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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO XCIX | N.º 4791 | 18 DE JUNHO DE 2020 | 0,75 € visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt O s franciscanos conventuais promoveram uma tre- zena preparatória da festa de Santo António (13 de junho), com a edição de um pequeno vídeo diário sobre algum “feito, caraterística ou milagre do Santo”. É, diga-se de passagem, um belo conjunto de apontamentos para uma espiritualidade viva sobre o Santo, particular- mente em Ano Jubilar. Num desses vídeos, o Frei Pedro Perdigão, familiar aos leitores do Correio de Coimbra, fala daquele lapso de tempo desde que António chega a Itália até começar a ser conhecido. O tempo em que, no dizer do Frei Pedro, numa referência evangélica, “António foi posto debaixo do alqueire”, no pequeno eremitério franciscano de Monte Paulo, onde é acolhido por 5 franciscanos dos já pelo menos 5.000 existentes, quase a título de caridade. António é ali conhecido como “aquele que lava os pratos”. Os apaixonados do Santo exaltam este tempo pela pers- petiva da humildade, do silêncio… Tudo bem, seja; mas o facto é que, se o Espírito Santo não tem dado um em- purrão dos grandes, levando António a pregar na catedral num recurso inopinado do momento, António tinha mor- rido abafado debaixo do alqueire! Lavando os pratos, o que é louvável e santo, mas privando toda a Europa da força renovadora da Palavra bíblica, ainda no primeiro quartel do século XIII… Visto com os olhos postos no Santo, é um tempo de mudez; visto com os olhos postos nos seus con- frades, é um tempo de cegueira. A minha ilação é: quanta dificuldade temos em dar pelos outros, sobretudo se são humildes, discretos, estrangeiros. Talvez, queira Deus que sim, na proporção de um para mil, possamos chegar ao ponto de ser caritativos para com eles; mas damos por dispensável perguntar-lhes em que nos podem enriquecer humana, social e espiritualmente. D esculpar-me-á o Santo António não aprofundar mais estes enredos de autorreferencialidade, mas há urgência em deixar também aqui uma palavra de condenação das disrupções racistas e xenófobas que têm vindo a ganhar espaço em comportamentos pon- tuais, mas cada vez mais com maiores repercussões no extremar de posições políticas e na exploração dos mass media. A vandalização da estátua do Pe. António Vieira, em Lisboa, não é significativa por ser do Pe. António Vieira; é significativa por ser vandalização. Mais grave ainda: por ser uma vandalização associada a outros atos de vanda- lismo emergente de teor odioso, racista, excludente. Signi- ficativa e perigosa, sendo que, mais uma vez, o perigo não está (apenas) na autorreferencialidade histórica que julga o passado com critérios do presente, mas no ódio que está a semear para o futuro. É preciso agir já sobre isto. ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES António posto debaixo do alqueire “Celebramos esta festa no contexto do Jubileu de Santo António e dos Mártires de Marrocos, um dom que a Igreja nos oferece pela mão e pelo ministério apostólico do Papa Francisco”, recordou o Bispo de Coimbra na festa litúrgica de Santo António, na paróquia de Santo António dos Olivais, em Coimbra, paróquia esta confiada pastoralmente aos Frades Menores Conventuais. Foi aqui que António viveu os seus primeiros tempos de franciscano. > Página 3 «ESTENDE A TUA MÃO AO POBRE» Com data de 13 de junho, dia de Santo António, foi já publicada a Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres de 2020. SANTO ANTÓNIO O homem da razão e da fé mutuamente alimentadas PROFISSÃO DE VOTOS TEMPORÁRIOS CLARISSAS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO LOURIÇAL Membro da comunidade desde o início de 2017, a Irmã Maria João da Divina Misericórdia, terminado o noviciado, professou votos temporários. > Página 2 MISSA PRESIDIDA PELO BISPO DE COIMBRA COIMBRA URBANA CELEBROU NA SÉ NOVA FESTA DO CORPO DE DEUS “A Eucaristia é o dom de Cristo, presente no meio de nós, sem o qual - pessoalmente, em família cristã, em comunidade cristã e em Igreja - não podemos viver”. > Página 5

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Page 1: SANTO ANTÓNIO O homem da razão e da ... - Correio de Coimbra · cundária da diocese de Coimbra como modelo de vida no mundo e espiritualidade na Igreja, A Confraria pondera vir

SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOSANO XCIX | N.º 4791 | 18 DE JUNHO DE 2020 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

Os franciscanos conventuais promoveram uma tre-zena preparatória da festa de Santo António (13 de junho), com a edição de um pequeno vídeo diário

sobre algum “feito, caraterística ou milagre do Santo”. É, diga-se de passagem, um belo conjunto de apontamentos para uma espiritualidade viva sobre o Santo, particular-mente em Ano Jubilar. Num desses vídeos, o Frei Pedro Perdigão, familiar aos leitores do Correio de Coimbra, fala daquele lapso de tempo desde que António chega a Itália até começar a ser conhecido. O tempo em que, no dizer do Frei Pedro, numa referência evangélica, “António foi posto debaixo do alqueire”, no pequeno eremitério franciscano de Monte Paulo, onde é acolhido por 5 franciscanos dos já pelo menos 5.000 existentes, quase a título de caridade. António é ali conhecido como “aquele que lava os pratos”. Os apaixonados do Santo exaltam este tempo pela pers-

petiva da humildade, do silêncio… Tudo bem, seja; mas o facto é que, se o Espírito Santo não tem dado um em-purrão dos grandes, levando António a pregar na catedral num recurso inopinado do momento, António tinha mor-rido abafado debaixo do alqueire! Lavando os pratos, o que é louvável e santo, mas privando toda a Europa da força renovadora da Palavra bíblica, ainda no primeiro quartel do século XIII… Visto com os olhos postos no Santo, é um tempo de mudez; visto com os olhos postos nos seus con-frades, é um tempo de cegueira. A minha ilação é: quanta dificuldade temos em dar pelos outros, sobretudo se são humildes, discretos, estrangeiros. Talvez, queira Deus que sim, na proporção de um para mil, possamos chegar ao ponto de ser caritativos para com eles; mas damos por dispensável perguntar-lhes em que nos podem enriquecer humana, social e espiritualmente.

Desculpar-me-á o Santo António não aprofundar mais estes enredos de autorreferencialidade, mas há urgência em deixar também aqui uma palavra

de condenação das disrupções racistas e xenófobas que têm vindo a ganhar espaço em comportamentos pon-tuais, mas cada vez mais com maiores repercussões no extremar de posições políticas e na exploração dos mass media. A vandalização da estátua do Pe. António Vieira, em Lisboa, não é significativa por ser do Pe. António Vieira; é significativa por ser vandalização. Mais grave ainda: por ser uma vandalização associada a outros atos de vanda-lismo emergente de teor odioso, racista, excludente. Signi-ficativa e perigosa, sendo que, mais uma vez, o perigo não está (apenas) na autorreferencialidade histórica que julga o passado com critérios do presente, mas no ódio que está a semear para o futuro. É preciso agir já sobre isto.

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES

António posto debaixo do alqueire

“Celebramos esta festa no contexto do Jubileu de Santo António e dos Mártires de Marrocos, um dom que a Igreja nos oferece pela mão e pelo ministério apostólico do Papa Francisco”, recordou o Bispo de Coimbra na festa litúrgica de Santo António, na paróquia de Santo António dos Olivais, em Coimbra, paróquia esta confiada pastoralmente aos Frades Menores Conventuais. Foi aqui que António viveu os seus primeiros tempos de franciscano. > Página 3

«ESTENDE A TUA MÃO AO POBRE»

Com data de 13 de junho, dia de Santo

António, foi já publicada a Mensagem do Papa

para o Dia Mundial dos Pobres de 2020.

SANTO ANTÓNIO

O homem da razão e da fé

mutuamente alimentadas

PROFISSÃO DE VOTOS TEMPORÁRIOSCLARISSAS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO LOURIÇALMembro da comunidade desde o início de 2017, a Irmã Maria João da Divina Misericórdia, terminado o noviciado, professou votos temporários. > Página 2

MISSA PRESIDIDA PELO BISPO DE COIMBRACOIMBRA URBANA CELEBROU NA SÉ NOVA FESTA DO CORPO DE DEUS“A Eucaristia é o dom de Cristo, presente no meio de nós, sem o qual - pessoalmente, em família cristã, em comunidade cristã e em Igreja - não podemos viver”. > Página 5

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CORREIO DE COIMBRA

2DioceseMissa Crismal no dia do Sagrado Coração de JesusSem convite à presença de fiéis leigosA Diocese de Coimbra vai celebrar a Missa Crismal no dia 19 de junho, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. A Missa Crismal, em que todo o presbitério se reúne ao seu Bispo, e em que são benzidos os óleos sacramentais, é celebrada liturgicamente em Quinta-feira Santa, mas este ano teve de ser adiada por causa da pandemia. Por outro lado, o Dia do Sagrado Coração de Je-sus foi instituído por João Paulo II como dia sacerdotal, pelo que tem vindo a ser tradicionalmente um dia de assembleia do clero da Diocese. Por isso, regressada a fase de culto público, embora com o cumprimento de todas as disposições sanitárias, desde uso de máscara, paramentação distanciada, distância física nos bancos, etc., o Conselho Episcopal achou por bem que a Missa Crismal seja no dia do Sagrado Coração de Jesus. Outras duas limitações são as da não convivência habitual do clero depois da missa e a não participação de leigos na Eucaristia.

