saude na sociedade

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  • 7/25/2019 Saude Na Sociedade

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    Sade na sociedade

    Edmundo Gr anda

    JaimeBr eil h

    ^ cnmpv

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    Ttulo origina l

    Investigacin de la SALUD en la SOCIEDADGuia Pedaggico sobre un Nue vo Enfoque dei Mtodo Epidemiolgico

    Conselho editorial

    Amlia Cohn, Everardo Duarte Nunes, Regina M. Giffoni Marsiglia, Rita de Cssia BarradasBarata.

    Capa

    Edio de arte: Roberto Yukio MatuoIlustrao: Milton Jos de AlmeidaArte-final: Maria Regina Da Silva

    Superviso editorial

    Antonio de Paulo Silva

    Dados de Catalogao na Publicao (CIP) Internacional

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Breilh, Jaime

    Investigao da sade na sociedade : guia pedaggico sobre um novo enfoqu e domtodo epidemiolgico / Jaime Breilh, Edmundo Granda ; [traduo Jos da Rocha

    Ca rvalheiro ... et. al.]. - - 2. cd. -- So P aulo : C or tez : Instituto de Sade ; Rio de Ja neiro : Associao Brasileira de Ps-Graduao em Sade Coletiva. (Coleo pensame nto social c sade ; 4)

    ISBN 85-249-0200-0

    l.Epidemiologia 2. Medicina-social 3. Sade pblica I. Granda, Edmundo II.

    Ttulo. III. Ttulo: Guia pedaggico sobre um novo enfoque do mtodo epidemio lgico. IV . Srie.

    CDD-614.4

    -362.1042589-1033 -614

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Ep idemiolo gia : Sade pblica 614 .4

    2. Medicina so cia l: Bem -estar social 362.1042 53. Sade pblica 614

    Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicadasem autorizao expressa da ABRASCO e do editor.

    1989 by ABRASCO

    Direitos para esta edioCORTEZ EDITORA

    Rua Bartira, 387 - Tel.: (011) 864-011105009 - So Paulo - SP

    Impresso no Brasil. - 1989

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    CEN TRO DE ESTDI OS Y ASES ORI A EN SA LU D

    Collo Roeu 549 Dpto. G02Qui t o Ecuador

    T o l l o n o i : 5 5

    24:

    Mayo 13, 1985

    Sehor DoctorPaulo Marchiori BussS ec re ta rio ABRASOORua Leopoldo Bulhes, 1400 Sala 32121041 - Manguinhos - R. Janeiro - R.J.Bras i l

    Querido Paulo:

    Han pasado pocos dias de mi regreso de tu pas y ya crecierc

    "saudades",

    Disculpa que no te haya enviado los l ibros antes pero la co:

    ac ha estado muy movida y no me fue p osib le lia cerlo . Te mando Jqui)ca_ejeiplares_de "Ciudad y M ue rte_ Infan til" por co rreo areo

    fic ad o , espe ro que no haya problem as. Ca torce son para lo s ccntpaque lo s ad qu ir ie ro n y uno es perra la b ib lio te c a de ABRASOO. Porenvame un ceible (te lex ) confirmando re c ib o en cuanto lleguen por lt jj namente hemos ten id o muchos prob lan as con e l co rre o .

    Los canpaneros d e i CEAS e s t n muy entusiasm ados con la no ticla pu blicacin de l a traducc in a l portugus de nue stro lib ro y c.lan za r en J u lio cano t nos ind ic a ste . Por favor envame cualqrno t ic ia que su r ja .

    Para ti compahero queri do el abrazo cari noso de si empre.

    Atentamente

    Adj: Lo ind ica do .

