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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO-SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO-SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNESPAR - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ
CAMPUS DE CAMPO MOURÃO
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
CADERNO PEDAGÓGICO
TÍTULO: ORGANIZAÇÃO DO ENSINO E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NAS DIFICULDADES DE
LEITURA E INTERPRETAÇÃO
PROFESSORA PDE: IVONETE FELINA ANTUNES CARVALHO
ORIENTADORA: PROFª. DRA. EVALDINA RODRIGUES
CAMPO MOURÃO
2016
FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
TURMA – PDE/2016
Título: Organização do Ensino e Intervenção Pedagógica nas Dificuldades de Leitura e Interpretação
Autora: Ivonete Felina Antunes Carvalho Disciplina/Área: Pedagogia
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Cultura Universal-Ensino Fundamental e Médio – Município de Farol – Paraná.
Município da Escola: Farol - Paraná Núcleo Regional de Educação: Campo Mourão - Paraná
Professora-Orientadora: Profª. Dra. Evaldina Rodrigues Instituição de Ensino Superior: UNESPAR – Universidade Estadual do
Paraná – Campus de Campo Mourão. Relação Interdisciplinar: Propõe reflexões sobre a organização do
ensino e intervenção pedagógica na leitura e interpretação, articulando nas
discussões professores de todas as disciplinas e conteúdos do primeiro ano do ensino médio.
Resumo:
A compreensão de textos discutida em
Conselho de Classe não é diferente das afirmações apresentadas pelas DCE
(PARANÁ, 2008). Nesse espaço é comum os docentes relacionarem os resultados das avaliações com as dificuldades de
aprendizagem dos alunos. Nesse contexto, a função prioritária do pedagogo é prestar
orientação pedagógica aos professores, isto é, auxiliar os docentes na organização da prática pedagógica, de modo a intervir
sobre as dificuldades de leitura e interpretação em todas as disciplinas do
primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Cultura Universal, Município de Farol. A Teoria Histórico Cultural e
Histórico-Crítica fundamentam essas discussões. Parte da premissa que se
refere à leitura e interpretação como ferramentas para a aprendizagem do
conhecimento científico de todas as disciplinas e por isso, propõe reflexões que
articulam professores das diferentes matérias e conteúdos. O encaminhamento desse projeto tomará a forma de grupo de
estudos, envolvendo estudos de textos, exibição de vídeos, imagens e músicas,
demonstrativo de dados educacionais sobre o aprendizado de leitura e interpretação, como subsídios teórico-
práticos para auxiliar na discussão da problemática e na reflexão das questões
propostas, refletindo as práticas pedagógicas, como o aluno aprende e se desenvolve e possibilidades de
organização do ensino.
Palavras-chave: Aprendizagem; Desenvolvimento; metodologia.
Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico
Público: Professores
APRESENTAÇÃO:
Pela dimensão avaliativa do Conselho de Classe, buscou-se levantar nesse
meio, a problemática que deu origem ao tema desse projeto, dificuldades de leitura e
interpretação, cujos dados são frequentemente discutidos em Conselho de Classe e
que não são diferentes das afirmações apresentadas pelas DCE (PARANÁ, 2008)
quanto ao baixo desempenho do aluno em relação à compreensão dos textos que
lê.
Diante da problemática levantada, uma das atribuições do pedagogo é
“subsidiar o aprimoramento teórico-metodológico do coletivo de professores da
escola, promovendo estudos sistemáticos, trocas de experiência, debates e oficinas
pedagógicas”, conforme determina o Edital nº 37/2004 (PARANÁ, 2004). Nesse
sentido esse caderno pedagógico visa contribuir com a organização de metodologias
voltadas às dificuldades de leitura e interpretação dos alunos, relacionando teoria e
prática no contexto de sala de aula.
Sob os fundamentos da Teoria Histórico-Cultural e da Pedagogia Histórico-
crítica mobilizar-se-à, professores para participarem de discussões sobre como se
dá a aprendizagem pelo sujeito, bem como as possibilidades de organização do
ensino para que essa ocorra. Sobre essa temática, Vygotsky (2003, p.15) enfatiza
que uma correta organização da aprendizagem conduz ao desenvolvimento mental,
ativa os processos de desenvolvimento, e esta ativação não ocorreria sem a
aprendizagem. Partindo desta amplitude, tem-se a leitura e interpretação como
ferramentas para a aprendizagem dos conceitos científicos de todas as disciplinas,
sendo necessário o foco interdisciplinar em torno de um objetivo comum, fazendo
com que os alunos leiam, relacionando os conteúdos escolares com a prática social,
ou seja, passando dos conceitos cotidianos aos científicos, para atuar no mundo de
forma consciente e independente.
A organização dos materiais de estudos terá o formato de Caderno
Pedagógico, com carga horária de trinta e duas horas divididas em quatro unidades.
Cada unidade será desenvolvida em dois encontros de quatro horas cada. A
pesquisa será de natureza qualitativa, tendo como instrumentos principais de coleta
de dados, a documentação referente ao Conselho de classe e Questionário aplicado
a alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Cultura Universal,
Município de Farol. Para melhor desenvolver as atividades aqui propostas, este
Caderno Pedagógico está distribuído da seguinte forma:
UNIDADE I:
CONTEXTUALIZAÇÃO DA REALIDADE ESCOLAR: Quem é o Sujeito Histórico
para o qual se Organiza o Ensino?
Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e da Produção
Didático-Pedagógica;
UNIDADE II:
TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL: Como o Sujeito Aprende e se Desenvolve?
UNIDADE III:
PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: Como Organizar o Ensino para que o Sujeito
Aprenda?
UNIDADE IV:
PLANO DE AÇÃO: Uma Compreensão sob o Enfoque da Pedagogia Histórico-
Crítica.
REFERÊNCIAS
ANEXOS
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Caderno Pedagógico
Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e da Produção
Didático-Pedagógica.
Apresentar aos professores, o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e a
Produção Didático-Pedagógica, explicitando, tema, justificativa,
problematização, objetivos e a fundamentação teórica que alicerçarão as
discussões na implementação do projeto, em razão das necessidades
pedagógicas da instituição educativa, voltadas a complexidade da leitura e
interpretação de textos;
Exibir cronograma e assunto das quatro unidades didáticas, esclarecendo que
cada unidade será desenvolvida em dois encontros, totalizando oito encontros
presenciais, constante da Produção Didático-Pedagógica, para que os
professores tomem conhecimento dos conteúdos que serão abordados e
pensem experiências pedagógica que ampliarão essas discussões.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA REALIDADE ESCOLAR: Quem é o sujeito histórico
para o qual se organiza o ensino?
Conteúdos de Estudo:
Os sujeitos da Educação Básica (DCE, 2008);
Pós-modernidade e Educação: as características que marcam o homem
contemporâneo.
Concepção de Adolescência a partir da Psicologia Histórico-Cultural;
Indicativos Educacionais do INEP: aprendizado adequado em leitura e
interpretação (Prova Brasil, 2013);
Resultado de dados obtidos no questionário aplicado aos alunos
UNIDADE I
A função interdisciplinar na leitura e interpretação.
Prática de leitura, na concepção das Diretrizes Curriculares do Estado do
Paraná (2008);
Quem é o sujeito histórico para o qual se organiza o ensino?
As Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação do Estado do Paraná
(DCE, 2008) concebe o aluno como sujeito de seu tempo histórico, das relações
sociais em que está inserido, e, o identifica também, como um ser singular, que atua
no mundo a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possível
participar. Segundo o mesmo documento é na escola, que esse sujeito tem acesso
aos conhecimentos científicos, filosóficos e da arte. Do ponto de vista da
singularidade a apropriação do conhecimento contribui para a formação da
diversidade humana.
Neste contexto as primeiras questões que se colocam para a organização do
ensino, de acordo com as DCE (Paraná, 2008), são: Quem são os sujeitos da escola
pública? De onde eles vêm? Que referências culturais e sociais trazem para a
escola?
