secretaria de estado da educaÇÃo do paranÁ ......5 os resultados de violência ocorridos que,...
TRANSCRIPT
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE
TRABALHO
Artigo Científico apresentado à
Secretaria de Estado da Educação, no
Programa de Desenvolvimento Educacional,
como atividade final do quarto semestre de
2012, sob a orientação da Doutoranda
Janete Ritter, pela Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de
Cascavel - PR.
CASCAVEL – PR
JULHO/2012.
2
INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE TRABALHO.
MARIA APARECIDA DEMITO PILEGI¹
JANETE RITTER²
RESUMO: Ao concluir a implementação do projeto do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional - podemos observar que a escola perpassa ao longo do caminho por múltiplas fases dos alunos, por isso, precisa organizar-se pedagogicamente, promovendo ambientes tranquilos que possam construir valores humanos necessários à formação do caráter. Percebemos que os comportamentos são frutos dos ambientes a que somos expostos, então é importante ensinar às crianças determinados valores humanos que venham contribuir para sua formação. Atualmente o que torna o trabalho educacional enfadonho não é a transmissão de conhecimento científico, mas os empecilhos que os profissionais enfrentam para a concretização do seu trabalho educativo. Sabemos também que não é tarefa fácil administrar as emoções, por isso, precisamos ter consciência que a geração que aí está é fruto da forma como nós adultos a preparamos e a formamos. Não pretendemos por a culpa em alguém e nem achar culpados, mas a escola, família e sociedade precisam buscar alternativas de superação para uma formação de qualidade. Estudos concluem que sempre haverá situações de indisciplina e violência, mas precisamos saber lidar com cada um destes momentos. A educação do século XXI requer novas habilidades e compreensão por parte dos educadores, o que provou nesta implementação é de que temos um longo caminho a percorrer, pois há desafios tanto para o profissional da educação superar, quanto para os alunos e, principalmente, para seus responsáveis.
Palavras-chave: Valores Humanos; indisciplina e Violência.
_____________________ 1 MARIA APARECIDA DEMITO PILEGI, Pedagoga, formada pela FAFIJAN-PR e Letras/Inglês pela
UNIOESTE-Cascavel-PR, Pós-Graduada em Didática da Educação pela Faculdade São Luiz-SP, Aluna do PDE/2010. ² JANETE RITTER, Pedagoga, Mestre pela UFPR, Doutoranda da UNICAMP.
3
Abstract:
Concluding the project implementation for the PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional we can observe that school pervades along the way by multiple students’ phases, therefore need to organize it educationally; promoting peaceful places that may make human values necessary to formation the character. We realize that the behaviors are the result of the places we are exposed, then it is important to teach children certain human values that contribute to their formation. Nowadays which makes the boring educational work is not the transmission of scientific knowledge, but the obstacles that professionals face in the realization their educational work. We also know that is not easy governing emotions, so we need to realize that there is a generation that is the result of how we prepare them. We do not want to blame someone and not feel guilty, but the school, family and society need to search alternatives to overcome for a quality education. Studies conclude that there will always be situations of indiscipline and violence, but we need to deal with each of these moments. The education on XXI century requires new skills and understanding by educators, which proved in this implementation is that we have a long way to go, because there are challenges for both professional education to overcome, and for students and especially for their guardians.
1 INTRODUÇÃO
O assunto que pretendemos tratar neste artigo não é inédito e nem tão pouco
novidade porque já é sabido por todos, ou quase todos, que desde a criação do
mundo a questão da violência se fez presente entre os seres humanos. Basta
observarmos na Bíblia Sagrada, no livro de Gênese o qual relata sobre as origens
da criação do mundo e da humanidade que descreve o primeiro caso de indisciplina
e, consequentemente, de violência, fazendo com que o Criador se arrependesse de
sua criação. Vejamos na íntegra o que diz em Gênese, no Capítulo-6, versículo-6:
“O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de
íntima dor”.
Se observássemos mais passagens bíblicas sobre a violência iríamos
encontrar inúmeras delas, mas dentre as quais, basta citarmos o primeiro crime
relatado também no livro de Gênese, Capítulo-4, versículo-8, que diz: “Caim disse
4
então a Abel, seu irmão – “Vamos ao campo”. Logo que chegaram ao campo, Caim
atirou-se sobre seu irmão e matou-o.”
