saúde mental no sus, acesso ao tratamento e mudanças do modelo de atenção - 2007

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saúde mental

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  • Ministrio da Sade

    Sade Mental no SUS: Acesso ao Tratamento e Mudana doModelo de Ateno

    Relatrio de Gesto

    2003-2006

    Coordenao Geral de Sade Mental

  • Ministrio da Sade

    Sade Mental no SUS: Acesso ao Tratamento e Mudana doModelo de Ateno

    Relatrio de Gesto

    2003-2006

    Coordenao Geral de Sade Mental

    Braslia Janeiro de 2007

  • Ministrio da Sade, 2007

    Ministro da Sade: Jos Agenor lvares

    Secretrio de Ateno Sade: Jos Gomes Temporo

    Diretora do DAPE: Maria Cristina Boaretto

    Coordenador de Sade Mental: Pedro Gabriel Delgado

    Capa: sobre tela de Maria do Socorro Santos (militante do movimento de usurios de sade mental

    do Rio de Janeiro, falecida em 2005). Autorizado pela curadoria do acervo: Projeto Maria do

    Socorro Santos (Projeto Transverses/Escola de Servio Social/UFRJ e IFB).

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade/DAPE. Sade

    Mental no SUS: acesso ao tratamento e mudana do modelo de ateno. Relatrio de Gesto 2003-2006. Ministrio da Sade: Braslia, janeiro de 2007, 85p.

  • SumrioApresentao........................................................................................................................................7

    1. Articulao entre as instncias do SUS para o processo de gesto da poltica de sade mental......9

    1.2 O Colegiado de Coordenadores de Sade Mental................................................................... .........9

    2. Avanos na construo da rede de ateno de base comunitria...................................................11

    2.1. Os Centros de Ateno Psicossocial: expanso e consolidao................................. ....................11

    2.2. As Residncias Teraputicas............................................................................. ............................18

    2.3. Os Ambulatrios de Sade Mental......................................................................... .......................19

    2.4. Os Centros de Convivncia e Cultura............................................................................ ................21

    2.5. Sade mental na ateno bsica: as Equipes Matriciais de Referncia................... .......................21

    2.6. Hospitais-dia............................................................................................................................ ......24

    3. Reestruturao da Assistncia Psiquitrica Hospitalar e o processo de desinstitucionalizao ....25

    3.1. Reestruturao da assistncia psiquitrica hospitalar: reduo de leitos e mudana do perfil dos

    hospitais.............................................................................................................................................. ..25

    3.2 O processo de Interveno do Ministrio da Sade em Hospitais Psiquitricos............................30

    3.3. Experincias exitosas: Campina Grande - PB e Carmo - RJ........................................... ...............35

    3.4. O Programa de Volta para Casa............................................................................................ .........37

    4. Estratgia de ateno para transtornos associados ao consumo de lcool e outras drogas............39

    4.1. A construo da Poltica de lcool e Outras Drogas............................................... ......................39

    4.2. Poltica sobre o lcool.................................................................................................................. .41

    4.3. Legislao.................................................................................................................................. ....42

    4.4. Articulao com a sociedade................................................................................ .........................42

    5. Programa Permanente de Formao de Recursos Humanos para a Reforma Psiquitrica ............44

    6. Avanos na construo e implementao de polticas e programas de sade mental: o desafio da intersetorialidade................................................................................................................................45

    6.1. Poltica de Sade Mental para a infncia e adolescncia...................................... .........................45

    6.2. Programa de Incluso Social pelo Trabalho.............................................................................. .....47

    6.3. Sade Mental e Direitos Humanos................................................................................................ .48

    6.4. O Caso Damio Ximenes........................................................................................................... ....49

    6.5 Poltica de Sade Mental e Interveno na Cultura...................................................................... ..50

  • 6.6. Sade Mental da Populao Negra......................................................................... .......................51

    6.7. Brasil sem Homofobia.................................................................................................. .................52

    6.8. Sade Mental e Gnero............................................................................................................. .....53

    6.9. Os Manicmios Judicirios....................................................................................................... .....54

    6.10. Ateno s urgncias............................................................................................ .......................55

    6.11. Estratgia Nacional de Preveno ao Suicdio.............................................................. ...............56

    6.12. Acesso ao tratamento em epilepsia: articulao sade mental e ateno bsica.................... .......57

    7. Perspectivas de sustentabilidade da mudana de modelo...............................................................58

    7.1. Sustentabilidade econmica..................................................................................................... ......58

    7.2. Sustentabilidade social ............................................................................................................... ..60

    7.3. Sustentabilidade cultural.......................................................................................................... ......61

    7.4. Sustentabilidade tecnolgica....................................................................................................... ...61

    7.5. Sustentabilidade e Pacto pela Vida............................................................................... .................61

    Glossrio................................................................................................................... ...........................63

    8. Anexos................................................................................................................ ............ ............. 67

    8.1. Principais Eventos, Seminrios e Encontros promovidos/apoiados pelo Ministrio da Sade no

    perodo 2003-2006............................................................................................................................... .67

    8.2. Pesquisas e outros projetos financiados e/ou apoiados........................................ ..........................69

    8.3. Atos Normativos...................................................................................................................... ......73

    8.4. Apoio para Realizao de Programas de Formao no perodo................................... ..................77

    8.5. Publicaes e peridicos....................................................................................................... .........79

    6

  • Apresentao

    O objetivo deste documento relatar os avanos e dificuldades, entre 2003 e 2006, da gesto

    do complexo processo de mudana do modelo de ateno sade mental, a partir das aes do

    Ministrio da Sade um dos diversos atores do processo da Reforma Psiquitrica Brasileira. A

    Poltica de Sade Mental do SUS segue as determinaes da lei 10.216/2001 e referendada pela

    III Conferncia Nacional de Sade Mental e conferncias nacionais de sade. O que apresentaremos

    a seguir no ser um relato exaustivo das aes do Ministrio neste perodo, mas suas principais

    estratgias e resultados, e as mudanas observadas na superao do cenrio de desassistncia que j

    caracterizou a ateno sade mental pblica no Brasil.

    Sempre que for possvel, sries histricas sero apresentadas para uma melhor apreenso da

    mudana de cenrio efetuada nestes ltimos quatro anos, assim como para a anlise das

    dificuldades, impasses e indicao de futuras aes. A listagem dos principais atos normativos do

    perodo, dos principais projetos de pesquisa financiados e dos eventos mais relevantes promovidos

    tambm ser oferecida em anexo ao documento, e permitir no somente um registro histrico do

    perodo, mas a indicao do porte do investimento na mudana do modelo de ateno.

    O relatrio apresentado em 6 partes, seguidas de um Anexo:

    1. Articulao entre as instncias do SUS para o processo de gesto da poltica.

    2. Avanos na construo da rede de ateno de base comunitria.

    3. Reestruturao da assistncia psiquitrica hospitalar e o processo de desinstitucionalizao.

    4. Estratgia de ateno para transtornos associados ao consumo de lcool e outras drogas.

    5. Programa de formao permanente de recursos humanos para a ateno em sade mental.

    6. Aes intersetoriais.

    Inclui-se ainda uma discusso final, sobre a sustentabilidade do processo de mudana do

    modelo assistencial, especialmente nos aspectos da gesto e do financiamento.

    Destacamos dois fatos relevantes descritos neste relatrio: a marca atingida em 2006, de

    mais de 1.000 Centros de Ateno Psicossocial cadastrados e em funcionamento no SUS, e a

    superao, pela primeira vez, do montante de recursos financeiros da ateno extra-hospitalar em

    7

  • relao quele destinado aos hospitais psiquitricos, num cenrio de ampliao regular dos recursos.

    Ambos os fatos autorizam a concluso de que a mudana do modelo assistencial psiquitrico no

    SUS tornou-se uma realidade.

    Este Relatrio foi apresentado Comisso Intergestores Tripartite, em sua reunio de

    08.02.2007.

    Para facilitar a leitura deste relatrio, ser oferecido um glossrio ao final do documento. Os

    verbetes disponveis no glossrio estaro marcados em azul ao longo do texto.

    8

  • 1. Articulao entre as instncias do SUS para o processo de gesto da poltica de sade mental

    Como em outras reas do SUS, a gesto da poltica de sade mental tarefa complexa,

    descentralizada, com diversos nveis de deciso e de controle social. a III Conferncia Nacional

    de Sade Mental (dezembro de 2001), com ampla participao dos movimentos sociais, de usurios

    e de seus familiares, que forneceu, na melhor tradio do Sistema nico de Sade, os substratos

    polticos e tericos para a poltica de sade mental no Brasil nos ltimos anos. A formulao, a

    pactuao e a articulao das diretrizes propostas pela III Conferncia exigiu uma instncia

    democrtica e articulada de gesto pblica deste processo. Neste sentido, foi de especial

    importncia a construo e consolidao do Colegiado de Coordenadores de Sade Mental

    (CCSM), reunido pela primeira vez em 2003.

    1.2 O Colegiado de Coordenadores de Sade Mental

    Composto por 146 pessoas, entre coordenadores de sade mental do estados, das capitais e

    grandes cidades, alm de representantes e consultores do Ministrio da Sade, CONASS e

    CONASSEMS, o Colegiado sustentou-se, no perodo do primeiro governo Lula, como a instncia

    mais abrangente de articulao do processo de gesto da Poltica de Sade Mental. O Colegiado

    reuniu-se ao menos duas vezes ao ano a partir de 2003, e em reunies de dois dias tinha a tarefa de

    discutir os desafios e avanos do processo de mudana do modelo de ateno sade mental em

    cada um dos estados brasileiros, propondo as aes prioritrias para cada semestre ou ano. Abaixo,

    o registro da sua composio.

    Composio do Colegiado de Coordenadores de Sade Mental

    Fonte: Coordenao Geral de Sade Mental/DAPE/SAS

    9

    Participantes N membrosCoordenadores Estaduais de Sade Mental 27Coordenadores de Sade Mental de Capitais 26Coordenadores de Sade Mental de Municpios com mais de 300.000 habitantes 44Equipe da Coordenao de Sade Mental do Ministrio da Sade 13Coordenadores de Sade Mental de Municpios com grande concentrao de Leitos 13Consultores ou interlocutores da Coordenao de Sade Mental do Ministrio da Sade 14Representao CONASS e CONASSEMS 2Observador do Conselho Nacional de Sade 1Tcnicos de outras instncias do Ministrio da Sade/SUS (DAPE, DERAC, DABe, SE, PN DST/AIDS, ANVISA) 6Total 146

  • Em todos os estados, uma instncia de coordenao de sade mental encarrega-se da

    articulao com as instncias de coordenao municipais. Alguns estados constituem Comisses de

    Acompanhamento da Poltica de Sade Mental, com participao do controle social. Instncias

    especficas de articulao intersetorial vo se formando em diversas estados e municpios, como o

    Frum de Sade Mental de Crianas e Adolescentes, com forte participao de outras polticas

    pblicas, especialmente Ao Social, Justia e Educao.

