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Secretaria geral Repartição do Arquivo e Biblioteca BREVES APONTAMENTOS SOBRE O FORMULÁRIO E ESTILO DA DOCUMENTAÇÃO DIPLOMÁTICA Coordenados por A. Ferrand de Almeida Fernandes (Chefe da Repartição do Arquivo e Biblioteca) LISBOA 1981

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Secretaria geral

Repartição do Arquivo e Biblioteca

BREVES APONTAMENTOS SOBRE O FORMULÁRIO

E ESTILO DA DOCUMENTAÇÃO DIPLOMÁTICA

Coordenados por

A. Ferrand de Almeida Fernandes

(Chefe da Repartição do Arquivo e Biblioteca)

LISBOA

1981

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ÍNDICE

Pág.

I – Liberdade de comunicações da Missão Diplomática. Meios técnicos de comunicação. 1

II – Notas e memórias; despachos e ofícios… 15

III – Cartas credenciais, revocatórias e recredenciais. Discursos de audiência 32

IV – Tratados. Plenos poderes. Cartas de ratificação e de adesão… 39

V – Língua e estilo da correspondência diplomática… 63

VI – Modelos: 1 a 38

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Dois objetivos sobretudo houve em vista ao organizarem-se estes apontamentos: por um lado, facilitar a preparação dos candidatos à carreira diplomática, familiarizando-os com os aspectos formais dos documentos que irão elaborar e manusear durante a sua vida profissional; e, por outro, contribuir, ainda que de forma modesta, mesmo porque no houve o propósito de esmiuçar totalmente a matéria, para uma futura fixação oficial da terminologia e definição dos vários tipos desses documentos, capaz de pôr termo à arbitrariedade reinante em tal domínio.

Sendo pouquíssimo e muito antigo o que neste género se tem publicado em Portugal, a tarefa tornou-se-nos, às vezes, por tal circunstância, algo difícil; e se a esse contra juntarmos o das limitadas possibilidades do autor, não há-de surpreender que sejam muitos os erros, falhas e omissões a assinalar neste pequeno ensaio. Mas todas as críticas terão bom acolhimento, já que, devidamente consideradas, poderão ajudar-nos a melhorar a obra em próxima edição, se tiver lugar.

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I – Liberdade de comunicações da Missão Diplomática. Meios técnicos de comunicação.

A Convenção de Viena de 18 de Abril de 1961 sobre relações diplomáticas, a que Portugal aderiu em 11 de Setembro de 1968, declara, no seu Artigo 3º, consistirem essencialmente no seguinte as funções da missão diplomática de carácter permanente:

a) Representar o Estado acreditante perante o Estado acreditador;

b) Proteger no Estado acreditador os interesses do Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites estabelecidos pelo direito internacional;

c) Negociar com o Governo do Estado acreditador;

d) Inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditador e informar a esse respeito o Governo do Estado acreditante;

e) Promover relações amistosas e desenvolver as relações económicas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditador’.1

1 A estas atribuições se pode juntar ainda, em muitos casos, a função consular (nº 2 do Artigo 3º da Convenção).

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Ora, destas funções (que se resumem todas, como diz Genet2, em quatro palavras: “représenter, protéger, négocier, observer”), resulta necessariamente para o Estado acreditador a obrigação, expressa inequivocamente no Artigo 27 da Convenção, de permitir e proteger a “livre comunicação da missão para todos os fins oficiais” (com o Governo do Estado acreditante, com o Governo do Estado acreditador – normalmente por intermédio do respectivo Ministério dos Negócios Estrangeiros3 com as outras missões diplomáticas no país da residência, com as missões diplomáticas do Estado acreditante em outros países, etc.)

Além da comunicação oral directa, os outros meios utilizados para o estabelecimento destes contactos (cuja escolha depende de factores de urgência, segurança, eficácia e custo)4 podem agrupar-se da seguinte forma: A) Via postal (via comum e mala diplomática); B) correios diplomáticos; C) via telegráfica e telex; D) telefone; E) rádio.

2 Raoul Genet, Traité de Diplomatje et de Droit Diplomatiaque, vol. II, Paris, 193, p. 358. 3 Há casos em que a tradição permite a comunicação directa entre a missão e algumas autoridades locais. Se surgirem, porém, quaisquer dúvidas quanto à conveniência de tal prática, aconselha a prudência que sobre o assunto logo se consulte o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país de residência (Cfr. G. E. do Nascimento e Silva, A Missão Diplomática, Rio de Janeiro, 1971, pp. 163-164). 4 Cfr. Farag Moussa, Manuel de Pratique Diplomatique - L’Ambassade, Bruxelas, 1972, p. 298

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A) Via postal – A correspondência diplomática postal poderá ser expedida pelos meios comuns, em sobrecartas com indicação do remetente5 ou em malas diplomáticas (por via terrestre, aérea ou marítima).

A instituição internacional da mala diplomática permite que a correspondência trocada entre os Governos dos diferentes Estados e as respectivas missões no estrangeiro seja transportada em recipientes selados que não podem ser abertos nem retidos pelas autoridades do país de destino e daqueles por onde tenham de transitar. A mala diplomática entregue directamente nos postos de correio /.../ ou nas companhias de aviação6” e “os volumes7 que a constituem devem levar sinais exteriores bem visíveis que indiquem o seu carácter, só podendo conter documentos diplomáticos e objectos destinados a uso oficial.8

Numa “circular” enviada em 1972 pela União Postal Universal às administrações postais dos diferentes países membros da União, pode ler-se o seguinte relativamente às malas diplomáticas confiadas aos correios de superfície: “Jusqu’en 1961 une pratique constante et générale, qui se fondait sur le principe de la rciprocité et qui confirmaient divers traités, garantissait l’inviolabilité de la valise et du courrier diplomatique. Cette pratique était dictée par la nécessité de mettre les missions diplomatiques en mesure de communiquer librement, confidentiellement et rapidement avec leur gouvernement. Or cette pratique se trouve confirmée, précisée et étendue depuis 1961 par divers traités qui règlent les facilités de communications accordées non seulement aux missions diplomatiques, mais également aux postes consulaires, aux missions spéciales, aux organiations internationales.”

5 G. E. do Nascimento e Silva’, op. cit. , p. 148

6 G. E. do Nascimento e Sïlva, op. cit. , p. 148 7 Maia a designação tradicional em língua portuguesa e francesa (valise). Mas, na maioria dos casos, a correspondência transportada, não em malas mas em sacos. E daí as expressões inglesas bag (Grã-Bretanha) e pouch (Estados Unidos) para designar tais volumes (Cfr. ibid.) O M.N.E. de Portugal utiliza, para este efeito, sacos uniformes de lona, medindo aproximadamente 4Ox6Ocm., marcados e selados com selos de chumbo. 8 Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, Artigo 72º, parág. 4

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Todavia, no que respeita aos postos consulares, “ l’ouverture de la valise est autorisée dans certaines circonstances exceptionnelles. La Convention de Vienne 1963 dispose à son article 35, § 3, que, si les autorités compétentes de l’État de résidence ont de sérieux motifs de croire que la valise contient d’autres objects que la correspondance officielle, les documents et les objects destinés exclusivement à un usage officiel, elles peuvent demander que la valise soit ouverte en leur présence par un représentant autorisé de l’État d’envoie. Si les autorités dudit État opposent un refus à la demande, la valise est renvoyée à son lieu d’origine.”

Em todos os congressos da U.P.U., desde o de Madrid de 1920, têm sido apresentadas propostas para a instituição de um serviço de malas diplomáticas num plano universal, com o fim de isentar de portes de correio as remessas oficiais de carácter diplomático. Mas essas propostas foram sempre rejeitadas pelos congressos, por se entender que tal objectivo mais facilmente poderia alcançar-se por meio de acordos particulares9.

Desde 1902 que Portugal vem concluindo acordos deste tipo com vários países (Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, Argentina, Brasil, Espanha, Cuba, Chile, México, República da África do Sul, Uruguai, Irlanda, Peru, Venezuela, Colômbia, Itália e França).

Às missões diplomáticas e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros compete o cuidado da entrega e recepção das malas nos postos do correio, não devendo nunca o peso de cada volume exceder trinta quilos. No caso de transporte por via aérea, não há intervenção das administrações postais, sendo as condições de serviço estabelecidas por entendimento directo entre as companhias de aviação e os interessados.

9 Cfr. “Circular” da U.P.U de 3 de Junho de 1976

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B) Correios diplomáticos – Mas, para a expedição da correspondência epistolar de carácter muito reservado, recorrem geralmente os Ministérios dos N. Estrangeiros e as missões aos correios diplomáticos, também chamados correios de embaixada ou correios de gabinete. A sua utilização remonta à mais alta antiguidade (ao segundo milénio A. C., a crer em alguns autores), mas à Inglaterra que se deve o primeiro sistema organizado destes mensageiros, surgido em 1641 com o nome de “King’s (ou Queen’s) Messengers”. “São escolhidos’ dentre antigos oficiais da polícia ou militares e ao serem investidos recebem um pequeno lebreiro em prata, símbolo tido na mais alta conta. Contrariamente aos diplomatas ingleses, que não possuem um passaporte diplomático específico, os “King’s Messengers” recebem um documento que os identifica como tais10. Estes mensageiros oficiais têm direito à protecção do Estado acreditador, gozando de inviolabilidade pessoal e não podendo ser objecto de qualquer forma de prisão ou detenção (nº 5 do Artigo 27º da Convenção de Viena). A apreensão dos documentos que transportam é absolutamente interdita e qualquer violência contra eles exercida considerar-se-ia grave violação do direito internacional. A isenção da jurisdição local estende-se mesmo a terceiros Estados que os correios hajam de atravessar no exercício da sua missão11. Admite-se, todavia, que, em circunstâncias muito especiais (quando, por exemplo, há suspeitas bem fundadas de que a embaixada a que se dirige o correio diplomático é o centro de uma conspiração contra o governo local), os documentos por ele transportados possam ser aprendidos.

10 G. E. do Nascimento e Silva, op. cit. , p. 149

11 “It is particulary important to observe that they must have the right of innocent passage through third States...” (L. Oppenheim, Internationa Law - A Treatise, Londres, l962, vol. l, p. 813). E o parág. 3 do Artigo 40º da Convenção de Viena diz: “Os terceiros Estados /.../ concederão aos correios diplomáticos a quem um visto no passaporte tenha sido concedido quando esse visto for exigido, bem como às malas diplomáticas em trânsito, a Imesma inviolabilidade e protecção a que se acha obrigado o Estado acreditador,

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Em Portugal, não existe um corpo especializado de correios de gabinete, cabendo as funções por estes desempenhadas aos próprios agentes diplomáticos (adidos de embaixada com maia de três meses de serviço, terceiros e segundos secretários de embaixada; e, excepcionalmente, mediante autorização especial do Secretário Geral do Ministério, primeiros secretários e conselheiros de embaixada)12. Trata-se, portanto, de correios “ad hoc”, aos quais expressamente se refere o nº 6 do artº. 27º da Convenção de Viena. E, assim, gozando embora, durante o desempenho das suas funções, das mesmas imunidades dos correios diplomáticos propriamente ditos, deixam de beneficiar delas a partir do momento da entrega da mala ao seu destinatário.

As viagens dos correios de gabinete portugueses podem ser regulares ou especiais, realizando-se as primeiras semanal ou quinzenalmente, com itinerário fixado pelo Secretário Geral do Ministério, do qual depende também a efectivação das segundas13.

De harmonia com o estipulado no artº 9º do citado Regulamento, “em caso algum poderão as malas diplomáticas com correspondência confidencial confiadas aos correios de gabinete deixar de estar sob a sua vigilância e controle directo até serem entregues no seu destino. No caso /…de/ serem forçados a interromper a viagem, poderão depositar temporariamente as malas diplomáticas nas chancelarias das missões diplomáticas ou dos postos consulares desde que estas ofereçam condições de segurança. Fica desta forma excluído qualquer outro local de depósito, não devendo os correios de gabinete separar-se neste caso das malas diplomáticas qualquer que seja o incómodo pessoal que o facto lhes ocasione. Se na passagem das fronteiras qualquer autoridade pretender tomar conta das malas diplomáticas, ainda que momentaneamente e a pretexto de as devolver imediatamente, deverão os correios de gabinete opor-se a isso invocando as suas imunidades”. “As malas diplomáticas confiadas aos correios de gabinete deverão conter unicamente a correspondência oficial confidencial de modo a poderem ser facilmente transportáveis pelo próprio correio de gabinete. Qualquer outra correspondência ou objectos só poderão ser incluídos nessas malas com autorização do Secretário Geral”14.

12 ) Cfr. “Regulamento dos Correio de Gabinete (MNE)”, Lisboa, 1974, Artigos 3º e 4º. Há casos, embora raros, em que as malas portuguesas são também transportadas por pessoal assalariado das missões. 13 Cfr. “Regulamento dos Correios de Gabinete (MNE)”, artº. 1º e 8º 14 0ff. “Regulamento dos Correios de Gabinete (MNE)”, artº 13°

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Nos últimos anos, e, ao abrigo do que se dispõe no nº 7 do Artigo 27 da

Convenção de Viena de 1961, alguns países têm seguido a prática de, em certos casos, confiarem as malas diplomáticas aos comandantes dos avies comerciais que escalam as cidades destinatárias (“malas acompanhadas”). Quando assim acontece, “o comandante deverá estar munido de um documento oficial que indique o número de volumes, que constituem a mala., mas não será considerado correio diplomático. A missão poderá enviar um dos seus membros para receber a mala diplomática, directa e livremente, das mãos do comandante da aeronave” (Convenção de Viena, Artº 27º),

Embora, como se disse, os comandantes dos aviões não sejam considerados, em tais circunstâncias, como correios diplomáticos propriamente ditos, todavia, as malas ao seu cuidado beneficiam, para qualquer efeito, de toda a protecção que o Direito Internacional lhes pode garantir.

o) Via telegfica e telex — A rapidez proporcionada às comunicações pelo

telégrafo eléctrico originou sensíveis modificações na prática diplomática, pois, permitindo aos chefes; de missãa consultar quase instantaneamente os seus governos nas situações difíceis ou melindrosas, veio alterar profundamente o esquema das respectivas relações, retirando aos primeiros grande parte das responsabilidades anteriores e restringindo severamente a liberdade e a margem de manobra de que usufruíam no “dus operandi”15. Advirta-se, todavia, que se, antes da invenção do

15 Por esta altura (2º quartel do séc.XIX), assiste-se a uma aceitação cada vez mais generalizada do tipo de diplomacia a que Harold Nicolson – Djplomacy, Londres, 1965 – dá o nome de ‘diplomacia mercantil”, por oposição à “warrior conception of diplomacy” até então dominante (embora, em determinadas épocas da História, já a primeira modalidade se tivesse manifestada aqui e além ao menos: sob alguns dos seus aspectos). Para a expansão dessa “diplomacia mercantil” no século XIX, concorreram fundamentalmente quatro factores: o crescente sentimento da existência de uma comunidade de nações (para além dos Estados e dos Estados-Nações; com os seus interesses e egoísmos próprios); a atribuição de um valor cada vez maior à opinião pública; o triunfo do liberalismo económico em alguns países e a sua profunda influência em todos; e, finalmente, os progressos verificados no domínio dos transportes e das comunicações.

A designação de “mercantil” pretende significar que, nas relações internacionais, ela se subordina (tal como nas relações de negócios os “autênticos comerciantes”) às normas éticas do respeito pela palavra dada e pelos compromissos assumidos e prefere em todas as circunstancias, o diálogo e a conciliação à ameaça e a imposição violenta. Aceita, assim, como regra de negociação, a cedência mútua e o princípio da reciprocidade nas vantagens e nas concessões, tendo em conta, por outro lado, não exclusivamente o interesse nacional, mas também o interesse comum de todas

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telégrafo elétrico, alguns chefes de missão, aproveitando-se da lentidão das comunicações, chegavam ao ponto de adoptar em relação aos países onde estavam acreditados, uma política de acentuado cunho pessoal (às vezes contrária até às directivas do seu Governo), verdade é também que muitos outros, não ousando em momentos críticos tomar decisões por si próprios, perdiam em tais ocasiões (precisamente em razão da morosidade das comunicações) excelentes ensejos e trunfos para fazerem valer os interesses dos seus países16.

Por outro lado, importa acentuar que, a despeito da maior dependência em que hoje se encontra em relação ao seu Governo, como resultado da grande rapidez das transmissões, nem por isso o embaixador deixou de ser para aquele a principal e mais segura fonte de informações relativas ao Estado credenciário. Até porque, ao contrário do que se verifica com os jornalistas ou as agências noticiosas, o embaixador, não o as nações. Pragmática, tolerante, conciliadora, a “nova diplomacia” opunha-se diametralmente sob alguns pontos de vista, à que, ate então, geralmente haviam praticado as Potências (de harmonia com o espírito aristocrático das suas classes dirigentes), assente na crença de que a negociação é apenas um meio “não violento” de se conseguir o que, em outras circunstâncias, mais provavelmente pela guerra se logra alcançar (“war by other means” – como diz Nicolson). A vitória, o êxito a todo o custo, eis o que para esta diplomacia tradicional contava acima de tudo, mesmo que para tanto houvesse que recorrer a subterfúgios e habilidades menos escrupulosas. Dentro de tal espírito, não surpreende que a cedência fosse considerada quase sempre uma derrota ou então apenas uma retirada táctica e calculista, propiciadora de ulteriores avanços e conquistas, Tendia, pois – no dizer de H. Nicolson (op. cit., p. 51) –, “towards power-politics and was much concerned with such associations as national prestige, status, precedence and glamour”; ao invés, a “mercantil” apontaria de preferência “towards profit-politic, and was mainly preocupied with appeasement, conciliation, compromise and credit”. Importa, todavia, salientar que a afirmação deste novo estilo diplomático no séc. XIX não implicou de modo algum o desaparecimento da “warrior or heroic theory”, pois em muitos países esta continuou a dominar, alternando-se, em outros, os dois géneros.