Nesse sentido trazemos referências para auxiliar nessas reflexões, iniciando
com dois textos, sendo o primeiro, Filhos da Modernidade, de Lizia Helena Nagel e o
segundo texto, o capítulo II do Livro “Adolescência em Foco: contribuições para a
psicologia e para a educação” de Zaira F. de R.Gonzales Leal. Por último, um
vídeo de José Carlos Libâneo sobre Práticas de Ensino em um Contexto de
Mudanças.
LEITURA DE TEXTO
A Educação dos alunos (Ou Filhos) da Pós-Modernidade. Nagel, Lizia
Helena.
Neste texto a autora afirma que as características da sociedade capitalista
marcam o homem contemporâneo, estimulando uma liberdade sem parâmetros, de
prazer imediato. A mídia estimula suas emoções por meio de cenas virtuais,
fantásticas, violentas ou de forte apelo ao consumo e à sexualidade. As
comunicações são do tipo on-line, não se dispõe a refletir sobre a prática social.
Assim, constrói-se a cultura de uma época, produzindo uma forma de ser sociedade,
cultura essa que se defronta com a função educacional, de organização do
conhecimento sistematizado, científico. Complementa a autora que essas formas de
ser dos homens foram produzidas no seio das relações por eles estabelecidas ao
longo do tempo e segue fazendo um paralelo sobre cultura e educação. Meio a tudo
isso o professor tem que assegurar os conteúdos historicamente produzidos pela
humanidade, enquanto a organização de sociedade, muitas vezes diz não à teoria,
acusando à escola de academicismo.
LINK:https://drive.google.com/file/d/0B4ptku4WzMDAeUxxUDNYUURIMWM/view?us
p=sharing
LEITURA DE TEXTO:
A Atividade Principal na Adolescência: Uma Análise Pautada na Psicologia
Histórico-Cultural.
(Gisele Cristina Mascagna e Marilda Gonçalves Dias Facci)
As autoras, Mascagna e Facci( 2014) fazem uma análise da concepção de
adolescência à partir da Psicologia Histórico-Cultural. Destacam nesta fase, o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores, a formação dos conceitos e
as atividades dominantes. Com essa análise as autoras nos levam a enxergar a
essência da adolescência, as características dessa fase, buscando entendê-lo sob
uma visão histórica, considerando que desde o nascimento, por meio do processo
educativo, os homens vão apropriando-se da cultura já elaborada, e nessa
apropriação vão adquirindo propriedades e faculdades humanas, tornando a cultura
parte de sua natureza. Essa reflexão implica na visão de aluno (sujeito) que temos
em sala de aula e porque não dizer, “visão de homem”.
O texto em pauta é extraído do capítulo II do Livro “Adolescência em Foco:
contribuições para a psicologia e para a educação” de Zaira F. de R.Gonzales Leal
(org), conforme segue:
MASCAGNA, Gisele Cristina e FACCI, Marilda Gonçalves Dias. A Atividade Principal na Adolescência: Uma Análise Pautada na Psicologia Histórico-Cultural. In: LEAL, Zaira de F.Gonzalez. Adolescência em foco: contribuições para a
psicologia e para a educação. Maringá: Eduem, 2014.
Vídeo: Práticas de ensino em um contexto de mudanças. Recorte da Palestra de
José Carlos Libâneo, In: Sindicato-SP, 10 de junho de 2012.
DESCRIÇÃO: Neste vídeo Libâneo (2012) reporta à práticas de ensino em um
contexto de mudanças. Fala do papel da escola, como, “ensinando a pensar pelos
conteúdos, considerando os motivos dos alunos e os contextos socioculturais e
institucionais de aprendizagem”.
LINK:
https://drive.google.com/file/d/0B4ptku4WzMDANmh0UmptZUpOYnM/view?usp
=sharing
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO:
1.1 De acordo com as DCE (2008) “um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das
relações sociais em que está inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no
mundo a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possível participar”.
Diante das características da contemporaneidade apontadas tanto por Lizia Helena
Nagel como por Libâneo, reflita como estas influenciam na cultura dos nossos
alunos e quais os reflexos na sala de aula? Qual a função pedagógica da escola
nesse contexto, direcionando para uma leitura crítica?
1.2 Libâneo afirma no vídeo que chegou a conclusão que há quatro requisitos
indispensáveis para ser professor, que sistematizamos da seguinte forma:
a. Saber o conteúdo disciplina;
b. saber ensinar (entender como ajudar o aluno a pensar e atuar com esse
conhecimento);
c. saber a relação que o aluno tem com o conhecimento a ser trabalhado;
d. considerar as características da personalidade do aluno e os contextos
socioculturais e institucionais que o aluno vive.
1.2.1 Considerando a abordagem do vídeo e as discussões desse grupo de estudos,
como essa relação se dá na sua prática pedagógica?
1.3 De acordo com o texto estudado, as autoras Mascagna e Facci (2014) apontam
que na concepção de Vygotsky, “o comportamento, mesmo que individual, tem sua
origem nas relações sociais e históricas. A tomada de consciência da própria
conduta, o controle das operações internas, faz parte da formação da personalidade
do adolescente e da sua forma de se comportar na realidade”. Acrescentam ainda
que, “quando o Jovem se apropria das funções psicológicas superiores, memória
lógica, raciocínio abstrato, atenção concentrada, entre outras, ele também passa a
ter mais controle sobre sua conduta”.
- Nesse contexto, quais são as implicações dos conceitos científicos, trabalhados na
escola, para que o adolescente tome consciência da própria conduta e tenha
controle sobre suas operações internas?
Refletindo Sobre Os Resultados Do Questionário Aplicado Aos Alunos.
Tanto as DCE (Paraná, 2008) como o texto e o vídeo exibidos acima, nos faz
refletir que para organizar o ensino de modo significativo ao aluno, faz-se necessário
a escola prestar atenção e levar em consideração o contexto em que os alunos
estão inseridos, conhecer suas origens, sua história de vida, suas relações sociais e
até familiares, o que propiciará compreender sua relação com a aprendizagem.
Em se tratando de alunos do ensino médio, torna-se muito válido investigar
como estes veem a escola, qual a importância desta em sua vida, considerando
suas culturas, identidades, projetos de vida, pois na maioria das vezes estão
preocupados em como conciliar escola e trabalho, uma condição imposta pelo
sistema capitalista aos filhos dos trabalhadores, àqueles que têm uma situação
econômica desfavorecida. Nesse contexto, na sequencia apresentar-se-à aos
professores os resultados de uma pesquisa que será aplicada aos alunos do
primeiro ano do ensino médio, do período diurno, no mês de fevereiro do ano de
dois mil e dezessete. O formulário encontra-se em anexo nesta Produção Didático-
Pedagógica.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
1.4 Professores e professoras! Analise os resultados da pesquisa e sistematize a
visão do grupo. Na sequência apresente em plenária.
LEITURA DE TEXTO:
INDICATIVOS EDUCACIONAIS DO INEP: Aprendizado adequado em leitura e
interpretação (Prova Brasil, 2013).
Para melhor compreender a complexidade da leitura e interpretação de texto
buscou-se os últimos dados estatísticos do INEP referentes a Prova Brasil (2013).
Este instrumento avaliativo demonstra que no Brasil, de 1.561.167 alunos do 9º ano
do Ensino Fundamental que participaram desse instrumento avaliativo, apenas
392.231(25%) demonstraram o aprendizado adequado em leitura e interpretação.
No Estado do Paraná, 152.557 alunos participaram dessa mesma avaliação e
apenas 40.311 (27%) demonstraram um nível de leitura e interpretação satisfatório,
correspondente a esta etapa escolar. No município de Farol (Colégio Estadual
Cultura Universal), onde desenvolvemos nosso projeto de intervenção pedagógica,
não é diferente, dos 57 alunos que fizeram essa avaliação, apenas 13 alunos (24%)
demonstraram desempenho satisfatório em termos de leitura e interpretação de
textos.
Neste processo de reflexão, é considerado o desempenho escolar dos alunos
do 9º ano, para acompanharmos a transição do Ensino Fundamental para o primeiro
ano do Ensino Médio, foco de nossa intervenção pedagógica.
