patricia seed - o requerimiento
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7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
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3
o
REOUERIMENTO
UM PROTOCOLO PARA A CONOUISTA
Em nome de Sua Majestade, ... eu ... seu servidor, mensageiro ...
notifice
e
a
-
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1 2 PATR ICIA SEED
esc
ravos ... e tomarei seus pertences, fazend
o- lhe
s
tod
o a
mal
e cau -
sa
ndo- lhe
s todos as danos que urn senhor pede
causa
r aos vassalos
que
na
o a
re
ce
bem
nem
t
he
obedecem. E declare solenernente
que
a
cul
pa pelas mortes e danos sofrid
os
po r essa
~ o
sera sua , e
na
o
de
Sua Ma
jes tade, nern r i
nha
, nem dos cavalheiros
que
camigo
vlera m.\
Esse
di
s
cu
rso charnado Requerirnento tquirim
iem
oJ foi
principal meio pe lo qual as espanh6is sancionaram sua autoridade
politica
sab
re a
ovo
und
o dura
nte
a era de suas mais extens
iv
as
conquista s
151 2 15
73). Lido em
voz
alta para
as
nat ivos do
ovo
Mund
o a partir de
urn
texto e
sc
rito
Requerirnent
o era
urn
ul ti-
m
ato
para q ue
as
ind ios reconhecessem a supe rio
ri
dade do c
ri
stia-
nisrno; caso con
tr
ario, enfre
nta
r arn a guerra.
Diferentemente dos fran ceses, que costurna
vam
buscar
uma
l i n ~ e observar as rostos e gestos dos p v s indigenas proeurando
s
inai
s de assentiment
o
os espanh6is criavam
se
us di reitos ao Novo
Mundo pela conquis
ta
, e nao pelo con
se
ntimento. Enquanto as
regras inglesas governava m a c o n t r u ~ o de ce rcas,
ja
rdins e casas
e as franc
esa
s governavam a conduta
das ceri
m
onias as
r
eg
r
as
esp
a
nholas governavam os proeedi
ment
os de d e c l r ~ o de guerra.
Para iniciar uma guerra que resulta num dominio politico
le
gi-
timo sobre os conquistados, os procedimentos seguidos d
ev
em se r
cuidadosame
nt
e explicitados pelas mesmas a
ut
oridades pollticas
que, mais tarde , reivindi
ca ra
o ter es
ta
be leci
do urn dominie
le
gt-
tim
o. Estabelecer 0 direito de governar por virtude da conquis
ta
significa que todos os soldados, capitaes e lide
re
s em ba talha devem
seguir os passos politicos que Ihes foram o
rd
enados. Pois
0
que esta
em
questao nao esimplesmente seu pr6prio controle pessoal sobre
uma regiao, mas 0 governo legitimo de todo urn Estado. Omitir os
rituais se ria coloear em risco
0
estabelecimento de urn dominio legi-
t i m ~
Pe
rt
an
t
o
na
o era
ne
cessa
r
o que os so ldados ou
se
us
Iidere
s
cons
idera
ssem convin
ce
ntes a
ret
orica ou a
16gi
ca
da
d e c l ~ o
de
guerra . Ba stava que eles observassem seu protoeolo, segundo Ihes
havia sido o rdenado.
A m e ~ de gue rra contida no Requerimen to foi urn dos tra-
t;OS mai
s
ca
ract
erfs
ticos do colonialismo
es
pa
nh
ol. Nenhum outro
C pyr I
-
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CERIMON
IA
S DE P
OSSE
lOR
Estado europeu criou urn protocolo inteiramente ritualizado para
dedarar guerra contra pavos indfgenas. A guerra contra pavos na
tivos er
a
pa
ra a maioria das
nac;
6es
eu
ropeias uma decisao das
comunidades locais, dos governadores-gerais ou das
c o n f e d e r a ~ 6 e
da s cidades, tomada consensualmente pelos colonizadores euro
peus que viviam
na
s Americas. Algumas vezes
era
necessaria
consentimento oficial, ma s
pr
ocedi mentos formais para iniciar a
guerra contra os nativos raramente eram exigidos ou observados.
Apenas os espanh6is carregavam consigo urn protocolo criado pelas
ordens
de
seu rei, e que deveria
se
r lido antes do inicio
de
urn
ataque.
Sendo criado e implementado pela Coroa espanhola, 0 Reque
rimento definia
em
termos politicos as formalidades para iniciar
uma guerra. Fixava
os
objetivos
da
guerra, que nao se Iimitavam
a .
r e n d i ~ a o
mas tambem
ab
rangiam a submissao
ao
catolicismo e a
seus legitimos representantes as espanh6is.
Assim
0 Requerimen-
to era urn ritual militar e tambern politico. Mas ,
na
c o n d i ~ a o
de
ritual para dedarar guerra, era singularmente espanhol, na o tendo
paralelo algum em nenhuma cultura europeia.
Para as ou
tras na
~ 6 e s da Europa
, tanto suas exigencias quanto
seu
metodo
de
imple
m e n t ~ o
pareciam estranhos; varias influentes personalidades
inglesas, francesas e holandesas faziam t r o ~ a do Requerimento.
Walter
Ra
legh escarnecia dele, assim co mo Michel de Montaigne e
o
esc
ritor holandes Johannes
de Laet
'
Ate 0 eminente dominicano espanhol Ba rtolome
de Las
Casas
escreveu que, quando ouviu
0
Requerimento,
ficou se
m saber se
devia r
ir
ou chorar.
3
Seja lid
o a toda velocidade do conves
de um
navio anoite antes
de
urn ataque diurno seja lido
para
urn con-
junto de cabanas vazias e arvores, seja pronunciado at raves das
espessas barbas espanholas, 0 modo como 0 Requerimento era
implementado e ainda hoje considerado por muitos tao absurdo
quanto 0 texto em Sl.
o
carater aparen temente
i16gico
do texto inclui a
fo
r
ma
da
exigencia e sua substancia. He requer' que
os p v ~ s
indfgenas do
Novo Mundo
r e c o n h e ~ m
a
19reja
como a entidade suprema do
mundo
e
partanto,
co
nsintam que os padres lhes f ~ m p r e g a ~ 6 e
Contem uma prome
ss
a igualmente
mi
stificadora,
de
que 0
resu
l-
-
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104 PATRICLA SEED
tado dessa submissao
se
ra que os soldados deixarao
s
uas mulher
es
e crianc;as Iivres
, nao obrigando
ni
nguem a tornar-se cri stao. Mas
essa nao era uma escolha inteiramente livre.
Se
os indios nao
re
co
nhecessem a superioridade do cristianism
o,
os espanh6is pode riam
gue
rrear
contra eles uonde e comoll Fosse possfve l.
FinaJmente
, exis
te a incrivel isen
-
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CERIMONIAS DE POSS
E
1 5
mu,ulmanos nos primeiros anos do islamismo
Na
Peninsula
Ibe-
rica
particularmente, jih d significava Jutar de acordo com princf
pios legais adequados
.
Embora nao tenha sido a forma original de autoridade espa
nhola
no
Novo Mundo,
0
Requerimento foi a mais duradoura .
Criado
pelo
eminente jurista Juan LOpez
Palacios
Rubios em
1512
,
esse documento surgiu como resultado de uma crise nas formas
anteriores de sancionar a autoridade espanhola no Novo Mundo.
Durante suas duas primeiras decadas no Novo Mundo,
os
es-
panh6is arriscaram-se muito pouco alem dos
re
strit
os
co nfins do
Caribe aos quais Colombo os conduzira. Experimentando varias
formas de autoridade polftica sobre Novo Mundo, objetivo da
Coroa espanhola
de
dominio legitimo sofreu urn reves
em
1511 ,
quando foi atacado pel
os
frade s dominicanos da ilha caribenha de
Hispanio
la
. Num inflamado
se
rmao que denuncia
va as
praticas
morais e religiosas dos
lide
res da mai s
ri
ca co lonia espanhola ultra
marina, os padres dominicanos for,aram a pr6pria Coroa a fazer
uma reavalia,ao critica dos procedimentos que estivera seguindo
para garantir a legitimidade de se u dominio
Solicitando uma opiniao
legal de Palacios
Rubios e tambem
de
urn importante perito
na
s
leis
da
Igrej
a - Frei Matias
de
la
Paz -,
a
Coroa recebeu urn novo aconselhamento sobre a melhor forma de
estabel
ecer sua
autoridade. Na resposta
de Palacios
Rubios - apoia
da por Paz - havia uma se,ao descrevendo como a Coroa poderia
constituir legitimamente
se
u domini
o
E
ssa
se,ao f
oi
transformada
numa dedara,ao of
da
I - 0 Requ erimento - que todos
os
espa
nh6is deveriam ler antes de submeter os povos do Novo Mundo a
Coroa de Castela. A leitura do Requerimento tornou-se entao 0
mecanism que sancionava a autoridade polftica espanhola sobre
os povos do Novo Mundo. Suas raizes hist6ricas se encontram na
hi
st6
ria
de uma outra conquista antiga - a da pr6p
ria
Pe
ninsula
Iberi
ca.
No
sec
ulo seguinte
a
morte
do
profeta
Ma
o
me
(
632 , 0
is
lami
s-
mo expandiu-se rapidamente para
0
leste e para
0 oes te
, conq
uis
tando a Siria, 0
Ir
aque, 0 Egito e a Espanha. Como os espanh6is no
Novo Mundo os arabes eram relativamente poucos em numero
e
se
us inimigos numerosos. Eles Jutavam
em
pequenos bandos,
-
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1 6 PATRICIA SEED
frequentemente
a cavalo, e derrotavam exercitos bern equipados
que eram de
dez
a ce
rn
vezes maiores que
as
seus em tamanho
1o
Apenas urn
pequeno grupo
de guerreiros
mw;ulmanos derrotou
uma populac;ao de 2,5 milhaes de cristaos na Peninsula Iberica.
Rapidamente percebendo-se no controle de urn vasto territ6rio
que se estendia da Bagda a Toledo, e de Aden ate Saragoc;a, as li-
deres do Imperio Arabe do seculo
VII
I estavam militarmente mal
equipados
para defender urn
territ6rio
inteiro . Encher a area de
colon
as
arabes (au berberes, em AI-Andalus) era
impos
sivel em
virtude do pequeno
tamanh
o da populac;ao dos conquistadores. 0
que eles poderiam fazer e fizeram com grande eficacia foi criar
uma polftica de governo dos povos conquistados, da qual muitos
elementos
seriam
imitados
pelos espanh6is em sua conquista do
Novo Mundo.