Para o final daquele século, assiste-se, no domínio das relações políticas externas, ao recurso, cada vez mais frequente, à negociação multilateral em conferências internacionais tendência esta que vem a acentuar-se no século seguinte, sobretudo depois da l Guerra Mundial, com a criação da Sociedade das Nações principia então a época áurea da chamada “diplomacia das conferência” . E, a par e passo, se vai verificando também, em sincronia com o crescente respeito pela opinião pública, o repúdio dos processos da “diplomacia secreta”, em benefício da “democracia aberta”, livre, em princípio, dos ardis congeminados no suspeito segredo das chancelarias.

Esta diplomacia multilateral alcança o seu ponto culminante com a criação das Nações Unidas. A partir de então, a actividade diplomática deste tipo desenvolve-se predominantemente no seio das grandes organizações internacionais permanentes, onde surge a chamada diplomacia parlamentar, para usar a expressão inventada por Dean Rusk. 16 Cfr. H. Nicolson, The Evolution of Diplomatic Method, Londres 1954, p. 82

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movendo quaisquer intuitos de sensacionalismo e tendo apenas a motivá-lo o interesse do seu país, pode ser muito mais objectivo na seleção das notícias a transmitir e muito mais sereno e equilibrado na sua apreciação e comentário. Além de que está quase sempre melhor informado, pois é o principal elo de ligação entre o seu próprio Governo e aquele junto do qual exerce funções representativas.

A transmissão de mensagens por via telegráfica pode efectuar-se, quer por intermédio dos serviços telegráficos públicos, quer por intermédio do telex, sendo possível fazê-lo, num caso como noutro, tanto em linguagem clara, como em código ou cifra17. Mas o segundo destes sistemas (o telex) superioriza-se claramente ao primeiro e não longe virá o dia em que o há-de substituir por completo. E isso porque faculta, não só uma transmissão praticamente instantânea, como também uma resposta imediata e, em ambos os casos sem intermediários, assemelhando-se neste ponto ao telefone18, com a vantagem sobre este de garantir as comunicações, desde que acoplado a máquina de cifrar, uma segurança incomparavelmente maior. Outra vantagem sobre o telefone é que o telex pode enviar uma mensagem sem necessidade de que o destinatário, ou quem o substitua, esteja junto do receptor nesse momento, pois lá fica registada, e em qualquer altura dela se poderá tomar conhecimento. Além disso, e ao contrário do que se passa com o telefone, a mensagem produz um documento, beneficiando portanto das garantias de prova da palavra escrita. Acrescente-se, por fim, que o telex, desde que a frequência da sua utilização ultrapasse determinados escalões, se revela mais económico do que o telégrafo público, facto que, naturalmente, muito tem contribuído para a preferência que nos últimos tempos lhe vem sendo dada.

17 Segundo a Instrução dos serviços de cifra do M.N.E., de 23 d Novembro de 1957, as espécies criptográficas são usadas apenas em telegramas e aerogramas. “São considerados aerogramas as comunicações redigidas em estilo telegráfico, cifradas ou não, cuja urgência não imponha a utilização da via telegráfica, expedidas pelo correio aéreo, ordinário ou por mala diplomática” (parág. 3º do Ártº. I do Regulamento). 18 l’fr. Farag Moussa, op. cit., p. 299

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De qualquer modo, a utilização do telégrafo público ou do telex é sempre mais dispendiosa do que a via postal, razão porque só a eles se deve recorrer em casos de muita urgência e da maneira mais adequada, isto é, empregando uma linguagem tanto quanto possível concisa e lacónica, ainda que sem prejuízo da da clareza19. O uso do telégrafo ou do telex para a transmissão de extensos e difusos relatórios onde o acessório tome o lugar do estritamente essencial é absolutamente condenável e tem que ser banido da prática diplomática. As descrições de personalidades e ambientes, a pintura de usos e costumes, as apreciações e reflexões pessoais sobre os acontecimentos, a fundamentação lógica de juízos e opiniões, quando não possam fazer-se de maneira extremamente concentrada e sucinta, é para a correspondência epistolar que devem guardar-se, pois lá que têm o seu lugar próprio.

D) Telefone – O telefone, pela facilidade e presteza que permite na troca de mensagens, constitui um excelente meio de comunicação ao serviço das missões diplomáticas, mas o seu emprego deve limitar-se a conversas que dispensem documentos comprovativos das palavras proferidas (Verba volant. scripta manent…), e não exijam segredo rigoroso, dada a precariedade das condições de sigilo que oferece. É, de facto, relativamente fácil colocar um telefone sob escuta, recorrendo a mecanismos especiais. E como, em geral, as embaixadas não dispõem de meios técnicos capazes de detectar essa indiscreta aparelhagem, a sua utilização torna-se, em determinados casos, imprudentíssima.

19 “A via telegráfica será utilizada unicamente para comunicações de natureza urgente, que não sofram as delongas das vias postais aéreas” (parág. 1º o Artº I das Instruções dos Serviços de Cifra do M.N.E., de 23 de Novembro de 1957). As comunicações cifradas tratarão apenas um único assunto ou complexo de assuntos interessando sempre que possível exclusivamente um mesmo serviço e serão redigidas com a máxima concisão, eliminando-se cuidadosamente as palavras ou expressões supérfluas e devendo banir-se as fórmulas de cortesia” (Ibid., Artº. II)

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E) Rádio – O emprego pelas missões de transmissores e receptores radiofónicos e radiotelegráficos a funcionar em conexão com postos idênticos existentes nos respectivos países acreditantes ou em outras das suas embaixadas foi uma das questões mais controvertidas na Conferência de Viena de 1961, como, aliás, já o havia sido antes, em 1957, na 9ª Sessão da Comissão de Direito Internacional da O.N.U20 ambas as ocasiões, as grandes Potências mostraram-se geralmente favoráveis ao uso irrestrito de postos de emissores e receptores pelas missões, fundando-se para tal no princípio da liberdade absoluta de comunicações que às representações diplomáticas tem de ser garantida. Defendeu, por exemplo, este ponto de vista o delegado britânico, Sir Francis Vallat, ao declarar que a “Convenção visava facilitar a actividade diplomática e não criar obstáculos ao bom desempenho das funções; que era inconsistente que um país – como alguns delegados pretendiam – tivesse que solicitar autorização a outro para instalar uma emissora em sua Missão diplomática; que a liberdade de comunicações deveria abranger o uso de emissoras de rádio; e que no caso de abuso a Convenção já estabelecera um freio que consistia na declaração de personalidade non grata”21.

Contrariamente a esta opinião se pronunciaram os representantes de algumas nações de menores recursos, alegando que, mesmo admitida a reciprocidade no uso de tais meios, não poderiam recorrer a eles, ficando, assim, numa situação de inferioridade. Ao que acrescentaram ainda objecções de carácter técnico, lembrando que se, numa mesma cidade, dezenas de missões resolvessem estabelecer postos de emissão, escolhendo a seu arbítrio os respectivos canais e frequências, incalculáveis perturbações daí se seguiriam para a rede radiofónica do país. E tanto assim que a Convenção Internacional de Telecomunicações estipula num dos seus artigos “que as Partes Contratantes têm a obrigação de proteger os canais e as instalações dentro da sua jurisdição visando à rápida troca de comunicações internacionais22, reconhecendo outro artigo “a necessidade de limitar o número de frequências e o espaço utilizado ao mínimo para permitir um serviço satisfatório”23.

20 Cfr. G. E. do Nascimento e Silva, op. cit., p. 154 21 G. E. do Nascimento e Silva, op. cit., pp. 158—159 22 Ibid. 23 Ibid.

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Outro facto trazido ainda a debate foi o da utilização abusiva que certas missões poderiam fazer das suas estações radiofónicas, servindo-se delas para se imiscuírem nos negócios internos do Estado acreditador com fins de propaganda e de espionagem. Contra isto se objectou ser desnecessário introduzir na Convenção qualquer cláusula preventiva de tais abusos, pois já um dos seus artigos (o 4lº, parág. 3º) expressamente determinava não poderem os locais da missão ser utilizados de maneira incompatível com as respectivas funções. Não obstante, prevaleceu o parecer de que a autorização do Governo do Estado acreditador á condição indispensável para a instalação de tais meios de comunicação24. Mas, como observa P. Moussa25, “il ne faut pas croire, pour autant, que les appareilles clandestins n’existent pas dans certaines ambassades…”.

24 No final, o artigo da Convenção respeitante ao assunto ficou. Assim redigido: “a Missão só poderá instalar e usar uma emissora de rádio com o consentimento do Estado acreditador” (Artigo 27º) 25 op. cit., p.299

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II – Notas e memórias; despachos e ofícios.

A correspondência epistolar diplomática divide-se, quanto ao grau de sigilo, em ostensiva e especial (e esta, por seu turno, em reservada, confidencial e secreta) quanto à forma, em cifrada26 e “por claro”: e, quanto à natureza, em normal e urgente27.

Vamos considerar separadamente: (A) a que é trocada entre a missão e o Ministério dos N. Estrangeiros local; e (E) a-: que entre si mantêm a missão e o respectivo Governo.

A) Correspondência entre a missão e o Governo local – Segundo a melhor tradição diplomática, nas relações entre a missão e o Governo da residência, deve dar-se, em regra, preferência à diligência oral (nas suas diferentes formas de declaração, notificação, representação e comunicação) sobre a diligência escrita28: antepor a palavra à pena, como recomenda Figanière29. Forçoso é reconhecer, porém, que, nos últimos tempos, esta tende irresistivelmente a sobrepor-se àquela (e até com carácter de exclusividade nos negócios de mero expediente).

26 Como já se disse, hoje em dia, no M.N.E., a: cifra apenas é usada em telegramas e aerogramas e no telex. 27 G. E. do Nascimento e Silva (op. cit., p. 147) apresenta uma classificação diferente da correspondência epistolar diplomática, mas a que damos acima (aliás baseada naquela quanto à terminologia) parece-nos preferível. 28 Há ainda a diligência mista, compreendendo uma primeira fase oral (isto é, por exemplo, uma entrevista entre o Chefe da Missão e o Ministro dos N. Estrangeiros local) seguida de uma troca de notas sobre o assunto ou assuntos tratados (Cfr. Philippe Cahier, Le droit Diplomatique Contemporain, Paris, 1962, p. 153) 29 Visconde de Figanière, Quatro Regras de Diplomacia, Lisboa, 1881, pp. 59 e segs.

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A correspondência epistolar entre a missão e o Governo do Estado junto do qual está acreditada reveste a forma (a) de notas e (b) de memórias30 (memórias propriamente ditas, “memoranda”,pro—memórias, “aide-mémoires” e contra-memórias)31.

a) Notas:

1. Nota formal32 (Modelos nº 3 a 11) – A nota formal é um documento de certa solenidade endereçado pessoalmente pelo chefe da missão ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo da residência ou aos demais chefes de missão estrangeiros no país, e vice-versa. Redigida na primeira pessoa, quanto ao autor, e na segunda (plural), quanto ao destinatário, reveste-se de todos os requisitos protocolares, contendo sempre os seguintes elementos: dominação ou apelação (“apell” ou “inscription”); tratamento (“traitement”); cortesia (“courtoisie”); assinatura ou subscrição (“souscription”); data; e visto ou endereço (“reclame”).

Denominação ou apelação (“appel” ou “inscription”) o título honorífico da pessoa a quem a comunicação se dirige:

Senhor Embaixador, Monsieur l’Ambassadeur, Senhor Ministro, Monsieur le Ministre, Senhor Núncio, etc.33

Esta fórmula pode ser escrita “en vedette”, i. é, destacadamente em relação ao texto do documento; “en ligne”, ou seja, no começo da primeira linha; ou “dans la ligne”, quer dizer, depois de algumas palavras iniciais da nota.

30 Advirta-se, todavia, que o sentido destas expressões varia algum tanto de país para país. 31 A chancelaria francesa inclui também neste tipo de comunicações o manifesto (“nota que tem por objecto ser difundida” - Jea Serres, Manuel Pratique de Protocole, Vitry-Le-François, 1965,p 243) e o ultimatum. Quanto a este, convém dizer, todavia, que palavra se aplica, a rigor, mais à matéria do documento do que à sua forma. Assim é que um ultimatum pode ser apresentado em nota formal, em nota verbal, em nota assinada: redigida na 3ª pessoa, etc. 32 Os brasileiros dão-lhe simplesmente o nome de nota. Figanière (op. cit., p.131) chama à nota formal carta (conformando-se ao uso francês - lettre, ou melhor, lettre officielle). Mas a verdade é que tal expressão em Portugal caiu completamente em desuso. 33 Protocolo britânico: “In all official communications, foreign ambassadors and ministers accredited in London are addressed as “Your Excellency” ; other correspondents as “My Lord” , “Sir” , “Madam” or “Gentlemen”, as the case may be” (E. Satow, A Guide to Diplomatic Practice, Londres, 1962, p. 74).

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Tratamento (“traitement”) é o título de cortesia usado pelo autor para se dirigir ao correspondente no texto da comunicação: Santidade (para o Papa); Eminência (para os Cardeais); Majestade (para os reis); Alteza (para os príncipes); Excelência (para os Presidentes da República, Embaixadores e Ministros de Estado); V. Exª. ; V. Snrª. ; etc.

Cortesia (“courtoisie”) é a frase com que o signatário conclui a nota, exprimindo, em relação ao correspondente, sentimentos de respeito, gratidão, consideração34, etc. (Para embaixadores: “Aproveito o ensejo (ou esta ocasião) para reiterar a V. Ex. os protestos da minha mais alta consideração”; para enviados extraordinários: “Aproveito o ensejo (ou esta ocasião) para reiterar a V. Ex. os protestos da minha alta consideração”; para ministros residentes: “Aproveito o ensejo (ou esta ocasião) para reiterar a V. Ex, os protestos da minha mais distinta consideração”; para encarregados de negócios efectivos: “Aproveito o ensejo (ou esta ocasião) para reiterar a V. Ex os protestos da minha muita consideração”; para os encarregados de negócios interinos: “Aproveito o ensejo (ou esta ocasião) para reiterar a V. Ex. os protestos da minha distinta consideração”35; “Veuillez agréer, Monsieur l’Ambassadeur, les aussurances de ma haute considération”; “ Agréez, Monsiuer le Ministre, les assurances de ma haute considération”; “ Agréez, Monsiuer le Chargé d’Affaires, les assurances de ma considération la plus distinguée”; “Veuillez agréer, Monsieur le Ministre (Ministro de Estado) les assurances de ma très haute (ou haute) considération”.

Subscrição (“souscription”). É a assinatura do autor da nota. Quando dificilmente legível, convêm que o nome seja reproduzido abaixo em caracteres dactilografados ou por meio chancela36.

A data deve ser precedida da menção do lugar onde a comunicação foi escrita, indicando-se sempre, sem abreviaturas, o dia, o mês e o ano. Umas vezes, a data antecede o texto; outras, segue-o.

O visto ou endereço (“réclame”) é a menção do nome e cargo oficial do destinatário, ao fundo da primeira lauda, do lado esquerdo “e atravessando a margem, quer conste a Nota de uma página, quer de mais; de sorte que, no primeiro caso, a assinatura, precede o visto”37.

34 Cfr. E. Satow, op. cit., p. 71 35 Cfr, Anuário Diplomático e Consular Português relativo aos anos de 1889 e 1890, Lisboa, 1891, p. 170 36 Jean Serres, op. cit., p. 239 37 Figanière, op. cit., p. 133

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2.Nota verbal (MODELOS Nº l2 a 14).É um documento de pequena extensão (“o protocolo francês no lhe admite mais de uma página e dez linhas no verso”38), sem assinatura e redigido na terceira pessoa, sendo o sujeito a instituição expedidora (Ministério dos Negócios Estrangeiros ou Missão Diplomática). Começa (e termina em alguns casos) por uma expressão de cortesia e não comporta, dada a sua forma, nem “appel”, nem “tratamento”. A data vai sempre depois do texto e é seguida do carimbo da entidade remetente.

Inicialmente, a nota verbal era um documento entregue em mão própria ou enviado após uma entrevista ou conferência e reproduzia sucintamente por escrito o que se tratara ou dissera de viva voz (e daí o seu nome)39. Funcionava assim, de algum modo, como auxiliar de memória e garantia: documental do que se declarara em conversa e, na verdade, ainda hoje se usa às vezes com esse fim. Mas com mais frequência se recorre actualmente a este tipo de notas (como meio de comunicação sem formalidade) para tratar de assuntos de mero expediente ou de rotina e para responder com brevidade a questões formuladas. O que não significa, todavia, que apenas sirva de veículo a matérias de somenos importância ou projecção, pois nem sempre assim acontece, embora na verdade, seja mais conforme ao uso geral tratar, de preferência, em notas formais, os negócios de maior gravidade. Difícil se torna, no entanto, muitas vezes, dizer quando se deve adoptar um ou outro destes tipos de comunicação, pois não há regras definidas a tal respeito e só a experiência das lides diplomáticas permitirá, na maioria das circunstâncias, uma opção acertada. “O meio de comunicação não é indiferente – como escreve Teixeira de Sampaio, op. cit., p. 36 – Tem e teve sempre importância. O mesmo assunto tratado em nota vulgar, em nota verbal ou em memória, assume aspecto mais ou menos instante, a comunicação torna-se mais ou menos fria, toma um carácter mais ou menos pessoal. São pequenos

38 Luís Teixeira de Sampaio, O Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Coimbra, 1925, p, 36 39 ) “...il ne sufit pas que le diplomate soit loyal et franc, il faut qu’ il se ménage les moyena. de pouvoir prouver en tout temps qu’il l’a été. C’est pourquoi il ne doit pas laisser reposer sur la seule bonne foi de celui avéc qui il aura une certaine importance. C’est dans cette intention que l’usage a établi ce qu’on appelle des notes verbales, qui ne sont que l’exposé par écrit de ce qu’on a dit verbalement en conversation avec la personne même à qui la note est adressée. Nous remarquerons en pas sant qu’on ne signe pas ordinairement cette sorte de notes; mais en générale il n’est ni prudent ni loyal de remettre un écrit, note, mémoire, memorandum, comme on voudra l’appeler, sa le clore par sa signature”. (Silvestre Pinheiro Ferreira, Précis d’un Cours de Droit Public Interne et Externe, Paris, 1830, p. 232). Como se vê, o critério de Pinheiro Ferreira quanto a aposição da assinatura em documentos diplomáticos divergia bastante do que é hoje mais geralmente aceite.