O quadro abaixo mostra a evolução desse aprendizado, num comparativo
entre o Município de Farol (Colégio Estadual Cultura Universal), Estado do Paraná e
o Brasil. Sendo a Prova Brasil realizada a cada dois anos, trazemos para reflexão os
resultados dos anos de 2009, 2011 e 2013.
EVOLUÇÃO DO APRENDIZADO EM LEITURA E INTERPRETAÇÃO
PROVA BRASIL 2009/2011/2013
9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL/REDE PÚBLICA DE ENSINO
( Comparativo: Farol/Parná/Brasil)
2009 2011 2013
FAROL 23% 11% 24%
PARANÁ 26% 25% 27%
BRASIL 24% 23% 25%
(Fonte: INEP/Prova Brasil 2013).
Disponível nos links: http://www.qedu.org.br/cidade/3278-farol/evolucao
http://www.qedu.org.br/cidade/3278-farol/compare
Neste contexto, refletir sobre leitura e interpretação implica inicialmente em
problematizar o conceito em questão. Buscou-se essa reflexão nas DCE (Paraná,
2008) que conceitua leitura da seguinte forma:
[...], compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem”. (DCE, 2008, p.56).
Nesse sentido, as DCE (2008) afirmam que “é preciso que a escola seja um
espaço que promova, por meio de uma variedade de gêneros textuais com
diferentes funções sociais, o letramento do aluno”. A essa capacidade de leitura e
interpretação refere-se ao indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas que por
dela posiciona-se e interage com as exigências da sociedade.
A leitura proposta neste documento norteador da educação objetiva levar os
alunos a reconhecerem as intenções implícitas nos textos, nos discursos do
cotidiano, compreendendo em que tempo e espaço os mesmos foram produzidos,
para que os alunos possam interferir nas relações de poder com seus próprios
pontos de vista, agindo na sociedade de modo consciente.
É relevante considerar a função interdisciplinar na leitura e interpretação,
tendo em vista que as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE, 2008)
determinam uma organização curricular disciplinar e apontam a necessidade do
diálogo entre os conteúdos das disciplinas. Isso pressupõe um trabalho
interdisciplinar, contextualizado com os conceitos cotidianos, permitindo a
possibilidade de articulação dos conhecimentos, para a compreensão da totalidade.
Sobre a relevância da interdisciplinaridade, as DCE (Paraná, 2008) propõe
que à partir de suas especificidades, as disciplinas chamem umas as outras e, em
conjunto, ampliem a abordagem dos conteúdos. Nesse contexto de
interdisciplinaridade, coloca-se como de responsabilidade de todas as disciplinas
prover ações para intervir nas dificuldades de leitura e interpretação dos alunos, não
sendo exclusividade de língua portuguesa.
Neste contexto é relevante considerar, também, que as dificuldades de
aprendizagem podem estar relacionadas a diversos fatores, inclusive ambientais,
como, problemas sofridos no contexto familiar, social ou até mesmo do próprio
ensino, quando este não se adequa metodologicamente às necessidades e ritmos
de aprendizagem do aluno, provocando a defasagem na aprendizagem, dificultando
a articulação para a compreensão de novos conhecimentos. Nesse sentido Cosenza
e Guerra (2011, p.130) declaram que, “o ambiente ao qual estamos expostos
influencia o processo de aprendizagem, interferindo nos fatores psicológicos e
emocionais e induzindo comportamentos que podem ser mais ou menos favoráveis
ao aprendizado”.
Nesse viés, não podemos interpretar as causas das dificuldades de leitura e
interpretação dos alunos como se elas originassem exclusivamente na escola; no
entanto, é função dessa mesma escola criar formas para superar as dificuldades de
leitura e interpretação, levando o aluno a usufruir do direito de aprender, uma vez
que a leitura propicia a comunicação e atuação no mundo de forma consciente,
caracterizando-se como ferramenta para novas aprendizagens, inclusive dos
próprios conteúdos curriculares.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
1.5 Professores e Professoras! Façam um parâmetro entre os resultados da Prova
Brasil e a realidade escolar vivenciada por vocês. No que se refere à leitura e
interpretação, têm percebido por meio de suas práticas pedagógicas ou de
instrumentos avaliativos, essa discrepância em relação a leitura e interpretação?
Comente.
LEITURA DE TEXTO:
Prática de Leitura (DCE, 2008, p.71 à 74)
Esse texto, aborda a concepção de leitura assumida pelas DCE (Paraná,
2008), definindo o que é ler e o papel do professor nesse processo.
LINK:
https://drive.google.com/file/d/0B4ptku4WzMDASzkzZFQwTVNSUGM/view?usp=sha
ring
VÍDEO: Leitura e Resolução de Problemas.
Este vídeo apresenta uma entrevista com o professor Carlos Alberto Faraco,
pós-doutor em linguística pela UFPR e a professora Maria Tereza Carneiro Soares,
doutora em educação pela UFPR. O tema tratado é sobre a leitura e resolução de
problemas no contexto escolar.
http://www.educacao.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=18627
Questões para reflexão e discussão
1.6 Após ler o texto e assistir o vídeo, analise os recortes abaixo e sistematize em
pequeno grupo o que se pede:
- As DCE (Paraná, 2008, p.71) afirmam que “a leitura é um ato dialógico,
interlocutivo. O leitor, nesse contexto, tem um papel ativo no processo da leitura, e
para se efetivar como co-produtor, procura pistas formais, formula e reformula
hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu
conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua convivência histórico-
cultural”.
- Na mesma linha de pensamento, O professor Carlo Alberto Faraco afirma em um
trecho do vídeo que “ler é um ato de resolver problema, uma vez que o texto não diz
tudo, precisa ser analisado, interpretado. A compreensão desse texto se completa
relacionalmente, ou seja, o leitor é chamado a ativar conhecimentos, a recorrer à
informações para entende-lo, sendo a leitura uma atividade interacional e
relacional”. Deixa claro que o professor de todas as disciplinas é o mediador, é quem
dá suporte para o aluno desenvolver essa capacidade leitora, ampliando o universo
de referências do aluno.
1.6.1 Embasados na citação do texto (DCE, 2008, p.71), no recorte do vídeo e em
suas práticas pedagógicas, como pode ser encaminhado o processo de leitura, nas
diversas disciplinas, para que o aluno acione seus conhecimentos prévios, tenha um
papel ativo no processo de leitura, interagindo com o texto e relacionando à outros
conhecimentos para uma leitura significativa?
TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL: COMO O SUJEITO HISTÓRICO APRENDE
E SE DESENVOLVE?
A ação pedagógica planejada deve considerar não só o conhecimento
científico a ser ensinado, mas especialmente compreender o processo de
aprendizagem, isto é, a relação ensino, aprendizagem e desenvolvimento
psicológico do aluno. A Teoria Histórico-Cultural explica como se dá essa relação.
CONTEÚDOS:
- Aprendizagem e Desenvolvimento, (Vygotsky, 2003)
- O desenvolvimento das funções psicológicas superiores e a formação de
conceitos na adolescência, (Mascagna e Facci, 2014).
LEITURA DE TEXTO:
“Aprendizagem e Desenvolvimento Intelectual na Idade Escolar”,
(Vygotsky, 2003).
A relação da aprendizagem e desenvolvimento, de acordo com Vygotsky
(2003) toma como ponto de partida o fato de que a aprendizagem da criança
começa muito antes da aprendizagem escolar. Toda aprendizagem tem uma pré-
história, portanto, faz-se necessário a escola compreender como se dá esse
processo para organizar o ensino.
De acordo com esse autor, aprendizagem e desenvolvimento estão ligados
entre sí desde os primeiros dias de vida do sujeito. Para explicar a relação entre
esse processo, Vygotsky (2003) afirma que é preciso considerar pelo menos dois
níveis de desenvolvimento, o nível de desenvolvimento efetivo e a área de
desenvolvimento potencial, esclarecendo que, “a diferença entre o nível das tarefas
UNIDADE II
realizáveis com o auxílio dos adultos e o nível das tarefas que podem desenvolver-
se com a atividade independente define a área de desenvolvimento potencial do
aluno”, e complementa, “o que uma criança é capaz de fazer com o auxílio dos
adultos chama-se zona de desenvolvimento potencial”.
