secretaria de estado da educaÇÃo título · unidade 1: o conceito de religião e religiosidade...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Ficha para Catálogo

Material Didático-Pedagógico

Professor PDE/2010

Título A Congregação Cristã no Brasil em Mandaguari, PR:

Grupos liminares e seu pertencimento.

Autor Levi Avelino Martins

Escola de Atuação Colégio Estadual Vera Cruz - Ensino Fundamental,

Médio e Profissionalizante

Município da Escola Mandaguari

Núcleo Regional de Educação Maringá

Orientador Dra Solange Ramos de Andrade

Instituição de Ensino Superior UEM

Área do Conhecimento/Disciplina História

Relação Interdisciplinar Antropologia, Ensino Religioso, Sociologia

Público Alvo Alunos

Localização Rua Gumercindo Bortolanza, 714

Resumo Este trabalho investiga formas de experiência

religiosa e o sentimento de pertencimento mediante

suas manifestações entre os alunos da Congregação

Cristã no Brasil, na cidade de Mandaguari (PR) durante

o ano de 2011. Também visa contribuir com o Colégio

Estadual Vera Cruz de Mandaguari, no sentido de

desenvolver uma visão mais atenta das múltiplas

adesões religiosas no espaço escolar. Ao constituir o

diálogo com outras disciplinas, poder-se-á entender

como o homem estabelece e organiza suas relações e

vivências com o sagrado, o que contribuirá com a

reflexão histórica. Neste sentido, podem-se trabalhar as

percepções religiosas mantendo o diálogo

interdisciplinar, ampliando, assim, os horizontes e os

territórios historiográficos.

Palavras-chave

Religião; Diálogo; História; Pertencimento

Apresentação

O Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná -

PDE foi criado em 2007, e constitui um importante projeto na política de

formação dos professores, porque demonstra uma preocupação com a

qualidade do ensino, possibilitando aos educadores o retorno aos estudos com

o acompanhamento de docentes das universidades públicas do Paraná, em

busca da melhoria no ensino básico.

O PDE é um programa integrado com as instituições de ensino

superior, atento às reais dificuldades presentes na educação, e possibilita um

debate mais amplo no interior da escola.

Portanto, este projeto se realizará graças ao afastamento das

atividades de sala de aula, o que propicionou tempo de pesquisa para o

professor e o intercâmbio com a universidade.

Assim, este estudo como aluno do PDE contempla a temática religião e

religiosidade, pensando na diversidade que é o espaço escolar, a multiplicidade

de culturas, principalmente no campo religioso em que não há apenas

católicos, mas diversas formas de experiências e vivências religiosas.

Trata-se de um olhar mais atento às adesões religiosas dos alunos,

percebidas no comportamento e no uso de objetos, como adesivos e versos

bíblicos em seus cadernos.

Nesta perspectiva faz-se necessário considerar a pluralidade do campo

religioso que deve ser discutido e problematizado.

No entanto, a escola continua a reproduzir os valores de um

catolicismo oficial e cosmopolita, prática bem visível em seu interior, também

com o uso e difusão de objetos da simbologia católica, como crucifixos nas

secretarias, sala dos professores, sala do diretor, comemoração dos feriados

da religião oficial, dia da padroeira e outros.

Essa postura reforça os valores e conceitos do catolicismo,

desconsiderando a presença significativa de outros grupos e suas relações

diferenciadas de religiosidade.

De acordo com (FERREIRA; MIRANDA, 2006), não há como ignorar a

presença marcante do catolicismo ainda muito presente no interior da escola:

Quem de nós, nunca viu na entrada de qualquer escola, por esse Brasil a fora, uma imagem de Jesus Cristo crucificado? Ou, um quadro da Sagrada Família? Ou, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida? Ou ainda, a imagem da Virgem Maria? Estes símbolos católicos se fazem presenes nas escolas públicas brasileiras e se constituem em discursos que conservam embutidos efeitos específicos de poder. São signos que marcam o cotidiano escolar como território de uma religiosidade superior: o catolicismo.

(FERREIRA; MIRANDA, 2006,p.5)1

Leví Avelino Martins, 2011 (Singularidade religiosa)

Como se vê nesta charge: A escola continua a reproduzir os valores de

um catolicismo oficial e cosmopolita

Observe a charge e descreva o que você vê.

O que a charge representa?

1 FERREIRA, Miguel Iranilde & MIRANDA, Arilda Ribeiro. Mulher - professora e pentecostal: um

estudo sobre relações de gênero e religiosidade na escola.. Disponivível

em<http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st8/Miguel,%20Iranilde%20Ferreira.pdf>Acesso em: 28 Jul

2011

Levi Avelino Martins, 2011(Círculo vicioso)

Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma / Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma

Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma / Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma

Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma / Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma

Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma / Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma

Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma / Cruzadas, Reforma Protestante e Contra-Reforma

Observe a segunda charge e descreva o que você vê.

O que a charge representa?

Unidade 1: O conceito de religião e religiosidade

Religião e religiosidade são termos que fazem parte do cotidiano das

pessoas, pode-se dizer que se ouve ou mesmo o se emprega quase que

diariamente, porém sempre empregados de maneira indiscriminada, sem um

critério, confundindo e misturando. Portanto, faz-se necessário um

entendimento mais objetivo sobre os termos. A palavra religião para, vem do

latim religio, formada pelo prefixo re ("outra vez, de novo") e o verbo ligare

("ligar, unir, vincular"). (CHAUÍ, 2007)2.

Neste sentido, a religião sempre se apresenta como uma narrativa de

origem para dar sentido à vida, estabelecendo um código de moralidade e

mesmo de comportamento. A religião é diferente da religiosidade porque tem

um aspecto público, coletivo institucionalizado, apresenta formas de

manifestações políticas e culturais, com padrões estabelecidos, que precisa de

um espaço geográfico em forma de templos ou congregações, também valoriza

objetos sagrados essencial no processo de comunicação e representação

simbólica.

