secretaria de estado de educaÇÃo - … · situação, viu sua população diminuir...

24

Upload: vokhue

Post on 21-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE

UNESPAR/FECILCAM PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ASSOCIATIVISMO E EDUCAÇÃO NA BUSCA DE SOLUÇÕES PARA A DIMINUIÇÃO DO ÊXODO RURAL EM

CORUMBATAÍ DO SUL (PR) SUELI MARIA BARAZZETTI

Artigo Final apresentado à Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/FECILCAM e à Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, como requisito para conclusão da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sob orientação do Professor Doutor Marcos Clair Bovo.

CORUMBATAÍ DO SUL 2012

2

ASSOCIATIVISMO E EDUCAÇÃO NA BUSCA DE SOLUÇÕES PARA A

DIMINUIÇÃO DO ÊXODO RURAL EM CORUMBATAÍ DO SUL (PR)

Sueli Maria Barazzetti1

Marcos Clair Bovo2

Resumo

A pesquisa tem como objetivo estudar a migração rural urbana no município de Corumbataí do Sul (PR) analisando as transformações decorrentes da modernização da agricultura. Esse processo privilegiou os grandes produtores e os produtos voltados para o mercado externo. Para o agricultor familiar o resultado dessa política foi extremamente negativo, pois não receberam benefícios como crédito rural, garantia de preço mínimo e seguro da produção. Esse cenário ocasionou um grande desestímulo e uma grande evasão da população rural para os médios e grandes centros urbanos. Corumbataí do Sul não ficou a margem dessa situação, viu sua população diminuir consideravelmente nas últimas décadas. Essa expressiva diminuição da população tem provocado inúmeros problemas como a falta de perspectiva dos jovens em estudar, o baixo desempenho do comércio da cidade, fraca geração de empregos e falta de mão de obra qualificada. Considerando a problemática apresentada à pesquisa visa demonstrar para os educandos a importância social e econômica representada pela diversificação agrícola e o uso de técnicas mais aprimoradas para aumentar o nível de produtividade e rentabilidade, que podem ser alcançados, por meio do associativismo, para geração de empregos incentivando a permanência do homem no campo.

Palavras-chave: modernização da agricultura; associativismo; educação; diversificação agrícola.

1 Professora do Colégio Estadual Corumbataí do Sul, graduada em Geografia pela Fecilcam.

2 Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão.

3

1. Introdução

A modernização da agricultura ocorrida no Brasil a partir da década de 1950

trouxe grandes transformações para a sociedade brasileira, por isso é de grande

importância estudá-la, bem como compreender a sua dinâmica.

Pesquisar essa temática, principalmente em Corumbataí do Sul que perdeu

nas últimas décadas mais da metade de sua população para cidades de médio e

grande porte, permite aos alunos compreender os reais impactos sofridos pela

população local, os problemas sociais gerados e como isso atinge toda a sociedade

brasileira.

Somente assim os alunos poderão fazer reflexões com o devido suporte

teórico e prático, podendo contribuir na busca de soluções para a transformação de

parte dessa realidade.

O processo de modernização da agricultura privilegiou os grandes produtores

e os produtos voltados para o mercado externo. Para o agricultor familiar o resultado

dessa política foi extremamente negativo, pois não receberam benefícios como

crédito rural, garantia de preço mínimo e seguro da produção.

Esse cenário ocasionou um grande desestímulo e uma grande evasão da

população rural para os médios e grandes centros urbanos. Corumbataí do Sul não

ficou a margem dessa situação, viu sua população diminuir consideravelmente nas

últimas décadas.

Essa expressiva diminuição da população tem provocado inúmeros problemas

como a falta de perspectiva dos jovens em estudar, o baixo desempenho do

comércio da cidade, fraca geração de empregos e falta de mão de obra qualificada.

Outro fator, não menos importante, é a queda dos recursos para o município,

que tem que manter a mesma estrutura com a metade dos recursos de uma década

passada.

A proposta deste trabalho é analisar as dificuldades do pequeno agricultor em

produzir a partir do processo de modernização agrícola, investigar como o mesmo

avalia a sua situação atual quanto a permanecer no seu estabelecimento agrícola,

diante da nova realidade, advinda da criação da associação de produtores rurais e

4

entender como essa associação pode contribuir para melhorar a produtividade,

diversificar a produção agrícola e apoiar os produtores no momento da

comercialização.

2. A modernização agrícola e as transformações no espaço geográfico

A agricultura brasileira mudou muito nos últimos tempos, deixou de ser a única

responsável pelo desenvolvimento econômico do país e passou a depender menos

da natureza. Todo esse processo de mudanças ocorreu devido à expansão de

grandes empresas estrangeiras e nacionais, que agem em função do mercado, seja

ele interno ou externo.

Essas grandes modificações no espaço agrário aconteceram principalmente

pela modernização das atividades agrícolas. Entende-se por modernização, o

processo de melhoria da agricultura pela adoção de técnicas, que permitam maior

produtividade e consumam produtos industrializados como defensivos agrícolas,

fertilizantes, tratores, colheitadeiras, etc.

Como nem todos os agricultores de um país adotam as mesmas técnicas há,

portanto graus de modernização, que podem ser medidos pela “proporção com que

o estoque de capital e os insumos modernos comprados fora do setor agrícola

participam na produção e a percentagem de agricultores que adotam as técnicas

consideradas modernas”. (FILIZOLA, 1984, p. 218)

O setor industrial voltado para a produção de insumos e equipamentos para a

agricultura precisava vender cada vez mais e por isso pressionava pela

modernização do sistema produtivo agrícola. A partir de então, a indústria passa a

comandar a direção, as formas e o ritmo da mudança na base técnica da agricultura,

a produção agrícola tornou-se vinculada às regras do que, como e o quanto se deve

produzir oriundas da área urbana.

