patricia seed - o requerimiento

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  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    1/59

    3

    o

    REOUERIMENTO

    UM PROTOCOLO PARA A CONOUISTA

    Em nome de Sua Majestade, ... eu ... seu servidor, mensageiro ...

    notifice

    e

    a

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    2/59

    1 2 PATR ICIA SEED

    esc

    ravos ... e tomarei seus pertences, fazend

    o- lhe

    s

    tod

    o a

    mal

    e cau -

    sa

    ndo- lhe

    s todos as danos que urn senhor pede

    causa

    r aos vassalos

    que

    na

    o a

    re

    ce

    bem

    nem

    t

    he

    obedecem. E declare solenernente

    que

    a

    cul

    pa pelas mortes e danos sofrid

    os

    po r essa

    ~ o

    sera sua , e

    na

    o

    de

    Sua Ma

    jes tade, nern r i

    nha

    , nem dos cavalheiros

    que

    camigo

    vlera m.\

    Esse

    di

    s

    cu

    rso charnado Requerirnento tquirim

    iem

    oJ foi

    principal meio pe lo qual as espanh6is sancionaram sua autoridade

    politica

    sab

    re a

    ovo

    und

    o dura

    nte

    a era de suas mais extens

    iv

    as

    conquista s

    151 2 15

    73). Lido em

    voz

    alta para

    as

    nat ivos do

    ovo

    Mund

    o a partir de

    urn

    texto e

    sc

    rito

    Requerirnent

    o era

    urn

    ul ti-

    m

    ato

    para q ue

    as

    ind ios reconhecessem a supe rio

    ri

    dade do c

    ri

    stia-

    nisrno; caso con

    tr

    ario, enfre

    nta

    r arn a guerra.

    Diferentemente dos fran ceses, que costurna

    vam

    buscar

    uma

    l i n ~ e observar as rostos e gestos dos p v s indigenas proeurando

    s

    inai

    s de assentiment

    o

    os espanh6is criavam

    se

    us di reitos ao Novo

    Mundo pela conquis

    ta

    , e nao pelo con

    se

    ntimento. Enquanto as

    regras inglesas governava m a c o n t r u ~ o de ce rcas,

    ja

    rdins e casas

    e as franc

    esa

    s governavam a conduta

    das ceri

    m

    onias as

    r

    eg

    r

    as

    esp

    a

    nholas governavam os proeedi

    ment

    os de d e c l r ~ o de guerra.

    Para iniciar uma guerra que resulta num dominio politico

    le

    gi-

    timo sobre os conquistados, os procedimentos seguidos d

    ev

    em se r

    cuidadosame

    nt

    e explicitados pelas mesmas a

    ut

    oridades pollticas

    que, mais tarde , reivindi

    ca ra

    o ter es

    ta

    be leci

    do urn dominie

    le

    gt-

    tim

    o. Estabelecer 0 direito de governar por virtude da conquis

    ta

    significa que todos os soldados, capitaes e lide

    re

    s em ba talha devem

    seguir os passos politicos que Ihes foram o

    rd

    enados. Pois

    0

    que esta

    em

    questao nao esimplesmente seu pr6prio controle pessoal sobre

    uma regiao, mas 0 governo legitimo de todo urn Estado. Omitir os

    rituais se ria coloear em risco

    0

    estabelecimento de urn dominio legi-

    t i m ~

    Pe

    rt

    an

    t

    o

    na

    o era

    ne

    cessa

    r

    o que os so ldados ou

    se

    us

    Iidere

    s

    cons

    idera

    ssem convin

    ce

    ntes a

    ret

    orica ou a

    16gi

    ca

    da

    d e c l ~ o

    de

    guerra . Ba stava que eles observassem seu protoeolo, segundo Ihes

    havia sido o rdenado.

    A m e ~ de gue rra contida no Requerimen to foi urn dos tra-

    t;OS mai

    s

    ca

    ract

    erfs

    ticos do colonialismo

    es

    pa

    nh

    ol. Nenhum outro

    C pyr I

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    3/59

    CERIMON

    IA

    S DE P

    OSSE

    lOR

    Estado europeu criou urn protocolo inteiramente ritualizado para

    dedarar guerra contra pavos indfgenas. A guerra contra pavos na

    tivos er

    a

    pa

    ra a maioria das

    nac;

    6es

    eu

    ropeias uma decisao das

    comunidades locais, dos governadores-gerais ou das

    c o n f e d e r a ~ 6 e

    da s cidades, tomada consensualmente pelos colonizadores euro

    peus que viviam

    na

    s Americas. Algumas vezes

    era

    necessaria

    consentimento oficial, ma s

    pr

    ocedi mentos formais para iniciar a

    guerra contra os nativos raramente eram exigidos ou observados.

    Apenas os espanh6is carregavam consigo urn protocolo criado pelas

    ordens

    de

    seu rei, e que deveria

    se

    r lido antes do inicio

    de

    urn

    ataque.

    Sendo criado e implementado pela Coroa espanhola, 0 Reque

    rimento definia

    em

    termos politicos as formalidades para iniciar

    uma guerra. Fixava

    os

    objetivos

    da

    guerra, que nao se Iimitavam

    a .

    r e n d i ~ a o

    mas tambem

    ab

    rangiam a submissao

    ao

    catolicismo e a

    seus legitimos representantes as espanh6is.

    Assim

    0 Requerimen-

    to era urn ritual militar e tambern politico. Mas ,

    na

    c o n d i ~ a o

    de

    ritual para dedarar guerra, era singularmente espanhol, na o tendo

    paralelo algum em nenhuma cultura europeia.

    Para as ou

    tras na

    ~ 6 e s da Europa

    , tanto suas exigencias quanto

    seu

    metodo

    de

    imple

    m e n t ~ o

    pareciam estranhos; varias influentes personalidades

    inglesas, francesas e holandesas faziam t r o ~ a do Requerimento.

    Walter

    Ra

    legh escarnecia dele, assim co mo Michel de Montaigne e

    o

    esc

    ritor holandes Johannes

    de Laet

    '

    Ate 0 eminente dominicano espanhol Ba rtolome

    de Las

    Casas

    escreveu que, quando ouviu

    0

    Requerimento,

    ficou se

    m saber se

    devia r

    ir

    ou chorar.

    3

    Seja lid

    o a toda velocidade do conves

    de um

    navio anoite antes

    de

    urn ataque diurno seja lido

    para

    urn con-

    junto de cabanas vazias e arvores, seja pronunciado at raves das

    espessas barbas espanholas, 0 modo como 0 Requerimento era

    implementado e ainda hoje considerado por muitos tao absurdo

    quanto 0 texto em Sl.

    o

    carater aparen temente

    i16gico

    do texto inclui a

    fo

    r

    ma

    da

    exigencia e sua substancia. He requer' que

    os p v ~ s

    indfgenas do

    Novo Mundo

    r e c o n h e ~ m

    a

    19reja

    como a entidade suprema do

    mundo

    e

    partanto,

    co

    nsintam que os padres lhes f ~ m p r e g a ~ 6 e

    Contem uma prome

    ss

    a igualmente

    mi

    stificadora,

    de

    que 0

    resu

    l-

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    4/59

    104 PATRICLA SEED

    tado dessa submissao

    se

    ra que os soldados deixarao

    s

    uas mulher

    es

    e crianc;as Iivres

    , nao obrigando

    ni

    nguem a tornar-se cri stao. Mas

    essa nao era uma escolha inteiramente livre.

    Se

    os indios nao

    re

    co

    nhecessem a superioridade do cristianism

    o,

    os espanh6is pode riam

    gue

    rrear

    contra eles uonde e comoll Fosse possfve l.

    FinaJmente

    , exis

    te a incrivel isen

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    5/59

    CERIMONIAS DE POSS

    E

    1 5

    mu,ulmanos nos primeiros anos do islamismo

    Na

    Peninsula

    Ibe-

    rica

    particularmente, jih d significava Jutar de acordo com princf

    pios legais adequados

    .

    Embora nao tenha sido a forma original de autoridade espa

    nhola

    no

    Novo Mundo,

    0

    Requerimento foi a mais duradoura .

    Criado

    pelo

    eminente jurista Juan LOpez

    Palacios

    Rubios em

    1512

    ,

    esse documento surgiu como resultado de uma crise nas formas

    anteriores de sancionar a autoridade espanhola no Novo Mundo.

    Durante suas duas primeiras decadas no Novo Mundo,

    os

    es-

    panh6is arriscaram-se muito pouco alem dos

    re

    strit

    os

    co nfins do

    Caribe aos quais Colombo os conduzira. Experimentando varias

    formas de autoridade polftica sobre Novo Mundo, objetivo da

    Coroa espanhola

    de

    dominio legitimo sofreu urn reves

    em

    1511 ,

    quando foi atacado pel

    os

    frade s dominicanos da ilha caribenha de

    Hispanio

    la

    . Num inflamado

    se

    rmao que denuncia

    va as

    praticas

    morais e religiosas dos

    lide

    res da mai s

    ri

    ca co lonia espanhola ultra

    marina, os padres dominicanos for,aram a pr6pria Coroa a fazer

    uma reavalia,ao critica dos procedimentos que estivera seguindo

    para garantir a legitimidade de se u dominio

    Solicitando uma opiniao

    legal de Palacios

    Rubios e tambem

    de

    urn importante perito

    na

    s

    leis

    da

    Igrej

    a - Frei Matias

    de

    la

    Paz -,

    a

    Coroa recebeu urn novo aconselhamento sobre a melhor forma de

    estabel

    ecer sua

    autoridade. Na resposta

    de Palacios

    Rubios - apoia

    da por Paz - havia uma se,ao descrevendo como a Coroa poderia

    constituir legitimamente

    se

    u domini

    o

    E

    ssa

    se,ao f

    oi

    transformada

    numa dedara,ao of

    da

    I - 0 Requ erimento - que todos

    os

    espa

    nh6is deveriam ler antes de submeter os povos do Novo Mundo a

    Coroa de Castela. A leitura do Requerimento tornou-se entao 0

    mecanism que sancionava a autoridade polftica espanhola sobre

    os povos do Novo Mundo. Suas raizes hist6ricas se encontram na

    hi

    st6

    ria

    de uma outra conquista antiga - a da pr6p

    ria

    Pe

    ninsula

    Iberi

    ca.

    No

    sec

    ulo seguinte

    a

    morte

    do

    profeta

    Ma

    o

    me

    (

    632 , 0

    is

    lami

    s-

    mo expandiu-se rapidamente para

    0

    leste e para

    0 oes te

    , conq

    uis

    tando a Siria, 0

    Ir

    aque, 0 Egito e a Espanha. Como os espanh6is no

    Novo Mundo os arabes eram relativamente poucos em numero

    e

    se

    us inimigos numerosos. Eles Jutavam

    em

    pequenos bandos,

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    6/59

    1 6 PATRICIA SEED

    frequentemente

    a cavalo, e derrotavam exercitos bern equipados

    que eram de

    dez

    a ce

    rn

    vezes maiores que

    as

    seus em tamanho

    1o

    Apenas urn

    pequeno grupo

    de guerreiros

    mw;ulmanos derrotou

    uma populac;ao de 2,5 milhaes de cristaos na Peninsula Iberica.