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    CAPTULO I

    INTRODUO AO MTODO

    DE INVESTIGAO

    EPIDEMIOLGICA

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    1. OBJETIVOS

    Ao finalizar as atividades da unidade, o estudante estar capacitado a:1.1 Avaliar e afirmar seu conhecimento bsico sobre a metodologia geral da

    investigao;1.2 Estabelecer uma clara delimitao entre os mtodos de investigao: clnico,

    epidemiolgico e consequentemente uma definio do campo explicativo e instrumentalda epidemiologia;

    1.3 Identificar os obstculos que aparecem na investigao tradicional para obteruma interpretao cientfica de problemas epidemiolgicos que ainda no foramadequadamente explicados; e

    1.4 Reconhecer os enfoques convencionais na investigao epidemiolgica

    2. NOTAS TEORICO-METODOLGICAS

    2.1 Elementos Bsicos da Metodologia da Investigao.

    O delineamento de toda investigao tem uma sequncia lgica geral que se resumenas seguintes etapas: colocao e delimitao do objeto problema de estudo; estruturaodo marco terico; construo das hipteses; elaborao de um plano de observaes eaplicao das tcnicas e instrumento escolhidos para a realizao da observao; anlisedos resultados; obteno de concluses que levam a confirmar ou rejeitar parcial ou

    totalmente as hipteses e a definio do valor de uso ou valor prtico da investigao.a) Colocao do problema: a delimitao dos processos que caracterizam o objetode estudo. passar do nvel sensorial lgico do conhecimento.

    Delimitar: encontrar as caractersticas principais, essenciais e necessrias do objetode estudo.

    Processo: tudo o que integra o universo est em constante movimento etransformao.

    Nvel sensorial: sensaes, percepes, representaes.Nvel lgico: conceitos, juzos, raciocnios.b) Marco terico: constitue basicamente a concepo cientfica do universo e os

    postulados cientficos sobre a teoria do conhecimento.Universo: conjunto de todos os processos concatenados em trs nveis: geral,

    particular e individual, regulados por relaes invariveis conhecidas como leis.Com o apoio do marco terico, o investigador delimita o problema e constri as

    hipteses.c) Hiptese: constitui a possvel resposta lgica ao problema (ou pergunta)

    apresentado. constituda pelas premissas ou juzos antecedentes (que se assentam sobreas leis dos processos) e o juzo provvel ou inferncia que deriva logicamente das

    premissas.A hiptese o eixo fundamental no processo de investigao; nela se

    condensa o contedo lgico e o conhecimento que o marco terico traz para ainterpretao do problema objeto.

    Em epidemiologia, as hipteses sobre a origem e comportamento da sade eda doena, no devem circunscrever-se unicamente s relaes de associao (causais)

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    entre fatores" de risco e doenas, mas devem incorporar a explicao de todos osprocessos, sujeitos a diferentes tipos de leis que determinam tal origem e comportamento.

    Operacionalizao de Variveis

    Varivel: as hipteses apontam para a explicao das variaes ou mudanas nosprocessos objeto de estudo, estas variaes tm que sofrer certas operaes para que sepossa determin-las logicamente ou med-las matematicamente. A estas categorias, que

    descrevem mudanas ou variaes nos processos se denomina variveis.

    O processo de operacionalizao inclui os seguintes passos:a) Estabelecer as dimenses das variveis;

    b) Encontrar os indicadores dessas dimenses;

    c) Determinar as escalas de tais indicadores.

    d) A observao: para confirmar as hipteses necessrio realizar observaes que

    permitam obter a informao necessria a respeito do processo em estudo. O plano deobservaes estabelece o mtodo e os procedimentos de observao mais adequados, e as

    tcnicas e instrumentos necessrios para o estudo das variaes estruturais e/ouparticulares e/ou individuais. A observao pode ser:

    Indireta:anlise de contedosobservao estatstica documental

    Direta:Intensiva:

    - semiolgicas e teraputicas

    - experimentais- amostragem intencional- interrogatrio- observao participanteExtensiva:

    - amostragem aleatria, sistemtica ou mista

    - estudo do universo (censo)Para a observao ser necessrio:

    - definir o universo e a unidade de observao;- determinar a amostra;

    - ajustar o mtodo e elaborar os instrumentos;- elaborar o plano de pr-tabulao;- elaborar as instrues e o plano de seleo e capacitao do pessoal de campo;

    - elaborar o plano administrativo-financeiro e o cronograma.