Para Oliveira (1995, p.468)

A lógica do desenvolvimento capitalista na agricultura se faz no interior do processo de internacionalização da economia brasileira. Esse processo se dá no âmago do capitalismo mundial e está relacionado, portanto, com o mecanismo da dívida externa. Através dele os governos dos países

5

endividados criam condições para ampliar a sua produção, sobretudo a industrial. Para pagar a dívida eles têm que exportar, sujeitando-se a vender seus produtos pelos preços internacionais. Os preços dessas matérias-primas (gêneros agrícolas e recursos minerais, exceto o petróleo) têm baixado significativamente nas últimas décadas, por isso esses países têm que ampliar a produção para poder continuar pagando a dívida. Mas, para poder aumentar a produção, eles se veem obrigados a tomar dinheiro emprestado e consequentemente, aumentam a dívida. Em decorrência disso, têm que exportar ainda mais; logo, os preços internacionais pressionados pelo aumento da oferta tendem também a cair muito mais.

Porém, é necessário, destacar que o processo de modernização do campo

também contribuiu de maneira positiva, aumentando significativamente a

produtividade no país, integrando novas regiões à economia nacional e ampliando a

exportação de produtos agrícolas.

A modernização da agricultura, não ocorreu de forma igualitária no Brasil, as

áreas em que a mecanização e a utilização de tecnologias químicas mais

avançaram foram as localizadas no centro-sul do país.

Outro fato importante a ser destacado, é o de que todas essas inovações

foram estimuladas pelo governo, por meio de empréstimos bancários e apoio a

certas lavouras, como por exemplo, a de soja e a de cana-de-açúcar. Tal preferência

por estas culturas fez com que produtos alimentares básicos diminuíssem

consideravelmente a área plantada, provocando muitas vezes até a falta destes

produtos.

Também devemos considerar o fato de que o pequeno produtor, quando teve

acesso aos recursos disponibilizados pelo governo para modernizar sua propriedade

viu-se endividado e empobrecido.

A mecanização é essencial à modernização, porém, ela provoca uma intensa

liberação de mão de obra no campo. Tal redução do pessoal empregado na

agropecuária vai provocar um aumento da população das cidades, que na maioria

das vezes não está estruturada para receber um grande contingente populacional,

ocasionando diversos problemas sociais. No Brasil, em meados da década de 1960,

a população urbana ultrapassa a população rural.

Muitas pessoas abandonaram o campo e migraram para as cidades, em

busca de melhores condições de vida, encontrando desemprego, problema de

moradia, transporte, saúde, falta de qualificação, salários baixos.

De acordo com Graziano Neto (1986, p.136)

6

A análise dos aspectos econômicos, sociais e políticos da chamada moderna agricultura que se instala no Brasil permite perceber que tal processo de transformação agrícola é um desastre para população deste país. Para os trabalhadores rurais, esta modernização significa a perda da moradia, salários miseráveis, comida fria, desemprego, favelas; para os pequenos produtores rurais, proprietários ou não, essa moderna agricultura representa a perda da terra onde trabalham e alimentam a família, a submissão aos grandes capitais, o endividamento crescente; para os segmentos das classes de baixa renda nas cidades essa moderna agricultura significa falta de alimentos no prato e alta de preço, inflação e fome.

A modernização da agricultura foi, também, associada a uma intensa

valorização do preço da terra, o que veio enfatizar o papel que esse meio de

produção – a terra – representa não só na produção considerada em seu sentido

mais restrito, como, também no aumento da possibilidade de acesso a outros meios

de riqueza.

Se para a agricultura temporária, a introdução de produtos modernos foi um

fator benéfico para o desenvolvimento agrícola, o mesmo não aconteceu com o

pessoal ocupado no campo. A modernização acarretou uma alta redução de

pessoas ocupadas em serviços agrícolas. Para Paul Singer (2002, p.116):

O desenvolvimento capitalista traz em si um viés notável a favor da cidade em prejuízo do campo. Este vai sendo paulatinamente despojado de uma atividade produtiva após a outra, até que nele restem unicamente as atividades primárias. Cada ramo que assim se desprende da agricultura reaparece na cidade tecnologicamente revolucionado: indústria, comércio, finanças etc. A esta migração de atividades se segue (embora nem sempre no mesmo ritmo) a migração da mão de obra que leva, finalmente, ao esvaziamento do campo, criando assim as condições para um desenvolvimento revolucionário das forças produtivas na agricultura. [...]

Na reestruturação técnica produtiva que se processou, na década de 1970,

constatou-se o envolvimento da pequena produção e a diferenciação que se

estabeleceu no âmbito desta categoria. O segmento de pequenos produtores que

não se inseriu no sistema produtivo comandado pela soja procurou formas de

sobrevivência que garantissem a sua permanência e a sua reprodução enquanto

produtores diretos, afastando a expropriação e a migração.

Com base no cenário do início dos anos 80 colocam-se algumas perspectivas para a agricultura, que foi marcada pela acelerada expansão do processo técnico apoiada pelas políticas de Estado e incentivada pela articulação cada vez maior com o setor dominante da economia - o industrial-, correspondendo a novos padrões de crescimento e de acumulação que geraram a reestruturação do espaço regional. (IBGE, 1990, p.252)

7

Como consequência desse quadro desastroso, pode-se afirmar que o êxodo

rural é sem dúvida acompanhada da entrada da força mecânica nas áreas agrícolas,

a qual na década de 1970, além de expulsar a força humana do campo ainda deixa

praticamente estagnada a força animal.

Segundo Carnasciali (1987, p. 126), “assistiu-se durante os anos de 70 a um

aumento no uso da força mecânica, e em contrapartida, a uma relativa estagnação

no uso da força animal”. Esse processo, visando aumentar a produtividade, acaba

por substituir o homem pela máquina.

