tudo "nomesmo saco", dizendo: "Estas são todas substâncias venenosas". Afinal de contas, o meupróprio corpo, por exemplo, contém uma certa quantidade de enxofre. É um facto, oenxofre não é algo que eu prontamente me disponha a ingerir. No entanto, as coisas sãocompletamente diferentes quando se trata de compostos químicos. É por isso que ficosatisfeito por termos, finalmente, conseguido abandonar a questão do PVC. As empresasque produzem PVC têm feito muita investigação nos últimos anos. Basta olhar para osdesenvolvimentos mais recentes para percebermos o que tem vindo a acontecer no mundo.Não precisamos de retomar um debate velho de dez anos.

Estou satisfeito com esta versão do texto. Podemos ter a certeza de que nos irá permitiralcançar grandes benefícios para o meio ambiente e para os consumidores, além depromover a inovação.

Salvatore Tatarella (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,nos últimos anos, temos assistido a esforços consideráveis das instituições comunitáriaspara assegurarem que a produção, a utilização e a eliminação dos equipamentos electrónicosrespeitam mais o meio ambiente e a saúde humana.

A directiva RSP é um elemento fundamental desta estratégia. Sem dúvida que aconformidade com as directivas constitui um desafio e um encargo para as empresas, masé também uma oportunidade. De facto, a capacidade de fornecimento de produtos menospoluentes é um factor muito importante para diferenciar as nossas empresas, de tal modoque pode ser classificada como uma vantagem competitiva real. As empresas não podemencarar as normas e disposições da directiva apenas como obrigações destinadas apenalizá-las, mas como oportunidades para melhorar os processos empresariais e aqualidade dos produtos.

No entanto, algumas isenções foram consideradas necessárias - algumas devido à gravecrise económica actual, outras porque são objecto de uma directiva posterior e específica.É este o caso dos nanomateriais, sectores espacial e de segurança, instalações fixas, meiosde transporte e máquinas automotoras, dispositivos médicos implantáveis, painéisfotovoltaicos e equipamentos destinados a aplicações em investigação e desenvolvimento.

Concluindo, gostaria de aproveitar esta oportunidade para expressar o meu desejo de umamaior coerência entre a directiva RSP e o regulamento REACH, evitando qualquer risco

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de confusão ou sobreposição, pois as empresas e os operadores necessitam de regras clarase definidas.

Peter Jahr (PPE). – (DE) Senhora Presidente, creio que a intenção fundamental da presentedirectiva deve ser apoiada. A comissão parlamentar assumiu as suas responsabilidades emelhorou significativamente a proposta da Comissão. Existem, no entanto, algumasquestões que ainda necessitam de ser discutidas.

Em primeiro lugar, precisamos de ter presente a dimensão internacional de tudo o quefazemos. Afinal, de que vale a União Europeia manter-se limpa de certas substâncias, se aimportação de substâncias perigosas continuar a ser permitida?

Em segundo lugar, as pequenas e médias empresas devem conseguir dar conta dos nossosregulamentos e, sobretudo, do esforço burocrático associado.

Em terceiro lugar, parto do princípio que o processo iniciado será de natureza dinâmica enão estática, razão pela qual este problema terá de ser regularmente submetido à apreciaçãodo Parlamento Europeu.

Karin Kadenbach (S&D). – (DE) Senhora Presidente, Senhores Comissários, embora eucreia que este é apenas um pequeno passo, pelo menos é um passo na direcção certa. Pelomenos a alteração apresentada consegue englobar todas as derrogações previstas. Creioque esse aspecto irá também fornecer algumas orientações importantes ao sectorempresarial.

No entanto, o que é particularmente importante no que diz respeito a estas orientações éque os consumidores devem ser informados. Creio que continuará a ser muito importante,no futuro, que os consumidores saibam quais são os potenciais poluentes ambientais quepodem estar a levar para casa quando compram equipamentos electrónicos ou eléctricos.Esta é a única maneira de garantir que serão adoptados procedimentos correctos no âmbitoda nossa próxima directiva, nomeadamente em relação à eliminação desses dispositivos.

É importante que a Comissão e os Estados-Membros forneçam essa informação agora,pois um período de transição de oito anos é realmente muito tempo.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Senhora Presidente, nos países industrializados, o ciclo devida dos equipamentos eléctricos e electrónicos é cada vez mais curto. A taxa de substituiçãodeste equipamento é, portanto, cada vez mais rápida, o que faz com que os resíduos deequipamentos eléctricos e electrónicos estejam a tornar-se um fardo cada vez mais pesadopara o meio ambiente.

Trata-se de resíduos complexos e que, muitas vezes, contêm substâncias perigosas queainda não há forma de remover a contento. Por conseguinte, é conveniente examinar aeventual substituição dessas substâncias na fase de fabrico dos equipamentos eléctricos eelectrónicos.

Segundo as informações disponíveis, o nosso objectivo gradual deve ser encontrar, emespecial, substitutos inócuos para os retardadores de chama halogenados ou para o PVCbarato e de larga utilização. No entanto, no caso do PVC em particular, creio que vai sernecessário adoptar uma abordagem muito atenta, de modo a encontrar o melhor equilíbrioentre os requisitos objectivos em matéria de protecção ambiental e os interesses do sectorindustrial.

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Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, gostaria de voltar a felicitar a relatora pelo seu árduo trabalho, com base noqual parece estar eminente um acordo no Parlamento. Isso é muito importante. Dispomosassim de um pacote de regras estabelecidas pelo Parlamento, graças ao qual osEstados-Membros poderão assegurar que os produtos electrónicos colocados no mercadoeuropeu não incorporem determinadas substâncias perigosas. Esta proposta era umcompromisso, e todos nós sabemos que os compromissos geram compromissos. Isso éóbvio, portanto, é igualmente óbvio que o Parlamento, a Comissão e todos os envolvidosderam mostras de uma considerável boa vontade. O resultado pode assim granjear o apoioda maioria de nós.

A Comissão tem muito para dizer a este respeito. Teríamos preferido que o texto e o âmbitoe o texto de compromisso fossem mais claros no que diz respeito às obrigações dosEstados-Membros e dos operadores económicos no período de transição de oito anos. Asdeclarações que a Comissão fez sobre a questão do âmbito de aplicação dão uma ideia daforma como pensamos que o texto de compromisso deverá ser interpretado no que serefere a esse aspecto. Por isso, gostaria de garantir o registo destas declarações em acta noParlamento. Seja como for, levamos muito a peito as nossas obrigações no que toca àrealização de uma avaliação do impacto de todas as alterações ao âmbito de aplicação faceà actual directiva, trabalho que iniciaremos assim que a directiva revista entre em vigor.

Quanto à execução, constatamos que as disposições relativas à avaliação da conformidadee à marcação vão fazer a diferença, uma vez que estabelecem obrigações claras, quer sobrea forma como os operadores económicos comprovam a conformidade dos seus produtos,quer sobre a forma como os Estados-Membros devem fiscalizar esse o cumprimento.

Portanto, o nosso trabalho não terminou. Gostaria de agradecer a todos as suascontribuições e sugestões. A Comissão tê-las-á em consideração.

Jill Evans, relatora . – (EN) Senhora Presidente, em primeiro lugar, gostaria de agradecera todos os meus colegas as suas observações. Serão claras, para qualquer pessoa que estejaatenta a este debate, as diferenças que existiam entre os grupos, bem como o grau dedificuldade, por vezes, deste processo. Contudo, contamos com o apoio de todos os grupos,e estou muito esperançada e confiante de que o veremos reflectido na votação dequarta-feira.

Apraz-me também muito saber que a Comissão está empenhada nesta directiva, uma vezque o futuro da própria directiva se encontra, quase integralmente, nas mãos da Comissão,caso o texto venha a ser aprovado na quarta-feira. Não teremos mais poderes de co-decisãoe, de futuro, caberá à Comissão rever o âmbito e as futuras restrições. Assim, gostaria depedir à Comissão que atribuísse prioridade a essa visão relativa às futuras restrições, paraque possamos proceder à limpeza deste tão significativo fluxo de resíduos, que ainda criatantos problemas à saúde humana e ao meio ambiente.

Como alguns colegas aqui referiram esta noite, é melhor prevenir do que remediar, e existemmuito mais substâncias problemáticas do que os metais pesados e os retardadores de chamabromados, que são restringidos ao abrigo da actual directiva relativa à restrição do uso dedeterminadas substâncias perigosas (RUSP). São também muitas as provas da necessidadede futuras restrições.

Esse debate tem, naturalmente, sido acompanhado com interesse por um grande númerode pessoas, inclusivamente pela indústria e pelas ONG. Acredito que neste compromisso

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final nos mantivemos fiéis aos objectivos iniciais da Directiva RUSP, e que passaremos adispor de um texto legislativo mais eficaz caso o Parlamento o vote favoravelmente naquarta-feira.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quarta-feira, 24 de Novembro de 2010.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Sergio Berlato (PPE), por escrito. – (IT) De acordo com dados recentes, 9,3 milhões detoneladas de equipamentos eléctricos e electrónicos, compostas sobretudo por grandeselectrodomésticos e equipamentos de TI e de telecomunicações, são vendidas anualmentena União Europeia. Com a expansão do mercado e a redução dos ciclos de inovação, oequipamento é substituído com mais frequência, aumentando assim a quantidade deresíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos. Estima-se que esses resíduos atinjam12,3 milhões de toneladas em 2020.

