sebenta stª maria
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TC IIa – Imunologia
Sebenta
IMUNODEPRIMIDOS
Baseada no Abbas
Autores: Catarina Jacinto Correia Filipa Pereira Helena Couto Inês Pacheco Nunes Joana Miranda João Pedro Apolinário João Pedro Soares João Pedro Sousa
Manuel Matos Margarida Nunes Mariana Gabriel Marta Bento Rui Carvalho Tatiana Oksentyuk Teresa Perico Pina
Revisão & Correcção: Mónica Santos
Realizada a Janeiro de 2012
1
PREFÁCIO Imunologia - Uma doença com imunidade adquirida
Caros colegas,
Existe uma multiplicidade de sítios para estudar Imunologia e sabemos que,
devido ao seu imenso valor relativo no exame de Módulo II a), há a tendência para a
deixar ficar para trás. Tentámos, por isso, compilar a informação de vários sítios num
só local.
A nossa ideia não era que esta sebenta fosse uma “tradução” do Abbas, mas
mais um resumo que aborde a matéria da disciplina de forma concisa. Juntámos então
os temas das aulas teóricas, os temas principais descritos no livro aconselhado, e
também do Arosa, e criámos um índice que nos parece ser o mais indicado. Para uma
mais fácil navegação, irão notar que no início de cada tema têm o título
correspondente à respectiva aula teórica, a data em que foi leccionada e ainda os
recursos que foram usados para aprofundar esse tema.
Esperamos que a sebenta dê para desenrascar na época de exames; porém,
se desejarem aprofundar mais os temas, deverão recorrer aos livros aconselhados.
ATENÇÃO: a última aula que será leccionada, a 26 de Janeiro de 2012, com o título
“Imunologia Avançada”, não consta na sebenta porque, para já, ainda não foi dada, e
depois, não fazemos ideia do que isso é… (de qualquer maneira, no moodle diz que
esta é facultativa)
Agradecemos ainda à Mónica Santos, que teve a paciência de ler e rever a
sebenta antes da sua publicação.
Estamos ainda à vossa disposição caso queiram fazer algum reparo,
encontrem algum erro/qualquer coisa que queiram ver esclarecida. Contactem-nos
pelo e-mail da nossa comissão de curso ([email protected]).
Com os votos de que o ano de 2012 seja bem aproveitado (fiesta!),
Os autores
2
Índice
T1: Introdução à Imunologia .......................................................................... 3
T2: Imunidade Inata ........................................................................................... 5
T3 I: Inflamação – Resposta Inflamatória ............................................... 10
T3 II: Inflamação – Migração Leucócitos para os Tecidos ................ 22
T4: Homeostasia e Clonalidade ................................................................... 28
TP4: Introdução/Diferenciação e Activação Linfocitária ................. 34
T5: Activação de Linfócitos T ....................................................................... 51
T6 I: Imunidade Humoral – Activação de Linfócitos B e Produção
de Anticorpos ...................................................................................................... 57
T6 II: Imunidade Humoral – Mecanismos Efectores da Imunidade
Humoral ................................................................................................................ 75
T7: Imunidade Celular – Mecanismos Efectores da Imunidade
Mediada por Células ......................................................................................... 97
T8: Apresentação de Antigénios pelo MHC ......................................... 112
T9: Imunodeficiências Primárias ............................................................. 124
T10: Tolerância ............................................................................................... 131
*Hipersensibilidade ...................................................................................... 141
T11: Memória imunológica, adjuvantes e vacinas ............................ 162
T12: Imunodeficiências secundárias-HIV/SIDA ................................ 169
Nota: TPs 2,3,5 e 6 abordadas nas aulas teóricas correspondentes.
3
INTRODUÇÃO À IMUNOLOGIA
Historicamente, imunidade significava protecção contra a doença, mais
especificamente, doença infecciosa. As células e moléculas responsáveis por essa
imunidade constituem o sistema imunitário, e a sua acção colectiva e coordenada
em resposta à introdução de substâncias exógenas é denominada de resposta
imunitária.
A função fisiológica do sistema imunitário é a defesa contra microrganismos
infecciosos. No entanto, até substâncias exógenas não-infecciosas podem
desencadear resposta imunitária.
E ainda, mecanismos que têm como finalidade a protecção do organismo face a
ameaças externas, também são capazes de provocar dano ao nível dos tecidos e, até
mesmo, doença.
Em certas situações, até moléculas do próprio podem desencadear respostas
imunitárias (assim chamadas de respostas auto-imunes).
Assim, uma melhor definição de resposta imunitária:
Imunologia é o estudo das respostas imunitárias no seu sentido mais abrangente e
dos eventos celulares e moleculares que ocorrem quando, e após, um organismo
contactar com microrganismos ou macromoléculas estranhas.
“Reacção contra componentes de microrganismos, assim como macromoléculas,
como proteínas e polissacáridos, e pequenos químicos que são reconhecidos como
estranhos, independentemente das suas consequências fisiológicas ou
patológicas.”
T1: Introdução à Imunologia
Data teórica de 3 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 1
Capítulos do Arosa
Slides aulas: sim
Elaborado por: Inês Pacheco
4
• Grande especificidade entre uma enorme variedade moléculas. Especificidade
• Resposta imune aumenta em magnitude e eficácia a cada exposição a um determinado agente
Memória
• Capacidade de distinguir entre diferentes moléculas por muito parecidas que sejam. Habilidade de distinguir as moléculas do próprio organismo dasquelas que lhe são estranhas.
Capacidade de distingir o self do
non-self
• Sistema imunitário responde a uma grande variedade de antigénios. Diversidade
• Aumenta o número de linfócitos especificos para acompanhar o possível aumento da quantidade de antigénio.
Expansão clonal
• Gera respostas optimizadas de acordo com o tipo de ameaça. Especialização
• Permite ao sistema imunitário restituir-se após uma resposta para que facilmente se encontre pronto a responder a uma outra ameaça de antigénios.
Promoção da Homeostasia
IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA
A imunidade inata proporciona uma primeira linha de defesa contra agentes
patogénicos. Consiste num conjunto de mecanismos celulares e bioquímicos que se
encontram presentes antes da infecção e proporcionam uma resposta rápida e pouco
específica à infecção. Estes reagem principalmente aos microrganismos e células
danificadas, actuando da mesma forma praticamente independentemente da natureza
da infecção.
Em contraste à imunidade inata, existem outro tipo de respostas imunes que são
estimuladas pela exposição a agentes infecciosos, aumentando em magnitude e
eficácia a cada exposição sucessiva. Porque esta forma de imunidade se desenvolve
em resposta à infecção e se adapta à mesma, é denominada de imunidade adaptativa.
As característica que definem esta forma de imunidade:
5
(O tema da imunidade adquirida será, entre outros, abordado ao longo desta sebenta)
IMUNIDADE INATA
IMUNIDADE INATA (NÃO-ESPECÍFICA) – CARACTERÍSTICAS:
Primeira linha de defesa do organismo face à invasão por
microorganismos estranhos. Consiste num conjunto de mecanismos de
defesa, celulares e bioquímicos, pré-existentes à infecção, que desencadeiam
uma resposta rápida no sentido de prevenir, controlar e minimizar a infecção.
Resposta sem grande especificidade.
Não possui memória imunológica.
Componentes de defesa inata reagem de modo diferente consoante a
infecção. A Imunidade Inata contra micróbios estimula a resposta imunitária
adaptativa (imunidade adquirida), optimizando-a contra diferentes tipos de
micróbios.
Reconhece produtos de células mortas ou danificadas, trata de eliminá-
las e iniciar um processo de reparação dos tecidos afectados. Reconhece
substâncias intrínsecas que não se deviam encontrar em tecidos saudáveis,
como cristais intracelulares.
COMPONENTES:
1- BARREIRAS ANATÓMICAS E
FISIOLÓGICAS:
Pele e mucosas:
o Epiderme: várias camadas de
células epiteliais, sendo a
mais externa constituída por
células mortas e por uma
cama impermeabilizante, a
T2: Imunidade Inata
Data teórica de 4 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 4
Capítulos do Arosa
Slides aulas: sim
Elaborado por: Inês Pacheco
6
queratina.
o Derme: com vasos sanguíneos, glândulas sudoríparas e folículos pilosos.
Estes contêm glândulas sebáceas, que produzem sebum. O sebum tem
ácidos lácticos e ácidos gordos que mantêm o pH da pele ácido (3-5),
inibindo o crescimento de microrganismos.
o Mucosas: organismos de defesa aguda inata que impedem a entrada de
microrganismos nas mucosas: saliva, lágrimas e secreções mucosas.
Possuem substâncias anti-bacterianas e anti-virais.
Movimentos intestinais
Oscilação dos cílios bronco-pulmonares
Tosse e espirros
2- BARREIRAS QUÍMICAS:
Lisozimas (secreções oro-naso-faríngicas e lágrimas):
o Enzimas hidrolíticas presentes nas secreções mucosas e nas lágrimas, capazes de clivar o peptidoglicano.
Enzimas digestivas e pH baixo (sistema digestivo)
Defensinas (péptidos anti-microbianos)
Flora comensal Ex: E. coli (colicinas - proteínas antibacterianas)
o Organismos não patogénicos que competem com os patogénicos
por superfícies de aderência e alimento.
3- CÉLULAS FAGOCITÁRIAS (NEUTRÓFILOS, MACRÓFAGOS), DENTRÍTICAS
E NATURAL KILLER (NK)
4- VASOS SANGUÍNEOS (VASODILATAÇÃO/VASOCONSTRIÇÃO)
5- PROTEÍNAS:
Citoquinas (regulam e coordenam actividades das células da imunidade
inata):
o Grupo de proteínas serosas que circulam em estado inactivo.
Quando activas, destroem as membranas dos organismos
patogénicos.
Interferon:
o Grupo proteico produzido por células infectadas por vírus. Liga-
se a células vizinhas e despoleta um estado geral anti-vírico.
Sistema Complemento
Proteina C-Reactiva
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CÉLULAS FAGOCITÁRIAS (MACRÓFAGOS E NEUTRÓFILOS)
Células com funções fagocitárias especializadas, primeira linha de defesa
contra microorganismos que invadem barreiras epiteliais.
Têm como função interiorizar (fagocitar) microrganismos e eliminá-los.
Produzem citoquinas que promovem a resposta inflamatória.
Intensificam a função anti-microbial de células no local da infecção.
Outras células conseguem, na sua maioria, realizar outras formas de endocitose,
como a endocitose mediada por receptores ou pinocitose.
RECONHECIMENTO DE AGENTES PATOGÉNICOS
Célula Fagocítica Microorganismos Células Danificadas
PRR (Pattern Recognition Receptors)
Receptores para reconhecimento de padrões
Cada receptor reconhece uma
classe de PAMPs comum a vários microrganismos
PAMPs ou MAMPs (Pathogen-Associated Molecular
Patterns) (Microbe-Associated Molecular
Patterns)
Padrões moleculares associados a patogénese
Classes de moléculas expressas por agentes
patogénicos
DAMPs (Damage-Associated Molecular Patterns)
Padrões moleculares
associados a dano celular
Moléculas expressas por células danificadas ou a
morrer. (não são expressas por células em apoptose)
P
A
M
P
s
o
u
P
A
M
P
s
o
u
M
A
8
dsRNA na célula
infectada
Produção de interferão tipo I (IFN)
Morte das células
infectadas
(citotoxicidade)
Activação de células
NK - “Natural Killer”
RESPOSTA INATA A INFECÇÕES VIRAIS
SISTEMA COMPLEMENTO
Grupo de proteínas serosas que circulam em estado inactivo. Quando activas,
destroem as membranas dos organismos patogénicos e promovem a fagocitose.
9
Várias dessas proteínas plasmáticas são activadas em cascata no sentido de
opsonizar* microrganismos, recrutar fagócitos para o local de infecção e, em alguns
casos, eliminar os próprios microorganismos.
Inclui cascatas proteolíticas de activação:
PATHWAY
Classical Alternative Lectin “Clássico”, porque foi descoberto primeiro. Proteína plasmática C1q detecta anticorpos ligados à superfície do agente patogénico e liga-se à porção Fc dos anticorpos activando duas protéases, C1r e C1s que iniciam a cascata proteolítica que activa o sistema complemento. Como os anticorpos naturais IgM são eficientes na ligação à C1q, o “classical pathway” também participa na imunidade inata.
Activado quando C3 reconhece estruturas associadas a micróbios. C3 encontra-se em baixos níveis séricos pois liga-se facilmente às superfícies celulares, sendo inibida por moléculas reguladoras presentes nas células próprias dos mamíferos. Como os micróbios não possuem estas moléculas, a activação espontânea de C3 é amplificada nessas células.
Desencadeado pela proteína plasmática mannose-binding Lectin (MBL) que, como o nome indica, reconhece resíduos terminais de manose em glicoproteínas e glicolípidos de micróbios e liga-se a eles. MASP1 e MASP2 são activadas com funções semelhantes à C1r e C1s associam-se à MBL e desencadeiam cascatas proteolíticas semelhantes ao “classical pathway”.
O reconhecimento de micróbios por algum dos três pathways resulta num
recrutamento sequencial e activação de proteínas complemento em complexos de
protéases.
(ver Teórica 6 - Imunidade Humoral – Mecanismos Efectores da Imunidade
Humoral)
*Opsonização é o processo que facilita a acção do sistema imunológico por fixar
opsoninas ou fragmentos do complemento na superfície bacteriana, permitindo a
fagocitose.
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RESPOSTA INFLAMATÓRIA Inflamação: Processo de que o organismo dispõe para localizar, neutralizar ou
eliminar um agente agressor (viral, bacteriano, outro); i.e., é o afluxo de leucócitos,
proteínas e moléculas do plasma sanguíneo ao foco inflamatório,
desencadeando-se os mecanismos reaccionais que caracterizam este processo.
T3 I: Inflamação – Resposta Inflamatória
Data teórica de 4 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 4 (a partir pág. 74)
Capítulos Arosa: 3 (a partir pág. 56)
Slides aulas: sim
Elaborado por: Catarina Jacinto Correia
Citocinas pró-inflamatórias
Calor Rubor Edema
Dor
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REACÇÃO INFLAMATÓRIA
Neutrófilos Monócitos
Recrutados em 1º lugar Recrutados depois dos neutrófilos
Permanecem - tempo nos tecidos Permanecem + tempo nos tecidos
DIFERENCIAÇÃO EM MACRÓFAGOS
Não voltam à circulação/são eliminados Podem voltar a circular – novas funções
Claro que todo este processo de recrutamento precisa de mediadores e de outros
intervenientes. Há, então, algumas proteínas plasmáticas que são especialmente
importantes:
Proteínas do Complemento
Anticorpos
Reagentes de Fase Aguda
Para além disso, a passagem para o local da inflamação depende de mudanças
reversíveis nos vasos sanguíneos do tecido lesado ou infectado, induzidas por
citocinas:
- ↑ fluxo sanguíneo (devido à dilatação arteriolar)
- ↑ adesão leucocitária ao endotélio de revestimento dos vasos
- ↑ permeabilidade dos capilares e vénulas a proteínas plasmáticas e fluidos
É, assim, essencial ao desenvolvimento do processo inflamatório o fenómeno da
vasodilatação que constitui, por assim dizer, o primum movens da inflamação.
Esta vasodilatação é sobretudo desencadeada por aminas vasoactivas, histamina e
5-hidroxitriptamina (serotonina), libertadas pela desgranulação dos basófilos e
mastócitos tecidulares e plaquetas. A histamina, cujo efeito é dominante, tem um
importante efeito vasodilatador, pois promove a contracção das fibras musculares lisas
de alguns esfíncteres capilares e venulares, o que favorece o aumento da
permeabilidade vascular e a passagem de plasma para o espaço extravascular.
Este processo de activação celular, desencadeado por alguns fragmentos do
complemento, e a génese de algumas citocinas levam à libertação de outros
importantes mediadores da inflamação, de acção mais lenta e sustentada, sobretudo
devido à activação do ácido araquidónico das membranas celulares.
Activação Ácido Araquidónico Formação Leucotrienos e Prostaglandinas
↑ efeito Histamina
Efeitos Contracção M. Liso
& Vasodilatação
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Estes mediadores da inflamação, juntamente com outros sistemas de enzimas
plasmáticos, consolidam o processo inflamatório que tende a localizar, limitar e
neutralizar o agente agressor. Referimo-nos aos sistemas de coagulação,
fibrinolítico e das cininas e, claro, ao sistema do complemento cujo papel é
fundamental – de facto, o sistema do complemento é essencial aos mecanismos de
imunidade inata mas também coopera nos mecanismos celulares e humorais que
levam à formação de anticorpos, actuando como um elo de ligação fundamental
entre o processo inflamatório inicial e os mecanismos imunológicos adaptativos
(iremos abordar esta temática mais à frente).
MIGRAÇÃO CELULAR
De um modo geral a migração celular processa-se em quatro tempos:
Fixação das células circulantes ao endotélio vascular e rolamento sobre este;
Activação;
Adesão mais firme às células endoteliais;
Travessia desse endotélio, atraídas para o foco inflamatório sob o efeito dos
estímulos quimiotácticos ali gerados.
Os padrões de migração celular são complexos: dependem não só da variabilidade
das suas moléculas de superfície como da natureza e da densidade das moléculas
expressas pelas células endoteliais. Assim, por exemplo, as células endoteliais das
chamadas vénulas de endotélio alto (presentes em órgãos linfóides secundários) são
muito diferentes das células endoteliais encontradas em tecidos não linfóides. Ou seja,
com este exemplo pretende-se demonstrar que a expressão de novas moléculas de
adesão, ou o aumento da sua densidade, nas células endoteliais, sob influência
de citocinas produzidas no foco inflamatório é, assim, um fenómeno que
acompanha o processo inflamatório no geral.
Para além da migração celular, participam activa e decisivamente no processo
inflamatório as moléculas que chegam ao foco da inflamação por transudação do
plasma – processo determinado, sobretudo, pelo aumento de permeabilidade
vascular. É, assim, possível a grandes moléculas, como anticorpos, componentes do
complemento e moléculas de outros sistemas enzimáticos do plasma afluírem ao foco
inflamatório. Assim, geram-se factores quimiotácticos com várias origens, citocinas e
quimiocinas.
Por sua vez, as células que intervêm no processo inflamatório produzem citocinas cujo
papel é particularmente importante na sinalização e interacção celular.
Citocinas – Mediadores celulares pequenos, inicialmente derivados de células
residentes nos tecidos (macrófagos, mastócitos e células endoteliais) em resposta a
um estímulo PAMP ou DAMP. À medida que o processo inflamatório se desenvolve,
as citocinas poderão derivar das proteínas do complemento ou dos leucócitos que
migraram para os tecidos.
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CITOCINAS DA IMUNIDADE INATA
Citocina Origem Alvos e Efeitos celulares
TNF* (tumor necrosis
factor) Macrófagos, Linf. T
Céls Endoteliais: activação – inflamação, coagulação Neutrófilos: activação Hipotálamo febre Fígado: síntese de proteínas de fase aguda Músculo e Adipócitos: catabolismo ( caquexia) Outros tipos celulares: apoptose!
IL-1* Macrófagos, Células Endoteliais, algumas
células epiteliais
Céls.Endoteliais: activação – inflamação, coagulação Hipotálamo febre Fígado: síntese de proteínas de fase aguda
Quimiocinas Macrófagos, Células Endoteliais, Linf. T,
Fibroblastos, Plaquetas
Leucócitos: quimiotaxia, activação, migração p/ tecidos
IL-12 Macrófagos, Células
Dendríticas
Linf. T: diferenciação TH1 Linf. T e NK: síntese IFN-γ, ↑actividade citotóxica
Interferões Tipo I: IFN-α IFN-β
IFN-α: Macrófagos IFN-β: Fibroblastos
Todas as células: estado antiviral, ↑expressão MHC I Linf. NK: activação
IL-10 Macrófagos, Linf. T Macrófagos e Céls. Dedríticas: inibição produção IL-12, expressão de co-estimuladores e MHC II
IL-6* Macrófagos, Células Endoteliais, Linf. T
Fígado: síntese de proteínas de fase-aguda Linf. B: proliferação de células produtoras de anticorpos
IL-15 Macrófagos, outros Linf. NK: proliferação Linf. T: proliferação (células de memória CD8+)
IL-18 Macrófagos Linf. T e NK: síntese IFN-γ
IL-23 Macrófagos e Células
Dendríticas Linf. T: manutenção dos linfócitos produtores de IL-17
IL-27 Macrófagos e Células
Dendríticas
Linf. T: diferenciação TH1, inibição células TH1 Linf. NK: síntese IFN-γ
*Major Proinflammatory Cytokines (citocinas principais do processo inflamatório)
CITOCINAS PRINCIPAIS DO PROCESSO INFLAMATÓRIO: TNF, IL-1 E IL-6
A secreção de citocinas pelas células dos tecidos afectados é crucial para a resposta
inflamatória aguda. As citocinas mais importantes neste processo são, então, a TNF, a
IL-1 e a IL-6 que provêm, sobretudo, de macrófagos e mastócitos.
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CARACTERÍSTICAS DESTAS CITOCINAS
TNF – é um mediador da resposta inflamatória aguda devido a infecções
microbianas, sobretudo bacterianas. Pode ser,
também, denominado TNF-α para se distinguir da
linfotoxina ou TNF-β, com a qual está intimamente
relacionada. Os receptores para TNF encontram-
se presentes na maioria dos tipos celulares e são
membros de uma grande família de proteínas
chamada TNF receptor superfamily; a maioria
destes receptores está envolvida na resposta
imunitária e inflamatória. A produção de TNF pelos
macrófagos é estimulada por PAMPs e DAMPs;
TLRs, NLRs e RLRs podem também induzir
expressão do gene que codifica o TNF. Assim,
muitos e diferentes produtos microbianos podem induzir a produção de TNF – grande
quantidade desta citocina pode ser produzida durante infecções por bactérias gram-
positivas e gram-negativas, que libertam TLR-ligandos e ácido lipoteóico das suas
paredes celulares. O TNF é ainda um dos principais mediadores do choque séptico.
Mas, como funciona a acção do TNF e dos seus receptores?
Citocinas que se ligam a algum receptor da família dos TNF-receptors provocam,
como resposta, o recrutamento de proteínas denominadas TRAFs (TNF receptor-
associated factors) que vão activar factores de transcrição. Contudo, caso as
citocinas se liguem a outros membros da família, como os TNF-RI, irão desencadear o
recrutamento de uma proteína adaptadora que por sua vez activará caspases
desencadeando a apoptose celular.
Assim, conclui-se que diferentes membros da família de receptores TNF podem induzir
expressão génica, morte celular ou ambas as coisas, tendo assim funções e
importâncias diferentes.
IL-1 – é um mediador da resposta inflamatória aguda e muitas das suas acções
são semelhantes à do TNF. A maior fonte celular de IL-1 são os fagócitos
mononucleares. Contudo, e ao invés do TNF, a IL-1 é também produzida por muitos
outros tipos celulares (ver tabela das citocinas). Existem duas formas de IL-1: a IL-1α
e a IL-1β que, apesar de as suas semelhanças moleculares serem inferiores a 30%,
se ligam aos mesmos receptores celulares de superfície e têm a mesma actividade
biológica. A forma activa que é mais secretada é a IL-1β. A produção de IL-1 requer,
normalmente, dois sinais distintos: um que activa a transcrição génica e produção de
percursor para o polipéptido pró-IL-1β; outro que que activa o inflammassome para
que este clive o percursor que activará a proteína madura para o IL-1β. A IL-1 é
libertada por uma via não clássica porque, contrariamente à maioria das proteínas,
nem a IL-1α nem a IL-1β possuem sequências-alvo de sinalização hidrofóbica para
identificar a nascente do polipéptido e permitir o seu transporte para a membrana do
RE.
Assim, uma das possibilidades sugeridas para “contornar” este problema de libertação
da IL-1 é a de que esta será, então, maioritariamente libertada quando ocorre
15
morte celular das células infectadas ou de macrófagos activados. Algumas
bactérias patogénicas induzem tanto o processamento de IL-α e IL-β mediado pelos
inflammassomes nos macrófagos, como a morte celular caspase-1 dependente que
leva à libertação de citocinas inflamatórias. O TNF pode, também, estimular fagócitos
e outros tipos celulares para produzirem IL-1.
A IL-1 medeia os seus efeitos biológicos através do receptor IL-1 tipo I, um receptor
de membrana que é expressado em diversos tipos celulares. Este receptor é uma
proteína membrana que contém um domínio Ig de ligação extracelular e um domínio
de sinalização do receptor Toll/IL-1 (TIR) na região citoplasmática. Os eventos de
sinalização que ocorrem quando IL-1 se liga ao receptor IL-1 tipo I são
semelhantes aos desencadeados pelos TLRs e resultam na activação de
factores de transcrição (NF-κB e AP-1).
IL-6 – é outra citocina importante na resposta inflamatória aguda que tem efeitos
a nível local e a nível sistémico. Inclui, como efeitos, a síntese de inúmeros
mediadores inflamatórios no fígado, a estimulação da produção de neutrófilos na
medula óssea e a diferenciação de linfócitos TH que produzem IL-17. A IL-6 é
sintetizada por fagócitos mononucleares, células endoteliais vasculares, fibroblastos e
outras células em resposta a PAMPs, à IL-1 e ao TNF.
O receptor para a IL-6 consiste basicamente numa cadeia polipeptídica com um
ligando para a citocina e numa sub-unidade de transdução de sinal. O receptor para a
IL-6 impulsiona uma via de sinalização que activa o factor de transcrição STAT3.
PAPEL DESTAS CITOCINAS NA INFLAMAÇÃO
RECRUTAMENTO DE LEUCÓCITOS PARA O LOCAL DA INFECÇÃO
O recrutamento de um grande número de neutrófilos, seguido de monócitos, da
circulação para os tecidos ocorre tipicamente como parte da resposta inflamatória
aguda a infecções ou lesões teciduais. O TNF, a IL-1, a IL-6 e as quimiocinas (que são
libertadas no local da infecção) têm variados efeitos nas células endoteliais
vasculares, nos leucócitos e na medula óssea que, juntos, aumentam a disponibilidade
de células que combatem infecções e reparam tecidos.
Tanto o TNF como a IL-1 induzem as células endoteliais das vénulas pós-
capilares a expressar E-selectin e a aumentar a sua expressão de ICAM-1 e
VCAM-1, ligandos para integrinas leucocitárias. Estas mudanças na adesão
endotelial resultam da activação de factores de transcrição pelo TNF e pela IL-1,
levando à transcrição génica de uma nova molécula de adesão. A expressão de P-
selectin também é induzida nas células endoteliais em grande parte devido ao efeito
da histamina e da trombina que estimulam a rápida mobilização da P-selectin
armazenada nos grânulos das células.
TNF e IL-1 estimulam, ainda, diversos tipos celulares para que estes secretem
quimiocinas como as CXCL1 e CCL2 que se ligam a receptores nos neutrófilos e
16
monócitos, respectivamente, e aumentam a afinidade das integrinas
leucocitárias aos seus ligandos estimulando, então, o movimento direccional
dos leucócitos. O aumento da expressão de selectina, integrina e quimiocinas leva a
um aumento da adesão dos neutrófilos e monócitos às células endoteliais e promove a
sua transmigração através das paredes dos vasos.
A acção do TNF no endotélio e nos leucócitos é essencial para a resposta
inflamatória local aos agentes microbianos. Se uma quantidade inadequada de
TNF estiver presente (ex. pacientes tratados com bloqueadores dos TNF ou em
ratinhos com knockout do gene para o TNF) uma das consequências será uma falha
no processo inflamatório e na contenção de infecções.
Para além disto, TNF, IL-1 e IL-6 podem ainda entrar na medula óssea e estimular a
produção de neutrófilos e, assim, aumentar o suprimento celular que pode ser
recrutado para combater infecções.
FAGOCITOSE E MORTE MICROBIANA ATRAVÉS DE CÉLULAS FAGOCÍTICAS
ACTIVADAS
Neutrófilos e Macrófagos que são recrutados para os locais de infecção ingerem
micróbios em vesículas através de um processo denominado fagocitose. Estas
duas linhagens celulares expressam receptores que especificamente
reconhecem os microrganismos estranhos e se ligam a eles (primeiro passo da
fagocitose – ligação aos receptores).
Os receptores existentes nas membranas destas células podem ser:
PRRs (inclui lectinas do tipo-C e scavenger receptors)
Receptores de alta afinidade para opsoninas, inclundo anticorpos, proteínas
do complemento e lectinas plasmáticas. Estes receptores são cruciais para a
fagocitose de diferentes microrganismos que estão revestidos por opsoninas.
Um dos mecanismos mais eficientes para opsonizar microrganismos é revesti-
los com anticorpos.
A partir do momento em que um microrganismo ou uma partícula se liga aos
receptores dos fagócitos, a membrana plasmática na região do receptor começa a
redistribuir-se e estende-se até formar uma projecção à volta do
microrganismo/partícula, formando de seguida uma vesícula intracelular. Esta
vesícula, denominada fagossoma, contém a partícula estranha e separa-se da
membrana plasmática.
Os receptores celulares de superfície, para além de permitirem a fagocitose, permitem
também a activação de um processo de sinalização que estimula a actividade anti-
microbiana dos fagócitos. O material fagocitado é destruído ao mesmo tempo que se
formam péptidos através das proteínas dos micróbios que são apresentadas aos
linfócitos T para se iniciar a resposta imunitária adaptativa.
17
Macrófagos e neutrófilos activados matam os microrganismos fagocitados
através da acção microbiana de moléculas presentes nos fagolisossomas.
Diversos receptores que reconhecem estes microrganismos (incluindo TLRs,
receptores acoplados a proteína-G, anticorpo Fc, receptores C3 do complemento e
receptores para citocinas) funcionam de forma a activar os fagócitos para que estes
destruam o “invasor”. A fusão dos vacúolos fagocíticos (fagossomas) com os
lisossomas resulta na formação de fagolisossomas onde a maioria dos mecanismos
microbicidas estão concentrados. Existem três tipos essenciais de mecanismos com
acção microbicida:
Reactive Oxygen Species (“espécies de oxigénio reactivas”) – macrófagos e
neutrófilos activados convertem oxigénio molecular em espécies de oxigénio
altamente reactivas (ROS) que são agentes oxidantes altamente reagentes que
destroem microrganismos. O processo através do qual estas espécies de
oxigénio são produzidas é denominado respiratory burst dado que ocorre
durante a respiração celular (quando o oxigénio é consumido). A geração de
ROS tóxico, comummente vista como a principal função da phagocyte
oxidase (enzima “oxidase-fagocitária”) não é, contudo a única função; esta
enzima é ainda responsável pela manutenção das condições dentro dos
vacúolos fagocíticos necessárias à actividade das enzimas proteolíticas. A
oxidase cria, assim, um gradiente electroquímico através da membrana do
vacúolo cujo resultado é o aumento do pH e da osmolaridade dentro do próprio
vacúolo, mudanças necessárias à actividade de elastase e da catepsina G.
1. Óxido Nítrico – os macrófagos também produzem muitas espécies reactivas
de nitrogénio, maioritariamente óxido nítrico, através da acção de uma enzima
chamada inducible nitric oxide synthase (iNOS), que é uma enzima
citosólica que está ausente nos macrófagos em repouso mas que pode ser
18
induzida em resposta a produtos microbianos que activam TLRs. Basicamente,
a iNOS cataliza a conversão de arginina em citrulina, libertando óxido nítrico
em forma de gás livre. No fagossoma, o NO pode ser combinado com
peróxido de hidrogénio ou superóxido e produzir, assim, peroxonitratos
altamente reactivos que levam à destruição dos microrganismos.
Enzimas Proteolíticas –
macrófagos e neutrófilos
activados produzem diversas
enzimas proteolíticas que
funcionam para destruir
microrganismos. Uma das
enzimas mais importantes
nos neutrófilos é a elastase
que mata diversos tipos de
bactérias; outra enzima
importante é a catepsina G.
Quando os neutrófilos e os macrófagos são activados de forma extrema, estes
mecanismos podem causar lesões no hospedeiro saudável através da libertação
das enzimas lisossomais, ROS e óxido nítrico. Os produtos microbicidas destas
células não distinguem entre tecidos do próprio organismo e tecidos “estranhos”.
Como resultado, quando estes produtos entram no ambiente extracelular podem
causar lesões teciduais graves nos tecidos do próprio hospedeiro.
OUTRAS FUNÇÕES DOS MACRÓFAGOS ACTIVADOS
Para além de matarem o material fagocitado, os macrófagos são ainda importantes
para outras funções de defesa do organismo contra infecções.
Estas funções são sobretudo mediadas pelas citocinas que eles produzem que, em
conjunto com as quimiocinas, melhoram a resposta inflamatória contra micróbios e
permitem um maior nº de leucócitos e proteínas plasmáticas no local de infecção.
Os macrófagos activados também produzem factores de crescimento para os
fibroblastos e células endoteliais, participando assim na remodelação dos
tecidos após infecções e lesões.
19
CONSEQUÊNCIAS SISTÉMICAS E PATOLÓGICAS DA RESPOSTA
INFLAMATÓRIA AGUDA
TNF, IL-1 e IL-6 produzidos durante a resposta imunitária inata a uma infecção
ou lesão de tecidos têm efeitos sistémicos que contribuem para a defesa do
hospedeiro e são responsáveis por muitos dos sinais de infecção e inflamação.
Podem ter efeitos positivos que ajudam no combate da selecção ou efeitos
patológicos.
TNF, IL-1 e IL-6 actuam no hipotálamo para induzir um aumento na
temperatura corporal – febre. Estas citocinas são, por isso, denominadas de
pirogénios endógenos. A produção de febre em resposta ao TNF, IL-1 e IL-6
é mediada pelo aumento da síntese de prostaglandinas por células
hipotalâmicas citocino-estimuladas. A febre traz vantagens que não são ainda
bem compreendidas mas pensa-se que estão relacionadas com uma melhoria
nas funções metabólicas das células imunitárias e talvez na criação de
condições menos favoráveis para os microrganismos. Pode, contudo, ser
também considerado um efeito patológico caso atinja valores que desregulem
o organismo a tal ponto que ponha em risco de vida o hospedeiro. IL-1, TNF e IL-6 induzem a expressão de reagentes de fase-aguda, incluindo
CRP, SAP e fibrinogénio, pelos hepatócitos e a sua libertação para a corrente
sanguínea. CRP e SAP têm papéis protectores nas infecções e o fibrinogénio
contribui para a homeostase e reparação tecidual.
Em caso de infecções severas, o TNF pode ser produzido em grandes
quantidades e causar anormalidades sistémicas e patológicas. Se o estímulo para
20
a produção de citocinas for suficientemente forte, a quantidade de TNF produzida
pode ser tão excessiva que ao ser posta em circulação na corrente sanguínea irá
actuar em locais distantes como hormona endócrina. As suas principais acções
sistémicas são:
Inibição da contractilidade do miocárdio e do tónus do M. liso, resultando numa
demarcada diminuição da PA, ou até mesmo em choque;
Causa trombose intravascular, sobretudo devido à perda de propriedades
anticoagulantes normais do endotélio – TNF promove a expressão de tissue
factor, um potente activador da coagulação, e inibe a expressão de
trombomodulina um inibidor da coagulação. Estas alterações endoteliais são
exacerbadas pela activação dos neutrófilos, levando a um plugging vascular. A
abilidade do TNF de causar necrose tumoral é um resultado da trombose dos
vasos sanguíneos.
Produção prolongada de TNF causa um “desperdício” de massa muscular e
adiposa, também denominado de caquexia. Este desperdício resulta de uma
supressão do apetite induzida pelo TNF e uma supressão da síntese da
lipoproteína lípase.
Outra consequência nefasta da sobre-actuação das citocinas pode ser um
agravamento do choque séptico.
O choque séptico é uma complicação sistémica de sépsis provocada por
inúmeras bactérias e que pode ser causado por LPS libertado por bactérias
gram-negativas (choque endotóxico) ou ácido lipoteóico por gram-positivas.
Pode ser caracterizado pelo colapso vascular, coagulação intravascular
disseminada e distúrbios metabólicos e deve-se então à sinalização induzida
por LPS ou ácido lipoteóico que leva à produção de TNF e outras citocinas,
incluindo IL-12, IFN-γ e IL-1. A concentração sérica de TNF pode ser preditiva
do outcome de infecções bacterianas graves.
A inflamação aguda pode ainda causar lesões nos tecidos devido aos
mecanismos efectores que os fagócitos usam para matar os microrganismos
dado que são altamente tóxicos para os tecidos hospedeiros. As enzimas
proteolíticas e as ROS produzidas pelos fagócitos e que se acumulam nos locais das
infecções podem lesar as células do hospedeiro e degradar matriz extracelular se
estiverem em grandes quantidades, especialmente quando há uma resistência
microbiana e a infecção se prolonga continuando a estimular uma resposta imunitária
inata. De facto, muitas das manifestações patológicas associadas a infecções devem-
se às respostas inflamatórias e não aos efeitos tóxicos dos microrganismos em si.
Inflamação aguda pode ainda causar lesões teciduais que podem desencadear
doenças auto-imunes, caso em que os neutrófilos e macrófagos ficam activados
“à parte’ da estimulação do sistema imunitário pelos antigénios do próprio
organismo. Tal como na inflamação induzida por infecção, TNF, IL-1, IL-6 e IL-12
são os “indutores-chave” da doença auto-imune.
21
INFLAMAÇÃO AGUDA VS INFLAMAÇÃO CRÓNICA
Quando a reacção inflamatória não é suficiente para neutralizar ou eliminar o agente
agressor, a permanência de inflamação permite estabelecer resposta imune
adaptativa:
Resposta Humoral (com anticorpos), Resposta Celular Acção Citotóxica
Componentes da
resposta imunológica
Resposta Inata ou
Natural
Resposta Adaptativa ou
Adquirida
Ocorrência Temporal Imediata Tardia
Barreira Física e Química + -
Células Fagocíticas + +
NK/NKT + +
Linf. T - (excepto: γδ T) +
Linf. B - (excepto: B-1) +
Anticorpos - (excepto: naturais) +
Complemento + +
Citocinas + +
Especificidade Largo Espectro
(pouco específica)
Restrita
(antigénios particulares
para um dado agente
patogénico; detalhes
estruturais)
Memória Imunológica - +
Amplificação - + (clonal)
+ presente; - ausente
Inflamação Aguda Inflamação Crónica
Desenvolve-se em minutos a horas -
Imediata
Desenvolve-se após estado de
inflamação aguda quando infecção não
eliminada - Tardia
Pode manter-se durante dias Maior período de duração
Recrutamento da 1ª linha de defesa –
sobretudo neutrófilos
Envolve recrutamento e activação de
monócitos e linfócitos; ↓[neutrófilos]
Sem alterações estruturais Sofre remodelação tecidual com
angiogénese e fibrose
Reacção Imunológica Inata Reacção Imunológica Adaptativa
22
MIGRAÇÃO DOS LEUCÓCITOS PARA OS TECIDOS
MOLÉCULAS DE ADESÃO E SEUS LIGANDOS, E QUEMOQUINAS E
SEUS RECEPTORES
O recrutamento dos leucócitos do sangue para os tecidos depende da adesão destes
ao endotélio das vénulas e do seu movimento através deste ultimo e da membrana
basal subjacente para o tecido extravascular. Este processo requer vários passos,
cada um controlado por diferentes moléculas (moléculas de adesão e quemoquinas).
Embora haja diferentes tipos de leucócitos, o processo básico de migração é
semelhante. No entanto, as moléculas expressas variam de tipo para tipo, resultando
em diferentes propriedades de migração. Para que ocorra migração são necessárias
moléculas de adesão, e os respectivos ligandos, entre os leucócitos circulantes e as
células do endotélio. Estas moléculas pertencem a duas famílias: as selectinas e as
integrinas (NOTA: As quemoquinas NÃO SÃO moléculas de adesão!). A expressão
destas moléculas varia entre os tipos de leucócitos e diferentes locais nos vasos
sanguíneos.
SELECTINAS E SEUS LIGANDOS
As selectinas são moléculas de adesão presentes na membrana plasmática que
se ligam a ligandos glicídicos. Medeiam um passo inicial, de baixa afinidade
entre os leucócitos e o endotélio.
As selectinas são expressas nas células endoteliais enquanto os seus ligandos
são expressos na superfície dos leucócitos.
O endotélio expressa 2 tipos de selectinas: P-selectinas e E-selectinas.
T3 II: Inflamação – Migração Leucócitos para os Tecidos
Data teórica de 4 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 3
Capítulos do Arosa: 3.3
Slides aulas: sim Elaborado por: Teresa Perico Pina
23
A P-selectina é armazenada em grânulos citoplasmáticos e distribuída pela
superfície das células endoteliais em resposta a produtos microbianos, citocinas,
histamina (libertada pelos mastócitos) e trombina (gerada na coagulação
sanguínea).
A E-selectina é sintetizada e expressa na superfície do endotélio 1 a 2h após
detecção (e como resposta a esta) de IL-1, TNF e produtos microbianos como o
LPS.
Os ligandos para as selectinas existentes nos leucócitos são grupos glicídicos
existentes em glicoproteínas membranares dos granulócitos, monócitos e em
algumas células T efectoras e de memória previamente activadas.
A L-selectina, um caso particular, é expressa na superfície dos leucócitos mas
não nas células endoteliais. Os seus ligandos encontram-se expressos nas
vénulas de alto endotélio (high endothelial venules). São importantes no “homing”
dos linfocitos T naive nos nódulos linfáticos (imunidade adaptativa).
Os linfócitos expressão L-selectina e ligandos para as P- e E-selectinas (no cume
das suas microvilosidades, facilitando a interacção com o endotélio).
INTEGRINAS E SEUS LIGANDOS
As integrinas são proteínas heterodiméricas, existentes na membrana plasmática
dos leucócitos, constituídas por 2 cadeias polipeptídicas ligadas não
covalentemente. Medeiam a adesão dos leucócitos às células endoteliais através
de interacções específicas com os seus ligandos.
O domínio citoplasmático das integrinas interage com o citoesqueleto da célula.
As duas integrinas mais importantes nos leucócitos são a LFA-1 e a VLA-4.
