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318 ESPIRAIS DO TEMPO Assinalando, também, o advento do Catolicismo às novas terras então desco- bertas em 26 de abril de 1500, um domingo, no llhéu da Coroa Vermelha, foi rezada missa solene - acontecimento recriado três séculos e meio depois pelo gênio imortal de Vítor Meireles. Entretanto, só quase 50 anos após a descoberta é que iria ter início o trabalho de catequese do gentio. Jesuítas, beneditinos e franciscanos, após a instala- ção do primeiro governo geral, em Salvador, deram início à tarefa, e para tal ergueram ermidas, substituídas, depois, por belas igrejas e colégios. Aos sacerdotes da Companhia de Jesus coube o trabalho de evangelização dos silvícolas, nos territórios situados ao Sul da capitania de São Vicente, bem como o de reconversão à religião dos poucos pescadores e agricultores de origem européia aí radicados. O período mais provável para o início da evangelização das regiões meridionais teria sido o da passagem dos padres jesuítas Pedro Correa e João de Sonia, enviados de São Vicente para trabalhar entre os índios Carijós que habitavam a “Terra dos Patos”, como então era conhecida a região na qual onde hoje está situada a cidade de Laguna, em Santa Catarina. Ao que consta, esses padres teriam sido mortos pelos índios, depois de haverem deixado, entretanto, a semente do Evangelho - se não foram silvícolas, foram brancos, talvez, pois à época existiam portugueses e espanhóis (estes deser- tores ou náufragos) em Paranaguá, conforme relata Hans Staden, que em 1550 os teria encontrado naquelas paragens. Em 1554, todo aquele território já teria sido visitado pela Companhia de Jesus, segundo se depreende de carta do padre Manuel da Nóbrega a seu provincial, datada daquele ano, e na qual narra, também, o infausto episódio ocorrido dois anos antes no “país dos Carijós”, comprovando, assim, a antiguidade da atividade missionária e catequista jesuítica no extremo meridional do país. Em 1605, de acordo com Ermelino de Leão, “o Padre Fernão Cardim superior da casa das Missões em Cananéia - a que mais próxima ficava dos carijós de Paranaguá -, en- viou os padres João Lobato e Jerônimo Rodrigues para substituir outros missionários no trabalho de catequese no Sul do Brasil”. Entre 1606 e 1640 os jesuítas instalaram no Superagui, junto ao Varadouro Velho, a primeira casa de missões no território do Paraná atual. Segundo todas as indicações, com o transcorrer do tempo, não satis- feitos com “a casa pobre do Superagui”, desejaram fosse construído um colégio em Paranaguá. Da influência desses catequistas iria resultar o estabelecimento dos primeiros templos e colégios católicos ao Sul de Cananéia. Cabe, entretanto, aos jesuítas a quase totalidade do esforço missionário desenvolvido, pelo que se infere da petição da Câmara Municipal de Paranaguá ao provincial da Companhia de Jesus, na qual é solicitada a Antigo Colégio dos Jesuítas Paranaguá

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Page 1: Secretaria do Estado de Cultura, PR

318 ESPIRAIS DO TEMPO

Assinalando, também, o advento do Catolicismo às novas terras então desco-

bertas em 26 de abril de 1500, um domingo, no llhéu da Coroa Vermelha, foi rezada

missa solene - acontecimento recriado três séculos e meio depois pelo gênio imortal

de Vítor Meireles. Entretanto, só quase 50 anos após a descoberta é que iria ter início

o trabalho de catequese do gentio. Jesuítas, beneditinos e franciscanos, após a instala-

ção do primeiro governo geral, em Salvador, deram início à tarefa, e para tal ergueram

ermidas, substituídas, depois, por belas igrejas e colégios.

Aos sacerdotes da Companhia de Jesus coube o trabalho de evangelização dos

silvícolas, nos territórios situados ao Sul da capitania de São Vicente, bem como o

de reconversão à religião dos poucos pescadores e agricultores de origem européia

aí radicados.

O período mais provável para o início da evangelização das regiões meridionais teria

sido o da passagem dos padres jesuítas Pedro Correa e João de Sonia, enviados de São

Vicente para trabalhar entre os índios Carijós que habitavam a “Terra dos Patos”, como

então era conhecida a região na qual onde hoje está situada a cidade de Laguna, em

Santa Catarina. Ao que consta, esses padres teriam sido mortos pelos índios, depois

de haverem deixado, entretanto, a semente do Evangelho - se não foram silvícolas,

foram brancos, talvez, pois à época existiam portugueses e espanhóis (estes deser-

tores ou náufragos) em Paranaguá, conforme relata Hans Staden, que em 1550 os teria

encontrado naquelas paragens.

Em 1554, todo aquele território já teria sido visitado pela Companhia de Jesus,

segundo se depreende de carta do padre Manuel da Nóbrega a seu provincial, datada

daquele ano, e na qual narra, também, o infausto episódio ocorrido dois anos antes

no “país dos Carijós”, comprovando, assim, a antiguidade da atividade missionária e

catequista jesuítica no extremo meridional do país.

Em 1605, de acordo com Ermelino de Leão, “o Padre Fernão Cardim superior da

casa das Missões em Cananéia - a que mais próxima ficava dos carijós de Paranaguá -, en-

viou os padres João Lobato e Jerônimo Rodrigues para substituir outros missionários

no trabalho de catequese no Sul do Brasil”. Entre 1606 e 1640 os jesuítas instalaram

no Superagui, junto ao Varadouro Velho, a primeira casa de missões no território do

Paraná atual. Segundo todas as indicações, com o transcorrer do tempo, não satis-

feitos com “a casa pobre do Superagui”, desejaram fosse construído um colégio em

Paranaguá.

Da influência desses catequistas iria resultar o estabelecimento dos primeiros

templos e colégios católicos ao Sul de Cananéia. Cabe, entretanto, aos jesuítas a quase

totalidade do esforço missionário desenvolvido, pelo que se infere da petição da Câmara

Municipal de Paranaguá ao provincial da Companhia de Jesus, na qual é solicitada a

Antigo Colégio dos Jesuítas

Paranaguá

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319ESPIRAIS DO TEMPO

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320 ESPIRAIS DO TEMPO

indicação para aquela vila de seis padres da Ordem, “para que dessem aulas de ensino

e latinidade, bem como dogmas de Religião”, em troca de numerário para a compra

de escravos e doações de terras para seus estabelecimentos de agricultura, e, também,

“residência à custa do povo”. Esse documento data de 10 de setembro de 1682.

Ainda segundo Ermelino de Leão, a câmara de Paranaguá, em nome do povo,

fez promessa aos missionários de erigir para a Companhia de Jesus um convento sob

a égide de Nossa Senhora das Mercês (a santa padroeira da Ilha de Cotinga). A ilha,

desde 1648, era motivo de agitada demanda entre a Câmara e o provedor Manoel Lemos

Conde e seu filho e sucessor, Antonio Morato.

No entanto somente em 1699 é que o provincial da Companhia de Jesus re-

solveu atender às representações do povo e da Câmara de Paranaguá, mandando

alguns religiosos, mas tão-somente para “iniciar conversações sobre o objeto do

documento” - que data de 17 anos antes - e, em agosto de 1704, a Câmara, em “nome

do povo”, faz doação à Companhia de Jesus de “cem braças de terreno, no sítio da

Ribanceira, fronteiro ao mar, para que ali se construa o Colégio”. Edificar-se-ia ele em

situação invejável, pois a uma distância de poucas centenas de metros ficava a Fonte

Velha, onde iam fazer aguada os barcos chegados a Paranaguá. Na mesma data,

foram doados, por Antônio Morato, os bens e as alfaias da ermida de Nossa Senhora

das Mercês, segundo Vieira dos Santos.

Só em 14 de maio de 1708, todavia, é que, com a chegada dos padres Antônio

da Cruz e Tomás de Aquino, efetivamente se fundou a “Casa Escolar” e tiveram início as

aulas. Pretendeu-se, então, dar início à construção do edifício do colégio.

Entretanto, em 3 de fevereiro de 1709, João Saraiva de Carvalho, ouvidor de

São Paulo, em ofício à Câmara de Paranaguá, obtemperava “não fosse consentido o

levantamento da obra sem que antes se obtivesse a real licença para tanto”, embora

“pudessem ser reunidos os materiais para a mesma(...)”.

Doze anos depois, porém, por força de um dos provimentos baixados pelo

ouvidor Rafael Pires Pardinho, quando de sua viagem ao Sul do país, em 1721, nova

polêmica instalou-se: a dos dízimos que as confrarias seculares e regulares teriam

que recolher à Coroa — e que se negavam a pagar — para a manutenção do culto

divino. Ao mesmo tempo, não reconhecia o ouvidor das doações feitas, as quais

incluíam as terras do Varadouro e metade da Ilha da Cotinga. Sustentava ele que

careciam de validade as referentes à Igreja de Nossa Senhora das Mercês, visto haver

sido esta levantada com as esmolas do povo e, portanto, bem comum, pertencente

ao povo, e não propriedade privada do doador.

Por esse tempo, já tendo os religiosos da Companhia de Jesus fundado casa na

vila com “real licença e geral regozijo dos povos”, providenciou o ouvidor para que

a Câmara fizesse ingentes esforços no sentido de obter dos padres jesuítas escolas

gratuitas para o ensino do Latim, da Leitura e da Escrita, porque, “a não ser assim,

ficariam sem explicação a referência feita à pobreza da população e a doação de

terras e outras benesses recebidas para que nesta terra se instalassem”.

Localização: Rua Quinze de Novembro, 357

Data da construção: 1740-1759.

Proprietário: Universidade Federal do Paraná.

Tombamento estadual: Processo n°38/72. Inscrição n° 37.

Livro do Tombo Histórico. Data: 01/03/1972.

Tombamento SPHAN: Processos n°101-T e 155-T,

Inscrição n°59. Livro Histórico fl. 11 e Inscrição

n°105, Livro das Belas-Artes, fl. 19. Data: 24/5/1938.

Bibliografia: Arquivos da SPHAN.

CALMON, Pedro. História do Brasil, José Olympio,

Rio de Janeiro, 1963.

CARNEIRO, David. “Colégio dos Jesuítas em Paranaguá”

in Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional, n°5, MES, Rio de Janeiro, 1940.

COSTA, Lúcio. ‘Arquitetura Jesuítica no Brasil,

in, Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional, n° 5, MES, Rio de Janeiro, 1941.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da Civilização

Brasileira, vol. 1, A Época Colonial, São Paulo, 968.

JUNIOR, Vicente Nascimento. Paranaguá

História Crônicas e Lendas, Conselho Municipal

de Cultura, Paranaguá, 1980.

LEÃO, Ermelino de. Dicionário Histórico e Geográfico

do Estado do Paraná Curitiba, 1926-1929.

LEITE, pe. Serafim. História da Companhia de

Jesus no Brasil, Civilização Brasileira, Rio de

Janeiro, 1938-1950.

__________ Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil,

Livros de Portugal, Rio de Janeiro, 1953.

Page 4: Secretaria do Estado de Cultura, PR

321ESPIRAIS DO TEMPO

MAACK, Reinhard. “Notas para a História, Geologia

e Geografia de Paranaguá”, julho de 1948, in Rev.

do Instituto.

Histórico, Geográfico e Etnológico Paranaense,

vol. VIII, Curitiba, 1963.

PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo.

Memórias Históricas do Rio de Janeiro, MES,

Rio de Janeiro, 1946.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Curitiba e

Província de Santa Catarina, USP, São Paulo, 1978.

SANTOS, Antônio Vieira dos. Memória Histórica,

Chronologica, Topographica e Descriptiva da Cidade

de Paranaguá e seu Município, Curitiba 1850.

SANTOS, Paulo F. Contribuição ao Estudo da

Companhia de Jesus em Portugal e no Brasil,

Separata do vol. IV do Colégio Internacional

de Estudos Luso-Brasileiros, Coimbra, 1966.

WESTPHALLEN, Cecília Maria. “Alfaias e Jóias do

Antigo Colégio dos Jesuítas em Paranaguá”, in

Boletim n° 1, Universidade do Paraná, Departamento

de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras, Curitiba, 1962. Pequena História do Paraná,

Melhoramentos, São Paulo, s.d.

Finalmente, em 1738, o rei de Portugal concedeu a necessária licença para a edifi-

cação do colégio e, dois anos depois, teve início efetivo sua construção, provavelmente

sobre alicerces que já existiam desde o final do século XVII ou do início do XVIII (1708).

Todavia, a data canônica da fundação é a de 10 de dezembro de 1752. Em 1754, transferi-

ram-se os padres para sua nova casa e os serviços religiosos para a igreja do colégio. Só

em 19 de março de 1755 - dia de São José -, foi oficialmente inaugurado o Colégio dos

Jesuítas, com Missa Solene e Te Deum. O edifício, todavia, não estava concluído: faltava

arrematar o lanço do frontíspício sobre a Rua da Ordem, junto à igreja.

Quatro anos depois, entretanto, por ordem do marquês de Pombal, os jesuítas

foram expulsos da vila e o colégio fechado. Em 19 de janeiro de 1760 procedeu-se ao

seqüestro de seus bens.

Após a expulsão dos jesuítas, a Junta da Fazenda manteve, na igreja do colégio,

um capelão, cujas obrigações eram a de zelar por sua conservação e a de rezar missa.

Essa capelania foi conservada até 1821. O colégio serviu, também, de escritório e

residência ao tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza que comandou a

construção da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, entre 1767 e 1769. Muitos e

muitos anos após a expulsão dos jesuítas, além da inevitável deterioração - “o edifí-

cio já pertencente à Real Fazenda ficou abandonado à furibunda mão do tempo, que

tudo destróe, sem que a mesma houvesse de mandar fazer os reparos de que necessitava,

caminhava pois, a huma total ruína, pela falta de retelho geral tanto no corpo do

Convento como no da Igreja e Sacristia; suas imensas goteiras forão deteriorando os

encaibramentos dos telhados e apodrecendo os vigamentos que os sustião; os forros

e assualhos té as paredes do corpo da Igreja e outros lugares estavão raxados creando

arvores parasitas e ruinozas às mesmas e té já vigorozos arvoredos de figueiras alião

disso, sendo o mesmo edifício muito açoitado pelas chuvas e tormentas vindas da

banda do Sol e Leste que fazião encanar torrentes de agoas pelas goteiras e telhas

quebradas(...)” - passou por obras que, de certa forma, descaracterizaram o projeto

inicial. Não há dúvida, entretanto, que a edificação não obedeceu a um único plano,

nem tampouco foram seus artífices de igual capacidade técnica no que respeita aos trabalhos de

cantaria. Segundo Vieira dos Santos, “no frontispício da Igreja, frizos, cordões, meias

canos e outros lavores, principalmente no nicho do meio, onde pretendião colocar

Santo Ignacio de Loyola; os portões, obreiras e té mesmo a própria cimalha do re-

mate do edeficio de Cantaria”. As intervenções pelas quais, provavelmente, passou,

também foram responsáveis pelo aspecto disforme que o colégio veio a apresentar, o

que levou Saint-Hilaire a estranhar que os jesuítas, “tão cuidadosos nos edifícios que

construíam, houvessem abandonado essa regra no Colégio de Paranaguá”.