A Directiva RUSP, adoptada em 2003, destinava-se a eliminar gradualmente uma primeirasérie de substâncias perigosas, e tem permitido uma redução na quantidade de substânciaseliminadas e, potencialmente, libertadas no ambiente. A revisão desta directiva tem vindoa ser realizada com o objectivo de introduzir normas mais rigorosas em relação à restriçãode substâncias perigosas. Acredito que o pacote de compromisso, que foi alcançado apóslongas negociações entre o Conselho e o Parlamento, representa um passo importanterumo a uma maior clareza e simplificação da directiva. Um dos aspectos de particularimportância é a exclusão do âmbito de aplicação da directiva daquelas substâncias queseriam proibidas sem fundamentação científica, prejudicando assim numerosas empresasque operam no mercado.

Elisabetta Gardini (PPE), por escrito. – (IT) Dada a importância da revisão desta directiva,é preciso ter presente que o seu principal objectivo é chegar a uma regulamentação maisestrita e rigorosa da restrição do uso de substâncias perigosas. Creio que este pacote decompromisso representa um progresso significativo no sentido de uma maior clareza esimplificação da Directiva RUSP. Dos muitos aspectos que devem ser tidos em consideraçãopara efeitos de regulamentação, gostaria de chamar a atenção para a exclusão do âmbitode aplicação da directiva de substâncias - como o PVC e os nanomateriais - que enfrentariamuma proibição da sua produção. Não só a proibição seria aplicada sem assentar em qualquerprova científica objectiva, como também prejudicaria o progresso tecnológico associadoà produção de tais materiais. Por esta razão, apesar de tudo, podemos estar satisfeitos como acordo negociado. Por um lado, este acordo reforça a necessidade da protecção doambiente, através da proibição de substâncias que são consideradas perigosas na sequênciade ensaios científicos fiáveis, por outro, no entanto, impede que outros materiais, cujosriscos não foram comprovados cientificamente, sejam incluídos na lista negra, emdetrimento de produtores e investigadores, mas, acima de tudo, em detrimento dosconsumidores.

Pavel Poc (S&D), por escrito. – (CS) O recurso a fontes de energia renováveis tem comoobjectivo ajudar a proteger o ambiente. É totalmente contrário ao seu objectivo criar novosperigos para o ambiente e para a saúde humana. A Directiva RUSP e a Resolução doConselho de 28 de Janeiro de 1988 relativa a um programa de acção da Comunidade decombate à poluição do ambiente provocada pelo cádmio são sobretudo dirigidas contrao uso de cádmio, uma vez que a Europa é uma região que corre riscos particulares devido

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a este veneno cancerígeno cumulativo. Gostaria de manifestar a minha oposição de princípioà alteração 12. Esta proposta exclui os painéis fotovoltaicos do âmbito da Directiva RUSP.Todavia, esta exclusão, infelizmente, não tem com consequência o apoio às tecnologiassolares. Na verdade, legaliza a produção de células com base no telureto de cádmio (CdTe).As células CdTe permitem aos produtores realizar maiores lucros do que os obtidos comas células de silício. A aprovação desta proposta representa, portanto, um apoio à produçãode células de CdTe em detrimento das células de silício, que contam com uma fonte ilimitadade matérias-primas e não contêm materiais tóxicos. A situação é tanto mais grave quanto,se houver uma derrogação à Directiva RUSP no que se refere às células fotovoltaicas, nãoserá possível rever e reavaliar a decisão durante um certo número de anos. A investigaçãorelativa às tecnologias fotovoltaicas só será acelerada se os produtores de painéis solarestiverem de cumprir as exigências da Directiva RUSP de imediato, como todos os outros.

Richard Seeber (PPE), por escrito. – (DE) A revisão da directiva relativa à restrição do usode determinadas substâncias perigosas em equipamentos eléctricos e electrónicos representaum desafio especial. No entanto, esta reformulação é urgente a fim de erradicar as incertezasem relação ao âmbito de aplicação, a falta de clareza das disposições legais e das definições,as diferenças entre os Estados-Membros, bem como as potenciais sobreposições processuaiscom outros actos jurídicos da UE, como, por exemplo, o Regulamento REACH. A propostainicial da Comissão foi demasiadamente ajustada às grandes empresas. A capacidadeeconómica das pequenas e médias empresas é tida em maior consideração na actual versão.Afinal, essas pequenas e médias empresas constituem a espinha dorsal da competitividadeeuropeia. O procedimento de derrogação e os prazos relevantes para uma decisão daComissão também foram claramente definidos. Cumpre igualmente salientar o requisitoprevisto para a revisão da directiva no prazo de 10 anos, de forma a adaptá-la ao progressotecnológico. Quando essa revisão for levada a cabo, deverão, em especial, ser tidas emconta a disponibilidade e fiabilidade dos produtos alternativos, bem como o seu impactosocioeconómico.

19. Pedido de levantamento da imunidade parlamentar: Ver Acta

20. Composição das comissões e delegações : Ver Acta

21. Intervenções de um minuto (Artigo 150.º do Regimento)

Presidente. – Seguem-se na ordem do dia as intervenções de um minuto sobre questõesde importância política.

Rareş-Lucian Niculescu (PPE). – (RO) Senhora Presidente, gostaria de expressar a minhapreocupação com a excessiva politização da adesão da Roménia ao espaço Schengen, querecentemente tenho observado.

Considero injusto que se misturem critérios que são específicos da reforma do sistema dejustiça com os critérios de adesão ao espaço Schengen. A Roménia está preparada e preencheas condições técnicas, que, na realidade, deverão ser o único critério a utilizar como baseda avaliação.

A Roménia não é, nem será, um exportador de criminalidade. Não pode aceitar que algumasquestões específicas que afectam comunidades de imigrantes de origem romena, sejamgeneralizadas a todos os romenos. Estamos cientes de que a votação na Comissão dasLiberdades Cívicas, da Justiça e Assuntos Internos, na próxima Primavera, será uma decisão

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política. No entanto, acreditamos que esta votação deve assentar numa avaliação objectivae justa e, de forma alguma, em considerações com conotações eleitoralistas.

Maria Eleni Koppa (S&D). – (EL) Senhora Presidente, o novo conceito estratégico daNATO, tal como aprovado na Cimeira de Lisboa, inaugura uma nova era nos esforços daNATO para fazer face a novos desafios. É importante, neste contexto, reconhecer a parceriaímpar que existe entre a NATO e a União Europeia e a necessidade de uma abordagemmais coerente de todos os aspectos da segurança europeia. Seja como for, é preciso que acooperação entre as duas organizações se baseie na complementaridade, transparência erespeito pela independência de cada uma das partes.

É crucial que operemos com base na sinergia, de molde a evitar sobreposições,especialmente, no que se refere às missões políticas, uma vez que isso representa umdesperdício em matéria de recursos humanos e de energias para ambas as partes, a UE eos Estados-Membros da NATO. Agir dessa forma será fundamental se quisermos sereficientes e conseguir poupanças.

A forma como a cooperação institucional é organizada entre ambas as organizações e acriação de um mecanismo de consulta fiável, que defina com celeridade as formas e meiospara a acção comum, são questões muito importantes. Gostaria de exortar à realização deum debate aprofundado sobre este assunto.

Cristian Silviu Buşoi (ALDE) . – (RO) Senhora Presidente, em 28 de Novembro,realizar-se-ão eleições legislativas antecipadas na República da Moldávia.

Passou já bem mais de um ano desde que a Aliança para a Integração Europeia chegou aopoder, tendo sido realizados progressos significativos na reforma da sociedade e economiada República da Moldávia.

A Aliança para a Integração Europeia demonstrou também um desejo sincero de percorrero caminho irreversível rumo à Europa.

Em face desses esforços e progressos, a União Europeia tem apoiado, e continua a apoiar,a República da Moldávia, tanto politicamente como financeiramente.

Espero, sinceramente, que as eleições de domingo confirmem de uma vez por todas quea República da Moldávia está no bom caminho para se transformar numa democraciaplena, num Estado de direito, numa economia de mercado eficiente e, finalmente, paraintegrar a família europeia, da qual, espero, possa tornar-se membro de pleno direito numfuturo próximo.

Kyriacos Triantaphyllides (GUE/NGL). – (EL) Senhora Presidente, gostaria de manifestaro meu descontentamento pelo comportamento deplorável revelado pelo Secretariado doComité das Regiões relativamente a uma exposição de fotografia organizada pelo Municípiode Kyrenia no exílio, localidade actualmente ocupada pelas tropas urbanas da Turquia emChipre.

As fotografias em exposição ilustram graficamente a destruição de monumentoseclesiásticos e outros, que fazem parte da História de 3 mil anos da cidade de Kyrenia. Estadestruição tinha um objectivo claro: eliminar todas as provas de que esta cidade foi habitadapor povos de cultura grega e de fé cristã. As pessoas que foram expulsas de suas casas pelaforça conseguiram, apesar desenraizadas como refugiadas, voltar a lançar raízes em Kyrenia36 anos depois.