A LFA-1 liga-se à ICAM-1, uma glicoproteína membranar expressa em células
endoteliais activadas por citocinas, linfócitos, células dendríticas e macrófagos,
entre outras.
A porção extracelular da ICAM-1 apresenta uma sequência homóloga e estrutura
terciária semelhante a domínios encontrados nas imunoglobulinas.
Outros dois ligandos para a LFA-1 são a ICAM-2, expressa nas células
endoteliais, e a ICAM-3, expressa nos linfócitos.
A VLA-4 liga-se à VCAM-1, expressa nas células endoteliais activadas por
citocinas de alguns tecidos. Esta interacção é importante para o recrutamento de
leucócitos para o local da inflamação.
As integrinas aumentam a afinidade para os seus ligandos como resposta a
sinais intracelulares. Esta activação é provocada pela ligação de quemoquinas
24
aos seus receptores (ou do antigénio ao receptor no caso dos linfócitos), o que
leva á alteração da conformação do domínio extracelular das integrinas para uma
conformação em que a interacção destas com os seus ligandos é mais fácil.
As quemoquinas também induzem o agrupamento das integrinas na membrana,
o que aumenta a avidez destas para os ligandos no endotélio, fortalecendo a
ligação leucócito-endotélio.
QUEMOQUINAS E SEUS RECEPTORES
Família estruturalmente homóloga às citocinas que estimula o movimento
leucocitário e regula a migração dos leucócitos do sangue para os tecidos. São
polipéptidos que contem 2 ligações bissulfito.
As duas maiores famílias são as CC e as CXC. Regra geral, as CC e seus
receptores medeiam o recrutamento de neutrófilos e linfócitos enquanto as CXC
recrutam monócitos e linfócitos.
As quemoquinas CC e CXC são produzidas por leucócitos e por outras células,
como as endoteliais, as epiteliais e os fibroblastos como resposta a estímulos
externos. A sua secreção é induzida pelo reconhecimento de micróbios (por
receptores da imunidade inata) e pela presença de IL-1 e TNF. Algumas CC são
também produzidas por células T previamente estimuladas por antigénios
(ligação do recrutamento de leucócitos na inflamação com a imunidade
adaptativa).
Os receptores de quemoquinas pertencem à superfamília das GTP-binding-
protein G-coupled-receptors. São estes receptores que iniciam a resposta
intracelular através das proteínas G triméricas associadas.
As proteínas G estimulam mudanças no citoesqueleto, que levam ao aumento da
motilidade da célula e alteração da conformação das integrinas na sua superfície,
aumentando a afinidade destas ultimas para os seus ligandos.
Os receptores de quemoquinas diminuem de quantidade na presença de
quemoquinas, o que pode ser um mecanismo de terminação do processo
inflamatório.
Diferentes combinações de receptores de quemoquinas estão presentes nos
diferentes tipos de leucócitos, o que leva a padrões de migração diferentes. São
os padrões de expressão de receptores que determina que leucócito vai
responder a cada quemoquina.
As quemoquinas têm um papel fundamental:
o São essenciais no recrutamento de leucócitos em circulação do sangue para
os tecidos. A entrada dos linfócitos nos nódulos linfáticos e a entrada de
25
linfócitos, monócitos e neutrófilos nos locais de infecção são controladas por
quemoquinas.
o As quemoquinas extravasculares estimulam o movimento dos leucócitos e a
sua migração segundo o gradiente químico de proteínas secretadas,
processo este chamado que quemocinese. Assim, os leucócitos são
direccionados para células infectadas nos tecidos ou para zonas específicas
nos órgãos linfoídes.
o As quemoquinas estão envolvidas no desenvolvimento dos órgãos linfoídes e
regulam o tráfego de linfócitos e outros leucócitos para os tecidos linfoídes
periféricos.
o As quemoquinas são essenciais para a migração de células dendríticas do
local de infecção para os nódulos linfáticos. As células dendríticas têm um
papel fundamental na ligação entre os sistemas imunes inato e adaptativo.
MIGRAÇÃO DOS LEUCÓCITOS DO SANGUE PARA OS TECIDOS
INFLAMADOS
INTERACÇÕES LEUCÓCITO-ENDOTÉLIO E EXTRAVASAÇÃO DOS
LEUCÓCITOS
As selectinas, integrinas e quemoquinas controlam em conjunto as interacções
leucócito-endotélio necessárias para a migração dos leucócitos para os tecidos
inflamados. A migração é feita por uma sequência de eventos comum à maioria
dos leucócitos:
26
1. “ROLLING”: como resposta a micróbios e/ou citocinas produzidas por
células que estiveram em contacto com os micróbios, a expressão de
selectinas na superfície do endotélio vai aumentar. Os leucócitos, que
se moveram para perto da superfície endotelial das vénulas (devido à
dilatação dos vasos e diminuição do fluxo sanguíneo nos locais em que
ocorre a resposta imunitária inata) vão se ligar, através das selectinas
no endotélio e respectivos ligandos nos leucócitos, ao endotélio. Como
esta ligação é de baixa afinidade, os leucócitos vão se ligando e
desligando sucessivamente, rolando ao longo da superfície endotelial.
2. AUMENTO DA AFINIDADE DAS INTEGRINAS: no local da infecção,
como resposta a estímulos patogénicos ou endógenos, as células vão
produzir quemoquinas. Estas vão ser transportadas para as vénulas
poscapilares e vão se ligar a proteoglicanos nas paredes destas. 1 vez
fixadas, vão se ligar aos seus receptores na membrana dos leucócitos
em “rolling”, alterando a conformação e distribuição das integrinas nas
membranas destes, o que aumenta a afinidade das integrinas para os
ligandos destas.
3. ADESÃO DOS LEUCÓCITOS AO ENDOTÉLIO MEDIADA POR
INTEGRINAS: simultaneamente com a activação das integrinas, o TNF
e a IL-1 (citocinas) vão também aumentar a expressão de ligandos para
as integrinas no endotélio (maioritariamente VCAM-1 e ICAM-1).
Estas alterações vão levar a que os leucócitos adiram firmemente ao
endotélio, com a reorganização do seu citoesqueleto, e sua dispersão
pela superfície endotelial.
4. TRANSMIGRAÇÃO DOS LEUCÓCITOS ATRAVÉS DO ENDOTÉLIO:
geralmente, os leucócitos atravessam a parede das vénulas entre
células endoteliais (migração paracelular). Para que isto aconteça, é
necessária uma quebra transitória e reversível das junções de
aderência que mantêm as células endoteliais fixas umas às outras.
Embora seja muito menos comum, já foi provado que por vezes os
leucócitos atravessam a célula endotelial em si (migração transcelular).
A especificidade existente na migração leucocitária deve-se à expressão de
diferentes combinações de moléculas de adesão e de quemoquinas em cada
tipo de leucócito.
MIGRAÇÃO DOS NEUTRÓFILOS E MONÓCITOS PARA OS LOCAIS DE
INFECÇÃO OU DANO NO TECIDO
Após a sua maturação na medula óssea, os neutrófilos e monócitos entram na
circulação sanguínea, de onde são recrutados na resposta inflamatória por um
processo semelhante ao descrito anteriormente.
27
Os neutrófilos e monócitos expressam combinações distintas de moléculas de
adesão e de receptores de quemoquinas (em diferentes locais ou diferentes
alturas), o que os leva a migrar para locais (onde está a ocorrer resposta
inflamatória) diferentes, ou para o mesmo local em alturas diferentes.
Os neutrófilos são os primeiros a ser recrutados, sendo seguidos, umas horas
mais tarde, pelos monócitos, que são recrutados continuamente.
Em alguns casos, os neutrófilos não são recrutados de todo.
Os neutrófilos e monócitos expressão receptores de quemoquinas diferentes, o
que é provavelmente o maior determinante da divergência dos seus
comportamentos no que respeita a sua migração.
PATOLOGIAS ASSOCIADAS
Existem patologias provocados por defeitos na adesão dos leucócitos às células
endoteliais. Estes defeitos devem-se a alterações no mecanismo da adesão
leucocitária. São conhecidas por Deficiências na adesão leucocitária (LAD – Leokocyte
Adhesion Deficiency) 1, 2 e 3. Estas estão descritas na teórica nº9, correspondente às
Imunodeficiências Primárias.
28
NOTA INTRODUTÓRIA:
Neste capítulo são focados os pontos essenciais sobre os temas homeostasia e
clonalidade, com base na informação contida (e dispersa por vários capítulos) no
Abbas. Para além disso, encontram-se inseridas algumas informações adicionais
(também espalhadas em diferentes capítulos) do Arosa, e, ainda, informações da aula
teórica. Estas últimas não se encontram na totalidade, visto que algumas partes da
aula incidiram sobre a parte da investigação laboratorial destes temas, que são de
difícil compreensão apenas através dos slides.
INTRODUÇÃO
Todas as respostas a antigénios, tanto humorais como mediadas por células, possuem
um conjunto de propriedades fundamentais que refletem as propriedades dos linfócitos
que medeiam essas mesmas respostas (Abbas, 2012). Nesse conjunto de
propriedades fundamentais encontram-se a Homeostasia e a Clonalidade.
HOMEOSTASIA
PERSPECTIVA HISTÓRICA
Em 1932, Walter Cannon definiu homeostasia como sendo a manutenção do
equilíbrio, ou de condições constantes, num sitema biológico através de mecanismos
de feedback que neutralizam perturbações que tendem a desequilibrar esse mesmo
sistema.
Cannon, para explicar o que acontecia em sistemas biológicos, utilizou como
modelo/paradigma a manutenção da pressão na máquina a vapor.
Por exemplo, quando a pressão é inferior à necessária para manter a funcionalidade
da máquina a vapor, accionam-se uma série de engenhos que produzem um aumento
da pressão até aos valores desejados. Da mesma forma, quando o número de
linfócitos é insuficiente para dar resposta a um agente patogénico, por exemplo,
T4: Homeostasia e Clonalidade
Data teórica de 6 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 1,2,8,9,14
Capítulos do Arosa: 3,7,8
Slides aulas: Sim
Elaborado por: Mariana Gabriel
29
existem mecanismos que levam a um aumento de produção de linfócitos, tentando-se
assim controlar as perturbações que ocorrem no organismo.
Como acabámos de ver, esta ideia de regulação por mecanismos homeostáticos pode
ser aplicada na imunidade, mais propriamente, na manutenção de um número
constante de linfócitos no organismo.
HOMEOSTASIA NUMA RESPOSTA IMUNE
Todas as respostas imunes normais diminuem com o tempo depois de uma ligação a
um antigénio, fazendo com que o sistema imunitário retorne ao seu estado basal, para
que este possa, posteriormente, responder com eficácia a novos antigénios – a este
processo designa-se de homeostasia.
A manutenção da homeostasia ocorre, principalmente, porque as respostas
imunitárias que são desencadeadas por antigénios têm como objectivo eliminá-los, o
que, consequentemente, gera um estímulo essencial para a activação e sobrevivência
dos linfócitos; e também porque, simultaneamente, os linfócitos privados desses
estímulos morrem por apoptose (Abbas et al., 2012).
Os mecanismos homeostáticos fazem com que o sistema recupere o estado de
equilíbrio e de capacidade reactiva que existia antes do estímulo antigénico, o que lhe
permite responder prontamente a novo estímulo, se tal for necessário, cumprindo
assim o seu papel fundamental de preservar a individualidade biológica (Arosa et. al,
2007).
CLONALIDADE
Numa resposta imune, os linfócitos T naive são ativados por um antigénio, entram em
divisão e produzem uma descendência de células-filhas ou clones, processo
designado por expansão clonal.
A expansão clonal dos linfócitos específicos de um antigénio é a multiplicação de
células que especificamente reconhecem, se ligam e são activados por um só tipo de
antigénio, constituindo uma família de células morfológica e funcionalmente idênticas,
aquilo que se designa de clone (Arosa et al., 2007). Este aumento nas células
antigénio-específicas confere à resposta imune adaptativa a capacidade de
acompanhar o número de agentes patogénicos infeciosos, que se dividem
rapidamente. (Abbas et al., 2012)
30
Estudos in vitro indicam que a proliferação como resposta a um antigénio é promovida
pela IL-2 produzida pelos próprios linfócitos T em divisão (acção autócrina), garantido,
assim, que as células T antigénio-específicas sejam as que mais proliferam.
Porém, in vivo a proliferação induzida por antigénios é pouco dependente da IL-2,
sugerindo que outros sinais ou factores de crescimento podem contribuir para a
divisão celular, para além da IL-2 (Arosa et al., 2007).
Antes da exposição ao antigénio, a frequência de células T naive específicas para
qualquer antigénio é de 1 em cada 105/106 linfócitos. Após a exposição ao antigénio, a
frequência das células T CD8+ específicas para determinado antigénio pode aumentar
para cerca de 1 em cada 3 a 1 em 10 linfócitos, enquanto que o número de células T
CD4+ específicas aumenta para cerca de 1 em cada 100 linfócitos a 1 em cada 1000
linfócitos (Abbas et al., 2012).
Estudos em ratinhos mostraram pela primeira vez esta tremenda expansão da
população celular antigénio-específica em algumas infecções virais agudas.
Constatou-se ainda que, durante esta expansão clonal, células T bystander (não
específicas para o vírus) não proliferaram.
Como se pode ver na figura seguinte, a fase inicial de expansão é sempre seguida de
uma fase de contração durante a qual alguns linfócitos naive inicialmente activados
sofrem morte celular programada ou apoptose, enquanto outros sobrevivem.
A morte e a sobrevivência são processos dependentes altamente regulados. O
balanço entre um e outro irá determinar, em grande medida, a magnitude da resposta
mediada pelos linfócitos T e, em última instância, contribuir para a homeostasia dos
linfócitos T. Anomalias no equilíbrio entre apoptose e sobrevivência podem resultar
quer em doenças linfoproliferativas quer em imunodeficiências de células T associadas
a processos autoimunes (Arosa et al., 2007).
31
MANUTENÇÃO DE UM NÚMERO CONSTANTE DE LINFÓCITOS
Num estado de equilíbrio, o pool de linfócitos naive é mantido num número constante
porque existe um balanço entre a morte espontânea dessas células e a produção de
novas células (Abbas et al., 2012).
O turnover celular, referido na imagem abaixo, é a substituição de células
envelhecidas por novas células e ocorre em cerca de 1% dos linfócitos por dia. De
uma forma simples, podemos dizer que a quantidade de linfócitos que morre
naturalmente é igual às quantidades de linfócitos resultantes da produção nos órgãos
linfóides primários e da proliferação por expansão clonal.
Qualquer perda de linfócitos leva a uma proliferação compensatória das células que
sobrevivem a essa perda, aumentando, assim, a quantidade de linfócitos. Por
exemplo, se células naive forem transferidas para um ratinho que possui uma
deficiência linfocitária, os linfócitos que foram transferidos começam a proliferar e sua
quantidade aumenta até que se atinja, aproximadamente, o número de linfócitos que
se encontrariam num ratinho sem linfopenia. Este processo é designado de
proliferação homeostática, uma vez que o objectivo é obter o número óptimo de
linfócitos de forma a manter a homeostasia do sistema imunitário.
32
A proliferação homeostática parece ser influenciada pelos mesmos sinais que são
necessários para a manutenção de linfócitos naive, ou seja, o reconhecimento de
alguns autoantigénios e citocinas (IL-7, principalmente) (Abbas et al., 2012).
COMO ESTUDAR/INVESTIGAR OS MECANISMOS DE MANUTENÇÃO DE
LINFÓCITOS T?
Através de enxertos de timo: se, em ratinhos, aumentarmos o número de timos, o
número de linfócitos existentes aumenta, mas não é directamente proporcional, como
se pode verificar no gráfico a seguir.
Ao aumentar a produção tímica, a proliferação dos linfócitos diminuir por feedback
negativo, para que não se gerem mais células do que aquelas que morrem
naturalmente.
COMO DEMONSTRAR O FEEDBACK?
Através da quantificação da proliferação por diluição de CFSE (fluorocromo que marca
células em proliferação) e linfopenia induzida (radiação que fará diminuir o número de
linfócitos). Primeiro, induz-se a linfopenia, em ratinhos, e posteriormente, contam-se as
células marcadas (linfócitos em proliferação).
Nesta experiência laboratorial verificou-se um aumento da proliferação linfocitária.
Com a ideia de turnover celular em mente, inferimos que ao aumentar a morte celular,
a proliferação de células sobreviventes também irá aumentar (estimulada pela IL-7 e
por ligandos MHC-péptido) num esforço de restabelecer o número de linfócitos normal.
33
CONCLUSÃO
Através dos resultados anteriores, podemos concluir que o mecanismo de feedback
negativo, essencial para a regulação homeostática de linfócitos, depende da
densidade/número de células.
34
NOTA INTRODUTÓRIA:
Este capítulo tem como objectivo abordar as temáticas que, apesar de não terem sido
abordadas nas teóricas, foram o foco de muitos dos trabalhos realizados nas aulas
teórico-práticas, em particular da 4ª aula, sobre o Desenvolvimento e Activação
Linfocitária.
Posto isto, vamos centrar-nos apenas no Desenvolvimento Linfocitário.
DESENVOLVIMENTO LINFOCITÁRIO
O processo que dá origem a linfócitos, B e T, capazes de reconhecer antigénios
específicos denomina-se de desenvolvimento ou maturação linfocitária. Deste
processo, fazem parte mecanismos que permitem: o desenvolvimento de linhagens
diferentes de linfócitos a partir dos mesmos progenitores; o rearranjo genético
necessário à expressão de diferentes receptores, específicos para determinados
ligandos e antigénios; a proliferação dos linfócitos com os receptores adequados à
acção a que estão pré-destinados e a eliminação de outros, com receptores
inadequados.
O resultado final são linfócitos de várias populações distintas, com receptores
devidamente funcionais e capazes de dar uma resposta o mais rápido e eficazmente
possível à presença de antigénios estranhos ao organismo.
Neste processo de maturação, muitas fases e mecanismos são comuns a todas as
populações linfocitárias. Portanto, antes de especificar o desenvolvimento para os dois
diferentes tipos de linfócitos que pretendemos abordar (B e T), convém abordar os
aspectos comuns ao desenvolvimento dos linfócitos em geral.
DESENVOLVIMENTO LINFOCITÁRIO: VISÃO GERAL
Todos os linfócitos provém, tal como as restantes células do sangue, de células
estaminais hematopoiéticas (hematopoietic stem cells, ou HSC’s). Estas células são
pluripotentes e, portanto, não são específicas para qualquer uma das linhagens de
células que podem originar. Estas células provêm quer da medula óssea, quer do
fígado fetal.
TP4: Introdução/Diferenciação e Activação Linfocitária
Capítulos do Abbas: 8 Capítulos do Arosa: 11 Slides aulas: não
Elaborado por: João Pedro Sousa
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Posteriormente, as HSC’s irão desenvolver-se em progenitores linfocitários comuns
(CLP’s) capazes então de dar origem a linfócitos T, linfócitos B e algumas células
dendríticas.
Os progenitores linfocitários comuns vão, de seguida, atravessar alguns passos
comuns ao desenvolvimento de todos os linfócitos:
Comprometimento (commitment) dos progrenitores linfocitários a
uma das duas linhagens linfocitárias, B ou T;
Proliferação, no sentido de aumentar o pool de células, quer de
progenitores comuns, quer de percursores já comprometidos a uma
linhagem;
Rearranjo genético sequencial e expressão dos genes que
codificam os receptores próprios a cada população linfocitária
Selecção, no sentido de preservar apenas os linfócitos com receptores
eficazes e eliminar receptores que reconhecem antigénios self (do
próprio organismo)
Diferenciação dos linfócitos B e T nas suas diversas subpopulações;
Migração para os órgãos linfóides periféricos (gânglios), onde
aguardam activação por outros factores.
A localização anatómica onde ocorre o desenvolvimento varia consoante o tipo de
célula que vão originar e o estado da sua maturação. De um modo geral, após o
commitment, os percursores de linfócitos B terminam o seu desenvolvimento na
medula óssea, ao passo que os percursores de linfócitos T (ou timócitos) migram para
o timo no sentido de continuar a sua maturação.
COMMITMENT
O processo que define a linhagem a que pertence cada progenitor linfocitário
comum depende de diversos receptores à superfície das células e de factores de
transcrição. São fundamentais, por um lado, para induzir proteínas essenciais à
diferenciação e ao rearranjo genético. Por outro, vão tornar os genes que codificam os
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receptores correctos acessíveis a essas mesmas proteínas – isto é feito
descondensando a cromatina em porções particulares do DNA do progenitor
linfocitário. Assim sendo, num progenitor de linfócitos B, o locus codificante das
imunoglobulinas (Ig) é libertado; nos percursores de linfócitos T, corresponde à porção
codificante do TCR (T-cell receptor).
Para os linfócitos T (excepto os NK), é o Notch-1, em colaboração com o GATA-3,
que compromete um progenitor a esta linhagem. No caso dos linfócitos B, destaca-se
a acção dos factores de transcrição EBF e E2A, que vão induzir um outro factor de
transcrição, o Pax-5, e no seu conjunto irão comprometer um progenitor à formação de
linfócitos B.
PROLIFERAÇÃO
A proliferação garante, como já foi dito, um pool de células percursoras considerável,
para que se possa originar uma quantidade aceitável de linfócitos funcionais (contando
que haverá mutações, nem todos os linfócitos formados inicialmente são devidamente
eficazes, sendo eliminados).
Para promover a proliferação, são necessários sinais mediados por citocinas.
Experiências permitiram saber que a IL-7, produzida na medula óssea e no timo, é
importante sobretudo na proliferação dos progenitores de linfócitos T. A doença da
imunodeficiência combinada severa ligada ao cromossoma X (X-linked severe
sombined immunodeficiency disease) corresponde a uma mutação numa cadeia da IL-
7, e resulta em graves bloqueios no desenvolvimento de linfócitos T e NK, mas com
normal desenvolvimento de linfócitos B.
A proliferação cessa quando é expressa a primeira cadeia do receptor de antigénios
específico. No caso do BCR – B-cell receptor, que corresponde à Ig -, expressa-se
inicialmente a cadeia pesada do Ig. No caso do TCR, é expressa inicialmente a cadeia
β do TCR. Este é um passo essencial à sobrevivência, expansão e continuação do
desenvolvimento de um linfócito.
REARRANJO GENÉTICO E EXPRESSÃO DOS RECEPTORES DE ANTIGÉNIO
O rearranjo dos genes codificantes dos receptores de antigénio, Ig e TCR, também
denominado rearranjo V(D)J, é importantíssimo na geração de diversidade de
receptores de antigénio. Este rearranjo permite obter milhões de receptores
antigénicos diferentes a partir do mesmo locus.
Caso contrário, seria necessária uma porção muitíssimo maior de DNA a codificar
estes receptores para que essa variedade ocorresse. Note-se, ainda, que tudo isto
ocorre antes do contacto do linfócito com qualquer antigénio.
Esta variabilidade é atingida a partir da recombinação de regiões/segmentos de genes,
dentro do locus que codifica os receptores. As regiões seleccionadas são
denominadas variáveis (variable regions, V), de diversidade (diversity, D) e de junção
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(juction, J). As restantes regiões, de domínio constante, designam-se como regiões C
(constant). O resultado desta recombinação é um exão novo, funcional, resultante da
junção de um segmento V com um segmento J, ou de três segmentos, se um
segmento D estiver ainda presente (nem sempre acontece). Este exão irá codificar a
região variável de cada receptor de antigénio, e ao mesmo tempo conferir
especificidade a esse receptor.
Esta junção é aleatória, podendo um segmento V juntar-se com um de vários
segmentos J ou D, pelo que a variabilidade atingida é imensa. Assim sendo, a
variabilidade aumenta consoante o número de segmentos V, (D) e J que estão
presentes num determinado locus. No entanto, o factor que mais contribui para a
diversidade nos receptores acaba por ser a adição ou deleção aleatória de nucleótidos
nos locais de junção dos segmentes V-D, D-J ou V-J. Esta adição de nucleótidos é
mediada pela enzima terminal deoxynucleotidil transferase, ou TdT.
Resultante desta diversidade na junção, há uma região de hipervariabilidade em todos
os receptores Ig e TCR, localizada na junção do segmento V com o segmento
constante C, denominada CDR3. É a região mais importante na determinação da
especificidade de um receptor ao antigénio.
Inicialmente, todas as células possuem a mesma linhagem de genes, a ocupar sempre
as mesmas posições no DNA. Só após este rearranjo são criados os genes que
verdadeiramente codificam os receptores de antigénio. Claro está, nem todos os
receptores expressos após o rearranjo são úteis ou funcionais, pelo que grande parte
destes linfócitos é eliminada nos processos de selecção.
SELECÇÃO
Vários mecanismos no decurso da maturação linfocitária – checkpoints - permitem
que apenas linfócitos com os devidos receptores, capazes de reconhecer antigénios
estranhos e, além disso, não reconhecer antigénios self sobrevivam e proliferem
futuramente. No geral, muitos desses mecanismos dividem-se em processos de
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selecção positiva e processos de selecção negativa. O primeiro induz mecanismos
de sobrevivência, ao passo que o segundo activamente provoca a morte celular de um
linfócito indevidamente desenvolvido. Estes processos serão descritos com maior
detalhe mais à frente, relativamente a cada um dos tipos de linfócitos, B e T.
De seguida, apresenta-se um esquema que resume alguns dos processos que
regulam e seleccionam a população linfocitária no organismo.
DIFERENCIAÇÃO
No final do desenvolvimento, serão obtidas não apenas duas populações de linfócitos,
B e T, mas várias subpopulações dentro de cada uma das duas principais. Assim
sendo, um linfócito B pode desenvolver-se num linfócito B folicular, num linfócito B-1,
ou num linfócito B de zona marginal. Por sua vez, encontramos quatro subtipos de
linfócitos T: CD4+, CD8+, linfócitos T ʎδ e linfócitos T NK.
Agora, iremos abordar em particular alguns aspectos específicos do desenvolvimento
dos linfócitos B e posteriormente, dos linfócitos T.
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DESENVOLVIMENTO DE LINFÓCITOS B
O desenvolvimento dos linfócitos B decorre, na maior parte dos casos, totalmente na
medula óssea, sendo que independentemente da proveniência dos progenitores
linfocitários comuns, é lá que terminam a sua maturação em células B maduras.
Consideram-se várias fases no desenvolvimento de um linfócito B, consoante os
marcadores de superfície que apresentam e pelo receptor que os caracterizam. São
elas:
linfócito pró-B
linfócito pré-B
linfócito B imaturo
linfócito B maduro
Vamos agora descrever o que caracteriza cada uma destas fases e que processos
ocorrem, especificamente, em cada uma.
LINFÓCITO PRÓ-B
São os linfócitos que se seguem imediatamente ao commitment de progenitores
comuns, correspondendo à linhagem percursora de linfócitos B. Distinguem-se de
outros linfócitos imaturos por expressarem CD19 e CD10, entre outros marcadores de
superfície.
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Nesta fase, começam a ser expressadas as proteínas Rag, essenciais ao início do
rearranjo V(D)J dos genes codificantes do receptor Ig. Inicialmente, apenas se inicia
o rearranjo e a expressão da cadeia pesada deste receptor.
LINFÓCITO PRÉ-B
Estes linfócitos diferem dos anteriores na medida em que já expressam a proteína µ,
resultado do rearranjo da cadeia pesada do receptor Ig. Assim, pode-se dizer que
expressam Ig µ - correspondente à cadeia pesada do receptor Ig maduro. Esta
associa-se a outras proteínas, como a V pré-B e a ʎ5, produzidas pelo pró e pré-
linfócitos B e análogas às cadeias leves do receptor Ig, substituindo-as
temporariamente (denominam-se, por isso, cadeias de aluguer). Fazem também parte
deste complexo proteínas Igα e Igβ, que depois irão constituir parte do receptor BCR
maduro. No conjunto, este novo receptor é também denominado receptor pré-B, ou
pré-BCR.
Não se sabe ao certo quais os ligandos deste receptor, ou o que ele reconhece. No
entanto, sabe-se que a presença de um pré-BCR funciona como checkpoint, emitindo
sinalizações que permitem o avanço para a fase seguinte. Mais propriamente, é
produzida uma enzima, a BTK (Bruton’s tyrosine kinase), que a partir deste ponto se
torna importante para mediar sinais do pré-BCR no sentido de regular a sobrevivência,
proliferação e maturação dos linfócitos pré-B, seja nesta fase ou em fases seguintes
do desenvolvimento.
Além disso, o pré-BCR tem um papel na continuidade do rearranjo das cadeias que
farão parte do receptor maduro. Isto faz-se de duas formas:
a presença de uma proteína µ produzida pelo rearranjo num dos
cromossomas inibe o rearranjo dos genes que codificam a cadeia pesada
do Ig no outro cromossoma, permitindo que cada linfócito produza apenas
um receptor BCR, mantendo a especificidade deste. Este fenómeno
denomina-se exclusão alélica. Isto permite, ainda, que o rearranjo seja
terminado caso o primeiro tenha sido mal sucedido (induzindo o rearranjo
no cromossoma restante), ou que a célula sofra apoptose caso ambos os
cromossomas tenham efectuado rearranjos ineficazes.
o Ig µ vai ainda induzir o rearranjo da cadeia leve κ do BCR, e inactivar a
expressão das cadeias análogas que as substituíam e que foram
inicialmente produzidas pelo linfócito pré-B (as cadeias de aluguer).
LINFÓCITO B IMATURO (NAÏVE)
No estágio seguinte, os linfócitos pré-B adquirem não são um receptor BCR com
cadeia pesada, mas também é completado o rearranjo e expressão de uma cadeia
leve – seja uma cadeia κ ou uma cadeia ʎ (normalmente, só se forma uma cadeia ʎ
quando o rearranjo do locus para uma cadeia κ não foi bem sucedido, e fenómenos de
exclusão de isotipo de cadeia leve previnem a expressão de ambos os tipos de
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cadeia leve). Em ambos os casos, estamos perante uma molécula IgM completa. A
partir deste ponto, o linfócito denomina-se linfócito B imaturo.
A molécula de IgM, em associação com as proteínas Igα e Igβ, vão servir como ponto
de ancoragem do antigénio, conferindo a especificidade a este. Se o linfócito, nesta
fase, não for reactivo a antigénios self, são emitidos sinais pelo BCR que permitem a
sua sobrevivência e cessam a expressão das proteínas Rag, impedido posterior
rearranjo de quaisquer genes de Ig.
Nesta fase, não há proliferação ou diferenciação perante o contacto com antigénios,
dado que uma reacção intensa com antigénios na medula óssea significaria
demasiada reactividade com antigénios self, e portanto iria induzir ou edição do
receptor (veremos melhor mais à frente) ou morte celular. Pelo contrário, se os
linfócitos nesta fase forem pouco reactivos com antigénios self, migram para o baço
onde vão completar a sua maturação.
LINFÓCITO B MADURO
Quando falamos de linfócitos B maduros, consideramos diferentes subpopulações,
com diferenças na sua origem, diferenciação e mesmo nos locais anatómicos de
maturação. Assim, distinguimos:
Linfócitos B foliculares (FOB)
Linfócitos B-1 (B1-B)
Linfócitos de Zona Marginal (MZB)
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LINFÓCITOS B FOLICULARES
A maioria dos percursores de linfócitos B dão origem a linfócitos maduros deste tipo –
os quais expressam não só uma cadeia pesada µ como outra cadeia pesada δ,
sendo esta a sua particularidade. Expressam igualmente duas cadeias leves, sejam κ
ou ʎ, e cada uma delas se associa a uma das duas cadeias pesadas.
O resultado é a expressão não só de IgM (contendo a cadeia pesada µ), como
também de um IgD (que contém a cadeia pesada δ). Esta transcrição de dois
receptores diferentes provém do splicing alternativo de um mesmo exão VDJ (como
mostra a figura abaixo).
Estes dois receptores de membrana têm a mesma especificidade a um antigénio –
reconhecem o mesmo, portanto.
Não se sabe ao certo os processos de sinalização que levam à expressão tanto do
IgM como do IgD. Mas sabe-se que a sua presença é fundamental para permitir ao
linfócito B maduro entrar em circulação e adquirir competência funcional – o que leva à
ideia de que o IgD é o principal receptor de activação do linfócito B. No entanto, não
surgiram evidências que distingam o IgM do IgD a nível funcional.
Os linfócitos B foliculares são, também, designados por linfócitos B recirculantes, já
que migram de um órgão linfóide para outro, residindo em pequenos nichos
conhecidos como folículos de linfócitos B. A sobrevivência destas células nestes
nichos é permitida em parte por citocinas da família do TNF, designadas por BAFF ou
BlyS.
As células B maduras naive respondem a antigénios, e caso não reajam activamente a
um antigénio alguns meses após a maturação, acabam por morrer.
LINFÓCITOS B-1
Estes linfócitos B são particulares, na medida em que os seus progenitores têm origem
no fígado fetal, e não na medula óssea. A sua constituição e função estão mais bem
definidas nos roedores, onde a maioria destas células expressam CD5 e parecem
formar populações auto-suficientes no peritoneu e nas mucosas.
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Estes linfócitos desenvolvem-se mais cedo que os linfócitos B comuns e não
apresentam um grau muito elevado de rearranjo e diversidade na junção, já que a TdT
não é expressa no fígado fetal.
Tal como os linfócitos de zona marginal (abordados posteriormente), os linfócitos B-1
secretam anticorpos IgM que reagem com polissacarídeos e lípidos microbianos.
Secretam ainda, nas mucosas, anticorpos IgA. Assim sendo, estes linfócitos são
importantes na rápida produção de anticorpos contra microrganismos em
determinados locais anatómicos e tecidos.
No Homem, estes linfócitos foram descritos, mas não expressam CD5. Este, por sua
vez, é expresso por linfócitos em transição e algumas populações de linfócitos B
activos.
LINFÓCITOS B DE ZONA MARGINAL
Os linfócitos de zona marginar (MZB) expressam, por sua vez, um receptor IgM e o
co-receptor CD21. No Homem, estes linfócitos podem ser encontrados no baço e
nódulos linfáticos. Respondem muito rapidamente à presença de microrganismos
circulantes através da produção de anticorpos IgM. Além disso, são capazes de
mediar respostas dependentes de linfócitos T.
SELECÇÃO DE LINFÓCITOS B
Alguns dos processos de selecção de linfócitos B têm vindo a ser discutidos até aqui.
O primeiro de todos trata-se, precisamente, da selecção positiva dos linfócitos cujo
rearranjo genético foi bem-sucedido e que expressaram devidamente o receptor Ig.
Destes são emitidos sinais “tónicos” BCR no sentido de manter mecanismos de
sobrevivência da célula e de parar a expressão de proteínas Rag, cessando
definitivamente o rearranjo genético.
Os linfócitos B imaturos que reconhecem antigénios self, por outro lado, podem tornar-
se perigosos (dado o risco de desenvolvimento de doenças auto-imunes). Estes
linfócitos, no entanto, não sofrem imediatamente morte celular: antes disso, são
induzidos a alterar a sua especificidade, por um processo designado edição do
receptor.
Neste processo, o reconhecimento do antigénio leva à reactivação dos genes Rag e a
novos rearranjos VJ e expressão de uma nova cadeia leve Ig (normalmente,
corresponde à cadeia leve κ). Isto permite à célula expressar um novo receptor, não
sensível ao antigénio self que desencadeou esta alteração.
Por outro lado, se a edição do receptor falhar, é induzida a apoptose da célula. Este
processo é também designado por selecção negativa. Esta indução é feita pelos
próprios antigénios self, que são abundantes na medula óssea.
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Assim sendo, e em ambos os processos, os antigénios self são eles próprios
responsáveis pela tolerância generalizada que os linfócitos B maduros apresentam
para eles.
Após a expressão de IgM e IgD (no caso dos linfócitos B foliculares – que
correspondem à maioria da resposta imunitária humoral), o reconhecimento de um
antigénio leva à proliferação e diferenciação, no sentido de induzir a resposta
adequada – não ocorrem, nesta fase, novos processos de selecção (edição ou
apoptose), pois esta já foi garantida em fases anteriores.
DESENVOLVIMENTO DE LINFÓCITOS T
De seguida, vamos aprofundar o processo de desenvolvimento e maturação de
linfócitos T, especificamente.
Como já foi referido, o timo é o órgão onde se dá a maior parte do desenvolvimento
dos percursores de linfócitos T. No timo, estes percursores passam a designar-se
como timócitos. Como sabemos, o timo vai involuindo com a idade: isto traduz-se
num decréscimo de maturação de linfócitos na idade adulta. No entanto, é possível
aos indivíduos adultos imunocomprometidos recuperar a função imunitária através do
transplante de medula óssea, o que nos leva a crer que ainda ocorre alguma
maturação linfocitária no timo.
O timo oferece as condições necessárias seja para o transporte entre das diferentes
zonas deste órgão, para a sua proliferação, ou para o próprio desenvolvimento dos
linfócitos T. Este possui células dendríticas, macrófagos e células epiteliais que
formam redes de prolongamentos citoplasmáticos, pelas quais os linfócitos T imaturos
passam e recebem estímulos essenciais à maturação. Entre eles, destacamos a
produção de MHC’s (Major Histocompatibility Complex), que sabemos serem
essenciais na apresentação de antigénios ao receptor TCR. Neste caso, são
importantes não pela apresentação de antigénios por si só, mas pelo facto de essa
apresentação precoce no timo ser necessária aos processos de selecção (como
veremos mais adiante). Além destas, as células estromais do timo produzem citocinas
e quimiocinas, responsáveis respectivamente pela proliferação de linfócitos e pela
transição do córtex para a medula que estes devem realizar no sentido de completar o
desenvolvimento.
Dentro das citocinas mais importantes, tem-se a IL-7 (que já foi referida
anteriormente). Dentro das quimiocinas, considera-se importante o papel da CCL25,
que se liga ao receptor CCR9 que os progenitores linfocitários apresentam, permitindo
a migração destes para o timo. Já as CCL19 e CCL21, reconhecidas pelo receptor
CCR7, são importantes na transição do córtex para a medula tímica.
O desenvolvimento dos linfócitos T considera-se dividido em várias fases, conforme a
expressão dos diferentes componentes que os caracterizam: ou seja, a expressão do
TCR e, se for aplicável, de CD4 ou CD8. De acordo com este critério, destacamos
cinco etapas:
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Linfócito pró-T (duplo-negativo)
Linfócito pré-T (duplo-negativo)
Linfócito T duplo-positivo
Linfócito T imaturo
Linfócito T maduro
LINFÓCITO PRÓ-T (DUPLO NEGATIVO)
Os linfócitos pró-T são os mais imaturos, estando localizados no córtex tímico,
imediatamente provenientes da medula óssea. São designados como duplo-
negativos, uma vez que não expressam CD4 nem CD8. Da mesma forma, não
expressam qualquer tipo de receptor TCR, co-receptor CD3 ou cadeias ζ (estruturas
normalmente presentes num linfócito T maduro, como veremos mais à frente).
As primeiras proteínas a ser expressas nesta fase são as Rag1 e Rag2, no sentido de
avançar com o rearranjo dos genes codificantes do TCR. Como já referimos, este
rearranjo inicia-se pela cadeia β do receptor.
LINFÓCITO PRÉ-T (DUPLO NEGATIVO)
No final da fase pró-T, teremos a expressão da cadeia TCR β, pelo que se considera
que estamos perante um receptor pré-TCR – dando início a uma nova etapa no
desenvolvimento de um linfócito T, o linfócito pré-T. Note-se que este ainda se
considera duplo-negativo, pelas mesmas razões que referimos anteriormente (não
apresenta CD4 ou CD8). A constituir o complexo pré-TCR estão também cadeias CD3,
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cadeias ζ, proteína Lck (lymphocyte-specific protein tyrosine kinase) e uma proteína
pré-Tα.
Nesta fase, o pré-TCR tem funções análogas ao pré-BCR no desenvolvimento dos
linfócitos B. Assim sendo, a formação do complexo pré-TCR é importante para mediar
sinais essenciais à sobrevivência dos linfócitos T, à proliferação destes, ao início da
recombinação do locus da cadeia α do TCR e a transição da fase de duplo-negativo
para duplo-positivo. Irá, ainda, promover exclusão alélica no sentido de “fechar” o
locus da cadeia TCR β do cromossoma que não sofreu rearranjo, para que não sejam
produzidas duas cadeias β.
LINFÓCITO T DUPLO-POSITIVO
Esta fase caracteriza-se pela expressão, simultânea, de CD4 e CD8, pelo que se
afirma que estes linfócitos são duplo-positivos (CD4+/CD8+). De seguida, ocorre
ainda o rearranjo do locus codificante da cadeia α do TCR, resultando num linfócito T
que expressa CD4, CD8, CD3, cadeias ζ, Lck e um receptor TCR αβ, ou seja, um
receptor TCR completo. Para o rearranjo e expressão da cadeia α do TCR, são
expressas novamente proteínas Rag.
Ao contrário do que acontece na expressão da cadeia β, não há exclusão alélica no
caso das cadeias α. Logo, um mesmo receptor TCR pode expressar duas cadeias α,
acontecendo em 30% dos linfócitos T maduros. Tal como seria de esperar, a não-
transcrição bem-sucedida de uma cadeia α leva à apoptose da célula.
Note-se ainda que o rearranjo e expressão do TCR α leva à deleção do locus que
codifica o TCR δ – impedindo, portanto, que aquele linfócito se desenvolva num
linfócito T γδ (um dos diferentes linfócitos T maduros, como veremos mais à frente).
Assim, um linfócito que expresse a cadeia α, ou por outras palavras, um complexo
TCR αβ, está comprometido à linhagem de linfócitos T αβ CD4+ ou CD8+. E, tal como
ocorre com os linfócitos B, a expressão de proteínas Rag termina a este ponto – não
havendo hipótese de outro rearranjo genético.
LINFÓCITO T IMATURO
Nesta fase, que ocorre na transição do córtex para a medula tímica, é cessada a
produção de um dos dois co-receptores que têm vindo a ser expressos pelo linfócito
na fase anterior: ou é expresso apenas CD4, ou apenas o CD8 – denominam-se
single-positive. Este passo é fundamental no desenvolvimento futuro de linfócitos T
maduros CD4+ e CD8+. Os processos que levam à expressão de um dos co-receptores
e ao cessar da expressão do outro não estão muito bem estudados; surgem, no
entanto, algumas teorias, que iremos abordar mais à frente.