    A execuo da observao compreende:- integrao e capacitao do pessoal;- integrao dos recursos fsicos e tecnolgicos necessrios;

    - plano pilot e avaliao dos instrumentos;

    - reajuste de instrumentos e de capacitao;

    - aplicao dos instrumentos de observao e de capacitao

    - controle de qualidade.e) Anlise dos resultados: nesta etapa se estabelece a coerncia dos resultados com

    as hipteses ou juzos de probabilidade.

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    As tcnicas de anlise so de dois tipos:Lgico-histricas:

    - anlise de inferncias (processo lgico).

    - anlise histrica (modo de produo e conjuntura).- Matemtico-estatsticas (1):

    - Anlise de distribuio e equivalncia.- Anlise de inferncia:- estimativa. Intervalos de confiana para mdias e propores.

    - testes de significncia estatstica para diferena entre mdias e propores

    (teste do x2)-

    - Associao e correlao: - regresso.

    - anlise multivariada.

    f) Concluses: permitem confirmar ou rejeitar total ou parcialmente as hiptesesformuladas no plano terico. A confirmao ou rejeio, total ou parcial, dos juzos de

    probabilidade de forma definitiva, ocorre unicamente quando o conhecimento produzidopermite na prtica a transformao do objeto problema de estudo.

    g) A comunicao cientfica: os conhecimentos cientficos obtidos no processo de

    investigao tm que ser comunicados e difundidos, a fim de que possam ser aplicados naprtica e ganhar sua verdadeira validade cientifica ao intervir na transformao do objeto

    de estudo.

    A comunicao pode dirigir-se somente ao nvel acadmico, ou pode estar dirigidaaos setores populares e, neste caso, adquire seu mximo valor de uso quando a teoria ouconhecimento se materializa, isto , quando aceita e praticada por tais setores.

    2.2. Diferenas entre os Mtodos Clnico e Epidemiolgico:Tanto o mtodo clnico como o mtodo epidemiolgico seguem os diferentes

    passos do mtodo geral que foram descritos de forma resumida no item 2.1, en tretanto,existem algumas diferenas que devem ser explicitadas.

    O mtodo clnico: um sistema de pensamento aplicado ao indivduo. Quem o usa

    se depara com um indivduo cujo problema deve resolver de forma mais ou menos

    imediata. A doena ou transtorno neste caso, a expresso da situao concreta geral,particular e individual na qual se desenvolve tal indivduo, porm a possibilidade deabordar o problema e sobretudo de obter sua soluo se limita fundamentalmente sua

    condio individual. Os limites da prtica clnica so portanto os limites do indivduo. A

    especificidade do mtodo clnico gera certas restries metodolgico-tcnicas queconsistem basicamente na necessidade de dar prioridade e concentrar a ateno nos

    processos que se desenvolvem nos sistemas orgnicos (biolgicos) e nas correspondentestcnicas preventivas ou corretivas de ordem individual (i.e. clnicas, cirrgicas, preveno

    etiolgica imediata). Por este motivo a clnica aplica principalmente as cincias naturais(biolgicas e fsicas) na investigao e tratamento dos casos e aplica ramos menores dascincias sociais (i.e. captulos das cincias da organizao administrativas, jurdicas e dafilosofia, psicologia clnica, comunicao interpessoal).

    O mtodo epidemiolgico: estuda o processo sade-doena em sua dimenso social.O Epidemiologista se defronta com sociedades que esto sujeitas a leis prprias cuja

    explicao ultrapassa as possibilidades do mtodo clnico. A doena produto direto ou

    (1) Pri ncpios de estatst ica que se ampliam nas unidades n.*4 c 6.