Tombado pelo IPHAN em 1938, o edifício estava em adiantado estado de arruina-

mento, quando foi objeto de criteriosa restauração, entre 1958 e 1959. Após cuidadosos

estudos envolvendo o referido órgão da União e a Universidade Federal do Paraná,

sua revitalização efetivou-se em 1962 quando foi aberto ao público o Museu de

Arqueologia e Artes Populares que nele se instalou.

Page 5: Secretaria do Estado de Cultura, PR

322 ESPIRAIS DO TEMPO

Imponente construção sobre planta quadrangular mas de aspecto sombrio e

pesado de praça-forte, no dizer de Lúcio Costa, sua implantação ocupa três quartos

de uma quadra e localiza-se no Centro Histórico de Paranaguá, na então chamada

Rua da Ordem, posteriormente da Alfândega e atual XV de Novembro. Enquadrada

por cunhais em cantaria lavrada, desenvolve-se, em torno do pátio central - claustro

- em três pavimentos. Anexo ao colégio existiu a igreja, fazendo frente para a Rua da

Ordem, dando fundos para o rio. Destruída no século XIX por incêndio, suas ruínas

(frontispício e paredes laterais) foram demolidas, delas restando hoje apenas os alicerces

da nave e da torre, bem como o arco cruzeiro, entaipado por parede de alvenaria. In-

teiramente construída em alvenaria de pedra argamassada, tem sua fachada principal

voltada para o Rio Itiberê; no terceiro piso, abrem-se 10 grandes e largas janelas em

guilhotina, divididas em quadrículos, dotadas de conversadeiras entre os vãos. No

segundo pavimento, sete janelas, todas com requadros em cantaria, encimadas por

vergas retas. No pavimento térreo, e além da grande porta principal do colégio, outras

três janelas. Na parte do edifício que faceava o antigo beco da Alfândega, lado Norte,

existem seis janelas no terceiro pavimento e quatro no segundo. Na face voltada para

o Sul, apenas duas janelas, que iluminavam a antiga sacristia.

O claustro é cercado por belas e robustas arcadas em meio ponto, admiravelmente

trabalhadas em cantaria.

O primeiro piso, com pavimento de pedras e amplas salas, destinava-se às oficinas,

O recolhimento, as celas e os quartos, ficavam no segundo e terceiro pavimentos, com

piso em tabuado.

A frente que faceava a Rua da Ordem, segundo Vieira dos Santos, mostrava o fron-

tispício da igreja e as entradas para o colégio, além de seis janelas de peitoril sobre as

empenas interiores que dão para o claustro.

Ainda segundo Vieira dos Santos, por volta meados do século XIX, a capela-mor

estava acabada e seu trono era abobadado; o retábulo e a trono feitos de entalhadura

e molduras ao gosto daquele tempo. No altar-mor estavam colocadas, em um nicho

central, a imagem de Nossa Senhora das Neves e nos laterais as de Santo Ignacio,

Fundador da Companhia e a de Nossa Senhora do Terço, além das de São Francisco

de Paula, Fundador dos Mínimos e Santo Amaro. No altar colateral, ao lado do Evan-

gelho, colocara-se a imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde. Em 1804 ou 1805,

com o desabamento de parte do telhado da igreja, todas as imagens (e ornamentos)

existentes foram transferidas: a do Senhor Bom Jesus da Cana Verde para a Capelinha

e, as demais, para a Matriz.

Adaptado com muita propriedade à função de museu, não só pela qualidade

do acervo, bem exposto, dotado de bom referencial e distribuído em 10 salas (sete

no segundo piso e três no primeiro), constitui-se, atualmente, na principal atração

turística da cidade. O museu, especializado em Antropologia (Arqueologia Pré-Histórica,

Ergologia Indígena e Artes Populares), está vinculado à Pró-Reitoria de Órgãos Suple-

mentares da Universidade Federal do Paraná e ao Instituto do Patrimônio Histórico e

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323ESPIRAIS DO TEMPO

Artístico Nacional. Através de painéis fotográficos e mapas, enriquecidos com artefatos

elaborados por mãos humanas - da pré-história a nossos dias -, o visitante toma,

também, contato com peças de artesanato produzidas em várias regiões do país, bem

como de mostra de utensílios rudimentares de trabalho: produção de farinha, açúcar

e cachaça, caça e pesca.

O museu possui, ainda, biblioteca, especializada em Arqueologia, Artes e

Tradições Populares, filmoteca e auditório.

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324 ESPIRAIS DO TEMPO

Casa Elfrida Lobo

Na esquina das ruas Dr. Leocádio e Fernando Simas, situa-se essa casa construída

na passagem do século XIX para o XX. De 1930 a 1970, foi residência da família Lobo.

Após esse período, foi adquirida pela Prefeitura Municipal que lhe conferiu o nome de

“Casa Elfrida”, como forma de homenagem à última de seus proprietários.

É uma casa térrea de alvenaria de tijolo, com cobertura de telhas cerâmicas

oculta por platibanda decorada, implantada à frente do terreno, sem recuos frontal e

laterais. É soerguida do nível da via pública por porão ventilado por gateiras circulares.

Sua arquitetura é característica do final do século XIX, quando os imóveis, embora

mantivessem a implantação tradicional luso-brasileira de disposição no alinhamento

frontal do terreno, apresentavam um tratamento plástico eclético, com emprego de

ornamentos extraídos de repertórios formais de origens diversas.

A composição é simétrica, apresentando no eixo central a porta de entrada, enquadrada

por pilastras troncônicas de fuste canelado e capitéis jônicos. Na profusa ornamentação,

em massa, da fachada principal, sobressaem-se os balaústres da platibanda em forma de

jarros, a cimalha denticulada, as sobrevergas e outros ornatos.

Os vãos apresentam especial interesse. São arrematados por bandeiras de arco

pleno de madeira e vidro, com desenho de motivo floral e guarnecidos, à exceção da

porta principal, com balcões ligeiramente sacados, protegidos por guarda-corpos de

ferro batido de desenho esmerado. Esquadrias duplas, postigos cegos e folhas

envidraçadas fazem a vedação desses vãos.

Em seu interior são notáveis os detalhes de acabamento das esquadrias, de

madeira, dos forros e assoalhos, bem como as pinturas parietais.

Localização: Cruzamento da Rua Dr. Leocádio

com a Rua Fernando Simas

Data da construção: Final do século XIX e início do XX.

Proprietário: Prefeitura Municipal.

Tombamento estadual: Processo n°021/90. Inscrição n°120.

Livro do Tombo Histórico. Data: 08/11/1999.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

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325ESPIRAIS DO TEMPO

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326 ESPIRAIS DO TEMPO

A Paranaguá dos séculos XVIII e XIX é, ainda, perfeitamente identificável no

conjunto urbano, estendendo-se às margens do Rio Itiberê, a cidade velha tem sua

paisagem urbana própria, de configuração nitidamente colonial, formada por uma

pequena trama de tortuosas vielas, nas quais se enfileiram séries de casas térreas

e assobradadas construídas no alinhamento, sem recuo. Sobressaem, no conjunto,

algumas edificações de maior vulto, portadoras, no passado, de papel importante na

vida local, como as igrejas, a fonte, o antigo Colégio dos Jesuítas e alguns sobrados.

Esse conjunto, no entanto, não é uniforme, pois parte do primitivo casario sofreu

alterações irreparáveis ou, então, foi demolida e substituída por construções novas.

Apesar das mutilações sofridas pela cidade antiga, entretanto manteve-se inalterada a

escala urbana, pelo fato dessas novas construções haverem mantido fidelidade ao

gabarito e, também, ao alinhamento das construções vizinhas mais antigas.

Mas, se a cidade antiga sobreviveu quase incólume em termos de escala urbana,

por outro lado ficou fracionada em termos de conjuntos e monumentos ainda porta-

dores de suas primitivas características. É de lamentar-se, por exemplo, a demolição

da Capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões, obra do início do século XVIII (1710) e

que existiu até o princípio do século XX. Apesar de já bastante alterada, a série de

sobrados fronteiros ao rio constitui, ainda, conjunto apreciável, sendo de notar-se

que a escala, uma vez mais, manteve-se intacta.

Exemplo do que se afirma é o conjunto existente fronteiro à matriz e que integra

o Centro Histórico de Paranaguá, em largo que ainda guarda várias construções co-

loniais de muito valor. São ao todo, três casas térreas e dois sobrados, que embora

tenham sofrido reformas, mantiveram, todavia, suas características arquitetônicas. A

escala do conjunto é quase perfeita, prejudicada, apenas, pelo excessivo alongamento

da torre da matriz. Desse conjunto destaque-se o sobrado, originalmente ocupado

por casa de comércio, no primeiro piso, e residência, no segundo, e a casa térrea na

qual nasceram e viveram boa parte de sua infância os irmãos Celso e Brasílio ltiberê.

O sobrado, de linhas simples, segundo o arquiteto e professor José La Pastina

Filho, é ampliação de casa térrea erguida no século XVIII e irmã gêmea da edificação ao

lado (Casa Brasílio Itiberê). Na planta da antiga vila já consta, àquela época, a referida

edificação na quadra “situada entre o Largo da Matriz, a rua do Rosário (hoje Professor

Cleto), a rua da Baixa (atual João Reais) e a do Ouvidor (agora Faria Sobrinho)”.

Um de seus antigos proprietários foi o capitão José Rodrigues Branco, e nele se

hospedou Dom José Caetano de Souza Coutinho, Bispo do Rio de Janeiro, quando de

sua visita pastoral a Paranaguá, em 1815.

Localização: Praça da Matriz.

Data da construção: Fins século XVIII/ início do

século XIX.

Proprietário: Prefeitura Municipal.

Tombamento estadual: Processo n°40/72. Inscrição

n°39. Livro do Tombo Histórico. Data: 11/08/1972.

Casa à Praça Monsenhor Celso, 106.

Localização: Praça Monsenhor Celso,106

Data da construção: Fins do século XVII / Início

do século XIX,

Proprietário: Prefeitura Municipal.

Tombamento estadual: Processo n°44/74. Inscrição n°43.

Livro do Tombo Histórico. Data: 23/01/1974.

Bibliografia: Arquivos da SPHAN.

Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico

e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura

do Paraná.

LYRA. Cyro Corrêa de Oliveira, Levantamento e

Projeto de Restauração dos Arquivos da Secretaria

de Estado da Cultura do Paraná.

NASCIMENTO JR., Vicente. Paranaguá: História,

Crônicas e Lendas. Conselho Municipal de

Cultura, Paranaguá, 1980.

Prefeitura Municipal, Paranaguá. Boletim do

Conselho Municipal de Cultura, vol. 1,1968-1975,

Paranaguá, 1976.

SAINT-HILAIRE, A. de. Viagem a Curitiba e Província

de Santa Catarina, USP, São Paulo, 1978.

SANTOS, Antônio Vieira dos. Memória Histórica,

Chronológica, Topográphica e Descriptiva da Cidade

de Paranaguá e seu Município. Curitiba, 1850.

casa onde moraram Brasílio Itiberêe Monsenhor Celso e sobradoà praça monsenhor celso nº 106

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327ESPIRAIS DO TEMPO

Construído em alvenaria de pedra, possui, no térreo, na parte frontal, quatro

portas almofadadas, requadros em cantaria encimados por vergas arqueadas. No segundo

piso repetem-se as portas, que se abrem sobre balcão com guarda-corpo em ferro.

Lateralmente, janelas em guilhotina, divididas em quadrículos, telhado em quatro

águas, cunhais com base em cantaria, o restante em massa, beiral em cimalha.

Até ser construído o Palácio do Visconde de Nacar - pelo comendador Manoel An-

tonio Guimarães -, era considerado o melhor e mais nobre edifício urbano de Paranaguá.

A casa onde nasceram e viveram os irmãos Celso e Brasílio Itiberê da Cunha – o

primeiro tornar-se-ia monsenhor e o segundo, diplomata, e se imortalizaria por suas

composições musicais - é outro magnífico exemplo de configuração colonial.

Brasílio Itiberê da Cunha nasceu em 1846, filho de João Manoel da Cunha e de

Maria Lourenço Munhoz. Depois de estudos primários em Paranaguá e secundários

em Curitiba, seguiu para São Paulo, onde se formou em Direito, entre 1846 e 1870.

Seguindo para a Corte teve oportunidade de mostrar a D. Pedro II suas quali-

dades de virtuoso e seu talento excepcional de músico. Suas Rapsódias Brasileiras,

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328 ESPIRAIS DO TEMPO

seu Jardim dos Trópicos, além de A Sertaneja (baseada em motivos folclóricos pa-

ranaenses), constituem, com as obras de Carlos Gomes, verdadeiras glórias da música

brasileira. Foi ainda diplomata, com carreira notável, servindo na América do Sul e na

Europa. Faleceu em 1913, e seu corpo, embalsamado, foi trazido ao Paraná, tendo o

funeral a guarda do tradicional 13º Regimento de Cavalaria, sediado em Curitiba.

Já seu irmão, Celso Itiberê da Cunha, nasceu em 1849, e fez seus estudos

primários na escola pública, em Curitiba, prosseguindo sua educação no liceu fun-

dado por seu pai. Em 1868 foi para São Paulo, onde se matriculou no Seminário

Episcopal. Ordenado sacerdote em 1873, celebrou sua primeira missa, naquele mesmo ano,

na antiga matriz de Curitiba, de 1873 a 1890 foi vigário de várias cidades, como Cerro

Azul, Apiaí, Iguape e Ribeira, lugares estes então de difícil acesso e comunicação. Em

1897 foi nomeado cônego honorário da Catedral de São Paulo, e em 1° de janeiro de

1901 foi empossado cura da Catedral de Curitiba, onde permaneceu até morrer, em

1930. Seus restos mortais foram trasladados em 1949, data de seu centenário de nas-

cimento, para a Igreja do Rosário.

A casa, construção do século XVIII, destinava-se a fins comerciais (parte fronteira)

e residenciais (fundos), uma vez que em sua fachada existiam, ainda, os primitivos

requadros em cantaria das quatro portas que se abriam para o Largo da Matriz e

das duas para a antiga Rua João Alfredo, para onde se abriam, igualmente, quatro

janelas. Estava em ruínas e dela somente restavam as paredes externas quando o

Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico da Diretoria de Assuntos Culturais

da SEC e a Prefeitura Municipal de Paranaguá iniciariam as obras de restauração. A

casa havia sido tombada pelo Patrimônio do Paraná e, posteriormente, desapropria-

da pela Prefeitura Municipal de Paranaguá, que vendo sua importância no contexto

histórico-cultural da cidade custeando toda a obra de restauração, executada sob a

responsabilidade do arquiteto Cyro Corrêa de Oliveira Lyra, em 1973.

Pelo Decreto n° 693, de 18 de janeiro de 1973, foi dada a denominação de Casa de

Monsenhor Celso ao próprio incorporado ao patrimônio municipal, e o Decreto n° 694 o

destinou para sede do Conselho Municipal de Cultura.