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LINFÓCITO T MADURO
Os linfócitos, logo que se tornam positivos apenas para CD4 ou para CD8, completam
a sua maturação a nível fenotípico. Estruturalmente, estão completos. Esta maturação
é acompanhada de uma maturação a nível funcional, e portanto logo que os linfócitos
T se tornam single-positive, abandonam o timo para os órgãos linfáticos periféricos e
tornam-se linfócitos T maduros naive. Nesta fase, resta aos linfócitos aguardar por
activação.
Dentro dos linfócitos T maduros, encontramos várias subpopulações. Temos vindo a
descrever o desenvolvimento de linfócitos T αβ CD4+ ou CD8+ (os mais comuns e com
papel mais preponderante na imunidade celular), mas outros existem e apresentam
diferenças ao nível da sua diferenciação, maturação e função. Assim sendo,
consideram-se:
Linfócitos T CD4+
Linfócitos T CD8+
Linfócitos T γδ
Linfócitos T NK
LINFÓCITOS T αβ CD4+ OU CD8+
O desenvolvimento destes linfócitos decorre, sobretudo, da forma que foi descrita até
aqui. Têm a particularidade de serem restritos a MHC’s, na medida em que
necessitam que esta molécula lhes apresente o antigénio – não conseguindo
reconhecê-lo por si só. Esta molécula de MHC não participa apenas na sua função
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imunitária: é também parte dos fenómenos de selecção, como já vimos antes (vamos
aprofundar, ainda, estes processos de selecção).
Os linfócitos desta linhagem, consoante são positivos para CD4 ou CD8, têm funções
diferentes. Os CD4+, designados como helpers, produzem citocinas em resposta a
estímulos antigénicos e expressam moléculas efectoras, importantes à resposta
imunitária geral (como por exemplo o CD40 ligando). Isto é importante, por exemplo,
na mediação da resposta imunitária de linfócitos B, células dendríticas e macrófagos.
Já os CD8+ adquirem a capacidade de produzir moléculas que matam outras células.
São, por isso, designadas por células T citotóxicas.
LINFÓCITOS T γδ
Todos os linfócitos duplo-negativos possuem, no seu DNA, locus codificantes de
cadeias γ e δ. Em 90% dos casos, é recombinada e expressa em primeiro lugar uma
cadeia β, comprometendo esses linfócitos à linhagem de T αβ. Como já foi dito, após a
expressão da cadeia α é eliminado o locus codificante da cadeia δ. No entanto, em
10% dos linfócitos, ocorre em primeiro lugar a expressão de uma cadeia δ, o que
compromete esses linfócitos à linhagem de T γδ.
Estes linfócitos T têm menos diversidade que os αβ, e pensa-se que corresponderão a
uma resposta imunitária precoce à detecção de microrganismos mais comuns nas
barreiras epiteliais.
LINFÓCITOS T NK
Estes linfócitos não são restritos a MHC, e expressam TCR’s restritos a CD1 (molécula
estruturalmente semelhante a uma molécula de MHC classe I) e um marcador de
superfície encontrado nas células NK (daí o nome destes linfócitos T. Atenção: não
confundir os 2 tipos de células! As células NK pertencem à imunidade inata). Assim
sendo, estas células reconhecem antigénios lipídicos apresentados por moléculas
CD1. Estes antigénios lipídicos podem derivar de micróbios endocitados ou podem ser
antigénios self.
No córtex do timo, linfócitos T duplo-positivos cujos TCR reconhecam moléculas CD1
são induzidos a diferenciarem-se neste subtipo de linfócito T. Estas células são
capazes de secretar citocinas, participar na defesa contra microrganismos e regular
outras respostas imunes.
SELECÇÃO DE LINFÓCITOS T αβ RESTRITOS AO MHC
Os processos de selecção para os linfócitos CD4+ e CD8+ são, em parte, semelhantes
aos de selecção para os linfócitos B, e alguns deles foram já mencionados. No
entanto, outros são relativamente mais complexos, e alguns deles ainda estão por
explicar. Veremos os exemplos mais importantes e as teorias que tentam abordar esta
temática.
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Antes de mais, é importante ter presente que a selecção de linfócitos T ocorre no timo,
através da interacção com moléculas de MHC que nele são produzidas. O objectivo
desta selecção é obter linfócitos T capazes de interagir com moléculas de MHC self,
que apresentem antigénios estranhos ao organismo.
Isto é atingido, sobretudo, por dois métodos. O primeiro passa por promover a ligação
do TCR do linfócito a um MHC self, que apresente um antigénio self produzido no
timo. Aos linfócitos cujo TCR se liga com pouca reactividade ao MHC, é permitida a
sua sobrevivência e proliferação. Este processo designa-se de selecção positiva. Os
linfócitos cujos TCR’s não se ligam de todo ao MHC, acabam por morrer (death by
neglect).
Em segundo lugar, tem-se em conta a força da ligação entre o antigénio self e o TCR.
Aos linfócitos cuja ligação com um antigénio self é muito intensa, é induzida a
apoptose – estes linfócitos, como é fácil perceber, são perigosos, uma vez que podem
induzir doenças auto-imunes. Aos linfócitos cujos TCR’s não reconhecem de todo
antigénios self, ou a ligação é fraca, é permitida a sobrevivência. Este tipo de selecção
designa-se por selecção negativa, e permite a tolerância a antigénios self
característica dos linfócitos T. Esta tolerância, desenvolvida no timo, designa-se como
tolerância central.
Este fenómeno pode ocorre tanto na fase de linfócito T duplo-positivo como na fase
single-positive que imediatamente se segue, sempre na medula do timo. Na medula,
existe uma proteína, o AIRE (autoimmune regulator), capaz de produzir uma série de
péptidos específicos a alguns tecidos que podem ser reconhecidos pelo TCR e que
facilitam este processo de selecção negativa.
Curiosamente, existe um outro destino para células capazes de reconhecer antigénios
self que não a apoptose: podem diferenciar-se em células T reguladoras, que
previnem reacções auto-imunes. Não se sabe ao certo o que leva a um destino ou a
outro, mas sugeriu-se que depende da força da interacção com um antigénio self (se
ultrapassar um determinado “nível”, é induzida a apoptose).
Para além desta selecção fundamental, outra consequência resulta da mesma
interacção com MHC’s precoce no timo, mais precisamente, do processo de selecção
positiva: cada linfócito é diferenciado num de dois subtipos, CD4+ ou CD8+.
Inicialmente, os linfócitos imaturos que passam por este processo são duplo-positivos;
no final, apenas vão apresentar um destes co-receptores.
A molécula de MHC que se liga a um linfócito CD4+ não é igual à molécula de MHC
que se liga a um CD8+. Existem duas classes de moléculas de MHC: classe I e
classe II. A primeira, classe I, está associada aos linfócitos T CD8+ e apresenta
antigénios provenientes do interior de qualquer célula no organismo. Os MHC classe II
estão associados a linfócitos T CD4+ e apresentam antigénios extracelulares que são
capturados por células apresentadoras de antigénios: apenas estas células expressam
MCH classe II.
50
Tendo isto em conta, após o processo de selecção positiva, fica definido se aquele
linfócito será CD4+ ou CD8+. Se for ligado com sucesso a um MHC classe II, será
CD4+; por outro lado, se ligar a um MHC classe I, será CD8+.
Dois Modelos Explicativos
No entanto, o que decide a qual dos MHC’s se deve ligar um TCR não está bem
explicado. Surgiram dois modelos. O primeiro, “probabilístico”, afirma que se trata de
um processo aleatório: um MHC liga-se ao TCR de um linfócito, se for o MHC correcto
sobrevive, e caso contrário acaba por morrer. Haveria, portanto, uma probabilidade de
50% de um MHC se ligar ao receptor TCR errado (um que estaria destinado a ser
outro tipo de linfócito).
Outro modelo, “instrutivo”, defende que a ligação de um MHC a um TCR está
dependente da “força” ou “duração” de sinais emitidos pelo MHC. Para compreender
isto, é preciso ter em conta que, naturalmente, existem mais CD4 que CD8 expressos
na membrana de um linfócito T duplo-positivo. Assim sendo, e em tom de exemplo, um
MHC classe II emitiria um sinal com força x para o TCR. Uma vez que o MHC II
interage fortemente com CD4 e com a Lck, e que existem muitos CD4 na membrana
do linfócito, esse sinal seria “forte”. O linfócito iria interpretar esse sinal “forte” no
sentido de induzir a expressão de CD4 (activando factores de transcrição como o
ThPok) e parar a produção de CD8, tornando-se CD4+. Pelo contrário, um MHC I
emitiria um mesmo sinal para o TCR, e esse sinal seria mais “fraco” que o anterior, já
que há menos CD8 na membrana do linfócito e o CD8 interage pouco com a Lck. Um
linfócito destinado a tornar-se CD8+ iria interpretar esse sinal “fraco” no sentido de
parar a produção de CD4 e produzir apenas CD8 (activando factores de transcrição
como o Runx3). Este modelo é, no geral, mais aceite que o descrito anteriormente.
51
ACTIVAÇÃO DE LINFÓCITOS T
VISÃO GERAL A activação inicial dos linfócitos T ocorre nos gânglios linfáticos (órgãos linfóides
secundários), onde os linfócitos T naïve circulam e encontram células dendríticas
maduras.
T5: Activação de Linfócitos T
Data teórica de 7 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 9
Capítulos do Arosa: 8
Slides da aula: sim [T Cell Activation, Prof. Bruno Silva-Santos]
Elaborado por: Rui Carvalho
52
Estas células dendríticas, apresentadoras de antigénios, migrarão para os gânglios
linfáticos após encontrarem os antigénios nos seus tecidos de origem.
Por exemplo, na pele, os antigénios são detectados pelas células de Langerhans e,
caso o antigénio se encontre na circulação sanguínea, é detectado por células
dendríticas do baço. As células T naïve e as células dendríticas maduras (que
reconheceram um antigénio no seu tecido) vão encontrar-se nestes órgãos linfóides
secundários, pois são ambas atraídas para lá devido a quimiocinas produzidas nos
gânglios linfáticos.
A activação vai consistir no reconhecimento pelas células T naïve do antigénio
apresentado pelas células dendríticas, processo que provocará alterações que
permitirão que os linfócitos se tornem células efectoras, ou de células de memória
específicas para um dado antigénio que lhes foi apresentado e, portanto, com
capacidade de migração e de realizarem a sua função.
No fundo, o objectivo da activação dos linfócitos T é gerar, a partir de um pool
reduzido de células T naïve, um grande número de células efectoras com capacidade
de eliminar um dado antigénio e uma população de células de memória que
permanecem em circulação durante longos períodos de tempo e que têm a
capacidade de rapidamente responder a esse antigénio caso esse seja reintroduzido
no sistema.
A activação vai levar a proliferação celular – expansão clonal – dos linfócitos T,
resultante de mitoses sucessivas, mediada principalmente por uma combinação de
sinais dos receptores, co-estimuladores e ainda factores de crescimento autócrinos
(produzidos pelos próprios linfócitos), tal como a InterLeucina 2 (IL2).
A diferenciação em células efectoras é praticamente simultânea e envolve a
aquisição dos mecanismos que irão permitir a estas células cumprir a sua função.
53
Após a eliminação do antigénio, ocorrerá apoptose de um grande número de células:
contracção.
Quando estas células reencontram em circulação o antigénio para o qual são
específicas ocorre uma outra activação que culminará com a eliminação do antigénio.
No fim, restarão as células de memória. Para o desenvolvimento destas, há dois
modelos de explicação: um linear (em que as células de memória seriam as células
efectoras sobreviventes); e um ramificado (em que estas seriam um estado alternativo
da diferenciação das células naïve); isto devido a fenómenos de transcrição diferentes.
Abordar-se-á agora a sinalização que leva à activação dos linfócitos T.
SINALIZAÇÃO PARA A ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS T Para a proliferação e diferenciação dos linfócitos T é necessário:
Reconhecimento do antigénio
Co-estimulação
Citocinas (como a IL-2)
RECONHECIMENTO DO ANTIGÉNIO- sinal 1
O reconhecimento do antigénio é o primeiro sinal para a activação dos linfócitos T.
Este reconhecimento deve-se à apresentação do antigénio pelas células dendríticas
maduras (que são APCs – Antigen Presenting Cells). Esta apresentação é feita pelas
moléculas do MHC, que é um complexo proteico – Major Histocompatibility Complex.
O MHC vai apresentar à superfície da célula dendrítica porções peptídicas do
antigénio. Existem duas classes de MHC: MHC I e MHC II. O MHC classe I apresenta
péptidos que se encontram presentes no interior da célula, no citosol, enquanto que o
classe II apresenta péptidos que resultaram de proteínas endocitadas ou da digestão
de microrganismos fagocitados. Isto será importante, pois cada classe de MHC
apresentará antigénios a linfócitos T naïve diferentes: MHC I apresenta antigénios a
linfócitos T CD8+ e o MHC II a CD4+, que terão respostas diferentes na eliminação
posterior do antigénio.
O péptido apresentado pelo MHC
será reconhecido pelo complexo
TCR/CD3
(TCR: T Cell Receptor).
54
Aos linfócitos T CD4+ serão, então, apresentados péptidos que podem ser
provenientes, por exemplo de bactérias fagocitadas (b). Para os linfócitos T CD8+, os
antigénios apresentados pelas APCs derivam de proteínas presentes no interior das
células (a) que lá se encontram porque estas foram infectadas por um vírus ou porque
fagocitaram uma célula infectada ou tumoral, processando-a e seleccionando o
antigénio, apresentando-o no MHC I (fenómeno a que se chama “cross presentation”
ou apresentação cruzada (c)).
(a) Apresentação de antigénios a linfócitos T CD8+ pelo MHC I
(b) Apresentação de antigénios a linfócitos T CD4+ pelo MHC II
(c) Apresentação cruzada a linfócitos T CD8+
CO-ESTIMULAÇÃO – sinal 2
Vimos então que o sinal de activação primário dos linfócitos T CD8+ é a ligação do
complexo TCR/CD3 com as moléculas de MHC I com o antigénio – sinal 1 – que
confere especificidade à resposta do linfócito T.
No entanto, dá-se ainda co-estimulação através de sinais acessórios – sinal 2 –, entre
os quais se destacam os sinais transmitidos pelos co-receptores (por exemplo, CD28,
CD27, CD40L) que se ligam a co-estimuladores presentes na membrana das células
apresentadoras de antigénios (por exemplo, glicoproteínas da família B7).
Dos co-receptores, o mais estudado é o CD28, cujo mecanismo de transdução de
sinal (sinal 2), desencadeado aquando da ligação a moléculas da família B7 (CD80 e
CD86), amplifica a mensagem transduzida pelo sinal 1, aumentando a transcrição
genética.
Esta co-estimulação é essencial para a activação dos linfócitos T.
55
Co-receptores e Co-estimuladores:
É de notar ainda a influência das células CD4+ diferenciadas (helpers) na activação
dos linfócitos citotóxicos. Estas células irão 1) secretar citocinas promotoras da
transcrição (como a IL-2) e, 2) expressar CD40L, que é reconhecido pelo CD40 das
células apresentadoras de antigénios, induzindo nestas células alterações que as
tornarão mais eficazes na activação dos linfócitos T CD8; induzem, nomeadamente,
uma maior expressão de proteínas da família B7 e uma maior secreção de citocinas
promotoras de diferenciação. – Licensing via CD40
56
RESPOSTAS FUNCIONAIS DOS LINFÓCITOS T À ACTIVAÇÃO DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS T CD4+
CÉLULAS HELPER: TH1, TH2 e TH17
As células TH1, TH2 e TH17 diferenciadas
desenvolvem-se a partir de linfócitos T CD4+ naïve
dependendo da resposta a citocinas produzidas pelas
APCs ou por outras células imunitárias e presentes em
fases iniciais da diferenciação.
Estas citocinas serão reconhecidas por receptores
presentes na membrana das células CD4+ e induzirão
diferenciação consoante a citocina correspondente.
Cada subtipo celular terá um papel diferente na
resposta imunitária:
DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS T CD8+
CÉLULAS T CITOTÓXICAS
A diferenciação de Linfócitos T CD8+ em Linfócitos T Citotóxicos (CTLs – Cytotoxic T
Cells) envolve a aquisição dos mecanismos que irão permitir a estas células cumprir a
sua função: target cell killing. Assim, ocorre o desenvolvimento de grânulos
citoplasmáticos contendo as enzimas granzima e perforina (é necessário possuir as
duas!).
CRIAÇÃO DE CÉLULAS DE MEMÓRIA
Algumas células T activadas diferenciam-se em células de memória de sobrevivência
prolongada. A sua principal função é constituir uma reserva celular específica, que, em
caso de nova infecção pelo mesmo agente, tem uma acção bastante mais rápida. A
sobrevivência destas células está dependente de IL-7.
(Ver T7: Imunidade Celular – Mecanismos Efectores da Imunidade Mediada por
Células )
57
INTRODUÇÃO
Imunidade humoral é mediada pela secreção de anticorpos produzidos pelos
linfócitos B.
Dois grandes tipos de antigénios podem provocar uma resposta imunológica –
antigénios multivalentes 1 de origem microbiana que actuam directamente no
receptor dos linfócitos B (BCR) e antigénios proteicos apresentados por linfócitos
T-helper. Neste último caso, os anticorpos produzidos ligam-se com maior afinidade
ao antigénio em causa, do que sem a ajuda de linfócitos T, daí que os anticorpos
contra proteínas antigénicas sejam os melhores mediadores da imunidade
humoral.
Neste capítulo são descritos os acontecimentos moleculares e celulares da resposta
humoral, em particular os estímulos que induzem a proliferação e diferenciação de
linfócitos B e como esses estímulos influenciam o tipo de anticorpo produzido.
GENERALIDADES DA RESPOSTA
HUMORAL
Como já é sabido, linfócitos B maduros são desenvolvidos na medula óssea, da qual
partem para colonizar tecido linfóide, maioritariamente o baço, onde lhes são
apresentados antigénios, através das IgM e IgD de membrana. Isto culmina no
desenvolvimento de linfócitos B de memória e plasmócitos, estes últimos os
produtores de anticorpos.
1 Antigénios com vários epítopos semelhantes
T6 I: Imunidade Humoral – Activação de Linfócitos B e Produção de Anticorpos
Data teórica de 13 de Outubro de 2011
Capítulo do Abbas: 11
Slides das aulas: não
Elaborado por: João Pedro Soares
58
Ilustração 1 – Fases da resposta humoral imune.
Depois do reconhecimento antigénico, ao longo da resposta imunitária, (numa
semana um único linfócito B pode dar origem a 5000 semelhantes) existem
mecanismos que a orientam para a maior eficácia, como é o caso da produção de
anticorpos que não IgM e IgD (troca da cadeia pesada e, portanto, troca do
isotipo) e o caso da maturação da afinidade, em que gradualmente o(s) linfócito(s)
que produz(em) anticorpos com mais afinidade dominam a resposta imunitária.
(Ilustração 1)
O tipo e a quantidade de anticorpos produzidos variam de acordo o tipo de
antigénio em causa, se há envolvimento de linfócitos T, o historial de exposição
do indivíduo e o local anatómico em que a activação ocorre.
Respostas T-dependentes (nos centros germinativos.)
A descendência de linfócitos B activados constituirá então quer plasmócitos
produtores de anticorpos quer linfócitos B de memória, ambas com um longo
tempo de vida. Os plasmócitos, que migram para a medula óssea, produzem
continuamente durante anos anticorpos que proporcionam uma resposta
imediata.
A resposta humoral a proteínas antigénicas requer que estas sejam
especificamente reconhecidas e internalizadas pelos linfócitos B e que um
fragmento da proteína seja apresentado a linfócitos T-helper CD4+, células estas
que depois activam os mesmos linfócitos B. Por esta razão, podem classificar-se
as proteínas como antigénios timo-dependentes ou T-dependentes.
A troca de isotipo das Ig (troca da cadeia pesada) resulta de uma estimulação T-
dependente, nomeadamente através do ligando CD40 (apenas presente na
59
membrana do linfócito T activado) e das citocinas também produzidas pelos
linfócitos T.
Também a maturação da afinidade é dependente do CD40L, envolve a mutação
somática de genes Ig V rearranjados em linfócitos B activados, tendo por
consequência a selecção positiva dos linfócitos B com alta afinidade para o
antigénio em causa.
Respostas T-independentes
As respostas humorais a antigénios não-proteicos, como polissacarídeos,
alguns lípidos e ácidos nucleicos, ou seja polímeros compostos de numerosas
unidades químicas repetitivas (são geralmente multivalentes), não requerem
linfócitos T-helper e por isso não induzem memória imunológica.
Já os últimos são capazes de montar uma resposta rapidamente, mediante
encontro com o antigénio. O linfócito B activado dará origem a uma ou outra
espécie mediante sinais dos seus receptores, incluindo os das citocinas e os que
reconhecem o antigénio, que se traduzem pela produção de factores de
transcrição que determinam então o tipo de descendência (cell fate decisions).
Linfócitos B da zona marginal do baço e outros tecidos linfóides reconhecem
antigénios multivalentes e estão, portanto, associados a respostas T-
independentes.
Células B B-1 também estão bastante associadas a respostas TI, mas já em
mucosas e no peritoneu.
Podemos distinguir a resposta humoral em primária e secundária. A primária
resulta da activação de linfócitos B naive, ou seja, não estimulados, enquanto
que a secundária é resultado da expansão clonal de linfócitos B de
60
Ilustração 4 – Respostas primária e secundária.
memória. Assim é de esperar que uma resposta secundária se dê de forma
mais célere, com uma produção elevada de anticorpos.
De seguida, será abordado:
A interacção do antigénio com os linfócitos B;
o papel dos linfócitos T-helper, não só na apresentação proteínas antigénicas,
mas também nos mecanismos de troca de isotipo e maturação da afinidade;
a resposta T-dependente
RECONHECIMENTO DE
ANTIGÉNIOS E ACTIVAÇÃO DOS
LINFÓCITOS B
INTRODUÇÃO
Para iniciar respostas que envolvem anticorpos, os antigénios têm que ser
capturados e transportados para áreas dos órgãos linfóides. Os antigénios
61
desencadeiam então os processos que levam à activação de linfócitos B, em
conjunto com outros sinais gerados pela imunidade inata.
CAPTURA DE ANTIGÉNIOS E APRESENTAÇÃO AOS LINFÓCITOS B
Os linfócitos B residem e circulam pelos folículos dos órgãos linfóides periféricos
em busca de um antigénio que os active. A entrada nos folículos (os linfócitos B
passam a chamar-se
foliculares ou
recirculantes) é guiada
pela quimiocina CXCL13
segregada pelas células
dendríticas e pelas
células do estroma do
folículo. CXCL13 liga-se
então ao receptor de
quimiocina (CXCR5) nos
linfócitos B, o que atrai
essas células para o
folículos. A mesma
quimiocina é também
importante para atrair
células T activadas para
o folículo.
No entanto, a vida dos linfócitos B naive foliculares é limitada enquanto não
encontram o seu antigénio. Assim, a sua sobrevivência depende de sinais derivados
do seu receptor (BCR), assim como de estímulos recebidos de uma citocina da
família do factor de necrose tumoral (TNF) denominada BAFF (factor de activação da
céula B da família TNF), a qual proporciona sinais de maturação e sobrevivência
através do receptor de BAFF.O BAFF e um ligante relacionado APRIL podem também
activar dois outros receptores, TACI e BCMA, que participam de estádios mais
avançados de activação e diferenciação. Estas citocinas são produzidas
principalmente por células mielóides no folículo e medula óssea.
Nos órgãos linfóides periféricos, os antigénios, que chegam pelo sangue ou linfa,
são quase sempre capturados pelas células dendríticas e liga-se aos receptores
antigénicos dos linfócitos B. As células dendríticas podem internalizar e processar o
antigénio mas podem, também, aproveitar o antigénio para a superfície da célula,
onde ele fica disponível, de forma intacta, para os linfócitos B específicos para o
antigénio.
62
ACTIVAÇÃO DE LINFÓCITOS B POR ANTIGÉNIOS E OUTROS SINAIS
A activação dos linfócitos B específicos para o antigénio inicia-se pela ligação do
antigénio às moléculas de Ig da membrana, as quais, em conjunto com as cadeias
Igα e Igβ associadas, constituem o complexo do receptor de antigénico das células
B maduras. O receptor antigénico do linfócito B desempenha dois papeis essenciais
na sua activação.
Primeiramente, o agrupamento dos receptores induzidos pelo antigénio permite sinais
bioquímicos para as células B que iniciam o processo de activação. Em segundo
lugar, o receptor liga-se ao antigénio e internaliza através de vesículas endocíticas,
no caso de proteínas estas são processadas a péptidos que são na superfície para
reconhecimento pelos linfócitos Th.
Apesar do reconhecimento antigénico poder activar a resposta linfócitária B, é
usualmente insuficiente para estimular uma proliferação e diferenciação adequadas.
Para uma indução total, outros estímulos cooperam com o BCR, o que inclui
proteínas do complemento e, no caso de antigénios proteicos, linfócitos Th.
Como se vê na
imagem ao lado, a
activação do linfócito
B é facilitada pelo
co-receptor CR2 ou
CD21, que reconhece
fragmentos do
complemento
ligados ao antigénio
ou que fazem parte
de complexos imunes
que contém o
antigénio.
A activação do
complemento é
tipicamente vista com
micróbios, que
activam este sistema na ausência de anticorpos (ver cap. 4 e 12). Um desses
fragmentos que se liga ao microrganismo, o C3d, é reconhecido pelo receptor do
complemento CR2, o que reforça a sinalização BCR. Os linfócitos B humanos
também expressam variados receptores Toll-like (TCRs), capazes de reconhecer o
já conhecido PAMP, que também existentes em células dendríticas, contribuem para
activação de linfócitos Th e para produção de citocinas, APRIL e BAFF, que
induzem respostas linfocitárias B T-independentes.
63
RESPOSTAS FUNCIONAIS DOS LINFÓCITOS B AO RECONHECIMENTO
ANTIGÉNICO
Diferentes antigénios na ligação cruzada do BCR provocam diferentes tipos de
eventos celulares: antigénios multivalentes provocam proliferação e diferenciação,
e antigénios proteicos preparam as células B para interacções subsequentes com
linfócitos Th.
Células em repouso entram em fase G,
o que provoca aumento do tamanho da
célula e dos ribossomas, da quantidade
de RNA citoplasmático. Proteínas anti-
apoptóticas são produzidas
(especialmente Bcl-2), o que aumenta a
sobrevivência das células. Estas podem
agora proliferar e produzir anticorpos.
Aumenta a produção de MHC classe II e
B7 coestimuladores, e é por isso que
os linfócitos B antigénio-activados são
melhores activadores dos Th que os B
naive. Aumenta a expressão de
receptores de citocinas T-derivadas, o
que aumenta a sensibilidade a
linfócitos Th.
A importância da sinalização BCR varia com a natureza do antigénio, a maioria dos
antigénios T-independentes, como os polissacarídeos, por terem múltiplos epítopos
semelhantes, ligam-se cruzadamente a receptores antigénicos, o que inicia a
resposta, independentemente dos linfócitos T.
Já a maioria das proteínas possuem apenas uma cópia de cada epítopo por
molécula, portanto, elas não podem simultaneamente ligar-se cruzadamente a
múltiplas Ig, o que limita muito a sua sinalização BCR. De facto, nestas repostas (T-
dependentes), as Ig tornam-se não importantes para a sinalização, mas para a
ligação para consequente internalização, para posterior apresentação do antigénio
aos linfócitos Th, sendo estes os estimuladores a proliferação e diferenciação neste
caso.
Depois de linfócitos B específicos reconhecerem os antigénios, os passos
subsequentes na reposta humoral são muito diferentes quando comparamos
respostas T-dependentes com T-independentes.
64
RESPOSTAS COM ANTICORPOS T-DEPENDENTES A ANTIGÉNIOS
PROTEICOS
SEQUÊNCIA DE EVENTOS DURANTE RESPOSTAS COM ANTICORPOS
T-DEPENDENTES
1. O antigénio é capturado por células dendríticas (CDs) e
apresentado aos linfócitos Th através do MHC classe II; as CDs
passam a produzir ligandos B7, também estimuladores
2. Os linfócitos Th são activados e induzidos a expressar
proteínas, como é o caso de CD40L e receptores de citocinas
que, como já vimos, permitem a migração em direcção ao
folículo, através do gradiente citocinético.
3. Os linfócitos B são então activados pelo antigénio, que está na sua
forma solúvel ou é mostrado por CDs.
4. Os linfócitos B processam e apresentam o antigénio, alteram o seu
perfil de receptores de superfície para quimiocinas e migram em
direcção à zona de células T do órgão linfóide.
5. Linfócitos B e Th activados interagem no interface T-B e as células B
são activadas por CD40L e citocinas.
6. Pequenos focos de linfócitos B extrafoliculares formam-se nas
zonas de células T, onde ocorre alguma mudança de isotipo e
secreção de Imunoglobulinas.
7. Os linfócitos B activados migram de volta para dentro do folículo.
Formam-se centros germinativos dentro dos folículos e são esses os
locais de extensa mudança do isotipo e mutação somática que
selecciona as células, levando a maturação da afinidade e geração de
linfócitos B de memória e plasmócitos que migram para a medula
óssea, onde produzirão durante anos anticorpos.
ACTIVAÇÃO INICIAL E MIGRAÇÃO DE LINFÓCITOS Th e B
A frequência de linfócitos B naive ou T para um dado epítopo é de 1 em 105 até 1 em
106 linfócitos, e é necessário que os linfócitos B e T se encontrem e fisicamente
interactuem para gerar fortes respostas de anticorpos.
65
Linfócitos Th que tenham sido activados proliferam, expressam CD40L e segregam
citocinas, também alteram o perfil de receptores de quimiocina, regulando
negativamente o receptor de quimiocina CCR7 e aumentando a expressão de
CXCR5, e como resultado deixam a zona de linfócitos T e migram em direcção ao
folículo. CXCL13, o ligante para CXCR5, é segregado por células dendríticas
foliculares e outras células do estroma folicular e contribui para a migração de
linfócitos T CD4+ activadas para o folículo.
Este tipo de antigénios, como sabemos, não provoca sinais fortes o suficiente para
induzir proliferação e diferenciação dos linfócitos B de forma satisfatória, mas ainda
assim a sua ligação ao BCR resulta em reduzida expressão do receptor CXCR5 e
expressão aumentada de CCR7, que é característica de linfócitos T. Como
resultado, os linfócitos B activados migram em direcção à zona dos linfócitos T,
levados pelo gradiente de CCL19 e CCL21, ligandos do mesmo CCR7. A última
imagem resume bem esta secção.
EFEITO HAPTENO-TRANSPORTADOR
Os princípios delineados para a
colaboração entre linfócitos T
linfócitos B proporcionam a base
para compreender o efeito
hapteno-carregador.
Haptenos, como o dinitrofenol,
são pequenos compostos
químicos que podem ser ligados
por anticorpos específicos, mas
não são por si só
imunogénicos. Se entretanto os
haptenos estiverem conjugados
com proteínas de transporte,
este conjunto já é sim capaz de
induzir uma resposta de
anticorpos específicos para os
haptenos. Primeiro, tais respostas
requerem tanto linfócitos B específicos para o hapteno, assim como Th específicos
para a proteína transportadora.
Os linfócitos B específicos para o hapteno ligam-se ao antigénio através de um
determinante no hapteno, endocitam o conjugado hapteno-proteína transportadora e
apresentam peptídeos desta proteína (exclusivamente no MHC classe II) a linfócitos
Th. Facilmente se entende a base deste efeito: os dois tipos de linfócitos cooperam
reconhecendo epítopos para o mesmo antigénio (se o considerarmos o conjugado).
Este efeito é a base para o desenvolvimento de vacinas conjugadas, como veremos
mais à frente.
66
PAPEL DO LIGANDO DE CD40 (CD40L); INTERACÇÃO DE CD40 EM
ACTIVAÇÃO T-DEPENDENTE DE LINFÓCITOS B
Como já vimos linfócitos Th activados expressam ligando de CD40 que se liga ao
seu receptor, CD40 (membro da superfamília dos receptores de TNF), existente em
linfócitos B antigénio-estimulados, e essa interacção estimula a proliferação da
célula B e a diferenciação inicial, bem como a formação de um centro germinativo.
Da ligação do CD40L, decorre a alteração conformacional do CD40, o que induz
associação de proteínas do citosol chamadas TRAF (TNF receptor-associated
factors) com o domínio citoplasmático de CD40. As TRAF recrutadas ao CD40
iniciam cascatas enzimáticas que levam à activação de factores de transcrição,
incluindo NF-κB e AP-1, que colectivamente estimulam à proliferação e à síntese e
segregação aumentadas deIg. Factores de transcrição CD40-induzidos são também
importantes para a formação do centro germinativo e para a síntese de AID
(activation-induced deaminase), crucial para mutação somática e troca de isotipo.
Mutações no gene do CD40L resultam no síndrome de hiper-IgM ligado ao X, que
se caracteriza por defeitos na produção de anticorpos, na troca de isotipo, na
maturação da afinidade e criação de linfócitos B de memória.
ACTIVAÇÃO DE LINFÓCITOS B EXTRAFOLICULAR
Depois da interacção inicial dos linfócitos B com os Th na fronteira entre o folículo e
a zona dos linfócitos T, uma subsequente activação de linfócitos B pode ocorrer em
duas localizações diferentes – uma fora dos folículos e outra nos folículos, nos
centros germinativos. Assim como os locais, as respostas dos linfócitos B serão
também diferentes. Nos focos extrafoliculares a activação é geralmente efectuada logo
no princípio da resposta imune; nos centros germinativos, nos quais actuam linfócitos
T helper foliculares, a activação ocorrer dias mais tarde.
Como a hipermutação dos genes Ig (que compreende a maturação da afinidade), mas
em muito menor extensão que no centros germinativos.
A REACÇÃO DOS LINFÓCITOS B NO CENTRO GERMINATIVO E A FUNÇÃO
DOS LINFÓCITOS TH FOLICULARES
Os eventos mais característicos da resposta T-dependente, que incluem maturação
da afinidade, a troca de isotipo, a produção de linfócitos B de memória e
plasmócitos de longa vida, ocorrem primariamente nos centros germinais dos
folículos linfóides. Alguns linfócitos T que migram para estabelecer contacto com os
linfócitos B, diferenciam-se em linfócitos T foliculares (Thf) que apresentam níveis
elevados do receptor de quimiocina CXCR5, e são então levados para os folículos
linfóides em busca do seu ligando.
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Estes linfócitos Th são foliculares porque representam a grande maioria de
linfócitos T CD4+ nos folículos e têm um papel fundamental na reacção do centro
germinativo. Ao mesmo tempo alguns linfócitos B activados migram de volta para
o folículo para começar a proliferar rapidamente, formando uma espécie de mancha
na zona central do folículo que não é mais que o centro germinativo. Cada centro
germinativo contém células geradas a partir de um clone (ou poucos clones) de
linfócito B específico para um certo antigénio. A zona mais escura do centro
germinativo é constituída por linfócitos B com uma altíssima taxa de proliferação.
Também chamados de centroblastos, estas células duplicam a cada 6 a 12 horas,
daí que semanalmente tenhamos cerca de 5000 novos clones. Esta progenia é
constituída por pequenas células, os centrocitos. Os linfócitos B dos centros
germinais expressão um repressor de selecção e diferenciação transcrição
conhecido por Bcl-6 (B cell lymphoma gene 6), cujo papel se falará mais tarde quando
abordarmos a regulação do destino (cell fate) dos linfócitos B.
Os mecanismos que levam à transformação dos
linfócitos T CD4+ em linfócitos Thf e à activação
dos linfócitos B pelos Thf ainda não são
totalmente conhecidos, mas, do que já se conhece,
participam variadas moléculas. Como é retratado, o
co-estimulador ICOS é essencial para a reacção
do centro germinativo, e a sua ligação com o seu
ligando (presente nos linfócitos B) promove a
diferenciação em linfócitos Thf. A formação do
centro germinativo é então marcantemente
dependente desta célula, nomeadamente pelas
interacções CD40, como se verifica pela imagem.
O ligando CD40, presente nos linfócitos T, é
essencial para a proliferação dos B, assim como
para a troca de isotipo e maturação da afinidade.
TROCA DE ISOTIPO
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Como reposta à interacção CD40 e às citocinas, alguma da progenia dos
linfócitos B, que produzem IgM e IgD, atravessam pelo processo de troca de
isotipo, levando à produção de cadeias pesadas de diferentes classes, como γ, α e
ε. Esta capacidade dos linfócitos B poderem produzir anticorpos com isotipos
diferentes confere uma plasticidade marcável em respostas humorais imunes, pelo
que os anticorpos têm diferentes funções efectoras e agentes-alvo.
Deste modo, a resposta a diferentes tipos de microrganismos é regulada pelos
tipos de citocinas produzidas pelos linfócitos T, que são activados por aqueles,
como fica resumido na ilustração em baixo.
TROCA DE ISOTIPO: DIFERENTES ANTICORPOS PARA DIFERENTES
SITUAÇÕES
No caso de bactérias com cápsulas ricas em polissacarídeos, a resposta humoral
(T-independente) consiste basicamente em anticorpos IgM, que se ligam à
bactéria, activam o sistema do complemento e induzem fagocitose por opsonização;
existe pouca ou nenhuma troca de isotipo para IgG.
Já a resposta a outras bactérias e muitos vírus, envolve a produção de IgG, que
impede a colonização de células-hospedeiras e promove fagocitose. Estes agentes
patogénicos activam linfócitos Th do tipo TH1, que produzem a citocina IFN- γ. Em
ratos, esta citocina é o maior indutor de troca para IgG opsonizantes, mas ainda não é
clara a sua função em humanos.
A resposta a parasitas maiores, como as ténias, é feita maioritariamente por IgE, que
participa na eliminação destes parasitas por parte dos mastócitos e eosinófilos. Estes
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parasitas activam os linfócitos Th do tipo TH2, que produzem IL-4, a citocina que
induz troca para IgE.
Especificamente, células em mucosas trocam para IgA, que é o anticorpo mais
eficientemente transportado pelo epitélio para secreções da mucosa, o que nos
defende contra micróbios que tentam penetrar o epitélio.
A troca para IgA é feita pelo TGF- β (transforming growth factor) e também por
citocinas da família TNF, BAFF e APRIL. Como estas citocinas não são só
produzidas por linfócitos T, na ausência destes a troca de isotipo pode ainda
assim ocorrer.
Papel da AID na Troca de Isotipo
A interacção CD40 induz a AID (activation-induced deaminase) que é crucial para a
troca de isotipo e mutação somática. Nos casos em que há produção deficiente
de CD40, do seu ligando ou de AID a resposta com anticorpos é dominada pelas
IgM, havendo troca de isotipo e maturação da afinidade limitadas.
O mecanismo molecular de troca de isotipo é o processo em que o exão
rearranjado VDJ, que codifica um domínio V da cadeia pesada das Ig, recombina
com uma região do C do gene, pelo que o DNA presente no intervalo entre o exão e
aquela região é eliminado.
A AID é a enzima chave para a troca de isotipo, e a sua função é remover o grupos
amina de resíduos de citosina em moldes de DNA unifilamentares, o que converte
resíduos de citosina em uracilo.
Isto só é possível aquando da
actuação da enzima RNA
polimerase que vai envolver apenas
uma cadeia de DNA, deixando uma
alça aberta de DNA unifilamentar
denominada R-loop. É nesse local
que um grande número de resíduos
C é convertido para U pela AID. A
enzima uracil N-glicolase remove os
resíduos de U, deixando esses
locais livres de bases azotas, o que
é reconhecido pela enzima
endonuclease Ape 1, que cliva
esses locais livres que contribuem
para quebras nas duas cadeias,
resultando na eliminação do DNA e
na união das duas regiões
afectadas, fazendo a célula uso de
maquinaria de reparação.
A ilustração ao lado resume o parágrafo anterior.
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MATURAÇÃO DA AFINIDADE
Como já foi explicado, a maturação da afinidade é um processo que leva à
aumentada afinidade dos anticorpos para um determinado antigénio,
essencialmente ao longo da resposta T-dependente e é resultado da mutação
somática dos genes das Ig mais a selecção positiva que se segue dos linfócitos B
que produzem os anticorpos com a maior afinidade. Ocorre numa maior extensão
nos centros germinativos. O facto de essencialmente envolver linfócitos Th deve-se
às interacções CD40, que são necessárias para induzir à AID e à proliferação de
linfócitos B.
Há que realçar três características destacáveis das hipermutações:
As mutações ocorrem em regiões V, maioritariamente em regiões de
ligação determinantes na complementaridade com o antigénio;
Há muito mais mutações em anticorpos IgG que em IgM.
A presença de mutações está relacionada com a afinidade crescente
dos anticorpos para o antigénio que induziu a resposta.
No centro germinativo, os linfócitos B são estimulados por IL-21 produzida pelos
linfócitos Thf que induz a apoptose, a não ser que sejam “salvas” por uma ligação a
um antigénio com afinidade.
Com pequenas concentrações de antigénio, os linfócitos com mais afinidade
ligam-se preferencialmente, o que os privilegia selectivamente.
Isto está relacionado com muitos mecanismos, nomeadamente:
Reconhecimento antigénico está relacionado com a produção de
proteínas anti-apoptóticas (família das Bcl-2).
Linfócitos com maior afinidade endocitam preferencialmente
antigénios e interagem com os linfócitos Thf, que activam a interacção
CD40.
As células T expressam o ligando Fas que se liga ao seu receptor nas
células B, criando um sinal apoptótico. Linfócitos B com maior
afinidade, que melhor reconhecem o antigénio, produzem Fas-
inibidores, criando mais pressão selectiva sobre os linfócitos com
baixa afinidade.
Como é óbvio, este processo de selecção é extremamente ineficiente: milhares de
células têm de morrer para privilegiar um grupo de células que combaterá a infecção
com a máxima eficácia e é por isso que os centros germinais são locais de extrema
actividade apoptótica.
O outro lado da moeda destes mecanismos é o risco das hipermutações ocorrerem
em locus genéticos onde não seria suposto, como em oncogenes ou tendo como
resultado anticorpos extremamente auto-reactivos. É devido a isto que ocorrem
lifomas malignos e doenças provocadas por auto-imunidade.