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    indireto das condies gerais em que se desenvolve essa sociedade e das condies

    particulares em que se desenvolve uma determinada classe social, e portanto para sua

    compreenso necessrio o conhecimento das leis estruturais (gerais) e aquelas quecondicionam a reproduo social (2) da classe. As possibilidades de explicao do

    processo sade-doena por parte da epidemiologia so mais globais, sempre e quando se

    assentem sobre a interpretao cientfica do universo e suas leis e a adequadacompreenso das leis gerais e sua relao com as leis que regem os processos particulares eindividuais. Os limites da capacidade explicativa da epidemiologia, esto tambmcondicionados pelo desenvolvimento da cincia e da tecnologia em um momentodeterminado.

    Os limites e possibilidades dos mtodos clnico e epidemiolgico podem ser

    compreendidos de melhor forma atravs da seguinte comparao: trs autores propem

    possveis explicaes de problemas relacionados com o "stress ou sobrecarga psquica:

    (2) A categoria reproduo social explicada na Unidade n r 2.

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    ESQUEMA Nr 1

    EXEMPLOS SOBRE DIFERENTES ENFOQUES METODOLGICOSPARA A INVESTIGAO DE TRANSTORNOS VASCULARES

    COLOCAODOPROBLEMA

    Qual o efeito daatividade simpticasobre a hipertensoarterial e stress?

    Quais hbitos econdutas so oscausadores dadoenacoronariana,da hipertenso edo stress?

    Como a organizaosocial determina oaparecimento demortalidade porpor stress?

    HIPTESE Existe associaoentre maiores nveisde atividade simpticapor stress e ahipertenso.

    Padro de condutacoronariana fundamento dostress, hipertenso doena coronariana.

    A organizao produtivamoderna porcausa do trabalhoconflitivo e da destruio de formas solidrias produz stresse mortalidade.

    OBSERVAO Correlao positivade nveis de

    norepinefrina e Nveisde presso arterial.

    Correlao positiva de hbitos

    (agressividade,fumar, poucaatividade motora,dieta) com ostress.

    Estudo da organizaosocial, grupos de

    maior risco e associao entre comportamento de stress emortalidade.

    CORRELATO Frmaco.Parte de outro estudomais geral.

    Psicoterapia, Educao, dieta.Parte de outroestudo mais

    geral.

    Prtica integralde transformao.

    FONTE DE (1) LOUIS-DOYLE - Plasma Norepinehrine Levels in EssentialEXEMPLOS Hypertension: New England, Journal of

    Med., 288:599-601,1973.

    (2) JENKINS - Psycologic and Social Precursors of CoronaryDisease. - New England Journal of Med., 254:244-255, 1971.

    (3) EYER, J. - Stress related Mortality and Social Organization.Journal of Economics, 9 (1): 1 - 44,1977.

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    As investigaes (1) e (2) utilizam o mtodo clnico, atravs do qual se

    chega produo de conhecimentos que tem as seguintes caractersticas:

    a) So conhecimentos verdadeiros, porm no propiciam uma explicao sobre osefeitos de uma situao "causai (ou mais amplamente determinada) que permaneceinexplicada;

    b) O produzir conhecimentos-pardais no permite implementar solues integraisque abarquem toda a sodedade, sendo apenas possvel prevenir alguns efeitos (elevao de

    nveis de norepinefrina, comportamento agressivo, fumar, etc) originados em causas cujasdimenses mais gerais permanecem inexplicadas, e implementar aes de alta ef idnda no

    plano individual;

    c) Os conhecimentos gerados nestes estudos permanecem, portanto, limitados

    fundamentalmente interveo nos indivduos.A investigao (3) procede de forma diferente:

    a) No parte como as anteriores do indivduo, mas parte do estudo daorganizao sodal, do estudo de suas leis, de seu desenvolvimento e dos transtornos que

    se produzem em uma sodedade moderna ; isto do geral, o qual permite descobrir noparticular, grupos de maior risco e a probabilidade individual de adoecer.

    b) A investigao (3) permite ir s causas mesmas do transtorno sodal eexplicar ainda os efeitos nas duas primeiras investigaes.

    c) A prtica que deriva destes conhecimentos pode ser mais integral e dirigidaa toda a sodedade.

