secretaria de estado da educaÇÃo – seed · 2014-04-22 · ra o cotidiano da favela; ... aborda...

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

EQUIPE PEDAGÓGICA DO PDE

ROSELI NOGUEIRA DE LIMA

Naturalismo

Nas folhas brancas que do lixo recolhia

Ela escrevia o drama de sua gente

Sua própria história de tristeza

E a pobreza de todo aquele ambiente

Deus satisfaz o seu desejo

Do teu “Quarto de despejo”

Viu seu dia de ventura

Hoje todo mundo fala nela

Não mora mais na favela

Mora na literatura. (Samba de B. Lobo, Quarto de despejo, gravado por Ruth Amaral).

UNIDADE DIDÁTICA

1

Naturalismo

O Naturalismo mostra uma face da vida nunca antes revelada na literatura: a

do cotidiano massacrante, do amor adúltero, do egoísmo e da falsidade, da impo-

tência do ser humano comum diante dos poderosos.

A origem da violência

A violência é, sem dúvida, um problema da modernidade, mas com origem

remota. Ao verificarmos as relações de poder exercidas entre os pares, percebemos

que o homem sempre dominou seu par pela violência, por ideologias opressoras,

coação e sistemas econômicos-políticos.

E tem crescido nas cidades de forma desordenada, portanto, faz-se necessá-

rio encontrar as causas para conseguirmos frear este que é um dos problemas soci-

ais mais grave que eleva-se na contemporaneidade.

Estilo Naturalista

O autor Naturalista tentava explicar a realidade à luz da ciência e procurava

debater as novas relações que compunham a sociedade capitalista.

Carolina Maria de Jesus mostra uma espécie de “Neonaturalismo” visto que

resgata algumas características do Naturalismo original: o descritivismo quando nar-

ra o cotidiano da favela; a análise social do espaço físico “Eu classifico São Paulo

assim: O Palácio, é a sala de visita . A prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o

jardim a favela é o quintal onde jogam os lixos (JESUS, 2000 , p. 28).

E estas que também são marcas do naturalismo: os vícios, as paixões, festão

presentes na obra de Carolina.

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Carolina de Jesus era uma mulher negra, pobre e favelada sofrendo na carne

a marginalização social e via em seus escritos a libertação da opressão. Analisando

o cotidiano da poetisa,reconhecemos a vida de várias mulheres que necessitam rea-

lizar esforço sobre-humano para conseguir manter a si e aos filhos vivendo um itine-

rário de fome, miséria, decepção.

Quarto de despejo é uma obra que urge estar na sala de aula pois corrobora

para a valorização dos estudos literários. Através desse texto singular em nossa lite-

ratura podemos mensurar as forças opressoras que se fazem presente na desigual-

dade social, no racismo, no preconceito e na violência.

Diários, textos autobiográficos, textos testemunhais/memorialísticos foram in-

cluídos na Literatura somente no final do século XX, sendo que até então não eram

considerados textos literários.

A Memória

Segundo Letícia Pereira de Andrade em seu artigo Quarto de despejo: A Lite-

ratura memorialística feminina:

A memória é uma evocação do passado. É a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi, salvando-o da perda total. A lembrança con-serva aquilo que se foi e não retornará jamais. Para alguns filósofos, a me-mória é a garantia de nossa própria identidade, o que se pode dizer o “eu” reunindo tudo o que fomos e fizemos a tudo que somos e fazemos (AN-DRADE, 2011).

Questionamentos sobre relacionamento com nossos pares serão abordados

no decorrer deste trabalho. Será importante estudar Carolina do ponto de vista da

Estética da Recepção, visto que no contexto da Nova História a escrita feminista fez

ruptura às ideias preponderantes na sociedade patriarcal.

3

A estética da recepção e a literatura

A “Teoria da recepção” de Hans Robert Jauss (1921-1997) nasceu na Alema-

nha por volta de 1960 e incluiu as contribuições de Wolfgang Iser (1926-2007), entre

outros.