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Estava previsto que esta exposição fosse inaugurada pelo Secretário-Geral do Comité dasRegiões, que, por fim, acabou por não aparecer sob a pressão das forças de ocupação turcas,uma vez que a exposição se refere à invasão de Chipre pela Turquia, em 1974, e à destruiçãodo seu património cultural por parte das forças invasoras. Na verdade, o Secretariado doComité das Regiões solicitou que esta exposição fosse retirada. Condeno estecomportamento inaceitável.

John Bufton (EFD). – (EN) Senhora Presidente, não é provável que o resgate da Irlandaseja o último da zona euro, apesar dos protestos em contrário. Apesar da crise da dívidaque assola a UEM, os responsáveis teimam em afirmar que o problema da Irlanda é diferentedaquele que, há sete meses, se vivia na Grécia.

Enquanto, no caso de Atenas, se tratou de irresponsabilidade orçamental e de corrupçãono sector público, a dívida de Dublim fica a dever-se à imprudência da banca. Portugalparece não sofrer muito de uma ou outra das situações, porém, continua a lutar para semanter à tona de água, o mesmo se passando com Espanha.

Que têm estes países em comum? Uma moeda única que não é adequada a todas ascircunstâncias, fundada sobre uma ideologia idealista e não em pressupostos económicos.Fica assim provada a verdade do velho ditado sobre o que acontece quando se colocamtodos os ovos num só cesto.

Quais os países mais prósperos da Europa? A Noruega e a Suíça. Controlam os seus própriosrecursos e economias, e mantêm, na mesma, relações comerciais com os seus vizinhos daUE, sabendo que podem lançar as suas redes para outros lugares, caso a UE arraste todo oseu projecto para o esquecimento.

Um resgate de Portugal elevaria a factura combinada para a marca dos 300 mil milhõesde euros, esgotando todo o capital da zona do euro. Certamente a única escolha que subsisteé a eutanásia da UE.

Martin Ehrenhauser (NI). – (DE) Senhora Presidente, também eu gostaria de dizeralgumas palavras sobre a Irlanda. A edição do Spiegel Online escreve que "O Tigre Celta foilevado para os cuidados intensivos". Temos de nos perguntar por que razão? Não podemsubsistir dúvidas de que as raízes da crise financeira residem no nosso sistema monetário,por outras palavras, na forma como é gerado o dinheiro. Os bancos comerciais privadosinjectam uma muito elevada quantidade de liquidez no sistema. Esse comportamentopromove a especulação, alimenta a inflação e, por último, conduz a um considerávelendividamento dos envolvidos. Consequentemente, estamos diante de uma crise sistémica,que não pode ser resolvida através do investimento de milhares de milhões num sistemabancário em ruínas, ainda que o façamos desviando recursos para a economia irlandesa.O que precisamos é de uma verdadeira forma de criação de moeda. Precisamos de devolvera criação de moeda ao sector público. Isto permitirá que injectemos novamente milharesde milhões nas economias europeias. Além disso, manter pública a criação de moeda seriacompatível com uma economia de mercado livre. No entanto, essas decisões radicaisexigiriam coragem e força dos nossos políticos. Escusado será dizer que não se poderápermitir que os bancos continuem a atirar areia para os olhos do Parlamento por muitomais tempo.

László Tőkés (PPE). – (HU) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, naminha opinião, o Parlamento Europeu não pode deixar de fazer referência ao 95.ºaniversário do genocídio arménio na Turquia. De acordo com a sua decisão de 18 de Junho

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de 1987, o Parlamento Europeu deve lembrar o massacre dos 1,5 a 2,75 milhões de civisinocentes, e condenar sem reservas, pelos mesmos critérios que os aplicados ao Holocaustoe aos genocídios comunistas, os crimes maciços contra a humanidade cometidos peloImpério Otomano, em 1915, contra a minoria arménia e a comunidade cristã.

Até à data, 22 Estados reconheceram o facto histórico do holocausto anti-armênio. Élamentável que o relatório de Morten Messerschmidt sobre esta questão, este ano, tenhaacabado por não receber o apoio necessário. Venho por este meio sugerir que o PresidenteJerzy Buzek tome a iniciativa do reconhecimento unânime do genocídio arménio por todosos Estados-Membros da UE, tornando a negação desse facto punível por lei e introduzindode forma obrigatória esta questão na agenda das negociações de adesão com a Turquia.

Rovana Plumb (S&D). – (RO) Senhora Presidente, noventa e um por cento dos jovenscom idades compreendidas entre os 18 e os 27 anos consideram que a situação económicada Roménia está pior. Apenas 33% dos jovens não querem abandonar o país. Devido à suapolítica de cortes, o actual governo incentiva a fuga de cérebros para o exterior.

Todos os meses nos damos conta de que os jovens enviados pelo Governo romeno paraformação através do programa iniciado pelos social-democratas, em 2004, são dispensadospela administração ou não encontram emprego, apesar de terem toda a experiência e odesejo necessários para dar um contributo efectivo para o sistema.

Apoio a mobilidade no mercado de trabalho, porém, é preciso que o Governo de Bucarestecrie novos postos de trabalho, que beneficiem também da experiência desses jovens.

Gostaria de manifestar todo o nosso apoio aos estudantes romenos e às associaçõesestudantis, como a Liga de Estudantes Romenos no Estrangeiro.

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE). – (ES) Senhora Presidente, os navios pesqueiros quepescam no Oceano Índico estão a sofrer uma onda de ataques de piratas. Nas duas últimassemanas, registaram-se dez ataques ao Intertuna III, ao Demiku, ao Elai Alai, ao Playa deAnzoras, ao Albacan, ao Erroxape, ao Alai Campolibre e ao Playa de Aritzatxu.

Estes ataques ocorrem cada vez mais longe da costa, porque os piratas usam agora os naviosque capturaram como navios suplementares para melhorar a sua logística. Mesmo comsegurança privada, estes navios são muito vulneráveis. Transmitem as suas posições eninguém os intercepta.

É forçoso que se melhore a coordenação, uma vez que a força naval da União Europeianão interveio em qualquer destes ataques. Não sabemos como respondem a estes alertas.

A resolução que adoptámos no Parlamento, em Novembro do ano passado, deverá serrespeitada, e será necessário um maior envolvimento das Nações Unidas. É preciso envolverum maior número de países na Operação Atalanta, à qual deverão ser afectados maisrecursos, e que se realizem bloqueios mais eficazes ao longo da costa da Somália, celebrandomais acordos com os Estados costeiros com vista a levar à justiça estes piratas.

A pirataria tem impacto sobre a nossa pesca e a nossa frota mercante, bem como sobre ospaíses com os quais assinámos acordos e cujo desenvolvimento ou ruína depende tambémda segurança da pesca nesta região.

Oreste Rossi (EFD). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, gostariade dar a conhecer ao Parlamento o que ocorreu com a exposição "A Promoção dos Valores

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Culturais através da Protecção do Património Cultural da Parte Ocupada de Chipre", queteve lugar entre 17 e 26 de Novembro sob a égide do Comité das Regiões.

Em 17 de Novembro, após a abertura, o chefe da Unidade de Comunicação, WolfgangPetzold, ordenou aos expositores a suspensão imediata da exposição com o fundamentode que os painéis continham legendas que eram diferentes das que haviam sido acordadas.

Pedi que toda a correspondência, incluindo o pedido de autorização, me fossem enviados,tendo verificado não existir qualquer diferença entre o que aquela Unidade tinha autorizadoe aquilo que foi exibido. Ficou igualmente claro que foi dito ao curador da exposição, pelomesmo Chefe de Unidade, que removesse as expressões "ocupação" e "invasão turca".Telefonei ao referido Chefe de Unidade diversas vezes para esclarecer os acontecimentos,mas nem o Director em questão, nem os membros de sua equipa concordaram em falarcomigo. Algumas horas depois de eu ter relatado estes pormenores, a exposição foi reaberta.

Senhoras e Senhores Deputados, creio que o que aconteceu no Comité das Regiõesconstituiu uma grave e lesiva violação dos direitos de um Estado-Membro da UE.

Corneliu Vadim Tudor (NI). – (RO) Senhora Presidente, infelizmente, a Roméniatransformou-se na fronteira selvagem da Europa. A situação era má sob a ditaduracomunista, mas infinitamente está ainda pior sob a ditadura da máfia.

Os principais tentáculos do "polvo" da máfia são o sistema de justiça e o sistema policial,que são corroídos pelo cancro da corrupção.

Os autores de mais de 5 000 crimes cometidos na Roménia, desde Janeiro de 1990,permanecem desconhecidos. A Roménia é um paraíso para os grupos de criminosos dosubmundo local, protegidos pelo sistema de justiça e pela polícia. No entanto, é tambémterreno fértil para pedófilos, vigaristas e os mais primitivos agentes estrangeiros.

É positivo que o Muro de Berlim tenha ruído, mas é terrível que tenha caído sobre as nossascabeças, nós, os povos da Europa Oriental.

Em Dezembro de 1989, um pequeno número de grandes caçadores de emoções despertaramo Drácula do seu sono. Agora não sabemos como livrar-nos dele.

Georgios Koumoutsakos (PPE). – (EL) Senhora Presidente, uma nuvem negra, que estáa ficar cada vez mais carregada, tem vindo a ensombrar toda a Europa. A ascensão eleitoralde facções de extrema-direita, fanáticas, xenófobas e, frequentemente, racistas tem marcadoa evolução política em numerosos Estados-Membros, até mesmo na Suécia. É um sinal quenão podemos ignorar.