Desde os seus primeiros anos 0 islamismo
nao
separava 0 do-
minio politico do religioso. 0 governo e a religiao sao dais irmaos,
nenhum
pode
se
sustentar
se
m
0
o
utro l'
era urn
ditado
popular
do
segundo
au
terceiro seculo do Imperio Islamico
. Entretanto
, as
muc;ulmanos logo passaram a discordar
entre
si a respeito dos de
talhes dessa relac;ao. Ap6s uma dispu ta pela sucessao teol6gica e
polftica semelhante que dividiu a cristandade romana da oriental,
houve uma divergencia entre
0
islamismo xiita e
0
sunita. A Es-
panha
que
ficava no extremo ocidental
do
mundo islamico
per
maneceu su nita.
Substanciais diferenc;as logo surgiram
tambem dentro do
is
lamismo sunita sabre questaes de jurisprudencia fiqil) , sabre a
melhor forma de
governar
uma comunidade isla mica . Cerca de
2
au
3 anos ap6s a morte do Profeta, surgiram quatro tradi
C;DeS diferentes, que receberam
as
names de seus
fu
ndadores: I)ana
fita (,>.bu :Ianafi, shafi ' ita (Idris al-Shafi' i, I)anbalita (AI)mad
b.
:Ianbal), malikita (Maliki
b.
Anas
.
Cada uma das escolas e atualmente dominante em diferentes
partes do mund o isiamico
tendo
caracterfsticas
distintas. Os bana
fitas
sao
os unicos
que
permitem que Alcorao
seja
recitado numa
Ifngua diferente do arabe; dominam na India e em paises ante-
riormente integrantes do
Imperi
o Turco-O tomano. Os shafi1itas
seguem urn procedimento dedutivo sistematico das regras legais e
C pyr I i Tl . ;
-
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CERIM6NIAS DE
POSSE
107
dominam
no Egito, na Siria, no sui da Arab
ia
e na Indonesia . a s
banbalitas , no inicio influentes no Iraque, no Egito, na Siria e na
Palest ina, estao
at
ualment
e confinados a Whahhabi, no ce
ntr
o da
Arabia
.
Ma
s
por volta do seculo
IX
a maior parte da Espanha
mw;ulmana havia a b r a ~ a d
o
a mais antiga escola de jurisprudencia
baseada nos ensinamentos de Malik (morto
em
Medina, 795), fa
moso pe la enfase que confere as dimensoes rituais e religiosas da
vida legal.
13
Alem de ser uma a d i ~ a o diversa que regulava 0 governo de
uma
comunidade
de
crente
s
cada esco
la
desenvolveu procedi
ment
os
legais levemente diferentes para iniciar uma jihad. A ju
ris
prudencia
malikita foi e e conhecida por duas caracteristicas
dis tintas ne
ssa
area: a enfase num ritual p
ara
iniciar
uma
jihad
(uma c o n v o c a ~ a o , ou guerra santa) e seu
tr
a
tament
o liberal dos
povos conquistados.
s
es
panh
6is adap tariam ambas as carac
teristicas ao seu modo de governar 0 Novo
Mund
o. Para ilustrar
os
elementos
caracterist
icamente
m
al
ikitas do processo de inicio
de uma
jihad
e do
tratament
o dos povos conquistados, utilizarei
os
trabalhos de Ibn Rushd, grande estudioso andaluz da t r a d i ~ a o
malikita, nascido
no
secu lo
XII
e co nhecido no ocidente co mo
Averr6is.
Ibn Rushd (Averr6is) resumiu a jurisprudencia malikita sobre
a jihad em
seu manual juridico
Bid
yat al
M/ldjtaltid
. a primeiro
passo critico que urn
Ifder
deve dar para
c o m e ~
uma
jihad
e enviar
urn
men
sag
eiro ao inimigo comunicando suas intenc;6es
1S
Para
algumas escolas juridicas islamicas, a mera existencia da
fe
no isla
mi
smo e
uma i n t i m ~ o previa
numa data
bern an
terior consti-
tufam uma mensagem suficiente para os nao-crentes. Mas a escola
malikita de j
urisprudencia prestav
a
atenc;ao
muita
maior ao ritual
que
as autcas escolas
6
Partanto as regras islamicas na Peninsula
Iberica insistiam
rig
orosamente
no
envio oficial de uma
n
o c a ~ a o
- que algumas o
utras
esco
la
s as vezes chamavam de dupla inti
m ~ o . Como no caso do Requerimento tratava-se de urn ritual
publico, dirigindo-se de uma forma a
lt
amente est il izada aos nao
crente
s.
Co
nforme Ave
6is
urn inimigo deve tee ouvido a anunciac;ao
da nova religiao (0 islamismo) de acordo com a i n j u n
~ o
do
Al
co-
-
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lO
B PATRIC
IA
SEED
rao, 17:
5
:
Nao
estarnos acosturnados a
punir
antes
de enviar
urn
mensageiro.
18
A pessoa enviada para anunciar a nova religiao ou
para punir
os
nao-crentes)
se
chamava mensageiro;
0
termo arabe
util izado por Averr6is e as/II.
o
uso do termo
lIIellsagei o
para a
pessoa
que envia uma decla-
r
a
-
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CERIMONIAS DE POSSE 109
Na tradi,ao islamica iberica, 0 prop6sito da intima,ao era
convidar a outra pessoa a aceitar 0 islamismo. De acordo com a
tradi,ao islamica,
0
profeta Maome escreveria para aqueles contra
quem ele estava iniciando uma jihad Agora entao, convido-os
ao
islamismo a rendi,ao a
A a
s
A palavra islii significa, em si mes
rna, 'submissao (se ndo algumas vezes traduzida por rendi,ao).
A submissao significa urn
rec
onhecimento de superioridade. De
acordo com a trad i,ao islamica, Maome usava a palavra as lim
( submeter-se ao islamismo ) em suas intima,Oe
s.
o
cerne do Requerimento tambern era uma
intima,ao
ao
re
conhecimento de uma religiao superior. 0 documento igualmente
insistia na submissao : Eu imploro-Ihes e exijo
[q
ue] ... reco
nhec;am a Igreja como senhora suprema do u n i v e r s ~ Esse signi
ficado e virtualmente identico ao que os
mu,ulmanos
entendiam
por render-se a Ala , ou seja,
re
conhecer a superioridade do is
lamismo.
Nem no seio do islamismo nem no do catolicismo
se
supunha
que a conversao acontecesse imediatamente muito menos aponta
da espada.
6
0 objetivo da jihad
...
nao era a luta em si, mas a
proselitiza,iio dos nao-cren tes', escreve Majid Khadduri . Num
verskulo do A1ccrao, recitado pelos mu,ulmanos depois das preces
de sexta-feira, essa postura era explicita : Na o ha compulsao na
religiao'. 8 Num outro versfculo (A1co
ra
o, 49:14), 0 Iivro aponta
que Deus nao quer profiss6es de
fe
instantaneas,
ja
que nao
se
obtem a fe por coer,ao. Assim, uma profissao de
fe
imediata da
parte dos nao-crentes nao teria credito. Portanto, Maome dizia que
de
sejava
em
primeiro
lugar
a submissao
0
reconhecimento da
superioridade da religiao da verdade
(0
islamism
o)
.
'Os
arabes do
deserto dizem: N6s acreditamos .
[Voces]
Dizem: Voces nao tern
fe ; mas voces (apenas) dizem: Submetemos nossas vontades a
Ala , pois a
Fe
ainda nao entrou em seus cora,6es
' . ' ' '
Aqueles que
se rendiam aos m u ~ u m n o s numa jihad deveriam
assim
rec
onhe
cer a superioridade do islamismo. A cren,a viria mais tarde.
A pr6pria Ifngua arabe faz uma
distin,ao
entre as crentes e
aqueles que apenas se submeteram. Muslim
sig
nifica aquele que se
submete, mu mil significa aquele que cre. Os seguidores da Ee isla
mica referem-se
uns aos outros como crentes
mu mill,
e
na
o como
-
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110 PATRICIA S
EED
muslim
aqueles que se submeteram . Esse prindpio islamico da
convers o nao-for
-
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CERIM6NIAS
DE POSSE
para iniciar a a ~ a o nas guerras classicas gregas e romanas come
~ v m com uma d e c l a r a ~ a o da i n t e n ~ a o de atacar e com a exi
gencia de
r e n d i ~ a o
Os
termos da
c a p i t u l a ~ a o
entretanto,
nunca
tomavam a
forma
da /(submissao' a upe oridade
de
uma religiao
estranha. As formas gregas e romanas de guerra exigiam a subordi
n a ~ a o
a f o r ~ a s politicas e militares supe
ri
ores, mas nao
0
reconhe
cimento
de
uma fe com
valor
s
uperi
or.3
Embora os governantes m u ~ u l m n o s freqiientemente exigis
sem varias formas de comportamento publico deferente, incluindo
vestes especiais
0
Alco
ra
o em
si
exigia apenas uma tmica forma
especial de submissao.
33
Reconhecer a superioridade do islamismo
significava concretamente uma h u m i l h ~ o ritual. Para mostrar
que tinham sido humilhados por uma conquista islamica, os derro
tados deviam pagar uma taxa anual
chamadajizya.
Seu prop6sito
esta explicitamente indicado
no
A1corao. 0 versfcu lo 9:29 diz:
ULute contra
aqueles que na
o ac
reditam
em Ala
... nem re
conhecem
a religiao da verdade
...
ate que paguem a
jlzya
[i
mpo
sto
per
capi
ta
)
com voluntaria submissao e se sintam dominados
[d
iminufdos).
o
prop
6si
to
do
imposto per
capi
Ta (jizya)
era assim
uma
forma
pessoal de h u m i l h ~ o ritual dirigida aos derrotados par urn isla
mismo superior. A expressao arabe \fIa lllIm ii.glzitlr/fl
(sen
ti rem-se
dominados) vern da raiz ,-gir
-r
(pequeno, diminufdo ou humilha
dO)36 Como seu objeto era a h u m i l h a ~ a o pessoal, tratava-se por
tanto
de
uma
taxa pessoal
7
0 imposto
nao
incidia sob
re
a terra,
sobre a propriedade ou sobre mercadarias. Era exigido daqueles que
se
sub
metiam mas se recu savam a tornar-se mw;ulmanos.
o pagamento da jizya criava urn motive econ6mico para que
os Estados islamicos
mio ob
rigassem as pessoas a uma conversao
imediata
ja
que, co m a conversao
elas
nao se
riam mais
ob
rigadas
ao pagamento desse imposto
per
capiTa. ' Assim, os governantes
islamicos nao desejavam convers6es
rap
idas,
par
m tiv s
econa
micos e tambem religiosos
( na
o ha compulsao na religiao
).