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portugue-

sa, Jauss apresenta sete teses com a finalidade de propor uma metodologia para

(re) escrever a história da literatura:

Na primeira tese, aborda a relação entre leitor e texto, afirmando que o leitor dialoga com a obra atualizando-a no ato da leitura. A segunda tese destaca o saber prévio do leitor, o qual reage de forma individual diante da leitura, in-fluenciado, porém, por um contexto social. A terceira enfatiza o horizonte de expectativas, o autor apresenta a ideia de que é possível medir o caráter artístico de uma obra literária tendo como re-ferência o modo e o grau como foi recebida pelo público nas diferentes épo-cas em que foi lida (distância estética). A quarta tese aponta a relação dialó-gica do texto, uma vez que, para o leitor, a obra constitui-se respostas para os seus questionamentos. Na quinta, Jauss discute o enfoque diacrônico,que reflete sobre o contexto em que a obra foi produzida e a maneira como ela foi recebida e (re) produ-zida em diferentes momentos históricos. Trata-se do processo histórico de recepção e produção estética. A sexta tese refere-se ao corte sincrônico, no qual o caráter histórico da obra literária é visto no viés atual. Jauss defende que a historicidade literária é melhor compreendida quando há um trabalho conjunto do enfoque diacrônico com o corte sincrônico. Na última tese, o caráter emancipatório da obra literária relaciona a experi-ência estética com a atuação do homem em sociedade, permitindo a este, por meio de sua emancipação, desempenhar um papel atuante no contexto social (DCE, 2008, p. 58-59).

Wolfgang Iser compartilha a teoria de Jauss (1979), apresentando a Teoria do

Efeito, onde o narrador pode projetar uma imagem do leitor dentro da obra e dialogar

com o mesmo, antevendo suas reações. Esse leitor instalado no texto não se con-

funde com o leitor real.

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Uma visão de quarto de despejo à luz da

estética da recepção

Carolina de Jesus - ao elencar nesta obra nacional elementos que são univer-

sais na humanidade, a saber: a violência, a desigualdade social, o preconceito e o

racismo - abre ao leitor um horizonte de expectativas que contemplará não só a in-

terpretação do sentido mas fortalecerá a atualização da obra.

A escritora, embora empregasse um material estético que saiu de uma comu-

nidade excluída do Brasil, eleva o mesmo ao circuito universal estabelecendo no

leitor uma maior recepcionalidade da obra literária e seus prováveis significados.

Sobre o período histórico de Quarto de despejo podemos dizer que sobressa-

iu o desenvolvimento. O governo de Juscelino Kubitschek é lembrado por ter encora-

jado o desenvolvimento econômico da nação através da industrialização. Este go-

verno deixou marca pelas grandes obras e mudanças. Apresentou pontos positivos

mas também negativos para nosso país.

A pobreza, a miséria e a violência nas grandes capitais do sudeste aumenta-

ram devido à migração e ao êxodo rural. Êxodo este que trouxe muitos nordestinos

para o sudeste do país (década de 60) devido a construção de grandes fábricas pe-

las montadoras de veículos, pois a economia estava aberta para o capital internacio-

nal e as multinacionais aproveitaram instalando suas fábricas em São Paulo, São

Bernardo do Campo, Guarulhos, Santo André, Diadema, Belo Horizonte e Rio de

Janeiro. Como as mesmas não ofertaram condições sociais aos migrantes, ocorreu

o aumento das favelas e cortiços, além do desemprego e proliferação da violência,

principalmente na periferia. Problemas sociais que persistem na atualidade.

Essa denúncia da desigualdade social que Carolina reflete em sua obra é que

compõe o horizonte de expectativas do leitor.

No artigo originalmente publicado na Revista Destaque, por Clarice Lispector

e Carolina Maria de Jesus: vozes femininas da literatura brasileira, consta que:

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[...] Audálio Dantas é designado para fazer uma matéria sobre a favela do Canindé. Entre os barracos da favela, o jornalista se depara com a intelec-tualidade de Carolina no meio daquela miséria, e ela mostra seus textos a ele. É seu diário, escrito desordenadamente, em folhas soltas, em cadernos velhos, relatando a dura realidade em que vivia Carolina e os outros favela-dos do Canindé. O jovem repórter fica maravilhado com a leitura. No dia 19 de maio de 1958, o jornal publica parte do texto, sendo elogiado. Em 1959, Audálio Dantas já trabalhando na grande revista da época – O Cruzeiro, pu-blica trechos do Diário, mas somente em 1960, com uma tiragem inicial de 10 mil exemplares é publicada a obra: “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”. Na noite de autógrafos, são vendidos 600 exemplares, no fim do ano as vendas somavam 100 mil cópias. “Quarto de Despejo” seria republi-cado em pelo menos 13 línguas em mais de 40 países, incluindo a então União Soviética e o Japão. Sua projeção foi vertiginosa, e conforme explica José Carlos Sebe Bom Meihy, “Jamais outro livro publicado no Brasil com testemunhos de mulheres alcançou níveis equiparáveis ao de Carolina”. Segundo Meihy “Quarto de Despejo”, até 1998, teria “Um milhão de cópias vendidas em todo mundo, sendo inclusive o texto brasileiro mais publicado de todos os tempos” (ABDALA, 2011).