A crise económica sem precedentes e o crescente problema da imigração em conjuntoformam um cocktail tóxico que alimenta extremos e excessos. Este é sem dúvida umproblema extremamente complexo, que será de difícil resolução.

É por isso que os partidos europeus de centro-direita e sociais-democratas no ParlamentoEuropeu, isto é, o Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e os socialistastêm uma séria responsabilidade e missão: dispersar a nuvem antes que ela se transformenuma tempestade. Deverão esgotar as possibilidades de acordo e coordenação, para quepossamos tomar as medidas mais eficazes com vista à resolução de problemas específicos,tais como a imigração, que exigem um esforço de equipa. É preciso que, aqui, no ParlamentoEuropeu, tomemos uma nova e firme iniciativa conjunta contra a xenofobia e o racismonuma Europa dominada pela crise.

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Alan Kelly (S&D). – (EN) Senhora Presidente, na qualidade de deputado irlandês, estoubem consciente de que os olhos da Europa se centram agora na crise económica do meupaís. A crise no meu país foi causada pela ganância - a ganância pura - entre a elite políticae o grande capital. Essas pessoas desperdiçaram a riqueza gerada por uma populaçãoenérgica e inovadora, e deverão ser responsabilizadas.

No entanto, a crise também foi causada por uma regulação laxista do sector bancário. Essafalha estende-se também à Europa. Cabe recordar os testes de stress realizados à banca emJulho passado, altura em que a Comissão efectivamente deu o seu beneplácito quanto aofuturo precisamente daqueles bancos que, na Irlanda, estão no cerne da crise. Como foiisso possível? Sinto uma profunda irritação por o meu país ter chegado a este ponto –verdadeiramente, uma profunda irritação.

Congratulo-me com a solidariedade demonstrada pelos nossos colegas em toda a Europa,nomeadamente, no que respeita à concessão de financiamento para a estabilização danossa economia. No entanto, considero que nos encontramos numa encruzilhada no querespeita ao futuro da UE. A Irlanda é uma nação absolutamente soberana, e qualquer ditameda Europa sobre a política fiscal do país equivaleria, creio, a atravessar uma linha perigosarelativamente ao tratamento dos Estados de menor dimensão da União Europeia.

Marian Harkin (ALDE). – (EN) Senhora Presidente, também eu gostaria de falar sobrea crise económica actual, mas de uma perspectiva diferente. Hoje, ouvimos Jean-ClaudeTrichet e Olli Rehn debruçarem-se sobre a necessidade de disciplina orçamental econvidando a Irlanda, Portugal e outros países a aderirem ao Pacto de Estabilidade eCrescimento.

No entanto, no âmbito de uma sondagem do Eurobarómetro, cujos resultados foramrevelados hoje, mais de 27 000 cidadãos em toda a UE e 1 000 na Irlanda foram convidadosa apresentar as suas opiniões sobre o modo de sair da crise.

Pegando em apenas dois aspectos, numa das perguntas feita aos cidadãos pedia-se-lhespara classificarem por ordem de preferência as políticas que nos permitirão sair da crise.Enquanto 29% dos cidadãos da UE e um terço dos cidadãos irlandeses favorecem a reduçãoda despesa pública, dois terços dos cidadãos da UE e 57% dos cidadãos irlandeses preferemque se comece por apostar nos incentivos à economia, ou numa combinação daquelasduas abordagens.

Uma outra pergunta sobre as prioridades políticas mostrou que mais de 50% dos cidadãosda UE e da Irlanda consideram que deverá ser atribuída prioridade à luta contra a pobrezae a exclusão social. Portanto, há uma divergência real entre os dois conjuntos de pontosde vista. Não estamos a responder às preocupações dos cidadãos de forma adequada, peloque entendo ser necessário rever as nossas prioridades.

Gerard Batten (EFD). – (EN) Senhora Presidente, amanhã, 23 de Novembro, celebra-seo quarto aniversário da morte, em Londres, do meu constituinte, Alexander Litvinenko.Alexander Litvinenko foi assassinado por elementos do Estado russo num acto de terrorismode Estado. Os três principais suspeitos procurados pela Polícia Metropolitana - AndreiLugovoi, Dmitry Kovtun e Vyacheslav Sokolenko - ainda se encontram em liberdade naRússia. Enquanto isso, a digníssima viúva de Alexander Litvinenko, Marina, vê ser-lhenegada a justiça. Até agora, nenhum tribunal (Coroner’s Court) foi convocado para investigara morte, como seria a prática habitual no caso de uma morte tão violenta.

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Por isso, aproveito esta oportunidade para exortar as autoridades britânicas a convocarem,o mais rapidamente possível, um tribunal dessa natureza para determinar e esclarecerpublicamente as circunstâncias e a causa da morte, bem como identificar formalmenteaqueles que são procurados por assassinato no âmbito das investigações da polícia.

Alexander Litvinenko era um cidadão britânico assassinado em solo britânico. Isso é omínimo que ele e a sua família esperariam ou a que deveriam ter direito.

Anna Záborská (PPE). – (SK) Senhora Presidente, foram publicados, há uma semana, osrelatórios relativos aos processos de adesão dos Estados balcânicos. Não é justo que sedefinam condições para o início das negociações com os países candidatos à adesão à UEe que, subsequentemente, uma vez cumpridas, não se abram negociações. Por que nãotratamos de forma justa a Macedónia?

A Macedónia é um país onde as reformas estão a dar bons resultados. Mais de 80% dosjovens que terminam o ensino secundário neste país seguem para a universidade. Começama aprender Inglês a partir dos seis anos de idade.

O relatório da Comissão fala de progressos na luta contra a corrupção, de um governoestável e de diálogo político. A Macedónia cumpriu todos os critérios de Copenhaga. Mereceuma oportunidade para iniciar negociações com vista a tornar-se um dos Estados-Membrosda UE. Podemos falar das questões pendentes durante o processo de negociação. Nãoproceder dessa forma minará a confiança na Europa.

Estelle Grelier (S&D) . – (FR) Senhora Presidente, como resultado da política deausteridade conduzida pelo Governo de David Cameron, o Reino Unido acaba de decidirdeixar de financiar os rebocadores de grande porte concebidos para assistência e salvamentode navios no Canal da Mancha, uma decisão unilateral que foi condenada pelas autoridadesportuárias, marítimas e comerciais na região.

A retirada anunciada pelo Reino Unido poderá ter repercussões dramáticas para a segurançamarítima desta zona, que, com mais de 250 000 navios por ano, constitui a rota comercialmais movimentada do mundo. Nos últimos 10 anos, registaram-se no local cerca de 300incidentes, e os especialistas acreditam que o pré-posicionamento dos navios de resgatede alta potência impediu que alguns destes incidentes se transformassem em acidentesgraves.

Uma vez que a segurança marítima afecta a segurança do território da UE e a protecção doambiente, o reboque de emergência é da responsabilidade do poder público, com a ajudafinanceira dos armadores, não devendo ser privatizado em benefício de empresas privadasde reboque.

A Comissão Europeia tem a obrigação de abordar esta questão. Com efeito, a Europa devedotar-se dos recursos para implementar a importante política marítima integrada a queoficialmente apela.

Giommaria Uggias (ALDE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,gostaria de os aconselhar, assim como aos cidadãos e associações que apresentaram aDeclaração Escrita n.º 0086/2010, solicitando a protecção da água como um bem público.

A água não é apenas de um recurso comum, é sim um direito humano universal, e a gestãodos serviços de abastecimento de água como um serviço público local constitui a base deuma boa acção governativa. São estes os nossos princípios orientadores, os mesmos

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princípios que levaram milhares de cidadãos italianos a apoiar a totalidade dos pedidos deum referendo para impedir a eliminação de um activo fundamental da esfera pública.

Na verdade, acreditamos que a iniciativa não pertence apenas a quem a apresentou, poisesta é uma batalha que deverá ser travada por todos. Para o confirmar, diga-se que adeclaração foi entregue juntamente com colegas dos grupos políticos dos Verdes, da Aliançados Socialistas e Democratas e da Esquerda Europeia, estando a merecer um grande apoiode todo o Parlamento.

O objectivo é recolher assinaturas de, pelo menos, metade dos deputados do Parlamento,de modo a que a declaração passa a constituir a posição oficial do Parlamento Europeu epossa salvaguardar a água como um direito e não um benefício.

Monica Luisa Macovei (PPE). – (RO) Senhora Presidente, realizam-se no domingo, naRepública da Moldávia, eleições legislativas antecipadas. Nestas eleições a disputa faz-seentre as forças democráticas e as comunistas.

A vitória das forças democráticas, hoje unidas na Aliança para a Integração Europeia,garante a continuidade dos progressos realizados durante o ano passado - os progressosno sentido democrático, dos direitos humanos e do bem-estar. É preciso que as forçasdemocráticas se mantenham unidas, tanto antes como depois das eleições.

É preciso que as eleições de domingo sejam livres e justas e que as pessoas tenham acessoà informação. Não deverão repetir-se os acontecimentos violentos de Abril de 2009. Osgovernos democráticos não têm origem na fraude, na violência ou no medo.