Demonstra-se com esta explanação a grande relevância de conhecer o
aluno com o qual se vai trabalhar. Os dois níveis de desenvolvimento, tanto o efetivo
quanto o potencial são identificados pelo professor no decorrer das atividades
realizadas pelo aluno, observando o processo mental.
O que o aluno consegue resolver por sí só, sem a intervenção do professor
caracteriza-se como seu nível de desenvolvimento efetivo. Quanto aos
conhecimentos que o aluno ainda não apropriou, mas que poderá internalizar com a
ajuda do professor, denomina-se zona de desenvolvimento potencial.
De posse da compreensão da relação aprendizagem/desenvolvimento, é
possível o professor preparar um bom ensino, aqui entendido como prática
pedagógica que instiga o sujeito a executar ações mentais, por meio de atividades
escritas ou de oralidade, que leva o aluno a relacionar ou confrontar conhecimentos
novos com os já apropriados. Para motivar essa ação mental, propiciando a
contextualização de conhecimentos pode-se utilizar exemplos do cotidiano do aluno,
de sua experiência, desde que permeado pela teoria, avançando para os conceitos
científicos, pois esta é a finalidade da educação escolar, justificando-se nestes
termos, a relevância do ensino formal no desenvolvimento das funções psíquicas.
É importante frisar que nessa concepção a aprendizagem se dá primeiro no
social - professor/aluno, depois torna-se um processo Individual de internalização
por meio das ações mentais realizadas pelo sujeito, ou seja, passa da experiência
social para a individual. Esse processo individual acontece quando o sujeito, por
meio de mecanismos mentais transforma os conhecimentos interiorizados,
aprendidos, em novas formas de pensamento. Sobre isso, Vygotsky (2003, p.2)
afirma que “o único bom ensino é o que adianta ao desenvolvimento”.
Este encaminhamento provoca a atividade mental nos alunos, mobilizando
conhecimentos necessários a análise do novo conteúdo; por meio desse processo,
torna-se conhecimento também apropriado e internalizado, caracterizando a forma
dialética. Com essa apropriação de conceitos, abre as possibilidades para o aluno
fazer análises mais complexas, de abstração e generalização.
Os elementos aqui apresentados, em seu conjunto, formam a base de
sustentação para que ocorra a aprendizagem ou a apropriação do conhecimento,
como aponta Vygotsky (2003, p.15):
[...] a característica essencial da aprendizagem é que engedra
a área de desenvolvimento potencial, ou seja, que faz nascer,
estimula e ativa na criança um grupo de processos internos
de desenvolvimento dentro do âmbito das inter-relações com
outros, que na continuação são absorvidos pelo curso interior
de desenvolvimento e se convertem em aquisições internas
da criança.
Nessa linha de pensamento entende-se que os homens produzem
conhecimento na inter-relação com outros sujeitos e com a cultura. Com essa
compreensão, vimos em Vygotsky (2003) que a aprendizagem se dá primeiro no
plano social, depois se torna um instrumento psicológico, que tem como
consequência a formação das funções psicológicas superiores, como atenção
voluntária, memória lógica, a percepção, a criação e a imaginação, pensamento com
capacidade de generalização e abstração.
Ao considerar as funções psíquicas – percepção, atenção, memória,
imaginação - o desenvolvimento intelectual é uma consequência da aprendizagem.
Se o ensino não propiciar atividade mental, que instigue o aluno a pensar, não
ocorrerá aprendizagem e sem esta não há desenvolvimento. As atividades
constituem parte essencial no ato de planejar. Nesse sentido, quando o ensino não
propicia essas relações, a aprendizagem fica comprometida. Sobre essa questão
Vygotsky (2003, p.15) enfatiza que uma correta organização da aprendizagem do
sujeito conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de
desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem aprendizagem.
Nesse âmbito, o ensino e a aprendizagem dos conceitos científicos requer
uma sistematização de forma que o aluno se aproprie deles de modo consciente.
Nesse contexto, Vygotsky (2003, p.15) declara que “todo processo de aprendizagem
é uma fonte de desenvolvimento que ativa numerosos processos, que não poderiam
desenvolver-se por si mesmos sem a aprendizagem.”
As reflexões trazidas pelo estudo das relações ensino aprendizagem e
desenvolvimento intelectual sugere uma sistematização do planejamento da ação
pedagógica de modo a simplificar o trabalho do professor no dia a dia da sala de
aula. Uma organização sistemática que considere as mudanças que estão
ocorrendo na sociedade e suas influências na escola. Nesse sentido, considera-se
a influência do meio em que o aluno está inserido, conforme ressalta (LIBÂNEO,
2004, p. 228):
[...] o perfil dos alunos se modifica em decorrência da
assimilação de novos valores, dos impactos dos meios de
informação e comunicação, da urbanização, da propaganda, do
crescimento dos problemas sociais e da violência, com
evidentes repercussões na sala de aula.
De acordo com a citação acima, a ação pedagógica deve ter como objetivo o
desenvolvimento psicológico do aluno por meio do conhecimento científico
transformador do meio no qual o aluno vive.
Vygotsky (2003, p.15) enfatiza que uma correta organização da aprendizagem
do sujeito conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de
desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem aprendizagem. Para
materializar esse pensamento, vem a contribuição da Pedagogia Histórico-Crítica
com a proposta de organização de ensino para uma aprendizagem significativa,
retratada na próxima unidade.
RETOMANDO A LEITURA DO TEXTO:
MASCAGNA, Gisele Cristina e FACCI, Marilda Gonçalves Dias. O desenvolvimento das funções psicológicas superiores e a formação de conceitos na adolescência. In: LEAL, Zaira de F.Gonzalez. Adolescência em foco:
contribuições para a psicologia e para a educação. Maringá: Eduem, 2014.
O desenvolvimento das funções psicológicas superiores e a formação de
conceitos na adolescência, (Mascagna e Facci, 2014, p.49-52).
Descrição: O texto acima mencionado, extraído do livro “Adolescência em foco:
contribuições para a psicologia e para a educação”, já foi apresentado na unidade I,
no entanto, pela sua relevância no enfoque do desenvolvimento das funções
psicológicas superiores e a formação dos conceitos na adolescência está sendo
retomado para complementar as discussões nesta unidade II. As autoras
(Mascagna e Facci, 2014) afirmam que segundo Vygotsky, é na escola, na relação
do aluno com o professor, que os conhecimentos científicos ganham força,
superando aqueles conhecimentos espontâneos, adquiridos na vida cotidiana, sem
formalização de regras lógicas. Essa análise contribuirá na compreensão de como
esse sujeito aprende e se desenvolve.
Vídeo: - Marta Kohl fala sobre Vygotsky
https://drive.google.com/a/escola.pr.gov.br/file/d/0B4ptku4WzMDALWR2am0zT1lLUms
/view?usp=sharing
DESCRIÇÃO: Neste vídeo Marta Kohl explica pontos principais da teoria de Vygotsky
enfatiza o papel da aprendizagem no desenvolvimento, bem como a intervenção
pedagógica e o papel do professor nesse processo.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
2.1 Vygotsky (2003, p.15) enfatiza que uma correta organização da aprendizagem
do sujeito conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de
desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem aprendizagem.
Nessa perspectiva, o que você entende por uma correta organização da
aprendizagem? Comente.
2.2. De acordo com o texto estudado e o vídeo exibido, considerando os níveis de
desenvolvimento real (efetivo) e o nível de desenvolvimento potencial, como se dá a
relação entre aprendizagem e desenvolvimento? Qual a importância do professor ter
esse conhecimento na organização do ensino? Comente.
PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA: Como Organizar o Ensino para que o Sujeito
Aprenda?
A Teoria Histórico Cultural (THC) nos leva a entender como o sujeito aprende
e se desenvolve. E a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC) propõe uma organização
didático-metodológica de como ensinar de forma significativa. Ambas, compartilham
da ideia de que é função da escola ensinar os conteúdos historicamente produzidos
pela humanidade para os sujeitos históricos, concepção essa, também abordada
nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE), (2008).