A religião se configura num conjunto de formas de conhecimentos e de

crenças que religa as experiências concretas das pessoas ao significado que

elas lhes atribuem, ao sentido que dão à vida e à morte.

Alguns estudiosos fizeram previsões que o sentimento religioso entraria

num processo de enfraquecimento com o avanço de um racionalismo, no

entanto tais previsões não ocorreram, os fenômenos religiosos estão em

processo de expansão, atraindo cada vez mais a atenção dos estudiosos para

o estudo dos comportamento do campo religioso no mundo moderno.

Entretanto, a religiosidade não precisa de regras, a compreensão não

necessita de racionalidade, é mais abstrata com relação aos sentimentos e

emoções, é a forma particular de participar e experimentar o sagrado e se

manifesta através de devoções e romarias.

No caso das igrejas pentecostais, objeto desta pesquisa, a

religiosidade é percebida através das promessas, testemunhos que os fiés

apresentam para toda a igreja, comentando formas de contato e visões com o

sagrado e mesmo soluções de problemas tidos como resolvidos através de

milagres. Também o fenômeno dos dons de línguas (glossolalia) é o exemplo

bastante claro de formas de religiosidade individual que os fiéis experimentam

através do contato direto com o sagrado.

2 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1997.

Leví Avelino Martins, 2011 (O pensador)

Livros para leitura e consulta

Marilena Chauí & Pérsio Santos de Oliveira, Filosofia e Sociologia. São

Paulo, Editora Ática,2007.

"Deus está no particular" Representações da experiência religiosa

em dois documentários brasileiros contemporâneos, Tese de

doutorado, 2006. MESQUITA, Cláudia Cardoso.

Atividade

Estabeleça um quadro comparativo entre a religião e a religiosidade:

Religião

____________________________

_____________________________

_____________________________

_____________________________

_____________________________

_____________________________

Religiosidade

________________________________

________________________________

________________________________

________________________________

________________________________

________________________________

Unidade 2: Diferenças entre protestantismo e pentecostalismo

O protestantismo tem origem no século XVI, com a reforma religiosa

que levou à divisão da Igreja católica. Surgiram dois grupos, o primeiro

manteve-se fiel aos canones da Igreja Católica, ao papa. O segundo, chamado

protestantes que passa a não aceitar as determinações da Cúria Romana e a

defender o livre-arbítrio para interpretação da Bíblia. Para (MARIANO, 2010),

as principais igrejas protestantes histórica são a: Luterana, Presbiteriana,

Congregacional, Anglicana, Metodista e Batista.

A partir do século XX, surgiram as igrejas pentecostais, que são uma

ramificação do protestantismo, descendentes das igrejas Metodista e Batista. O

nome tem origem em pentecostes, festa religiosa dos judeus.

E cumprindo-se o dia de pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. (ATOS DOS APÓSTOLOS,1990,vers.2.V.1 ao 4)

3

Entretanto, para as igrejas pentecostais o Espírito Santo continua a se

manifestar nos dias de hoje. Como bem sintetizou Mariano:

O pentecostalismo, herdeiro e descendente do metodismo wesleyano e do movimento holiness, distingue-se do protestantismo, grosso modo, por pregar, baseado em Atos 2, a contemporâneidade do Espírito Santo, dos quais sobressaem os dons de línguas (glossolalia), cura e discernimento de espíritos. (MARIANO, 2010,p.18)

4

Ainda segundo Mariano:

Os pentecostais, diferentemente dos protestantes históricos, acreditam que Deus, por intermédio do Espírito santo e em nome de Cristo, continua a agir hoje da mesma forma que no cristianismo primitivo, curando enfermos, expulsando demônios, distribuindo benções e dons espirituais, realizando milagre, dialogando com seus servos, concedendo infinitas amostras concretas de Seu supremo poder e inigualável bondade (MARIANO, 2010,p.18)

5

3 BÍBLIA, N. T. Atos dos Apóstolos.. Português. Bíblia sagrada: Tradução Ivo Storniolo e Euclides

Balancin. São Paulo: Paulina, 1990. Cap, vers. 2.V.1 ao 4 4 MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalsmo no Brasil. São Paulo:

Edições Loyola, 1999. 5 Op.cit.

Faça um levantamento sobre as principais igrejas pentecostais existente

em sua cidade

Nome da Igreja Data da fundação Número de membros

Unidade 3: Conhecendo a primeira igreja pentecostal brasileira

A história da Congregação Cristã no Brasil (CCB)6, é hoje representada

por mais de dezessete mil e quinhentos e oitenta e quatro igrejas espalhadas

pelos diferentes estados brasileiros. Atualmente, possui templos em mais de 70

países na América, Ásia, África e Europa. (RELATÓRIO, 2009/2010)7. A CCB

foi a primeira igreja pentecostal instituída no Brasil. Surge em 1910 por

iniciativa do italiano Luigi Francescon8, de origem presbiteriana, que veio dos

Estados Unidos para um trabalho evangelista na América do Sul. Inicia suas

atividades na cidade de Santo Antonio da Platina (PR) e depois na capital

paulista, no Bairro do Brás. O projeto missionário de Francescon era trabalhar

no meio de operários italianos seus conterrâneos em São Paulo, no entanto as

idéias anarquistas ganhavam as simpatias do operariado na Itália e também

dos imigrantes aqui no Brasil, a CCB, porém, manteve-se afastada de

questionamentos de ordem política e social devido a ofensiva católica.