    No mbito do Ministrio da Sade, a Coordenao Geral de Sade Mental situa-se no

    Departamento de Aes Estratgicas (DAPE), subordinado Secretaria de Ateno Sade (SAS).

    10

  • 2. Avanos na construo da rede de ateno de base comunitria

    A articulao de uma rede de ateno sade mental de base comunitria foi um dos

    principais desafios desta gesto. Somente uma rede, com seu potencial de construo coletiva de

    solues, capaz de fazer face complexidade das demandas e de garantir resolutividade e a

    promoo de autonomia e cidadania s pessoas com transtornos mentais. A rede de sade mental

    complexa, diversificada, de base territorial, e deve constituir-se como um conjunto vivo e concreto

    de referncias para o usurio dos servios. Abaixo, os principais avanos conquistados na

    construo de uma ateno em rede e de base comunitria em sade mental no SUS.

    2.1. Os Centros de Ateno Psicossocial: expanso e consolidao

    Nos ltimos quatro anos, a expanso, consolidao e qualificao da rede de ateno

    sade mental, sobretudo dos Centros de Ateno Psicossocial (CAPS), foram objetivos principais

    das aes e normatizaes do Ministrio da Sade. Estratgicos para a organizao da rede de

    ateno sade mental num determinado territrio, a expanso destes servios foi fundamental para

    mudar o cenrio da ateno sade mental no Brasil. Neste perodo, o Ministrio da Sade pautou-

    se pela implantao de uma rede pblica e articulada de servios.

    A deciso poltica pela composio de uma rede pblica de CAPS enfrentou resistncias,

    uma vez que o Sistema nico de Sade possibilita a contratao de servios privados, em carter

    complementar rede pblica. As recomendaes da III Conferncia Nacional de Sade Mental, e o

    carter estratgico destes servios, que tm atribuies intransferveis, fundaram, no entanto, a

    deciso poltica por uma rede CAPS de gesto pblica. A partir de 2003, apenas CAPS pblicos

    (em sua quase totalidade, municipais) foram cadastrados junto ao Ministrio da Sade. Na mesma

    direo, os municpios foram incentivados a municipalizar os poucos servios privados ou

    filantrpicos, existentes h mais tempo na rede, e que prestassem atendimento relevante. Hoje,

    98,6% dos CAPS da rede so pblicos.

    Durante o primeiro governo Lula os gestores tambm foram incentivados a expandir a rede

    CAPS a partir dos municpios de maior porte. A relao servio/populao, de fato, um dos

    principais indicadores da adequao da rede s demandas da populao. Como resultado deste

    processo, a rede CAPS totalizou 1011 servios no ano de 2006. Temos hoje 430 CAPS I, 320

    11

  • CAPS II, 37 CAPS III, 75 CAPSi e 138 CAPSad e os CAPS esto presentes em todos os estados da

    federao. Apenas 6 dos 74 municpios com mais de 300.000 habitantes no tm um servio tipo

    CAPS em sua rede de ateno sade. O nmero de servios mais que dobrou nos ltimos quatro

    anos e, embora a maioria deles ainda se concentre nas regies Sul e Sudeste, evidente o impacto,

    no acesso ao tratamento, da expanso de servios em estados onde a assistncia extra-hospitalar em

    sade mental era praticamente inexistente, especialmente nas regies Nordeste e Centro-Oeste. A

    Tabela 1 mostra o incremento anual, no perodo analisado, dos CAPS nas unidades federativas

    (totais de servios ao fim de cada ano).

    Tabela 1 Expanso dos Centros de Ateno Psicossocial por UF: servios existentes

    (dezembro de 2002 a dezembro 2006)

    Fonte: Coordenao de Sade Mental

    12

    UFNm ero de Centros de Ateno Psicossocial

    2002 2003 2004 2005 2006Regio Norte

    AM 0 0 0 1 3AC 0 1 1 1 2AP 1 1 2 2 2PA 12 15 19 20 24TO 4 5 5 5 5RR 0 1 1 1 1RO 2 3 4 7 9

    Regio NordesteAL 6 7 7 13 35BA 14 32 37 42 89CE 24 26 29 36 57MA 4 5 6 19 36PB 2 4 12 16 34PE 11 17 20 24 31PI 1 1 3 10 21RN 6 7 9 12 21SE 3 8 13 16 20

    Regio Centro-OesteDF 2 2 2 3 3GO 6 11 13 16 19MT 9 12 17 24 28MS 4 4 5 9 12

    Regio SudesteES 6 7 9 11 15MG 56 67 80 91 105RJ 51 52 59 63 72SP 105 110 127 143 166

    Regio SulPR 15 16 22 31 54RS 55 61 70 78 97SC 25 25 33 44 50

    TOTAL 424 500 605 738 1011

  • O estado da Bahia, por exemplo, sextuplicou1 o nmero de CAPS em funcionamento nos

    ltimos quatro anos, passando de 14 CAPS ao final de 2002, para 89, ao final de 2006. O estado de

    Pernambuco, assim como Gois, quase triplicou o nmero de CAPS nos ltimos 4 anos: Gois

    passou de 6 CAPS em funcionamento, ao final de 2002, para 19 CAPS em 2006 (embora com

    expanso concentrada na capital). Note-se que se trata de estados com grande tradio

    hospitalocntrica e baixa cobertura assistencial.

    Uma grande expanso de servios pode tambm ser detectada nos estados de Mato Grosso,

    Alagoas, Piau, Paraba, Paran, Rondnia e Sergipe, alm dos estados de So Paulo e Minas

    Gerais. Desta forma, embora a distribuio espacial dos CAPS ainda reflita as desigualdades

    estruturais entre as regies brasileiras, est dada uma clara tendncia de ampliao igualitria da

    cobertura.

    De fato, neste perodo a poltica de financiamento do Ministrio da Sade para os Centros de

    Ateno Psicossocial foi extremamente favorvel expanso da rede. O estabelecimento de uma

    forma estratgica de financiar os servios, atravs do FAEC, ainda no ano de 2002 (PT 336/02), foi

    crucial para a expanso, consolidao e fortalecimento da rede extra-hospitalar. Os recursos do

    FAEC, por serem novos, fora dos tetos financeiros municipais, favoreciam uma distribuio mais

    homognea destes servios no Brasil.

    Em 2003, num esforo permanente de expanso e consolidao da rede, o Ministrio da

    Sade publicou a portaria GM 1455, que estabelecia incentivos financeiros nicos, repassados

    fundo a fundo, para cada CAPS implantado no pas, superando o lento e ineficiente mecanismo de

    celebrao de convnios entre o Ministrio da Sade e os municpios. Neste perodo (2003), o

    Ministrio da Sade repassou recursos para a compra de equipamentos para todos os CAPS pblicos do pas, e estabeleceu o repasse automtico do recurso para cada CAPS que fosse

    cadastrado no futuro.

    Ao fim de 2004, os incentivos para os CAPS passam a ser antecipados, isto , repassados

    antes de o servio estar em funcionamento (PT GM 1935/04 e PT GM 245/05) .Isto possibilitou aos

    gestores sanar problemas com os espaos fsicos, equipamentos ou capacitao. Apenas em 3

    meses de vigncia desta portaria, cerca de 100 solicitaes de recurso j haviam sido recebidas pelo

    Ministrio da Sade, e no restou dvida de que este foi um dos principais mecanismos de induo

    da implantao destes servios nos municpios nos ltimos dois anos.

    1 Expressando o deslocamento do ritmo de crescimento dos CAPS no sentido do Nordeste e do Norte, e tomando como base o nmero de CAPS em janeiro de 2003, os estados que tiveram maior incremento foram, pela ordem: 1. Piau , 2. Paraba, 3.Maranho, 4. Sergipe, 5. Bahia, 6. Alagoas, 7. Rondnia, 8. Paran, 9. Rio Grande do Norte, 10. Gois. Os de menor crescimento (devendo levar-se em conta, obviamente, aqueles do Sul e Sudeste que partem de um patamar de maior cobertura) foram: 1. Roraima, 2. Tocantins, 3. Rio de Janeiro, 4. Distrito Federal, 5. So Paulo, 6. Rio Grande do Sul, 7. Minas Gerais, 8. Santa Catarina, 9. Amap e 10. Par.

    13

  • Grfico 1 : Expanso anual dos CAPS (da dcada de 80 a dezembro de 2006)

    Fontes: Ministrio da Sade. A partir de 2001, Coordenao de Sade Mental. Antes de 2001 - Levantamento CAPS Disque-Sade 2001

    A avaliao da cobertura da rede CAPS deve levar em conta a populao residente nos

    estados e nos municpios. Nos ltimos quatro anos, a construo e constante reviso pelo

    Ministrio da Sade do indicador CAPS/100.000 habitantes, deu instrumento aos gestores para a

    avaliao e definio de prioridades na implantao da rede de ateno psicossocial. Tal indicador

    deve ser sensvel s peculiaridades de cada servio da rede CAPS e capacidade de resposta efetiva

    de cada um deles (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad). Desta forma, considerou-se

    para o clculo do indicador que o CAPS I prov cobertura efetiva a 50.000 habitantes; que o CAPS

    III d cobertura a 150.000 habitantes; e que os CAPS II, CAPSi e CAPSad do cobertura a 100.000

    habitantes. Desta forma, o retrato da cobertura da rede CAPS no pas passou a ser mais acurado,

    orientando melhor os gestores em sade mental (Tabela 2).