Edificação de um só pavimento em alvenaria de pedra com cobertura em três

águas. Na parte frontal quatro portas almofadadas enquadradas por requadros em can-

taria, encimadas por vergas encurvadas. Lateralmente (é um prédio de esquina) duas por-

tas e quatro janelas, estas em sistema de guilhotina divididas em quadrículos, requadros

em cantaria, vergas arqueadas. Beiral em cimalha.

Page 12: Secretaria do Estado de Cultura, PR

329ESPIRAIS DO TEMPO

Em 5 de julho de 1880 o imperador D. Pedro II inaugurou oficialmente, na ci-

dade Paranaguá, a construção da estrada de ferro entre o litoral e o primeiro planalto.

Naquele momento dava-se também início à edificação da primeira Estação Ferroviária

de Paranaguá, construída três anos depois. Em 17 de novembro de 1883, dia de Nossa

Senhora do Rocio, padroeira da cidade, foram inaugurados o primeiro trecho de

estrada, unindo Paranaguá a Morretes, e a estação de passageiros e carga, batizada

com o nome do monarca.

Edificação de composição simétrica, tem ao centro, destacado, um pórtico de

entrada, com colunas e ornatos de inspiração neoclássica. Na cobertura, em telhas

cerâmicas, são marcantes o frontão central e uma série de óculos de ventilação.

Estação Ferroviária de Paranaguá

Localização: Praça Almirante Tamandaré.

Data da construção: 1882.

Proprietário: Rede Ferroviária Federal S. A.

Tombamento estadual: Processo n° 011/90. Inscrição: nº 108.

Livro do Tombo Histórico. Data: 14/12/1990.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

Page 13: Secretaria do Estado de Cultura, PR

330 ESPIRAIS DO TEMPO

A primitiva distribuição das matas e campos no estado do Paraná era a expressão

de um equilíbrio natural, no que concerne a fatores climáticos e qualidade dos so-

los. A relação entre temperatura e umidade constituía uma fonte de riqueza para a

obtenção de produtos naturais e de cultivo. A retenção das chuvas pela cobertura

vegetal elevada e a sua repetida distribuição pelos arbustos e pela camada folhosa

próxima ao solo fazia com que a água se infiltrasse lentamente na superfície do

mesmo e fosse absorvida pelo húmus, o que resultava em acúmulo de umidade na

rede de raízes. A partir de então, lenta, mas persistente, dava-se sua passagem para

as camadas mais profundas até que fosse atingido o lençol de água subterrâneo, o

qual por saturação, era devolvido à superfície na forma de olhos d’água. (Contrariamente, a

desnudação do solo, por efeito de desmatamento, faz com que ele fique sob a ação

direta das precipitações; a reserva de húmus diminui e, por fim, deixa de existir e o

solo fica sob efeito direto de forte lavagem, o que tem como conseqüência imediata

a diminuição do depósito de água no subsolo, acelerando-se sua redução, no círculo

biológico. Por essas razões fontes centenárias secam ou é sua vazão reduzida).

Paranaguá, situada no sopé da Serra do Mar, degrau entre o litoral e o primeiro

planalto do interior, vê desaguar em sua magnífica baía a captação de rios do planalto

pelos rios das encostas da serra, fruto daquele ciclo já referido. Natural, pois, que,

aqui e ali, aflorem fontes ou olhos d’água, principalmente em baixadas úmidas.

É o caso da chamada Fonte Velha, que já era utilizada desde tempos imemoriais

pelo aborígine que habitava a região. No último quartel do século XVI, entre 1575 e

1600, os poucos brancos de origem européia, egressos de Cananéia e de São Vicente,

que se haviam estabelecido na Ilha da Cotinga resolveram abandoná-la e fundar no

continente fronteiro a nova póvoa, que dispunha de espaço maior para as atividades

agrícolas e pecuárias. A escolha recaiu no chapadão localizado no alto das ribanceiras

do então chamado Rio Taquaré (ltiberê), entre outras coisas “por possuir uma fonte

de água nativa que brotava em meio a formosa planície e que, por falta de represa-

mento, se escoava na direção do mar”.

A primeira providência no sentido de torná-la de utilidade pública - após

haver dessedentado, talvez por séculos e séculos, o aborígine - foi tomada em 10 de

abril de 1655, quando a Câmara resolveu “limpar o caminho da fonte de beber. Na

época o local da fonte era chamado Fonte de Gamboa, corruptela de camboa, designação

dada pelos Carijós, que dali foram expulsos, a curral ou esteiro de apanha de peixes,

sistema por eles utilizado de procedimento técnico pesqueiro que foi herdado pelos

praieiros da região.

Feita a “limpeza” do caminho - ao longo do que é hoje a rua Conselheiro Sinimbú

-, os vereadores, na sessão do dia 4 de abril de 1657, resolveram “se providenciasse

o represamento da água para consumo da população”. Convém assinalar que, na

Fonte Velha

Page 14: Secretaria do Estado de Cultura, PR

331ESPIRAIS DO TEMPO

Page 15: Secretaria do Estado de Cultura, PR

332 ESPIRAIS DO TEMPO

época, à exceção da Fonte de Gamboa, não havia outro manancial de água potável.

Extraía-se água de poços, mas era muito salobra. Para a execução da obra se candida-

taram João Gonçalves Peneda, filho presumível de Domingos Peneda (ou Ceneda) - tido

como um dos fundadores da vila e seu primeiro juiz ordinário -, e Roque Dias, que

prometeram executá-la em 30 dias, o que foi feito.

Mas, não tendo sido trabalho perfeito e, muito menos, definitivo, passado um

ano foram traçados novos planos, consistindo “na construção de uma caixa fechada

com abóbada, tendo em huma das faces huma janelinha para se proceder à limpeza

do interior da dita fonte”. A nova obra custou ao erário municipal 16$000 (dezesseis

mil-réis), um absurdo para a época. Constou da edificação de caixa subterrânea, tendo

descoberta, apenas, a face que se voltava para o mar, e nesta se implantaram a janela

de visitação e limpeza, torneiras de bronze (hoje inexistentes) e ladrões para o escoamento

do excesso de líquido. A caixa se alonga em forma de galeria, protegendo o manancial,

cujo volume de água vem diminuindo com o passar do tempo, embora tenha resistido

a prolongadas estiagens. Entenderam, mais tarde, os vereadores que “tamanha precio-

sidade” exigia “moldura mais artística”, e em 26 de dezembro de 1714 foi contratado o

mestre pedreiro Agostinho da Silva Gomes para a construção de paredes, lateralmente

à galeria, estrutura que até hoje ostenta.

A fonte localiza-se junto às margens do Rio Itiberê, e através da Ladeira de

Santa Rita, pavimentada com lajes irregulares de pedra, as quais, segundo as crônicas,

vieram de ultramar, como lastro nas naus, liga-se à Rua Conselheiro Sinimbu, antiga

Rua da Fonte, nas proximidades da Igreja de São Benedito. Compõe-se de duas plata-

formas - a superior de forma aparentemente elíptica -, construídas em alvenaria de

pedra, e com escada em cantaria ligando-as. No eixo da plataforma superior ergue-se

espécie de frontão, também em alvenaria de pedra e, à sua frente, interrompe-se a

mureta que circunscreve a plataforma. Através de arco sob a mureta atinge-se a plata-

forma inferior, constituída por tanques rasos, também murados, para os quais corre

a água da fonte. Essa segunda plataforma é igualmente arrematada por mureta, cujo

término é uma figura esculpida em pedra, que lança a água para o Rio Itiberê.

Após o tombamento, a Prefeitura de Paranaguá deu partida ao trabalho de restauração

de seu mais antigo monumento, de características nitidamente coloniais, implantando a seu

redor um parque em cuja extremidade há um espelho d’água simbolizando o Rio Itiberê,

que antes dos aterros levados a termo chegava até lá. A fonte integra o Centro Histórico e

é carinhosamente apelidada de “Fontinha” pela população.

Localização: Rua Pêcego Júnior, junto ao Rio

Itiberê. Data da construção: a partir de 1658.

Autor do projeto: Agostinho da Silva Gomes

(mestre pedreiro da obra de 1714)

Proprietário: Prefeitura Municipal.

Tombamento estadual: Processo n°222-04/64. Inscrição n°4.

Livro do Tombo Histórico. Data: 26/01/1964.

Bibliografia: Arquivos da SPHAN.

Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico e

Artístico da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná.

LEÃO. Ermelino de A. Dicionário Histórico e

Geográfico do Estado do Paraná, Curitiba, 1928.

MAACK, Reinhard. Geografia Física do Estado

do Paraná, co-edição José Olympio, Rio de Janeiro,

Secretaria da Cultura do Estado do Paraná,

Curitiba, 1981.

NASCIMENTO JR, Vicente. Paranaguá: História,

Crônicas e Lendas, Conselho Municipal de

Cultura, Paranaguá, 1980.

SAINT-HILAIRE. A. Viagem de Curitiba à Província

de Santa Catarina, USP, São Paulo, 1978.

SANTOS, Antonio Vieira dos. Memória Histórica.

Chronolóngica, Topográphica e Descriptiva da

Cidade de Paranaguá e seu Município, Curitiba,

Museu Paranaense, 1850.

VIANA. Manoel. Paranaguá na História e na

Tradição, Conselho Municipal de Cultura,

Paranaguá, 1976.

Page 16: Secretaria do Estado de Cultura, PR

333ESPIRAIS DO TEMPO

Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeresou da Barra

Em 29 de julho de 1648, por Provisão Régia, D. João IV, então rei de Portugal,

em atenção ao que lhe fora solicitado pelos habitantes do povoado, que desde os fins

do século XVI ou princípios do XVII se erguera à margem esquerda do Rio Itiberê,

houve por bem conceder foros de vila à póvoa que, como tantos outros pequenos

aglomerados humanos, se perdia nas vastidões meridionais do Brasil. Simples arraial

de mineradores e aventureiros brancos, de mistura com índios e negros, formava

uma sociedade bem primitiva, constituída, inicialmente, de emigrados de São Vicente

e Cananéia, estabelecidos desde antes de 1 560 na Ilha de Cotinga, que lhe ficava em

frente. Aos poucos, esses primeiros povoadores foram passando para o continente e

ergueram novo arraial, o qual, expandindo-se, menos de um século depois passaria a

ser a vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá.

Subordinada à capitania de São Paulo e fundada com o objetivo de firmar ao

Sul de Cananéia e projetar até o Rio da Prata a soberania lusa, mediante o povoamen-

to do litoral e sertões correspondentes, Paranaguá foi sede de sucessivos comandos

militares, com o que se pretendeu prestar auxílio às medidas de expansão e assegurar

a defesa do litoral contra eventuais ataques de espanhóis e piratas que, à época, assolavam as

costas e saqueavam as povoações.

Todavia, apesar das petições, rogos, súplicas, para que se defendesse a vila,

Paranaguá era totalmente desprotegida como o comprova o fato ocorrido em 1718,

quando governava a vila o capitão-mor Antonio Gonçalves Pinheiro: à vista de sua

população, dentro da baía, ocorreu o naufrágio de um navio pirata francês que per-

seguia um galeão procendente de Valparaíso, fato esse levado ao conhecimento de El

Rei D. João V, pelo ouvidor Rafael Pires Pardinho, no curso de sua viagem de correição,

pelo Sul do país.

Ao longo dos anos não foram poucos os sobressaltos vividos pela vila, até que em

1734, o então governador, capitão-mor Anastácio de Freitas Trancoso mandou instalar

uma peça de artilharia na barra, para evitar a passagem de qualquer embarcação cujo

acesso fosse indesejável. A necessidade da construção de um forte, que se fazia sentir

desde a fundação da colônia do Sacramento, mais e mais se tornava premente, ante

a crescente tensão entre Portugal e Espanha. E em 27 de janeiro de 1765, com a trans-

ferência da capital para o Rio de Janeiro - que passou, então, a sede do vice-reinado-,

e o restabelecimento da capitania de São Paulo, e ante o agravamento das relações

luso-espanholas, a construção urgente de um forte que defendesse Paranaguá entrou

no rol das cogitações das autoridades portuguesas.

Com a nomeação do morgado de Mateus, o capitão-general D. Luiz Antônio de

Souza Botelho Mourão, para governar a capitania de São Paulo, e por ordem expressa

do marquês de Pombal, ultimaram-se as medidas relacionadas com a defesa da vila

de Paranaguá, e em 28 de dezembro daquele ano a Câmara Municipal aprovou a

Localização: Ilha do Mel (Baía de Paranaguá).

Data da construção: 1767-1769.

Construtor: Afonso Botelho de Sampaio e Souza

Proprietário: Governo Federal.

Tombamento estadual: Processo n°39/72. Inscrição n°38.

Livro do Tombo Histórico. Data: 01/03/1972.

Tombamento SPHAN: Processo n°1 101-T e 1 55-T,

Inscrição n° 52. Livro Histórico, fI. 10; e Inscrição n°92.

Livro das Belas-Artes, fl. 7. Data: 24/5/1938.

Page 17: Secretaria do Estado de Cultura, PR

334 ESPIRAIS DO TEMPO

construção de uma fortaleza na Ilha da Baleia - atual Ilha do Mel -, a ser erguida com o

auxílio do governo e a contribuição do povo.

Em 1767 o tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza, primo do governador

de São Paulo - “passará a Va. de Paranaguá e examinará o logar na sua Barra onde se

construirá a Fortaleza, averiguando com cuidado o que se deve fazer (..) dando-me con-

tudo sempre parte pa. eu determinar o que for mais a bem do Real serviço” -, chegou

a Paranaguá trazendo a importância de R$400$000 (quatrocentos mil-réis), da Real

Fazenda, a qual, somada à de R$250$000 (duzentos e cinqüenta mil-réis), oferecida

pela Câmara Municipal, propiciou o início da construção, em 15 de janeiro. Fazendo do

antigo Colégio dos Jesuítas seu escritório de obras, e após quase três anos de intensos

trabalhos, Afonso Botelho de Sampaio, em 23 de abril de 1769, deu por concluídos os

trabalhos — executados, segundo documentação existente, por apenas 50 operários

(pedreiros, carpinteiros) e escravos. Originalmente, a fortaleza compunha-se de muralhas

de sustentação do terrapleno, corpo da guarda, prisão e enxovias com abóbadas, ca-

pela, quartel da tropa, casa da pólvora e casa do comandante.