    Rapidamente percebendo-se no controle de urn vasto territ6rio

    que se estendia da Bagda a Toledo, e de Aden ate Saragoc;a, as li-

    deres do Imperio Arabe do seculo

    VII

    I estavam militarmente mal

    equipados

    para defender urn

    territ6rio

    inteiro . Encher a area de

    colon

    as

    arabes (au berberes, em AI-Andalus) era

    impos

    sivel em

    virtude do pequeno

    tamanh

    o da populac;ao dos conquistadores. 0

    que eles poderiam fazer e fizeram com grande eficacia foi criar

    uma polftica de governo dos povos conquistados, da qual muitos

    elementos

    seriam

    imitados

    pelos espanh6is em sua conquista do

    Novo Mundo.

    Desde os seus primeiros anos 0 islamismo

    nao

    separava 0 do-

    minio politico do religioso. 0 governo e a religiao sao dais irmaos,

    nenhum

    pode

    se

    sustentar

    se

    m

    0

    o

    utro l'

    era urn

    ditado

    popular

    do

    segundo

    au

    terceiro seculo do Imperio Islamico

    . Entretanto

    , as

    muc;ulmanos logo passaram a discordar

    entre

    si a respeito dos de

    talhes dessa relac;ao. Ap6s uma dispu ta pela sucessao teol6gica e

    polftica semelhante que dividiu a cristandade romana da oriental,

    houve uma divergencia entre

    0

    islamismo xiita e

    0

    sunita. A Es-

    panha

    que

    ficava no extremo ocidental

    do

    mundo islamico

    per

    maneceu su nita.

    Substanciais diferenc;as logo surgiram

    tambem dentro do

    is

    lamismo sunita sabre questaes de jurisprudencia fiqil) , sabre a

    melhor forma de

    governar

    uma comunidade isla mica . Cerca de

    2

    au

    3 anos ap6s a morte do Profeta, surgiram quatro tradi

    C;DeS diferentes, que receberam

    as

    names de seus

    fu

    ndadores: I)ana

    fita (,>.bu :Ianafi, shafi ' ita (Idris al-Shafi' i, I)anbalita (AI)mad

    b.

    :Ianbal), malikita (Maliki

    b.

    Anas

    .

    Cada uma das escolas e atualmente dominante em diferentes

    partes do mund o isiamico

    tendo

    caracterfsticas

    distintas. Os bana

    fitas

    sao

    os unicos

    que

    permitem que Alcorao

    seja

    recitado numa

    Ifngua diferente do arabe; dominam na India e em paises ante-

    riormente integrantes do

    Imperi

    o Turco-O tomano. Os shafi1itas

    seguem urn procedimento dedutivo sistematico das regras legais e

    C pyr I i Tl . ;

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    7/59

    CERIM6NIAS DE

    POSSE

    107

    dominam

    no Egito, na Siria, no sui da Arab

    ia

    e na Indonesia . a s

    banbalitas , no inicio influentes no Iraque, no Egito, na Siria e na

    Palest ina, estao

    at

    ualment

    e confinados a Whahhabi, no ce

    ntr

    o da

    Arabia

    .

    Ma

    s

    por volta do seculo

    IX

    a maior parte da Espanha

    mw;ulmana havia a b r a ~ a d

    o

    a mais antiga escola de jurisprudencia

    baseada nos ensinamentos de Malik (morto

    em

    Medina, 795), fa

    moso pe la enfase que confere as dimensoes rituais e religiosas da

    vida legal.

    13

    Alem de ser uma a d i ~ a o diversa que regulava 0 governo de

    uma

    comunidade

    de

    crente

    s

    cada esco

    la

    desenvolveu procedi

    ment

    os

    legais levemente diferentes para iniciar uma jihad. A ju

    ris

    prudencia

    malikita foi e e conhecida por duas caracteristicas

    dis tintas ne

    ssa

    area: a enfase num ritual p

    ara

    iniciar

    uma

    jihad

    (uma c o n v o c a ~ a o , ou guerra santa) e seu

    tr

    a

    tament

    o liberal dos

    povos conquistados.

    s

    es

    panh

    6is adap tariam ambas as carac

    teristicas ao seu modo de governar 0 Novo

    Mund

    o. Para ilustrar

    os

    elementos

    caracterist

    icamente

    m

    al

    ikitas do processo de inicio

    de uma

    jihad

    e do

    tratament

    o dos povos conquistados, utilizarei

    os

    trabalhos de Ibn Rushd, grande estudioso andaluz da t r a d i ~ a o

    malikita, nascido

    no

    secu lo

    XII

    e co nhecido no ocidente co mo

    Averr6is.

    Ibn Rushd (Averr6is) resumiu a jurisprudencia malikita sobre

    a jihad em

    seu manual juridico

    Bid

    yat al

    M/ldjtaltid

    . a primeiro

    passo critico que urn

    Ifder

    deve dar para

    c o m e ~

    uma

    jihad

    e enviar

    urn

    men

    sag

    eiro ao inimigo comunicando suas intenc;6es

    1S

    Para

    algumas escolas juridicas islamicas, a mera existencia da

    fe

    no isla

    mi

    smo e

    uma i n t i m ~ o previa

    numa data

    bern an

    terior consti-

    tufam uma mensagem suficiente para os nao-crentes. Mas a escola

    malikita de j

    urisprudencia prestav

    a

    atenc;ao

    muita

    maior ao ritual

    que

    as autcas escolas

    6

    Partanto as regras islamicas na Peninsula

    Iberica insistiam

    rig

    orosamente

    no

    envio oficial de uma

    n

    o c a ~ a o

    - que algumas o

    utras

    esco

    la

    s as vezes chamavam de dupla inti

    m ~ o . Como no caso do Requerimento tratava-se de urn ritual

    publico, dirigindo-se de uma forma a

    lt

    amente est il izada aos nao

    crente

    s.

    Co

    nforme Ave

    6is

    urn inimigo deve tee ouvido a anunciac;ao

    da nova religiao (0 islamismo) de acordo com a i n j u n

    ~ o

    do

    Al

    co-

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    8/59

    lO

    B PATRIC

    IA

    SEED

    rao, 17:

    5

    :

    Nao

    estarnos acosturnados a

    punir

    antes

    de enviar

    urn

    mensageiro.

    18

    A pessoa enviada para anunciar a nova religiao ou

    para punir

    os

    nao-crentes)

    se

    chamava mensageiro;

    0

    termo arabe

    util izado por Averr6is e as/II.

    o

    uso do termo

    lIIellsagei o

    para a

    pessoa

    que envia uma decla-

    r

    a

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    9/59

    CERIMONIAS DE POSSE 109

    Na tradi,ao islamica iberica, 0 prop6sito da intima,ao era

    convidar a outra pessoa a aceitar 0 islamismo. De acordo com a

    tradi,ao islamica,

    0

    profeta Maome escreveria para aqueles contra

    quem ele estava iniciando uma jihad Agora entao, convido-os

    ao

    islamismo a rendi,ao a

    A a

    s

    A palavra islii significa, em si mes

    rna, 'submissao (se ndo algumas vezes traduzida por rendi,ao).

    A submissao significa urn

    rec

    onhecimento de superioridade. De

    acordo com a trad i,ao islamica, Maome usava a palavra as lim

    ( submeter-se ao islamismo ) em suas intima,Oe

    s.

    o

    cerne do Requerimento tambern era uma

    intima,ao

    ao

    re

    conhecimento de uma religiao superior. 0 documento igualmente

    insistia na submissao : Eu imploro-Ihes e exijo

    [q

    ue] ... reco

    nhec;am a Igreja como senhora suprema do u n i v e r s ~ Esse signi

    ficado e virtualmente identico ao que os

    mu,ulmanos

    entendiam

    por render-se a Ala , ou seja,

    re

    conhecer a superioridade do is

    lamismo.

    Nem no seio do islamismo nem no do catolicismo

    se

    supunha

    que a conversao acontecesse imediatamente muito menos aponta

    da espada.

    6

    0 objetivo da jihad

    ...

    nao era a luta em si, mas a

    proselitiza,iio dos nao-cren tes', escreve Majid Khadduri . Num

    verskulo do A1ccrao, recitado pelos mu,ulmanos depois das preces

    de sexta-feira, essa postura era explicita : Na o ha compulsao na

    religiao'. 8 Num outro versfculo (A1co

    ra

    o, 49:14), 0 Iivro aponta

    que Deus nao quer profiss6es de

    fe

    instantaneas,

    ja

    que nao

    se

    obtem a fe por coer,ao. Assim, uma profissao de

    fe

    imediata da

    parte dos nao-crentes nao teria credito. Portanto, Maome dizia que

    de

    sejava

    em

    primeiro

    lugar

    a submissao

    0

    reconhecimento da

    superioridade da religiao da verdade

    (0

    islamism

    o)

    .

    'Os

    arabes do

    deserto dizem: N6s acreditamos .

    [Voces]

    Dizem: Voces nao tern

    fe ; mas voces (apenas) dizem: Submetemos nossas vontades a

    Ala , pois a

    Fe

    ainda nao entrou em seus cora,6es

    ' . ' ' '

    Aqueles que

    se rendiam aos m u ~ u m n o s numa jihad deveriam

    assim

    rec

    onhe

    cer a superioridade do islamismo. A cren,a viria mais tarde.

    A pr6pria Ifngua arabe faz uma

    distin,ao

    entre as crentes e

    aqueles que apenas se submeteram. Muslim

    sig

    nifica aquele que se

    submete, mu mil significa aquele que cre. Os seguidores da Ee isla

    mica referem-se

    uns aos outros como crentes

    mu mill,

    e

    na

    o como

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    10/59

    110 PATRICIA S

    EED

    muslim

    aqueles que se submeteram . Esse prindpio islamico da

    convers o nao-for

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    11/59

    CERIM6NIAS

    DE POSSE

    para iniciar a a ~ a o nas guerras classicas gregas e romanas come

    ~ v m com uma d e c l a r a ~ a o da i n t e n ~ a o de atacar e com a exi

    gencia de

    r e n d i ~ a o

    Os

    termos da

    c a p i t u l a ~ a o

    entretanto,

    nunca

    tomavam a

    forma

    da /(submissao' a upe oridade

    de

    uma religiao

    estranha. As formas gregas e romanas de guerra exigiam a subordi

    n a ~ a o

    a f o r ~ a s politicas e militares supe

    ri

    ores, mas nao

    0

    reconhe

    cimento

    de

    uma fe com

    valor

    s

    uperi

    or.3

    Embora os governantes m u ~ u l m n o s freqiientemente exigis

    sem varias formas de comportamento publico deferente, incluindo

    vestes especiais

    0

    Alco

    ra

    o em

    si

    exigia apenas uma tmica forma

    especial de submissao.

    33

    Reconhecer a superioridade do islamismo

    significava concretamente uma h u m i l h ~ o ritual. Para mostrar

    que tinham sido humilhados por uma conquista islamica, os derro

    tados deviam pagar uma taxa anual

    chamadajizya.