Na maior ia das
escolas islamicas
de
jurisprudenci
a,
a iizy era
coletada apenas dos que acred itavam nas religioes monotefstas -
judeu s, cristaos zoroastristas - frequentemente chamados coleti
vamente
de /(povos do livre
. Na
PenInsula
Iberica os conquista
dores m u ~ u m n o s impunham a jizya a cristaos e judeus.
9
Mas a
-
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112 PATRICIA SEED
escola mi likita era diferente de todas essas escolas de jurispruden
cia. Por ser mais tolerante com os nao
-c
rentes ou rna is interessada
na renda provinda da
j z
ya
a l
ei
miilikita permitia que adeptos de
qualquer
fe
nao-mu,ulmana que se s
ubmete
ssem ao islamismo
pagassem
0 tribute
Assim,
qllaisqller
infieis conquistados pelos
mu,ulman
os
numa
jihad poderiam ser obrigados a pagar urn im
posto per
capita.
o que distinguiu historicamente a
jizya
da forma romana de
tribute
foi
que ela era uma taxa que incidia exclusivamente sobre
pessoas, e homens adultos. 0 tributoromano
era
,
as
vezes,
uma
forma de emprestimo alem de ser uma taxa . Poderia se r cobrado
sobre terras, de proprietarios de terra ou de escravos e tambem do
povo. Mesmo
quando
incidia sobre os individuos, a
quantia
era
determinada com base nos bens do grupo e nao dependia - como
era 0 caso da jizya islamica - do numero de homens em idade de
guerrear:
-
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CERIMON
IA
S DE POSSE 113
eia
e como
tais,
A dev
em
nos
pagar
nossos
tribut
os e
direi
t
os , opi
ni6es que seriam repetidas inumeras vezes nas i n t r u ~ 6 e para 0
governo do Novo Mundo
.
Embora Isabel afi rm asse
que os
(ndios deve
riam
pagar da
me
sma forma como 'somos pagos por nossos suditos
re
sidentes em
nossos reinados e
se nh
o
ri
os ,
ela na
o suge
riu
a
me
srna t
axa. En
quan to os espanh6is pagavam taxas indiretas
a
Coroa, os nativos
do Novo
Mund
o deveriam pagar taxas dire tas
1m c
p t
,
' tri bu to,
cada urn, t
odo ano
' , a f6rm ula cos
tumeira
d
os pagamentos
de
tr
ibu to por mUl;ulman os e ju
de
us aos governantes c
ri
s
ta
os ins
pirada na iizya.
Em 151
8
a Coroa definiu pela primeira vez uma estrutu ra
especffica por idade e sexo para aqueles que deveriam pagar trib
uto
.
Cada ho
mem
(ndio casado,
adma
de v
int
e anos, deveria pagar uma
taxa individual de tres pesos por ano, os homens
sol
teiros pagariam
urn pe
SO 4
STaxas
se
melh
an
t
es
com base na ida
de
aproximada e no
sexo seriam estabelecidas para
uma
coleta inicial de tri b
ut
os
em
cada regiao do Novo
Mund
o submetida pelos espanh6is.
Como
a
id
ade em que os homens eram convocados a guerrear (ou em que
se
tornavam economicamente produtivos) dependia da tribo, a idade
em que os homens pagavam
tributo
pela primeira vez variava de
acordo
com
a regiao, exatamente
como
havia
va
riado na coleta da
iizya.
Tambem como a
iizl a,
os pagamentos de tributos
exdufam
homen
s deficientes ou fnlgeis derna
is
para guerrear.
'
Assim
como
a
iizya
e a forma c
ri
sta dela derivada,
0
tributo, a
taxa cobrada dos (ndios era daramente estabelecida em todo 0 im-
peri
o como
uma
tax a pessoal. 0 vice-r
ei
mexi
ca
no Martin
Enri
qu
ez
obse rvou, em
1575
que
0 tribut
o era '
pe
ssoal e nao incidia
sob re
as
propri
edades '
.47Juan
So
l6
rzano,
eminente auto
ridade em
polftica espanhola do secu lo XVII , observou que 0 ' tributo nao
incide sob
re
as terras, possess6es ou propriedades dos (ndios 8Em
vez
disso, 0 pagamento
do
tributo e
dividido
igual
mente
por
c a b e ~ a ' .4 9
Diferentemente do que acontecia co m as
taxa
s pagas po r
outros espanh6is, os monarcas cat6licos espanh6is
tam
bern faziam
de forma explfcita e repetidamente a rela
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
14/59
114 PATRICIA SEED
-
devi m pagar 0
tributo
: ' Indios que foram pacificados e forc;ados a
nos obedecer ... pagam
tributo
.' Dedarava-se que os pagamentos
eram
e
m
rec
onhecimento
de
domini
o
ou
su
perioridade
n
,51Os
conquistadores freqUentemente exigiam que a Coroa nao permi
ti
sse que ninguem, exceto
0
conquistador, recebesse
0
tributo,
52
0
tribute nao simbolizava simplesmente a vassa lagem mas 0
subju-
go,
e
,
como conseq(uncia, a
derrota
militar.
o pagamento do tributo era freqUentemente racionalizado,
assim como 0 da jizya havia sido, em termos de uma contribu ic;ao
d
os
povos indigenas para sua
pr
6pria defesa militar.
Sol rzano
-
escreveu:
li E justa e ne cessario que os
me
smos
indi
os contribuam
com algo ... para ajudar nas despesas de sua defesa e protec;ao na
paz e
na guerra
n
5
Finalmente, 0 modo como e
ssa
taxa era coletada
dos Usud itos e vassalos' do ovo Mundo se assemelhava muito
ao
modo como as
receitas provinda
s da iizy (e suas contrapartidas
cri
sta
s)
tinham si
do
coletadas
na
Espanha, S Como aco
nt ecera
com
a
jizya
os lideres das comunidades conquistadas eram responsaveis
pela coleta desse
tributo
e por sua remessa aos espanh6is, fossem
ele s wcol1twderos ou ofic
iai
s da
Coroa,
55
Embora a Coroa nunca tenha conseguido arrecadar todos esses
pagamentos para si pr6pria, as obrigac;6es tributarias constituiam
a base economica do dominio colonial espanhol sob re os povos
indigenas do ovo Mundo 56 Essa taxa era a caracterfs
tica
econo
mica
central
e singular do dominio espanhol sobre os
ovos
do
Novo Mundo. Nenhum outro poder colonial imp6s uma taxa
per
capita
aos
pavos nativos, muito menos
uma taxa que
fosse inicial
mente
cobrada dos homens
em
idade de guerrear.
Ate mesmo uma modificac;ao posterior da coleta de tributos no
ovo Mundo seguiu um precedente medieval iberico. Sob 0 domi
nio cristao, as comunidades conquistadas que
fo
ssem ricas ge ral
mente os judeus) deviam pagar 0
tributo
em dinheiro, mas as mais
pobres (geralmente os muc;ulmanos) pagavam com seu trabalho.
No ovo Mundo, 0 tributo em dinheiro ou em especie era comu
tado por
uma
ob
rigac;ao
de trabalho nas areas mais pobre
s.
A base fiscal do Estado espanhol - seu i
nteresse
economico n
os
povos indigenas - tinha como objetivo a preservac;ao deste
s, ja
que
eles eram uma Fonte de renda . Os Estados islamicos, entretanto,
C:>pyr
t tTl
ter
I
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
15/59
CERIMON
I
AS
DE
POSSE
115
nao haviam explicitamente contado
0
numero de pagantes da iizya.
Os
o
fi
ciais espanh6is e ate mesmo os conquistadores 0 fizeram
.
Contagens do
numero
de tributarios
com
0
prop6sito de informar
a Coroa f
oram
propostas pela primeira vez por Carlos V
em
1525,
e realmente implementadas em toda a America no inkio da decada
de 1530. 0 Mexico realizou a sua primeira pesquisa por ordem do
Estado
em
1531-1532; Yucatan fez a sua primeira
em
1549, assim
como 0 Peru
.
Embora essas pesquisas possam tambem ter sido
utilizadas para rastrear 0 numero de indios do Novo Mundo em
idade de guerrear,
sua
f u n ~ a o
principal parece ter sido
con
tar
0
numero de homens e, assim, identificar e/ou fixar 0 nlvel de renda
para a Coroa " Esses recenseamentos dos pagadores de
tributos
foram repetid
os
desde essa epoca
numa
base continua', embora
irregular (em 1528, 1536, 1563 e 1596), criando assim pesquisas
estatais sobre as popula,6es das Americas, como resultado de inte
resses economicos e talvez originalmente militares) de urn Estado
colonial.
6
A grande epidemia do seculo
XVI
produziu urn declfnio dras
t ico das receitas reais provindas dos povos indfgenas. Isso levou a
uma
a m p l i a ~ a o das
categorias
de tributarios da
jizya do
Novo
Mundo, sendo inclufdas pessoas que tradicionalmente nunca
tinham sido submetidas as suas exigencias. Mulheres e
ate
mesmo
os negros
foram
acrescentados
s
listas
de
tributos.
61
Alem disso
as
mortes
dos povos indfgenas causadas pela
doen,a
foram lamen
tadas - por Carlos V como urn desservi,o a ele pr6prio - parcial
mente
por se tratar de
interesses
oo
mi
cos
que estavam sendo pre
judicados pela epidemia que devastou a
p o p u l a ~ a o
das Americas no
seculo
XVI.