Portanto, com a modernização, um dos principais fatores ocorridos foi a

concentração da propriedade agrícola, trazendo como consequência o êxodo rural.

Entretanto, o processo de concentração não pode ser atribuído somente à

modernização, pode ter sido sim, uma das causas, porém, gerada por uma

consequência que seria a falta de uma política agrícola condizente com a realidade

do trabalhador rural, em especial, ao pequeno proprietário que dificilmente tem

acesso ao capital. De acordo com Castro Barreto (1946, p.209) “o regime

econômico-social adotado para o país não prende o homem a terra; e isso aliado ao

isolamento da cidade e à falta de educação rural, representa um dos mais

importantes fatores do êxodo rural”.

Os municípios mais atingidos são os interioranos, que além de recentemente

emancipados, não tem uma infraestrutura urbana adequada para absorver o

contingente de população rural.

O município de Corumbataí do Sul, por se constituir na economia como

produtor de café, teve seu primeiro ciclo econômico de caráter agrícola, e por estar

inserido neste contexto participou de todos os problemas relacionados ao setor.

Contudo, o fator mais marcante no período de modernização foi à questão de mão

de obra agrícola que tem sua repercussão até os dias atuais.

Nos últimos anos a população rural diminuiu isso demonstra que mesmo

depois de décadas do início da agricultura moderna o campo vem perdendo

população. Esses migrantes em sua maioria tem se direcionado para outras regiões

do país, tanto para centros urbanos como para áreas rurais.

Vários fatores explicam essa saída da população rural, entre eles podem-se

destacar as geadas que prejudicaram os cafezais existentes, sendo que este

8

representava significativo peso na economia do município. A soma desses

problemas levou os pequenos proprietários a se desfazerem de suas propriedades e

irem à busca de novas perspectivas em outros estados, como Rondônia, Mato

Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Boa parte da população jovem migrou para

grandes centros urbanos, como Curitiba, Londrina, São Paulo, etc.

Boa parte dos proprietários de médio porte investiu alto na mecanização e

outros na pecuária, atividades que requerem pouca mão de obra, dispensando

assim grande parte da população rural. Nas áreas onde apresentam pouca

declividade a máquina substituiu o homem e nas áreas acidentadas ganhou espaço

à pecuária que requer pouca mão de obra para sua execução.

Toda essa migração se dá do campo para cidade, sede do município, e para

centros maiores, provocando sérios problemas, como, por exemplo, nos repasses de

recursos provenientes do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), pois estes

recursos são repassados de acordo com o número de habitantes apontados pelo

Censo Demográfico feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para reverter este quadro, na década de 1990, o Paraná através do Instituto

Agronômico do Paraná – IAPAR – juntamente com prefeituras municipais reiniciou o

fortalecimento da cafeicultura, utilizando um novo modelo tecnológico de produção

conhecido como sistema adensado. Os plantios adensados podem produzir mais do

dobro de sacas por hectare do que o sistema tradicional. O município de Corumbataí

do Sul adotou o novo modelo tecnológico e passou a incentivar os produtores do

café a renovar suas plantações a partir do novo sistema, mantendo um viveiro de

mudas de café.

Essa readequação das lavouras cafeeiras foi realizada com a intenção de

colaborar para o desenvolvimento e crescimento do município, porém, tal objetivo

não foi alcançado.

Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (2.000) o município

de Corumbataí do Sul, apresenta um IDH-M3 de 0, 678 o que o coloca, entre os 399

municípios paranaenses, na 378º posição. Observa-se então, que apresenta um

3 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – visa representar a complexidade das condições de

vida dos municípios, tomando-se como base as dimensões renda, longevidade e educação.

9

baixo nível de desenvolvimento, com sérias dificuldades nos setores sociais e

econômicos.

É muito difícil para um município com tantas dificuldades aumentar sua

eficiência econômica, pois segundo José Graziano Neto (2002, p. 60):

Nas áreas rurais mais pobres do País, os municípios também são pobres e dispõem de menores capacidades institucionais e profissionais, inclusive para possibilitar o seu acesso aos programas e planos das esferas administrativas públicas, assim como para atraírem recursos e investimentos privados. A maioria dos programas governamentais da atualidade são de livre acesso, de modo que os municípios mais ricos, mais bem localizados, com servidores públicos mais capacitados, e com melhor organização institucional sempre levam vantagem no acesso aos recursos públicos em comparação com os demais. Têm-se, assim, um círculo vicioso de pobreza que exige políticas direcionadas especificamente para esses municípios menos favorecidos.

A grande dependência de recursos federais e estaduais, como por exemplo, o

Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que tem muitas vezes queda nos seus

repasses, por estar vinculado ao contingente populacional, aos problemas

relacionados à economia brasileira ou até mesmo mundial, faz com que projetos

locais que poderiam melhorar as condições sociais da população se tornem inviável,

pois a arrecadação tributária municipal é insuficiente. O que garante grande parte do

funcionamento do comércio da cidade são os gastos públicos através da

transferência mensal de aposentadorias, pensões e de programas sociais do

governo federal como o Bolsa Família.

Essas políticas assistencialistas solucionam os problemas em curto prazo,

mas não resolvem e muitas vezes o que acaba acontecendo é uma acomodação do

cidadão, que não vendo perspectivas de ascensão social não se interessa em

buscar por ações que poderiam melhorar sua qualidade de vida.

A população rural é a mais prejudicada, sendo imprescindível a busca por

estratégias que minimizem os problemas enfrentados pelo pequeno agricultor

familiar. Além do mais, é o pequeno produtor quem mais beneficia o comércio local,

pois não tendo condições para se deslocar, tão frequentemente, para cidades como

Barbosa Ferraz e Campo Mourão, gasta seus poucos recursos no próprio município.