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“nadas” que se aprendem com o uso, cujas regras são indefiníveis, e cuja importância só negam aqueles que são hóspedes em questões diplomáticas”.40

Faremos ainda referências às chamadas notas coletivas e notas idênticas.

Nota coletiva é a que é dirigida em comum ao Governo do Estado acreditador pelos representantes diplomáticos de várias potências (e por todos assinada), versando determinado assunto a respeito do qual tenham recebido instruções para uma diligência concertada. A entrega de tais notas pressupõe, por conseguinte, a existência de estreitas relações e de identidade de critérios a respeito da matéria em causa entre as potências signatárias.41

Notas idênticas – São notas, idênticas quanto à substância, embora possam divergir quanto à forma, dirigidas a um Governo pelos representantes de várias potências, em obediência a instruções recebidas no sentido de agirem colectivamente em determinada emergência. Menos solenes que as notas colectivas, convém que sejam, na medida do possível, apresentadas simultaneamente42.

Em princípio, deve responder-se a qualquer comunicação utilizando o mesmo tipo de documento: isto é, deve responder-se a uma nota assinada com uma nota assinada, a uma nota verbal com uma nota verbal43, etc., e, na medida do possível, empregando idêntico estilo protocolar.

As notas emanadas das missões portuguesas ou da Secretaria de Estado são todas escritas em papel de grande formato (papel de nota), timbrado e com uma margem, à esquerda, de cinco centímetros.

40 Há ainda outros tipos de notas redigidas na 3ª pessoa, quase inteiramente fora de uso em nossos dias, que começam, umas, pela referência à qualidade oficial do autor (“0 Embaixador de Portugal apresenta os seus cumprimentos /.../ e, em resposta nota nº /.../, tem a honra de informar...”); outras, pela menção do próprio nome do autor (“0 Senhor Teixeira Gomes apresenta os seus cumprimentos ao Secretário de Estado de Sua Majestade para os negócios Estrangeiros e muito lhe agradece que o informe...”); outras, finalmente, pela fórmula “0 abaixo assinado /indicação da qualidade oficial do signatário/ tem a honra de informar...”. Esta última modalidade foi, em tempos passos, muitíssimo empregada: e ainda nos finais do séc. XIX a ela recorriam com frequência os nossos diplomatas, mas caiu depois em desuso, quase estando excluída actualmente da prática diplomática. 41, 41 Cfr. E. Sataow, op. cit., pp. 67-70; G. E. do Nascimento e Silva, op cit., pp. 164 -165 43 Cfr. G. E. do Nascimento e Silva, op. Cit., p. 165

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b) Memória, “Memorandum”, Pró-memória, “Aide-mémoire”, contra-memória.

b). 1. Memória e “Memorandum”. A memória (MODELO Nº 15) é um tipo de documento geralmente adoptado quando a exposição do assunto requer copiosa alegação de factos e argumentos44. Desprovidas de fórmulas de cortesia e umas vezes assinadas e outras não, “há memórias – diz Figanière – em que /o autor/ fala de si na primeira pessoa, e do destinatário, na segunda ou na terceira pessoa; outras há em que aquele figura já na primeira já na terceira pessoa, mencionando o destinatário sempre pela segunda pessoa; outras, finalmente, em que, falando de si sempre na terceira pessoa, serve-se já da segunda, já da terceira com referência ao destinatário”45.

Como observa Teixeira de Sampaio46, é difícil distinguir claramente as memórias dos “memoranda”. Mas – esclarece Figanière –, se assim é quanto à forma, os dois tipos de documentos: diferenciam-se, no entanto, pelo facto de o”memorandum” ao invés da memória, não possuir “carácter oficial”. “Nestes termos – conclui – o que talvez se possa assentar é o seguinte: - que /…/ sendo o carácter oficial a essência da memória, para a distinguir do “memorandum”, conviria que esse carácter aparecesse, quer mencionando-se claramente a qualidade de quem escreve – ou no princípio ou no fim, ou mesmo no corpo do documento -, quer indicando a qualidade da pessoa ou pessoas a quem este é dirigido; não sendo aliás essencial a assinatura, com quanto fosse mais regular, e mais conforme com o uso geral”47.

b). 2. Pró-memória – É a memória dirigida a mais de uma pessoa ou entidade(a várias missões diplomáticas, por exemplo) ou a corpos colectivos48.

b). 3. “Aide-mémoire” (MODELO Nº 16) – Distingue-se da memória apenas pela extensão (que é menor), utilizando-se para recordar de forma breve e sucinta uma informação solicitada ou qualquer negociação em curso.

b). 4. Contra-memória (MODELO Nº 17) – É a resposta dada pelo Governo do Estado acreditador a uma memória recebida de um representante diplomático estrangeiro.

44 Segundo Satow, a memória foi, outrora, conhecida frequentemente pela designação de “déduction” ou exposé de motifs” 45 Visconde de Figanièr, op. cit., p.174. 46 Op. cit., p.36 47 Visconde de Figanière, op. cit., p. 176 48 “Uma Memória assinada por dois ou mais representantes de diversas Potências não seria, porém, designadas de Pro-memória; seria uma Memória Colectiva” (Ibid., p. 175)

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É bom notar, porém, que nem todas as chancelarias adoptam as definições atrás apresentadas e que, mesmo em Portugal, a uniformidade está longe de reinar neste domínio. Para os ingleses, por exemplo (Vide Satow, op. cit., p.64), memorandum, mémoire e pró-memórias são palavras com o mesmo significado (aquele que atribuímos à memória).

Alguns autores franceses, por seu turno, dão o nome de memorandum a “uma nota destinada ao Chefe do Estado”, comportando a fórmula: “le soussigné à ordre de…” (Jean Sèrres, op. cit., p. 243), Mas há outras definições. Assim Farag Moussa (op. cit., p. 135) diz que o “Memorandum est un document officiel à usage limite. Le plus souvent, il vise un but bien précis: permettre à l’autre partie d’étudier de manière approfondis une question importante - délicate, épineuse, etc. -, mais dont le principal trait caractéristique consiste à être sujette à controverse. En fait, il s’agit d’un exposé détaillé de faits et d’arguments, à l’appui d’une thèse”.

Outros – como ainda o caso de Jean Serres (op. cit., p. 243) – assimilam a pró-memória à aide—mémoire, considerando este tipo de documento uma nota destinada a “explicar ou justificar a conduta do governo ou do agente”. “Elle est remise de la main à la main au cours d’un.entretien. Du fait qu’elle n’est pas appelée à circuler sous enveloppe, elle ne comporte ni sommaire, ni formule d’appel, ni formule de réclame, ni formule de courtoisie. La date est inscrite à la ligne qui suit le dernier mot du texte. Elle n’est pas signe et ne porte pas le sceau du poste”.

Segundo a opinião de Nascimento e Silva (op. cit., p. 1966), memorandum e aide-mémoire são expressões utilizadas frequentemente como sinónimos. Mas “geralmente o memorandum é mais completo e explica em detalhes o ponto de vista do Estado acreditado em determinado assunto, O aide-mémoire costuma ser um memorandum mais curto que o Agente diplomático entrega um funcionário do Ministério das Relações Exteriores depois de uma entrevista em que expôs reivindicações do seu governo”. Ambos são escritos de maneira impessoal, e não levam assinatura ou fecho de cortesia”. “Quer num caso quer noutro, não há obrigação de uma resposta”.

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“Rejeição” de comunicação diplomáticas – É direito de todos os Governos rejeitar qualquer comunicação de que um representante diplomático estrangeiro pretenda fazer-lhes entrega, se entenderem que ela está redigida em termos inconvenientes ou atentatórios da soberania do seu país (quando, concebida; por exemplo, de modo a poder considerar-se uma tentativa de interferência nos seus assuntos internos). A rejeição não consiste, como às vezes se julga, na recusa de um Governo em aceitar parcial ou totalmente o conteúdo de uma nota, sendo esta no entanto recebida fisicamente: o que se rejeita é o próprio documento, que é devolvido, sem resposta, à procedência49.

Um exemplo típico de “rejeição” foi o da nota de protesto enviada pela Embaixada Soviética em Londres ao Governo Britânico a propósito da conhecida “nota Zinoviev”. “This was “rejected” on the ground that, demanding the punishment of persons allegedly in the employment or under the control of the British Government, it was an interference in the internal affairs of the country”50.

Em 3 de Março de 1969, a Embaixada da U.R.S.S. em Pequim recusou-se a receber, por considerá-la insultuosa, uma nota do Governo da China Popular em que se acusava “a camarilha revisionista de Moscovo de haver ordenado aos guardas fronteiriços que invadissem a Ilha de Chen Pao”51.

Sirva, como último exemplo, o da rejeição por parte da Embaixada Soviética em Estocolmo, em Agosto de 1969, de uma nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco em que se protestava contra a invasão da Checoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia52.

49 Cfr. E. Satow, op. cit., pp. 76—77 50 Ibid. 51, 51 Cfr. G. E. do Nascimento e Silva, op, cit., p. 167

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B) – Correspondência entre a missão e o seu próprio Governo - Segundo a mais estrita praxe diplomática portuguesa, as comunicações epistolares endereçadas pela Secretaria de Estado às nossas representações diplomáticas e consulares têm o nome de despachos53; e designam-se por ofícios54 as que as missões e consulados dirigem à Secretaria de Estado. Mas nem sempre estas denominações foram aplicadas entre nós de maneira rigorosa, chamando-se muitas vezes despachos aos ofícios e vice-versa55. E a às notas era dado, de quando em quando, o primeiro destes nomes – como ensina Teixeira de Sampaio56.

Hoje em dia, porém, os dois termos são, na verdade, usados como se indicou inicialmente: despacho é o documento emanado do Ministério dos N. Estrangeiros; e ofício o que o chefe de um posto diplomático ou consular envia ao seu Governo.

53 O nome vem-lhes de serem outrora documentos assinados sempre em princípio, pelo Ministro ou por funcionários em quem ele delegava poderes para o efeito. E, assim, tempo houve em que os despachos assinados pelo Secretário-Geral ou pelos Directores-Gerais eram antecedidos da expressão “Pelo Ministro, o Secretário-Geral” ou “Pelo Ministro, o Director-Geral”. Actualmente, de harmonia com o Artº. l27º do Regulamento do M.N.E., “o expediente da Secretaria de Estado devera ser feito em nome do secretário-geral ou dos directores-gerais, sempre que não envolva transmissão de ordens ou instruções a funcionários de categoria igual ou superior, caso em que é feito em nome do Ministro e sob ordem sua...” 54 Por ofícios se designam também as comunicações enviadas pelo Ministério dos N. Estrangeiros aos outros Ministérios e demais entidades públicas e particulares, salvo as embaixadas e consulados estrangeiros em Portugal. 55 Em algumas chancelarias estrangeiras (França e Inglaterra, por exemplo) a palavra despacho (“dépèche, “despatch”) é aplicada às duas espécies de documentos. 56 Cfr. op. cit., p.37

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Até 1972, os despachos da chancelaria portuguesa iam encabeçados pelo nome do titular do posto a que se destinavam, segundo a fórmula clássica:

Exmº Senhor /nome/ Embaixador de Portugal em /nome da cidade sede da missão/

Mas, por determinação do Secretário-Geral do Ministério de 9 de Novembro daquele ano, foi ordenada a supressão do nome, reduzindo-se o “appel” à menção do cargo:

Exmº Senhor Embaixador de Portugal em /nome da cidade sede da missão/

Senhor Encarregado de Negócios de Portugal em /nome da cidade sede da missão/

Senhor Cônsul-Geral de Portugal em /nome da cidade sede do consulado-geral/

Senhor Cônsul de Portugal em /nome da cidade sede do consulado/

No corpo dos despachos, o tratamento dado aos embaixadores é o de Excelência (V. Ex.ª.) e aos encarregados de negócios e cônsules e de Senhoria (V. Snrª.).

A inserção do visto (isto é, do nome do destinatário) ao fundo da primeira página, do lado esquerdo, não se usa nos despachos.

Ainda segundo a referida determinação de Novembro de 1972, “a indicação da data deverá figurar no canto superior direito por baixo das cotas do número e do processo. Todos os despachos /…/ terão pois no canto superior direito três linhas de identificação:

a) na 1ª o número precedido das siglas/da Repartição ou Serviço/ (sem abreviatura nº) objecção a inteira-se por tal forma de factos onde maneiras de ver de outros Governos”57 .

57 Cfr. L. Teixeira de Sampaio, op. cit., p. 41

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Os ofícios, quer provenham das embaixadas, quer dos consulados, começam sempre pela seguinte fórmula:

Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros Excelência

No final, a fórmula de cortesia resume-se, em obediência à portaria nº 672/74, de 17-10-74, à expressão ”Com os melhores cumprimentos”. Segue-se a assinatura, precedida, ainda que não obrigatoriamente, da designação do cargo (O Embaixador, O Encarregado de Negócios, etc).

À margem, do lado esquerdo e ao alto, indica-se, em duas ou três palavras, o assunto da comunicação58.

A menção do número, do processo e da data obedece às normas já apontadas para os despachos.

O papel utilizado é o do formato A-4, deixando-se à esquerda da mancha do texto uma margem de 5 cm. (MODELO Nº 22).

A instrução – Sempre que um embaixador ou ministro seguia para o seu posto, era de norma, em tempos passados, fornecer-lhe, por escrito, uma instrução59, conjunto minucioso de “ordens, de conselhos e de informações” pelas quais devia pautar a sua actuação.

“A instrução de forma clássica – diz Teixeira de Sampaio60 – era uma necessidade das longas distâncias, da dificuldade de comunicações e das demoras que delas resultavam. Previam-se muitas hipóteses, regulava-se o procedimento para cada uma delas”, Mas, “com o rodar dos anos o carácter da instrução modificou-se; foi-se fragmentando, por assim dizer; acabou a matéria que outrora era reunida em instrução por se repartir em despachos sucessivos do Secretário de Estado, acompanhando mais de perto os acontecimentos. Despacho instrutivo, carta instrutiva passou até a ser a designação das instruções de tipo mais moderno61.”

58 Em princípio, cada ofício (e o mesmo se aplica aos despachos) deverá ocupar-se apenas de um assunto ou um “complexo de assuntos” (isto é, de matérias afins ou convergentes). 59 Havia instruções públicas e instruções secretas. 60 L. Teixeira de Sampaio, op. cit., p.39 61 Ibid.

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Em alguns casos, todavia, continuam os embaixadores a receber, quando vão ocupar o seu posto, uma instrução global, abrangendo os assuntos gerais de uma missão permanente; e, depois a seu tempo, lhe são transmitidas instruções especiais respeitantes a negociações ou situações concretas e determinadas. Se, no decurso de uma negociação deste tipo, acontecer que ao embaixador não convenha dar acolhimento ou rejeitar desde logo determinadas propostas, poderá ele invocar a necessidade de, antes de se pronunciar definitivamente, ter de receber novas instrucoes declarando, entretanto, que aceita essas propostas, mas “ad referendum” ou “sub spe rati”, isto é, com carácter provisório, ficando o seu assentimento a depender de ulterior confirmação.

b) na 2ª o número do processo (sem abreviatura “Procº”) c) na 3ª a data (sem Lisboa, e com o mês e o ano abreviados)

Exemplo: EEA 1520 42/FRA/ 2.5 30/5/72”. No remate, os despachos não incluem qualquer fórmula de cortesia. São escritos em papel de grande formato (papel de nota) com margem de 5 cm do lado esquerdo (MODELOS Nº 19, 20 e 21).

Um tipo de despacho menos conhecido é o que o chefe da missão recebe do seu Governo com a incumbência de o ler pessoalmente ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador (ou de dele lhe entregar cópia). Procedem assim os chefes da diplomacia quando não querem deixar ao critério dos seus subordinados a exposição de certos assuntos que entendem deverem ser apresentados, atenta a sua gravidade, em termos de muita precisão, e só nesses; ou quando desejam dar maior relevo e autoridade à comunicação; ou ainda quando as circunstâncias aconselham que esta se faça de maneira indirecta62. “O facto do documento ser dirigido pelo Governo ao seu representante, e não ao outro Governo, permite maior liberdade de expressão, ou referências a matérias que seria melindroso tratar directamente. O uso deste meio é por vezes delicado e nos manuais diplomáticos não faltam exemplos de Ministros dos Estrangeiros terem posto

62 Cfr. L. Teixeira de Sampaio, op. cit., p. 41

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Correspondência particular sobre assuntos oficiais – É tradição largamente seguida recorreremos chefes de missão à troca de correspondência particular sobre assuntos públicos com os respectivos Ministros dos N. Estrangeiros, com os outros chefes de missão do seu, país e até mesmo com os próprios dirigentes da diplomacia loal. Mas só assim procedem, claro está, quando mantêm com os seus correspondentes relações de amizade ou, pelo menos, de bom entendimento. É que, em cartas particulares, as opiniões e pontos de vista sé podem exprimir com bastante maior liberdade e franqueza do que nas notas oficiais, onde, como bem se compreende, nem sempre é possível escrever tudo o que há para dizer e da maneira mais acomodada a uma perfeita clarificação de problemas: nos escritos privados se revela de facto, não raro, o que, nos documentos oficiais, propositadamente se dissimula. Até porque, contrariamente ao que pode acontecer a estes últimos, aqueles não incorrem no risco de virem um dia à luz da publicidade (a não ser com expressa autorização dos autores). (MODELOS Nº 23 e 24).

