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Bullying e Proposta Pedagógica Curricular: como articular o conhecimento e

prevenção da violência no cotidiano escolar

Elizabeth do Rocio Silva Burakowski

Pedagoga

Resumo: A não aceitação da diversidade nas escolas gera incidentes com variadas formas e tipos de violência e isto preocupa toda a comunidade escolar; mas a escola trabalha com os conhecimentos historicamente construídos, transformados em conteúdos escolares para permitir sua transmissão. Este texto procura discutir a possibilidade de inserção de conhecimentos transformados em conteúdos escolares que possam propiciar atitudes de aceitação da diversidade, de valorização das diferenças e diminuição de incidentes de violência nas relações sociais dentro do ambiente escolar.

Palavras chave: prevenção, violência, conteúdos escolares.

INTRODUÇÃO

Acompanhando os noticiários pode-se constatar o aumento do relato de

casos de violência ocorridos em escolas.

È possível discutir o aumento destes casos relacionando-os ao contexto

social atual, marcado por situações de variados graus e tipos de violência. As

escolas discutem as medidas a serem tomadas para evitar que as situações de

violência ocorram em seu cotidiano, mas encontram dificuldade em estabelecer

formas de realizar esta tarefa.

Não é diferente no Colégio Estadual São Cristóvão, em São José dos Pinhais,

região metropolitana de Curitiba, Paraná.

Este colégio tem uma história que o diferencia de outros, pois ele só existe

devido a luta da comunidade. Começou como uma escola para séries iniciais, nas

dependências da Igreja São Cristóvão, pois o pároco, padre Pedro Fuss não

aceitava que as crianças ficassem sem escola.

Com o tempo e o aumento de alunos já não havia condições de a escola ficar

nas instalações da Igreja; a comunidade lutou e conseguiu a doação de um terreno

onde foi construído um novo prédio. Para isto, foram organizadas festas e atividades

de arrecadação de fundos pela comissão da igreja.

A escola recebeu o nome do pároco e tornou-se Escola Municipal Padre

Pedro Fuss atendendo alunos de primeira a oitava séries do Ensino Fundamental;

em 1989, com o processo de municipalização do ensino foi dividida em duas

escolas, continuando como Pedro Fuss (municipal) para séries iniciais e como São

Cristóvão (estadual) para séries finais do Ensino Fundamental.

Em 1997 passou a atender o Ensino Médio, tornando-se Colégio Estadual

São Cristóvão Ensino Fundamental e Médio.

Durante a segunda etapa da Semana Pedagógica de 2010 uma das maiores

preocupações dos professores era com a violência e seu impacto nas relações entre

pessoas da comunidade escolar, na escola e no seu entorno.

Como estava pesquisando tema para estudo no PDE e queria que ele fosse

significativo para a comunidade escolar em que atuo, foi escolhida esta temática

para o projeto de implentação.

DESENVOLVIMENTO

Função Social da Escola

A escola cumpre uma função importante na sociedade que é a transmissão do

conhecimento historicamento construído. No entanto, para cumprir esta função

social, precisa planejar suas ações, transformando os conhecimentos em conteúdos

escolares.

Vygotsky, (2002, p. 13), observa que “o principal papel da escolarização é

criar contextos sociais (zonas de desenvolvimento proximal) para o domínio e o

manejo consciente dos usos desses instrumentos culturais (discurso, alfabetização,

matemática) que são sociais em sua origem.”

A sociedade tem se tornado uma das propagadoras de que a educação é

essencial aos seres humanos. Para construir sua Proposta Pedagógica Curricular,

cada escola deve debater o conceito de educação que vai nortear o seu trabalho e

no caso deste trabalho baseou-se em Saviani (1997, p.17) que afirma que a

educação é

Ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens [...] O objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da especie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo.

Portanto a escola deve estabelecer os elementos culturais a serem

selecionados e trabalhados em sua Proposta Pedagógica Curricular, de forma

democrática e coletiva. Estes elementos culturais serão transformados em

conteúdos escolares, que estarão explicitados tanto na Proposta Pedagógica

Curricular quanto no Plano de Trabalho Docente dos professores.

Destaca-se a importância dos conteúdos disciplinares e do professor como

autor de seu plano de ensino, pois este é responsabilidade dos professores e equipe

pedagógica e deve ser construído em colaboração.