6 A sigla CCB será usada quando referir-se à Igreja Congregação Cristã no Brasil

7 ibidem, 2009/2010.. 8 Ou Louis Francescon

A ofensiva desencadeou-se em duas frentes: a dos católicos letrados e dos eclesiásticos, defendendo a igreja Católica como a única verdadeira, e ainda manejando os dados estatísticos; e a outra, uma frente de ação violenta, inclusive com uso da polícia, contra núcleos e Igrejas pentecostais. Os pentecostais e outros protestantes eram tratados com termos depreciativos e injuriosos, e algumas vezes a entrada de seus templos entulhada de sujeiras. Desconhecendo os dispositivos religiosos dos pentecostais e usando da sua autoridade e prestígio junto às autoridades civis, padres e católicos moveram uma campanha dura e persistente.(ROLIM, 1987,p.38)

9

Motivo que causou pouca aceitação entre os grupos de operários de

origem italiana e os segmentos mais esclarecidos. No entanto, as camadas

menos esclarecidas de origem camponesa começaram a se identificar com as

doutrinas ascética e dogmática da Igreja, estabelecendo grande simpatia entre

esses grupos, que viviam relações autoritárias no início do regime republicano.

A Congregação Cristã apresenta algumas peculiaridades que a difere

das demais igrejas pentecostais, principalmente do ponto de vista litúrgico e

doutrinário. Nos cultos, homens e mulheres sentam-se separados. As reuniões

de culto são menos emocionais, não é costume bater palmas, cantam-se hinos

solenes, que excitam a contrição em ambiente de seriedade, sendo os serviços

religiosos conduzidos somente pelos homens: "Que as mulheres fiquem

caladas nas assembleias, como se faz em todas as igrejas dos cristãos, pois

não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz

também a lei".10

Os homens que dirigem os serviços são chamados de "encarregados,

cooperadores, anciãos" e não pastores, com uma linguagem simples e direta.

Os cultos são intercalados entre hinos, oração, testemunhos, que consistem

em relatos de graça alcançada. Entretanto, merece destacar o fato de que

ninguém recebe qualquer remuneração de cargo ou função ministerial pelos

serviços prestados à Igreja. Evita-se pôr em destaque qualquer tipo de

liderança carismática, e desestimula-se excursões ou visitas em localidades

onde a igreja foi fundada como Santo Antonio da Platina (PR) e Brás (SP),

consideradas como idolatria. Os cultos seguem horários e liturgia rígida sem

espaço para improvisação.

9 ROLIM, Francisco Cartaxo. Pentecostalismo – Brasil e América Latina. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 10 BÍBLIA, N. T. Coríntios. Português. Bíblia sagrada: Tradução Ivo Storniolo e Euclides Balancin. São

Paulo: Paulina, 1990. Cap, vers. 14, 34-35.

As mulheres não participam como iguais e devem ter cabelos longos,

não usar roupas curtas, decotadas e maquiagem, quando orar ou profetizar

devem estar com a cabeça coberta como o véu. (ENSINAMENTOS, 1948)11

A Igreja não estabelece intercâmbio com as várias denominações

protestantes, condena a candidatura de crentes para cargos políticos:

Cargos políticos, aquele que exerce cargo ou ministério na Congregação, caso se envolva em política ou se candidate a algum cargo político, perderá a condição de continuar no ministério e não poderá mais retornar (quer venha a ganhar ou a perder a eleição). Continuará como nosso irmão na fé, porém, não poderá influenciar a irmandade e nem fazer qualquer pronunciamento ou comentário político na Congregação, seja em orações, testemunhos ou por qualquer outra forma.

(ENSINAMENTOS, 1948)

12

O batismo nas águas sem qualquer requisito (exceto para casais que

vivem em união consensual) qualifica moralmente a pessoa para a

comunidade, após o término do culto os crentes despedem-se com um beijo na

face (ósculo santo), sempre entre homens ou entre mulheres.

Importante notar que não existe clientela flutuante na comunidade, o

convertido na CCB não freqüenta outras comunidades religiosas, em caso de

conflitos doutrinários com a Igreja e a exclusão do rol de membros. O crente

afastado13 tem muitas dificuldades de estabelecer filiações em outras

comunidades religiosas. A igreja também conta com uma rede de ajuda mútua

material e simbólica entre irmãos na fé, conhecida como "Obra da piedade14",

que estende atividades para famílias em situação de privação material e

conforto espiritual para doentes.

Fortalecendo o grupo doméstico, mantendo um alto índice de participação nos

cultos, os membros são aconselhados a ter a religião presente em todas as

suas fases de vida, estabelecendo assim formas de identidade e

pertencimento.

11

REUNIÃO DE ENSINAMENTOS REALIZADAS EM MARÇO DE 1948 (CCB) 12

CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL - resumo de ensinamentos 76ª Assembléia: São Paulo -19 a

23 de abril de 2011. 13

Até os anos 80 o afastamento de um membro era anunciado em público, com os avanços sociais e a

redemocratização do Brasil a igreja abandonou essa prática, o afastamento é individual e sigiloso. 14 Estatuto, 2004 Artigo 19. A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL mantém um serviço de

assistência aos féis necessitados, conforme a Guia de Deus.

A Igreja também não oferece nenhum tipo de serviços religiosos, como não

comemora devoção a santos. Importante notar que, a Igreja vem abandonando

o discurso sobre "diabo, inferno, milagres, fim dos tempos" e também proíbe

qualquer tipo de exorcismo, libertar a pessoa da possessão por demônios,

prática mais comum nas igrejas neopentecostais.

Entretanto, a idéia de um permanente "confronto espiritual' ainda é

muito presente no imaginário evangélico, na existência de forças demoníacas,

conforme a Pesquisa Novo Nascimento, realizada pelo ISER em 199415.

É importante observar que, apesar de todas as mudanças no campo

religioso com a modernização de algumas instituições, a CCB mantém vivas

suas origens de abstinência de tantas coisas consideradas mundanas, como:

bebidas alcoólicas, fumo, saia curta, carnaval e até mesmo futebol

(MESQUITA, 2006).

Nesta perspectiva Mariz (1994) considera que a adesão ao

pentecostalismo representa, pois, um exercício cotidiano de autocontrole e na

vitória da vontade sobre o corpo, e todos os impulsos irracionais que, ao se

apresentarem como "provações", devem ser cotidianamente rechaçadas.