10

3. Associativismo: a busca por um novo modelo de desenvolvimento local

Ao se analisar a realidade, percebe-se que as atividades até então

desenvolvidas não atendiam as expectativas da população rural do município de

Corumbataí do Sul, que diminuía consideravelmente a cada ano, o momento era de

buscar novas formas de produção que pudessem incentivar a permanência do

homem no campo.

Corumbataí do Sul por ser um município eminentemente agrícola, procurou

desenvolver ações que melhorassem as condições de vida da população,

fortalecendo sua vocação, com a formação de uma associação de produtores rurais,

que visa geração de emprego, renda e diversificação da produção.

O associativismo surge como alternativa para o desenvolvimento econômico

do município e para uma vida melhor, Paul Singer (2002, p. 114) escreve,

“Vida melhor não apenas no sentido de que possam consumir mais com menor dispêndio de esforço produtivo, mas também melhor no relacionamento com familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, colegas de estudo etc.; na liberdade de cada um escolher o trabalho que lhe dá mais satisfação; no direito à autonomia produtiva, de não ter de se submeter a ordens alheia, de participar plenamente das decisões que o afetam; na segurança de cada um saber que sua comunidade jamais o deixará desamparado ou abandonado.”[...]

Como os pequenos produtores rurais de Corumbataí do Sul vinham sofrendo

um contínuo processo de descapitalização devido às geadas e à falta de um suporte

econômico, na década de 1990 surge à ideia de uma associação, denominada

APROCOR (Associação dos Produtores de Corumbataí do Sul), para a

comercialização do café na busca de melhores preços. Dessa forma, podia-se

negociar a venda sem a interferência de intermediários e conseguir uma elevação do

preço do produto, além de maior acesso a bens e serviços para a modernização da

base produtiva.

Porém, as dificuldades com a cultura do café, que no ano de 1999 sofreu com

chuva de granizo e no ano 2000 com uma forte geada, levaram a associação a

procurar alternativas. De acordo com (GERARDI e MENDES 2001, p. 81) “deve-se

promover a diversificação da produção, incorporando padrões de qualidade aos

produtos (visto que a viabilidade econômica não está baseada somente em um

11

produto, mas em vários, e, se possível, este deve atender a um mercado mais

exigente). Ainda se deve incentivar o emprego de sistema de produção que exijam

uso intensivo de mão de obra, o qual pode ajudar a fixar o homem no campo,

evitando um aumento da população urbana”.

A cultura do maracujá foi à alternativa encontrada, pois ela se adapta ao clima

e ao relevo da região, tem rápido retorno de investimento podendo assim ser um

complemento da renda familiar aumentando o poder aquisitivo da população local e,

consequentemente, para a melhoria das condições de vida, além de ajudar na

diversificação da produção.

Com a divulgação de índices positivos em relação à cultura do maracujá mais

produtores passaram ao plantio e comercialização da fruta no município e também

houve a adesão de produtores de municípios vizinhos. Atualmente participam da

associação cerca de 400 produtores, sendo que 150 pertencem ao município de

Corumbataí do Sul e os outros 250 estão distribuídos entre os municípios de Godoy

Moreira, Barbosa Ferraz, Fênix, Iretama, Peabiru, Quinta do Sol e Nova Tebas.

O café era a cultura permanente predominante no município, porém, outras

culturas permanentes estão ganhando destaque devido ao incentivo a fruticultura.

Além do aumento da área dedicada à fruticultura para a venda in natura para

a indústria e para centrais de abastecimento, busca-se ainda agregar valor a cultura

do maracujá, já que esta representa a maior área plantada, com a utilização da

semente para fabricação de cosméticos, a construção de uma indústria de

processamento da polpa da fruta, além da venda da folha do maracujá para a

indústria farmacêutica. Outra cultura que vem ganhando destaque é a da uva com

um aumento considerável da área plantada. A safra 2010/2011 foi industrializada e

engarrafada, dessa maneira toda produção foi aproveitada e o preço final pago ao

produtor praticamente dobrou.

Em 17 de julho de 2009 foi fundada a COAPROCOR (Cooperativa

Agroindustrial de Produtores de Corumbataí do Sul e Região), através desse

procedimento pode-se industrializar a produção e fazer a comercialização dos

produtos, bem como conseguir crédito em instituições financeiras.

12

Também estão sendo desenvolvidos vários projetos com o objetivo de

melhorar a renda dos produtores associados à APROCOR e a COAPROCOR, tais

como:

Projeto PAA - CONAB: Programa de aquisição de alimentos;

Projeto PAA - Formação de estoque;

Projeto compra direta com doação simultânea;

Projeto fornecimento de adubos e defensivos ao cooperado;

Loja veterinária e assistência técnica com presença de um médico

veterinário;

Comercialização e torrefação do café;

Construção de um barracão para classificação de maracujá, batata

doce e citrus;

Projeto DRS (Desenvolvimento Sustentável Regional);

Fair – Trade (Comércio justo) certificação de café.

(Fonte: APROCOR)

Com essas ações, a APROCOR procura realizar o desenvolvimento local,

unindo os agricultores com o objetivo de comercializarem em conjunto seus

produtos, diversificar e melhorar a produção, aumentando a renda familiar e com

potencial de maior crescimento para que possam mudar de forma significativa a

realidade.

O associativismo nasce da necessidade da superação de problemas, para

fortalecer relações e melhorar a vida de pessoas que tem objetivos comuns. Através

das associações podem-se somar serviços, atividades e conhecimentos para obter

uma série de vantagens, como, por exemplo, defender os interesses dos associados

no momento da compra de matéria-prima, facilitar a divulgação e distribuição dos

produtos, conhecer por meio de cursos ou de profissionais habilitados novas formas

de ampliar as fontes de receita. Estão também na lista de vantagens do modelo

cooperativo as possibilidades de barganhar melhores preços dos produtos ofertados,

diversificar a produção, obter melhores condições de crédito e de eliminar os

intermediários (Rech, 2000).