Ignora-se o nome do autor do projeto. Entretanto, não se afaste a hipótese de que

tenha sido obra do então tenente-coronel José Custódio de Sá e Faria, então de retorno a

São Paulo, depois de vários anos a serviço d’El Rei nas capitanias de Santa Catarina e de

São Pedro do Rio Grande. Não havendo engenheiros, provavelmente as plantas seriam

fruto de trabalho amadorístico, o que não ocorreu (para tanto bastaria citar o trabalho

que resultou no muro e no pórtico da fortaleza, concepção, inequívoca, de quem en-

tende do riscado). No alto do pórtico, à direita de quem entra, colocou-se cartela com

as armas do Reino de Portugal e, por baixo, o brasão dos Botelho. A esquerda, aberta

sobre o lioz, uma inscrição fala da obra: “1770, Reinando em Portugal o Sereníssimo Senhor

D. José I, mandou fazer esta Fortaleza o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor D. Luiz

Antônio de Souza Botelho Mourão Senhor da Vila de Ovelha, Morgado de Mateus, Fidalgo

da Casa de Sua Majestade Comendador da Ordem de Cristo, Governador da Fortaleza

de Viana, Governador e Capitão-General desta Capitania de São Paulo, no 40º ano de

seu Governo, de 1769.”

O custo das obras se elevou a 30 contos de réis em ouro, e ao ser dada por pronta, a

fortaleza estava equipada com seis peças de ferro e bronze - duas de calibre 23; duas de

calibre 18 e duas de calibre 12 -, as quais, juntamente com a munição e apetrechos vieram

de Santos. Em 23 de abril de 1769, pela primeira vez, saudando o término da construção,

os canhões dispararam em conjunto.

Com o passar do tempo, a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres teve vários

períodos de inatividade. Desarmada em 1800, seus canhões foram levados de volta a

Santos. Em 1802, por ordem do governador da capitania de São Paulo, a fortaleza passou

por pequenas obras de reparos e reconstrução, e em 1820, já quase em ruínas, foi, ao

que consta de documentação, novamente submetida a grandes reparos, concluídos dois

anos depois. Essa reconstituição em muito alterou o aspecto geral inicial: calçadas,

artilharia, porão e outras edificações.

Page 18: Secretaria do Estado de Cultura, PR

335ESPIRAIS DO TEMPO

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336 ESPIRAIS DO TEMPO

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337ESPIRAIS DO TEMPO

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338 ESPIRAIS DO TEMPO

Em 1831, durante a Regência, incluída no plano geral de desarmamento, foi

desativada. Durante o ano de 1846, sobre o terrapleno, na área fronteira da fortaleza,

foi construído um farol,com o propósito de orientar os navegantes.

Era 1850, episódio relacionado à supressão do tráfico de escravos quase de-

generou em séria questão diplomática entre o Brasil e a Inglaterra: um cruzador

inglês, o HMS Cormorant adentrou a Baía de Paranaguá e apressou os brigues Sereia

e Dona Atina, e a galera Campeadora, tidos, todos, como navios negreiros. Depois

das formalidades exigidas pelo comandante inglês Herbert Schomberg, o cruzador,

arrastando atrás de si os barcos apresados, tomou o rumo da barra, sendo, então,

interceptado por salvas que partiam da fortaleza e que o danificaram bastante, deixando-o à

deriva. Na ocasião, a fortaleza era comandada pelo capitão Joaquim Ferreira Barbosa, poste-

riormente destituído do posto e submetido a conselho de Guerra. A ação, entretanto,

fora por ele desautorizada, mas levada a termo por exaltado grupo de paranaguaras

que desejava revidar à descabida intromissão estrangeira em assuntos nacionais.

Após esse incidente, ainda em 1850, a fortaleza foi objeto de novas reformas.

Construiu-se novo parapeito no terrapleno superior às prisões, muralhas interiores,

novo portão, remanejamento da capela, e substituiu-se o soalho das prisões.

No século XX, pouco foi feito: novo edifício para aquartelamento, em 1905, e

pequenos melhoramentos em 1911 e 1913. A capela foi demolida.

Durante o ano de 1969, nela foram realizadas algumas obras de conservação,

a cargo do IPHAN, e executadas consoante projetos do arquiteto Cyro Corrêa de

Oliveira Lyra.

Em 16 de maio de 1975 por indicação do Conselho do Patrimônio Histórico

e Artístico do Paraná, o governo do estado decretou o tombamento da Ilha do Mel,

com o propósito de preservar-lhe, a paisagem, a flora e a fauna, bem como conservar

hábitos tradicionais de seus antigos habitantes e evitar a especulação imobiliária.

Desativada, como todos os outros antigos fortes do litoral Sul por força dos

novos conceitos de tática e estratégia, a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, em

4 de novembro de 1982, foi transferida para a Fundação Nacional Pró-Memória, hoje

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em conjunto com o governo

do estado do Paraná, o IPHAN através da 10ª Superintendência Regional, elaborou

em 1994, projeto de restauração e adaptação da fortaleza para centro de estudos

ambientais. Consoante projeto de restauração dos arquitetos José La Pastina Filho e

Rosina Coeli Alice Parchen, a Fortaleza foi totalmente restaurada com recursos oriundos

de financiamento do Banco Mundial da ordem de cerca de 500 mil dólares.

A fortaleza, erguida em uma aba do morro da Baleia - nome que antigamente

também era dado à ilha -, e fronteira à Ilha das Peças, domina o canal da barra do

norte, o qual dá acesso à Baía de Paranaguá.. Originalmente compunha-se de conjunto

de entrada com compartimentos abobadados sob o terrapleno superior, composto

de acesso, tendo à esquerda o corpo da guarda e à direita duas enxovias ou prisões.

Page 22: Secretaria do Estado de Cultura, PR

339ESPIRAIS DO TEMPO

Encostadas às muralhas internas, o quartel da tropa e a casa do comandante. Sobre o

pequeno terrapleno inferior, estavam a casa da pólvora e a capela.

O terrapleno é contido por muralha de alvenaria de pedra, com cerca de 2m de

espessura e quase 10 de altura. Nos vértices da linha poligonal, formada pela muralha,

sobre os cunhais de pedra aparente, guaritas (seis) em alvenaria de tijolos apoiadas

sobre bacias de pedra lavrada e encimadas por pináculos, também em cantaria.

O acesso à fortaleza faz-se através de arcada em meio ponto, flanqueada, na

entrada, por bela portada em cantaria encimada por cartela com as armas do Reino

de Portugal, e sob elas o brasão dos Botelho.

A gola do parapeito é arrematada sobre o pórtico - este em perfeito equilíbrio

e enquadramento em relação ao baluarte, o que reafirma ter tido o projeto concepção

arquitetônica apurada - por dois graciosos arcos que terminam em volutas e, sobre

elas, cunha trabalhada em forma de concha. Nas extremidades, arrematando-os, dois

coruchéus, um de cada lado. À direita e à esquerda do portão duas carrancas em can-

taria e, lateralmente, à esquerda, placa epigráfica retangular em lioz chanfrada nos

cantos, onde se gravou a memória da construção.

Ao que consta em documentação, quando se iniciaram as obras da fortaleza,

na praia que lhe fica em frente, do outro lado do canal, foi encontrado marco de pedra

que assinalava os limites das capitanias de São Vicente e Santo Amaro.

No alto do Morro da Baleia foi construída, no início do século XX, uma bateria

de canhões de maior alcance e dotados de equipamentos giratórios que permitiam a

guarda dos dois canais de acesso à baía, o antigo ao Norte e o da Galheta, ao Sul.

Em 2004, com recursos federais, a Fortaleza recebeu novas obras de conservação

e restauração que constaram da recuperação da casa da guarnição, das instalações

elétricas, do sistema de drenagem e do revestimento e pintura das muralhas.

Page 23: Secretaria do Estado de Cultura, PR

340 ESPIRAIS DO TEMPO

Um dos mais antigos templos da cidade, sua construção só se iniciou, entretanto,

decorridos muitos anos após a criação da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas,

que já existia em fins do século XVIII, época em que os ofícios eram celebrados em

uma das capelas da ermida de Nossa Senhora das Mêrces, ou do Bonsucesso da qual

era protetor o sargento-mor Roque Dias Pereira.

Até meados do século XVIII, o histórico da Ordem Terceira é desconhecido, por

falta de registros. A partir de então, criteriosamente, todos os sucedidos foram as-

sinalados em livro existente e rubricado pelo padre Manoel da Trindade, além das

referências que lhe faz Antônio Vieira dos Santos, em sua obra Memória Histórica,

Chronologica, Topographica e Descriptiva da Cidade de Paranaguá. Por tradição, cabia

à Ordem realizar a Procissão dos Passos e, de 1790 em diante, também a solene Procissão

da Penitência, na Quarta-feira de Cinzas.

Em 1764, em congregação, foi proposta a construção de uma igreja para a Or-

dem, porém só cinco anos depois é que, efetivamente, as obras tiveram início.

Quase ao findar o século XVIII, foram escolhidos os locais do adro da igreja, do

terreno necessário ao noviciado, das oficinas, do claustro, quando já estava pronta a

parede à direita da capela-mor, isto é, de seu corpo central. Do lado direito ficava o

cemitério, exclusivo para os irmãos da Ordem. Em 1734 foi dada como concluída, mas

somente em 1798 foram construídas as tribunas e, em 1813, pintados o altar-mor e os

altares laterais. Durante o ano de 1815 a igreja sofreu obras de conservação, reparando-

se o consistório, o coro, o campanário e reentelhando-se a capela-mor.

Com o correr dos anos, no século XX, não tendo mais o apoio dos irmãos da Ordem,

a igreja, que vivia em função da rica irmandade, começou a deteriorar-se e, vítima de

incêndio, perdeu toda a obra de talha de seu interior.

Restaurada pela primeira vez pelo Patrimônio Histórico, de 1965 a 1968, durante

os anos de 1983 e 1984 passou novamente por obras de restauração - recomposição

da cobertura, limpeza e proteção de elementos de cantaria da fachada externa e sub-

stituição do madeiramento - através de convênio que contou com a participação do

governo do estado do Paraná.

Abandonada pelo Bispado da Ordem Redentorista de Paranaguá, que não demonstrou

mais interesse em manter o imóvel como local de culto, a Igreja da Ordem Terceira

passou a ser administrada pela Prefeitura Municipal, que a utiliza como centro de

atividades culturais, promovendo exposições de artes plásticas e visuais, encenação de

peças, concertos musicais, palestras, cursos, etc.

Integrando o Centro Histórico de Paranaguá, é construção em estilo barroco,

muito simples, em alvenaria de pedra. Dividida, interiormente, em nave e capela-mor,

possuía dois altares laterais, destruídos, por incêndio. A sacristia ergue-se lateralmente,

Localização: Rua Quinze de Novembro esquina

com Presciliano Correa.

Data da construção: 1770-1784.

Proprietário: Mitra Diocesana de Paranaguá

Tombamento estadual: Processo n°222-01/62, Inscrição n°1.

Livro do Tombo Histórico. Data: 04/11/1962.

Tombamento SPHAN: Processo n°455-t, Inscrição nº391.

Livro Histórico, fl.65. Data: 27/2/1967.

Bibliografia: Arquivos da SPHAN.

Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico

e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura

do Paraná.

NASCIMENTO JR, Vicente. Paranaguá História,

Crônicas e Lendas, Conselho Municipal de Cultura,

Paranaguá, 1980.

SANTOS, Antônio Vieira dos. Memória Histórica,

Chronologica, Topographica e Descriptiva da Cidade

de Paranaguá e seu Município, Curitiba, 1850.

SAINT-HILAIRE, A. Viagem a Curitiba e Província

de Santa Catarina, 1531, São Paulo, 1978.

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas

Page 24: Secretaria do Estado de Cultura, PR

341ESPIRAIS DO TEMPO

nos fundos. Na fachada, enquadrada por cunhais e cimalha em cantaria, destaca-se a

portada em pedra e, à altura do coro, duas janelas em guilhotina, com requadros em

cantaria, divididas em quadrículos, encimadas por vergas encurvadas. Frontão

curvilíneo, cruzeiro encimando-o, óculo central e pináculos laterais. Entre as janelas

do coro, tarja com as insígnias da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas. A

torre, à esquerda da fachada, é construção posterior, datada de 1841. Enquadrada

por cunhais em massa e base em cantaria, possui sineiras em arco pleno. É de

aspecto atarracado e cobre-a telhado em quatro águas, beiral em beira-seveira.

Page 25: Secretaria do Estado de Cultura, PR

342 ESPIRAIS DO TEMPO

Na vida religiosa da cidade de Paranaguá, a irmandade de Nossa Senhora do

Rosário dos Pretos surge com existência efetiva em meados do século XVIII congre-

gando em seu seio escravos e libertos, que se reuniam na sacristia da igreja matriz -

Nossa Senhora das Mercês. A devoção a São Benedito começou em fins do século XVII,

e em 1706 foi dada permissão para que se fizesse procissão em sua homenagem.

Segundo seus estatutos, a atual Irmandade de São Benedito foi fundada em 1710

e, na época, sua diretoria era composta de um juiz, uma juíza, um rei, uma rainha, es-

crivão, tesoureiro, procurador, 12 irmãos de mesa, capitão do mastro e esmoleres. Essa

organização, embora sui generis, seguia a tradição de há muito existente em outras

regiões brasileiras, nas quais existiam irmandades semelhantes.

No Brasil Colônia a devoção a São Benedito era extremamente popular entre es-

cravos e libertos, e em seu louvor realizavam-se festas religiosas nas quais se mescla-

vam diversões profanas, remanescentes da cultura africana, sendo o conhecido auto

popular das Congadas uma das festas mais representativas.

A Igreja de São Benedito, cuja construção teve início em 1784, ergue-se no mes-

mo local onde, desde 1701, ficava a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, edificada com

material aproveitado da demolição (1699) da primitiva ermida de mesma invocação,

que existia na Ilha da Cotinga, desde 1677.

Em 29 de dezembro de 1783 a Irmandade de São Benedito fez termo de ajuste

com o mestre pedreiro Matias Gomes da Silva para que, por 400 mil-réis, divididos

em três pagamentos, construísse a nova igreja, para tanto aproveitando o material

existente e “suprisse o que mais fosse necessário”.

Ao ser iniciada a obra da Igreja de São Benedito - o terceiro dos templos católi-

cos da cidade- , Paranaguá contava com cerca de 5.000 habitantes, dos quais 20%

eram escravos e 13%, pretos. A base econômica era a pesca, embora fosse intenso

o cultivo da cana, da mandioca e do arroz. Existiam, também, muitos alambiques e

vários estaleiros.

Anos e anos sem sofrer quaisquer obras de conservação, a Igreja de São Benedi-

to, ao ser tombada em 1962, pela Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do De-

partamento de Cultura do Estado do Paraná, já se encontrava bastante arrruinada.

Três anos depois, o antigo SPHAN aprovava o projeto do arquiteto Cyro Corrêa de

Oliveira Lyra e as obras de restauração foram iniciadas, constando de retirada e sub-

stituição do forro, substituição da estrutura do telhado e das telhas, renovação do

forro e piso da sacristia, tratamento especial para as rachaduras, remanejamento dos

pontos de luz, reparos na porta principal e nas janelas da sacristia. A pintura sobre a

madeira foi determinada por meio de pesquisas realizadas em laboratório, a fim de se

restabelecer a cor e a composição das tintas empregadas originalmente.

As valiosas imagens que ornamentavam os altares foram, também, objeto de

cuidadosa restauração, sob a orientação do professor Edson Motta, no Rio de Janeiro.