Festas da Rainha Santa IsabelPrograma de 2020 releva a dimensão litúrgicaAs festividades da Rainha Santa Isabel, em Coimbra, este ano vão valorizar particularmente a dimensão litúrgica, a partir da igre-ja da Rainha Santa Isabel, em Santa Clara, com destaque para o tríduo preparatório nos dias 1, 2 e 3 de julho, às 21h30 e para as Eucaristias do dia 4 de julho: e Eucaristias: nos dias 1, 2 e 3 de ju-lho, às 21h30, será o Tríduo. No dia 4 de julho: às 9h; às 11h, Missa da Solenidade, presidida pelo Bispo de Coimbra; e às 17h. As cele-brações encerram com a recitação das vésperas às 18h30 do dia 4.Como se vê, trata-se de um programa fortemente condicionado pela Pandemia Covid-19, que levou ao cancelamento, entre outras iniciativas, da “Gala das Rosas” e das duas grandes procissões habituais nos anos pares, mas com um programa igualmente convidativo à interioridade e à descoberta da santa padroeira se-cundária da diocese de Coimbra como modelo de vida no mundo e espiritualidade na Igreja, A Confraria pondera vir a realizar no próximo ano, em contexto previsivelmente liberto da pandemia, um programa enriquecido de atividades, também comemorativo dos 750 anos do nascimento da Rainha Santa.

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Com o tema “Santo Antó-nio: o monge, o frade, o santo”, regressaram no

dia 13 de junho os “Diálogos com António”, uma das iniciativas do Jubileu Diocesano de Santo António e Mártires de Marrocos, promovida a partir da comuni-

dade conventual de Santo Antó-nio dos Olivais e Mensageiro de Santo António, com seis diálo-gos cuja calendarização foi alte-rada por efeito da Covid-19.

O regresso aconteceu na igre-ja jubilar de Santo António dos Olivais. Antes do debate pro-

priamente dito, foi passado um breve vídeo sobre o Santo e a comunidade de Santo António dos Olivais.

Quanto ao debate, por ví-deoconferência e transmitido também nas redes sociais, sob a moderação do antropólogo e museólogo Pedro Teotónio Pe-reira, de Lisboa, contou com Frei Fabrízio e Frei Jorge Marques, a partir de Lisboa e Frei Lucia-no Bertazzo, a partir de Pádua; abriu e encerrou o Frei Severino Centomo, a partir de Coimbra. Sublinharam-se alguns aspe-tos históricos da vida do santo, mormente os momentos da sua entrada na ordem franciscana, em Coimbra, e do reconheci-mento das suas qualidades a partir do sermão de Forlí, bem como o impacto reestruturante que a sua obra teve no francis-canismo a partir daí, introdu-zindo-lhe a vertente do estudo intelectual. Valorizou-se tam-bém a piedade popular em tor-no da figura do Santo, difundida por todo o mundo, e a necessi-dade de trabalhar pastoral e teo-logicamente a partir dela.

As Irmãs Clarissas do Lou-riçal, dedicadas ao San-tíssimo Sacramento, tive-

ram este ano a grande alegria de precisamente no Dia do Corpo de Deus (11 de junho) terem visto en-riquecida a sua comunidade con-ventual com a Profissão de Votos Temporários da Irmã Maria João.

Filha de emigrantes cabo--verdianos, Maria João Tavares Fernandes nasceu no Barreiro, onde cresceu numa família de sete irmãs, educada na fé sólida de seus pais católicos empenha-dos. Dedicou-se ao serviço da Paróquia de Santa Maria do Bar-reiro. Trabalhou na catequese e no grupo sócio-caritativo, entre outros serviços onde colaborou.

Em busca vocacional, através de uma amiga, conheceu a Co-munidade da Irmãs Clarissas, no Louriçal, onde ingressou no início de 2017. Com a Tomada de Hábito, em junho de 2018, re-cebeu o nome de Maria João da Divina Misericórdia, começando então o período de Noviciado que agora chegou ao fim com a Pro-fissão de Votos Temporários.

O Bispo de Coimbra presidiu à celebração da Eucaristia. Na sua homilia, tendo seguido de muito perto as ideias que viria a replicar da parte da tarde na ce-lebração da Sé Nova (ver página 5), deixou, todavia, três palavras particulares para a comunidade das Clarissas neste momento de

“Profissão” da Irmã Maria João: a atitude de adoração aqui vivi-da, que expressa a fé pessoal de quem reconhece o Corpo e Sangue eucarísticos de Cristo como seu Deus e Senhor e se disponibiliza para O levar aos irmãos com a totalidade da vida; o “sinal” - nos votos da Irmã Maria João - de que Deus chama à verdadeira espiri-tualidade cristã, contra todos os espiritualismos desencarnados ou new age; o agradecimento à Irmã por aceitar ser este sinal, e a certeza da oração da comunidade cristã para que Deus a ampare no compromisso assumido de ser verdadeira adoradora da Euca-ristia e membro da comunidade das Irmãs Clarissas do Louriçal.

A PARTIR DA IGREJA JUBILAR DOS OLIVAIS

Diálogos com António:o monge, o frade, o santo

CLARISSAS DO LOURIÇAL NO DIA DO CORPO DE DEUS

Comunidade rejubila com a Profissão de Votos Temporários da Irmã Maria João

PROPRIEDADESeminário Maior de CoimbraContr. n.º 500792291 | Registo n.º 101917Depósito Legal n.º 2015/83

DIRETORA. Jesus Ramos (T.E. 94)

DIRETOR ADJUNTOCarlos Neves (T.E. 1163)

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18 DE JUNHO DE 2020

D. VIRGÍLIO DO NASCIMENTO ANTUNESAssembleia plenária elegeu o Bispo

de Coimbra Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

A quem o Correio de Coimbra augura um bom trabalho na CEP !

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CORREIO DE COIMBRA

33Igreja a caminho

Caríssimos irmãos e irmãs!

Celebramos esta festa no contexto do Jubileu de Santo António e dos

Mártires de Marrocos, um dom que a Igreja nos oferece pela mão e pelo ministério apostóli-co do Papa Francisco. Sentimo--nos ancorados no nosso júbilo por termos Santo António há oitocentos anos e o Papa Fran-cisco na atualidade como dis-cípulos de S. Francisco de Assis, um homem e um cristão que levou a Igreja a voltar a Jesus e ao seu Evangelho, procurando com amor torná-la mais fiel à sua identidade originária.

A Igreja nunca pode deixar de se purificar, porque, sendo santa enquanto habitação do Deus Santo, é pecadora pelos seus membros, que somos nós, homens de todos os tempos sujeitos à fragilidade da nossa condição, mesmo que habita-dos pelo Espírito que nos san-tifica. No seu percurso terreno, muitas são as figuras que Deus lhe envia para a não deixarem refém da nossa humanidade e lhe apontarem com palavras e com o testemunho da vida a vocação a que é chamada: ser santa. S. Francisco de Assis é, sem dúvida, um dos bastiões mais elevados da resposta à graça de Deus, que santifica. Pelo seu amor empenhado a Deus, à humanidade e a toda a criação, ele apontou, no pas-sado, e continua a indicar, no presente, a Pessoa de Jesus Cristo, pobre, humilde e servo, o Filho de Deus cheio da única sabedoria, que nos salva.

Santo António, tocado pelo jeito franciscano de acolher e viver o Evangelho, levantou-se do meio de nós, passou pela nossa cidade dos homens e apontou-nos de forma exímia os mesmos caminhos da sabe-doria que nos salva.

Como cidadãos de Coimbra e do mundo, não podemos me-nosprezar o seu testemunho nem deixar passar em vão o seu modo de viver o Evange-lho, tipicamente franciscano, o que é muito mais do que qualquer forma histórica de franciscanismo. A sua vida remete, acima de tudo, para o cristianismo, no sentido mais pleno deste termo, usado fre-quentemente de forma tão superficial e redutora do seu verdadeiro conteúdo.