    Seu prop6sito

    esta explicitamente indicado

    no

    A1corao. 0 versfcu lo 9:29 diz:

    ULute contra

    aqueles que na

    o ac

    reditam

    em Ala

    ... nem re

    conhecem

    a religiao da verdade

    ...

    ate que paguem a

    jlzya

    [i

    mpo

    sto

    per

    capi

    ta

    )

    com voluntaria submissao e se sintam dominados

    [d

    iminufdos).

    o

    prop

    6si

    to

    do

    imposto per

    capi

    Ta (jizya)

    era assim

    uma

    forma

    pessoal de h u m i l h ~ o ritual dirigida aos derrotados par urn isla

    mismo superior. A expressao arabe \fIa lllIm ii.glzitlr/fl

    (sen

    ti rem-se

    dominados) vern da raiz ,-gir

    -r

    (pequeno, diminufdo ou humilha

    dO)36 Como seu objeto era a h u m i l h a ~ a o pessoal, tratava-se por

    tanto

    de

    uma

    taxa pessoal

    7

    0 imposto

    nao

    incidia sob

    re

    a terra,

    sobre a propriedade ou sobre mercadarias. Era exigido daqueles que

    se

    sub

    metiam mas se recu savam a tornar-se mw;ulmanos.

    o pagamento da jizya criava urn motive econ6mico para que

    os Estados islamicos

    mio ob

    rigassem as pessoas a uma conversao

    imediata

    ja

    que, co m a conversao

    elas

    nao se

    riam mais

    ob

    rigadas

    ao pagamento desse imposto

    per

    capiTa. ' Assim, os governantes

    islamicos nao desejavam convers6es

    rap

    idas,

    par

    m tiv s

    econa

    micos e tambem religiosos

    ( na

    o ha compulsao na religiao

    ).

    Na maior ia das

    escolas islamicas

    de

    jurisprudenci

    a,

    a iizy era

    coletada apenas dos que acred itavam nas religioes monotefstas -

    judeu s, cristaos zoroastristas - frequentemente chamados coleti

    vamente

    de /(povos do livre

    . Na

    PenInsula

    Iberica os conquista

    dores m u ~ u m n o s impunham a jizya a cristaos e judeus.

    9

    Mas a

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    12/59

    112 PATRICIA SEED

    escola mi likita era diferente de todas essas escolas de jurispruden

    cia. Por ser mais tolerante com os nao

    -c

    rentes ou rna is interessada

    na renda provinda da

    j z

    ya

    a l

    ei

    miilikita permitia que adeptos de

    qualquer

    fe

    nao-mu,ulmana que se s

    ubmete

    ssem ao islamismo

    pagassem

    0 tribute

    Assim,

    qllaisqller

    infieis conquistados pelos

    mu,ulman

    os

    numa

    jihad poderiam ser obrigados a pagar urn im

    posto per

    capita.

    o que distinguiu historicamente a

    jizya

    da forma romana de

    tribute

    foi

    que ela era uma taxa que incidia exclusivamente sobre

    pessoas, e homens adultos. 0 tributoromano

    era

    ,

    as

    vezes,

    uma

    forma de emprestimo alem de ser uma taxa . Poderia se r cobrado

    sobre terras, de proprietarios de terra ou de escravos e tambem do

    povo. Mesmo

    quando

    incidia sobre os individuos, a

    quantia

    era

    determinada com base nos bens do grupo e nao dependia - como

    era 0 caso da jizya islamica - do numero de homens em idade de

    guerrear:

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    13/59

    CERIMON

    IA

    S DE POSSE 113

    eia

    e como

    tais,

    A dev

    em

    nos

    pagar

    nossos

    tribut

    os e

    direi

    t

    os , opi

    ni6es que seriam repetidas inumeras vezes nas i n t r u ~ 6 e para 0

    governo do Novo Mundo

    .

    Embora Isabel afi rm asse

    que os

    (ndios deve

    riam

    pagar da

    me

    sma forma como 'somos pagos por nossos suditos

    re

    sidentes em

    nossos reinados e

    se nh

    o

    ri

    os ,

    ela na

    o suge

    riu

    a

    me

    srna t

    axa. En

    quan to os espanh6is pagavam taxas indiretas

    a

    Coroa, os nativos

    do Novo

    Mund

    o deveriam pagar taxas dire tas

    1m c

    p t

    ,

    ' tri bu to,

    cada urn, t

    odo ano

    ' , a f6rm ula cos

    tumeira

    d

    os pagamentos

    de

    tr

    ibu to por mUl;ulman os e ju

    de

    us aos governantes c

    ri

    s

    ta

    os ins

    pirada na iizya.

    Em 151

    8

    a Coroa definiu pela primeira vez uma estrutu ra

    especffica por idade e sexo para aqueles que deveriam pagar trib

    uto

    .

    Cada ho

    mem

    (ndio casado,

    adma

    de v

    int

    e anos, deveria pagar uma

    taxa individual de tres pesos por ano, os homens

    sol

    teiros pagariam

    urn pe

    SO 4

    STaxas

    se

    melh

    an

    t

    es

    com base na ida

    de

    aproximada e no

    sexo seriam estabelecidas para

    uma

    coleta inicial de tri b

    ut

    os

    em

    cada regiao do Novo

    Mund

    o submetida pelos espanh6is.

    Como

    a

    id

    ade em que os homens eram convocados a guerrear (ou em que

    se

    tornavam economicamente produtivos) dependia da tribo, a idade

    em que os homens pagavam

    tributo

    pela primeira vez variava de

    acordo

    com

    a regiao, exatamente

    como

    havia

    va

    riado na coleta da

    iizya.

    Tambem como a

    iizl a,

    os pagamentos de tributos

    exdufam

    homen

    s deficientes ou fnlgeis derna

    is

    para guerrear.

    '

    Assim

    como

    a

    iizya

    e a forma c

    ri

    sta dela derivada,

    0

    tributo, a

    taxa cobrada dos (ndios era daramente estabelecida em todo 0 im-

    peri

    o como

    uma

    tax a pessoal. 0 vice-r

    ei

    mexi

    ca

    no Martin

    Enri

    qu

    ez

    obse rvou, em

    1575

    que

    0 tribut

    o era '

    pe

    ssoal e nao incidia

    sob re

    as

    propri

    edades '

    .47Juan

    So

    l6

    rzano,

    eminente auto

    ridade em

    polftica espanhola do secu lo XVII , observou que 0 ' tributo nao

    incide sob

    re

    as terras, possess6es ou propriedades dos (ndios 8Em

    vez

    disso, 0 pagamento

    do

    tributo e

    dividido

    igual

    mente

    por

    c a b e ~ a ' .4 9

    Diferentemente do que acontecia co m as

    taxa

    s pagas po r

    outros espanh6is, os monarcas cat6licos espanh6is

    tam

    bern faziam

    de forma explfcita e repetidamente a rela

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    14/59

    114 PATRICIA SEED

    -

    devi m pagar 0

    tributo

    : ' Indios que foram pacificados e forc;ados a

    nos obedecer ... pagam

    tributo

    .' Dedarava-se que os pagamentos

    eram

    e

    m

    rec

    onhecimento

    de

    domini

    o

    ou

    su

    perioridade

    n

    ,51Os

    conquistadores freqUentemente exigiam que a Coroa nao permi

    ti

    sse que ninguem, exceto

    0

    conquistador, recebesse

    0

    tributo,

    52

    0

    tribute nao simbolizava simplesmente a vassa lagem mas 0

    subju-

    go,

    e

    ,

    como conseq(uncia, a

    derrota

    militar.

    o pagamento do tributo era freqUentemente racionalizado,

    assim como 0 da jizya havia sido, em termos de uma contribu ic;ao

    d

    os

    povos indigenas para sua

    pr

    6pria defesa militar.

    Sol rzano

    -

    escreveu:

    li E justa e ne cessario que os

    me

    smos

    indi

    os contribuam

    com algo ... para ajudar nas despesas de sua defesa e protec;ao na

    paz e

    na guerra

    n

    5

    Finalmente, 0 modo como e

    ssa

    taxa era coletada

    dos Usud itos e vassalos' do ovo Mundo se assemelhava muito

    ao

    modo como as

    receitas provinda

    s da iizy (e suas contrapartidas

    cri

    sta

    s)

    tinham si

    do

    coletadas

    na

    Espanha, S Como aco

    nt ecera

    com

    a

    jizya

    os lideres das comunidades conquistadas eram responsaveis

    pela coleta desse

    tributo

    e por sua remessa aos espanh6is, fossem

    ele s wcol1twderos ou ofic

    iai

    s da

    Coroa,

    55

    Embora a Coroa nunca tenha conseguido arrecadar todos esses

    pagamentos para si pr6pria, as obrigac;6es tributarias constituiam

    a base economica do dominio colonial espanhol sob re os povos

    indigenas do ovo Mundo 56 Essa taxa era a caracterfs

    tica

    econo

    mica

    central

    e singular do dominio espanhol sobre os

    ovos

    do

    Novo Mundo. Nenhum outro poder colonial imp6s uma taxa

    per

    capita

    aos

    pavos nativos, muito menos

    uma taxa que

    fosse inicial

    mente

    cobrada dos homens

    em

    idade de guerrear.

    Ate mesmo uma modificac;ao posterior da coleta de tributos no

    ovo Mundo seguiu um precedente medieval iberico. Sob 0 domi

    nio cristao, as comunidades conquistadas que

    fo

    ssem ricas ge ral

    mente os judeus) deviam pagar 0

    tributo

    em dinheiro, mas as mais

    pobres (geralmente os muc;ulmanos) pagavam com seu trabalho.

    No ovo Mundo, 0 tributo em dinheiro ou em especie era comu

    tado por

    uma

    ob

    rigac;ao

    de trabalho nas areas mais pobre

    s.

    A base fiscal do Estado espanhol - seu i

    nteresse

    economico n

    os

    povos indigenas - tinha como objetivo a preservac;ao deste

    s, ja

    que

    eles eram uma Fonte de renda . Os Estados islamicos, entretanto,

    C:>pyr

    t tTl

    ter

    I

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    15/59

    CERIMON

    I

    AS

    DE

    POSSE

    115

    nao haviam explicitamente contado

    0

    numero de pagantes da iizya.

    Os

    o

    fi

    ciais espanh6is e ate mesmo os conquistadores 0 fizeram

    .

    Contagens do

    numero

    de tributarios

    com

    0

    prop6sito de informar

    a Coroa f

    oram

    propostas pela primeira vez por Carlos V

    em

    1525,

    e realmente implementadas em toda a America no inkio da decada

    de 1530. 0 Mexico realizou a sua primeira pesquisa por ordem do

    Estado

    em

    1531-1532; Yucatan fez a sua primeira

    em

    1549, assim

    como 0 Peru

    .

    Embora essas pesquisas possam tambem ter sido

    utilizadas para rastrear 0 numero de indios do Novo Mundo em

    idade de guerrear,

    sua

    f u n ~ a o

    principal parece ter sido

    con

    tar

    0

    numero de homens e, assim, identificar e/ou fixar 0 nlvel de renda

    para a Coroa " Esses recenseamentos dos pagadores de

    tributos

    foram repetid

    os

    desde essa epoca

    numa

    base continua', embora

    irregular (em 1528, 1536, 1563 e 1596), criando assim pesquisas

    estatais sobre as popula,6es das Americas, como resultado de inte

    resses economicos e talvez originalmente militares) de urn Estado

    colonial.

    6

    A grande epidemia do seculo

    XVI

    produziu urn declfnio dras

    t ico das receitas reais provindas dos povos indfgenas. Isso levou a

    uma

    a m p l i a ~ a o das

    categorias

    de tributarios da

    jizya do

    Novo

    Mundo, sendo inclufdas pessoas que tradicionalmente nunca

    tinham sido submetidas as suas exigencias. Mulheres e

    ate

    mesmo

    os negros

    foram

    acrescentados

    s

    listas

    de

    tributos.

    61

    Alem disso

    as

    mortes

    dos povos indfgenas causadas pela

    doen,a

    foram lamen

    tadas - por Carlos V como urn desservi,o a ele pr6prio - parcial

    mente

    por se tratar de

    interesses

    oo

    mi

    cos

    que estavam sendo pre

    judicados pela epidemia que devastou a

    p o p u l a ~ a o

    das Americas no

    seculo

    XVI.