Vygotsky (2003) ressalta a importância da aprendizagem dos conceitos
científicos para a formação do pensamento superior, o que implica em como
organizar o ensino para que essa aprendizagem ocorra. Saviani (2002), por sua
vez, organiza a aula em cinco momentos articulados entre si - prática social inicial,
problematização, instrumentalização, catarse e prática social final.
Antes de entrar propriamente na Pedagogia Histórico-Crítica, faremos uma
retrospectiva Histórica das Tendências Pedagógicas para se compreender a razão
pela qual se propõe esta metodologia para pensar um ensino voltado a intervir na
complexidade da leitura e interpretação, correspondente as concepções de
aprendizagem e desenvolvimento explicitados na Unidade anterior.
UNIDADE III
CONTEÚDOS:
- Linha Histórica das Tendências Pedagógicas – da Pedagogia Tradicional à
Pedagogia Histórico-Crítica. (Saviani, 2002)
- Pedagogia Histórico-Crítica: uma proposta didático-metodológica para um ensino
significativo;
LEITURA DE TEXTO:
As Teorias da Educação e o Problema da Marginalidade, Saviani (2002).
Fundamentados em Saviani (2002), podemos afirmar que as teorias
surgem da prática social, são abstração da realidade, por isso teoria e prática
não se separam. Da mesma forma a prática pedagógica está organizada em
uma concepção de ensino e de aprendizagem, bem como em uma concepção de
educação, de homem e de sociedade, que ficam claras nas tendências
pedagógicas. Neste âmbito retomar as tendências pedagógicas, ou teorias da
Educação, como retrata Saviani (2002), nos possibilita identificar historicamente
a influencia das mesmas no contexto de sala de aula.
Dentre as correntes filosóficas, Saviani (2002) identifica duas grandes
pedagogias: Pedagogia da Essência (Escola Tradicional) e Pedagogia da Existência
(Escola Nova). A primeira Justifica as desigualdades sociais pelo ser, ou seja,
responsabilização do indivíduo pelo seu sucesso e pelo seu fracasso, como por
exemplo, “não se esforçou, por isso não conseguiu”. Nessa linha de pensamento
todos são iguais, o que diferencia é o esforço de cada um. A segunda, de
concepção humanista, centra-se na vida, na existência, na atividade, considerando
as diferenças individuais, o que justifica a denominação recebida, Pedagogia da
Existência.
De acordo com Saviani (2002, p.63), tanto a Pedagogia Tradicional como a
Pedagogia Nova entendiam a escola como “redentora da humanidade”. Acreditavam
que era possível modificar a sociedade por meio da educação. Nesse sentido,
Saviani afirma que ambas são ingênuas e idealistas.
A Escola Nova contribuiu pelo afrouxamento da disciplina e pela
secundarização da transmissão de conhecimentos. Ao findar a primeira metade do
século XX, o escolanovismo apresentava sinais de exaustão. Nesse contexto
surgiram tentativas de desenvolver uma espécie de “Escola Nova Popular”, cujos
exemplos mais significativos, de acordo com Saviani (2002, p.68) são as pedagogias
de Freinet e de Paulo Freire, que faz crítica a Pedagogia Tradicional, quando faz
referência à Pedagogia Bancária. Paulo Freire se empenhou em colocar essa
concepção escolanovista a serviço dos interesses populares, especialmente aos
adultos analfabetos.
Nesse cenário, configurou-se uma nova teoria educacional: a pedagogia
tecnicista. Na Escola Tecnicista deu-se a proliferação de propostas pedagógicas tais
como o enfoque sistêmico, o microensino, o telensino, a instrução programada, as
máquinas de ensinar, etc. Dai também o parcelamento do trabalho pedagógico com
a especialização de funções, postulando-se a introdução no sistema de ensino de
técnicos dos mais diferentes matizes, conforme afirma Saviani (2002, p.12). Este
afirma que tanto a Escola Nova como a Escola Tecnicista perderam de vista a
especificidade da educação.
De acordo com Saviani (2002, p.3) no que diz respeito a questão da
Marginalidade, as teorias educacionais podem ser classificadas em dois grupos,
Teorias Não-Críticas e Teorias Crítico-Reprodutivistas. Fazem parte do primeiro
grupo, a Escola Tradicional, Escola Nova e a Pedagogia Tecnicista. Estas
concebem a sociedade como essencialmente harmoniosa, basta integrar os seus
membros e à educação cabe corrigir as distorções sociais, evitando a sua
desagregação, adaptando o sujeito à sociedade como ela está, por isso teorias não-
críticas. As principais Teorias crítico-reprodutivistas, assim apresentadas por
Saviani (2002) são: Teoria do Sistema de Ensino como Violência Simbólica; Teoria
da Escola como Aparelho Ideológico de Estado; Teoria da Escola Dualista. Este
segundo grupo de teorias não elaboraram uma proposta pedagógica, apenas
explicam o funcionamento escolar, mostrando que a escola na sociedade capitalista
reproduz a dominação e exploração presentes nas relações sociais.
Para Saviani (2002), faz-se necessário superar as Teorias não-críticas e as
crítico-reprodutivistas. Afirma que é preciso ir para para além dos métodos novos e
tradicionais, como intitula um capítulo do seu livro Escola e Democracia. Para tanto,
propõe uma nova teoria da educação: a Pedagogia Histórico-Crítica, apresentando-
a nos seguintes termos:
“Serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor, favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.“ Saviani (2002, p.69)
Para melhor sintetizar o que foi discutido até o momento, apresentamos um
quadro com a Linha Histórica das Tendências Pedagógicas – da Pedagogia
Tradicional à Pedagogia Histórico-Crítica. Este foi elaborado por nós, à partir da
compreensão do livro Escola e Democracia, de Saviani (2002). Este Quadro mostra
a forma de organização e funcionamento da escola decorrente da proposta
pedagógica veiculada pela teoria.
Linha Histórica das Tendências Pedagógicas: da Pedagogia Tradicional à
Pedagogia Histórico-Crítica.
AS TEORIAS NÃO CRÍTICAS Para Além Das Pedagogias da Essência E Da Existência
Visam a adaptação do sujeito à sociedade, como ela está, por isso a denominação,
Teorias não-críticas. Dissociavam a educação da sociedade
Concepção que articula educação e
sociedade. Concebe sociedade como
dividida em classes com interesse
opostos.
PEDAGOGIA
TRADICIONAL OU DA ESSÊNCIA
PEDAGOGIA NOVA
OU DA EXISTÊNCIA
PEDAGOGIA
TECNICISTA
PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
- justifica as desigualdades sociais
pelo ser, ou seja, responsabilização do indivíduo pelo seu
sucesso e pelo seu fracasso. Sua percepção centra-se no intelecto,
-De concepção humanista,
centra-se na vida, na
existência, na atividade
(Pedagogia das
Diferenças);
- transpôs para a escola
a forma de
funcionamento do
sistema fabril: eficiência,
racionalidade e
- A escola trabalha os conceitos científicos vinculados à prática social, às experiências do aluno; - centro do processo: o conteúdo científico, sendo a prática social do aluno o ponto de partida e o ponto de chegada; - professor e alunos são tomados como
na essência, no conhecimento
(Pedagogia igualitarista) - Escola, um ambiente disciplinado, silencioso e de paredes opacas, organizada em classes.