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III - Cartas credenciais, revocatórias e recredenciais.

Discursos de audiência.

Dá-se o nome de cartas de crença, cartas credenciais ou simplesmente credenciais (MODELOS Nº 25 e 26) aos documentos que acreditam os embaixadores ou ministros junto do país a que são enviados como representantes diplomáticos residentes e dos quais fazem pessoalmente entrega, no momento da chegada, à autoridade suprema do Estado63. Pertenciam outrora ao tipo das chamadas cartas a princípes, seguindo, como estas, quer o formulário em extremo cerimonioso, das cartas de chancelaria, quer o estilo menos solene das cartas de gabinete64. 63 Quando enviado não é embaixador ou ministro, mas simples encarregado de negócios a título permanente, não entrega credenciais ao Chefe do Estado, limitando-se a depositar nas mãos do Ministro dos Negócios Estrangeiros local uma carta de gabinete do seu próprio Ministro. Tratando-se de cônsules, o documento que, de algum modo, corresponde à carta credencial é a carta patente (“lettre de provision “commission consulaire”) (MODELOS Nº 29 e 30). E esta, com efeito, um diploma pelo qual o Estado que envia atesta a qualidade do agente designado, nele se indicando, “como regra geral, o seu nome e apelidos, a sua classe e a sua categoria, a área de jurisdição consular e a sede do posto consular” (Artigo 11º, parág. 1, da Convenção de Viena, sobre Relações Consulares, concluída em 24 de Abril de1963). Poderá, no entanto, ser substituída (se o Estado que recebe com isso concordar) por uma notificaçao contendo as indicações atrás referidas A carta patente é remetida geralmente ao Ministério dos N. Estrangeiros pela missão diplomática do Estado interessado acompanhada de uma nota em que se solicita àquele Ministério o “exequatur” (MODELO Nº 31) para o novo agente, isto é a declaração do Governo receptor de que o aceita para a chefia do posto consular de que se trata. Sem tal autorização, o cônsul designado não poderá ser admitido ao exercício dás suas funções (Artigo 12º da Convenção de Viena de 1963), salvo a título provisório, mediante permissão especial.

O “exequatur” consta normalmente de um documento de certa solenidade assinado pelo Chefe do Estado e pelo Ministro dos N. Estrangeiros, no qual se declara que o agente proposto foi aceite na qualidade de chefe do consulado em referência e que, nessas circunstancias, se lhe confere o livre exercício dos poderes previstos pela legislação local e pelo direito internacional, devendo ser-lhe reconhecidas as prerrogativas e privilégios correspondentes ao cargo e concedidas, pelas autoridades do país recetor todas as facilidades de que venha a carecer no desempenho das suas funções. Mas o “exequatur” pode constar também de uma simples comunicação escrita pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado que recebe a missão diplomática do país solicitante.

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Subscritas pelo chefe do Estado acreditante, nelas se participa a nomeação do

agente, se indica o objecto da sua missão e se especificam as funções que lhe são confiadas65, terminando por uma fórmula em que se pede “ao.soberano, ou chefe do Estado a quem são dirigidas, haja de dar fé e crédito às comunicações oficiais, por escrito ou de viva voz, que lhe forem feitas pelo /agente/ assim acreditado”. “A credencial de um ministro /público/ é sempre acompanhada de uma cópia, que ele deverá logo depois da sua chegada, enviar ao ministro dos negócios estrangeiros, assim como uma cópia do discurso que tem de proferir no acto da audiência que o soberano concede”66.

Em geral, o Governo do Estado acreditador não responde às cartas credenciais, tomando-se como resposta a sua aceitação.

Não interferindo embora na designação dos agentes diplomáticos estrangeiros, os Governos dos Estados acreditadores possuem, todavia, o direito de se recusarem a receber representantes que não considerem do seu agrado (“personae non gratae”). Por isso se consagrou o costume de se não proceder à nomeação de um novo embaixador sem o assentimento prévio do governo do país a que se destina. E daí o chamado pedido de “agrément”67, transmitido, quer pelo embaixador cessante, quer pelo encarrega do de negócios (“ad ínterim”), quer, em alguns casos, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditante por intermédio da missão diplomática do outro país68. O pedido, para se tornar o menos comprometedor possível, verbal ou então feito em nota não assinada, escrita em papel sem timbre, nela se da do sucinta notícia biográfica do candidato. O Governo solicitado tem obrigação de não demorar a resposta, seja esta positiva ou negativa69. Em geral, os Governos, ao denegarem a concessão do “agrément”, não se sentem na obrigação de apontarem as razões de tal conduta (aliás, de acordo com o estabelecido no Artigo 4º da Convenção de Viena). Mas alguns, por vezes, o fazem, designadamente a Inglaterra e os Estados Unidos da América.

64 Cfr. L. Teixeira de Sampaio, op. cit., p.30 65 Cfr. Anuário Diplomático e Consular Português 1885-1890, p. 158. 66 Anuário Diplomático Português 1889-1890, pp. 158-159 67 Cfr. Artigo 4º da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 18 de Abril de 1961. 68“Parfois, pour simplifier le travail des services compétent de l’État accréditaire et par souci de courtoisie, l’État accréditant remet une liste de trois ou quatre personnes parmi lesquelles le gouvernement choisira celle qu’il préfère voir deveni chef de mission de l’État accréditant“ (Ph. Cahier, op. cit., p. 94) 69 Cfr. Vladimir Potiemkine, Histoire de la Diplomatie, Paris, 1947, Vol. III, p. 806

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Não é exigido o “agrément” para os encarregados de negócios provisórios, bastando que a missão indique o seu nome ao Ministério dos Negócios Estrangeiros local; e igualmente dele estão dispensados os restantes membros do pessoal diplomático. Já assim não acontece, porém, com os adidos militares, cuja nomeação só deve ser feita após concordância do Governo onde vão exercer funções70.

Terminada a missão, deve tal facto ser comunicado ao Governo da residência por meio de uma carta revocatória (“lettre de rappel”) (MODELO Nº 27), cujo formulário se aproxima bastante do das cartas credenciais. É entregue ao Chefe do Estado pelo representante diplomático na audiência de despedida ou pelo seu sucessor no momento da apresentação das credenciais. “Se a retirada do ministro /ou embaixador/ tem por origem a sua promoção ou um novo destino que o Governo entende dever dar-lhe, esta circunstância deve ser indicada na revocatória, acrescentando-se que esta resolução não prejudica de maneira alguma o sentimento de amizade e boa harmonia existentes entre os dois /países/”71. Mas se a decisão foi tomada por motivo de mau comportamento do agente, de modo a torná-lo “persona non grata”, não deve o facto mencionar-se na revocatória, invocando-se como razão da partida a sua falta de saúde ou qualquer outra causa não lesiva do seu brio profissional.

À carta revocatória responde geralmente o chefe do Estado acreditador com uma carta recredencial 72endereçada ao chefe do Estado acreditante, na qual, depois de acusar a recepção daquela missiva, tece, em breves palavras o elogio da forma como o agente cessante se desempenhou das funções do seu cargo (acentuando que isso naturalmente lhe conciliaria o seu apreço e aprovação) e pede ao destinatário se digne dar inteiro crédito às afirmações de amizade e de desejo de boa cooperação que o mesmo agente vai incumbido de comunicar-lhe73.

Havendo razões de queixa do Governo da residência para com o agente cessante, nunca elas deverão ser relatadas na recredencial. È ao representante daquele Governo no país do referido agente que competirá a exposição de tais agravos74.

70 Cfr. Vladimir Potiemkine, Histoire de la Diplomatie, Paris, 1947, Vol. III, p.806-809 71 Anuário Diplomático e Consular de 1889-1890, p. 159. 72 As duas expressões (revocatória e recredencial) são a miúdo confundidas e empregadas erradamente como sinónimos. 73 Cfr. Anuário Diplomático Consular de 1889-1890, p. 161 74 Id. P. 159

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Na audiência solene da entrega das credenciais era de praxe outrora o novo embaixador (ou ministro) proferir um discurso de circunstância. Hoje, todavia, já raramente assim se procede, sendo a alocução geralmente substituída por um cumprimento seguido de audiência. No caso de ser pronunciado75, deve o discurso ser muito breve, comportando, em regra, duas partes: na primeira, exprime o enviado os bons sentimentos que animam o chefe do Estado acreditante para com aquele a quem se dirige, não deixando de fazer notar que na própria carta de crença melhor se acham formulados tais sentimentos do que ele, embaixador, poderia fazê-lo. A segunda parte do discurso, precedida às vezes da entrega da revocatória, “consta de protestos de respeito e de dedicação para com o /Chefe do Estado/ a quem se fala; da satisfação pela honra de ter sido escolhido para a missão; do desejo de con- falta pagina ?

são de boa regra, ainda mesmo para homens como Chateaubriand., e poucos eles são”76.

75 “Dans ce cas, le texte du discours du représentant diplomatique est remis par ses soins, à la veille de la cérémonie, au chef de l’État. Mais la réponse de celui-ci n’est jamais communiquée à l’avance a l’ambassadeur” (V. Potiemkine op. cit., p. 808)

76 Cfr. Teixeira de Sampaio, op. cit., p.31

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IV – Tratados. Plenos poderes. Cartas de ratificação e de adesão.

Terminologia – Um tratado segundo a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 23 de Maio de l969 (Artº. 1º, nº 1, alínea a) “é um acordo internacional celebrado por escrito entre Estados77 e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que sejas sua denominação específica”: tratado, convenção, carta, constituição, acordo, ajuste (“arrangement”), declaração, protocolo, troca de notas, concordata, acto, “modus vivendi”, compromisso de arbitragem, reversal, pacto, etc.78.

Terá cada uma das denominações enunciadas um “significado técnico preciso”? No seu Curso de Direito Internacional Público, A. Gonçalves Pereira responde negativamente, advertindo, porém, que se podem “assinalar tendências para em determinados casos usar uma designação de preferência a outra. Assim os termos carta e constituição são utilizados para designar tratados que instituem organizações internacionais; e o termo convenção é preferido para referir um acordo em que urna das partes seja urna organização internacional”79.

Como quer que seja, tratado e convenção são as designações que geralmente se aplicam aos compromissos internacionais mais solenes; e, neste particular, o primeiro desses termos ocupa ainda um lugar de prevalência em relação ao segundo. “It is not, however, possible to frame definitions of the two terms in such a way as to indicate any real or substantial distinction between them”80. Todavia, o termo convenção utiliza-se mais para os acordos de tipo “law making”81, respeitando muitas vezes ai objectos de carácter económico: propriedade industrial, poluição do

77 Autores há que, à palavra Estados, preferem expressões “sujeitos de direito internacional”, na verdade mais completa, pois outras entidades existem, além dos Estados, com capacidade para celebrar tratados: as organizações internacionais, por exemplo. (Cfr. Sir H. Waldock, General Course on Public International Law, in “Recueil dês cours” – Académie International de la Haye), T. 106, 1962, p. 73 78 “One writer (D. P. Myers) has noticed no less than 38 different names given to international agreements” (Ibid. p. 71) 78 “One writer (D. P. Myers) has noticed no less than 38 different names given to international agreements” (Ibid. p. 71) 79 André Gonçalves Pereira, Curso de Direito Internacional Público, Lisboa, 1964, pp. 115-116 80 Satow, op. cit., p. 326 81 Cfr. Ibid.

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mar pelos óleos, sanidade, agricultura, trânsito, aviação civil, telecomunicações, correios, exposições internacionais, tarifas aduaneiras, etc.82

Acordo – O termo acordo, em sentido restrito (pois em sentido lato significa o mesmo que tratado), é um compromisso internacional obrigatório de natureza menos formal que o tratado ou a convenção, embora mais solene do que o ajuste (“arrangement”)83.“L’Accord – diz Genet – tient le milieu, du pointde vue de l’importance hiérarchique, entre la Convention et l’Arrangement”84.É mais usado nas relações bilaterais do que nas multilaterais e substitui a convenção quando o objecto das negociações e, as circunstâncias aconselham o recurso a um instrumento diplomático menos solene85 (de um ponto de vista propriamente protocolar, pois juridicamente é igual o valor vinculativo dos dois actos).

Auste (“arrangement”) – O ajuste, instrumento diplomático de uso relativamente pouco frequente, ocupa um lugar bastante baixo na hierarquia da documentação diplomática e a matéria que constitui o seu objecto é, por via de regra, de importância diminuta. Como escreve Genet, “il intervient pour aménager des relations internationales d’un ordre secondaire”. Por outro lado, caracterizam-se também os ajustes pelo seu carácter acessório em relação a tratados ou convenções principais, constituindo como que anexos a estes instrumentos.

Declaração – São várias as acepções em que, no domínio das relações internacionais, a palavra declaração pode ser tomada.

Por vezes, é um acto apenso a um tratado, desempenhando meramente as funções de anexo. Em outras ocasiões, a declaração constitui um instrumento diplomático utilizado para consignar determinadas interpretações ou explicações das cláusulas de um tratado principal. Neste caso, a sua função é semelhante à do protocolo final86, Pode ser também um documento redigido após uma reunião de vários Governos e no qual estes “proclamam o seu acordo acerca de certos pontos das suas políticas externas, definindo uma regra de conduta comum”87; ou, finalmente, um documento em que um ou vários Governos dão notícia de um acontecimento ou levam

82 Cfr. Ibid. 83 Cfr. Raoul Genet, Traité de Diplomatie et de Droit Diplomatique, Paris, 1932, Tomo III, p. 485 84 Ibid. 85Ver adiante (pág. 47) a distinção também feita entre tratado e acordos consoante estiverem ou não sujeitos a ratificação. 86 Cfr. R. Gente, op. cit., pp. 509-510 87 J. M. da Silva Cunha, Manual de Direito Internacional Público, Lisboa, 1957, p. 90

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ao conhecimento de terceiros Estados uma dada situação ou decisão88.

Protocolo – O protocolo de urna conferência ou congresso é, no fundo, a acta onde se regista tudo o que de importante ocorreu nessas reuniões. Em tal sentido, os franceses utilizam indiferentemente esta palavra’ (“protocole”) ou “procès verbal”89 .

Como compromisso internacional, o termo pode tomar diferentes significações. Emprega-se, por exemplo, para designar um acto que, à semelhança de um tratado, de uma convenção ou de um acordo, cria uma situação internacional nova por via convencional, só com a diferença de ser um documento menos solene do que aqueles90. Difícil se torna, no entanto, localizar hierarquicamente os protocolos e, quando se trata, perante determinados casos concretos, de optar, por esta ou outras formas de vinculação internacional, só a prática diplomática poderá ser então de algum socorro.

Intitula-se também protocolo, neste caso protocolo final, o instrumento diplomático elaborado na mesma data da celebração de um tratado com o fim de fornecer sobre o mesmo determinadas explicações ou elementos complementares91. Havendo novas estipulações a acrescentar, redige-se então um protocolo adicional92.

Sob outro aspeto, dá-se também o nome de protocolo, ao documento comprovativo da troca ou depósito das cartas de ratificação; ao instrumento pelo qual se repõe em vigor ou se prorroga a duração de um acto internacional; e ao que dois Estados assinam com o fim de submeterem a arbitragem uma disputa ou litígio que os opõe: é o chamado protocolo de arbitragem, designação empregada com significado idêntico ao de compromisso de arbitragem93.

88 Cfr. R. Genet, Ibid. 89 Cfr. R. Genet, op. cit., p. 530 90 Cfr. Ibid. 91 Cfr. Ibid. 92 Cfr. Ibid. Às vezes diz-se, não protocolo adicional, mas simplesmente artigos adicionais. 93 Cfr. R. Genet, op. cit., p. 530

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Trocas de notas – Muitas vezes, dois Estados vinculam a sua conduta recíproca em determinados domínios de interesse comum por simples troca de notas entre o Ministério dos N. Estrangeiros do país da residência e o chefe da missão diplomática do outro país. E isto é quanto basta para que o acordo se considere perfeito, sem necessidade de ratificação, pois, um caso típico de acordo em forma simplificada.

Quando as duas notas não levam a mesma data, conta como data do acordo a mais recente94.

Concordata – A Concordata é um acordo entre o Papa e um Chefe do Estado visando salvaguardar os interesses da Igreja Católica nesse Estado e estabelecer as normas que devem reger a suas ralações no domínio da vida religiosa95.

Para alguns autores – diz Fauchille96 –, as concordatas não possuem o carácter jurídico dos tratados internacionais. Constituem simples actos públicos de soberania interna, levados a termo de acordo com a Santa S4. Para outios, porém, elas são efectivamente tratados internacionais, ainda que de uma categoria especial: assemelham-se aos tratados pela forma, mas divergem deles quanto à substância, porque o seu objecto não é matéria de direito internacional, mas de direito público interno97.

