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SAUDAÇÃO ÀS NOVAS DESEMBARGADORAS DO TRT

Exmo. Sr. Desembargador Presidente do Eg. TribunalRegional do Trabalho, Dr. Júlio Bernardo do Carmo, napessoa de quem cumprimento todos os colegasdesembargadores, juízes de primeiro grau, servidoresdesta casa e demais autoridades presentes,

Exmas. Desembargadoras Adriana Goulart de Sena Orsinie Juliana Vignoli Cordeiro, familiares presentes, senhorase senhores,

Gostaria, inicialmente, de agradecer ao nosso presidente,Dr. Júlio Bernardo do Carmo, a distinção com que mehonrou para fazer, em nome desta Instituição, asaudação às Desembargadoras Federais do Trabalho,Dras. Adriana e Juliana.

Vivemos um momento político conturbado, marcado peloprocesso de impeachment da Presidenta Dilma, sendo opaís dirigido de forma interina pelo Vice-presidenteMichel Temer.

Os debates e as manifestações políticas que permearamtodo o processo de concepção e desenvolvimento doimpeachment acirraram os ânimos dos brasileiros,provocando discórdias que transbordaram para asesferas pessoais de relacionamento, provocando rupturasnos mais diversos âmbitos de convivência.

No que diz respeito à Justiça do Trabalho, a resistência dealguns grupos ficou bem explicitada quando daaprovação da proposta orçamentária para o ano emcurso. Naquele momento, o Deputado Ricardo Barrosmanifestou toda a sua insatisfação com o teor das

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decisões proferidas pelos magistrados trabalhistas,segundo ele prejudiciais ao capital e aos empresários. Emdecorrência, impôs cortes discriminatórios ao orçamentoproposto pela Justiça do Trabalho, bem superiores aosque foram impingidos aos demais ramos do Judiciário,atentando contra a independência dos Tribunais.

Em decorrência, foram necessários ajustes importantesno funcionamento deste Tribunal, com dispensa massivade empregados terceirizados, imposição de metas para oconsumo de energia elétrica, mediante limitação dohorário de funcionamento e de atendimento ao público,dentre outros, tudo com o objetivo de assegurar suaatuação até o final do ano em curso, em claro prejuízopara os jurisdicionados.

Instaurado o caos político, surge o cenário favorável paraa proliferação de propostas flexibilizadoras do direito dotrabalho, sendo propagada a ideia de que os altos custosda produção seriam decorrentes dos direitos sociaistrabalhistas, os quais deveriam ser regulados em basesdistintas, privilegiando a vontade das partes e onegociado sobre o legislado, protegendo mais o direitodaquele que contrata a mão de obra.

Olvidam-se, intencionalmente, de que os direitostrabalhistas foram conquistados pelos trabalhadores emprocessos de luta social, ao mesmo tempo em queconferem ao empregador o instrumental necessário paraexercer o poder de sujeição sobre o trabalhador, poderesse que é limitado, entretanto, pela legislaçãotrabalhista, de ordem pública.

Para os magistrados do trabalho, não passamdespercebidos os abusos que inúmeras empresasseguem cometendo contra os trabalhadores, com registrode jornadas exaustivas, retenção de verbas salariais,graves acidentes do trabalho, ocasionando a

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incapacidade parcial ou total do trabalhador e até mesmosua morte, dispensas discriminatórias, assédios de ordemmoral, trabalho infantil e escravo, terceirizaçõesprecarizantes, dentre outros, que reclamam a atuaçãocotidiana do Ministério do Trabalho, Ministério Público doTrabalho e da própria justiça do Trabalho, demonstrandoa necessidade de manutenção dos patamares deproteção ditados pela legislação trabalhista vigente.

Esse é o cenário e o contexto em que as colegas Adrianae Juliana ascendem ao Tribunal como desembargadoras etenho a firme convicção de que utilizarão toda a suaexperiência e conhecimento, para, nessa nova função,engajarem-se na luta pela preservação do Direito doTrabalho e da autonomia da justiça do Trabalho, tendoem vista a proteção do trabalhador brasileiro.

Adriana e juliana, duas bravas mulheres tomando posseno cargo de desembargadoras do trabalho. Em princípio,tal fato parece demonstrar a total superação dadiscriminação de gênero no nosso país, o que, entretanto,não é verdade.