como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo
uma graduação lógica, o acervo cultural aos alunos;
- aprendizagem corresponde a assimilação,
memorização e verbalização dos conteúdos transmitidos pelo professor;
- método de caráter
científico; conteúdos
abordados de forma
mecânica, repetitiva,
desvinculado das
experiências, da prática
social, sendo a atividade
de iniciativa do professor
por meio da transmissão
dos conteúdos;
- centro do processo: o
professor; - professores e alunos
são tomados em termos individuais; - Conteúdo:
inquestionável, verdade absoluta, basta assimilar; - Papel da Escola:
adaptar o sujeito à sociedade;
- aprender; - é marginalizado da Sociedade, o ignorante,
- Ambiente estimulante de
aprendizagem,
multicolorido, dotado de
materiais didáticos;
- agrupamento de alunos
segundo áreas de
interesses decorrentes de
sua atividade livre (escolas
experimentais), -
consideram pesquisa
como ensino, sendo o
professor um
estimulador/orientador da
aprendizagem;
- método de caráter
pseudocientífico, sendo a
atividade de iniciativa dos
alunos;
- Aprendizagem: em
decorrência espontânea
do ambiente estimulante e
da relação viva que se
estabelecia entre estes e o
professor. Aprender
experimentando,
pesquisando temas de
interesse do aluno, sendo
a aprendizagem
observada pela
manifestação do interesse
e participação nas
atividades;
- centro do processo: o
aluno (relação
produtividade;
- parcelamento do
trabalho pedagógico
com a especialização de
funções, e técnicos das
mais diferentes matizes;
-implantação de
tecnologias de ensino e
proliferação de
propostas pedagógicas,
tais como o enfoque
sistêmico, o
microensino, o telensino
e outros;
- Papel da escola: formar
indivíduos eficientes,
aptos a dar sua parcela
de contribuição para o
aumento da
produtividade da
sociedade/ função de
equalização social ;
- centro do processo: a
organização racional dos
meios (professor e aluno
ocupam posição
secundária);
- aprendizagem:
eficiência na
produtividade da
sociedade(saber fazer)
- Professores e alunos
agentes sociais;
- relação dialógica dos alunos entre sí, com o professor e com a cultura acumulada historicamente;
- leva em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, sem
perder de vista os conhecimentos científicos e a sistematização lógica dos conhecimentos;
- método de caráter científico, que mantém a vinculação entre educação e sociedade, que estimula a atividade e
iniciativa do aluno, sem abrir mão da iniciativa do professor (Método proposto na forma de passos – prática social inicial, problematização,
instrumentalização, catarse e prática social final); - conteúdo e prática social são
interrogados, problematizados; - aprendizagem: expressão elaborada da
nova forma de entendimento da prática social a que ascendeu, por meio da apropriação dos instrumentos teóricos e práticos necessários ao equacionamento
dos problemas detectados na prática social, ou seja, das ferramentas culturais necessárias à luta social para se l ibertar das condições de exploração em que
vivem; - aprender a pensar por meio dos
conteúdos científicos; - Lutar contra a marginalidade por meio da escola significa engajar-se no esforço
para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições históricas atuais”.(Saviani,
2002, p.31); - Pedagogia articulada com os interesses populares;
aquele que não tem domínio de
conhecimentos.
interpessoal, essência da
atividade educativa);
- tratamento diferencial
aos alunos, à partir das
descobertas das
diferenças individuais;
- Papel da escola: ajustar,
adaptar os indivíduos à
sociedade, incutindo neles
o sentimento de aceitação
dos demais pelos demais ;
- aprender a aprender;
- é marginalizado da
sociedade o rejeitado,
“quem tem anormalidade,
diferença”.
ficam relegados à
condição de executores
de um processo, cuja
concepção,
planejamento,
coordenação e controle
ficam a cargo de
especialistas
supostamente
habilitados, neutros,
objetivos, imparciais;
- aprender a fazer;
- é marginalizado da
sociedade, o
incompetente,
ineficiente e
improdutivo.
TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS (Teoria do Sistema de Ensino como Violência Simbólica, Teoria da
Escola Como Aparelho Ideológico do Estado, Teoria da Escola Dualista): estas não contém uma proposta pedagógica, se empenham tão somente em explicar o mecanismo de funcionamento da esc ola, tal como está constituída.
Quadro 1: Arquivo da pesquisadora – elaborado com base no Livro Escola e Democracia (Saviani, 2002)
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
3.1 Após a leitura do texto, As Teorias da Educação e o Problema da Marginalidade,
analise as Tendências Pedagógicas sistematizadas no Quadro acima, destacando
de cada uma (Pedagogia Tradicional, Nova e Tecnicista) as manifestações visíveis
na organização do ensino e práticas pedagógicas de hoje. Estas manifestações, do
ponto de vista, são positivas ou negativas? Comente.
LEITURA DE TEXTO:
Para Além dos Métodos Novos e Tradicionais
Descrição: Saviani apresenta a Pedagogia Histórico-Crítica e propõe uma
organização metodológica para um ensino significativo, contemplando cinco passos
articulados entre si: Prática Social, Problematização, Instrumentalização, Catarse e
Prática Social Final.
LINK:
https://drive.google.com/a/escola.pr.gov.br/file/d/0B4ptku4WzMDATEZ0N0o5U3Bte
mM/view?usp=sharing
Vídeo(s): Infância e Pedagogia Histórico-Crítica (Trecho da Conferência de
Encerramento do Congresso Infância e Pedagogia Histórico-Crítica, Saviani ( 2012)
Descrição: Neste vídeo Saviani apresenta os cinco passos da Pedagogia Histórico-
Critica. Esclarece que a Prática Social é o ponto de partida e o ponto de chegada do
conhecimento. Defende que em um primeiro momento, aprender implica na
disponibilidade do aluno para essa aprendizagem e o método pode levar o aluno a
esse despertar, relacionando conceitos científicos e prática social.
LINK:https://drive.google.com/a/escola.pr.gov.br/file/d/0B
4ptku4WzMDALWR2am0zT1lLUms/view?usp=sharing
3.2 De acordo com a Pedagogia Histórico-Crítica, qual é o papel do professor? Que
tipo de homem se quer formar?
PLANO DE AÇÃO: Uma Compreensão sob o Enfoque da Pedagogia Histórico-
Crítica.
LEITURA DE TEXTO:
UMA AÇÃO PEDAGÓGICA, HISTÓRICA E CRÍTICA PARA O ENSINO DA
LEITURA E INTERPRETAÇÃO.
Com o intuito de compreender o planejamento de ensino sob a perspectiva da
Pedagogia Histórico-Crítica, articula-se a leitura e interpretação de textos dentro dos
cinco passos da organização metodológica apresentada por Saviani (2002). Neste
faremos as relações com a Teoria Histórico-Cultural, considerando quem é o sujeito
para o qual se organiza o ensino e o modo como este aprende e se desenvolve,
refletindo práticas pedagógicas.
No primeiro passo da ação pedagógica, que é o da prática social inicial,
professor e aluno encontram-se em níveis diferentes de compreensão dessa prática
social a ser transformada. Considerando conhecimento e experiência, Saviani (2002)
não utiliza os termos conhecimento inferior ou superior, chama apenas de
conhecimentos diferentes entre professores e alunos, valoriza-se assim, o diálogo
entre esses sujeitos históricos. Nesse momento os adolescentes expressam a sua
teoria sobre o conteúdo estruturante ou texto a ser estudado, com base nas suas
experiências. Inicia-se aqui, um processo de leitura e interpretação da própria
realidade do aluno inserido num contexto histórico e social, tendo um tema como
eixo da discussão.
Com esse encaminhamento, busca-se relacionar os conteúdos científicos à
prática social, levantando o que os alunos sabem a respeito do conhecimento que
UNIDADE IV
será abordado, instigando-os a perceberem a relação do conteúdo curricular, das
leituras, à sua vida cotidiana, ou seja, à sua prática social. A esses conhecimentos
prévios, compreende-se que Vygotsky (2003) denomina como nível de
desenvolvimento efetivo, conhecimentos já apropriados pelo sujeito.
Compreende-se que o aluno precisa ser instigado pelo professor, para
perceber a relação da leitura com a prática social. Na concepção de Vygotsky
entendemos a necessidade do professor, metodologicamente, levar o aluno a
acionar seus “conhecimentos efetivos”, por meio de leituras significativas,
percebendo o que sabe, para relacionar ou confrontar com novos conceitos. Nesse
momento inicial o aluno precisa sentir a necessidade da busca de novos
conhecimentos, para responder o objeto de estudo.
O encaminhamento metodológico parte do conhecimento que os discentes
possuem sobre o conteúdo a ser desenvolvido. É efetivamente uma
contextualização, onde o aluno percebe que os conteúdos, as leitura indicadas pelo
professor, não são um fim em sí mesmos, mas serão trabalhados em função de
necessidades sociais. Esse método procura mobilizar, envolver os educandos na
construção ativa da aprendizagem, objetivando elevar esses conhecimentos do nível
sincrético ao sintético, termos empregados por Saviani (2002) ou, passar de
conceitos cotidianos aos científicos, termos aplicados por Vygotsky (2003).