    14

    80-88 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 20060

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1000

    1100

    6 10 12 15 23 3451 63 92

    112 148179 208

    295

    424500

    605

    738

    1011

  • Tabela 2 Cobertura CAPS/100.000 habitantes por UF (dezembro de 2002 dezembro de 2006)

    Fonte: Coordenao de Sade Mental / MS

    IBGE Estimativas populacionais (2002 a 2006)

    Considerando as estimativas populacionais do IBGE para os anos de 2002, 2003, 2004, 2005

    e 2006, o indicador CAPS/100.000 habitantes capaz de refletir a efetiva capacidade de resposta

    dos servios para uma populao residente sempre crescente. Considera-se que um estado ou

    municpio tem de razovel a boa cobertura quando o indicador ultrapassa 0,50. Note-se que sete

    estados (Alagoas, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe e

    Cear), em 2006, j alcanam esta referncia, em contraste com dois estados (Distrito Federal e

    15

    UFCAPS/100.000 habitantes ponderado

    2002 2003 2004 2005 2006Regio Norte 0,11 0,19 0,22 0,23 0,27

    AM 0 0 0 0,02 0,09AC 0 0,17 0,16 0,15 0,29AP 0,19 0,19 0,36 0,34 0,32PA 0,16 0,21 0,24 0,24 0,27TO 0,25 0,28 0,28 0,27 0,26RR 0 0,28 0,27 0,26 0,25RO 0,14 0,17 0,2 0,36 0,42

    Regio Nordeste 0,12 0,18 0,25 0,33 0,55AL 0,17 0,21 0,2 0,3 0,67BA 0,08 0,19 0,23 0,25 0,44CE 0,25 0,27 0,3 0,35 0,57MA 0,04 0,05 0,07 0,23 0,43PB 0,06 0,1 0,27 0,36 0,72PE 0,14 0,2 0,24 0,27 0,32PI 0,03 0,03 0,08 0,22 0,48RN 0,19 0,23 0,27 0,37 0,56SE 0,11 0,32 0,55 0,66 0,75

    Regio Centro-Oeste 0,15 0,18 0,22 0,31 0,36

    DF 0,07 0,07 0,07 0,11 0,11GO 0,1 0,18 0,21 0,24 0,28MT 0,25 0,32 0,41 0,57 0,66MS 0,16 0,16 0,2 0,31 0,40

    Regio Sudeste 0,24 0,26 0,30 0,33 0,40ES 0,17 0,18 0,23 0,28 0,37MG 0,26 0,3 0,35 0,37 0,44RJ 0,28 0,29 0,33 0,34 0,39SP 0,26 0,27 0,30 0,33 0,38

    Regio Sul 0,30 0,32 0,39 0,46 0,59PR 0,15 0,16 0,21 0,28 0,45RS 0,39 0,44 0,52 0,56 0,70SC 0,35 0,35 0,43 0,54 0,61

    TOTAL 0,21 0,24 0,29 0,33 0,44

  • Amazonas) que apresentam cobertura muito baixa (abaixo de 0,20 CAPS por 100.000 habitantes).

    O indicador aplicado populao brasileira, reflete, por sua vez, um sensvel aumento da

    cobertura, que, ainda que esteja aqum do parmetro estabelecido pelo Ministrio da Sade, revela

    uma melhora progressiva da cobertura assistencial. A Tabela 3 apresenta o ranqueamento da

    cobertura de CAPS por UF, em dezembro de 2006.

    Tabela 3 Ranking da cobertura CAPS/100.000 hab. Por UF.

    Fonte: Coordenao de Sade Mental/MS

    16

    Ranking UFCAPS/100.000 hab.Dezem bro de 2006

    1 SE 0,752 PB 0,723 RS 0,704 AL 0,675 MT 0,666 SC 0,617 CE 0,578 RN 0,569 PI 0,4810 PR 0,4511 BA 0,4412 MG 0,4413 MA 0,4314 RO 0,4215 MS 0,4016 RJ 0,3917 SP 0,3818 ES 0,3719 AP 0,3220 PE 0,3221 AC 0,2922 GO 0,2823 PA 0,2724 TO 0,2625 RR 0,2526 DF 0,1127 AM 0,09

  • O mapa ajuda a visualizar a cobertura CAPS/100.000 habitantes em todo o pas:

    A rede de Centros de Ateno Psicossocial, a depender do tipo de CAPS, experimentou

    diferentes ritmos de expanso neste perodo. Os CAPS I e os CAPSad aumentaram em duas vezes

    e meia o nmero de servios existentes. A expanso dos CAPS especficos - CAPSad, CAPSi e

    CAPS III - foi o principal desafio do perodo. Por serem inovaes e tecnologias complexas, estas

    trs modalidades apresentam como desafio central, alm de sua expanso, o asseguramento da

    qualidade do atendimento, com a caracterstica de servios abertos territoriais de ateno diria.

    Notadamente, o CAPS III foi o tipo de servio com menor expanso durante o perodo, por tratar-se

    de um dos dispositivos de maior complexidade da rede e por enfrentar o preconceito cultural da

    necessidade estrita da internao hospitalar.

    17

  • Tabela 4 Expanso dos Centros de Ateno Psicossocial por tipo (dezembro de 2003 dezembro de 2006)

    Fonte: Coordenao Geral de Sade Mental

    2.2. As Residncias Teraputicas

    Nos ltimos anos, o complexo esforo de implantao das residncias teraputicas exigiu

    dos gestores do SUS uma permanente articulao com a comunidade, a vizinhana e outros cenrios

    e pessoas do territrio. O Ministrio da Sade pautou-se durante o atual governo pela orientao dos

    municpios para a conduo de um processo responsvel de trabalho teraputico com as pessoas que

    esto saindo do hospital psiquitrico, pelo respeito a cada caso, e ao ritmo de readaptao de cada

    pessoa vida em sociedade. Desta forma, a expanso destes servios, embora permanente, mostrou

    ter um ritmo prprio e acompanhou, de forma geral, o processo de desativao de leitos

    psiquitricos.

    Grfico 2 Servios Residenciais Teraputicos em funcionamento (2002 a 2006)

    Fonte: Ministrio da Sade/Coordenao de Sade Mental

    18

    Tipo de Servio AnoCAPS 2002 2003 2004 2005 2006

    CAPS I 145 173 218 283 439

    CAPS II 186 208 236 271 320

    CAPS III 19 24 29 26 37

    CAPSi 32 37 44 56 77

    CAPSad 42 58 78 102 138

    Total 424 500 605 738 1011

    2002 2003 2004 2005 2006

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    500

    85

    141

    265

    393

    475

    Anos

    SRTe

    m fu

    ncio

    nam

    ento

  • A rede de residncias teraputicas conta hoje com 475 servios em funcionamento, com

    aproximadamente 2.500 moradores. A expanso dos Centros de Ateno Psicossocial, o

    desativamento de leitos psiquitricos e, em especial, a instituio pelo Ministrio da Sade de

    incentivo financeiro, em 2004, para a compra de equipamentos para estes servios, foram alguns

    dos fatores que contriburam para a expanso desta rede, que contava, em dezembro de 2002, com

    apenas 85 residncias em todo o pas e que hoje quintuplicou o nmero de servios. De fato, o

    incentivo financeiro antecipado, isto , repassado aos municpios antes de a residncia estar em

    funcionamento, parece ter sido um dos mais importantes fatores de incentivo expanso desta rede.

    2.3. Os Ambulatrios de Sade Mental

    Podemos considerar que avanamos nos ltimos anos na superao da dicotomia CAPS

    versus ambulatrios, muito embora esta discusso exija ainda maior amadurecimento. No avanamos, ou avanamos muito pouco, no entanto, na apreenso qualificada dos dados sobre o

    nmero, a configurao e o modo de funcionamento dos ambulatrios (862 servios, segundo

    levantamento realizado pela Coordenao de Sade Mental em dezembro de 2006). De fato,

    necessrio que o campo da Sade Mental discuta estes servios de forma mais aprofundada, articule

    melhor a relao entre CAPS ambulatrios territrio e entre ambulatrios - ateno bsica e

    territrio, formulando diretrizes de funcionamento destes equipamentos, ainda sob a normatizao

    da PT SNAS 224, de 1992.

    Neste campo, ainda h muito a ser feito. Em geral, os ambulatrios de sade mental prestam

    assistncia sobretudo s pessoas com transtornos mentais menores - cerca de 9% da populao

    (todas as faixas etrias) - e apresentam, em sua grande maioria, um funcionamento pouco articulado

    rede de ateno sade. So referncia para inmeras consultas em psiquiatria e psicologia, em

    especial, mas sua resolutividade tem sido baixa - a maioria possui imensas listas de espera e as

    crises no seu funcionamento so freqentes. Entendemos que, em muitos locais, necessria uma

    reformulao deste modo de funcionamento, rediscutindo o papel dos ambulatrios na rede de

    ateno em sade mental e possibilitando uma integrao dos servios existentes.

    Os ambulatrios so especialmente necessrios em municpios maiores que possuem maior

    demanda de ateno aos transtornos em geral. Nestes locais, junto a uma rede efetiva de CAPS, os

    ambulatrios existentes certamente podem servir de suporte para o atendimento dos transtornos

    menos graves, buscando a articulao com as equipes da ateno bsica em cada territrio. Porm,

    em municpios que ainda no possuem CAPS e municpios menores, necessrio que os

    19

  • ambulatrios existentes se responsabilizem pelos transtornos mentais graves, articulando-se com a

    ateno bsica para o acompanhamento dos transtornos menores. Para isso, necessrio que se

    aproximem cada vez mais da forma de atendimento realizada pelos CAPS. Essa discusso ainda

    precisa de um maior aprofundamento para a definio de novas diretrizes nos prximos anos.

    Levantamentos mais sistemticos do dispositivo ambulatorial esto em andamento.

    Tabela 5 Ambulatrios de Sade Mental por UF2

    Fonte: Coordenao de Sade Mental, levantamento 2006.

    Tambm integram o componente ambulatorial os procedimentos do sistema SIA, que

    remontam ao antigo INAMPS: consultas de psiquiatria, psicodiagnstico, terapias em grupo,

    terapias individuais. O quadro abaixo expressa o nmero de consultas de psiquiatria, em totais

    anuais, no perodo 2002-2006. O nmero permanece estvel. Este componente (consultas avulsas

    remuneradas pelo SUS) tem baixa articulao com o sistema como um todo, regulao apenas

    2 Adotou-se o critrio de considerar como dispositivo ambulatorial o servio constitudo por pelo menos 4 (quatro) profissionais prestando atendimento. No so definidos aqui como ambulatrio de sade mental os centros de sade (ateno bsica) ou hospitais gerais que contam com um at trs profissionais que prestam consultas de sade mental. Assim, existe um atendimento ambulatorial disperso na ateno bsica e hospitais gerais, e que no est includo nos dispositivos referidos na Tabela 5.

    20

    Unidade Federativa Ambulatrios de Sade Mental

    Regio Norte 18Acre 4Amap 1Amazonas 2Par 1Rondnia 1Roraima 2Tocantins 7Regio Nordeste 148Alagoas 8Bahia 37Cear 4Maranho 4Paraba 3Pernambuco 62Piau 17Rio Grande do Norte 1Sergipe 12Regio Centro-Oeste 22Distrito Federal 1Gois 9Mato Grosso 6Mato Grosso do Sul 6Regio Sudeste 394Esprito Santo 31Minas Gerais 89Rio de Janeiro 68So Paulo 206Regio Sul 280Paran 54Rio Grande do Sul 104Santa Catarina 122Brasil 862

  • administrativa e efetividade de difcil avaliao.

    Tabela 6: Produo ambulatorial do SUS Consulta em Psiquiatria 2002-2006

    Fonte: Datasus * 2006: estimativa

    2.4. Os Centros de Convivncia e Cultura

    Entre os anos de 2003 e 2006, o Ministrio da Sade promoveu a avaliao da incluso dos

    Centros de Convivncia e Cultura nas redes de ateno sade mental das grandes cidades.

