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SANTO AMARO: DO ISOLAMENTO AO CAOS RESUMO Este artigo trata da vulnerabilidade da cidade de Santo Amaro, lugar com apenas 11.693 habitantes, localizado no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses no litoral nordeste do Brasil. Lugarejo isolado e pobre, que se depara com os impactos do capital da atividade turística. Com significativos atrativos ambientais, e após séculos de isolamento geográfico, estagnação econômica, fragilidade social e ambiental, a chegada do acesso rodoviário a 32 km da sede, em 2002, e a divulgação maciça dos atrativos do lugar fez com que Santo Amaro venha sofrendo impactos das atividades complementares ao turismo, principalmente imobiliárias. Por outro lado a população humilde não vê outra alternativa para os seus problemas a não ser o acesso ilimitado ao lugar. O desafio é a busca de alternativas de gestão para o desenvolvimento apropriado, com sensibilidade à realidade econômica, natural, social e urbana. Este trabalho busca estudar estratégias para promoção do desenvolvimento sustentável local, através da realocação da sede para um novo sítio, mais próximo a rodovia, mais estável ecologicamente e com melhores condições de habitabilidade, conservando assim a atual sede para o eco-turismo com controle rigoroso e limitando seu crescimento. 1 INTRODUÇÃO Lugares com fortes atrativos naturais e turísticos, quando isolados, pobres e periféricas desenvolvem um delicado processo de crescimento e tornam-se completamente vulneráveis aos interesses e controle do capital. Santo Amaro do Maranhão, município localizado no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses vive esta realidade. Com aproximadamente 1.601,16 km 2 Santo Amaro está localizado no Nordeste do Brasil, no estado do Maranhão, a 243 km da capital São Luis, Figura 1. Um terço de sua área integra o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Está enquadrado pelo IBGE no bioma cerrado brasileiro. Santo Amaro foi estabelecida com a chegada dos jesuítas provenientes de Tutóia, uma cidade a 110 quilômetros, provavelmente no século XVII, que fugiam das reformas protagonizadas pelo Marquês de Pombal. O líder, um padre de nome Amaro, deu o nome ao lugar. Com atividade essencialmente extrativista, Santo Amaro é resultado de décadas de isolamento geográfico, estagnação econômica, fragilidade social e ambiental, e devido ao seu isolamento conservou seus atrativos naturais quase intactos.

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Page 1: SANTO AMARO: DO ISOLAMENTO AO CAOS Pluris2010 - Paper em ...pluris2010.civil.uminho.pt/avaliacao/papers/paper273.pdf · 2.1 Meio ambiente e assentamentos humanos Em meio a este cenário,

SANTO AMARO: DO ISOLAMENTO AO CAOS

RESUMO Este artigo trata da vulnerabilidade da cidade de Santo Amaro, lugar com apenas 11.693 habitantes, localizado no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses no litoral nordeste do Brasil. Lugarejo isolado e pobre, que se depara com os impactos do capital da atividade turística. Com significativos atrativos ambientais, e após séculos de isolamento geográfico, estagnação econômica, fragilidade social e ambiental, a chegada do acesso rodoviário a 32 km da sede, em 2002, e a divulgação maciça dos atrativos do lugar fez com que Santo Amaro venha sofrendo impactos das atividades complementares ao turismo, principalmente imobiliárias. Por outro lado a população humilde não vê outra alternativa para os seus problemas a não ser o acesso ilimitado ao lugar. O desafio é a busca de alternativas de gestão para o desenvolvimento apropriado, com sensibilidade à realidade econômica, natural, social e urbana. Este trabalho busca estudar estratégias para promoção do desenvolvimento sustentável local, através da realocação da sede para um novo sítio, mais próximo a rodovia, mais estável ecologicamente e com melhores condições de habitabilidade, conservando assim a atual sede para o eco-turismo com controle rigoroso e limitando seu crescimento. 1 INTRODUÇÃO Lugares com fortes atrativos naturais e turísticos, quando isolados, pobres e periféricas desenvolvem um delicado processo de crescimento e tornam-se completamente vulneráveis aos interesses e controle do capital. Santo Amaro do Maranhão, município localizado no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses vive esta realidade. Com aproximadamente 1.601,16 km2 Santo Amaro está localizado no Nordeste do Brasil, no estado do Maranhão, a 243 km da capital São Luis, Figura 1. Um terço de sua área integra o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Está enquadrado pelo IBGE no bioma cerrado brasileiro. Santo Amaro foi estabelecida com a chegada dos jesuítas provenientes de Tutóia, uma cidade a 110 quilômetros, provavelmente no século XVII, que fugiam das reformas protagonizadas pelo Marquês de Pombal. O líder, um padre de nome Amaro, deu o nome ao lugar. Com atividade essencialmente extrativista, Santo Amaro é resultado de décadas de isolamento geográfico, estagnação econômica, fragilidade social e ambiental, e devido ao seu isolamento conservou seus atrativos naturais quase intactos.