Por meio do associativismo os objetivos podem ser atingidos com maior

rapidez, pois os associados trocam informações, os problemas e as experiências

13

são compartilhados, a procura pelas soluções não precisa ser feita por um único

indivíduo, mas por uma equipe. Pinho (1982) destaca ainda sua importância

afirmando são “pessoas que buscam, em bases democráticas, atender às

necessidades econômicas de seus membros e prestar-lhes serviços, as

cooperativas são especialmente importantes para atuar em situações econômicas

críticas como inflação, recessão, estagnação e desemprego”.

As cooperativas devem atuar de acordo com sete princípios internacionais

que são os seguintes: adesão voluntária e livre, gestão democrática, participação

econômica dos membros, autonomia e independência, educação, formação e

informação, intercooperação e interesse pela comunidade (Fonte: OCB –

Organização das Cooperativas Brasileiras).

Pode haver também crescimento pessoal já que é imprescindível uma

mudança comportamental para trabalhar em conjunto e conseguir bons resultados.

Como exemplo, pode-se citar o fato de que todos os associados da APROCOR

devem prestar serviços, por pelo menos duas vezes ao mês, ajudando na

classificação e embalagem das frutas, as melhores são enviadas para o mercado e

as demais para fabricação de suco. O beneficiamento do café, também é realizado

em forma de mutirão, os associados reúnem-se em uma determinada propriedade e

processa-se o beneficiamento, assim que termina o trabalho nessa lavoura a

máquina é levada para outra propriedade. Com isso os agricultores conseguiram

agregar, ao café produzido, em torno de 15% a 20%, isto significa um aumento

significativo no preço do produto comercializado.

4. Análise da proposta de implementação do projeto de intervenção na escola

A escola brasileira apresenta problemas que precisam ser considerados no

contexto de uma sociedade capitalista periférica, que nas últimas décadas do século

XX e início do século XXI, tem movimentado o processo de industrialização e

urbanização do país e atualmente, defronta com a globalização. É neste sentido

14

que o fracasso escolar, reflete tanto as desigualdades sociais e espaciais, como

também nos valores característicos das relações capitalistas dessa sociedade.

Diante desse contexto, a geografia ajuda a explicar como os homens

ocuparam a superfície terrestre para produzir a sociedade que existe hoje e, ainda

possibilita prever como essa ocupação tenderá a evoluir no futuro. Dessa forma o

ensino de geografia tem por finalidade munir os alunos de conhecimentos que lhes

permitam compreender questões relativas à ocupação e gestão do espaço tendo,

portanto, um papel decisivo na formação da cidadania.

Essa visão serviu para delinearmos as metas de aplicação do material

didático produzido no projeto “Associativismo e Educação na Busca de Soluções

Para a Diminuição do Êxodo Rural em Corumbataí do Sul (PR)”, pois entendemos

que era importante que os alunos se percebessem como sujeitos no processo

recente de desenvolvimento do país. Consideramos que isso contribuiria para

desvendar a imagem negativa, que muitos alunos formam de si mesmo e para a

construção de sua identidade como cidadãos do município de Corumbataí do Sul.

Esses alunos foram, então, o foco para a elaboração das atividades a serem

abordadas na implementação do projeto de intervenção no 2º ano do Ensino Médio

do Colégio Estadual de Corumbataí do Sul.

O material didático produzido consiste na proposta de diferentes situações de

aprendizagem, pelas quais os alunos virão a compreender como as relações de

produção definiram, ao longo do tempo, modos de organizar o espaço, configurando

áreas concentradas de riquezas e áreas periféricas, e como as relações entre as

áreas tende a manter a mesma organização espacial.

Diante disso o material produzido apresenta situações de aprendizagem que

consistem no espaço de vivencia dos alunos, têm caráter diagnóstico. Dentre as

propostas destacamos: a) atividade de leitura e interpretação de textos; b) Leitura e

interpretação de imagens, gráficos, tabelas e mapas; c) pesquisas bibliográficas.

Para a implementação do projeto de intervenção consideramos as relações

de produção no capitalismo industrial que criaram basicamente dois tipos de

ocupação do espaço, ou seja, as áreas onde predominam as atividades urbanas e

rurais. Nessa abordagem a proposta possibilitou estudar a paisagem urbana e rural,

a organização do espaço, o trabalho, o trabalho assalariado, a divisão social do

15

trabalho, produção, modo de produção, mão de obra e êxodo rural. O foco principal

a ser abordado é a migração rural/urbana e as diferentes formas de organizar o

espaço e as transformações ocorridas pelo processo de modernização da agricultura

o associativismo.

Para iniciarmos a execução do projeto de implementação e intervenção no

segundo ano do Ensino Médio, optamos pelo ensino de uma Geografia Crítica, que

desvele a realidade, uma geografia que conceba o espaço geográfico como sendo

um espaço social, produzido e reproduzido pela sociedade humana, com vistas à

nele se reproduzir. Neste sentido cada atividade proposta iniciou-se com a prática

social inicial com intuito de investigar os conhecimentos dos alunos a respeito da

realidade onde vivem, e das experiências dos mesmos a respeito dos conteúdos a

serem desenvolvidos. De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais de

Geografia para Educação Básica (2008, p.23) [...] “a escola é, a um só tempo, o

espaço do conhecimento historicamente produzido pelo homem e espaço de

construção de novos conhecimentos, no qual é imprescindível o processo de

criação.” [...].

É neste sentido, que iniciamos a execução do projeto a partir da observação

da figura de uma família de migrantes, com as seguintes problematizações. a) Que

título você daria para a figura? b) Que elementos da figura chamam a sua atenção?