Sabemos que violência gera violência e que a maioria delas são provocadas
por falta de disciplina. Sabemos também que os valores humanos têm uma grande
importância no combate à indisciplina e violência quando repassados de forma
consciente. E que existem vários tipos de violência, mas neste projeto de
implementação do Programa de Desenvolvimento Escolar- PDE desenvolvemos
estudos e pesquisas bibliográficas sobre a indisciplina e violência na escola,
especificamente.
Estudos apontam que o fundamental é trabalhar com um projeto de
enfrentamento da indisciplina e violência na escola que envolve todo o seu coletivo,
ou seja, para ser devidamente equacionado tal problema, deve ser construído e
assumido em sua totalidade, com clareza do que queremos alcançar como resultado
possível de acontecer, com o compromisso de toda comunidade escolar envolvida,
como, pais, alunos, funcionários, professores, equipe pedagógica e direção da
escola, mas é necessário ressaltar que a indisciplina e nem a violência não são um
fenômeno unifatorial, ou seja, não podemos atribuir unicamente causas exógenas e
ou endógenas como dimensões relativas aos fatores situacionais, mas o êxito de
influências que os sujeitos possuem no seu autoconceito e que podem repercutir em
vários aspectos em suas vidas, perante a cada atitude tomada. Daí a necessidade
de se ter parâmetros, leis, que são nada mais, ou nada menos do que normas e
regras para se cumprir.
Abramovay e Rua, 2003, citam em um de seus textos Repercussões das
violências e soluções alternativas que:
As situações de violências comprometem o que deveria ser a identidade da escola --- lugar de sociabilidade positiva, de aprendizagem de valores éticos, pautados no diálogo, no conhecimento da diversidade e na herança civilizatória do conhecimento acumulado. Essas situações repercutem sobre a aprendizagem e a qualidade do ensino tanto para alunos, quanto para
professores. (ABRAMOVAY e RUA, 2003, p.65).
A sociedade moderna se mostra um tanto conturbada pelos acontecimentos
que frequentemente são exibidos na mídia e redes sociais, alavancando ainda mais
5
os resultados de violência ocorridos que, muitas vezes, comprometem a qualidade
do desenvolvimento da aprendizagem escolar.
Durante o desenvolvimento das oficinas de implementação do PDE tivemos a
confirmação dos vários estudos e pesquisas estudados por autores que tratam sobre
o fenômeno da violência, da indisciplina e da falta de valores humanos que assolam
o mundo. Através das diferentes práticas desenvolvidas com os alunos oficineiros
observamos que há angústias e indignações de ambas as partes, professores e
alunos diante do problema abordado.
Yves De La Taille, 1992, nos dá mais uma contribuição diante das
encruzilhadas diárias de o que fazer? Por aonde ir? Compreender ou reprimir? Que
alternativas? Diante de um dos maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais,
vejamos:
Lembra que resta à escola uma solução: Lembrar e fazer lembrar em alto e bom tom, a seus alunos e à sociedade como um todo, que sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão, são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos. (LA TAILLE, 1992, p.23, in Julio G Aquino, 1996).
Fez-se necessário assim, um trabalho de reflexão sobre os valores humanos
e como estes interferem e se relacionam com a indisciplina e a violência escolar.
Sendo esse nosso objetivo, além disso, procurar sensibilizar os docentes e
discentes sobre a importância de saber lidar com os conflitos que atingem a pré-
adolescência e a adolescência na atualidade e desenvolver a capacidade de intervir
e de evitar comportamentos agressivos que acarretam atos de indisciplina e
violência com prejuízos na aprendizagem.
2 DESENVOLVIMENTO DO RELATÓRIO DE IMPLEMENTAÇÃO
O primeiro passo para dar início ao projeto de implementação do Programa
de Desenvolvimento Educacional - PDE sobre “Indisciplina e Violência na Escola:
uma proposta de trabalho”, que foi exposto aos alunos dos nonos anos do Colégio
6
Estadual Vital Brasil, dos períodos matutinos e vespertinos, como seria trabalhada
as oficinas, a importância e a necessidade de desenvolver atividades na escola com
os demais alunos sobre valores humanos, indisciplina e, consequentemente, a
violência, face aos acontecimentos que recentemente vem assolando toda
comunidade escolar com mais incidência, sem escolha de classe, espaço e/ou
cultura a que pertencem os envolvidos, tanto como praticantes ou como vítimas de
violência escolar, especificamente as que se referem às agressões físicas, verbais e
morais.