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Fig. 1 Localização do Município de Santo Amaro do Maranhão sede do município foi fixada em uma região hostil, de dunas livres, rios, lagos e lagoas, e um lençol freático próximo à superfície, caracterizando-se um ecossistema sensível e dinâmico, de difícil acesso e permanência humana, e ao mesmo tempo, muito exótico e atraente ao turismo como é possível identificar na Figura 2. Essa fragilidade natural convive com a ausência de tecnologias e infraestruturas adequada àquele meio, o que coloca a população em iminente risco ambiental, sobretudo de saúde, pois adota soluções tradicionais de saneamento em condições excepcionais: fossas e poços rasos em terreno extremamente arenoso com lençol freático a pondo de aflorar, criando um ambiente propício a endemias.

Fig. 2 Imagem Land Sat do Município de Santo Amaro do Maranhão Fonte: Plano Diretor de Santo Amaro (2003)

Em 2002, a chegada do acesso rodoviário a 32 km da sede, e a divulgação maciça dos atrativos naturais promoveu o turismo na região, porém, este vem ocorrendo sem planejamento e marcado por investimentos voltados apenas às necessidades imediatistas do capital e descomprometidos com o interesse social e a qualidade ambiental.

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Ecologistas defendem o isolamento definitivo da sede como única forma de estancar os problemas ambientais. Por outro lado, a população residente, carente de assistência social, transporte e de atividades econômicas, clama por acesso rodoviário ilimitado, o que aumentaria o turismo, e conseqüentemente os impactos das atividades complementares, principalmente imobiliárias. Neste cenário, percebe-se a necessidade de alternativas de gestão e implantação de um processo de desenvolvimento apropriado, com sensibilidade à realidade econômica, natural, social e urbana. No decorrer deste trabalho serão apresentadas algumas estratégias para promoção do desenvolvimento sustentável local, onde entre outras propostas, defende-se a transição gradativa da sede para um novo sítio, mais próximo a rodovia, mais estável ecologicamente e com melhores condições de habitabilidade, conservando a atual sede como um típico povoado, e um destino para o eco-turismo de controle rigoroso, adequando tecnologias e limitando seu crescimento. A proposta visa criar condições para o advento do turismo verdadeiramente ecológico, como atividade âncora para impulsionar a economia dos residentes, com respeito às limitações ambientais e compromisso social, conciliando crescimento urbano, econômico, preservação da natureza e combate as deficiências sociais locais. 2 CONTEXTO GEOAMBIENTAL O cenário ambiental do Parque cujo município está inserido é frágil e dinâmico, modificando-se constantemente. As dunas livres, Figura 3, mudam de posição, levadas pelo vento e por correntes marinhas, formando depósito aluvionares recentes e holocênicos, constituído de cascalho, areia e argila consolidados, que possuem colorações variadas de acordo com a quantidade de óxido de ferro presente (PMPNLM, 2001).

Fig. 3 Campinhg na Lagoa da Gaivota Fonte: Foto da internet

Santo Amaro é dotado de importantes recursos hídricos, reservatórios naturais e água doce, dentre os quais destacam-se o Lago de Santo Amaro, um dos maiores do estado com uma área de aproximadamente 100km² e o Rio Grande também chamado de Rio Alegre, com extensão de 72km; há ainda as lagoas da Betânia e Esperança que resultam da acumulação e/ou alargamento dos rios Grande e Negro respectivamente. A região possui clima equatorial típico, com apenas duas estações definidas, os primeiros 6 meses do ano de chuva intensa com índices pluviométricos alcançando 1700 mm, é o

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período chuvoso, e o período de estiagem no restante do ano, o período da seca. A temperatura média anual varia de 25º a 30ºC. 2.1 Meio ambiente e assentamentos humanos Em meio a este cenário, Santo Amaro dispõe de núcleos semi-urbanos pouco estruturados e dispersos. O município possui ocupação predominantemente rural, sendo 2.775 habitantes na área urbana e 6.837 na zona rural (IBGE, 2000). O principal aglomerado urbano é a sede do município, abrangendo um pouco mais de 1km².