Para Santo António, dizer cristianismo significou infi-nitamente mais do que dizer cultura ou civilização cristã, como um sistema estruturado de ideias e de valores, pois foi acima de tudo assumir Cris-to enquanto pessoa, palavras, obras, sentimentos, mas tam-bém Cristo como Igreja, Povo

de Deus, homens e mulheres todos irmãos, verdade em que se acredita, horizonte de verda-deira vida no tempo e na eter-nidade, amor que se reparte e esperança que nos anima.

Ao ouvirmos proclamar as palavras de Ben-Sirá, assalta--nos a ideia de que nos faz a apresentação mais profunda de Santo António, sabendo nós que a sua aplicação não pode nem deve ser personalizada, uma vez que o seu alcance é mais vasto do que a realidade de qualquer indivíduo. [...]

Pela história e pela sua bio-grafia, sabemos que [António] foi homem inteligente e culto, desejou ardentemente conhe-cer os mistérios de Deus, da humanidade, da criação, da ciência, fazendo uma sínte-se harmoniosa entre a fé e a razão, entre o conhecimento humano e as ciências teológi-cas, realidades que a muitos parecem antagónicas, mas que a ele apareceram como caminhos de procura de uma única sabedoria divina. A sua fé potenciou o crescimento do desejo de conhecer inscrito na sua condição humana, e a sua ciência adquirida pelo estudo e pela experiência de vida julgou e afinou o seu modo de acredi-tar, de amar e de viver.

Em Santo António vemos realizados os antigos axiomas da teologia cristã, desenvolvi-dos pelo pensamento do Papa João Paulo II na Encíclica “Fides et ratio”. Procurou sempre es-tudar, conhecer e compreender todos os mistérios para melhor acreditar; sempre se dispôs a crescer numa fé pessoal e aco-lhida como um dom, ou seja, a acreditar, para melhor conhe-cer tudo o que pela revelação e pela inteligência humana nos é dado compreender.

Ecoam ainda aos nossos ou-vidos as palavras que Jesus di-rigiu aos seus discípulo e que agora escutámos no Evangelho de S. Mateus: “Aquele que pra-ticar e ensinar (um só destes mandamentos), será grande no reino do Céus”.

Também estas palavras as-sentam claramente em Santo António - praticar e ensinar. [...]

FESTA DE SANTO ANTÓNIO

Praticar e ensinarda Homilia de D. Virgílio Antunes

Em Ano de Jubileu Dioce-sano de Santo António, a festa ao Santo tinha de ser

grande. E foi!, marcada sobretudo pela Eucaristia campal, com cer-ca de 200 participantes, na tarde do dia 13 de junho, na paróquia de Santo António dos Olivais, comu-nidade paroquiada pelos Francis-canos Conventuais e cuja igreja é

também Templo Jubilar.Na homilia [ver colunas ao

lado], D. Virgílio Antunes subli-nhou a radicalidade da vivência cristã de António e a síntese que o Santo sempre procurou fazer entre a razão e a fé, deixando um repto de atualidade: “como cidadãos de Coimbra e do mun-do, não podemos menosprezar

o seu testemunho nem deixar passar em vão o seu modo de viver o Evangelho”.

Ainda dentro do Jubileu, em Santa Cruz houve durante as missas da manhã a tradicional bênção e distribuição do pão, e à noite houve na Igreja de Santo António o retomar dos “Diálo-gos com António”.

JUBILEU DE SANTO ANTÓNIO, NOS OLIVAIS

“Não podemos deixar passar em vão o modo como António viveu o Evangelho”

Para mim, Santo António é alguém que viveu e que

conseguiu transmitir muito bem a Palavra de Deus. Ele é um grande conhecedor da Palavra de Deus e da Bíblia. Para a minha vida pessoal, eu acredito em Santo António! Não sei se ele “faz milagres” (!), mas já algumas vezes pedi a sua intervenção e sinto que algo modifica na minha vida: começo a ver as coisas com um olhar diferente e sinto como “uma graça” aquilo que acabo por receber.

Para mim, Santo António é uma referência: pela vida que teve, pela

entrega que teve, entrega à sua fé, aos homens em geral, à contínua procura da cultura, à educação, à transmissão da Palavra de Deus a toda a gente, mundo fora. E, enquanto Chefe de Agrupamento de Santo António dos Olivais, lembro que nós, escuteiros, também temos essa missão de construção sólida, de caminhada consciente – um caminho tal como Santo António o fez na sua vida e tentou que toda a gente usufruísse disso.

Santo António, embora nascido e conhecido como de Lisboa, viveu

em Coimbra os seus primeiros tempos de frade franciscano, vindo dos monges de Santa Cruz aqui para cima, para esta Congregação, e começando a seguir as pisadas de São Francisco. E confesso que sou uma fã incondicional dos Freis [comunidade franciscana Santo António dos Olivais], pela forma como eles se dão gratuitamente não só à comunidade, mas ao mundo, sem querer nada em troca, à imagem do que fez Santo António: entregar-se gratuitamente à comunidade e a Deus.

PERGUNTAS A QUEM VEIO À FESTA

Para ti, quem é Santo António?

“António foi homem inteligente e culto, [que] desejou ardentemente conhecer os mistérios de Deus e da humanidade.

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CARLASARAIVA

FILIPE ARAÚJO

CARDOSOMANUELAANDRADE

18 DE JUNHO DE 2020

D. JOSÉ ORNELAS CARVALHOO Correio de Coimbra saúda o novo Presidente da Comissão Episcopal Portuguesa.

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CORREIO DE COIMBRA

4 Grande Plano

A Igreja e a Eucaristia são o Corpo de Cristo. Esta intrarre-lação nem sempre se manteve viva e actuante na Igreja ao lon-go dos séculos.

Na orientação eclesioló-gica dominante do pri-meiro milénio a celebra-

ção litúrgica, de modo especial a sacramental, tem um significa-do importantíssimo para a com-preensão e vivência de Igreja, segundo a afirmação medieval de Próspero de Aquitânia (†463): «Lex orandi statuat lex creden-di» («a lei de orar regula a lei de crer») - já muito usada por Ter-tuliano (±155-±220), São Cipriano de Cartago (200/210-258) e Santo Agostinho (354-430). De facto, foi a vida litúrgica - particular-mente a teologia dos sacramen-

tos entendidos como “sinal” ou “mistério” - que esteve subjacen-te à eclesiologia.

A Eucaristia relaciona-se com a Igreja como o meio com o fim, ou o efeito com a causa. A base para esta consideração é a pará-frase do pensamento de Santo Agostinho: «Eucharistia facit Ec-clesiam, Ecclesia facit Eucharis-tiam» («A Eucaristia faz a Igre-ja, a Igreja faz a Eucaristia») (cf. AGOSTINHO, Contra Faustum, 12, 20, citado pela Constitução dogmática Lumen Gentium do CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II no número 26). Esta interac-ção dá origem nos três primei-ros séculos a uma certa forma da Igreja se organizar (cartas de comunhão, partilha do “fermen-tum”…) em que a comunhão eucarística, sendo simultanea-

mente um processo de profissão de fé, litúrgico, eclesial e jurídi-co, molda a comunhão eclesial – é significativo que o primado do Bispo da Diocese de Roma se insira na comunhão eucarística o que levou Santo Inácio de An-tioquia (†107) a descrevê-lo como “presidência da caridade”.

Até ao século IX o Corpo de Cristo é a Eucaristia e a Igreja: há uma ligação profunda entre Igreja e Eucaristia... e dá-se mais atenção à comunhão.

Entre o século IX e o século XI, distingue-se: o corpo “mysticum” (“místico”) é a Eucaristia e o corpo “verum” (“verdadeiro”) é a Igreja.

Entretanto, num tratado do séc. XII, De Christo Capite, a Igre-ja é corpus “mysticum” e a Euca-

ristia é corpus “verum” - místico deixou de se referir à Eucaristia devido às controvérsias eucarís-ticas… assim surge, por exemplo, o hino eucarístico «Ave verum corpus» («Ó verdadeiro corpo do Senhor») atribuído a Inocêncio IV (papa de 1243 até 1254). O papa Bonifácio VIII na sua bula Unam sanctam de 1302, em disputa contra o rei Filipe IV de França, aplica à Igreja a expressão “Corpo místico de Cristo”.

A pouco e pouco, a orien-tação eclesiológica do-minante do segundo

milénio vai-se tornando mais jurídica, apologética, corporati-va, visível e clerical…, culminan-do na eclesiologia da “sociedade perfeita” defendida por Roberto Bellarmino (1542-1621), esquecen-do a dimensão histórica, mis-térica e peregrinante da Igreja e perdurando praticamente até ao Concílio Ecuménico Vaticano II.