Igreja de São Benedito

Localização: Rua Conselheiro Sinimbu.

Autor do projeto: Matias Gomes da Silva (mestre-de-

obras). Data da construção: 1784-1793.

Proprietário: Irmandade de São Benedito.

Tombamento estadual: Processo n°002, Inscrição n°222-

02/62. Livro do Tombo Histórico. Data: 04/11/1962.

Tombamento federal: Processo n° 455-t. Inscrição n°403.

Livro Histórico, fl. 65. Data: 3/8/1967.

Bibliografia: Arquivos do IPHAN.

Arquivos da Curadoria do Patrimônio Histórico

e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura

do Paraná.

Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da

Secretaria de Educação e Cultura do Estado do

Paraná, Igreja de São Benedito, Paranaguá, 1967.

LYRA, Cyro Corrêa de Oliveira. Projeto e Pro-

posta de Restauração, Arquivos da SPHAN.

________________________.”Restauração da igreja

de São Benedito” in Revista Arquitetura, n° 72/73. 1968.

NASCIMENTO JR., Vicente. Paranaguá História,

Crônicas e Lendas, Conselho Municipal de Cultura,

Paranaguá, 1980.

SAINT HILAIRE, A. Viagem a Curitiba e Província

de Santa Catarina. USP,São Paulo, 1978.

SANTOS, Antônio Vieira dos, Memória Histórica,

Chronologica Topographica e Descriptiva da Cidade

de Paranaguá e seu Municipio, Curitiba, 1850.

Page 26: Secretaria do Estado de Cultura, PR

343ESPIRAIS DO TEMPO

Page 27: Secretaria do Estado de Cultura, PR

344 ESPIRAIS DO TEMPO

O retábulo, o altar-mor, duas imagens de São Benedito e um crucifixo sofreram,

igualmente, minucioso tratamento e restauração realizados em Paranaguá, pela his-

toriadora e restauradora Beatriz Pellizetti.

Em meados de 1967, estavam concluídas as obras, tornadas possíveis em virtude

de recursos financeiros concedidos por: SPHAN, Fundação Educacional do Estado

do Paraná, Companhia Paranaense de Energia Elétrica, Prefeitura Municipal e

Administração do Porto de Paranaguá.

Considerada das melhores e mais autênticas edificações populares do colo-

nial brasileiro, integra o Centro Histórico de Paranaguá. Construída em alvenaria de

pedra, divide-se em, quatro corpos, sendo o primeiro deles constituído pela nave e

coro, o segundo pela capela-mor, o terceiro pela sacristia e o quarto, pela torre.

Suas linhas exteriores são bem simples e na fachada destaca-se, bem enquadrado

por cunhais embasados em cantaria e o restante em massa, o frontão curvilíneo,

encimado por cruzeiro. Ao centro, óculo lobulado. A portada, com umbrais em cantaria

lavrada, encimada por verga e sobreverga encurvadas, se situa sob as duas janelas

altas do coro, em guilhotina, e divididas em quadrículos. Requadros em cantaria e

vergas arqueadas.

A torre, erguida lateralmente à direita da fachada, é edificação posterior, também em

alvenaria de pedra, cunhais com base de pedra e o restante em massa, sineiras em arco

pleno coberta por abóbada de tijolos arrematada por coruchéus. Telhado em duas

águas cobre o corpo principal e a sacristia da igreja. É boa a proporção obtida entre

os cheios e os vazios.

O interior da igreja é, também, simples, e o retábulo e a tribuna são de concepção

mais moderna. O primitivo forro da capela-mor, ao que consta, inicialmente pin-

tado com gravuras e flores, tendo nos quatro cantos figuras de anjos, perdeu-se

como passar dos anos. No altar-mor está colocada a imagem de São Benedito, orago

da igreja e da irmandade.

No pátio lajeado diante da portada, à direita, encontra-se a lápide tumular de

Antonio Morato, construtor da primitiva Igreja das Mercês e considerado fundador

da irmandade, em 1710.

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345ESPIRAIS DO TEMPO

Imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

em terracota, século XVII, com 0,67m de altura.

Imagem de Santa Efigênia

em madeira, século XVIII, com 0,65m de altura

(furtada em outubro de 1984).

Imagem de Nossa Senhora das Candeias

em terracota, século XVIII, com 0,48m de altura

(furtada em outubro de 1984).

Imagem de Santa Luzia

em madeira, século XIX, com 0,55 m de altura

(furtada em dezembro de 1993).

Imagem de São Benedito

em terracota, com esplendor de prata, século XIX,

com 0,78m de altura.

Imagem de São Benedito

em madeira, fins do século XIX, Com 1,10m de altura.

Crucifixo processional

em prata lavrada, século XVIII, com 0,82m de altura

(furtado em outubro de 1984) ura (furtado em outubro de 1984);

Crucifixo de madeira

século XIX.

A imaginária e outros bens da IrmandadeAs imagens, obra de autores não-identificados,

mas de excepcional qualidade, bem como dois crucifixos

(um de madeira do século XIX e outro de prata lavrada do século

XVIII), três missais (dois do século XVII e outro do século XIX,

restaurados pela seção competente da Biblioteca Nacional,

no Rio de Janeiro), foram também tombados pelo Patrimônio

do Estado (Processos nº 08, 09,10,11,12 e 13, inscrições n°08, 09,10,11,

12 e 13, Livro do Tombo Histórico, 1966)

Page 29: Secretaria do Estado de Cultura, PR

346 ESPIRAIS DO TEMPO

Conquanto inexistisse documentação que a comprovasse, em 1936 foi gravada

no lado esquerdo da torre da igreja a inscrição “Templum hoc aedificatum 1578”, o que

transformaria esse templo na edificação religiosa mais antiga de todo o Sul do país.

E embora Vieira dos Santos assegure ter sido a Igreja Matriz de Nossa Senhora

do Rosário de Paranaguá construída “nos idos de 1578” e refira-se, exaustivamente

até, às inúmeras obras e reformas pelas quais passou ao longo do tempo, essa anti-

guidade é contestada por um sem-número de pesquisadores e historiadores, entre os

quais Ermelino de Leão, que afirma, com base em mapa da cidade, feito em 1663, ter

havido capela ou ermida sob a mesma invocação, erguida em lugar distinto do atual.

São muitas as dúvidas e controvérsias existentes no que respeita à origem do templo,

e os relatórios governamentais, a partir de 1856, parecem confirmar a possibilidade

de construção de nova igreja, ainda que não esclareçam, em definitivo, se o que ocorreu

foi uma reconstrução total, com a ampliação da capela primitiva, ou se esta teria

sido demolida para, sobre seus alicerces, ser levantada nova edificação. Mas, quando

da reforma que substituiu o centenário piso em tabuado pelo atual em ladrilhos hi-

dráulicos, verificou-se a existência dos embasamentos de outra construção. Difícil se

torna, assim, precisar tanto a data ou época da construção, como as características

originais da igreja, Por outro lado, convém assinalar que somente em 1725 foi fundada

a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá, 77 anos após haver sido o po-

voado elevado à condição de vila, ano em que, segundo documentação, a “velha Capela

estava prestes a ruir”, o que motivou pedido da Câmara Municipal ao rei de Portugal,

no sentido de que as obras necessárias para a reforma do templo fossem feitas “com

ajuda dos cofres reais”.

Atualmente, a igreja matriz (agora catedral), dividida em quatro corpos - nave,

capela-mor, sacristia lateral e torre (à direita) -,apresenta-se totalmente descarac-

terizada em relação ao que se acredita tenha sido seu partido original. O excessivo

alongamento da torre, de inspiração neogótica, entra em conflito não só com a linha

colonial da austera fachada - enquadrada por cunhais de cantaria arrematados por

coruchéus e com envasaduras emolduradas por requadros, também em cantaria, e

encimadas por vergas e sobrevergas arqueadas -, como também com a escala ainda obser-

vada no largo em que está situada, bem como em quase toda a cidade. Saint-Hilaire,

quando em 1820 passou por Paranaguá, observou que a igreja matriz possuía “a nave

mais comprida que já havia visto em todo o País”. De interior inteiramente despojado,

no curso de uma das inúmeras intervenções que sofreu teve demolido o arco de pedra

que separava a nave da capela-mor e recuado o altar-mor. Também nas empenas laterais

abriram-se janelas, com o propósito de melhor iluminar-lhe o interior. Cobre-a telhado

em duas águas arrematado por beiral em cimalha.

Localização: Praça Monsenhor Celso.

Proprietário: Mitra Diocesesana de Paranaguá

Tombamento estadual: Processo n°18/67, Inscrição n°18.

Livro do Tombo Histórico. Data: 20/10/1967.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

LEÃO Ermelino de. Dicionário Histórico e

Geográfico do Paraná, Curitiba, 1926/1929.

NASCIMENTO JR., Vicente. História, Lendas e Crônicas

Conselho Municipal de Cuitura, Parmaguá, 1980.

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem a Curitiba e

Província de Santa Catarina, USP, São Paulo, 1972.

SANTOS, Antônio Vieira dos. Memória Histórica,

Chronológica, Topográphica e Descriptiva da

Cidade de Paranaguá e seu Município, Curitiba,

Museu Paranaense, 1850.

Igreja Nossa Senhorado Santíssimo Rosário - Matriz

Page 30: Secretaria do Estado de Cultura, PR

347ESPIRAIS DO TEMPO

Page 31: Secretaria do Estado de Cultura, PR

348 ESPIRAIS DO TEMPO

Situada à entrada da Baía de Paranaguá, a 25 graus de latitude, com uma superfí-

cie de 2.762 ha e um perímetro de aproximadamente 35km, a Ilha do Mel é constituída

por duas áreas nitidamente definidas, unidas por um istmo de 15m de largura no seu

ponto mais estreito. A área menor, ao Sul, é caracterizada pela presença de seis eleva-

ções, a mais alta das quais o morro Bento Alves mede 160m de altura, e pelo recortado

das praias abertas para o oceano. A área Norte, mais extensa, é dominada por uma

planície de restinga, com mangues, riachos e lagoas, e é contornada por praias voltadas

para o mar interior da Baía de Paranaguá.

Acidente geográfico mapeado na Sexta Carta da Costa do Brasil ao Meridiano

do Rio de Janeiro, desde a Ponta de Araçatuba até a Barra do Guaratuba, pelo padre M.

Diogo Soares, S.J., geógrafo régio no estado do Brasil, antes de meados do século XVIII,

referido por inúmeros viajantes estrangeiros que ao Brasil vieram entre os séculos

XVI e o XIX, foi registrado iconograficamente através de xilogravura no livro de Hans

Staden (1555), por aquarelas de Debret (1827) e tema de inúmeros quadros a óleo de

Alfred Andersen (1930), Theodoro de Bona (1946) e outros.

A ocupação humana remonta à pré-história, conforme testemunham inúmeros

sambaquis. No período colonial, a ilha do Mel, pela posição estratégica, à entrada da

Baía de Paranaguá, passou a ter um papel importante de defesa, construindo-se no

sopé de um morro, em uma ponta, diante do canal de acesso, uma fortaleza, sob a in-

vocação de N. Sra. dos Prazeres. Em 1872, na extremidade Leste, na Praia das Conchas, à

boca da barra, foi erguido um farol para apoio à navegação, obra do tempo do Império,

todo em ferro e cuja aparelhagem veio da Inglaterra.

Uma placa registra o fato: “O Senhor D. Pedro II, I.C., o Barão de Cotegipe, Ministro

da Marinha, mandou construir este pharol. Eng. Zozimo Barrozo Construtores P&W

Maclellan, Glasglow, 1870”. Essa praia junta beleza e função vital, pois graças à luz do

farol, que à noite a ilumina, podem os navegantes ter orientação.

A flora da ilha abrange a vegetação subarbustiva e arbustiva típica das restingas,

a floresta latifoliada com a presença de liamas e epítitas, além de palmáceas e, final-

mente, o manguesal. A vegetação na área de domínio da água do mar é constituída de

plantas psamófitas e halófitas, que cobrem a superfície arenosa, e de ricas associações

xerofíticas, nas quais estão presentes aglomerações de bromeliáceas, que crescem so-

bre as cúpulas rochosas fora do alcance das marés. Na areia seca registra-se a existên-

cia de gramíneas, ciperáceas e plantas com raízes adventícias em caules rastejantes.

Ao Sul da Baía de Paranaguá, a vegetação nativa ou foi totalmente destruída ou está

bastante comprometida.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a ilha esteve sob ocupação de forças milita-

res, medida considerada indispensável à proteção do porto e Baía de Paranaguá.

Desde o final do século XIX, a ilha do Mel é bastante procurada por turistas,e dada

sua localização, entrada da barra, o que se pretende com a medida de tombamento é,

Localização: Baía de Paranaguá.

Proprietário: União e diversos particulares

Tombamento estadual: Processo n°56/74, Inscrição n°11.

Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e

Paisagístico. Data: 16/05/1975.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

CARNEIRO. David, A. Casos e Coisas da História

Nacional, Rio de Janeiro, Ed, Alba, 1934.

AVÉ-LALLEMENT, Robert, Viagens pelas Províncias

de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, 1858, USP,

São Paulo, 1980.

LEÃO, Errnelino de A. Dicionário Histórico e

Geográfico do Estado do Paraná, Curitiba, 1928.

MAAC, Pinhard. “Notas para a História, Geologia e

Geografia o Paraná”, Comunicação ao 1º Congresso

Regional de História em Paranaguá, 1948, in Revista

Instituto Histórico, Geográfico e Etnológico

Paranaense, vol. VIII, Curitiba, 1963.

—, Geografia Física do Paraná, José Olympio,

Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, INL,

Rio de Janeiro, 1981.

Ilha do Mel

Page 32: Secretaria do Estado de Cultura, PR

349ESPIRAIS DO TEMPO

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350 ESPIRAIS DO TEMPO

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353ESPIRAIS DO TEMPO

justamente, impedir o turismo predatório e a ocupação desordenada do solo e também

a proteção do que resta da flora e da fauna do litoral do Paraná. A manutenção do

paisagismo da ilha e a preservação dos hábitos tradicionais do caboclo, que ainda faz

seu barreado, dança seu fandango e tece suas lendas - “a praia das Encantadas era das

sereias que atraíam os barcos, os quais, indo pelo canto delas, acabavam batendo nas

pedras(...)” - incluem-se, outrossim, nas medidas de proteção, bem como os sítios arqueológicos

que assinalam a presença de culturas pré-cabralinas, na área. São poucos os pontos

habitados; na Prainha residem os moradores mais antigos, vivendo de pesca arte-

sanal, hoje em decadência. Da primitiva povoação restam menos de 50 casas uma

pequena escola e uma igrejinha.

Além da riqueza e da beleza naturais que lhe são inerentes, ao longo da praia

que vai do Farol das Conchas à fortaleza (seis quilômetros, aproximadamente) registra-se

a presença de rica fauna de alto valor científico, na forma de primitivas espécies de

invertebrados.

Por todas essas razões, justifica-se, como o deseja a comunidade científica do

Paraná, a transformação da Ilha do Mel em parque natural e reserva biológica, sob

proteção legal.