    62

    Embora a jizya

    ou 0

    tributo objetivassem urn

    tipo

    de

    humi

    a ~ a o a em de uma obriga,ao economica, seu pagamento tradi

    cionalmente originava

    c o m p e n s a ~ e s

    polfticas. Desde as primeiras

    conquistas islamicas as comunidades que reconheciam a superio

    ridade do islamismo mediante 0

    pagamento

    do

    imposto per

    capita

    eram chamadas comunidades dltimmi altl al-dltimma .6 De acordo

    com a E ,ycl

    o

    pae.dia or

    s/am,

    una cenquista de

    parses

    nao-muc;ul

    manes

    por

    muc;ulmanos

    a

    populac;ao que nao

    abrac;a

    e islamisme

    e que nao e escravizada garante-se a vida, a liberdade e, num senti-

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    16/59

    6 PATRICLA

    SEED

    do modi ficado, a propriedade' 64 Essas garantias eram as 'obriga

    \oes

    17

    ou

    co

    mpromis

    sos

    dos muc;ulmanos

    para

    com os

    dhimmis

    Outros

    privilegios polIticos garantidos aos

    dlrimmi

    s

    inclulam a di

    reito de conservar

    suas

    pr6prias formas de governo, eleger seu s

    Ifderes e t ransmitir a propriedade

    entre

    si de acordo com as tradi

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    17/59

    C

    ERIM6NIAS

    DE PO

    SS

    E 117

    individual e coletiva de suas propriedades, tanto de suas terras

    quanto de seus objetos

    pe

    ssoais. Essas pro

    te

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    18/59

    PATRICIA SEED

    sub

    meteram

    durante as

    conquistas

    islamicas - geralmente os

    povos agricolas e se

    dent

    a

    ri

    os do Ira da Siria e da Espanha - torna

    ram-se

    dhimmis

    e Ihes foi permitido permanecer perto das planta

    c;6es

    que cultivavam ou dos produtos que fabricavam. Embera as

    razOes para se protegerem grandes numeros de pavos sedentarios e

    agrico

    la

    s possam ter s

    id

    o tanto pragmaticas quanto ideol6gica

    s

    0

    resu ltado fina l

    foi

    0 mesm

    o:

    a protec;ao inicial dos pavos agricul

    to res conquistados e tambern de suas formas de produc;ao. Grandes

    populac;Oes agrlcolas sedentarias das Americas tais como os impe

    ri

    os

    nahua

    e inca foram

    autorizada

    s a permanecer

    em

    suas pr6-

    prias

    terras

    a con

    se

    rvar

    forma

    s indigenas

    de

    governo e a

    tr

    ansmitir

    a propriedade de acordo com suas pr6prias regra

    s.

    Ir

    onica

    mente

    0

    tratamento dispensado pelos espanh6is aos

    povos conquistados do Novo

    Mund

    o repetiu a antiga designac;ao

    isla

    mica dos trl

    lt mm tl de

    fo

    rma

    muito mais consistente do que

    os

    reis cristaos haviam feito na peninsula. Ouando os governantes

    c

    ri

    s

    ta

    os desejavam

    obter

    as terras e as fo

    rma

    s de produc;ao mu

    ~ u l m a n a s expul

    sava

    m os

    m u ~ u l m a n

    s de

    seu

    territ6 o. Apenas

    quand

    o desejavam manter os sistemas

    ag ric

    o

    la

    s e out

    ros

    sistemas

    funcionando e que eles concediam as comunidades islamicas privi

    logios de

    aii

    amas Incapazes de

    encher

    0 Novo

    Mund

    o com co-

    10nos as espanh6is

    na

    o tentaram inicialmente

    re

    tirar as povos

    indigenas agricolas de suas

    terra

    s como fizeram os ing

    le ses.

    Submetend

    o-se a religiao crista e a sua representante a Coroa de

    Castela

    os nativos do

    minad

    os

    pel

    os espanh6is tiveram s

    uas

    terras

    e propriedades salvagua rdada

    s.

    s pavos indigenas das Americas

    tornaram-se os

    dilimmis

    do Novo

    Mundo.

    Tanto na Espanha islamica quanto no Novo Mundo cat6lico

    a autonomia ga rantida as

    comu

    n idades submetidas

    mediante

    a

    rendic;ao inevitavelmente era corroida pela pressao do pader domi

    nan

    te

    .

    n

    Ma s os compromissos iniciais para com os pavos conquis

    tados - protec;ao da propriedade e das pessoas e urn certo grau de

    autonomia palitica - eram

    se

    melhante

    s.

    Nos dais sistema

    s

    esses

    povos eram

    chamados

    de protegidos

    parque

    os cativos nao eram

    vendidos ap6s

    um

    a decrota militar. A

    ss

    im

    uma

    das principais

    pro

    teC;5es

    era contra a pratica comum de escravizar os inimigos

    derrotados.

    78

    C>pyngll i

    Tl

    . . ;

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    19/59

    CERIM6N

    IAS DE

    POSSE 9

    Nas jurisprudencias

    /dditlt

    e islamica, nenhuma conseqiiencia

    especffica (alem da guerra) era mencionada se urn povo se recu

    sasse a ubmissao. ' Embora a escravidao fosse urn destino comum

    dos derrotados nos primeiros anos da expansao islamica, esse

    aspecto logo se tornou insignificante .

    s

    Na Peninsula Iberica,

    entretanto durante

    a era medieval, os espa nh6is cristaos e

    mu

    ~ u l m a n o s

    habitualmente

    escravizavam-se un s aos o

    utr

    os como

    prisioneiros de guerra 0 Requerimento espanhol era espedfico

    em delinear as alternativas

    a

    c e i t a ~ a

    o

    da

    c o n d i ~ a o

    de

    dhimmi

    Se

    os nativos se recusassem a atender a i n t i m a ~ a o entao os espa

    nh6is iriam '

    tomar

    suas mulheres e seus filhos, t

    OJnando

    -os es

    cravos ... e seus pertences, fazendo-Ihes todo 0 mal e causando

    Ihes todos os danos que puder'

    Os

    indios nomades que

    se

    recu

    savam asubmissao e que

    em vez

    disso engajavam-se

    em

    persis

    tentes campanhas de guerrilha nas fronteiras eram freqiientemente

    escravizados.

    No final do Requerimento, aparece uma

    i s e n ~ a o

    de responsabi

    lidade estranhamente formulada. Na i n t i m a ~ a o cat6lica, 0 mensa

    geiro anuncia: ' E declaro solenemente que a culpa pelas mortes e

    danos sofridos por esse [ataque) sera sua, e nao de Sua Majestade,

    nem minha, nem dos cavalheiros que comigo vie ram' Na pratica

    de intimar aconversao que, conforme os relatos,

    0

    pr6prio Maome

    seguia, os lideres de

    out

    ras

    n a ~ 6 e

    eram informados de que,

    se

    rejei

    tassem 0

    chamado

    para 0 islamismo,

    entao

    qualquer dano poste

    riormente causado a seus suditos seria de sua

    re

    spo nsabilidade.

    Ap6s

    0

    convite aconversao, os lideres n a o m u ~ u l m a n o s deviam ser

    advertidos . liMas se voces

    re

    jeitarem esse

    co

    nvite ao islamismo

    serao responsaveis pelo desencaminhamento do povo.' Em ou tras

    pal av

    ra

    s a recusa a aceitar 0 islamismo/ catolicismo era culpa n a ~

    do mensagei ro de Deus/Ala , mas sim daqueles que

    se

    recusavam a

    aceita-Io e ao seu dominio.

    o

    teor basico e freqiientemente mal-interpretado do Reque

    rimento e

    ra

    uma

    i n t i m a ~ a o

    de

    i n s p i r a ~ a o

    isiamica asubmissao

    a uma religiao superior permitindo que seus agentes fizessem a

    p r o s e l i t i z a ~ a o ou enfrentando urn ataque militar. omo essa con

    duta

    nao

    se

    encaixava

    no

    perfil c1assico de guerra justa segundo a

    t r a d i ~ a o crista, sempre levava a uma consideravel incompreensao

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    20/59

    2 PATRICIA

    SEED

    por

    parte dos

    observadores cat6licos tradicionais, t

    an

    to de

    ntr

    o

    quan to fora de Espa

    nha

    .

    o

    Requerimento era urn ritual, urn protacolo para a conquista.

    A questao de saber se os conquis tadores

    espanh6is

    acreditavam

    nele ou

    0

    julgavam pessoalmente convincente era irrelevan

    te

    . 0

    que importava era que os lideres polft icos e religiosos de sua so

    ciedade exigiam a sua implementa ao. Os rituais nao criam auto

    mati

    camente a

    comunidade

    ou significam urn estado de cren

    a

    inter

    ior. Os

    rituais

    sao

    exigencias e

    nes se ca

    so protocolos pollticos

    fo

    rm

    ais

    que

    tinham

    de ser segui

    dos

    para

    legitim

    ar

    0

    domini

    c

    politico espa

    nh

    ol sob re os povos indfgenas do Novo

    Mund

    o. Eles

    er

    am

    persuasivos para os lideres politicos da Espa

    nha

    e portanto

    tinham de ser executados por conquistadores que dese jassem urn

    reconhecimento oficia ' Mas alem do carater fu ndamen t

    al

    de exi

    gencia - reco

    nh

    ecer a

    su

    pe o dade rel igiosa ou

    so fr

    er urn ata

    qu

    e

    belico - , havia

    rn

    a

    is

    urn

    elemento

    de inspira,ao islamica.

    Nas discuss6es com c

    ri

    s

    ta

    os e judeus da Espa

    nha

    medieval, os

    r n u ~ u l r n n o s frequentemente bu scavarn dernon s

    trar

    que as cren

    ~ s islamicas simplesmente continuavam as c

    r e n

    ~ s c stas e

    jud

    ai

    cas

    BS

    Para mostrar que 0 conceito islamico de jih d

    si

    mplesmente

    continu

    ava

    as

    tradic;

    6es c stas e judaicas concernentes aguerra os

    mu ulmanos da Idade Media com freqUencia

    citavam

    0

    text

    o do

    Deute

    ro nomio,

    uma

    pratica que co

    nt

    i

    nu

    a

    ate

    os dias de hoje.

    86

    Co

    mp

    os to co mo se tivesse sido falado p

    or

    Mo ises,

    0

    text

    o do

    Deuteron6mio era be

    rn

    conhecido dos mu ulmanos, ja que Moises

    e urn dos

    seus

    cinco principais profetas (Abraao, Noe, Moises,

    C

    ri

    sto), juntamente com Maome.

    A pa ssagem bfblica que os mu ulmanos consideravam (e ainda

    consideram) melhor expressar a exigencia islamica de submissao ou

    de guerra esta no

    Deute

    r

    on6mio

    20: 10

    -16

    que descreve a captura

    de determinadas cidades fortificada

    s

    realizada pelo povo judeu a

    caminho da Terra Prometida.

    87

    0 texto, numa tradu, ao do hebrai

    co modemo, e

    0

    seg

    uinte

    :

    Quando te aproximares

    de uma

    cidade para com

    ba

    ter cont ra

    ela primeiramente the ofereceras a paz . E

    devera

    acontecer se ela a

    aceita re

    te

    abriras ponas

    que

    todo 0

    povo que nela

    houver

    te

    pagara

    C pyr I i Tl . . ;

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    21/59

    CERIMON

    IAS

    DE

    POSSE 121

    urn

    tribut

    o,

    ficando s

    ujeit

    o a t

    i.