Foi feito o convite com muito incentivo aos alunos para participarem das
oficinas, os quais aceitaram e foi entregue no mesmo momento aos futuros
oficineiros uma autorização para que seus pais assinassem, explicando local,
horário e datas, também os assuntos a serem estudados nas oficinas, para que eles
pudessem participar com esmero e ciência de seus pais e/ou responsáveis.
Na primeira oficina de implementação, após dar boas vindas e ao mesmo
tempo agradecendo por estarem colaborando e participando do projeto de
implementação do PDE, foi explicado aos alunos oficineiros o que é implementação
e a repercussão que se espera surtir, porque no final teremos que apresentar um
resultado.
Iniciou-se com uma mensagem sobre um clipe do filme “O Gladiador”,
denominada “Força e Honra” e após assistirem foram feitas várias reflexões,
explorando as ideias repassadas na mensagem sobre: “através de quais atitudes se
constrói a honra?” “Poder se conquista com força (violência), ou com respeito e
honra?” “Que exemplos podemos citar do nosso cotidiano que são conquistados
com respeito e honra?” “Quais são os valores que são destacados na mensagem
assistida sobre Força e Honra?” “As pessoas disciplinadas conseguem ter
admiração? Por quê?” “Quais valores vocês consideram primordial na nossa vida?
Por quê?” “O que precisa urgentemente ser considerado primordial no ambiente
escolar para diminuir os casos de desrespeito e violência?”
As reflexões foram unâmines quanto à mensagem do vídeo, pois segundo os
oficineiros devemos ser persistentes e acreditar nos nossos sonhos, tentar sempre
alcançar os objetivos por mais medo insegurança que sentir, nunca desistir, valorizar
e respeitar todas as pessoas.
Em seguida foi desenvolvida uma técnica de socialização com bexigas, as
quais eram cheias pelos alunos que iriam colocando através de pensamentos tudo
7
que acreditavam ser importante na e para a vida deles, pois não podiam deixar
estourar e nem deixar cair no chão, eles iriam brincar, jogar para cima, mas não
podiam deixar cair, e quando eles fossem tocados pela professora, deveria ficar
congelados, por sua vez, o colega teria que socorrer sua bexiga para que ela não
caísse. Ao tocar em vários alunos para congelarem, os demais teriam que se
desdobrarem para socorrer a bexiga do colega, a qual caía no chão.
Espaçadamente, ao segundo toque o aluno ficaria descongelado e passava a
socorrer as bexigas que estavam pelo chão, sem mesmo saber de quem fosse.
Assim todos descongelados, as bexigas voltavam ao ar e a brincadeira se tornaria
mais prazerosa e tranquila.
Conversamos sobre o que sentiram e o que entenderam. A reflexão foi muito
rica porque se percebeu a importância do trabalho em grupo, a responsabilidade que
cada participante precisa ter e a necessidade da ajuda mútua, também se observou
que quando um falta com sua parte sobrecarrega o outro.
Para encerrar a primeira oficina foi colocada uma caixa sobre a mesa para
que escrevessem algo sobre “qual seria o maior desafio para a vivência em grupo no
seu dia-a-dia?” Não precisaria por nome e que seria a hora de tirar dúvidas ou dar
sugestões e seria também assunto de discussão no início da segunda oficina.
2.1 A QUESTÃO DA INDISCIPLINA NA ESCOLA
Para iniciar a oficina direcionada sobre a questão da indisciplina foi discutido
quais os maiores desafios que os alunos encontram para a vivência em grupo no
dia-a-dia, e as respostas de maior incidência foram insegurança, ansiedade e até
medo. Em seguida foi discutido sobre os diferentes significados de indisciplina,
segundo alguns dicionários dispostos em sala e apresentado em slides partes dos
significados descritos no artigo de implementação, que foi o material didático
apresentado, de autoria de Maria Aparecida Demito Pilegi, sob a orientação da
Doutoranda Janete Ritter, no PDE/2010.
Foram citados vários exemplos do cotidiano que são considerados falta de
disciplina e destacadas algumas situações que ocorrem na escola e na sala de aula
que também são atos indisciplinar. Dando sequência, foi feita a leitura de um texto
intitulado “As Três Peneiras de Sócrates”, cujos comentários dos alunos foram
comparações com os exemplos antes citados por eles, de que vários conflitos
8
acontecem porque as pessoas são indisciplinadas e não se utiliza a prática das três
peneiras de Sócrates, sem citar nomes, os alunos também citaram alguns fatos
acontecidos na escola que se tivessem passados pelas peneiras teriam evitados
muitos acontecimentos indesejáveis de indisciplina e que se tornaram casos de
violência.