    Dispositivo altamente potente e efetivo na incluso social das pessoas com transtornos mentais em

    tratamento, a implantao dos Centros de Convivncia e Cultura nos municpios necessita, como

    requisito prvio, de resposta pblica efetiva e consolidada para os transtornos mentais severos e

    persistentes. O processo de discusso dos Centros possibilitou ao Ministrio da Sade a

    recomendao, especialmente a partir de 2005, da implementao destes dispositivos em

    municpios com uma boa rede CAPS e com populao superior a 200.000 habitantes. A poltica de

    financiamento para estes servios ainda est em construo, e, a partir de 2006, passa a ser

    articulada junto ao Ministrio da Cultura uma estratgia de incluso destes servios no programa de

    Pontos de Cultura do MINC. Existem hoje aproximadamente 60 Centros de Convivncia e Cultura

    em funcionamento no pas, em sua maioria concentrados nos municpios de Belo Horizonte,

    Campinas e So Paulo.

    2.5. Sade mental na ateno bsica: as Equipes Matriciais de Referncia

    O Ministrio da Sade estimulou ativamente nos ltimos anos a incluso, nas polticas de

    expanso, formulao, formao e avaliao da Ateno Bsica, de diretrizes que remetessem

    dimenso subjetiva dos usurios e aos problemas mais graves de sade mental. Essas diretrizes tm

    enfatizado a formao das equipes da ateno bsica e o apoio matricial de profissionais de sade

    21

    Quantidade aprovada2002 2003 2004 2005 2006*

    Consulta em psiquiatria 5.096.945 5.043.187 4.960.583 5.135.009 5.267.382

  • mental junto a essas equipes.

    A partir de 2005, os indicadores de sade mental passaram a fazer parte do elenco de

    indicadores da ateno bsica, embora a mudana no Sistema de Informaes da Ateno Bsica

    (SIAB) ainda no tenha entrado em vigor. Em 2006, foram includos parmetros para aes de

    sade mental na ateno bsica (entre outros) nas diretrizes para a Programao Pactuada e

    Integrada da Assistncia Sade - PPI, publicados na Portaria GM n 1097, de 22 de maio de 2006,

    e intensificou-se o esforo de garantir o acesso da populao, em especial nos pequenos municpios

    brasileiros, ateno em sade mental.

    Em um nmero expressivo de municpios existem profissionais de sade mental lotados em

    Centros e Postos de Sade, realizando consultas, atendimento individual, atendimento em grupo,

    aes de promoo da sade (ver nota 2, p.20). Esta forma de atendimento ambulatorial na ateno

    bsica, tradicional na sade pblica brasileira, necessita de maior efetividade, resolutividade e

    articulao mais orgnica com a rede de sade.

    A estratgia de implementao de Equipes Matriciais de Referncia em Sade Mental foi

    articulada junto aos gestores e cada vez mais os municpios tm aderido a esta proposta.

    Com a institucionalizao da Estratgia Sade da Famlia na maior parte do pas, a ateno

    bsica viu-se obrigada a invenes para desenvolver a integralidade da ateno com grupos de

    sade mental egressos de longas internaes psiquitricas, como o caso de Campina Grande PB,

    com sua experincia com mulheres do Pedregal. No Cear, a ateno em sade mental junto s

    equipes de sade da famlia organiza-se a partir dos CAPS; em Pernambuco e Vale do

    Jequitinhonha-MG, so criados servios prprios de onde as equipes de sade mental acompanham

    as equipes de sade da famlia; em Campinas/SP, as equipes de sade mental que existiam nas

    Unidades Bsicas de Sade (UBS) foram inseridas na equipe de sade da famlia com o papel de

    referncia especialidade e apoio ateno integral da equipe generalista. Com base em diretrizes

    gerais, a ateno em sade mental nas Unidades Bsicas de Sade passa a desenvolver diferentes

    modelagens de norte a sul, acompanhando as mudanas.

    Vrias experincias de apoio em sade mental na ateno bsica esto acontecendo hoje,

    tais como: em Recife/PE, com as chamadas equipes de retaguarda; em Aracaju/SE com a vivncia

    de equipes itinerantes desenvolvidas a partir de profissionais dos CAPS junto com as equipes de

    referncia ambulatorial nas UBS; em Betim/MG, por meio da parceria entre equipe de sade mental

    e Agentes Comunitrios de Sade; o esforo de Joo Pessoa/PB para incluso da sade mental no

    Sistema de Informaes, entre tantas outras experincias. Nota-se que nos municpios onde existem

    CAPS o acompanhamento s equipes da ateno bsica tem sido organizado e realizado a partir

    desses servios. Da a importncia da organizao de planos municipais de sade mental que,

    partindo da realidade local, planejam e implantam uma rede de sade mental, por meio da

    22

  • organizao de CAPS por territrio, obedecendo aos parmetros de cobertura, com equipes

    ampliadas, para que esses servios possam dar conta do trabalho de matriciamento s equipes da

    ateno bsica, alm dos demais dispositivos necessrios a essa rede. De todos os CAPS, espera-se

    que realizem atividade sistemtica de matriciamento, o que aferido atravs do Programa

    AVALIAR-CAPS (ver Anexo,8.2).

    Levantamento recente realizado junto s Coordenaes Estaduais de Sade Mental, mesmo

    que ainda no concludo, revela que em muitos estados existem aes de sade mental sendo

    desenvolvidas na ateno bsica em municpios com menos de 20 mil habitantes; em alguns

    municpios existem aes sistemticas, com apoio de profissionais de sade mental. Porm, em

    grande parte dos municpios as aes apresentam menor regularidade e no contam com o apoio de

    profissionais de sade mental. Constata-se tambm que, nos municpios em torno de 20 mil

    habitantes onde foram implantados CAPS, o apoio matricial s equipes da ateno bsica acontece a

    partir dos CAPS. Esse levantamento, embora ainda no concludo, demonstra que mecanismos de

    induo financeira, pelo Ministrio da Sade, para o desenvolvimento da poltica de sade mental

    na ateno bsica, so fundamentais. Esta dever ser uma das principais prioridades para a expanso

    e qualificao da sade mental na ateno bsica na gesto 2007- 2010.

    Vrios municpios de menor porte no possuem CAPS, mas tm ambulatrios. No entanto,

    necessrio melhorar a articulao desses servios com a ateno bsica para que as equipes dos

    ambulatrios se desloquem de seus espaos tradicionalmente institucionalizados e passem a realizar

    um trabalho em conjunto com as equipes da ateno bsica.

    Quanto formao das equipes, podemos contabilizar inmeras capacitaes para

    integrao Sade da Famlia e Sade Mental numa nica rede de cuidados aos usurios de todo o

    SUS.

    Os cursos oferecidos para as equipes da ateno bsica tm se configurado em diferentes

    modalidades: cursos para as equipes da ateno bsica (incluindo todos os profissionais), cursos

    somente para agentes comunitrios de sade, cursos para equipes da ateno bsica juntamente com

    equipes de sade mental. Alm disso, o Ministrio da Sade tem incentivado o desenvolvimento das

    Residncias Multiprofissionais em Sade Mental, envolvendo diferentes profissionais da rede

    pblica de sade. Vrios cursos de Especializao em Sade da Famlia e as Residncias

    Multiprofissionais em Sade da Famlia, tm sido financiados pelo Ministrio da Sade nos ltimos

    anos em diversos Estados, tais como: AC, AL, AP, CE, DF, ES, GO, MG, RS, SC, SP, MT, PA,

    PB, RN, PR, SE, entre outros. Os cursos de capacitao em sade mental para equipes da ateno

    bsica tm sido desenvolvidos em estados como: CE, SE, PA, PR, RS, MG, RJ, entre outros (ver

    Anexo, 8.4).

    As experincias das equipes matriciais de sade mental e os processos de formao esto

    23

  • ainda em construo. No h dvida de que a implantao, expanso e qualificao do apoio

    matricial um dos principais desafios para a gesto da Poltica de Sade Mental do pas nos 4

    prximos anos e para a garantia de acessibilidade ateno, um dos maiores desafios do Sistema

    nico de Sade. Do mesmo modo, o fortalecimento de uma poltica efetiva de formao

    continuada, que envolva tanto as equipes de sade mental como as da ateno bsica, dever ser

    uma das principais prioridades se queremos dar conta de fato da integralidade do sujeito.

    Como estratgia de ampliao do conhecimento nesta rea, e induo de aes especficas, a

    Coordenao de Sade Mental props a implementao de um Observatrio de Sade Mental na

    Ateno Bsica, a ser conduzido pelas reas responsveis por estas polticas, no mbito do

    Ministrio da Sade, em parceria com Universidades. Trata-se de mais um desafio para os prximos

    anos.

    2.6. Hospitais-dia

    O hospital-dia de sade mental, um dos primeiros equipamentos do SUS a garantir o

    cuidado em meio aberto s pessoas com transtornos mentais, hoje em dia um servio em processo

    de superao, especialmente face ao papel desempenhado pelos Centros de Ateno Psicossocial.

    De fato, o investimento do Ministrio da Sade nos CAPS nos ltimos anos, tanto na expanso da

    rede como na capacitao de suas equipes, fez com que vrios hospitais-dia de base comunitria

    transformassem progressivamente seu cotidiano num cotidiano mais dinmico e com um alto

    comprometimento com a insero social de seus usurios. Muitos hospitais-dia transformaram-se

    assim em Centros de Ateno Psicossocial, assumindo sua funo estratgica de ordenamento da

    rede de ateno em sade mental em seu territrio.

    Existem ainda, no entanto, 24 servios cadastrados junto ao Ministrio da Sade como

    hospitais-dia em sade mental (segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sade) que

    recebem do SUS cerca de 15 milhes de reais/ano. Por tratar-se de uma tecnologia de cuidado em

    processo de superao, o Ministrio da Sade dever recadastrar nos prximos anos os hospitais-dia

    que j funcionam como CAPS, e rediscutir aqueles que permanecerem com um perfil hospitalar, os

    quais tm mostrado baixa efetividade na reintegrao social dos pacientes egressos de internaes.

    Espera-se que a implantao de servios comunitrios (CAPS e ambulatrios) e a expanso da

    ateno psiquitrica em hospitais gerais conduza superao progressiva deste dispositivo, que teve

    importncia histrica na mudana do modelo de ateno em sade mental.

    24

  • 3. Reestruturao da Assistncia Psiquitrica Hospitalar e o processo de desinstitucionalizao

    3.1. Reestruturao da assistncia psiquitrica hospitalar: reduo de leitos e mudana do perfil dos hospitais

    No primeiro governo Lula, o processo de desinstitucionalizao avanou significativamente,

    sobretudo com a instituio, pelo Ministrio da Sade, de mecanismos para a reduo gradual e

    planejada de leitos no pas e a expanso de servios substitutivos ao hospital psiquitrico.

