palestra pl coimbra

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TELEGRAFIA ÓTICA EM PORTUGAL 1. Breve referência à telegrafia ótica até finais do sec XVIII 2. A telegrafia ótica na Europa em finais do sec XVIII 3. Dois SISTEMAS TELEGRÁFICOS PORTUGUESES: 3.1 Sistema de Ciera (inicio séc. XIX) 3.2 Sistema Heliográfico (finais séc. XIX) 4. Considerações finais A palestra enquadrase no problema geral da comunicação entre os homens que sempre foi essencial na vida em sociedade, numa procura de meios cada vez mais rápidos e eficientes que a ciência e tecnologia da época permitiam. A telegrafia ótica terrestre constituiu, assim, um dos primeiros passos na evolução das telecomunicações O texto tem como objetivo essencial apresentar dois sistemas de telegrafia ótica montados em Portugal, no século XIX, por portugueses, relativamente pouco conhecidos. A descrição destes sistemas é precedida pelos pontos 1 e 2 que apresentam os sistemas usados antes do século XVIII, na Europa, e que tiverem influência determinante no sistema português desenvolvido por Ciera. A palestra termina com considerações finais sobre o interesse atual do conhecimento de Ciera e da sua obra e em especial para Coimbra e sua Universidade. 1. Breve referência à telegrafia ótica até finais do século XVIII Até o finais do século XVIII, na Europa, não havia nenhum sistema de comunicações que permitisse o envio de mensagens a distâncias consideráveis, por via terrestre. O meio mais usado era o mensageiro (ou embaixador, que transmitia a mensagem verbalmente), o que, dadas as insuficiências da rede de estradas existente, era muito moroso, arriscado e impraticável em situações de cerco, frequentes na época medieval. Utilizavamse então meios muito diversos, relativamente simples como sinais sonoros, tais como o toque de sinos a rebate, o rufar de tambores, toques de trombetas, sinais de fumos como os índios americanos, pombos correios, ou sinais visuais como bandeiras e pendões nos campos de batalha. Ainda antes do final do século XVIII havia comunicações óticas que viriam a influenciar os sistemas criados posteriormente e que foram: As almenaras: cadeias de torres, que permitiam, acendendo fogueiras de noite ou produzindo fumo de dia, alertar para perigo iminente. Algumas destas estruturas ainda se encontram preservadas em alguns países, embora não em Portugal, tanto quanto eu saiba.

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Palestra nas Lojas de saber, Coimbra, sobre Telegrafia visual

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Page 1: Palestra PL Coimbra

TELEGRAFIA ÓTICA EM PORTUGAL

1. Breve referência à telegrafia ótica até finais do sec XVIII 2. A telegrafia ótica na Europa em finais do sec XVIII 3. Dois SISTEMAS TELEGRÁFICOS PORTUGUESES:

3.1 Sistema de Ciera (inicio séc. XIX) 3.2 Sistema Heliográfico (finais séc. XIX)

4. Considerações finais

A  palestra   enquadra-­‐se  no  problema  geral   da   comunicação  entre  os  homens  que   sempre   foi  essencial  na  vida  em  sociedade,  numa  procura  de  meios  cada  vez  mais  rápidos  e  eficientes  que  a  ciência  e  tecnologia  da  época  permitiam.  A  telegrafia  ótica  terrestre  constituiu,  assim,  um  dos  primeiros  passos  na  evolução  das  telecomunicações  

O  texto  tem  como  objetivo  essencial  apresentar  dois  sistemas  de  telegrafia  ótica  montados  em  Portugal,  no  século  XIX,  por  portugueses,  relativamente  pouco  conhecidos.    

A   descrição   destes     sistemas   é   precedida     pelos   pontos   1   e   2   que   apresentam   os   sistemas  usados   antes   do   século   XVIII,   na   Europa,   e   que   tiverem   influência   determinante   no   sistema  português  desenvolvido  por  Ciera.    

A  palestra  termina  com  considerações  finais  sobre  o  interesse  atual  do  conhecimento  de  Ciera  e  da  sua  obra  e  em  especial  para  Coimbra  e  sua  Universidade.    

 

1. Breve  referência  à  telegrafia  ótica  até  finais  do  século  XVIII      

Até   o   finais   do   século   XVIII,   na   Europa,   não   havia   nenhum   sistema   de   comunicações     que  permitisse   o   envio   de  mensagens   a   distâncias   consideráveis,   por   via   terrestre.   O  meio  mais  usado   era   o   mensageiro   (ou   embaixador,   que   transmitia   a   mensagem   verbalmente),   o   que,  dadas   as   insuficiências   da   rede   de   estradas   existente,   era   muito   moroso,   arriscado   e  impraticável  em  situações  de  cerco,  frequentes  na  época  medieval.    