Vários pensamentos de autoria de Sócrates foram entregues para cada dupla,
que após lerem e discutirem foram apresentados ao grande grupo várias reflexões, o
que gerou a exposição de vários pontos de vista dos alunos participantes da oficina
sobre indisciplina na escola e na sala de aula.
Também foi estudado um texto de Dulce Critelli “Ensinar a Pensar”, que
conforme a leitura era efetuada se discutia parágrafo por parágrafo e as reflexões
eram fundamentadas nas vivências cotidianas do grupo de alunos, pontuando
alguns destes atos de indisciplina, o que passavam a compreender e o que
poderiam fazer para melhorar suas atitudes.
2.2 CONCEITUANDO A VIOLÊNCIA ESCOLAR
Como já previsto no artigo de implementação fizemos a leitura dos vários
conceitos de violências, citados no referido material didático apresentado no PDE
2010 de autoria de Maria Aparecida Demito Pilegi, sob a orientação da Doutoranda
Janete Ritter.
Assistimos a vários vídeos sobre atitudes de indisciplina em sala de aula que
se tornaram atos violentos, principalmente no que se diz respeito ao uso de celular
em sala de aula, bate boca entre alunos e professores, alunos com outros alunos,
que acabaram em pancadarias, alguns tiveram resultados graves ou até mesmo,
mortes.
Foi também exibido aos alunos vídeos de professores estressados em sala de
aula e relatando no decorrer dos seus discursos que estão doentes, pois na maioria
das vezes que ocorrem tais situações, é ressaltada a falta de autocontrole perante a
indisciplina dos alunos.
Para desenvolver um espírito de compreensão e de combate à violência todos
os alunos participaram de uma dinâmica sobre “O autoretrato”, desenhado, cujo
9
objetivo era aprofundar nos alunos participantes a percepção de si mesmo, fazendo
com que percebessem as motivações que interferem nos sentimentos, nos
pensamentos e, por conseguinte, nas ações.
É uma dinâmica rica, prazerosa, leve e descontraída, mas que pode emergir
emoções intensas favorecendo aos adolescentes o encontro consigo mesmo,
possibilitando assim a compreensão de que precisamos estar sempre preparados
para não temer e nem abusar das diferentes reações que podemos receber ou
provocar no próximo.
Esta dinâmica consiste em ressaltar cada membro do corpo algo como
sentimento, necessidade, metas para a vida, entre outros, mas o que mais foi
destacado e, quase que unâmine, foi a do coração que teria que sair um balão
deste, indicando três paixões, as quais foram o amor pela família, Deus e amigos.
Alguns priorizaram a vida, assim, provaram que não importa a classe social, cultural
ou econômica, todos valorizam muito a família e os amigos. Com isso, houve uma
reflexão da necessidade de compreender mais os seres humanos com quem
convivemos maior parte de nossa vida.
Durante a reflexão ficou claro que conviver com as diferenças pode gerar
conflitos, mas que é uma oportunidade de aprendizagem e crescimento pessoal,
pois quando se discute valores não pode haver espaço para imposições, porque os
valores são construídos com o tempo e a partir das vivências individuais, das trocas
interpessoais e da cultura em que cada um está inserido.
Por isso não cabe ao educador dizer o que é certo ou errado, apresentar
conclusões ou chegar a respostas definitivas, mas é importante que ele faça circular
ideias e ou sentimentos para que cada um reveja e enriqueça seus pontos de vista,
para tomar a suas decisões.
O objetivo era despertar e incentivar o grupo de alunos a fazer um “ensaio do
regulamento interno do Colégio”, ou seja, a ideia ou sugestão partindo deles se
tornaria mais aceitável e, dessa maneira, haveria maior cumprimento das mesmas e
com isso se observou o desejo destes alunos de que haja regras, mas que estas
sejam cobradas e cumpridas tanto pelos alunos, quanto pelos professores.
Assim no próximo encontro fizemos o ensaio do regulamento interno para a
escola, criando para cada ato, considerado pelos alunos falta de disciplina, uma
sugestão de combate e até radicalização da mesma. O que foi surpreendente para a
equipe pedagógica da escola que nos acompanhava nas observações que eram
10
relatadas e sentidas por eles, cuja visão e/ou reflexão, muitas vezes cobradas com
rigor e conhecimento de seus direitos.