    Neste perodo, o Programa Nacional de Avaliao do Sistema Hospitalar/Psiquiatria

    (PNASH/Psiquiatria) - primeiro processo avaliativo sistemtico, anual, dos hospitais psiquitricos

    no Brasil, institudo em 2002 - e o Programa Anual de Reestruturao da Assistncia Hospitalar

    Psiquitrica no SUS (PRH) - estratgia de reduo progressiva e pactuada de leitos a partir dos

    macro-hospitais, instituda em 2004 - foram os principais mecanismos de avaliao e reduo de

    leitos psiquitricos.

    Tais mecanismos, aliados expanso de uma rede de ateno aberta e comunitria, permitiu

    a reduo e substituio significativa de leitos psiquitricos, especialmente de longa permanncia, e

    o fechamento de vrios hospitais psiquitricos em pssimas condies de funcionamento. Embora

    em ritmos diferenciados, a reduo do nmero de leitos psiquitricos efetivou-se em todos os

    estados brasileiros, sendo muitas vezes este processo o desencadeador do processo de mudana do

    modelo de ateno. Entre os anos de 2003 e 2006 foram reduzidos 11.826 leitos.

    No grfico 3 pode-se ver a curva descendente da reduo gradual de leitos. Em 2006 rompemos a barreira dos 40.000 leitos, tendo hoje 226 hospitais, que totalizam 39.567 leitos.

    Grfico 3 Leitos Psiquitricos SUS por ano (dezembro de 2002 dezembro de 2006)

    Fontes: Em 2002-2003, SIH/SUS, Coordenao Geral de Sade Mental e Coordenaes Estaduais. Em 2004-2005, PRH/CNES.

    25

    Ano Leitos HP

    2002 51.3932003 48.3032004 45.8142005 42.0762006 39.567

    2002 2003 2004 2005 2006

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    35.000

    40.000

    45.000

    50.000

    55.000

    Anos

    Nm

    ero

    de le

    itos

  • O PNASH/Psiquiatria

    O PNASH/Psiquiatria revelou dados importantes do ponto de vista da gesto, para a

    reorientao da assistncia psiquitrica hospitalar. Nas duas avaliaes realizadas foram constatados

    problemas graves na assistncia prestada pelos hospitais:

    Projeto teraputico: a maioria dos hospitais no possua um projeto teraputico para

    seus pacientes, ou o projeto apresentado no condizia com a prtica institucional. Em 2002,

    os hospitais foram muito mal avaliados neste item: 62,30% foram avaliados como regulares

    e ruins e 14% como pssimos. Em 2004, aumentaram os hospitais avaliados como pssimos

    (18%) e aumentaram os hospitais regulares e ruins (67,87%). Isto significa que a maioria

    dos hospitais apresentava um projeto escrito que no condizia com a realidade (regular e

    ruim). E os avaliados como pssimos (14%) sequer tinham projeto teraputico. Ou seja, os

    hospitais, em geral, no trabalhavam a reinsero social dos pacientes, gerando cronicidade

    nesta populao.

    Recursos Humanos: em 2002, a maioria dos hospitais no foi bem avaliada neste

    quesito. 34% pssimo, 17% ruim e 20% regular (71%). Isto significa que eles no

    atendiam s exigncias da Portaria GM/MS n 251/02 quanto ao nmero de

    profissionais e/ou quanto categoria profissional. Em 2003 este nmero se manteve

    estvel (72%), ou seja, os hospitais continuam mal avaliados, em geral, no que se

    refere ao item recursos humanos.

    Aspectos gerais da assistncia: em 2003, 62,42% dos hospitais foram avaliados

    como ruins ou pssimos neste quesito, ou seja:

    1. Apresentam tempo mdio de internao em torno de 1 ms

    ou mais;

    2. Possuem 20% ou mais de pacientes de longa permanncia

    (mais de 1 ano de internao).

    O PNASH aponta que 62% dos hospitais apresentam 20% ou mais de pacientes de longa permanncia. Levantamentos e censos feitos por algumas Coordenaes de Sade Mental definem

    melhor estes dados: na Bahia (censo 2004) temos 25,6% de moradores nos hospitais; em SP

    (levantamento 2003) h quase 60% de moradores; no RJ h censos que indicam entre 40 e 50% de

    moradores. Como ndice aproximado para fins de planejamento podemos considerar 35% de

    pacientes moradores, considerando as diferenas regionais.

    26

  • Os estados do Sudeste concentram a maior parte dos leitos (60,32%) e dos pacientes

    moradores, o que aponta a necessidade de maiores investimentos destes estados nesta populao,

    para sua desinstitucionalizao.

    Esta tarefa complexa, em funo das caractersticas que esta populao adquire no

    processo de longa institucionalizao: desterritorializao, diferentes graus de dependncia,

    afastamento familiar, poucos recursos sociais, idade avanada, entre outros. Porm, temos tido

    experincias exitosas neste campo (ver relatos de Campina Grande/PB e Carmo/RJ), que nos

    exigem mais estudos sobre este segmento e maior intensificao no processo de

    desinstitucionalizao desta populao.

    O processo de avaliao dos hospitais psiquitricos enfrentou diversos obstculos e

    resistncias em sua implantao e em seu processo de consolidao, sobretudo por parte dos

    prestadores conveniados ao SUS. Sofreu vrias aes judiciais, tendo havido suspenso das

    vistorias, nos dois processos avaliativos realizados (2002 e 2003-2004), provocando atrasos na

    finalizao das avaliaes; a avaliao 2003-2004 no estado de So Paulo s foi realizada em 2005.

    O PNASH/Psiquiatria 2006 est em curso, tendo se iniciado em novembro de 2006. Ainda hoje h

    aes judiciais em curso, a pedido dos prestadores privados conveniados ao SUS, para que a

    Portaria GM n 251/02, que institui o programa, seja suspensa.

    O PNASH/Psiquiatria consolidou-se, neste perodo, como importante instrumento de

    avaliao dos hospitais psiquitricos. Alm de traar claramente os critrios da qualidade de

    assistncia a ser prestada nestas instituies, constitui-se como um mecanismo regulador da rede

    psiquitrica hospitalar, a partir da articulao entre os setores da Sade Mental, Vigilncia Sanitria

    e Controle e Avaliao.

    O Programa Anual de Reestruturao da Assistncia Hospitalar Psiquitrica no SUS

    O Programa Anual de Reestruturao da Assistncia Hospitalar Psiquitrica no SUS - PRH

    foi institudo em 2004, pela Portaria GM n 52/04, visando uma nova pactuao na reduo gradual

    de leitos, com uma recomposio da diria hospitalar em psiquiatria. Este programa foi discutido

    amplamente com gestores estaduais e municipais de sade e prestadores filantrpicos e privados,

    com o objetivo de formular uma proposta de reorganizao da rede de assistncia hospitalar

    psiquitrica, na direo da reduo de leitos e da melhoria da qualidade da assistncia dos hospitais

    psiquitricos. O programa foi tambm amplamente discutido no Conselho Nacional de Sade, aps ao judicial interposta pela Federao Brasileira de Hospitais, tendo sido aprovado pelo plenrio

    do CNS; no mbito judicial, as portarias que o regulamentam foram igualmente confirmadas.

    27

  • Trs questes fundamentaram a conduo das discusses:

    a necessidade de estabelecer uma planificao racional dos investimentos

    financeiros do SUS no sistema hospitalar psiquitrico e na rede de ateno

    psicossocial;

    a urgncia de se estabelecerem critrios racionais para a reestruturao do

    financiamento e remunerao dos procedimentos de atendimento em hospital

    psiquitrico, com recomposio das dirias hospitalares.

    A necessidade de estabelecer um mecanismo de reduo progressiva dos

    leitos, de modo a modificar o perfil dos hospitais, privilegiando instituies

    de menor porte.

    Desta forma, buscou-se a reduo progressiva do porte hospitalar, de modo a situarem-se os

    hospitais, ao longo do tempo, em classes de menor porte (at 160 leitos). Os hospitais de menor

    porte so tecnicamente mais adequados a um bom funcionamento clnico e integrao eficaz com a

    rede extra-hospitalar, ao contrrio dos macro-hospitais. Ao mesmo tempo, garante-se que as

    redues de leitos se efetivem de forma planejada, de modo a no provocar desassistncia nas

    regies onde o hospital psiquitrico ainda tem grande peso na assistncia s pessoas com

    transtornos mentais.

    No perodo 2004-2006, houve uma reconfigurao dos portes dos hospitais. Em 2002,

    tnhamos 24,11% dos leitos nos hospitais at 160 leitos (hospitais de pequeno porte). Em 2006,

    42,53% dos leitos esto em hospitais deste porte, como pode-se constatar nos grficos abaixo.

    Grfico 4 : Migrao dos leitos de hospitais de maior porte para hospitais de menor porte, sem a criao de novos leitos ou novos hospitais

    Fonte: Em 2002 , SIH/SUS, Coordenao Geral de Sade Mental e Coordenaes Estaduais. Em 2006, PRH/CNES.

    28

    2002 20060

    100020003000400050006000700080009000

    1000011000120001300014000150001600017000

    at 160161 - 240241 - 400401 - 600acima de 600

    Nm

    ero

    de le

    itos

  • Tabela 7: Migrao dos leitos de hospitais de maior porte para hospitais de menor porte, sem

    a abertura de novos leitos ou novos hospitais

    Fonte: Em 2002 , SIH/SUS, Coordenao Geral de Sade Mental e Coordenaes Estaduais. Em 2006, PRH/CNES.

    Por fim, importante destacar que a Poltica Nacional de Sade Mental vem trabalhando

    nos ltimos anos com o conceito de leitos de ateno integral em sade mental (hospitais gerais, CAPS III, emergncias gerais, leitos dos Servios Hospitalares de Referncia para lcool e

    Drogas), que se associam aos leitos de hospitais de pequeno porte, onde estes existirem. Estes leitos

    devem ofertar o acolhimento integral ao paciente em crise, articulados e em dilogo com outros

    dispositivos de referncia para o paciente. A tendncia de que esta rede de leitos de ateno

    integral, medida de sua expanso, apresente-se como substitutiva internao em hospitais

    psiquitricos convencionais.

    Este processo, com ritmo pactuado entre os gestores do municpio e do estado, hospitais e

    controle social, tem sido acompanhado em sua grande maioria pelo aumento progressivo dos

    equipamentos e das aes para a desinstitucionalizao, tais como CAPS, Residncias Teraputicas,

    aes na Ateno Bsica, Centros de Convivncia e a habilitao dos municpios no Programa de

    Volta para Casa.

    importante indicar que ocorrem situaes de descredenciamentos de hospitais

    psiquitricos, decididos de forma unilateral por parte dos prestadores. Como exemplo, temos a

    situao de fechamento de 520 leitos em dois hospitais de Salvador, BA, em 2006, em um

    municpio que ainda apresenta uma rede precria de sade mental. Atravs da interveno do

    Ministrio Pblico, conseguiu-se um prazo de seis meses para o encerramento das atividades dos

    dois hospitais. Estes fechamentos abruptos no planejados e no pactuados - muitas vezes tm

    sido problemticos do ponto de vista da gesto e da conduo do processo de desinstitucionalizao

    dos pacientes internados, colocando em risco a garantia da assistncia a esta populao.