Após os questionamentos levantados pela professora e a participação dos

alunos adotou-se o seguinte procedimento metodológico sendo este constituído em

duas etapas. A primeira refere-se a uma pesquisa a partir dos seguintes

questionamentos: a) Você conhece alguém que migrou para cidade? Porque essas

pessoas migraram? Essas pessoas têm vontade de retornar para o seu local de

origem? Por quê? A segunda etapa consiste na discussão dos dados apresentados

pelas equipes em sala de aula.

Depois de realizada a pesquisa, os alunos constataram que possuem

parentes, vizinhos e conhecidos que foram embora para outras cidades em busca de

melhores condições de vida, ou seja, busca de emprego e salários com boa

remuneração. Outro elemento considerado pelos alunos se refere ao isolamento em

que vivem na área rural, e também a ausência de diversão para os mais jovens e as

precárias condições da saúde pública.

16

Os alunos destacaram também que existem migrantes que têm o desejo de

retornar, porém, muitas vezes não é possível por falta de recursos financeiros.

Também foi destacado pelos alunos que a grande maioria não retornaria para o

município de Corumbataí do Sul pelo fato de terem conseguido emprego e certa

estabilidade econômica em outros municípios.

Quando questionados sobre os motivos que levaram a essa grande migração

do campo para a cidade, a maioria dos alunos respondeu que a modernização do

campo gerou o êxodo rural. E que, tal processo, pode complicar ainda mais a

situação de pequenos municípios, como por exemplo, onde o trabalho no corte de

cana-de-açúcar é uma das principais fontes de emprego, pois tal atividade poderá

ser drasticamente erradicada pelas máquinas que estão surgindo no mercado. Além

disso, muitos alunos relatam que os pais estão descontentes com as políticas do

governo para os pequenos agricultores, pois muitas vezes o lucro acaba indo para

as grandes cooperativas agrícolas e bancos.

O objetivo da modernização da agricultura é elevar a produtividade, fazer com

que cada trabalhador produza mais. Para alcançar tal finalidade devem ser utilizados

os produtos advindos da indústria como adubos, defensivos agrícolas e máquinas.

Divididos em equipes, os alunos foram pesquisar exemplos dessas transformações,

para conseguir melhor produtividade, estabelecendo uma relação entre o modo

como essas atividades eram feitas no passado e como são feitas agora. Essa

pesquisa foi feita no laboratório de informática buscando informações, notícias,

imagens. Em seguida, deveriam criar slides inserindo neles, as imagens e as

informações coletadas, para depois apresentarem para seus colegas de sala. Todas

as equipes conseguiram bons resultados, demonstraram através de imagens a

evolução dos maquinários, os efeitos do uso intensivo de defensivos agrícolas, a

especialização da pecuária bovina e suína para atingir rapidamente altos níveis de

produtividade, a tecnologia empregada na produção e colheita do café fazendo um

paralelo de como era feito todo esse processo antigamente.

Com o propósito de analisar o ritmo de vida dos moradores da área rural e

dos moradores da área urbana, os alunos assistiram a dois vídeos que mostram o

que enfrentam no dia a dia cada um desses grupos. Após a exibição dos vídeos,

foram trabalhados os aspectos negativos e positivos de cada um, as mensagens

17

contidas e o que mudariam. Depois de ouvirem os relatos, de observar as

concordâncias e divergências, a próxima atividade era a produção de um texto

fazendo um paralelo entre o ritmo de vida do trabalhador rural e o ritmo de vida do

trabalhador urbano.

Nos textos, a principal distinção que fazem é a de que no meio rural o ritmo de

vida é mais lento e ainda condicionado a natureza, não se trabalha quando chove,

acorda-se com o cantar do galo e o trabalho para ao anoitecer. A variação das

condições naturais também acaba determinando a qualidade e a quantidade das

colheitas. Por essa razão apontam que a vida no campo é mais tranquila, mas, não

tem um salário fixo e apesar de não terem que pagar água, luz e aluguel, as

incertezas quanto ao futuro são maiores. Já na área urbana, o ritmo de vida é mais

agitado, todos têm horários rígidos a cumprir, enfrentam problemas como

congestionamentos, violência, moradias em periferias, respiram poluentes e o custo

de vida é mais alto, porém, o serviço não é tão cansativo como no campo.

Depois da leitura das produções concluíram que mesmo com tantas

diferenças, cada modo de vida deve ser respeitado, pois cada lugar possui sua

riqueza cultural e identidade própria, além do mais, ambos possuem aspectos

positivos, sendo importante a execução de ações que os potencializem e negativos,

que devem ser superados.

Com a finalidade de trabalhar com elementos que tragam um significado

específico para o aluno, foi utilizado o recurso da fotografia, trazendo a observação

da realidade para dentro da sala de aula. Usando imagens da década de 1970 e

1980 e, comparando com imagens mais recentes de espaços públicos do município

de Corumbataí do Sul, para analisar e interpretar as transformações ocorridas

nessas paisagens. Inicialmente, divididos em equipes, os alunos recebiam duas

fotos antigas e deveriam identificar esse local, todos demonstraram um grande

interesse pela atividade e alguns já queriam imediatamente observar as fotos dos

outros grupos.

Depois da identificação desses locais, receberam as fotos recentes e

passaram a comparar a evolução desses espaços, identificando os agentes que

atuaram para sua modificação e por quais necessidades e interesses agiram. Nesse

momento, fizeram várias críticas, principalmente ao péssimo estado de conservação

18

do asfalto, deram sugestões para melhorar o aspecto do local onde está a imagem

do Cristo Redentor, também comentaram sobre as alterações positivas que

ocorreram nessas paisagens, que segundo eles sofreram modificações

significativas.