A Igreja também rejeita qualquer tipo de pregação em praças públicas,

rádio ou televisão, o projeto evangelizador é realizado através da militância dos

próprios membros, que convidam parentes e amigos, a conduta

comportamental e ética é valorizada para a conquista de novos membros.

Assim como rejeita qualquer tipo de ataque a outras religiosidades:

Cuidado nas pregações, cuidado para não mencionar nomes de denominações nas pregações. Tornamos a dar ensinamento ao ministério de que nos cultos e, principalmente nas pregações, não devemos mencionar nomes de denominações religiosas. Assim deve o ministério proceder e ensinar a irmandade também. (ENSINAMENTOS, 2011)

16

A CCB, desde a sua origem 1910 até os anos 50, apresentou

crescimento vigoroso, disputando os fiéis apenas com a Igreja Assembléia de

15 Pesquisa Novo Nascimento (Fernandes, 1998), realizada pelo ISER em 1994 16 CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL - resumo de ensinamentos 76ª Assembléia: São Paulo -19 a

23 de abril de 2011.

Deus, fundada em 1911 no Pará (Mariano, 2010). A CCB está concentrada no

Sudeste, principalmente São Paulo e Paraná (RELATÓRIO, 2009/2010).17

De acordo com (FRESTON,1993), o movimento pentecostal brasileiro pode ser

compreendido em três ondas, como segue:

O pentecostalismo brasileiro pode ser compreendido como a história de três ondas de implantação de igrejas. a primeira onda é a década de 1910, com a chegada da Congregação Cristã (1910) e da Assembléia de Deus (1911) (...) A segunda onda pentecostal é dos anos 50 e início de 60, na qual o campo pentecostal se fragamenta, a relação com a sociedade se dinamiza e três grandes grupos (em meio a dezenas de menores) surgem: a Quadrangular (1951), Brasil Para Cristo (1955) e Deus é amor (1962). O contexto dessa pulverização é paulista. A terceia onda começa no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80. suas principais representantes são a Igreja Universal do Reino de Deus 91977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) (...) O contexto é fundamentalmente carioca (FRESTON, 1993,p.42)

18

ATIVIDADES

EXPLIQUE O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS OU EXPRESSÕES:

a) Sectarismo;

b) Ascetismo;

c) Pentecostalismo clássico;

d) Neopentecostalismo;

e) Crença predestinacionista;

f) Teologia da prosperidade;

17 Ibidem,2009/2010. 18 FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo Brasileiro. In: ANTONIAZZII, Alberto et. al.

Nem Anjos Nem Demônios. 2ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

Figura 01- Louis Francescon e esposa (fundador da Congregação Cristã

no Brasil) Disponível:

http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=%2FCCB%2Bsto%2Bantonio%2Bplatina.jpg

Acesso: 19/07/11

Figura 02-Primeira sala de oração da Congregação Cristã no Brasil - Santo Antonio da Platina-PR Disponível: <http://4.bp.blogspot.com/_Z2xJtoXXSc/S74S4EXj7NI/AAAAAAAAABM/9JLBWcuML7s/s1600/CCB+sto+antonio+platina.jpg Acesso em: 22/06/11

Figura 03-Mulheres no culto com a cabeça coberta

Disponível: <http://4.bp.blogspot.com/_Z2xJto-

XXSc/S74S4EXj7NI/AAAAAAAAABM/9JLBWcuML7s/s1600/CCB+sto+antonio+platina.jpg Acesso em: 22/06/11

Figura 04-Mulher com véu Disponivel:

http://www.google.com.br/search?um=1&hl=pt-

BR&biw=1360&bih=643&tbm=isch&sa=1&q=V%C3%89U+NA+CABE%C3%87A+CONGREGA%C3

%87%C3%83O&oq=

Acesso: 19/07/11

Figura 05-Congregação Cristã no Brasil - Curitiba-PR

Disponível: http://4.bp.blogspot.com/_Z2xJto-

XXSc/S74S4EXj7NI/AAAAAAAAABM/9JLBWcuML7s/s1600/CCB+sto+antonio+platina.jpg

Acesso em: 22/06/11

figura 06- Interior de uma igreja da Congregação Cristã no Brasil

Disponivel:

http://www.uniblog.com.br/cristanobrasil/196438/congregacao-crista-no-brasil.html

Acesso: 19/07/11

Leví Avelino Martins, 2011 (Expressões CCB)

Expressões usadas entre os crentes da CCB

Importante notar que, existe uma comunicação simbólica muito comum

na comunidade de crentes, porém incompreensíveis para pessoas fora do

grupo religioso. Os significados das expressões mais usadas entre os membros

da CCB:

Irmandade

Refere-se ao conjunto dos membros da

Congregação, tem raízes na fraternidade

das comunidades italianas espalhadas pelo

mundo no início do século 20.

Obra de Deus

Refere-se a Congregação Cristã como um todo.

.

Revestido

Líder religioso que prega com

determinação e fervor, fala em dons de

línguas (glossolalia).

Congregar

Significa ir à Igreja, participar do culto. Ainda se

usa as formas conjugadas: congregamos,

congreguei, congregou

Recolher

Quando um membro morre firme na igreja,

Deus recolheu para o seu reino, dormir no

Senhor.

Ficar sem liberdade

Não poder mais chamar hinos, orar e

testemunhar na igreja, se for do ministério não

poderá executar nenhum serviço religioso, por

quebra da doutrina.

Cair da graça

Cometer pecados (normalmente sexuais

graves) e perder a liberdade de membro da

Igreja.

Despedir

Os jovens, quando vão se casar, costumam

levantar-se e “despedirem-se” da mocidade,

notificando que é o ultimo culto ou reunião que

participam como solteiros.