    2.3. Obstculos da Epidemiologia traditional na InterpretaoCientfica do Processo Sade-Doena.

    a) A epidemiologia traditional apresenta as limitaes do mtodo positivista: parte

    do objeto sensorial, tratando de encontrar os elementos que integram esse objeto atravs

    de um processo de anlise e no toma a reconstruir o concreto pensado atravs da sntese.Seu ponto de partida so abstraes denominadas fatores que de uma forma isolada sesupe intervir com maior ou menor fora no aparetimento do problema estudado.

    A tuberculose, por exemplo, seria fundamentalmente o resultado da concorrndade mltiplos fatores que compartilhariam uma "responsabilidade causai sem que adinmica unitria e interrelaes entre essas diversas manifestaes ("fatores) fique

    explicada. No caso desse exemplo, aspectos como a desnutrio, a aglomerao, o

    desgaste no trabalho, etc., seriam apresentados como fatores estticos e isolados sem umaexplicao que leve em conta seu movimento e unidade.

    b) outra limitante conctitual e metodolgica a que se expressa na tendncia da

    epidemiologia traditional de interpretar a sodedade como um agregado de elementoshomogneos, de carter basicamente natural e que em termos modernos, seria o chamadocarter ecolgico da sodedade e do mtio ambiente em que esta se desenvolve. Ao

    converter as expresses externas, ecolgicas ou naturais em critrios de explicao dosfenmenos, consegue-se fazer desaparecer a determinao econmico-sodal dos mesmos.

    Essa manobra artiftial de naturalizao ou ecologizao dos problemas atua comobase terica para delinear do ponto de vista epidemiolgico, que as leis que os regem e asaes que se fazem necessrias so de tipo fundamentalmente ecolgico e biolgico,

    deslocando a considerao dos fundamentos econmicos sobre os quais se desenvolve avida sodal. Assim, em lugar de interpretar os processos sodais (e entre eles a

    sade-doena) como expresses de certos modos de produo, das classes sociais em quese divide a sodedade, e em lugar de explicar as razes pelas quais cada classe sodal est

    exposta a diferentes riscos de adoecer e possibilidades de manter a sade, se inventa um

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    sistema ecolgico equilibrado, no qual o equilbrio (i.e. no-mudana) passa a sersinnimo de normalidade ou bom funcionamento (i.e. sade), portanto, tudo o querompe o equilbrio considerado como patognico ou anormal (i.e. doena). Ao noconsiderar que a sociedade est dividida em classes, deixa de lado esta categoria cientfica

    e considera a populao como um conglomerado homogneo no qual as diferenas sereduzem a variaes secundrias, fundamentalmente de carter biolgico (i.e. sexo, idade,

    etc.) ou a outras variaes de carter quantitativo individual (i.e. ocupao, salrios, etc.).

    Por outro lado os estudos de distribuio da morbi-mortalidade regional no so

    interpretados de um ponto de vista cientfico (diferenciao das regies de acordo com omodo de produo), mas partem de interpretaes ecolgicas.

    c) Os problemas de ordem terica ocasionam deficincias tcnicas que aepidemiologia tradicional no pode superar, as quais se resumem em uma sujeiodominante da anlise s leis funcionais e probabilsticas (matemtico- estatsticas) (3) euma mnima importncia para a anlise lgico- histrica. Assim, os aspectos qualitativos

    de carter histrico ou estrutural no so considerados dentro da possibilidade dedentificidade e somente so os aspectos mais imediatos e quantificveis os que se

    admitem como categorias de trabalho para a epidemiologia.

    d) O uso do conhedmento produzido pela epidemiologia tradidonal serviu e serve

    fundamentalmente para sustentar o projeto de dominao poltica das classes dominantes,

    que apoiou e continua apoiando o maior obscurecimento da viso do processosade-doena e o desenvolvimento de alternativas de verdadeira transformao.