Naturalmente, serão os cidadãos da República da Moldávia, não nós, quem exercerá o seudireito de voto no domingo. No entanto, nós, neste Parlamento, apoiamos aqueles que sebatem pela mudança democrática. Contam com a nossa solidariedade e encorajamento.

Luis de Grandes Pascual (PPE). – (ES) Senhora Presidente, recentemente, a Igreja deNossa Senhora da Salvação, em Bagdade, foi atacada, tendo morrido 58 pessoas,principalmente mulheres e crianças, simplesmente por serem cristãos. A Al-Qaedareivindicou com orgulho a responsabilidade deste acto. Não se trata de um incidente isolado,mas sim do culminar de uma série de perseguições e ataques a cristãos em países de maioriamuçulmana. Registaram-se expulsões em Marrocos, ameaças na Turquia e ataques na Índiae na Nigéria. Em Janeiro, seis cristãos foram massacrados à porta de uma igreja no Cairo.Por quanto tempo mais pactuarão as democracias ocidentais com estes actos, permanecendoem silêncio?

Felizmente, o Presidente Jerzy Buzek fez uma declaração em nome do Parlamento. Adeclaração da Alta Representante, Catherine Ashton, condenando o ataque, limitou-se acondenar um acto terrorista. Por que razão não foi o motivo destes actos mencionado, asaber, o facto de se tratar de cristãos, que foi inequivocamente o motivo dos ataques?

Nada ouvi ao Primeiro-Ministro José Luis Rodriguez Zapatero, assim como nada ouvi aoPrimeiro-Ministro Recep Tayyip Erdogan. Que sentido faz a Aliança das Civilizações? Sintovergonha da nossa ingenuidade e covardia. Não posso deixar de recordar a falecida eincompreendida Oriana Fallaci, que anunciou a chegada da Eurábia e foi praticamenteapedrejada por ter tido a coragem de denunciar o que vinha acontecendo nesta Europaneurótica.

Iliana Malinova Iotova (S&D). – (BG) Senhora Presidente, a educação e a ciência sãoum objectivo prioritário na Estratégia económica Europa 2020. Depende de nós deixar

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este programa no papel ou traduzi-lo em acções no terreno. Para ter êxito, as instituiçõeseuropeias e os Estados-Membros deverão, ambos, assumir a responsabilidade por isso. Aoinvés, o Governo búlgaro está a realizar uma política que não só contraria a política nacionalcomo também a europeia em matéria de investigação científica e educação. Enquanto aEuropa destinou três por cento à investigação e desenvolvimento até 2020, a Bulgáriaapenas afectou uns modestos 0,6 por cento.

Após uma série de soluções falhadas, será liquidada a Academia Búlgara das Ciências, umainstituição com mais de 140 anos de História, criada sob as duras condições do jugootomano, e que hoje responde por 55 por cento da investigação científica na Bulgária e éreconhecida em todo o mundo. Recebeu mais de 30 milhões de euros por mais de 400projectos europeus com êxito.

Apesar do seu relacionamento com as instituições europeias a nível político e a nível dosespecialistas, o Governo búlgaro não consegue perceber claramente a ligação entre a ciênciae a saída da crise. É preciso que a questão seja inscrita na agenda do Conselho e da Comissão.Não se trata apenas de uma questão búlgara, uma vez que põe em causa o cumprimentodo programa estratégico e das prioridades europeias.

Róża Gräfin von Thun und Hohenstein (PPE). – (PL) Senhora Presidente, gostaria dechamar a atenção para as insuficientes consultas públicas realizadas pela Comissão Europeiaa respeito da directiva relativa às obras órfãs. As obras órfãs são obras, das quais sedesconhece a identidade do titular dos seus direitos de autor.

Na semana passada, organizei um debate no Parlamento sobre este tema. Mostrou bem ointeresse que existe nesta matéria, bem como a quantidade de dúvidas que se levantam arespeito da directiva em que a Comissão está actualmente a trabalhar. No entanto, o processopermanece envolvido em secretismo. Certamente, os especialistas e os órgãos directamenteenvolvidos deveriam, pelo menos, conhecer a orientação que os trabalhos seguem. Cercade 40% da nossa produção artística, na Europa, é afectada pela orfandade. A data depublicação da directiva foi alterada para o primeiro trimestre do próximo ano, pelo queexiste ainda algum tempo para consultas, e deveremos esforçar-nos para envolver oscidadãos, incluindo os especialistas, no processo de criação da legislação, para que estapossa de facto ser a melhor possível.

Matthias Groote (S&D). – (DE) Senhora Presidente, a participação democrática dostrabalhadores nas empresas é uma das pedras angulares da política social na União Europeia.Faz agora um mês que os trabalhadores das fábricas da Atlas em Ganderkesee, Delmenhorste Vechta, se encontram em greve, dia e noite, reivindicando precisamente esses direitos.Os trabalhadores lutam para conseguir um acordo salarial colectivo que permita apreservação de postos de trabalho seguros e de boa qualidade. Infelizmente, a administraçãorecusou-se terminantemente a negociar com o Sindicato Industrial dos Metalúrgicos e coma comissão de trabalhadores. Ao longo do conflito laboral, os trabalhadores têm sido alvode medidas intimidatórias e de pressões por parte da direcção da empresa. Gostaria deexortar os membros da direcção, especificamente Fil Filipov, a iniciarem discussões e avoltarem à mesa de negociações. É preciso não permitir que a participação democráticaseja limitada aos portões da fábrica. Um sistema de contratação e despedimento gera receiose lança as sementes da perturbação social. Não deve haver lugar para esses sistemas naEuropa, uma vez que são prejudiciais à nossa democracia.

Cristian Dan Preda (PPE) . – (FR) Senhora Presidente, permitam-me algumas palavrassobre as eleições presidenciais na Costa do Marfim, uma vez que encabeço a missão de

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observação eleitoral da União a esse país. Desde o início de Outubro, dispomos, na verdade,de cerca de 100 observadores de 26 países espalhados por toda a Costa do Marfim.

A primeira volta das eleições decorreu de forma bastante positiva, em 31 de Outubro. Nãose registaram episódios de fraude ou de violência. O anúncio dos resultados sofreu algumatraso, mas, de um modo geral, não se registaram grandes incidentes.

A segunda volta está prevista para o próximo domingo. Promete ser mais tensa, posto quejá se verificaram confrontos nas ruas e que o tom da campanha se tornou agressivo,inclusivamente para com os nossos observadores. Além disso, estes observadores sãomuitas vezes impedidos de realizarem o seu trabalho de acompanhamento dos preparativospara a campanha. É por isso, imperioso acalmar os ânimos para que a votação possadecorrer normalmente. É extremamente importante proteger os nossos observadores atédomingo e depois dessa data.

Presidente. – Está encerrado o debate.

22. O serviço público de radiodifusão na era digital: o futuro do duplo sistema (breveapresentação)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A7-0286/2010) do deputado Belet,em nome da Comissão da Cultura e da Educação, sobre o serviço público de radiodifusãona era digital: o futuro do duplo sistema (2010/2028(INI)).

Ivo Belet, relator. – (NL) Senhora Presidente, boa noite, Senhora Comissária, Senhoras eSenhores Deputados, a resolução que esperamos venha a ser aqui aprovada na próximaquinta-feira constitui, a meu ver, um sinal de extrema importância, um sinal indicativo doamplo apoio que esta Assembleia dedica ao nosso modelo mediático tipicamente europeu,o qual permite a coexistência de organismos de radiodifusão comerciais, por um lado, ede organismos de radiodifusão de serviço público, isto é, de empresas de comunicaçãosocial de serviço público, por outro. Este modelo, Senhora Presidente, é tipicamente europeupois não o encontrará, ou encontrá-lo-á apenas muito ocasionalmente, nos Estados Unidosou no Japão, já para não falar da China. Na maior parte dos Estados-Membros da UniãoEuropeia, este modelo mediático de duplo sistema provou ser aquele que oferece melhoresgarantias em matéria de pluralismo dos meios de comunicação social, de independênciaeditorial e de liberdade de imprensa, em geral. Infelizmente, porém, o mesmo está a seralvo de forte pressão, na UE, com origem em vários quadrantes. Tal pressão faz-se sentir,por exemplo, através dos substanciais cortes orçamentais com que se deparam asautoridades competentes, a nível nacional e regional, embora os organismos públicos deradiodifusão enfrentem também considerável pressão por parte das empresas privadas decomunicação social, que os consideram representativos de concorrência desleal,particularmente no que à Internet diz respeito. Como consequência desta situação global,os organismos públicos de radiodifusão travam actualmente uma verdadeira luta pelasobrevivência, em vários Estados-Membros. Tal facto põe em causa o frágil equilíbrio quecaracteriza o duplo sistema, comprometendo-o. Nos tempos conturbados que atravessamos,temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance não só para garantir que o nosso modelomediático europeu permaneça intacto, mas também para lhe proporcionar uma base sólidapara o futuro. Para tanto, tornam-se necessárias algumas intervenções, que formulámosna presente resolução. O primeiro ponto para o qual gostaria de chamar a vossa atenção,e não estou certo de que este fórum tenha dele conhecimento, é o de que, em tempos, todosos Estados-Membros da União Europeia se comprometeram formalmente a garantir a