Entretanto é o professor responsável pela escolha dos conteúdos pois eles

serão o eixo norteador de seu trabalho em sala de aula com o objetivo de melhorar o

processo ensino-aprendizagem.

Contexto escolar e violência

No cotidiano escolar os professores convivem com os alunos, ouvem suas

idéias, angústias, medos e enfrentam a resistência dos jovens em participar da

chamada cultura da paz, que são ações desenvolvidas para resgatar atitudes que

facilitam o convívio, gerando um ambiente mais harmônico nas salas de aula e nos

demais espaços escolares. No entanto, os jovens são convencidos facilmente pela

mídia televisiva e por inserções nas redes sociais de que a violência é a forma de

resolver disputas, de manter a liderança de grupos constituídos por jovens.

No Colégio Estadual São Cristóvão, pesquisando os registros de ocorrência

do ano de 2010, encontramos que a maior parte dos episódios de violência foram

relacionados a não aceitação das diferenças, tais como suspeitas de

homossexualidade, lesbianismo, pobreza, etnia, cor da pele, obesidade.

Esta violência que surge na escola é uma manifestação de um processo

social que iniciaria na família e nos grupos de convívio (amigos, grupos de jovens

das igrejas, pessoal do futebol) e que está presente nas relações sociais vivenciadas

pelos alunos. Podemos concordar com Cardia (1997, p.40), quando coloca que:

O comportamento dos jovens nas escolas e no bairro assim como seu

desempenho acadêmico e social é afetado pela violência familiar. A literatura

revela que a violência familiar, quando combinada com a violência no bairro,

agrava os efeitos da violência cotidiana testemunhada. É raro que quando há

violência entre os pais que ela não atinja também os filhos. Famílias onde há

violência entre seus membros têm alta probabilidade de estarem socializando

os filhos para a violência.

Quando solicitado aos alunos que apontassem situações de violência vividas

por eles na escola foram relatadas que as discussões ou bateboca são os fatos mais

comuns, mas surgiram também as ameaças e as agressões físicas. As agressões

físicas quase sempre ocorrem na saída das aulas, nas imediações da escola devido

ao medo de sanções que possam receber na escola.

Os profissionais de educação citam como causa destes atos de violência a

falta de limites e crise de valores, ausência dos pais, influência da televisão e a

estrutura social. Os fatores de rendimento insatisfatório dos alunos apontados pelos

profissionais da educacção são o desinteresse, apatia, falta de motivação dos

alunos; falta de apoio das famílias; indisciplina dos alunos.

Já os pais, quando chamados à escola devido aos atos cometidos pelos filhos

declaram saber da existência de problemas, mas que não sabem como resolvê-los;

procuram discutir com profissionais da escola qual a melhor atitude a tomar com os

filhos ou então dizem não saber o que fazer ou apresentam a não aceitação do

comportamento do filho relatado pelos profissionais da escola.

Para compreender a violência é essencial estudá-la.

Segundo May (1981, p.152/3) existem pelo menos cinco tipos reconhecíveis

de violência. São eles:

1. a violência simples, que é o protesto geral contra ser continuamente colocado

numa situação de impotência e implica a existência de elevadas exigências

de moralidade;

2. a violência calculada, onde a frustração e energia acumuladas são

direcionadas de forma calculada para atingir objetivos;

3. violência fomentada é uma estimulação da impotência e frustração sentidas

pelo povo para atingir os objetivos de um orador;

4. violência por omissão, onde sabemos, não concordamos, mas não nos

opomos;

5. violência que vem de cima, ou seja, aquela que pretende manter o status quo.

Entretanto esta não é a única classificação de tipos de violência encontrada

na literatura. Os tipos mais apontados são:

-A violência física é o uso por uma pessoa da força para ferir. Pode ou não

deixar marcas visíveis, tornando as agressões percebidas pelas pessoas que

convivem com o agredido. Por ser a forma mais fácil de perceber, é a que tem

apontado o maior número de casos. Muitas vezes o agressor está sob efeito de

álcool e pode intensificar o número e a gravidade dos ferimentos em sua vítima.