62
Embora a jizya
ou 0
tributo objetivassem urn
tipo
de
humi
a ~ a o a em de uma obriga,ao economica, seu pagamento tradi
cionalmente originava
c o m p e n s a ~ e s
polfticas. Desde as primeiras
conquistas islamicas as comunidades que reconheciam a superio
ridade do islamismo mediante 0
pagamento
do
imposto per
capita
eram chamadas comunidades dltimmi altl al-dltimma .6 De acordo
com a E ,ycl
o
pae.dia or
s/am,
una cenquista de
parses
nao-muc;ul
manes
por
muc;ulmanos
a
populac;ao que nao
abrac;a
e islamisme
e que nao e escravizada garante-se a vida, a liberdade e, num senti-
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
16/59
6 PATRICLA
SEED
do modi ficado, a propriedade' 64 Essas garantias eram as 'obriga
\oes
17
ou
co
mpromis
sos
dos muc;ulmanos
para
com os
dhimmis
Outros
privilegios polIticos garantidos aos
dlrimmi
s
inclulam a di
reito de conservar
suas
pr6prias formas de governo, eleger seu s
Ifderes e t ransmitir a propriedade
entre
si de acordo com as tradi
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
17/59
C
ERIM6NIAS
DE PO
SS
E 117
individual e coletiva de suas propriedades, tanto de suas terras
quanto de seus objetos
pe
ssoais. Essas pro
te
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
18/59
PATRICIA SEED
sub
meteram
durante as
conquistas
islamicas - geralmente os
povos agricolas e se
dent
a
ri
os do Ira da Siria e da Espanha - torna
ram-se
dhimmis
e Ihes foi permitido permanecer perto das planta
c;6es
que cultivavam ou dos produtos que fabricavam. Embera as
razOes para se protegerem grandes numeros de pavos sedentarios e
agrico
la
s possam ter s
id
o tanto pragmaticas quanto ideol6gica
s
0
resu ltado fina l
foi
0 mesm
o:
a protec;ao inicial dos pavos agricul
to res conquistados e tambern de suas formas de produc;ao. Grandes
populac;Oes agrlcolas sedentarias das Americas tais como os impe
ri
os
nahua
e inca foram
autorizada
s a permanecer
em
suas pr6-
prias
terras
a con
se
rvar
forma
s indigenas
de
governo e a
tr
ansmitir
a propriedade de acordo com suas pr6prias regra
s.
Ir
onica
mente
0
tratamento dispensado pelos espanh6is aos
povos conquistados do Novo
Mund
o repetiu a antiga designac;ao
isla
mica dos trl
lt mm tl de
fo
rma
muito mais consistente do que
os
reis cristaos haviam feito na peninsula. Ouando os governantes
c
ri
s
ta
os desejavam
obter
as terras e as fo
rma
s de produc;ao mu
~ u l m a n a s expul
sava
m os
m u ~ u l m a n
s de
seu
territ6 o. Apenas
quand
o desejavam manter os sistemas
ag ric
o
la
s e out
ros
sistemas
funcionando e que eles concediam as comunidades islamicas privi
logios de
aii
amas Incapazes de
encher
0 Novo
Mund
o com co-
10nos as espanh6is
na
o tentaram inicialmente
re
tirar as povos
indigenas agricolas de suas
terra
s como fizeram os ing
le ses.
Submetend
o-se a religiao crista e a sua representante a Coroa de
Castela
os nativos do
minad
os
pel
os espanh6is tiveram s
uas
terras
e propriedades salvagua rdada
s.
s pavos indigenas das Americas
tornaram-se os
dilimmis
do Novo
Mundo.
Tanto na Espanha islamica quanto no Novo Mundo cat6lico
a autonomia ga rantida as
comu
n idades submetidas
mediante
a
rendic;ao inevitavelmente era corroida pela pressao do pader domi
nan
te
.
n
Ma s os compromissos iniciais para com os pavos conquis
tados - protec;ao da propriedade e das pessoas e urn certo grau de
autonomia palitica - eram
se
melhante
s.
Nos dais sistema
s
esses
povos eram
chamados
de protegidos
parque
os cativos nao eram
vendidos ap6s
um
a decrota militar. A
ss
im
uma
das principais
pro
teC;5es
era contra a pratica comum de escravizar os inimigos
derrotados.
78
C>pyngll i
Tl
. . ;
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
19/59
CERIM6N
IAS DE
POSSE 9
Nas jurisprudencias
/dditlt
e islamica, nenhuma conseqiiencia
especffica (alem da guerra) era mencionada se urn povo se recu
sasse a ubmissao. ' Embora a escravidao fosse urn destino comum
dos derrotados nos primeiros anos da expansao islamica, esse
aspecto logo se tornou insignificante .
s
Na Peninsula Iberica,
entretanto durante
a era medieval, os espa nh6is cristaos e
mu
~ u l m a n o s
habitualmente
escravizavam-se un s aos o
utr
os como
prisioneiros de guerra 0 Requerimento espanhol era espedfico
em delinear as alternativas
a
c e i t a ~ a
o
da
c o n d i ~ a o
de
dhimmi
Se
os nativos se recusassem a atender a i n t i m a ~ a o entao os espa
nh6is iriam '
tomar
suas mulheres e seus filhos, t
OJnando
-os es
cravos ... e seus pertences, fazendo-Ihes todo 0 mal e causando
Ihes todos os danos que puder'
Os
indios nomades que
se
recu
savam asubmissao e que
em vez
disso engajavam-se
em
persis
tentes campanhas de guerrilha nas fronteiras eram freqiientemente
escravizados.
No final do Requerimento, aparece uma
i s e n ~ a o
de responsabi
lidade estranhamente formulada. Na i n t i m a ~ a o cat6lica, 0 mensa
geiro anuncia: ' E declaro solenemente que a culpa pelas mortes e
danos sofridos por esse [ataque) sera sua, e nao de Sua Majestade,
nem minha, nem dos cavalheiros que comigo vie ram' Na pratica
de intimar aconversao que, conforme os relatos,
0
pr6prio Maome
seguia, os lideres de
out
ras
n a ~ 6 e
eram informados de que,
se
rejei
tassem 0
chamado
para 0 islamismo,
entao
qualquer dano poste
riormente causado a seus suditos seria de sua
re
spo nsabilidade.
Ap6s
0
convite aconversao, os lideres n a o m u ~ u l m a n o s deviam ser
advertidos . liMas se voces
re
jeitarem esse
co
nvite ao islamismo
serao responsaveis pelo desencaminhamento do povo.' Em ou tras
pal av
ra
s a recusa a aceitar 0 islamismo/ catolicismo era culpa n a ~
do mensagei ro de Deus/Ala , mas sim daqueles que
se
recusavam a
aceita-Io e ao seu dominio.
o
teor basico e freqiientemente mal-interpretado do Reque
rimento e
ra
uma
i n t i m a ~ a o
de
i n s p i r a ~ a o
isiamica asubmissao
a uma religiao superior permitindo que seus agentes fizessem a
p r o s e l i t i z a ~ a o ou enfrentando urn ataque militar. omo essa con
duta
nao
se
encaixava
no
perfil c1assico de guerra justa segundo a
t r a d i ~ a o crista, sempre levava a uma consideravel incompreensao
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
20/59
2 PATRICIA
SEED
por
parte dos
observadores cat6licos tradicionais, t
an
to de
ntr
o
quan to fora de Espa
nha
.
o
Requerimento era urn ritual, urn protacolo para a conquista.
A questao de saber se os conquis tadores
espanh6is
acreditavam
nele ou
0
julgavam pessoalmente convincente era irrelevan
te
. 0
que importava era que os lideres polft icos e religiosos de sua so
ciedade exigiam a sua implementa ao. Os rituais nao criam auto
mati
camente a
comunidade
ou significam urn estado de cren
a
inter
ior. Os
rituais
sao
exigencias e
nes se ca
so protocolos pollticos
fo
rm
ais
que
tinham
de ser segui
dos
para
legitim
ar
0
domini
c
politico espa
nh
ol sob re os povos indfgenas do Novo
Mund
o. Eles
er
am
persuasivos para os lideres politicos da Espa
nha
e portanto
tinham de ser executados por conquistadores que dese jassem urn
reconhecimento oficia ' Mas alem do carater fu ndamen t
al
de exi
gencia - reco
nh
ecer a
su
pe o dade rel igiosa ou
so fr
er urn ata
qu
e
belico - , havia
rn
a
is
urn
elemento
de inspira,ao islamica.
Nas discuss6es com c
ri
s
ta
os e judeus da Espa
nha
medieval, os
r n u ~ u l r n n o s frequentemente bu scavarn dernon s
trar
que as cren
~ s islamicas simplesmente continuavam as c
r e n
~ s c stas e
jud
ai
cas
BS
Para mostrar que 0 conceito islamico de jih d
si
mplesmente
continu
ava
as
tradic;
6es c stas e judaicas concernentes aguerra os
mu ulmanos da Idade Media com freqUencia
citavam
0
text
o do
Deute
ro nomio,
uma
pratica que co
nt
i
nu
a
ate
os dias de hoje.
86
Co
mp
os to co mo se tivesse sido falado p
or
Mo ises,
0
text
o do
Deuteron6mio era be
rn
conhecido dos mu ulmanos, ja que Moises
e urn dos
seus
cinco principais profetas (Abraao, Noe, Moises,
C
ri
sto), juntamente com Maome.
A pa ssagem bfblica que os mu ulmanos consideravam (e ainda
consideram) melhor expressar a exigencia islamica de submissao ou
de guerra esta no
Deute
r
on6mio
20: 10
-16
que descreve a captura
de determinadas cidades fortificada
s
realizada pelo povo judeu a
caminho da Terra Prometida.
87
0 texto, numa tradu, ao do hebrai
co modemo, e
0
seg
uinte
:
Quando te aproximares
de uma
cidade para com
ba
ter cont ra
ela primeiramente the ofereceras a paz . E
devera
acontecer se ela a
aceita re
te
abriras ponas
que
todo 0
povo que nela
houver
te
pagara
C pyr I i Tl . . ;
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
21/59
CERIMON
IAS
DE
POSSE 121
urn
tribut
o,
ficando s
ujeit
o a t
i.