    E

    se

    nao aceitar a

    paz, mas

    o m e ~

    a guerra cont

    r

    ti

    en

    tao

    deve

    s go lpear todos os

    var6es

    que ne

    la

    ha

    pa

    ssa

    nd

    o-os

    ao

    fi

    o

    da

    espada

    mas

    as

    mulheres

    e

    os pequenos

    e

    ate

    mesmo

    0 gado,

    e tudo

    0 que

    houver na

    cidade, ate

    mesmo

    os

    desjX j os,

    deves capturar para

    ti

    je deves co me ros

    despojos

    de teus inimigos

    que

    Senhor

    Deus

    te

    houverdado. Fa

    r

    s

    as

    s

    im

    a todas as cid

    ades

    que

    estao

    muito lon

    ge de

    ti .... Po

    rem

    quanto aquelas

    cidades desses

    povos

    que Senhor teu Deus

    te

    da

    co

    mo

    h

    n ~ a nao deves deixar vivo

    nenhum

    se

    rque respira

    ma

    s deves

    literalmente

    des

    truir

    todos e1es.

    88

    Embora os

    int

    erp retes mu

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    22/59

    1 PATRICIA

    SEED

    Fora do

    mundo

    iberico,

    os

    teologos e

    estudiosos

    do

    direito

    canonico nao utilizavam 0 Antigo

    Testamento

    para jus tificar os

    metodos

    ou objet ivos cristaos de guerra.

    Os

    cristaos cos

    tuma

    vam

    amalgamar

    0

    ovo Testamento com os textos romanos ciassicos

    para produzir justificativas pa ra a guerra

    ce ntrad

    as na pro

    te< ao ' ,

    na defesa e na vingan

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    23/59

    CE

    RIM NIA

    S DE

    POSSE

    123

    quem eles devem obedecer

    na

    c o n d i ~ o

    de curador da

    Igreja . E, assim

    eles

    sao

    ob rigados

    a

    admitir

    que

    os

    pregadores

    de nossa

    f

    Ihes expli

    .

    quem

    os

    misterios

    [da

    fe

    em

    detalhes

    . E

    se

    ap6s

    urn

    limite prudente

    de tempo, eles decidirem

    nao

    fazel0

    1

    eles

    podem

    ser invadidos e

    con

    -

    quistados

    reduzidos peJa

    f o r ~

    da

    s armas

    ter suas possess6es

    to

    madas e os seus submetidos a

    escravidao,

    porque a

    guerra por

    parte

    dos cristaos

    estara

    justificada .

    98

    Essa singular n t e r p r e t ~ o iberica do Deuteron6mio resultou,

    muito provavelmente, da

    famUi

    aridade.

    as

    cristaos ibericos foram

    os unicos europeus ocidentais

    que se

    expuseram a

    urna

    extensiva

    p r o

    s e

    l i t i z ~ o

    isl. lmica,

    que havia buscado convencer

    os

    cristaos

    de

    que suas c r e n ~ sobre a guerra eram c o n t i n u ~ o das c r e n ~ s is-

    iarnica s. 1I 0s

    autores islamicos pediam a seus vizinhos cristaos e

    judeus informa,6es e discutiam com eles questaes

    reli

    giosas ...

    Confiavam muito em contatas orais ,

    para

    0 conhecimento

    da

    Biblia crista e da To

    ra

    judaica.

    Ao

    longo dos seculos, os mu,ul

    manos haviam apresentado aos

    cris

    taos sua interpretat;ao dessa

    pa ssagem do Deuteron6mio como a fonte de

    urn

    estilo ritual de

    deciara,ao

    de

    guerra. Portanto, ao adotarem essas frases para justi

    ficar

    a guerra espanhola

    no

    Novo Mundo, Palacios Rubios e Matias

    de la Paz nao estavam conscientemente invocando

    urn

    precedente

    islamico. Em vez disso estavam simplesmente usando urn en ten

    dimento familiar - amplamente partilhado

    po

    r seus companheiros

    espanh6is - de urn texto do Antigo Testamento cu

    jas

    origens

    eles,

    como muitos

    em

    s

    ua

    sociedade

    nao

    conh eciam. Mas havia outros

    na Espanha que estavam conscientes desse legado.

    A origem islamica das estranhas caracteristicas cen

    trai

    s

    do

    Requerimento foi observada

    por

    Bartolome de Las Casas, frei domi

    nicano do seculo XVI. Repetidas vezes ele insistiu que as guerras

    de

    conquista empreendidas pelos espanh6is tinham

    i n s p i r ~ o

    isla

    mica. Aqueles que guerreiam contra infieis [nao-crentes] imitam

    Maome

    n

    , declarava

    ele

    .

    loo

    E

    ssas

    guerras eram inspiradas nos pro-

    cedimentos maometanos que nosso povo espanhol tern adotado

    desde que [os mu,ulmanos] entraram nestas terras w, Seu famoso

    . ataque ao Requerimento, em sua His oria de las

    Illdias

    (na o publi

    cada em vida) aponta

    na

    d i r e ~ o da in sp

    ira ao

    islamica do docu-

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    24/59

    24 PATRICIA SEED

    mento. Logo no infcio do comentario sobre 0

    Requerimento

    , e1e

    indaga 0 que aconteceria se II moures ou turces viessem a fazer 0

    mesmo requerimento

    ...

    Se

    ra que os espanh6is efetivamente deram

    prova supe

    ri

    or por testemunhas e uma evidencia mais verdadei

    ra

    daquilo que declararam

    em

    seu requerimen to ... do que os mouros

    demonstraram de

    se

    u Maome

    ? .I02

    Apesar de sua u p o

    s i ~ o

    erronea

    de que Maome fosse urn Deus, como Cristo, e nao urn profeta, Las

    Casas percebeu que os principios do Requerimento eram islamicos.

    De fato, muito do polemico

    ataque

    feito por

    Las

    Casas aos meios

    militares de conquista pode ser entendido como urn ataque ao que

    ele entendia serem

    met

    odos islamicos de conquista e de j u s t i i

    ~ o

    da conquista do ovo

    Mund

    o. 103

    La s

    asas

    tambem indicou

    ou

    tras

    dime

    nsoes incomuns do

    Requerimento que co nsiderou estranhas num documento cristao:

    a omissao da trindade e a enfase singular sobre 0 papel de Sao

    Pe

    dro em vez de Cristo.

    1 4

    No en tanto, essas caracterfsticas tambem

    deixavam

    tran

    spa

    rec

    er elementos de sua origem islamica. 0 Reque

    rimento nao mencionava a trindade - tres pessoas em urn unico

    Deus - e, de forma igualmente estranha, nao fazia m e n ~ o alguma

    a Cristo, a segunda pessoa da trindade.

    Mas

    se sua origem fosse

    isiamica essa omissao nao se ria surpreendente. 0 islamismo tern

    urn Linko

    eus

    unita

    ri

    o e se opee

    forte mente as

    doutrinas trini-

    taria s. 0 lugar proeminente conferido a Sao Pedro e ao papa em

    r e l ~ o

    a

    Igreja pode

    muito

    bern ter parecido a

    Las

    Casas semel han

    te ao papel do califa como sucessor da autoridade do profe ta .'

    o

    Requerimento nao era a tipica d e c l r ~ o de gue

    rr

    a ociden

    tal

    eu

    ca t6lica nem a

    i n t i m ~ o

    islamica ortodoxa para a

    r e n d i ~ o

    a l mas uma fo

    rma

    nova hibrida, que co

    ntinha

    combinados

    num Linico enunciado dois estilos dois sistemas de

    c r e n ~

    e

    aco

    rd

    o com Mikhail Bakhtin, urn hibrido e

    urn

    enunciado

    que perte

    n

    ce, por

    seus

    forrnadores grarnaticais

    [sinta-

    ticos} e co

    rnposi

    cionais, a

    urn

    unico falante ma s que

    na

    realidade

    co n tern

    combi

    na

    dos

    ern

    si dois enunciados

    ...

    Na o existe limite for-

    mal

    entre esses enunciados

    .. ,

    A

    me

    s

    rna

    palavra

    pertence

    si

    multa-

    neamente a dua s lfngu as, dais sistemas de cr

    enc,;as que se

    inter

    sec tam

    numa ca ns

    tru c ;ao

    hfbrida ,l06

    C>pyr I

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    25/59

    CER ONIAS DE POSSE 125

    Essas duas consciencias lingiiisticas diferentes, separadas uma

    da

    outra por uma epoca,

    pela

    diferenciac;ao social, ou por algum

    outro fator

    ...

    [to

    rn

    am-se

    1

    nconscientemente

    misturadas

    107

    Como muitos

    es

    panh6is, os inventores, os defensores e os

    usuarios do Requerimento nao copiaram deliberadamente modelos

    islamicos. Como escreve Montgomery Watt :

    Poucos entre as espanh6is

    do

    norte au entre outros europeus

    ocidentais perceberam a origem isIamica de muitos elementos

    dessa

    cultura

    , e partamo

    na

    o tinham dificuldade

    em

    combinar

    a

    c e i t ~ o

    da

    cultura com

    a opasir;ao a

    eligiao

    .

    Desse mexi

    a, a Espanha

    ganhou

    uma

    cultura que tinha impo

    rt

    antes elementos arabes, mesmo que

    tenha depois cada vez mais afirmado sua identidade cat6lica e ne -

    gada

    sua dfvida para

    com

    as ~ r b e s

    l o e

    Como inimigos politicos,

    os

    espanh6is criaram urn discurso

    politico

    para

    si mesmos

    em

    que

    0

    termo

    muc;ulmand'

    funcionava

    como inverso de cristao . Urn recente

    crftico

    das

    cronicas arabes

    e cristas observou que

    as

    imagens e representac;6es do cristianismo

    e do islamismo nas cronicas espanholas de reconquista eram

    fre-

    quentemente imagens invertidas, como uma projec;ao no espelho. l9

    Como os inimigos, ate me smo os que se espelham, negam a

    legitimidade urn do outro,

    os

    costumes tradicionais islamicos nao

    podiam ser reconhecidos como modele

    pela

    autoridade polftica

    espanhola. Reconhecer

    as

    influencias islamicas sob

    re as

    praticas

    polfticas espanholas significaria desafiar a

    sua

    pr6pria legitimidade,

    como fez

    Las

    Casas. Portanto, os antecedentes e os costumes

    isla

    micos nao podiam ser conscientemente citados como oficiais no

    seculo XVI.

    Ma

    s

    por

    meio de formas hibridas e aparentemente cris-

    ta s como a Requerimento, express6es islamicas nao identificadas

    puderam entrar no discurso dominante.

    no

    Embora tenha side concebido na epoca em que as unicas

    possess6es espanholas eram urn punhado de

    i1has

    no Caribe e

    alguns pequenos assentamentos litoraneos na America do Sui, 0

    Requerimento acabou

    se

    ndo urn meio duradouro

    de

    criac;ao

    de

    autoridade politica.

    Foi

    utilizado para legitimar

    0

    domlnio sobre

    grandes imperios nativos nas Americas, com a mesma eficacia obti-

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    26/59

    126 PATRICIA SEED

    da sobre urn pequeno numero de postos

    a v a n ~ a d o s

    caribenhos

    . I

    Mas embara 0 Requerimento fosse persuasivo pa ra a Coraa e gran

    de parte da elite politica espa nhola do seculo

    XVI

    e e gerava du

    vidas e p r e o c u p a ~ 6 e s . Urn certo grau de desconforto

    continuou

    a

    existir e

    ntre

    alguns espanh6is de altas p o s i ~ 6 e s originando-se,

    muito

    pravavelmente, das

    muitas

    s e m e l h a n ~ a s explfcitas do Re-

    querimento com a pratica islamica.