Testemunhança

Espaço no culto onde o membro pode

contar alguma bênção recebida de Deus. O

ato de se levantar para contar chama-se

testemunhar.

Trazer ou levar saudações

Quando o membro vai em visita a outra

comunidade, alguns costumam levantar-se e

dizer que desejam levar saudação para aquela

comunidade, ao que o povo responde com

amém, sim. Da mesma forma poderá trazer

saudações de outras igrejas.

Testemunhado

Diz-se da pessoa que ouviu o evangelho

segundo a pregação da Congregação

Cristã, sendo que geralmente já está indo à

Congregação, mas não se batizou ainda.

Descer às águas

Ser batizado nas águas (na vasca batismal).

Ungido

Líder religioso, chamado de ancião, sua

indicação é por revelação, o escolhido deve

ser selado com a promessa, falar em

línguas (glossolalia)

Criatura

Todas as pessoas que não são da CCB e

também não são testemunhados. Porém, Já

saiu ensinamento para não ser mais usado

este termo

Chamar na graça

Batizar na Congregação Cristã.

Seitário

Qualquer evangélico que não pertence à CCB.

Muitos ainda a utilizam internamente, ao se referirem

a crentes de outras igrejas.

Fazer uma entrevista com jovens da Congregação Cristã no Brasil e com

jovens não pentecostais sobre o significado das seguintes expressões:

Jovens pentecostais Jovens não pentecostais

Obra de Deus

Cair da graça

Testemunhança

Descer às

águas

Seitário

Criatura

Análise de um filme como documento histórico

Santa Cruz - A casa de oração Jesus é o General (1999) de João Moreira

Salles e Marcos Sá Correa, é um documentário que mostra o nascimento de

uma igreja pentecostal numa área quase intransitável e inacessível na periferia

de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. A igreja foi criada pelo pastor Jamil,

metalúrgico aposentado, pessoa tímida e silenciosa, oposto dos pastores

neopentecostais. Neste sentido, é importante perceber a receptividade dos

moradores da comunidade e os efeitos da nova igreja naquele lugar, a

valorização dos lotes, a expansão da igreja, o sentido que a nova igreja dá à

vida de cada indivíduo como identidade e pertencimento.

Figura 07 - Filme Santa Cruz - A casa de oração Jesus é o General

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Figura 08 - Filme Santa Cruz - Dia de Batismo

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Figura 09 - Filme Santa Cruz Pastor Jamil Alves da Silva em trabalho de batismo - 1999.

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Figura 10- Filme Santa Cruz Pastor Jamil Alves da Silva batizando a irmã Tatiane Francisco de souza Rosa da Fonseca Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Assista ao filme "A casa de oração Jesus é o General" e depois responda às questões

abaixo.

1. Ficha técnica do filme: título, direção, ano, produção, atores principais, música.

2. Resumo (de 15 linhas) do tema do filme.

3. É um filme de ficção (fantasia), ou um documentário?

4. Que tema histórico ou contexto retrata?

5. Analise a cena em que o "Espírito Santo se manifesta" na igreja. Qual sua opinião

sobre esses fenômenos?

6. Qual a importância da igreja para a comunidade, numa região totalmente abandonada

pelo poder público, como retrata o documentário?

7. Que relações podemos estabelecer entre: religiosidade, sentimento de pertencimento e

história local.

8. Em que outro ambiente o servente de pedreiro Veronilson também poderia usar a

gravata além do espaço de sua igreja.

9. Quais as semelhanças entre a "Casa de Oração Jesus é o General" e a Congregação

Cristã no Brasil.

Unidade 4: Glossolalia: o protesto dos aflitos

Falarão novas línguas” (Mc 16.17)19

O dom das línguas, ou glossolalia, constitui um elemento marcante da

doutrina pentecostal. Trata-se de uma forte evidência do batismo no Espírito

Santo, com formas de expressão de balbuciar palavras ou sons sem

interconexão ou sentido que possa ocorrer em forma de canto ou oração20.

Cabe enfatizar que a Congregação Cristã no Brasil é enfática com relação a

esses fenômenos.21 "Nós cremos no batismo do Espírito Santo, com evidência

de novas línguas, conforme o Espírito Santo concede que se fale (Atos 2:4:

10:45-47 e 19:6)".

19 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. Bíblia sagrada: Tradução Ivo Storniolo e Euclides Balancin. São

Paulo: Paulina, 1990. Mc, vers. 16-17. 20 As aclamações êxtáticas mais presentes entre os grupos pentecostais: "Amém", "Aleluia", "Hosana",

Samalaia", "Senhor Jesus", "Bendito Deus". 21 Estatuto. Congregação Cristã no Brasil, Art. 22 Capítulo VII.

UNIDADE TEMÁTICA INVESTIGATIVA – 1

IDÉIAS PRÉVIAS

TEMA: Glossolalia

O que você sabe sobre esse tema:

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Figura 11 - Filme Santa Cruz O Espírito Santo se manifesta (glossolalia)

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U

R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Figura 12 - Filme Santa Cruz - O Espírito Santo se manifesta (glossolalia)

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U

R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Figura 13- Filme Santa Cruz - O Espírito Santo se manifesta (glossolalia)

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg>

Acesso em 20.06.11

A glossolalia não é um fenômeno novo, sempre existiu em diferentes

períodos e lugares da história das religiões, pode se manifestar em formas de

experiências extática individual, espaço coletivo através de um ambiente

propício ou promovida através de um líder carismático. Pesquisas modernas

oferecem algumas discussões sobre esses comportamentos. Para o

antropólogo Lewis (1999)22, como para Goodman (1974)23, a glossolalia está

associada às circunstâncias sociais e podem manifestar em maior ou menor

grau de acordo com a região. Ainda para Lewis é um comportamento típico de

categorias liminares principalmente em sociedades rigidamente estratificadas,

entendido como um protesto politicamente e tenuemente disfarçado entre

esses grupos que não contam com outras formas de representações para

denunciar e pressionar por atenção e respeito.