A dispersão dos assentamentos dificulta a inserção de infra-estrutura e serviços públicos nas localidades, além de exigirem procedimentos operacionais mais complexos e de maior custo, especialmente na implantação do sistema de esgoto, limpeza pública e transporte.

O serviço de coleta de lixo é feito com ajuda de um trator que recolhe e deposita o lixo no bairro do Olho d’água na sede do município. O local apresenta características inadequadas ao acondicionamento do lixo, possui terreno arenoso com alta permeabilidade, formado por dunas, e próximo do Rio Alegre com riscos de contaminação do solo, subsolo e do rio.

Santo Amaro não possui água encanada e o abastecimento é feito através de poços existentes nos próprios domicílios com bombas manuais. Os sistemas de fossas negras e sentinas são utilizados na maioria das casas. 2.2 Contexto urbano

De acordo com a Fundação Nacional de Saúde - FUNASA (2006), o município de Santo Amaro possui um total de 2.385 edificações, e a principal referências urbana da cidade, é a igreja Nossa Senhora da Conceição, localizada na praça principal, Figura 4. Todas as construções são bastante simples e a pavimentação pública é feita com blocos cerâmicos fabricados no próprio município.

Fig. 4 Praça principal da cidade de Santo Amaro Fonte: Plano Diretor de Santo Amaro (2003)

Nos povoados mais isolados não há rede de energia elétrica. Segundo a Secretaria de Planejamento do Estado - SEPLAN, o número de consumidores servidos por energia elétrica totalizava apenas 515. Alguns estabelecimentos utilizam energia solar ou geradores a querosene quando não dispõe de rede. Geralmente estabelecimentos turísticos, pousadas, ou casas de veraneio de moradores de São Luís, que possuem maior renda, não se tratando, portanto da população local.

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Os Principais problemas relacionados ao uso e ocupação do solo são: desmatamento e queimadas, criação de animais domésticos dentro do parque; criação de búfalos nas lagoas; lixo; indefinição da questão fundiária das áreas e controle limítrofe do Parque; ocupação desordenada. Para o IBAMA a instalação de povoados constitui um problema dentro do Parque. O município não dispõe do sistema de tratamento de esgoto, a maioria das edificações se utiliza do sistema de fossas negras ou sentinas, sendo praticamente insignificante o número de domicílios que possui tratamento adequado de esgoto sanitário. 3 VULNERABILIDADE SÓCIOECONÔMICA 3.1. Realidade econômica O município possui uma economia voltada para as atividades artesanais, extrativistas e de subsistência em torno da agricultura, pecuária, pesca e extrativismo vegetal. As principais culturas são arroz, feijão, mandioca, melancia, milho, caju, banana e coco da praia. O solo extremamente arenoso, pois trata-se de dunas, é impróprio para o cultivo e quando há, tem uma produtividade baixíssima. O rendimento médio para a cultura do milho por exemplo é de 700kg./ha. O produto mais expressivo, o milho, atingiu uma produção de apenas 96 toneladas no ano de 2007 (IBGE, 2007) A pecuária é extensiva nos campos naturais próximos aos lagos. Os pequenos rebanhos de bovinos (3850 cabeças), bubalinos (201) e suínos (8360), são criados sem assistência técnica e consumidos basicamente no abate local (IBGE, 2008). Este tipo de criação prejudica o ecossistema natural, pois os peixes e pequenas criaturas aquáticas são pisoteados pelos búfalos além de sofrerem a ação dos excrementos liberados pelos rebanhos, extremamente ácidos e poluentes. O artesanato da confecção de bolsas, chapéus, cordões, pulseiras e anéis confeccionados em fibra de carnaúba, tucum e buriti, além de redes e selas que utilizam a palha da carnaúba, também são fonte de renda para os moradores. Há ainda a produção de carvão vegetal e olarias artesanais utilizando argila retirada dos lagos para a fabricação de telhas e tijolos. Esta atividade funciona somente no período de estiagem, quando boa parte do lago está seco. A estrutura precária dos fornos montada no próprio local ou próximo a retirada da argila, ou seja, no leito seco dos rios e lagos. Quando chega o período chuvoso, estas estruturas são submersas e inutilizadas. A pesca possui caráter artesanal e sazonal, com o aumento do volume dos lagos no período chuvoso, sendo praticada principalmente no Rio Grande e nos Lagos Jangada, Gurupiriba, Travosa e Betânia. Os grandes atrativos naturais da região constituem um dos fatores impulsionadores do turismo local e de atividades econômicas afins. Apesar da crescente movimentação de turistas na cidade a contribuição decorrente dessa nova atividade ainda não se tornou fonte de beneficiamento local. A arrecadação municipal não se apresenta muito significativa diante das necessidades da população.