Utilizavam-­‐se   então   meios   muito   diversos,   relativamente   simples   como   sinais   sonoros,   tais  como  o   toque  de   sinos  a   rebate,  o   rufar  de   tambores,   toques  de   trombetas,   sinais  de   fumos  como  os  índios  americanos,  pombos  correios,  ou  sinais  visuais  como  bandeiras  e  pendões  nos  campos  de  batalha.    

Ainda   antes   do   final   do   século   XVIII   havia   comunicações   óticas   que   viriam   a   influenciar   os  sistemas  criados  posteriormente  e  que  foram:    

• As   almenaras:   cadeias   de   torres,   que   permitiam,   acendendo   fogueiras   de   noite   ou  produzindo  fumo  de  dia,  alertar  para  perigo  iminente.  Algumas  destas  estruturas  ainda  se  encontram  preservadas  em  alguns  países,  embora  não  em  Portugal,  tanto  quanto  eu  saiba.      

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(No   filme   “o   Senhor  dos  Aneis”,   há  uma   cena  que  mostra   as   almenaras,   no   cimo  dos  montes,  a  acenderem-­‐se,  sucessivamente,  numa  noite  escura.  

 ver  em  http://www.youtube.com/watch?v=i6LGJ7evrAg&sns=em)  

• As  comunicações  por  sinais:  usando  bandeiras  conjugadas  com  bolas  para  fazer  sinais,  obedecendo   a   um   código,   foi   um   sistema   utilizado   pela   Marinha,   incluindo   a  portuguesa,   desde   o   século   XVI,   pelo   menos,   para   comunicações   a   distâncias  relativamente  curtas  entre  navios  ou  entre  os  navios  e  a  terra.    

(Foi   com   um   sistema   destes   que   o   almirante   Nelson,   antes   de   iniciar   a   batalha   de  Trafalgar,   em   1805,   transmitiu   a   célebre   mensagem:   “A   Inglaterra   espera   que   cada  homem  cumpra  o  seu  dever”.      

Mais   recentemente,   o   filme   de   Sergei   Eisenstein,   de   1925,   “O   couraçado   Potenkin”  apresenta  a  troca  de  sinais,  através  de  bandeiras,  entre  a  esquadra  russa  e  o  revoltoso  couraçado  

ver  em  http://youtu.be/s6kPHVSPzvo)  

 Em  Portugal,  no  início  do  século  XIX,  existia  um  sistema  ótico,  deste  tipo,  designado  por  Linha  da  Barra  ou  do  Mar,  montado  entre  o  cabo  da  Roca  e  o  castelo  de  São  Jorge  com  estações  a  distâncias  não   superiores  a  2,5  km.  O   sistema,  além  de  outras   funções   ligadas  à   segurança  e  controlo   alfandegário,   facultava   à   população   de   Lisboa   informação   do   tráfego   marítimo   do  porto  de  Lisboa.  Os  sinais  eram  apresentados  no  Castelo  de  São  Jorge,  o  código  não  era  secreto  e  permitia  que  a  população  interessada  tomasse  conhecimento,  em  cima  do  acontecimento,  da  partida  ou  chegada  de  navios  a  Lisboa.  

Em  suma,  na  Europa,  em  finais  do  século  XVIII,  estava  por  encontrar  uma  solução  mais  rápida  e  fiável  que  o  uso  de  mensageiros  para  comunicações   terrestres   .  Vejamos  a   resposta  dada  na  Europa  a  este  desafio,  primeiro  em  França    

 

2. A  telegrafia  ótica  na  Europa  dos  finais  do  século  XVIII  

                                                                                                 

Claude  Chappe,  que  vemos  na  figura,  foi  designado  pelos  seus  compatriotas  como  o  “primeiro  engenheiro   telegráfico”.   O   sistema   por   ele   inventado,   surgiu   em   1792,   em   plena   Revolução  Francesa,   e   foi   apresentada   à   Convenção,   no   chamado   período   do   Terror.   Dominavam   os  

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jacobinos,   a   situação   interna   em   França   era   complicada   e   havia   que   fazer   frente   à   enorme  ameaça  militar  das  monarquias  europeias,  claramente  contrárias  à  revolução.      

O  sistema  de  Chappe  foi  facilmente  aprovado  por  Robespierre,  dadas  as  vantagens  que  trazia  a  sua  aplicação  para  a  controlo  da  situação    interna  e  para  fazer  face  à  ameaça  externa.  O  sistema  de  Chappe    compreendia:    

o Um  conjunto  de  estações  colocadas  em  pontos  altos,  a  distancia  média  da  ordem  de  12  km,  visíveis  sucessivamente  entre  si  e  colocadas  tanto  quanto  possível  em  linha  reta,  formando  um  cadeia  da  estação  emissora  à  recetora.    

o Aparelhos  designados  por  telégrafos  óticos  e  respetiva  guarnição,  destinados  a  transmitir  a  mensagem  sucessivamente  até  ao  fim  da  cadeia    

o Lunetas  em  cada  estação  para  observação  dos  sinais  das  estações  contíguas    o Um  código  interpretativo  dos  sinais.    