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DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B EM PLASMÓCITOS
Os plasmócitos encontram-se terminalmente no desenvolvimento linfocitário B e são
gerados depois de sinais dos BCR, CD40, TLRs e outros receptores, que incluem os
das citocinas.
Há dois tipos de plasmócitos - os de respostas T-independentes e os de respostas
T-dependentes. Migrando para medula óssea, estas células são mantidas por
citocinas da família BAFF, que se liga ao receptor do plasmócito BCMA, permitindo
com que estas sobrevivam por longos períodos produzindo anticorpos, durante
anos, muitas vezes durante toda a vida do indivíduo.
Para se tornar num plasmócito, o linfócito B passa por várias processos – a célula
aumenta de tamanho drasticamente, aumentando também a relação
citoplasma/núcleo. O retículo endoplasmático torna-se proeminente.
O tipo de imunoglobulinas também sofre uma alteração, simples, mas fundamental –
as imunoglobulinas têm de passar de membranares à sua forma secretada, o que é
resultado da alteração da porção terminal da cadeia pesada, esta porção é
responsável pela ancoragem à membrana).
DIFERENCIAÇÃO DOS LINFÓCITOS B EM LINFÓCITOS B DE MEMÓRIA E
RESPOSTAS SECUNDÁRIAS
Alguns dos linfócitos B antigénio-activados emergem dos centros germinativos com a
capacidade de sobreviver por longos períodos (porque expressam elevados níveis
da proteína anti-apoptótica Blc-2), montando rápidas respostas subsequentemente
a uma apresentação antigénica; estas células são linfócitos B de memória.
Algumas destas células permanecem no órgão linfóide onde foram geradas, outras
entram em circulação, “patrulhando” entre o sangue e os órgãos linfóides.
A produção de grandes quantidades de anticorpos de alta afinidade é muito
acelerada depois de uma exposição secundária, e deve-se aos linfócitos B de
memória.
Este desenvolvimento de memória é levado a cabo por respostas T-dependentes.
Útil na criação de Vacinas Conjugadas: Devido aos casos de bactérias com cápsulas
constituídas por polisacarídos, em que os linfócitos T não actuam, criaram-se
vacinas que se baseiam no já falado efeito hapteno-transportador, em que a vacina
contém proteínas com a capacidade de se ligarem à cápsula, podendo deste modo
activar uma resposta T-dependente, significando mais rapidez e eficácia no combate
ao antigénio, permitindo a formação linfócitos B de memória para uma eventual
infecção secundária.
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PAPEL DOS FACTORES DE TRANSCRIÇÃO NO DESTINO DOS LINFÓCITOS
B ACTIVADOS (CELL FATE)
À semelhança do que acontece com o controlo do cell fate dos linfócitos T, o dos
linfócitos B é controlado em grande medida pela expressão de vários activadores e
repressores da transcrição de DNA
Nos centros germinativos de linfócitos B, os sinais provocados por CD-40 e o
receptor de IL- 21 reduzem a expressão de um repressor da transcrição, Bcl-6, que
antagoniza outro repressor, Blimp-1, o qual é necessário para a transformação em
plasmócitos. Isto permite que os linfócitos B, aquando da intensa proliferação nos
centros germinativos não se transformem em plasmócitos numa fase e precoce da
resposta. Já os linfócitos B dos focus extrafoliculares expressam baixos níveis de
Blc-6, a causa da existência de plasmócitos de curta vida.
Os dois passos chave para o desenvolvimento de um plasmócito são a perda de
expressão do factor de transcrição, Pax-5 (que é necessário para a manutenção do
linfócito B madura), e a repressão de Bcl-6. Durante a diferenciação, o activador
datranscrição IRF4 e o repressor Blimp-1 são induzidos; estes juntos promovem a
expressão e o splicing de XBP-1, um factor de transcrição que desempenha um papel
fundamental na resposta às proteínas sem conformação, resultado de uma síntese
proteica massiva. XBP-1 protege então os plasmócitos de consequências negativas.
Sendo ainda uma matéria incerta, parece que baixos níveis de IRF4 estão
associados a linfócitos B de memória, por sua vez, altos níveis estão associados a
diferenciação em plasmócitos.
RESPOSTAS COM ANTICORPOS A ANTIGÉNIOS T-INDEPENDENTES
Muitos antigénios não proteicos, como os polissacarídeos e lípidos estimulam
produção de anticorpos na ausência de linfócitos Th.
TIPO DE LINFÓCITOS B QUE RESPONDEM A ANTIGÉNIOS
T-INDEPENDENTES
As famílias B1 e da zona marginal dos linfócitos B são especialmente importantes
no que toca a respostas T-independentes, ao contrário das T-dependentes onde os
linfócito B folicular é a família maioritária.
São os linfócitos da zona marginal que respondem a polissacarídeos antigénicos –
depois de activados, estes linfócitos dão origem a plasmócitos de vida curta que
produzem maioritariamente IgM (há quem lhes chame linfócitos B de memória IgM,
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são células memory-like, na verdade). Os linfócitos B B-1 representam outra
linhagem que responde a antigénios no peritoneu e nas mucosas.
As respostas T-independentes podem ser iniciadas no baço, medula óssea,
cavidade peritoneal e mucosas. Macrófagos localizados na zona marginal dos
folículos do baço são particularmente eficientes a fagocitar polissacarídeos. Os
antigénios podem persistir por longos períodos à superfície de macrófagos da zona
marginal, onde são reconhecidos por linfócitos B específicos.
MECANISMOS DAS RESPOSTAS T-INDEPENDENTES
Os antigénios T-independentes, ou seja, polissacarídeos, glicolípidos, lípidos e ácidos
nucleicos, induzem produção específica de anticorpos, mesmo em animais aos quais
se fez knock-out de linfócitos T. Estes antigénios não podem ser incorporados em
moléculas de MHC e, portanto, não podem ser reconhecidos pelos linfócitos Th
CD4+. Por serem multivalentes estes anticorpos activam o BCR de tal forma
(mecanismos de ligação cruzada) que a assistência de linfócitos T é dispensada.
Como também já vimos, os polissacarídeos activam o sistema do complemento,
gerando C3d, que se liga ao antigénio e é reconhecido pelo CR2 dos linfócitos B,
amplificando ainda mais o sinal. Também temos as TLRs, receptores que reconhecem
padrões moleculares específicos de antigénios (PAMPs), que facilitam ainda mais a
resposta T-independente.
Apesar de se associar a troca de isotipo a respostas T-dependentes, alguns
antigénios T-independentes têm também a capacidade de gerar troca de isotipo,
obviamente em muito menor escala. As citocinas produzidas em células que não
linfócitos T podem estimular troca de isotipo – como já foi descrito, BAFF e APRIL
produzidos em células de origem mielóide podem induzir síntese de AID através do
receptor TACI, da família dos receptores BAFF.
As citocinas produzidas nas mucosas por células não linfóides, como a TGF-β,
ajudam a mediar a troca das IgA, o que contribui para a secreção de anticorpos IgA
dirigidos a antigénios não proteicos.
FUNÇÕES DAS RESPOSTAS T-INDEPENDENTES
A importância funcional dos antigénios T-independentes é que muito material que
compõe a parede das bactérias pertence a esta categoria e a defesa humoral é a
maior defesa do hospedeiro contra as infecções por tais bactérias encapsuladas.
Antigénios T-independentes contribuem para produção de anticorpos naturais, que
estão presentes em circulação em indivíduos normais e aparentemente são
produzidos sem exposição prévia observável a patogénicos. A maioria destes
anticorpos naturais são anti-oses de baixa afinidade. Os anticorpos ligados aos
grupos sanguíneos (A e B) são o exemplo mais comum destes anticorpos. É
importante referir que as respostas T-independentes também podem estar
74
associadas a exposições secundárias a antigénios de oses, uma vez que se
observam reacções imunes típicas de imunidade de memória (com troca de isotipo e
maturação da afinidade muito limitadas), através dos já referidos linfócitos B de
memória IgM, células memory-like.
FEEDBACK DOS ANTICORPOS: REGULAÇÃO DE RESPOSTAS IMUNES
POR RECEPTORES Fc
O feedback dos anticorpos é o mecanismo pelo qual respostas da imunidade
humoral são ajustadas quando há já uma quantidade suficiente de anticorpo em
circulação e complexos solúveis anticorpo/antigénio estão presentes. A Ig de
membrana dos linfócitos B e o receptor destes para as porcões Fc das IgG
(FcγRIIB), estão aglomerados por complexos anticorpo/antigénio. Isto activa uma
cascata de sinalização inibitória que interrompe a activação do linfócito B.
75
INTRODUÇÃO Imunidade humoral é mediada pela secreção de anticorpos, e a sua função é a
defesa contra micróbios extracelulares e toxinas microbianas. Esta imunidade
contrasta com a imunidade mediada por células (linfócitos T), que erradica micróbios
que infectam e vivem dentro das células.
Os microganismos-alvo deste tipo de imunidade são bactérias extracelulares, fungos
e micróbios intracelulares obrigatórios, como os vírus. Estes últimos são alvo dos
anticorpos antes de infectarem as células ou após serem libertados por estas.
Muitas das vacinas induzem a produção destes anticorpos mas, apesar disso, a
actividade dos anticorpos nem sempre é benéfica: nas alergias e algumas doenças
auto-imunes alguns anticorpos medeiam lesões aos tecidos.
Neste capítulo serão discutidos os mecanismos efectores usados pelos anticorpos
para eliminar antigénios.
GENERALIDADES DA IMUNIDADE
HUMORAL
CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES DA DEFESA HUMORAL
A função principal dos anticorpos é neutralizar e eliminar microorganismos e
toxinas microbianas, utilizando vários mecanismos, como fagócitos e proteínas do
complemento
T6 II: Imunidade Humoral – Mecanismos Efectores da Imunidade Humoral
Data teórica de 13 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 12
Capítulos do Arosa: 7.7
Slides aulas: sim
Elaborado por: Margarida Nunes
76
Os anticorpos são produzidos pelos plasmócitos nos órgãos linfóides e na medula
óssea, mas efectuam as suas funções em locais distantes da sua produção, pois
entram em circulação. Os anticorpos produzidos em tecidos linfóides associados a
mucosas, são transportados, pelas barreiras epiteliais, até ao lúmen desses órgãos
(p.e. intestinos e vias aéreas, protegendo dos micróbios ingeridos e inalados). Os
anticorpos são ainda transportados activamente através da placenta, para a
circulação do feto. Estas características complementam a incapacidade dos linfócitos
T de, tanto atravessar barreiras epiteliais, como atravessar a placenta.
Muitas das funções dos anticorpos são mediadas pela cadeia pesada da região
constante das Ig, e cadeias pesadas das Ig diferentes vão ter funções diferentes.
(Funções resumidas na Tabela 1). O sistema humoral é especializado de tal modo que
a exposição a diferentes micróbios estimula as células B a fazer a troca de classe de
isotipo, para o isotipo que mais eficaz seja a combater esse mesmo micróbio.
Tabela 1 - Funções dos isotipos dos Anticorpos
Apesar de muitas funções dependerem da cadeia pesada das Ig, todas estas
funções são desencadeadas pela ligação de antigénios às zonas variáveis. A
ligação de um anticorpo a um antigénio compacta a região Fc dos anticorpos e
esta compactação das moléculas dos anticorpos leva à activação do sistema de
complemento e permite a ligação da região Fc aos receptores Fc dos fagócitos.
Assim está assegurada a activação de vários mecanismos efectores, mas apenas
quando necessário, e não quando os anticorpos circulam numa forma livre de
antigénio.
IIssoottiippoo FFuunnççõõeess EEssppeeccííffiiccaass ddeessssee IIssoottiippoo
IgG
· Opsonização de antigénios para fagocitose, por macrófagos e
neutrófilos, através da ligação aos seus receptores Fc
· Neutralização: única função independente da região constante das Ig
· Activação da via clássica de complemento
· Citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos, mediada
por células NK
· Imunidade Neonatal: transferência de anticorpos maternos pela placenta
· Feedback Negativo sobre a activação dos linfócitos B
IgM · Activação da via clássica de complemento
· Receptores de antigénios dos linfócitos B naïve *
IgA
· Imunidade das mucosas: secreção de IgA para o lúmen dos tractos GI e
respiratórios
· Activação do complemento por via da lectina/via alternativa
IgE · Desgranulação dos mastócitos (reacções de hipersensibilidade
imediata), através da ligação aos seus receptores Fc.
IgD · Receptor de antigénios dos linfócitos B naïve *
*estas funções são mediadas por anticorpos de membrana e não anticorpos livres.
77
Ilustração 2 - Funções Efectoras dos anticorpos
NEUTRALIZAÇÃO DE
MICRÓBIOS E TOXINAS
MICROBIANAS Os anticorpos contra microrganismos ou suas toxinas bloqueiam
a ligação destes a receptores celulares. Deste modo, os
anticorpos inibem/neutralizam a infecciosidade dos
microorganismos (Ilustração 3). Muitos microrganismos entram
nas células do hospedeiro, ligando-se por moléculas da sua
superfície às proteínas ou lípidos da membrana do hospedeiro
(Influenza usa hemaglutinina; Gram-negativos usam pili).
Anticorpos que se ligam a estas estruturas interferem com a
capacidade dos microrganismos interagirem com receptores
celulares. O mesmo acontece com as toxinas (p.e. tetânica,
diftérica, …). Este impedimento ocorre pelo efeito estérico
(quando os átomos de uma moléculas são comprimidos, havendo
gasto de energia pela repulsão das nuvens electrónicas e,
consequentemente, a molécula perde a sua reactividade).
78
A neutralização mediada por anticorpos requer apenas a
ligação das regiões ligantes ao antigénio por parte dos
anticorpos. Por isso, tal neutralização pode ser mediada por
anticorpos de qualquer isotipo, em circulação e secreções mucosas, desde que estes
alta afinidade para estes antigénios. Anticorpos sem a região Fc conseguem realizar
neutralização na mesma. Os anticorpos neutralizantes no sangue são
maioritariamente IgG; nos órgãos com mucosas, são maioritariamente do tipo IgA.
Muitas vacinas profiláticas trabalham por estimulação da produção de anticorpos
neutralizantes de alta afinidade. Porém, os microorganismos desenvolveram
mecanismos de evasão a estes anticorpos, mutando os genes que codificam
antigénios de superfície.
OPSONIZAÇÃO MEDIADA POR
ANTICORPOS E FAGOCITOSE
INTRODUÇÃO Anticorpos do isotipo IgG cobrem (opsonizam) microrganismos e promovem a sua
fagocitose, ao se ligarem aos receptores Fc dos fagócitos. Depois de ingeridos, vão
ser mortos e degradados. A opsonização não é obrigatória, pois estes fagócitos têm
receptores que se ligam directamente aos microrganismos, constituindo a imunidade
inata, porém é menos eficaz.
Fagócitos mononucleares e neutrófilos expressam receptores para as porções Fc dos
anticorpos IgG, que se ligam, especificamente, a partículas opsonizadas. Os
microrganismos podem ainda ser opsonizados por um produto da activação do
complemento, o C3b, que são fagocitados ao se ligarem ao receptor para o C3b
(como veremos adiante).
O processo de revestimento dos micróbios com partículas que facilitam a fagocitose
chama-se opsonização. Essas partículas (anticorpos e proteínas de complemento)
tomam o nome de opsoninas.
RECEPTORES Fc LEUCOCITÁRIOS Os leucócitos expressam receptores Fc que se ligam à região constante dos
anticorpos. Eles entregam sinais que estimulam as actividades microbicidas dos
leucócitos e induzem a inflamação.
Os receptores Fc para a cadeia pesada de cada Ig são expressos em várias
populações leucocitárias. Existem vários tipos de receptores Fc (FcRn - neonatal –
expresso na placenta, endotélio, epitélio intestinal; poly-Ig; Fc da IgE), mas o mais
Ilustração 3 - Neutralização de micróbios e toxinas pelos
anticorpos
79
importante neste tema – a fagocitose de partículas opsonizadas – são os receptores
para a cadeia pesada das IgG: receptores Fcγ (FcγR).
Existem vários tipos de Fcγ, com diferentes afinidades para as cadeias pesadas de
IgG de subclasses diferentes, e que são expressos em células diferentes. A maioria
dos receptores Fc resultam numa activação celular quando activados (excepto o
FcγRII, que é um receptor inibitório). Todos os FcγR contêm uma cadeia que
reconhece os ligandos do IgG, a cadeia α. Diferenças de afinidades para cada FcγR
estão relacionadas com diferenças na cadeia α. A cadeia α está associada a uma ou
mais cadeias polipeptídicas envolvidas na transdução de sinal, excepto no receptor
FcγRII, em que é a cauda citoplasmática da cadeia α que medeia as funções do
receptor FcγRII.
Há vários receptores Fcγ foram classificados em 3 grupos, baseados nas afinidades
para com as cadeias pesadas das diferentes subclasses de IgG:
FcγRI (CD64) (Ilustração 4)
· Principal receptor dos fagócitos.
· Expresso nos macrófagos, neutrófilos, eosinófilos
· Alta afinidade para IgG1 e IgG3
· Função: Fagocitose / activação dos fagócitos
· A sua cadeia α está associada a um homodímero (γγ)
de uma proteína de sinalização, chamada a cadeia
FcR γ. Estas contem um ITAM (do inglês
immunoreceptor tyrosine-based activation motif), que
acopla o clustering (agrupamento) dos receptores às
proteínas tirosina-cinases.
· Activação requer clustering dos receptores na
membrana, o que é mediado por IgG ligadas a
antigénios.
· Transcrição do gene deste receptor é estimulada pelo IFN-γ (interferão
gama). Este estimula ainda a produção da classe dos
anticorpos que ligam melhor aos Fcγ.
FcγRII (CD32) (Ilustração 5)
· Expresso nos macrófagos, neutrófilos, eosinófilos
· Baixa afinidade para IgG1 e IgG3
· 3 subtipos humanos: A, B e C. Têm domínios
extracelulares e especificidade de ligandos
semelhantes. Diferem nas caudas citoplasmáticas,
distribuição celular e função.
FcγRIIA: expresso nos neutrófilos, fagócitos
mononucleares e plaquetas. Participa na
fagocitose de partículas opsonizadas. Caudas
citoplasmática contem ITAMs e, se ocorrer
clustering por partículas/células opsonizadas por
Ilustração 4 - Receptor FcγRI
Ilustração 5 - Receptor FcγRII
80
IgG1 ou IgG3, activa os fagócitos (processo ineficiente).
FcγRIIB: é um receptor inibitório, pois em vez de um ITAM tem um
ITIM (immunoreceptor tyrosine-based inibition motif). É expresso nos
linfócitos B e é o único receptor Fc em células B.
FcγRIIC: expresso nos fagócitos mononucleares, neutrófilos e células
NK. Cauda citoplasmática igual à de FcγRIIA.
FcγRIII (CD16)(Ilustração 6)
· Baixa Afinidade para as IgG, sendo que a porção
extracelular é semelhante à FcγRII, em estrutura,
afinidade e especificidade para às IgG.
· 2 isoformas:
FcγRIIIA expressa nas NK. Associa-se a
dímeros intracelulares que podem ser γ γ, ζζ ou
γζ.
FcγRIIIB está associada a uma proteína GPI
(glicofosfatidilinositol), é expresso nos neutrófilos.
Não medeia fagocitose nem activa neutrófilos.
Função = ?.
PAPEL DOS RECEPTORES FcγNA FAGOCITOSE E ACTIVAÇÃO DE
FAGÓCITOS (Ilustração 7)
Ilustração 7 - Opsonização e fagocitose mediada por anticorpos
A fagocitose de partículas revestidas por IgG é mediada pela ligação das porções Fc
das opsinas (IgG) aos receptores Fcγ dos fagócitos. Há então internalização da
partícula nos fagócitos e a sua activação. As vesículas de endocitose fundem com os
lisossomas, originando fagolisossomas, onde as partículas são destruídas.
Ilustração 6 - Receptor FcγRIII
81
A activação requer ligação cruzada dos FcRs por várias IgG adjacentes, que, ao
actuar na cadeia α, origina uma transdução de sinal que culmina na produção de IP3 e
DAG e na mobilização de cálcio. Nessa altura, haverá transcrição génica de citocinas,
mediadores inflamatórios e enzimas microbicidas, tal como a oxidase fagocítica, que
origina espécies reactivas de oxigénio para o burst oxidativo no fagolisossoma, ou a
sintase de óxido nítrico indutível (iNOS) que, ao produzir NO, também contribui
para a morte dos patogénios.
Se não houver fagocitose (agente é demasiado grande), serão secretadas enzimas
hidrolíticas ou intermediários das espécies reactivas de oxigénio para o exterior, o que
pode lesar os tecidos (importante nas doenças de hipersensibilidade).
SINALIZAÇÃO INIBITÓRIA DO RECEPTOR FcγRIIB
É o único com um ITIM na cauda citoplásmica, e encontra-se nos linfócitos B. É
activado pelo complexo Anticorpo-Antigénio, o que leva à fosforilação do ITIM,
desencadeando a activação da inositol fosfatase, e subsequente inibição das vias
activadoras dependentes do ITAM.
Ao ter um papel activo na regulação da reactividade das células B, é utilizado para
controlar algumas doenças auto-imunes: são administrados IgG via IV, que induzem
este receptor a enviar sinais inibitórios aos linfócitos B, o que reduz a produção de
(auto-)anticorpos.
CITOTOXICIDADE CELULAR DEPENDENTE DE ANTICORPOS
(ADCC)
As células NK e outros leucócitos ligam-se a células revestidas por anticorpos através
dos receptores Fc e destroem estas células, num processo chamado citotoxicidade
celular dependente de anticorpos (ADCC) (Ilustração 8). No caso das NK, é usado o
receptor FcγRIIIA para se ligarem às células opsonizadas por anticorpos. Este
receptor não se liga aos IgG circulantes, por isso, ADCC ocorre apenas quando a
célula-alvo está revestida por anticorpos.
Ilustração 8 - ADCC
82
Quando o receptor activa a célula, são produzidas citocinas, tais como o IFN-γ, e a
célula é levada à desgranulação, mediando morte dos micróbios.
Este é um importante mecanismo para a eliminação de células indesejáveis, tais como
células tumorais derivadas dos linfócitos B, através da administração de anticorpos
anti-CD20 (específicos para linfócitos B) – ficam marcadas para a citotoxicidade.
CLEARANCE DE HELMINTOS2 MEDIADA POR ANTICORPOS
Mastócitos e eosinófilos funcionam com alguns anticorpos para mediar a expulsão e
morte de alguns parasitas helmínticos
(Ilustração 9). Helmintos (vermes
parasitas) são demasiado grandes para
serem ingeridos pelos fagócitos, e os seus
integumentos são relativamente resistentes
aos produtos microbicidas dos neutrófilos e
macrófagos. No entanto, podem ser mortos
por uma toxina catiónica (proteína), a
proteína major dos grânulos dos
eosinófilos.
As IgE, IgG e IgA revestem os helmintos, e ligam-se aos receptores Fc dos
eosinófilos, FcεRI (receptores de alta afinidade), desencadeando a sua
desgranulação, e libertando esta proteína e outros conteúdos dos grânulos.
Para além destes, o complexo IgE-helminto vai iniciar a desgranulação local dos
mastócitos, através do receptor Fc de alta afinidade destes. As quimocinas e
citocinas libertadas vão ter um efeito local (broncoconstrição e aumento da
motilidade, contribuindo para a expulsão dos vermes da via respiratória ou tracto GI) e
um efeito quimiotáxico (essas mesmas quimio/citocinas vão atrair mais eosinófilos e
desencadear a sua desgranulação).
SISTEMA COMPLEMENTO
INTRODUÇÃO
É um dos mecanismos principais da imunidade humoral e também da imunidade
inata. Consiste em proteínas séricas ou de superfície, que interagem umas com as
2 Não sei se a tradução de Helmint fica Helminto ou Helminta, pois já vi das duas maneiras.
Ilustração 9 - Helminto
83
outras ou com outras moléculas do sistema imunitário, de forma altamente regulada e
originam produtos que eliminam micróbios.
Estas proteínas estão, normalmente, inactivas; são activadas apenas sob condições
particulares.
CARACTERÍSTICAS DA ACTIVAÇÃO DO SISTEMA DE COMPLEMENTO
É activado por micróbios e por anticorpos ligados a micróbios ou outros
antigénios.
Activação do complemento envolve a proteólise sequencial de proteínas para
gerar complexos enzimáticos com actividade proteolítica. Às proteínas que
adquirem actividade proteolítica pela acção de outras proteases chamam-se
zimogénios. Este processo permite uma tremenda amplificação, pois cada
enzima activada gera múltiplas outras enzimas activadas.
Os produtos da activação do complemento ligam-se covalentemente às
superfícies microbianas ou aos anticorpos ligados a estas. Elas circulam
inactivas ou temporariamente activas, ficando activas e estáveis apenas
quando ligam aos microorganismos.
Activação do complemento é inibida por proteínas reguladoras que estão
presentes em células do hospedeiro normais e ausentes nos micróbios. Assim,
os efeitos lesivos sobre as células do próprio são minimizados. Como os
microorganismos não têm estas proteínas, o complemento activa-se apenas na
superfície destes.
VIAS DE ACTIVAÇÃO DO COMPLEMENTO
Como já foi falado, há 3 principais vias de activação do complemento: clássica (na
presença de anticorpos, raros vírus e micoplasmas), alternativa (na ausência de
anticorpos, alguns vírus, enzimas proteolíticas) e da lectina (lectina une-se aos
resíduos de manose dos micróbios). Apesar de as vias diferirem no modo como se
iniciam, todas elas geram complexos enzimáticos capazes de clivar a proteína de
complemento mais abundante, C3.
As vias alternativa e da lectina pertencem aos mecanismos efectores da imunidade
inata; a via clássica é um mecanismo major da imunidade adaptativa humoral.
O evento central na activação do complemento é a proteólise da proteína de
complemento C3, originando, entre outros, C3b, que vai ligar à superfície dos
micróbios ou aos anticorpos ligados aos antigénios.
A activação do complemento depende da geração de dois complexos proteolíticos: a
convertase C3 (cliva C3 em dois fragmentos: um menor – C3a; e um maior – C3b) e a
convertase C5 (origina C5a e C5b). O C3b fica covalentemente ligado à superfície
microbiana ou aos anticorpos do local de activação do complemento.
84
Ilustração 10 - Via de activação do complemento: Alternativa
Esta activação promove a fagocitose porque os fagócitos (neutrófilos e macrófagos)
expressam receptores de C3b, e os péptidos resultantes da proteólise de C3
estimulam a inflamação.
O complexo enzimático C5 apenas se junta após a geração de C3b; esta contribui
para a inflamação e para a formação de poros nas membranas dos alvos microbianos.
Depois da formação do complexo C5, as três vias de activação são iguais.
VIA ALTERNATIVA
(Ilustração 10)
Consiste na proteólise do C3 e uma
ligação estável do seu produto C3b às
superfícies microbianas, sem auxílio
dos anticorpos.
A proteína C3 contem uma ligação
tioestérica reactiva no seu interior.
Quando a proteína é clivada, essa
ligação fica exposta originando o
domínio tioestérico. Tendo em conta
que C3 está contantemente e
lentamente a ser clivada no plasma,
este domínio reactivo fica passível de
se ligar a proteínas da superfície
celular, incluindo as dos micróbios. Se
essa ligação não se formar, C3b
mantém-se na fase fluida e o domínio
tioestérico é rapidamente hidrolizado,
tornando a proteína inactiva.
Se de facto a proteína se ligar a um
microorganismo, o factor B vai-se
ligar ao C3b, tornando a ligação ao
micróbio mais estável. O factor B é,
por sua vez, clivado pelo factor D, uma protease do plasma, originandoum pequeno
fragmento, Ba, e um fragmento maior, Bb, sendo este último o que se mantem ligado
ao C3b. O complexo C3bBb é a via alternativa à convertase C3, e pode clivar mais
moléculas C3, funcionando como amplificação (pode amplificar activação de
complemento iniciada por qualquer uma das vias!).
Se o complexo C3bBb se ligar a uma célula do próprio, proteínas reguladoras
negativas terminam essa reacção, degradando o complexo (estas proteínas
reguladoras não existem nos micróbios, facilitando a sua eliminação). Para além disso,
há uma proteína reguladora positiva, a properdina que se liga e estabiliza o
complexo C3bBb. Esta ligação só ocorre nas células microbianas.
85
Algumas da C3b formadas vão se ligar ao complexo C3bBb, que funciona como a
convertase C5 da via alternativa, que cliva o C5, iniciando as etapas terminais da
activação do complemento.
VIA CLÁSSICA (Ilustração 11)
A via clássica é iniciada pela ligação da
proteína de complemento C1 ao domínio CH2
da IgG ou ao domínio CH3 da IgM das Igs
ligadas a antigénios.
C1 é um complexo proteico constituído pelas
subunidades C1q, C1r e C1s. (Ilustração
12)
A C1q tem a função de reconhecimento e
liga-se às regiões Fc das cadeias pesadas.
Cada região Fc das Igs tem apenas um local
de ligação ao C1q, mas cada C1q tem de
se ligar a pelo menos duas Ig para se
activar. Este fenómeno explica porque é que
os anticorpos ligados aos antigénios, e não
os anticorpos livres, conseguem iniciar a via
de activação clássica: várias IgG têm de se
“aproximar” (cluster) antes de C1q se poder
ligar, e as IgG só se aproximam quando
estão ligadas a um antigénio.
A IgM enquanto Ig livre – por causa da sua
conformação planar – não se liga às C1q. A ligação das IgM a um antigénio induz uma
mudança conformacional que expõe o local de ligação à C1q, na região Fc da Ig,
permitindo então a ligação. Como a IgM é pentamérica, uma só IgM pode-se ligar a 2
moléculas C1q, sendo, por isso, muito mais eficiente que as IgG.
Ilustração 11 - Via de activação do complemento: Clássica
Ilustração 12 - Complexo Proteico C1
86
C1r e C1s são proteases; C1r é activada quando C1q se liga à região Fc das IgG ou
das IgM, e vai clivar e activar a C1s. Esta, por sua vez vai clivar a próxima proteína da
cascata, a C4, para gerar C4b que, sendo homóloga ao C3b, também se liga ao
complexo Ag-Ac (antigénio-anticorpo) por uma ligação tioestérica. Esta anexação ao
complexo assegura que a activação de complemento só ocorre na superfície de um
microorganismo.
A próxima proteína a ser activada, C2, forma um complexo com o C4b e é clivado
(também) pela protease C1s, originando C2b (importância desconhecida) e um
fragmento maior, C2a, que fica fisicamente associado com o C4b na superfície
celular. O complexo C4b2a resultante é a convertase C3 da via clássica, tendo a
capacidade de clivar C3. O componente “C4b” tem como função a ligação desta
enzima ao C3 e o componente “C2a” tem como função a proteólise. Aqui, o C2 é
homólogo ao factor B da via alternativa.
Algumas moléculas C3b vão se ligar a este complexo, formando um novo complexo:
C4b2a3b, que é a convertase C5 da via clássica.
VIA DA LECTINA (Ilustração 13)
É semelhante à via clássica, diferindo apenas no início. É
desencadeada na ausência de anticorpos, reconhecendo
padrões repetitivos e/ou ausência do ácido siálico,
havendo ligação de polissacáridos microbianos a lectinas
circulantes, tais como as MBL (mannose-binding lectin)
– esta apresenta uma notável semelhança com C1q, ou
ficolinas. Estas lectinas solúveis são proteínas tipo-
colagénio que se assemelham à C1q.
Sendo do tipo-colagénio, têm domínios que
ajudam na assembleia de estruturas oligoméricas: MBL
liga-se aos resíduos de manose dos polissacáridos e as
ficolinas ligam-se a glicanos que contenham N-
acetilglucosaminas. Seguidamente, ambas se ligam a
MASPs (MBL-associated serine proteases), que são
homólogas à C1r e à C1s, servindo função semelhante:
clivagem de C4 e C2, sendo a MASP2 a que é
responsável pela clivagem. Eventos subsequentes são
idênticos aos da via clássica.
ÚLTIMAS FASES DA ACTIVAÇÃO DO
COMPLEMENTO
As convertases C5 originadas por qualquer uma das vias Ilustração 13 - Via de activação
do complemento: da Lectina
87
iniciam a activação de componentes do complemento que culminam na formação do
complexo de ataque à membrana (MAC)(Ilustração 14).
A convertase C5 cliva o C5 num fragmento pequeno C5a, que é libertado, e um
fragmento maior C5b, que permanece ligado às proteínas de complemento na
superfície celular. As restantes proteínas de complemento, C6, C7, C8 e C9 são
proteínas sem função enzimática. Logo após a clivagem do C5, o C5b tem a
capacidade transitória de ligar às próximas proteínas: C6 e C7. O complexo C5b,6,7 é
hidrofóbico e, por isso, insere-se na membrana bilipídica, constituindo um receptor de
alta afinidade para a C8 (complexo C5b-8). A formação de um MAC completo é
terminada com a junção da última proteína do complemento, C9, a esse complexo. C9
é homóloga às perforinas das células T citotóxicas e das células NK, formando poros
na membrana que destabilizam o controlo osmótico da célula, provocando a sua lise.
RECEPTORES PARA AS PROTEÍNAS DO COMPLEMENTO
Muitas das funções do complemento advêm da ligação dos fragmentos do
complemento a receptores de membrana expressos em várias células. Os que estão
melhor descritos são os receptores de C3, existindo, porém, receptores para os tais
fragmentos menores libertados: C3a, C4a e C5a, que estimulam a inflamação.
Ilustração 14 - Formação do complexo MAC
88
RECEPTOR DE COMPLEMENTO TIPO 1 (CR1 OU CD35)
· Função principal: promover a fagocitose de partículas revestidas por C3b ou
C4b; eliminar imunocomplexos da circulação.
· Tem alta afinidade para C3b e C4b.
· Expresso em células originadas na medula (eritrócitos, neutrófilos, monócitos,
macrófagos, eosinófilos, linfócitos T e B) e ainda em células foliculares
dendríticas dos orgãos linfóides.
· Fagócitos usam este receptor para ligar e internalizar partículas opsonizadas
por C3b e C4b. Pode desencadear funções microbicidas, especialmente
quando o receptor Fcγ está simultaneamente ocupado por partículas revestidas
por anticorpos.
· Eritrócitos transportam imunocomplexos ligados ao C3b e C4b para o fígado e
para o baço, onde são removidos da superfície do eritrócito por fagócitos.
RECEPTOR DE COMPLEMENTO TIPO 2 (CR2 OU CD21)
· Função: estimula a resposta humoral ao melhorar a activação das células B
por antigénios; promove o aprisionamento de complexos Ag-Ac nos centros
germinais.
· Liga os produtos da clivagem do C3b: C3d, C3dg e iC3b (i de inactivo),
originados pela proteólise por parte do factor I
· Nas células B: forma um complexo com o CD19 e com o CD81 (ou TAPA-1 =
target of antiproliferative antibody 1). A função do complexo é melhorar a
resposta dos linfócitos B aos antigénios.
· Nas células dendríticas foliculares serve para aprisionar os complexos
revestidos por iC3b e C3dg nos centros germinativos.
· É o receptor para o vírus Epstein-Barr.
RECEPTOR DE COMPLEMENTO TIPO 3 (CR3 OU Mac-1 OU CD11bCD18)
· Função: é uma integrina que funciona como receptor para o fragmento iC3b
(que vem da proteólise do C3b).
· Expresso em neutrófilos, fagócitos mononucleares, mastócitos e células NK
· Promove a fagocitose de micróbios opsonizados com iC3b. Pode reconhecer
directamente bactérias para a fagocitose.
· Liga-se às ICAM-1 (proteínas de adesão ao endotélio), facilitando uma ligação
estável dos leucócitos ao endotélio, mesmo sem activação do complemento,
para o recrutamento de leucócitos para o local de infecção.
89
RECEPTOR DE COMPLEMENTO TIPO 4 (CR4 OU p150,95 OU
CD11c/CD18)
· Semelhante ao Mac-1 (ver acima).
RECEPTOR DE COMPLEMENTO PARA A FAMÍLIA DAS IMUNOGLOBULINAS
(CRIg)
· Expresso nas células de Kupffer
· Liga-se aos fragmentos do complemento C3b e iC3b.
· Função: eliminação de bactérias opsonizadas.
REGULAÇÃO DA ACTIVAÇÃO DO COMPLEMENTO
Activação e estabilidade das proteínas de complemento têm uma regulação fina para
prevenir activação do complemento contra células do hospedeiro e para limitar a
duração dessa activação, mesmo contra células microbianas.
As proteínas circulantes e de membrana
responsáveis por esta regulação formam
a família RCA (reguladores da
actividade do complemento).
O controlo da activação é essencial
porque: (1) existe uma activação
constante mínima, que não pode
prosseguir para não danificar as células
do próprio; (2) mesmo que o
complemento esteja activado e a actuar
sobre micróbios, deve ser controlado para que os produtos de degradação não
difundam para as células adjacentes.
Então o que permite direccionar o sistema complemento para os micróbios e evitar a
sua activação contra células do próprio?
A actividade proteolítica de C1r e C1s é inibida por uma proteína plasmática
chamada inibidor de C1 (C1 INH) (Ilustração 15). Essa proteína mimetiza a acção
dos substratos dessas proteases, e os produtos da sua proteólise ficam ligados
covalentemente às proteases, levando à dissociação do complexo C1r2-C1s2 do C1q
Ilustração 15 - Acção de C1 INH
90
(impede a via de activação clássica e impede a acumulação de cada vez mais
complexo C1r2-C1s2 activo). A deficiência de C1 INH leva ao edema hereditário
angioneurótico (autossómica dominante). Nesta doença há acumulação de fluido na
pele e mucosas e, como os níveis de C1 INH estão baixos, não há controlo suficiente
sobre a activação do C1 pelos imunocomplexos, havendo ainda proteólise excessiva
de C4 e C2. Para além disso, existe um fragmento de C2, a C2 cinina, e
bradiquinina, que medeiam a
formação de edema nestes
pacientes.
A montagem dos
complexos das convertase C3 e
convertase C5 é inibida pela
ligação de proteínas
reguladoras a C3b e C4b nas
superfícies celulares (Ilustração
16). Quando o C3b se liga na
superfície de células normais,
pode-se ligar a várias proteínas
de membrana: MCP ou CD46
(membrane cofactor protein),
CR1 (receptor de complemento
tipo 1), DAF (decay-accelerating
factor) e à proteína plasmática
factor H (inibe apekas a ligação
do Bb ao C3b, e por isso regula
a via alternativa e não a via clássica). A C4b também se liga à DAF e ao CR1, e ainda
à C4BP (C4 binding protein). Ao se ligarem a C3b ou C4b, estas proteínas estão a
inibir, por competição, a ligação dos outros componentes da convertase C3 (tais
como o Bb – via alternativa; C2b – via clássica). Todas estas proteínas são produzidas
pelas células do hospedeiro e não pelos micróbios, por isso o complemento actua
apenas nos micróbios.
As superfícies celulares ricas em ácido siálico favorecem a ligação da proteína
reguladora factor H. Como os micróbios não têm tanto ácido siálico na membrana, a
acção do complemento não vai ser prevenida nesta pelo factor H.
A DAF é uma proteína ligada a um glicofosfatidilinositol, expressa no endotélio.
Deficiências na produção desta enzima causam a doença hemoglobinúria nocturna
paroxismal, situação em que ocorre hemólise por ataque do complemento aos
eritrócitos.
O C3b (ou C4b) que de facto se consegue unir a células do próprio vai ser
degradado por uma protease sérica, o factor I, que se activa apenas na presença de
proteínas reguladoras (existentes apenas nas células do hospedeiro) e, por isso,
funcionam como co-factores do factor I.
Ilustração 16 - Inibição da formação das Convertases C3
91
É o factor I que, pela degradação do C3b, origina o iC3b, C3d e o C3dg – não
participam na activação do complemento mas são reconhecidos por receptores de
fagócitos e linfócitos B. (Ilustração 17)
A formação do MAC é
inibida por uma proteína de
membrana: CD59 (Ilustração
18). Esta incorpora-se nos MACs
que estão a ser acoplados, logo
após a inserção do complexo
C5b-8 e assim o C9 não
consegue terminar o processo de
formação do MAC. O CD59 está
presente nas células do
hospedeiro, mas não nos
microorganismos.
Se ordenarmos por ordem
de importância, as proteínas
inibidoras do complemento,
teremos algo como:
CD59>DAF>MCP (o que pode
estar com a sua abundância na
superfície celular).
Se a activação das vias
do complemento forem excessivas (como é o caso de algumas doenças
imunológicas), vai haver supressão da actividade das proteínas reguladoras, pois não
são suficientes.
FUNÇÕES DO COMPLEMENTO OPSONIZAÇÃO E FAGOCITOSE (Ilustração 19)
Micróbios sobre os quais o complemento foi activado via clássica ou via alternativa vão
estar revestidos de C3b, iC3b ou C4b e vão ser fagocitados pela ligação destes a
Ilustração 17 - Clivagem do C3b mediada pelo factor I
Ilustração 18 - Regulação da formação do MAC
92
receptores de superfície específicos dos macrófagos e neutrófilos. O C3b e o C4b
ligam-se ao CR1 e o iC3b liga-se ao CR3 (Mac-1) e ao CR4.
Por si só, o receptor CR-1 não consegue desencadear uma indução eficiente dos
fagócitos; a indução melhora se os micróbios estiverem revestidos de IgG ligados aos
receptores Fcγ ou se existir IFN-γ (induz activação dos macrófagos).
A fagocitose mediada pelo complemento (que pertence ao sistema imunitário inato
e ao humoral) é importante no caso de bactérias com cápsulas ricas em
polissacáridos, como o pneumococcus ou o meningococcus. Após opsonização, estas
bactérias são fagocitadas no baço (em caso de esplenectomia, aumenta a
probabilidade de septicémia pneumo/meningocócica).