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O Produto Interno Bruto (PIB) per capita em 2007 foi de R$ 2.704 e a renda per capita é a décima parte do salário mínimo, R$ 35,13. Segundo o IBGE, Santo Amaro registra 217 pessoas ocupadas e o PIB do município chega a R$ 20.200,00 (IBGE, 2007). Quanto a participação do município nos repasses públicos de ICMS para o ano de 2004, Santo Amaro apresenta a seguinte situação, conforme Tabela 1:

Tabela 1 Secretaria Estadual da Fazenda - SEFAZ (2006)

IPVA R$ 1.485,47 ICMS R$ 265.830,85 FPEX R$ 4.422,54 TOTAL 2004 R$ 271.738,86

Em 2000, Santo Amaro estava dentre os municípios do estado com menores índices de desenvolvimento humano, com o IDH 0,512, ocupando a 204ª posição, sendo que o estado possui 217 municípios. Além disso, vale ressaltar que o Brasil ocupa a 75 posição no ranking mundial com um IDH de 0,813 e que o Maranhão no ranking nacional ocupa penúltimo lugar com o IDH 0,647. Os índices de Santo Amaro são inferiores aos de países como Gana (0,568) e Cambodja (0,568) (ONU, 2000). Há também e Santo Amaro, reservas de gás natural, que recentemente foram liberados para exploração. Contudo os pontos de exploração estão na área do Parque o que requer um longo processo de negociação para a liberação das licenças ambientais. De qualquer forma, representa uma significativa alternativa econômica para de contrapor ao turismo, e uma oportunidade de emancipação econômica e social da população através dos royalties. 3.2. Realidade da educação no município Segundo o Plano de Manejo do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - PMPNLM, o quadro da educação no município até o ano de 2000 demonstrava cinco escolas do ensino fundamental, atendendo a 527 alunos. No meio rural eram 55 escolas (pré-escolar a 4ª série) funcionando nas residências dos professores ou em barracões. Já em 2008, o IBGE registra 51 escola do ensino fundamental, 1 escola no ensino médio e 47 pré-escolas. Os gráficos a seguir, Figura 5, demonstram a evolução da educação básica no município.

Fig. 5 Matriculas no enino fundamental e ensino médio Fonte: IBGE (2008)

Apesar da evolução, os números ainda são muito reduzidos com relação ao ensino médio, considerando que apenas 264 crianças foram matriculadas em 2008, sem levar em consideração a qualidade do ensino, as condições de acesso e a evasão escolar, que são os

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problemas mais freqüentes, apesar de não se ter dados precisos. Além do baixíssimo índice de crianças na escola, a qualificação dos professores também é incipiente, como mostra Tabela 2, a seguir.

Tabela 2 Formação dos professores (2001)

Qualificação Total Fundamental Incompleto

Fundamental completo

Médio completo

Magistério licenciatura

Ensino Fundamental (1-4 série)

107 12 54 41 0

Ensino Fundamental (5-8 série)

24 0 0 24 0

Ensino Médio 2 0 0 0 2

Em grande parte o município, como no povoado de Betânia o transporte dos alunos até a escola é feito à pé, senão em animais ou carros traçados (4x4), num percurso aproximado de 2 horas. A taxa de analfabetos na população com mais de 15 anos chega a 36,75% no município, enquanto que no estado é de 28,39% e 13,63% no país. (IBGE, 2000). Os principais problemas da educação em Santo Amaro são:

I. dificuldade de acesso aos estabelecimentos de ensino; II. micro-escolas pelo município;

III. falta de estrutura e equipamentos; IV. despreparo de professores e funcionários; e V. ausência de meios de comunicação e infra-estrutura física.