    Embara

    h e s i t a ~ 6 e s

    e reservas

    quanto

    a

    d e q u a ~ i i o

    do Reque

    rimento tenham sido verbalizadas e debatidas nos nfveis mais altos

    do poder espanhol, por incrivel que

    p a r e ~ a

    nem a Coraa

    nem

    seus

    oficiais estavam dispostos a repudia-Io. 0 Requerimento foi conser

    vado sem a l t e r a ~ 6 e s por mais de vinte anos, mesmo depois de urn

    debate sobre sua a d e q u a ~ i i o porque, afora reservas, ele continuava

    sendo culturalmente persuasivo para urn amplo grupo de oficiais

    politicos.

    1I2

    Urn

    persistente desconforto oficial, entretanto, acabou

    produzindo duas m u d a n ~ a s a primeira constituindo-se

    numa

    serie

    de distinc; es

    ret

    oricas.

    Em

    1573, os oficiais espanh6is

    proibiram

    usa do termo collqllisla, exigindo 0 neologismo pac

    ifica,iio

    para des

    crever os e s f o r ~ o s militares contra os povos ind igenas.

    l 3

    0 termo

    pacifica ao apagou a a s s o c i a ~ i i o com a palavra IUla

    jihad

    ). Alem

    disso, 0 titulo formal do Requerimento' foi elirninado. Ap6s 1573

    a i n t i m a ~ i i o formal ao cristianismo deveria ganhar urn

    nome

    dife

    rente - Instrumento de Obemencia e Vassalagem', desfazendo

    assim a

    associac;ao lin

    guistica entre

    r qu rim nt

    e

    data

    .114

    Apesar

    de

    terem

    eliminado palavras como

    r qu rim llto

    e

    conquisra

    que tinharn

    uma

    proximidade incomoda com os termos arabes

    dafa

    e

    jihad

    as

    autoridades espanholas

    contin

    uaram a insistir na pratica do ritual

    originalmente malikita de convoca r para

    uma

    religiao superior.

    Mas, pela nova r o t u l a ~ i i o das praticas, as a s s o c a ~ 6 e s IingUisticas

    potenciais com suas origens islamicas andaluzas foram apagadas.

    A competencia dos individuos espanh6is para declarar guerra

    contra

    os povos indigenas

    tambem

    foi moderada no renomeado

    Instrumento de Obediencia e Vassalagem' de 1573. Se urn Ifder

    espanhol decidisse que os nativos ja tin

    ham

    recebido a fe e

    se

    tor

    nado obedientes (por meio

    da

    submissiio), ele poderia ataea-Ios

    como ap6statas e rebeldes' . Mas se os povos nunca tivessem sido

    antes submetidos e

    Fos

    se necessario

    perpetrar uma guerra aberta

    C pyr I i Tl . ;

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    27/59

    CERIM6NIAS DE

    POSSE

    1 7

    e ordenada contra eles', os espanh6is deviam primeirc avisar a

    Corca' antes do ataque.

    l15

    A recusa a reconhece r a superioridade

    crista e a admitir

    os

    pregadcres cristaos ainda poderia justificar um

    ataque militar, ma s a responsabilidade da decisao foi passada das

    maos dos soldados ou de seus Ifderes

    para

    a Corca.

    A

    Coroa

    continuava a insistir no

    ritual

    poHtico de uma inti-

    -

    ma

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    28/59

    128 PATRICIA SEED

    Essa Iiga ao da obediencia aautoridade religiosa com a obe

    diencia polft ica

    trouxe

    a unica

    modifica ao

    importante acrescen

    tada

    pelos reis

    catolicos

    ao

    tratamento

    dos

    povos

    de rr

    otados

    .

    Violando as condi oes de

    rendi ao

    oferet

    id

    as a Gr

    anada

    em 1501

    os reis catolicos separaram a pratica islamica da

    prote ao

    jimma) de

    uma

    de suas amarras ideologicas - a ideia de que a prote ao era ofe

    recida em troca da liberdade religiosa. Em vez disso os reis catolicos

    conservaram

    a

    r o t e ~ o

    como

    uma rw

    tl

    de governo

    - direito dos

    povos derrotados de religi6es diferentes a governarem a si pr6prios

    e a terem suas pr6prias praticas de legado

    mediante

    a exigencia de

    que pagassem taxas per capita

    demonstra

    ssem deferencia nao

    montas

    se

    m cavalos e exibissem todas as outras

    formas

    de humi

    tha ao

    Quando

    ocorrem emprestimos culturais eles raramente sao

    incorporados em suas formas identicas pela sociedade que os recebe

    - com

    uma

    frequencia

    ainda

    menor

    sao

    submet idos a

    uma forma

    de racionali

    za ao

    abso

    lutamente

    identica. A e1imina ao da justifi

    cativa para a Iiberdade religiosa nao significou que os reis cat6licos

    tenham

    eliminado alguma

    o

    utr

    a

    das

    importantes

    dimensoe

    s po

    liticas e economicas

    de

    tratamento dos povos conquistados.

    Seguindo e

    ss

    e precedente estabelecido em Granada a

    Coroa

    espanhola

    tambem

    negou aos povos conquistados

    do

    Novo Mun-

    do

    0 direito de praticar suas

    prop

    rias religioes mesmo depois

    do

    pagamento de um tributo

    per capita .

    Tambem nao lhes ofereceu a

    escolha entre exilio e a conversao como os

    m u ~ u l m a n o s

    haviam

    alguma

    s vezes fei to durante a ldade Media . No Novo Mundo a

    op ao

    para

    a

    evasao

    passou a ser a conversao cultural. Apenas

    aba

    ndonand

    o suas vestes suas lfnguas e/

    ou

    0 lugar

    onde

    mora

    vam ou ainda cas

    ando

    -se com alguem que nao paga

    ss

    e 0 tributo e

    que os fndios podiam evitar as exigencias

    do

    tributo espanhol A

    fuga da assimila ao religiosa no seio do islarnismo transformou-se

    no Novo

    Mundo

    na fuga predominante da ass

    imila ao

    cultural e

    lingu

    fstica

    118

    C o m p a r a ~ e s

    Resultando de um

    antigo

    debate acerca da cria ao da

    autori

    dade legal espanhola sobre 0 Novo Mundo 0 discurso ritual conhe-

    C pyr I

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    29/59

    CERIM6NlAS

    DE

    POSSE 129

    cido como

    Requeriment

    o

    transform

    ou-se no principal meio de

    s n ~ o dessa

    autoridade

    . Todo espanhol que encontrasse povos

    que nunca

    tinham

    ouvido falar do cristianismo era obrigado a in

    tima-los a uma nova religiao. Ao co ntrario dos

    frequentemente

    improvisados discursos franceses,

    0

    discurso ritual

    espanhol

    era

    cuidadosa e explicitamente apresentado. Seu co nteudo m e ~ v

    com a guerra aqueles que se negassem as

    ubmi

    ssao, e prometia

    aqueles que se submetessem honr s e vantagens . Essas preten sas

    honras e vantagens eram formas economicas e polfticas de

    suba

    r-

    d i n ~

    original

    mente

    desenvolvidas pelos governantes islamicos

    na Peninsula Iberica : 0 pagamento de uma taxa

    jizya

    ou tributo)

    e a

    c r i ~ o

    de comunidades que se autogovernavam de forma quase

    independente, as assim chamadas republicas dos indios. fram hon

    ras e vantagens apenas em r e l ~ o aescravidao. Mas a c o

    n v i

    c ~ o de

    que a obediencia politica e a obediencia religiosa eram equivalentes

    nao fazia parte da t r d i ~

    o

    hi st6rica francesa .

    s

    oficiais

    fr

    anceses

    tinham

    0

    cuidado de

    garantir

    0

    consen

    timento politico ou pelo menos uma aparencia

    de

    consentimento

    por parte dos povos indigenas. Enquanto os franceses buscavam

    uma

    l

    lian

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    30/59

    13

    P TRICI

    SEE

    como aconteceu no Amazonas).

    Os

    escritores polfticos franceses

    do final da ldade Media e do infcio da era moderna frequentemente

    alegavam separar a 19reja do Estado - a primeira apenas santificava

    o segu nd

    o.

    Nas cerimonias do Novo Mundo, objetos religiosos tra

    dicionais - turfbulos s t i ~ i s cruzes - dramatizavam visualmente

    a ben

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    31/59

    CE RIMON IAS

    DE POSSE 131

    forn

    ece

    ram prirneiro a Portugal, e depois ao resto do mundo, a peri

    cia de navega,ao

    que

    possibilitou a expansao europeia. Essa pericia

    de navega,ao

    se

    baseava na heran,a da s realiza,6es i

    sla mi

    cas

    medievais na matematica e na astronomia. A

    ssi

    m, nao

    no

    s sur

    preendemos ao

    sabe

    r que os ritu

    ais de

    posse portuguesa no Novo

    Mundo eram

    ,

    inicialmente, astron6micos.

    Notas

    1 H

    o

    inumeros textos do Requenmento.

    Colewo

    ll

    de dO(umemos

    it/Mites

    rela

    t

    ivos

    al dtswbrimitnro tn Amtrica )' Ouanta (daq ui em dlante

    dtado

    como CD ),

    Madrid, 1864-1884, 43v., v.20, p.311--4j A Herrera,

    /-li

    storia gtnua/ dt los htchos

    de los Castellanos, dec. 1, livro 7, cap.14 , Madrid, 1935, v.3, p.170-2j}. T.

    Medina, EI

    descubrimltnt

    o del OciAno

    Pacifi

    co, Santiago,

    1920,

    v.2, p.287-9j B.

    de

    Las Casas, Histcfla

    de

    las Indias,

    MeXI

    CO 1986, 3v., livro 3, cap.57; quanto

    ao

    Pe

    ru, ver D. Encmas, Cedllfa flo

    india no,

    Alfonso Ga rda Gallo (Ed .), Madrid,

    946

    vA, p.226.7jquanto ao Panam.i, M. Serrano y Sanz, Orfgtnts dt la

    domi

    nacidn tspano/a :

    estudlos hist6ricos , Madrid, 1918, v. l , p.292 -4j G. Fern.in

    dez

    de OViedo,

    /-list

    o

    r;a

    genual y natural dt

    la

    s indl(ls ,

    Madnd,

    1959

    , 5v ., v.3,

    p.28-9. L Hanke traduziu 0 Requerirnento em

    seu H, story o( ultin

    Amer

    ican

    Civilization, Boston, 1973, 2v ., v. l, p.

    93-5

    .

    2 M.

    de

    Montaigne,

    Des

    Coches,

    in

    : Essais

    ,

    P. Villei (Ed.), Paris, 1965, 3v

    .,

    v.3,

    p.l

    69j J.

    de

    Laet, Nitu\Ct

    Wutfdt,

    Leiden,

    1

    630,

    p.1-2. Ralegh

    escreve

    : "Nenhum

    prIncipe cristao, unicamente em nome do cristiamsmo, e sob

    0

    pretexto

    de

    fon;ar os homens a

    recebe

    r

    0

    Evangelho

    ... pode

    tentar a

    in

    vasao de urn pavo

    livre ou sob sua vassalagemj

    pois

    C

    ri

    sto nao concedeu

    esse

    pode r aos cmtaOS

    em sua

    c o n d i ~ o

    de cristaos. W. Ralegh,

    History oftht World

    Fivt

    Boors

    Philadelphia, 1

    820;

    pub . ong. 161

    4,

    8v., v.6,

    p.