ESTIMULAÇÃO DAS RESPOSTAS INFLAMATÓRIAS (Ilustração 20)
Os fragmentos proteolíticos do complemento C5a, C4a e C3a induzem inflamação
aguda ao activarem os mastócitos e neutrófilos. Os três péptidos estimulam a
desgranulação dos mastócitos, em que há libertação de mediadores vasoactivos
como a histamina, sendo por isso chamados de anafilatoxinas. Nos neutrófilos, C5a
estimula a motilidade, firma a adesão das células ao endotélio e estimula o burst
oxidativo. Pode ainda actuar directamente no endotélio, para aumentar a
permeabilidade vascular e melhorar a adesão dos neutrófilos ao endotélio.
Nos mastócitos, C5a é o mediador de desgranulação dos mastócitos mais importante.
C5a liga-se ao seu receptor (acoplado a uma proteína G) existente nos neutrófilos,
Ilustração 19 - Funções do complemento: Opsononização e Fagocitose
Ilustração 20 - Funções do complemento: Estimulação das respostas inflamatórias
93
eosinófilos, basófilos, monócitos, macrófagos, mastócitos, endotélio, células de
músculo liso, epitélios e astrócitos. Tem ainda a função estimuladora da produção de
PGE2 e leucotrienos.
O Ba e Bb gerados na via alternativa também têm efeitos biológicos: quimitaxia
de neutrófilos e activador de macrófagos (respectivamente).
CITÓLISE MEDIADA PELO COMPLEMENTO (Ilustração 21)
É mediada pelo MAC. Alguns microorganismos têm a membrana celular muito
espessa e o MAC não faz grande efeito. É apenas eficaz em bactérias como a
Neisseria que têm a membrana muito fina.
OUTRAS FUNÇÕES
· SOLUBILIZAÇÃO DOS IMUNOCOMPLEXOS E A SUA CLEARANCE PELOS
FAGÓCITOS
Os imunocomplexos que se formam em circulação, quando há uma resposta dos
anticorpos a um antigénio, podem acumular e depositar nos vasos sanguíneos,
levando a uma reacção inflamatória que danificam os tecidos. Quando os
imunocomplexos revestidos por C3b se ligam aos receptores CR1 dos eritrócitos,
vão para o fígado e baço para serem fagocitados.
· ACTIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS B PELA LIGAÇÃO DE C3d AO CR2 DESSAS
CÉLULAS
C3d é um produto da clivagem do C3b, e ambos ligados a um antigénio resulta na
activação do complemento. Assim, os linfócitos B ligam-se ao antigénio pelos seus
receptores Ig e ao mesmo tempo ligam-se ao C3d pelo seu receptor CR2 (co-receptor)
· DESTRUIÇÃO CELULAR NAS DOENÇAS AUTOIMUNES
Apesar de não ser uma função fisiológica, as doenças associadas com a produção
de autoanticorpos e a destruição relacionada com estas doenças são resultantes da
lise e fagocitose dependente do complemento.
Ilustração 21- Função do complemento: Citólise
94
DEFICIÊNCIAS DO COMPLEMENTO
NOS COMPONENTES DA VIA CLÁSSICA
· Podem afectar C1q, C1r, C4, C2 (a mais comum) e C3.
· 50% das deficiências de C2 e C4 originam lúpus eritematoso, porque há falha da
eliminação dos imunocomplexos. Estas deficiências não estão associadas a
susceptibilidade aumentada a infecções.
· Pode haver auto-imunidade, por falta dos sinais do complemento que induzem
tolerância nos linfócitos B.
· Deficiências no C3 estão associados a infecções piogénicas.
NOS COMPONENTES DA VIA ALTERNATIVA
· Deficiências nos componentes desta via incluem a properdina e o factor D, resultando
numa susceptibilidade às infecções aumentada.
· Produção de um componente patológico: factor C3 nefrític, que actua como um
anticorpo contra a convertase C3.
NOS COMPONENTES TERMINAIS DA ACTIVAÇÃO DO COMPLEMENTO
· Incluem C5, C6, C7, C8 e C9. Relacionado com susceptibilidade a infecções por
Neisseria meningitidis e Neisseria gonorrhoeae.
NAS PROTEÍNAS REGULATÓRIAS DO COMPLEMENTO
· Deficiência do factor I: o C3 plasmático é esgotado como resultado da formação de
uma convertase C3 de fase fluida. Aumenta a susceptibilidade a infecções piogénicas.
· Deficiência do factor H: raro. Há uma activação excessiva da via alternativa,
consumo de C3 e glomerulonefrite causada pela má eliminação de imunocomplexos
circulantes. Sem o factor H, o complexo C3bBb mantém-se activo levando ao
consumo excessivo de C3.
NOS RECEPTORES DO COMPLEMENTO
· Incluem falta de CR3 e CR4 – ambas raras. Causam a doença deficiência da adesão
leucocitária.
95
EFEITOS PATOLÓGICOS DE UM SISTEMA DE COMPLEMENTO
NORMAL
· Efeitos lesivos das infecções estão muitas vezes relacionados com a acção do
complemento, mesmo em pessoas saudáveis (para além da infecção); exemplos:
trombose intravascular, isquémia dos tecidos.
· Processo da trombose (em caso de transplantes de órgãos vascularizados): criam-se
anticorpos anti-endoteliais, onde se formam imunocomplexos. Para além disse, o MAC
danifica as células endoteliais, o que leva à coagulação.
· Vasculite e Glomerulonefrite: derivam da deposição de imunocomplexos nas
paredes dos vasos e nos glomérulos renais. Esses imunocomplexos activam o
complemento que danifica o endotélio e os glomérulos.
EVASÃO DOS MICRÓBIOS AO SISTEMA COMPLEMENTO Como?
PAREDES CELULARES
· São muito espessas, impedindo a ligação do MAC, entre outros. Exemplos: Gram + e
alguns fungos. O lípido A dos Gram – também confere resistência.
· As paredes sofrem constantes mutações, com grande diversidade de epítopos
RECRUTA DE PROTEÍNAS DO HOSPEDEIRO REGULADORAS DO
COMPLEMENTO · Alguns desenvolvem vias de síntese especiais para o ácido siálico, que inibe a via
alternativa de activação do complemento pela recruta do factor H, que desacopla o
C3b do Bb. Exemplos: E.coli K1, meningococcus.
· Outros capturam o ácido siálico das células do hospedeiro: localizam-no e
enzimaticamente transferem-no para a sua superfície. Exemplos: Neisseria
gonorrhoeae, Haemophilus…
· Podem possuir factores de inibição do factor H, como é o caso do GP41 do HIV,
que se liga covalentemente ao factor H.
· Outros recrutam as próprias proteínas reguladoras: o factor H, para as suas
paredes celulares. Exemplos: S.pyogenes, Borrelia burdorferi, N.meningitidis,
C.albicans...; a DAF e o CD59, recrutadas pelo HIV.
PRODUÇÃO DE PROTEÍNAS QUE MIMETIZAM PROTEÍNAS REGULADORAS
DO COMPLEMENTO · E.coli produz C1qBP (binding protein), que inibe a formação do complexo C1q-C1r-
C1s.
· S.aureus produs SCIN (inibidor do complemento estafilocócico) que se liga e inibe as
convertases C3 da via clássica e da via alternativa.
· Herpes simplex: produz glicoproteína C-1 que destabiliza a convertase da via
alternativa (previne a ligação de C3b à properdina)
· Pseudomonas produz elastase que inactiva C3a e C5a
96
BLOQUEIO DA INFLAMAÇÃO PELOS PRODUTOS DOS GENES MICROBIANOS
· S.aureus sintetiza CHIPS (chemokine inhibitory protein of staphylococcus) que é um
antagonista da anafilotoxina C5a.
IMUNIDADE NEONATAL Os fetos mamíferos estão protegidos das infecções por anticorpos produzidos pela
mãe, que atravessam a placenta (IgG) e entram em circulação fetal, e por anticorpos
ingeridos com o leite materno (IgA e IgG), que atravessam o epitélio intestinal dos
recém-nascidos, num processo chamado Transcitose. Como os recém-nascidos não
têm a capacidade de responder eficazmente contra os micróbios, utilizam a
imunidade passiva como defesa, que se baseia na neutralização dos organismos
patogénicos.
Para as IgA serem transportados para o leite, necessitam do receptor polimérico Ig,
que é secretado juntamente com 2 IgA. Para as IgG serem transportadas pela
placenta e pelo intestino do recém-nascido, precisam do receptor Fc específico para
as IgG: FcRn (neonatal Fc receptor. Este assemelha-se ao MHC I estruturalmente.
Nos adultos tem como função proteger as IgG do catabolismo. Exemplo clínico da aula
teórica: Mãe com Doença de Graves, onde há anticorpos anti-TSHR; estes são
transferidos pela placenta, e o bebé quando nasce tem a mesma doença. Como a
causa não é intrínseca, a doença é curada através da realização de plasmaférese no
bebé.
Ilustração 22 - Slide da aula teórica: esquema resumo do sistema de complemento
97
MECANISMOS EFECTORES DA IMUNIDADE CELULAR
Ao contrário da imunidade humoral, a imunidade celular actua nos agentes invasores
intracelulares, contra os quais os anticorpos não conseguem actuar. Esta imunidade
celular pode ser transferida para outro indivíduo não imunizado, através da
transferência de células T, e não pela transfusão de anticorpos.
Defeitos neste tipo de imunidade resultam num aumento da susceptibilidade a
infecções por vírus e por bactérias intracelulares, tal como por algumas bactérias e
fungos extracelulares que são fagocitados. As respostas mediadas por células T são
também importantes na rejeição de enxertos, imunidade anti-tumoral, e doenças
inflamatórias auto-imunes (immune-mediated inflammatory diseases).
TIPOS DE RESPOSTAS IMUNES MEDIADAS POR CÉLULAS Diferentes populações de células T evoluíram para combater diferentes tipos de
patogénios infecciosos, e por isso, a imunidade mediada por células consiste num
exemplo excelente de especialização da imunidade adaptativa. Existem vários
princípios gerais importantes para estas respostas imunitárias:
Células T efectoras CD4+ ligam o reconhecimento específico de
microrganismos ao recrutamento e activação de outros leucócitos para a
destruição destes agentes infecciosos. Cada tipo de leucócito está
especialmente adaptado para destruir certas categorias de microrganismos,
por isso, a natureza dos leucócitos recrutados e activados, tem de ser
determinada pela subcategoria de célula T CD4+ efectora que é induzida na
resposta imune, o que depende do microrganismo invasor. Em geral, células
TH1 activam macrófagos, células TH2 recrutam e activam eosinófilos, e as
respostas por células TH17 são dominadas por neutrófilos (e um número
variável de macrófagos).
T7: Imunidade Celular – Mecanismos Efectores da Imunidade Mediada por Células
Data da teórica: 14 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 10
Slides aulas: sim
Elaborado por: Joana Miranda
98
Esta cooperação entre linfócitos T e outros leucócitos ilustra um elo importante
entre as imunidades adaptativa e inata: através da secreção de citocinas, as
células T estimulam e focam a actividade de células efectoras da imunidade
inata (como os fagócitos), convertendo assim estas células em agentes da
imunidade adaptativa.
Resposta a microrganismos fagocitados que vivem dentro dos fagossomas
de macrófagos, é mediada por células TH1, que reconhecem antigénios
microbianos e activam os macrófagos para destruírem os agentes fagocitados.
Resposta a microrganismos extracelulares, incluindo variados fungos e
bactérias, é mediada por células TH17, que recrutam neutrófilos e alguns
monócitos, para fagocitarem e destruírem os microrganismos.
Resposta a parasitas helmínticos (helminthic parasites) é mediada por
células TH2, através da produção de anticorpos imunoglobulina E (IgE) e da
activação de eosinófilos e mastócitos para eliminarem os vermes parasitas
(helminths).
A resposta imune adaptativa a microrganismos que infectam e
conseguem replicar-se no citoplasma de diversos tipos celulares,
incluindo células não fagocíticas, é mediada por linfócitos T citotóxicos (CTLs)
CD8+, que matam células infectadas e eliminam os reservatórios de infecção.
Isto porque se as células infectadas não têm função microbicida intrínseca, a
infecção apenas pode ser eliminada pela destruição destas mesmas células.
Este é também um mecanismo para eliminação de microrganismos que são
“ingeridos” por células fagocíticas, mas que conseguem libertar-se dos
fagossomas mantendo-se no citosol.
Respostas imunes mediadas por células consistem no desenvolvimento de células T
efectoras a partir de células naïve em orgãos linfóides periféricos, migração destas
células T efectoras e de outros leucócitos para os locais de infecção, e activação de
leucócitos mediada por citocinas para destruição de microrganismos, ou eliminação
directa da célula infectada.
MIGRAÇÃO DE LINFÓCITOS T EFECTORES PARA LOCAIS DE
INFECÇÃO
A diferenciação de células T naïve em células T efectoras está associada a uma
mudança na expressão de receptores de quimiocinas e moléculas de adesão, que
determina o comportamento migratório destas células. A expressão de moléculas
envolvidas no alojamento das células T naïve dentro de nódulos linfáticos, que inclui
selectina-L e CCR7, diminui pouco após a activação destas células induzida por um
antigénio, e a expressão do receptor de esfingosina 1-fosfato (S1PR1) aumenta. Como
resultado, as células efectoras que se desenvolvem já não são obrigadas a
permanecer no nódulo, e são atraídas a entrar na circulação sanguínea ou nos vasos
linfáticos eferentes.
99
Ao contrário das células T naïve, as células T efectoras expressam receptores de
quimiocinas e moléculas de adesão que se ligam a quimiocinas e a moléculas de
adesão endoteliais, induzidas por citocinas como IL-1 e TNF (tumor necrosis factor), e
que são produzidas em locais de infecção. Ou seja, após entrarem em circulação, as
células T efectoras alojam-se preferencialmente em locais de infecção.
Cada uma das categorias TH1, TH2 e TH17 de células T CD4+ tem um fenótipo de
‘alojamento’ distinto, que as direcciona a migrar para diferentes locais de infecção.
QUIMIOCINAS QUE ATRAEM T HELPERS
Por exemplo, durante a diferenciação de precursores naïve, as células TH1
desenvolvem a capacidade de produzir ligandos funcionais para selectina-E e
selectina-P, enquanto que as células TH2 expressam níveis baixos deste ligandos.
Outro exemplo refere-se aos receptores CXCR3 e CCR5, que se ligam a
quimiocinas elaboradas nos tecidos durante respostas imunes inatas, e que são
expressos em níveis elevados por células TH1, mas não por células TH2. Por isso,
as células TH1 tendem a ser mais abundantes em locais de infecção onde os
agentes infecciosos desencadeiam uma resposta imunitária inata forte. Em geral,
as CTLs migram de forma semelhante às células TH1.
Em contraste, as células TH2 expressam os receptores de quimiocinas CCR3,
CCR4, e CCR8, que reconhecem quimiocinas expressas em níveis muito altos em
locais de infecção por parasitas helmínticos e em reacções alérgicas,
particularmente em mucosas, e por isso as células TH2 tendem a migrar para
estes tecidos.
As células TH17 expressam CCR6, ao qual se liga a quimiocina CCL20, produzida
por várias células dos tecidos e também por macrófagos durante muitas infecções
fúngicas e bacterianas, por isso, a migração de células TH17 para locais
inflamatórios é dependente da expressão de CCR6.
Após a entrada de células T efectoras nos locais de infecção, e após estas serem
novamente activadas pelo antigénio, estas produzem mais citocinas e quimiocinas, e
estimulam uma maior migração leucocitária. Esta inflamação ‘tardia’ é por vezes
chamada de Inflamação Imunitária (Immune Inflammation), para indicar o papel dos
linfócitos T no processo.
A migração de células T controlada por moléculas de adesão e quimiocinas, resulta no
recrutamento inespecífico destas células (pois não considera a especificidade do
antigénio), assegurando que o máximo possível de células T anteriormente activadas
tenham a oportunidade de localizar microrganismos infecciosos, e erradicar a infecção.
Até algumas células T de memória migram para os tecidos periféricos não-linfáticos.
Uma vez nos tecidos, as células T encontram antigénios microbianos apresentados
por macrófagos e outras células apresentadoras de antigénios (APCs), e ao
reconhecerem especificamente algum antigénio recebem sinais, através dos seus
receptores de antigénios, que aumentam a afinidade das integrinas para os seus
ligandos. Duas destas integrinas, VLA-4 e VLA-5, ligam-se a fibronectina de matrizes
extracelulares, e uma terceira molécula de adesão, CD44, que é expressada em
100
células T efectoras e de memória, liga-se a ácido hialurónico (hyaluronan). Como
resultado, as células T (efectoras e de memória) específicas para aquele antigénio são
preferencialmente retidas no local extravascular onde ele está presente, e as células T
não específicas que migraram para aquele local podem morrer no tecido, ou regressar
à circulação.
FUNÇÕES EFECTORAS DE CÉLULAS T HELPER CD4+ As células T efectoras da linhagem CD4+ desempenham a sua função produzindo
citocinas e outras moléculas de superfície, que vão activar outras células para
eliminarem microrganismos. As funções das células T efectoras CD4+ na imunidade
celular podem ser divididas em diferentes passos:
Recrutamento de outros leucócitos - Este recrutamento de neutrófilos,
monócitos e eosinófilos para o local de resposta é mediado por quimiocinas
produzidas pelas próprias células T, ou por outras células em resposta as
citocinas produzidas pelas células T. Diferentes tipos de células efectoras
CD4+ recrutam diferentes tipos de leucócitos, como foi mencionado
anteriormente.
Ilustração 23 – Sequência de eventos nas reacções de células T CD4+ efectoras
101
Activação dos leucócitos recrutados – Os mecanismos pelos quais as
células T CD4+ activam outros leucócitos envolvem a expressão da proteína de
superfície ligando CD40 (CD40L) e a secreção de citocinas, ambas pelas
células T. A via mediada por CD40L é mais definida para a activação de
macrófagos por células TH1, e será descrita mais a frente neste contexto.
Amplificação da resposta – Tal como em todas as respostas imunes
adaptativas, existem vários ‘loops’ de feedback positivo (como um “círculo
vicioso”) que servem para amplificar a resposta; por exemplo as citocinas
produzidas pelas células T activam os macrófagos a produzir citocinas, sendo
que estas por sua vez actuam sobre as células T aumentando a sua resposta.
Inibição da resposta – As células T efectoras não têm uma vida muito longa,
morrem logo após terem completado a sua função, e quando o antigénio é
eliminado os estímulos para propagar a resposta são perdidos, e esta diminui
com o tempo. Mecanismos de controlo especiais podem também limitar as
respostas efectoras, sendo um exemplo destes mecanismos a IL-10, cuja
função principal é inibir a contínua diferenciação linfocitária em TH1 e a
activação de macrófagos, e que é produzida tanto pelas células TH1 como
pelos macrófagos activados. Mecanismos inibitórios adicionais, como outras
citocinas anti-inflamatórias e receptores que inibem a activação de células T,
podem estar envolvidos no controlo das respostas mediadas por células T.
As células T CD4+ também participam indirectamente na defesa do hospedeiro
ajudando linfócitos B a produzir anticorpos de alta afinidade contra microrganismos
extracelulares, e promovendo o desenvolvimento de CTLs funcionais que combatem
microrganismos intracelulares.
Em seguida desenvolvem-se as funções das três categorias principais de células T
CD4+ efectoras na imunidade celular.
FUNÇÕES DAS CÉLULAS TH1
A principal função das células TH1 é activar macrófagos para ingerir e destruir
microrganismos; Mas para compreender a activação dos macrófagos é necessário
perceber a acção do interferão-γ (IFN-γ), a citocina responsável pela maior parte das
funções especializadas desta linhagem de células T.
CITOCINAS PRODUZIDAS PELAS CÉLULAS TH1
Interferão-γ (IFN-γ) – é a principal citocina para activação de macrófagos e
desempenha funções cruciais na imunidade contra microrganismos
intracelulares, por isso, indivíduos que herdam mutações raras
inactivadoras do receptor IFN-γ são mais susceptíveis a este tipo de
infecções. Este interferão apresenta alguma actividade antiviral apesar de
não ser uma citocina antiviral potente, e é produzido não só pelas células
TH1 CD4+ mas também pelas células NK e T CD8+. Na acção deste
interferão intervêm as cinases JAK1 e JAK2 que levam à fosforilação e
dimerização de STAT1, que estimula a transcrição de vários genes. As
principais funções do IFN-γ são:
102
Activar macrófagos para que estes eliminem microrganismos
fagocitados. O IFN-γ produzido pelas celular TH1 alia-se ao ligando
CD40, também expresso pelas células T, para activar numerosas vias
de sinalização e factores de transcrição, que estimulam a expressão de
várias espécies de oxigénio e azoto reactivas e de enzimas nos
fagolisossomas dos macrófagos.
Estas substâncias são responsáveis pela função microbicida dos
macrófagos activados, e são elas que destroem os microrganismos
ingeridos.
Actuar sobre células B para promover a produção de subclasses de
IgG, e inibir isótipos dependentes de IL-4, como a IgE. Estas
subclasses de IgG ligam-se aos receptores Fcγ nos fagócitos e activam
o complemento, e ambos estes mecanismos promovem a fagocitose
dos microrganismos opsonizados.
Promover a diferenciação de células CD4+ em células TH1 e inibir a
diferenciação em células TH2 e TH17, com o objectivo de amplificar a
resposta por TH1.
Estimular a expressão de diferentes proteínas que contribuem para
melhorar a apresentação de antigénios associados ao MHC e iniciar e
amplificar a resposta imune por células T. Estas proteínas incluem:
moléculas do MHC, proteínas envolvidas no processamento de
antigénios, componentes do proteassoma, HLA-DM, e co-estimuladores
B7 em APCs.
Outras citocinas produzidas por células TH1 são: TNF, e IL-10 (que é
inibidora de células dendríticas e macrófagos, e por isso suprime a activação
de células TH1, exemplo de um ‘loop’ de feedback negativo).
ACTIVAÇÃO DE MACRÓFAGOS MEDIADA POR CÉLULAS TH1 E ELIMINAÇÃO DE
MICROORGANISMOS FAGOCITADOS
Em qualquer local de infecção, como parte da resposta imunitária inata, são
recrutados monócitos, desde a corrente sanguínea até aos tecidos, por quimiocinas
produzidas por macrófagos e outras células residentes. Estes monócitos transformam-
se em macrófagos, fazem a sua primeira fagocitose, e se o microrganismo tiver
evoluído para resistir à eliminação por macrófagos, ele sobrevive no interior dos
fagossomas. Nestas células infectadas os péptidos microbianos são processados, e
apresentados como péptidos associados a moléculas MHC classe II. Ao mesmo
tempo, células TH1 efectoras são geradas numa resposta imunitária adaptativa nos
tecidos linfóides secundários, e são recrutadas ao local de infecção onde reconhecem
péptidos antigénicos (os mesmos que iniciaram a resposta imunitária) apresentados
pelos macrófagos que contêm o microrganismo. Os macrófagos são expostos a sinais
das células TH1 efectoras, que os activam para eliminarem os microrganismos
ingeridos.
103
Esta activação consiste numa expressão aumentada de várias proteínas que conferem
aos macrófagos activados a capacidade de desempenhar funções especializadas,
como por exemplo acções microbicidas mais eficientes.
A activação de macrófagos é feita não só por acção do IFN-γ, mas também por sinais
mediados por contacto, baseados em interacções CD40L-CD40. Quando as
células TH1 são estimuladas por um antigénio, estas expressam CD40L na sua
superfície e produzem IFN-γ.
As acções de IFN-γ nos macrófagos são sinérgicas com as acções do ligando CD40, e
em conjunto são estímulos potentes para a activação de macrófagos. A necessidade
de interacções de contacto entre a molécula de superfície CD40, presente nos
macrófagos, e o seu ligando, presente nas células T, assegura que os macrófagos que
apresentam antigénios às células T são os mais eficientemente activados por estas
células. Os mesmos princípios se aplicam à activação de linfócitos B pelas células T,
pois as células T helper estimulam a proliferação e diferenciação dos linfócitos B, por
sinais mediados por CD40 e citocinas.
Os macrófagos activados eliminam os microrganismos fagocitados principalmente pela
acção de espécies reactivas de oxigénio, azoto, e enzimas lisossomais, potentes
agentes microbicidas produzidos dentro de lisossomas de macrófagos, que digerem os
microrganismos após a fusão do fagossoma com o lisossoma. Estas substâncias
tóxicas podem também ser libertadas em tecidos adjacentes, onde podem eliminar
microrganismos extracelulares, e causar dano a tecido saudável devido à sua falta de
especificidade.
Esta via de activação de macrófagos é intitulada de “via clássica” para ser distinguível
da via de activação alternativa, descrita mais à frente.
Os macrófagos activados estão envolvidos em várias outras reacções de defesa do
hospedeiro. Eles estimulam a inflamação através da secreção de citocinas,
principalmente TNF e IL-1, e mediadores lipídicos como as prostaglandinas, os
leucotrienos e factor de activação plaquetária (PAF). Esta acção colectiva leva ao
recrutamento de mais leucócitos, o que melhora a capacidade de destruir agentes
infecciosos. Os macrófagos activados ampliam a resposta imunitária mediada por
células ao tornarem-se APCs mais eficientes devido aos maiores níveis de moléculas
envolvidas no processamento de antigénios e à maior expressão de moléculas MHC
classe II na sua superfície, mas também pela produção de citocinas (como a IL-2) que
estimulam a diferenciação de linfócitos T em células T efectoras.
FUNÇÕES DAS CÉLULAS TH2
As células TH2 estimulam as reacções mediadas por IgE e por eosinófilos, com o
objectivo de eliminar infecções por parasitas helmínticos. Estes parasitas são
demasiado grandes para serem fagocitados por neutrófilos e macrófagos, e podem ser
mais resistentes às acções microbicidas destes fagócitos do que a maioria das
bactérias e vírus, por isso são necessários mecanismos especiais para eliminar estas
infecções.
104
CITOCINAS PRODUZIDAS PELAS CÉLULAS TH2
Interleucina-4 (IL-4) – Esta interleucina desempenha funções tanto de citocina
indutora como efectora, e é o principal estímulo para produção de anticorpos
IgE e para o desenvolvimento da linhagem TH2 a partir de células T CD4+
naïve. É também produzida em mastócitos activados. Os seus mecanismos
incluem a via JAK-STAT (JAK3 ou JAK4 e STAT6) e uma via que envolve IRS
(insulin response substrate) chamada IRS-2. IL-4 pode também ligar-se ao
receptor da IL-13, devido às suas semelhanças estruturais.
As funções da IL-4 são:
Estimular o desenvolvimento de células TH2 e desempenhar função
de um factor de crescimento autócrino para as células TH2
diferenciadas.
Estimular em células B a mudança de classe Ig da cadeia pesada
para o isótipo IgE – Os anticorpos IgE desempenham papéis na
defesa mediada por eosinófilos contra infecções helmínticas (e algumas
infecções por artrópodes), e são também os principais mediadores em
reacções alérgicas.
Contribuir para uma via de activação de macrófagos alternativa –
Esta activação é descrita mais à frente.
Estimular os movimentos peristálticos no tracto gastrointestinal –
Contribui para a eliminação de microrganismos em superfícies
epiteliais.
Estimular o recrutamento de leucócitos – Recrutamento
principalmente de eosinófilos, promovendo a expressão de moléculas
de adesão no endotélio, e a secreção de quimiocinas que se ligam os
receptores presentes nos eosinófilos.
Interleucina-13 (IL-13) – Esta interleucina é estrutural e funcionalmente
semelhante à IL-4 e também desempenha um papel crucial na defesa contra
parasitas e em reacções alérgicas. É produzida principalmente pela linhagem
TH2, mas também por basófilos, eosinófilos e células NKT. O receptor de IL-13
permite a ligação tanto de IL-13 como de IL-4 com grande afinidade,
possibilitando a partilha dos efeitos biológicos de IL-13 com IL-4. O receptor é
expressado por uma grande variedade de células, incluindo células B, células
dendríticas, eosinófilos, basófilos, fibroblastos, etc, mas as células T não
expressam este receptor. A sinalização de IL-13R é semelhante à de IL-4R. A
IL-13, ao contrário da IL-4, não está envolvida na diferenciação da linhagem
TH2. A interleucina-13 apresenta:
Acções em comum com a IL-4 – Induzir activação de macrófagos pela
via alternativa (que contribui para fibrose e para reparação de tecidos);
estimular células B a alterarem para o isótipo IgE e alguns IgG; recrutar
leucócitos; estimular os movimentos peristálticos do tracto
gastrointestinal.
105
Acções exclusivas – Induzir a produção de muco nas células epiteliais
das vias aéreas.
Interleucina-5 (IL-5) – É uma citocina activadora de eosinófilos, e serve como
elo de ligação principal entre activação de células T e a inflamação rica neste
tipo de leucócitos. É produzida por células TH2 e mastócitos, e a principal via
de sinalização induzida por IL-5 envolve JAK2 e STAT3.
As acções de IL-5 são:
Estimular o crescimento e diferenciação de eosinófilos, e activá-
los – Os eosinófilos expressam receptores Fc específicos para IgE e
alguns IgG e por isso são capazes de se ligar a microrganismos, como
os parasitas, que são opsonizados por estes anticorpos, e eliminá-los.
Estimular a produção de anticorpos IgA
PAPÉIS DESEMPENHADOS PELAS CÉLULAS TH2 NA DEFESA DO HOSPEDEIRO
Esta linhagem desempenha a sua função através de vários mecanismos:
Reacções mediadas por IgE e eosinófilos – A IL-4 estimula a produção de
anticorpos IgE específicos para parasitas, que os opsonizam e promovem a
ligação dos eosinófilos. A IL-5 activa os eosinófilos e estas células libertam os
seus conteúdos granulares, que são capazes de destruir até os tegumentos
mais resistentes dos parasitas.
Activação de mastócitos – Estes podem ser activados por parasitas
opsonizados por IgE e outros antigénios que se ligam a IgE, resultando na sua
digestão pelo conteúdo granular dos mastócitos. Estes leucócitos produzem
TNF, quimiocinas e mediadores lipídicos que induzem inflamação local e que
ajudam a destruir parasitas.
Imunidade de barreira – As citocinas produzidas pelas células TH2 estão
envolvidas no bloqueio da
entrada e também na promoção
da expulsão de microrganismos
nas mucosas, por isso
desempenham um papel
importante na defesa do
hospedeiro, intitulado de
imunidade de barreira (barrier
immunity), por ser evidente nas
barreiras com o ambiente
externo.
Activação alternativa de
macrófagos - A resposta dos
macrófagos às citocinas
Ilustração 24 – Activação clássica e alternativa de macrófagos
106
produzidas por células TH2 tem sido chamada de via alternativa de activação
de macrófagos, distinguindo-se da activação induzida por IFN-γ. Os
macrófagos activados por citocinas TH2 induzem a formação de tecido fibroso
através da secreção de factores de crescimento que estimulam a proliferação
de fibroblastos, síntese de colagénio, e formação de novos vasos sanguíneos
(ou angiogénese), contribuindo para a renovação dos tecidos e para a fibrose
em cenários de infecções parasitárias crónicas e doenças alérgicas.
Estes macrófagos iniciam a reparação dos tecidos depois de diversos tipos de
danos que podem não envolver agentes infecciosos ou respostas imunes;
Nestas situações, as citocinas activadoras como a IL-4, podem ser produzidas
por eosinófilos e outros tipos celulares nos tecidos. IL-4 e IL-13 suprimem a
activação clássica de macrófagos, e interferem com as respostas imunes
mediadas por TH1 contra microrganismos intracelulares, em parte porque IL-4
estimula a produção de citocinas como a IL-10 e TGF-, que inibem o
desenvolvimento e a função das células TH1.
FUNÇÕES DAS CÉLULAS TH17
As células TH17 produzem citocinas que recrutam principalmente neutrófilos, para
locais de infecção. Pelo facto dos neutrófilos serem um mecanismo de defesa principal
contra bactérias e fungos extracelulares, as células TH17 desempenham um papel
importante na defesa contra estes microrganismos.
CITOCINAS PRODUZIDAS POR CÉLULAS TH17
As células TH17 produzem várias citocinas, sendo a principal a IL-17, mediadora da
maioria das acções inflamatórias destas células.
Interleucina-17 (IL-17) – A IL-17 é uma citocina fora do vulgar porque nem ela
nem o seu receptor são homólogos a nenhum outro par citocina-receptor
conhecido. A família IL-17 inclui seis outras proteínas estruturalmente
relacionadas, das quais IL-17A e IL-17F são as mais semelhantes e
principalmente produzidas por células TH17, enquanto que outros membros da
família são produzidos por diversas linhagens celulares. As actividades
imunológicas parecem ser mediadas primariamente pela IL-17A. A IL-17 é um
elo importante entre a imunidade celular e o sistema imune inato,
especialmente a sua componente inflamatória. As principais funções da IL-17
são:
Induzir respostas inflamatórias ricas em neutrófilos – IL-17 estimula
a produção de quimiocinas e outras citocinas (como TNF) que recrutam
neutrófilos e, a uma menor escala, monócitos para o local de activação
de células T. Esta interleucina também melhora a geração de
neutrófilos aumentando a produção de G-CSF e a expressão dos seus
receptores.
107
Estimular a produção de substâncias antimicrobianas – Como por
exemplo defensinas, em diversos tipos celulares.
Interleucina-22 (IL-22) – Pertence à família de citocinas IL-10 e é produzida
por células T activadas (particularmente células TH17), e células NK. As acções
desta interleucina parecem contraditórias: alguns estudos indicam que contribui
para a inflamação e para as lesões dos tecidos, mas a maioria dos dados
sugere que é produzida em tecidos epiteliais, especialmente na pele e no TGI,
e tem como função manter a integridade epitelial, promovendo a função de
barreira do epitélio e estimulando as acções reparadoras.
Interleucina-22 (IL-21) - É produzida por células T CD4+ activadas, e
apresenta vários efeitos em células B, T e NK. O receptor de IL-21 activa a via
de sinalização JAK-STAT, onde STAT3 tem um papel importante. Esta
interleucina promove a proliferação e função efectora de células T CD8+ e de
células NK, e também a diferenciação de células TH17, providenciando uma via
autócrina para amplificar as respostas por esta linhagem.
PAPÉIS DESEMPENHADOS PELAS CÉLULAS TH17 NA DEFESA DO HOSPEDEIRO
A principal função efectora destas células é induzir a inflamação com neutrófilos, que
serve para destruir bactérias e fungos extracelulares. Apesar de estas células
intervirem na patogénese de muitas doenças inflamatórias como a psoríase, a artrite
reumatóide e a esclerose múltipla, as suas acções são úteis na manutenção da função
dos epitélios, principalmente devido às acções da IL-22.
FUNÇÕES DAS CÉLULAS TH9
Este tipo de células efectoras é ainda muito pouco conhecido. Combate parasitas
helmintas (de grandes dimensões), através da secreção de IL-9 e da activação de
mastócitos.
FUNÇÕES EFECTORAS DE LINFÓCITOS T
CITOTÓXICOS CD8+
O desenvolvimento das respostas por CTL CD8+ a uma
infecção processa-se por passos semelhantes aos descritos
para as respostas por células T CD4+, incluindo a
estimulação mediada por antigénios de células T CD8+
naïve nos orgãos linfóides, a expansão clonal, a
diferenciação e a migração de CTLs diferenciadas para os
tecidos. Os linfócitos T citotóxicos CD8+ eliminam
microrganismos intracelulares principalmente matando
células infectadas, e produzem IFN-γ contribuindo para
activação de macrófagos e para reacções de
hipersensibilidade.
Ilustração 25 – Passos da lise de uma célula-alvo mediada por CTLs
108
MECANISMOS DA CITOTOXICIDADE MEDIADA POR CTL
As CTLs eliminam alvos que expressam o mesmo antigénio que desencadeou a
proliferação e diferenciação de células T CD8+ naïve das quais derivaram, e não
matam células adjacentes não infectadas que não expressam o antigénio. Esta
especificidade funcional das CTL efectoras deve-se à criação de uma ‘sinapse
imunológica’ que é formada no local de contacto entre a CTL e a célula-alvo que
expressa o antigénio, sendo que as moléculas envolvidas na eliminação do alvo são
libertadas nessa sinapse e não podem difundir-se para células vizinhas.
Este processo consiste em três passos: reconhecimento de antigénio, administração
do ‘golpe letal’ nas células-alvo, e libertação das CTLs, e cada um destes passos é
controlado por interacções moleculares específicas.
RECONHECIMENTO DE ANTIGÉNIOS E ACTIVAÇÃO DE CTLS
Para serem convenientemente reconhecidas pelas CTLs, as células-alvo têm de
expressar moléculas MHC classe I ligadas por um complexo a um péptido
(servindo esse complexo como ligando para o receptor das células T e para o co-
receptor CD8) e molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1). As CTLs e os seus alvos
formam conjugados intimamente relacionados, onde se dá uma ‘sinapse imunológica’
caracterizada por um anel de aposição entre as duas membranas celulares, e um
espaço fechado dentro desse anel. Esta interacção resulta no início de sinais
bioquímicos que activam a CTL, e que são basicamente os mesmos envolvidos na
activação de células T helper. As citocinas e os co-estimuladores providenciados por
células dendríticas, necessários para a diferenciação de células T CD8+ naïve em
CTLs, não são necessários para desencadear a função efectora das CTLs. Por isso,
logo que as células T CD8+ específicas para um antigénio se tenham diferenciado em
CTLs completamente funcionais, estas podem matar qualquer célula nucleada que
apresente esse mesmo antigénio.
Para além do receptor de células T, as CTLs CD8+ expressam receptores que são
também expressados por células NK, e que contribuem tanto para a regulação como
para a activação das CTLs. Alguns destes receptores pertencem à família dos KIR
(killer immunoglobulin receptor) e reconhecem moléculas MHC classe I em células-
alvo, mas não são específicos para nenhum péptido do complexo MHC específico.
Estes KIRs fazem a transdução de sinais inibitórios que podem ter como função
impedir as CTLs de matarem células normais. As CTLs também exprimem o receptor
NKG2D, que reconhece as moléculas MIC-A, MIC-B e ULBP, semelhantes às MHC
classe I. Este receptor pode ter como função entregar sinais que actuam em conjunto
com o reconhecimento TCR (receptor de células T) de antigénio, para melhorar a
indução de morte celular em células-alvo.
MORTE DE CÉLULAS-ALVO POR ACÇÃO DE CTLs
Alguns minutos após o reconhecimento de antigénio pelo receptor de uma CTL numa
célula-alvo, esta sofre mudanças que induzem a sua morte por apoptose. A morte da
células-alvo ocorre dentro de 2 a 6 horas e procede mesmo que a CTL se separe
desta. O principal mecanismo utilizado para a eliminação destas células é a libertação
109
de proteínas citotóxicas, armazenadas em grânulos citoplasmáticos (lisossomas
secretórios) dentro das CTLs.
A activação de uma CTL leva a uma reorganização do seu citoesqueleto,
nomeadamente dos centros de organização dos microtúbulos que se dirigem para a
área do citoplasma perto do contacto com a célula-alvo. Os grânulos citoplasmáticos
das CTLs são transportados através de microtúbulos e concentram-se na região da
sinapse, onde se dá a fusão entre a membrana dos grânulos e a membrana
plasmática da CTL no domínio secretório. Disto resulta a exocitose dos conteúdos
granulares da CTL para o anel sináptico, entre as membranas plasmáticas desta
célula e da célula-alvo.
Os grânulos das CTLs (e também das células NK) contêm proteínas citotóxicas,
incluindo granzimas (A, B e C) e perforina, e também serglicina que estabelece um
complexo contendo os outros dois tipos de proteínas. A perforina é uma molécula
alteradora de membrana plasmática que pensa-se facilitar a entrada das granzimas no
citosol da célula-alvo, e uma vez no citosol, as granzimas clivam vários substratos (por
exemplo caspases) e iniciam a morte por apoptose da célula-alvo. Os grânulos das
CTLs (e das células NK) também podem conter uma proteína chamada granulisina,
que altera a permeabilidade das membranas de células-alvo e de microrganismos, e
cuja importância para a morte celular induzida por CTLs ainda não foi estabelecida.
As CTLs também apresentam um mecanismo independente de grânulos, que é
mediado por interacções entre moléculas membranares das CTLs e das células-alvo.
Durante a activação das CTLs estas expressam ligando Fas (FasL), proteína
membranar que se liga ao death receptor Fas presente em muitos tipos celulares, e
que, à semelhança da reacção aos grânulos, resulta na activação de caspases e na
apoptose das células-alvo. Algumas células T CD4+ também são capazes de matar
células infectadas, mas sendo que estas células T apresentam pouca concentração de
perforina e de granzimas, pensa-se que o FasL seja mais importante nesta actividade.
Após o ‘golpe letal’ administrado pela CTL, esta liberta-se da célula-alvo, normalmente
antes da morte celular. As próprias CTLs não são danificadas durante o processo,
talvez porque a exocitose direccionada dos grânulos leva a que estes actuem
preferencialmente nas células-alvo, longe das CTLs. Para além disso os grânulos das
CTLs contêm uma enzima proteolítica chamada catepsina B, que é administrada à
superfície da CTL onde degrada moléculas errantes de perforina que podem atacar a
membrana da própria.
PAPÉIS DESEMPENHADOS PELAS CTLs NA DEFESA DO HOSPEDEIRO Situações nas quais as células não conseguem destruir os microrganismos que as
infectam: em infecções por vírus que sobrevivem e se replicam em células que são
incapazes de destruir microrganismos (exemplo do vírus da hepatite em células
hepáticas); ou no caso de os microrganismos escaparem das vesículas fagocíticas
e sobreviverem no citoplasma da célula infectada (este caso é válido até em
fagócitos, pois a sua acção microbicida é limitada às vesículas fagocíticas para não
danificar a própria célula). Estas infecções apenas podem ser eliminadas pela
destruição das células, e por isso a activação de caspases pelas granzimas e pelo
110
FasL, é importante, apesar de não distinguir entre substrato microbiano ou do
hospedeiro.