Para o estudo da dinâmica populacional no município de Corumbataí do Sul

foram coletados dados estatísticos, referentes à população rural e urbana, dos

censos demográficos, realizados pelo IBGE nos anos de 1970, 1980, 1991, 2000 e

2010. Para efeito de comparação também foram apresentados os dados relativos à

população rural e urbana do estado do Paraná e do Brasil.

Esses dados foram distribuídos em sala de aula em forma de tabelas para

leitura e análise, o próximo passo foi confeccionar gráficos para que os alunos

fossem capazes de identificar em que momento, nas três esferas espaciais, a

população urbana superou a rural, que fatores levaram a esse aumento da

população urbana, quais as consequências desse processo e se esse crescimento

continuará.

Nesse momento do trabalho, ao observarem, o número expressivo de

habitantes que já migraram, surgiram muitos comentários depreciativos em relação

ao município, pois os alunos consideram que não há estímulos, oportunidades,

principalmente para os mais jovens, para permanência, principalmente na área rural.

Para um melhor entendimento de como o associativismo, pode contribuir, na

melhoria dos índices socioeconômicos, na permanência do homem na área rural e

na superação de suas dificuldades, o tema foi introduzido, através de uma pesquisa

realizada pelos alunos sobre a origem histórica do associativismo e de como foi sua

evolução no Brasil.

Ao final dessa pesquisa, deveriam responder se a participação em uma

associação pode melhorar a competitividade e a lucratividade dos pequenos

produtores. Todos responderam que sim e a maioria argumentou que a associação

pode colaborar com cursos de capacitação, descontos em equipamentos,

informações sobre como cuidar da terra, como utilizar melhor o espaço e qual

produto é mais viável a sua propriedade, na divulgação dos produtos agrícolas

existentes no município, na informação sobre preços, que pode auxiliar na

negociação entre os produtores e a indústria, na assessoria de profissionais

19

capacitados para sanar as possíveis dúvidas dos agricultores e em pesquisas de

como melhor vender os produtos agrícolas de seus associados.

Em seguida, com o objetivo de conhecer experiências em outras localidades,

fizeram a leitura de exemplos cooperativistas, no Brasil, que estão conseguindo

obter resultados significativos em suas comunidades.

Na pesquisa que os alunos realizaram com seus pais, associados da

APROCOR, e que quando indagados sobre as vantagens da associação,

responderam todos de maneira positiva, emitindo as seguintes opiniões, sobre as

melhorias que encontraram após sua adesão como associado: a maior facilidade de

comercialização, o fortalecimento da diversificação, a industrialização, o

conhecimento de outros mercados, a máquina de beneficiar café, os cursos para

ajudar o produtor rural a melhorar a lavoura, a melhora na renda, a socialização e a

união entre os produtores.

Em outra questão, quando perguntados sobre as vantagens do

associativismo, responderam que seus benefícios estão: no conhecimento de novos

produtos, que ajuda no aumento da renda, aumenta a quantidade dos produtos para

baratear os custos, tem mais acesso a novos conhecimentos e aos preços dos

insumos, ajuda na diversificação, na industrialização e no acesso a vários créditos.

O associativismo aliado à diversificação agrícola são elementos importantes

para o desenvolvimento das potencialidades locais, porém, para a permanência do

jovem em cidades com desempenho econômico sofrível e consequentemente pouca

oferta de empregos, isso não basta. Devem existir outros estímulos, especialmente a

essa faixa etária, para que não abandonem o campo, como por exemplo, espaços

adequados para prática de esportes e programas de inclusão digital para gerar

qualificação.

Atualmente vivemos num mundo globalizado que exige cada vez mais do

trabalhador, novas profissões são criadas, outras desaparecem e são substituídas

por tecnologias que surgem a cada dia. São novos desafios que precisam ser

enfrentados, a busca pela qualificação é incessante e a responsabilidade da

educação de boa qualidade é imprescindível. O acesso ao conhecimento adquirido

pela humanidade ao longo das gerações pode proporcionar uma boa formação,

20

porém, todos os envolvidos nesse processo devem agir com responsabilidade.

Segundo Pedro Demo (2008, p. 96):

A educação, na verdade, não opera nenhum milagre, como por vezes se imagina. Se bem conjugada com conhecimento crítico, aprendizagem reconstrutiva política e ética social oferecem elementos pertinentes para a possível gestação de sociedades menos perversas. Quanto mais pessoas conseguem a condição de sujeitos capazes de história própria tanto mais seria possível sociedade alternativa. Não existe nisso nada de automático e mecânico, mas potencialidades que podemos desdobrar. Educação é só e tudo isso: capacidade de desdobrar potencialidades, não de inventar transformações mirabolantes. [...]

Para alcançar uma boa formação é importante que o poder público ofereça

uma educação de qualidade, que a família acompanhe, esteja presente na vida

escolar da criança e do adolescente, que os professores estudem, discutam novas

metodologias de trabalho e recursos que estimulem a aprendizagem e que,

principalmente, deem sentido a esse conhecimento.

Porém, é essencial que o aluno reflita e perceba que grande parte da

responsabilidade nesse processo de formação vem do seu desejo, da sua

motivação, do seu interesse em agir para alcançar o conhecimento. Melhorar a

atenção e a concentração, buscar na leitura informação e conhecimento, reunir

valores que promovam a harmonia podem ser caminhos para alcançar os benefícios

que uma educação de boa qualidade pode trazer.

Com relação a essas reflexões feitas em sala de aula, percebe-se que todos

os alunos concordam que estudar é importante, todos querem melhorar de vida e

veem na educação um dos meios para realizar esse objetivo, em seus relatos,

cursar uma faculdade é a intenção de todos. Continuar no município é o desejo de

muitos, mas a maioria vincula essa permanência a melhorias nas oportunidades de

empregos.