3.3. Realidade da saúde no município Até o ano de 2001, o município de Santo Amaro não dispunha de nenhum leito hospitalar e apenas 3 unidades de saúde, incluindo postos. Em 2005 eram 15 leitos e 5 estabelecimentos de saúde (IBGE, 2005). Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, a recomendação é de pelo menos 1 (um) leito para cada 200 (duzentos) habitantes, o que daria no caso de Santo Amaro, 58 leitos, no mínimo. Os maiores problemas ligados a saúde são a insuficiência profissional, mau atendimento e a ausência de equipamentos essenciais e específicos. As principais incidências de doenças são de diarréias, febres e gripes, entre outras, todas ligadas a falta de saneamento e baixos valores nutricionais. De acordo com o IBGE, a taxa de mortalidade infantil no município chega a 92,3 p/1.000 e a expectativa de vida chega só aos 55,95 anos (IBGE, 2000). 4 O ISOLAMENTO E A DESCOBERTA Até a inauguração da MA-402, em 2002, interligando o município de Barreirinhas a capital, o principal meio de acesso até a sede de Santo Amaro, à partir de São Jose de Ribamar, cidade vizinha a capital São Luís, era a navegação, e levava 12 horas, em embarcações muita vezes de propriedade dos próprios pescadores, porém só é possível navegar por todo o trajeto no período chuvoso, de janeiro e julho. No período de estiagem só é possível por terra, com o uso de tratores ou carros traçados (4x4), que saíam de Humberto de Campos em longas e tortuosas trilhas pelas dunas e restingas, o que levava em média 6 horas.

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O acesso aéreo pode ser feito em avião fretado, por uma pequena pista de pouso que funciona apenas no período de escassez de chuvas, pois se localiza numa área de campos inundáveis, a 15 Km da sede, dentro dos limites de Primeira Cruz, um município vizinho. Desta pista até a sede, o trajeto também é feito de veículo traçado por trilhas de areia. Depois da MA-402, é possível fazer este mesmo trajeto até de ônibus comercial, que leva os passageiros até uma localidade chamada Sangue às margens da estrada em 3 horas partindo de São Luís, e de lá segue-se em carros traçados por 32 quilômetros em trilhas pelas dunas e restingas, por mais 2 horas, totalizando 5 horas ou menos, dependendo do estado das trilhas. Ao fim da trilha é preciso atravessar o rio Alegre, por dentro, se for época de estiagem, ou de balsa, na época das chuvas. Todo o trajeto já é incluído no ticket nas agências de turismo. O Maranhão recebeu em 1998, cerca de 431 mil turistas, saltando para 660 mil em 2002, e com estimativa para 1 milhão em 2010, sendo que, destes, quase a totalidade tem como destino, o Parque dos Lençóis. Segundo os pilotos praticantes de off Road, constantemente são promovidos passeios e rotas turísticas ou encontros no município para desfrutar da trilhas e da paisagem das dunas do Parque. Apesar de não haver calendário oficial, a cidade chega e receber 300 veículos por fim de semana na alta temporada e não menos de 20 na baixa, garantindo um público de no mínimo 600 e 50 pessoas respectivamente, toda semana, que permanecem de 2 a 3 dias. O único canal de televisão acessado é da Rede Globo, e em 2003, foi inaugurada a rádio comunitária, Lençóis FM 100,1. Santo Amaro conta com apenas um posto telefônico e uma pequena agência dos correios. Atualmente há cobertura de telefonia móvel. A fragilidade institucional municipal é notória, diante do crescimento de Santo Amaro e das grandes transformações decorrentes das atividades turísticas e serviços afins. Em oficinas e audiências do Plano Diretor, a população manifestou preocupações como:

I. falta de conscientização da população para as questões ambientais; II. agressões ambientais e assoreamento dos rios;

III. invasão da cidade pelas dunas; IV. falta de incentivos de algumas atividades econômicas como o artesanato; V. criação de búfalos e animais livres;

VI. redução da piracema e conseqüentemente da pesca; VII. instalação dos mega-empreendimentos e os impactos que eles possam trazer;

VIII. preocupação com condição de vida, a renda e a existência familiar; e IX. preocupações com o desenvolvimento sustentável e o futuro da cidade.