    29

    Faixas/Portes Hospitalares

    Leitos Psiquitricos2002 2006

    N % N %

    At 160 leitos 12.390 24,11 16.829 42,53De 161 a 240 leitos 11.314 22,01 8.234 20,81De 241a 400 leitos 12.564 24,45 8.128 20,54De 401a 600 leitos 7.198 14,01 2.942 7,44Acima de 600 leitos 7.927 15,42 3.434 8,68

    Total 51.393 100 39.567 100

  • 3.2 O processo de Interveno do Ministrio da Sade em Hospitais Psiquitricos

    Em agosto de 2004, o Ministrio da Sade anunciou a deciso de intervir judicialmente em

    10 hospitais psiquitricos conveniadas ao SUS, aps os resultados da avaliao realizada pelo

    Programa Nacional de Avaliao dos Servios Hospitalares (PNASH/Psiquiatria) e aps denncias

    de movimentos organizados (Comisso de Direitos Humanos da OAB e Conselho Federal de

    Psicologia, Movimento da Luta-antimanicomial, movimentos locais de familiares de pacientes) que

    pediam providncias quanto aos maus-tratos nas instituies psiquitricas. Estes hospitais se

    localizam nos estados da Bahia, Pernambuco, Paraba, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e

    Minas Gerais.

    Temos, neste cenrio de intervenes, duas situaes, a saber:

    PNASH/Psiquiatria 2002: 8 hospitais que foram indicados para descredenciamento (5 foram fechados);

    PNASH/Psiquiatria 2003/2004: 5 hospitais que foram indicados para descredenciamento

    em 2004 (1 foi fechado)

    O detalhamento dos hospitais apontados para descredenciamento pode ser visto nos quadros

    a seguir:

    PNASH Psiquiatria 2002 Hospitais indicados para descredenciamento

    **Sob interveno municipal***Sob interveno estadual

    30

    UF Municpio Hospital Le itos Julho Leitos outubro2002 2006

    SP Ribeiro Preto Sanatrio Esprita Vicente de Paulo 54 FechadoGO Goinia Clnica Esprita de Repouso 51 FechadoMG Barbacena Sanatrio Barbacena Ltda 121 FechadoPB Campina Grande Inst . de Neuropsiquiatria e Reabilitao Funcional 145 FechadoRJ Carmo Hospital Estadual T eixeira Brando 262 FechadoMG Montes Claros Hospital Prontomente 124 60RJ Paracambi Casa de Sade Dr. Eiras/Filial Paracambi 1130 533**RN Caic Casa de Sade Milton Marinho/Hospital do Serid 107 15***

    Total 1994 608

  • PNASH Psiquiatria 2003-2004 Hospitais indicados para descredenciamento em 2004

    **Gesto Compartilhada MS/SES

    No processo de revistorias do PNASH/Psiquatria 2003/2004 foram reavaliados, em 2005 e

    2006, 52 hospitais, dos quais 7 foram indicados para descredenciamento. Esta situao est em

    processo de pactuao com os gestores locais.

    O descredenciamento dos hospitais com pssimas condies de assistncia verificadas pelas

    vistorias feitas pelos gestores de sade estaduais e municipais conduzido pelo gestor local. Deve

    ser feito um planejamento para o fechamento da porta de entrada e para a desinstitucionalizao dos

    pacientes internados. A portaria 251/02 estabelece a pactuao, com o gestor local, de prazos para o

    descredenciamento.

    Em resumo, a situao dos hospitais indicados para descredenciamento pelo

    PNASH/Psiquiatria 2002 e 2003/2004 a seguinte:

    Resumo dos processos:

    1) Total de hospitais indicados a descredenciamento pelo PNASH/Psiquiatria : 132) Hospitais fechados: 6

    3) Hospitais sob interveno municipal ou estadual: 2 (Paracambi/RJ e Caic/RN)4) Hospitais sob gesto compartilhada: 1 (Feira de Santana/BA)

    5) Hospitais em processo de descredenciamento: 4 (Montes Claros/MG, Juazeiro/BA, Salvador/BA, Camaragibe/PE)

    A seguir, breve exposio da situao de cada uma das instituies que esto em processo

    de fechamento, referentes ao PNASH 2002 e 2003/2004.

    31

    UF Municpio Hospital Le itos 2004 Le itos 2006RJ Nova Iguau Hospital Santa Ceclia 200 FechadoBA Feira de Santana Hospital Colnia Lopes Rodrigues 500 400**BA Salvador Sanatrio So Paulo 220 175BA Juazeiro Sanatrio N. Sr de Ft ima 80 55PE Camaragibe Hospital Jos Alberto Maia 870 870Total 1870 1500

  • 32

    Casa de Sade Milton Marinho - Caic/RN PNASH 2002 Em processo de fechamento.

    Em novembro de 2005 foi feita uma interveno estadual pela Secretaria Estadual de Sade do Rio Grande do Norte, que assumiu a direo da Casa de Sade Milton Marinho.

    Hoje h somente 15 pacientes no hospital, a partir do processo de reorientao do modelo assistencial de sade mental promovido em Caic e na regio do Serid/RN. Foram implantados vrios CAPS na regio do Serid: Currais Novos, So Gonalo do Amarante, Parelhas, Jucurutu e Patos (PB) j tm servios em funcionamento. Alm disso, foi realizado um amplo processo de capacitaes em sade mental na ateno bsica e em servios de sade mental, em municpios estratgicos da regio.

    O hospital dever ser descredenciado do SUS dentro de alguns meses.

    Hospital Alberto Maia Camaragibe/PE PNASH 2003/2004

    Foi criada em 2004 uma Comisso Estadual de Acompanhamento do Processo de Reestruturao da Assistncia Psiquitrica Hospitalar no estado de PE e de acompanhamento do processo de desinstitucionalizao no Hospital Jos Alberto Maia. Esta Comisso criou dois grupos de trabalho: Comisso Excecutiva, composta pelas trs instncias do SUS, para discutir estratgias para o processo de desinstitucionalizao e uma Comisso de Levantamento dos Pacientes que fizeram visitas ao hospital para fazer um censo clnico-psicossocial dos pacientes internados.

    A Comisso tem realizado reunies com os municpios que recebero os pacientes-moradores do Hospital Alberto Maia, especialmente nos municpios de Olinda, Jaboato, Paulista e Recife.

    O processo teve inmeras dificuldades na sua conduo poltica, mas neste momento o municpio de Camaragibe sinalizou o interesse em acelerar o processo de desinstitucionalizao dos pacientes do hospital. Em 2007 ser feita uma nova pactuao entre as trs instncias do SUS para um novo planejamento das aes de sade mental no municpio e na regio para a sada dos pacientes daquele hospital.

    O pedido de interveno judicial tambm foi negado, em vrias instncias. O processo ainda corre na Justia.

    A situao em Camaragibe permanece como o mais grave desafio para o processo de desinstitucionalizao, pelo elevado nmero de pacientes (840), com tempo mdio de permanncia superior a 10 (dez) anos.

  • 33

    Casa de Sade Dr. Eiras Paracambi/RJ PNASH 2002Em processo de interveno municipal

    A Casa de Sade Dr. Eiras Paracambi ( RJ), que em 2002 tinha 1130 leitos (em outubro de 2000 havia na clnica 1510 leitos) atualmente conta com 533 leitos. Esta instituio j est sob interveno do gestor municipal, em parceria com a Secretaria de Estado da Sade do Rio de Janeiro e com o apoio do Ministrio da Sade, desde 18 de junho de 2004.

    O processo de desinstitucionalizao contnuo neste hospital, que por suas dimenses e caractersticas regionais, ainda demandar esforos conjuntos para que se chegue ao seu fechamento. O processo tem dificuldades sobretudo em funo da pequena participao de gestores municipais da regio, que, em alguns casos, relutam em assumir a responsabilidade pelo cuidado em sade mental dos pacientes originrios de seus municpios, que se encontram ali internados.

    Sanatrio So Paulo Salvador/BA PNASH 2003/2004Sanatrio Nossa Sr de Ftima Juazeiro/BA

    Medida liminar foi concedida em 30 de novembro de 2004, a favor da interveno nos dois hospitais e os interventores de ambos os hospitais (o processo conjunto) assumiram a administrao em janeiro/2005, quando foram nomeados judicialmente. Os proprietrios dos hospitais de Juazeiro e de Salvador recorreram da deciso e a interveno foi suspensa. A ao ainda est sendo julgada pelo TRF da 1 regio e as intervenes ainda podero ser retomadas.

    O Sanatrio So Paulo apresenta maiores dificuldades de fechamento, em funo de estar localizado em Salvador, que no ano de 2006 teve reduo de 520 leitos com o fechamento de 2 hospitais psiquitricos, a pedido do prestador. A rede extra-hospitalar no municpio est em expanso lenta, e ainda apresenta srias dificuldades em garantir a assistncia em sade mental s pessoas com transtornos mentais que esto sendo desinstitucionalizadas.

    Criou-se o Projeto de Reorganizao das Aes de Sade Mental no Vale do So Francisco, que envolve a Universidade Federal do Vale do So Francisco, o Ministrio da Sade e os municpios da regio. um projeto que apia os municpios da Macro-Regional Assistencial de Juazeiro e Petrolina (27 municpios do norte da Bahia e 30 municpio do serto de Pernambuco) na criao de uma rede de ateno psicossocial e realiza vrios processos de formao dos profissionais e de pesquisa em sade mental, tendo em vista o processo de desinstitucionalizao na regio. Durante os anos de 2005-2006, foram implantados diversos CAPS em vrios municpios da regio e realizados cursos de capacitao para os profissionais dos CAPS em relao ao cuidado dos transtornos mentais, lcool e drogas, infncia e adolescncia e tambm capacitao para Sade da Famlia, urgncia e emergncia e Hospital Geral. Como resultados, tivemos um processo intenso de mudana no perfil assistencial da regio, com a criao de 12 novos CAPS, 1 Residncia Teraputica em Juazeiro e um processo permanente de formao dos profissionais articulado com a Universidade Federal do Vale do So Francisco.

  • Durante o processo de intervenes foram realizadas diversas reunies com os secretrios

    estaduais e municipais de sade envolvidos, bem como com os coordenadores estaduais e

    municipais de sade mental. Estiveram tambm presentes alguns consultores da Coordenao de

    Sade Mental, das respectivas regies.

    Pode-se considerar que do ponto de vista jurdico, houve muitas dificuldades para a obteno de liminares para que as intervenes fossem realizadas, o que no impediu que

    fossem feitas articulaes de aes de sade mental entre os gestores dos 3 nveis de gesto. Na

    maioria dos processos, as linhas gerais da conduo das intervenes tcnicas j foram definidas,

    havendo dificuldades de ordem poltica no nvel local.