Como   podemos   observar   este   sistema   tinha     torres   com   semelhanças   às   utilizadas   nas  almenaras,  bem  como  com  o  código  e  telégrafo  usados  no  sistema  da  Marinha.  As  diferenças  mais   significativas   são   os   telégrafos   de   Chappe   serem   francamente   mais   robustos   e   a  necessidade  de  introdução  de  lunetas  especiais,    dada  a  maior  distância  entre  estações.    

                                                   

                                               

 

A   figura     permite   descrever   o   funcionamento   do   sistema   Chappe.   Vemos   três   estações,   de  pedra  e  cal,  no  cimo  de  montes.  A  estação  da  esquerda,  que  admitimos  ser  a  primeira  da  linha,  está  a  fazer  um  sinal  diferente  das  outras  duas.  Isso  resulta  de  cada  estação  ter  que  repetir,  ao  longo   da   cadeia,   os   sinais   da   estação   anterior,   processo   que   continuará   até   à   estação  destinatária.    

O  passo  seguinte  é  a  2ª  estação  reproduzir  o  sinal  transmitido  pela  1ª,  o  mesmo  fazendo  depois  a  3ª  em  relação  ao  da  2ª  e  assim  sucessivamente.    

Os   operadores   não   conheciam   o   código,   o   que   era,   normalmente,   apenas   reservado   às  entidades  remetentes  e  destinatários.  O  operador  da  primeira  estação  só  recebia  do  remetente  

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um   conjunto   de   números   que   tinha   que   transmitir.   Esse   conjunto   de   números,   que   lhe   era  enviado   pelo   remetente,   era   a   mensagem   codificada   a   transmitir.   O   sistema   poderia  considerar-­‐se,   em   linguagem   atual   um   sistema   “intensivo   de   mão   de   obra”,   o   que   não   era  grande  problema  porque  os  salários  eram  miseráveis,    

O  Código  de  Chappe  era  um  livro,  com  páginas  e   linhas  numeradas.  Cada   linha  continha  uma  frase,   uma   palavra,   um   número   ou   uma   letra.   O   remetente   da   mensagem   que   pretendia  transmitir  uma  determinada  frase,  constante  do  código,  indicava  dois  números:  o  da  página  e  o  da  linha  dessa  frase.    

Para   incluir   mais   frases,   acrescentava   mais   pares   de   números.   O   operador   da   estação  transmitia,  assim,  para  a  estação  seguinte  um  conjunto  de  pares  de  números,  correspondendo  cada  número  a  uma  dada  posição  das  três  peças  do  telégrafo      

O  destinatário  decifrava  a  mensagem  com  as  parelhas  de  dois  números  que  indicavam  a  coluna  e  linha  correspondentes  do  código.    

Vejamos  como  funcionava  o  operador  no  interior  da  estação    

                                                                                                       

                                                                                                     

 

Na  parte  superior  estava  o  telégrafo.  A  peça  central  podia  ter  duas  posições:  a  inclinada  a  45º,  que   vemos,   ou   a   posição   horizontal.   As   peças   laterais   podiam   ter   8   posições   (4   a   45º,   duas  horizontais  e  duas  verticais).  A  posição  que  coincidia  com  a  peça  central  não  era  utilizada,  pelo  que  cada  peça  lateral  utilizava  7  posições.  Isto  conduzi  a  que  fossem  possíveis    2x7x7  =  98  sinais  diferentes.   Destes   apenas   eram   usados,   na   transmissão   de   mensagens,   correspondentes   às  páginas  do  código  e  linha  da  página.  As  restantes  eram  usadas  como  indicações  de  serviço.  (do  tipo  “fim  de  transmissão”)    

Olhemos  agora  para  o  interior  do  edifício.  

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Existia  um  mecanismo  com  três  manivelas  que  o  operador,  através  de  um  sistema  de  roldanas,  punha   numa   posição   rigorosamente   idêntica   à   dos   sinais   a   transmitir.   Era   um   mecanismo  simples  mas  engenhoso  da  autoria  de  Breguet,  relojoeiro  francês  que  colaborou  com  Chappe.    

O   sistema   de   Chappe   representou   um   enorme   salto   qualitativo   nas   telecomunicações  terrestres,   pelo   que   teve   rapidamente   expansão   em   França.   Basta   dizer   que,   em   1794,   foi  inaugurada   a   linha   Paris-­‐Toulouse,   com   224   km.   Uma  mensagem   demorava   cerca   de   alguns  minutos   a   ser   transmitida,   enquanto   um  mensageiro,   a   cavalo,   não   o   faria   em  menos   de   10  horas.      