    2.4. Modelos Epidemiolgicos Convencionais

    A produo e distribuio da morbi-mortalidade tem sido interpretada de forma

    diferente no curso da histria.A compreenso das diferentes teorias da causalidade s pode dar-se atravs do

    estudo dos processos gerais da sociedade e sua interrelao com os processos particularesou epidemiolgicos. As leis gerais (sociais) condicionam o desenvolvimento e

    comportamento dos processos particulares e estabelecem os limites e possibilidades dasleis do particular. O processo sade-doena e suas teorias interpretativas'somente podem

    ser compreendidos ento a partir do estudo dos processos gerais da sociedade e suainterrelao com os processos particulares de reproduo social.

    Alguns modelos epidemiolgicos convencionais de maior importncia seroexpostos de forma breve e esquemtica.a) Teoria Unicausal da Doena: o modelo unicausal trata de reconhecer uma causa

    nica e fundamental para a produo do efeito-doena, que est sempre colocada fora doorganismo agredido.

    A teoria unicausal da doena esteve presente e foi a concepo dominante

    desde os incios da sociedade: nas pocas primitiva e escravista o homem era dominadopela natureza, pelo externo, e no dispunha dos meios adequados para control-la. Oexterior comandava a sociedade desse tempo e portanto, a doena considerada como

    elemento externo, entrava e saa do corpo incontrolavelmente.

    O grande desenvolvimento das foras produtivas ocorrido com o advento docapitalismo industrial e as necessidades surgidas na conquista de novos territrios

    (3) Este ponto sc amplia na Unidade n? 2.

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    econmicos da frica, sia e Amrica Latina, fez com que a teoria unicausal recuperassenova fora, o que pode ser explicado por:

    O imenso desenvolvimento tecnolgico das cincias fsico- qumicas enaturais forjado no industrialismo que permitiram o grande avano da medicina e,

    paulatinamente, a substituio das explicaes de carter sobrenatural.As descobertas microbiolgicas estimuladas pelas empresas de exploraoem territrios tropicais que impulsionaram decididamente a reconceituao dacausalidade. Nesta conceituao, o parasita, a bactria e, posteriormente, o vrus passarama ser as causas ltimas e nicas das doenas e substituram as dominantes concepessobrenaturais, que prevaleceram na Idade Mdia, e as frgeis proposies Virchowianas decasualidade social.

    A necessidade das foras hegemnicas da sociedade de esconder ostranstornos sociais produzidos pelo sistema irracional de explorao capitalista.

    b) Teoria Multicausal da Doena: a teoria mui ti causal da doena se consolidou na

    dcada de 60 e substituiu a teoria unicausal. Esta teoria coloca que a causa da doena no nica, mas coexiste com vrias outras causas.

    A teoria unicausal havia perdido paulatinamente a capacidade de propiciaruma resposta adequada s necessidades do sistema no campo da epidemiologia. Haviaconduzido no campo dos servios formulao de complicados sistemas de atenoapoiados numa custosa infraestrutura tcnica de diagnstico e tratamento, e as imensasinverses nesse tipo de ateno mdica, permitiram o acesso de pequenos grupos

    pertencentes s classes dominantes ou daqueles grupos de trabalhadores qualificados, eportanto, de alto custo e indispensveis para a produo capitalista de rotina. Estefenmeno se fez presente mais notoriamente nos pases subdesenvolvidos, onde

    imensas massas continuam sem a proteo dos servios estatais.Esses fatos se somam crise do capitalismo que se iniciou na dcada de 60, e

    que se caracterizou por um dficit fiscal agudo (receita estatal insuficiente para manter asdespesas), que obrigou e obriga a uma constante diminuio dos gastos estatais (educao,sade, previdncia social, etc.).