- Violência Psicológica é mais difícil de ser identificada e caracteriza-se pela

rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições

exageradas. Embora não deixe marcas visíveis na vítima, provoca cicatrizes

emocionais para toda a vida. Embora existam várias formas de violência psicológica

a mais comum é a mobilização emocional da vítima para satisfazer a necessidade

de atenção, carinho e de importância do agressor, ou então ele tenta fazer com que

a vítima se sinta inferior, dependente e culpada. Menosprezar a vítima, provocá-la ou

ameaçá-la também é violência psicológica.

- Violência verbal é quase sempre utilizada para oportunar e incomodar a

vítima, podendo ser utilizado um silêncio rancoroso, insultos, ofensas morais. Nem

sempre é fácil identificar este tipo de violência e as vítimas preferem silenciar

quando não há testemunhas, sendo que algumas vítimas chegam a sentir-se

culpadas por estarem “provocando” o agressso, levando-o a agir desta maneira. É

um dos tipos de violência mais comuns no ambiente escolar e muitas vezes é

ignorado por professores e pedagogos que se preocupam mais com as

consequências da violência física, ignorando que a violência verbal, principalmente

na adolescência leva a uma perda considerável da autoestima.

- A violência sexual é aquela na qual o agressor usa alguém sobre quem ele

exerce poder para obter prazer , sem seu consentimento. Desta forma induz sua

vítima a práticas sexuais envolvendo ou não violência física. Quase sempre as

vítima sofrem por sentir medo, vergonha, culpa e não costumam denunciar o

agressor. Muitas violências sexuais ficam ocultas e os agressores não são

processados. O número de casos aumentou bastante e o Ministério da Educação

lançou projetos e materiais para alertar os professores quanto aos sintomas

manifestados por crianças e adolescentes vítimas deste tipo de violência.

- Negligência é quando os responsáveis por alguém, que pode ser criança,

adolescente, idoso, ou dependente por qualquer motivo, não proporcionam o que é

necessário para atender as necessidades básicas para garantir sua sobrevivência e

seu desenvolvimento e os direitos básicos destas pessoas. Em alguns casos, os

danos causados pela negligência dos responsáveis podem ser permanentes e

graves.

Conhecer sobre a violência ajuda a tomar decisões, mas para ajudar a

prevenir seu surgimento nas escolas torna-se necessário organizar coletivamente

ações com todos os segmentos da escola. Concordamos com Reis (2009, p.2),

quando ele coloca o que cabe à instituição escola neste contexto:

“A escola é um lugar privilegiado para promover a cultura do respeito às diferenças, à diversidade e da inclusão social, rumo a uma verdadeira democracia em que todos os cidadãos e cidadãs possam conviver com igualdade e sem discriminação.

O papel da escola e das pessoas que trabalham na área da educação nesse processo é fundamental. É por meio da educação que a promoção desses tipos de cultura pode acontecer de forma mais efetiva, moldando novos valores e atitudes de respeito e paz, desconstruindo velhos e arraigadospreconceitos, formando cidadãos e cidadãs que constituirão uma sociedademais justa.” REIS (2009, p.2)

De acordo com o autor o diálogo entre professores e alunos pode ajudar a

resolver parte dos problemas vividos cotidianamente nas escolas; atitudes como a

de estabelecer com os alunos um contrato didático para organizar as ações durante

as aulas, as avaliações e as relações entre professores e alunos pode ajudar.

Proposições para enfrentamento a violência escolar

Existem algumas propostas para o enfrentamento à violência escolar

discutidas em todos os níveis de ensino. A nível federal, o Ministério da Educação e

Cultura organizou o projeto Escola que Protege, com o objetivo de trabalhar a

temática da violência nas escolas por meio da formação de profissionais e para

divulgar as redes de proteção sociais para romper com o ciclo de violência contra

crianças e adolescentes.

O projeto lançou a cartilha Escola que protege: formação de educadores(as)-

subsídios para atuar no enfrentamento a violência contra crianças e adolescentes, à

disposição no portal do MEC, com informações sobre como perceber sintomas de

violência nos alunos, conhecer a lesgislação vigente e apontar alternativas gerais de

encaminhamentos para as vítimas.