Acto final – O acto final é, geralmente, a exposição sumária e autêntica dos resultados de uma conferência internacional, o registo do que se concluiu no final das deliberações, isto é, dos compromissos efectivamente assumidos. Baste o exemplo do acto final da Conferência de Locarno de 1925, onde são nomeados os projectos de tratados e convenções a que as partes intervenientes “ont donné leur agrément”, declarando-se depois que esses actos “dès à présent paragraphes ne varietur, porteront la date de ce jour, les représentants des Parties intéressés convenant de se rencontrer à Londres... pour procéder... à la formalité de la signature des actes qui les concernent”98. Assim a assinatura deste tipo de instrumento diplomático não arrasta consigo a aceitação dos tratados neles enumerados, os quais exigem assinatura separada.

94 Satow, op. cit., p. 341 95 Id. p. 343 96 Paul Fauchille, Traité de Droit International Public, Paris, 1922, Tomo I (3ª parte); cit. por Satow, ibid. 97 Questão técnica bastante intrincada, remetemos quem desejar aprofundá-la para as obras de Fauchille e de Genet atrás citadas. 98 Cit. por Genet, op. cit,. p. 479

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Mas, por vezes, o acto final tem-se visto transformado num autêntico “procès-verbal”, “incluant, non plus seulement les textes élaborés et unanimement adoptés par la réunion diplomatique, mais encore une suite invraisemblable de pseudo-décisions de tous ordres, velléités contactuelles bien plus que décisions communes, lesquelles allaient faire de l’Acte final une manière de pot-pourri, un protocole générale des séances de la conférence“99.

De qualquer modo, não há confusão possível entre acto final e protocolo final, que, como vimos, diz respeito, não a uma conferência, mas a um tratado, desempenhando, em relação a este, uma função supletiva e complementar.

Acto geral – Também importa não confundir o acto final com o acto geral, pois este, ao invés do primeiro, não tem por fim exprimir, em súmula, os resultados de urna determinada reunião internacional, constituindo como que o balanço das decisões tomadas. O acto geral, como nota Genet100, é mais “um símbolo de esperança do que a marca de uma aquisição diplomática”. A esperança de que as proposições nele expressas venham a ter aceitação “geral”, isto é, a adesão de todos os Estados. É nesse sentido e esperança que a palavra “geral” á está e não para significar meramente a “eneralidade concordante dos sentimentos internacionais” que ditaram a elaboração do acto101.

“Modus vivendi” – Quando a dois países convém assentar num compromisso de índole transitória sobre determinada matéria a respeito da qual a precariedade das respectivas relações não aconselha o estabelecimento de obrigações estáveis e de carácter absoluto e definitivo, recorrem a um tipo de forma contratual denominada “modus vivendi”. A Santa Sé, por exemplo, frequentemente tem lançado mão deste tipo de acordos nas suas relações com países onde a Igreja Católica não goza de situação particularmente favorável e com os quais seria, por conseguinte, difícil a celebração de concordatas102.

No caso de a situação crida pelo modus vivendi se revelar satisfatória para ambas as partes, pode ele ser substituído por um compromisso de carácter permanente.

O modus vivendi é em geral, estabelecido por meio de troca de notas.

99 Id., p. 478 100 R. Genet, op. cit., pp. 482-483 101 Cfr. Ibid. 102 Cfr. Id., p.521

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Compromisso de arbitragem – O termo compromisso de arbitragem (“compromis d’arbitrage”, “special agreement”) pode definir-se como um acordo entre Estados (dois geralmente), pelo qual é confiada a uma entidade arbitral a solução de um diferendo ou litígio que entre eles se suscitou. Assim, o Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça expressamente estipula que “as questões serão submetidas ao Tribunal, conforme o caso, por notificação do acordo especial /compromisso arbitral/ ou por participação escrita dirigida ao Escrivão”. E no seu projecto de Convenção sobre Arbitragem (1953), a Comissão de Direito Internacional da O.N.U. recomenda que as partes interessadas em recorrer à arbitragem celebrem entre si um compromisso em que se particularize: a) o objecto do caso em disputa; b) a forma de constituição do tribunal e o numero dos árbitros; c) o lugar onde o tribunal deverá reunir-se.

O compromisso arbitral é, deste modo, na maioria dos casos, condição necessária para a abertura de qualquer instância arbitral103.

Notas reversais – São declarações pelas quais um Estado reconhece que certas concessões especiais de outro Estado não anulam direitos e prerrogativas anteriores de ambos; ou que estipulam concessões recíprocas dos Estados104.

Pacto – O pacto, instrumento diplomático relativamente raro, distingue-se dos tratados e das convenções pela sua feição de algum modo idealista e até, para usar uma expressão de Genet, vagamente “mística”. É um acordo em que se nota um fervor no comprometimento dos Estados pouco frequente nas relações internacionais. “C’est un traité environé d’une atmosphère spécial, faite en partie d’un sentiment mystique et d’une intention de garantie... Le pacte baigne dans un océan de sentiments supraterrestres, résolument placés au-dessus des habitudes diplomatiques interétatiques, et appartenant, par leur transcendence voulue ou espérée, aux promesses séraphiques. L’association étroite d’un sentiment mystique avec le besoin d’une garantie composent ce complexe intellectuel dénommé: Pacte”’105.

Classificação – Das muitas classificações propostas para os tratados, a mais simples é a que os divide, consoante o número das partes contratantes, em multilaterais (ou plurilaterais ou colectivos), quando celebrados entre mais de duas partes, e bilaterais (ou particulares), quando celebrados apenas entre duas partes. Os primeiros podem ser abertos ou fechados, conforme admitem ou não que a eles adiram Estados inicialmente não participantes. Os segundos são sempre fechados, não consentindo a adesão de terceiros Estados ou de quaisquer organizações internacionais.

103 Cfr. R Ganet, op., cit., p. 498 104 Cfr.Calvo, Dictionaire de Droit International, vol. 2º, p. 175 ; E. Satow, op. cit., p. 353 105 R. Genet, op. cit., pp. 523-524

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Todavia, a classificação de maior interesse para o nosso propósito é a que distingue entre tratados solenes e acordos em forma simplificada. A diferença fundamental está em que os primeiros, para entrarem em vigor, exigem sempre ratificação, ao passo que os últimos a dispensam, considerando-se perfeitos com a assinatura. “Esta distinção é muito clara na terminologia constitucional norte-americana, onde os tratados solenes têm a designação de treaties, e os acordos em forma simplificada, a de executive agreements”106, distinção, aliás, também acolhida pela actual terminologia constitucional portuguesa107.

O recurso, cada vez mais frequente, à celebração de acordos em forma simplificada explica-o a necessidade, tantas vezes sentida pelos Governos, de darem resolução urgente aos assuntos que constituem objecto desses compromissos internacionais, sendo certo que tal urgência ficaria fatalmente prejudicada se houvesse que os submeter às formalidades da ratificação, sempre complexas e morosas, dependentes como estão, na ordem interna, da aprovação dos órgãos legislativos e da intervenção do Chefe do Estado. Envolvendo apenas o poder executivo, os acordos em forma simplificada permitem aos Governos uma presteza de actuação tida, como é natural, em elevado apreço na condução da política externa das nações. Mas há que considerar (e considerar muito) que o sistema enferma também de um grave defeito, qual seja o de permitir aos Governos eximirem-se, neste particular, fiscalização sempre necessária dos parlamentos, como quer que seja o meio mais seguro de os subtrair à perigosa tentação da diplomacia secreta.

Processo de formação dos tratados solenes – A elaboração dos tratados, na sua forma clássica, passa por quatro fases: negociação, redacção, assinatura e ratificação (ou acessão, aprovação ou adesão). Processo complexo, não deve imputar-se tal complexidade a mero formalismo jurídico, mas à extrema importância do acto.

Negociação – A negociação é conduzida pelos plenipotenciários designados pelos Governos intervenientes e em quem delegam, para o efeito, os necessários poderes, consignados em documento especial – a chamada carta de plenos poderes (MODELO N 32). “Para que um agente diplomático108 – lê-se no já mencionado anuário de 1889 – possa entabular a negociação de um tratado ou convenção de qualquer natureza, é necessário que esteja munido de um pleno poder no qual se exponha o objecto da negociação e a extensão dos poderes de que fica investido”.

106 A. Gonçalves Pereira, op. cit., p. 119 107 V. Constituição da República Portuguesa, artº. 138º, 148º e 200º. 108 Restrição hoje sem sentido, pois as negociações podem ser confiadas também – e são-nos cada vez mais frequentemente – a pessoas estranhas à carreira diplomática.

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A Convenção de Viena de 1969 define plenos poderes (em termos amplos) como “um documento expedido pela autoridade competente de um Estado e pelo qual são designadas uma ou várias pessoas para representar o Estado na negociação, adopção ou autenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento do Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer outro acto relativo a um tratado”.

A verificação da validade dos plenos poderes era outrora operação rigorosíssima, efectuada, não raro, em ambiente de desconfiança inamistosa. Hoje em dia, porém, não passa geralmente de mera formalidade sem grande relevância prática. E há mesmo personalidades que, em virtude das suas funções, são actualmente consideradas, em determinadas circunstâncias, como representantes do seu Estado sem necessidade de apresentação de plenos poderes. Estão nestas condições, segundo a Convenção de Viena de 1969:

“a) os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros dos Negócios Estrangeiros, para os actos relativos à conclusão de um tratado;

b) os Chefes de Missão diplomática, para a adopção do texto de um tratado entre o Estado acreditante e o Estado acreditado;

c) os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência ou organização internacional ou um dos seus órgãos, para a adopção do texto de um tratado em tal conferência organização ou órgão” (Artº. 79)

As cartas de plenos poderes, em Portugal, são documentos emanados do Chefe do Estado, sem menção de destinatário, escritas à máquina em papel especial do formato das cartas patentes e comportam, em regra, os seguintes elementos:

a) Nome e títulos do Chefe do Estado que concede a autorização; b) Nomes e títulos dos plenipotenciários; c) Objecto da negociação; d) Indicação de que os plenipotenciários estão autorizados a comprometer no acto o Governo do seu país; e) Compromisso, por parte do Chefe do Estado, em nome do seu Governo, de dar execução ao que for acordado e assinado pelos plenipotenciários: f) Assinatura do Chefe do Estado, com “referenda” do Ministro dos Negócios Estrangeiros; g) Selo grande das armas da República (em obreia).

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Por vezes, a carta consigna a advertência de a assinatura ser feita ad referendum. “ On releve dans tous les traités de diplomatie – observa, a este respeito, J. Serres – la contradictions qui existe dans les termes traditionnels de pleins pouvoirs. D’un côté, en effet, le Chef de l’État délègue au négociateur tout qualité pour engager l’État, et promet formellement d’exécuter ce que son plénipotentiaire aura signé. Dans la phrase suivante, il réserve son droit de ratification.

Falta página ?

of the original retained by it”109

b) Tratados multilaterais – Os tratados multilaterais podem ser redigidos numa só língua ou em várias (às vezes em tantas quantas as das partes contratantes). No caso de haver textos em mais de uma língua, o próprio tratado determinará quais deles farão fé e serão tidos como únicos autênticos.

Assinatura – Concluída a redacção, está o tratado pronto para receber as assinaturas dos plenipotenciários, as quais, embora não vinculando os Estados de maneira definitiva (salvo em determinados casos), arrastam desde logo consigo importantes consequências de ordem jurídica. Assim, a assinatura “a) significa o acordo dos plenipotenciários quanto ao texto, embora não ainda o dos Estados; b) produz para o Estado signatário o direito de ratificação; c) faz surgir o dever para os Estados signatários de se absterem de actos que tornem impossível a ratificação; d) autentica o texto, que fica definitivamente fixado; e) marca a data e o local da celebração do tratado, uma vez que a ratificação vai ser feita posteriormente e em datas diferentes por cada um dos Estados”110.

Pode acontecer, todavia, que os plenos poderes não dêm aos plenipotenciários a faculdade de assinar; ou que, sendo o tratado de natureza estritamente técnica e redigido por peritos, não caiba a estes apor a sua assinatura no texto fixado. Quando assim acontece, o acto é apenas rubricado, ficando a assinatura diferida para mais tarde, embora, no primeiro caso, os plenipotenciários possam, não rubricar, mas assinar, ad referendum. O texto só será definitivamente assinado depois de confirmada a sua

109 E. Satow, p. cit., p. 330 110A. Gonçalves Pereira, op. cit., pp. 123 - 124

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Parte de cima da página cortada nesse bocado de texto não legível está a nota de rodapé 111! 111se confunde com a ratificação”112.

Como acentuámos, a assinatura, na maioria dos casos, não vincula definitivamente o Estado. Mas, às vezes, o consentimento das partes em obrigar-se por um tratado pode manifestar-se por este meio. Tal acontece, segundo a Convenção de Viena de 1969 (Artigo 12º):

a) quando o tratado dispõe que a assinatura terá esse efeito; b) quando se estabeleça, de outra forma, que os Estados Negociadores acordaram em dar à assinatura esse efeito; ou c) quando a intenção do Estado interessado em dar esse efeito à assinatura decorra dos plenos poderes do seu representante ou tenha sido manifestada durante a negociação.

Ratificação – Fora dos casos apontados, todavia, a vinculação só se torna completa e o texto só adquire força obrigatória com a ratificação, que é o acto pelo qual “a autoridade competente de um Estado aprova o ajuste internacional, celebrado em seu nome pelos plenipotenciários que nomeou e promete fazê-lo cumprir”113.

Observe-se, no entanto, que se trata de um acto livre, “isto é, não há para o Estado dever jurídico de ratificar um tratado assinado pelos seus plenipotenciários. Os esforços da doutrina e da jurisprudência para encontrar um dever jurídico de ratificação não podem considerar-se coroados de êxito. Quando muito pode dizer-se que se entende valer aí o princípio geral da boa fé, segundo o qual os Estados não deveriam assinar convenções que não estão preparados para ratificar”114.

Os órgãos internos competentes para ratificar tratados variam de Estado para Estado, conforme o que a tal respeito determinam as respectivas constituições políticas. Outrora, em certos regimes de monarquia absoluta ou de governo totalitário (caso do III Reich, por exemplo), em que o Chefe do Estado detinha praticamente todos os poderes em matéria de relações internacionais, a ratificação era da competência exclusiva do executivo. 111 Cfr. A. R. Queiró, op. cit., p. 80; e A. Gonçalves Pereira, op. cit., p. 124 112 A. Gonçalves Pereira, ibid. 113 R. Ferreira de Melo, op. cit., p. 54 114 A. Gonçalves Pereira, op. cit., p. 126. “ Desta discricionaridade da ratificação duas consequências principais resultam: … a possibilidade de ratificação tardias, intervindo muitos anos depois da assinatura do tratado… e a possibilidade de recusa da ratificação (Ibid.)

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Em outros sistemas políticos, é ao órgão legislativo – e só a ele – que pertence essa competência: tal se verifica, por exemplo, na U.R.S.S., onde a faculdade de ratificar tratados cabe inteiramente, segundo a Constituição de 1936, ao Presidium do Conselho Supremo da União. Na maioria dos países, porém, a competência para ratificar está partilhada entre os poderes legislativo e executivo. Formalmente, o acto da ratificação é praticado pelo Chefe do Estado, mas este não o pode fazer sem prévio assentimento da representação nacional. A aprovação parlamentar de um tratado corresponde, pois, a uma autorização dada ao Chefe do Estado para que possa proceder à sua ratificação. Uma restrição há, porém, aqui a fazer, pois se, em alguns países, a exigência da autorização parlamentar se estende a todos os tratados, em outros países, essa exigência apenas é requerida para os actos que envolvem certas e determinadas matérias previstas na constituição. A actual Constituição política portuguesa dispõe, no seu artigo 138º, competir ao Presidente da República a ratificação dos tratados internacionais, “depois de devidamente aprovados”, e aponta como órgãos credenciados para conceder tal aprovação, consoante a matéria dos tratados, o Conselho da Revolução, a Assembleia da República e o Governo. Ao Conselho da Revolução compete “aprovar os tratados internacionais que respeitem a assuntos militares” (Artigo l48º, parág. 1, alínea b)). À Assembleia da República cabe “aprovar os tratados que versem matéria da sua competência legislativa exclusiva, os tratados de participação de Portugal em organizações internacionais, os tratados de amizade, de paz, de defesa e de rectificação de fronteiras e ainda quaisquer outros que o Governo entenda submeter-lhe” (Artº. 164º, alínea j)). Finalmente, pertence às prerrogativas do Governo, no exercício de funções políticas, “aprovar os acordos internacionais, bem como os tratados cuja aprovação não seja da competência do Conselho da Revolução ou da Assembleia da República ou que a estas não tenham sido submetidos” (Artº. 200º, alínea c)).

O acto da aprovação manifesta-se por meio de uma “resolução” (caso do Conselho da Revolução e da Assembleia da República)115 ou de um “decreto” sem promulgação (se a aprovação cabe ao Governo), juntamente com os quais o texto do tratado é publicado no Diário da República116. Só depois, “visto, examinado e considerado tudo quanto nele se contém”, o Chefe do Estado assina e emite a respectiva Carta de Ratificação, pela qual, segundo a terminologia do estilo, o compromisso internacional de que se trata é “confirmado e ratificado, assim no todo

115 Que os actos de aprovação de tratados internacionais pela Assembleia da República devem revestir a forma de resolução é o que parece concluir-se da redacção do nº 5 do Artº. 169º da Constituição: “As resoluções, salvo as de aprovação de tratados internacionais, são publicadas independentemente de promulgação”. Importa ter em conta, todavia, que o nº 2 do mesmo artigo diz revestirem a forma de leis os actos previstos nas alíneas b) a j) do artigo 164º, entre os quais se contam precisamente determinados tipos de tratados internacionais. 116 A falta de publicidade (segundo o nº 4 do Artº. 122º da constituição) implica a inexistência jurídica do acto.