Ao mesmo tempo em que os habitantes de Santo Amaro almejam o crescimento do turismo, vendo nisso oportunidade de trabalho, também temem as modificações que isto pode trazer ao meio natural e conseqüentemente aos recursos que hoje garantem, mesmo que precariamente, sua sobrevivência. Além disso, a população não consegue se enquadrar no perfil da mão-de-obra necessária para atender este mercado, a exemplo do que vem ocorrendo em outros municípios integrantes do Parque, o crescimento do turismo não se traduziu em benefícios à população local. Este é o dilema enfrentado pelos habitantes. A especulação imobiliária e a exploração dos recursos naturais são fatores que podem tornar-se uma ameaça ao meio ambiente. Os problemas começam a serem vistos, por

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exemplo, analisando o processo de assoreamento no leito de alguns rios, como o Alegre nas proximidades da sede e da localidade de Betânia, o que ocasionam problemas graves como a falta de peixe e de águas para o abastecimento e navegação. A falta de sistemas de saneamento preocupa, pois no mesmo solo, arenoso e extremamente permeável, onde são perfurados os poços rasos também são infiltrados os efluentes sanitários. O agravante é que o lençol freático da cidade de Santo Amaro é quase superficial. A cidade está na cota 13m, e no período chuvoso, com o solo saturado, a água transborda dos rios conectando-se aos lagos, formando um espelho d´água contínuo, como mostra a Figura 6.

Fig. 6 Cheia da cidade de Santo Amaro Foto Jorge Augusto (2009)

Os problemas de endemias e contaminação da água, só não são maiores porque a densidade urbana ainda é baixa, mas se a tendência de crescimento na sede e o acesso tornar-se ainda mais facilitado, sem que haja uma preparação tecnológica para as demandas, um colapso será iminente, com conseqüência graves para a saúde local. A preocupação com a invasão da cidade de Santo Amaro pelo turismo em massa e o medo de desencadear estes impactos ambientais e sociais é tão evidente que as autoridades ambientais nacionais e os ambientalistas não permitem que seja pavimentado o acesso que liga a MA-402 até a sede, muito menos que se faça uma ponte no rio Alegre, no ponto de travessia da trilha para a cidade. A cidade de Santo Amaro está tão próxima do Parque, que o Plano de Manejo precisou fazer uma fenda na zona de amortecimento para livrar a sede, já que o lugar já era um núcleo urbano consolidado, como mostra a Figura 7.

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Fig. 7 Em amarelo, a Zona de amortecimento do Parque Nacional Fonte: Plano de Manejo do Parque (2001)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Deve-se considerar que a atividade turística, de certo modo, também é uma forma de exploração, e que a omissão das instituições competentes no controle e fiscalização desse crescimento turístico pode gerar uma degradação ambiental e social da cidade e do meio ainda maior, e ao fim desta atividade teremos uma população bem maior, desassistida e totalmente avessa a realidade dantes existente de cultura de subsistência. Tendo em vista que Santo Amaro é um município de pequeno porte e com grandes atrativos ambientais, deve-se estabelecer limites rígidos de uso e ocupação do solo e proteção dos recursos naturais antes que se consolidem esse problema. A fixação de uma quantidade mais concentrada de pessoas no local onde está a sede hoje, de forma segura, implicaria em soluções sanitárias de alta complexidade e custos elevadíssimos, e que o poder público local, mesmo recebendo todos os repasses tributários devidos da atividade turística, não seria capaz de custear e manter. E estas soluções teriam que ser disponibilizadas pra todos para surtir efeitos positivos. No âmbito social, também se deve resguardas a sua população e trabalhar na emancipação e inclusão destas pessoas de forma gradativa, trabalhando essencialmente a educação e a identificação de atividades alternativas ao turismo, evitando uma dependência econômica. O município é cortado pela MA-402 na altura do povoado conhecido por Sangue. Até este ponto, o acesso pode ser feito por qualquer veículo de forma rápida e segura. Seguindo-se para o norte em direção a sede, a 10 km chega-se ao povoado denominado Barra. Um lugar com aproximadamente 50 edificações, entre o Rio Alegre e o Pedro Reira Figura 8. Hoje é um aglomerado muito rudimentar, mas apesar disso, possui condições geoambientais mais favoráveis à fixação do homem do que a atual sede, pois possui cota mais elevada chegando a 43m de altitude, contra 13m da atual sede, dispões de solo mais estável, recuso hídrico e está mais próximo do acesso rodoviário.