Geralmente a glossolalia apresenta maior incidência entre as mulheres

de classe social mais desfavorecida e em sociedades patriarcais nas quais os

homens negam a suas companheiras uma efetiva igualdade jurídica.

Ressentidas contra os abusos masculinos, o êxtase é usado como uma

estratégia em situações de aflições para conquistarem maior consideração e

respeito no grupo familiar e na comunidade, estabelecendo assim um certo

equilíbrio, mesmo que aparente. Para Lewis a glossolalia também pode ser

exercida para fortalecer e legitimar a função de um líder religioso, que impõe

sua autoridade e reconhecimento como vontade divina sem questionamentos

por parte do grupo.

Há discussões do campo da Psicologia que entendem que se trata de

uma manifestação de doença mental, afirmam que a desordem de consciência

está associada a estados esquizofrênicos, epilépticos ou histéricos. No entanto,

outros estudos têm afirmado a incoerência entre essa associação, porque

existem significativas diferenças entre pessoas que sofrem de desordem

mental e pessoas que participam de experiências religiosas envolvendo a

glossolalia, porque o êxtase não se apresenta no cotidiano do indivíduo, mas é

preciso um ambiente próprio para a sua manifestação.

22

LEWIS, Ioan M. Êxtase religioso: um estudo antropológico da possessão por espírito e do

xamanismo. Tradução José Rubens Siqueira de Madureira. São Paulo: Perspectiva, 1977- 272p. 23

GOODMAN, Felicitas D. Speaking in Tongues - A Cross-Cultural Study of Glossolália. Chicago:

The University of Chicago Press, 1974. 175 p.

Entretanto, para o campo da psiquiatria é importante destacar o estudo

de Freud (1912)24. Para ele a histeria ou êxtase é o resultado do conflito entre o

ego e algum desejo proibido que, no entanto, é suprimido, e que num dado

momento é liberado pelo corpo, tendo como conseqüências alterações

comportamentais, seguida de movimentos bruscos ou não.

Ainda a esse respeito Fernando Portela Câmara, psiquiatra clínico,

professor da UFRJA, em um artigo sobre Transe e Possessão: As bases da

Psiquiatria Transcultural Brasileira, (2008) afirma que:

A maioria das pessoas que se apresentam em transe não são, decididamente, portadoras de nenhuma patologia psiquiátrica. Trata-se da influência de elementos sócio-culturais na representação da realidade, não deve ser, por si só, tomada como doenças mental.

(CÂMARA, 2008)25

Já, no artigo Religião, Identidade e sentido de pertencimento, (2004) a

socióloga Márcia Mello Costa de Liberal procura analisar o fenômeno

glossolalia como um sistema de representações:

Em relação à representação dos conhecimentos, além da transmissão já existente, a organização religiosa pode também produzir novos sentidos religiosos, em novas circunstâncias; por exemplo, quando muitas são as transformações culturais, e o sentido anterior não é mais decodificado pelos fiéis, deixa de se relacionar com a realidade do presente, há necessidade de serem transformados e de serem criados novos sistemas de representações. (LIBERAL, 2004)

26

24 Garcia-Roza, L. A. (1994). Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original

publicado em 1984) 25

Fernando Portela Câmara. Transe e Possessão: As bases da Psiquiatria Transcultural Brasileira, Disponível em: http://depressaoepoesia.ning.com/profiles/blogs/transe-e-possessao-as-bases-da. Acesso

em 03 de julho de 2011. 26 LIBERAL, Márcia Mello Costa de. Religião, Identidade e sentido de pertencimento. VIII Congresso

Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Coimbra 16,17 e 18 de Setembro de 2004

UNIDADE TEMÁTICA INVESTIGATIVA - 2

IDÉIAS TRABALHADAS

UNIDADE TEMÁTICA - AUTOAVALIAÇÃO

O que você entendeu sobre esse tema?

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Estabeleça as diferentes visões sobre o fenômeno da glossolalia para a:

Antropologia

Sociologia Psicologia Psiquiatria

Livros para leitura e consulta

LEWIS, Ioan M. Êxtase religioso: um estudo antropológico da

possessão por espírito e do xamanismo. São Paulo: Perspectiva, 1977.

Fernando Portela Câmara "Transe e Possessão: As bases da

Psiquiatria Transcultural Brasileira".

Disponível em: http://depressaoepoesia.ning.com/profiles/blogs/transe-e-

possessão-as-bases-da. Acesso em 05 de junho de 201

FILMES RELACIONADOS COM O TEMA

Santa Cruz - A casa de oração Jesus é o General (1999) dirigido por

João Moreira Salles. Mostra o nascimento de uma igreja

neopentecostal, o sentido da igreja na vida dos moradores.

Santo Forte, (1999) documentário de Eduardo Coutinho. Sobre

experiência de religiosidade

4.1. O sentimento de pertencimento e a contribuição da CCB com a

história local

Desenvolve-se neste trabalho, ainda que em caráter introdutório, a

possibilidade de se discutir a importância da adesão a uma comunidade

religiosa para as pessoas, não se trata de estudar a doutrina e disciplina de

uma igreja pentecostal ou praticar fundamentalismo religioso, muito menos

tecer considerações sobre o lado místico da experiência religiosa.

Mas, a partir da observação de uma comunidade de irmãos específica,

Congregação Cristã no Brasil, na cidade de Mandaguari-PR, foi possível

perceber suas contribuições com o sentimento de pertencimento e identidade

que estabelece a um determinado grupo social e que faz as pessoas se

sentirem aceitas e valorizadas. Neste sentido a religiosidade organiza a vida

das pessoas, mesmo nas escolhas mais simples, como o modo de se vestir,

corte de cabelo e a adoção de um código rígido de comportamento (NOVAIS,

1985)27. Assim, a Igreja da sentido à vida, conduz as pessoas a trilhar

caminhos considerados corretos pela sociedade.