Não  é,  pois,  de  estranhar  que  a   invenção  de  Chappe  tivesse  forte  repercussão  noutros  países  europeus  que  procuraram,  nos  anos  seguintes,    encontrar    soluções  próprias.    

 

 

                                                                                                     

Na  Suécia,  logo  em  1794,    Edelcrantz  apresentou  o  seu  telégrafo    

 

                                                                               

 

As   principais   diferenças   entre   o   sistema   de   Edelcrantz     e   o   de   Chappe   residem   no   código,  evidentemente,  e  no   telégrafo.  Este   tem  10  persianas  que  podem  estar  abertas  ou   fechadas,  permitindo  um  total  de  1024  combinações.      

Vejamos  agora  a  solução  inglesa  de  Murray,  que  vemos  na  gravura    

 

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O  telégrafo  que  construiu,  em  1795,  também  se   integrava  num  sistema  basicamente   idêntico  aos  anteriores,  mas  apenas  com  6  persianas,  3  das  quais  se  encontram  fechadas,  na  gravura.    

                                                                                         

Ciera  indica  que,  com  este  telégrafo  é  possível  fazer  64  sinais  diferentes  pela  apresentação  de  1  a  6  persianas  fechadas.    

Até  agora  traçámos  o  quadro  geral  em  que  se  verificavam  as  comunicações  terrestres  antes  do  seculo   XVIII   e   as   repercussões   da   invenção   de   Chappe,   elementos   de   que   dispôs   Ciera   para  desenvolver  o  telégrafo  português  .  

 

3. DOIS  SISTEMAS  TELEGRÀFICOS  PORTUGUESES  

 

3.1  Sistema  de  Ciera  (  início  do  sec  XVIII)  

 

Para  se  falar  no  sistema  desenvolvido  por  Francisco  Ciera  é  preciso  referir  o  papel  de  D.  João  VI,  então  príncipe  Regente.      

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O  papel  do  rei   foi  determinante,  ao  nomear,  em  1803,    Francisco  António  Ceira  para  dirigir  a  Linha  a  Barra  ou  do  Mar,  a  que  já  nos  referimos,  dando-­‐lhe  liberdade  de  ação  para  a  remodelar  e  expandir.  Ciera  não  demorou  a   fazê-­‐lo,  permitindo  que  o   rei,  nas  suas  estadias  em  Queluz,  Mafra,   ou   Salvaterra   de   Magos,   estivesse   a   par   do   tráfego   marítimo   no   porto   de   Lisboa,  confirmando  o  acerto  da  escolha  de  Ciera.    

No   Brasil   D.   João   VI   implementou   o   sistema   de   Ciera,   como   fizera   em   Portugal   para   poder  receber  no  palácio  real  as  informações  do  tráfego  marítimo  do  porto  do  Rio  de  Janeiro.      

De   acrescentar   duas   curiosidades   a   respeito   de   D.   João   VI:   a   primeira   é   que   ele   também  praticava  a  arte  de  enviar  mensagens  através  do  sistema  de  Ciera,  como  um  simples  operador.  A   segunda   é   que,   depois   de   regressar   do     Brasil   após   a   Revolução   liberal   de   1820,   não  prescindiu   de   continuar   a   ter   o   seu   sistema  privativo   de   informação  do   tráfego  marítimo  do  Porto  de  Lisboa.    

D  João  VI  teve,  assim,  o  mérito  de  ter  impulsionado  a  telegrafia  ótica  em  Portugal  e  no  Brasil,  facto  confirmado  pela  investigação  dos  coronéis  José  Canavilhas  e  Costa  Dias.    

Passemos   agora   a   falar   de   Francisco   Ciera,   que   teve   a   sua   formação   na   Universidade   de  Coimbra  e  é  um  figura  de  reconhecido  valor  na  da  cartografia  nacional.  Em  1803,  quando  foi  nomeado    para  dirigir  a  Linha  da  Barra  era   lente  da  Real  Academia  da  Marinha.  Em  1810,   foi  nomeado  diretor  do  Corpo  Telegráfico   (uma  unidade  militar   criada  por   razões     de   segurança  nacional   pouco   antes   da   invasão   francesa   de  Massena),   tendo   sido   o   único   civil   a   comandar  uma  unidade  militar.  Faleceu  em  1814.    

O  sistema  criado  por  Ciera  resultou  do  estudo  que  fez  do  telégrafos  de  Chappe,  Edelcrantz  e  de  Murray,   que   referimos.   O   seu   sistema,   aliás,   era   basicamente   idêntico   aos   dos   seus  antecessores.  A  diferença  é  que  procurou  um  telégrafo  “o  mais  simples  possível”  e  conseguiu-­‐o  claramente,  nos  três  modelos  que  apresentou.    

Vejamos  o  primeiro.    