A Igreja passa a ser designada sem referência à Eucaristia: em vez de «corpus Christi mysti-cum» («corpo místico de Cristo») é cada vez mais «corpus Eccle-siae mysticum» («corpo místico

da Igreja») – é «místico» não por referência à Eucaristia e a Cris-to, mas em virtude da sua estru-turação societária.

Consuma-se a separação en-tre Eucaristia e Igreja! Mais: a graça da cabeça que é Cristo transmite-se sobretudo nos sa-cramentos administrados pelos clérigos (bispos e padres); ora se estes têm poder sobre a vida sacramental da Igreja, também têm poder sobre a Igreja como sociedade... (pregação, poder de ligar e desligar). Torna-se assim compreensível que os ministé-rios na Igreja se tornem posições da hierarquia: o papa, enquanto “cabeça” da Igreja vai ganhando uma importância crescente que não deriva de considerações teo-lógicas, mas de motivações ju-rídicas à luz do conflito entre o papa e o imperador...

Note-se que o papa Pio XII em 1943 publica a encíclica Mystici Corporis baseada ainda numa visão corporativa e sociológica, insistindo na organização jurí-dica e visível.

Dá-se mais atenção à presen-ça real nas espécies consagra-das: inclinação mais para ado-

SOLENIDADE DO CORPO DE DEUS

A Igreja e a Eucaristia são o Corpo de CristoAntónio Neto Samelo

Continuamos neste número a propor uma reflexão aprofundada sobre o “Corpo de Deus”, cuja solenidade celebrámos na última quinta-feira. Esta semana, fazemo-lo com a ajuda teológica do Pe. António Neto Samelo, que abre a sua reflexão em três dimensões complementares: a eclesial, a histórica e a pastoral. Completamos esta reflexão com a dimensão celebrativa concretizada - a celebração a que presidiu o Bispo de Coimbra no arciprestado de Coimbra Urbana.

CORPO DE DEUS

Há uma ligação profunda entre

Igreja e Eucaristia

18 DE JUNHO DE 2020

“Lembrar a todos o grande valor do bem comum é, para o povo cristão, um compromisso vital, que se concretiza na

tentativa de não esquecer nenhum daqueles cuja humanidade é violada nas suas necessidades fundamentais.”

(Papa Francisco, Mensagem para o Dia dos Pobres 2020)

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CORREIO DE COIMBRA

5Destaquerar a hóstia consagrada do que para comungar - é sintomático que os milagres eucarísticos se situem principalmente nes-ta época. A comunhão torna-se sobretudo um acto individual (a partir do século XII comunga-se no fim da missa; após o concílio de Trento, celebrado entre 1545 e 1563, generaliza-se a comunhão fora da missa).

Esta evolução ajuda a com-preender o aparecimento das pro-cissões eucarísticas e da Festa do Corpo de Deus (alargada a toda a Igreja em 1264 pelo papa Urbano IV). No século XIV estas procissões fazem-se na Páscoa, no Pentecos-tes, no Natal e nos dias mais im-portantes da Diocese. É também nesta época que se desenvolve quer a exposição do Santíssimo Sacramento desembocando na devoção das Quarenta Horas (sur-gidas em Milão, Itália, no século XVI), quer a adoração perpétua, quer as adorações nocturnas, quer as quintas feiras eucarísticas...

Uma observação sobre a re-serva eucarística do Santíssimo Sacramento: a partir do século VII, quando desaparece o costu-me de cada um levar consigo a comunhão, a reserva faz-se nas igrejas, tornando-se regra no século IX. O lugar da reserva foi--se diversificando: sacristia, pe-quenas caixas ou cofres, armá-rios murais, isto é, na parede, móveis.... Um sínodo de Ravena (Itália) no século XIV dá liber-dade para se guardar a reserva

ou na sacristia ou na igreja. O costume de fixar tabernáculos inamovíveis sobre o altar come-ça em Itália pelo século XVI... e no século XIX escolhe-se o altar--mor. A Instrução Geral do Mis-sal Romano de 3 de Abril de 1969, artigos 276-277, permite uma certa liberdade quanto ao lugar da reserva no interior da igreja.

De 11 de Outubro de 1962 a 8 de Dezembro de 1965 celebra-se o Concí-

lio Ecuménico Vaticano II que sob a acção do Espírito Santo e devido ao despertar do sentido comunitário, à espiritualidade cristocêntrica, ao despertar do laicado, ao movimento ecumé-nico e à renovação da liturgia e dos estudos bíblicos e patrísti-cos procura recuperar o espírito da eclesiologia do 1º milénio.

Por isso, é significativo que ac-tualmente se celebre o Pentecos-tes, seguindo-se a celebração da Santíssima Trindade e do San-tíssimo Corpo e Sangue de Cris-to: “Assim aparece toda a Igreja como «povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (CONCÍLIO ECUMÉNICO VA-TICANO II, Constitução dogmática Lumen Gentium, número 4).

Afirma-se a dimensão ecle-sial da Eucaristia, “pela qual a Igreja vive e cresce continua-mente” (CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Constituição dog-mática Lumen Gentium, núme-ro 26) para se constatar repeti-

damente que é “fonte e cume de toda a vida cristã” (CONCÍ-LIO ECUMÉNICO VATICANO II, Constituição dogmática Lumen Gentium, número 11) e de toda a acção da Igreja (cf. CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Cons-tituição Sacrosanctum Conci-lium, número 10). Citando São Leão Magno (papa entre 440 e 461), o mesmo Concílio afirma: “Na verdade, «a participação no corpo e no sangue de Cristo não opera outra coisa senão a nossa transformação naqui-lo que recebemos»” (CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Cons-tituição dogmática Lumen Gen-tium, número 26). Por sua vez, o Catecismo da Igreja Católica de 1997 no número 1327, citando Santo Ireneu de Lião (135/140-204), afirma: «A nossa maneira de pensar (e agir) está de acordo com a Eucaristia; e, por sua vez, a Eucaristia confirma a nossa maneira de pensar (e agir)».

Assim, «a Eucaristia aparece como fonte e ponto culminante da evangelização» (CONCÍLIO ECU-MÉNICO VATICANO II, Decreto Pres-byterorum Ordinis, número 5).

Ora, «evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. (…) A Igreja evange-liza quando, unicamente firma-da na potência divina da Mensa-gem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e colectiva dos homens, a actividade em

que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são pró-prios. (…) Não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em di-mensões de massa, mas de che-gar a atingir e como que a mo-dificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de inte-resse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os mo-delos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação. (…)

Importa evangelizar - não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superfi-cial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes - a cultura e as culturas do homem, no sentido pleno e amplo que estes termos têm na Constituição Gaudium et Spes, a partir sempre da pessoa e fazen-do continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus. (…) A ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas. Assim, importa envidar todos os esforços no sentido de uma generosa evangelização da cultura, ou mais exactamente das culturas. Estas devem ser regeneradas mediante o im-pacto da Boa Nova. Mas um tal encontro não virá a dar-se se a Boa Nova não for proclamada.

(PAULO VI, Exortação apos-tólica Evangelii Nuntiandi de 8 de Dezembro de 1975, números 14.18.19.20).

Uma pergunta final: será que as nossas iniciativas pasto-rais evangelizam e nos tornam eucarísticos?

Ser eucarístico “supõe, com efei-to, o sentido da alteridade, a colo-cação em crise do próprio narci-sismo, a capacidade de entrar em relação com um «Tu»; só a outrem reconhecido como pessoa se pode dizer: «obrigado!» Entrar na grati-dão significa, portanto, lutar con-tra a tentação do consumo para criar as condições de uma comu-nhão, de uma relação em que seja banida a coisificação, a instru-mentalização do outro em favor de si mesmo. Já a este primeiro nível, portanto, a oração de acção de graças é aquela que pensa no outro, no tempo e no espaço, dian-te de Deus que é o único Senhor deles, e assim cria os pressupostos para uma visão não consumista da criação e dos que juntamen-te connosco são co-criaturas. (…) O lugar central da Eucaristia no cristianismo recorda também que o culto cristão consiste es-sencialmente numa vida capaz de corresponder com gratidão à dádiva inestimável e proveniente de Deus: o cristão responde à dá-diva de Deus fazendo da sua vida uma acção de graças, uma Euca-ristia viva” (Enzo BIANCHI, Porque rezar, como rezar, Paulus Editora, Lisboa, 20184, páginas 75-76.77).

O arciprestado de Coimbra Urbana promoveu a ce-lebração da Solenidade

do Corpo de Deus com Missa se-guida de um tempo de adoração ao Santíssimo Sacramento na Sé Nova, no dia 11 de junho, sob a presidência do Bispo de Coimbra.

Como tem acontecido nos úl-timos anos, as Confrarias e Ir-mandades da cidade estiveram presentes e, na impossibilidade de haver uma procissão no es-paço exterior, dada a situação de pandemia, incorporaram-se na ‘procissão da entrada’ para a

eucaristia, ocupando depois os respetivos lugares.