O Escola que Protege também oferta capacitação para educadores em

parceria com a Universidade Federal do Paraná, através de cursos cujas vagas são

ofertadas aos profissionais dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal,

além de ações como seminários, mesas redondas para divulgação das ações para

proteção contra a violência. As informações sobre o projeto se encontram em

http://portal.mec.gov.br/index.php?

option=com_content&view=article&id=12361&Itemid=560 e podem auxiliar os

profissionais da educação no seu trabalho.

O Projeto Não-Violência existe desde 1998 em Curitiba, é uma organização

não governamental que faz parcerias com várias empresas e organizações; seu

projeto atua na capacitação de profissionais, com cursos que são ofertados

gratuitamente, apenas existem taxas de material e a certificação é também através

da Universidade Federal do Paraná.

Realizam também palestras e atividades contra a violência e pela cultura da

paz nas escolas, desde que solicitados e com agendamento prévio. Disponibilizam

vários textos no endereço http://www.naoviolencia.org.br/sobre-cultura-paz-artigos-

produzidos.htm e muitos profissionais da educação os utilizam em seu cotidiano.

Além dos dois projetos citados anteriormente, também se encontram

disponibilizados no portal diadiaeducacao alguns textos e também projetos,

produção didático pedagógicas e artigos finais de professores que cursaram o PDE

sobre a violência nas escolas. O endereço é

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?

conteudo=113, o professor poderá selecionar a área de seu interesse e acessar os

materiais produzidos.

A proposta do Colégio Estadual São Cristóvão

O Colégio Estadual São Cristóvão Ensino Fundamental e Médio está

localizado na região central do município de São José dos Pinhais, Área

Metropolitana de Curitiba. Até 1989 só existia a Escola Municipal Padre Pedro Fuss,

ofertando de primeira a oitava série do Ensino fundamental. Neste ano, houve um

período de greve nas escolas estaduais de 89 dias e o governo do Estado do

Paraná ofereceu ao prefeito da época a alternativa de municipalização de primeira a

quarta séries, com um valor pago por aluno que passasse a ser atendido nas

escolas municipalizadas. O estado passaria a ser responsável apenas por quinta a

oitava séries do ensino fundamental e pelas séries do ensino médio. Os prédios,

professores e funcionários das escolas estaduais que atendiam as séries iniciais do

ensino fundamental foram cedidas por empréstimo à Prefeitura Municipal.

As Escolas municipais que atendiam todas as séries do ensino fundamental

foram desmembradas em duas escolas, sendo a municipal atendendo as séries

iniciais do ensino fundamental, mantendo o mesmo nome e foi criada outra, sob

responsabilidade do sistema de ensino estadual com um novo nome, porém ficaram

compartilhando o prédio. O Colégio Estadual São Cristóvão foi criado para atender

os alunos das séries finais do ensino fundamental que eram da Escola Municipal

Padre Pedro Fuss. As duas escolas continuam até 2011 compartilhando o mesmo

prédio, mas para 2012 deverá estar pronto o prédio para a mudança da Escola

Municipal Padre Pedro Fuss.

O Colégio Estadual São Cristóvão foi um dos primeiros no município a

atender alunos encaminhados pelo programa Liberdade Assistida. São jovens

cumprindo as medidas sócio-educativas determinadas judicialmente devido a atos

infracionários cometidos. Neste programa eles são encaminhados ou

reencaminhados para retornarem ao sistema escolar, são acompanhados por

pedagogos, assistentes sociais e outros profissionais designados pela Prefeitura

Municipal por solicitação judicial e dos Conselho Municipal dos Direitos da Criança e

do Adolescente e Conselho Tutelar.

Estes alunos traziam consigo históricos de violência, transgressão às normas

estabelecidas, abandono e negligência familiar. Foram recebidos e primeiro

conheceram o regimento escolar e o regulamento interno, atividade realizada junto

com os pedagogos da escola.

A Equipe Pedagógica estudava então em qual das turmas que já existiam no

colégio estes novos alunos poderiam ser inseridos e estimulados para se integrarem

e obter melhor rendimento na aprendizagem.

Os professores eram orientados de que receberiam aluno novo e solicitados a

diagnosticaram como estava sua situação de aprendizagem e relatarem, estes

dados eram então repassados ao pedagogo que faria o atendimento ao aluno no

Programa Liberdade Assistida. Para não gerar situações difíceis, não se relatava

nunca aos professores que o aluno era do Programa Liberdade Assistida, apenas

era um novo aluno que chegava à escola.