A expansão massiva de células T CD8+ que se segue a uma infecção faculta uma
grande quantidade de CTLs para combater estas infecções. Defeitos no
desenvolvimento e actividade de CTLs resultam numa susceptibilidade aumentada a
infecções virais e algumas infecções bacterianas, e também à reactivação de
infecções virais latentes (por exemplo o vírus Epstein-Barr) que são mantidas
normalmente controladas por CTLs específicas para o vírus. A destruição por CTLs de
células infectadas é uma das causas de danos em tecidos nalgumas doenças, por
exemplo: durante infecções por vírus da hepatite B e C, as células hepáticas
infectadas são destruídas por CTLs do hospedeiro (e também por células NK), e não
pelos vírus.
FUNÇÕES DE OUTRAS CATEGORIAS DE CÉLULAS T
A maioria das células T no organismo são células helper CD4+ e CTLs CD8+, mas,
para além destas, existem populações mais pequenas de células T que apresentam
propriedades distintas e, provavelmente, desempenham funções especializadas na
defesa do hospedeiro. As populações mais bem estudadas são as de células T γδ e T
NK, e estas apresentam características em comum que as distinguem das células
CD4+ e CD8+:
Reconhecem uma vasta variedade de antigénios, muitos dos quais não são
péptidos, e não são dispostos por moléculas MHC classe I e classe II em
APCs;
Muitos dos seus receptores de antigénios têm diversidade limitada, sugerindo
que ambos os tipos celulares evoluíram para reconhecer um grupo restrito de
microrganismos (e devido a esta propriedade diz-se que estas células T
encontram-se no limite entre a imunidade inata e adaptativa);
Ambos os tipos celulares são abundantes em tecidos epiteliais, como por
exemplo no TGI.
CÉLULAS T γδ (“γδ T CELLS”)
Estas células apresentam como receptores de antigénio de células T (TCR)
heterodímeros, formados pelas cadeias γ e δ, homólogas às cadeias e dos TCR
presentes nas células CD8+ e CD4+. Estes TCRs específicos são o que distingue esta
linhagem celular. O heterodímero γδ associa-se às proteínas CD3 e ζ da mesma forma
que o heterodímero , e a sinalização induzida pelo TCR γδ é a semelhante à
induzida por TCR .
Diferentes populações de células T γδ podem desenvolver-se em alturas distintas da
ontogenia, contento diferentes regiões variáveis (V) e residindo em diferentes tecidos.
As células T γδ encontradas em orgãos linfóides expressam TCRs mais diversificados
do que as células T γδ epiteliais, e apesar do potencial de diversidade teórico dos TCR
γδ ser ainda maior que a diversidade dos TCR , observa-se a expressão de um
número restrito de regiões V γ e δ, e existe pouca ou nenhuma diversidade juncional.
111
A variedade limitada de TCRs γδ em muitos tecidos sugere que os ligandos para estes
receptores podem ser invariáveis e conservados.
As células T γδ não reconhecem antigénios peptídicos associados ao MHC e não são
restritas ao reconhecimento por esse complexo. Algumas linhagens clonais de células
T γδ reconhecem pequenas moléculas fosforiladas, e até lípidos que são
encontrados frequentemente em micobactérias e outros microrganismos, e que podem
ser apresentados de forma “não clássica” por moléculas semelhantes às MHC classe
I. Outras células T γδ reconhecem antigénios proteícos ou não-proteícos que não
necessitam processamento por nenhum tipo de APC para a sua apresentação, e
muitas reacções por células T γδ são desencadeadas por proteínas de choque térmico
(heat-shock proteins) microbianas.
Uma das possíveis justificações para a especificidade das células T γδ, é que talvez a
sua função no organismo seja reconhecer antigénios frequentemente encontrados nas
fronteiras epiteliais entre o hospedeiro e o ambiente externo. Um grande número de
actividades biológicas foi atribuído às células T γδ, incluindo a secreção de citocinas e
a morte de células infectadas, mas a função destas células permanece
incompreendida.
CÉLULAS T NATURAL KILLERS (“NKT CELLS”)
Uma pequena população de células T expressa marcadores que são encontrados em
células NK, como CD56, e por isso estas células são chamadas NKT. As cadeias do
TCR expressadas pelas células NKT têm uma diversidade limitada, e estas células
são caracterizadas por uma região V codificada por um segmento de gene V24-J18
rearranjado, com pouca ou nenhuma diversidade juncional. Devido a esta diversidade
limitada, estas células são também chamadas de células NKT invariáveis (iNKT).
Todos os TCRs de células NKT reconhecem lípidos ligados a moléculas semelhantes
às MHC classe I, chamadas CD1.
As células NKT e outras células T específicas para antigénios lipídicos são capazes de
produzir rapidamente citocinas como IL-4 e IFN-γ após activação, e podem ajudar as
células B da zona marginal a produzir anticorpos contra estes antigénios. As células
NKT podem mediar respostas imunes inatas contra alguns patogénios (como
micobactérias), e as células iNKT podem até regular primariamente as respostas
imunes adaptativas através da secreção de citocinas. No entanto, o papel
desempenhado por estas células no sistema imunitário e na patógenese de certas
doenças ainda permanece pouco claro.
112
MHC E APRESENTAÇÃO DE ANTIGÉNIOS AOS LINFÓCITOS T
Linfócito T
T8: Apresentação de Antigénios pelo MHC
Data teórica de 17 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 6
Slides aulas: sim
Elaborado por: Marta Bento
Função: erradicar infecções de micróbios intracelulares
e activação de outras células imunitárias.
FUNÇÕES E INTERACÇÕES COM O SISTEMA IMUNITÁRIO:
Indentificação específica de um antigénio. Facilitado pelas APC (Células
Apresentadoras de Antigénio), nomeadamente as células dendríticas que
migram para os órgãos linfóides secundários onde estão alojados os
linfócitos T imaturos.
Interacção com células do próprio infectadas (CD8+) ou com outras
células do sistema imunitário (CD4+) por intermédio de moléculas do
Complexo Major de Histocompatibilidade expressas na superfície das
células.
As células T CD4+ participam na formação de anticorpos efectivos.
As células T CD8+ eliminam células infectadas.
A segregação de antigénios para ser apresentados a populações de células
T diferentes é efectuada pelas moléculas MHC.
113
PROPRIEDADES DOS ANTIGÉNIOS RECONHECIDOS PELOS
LINFÓCITOS T
CAPTURA DE ANTIGÉNIOS E FUNÇÕES DAS CÉLULAS
APRESENTADORAS DE ANTIGÉNIO
PROPRIEDADES DAS APC
Tipos de APCs : Células Dendríticas ( activam células T imaturas);
Macrófagos e Linfócitos B (APCs principalmente nas T CD4+ previamente
activadas).
Expressam MHC de classe II e co-estimuladores (segundos sinais). Libertam
citocinas.
Os macrófagos e células dendríticas expressam receptores Toll-like
aumentando a expressão de MHC II, co-estimuladores, citocinas e quimio-
receptores (para migração) na presença de micróbios.
As APCs também recebem sinais dos linfócitos Tque melhoram a sua função.
Ex: CD40 e IFN-γ expressos por LynT.
Propriedades dos antigénios
reconhecidos pelos linfócitos T
Péptidos de
sequência curta.
Razão: só os
péptidos se ligam
ao MHC
Antigénios de
sequência linear
Razão: perde-se a
conformação na
geração de MHC -
antigénio
Antigénios
associados ao
MHC
CD4+ liga-se a
antigénio-MHC classe
II. Origem extracelular.
CD8+ liga-se a
antigénio-MHC classe
I. Origem citosólica.
A apresentação de antigénios aos linfócitos T CD4+ por outras células
(APCs) é um passo crítico na indução de resposta
114
PAPEL DAS CÉLULAS DENDRÍTICAS NA CAPTURA E APRESENTAÇÃO DE
ANTIGÉNIOS
MORFOLOGIA E POPULAÇÕES DE CÉLULAS DENDRÍTICAS
Porta de Entrada
Transporte por vasos linfáticos na
forma livre e associada às células
dendríticas ou transporte nos vasos
sanguíneos na forma livre.
Acumulação de antigénios nos
gânglios linfáticos e no baço onde
são apresentados ou capturados
para apresentação.
Identificadas pelas suas projecções
membranares. Diferenciam-se a partir de precursores da linhagem fagocítica mononuc lear
Duas populações predominantes:
Células Dendríticas
Convencionais
Células Dendríticas
Plasmocitóides
Também chamadas de células
dendríticas mielóides
Mais numerosas
Activação Clássica
Uma das suas população corresponde à células de Langerhans (epiteliais)
Morfologicamente semelhantes aos
plasmócitos
Adquirem a forma e função das DC
quando activadas
Encontram-se no sangue e orgãos
linfóides
São apresentadoras e segregam
interferões do tipo I em infecção viral
115
Acredita-se que as células dendríticas imaturas possam estar a apresentar
antigénios do self às células T reactivas ao self de forma a estimular a sua
inactivação ou morte.
CAPTURA E TRANSPORTE DE ABTIGÉNIOS PELAS CÉLULAS DENDRÍTICAS
No entanto, alguns dos antigénios alcançam os gânglios e o baço na sua forma
livre sendo aí capturados pelas células dendríticas residentes ou linfócitos B.
APRESENTAÇÃO DE ANTIGÉNIOS PELAS CÉLULAS DENDRÍTICAS
FUNÇÕES DE OUTRAS CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTIGÉNIOS
Macrófagos: os monócitos têm a capacidade de migrar para qualquer local e
diferenciar-se em macrófagos, apresentar aos linfócitos T CD4+ , que por sua
vez activam os macrófagos para actividade microbicida.
Linfócitos B: apresentam às T CD4+, que por sua vez estimulam a produção
de anticorpos pelas células B.
Todas as células nucleadas: apresentam a T CD8+ CTLs (população de
linfócitos T).
DC imaturas expressam lectinas do tipo
C que se ligam aos microrganismos; os
receptores Toll-like activam as DC.
Ingestão dos microrganismos por
endocitose mediada por receptores,
micro e macropinocitose.
As DC expressam quimioreceptor
CCR7 que se liga a CCL19 e CCL21
dos gânglios linfáticos migração.
As APCs são capazes, como todas as células nucleadas, de induzir activação
dos linfócitos T CD8+. São, no entanto, mais eficientes que as restantes. E como
já sabemos, são igualmente apresentadoras das células CD4+.
116
O locus MHC contém
genes polimorficos MHC
classe I e II e outros não
polimorficos.
Células do endotélio vascular: expressam MHC II, muitas vezes em resposta
a INF- γ, mas com pouca eficiência.
NOTA: Sabe-se que as células T activadas expressam também MHC II, no entanto,
não se conhece a sua função.
COMPLEXO MAJOR DE HISTOCOMPATIBILIDADE (MHC)
DESCOBERTA DO MHC
O MHC HUMANO (HLA)
GENES RESPONSÁVEIS PELA RESPOSTA IMUNITÁRIA
GENES MHC
Enxertos em animais não-idênticos Rejeição
Enxertos em animais idênticos Aceitação
Causa Genética
Criaram ratinhos geneticamente idênticos excepto na sua capacidade de
rejeição de enxertos. Resultado: mostraram que uma única região genética
é responsável por esta rejeição locus major de histocompatibilidade.
No entanto, este locus não continha um único gene passando a denominar-
se Complexo Major de Histocompatibilidade. Nos ratinhos é referido
como H-2.
É denominado HLA porque cientistas descobriram que pacientes
transplantados contêm anticorpos contra proteínas dos dadores – as Human
Leukocyte Antigens (HLA). Hoje sabe-se que todos os mamíferos
partilham estruturas homólogas aos HLA.
No entanto, não fazia sentido conservar evolutivamente genes que tinham
como única função rejeitar tecidos. Descobriram então que eles eram
também responsáveis pela resposta imunitária (Ir) e, assim, já fazia sentido
conservá-los.
117
α β
Estes genes são expressos em co-dominância.
São os genes mais polimórficos do genoma humano.
Determinam a especificidade na ligação do péptido, ou seja, numa
população há sempre indivíduos que conseguem resistir a uma determinada
infecção impossibilitando a aniquilação de uma espécie inteira.
LOCI DO MHC NOS HUMANOS [E RATINHOS]
CLASSES DE HLA:
Nos HLA de classe II cada molécula de MHC
é composta por um polipéptido α e um β. Cada loci de
HLA-DP, HLA-DQ e HLA-DR tem genes A e B que
codificam as cadeias α e β.
Nomenclatura – leva em consideração os
polimorfismos. Ex: HLA-A*0201 – do
Serogrupo 01 do subtipo HLA-A2.
RATINHOS
EXPRESSÃO DE MOLÉCULAS DE MHC
+
Localiza-se no cromossoma 6.
HLA classe
I
Genes HLA-A, HLA-B e HLA-C
HLA classe
II Genes HLA-DP, HLA-DQ e HLA-DR
MHC classe
I
H-2K, H-2D e H-2L
MHC classe
II
I-A, I-E
Cada alelo é chamado de haplotipo (ex: HLA-A2). Indivíduos heterozigóticos têm
dois haplotipos.
Padrão de restrição das MHC. MHC I – CD8+; MHC II – CD4+
Aumenta a expressão de MHC na presença de citocinas:
MHC I +
INF-α, INF-β e INF-γ ( resposta do S. I. Inato a
infecção vírica)
INF-γ ( produzido por NK na resposta do S. I.
Inato ) MHC II
118
MOLÉCULAS DE MHC
MOLÉCULAS MHC CLASSE I
O segmento α3 é o local de ligação de CD8
A estabilidade estrutural entre a cadeia α e a β2-microglobulina é mantida pela
presença do péptido e vice-versa.
A expressão de MHC aumenta devido ao aumento da taxa de transcrição
provocado pelas citocinas ligação de factores de transcrição activados
pelas citocinas. Ex: INF- γ estimula a síntese da proteína CIITA que activa o
complexo de transcrição para MHC II
PROPRIEDADES GERAIS:
As moléculas de MHC consistem numa fenda ou sulco que aloja o péptido,
domínios Ig-like transmembranares e cistoplasmáticos
As MHC têm resíduos polimórficos (regiões variáveis) que se localizam no
sulco que aloja o péptido. Resulta numa ligação preferencial a antigénios com
maior afinidade.
Os domínios Ig-like têm locais de ligação para CD4 e CD8.
Consiste em duas cadeias ligadas não-covalentemente: uma cadeia α e uma
subunidade β2-microglobulina.
A cadeia α é constituída por três segmentos, os domínios α1, α2 e α3
Os segmentos α1 e α2 são polimórficose formam o sulco estão próximos e por
isso só conseguem acomodar pequenos péptidos
119
Indivíduos heterozigóticos expressam 6 tipos de MHC I em cada célula ( todos
temos genes HLA-A, B e C, logo ser heterozigótico para todos estes genes implica
a expressão de duas cadeias α por cada gene – 6)
MOLÉCULAS MHC CLASSE II
LIGAÇÃO DE PÉPTIDOS ÀS MOLÉCULAS DE MHC
CARACTERÍSTICAS DA INTERACÇÃO PÉPTIDO-MHC
Cada molécula de MHC liga-se a um péptido de cada vez.
Péptidos de cadeia curta favorecem esta interacção (permite acomodarem-se no
sulco).
Consiste em duas cadeias ligadas não-covalentemente: uma cadeia α e
uma cadeia β.
Os segmentos α1 e β1 são polimórficos e formam o sulco que aloja o
péptido.
Os segmentos α2 e β2 são não-polimórficos. β2 é o local de ligação para
CD4
Para as moléculas de MHC II também é necessária a presença do péptido
para a estrutura ser estável.
Cada indivíduo herda genes HLA-DPA1, HLA-DPB1, HLA-DRA1, HLA-
DRB1, HLA-DQA1, HLA-DQB2 de cada progenitor e podem ainda ter
duplicados de HLA-DR3, 4 ou 5. Ou seja, herda-se de 6 a 8 genes de MHC
II.
Os MHC têm uma fraca especificidade para os péptidos comparando com os
receptores dos linfócitos, ou seja, podem ligar-se a um largo espectro de péptidos.
120
BASE ESTRUTURAL DA LIGAÇÃO PÉPTIDO-MHC
PROCESSAMENTO DE PROTEÍNAS ANTIGÉNICAS
VIA DO MHC I PARA PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE PROTEÍNAS
CITOSÓLICAS
1. As proteínas apresentadas pelo MHC I são sintetizadas no interior da célula
(podem ter origem em vírus e microrganismos intracelulares). Também pode
ocorrer ruptura dos fagossomas e essas proteínas podem ser apresentadas pelo
MHC I.
2. O maior mecanismo de geração de péptidos é a proteólise executada pelo
proteassoma. Em células expostas a INF-γ são produzidas subunidades do
As moléculas de MHC adquirem o péptido durante a sua biossíntese. As moléculas
de MHC I adquirem os péptidos a partir de proteínas citosólicas e as MHC II a partir
de proteínas em vesículas intracelulares.
A taxa de dissociação do péptido ao MHC é muito baixa maximizando a hipótese
de ligação a um receptor de linfócitos T.
A taxa de dissociação do péptido ao MHC é muito baixa maximizando a hipótese
de ligação a um receptor de linfócitos T.
Os MHC não discriminam entre proteínas do self e antigénios. As células T têm
essa capacidade.
A ligação é não-
covalente.
No MHC I a associação do
péptido implica a presença
de um N-terminal positivo e
um C-terminal negativo.
Os sulcos muitas
vezes apresentam
pockets que se
ligam
preferencialmente a
determinados
aminoácidos, os
resíduos âncora.
A células T
também
reconhecem e
interagem com
os resíduos
polimórficos do
MHC.
121
proteassoma que favorecem a apresentação dos péptidos. Algumas proteínas não
requerem esta proteólise, são degradadas por proteínas citosólicas.
3. As proteínas geradas no citosol são translocadas pela TAP (transportador
associado ao processamento de antigénios) para o RE e as sintetizadas estão
disponíveis no retículo endoplasmático para ligação ao MHC I. As TAP
localizam-se na membrana do RE e estão associadas a proteínas tapasina que
preparam o MHC I para receber o péptido.
4. Construção dos complexos MHC I-péptido no RE. A síntese do MHC I depende
de chaperones calnexina e calreticulina. Estas proteínas juntamente com a TAP,
tapasina, oxireductase ERP57 e MHC I formam um complexo que recebe o
péptido.
5. Os complexos estabilizados passam pelo complexo de Golgi e são transportados
por vesículas para a superfície celular e apresentados às T CD8+.
VIA DO MHC II PARA PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DE
PROTEÍNAS VESICULARES
1. A maior parte destas proteínas tem uma origem extracelular e são internalizadas
em endossomas nos APCs. As células dendríticas e macrófagos expressam
receptores que reconhecem estruturas comuns a muitos microrganismos. Os
macrófagos expressam receptores Fc que ligam porções Fc dos anticorpos e
receptores para a proteína C3b do complemento. Os receptores de linfócitos B
reconhecem com grande especificidade e internalizam antigénios.
2. Os endossomas fundem-se com lisossomas. Alguns destes lisossomas contêm
produtos já da própria célula (ou de virus que a infectam) que serão mais tarde
apresentados pelos MHC II, este mecanismo permite a activação de TCD4+ em
infecções virais.
122
3. Existe digestão proteolítica nas vesículas para formar os péptidos.
4. Os péptidos formados ligam-se aos MHC II que se encontram nos endossomas
tardios (também chamados de MIIC nos linfócitos B e macrófagos)
5. Biossíntese e transporte dos MHC II para os endossomas. São sintetizadas no
RE e transportadas pela proteína Ii que ocupa o sulco da MHC II. A sua síntese
está dependente de chaperones como a calnexina e é estabilizado pela Ii. Os MHC
II são transportados em vesículas até aos endossomas.
6. Nos endossomas as MHC II dissociam-se de Ii por acção da enzimas; permanece
uma proteína CLIP no sulco que é removida pela molécula HLA-DM. Os péptidos
ligam-se então ao MHC II.
7. Os complexos estabilizados são apresentados na superfície da célula aos T
CD4+.
SIGNIFICADO FISIOLÓGICO DA APRESENTAÇÃO ASSOCIADA A MHC
NATUREZA DA RESPOSTA CELULAR DAS CÉLULA T
Apresentação Cruzada
Extracelulares CD8+
Células Dendríticas que capturam
células tumorais ou infectadas com
vírus que são apresentadas a T
CD8+.
Envolve a fusão do fagossoma
com o RE.
MHC I CD8+.
MHC II( macrófago) CD4+.
MHC II (linfócito B) CD4+.
123
APRESENTAÇÃO DE ANTIGÉNIOS NÃO-PROTEICOS A POPULAÇÕES
DE CÉLULAS T
Antigénios
Imunodominantes
Antigénios que produzem respostas
dos linfócitos T mais eficientes são
aqueles cujos epítopos possuem
grande afinidade para o MHC e
para os quais o indivíduo já está
imunizado (células T específicas).
NKT
γδ T
Reconhecem lípidos e glicolípidos em receptores
CD1 (do tipo MHC I).
Reconhecem lípidos, proteínas, moléculas
fosforiladas e aminas alquil. Não se sabe se existe
um sistema de apresentação associado a estas
células.
124
T9: Imunodeficiências Primárias
Data teórica de 21 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 20
Slides aulas: sim
Elaborado por: Tatiana Oksentyuk
A integridade do sistema imunológico é essencial no mecanismo de defesa do
organismo contra agente infeccioso e seus produtos tóxicos. Deficiência num ou mais
que um componente do sistema imunológico pode induzir doenças graves, que podem
ser fatais – as imunodeficiências, e que podem ser classificadas em dois grandes
tipos:
Doenças primárias ou congénitas, que são causadas pelos defeitos
genéticos, que resultam em aumento de susceptibilidade à infecção. Manifestam-se
frequentemente na infância e/ou adolescência, embora possam ser detectadas
clinicamente mais tarde, já na idade adulta.
Doenças adquiridas ou secundárias não são herdadas, são consequência de
desnutrição, cancro, tratamento imunossupressor ou infecção das células do sistema
imunológico, principalmente com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o agente
etiológico da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Este capítulo descreve
os principais tipos de imunodeficiências congénitas e adquiridas, com ênfase na sua
patogenia e nos componentes do sistema imunológico que estão envolvidas nestes
processos. O HIV/SIDA é abordado noutro capítulo.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA IMUNODEFICIÊNCIA
1- A principal consequência da imunodeficiência é um aumento da
susceptibilidade à infecção. A natureza da infecção num paciente em
particular depende em grande parte de componente do sistema imunológico
que está com defeito (Tabela 1). Imunidade humoral deficiente normalmente
resulta em aumento da susceptibilidade à infecção por bactérias encapsuladas
e purulentas e alguns vírus, enquanto os defeitos na imunidade mediada por
células levam à infecção por vírus e outros micróbios intracelulares. As
deficiências combinadas (humoral + mediada por células) tornam os
pacientes susceptíveis à infecção por todas as classes de microrganismos
(maioritariamente oportunistas).
125
2- Pacientes com imunodeficiências também são susceptíveis a certos tipos de
cancro. Muitas destas patologias parecem ser causadas por vírus oncológicos,
como vírus Epstein-Barr. O aumento da incidência de cancro é mais
frequentemente visto em imunodeficiências de células T, porque as células T
desempenham um papel importante na vigilância contra vírus oncológicos e os
tumores que causam.
3- Paradoxalmente, certas imunodeficiências estão associadas com um aumento
da incidência de auto-imunidade. O mecanismo subjacente a esta
associação não é conhecido.
4- Imunodeficiência pode resultar de defeitos nos linfócitos em
desenvolvimento/activação ou de defeitos nos mecanismos efectores da
imunidade inata e adaptativa. Imunodeficiências são clinicamente e
patologicamente heterogéneas, em parte porque diferentes doenças
envolvem diferentes componentes do sistema imunológico do sistema.
5- As imunodeficiências congénitas podem englobar ainda defeitos nos
componentes do sistema imunológico inato.
IMUNODEFICIÊNCIAS CONGÉNITAS (PRIMÁRIAS)
Em diferentes imunodeficiências congénitas, o causador da anormalidade pode
estar em componentes do sistema inato, em diferentes estágios de desenvolvimento
de linfócitos ou nas respostas de linfócitos maduros para estimulação AG.
Anormalidades hereditárias relacionadas com imunidade inata (mais comuns)
afectam o complemento ou fagócitos. Anormalidade no desenvolvimento linfocitário
pode ser causada por mutações em genes que codificam uma variedade de
moléculas, incluindo enzimas, proteínas de transporte, e factores de transcrição.
126
Anormalidades no desenvolvimento de linfócitos B e na produção de
anticorpos deficientes são diagnosticados por níveis reduzidos de imunoglobulinas
séricas (Ig) e de células B na circulação ou tecidos linfóides, células plasmáticas
ausentes nos tecidos, anticorpos defeituosos, respostas à vacinação.
Anormalidades na maturação dos linfócitos T e funcionamento da imunidade
mediada por células deficientes também pode resultar na produção de anticorpos
reduzida. Imunodeficiências primárias de células T são diagnosticadas por: redução do
número de células T no sangue periférico, resposta fraca de proliferação de linfócitos T
de sangue perante activadores policlonais tais como fitohemaglutinina, de
hipersensibilidade cutânea tardia (DTH) perante reacções aos AG microbianos, como
Candida.
As Imunodeficiências primárias são então causadas por mutações hereditárias
nos genes de codificação de componentes do sistema imune inato ou em genes
necessários para o desenvolvimento de linfócitos e activação.
DEFEITOS NA IMUNIDADE INATA
Imunidade inata constitui a primeira linha de defesa contra organismos
infecciosos. Dois mediadores importantes da imunidade inata são fagócitos e
complemento, ambos participantes nas fases efectoras de imunidade adaptativa.
Portanto, distúrbios congénitos de fagócitos e do sistema complemento resultam em
infecções recorrentes.
Deficiências foram descritas na cascata clássica e alternativa do sistema
complemento, bem como em via da lectina. Eles geralmente apresentam-se com
infecções bacterianas recorrentes, principalmente por bactérias encapsuladas e
também espécies de Neisseria, e muitas vezes também contribuem para a
susceptibilidade a doenças auto-imunes, particularmente sistémica lupus
eritematoso.
Exemplos de distúrbios congénitos do fagócito (Tabela 20-2) e defeitos
hereditários nas vias Toll-like receptor (TLR) e IL-12/IFN-γ. Defeitos de fagócitos em
geral resultam em infecções da pele, abcessos orais, estomatite e tracto respiratório
causadas pelas bactérias ou fungos (Aspergillus e Candida). Defeitos na sinalização
TLR e na sinalização interferão tipo I pode contribuir para infecções recorrentes
piogénicas, bem como infecções virais graves. Defeitos de IL-12 e IFN-γ são ligados
à susceptibilidade aos patogénicos intracelulares, em particular infecções por
micobactérias.
127
DEFEITO MICROBICIDA DA ACTIVIDADE FAGOCÍTICA: DOENÇA
GRANULOMATOSA CRÓNICA
A Doença granulomatosa crónica (CGD) é causada por mutações em
componentes da oxidase de fagócitos (phox) do complexo enzimático. É uma doença
rara, estimada para afectar cerca de 1 em 1 milhão de indivíduos nos Estados Unidos.
Cerca de dois terços dos casos mostram um padrão recessivo ligado ao X, e o
restante é autossómico recessivo. Forma mais comum da doença ligada ao X é
causada por uma mutação no gene que codifica gene 91 kD subunidade α, citocromo
b558, uma proteína de membrana integral também conhecida como phox-91.
Mutações noutros componentes do complexo phox contribuem para variante
autossómica recessiva da CGD. Defeito na produção de oxigénio reactivo resulta
numa falha de destruição os micróbios fagocitados. A doença é caracterizada por
infecções recorrentes com bactérias e fungos catalase positivos, geralmente desde a
infância. Os casos mais problemáticos de CGD são precisamente por infecções com
organismos que produzem catalase, que destrói peróxido de hidrogénio microbicida,
proveniente por sua vez do superóxido de oxigénio residual reactivo das células
hospedeiras.
As infecções não são controladas por fagócitos, por isso elas estimulam
respostas imunes mediadas por células - activação de macrófagos mediada por
células T e formação de granulomas compostos por macrófagos activos. Estes tentam
limitar ou eliminar os micróbios, apesar do defeito na produção de espécies reactivas
de oxigénio. Esta aparência histológica é a base para o nome da doença, que
frequentemente é fatal, mesmo com antibioticoterapia agressiva.
A citocina interferon-γ (IFN-γ) aumenta a transcrição do gene que codifica
phox-91 e também estimula outros componentes do complexo da enzima oxidase de
fagócitos. Portanto, IFN-γ estimula a produção de superóxido por neutrófilos normais,
128
bem como por neutrófilos CGD, especialmente nos casos em que a codificação da
parte do gene phox-91 está intacta, mas a sua transcrição é reduzida. IFN-γ terapia é
muito utilizada para o tratamento de X-linked CGD.
DEFICIÊNCIAS NA ADESÃO DE LEUCÓCITOS
As deficiências de adesão leucocitária são um grupo de hereditariedade
autossómica recessiva, causadas por defeitos em leucócitos e moléculas de
adesão endotelial. Estas doenças são caracterizadas por uma falha de leucócitos,
principalmente neutrófilos, recrutamento para locais de infecção, resultando em
periodontite severa e outras infecções recorrentes que surgem desde início da vida e
da incapacidade para fazer pus. Diferentes tipos de deficiências de adesão de
leucócitos são causados por mutações em genes diferentes.
Tipo 1 de deficiência de adesão dos leucócitos (LAD-1) é uma desordem rara
autossómica recessiva caracterizada por recorrentes infecções bacterianas e fúngicas,
que também prejudica cicatrização de feridas. Nesses pacientes, a maioria das
funções adesivas dos leucócitos são anormais. Estas funções incluem a adesão ao
endotélio, agregação dos neutrófilos e quimiotaxia, fagocitose e citotoxicidade
mediada por neutrófilos, natural killer (NK) e linfócitos T. Base molecular do defeito é a
expressão ausente ou deficiente das integrinas β2 (heterodímeros de CD18 e CD11,
família de glicoproteínas), devido às várias mutações em gene CD18. A β2 integrinas
incluem leucócitos, funcionalmente associados aos antigénios 1 (LFA-1 ou
CD11aCD18), Mac-1 (CD11bCD18), e p150, 95 (CD11cCD18). Estas proteínas
participam na adesão de leucócitos às outras células, nomeadamente às endoteliais, e
na ligação de linfócitos T às células apresentadoras de antigénios (APCs).
Tipo 2 de deficiência de Aderência Leucocítica (LAD-2) é uma outra doença
rara que é clinicamente semelhante ao LAD-1, mas que é diferente devido aos defeitos
de integrina. Em contraste, LAD-2 resulta de uma ausência de sialil Lewis X, o
tetrasacárido ligante de carbohidrato nos neutrófilos e outros leucócitos que é
necessário para a ligação com E-selectina e P-selectina de citocinas activadas no
endotélio. Este defeito é causado por uma mutação em um GDP-fucose transportador
responsável pelo transporte de fucose no Golgi, resultando em uma incapacidade de
sintetizar sialil Lewis X. A ausência de Lewis sialil X resulta em defeito de ligação de
leucócitos ao endotélio, em ausência de leucócitos "rolling", e, portanto, em
recrutamento de leucócitos defeituosos aos locais de infecção. Esta anormalidade na
fucosilação visto em LAD-2 também contribui para um fenótipo de grupo sanguíneo
Bombay causada pela ausência de todos os grupos sanguíneos (antigénios ABO),
bem como atraso mental e outros defeitos de desenvolvimento. Fucose é uma
componente essencial do glicolipído H que forma o antigénio do núcleo em sistema
ABO.
Tipo 3 de deficiência de adesão dos leucócitos (LAD-3) envolve um defeito na
sinalização de dentro para fora e, assim, um defeito na quimiocinas induzidas por
activação integrina que é necessário aos leucócitos para ligação firme ao endotélio.
129
Num subgrupo de pacientes, é causada por mutações no gene que codifica KINDLIN-
3, que é uma proteína que se liga à cauda citoplasmática de algumas integrinas e está
envolvida na sinalização. Aumento de sangramento também é observado em
indivíduos com mutações KINDLIN-3 por causa da disfunção integrina em plaquetas.
DEFEITOS NA IMUNIDADE ADQUIRIDA
DEFEITOS EM CÉLULAS NK E OUTROS LEUCÓCITOS: SÍNDROME DE
CHÉDIAK-HIGASHI
Síndrome de Chediak-Higashi é uma doença rara e autossómica recessiva
caracterizada por infecções recorrentes por bactérias piogénicas, albinismo óculo-
cutâneo parcial e infiltração de vários órgãos por linfócitos não-neoplásicos. Os
neutrófilos, monócitos e linfócitos desses pacientes contêm lisossomas gigantes. Esta
doença é causada por mutações no gene que codifica a proteina Lyst reguladora do
tráfico lisossomal, resultando em fusão defeituosa fagossomo-lisossomal em
neutrófilos e macrófagos (causando redução da resistência à infecção), formação
defeituosa de melanossomos em melanócitos (causando albinismo), e anormalidades
lisossomais nas células do sistema nervoso (causando defeitos do nervo) e plaquetas
(levando a distúrbios hemorrágicos).
Lisossomas gigantes formam-se em neutrófilos durante a maturação destas
células a partir de precursores mielóides. Alguns destes precursores de neutrófilos
morrem prematuramente, resultando em leucopénia moderada. Neutrófilos
sobreviventes podem conter níveis reduzidos de enzimas lisossomais que
normalmente funcionam na destruição microbiana. Essas células também estão com
defeito na quimiotaxia e fagocitose, contribuindo para a sua deficiente actividade
microbicida. A função das células NK nesses pacientes é prejudicada, provavelmente
por causa de uma anormalidade nos grânulos citoplasmáticos que sustentam a
citotoxicidade. A gravidade do defeito em funcionalidade dos linfócitos T citotóxicos
(CTL) é variável entre os pacientes.
DEFEITOS EM VIAS TLR, SINALIZAÇÃO ΚB NUCLEARFACTOR E
INTERFERONS TIPO I
Os defeitos hereditários em respostas TLR-dependente são raros e têm sido
reconhecidos apenas recentemente. A sinalização principal, proveniente da via da
maioria dos TLRs, bem como do receptor de interleucina-1 (IL-1R), envolve o MyD88 r
e o IRAK-4 e IRAK-1 quinases. Esta via resulta em κB nuclear factor (NF-kB)
indução-dependente de citocinas pró-inflamatórias. TLR 3, 7, 8 e 9 reconhecem ácidos
nucléicos, que são localizados em endossomas, e requerem uma proteína chamada
UNC93B para a sua função.
130
UNC93B é uma proteína de membrana do retículo endoplasmático que
interage com TLRs endossomais quando eles são sintetizados no retículo
endoplasmático e que ajuda fornecer esses TLRs aos endossomas. A proteína
UNC93B também é crítica para a sinalização do ácido nucleico específico SITL.
Sinalização TLRs endossomais resulta em síntese e secreção de interferons do tipo I.
Defeitos na sinalização TLR tendem a ter um fenótipo bastante circunscrito.
Infecções bacterianas invasivas graves no início da vida, especialmente
doença pneumocócica, são observadas em indivíduos com mutações em MyD88 e
IRAK4. Mais tarde na vida, as infecções tendem a ser menos graves. Mutações
heterozigóticas no TLR3, bem como mutações homozigóticas no UNC93B resultam
em redução de geração de interferon tipo I e susceptibilidade a herpes simplex
encephalitis. Receptores de interferon tipo I activam o factor de transcrição STAT1.
Mutações de perda de função STAT1 (que interferem com sinalização interferon)
também têm sido associadas a infecções virais graves, nomeadamente herpes
simplex encephalitis. Algumas deficiências imunológicas são causadas por defeitos
nas vias de sinalização a jusante de TLRs.
Mutações pontuais do inibidor da quinase γ κB (IKKγ), também conhecido
como factor nuclear κB - modulador essencial (NEMO), um componente do complexo
quinase IκB que é necessário para NF-kB ativação, contribuem para a condição
recessiva ligada ao X conhecida como displasia ectodérmica anidrótica com
imunodeficiência (EDA-ID). Neste distúrbio, a diferenciação de estruturas derivadas
da ectoderme é anormal, e a função imunológica é prejudicada numa série de
maneiras. Respostas a sinais de TLR, bem como os sinais CD40 são comprometidas.
Estes pacientes sofrem de infecções com bactérias encapsuladas piogénicas, assim
como com patogénicos bacterianos intracelulares, incluindo micobactérias, vírus e
fungos como Pneumocystis jiroveci. Uma hereditariedade autossómica recessiva de
EDA-ID tem sido descrita, em que uma mutação pontual no IκBα hipermórfico impede
a fosforilação, ubiquitinação e degradação de IκBα, levando à deficiência de activação
do NF-kB.
DEFEITOS NO PATHWAY IL-12/IFN-Γ
IL-12 é secretada pelas células dendríticas e macrófagos, e sinalização de IL-
12R induz a síntese de IFN-γ por células T helper, células T citotóxicas e células NK .
Mutações nos genes que codificam IL-12p40, cadeia IL-12Rβ1 e ambas as cadeias do
receptor de IFN γ, bem como algumas mutações em STAT1 hipomórico - todos
resultam em susceptibilidade a espécies ambientais Mycobacterium (muitas vezes
chamadas micobactérias atípicas), como o Mycobacterium avium, Mycobacterium
kansasii e Mycobacterium fortuitum. Mutações IKKγ / NEMO também levam a
susceptibilidade intracelular de patogénios, incluindo micobactérias.
131
TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA Tolerância imunológica ou auto-tolerância: ausência de resposta imunitária
agressiva a um conjunto de antigénios, num sistema imunitário imunocompetente,
induzida pela exposição prévia a esse antigénio.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA
Indivíduos normais são tolerantes aos seus antigénios porque os linfócitos que
reconhecem os antigénios do próprio são destruídos ou inactivados ou mudam
a sua especificidade.
*Uma falha na auto-tolerância reacção auto-imune doença auto-imune
A tolerância é resultante do reconhecimento do antigénio por linfócitos
específicos e pode ser induzida pelo reconhecimento do antigénio durante a
vida fetal ou neonatal.
A auto-tolerância pode ser induzida em linfócitos auto-reactivos imaturos nos
órgãos linfóides primários (tolerância central) ou em linfócitos maduros em
locais periféricos (tolerância periférica).
A tolerância central ocorre porque, durante a maturação nos órgãos linfóides
primários, todos os linfócitos passam por um estágio em que o encontro com o
antigénio leva à morte celular ou à expressão de novos receptores a
antigénios ou a uma mudança nas capacidades funcionais.
A tolerância periférica ocorre quando os linfócitos maduros que reconhecem
os self antigens se tornam incapazes de responder a esses antigénios, ou são
induzidos a morrer por apoptose ou as células T maduras estão activamente
suprimidas por células T reguladoras.
A escolha entre a activação linfocitária e a tolerância é determinada pelas
propriedades dos antigénios, pelo estado de maturação dos linfócitos
antigénio-específicos, e pelos tipos de estímulos recebidos quando estes
linfócitos encontram antigénios próprios.
Antigénios
Tolerogénicos têm capacidade de induzir tolerância
Imunogénicos geram imunidade
T10: Tolerância
Data teórica de 28 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 14
Slides aulas: sim
Elaborado por: Filipa Pereira
132
Proteínas do próprio
processadas e apresentadas em associação às moléculas de MHC no timo pelas APCs
Alguns antigénios do próprio podem
ser ignorados pelo sistema
imunológico, na medida em que os
linfócitos que encontram o antigénio
podem falhar na resposta, mas
continuam viáveis e funcionais.
Antigénios estranhos na ausência
de sinais de co-estimulação podem
inibir respostas imunes pela indução
de tolerância em linfócitos
específicos.
A indução de tolerância imunológica
pode ser explorada em abordagens
terapêuticas para prevenir uma
resposta imunológica indesejável
(ex. prevenir a rejeição de órgãos,
tratamento de doenças alérgicas e
auto-imunes, prevenir reacções
imunológicas contra novos produtos
génicos utilizados nos protocolos de
terapia genica e prevenir reacções
dos pacientes com deficiência de
certas proteínas).
TOLERÂNCIA DOS LINFÓCITOS T
TOLERÂNCIA CENTRAL DAS CÉLULAS T
Selecção negativa: delecção
Durante a maturação no timo, muitas células T imaturas que reconhecem o
antigénio do próprio são eliminadas devido a 2 factores principais: presença
desse antigénio no timo, ou expressão local ou chegada pelo sangue, e a
afinidade dos TCR dos timócitos que reconhecem o antigénio.
Timócitos imaturos com receptores que tenham alta afinidade para os
antigénios do próprio TCR de sinalização em células T imaturas leva à
activação de uma proteína designada Bim desencadeia a via mitocondrial da
apoptose.
Algumas proteínas que foram consideradas restritas aos tecidos periféricos são
também expressas em células epiteliais tímicas sob o controle do gene
regulador auto-imune (AIRE).
Factor de transcrição que tem a capacidade de promover a
expressão ectópica de antigénios.
133
Deficiência de AIRE:
o APECED (autoimmune polyendocrinopathy-candidiasis-ectodermal
dystrophy)
o APS-1 (autoimmune polyendocrine syndrome-type 1): causada por
uma mutação no gene AIRE; é caracterizada por uma lesão
mediada por anticorpos e linfócitos em múltiplos órgãos endócrinos,
incluindo as paratiróides, supra-renais e ilhotas pancreáticas.
Desenvolvimento de células T reguladoras
Algumas células T CD4+ auto-reactivas que detectam o antigénio do próprio no
timo não são eliminadas, em vez disso podem diferenciar-se em células T
reguladoras.
*Deficiência da proteína AIRE não parece evitar o desenvolvimento de
células T reguladoras.
Não se sabe o que determina a escolha entre morte celular e desenvolvimento de
células T reguladoras.
TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DAS CÉLULAS T
ANERGIA (Resposta não Funcional)
Exposição das células T
CD4+ a um antigénio na
ausência de co-estimulação
ou imunidade natural pode
tornar as células incapazes
de responder a esse
antigénio.
O sinal 1 (reconhecimento do
antigénio) prolongado
isoladamente pode levar à
anergia.
A anergia resulta de alterações
bioquímicas ou genéticas que
reduzem a capacidade dos linfócitos
em responder a antigénios do
próprio.