Na homilia, D. Virgílio Antu-nes começou por retomar os modos de presença de Jesus na sua Igreja, pela Comunidade, pela Palavra, pelos ministros ordenados e pela Eucaristia,

na qual, pela ação do Espírito Santo, o pão e o vinho se trans-formam no Corpo e Sangue de Jesus Cristo - o modo mais real e profundo da presença de Jesus no meio do seu Povo.

Num segundo ponto, o Bispo de Coimbra deteve-se sobre a necessidade de passarmos de uma visão da participação na missa dominical como “dever” e “obrigação”, no dizer de uns, ou como “direito”, no dizer de outros, para uma visão de aco-lhimento da Eucaristia como dom de Deus. Então, “passa-mos a sentir que é a realidade de Cristo presente no meio de nós, sem a qual - pessoalmen-te, em família cristã, em comu-nidade cristã e em Igreja - não podemos viver. Havemos de nos ajudar uns aos outros a sen-tir a Eucaristia como cume do dom real de Cristo ao seu povo e a que seja acolhida, querida, amada, celebrada com toda a alegria que possa existir den-tro do coração de cada um de nós, para ser transportada com todo o nosso empenho e vonta-de para a vida de todos os dias”. E acrescentou um voto de que estes tempos difíceis que temos estado a viver nos ajudem a ga-nhar um amor maior a Jesus Cristo–Eucaristia, à Igreja que vive da Eucaristia, ao sacerdó-cio e às vocações sacerdotais, à adoração a Jesus Cristo na Eucaristia..., “para que a nossa vida seja toda ela eucarística”.

Por último, D. Virgílio tirou também uma ilação pasto-ral, centrada na importância do domingo: “A celebração da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo pretende alertar-nos mais vivamente para a Euca-ristia, sobretudo para a Euca-ristia dominical e para a nossa participação nela, sendo que a celebração do domingo não se esgota na missa, mas inclui a celebração, o testemunho da Boa Nova e a caridade”.

No final da celebração, o Bis-po de Coimbra agradeceu a or-ganização do arciprestado de Coimbra Urbana, a presença das Irmandades e dos fiéis que, den-tro do respeito pelas distâncias físicas, encheram a Sé Nova, e fez um convite à participação na Eucaristia todos os domin-gos “pois há sempre lugar para todos”, na esperança de que no próximo ano a celebração do Corpo de Deus, com o trabalho dos párocos e das confrarias, possa agregar “uma multidão muito maior” como “sinal” da centralidade da eucaristia na vida cristã, e da vida cristã no meio da comunidade humana.

A “Adoração ao Santíssimo Sacramento”, no final da Mis-sa, foi orientada pelo Pe. Ma-nuel Carvalheiro, arcipreste de Coimbra Urbana, com três tex-tos da Exortação Apostólica Sa-cramentum Caritatis, de Bento XVI, intercalados por tempos de meditação pessoal.

BISPO DE COIMBRA NA SOLENIDADE DO CORPO DE DEUS

“Que a Eucaristia seja acolhida, querida, amada, celebrada com toda a alegria que possa existir dentro de cada um de nós”

18 DE JUNHO DE 2020

“Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina.”(Papa Francisco, Mensagem para o Dia dos Pobres 2020)

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CORREIO DE COIMBRA

6 Liturgia

No último encontro, con-duzidos pelo Espírito Santo fomos tomando

consciência da importância da sua ação para que a oração seja um espaço de verdadeiro en-contro com a Trindade. Será que quando paro para rezar me co-loco sempre na presença do Es-pírito Santo e Lhe peço para que seja Ele a conduzir a oração?

Como havia dito, hoje vamos olhar para o modo como nos deixamos conduzir pelo Espíri-to Santo nas diferentes ações de cada dia.

Estou consciente que o Espíri-to Santo, só Ele!, me pode condu-zir, de verdade, na construção de mim próprio e na execução das obras que a nível social (nos di-

ferentes sectores que compõem a minha existência) me tornam verdadeiramente fecundo.

Um texto do Patriarca Ortodoxo Atenágoras pode ajudar a cons-ciencializar sobre a importância da ação do Espírito na vida pes-soal, eclesial e mesmo social:

«Sem o Espírito Santo: Deus está longe, o Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra mor-ta, a Igreja é uma simples organi-zação, a autoridade é uma domi-nação, a missão é propaganda, o culto é uma velharia e o agir cris-tão uma obra de escravos.

Mas, no Espírito Santo: o cos-mos é enobrecido pela geração do Reino, o homem está em comba-te contra a carne, o Cristo res-suscitado torna-se presente, o

Evangelho se faz poder e vida, a Igreja realiza a comunhão tri-nitária, a autoridade se trans-forma em serviço que liberta, a missão é um Pentecostes, a litur-gia é memorial e antecipação, o agir humano é deificado.»

Sem abertura e docilidade ao Espírito ficamos paralisados, enrolados e presos, o Espírito di-namiza-nos, faz-nos construto-res e criativos. O Espírito dá-nos os seus dons para colocarmos ao serviço dos outros, fazendo tudo para o seu bem. Apesar de dife-rentes, crescemos na unidade, porque animados por Aquele que a todos une, como nos recorda o Papa Francisco, na homilia do passado Domingo de Pentecos-tes (30.05.2020).

São Mateus condensa no cap. X do seu evangelho uma catequese sobre a

missão. A composição desta exi-gente catequese precede o envio dos discípulos às «ovelhas per-didas de Israel... Não devem ter ouro, prata ou cobre nos cintos. Não devem levar alforge, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado»…

«Enviados como cordeiro para o meio de lobos» os discípulos acolhem as últimas recomen-dações : «Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim… Quem não to-mar a sua cruz para me seguir não é digo de mim… Aquele que tenta conservar a sua vida para si vai perdê-la».

Onde estará para os discípu-los de então a boa notícia deste envio?

Onde está para os discípulos e discípulas de hoje a boa notícia da missão?

O Papa Francisco retoma es-tas notas de uma forma clara na Evangelii Gaudium entre os nãos e os sins de uma aposta evangelizadora e transformado-ra do coração da humanidade. A

Igreja não pode, nestes tempos de imprevisíveis dificuldades deixar de se colocar diante des-tas exigências da missão.

Os odres velhos não servirão para o vinho novo que o Espírito vai derramar ...

As palavras de Jesus não são para um grupo de privilegiados, retirados do conjunto. Ele dirige--se a todos e a cada um. Por isso mesmo o radicalismo das pala-vras de Jesus é um convite à su-peração do egoísmo autorrefe-rencial não só para os discípulos mas também para a Igreja.

Desapegar-se de si próprio não é negar o que somos, mas sim o que julgamos ser. Seguir Jesus é descentrar-se, deixar de viver para o seu eu, não ser o centro do seu próprio projeto. O segui-mento brota de uma sintonia profunda com Ele, esvaziando o nosso ‘eu inflado’ para entrar em comunhão como o seu modo de viver e com o seu o Projeto». Agarrar a cruz é acolher os que se cruzam no meu caminho, aceitar-me nas minhas contra-dições, abraçar-me com todas as forças e fraquezas (Cf. P. Aldoa-dro Palaor, Sj, em A caminho do

esvasziamento-do-eu.Os discípulos e discípulas de

todos os tempo entenderam nestas exigentes palavras de Je-sus um desafio: Ele é a referên-cia. Ele é o absoluto. Como diz o Papa Francisco, Ele primeirou no amor. Ser discípulo é seguir os passos da sua dádiva e entrega.

Em «era do vazio», em tem-po de narcisismos, perturbados pela pedra que um microscópico vírus colocou nas engrenagens da vida, aqui estamos, desprote-gidos, paralisados pelo medo, ou, o que é pior, imprudentes por-que incapazes de ler os sinais… É exatamente aqui, neste tempo, que esta página do evangelho precisa de ser interiorizada e desafiadora para o seguimen-to de Jesus e do evangelho. Na pobreza e simplicidade de Jesus que se entrega, está o caminho. Regressar a ao discipulado tem de ser o grande desafio da Igreja hoje. Como diz o Papa Francisco: «Jesus ao pedir essa entrega ra-dical não nos quer sem coração, ou privados de reconhecimento, ao contrário, mas que a condi-ção do discípulo requer uma re-lação prioritário com o mestre.