E
se
nao aceitar a
paz, mas
o m e ~
a guerra cont
r
ti
en
tao
deve
s go lpear todos os
var6es
que ne
la
ha
pa
ssa
nd
o-os
ao
fi
o
da
espada
mas
as
mulheres
e
os pequenos
e
ate
mesmo
0 gado,
e tudo
0 que
houver na
cidade, ate
mesmo
os
desjX j os,
deves capturar para
ti
je deves co me ros
despojos
de teus inimigos
que
Senhor
Deus
te
houverdado. Fa
r
s
as
s
im
a todas as cid
ades
que
estao
muito lon
ge de
ti .... Po
rem
quanto aquelas
cidades desses
povos
que Senhor teu Deus
te
da
co
mo
h
n ~ a nao deves deixar vivo
nenhum
se
rque respira
ma
s deves
literalmente
des
truir
todos e1es.
88
Embora os
int
erp retes mu
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
22/59
1 PATRICIA
SEED
Fora do
mundo
iberico,
os
teologos e
estudiosos
do
direito
canonico nao utilizavam 0 Antigo
Testamento
para jus tificar os
metodos
ou objet ivos cristaos de guerra.
Os
cristaos cos
tuma
vam
amalgamar
0
ovo Testamento com os textos romanos ciassicos
para produzir justificativas pa ra a guerra
ce ntrad
as na pro
te< ao ' ,
na defesa e na vingan
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
23/59
CE
RIM NIA
S DE
POSSE
123
quem eles devem obedecer
na
c o n d i ~ o
de curador da
Igreja . E, assim
eles
sao
ob rigados
a
admitir
que
os
pregadores
de nossa
f
Ihes expli
.
quem
os
misterios
[da
fe
em
detalhes
. E
se
ap6s
urn
limite prudente
de tempo, eles decidirem
nao
fazel0
1
eles
podem
ser invadidos e
con
-
quistados
reduzidos peJa
f o r ~
da
s armas
ter suas possess6es
to
madas e os seus submetidos a
escravidao,
porque a
guerra por
parte
dos cristaos
estara
justificada .
98
Essa singular n t e r p r e t ~ o iberica do Deuteron6mio resultou,
muito provavelmente, da
famUi
aridade.
as
cristaos ibericos foram
os unicos europeus ocidentais
que se
expuseram a
urna
extensiva
p r o
s e
l i t i z ~ o
isl. lmica,
que havia buscado convencer
os
cristaos
de
que suas c r e n ~ sobre a guerra eram c o n t i n u ~ o das c r e n ~ s is-
iarnica s. 1I 0s
autores islamicos pediam a seus vizinhos cristaos e
judeus informa,6es e discutiam com eles questaes
reli
giosas ...
Confiavam muito em contatas orais ,
para
0 conhecimento
da
Biblia crista e da To
ra
judaica.
Ao
longo dos seculos, os mu,ul
manos haviam apresentado aos
cris
taos sua interpretat;ao dessa
pa ssagem do Deuteron6mio como a fonte de
urn
estilo ritual de
deciara,ao
de
guerra. Portanto, ao adotarem essas frases para justi
ficar
a guerra espanhola
no
Novo Mundo, Palacios Rubios e Matias
de la Paz nao estavam conscientemente invocando
urn
precedente
islamico. Em vez disso estavam simplesmente usando urn en ten
dimento familiar - amplamente partilhado
po
r seus companheiros
espanh6is - de urn texto do Antigo Testamento cu
jas
origens
eles,
como muitos
em
s
ua
sociedade
nao
conh eciam. Mas havia outros
na Espanha que estavam conscientes desse legado.
A origem islamica das estranhas caracteristicas cen
trai
s
do
Requerimento foi observada
por
Bartolome de Las Casas, frei domi
nicano do seculo XVI. Repetidas vezes ele insistiu que as guerras
de
conquista empreendidas pelos espanh6is tinham
i n s p i r ~ o
isla
mica. Aqueles que guerreiam contra infieis [nao-crentes] imitam
Maome
n
, declarava
ele
.
loo
E
ssas
guerras eram inspiradas nos pro-
cedimentos maometanos que nosso povo espanhol tern adotado
desde que [os mu,ulmanos] entraram nestas terras w, Seu famoso
. ataque ao Requerimento, em sua His oria de las
Illdias
(na o publi
cada em vida) aponta
na
d i r e ~ o da in sp
ira ao
islamica do docu-
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
24/59
24 PATRICIA SEED
mento. Logo no infcio do comentario sobre 0
Requerimento
, e1e
indaga 0 que aconteceria se II moures ou turces viessem a fazer 0
mesmo requerimento
...
Se
ra que os espanh6is efetivamente deram
prova supe
ri
or por testemunhas e uma evidencia mais verdadei
ra
daquilo que declararam
em
seu requerimen to ... do que os mouros
demonstraram de
se
u Maome
? .I02
Apesar de sua u p o
s i ~ o
erronea
de que Maome fosse urn Deus, como Cristo, e nao urn profeta, Las
Casas percebeu que os principios do Requerimento eram islamicos.
De fato, muito do polemico
ataque
feito por
Las
Casas aos meios
militares de conquista pode ser entendido como urn ataque ao que
ele entendia serem
met
odos islamicos de conquista e de j u s t i i
~ o
da conquista do ovo
Mund
o. 103
La s
asas
tambem indicou
ou
tras
dime
nsoes incomuns do
Requerimento que co nsiderou estranhas num documento cristao:
a omissao da trindade e a enfase singular sobre 0 papel de Sao
Pe
dro em vez de Cristo.
1 4
No en tanto, essas caracterfsticas tambem
deixavam
tran
spa
rec
er elementos de sua origem islamica. 0 Reque
rimento nao mencionava a trindade - tres pessoas em urn unico
Deus - e, de forma igualmente estranha, nao fazia m e n ~ o alguma
a Cristo, a segunda pessoa da trindade.
Mas
se sua origem fosse
isiamica essa omissao nao se ria surpreendente. 0 islamismo tern
urn Linko
eus
unita
ri
o e se opee
forte mente as
doutrinas trini-
taria s. 0 lugar proeminente conferido a Sao Pedro e ao papa em
r e l ~ o
a
Igreja pode
muito
bern ter parecido a
Las
Casas semel han
te ao papel do califa como sucessor da autoridade do profe ta .'
o
Requerimento nao era a tipica d e c l r ~ o de gue
rr
a ociden
tal
eu
ca t6lica nem a
i n t i m ~ o
islamica ortodoxa para a
r e n d i ~ o
a l mas uma fo
rma
nova hibrida, que co
ntinha
combinados
num Linico enunciado dois estilos dois sistemas de
c r e n ~
e
aco
rd
o com Mikhail Bakhtin, urn hibrido e
urn
enunciado
que perte
n
ce, por
seus
forrnadores grarnaticais
[sinta-
ticos} e co
rnposi
cionais, a
urn
unico falante ma s que
na
realidade
co n tern
combi
na
dos
ern
si dois enunciados
...
Na o existe limite for-
mal
entre esses enunciados
.. ,
A
me
s
rna
palavra
pertence
si
multa-
neamente a dua s lfngu as, dais sistemas de cr
enc,;as que se
inter
sec tam
numa ca ns
tru c ;ao
hfbrida ,l06
C>pyr I
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
25/59
CER ONIAS DE POSSE 125
Essas duas consciencias lingiiisticas diferentes, separadas uma
da
outra por uma epoca,
pela
diferenciac;ao social, ou por algum
outro fator
...
[to
rn
am-se
1
nconscientemente
misturadas
107
Como muitos
es
panh6is, os inventores, os defensores e os
usuarios do Requerimento nao copiaram deliberadamente modelos
islamicos. Como escreve Montgomery Watt :
Poucos entre as espanh6is
do
norte au entre outros europeus
ocidentais perceberam a origem isIamica de muitos elementos
dessa
cultura
, e partamo
na
o tinham dificuldade
em
combinar
a
c e i t ~ o
da
cultura com
a opasir;ao a
eligiao
.
Desse mexi
a, a Espanha
ganhou
uma
cultura que tinha impo
rt
antes elementos arabes, mesmo que
tenha depois cada vez mais afirmado sua identidade cat6lica e ne -
gada
sua dfvida para
com
as ~ r b e s
l o e
Como inimigos politicos,
os
espanh6is criaram urn discurso
politico
para
si mesmos
em
que
0
termo
muc;ulmand'
funcionava
como inverso de cristao . Urn recente
crftico
das
cronicas arabes
e cristas observou que
as
imagens e representac;6es do cristianismo
e do islamismo nas cronicas espanholas de reconquista eram
fre-
quentemente imagens invertidas, como uma projec;ao no espelho. l9
Como os inimigos, ate me smo os que se espelham, negam a
legitimidade urn do outro,
os
costumes tradicionais islamicos nao
podiam ser reconhecidos como modele
pela
autoridade polftica
espanhola. Reconhecer
as
influencias islamicas sob
re as
praticas
polfticas espanholas significaria desafiar a
sua
pr6pria legitimidade,
como fez
Las
Casas. Portanto, os antecedentes e os costumes
isla
micos nao podiam ser conscientemente citados como oficiais no
seculo XVI.
Ma
s
por
meio de formas hibridas e aparentemente cris-
ta s como a Requerimento, express6es islamicas nao identificadas
puderam entrar no discurso dominante.
no
Embora tenha side concebido na epoca em que as unicas
possess6es espanholas eram urn punhado de
i1has
no Caribe e
alguns pequenos assentamentos litoraneos na America do Sui, 0
Requerimento acabou
se
ndo urn meio duradouro
de
criac;ao
de
autoridade politica.
Foi
utilizado para legitimar
0
domlnio sobre
grandes imperios nativos nas Americas, com a mesma eficacia obti-
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
26/59
126 PATRICIA SEED
da sobre urn pequeno numero de postos
a v a n ~ a d o s
caribenhos
. I
Mas embara 0 Requerimento fosse persuasivo pa ra a Coraa e gran
de parte da elite politica espa nhola do seculo
XVI
e e gerava du
vidas e p r e o c u p a ~ 6 e s . Urn certo grau de desconforto
continuou
a
existir e
ntre
alguns espanh6is de altas p o s i ~ 6 e s originando-se,
muito
pravavelmente, das
muitas
s e m e l h a n ~ a s explfcitas do Re-
querimento com a pratica islamica.