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como em cada uma das suas cláusulas e estipulações, e dado por firme e válido para produzir os seus efeitos e ser inviolavelmente cumprido e observado”

As cartas de ratificação portuguesas são impressas em papel de muito boa qualidade, medindo 375x255mm. A mancha do texto tem a enquadrá-la uma cercadura ornamentada a verde e vermelho; no final, as assinaturas do Presidente da República., à direita, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, à esquerda e um pouco abaixo (referenda), sobre as quais é aposto o selo grande (em branco) das armas da República.

Para resguardo destes documentos solenes, utilizam-se capas especialmente preparadas para o efeito, revestidas a couro e exibindo, na face externa de cada pasta, uma bordadura a ouro e, ao centro, o escudo nacional, também gravado a ouro.

Antigamente, os instrumentos de ratificação ostentavam, muitas vezes, imponentes selos pendentes de cera, protegidos por caixas metálicas finamente cinzeladas.

A redação das cartas de ratificação portuguesas não tem obedecido a cânones rigorosamente uniformes. A fórmula mais usual todavia, é a que se reproduz adiante, no modelo nº 34. Em princípio, o texto do tratado deveria ser incorporado na carta (ou, ao menos, publicado em anexo a esta), mas modernamente muitas vezes se omite.

Troca e depósito das cartas de ratificação – Nos tratados bilaterais, a emissão pelas duas partes contratantes dos respectivos instrumentos; de ratificação é seguida da sua troca, meio protocolar a que os Estados recorrem para mutuamente se darem conhecimento da sua vinculação definitiva ao tratado. No dia e local aprazado, os plenipotenciários designados para o efeito reúnem-se munidos dos competentes plenos poderes (se estes forem exigidos) e, depois de verificarem que ambas as cartas de ratificação se acham em boa e devida forma, procedem à sua troca, consignando o ocorrido em acta ou protocolo (MODELOS Nº 36 e 37). Este documento, redigido em dois exemplares (originais), cada um em sua língua, se as duas foram usadas no tratado, é assinado e selado pelos plenipotenciários, que seguidamente procedem também à sua permuta.

Nos tratados multilaterais, não há troca, mas depósito dos instrumentos de ratificação nos arquivos do Estado117 para esse efeito designado (geralmente aquele onde o tratado foi concluído). E também neste caso se redige uma acta ou protocolo (MODELO Nº 38) comprovativo do cumprimento de tal formalidade. Tanto a troca como o depósito das cartas de ratificação são condição indispensável para que os tratados se tornem obrigatórios relativamente às partes contratantes.

117 Ou da Organização Internacional sob cuja égide foi celebrada.

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Aceitação, aprovação e adesão – Além da assinatura (nas condições restritas atrás apontadas) e da ratificação, os Estados podem ainda manifestar o seu consentimento em obrigar-se por um tratado recorrendo aos mecanismos da aceitação, da aprovação e da adesão118. Nos termos do nº 2 do artigo 14 da Convenção de Viena de 1969, á em condições análogas às aplicáveis à ratificação que um Estado manifesta a vontade de se vincular a um tratado por meio da aceitação ou da aprovação.

Quanto à adesão, esse consentimento manifesta-se: “a) quando o tratado assim disponha expressamente; b) quando por outra forma se estabeleça que os Estados negociadores convencionaram que este consentimento pode ser manifestado por adesão; ou c) quando todas as partes convencionarem posteriormente que este consentimento pode ser manifestado por adesão”119.

O aspecto material e o formulário das cartas de adesão portuguesas (MODELO Nº 35) são idênticos aos das cartas de ratificação.

118 Há autores que identificam aceitação e adesão, mas a Convenção de Viena de 1969 apresenta-se como figuras distintas e delas distingue também a aprovação. 119 Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, artº. 15.

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V – Língua e estilo da correspondência diplomática.

Línguas diplomáticas – Quando, no século V, se deu a queda do Império Romano do Ocidente, o latim, que fora até então, a despeito das diferenças idiomáticas regionais, a língua comum de toda a România, começou, uma vez perdida a força aglutinadora que a coesão política imperial lhe emprestava, a ser substituído lentamente, na Europa, pelas línguas nacionais dos vários remos surgidos com as invasões bárbaras. Todavia, ele logrou manter-se ainda durante largos séculos, ao longo da Idade Média, como idioma quase exclusivo da religião, da administração pública e da justiça; e como veículo universal da cultura, O que se compreende até por ter sido, praticamente, em todo o período medieval anterior ao século XIII, o único idioma escrito, já que as novas línguas (novilatinas e germânicas) não as considerava por então a gente douta merecedoras de transcrição ao pergaminho ou ao papel. E assim foi naturalmente o latim, nesses tempos, a língua por excelência das negociações diplomáticas, pelo menos quando as partes não conseguiam entender-se mutuamente nas respectivas falas nacionais120; e mesmo quando tal entendimento era possível, ao latim se recorria sempre na redacção dos tratados resultantes dessas negociações.

A partir do século XIII, porém, à medida que os idiomas nacionais iam tomando forma literária e recebendo aceitação oficial121, o predomínio da língua do Lácio entrou a declinar na administração pública, começando cada vez com maior frequência a ceder o passo ao francês no domínio das relações internacionais (conquanto o latim continuasse sempre a usar-se, sobretudo na Leitura dos instrumentos diplomáticos mais solenes).

Mas, como quer que seja, o prestígio do francês foi sempre em crescimento, vindo a atingir o seu apogeu nos séculos XVII e XVIII. Entre as razões justificativas deste predomínio primou certamente a do poderio e da hegemonia política e cultural da França durante largos períodos; mas porventura para ele o não menos terão contribuído as próprias qualidades da língua. De facto, segundo o testemunho insuspeito de um inglês, Sir Harold Nicolson, “... the French language possesses qualities which entitle it to claim precedence over other for all purposes of diplomatic intercourse. It is impossible to use French correctly without being obliged to place one’s ideas in the proper order, to develop them in a logical sequence, and to use words of almost geometrical accuracy. If precision is one of the major virtues of diplomacy, it may be regretted that we are discarding as our medium of negotiation one of the most precise languages ever invented by the mind of man”122.

120 Cfr. E. Satow, op. cit., p. 57 121 A língua portuguesa principiou a empregar-se nos documentos públicos no reinado de D. Afonso III (J. Pedro Ribeiro, Dissertações Cronológicas e Críticas, Lisboa, 1810, Tomo I, p. 190) 122 Sir Harold Nicolson, Diplomacy, Londres, 1965, p. 226

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Seria a partir do final da Guerra de 1914-1918 que o francês entraria a perder o

seu monopólio como língua internacional, principiando a ceder terreno perante o inglês, por influência sobretudo dos Estados Unidos da América, país, como é natural pouco sensível às tradições diplomáticas europeias. E, assim, já o Tratado de Versailles nos aparece redigido nessas duas línguas.

O Regulamento da Sociedade das Nações, de 30 de Novembro de 1919, estipulava que este organismo no teria língua oficial, mas que empregaria, no entanto, duas línguas usuais: o francês e o inglês. Sem embargo, cada Estado membro poderia usar a sua própria língua, sob condição de ela ser traduzida numa das línguas usuais123.

Mas, até ao termo da 2 Guerra Mundial, a aceitação do inglês como língua auxiliar da diplomacia não impediu que o francês continuasse também a desfrutar desse privilégio: o que aconteceu é que ambos os idiomas passaram a usar-se, neste domínio, em pé de igualdade. Tudo se vai modificar, porém, depois daquela Guerra, momento a partir do qual se acentuará cada vez mais a preferência dada ao inglês nas conversações diplomáticas, especialmente nos debates travados nas grandes assembleias e organizações internacionais.

Todavia, na Organização das Nações Unidas, conquanto o inglês se afirme como o idioma mais utilizado, ele é apenas um dos cinco oficialmente adoptados, sendo os outros o árabe, o chinês, o espanhol, o francês e o russo.

No âmbito das relações bilaterais, não há regras uniformes quanto às línguas a usar na comunicação entre as missões diplomáticas e os Governos dos Estados acreditadores. Cahier dá algumas indicações a este respeito, mas elas não são de modo algum de aplicação rígida:

“1. Se o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador se dirige às missões diplomáticas estrangeiras numa língua diplomática tradicional (francês ou inglês), que não é a língua nacional, a missão diplomática deverá responder na mesma língua;

2. Se o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado acreditador emprega a sua própria língua, sendo esta uma das línguas diplomáticas tradicionais (por exemplo, na Bélgica, o francês), a missão diplomática deverá dirigir-se ao Ministro na mesma língua;

3, Se os Estados têm uma língua comum, por exemplo a missão diplomática da Argentina em Madrid, é evidente que as comunicações se farão na língua comum;

123 Cfr. Dictionnaire Diplomatique (Académie Diplomatique Internationale), Paris, s.d., vol. I, pp. 1208-1209

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4. Se o Ministro dos Negócios Estrangeiros se serve da sua língua nacional e esta não é uma língua diplomática tradicional, então a missão diplomática pode exprimir-se na sua língua nacional. Todavia, por motivos: de ordem prática (desejo de não demorar as comunicações, como acontece quando se tem de recorrer a um tradutor, receio de possíveis erros, cortesia para com o Estado acreditador), a missão diplomática pode exprimir-se numa língua diplomática tradicional, ou juntar ao texto original uma tradução nesta língua”124.

Quanto à diplomacia portuguesa, as práticas seguidas, neste particular, pelas nossas missões variam muitíssimo de país para país, faltando-nos, de momento, elementos que nos permitam dar relação de todas elas. Esperamos:, no entanto, fazê-lo, em suplemento a este trabalho, quando acabarmos de reunir as informações que a tal respeito solicitámos.

Brevíssimas considerações sobre o estilo da correspondência diplomática epistolar – Embora o estilo da linguagem a adoptar nas comunicações’ diplomáticas deva variar consoante o seu tipo e finalidade há, todavia, certos requisitos de ordem geral de que não pode prescindir, por lhe serem essenciais, tais como a clareza (incluindo a ordem, a simplicidade e a propriedade e precisão), a brevidade e conciso, a pureza e correcção e, finalmente, o respeito pelas regras da conveniência e do decoro.

Clareza – Exigindo a clareza do discurso, não só predicados de ordem vocabular e gramatical, mas ainda escrupuloso respeito pela lógica, a primeira condição para a conseguir é a de que ao espírito de quem escreve se apresente bem nítido e demarcado o objectivo a que se quer chegar, pois disso dependerá o bom ordenamento de toda a composição e a adopção, em cada caso, dos meios estilísticos mais ajustados às circunstâncias. “Tendo-se estabelecido o fim – diz Meisel, citado por Figanière125 –, cumpre que tudo se reporte a ele, e que para ele nos dirijamos por uma’ marcha constante e progressiva, sem nos distrairmos com intuitos secundários, e sem querermos abranger o que for de sobejo. Nada debilita tanto um escrito, pelo cunho que lhe dá, como ser vago e indeterminado o objecto a que se dirige. Os meios, ao divergirem, enfraquecem ou assentam em falso; mas dão-se mutuamente apoio quando convergem para o mesmo ponto”.

Depois, há que procurar atingir esse objectivo pela explanação perfeitamente ordenada das ideias e dos raciocínios, segundo as relações dialécticas que os ligam, e nunca sobrepondo o acessório ao essencial, de modo que a exposição resulte transparente e a argumentação perfeitamente sólida, capaz de resistir a qualquer refutação ou crítica. O que só se consegue, como é notório, pelo estudo prévio e a meditação aprofundada das matérias a tratar, de tal forma que o espírito

124 Ph. Cahier, op. cit., pp.161-162. 125 Visconde de Figanière, op. cit., pp. 75-76.

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delas alcance o mais perfeito conhecimento possível. Só estando o assunto bem claramente compreendido pelo próprio autor, este poder expô-lo de modo a que todos perfeitamente o entendam.

De um ponto de vista formal, a clareza da composição requer, antes de tudo o mais, simplicidade e singeleza, isto é, o emprego exclusivo de palavras e frases cujo sentido se apreenda sem custo, e ligadas de modo que o discurso se apresente sempre de entendimento fácil.

Mas se, para fugir à obscuridade, há que evitar as palavras de uso pouco frequente e os termos técnicos dispensáveis126, há também que procurar, em todas as circunstâncias, a maior propriedade e precisão vocabulares, isto é, a perfeita adequação entre as palavras e as ideias, para que seja exactamente traduzido o pensamento de quem escreve. Nesta escolha do termo justo repousa, em larga medida, o segredo do bom estilo. “Embora certa opinião demasiado vulgar pareça reconhecer na política uma ciência em que tudo é misterioso, não é menos verdade que os documentos oficiais devem ser redigidos com clareza e precisão; que o texto escuro, o sentido ambíguo, os equívocos são muito perigosos. Em diplomacia não basta fazer-se entender; cumpre ainda prevenir a má fé para que se não aproveite de um sentido incerto, de uma palavra duvidosa, dando-lhe uma interpretação conforme os seus interesses”127.

Brevidade e concisão – Ser breve, tanto quanto possível nas suas exposições escritas, tem que constituir preocupação constante do diplomata. Mas o cuidado em evitar a extensão não há-de impedi-lo de dizer tudo o que deve dizer, isto é, de tratar os assuntos integralmente, exaustivamente. Em não poucos casos, de facto, a brevidade excessiva impede que se ponderem devidamente todos os componentes de uma situação complexa, forçando a omissões e simplificações deformadoras da realidade. O segredo está em dizer tudo o que convém, mas só o que convém, e em poucas palavras. “Quando /o estilo prolixo e difuso/ é a causa da extensão do documento, esta é censurável; ao passo que sendo motivada pela natureza do assunto, está a salvo da crítica nesse particular /.. ./ O que realmente se exige, é a brevidade compatível com a matéria e com a clareza”128.

E com a brevidade naturalmente; se envolve a concisão, de que aquela muito depende. A busca de uma certa ostentação literária, pelo recurso à opulência vocabular, às figuras de retórica, aos trocadilhos e a outros artifícios estéticos que

126 Note-se, todavia, que, em muitos casos, não só não é condenável, como até recomendável, pela sua força expressiva, o uso de certas palavras e locuções estrangeiras (sobretudo francesas e latinas) consagradas pela tradição diplomática. 127 Meisel, cit. por Figanière, op. cit., p. 73 128 Visconde de Figanière, id., p.70

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nada acrescentam ao sentido fundamental –, é vício inteiramente condenável nas comunicações diplomáticas. Sem descurar embora a beleza da frase e o seu poder expressivo, o diplomata tem que ser sempre, nos seus escritos, sóbrio e sucinto, empregando o menor numero possível de palavras e expondo de maneira directa, sem elementos supérfluos, os assuntos a tratar.

Pureza e correcção – Mas, se há que banir as preocupações estilísticas excessivas, de modo nenhum isso significa que a pureza e a correcção da linguagem não devam merecer o maior respeito do autor. Ao invés, muito convém que ele sempre se exprima por meio de palavras e frases próprias da nossa língua, guardando-se da tentação dos estrangeirismos; (a não ser que estes correspondam a reais necessidades de expressão) e dos “barbarismos à moda”, reveladores, não raro, da mal disfarçado pedantismo. Tudo isto, porém, sem se deixar obsediar por exagerados pruridos de purismo clássico, sempre de efeitos nocivos para a claridade do texto. E o que se diz da pureza da linguagem se diga também da sua correcção, que fundamentalmente consiste, como ensinam os gramáticos, no escrupuloso respeito pelas “regras da sintaxe, da concordância, da regência e da construção”. “Os erros de gramática que se revelassem em documentos destinados a maior ou menor publicidade, lançariam certo ridículo no redactor, à custa da consideração de que deve gozar, prejudicando assim indirectamente a causa que defende. De semelhantes erros podem também originar-se equívocos e enganos, que em matéria política sempre são de consequência”129.

Assim, por exemplo, interessa sobremaneira não se deixar o autor cair em ambiguidades resultantes da excessiva extenso dos períodos, da errada pontuação ou da sua falta, da má ordenação das palavras nas orações e destas no discurso, pois de tudo isso podem resultar frases de sentido pouco explícito, susceptíveis, por tal motivo, de interpretações erróneas ou divergentes.

129 Meisel, cit. por Figanière, op. cit., p. 72

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Regras de conveniência e decoro – Por ultimo, deverão os escritos diplomáticos conformar-se a um certo número de regras protocolares ou formais (já atrás dadas a conhecer nas suas linha genéricas) e ter em conta as conveniências, sejam quais forem as circunstâncias. Importa, assim, que nunca percam um tom de perfeita dignidade e urbanidade, só admitindo palavras “mesuradas e decentes”, mesmo nos casos em que se imponha o uso de uma linguagem firme, vigorosa e veemente ou propositadamente reveladora de reserva e frieza em relação ao interlocutor. “Os vulgarismos, as locuções proverbiais e populares, os gracejos devem ser excluídos de um estilo que exige dignidade sem soberba, nobreza sem altivez, gravidade sem pedantismo /…/ Evitar-se-ão com maior diligência ainda as invectivas, as injúrias, as exprobrações ofensivas, as imputações caluniosas seria ultrajar os costumes e o decoro, e faltar ao respeito que cada um se deve a si próprio; seria excitar ódios e vinganças, com ofensa da boa política”130 .