Primando por uma escola justa, dinâmica e de qualidade foi entregue em
forma de sugestão para a Direção atual da escola e também para a Direção que iria
assumir no próximo ano letivo de 2012, uma cópia do chamado “Ensaio do
Regulamento Interno do Colégio”, em forma de carta, a qual não será anexada neste
artigo porque os co-autores não autorizaram.
A implementação foi encerrada com uma palestra para todos os alunos dos
nonos anos do ensino fundamental do Colégio Estadual Vital Brasil, ministrada pelo
Presidente do Conselho Tutelar de Vera Cruz do Oeste, Paraná, representado na
pessoa do Subtenente Cirleno Santos, que tem uma vasta experiência e um
conceituado conhecimento e respeito de toda comunidade.
A palestra teve como tema “A Violência Gerada Por Indisciplina e a Falta de
Valores Humanos”. Os alunos questionaram mais sobre: Quais motivos que levaram
a atos de violência atendidos pelos conselheiros no último trimestre do ano de 2011?
Quais leis de penalidades são atribuídas aos casos citados na questão anterior? Na
opinião do Conselheiro Cirleno Santos o que deveria ser feito para diminuir a
violência e a indisciplina escolar? E qual é a visão que o Conselheiro tem do
adolescente de hoje?
As reflexões feitas pelo Conselheiro atenderam as expectativas dos alunos,
os quais queriam mais tempo de palestra e o assunto que mais exploraram foi o da
violência e a justiça que se faz sobre a mesma, se percebeu que os adolescentes
são indignados com algumas situações de violência em que a lei não é cumprida
como deveria ser, ou seja, a justiça é falha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho de implementação do projeto do PDE/2010, sobre a
indisciplina e, consequentemente, violência na escola, muitas vezes, causadas por
falta de valores humanos, observou-se que não há solução fácil, mas que é
essencial trabalhar com questões relacionadas à moral e ao convívio social e criar
sempre um ambiente de cooperação nos espaços educacionais.
11
Ficou claro que as questões ligadas à indisciplina são da natureza humana,
complexas e incertas, que muitas vezes é preciso rever conceitos e analisar
resultados, principalmente as que se referem às formas mais rígidas de se lidar com
os conflitos, pois muitas vezes os resultados imediatistas resultam na piora das
relações entre alunos e professores, comprometendo o comportamento de toda a
turma e não somente dos envolvidos nos atos indisciplinarem.
Observou-se também que há necessidade de discutir mais sobre regras
morais das convencionais, pois há um erro em regimentos escolares. Estes tipos de
regras serem situados num mesmo patamar, ou seja, as regras convencionais
merecem clareza nas definições e tem fundamentos nas negociações através da
conversa e diálogo constante.
As questões ligadas à moral devem ser tratadas como conteúdos de ensino,
segundo a Revista Nova Escola, nº 226, outubro, 2009, p.80 relata uma pesquisa
“de 2002 com 120 universitários, de Montserrat Moreno e Genoveva Sastre, da
Universidade de Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprenderam na
escola para a resolução de conflitos na vida adulta. Apenas 3% apontaram que os
professores lhes ensinaram atitudes e formas específicas de agir.” Nos relatos dos
alunos oficineiros ficou claro que há uma falta constante de diálogo e compreensão
entre professores e alunos, parecem pertencerem a mundos diferentes e a questão
do respeito é imprescindível nesta relação e é o que falta na maioria dos conflitos
gerados.
Nesta mesma revista e página citada no parágrafo anterior, Luciene Tognetta,
do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp
diz que: “Esperar que os pequenos, de modo espontâneo, saibam se portar perante
os colegas e educadores é um engano. É abrir mão de um dever docente.” E ainda
afirma Luciene que a realidade relatada na pesquisa de 2002, também no parágrafo
anterior é próxima da realidade brasileira. “Nosso estilo de ensinar é parecido, pois
joga pouca luz sobre o currículo oculto, aquele que leva em conta o sentimento do
estudante, seus desejos, suas incompreensões”. Não adianta exigir que os alunos
cumpram as tarefas se a estratégia de ensino e o tema estudado não dizem nada a
eles.
Houve muitas colocações no decorrer da implementação observado pelos
alunos a respeito das regras contidas no Regimento Escolar, as quais eram
descumpridas por parte dos alunos, mas também por alguns profissionais da
12
educação, pois há necessidade de enxergar a utilidade do regimento e/ou dos
combinados para manter o bom andamento da instituição e que esta cumpre com o
que se espera da escola que é o conhecimento, com todos os envolvidos e que
respeitem o ambiente escolar, lembrando que as mudanças não acontecem como
uma mágica e não esquecer o que Jean Piaget (1896-1980), também citada na
Revista Nova Escola acima descrita, questionava a possibilidade de a criança
adquirir essa consciência se todo dever sempre emana de pessoas superiores, por
isso precisa ser baseada na cooperação e no entendimento do que é ou não é
moralmente aceito.