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Trata-­‐se   do   modelo   construído   pelo   coronel   Costa   Dias,   com   a   preciosa   ajuda   do   sargento  Paínho   das   Neves,   e   apresentado   nas   Comemorações   do   Bicentenário   do   Corpo   Telegráfico,  levadas  a  efeito,  pelo  Exército,  em  2010.    

                                                                                                               

Neste   telégrafo,   são   possíveis   8   posições   mas   apenas   as   posições   1   a   6   são   aplicadas   na  transmissão  de  mensagens,  sendo  as  duas  restantes  utilizadas  para  sinais  de  serviço.    

O   Código,   também   criado   por   Ciera,   designado   por   Táboas   Telegráficas   apenas   utilizava     6  algarismos  para  codificar  as  mensagens.    

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Este  modelo  do  chamado  telégrafo  de  persianas  foi  apresentado,  na  mesma  altura  do  anterior,  pelo   coronel  Costa  Dias  que   também  o  construiu   com  a   colaboração  do   sargento  Paínho  das  Neves.        

                                                                                                   

Permite  também  transmitir  8  sinais,  como  o  anterior  e  com  o  mesmo  significado,  como  mostra  a  figura.  Deste  modo  as  Táboas  Telegráficas  são  aplicáveis.    

O  terceiro  telégrafo  criado  por  Ciera  é  o  de  bolas,  que  em  vez  das  três  persianas  tem  três  bolas  e  tudo  se  passa  do  mesmo  modo  que  o  do  telégrafo  de  persianas.    

A   existência   deste   modelo   foi   assinalada,   pela   primeira   vez,   em   2010,   pelo   coronel   José  Canavilhas.    

A  obra  de  Ciera,  na  área  das  telecomunicações,  prolongou-­‐se  meio  século  depois  da  sua  morte,  pelo   que,   tanto   a  Arma  das   Transmissões   como  os  CTT,   Correios   de  Portugal   se   consideram,  atualmente,   seus   herdeiros   históricos.   Com   efeito,   o   Exército   reconhece   o   Corpo   Telegráfico  como    a  primeira  unidade  de  transmissões  do  Exército  e  os  CTT  –Correios  de  Portugal  como  a  base  da  introdução,  em  1864,  da  telegrafia  elétrica  nos  Telégrafos  do  Reino  seu  antecessor.    

Do  património  que  Ciera  nos  legou  na  área  das  telecomunicações  fazem  parte:    

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• A  remodelação  da  Linha  da  Barra,  de  que  foi  nomeado  diretor,  em  1803,  suprimindo  estações  e  prolongando-­‐a  até  às  residências  reais.    

• O  Corpo  telegráfico,  criado  em  1810  por  decreto  real  e  que  Ciera  dirigiu.  Inicialmente  tinha  cerca  de  100  homens,  na  sua  maioria  reformados  do  Exército,  e  era  destinado  a  operar  e  manter  o  sistema  de  telegrafia  ótica  existente.  Em  1808,  após  a  derrota  de  Junot,  surgiu  um  projeto  de  alargar  a  rede,  agora  com  objetivos  claros  de  defesa  e  segurança  nacionais,  perante  a  previsível  existência  de  novas  invasões  francesas.  A  linha,  construída  em  1810    pelo  Corpo  Telegráfico,  destinava-­‐se  a  vigilância  de  duas  penetrantes,  a  primeira  por  Almeida,  na  Beira  Alta  e  a  segunda  por  Elvas,  no  Alentejo.  O  Corpo  Telegráfico,  participou  na  defesa  das  linhas  de  Torres  Vedras,  a  pedido  de  Wellington.  Recordemos  que  as  Linhas  de  Torres  eram  um  impressionante  conjunto  de  fortificações,  protegido  nos  flancos  pela  poderosa  Armada  Inglesa,  na  frente  Atlântica  e  no  Tejo  como  a  figura  mostra.    

                                                                         

 Wellington  tinha  a  vantagem  sobre  as  forças  francesas  de  dispor  de  comunicações  óticas  (que  os  franceses  não  tinham)  entre  as  fortalezas  mais  importantes  da  1ª  linha  (Torres  Vedras)  e  da  2ª  (Mafra)  que  distavam  entre  si  cerca  de  12  km  utilizando  telegrafia  ótica.    

                                           

 

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O  sistema  era  operado  por  marinheiros   ingleses  utilizando  o  chamado  telégrafo  de  balões  de  que  se  dá  uma  ideia  na  figura  e  que  hoje  é  apresentado,  todos  os  anos,  em  Torres  Vedras,  no  âmbito  do  turismo  cultural,  aproveitando  o  enorme  prestígio  que  tem  o  duque  de  Wellington,  entre  os  ingleses,  pela  sua  vitória  sobre  Napoleão  na  Guerra  Peninsular.    