Lisboa, 8 de Setembro de 1981

130 Meisel, cit. por Figanière, op. cit., p.75

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MODELOS DE DOCUMENTOS

1. – Telegrama expedido pelo M.N.E. para uma embaixada portuguesa

2. – Telegrama recebido no M.N.E. proveniente de uma embaixada portuguesa

3. – Nota formal dirigida pelo M.N.E. a um embaixador estrangeiro acreditado em Portugal

4. – Nota formal dirigida pelo M.N.E. ao Núncio Apostólico

5. – Nota formal dirigida pelo M.N.E. a um encarregado de negócios estrangeiro em Portugal

6. – Nota formal dirigida por um chefe de missão portuguesa ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do país da residência

7. – Idem

8. – Idem

9. – Idem

10. – Nota formal dirigida por um chefe de missão portuguesa a um chefe de missão estrangeira no país da residência

11. – Nota formal dirigida por um chefe de missão portuguesa a um encarregado de negócios estrangeiro no país da residência

12. – Nota verbal dirigida pelo M.N.E. a uma embaixada estrangeira em Portugal

13. – Nota verbal dirigida por uma missão diplomática portuguesa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do país da residência

14. – Idem

15. – Memória

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16. – Aide—Mémoire

17. – Contra-Memória

18. – Idem

19. – Despacho para um embaixador português

20. – Despacho para um cônsul português

21. – Despacho para um encarregado de negócios português

22. – Ofício de um embaixador português para o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros

23. – Carta particular de um Embaixador português para o Presidente do Conselho e Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal sobre assuntos oficiais

24. – Carta particular do Secretário Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal para um embaixador estrangeiro em Lisboa

25. – Carta credencial

26. – Idem

27. – Carta revocatória

28. – Discurso pronunciado por um embaixador no decurso da cerimónia de entrega das credenciais

29. – Carta patente de nomeação de um cônsul

30. – Idem

31. – Exequatur

32. – Carta de plenos poderes

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33. – Idem

34. – Carta de ratificação

35. – Carta de adesão

36. – Protocolo de troca de instrumentos de ratificação

37. – Idem

38. – Protocolo de depósito de um instrumento de adesão

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TELEGRAMA

Para a Embaixada de Portugal em Londres

Lisboa, 1 de Setembro de 1939

Encarregado Negócios Estados Unidos ontem em conversa Secretário Geral disse situação actual Portugal tem considerável importância para seu país; acentuou isto como opinião seu Governo e acrescentou que dois países teriam provavelmente dentro alguns meses relações mais íntimas. Hoje repetiu primeira parte do referido ao Embaixador Inglaterra, que o veio repetir Secretário Geral. Rogo V. Ex aproveitar primeiro ensejo procurar sondar junto Embaixador dos Estados Unidos pensamento seu Governo.

(a) MINISTRO

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TELEGRAMA

Do Embaixador de Portugal no Rio de Janeiro ao Ministro dos Negócios Estrangeiros

Rio de Janeiro, 15 de Outubro de 1940 Ministro

Relações Exteriores comunicou-me ter-lhe Embaixador Alemanha renovado segurança recente pacto tripartida não visa nações americanas e muito menos Brasil, cuja amizade Alemanha deseja particularmente cultivar. Ministro Relações Exteriores acrescentou ter chamado atenção Embaixador de que qualquer acto inamistoso contra Portugal produziria tal emoção Brasil que Governo deste país dificilmente ficaria indiferente. Embaixador Alemanha respondeu Governo Alemão conhece perfeitamente laços excepcionais existentes entre Portugal e Brasil.

(a) EMBAIXADOR

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Lisboa, 4 de Outubro de 1943

Senhor Embaixador,

Acuso a recepção da nota de V.Exª. de 14 de Setembro, na qual V. Exª. confirma, em nome dos Governos de Sua Majestade no Reino Unido e na União Sul Africana, as seguranças já dadas na sua nota de 16 de Junho ao Governo Português relativamente à’ manutenção depois da guerra da soberania portuguesa sobre todas as colónias portuguesas; e declara estar autorizado a informar que o Governo de Sua Majestade na Comunidade da Austrália se associa por sua parte gostosamente às referidas garantias.

Cumpre-me agradecer a V. Exª. a comunicação que, ao Governo Português foi muito grato receber, e pedir o obséquio de fazer chegar ao conhecimento do Governo de Sua Majestade na Comunidade da Austrália que o Governo Português perfilha com prazer a ideia de oportunamente se discutirem os problemas atinentes à defesa comum contra possíveis agressões futuras bem como ao possível desenvolvimento das relações económicas entre Timor e a Austrália, não tendo nenhuma objeção de princípio a que se procure realizar um acordo geral de comércio que abranja mesmo as comunicações aéreas entre a Austrália e a referida possessão portuguesa de Timor. Aproveito esta oportunidade para apresentar a V. Exª. os sentimentos da minha mais alta consideração. (a) Sua Excelência Sir ……………………… K.C.M.G., C.V.O

Embaixador de Sua Majestade Britânica

Etc. etc. etc.

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PEA 1029 376

Lisboa, 6 de Julho de 1964 Senhor Núncio

Tenho a honra de acusar a recepção da Nota nº 3117, que Sua Excelência Reverendíssima me dirigiu em 22 do mês findo, comunicando que o Santo Padre se dignou escolher o Reverendo Sacerdote ………………………………………………………………………. para Bispo da Diocese de ………………………………… Ao agradecer aquela comunicação, tenho a honra de informar de que o Governo Português não tem objeções de carácter político a formular contra aquela escolha, pelo que, por incumbência de Sua Excelência o Presidente d República, rogo o obséquio de apresentar à Santa Sé o nome do Sacerdote em questão a fim de ser nomeado Bispo daquela Diocese. Aproveito esta ocasião para apresentar a Sua E5ccelência- Reverendíssima os protestos da minha mais alta consideração. (a) A Sua Excelência Reverendíssima Monsenhor……………………………. Núncio Apostólico etc. etc. etc.

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EEA 463 42/BEL/4. 3

Lisboa, 14 de Outubro de 1964

Senhor Encarregado de Negócios

Acuso a recepção da nota de V. Sª. de 4 de Outubro corrente, do teor seguinte (na tradução portuguesa):…………………………………………………………………………………………………… ……………………………………………………………………………………………………………………………………

O Governo Português concorda com o conteúdo da nota acima transcrita e considera esse documento e esta minha resposta como constituindo um acordo entre os nossos dois Governos.

Aproveito o ensejo para reiterar a V. Sª. os protestos da minha muita consideração.

(a)

Senhor……………………………………… Encarregado de Negócios de…….

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Paris, le 12 Aout 1947

Excellence,

J’ai l’honneur, d’ordre de mon Gouvernement, de demander à Votre Excellence de bien vouloir accorder la reconnaissance provisoire de:

Monsieur………………………………………… comme Consul de Portugal à Rouen.

Je profite de cette occasion pour renouveler à Votre Excellence les assurances de ma plus haute considération.

(a)

Ministre de Portugal Son Excellence Monsieur Georges BIDAULT Ministre des Affaires Etrangères

Quai d’Orsay

PARIS

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PORTUGUESE LEGATION

London. 10th. December. 1923 Nº 83 (P. 86)

Your Excellency

I duly communicated to my Government the contents of You Exellency’s Note No. F. 3378/3378/10 of the 3rd. December to the effect that authorization had been telegraphed to His Majesty’s Minister at Peking to take charge of Portuguese interests in China during the absence of the Portuguese Minister.

I Am now instructed by the Portuguese Minister for foreign Affairs to tender his best thanks for favourable consideration given to his request by Your Excellency.

I avail myself of this opportunity to renew to Your Excellency the assurance of my highest consideration.

(a)

The Most Hon. The Marquis ....................K.G. &c. &c. &c.

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LEGATION DE Portugal

Londres, le 24 Janvier 1923 Nº 2 (P.74)

Monsieur le Ministre: -

Mon Gouvernement ayant l’intention de reconnaître les services rendus par le sujet britannique Charles Ruchard Fairey, constructeur d’avions, aux officiers portugais qui ont fait la traversée Lisbonne au Brasil, je viens prier Votre Excellence de me dire s’il aurait d’objection à ce que le susdit Mr. Fairey soit décoré du grade d’officier de l’ordre du Christ.

Je profite de l’occasion pour présenter à Votre Excellence l’assurance de na plus haute considération.

(a) The Right Hon. The Marques ..................K.G. &c. &c. &c.

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Rio de Janeiro, 12 de Junho de 1939

Nº 29

Senhor Ministro,

Em seguimento às conversas que sobre o assunto tive com Vossa Excelência, tenho a honra de solicitar, de ordem do meu Governo, a sua valiosa interferência-junto de Sua Excelência o Ministro da Fazenda afim de que seja concedida às transferências de fundos do Tesouro Português a isenção do imposto de dez por cento actualmente em vigor e consequentemente que Portugal seja incluído no número dos países que gozam dessa isenção visto as transferências do fundo desta natureza no estarem no meu País sujeitas a idêntico imposto.

Aproveito o ensejo, Senhor Ministro, para apresentar a Vossa; Excelência os protestos da minha mais subida consideração.

(a) Sua Excelência Senhor Doutor Oswaldo Aranha Ministro de Estado das Relações Exteriores

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Paris, le 26 Juillet 1946 Procº. I Nº. 366

Monsieur le Chargé d’Alfaires

J’ai l’honneur d’accuser réception de votre lettre du 1er courant par laquelle vous m’avez donné connaissance d’avoir assumé la charge de l’Ambassade titre de Chargé d’Affaires ad interim.

En vous remerciant l’aimable communication, je saisis cette occasion pour vous présenter, Monsieur le Chargé d’Affaires, les assurances de ma considération distinguée,

Monsieur le Chargé d’Affaires de l’Ambassade de ………………………………….

PARIS

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AB 228 39,61 O Ministério dos Negócios Estrangeiros apresenta os seus atenciosos cumprimentos à Embaixada da República Federal da Alemanha e, com referência à Nota da Embaixada nº 78/72, de 9 de Junho último, tem a honra de informar que ………………........................ …………………………………………………………………………………………………………………………

2. O Ministério dos Negócios Estrangeiros aproveita a oportunidade para reiterar à Embaixada da República Federal da Alemanha os protestos da sua mais elevada consideração.

Lisboa, 4 de Julho de 1972

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Procº. A Nº 36

La Légation de Portugal présente ses meilleurs compliments au Ministre des Affaires Etrangères et, se réfèrent à la note de ce Ministre, sans numéro, du 30 Janvier (Direction d’Afrique-Levant), sur ……………………………………………………………………… a l’honneur de demander à ce Ministre, d’ordre de son Gouvernement, de bien vouloir lui faire savoir :……………………………………………………………………………………………………………... ……………………………………………………………………………………………………………………………………… La Légation de Portugal remercie d’avance le Ministre des Affaires Etrangères pour l’aimable suite qu’il voudra bien donner à sa demande. Paris, le 10 Mars 1945

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Nº. 4 7/39

À Embaixada de Portugal tem a honra de acusar a recepção da Circular nº. 1276, C/352.13, de 20 do mês corrente, do Ministério das Relações Exteriores, comunicando que o Senhor Ministro …………………………………………………………………............ assumiu o cargo de Chefe da Divisão do Cerimonial em substituição do Senhor Ministro …………………………………. nomeado para exercer outras funções.

Rio de Janeiro, 27 de Janeiro de 1939

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Londres, 18 de Fevereiro de 1957

De harmonia com o convite feito ao Governo de Sua Majestade, o Governo Português concorda de boamente com a nomeação de um certo número de observadores britânicos junto da Embaixada de Sua Majestade em Lisboa, com o fim de verificarem que nem armas nem voluntários passam para Espanha através de Portugal.

2. O Governo Português não faz nenhuma objecção a que tais observadores sejam colocados ao longo da fronteira luso-espanhola.

3. O Governo Português está pronto a concordar com a sugerida nomeação de 50 a 60 observadores.

4. Pelo que respeita à escolha dos agentes, a reserva que o Governo Português agora faz é a que diz respeito a indivíduos de tendências comunistas. Quanto a todos os outros, bastar ao Governo Português a garantia do Governo de Sua Majestade quanto a carácter e a imparcialidade. O Governo Português aceita as sugestões do Governo de Sua Majestade a este respeito, constantes do projecto de memorando que Lord Plymouth teve a amabilidade de deixar ler ao Embaixador de Portugal em Londres.

5. O Governo Português é de opinião que para o satisfatório cumprimento da missão dos observadores é essencial que estes gozem de facilidades que lhes permitam o livre acesso e a possibilidade de fácil inspecção das localidades e factos que digam respeito à passagem de voluntários e armamento.

6. O Governo Português compromete-se a conceder todas as necessárias facilidades que permitam aos observadores presenciar a maneira como as autoridades locais executam as leia relativos ao Acordo de Não-Intervenção; compromete-se também a garantir o fiel cumprimento das mesmas. Compromete-se a tomar em consideração os casos:, de alegadas violações praticadas por determinados barcos ou por outros meios de transporte que a Embaixada de Sua Majestade possa trazer ao seu conhecimento.

7. O Governo português deve, contudo, salientar que o desempenho de todos os actos executivos pertence inteira e exclusivamente às autoridades portuguesas.

8. Os observadores britânicos poderão apresentar ao seu Embaixador tantos relatórios quantos desejarem.

9. Nem o Governo de Sua Majestade nem os seus observadores podem ser considerados como representando o Comité de Não-Intervenção, mas o Governo Português não levantaria nenhuma objecção a que o Governo de Sua Majestade notifique o Comité de quaisquer alegadas violações do acordo.

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10. Este convite do Governo Português baseia-se na sua confiança na perfeita correcção com que actua o Governo de Sua Majestade. Só pode produzir os desejados efeitos se o Governo de Sua Majestade tiver igual confiança no Governo Português e se estiver convencido da sua possibilidade de infundir esta confiança nos outros Governos em causa.

(a)

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Lisboa, 1 de Setembro de 1939

O Governo de Sua Majestade Britânica conhece por declarações repetidas e algumas muito recentes o valor que o Governo Português atribui à aliança com a Inglaterra e O seu propósito que neste momento confirma de cumprir fielmente as obrigações que dela derivem.

O Governo Português não vê porém que no actual conflito estejam envolvidos interesses próprios que o obriguem a acudir em sua defesa; e por outro lado, quanto à sua posição para com a nação aliada, crê que uma posição de neutralidade da parte de Portugal, especialmente pela repercussão que possa ter sobre a posição da Espanha, que importa se conserve também neutral, é a atitude que no consenso do Governo, partilhada, julgamos, pelo Governo de Sua Majestade, mais convém nesta conjuntura a Portugal e à Inglaterra.

(a)

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Lisboa, a Fevereiro de 1939

O Governo Português, logo que recebeu a memória entregue em Lisboa pelo Embaixador de Sua Majestade no dia 28 de Outubro de 1938, depois de o Governo de Sua Majestade se ter inteirado do relatório da missão militar britânica, apressou-se a significar no Foreign Office todo o apreço e importância que ligava àquela comunicação. Isto mesmo foi dito verbalmente ao Embaixador de Sua Majestade. O Governo Português deseja repetir agora por escrito todo o valor que atribui às declarações do Governo de Sua Majestade contidas naquele documento.

1. Tem o Governo Português aguardado o exame das questões sujeitas à consideração do Foreign Office e, logo que lhe seja comunicado o resultado afirmativo do estudo feito por aquele departamento, está pronto a conversar com o Governo de Sua Majestade sobre a possibilidade de revisão dos tratados de aliança existentes entre os dois países, de modo a precisá-los e a pôr as suas cláusulas em mais perfeito acordo com as condições do nosso tempo. Dada a incerteza e melindre da situação internacional, o Governo Português muito agradeceria ao Governo de Sua Majestade se o referido estudo, como preliminar de conversações sobre os tratados, pudesse estar em breve tempo concluído.

2. O Governo Português deu a maior importância à declaração de que o Governo de Sua Majestade, tendo considerado o relatório da missão militar, está pronto a dar execução às recomendações dos chefes do Estado-Maior no que respeita à colaboração das forças britânicas de mar, terra e ar na defesa de Portugal e das suas colónias.

Por seu lado, o Governo Português prestou toda a atenção aos resultados a que chegaram as duas missões e está no firme intento de prosseguir a sua política de defesa militar e de dar progressiva execução, dentro das suas possibilidades, tanto aos projetos que interessam às forças terrestres, aéreas e navais portuguesas como aos que interessam às forças britânicas que possam vir a ser chamadas a colaborar, segundo as circunstâncias, em território português da metrópole e das colónias.

3. Ao Governo Português cumpre agradecer a boa vontade do Governo Britânico de considerar a possível concessão de facilidades financeiras para a compra de armamento no Reino Unido e julga que, se for encontrada uma fórmula conveniente de dar satisfação a esse desejo, não só poderá em período mais curto proceder ao seu rearmamento, como poderão as transações de outro género ser favorecidas pelo alívio que traga às necessidades de liquidação o regime especial que vier a ser adotado.

Não sabe o Governo Português qual o pensamento ou possibilidades do Governo de Sua Majestade acerca deste problema. Quando se encomendaram em Inglaterra os barcos de guerra e respetiva artilharia da primeira fase do programa naval, no valor de alguns milhões de libras, não pôde o Governo de Sua Majestade

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garantir que seria dada autorização para emissão na City, em caso de necessidade, de empréstimo equivalente aos pagamentos que houvessem de fazer-se em Inglaterra. Embora as circunstâncias de então estejam modificadas e pareça que o estejam aquelas a que alude a memória de 27 de Maio de 1938, ignora o Governo Português as modalidades que ainda neste momento estarão fora do quadro em que a atividade do Governo de Sua Majestade pretende desenvolver-se – empréstimos na City, financiamentos diretos do Governo, facilidades de prazo de pagamento ou outras obtidas dos estabelecimentos bancários por indicação do Governo ou facilidades de ordem comercial.