Jauss (1979), em sua tese nº 2 referente a Estética da recepção, afirma que é

essencial a distância estética para que determinada obra seja julgada como nova,

devido esta distância estar no meio do horizonte de expectativas preexistente e o

surgimento de uma obra nova e esta não comparece a um leitor ingênuo visto que

este carrega interiormente expectativas, lembranças e sensações as quais influenci-

am no modo em que ocorre a compreensão do futuro ou do presente do texto. Neste

contexto, a recepção da obra será um fato social que situa a reação estética indivi-

dual num espaço mais amplo e coletivo onde cada leitor está inserido e, por meio

deste, é levado a interpretar influenciado pelo “saber coletivo”.

Este material não apresenta um fim em si no estudo da obra de Carolina e ou-

tros textos da contemporaneidade dialogando com o Naturalismo, apenas aponta

possibilidades para se trabalhar a literatura de forma sincrônica.

6

Atividades e procedimento

Para refletir em grupo, e os alunos deverão montar um painel com respostas in-

dividuais

Você já sofreu algum tipo de discriminação?

Você respeita os colegas que têm diferentes opiniões e vivem de modo dife-

rente de você?

Você acha que a sua comunidade escolar respeita a diversidade étnico-

racial,cultural e econômica dos participantes?

Sua escola inclui os alunos e alunas com necessidades educacionais especi-

ais (deficientes auditivos, visuais, com dificuldades de locomoção?

Sua escola valoriza as artes de diversos grupos?

Os jovens participam de espaços de debate e decisão na escola?

Qual sua opinião sobre os meios de comunicação em relação à diversidade?

Quando você ouve ou conta piadas,percebe nelas algum tipo de preconceito?

Que diferenças de “modo de vida “ você percebe em sua região?

O que podemos fazer para combater a exclusão dos povos do campo,da flo-

resta e das águas?

Como podemos envolver nossa comunidade para promover o reconhecimento

da diversidade?

Após ter trabalhado o filme Amarelo Manga, de Cláudio de Assis, filme este car-

regado de características do Naturalismo - objeto deste trabalho - e os conhecimen-

tos prévios trabalhados em sala, a saber: noções básicas de classes sociais, capita-

lismo e desigualdade social, espera-se que os alunos percebam criticamente a for-

ma como toda forma de opressão se apresenta em nossa sociedade.

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Descrição das aulas

AULA Nº 1

Carolina Maria de Jesus será apresentada à turma através de um breve histó-

rico de vida e os alunos deverão começar ler a obra Quarto de despejo - diário de

uma favelada em sala e terminar em casa.

Ressaltar nesta leitura diferenças individuais e sua importância para o ser

humano. Deverão registrar em folhas sulfite e afixar no mural.

OBJETIVO

Refletir acerca da auto-estima destacando as diferenças individuais.

AULAS Nº 2 E 3

Em grupo, os alunos irão escolher um dos temas apresentados na obra de

Carolina (fome, miséria, desigualdade social e violência) e que se relacione à reali-

dade local, enfocando-o sob o ponto de vista da cidadania e direitos humanos. Utili-

zaremos para este trabalho: recortes de jornal, pesquisa no laboratório de informáti-

ca e, posteriormente, os grupos apresentarão aos colegas de sala o resultado de

suas pesquisas fomentando debate em busca de soluções para o enfrentamento aos

problemas sociais .

OBJETIVO

Estimular a integração com a comunidade.