Empregando esses termos às teorias do desenvolvimento e aprendizagem,
em Vygotsky (2003) pode-se afirmar que o ensino apoia-se inicialmente nos
conhecimentos efetivos dos sujeitos, para Saviani (2002) pratica social inicial, que
segundo Vygotsky são acionados por mecanismos mentais, pelo encaminhamento
metodológico adequado. Á partir desses “conhecimentos efetivos” ou da “prática
social”, são encaminhados as leituras e estudos dos alunos.
O segundo passo, denominado por Saviani (2002) como problematização,
caracteriza-se pela identificação dos principais problemas postos pela prática social,
levantando questões que precisam ser resolvidas e relacionando quais
conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade são necessários
apropriar, ou, que instrumentos teórico-práticos são necessários para responder as
questões levantadas nesse momento de problematização. Aqui, a prática social é
interrogada pelo viés dos conteúdos a serem trabalhados, da mesma forma o próprio
conteúdo é interrogado. É o confronto da prática social com os conteúdos
curriculares, por isso, análise da prática e da teoria.
Essa transformação de conceitos, só ocorre pela compreensão, ou como
define Vygotsky (2003), pela apropriação e internalização de conhecimentos
científicos, que leva a formação das funções psicológicas superiores. Essa
apropriação de conceitos científicos pode ser alcançada quando o aluno lê e
compreende o que leu, reconhece as intenções implícitas nos textos e as relaciona
ou confrontam com a prática social, quando percebe em que tempo e espaço esses
textos foram produzidos, entendendo que esses conhecimentos científicos o levará
a interpretar o seu cotidiano de forma consciente.
Este segundo passo da aula consiste em trazer perguntas formuladas já
com base no novo conhecimento que será desenvolvido com os alunos. Não se
assemelha ao questionário que tradicionalmente o aluno decora para prova. São
questões que motivam para a leitura, para a busca do conhecimento.
O terceiro passo do encaminhamento metodológico é a instrumentalização.
Para fazer essa análise da prática e da teoria, no momento da instrumentalização,
os mais variados recursos científicos serão colocados a disposição do aluno,
necessitando interpretá-los, relacionar ou confrontar com a prática social. De acordo
com Vygotsky (2003) o professor prepara esse encaminhamento didático-
metodológico para atuar na zona de desenvolvimento potencial do aluno, para que
com a intervenção do professor esse venha a interpretar e internalizar os
conhecimentos que ainda não havia apropriado.
Nesse âmbito, os conteúdos historicamente produzidos pela humanidade,
são instrumentos de compreensão da realidade, e os alunos perceberão as razões
pelas quais estes devem ser apropriados, assim serão provocados a fazerem
leituras e instigados a interpretar com significado, relacionando à prática social. Ao
interrogar os conteúdos e a prática social abrir-se-ão grandes possibilidades de
dimensões dos conhecimentos, em seus aspectos científicos, históricos, culturais,
políticos, econômicos, dentre muitas outras, abrindo um leque de conteúdos,
conforme o que se pretende responder.
De acordo com Saviani (2002), a instrumentalização é um passo da aula que
se caracteriza pela apropriação dos conhecimentos teóricos e práticos necessários
ao equacionamento dos problemas detectados na prática social. Aqui os conteúdos
historicamente produzidos pela humanidade são disponibilizados aos alunos, por
meio de referenciais teóricos e práticos, como textos, vídeos, filmes, reportagens,
pesquisa de campo, entre outros recursos didáticos-pedagógicos, para que
apropriem, internalizem e contribua para a formação das funções psicológica
superiores. Nesse viés, as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, contemplam
a dimensão da leitura:
Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais: jornalísticas, artística, judiciária, científica, didático-pedagógico, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens não verbais. A leitura de imagens, como: fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano, [...] (DCE, 2008, p.71)
A dimensão da leitura definida pelas DCE (2008) responde ao momento da
instrumentalização, proposta por Saviani (2002), quando abre as dimensões do
conteúdo para responder questões da prática social. Por essa amplitude na
abordagem dos conteúdos e pelo seu caráter problematizador, entende-se que esse
método, atende o princípio integrador do currículo discutido nas DCE (2008), que é a
“interdisciplinaridade relacionada ao conceito de contextualização”. Com esse
encaminhamento, a leitura torna-se significativa para o aluno, possibilitando a
compreensão da totalidade.
Por meio desse encaminhamento metodológico, com a mediação do
professor, os alunos passam dos conceitos cotidianos aos científicos, respondendo
aos desafios postos pela prática social e as dimensões dos conteúdos
problematizados. O conhecimento científico ao ser internalizado pelo sujeito define-
se também como “efetivo”, e assim sucessivamente, gerando novamente a
necessidade de novos conhecimentos.
O quarto passo, denominado por Saviani (2002) como Catarse, é o
momento crucial da expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática
social a que alcançou, pela mediação da análise, no processo de ensino. Na
concepção deste autor “trata-se da efetiva incorporação dos instrumentos culturais,
transformados agora em elementos ativos de transformação social”.
De acordo com Vygotsky (2003) os dois níveis de desenvolvimento, tanto o
efetivo, quanto o potencial são identificados pelo professor no decorrer das
atividades realizadas pelo aluno, observando o processo mental. Entende-se que da
mesma forma ocorre nesse momento didático metodológico, quando se observa o
quanto o aluno avançou em relação ao momento inicial, por intermédio da
instrumentalização de recursos históricos, científicos e culturais, ou seja, como
descreve Saviani (2002), a passagem da síncrese à síntese.
Nesse momento, as atividades são planejadas para que o aluno as realize
com a mediação da linguagem do adulto. Nesse processo, a práxis, permite a ele
demonstrar o que é capaz de realizar de modo independente e de receber
explicações para os pontos que ainda em processo de abstração falada e escrita.
Espera-se aqui que demonstre um conhecimento superior, em relação ao momento
inicial, que saiba discutir com propriedade sobre o objeto estudado, fazendo as
devidas relações com a prática social. E que ao ler textos voltados ao objeto de
estudo, saiba, perceber as ideologias presentes no mesmo, e à partir daí, tenha um
olhar crítico sobre todas suas fontes de estudo.
Finalmente, o quinto passo, é o ponto de chegada, ou seja, é o retorno ao
ponto de partida, mas com conhecimento superior, transformado pelas relações
sociais, culturais, científicas e historicamente produzido pela humanidade, mediado
pelo professor pesquisador, pode também ter a contribuição dos alunos em
pesquisas em fontes orientadas.
Saviani (2002) conceitua a educação como “uma atividade mediadora no
seio da prática social global”, por isso o método de ensino apresentado por ele, tem
na prática social o ponto de partida e o ponto de chegada, com um diferencial, no
início o sujeito atuava na prática social com conhecimento sincrético. Com as
leituras realizadas sob a mediação do professor e conhecimentos apropriados, o
sujeito passa a ver e agir nessa prática com um conhecimento sintético, sendo
capaz de analisar e generalizar com consciência política e científica.
Com base em Vygotsky (2003) compreende-se que os conhecimentos que
faziam parte da zona de desenvolvimento potencial, com a mediação do professor
na organização dos conteúdos historicamente produzidos pela humanidade, foram
internalizados pelo sujeito, passando de nível de desenvolvimento potencial para
nível de desenvolvimento efetivo, que chama a necessidade de outros
conhecimentos, assim sucessivamente, em um movimento dialético de produção da
humanidade. Esse movimento dialético também é visível em Saviani, na Pedagogia
histórico-crítica, por ser a prática social o ponto de partida e o ponto de chegada do
processo didático-metodológico.
Sobre esse método de ensino apresentado, Saviani (2002, p.78) esclarece
que o professor deve antever com uma certa clareza a diferença entre o ponto de
partida e o ponto de chegada sem o que não será possível organizar e implementar
os procedimentos necessários para se transformar a possibilidade em realidade”.