A luta pela igualdade de gênero vem sendo travada pelasmulheres há longa data, sendo de se destacar, dentreoutras, como precursora, Olympe de Gauges, que seinsurgiu em face do poder patriarcal, na época daRevolução Francesa, em defesa das condições igualitáriaspara as mulheres, dando origem ao pensamentofeminista, que leva séculos denunciando "que também asmulheres têm direitos". Igualmente, Nancy Fraser,filósofa e adepta da teoria crítica, deve ser aqui referida.Para ela, não é possível o reconhecimento sem aredistribuição, mediante alocação mais justa de recursose bens necessários para viver, premissa tambémdefendida pelo jusfilósofo espanhol joaquín HerreraFlores. Para ambos os teóricos críticos, dentro daestrutura capitalista, o fazer humano foi objeto de divisão

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sexual hierarquizada entre 'produção' e 'reprodução',sendo o dever do cuidado confiado às mulheres, o queconsiste em importante causa das assimetrias de gênero.Para Nancy, as mulheres não poderão se emanciparenquanto essa estrutura permanecer intacta.

Nossas colegas Adriana e Juliana, desembargadoras doTribunal Regional do Trabalho, seguem mostrando serpossível a quebra de paradigmas, engrossando tambémessa luta pela igualdade de gênero, que encontra nanorma jurídica brasileira ampla e profunda proteção,podendo ser citada a proibição da discriminação pormotivo de origem, raça, sexo, cor e idade, dentre outros,pelo inciso IV do art. 3º/CF e também o art. 461/CLT, quegarante a igualdade salarial para os exercentes damesma função, sem distinção de sexo.

Entretanto para a efetividade destes e de outros direitostendentes à igualdade de gênero, é importante aabertura de processos culturais, mediante lutainsurgente, para a criação de condições culturais, sociais,políticas e econômicas para a sua real implementação. Etão importante quanto o direito à igualdade por parte dasmulheres, é também a garantia do direito a seremdiferentes, segundo preleciona Boaventura de SouzaSantos, para quem "Temos o direito de ser iguais quandoa nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de serdiferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza."

Queridas colegas Adriana e Juliana, em nome de todos osdesembargadores desta Casa, quero dar-lhes um grandee carinhoso abraço de boas vindas, desejando que sejammuito felizes neste Tribunal, que tem muito a ganhar comas suas nomeações, seja no campo da experiência econhecimento das questões trabalhistas, seja quanto àsua capacidade de luta, seja quanto ao convíviorespeitoso e dedicação com que pautam suas vidasprofissionais.

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Para os registros desta solenidade, quero apontar algunsdados da folha curricular que ilustram as trajetórias dasnobres colegas, suficientes para realçar seus predicados,dentre os quais avulta o extraordinário compromisso comque se entregam no exercício de suas funções:

Adriana passou a integrar a magistratura trabalhista em1991; é Professora Associada da Faculdade de Direito daUFMG desde o ano de 2.000 e membro do CorpoPermanente do Programa de Pós-Graduação da referidaFaculdade, atuando como Pesquisadora do CNPQ - CAPESe também como coordenadora do Programa RECAj UFMG- Ensino, Pesquisa e Extensão em Acesso à justiça eSolução de Conflitos. Detém os títulos de mestra edoutora. Integra os quadros de formadores da EscolaNacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistradosdo Trabalho - ENAMAT e atuou como membro do NúcleoPermanente de Conciliação deste Tribunal desde a suacriação. Integrou o Grupo de Apoio à Comissão de Acessoà Justiça, tendo participado do Comitê Científico queelaborou a Resolução n. 125, ambos do CNj. É conselheirada Escola judicial deste Tribunal e Coordenadora deinúmeras Semanas de Conciliação. Participou de bancasde concursos para o provimento do cargo de juiz doTrabalho Substituto e de Procurador do Trabalho. Integrao Comitê Editorial da Revista do TRT3, bem como oConselho de Comunicação da Instituição. É escritoraprofícua de artigos jurídicos, livros e trabalhosacadêmicos, de grande contribuição à solução dosconflitos na esfera trabalhista.

juliana foi juíza de Direito no estado de Minas Gerais apartir do ano de 2.000 e, no ano seguinte, ingressou nacarreira do Ministério Público do Trabalho, o quedespertou nela forte consciência quanto à importânciadas demandas coletivas e da justiça social; exerceu pordois mandatos consecutivos o cargo de Vice-Presidenteda Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho -

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ANPT, de 2.004 a 2.008; participou, nesse período, dacoordenação e organização de várias obras jurídicas ecompôs a Comissão Editorial da Revista do MinistérioPúblico do Trabalho. Foi Coordenadora Nacional doPlanejamento Estratégico e Coordenadora de ProjetosEstratégicos do Ministério Público do Trabalho entre 2008e 2012. Foi também Diretora da Associação Luso-Brasileira de juristas do Trabalho.