    Alm disso, a conscientizao e o crescimento concomitante da luta popular,especialmente daqueles imensos setores "marginalizados, contribuiu para que o sistemativesse que desenvolver um novo marco de interpretao do processo sade-doena quetomasse factvel conduzir aes conseqentes com essas necessidades: descobrir fatorescausais na produo do problema fceis de atacar, com medidass baratas e que

    permitissem implementar medidas coletivas de controle. No se tratava de chegar sverdadeiras causas do problema, mas colocar uma cortina ideolgica que distorcesse arealiade, mas que permitisse ao mesmo tempo obter resultados pragmticos adequados.

    por isso que Mac Mahon e os multicausalistas afirmam que a epidemiologiapretende ter o propsito prtico de descobrir as relaes que ofeream possibilidades paraa preveno da doena. No somos capazes, muitas vezes, de descobrir algum poder ouconexo necessria, alguma qualidade que ligue o efeito causa e faa com que um sejaconseqnca infalvel da outra. (4)

    Este modelo nopermite portanto buscar as verdadeiras causas do problema,as causas necessrias seno dar uma resposta prtica, (segundo as prprias palavras de

    (4) Mac M ahon, B.; Pugh, T. - Princpios y M todos de

    Epidemiologia. Mxico, La Prensa Mdica Mexicana, 197 5, 2da. Ed ., p . 15.

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    Mac Mahon) cortando a cadeia causal mediante a supresso ou modificao de uma das

    variveis intervenientes no aparecimento do problema com o fim de conseguir diminu-loa nveis tolerveis, sem tocar as causas estruturais que podem desequilibrar o sistema.

    c) O modelo da Trade Ecolgica de Leavell e Gark: uma variante mais dinmica e

    desenvolvida do modelo multicausal aquela da Trade Ecolgica de Leavell e Clark.

    Segundo esta, as causas se ordenam dentro de trs possveis categorias ou fatores queintervm e condicionam o aparecimento e desenvolvimento da doena. Estes trsfatores so: o agente, o hospedeiro e o ambiente, os quais se encontraminterrelacionados em um constante equilbrio. O comportamento anormal de um dosfatores pode causar alteraes nos outros. Assim, a presena de um ambiente desfavorvel

    (ex: existncia limitada de alimentos), ocasiona transtornos no hospedeiro (diminuiodas defesas) e ativao do agente que permanecia em estado no agressivo (ex: bacilo deKoch) e a conseqliente ruptura do equilbrio de todo o sistema, com o aparecimento datuberculose.

    Ainda que este modelo permita explicar de forma mais sistemtica e dinmica

    o processo sade-doena, no obstante, se baseia em critrios que traduzem profundoserros:

    a) Ignora-se a categoria social do homem, transformando-o em um fatoreminentemente biolgico. Isto permite esconder as profundas diferenas de classe queexistem entre os homens". (5)

    Permite restaurar as condies biolgicas para que o homem como fora detrabalho se mantenha no mercado. Ao separar artificialmente o sujeito social (fator

    homem) de sua produo (a cultura classificada como um integrante do fator meioambiente) se desvanece a origem social desses produtos que aparecem como um ser

    estranho, como um poder independente do produto e que pode les-lo, sem que a prpria

    organizao do 'fator humano tenha que ver com o problema. (6)b) O mesmo acontece com os outros fatores, agente e meio, que aparecem

    como elementos histricos. Esta interpretao deformada permite propor medidas

    corretivas biolgico-ecolgicas e em nenhum momento buscar transformaes estruturais

    que atentem contra o equilbrio do sistema.

    3. Exemplos Prticos

    3.1. Uma rplica s concepes tradicionais sobre produo da doena.Thomas Mc Keown (7) estuda o comportamento da tuberculose na Inglaterra

    e Gales de 1948 a 1971 e demonstra que a mortalidade por Tuberculose diminuiupaulatinamente durante os anos estudados, e que a maior parte da diminuio das taxasde mortalidade ocorreu antes da introduo da estreptomicina.

    (5) B RE ILH, J . Epidemiologi : Eco nom ia , M edic ina e Ppl tica . Ed. U nivers i t r ia , Q ui to , 197 9, p .

    102.

    (6) BR EILH , J . - Op . c i t ., p . 102.

    (7) MC KEOWN, T. - Th e ro le o f m edic ine : Dream, Mirage , or Nem esis . s. L on don , Nuff ie ld

    Provincial Hospital Trust , 1976.

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  • 7/25/2019 Saude Na Sociedade

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