Durante a visita feita a APROCOR os alunos tiveram a oportunidade de

conhecer a história da associação, os projetos que estão sendo desenvolvidos e os

equipamentos que receberam recentemente para produção de polpa de maracujá.

Em seguida foi realizada uma visita a uma pequena propriedade onde se cultiva

café, maracujá, caqui e uva. O proprietário demonstra muita satisfação pelo trabalho

feito pela associação e avalia que a diversificação está trazendo mais renda.

Segundo seu depoimento, obtém um rendimento três vezes maior que seu vizinho

de propriedade, que possui uma área agricultável superior.

21

Ao conhecer os projetos que estão sendo desenvolvidos pela APROCOR, os

alunos entenderam que, existem sim, possibilidades de se melhorar a renda no

campo, buscando alternativas e lutando por melhores recursos financeiros para

pequenos agricultores e assim mudar essa realidade de evasão do campo para a

cidade. E compreender que na cidade também podem encontrar dificuldades até

maiores das que ele enfrenta hoje no campo.

5. Considerações finais

Um dos principais objetivos desse projeto é desenvolver no aluno o

pensamento crítico, é por meio de informações e através das atividades

desenvolvidas na produção didático-pedagógica, que são dados os instrumentos

para o envolvimento do educando na realidade local, estimulando-o a ampliar e

construir seu próprio conhecimento. A realidade só poderá mudar na medida em que

buscarmos uma educação que conduza a uma reflexão crítica, a questionamentos, o

que consequentemente levará a formação de uma opinião, a um posicionamento

para realizar as intervenções necessárias, compreendendo e interagindo no contexto

em que vivem, buscando inovações e novos conhecimentos que possibilitem

atividades mais rentáveis.

Dessa forma e pelos relatos ouvidos, percebe-se que os alunos passaram a

ter consciência da realidade em que vivem com relação às transformações

provocadas pela modernização da agricultura, conhecendo as causas e as

consequências do êxodo rural, como o aumento da produção agrícola que colaborou

para o crescimento da economia, mas, que beneficiou apenas uma parte da

população e que ainda provocou desemprego, impactos ambientais, aumento das

favelas, crescimento da violência, etc.

Os alunos vivenciam e relatam essa questão da dificuldade de viver em um

município pequeno ou em áreas rurais, o que provoca muitas vezes, a desistência

em estudar ou seguir uma carreira, pois não poderão exercê-la no município.

Entenderam que a mudança só acontecerá com a ação conjunta entre cooperativas,

22

órgãos federais, estaduais e municipais para o desenvolvimento de soluções que

melhorem a estrutura física, econômica e social da sua localidade. Todo esse

processo de mudança, porém, depende de cada um, em empenhar-se na melhoria

de sua aprendizagem e na busca constante de adquirir novos conhecimentos nas

diversas áreas. Com isso virá à permanência de mais famílias e assim as futuras

gerações poderão viver dignamente no campo.

Pode-se verificar que compreenderam que o associativismo fortalece e

melhora as condições de trabalho e renda de seus associados, o que contribui, na

prática, na vida de muitas famílias e jovens moradores do município e da região, no

empenho, na persistência e na permanência do trabalhador no campo buscando

sempre uma melhor lucratividade e colaborando na redução da pobreza. E que se

agissem sozinhos dificilmente conseguiriam atingir, todas as conquistas, já

adquiridas com o trabalho realizado pela associação.

Quanto às sugestões para melhorar a qualidade de vida no município, os

alunos consideram essenciais algumas medidas, como por exemplo, cursos

profissionalizantes, geração de mais empregos, investimentos em atividades

esportivas e culturais, continuar estimulando a diversificação agrícola.

Referências

BARRETO, C. Considerações sobre o êxodo rural. In: FERREIRA, Darlene Aparecida de Oliveira. Mundo rural e Geografia. Geografia agrária no Brasil: 1930 – 1990. São Paulo: Editora UNESP, 2002.

CARNASCIALI, Carlos Humberto et al. Consequências sociais das transformações tecnológicas na agricultura do Paraná. In: Os impactos sociais da modernização agrícola. (org. MARTINE, George e GARCIA, Ronaldo Coutinho). São Paulo: Cortez, 1987.

DEMO, Pedro. Cidadania pequena: fragilidades e desafios do associativismo no Brasil. São Paulo: Autores Associados, 2008.

FILIZOLA, José Alexandre. Geografia Econômica. 3. ed., São Paulo: Difel, 1984.

23

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Agropecuário do Paraná 1975-1980. Rio de Janeiro: SEAB/DERAL, 1995/96.

GRAZIANO NETO, Francisco. Questão agrária e ecologia crítica da moderna agricultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

GRAZIANO DA SILVA, J. O que há de novo no rural brasileiro. Cadernos de Ciência e Tecnologia, vol. 19 nº 1, jan/abr. EMBRAPA, Brasília – DF, 2002.

GERARDI, Lúcia Helena de Oliveira. MENDES, Iandara Alves. Teoria, Técnica, Espaços e Atividades Temas de Geografia Contemporânea. Rio Claro. UNESP, 2001.

OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras – Disponível em: http://www.brasilcooperativo.coop.br/site/cooperativismo/principios.asp Acesso em: 27 fev. 12.

OLIVEIRA, Ariovaldo U. Agricultura brasileira: transformações recentes. In: ROSS, J.L.S. (org.) Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP; FDE, 1995.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Geografia para a Educação Básica. Curitiba, 2008.

PINHO, Diva Benevides. O Pensamento Cooperativo e o Cooperativismo Brasileiro. São Paulo: CNPQ, 1982 v.I.

RECH, Daniel. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

SINGER, Paul. Economia Política da urbanização. São Paulo: Contexto, 2002.

______. Introdução à economia solidária. 2ª Ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.