NASCIMENTO JR., Vicente. Paranaguá: História,

crônicas e Lendas, Conselho Municipal de Cultura,

Paranaguá, 1980.

Plano Básico Regional Litoral do Paraná, 1966.

RIO BRANCO, Barão do, Efemérides Brasileiras

edição fac-similada, Rio de Janeiro, Ministério

das Relações Exteriores, 1946 (obras do Barão do

Rio Branco).

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem a Curitiba e

Província de Santa Catarina, USP, São Paulo. 1978.

SANTOS, Antônio Vieira dos. Memória Histórica,

Chronológica Topográphica e Descriptiva da

Cidade de Paranaguá e seu Município, Curitiba,

Museu Paranaense, 1850, ilust.

STADEN, Hans. Duas Viagens ao Brasil, USP, São

Paulo, 1978.

VIANA, Manoel. Paranaguá na História e na

Tradição, Conselho Municipal de Cultura,

Paranaguá, 1976.

FIGUEIREDO, José Carlos, Contribuição à Geografia

da ilha do Mel, Curitiba, 1954.

Page 37: Secretaria do Estado de Cultura, PR

354 ESPIRAIS DO TEMPO

Instituto de Educação

Dr. Caetano Munhoz da Rocha

Criada por lei estadual, a antiga Escola Normal, hoje Instituto de Educação, foi

inaugurada em 27 de julho de 1927 pelo Dr. Caetano Munhoz da Rocha, a quem coube

a iniciativa desta e de diversas obras públicas no período em que governou o estado

(1924-1928). Em 1952 passa a se denominar Escola Secundária Dr. Caetano Munhoz da

Rocha e em 1967, Instituto de Educação, mantendo porém o nome do seu fundador.

Implantado em meio de amplo terreno, em nível mais elevado que a via pública,

valorizado por escadaria e portão de ferro, o prédio expressa o ecletismo de lin-

guagem neoclássica característico dos edifícios públicos seus contemporâneos. São

elementos de peculiar interesse as pinturas de paredes e tetos do hall de entrada, a

elegante escadaria de madeira de acesso ao pavimento superior, os vitrais, as esquadrias

internas e externas e os pisos de ladrilhos decorados. A organização da planta, em U,

cria um interessante pátio circundado de varandas, aos fundos da edificação.

Localização: Rua João Eugênio, esquina com Rua

Comendador Correia Júnior. Centro.

Data da construção: 1924-1927.

Proprietário: Prefeitura Municipal.

Tombamento estadual: Processo n°022/90. Inscrição nº112.

Livro do Tombo Histórico. Data: 12/09/1991.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

Page 38: Secretaria do Estado de Cultura, PR

355ESPIRAIS DO TEMPO

Guarda esse túmulo os restos mortais de personalidade eminentes nos meados

do século XIX, na cidade de Paranaguá - Dr. Leocádio José Correia - médico,

escritor e político, falecido em 18 de maio de 1886.

Em termos artísticos, o destaque é o busto do Dr. Leocádio, feito na Itália

por encomenda de sua irmã, a baronesa do Serro Azul.

Jazigo da Família Correia

Proprietário: Particular.

Tombamento estadual: Processo n° 001/91. In-

scrição n° 111. Livro do Tombo Histórico. Data:

17/05/1991.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

Page 39: Secretaria do Estado de Cultura, PR

356 ESPIRAIS DO TEMPO

Originais da Obra Memória Histórica da Cidade

Trata-se dos manuscritos e das ilustrações originais do livro Memória Históri-

ca da Cidade. A história da cidade de Paranaguá, assentamento urbano mais antigo

do estado, é contada na obra com muito esmero, e se constitui em uma das poucas

fontes existentes sobre o assunto, pois muitos documentos históricos relatados e

transcritos no livro não existem mais.

Os seus valores histórico e documental são inegáveis, devendo ser preservados

para as gerações futuras.

Page 40: Secretaria do Estado de Cultura, PR

357ESPIRAIS DO TEMPO

Localização: Instituto Histórico, Geográfico

de Paranaguá - Rua 15 de Novembro, 603.

Proprietário: Instituto Histórico, Geográfico

de Paranaguá.

Tombamento estadual: Processo n°01/02. Inscrição n°144.

Livro do Tombo Histórico. Data: 17/12/2003.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

Page 41: Secretaria do Estado de Cultura, PR

358 ESPIRAIS DO TEMPO

Page 42: Secretaria do Estado de Cultura, PR

359ESPIRAIS DO TEMPO

Page 43: Secretaria do Estado de Cultura, PR

360 ESPIRAIS DO TEMPO

Após cinqüenta anos de intensas negociações, pela Lei n° 704 de 29 de agosto

de 1853, a Comarca de Curitiba foi elevada à categoria de Província, tendo Curitiba por

capital. “enquanto a Assembléia respectiva não decidir o contrário”. Conquistada a eman-

cipação política, teve início acirrada disputa pela escolha definitiva da capital da nova

província. Indiscutivelmente, à época, era Paranaguá a mais importante e próspera

cidade do Paraná, mas os fatos parecem indicar que a Corte tudo fez no sentido de

enfraquecer o poder político da cidade. Certo é que, entre os anos de 1840 e 1860,

sua economia passou a perder para a de Curitiba, não somente em virtude do deslo-

camento da Ouvidoria, como também pela instalação local de engenhos de beneficiamento

da erva-mate. Natural, pois, que uma cidade que culturalmente também estava na

vanguarda - havia colégios públicos e particulares, duas escolas de música e uma de

latinidade e em 1839, ergueu-se o primeiro teatro, o teatro Paranaguense, onde davam

espetáculos companhias do Rio de Janeiro e grupos de amadores locais - almejasse

sediar a capital da nova província e que, um de seus mais ilustres cidadãos, o

comendador Manuel Antonio Guimarães tenha pensado em construir edificação que

poderia, eventualmente, ser utilizado como Palácio do Governo da nova administração.

É ainda voz corrente na cidade que Manoel Antonio Guimarães desejava ardente-

mentente que Paranaguá fosse a capital da Província e um paranaguense indicado

para a sua presidência. Ele teria até encomedado um retrato a óleo de D. Pedro II para

decorar o palacete, pois a presença da figura do Imperador era imprescindível em todas

as repartições públicas. Todavia, essa destinação do palacete está mais apoiada na

tradição oral do que em fatos históricos, pois nada há que comprove ter sido o imóvel

construído com a finalidade de ser oferecido ou vendido à administração provincial.

Manoel Antonio Guimarães, que ocupou o cenário, político, econômico e social de

Paranaguá durante quase todo o século XIX - nascido em 1813, falecido em 1893 - foi

um dos mais empreendedores negociantes do litoral da província e o mais importante

exportador de erva-mate. Patriarca de grande família, fruto de dois casamentos, manteve

sempre a atitude de um conservador, quer política, quer socialmente, e ocupou um

sem-número de cargos, obtendo várias distinções e honrarias, culminando por tor-

nar-se membro da nobreza brasileira. Dentre os cargos que ocupou, figuraram o de

Comandante da Guarda Nacional, fundador da Maçonaria, Provedor da Santa Casa de

Misericórdia, Deputado Provincial por São Paulo e pelo Paraná, membro do Legislativo

Municipal (1857/60 e 1873/76), Vice-Presidente da Província por duas vezes; Presidente

da Câmara Municipal, Delegado de Polícia e Juiz Municipal em Paranaguá. Dignatário

da Ordem da Rosa (por ter alforriado escravos), Comendador da Ordem de Cristo e

Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, Barão (1876) e Visconde (1880) de Nacar,

títulos estes provenientes do estabelecimento rural que possuía em Antonina e que

se chamava Nacar, onde mantinha lavoura e engenho de arroz. Dono de apreciável

Palacete Visconde de Nacar

Localização: Rua Visconde de Nacar, 33.

Data da construção: 1856.

Proprietário: Prefeitura Municipal.

Tombamento estadual: Processo nº016/66. Inscrição n° 16,

Livro do Tombo Histórico. Data: 22/12/1966.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

LACERDA, Maria Thereza B. de, POLINARI, Marcello.

O Palacete Visconde de Nacar, notas datilografadas,

CPHA, Curitiba, 1984.

LEÃO, Ermelino de. Dicionário Histórico e

Geográfico do Paraná, Curitiba, 1926/1929.

NASCIMENTO Jr., Vicente. Histórias, Crônicas e Lendas,

Conselho Municipal de Cultura, Paranaguá, 1982.

Page 44: Secretaria do Estado de Cultura, PR

361ESPIRAIS DO TEMPO

Page 45: Secretaria do Estado de Cultura, PR

362 ESPIRAIS DO TEMPO

fortuna, proprietário de um sem-número de imóveis em Paranaguá e de fazendas no

interior do município, fundou o Hospital de Caridade, promoveu a construção do

Mercado, a fundação e instalação da Companhia de Navegação Progresso, a escolha

do Porto do Gato para a estação inicial da Estrada de Ferro do Paraná, dentre muitas

outras iniciativas. Concluída a edificação do palacete em 1856, nele foi residir com a

família, hospedando, em 1880, D. Pedro II e sua comitiva, quando da imperial visita

à Província do Paraná e, em 1884, nele recebeu a Princesa Isabel, o Conde d’Eu e os

filhos. Com a morte do Visconde, em agosto de 1893, por testamento a metade da

propriedade passou para o primeiro filho do segundo casamento, João Guilherme

Guimarães - que era gerente das suas casas comerciais e que, em 1910 a vendeu à

Prefeitura Municipal, para que nela fossem sediados seus serviços e os da Câmara

Municipal. Foi solenemente inaugurada, após breves trabalhos de conservação e reparos,

em 29 de julho, 206° aniversário de fundação da cidade.

A edificação, que obedece às linhas neoclássicas, é de planta retangular, ergui-

da no alinhamento da rua, em dois pavimentos. Na fachada, tanto do primeiro como

do segundo piso, todas as envasaduras são emolduradas por requadros em massa,

vergas em arco de meio-ponto, janelas divididas por quadrículos e encimadas por

bandeiras fixas. No segundo piso, janelas rasgadas e varanda corrida com guarda-cor-

po em ferro trabalhado. A fachada é enquadrada por cunhais em massa e arrematada

por platibanda vazada. No amplo saguão da entrada, originalmente em lajeado (pos-

teriormente substituído por concreto e fragmentos de mármore) viam-se, nas paredes

quatro painéis pintados representando o Comércio, a Indústria, a Lavoura e a Pesca

e, na base de uma das quatro colunas laterais, placa em mármore comemorativa das

datas de instalação do Município e da inauguração do prédio. No primeiro patamar

da escadaria, em canela preta envernizada, foi instalado o vestiário e, de cada lado,

estatuetas de bronze com focos de luz. Neste ponto a escadaria se bifurca em lanços

opostos e que do acesso ao segundo piso, sobre vasta galeria central da qual se irra-

diam as demais dependências do edifício. As paredes, aí, se ornam de pinturas, dentre

elas cópias de quadros históricos, como A Primeira Missa, de Vitor Meireles e Desco-

berta do Brasil, de Aurélio de Figueiredo. Essa galeria dá acesso ao Salão Nobre, com

teto decorado em estuque, e de cujo centro pende enorme lustre de cristal. O Salão

destinava-se primitivamente a solenidades. No Salão Nobre saliente-se, sobretudo, o

belo retrato de corpo inteiro, em óleo sobre tela, do Visconde de Sinimbú, feito por

Vitor Meireles. Do lado esquerdo do edifício, em vasta área, bem delineado jardim.

Até 1980, a Prefeitura de Paranaguá ocupou o Palacete Visconde de Nacar,

quando se mudou para prédio de sua propriedade - o Palácio São José -, passando a

Câmara a ter sua sede em imóvel alugado temporariamente para esse fim.

Em 1985 foi restaurado segundo projeto do Arquiteto Jeferson Dantas Navolar

sendo as obras custeadas pela Prefeitura. Voltou, em seguida, a abrigar condigna-

mente a Câmara Municipal.

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Prédio da Alfândega

A Carta Régia de 22 de outubro de 1709 incorpora a antiga Capitania de

Paranaguá à Capitania Geral de São Paulo. Apesar das perdas dos benefícios de

Capitania, a Vila possuía um dos pontos de comunicação mais acessíveis da época:

o Porto D. Pedro II. A Junta da Fazenda de São Paulo, devido à importância do

porto, ordenou em 1827, a criação de uma alfândega, cuja instalação se deu no

antigo Colégio dos Jesuítas, onde atualmente funciona o Museu de Arqueologia e

Antropologia de Paranaguá.

Com a emancipação política do Paraná em 1853 e a implantação da estrada de

ferro ligando Curitiba a Paranaguá em 1885, o Governo Federal ordenou a construção

de um novo prédio para abrigar a Alfândega junto ao Porto D. Pedro II, no ano de

1889. O local escolhido não agradou aos comerciantes de Paranaguá, que protestaram

enviando um telegrama ao governo, alegando que o local distava cerca de 3km do centro

comercial da cidade, o que lhes causaria gastos extras. O telegrama foi publicado no

Jornal de Paranaguá:

“Constatando pretender Governo mandar construir edifício nova Alfândega

no Porto D. Pedro II logar pantanoso inconveniente e distante 3 km desta cidade,

população, comércio unanimemente solicitação empregueis meios evitar similhante

resolução que de nenhum modo de consulta interesses gerais aliados convencionais

da localidade Governo provisório intuito acautelar interesses de toda espécie e satisfa-

zendo geral aspiração população autorise construção edifício n’esta cidade onde não

falta local apropriado”. Paranaguá, 19 de novembro de 1889.

Contudo, a pedra fundamental do edifício da nova Alfândega foi lançada em

1903, no local estabelecido, sendo os responsáveis pelo projeto e obra o arquiteto Dr.

Rudolf Lange e o engenheiro construtor Dr. João Carlos Gutierrez.

A Alfândega de Paranaguá instalou-se provisoriamente em 10 de abril de 1910, sendo

inaugurada oficialmente em 28 de outubro do ano seguinte. A Fazenda Nacional ocupou

por muitos anos a edificação, que também sediou a Agência da Receita Federal até

1975. Devido ao precário estado de conservação, a agência foi obrigada a mudar-se

de endereço e no ano seguinte, a Prefeitura Municipal solicitou a cessão do prédio

para ali instalar um centro cultural, com museu e biblioteca, além de promover sua

preservação e restauração.

Sua arquitetura é eclética, obedecendo aos padrões dos edifícios públicos das

primeiras décadas do século XX. Compõe-se de dois corpos. O principal é uma edificação

de alvenaria de tijolo de dois pavimentos sobre planta retangular, completada por um

torreão central de planta octogonal, arrematada por cúpula ornada por lucarnas e

coroada por varanda de observação. Anexo a esse corpo, estende-se lateralmente um

galpão, também de alvenaria, de um pavimento com cobertura em duas águas. Além

da cúpula, merecem destaque os acrotérios em massa, dispostos sobre os ângulos e o

tratamento em bossagem das paredes.