Este   sistema   funcionava   bem,   mas   Wellington,   a   certa   altura,   duplicou-­‐o   com   o   sistema  português  em  cada  uma  das  10  estações  montadas  (8  em  fortalezas  e  2  de  retransmissões  fora  das  fortalezas,  para  assegurar  a  sua  continuidade).    

A  presença  dos  telégrafos  portugueses  nas  linhas  de  Torres  resultou  de  um  braço  de  ferro  entre  Wellington   e   o   almirante   Bercklay,   comandante   da   esquadra   inglesa.     O   problema   era   “o  subsídio   de   embarque”   que   os   telegrafistas   ingleses   não   recebiam   por   estarem   em   terra   a  operar   o   telégrafo,   ao   contrário   dos   seus   camaradas   que   embarcados.   Tanto   o   almirante  Bercklay   como   o   poderoso   Almirantado   britânico   consideravam   mais   do   que   justa   a  reivindicação  dos  marinheiros-­‐telegrafistas,  o  mesmo  não  acontecendo  a  Wellington  que  não  estava  interessado  em  abrir  os  cordões  à  bolsa.      

A  duplicação  dos  dois  sistemas  de  telegrafia  ótica  foi  a  opção  de  Wellington  para  não  ficar  sem  comunicações  no  caso  da  retirada  dos  marinheiros  telegrafistas  ingleses.  Mas,  como  Wellington  acabou   por   satisfazer   as   reivindicações   dos   marinheiros,   e   como   o   sistema   de   bolas   inglês  funcionava,  o  sistema  português  não  chegou  a  ser  utilizado.  No  entanto,  através  das   ligações  óticas   do   sistema   português   para   sul,   Wellington   comunicava   com   Lisboa,   o   que   o   sistema  inglês  não  permitia.    

De   acrescentar   que   a   opção   de  Wellington   de  montar   o   sistema   português,   resultou   da   boa  impressão   que   tivera   da   sua   eficácia   quando,   nos   combates   com   as   guardas   avançadas  francesas,  na  Beira  Alta,  antes  da  Batalha  do  Buçaco,   teve  a  oportunidade  de  observar  o   seu  funcionamento  na  linha  Lisboa-­‐Almeida.    

Depois   da   Guerra   Peninsular   o   Corpo   Telegráficos   teve     altos   e   baixos.   O   seu   número   de  elementos  variou  entre    uma  e  quatro  centenas  e  o  número  de  estações  entre  28  e  85.  As  lutas  liberais   trouxeram-­‐lhe   nova   importância   .   Em   1828   o   Corpo   Telegráfico   teve   uma   grande  reforma  e  a  rede  expandiu-­‐se  para  o  Algarve.  Em  1855,  foi  inaugurado  o  telégrafo  elétrico  que  pelas  suas  enormes  vantagens  se  expandiu  rapidamente  e  deu  lugar  a  um  declínio  acentuado  da  telegrafia  ótica.    

Mas  o  desaparecimento  da  Telegrafia  Ótica  não  acabou  com  o  Corpo  Telegráfico,  a  quem  foi  atribuída  a  operação  da  nova  rede  de  telegrafia  elétrica  e  obrigou  a  reconversão  do  pessoal  do  Corpo  Telegráfico  à  nova  tecnologia.  A  rede  de  telegrafia  elétrica  expandiu-­‐se  rapidamente  e  foi  aberta  ao  público  em  1857.    

Até  à  sua  extinção,  em  1864,  o  Corpo  Telegráfico  prestou  serviço  à  população  em  geral.  Nesse  ano,  o  seu  pessoal  foi    totalmente  integrado  nos  Telégrafos  do  Reino,  a  exemplo  do  que  sucedia  na  Europa.    

Para   terminar   apenas   uma   observação   sobre   o   telégrafo   de   bolas   inglês   usado   na   Guerra  Peninsular  que  não  teve  aplicação  significativa  em  Portugal,  ao  contrário  do  que  sucedeu  com  o  sistema   de   Ciera,   sendo   dos   poucos   casos   em   que   uma   tecnologia   portuguesa   se   impôs  claramente  a  uma  tecnologia  de  um  país  como  a  Inglaterra.    

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3.2  Sistema  heliográfico  

   

A  introdução  da  rede  heliográfica,  em  Portugal,  em  1880,  constitui  um  retorno  à  telegrafia  ótica  que,   como   referimos,   o   telégrafo   elétrico,   em   1855   (vinte   e   cinco   anos   atrás)   parecia   ter  condenado  a  desaparecer.  A  telegrafia  heliográfica,  como  a  telegrafia  elétrica,  utiliza  o  código  morse,  que  surgiu  em  1832.    

A   sua   introdução  em  Portugal   resultou  de  o  heliógrafo,  e  outros  meios,   terem  passado  a   ser  adotados  pelos  Exércitos  europeus  como  meios  alternativos  do  telégrafo  elétrico,  no  caso  deste  falhar.    Tal  como  acontecera  com  Ciera,  a  ideia  base  que  levou  à  introdução  do  heliógrafo  entre  nós  foi  de  “acertar  o  passo  com  a  Europa”,  o  que  viria  a  acontecer  .    