"A igreja organiza a vida das pessoas, mesmo nas escolhas mais simples, como o modo de se vestir"

Figura 14 - Filme Santa Cruz - "Dia de Culto"

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U

R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

27 NOVAES, Regina Reyes. Os escolhidos de Deus: pentecostais, trabalhadores & cidadania. Rio de

Janeiro: Marco Zero, 1985.

"A igreja contribui para mudar alguns valores masculinos como o cigarro e bebida"

Figura 15 - Filme Santa Cruz - Interior da igreja "A casa de oração Jesus é o General"

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U

R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Para Salles (1999)28, os homens buscam uma ordem terrena e uma

forma de vida mais organizada, e o pentecostalismo, com suas disciplinas

rígidas, oferece essa forma de conduta.

Nascimento (1999) destaca uma maior presença de mulheres em relação aos

homens, porque a adesão aos princípios evangélicos não representa

mudanças significativas para as mulheres como para os homens, porque eles

têm maior liberdade nos espaços da rua:

A rua pode ser considerada para o homem como seu lugar simbólico por excelência, porque representa, a um só tempo, o espaço de liberdade e anonimato – onde pode dar vazão a seus impulsos sem o olhar repressor dos conhecidos parentes, assim como a seus sentimentos de tristeza e fracasso –, e espaço da sociabilidade e lazer (da bebida com amigos, dos jogos, bares, farras).

(NASCIMENTO, 1999,p.73)29

Para Machado (1996) a adesão ao pentecostalismo também

estabelece harmonia no espaço familiar, principalmente para as mulheres, que

ampliam seus direitos no espaço doméstico, como também no público,

28 Salles, joão Moreira. "Cena por Cena". (Entrevista a alunos de Comunicação Social da PUC). São

Paulo, 2003 29

NASCIMENTO, Pedro F. G do. 1999. “Ser homem ou ser nada”: diversidade de experiências e

estratégias de atualização do modelo hegemônico da masculinidade em Camaragibe/PE. Disser-

tação de Mestrado em Antropologia. Recife: UFPE.

participando de visitas e eventos da igreja.Também por meio dele elas podem

mudar alguns valores masculinos como o cigarro, bebida, dança, aventuras

amorosas, ainda muitos associados à masculinidade:

Domesticar seus cônjuges, que uma vez convertidos abandonam o consumo de bebida alcoólica, as visitas às prostitutas e o vício do cigarro, canalizando o dinheiro para a família e suas demandas. E mais: ao condenar o orgulho, a arrogância e o uso da violência, e reforçar a passividade, a generosidade e a humildade em homens e mulheres, a doutrina pentecostal ajuda a mudar o poder relativo dos esposos, criando um modelo alternativo para a tradicional família patriarcal ou um 'novo ethos familiar'. (MACHADO, 1996,p.34)

30

A convivência entre irmãos nos grupos pentecostais também estabelece

dignidade e uma igualdade aparente entre as mulheres e homens em situações

econômicas mais privilegiadas e homens em situações desfavorecidas. Assim,

na própria liturgia como no momento do testemunho31, todos podem participar,

todo testemunho é relevante, todos são protagonistas, o cotidiano é valorizado.

Nas inúmeras atividades promovidas pela Igreja como batismo, reuniões de

mocidades32, cultos de evangelização em residências e visita de solidariedade

a doentes.

30 MACHADO, Maria das dores Campos. Carismáticos e Penecostais - adesão Religiosa na Esfera

Familiar. Campinas (sp): autores Associados; São Paulo: ANPOCS, 1996 31

Testemunho ou Testemunhança, espaço no culto onde o membro pode contar alguma bênção recebida, 32

Nas reuniões de mocidade os jovens são alertados contra o perigo de droga, fumo, bebida, jogos,

aventuras amorosas, modismo, perigos do mundo virtual, além de ser um momento favorável de

sociabilidade e escolha de parceiros matrimonias na própria comunidade.

"A igreja também contribui com a integração social e aumento da autoestima quando os

fiéis em forma de agradecimento por sua filiação religiosa, "Afastamento das coisas do

mundo" procuram estar sempre bem trajados, com terno e gravata, vestido social, como

uma forma de identidade oposta à identidade mundana"

Figura 16 - Filme Santa Cruz - Interior da igreja "A casa de oração Jesus é o General"

Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U

R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Nós cremos que Jesus Cristo tomou sobre si as nossas enfermidades. “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da Igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. (Mat. 8:17; Tiago 5:14-15).

Figura 17 - Filme Santa Cruz - grupos de fiéis em visita de solidariedade a um irmão doente. Disponível em: <hhttp://images.carvalho.multiply.com/image/1/photos/upload/300x300/R7Q4U

R7Q4UgoKCmYAAEkG8ww1/Santa%20Cruz.jpg> Acesso em 20.06.11

Também contribui com a integração social e aumento da autoestima

quando os fiéis em forma de agradecimento por sua filiação religiosa,

"Afastamento das coisas do mundo” (NOVAIS, 1985, p.9) procuram estar

sempre bem trajados, com terno e gravata, vestido social, como uma forma de

identidade oposta à identidade mundana, como uma forma de negar o mundo

em todas as suas dimensões. Para (Mesquita, 2006) a seriedade e elegância

nas vestimentas possibilita uma posição de igualdade dificilmente concretizada

em outras situações.