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liberdade de imprensa, no âmbito do Conselho da Europa. Tal pressupõe, além de umamissão claramente definida, financiamento para o serviço público de radiodifusão. Ofinanciamento a longo prazo é importante. Como Parlamento Europeu que somos, é tempode recordarmos aos 27 Estados-Membros que esses compromissos foram por eles entãoassumidos e que têm de lhes permanecer fiéis. O segundo aspecto que gostaria de realçaré o de que o pluralismo nos meios de comunicação social e a liberdade de imprensa emgeral são componentes essenciais da nossa democracia. É esse o motivo pelo qualpretendemos instituir o observatório do pluralismo dos meios de comunicação social.Trata-se, Senhora Comissária, de uma ferramenta desenvolvida por iniciativa da Comissão,de uma ferramenta extremamente útil, que poderá funcionar como um sistema de alertaem vários Estados-Membros, em várias regiões onde a diversidade e o pluralismo mediáticoscorrem o risco de vir a enfrentar pressões. E por último, mas não de somenos importância,penso que o maior desafio que se coloca a qualquer meio de comunicação social consisteem garantir para si próprio uma presença em linha, uma presença digital na Internet. Épreocupante o crescente nervosismo – dir-se-ia mesmo, a crescente hostilidade – com quesão acolhidas as iniciativas dos organismos públicos de radiodifusão na Internet. Algunsresponsáveis da esfera política, sobretudo a nível nacional, e dos meios de comunicaçãosocial parecem esquecer-se que no ano passado se celebraram acordos inequívocos sobreas actividades em linha dos organismos públicos de radiodifusão, sendo essencial que osmesmos sejam respeitados. Se seguirmos esta linha de argumentação, Senhora Presidente,penso que teremos igualmente de desenvolver modelos que permitam aos motores debusca e aos fornecedores de serviços de Internet desempenhar os respectivos papéis. Paraconcluir, creio que não nos podemos dar ao luxo de permanecer à margem por mais tempo,pois caso contrário descobriremos um belo dia, ao acordar, que a Google, o YouTube e aApple tomaram de assalto a nossa paisagem mediática – algo que, claro está, de modoalgum se desejaria.

Miroslav Mikolášik (PPE). – (SK) Senhora Presidente, é necessário tomar medidas naUnião Europeia para assegurar o equilíbrio e a pluralidade de opiniões, objectivo para oqual em muito contribuirá uma relação equilibrada entre meios de comunicação social deserviço público e comerciais, no mercado. No que diz respeito à preservação da diversidadecultural, da liberdade de expressão e da concorrência saudável, é óbvio que não devemosadoptar uma solução igual para todos os casos, cabendo-nos, por conseguinte, respeitaros esforços realizados pelos Estados-Membros individuais no sentido de abordar a questãodo aumento da quota dos meios de comunicação social de serviço público a nível nacional.

A meu ver, a obtenção de um rácio equilibrado entre meios de comunicação social deserviço público e comerciais, também a nível da Internet, deveria ser uma prioridade querpara as estratégias nacionais, quer para a política europeia dos meios de comunicaçãosocial. Há também que incentivar as partes interessadas a cooperarem criativamente comoforma de melhorar a qualidade da informação disponibilizada no mercado mediático e deproduzir inovação neste sector. Gostaria de terminar, referindo que a pluralidade e aliberdade dos meios de comunicação social constituem uma pedra angular da democracia.

Martin Ehrenhauser (NI). – (DE) Senhora Presidente, partilho a opinião de que o duplosistema de radiodifusão poderá também ser um sucesso aqui na Europa e de que éimportante termos, por um lado, organismos públicos de radiodifusão e por outro, canaisprivados a operar em regime de livre concorrência, numa economia de mercado livre.Infelizmente, porém, a realidade é algo diversa. Existem indícios de uma avassaladoratendência para a monopolização, sobretudo no sector privado. Necessitamos de tomarmedidas que permitam contrariar tal evolução. Essa tendência monopolizadora assume

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contornos particularmente perigosos, dada a sua ocorrência num contexto marcado poracentuadas dificuldades económicas.

Além disso, temos empresas públicas de radiodifusão que não estão a cumprir os seusdeveres de serviço público, ao permitirem que especialistas em marketing partidário emanipuladores de opinião tomem decisões relativamente aos temas e conteúdos dos seuseditoriais. É claro que não podemos permitir que tal aconteça. Permitam-me que refira oexemplo da ORF, na Áustria: trata-se de um organismo de radiodifusão que funciona comoum sector da função pública, mas não em termos de eficiência económica. Presentemente,não existe liberalismo, nem pluralismo, nem tão pouco liberdade editorial nos meios decomunicação social, ou pelo menos não tanto quanto seria de desejar. O que pode a UniãoEuropeia fazer a este respeito? Estou convencido de que o sistema de alerta precoce paraidentificação de monopólios, cuja apresentação ao Parlamento Europeu teve lugar já háalgum tempo, constitui uma boa solução para este problema.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Senhora Presidente, gostaria ainda de tecer doiscomentários relativamente ao debate. A directiva anteriormente aprovada sobre os serviçosde comunicação social audiovisual (Directiva 2010/13/CEE do Parlamento Europeu e doConselho, de 10 de Março de 2010, relativa à coordenação de certas disposições legislativas,regulamentares e administrativas dos Estados-Membros respeitantes à oferta de serviçosde comunicação social audiovisual (Directiva "Serviços de Comunicação SocialAudiovisual"), além de introduzir melhorias no âmbito da cooperação entre organismosde controlo, estabelece também um elevado nível de protecção para o público infantilcontra programas e anúncios publicitários de natureza inadequada. No entanto, osEstados-Membros não revelam disciplina no modo como procedem à sua aplicação. Nomeu próprio país, por exemplo, a referida directiva só entrou em vigor em Junho. Tambémtemos a questão da harmonização incompleta da legislação sobre direitos de autor.Precisamos não só de facilitar a obtenção de licenciamento transfronteiras para obrasaudiovisuais de autores colectivos, mas também de libertar o arquivo de obras audiovisuaiscujo estatuto é incerto em termos de direitos de autor, no caso das chamadas obras órfãs.Tive a confirmação de que a Comissão irá apresentar nova legislação no próximo ano, masque pretende restringi-la apenas às obras musicais, deixando de fora as audiovisuais. Solicito,por conseguinte, à Comissão, que indique se tenciona corrigir este erro fundamental, ouse teremos nós de o fazer, enquanto deputados, nas comissões parlamentares. Esta questãoé abordada no ponto 33 do relatório.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Senhora Presidente, gostaria de começar por apoiar osesforços do relator no sentido de lançar um debate no Parlamento Europeu sobre o ambientemediático. Penso que se trata de um tema da maior utilidade, em particular na era dadigitalização, num período em que estão em curso mudanças revolucionárias nesseambiente.

O ambiente mediático varia claramente de país para país. Há países em que esse ambienteé dominado pelos meios de comunicação social comerciais, limitando-se os media de serviçopúblico a formar essencialmente uma espécie de pano de fundo. Noutros locais, em queos media comerciais são mais fracos, fragmentados ou dispersos, não há lugar à criação deuma pressão ou ambiente mediático concentrados, pelo que os media de serviço públicosão então capazes de fornecer mais informação e de influenciar a opinião pública em maiorescala.

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Seja qual for o caso, porém, constatamos que os órgãos políticos interferem frequentementenas actividades dos meios de comunicação social de serviço público, tal como osproprietários interferem nas actividades dos media comerciais, fazendo com que a nossainformação e sensibilização sejam então influenciadas num grau considerável.

Para que seja possível alcançar a liberdade dos meios de comunicação social, uma liberdadegenuína que não dependa do dinheiro, seja ele de origem privada ou estatal, teremos defazer esforços no sentido de garantir que os jornalistas sejam livres, em vez de estaremsujeitos a uma qualquer forma de controlo ou de autocontrolo que, na verdade, os obrigariaa serem leais às respectivas entidades patronais. Tal é, a meu ver, o maior problema que secoloca aos meios de comunicação social nos dias de hoje e em função do qual teremos deproceder a algumas alterações no futuro.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, a Comissão acolhecom satisfação o relatório do Parlamento Europeu intitulado "Serviço público deradiodifusão na era digital: o futuro do duplo sistema". Trata-se de um texto bastanteequilibrado, uma vez que defende o actual duplo sistema, baseado na coexistência entreorganismos de radiodifusão de serviço público e comerciais na Europa. Tal como relembraa Directiva "Serviços de Comunicação Social Audiovisual" num dos seus considerandos,essa coexistência é uma característica que distingue o mercado europeu dos meios decomunicação social audiovisual relativamente a outros, algo que o relatório reconheceplenamente.

O protocolo anexo aos tratados da UE, relativo ao serviço público de radiodifusão nosEstados-Membros, reconhece a liberdade, por parte destes últimos, de definir a missão deserviço público, de organizar o serviço público de radiodifusão e de prover ao respectivofinanciamento, desde que este não afecte as condições comerciais e a concorrência naComunidade. Consequentemente, os Estados-Membros determinam a forma e as condiçõesde financiamento dos respectivos meios de comunicação social de serviço público, desdeque as regras da UE em matéria de auxílios estatais sejam respeitadas.