Até agora o Governo Português tem pago nos curtos prazos dos contratos, e até por vezes com alguma antecipação, todas as aquisições feitas em Inglaterra para o Exército e para a Marinha, e tanto na metrópole como nas colónias: e, enquanto os programas se mantiveram dentro das suas disponibilidades existentes, o Governo Português desejará continuar a fazê-lo, apenas com as restrições derivadas de quaisquer dificuldades de transferências.

Tendo de olhar pela estabilidade da moeda e pelas necessidades de outra ordem da economia nacional, não são de modo algum indiferentes para o Governo Português, antes podem ser condição de muitas transações, as facilidades que sejam dadas, como, por exemplo, prazos mais longos, que os habituais para os pagamentos, ou pagamentos em moeda nacional para serem convertidos obrigatoriamente em mercadorias exportáveis. Mas deve esclarecer-se que a exigência de juros sobre prestações importantes pode, sobretudo aplicando-se taxas elevadas, tirar todo o interesse aos alargamentos de prazos.

A falta de facilidades desta natureza, acrescida aos altos preços com que trabalha a indústria de guerra britânica, deve reconhecer-se, são obstáculos que só a boa vontade do Governo Português e a sua clara consciência dos interesses comuns conseguem por vezes superar.

Teixeira de Sampaio

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London, 5th December, 1941

SECRET. – The Portuguese Government, in reply to the aide-mémoire which Sir Alexander Cadogan was good enough to hand to the Portuguese Ambassador on the 2nd December, state that they have no objection to sending an officer to Singapore to discuss with a representative of the British High Command Far East, the question of the defence of Timor in the event of a Japonese attack against that colony arising out of the existence of a state of war between Japan and Great Britain or the United States. It is presumed by the Portuguese Government that, should such an eventuality materialize, the character of the operations would be predominantly naval and that it would accordingly be desirable that their representative should be a naval officer.

There is nothing to prevent this officer from being informed, trough the intermediary of the British High Command, of the point of view of the Netherlands authorities; nor do the Portuguese Government see any objection to his being permitted to exchange views with representative of the Netherlands East Indies on the eventualities which, in consequence, would be maters of interest to the defence of Portuguese Timor.

Armindo Monteiro

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E0I 2355

48.6. 6/PFAB/5

31/8 / 72

Exmº. Senhor Embaixador de Portugal em

P A R I S

Tenho a honra de juto remeter a V. Exª. cópia da nota das Nações Unidas C.N. 109.1972. TREATIES – 3, de 11 de Julho último, informando que o Governo da França depositou, em 13 de Junho de 1972, o seu instrumento de ratificação da Convenção relativa à matrícula dos barcos de navegação interior e Protocolos anexos, concluídos em Genebra em 25 de Janeiro de 1965

O SECRETÁRIO GERAL

(a)

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R.C. 428

525/53

3 / 12 / 54

Senhor Cônsul Geral de Portugal em

SÃO PAULO

Em referência ao ofício desse Consulado nº. 229, de 6 de Novembro findo, remeto a V. Srª. o incluso boletim de casamento de …………………………………………… com ……………………………………………………………

Sirva-se V. Srª. fornecer maia elementos para identificar o registo de nascimento daquele indivíduo, no cago de ser possível.

O DIRECTOR—GERAL

(a)

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PEA 629

335,1

26/12/62

Senhor Encarregado de Negócios de Portugal em

……………………………..

Com referência ao ofício nº 145 de 10 de Novembro findo, comunico a V. Srª. que se afigura a esta Secretaria de Estado não haver necessidade de se tomar por agora qualquer atitude relativa à resolução do Congresso Nacional do …………………, propondo ao Poder Executivo o estudo e celebração de acordos bilaterais com os países ibero-americanos, Espanha e Portugal, que permitam a cada um dos nacionais desses países a aquisição da nacionalidade dos outros.

2. No caso de a resolução em causa vir a ser transmitida oficialmente por essas autoridades a V. Srª., deve o facto ser imediatamente comunicado a esta Secretaria de Estado, limitando-se de momento V. Srª. a responder que o assunto foi devidamente transmitido ao Governo Português.

O DIRECTOR-GERAL

(a)

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651

48.3/EUP

12/11/41

LONDRES

Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Excelência,

Incidente com a mala diplo- mática 1. Conforme é já do conhecimento de V. Exª,, o Conde de Lavradio, que devia partir para Lisboa na sexta-feira 7 do corrente e era portador da mala diplomática desta Embaixada, foi à última hora impedido de seguir no avião pelas autoridades britânicas do Aeroporto de Bristol.

Deste incidente resultou que a mala diplomática, que continha documentos importantes e urgentes, só quatro dias mais tarde pôde chegar ao seu destino.

2. Pareceu-me que devia aproveitar este incidente para chamar a atenção do Foreign Office para a situação especial que os passageiros e interesses portugueses devem merecer às autoridades britânicas no que se refere ao funcionamento da linha aérea Londres-Lisboa. O Foreign Office, ou, por outra, o funcionário do departamento que tem a seu cargo o serviço das prioridades estrangeiras que utilizam aquela linha, deu-nos todas as explicações, atribuindo ao Air Ministry a responsabilidade do que acontecera. Já não era a primeira vez que este último Ministério intervinha por forma inconveniente nos arranjos que o Foreign Office tinha feito para a distribuição dos lugares do avião.

3. Dirigi, pois, ao Secretário de Estado a carta junta por cópia, que entreguei pessoalmente ao Subsecretário Permanente, Sir Alexander Cadogan, o qual me disse que ela vinha fornecer argumento ao Foreign Office na discussão que tem tido com o Air Ministry. Redigi a carta em temos firmes, por me parecer, na verdade, que temos nesta matéria direito a tratamento especial.

4. Já em tempos (vide meu ofício nº 96, de 17 de Fevereiro de 1941) tivemos de fazer ver ao Foreign Office que não estávamos contentes com certas dificuldades encontradas.

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Desta vez, as minhas palavras não deixarão de o fazer sentir ao próprio Secretário de Estado. Certo que nesta matéria temos encontrado manifestações de boa vontade da parte dos funcionários do Foreign Office e que a nossa mala diplomática tem sido até agora transportada por aquele Ministério. Mas, infelizmente, tudo isto é feito a título de favor, e não como um direito que nos devia pertencer em vista das facilidades que temos concedido à linha em questão.

Não deixarei de dar conhecimento a V. Exª. dos termos da resposta do Sr. Eden.

Apresento a V. Exª. os protestos da minha mais alta consideração (1).

(a)

(1) Atualmente, a fórmula de cortesia reduz-se à expressão “Com os melhores cumprimentos”.

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Madrid, 23 de Fevereiro de 1940

Sr. Presidente

Escrevo a V.Ex.ª por causa de um assunto importante: as comunicações aéreas.

Creio bem que vencemos em toda a linha uma rude batalha. A Espanha andou nisto até ao fim, procurando apenas chegar a brasa à sua sardinha. Deve ter feito todos os esforços para desviar os clippers de Lisboa para Santander, e estabeleceu-se propositadamente a confuso com a pretensa demora da nossa parte do serviço Madrid-Lisboa para ganhar tempo e acabar por fazer desanimar os Ingleses. Há que reconhecer que estes se portaram bem.

Estou à espera da visita do Embaixador de Inglaterra, que, mesmo sabendo-me doente, quis por força ver-me. Se souber mais alguma coisa deste assunto comunicarei.

A situação é a seguinte:

Foi já dada, como V. Ex.ª sabe, a autorização para a linha Londres-Lisboa. Os Espanhóis concederam licença para escalas eventuais em Salamanca ou Sevilha. Na véspera de ser arrumado o assunto ainda insinuaram que era bom o Embaixador falar comigo por causa da linha Lisboa-Madrid. Logo que ele me contou o caso, aproveitei estar convocado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, e arranjei maneira de pôr tudo a claro.

- De resto, V. sabe que nunca me pôs esse problema, nem me pediu para eu me ocupar dele.

Ontem, um funcionário do Ministério dos Assuntos Exteriores chamou o Manuel de Oliveira e disse-lhe:

- Foi finalmente dada a licença à linha Lisboa-Londres. Foi grande boa vontade nossa, pois Portugal não resolveu ainda o caso Lisboa-Madrid, que tanto nos interessa.

O Oliveira reagiu fortemente e pôs tudo no seu lugar.

O funcionário continuou:

- Acredito que isso tenha sido exatamente assim. O facto é que nós tentámos até onde era possível chamar tráfego a Madrid. Vocês venceram a partida. Parabéns. Venho agora pedir-lhe que explique ao seu Embaixador que precisa de nos ajudar nesta emergência. (Deu a entender que o Ministério ficara mal colocado perante o do Ar.) Que o seu Embaixador faça todo o possível para conseguir que depressa se obtenha licença das autoridades portuguesas para a linha de Madrid

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Não entendo esta diligência senão como estando Beigbeder em má posição perante o general Yague, Ministro do Ar. Quanto ao facto de Beigbeder nunca me haver falado na linha de Madrid, só o explico por um capricho pessoal de Nicolau Franco. Queria este tratar sozinho do caso.

Deu ainda a entender que não deixariam fazer a escala de Madrid a nenhum avião que termine o serviço em Lisboa. Quer dizer que não consentirão na linha italiana via Madrid. Acho que era a altura de impor uma composição. As linhas portuguesa ou espanhola do serviço Madrid-Lisboa cobrariam x por cento de cada bilhete, nesse trajeto, cobrado por avises de outras linhas. Não sendo assim, a linha italiana terá de continuar via Sevilha.

Quanto aos Ingleses, o Embaixador disse-me que não interessava a ideia de Madrid. É gente que também faz questão de brio. Os Espanhóis ficaram bastante mal colocados, e vejo que o serviço da América tem ligação assegurada. Quanto ao Sud-Express já V. Ex. ª sabe o que se passa. Não pode ser pior o serviço.

Boatos - Entre as fichas de que falo no ofício para o Ministério, havia duas ou três que denunciavam ajudas nossas à França: vendas de cavalos, cobertores, botas, ida de operários especializados. Tudo em tom de escândalo e procuran-

Falta parte de cima da página.

V. Exª. para mandar estudar este assunto com a possível brevidade. No correio do Ministério vai cópia de um ofício que me escreveu o coronel Beigbeder.

Perdoe V. Ex. a fraca redação desta carta. São horas de fechar a mala.

(a)

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Cartaxo, le 8 Février 1937

Mon cher Ambassadeur

On m’apporte à cet instant, 10 1/2 du soir, à la campagne, l’Aide-Mémoire que vous avez fait remettre au Ministre pour être envoyé à Son Excellence le Président du Conseil concernant le plan de contrôle. Encore aujourd’hui, ou au plus tard demain matin, je me mettrai en communication directe avec Son Excellence. Cependant, vu l’urgence que vous attribuez à vos instructions, je crois devoir appeler votre attention sur quelques points. Excusez-moi de le faire sur ce papier mais je n’ai pas d’autre ici.

Le plan du Comité venait d’arriver et était étudié par Son Excellence le Président quand nous est parvenu un questionnaire du Comité auquel on demandait une réponse pour le 4 Février. Ce questionnaire posait des questions précises, sans laisser de place pour des observations; il ne laissait même pas, quant à navigation, le choix entre le plan A et le plan B du Sous-Comité, indiquant que ce dernier était déjà rejeté.

À ce questionnaire le Gouvernement Portugais a chargé l’Ambassadeur à Londres de répondre avec précision. Il vous en a informé et il a fait de même auprès des Ministres des pays qui, à la demande de votre Gouvernement, se sont adressés sur le même sujet au Gouvernement Portugais.

Comme acte séparé de cette réponse, acte amical envers le Gouvernement Britannique et non pas envers te Comité, le Gouvernement Portugais a chargé Mr. Armindo Monteiro d’offrir au Gouvernement de Sa Majesté un moyen de faire observer, par des observateurs britanniques délégués à lui et non pas déiégués du Comité, ce que nous faisons en matière de volon-

Falta página ou parte de cima da página que vem a seguir! “Volon-“ (palavra a meio)

Il est fondamental de préciser ces points, et je ne veux pas tarder le faire pour quelques heures que ce soit, craignant de ne m’avoir pas fait comprendre entièrement lors de notre entrevue à ce sujet.

Pour ce qui est de la réponse à votre Aide-Mémoire il ne m’appartiendrait pas de la donner. Dès que j’aurai des instructions je vous le ferai savoir.

Excusez-moi, mon cher Ambassadeur, le désordre de cette lettre, et croyez-moi toujours votre bien sincèrement dévoué.

(a)

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FRANCISCO DA COSTA GOMES

PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA

A

SUA MAJESTADE

Senhor

Desejando o Governo Português manter e estreitar as relações de boa harmonia existentes entre Portugal e o resolveu acreditar o Senhor Dr. na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto de Vossa Majestade.

As qualidades que distinguem este Embaixador persuadem-me de que não deixará de empregar todos os esforços para o desempenho da alta missão que lhe é agora confiada.

É nesta convicção que espero que Vossa Majestade o acolha com benevolência e dê inteiro crédito a tudo o que ele tiver a honra de lhe expor em nome do Governo Português, especialmente no que se refere aos votos sinceros que faço pela felicidade de Vossa Majestade e pela prosperidade d

Palácio Nacional de Belém, aos

a) Francisco da Costa Gomes

a) Mário Soares Ministro dos Neg6cios Estrangeiros

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FRANCISCO DA COSTA GOMES

PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA

A

SUA EXCELÊNCIA

Grande e Bom Amigo

No sincero empenho de patentear a Vossa Excelência o alto apreço em que tem as cordeais relações existentes entre Portugal e resolveu o Governo Português acreditar o Senhor Dr. na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto de Vossa Excelência.

As altas qualidades que distinguem este diplomata e o seu patriótico zêlo pelo bem do Estado são garantia de que nele concorrem as condições requeridas para o exercício da elevada missão que ora lhe confiamos e de que não deixará de empregar todos os esforços para dela se desempenhar cabalmente.

Nesta convicção, persuadidos estamos de que Vossa Excelência o acolherá com benevolência e dará inteiro crédito ao que ele tiver a honra de Lhe expor, especialmente ao manifestar os sentimentos do Povo Português e ao formular, em nosso nome, votos pela prosperidade d e pela felicidade de Vossa Excelência, de quem somos,

Leal e Constante Amigo

a) Francisco da Costa Comes

Palácio Nacional de Belém, aos

a)

Ministro dos Negócios Estrangeiros

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FRANCISCO DA COSTA GOMES

PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA

A

SUA MAJESTADE

Senhor

Tendo o Governo Português resolvido dar outro destino ao Sr. Dr. que se achava acreditado na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto do Governo d ,confiamos em que este diplomata, durante o exercício do seu alto cargo, se terá mostrado merecedor da benevolência e estima de Vossa Majestade.

Não tendo sido possível que ele próprio tivesse a honra de entregar a presente Carta, encarregámos de o fazer o Senhor Dr. , que o vai substituir na mesma qualidade.

Apresentamos sinceros votos pela felicidade de Vossa Majestade e pela prosperidade d

Palácio Nacional de Belém, aos

a) Francisco da Costa Gomes

a)

Ministro dos Negócios Estrangeiros

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Monsieur le Président de la République,

J’ai l’honneur de remettre à Votre Excellence les lettres qui m’accréditent auprès d’Elle en qualité d’Ambassadeur Extraordinaire et Plénipotentiaire de Portugal, ainsi que les lettres de rappel de mon prédécesseur Monsieur Mathias, à qui furent récemment confiées les hautes fonctions de Ministre des Affaires Etrangères.

Aucun autre poste ne fait plus honneur à un diplomate, et ne peut lui être plus agréable que celui auquel je viens d’être nommé. Je me félicite d’être ainsi appelé à prêter mon concours au resserrement des relations d’amitié fraternelle, heureusement existantes entre la France et le Portugal, basées sur des liens historiques et des affinités culturelles. Nos pays ont été alliés dans la Grande Guerre de 14, pendant laquelle les soldats portugais ont combattu dans les trachées de Flandres aux côtés de l’armée française. Ils sont de nouveau alliés au sein du Traité de l’Atlantique, pour la défense de l’Occident et des valeurs morales de notre civilisation. Maintenant, comme par le passé, la culture française est un des fondements les plus solides de l’amitié et de la compréhension réciproques de nos deux peuples.

Je suis particulièrement heureux d’être l’interprète auprès de Votre Excellence des sentiments d’amitié cordiale du Président de la République et du Chef du Gouvernement Portugais et des vœux très sincères qu’ils me chargent d’exprimer pour votre bonheur personnel et pour la prospérité de la Nation Française. Au Portugal, nous suivons avec le plus grand intérêt l’œuvre de renouveau national entreprise sous l’égide de Votre Excellence. Nous sommes, en effet, convaincus de l’importance de sa réussite, pour l’avenir non seulement de la France, mais de l’Europe Occidentale toute entière. Plus d’une fois au cours de ma carrière il m’a été donné d’accompagner de près les évènements dans lesquels Votre Excellence a eu le privilège de représenter la France et les espoirs du peuple français. J’tais à Londres le 18 juin 1940. J’étais à Paris en mai 1958 quand la France vous a de nouveau confié son destin.

Monsieur le Président, si c’est toujours un honneur de représenter son pays, c’est aussi pour moi un grand privilège de remettre personnellement à Votre Excellence les lettres m’accréditant, auprès d’Elle, comme Ambassadeur de Portugal.