Neste sentido, 'ser crente', costuma-se dizer, 'é ser diferente'

(ANTONIAZZI, 1996, p.14) é recriar uma nova ordem de existência “fora deste

mundo de pecados”.33

De forma muito genérica pode-se afirmar que todas estas contribuições

fundamentam, completam e reforçam os argumentos expostos sobre formas

primárias de pertencimento, porque ser crente também é uma identidade

social, um estilo de vida diferente, que torna essas pessoas alvo de admiração,

é recriar um novo significado para a existência. O crente continua vivendo no

mundo, mas não se considera mais do "mundo". (MESQUITA, 2006, p.169)

Cabe enfatizar que a comunidade religiosa estabelece um processo de

afirmação individual e integração social, uma possibilidade de fortalecer a

moralidade através de códigos de comportamento vigiado, visto pelo crente

como positivo por afastá-lo de forças malignas, como escreve Maria das dores

Campos Machado:

Mas a rejeição ao mundo não implica aqui sua transformação, ao contrário: prega-se o recolhimento do fiel ao interior da comunidade religiosa para se proteger das 'forças malignas' que regem o mundo externo - a sociedade inclusiva. Ali ele pode vigiar e ser vigiado pelos companheiros de fé, adotando uma moralidade em grande parte 'privatizada (MACHADO, 1996,P.51)

34

Em relação à esfera doméstica, a conversão ao pentecostalismo

também estabelece um processo ético e racional, os homens são

aconselhados a deixarem o vício da bebida, cigarro e jogos, como o espaço da

rua. Assim, ampliam os relacionamentos em família com o enfraquecimento de

posturas machista entre os cônjuges35, conforme consta na Bíblia, principal

fonte de autoridade e objeto definidor da identidade do crente: "Igualmente vós,

maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso

33 ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos, nem demônios - Interpretações sociológicas do

pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996 (2ª edição). 34 MACHADO, Maria das Dores Campos. Carismáticos e Pentecostais - Adesão Religiosa na Esfera

Familiar. Campinas (SP): Autores associados, São Paulo: ANPOCS, 1996. 35 A constituição de um “novo” ethos que se instaura a partir da conversão às igrejas evangélicas tem sido

tema recorrente na literatura socio-antropológica brasileira e latino-americana sobre o universo

evangélico, especialmente os pentecostais (Machado & Mariz 1997; Burdick 1998; Drogus s/d, 1996;

Machado 1996; Brusco 1994, 1997; Gouveia 1986, 1998; entre outros); embora seja sobre as mulheres

que grande parte das discussões esteja voltada. Estes autores concordam que o pentecostalismo tem

valores menos machistas do que os dominantes na sociedade.

mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que

não sejam impedidas as vossas orações." 36

Conclusão

Em relação à temática aqui privilegiada, espera-se poder contribuir

para uma melhor compreensão do fenômeno do pentecostalismo brasileiro,

bem como acerca das questões ainda muito presentes de valorações

negativas, principalmente através senso do comum (de classe média,

secularizado e cosmopolita)37 representados como irracionais, alienantes e

exploradores dos pobres.

A presença da Igreja é determinante para a comunidade, porque é uma

instituição religiosa que realiza intervenção positiva na vida dos fiéis, realizando

mudanças individuais, de comportamento, ocupação e racionalização do

cotidiano, estabelecendo comunidade de sociabilidade, institui uma doutrina de

caráter ascético, que favorece uma melhor compreensão/aceitação de

privações materiais.

36 BÍBLIA, N. T. Pedro. Português. Bíblia sagrada: Tradução Ivo Storniolo e Euclides Balancin. São

Paulo: Paulina, 1990. Mc, vers. 3-7. 37 MESQUITA, Cláudia Cardoso. "Deus está no particular" Representações da experiência religiosa

em dois documentários brasileiros contemporâneos. Tese de Dourotado defendida na universidade Estadual de São Paulo em 2006.

REFERÊNCIAS

ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos, nem demônios - Interpretações sociológicas do pentecostalismo. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1996. BÍBLIA, N. T. Pedro. Português. Bíblia sagrada: Tradução Ivo Storniolo e Euclides Balancin. São Paulo: Paulina, 1990. Mc, vers. 3-7. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997. CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL. Relatório 2009/2010. nº 73: São Paulo - Brasil. ________, Estatuto, 2004 Artigo 27 ________, Resumo de ensinamentos 76ª Assembléia: São Paulo -19 a 23 de abril de 2011. FERREIRA, Miguel Iranilde & MIRANDA, Arilda Ribeiro. Mulher - professora e pentecostal: um estudo sobre relações de gênero e religiosidade na escola.

Disponivível em: <http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st8/Miguel,%20Iranilde%20Ferreira.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2011. FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo Brasileiro. In: ANTONIAZZII, Alberto et. al. Nem Anjos Nem Demônios. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. Garcia-Roza, L. A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. GOODMAN, Felicitas D. Speaking in Tongues - A Cross-Cultural Study of Glossolália. Chicago: The University of Chicago Press, 1974. 175 p LEWIS, Ioan M. Êxtase religioso: um estudo antropológico da possessão por espírito e do xamanismo. Tradução José Rubens Siqueira de Madureira. São Paulo: Perspectiva, 1977- 272p. LIBERAL, Márcia Mello Costa de. Religião, Identidade e sentido de pertencimento. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais Coimbra 16,17 e 18 de Setembro de 2004 MACHADO, Maria das Dores Campos. Carismáticos e Pentecostais - Adesão Religiosa na Esfera Familiar. Campinas (SP): Autores associados, São Paulo:

ANPOCS, 1996. MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalsmo no

Brasil. São Paulo: Loyola, 1999. MARIZ, Cecília L. & MACHADO, Maria das Dores Campos. Pentecostalismo e a redefinição do feminino. Cidade: Editora, 1994. Religião e Sociedade, 17(1-2). MESQUITA, Cláudia Cardoso. Deus está no particular. Representações da experiência religiosa em dois documentários brasileiros contemporâneos. Tese de Dourotado defendida na universidade Estadual de São Paulo em 2006 NASCIMENTO, Pedro F. G do. 1999. Ser homem ou ser nada: diversidade de

experiências e estratégias de atualização do modelo hegemônico da masculinidade em Camaragibe/PE. Dissertação de Mestrado em Antropologia. Recife: UFP