ESPIRITUALIDADE

Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo nas ações de cada diaFernando Pascoal

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

O Reino como prioridadeIdalino Simões

LEITURA DO SEGUNDO LIVRO DOS REIS 2 Reis 4, 8-11. 14-16aCerto dia, o profeta Eliseu passou por Sunam. Vivia lá uma dis-tinta senhora, que o convidou com insistência a comer em sua casa. A partir de então, sempre que por ali passava, era em sua casa que ia tomar a refeição. A senhora disse ao marido: «Estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus. Mandemos-lhe fa-zer no terraço um pequeno quarto com paredes de tijolo, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada. Quando ele vier a nossa casa, poderá lá ficar». Um dia, chegou Eliseu e recolheu--se ao quarto para descansar. Depois perguntou ao seu servo Gie-zi: «Que podemos fazer por esta senhora?». Giezi respondeu: «Na verdade, ela não tem filhos e o seu marido é de idade avançada». «Chama-a» – disse Eliseu. O servo foi chamá-la e ela apareceu à porta. Disse-lhe o profeta: «No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços».

SALMO RESPONSORIAL Salmo 88Refrão: Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.

LEITURA DA EPÍSTOLA AOS ROMANOS Rom 6, 3-4. 8-11Irmãos: Todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo fomos ba-tizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Batismo na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se mor-remos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos; sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque na morte que sofreu, Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida para Deus. Assim, vós também, consi-derai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus.

ALELUIA 1 Ped 2, 9Vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa,para anunciar os louvores de Deus,que vos chamou das trevas à sua luz admirável.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS Mt 10, 37-42Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em ver-dade vos digo: Não perderá a sua recompensa».

ENTRADALouvai, louvai o Senhor | CEC II 60

Louvai o Senhor | CEC II 62/63Povos, batei palmas | CEC II 64

APRESENTAÇÃO DOS DONSJesus, nossa redenção | NCT 567

És para mim, Jesus | CT 396Quanta Paz e quanto bem | CT 141

COMUNHÃOA minha alma louva o Senhor | NCT 67

Senhor, eu Creio que sois Cristo | CEC II 43Eu vim para que tenham vida | CEC II 131

PÓS-COMUNHÃOSenhor, cantarei eternamente | NCT 330

Cantai ao senhor | NCT 405Cantarei ao Senhor | CEC II 47 SU

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DOMINGO XIII DO TEMPO COMUM28 de junho de 2020

18 DE JUNHO DE 2020

O DOM FRÁGIL DA VIDA“Diálogos com António”, com Ana Sofia

Carvalho, Margarida Neto, Carlos Costa Gomes, Nuno Santos e Secundino Correia.

20 de junho, 21h15, igreja de Santo António dos Olivais e redes sociais

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CORREIO DE COIMBRA

7Opinião

Qualquer discípulo, seja ele um leigo, uma leiga, um sacerdote , um bispo: a relação prioritária: Talvez a primeira pergunta que devemos fazer a um cristão seja: Mas tu encontras-te com Jesus. Tu rezas a Jesus? A relação. Qua-se se poderia parafrasear o Livro do Génesis: por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e unir--se-á a Jesus Cristo e serão uma só coisa… Não poderemos ter um coração duplo. Não, isto não está bem, não poderá ter um coração duplo, mas um coração simples, unido. Que não tenha o pé em dois estribos» ( Papa Francisco , Angelus de 2 de Julho de 2017). Na pobreza de meios, na simpli-cidade da entrega, no incorporar da boa nova anunciada que é a identificação com Ele: «quem vos recebe a mim recebe». Não poderemos mascarar a sua ima-gem. Urge um conversão profun-da para que O reconheçam nos nossos gestos e palavras, litur-gias e propostas. Ele então estará presente porque, como Ele, esta-mos presentes para « anunciar a Boa nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, e aos cegos recobrar a vista; a man-

dar em liberdade os oprimidos, a proclamar uma anos de graça do Senhor». (Lc 4, 18-19).

E tudo isto será a grande ex-periência de gratuidade onde a gratidão poderá gerar-se e cres-cer. Os relatos de Eliseu deixam--nos entrever essa capacidade de gratuidade que o seu discípulo Giezi não foi capaz de compreen-der e seguir, antes deixou que o sagrado fosse objeto de negócio. Uma gratuidade que Jesus refe-re que não ficará esquecida mas terá sempre a sua recompensa. A Sunamita encontra, na gra-tuidade do acolhimento, a ale-gria da ultrapassagem do sinete da sua esterilidade. O que der um copo de água não perderá a sua recompensa.

A Igreja é convidada, como corpo, a ser também ela discí-pula: ser capaz de pôr a perder honrarias e poderes, fausto e glórias, para se colocar no se-guimento de Jesus.

Este tempo exige necessaria-mente um retorno à radicalidade do seguimento. Deixar que «o que não tem onde reclinar a cabeça» nos seduza, não pelo que recebe-remos mas pelo que seremos.

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

O Reino como prioridadeIdalino Simões

1Mário Centeno, que her-dou do governo de Passos Coelho uma economia em

recuperação – e a que deu boa continuidade, levando-nos mes-mo a um histórico excedente or-çamental – deixou o ministério das Finanças (e a presidência do Eurogrupo), depois de ver aprova-do, no executivo, o OE retificativo ditado pela covid-19, mas antes da ratificação do documento em sede da Assembleia da República. Rende-o João Leão, seu anterior secretário de Estado, algo nada habitual com António Costa, o que será, em si mesmo, aceita-se generalizadamente, uma garan-tia, pelo menos até começarem a chegar os dinheiros europeus do fundo de recuperação económica para combate à crise pandémica (que podem atingir, na sua ver-são mais otimista, os 26 mil mi-lhões de euros), de contenção na despesa pública.

2O Presidente da República promulgou já o decreto-lei do governo que consagra

a eleição indireta, pelos autar-cas das respetivas regiões, dos presidentes das Comissões de Coordenação e Desenvolvimen-to Regional. E bem pode Marcelo Rebelo de Sousa, do alto do seu feroz centralismo, dizer – e de um ponto de vista legal, assim é – não ser este um estádio novo a caminho da, constitucional-mente prevista, regionalização administrativa do país. Mas que, através de tal legitimação demo-crática dos eleitos, se dá mais um passo nesse sentido...

3Bruxelas, de acordo com as projeções da temperatura para os próximos quatro

meses, alerta a Europa para uma época de fogos florestais mais di-fícil. Pode ser que sim. Mas não tanto em Portugal, cuido, pela ra-zão simples de ter ardido já qua-se tudo, tendo-se replantado pra-ticamente nada. Mato e arbustos irão com certeza ser pasto de chamas, mas árvores, de algum porte, são poucas (basta dar uma volta pelo país e olhar o calcina-do território) as que estão de pé. Talvez tenha sido por tal que ago-ra, entre nós, atinadamente, até lhes chamamos...fogos rurais. O que quer que isso seja!

4Possivelmente cheios de razão, os juízes portugue-ses recusam fazer julga-

mentos (entretanto retomados) em salas de audiências que não garantam condições sanitárias suficientes para enfrentar o novo coronavírus. Especificando a fal-ta de arejamento naqueles espa-ços dos novos edifícios por serem comummente interiores – e os equipamentos de ar condicionado não estarem em condições ou não existirem sequer – será porven-

tura recomendável, lembrei-me, que o sindicato demande, pelo menos enquanto a meteorologia o permitir, a realização, caminhan-do, de sessões...peripatéticas.

5Um conjunto de subs-critores – até o circuns-pecto antigo Presidente

da República general Ramalho Eanes, normalmente muito re-servado, integra a lista – enviou uma carta ao primeiro ministro onde reclama que o Hospital Mi-litar de Belém não seja entregue à Câmara Municipal de Lisboa, que intenta, com a Santa Casa da Misericórdia da capital, insta-lar ali uma unidade de cuidados continuados. Enquanto defende que aquela estrutura deve assu-mir-se, antes, como um centro de investigação de doenças infe-ciosas, em favor do estudo e de-senvolvimento de meios adequa-dos às novas ameaças biológicas, designadamente, releva-se, do bioterrorismo. Acho muito bem. Mas não, mais não, por favor, em Lisboa, onde está sediado, desde logo, o centralizador Hospital das Forças Armadas. Se cuidam ser aquele organismo de pesquisa relevante para o país, então, em benefício da coesão territorial, coloquem-no em Coimbra ou em Évora, onde, entrementes, encer-raram semelhantes estabeleci-mentos de saúde.

6A China, mais do que nunca, mostra-se decidi-da a acabar, desde já, in-

cumprindo a letra dos acordos, com essas veleidades da liber-dade e da democracia em Hong Kong. E parece, também, que o mundo politicamente civilizado terá incumbido o Reino Unido, antiga potência colonial que ne-gociou com Pequim a restituição daquele território em troca de um estatuto especial que previa, por 50 anos, o princípio de “um país, dois sistemas”, de liderar a frente unida contra a hegemonia totalitária de Xi Jinping. O pior é se um dia destes – embora nada o faça crer –, encarregam Por-tugal de idêntica missão em re-lação a Macau. O incómodo que seria para os socialistas, tão bem instalados que estão no poder, contrariar os grandes desígnios do poderoso Império do Meio...