Embara
h e s i t a ~ 6 e s
e reservas
quanto
a
d e q u a ~ i i o
do Reque
rimento tenham sido verbalizadas e debatidas nos nfveis mais altos
do poder espanhol, por incrivel que
p a r e ~ a
nem a Coraa
nem
seus
oficiais estavam dispostos a repudia-Io. 0 Requerimento foi conser
vado sem a l t e r a ~ 6 e s por mais de vinte anos, mesmo depois de urn
debate sobre sua a d e q u a ~ i i o porque, afora reservas, ele continuava
sendo culturalmente persuasivo para urn amplo grupo de oficiais
politicos.
1I2
Urn
persistente desconforto oficial, entretanto, acabou
produzindo duas m u d a n ~ a s a primeira constituindo-se
numa
serie
de distinc; es
ret
oricas.
Em
1573, os oficiais espanh6is
proibiram
usa do termo collqllisla, exigindo 0 neologismo pac
ifica,iio
para des
crever os e s f o r ~ o s militares contra os povos ind igenas.
l 3
0 termo
pacifica ao apagou a a s s o c i a ~ i i o com a palavra IUla
jihad
). Alem
disso, 0 titulo formal do Requerimento' foi elirninado. Ap6s 1573
a i n t i m a ~ i i o formal ao cristianismo deveria ganhar urn
nome
dife
rente - Instrumento de Obemencia e Vassalagem', desfazendo
assim a
associac;ao lin
guistica entre
r qu rim nt
e
data
.114
Apesar
de
terem
eliminado palavras como
r qu rim llto
e
conquisra
que tinharn
uma
proximidade incomoda com os termos arabes
dafa
e
jihad
as
autoridades espanholas
contin
uaram a insistir na pratica do ritual
originalmente malikita de convoca r para
uma
religiao superior.
Mas, pela nova r o t u l a ~ i i o das praticas, as a s s o c a ~ 6 e s IingUisticas
potenciais com suas origens islamicas andaluzas foram apagadas.
A competencia dos individuos espanh6is para declarar guerra
contra
os povos indigenas
tambem
foi moderada no renomeado
Instrumento de Obediencia e Vassalagem' de 1573. Se urn Ifder
espanhol decidisse que os nativos ja tin
ham
recebido a fe e
se
tor
nado obedientes (por meio
da
submissiio), ele poderia ataea-Ios
como ap6statas e rebeldes' . Mas se os povos nunca tivessem sido
antes submetidos e
Fos
se necessario
perpetrar uma guerra aberta
C pyr I i Tl . ;
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
27/59
CERIM6NIAS DE
POSSE
1 7
e ordenada contra eles', os espanh6is deviam primeirc avisar a
Corca' antes do ataque.
l15
A recusa a reconhece r a superioridade
crista e a admitir
os
pregadcres cristaos ainda poderia justificar um
ataque militar, ma s a responsabilidade da decisao foi passada das
maos dos soldados ou de seus Ifderes
para
a Corca.
A
Coroa
continuava a insistir no
ritual
poHtico de uma inti-
-
ma
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
28/59
128 PATRICIA SEED
Essa Iiga ao da obediencia aautoridade religiosa com a obe
diencia polft ica
trouxe
a unica
modifica ao
importante acrescen
tada
pelos reis
catolicos
ao
tratamento
dos
povos
de rr
otados
.
Violando as condi oes de
rendi ao
oferet
id
as a Gr
anada
em 1501
os reis catolicos separaram a pratica islamica da
prote ao
jimma) de
uma
de suas amarras ideologicas - a ideia de que a prote ao era ofe
recida em troca da liberdade religiosa. Em vez disso os reis catolicos
conservaram
a
r o t e ~ o
como
uma rw
tl
de governo
- direito dos
povos derrotados de religi6es diferentes a governarem a si pr6prios
e a terem suas pr6prias praticas de legado
mediante
a exigencia de
que pagassem taxas per capita
demonstra
ssem deferencia nao
montas
se
m cavalos e exibissem todas as outras
formas
de humi
tha ao
Quando
ocorrem emprestimos culturais eles raramente sao
incorporados em suas formas identicas pela sociedade que os recebe
- com
uma
frequencia
ainda
menor
sao
submet idos a
uma forma
de racionali
za ao
abso
lutamente
identica. A e1imina ao da justifi
cativa para a Iiberdade religiosa nao significou que os reis cat6licos
tenham
eliminado alguma
o
utr
a
das
importantes
dimensoe
s po
liticas e economicas
de
tratamento dos povos conquistados.
Seguindo e
ss
e precedente estabelecido em Granada a
Coroa
espanhola
tambem
negou aos povos conquistados
do
Novo Mun-
do
0 direito de praticar suas
prop
rias religioes mesmo depois
do
pagamento de um tributo
per capita .
Tambem nao lhes ofereceu a
escolha entre exilio e a conversao como os
m u ~ u l m a n o s
haviam
alguma
s vezes fei to durante a ldade Media . No Novo Mundo a
op ao
para
a
evasao
passou a ser a conversao cultural. Apenas
aba
ndonand
o suas vestes suas lfnguas e/
ou
0 lugar
onde
mora
vam ou ainda cas
ando
-se com alguem que nao paga
ss
e 0 tributo e
que os fndios podiam evitar as exigencias
do
tributo espanhol A
fuga da assimila ao religiosa no seio do islarnismo transformou-se
no Novo
Mundo
na fuga predominante da ass
imila ao
cultural e
lingu
fstica
118
C o m p a r a ~ e s
Resultando de um
antigo
debate acerca da cria ao da
autori
dade legal espanhola sobre 0 Novo Mundo 0 discurso ritual conhe-
C pyr I
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
29/59
CERIM6NlAS
DE
POSSE 129
cido como
Requeriment
o
transform
ou-se no principal meio de
s n ~ o dessa
autoridade
. Todo espanhol que encontrasse povos
que nunca
tinham
ouvido falar do cristianismo era obrigado a in
tima-los a uma nova religiao. Ao co ntrario dos
frequentemente
improvisados discursos franceses,
0
discurso ritual
espanhol
era
cuidadosa e explicitamente apresentado. Seu co nteudo m e ~ v
com a guerra aqueles que se negassem as
ubmi
ssao, e prometia
aqueles que se submetessem honr s e vantagens . Essas preten sas
honras e vantagens eram formas economicas e polfticas de
suba
r-
d i n ~
original
mente
desenvolvidas pelos governantes islamicos
na Peninsula Iberica : 0 pagamento de uma taxa
jizya
ou tributo)
e a
c r i ~ o
de comunidades que se autogovernavam de forma quase
independente, as assim chamadas republicas dos indios. fram hon
ras e vantagens apenas em r e l ~ o aescravidao. Mas a c o
n v i
c ~ o de
que a obediencia politica e a obediencia religiosa eram equivalentes
nao fazia parte da t r d i ~
o
hi st6rica francesa .
s
oficiais
fr
anceses
tinham
0
cuidado de
garantir
0
consen
timento politico ou pelo menos uma aparencia
de
consentimento
por parte dos povos indigenas. Enquanto os franceses buscavam
uma
l
lian
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
30/59
13
P TRICI
SEE
como aconteceu no Amazonas).
Os
escritores polfticos franceses
do final da ldade Media e do infcio da era moderna frequentemente
alegavam separar a 19reja do Estado - a primeira apenas santificava
o segu nd
o.
Nas cerimonias do Novo Mundo, objetos religiosos tra
dicionais - turfbulos s t i ~ i s cruzes - dramatizavam visualmente
a ben
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
31/59
CE RIMON IAS
DE POSSE 131
forn
ece
ram prirneiro a Portugal, e depois ao resto do mundo, a peri
cia de navega,ao
que
possibilitou a expansao europeia. Essa pericia
de navega,ao
se
baseava na heran,a da s realiza,6es i
sla mi
cas
medievais na matematica e na astronomia. A
ssi
m, nao
no
s sur
preendemos ao
sabe
r que os ritu
ais de
posse portuguesa no Novo
Mundo eram
,
inicialmente, astron6micos.
Notas
1 H
o
inumeros textos do Requenmento.
Colewo
ll
de dO(umemos
it/Mites
rela
t
ivos
al dtswbrimitnro tn Amtrica )' Ouanta (daq ui em dlante
dtado
como CD ),
Madrid, 1864-1884, 43v., v.20, p.311--4j A Herrera,
/-li
storia gtnua/ dt los htchos
de los Castellanos, dec. 1, livro 7, cap.14 , Madrid, 1935, v.3, p.170-2j}. T.
Medina, EI
descubrimltnt
o del OciAno
Pacifi
co, Santiago,
1920,
v.2, p.287-9j B.
de
Las Casas, Histcfla
de
las Indias,
MeXI
CO 1986, 3v., livro 3, cap.57; quanto
ao
Pe
ru, ver D. Encmas, Cedllfa flo
india no,
Alfonso Ga rda Gallo (Ed .), Madrid,
946
vA, p.226.7jquanto ao Panam.i, M. Serrano y Sanz, Orfgtnts dt la
domi
nacidn tspano/a :
estudlos hist6ricos , Madrid, 1918, v. l , p.292 -4j G. Fern.in
dez
de OViedo,
/-list
o
r;a
genual y natural dt
la
s indl(ls ,
Madnd,
1959
, 5v ., v.3,
p.28-9. L Hanke traduziu 0 Requerirnento em
seu H, story o( ultin
Amer
ican
Civilization, Boston, 1973, 2v ., v. l, p.
93-5
.
2 M.
de
Montaigne,
Des
Coches,
in
: Essais
,
P. Villei (Ed.), Paris, 1965, 3v
.,
v.3,
p.l
69j J.
de
Laet, Nitu\Ct
Wutfdt,
Leiden,
1
630,
p.1-2. Ralegh
escreve
: "Nenhum
prIncipe cristao, unicamente em nome do cristiamsmo, e sob
0
pretexto
de
fon;ar os homens a
recebe
r
0
Evangelho
... pode
tentar a
in
vasao de urn pavo
livre ou sob sua vassalagemj
pois
C
ri
sto nao concedeu
esse
pode r aos cmtaOS
em sua
c o n d i ~ o
de cristaos. W. Ralegh,
History oftht World
Fivt
Boors
Philadelphia, 1
820;
pub . ong. 161
4,
8v., v.6,
p.
122
.
3 Las Casas, Cosa es de reir 0 de Borar , in : / Il stor/a dt las fndias, livro 3, cap.58,
p.3-3
1.