Tolerância periférica: mecanismo pelo qual as células T maduras que reconhecem
antigénios do próprio nos tecidos periféricos se tornam capazes de responder
subsequentemente a esses antigénios
Anergia
Delecção
Supressão das células T
134
As células anérgicas mostram um bloqueio na transdução do sinal induzido
pelo TCR. Devido à expressão diminuída de TCR (talvez em virtude de
degradação aumentada) e ao recrutamento diminuído para o complexo TCR de
moléculas inibidoras como tirosinas fosfatases.
Reconhecimento do antigénio do próprio pode activar ubiquitinas ligases
celulares, as quais podem ubiquitinar proteínas TCR-associadas e dirigi-las
para degradação proteolítica em proteassomas ou lisossomas. O resultado
final é a perda destas moléculas de sinalização e activação defeituosa das
células T.
Quando as células T reconhecem antigénios do próprio podem englobar
receptores inibidores da família CD28, cuja função é terminar as respostas das
células T. Os 2 receptores inibidores cujo papel fisiológico na auto-tolerância
está mais bem estabelecido são os CTLA-4 e PD-1.
o CTLA-4 compete com o CD28 pelos co-estimuladores B7, e, assim
exclui o CD28 do local de reconhecimento da célula T (CTLA-4 liga-se
às moléculas com maior afinidade do que a CD28) e fornece sinais
inibidores que anulam os sinais desencadeados pelo TCR. As APCs
que apresentam antigénios do próprio normalmente expressam baixos
níveis de B7, sendo suficiente para envolver o receptor de alta afinidade
CDLA-4. Em contraste, os micróbios que activam as APCs levam a um
aumento da expressão de co-estimuladores B7 e CD28. A ACTL-4
controla principalmente a activação inicial de células T nos órgãos
linfóides.
o Outro receptor inibidor da família CD28 é PD-1 que reconhece dois
ligantes, designados de PD-L1 e PD-L2 (PD-L1 é expresso nas APCs e
em muitas outras células; PD-L2 principalmente nas APCs). Este
reconhecimento leva à inactivação das células T. A PD-1 é mais
importante para a limitação das respostas diferenciadas de células
efectoras nos tecidos periféricos.
Células dendríticas que são residentes nos órgãos linfóides e tecidos
podem apresentar antigénios do próprio aos linfócitos T e manter a
tolerância. As células dendríticas que são activadas por micróbios são as
principais APCs para a iniciação de respostas das células T, enquanto as
células dendríticas em repouso podem ser tolerogénicas.
SUPRESSÃO DOS LINFÓCITOS AUTO-REACTIVOS PELAS CÉLULAS T REGULADORAS
Os linfócitos T reguladores são um subconjunto de células T CD4+ cuja
função é suprimir respostas imunes e manter a auto-tolerância. A maioria
destes linfócitos T reguladores CD4+ expressa altos níveis do receptor à IL-2,
mas não outros marcadores de activação de células T.
Um factor de transcrição chamado FoxP3, um membro da família forkhead de
factores de transcrição, é essencial para o desenvolvimento e função da
maioria das células T reguladoras.
Ratos com mutação no gene forp3 e ratos com o gene knockout
desenvolveram uma doença auto-imune multisistémica associada a uma
ausência de células T reguladoras CD25+.
135
IPEX (desregulação imune, poliendocrinopatia, enteropatia, síndrome ligada ao
cromossoma X) são doenças auto-imunes raras que atingem humanos e estão
associadas com a deficiência de células T reguladoras e é causado por mutações no
gene FOXP3.
Marcadores fenotípicos e heterogeneidade das células T reguladoras
Apesar de terem sido descritas numerosas populações de células T com actividade supressora, o tipo de célula cujo papel regulador é melhor estabelecido é CD4+ FoxP3+ CD25high. Geração e manutenção de células T reguladoras
As células T reguladoras são geradas principalmente pelo reconhecimento de antigénios do próprio no timo e pelo reconhecimento de antigénios do próprio e estranhos em órgãos linfóides periféricos.
136
A geração e sobrevivência das células T reguladoras está dependente das citocinas TGF- β (estimula a expressão de FoxP3, o factor de transcrição que impulsiona a diferenciação da linhagem das células T reguladoras) e IL-2 (promove a diferenciação das células T no subconjunto de reguladoras e é necessária para a sobrevivência e manutenção desta população de células; activa o factor de transcrição STAT5 pode aumentar a expressão de FoxP3).
Mecanismos de acção das células T reguladoras
Produzem IL-10 e TGF-β (ambos inibem as respostas imunes)
Inibem a capacidade das APCs estimularem as células T, dependente de CTLA-4.
Consumo de Il-2 menos citocina para linfócitos células T não se desenvolvem
TGF-β (Transforming Growth Factor-B)
TGF-β1 é uma proteína sintetizada e secretada pelas células T reguladoras CD4+, macrófagos activados e muitos outros tipos celulares. É sintetizada como um precursor inactivo que é proteoliticamente clivada no complexo de Golgi e forma um homodímero que é secretado de forma latente em associação com outros polipeptídeos, que devem ser removidos extracelularmente por digestão enzimática antes da citocina poder ligar-se aos receptores e exercer os seus efeitos biológicos. O receptor TGF-β1 tem duas proteínas diferentes, o TGF-βRI e TGF-βRII, ambos com factores de transcrição fosforilatos chamados SMADs. Funções do TGF-β:
Inibe a proliferação e as funções efectoras das células T e a activação dos macrófagos.
Regula a diferenciação da funcionalidade de distintos subconjuntos de células T
Estimula a produção de anticorpos IgA pela indução de células B para alterar este isotipo
Promove a reparação de tecidos após a diminuição de reacções imunes e inflamatórias locais
IL-10
A IL-10 é um inibidor de macrófagos activados e células dendríticas. O receptor da IL-10 consiste em 2 cadeias, que associam a família de cinases Janus JAK1 e TYK2 e activa o STAT3. Funções da IL-10:
IL-10 inibe a produção de IL-12 (estímulo fundamental para a secreção de IFN-Y) pela activação de células dendríticas e macrófagos
IL-10 inibe a estimulação de co-estimuladores e moléculas da classe MHC-II em células dendríticas e macrófagos
137
DELECÇÃO DE CÉLULAS T POR MORTE CELULAR APOPTÓTICA
Os linfócitos T que reconhecem antigénios do próprio sem inflamação ou
que são repetidamente estimulados por antigénios morrem por apoptose.
A morte apoptótica pode ser induzida por duas vias bioquímicas:
Via mitocondrial (intrínseco)
É regulada pela família de proteínas Bcl-2 (anti-apoptóticas) e podem ser
divididas em 3 grupos:
-Proteínas anti-apoptóticas de múltiplos domínios (como Bcl-2 e Bcl-X)
-Proteínas pró-apoptóticas de multidomínios (como Bax e Bak)
-Proteínas “BH-3-only” de domínio único (sensores de vários stresses).
Sinalização celular, crescimento dos factores de privação, estímulos nocivos ou
lesão do DNA Proteínas BH3-only são induzidas ruptura da integridade
mitocondrial:
o Sinalização de BCR/TCR Bim activada liga-se às proteínas pró-
apoptóticas Bax e Bak no citoplasma, mudam de conformação,
oligomerizam-se, translocam-se para a membrana mitocondrial externa
e geram um aumento na permeabilidade mitocondrial.
o Também podem ligar-se e inibir proteínas anti-apoptóticas na
membrana mitocondrial externa
Perda de integridade da membrana mitocondrial libertação de alguns
indutores de apoptose mitocondrial como o citocromo c activação de
caspases citoplasmáticas, como a caspase-9 morte por apoptose
Via do
receptor de morte (extrínseco)
Diversos receptores de superfície celular da família dos TNF podem ligar-se
aos seus receptores fisiológicos (FasL com Fas) e induzir a activação da
caspase-8 que leva à indução da apoptose e pode amplificar o sinal através de
uma proteína BH3-only pró-apoptótica chamada Bid.
138
As células T que reconhecem antigénios do próprio na ausência de co-
estimulação podem activar Bim, resultando em apoptose pela via
mitocondrial.
Estimulação repetida das células T resulta na co-expressão de receptores
de morte e os seus ligantes, e o empenho dos receptores de morte
desencadeia morte apoptótica. Nas células T CD4+, o receptor de morte
relevante é chamado Fas (CD95) e o seu ligante é ligante de faz (FasL). Fas é
um membro da família de receptores ao factor de necrose tumoral (TNF), e
FasL é homólogo à citocina TNF. Quando as células T são repetidamente
activadas, FasL é expresso na superfície celular e liga-se ao Fas de superfície
na mesma célula ou em células T adjacentes. Isto activa as caspases que
causam apoptose das células.
TOLERÂNCIA PERIFÉRICA EM LINFÓCITOS CD8+
Muito pouco se sabe sobre os mecanismos de tolerância de células T CD8+ maduras, mas é possível que se reconhecerem os peptídeos associados ao MHC-II sem co-estimulação, imunidade natural ou células T auxiliares, estas células poderão tornar-se anérgicas. Células T CD25+ reguladoras podem inibir directamente a activação das células T CD8+. Células T CD8+ que são expostas a altas concentrações de antigénios do próprio também podem sofrer morte celular apoptótica.
FACTORES QUE DETERMINAM O GRAU DE TOLERÂNCIA DOS ANTIGÉNIOS DO PRÓPRIO
TOLERÂNCIA DOS LINFÓCITOS B Necessária para manter a a ausência de resposta aos antigénios do próprio timo-
independentes, como os polissacarídeos e os lípidos.
TOLERÂNCIA CENTRAL DAS CÉLULAS B
Os linfócitos B imaturos que reconhecem os antigénios do próprio com alta
afinidade na medula óssea são eliminados ou mudam a sua especificidade.
Edição do receptor
139
Se as células B imaturas reconhecem os antigénios do próprio presentes em
altas concentrações na medula óssea e especialmente se o antigénio é exibido
de forma multivalente (p. ex., na superfície das células), as células B
respondem com a reactivação dos seus genes RAG1 e RAG2 e iniciam uma
nova etapa de recombinação VJ no locus do gene da cadeia leve da
imunoglobulina (Ig), adquirindo uma nova especificidade.
Delecção
Se a edição falhar em eliminar a auto-reactividade, as células B podem ser
delectadas.
Anergia
Reconhecimento mais fraco dos antigénios do próprio pode levar à inactivação
funcional em vez de morte celular.
TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DAS CÉLULAS B
Os linfócitos B maduros, que reconhecem antigénios do próprio nos tecidos
periféricos na ausência de células T auxiliares específicas, podem-se tornar
funcionalmente sem resposta ou morrer por apoptose.
Anergia e delecção
As células B auto-reactivas necessitam de altos níveis do factor de crescimento
BAFF/BLys para sobreviver e não podem competir eficientemente com as
células B naïve normais menos BAFF-dependente para a sobrevivência nos
folículos linfóides. Assim, as células B auto-reactivas têm um tempo de vida
reduzido e são rapidamente eliminadas.
As Células B que se ligam com alta avidez a antigénios do próprio na periferia
também podem sofrer morte apoptótica pela via mitocondrial independente da
dependência do factor de crescimento.
Se as células B anérgicas encontrarem quaisquer células T auxiliares
antigénio-específicas, as células B podem ser destruídas por FasL nas células
T que atraem Fas nas células B.
Sinalização por receptores inibitórios
Receptores inibitórios: receptor inibitório Fcy, FcyRII, a proteína contendo ITIM
fosfatase-associada CD22 e algumas tirosina cinases.
TOLERÂNCIA INDUZIDA POR ANTIGÉNIOS PROTEICOS
ESTRANHOS Os antigénios estranhos podem ser administrados de modo que induzem
preferencialmente tolerância em vez de respostas imunológicas:
Altas doses do antigénio administradas de forma sistémica, sem adjuvante, tendem a
induzir tolerância. Os adjuvantes estimulam as respostas imunológicas naturais e a
expressão dos co-estimuladores nas APCs, e na ausência desses sinais secundários,
as células T que reconhecem os antigénios podem tornar-se anérgicas ou morrer.
140
Tolerância oral: a administração oral de um antigénio proteico frequentemente induz
acentuada supressão das respostas imunológicas sistémicas celulares e humorais à
imunização pelo mesmo antigénio.
Algumas infecções sistémicas (p. ex. com vírus) podem iniciar uma resposta imune,
mas a resposta é comprometida antes de o vírus ser eliminado, resultando num estado
de infecção persistente.
Exaustão clonal: os clones de células T com o vírus específico estão presentes mas
não respondem normalmente e são incapazes de erradicar a infecção.
Há alguma evidência de que a exaustão clonal é devida à sub-regulação de receptores
inibitórios tais como as PD-1 sobre as células T CD8+ com o vírus específico.
Quadro resumo com os mecanismos que mantêm o estado de tolerância
*baseado de acordo com os slides das teóricas
Ignorância – “perigo/danger”
Pauline Matzinger: “não somos tolerantes nem deixamos de o ser”, apenas respondemos a “danger”, à inflamação.
Privilégio
Zonas do organismo protegidas da acção do sistema imunitário. Ex. locais imuno-previlegiados: placenta, globo ocular Enzima indoleamina-2,3-desoxigenase (IDO), degrada o triptofano (presente em grandes quantidades na placenta). Os linfócitos precisam de capturar triptofano do meio para conseguir proliferar e activar-se. Esta enzima consegue sugar todo o triptofano que existe naquele ambiente e na ausência de triptofano os linfócitos não vão conseguir activar-se naquele local. Heme oxigenase 1 (HO-1) degrada o heme e produz alguns subprodutos que têm propriedades imunosupressoras. TGF-β e o ligando FAS vão actuar em diferentes componentes do Sistema Imunitário, induzindo uma ausência de resposta imunitária, protegendo o tecido dessa infecção.
Tumores: produção elevada de TGF- β no seu ambiente proliferação sem ser destruído pelo Sistema Imunitário
Anergia
Estado que os linfócitos adquirem passando a ser refractários a mais estimulação.
“Immune deviation”
As células CD4+ influenciadas por diferentes citocinas vão acabar por diferenciar-se em funções efectoras distintas que conduzem a diferentes características funcionais e diferentes propriedades.
Células T reguladoras
Produzidas no timo quando reconhecem antigénios do próprio. Mais tarde, na periferia, são capazes de suprimir respostas imunitárias quando são activadas por esse antigénio.
Eliminação clonal Selecção negativa no timo.
141
*Hipersensibilidade
Capítulos do Abbas: 18, 19 Capítulos do Arosa: 17 Slides aulas: não
Elaborado por: Helena Couto
HIPERSENSIBILIDADE
Hipersensibilidade é uma designação abrangente para os distúrbios causados pelas
respostas imunitárias. Podem dever-se, por exemplo, a um controlo inadequado, a
adopção de tecidos-alvo errados ou a antigénios ambientais que habitualmente seriam
inofensivos.
Na generalidade, são causadas por:
auto-imunidade;
reacções contra micróbios (se a reacção imunitária for excessiva ou o micróbio persistir, por exemplo), englobando processos de inflamação severa, deposição de complexos imunes, ligação cruzada de anticorpos destinados a um antigénio non-self, reacção contra microorganismos comensais;
reacções contra antigénios ambientais, com produção exagerada de IgE.
Em todas as reacções hipersensíveis, os mecanismos responsáveis pela lesão
tecidual serão aqueles que normalmente funcionariam na eliminação de patogénios
infecciosos: imunidade inata, linfócitos T, várias outras células efectoras, mediadores
da inflamação… O problema surge quando estes mecanismos são activados ou
mantidos de forma inapropriada.
Este tipo de distúrbios torna-se ainda mais complicado se pensarmos que o estímulo
destas respostas imunitárias anormais é bastante difícil de ser eliminado (antigénios
self, micróbios comensais, antigénios ambientais…). Então, como o sistema imunitário
inclui diversos mecanismos de amplificação (feedback positivo), quando uma resposta
imunitária é iniciada, é difícil controlá-la ou fazê-la terminar. Por essa razão, este tipo
de doenças tende a ser crónica e progressiva, representando grandes desafios na
prática clínica.
CLASSIFICAÇÃO DE REACÇÕES HIPERSENSÍVEIS
Com base no tipo de resposta imunitária e mecanismos efectores responsáveis pelas
lesões celulares e teciduais, surgiu uma classificação das reacções hipersensíveis em
4 grupos principais.
142
HIPERSENSIBILIDADE TIPO I Hipersensibilidade imediata. Diz respeito à produção de IgE específicos para
antigénios ambientais e mastócitos. Tipo de hipersensibilidade mais prevalente. As
alergias são as doenças protótipo deste grupo.
HIPERSENSIBILIDADE TIPO II Causada por IgM e IgG: ao activarem o sistema complemento, recrutarem células
inflamatórias e interferirem com funções celulares normais promovem a lesão tecidual.
Estes anticorpos podem ser específicos para antigénios em determinado tipo de
células ou na matriz extracelular e podem ser encontrados ligados a esses antigénios
ou em circulação.
HIPERSENSIBILIDADE TIPO III Envolve os mesmos mecanismos que a anterior mas diz respeito à formação e
deposição de complexos imunes. Esta deposição ocorre maioritariamente nos vasos
sanquíneos.
HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV Causada por linfócitos T, que induzem a inflamação através da secreção de citocinas
(que, por sua vez, recrutam outros leucócitos, sobretudo neutrófilos e macrófagos) ou
que matam directamente células-alvo. Células T helper também estimulam a produção
de anticorpos que lesionam os tecidos e induzem inflamação. Em algumas doenças,
há envolvimento de CTLs.
Este tipo de classificação, embora seja útil para distinguir o tipo de resposta imunitária,
não é, na realidade, muito útil na prática clínica. As doenças são complexas e
frequentemente envolvem uma combinação de respostas imunitárias humorais e
celulares, assim como diversos mecanismos efectores (é fácil pensarmos que assim é,
se um único antigénio consegue estimular normalmente respostas humorais e
celulares, produzindo-se vários tipos de anticorpos e células T efectoras). Além dos
diversos mecanismos envolvidos, a inflamação está muitas vezes associada, pelo
que, frequentemente, estas doenças são apenas agrupadas sobre a designação de
doenças imunitárias inflamatórias (immune-mediated inflammatory diseases).
Considerar este conjunto de doenças num só grupo tem algum valor clínico, já que
muitas delas são tratadas com os mesmos ou semelhantes agentes biológicos.
As explicações seguintes são baseadas numa divisão mais abrangente:
Doenças causadas por anticorpos (tipo II, III)
Doenças causadas por anticorpos contra antigénios celulares ou teciduais fixos
Doenças causadas por complexos imunes
Doenças causadas pró linfócitos T (tipo IV)
Doenças causadas por inflamação mediada por citocinas
Doenças causadas por CTLs
Doenças alérgicas (tipo I)
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DOENÇAS CAUSADAS POR
ANTICORPOS
As doenças causadas por anticorpos podem dever-se à ligação a antigénios fixos em
células ou tecidos extracelulares ou à formação e deposição de complexos imunes.
DOENÇAS CAUSADAS POR ANTICORPOS CONTRA ANTIGÉNIOS
CELULARES/EXTRACELULARES
Afectam especificamente as células ou tecidos com um determinado tipo de antigénio,
ou seja, geralmente não são sistémicas.
Existem 3 mecanismos de acção principais:
1. OPSONIZAÇÃO CELULAR
DOENÇAS CARACTERÍSTICAS:
Antigénios-
alvo Mecanismos efectores
Manifestações clínicopatológicas
Anemia hemolítica auto-imune Proteínas da membrana eritrocitária
Opsonização e fagocitose dos eritrócitos; lise mediada pelo complemento
Hemólise Anemia
Púrpura trombocitopénica auto-imune
Proteínas na membrana paquetária
Opsonização e fagocitose de plaquetas
Hemorragia
O mesmo mecanismo é responsável pela hemólise em reacções de transfusão.
2. RECRUTAMENTO DE NEUTRÓFILOS E MACRÓFAGOS
144
DOENÇA CARACTERÍSTICA
Glomerulonefrite mediada por anticorpos (activação leucocitária + inflamação)
3. INTERFERÊNCIA COM RECEPTORES OU OUTRAS PROTEÍNAS
Anticorpos que se liguem a receptores celulares ou outras proteínas podem interferir
com as suas funções normais, causando doença sem inflamação ou lesão tecidual.
DOENÇAS CARACTERÍSTICAS
Antigénios-
alvo Mecanismos efectores
Manifestações clínicopatológicas
Doença de Graves Receptor de TSH
Estimulação dos receptores pelos anticorpos
Hipertiroidismo
Mistenia gravis Receptores colinérgicos
Anticorpos impedem ligação de acetilcolina; down-regulation dos receptores
Fraqueza muscular Paralisia
Geralmente, os anticorpos causadores destas doenças são produzidos como parte de
uma reacção auto-imune contra antigénios nessas células ou tecidos. Mas, menos
frequentemente, estes anticorpos podem ser produzidos contra um antigénio non-self,
microbial, por exemplo, e dá-se uma reacção cruzada imunológica com algum
antigénio self. A febre reumática é um exemplo deste mecanismo, sendo uma sequela
rara de infecção por Streptococcus pyogenes – os anticorpos produzidos contra a
bactéria ligam-se também a antigénios presentes no coração, depositam-se e causam
inflamação e lesão do tecido.
DOENÇAS MEDIADAS POR COMPLEXOS IMUNES
Os complexos imunes que causam doença podem ser formados por anticorpos que se
ligam a antigénios self ou a antigénios non-self. É importante entender que a formação
de complexos imunes não constitui um fenómeno patológico! Os complexos antigénio-
anticorpo formam-se durante uma resposta imunitária normal e são eliminados da
circulação por macrófagos no fígado e do baço. A doença surge apenas quando estes
são produzidos em quantidade excessiva, ou quando não são eliminados de forma
eficiente, e se depositam nos tecidos.
145
À medida que maior quantidade de anticorpos se forma, alguns deles depositam-se
nos leitos vasculares. Nestes tecidos, os anticorpos presentes nestes complexos
podem então activar o complemento: A activação do complemento conduz ao
recrutamento e activação de células inflamatórias (sobretudo neutrófilos) nos
locais de deposição – estes neutrófilos vão causar lesão tecidual, depois de se
ligarem aos complexos imunes pelos seus receptores de Fc.
Estas doenças afectam geralmente vários tecidos e órgãos, embora alguns possam
ser particularmente vulneráveis, como os rins e as articulações.
As características patológicas das doenças vão reflectir o local de deposição dos
complexos e são independentes do facto de o antigénio ser self ou non-self. Então,
como os complexos têm tendência para se depositar em artérias pequenas, nos
glomérulos renais ou na sinovial das articulações, as manifestações clínico-patológicas
são frequentemente vasculite, nefrite e artrite.
O protótipo de doença sistémica causada pela deposição de complexos imunes é a
doença do soro.
A maioria dos conhecimentos acerca deste tipo de doenças provém de modelos
experimentais de doença do soro, em que animais são imunizados com uma grande
quantidade de antigénio estranho. Mas, nestes casos, o quadro clínico vai ser
característico de uma doença do soro aguda – os sintomas têm curta duração e as
lesões são reparadas a não ser que o antigénio seja injectado novamente.
A quantidade de complexos que se deposita nos tecidos depende da natureza dos
complexos e das características dos vasos sanguíneos.
FACTORES QUE INFLUENCIAM A DEPOSIÇÃO:
Dimensão dos complexos Os complexos de pequenas dimensões tendem a depositar-se mais nos vasos do que
os complexos maiores, já que estes são frequentemente eliminados por fagócitos, ao
contrários dos anteriores, que sofrem menos fagocitose.
Carga eléctrica dos antigénios Os complexos com antigénios catiónicos ligam-se avidamente às membranas basais
dos vasos sanguíneos e dos glomérulos renais (carregadas negativamente). Estes
complexos geralmente provocam lesão tecidual prolongada e severa.
146
Filtração capilar Os capilares dos glomérulos renais e das membranas sinoviais são capilares onde o
plasma é ultrafiltrado (para a formação de urina e líquido sinovial, respectivamente),
passando pela parede capilar com uma pressão hidrostática muito elevada. Estes são
locais onde a deposição se verifica frequentemente, embora esta possa ocorrer em
virtualmente todo o lado.
Os complexos imunes também se podem ligar aos receptores de Fc nos mastócitos e
nos leucócitos e activar a secreção de citocinas e mediadores vasoactivos. Por sua
vez, estes mediadores podem provocar ainda maior deposição ao aumentar a
permeabilidade vascular e o fluxo sanguíneo.
Muitas doenças sistémicas imunitárias são causadas pela deposição de complexos
imunes nos vasos sanguíneos.
Exemplos mais comuns:
Lúpus Sistémico Eritrematoso
Várias formas de nefrite e vasculite
Glomerulonefrite pós-estréptocócica
DOENÇAS CAUSADAS POR CÉLULAS
T
Os linfócitos T podem causar doença provocando inflamação ou matando
directamente células-alvo.
DOENÇAS CAUSADAS POR INFLAMAÇÃO MEDIADAS POR
CITOCINAS
Na inflamação mediada pelo sistema imunitário, células TH1 e TH17 secretam citocinas
que recrutam e activam leucócitos.
A IL-17, produzida por células TH17, promove o recrutamento de neutrófilos.
complexos imunes ligam-se a receptores de Fc os mastócitos
e leucóitos
activação da secreção de citocinas e
mediadores vasoactivos
aumento da permeabilidade vascular e fluxo
sanguíneo
deposição de complexos imnunes
Inflamação
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O interferão-γ (IFN- γ), produzido por células TH1 activa os macrófagos.
O factor de necrose tumoral (TNF) e quimocinas, produzidas por linfócitos T e por
outras células, também estão envolvidos no recrutamento e activação de muitos tipos
de linfócitos.
As lesões teciduais vão ser o resultado dos produtos dos neutrófilos e macrófagos
activados (enzimas lisossomais, espécies reactivas de oxigénio, óxido nítrico, citocinas
pró-inflamatórias…).
As células do endotélio vascular nas zonas lesadas podem depois expressar níveis
aumentados de proteínas de superfície cuja regulação depende de citocinas, por
exemplo, moléculas de adesão e moléculas MHC II, que agrava o processo de
recrutamento.
A inflamação associada a doenças mediadas por células T é geralmente crónica, mas
podem verificar-se episódios de inflamação aguda já num contexto de uma inflamação
crónica de fundo. Reacções inflamatórias crónicas geralmente produzem fibrose como
resultado da secreção de citocinas e factores de crescimento pelos macrófagos.
ANTIGÉNIOS SELF OU NON-SELF?
Muitas doenças auto-imunes específicas para determinados órgãos são causadas pela interacção de células T auto-reactivas com antigénios self, causando a libertação de citocinas e inflamação.
Pensa-se que este seja o principal mecanismo por detrás da artrite reumatóide,
esclerose múltipla, diabetes tipo I e psoríase.
As reacções das células T contra os micróbios e outros antigénios non-self também podem causar inflamação e lesão tecidual nos locais de infecção ou de exposição ao antigénio.
Bactérias intra-celulares, por exemplo Mycobacterium tuberculosis, produzem fortes
respostas por células T e macrófagos que resultam em inflamação granulomatosa e
fibrose. A inflamação e a fibrose podem causar destruição extensiva do tecido e
prejuízo da funcionalidade (neste caso nos pulmões). A tuberculose é um bom
exemplo de uma doença infecciosa em que a lesão tecidual é devida sobretudo à
resposta imunitária do hospedeiro.
148
SENSIBILIDADE POR CONTACTO
Existe um conjunto de doenças da pele que resultam da exposição tópica a químicos e
antigénios ambientais - sensibilidade por contacto. Estas devem-se a reacções
inflamatórias, presumivelmente despoletadas por neoantigénios formados pela
ligação dos químicos a proteínas self. Na origem destas citocinas poderão estar
células CD4+ e CD8+. Como exemplo, temos reacções de sensibilidade a certas
plantas.
Quando este tipo de reacção se torna crónica é utilizada a designação clínica de
eczema.
DELAYED-TYPE HYPERSENSITITIVITY
A reacção protótipo das reacções inflamatórias mediadas por células T é a delayed-
type hypersensitivity (DTH). As citocinas responsáveis pela inflamação resultam da
activação de célula T – sobretudo CD4+.
O modelo clássico de uma reacção deste tipo, num modelo animal, envolve várias
etapas:
Sensitização – o animal é imunizado com antigénio proteico.
Em humanos esta etapa pode ocorrer através de infecção microbial, sensitização por contacto com químicos ou antigénios ambientais, ou injecções intra-dérmicas ou subcutâneas com antigénios proteicos.
Elicitação – Cerca de duas semanas depois, o animal é exposto ao mesmo antigénio,
subcutaneamente.
Desafio – exposição posterior ao antigénio; despoleta a reacção.
Por exemplo, a PPD (purified protein derivative), um antigénio proteico da Mycobacterium tuberculosis, despoleta uma reacção DTH, conhecida reacção da tuberculina, quando é injectada em indivíduos que estiveram expostos à bactéria. Um resultado positivo é um indicador clínico muito utilizado para provar uma infecção de turberculose anterior ou presente.
A resposta típica evolui durante 24 a 48 horas.
o Cerca de 4 horas depois da injecção de antigénio, os neutrófilos acumulam-se em redor das vénulas pós-capilares no local de injecção.
o Cerca de 12 horas depois, o local de injecção é infiltrado por células T e monócitos provenientes do sangue, também em redor das vénulas adjacentes. As células edoteliais destas vénulas tornam-se inchadas, apresentam organelos aumentados e tornam-se mais permeáveis a macromoléculas do sangue. O fibriogénio sai dos vasos sanguíneos para os tecidos, onde é convertido a fibrina. A deposição da fibrina, e a acumulação de células T e monócitos no espaço extravascular em redor do local de injecção provocam inchaço do tecido. Este torna-se fime – induração.
o A induração é um factor de diagnóstico de uma reacção DTH – é detectável cerca de 18 horas depois da injecção do antigénio e é máxima cerca de 24 a 48 horas depois.
149
Na prática clínica, este tipo de reacções são importantes, pois uma perda de respostas
DTH a antigénios universais (por exemplo, antigénios de Candida spp.) é indicativa de
uma função deficiente de células T – condição conhecida como anergia (é diferente
da anergia linfócitária).
REACÇÕES DTH CRÓNICAS
Podem surgir quando uma infecção despoleta uma activação de macrófagos a partir
de células TH1, mas não existe uma eliminação eficiente dos micróbios fagocitados.
Nestas reacções, as células T activadas e os macrófagos continuam a produzir
citocinas e factores de crescimento, o que amplifica as respostas dos dois tipos de
células e modifica o tecido em redor.
Forma-se um ciclo de lesão tecidual e inflamação, seguidas de substituição do tecido
lesado (fibrose).
Se os micróbios estão localizados numa pequena área, a reacção que se forma
produz granulomas, que são nódulos de tecido inflamado. A inflamação
granulomatosa é uma tentativa de conter a infecção mas é também a causa de lesão
tecidual significativa. Este tipo de inflamação é característica de alguns micróbios
persistentes, como M. tuberculosis ou alguns fungos. Grande parte da dificuldade
respiratória associada à tuberculose ou infecções fúngicas deve-se à substituição do
pulmão por tecido fibroso.
DOENÇAS CAUSADAS POR CTLS
A principal função dos CTL (células T CD8+) é eliminar os micróbios intracelulares,
sobretudo vírus, matando as células infectadas. Então, mesmo que um vírus não seja
citopatogénico (prejudicial para a célula), as respostas a infecções virais podem
causar lesão tecidual ao matar células infectadas. Isto acontece porque os CTL são
incapazes de distinguir se o vírus é ou não patogénico, matando todas as células
infectadas sem selecção. Algumas formas de hepatite viral são exemplos de
infecções em que as lesões são provocadas pelos CTL do hospedeiro.
Além disso, os CTL podem contribuir para a lesão tecidual em algumas doenças auto-
imunes causadas sobretudo por células T CD4+, como a diabetes tipo I. Também
estão envolvidos em algumas formas de miocardite como resultado de infecção viral.
150
TERAPÊUTICA
As terapias utilizadas no tratamento das doenças de hipersensibilidade podem ser
divididas em alguns grupos principais.
AGENTES ANTI-INFLAMATÓRIOS Foram principal recurso durante muitos anos, sobretudo corticosteróides. Estes
fármacos reduzem a lesão tecidual, particularmente o componente inflamatório da
resposta imunitária.
ELIMINAÇÃO DE CÉLULAS E ANTICORPOS Utilizam-se anticorpos monoclonais para eliminar todas as células linfóides, só as
células T ou só as células B. O anticorpo anti-CD20 (rituximab) tem vindo a mostrar
bons resultados em pacientes com artrite reumatóide e esclerose múltipla, eliminado
apenas células B.
A plasmaferese também é utilizada na remoção de anticorpos e complexos imunes em
circulação.
TERAPIAS ANTI-CITOCINAS
Em casos de doenças inflamatórias crónicas mediadas por células T, um grande
número de citocinas envolvidas na inflamação tem sido alvo do desenvolvimento de
antagonistas.
O receptor TNF e anticorpos anti-TNF são exemplos particularmente importantes;
estes ligam-se ao TNF, neutralizando-o. São muito bem sucedidos em pacientes com
artrite reumatóide, doença de Crohn e psoríase.
Existem inúmeros ensaios na área do desenvolvimento de antagonistas de outras
citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-12, IL-23, IL-6…).
INIBIÇÃO DAS INTERACÇÕES CÉLULA-CÉLULA
Existem vários agentes aprovados ou em desenvolvimento que procuram inibir a
activação de células B e de macrófagos pelas células T (por exemplo, bloqueamento
de co-estimuladores ou outros ligandos importantes nesta etapa).
Na esclerose múltipla, são por vezes utilizados anticorpos contra integrinas, inibindo a
migração de leucócitos para os tecidos, particularmente para o SNC.
IGG INTRAVENOSA
A administração de grandes quantidades de IgG intravenosa (IVIG) é benéfica em
algumas doenças de hipersensibilidade. Não se entende completamente como é que
este agente suprime a inflamação. Uma possibilidade é a de que a IgG se ligue a
receptores de Fc inibidores nos macrófagos e linfócitos B, atenuando a resposta
inflamatória.
151
Particularmente importante entre o grande número de estudos nesta área foi a
definição de antigénios-alvo no caso da esclerose múltipla e da diabetes mellitus
tipo I. Estão em desenvolvimento ensaios clínicos que envolvem a administração de
antigénio (péptidos de mielina ou de insulina) numa forma que permita “desligar”
certas respostas imunitárias específicas. O principal risco será a possibilidade
interferência com a função normal do sistema imunitário, tornando os indivíduos
susceptíveis a infecções.
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DOENÇAS IMUNITÁRIAS IMPORTANTES
DOENÇA CARACTERÍSTICAS GERAIS PRINCIPAIS
MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS PATOGÉNESE
DIAGNÓSTICO
(EXS.) FACTORES DE RISCO NOVAS TERAPIAS
Lúpus Sistémico Eritrematoso
Doença crónica, episódios de remissão e progressão Afecta sobretudo mulheres brancas (rácio mulheres-homens 10:1)
Rashes
Artrite
Glomerulonefrite
Anemia hemolítica
Trombocitopenia
Envolvimento do SNC
Factores genéticos e ambientais conduzem a uma perda de tolerância dos linfócitos T e B auto-reactivos Produção de anticorpos contra agentes nucleares (DNA, proteínas nucleares, histonas…), plaquetas, eritrócitos… Deposição de complexos imunes
Presença de anticorpos antinucleares: anticorpos contra DNA de cadeia dupla nativo são específicos de LSE
Mutações num grande número de genes (ainda em investigação) Exposição a luz UV: pensa-se que conduza a morte apoptótica de células e libertação consequente de antigénios nucleares
Anticorpos anti-BAFF (factor de crescimento dos linfócitos B) recentemente aprovados como tratamento
Esclerose Múltipla
Doença auto-imune do SNC Doença neurológica mais comum em jovens adultos
Fraqueza
Paralisia
Sintomas oculares (com períodos de exacerbação e remissão)
Células T CD4+ (subpopulações TH1
e TH12) reagem com antigénios self mielínicos (provas em ratinhos; dedução/comparação com humanos) inflamação no SNC com activação de macrófagos em redor dos nervos no cérebro e medula espinhal, destruição de mielina, defeitos na condução nervosa, déficite neurológico Desconhece-se a importância patológica concreta dos anticorpos contra agentes mielínicos Desconhece-se a forma como as células TH1 e TH17 são activadas
Diagnóstico complexo, com base num conjunto de dados clínicos, laboratoriais e radiológicos
Predisposição genética
Terapia tem sido ao longo dos anos pouco baseada em provas científicas; fraca compreensão
Interferão-β: poderá alterar a resposta de citocinas
Novos estudos tentam interferir na migração leucocitária
153
DOENÇA CARACTERÍSTICAS GERAIS PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES
CLÍNICAS PATOGÉNESE
DIAGNÓSTIC
O (EXS.) FACTORES DE
RISCO NOVAS
TERAPIAS
Artrite Reumatóide
Doença inflamatória; envolvimento de articulações das extremidades Inflamação da sinovial Destruição de cartilagem articular e osso Participação de respostas celulares e humorais: células TH1 e TH17 CD4
+, linfócitos B activados,
plasmócitos, macrófagos e outras células inflamatórias no líquido sinovial (podem chegar a encontrar-se, em casos severos, folículos linfáticos bem formados com centros germinativos) Grande quantidade de citocinas (p. ex.: IL-1, IL-8, TNF, IL-17, IFN-γ) na sinovial
Destruição de cartilagem, ligamentos e tendões: pensa-se que as citocinas recrutam leucócitos cujos produtos destroem o tecido e activam células residentes na sinovial a produzir enzimas proteolíticas (colagenase, p. ex.)
Actividade osteoclástica aumentada devido a produção de ligando RANK por células T activadas (o receptor RANK é expresso em precursores de osteoclastos; induz a sua diferenciação e activação)
Vasculite
Lesão pulmonar
Factores genéticos e ambientais conduzem a uma perda de tolerância a antigénios self Patogénese não compreendida inteiramente As células T têm um papel muito importante; é possível que também haja envolvimento de anticorpos na destruição articular (frequentemente encontram-se células B activadas e plasmócitos na sinovial de articulações afectadas) IgM e IgG circulantes reagem com porções Fc de IgG – estes anticorpos são chamados factores reumatóides (podem participar na formação de complexos imunes; papel ainda não identificado por completo)
Presença de factores reumatóides e CCP (cyclic citrullinated peptides – surgem num contexto inflamatório
Existem polimorfismos genéticos associados a maior predisposição da doença (em investigação)
Antagonistas do TNF – muito bons resultados
Diabetes Mellitus tipo I
Doença metabólica multi-sistémica Produção insuficiente de insulina Incidência a aumentar; estabelecimento mais comum entre os 11 e os 12 anos
Hiperglicémia
Cetoacedose Complicações crónicas: - aterosclerose progressiva nas artérias (pode conduzir a necrose isquémica dos membros e órgãos internos); - obstrução microvascular (possíveis danos na retina, glomérulos renais, nervos periféricos)
Destruição pelo sistema imunitário de células β nos ilhéus de Langerhans. Vários mecanismos poderão contribuir: - inflamação mediada por células TH1 CD4+ reactivas a antigénios nos ilhéus; - lise das células mediada por CTL; - produção local de citocinas que lesionam a célula; - anticorpos contra as células dos ilhéus.
Análises laboratoriais
Grande quantidade de genes foi associada à doença – existe uma especial atenção para genes HLA (human leucocyte antigen)
Tentativas de indução de tolerância a péptidos dos ilhéus (como da insulina) e de formação/ administração de células T reguladoras aos doentes
Doença Inflamatória Intestinal
Inflamação mediada por células T causa lesões intestinais Doença de Crohn: inflamação crónica e destruição das paredes intestinais; frequente formação de fístulas Colite ulcerativa: as lesões estão limitadas sobretudo à mucosa e consistem em úlceras com focos de inflamação subjacentes Novas terapias incluem anticorpos anti- TNF, IL-17, IL-12…
154
DOENÇAS ALÉRGICAS
Existe um conjunto de doenças que são causadas por antigénios ambientais não-
microbiais e que envolvem células TH2, IgE, mastócitos e eosinófilos.
Como? Os antigénios activam as células TH2 CD4+, que por sua vez ajudam as células
B a produzir IgEs específicas para os antigénios. As IgEs assim produzidas vão ligar-
se a mastócitos e basófilos. Quando depois se ligam ao antigénio, as células são
rapidamente activadas e libertam vários mediadores químicos. De um modo geral,
estes mediadores vão ser responsáveis por:
aumento da permeabilidade vascular;
vasodilatação;
contracção da musculatura lisa visceral e brônquica.
A esta reacção chamamos hipersensibilidade
imediata (hipersensibilidade tipo I). A
hipersensibilidade imediata é o protótipo de
distúrbio mediado por células TH2 (tal como a DTH é
o protótipo de distúrbio mediado por células TH1).
Após a resposta imediata, existe uma fase
inflamatória que se desenvolve mais lentamente -
late-phase reaction. Esta caracteriza-se pela
acumulação de neutrófilos, eosinófilos, macrófagos
e células TH2 CD4+ cerca de 2 a 4 horas depois.
Esta reacção é despoletada por citocinas
produzidas pelas células TH2 e por mastócitos,
juntamente com mediadores lipídicos secretados
por mastócitos. Normalmente, o termo
hipersensibilidade imediata é usado englobando
ambas as fases. A inflamação é máxima cerca de
24 horas depois.
Na clínica, estas reacções são designadas como
alergias, atopias ou doenças de hipersensibilidade.
Episódios repetidos destas reacções podem
conduzir a doenças alérgicas crónicas, com lesão
tecidual e remodelação. A alergia é o distúrbio
imunitário mais comum entre a população.
Os pontos-chave das doenças alérgicas são a activação de células TH2 e a
produção de IgE.
155
Os indivíduos saudáveis podem não exibir respostas imunitárias por células T a
antigénio ambientais comuns ou desenvolver uma resposta que não é prejudicial. Os
indivíduos atópicos desenvolvem respostas TH2 muito fortes e produzem IgE quando
expostos a substâncias alergénicas.