Comecemos   por   apresentar   dois   dos   protagonistas   deste   retorno   à   telegrafia   ótica:   Fontes  Pereira  de  Melo  e  Bon  de  Sousa.  

                                                                                       

Sobre  Fontes  Pereira  de  Melo,  considerado  um  dos  maiores  estadistas  portugueses  de  sempre,  limitar-­‐me-­‐ei   a   dizer   que   teve   o   mérito   de   nomear   em   1880,   um   oficial   de   Infantaria,   para  Diretor   do   Serviço   Telegráfico   segundo   um   critério   meritocrático   pois   o   nomeado   (Bon   de  Sousa)  era  indiscutivelmente  o  melhor.    

A   nomeação   foi   polémica   pois   a   Engenharia   (Arma   a   que   Fontes   Pereira   de  Melo   pertencia)  considerava  que,  a  exemplo  do  que  sucedia  na  Europa  o  cargo  devia  ser  atribuído  a  um  oficial  de  Engenharia.    

Porém,  a  opção  revelou-­‐se  acertada  pois  Bon  de  Sousa  permaneceu  no  cargo  durante  20  anos,  desde  o  posto  de  major  a  General  de  Brigada  reformado.    

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Bon   de   Sousa   era   um   nobre,   autodidata,   oficial   de   Infantaria,   que   foi  membro   honorário   da  Academia   das   Ciências   .   Dedicou-­‐se   a   estudar   as   Transmissões   dos   Exércitos   dos   principais  países  do  mundo,  que  adotavam  o  princípio  da  sobreposição  de  meios  para  procurar  garantir  a  todo  o  custo  a   ligação  dentro  do  Exército  entre  os  seus  diversos  sectores,  evitando   ficar  sem  comunicações.    

Como  não    havia  nenhum  meio  completamente  seguro,  pois  mesmo  o  telégrafo  elétrico  exigia  a  continuidade  das  linhas,  era  necessário  ter  outros  meios  disponíveis  a  utilizar,  pois  com  isso  aumentava  a  probabilidade  de  a  mensagem  chegar  ao  seu  destino.    

O   serviço   dirigido   por   Bon   de   Sousa   era   um   serviço   de   Transmissões   Permanentes   ou   de  Guarnição,  de  ligação  entre  os  quarteis  das  unidades,  muito  mais  parecido  com  um  sistema  de  transmissões   civil   do   que   com   um   serviço   de   campanha,   necessariamente   com   um   carater  muito  mais  móvel  e  usando  equipamentos  mais  robustos  e  transportáveis.    

Na  altura,  considerava-­‐se  que  o  pessoal  das  redes  de  guarnição  deveria  constituir  uma    reserva  de   pessoal   bem   treinada   para   atuar   rapidamente   em   situações   de   conflito,   dando   tempo   à  formação   de   novos   telegrafistas,   pelo   que   havia   que   dotar   o   serviço   de   guarnição   com   os  mesmos  meios  de  transmissões  e  treinar  o  pessoal  na  sua  prática.    

A   melhor   preparação   dos   telegrafistas   da   rede   de   guarnição   viria   a   refletir-­‐se   na   I   Guerra  Mundial,  onde  o  serviço  de  Transmissões  no  Corpo  Expedicionário  Português  foi  considerado  “o  serviço  que  melhor  atuou”,  o  que  se  deve  ao  pessoal  telegrafista  da  rede  de  guarnição  ter  um  treino  muito  superior  ao  de  campanha  na  prática  do  Morse    

Da  aplicação  do  princípio  da  sobreposição  de  meios  nas  transmissões  de  campanha,  que  Bon  de  Sousa   aplicou   na     rede   de   guarnição,   resultou   a   introdução   dos   pombais   militares,   a  reintrodução  da  telegrafia  ótica  em  Portugal  com  a  introdução  de  novos  telégrafos  óticos  e  dos  heliógrafos,  ambos  aplicando  o  código  Morse    

O   uso   heliógrafos   teve   alguma   expressão   no   Exército   (55   estações)   e   durou   até  meados   do  século  XX.    

O   sargento  Martins,   o   principal   auxiliar   de   Bom  de   Sousa   inventou   a   solução   portuguesa   do  heliógrafo  que  se  mostra.        

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O   sistema  é   constituído  por  um   conjunto  de  dois   espelhos.,   sendo  que  o   segundo  espelho  é  aplicado   quando   o   sol   está   nas   costas   do   operador.   Os   sinais   são   transmitidos   pelo  acionamento  de  um  pequeno  manípulo  que  desvia  ligeiramente  os  raios  solares  refletidos  para  transmitir  os  sinais  morse.    