4 Esta e a crftica que Montaigne faz a
l e g ~ o
do Reque nmento que di
z.ia
que
os espanh6is vinham em paz.
QIU
qlland aewe
paisib/e
, ils Iits Espagnolts/
n'tn porto,ent
pas In
m"'e.- Montalgm:, Des Coches, 1 :
Es
s(l;s,
v.S,
p.
169
.
5 Estas eram geralmente identificadas como razzla
.
Uma excelente hlst6na das
e s c u ~ s empreendidas nas frontelras entre m u ~ u l m n o s e cnstaos est.i
em J. F.
Powe
rs, A Society Organized
(or flar:
The lbenan Municipal MIJiuas
in the Centr
al
Mid dle Ages, 1000-1284, Berkeley, 1988 .
6
Ibn
Kbaldun descreve dois tipos
de
guerras santas e justas: aquelas que a lei
rehgiosa chama de santas e aquelas contra
os
dl
ssl
dentes e os que se recusam
a obedecer-. Khaldun, The
Mugaddlmah :
An Int roduction
t Hi
stOry, trad . F.
Rosentbal, ed . e abr. N. J. Daood, Princeton, N. J
.,
1
967,
p.123-4.
7 F.
Co
rriente, E/
Ibico drabt anda/lIsl seg ;n P. dt Allald,
Zaragoza, 1988, p.38
8 Pa ra uma hist6 r
ia
cr[tica desse epis6dlo, ve r P. Seed, Are These Not Al so
Men ?:
Tbe Indjan's Humanity and Capacity
for
Spanlsb
Civihzauon,j
ourrtdl
of
LA,,,, American
Swdits, v.2S, p.629-52, 1993
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
32/59
1.;2
PAT
R
IC
IA
SEED
9 J. L6pez Palacios Rub
ios,
Dt Itts islas
del
ntttroceano, e M.
de
la Paz, Del dominio
d,
los
r'yts dt Espana sobrt
los
indios, trad . A. Mlilares Carlo, M ~ x i c o
1954
,
p.36-7,
250-2
.
10
J
J.
Saunder
s,
A
H,
s/ory
ofMeditvallslam ,
London, 1
965,
H. Kennedy,
Th( Propht t and tlu Agt oftht Callp/lalts: The Islamic Near East from the Sixth
to the Eleventh Century, London,
1986
, p.57.69.
11 A
l t a ~ a
o e de uma c o l e ~ a o de maxlmas sob
re
a C1encia de governar que
datam dos seculos V
II
a IX da era crista. B. Lewis, Islam: From the Prophet
Muhammad to the Capture of ConstantInople, New York ,
1987
, v.l , Po/ilics
and \\'Iar , p.
184
.
12 Flqh , Ellclydopatdia of Islam. G. E. Von Grunnebaum, Mtdltvallslam : A
Study
in
Cultural Orientation, 2.ed ., Chicago, 1954, p.
153.
13
A
Magid Tur
ki
,
La
veneration pour Malik et
la
phYSlonomle
du Mallklsme
andalou,
SllId,a
Islam ica, v.33, p.41
65, 1971.
A JUrlsprudencla malikita subs
tituiu as
fo
r
ma
s anteriores de jurisprudencia , o m e ~ a n d o no final do
re
inado
do gove rnante omfada 'Abd a1 Ral;unan J A mals importante crfuca
da
JUris
prudencla malikita veio
de
Ibn Hazm no seculo XI. Mahmud '
Ali
Makki,
Ens . ,
sob
las apcrwciones omnia Its tn la Espana mUSil/mana, Madrid, 1968,
p.87106 , 134 -49 , 1836. Ve r tambtm Malik b. Anas, Encyclopaedia of Islam .
14 Averr61s nasceu em C6rdoba (Espanha) em 11
26
e
fOIIUiz
, medico e fJ 6sofo .
Morreu em Marrakech em
1198
. Em
Bida y
at
alJ\IIlIdjtahid,
co menta todas
as
mfnimas
d l f e r e n ~ a s
na
s pra.ticas belicas das mais importantes
r a m i f i c a ~ O e s
do islamismo na Penrnsula Iberica . Uma tradur;ao para
0
ingles
ejih d
in
Medultl'a/lslCj and Modun Islam, trad. R.
Pete
rs,
Le
ide n, 1977. A pr6pria
ob
ra
de
Malik ll
iib
aljihiuf) est. em Mllwa
r ,'
Imam Miililt trad. M. RahimuddlO,
Lahore
, 1980, p.198-2 13.
15 Averr6is, Biday{/(
a/
Mudjlahid, p.20 . Em bo
ra
enviar urn mensagelro nao
fosse
urn costume
em
todas as comunidades islamicas, esse procedimento era carac
tensuco da
escola ma
likit3. Ibn
Abi
layd
l Q a y r a w a n ~
La
risala ou tpim
sur
les
tUmellls
du dogmt
t de
la loi
dt
('islam sdon
Ie rilt malekila , trad. L
Berche
r,
Algie r
s, 1975
, cap.30; vertambem
al
Mawardi (moTto em
1058),
ibidem, p.76,
119; Ibn Hudhayl (morto em 1399). A escola hanafita nao
IOsiste na
lOti
m a ~ a o
E. Weber e G. Renaud, Craisad, d'hiu. tiiiad d'aujo
urd
'hui, Paris,
198
9,
p.11 8. Alguns estudiosos argumentaram que a a t n b u i ~ a o da
c o n v o c a ~ a o
a
Ma
o
me
e ap6crifa .
Ver
B.
Kedar
, Crusadt and Missio
n;
European Approahes
toward the Muslims, Princeton, N. J., 1984, p.37n.
91.
Entretanto, ela foi logo
adotada no islamismo e uulizada na Pen[nsula Iberica desde 0 infclo
da
co
n
quista arabe.
16 O. Saidi, The UOIfication of the Maghr
ib
Under the Almohads, 1
:
D. T
Niane (Ed.) Africa
{rom
Iht Twtlfth
1
lhe
Six
/eenth Ctntury,
Berkeley, 1981
1993,
Bv
.,
v.4 de
Ctlfual
Hist
ory
of
Africa
,
p.17.8 .
t 7
Ibn
Abi Zayd al.Oayrawani, (jurista malikita do seculo
X), La
risala, cap.30j
Halillbn Jli'baq (seculo XIV )
II
Muhrasar: Sommario del diritto male
chita, trad.
I
Guidi, Milano, 19 19, 2v., v.1,livro 8, n.3; R. Brunschvig, Ibn
Abdalh'akam et la conquete
de
l'Afrique du nord par
les
Arabes, twdts sur
[ Islam ClaSS/que et I'A(riqlle
du
Nord, London, 1986, v.II, p.lOB22 . Para um
cont raste,
ver
L W.
C. Van Den
Ber
g, Princip
les dll droil musu/man sdon Its rius
d
'{/bo
/JI ,*,tt'jfil et
de
Cha'filj, trad. R.
de
France
de
Ter
sa
nt e M. Oamiens,
C
>pyr Ie i
Tl . ;
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
33/59
CER IM6N IAS
DE
POSSE 133
Al
gie r
s,
1896, p.225-6. Ver tambem A.
K.
S. ..amblon Stalt alld Govanmtnt in
Mtditval ls
lam
, Oxfo
rd
, 198 1, p.214;
Al
brecht Noth , Tht Early Arabic Tr
adition:
A Sou rce-Critical Study, Had . M. Bonner,
Pnn
ceton, N. J
.,
1
994,
p.16
1.
18 Averr6i
s,
Bidayar al-Mlldirahid,
p.20 . .
19 Y. Ca rlan, Wilt
in Iht Anciem
World
:
A Social HistOry, trad.
J.
U
oyd, New
Yo rk,
1
975, pA4-50,
58-9; A. Ce nti
lli, Dtltgallolflbus li
b,;
trtS,
tr
ad
. C.J.
Lamg, New
York, 1924,
2v .;
C.
Van
Bijinkershoek,
t foro Itgatorum film
smgulaflS,
Ox
ford,
1946
.
20
Sabre a papel de
Ma
ome ou de seu men sage
lr
o convocando os
na
o- muc;ul
manos, ver,
po
rexemplo, ohadi
th
em Al-Bukhari, Tht Translarion o(thtM
eani
n
gs
of Sah
ih
al-
Bukh
ari, trad. M. Muh si n Kahn, Beirut, 1985, vA , p.11 6-7; a ~
Mlls
lim, trad. Abdull:{am
id Sddiq
i, Beirut , 1
972,
v.3, p.
969,
97
1. Pa
ra um
hadilh
cl.issico com ambos
os
te
rm
os,
ver
Bukhiiri,
vA,
p.121.
Ma
ome tambem
descrevia
a
si pr
6pno como 0
esc
ravo
de
Deus .
21
Pa ra 0 uso
dessa fo
r
ma
ent re
os
blzanttnos,
ver
M. Canard,
Les
relat
io
ns
poh
ti
ques et
soc
iales ent re Byzanee et les
Ar
abes, Dllmbarton Oaks Papas
(Was
hington,
D
C , n.18, p.33.56, 1964. Pa ra exe mp los do usc de mtnsaitro,
ve r Se rrano y Sanz, Orfgtnts dt
la
dcmma
cion tsptlllola, v.l , p.293; CDI,
v.20,
p.3 11 ; Medina, Dtswbriminto, v.2, p.
288
; Herrera , Histofla gtnaa/, v.3, p.170.
22 Averr6is, Bidayar
al
-Mlldirah/d , p.20. Na eoler;ao
hadith
de Al-Bukharl, -0 con
vi te ao islam lsmo eessenCial antes da decla rac;ao de gue rra -. Ve r AIBukhiiri,
vA,
p.
11
6.
Para
outro exemplo,
ve
r
LeWI
S
Is
lam
;
v.
l ,
Politics
and
War,
p.
228
.
23 ~ esta a
palavra
utihzada
nas coleC;Oesltadi
t/r :AI-Bllkhiri vA , p.116
-7
, 121, 12
3;
a ~ j ~ Muslim, v
.3,
p.971. Ela aparece com
esse
senudo no Alcorao, 24:24 , 52
e 40 ;
12
. H. Wehr,
A Di(tionary
of
Alodan Wrllf
elf
Arab/(, J.
Milton Co wan,
3.ed ., It haca, N. Y
., 1971
, p.282.3 . t tambem
As
vezes transc ri ta co mo da wa .