Quero parabenizar a amiga Adriana, colega de faculdade,na vetusta Casa de Afonso Pena, juntamente com osdesembargadores deste Tribunal, Cristiana, Maristela ePepe, tendo como contemporâneos Ana Maria, Mônica eFernando Rios. Nos formamos no ano de 1985, sob ainspiração de mestres como o Professor Walter Veado,desembargador junto ao Tribunal de justiça de MinasGerais, e a Professora Alice Monteiro de Barros,desembargadora desta Casa, e que seguramentedespertou em nós o sonho de integrarmos os quadros dajustiça do Trabalho. Cabe ainda registrar a enormeenergia vital de que a Adriana é possuidora, comcapacidade de trabalho que suplanta a nossacompreensão.

Dr. Alaor, arquiteto renomado em Belo Horizonte,certamente está compartilhando a alegria da Adriana,filha querida, que deixou de seguir a carreira do pai, apósteste vocacional, que apontou sua imensa capacidadedialógica e argumentativa, direcionando-a para a área dehumanas. Dª Eleana, mãe sempre presente e cujainteligência instigante foi e é propulsora de constantesindagações, junto com Flávio, Marcelo e Rafael, irmãosespeciais, e também o querido esposo Paulo estão deparabéns, pois vivenciaram com a Adriana o esforço e otrabalho, que a fizeram ser aprovada em 1º lugar, comnota 10, no concurso para juíza neste Tribunal, onde vematuando com extremo zelo há cerca de 25 anos, semnunca ter atrasado uma única decisão. Érika e Paula,

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filhas superpoderosas, desejadas e amadas, têm natrajetória da mãe exemplo ímpar a ser seguido.

Seja muito feliz querida amiga e siga aqui percorrendo omesmo caminho de sucesso, que é a marca da suacarreira.

Quando conheci a juliana, nos tempos em que nossosfilhos estudavam na escola Balão Vermelho, ela eraconhecida como a mãe do Bessa, colega da luísa, minhafilha. Na época ainda era juíza de Direito. Acompanhei omomento em que aguardava a posse junto ao MinistérioPúblico do Trabalho e depois sua atuação comoprocuradora do trabalho, sempre muito atenta àsquestões sociais, dispensando às demandas coletivasseus melhores esforços, por ver nelas um meio desolução para os conflitos trabalhistas. Agora tenho afelicidade de fazer essa saudação quando assume ocargo de desembargadora neste Tribunal.

Dr. Tomaz, médico com atuação voltada para a área damedicina social, com certeza está festejando a posse dafilha, sendo responsável, junto com a mãe Sirlei,decoradora de profissão e "bondade pura" na arte deviver, por incutir nela essa sensibilidade apurada para asquestões sociais, como aqui destacado. Geraldo, amor eparceiro, nas palavras da juliana, juntamente com osirmãos Sylvia, Flávio e Geovana e os enteados Víctor eFernanda, podem se orgulhar da desembargadora dotrabalho que agora têm na família. Gabriel e Marcela,filhos e companheiros de jornada, também vocês têm noexemplo da sua mãe um farol para iluminar seuscaminhos. Em todos vocês ela afirma ter encontrado oapoio necessário para enfrentar as lutas do dia a dia.

Parabéns juliana e seja muito feliz, abraçando essa novacarreira com o mesmo brilho e entusiasmo, que sãocaracterística da sua atuação até o momento.

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Mas, afinal, quem está de parabéns é o nosso Tribunal,pela conquista de duas novas e promissorasDesembargadoras, que passam a integrar os seusquadros.

Pontuo, ainda, que "Viver é muito perigoso ... ", comoanunciou Guimarães Rosa. E ouso dizer que viver é muitoperigoso, mas é igualmente maravilhoso.

Assim, só nos resta viver. Viver e resistir ao perigo,usufruindo a maravilhosa experiência de viver. E lutar.Lutar pela valorização do Direito do Trabalho e da Justiçado Trabalho. Em momentos de crise como o presente,"reagir, com equilíbrio e energia, é preciso", repetindosábias palavras do Dr. Marcus Moura, desembargadordesta casa.

Tenho a convicção de que as novas desembargadoras,bravas e guerreiras Adriana e Juliana, não temem operigo de viver e tampouco se furtarão à luta, sempreque ela se fizer necessária para a defesa da instituiçãoque integramos.

Sejam muito bem vindas a esta Corte, caras amigas ecolegas!

Muito obrigada!

Maria Cecília Alves Pinto

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