Localização: Praça Ubaldino do Amaral, Centro

Data da construção: 1911.

Autor do projeto: arquiteto Rudolf Lange.

Proprietário: Prefeitura Municipal de Paranaguá

Tombamento estadual: Processo n°023/90. Inscrição

n°121. Livro do Tombo Histórico. Data: 08/11/1999.

Bibliografia: Arquivos da Curadoria do Patrimônio

Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da

Cultura do Paraná.

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Mapa indicativo dos Bens Tombados em Paranaguá

Bens Tombados em Paranaguá

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Sede de município, cidade situada no litoral paranaense, Paranaguá, em língua

tupi, significa baía redonda, denominação semelhante dada pelos naturais à baía do

Rio de Janeiro, guá nã para ou bara, corruptela local do vocábulo. Banhada a Leste pelo

Oceano Atlântico, numa extensão de pouco mais de 50Km, o território paranaguense é,

na realidade, circundado por quatro vastas baías - Paranaguá, Laranjeiras, Pinheiros e

Guapirocaba - que adentram o continente até o sopé da Serra do Mar e onde deságuam

cerca de 80 rios, entre os quais o Itiberê (Taquaré, como o chamavam os indígenas),

sobre cuja margem esquerda se assentou a cidade.

Pesquisas arqueológicas comprovam a existência de sinais de prolongada ocu-

pação humana de toda a área ao longo dos séculos que antecederam a chegada dos

portugueses, sobretudo pela presença de um sem-número de sambaquis, ou concheiros,

muitos dos quais, infelizmente, destruídos pela ação predatória do homem branco.

Habitavam-na, quando se iniciou a colonização, os Karijós, do grupo lingüístico Tupi,

os quais, posteriormente, emigraram para o Oeste, na direção do Rio Paraná, onde,

hoje, poucos remanescentes sobrevivem.

Embora conhecida dos portugueses que se haviam radicado em São Vicente

e Cananéia, desde o início do século XVI, e que a haviam atingido utilizando-se de

pequenas embarcações e navegando através de canais internos de comunicação - o

chamado Varadouro -, que demandavam o Superagui, somente por volta de 1520 pas-

sou a Baía de Paranaguá a figurar nas cartas geográficas. Tal constatação permite

concluir que, não obstante as inúmeras viagens de reconhecimento e exploração da

costa brasileira, antes e depois da chegada de Pedro Álvares Cabral - Vicente Yañez

Pinzon, Diego de Lepe, Americo Vespucci, Gonçalo Coelho, André Gonçalves, Cris-

tóvão Jacques, Juan Dias de Solis, entre outros -, até aquela época a Baía de Paranaguá,

confundida, provavelmente, como estuário de algum grande rio, não havia sido descoberta

por via marítima e que, em termos de realidade cartográfica o litoral brasileiro termi-

nava em Cananéia. Fruto, sem dúvida, da insegurança, do desconhecimento em rela-

ção ao local exato por onde passava a linha demarcatória do Tratado de Tordesilhas

estabelecida em 1494. Esse desconhecimento foi a razão pela qual, e por mais de 100

anos após a descoberta do Brasil, os portugueses se contentaram em estabelecer po-

voados ao longo da costa, até Cananéia, ao mesmo tempo em que os espanhóis, com

muita desenvoltura, aliás, palmilhavam o interior do continente como o fizeram D. Alvar Nuñes

Cabeza de Vaca, D. Hernando de Trejo de Senabria e muitos outros que atravessaram

o atual estado do Paraná, de Leste para Oeste, o que, para a época (1542), constituiu

notável e audacioso empreendimento.

Esse conflito em torno da propriedade das terras situadas no meridião

brasileiro originava-se de interpretações diferentes, tanto da parte de Portugal quanto

da Espanha de duas bulas papais datadas de 3 de maio de 1493, segundo as quais o

Setor Histórico da Cidade de Paranaguá

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Sumo Pontífice concedera ao Reino de Castela todas as terras por Colombo descobertas

e por descobrir a Oeste. Uma terceira bula esta de 4 de maio, entretanto, atendia ao

que Portugal pretendia, limitando as possessões dos dois reinos por linha traçada

100 léguas a Oeste de qualquer (sic) ilha dos Açores e Cabo Verde - centum leucis versus

occidentem et meridien(...)”. Essa concessão, entretanto, foi revogada por nova bula, de

25 de setembro daquele mesmo ano, e pela qual se ampliava a doação feita à Espanha

“a todas y qualesquier islas y tierras firmes halladas y por hallar, descubiertas y por descubrir hacia

el occidente ó el medio dia... en las partes occidentales ó meridionales y orientales y de la India”.

Só em 7 de junho do ano seguinte, 1494, em Tordesilhas, as duas Coroas assinaram

contrato fixando a linha demarcatória a 360 léguas do Arquipélago de Cabo Verde.

Infelizmente, porém, e mais uma vez, sem que se indicasse de qual das ilhas deveria

partir a contagem e, - pior ainda - sem que fosse fixada a verdadeira medida da légua,

pois a cada grau, no equador, correspondiam (consoante as opinões da época, pouco

seguras, registre-se) 14, 15, 16, 17,5 e até 22 léguas... Assim de acordo com os interesses

do momento, os dois reinos variavam no ponto de partida e, também, na medida itinerária.

Segundo os espanhóis, a linha de demarcação atingia o Atlântico meridional em Igua-

pe, no atual estado de São Paulo; na opinião de Portugal, na hoje cidade de Laguna,

na então capitania de Santo Amaro e Terras de Sant’Ana, o que significava muitas e

muitas léguas de diferença.

A primeira notícia havida a respeito da entrada da Baía de Paranaguá pelo mar

é a que consta do relato de viagem feito por um aventureiro alemão, Hans Staden,

publicado em 1556 e no qual vem estampado, também, o primeiro mapa conhecido

da área, denominada “Suprawa” , Superagui”, com toda a certeza. No mapa, uma xilogravura,

vêem-se, com muita clareza, até, entre outros acidentes geográficos, o canal do Super-

agui, as ilhas das Peças, da Cotinga e do Mel (na época conhecida como “da Baleia”).

Através desse relato foi possível saber, igualmente, que em vários locais, tanto no

interior quanto na orla da Baía de Paranaguá, para dentro da qual a embarcação em

que o autor viajava fora arrastada, devido a súbita tormenta, já haviam-se radicado

portugueses e espanhóis, oriundos, uns, de São Vicente e Cananéia, de naufrágios,

outros. Posteriormente, já no século XVIII, no mapa desenhado e editado por Henri-

cus Hondius, Acuratissima Brasiliae Tabula, publicado em Amsterdã, inicialmente em

1603, a Baía de Paranaguá é denominada “Lagoa de Pernaga”, mas na edição seguinte,

a de 1611, figura como “Baía Superabu”, denominação que se repete na carta elaborada

por Johannes Jansonius e publicada mais de 20 anos depois, em 1633.

Como já se disse procedentes de Cananéia, uns, de São Vicente, outros, os portu-

gueses, ao que tudo faz crer, estabeleceram-se inicialmente na chapada oriental da ilha

que os indígenas chamavam de Cotinga e deram início à conquista do atual Estado do

Paraná, com a ocupação do território adjacente à Baía de Paranaguá. Posteriormente, alcan-

çaram os então chamados “campos de Curitiba”, através da subida da Serra do Mar.

Segundo todas as indicações, esse primeiro núcleo de povoamento per-

maneceu no mesmo local até quase o fim da penúltima década do século XVI, quando,

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pela impossibilidade de se abrirem novos campos de pasto e se cultivarem novas lavou-

ras, parte dos moradores emigrou para outras áreas da região, às margens e nas cabecei-

ras dos rios que demandavam a Baía de Paranaguá. Dessa penetração resultou não só o

povoamento do recôncavo, como, e mais importante ainda, a mineração de ouro, por

mais de dois séculos, em áreas localizadas no interior do território compreendido pelo

atual município, notadamente Assungui, Serra Negra, Rios Almeida e Guaraguaçu.

Atribui-se a Domingos Peneda, egresso de São Vicente e estabelecido fazia

tempo na Cotinga, o início do povoamento da margem esquerda do Rio Itiberê, que

ocorreu, consoante alguns historiadores, quase ao findar-se o século, fruto, con-

forme anteriormente foi dito, da crescente necessidade de novas terras para lavoura

e pastagem. É bom frisar que todas essas mudanças foram efetuadas sem quaisquer

interferências do poder público reinol, até então absolutamente ausente, inexistente,

mesmo, naquelas paragens. Só quase meio século depois é que a presença da Coroa

portuguesa começou a fazer-se sentir, isto no ano de 1640, quando da chegada do

bandeirante vicentino Gabriel de Lara. Anteriormente, bem jovem ainda, participara

das bandeiras de André Fernandes e Antonio Pedroso, à cata de minerais preciosos e

preação de índios, com o posto de capitão-mor e poderes de “povoador”. Seu objetivo

era o de promover o povoamento do grande território posto sob sua jurisdição e que,

na direção Oeste, se estendia até o Rio Paraná, e para o Sul, atingia os limites do Rio

da Prata. Em linguagem clara, tal medida implicava em afirmar, em toda aquela vastís-

sima região, o domínio português que era contestado pela Espanha.

Paranaguá, o mais meridional dos povoados situados em domínios portugue-

ses, jazia em terras que, nos mapas editados na Espanha, se achavam ”bajo la Corona de

Castilla...”. E foi a partir dali que o donatário nomeado da então chamada “Capitania

de Paranguá”, no ano de 1668, atingiu o primeiro planalto nos chamados “certões de

Corytiba”, e em 1° de novembro funda o povoado a que deu o nome de Vila Nova de

Nossa Senhora dos Pinhais. De acordo com registros históricos, “em aqueles xõens jã

se achavão pouco mais de cem pessoas, vivendo das lides do pastoreio do gado e de

plantasõens...”

Entretanto, em termos políticos, não transcorreu tranqüila a vida em Paranaguá, durante

boa parte do século XVII, em decorrência da querela entre a Casa de Monsanto e a de Vimieiro,

em torno do direito de propriedade de duas capitanias - a de São Vicente e a de Santo

Amaro, esta outorgada a Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso de Souza, titular da

primeira - reivindicado por Lopo de Souza, neto do donatário de São Vicente, a quem as

contínuas sucessões tornaram herdeiro daquelas terras, herança essa contestada por seu

primo, D. Luiz de Castro, segundo conde de Monsanyo e neto, também, de Martim Afonso.

O litígio, iniciado em 1610, arrastou-se nos tribunais portugueses, motivou o surgimento de

uma dualidade de poder em Paranaguá e só terminou por volta da década de 60 daquele

século, quando Salvador Correia de Sá e Benevides, governador-geral do Brasil, obedecendo

ordens expressas, destituiu os dois representantes dos donatários, pondo termo, assim, ao

duplo governo da capitania.

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Seis anos após a chegada de Gabriel de Lara a Paranaguá, mandou-se erigir o

pelourinho, símbolo da justiça, e dois anos mais tarde, autorizado por Carta Régia de

29 de julho, o capitão-mor povoador instituiu o governo municipal, celebrando-se em

26 de dezembro a eleição dos primeiros vereadores, empossados em 9 de janeiro de

1649, conforme, mesmo, estatuía a provisão assinada por D. João IV, rei de Portugal.

Na época em que Paranaguá foi elevada à condição de vila constituiu-se no primeiro

município criado no Brasil meridional depois de Santos, São Vicente e Cananéia, sua

jurisdição (em face do despovoamento do território ao Sul de Cananéia) estendia-se, na

direção Oeste, até o Rio Paraná, fronteiriço do Paraguai, e para o Sul, até o Rio da Prata.

Com a criação das novas capitanias de Santa Catarina e São Pedro de Rio Grande

do Sul, na primeira metade do século XVIII, Paranaguá, com todo o território restante,

foi definitivamente anexada à capitania de São Paulo.

Em 1686, Paranaguá foi assolada por epidemia de colera morbus, que em pouco

tempo vitimou mais de 500 pessoas, aproximadamente, um terço de toda a popula-

ção. Paradoxalmente, essa calamidade motivou decisão de se estabelecer a primeira

e rudimentar organização de ensino público de todo o território do atual estado do

Paraná, confiando-se aos padres da Companhia de Jesus a edificação de um colégio,

“onde seriam ensinadas as letras e a doutrina de Cristo”. A construção do colégio, au-

torizada pela Câmara, iniciou-se tão-somente em 1703, e foi parcialmente concluída

mais de 30 anos depois, segundo alguns historiadores. Compunha-se de colégio e

igreja e é, ainda hoje, a obra de maior vulto da cidade. Um incêndio destruiu parte da

edificação, e da igreja restou, apenas, parte anteriormente ocupada pela capela-mor

e pela sacristia, já despojadas, entretanto, dos adornos próprios à função religiosa.

Nela hoje está instalado o Museu de Arqueologia, entidade cultural subordinada à

Universidade Federal do Paraná e desde 24 de maio de 1938 inscrita no Livro do Tom-

bo das Belas-Artes, do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Por provisão real de 1 °de setembro de 1730 D. João V concedeu à vila de

Paranaguá as “honras excepcionais”, galardão que até então fora concedido somente

à cidade do Porto, na metrópole. Das regalias recebidas, uma era a que isentava a vila

de recrutamento militar.

Em 1767, durante o reinado de D. José I, tem início, na então chamada Ilha da

Baleia ( do Mel, atualmente), a construção da Fortaleza da Barra, dedicada a Nossa Senho-

ra dos Prazeres, sob as vistas do tenente-coronel Afonso Botelho de Souza Sampaio,

do Real Corpo Militar de Engenharia, e (presumido) autor de seu risco, por determi-

nação do ministro da metrópole, o marquês de Pombal. Igualmente tombada pelo

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, acha-se inscrita no Livro das Belas-Artes,

desde 24 de maio de 1938.

Três anos depois da chegada da família real ao Brasil, em 1811, a Câmara de

Paranaguá representa ao então príncipe regente - depois D. João VI —, a propósito da

necessidade da separação do território hoje paranaense, da capitania de São Paulo, a

fim de que se constituísse nova capitania ou província.

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Vila desde 1648, Paranaguá recebeu em 5 de fevereiro de 1842, para que condig-

namente se assinalasse o início do reinado de D.Pedro II, o predicamento de cidade,

de acordo com a Lei n° 5, na mesma data pela Assembléia Provincial de São Paulo.

Naquela época, a nova cidade, com cerca de dois mil habitantes, era um aglomerado

de aproximadamente 400 edificações, muitas das quais, mal-alinhadas e armadas,

não se enquadravam nos “provimentos” baixados pelo ouvidor Rafael Pires Pardinho,

quando de sua visita à então vila, em viagem de correição, no ano de 1721. A elevação

de Paranaguá à categoria de cidade, segundo tradição corrente, deveu-se ao fato de

haver-se mantido fiel ao governo imperial, durante a Guerra dos Farrapos. De acordo

com dados históricos, em fins de outubro de 1839 dois lanchões pertencentes à impro-

visada força naval farroupilha, vindos do Rio Grande do Sul, depois de fazer corso ao

longo do litoral catarinense, forçaram a entrada da Baía de Paranaguá, sendo repeli-

dos, no entanto, pelos canhões da Fortaleza da Barra.