Os funcionários que atuam no pátio sabiam que os alunos eram do Programa

Liberdade Assistida, isto era necessário pois tinham que observar fatos como trazer

para a escola objetos não permitidos, fazer-se acompanhar de pessoas que não

eram alunos e outros. Estes dados também eram repassados ao programa.

Após alguns casos e dois anos depois do início do trabalho surgiu uma

espécie de fama de que o Colégio é tão bom que dá conta de ajudar estes alunos a

mudar e a procura por vagas cresceu muito. Depois de dezoito anos de luta pela

ampliação e reforma da escola, ela aconteceu agora em 2011; é bom lembrar que o

prédio original da escola foi construído pela comunidade no terreno doado pela

paróquia São Cristóvão, da qual a escola recebeu o nome.

Esta sempre foi uma escola da comunidade, a dificuldade foi que a

proximidade do centro da cidade tornou o bairro alvo de especulação imobiliária. Os

terrenos antigos eram grandes e primeiro foram comprados e surgiram neles ao

invés de uma casa, de três a cinco sobrados; agora em cada lote surgem pequenos

prédios de aproximadamente quatro andares, com dezesseis apartamentos. Mais

gente morando, mais crianças e adolescentes, mais alunos.

Com a instalação das montadoras de automóveis em São José dos Pinhais

houve também a vinda de trabalhadores de todas as regiões do país, todas as

etnias, todo o repertório cultural diferente daquele ao qual os alunos do colégio

pertenciam e isto foi um dos elementos que passaram a gerar conflitos e atos de

violência no entorno do colégio.

Neste ano estamos com dois pedagogos cursando o PDE e articulamos

sempre que possível os dois trabalhos, um sobre a função social da escola e este

sobre a prevenção da violência. Desta forma decidimos por ações integradas com as

diferentes instâncias colegiadas para iniciar os dois trabalhos.

Antes mesmo de iniciar as discussões, poderemos recorrer a uma pesquisa

por amostragem com a comunidade escolar para descobrir qual o conceito de

violência que já construíram e que tipo de violência é mais comum encontrarem no

colégio e quais ações poderão ser realizadas na escola para diminuir os episódios

de violência cotidianos.

As sugestões de ações serão encaminhadas ao Conselho Escolar para

implementação e ocorrerão reuniões para avaliação e decisão de continuidade do

trabalho com os alunos. Lembrando que as reuniões serão realizadas algumas em

horário escolar e outras em contraturno, pois são alunos dos três turnos. Como as

propostas serão decididas pelos alunos, ainda não podemos prevê-las.

Quanto ao professor, embora nem sempre tenha recebido formação quanto

ao uso de estratégias e conteúdos para o enfrentamento à violência, temos que

reconhecer que o processo de formação continuada desenvolvido através de

estudos, debates e discussão de questões que afetam a prática do professor em

sala de aula, oferecido pelo sistema ou pela escola pode facilitar o estabelecimento

de práticas adequadas ao trabalho cotidiano com o aluno.

Royer (2009, p.260) afirma que

“Mas se você observar professores corretamente formados em ação, você logo verá que eles são capazes de estabelecer, frente a seus alunos, regras e expectativas claras com relação a comportamento e a aprendizado, de gerar efeitos corretivos e retrospectivos de natureza positiva, quando necessário, de usar repreensões quando preciso e de incentivar o desenvolvimento das capacidades sociais e do autocontrole entre seus alunos.”

O pedagogo tem o papel de articular o processo de planejamento das

atividades escolares, juntamente com os professores. Nas Diretrizes Curriculares e

na legislação já estão colocados conteúdos que devem ser desenvolvidos em sala

de aula e que podem ajudar a prevenir atitudes de violência através do

conhecimento. São as questões da diversidade, assim chamadas para tornar

evidente que deixam óbvia a diferença possível entre a população, sejam em

questões como gênero, etnia, padrões de estética, classes sociais, gente do campo

e gente da cidade e outras

Quando da implantação das leis 10639 e 11645 as escolas já fizeram a

inserção dos conteúdos sugeridos pelo Ministério da Educação e foram enviados às

escolas diversos materiais que podem auxiliar o professor desde na sua

fundamentação teórica, até na possibilidade de utilização em sala de aula com os

alunos, através de livros enviados para a biblioteca do professor e/ou biblioteca da

escola; a TVEscola produziu e/ou adquiriu vários documentários que foram

entregues em Dvd em várias séries, apresentadas em caixas para as escolas.