24 R.
Dozy, SuppUmtnt aux d,ctlcnnams tlrabes
(Beirut, 198 1
), p.444-6
. Ooutro
ve
r
bo
r
abe com
0
me
smo slgmflcado
ewajaba .
P.
Alcalci
,
m I'araligtramtme
saber
la
Itngua
tfrabe,
Cranada, 1505, uuhza
da'it com
0 s
lgmficad
o
de rtqutrir
que hagtln justitia. lIamar
al
que
a
de I ttlir, cil
a(/JII
, dtmanda-. Co rn en
t
e,
EI/l.xi
o
tfrabt andalflsl,
p.66. Cova rr ubias,
Ttsor
o
(16
11
),
traz como sm6nimos
de
rUfutrir :
imimar
, advtrt
ir
, adsar.
25
AIBukh.iri, vA, p.
121
; aMtJ Muslim, v.3, p.97 1, a frase e traduzida como
-Estendo a
voces
0 eonvlte
pa
ra
que
aeeltem 0 I
slami
smo.
Uma ca
rta a
os
reis
persas datada de 633, exemplo de uma intlma c;:ao Asubmlssao em ingles, estci
em Lewis,
Politics
and War ,
p.228 .
26 Essa euma das principa is caricaturas do islamismo nas polemlcas antimaome
tanas,
que rem
ontam ao seeulo
IX
.
Kedar
,
Crusade and M,
ss
/on,
p.
24
-5.
Ve
r,
por exemplo, 0 famoso tratado antimur;ulmano de Rieo ldo de Montecroce
(1
243
-13
20
), mi ssio
ncirio
dommicano
em Bagdci, resu mid
o
em
J. Windrow
Sweetman, Islam and
ChffS
tlan Thtology , London, 1955, pt.2, v. l, p.11659,
esp. p.130, 141
-2.
27
M. Khaddu ri, Imernationallaw, m: Khadd ufI , H.J.
Liehesny
(Ed.) Law;n
th
t
Middlt Easl :
Origin and Development of I
slamIC
Law, Washmgton, D.
c ,
1
955,
p.355.
28
Ale
o
rao, v.
2, p
.256;
aiatola
S.
Ma humud
TaleqaOl, Jihad
and Shahadat, m: M.
A
bedi,
C.
Le
ge nhausen (Ed
.), Jihad and Slta ltadar :
Stru
gg le
a
nd
Mart yr
dom
m Islam, Houston, 1986, p.51.
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
34/59
134 PATRIC
IA
SE
ED
29 TIr e Mealllllg f tlte Holy Qu r lI l ,
trad
. YUsuf Ali, Was
hingt
on, D. c 199 1,
p.1343. O
utra
traduc;ao reza : "Os bedufnos dizem : ' N6s alcanc;amos a
Olga [para eie
s,
6 a m ~ 'Voces [ainda] nao atingiram a fe; voces devem
{
em
vez dlsso j
dlzet
: 'N6s exterior
meme
nos
submetemo
s
t
fe' -
poL
S a
[verdadelraJ aLnda nao entrou em seus co ra c;6es .
Mes
s
age
of lhe Qllr'al/ ,
trad . M. Asad, Gibralta r, 1980, p.794-5.
30 B. de
La
s Casa
s,
The Ot/ly Wa
y,
t rad . F. P. Sullivan, S. 1.,
Mahwah
, N . J. 1992,
p.147. Uma
ed
ic;ao recente eDt. utl
ico I'
oeal;
o ismodo,
P. Castaneda Delgado e
A. Carcia del Moral (
Ed
.), Madrid, 1988.
31 Averr6ls, B d iiYIII
al-AJ/ldJttlhid ,
p.20;
0 ha
di /h com essa linguagem est.i em AI
Bukhari,
vA,
p. lIS . Ver
tambem
Lewis, Po/ili
cs
and War, p.228.
32 Carlan,
W
ar
l t the AI/mill
Wo rld
,
pA7-50.
33 D. Bramon, Co
ntra mor
es
y judie
s,
Barcelona , 1986;
Halil
ibn
~ b i q
If
lAlII/lla
sa?,
v. l, Iivro 8, n.23. Ver tambem Paula Sanders,
Ri
ll/
aI, Politi
cs
,
fllld
lite Ci
ty //I Fatitmd
Ca ir
o, Albany, N . Y., 1994, p.29-31.
34 Esse procedlmento se funda numa
L n t e
o do
Alc
o rao, v.9, p.29. H.
E. Ka
SS
IS , Concordance of ,he Qllr 'an, Berkeley, 1983, p.263, traduz
0
trecho
como "ate que paguem 0 trlbuto Imediatamente e
tenham
s
ld
o humllhados .
Picktha l traduz
0
me smo trecho como ate que paguem prontamente
0
trlbuto, tendo sido rebalxados .
The
'lean
illS of
Ille Glo
rt
ous Kora , trad . M.
Marmaduke Plckthall, London, 1930, p.148 . Para Malik sobre a Jlz
ya,
ver seu
M
uwa
rr
a',
p.212,
141
-
2,
esp. n. I34 .
35
Al
corao, 9:29 t r a d u ~ a o de Yusuf Ali). Em Averr6is a t t a d u ~ a o a seguinte:
"Petsiga aqueles que nao acreditam em Al e
nem
no derradelro dia
[0
dia
do
lulzoj , nem consLdetam ptoibldo
0
que
fOI
prolbldo por
Ala
e par seus ap6s
tolos,
nem
reconhecem a religiao da verdade [islamismoj
mesmo
se perten
cerem aos paves do livro, que paguem a
jizya
com submlssao volunt..i
ri
a
e se sintam do minados [diminudosj: Averr6is, Bidiiyat al-Mlldjlahid, p.20.
Estudiosos ocidentais n a o m u ~ u l m a n o s de epocas mais recent
es
argumenta
r
am
que
0
im postol'tr capil
tl
euma i n v e n ~ o do s&:ulo VIII (ver J. Wellhausen,
The Arab Kingdom and I
ts Fall
, B
ei
rut,
192
7),
ou
que ele
roi
uma adaptac;ao dos
sistemas blzantino e sassa nida de art
ecadaC;ao
. D. C.
Dennet
,
ConVtrSi
O
1
and
the
Poll
Tax
l i t
Early
Is
lam
, Cambridge, Mass
.,
1950, e F. Lekkegaard, Islamic
Tflxf/t;
o
ll
in Iht Cla ssic Puiod,
Copenhagen, 1950. De qualquer forma, ele exis
tia na epoca da
conquista
da Espanha, t
endo
side intr
oduzido
no pals por
conqUistadores m u ~ u l m a n o s
36 S. M. Has
an
-uz-Zaman, E
co
nomic Functions of
an
Islamic Slate, Le i
ceste
r,
1990, p.70, tambem
utiliza
a
exp
ressao relacionada
set
rebaixado. Ver
tambem
as t r a n i ~ e s feitas po r Lewis dos
termos
de
paz
datados do se
culo VII em Politics
find
War, p.239-41. Exemplos postenore s estao em A.
Stanley
Tritt
on,
Tht Caliphs and
Their
Non
-Mlls
lim
Subjects,
London, 1970,
p.
227
.
37 I
bn al
Fuwati (1167-
124 7)
, AI-
J1awiiditit
lll-Jiimi a , t rad. in: N. A. Stillman, Tlte
Jt
WS
of
Ara
b Lat,ds:
A History and Source Boo k, Philadelphia, 1979, p.18D.
O
utra
s formas de jizya posteriormente desenvolve r
am
-se dentro da lei .
Ve
r
K. Ibn Ishak (S ulo XIV
),
PreCIS de
Jlm
sprtlden
ce
mUSII/mant stlo
Hle
rite m
ii
ltktte ,
[fad . M Perron, Pans, 1849, 4v., v
.2
, p.292-5, mas eram utilizadas com menor
frequencla na Peninsula lbenca.
C >pyr I
i
Tl . ;
-
7/25/2019 Patricia Seed - O requerimiento
35/59
CERI
M6N
IAS DE PO SSE 135
38
-Os contribuintes da
ji:
ya que se tornassem mUCjulmanos senam IsentOS da
taxa"
Malik,
Muwaua , p.142.
39 Sob re os crist.ios co mo dltimmis na Espanha sob 0 gove rno Islamlco, ver E.
levi
-Prove
n
Cjal,
HiSloire
de
I Espagn e musil/mane, Pa ris, 1
950-
1953, 3v., v.l,
p.225 -39 ; e R. Dozy, /-lis/olrt des Musulmans d Espagne jusqll'a fa
conquite
de
I Attda lollsie par les Almoravldes, (7 11-1110), lelden, 1932, 3v., v.l, p.3
17
.
40 Ave rr
6is
discu te as
POSICjOeS de
Shafl' i e Abu Thawr (mo n o
em
854)
-
funda
do r de uma escola que sob revlveu apenas alguns seculos -, ambos os autor
es
mamendo a op
miao
de que esses eram os
UniCOS
povos de quem 0 Impos to
per capita
pode r
ia
ser cobrado. Malik afl rma que 0 tributo pode ser cob rado
de qualquer pohtefsta. Ave rr61s, Blda
ya
l
fll-AIlld,rahid,
p.2; Malik , ,HI/walla ',
p.142n. 1
34
; Ibn
ishak,jurisprudtttct muslllmflnt ,
v.2, p.290 -2. Ve r
m ~ m
Brunschvlg,
Ewdes sur
I
l
slam
(/flSSlqUt
,
v.l l , p.
108-22
;
R.
Dozy,
Hls/oire
des
Musu/mans d'Espagnt , v.l, p.140-3; Cahen, -Dpzya",
In
: Eneyclopfltdia o Islam
2.ed . Esse argumento tambem e apolado pelo Ux/Co drabe andalusi, datado
de
1505
, de
Ped
ro Alcala, no qual a
/i:Yfl
e defmlda como
-mbmo de tnfieles
p.34).
41
C. Nicole
t,
Tribulflm : Ruherchts
sur la
fiscfllut dutctt sous
la
rtpubltque ro
mflilU,
Bonn , 1
976;
A. Deleage , Ln eap
l/alio
ll du Ba
s-emp,re,
New
York, 1975,
reimp.
194
5;
W.
GoHa n , CflPIlf and Co