    122

    .

    3 Las Casas, Cosa es de reir 0 de Borar , in : / Il stor/a dt las fndias, livro 3, cap.58,

    p.3-3

    1.

    4 Esta e a crftica que Montaigne faz a

    l e g ~ o

    do Reque nmento que di

    z.ia

    que

    os espanh6is vinham em paz.

    QIU

    qlland aewe

    paisib/e

    , ils Iits Espagnolts/

    n'tn porto,ent

    pas In

    m"'e.- Montalgm:, Des Coches, 1 :

    Es

    s(l;s,

    v.S,

    p.

    169

    .

    5 Estas eram geralmente identificadas como razzla

    .

    Uma excelente hlst6na das

    e s c u ~ s empreendidas nas frontelras entre m u ~ u l m n o s e cnstaos est.i

    em J. F.

    Powe

    rs, A Society Organized

    (or flar:

    The lbenan Municipal MIJiuas

    in the Centr

    al

    Mid dle Ages, 1000-1284, Berkeley, 1988 .

    6

    Ibn

    Kbaldun descreve dois tipos

    de

    guerras santas e justas: aquelas que a lei

    rehgiosa chama de santas e aquelas contra

    os

    dl

    ssl

    dentes e os que se recusam

    a obedecer-. Khaldun, The

    Mugaddlmah :

    An Int roduction

    t Hi

    stOry, trad . F.

    Rosentbal, ed . e abr. N. J. Daood, Princeton, N. J

    .,

    1

    967,

    p.123-4.

    7 F.

    Co

    rriente, E/

    Ibico drabt anda/lIsl seg ;n P. dt Allald,

    Zaragoza, 1988, p.38

    8 Pa ra uma hist6 r

    ia

    cr[tica desse epis6dlo, ve r P. Seed, Are These Not Al so

    Men ?:

    Tbe Indjan's Humanity and Capacity

    for

    Spanlsb

    Civihzauon,j

    ourrtdl

    of

    LA,,,, American

    Swdits, v.2S, p.629-52, 1993

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    32/59

    1.;2

    PAT

    R

    IC

    IA

    SEED

    9 J. L6pez Palacios Rub

    ios,

    Dt Itts islas

    del

    ntttroceano, e M.

    de

    la Paz, Del dominio

    d,

    los

    r'yts dt Espana sobrt

    los

    indios, trad . A. Mlilares Carlo, M ~ x i c o

    1954

    ,

    p.36-7,

    250-2

    .

    10

    J

    J.

    Saunder

    s,

    A

    H,

    s/ory

    ofMeditvallslam ,

    London, 1

    965,

    H. Kennedy,

    Th( Propht t and tlu Agt oftht Callp/lalts: The Islamic Near East from the Sixth

    to the Eleventh Century, London,

    1986

    , p.57.69.

    11 A

    l t a ~ a

    o e de uma c o l e ~ a o de maxlmas sob

    re

    a C1encia de governar que

    datam dos seculos V

    II

    a IX da era crista. B. Lewis, Islam: From the Prophet

    Muhammad to the Capture of ConstantInople, New York ,

    1987

    , v.l , Po/ilics

    and \\'Iar , p.

    184

    .

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    Study

    in

    Cultural Orientation, 2.ed ., Chicago, 1954, p.

    153.

    13

    A

    Magid Tur

    ki

    ,

    La

    veneration pour Malik et

    la

    phYSlonomle

    du Mallklsme

    andalou,

    SllId,a

    Islam ica, v.33, p.41

    65, 1971.

    A JUrlsprudencla malikita subs

    tituiu as

    fo

    r

    ma

    s anteriores de jurisprudencia , o m e ~ a n d o no final do

    re

    inado

    do gove rnante omfada 'Abd a1 Ral;unan J A mals importante crfuca

    da

    JUris

    prudencla malikita veio

    de

    Ibn Hazm no seculo XI. Mahmud '

    Ali

    Makki,

    Ens . ,

    sob

    las apcrwciones omnia Its tn la Espana mUSil/mana, Madrid, 1968,

    p.87106 , 134 -49 , 1836. Ve r tambtm Malik b. Anas, Encyclopaedia of Islam .

    14 Averr61s nasceu em C6rdoba (Espanha) em 11

    26

    e

    fOIIUiz

    , medico e fJ 6sofo .

    Morreu em Marrakech em

    1198

    . Em

    Bida y

    at

    alJ\IIlIdjtahid,

    co menta todas

    as

    mfnimas

    d l f e r e n ~ a s

    na

    s pra.ticas belicas das mais importantes

    r a m i f i c a ~ O e s

    do islamismo na Penrnsula Iberica . Uma tradur;ao para

    0

    ingles

    ejih d

    in

    Medultl'a/lslCj and Modun Islam, trad. R.

    Pete

    rs,

    Le

    ide n, 1977. A pr6pria

    ob

    ra

    de

    Malik ll

    iib

    aljihiuf) est. em Mllwa

    r ,'

    Imam Miililt trad. M. RahimuddlO,

    Lahore

    , 1980, p.198-2 13.

    15 Averr6is, Biday{/(

    a/

    Mudjlahid, p.20 . Em bo

    ra

    enviar urn mensagelro nao

    fosse

    urn costume

    em

    todas as comunidades islamicas, esse procedimento era carac

    tensuco da

    escola ma

    likit3. Ibn

    Abi

    layd

    l Q a y r a w a n ~

    La

    risala ou tpim

    sur

    les

    tUmellls

    du dogmt

    t de

    la loi

    dt

    ('islam sdon

    Ie rilt malekila , trad. L

    Berche

    r,

    Algie r

    s, 1975

    , cap.30; vertambem

    al

    Mawardi (moTto em

    1058),

    ibidem, p.76,

    119; Ibn Hudhayl (morto em 1399). A escola hanafita nao

    IOsiste na

    lOti

    m a ~ a o

    E. Weber e G. Renaud, Craisad, d'hiu. tiiiad d'aujo

    urd

    'hui, Paris,

    198

    9,

    p.11 8. Alguns estudiosos argumentaram que a a t n b u i ~ a o da

    c o n v o c a ~ a o

    a

    Ma

    o

    me

    e ap6crifa .

    Ver

    B.

    Kedar

    , Crusadt and Missio

    n;

    European Approahes

    toward the Muslims, Princeton, N. J., 1984, p.37n.

    91.

    Entretanto, ela foi logo

    adotada no islamismo e uulizada na Pen[nsula Iberica desde 0 infclo

    da

    co

    n

    quista arabe.

    16 O. Saidi, The UOIfication of the Maghr

    ib

    Under the Almohads, 1

    :

    D. T

    Niane (Ed.) Africa

    {rom

    Iht Twtlfth

    1

    lhe

    Six

    /eenth Ctntury,

    Berkeley, 1981

    1993,

    Bv

    .,

    v.4 de

    Ctlfual

    Hist

    ory

    of

    Africa

    ,

    p.17.8 .

    t 7

    Ibn

    Abi Zayd al.Oayrawani, (jurista malikita do seculo

    X), La

    risala, cap.30j

    Halillbn Jli'baq (seculo XIV )

    II

    Muhrasar: Sommario del diritto male

    chita, trad.

    I

    Guidi, Milano, 19 19, 2v., v.1,livro 8, n.3; R. Brunschvig, Ibn

    Abdalh'akam et la conquete

    de

    l'Afrique du nord par

    les

    Arabes, twdts sur

    [ Islam ClaSS/que et I'A(riqlle

    du

    Nord, London, 1986, v.II, p.lOB22 . Para um

    cont raste,

    ver

    L W.

    C. Van Den

    Ber

    g, Princip

    les dll droil musu/man sdon Its rius

    d

    '{/bo

    /JI ,*,tt'jfil et

    de

    Cha'filj, trad. R.

    de

    France

    de

    Ter

    sa

    nt e M. Oamiens,

    C

    >pyr Ie i

    Tl . ;

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    33/59

    CER IM6N IAS

    DE

    POSSE 133

    Al

    gie r

    s,

    1896, p.225-6. Ver tambem A.

    K.

    S. ..amblon Stalt alld Govanmtnt in

    Mtditval ls

    lam

    , Oxfo

    rd

    , 198 1, p.214;

    Al

    brecht Noth , Tht Early Arabic Tr

    adition:

    A Sou rce-Critical Study, Had . M. Bonner,

    Pnn

    ceton, N. J

    .,

    1

    994,

    p.16

    1.

    18 Averr6i

    s,

    Bidayar al-Mlldirahid,

    p.20 . .

    19 Y. Ca rlan, Wilt

    in Iht Anciem

    World

    :

    A Social HistOry, trad.

    J.

    U

    oyd, New

    Yo rk,

    1

    975, pA4-50,

    58-9; A. Ce nti

    lli, Dtltgallolflbus li

    b,;

    trtS,

    tr

    ad

    . C.J.

    Lamg, New

    York, 1924,

    2v .;

    C.

    Van

    Bijinkershoek,

    t foro Itgatorum film

    smgulaflS,

    Ox

    ford,

    1946

    .

    20

    Sabre a papel de

    Ma

    ome ou de seu men sage

    lr

    o convocando os

    na

    o- muc;ul

    manos, ver,

    po

    rexemplo, ohadi

    th

    em Al-Bukhari, Tht Translarion o(thtM

    eani

    n

    gs

    of Sah

    ih

    al-

    Bukh

    ari, trad. M. Muh si n Kahn, Beirut, 1985, vA , p.11 6-7; a ~

    Mlls

    lim, trad. Abdull:{am

    id Sddiq

    i, Beirut , 1

    972,

    v.3, p.

    969,

    97

    1. Pa

    ra um

    hadilh

    cl.issico com ambos

    os

    te

    rm

    os,

    ver

    Bukhiiri,

    vA,

    p.121.

    Ma

    ome tambem

    descrevia

    a

    si pr

    6pno como 0

    esc

    ravo

    de

    Deus .

    21

    Pa ra 0 uso

    dessa fo

    r

    ma

    ent re

    os

    blzanttnos,

    ver

    M. Canard,

    Les

    relat

    io

    ns

    poh

    ti

    ques et

    soc

    iales ent re Byzanee et les

    Ar

    abes, Dllmbarton Oaks Papas

    (Was

    hington,

    D

    C , n.18, p.33.56, 1964. Pa ra exe mp los do usc de mtnsaitro,

    ve r Se rrano y Sanz, Orfgtnts dt

    la

    dcmma

    cion tsptlllola, v.l , p.293; CDI,

    v.20,

    p.3 11 ; Medina, Dtswbriminto, v.2, p.

    288

    ; Herrera , Histofla gtnaa/, v.3, p.170.

    22 Averr6is, Bidayar

    al

    -Mlldirah/d , p.20. Na eoler;ao

    hadith

    de Al-Bukharl, -0 con

    vi te ao islam lsmo eessenCial antes da decla rac;ao de gue rra -. Ve r AIBukhiiri,

    vA,

    p.

    11

    6.

    Para

    outro exemplo,

    ve

    r

    LeWI

    S

    Is

    lam

    ;

    v.

    l ,

    Politics

    and

    War,

    p.

    228

    .