Estamos de acordo com a tónica principal do relatório, isto é, com a ideia segundo a qualos organismos públicos de radiodifusão devem poder aproveitar as oportunidadesproporcionadas pela digitalização e pela diversificação de plataformas de distribuição, deacordo com o princípio da neutralidade tecnológica. Isso mesmo foi reconhecido nacomunicação revista da Comissão, de 2009, relativa à aplicação das regras em matéria deauxílios estatais ao serviço público de radiodifusão. Temos alguns comentários a fazer emrelação a dois aspectos do relatório, em particular.

Em primeiro lugar, e no que respeita ao controlo da aplicação das normas do Conselho daEuropa, não existe uma responsabilidade da União Europeia pela independência políticados meios de comunicação social de serviço público. Além disso, os Estados-Membros daUE não podem conferir mandato ao Observatório Europeu do Audiovisual, sem o acordodos países não pertencentes à UE. A Comissão também não o pode fazer.

Em segundo lugar, o relatório sugere que determinados Estados-Membros não tomaramquaisquer medidas com vista à promoção de obras europeias nos respectivos organismosde radiodifusão. Tal conclusão não é corroborada pelos números do recente relatório daComissão sobre a aplicação das disposições da directiva relativa aos serviços de comunicaçãosocial audiovisual. De acordo com o referido documento, os organismos de radiodifusãode toda a Europa estão, de um modo geral, a funcionar bem, em termos da promoção deprogramas produzidos na UE.

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Os organismos de radiodifusão de serviço público devem situar-se na vanguarda dainovação, promovendo o desenvolvimento de novos formatos e da qualidade, não só noque respeita aos programas em si, mas também em termos técnicos, caso pretendamacompanhar as tendências e enfrentar os desafios que se lhes colocam do exterior. Pareceque estamos de pleno acordo relativamente a estes aspectos e aguardo com interesse apossibilidade de colaborar com o Parlamento sobre estas questões, no âmbito do quadrojurídico previsto pelos tratados.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, 25 de Novembro de 2010.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Iosif Matula (PPE), por escrito. – (RO) Neste período de transição do sistema de televisãoanalógico para o digital, em que se assiste simultaneamente a uma importância crescentedos novos meios de comunicação social, incluindo o formato 3D, há toda uma série defactores que devem ser tidos em conta nas políticas que estamos a elaborar. Em primeirolugar, creio que será vantajoso tomarmos medidas para facilitar a transição para o sistemadigital, devendo igualmente considerar-se a possibilidade de oferecer cupões ou recorrera outro tipo de iniciativas, como forma de compensar o público em geral. Outra importantemedida consistiria na organização de estágios dedicados a jornalistas e gestores deorganismos públicos de radiodifusão, dados os montantes regularmente afectados a essaárea pelos meios de comunicação social privados. Penso, além disso, que no futuro valeráa pena considerarmos a possibilidade de vir a criar um serviço público europeu de rádio.Ao mesmo tempo, julgo que seria útil que os operadores do serviço público de televisãodos diferentes Estados-Membros contribuíssem com programas de interesse europeu parao canal Euronews. Tendo em conta não só a difusão generalizada das produções 3D, mastambém as advertências lançadas pelos médicos relativamente ao seu impacto sobre asaúde dos telespectadores, solicito à Comissão Europeia que elabore urgentemente umestudo no qual sejam tidos em consideração os eventuais riscos que a televisão 3D poderepresentar para a saúde dos Europeus, nas actuais condições técnicas.

Emil Stoyanov (PPE), por escrito. – (BG) Antes de mais nada, gostaria de felicitar o senhordeputado Ivo Belet pelo excelente relatório que apresentou sobre este tema da maiorimportância. Gostaria também de lhe agradecer o facto de ter aceitado as minhas ideias epropostas acerca do mesmo. Penso que elaborámos um relatório equilibrado que visagarantir a concorrência leal entre os meios de comunicação social públicos e privados.

Apoiados numa longa tradição, os orçamentos nacionais, isto é, os contribuintes, provêemao financiamento das estações públicas de televisão, com base no pressuposto de que estasexistem apenas para defender o interesse público, enquanto as privadas visam unicamentea defesa de interesses privados, comerciais. Desde há muito, porém, que a realidade naBulgária e nos restantes países europeus tem vindo a demonstrar que tal pressuposto nãoé inteiramente verdadeiro, quer no que diz respeito aos meios de comunicação socialpúblicos, quer aos privados.

Com base em muitos anos de experiência no sector dos media, propus algumas alteraçõesao presente relatório, que tem por objectivo colocar os meios de comunicação socialpúblicos e privados em pé de igualdade, como forma de poderem disponibilizar informaçãode melhor qualidade, que seja relevante para o público. Os cidadãos europeus têm direitoa receber a melhor informação, tanto sobre questões de âmbito europeu, como nacional.

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A concretização dessa meta exige que sejam envidados esforços quer por parte dos mediapúblicos, quer dos privados, cabendo às entidades reguladoras certificar-se de que tantouns como outros operam em condições de igualdade. Agradeço a atenção dispensada.

23. A cooperação civil e militar e o desenvolvimento de capacidades civis e militares(breve apresentação)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório (A7-0308/2010) do deputado Ehler,em nome da Comissão dos Assuntos Externos, sobre a cooperação civil e militar e odesenvolvimento de capacidades civis e militares (2010/2071(INI)).

Christian Ehler, relator. – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, osEstados-Membros da União Europeia comprometeram-se, a nível internacional, a contribuirde forma significativa para as capacidades de gestão civil e militar de crises em todo omundo. Em muitos casos, porém, limitamo-nos a honrar verbalmente tal compromisso,repetidamente formulado no Objectivo Global de Helsínquia, bem como a outros níveis.Permitam-me que ponha o preto no branco: 25% dos cargos aprovados pelosEstados-Membros para as missões civis da União Europeia actualmente em curso, comopor exemplo, a EULEX ou a EUPOL, encontram-se por preencher. Os objectivos e estruturaspara as capacidades civis e militares da UE, reiteradamente enunciados pelosEstados-Membros, não podiam estar mais longe da realidade. O Parlamento Europeudecidiu, por conseguinte, apresentar um relatório de iniciativa própria sobre odesenvolvimento das estruturas civis e militares e a coordenação na União Europeia.

Em termos concretos, o Parlamento reafirma, uma vez mais, nesse relatório, que ascapacidades civis e militares específicas da União Europeia constituem um dos maisimportantes instrumentos da sua política externa e da sua política de segurança e defesacomum. Ao assumir as responsabilidades do Parlamento no contexto do processo deLisboa, enveredámos por um caminho pouco usual. Em vez de começarmos com umrelatório, começámos por criar a base empírica para o mesmo. Partindo desses números,formulámos propostas muito específicas, motivo pelo qual contamos com o apoio dagrande maioria dos membros da Comissão dos Assuntos Externos: a nível estratégico,avançámos propostas concretas para a criação de uma estrutura de parceria equitativaentre os braços militar e civil do novo Serviço Europeu de Acção Externa; enquanto isso,a nível operacional, decidimos instituir uma sede europeia permanente, a ser provida depessoal pelos Estados-Membros, com o objectivo de, por um lado, abordar a questão dacriação de um sistema de incentivos atraente, que seja capaz de levar os peritos nacionaisa participar em tais operações e, por outro, de proceder à constituição de reservas de pessoalpara o futuro.

Avançámos propostas específicas para a formação de pessoal civil e militar. Apresentámostambém propostas concretas relativamente ao modo como se deverá proceder aofinanciamento de arranque das missões, por exemplo, através da criação de um fundo delançamento, em conformidade com o previsto no artigo 41.º do TUE. Há propostas emanálise, relativas aos instrumentos de gestão de crise, nomeadamente o futuro reforço dacooperação entre as forças policiais e militares. Exemplo disso é a força policial militarizadaeuropeia. Coloca-se, no entanto, a questão de saber como é que estes dois instrumentosse podem associar em casos operacionais específicos; e como deverá ser abordada a questãoda separação entre operações puramente militares e civis.

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Efectuámos propostas sobre o futuro dos agrupamentos tácticos. Solicitamos que sejadesenvolvida uma nova abordagem a este assunto. Queremos que tais agrupamentos sejamfinanciados de acordo com o mecanismo Athena. Em conformidade com as directrizes deOslo, apelamos no sentido de um maior desenvolvimento das capacidades dosagrupamentos tácticos, de um reforço da respectiva capacidade de assegurar missões civis,e ainda do alargamento da definição das missões destes grupos. Estamos a analisar asquestões da investigação e tecnologia, da dupla utilização e da inclusão de missões civis emilitares no programa de investigação em matéria de segurança, como parte do programade investigação da União Europeia. Estamos a tratar de problemas concretos, não só noque diz respeito ao equipamento e armazenagem, mas também à cooperação internacionalcom as Nações Unidas e a NATO. Entre as nossas maiores preocupações neste domíniocontam-se a necessidade de evitar a duplicação de esforços, a optimização da utilizaçãodas infra-estruturas existentes, a consolidação das capacidades partilhadas de transporteaéreo e ainda a questão da aplicação dos Acordos de "Berlim Mais", tendo em vista o reforçoda cooperação entre ambas as organizações, em caso de crise.

Por outras palavras, o Parlamento revelou estar à altura das suas novas tarefas e obrigações.O relatório contou com o apoio de uma ampla maioria de deputados de todos os gruposda Comissão dos Assuntos Externos e consideramo-lo um importante contributo para afutura criação de estruturas civis e militares na União Europeia.

Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, oprimeiro e principal ponto que temos de clarificar é o de saber se consideramos importanteque as forças civis e militares cooperem de forma adequada. Na minha opinião e na opiniãodo meu partido, o Jobbik – Movimento para uma Hungria Melhor – a resposta é claramente"sim": consideramos que a cooperação entre civis e autoridades militares é, de facto,importante. Ora, um excelente exemplo disso foi-nos dado, na Hungria, pela Magyar Gárda(Guarda Húngara), força fundada em 2007, que conseguiu colaborar de forma positiva –se assim lhe quisermos chamar – com as autoridades militares, quer a nível da construçãode barreiras de protecção contra as inundações, quer no auxílio às vítimas do derrame delamas vermelhas, quer ainda a nível da doação de sangue ou da distribuição de pão, poroutras palavras, em iniciativas de carácter social. Será lícito perguntarmo-nos querecompensa obtiveram – honras de Estado, reconhecimento, talvez? Estas pessoas nãoreceberam nada e o Governo húngaro, em vez de lhes agradecer pelo seu altruísmo, tomoua desconcertante decisão de desmantelar a estrutura a que pertenciam. Consequentemente,para que seja possível dar início à cooperação entre forças civis e militares, há que honraros indivíduos que participam em organizações como a Guarda Húngara. Todos aquelesque desejam tomar parte nesse tipo de organizações, por amor ao seu país e em prol daprotecção do ambiente, devem ter a possibilidade de trabalhar, sendo merecedores de todoo apreço, enquanto membros da sociedade.

Martin Ehrenhauser (NI). – (DE) Senhora Presidente, a combinação de instrumentoscivis e militares não constitui nada de novo. Considere-se, por exemplo, o Centro de Situaçãoque existe, já desde há algum tempo, no Conselho. Já aí se procedeu à recolha de informaçãocivil e militar. O referido centro irá agora passar para o Serviço de Acção Externa. Acimade tudo, penso que é importante salientar que a União Europeia adquiriu notoriedade nacena internacional graças aos seus instrumentos civis, os quais lhe granjearam um acentuadoreconhecimento positivo. Creio, no entanto, que existe a necessidade de uma separaçãomuito clara entre os poderes civil e militar.

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Chegado a este ponto, gostaria de retomar algo que o senhor deputado Szegedi referiu hápouco. Gostaria, com efeito, de exprimir a minha profunda apreensão relativamente àmanifestação recentemente organizada pelo partido húngaro Jobbik, na província austríacade Burgenland, na qual se podiam observar espingardas e baionetas caladas. Não creio quetal seja, de modo algum, aceitável. Gostaria de manifestar a minha clara oposição a estetipo de iniciativas. Poucas dúvidas restarão de que se trata de acções contrárias ao espíritoeuropeu.

(O orador aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º)

Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhora Presidente, gostaria de obter uma resposta muito,muito breve. Aquilo que o meu colega afirmou não passa de uma mentira. Nem o Jobbik– Movimento para uma Hungria Melhor –, nem tão-pouco a Guarda Húngara, alguma vezcometeram crimes, fossem eles quais fossem – qualquer um o poderá facilmente comprovar– ou desafiaram quaisquer leis; por conseguinte, tudo isto faz parte de uma campanha depropaganda política neoliberal que procura denegrir as duas organizações, já que nem osmembros da Guarda Húngara, nem os do Jobbik alguma vez estiveram envolvidos emconflitos com a lei, e tencionamos continuar a agir dentro da legalidade.

Martin Ehrenhauser (NI). – (DE) Senhora Presidente, nunca sugeri que o partido Jobbikfosse culpado de qualquer delito criminal. No entanto, afirmei, efectivamente, que tevelugar em Burgenland uma manifestação orientada, com espingardas e baionetas caladas.O senhor deputado não negou que isso tivesse, de facto, acontecido.

Maria Damanaki, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, centrar-me-ei norelatório, dada a sua grande utilidade e a extrema importância de que se reveste. Gostariade agradecer ao senhor deputado Ehrenhauser o seu contributo.

Trata-se de um relatório útil porque incide, muito justamente, sobre o elemento-chave dacooperação civil e militar, tema que a Comissão elege precisamente como sua prioridade.O documento ocupa-se dos principais pontos relacionados com a abordagem global daUE à gestão de crises. A criação do Serviço Europeu de Acção Externa é a expressão exactadessa prioridade. O próprio conceito de serviço que a Alta Representante está a implementaraponta na mesma direcção daquele que é sugerido no relatório, nomeadamente através dainclusão das estruturas da política de segurança e defesa comum no Serviço de AcçãoExterna.

Apoiamos integralmente o desenvolvimento de capacidades civis, com vista à obtençãode um justo equilíbrio entre recursos. Foram acordadas as modalidades de recrutamentoapropriadas, sendo agora possível trazer para o Serviço de Acção Externa pessoalespecializado nos domínios adequados. Tal possibilidade, como é do conhecimento geral,não existia anteriormente.

Foram tidos em consideração diversos pontos do relatório e lançadas acções específicas,em particular no que se refere à promoção de sinergias civis e militares, à melhoria dafuncionalidade dos agrupamentos tácticos da UE, à formação, ao financiamento e àcooperação com parceiros-chave, designadamente a NATO e as Nações Unidas. Apoiamosigualmente o reforço das relações entre a UE e os Estados Unidos.

Juntos, já fizemos muito. No sábado passado, a Alta Representante reuniu-se novamentecom o Secretário-Geral das Nações Unidas, em Lisboa. O relacionamento entre a UniãoEuropeia e a NATO é uma questão importante, tal como ficou demonstrado, ontem mesmo,

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na Cimeira da NATO em Lisboa. Somos também a favor da aplicação de quaisquer medidaspráticas susceptíveis de levar a um reforço da cooperação concreta entre a UE e a NATOe, sobretudo, de garantir a cooperação quando ambas as organizações estiverem destacadasno mesmo teatro de operações.

Tanto a Comissão como a própria Alta Representante aguardam com expectativa apossibilidade de trabalhar conjuntamente com o Parlamento Europeu sobre esta importantequestão da cooperação civil e militar.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na terça-feira, 23 de Novembro de 2010.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Krzysztof Lisek (PPE), por escrito. – (PL) A cooperação civil e militar, aliada aodesenvolvimento do potencial civil e militar, constitui uma das mais importantescomponentes da política de segurança e defesa comum. Infelizmente, porém, grandenúmero de aspectos relativos a ambos os domínios permanece ainda na fase de projecto.Em debates sobre a matéria, os Estados-Membros estão de acordo quanto à necessidadede serem disponibilizados recursos significativos para este sector. Na realidade, porém,nem os projectos foram executados, nem tão-pouco dispomos ainda de estruturasplenamente desenvolvidas. Face à crescente ameaça consubstanciada pelas catástrofesnaturais, pelos actos terroristas e pelos conflitos fora das fronteiras da UE, espero que orelatório em apreço possa contribuir não só para a exploração do potencial civil e militar,mas também para a cooperação nesse âmbito. O relatório contém recomendações práticasnessa matéria, nomeadamente no que concerne a criação de estruturas civis e militares noseio do Serviço Europeu de Acção Externa, a utilização dos agrupamentos tácticos e daForça de Gendarmaria Europeia, a optimização da gestão de crises e ainda o recurso afundos provenientes do próximo programa-quadro. Tudo isto tem por objectivo promovera melhoria da utilização dos recursos financeiros, para que a cooperação civil e militar sepossa concretizar em pleno. Pretende-se, além disso, evitar a duplicação de esforços nodecorrer das missões em que a NATO intervém conjuntamente com as forças europeias.Espero que o presente relatório constitua um importante incentivo para iniciarmos ostrabalhos com vista à criação de estruturas civis e militares eficazes. A Baronesa CatherineAshton deverá zelar para que as sugestões contidas no relatório sejam aplicadas o maisrapidamente possível.

Petru Constantin Luhan (PPE), por escrito. – (RO) A União Europeia deve dar umaresposta rápida em situações de crise, motivo pelo qual necessita de uma coordenaçãomais eficiente das suas estruturas civis e militares. O estabelecimento de uma sedeoperacional permanente da UE, junto à Capacidade Civil de Planeamento e Condução(CCPC), permitiria tirar o máximo proveito dos benefícios da coordenação civil e militar.No que se refere ao pedido que é formulado no relatório, no sentido de os Estados-Membrosdisponibilizarem capacidades civis, tendo em vista a consecução de progressos concretosno mais curto espaço de tempo possível, quero frisar que, no plano civil, a Roméniacontribui activamente para o cumprimento do Objectivo Global Civil 2010. Comoconsequência do seu considerável envolvimento nas missões civis da UE, a Roméniaalcançou o terceiro lugar das classificações europeias, tanto a nível da participação nessetipo de missões, como a nível da contribuição trazida para as mesmas, em termos deconhecimento especializado, sólido e diversificado, pelos seus agentes da polícia, quer civilquer militar, soldados, diplomatas, juízes e especialistas em direitos humanos. A Roménia

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encontra-se igualmente numa fase avançada do processo de adopção de uma estratégianacional de capacidades civis.

24. Ordem do dia da próxima sessão: Ver Acta

25. Encerramento da sessão

(A sessão é suspensa às 23H45)

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