A sequência de eventos típica de uma reacção alérgica é a seguinte:
Exposição ao antigénio
Activação de células TH2 e células B específicas para o antigénio
Produção de IgE
Sensitização: Ligação do anticorpos aos receptores de Fc nos mastócitos. Os mastócitos revestidos por IgE passam a estar prontos para activação (= estão sensíveis ao encontro com o antigénio).
Re-exposição ao antigénio
Activação dos mastócitos
Libertação de mediadores químicos
Reacção patológica
Apesar de a resposta imediata verificada nos vasos sanguíneos e na musculatura lisa
e a late-phase reaction serem iniciadas pela activação de mastócitos pelas IgE,
existem outros mediadores envolvidos em ambas as fases. Como os mastócitos estão
presentes no tecido conjuntivo e inferiormente aos epitélios, estes tecidos sofrem mais
frequentemente as reacções de hipersensibilidade imediata.
Alguns casos de hipersensibilidade imediata podem ser despoletados por estímulos não-imunogénicos, como o exercício ou a exposição ao frio. Estes estímulos induzem a desgranulação dos mastócitos e a libertação de mediadores sem que existam fases de exposição a antigénio ou produção de IgE. São reacções não atópicas.
Existe uma predisposição genética forte na base do desenvolvimento de alergias,
existindo genes mais susceptíveis associados a este tipo de doenças. Estes genes
são responsáveis pela interferência numa ou mais etapas acima mencionadas.
As reacções de hipersensbilidade imediata manifestam-se de várias formas,
dependendo dos tecidos afectados. Podem observar-se rashes, congestão sinusal,
constrição brônquica, dor abdominal, diarreia e choque sistémico.
No choque anafilático, a forma mais extrema destas reacções, os mediadores podem
contrair as vias aéreas até ao ponto de asfixiação e produzir colapso cardiovascular
que resulta em morte.
PRODUÇÃO DE IgE
Os indivíduos atópicos produzem elevados níveis de IgE em resposta a alergénios
ambientais, enquanto os indivíduos saudáveis geralmente produzem outros isótipos,
como IgM e IgG, e apenas pequenas quantidades de IgE.
A regulação da síntese de IgE vai depender da tendência que um indivíduo tem para
formar uma resposta TH2 aos alergénios, porque as citocinas derivadas destas células
estimulam a alteração do isótipo da cadeia pesada para IgE nas células B. Esta
tendência é influenciada, em cada indivíduo, por vários factores:
156
genes herdados;
natureza dos antigénios;
história de exposição aos antigénios.
Em relação à natureza dos antigénios envolvidos (alergénios), estes são geralmente
proteínas ambientais comuns e químicos capazes de modificar proteínas. Não se
conhece a razão pela qual alguns antigénios induzem fortes respostas TH2 e reacções
alérgicas enquanto outros não o fazem. Dois dados comuns importantes:
- os indivíduos estão expostos repetidamente a estes antigénios;
- os alergénios, ao contrário dos micróbios, não estimulam respostas imunitárias inatas
habituais. A activação crónica ou repetida de célula T na ausência se imunidade inata
forte pode conduzir as células T CD4+ para a via TH2 (as próprias células T produzem
IL-4, a principal citocina indutora de TH2).
Como as reacções de hipersensibilidade imediata dependem de células T CD4+,
antigénios independentes de células T (como os polissacarídeos) não despoletam
estas reacções, a não ser que se liguem a proteínas. Alguns fármacos, como a
penicilina, reagem quimicamente com resíduos de aminoácidos nas proteínas self.
Formam-se então conjugados hapteno-transportador que estimulam as respostas TH2
e a produção de IgE.
Para o desenvolvimento de uma reacção alérgica, é necessária exposição repetida ao
antigénio, porque a mudança para o isótipo IgE e a sensitização de mastócitos por IgE
têm de ocorrer antes que ocorra uma reacção hipersensível.
PARTICIPAÇÃO DE MASTÓCITOS, BASÓFILOS E EOSINÓFILOS
Para além das células TH2, estas também são células efectoras da hipersensibilidade
imediata e das doenças alérgicas. Os três tipos de células contêm grânulos
citoplasmáticos cujo conteúdo é o principal mediador da reacção alérgica e os três
produzem mediadores lipídicos e citocinas pró-inflamatórias.
Os mastócitos são o principal tipo de célula envolvido, distinguindo-se dois
grupos principais: um da mucosa do tracto gastro-intestinal e outro do tecido
conjuntivo (encontrados na pele e submucosa gastro-intestinal).
As funções efectoras dos mastócitos são mediadas por moléculas solúveis libertadas
com a activação. A variedade de substâncias que libertam pode incluir substâncias
que são libertadas no momento de activação (aminas biogénicas, macromoléculas
dos grânulos) ou que são sintetizadas após a activação (mediadores derivados de
lípidos, citocinas).
AMINAS BIOGÉNICAS
A principal amina interveniente nos humanos é a histamina. Estas também chamadas
aminas vasoactivas, são armazenadas nos grânulos citoplasmáticos e são
compostos de baixo peso molecular com uma amina.
157
A histamina tem um período de acção curto e, ao ligar-se aos receptores em vários
tipos de células, inicia cascatas de condução de sinal, com diferentes efeitos
consoante as células.
A ligação ao endotélio provoca a contracção das células, aumentando o espaço inter-
celular, com aumento da permeabilidade e da passagem de plasma para os tecidos
(inchaço). Também estimula a produção, pelo endotélio, de relaxantes da musculatura
lisa vascular, como prostaciclina (PGI2) e óxido nítrico, causando vasodilatação
(rubor).
A histamina também causa constrição do músculo liso intestinal e brônquico,
contribuindo para o aumento do peristaltismo e broncospasmo associado à ingestão
ou inalação de alergénios.
Os anti-histamínicos são antagonistas dos receptores de histamina H1, mas em
alguns distúrbios alérgicos não são eficientes. A broncoconstrição associada à asma é
mais prolongada do que os efeitos da histamina, sugerindo a interferência de outras
substâncias.
ENZIMAS DOS GRÂNULOS E PROTEOGLICANOS
As serina proteases, como a triptase (degrada fibrinogénio; activa colagenase) e a
quimase (converte angiotensina I em angiotensina II; degrada membranas basais
epidérmicas), são as proteínas mais abundantes nos grânulos dos mastócitos e são
responsáveis pela lesão tecidual.
Os proteoglicanos, como a heparina e o sulfato de condroitina, também são
constituintes abundantes dos grânulos. Nos grânulos, servem como matrizes de
armazenamento para as aminas biogénias carregadas positivamente, as proteases e
outras substâncias e previnem que estas tenham acesso ao resto da célula. Depois da
exocitose dos grânulos, os mediadores são libertados dos proteoglicanos a diferentes
velocidades (aminas biogénicas dissiociam-se muito mais rapidamente, por exemplo).
Então, em certa medida, os proteoglicanos podem controlar a cinética das reacções de
hipersensibilidade imediata.
MEDIADORES LIPÍDICOS – PROSTAGLANDINAS, LEUCOTRIENOS, PAF
A activação dos mastócitos conduz a rápida síntese de novo de substâncias lipídicas
com diversos efeitos nos vasos sanguíneos, músculo liso brônquico e nos leucócitos.
As principais substâncias derivam do ácido araquidónico pela via COX e LOX. A
prostaciclina (PGD2), o principal derivado lipídico pela via COX, actua como um
vasodilator e broncoconstritor. Também participa na quimiotaxia de neutrófilos e na
sua acumulação em locais de inflamação. Os leucotrienos, sobretudo LTC4 e os seus
produtos de degradação TLD4 e LTE4.
O factor activador de plaquetas (PAF – platelet-activating factor) tem acções
broncoconstritoras e também relaxa o músculo liso vascular.
CITOCINAS As citocinas libertadas por mastócitos activados, basófilos e células TH2 estão
sobretudo associadas à inflamação da late-phase reaction. A activação dos mastócitos
vai induzir a sua transcrição e síntese, embora pequenas quantidades possam já
existir na célula. TNF, IL-1, IL-4, IL-5, IL-6 são algumas das citocinas envolvidas.
158
Efeitos biológicos dos mediadores da hipersensibilidade imediata.
ANAFILAXIA SISTÉMICA
Trata-se de uma reacção de hipersensibilidade imediata sistémica, caracterizada por
edema em múltiplos tecidos e uma queda da pressão arterial, como resultado da
vasodilatação.
Estes efeitos normalmente resultam da presença sistémica de um antigénio
introduzido por injecção, uma picada de insecto ou absorção através de uma
superfície epitelial (pele ou mucosa gastro-intestinal). O alergénio activa mastócitos
em vários tecidos, ocorrendo libertação de mediadores químicos que atingem os vasos
sanguíneos. A diminuição do tónus vascular e a saída de plasma dos vasos
sanguíneos pode causar choque pela descida de pressão arterial – choque anafilático,
frequentemente fatal.
Os efeitos cardiovasculares surgem juntamente com:
constrição das vias aéreas superiores e inferiores;
edema da laringe;
hipermotilidade intestinal;
secreção excessiva de muco no tracto respiratório e lesões urticárias na pele;
O tratamento habitual é epinefrina, revertendo os efeitos vasodilatadores e
broncoconstritores. Anti-histamínicos também podem ajudar.
159
ASMA
Doença inflamatória causada por repetidas reacções de hipersensibilidade imediata e
late-phase no pulmão. Surge uma tríade clínico-patológica:
obstrução aérea intermitente e reversível (devido à constrição brônquica e à produção aumentada de muco espesso);
inflamação brônquica crónica com eosinófilos;
hipertrofia e hiperreactividade das células musculares lisas brônquicas a broncoconstritores.
Cerca de 70% dos casos de asma estão associados a hipersensibilidade imediata
mediada por IgE. Nos restantes 30%, a asma poderá não estar associada a uma
atopia e pode ser despoletada por estímulos não imunitários como fármacos, frio e
exercício.
Na asma atópica, o alergénio activa células TH22 e, ligando-se a IgEs, activa
mastócitos. Os mediadores lipídicos e as citocinas produzidas pelos mastócitos e
pelas células T recrutam eosinífilos, basófilos e mais células TH2. A inflamação crónica
nesta doença pode continuar sem activação de mastócitos.
Mastóctos, basófilos e eosinófilos produzem mediadores que contraem o músculo liso
nas vias aéreas. Os mediadores broncoconstritores mais importante são LTC4, LTE4,
LTD4 e PAF.
A secreção de muco aumentada resulta da acção de citocinas sobretudo IL-13, nas
células epiteliais brônquicas.
TERAPIA
A terapia actual tem dois alvos principais:
- prevenção;
- reversão da inflamação e relaxamento do músculo liso das vias aéreas.
Recentemente, existe uma tendência para uma maior utilização de agentes anti-
inflamatórios como primeiro recurso de tratamento, mas existem diversas classes de
fármacos para o tratamento de asma:
Corticoesteróides – bloqueiam a produção de citocinas pró-inflamatórias.
Activadores da adenilato ciclase (epinefrina e agentes B2-adrenérgicos semelhantes). A teofilina enibe enzimas fosfodiesterase (que degradam cAMP) e, assim, produz semelhante efeito. Apresenta alguns efeitos anti-inflamatórios independentes do relaxamento muscular.
Inibidores de leucotrienos
Anticorpos anti-IgE monoclonais
Os anti-histamínicos não são particularmente úteis, uma vez que a histamina tem
uma fraca participação no processo. Na verdade, como muitos anti-histamínicos são
também anticolinérgicos, estes podem agravar a obstrução aérea ao aumentar a
secreção de muco.
160
A HIPÓTESE HIGIÉNICA
De uma maneira geral, a prevalência de doenças alérgicas tem vindo a aumentar.
Uma das teorias que pretende explicar este facto avança que esta redução está
relacionada com a redução de infecções. Respostas de imunidade inata associadas
à maioria das infecções promovem respostas TH1 e suprimem respostas TH2. Existem
diversos dados epidemiológicos que parecem comprovar esta hipótese.
Contudo, no caso da asma, infecções bacterianas e virais são um factor de
predisposição ao desenvolvimento da doença ou exacerbação da doença já existente.
Estima-se que 80% dos ataques de asma nas crianças seja precedido por uma
infecção viral. Esta associação da asma com infecções parece contradizer a hipótese
anterior – esperar-se-ia que as infecções estimulassem a imunidade inata e, assim,
suprimissem as respostas TH2. A compreensão actual sobre como os linfócitos T
participam na asma ainda é incompleta. REACÇÕES DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES, TRACTO GASTRO-INTESTINAL E PELE
Características
gerais Manifestações clínico-patológicas Terapêutica
Re
nit
e a
lérg
ica
- também chamada “febre do feno” - provavelmente a doença alérgica mais comum - consequência de reacções de hipersensibilidade imediata a alergénios comuns, como o póles, pós… por inalação
edema da musoca
infiltração leucocitária com abundância de eosinófilos
secreção de muco
tosse
espirros
dificuldade em respirar
conjuntivite alérgica com comichão nos olhos
doentes com episódios repetidos frequentes: protrusões focais na musoca nasal (pólipos nasais), com edema e eosinófilos
Anti-histamínicos
Ale
rgia
s a
alim
en
tos
hipersensibilidade imediata a alimentos ingeridos libertação de mediadores dos mastócitos da mucosa e submucosa intestinal
peristaltismo aumentado
secreção de fluido aumentada das células de revestimento do tracto
vómito
diarreia
urticária
choque anafilático – caso extremo
Re
ac
çõ
es
da
pele
Urticária - reacção aguda da pele em resposta a contacto directo com o alergénio ou após a entrada do alergénio em circulação mediada por produtos dos mastócitos (sobretudo histamina) - pode persistir durante umas horas, provavelmente porque o antigénio continua no plasma Eczema crónico - também dermatite atópica; poderá ser causado pela late-phase reaction a um alergénio na pele - late-phase reaction cutânea envolve TNF, IL-4 e outras citocinas provavelmente das células Th2 e mastócitos actuam nas células endoteliais das vénulas para promover a inflamação (também é utilizada a designação de eczema para sensibilidade por contacto crónica, que é uma reacção DTH – mediada por células TH1)
Urticária anti-histamínicos Eczema Corticosteróides (inibem síntese de citocinas)
161
IMUNOTERAPIA
O objectivo é reduzir a quantidade de IgE produzida pelo doente quando é exposto ao
antigénio.
Uma das abordagens é a dessensitização, em que pequenas quantidades de
antigénio são administradas subcutânea e repetidamente. Os níveis de IgE específicos
diminuem e os níveis de IgG normalmente aumentam, provavelmente também
contribuindo para uma inibição na produção de IgE, ao neutralizar o antigénio.
Como é que a dessesintização funciona? É possível que induza tolerância específica
nas células T ou altere o fenótipo predominante das células T específicas para
antigénio de TH2 para TH1. Não existem provas suficientemente satisfatórias para
corroborar qualquer das teorias.
Os efeitos benéficos da dessensitização podem ocorrer numa questão de horas, ainda
antes das alterações nos níveis de IgE. Desconhece-se a razão. Esta abordagem é
bem sucedida na prevenção de respostas anafiláticas agudas a antigénios proteicos,
por exemplo veneno de um insecto, ou a fármacos essenciais, como a penicilina.
Anticorpos anti-IgE monoclonais são outra abordagem para a diminuição dos níveis de
IgE.
162
ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE VACINAS A importância da imunização profilática adquire nos nossos dias uma grande
importância, facto que pode ser mais facilmente compreendido se observamos os
resultados de programas de vacinação a nível mundial que conduziram à completa ou
quase completa erradicação de muitas doenças infecciosas em países desenvolvidos
estando o sucesso destas acções dependente de várias propriedades do
microrganismo.
O princípio fundamental da vacinação é bastante simples e consiste na administração
do agente infeccioso da doença morto, atenuado (pouco agressiva) ou então parte de
um microrganismo que não causa a doença mas que induz uma resposta imunitária
que fornece protecção contra a acção do agente na sua forma mais agressiva
(microrganismo patogénico).
O que torna as vacinas eficazes?
A ausência de estabelecimento de latência por parte dos agentes
infecciosos.
A ausência de variação antigénica dos agentes
A ausência de interferência com a resposta imunitária do hospedeiro
Um exemplo amplamente conhecido de um agente que contorna estas três condições
é o HIV.
Importa ainda ter em conta que as vacinas são mais eficazes quando os agentes
infecciosos colonizam apenas hospedeiros humanos e não reservatórios animais.
A maioria das vacinas que se encontram em utilização actualmente possuem
mecanismos de funcionamento que induzem/estimulam a imunidade humoral. Destes,
os anticorpos são o único mecanismo que previne infecções por neutralização e
eliminação dos microrganismos antes de estes se estabelecerem no hospedeiro.
De entre as várias vacinas que se encontram disponíveis, as mais eficazes são as que
estimulam o desenvolvimento de células de vida longa (produtores de anticorpos de
alta afinidade) e de células B de memória.
T11: Memória imunológica, adjuvantes e vacinas
Data teórica de 31 de Outubro de 2011
Capítulos do Abbas: 15 e 4
Capítulos do Arosa: 13
Slides aulas: Sim
Elaborado por: João Pedro Apolinário
163
Esta resposta é mais eficazmente induzida nos centros germinativos através da ajuda
de células T CD4+ produtoras de proteínas específicas de antigénios.
Vejamos então algumas características mais específicas da vacinação passando pelos
tipos de vacinas mais importantes bem como o que estes trazem de bom e algumas
das suas desvantagens.
VACINAS DE BACTÉRIAS E VÍRUS
ATENUADOS OU INACTIVADOS
Vacinas compostas por microrganismos não patogénicos intactos são obtidas de uma
de duas formas: através do tratamentos desses mesmos microrganismo de forma a
que já não possam voltar a causar doença (ex. a sua virulência é atenuada) ou então
matando os microrganismos mantendo contudo a sua capacidade imunogénica.
VANTAGENS:
Os microrganismos provocam as respostas imunes inatas e adaptativas
(humoral e mediada por células) que a forma patogénica teria, constituindo
a forma ideal de conferir uma imunização protectora.
DESVANTAGENS:
Induzem, geralmente, uma protecção limitada
São efectivas apenas durante um curto período de tempo
Ao contrário do que se passa com as bactérias, as vacinas virais com o agente num
estado atenuado (ainda que “vivo”) demonstram ser mais efectivas sendo os casos da
poliomielite, sarampo e febre amarela bons exemplos deste sucesso.
O método mais utilizado para produzir estes vírus atenuados é a passagem repetida
em cultura celular sendo que mais recentemente, mutantes sensíveis à delecção e à
temperatura foram criados para alcançar o mesmo objectivo.
VANTAGENS:
Induzem imunidade específica de longa duração (imunização enquanto
criança confere protecção para toda a vida)
DESVANTAGENS:
Algumas vacinas de vírus atenuados (ex. polio) podem causar doença em
hospedeiros imunocomprometidos (a alternativa são as vacinas de
poliovirus inactivado)
164
Uma outra desvantagem transversal quer às bactérias quer aos vírus atenuados reside
na segurança do processo. Apesar destes inconvenientes existem casos de vacinas
de vírus atenuados que adquirem nos nossos dias uma importância considerável para
a saúde pública como é o caso da vacina do vírus influenza. Este vírus, que cresce em
ovos de galinha, pode ser utilizado para a criação de dois tipos de vacinas:
VACINA TRIVALENTE INACTIVADA (VÍRUS “MORTO”): “flu shot”
administrado intramuscularmente
VACINA TRIVALENTE ATENUADA (VÍRUS “VIVO”): administração
através de spray nasal
A enorme variabilidade deste vírus requer uma intensa actualização da vacina em
causa pelo que são seleccionadas anualmente as três estirpes mais frequentemente
encontradas na população sendo estas incorporadas na vacina já existente.
VACINAS DE ANTIGÉNIOS
PURIFICADOS (SUBUNIDADES)
As vacinas de subunidades são compostas por antigénios purificados a partir de
microrganismos ou toxinas inactivadas sendo normalmente administrados com um
adjuvante.
Importa por isso saber o que são os adjuvantes e para que servem.
Os adjuvantes são substâncias que precisam de ser administradas em conjunto com
antigénios proteicos purificados para induzir uma resposta imunitária máxima de
células T dependentes, actuando por estimulação da resposta imune inata no local de
exposição ao antigénio. Muitos dos adjuvantes que se encontram em fase de
experimentação são produtos microbianos como Mycobacteria morta e os LPS (que se
ligam aos TLRs). O único que é frequentemente utilizado em vacinas humanas é o
alum, composto por hidróxido e fosfato de alumínio.
EFEITOS PRINCIPAIS:
Activação de células dendríticas para expressarem moléculas de
histocompatibilidade mais importantes (parte dos antigénios que as
céluas T reconhecem)
Aumentam a expressão de coestimuladores e citocinas necessárias
para a activação de células T
Estimulam a migração de células dendríticas para os nódulos linfáticos
(local onde se encontram as células T)
Uma das importantes utilizações deste tipo de vacinas prende-se com a prevenção de
doenças causadas por toxinas bacterianas uma vez que os toxoides injectados
produzem uma forte resposta imunitária, através da produção de anticorpos, ainda que
165
estes não sejam patogénicos. Duas das doenças cujas complicações conseguiram ser
controladas com estas vacinas foram a difteria e o tétano.
Vacinas compostas por antigénios polissacáridos de bactérias são utilizadas contra
pneumococcus e H. influenzae. Contudo, devido ao facto de os polissacáridos serem
antigénios T independentes, estes tendem a provocar respostas de anticorpos de
baixa afinidade e poderão ser fracamente imunogénicos em crianças (incapazes de
montar fortes respostas de anticorpos Tcell-independentes). Como podemos então
obter respostas de anticorpos de alta afinidade? Estas respostas podem ser geradas
contra antigénios polissacáridos até mesmo em crianças através do acoplamento
destas moléculas a proteínas a fim de formar vacinas conjugadas. Estas vacinas
funcionam como hapten-carrier conjugados e constituem uma aplicação prática do
princípio da cooperação entre células T e B. As vacinas H. influenzae, pneumococica e
meningocócica utilizadas hoje em dia são vacinas conjugadas.
VANTAGENS DAS VACINAS DE PROTEÍNAS PURIFICADAS:
Estimulam as células T helper
Estimulam a respota de anticorpos
DESVANTAGENS:
Não geram CTLs (linfócitos T citotóxicos) potentes
Não são eficazmente reconhecidas pelas class 1-restricted CD8+ T cells
Este fraco desenvolvimento de CTL deve-se ao facto de as proteínas e péptidos
exógenos não conseguirem entrar eficazmente na via de apresentação de antigénios
da classe 1 do MHC não conseguindo assim deslocar péptidos das moléculas de
superfície de classe 1.
A razão para o fraco desenvolvimento de CTL é que, ao contrário das vacinas de
microrganismos atenuados, as proteínas (e péptidos) exógenos não são eficazes na
entrada na via de apresentação de antigénios da classe 1 do MHC e não consegue
deslocar péptidos das moléculas de superfície de classe 1.
VACINAS DE ANTIGÉNIOS
SINTÉTICOS A meta da investigação na área da vacinação tem sido identificar os antigénios
microbianos ou estirpes mais imunogénicos, a fim de os sintetizar em laboratório para
posteriormente utilizar os antigénios sintéticos como vacinas.
É possível deduzir a sequência de proteínas de antigénios microbianos a partir de
dados de sequências nucleotídicas e preparar grandes quantidades de proteínas
através da tecnologia de DNA recombinante. Algumas vacinas feitas a partir de
166
antigénios derivados da recombinação de DNA estão neste momento em utilização
para o vírus da hepatite, vírus herpes simplex, vírus da febre afetosa, HPV e rotavírus.
No caso da vacina mais amplamente utilizada contra o HPV, proteínas virais
recombinantes provenientes de quatro estirpes (HPV 6, 11, 16 e 18) são produzidas
em leveduras e combinadas com um adjuvante. O HVP 6 e 11 são causas comuns de
verrugas sendo o HPV 16 e 18 as estirpes mais frequentemente ligadas ao cancro do
colo do útero. Esta vacina anti-viral é também, portanto, uma vacina que funciona
como prevenção para o cancro.
VACINAS DE VÍRUS “VIVOS”
ENVOLVENDO VÍRUS
RECOMBINANTES
Outra abordagem para o desenvolvimento de uma vacina é a introdução de genes que
codificam antigéneos microbianos em vírus não citopáticos e infectar indivíduos com
estes vírus. Assim, o vírus serve como fonte de antigéneo num indivíduo inoculado.
VANTAGENS:
Induzem a totalidade do complemento das respostas imunes, incluindo uma
forte resposta CTL
DESVANTAGENS:
Os vírus podem infectar células do hospedeiro e, apesar de não serem
patogénicos, produzir antigénios que estimulam respostas CTL que matam
as células infectadas do hospedeiro
Segurança
A inoculação destes vírus recombinantes em várias espécies animais induziu tanto a
imunidade humoral como a mediada por células contra o antigénio produzido pelo
gene “estranho” (e, claro, contra antigénios virais da vacina também).
VACINAS DE DNA
Um outro método de vacinação foi desenvolvido com base numa observação feita
inesperadamente. Após a inoculação de um plasmídeo contendo DNA complementar
(cDNA) que codifica um antigénio proteico verificou-se que este leva a uma forte e
duradoura resposta, quer humoral quer mediada por células, ao antigénio em questão.
É provável que APCs (células apresentadoras de antigénios), como as células
dendtríticas, sejam transfectadas pelo plasmídeo e o cDNA seja transcrito e traduzido
numa proteína imunogénica que provoca respostas específicas.
167
A característica única das vacinas de DNA é que estas fornecem a única abordagem,
para além dos vírus “vivos”, para provocar fortes respostas de CTL devido às
proteínas codificadas pelo DNA serem sintetizadas no citosol de células transfectadas.
Para além disso, os plasmídeos bacterianos são ricos em nucleótidos CpG não
metilados sendo reconhecidos por um TLR (TLR9) nomeadamente ao nível das
células dendríticas, induzindo assim uma resposta imune inata que melhora a
imunidade adaptativa. Portanto, vacinas contendo plasmídeos de DNA podem ser
eficazes mesmo quando administradas sem um adjuvante.
VANTAGENS:
Facilidade de manipulação do cDNA de forma a que estes expressem
muitos antigénios
Capacidade de armazenar DNA sem necessitar de regrigeração para
uso no terreno
Capacidade de coexpressar outras proteínas que podem molhorar a
resposta imune (citocinas e coestimuladores)
Contudo, as vacinas de DNA não foram tão eficazes como se esperava em ensaios
clínicos, e os factores que determinam a eficácia destas vacinas, especialmente em
humanos, não estão ainda completamente definidos.
ADJUVANTES E
IMUNOMODULADORES
O início de uma resposta imune dependente de células T contra antigénios proteicos
requer que os antigénios sejam administrados com adjuvantes. A maioria dos
adjuvantes induz uma resposta imune inata, com aumento de expressão de
coestimuladores e produção de citocinas como a IL-12 que estimula o crescimento e
diferenciação de células T.
Bactérias mortas através de calor são potentes adjuvantes, sendo frequentemente
utilizados em experiência em animais. Contudo, a forte inflamação local que estes
adjuvantes despoletam impede a sua utilização em humanos.
Um enorme esforço está neste momento a ser dedicado ao desenvolvimento de
adjuvantes seguros e efectivos para utilizar em humanos. Vários são utilizados na
prática clínica, incluindo o gel de hidróxido de alumínio (que promove a resposta de
células B) e formulações lipídicas que são ingeridas por fagócitos.
Uma alternativa aos adjuvantes é a administração de substâncias naturais que
estimulam a resposta imune de células T. Por exemplo, IL-12 incorporada em vacinas
promove uma forte imunidade mediada por células. Como já foi mencionado, os
plasmídeos de DNA têm actividade intrínseca como adjuvantes e é possível incorporar
coestimuladores (ex. moléculas B7) ou citocinas em vacinas com plasmídeos de DNA.
Esta ideia apesar de interessante permanece numa fase experimental.
168
IMUNIZAÇÃO PASSIVA A imunidade protectora pode também ser conferida através de uma imunização
passiva, por exemplo, por transferência de anticorpos específicos. Num contexto
clínico, a imunização passiva é frequentemente utilizada para o tratamento rápido de
doenças potencialmente fatais causadas por toxinas, como o tétano, e para protecção
contra a raiva e hepatite.
Outro caso bastante conhecido no qual se utiliza este tipo de imunização é nos
ataques levados a cabo por cobras. Os anticorpos contra o veneno de cobra podem
ser autênticos salva-vidas quando administrados após a mordida de cobras
venenosas.
A imunidade passiva é de curta duração devido ao facto de os hospedeiros não
responderem à imunização e também porque a protecção dura apenas enquanto os
anticorpos injectados persistem no organismo. Além disso, a imunização passiva não
induz memória imunitária pelo que um indivíduo imunizado não se encontra protegido
contra uma exposição subsequente à toxina ou microrganismo.
Tipo de Vacina Exemplos
Bactérias vivas atenuadas ou mortas
Bacillus Calmette-Guérin, cólera
Vírus “vivos” em estado atenuado
Poliomielite, raiva
Vacinas de subunidades (antigénicas)
Toxóide do tétano e difteria
Vacinas conjugadas Haemophilus influenzae, pneumococcus
Vacinas sintéticas Hepatite (proteinas recombinantes)
Vectores virais Ensaios clínicos de antigénios do HIV em vectores
canarypox
Vacinas de DNA Ensaios clínicos para várias doenças
169
INTRODUÇÃO SIDA é a doença provocada pelo vírus HIV, vírus descoberto nos anos 80,
caracterizada por uma acentuada imunossupressão associada a doenças
oportunistas, degeneração do sistema nervoso central e tumores malignos .
A distribuição da infecção por HIV é bastante assimétrica, tendo um grande impacto
em África, sobretudo na África sub-sariana, mas distribuindo-se por todo o planeta. Os
números continuam a ser extremamente elevados e continua a existir uma grande
necessidade de prevenção.
Este vírus infecta principalmente células CD4+ Th, macrófagos e células dendríticas.
CARACTERÍSTICAS MOLECULARES E
BIOLÓGICAS DO VÍRUS
O HIV pertence à família dos lentivírus dentro dos retrovírus animais, e existem dois tipos que diferem na estrutura genómica e antigénica:
HIV-1: Causador mais comum de SIDA HIV-2: Causa uma menor progressão da doença
ESTRUTURAS E GENES DO HIV
O HIV é constituído por:
2 cadeias de RNACamada proteicaCamada de fosfolípidos (origem na célula hospedeira mas com proteínas membranares virais.
T12: Imunodeficiências secundárias-HIV/SIDA
Data teórica de 6 de Janeiro 2012
Capítulos do Abbas: 20
Slides aulas: não
Elaborado por: Manuel Matos
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Os genes são:
LTR- Repetições terminais longas: Presentes no princípio e fim de cada cadeia regulam a expressão génica, a integração no genoma hospedeiro e a replicação viral. gag- codifica proteínas estruturais do núcleo env- codifica as glicoproteínas membranares gp120 e gp41 que estão associadas uma à outra. pol- codifica a transcriptase reversa, integrase e enzimas proteases que participam na replicação viral tat- Necessária para alongar o tamanho dos transcritos rev- Promove a exportação nuclear de partículas do RNA viral que não foram completamente emendadas vif- Supera o efeito inibidor da enzima da célula do hospedeiro e promove a replicação viral nef- Inibe a expressão de CD4 e MHC classe I pela célula hospedeira e acentua a liberação do vírus vpr- Aumenta a replicação viral e promove a infecção dos macrófagos pelo HIV vpu- Inibe a expressão de CD4 na célula hospedeira e acentua a liberação do vírus
CICLO DE VIDA VIRAL
1. Ligação do vírus ao hospedeiro:
Ligação das subunidades gp120 do envelope a moléculas CD4 induz uma mudança conformacional que induz uma ligação secundária da gp 120 a um co-receptor de quiomiocina (os co-receptores de quimiocinas mais importantes são o CCR4 e o CCR5 e mais de 7 receptores de quimiocinas actuam como co-receptores para o HIV e também algumas proteínas da família dos receptores ligados à proteína G que atravessam a membrana 7 vezes)
A ligação à quimiocina expõe uma região hidrofóbica da gp41 chamada péptido de fusão que se insere na membrana celular o que leva à fusão das membranas
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2. Quando o vírus entra na célula as enzimas dentro do complexo nucleoproteico
ficam activas e inicia-se o ciclo de reprodução viral. O RNA viral é, pela acção
da transcriptase reversa, transcrito em cDNA e o DNA viral entra no núcleo.
3. A integrasse viral entra no núcleo e cataliza a integração do DNA viral no DNA
hospedeiro.
4. O DNA integrado chama-se provírus e pode ficar inactivo durante meses ou
anos provocando uma infecção latente.
5. Devido a estímulos por parte de citocinas, antigénios ou outros agentes que atingem as células T, monócitos e macrófagos, inicia-se a transcrição do DNA viral. Esta activação relaciona-se com os factores de transcrição NF-κB e SP1da célula hospedeira e a sequencia viral LTR.
6. Inicia-se então o processo de produção das proteínas virais começando com
os genes Ver, Tat e Nef necessários para a regulação da expressão genética
do vírus.
7. A proteína Ver, pela exportação dos segmentos genéticos que codificam as
proteínas estruturais do vírus do núcleo para o citoplasma, inicia a segunda
fase de produção proteica.
8. Após a transcrição dos vários genes virais ocorre a “montagem” dos
componentes virais que começa com o envolvimento de transcritos de RNA
viral num complexo nucleoproteico que inclui proteínas nucleares gag e
enzimas pol.
9. O complexo nucleoproteico funde-se com a membrana plasmática, capturando
Env e glicoproteínas do hospedeiro.(a teterina é um factor do hospedeiro que
impede a libertação do vírus, no entanto a proteína viral Vpu inibe este factor)
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ESPECIFICIDADE DO HIV
Existem vários subtipo do HIV que apresentam diferente tropismo para distintos tipos
de células (macrófagos ou células T CD4+). Este tropismo está relacionado com a
especificidade das variantes da gp120 para os diferentes receptores de quimiocinas.
Apesar de todos os tipos de HIV poderem infectar células T CD4+ os que infectam
primariamente culturas de macrófagos de denominam-se M-tróficos ou
Macrofagotróficos e apresentam uma gp120 que se ligam ao receptor CCR5 (ou R5)
expresso nos macrófagos. As que infectam linhagens de células T e não macrófagos
chamam-se (T-tróficos) e as suas gp120 ligam-se ao receptor CXCR4 (ou X4)
expresso nas células T CD4+ . Alguns tipos de HIV infectam indiscriminadamente os
dois tipos de células e chamam-se duotróficos.
Apesar das variantes T-tróficas serem mais virulentas foi relatado que indivíduos que
não apresentam o receptor R5 (das M-tróficas) são resistentes a infecção pelo HIV.
PATOGÉNESE DA INFECÇÃO PELO
HIV E SIDA A doença causada pelo HIV começa com uma infecção aguda parcialmente
controlada pelo sistema imunitário adquirido, avançando para uma infecção crónica
progressiva dos tecidos linfóides periféricos. Após a entrada do vírus podemos dividir a
infecção em várias fases:
1. Infecção aguda (inicial): É caracterizada pela infecção das células T CD4+ de
memória (que expressam CCR5) nos tecidos linfóides da mucosa e a morte de várias células infectadas. Uma vez que as mucosas são o principal reservatório de células T após 2 semanas de infecção a maioria destas podem ter sido destruídas.
2. Transição da fase aguda para fase crónica: Esta transição é caracterizada pela disseminação do vírus, viremia e o desenvolvimento de respostas imunológicas pelo hospedeiro.
Células denditricas capturam o vírus e migram para os linfonodos
No tecido linfóide as células dendríticas podem passar o virus para as células CD4+
A replicação do vírus no tecido linfóide leva a uma virémia (presença de vírus no sangue)
A virémia permite que o vírus se espalhe pelo organismo e infecte células T auxiliares, macrófagos e células dendríticas nos tecidos linfóides periféricos.
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Conforme a infecção se dissemina o sistema imunológico desenvolve respostas imunitárias humorais e celulares que reduzem a viremia e são detectáveis 12 semanas após a infecção inicial.
Atinge-se uma fase crónica em que o vírus se replica e localiza-se principalmente no baço e linfonodos . Nesta fase o organismo ainda é capaz de combater infecções oportunistas, compensando a perda de células T CD4+ mas o número destas vai sendo progressivamente mais reduzido. Esta fase também é chamada de fase de latência.
Ao fim de vários anos o número de células T diminui drásticamente e os estímulos de citocinas produzidas em resposta a infecções por outros microrganismos acentuam a reprodução do HIV e levam à instalação da SIDA.
MECANISMOS DE IMUNODEFICIENCIA CAUSADA PELO HIV O efeito que o HIV produz no sistema imunitário, especialmente na imunidade celular, pode ser atribuido a diversos mecanismos:
Efeito citológico directo da infecção por HIV: Morte das células T CD4+ associada à produção de vírus nas celulas infectadas por vários motivos – processo de produção do vírus e brotamento das particulas virais leva ao aumento da permeabilidade da membrana e influxo de quantidades letais de cálcio, interferencia da produção viral na síntese celular de proteínas e formação de sincício (as membranas das células infectadas que apresentam gp120 viral fundem-se com os receptores CD4 das células não infectadas criando células gigantes multinucleadas, ou sincício).
Destruição de células T infectadas pelo sistema imunitário: Tanto as defesas humorais como as defesas celulares vão provocar a destruição dos linfócitos T que apresentem proteínas membranares que indiquem estar infectadas.
Defeitos funcionais no sistema imunitário de portadores de HIV exacerbam a deficiencia imunitária causada pela depleção de células T CD4+: Estes defeitos funcionais incluem uma redução nas respostas das células T aos antigénios e uma resposta humoral fraca que podem ser resultantos dos efeitos directos da infecção pelo HIV nas células T CD4+, como por exemplo a libertação de gp120 solúvel por parte das células infectadas que interage com células não infectadas, reduzindo a resposta celular a antigénios.
Macrófagos, células denditricas e células denditricas foliculares são infectadas com o vírus e afectadas por este, e anormalidades nestas células também contribuem para a progressão da imunodeficiencia. Apesar dos macrófagos poderem ser infectados pelo vírus (apresentam CD4 e co-receptores CCR5) normalmente não são facilmente mortos por estes, tornando-se um reservatório do HIV. As células dendríticas, como os macrófagos também se tornam reservatórios e o seu contacto intimo com células T naive contribui para a proliferação do vírus. As células foliculares dendriticas são reservatórios de vírus à superficie (uma vez que o virus tem dificuldade em infecta-las) e por um mecanismo ainda não conhecido o HIV pode induzir a morte destas células, o que afecta o sistema linfóide periférico.
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MODO DE TRASMISSÃO: Contacto sexual
Transmissão mãe-filho
Tramissão por inoculação sanguínea (sangue-sangue)
RESPOSTA IMUNITÁRIA
Apesar da resposta imunitária ao vírus ser ineficaz na cura total torna-se necessário estudá-la por várias razões:
As respostas imnunitárias podem ser prejudiciais ao hospedeiro por estimular, por exemplo, a captura de vírus opsonizados (processo que facilita a fagocitose) por células não infectadas através de endocitose mediada pelo receptor Fc ou pela irradicação das células T CD4+ que expressam antigénios virais pelos CTLs CD8+.
Os anticorpos contra o HIV são marcadores de diagnóstico de infecção.
O desenvolvimento de vacinas eficazes na imunização contra HIV exige o conhecimento do tipo de respostas imunitárias que têm maior probabilidade de ser protectoras.
A resposta imunitária inicial é caracterizada pela expansão de células T CD 8+ específicas para péptidos virais. Estes linfócitos T citotóxicos contram a infecção na fase aguda mas acabam por ser ineficazes devido ao surgimento de mutantes do vírus. As células CD4+ auxiliam na formação de LTC de memória. A presença de anticorpos anti-HIV pode ser detectada 6 a 9 semanas após a infecção inicial. Os anticorpos mais comuns encontrados são anti-gp120 e anti gp-41 mas também podem ser encontrados anticorpos para produtos da p24, transcriptase reversa gag e pol.
MECANISMOS DA INVASÃO POR
HIV Várias características do HIV permitem que o vírus evada a resposta imunitária do hospedeiro:
Elevada taxa de mutação: Devido à elevada taxa de erros associada à transcrição reversa geram-se numerosas mutações no vírus que permitem evitar a detecção por anticorpos ou células T geradas em resposta à infecção. A componente antigénica mais variável do vírus localiza-se na molécula gp120 e denomina-se V3 loop.
As células infectadas podem evadir os LTC através da inibição da expressão das moléculas do MHC classe I pela acção de uma proteína chamada Nef
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TRATAMENTO
Consiste principalmente na administração de várias classes de antivirais (antiretrovirais):
Nucleósidos: Inibiem a acção da transcriptase reversa, uma vez que param a transcrição (AZT, desoxiadenosina).
Inibidores da transcriptase reversa não-nucleosídicos: São moléculas que inibem a transcrição reversa pela ligação directa à molécula e sua inactivação.
Inibidores de protease viral: Bloqueiam o processamento de percursores proteicos em proteínas da cápsula viral e núcleo. São utilizados juntamente com 2 diferentes inibidores da transcriptase reversa e formam um medicamento conhecido como HAART ou ART.
Inibidores de entrada: Impede a entrada do vírus, tendo como alvo ou as proteínas CD4 ou CCR5 da célula hospedeira ou gp41/gp120 do vírus.
Inibidores da integrase.
VACINA
Ainda não existe uma vacina para o HIV devido a várias questões que se apresentam, como por exemplo a elevada taxa de mutação viral. No entanto estão a ser testadas várias vacinas que incuem recombinantes hibrídos com partes de sequencias virais de SIV (simian imunodeficiency virus) e HIV que foram atenuadas por deleções. Uma vez que pode haver riscos envolvidos na utilização de vírus, ainda que atenuados, outra alternativa será a utilização de recombinantes não HIV que sirvam de vectores para os antigénios HIV .
O que define, ao certo, a afinidade de cada TCR e de um linfócito a um tipo de MHC
ainda está por descobrir. A verdade é que, no final da selecção positiva, resta apenas
um dos co-receptores que existiam inicialmente, CD4 e CD8.