    Consideramos que o processo de desinstitucionalizao nestes municpios teve avanos

    importantes, pois em muitos municpios foi possvel o fechamento dos hospitais (Ribeiro Preto/SP,

    Barbacena/MG, Goinia/GO, Carmo/RJ, Campina Grande/PB e Nova Iguau/RJ) e em alguns

    municpios, onde no foi possvel o fechamento, houve redues importantes de leitos (em

    Paracambi/RJ reduo de 515 leitos, Caic/RN reduo de 92 leitos, Colnia Lopes

    Rodrigues/BA reduo de 100 leitos).

    34

    Hospital Prontomente Montes Claros/MG PNASH 2002

    Foi criada uma Comisso Estadual de Acompanhamento da Interveno com representantes da Secretaria Municipal de Sade, Secretaria Estadual de Sade, Ministrio da Sade, representantes do Conselho Estadual de Sade e do Frum Mineiro de Sade Mental.

    Representantes do Ministrio da Sade estiveram no municpio no decorrer de 2005 para prestar assessoria no sentido da ampliao de leitos para lcool e drogas no hospital universitrio e para a criao de leitos em um hospital geral.

    A Secretaria Estadual de Sade repassou verbas para a reforma da enfermaria de psiquiatria no Hospital Geral da Unimontes no final de 2006, porm, como houve mudana na gesto municipal, a questo do fechamento do Hospital Prontomente deve ser retomada em 2007.

    O pedido de interveno judicial, feito pelo Ministrio da Sade, foi negado, em vrias instncias. O processo ainda corre na justia. A SES/MG e a Secretaria Municipal de Sade de Montes Claros devem, com o apoio do Ministrio da Sade, tomar as providncias para o fechamento definitivo deste hospital.

  • 3.3. Experincias exitosas: Campina Grande - PB e Carmo - RJ

    Campina Grande/PB

    Dentre as experincias importantes de desinstitucionalizao e reorganizao da rede de

    ateno em sade mental ocorridas no perodo 2003-2006, destaca-se o processo de Campina

    Grande, no estado da Paraba, como exemplar. O Ministrio da Sade obteve liminar na Justia para

    intervir no Hospital Joo Ribeiro, que teve pssima avaliao no PNASH/Psiquiatria 2002, e deu

    incio interveno no hospital que respondia a grande parte da demanda de sade mental da regio

    da Borborema. O processo de desinstitucionalizao dos 176 pacientes do Hospital Joo Ribeiro

    teve incio em abril de 2005, com o descredenciamento do servio da rede SUS em julho de 2005.

    No incio da interveno foi feito um diagnstico aprofundado da situao clnico-

    institucional e administrativo-financeira do hospital, e em seguida elaborada uma proposta de

    desinstitucionalizao, construda conjuntamente com os atores envolvidos no processo de

    interveno: a equipe interventora (indicada pelo Ministrio da Sade), os representantes da

    Secretaria Municipal de Sade (SMS) de Campina Grande e da Coordenao Estadual de Sade

    Mental da Paraba. Realizou-se tambm o I Encontro Regional sobre Reforma Psiquitrica

    (reunindo os 3 estados vizinhos, Paraba, Rio Grande do Norte e Pernambuco), que avaliou a

    situao da assistncia nos municpios e traou planos para a expanso da rede de servios extra-

    hospitalares.

    Dentre as medidas adotadas, realizou-se um amplo plano de altas, criteriosamente operadas,

    que exigiram articulaes com famlias e servios de sade dos locais de origem dos pacientes. Aos

    poucos, num perodo de menos de 02 meses, este plano de altas reduziu o nmero de pacientes,

    restando aqueles que j poderiam ser considerados moradores, pois se encontravam entre 02 e 30

    anos nas dependncias do hospital.

    medida que foram feitas as redues de leitos no hospital, houve uma realocao dos

    recursos para a manuteno dos novos servios de sade mental.

    O plano de sade mental incluiu no s aes e servios para o municpio de Campina

    Grande, mas tambm a ampliao da rede de Sade Mental nos municpios da macro-regio. Os

    vrios municpios do entorno de Campina Grande passaram a responsabilizar-se por seus pacientes

    graves e a estruturar servios prprios. Campina Grande foi habilitada no Programa de Volta para

    Casa e passou a receber incentivos financeiros do Ministrio da Sade para a implantao de CAPS

    e Residncias Teraputicas. Iniciou-se a articulao entre a sade mental e o Servio de Ateno

    Mvel s Urgncias (SAMU). Um concurso pblico foi realizado para a contratao de

    profissionais para os servios substitutivos. No processo foram implantadas progressivamente:

    35

  • 06 SRTS em Campina Grande;

    7 SRTs em municpios da macro-regio de Campina Grande ou nas outras macro-

    regies, destinadas aos ltimos ex-internos do hospital Joo Ribeiro (2 em Souza, 1

    em Boqueiro e 4 em Pianc);

    1 CAPS III em Campina Grande

    2 CAPS i

    1 CAPS AD

    Servio de Emergncia Psiquitrica Regional com 12 leitos.

    Implantao de CAPS I em diversos municpios

    41 usurios no Programa de Volta para Casa

    Acompanhamento matricial, realizado pelos CAPS, das equipes de ateno bsica

    O municpio de Campina Grande, em cerca de um ano, conseguiu reestruturar a assistncia

    em sade mental no municpio e obteve avanos significativos tambm na regio. Houve intensa

    mobilizao de gestores de sade para a construo de novas solues para as demandas de sade

    mental da regio, e uma importante mobilizao da comunidade local para a Reforma Psiquitrica,

    com efetiva melhora na qualidade de vida e da assistncia prestada em sade mental populao.

    Carmo/RJ

    Outro exemplo importante de mudana de modelo assistencial ocorreu em Carmo, no estado

    do Rio de Janeiro. No municpio se localizava o Hospital Teixeira Brando, de natureza pblica

    estadual, que chegou a ter 400 leitos.

    A Secretaria de Sade do Rio de Janeiro elaborou um Plano de Reorientao da Assistncia

    Psiquitrica no Hospital Estadual Teixeira Brando, em 2000, com a assinatura de um Termo de

    Co-Gesto com o municpio de Carmo, visando a consolidao da reorientao da assistncia

    psiquitrica no hospital.

    O Hospital Estadual Teixeira Brando encontrava-se fechado para novas internaes desde

    2000. Desde ento, a Secretaria Estadual de Sade do Rio de Janeiro conduziu um processo de

    desinstitucionalizao dos pacientes, com o apoio do municpio de Carmo e com o apoio tcnico do

    Ministrio da Sade.

    36

  • No municpio foram implantadas 29 residncias teraputicas, sendo 13 com total de 69

    moradores na rea do hospital (pblico), mais 16 residncias no municpio de Carmo, sendo 2 de

    cuidados intensivos com total de 09 moradores. O municpio conta ainda com 1 CAPS I . Foram

    cadastrados 69 usurios no Programa de Volta Para Casa (PVC).

    3.4. O Programa de Volta para Casa

    Criado pela lei federal 10.708 em 2003, o Programa de Volta para Casa a concretizao de

    uma reivindicao histrica do movimento da Reforma Psiquitrica Brasileira. Nos ltimos anos,

    foi possvel constatar os efeitos imediatos do Programa no cotidiano das pessoas egressas de

    hospitais psiquitricos o auxlio reabilitao realiza uma interveno significativa no poder de

    contratualidade social dos beneficirios, potencializando sua emancipao e autonomia. A

    implementao do Programa, no entanto, no se deu sem dificuldades.

    No incio do Programa, constatou-se que a grande maioria dos potenciais beneficirios no

    possuam a documentao pessoal mnima para o seu cadastramento. O Ministrio da Sade

    estimulou ento, sobretudo a partir de 2005, a realizao de mutires da cidadania, em especial

    nos municpios com processos de desinstitucionalizao em curso, para garantir a identificao

    tardia de pessoas longamente internadas. A articulao permanente com o Ministrio Pblico

    mostrou-se fundamental neste e em outros casos para a superao de barreiras para a incluso social

    de pessoas com transtornos mentais.

    No h dvida de que a adeso de beneficirios ao Programa e a desinstitucionalizao

    devem necessariamente caminhar junto ao processo de expanso dos CAPS, de Servios

    Residenciais Teraputicos, dos Centros de Convivncia e Cultura, dos ambulatrios e dos leitos em

    Hospitais Gerais nos municpios. Esta complexa tarefa exige dos gestores do SUS uma permanente

    e produtiva articulao com a comunidade, a vizinhana e outros cenrios e pessoas do territrio e,

    de fato, fundamental a conduo de um processo responsvel de trabalho teraputico com as

    pessoas que esto saindo do hospital psiquitrico, o respeito por cada caso, e pelo ritmo de

    readaptao de cada pessoa vida em sociedade. O complexo processo de desinstitucionalizao

    pode ser, e mostra-se de fato, lento, embora seja muito significativo o nmero de pessoas que,

    atravs do Programa De Volta para Casa e outras aes, deixaram a vida asilar nos ltimos 4 anos.

    O Grfico 3 mostra a evoluo do nmero de beneficirios, desde o incio do Programa, em

    dezembro de 2003.

    37

  • Grfico 5: Nmero de beneficirios do Programa de Volta para Casa (2003 - 2006)

    Fonte: DATASUS/ Coordenao Geral de Sade Mental

    Receber o auxlio-reabilitao um direito que o paciente de longa permanncia egresso do

    hospital psiquitrico conquistou durante o governo Lula. Este dispositivo tem se revelado como

    uma das estratgias mais potencializadoras da emancipao de pessoas com transtornos mentais

    com histrico de longa internao. No h dvida de que nos prximos anos este programa dever

    experimentar grande expanso.

    Est prevista a realizao de um Seminrio Nacional de avaliao do Programa de Volta

    para Casa em maio de 2007.

    38

    2003 2004 2005 20060

    250

    500

    750

    1000

    1250

    1500

    1750

    2000

    2250

    2500

    2750

    206

    879

    1991

    2519

    Anos

    Nm

    ero

    de b

    enef

    ici

    rios

  • 4. Estratgia de ateno para transtornos associados ao consumo de lcool e outras drogas

    A sade pblica brasileira no vinha se ocupando devidamente com o grave problema da

    preveno e tratamento de transtornos associados ao consumo de lcool e outras drogas. Produziu-

    se historicamente uma importante lacuna na poltica pblica de sade, deixando-se a questo das

    drogas para as instituies da justia, segurana pblica, pedagogia, benemerncia, associaes

    religiosas. A complexidade do problema contribuiu para a relativa ausncia do Estado, e

    possibilitou a disseminao em todo o pas de "alternativas de ateno" de carter total, fechado,

    baseadas em uma prtica predominantemente medicamentosa, disciplinar, ou, ainda, de cunho

    religioso, tendo como objetivo quase exclusivo a ser alcanado a abstinncia. Freqentemente, tais

    modelos de cuidado acabavam por reforar o isolamento social e o estigma associados ao uso de

    lcool e outras drogas.