Portanto, o professor é quem deve dar condições para que o aluno atribua
sentidos a sua leitura, visando um sujeito crítico e atuante na prática social de forma
consciente e responsável. Para isso, o docente deve ter claro os objetivos de
aprendizagem, para planejar os meios necessários para que esta ocorra. Fazer com
que fique claro aos alunos também, para que estes saibam o que se espera deles e
o esforço que precisam desprender para se atingir os objetivos propostos.
PARA REFLETIR E PRODUZIR:
As DCE (Paraná, 2008) define a escola como espaço de confronto e diálogo
entre os conhecimentos científicos e os conhecimentos do cotidiano popular,
afirmando ser a função do currículo, oferecer ao estudante a formação necessária
para o enfrentamento com vistas a transformação da realidade social, econômica e
política de seu tempo. Nesse contexto, a educação escolar de forma intencional e
planejada cria meios para que o aluno transforme esses saberes do cotidiano em
conhecimentos sistematizados, científicos, entendendo que as ferramentas para
essa compreensão é a leitura e interpretação. Com essa compreensão, propõe-se a
elaboração de um Plano de Ação articulado entre todas as disciplinas, voltado a
questão da leitura e interpretação.
4.1 Professores e Professoras! Nesse momento são convidados (as) a sistematizar
um encaminhamento de leitura e interpretação que seja possível materializar em
todas as disciplinas, independente da especificidade científica de cada uma,
considerando, os cinco passos da pedagogia Histórico-Crítica (Prática Social Inicial,
Problematização, Instrumentalização, Catarse e Prática Social Final. Nesse
planejamento deve-se também considerar quem é o sujeito histórico para o qual se
organiza o ensino e como esse sujeito aprende.
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LIBÂNEO, José Carlos. Função da Escola. Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=13065
MARTA, Sueli de Faria Sforni. Programa nós da Educação. O diálogo entre a Educação Básica e o Ensino Superior. TV Paulo Freire 2008.
Parte 3 de 3 - O diálogo entre a Educação Básica e o Ensino Superior. Duração: 22:08 Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=612
Acesso em: 03/10/2016.
OLIVEIRA, Marta Kohl, Lev Vygotsky Coleção Grandes Educadores. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=KwnIKDXeEdI Acesso em: 16/09/2016
SAVIANI, Demerval. Infância e Pedagogica Histórico-Crítica. Conferência de
Encerramento do Congresso Infância e Pedagogia Histórico-Crítica. Data: 20 de
junho de 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ImxuI-n2740 Acesso em: 13/08/2016
RECORTE:
Como está a educação no Brasil. Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/links/links.php?categoria=9
ANEXOS:
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO-SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO-SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNESPAR - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ
CAMPUS DE CAMPO MOURÃO
COLÉGIO ESTADUAL CULTURA UNIVERSAL-ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
MUNICÍPIO: FAROL/PARANÁ NRE: CAMPO MOURÃO
QUESTIONÁRIO
Caro aluno(a)! Solicito vossa colaboração, respondendo as perguntas deste
questionário, para implementar meu Projeto/PDE, intitulado Organização do Ensino
e Intervenção Pedagógica nas Dificuldades de Leitura e Interpretação. Obrigada!
Público: 1º ano do Ensino Médio do ano de 2017 – Período Diurno.
1) Qual sua idade?
Resposta: ____________________
2) Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
3) Onde é situada sua residência?
( ) Zona Urbana ( ) Zona Rural
4) Quantas pessoas moram na sua casa, incluindo você?
Resposta: ___________________________________
5) Com quem mora?
( ) pais ( ) avós ( ) outros parentes ( ) cônjuge
6) Qual a renda familiar?
( ) até 1 salário mínimo
( ) de 1 até 2 salários
( ) de 2 até 3 salários
( ) mais de 3 salários
7) Recebe algum benefício social federal, como o Bolsa Família?
( ) sim ( ) não
8) Qual a escolaridade de seus pais ou responsáveis?
( ) 5º ano do Ensino Fundamental (antiga 4ª série)
( ) 9º ano do Ensino Fundamental (Antiga 8ª série)
( ) Ensino Médio completo ( antigo 2º Grau)
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Superior completo
( ) Ensino Superior Incompleto
9) Você já repetiu de ano?
( ) sim, uma vez, nesta escola.
( ) sim, uma vez, em outra escola.
( ) sim, duas vezes, ou mais.
( ) nunca repeti de ano.
10) Você desempenha alguma atividade remunerada para complementar a renda
familiar?
( ) sim ( ) não
11) Como você aprende melhor?
( ) em aula expositiva - apenas o professor fala
( ) quando o professor transmite os conhecimentos científicos de forma dialogada,
relacionando os conteúdos com seus conhecimentos prévios, suas experiências.
( ) em aulas que trabalham os conteúdos científicos, fazendo uso de imagens,
filmes, seminários, relacionando o conteúdo com sua prática social.
( ) Outra. Especifique _______________________________________
12) Qual a importância da escola para você? Escolha a alternativa de maior
importância.
( ) aprender conteúdos científicos e culturais produzidos pela sociedade
( ) auxilia na compreensão do que ocorre na sociedade e a me posicionar diante
dos fatos.
( ) me ajuda a compreender os textos que leio e a realizar tarefas escolares
( ) encontrar os amigos, fazer novas amizades.
( ) preparar para o mercado de trabalho
( ) uma obrigação
13) Quais são as disciplinas que você encontra maior dificuldade para aprender os
conteúdos? Enumere-as de 1 à 3, por ordem de dificuldade.
( ) Língua Portuguesa e Literatura
( ) Língua Inglesa
( ) Educação Física
( ) Biologia
( ) Química
( ) Física
( ) Matemática
( ) Geografia
( ) História
( ) Filosofia
( ) Sociologia
( ) Não tenho dificuldade em nenhuma disciplina.
14) Como emprega o seu tempo livre? Enumere as colunas de 1 à 8, por ordem de
importância para você.
( ) saio com amigos(as)
( ) navego na internet.
( ) faço cursos
( ) assisto televisão
( ) faço as tarefas escolares
( ) pratico esportes
( ) passeio com minha família
( ) Pratico leituras
15) O que você pretende fazer quando concluir o Ensino Médio?
( ) Cursar o Ensino Superior
( ) Cursar o Ensino Superior e trabalhar.
( ) Procurar um emprego
( ) fazer curso profissionalizante e me preparar para o trabalho
( ) Trabalhar por conta própria/trabalhar em negócio da família
( ) Ainda não decidi
( ) outro.
16) Pessoa que mais influenciou no desenvolvimento de sua personalidade?
( ) pai ( ) mãe ( ) irmão
( ) outros familiares ( ) professor(a) ( ) Outro.
17) Com que frequência seus pais ou responsáveis conversam com você sobre seus
estudos, livros, filmes, programas de TV, perigo das drogas, entre outros
assuntos?
( ) nunca
( ) algumas vezes
( ) quase sempre
( ) sempre.
18) Tem o hábito de leitura, além das exigidas pelos professores para a resolução
das atividades?
( ) sim
( ) não
19) Ao responder sim, na questão 17, relacione abaixo em ordem de preferência,
de 1 à 8 o seu gosto pela leitura.
( ) livro didático
( ) sites de internet
( ) jornais
( ) revistas de informação geral
( ) revistas em quadrinho
( ) História Geral ou do Brasil
( ) livros de poesias
( ) Romance, crônicas e ficção em geral.
( ) Outros.
20) Caso tenha marcado não, na questão 17, responda:
O que torna a leitura difícil para você? Marque apenas uma opção.
( ) falta de tempo
( ) condições financeiras para adquirir livros e outros
( ) não tenho acesso à bibliotecas para emprestar livros.
( ) pouca fluência na leitura
( ) dificuldade em compreender o que lê
( ) não sinto interesse
( ) outro. Qual __________________________________________________
21) O que é ser adolescente para você?
( ) ter comportamento diferente (no falar, vestir, pensar e no modo de ser)
( ) é curtir a vida, sair em grupo, se divertir
( ) ter hormônios aumentados
( ) é ter vontade de transformar o mundo para melhor.
( ) ser rebelde, não ter limites.
( ) ter mais responsabilidade.
22) Quais suas expectativas em relação ao ensino médio?