Este  rede  teve  alguma  expressão  no  Exército   (56  postos),  era   feita  sobretudo  para  treino  dos  operadores.    

A  rede  heliográfica  não  teve,  contudo,  qualquer  expressão  na  sociedade  civil,  cuja  regra  geral  é  apostar  na  introdução  de  novos  meios  mais  evoluídos  tecnologicamente,  mais  eficientes  e  mais  fiáveis  que  não  era,  obviamente,  o  caso  dos  heliógrafos.    

 

4. Considerações  finais    

 

A  palestra  até  aqui  tem  apenas  tratado  do  passado,  referindo-­‐se  aos  dois  sistemas  de  telegrafia  ótica  introduzidos  no  século  XIX  e  que  representaram  uma  bem  sucedida  aproximação  ao  que  de  melhor  se  fazia  na  Europa,  quer  no  campo  civil  quer  no  militar.    

Mas   será   que   estes   sistemas,   indiscutivelmente   obsoletos,   estarão     condenados   a   ser  definitivamente  esquecidos?  A  última  década  tem  demonstrado  que,  sobretudo  em  relação  ao  telégrafo  de  Ciera,  têm  sido  feitas  realizações  muito  relevantes.  Entre  elas:  

 

• A  publicação  de  várias  obras,  das  quais  destaco  o  trabalho  de  Isabel  Luna,  Ana  Catarina  de  Sousa  e  Rui  Sá  Leal  “Telegrafia  Visual  na  Guerra  Peninsular”,  a  magistral  obra  coordenada  por  Maria  Fernanda  Rollo    “A  história  das  Telecomunicações  em  Portugal”  e  o  trabalho  do  académico  espanhol,  da  universidade  Complutense  de  Madrid,  prof  Giles  Mutinger,  “subrevuelo  da  de  la  telagrafia  óptica  en  lusitanea  “    

• A  Exposição  “Telecomunicações  Militares”  em  2008    • A  comemoração  do  Bicentenário  do  Corpo  Telegráfico,  em  2010    

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• A  comemoração    dos  250  anos  do  nascimento  de  Francisco  António  Ciera  em  2014    • No  campo  da  divulgação  do  sistema  de  Ciera  nas  Linhas  de  Torres  são  apresentados,  

com  regularidade,  o  telégrafo  de  Bolas  britânico,    que  se  mostrou  na  palestra  ,  e  também  o  de  Ciera  no  âmbito  do  Turismo  cultural.    

 

Pode  dizer-­‐se  que  é  pouco,  sobretudo  em  relação  ao  que  é  feito  noutros  países.  Mas,  há  dez  anos,  não  havia  praticamente  nada.  É  sintomático  que  tenha  apresentado  gravuras  de  Chappe,    Edelcrantz  e  Murray,  tiradas  da  net.  De  Ciera  não  há.  Nas  comemorações  dos  250  anos  de  Ciera  foi  intensamente  procurado  nos  arquivos,  mas  sem  resultado.        

Em  minha  opinião,  no  campo  da  telegrafia  ótica  Francisco  António  Ciera  merece  ser  recordado,  tanto   quanto   Edelcrantz   e   Murray   que,   como   ele,   criaram   versões   próprias,   inspiradas   em  Chappe.  Mas,  quanto  mim,   Francisco  António  Ciera  destaca-­‐se  de   todos  eles   se   tivermos  em  conta  a  sua  indiscutivelmente  reconhecida    obra,  na  área  da  cartografia.    

Por  estranho  que  pareça,  a  Universidade  de  Coimbra  parece  estar  alheada  deste  processo  de    recuperação  da  memória  de  Francisco  António  Ciera  e  da  sua    obra.  E  o  empenhamento  desta  Universidade,   que   faço   votos   sinceros   para   que   se   venha   a   verificar,   seria   um   catalisador   e  dinamizador  do  processo  que  lhe  daria  outra  dimensão  e  projeção.    

Estou  convencido  que  Ciera    e  a  sua  obra  bem  o  mereciam.    

Há  dois  argumentos  que  favorecem  esse  desejável  empenhamento:  

1. Coimbra  foi  a  sede  de  duas  estações  de  telegrafia  ótica:  uma,  no  antigo  Observatório  Astronómico,  cujo  edifício,  no  Páteo  da  Universidade  já  foi  demolido  e  outro  em  Santo  António  dos  Olivais,  que  não  sei  se  dele  resta  algum  vestígio.  Por  Coimbra  ainda  passou  todo  o  tráfego  governamental  que  circulou  entre  Lisboa  e  Porto,  durante  várias  décadas        

2. A  Universidade  de  Coimbra  foi  a  Instituição  onde  Ciera  fez  a  sua  formação    Académica,  estando  assim  na  origem  de  toda  a  sua  notável  obra  de  que  o  país  beneficiou.