    23 ~ esta a

    palavra

    utihzada

    nas coleC;Oesltadi

    t/r :AI-Bllkhiri vA , p.116

    -7

    , 121, 12

    3;

    a ~ j ~ Muslim, v

    .3,

    p.971. Ela aparece com

    esse

    senudo no Alcorao, 24:24 , 52

    e 40 ;

    12

    . H. Wehr,

    A Di(tionary

    of

    Alodan Wrllf

    elf

    Arab/(, J.

    Milton Co wan,

    3.ed ., It haca, N. Y

    ., 1971

    , p.282.3 . t tambem

    As

    vezes transc ri ta co mo da wa .

    24 R.

    Dozy, SuppUmtnt aux d,ctlcnnams tlrabes

    (Beirut, 198 1

    ), p.444-6

    . Ooutro

    ve

    r

    bo

    r

    abe com

    0

    me

    smo slgmflcado

    ewajaba .

    P.

    Alcalci

    ,

    m I'araligtramtme

    saber

    la

    Itngua

    tfrabe,

    Cranada, 1505, uuhza

    da'it com

    0 s

    lgmficad

    o

    de rtqutrir

    que hagtln justitia. lIamar

    al

    que

    a

    de I ttlir, cil

    a(/JII

    , dtmanda-. Co rn en

    t

    e,

    EI/l.xi

    o

    tfrabt andalflsl,

    p.66. Cova rr ubias,

    Ttsor

    o

    (16

    11

    ),

    traz como sm6nimos

    de

    rUfutrir :

    imimar

    , advtrt

    ir

    , adsar.

    25

    AIBukh.iri, vA, p.

    121

    ; aMtJ Muslim, v.3, p.97 1, a frase e traduzida como

    -Estendo a

    voces

    0 eonvlte

    pa

    ra

    que

    aeeltem 0 I

    slami

    smo.

    Uma ca

    rta a

    os

    reis

    persas datada de 633, exemplo de uma intlma c;:ao Asubmlssao em ingles, estci

    em Lewis,

    Politics

    and War ,

    p.228 .

    26 Essa euma das principa is caricaturas do islamismo nas polemlcas antimaome

    tanas,

    que rem

    ontam ao seeulo

    IX

    .

    Kedar

    ,

    Crusade and M,

    ss

    /on,

    p.

    24

    -5.

    Ve

    r,

    por exemplo, 0 famoso tratado antimur;ulmano de Rieo ldo de Montecroce

    (1

    243

    -13

    20

    ), mi ssio

    ncirio

    dommicano

    em Bagdci, resu mid

    o

    em

    J. Windrow

    Sweetman, Islam and

    ChffS

    tlan Thtology , London, 1955, pt.2, v. l, p.11659,

    esp. p.130, 141

    -2.

    27

    M. Khaddu ri, Imernationallaw, m: Khadd ufI , H.J.

    Liehesny

    (Ed.) Law;n

    th

    t

    Middlt Easl :

    Origin and Development of I

    slamIC

    Law, Washmgton, D.

    c ,

    1

    955,

    p.355.

    28

    Ale

    o

    rao, v.

    2, p

    .256;

    aiatola

    S.

    Ma humud

    TaleqaOl, Jihad

    and Shahadat, m: M.

    A

    bedi,

    C.

    Le

    ge nhausen (Ed

    .), Jihad and Slta ltadar :

    Stru

    gg le

    a

    nd

    Mart yr

    dom

    m Islam, Houston, 1986, p.51.

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    34/59

    134 PATRIC

    IA

    SE

    ED

    29 TIr e Mealllllg f tlte Holy Qu r lI l ,

    trad

    . YUsuf Ali, Was

    hingt

    on, D. c 199 1,

    p.1343. O

    utra

    traduc;ao reza : "Os bedufnos dizem : ' N6s alcanc;amos a

    Olga [para eie

    s,

    6 a m ~ 'Voces [ainda] nao atingiram a fe; voces devem

    {

    em

    vez dlsso j

    dlzet

    : 'N6s exterior

    meme

    nos

    submetemo

    s

    t

    fe' -

    poL

    S a

    [verdadelraJ aLnda nao entrou em seus co ra c;6es .

    Mes

    s

    age

    of lhe Qllr'al/ ,

    trad . M. Asad, Gibralta r, 1980, p.794-5.

    30 B. de

    La

    s Casa

    s,

    The Ot/ly Wa

    y,

    t rad . F. P. Sullivan, S. 1.,

    Mahwah

    , N . J. 1992,

    p.147. Uma

    ed

    ic;ao recente eDt. utl

    ico I'

    oeal;

    o ismodo,

    P. Castaneda Delgado e

    A. Carcia del Moral (

    Ed

    .), Madrid, 1988.

    31 Averr6ls, B d iiYIII

    al-AJ/ldJttlhid ,

    p.20;

    0 ha

    di /h com essa linguagem est.i em AI

    Bukhari,

    vA,

    p. lIS . Ver

    tambem

    Lewis, Po/ili

    cs

    and War, p.228.

    32 Carlan,

    W

    ar

    l t the AI/mill

    Wo rld

    ,

    pA7-50.

    33 D. Bramon, Co

    ntra mor

    es

    y judie

    s,

    Barcelona , 1986;

    Halil

    ibn

    ~ b i q

    If

    lAlII/lla

    sa?,

    v. l, Iivro 8, n.23. Ver tambem Paula Sanders,

    Ri

    ll/

    aI, Politi

    cs

    ,

    fllld

    lite Ci

    ty //I Fatitmd

    Ca ir

    o, Albany, N . Y., 1994, p.29-31.

    34 Esse procedlmento se funda numa

    L n t e

    o do

    Alc

    o rao, v.9, p.29. H.

    E. Ka

    SS

    IS , Concordance of ,he Qllr 'an, Berkeley, 1983, p.263, traduz

    0

    trecho

    como "ate que paguem 0 trlbuto Imediatamente e

    tenham

    s

    ld

    o humllhados .

    Picktha l traduz

    0

    me smo trecho como ate que paguem prontamente

    0

    trlbuto, tendo sido rebalxados .

    The

    'lean

    illS of

    Ille Glo

    rt

    ous Kora , trad . M.

    Marmaduke Plckthall, London, 1930, p.148 . Para Malik sobre a Jlz

    ya,

    ver seu

    M

    uwa

    rr

    a',

    p.212,

    141

    -

    2,

    esp. n. I34 .

    35

    Al

    corao, 9:29 t r a d u ~ a o de Yusuf Ali). Em Averr6is a t t a d u ~ a o a seguinte:

    "Petsiga aqueles que nao acreditam em Al e

    nem

    no derradelro dia

    [0

    dia

    do

    lulzoj , nem consLdetam ptoibldo

    0

    que

    fOI

    prolbldo por

    Ala

    e par seus ap6s

    tolos,

    nem

    reconhecem a religiao da verdade [islamismoj

    mesmo

    se perten

    cerem aos paves do livro, que paguem a

    jizya

    com submlssao volunt..i

    ri

    a

    e se sintam do minados [diminudosj: Averr6is, Bidiiyat al-Mlldjlahid, p.20.

    Estudiosos ocidentais n a o m u ~ u l m a n o s de epocas mais recent

    es

    argumenta

    r

    am

    que

    0

    im postol'tr capil

    tl

    euma i n v e n ~ o do s&:ulo VIII (ver J. Wellhausen,

    The Arab Kingdom and I

    ts Fall

    , B

    ei

    rut,

    192

    7),

    ou

    que ele

    roi

    uma adaptac;ao dos

    sistemas blzantino e sassa nida de art

    ecadaC;ao

    . D. C.

    Dennet

    ,

    ConVtrSi

    O

    1

    and

    the

    Poll

    Tax

    l i t

    Early

    Is

    lam

    , Cambridge, Mass

    .,

    1950, e F. Lekkegaard, Islamic

    Tflxf/t;

    o

    ll

    in Iht Cla ssic Puiod,

    Copenhagen, 1950. De qualquer forma, ele exis

    tia na epoca da

    conquista

    da Espanha, t

    endo

    side intr

    oduzido

    no pals por

    conqUistadores m u ~ u l m a n o s

    36 S. M. Has

    an

    -uz-Zaman, E

    co

    nomic Functions of

    an

    Islamic Slate, Le i

    ceste

    r,

    1990, p.70, tambem

    utiliza

    a

    exp

    ressao relacionada

    set

    rebaixado. Ver

    tambem

    as t r a n i ~ e s feitas po r Lewis dos

    termos

    de

    paz

    datados do se

    culo VII em Politics

    find

    War, p.239-41. Exemplos postenore s estao em A.

    Stanley

    Tritt

    on,

    Tht Caliphs and

    Their

    Non

    -Mlls

    lim

    Subjects,

    London, 1970,

    p.

    227

    .

    37 I

    bn al

    Fuwati (1167-

    124 7)

    , AI-

    J1awiiditit

    lll-Jiimi a , t rad. in: N. A. Stillman, Tlte

    Jt

    WS

    of

    Ara

    b Lat,ds:

    A History and Source Boo k, Philadelphia, 1979, p.18D.

    O

    utra

    s formas de jizya posteriormente desenvolve r

    am

    -se dentro da lei .

    Ve

    r

    K. Ibn Ishak (S ulo XIV

    ),

    PreCIS de

    Jlm

    sprtlden

    ce

    mUSII/mant stlo

    Hle

    rite m

    ii

    ltktte ,

    [fad . M Perron, Pans, 1849, 4v., v

    .2

    , p.292-5, mas eram utilizadas com menor

    frequencla na Peninsula lbenca.

    C >pyr I

    i

    Tl . ;

  • 7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento

    35/59

    CERI

    M6N

    IAS DE PO SSE 135

    38

    -Os contribuintes da

    ji:

    ya que se tornassem mUCjulmanos senam IsentOS da

    taxa"

    Malik,

    Muwaua , p.142.

    39 Sob re os crist.ios co mo dltimmis na Espanha sob 0 gove rno Islamlco, ver E.

    levi

    -Prove

    n

    Cjal,

    HiSloire

    de

    I Espagn e musil/mane, Pa ris, 1

    950-

    1953, 3v., v.l,

    p.225 -39 ; e R. Dozy, /-lis/olrt des Musulmans d Espagne jusqll'a fa

    conquite

    de

    I Attda lollsie par les Almoravldes, (7 11-1110), lelden, 1932, 3v., v.l, p.3

    17

    .

    40 Ave rr

    6is

    discu te as

    POSICjOeS de

    Shafl' i e Abu Thawr (mo n o

    em

    854)

    -

    funda

    do r de uma escola que sob revlveu apenas alguns seculos -, ambos os autor

    es

    mamendo a op

    miao

    de que esses eram os

    UniCOS

    povos de quem 0 Impos to

    per capita

    pode r

    ia

    ser cobrado. Malik afl rma que 0 tributo pode ser cob rado

    de qualquer pohtefsta. Ave rr61s, Blda

    ya

    l

    fll-AIlld,rahid,

    p.2; Malik , ,HI/walla ',

    p.142n. 1

    34

    ; Ibn

    ishak,jurisprudtttct muslllmflnt ,

    v.2, p.290 -2. Ve r

    m ~ m

    Brunschvlg,

    Ewdes sur

    I

    l

    slam

    (/flSSlqUt

    ,

    v.l l , p.

    108-22

    ;

    R.

    Dozy,

    Hls/oire

    des

    Musu/mans d'Espagnt , v.l, p.140-3; Cahen, -Dpzya",

    In

    : Eneyclopfltdia o Islam

    2.ed . Esse argumento tambem e apolado pelo Ux/Co drabe andalusi, datado

    de

    1505

    , de

    Ped

    ro Alcala, no qual a

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