7Londres tem tentado rene-gar os compromissos as-sumidos nas negociações

do ‘Brexit’, denunciou o líder da equipa europeia encarregada de levar a bom termo o contrato de saída do Reino Unido. Sem re-sultados, ronda após ronda, Mi-chel Barnier sublinha que não houve nenhum progresso sig-nificativo desde o arranque das conversações...e não podemos, enfatizaria, continuar eterna-mente assim. Com a União Eu-ropeia sobremodo atarefada com a consequências económi-cas e sociais da crise pandémi-ca, estarão os súbditos de Sua Majestade, depois do voluntário abandono, a querer habilitar-se a algum benefício, indiretamen-te embora, da onda solidária que, ainda envolta em nuvens de ‘frugalidade’, poderá, final-mente, começar a desenhar-se entre os 27 do Velho Continente?

8Em meia dúzia de dias – manifestação acabada da sua imensa capacidade

de governação – Donald Trump, acusando-a de ser dominada por Pequim, afastou os Estados Uni-dos da Organização Mundial de Saúde; ao retirar-lhe o estatuto económico especial, abandona Hong Kong ao seu destino no di-fícil enfrentar dos desígnio tota-litários da China; e, mobilizando o exército, incendiou os já de si gravíssimos problemas de ordem interna originados pela morte do afro-americano George Floyd sob o joelho de um policial. Isto para não falar dos continuados erros (os EUA, apesar dos seus imensos recursos, são o país com mais casos registados e também o maior número de mortos por covid-19) na gestão sanitária da pandemia. Tantas e tais asneiras políticas levam-me a perguntar, aqui deste cantinho da Europa, como é tal possível, sobretudo quando falamos da (mas, assim, até quando?) mais influente po-tência mundial.

9A França, depois da polé-mica decisão do não adia-mento da primeira volta

das municipais, que ditaria uma abstenção recorde superior a 50% do eleitorado – e cujos resultados tantos dissabores trouxeram a Emmanuel Macron – prepara-se para realizar a segunda volta da-quelas eleições o próximo dia 28 (se a situação da pandemia não se agravar), apesar de o governo não ter alcançado qualquer con-senso durante as consultas com a oposição. Das 35 mil cidades e vilas, cerca de 30 mil já elegeram os seus maires na primeira ron-da, em 15 de março, mas o mes-mo não se verificou em relação a muitas das maiores urbes, de entre as quais, alguns exemplos, Paris, Lyon e Marselha.

Aqui e AlémCabral de Oliveira

Para responder ao aumento de famílias em situação de emergência social e eco-

nómica no pós-confinamento, o Centro Comunitário de Inserção na Baixa de Coimbra (CCI), da Cári-tas Diocesana, iniciou no dia 15 de junho um “Mercado Social”. Neste momento o CCI tem 52 famílias a necessitarem de apoio, num total de 144 pessoas, das quais 70 são crianças. O Centro criou também, em abril, a iniciativa “Somos Famí-lia”, para apoio alimentar às famí-lias sinalizadas. Além disso, através da venda de máscaras solidárias, angariou 8.215,93€, o que permitiu complementar estes cabazes com produtos frescos. Entretanto, para além da necessidade alimentar, a urgência é já também para o paga-mento de faturas de água, luz, gás e internet (escola). Para possibilitar esta ajuda, o “Mercado Social” vai ter à venda produtos como sacos para utilizar na praia, carteiras, máscaras infantis e outros.

Numa breve caraterização da situação, a Cáritas Diocesana re-fere que “o aumento de famílias em situação de emergência social e económica é também muito evidente no crescente número de processos de Ação Social, referente aos meses de abril e maio de 2020, comparativamente com o ano transato. Neste momento e ape-

nas até ao mês de maio, o número de processos de Ação Social que já deram entrada representa um au-mento de 56%, enquanto que em 2019 representavam apenas 10% da totalidade de processos”.

Cáritas portuguesa

Também a Cáritas Portu-guesa está a intervir no socorro social de emergên-

cia, tendo aproveitado simboli-camente o Dia do Corpo de Deus para apresentar a sua estratégia em ordem a “Inverter a Curva da Pobreza em Portugal” canalizan-do a partir de agora “toda a sua ação para dar resposta aos efeitos provocados pela Covid-19 a quatro níveis: 1) apoio de primeira linha; 2) apoio de Recuperação Socio Eco-nómica Inclusiva; 3) Apoio à capa-citação da estrutura social da rede nacional Cáritas; 4) Apoio à rede Cáritas Internacional”. O apelo que a Cáritas Portuguesa faz a toda a população - lê-se no comu-nicado chegado à nossa redação - “é que acreditem que é possível, através de mais justiça social e solidariedade, erradicar a pobreza absoluta”. Para isso, a instituição recebe donativos: online, em ca-ritas.pt/covid-19-donativo-online/ e na Conta Solidária “Inverter a Curva da Pobreza”: PT50 0045 9020 4032 6607 7081 5 (Caixa Agrícola).

SITUAÇÃO DE POBREZA NO PÓS-CONFINAMENTO

Centro da Cáritas cria um “Mercado Solidário”

“...Mas não tanto em Portugal, cuido, pela razão simples de ter ardido já quase tudo, tendo‑se replantado praticamente nada.

18 DE JUNHO DE 2020

EUROPA, PARA ONDE VAIS?“Diálogos com António”, com Graça Franco, Gonçalo Cadilhe, Paulo Rangel, Carlos Fiolhais e Américo Pereira.26 de junho, 21h15, igreja de Santo António dos Olivais e redes sociais

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CORREIO DE COIMBRA

Última

Em Outubro de 1966 – os trabalhos do Concílio Vaticano II haviam ter-

minado em 8 de Dezembro de 1965 – a revista francesa de es-piritualidade inaciana, Christus, publicava um pequeno artigo de sete páginas, da autoria de um dos seus dois directores, o padre François Roustang e com a plena anuência do outro, o padre Michel de Certeau. Redi-gido para colmatar uma ausên-cia inesperada, este artigo não tem, por isso, o carácter de um manifesto, mas toca um tema extremamente sensível, que é abordado logo no segundo pa-rágrafo do texto. Tento traduzir: “Uma primeira aproximação às correntes que, nos dias de hoje, atravessam a Igreja, coloca-nos perante a oposição entre aqueles que sentem a perda do tempo passado ou o desaparecimento das formas tradicionais e os que desejam uma melhor adaptação das instituições. Não é aí, con-tudo, que se situa o verdadeiro debate. Muitos cristãos (“une masse de chrétiens”), perante as mudanças rápidas e profundas que se têm verificado, adquiri-ram uma liberdade pessoal que não permite incluí-los quer no grupo dos conservadores quer no dos reformistas. E o que é notável é que antes se situavam tanto entre os primeiros como entre os segundos. Está a ga-nhar corpo uma terceira estirpe, um terceiro povo, um terceiro homem e corremos o risco de não nos darmos conta disso.”

Na sequência, François Rous-tang – afirmando querer dar voz a esses cristãos – apresenta al-guns testemunhos e exemplos colhidos da sua prática pastoral, revelando situações incómo-das, dissociações entre a fé em Cristo e a adesão institucional, questionamentos sobre algumas práticas sacramentais ou so-bre a moral sexual. Mas insiste particularmente nas questões da linguagem, por vezes de for-ma agreste: “Todos os esforços feitos [para implantar as refor-mas], pensam estes cristãos, escondem o problema crucial da infinita distância entre a linguagem religiosa e a da exis-tência quotidiana”. Não se trata de duvidar da fé que professam – eles praticam-na na sua vida concreta e no seu relaciona-mento com os outros – mas de outro problema, que um editor católico colocava nestes termos: “Se a doutrina católica é hoje tão bem pensada e proclama-da, porque é que os que estão fora não encontram nela uma palavra nova? Porque será que eles têm sempre a impressão de ouvir o eco de um dialecto ape-nas perceptível para os crentes e que só a estes interessa?” Esta intenção de comunicabilidade é

um vector central nas reflexões veiculadas a Roustang: “[…] eles sentem que se tornaram mais próximos de todos os homens com quem se cruzam; não se jul-gam superiores ou detentores de uma verdade acabada; partem à procura, juntamente com todos aqueles com quem convivem, sem distinção de credos”. To-mando como referência a figura de João XXIII, as suas palavras e os seus gestos, estes cristãos “pressentem que o cristianismo não é apenas (eles dizem: não é, em primeiro lugar) uma prática religiosa e moral, mas a possi-bilidade de comunicação entre todos os homens, de superação dos conflitos sectários, de com-preensão progressiva entre pes-soas aparentemente estranhas umas às outras”. Sem querer “ditar a lei”, procuram um “novo equilíbrio entre fé e norma” e distinguem claramente entre “uma regra ditada do alto, com pretensão de ser definitiva, e uma regra verdadeiramente constitutiva da comunidade, porque descoberta por ela e por ela formulada e aceite”. Ao afir-mar, referindo-se ao seu tempo, que “o clero, no seu conjunto, não parece estar preparado para compreender este deslocamento da consciência cristã”, Roustang antevê que, se nada for feito, este desprendimento relativa-mente à Igreja institucional, se irá acentuar, não sob a forma de abandono ou oposição mas de “um desinteresse tranquilo”.