    A necessidade de definio de estratgias especficas para a construo de uma rede pblica

    de tratamento aos usurios de lcool e outras drogas, com nfase tambm na reinsero social,

    levou o Ministrio da Sade a instituir, no mbito do SUS, o Programa Nacional de Ateno

    Comunitria Integrada aos Usurios de lcool e outras Drogas, j no ano de 2002.

    4.1. A construo da Poltica de lcool e Outras Drogas

    a partir de 2003, no entanto, que se inicia uma discusso mais sistemtica do tema no

    campo da sade pblica e entre outros setores. Naquele ano, o SUS tomou definitivamente para si a

    responsabilidade pela ateno e preveno de danos associados ao consumo prejudicial de lcool e

    outras drogas, tendo o Ministrio da Sade construdo e sustentado seu papel de condutor da

    poltica de tratamento, articulando-se intersetorialmente com outros Ministrios.

    Em 2003, temos dois resultados importantes deste esforo de interlocuo intraministerial e

    interministerial. O Grupo de Trabalho em lcool e outras Drogas (GAOD) foi criado no sentido de

    discutir a poltica de lcool e outras drogas do Ministrio da Sade. Composto por representantes

    das diversas reas que trabalhavam com esta questo (Secretaria Executiva, Coordenao de Sade

    Mental, Programa de DST/Aids, ANVISA), o GAOD elaborou a Poltica do Ministrio da Sade

    para a Ateno Integral a Usurios de lcool e outras Drogas (disponvel em

    http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/A%20politica.pdf). Tendo os Centros de Ateno

    39

  • Psicossocial lcool e outras Drogas (CAPSad) como a principal estratgia de tratamento para o

    consumo de lcool e outras drogas e utilizando as estratgias de reduo de danos como ferramentas

    tambm nas aes de preveno e promoo da sade, este documento a diretriz oficial do

    Ministrio da Sade sobre esta temtica.

    Os CAPSad passam ento a ser implantados, sobretudo em grandes regies metropolitanas

    e em regies ou municpios de fronteira, com indicadores epidemiolgicos relevantes. Outros

    componentes importantes desta rede passam a ter sua implementao incentivada nos estados e

    municpios atravs do Programa de Ateno Integral ao Usurio de lcool e/ou outras Drogas. So

    implantadas assim vrias experincias exitosas de manejo dos problemas de lcool e outras drogas

    na ateno bsica; incentivada a articulao com as redes de suporte social (tais como grupos de

    ajuda mtua e entidades filantrpicas); do mesmo modo, passa a ser fomentada a implementao

    nos Hospitais Gerais, e em sua estrutura de atendimento hospitalar de urgncia e emergncia, da

    rede hospitalar de retaguarda aos usurios de lcool e outras drogas.

    Tambm em 2003, decreto do Presidente Lula criou o Grupo Interministerial para a Poltica

    sobre Bebidas Alcolicas (ver mais adiante, item 4.2).

    Em 2004, a Coordenao de Sade Mental organizou o primeiro encontro dos CAPSad no

    ms de abril, em Santo Andr/SP. A oportunidade de reunir os trabalhadores de CAPSad para

    discutir problemas e solues encontradas nas diversas regies brasileiras, foi uma experincia

    indita. At ento, os trabalhadores do SUS que atendiam esta demanda nunca haviam se reunido

    em um evento nacional especfico para compartilhar suas prticas.

    No ano seguinte foram criados mecanismos de financiamento para os leitos para lcool e

    outras drogas nos hospitais gerais (PT GM 1612/05) e aprovada, pela primeira vez no pas, uma

    norma sobre reduo de danos, retirando da relativa clandestinidade institucional esta valiosa

    estratgia de abordagem dos problemas associados ao consumo de lcool e outras drogas (PT GM

    1028/05). Tambm em 2005, implantou-se o Pacto Nacional para Reduo de Acidentes e

    Violncia Associados ao Consumo Prejudicial de lcool, sob coordenao dos Ministrios da

    Sade, Justia, SENAD e Frente Nacional de Prefeitos. Ainda em 2005, foram criados incentivos

    financeiros para os CAPSad que desenvolvem aes de reduo de danos (PT GM 1.059/05) e os

    CAPS I foram autorizados a cobrar do SUS pelos atendimentos s pessoas com transtornos

    decorrentes do uso de lcool e outras drogas (PT SAS 384/05).

    Atualmente, temos aproximadamente 160 CAPSad funcionando no pas inteiro, com 138

    cadastrados. uma rede importante, mas temos a certeza de que ainda insuficiente para atender

    demanda cada dia mais crescente. No entanto, temos mais que o dobro de CAPSad que existiam em

    2003. extremamente significativo que o milsimo CAPS tenha sido um CAPSad. a forma mais

    concreta de demonstrar que a questo do consumo de lcool e outras drogas no SUS tem a

    40

  • relevncia e ateno necessrias para continuar avanando.

    4.2. Poltica sobre o lcool

    Um dos mais importantes resultados da articulao de diferentes rgos do Governo Federal

    deu-se a partir de maio de 2003, quando o Presidente Lula, por meio de Decreto, instituiu o Grupo

    de Trabalho Interministerial (GTI) para elaborar propostas para aes relacionadas s bebidas

    alcolicas. Coordenado pelo Ministrio da Sade, este grupo teve a participao intensa de

    representantes de 13 rgos do Governo Federal e da sociedade civil (Universidade, indstria do

    lcool, mdia impressa e rdio e TV, gestores de sade, associaes de usurios). Foram realizadas

    diversas reunies para formatar um relatrio final contendo 53 recomendaes para os variados

    domnios que esta questo abrange (legislativo, sade, educao, direitos humanos, etc). Este

    documento (disponvel em www.saude.gov.br) incluiu definitivamente na pauta da sade pblica a

    questo do lcool, que a droga que mais impacto causa na sade da populao mundial, e constitui

    a matriz conceitual do Ministrio da Sade para este tema.

    A partir desta iniciativa do Governo Federal, a sociedade organizada tambm passou a

    discutir e propor formas de organizao com o objetivo de restringir a propaganda de bebidas

    alcolicas. Da mesma forma, a indstria do lcool, em conjunto com a mdia, props novas formas

    de auto-regulamentao, buscando dar uma resposta, compatvel com seus interesses econmicos,

    ao problema da propaganda de bebidas alcolicas, especialmente na TV. importante lembrar que

    uma legislao de 1996, lei 9294, consagra o tratamento diferenciado s bebidas destiladas (com

    publicidade restrita) e s fermentadas cervejas e vinhos (com publicidade quase sem restrio).

    Dentre as recomendaes do GTI est a adoo de normas tcnicas que restrinjam a

    propaganda de bebidas alcolicas. Aps ampla consulta pblica sobre o tema, a ANVISA est

    prestes a aprovar uma resoluo que adota posturas relativas a este tema. Esta nova norma inclui,

    entre outras caractersticas, mensagens de advertncia baseadas nos riscos e agravos sade

    associados ao consumo de lcool.

    Uma linha estratgica adotada foi divulgar experincias e intervenes nacionais e

    internacionais baseadas nas estratgias de reduo de danos para auxiliar na formulao de polticas

    pblicas identificadas com o pragmatismo e eficincia. Desta forma, em fevereiro de 2004, a

    Coordenao de Sade Mental organizou a traduo e publicao em portugus do livro lcool e

    Reduo de Danos: uma abordagem inovadora para pases em transio (disponvel em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Livro%20Alcool.pdf). Do mesmo modo, divulgou no

    41

  • Brasil, amplamente, o Relatrio Neurocincias: Consumo e Dependncia de Substncias

    Psicoativas, da Organizao Mundial da Sade (OMS).

    4.3. Legislao

    Em 2006 foi sancionada a nova lei sobre drogas no pas (Lei 11.343/2006), projeto que

    constituiu o avano possvel na legislao brasileira, apesar de no abarcar toda a complexidade do

    tema. Entre os avanos, est a supresso da pena de priso para os usurios de drogas - garantia dos

    direitos destas pessoas e tambm condio importante para o desenvolvimento de aes de

    preveno e tratamento na sade pblica.

    No mbito internacional, obtivemos um avano significativo na questo da legislao para

    lcool e outras drogas: a aprovao de uma resoluo proposta pelo Brasil sobre reduo de danos

    (elaborada pela Coordenao de Sade Mental e pelo Programa de DST/Aids), pela Commission on

    Narcotic Drugs, rgo da ONU responsvel por discutir diretrizes relacionadas ao uso de drogas no mundo. A resoluo foi aprovada por consenso pelos pases-membros e representa uma conquista

    histrica do Ministrio da Sade e do governo brasileiro no esforo de levar o tema de reduo de

    danos para os fruns internacionais (o texto da resoluo em ingls est no stio:

    http://www.unodc.org/pdf/resolutions/cnd_2006_49-4.pdf).

    4.4. Articulao com a sociedade

    A Coordenao de Sade Mental promoveu, em conjunto com outros parceiros, o I Encontro

    Nacional de Reduo de Danos em Servios de Sade, em Santo Andr/SP, no perodo de 26 a 28

    de junho de 2006. O evento foi um sucesso, reunindo mais de 600 pessoas do Brasil inteiro. Foi um

    espao de mobilizao e articulao com diferentes atores (redutores de danos, gestores de sade,

    trabalhadores de CAPSad e de servios de tratamento para HIV/Aids, parlamentares e

    representantes de universidades) para discutir as questes especficas das estratgias de reduo de

    danos no pas.

    Havia mais de 5 anos que os trabalhadores de sade envolvidos com este tema no tinham

    um espao nacional para compartilhar suas experincias. Acreditamos que estas discusses

    contriburam para o avano das polticas pblicas de reduo de danos, que propem alternativas

    concretas aos desafios de atender os usurios de lcool e outras drogas de maneira respeitosa e

    42

  • eficaz.

    Em outro frum, o dilogo com a sociedade brasileira tambm fez parte do fortalecimento

    da poltica de lcool e outras drogas do Ministrio da Sade. O Comit Assessor da Poltica de

    lcool e outras Drogas do Ministrio da Sade3 consolidou-se como espao legtimo de

    interlocuo com representantes de universidades, usurios de lcool e outras drogas, gestores de

    sade, entre outros segmentos que lidam com esta temtica, com o objetivo de contribuir com

    crticas e sugestes no avano das polticas pblicas para o uso de lcool e outras drogas.

    Este Comit elegeu algumas prioridades para 2007: lcool e trnsito, lcool e jovens e

    medidas de controle dos anorexgenos. Alm disso, foi discutida a elab