Seu objetivo era o de capturar a então vila e dela fazer ponto de apoio para uma

investida sobre o Rio de Janeiro.

No ano de 1871, o imperador D.Pedro II assinou concessão para que fosse construí-

da estrada de ferro ligando Paranaguá a Curitiba, capital da então província do Paraná.

Projetada e executada como concurso de engenheiros brasileiros e com cerca de 110

km de extensão, é na realidade, relevante feito de técnica construtiva ferroviária em

nosso país. São viadutos, túneis, trilhos lançados sobre as encostas da Serra do Mar.

Os trabalhos de sua construção tiveram início em 5 de junho de 1880 e cinco anos

depois, na mesma data, foi aberta ao tráfego, convertendo-se, desde então, não só

no principal meio de transporte entre o planalto e o litoral, como também, a par da

Graciosa, a antiga estrada de terra, fator de progresso e, posteriormente, de incentivo

ao lazer e ao turismo.

Pouco mais de meio século após o fim da Guerra dos Farrapos nos primeiros

anos da República inaugurada em 1889, voltou Paranaguá a ser, novamente, objetivo

de forças revolucionárias procedentes do Sul do Brasil. Deflagrada a Revolução Federalista

em 1892, cujo objeto era o de derrubar o governo do Rio Grande do Sul, estendeu sua

ação para além dos limites daquele estado ao irromper, em 6 de setembro de 1893, a

Revolta da Armada, sob o comando, inicialmente, do almirante Custódio José de Mello

e, posteriormente, do almirante Saldanha da Gama. Visando as forças revoltosas de

terra à invasão dos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e o ataque simultâ-

neo por terra e por mar ao Rio de Janeiro, passou a esquadra revoltosa a operar ao

longo do litoral Sul do país, atacando portos considerados de importância estratégica

para os sediciosos, em combinação com as forças de terra, comandadas por Gumercindo

Saraiva e outros caudilhos gaúchos. Invadida Santa Catarina, onde foi constituído um

governo provisório da República, presidido pelo capitão de-mar-e-guerra Frederico de

Lorena, com sede na cidade de Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis, hoje), teve

início a invasão do Paraná pelo interior, em conjunção com a esquadra que, em 13 de

janeiro de 1894, forçou a entrada da Baía de Paranaguá, apoderando-se da fortaleza

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que a defendia. Atacada a cidade, foi ela conquistada em 16 do mesmo mês, quando

cessou a resistência das forças legalistas que a defendiam. Três meses depois, no dia 29

de abril, graças, em grande parte, à heróica resistência oferecida aos revoltosos, chega-

dos por terra ao Paraná, na cidade da Lapa, Paranaguá retomou seu antigo ritmo de

normalidade, com a chegada da esquadra legal. Paranaguá atingiu o novo século com

outras perspectivas de crescimento e melhoramento de qualidade de vida de sua popu-

lação, com a inauguração, no ano de 1910, das redes de água e esgoto, e em 19 de março

de 1935 era, finalmente, inaugurado o novo cais do porto, como já fazia jus, em face

de haver-se transformado no escoadouro natural, e principal do estado do Paraná e

por onde efetua-se seu comércio com o exterior. Na década de 70, em face do aumento

verificado no volume de carga exportada e importada, o cais foi ampliado.

Até princípios do século XX, a cidade restringia-se a perímetro relativamente

reduzido, compreendido entre as margens do Rio Itiberê, onde se fixou seu primeiro

embrião, e as ruas atualmente denominadas Elsio Pereira, Dr. Leocádio, Praça Fernan-

do Amaro, Faria Sobrinho e Manuel Bonifácio. Posteriormente, e de maneira um tanto

desordenada, a ocupação se estendeu, formando um grande triângulo compreendido

pela Baía de Paranaguá, o Rio Emboguaçu e o Rio Itiberê.

Com o objetivo de disciplinar esse crescimento, em 1967, convênio entre o

governo do estado do Paraná, através da Companhia de Desenvolvimento do Paraná

- Codepar -, a Prefeitura Municipal de Paranaguá, por intermédio de sua Comissão

de Desenvolvimento Municipal - Codem -, a Superintendência do Porto de Paranaguá

e a Universidade Federal do Paraná, produziu o Plano Diretor o qual, entre outras

providências, propunha o estabelecimento de um zoneamento da cidade, baseado no

uso predominante de cada área e suas tendências de evolução, “atentando-se, obviamente,

para as correções necessárias ao uso adequado do espaço urbano”. Dividiu-se a cidade

em zonas comerciais, zonas residenciais, zonas de trabalho e zonas especiais.

Entre as zonas comerciais, situa-se o Centro Histórico, caracterizado por densidade

de ocupação que vem se mantendo inalterada ao longo dos anos e onde as construções de

caráter histórico determinam o gabarito para as novas edificações.

Na realidade, a Paranaguá dos séculos XVIII e XIX é, ainda, perfeitamente iden-

tificável no conjunto urbano. Estendendo-se às margens do Itiberê, a cidade velha tem

sua paisagem própria, formada por pequena trama de ruas e vielas tortuosas, onde

se enfileiram séries de casas térreas e assobradadas construídas no alinhamento, sem

recuo. Sobressaem-se, no conjunto, algumas edificações de maior vulto, portadoras, no

passado, de papel importante na vida local, como as igrejas, a antiga fonte, entre outras.

Esse conjunto, entretanto, não é uniforme, porquanto a maior parte do primitivo casa-

rio sofreu alterações irreparáveis, como é o caso da igreja matriz, com o seu interior

totalmente descaracterizado. Por outro lado, muitas outras edificações desapareceram,

demolidas para dar lugar a novas construções, como foi o caso da Capela do Senhor

Bom Jesus dos Perdões, erguida em 1710 e posta abaixo no início do século passado. Sa-

liente-se, entretanto, não obstante todas as mutilações sofridas pela cidade antiga que

Localização: Área Central.

Data da construção: Séculos XVIII, XIX e XX.

Proprietário: Prefeitura Municipal e diversos

particulares.

Tombamento estadual: Processo CEPHA n° 017/90,

Inscrição n° 109. Livro do Tombo Histórico.

Data: 22/12/1990.

Bibliografia: ABREU, Capistrano de. Capítulos

de História Colonial, Sociedade Capistrano de

Abreu, Rio de Janeiro, 1928.

__________________. O Descobrimento do Brasil

idem, 1929.

AVE-LAILLEMANT, Robert, Viagens pelas Províncias

de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, Ed. Itati-

aia/USP, Belo Horizonte, 1980.

BARROSO, Gustavo. O Brasil, na Lenda e na

Cartografia, Brasiliana, vol. IC, Cia. Editora

Nacional, São Paulo, 1941.

CARNEIRO, Newton. Iconografia Paranaense,

Curitiba, 1950.

FOUQUAT, Karl. Hans Staden, Duas Viagens ao

Brasil, Soe, Hans Staden, São Paulo, 1941.

KLOSTER, W. Sommer F. Ulrich Schmidel no

Brasil, Soe. Hans Staden, São Paulo, 1942.

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378 ESPIRAIS DO TEMPO

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se manteve inalterada a escala urbana, fato decorrente da fidelidade ao gabarito,

à escala, observada pelas novas construções, quase sempre erguidas, também, no

alinhamento das edificações vizinhas, mais antigas.

No entanto se a cidade antiga sobreviveu quase incólume em termos de es-

cala urbana, no que tange aos elementos arquitetônicos mostra-se fracionada em

conjuntos e monumentos ainda portadores de suas características primitivas. Entre

esses monumentos, citam-se o antigo Colégio dos Jesuítas, atual Museu de Arqueo-

logia, já referido anteriormente, e que ocupa mais da metade de uma quadra, com

sua elevação principal voltada para o Rio Itiberê. Outro monumento digno de registro é

a Igreja de São Francisco das Chagas construída entre 1710 e 1784, pela hoje extinta

Ordem Terceira de São Francisco, e localizada em pleno centro, numa esquina da

Rua Quinze de Novembro. Tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,

passou por obras de restauração, após o incêndio que sofreu e danificou bastante

tanto a capela-mor como a sacristia, e destruiu muitas alfaias antigas. Sua visão

mostra-se prejudicada pela existência de edificações contíguas, mais recentes. Tam-

bém tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e pelo Patrimônio Estadual é

a Igreja de São Benedito, pertencente à irmandade de mesmo nome.

Outros monumentos de importância são a igreja matriz, construção colonial,

infelizmente desfigurada por reformas sucessivas; o Palácio Visconde de Nacar, im-

ponente edificação do século XIX, e que sedia, agora, a Câmara Municipal; a Fonte

Velha, do século XVII, mas portadora de acréscimos e modificações posteriores e

que tinha por função o abastecimento de água à população e às embarcações que à

cidade aportavam. Citem-se, ainda, o conjunto de edificações residenciais fronteiriço à

igreja matriz, num total de três casas térreas e sobrados, os quais, apesar das inter-

venções sofridas, mantêm, íntegras, ainda, suas características arquitetônicas; o con-

junto de sobrados à margem do Itiberê, com sua escala mantida intacta e que forma

excelente cenário para quem se aproxima da cidade pelo mar ou dele se avizinha per-

correndo a Rua General Carneiro (também chamada de Rua da Praia), o antigo Mer-

cado, local de interesse pela presença de lojas de artesanato e restaurantes populares.

Finalmente, o Porto de Paranaguá, motivo de atração, principalmente por quem vem

do interior, com sua visão do mar, dos navios e de todo equipamento - guindastes,

gruas, locomotivas - de que é dotado. Estes, entre tantos outros, os elementos que se

busca preservar, todos integrados à história de Paranaguá e definidos, pelo Plano Di-

retor de 1967, como integrantes de área denominada Centro Histórico, visando impedir

o desaparecimento ou a mutilação de importantes exemplares da antiga arquitetura,

correspondentes à estrutura urbana dos séculos XVIII e XIX, o que permitirá que a

cidade possa crescer de forma ordenada.

LA PASTINA FILHO, José. “Informação” in Pro-

cesso de Tombamento CEPHA n° 17/90, Arquivos

da Secretaria do Estado de Cultura, PR.

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Geral das Bandeiras Paulistas, Melhoramentos,

São Paulo, 1924.

Page 64: Secretaria do Estado de Cultura, PR

381ESPIRAIS DO TEMPO

Assim, com o objetivo de preservar a paisagem urbana, a

integridade dos monumentos e promover a recuperação de

edificações de interesse, que, por um motivo ou outro, tiveram

suas características alteradas, o estado do Paraná, através de

sua Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico, órgão da

Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado

da Cultura, elaborou conjunto de normas a serem observadas na

área definida como Centro Histórico, integrado por poligonal

que se inicia no ponto zero, situado no cruzamento dos eixos

das ruas Vieira dos Santos (a primitiva Rua do Fogo, a primeira

a ser aberta na cidade) com a Rua Mestre Leopoldino, seguindo

no sentido Sudeste pelo eixo desta até encontrar o eixo da Rua

Conselheiro Sinimbu, definindo, assim, o ponto um, de onde segue

pelo eixo da referida Conselheiro Sinimbu, no sentido Sudoeste,

até encontrar o eixo da Rua Padre Albino, aqui definido como

ponto dois. Deste ponto, pela Rua Visconde de Nacar, segue no

rumo Nordeste, até o eixo da Rua Manoel Bonifácio, definindo

o ponto número dez, de onde retorna na direção Sudeste até

o eixo da rua Presciliano Correa, definindo o ponto onze, de

onde segue, no sentido Sudeste, pelo eixo da dita Presciliano

Correa, até o eixo da Rua Quinze de Novembro, definindo o ponto

doze, daí seguindo pelo eixo desta, no sentido Sudeste, até

encontrar o eixo da Rua Professor Cleto, onde fica definido

o ponto treze. Daí seguindo pelo eixo desta mencionada rua,

no sentido Oeste-Noroeste, até encontrar o prolongamento

da Rua Vieira dos Santos, definindo o ponto quatorze, de onde

segue no rumo Sudoeste, pelo eixo dessa última, até o ponto

zero, início da poligonal. Além dos imóveis situados no espaço

interno da poligonal, integram-se à área de tombamento todos

os imóveis situados no espaço externo, o entorno, voltados para

a referida poligonal, inclusive os edificados nas esquinas.

A fim de que sejam atendidas as exigências prescritas pela

Lei n° 1.211/53, no que concerne à regulamentação das áreas

envoltórias de bens tombados, fica estabelecido como área en-

voltória do tombado Centro Histórico de Paranaguá a definida

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382 ESPIRAIS DO TEMPO

pela poligonal que se inicia no denominado ponto zero, coincidente

com o porto zero da poligonal da área tombada, de onde segue no

sentido Sudoeste, pelo eixo da Rua Vieira dos Santos, até encontrar

o eixo da Rua dos Expedicionários, definindo o ponto um. Deste,

no rumo Sul-Sudeste, até encontrar o prolongamento do eixo

da Rua João Estevão, definindo o ponto dois, de onde segue,

no sentido Nordeste, pelo prolongamento do eixo da Rua João

Estevão, até encontrar o eixo da Rua João Regis, definindo o

ponto três. Daí, no sentido Sudeste, pelo prolongamento da

Rua João Regis, numa distância de 45 m, fica definido o ponto

quatro, daí seguindo no rumo Nordeste, até encontrar o pro-

longamento do eixo da Rua Professor Cleto, define-se o ponto

cinco, situado na poligonal do tombamento, a partir de onde

segue paralelamente a esta, até o ponto sete, coincidente com

o ponto seis do Decreto de Tombamento. Deste ponto, segue

pelo Rio Itiberé, no sentido Nordeste, até encontrar o prolon-

gamento do eixo da Rua Manoel Bonifácio, até encontrar o

eixo da Rua Faria Sobrinho, definindo-se, então, o ponto oito.

Daí, no rumo Sudoeste, até o eixo da Rua Presciliano Correa,

definindo o ponto nove, de onde segue, rumo Norte-Noroeste,

até o eixo da Rua Doutor Leocádio, definindo o ponto dez, de

onde, rumo Sudoeste, vai encontrar o eixo da Rua Gabriel de

Lara, definindo o ponto onze. No sentido Noroeste, segue daí

até encontrar o eixo da Rua Júlia da Costa, onde se define o

ponto doze e, daí, na direção Sudoeste, até o encontro do eixo

da Rua Mestre Leopoldino, onde se encontra o ponto treze e,

no rumo Sudeste, até o ponto zero, início da poligonal.

A partir da data do tombamento do Centro Histórico de

Paranaguá, toda e qualquer intervenção em edificações situadas

na poligonal que o define, bem como em seu entorno, só será

permitida depois de ouvidos os órgãos competentes, aí incluídos

o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na esfera

federal, e as instituições estaduais e municipais diretamente

relacionadas com o assunto.

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383ESPIRAIS DO TEMPO