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AULA Nº 4

Após assistir ao filme Cidade de Deus de Fernando Meirelles (em horário di-

ferenciado da aula - em casa), os alunos reunir-se-ão em grupo para comentar os

conflitos que o mesmo apresenta. Após discussão farão cartazes mostrando conflitos

e apontando soluções.

OBJETIVO

Estabelecer relação dos conflitos com a responsabilidade de cada um.

AULAS Nº 5 E 6

Em grupos, a turma será convidada a ir ao laboratório de informática onde fa-

rá a leitura do resumo da obra O Cortiço, que se encontra disponível no endereço

<http://www.mundovestibular.com.br/articles/370/1/O-CORTICO---Aluisio-de-

azevedo--Resumo/Paacutegina1.html>.

Após a leitura e comentários, irão desenvolver um texto argumentativo sobre

o tema: “O homem: lobo do homem ?”.

Deverão iniciar a produção textual no colégio e terminar em casa.

OBJETIVO

Estimular a reflexão sobre valores éticos e morais.

AULA Nº 7

Os alunos observarão no ambiente escolar e em sua comunidade como os di-

ferentes grupos de jovens marcam sua identidade (lugares de encontro, maneira de

vestir, linguagem própria, festas temáticas, signos tribais, uso da internet, especial-

mente por meio de blogs como ponto de encontro virtual). Então deverão levantar

características e fazer registros para apresentarão do resultado no mural do colégio.

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OBJETIVO

Promoção da educação para a cidadania.

AULAS Nº 8, 9 E 10

Após assistirem (em sala) ao filme Escritores da Liberdade, de Hilary Swank,

reunir-se-ão em grupos para comentar a respeito do discurso utilizado na comunica-

ção pela comunidade escolar. Em seguida, farão registros dos interesses coletivos

para uma convivência harmoniosa no colégio e em sua comunidade.

OBJETIVO

Estimular a solidariedade através da postura da cooperação e consideração

às necessidades de seus pares, além da disposição para acordo dos interesses co-

letivos.

AULAS Nº 11 E 12

Individualmente, os educandos e educandas deverão criar um poema refu-

tando a violência, a discriminação e o preconceito para posterior exposição. O traba-

lho será individual, porém, a organização coletiva. No local do evento (exposição) os

estudantes irão declamar, ler, contar ou apenas expor seus trabalhos à comunidade.

Os critérios e instrumentos de avaliação serão condizentes com os funda-

mentos deste trabalho e se dará de forma contínua e cumulativa, não se esgotando

em si mesma, mas propiciando uma reflexão sobre o processo de ensino e seus re-

sultados não só para verificar o desenvolvimento dos alunos, como também o resul-

tado da prática do professor.

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Cronograma

NÚMERO DE AULAS

MÊS DE APLICAÇÃO NO COLÉGIO ALBERTO

GOMES VEIGA

AVALIAÇÃO DO PROJETO E DA PRODUÇÃO MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

12 (DOZE) SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO

1ª aula X X

2ª aula X X

3ª aula X X

4ª aula X X

5ª aula X X

6ª aula X X

7ª aula X X

8ª aula X X

9ª aula X X

10ª aula X X

11ª aula X X

12ª aula X X

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Referências

ABDALA, A. Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus: vozes femininas na literatura brasileira. Revista Destaque, n.74. Disponível em: <http://destaquein.sacrahome.net/node/539 > Acesso em: 25 jul. 2011. ANDRADE, L.P. Quarto de despejo: a literatura memorialística feminina: Disponível em: <http://www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/revistas/travessias/ed_005/ artigos/cultura/pdfs/QUARTO%20DE%20S.pdf> Acesso em 27 jul. 2011. AZEVEDO, A. O cortiço. 30.ed. São Paulo: Ática, 1997.161p. BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. JAUSS, H. R. O prazer estético e as experiências fundamentais da Poiesis. Aesthesis e Katharsis. In:LIMA, L. (org.). A literatura e o leitor-textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1979. JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 1993,173 p. LOBO, B. Quarto de despejo. Anais... CELMS, 3; EPGL, 4; EPPGL, 1. Dourados, MS, 8-10 de outubro de 2007. Disponível em: <http://www.uems.br/ cellms/2008/documentos/30%20-%20ISSO%20E%20LITERATURA.pdf> Acesso em 27 jul. 2011. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica-Língua Portuguesa , 2008, 101p.