Revisitar um texto produzido há mais de meio século – jun-tamente com um conjunto de estudos que o situam (François Roustang – Le troisième homme. Entre rupture personnelle et crise catolique. Paris: Odile Jacob, 2019) – coloca inevitavelmente a questão da sua actualidade. Valerá a pena? Serão semelhan-tes as circunstâncias do nosso tempo? Olhando para os últi-mos meses, pudemos verificar o notável e louvável esforço feito para superar circunstâncias ad-versas através do recurso às tec-nologias da comunicação: mas é a comunicação, em si, nos seus conteúdos, na sua linguagem e na sua eficácia, que constitui o maior desafio.

“O encontro com uma pessoa em condições de pobreza não cessa

de nos provocar e questionar. Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu so-frimento? Como podemos ajudá--la na sua pobreza espiritual? A comunidade cristã é chamada a coenvolver-se nesta experiência de partilha, ciente de que não é lícito delegá-la a outros”, escreve o Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial da Pobreza 2020 (15 de novembro). Sob o títu-lo «Estende a tua mão ao pobre» (Ben-Sirá), a Mensagem releva algumas dimensões do gesto de “estender a mão”:

- “Estender a mão leva a desco-brir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capa-cidade de realizar gestos que dão sentido à vida”.

- “Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediata-mente à proximidade, à solida-riedade, ao amor”.

- “«Estende a mão ao pobre» é um convite à responsabilidade, sob forma de empenho direto”.

- «Estende a mão ao pobre» faz ressaltar, por contraste, a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam como-ver pela pobreza, da qual frequen-temente são cúmplices também eles. E há também mãos estendi-das que, numa hipócrita respeita-bilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam”.

Por inspiração do Papa Francisco, foi firmado no dia 12 de junho o acordo

“Aliança por Roma”, que vai per-mitir a cerca de 1800 famílias receber ajuda financeira para sair da pobreza. O acordo foi as-sinado pelo cardeal-vigário para a Diocese de Roma, Angelo de Donatis, pelo Presidente da re-gião do Lázio, Nicola Zingaret-ti e pela Presidente da Câmara Municipal de Roma, Virginea Raggi. A atribuição é de 1 milhão de euros (500 mil euros finan-ciados pela Região do Lázio e 500 mil pelo município de Roma), mas o objetivo é aumentar os recursos do Fundo, que toma o nome de Jesus Divino Trabalha-dor, “com outras participações e com campanhas de solidarieda-de para dar suporte àqueles nú-cleos familiares que, por causa da emergência Covid-19, estão impossibilitados de manter um nível digno e aceitável de vida”.

No encontro da assinatura do protocolo, em Roma, o Cardeal de Donatis afirmou, sobre a iniciati-va: “Não queremos apenas distri-buir contribuições económicas. Queremos restituir dignidade”. E exemplificou com o trabalho já desenvolvido pela diocese de Roma: “a diocese de Roma, as comunidades paroquiais, os ins-titutos e as ordens religiosas, as associações, os movimentos de inúmeras realidades do volunta-riado católico e laical provaram ter grande generosidade”.

A propósito dos 94 anos da rainha Elizabeth II de In-glaterra, a versão inglesa

do vatican news apresentou um histórico dos encontros entre a monarca - Chefe oficial da Igre-ja Anglicana - e os Papas do seu reinado. Porque a vida também é feita desses acontecimentos, aqui fica o registo.

Ainda enquanto Princesa, Eli-zabeth visitou o Vaticano em 1951, tendo-se encontrado então com o Papa Pio XII. Em 1961, já rai-nha, fez a sua segunda visita ao Vaticano, tendo sido recebida em audiência pelo Papa João XXIII e tendo deste recebido o apreço pelo “grande ideal cristão de paz, caridade e fraternidade” do povo inglês. Esta foi ainda uma visita de cortesia. A primeira Visita de Estado de um monarca britânico ao Vaticano aconteceu só em 1980, e foi esta visita que abriu cami-nho para a ida de João Paulo II à Grã-Bretanha em 1982, ainda que apenas em “visita pastoral”. E as-sim aconteceu, em plena Guerra das Malvinas, com o Papa a ape-lar ao diálogo entre a Inglaterra e a Argentina. Um terceiro en-contro com João Paulo II voltou a acontecer no Vaticano, em 2000. Também Bento XVI se encontrou com a Rainha, na Escócia, em 2010, por ocasião da canonização do Cardeal Newman. Por último, a Rainha Elizabeth também já se encontrou com o Papa Francisco, em abril de 2014, no contexto de uma visita de Estado à Itália.

DIA MUNDIAL DOS POBRES

Estende a tua mão ao pobre

NÃO ESTAMOS SÓS

O “terceiro homem”Fernando Taveira da Fonseca

O Livro do Eclesiastes (ou Qohélet) foi escrito, num tempo de dominação es-

trangeira, por em “espírito cri-tico” que questiona o dia a dia e procura descobrir o valor das coisas e das acções. Nas suas várias reflexões, expõe a nega-tividade e limites das realida-des humanas, sublinhando que tudo é dom de Deus. Defende a vida simples e as alegrias que daí advêm, pois o segredo está em viver o presente, apreciando e agradecendo a Deus por tudo.

Mas também é verdade, que estamos perante uma obra des-concertante, afirmando, depois das várias reflexões, e num aparente pessimismo, que tudo é ilusão ou vão, que é incom-preensível à razão humana. Todavia, é bom ter ciente que a sua reflexão é sobre o que se passa debaixo do sol, desmon-tando todos as ilusões com que o homem se ilude (riqueza, po-

der, ...), não colocando em causa a existência de Deus, e mesmo sem perceber a razão de ser dos acontecimentos, o nosso autor é um homem de fé, afirmando que “todas as coisas que Deus fez, são boas a seu tempo” (3,11), que o homem deve aceitar na vida tanto as coisas boas como as menos boas e que é preciso observar os mandamentos e te-mer a Deus, a atitude religiosa fundamental que marca todo o Livro. O nosso autor deixa-nos este conselho prático de viver o hoje, desfrutando a vida, pois essa alegria é dom de Deus.

Para este tempo que vive-mos de tribulação e já a pensar no pós pandemia,

ler este Livro ajudar-nos-á a to-mar como conselho o defender uma vida simples, concentrada nas relações essenciais: em Deus e nos outros, a começar pela nossa família, podendo usu-

fruir o fruto do próprio trabalho. Lembra-te do teu criador! (cf. Ecl 11,4-12,1) “Come o teu pão com alegria e bebe o teu vinho com satisfação, porque com isso Deus já foi bondoso para contigo.” (Ecl 9,7) Goza a vida com a esposa que amas! (cf. Ecl 9,3-10) Fortale-ce a relação com os amigos: “É melhor dois do que um só (…). Se caírem, um ergue o seu com-panheiro. Mas ai do solitário que cai: não tem outro para o levan-tar” (4, 9-10). «Ninguém se salva sozinho», não se tem cansado de repetir o Papa Francisco. Possa-mos sair desta crise mais forta-lecidos na responsabilidade uns pelos outros, na solidariedade e na fraternidade humana. Com esta tempestade que nos atingiu, tornaram-se evidentes a fragili-dade e a ilusão dos pontos fortes nos quais assentavam a nossa vida, como tão bem nos lembrou o Santo Padre naquela entarde-cer de 27 de março na Praça de S. Pedro! Seja lição aprendida, e possamos redefinir as verda-deiras prioridades, apreciando de forma nova a nossa família, os nossos amigos, a vivência da nossa fé! Eis a oportunidade de um novo início...

A PALAVRA EM PALAVRAS

Crê em Deus e vive!João Paulo Fernandes

POR INSPIRAÇÃO DO PAPA

Ajuda a 1800 famílias

CURIOSIDADES

Elizabeth II e os Papas

“É a comunicação, em si, nos seus conteúdos, na sua linguagem e na sua eficácia, que constitui o maior desafio.

18 DE JUNHO DE 2020

“Não nos improvisamos instrumentos de misericórdia. Requer-se um treino diário, que parte da consciência de quanto nós próprios, em primeiro lugar, precisamos duma mão estendida em nosso favor.”(Papa Francisco, Mensagem para o Dia dos Pobres 2020)