Concluímos que o fenômeno da violência sempre existiu e nunca deixará de
existir, mas que segundo Abramovay e Rua (2003) é necessário saber distinguir
violência de indisciplina e que um não é o outro, pois violência não compete à
Instituição escolar resolver, porque há órgãos especializados para atender casos de
violências, deixemos então que tomem as providências cabíveis a cada ato violento,
no entanto, não devemos conformar diante destes e até achar que é normal.
Mas a indisciplina escolar é de inteira responsabilidade da família e da escola
para resolver as situações que por ventura virem acontecer no âmbito escolar,
lembrando que atos indisciplinares é um dos caminhos para se chegar à violência,
por isso há necessidade de intensificar nossos olhares para as situações mais
comuns de indisciplina ocorrida dentro do ambiente escolar.
Precisamos trabalhar mais com a questão dos valores humanos que estão
esquecidas pela maioria nesta época em que vivemos da explosão tecnológica, a
qual facilita a divulgação de uma mega diversidade cultural e econômica que afetam
diretamente a falta de controle por parte dos responsáveis, os quais lhes faltam
tempo e muitas vezes a qualidade deste tempo a que dedicamos com a formação
humana destes “adultos em Miniaturas”, que a sociedade moderna desenvolveu e
desenvolve em nossos adolescentes.
13
8 REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, M.; RUA, M. das G. (2003). Violência nas escolas. Ed.Unesco, doações institucionais.
AQUINO, J. G. (org.) – Indisciplina na Escola: Alternativas teóricas e práticas. Summus Editorial, 1996. 12ª edição. São Paulo.
BÍBLIA SAGRADA – 131ª EDIÇÃO, Editora Ave-Maria, Edição Claretiana -1999.
CHARLOT, B.; ÉMIN, J.C. (Coords). Violences à L’école – état des savoirs. Paris: Masson & Armand Colin éditeurs, 1997.
DE LA TAILLE, Y.; MAIORINO, c.; STORTO, D.; ROOS, L. (1992) Construção da Fronteira da Intimidade: a humilhação e a vergonha na educação moral. Cadernos de Pesquisa, São Paulo. Fundação Carlos Chagas, n.82. PP.43-55.
DE LA TAILLE, Y. (1994) Autoridade e Limite. Jornal da Escola da Vila. São Paulo: n.2.
ENGUITA, M. F. A Face Oculta da Escola: educação e trabalho no capitalismo. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
FRANCO, L. A. C. A Disciplina na Escola. In: Problemas de Educação Escolar. São Paulo: CENAFOR, 1986.
FREIRE, P. Pedagogia da Indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo. Ed. Unesp, 2000. 6ª reimpressão.
LEONTIEV, A. (1978) O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário.
MORAES, M. C. (2003). Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis: Vozes.
REGO, T. C. R. A Indisciplina e o Processo Educativo: uma análise na perspectiva vygotskiana. Summus editorial, 1996, 12ª edição. São Paulo.
REVISTA: Nova Escola ano XXIV – nº 226 – Outubro 2009.
14
SAVIANI, D. Escola e Democracia. São Paulo: Ed. Cortez, 1989. (Coleção “Polêmicas do nosso Tempo”).
SCHETTINI, L. F. A coragem de amar: o fundamento das relações interpessoais. Recife: Bagaço, 2003.
SCHETTINI, L. F. Pedagogia da Ternura. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2010.
SILVA, A. M. M. Educação e Violência: qual o papel da escola? Disponivel em www.dhnet.org.br/inedex.htm, 2002. Acesso em 23 de novembro de 2010. SITE: HTTP://educador.brasilescola.com às 23h e 23m de 14/07/11. SITE:http://www.youtube.com/watch?v=wYMpB83_C0U. Acesso em 14 de setembro de
2011, às 23h. Professores estressados na sala de aula - Stress - Síndrome de Burnout.
SPOSITO, M. P. (1998) Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar no Brasil. In: Revista Faculdade de Educação da USP – Educação e pesquisa. São Paulo: v.27 nº1, pp 87-103, jan/jun,2001.