No entanto, o material preparado pelo Ministério da Educação contra a

homofobia foi criticado severamente e não será distribuído às escolas e existem

poucos materiais disponíveis na escola sobre a questão de gênero; encontramos

alguns textos, quase todos sobre a questão histórica da mulher.

Para pensar quais conteúdos possam ser inseridos nas Propostas

Pedagógicas é indispensável então que o pedagogo ajude os professores na

seleção destes materiais de fundamentação, que promova encontros entre

professores para que possam trocar experiências e inclusive contar sobre

atitividades das quais participaram e que foram sobre a temática em estudo.

Promover o debate das questões é uma ação que necessita ser realizada, pois o

preconceito e a discriminação estão presentes na vida de todos os professores e

funcionários e é preciso começar com a mudança pessoal de conceitos para acabar

com os preconceitos existentes. Este deverá ser um trabalho envolvendo toda a

escola e não apenas os professores, pois será de grande valor identificar os

preconceitos existentes entre os alunos,os pais, os professores e os funcionários e

isto poderá ser feito por meio de questionários e questionamentos em momentos

agendados com todos para facilitar a participação.

Com os dados coletados e organizados os professores poderão articular os

conteúdos a serem trabalhados e organizar seus planos de trabalho docente. Isto

ocorrerá durante as hora atividades dos professores, com a maior concentração

possível de professores e em reunião pedagógica previksta no calendário escolar.

Na continuidade do processo, aqueles conteúdos que forem considerados como de

melhores resultados poderão ser inseridos na Proposta Pedagógica.

Concordamos com Sacristán (2000, p.150)

A reflexão sobre a justificativa dos conteúdos é para os professores um motivo exemplar para entender o papel que a escolaridade em geral cumpre num determinado momento e, mais aspecificamente, a função do nível ou especialidade escolar na qual trabalham. O que se ensina, sugere ou se obriga a aprender expressa valores e funções que a escola difunde num contexto social e histórico concreto.

Com os funcionários as atividades serão realizadas em dias e horários

marcados como reunião de trabalho e suas sugestões também serão encaminhadas

ao Conselho Escolar para discussão e implementação.

Com os pais haverá uma palestra no dia da entrega de boletins e as suas

sugestões também serão encaminhadas ao Conselho Escolar para implentação.

Será um processo longo de construção coletiva com ações de implementação

imediata e uma perspectiva de continuidade, pois obter alguns resultados sempre

incentiva novas ações, novos debates, o reorganizar continuamente as ações

pedagógicas.

CONCLUSÃO

Sabe-se que a prevenção da violência no ambiente escolar é necessária e

urgente, mas também sabe-se que não é um trabalho a ser realizado

individualmente. O debate sobre o que fazer tem que ser uma realização coletiva e

as decisões também terão que sê-lo.

As atribuições de cada pessoa da escola terão de ser decididas coletivamente

e na sua realização deverá haver conscientização da importância e do papel de

cada um para atingir o objetivo maior da comunidade escolar que é a diminuição das

atitudes violentas no interior e no entorno da escola.

As relações que estabecer-se-ão entre a teoria e a prática no desenvolver do

trabalho poderão suscitar novas questões, como quais metodologias de trabalho

poderão ser mais indicadas para cada faixa etária, que recursos trarão melhores

resultados, quais estratégias funcionarão melhor para o trabalho com os pais.

O trabalho coletivo é essencial na escola, podendo ser difícil realizá-lo no

início das atividades, mas a tendência é que ao utilizá-lo, ele se torne cada vez mais

necessário às pessoas.

Mudar atitudes é possível, mas para isso acontecer todos devem assumir que

é isto o que desejam fazer e que as tarefas devem ser compartilhadas e as críticas

que ocorram durante o processo são importantes para ajudar a redimensionar todos

os esforços para atingir o objetivo comum. Todos podem contribuir e mais do que

apenas conhecimento, a experiência de trabalho coletivo, com todas as diversidades

que o compõem, pode ensinar a conviver com a diferença, aceitando-a como

positiva no espaço escolar.

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