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Fig. 8 Povoado de Barra Fonte: Google Earth

A proposta apresentada pelo Plano Diretor de Santo Amaro em 2003 é utilizar o povoado da Barra para fixar todos os estabelecimentos institucionais essenciais: prefeitura, hospitais, escolas de nível médio e técnico, universidades, centros comerciais de maior porte, bancos, terminal rodoviário pavimentado, além de residências, hotéis e serviços em geral. Este local é denominado pelo Pano como Núcleo de Desenvolvimento da Barra, conforme mostra seu zoneamento na Figura 9. Até a Barra seria construído um acesso rodoviário pavimentado. Deste ponto em diante, seguindo para a atual sede, não haveria acesso rodoviário pavimentado, haveria sim um controle rigoroso de acesso e fixação de residências e empreendimentos.

Fig. 9 Zoneamento do Núcleo de Desenvolvimento da Barra Fonte: Plano diretor de Santo Amaro

A sede atual seria um destino para a prática do ecoturismo, local de visitação e permanência controlada e os empreendimentos propostos para se fixarem lá deveriam ser dotados obrigatoriamente de tecnologias limpas para tratamento dos resíduos e efluentes gerados, de forma independente do sistema público. Além do incremento dos esportes já

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Page 12: SANTO AMARO: DO ISOLAMENTO AO CAOS Pluris2010 - Paper em ...pluris2010.civil.uminho.pt/avaliacao/papers/paper273.pdf · 2.1 Meio ambiente e assentamentos humanos Em meio a este cenário,

amplamente explorados, como as rotas de Rally, as caminhadas e o surf, outros esportes propícios ao ambiente poderiam ser incentivados, mantendo um calendário oficial, como windsurf, remo, esqui aquático, natação, triathlon, aeromodelismo, lancha de velocidade, etc.. A promoção dos eventos também seria condicionada a uma série de condicionantes que minimizassem os impactos sobre a população e sobre o ambiente, como a inclusão obrigatória da população local, remoção total dos resíduos gerados, consumo de produtos locais, entre outras responsabilidades ambientais. No local da nova sede, na Barra, seriam adotados pelo poder público, métodos tradicionais, mas eficientes, de saneamento, que custam menos e são possíveis de aplicar no local onde está a Barra. Em contrapartida os investimentos em tecnologias limpas e infraestrutuas especiais para permitir a fixação de empreendimentos e até residências na atual sede, seriam custeados pelos empreendedores, mediante regras rígidas de eficiência e monitoramento. Os valores cobrados pelo uso e ocupação do solo e serviços na atual sede também seriam diferenciados, representando valores bem superiores aos adotados na Barra, o que iria distribuir melhor os eleitos econômicos da atividade turística. Esta opção afastaria a possibilidade de um súbito adensamento da sede, acarretando gastos inacessíveis ao poder público municipal, para implantar e manter uma infraestrutura especial, e ao mesmo tempo atenderia a necessidade de acesso aos serviços públicos essenciais que a população há anos sofre em não dispor, como saúde, educação, transporte, escoamento da produção, cidadania, que estariam sendo oferecidos na Barra. 7 REFERÊNCIAS AUGUSTO, J. (2009) Foto da cheia da cidade de Santo Amaro. Disponível em <www.vcnoimirante.com/noticias/pagina1875.shtml>. Acesso em: 27 abr. 2010. BRASIL. Lei 7661/88 – Plano de Gerenciamento Costeiro, IBAMA CARVALHO, J. C. de A. (2007) Lençóis Maranhenses. Capítulo 9. In: TENÓRIO, F. G. (Org.). Cidadania e Desenvolvimento Local. FGV, Rio de Janeiro. CASTRO, L. L. C. (2004) Projeto Expedições para o Turismo e Ação em Santo Amaro do Maranhão, Monografia (Graduação em Turismo), Universidade Federal do Maranhão – UFMA, São Luís. FSADU/LABOHIDRO/UFMA. (2001) Plano de Manejo do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, IBAMA, São Luis. FSADU/UFMA/NUGEO/UEMA. (2000) Zoneamento Costeiro do Estado do Maranhão, Governo do Estado do Maranhão, São Luís. ONU. (2000) Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) SANTO AMARO DO MARANHÃO. (2003) Lei do Plano Diretor e Lei de Zoneamento Parcelamento Uso e Ocupação do Solo de Santo Amaro, Prefeitura, Santo Amaro. SEPLAN/SEPES (2006) Perfil Sócio-Econômico dos Municípios da Região do Munim e Lençóis Maranhenses, Governo do Estado do Maranhão, São Luís.

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